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Algumas Dicas para Estudar

D1: Aprender e estudar no ensino superior


Cíntia Regina Lacerda Rabello.
Extrato de: Aprendizagem na educação a distância: Dificuldades dos
discentes de licenciatura em ciências biológicas na modalidade
semipresencial / – Rio de Janeiro: UFRJ / Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde, 2007, pg. 34-46.
In: https://sites.google.com/site/geacufrjpublico/textos-basicos/aprender-e-estudar-no-ensino-
superior

Aprendizagem: o que é e o que caracteriza a boa aprendizagem?


Uma vez que o objetivo deste estudo é identificar as dificuldades na aprendizagem que os estudantes
encontram na EAD, dois aspectos devem ser observados. Primeiramente, o que entendemos por
aprendizagem e o que caracteriza uma boa aprendizagem. Em segundo lugar, é importante situarmos
o aprendiz do ensino superior como um aprendiz adulto, com características e necessidades
específicas.
Em meio às diversas teorias e conceituações de aprendizagem, percebemos que a maioria delas
entende a aprendizagem como um processo de aquisição de conhecimento e mudança de
comportamento. Tomando o viés psicológico para formulação do conceito de aprendizagem,
adotamos aqui a perspectiva cognitiva, em que a aprendizagem pode ser entendida como processo
de aquisição por meio do qual incorporamos novas representações à memória permanente, ou
mudamos aquelas que já possuímos (POZO, 2002, p. 88).
Pozo também apresenta três características prototípicas da boa aprendizagem, definida como
mudança duradoura, passível de transferência a novas situações, e conseqüência direta da prática
realizada (idem, p. 60). Dessa forma, para esse autor, a aprendizagem será mais eficaz
[...] quanto maior e mais significativa for a relação que se estabelece entre a nova informação que chega ao sistema e os
conhecimentos que já estavam representados na memória. Quanto mais organizado, ou menos isolado, se adquire um
resultado da aprendizagem, maior será sua duração e possibilidade de transferência e mais eficaz resultará essa
aprendizagem. (POZO, 2002, p. 88)
Afirma ainda que a aprendizagem depende do bom funcionamento de certos processos que podem
otimizar ou minimizar sua eficácia, os “processos auxiliares da aprendizagem”. Dentre esses
processos, encontramos a motivação, ou seja, o motivo para o qual o aluno se esforça para aprender;
a atenção, que permite o estabelecimento do foco na tarefa de aprendizagem; a recuperação e a
transferência das representações presentes na memória como conseqüência de aprendizagens
anteriores, e a consciência e o controle dos próprios mecanismos de aprendizagem (idem, p. 88-9).
Silva & Sá compartilham idéia semelhante ao afirmarem que

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a aprendizagem eficaz depende da adoção de estratégias cognitivas e orientações motivacionais que permitam ao
indivíduo tomar consciência dos objetivos, dos processos e dos meios facilitadores da aprendizagem e tomar decisões
apropriadas sobre que estratégias utilizar em cada tarefa e como modificá-las quando estas se revelarem pouco eficazes.
Em síntese, saber aprender contribui para uma aprendizagem bem sucedida (1997, p. 17)
Por estratégias de aprendizagem entendemos os “processos conscientes delineados pelos estudantes
para atingirem objetivos de aprendizagem” (SILVA & SÁ, 1997, p. 19). Comumente classificadas em
cognitivas, metacognitivas e sociais-afetivas, essas estratégias implicam em personalização,
flexibilidade, avaliação de custos e intencionalidade, e sua aplicação consciente e adequada é muito
importante para a boa aprendizagem (idem, p. 20).
Para Cossenza (1996, p. 36), as estratégias cognitivas estão relacionadas às tarefas de aprendizagem
individual e envolvem a manipulação ou transformação do material a ser aprendido. Nesse sentido,
percebemos que as estratégias cognitivas correspondem a técnicas de estudo individuais utilizadas
pelos alunos durante o estudo, a fim de facilitar o processo de aprendizagem. As estratégias sociais-
afetivas, por outro lado, envolvem a interação com outras pessoas e o gerenciamento dos
sentimentos relacionados à aprendizagem. A cooperação e o questionamento são exemplos desse
tipo de estratégia, que ganham maior importância no contexto da EAD, dada a separação física entre
alunos e professores.
As estratégias de aprendizagem metacognitivas são também especialmente importantes para a EAD,
por envolverem o pensar sobre os próprios processos de aprendizagem, o planejamento para a
aprendizagem, a monitoração de atividades de aprendizagem, e a avaliação de quanto alguém
aprendeu.
De acordo com Cotterall & Reinders, as estratégias metacognitivas auxiliam alunos a organizar e
monitorar seu aprendizado por três razões: (a) porque, ao fazer o planejamento da tarefa, o aluno
obtém um senso de controle sobre ela; (b) a definição de metas possibilita a individualização do
aprendizado; e (c) através do automonitoramento e auto-avaliação o aluno desenvolve sua
independência. Dessa maneira, a utilização de estratégias de aprendizagem metacognitivas possibilita
potencializar o processo de aprendizagem, uma vez que revelam aos alunos o que eles podem fazer
por si mesmos. Além disso, à medida que o aprendiz passa a conhecer seus próprios processos
cognitivos, ele se torna mais autônomo, capaz de regular e gerenciar a própria aprendizagem
(COTTERALL & REINDERS, 2005, p. 6-7).
Embora possamos perceber a importância do uso de estratégias para uma boa aprendizagem, seja no
contexto da educação fundamental, média ou superior, presencial ou a distância, em relação à EAD,
Olgren (1998, p. 77) afirma que para se desenvolver programas eficazes é necessário compreender
como a aprendizagem acontece, bem como os fatores que influenciam os processos de
aprendizagem. Para essa autora, três fatores que têm um impacto principal na aprendizagem são
justamente as estratégias cognitivas para o processamento da informação, as atividades
metacognitivas para o planejamento e auto-regulação e, por fim, os objetivos e motivações dos
aprendizes.

