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LOGÍSTICA 4.0 & A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO


FATEC GUARULHOS
31 de maio e 01 de junho de 2019

LOGÍSTICA HUMANITÁRIA - CASO BRUMADINHO


RUTH DE FREITAS ABREU (FATEC GUARULHOS)
ruth.abreu@fatec.sp.gov.br
CELIA DE LIMA PIZOLATO (FATEC GUARULHOS)
celiapizlato@gmail.com
DANIEL NERY DOS SANTOS (FATEC GUARULHOS)
daniel.santos80@fatec.sp.gov.br
LUCIANA MARIA GASPARELO SPIGOLON FROLLINI ((FATEC GUARULHOS)
luciana.spigolon01@fatec.sp.gov.br
MARCOS JOSÉ CORRÊA BUENO (FATEC GUARULHOS)
marcosjcbueno@gmail.com

RESUMO
Os desastres naturais e/ou induzidos por ações antrópicas têm se tornado cada vez mais presentes nas últimas décadas e
afetam a vida de populações levando à morte de centenas de pessoas. O presente trabalho tem como objetivo analisar a
Logística Humanitária no desastre ocorrido em Brumadinho (MG). Para tanto, utilizou o método de pesquisa bibliográfica e
descritiva. Com os dados levantados por meio de entrevista realizada com agente voluntário que atuou em Brumadinho, foi
possível vislumbrar como a logística humanitária se concretizou, oferecendo assim uma visão das ações de logística
humanitária frente às dificuldades de mitigação de tais eventos.

PALAVRAS-CHAVE: Logística Humanitária. Brumadinho. Mineração. Barragens de Rejeitos

ABSTRACT
Natural and /or human-induced disasters have become increasingly present in recent decades and affect the lives of
populations leading to the deaths of hundreds of people. The present work aims to analyze Humanitarian Logistics in the
disaster that occurred in Brumadinho (MG). For that, he used the method of bibliographic and descriptive research. With the
data gathered through an interview with a volunteer agent that worked in Brumadinho, it was possible to glimpse how
humanitarian logistics materialized, thus offering a vision of the humanitarian logistics actions in view of the mitigation
difficulties of such events.

Keywords: Humanitarian Logistics. Mining. Reject Dams

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1. INTRODUÇÃO
O presente artigo surgiu diante do desastre humanitário e ambiental, ocorrido dia 25 de
janeiro de 2019 na da cidade de Brumadinho, em Minas Gerais/ Brasil, com o rompimento da
barragem de rejeitos da mineradora Vale, no Córrego do Feijão, causando a morte de 228
pessoas (vítimas confirmadas até momento do desenvolvimento desta pesquisa) e outras 131
pessoas não foram encontradas, além de 150 pessoas desabrigadas que entraram em contato
com lama tóxica. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (SEMAD) a área atingida pela lama da barragem da Mina Córrego do Feijão
corresponde a cerca de 300 campos de futebol, (SEMAD,2019). São 290 hectares em 9
quilômetros de distância, entre a barragem da mineradora e o Rio Paraopeba (SEMAD,2019).
Sendo relevante a análise sobre a ótica da logística humanitária trazendo à baila, a
importância da logística na cadeia de suprimentos em acontecimentos desta monta, o estudo
tem como objetivo analisar como se deu a preparação e planejamento do fluxo de distribuição
de donativos e atendimento as vítimas e busca e resgate dos corpos. A pesquisa foi realizada
através de pesquisa bibliográfica e entrevista realizada com um agente voluntário, que atuou
no desastre humanitário e ambiental.

2.0 Logística Humanitária X Logística Empresarial

Desastres como furações, terremotos, maremotos, são considerados fenomenos


naturais, devido a ausência da ação direta do homem, sendo aceitável que ocorra perdas
materias, ao passo que, desastres provocados pela negligência de uma empresa, deve ser
fortemente rechasados.
Para iniciar o estudo partimos do conceito de logística humanitária descrita pelos
doutrinadores. De acordo com THOMAS; KOPCZAK (2005) logística humanitária é um
processo eficiente de planejamento, implantação, controle, gerenciamento do fluxo financeiro
e de informações, estocagem de itens e alimentos, do ponto de origem ao ponto de consumo,
com o fim de aliviar o sofrimento de pessoas em estado de vulnerabilidade (Figura 1).

