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A PRESCRIÇÃO E A

DECADÊNCIA NO
DIREITO DO TRABALHO

Autoria: Carlota Bertoli Nascimento

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Lucilaine Ignacio da Silva


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2018


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

N244a

Nascimento, Carlota Bertoli


A prescrição e a decadência no direito do trabalho. / Carlota
Bertoli Nascimento – Indaial: UNIASSELVI, 2018.

89 p.; il.
ISBN 978-85-53158-14-0

1.Prescrição – Brasil. 2.Decadência – Brasil. 3.Direito do


trabalho – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 658.404
Carlota Bertoli Nascimento

Formada pela Fundação Universidade Federal


de Rio Grande, Pós Graduada em Direito Público,
Pós Graduada em Direito e Processo do Trabalho,
especialista em Direito Marítimo, Mestre pela PUC –
RS, Professora de Graduação nos cursos de Direito
e Administração e Pós Graduação de Direito e
Processo do Trabalho, advogada atuante nas
áreas de Direito do Trabalho, Direito Público,
Direito Societário e Marítimo.
Sumário

APRESENTAÇÃO.....................................................................07

CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência.........09

CAPÍTULO 2
Normas Específicas à Prescrição Trabalhista..................29

CAPÍTULO 3
Prescrição e a Constituição Federal de 1988...................71
APRESENTAÇÃO
Estamos iniciando a disciplina de Prescrição e Decadência no Direito do
Trabalho. Você já sabe que determinados institutos do Direito possuem importância
ímpar no sistema jurídico democrático e social, pois têm como finalidade a
estabilidade das relações jurídicas e, portanto, busca segurança jurídica.

Também sabemos que nos institutos originários do Direito Civil aplicam-se


as relações privadas, públicas e também as relações de trabalho, mas alguns
questionamentos surgem quando se trata do estudo da prescrição e decadência
em relação às relações de trabalho:

• A prescrição e a decadência nas relações de trabalho e nas relações de


emprego são idênticas?
• Existem exceções às regras impositivas do Código Civil relativas à
prescrição para as relações de trabalho?
• A prescrição nas relações de trabalho pode ser reconhecida de ofício
pelo juiz?

Para responder a diversos questionamentos, no primeiro capítulo vamos


estudar os institutos em questão aplicados diretamente nas relações de trabalho,
sem deixar de lado sua origem civilista.

Dando continuidade ao tema da Prescrição e Decadência, a partir do segundo


capítulo vamos adentrar nas especificidades do tema na esfera trabalhista.

Agora que você já está familiarizado com o tema, tendo se apropriado dos
conceitos e teorias sobre a prescrição e decadência, vamos observar como os
institutos da prescrição e da decadência se aplicam nos contratos de trabalho e
como a doutrina e jurisprudência vêm enfrentando a temática na práxis laboral.

Por fim, no terceiro capítulo veremos os institutos da prescrição parcial e


prescrição total, bem como a prescrição sobre alguns institutos afetos ao contrato
de emprego como o INSS, FGTS, etc.
C APÍTULO 1
Introdução ao Estudo da
Prescrição e Decadência

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender os institutos da prescrição e decadência, suas finalidades e


natureza jurídica.

� Entender as diferenças entre os institutos e outros correlatos.


A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

Contextualização
Quantas vezes você escutou as perguntas “quantos anos você tem?”,
“quanto tempo leva pra chegar?”, “que horas são?’’.

O homem mede o tempo das mais diversas formas: em dias, horas, meses,
anos, estações, através das estrelas. O tempo determina nossas vidas em quase
todas as esferas, inclusive nas relações familiares, profissionais, financeiras etc.

O ministro do STJ Nilson Vital Naves afirmava com maestria que “o tempo
disciplina a vida do homem em todas as esferas. [...] O tempo determina o
nascimento e a extinção do direito” (NAVES, 1964, 164).

A importância do tempo é essencial no direito, pois nota-se que ao longo dos


anos o direito se modifica, multiplica, extingue-se, recria-se e se justifica. Contudo,
nos institutos da decadência e da prescrição é que observamos a influência do
tempo no direito.

No presente capítulo, estaremos trabalhando os conceitos, o nascimento e


a importância do instituto da prescrição e da decadência para o direito e como
ocorrem no nosso ordenamento jurídico. O estudo preliminar é essencial para
que possamos identificar o direito do trabalho nas mais diversas relações que o
universo laboral apresenta, a aplicação prática da prescrição e da decadência.

Portanto, o foco principal do capítulo é o estudo aprofundado da prescrição


e da decadência no que se refere aos seus conceitos e naturezas jurídicas, para
que possamos, como profissionais do direito, salvaguardar a ordem jurídica em
um de seus pontos mais sensíveis: a estabilidade das relações.

“Todos os dias quando acordo


Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”

(Renato Russo – Legião Urbana)

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A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Prescrição e Decadência: Conceito


e Importância
a) O tempo e o direito

Nada que conhecemos é perene, “o passar do tempo conduz ao feneci-


mento dos seres, da natureza e da vida” (RIZZARDO, 2017, p. 52). Com o direito
não podia ser diferente.

O passar do tempo Segundo Theodoro Júnior (s.d.), o passar do tempo no campo


no campo jurídico jurídico por si só pode ter importância, segundo é ser objeto de tutela, ou
por si só pode ter seja, produzir efeitos, como no caso da usucapião, sendo um fato jurídico
importância, segundo
é ser objeto de tutela, lato sensu.
ou seja, produzir
efeitos, como no caso Pode causar estranheza a um leigo o fato de o passar do tempo
da usucapião, sendo
um fato jurídico lato causar efeitos no campo jurídico, perguntando-se se um direito pode
sensu. ficar velho e morrer com a passagem do tempo.

Para aqueles, no entanto, que labutam no mundo jurídico, tal tem se tor-
nado lugar comum, em especial em tempos líquidos, segundo Bauman (2001). Na
era da informação, onde a acessibilidade está no toque dos dedos na palma da
mão, é quase impossível crer na perenidade do direito. Veja que a jurisprudência
se modifica, isso significa que a maneira de ler o direito também se modifica com
o passar dos anos e alguns direitos deixam de existir enquanto outros nascem.

Em diversos aspectos, no campo do direito do trabalho e do direito fun-


damental não é diferente. A passagem do tempo opera decisivamente em alguns
aspectos trabalhistas: tempo para aquisição e gozo do direito às férias; tempo de
disposição ao empregador ou tempo efetivamente laborado etc.

No entanto, alguns direitos, por pertencerem à esfera fundamental da pes-


soa, jamais perecem, como o direito à vida, ao trabalho, à dignidade, à intimidade.
Os direitos citados são cunhados na esfera constitucional e, portanto, na esfera
positiva de um Estado, como direitos fundamentais e essenciais à existência. Por
isso, a passagem do tempo não os retira do indivíduo.

Na esfera trabalhista, muitos direitos são elevados à categoria de direitos


fundamentais no artigo nº 7 da Constituição Cidadã de 1988. Isso não significa
que com a passagem do tempo, como se verá ao longo da disciplina, não sejam
alcançados os direitos, portanto, cuidado ao mencionar a imprescritibilidade de um
direito ou não na esfera trabalhista.

A seguir veremos algumas aplicações práticas sobre o tempo e o direito.


Você poderá observar a imprescritibilidade de alguns direitos fundamentais no Brasil.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

Ementa: PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE.


ESPOSA. PRESCRIÇÃO DE FUNDO DE DIREITO. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL. QUALIDADE DE SEGURADO. COMPROVAÇÃO.
REQUISITOS PREENCHIDOS. TERMO INICIAL. CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS. INCIDÊNCIA. 1 A prescrição quinquenal
atinge as parcelas individualmente, e não ao fundo do direito em
que se baseiam, visto que o direito ao benefício é imprescritível. 2
São requisitos para a concessão do amparo em tela: (a) a qualidade
de segurado do instituidor da pensão; e (b) a dependência dos
beneficiários, que na hipótese de esposa é presumida (artigo 16, § 4º,
da Lei 8.213/91). 3 Comprovada a qualidade de segurado especial
do de cujus à época de seu óbito, é de ser concedida a pensão por
morte à requerente. 4. O termo inicial do benefício deve ser a partir
da data do requerimento administrativo, na hipótese do art. 74, inc.
II, da Lei nº 8.213/91. 5 As prestações em atraso serão corrigidas,
desde o vencimento de cada parcela, ressalvada a prescrição
quinquenal (TRF4, AC 0012549-15.2013.4.04.9999, SEXTA TURMA,
Relator NÉFI CORDEIRO, D.E. 16/09/2013).

Ementa: APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE


INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. DNA. PRESCRIÇÃO. A ação
de investigação de paternidade é imprescritível, por se tratar de
direito personalíssimo, pois a sentença que reconhece o vínculo
parental tem caráter declaratório, visando a acertar a relação jurídica
da paternidade do filho, sem constituir para o autor nenhum direito
novo, não podendo o seu efeito retro-operante alcançar os efeitos
passados das situações de direito. Precedentes do STJ. RECURSO
DESPROVIDO (Apelação Cível Nº 70074976986, Sétima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles
Ribeiro, Julgado em 27/09/2017).

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE NULIDADE DE BENS.


PRESCRIÇÃO. As ações de nulidade de partilha e de testamento não
são suscetíveis à prescrição e decadência. Na verdade, a pretensão
delas é imprescritível, bem como é insuscetível de decadência o
direito de se insurgir contra a validade da partilha e do testamento.
Afinal, o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação e
não convalesce pelo decurso do tempo (art. 169 do CC). NEGARAM
PROVIMENTO (Apelação Cível Nº 70071905624, Sétima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles
Ribeiro, Julgado em 22/02/2017).

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A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONDOMÍNIO. AÇÃO


DE EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
DIREITO IMPRESCRITÍVEL E FUNDAMENTAL DO CONDÔMINO.

PEDIDO DE ADJUDICAÇÃO DO IMÓVEL POR UM DOS


CONDÔMINOS. DIREITO DE PREFERÊNCIA QUE DEVERÁ SER
EXERCIDO NO CURSO DO PROCEDIMENTO DE ALIENAÇÃO
DOS ART. 1.113 E SEGUINTES DO CPC. DECISÃO MANTIDA.

O direito de preferência de que trata o art. 1.118, III, do CPC não


obsta a alienação judicial da coisa no presente caso. A determinação
para alienação judicial do imóvel não impede ou reduz, em absoluto,
o direito de preferência alegado pelo agravante em relação a terceiro,
e mesmo diante dos demais coproprietários, devendo exercê-
lo nos termos do art.1.322 do CC. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO. UNÂNIME (Agravo de Instrumento nº 70053363974,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rubem
Duarte, Julgado em 05/06/2013).

b) Relevância e definição dos institutos

Segundo Rizzardo (2017), a importância dos institutos da prescrição e


da decadência se dá essencialmente no âmbito dos direitos e ações deles
decorrentes cuja passagem do tempo causa efeitos jurídicos às relações entre as
pessoas e os atos contratuais realizados.

As relações jurídicas travadas entre as pessoas necessitam de estabilidade


para que sejam possíveis a convivência e a própria existência pacífica da vida em
sociedade.

A vida em sociedade seria insuportável se todos tivessem que guardar


documentos de todas as relações encetadas. Uma pequena pessoa jurídica
necessitaria de mais de um prédio de muitos andares para tal, imagine então uma
sociedade anônima de proporções intercontinentais.

Ademais, os direitos não são absolutos, ou seja, não há direitos criados


no nosso ordenamento ou que possam ser exercidos de forma egoísta, sem
consideração ao meio social, sem que seu titular se importe com as consequências
externas ou a terceiros do exercício de seu direito.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

Em nosso ordenamento jurídico, nem mesmo a vida e a liberdade são direitos


absolutos no sentido citado.

Nas palavras de Ehrhardt Júnior (2009, p. 339):

Os institutos jurídicos da prescrição e da decadência são


fundamentais em qualquer sistema jurídico, na medida em
que evitam, por exemplo, a obrigação de guarda, por tempo
indefinido, de grande quantidade de documentos, e limitam o
período de tempo a ser considerado quando da análise dos
requisitos de validade na celebração de um negócio jurídico.
Enfim, trata-se de instrumentos fundamentais para assegurar
a tranquilidade na ordem jurídica.

Assim, a estabilidade das relações e a segurança jurídica no ordenamento


jurídico são as pedras de toque dos institutos da prescrição e da decadência.

c) Conceito de prescrição e decadência

Prescrição: O conceito tradicional de prescrição, que pode ser extraído


do Código Civil Brasileiro, é ser a mesma causa extintiva da pretensão do direito
material pelo seu não exercício no prazo estipulado em lei (NERY JÚNIOR, 2011).
O conceito clássico é interpretado do art. 189 do CCB: “Violado o direito, nasce
para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que
aludem os arts. 205 e 206”.

Se realizada uma interpretação literal do artigo citado anteriormente, no-


tamos que em verdade o Código menciona que a pretensão se extingue pela pre-
scrição, correto?

Então é preciso questionarmos: o que é pretensão para o


direito, ou seja, o que é pretensão jurídica?

Segundo Nery Júnior (2011), o texto da lei não dá margens a interpretações,


dele não se podendo inferir que a prescrição é do direito de ação, ou seja, da
ação de cobrança ou da ação de execução, por exemplo, mas sim da pretensão
do direito, o que significaria, segundo o doutrinador, que não é o direito em si ou a
ação que prescreve, mas essencialmente a pretensão ao direito.

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A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Ao contrário do entendimento apresentado, Rizzardo (2017, p. 63) afirma que


a prescrição em verdade atinge o próprio direito de ação e, segundo o autor, “se a
pessoa não faz uso dos meios assegurados, entende-se que houve a desistência,
levando os sistemas jurídicos a retirar a faculdade de defesa”.

É importante observar que a doutrina nacional diverge sobre o que


exatamente fulmina a prescrição: se o direito de ação ou a pretensão
sobre o direito subjetivo - a pretensão sobre o direito material.

Por isso é tão importante o conceito de pretensão jurídica que é ensinado


na disciplina de Teoria Geral do Processo. Afinal, pretensão se equivale ao direito
subjetivo de ação?

Elucidando a controvérsia, Pereira (2004) seguido de Theodoro Júnior


(2005), inicialmente explicita dois conceitos fundamentais: a diferença entre
perda do direito e extinção do direito. Segundo o aquele autor, a perda do direito
é menos profunda do que a extinção, pois na perda tem-se a transferência de
titularidade, ou seja, a perda ocorre quando um direito se separa de seu titular.
Já na extinção ocorre a destituição total do vínculo jurídico, ou seja, as faculdades
jurídicas decorrentes do direito não podem mais ser exercidas por qualquer titular
do mesmo.

Ainda, Theodoro Júnior (2005), explicitando o tema, apresenta de forma


didática a corrente segundo a qual não é o direito subjetivo de ação, ou seja, de
buscar o Poder Judiciário para obtenção de uma resposta, que é atingido pela
prescrição, em antagonismo ao autor Rizzardo (2017).

Tampouco é o direito subjetivo da pessoa que se vê fulminada pela inércia.


Em verdade, o que é fulminada pela inércia é a pretensão jurídica. Segundo os
ensinamentos da doutrina moderna processualista, aproxima-se da teoria da actio
nata dos romanos, segundo a qual pretensão é a reação à violação do direito
subjetivo, enquanto que ação é direito subjetivo, autônomo e abstrato de obter
uma resposta judicial.

Pode-se conceituar prescrição como sendo a inércia por certo lapso temporal
definido em lei do titular de direito subjetivo violado, que culmina com a perda da
eficácia da pretensão.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

Para que possa aprofundar mais o conceito de pretensão e sua


diferenciação do direito subjetivo de ação, recomenda-se a leitura do
texto de Dias (2010). Disponível em: <http://www.mariaberenice.com.
br/manager/arq/(cod2_755)2__observacoes_sobre_o_conceito_de_
pretensao.pdf>. Acesso em: 5 abr. 2018.

Decadência: A decadência, de modo mais facilitado, embora não sem a


já citada controvérsia doutrinária, é definida, para a doutrina em geral, como a
extinção do direito material em si.

Rizzardo (2017) conceitua a decadência como sendo a perda do próprio


direito não aproveitado ou não procurado no período de tempo assegurado em lei.

Donizetti (2014, p. 194) afirma que a decadência é “um fato jurídico


consubstanciado no decurso de um prazo dentro do qual um direito potestativo
não é exercido, cujo efeito é a extinção desse direito”.

O que se observa da doutrina é que a decadência de um direito, ou seja, a


extinção de um direito pelo seu não uso está invariavelmente conectada ao direito
potestivo. Assim, convém questionar: você se lembra o que é um direito potestivo?

Direito potestivo, em suma, é aquele que o titular tem direito


de exigir algo que se repercute na esfera de outrem sem a devida
contraprestação. É o direito que pode ser exigido de um terceiro, o
qual não possui outra alternativa se não a sujeição.

Segundo Júnior (2005, p. 51), enquanto nos direitos a uma prestação o


sujeito depende da atuação ou omissão de uma terceira pessoa, nos direitos
potestativos “[...] não há prestação a ser cumprida. O que há é tão apenas a sua
sujeição a um estado jurídico que o titular do direito potestivo cria”.

No direito laboral, em especial no direito individual, a legislação heterônoma


não apresenta expressividade em relação à criação de prazos decadenciais.

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A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Na legislação heterônoma pode ser citado, além do prazo decadencial para a


propositura da ação rescisória, o prazo para a propositura da ação de inquérito de
apuração de falta grave, previsto no art. 853 da CLT.

Com a nova tendência de flexibilização das relações laborais, no entanto, em


alguns aspectos questionáveis, é possível que através de normas autônomas as
partes criem prazos decadenciais nos contratos laborais.

Distinção Entre Prescrição e


Decadência
Vários são os critérios que podem ser adotados para a distinção entre a
prescrição e a decadência: legal, funcional, axiológico, literal etc.

Como você já pôde observar, a primeira distinção que evidencia os institutos


é que enquanto a prescrição fulmina a pretensão do direito (para alguns, o direito
de ação), a decadência fulmina o próprio direito potestativo.

Além disso, pode-se observar do próprio Código Civil, art. 207, que não se
aplicam à decadência as causas que impedem, suspendem ou interrompem a
prescrição, com exceção da causa impeditiva de prescrição ao menor – art. 198 I
do Código Civil.