Quem é o aluno bem-sucedido?


Identificadas as características de uma aprendizagem eficaz, podemos traçar o perfil do aprendiz
eficaz, ou seja, aquele que é bem-sucedido nas tarefas de aprendizagem. Diversas são as visões a
respeito do “bom aluno”. Barnes define o bom aluno como aquele que tem a “capacidade de

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começar” (1995, p. 13), ou seja, o aluno que se organiza e controla a própria aprendizagem, sem
deixar tudo para a “última hora”. Para Serafini (1996, p. 17), “os estudantes bem-sucedidos não são
necessariamente os mais inteligentes e trabalhadores, mas sim os mais eficientes, porque souberam
elaborar um bom método de estudo”. Para Healey (2002), o bom aprendiz é aquele que estabelece
seus próprios objetivos e assume responsabilidade por seu aprendizado.
Segundo Peixoto & Silva (1999, p. 19), pesquisas têm demonstrado que “alunos com sucesso escolar
têm auto-estima mais elevada e assumem maior responsabilidade por suas ações do que aqueles de
menor rendimento”. Olgren afirma ainda que vários estudos indicam que alunos capazes utilizam
várias estratégias cognitivas para selecionar, organizar e integrar a informação, valendo-se de
estratégias metacognitivas para planejar e regular a aprendizagem. Além disso, são autodirigidos e
têm a capacidade de desenvolver e controlar as próprias atividades de aprendizagem (OLGREN,
1998, p. 78).
Embora Barnes nos advirta que o “super aluno” seja apenas um mito (BARNES, 1995, p. 17),
podemos perceber duas características comuns nas descrições acima que nos permitem identificar
fatores de sucesso nas tarefas de aprendizagem: o controle sobre a própria aprendizagem (que
descreveremos no próximo item), e a organização e elaboração de bons hábitos de estudo.
Destacamos ainda outros fatores que podem influenciar o sucesso do aprendiz: a motivação para a
aprendizagem e a abordagem adotada durante o estudo.