Figura 1: Fases das operações de alívio a desastres

Preparação Resposta Imediata Reconstrução

Kóvacs e Spenas (2007)

Van Wassenhove (2006), prescreve que tanto a logística humanitária como a


empresarial, são regidas por princípios fundamentais, como o gerenciamento da cadeia de
suprimentos, onde cada item deve estar no tempo certo e o local correto para atender à
necessidade dos individuos corretos.
Além disso, a logística humanitária engloba uma série de atividades, incluindo os
transportes, compras, rastreamento e acompanhamento, desembaraço aduaneiro, transporte
local, armazenagem e entrega até à última milha (Thomas, 2012).
A Logística humanitária tem o condão de montar estratégias para ofertar de maneira
eficiente os matérias e insumos necessários para rápida resposta frente às necessidades
apresentadas.
Diante de um cenário de desastre, a logística humanitária passa por desafios como os
elencados por Gregorio (2012), a saber: ausência ou excesso de donativos de determinados

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itens; dificuldade de acesso ao local atingido; ausência de programação na entrega e


distribuição de doações; falta de comunicação; doações sem condições de aproveitamento ou
reaproveitamento; dificuldade na conservação de doações; controle de estoque e distribuição;
desvio de doações; descarte de sobras de doações, além da complexidade de gerenciar atuação
dos voluntários.
Prescrevendo Howden (2009) na logística humanitária pode atuar: Contratos,
Armazenagem, Gestão de Frotas, Transporte (materiais e pessoas), Gestão de Ativos, Gestão
de Edifícios, Segurança, Tecnologia da Informação, Rádio Comunicações.
Dependendo das demandas que irão surgir em um desastre, a logística humanitário
deverá atuar na área de fluxo de doações e, ora verificando estratégia de possível evacuação
do local.
Contudo, diante da gravidade do evento, a logística humanitária apresenta
características distintas da logística empresarial.
Segundo Nogueira et al (2009) a logística humanitária difere em vários aspectos sobre
a empresarial, devido a imprevisibilidade de um ambiente dinâmico e caótico.
O Quadro 1 de Ertem et al (2010), apresenta como cada evento é enfrentado pela
logística empresaria e humanitária.

Quadro 1: Características Logística.


Empresarial Humanitária
Demanda Relativamente estável, É gerada por eventos
ocorre para local pré- aleatórios, na maior parte
determinados e, em imprevisível em termos de
quantidades pré-fixadas. tempo, localização, tipo e
tamanho. É estimada após
a ocorrência da
necessidade.
Lead Time Determinado nas Lead time requerido é
necessidades Fornecedor praticamente zero. (zero
até o Consumidor entre a ocorrência da
demanda e a necessidade
da mesma)
Centrais de Distribuição ou Bem definidas em termos Desafiadoras pela natureza
Assistência do número e localização. desconhecida (localização,
tipo e tamanho);
Considerações de “última
milha”.
Controle de Estoques Utilização de métodos bem Desafiador pela grande
definidos. Baseados no variação da demanda e a
lead time, demanda e localização da mesma.
níveis de serviço.
Sistemas de Informação Geralmente bem definidos, As informações são pouco
uso de alta tecnologia. confiáveis, incompletas ou
inexistem.
Objetivos Maior qualidade, ao menor Minimizar perdas de vidas
custo, de maneira a e aliviar o sofrimento.
maximizar a satisfação do
cliente.
Foco Produtos e serviços Pessoas e suprimentos
Fonte: Ertem et al (2010).

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De acordo com Erten et al (2010), a logística empresarial possui certa margem de


certeza em seus níveis de atuação, contudo na logística humanitária há a incerteza provocada
pelo desastre.

