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simples-para-a-alfabetizacao-matematica

Publicado em NOVA ESCOLA 30 de Janeiro | 2017

Blog de Alfabetização

Jogos incríveis e simples para a


alfabetização matemática
Mara Mansani

Um dos grupos da turma do 1º ano criou a Trilha do Macaco. (Foto: Mara Mansani)

Vou compartilhar com vocês uma experiência com o uso de jogos na alfabetização matemática, que
aplico e desenvolvo há alguns anos com minhas turmas. É isso mesmo, alfabetização matemática!
Parece estranho, não é mesmo? Até bem pouco tempo, esse conceito também era desconhecido para
mim. Só depois de fazer alguns cursos me familiarizei com ele.

A proposta é construir trilhas matemáticas com os alunos. As trilhas são jogos de percurso muito
conhecidos, há séculos, em todo o mundo. E são muito divertidas! Os jogos fazem parte da rotina das
crianças e são muito mais que brincadeiras. Como metodologia, proporcionam o desenvolvimento de
muitas habilidades, como a capacidade de argumentar, refletir, analisar situações, elaborar hipóteses,
entre outras. São boas maneiras de aprofundar conteúdos, não sós os matemáticos, e também
favorecem a sociabilidade e a convivência: no jogo, aprende-se a ganhar, a perder, a entender e
respeitar regras e a trabalhar em grupo.

Meus objetivos são que os alunos produzam as escritas numéricas, utilizem estratégias de contagem e
compreendam o uso de números no contexto doméstico e o conceito de crescente e decrescente. A
seguir, compartilho os passos que segui com a turma do 1º ano para colocar a proposta de pé.

1. Pesquisa de materiais
Fui ao Google, a sites que são referência para mim e à biblioteca e encontrei muita coisa boa:

O livro-jogo de Adriana Klisys, Quer Jogar?, é maravilhoso, deveria fazer parte da biblioteca
pessoal de todo professor. Além de trazer jogos, conta histórias sobre trilhas inventadas em todo
o mundo.
Outra referência é o livro Ciência, Arte e Jogo – Projetos e Atividades Lúdicas na Educação Infantil,
da mesma autora, mais voltado aos pequenos.
Uma terceira indicação são os Cadernos do Mathema – Jogos de Matemática do 1º ao 5º, de Kátia
Stocco Smole, Maria Ignez Diniz e Patrícia Cândido. A obra foi distribuída às escolas pelo MEC e
fez parte do Programa Nacional Biblioteca da Escola 2010 – por isso, há uma boa chance de
encontrá-la aí onde você trabalha.

2. Apresentação da proposta

Na sala de aula, perguntei se a turma conhecia e já tinham jogado trilhas antes. A maioria disse que
sim. Então, contei a eles a história da mais antiga do mundo, a Trilha do Ganso (citada no livro Quer
Jogar?). Mostrei também vários modelos de tabuleiros, que eles adoraram. Essa etapa é importante
para contextualizar e criar um ambiente que inspire os alunos para a construção de suas próprias
trilhas.

3. Criação em grupo

Inspirando-se na Trilha do Ganso, as crianças, divididas em grupos, escolheram animais para construir
e ilustrar seus próprios jogos. Surgiu a Trilha da Macaca, do Jacaré, da Cobra, da Centopeia e do
Caracol. Todas lindas! É muito importante, em qualquer processo de aprendizagem, deixar as crianças
explorarem livremente a proposta, sem limitá-las ao que foi programado para aquele período, pois a
trajetória de aprendizagem de cada um é diferente em amplitude e tempo.

Depois de desenhar, vem o desafio: numerar as casas corretamente. (Foto: Mara Mansani)

4. Inclusão dos números

Depois da criação, chegou a hora de numerar as trilhas. E aí começaram as dúvidas. A tarefa exigia que
os alunos identificassem e escrevessem os números em sequência, o que ia além do que já sabiam.
Eles contavam, recontavam e debatiam o que estavam fazendo. Minhas intervenções consistiam em
questionar coisas como: “O que vem antes de ‘tal’ número?”, “No quadro numérico, quais números
terminam com algarismos iguais?”, e assim por diante. A turma consultou o quadro numérico e, com a
minha ajuda, cada grupo revisou o que tinha feito. Teve grupo que pulou números, por exemplo, e
pôde fazer as correções. Não havia limite de tamanho para as trilhas.

5. Finalização da produção

Com o jogo criado, ainda faltava montar tudo para começar a jogar. Os grupos recortaram a trilha e a
colaram em cartolina, para formar um tabuleiro mais firme. Para aumentar ainda mais a durabilidade,
revestiram o papel com aquele adesivo plástico transparente (o famoso contact).

6. Hora de jogar!

Cada grupo recebeu um dado e várias tampinhas de garrafa que seriam os peões. Além disso,
estabelecemos que era preciso respeitar a ordem de jogada (um de cada vez) e que quem chegasse
primeiro no final da trilha seria o vencedor. Também criamos as casas da sorte e as casas do azar. O
participante que parasse na casa da sorte poderia avançar alguns passos. Já o que parasse na casa do
azar deveria retroceder no tabuleiro. Não foi um mero incremento: a ideia era que, nesse avançar e
voltar, os alunos desenvolvessem os conceitos de crescente e decrescente na sequência numérica.
Aqui, cabe uma sugestão: o professor pode ser escriba da turma e anotar essas regras na lousa, o que
acrescenta a esse momento uma atividade de escrita coletiva de texto instrucional e dá aos alunos a
possibilidade de consultar a lista quando quiserem, tirando proveito da função social dele.

Os alunos jogaram muito, várias vezes, por vários dias! Trocaram os jogos entre os grupos e todo
mundo aproveitou todas as trilhas. Eu mesma joguei com eles! Foram momentos de muita diversão e,
como planejei, preparei e previ, muita aprendizagem!

"O Jogo do Jacaré" foi uma das trilhas criadas pela turma e rendeu boas risadas. (Foto: Mara
Mansani)

As trilhas podem ser feitas em diferentes anos, em diferentes níveis de aprendizagem. Já fiz uso dessa
sequência da alfabetização ao 5º ano, com variações de conteúdos e objetivos. Um exemplo de
variação: em casas pré-determinadas, podem ser incluídos a resolução de problemas matemáticos,
elaborados pelo professor ou até mesmo pelos alunos. Outra alternativa: construir as trilhas com
sequências diferentes (de 5 em 5, por exemplo). Mais uma: se um participante cair nas casinhas pares,
pode jogar o dado novamente. O importante é explorar as trilhas como um recurso pedagógico.

O potencial dos jogos como recurso educativo é imenso, mas para aproveitá-lo, é muito importante
que o professor tenha clareza do seu papel, que é o de propositor, mediador, orientador das práticas
educativas, sem que isso tire a graça da brincadeira.
Espero que tenham gostado das minhas ideias e sugestões! E você, que jogos explora em sala de aula?
Deixe seu comentário e conte também suas experiências!

Um grande abraço e até a próxima segunda!

Mara Mansani

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