a) Hábitos de Estudo

Ao falarmos de hábitos de estudo, cabe aqui ressaltar que não utilizamos os termos aprendizagem e
estudo como sinônimos, uma vez que acreditamos ser possível haver aprendizagem sem estudo,
assim como estudo sem aprendizagem. Tomamos, no presente trabalho, o estudo como meio de
alcançar a aprendizagem, principalmente no contexto do ensino superior e da educação a distância.
Por hábitos de estudo, entendemos o conjunto de ações realizadas pelos aprendizes durante o
processo de estudo, tais como o local utilizado, a alocação do tempo para essa atividade, a utilização
de técnicas (ou métodos) e recursos utilizados.
Serafini (1996, p. 133) afirma que o ambiente de estudo pode favorecer ou dificultar o
aproveitamento do estudante. Embora reconheçamos as diferenças individuais entre os aprendizes e
diferentes preferências de acordo com diferentes estilos de aprendizagem, em geral um bom local de
estudo é aquele que é “destinado exclusivamente ao estudo, confortável e com boa iluminação”, no
qual encontra-se todo o material necessário para a tarefa, como livros, canetas, dicionários, etc; em
suma, um local tranqüilo, sem interrupções e sem elementos que causem distração (SILVA & SÁ,
1997, p. 56).
A organização do tempo de estudo também é fundamental. A esse respeito, Barnes nos adverte da
ilusão de que os alunos que estudam mais são os melhores (BARNES, 1995, p. 19), e que o estudo
por longas horas nem sempre é produtivo, pois o que importa é a qualidade do estudo e não sua
quantidade. Descreve o gerenciamento do tempo como uma habilidade essencial para o sucesso da
aprendizagem, o que pode evitar perda de energia desnecessária, acumulação de tarefas e
descumprimento de prazos (idem, p. 42-6). Ainda a respeito da organização do tempo de estudo,
Serafini afirma que “os estudantes com maiores dificuldades são também os menos capazes de gerir
o tempo de que dispõem” (SERAFINI, 1996, p. 15).

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Outro item muito importante dentro de um conjunto de ações para se estudar bem é o uso de
técnicas de estudo. A partir da definição de técnica como “o conjunto de processos de uma arte” e
“habilidade especial de executar ou fazer algo” (FERREIRA, 1986), entendemos por técnicas de
estudo o conjunto de ações utilizadas a fim de facilitar o processo de estudo. Destacamos nesta
pesquisa as ações de ler silenciosamente ou em voz alta, sublinhar, fazer anotações, resumir, fichar,
fazer esquemas, reler e memorizar. Cada uma dessas técnicas, também chamadas de estratégias de
aprendizagem cognitivas, apresenta vantagens e desvantagens, e podemos ainda dizer que algumas
são mais eficazes que outras.
Serafini (1996) descreve a maneira de aplicação correta de cada umas das técnicas utilizadas pelos
alunos, destacando as diferentes fases da leitura (pré-leitura, leitura rápida e leitura analítica) e a
importância do papel ativo do estudante durante a aplicação de cada uma delas. Segundo a autora,
não basta apenas sublinhar o texto todo ou copiar trechos inteiros, é necessário que o aluno busque
refletir sobre o assunto, identificando idéias principais e pensando criticamente, ao sublinhar ou
fazer anotação.
A autora destaca ainda a importância da elaboração de mapas conceituais ou esquemas e da
confecção de fichas de síntese ou resumos, visto que os esquemas são “instrumentos de grande
utilidade para a apresentação organizada de informações” (SERAFINI, 1996, p. 66) durante o
processo de estudo. Para ela, “a elaboração de mapas deve constituir parte dos hábitos de estudo [...]
dada a dificuldade que os jovens normalmente sentem de hierarquizar estruturas complexas” (idem,
p. 67).
Por outro lado, a revisão do material estudado é de grande importância para a conclusão do
processo de estudo. Após fazer a leitura crítica, sublinhar as informações mais importantes, fazer
anotações e desenhar esquemas ou mapas conceituais, deve-se revisar o material de estudo e avaliá-
lo de modo crítico. Para isso, devem ser utilizadas as fichas de síntese e resumos, pois possibilitam
“a estruturação do conhecimento de forma mais completa, relacionando as várias informações que
possuímos” (idem, p. 74). Entendemos que para um estudo eficaz os alunos devem fazer uso
consciente de cada uma das técnicas descritas em diferentes etapas do processo. De acordo com
Silva & Sá (1997, p. 8), o uso dessas e outras estratégias cognitivas facilitam a regulação da
aprendizagem.
Por fim, os recursos utilizados no estudo são todos os materiais disponíveis para aquisição ou
complementação de informação e conhecimento. Destacamos, entre eles, o livro didático, apostilas,
cadernos, livros em bibliotecas, Internet, gravações de aula, etc. Acreditamos que a utilização dos
recursos está relacionada à forma pela qual o aluno encara a própria aprendizagem e à sua própria
motivação para o estudo.

b) Motivação para o estudo

Em termos de motivação para o estudo, Silva & Sá (1997, p. 26) afirmam que “os estados afetivos e
motivacionais têm sido reconhecidos como importantes fatores que afetam o sucesso e o insucesso
escolares” e definem motivação como “o impulso para agir em direção a um determinado objetivo”.
Já Pozo refere-se à motivação no sentido mais literal de ‘mover-se para’ a aprendizagem, o motivo,
ou o por quê, queremos aprender (POZO, 2002, p. 138). Para Silva & Sá, a motivação, entre outros
fatores, como a utilização de estratégias e os conhecimentos prévios, determina a aquisição do
conhecimento, compreensão ou habilidade na realização em que estamos empenhados (SILVA &
SÁ, 1997, p. 26).