2.1 Cadeia de Suprimentos na Logística Humanitária

No contexto da logística humanitária a cadeia de suprimentos é de fundamental


importância para escoamento de produtos, insumos, materiais e pessoas para que chegue até o
elo mais necessitado.
De acordo com Healslip et al (2010), no caso de ações humanitárias, a cadeia de
suprimentos necessita ser flexível e responder rapidamente a eventos imprevisíveis, de forma
efetiva e eficiente sob fortes limitações orçamentárias.
O mesmo autor ainda entende que há a necessidade de integração e coordenação de um
grupo de especialistas para garantir a ajuda humanitária.
Já Hoff (1999) indica que um modelo genérico de cadeia de suprimentos permite um
fluxo unidirecional de bens e equipamentos para as áreas afetadas, especialmente, aos locais
onde há maior necessidade de recursos.
Gonçalves (2011), complementa que o conjunto de suprimentos solicitado, por ser
diverso, depende do tipo e do impacto do desastre, características e tamanho da população
atingida, condições sociais e econômicas da região. Os suprimentos são transportados de
várias localidades para uma central de distribuição, em ponto estratégico, onde, os
suprimentos são transportados até um segundo centro de distribuição (localizado em uma
cidade maior). E, nesse segundo centro de distribuição, os suprimentos são separados,
classificados e transferidos para centros de distribuição locais para o auxílio humanitário,
conforme representado na Figura 2:
Figura 2: Cadeia de Suprimentos Humanitária
DOAÇÕES
Centro de
Estoque de Central de Centro de Distribuição
Suprimento Distribuição Distribuição Local
Secundário
Suprimentos
Adquiridos Fonte: Adaptado, Gonçalves (2011)

Assim, o processo de entrega de donativos deve ser feito de maneira integrada com
todos agentes envolvidos, como é o entendimento de Cuervo et al(2010): “O processo de
entrega de suprimentos para uma população que sofreu um desastre natural implica a
coordenação e execução de vários processos”.
Além disso, os órgãos responsáveis pela cadeia de suprimentos humanitária devem
interagir com diferentes atores que têm diferentes interesses e objetivos, que devem ser
coordenados para alcançar um equilíbrio entre aqueles que oferecem produtos e serviços e
aqueles que necessitam de atendimento de urgência (Souza, 2012).
A maioria das cadeias de suprimentos humanitárias têm uma existência curta e
instável. A cadeia de fornecimento humanitária deve ser mais reativa à mudança súbita.
Ineficiências e erros nessa cadeia são menos tolerados (Lima et al, 2011).

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3.DESENVOLVIMENTO DA TEMÁTICA

3.1. Breve Histórico: Cidade de Brumadinho X Mineração

A cidade de Brumadinho está localizada no Estado de Minas Gerais, Brasil, dista cerca
de 54 km da capital Belo Horizonte, o município se estende por 639,4 km² e conta com
39.520 habitantes e uma densidade demográfica de 53,2 hab/km² (IBGE, 2018).
A economia de Brumadinho é completamente dependente dos royalties da mineração,
chamado de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). A
arrecadação está prevista na Constituição Federal e é fiscalizada pela Agência Nacional de
Mineração (ANM). O município de onde são extraídas as riquezas minerais faz juz a 65% do
valor arrecadado com o Cfem, de acordo com a Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990,
alterada pela Lei nº 13.661, de 2018 (Agência Brasil, 2019).
O prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos, esclarece que a mineradora que
atua na região é responsável por 65% do Cfem do município, de um total aproximado de R$ 5
milhões por mês(Agência Brasil, 2019). Cerca de 60% da arrecadação da Prefeitura advém do
Cfem do minério(Agência Brasil, 2019). Ainda segundo o Prefeito, a empresa mineradora,
que opera na cidade há 30 anos, tem quase mil funcionários em Brumadinho, sendo
responsável por cerca de 11% dos empregos na cidade (Agência Brasil, 2019).

3.2 Levantamento de dados e procedimentos

As informações indicadas pelo entrevistado, foram de grande importância, pois a partir