Ainda, os prazos decadenciais admitem renúncia ou diminuição pelas partes,


enquanto os prazos prescricionais não admitem diminuição ou renúncia pelas
partes. A decadência pode ser objeto de contrato, criada pelas partes, a prescrição
não. A seguir, listamos a distinção adotada por Filho (1961, s.p.):

1ª) - Estão sujeitas à prescrição (indiretamente, isto é, em


virtude da prescrição da pretensão a que correspondem): -
todas as ações condenatórias, e somente elas.
2ª) - Estão sujeitas à decadência (indiretamente, isto é,
em virtude da decadência do direito potestativo a que
correspondem): - as ações constitutivas que têm prazo especial
de exercício fixado em lei.
3ª) - São perpétuas (imprescritíveis): - a) as ações constitutivas
que não têm prazo especial de exercício fixado em lei; e b)
todas as ações declaratórias.
Várias inferências imediatas podem ser extraídas daquelas
três proposições. Assim:
a) não há ações condenatórias perpétuas (imprescritíveis),
nem sujeitas a decadência;
b) não há ações constitutivas sujeitas a prescrição;
c) não há ações declaratórias sujeitas a prescrição ou a
decadência.

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

Para que você possa fixar essa diferenciação aprofundando-


se no arcabouço jus filosófico da mesma, recomenda-se a leitura
do texto de Seco (2015), disponível em:<https://www.ibdcivil.org.br/
image/data/revista/volume3/04---rbdcivil-volume-3---prescriucueo-
e-decaduuncia-no-direito-civil-em-busca-da-distinucueo-funcional-.
pdf>. Acesso em: 5 abr. 2018.

A seguir, veja algumas aplicações práticas sobre a decadência. Você poderá


observar de forma prática a diferença entre prescrição e decadência:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA.


PRESCRIÇÃO. DECADÊNCIA. Possuindo o pedido de anulação
de doação efetivada pelo cônjuge, sem o consentimento do outro,
natureza essencialmente constitutiva, porque ligado a um direito
potestativo, aplicam-se-lhe as regras atinentes à decadência, e não à
prescrição. Deram provimento, ao efeito de afastar o reconhecimento
da prescrição. Unânime. (Agravo de Instrumento nº 70009091315,
Tribunal de Justiça RS. Sétima Câmara Cível, relatora: Maria
Berenice Dias, data do julgamento: 27/10/2004).

Fundamentos e Natureza Jurídica


Como você já pôde observar, o fundamento dos institutos da prescrição e
da decadência é a paz social, consubstanciada na estabilização das relações
jurídicas, tendo como fim último a segurança jurídica.

Desta forma, é fácil notar que a prescrição e a decadência possuem


importância não apenas para a esfera privada, ou no âmbito das relações
privadas, mas grande relevância no plano social e na ordem pública.

Não se pode esquecer que a prescrição se aplica inclusive nas relações


de ordem pública, bem como dos entes públicos com os privados e até mesmo
na persecução penal, tudo com o objetivo maior de sustentar a ordem jurídica e
democrática.

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A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Com relação à natureza jurídica dos institutos, pode-se dizer que a prescrição
possui natureza jurídica de ato-fato jurídico, pois depende de uma conduta
omissiva humana – inércia do titular do direito subjetivo depende do nascimento
de uma pretensão que decorre da violação de um direito.

Já a decadência possui natureza de fato jurídico, qual seja, a passagem do


tempo e a inércia do titular de um direito potestativo.

Ambos possuem natureza mista de direito público e privado, pois disciplinam


relações entre particulares e públicas, pode-se dizer que apesar de possuir raiz
no direito privado, possuem inegável interesse público. Há autores, a exemplo
de Orlando Gomes (1996), que defendem a natureza eminentemente pública do
instituto.

Prescrição, Preclusão e Perempção


Como você já pôde observar, a prescrição fulmina a pretensão do direito ante
a inércia de seu titular. Portanto, possui natureza de ato-fato jurídico que atinge o
direito no plano da eficácia. Já a preclusão e a perempção são institutos presentes
no direito processual, mais especificamente no processo em si.

A preclusão, segundo Dinamarco (2009), constitui expediente empregado em


prol da abreviação do processo, ou melhor dizendo, para que o processo não se
perpetue ou perdure por duração indeterminada, a preclusão tem por finalidade
última garantir o dinamismo do processo, vindo ao encontro do princípio da
celeridade.

Assim como a prescrição, a preclusão se opera no campo da eficácia, sendo


o resultado de atos comissivos ou omissivos (ASSIS, 2016).

A preclusão pode ser classificada em temporal, lógica e consumativa.

a) preclusão temporal: presente no art. 223 caput do CPC e aplicável ao


processo do trabalho, consiste na extinção do direito de a parte praticar
o ato quando decorrido o prazo do mesmo: Art. 223.  Decorrido o prazo,
extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual,
independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, porém,
à parte provar que não o realizou por justa causa.

b) preclusão lógica: decorre de ato comissivo da parte, ou seja, da


incompatibilidade de praticar ato processual contraditório, incompatível
com o ato anteriormente praticado. Por exemplo: quando imediatamente

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Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

após a sentença o réu apresenta cálculo de liquidação e depósito dos


valores objetos da condenação, não pode apresentar recurso. Outro
exemplo encontra-se no art. 806 da CLT. “Art. 806 - É vedado à parte
interessada suscitar conflitos de jurisdição quando já houver oposto na
causa exceção de incompetência”.

Segundo Assis (2016), essa espécie de preclusão decorre do dever de boa-fé


das partes relativamente ao processo, bem como da vedação ao comportamento
contraditório.

c) preclusão consumativa: Consiste na “perda da faculdade de repetir,


melhorar ou corrigir ato processual já praticado” (ASSIS, 2016, p. 1432).
A preclusão consumativa também é consectário do dever de lealdade
processual, do princípio da unirrecorribilidade, bem como da irradiação
das declarações de vontade presente no art. 200 do CPC: “Os atos das
partes consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade
produzem imediatamente a constituição, modificação ou extinção de
direitos processuais”.

A perempção, também figura processual que visa a inibir atos abusivos


das partes, é originária do processo civil, arts. 485, V e 486, §3º, porém sem
correspondente na CLT e, segundo Delgado (2011), instituto que inexiste e não
pode ser aplicado ao processo do trabalho.

A CLT possui instituto parecido que muitos intitulam de perempção trabalhista


nos arts. 731; 732 combinados com o art. 844, vejamos:

Art. 731 - Aquele que, tendo apresentado ao distribuidor


reclamação verbal, não se apresentar, no prazo estabelecido
no parágrafo único do art. 786, à Junta ou Juízo para fazê-lo
tomar por termo, incorrerá na pena de perda, pelo prazo de
6 (seis) meses, do direito de reclamar perante a Justiça do
Trabalho.
Art. 732 - Na mesma pena do artigo anterior incorrerá o
reclamante que, por 2 (duas) vezes seguidas, der causa ao
arquivamento de que trata o art. 844.
Art. 844 - O não comparecimento do reclamante à audiência
importa o arquivamento da reclamação, e o não comparecimento
do reclamado importa revelia, além de confissão quanto à
matéria de fato.
Enquanto a
Como você pode observar, a prescrição e os institutos da preclusão e prescrição é instituto
perempção, apesar de possuírem proximidades, são institutos diferentes. do direito material,
Lembre-se de que enquanto a prescrição é instituto do direito material, a a perempção e
perempção e a preclusão são institutos do direito processual. a preclusão são
institutos do direito
processual.

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A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Causas Impeditivas, Suspensivas e


Interruptivas da Prescrição
Como você já observou, a prescrição é norma de ordem pública limitativa
de direitos. A lei, assim como impõe limitação ao uso indiscriminado dos direitos
buscando a paz social, também a ordem jurídica limita a prescrição através
da imposição de causas impeditivas, suspensivas e interruptivas dos prazos
prescricionais.

As causas impeditivas da prescrição situam-se nos fatos tipificados em


lei que obstam o início do prazo prescricional, ou seja, a causa impeditiva nasceu
antes ou conjuntamente à pretensão do direito. São causas que restringem o
campo de atuação do credor e não poderiam causar-lhe, portanto, prejuízo.

Já nas causas suspensivas o prazo prescricional já se iniciou, mas algum


fato posterior ao início da contagem do prazo suspende, obsta para o seu curso.
Cessada a causa obstativa, o curso do prazo volta a correr de onde parou.

Nas palavras de Russomano (1978), podemos resumir a diferença entre


causas suspensivas e impeditivas, pois segundo o autor, a diferença essencial
entre as causas que impedem o fluxo do prazo prescricional e as causas que
suspendem está no fato de que as primeiras evitam que o prazo comece a fluir,
enquanto que as segundas suspendem. O autor compara ilustrativamente as
causas impeditivas a um dique e as causas suspensivas a um parêntese.

Exemplo típico de causa impeditiva do prazo prescricional


no direito do trabalho é a menoridade do trabalhador. Outra causa
impeditiva do prazo prescricional existente na esfera civil que cabe
ao direito do trabalho é a ausência do país do titular do direito em
serviço público da União, Estados e Municípios.

Ainda no que diz respeito às causas impeditivas da prescrição, convém


relembrar a Orientação Jurisprudencial nº 83 da SDI-I do TST, segundo a qual
durante o aviso prévio indenizado, o curso da prescrição fica impedido apenas
iniciando sua contagem quando findo o período. Vejamos o precedente ERR94048
de 1993 da referida orientação:

22
Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

O prazo prescricional para a postulação de verbas rescisórias,


no caso de aviso prévio, tem início com o decurso do tempo
de sua duração porque com a integração deste ao tempo
de serviço, a exigibilidade das parcelas devidas só surge no
momento da efetiva extinção do contrato de trabalho.

No precedente se observa a presença e influência da Teoria da actio nata, ou


seja, a prescrição somente inicia seu curso no instante em que nasce a pretensão
para o titular do direito. Nas palavras de Delgado (2011, p. 249), “[...] antes de
poder ele exigir do devedor seu direito, não há como falar-se em início do lapso
prescricional”.

No que tange às causas suspensivas da prescrição no direito do trabalho,


o exemplo mais comum é o afastamento do empregado em virtude de doença/
acidente laboral, suspendendo o contrato de trabalho, no entanto, não impede o
transcurso do lapso prescricional.

Com relação à interrupção do prazo prescricional, neutraliza os efeitos do


prazo que já tenha se iniciado, de modo que a contagem do tempo que já se
iniciou passa a ser recontada, ou seja, com a causa interruptiva pode-se dizer que
o contador é zerado, iniciando-se novamente o prazo.

As causas que interrompem a prescrição estão elencadas no art. 202 do


Código Civil, ocorrendo apenas uma vez:

I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a


citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da
lei processual;
II – por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III – por protesto cambial;
IV – pela apresentação do título de crédito em juízo de
inventário ou em concurso de credores;
V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que
importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr
da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo
para a interromper.

No processo do trabalho, a data da propositura da reclamatória fixa o


termo exato da interrupção da prescrição a teor do que determina o art. 841
da CLT. Salientando que mesmo o arquivamento da reclamatória não obsta os
efeitos interruptivos da prescrição, estando tal posicionamento consubstanciado
na Súmula 268 do TST: “A ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe
a prescrição somente em relação aos pedidos idênticos”. A seguir, algumas
aplicações práticas sobre o tema:

23
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA PRIMEIRA


RECLAMADA – FUNDAÇÃO ARMANDO ÁLVARES PENTEADO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMISSIBILIDADE.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. GRUPO ECONÔMICO.
RAZÕES DISSOCIADAS DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO
AGRAVADA. Os argumentos aduzidos nas razões do Agravo de
Instrumento devem contrapor-se aos fundamentos norteadores da
decisão que se tenciona desconstituir, sob pena de tornar inviável
o exame do recurso interposto pela parte, diante da ausência de
dialeticidade. Agravo de Instrumento de que não se conhece.

PRESCRIÇÃO. HERDEIROS MENORES DE 16 ANOS.


ARTIGO 189, I, DO CÓDIGO CIVIL. APLICAÇÃO NA JUSTIÇA DO
TRABALHO. A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo
440, dispõe que não corre prazo prescricional contra os menores
de dezoito anos. O aludido dispositivo trata, de forma específica,
do trabalhador menor de dezoito anos. No que tange aos herdeiros
de empregado falecido, menores de 16 anos, tem aplicação nesta
Justiça Especializada a causa impeditiva da prescrição prevista no
artigo 198, I, do Código Civil, ante a lacuna da Consolidação das
Leis do Trabalho, além de ser compatível com seus princípios. Diante
disso, a determinação da Corte de origem, no sentido da aplicação
da supramencionada causa impeditiva do prazo prescricional aos
herdeiros do empregado falecido, menores de 16 anos, está em
consonância com o artigo 8º, parágrafo único, do texto consolidado.
Agravo de Instrumento a que se nega provimento (AIRR nº 29600-
73.2007.5.02.0088. TST. 1ª Turma. Rel. Des. Convocado Marcelo
Lamego Pertence. Julgado em 28/10/2015).

RECURSO DE REVISTA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.


AUXÍLIO-DOENÇA. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO. É entendimento desta Corte
que não há interrupção do prazo prescricional pelo fato de o contrato
de trabalho do reclamante estar suspenso por motivo de doença,
uma vez que tal hipótese não se enquadra em nenhuma das causas
impeditivas, suspensivas ou interruptivas do prazo prescricional
previstas nos arts. 197 a 202 do Código Civil de 2002. Recurso de
revista conhecido e provido (RR - 2100-33.2001.5.15.0071 , Relatora
Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 11/06/2008, 8ª
Turma, Data de Publicação: DJ 13/06/2008).

24
Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

PRESCRIÇÃO INTERRUPÇÃO – ENUNCIADO 268/TST


APLICAÇÃO APENAS NOS CASOS EM QUE O PEDIDO FORMULADO
NA SEGUNDA AÇÃO TENHA SIDO OBJETO DA PRIMEIRA. A
interrupção do prazo prescricional prevista no Verbete 268/TST
somente ocorre em relação aos pedidos objeto da ação anteriormente
ajuizada, não quanto a novos pedidos. O fato de se tratar do mesmo
contrato de trabalho não acarreta a interrupção da prescrição
para novos pedidos que deixaram de ser formulados na primeira
ação. Caso contrário, poderia o empregado juizar inúmeras ações,
postulando um novo pedido em cada uma delas, o que implicaria
a perpetuação das demandas. Tal situação afastaria, por sua vez,
o objetivo do instituto da prescrição, que é manter a paz social e a
segurança nas relações jurídicas. Desse modo, sendo possível o
empregado cumular os pedidos numa mesma ação, não há que se
falar na interrupção da prescrição. Embargos conhecidos e providos.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos em Recurso
de Revista nº TST-E-RR-467.268/98.0, em que é Embargante
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL e é Embargado FRANCISCO
ROSSAL DE ARAÚJO (Precedente da Súmula 268).

Atividade de Estudos:

1) Analise a situação a seguir:

Márcia e Paulo foram casados em regime de comunhão parcial


de bens de 1999 até 21 de março de 2015, quando realizaram o
divórcio com a divisão de bens.

Márcia possuía uma dívida com Paulo e o pai dele assinou uma
confissão de dívida na data de 12/01/2013.

Ainda, o sobrinho de Márcia, Josué, propôs ação de cobrança


de um cheque prescrito que o tio Paulo havia dado em pagamento
pelos serviços prestados por aquele na casa dos tios na data de
12/12/2014.

Com a distribuição do processo, em face de ambos os tios


na data de 27/08/2016, Josué afirmou que abria mão dos juros e
da multa contratual. No entanto, quando do trânsito em julgado

25
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

apresentou planilha de cálculos com valores atualizados, juros de


mora de um por cento ao mês e multa de 18% sobre o débito, tudo
conforme o contrato avençado.

Agora responda às seguintes questões:

a) Qual o último dia do prazo prescricional para Paulo cobrar a dívida


de sua ex-esposa?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

b) Há diferença entre o prazo que Paulo e seu pai possuem para a


cobrança da dívida?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

c) A dívida pode prescrever antes do divórcio? Por quê?


_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

d) Com relação aos atos de Josué, o cálculo pode ser embargado? Em


caso positivo, qual preliminar poderia ser destacada nos embargos?
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

Algumas Considerações
Como você pôde notar, os institutos da prescrição e da decadência, apesar
de suas ímpares aplicabilidades na práxis jurídica, ou seja, no processo, são
institutos do Direito Material e não do Direito Processual. Mesmo possuindo
eficácia dentro do processo judicial, a passagem do tempo se opera em verdade
no campo do direito subjetivo da pessoa.

No Direito do Trabalho não é diferente. Embora os prazos prescricionais no


contrato de celetista sejam, basicamente, de dois e cinco anos, como veremos nos
próximos capítulos, eles fulminam a pretensão do trabalhador e não o direito de ação.

26
Capítulo 1 Introdução ao Estudo da Prescrição e Decadência

Assim, tendo apropriado os conceitos e teses a respeito dos institutos da


prescrição e decadência, vamos realizar uma atividade para fixar os principais
pontos do capítulo.

Referências
AGNELO, Amorim Filho. Critério científico para distinguir a prescrição da decadên-
cia e para identificar as ações imprescritíveis. Revista de direito processual civ-
il, São Paulo, v. 3, p. 95-132, jan./jun. 1961.

ASSIS, Araken. Processo civil brasileiro, volume II. Parte Geral: Institutos Fun-
damentais: Tomo I. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução: Plinio Dentzien. Rio de Ja-


neiro: Zahar, 2001.

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943. Consolidação das leis


do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
Del5452.htm>. Acesso em 14 fev. de 2018

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico,  1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 mar. 2018.

______. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em :


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm Acesso em 14 fev. 2018.

______. Lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1916. Código Civil. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm Acesso em 14 fev. 2018.

______. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do


Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2017/
Lei/L13467.htm#art1 Acesso em 14.fev. 2018.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo:
LTr, 2011.

DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. 6. ed.


São Paulo: Malheiros, v. 2. 2009.

DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. 3. ed.


São Paulo: Atlas, 2014.

27
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

EHRHARDT JÚNIOR, Marcos. Direito civil: LICC e parte geral. Salvador: Jus
PODIUM, v.1. 2009.

NAVES, Nilson Vital. Prescrição e decadência no direito civil. Revista da Facul-


dade de Direito. Minas Gerais, 1964, nº 4 p. 164-187.

NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado.
8. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. 20. ed. V. 1. Rio de
Janeiro: Forense, 2004.

RIZZARDO, Arnaldo et al. Prescrição e decadência. 2. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2017.

RUSSOMANO, Mozart Victor. O empregado e o empregador no direito do tra-


balho. São Paulo: LTr, 1978.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Ensaio sobre a Decadência, Prazo, Termo Final


e Extinção da Eficácia do Negócio Jurídico. Revista Lex Magister. Disponível em:
<http://www.lex.com.br/doutrina_25797423_ENSAIO_SOBRE_DECADENCIA_
PRAZO_TERMO_FINAL_E_EXTINCAO_DE_EFICACIA_DO_NEGOCIO_JURID-
ICO.aspx>. Acesso em: 12 fev. 2018.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Distinção Científica entre Prescrição e Decadên-


cia. Um Tributo à Obra de Agnelo Amorim Filho. In: Revista dos Tribunais. Ano
94. Volume 836. Junho de 2005.

28
C APÍTULO 2
Normas Específicas à Prescrição
Trabalhista

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender as características e normas específicas da prescrição na relação


de trabalho, em especial na relação de emprego.

� Identificar o momento da ocorrência da prescrição, bem como os diferentes


aspectos dela no contrato de trabalho.
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

30
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Contextualização
Enquanto os institutos da prescrição e decadência têm por escopo a paz
social e a segurança jurídica nas relações, o direito do trabalho busca, em última
ratio, equalizar partes de uma relação privada que, por questões históricas,
econômicas e sociais, estão em patamares não apenas diferentes, mas
essencialmente opostos.

Não é nova a celeuma existente entre a doutrina internacional, especialmente


a respeito da aplicabilidade do instituto da prescrição na vigência do contrato de
trabalho, porque há a discrepância existente entre os polos da relação trabalhista:
de um lado, o empregador com o jus variandi e, de outro, o empregado, que
apesar de possuir o jus resistentiae, sem a intervenção estatal na relação, através
das leis heterônomas, fica em posição de desvantagem.

CONCEITO DE JUS VARIANDI: decorre do poder de direção


do empregado, sendo, na verdade, o poder de estabelecer certas
modificações na prestação do serviço pelo empregador.

Segundo Gustavo Garcia (2012), o jus variandi pode ser dividido


em ordinário e extraordinário. Aquele, são as pequenas modificações
contratuais que não representam efetivos prejuízos ao empregado,
causando-lhes no máximo um desconforto, como pequenas
alterações no horário de entrada para se adequar ao consumidor.

Já o jus variandi extraordinário seria aquele que “autoriza a


modificação do contrato de trabalho de maior relevância, podendo
ocorrer apenas nos estritos limites da lei, como a modificação do
local de trabalho” (GARCIA, 2012, 519-520).

CONCEITO DE JUS RESISTENTIAE: é o direito de resistência


do obreiro perante ordens ilícitas ou irregulares do empregador.
Segundo Delgado (2000, p. 133), mesmo sendo um princípio
mitigado pela inexistência de garantia contra despedida arbitrária, é
um princípio que ao lado da inalterabilidade do contrato de trabalho
tem por escopo “privilegiar a perspectiva protetiva dos interesses
obreiros na dinâmica das alterações contratuais”.

31
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

A prescrição, segundo Delgado (2008), possui inegável caráter imoral,


já que favorece o praticante de ato ilícito, mesmo sendo essencial à realização
da paz social. Contudo, na relação empregatícia será que é possível crer que
o fenômeno da prescrição efetivamente ocorre por ter o titular da pretensão
“dormido”, deixando o direito de socorrer o trabalhador porque este foi negligente
em exigir seus direitos?

Viana (2008, p. 164), em seu intrépido artigo intitulado “Os paradoxos


da prescrição: quando o trabalhador se faz cúmplice involuntário da perda de
seus direitos”, responde com precisão determinada questão citando o seguinte
exemplo:

Suponhamos que um dia eu entre numa padaria, peça um pão


e não pague. O que acontecerá? Certamente, a moça (pois é
sempre uma moça) me chamará, exigindo o dinheiro. Se eu
ignorar seus apelos, é provável que apronte um escândalo.

Mas se, no dia seguinte, eu conseguir emprego noutra padaria,


e o patrão não me pagar a hora extra, o que acontecerá? Se
a minha coragem permitir, pedirei educadamente que ele me
pague; mas caso ele não me atenda, não atendido estarei.

Essa diferença talvez possa ser explicada pelo fato de que - ao


contrário do que acontece nos contratos em geral - é o devedor,
e não o credor, quem detém o poder no contrato de trabalho.

É justo o instituto da prescrição ao longo do contrato de trabalho


quando os polos estão invertidos?

O trabalhador brasileiro realmente pode exigir seus direitos


durante o contrato de trabalho sem que haja uma represália pelo
empregador?

O princípio da proteção e do in dubio pro operario não deveriam


impedir qualquer violação aos direitos fundamentais do trabalhador
lesados e aos quais ele não pode renunciar?

A aplicação do reconhecimento da prescrição de ofício prevista


na CLT após a reforma trabalhista encampada pela Lei 13.467/2017
é constitucional?

Não se quer aqui fixar a ideia de que a prescrição possa existir


no contrato de trabalho, que também é uma relação privada, mas

32
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

apenas buscar que você, operador do Direito, reflita de forma


sistemática sobre a aplicabilidade do instituto.

Para reflexão, leia o texto do autor Marcio Túlio Viana (2008)


na íntegra:<http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/32797-
40592-1-PB.pdf>.

Prescrição nos Contratos Urbanos


e Rurais
A atual Carta Constitucional impõe igualdade nos prazos prescricionais aos
contratos de emprego urbanos e rurais. No entanto, nem sempre foi assim.

A prescrição nas relações jurídicas privadas – civil, contratos de empreitada


ou locação de serviços – estava tutelada no Código Civil de 1916. Também previu
aquele código a prescrição de parte das relações laborais no seu art. 178, § 10,
inciso V:

Art. 178. Prescreve:


§10. Em cinco anos:
V. A ação dos serviçais, operários e jornaleiros, pelo pagamento
dos seus salários.

Deve ser relembrado que naquele período ainda não havia Justiça do
Trabalho e, com a organização pelo Decreto-Lei 1.237/1939, regulamentada pelo
Decreto 6.596/1940, toda e qualquer reclamação perante a Justiça do Trabalho
se aplicava o prazo de prescrição de dois anos, salvo expressa previsão em
contrário. Assim, até o surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho, em
1943, o prazo de prescrição das pretensões laborais era de dois anos para os
trabalhadores urbanos e rurais.

Com a publicação da CLT (Decreto-Lei 5.452, de 1º de maio de 1943), o


prazo de prescrição das relações empregatícias no cenário urbano e rural passou
a ser diferente porque a CLT deixava de lado os empregados rurais alijados de
sua proteção – nos termos do artigo 7º, alínea “b”, aplicando-se originariamente
apenas aos trabalhadores urbanos, os quais nos termos do artigo 11 da redação
original da CLT tinham o prazo de dois anos para pleitear a reparação dos
dispositivos da CLT infringidos na relação de trabalho.

33
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Em março de 1963, no entanto, os trabalhadores rurais passaram a ter


uma aplicação do prazo prescricional de dois anos às suas pretensões, com o
surgimento do Estatuto do Trabalhador Rural e, de uma maneira mais favorável
que os trabalhadores urbanos, passaram a ter dois anos após o término de seu
contrato para pleitear toda e qualquer pretensão violada ao longo de todo o
contrato.

Em 1988, com a publicação da Constituição Federal, determinada diferença


foi elevada para patamares fundamentais na redação original do art. 7°, inciso
XXIX:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de


trabalho, com prazo prescricional de:

a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois


anos após a extinção do contrato;
b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador
rural.

No entanto, com a publicação da Emenda Constitucional 28, de 25 de maio


de 2000, houve uma modificação no texto da Carta Magna, demonstrando, para
fins de prescrição, os empregados urbanos e rurais sendo equiparados. Vejamos
o texto da EC 28/2000:

Art. 1o  O inciso XXIX do art. 7º da Constituição Federal passa


a vigorar com a seguinte redação:

"XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações


de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os
trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após
a extinção do contrato de trabalho;" (NR)

"a) (Revogada)"
"b) (Revogada)".

Você notou que em verdade os rurícolas foram prejudicados com a nova


redação do inciso XXIX do art. 7º? A resposta é simples. Para eles, assim como
aos empregados urbanos, passou-se a admitir a prescrição ao longo do contrato
de trabalho, ou seja, das parcelas devidas pelo empregador ao longo do contrato
desrespeitadas.

34
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Questiona-se: a Constituição Federal, no artigo 60, parágrafo


4º, inciso IV, eleva a cláusula pétrea dos direitos fundamentais
individuais. Então será que o referido inciso XXIX do artigo 7º poderia
ter sofrido aquela modificação?

A emenda não é contrária à redação do caput do artigo 7º, o


qual prevê que os direitos dos trabalhadores são os ali elencados,
além de outros que melhorem suas condições sociais?

Não por outro motivo a referida Emenda Constitucional sofreu severas críticas
da doutrina ante a sua incompatibilidade material com o sistema, sofrendo os
direitos fundamentais para um retrocesso social (OLIVEIRA, 2013). Em verdade,
melhor seria se o legislador tivesse equiparado os direitos dos trabalhadores
urbanos aos dos trabalhadores rurais e não o contrário. Hoje estão equiparados
para fins prescricionais e, portanto, para os efeitos do instituto como um todo no
contrato celetista, os contratos urbanos e rurais, a despeito da incongruência da
modificação com o sistema constitucional vigente. Assim, convém que fixemos
os conceitos e as diferenciações entre as prescrições existentes no contrato de
emprego: a prescrição quinquenal e a prescrição bienal.

No Capítulo 1, você estudou os conceitos de prescrição construídos a partir


de, basicamente, duas correntes doutrinárias: uma para a qual a prescrição atinge
o direito de ação e outra que entende atingir a prescrição e a pretensão de direito
tão somente.

Quando se trata de prescrição bienal e quinquenal, determinada diferenciação


parece um tanto confusa, sendo conveniente citar na íntegra as palavras de
Delgado (2016, p. 245):

A prescrição extintiva constrói-se sob a ótica do titular do


direito atingido. Conceitua-se, na linha teórica expressa no art.
189 do Código Civil de 2002, como a extinção da pretensão
correspondente a certo direito violado em decorrência de o
titular não ter exercitado no prazo legalmente estabelecido.
Também se conceitua como a perda da ação (no sentido
material) de um direito em virtude do esgotamento do prazo
para seu exercício. Ou: a perda da exigibilidade judicial de um
direito em consequência de não ter sido exigido pelo credor ao
devedor em certo lapso de tempo.

35
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Assim, no direito do trabalho existem basicamente dois prazos prescricionais:


o bienal e o quinquenal. O primeiro fulmina o fundo de direito e o segundo as
parcelas anteriores ao seu prazo.

Quando realizamos a leitura da doutrina geral do direito sobre prescrição e


decadência, podemos suscitar a dúvida sobre os prazos de prescrição bienal e
quinquenal conforme a redação trazida pela Emenda Constitucional.

Como você já viu, a decadência fulmina o próprio direito. Então


questiona-se: o prazo bienal para propositura da ação não seria
um prazo decadencial, enquanto o quinquenal, o verdadeiro prazo
prescricional?

Embora a nova redação dada pela Emenda Constitucional aos pra-


zos prescricionais da CLT tenha trazido celeuma sobre a sua aplicabilidade
ou interpretação dos mesmos, a doutrina majoritária e a jurisprudência já
sedimentaram entendimento a respeito da aplicabilidade dos prazos bienal
e quinquenal de prescrição:

Súmula nº 308 do TST


PRESCRIÇÃO QUINQUENAL (incorporada a Orientação
Jurisprudencial nº 204 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20,
22 e 25.04.2005
I. Respeitado o biênio subsequente à cessação contratual,
a prescrição da ação trabalhista concerne às pretensões
imediatamente anteriores a cinco anos, contados da data do
ajuizamento da reclamação e, não, às anteriores ao quinquênio
da data da extinção do contrato (ex-OJ nº 204 da SBDI-1 -
inserida em 08.11.2000).

II. A norma constitucional que ampliou o prazo de prescrição


da ação trabalhista para 5 (cinco) anos é de aplicação imediata
e não atinge pretensões já alcançadas pela prescrição bienal
quando da promulgação da CF/1988 (ex-Súmula nº 308 - Res.
6/1992, DJ 05.11.1992).
 
O Tribunal Superior do Trabalho, ao editar a suprarreferida súmula, pacificou
não apenas a interpretação em relação à contagem da prescrição, como o
termo inicial. Melhor dizendo, o quinquênio se conta retroativamente da data da
propositura da ação. Proposta a ação, contam-se cinco anos atrás, os cinco anos
não se contam da extinção do contrato de trabalho.

36
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Ainda, após extinto o contrato de trabalho, o empregado tem dois anos para
propor a ação trabalhista.

Figura 1 – Prescrições bienal e quinquenal

Fonte: A autora.

Importante a leitura de um dos acórdãos que foram precedentes da referida


Súmula 308 do TST, para que você fixe a matéria:

PROCESSO: RR NÚMERO: 275387 ANO: 1996


PUBLICAÇÃO: DJ - 13/06/1997
 A C Ó R D Ã O
(Ac. 1ª T-3098/97)
JOD/GB

PRESCRIÇÃO. GRATIFICAÇÃO ADICIONAL POR TEMPO DE


SERVIÇO, VAPAS E PROMOÇÕES DA RESOLUÇÃO Nº 256/56 DO
ICFEB

Contanto que intentada a ação trabalhista no biênio subsequente


à extinção do contrato, apura-se a prescrição retroagindo-se cinco
anos da data do ajuizamento da ação e não da data da rescisão
do contrato. O biênio previsto no artigo 7º, inciso XXIX, letra "a", da
Constituição da República da 1988, não é novo prazo, de natureza
decadencial, mas o termo final do prazo prescricional iniciado.

Recurso parcialmente conhecido e parcialmente provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso de revista


nº TST-RR-275.387/96.5, em que é Recorrente BANCO DO ESTADO
DA BAHIA S/A - BANEB e Recorrido ANTONIO VIDAL.

37
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Irresignando-se com os v. acórdãos proferidos pelo Egrégio


5º Regional (fls. 611/613 e 641/642), interpõe recurso de revista o
Reclamado (fls. 647/691).

Nas razões, alega o Demandado, preliminarmente, a nulidade


do julgado regional por negativa de prestação jurisdicional. No mérito,
insurge-se quanto à condenação sofrida nos seguintes tópicos:
pagamento da multa; prescrição; promoções da Resolução nº 256/56
do ICFEB; pagamento do VAPAS; adicional por tempo de serviço;
estabilidade econômica; estabilidade da Constituição Estadual;
diferenças salariais do IPC de junho/87; horas extras; gratificação de
balanço e compensação.

Contrarrazões apresentadas às fls. 773/776.

A douta Procuradoria-Geral do Trabalho absteve-se de opinar.

É o relatório.

(...)

2 - MÉRITO DO RECURSO

2.1 PRESCRIÇÃO. GRATIFICAÇÃO ADICIONAL POR TEMPO


DE SERVIÇO, VAPAS E PROMOÇÕES DA RESOLUÇÃO Nº 256/56
DO ICFEB

Consoante entendimento jurisprudencial pacífico, é total a


prescrição para reclamar verbas trabalhistas, salvo se decorrentes
de lei (Súmula 294/TST).

Os pedidos alusivos à gratificação adicional por tempo de


serviço, promoções e VAPAS fundam-se em norma regulamentar
editada em 1956 e alterada em 1976 e 1977. Admitido o Recorrido
em 22/11/79 e demitido em 15/01/92, buscou socorro do Judiciário
em 20/10/92. Ora, é evidente que seus direitos não foram fulminados
pela ação do tempo, muito embora a postulação envolva a aplicação
da prescrição total.

Conforme deflui do artigo 7º, inciso XXIX, letra "a", da Carta


Magna de 1988, o prazo prescricional da ação trabalhista é de cinco
anos, com termo final dois anos após a extinção do contrato de
emprego. A meu juízo, o biênio de que cuida a norma constitucional em
tela não tem natureza de prazo decadencial, cujo fluxo comece com a
dissolução do contrato: ilógico que um prazo principie prescricional e,
a seguir, rompido o vínculo contratual, transmude-se para decadencial.

38
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

De resto, a lição clássica da doutrina de CÂMARA LEAL não


vislumbra prazo decadencial quando o direito subjetivo material
preexiste e é violado, como se dá aqui: o prazo é tipicamente
prescricional, neste caso.

Ora, pacífico em doutrina e jurisprudência que a data da


propositura da ação trabalhista marca a interrupção do prazo
prescricional (artigo 172, inciso IV, do Código Civil).

Se assim é, no suposto do ajuizamento da ação no biênio


subsequente à extinção do contrato, para se fixar a prescrição da
ação trabalhista cumpre retrotrair cinco anos da data da propositura
da demanda, com limite transitório em 05.10.86 (sob pena de violar-
se direito adquirido do empregador à luz da lei velha, no caso o artigo
11, da CLT).

Na espécie, pois, intentada a ação trabalhista, em 26/10/92,


reputa-se prescrita no tocante às prestações legalmente exigíveis
anteriores a data de 26/10/87.

Dou provimento parcial ao recurso para decretar a prescrição da


ação no que tange às prestações legalmente exigíveis anteriores a
26/10/87.

Fonte: Disponível em: <http://brs02.tst.jus.br/cgi-bin/nph-brs?s1=223442.nia.&u=/


Brs/it01.html&p=1&l=1&d=blnk&f=g&r=1>. Acesso em: 18 mar. 2018.

Com relação ao inciso II da Súmula 308, o Tribunal deixou claro a natureza


material do prazo ao afirmar que as pretensões já alcançadas pela prescrição
bienal não se modificam com a ampliação do prazo prescricional para cinco anos,
pois o direito adquirido dos empregadores deve ser respeitado nos termos do art.
5º inciso LV da CF/88.

a) Interrupção e suspensão do contrato de trabalho

Você já estudou no Capítulo 1 as causas interruptivas, suspensivas e


impeditivas da prescrição, as quais são elencadas no Código Civil, artigos 197 a
204. Muitas delas, quando transpostas do direito comum para o direito especial do
trabalho, são plenamente aplicáveis, no entanto, algumas outras não se aplicam
à esfera laboral.