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Sabemos que a motivação pode ser de dois tipos: extrínseca, quando é mantida pelos efeitos do
meio, tais como receber uma recompensa, ou, no caso do estudo universitário, um diploma; ou
intrínseca, quando não é influenciada por fatores externos ao estudante, e sim por uma força interna
que impulsiona o aluno a estudar, tais como o prazer de aprender e gosto pelo estudo.
A motivação intrínseca é geralmente associada ao sucesso da aprendizagem, de vez que o desejo de
aprender conduz a um estudo mais eficiente e uma aprendizagem mais construtiva e significativa.
Para Pozo, “aprender pela satisfação pessoal de compreender ou dominar algo implica que a meta
ou motivo da aprendizagem é precisamente aprender, e não obter algo ‘em troca da’ aprendizagem”.
Além disso, os efeitos da aprendizagem movida pelo desejo de aprender parecem ser mais sólidos e
consistentes do que quando a aprendizagem é movida por fatores externos (POZO, 2002, p. 141).
No entanto, ambos os tipos de motivação são importantes para uma boa aprendizagem, como
podemos perceber no seguinte trecho:
Jerome Bruner defende que a aprendizagem será mais duradoura quando é mantida pela motivação intrínseca do que
quando é impulsionada pela influência mais transitória dos reforços externos. No entanto, Bruner admite que a
motivação extrínseca pode ser necessária para levar o estudante a iniciar certas ações ou para iniciar o processo de
aprendizagem; mas, uma vez iniciado, este processo é mais adequadamente mantido se existirem motivos intrínsecos
que o transformem num objetivo significativo para a própria pessoa. (SILVA & SÁ, 1997, p. 27)
Assim, para obter uma boa aprendizagem, o ideal é saber combinar estímulos internos e externos.
Outro conceito relacionado à motivação para a aprendizagem é a orientação para os objetivos, ou
seja, para quê os alunos estudam. Silva & Sá (1997, p. 31) afirmam que os objetivos que o aluno
persegue durante o processo de estudo influenciam a qualidade de seu desempenho e determinam
suas reações ao sucesso ou fracasso de seus esforços. Esses objetivos podem ser voltados tanto para
os resultados quanto para os objetivos da aprendizagem.
Os objetivos voltados para os resultados da aprendizagem, também chamados de orientação para o
ego, são relacionados à preocupação com a obtenção de avaliações favoráveis às competências ou
com a obtenção de projeção acadêmica, marcada pelo desejo de uma posição de superioridade e
destaque, muitas vezes relacionada à competição (PEIXOTO & GUIMARÃES, 2005, p. 83).
Segundo Silva & Sá (1997, p. 31), esse tipo de orientação é caracterizado por um evitamento de
desafios e baixa persistência face às dificuldades.
Por outro lado, a orientação para a maestria é voltada para os objetivos de aprendizagem, ou seja,
quando os alunos se preocupam em aumentar suas competências, não para se destacar entre os
demais, mas pelo prazer de aprender. Em contraposição à orientação para o ego, essa orientação é
caracterizada pela busca de desafios e elevada persistência e eficácia perante os obstáculos (idem,
ibidem).
Peixoto & Guimarães afirmam que, segundo pesquisas, a orientação para a maestria é melhor para o
aprendiz do que a orientação para o ego, pois em geral esses alunos encaram o estudo como mais
prazeroso; por isso estudam mais e melhor, tendo um aprendizado mais profundo. Além disso,
“alunos orientados para a maestria são mais versáteis, adaptando-se melhor a situações novas e
também a condições de estudo dificultado” (PEIXOTO & GUIMARÃES, 2005, p. 83).