destas foi possível verificar como se deu implantação da logística humanitária em
Brumadinho, sendo que, Douglas Sant’ Anna Cunha, 33 anos, foi militar na Academia Militar
das Agulhas Negras/RJ onde serviu no Curso Básico em 2003 e logo em seguida, ao sair das
forças armadas, se especializou em logística através de cursos, chegando à graduação em
2006(Bibliografia Douglas, 2019).
Estando previsto na legislação Brasileira a atuação de Douglas como agente
voluntário, nos termos da Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, autoriza a criação de sistema
de informações e monitoramento de desastres” em seu artigo 18, inciso IV, prescreve que “os
agentes voluntários, vinculados a entidades privadas ou prestadores de serviços voluntários
que exercem, em caráter suplementar, serviços relacionados à proteção e defesa
civil”(Planalto, 2019).
Sendo que Douglas, chegou à noite ao local do desastre se deparou com fluxo
desorganizado de pessoas, distribuição de recursos e atendimento das vítimas, e com a
empresa Vale tomando a frente sobre a distribuição de donativos, no mesmo dia, realizou uma
reunião com a defesa civil e prefeitura de Brumadinho, a fim de formar estratégia para o dia
seguinte, porém por determinação do Estado de Minas Gerais, foi dispensado pela manhã.
No dia 27, domingo, foi novamente chamado pela Prefeitura de Brumadinho para
auxiliar a distribuição de donativos e solicitou que estes fossem recontados, analisadas as
doações, verificando a validade, a separação de embalagens diferentes e a triagem de peças.
O entrevistado ficou locado em um local cedido pela empresa Vale chamado de
Espaço do Conhecimento junto com diversos órgãos e voluntários. Neste local ficava estoque
pré posicionados de materiais oriundos de doações de diversas regiões brasileiras que
chegavam de forma direta e a distribuição era feita através das visitas as comunidades pelas
equipes da Cruz Vermelha.

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No mesmo dia, houve mudança deste cenário devido a possibilidade de evacuação,


assim os donativos foram deslocados para o ginásio poliesportivo do município, pois o
Espaço do Conhecimento deveria ser desmobilizado para que pudesse receber famílias caso se
concretizasse a evacuação. No dia 29 terça-feira, o entrevistado passou a gerenciar o ginásio
poliesportivo que antes era administrado pela Defesa Civil do Estado de Minas Gerais, onde
estavam estocados os donativos que continuavam a chegar de diversos locais. A distribuição
ocorria mediante demandas e liberações feitas por parte das equipes da Secretaria de
Assistência Social da cidade.

3.3 Atendimento as Vitimas

Segundo o entrevistado cerca de 150 famílias ficaram desabrigadas com o rompimento


da barragem e na elaboração das ações de distribuição de donativos, a fim de suprir as
demandas da comunidade afetada, foi de fundamental importância, a identificação das vítimas
que terião direito aos recursos, essa indicação se deu a partir de um acompanhamento ou
identificação oficial de demanda, sendo feita por profissionais ou por listagem embasada no
cadastro das vítimas a partir de análise técnica.
Para amenizar o sofrimento gerado pelo desastre, haja vista que as vítimas perderam
tudo e, para diminuir as necessidades dos vitimados, terem o constrangimento de pedirem por
donativos, foi elaborado o projeto bazar (nomenclatura “bazar” refere-se apenas ao fato de
que os produtos eram para reutilização, não cabendo a comercialização), foi necessário o
desenvolvimento de uma estrutura mínima do bazar de roupas e calçados para atender as
famílias que estavam abrigadas em hotéis, a fim de suprir a demanda.
O projeto exigiu listagem de hotéis, para desenvolver uma rota onde as famílias
(cinquenta e cinco quartos em diversos hotéis), seriam transportadas, em dias específicos, até
os locais desejados a fim de buscarem seus recursos. Também foi solicitada sem lograr êxito a
implantação de um sistema de lavagem das roupas das vítimas abrigadas em hotéis devido à
falta de estrutura para esta finalidade. Ainda foi implantado envio de kits de higiene e
medicamentos para os abrigados em hotéis e o envio de cestas básicas e kits de
medicamentos, para vítimas que ficaram em casa de parentes, levando em consideração que
todos esses elementos descritos, deveriam ter suas quantidades projetadas para vários meses,
nascendo também, a necessidade de armazenamento ao longo prazo, devido incerteza de
quanto tempo que as vítimas iriam permanecer em casa de parentes e hotéis.