As causas impeditivas da prescrição são anteriores à fluência do prazo e


impedem a ocorrência do fenômeno prescricional. Dentre elas, a de maior
relevância é a prevista no art. 198, inciso I – impedimento de prescrição contra
absolutamente incapaz.

39
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

No entanto, a CLT possui norma mais benéfica impedindo a fluência do prazo


prescricional para o menor, ou seja, ao menor de 18 anos não correm os prazos
bienal e quinquenal de prescrição. Se o menor se emancipar, para o menor
emancipado não aplicar-se-ia a regra do art. 440 da CLT?

A resposta dada pela doutrina é clara: não se afasta a regra da CLT, pois
não adotou como critério a incapacidade absoluta, mas critério especial de
menoridade. Assim leciona Delgado (2016, p. 250):

A lei trabalhista tem preceito específico sobre a relação


incapacidade e prescrição, ao dispor que não corre prescrição
contra os menores de 18 anos [...]. Ou seja, a menoridade
trabalhista é fator impeditivo da prescrição, independentemente
de ser o menor absoluto ou relativamente incapaz – o que
torna irrelevante, sob o ponto de vista da prescrição, essa
diferenciação do Código Civil.

Contudo, lembre-se de que determinada regra vale para o trabalhador e não para
os seus herdeiros. Todas as regras existentes no Código Civil sobre impedimento de
fluência do prazo prescricional se aplicam aos contratos de trabalho.

As regras presentes no art. 197, incisos I e II do Código Civil, têm por escopo,
segundo Pamplona Filho e Fernandez (2017), a paz no núcleo familiar. O autor cita
como exemplo um escritório de arquitetura onde laboram arquiteta e seu marido,
este com vínculo regular empregatício com aquela e o pai daquele possua um
estabelecimento empresarial onde um dos empregados seja seu neto de 17 anos.

O artigo 197, inciso III, protege ainda os incapazes tutelados ou curatelados e


seus tutores ou curadores na constância da tutela ou curatela, pelo mesmo motivo
dos incisos anteriores (PAMPLONA FILHO; FERNANDEZ, 2017).

Lembre-se: o Código Civil, no ano de 2015, sofreu alteração no rol de


absolutamente incapazes, artigo 3º, através da Lei 13.146/2015, como veremos
as duas redações:

Quadro 1 – Comparação
Anterior Atual
Art. 3o São absolutamente incapazes de ex-
ercer pessoalmente os atos da vida civil: 

I - os menores de dezesseis anos;  Art. 3o  São absolutamente inca-


pazes de exercer pessoalmente
II - os que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tiverem o necessário discerni- os atos da vida civil os menores
mento para a prática desses atos; de 16 (dezesseis) anos.

III - os que, mesmo por causa transitória,


não puderem exprimir sua vontade.
Fonte: A autora.

40
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Assim, antes de 2016, quando passou a ter vigência a redação da Lei 13.146,
as pessoas que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos, ou os que, mesmo por causa transitória,
não puderem exprimir sua vontade, na esfera trabalhista também tinham proteção
contra o início da fluência da prescrição. Hoje, como não existe regra semelhante
na CLT, tendo a redação do CCB modificado, não se presume a incapacidade
absoluta dessas pessoas, assim, salvo prova em contrário, correm normalmente
os prazos de prescrição.

Sobre o tema, a decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região a


seguir cita:

Acórdão

Contra a sentença que extinguiu com julgamento do mérito o


processo declarando a prescrição, recorre o autor alegando que não
possui capacidade para praticar os atos da vida civil; que sofre de
transtorno afetivo bipolar; que está em tratamento desde 20/10/1995;
que estava em depressão; que nem mesmo podia sair de casa; que
havia impedimento para o curso da prescrição. Contrarrazões às fls.
85/90. Desnecessária a intervenção do Ministério Público.

V O T O:

1. Apelo aviado a tempo e modo. Conheço-o.

2. Prescrição. Causa impeditiva. A sistemática do Código Civil


revela que os principais fatores que distinguem a capacidade
da incapacidade são a possibilidade de se exprimir à vontade,
à higidez dessa vontade, ao poder de discernimento quanto
à realidade e ao resultado dos atos praticados (art. 3º, II, do
Código Civil). O autor não provou que não tem condições para
realizar os atos da vida civil ou que não tem capacidade de
discernimento. Tanto isso é verdade que firmou instrumento
de procuração (fl. 15) e declaração de pobreza (doc. n.º 1).
Não verifico a existência de causa impeditiva à prescrição.

CONCLUSÃO:

Nego provimento ao recurso. (RO 20060257584. Rel. Des.


Rafael Edson Pugliese Ribeiro. Julgado em 18/04/2006)

Fonte: Disponível em: <http://aplicacoes8.trtsp.jus.br/sis/index.


php/segundaInstancia>. Acesso em: 18 mar. 2018.

41
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Imunizados estão ainda contra a fluência dos prazos prescricionais os


ausentes do país em serviço para os entes da Federação (União, Estados e
Municípios) e aqueles que em tempo de guerra estiverem servindo às Forças
Armadas.

As causas suspensivas são supervenientes ao início do fenômeno,


tolhendo a fluência do prazo prescricional. Uma regra de suspensão do prazo
prescricional descrita na CLT é a provocação da Comissão de Conciliação Prévia
por parte do credor empregado ou mesmo pelo empregador, art. 625-G: “o prazo
prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação
Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de
conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F”.

A SBDI-I do TST ainda elevou à categoria de causa suspensiva do prazo


prescricional a impossibilidade de acesso ao Judiciário quando o trabalhador
estiver em auxílio-doença previdenciário.

Observe que a Orientação Jurisprudencial é no sentido de que é necessária


a suspensão do contrato de trabalho, bem como a impossibilidade física ou
mental do empregado de buscar o Poder Judiciário para que ocorra a suspensão
do prazo prescricional, não exigindo que o auxílio doença ou aposentadoria por
invalidez decorra de doença/acidente do trabalho.

375. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR


INVALIDEZ. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO.
PRESCRIÇÃO. CONTAGEM.  (DEJT divulgado em 19,
20 e 22.04.2010)
A suspensão do contrato de trabalho, em virtude da percepção
do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, não
impede a fluência da prescrição quinquenal, ressalvada a
hipótese de absoluta impossibilidade de acesso ao Judiciário.

Vejamos um dos precedentes da OJ:

NUMERAÇÂO ANTIGA: E-RR - 3319/1999-070-02-00


PUBLICAÇÃO: DJ - 27/04/2007
 
PROC. Nº TST-E-RR-3319/1999-070-02-00.0
C:
ACÓRDÃO
(Ac. SBDI-1)
CARP/lt/fd

42
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

EMBARGOS. AUXÍLIO DOENÇA. SUSPENSÃO DO PRAZO


PRESCRICIONAL. Suspenso o contrato de trabalho em virtude
de o empregado haver sido acometido de doença profissional com
percepção de auxílio-doença, não se pode afirmar que ocorra,
igualmente, a suspensão do fluxo prescricional, porque esta hipótese
não está contemplada no art. 199 do Código Civil como causa
interruptiva ou suspensiva do instituto prescricional. O referido
preceito legal não comporta interpretação extensiva ou analógica
para a inclusão de outras causas de suspensão não previstas pelo
legislador ordinário, sob pena de ofensa ao princípio da segurança
jurídica. Embargos conhecidos e providos.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos em


Recurso de Revista n° TST-E-RR-3319/1999-070-02-00.0, em que é
Embargante BANCO BRADESCO S.A. e Embargado AGUINALDO
CÉSAR TALLI.

A 1ª Turma da Corte, em processo oriundo do 2º Regional, por


intermédio do Acórdão de fls.416-424, entre outros aspectos, conheceu
do Recurso de Revista interposto pelo Reclamado, com relação ao
tema Prescrição. Auxílio doença e, no mérito, negou-lhe provimento.

O Reclamado interpõe Embargos à Seção Especializada em


Dissídios Individuais (fls. 426-428), postulando a reforma do julgado.

Impugnação não há.

O processo não foi enviado à Procuradoria-Geral para emissão


de parecer pela ausência de obrigatoriedade (RI/TST, Art. 82, inciso I).

É o relatório.

VOTO

1. CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos comuns de admissibilidade, examino


os específicos dos Embargos.

1.1 AUXÍLIO DOENÇA. SUSPENSÃO DO PRAZO


PRESCRICIONAL.

A Turma manteve a decisão do Regional, cujo entendimento


foi no sentido de que ocorre a suspensão do contrato de trabalho
em virtude de o empregado haver sido acometido por acidente de
trabalho, com percepção de auxílio-doença acidentário, operando-

43
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

se, igualmente, a suspensão do prazo prescricional para ajuizamento


da ação trabalhista.

O Embargante postula a reforma do julgado.

Alega que a suspensão do contrato de trabalho não autoriza


a suspensão do prazo prescricional, porque não está contemplada
legalmente como hipótese interruptiva ou suspensiva do instituto
prescricional e, ainda que assim o considerasse, seria imperativo,
no mínimo, a comprovação da impossibilidade física ou mental da
prática de ato processual.

Transcreve arestos que entende divergentes.

O aresto transcrito à fl. 427 evidencia o conflito de julgados à


medida que adota tese oposta à defendida pela Turma, no sentido
de que a suspensão do contrato de trabalho, em virtude do gozo
de auxílio-doença, não está incluída no Código Civil como causa
interruptiva, impeditiva ou suspensiva da prescrição.

Conheço.

2. MÉRITO

2.1. AUXÍLIO DOENÇA. SUSPENSÃO DO PRAZO


PRESCRICIONAL

A discussão no processo é se o gozo de auxílio-doença, em


virtude de o empregado haver sido acometido por acidente de
trabalho, com percepção de auxílio-doença acidentário, suspende o
fluxo do prazo prescricional para reclamar direitos trabalhistas.

O Embargante entende que não, porque a hipótese não está


contemplada legalmente como interruptiva ou suspensiva do instituto
prescricional e, ainda que assim o considerasse, seria imperativo,
no mínimo, a comprovação da impossibilidade física ou mental da
prática de ato processual.

A Turma ressalta o caráter incontroverso da suspensão do


contrato de trabalho, em virtude de o empregado haver sido acometido
de doença profissional, invocando a regra dos arts. 476 da CLT, 60,
§ 2º e 63, da Lei nº 8.213/91. E não há dúvida que efetivamente, na
hipótese, ocorre a suspensão do contrato de trabalho.

Entretanto, não se pode afirmar que, suspenso o contrato


de trabalho em virtude de o empregado haver sido acometido de

44
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

doença profissional, com percepção de auxílio-doença, ocorra,


igualmente, a suspensão do fluxo prescricional, porque esta hipótese
não está contemplada na lei como interruptiva ou suspensiva do
instituto prescricional, e o art. 199 do Código Civil não contempla
interpretação extensiva ou analógica para a inclusão de outras
causas de suspensão não previstas pelo legislador ordinário.

Permitir que qualquer incapacidade laboral fosse prestigiada


pela suspensão do prazo prescricional implicaria em dar interpretação
extensiva ou analógica para a inclusão de outras causas de
suspensão não previstas pelo legislador ordinário, comprometendo
o princípio da segurança jurídica, já que a qualquer tempo poderia o
empregado exigir do empregador supostos direitos decorrentes da
relação de emprego.

A SBDI-1 da Corte já se manifestou neste sentido, no E-RR-


789/2002-920-20-00.8, Redatora Designada Ministra Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi.

Pelo exposto, dou provimento aos Embargos para declarar


a prescrição dos pedidos anteriores ao quinquênio anterior ao
ajuizamento da ação.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Subseção I Especializada em


Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade,
conhecer dos Embargos, por divergência jurisprudencial e, no mérito,
dar-lhes provimento para declarar a prescrição dos pedidos anteriores
ao quinquênio anterior ao ajuizamento da ação, com ressalva de
entendimento do Exmo. Ministro Horácio Raymundo de Senna Pires.

Brasília, 16 de abril de 2007


CARLOS ALBERTO REIS DE PAULA
Ministro Relator

Fonte: Disponível em: <http://brs02.tst.gov.br/cgi-bin/nph-brs?s1=4179825.


nia.&u=/Brs/it01.html&p=1&l=1&d=blnk&f=g&r=1>. Acesso em: 18 mar. 2018.

Temos de relembrar ainda uma causa suspensiva especial existente na Lei


11.101/2005 – Lei de Recuperação de Empresas: a decretação da falência e o
deferimento do processamento do pedido de recuperação judicial.

45
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do


processamento da recuperação judicial suspende o curso da
prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor,
inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata
o  caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o
prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado
do deferimento do processamento da recuperação,
restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos
credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções,
independentemente de pronunciamento judicial.

A suspensão não se aplica às empresas de pequeno porte e


microempresas (parágrafo único do art. 71, da mesma lei).

Há entendimento no Tribunal Superior do Trabalho de que as reclamatórias


trabalhistas não são suspensas no curso do processo de recuperação judicial,
tramitando a reclamatória até a apuração do crédito – liquidação da sentença
transitada em julgado quando deverá ser o crédito apurado habilitado no quadro
geral de credores. Determinado posicionamento, no entanto, é divergente do
encetado pelo Superior Tribunal de Justiça.

Para melhor aprofundamento do tema, leia a notícia do STJ a seguir e o


acórdão do TST, que segue:

AGRAVO. DECISÃO MONOCRÁTICA. DEFERIMENTO


DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ARTIGO 6º, CAPUT, DA LEI
11.101/2005. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO E DE -TODAS- AS
AÇÕES PELO PRAZO DE 180 DIAS. INAPLICABILIDADE ÀS
AÇÕES TRABALHISTAS. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 6º, § 2º,
DA LEI C/C 52, III DA MESMA LEI. AÇÃO AJUIZAMENTO APÓS
O BIÊNIO DO TÉRMINO DO PACTO LABORAL. AUSÊNCIA DE
IMPEDIMENTO LEGAL. INCIDÊNCIA DA PRESCRIÇÃO NUCLEAR.
Com efeito, o artigo 6º, § 2º, da Lei nº 11.101/2005 determina a
suspensão do curso da prescrição e de todas as ações e execuções
em face do devedor. Apesar de constar o termo -todas-, o artigo não
atinge as ações de natureza trabalhista, que são posteriormente
ressalvadas do seu alcance. Infere-se do artigo 52, inciso III, c/c artigo
6º e § 2º, da Lei nº 11.101/2005, que a determinação da recuperação

46
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

judicial não suspende ações de natureza trabalhista, as quais serão


processadas perante esta Justiça Especializada, não obstante o uso
equivocado da palavra -todas- no artigo 6º da precitada lei. Nesse
contexto, se as ações trabalhistas não são suspensas, de igual
modo, não há o que falar em suspensão da prescrição trabalhista,
pois não sofre nenhum efeito quando do deferimento da recuperação
judicial nos termos dos artigos já citados. Não houve nenhum
impedimento legal ou fático para o reclamante agir na exigibilidade
do seu direito, ajuizando ação trabalhista em qualquer tempo
dentro do biênio. Nesse contexto, a prescrição ocorreu porquanto
o reclamante somente ajuizou a ação após o biênio constitucional
previsto no artigo 7º, XXIX, da Constituição da República, não se
manifestando nenhuma causa suspensiva ao exercício do seu direito
de ação. Incólumes os artigos 4º e 6º da Lei nº 11.101/2005 e 199, I,
do Código Civil. Os arestos colacionados ao dissenso de teses não
abrangem todos os fundamentos da decisão recorrida, notadamente
quanto às ressalvas feitas pela própria lei e de que não havia fato
impeditivo do exercício do direito de ação, incidindo os termos da
Súmula nº 23 do TST. Agravo a que se nega provimento. (Ag-RR -
93100-77.2011.5.21.0013, Relator Ministro: Emmanoel Pereira, Data
de Julgamento: 19/03/2014, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT
28/03/2014)

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/fLBo5P>. Acesso em: 18 mar. 2018.

Por fim, temos as causas interruptivas da prescrição e ocorrem posteriormente


ao início do prazo prescricional, ou seja, são supervenientes, porém quando
ocorrem, fazem com que o prazo prescricional volte a correr do início, ou melhor,
reiniciam a contagem do prazo desprezando o lapso de tempo já transcorrido.

As causas de interrupção da prescrição previstas no Código Civil, art. 202,


aplicam-se na sua totalidade no Direito do Trabalho.

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá


ocorrer uma vez, dar-se-á:

I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a


citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da
lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário
ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

47
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que


importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr
da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo
para a interromper.

Pergunta: cabe o protesto cambial no processo do trabalho? A resposta


deve ser positiva, porque o processo do trabalho admite a execução de títulos
executivos judiciais e extrajudiciais trabalhistas, assim, o protesto desses títulos
pode interromper a prescrição.

A reforma trabalhista deu nova redação ao artigo 11 caput da CLT, além de


inserir dois parágrafos: 3º e 4º. Uma interpretação literal do parágrafo terceiro
pode levar o operador do direito a acreditar que na esfera laboral há apenas uma
forma de interromper a prescrição: com o ajuizamento da reclamatória trabalhista
com pedidos idênticos. Vejamos a redação:

Art. 11.  A pretensão quanto a créditos resultantes das relações


de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores
urbanos e rurais até o limite de dois anos após a extinção do
contrato de trabalho.

§ 3o  A interrupção da prescrição somente ocorrerá pelo


ajuizamento de reclamação trabalhista, mesmo que em juízo
incompetente, ainda que venha a ser extinta sem resolução
do mérito, produzindo efeitos apenas em relação aos pedidos
idênticos.

Ocorre que seria uma interpretação muito rasa do artigo, a qual


desconsideraria por completo a ordem determinada no caput do art. 7º da Carta
Magna, bem como estaria em dissonância com o restante do ordenamento jurídico
e da própria lógica do Direito do Trabalho.