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c) Duas maneiras de aprender

Por fim, a maneira pela qual o aprendiz aborda o próprio estudo também influenciará a qualidade da
aprendizagem. Podemos destacar dois modos de aprender: o modo aquisitivo, também chamado de
superficial ou reativo, e o modo interativo, pró-ativo ou profundo (BARNES, 1995;
VASCONCELOS et al., 2005; MORGAN, 1995; KNOWLES, 1975).
Pelo modo aquisitivo, a aprendizagem é vista como mera aquisição de informação e conhecimento.
Alunos que estudam da forma aquisitiva assistem a uma aula a fim de anotar tudo para decorar mais
tarde, não fazendo uso de fontes de estudo complementares ou mesmo discutindo idéias com
professores e colegas. O aluno exerce um papel passivo na aprendizagem, esperando que o professor
entregue a ele todo o conhecimento para que possa absorvê-lo. Esse tipo de abordagem se encaixa
no conceito de “educação bancária” formulado por Paulo Freire (1996, p. 25), no qual o aluno
entende a aprendizagem com uma repetição de idéias sem tomar nenhuma posição crítica frente a
elas.
Já o aluno que estuda da forma interativa exerce um papel ativo na aprendizagem, tomando notas
para lembrar-se posteriormente, mas o faz de maneira crítica, refletindo sobre as informações e
discutindo-as, quando julga necessário. Esse aluno busca diferentes fontes de estudo a fim de
complementar as aulas e busca uma compreensão profunda do material estudado. Procura ainda
relacionar os conceitos aprendidos com conhecimentos prévios e com a experiência diária.
Morgan (1995) afirma que, realizada de uma forma ou de outra, essa abordagem descreve a maneira
pela qual o aluno lida com a tarefa de aprendizagem em particular. Para uma aprendizagem eficaz, os
estudantes devem abordar seus estudos de maneira profunda (“deep approach”), o que garante uma
total compreensão do material estudado. Alunos que estudam de maneira superficial (“superficial
approach”) tendem a não der domínio do material estudado, e a quantidade de estudo não reflete
necessariamente sua qualidade.
Na abordagem profunda, a intenção do aluno é a de entender, e o foco do estudo é no significado.
Além disso, esse aluno é capaz de relacionar e distinguir conhecimento prévio e novas idéias,
confrontando conceitos com a experiência diária, e organizando e estruturando o conteúdo por
meio de uma ênfase interna. Na abordagem superficial, por outro lado, a intenção do aluno é
completar as exigências da tarefa de aprendizagem, e o foco do estudo é no significante, ou seja, o
próprio texto. O aluno que tem esse tipo de abordagem se preocupa em memorizar a informação e
os procedimentos de avaliação, além de associar conceitos e fatos de maneira não-reflexiva. Ele tem
dificuldade para distinguir princípios de evidência, informação nova e conhecimento prévio, e trata,
por fim, a tarefa de aprendizagem como uma imposição externa (MORGAN, 1995, p. 55-6).

Dificuldades na aprendizagem
Ao apresentarmos os fatores que caracterizam a boa aprendizagem, fica claro que os fatores que
causam as dificuldades são o oposto dos descritos anteriormente. Silva & Sá (1997, p. 15) afirmam
que há dois tipos de fatores que os alunos geralmente atribuem às dificuldades de aprendizagem:
fatores externos à aprendizagem (como o método de ensino ou o clima desfavorável no qual a
aprendizagem aconteceu) e fatores internos (como a falta de conhecimentos prévios e o nível de
ansiedade). As autoras resumem ainda as principais dificuldades encontradas pelos estudantes ao
afirmarem que

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Estas dificuldades situam-se, geralmente, em três áreas: o tempo e a organização do estudo (estudo nas vésperas das
avaliações, tempo de estudo insuficiente, falta de planejamento das atividades escolares); estratégias cognitivas
(utilização do mesmo método de estudo para todas as disciplinas, não- resolução de dúvidas, incapacidade para auto-
avaliar a compreensão das matérias, dificuldade em relacionar a informação e realizar inferências); e, ainda, a
motivação (falta de persistência na realização de trabalhos e exercícios, ausência de interesse pela aprendizagem).
(SILVA & SÁ, 1997, p. 39)
No entanto, ainda encontramos outros fatores que podem prejudicar o sucesso na aprendizagem,
assim como a ignorância sobre o que é solicitado, ou seja, quando o aluno não sabe o que o curso ou
o professor espera dele (BARNES, 1995, p. 18) ou também dificuldades determinadas por
problemas de leitura e compreensão dos textos para estudo, que, tanto no contexto presencial
quanto a distância, é uma atividade essencial para a compreensão, organização e retenção da
informação (SILVA & SÁ, 1997, p. 17).
Outra dificuldade muito comum e que logo será discutida é a falta de autonomia e de autodireção na
aprendizagem. Muitos alunos exercem um papel passivo na aprendizagem, não porque preferem
assim, mas porque não foram acostumados a exercer um papel ativo. A esse respeito Malcolm
Knowles destaca que “é um fato trágico que a maioria de nós saibamos apenas como ser ensinados;
nós não aprendemos como aprender” (KNOWLES, 1975, p. 14).