3.4 Integração interna

O entrevistado narra que na estruturação do plano de ação, houve diversas reuniões


com profissionais da Prefeitura, Vale e outros atores, e nestas reuniões as principais
necessidades para a elaboração dos trabalhos eram sempre as mesmas, as listagens de
atingidos diretamente (vítimas em hotéis, quais hotéis, perfis), indiretamente (demandas
analisadas) e os operacionais (estruturas operacionais, equipes atuantes e outros que estão
envolvidos no processo). Sendo essas informações de suma importância para o
dimensionamento das demandas e na avaliação do quantitativo de recursos para definir os
planos de liberação e operacionalização, entretanto, as solicitações de informações não foram
atendidas de acordo com o solicitado, pois, as listagens foram liberadas com muita demora e
apresentavam erros e ou estavam incompletas.
Apesar da falta de dados (que afetava diretamente o abastecimento), mas, tendo como
base o quantitativo em estoque, a saber: Alimentos doados: 26 mil toneladas, Água: 158 mil

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litros, Roupas (cálculo volumétrico): 2 toneladas, separadas por peças masculinas e femininas,
criança, calçado , Material de limpeza: 100.800 litros e, o número de afetados diretamente
divulgado em redes sociais pela Defesa Civil Estadual:105 desabrigados, podia-se notar que o
volume de donativos era suficiente naquele momento, sendo sugerida a paralisação das
campanhas.
O número de voluntários girava em torno de 100 voluntários/dia, sendo voluntários
diretos (cadastrados na hora), voluntários da Vale (funcionários voluntários) e voluntários
institucionais (pertencentes a instituições como o SERVAS).

3.5 Gestão de fornecimento e fornecedores

Douglas Sant’ Anna, expõe que quase não houve integração com fornecedores devido
a uma burocracia operacional onde muitos tinham que opinar (Defesa Civil Estadual/MG,
secretarias municipais, entre outros) e interferiam no processo a todo o momento,
inviabilizando a implantação do processo. Enfatizando que Bombeiros Civis, SERVAS entre
outros atuaram no processo de recebimento, triagem, estocagem e distribuição dos donativos.
Quanto à gestão dos suprimentos no início das atividades, ainda no planejamento de
ações, foi solicitada aos gestores a contabilidade dos recursos em estoque adquiridos
anteriormente a chegada do entrevistado.
A informação foi disponibilizada com demora, contendo divergências e falta de
referências de entrada e saída dos donativos. Por este motivo, Douglas Sant’ Anna solicitou a
recontagem dos produtos, que foram feitas através dos líderes setoriais já existentes.
Neste processo de contagem, foi solicitada a redistribuição setorial e a reformulação no
método de estocagem, exigindo alteração no modo de acondicionamento a fim de eliminar
risco de perda e contaminação dos materiais (Quadro 2).
Quadro 2: Estocagem de Suprimentos
ESTOCAGEM DE ÁGUA NA QUADRA:
• Instalação de lonas para o fechamento da quadra evitando a entrada de luz solar e chuva;
• Realinhamento formulando ruas para estocagem;
• Emprego de paletizadora cedida pela Vale para movimentação dos palets;
• Divisão por tipo de embalagem.
ALIMENTOS NÃO PERECÍVEIS:
• Controle de estocagem por validade e implantação do sistema PEPS;
• Divisão por tipo e retirada imediata de alimentos vencidos;
• Montagem de Cestas, além da solicitação junto a Vale de sacos próprios para a montagem
de cestas e a substituição dos sacos de lixo que rasgavam com facilidade no transporte das cestas
básicas e outros kits alimentares;
• Retirada de outros tipos de produtos que pudessem gerar contaminação.
MATERIAIS DE HIGIENE:
• Foram reagrupados em tipo de produto;
• Paletizados;
• Produção de kits;
• Conferência de validade e condições de embalagem.
MATERIAIS DE LIMPEZA;
• Foram reagrupados em tipo de produto;
• Paletizados;
• Produção de kits;
• Conferência de validade e condições de embalagem.
ROUPAS:
• Emprego de controle de equipes atuantes neste processo;
• Triagem de roupas por sexo, tipo, e outras características;
• Separação de brinquedos infantis;
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• Montagem de kits e enxovais;


• Emprego de recursos para EPI.
ESTOCAGEM DE MATERIAIS DE USO ANIMAL:
• Controle de estocagem por validade e implantação do sistema PEPS;
• Divisão por tipo e retirada imediata de alimentos vencidos;

• Paralelamente ao processo de reconhecimento das ações já em curso, implantamos


formulários para controle de recebimento e liberação de donativos, gerenciamento de voluntários.
Fonte: autores (2019)