Ademais, o Tribunal Superior do Trabalho não cancelou as súmulas e


orientações jurisprudenciais que tratam da interrupção da prescrição a seguir
analisadas, levando-nos a crer que através de uma interpretação sistemática e
conforme a Constituição, as demais formas de interrupção da prescrição previstas
no art. 202 do CCB são aplicáveis ao contrato de trabalho e de emprego. No
mesmo sentido, Pamplona Filho e Fernandez (2017, p. 44) afirmam:

Admitir tal conclusão importaria, porém, em flagrante violação


ao princípio da proporcionalidade (na vertente da vedação da
proteção ao insuficiente), pois estaria atribuindo tratamento
jurídico menos favorável ao credor de verba de natureza
alimentar (e diretamente vinculada à própria concretização da
dignidade humana) em relação ao credor comum.
Ademais, a prevalecer a interpretação literal do dispositivo,
o Direito do Trabalho seria o único ramo do Direito em que
o reconhecimento da obrigação pelo devedor não produzirá
qualquer efeito em relação à prescrição.

48
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Assim, não se pode olvidar que as demais formas de interrupção da


prescrição previstas no art. 202 do CCB se aplicam ao Direito do Trabalho.

Súmula nº 268 do TST


PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. AÇÃO TRABALHISTA
ARQUIVADA (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003

A ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a


prescrição somente em relação aos pedidos idênticos.
OJ 359 da SBDI-I.
SUBSTITUIÇÃOPROCESSUAL.
SINDICATO. LEGITIMIDADE. PRESCRIÇÃO.
INTERRUPÇÃO (DJ 14.03.2008)

A ação movida por sindicato, na qualidade de substituto


processual, interrompe a prescrição, ainda que tenha
sido considerada parte ilegítima “ad causam”. 
OJ 392 da SBDI-I
PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. AJUIZAMENTO DE
PROTESTO JUDICIAL. MARCO INICIAL. (Republicada em
razão de erro material) - Res. 209/2016, DEJT divulgado em
01, 02 e 03.06.2016

O protesto judicial é medida aplicável no processo do trabalho


por força do art. 769 da CLT e do art. 15 do CPC de 2015. O
ajuizamento da ação, por si só, interrompe o prazo prescricional
em razão da inaplicabilidade do § 2º do art. 240 do CPC de
2015 (§ 2º do art. 219 do CPC de 1973), incompatível com o
disposto no art. 841 da CLT.
OJ 370 da SBDI-I
FGTS. MULTA DE 40%. DIFERENÇAS DOS
EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PRESCRIÇÃO.
INTERRUPÇÃO DECORRENTE DE PROTESTOS
JUDICIAIS. (DEJT divulgado em 03, 04 e 05.12.2008)  

O ajuizamento de protesto judicial dentro do biênio posterior


à Lei Complementar nº 110, de 29.06.2001, interrompe a
prescrição, sendo irrelevante o transcurso de mais de dois
anos da propositura de outra medida acautelatória com o
mesmo objetivo, ocorrida antes da vigência da referida lei, pois
ainda não iniciado o prazo prescricional, conforme disposto na
Orientação Jurisprudencial nº 344 da SBDI-1. 

Deve ser observado que é o ajuizamento da reclamatória trabalhista ou do


protesto judicial e não o despacho inicial para citação ou a citação do reclamado
que interrompe a prescrição, diferente do que ocorre no direito comum.

Ainda, deve ser ressaltado que a reclamatória apta a ensejar a interrupção da


prescrição, seja a quinquenal ou a bienal, seja aquela com pedidos específicos,
a reclamatória intentada pela parte ou pelo sindicato, não cabendo reclamatória
com pedido genérico de interrupção da prescrição de direitos violados.

49
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

A interrupção da prescrição somente ocorre uma vez. Para


a distribuída reclamatória trabalhista interrompida estará o prazo
de prescrição das pretensões violadas até aquele momento. A
distribuição posterior de nova reclamatória trabalhista ou de ação de
protesto não tem o condão de interromper novamente a prescrição
das mesmas parcelas.

b) Diferenças salariais decorrentes de sentenças normativas

As sentenças normativas são aquelas sentenças proferidas em dissídios


coletivos pelos Tribunais Regionais ou pelo TST, que criam normas laborais para
determinada categoria.

Assim, todos os dispositivos até aqui estudados em relação à prescrição,


suas causas impeditivas, suspensivas e interruptivas se aplicam à violação dos
direitos decorrentes da sentença normativa.

A celeuma existente era sobre o termo inicial do prazo de prescrição dos


referidos direitos que foi definida pelo TST como sendo o trânsito em julgado
da sentença normativa. Segundo o Superior (2003), a exigência dos direitos
reconhecidos ou criados em sentença normativa somente se fixa com o trânsito
em julgado da referida sentença.

Súmula nº 350 do TST


PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO.
SENTENÇA NORMATIVA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19,
20 e 21.11.2003
O prazo de prescrição com relação à ação de cumprimento
de decisão normativa flui apenas da data de seu trânsito em
julgado.

Assim, transitada em julgado a sentença normativa, iniciam-se os prazos


prescricionais para a execução do julgado caso ainda não estejam sendo
cumpridas as normas coletivas fixadas em sentença pelo empregador.

c) Desvio de função e plano de cargos e salários

O desvio de função ocorre quando o empregado é contratado para um


determinado cargo, no entanto passa a realizar atividades de cargo com
responsabilidades superiores ao seu, sem receber o salário do referido cargo.

50
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Observe que não se está tratando aqui de acúmulo de função, ou seja,


quando o empregado, a par de exercer as atividades do cargo para o qual fora
contratado, acumula funções/atividades de outro cargo.

Súmula nº 275 do TST


PRESCRIÇÃO. DESVIO DE FUNÇÃO E REENQUADRAMENTO
(incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 144 da SBDI-1) -
Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
I - Na ação que objetive corrigir desvio funcional, a prescrição
só alcança as diferenças salariais vencidas no período de 5
(cinco) anos que precedeu o ajuizamento. (ex-Súmula nº 275 –
alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)
II - Em se tratando de pedido de reenquadramento, a prescrição
é total, contada da data do enquadramento do empregado. (ex-
OJ nº 144 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998)

Em relação a uma via de regra (pode comportar exceções), a empresa deve


possuir quadro de funções/carreira organizado. No caso da Súmula 294, trata-
se de violação do art. 468 da CLT, ou seja, estamos falando de modificação da
pactuação do contrato de trabalho.

Se a parcela for assegurada por lei, como horas extras, adicional noturno,
etc., a prescrição aplicável é a parcial, no entanto, quando se trata de parcela
alcançada pelo empregador não prevista em lei, como plano de saúde, premiação,
etc., a prescrição será total. Em ambos os casos o início do prazo é o momento
em que o empregador deixa de pagar.

Súmula nº 294 do TST


PRESCRIÇÃO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL.
TRABALHADOR URBANO (mantida) - Res. 121/2003, DJ
19, 20 e 21.11.2003
Tratando-se de ação que envolva pedido de prestações
sucessivas decorrente de alteração do pactuado, a prescrição
é total, exceto quando o direito à parcela esteja também
assegurado por preceito de lei.

Assim, imagine a seguinte situação: um empregado que recebia horas extras,


as quais não eram pagas corretamente, bem como adicional de insalubridade em
grau médio quando deveria receber em grau máximo, além de um auxílio farmácia
e premiação que deixaram de ser pagos três anos antes da rescisão contratual.

As parcelas ou diferenças de horas extras e adicional de insalubridade


aplicam-se à prescrição quinquenal com relação à premiação e o auxílio farmácia
que deixaram de ser pagos e que já estariam fulminados pela prescrição bienal.

51
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

d) Mudanças de regime jurídico

A mudança de regime jurídico ocorre quando o servidor público é contratado


sob o regime celetista e passa a ser servidor estatutário quando da mudança de
regime jurídico, de celetista para estatutário, há o término da relação de trabalho,
ou seja, o fim do contrato celetista.

O Tribunal Superior do Trabalho, desde a redação original da Constituição


Federal, vem entendendo que a mudança de regime jurídico, como extingue o
contrato de emprego, aplica-se a prescrição bienal para a propositura da ação.
Ainda, a jurisprudência firmou a redação da Súmula 128, em 1998, cancelada
posteriormente pela sua convenção na Súmula 382.

Súmula 128. MUDANÇA DE REGIME CELETISTA


PARA ESTATUTÁRIO. EXTINÇÃO DO CONTRATO.
PRESCRIÇÃO BIENAL (cancelada em decorrência
da sua conversão na Súmula nº 382) - DJ 20.04.2005
A transferência do regime jurídico de celetista para estatutário
implica extinção do contrato de trabalho, fluindo o prazo da
prescrição bienal a partir da mudança de regime.

Vejamos alguns julgados:

RECURSO DE REVISTA. FGTS. PRESCRIÇÃO. MUDANÇA


DE REGIME JURÍDICO. O art. 7º, inciso XXIX da Constituição
Federal, faz incidir os prazos de prescrição a que alude a
partir da "extinção do contrato". A mudança de regime jurídico
modifica, essencialmente, a natureza jurídica do vínculo
mantido entre o servidor e a Administração Pública, que
deixa de ser contratual, para assumir feição institucional. Não
subsistindo, então, o contrato individual de trabalho flui, a contar
do momento em que se dá a referida modificação de regime, o
prazo bienal de prescrição. Tal fluxo alcança a ação tendente
à cobrança de recolhimentos para o FGTS. Compreensão
consagrada pelas Súmulas 362 e 382/TST. Recurso de revista
provido (RR - 208000-47.2003.5.07.0012, Relator Ministro:
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de Julgamento:
10/05/2006, 3ª Turma, Data de Publicação: DJ 02/06/2006).

PRESCRIÇÃO BIENAL. SERVIDOR PÚBLICO. CONVERSÃO
DE REGIME. I - A iterativa, notória e atual jurisprudência da Eg.
SDI do TST consagra o entendimento de que a convolação do
regime jurídico celetista para o estatutário implica automática
e inarredável extinção do contrato de emprego, fluindo daí
biênio prescricional (CF/88, art. 7º, inc. XXIX, a; Precedente
SDI nº 128). Recurso de revista de que não se conhece. (RR
- 406025-87.1997.5.10.5555, Relator Juiz Convocado: Altino
Pedrozo dos Santos, Data de Julgamento: 25/10/2000, 1ª
Turma, Data de Publicação: DJ 01/12/2000)

52
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Após a conversão de regime, o servidor estatutário tem de propor a recla-


matória trabalhista na justiça do trabalho em até dois anos da data da conversão
ou troca de regime, sob pena de ver suas pretensões fulminadas pela prescrição,
ou seja, ver o fundo de direito prescrito.

Prescrição nos Contratos de


Empregado Doméstico
Ao empregado doméstico, até 1988, aplicavam-se apenas as disposições da
Lei 5.859/1972. A Constituição Federal, em sua redação original, estendeu alguns
dos direitos trabalhistas previstos no artigo 7º aos domésticos, sem, no entanto,
estender-lhes a proteção da CLT:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além


de outros que visem à melhoria de sua condição social: 
[...]
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos
IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua
integração à previdência social.

Posteriormente, determinado rol de direitos extensíveis aos empregados


domésticos foi ampliado com a Emenda Constitucional 72/2013, sem estender as
regras celetistas aos domésticos, ficando mais uma vez o inciso XXIX, que trata da
prescrição de fora do campo do contrato do empregado doméstico:

Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores


domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X,
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX,
XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei
e observada a simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação
de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos
I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à
previdência social (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 72, de 2013).

Durante esses períodos, a celeuma doutrinária e jurisprudencial sobre o


prazo de prescrição do contrato de trabalho dos empregados domésticos era
considerável, havendo quem entendesse pela aplicação dos prazos previstos
no inciso XXIX da CF/88 e aqueles que entendiam pela aplicação do prazo de
prescrição previsto no Código Civil a locação de serviços ante a ausência de
regulamentação sobre o tema. Vejamos alguns julgados:

53
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

EMPREGADA DOMÉSTICA. PRAZO PRESCRICIONAL


QUINQUENAL. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 7°, XXIX
DA CF.
Inexiste crédito trabalhista imprescritível, embora o legislador
tenha silenciado acerca da prescrição do empregado
doméstico, por analogia, há de ser aplicado o prazo prescricional
quinquenal e bienal do inciso XXIX do art. 7°, da CF.
Conquanto a relação de emprego doméstico seja peculiar,
mormente em decorrência do grau de pessoalidade e de afeto
envolvidos não se pode abstrair o aspecto da profissionalidade
na prestação dos serviços, gerador de créditos trabalhistas
susceptíveis de prescrição, a exemplo do empregado urbano
ou rural, na medida em que o ideal da norma constitucional
prescricional é conferir igualdade de tratamento aos
trabalhadores: urbanos, rurais e domésticos(TRT15 - 00417-
2003-034-15-00-9 RO (35968/2004-RO-2) 6ª Turma. Rel. Des.
Edson Santos Pelegrini. Publicado em 05/08/2005).

Doméstico. Prescrição. Aos empregados domésticos não se


aplicam os preceitos da CLT (art. 7º, a), mas as disposições
da Lei n. 5.859/72 e do Código Civil, atinentes aos contratos
de locação de serviços. Por isso é que prescreve em 5 anos o
direito de ação para que os serviçais cobrem o pagamento de
seus salários (art. 178, par. V, Código Civil) Omissis. TRT – 10ª
Região RO 3215/86 – Ac. 1788/87.

Após a edição e publicação da Lei Complementar 150/2015, a celeuma teve


fim, pois a nova lei que trata do contrato do empregado doméstico prevê de forma
expressa em seu art. 43 a aplicabilidade do prazo prescricional: Art. 43.  O direito
de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em 5
(cinco) anos até o limite de 2 (dois) anos após a extinção do contrato de trabalho.

Prescrição e Aviso Prévio


O aviso prévio é o aviso dado pela parte que busca a rescisão contratual, da
vontade de não mais manter o contrato, assim ele pode partir do empregado ou
do empregador. O art. 487, § 1º da CLT prevê que o prazo do aviso prévio, ainda
que indenizado, deve ser integrado como tempo de serviço.

Assim, o período, mesmo não trabalhado, contará para o início do termo de


fluência do prazo prescricional, entendimento já pacificado pelo TST: Súmula
83. AVISO PRÉVIO. INDENIZADO. PRESCRIÇÃO (inserida em 28.04.1997): A
prescrição começa a fluir no final da data do término do aviso prévio. Art. 487, §
1º, da CLT.

54
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Para que você entenda e fixe melhor, vamos a um exemplo:


imagine que um empregado com seis anos e sete meses de trabalho
tenha sido demitido sem justa causa e o período de aviso prévio
projetado dele será de 48 dias.

Então, se o aviso prévio foi indenizado e o empregado fora


demitido na data de 05/02/2018, o prazo prescricional para o
ajuizamento da ação iniciar-se-á na data de 26/03/2018.

Findamos a primeira parte do Capítulo 2 para que você fixe a matéria. Tente
resolver o problema a seguir e discuta com seus colegas o caso:

Atividade de Estudos:

1) Analise a situação a seguir:

Tício iniciou seu primeiro emprego nas Lojas Mévios LTDA, de


propriedade de seu pai, na data de 02/03/2010, no entanto, a CTPS
dele somente foi anotada na data de 07/05/2012, quando Tício
completou 16 anos.

Na data de 09/07/2018, após uma briga com seu pai e seu


irmão, gerente da loja, Tício foi demitido sem justa causa, porém,
como é filho do “patrão”, o pai não pagou as verbas rescisórias e não
efetuou o depósito da multa fundiária.

a) Caso Tício pretenda propor uma reclamatória trabalhista em face


da empresa, qual o prazo que possui para a propositura da ação?
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b) Imaginando que Tício promova a reclamatória no último dia da


prescrição bienal, até que data teria seus direitos preservados em
face da prescrição quinquenal?

55
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

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c) Para que Tício tenha direito a todas as parcelas não pagas durante o
contrato de trabalho, qual a data limite para a propositura da ação?
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Prescrição de Ofício na Justiça do


Trabalho
A possibilidade de decretação ex officio da prescrição, apesar de prevista no
CPC, é polêmica no processo do trabalho. Alguns doutrinadores têm afirmado ser
possível, ante a inexistência de incompatibilidade de tal pronunciamento com os
princípios jus laborais, a prescrição de ofício.

Segundo Leite (2008,p.86), a prescrição pode ser pronunciada de ofício


desde que o Juízo abra vista ao autor para que aponte fato impeditivo, modificativo
ou extintivo da prescrição e ao réu para que se manifeste, valendo o silêncio deste
como renúncia tácita:

Com efeito, não nos parece sustentável a tese da


inconstitucionalidade da decretação judicial de ofício da
prescrição, pois este instituto pertence, inclusive, ao Direito
Constitucional do Trabalho, tendo em vista o disposto no inciso
XXIX do art. 7º da CF.

Outros, por seu turno, têm defendido a tese de que o pronunciamento ex


officio da prescrição pelo juízo é incompatível com os princípios informadores
do direito do trabalho, em especial o princípio da proteção, bem como por ser
incompatível com a própria Constituição. Assim, Delgado (2011, p. 269) menciona:

56
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

[...] a novel regra civilista entra em choque com vários princípios


constitucionais, como da valorização do trabalho e do emprego,
da norma mais favorável e da submissão da propriedade à sua
função socioambiental, além do próprio princípio da proteção.

O posicionamento do TST tem sido no sentido de que o pronunciamento de


ofício da prescrição não é compatível com o processo do trabalho. Vejamos:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA


LEI Nº 13. 015/2014.  1. PRESCRIÇÃO. DECRETAÇÃO DE
OFÍCIO. INAPLICABILIDADE DO ART. 219, § 5°, DO CPC
NO PROCESSO DO TRABALHO. 1.1. A estrutura normativa
do Direito do Trabalho parte do pressuposto da diferenciação
social, econômica e política entre os partícipes da relação de
emprego, empregados e empregadores, o que faz emergir
direito protetivo, orientado por normas e princípios que
trazem o escopo de reequilibrar, juridicamente, a relação
desigual verificada no campo fático. Esta constatação medra
já nos esboços do que viria a ser o Direito do Trabalho e
deu gestação aos princípios que orientam o ramo jurídico. O
soerguer de desigualdade favorável ao trabalhador compõe
a essência do princípio protetivo, vetor inspirador de todo o
seu complexo de regras, princípios e institutos. 1.2. O art. 7°,
inciso XXIX da Constituição Federal, para muito além de fixar
prazos prescricionais, assegura direito de ação. 1.3. Ainda
que se a possa vincular à garantia de duração razoável do
processo (Constituição Federal, art. 5º, LXXVIII), a autorização
para incidência do art. 219, § 5º, do CPC, no Processo do
Trabalho, representaria corte de maior outorga constitucional,
fazendo-se, pela via ordinária, apara de texto hierarquicamente
superior. 1.4. O objetivo de pacificação social, atribuído à
Justiça do Trabalho, "pari passu" ao caráter eminentemente
tuitivo das regras que orientam o Direito Material correlato,
rejeitam a compatibilidade do quanto disposto no art. 219,
§ 5°, do CPC com o Processo do Trabalho. Precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido. (Processo: RR - 680-
74.2014.5.12.0053 Data de Julgamento: 13/04/2016, Relator
Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 15/04/2016. )

No entanto, a divergência doutrinária continua a existir. É importante que


você observe que a reforma trabalhista, embora mencionou no artigo 11-A,
expressamente, sobre a possibilidade de declaração de ofício da prescrição
intercorrente pelo Juízo, podemos depreender que na fase de conhecimento
também seja possível o pronunciamento de ofício conforme a reforma.