Ensino superior e o conceito de andragogia


As dificuldades encontradas na aprendizagem que descrevemos até agora podem ser evidenciadas
em qualquer nível de instrução, seja no ensino fundamental, médio ou superior, e mesmo no ensino
profissionalizante ou em programas de educação continuada. No entanto, percebemos que o ensino
superior representa um momento de grande transição na vida do aprendiz, no qual lhe serão exigidas
novas habilidades e atitudes.
Segundo Severino, o aprendiz no ensino superior deve tomar consciência de seu papel e
responsabilidades, uma vez que o resultado dessa experiência depende dele mesmo. Nesse sentido, o
aprendiz deve desenvolver maior autonomia, independência e uma postura de autoatividade didática.
Por outro lado, precisa organizar sua disciplina de estudo através do uso de diversos instrumentos.
Além disso, o autor destaca a importância de assumir uma postura ativa e crítica durante todo o
processo de aprendizagem (SEVERINO, 2004, p. 23-4).
Pesquisadores na Universidade do Minho, em Portugal, afirmam que investigações realizadas nessa
área
têm revelado que algumas das dificuldades de adaptação à universidade decorrem da ineficácia dos métodos de trabalho
dos estudantes. Conseqüentemente, a par dos problemas no ajustamento pessoal e social, emergem dificuldades de
aprendizagem e de rendimento acadêmico, em boa medida explicadas por processos de aprendizagem e métodos de
estudo pouco eficazes. O ensino superior, apelando a uma maior participação, iniciativa e autonomia dos estudantes
nas suas aprendizagens, pode ser demasiado desafiante para as competências e os níveis de autonomia dos alunos.
(VASCONCELOS et al., 2002, p. 2)
Preocupado com as diferenças marcantes entre o ensino de adultos, como é o caso do ensino
superior, e com o ensino de crianças, Malcolm Knowles enfatiza que o aprendiz adulto foi por
muito tempo negligenciado. Embora desde o final da 1ª Guerra Mundial tenham surgido noções das
características únicas do aprendiz adulto, somente nos anos 1960 é que surgiu uma teoria sobre a
aprendizagem de adultos, chamada de andragogia, em contraposição ao termo pedagogia, que