O desastre afetou toda a cidade, seja por meio direto (onde houve danos estruturais,
mortes, entre outros) ou de forma indireta (por questões econômicas, operacionais)., Por este
motivo se fez necessário o atendimento de demandas ditas secundárias, como o Lar dos idosos
Padre Vicente Assunção, para o qual foi solicitado apoio no abastecimento dos idosos que
moram naquela localidade, pois devido ao desastre diminui as doações que são essenciais
para sua manutenção, bem como, a demanda da aldeia Naô Xohã foi atendida após solicitação
de auxilio por parte da FUNAI via VALE, alegando necessidades para as famílias que vivem
naquela região.
E por fim, donativos especiais médicos (saúde), sendo que os materiais de uso médico
como medicamentos e fórmulas alimentares foram catalogados e encaminhados para a
unidade de saúde municipal.

3.6 Técnica Israelense e Corpo de Bombeiros

Cerca de, 136 militares das Forças de Defesa de Israel (FDI) estiveram no dia 28 de
janeiro em Brumadinho para auxiliar nos trabalhos de resgate das vítimas (UOL, 2019). A
equipe composta por engenheiros especialistas, médicos, equipes de busca e resgate,
bombeiros, soldados da unidade de missões submarinas da Marinha Israelense e
representantes do governo, trouxe consigo tecnologias que ajudaram nas buscas e no resgate
das vítimas, com auxílio de equipamentos que incluem meios avançados de localização de
celulares, radares submarinos e drones (UOL, 2019). Além de contar com a ajuda da equipe
israelense, 120 militares do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, atuaram no resgate dos
corpos, e mais 170 bombeiros de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Alagoas.
(UOL, 2019).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentro de todo o declinado foi possível vislumbrar que a logística humanitária se


concretizou no desastre humanitário e ambiental devido ao rompimento da barragem em
Brumadinho/Brasil. A logística Humanitária caracterizou-se com a rápida resposta na
preparação e planejamento e implantação do fluxo de distribuições de donativos. A
articulação do entrevistado Douglas Sant’ Anna proporcionou a preparação de estoque de
doações e suprimentos em locais adequados, no caso concreto na quadra poliesportiva da
cidade e a célere retorno às necessidades dos vitimados com a distribuição de donativos com
base nas necessidades das vítimas. Estas ficaram alojadas em hotéis ou em casas de parentes,
sendo que todos receberam donativos como kits de higiene, bazar e cesta básica, contando
também com o apoio dos bombeiros civis, da cruz vermelha e da empresa SERVAS, que
distribuíam os donativos com base nas necessidades das vítimas. Assim como o Corpo de

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Bombeiros de Minas Gerais que teve o apoio de equipes de outros Estados e do auxílio
tecnológico da equipe israelense que contribuírem para busca e localização dos corpos das
vítimas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste artigo observou-se que a logística humanitária em ação na tragédia de
Brumadinho atuou em um processo bastante complexo, onde pode contar com diversos órgãos
de apoio, porém encontrou entraves em relação à outras instituições.
Nota-se que órgãos como o Corpo de Bombeiros estão sempre atuando junto,
contribuindo com a integração da cadeia humanitária. Esta situação já tem sido observada em
diversos outros eventos de ajuda humanitária.
Desastres não naturais podem e devem ser previstos, não entrando em seara jurídica,
mas o Estado deve atuar firmemente na fiscalização, bem como promover políticas, como
estabelecer em licitação prévia quais empresas podem atuar em casos de riscos, reduzindo o
tempo de resposta frente às necessidades emergenciais. Deve-se observar também as
obrigações do agente que deu causa a ilícito seja omisso e cumpra com as normas de riscos
pré-estabelecidas. Diante dessa lacuna agentes voluntários são essenciais para mitigar as
demandas emergenciais.

REFERÊNCIAS

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Logistics Institute –UK. Disponível em:
<http://eprints.nuim.ie/2534/1/LRN_Paper_2008_Graham_Heaslip.pdf>. Acessado em: 18 de
março de 2019.

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X FATECLOG - LOGÍSTICA 4.0 & A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO


FATEC GUARULHOS – GUARULHOS/SP - BRASIL
31 DE MAIO E 01 DE JUNHO DE 2019
ISSN 2357-9684
X FATECLOG
LOGÍSTICA 4.0 & A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
FATEC GUARULHOS
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31 DE MAIO E 01 DE JUNHO DE 2019
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