57
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Prescrição Intercorrente
O tema da prescrição intercorrente na Justiça do Trabalho sempre foi um
tema muito controverso ante a diversidade das súmulas do Supremo Tribunal
Federal e do Tribunal Superior do Trabalho.

A nova e recente redação da CLT sobre a aplicabilidade da referida prescrição


no processo do trabalho, acreditamos, não irá apaziguar a polêmica, já que trouxe
prazo diferenciado e menor ao processo do trabalho do que aquele aplicado ao
processo na justiça comum.

Como você já sabe, a prescrição é instituto de direito material. No entanto,


a prescrição intercorrente é fenômeno que ocorre no Direito Processual, mais
especificamente no processo de execução ou na fase de liquidação de sentença.

A prescrição intercorrente ocorre quando, no processo de execução (ou fase


de execução), o exequente queda-se inerte por determinado lapso temporal.
Também possui a finalidade de apaziguar as lides e dar segurança jurídica às
partes de um processo, não se permitindo que este se eternize.

Segundo Schiavi (2017, p. 509), prescrição intercorrente “se dá no curso do


processo após a propositura da ação, mais especificamente depois do trânsito
em julgado, pois, na fase de conhecimento, se o autor não promover os autos do
processo, o juiz o extinguirá sem resolução do mérito.

Enquanto a Suprema Corte Constitucional admitia (e ainda


admite) a prescrição intercorrente no processo do trabalho, o TST
inadmitia a ocorrência da prescrição no processo laboral. Vejamos as
redações das súmulas dos referidos Tribunais:

- Súmula 327 do STF - O Direito Trabalhista admite a prescrição


intercorrente.
- Súmula 114 do TST - É inaplicável na Justiça do Trabalho a
prescrição intercorrente.

58
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Vamos analisar cada uma dessas súmulas, bem como a nova redação da
CLT que trouxe a prescrição intercorrente para o processo laboral.

A Súmula 327 do STF é datada de 13/12/1963, e seu precedente mais


antigo de 14/06/1951. Em seus precedentes, a Suprema Corte afirma que a lei
permite a alegação da prescrição em qualquer fase do processo, não distinguindo
entre fase de conhecimento ou de execução, mas embora reconheça que na
fase de conhecimento do processo do trabalho seja inviável o reconhecimento
da prescrição intercorrente, na fase de execução o Tribunal afirma que diante da
inércia do exequente é possível o reconhecimento da prescrição.

Já a Súmula 114 do TST teve sua primeira redação ainda em 1980,


sendo mantida nas últimas revisões sumulares realizadas pelo Tribunal. Seus
precedentes datam de 1970 a 1976.

A jurisprudência do TST, bem como a maior parte da doutrina, entendia


pela inaplicabilidade da prescrição intercorrente na justiça laboral pelo fato de
a execução poder se dar de ofício pelo Juízo, bem como pela impossibilidade
de renúncia dos direitos laborais e a aplicação do princípio protetor. No entanto,
algumas vozes já anunciavam a possibilidade de aplicação da prescrição
intercorrente na fase de execução quando o exequente quedasse omisso,
abandonando a causa de fato.

A nova redação da CLT que prevê no seu art. 11-A a possibilidade de aplicação
da prescrição intercorrente não é construção nova, vindo sendo discutida pela
doutrina e jurisprudência há muito tempo. Vejamos a redação do referido artigo:

Art. 11-A. Ocorre a prescrição intercorrente no processo do


trabalho no prazo de dois anos.
§ 1º A fluência do prazo prescricional intercorrente inicia-se
quando o exequente deixa de cumprir determinação judicial no
curso da execução.
§ 2º A declaração da prescrição intercorrente pode ser requerida
ou declarada de ofício em qualquer grau de jurisdição.

Há um motivo do porquê do prazo de dois anos para a prescrição


intercorrente no processo do trabalho, enquanto no processo comum ela é de
cinco anos. A súmula de jurisprudência do STF fora forjada sob o entendimento
de que a aplicação da prescrição intercorrente no processo deve ter como prazo o
lapso temporal apontado na lei para a propositura da ação, que no caso da ação
trabalhista seria de dois anos, do entendimento fora extraído o referido prazo.

Apenas para aprofundamento do assunto, veja algumas jurisprudências dos


Tribunais Regionais. Já se entendia pela aplicação da prescrição intercorrente
nos processos do trabalho anteriores à reforma trabalhista:

59
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. APLICABILIDADE.


PRAZO DE CINCO ANOS. Tem aplicabilidade a prescrição
intercorrente na Justiça do Trabalho na forma do art. 40, § 4º, da Lei
nº 6.830/1980 e da Súmula 327 do STF, sendo inaceitável o trâmite de
execuções eternas à mercê da provocação da parte interessada que
se mantém inerte, deixando de praticar ato exclusivo e necessário
para o regular prosseguimento do feito. Contudo, conforme a
Súmula 150 do STF, o prazo a ser considerado é de cinco anos, não
sendo a hipótese dos autos, tampouco houve renúncia ao crédito
remanescente pelo que não se sustenta a extinção da execução na
forma do art. 794, III, do CPC. Agravo de petição da exequente a
que se dá provimento. (AP 0000934-30.2010.5.02.0291. Rel. Des.
KYONG MI LEE. TRT2)

Fonte: Disponível em: <http://aplicacoes1.trtsp.jus.br/vdoc/TrtApp.


action?viewPdf=&id=4142888>. Acesso em: 14 fev. 2018.

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NA JUSTIÇA DO


TRABALHO. CONFRONTO ENTRE AS SÚMULAS 327 DO STF E
114 DO TST. Embora se trate de matéria controvertida, haja vista
o conteúdo da Súmula 114 do TST, não admitindo a prescrição
intercorrente na Justiça do Trabalho, e da Súmula 327 do STF,
admitindo-a, tem predominado na jurisprudência o entendimento
de que a incidência desse instituto deve ser analisada caso a caso,
identificando-se o responsável pela paralisação do processo de
forma a evitar que se prestigie o devedor inadimplente em detrimento
da efetividade da coisa julgada. (AP 0193200-39.1997.5.05.0025.
Rel. Des. MARAMA CARNEIRO. TRT5).

Fonte: Disponível em: <https://aplicacoes.trt5.jus.br/esamp//f/n/


consultadocumentocon?id=10112100800838228208&municipio=1>.
Acesso em: 14 jan. 2018.

É importante ser ressaltado que a celeuma não fora encerrada, em especial


porque a súmula de jurisprudência do TST ainda está vigente.

60
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Prescrição e Ampliação da
Competência na Justiça do Trabalho
Como você já sabe, a competência da Justiça do Trabalho foi ampliada no ano
de 2004 com a Emenda Constitucional 45. Assim, a Justiça do Trabalho passou
a ser competente não apenas para resolução de lides decorrentes da relação de
emprego, mas também da relação de trabalho, ou seja, a justiça especializada
é competente para dirimir, desde então, lides entre sindicatos, entre trabalhador
autônomo e tomador de serviços etc.

Segundo Delgado (2011), determinada ampliação da competência não


modificou o ramo processual justrabalhista como direito instrumental. O autor
defende que para os processos não originários da Justiça do Trabalho, por
exemplo, lides entre sindicatos e empregadores, as especificidades do direito
processual e material comum continuam a se aplicar sem que haja interferência
das normas juslaborais específicas da CLT.

O alargamento de competência da Justiça do Trabalho pela EC 45/2004


gerou e ainda gera intensos debates sobre a extensão da expressão relação de
trabalho e, portanto, quais contratos estariam sob o jugo da justiça especializada
e quais estariam sob o manto da justiça comum.

O TST, ao editar a Instrução Normativa 27, de 22/02/2005, definiu que


ante a ampliação da competência da justiça especializada, salvo nos casos ali
expressos, aplicar-se-iam os ritos ordinários e sumaríssimos como previstos na
CLT, vejamos:

Art. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão


pelo rito ordinário ou sumaríssimo, conforme previsto na
Consolidação das Leis do Trabalho, excepcionando-se,
apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas
a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas
Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação
de Consignação em Pagamento.

No entanto, a referida Instrução Normativa nada mencionou sobre os prazos


prescricionais.

Após o julgamento de alguns conflitos de competência, o STJ editou a


Súmula 363, publicada em 03/11/2008, segundo a qual “compete à justiça
estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal
contra cliente”. Determinado entendimento se consubstanciou, basicamente, em
razão de a causa de pedir e pedidos veiculados nessas ações não buscarem a
aplicação das normas celetistas, mas sim do Código Civil.
61
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Pamplona Filho e Fernandez (2017, p. 273), ao comentarem a súmula,


afirmam que os argumentos não seriam suficientes para o afastamento da
competência da Justiça do Trabalho, pois a Constituição, ao fixar a competência
da justiça especializada para as lides decorrentes das relações de trabalho, nada
mencionou sobre qual o direito material a ser aplicável, ou seja, segundo os
autores, independentemente da aplicação das regras do Código Civil ou da CLT,
o que fixa a competência da justiça especializada é a matéria debatida e não a
legislação aplicável.

Com relação à aplicação dos prazos prescricionais, não deixa dúvidas o


autor sobre a aplicação do Código Civil, já que as relações materiais a serem
discutidas naqueles casos decorrem do Direito Civilista.

Leia a seguir um dos acórdãos precedentes da Súmula 363 do Superior


Tribunal de Justiça, que faz crer pela aplicação da prescrição como prevista no
Código Civil para as demais relações que não sejam relações de emprego:

Ao ampliar a competência da Justiça do Trabalho, a Emenda


Constitucional nº 45/04 gerou incertezas quanto à correta exegese
das alterações impostas ao artigo 114 da Constituição Federal, o que
vem sendo equacionado gradativamente pela Corte e pelo Supremo
Tribunal Federal com o suporte indispensável da doutrina [...]. A
doutrina se divide quanto ao real significado da expressão. Uma
parte entende possuir o mesmo sentido de “relação de emprego”,
locução anteriormente constante do preceito legal em destaque.

A justificativa para tanto é o fato de que o legislador, antes da


Emenda nº 45/04, já teria utilizado o termo “relação de trabalho”
como sinônimo de “relação de emprego”, como se observa no
caput e no inciso XXIX do artigo 7º da Constituição Federal. Para os
doutrinadores, não teria havido alteração da competência da Justiça
trabalhista no determinado ponto. Já a outra corrente doutrinária
considera “relação de trabalho” o gênero do qual “relação de
emprego” é espécie.

Assim, manifestou-se Delgado afirmando que todas as relações


jurídicas caracterizadas por terem sua prestação essencial centrada
em uma obrigação de fazer consubstanciada em trabalho humano se
referem, pois, a toda modalidade de contratação de trabalho humano
modernamente admissível.

62
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

A expressão relação de trabalho englobaria, assim, a relação


de emprego, a relação de trabalho eventual, de trabalho avulso e
outras modalidades de pactuação de prestação de trabalho (como
no trabalho de estágio etc.). Traduz-se, portanto, o gênero a que
se acomodam todas as formas de pactuação de prestação de
trabalho existentes no mundo jurídico atual. (Introdução ao Direito do
Trabalho, 1. ed. São Paulo: LTr, 2000, pp. 203-231).

Com a EC nº 45 houve um alargamento no âmbito de atuação da


Justiça laboral em virtude da mudança de redação, como bem traduziram
Fava e Coutinho, que “a ampliação da competência da Justiça do
Trabalho para todo e qualquer trabalhador é, a nosso ver, resposta ao
processo histórico de criação de novas figuras contratuais envolventes
do trabalho do homem, que, mesmo caminhando à margem do trabalho
subordinado (o emprego), urge por uma proteção efetiva dos direitos
humanos do cidadão trabalhador. Concepção que se confirma com a
opção mais ampla da leitura da referida expressão, em interpretação
sistemático-teleológica” (Justiça do Trabalho - Competência Ampliada,
São Paulo: LTr, 2005, p. 13).

No caso de exame, mesmo com a ampliação da competência


da Justiça do Trabalho em decorrência da alteração da expressão
“relação de emprego” para “relação de trabalho”, a EC nº 45/04 não
retirou a atribuição da Justiça estadual para processar e julgar ação
alusiva a relações contratuais de caráter eminentemente civil, diversa
da relação de trabalho. Com efeito, é cediço que a competência
ratione materiae se define pela natureza jurídica da controvérsia,
delimitada pelo pedido e pela causa de pedir.

Na espécie, o autor da ação pretende receber honorários


advocatícios tidos como pactuados com o Município de Coromandel/
MG. Ante a índole civil da pretensão que objetiva a cobrança de
honorários profissionais supostamente devidos pela prestação de
serviços advocatícios, forçoso é concluir que o termo “relação de
trabalho” não abarca a relação jurídica contratual existente entre o
advogado e o Município contratante, o que “afasta a competência
da Justiça laboral” (CC 65575 MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2007, DJ 27/08/2007, p. 176).

Fonte: Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/


documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=709438&num_
registro=200601417488&data=20070827&formato=PDF>. Acesso em: 14 fev. 2018.

63
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Cuidado com o posicionamento ainda controverso de alguns Tribunais do


Trabalho que, em sentido contrário, ainda aplicam a prescrição constitucional de
dois anos para a propositura da ação.

Prescrição e Acidente ou Doença do


Trabalho
Quando falamos em ação, ou reclamatória trabalhista que envolva pedido de
dano moral decorrente de acidente ou doença laboral, não podemos deixar de
falar da celeuma criada após a edição da EC/45 de 2004, porque até a edição da
referida Emenda Constitucional, como você já sabe, a competência para processar
e julgar ações de dano moral decorrentes de acidente/doença ocupacional
pertencia à justiça estadual. A prescrição aplicável à pretensão, então, era aquela
prevista nos Códigos Civis de 1916 e, posteriormente, de 2002.

Com a EC/45, instalou-se uma celeuma muito grande sobre qual


seria o prazo prescricional aplicável – o previsto no inciso XXIX da
CF/88 ou os previstos nos respectivos Códigos Civis.

Há autores que defendem, apesar da superação e minoria, a imprescritibilidade


da referida pretensão, já que a ação de reparação de danos, nesses casos,
tratava de direitos da personalidade, os quais, por serem irrenunciáveis, não
seriam passíveis de aplicação da prescrição. Assim, podemos citar Maior (2006,
p. 546-547):

[...] se não há previsão de prescrição da ação para os efeitos


do acidente do trabalho em nenhuma norma do ordenamento
jurídico, há de se entender ser ela imprescritível, até porque os
danos à personalidade humana, no contexto da dinâmica das
relações hierarquizadas do modelo de produção capitalista,
no qual o ser humano é transformado em força de trabalho,
não devem mesmo prescrever. Não se querendo chegar a
esta conclusão, que é a mais condizente com a própria visão
positiva do direito, no máximo, e com muito esforço, só se
poderá concluir que a prescrição a ser aplicável é a geral,
ou seja, de 20 (vinte) anos para os fatos ocorridos antes de
11/01/03 e de 10 (dez) para aqueles havidos em data posterior,
respeitando sempre a condição impeditiva do curso da
prescrição que se instaura, naturalmente, durante a vigência
do contrato de trabalho, visto que a ele se vincula o empregado
com pressuposta dependência econômica.

64
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Ainda, houve quem sustentasse a aplicabilidade do prazo de três anos


previsto no art. 206, §3º do Código Civil, entendendo ser o dano moral decorrente
de acidente ou doença do trabalho um ilícito civil praticado pelo empregador.
Determinada tese é superada pelo posicionamento do TST, o qual proclama ser
aplicável a prescrição trabalhista após a EC 45/2004. A seguir, segue a Ementa de
julgado recente do TST, que esclarece o tema:

AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS INTERPOSTOS


NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/14. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS – DOENÇA OCUPACIONAL –
CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA LESÃO POSTERIOR À EMENDA
CONSTITUCIONAL 45/04 – PRESCRIÇÃO INCIDENTE E
TERMO INICIAL. O agravo não merece provimento na medida
em que o recurso de embargos não reúne condições de
admissibilidade. Com efeito, o acórdão embargado consona
com o entendimento jurisprudencial reiterado e firme do TST.
De fato, no tocante ao termo inicial da prescrição da ação de
indenização por danos morais resultante de doença ocupacional,
o acórdão embargado assentou que ele coincidiria, nos termos
da jurisprudência reiterada da SBDI-1 do TST, com a data da
concessão do benefício previdenciário, pois é nesse momento
que se consolida a lesão e o empregado tem a certeza de sua
incapacidade para o trabalho. Contudo, como nos presentes
autos não havia notícia de que o autor tivesse sido aposentado
por invalidez, mas apenas de que a cessação do benefício
previdenciário se dera em 17/11/2010, este seria o termo a
quo da prescrição. No que concerne à prescrição incidente
em hipóteses que tal, a decisão hostilizada consignou que,
tendo ocorrido a ciência inequívoca da lesão após a vigência
da Emenda Constitucional 45/2004 (in casu, em 17/11/2010), a
prescrição incidente é a trabalhista. O Colegiado Turmário do
TST firmou que, como a ação foi ajuizada em 6/6/2012, dentro,
portanto, do biênio após a data da ciência inequívoca, não
havia prescrição extintiva a ser declarada. Logo, o documento
pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/
validador sob código 10016335D3DA289896. Poder Judiciário
Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.2
PROCESSO Nº TST-AgR-E-ED-RR-1082-65.2012.5.12.0041
Firmado por assinatura digital em 21/03/2017 pelo sistema
AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001,
que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira.
Entendimento proferido homenageia o posicionamento da
SBDI-1, não ensejando reforma. O recurso enfrenta o óbice
do art. 894, § 2º, da CLT. Assim, o despacho agravado não
desafia reforma. Agravo regimental conhecido e desprovido
(JUSBRASIL, 2018, s.p.).