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significa, em sua morfologia, a arte e ciência de ensinar crianças (KNOWLES, 1979, p. 27-8). Dessa
forma, o autor define ainda andragogia como “a arte e ciência de ajudar adultos (ou, ainda melhor,
seres humanos em amadurecimento) a aprender” e afirma que o que diferencia os dois termos são os
pressupostos sobre os aprendizes (KNOWLES, 1975, p. 19).
Um dos pioneiros nessa área foi Eduard C. Lindeman, que identificou, em 1926, cinco características
do aprendiz adulto, que constituem ainda a base da pesquisa moderna de aprendizagem de adultos:
(1) adultos são motivados a aprender; (2) sua orientação para a aprendizagem é centrada na vida; (3)
a experiência é o recurso mais rico para a aprendizagem de adultos; (4) adultos têm uma necessidade
profunda de serem autodirigidos; e (5) as diferenças individuais entre as pessoas aumentam com a
idade (KNOWLES, 1979, p. 31).
Moore (1980) compara o aluno adulto ao aluno autônomo, pois
o aluno adulto é uma pessoa que está apta a abordar um assunto diretamente sem um outro adulto em um conjunto de
papéis de intervenção entre o aluno e a matéria a ser aprendida. O adulto sabe seus próprios padrões e expectativas.
Ele não mais precisa que lhe digam o que fazer, nem precisa da aprovação e recompensas de pessoas em papéis de
autoridade. (MOORE, 1980, p. 24)
A questão da autonomia do adulto é mais uma vez levantada por Moore ao se referir ao trabalho de
Knowles, que afirma que o comportamento autônomo deve ser natural do aprendiz adulto, uma vez
que a dependência é uma característica da criança. Para esse autor, “conforme uma pessoa cresce, ela
passa a se ver como capaz de tomar decisões e sua autoidentidade começa a tomar forma” (idem,
ibidem).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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universitário eficiente. Campinas: Papirus, 1995.
  COSSENZA, Suely Mesquita. Interação no processo de aprendizagem de língua
estrangeira a distância: estilos e estratégias do aprendiz adulto. Rio de Janeiro: UFRJ,
1996. Dissertação (Mestrado em Lingüística Aplicada), Faculdade de Letras, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 1996.
  COTTERALL, Sara & REINDERS, Hayo. Estratégias de estudo: guia para
professores. São Paulo: Special Book Services Livraria, 2005.
  FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa.
2ªed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
  FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática
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  HEALEY, Deborah. Learner autonomy with technology: what do language
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<http://oregonstate.edu/~healeyd/tesol2002/autonomypreswithbiblio.doc> Acessado em
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 KNOWLES, Malcolm. Self-directed learning – a guide for learners and teachers. New
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 MOORE, Michael G. Independent Study. In: BOYD, R.; APPS, J. (eds.)
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Disponível em: <http://www.ed.psu.edu/acsde/pdf/independent_study.pdf> Acessado em
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 MORGAN, Alistair R. Student learning and students’ experiences: Research, theory and
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1998. p. 77-95.
  PEIXOTO, Maurício A. P.; SILVA, Rosana N. M. B. Estratégias de aprendizagem
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  PEIXOTO, Maurício A. P. e GUIMARÃES, Maria Tereza. Aprenda a aprender:
emotivação: alta ajuda para vencer em concurso público. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
  POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem.
Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
  SERAFINI, Maria Teresa. Saber estudar e aprender. Lisboa: Editorial Presença,
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  SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22ªed. São
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  VASCONCELOS, Rosa Maria, et al. Métodos de estudo em alunos do 1º ano da
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D2. Técnicas de estudo para quem quer ser fera na faculdade

Por Alessandra Mello

In: https://ead.catolica.edu.br/blog/tecnicas-de-estudo-para-quem-quer-ser-fera-na-faculdade
(Acessado, 15/06/2021)

Quem já passou pela etapa do vestibular sabe que não basta sentar e esperar que o conteúdo entre
na cabeça. Estudar é uma ação ativa que requer empenho e técnicas efetivas de estudo.

Sim, técnicas de estudo efetivas! Porque nem todas funcionam igualmente. Um estudo da
Psychological Science in the Public Interest mostrou quais funcionam melhor. Algumas das
tradicionais, como a releitura, o uso de mnemônicos e sublinhar textos se mostraram pouco eficazes.

Alguns métodos dão um up no aprendizado, fazendo com que o estudante permaneça concentrado
por mais tempo ou que consiga lembrar por longos períodos o que foi estudado.

Fique ligado nas técnicas de estudo a seguir e se dê bem na faculdade!

1. Autoexplicação

A técnica de estudo da autoexplicação é considerada, pela pesquisa do Psychological Science in the


Public Interest, como de boa eficácia. Nela, o estudante explica para si mesmo enquanto aprende o
conteúdo, de preferência em voz alta.

Ao verbalizar o assunto, você cria conexões mentais e dá uma “dica” para o seu cérebro de que
aquele conteúdo é importante.

2. Flashcards

Quer saber como memorizar rápido? Aposte nos flashcards.

Os flashcards são métodos para estudar que fazem parte da categoria dos altamente eficazes. Sua
efetividade está relacionada com a prática contínua e com a reiterada exposição a um conteúdo.

Funciona assim: você escreve na frente do papel uma pergunta (ou um termo) e, no verso, a resposta
(ou o significado de um conceito). Faça vários deles e aproveite para estudar em qualquer lugar.

3. Questões e simulados

Se você quer saber como estudar melhor, não abra a mão das questões em seus momentos de
estudo. Elas são, ainda, as formas mais efetivas de aprender um conteúdo.

Para matérias de cálculo, faça muitos exercícios. Para qualquer disciplina, na véspera de uma prova,
realize simulados. Talvez o seu professor disponibilize provas de turmas antigas, o que ajuda a
entender como o conteúdo será cobrado.

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4. Técnica do Pomodoro

O Pomodoro não é uma técnica de estudo, mas estimula a concentração necessária para a atividade.
Com esse método, os seus estudos renderão muito mais.

Você precisará apenas de um cronômetro (pode ser do celular, desde que não se distraia com os
apps de conversa!), mas também pode utilizar um aplicativo específico para isso. Dessa forma,
estudará durante ciclos de 25 minutos intercalados por pausas de 5. Você deve trabalhar, ao longo
dos 25 minutos, sem interrupção, investindo nos métodos para estudar que explicamos lá em cima.

Ao final de quatro períodos de 25 minutos, faça uma pausa maior, de meia hora. Nas pausas
menores, você alonga, bebe uma água, estica as pernas. Na pausa maior, pode fazer um lanche,
checar o celular e descansar um pouco.

Com essas quatro ótimas técnicas de estudo, não tem como não mandar bem na faculdade. Elas
podem ser aplicadas em qualquer curso superior ou matéria, basta adequá-las à sua rotina!

Gostou das dicas? Não deixe de dividir esse conhecimento com os seus colegas da faculdade, amigos
do colégio, conhecidos… compartilhe o artigo em suas redes sociais!

D3. 3 técnicas infalíveis de administração do tempo durante a faculdade

Por Alessandra Mello

In: https://ead.catolica.edu.br/blog/3-tecnicas-infaliveis-de-administracao-do-tempo-durante-a-
faculdade (Acessado, 15/06/2021)

Na sociedade moderna, onde a maioria das pessoas se desdobra entre vários compromissos,
a administração do tempo acabou tornando-se um grande desafio para os estudantes.

Afinal de contas, além de provas, trabalhos e demais atividades acadêmicas, é preciso reservar um
tempo para os afazeres de trabalho, sem deixar de lado a diversão e os cuidados com o corpo e a
saúde.

A opção por um curso a distância vai ao encontro desse objetivo, mas não é a única estratégia que
pode ser colocada em prática. Continue a leitura (nós prometemos que vai levar alguns poucos
minutos)!

1. Recorra a uma agenda e aplicativos

Com tantos afazeres, é natural que, uma vez ou outra, você acabe esquecendo da entrega de alguma
atividade. Se isso acontecer, não se culpe! Por outro lado, há maneiras de evitar que o
descumprimento de prazos se torne uma prática recorrente.

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A primeira dica para quem busca otimizar a administração do tempo é registrar todos os seus
compromissos. Além das tradicionais agendas, a tecnologia também pode ser uma aliada dos mais
atarefados na administração do tempo.

Com a ajuda de planilhas e aplicativos, como Wunderlist, Evernote e Trello, por exemplo, é possível
organizar datas e conteúdos que serão cobrados em provas e trabalhos. Dessa maneira, você não
precisa ficar refém da sua capacidade de memorização.

2. Construa um cronograma, priorizando atividades mais importantes

Depois de relacionar todos os seus compromissos, o ideal é que você faça uma triagem para
hierarquizá-los, conforme o seu grau de importância ou urgência. Uma vez que esse processo tenha
sido finalizado, é natural que as atividades consideradas prioritárias recebam atenção especial. A
finalização deste primeiro grupo permite que você desfrute do restante do período com um pouco
mais de tranquilidade.

Em busca de produtividade na administração do tempo, uma boa estratégia é a criação de metas


periódicas, sejam elas diárias, semanais ou mensais, como, por exemplo, ler pelo menos três livros
por mês.

A sua metodologia de gestão do tempo deve abrir espaço para os imprevistos. Não se cobre
demais caso não consiga realizar tudo o que se propôs para um determinado período, pois isso pode
gerar ansiedade e impactar negativamente no restante da sua rotina.

3. Faça o possível para antecipar suas atividades

A eficiência na administração do tempo permite até mesmo que você se programe para a entrega
de tarefas antes do prazo, evitando o estresse e a ansiedade gerados pelo famoso “correr contra o
tempo”.

Nesse contexto, evite deixar para se dedicar às suas tarefas apenas às vésperas da entrega. Ao
começar uma atividade bem antes do prazo previsto, você consegue executar seus planos com
calma, adaptando-se mais facilmente às novas situações.

Se levada a sério, a preocupação com o gerenciamento do tempo também traz reflexos positivos
para a qualidade de vida: sua rotina de alimentação, lazer, exercícios físicos ou cuidados com o corpo
consegue se manter intacta ou então minimamente alterada.

Quer ter mais tempo na sua agenda? Uma formação a distância permite que você tenha mais
liberdade de horários para cursar uma formação superior!

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