Lembre-se: quando a ação de dano moral foi interposta por pessoa da


família do acidentado, o familiar deve buscar a reparação de seu dano, bem
como o pensionamento vitalício decorrente de morte de acidente do trabalho.
A jurisprudência ainda oscila entre o prazo de dois anos após o óbito e 10
anos previsto no Código Civil, tendo o TST, na sua maioria, aplicado o mesmo

65
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

entendimento anterior transcrito. Mesmo em determinados casos, devemos


observar a data do evento e da propositura da ação, se anterior ou posterior à
Emenda Constitucional 45/2004.

Para aprofundar e fixar o tema, leia o voto na íntegra que está


disponível a seguir: JUSBRASIL. Tribunal Superior do Trabalho –
TST. Recurso de Revista de Recurso – RR 10826520125120041
– Inteiro Teor. Disponível em: <https://tst.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/168413816/recurso-de-revista-rr-10826520125120041/
inteiro-teor-168413836>. Acesso em: 14 jan. 2018.

Atividade de Estudos:

1) Analise a situação a seguir:

José, trabalhador marítimo, faleceu na data de 15/12/2004


enquanto laborava embarcado. Deixou três filhos (Alan de 19 anos,
Felix de 17 anos e Ana de 26 anos), além de uma esposa grávida de
oito meses.

a) Identifique o último dia do prazo para que cada um dos


descendentes de José proponha a reclamatória trabalhista
buscando danos morais e o prazo de sua esposa.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

b) Identifique, segundo a jurisprudência dominante do TST, a


competência e qual o prazo (bienal, quinquenal ou decenal – dez
anos) de aplicação da prescrição a cada um dos descendentes.
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

66
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

Algumas Considerações
Como você pôde notar no direito do trabalho, os prazos de prescrição são
basicamente dois: o de cinco anos e o de dois anos, este, via de regra, para
a propositura da reclamatória trabalhista, e aquele, incidente sobre as parcelas
devidas na relação de emprego.

Ocorre que algumas parcelas, quando não pagas, são fulminadas pela
prescrição na sua totalidade, ou seja, mesmo que a ação tenha sido proposta
dentro do biênio citado na Carta Constitucional, o empregado não mais terá direito
de perceber a referida parcela, como aquelas decorrentes de modificação do
contrato de trabalho não asseguradas em lei.

Assim, a observância dos prazos e o conhecimento das especificidades do


direito do trabalho são ferramentas essenciais ao jurista, essencialmente com
as recentes mudanças na legislação, já que qualquer mudança deve respeitar o
direito adquirido da parte prejudicada.

Por fim, não se pode esquecer que as mudanças da competência da justiça


do trabalho trouxeram para o campo juslaboral algumas regras do Código Civil
que se aplicam mesmo ao processo do trabalho, mas apenas quando não se trate
de uma reclamatória trabalhista típica, ou seja, da relação empregatícia.

Como você pôde observar, os temas estudados ainda são sensíveis aos
doutrinadores e à jurisprudência nacional, pois enfrentam fatos e matérias de
relevância, como o dano moral decorrente do acidente do trabalho e a ampliação
da competência da Justiça Especializada.

Ainda, temos as modificações da CLT ocorridas em 2017 que estão em plena


vigência, mas ainda são temas de calorosos debates, em especial ante ao pouco
tempo de existência, enfrentando assim a profunda e importante reflexão sobre
as suas constitucionalidades e dissonância com a principiologia do Direito do
Trabalho. Assim, o tema da prescrição ainda precisa ser debatido, repensado e
reconstruído pelos juristas.

67
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Referências
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José Claudio Franco de Alencar. São Paulo: LTr, 2016.

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jus.br/DGCJ/instrnorm/27.htm>. Acesso em: 14 fev. 2018.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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______. Processo: RR - 680-74.2014.5.12.0053 Data de Julgamen-


to: 13/04/2016, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Tur-
ma, Data de Publicação: DEJT 15/04/2016. Disponível em: <https://goo.gl/yoXk-
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______. Decreto-Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943. Consolidação das leis


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ciência. Brasília. DF. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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cial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Di-
sponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.
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______. Lei Complementar nº 150 de 1º de junho de 2015. Dispõe sobre o con-


trato de trabalho doméstico. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/lcp/lcp150.htm Acesso em 14 de fev. 2018.

______. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em :


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm Acesso em 14 fev. 2018.

______. Lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1916. Código Civil. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm Acesso em 14 fev. 2018.

______. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do


Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2017/
Lei/L13467.htm#art1 Acesso em 14.fev. 2018.

68
Capítulo 2 Normas Específicas à Prescrição Trabalhista

DELGADO, Mauricio Godinho. Jus Variandi e alterações contratuais: limites jurídi-


cos. In: Revista do TST, Brasília, Vol. 66, nº 3, jul/set 2000, p. 129-138.

______. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011.

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______. A prescrição na Justiça do Trabalho: novos desafios. In: Revista do TST,


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FILHO, Rodolfo Pamplona; FERNANDEZ, Leandro. Tratado da prescrição tra-


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LEITE, Carlos Henrique Bezerra. A prescrição ex officio e a possibilidade de sua


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jan./mar. 2008.

OLIVEIRA, Cinthia Machado de; DORNELES, Leandro do Amaral Dorneles de.


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TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Instrução Normativa nº 27. Disponível


em: <http://www3.tst.jus.br/DGCJ/instrnorm/27.htm>. acesso em 14 efv. 2018.

VIANA, Marcio Túlio. Os paradoxos da prescrição. Quando o trabalhador se faz cúm-


plice involuntário da perda de seus direitos. In: Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo
Horizonte, v. 47, n. 77, p. 163-172, jan./jun.2008. Disponível em: <http://egov.ufsc.br/
portal/sites/default/files/anexos/32797-40592-1-PB.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2018.

69
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

70
C APÍTULO 3
Prescrição e a Constituição Federal
de 1988

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a diferença entre prescrição total e parcial no direito do trabalho.

� Entender a prescrição nos direitos correlatos do contrato de trabalho.

� Compreender as mudanças ocorridas com a mudança da legislação trabalhista.

Aplicar corretamente as prescrições parciais e totais, bem



como nos direitos correlatos ao contrato de trabalho.

� Realizar a correta interpretação das modificações legislativas trabalhistas.


A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

72
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

Contextualização
Caro acadêmico,

Dando continuidade ao tema da Prescrição e Decadência, trabalharemos


alguns institutos, que embora não sejam próprios do Direito do Trabalho, são
afetados e até intrínsecos, como o FGTS, o INSS etc.

Saber trabalhar os aspectos da prescrição trabalhista desses institutos é


essencial ao operador do direito, seja para evitar maiores prejuízos ao empregador,
com custos, seja para evitar prejuízos aos direitos fundamentais do empregado.

Estudaremos também a prescrição parcial e total, bem como observar as


modificações da CLT, e como elas podem interferir na prescrição.

O conhecimento e o discernimento sobre a prescrição parcial ou total são


importantes ao operador do direito, pois nela verifica-se a prescrição do chamado
fundo de direito ou não.

Assim, encerraremos o tópico da matéria, sem, contudo, encerrarmos nossos


estudos sobre prescrição e decadência, que são institutos que merecem ser
revisitados e rediscutidos sempre pelos juristas, a fim de aprimorarmos nossos
conhecimentos.

Prescrição Total e Parcial


Como você já sabe, a prescrição neutraliza a pretensão do sujeito, ou seja,
obsta que o credor exerça sua posição jurídica de vantagem, sem, contudo,
neutralizar o seu direito subjetivo de ação (basicamente propor a ação).

É preciso saber também que as pretensões declaratórias de direito são
imprescritíveis, somente sofrendo o impacto da prescrição as ações condenatórias.

Por pretensões declaratórias, leia-se aquelas que ensejam ações meramente


declaratórias, como o reconhecimento do vínculo de emprego, o reconhecimento
da existência de trabalho sob condição insalubre ou perigosa etc.

Por exemplo, caso um empregado, que já esteja desligado de uma empresa


há cinco anos, interponha reclamatória trabalhista contra a empresa WC para
ver reconhecido que o período em que laborou na empresa estava sujeito à
periculosidade e não à insalubridade. Tal pedido, caso comprovada a existência
da periculosidade, influencia no prazo para aposentadoria do empregado.

73
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

O Art. 11 da CLT, com redação dada pela Lei n° 9.658/1998, ainda vigente,
corroborou determinado posicionamento:

Art. 11.  A pretensão quanto a créditos resultantes das relações


de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores
urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do
contrato de trabalho.
I - em cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois
anos após a extinção do contrato;                        
Il - em dois anos, após a extinção do contrato de trabalho, para
o trabalhador rural.
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica às ações que tenham
por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência
Social.

No Direito do Trabalho, classificamos a prescrição em bienal e quinquenal


(aquela de dois anos após o término da relação de trabalho e esta última de cinco
anos), bem como em total ou parcial.

Podemos simplificar o significado da classificação da seguinte forma:


prescrição parcial é aquela que permite ao demandante o recebimento das
parcelas devidas nos últimos cinco anos do contrato de trabalho, ou seja, a
prescrição atinge apenas algumas parcelas devidas e não todas. Já na ocorrência
da prescrição total, o próprio direito é fulminado pelo lapso temporal, não restando
nada a ser recebido pelo demandante.

Importante ressaltar que enquanto a classificação entre bienal e quinquenal


refere-se à questão constitucional, a classe total e parcial pertence à legislação
infraconstitucional, como já sumulado pelo TST:

Súmula nº 409 do TST


AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO PRESCRICIONAL. TOTAL
OU PARCIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 7º, XXIX, DA CF/1988.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL (conversão da
Orientação Jurisprudencial nº 119 da SBDI-2) - Res.
137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005.
Não procede ação rescisória calcada em violação do Art.
7º, XXIX, da CF/1988 quando a questão envolve discussão
sobre a espécie de prazo prescricional aplicável aos créditos
trabalhistas, se total ou parcial, porque a matéria tem índole
infraconstitucional, construída, na Justiça do Trabalho, no
plano jurisprudencial (ex-OJ nº 119 da SBDI-2 - DJ 11.08.2003)
(TST, 2005, s.p.).

Segundo uma parte da doutrina, a prescrição bienal será sempre total, ou


seja, sempre extinguirá a pretensão jurídica de buscar as diferenças havidas da
relação de emprego. Já a prescrição quinquenal poderá ser total ou parcial.

74
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

Segundo Filho e Fernandez (2017), determinada afirmação seria equivocada,


pois a discussão sobre ser parcial ou total somente faz sentido quando se trata de
parcelas de trato sucessivo. Segundo os autores:

Para a incidência da prescrição bienal interessa apenas o


transcurso do prazo fixado na Constituição após a ruptura
do vínculo empregatício. [...] A prescrição bienal possui, por
assim dizer, um efeito ‘total’ por atingir as pretensões em geral
oriundas do contrato de emprego (ressalvadas as lesões pós
contratuais), estabelecendo um limite fatal para o seu exercício
(FILHO; FERNANDEZ, 2017, p. 110).

Costuma-se afirmar que a prescrição total atinge “o fundo de direito”,


enquanto a prescrição parcial atinge apenas as parcelas não exigíveis após o
lapso prescricional. Na verdade, para a correta diferenciação entre prescrição
parcial e total, é necessário verificar a actio nata, ou seja, o termo inicial da
prescrição ou a exigibilidade da pretensão, o que não se confunde com o fato
gerador da pretensão. A actio nata é então o momento em que a pretensão passa
a ser exigível e não o momento em que ela nasce.

Segundo Delgado (2011, p. 264), “a prescrição será total ou parcial, conforme o


título jurídico da parcela, se decorrente de lei, ou seja, se assegurada por lei”. Será
parcial, se decorrente de contrato, regulamento empresarial. O autor afirma que a
actio nata na prescrição parcial incide em cada parcela especificamente lesionada.

As conclusões da doutrina decorrem basicamente da redação da súmula


nº 294 do TST, segundo a qual: “Tratando-se de ação que envolva pedido de
prestações sucessivas decorrente de alteração do pactuado, a prescrição é total,
exceto quando o direito à parcela esteja também assegurado por preceito de lei”
(STF, 2003, s.p.).

Filho e Fernandez (2017, p. 112) afirmam que em verdade, “a súmula n° 294


refere-se apenas a modificações, alterações realizadas no contrato de trabalho
pelo empregador, pois em verdade, sendo a prestação de trato sucessivo, a
prescrição será sempre parcial”. Vejamos as súmulas nº 275 e 452 do TST:

Súmula n° 275:
PRESCRIÇÃO. DESVIO DE FUNÇÃO E REENQUADRAMENTO
(incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 144 da SBDI-
1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
I - Na ação que objetive corrigir desvio funcional, a prescrição só
alcança as diferenças salariais vencidas no período de 5 (cinco)
anos que precedeu o ajuizamento (ex-Súmula nº 275 – alterada
pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003).
II - Em se tratando de pedido de reenquadramento, a prescrição
é total, contada da data do enquadramento do empregado (ex-
OJ nº 144 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998) (TST, 2003, s.p.).

75
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Súmula nº 452:
DIFERENÇAS SALARIAIS. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS.
DESCUMPRIMENTO. CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO NÃO
OBSERVADOS. PRESCRIÇÃO PARCIAL.   (conversão
da Orientação Jurisprudencial nº 404 da SBDI-1)  –
Res. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e 23.05.2014
Tratando-se de pedido de pagamento de diferenças salariais
decorrentes da inobservância dos critérios de promoção
estabelecidos em Plano de Cargos e Salários criado pela
empresa, a prescrição aplicável é a parcial, pois a lesão é
sucessiva e se renova mês a mês (TST, 2014, s.p.).

Digamos que um trabalhador tenha entrado em uma empresa na data de


20/01/2002 e sido demitido em 23/02/2017. Na empresa havia um plano de cargos
e salários que fora devidamente observado até o mês de maio de 2005. Quando
da demissão, o empregado poderá pleitear as diferenças do descumprimento do
plano de cargos e salários dos últimos cinco anos, o mesmo se podendo dizer das
parcelas decorrentes do desvio de função.

No entanto, caso o empregado tenha sido desviado de função na mesma


data, maio de 2005, e pretenda o reenquadramento, o fundo de direito estará
prescrito, terá sido atingida a pretensão pela prescrição total, em virtude de se
tratar de ato único do empregador.

Prescrição e Deveres Anexos ao


Contrato de Trabalho: FGTS; RAIS;
PIS; INSS
O contrato de emprego gera deveres e direitos. Significa que gera aos
empregados alguns direitos, que embora não possuam origem direta do contrato
de trabalho, dele decorrem, como o FGTS, o recolhimento ao INSS, a declaração
da RAIS e o direito ao PIS.

a) FGTS

O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS - foi criado com o objetivo
de proteger o trabalhador. É um fundo consistente em recolhimentos mensais de
valores que enquanto conjunto de depósitos constitui-se ainda em um fundo social
de aplicação variada (DELGADO, 2011, p. 259).

A legislação que regulamenta o instituto do FGTS impõe o maior prazo


prescricional à pretensão de recolhimento da parcela ao fundo pelo empregado: 30
anos, nos termos do Art. 23, §5º da Lei nº 8.036/1990: “O processo de fiscalização,

76
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

de autuação e de imposição de multas reger-se-á pelo disposto no Título VII da


CLT, respeitado o privilégio do FGTS à prescrição trintenária”.

No entanto, o STF, na data de 13 de novembro de 2014, ao julgar o ARExt


709.212/DF, com repercussão geral, decidiu que a previsão da Lei n° 8.036/1990
violava o disposto no Art. 7º, inciso XXIX da CF/1988, ou seja, de que a prescrição
das verbas, ou créditos resultantes da relação de trabalho prescrevem em cinco anos.

Segundo o Ministro Gilmar Mendes, relator do julgado, as parcelas do


FGTS possuem natureza eminentemente trabalhista, devendo a prescrição ser
de cinco anos.

Leia a íntegra do acórdão no site do STF e aprofunde seu


conhecimento sobre determinado tema tão relevante. Disponível
em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.
asp?incidente=4294417>. Acesso em: 25 abr. 2018.

Assim, a jurisprudência do TST mudou a redação da súmula nº 362, passando


a incorporar no seu texto a decisão do STF:

Súmula nº 362 do TST


FGTS. PRESCRIÇÃO  (nova redação) -  Res.
198/2015,  republicada em razão de erro material – DEJT
divulgado em 12, 15 e 16.06.2015
I – Para os casos em que a ciência da lesão ocorreu a partir de
13.11.2014, é quinquenal a prescrição do direito de reclamar
contra o não recolhimento de contribuição para o FGTS,
observado o prazo de dois anos após o término do contrato;
II – Para os casos em que o prazo prescricional já estava em
curso em 13.11.2014, aplica-se o prazo prescricional que se
consumar primeiro: trinta anos, contados do termo inicial, ou
cinco anos, a partir de 13.11.2014 (STF-ARE-709212/DF).
Histórico:
Nova redação – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
Nº 362 FGTS – Prescrição
É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não
recolhimento da contribuição para o FGTS, observado o prazo
de 2 (dois) anos após o término do contrato de trabalho
Redação original - Res. 90/1999, DJ 03, 06 e 08.09.1999
Nº 362 FGTS - Prescrição
Extinto o contrato de trabalho, é de dois anos o prazo
prescricional para reclamar em Juízo o não recolhimento da
contribuição do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (TST,
2015, s.p.).

77
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Atualmente, a prescrição da parcela atinge o direito ao recolhimento de


FGTS sobre esta. No caso de uma ação meramente declaratória, ou seja, no caso
de uma ação que o reclamante tenha por objetivo o reconhecimento da relação de
emprego, caso ultrapassado mais de dois anos do término da relação, a despeito
de poder ter reconhecido o seu direito de ver sua CTPS assinada, não terá direito
aos recolhimentos fundiários do período, pois são prescritas as pretensões sobre
quaisquer parcelas e, consequentemente, sobre o FGTS.

Embora a legislação que regulamenta o FGTS afirme que o prazo de


prescrição do FGTS, seu recolhimento, seja de trinta anos, o STF, no julgamento
anterior, entendeu que, em virtude da natureza jurídica de parcela trabalhista
do FGTS, a sua prescrição não pode ultrapassar os cinco anos fixados na
Constituição Federal.

O TST, que até a data de 13/11/2014 vinha entendendo que a prescrição do


FGTS era de trinta anos, respeitado o limite de dois anos para a propositura da
reclamatória trabalhista, teve de dar nova redação à súmula n° 362, sob pena de
proferir decisões em afronta ao entendimento consubstanciado do STF, o que não
é possível por ser esta última a Corte Constitucional, ou seja, o órgão jurisdicional
competente a emanar as interpretações autênticas da Carta Federal.

No entanto, a fim de não ferir o direito adquirido do trabalhador, o TST utilizou


do mesmo critério utilizado pelo legislador na redação do Código Civil de 2002, ao
modular os efeitos da nova lei para as relações jurídicas ainda em curso e cujo
prazo prescricional já estava em andamento: “Art. 2.028. Serão os da lei anterior
os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada
em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
revogada” (TST, 2003, s.p.).

Na redação do novo Código Civil, o legislador, na parte final, que trata dos
atos das disposições transitórias, previu que nos casos da prescrição aquisitiva
de direitos - usucapião, que tiveram seu prazo diminuído no Novo Código (assim
como o entendimento sobre o FGTS pelo STF), o julgador deve observar o prazo
da legislação anterior quando já houver ultrapassado mais da metade do tempo, a
fim de se respeitar o direito adquirido daquela parte da relação jurídica que pode
ser prejudicada com a nova contagem do lapso prescricional, utilizando esse
critério de forma analógica ao FGTS.

b) INSS

A relação de emprego ainda gera ao empregador o dever de recolhimento


das parcelas de contribuição previdenciária. Ao empregado, o recolhimento é um
direito que assegura a percepção dos benefícios previdenciários descritos na Lei
n° 8.213/91 e dos eventos previstos no Art. 201 da CF/88:
78
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de


regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: 
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade
avançada; 
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego
involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao
cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto
no § 2º. 
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados
para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime
geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades
exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou
a integridade física e quando se tratar de segurados portadores
de deficiência, nos termos definidos em lei complementar. 
§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição
ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal
inferior ao salário mínimo.

A contribuição previdenciária possuía, nos termos do Art. 46 da Lei n°


8.212/91, prazo prescricional de 10 anos para ser cobrada: “O direito de cobrar os
créditos da Seguridade Social, constituídos na forma do artigo anterior, prescreve
em 10 (dez) anos”.

O STF, no entanto, através do RE 556.664, declarou a inconstitucionalidade


do referido dispositivo, pois a contribuição previdenciária é tributo. Sendo tributo,
deve ser regida por lei complementar, sendo a Lei nº 8.212/91 uma lei ordinária,
não poderia ter tratado de matéria tributária.

Diante das inúmeras ações sobre o tema e já tendo o STF decidido com
repercussão geral, editou a Suprema Corte a súmula vinculante nº 8: “São
inconstitucionais o parágrafo único do Artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os
Artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de
crédito tributário” (STF, 2017, p. 11-12).

Assim, da mesma forma que a prescrição do FGTS é quinquenal, a prescrição


com relação ao recolhimento das parcelas previdenciárias obedece ao mesmo prazo,
no entanto, possuem naturezas jurídicas diversas, pois a natureza das parcelas
previdenciárias é tributária, enquanto do FGTS é trabalhista, segundo o STF.

EMENTA: PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA TRIBUTÁRIAS.


MATÉRIAS RESERVADAS A LEI COMPLEMENTAR.
DISCIPLINA NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL.
NATUREZA TRIBUTÁRIA DAS CONTRIBUIÇÕES PARA

79
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

A SEGURIDADE SOCIAL. INCONSTITUCIONALIDADE


DOS ARTS. 45 E 46 DA LEI 8.212/91 E DO PARÁGRAFO
ÚNICO DO ART. 5º DO DECRETO-LEI 1.569/77. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO NÃO PROVIDO. MODULAÇÃO DOS
EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.
I. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA TRIBUTÁRIAS. RESERVA
DE LEI COMPLEMENTAR. As normas relativas à prescrição e à
decadência tributária têm natureza de normas gerais de direito
tributário, cuja disciplina é reservada a lei complementar, tanto
sob a Constituição pretérita (Art. 18, § 1º, da CF de 1967/69)
quanto sob a Constituição atual (Art. 146, b, III, da CF de 1988).
Interpretação que preserva a força normativa da Constituição,
que prevê disciplina homogênea, em âmbito nacional, da
prescrição, decadência, obrigação e crédito tributários. Permitir
regulação distinta sobre esses temas, pelos diversos entes
da federação, implicaria prejuízo à vedação de tratamento
desigual entre contribuintes em situação equivalente e à
segurança jurídica.
II. DISCIPLINA PREVISTA NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO
NACIONAL. O Código Tributário Nacional (Lei 5.172/1966),
promulgado como lei ordinária e recebido como lei complementar
pelas Constituições de 1967/69 e 1988, disciplina a prescrição
e a decadência tributárias.
III. NATUREZA TRIBUTÁRIA DAS CONTRIBUIÇÕES. As
contribuições, inclusive as previdenciárias, têm natureza
tributária e se submetem ao regime jurídico-tributário previsto
na Constituição. Interpretação do Art. 149 da CF de 1988.
Precedentes.
IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO PROVIDO.
Inconstitucionalidade dos Arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91, por
violação do Art. 146, III, b, da Constituição de 1988, e do
parágrafo único do Art. 5º do Decreto-lei 1.569/77, em face do
§ 1º do Art. 18 da Constituição de 1967/69.
V. MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. SEGURANÇA
JURÍDICA. São legítimos os recolhimentos efetuados nos
prazos previstos nos Arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 e não
impugnados antes da data de conclusão deste julgamento
(STF, 2008, 1886-1887).

Leia o texto do Recurso Extraordinário 556.664 na


íntegra e aprofunde seus conhecimentos sobre o tema.
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=AC&docID=561617>. Acesso em: 25 abr. 2018.

80
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

c) RAIS e PIS

A Relação Anual de Informações Sociais - RAIS - é um instrumento de


coleta de dados do Governo Federal, instituído pelo Decreto n° 76.900/1975,
criada para controlar a atividade trabalhista existente no país. Tem por objetivo
suprir as necessidades de controle, estatística e informações das entidades
governamentais da área social.

É através da RAIS que podemos identificar o trabalhador que possui direito


ao PIS - Programa de Integração Social. Foi criado pela Lei Complementar
n° 7, de 1970, destinado a promover a integração do empregado na vida e no
desenvolvimento das empresas. A partir da promulgação da Constituição Federal
de 1988, os recursos do PIS são destinados a um fundo comum (FAT - Fundo de
Amparo ao Trabalhador) para o custeio do seguro-desemprego, do abono salarial
e para o financiamento do Programa de Desenvolvimento Econômico do BNDES.

Nos termos do Art. 239, § 3º, da Constituição Federal de 1988, combinado


com o Art. 9º da Lei n° 7.998/1990, é direito de todo empregado cadastrado no
PIS, há pelo menos cinco anos, e que perceba menos de dois salários mínimos
de remuneração mensal, o recebimento de um abono salarial anual, equivalente
a um salário mínimo. Assim, constitui obrigação patronal acessória ao contrato
de trabalho a inscrição dos seus empregados na RAIS, para que usufruam do
benefício concedido pela lei.

Nos termos da Súmula n° 300 do TST, compete à Justiça do Trabalho


processar e julgar ações de empregados em face de empregadores relativas ao
cadastramento no PIS, ou seja, se o empregador não realizar a correta declaração
anula da RAIS, o empregado pode ter seu direito à percepção do PIS violado,
tendo, nesses casos, direito à indenização.

Como obrigação assessória ao contrato, que se renova ano a ano, já que a


declaração é anual, a prescrição aplicável ao caso é a parcial, respeitado o prazo
da prescrição bienal após o término do contrato de trabalho.

Prescrição e a Nova CLT


A reforma trabalhista, operada pela Lei n° 13.467/2017, não alterou os prazos
prescricionais do Direito do Trabalho, como se nota da redação dada ao caput do
Artigo 11, que foi modificado. Veja no quadro comparativo a seguir:

81
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Quadro 2 - Comparação

REDAÇÃO ANTERIOR À REFORMA NOVA REDAÇÃO

Art. 11 - O direito de ação quanto a Art. 11 -  A pretensão quanto a créditos


créditos resultantes das relações de resultantes das relações de trabalho
trabalho prescreve: (Redação dada prescreve em cinco anos para os tra-
pela Lei nº 9.658, de 5.6.1998) balhadores urbanos e rurais, até o limite
de dois anos após a extinção do contra-
I - em cinco anos para o trabalhador to de trabalho (Redação dada pela Lei
urbano, até o limite de dois anos após nº 13.467, de 2017). 
a extinção do contrato.                        
§ 1º O disposto neste artigo não se
Il - em dois anos, após a extinção aplica às ações que tenham por objeto
do contrato de trabalho, para o tra- anotações para fins de prova junto à
balhador rural.                      Previdência Social.
§ 1º O disposto neste artigo não se
aplica às ações que tenham por obje- § 2º  Tratando-se de pretensão que en-
to anotações para fins de prova junto volva pedido de prestações sucessivas
à Previdência Social.    decorrente de alteração ou descumpri-
mento do pactuado, a prescrição é total,
exceto quando o direito à parcela esteja
também assegurado por preceito de lei
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).         

§ 3o  A interrupção da prescrição so-


mente ocorrerá pelo ajuizamento de
reclamação trabalhista, mesmo que em
juízo incompetente, ainda que venha
a ser extinta sem resolução do mérito,
produzindo efeitos apenas em relação
aos pedidos idênticos. 

Fonte: A autora.

Note que a nova redação já incorporou em seu texto a redação da súmula n°


294 do TST. Deixa expresso que em caso de modificação do contrato de trabalho
de forma unilateral, suprimindo da parcela o empregador, a prescrição é total
quando a parcela suprimida decorrer de pactuação contratual, e parcial quando a
parcela suprimida decorrer de preceito previsto em lei.

No entanto, a nova redação do artigo inseriu o parágrafo terceiro, segundo o


qual o prazo prescricional interrompe-se apenas com a propositura de reclamatória
trabalhista.

82
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

Ocorre que acreditamos que não será esse o entendimento da jurisprudência,


eis que as demais formas previstas em lei de interrupção da prescrição não
poderiam ser afastadas, sob pena de uma interpretação rasa e superficial da lei.
Assim, conforme assevera Filho e Fernandez (2017), a melhor interpretação da
legislação é a de que a notificação judicial do empregador e as ações coletivas
também possuam o condão de interromper a prescrição.

Por fim, com relação à prescrição intercorrente, ela era possível no


processo do trabalho segundo uma parte da jurisprudência. Agora, no entanto,
está expresso, no texto da lei, sua possibilidade, restando-nos aguardar como a
jurisprudência se posicionará sobre o tema, ante a brevidade de tempo em que
está vigendo a lei e os inúmeros questionamentos existentes, como o porquê
da diferença entre o prazo de prescrição intercorrente juslaboral e o da justiça
comum.

Além da modificação no texto da lei, a reforma trabalhista incluiu o Artigo 11-


A, que trata da prescrição intercorrente de dois anos:

Art. 11-A.  Ocorre a prescrição intercorrente no processo do


trabalho no prazo de dois anos.
§ 1o  A fluência do prazo prescricional intercorrente inicia-se
quando o exequente deixa de cumprir determinação judicial no
curso da execução.
§ 2o  A declaração da prescrição intercorrente pode ser requerida
ou declarada de ofício em qualquer grau de jurisdição.

O referido artigo propõe ainda que a prescrição pode ser declarada de ofício.
Já observamos no capítulo anterior a celeuma existente sobre a possibilidade
de declaração de ofício da prescrição, a qual continua a existir. Cremos que a
interpretação da lei deve ser restritiva, ou seja, a única forma de prescrição que
pode ser reconhecida de ofício é a intercorrente.

O reconhecimento da prescrição de ofício é contrário ao princípio da


proteção. Ainda, estender a interpretação da lei, para que toda a prescrição possa
ser reconhecida de ofício, é interpretar a lei de forma a prejudicar o trabalhador, o
que é contrário à principiologia do Direito do Trabalho.

Assim, no que toca ao reconhecimento de ofício da prescrição, tendo a lei


previsto a possibilidade apenas no que tange à prescrição intercorrente, cremos,
neste ponto, ser a interpretação restritiva.

83
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

Modificação dos Prazos Pelas


Partes
A CLT não possui regramento geral, ou normas gerais sobre a prescrição,
como previsto nos Artigos 189 a 196 do Código Civil. Assim, você poderia se
perguntar se seria possível às partes, no contrato individual, ou através de acordo
ou convenção coletiva, modificarem ou aumentarem os prazos de prescrição.

Observando o regramento do Direito do Trabalho e a principiologia específica


do ramo do direito, pode-se chegar à conclusão de que é possível o aumento dos
prazos prescricionais, pois seria tal aumento favorável ao empregado.

No entanto, o regramento geral sobre prescrição previsto no Código Civil, em


verdade, é norma geral para o Direito como um todo, ou seja, para o ordenamento
jurídico nacional.

O Art. 192 do CCB determina categoricamente que “os prazos de prescrição


não podem ser alterados pelas partes”. O Artigo 191, por seu turno, prevê que: “A
renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem
prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar” (BRASIL, 2002).

Da redação dos referidos artigos, podemos então presumir que embora as


partes, empregado e empregador, não possam aumentar ou diminuir os prazos de
prescrição, pois a lei assim o proíbem, pode a parte a quem aproveita a prescrição
renunciá-la, ou seja, pode haver acordo entre as partes sobre a não aplicação dos
prazos prescricionais, seja no curso do contrato de trabalho, seja no seu término,
não havendo impedimento legal para tanto.

Atividade de Estudos:

1) Para que você fixe os estudos sobre prescrição e decadência,


realize as atividades a seguir:

Cristiano laborou para a empresa plásticos S&A de 02/03/2000


até 03/03/2017, quando foi demitido sem justa causa.

No curso do contrato de trabalho, deixou de perceber horas


extras na data de 04/03/2014, sempre foi submetido à regime de
revezamento e por vezes recebia o adicional noturno, por vezes não.

84
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

Estava sujeito à insalubridade em grau máximo e percebia apenas


em grau mínimo, além de não gozar das férias adquiridas no ano de
2015, sendo devida em dobro.

Com base nos dados apresentados e seus estudos sobre


prescrição e decadência, responda:

a) Qual o prazo prescricional para pleitear as horas extras


suprimidas?
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b) A prescrição das horas extras suprimidas é total ou parcial? Qual


o fundamento?
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c) Qual a data que Cristiano deve interpor reclamatória trabalhista


para que não veja qualquer das parcelas de diferença de adicional
de insalubridade prescritas?
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d) Sobre a insalubridade, a prescrição aplicável é total ou parcial?


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85
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________

e) Respeitado o limite de dois anos, qual a data do último dia em que


Cristiano deve intentar reclamatória trabalhista para que não tenha
a pretensão de suas férias vencidas e não gozadas, atingidas pela
prescrição?
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_______________________________________________________
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f) Supondo que Cristiano tenha pleiteado dano moral substitutivo


a não declaração da RAIS pela empresa, tenha o Juízo negado
e o Tribunal, em grau de recurso, concedido a indenização por
dano moral mais a indenização substitutiva, entendendo que esta
decorre de lei. A decisão do TRT, no caso, fora dada na data de
05/08/2018, sendo apresentado recurso ao TST em 09/08/2018 e
não tendo sido conhecido, sem que a empresa tenha apresentado
agravo. Qual a data do prazo final de decadência para que a
empresa condenada proponha ação rescisória?
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g) Suponha que em razão da exposição continua aos agentes


insalubres, Cristiano tenha contraído doença profissional, tendo
falecido 8 meses após a sua demissão. Assim, qual a data limite
para que os filhos de Cristiano, supondo que todos sejam maiores,
possam interpor ação de dano moral em face da empresa?
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_______________________________________________________
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86
Capítulo 3 Prescrição e a Constituição Federal de 1988

Algumas Considerações
Nesta disciplina, estudamos os institutos da prescrição e da decadência e
seus efeitos no Direito do Trabalho, além dos efeitos do tempo e sua aplicação
nos direitos subjetivos que decorrem da relação de trabalho.

Como você pôde observar ao longo dos capítulos, a prescrição fulmina uma
pretensão de direito, que nasce da violação de um direito subjetivo. Contudo, não
se pode dizer que a prescrição é sinônimo de sanção, ou seja, a prescrição não é
uma sanção para aquele que deixa de buscar o socorro judicial.

Você já deve ter escutado o famoso brocardo jurídico “o direito não socorre
a quem dorme”. Na verdade, a passagem do tempo que fulmina a pretensão de
direito ocorre porque o titular dessa pretensão deixou de agir, assim, podemos
pensar que o sujeito não necessitava daquilo que deixou prescrever.

Assim, passamos a entender a necessidade de um instituto jurídico que


apazigue as relações jurídicas que as pessoas travam entre si, bem como as
expectativas que determinadas relações possam causar.

Se todos os seres pudessem, ao longo de toda a vida, buscar fazer valer


uma pretensão violada, então não se poderia falar em justiça ou em paz social. O
homem, ao escolher viver em sociedade, escolheu viver em paz com o próximo,
de forma solidária, assim nos diz a nossa carta maior, ao mencionar como objetivo
da Federação Brasileira a solidariedade, a justiça e a igualdade.

Concluindo, o estudo da prescrição e da decadência, bem como o


aprofundamento dos institutos, são essenciais para a manutenção da segurança
jurídica e da paz social, cernes da ordem jurídica democrática.

Referências
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo:
LTr, 2016.

BRASIL. Decreto nº 76.900 de 23 de dezembro de 1975. Institui a Regulação


Anual de Informações Sociais – RAIS. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/antigos/d76900.htm Acesso em 20 mar. 2018.

87
A PRESCRIÇÃO E A DECADÊNCIA NO DIREITO DO TRABALHO

_______Lei no  10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Dis-


ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso
em: 20 mar. 2018.

______. Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia


do Tempo de Serviço, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.plan-
alto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8036consol.htm>. Acesso em: 20 mar. 2018.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 mar. 2018.

______. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das


Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
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