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Resumo
A busca por competitividade nas empresas direciona cada vez mais para uma estrutura orientada
a processos de negócios. Diante disso, os modelos de referência tornam-se relevantes, pois é a partir
deles que são mapeados e documentados os processos de negócios. Este artigo apresenta um modelo
de referência para o processo de negócio de Gestão da Produção, para empresas que montam seus
produtos finais sob encomenda. Esse modelo de referência foi desenvolvido pelo Grupo de Logística
Integrada do Núcleo de Manufatura Avançada da USP São Carlos. Primeiramente é apresentado o
processo de seleção do método de modelagem, diante dos principais métodos existentes. A seguir é
apresentado o processo de desenvolvimento do modelo de referência, bem como as principais
atividades e informações que o compõem e, finalmente, é feita uma discussão sobre as possibilidades
de uso do modelo apresentando e mostrando uma aplicação para ensino.
(1996) ressalta que a modelagem dos processos vido com outros sistemas computacionais de
de negócios tem como finalidade: apoio às atividades, tais como o sistema SAP
• melhorar a representação e compreensão de R/3, processadores de textos e planilhas eletrô-
como a empresa trabalha; nicas. Ou seja, pelo modelo, é possível acessar
• racionalizar e assegurar o fluxo de informa- automaticamente informações que estão em um
ções; relatório, ou ainda processar transações do
• armazenar o conhecimento adquirido e o sistema SAP R/3. Essa característica é relevante
know how da empresa, para uso posterior; pois torna o modelo mais didático e integrado
• prover uma base para análises econômicas e com a forma de trabalho da empresa.
organizacionais;
• simular o comportamento de partes da empresa; 2.1 A R I S – Architecture of Integrated
• prover uma base para tomada de decisões Information Systems
operacionais e organizacionais e
• controlar, coordenar ou monitorar algumas A arquitetura ARIS, cuja ferramenta possui o
partes da empresa (i.e., alguns processos). mesmo nome, utilizada para a descrição de
Diante disso, o modelo dos processos de negó- processos de negócios, está dividida em quatro
cios torna-se relevante, uma vez que, a partir dele é visões distintas: Organização, Função, Dados e
possível construir uma visão única de aspectos Controle (SCHEER, 1991). Isto implica que
comportamentais e organizacionais, podendo cada processo é observado segundo uma
essa visão ser compartilhada por toda a empresa. perspectiva diferente para facilitar o entendimen-
Para tanto o modelo deve conter diferentes to. Para cada visão existem diferentes métodos
representações, ser expressado por um forma- que podem ser utilizados para a descrição da
lismo, permitindo que, com certo grau de situação real.
abstração as atividades, informações, recursos e A visão de dados representa todos os elemen-
a estrutura organizacional da empresa possam tos que modificam ou geram dados, que são as
ser representadas por de uma linguagem condições e os eventos. Os eventos são
(VERNADAT, 1996). As linguagens para representados por informações. Condições são
modelagem podem ser definidas em termos de referências, como por exemplo o status de uma
símbolos gráficos, textos ou até mesmo ordem de fabricação, que também é um dado.
linguagem matemática dependendo do grau de Esta visão então é caracterizada por representar a
formalismo desejado. movimentação (fluxo) de dados.
Atualmente existem várias arquiteturas de A visão de funções engloba as atividades e
referência para o desenvolvimento do modelo processos, apresenta uma descrição da função, a
dos processos de negócios, sendo que as que enumeração das suas subfunções (subprocessos)
mais se destacam são as arquiteturas CIMOSA e o relacionamento entre as funções.
(Computer Integrated Manufacturing Open System A visão organizacional representa as unida-
Architecture) e ARIS (Architecture of Integrated des organizacionais e usuários que compõem o
Information System). O desenvolvimento desse processo. Devido à sua proximidade, estes dois
trabalho utilizou a arquitetura ARIS. elementos são representados juntos. Os usuários
A adoção da arquitetura ARIS como arquite- são associados a unidades organizacionais.
tura de referência para o desenvolvimento do A integração entre as três diferentes visões
modelo apresentado, teve como principal ocorre pela visão de Controle. O método mais
aspecto o fato dessa arquitetura possuir uma importante na visão de Controle é o EPC
ferramenta computacional capaz de contemplar (Extended Event-Controlled Process Chain
todos os aspectos necessários para modelagem e Method), que consiste num diagrama com dois
ainda permitir a integração do modelo desenvol- elementos centrais: função e evento. O evento
272 Bremer & Lenza – Um Modelo de Referência para Gestão da Produção
Condições1 Condições2
Dados
Funções
Organizacional
contém informações que iniciam as funções, que processos de negócios, para que, através dessa,
por sua vez produzem eventos, e assim forman- seja especificado e detalhado o modelo particular
do a seqüência de atividades que estão em um da empresa.
processo. Neste método, um processo é uma Atualmente os principais fornecedores de
ocorrência, que é iniciada por um evento e modelos de referência são as empresas de
finalizada por outro evento (Figura 1). consultoria e empresas de softwares corporati-
Como resultado obtém-se a descrição de vos. Essas empresas possuem modelos especiali-
todas as atividades do modelo de referência, bem zados para vários segmentos de mercado. Outro
como sua ordenação e relacionamento com cada fornecedor de modelos de referência são os
área da empresa. Este método fornece vantagens institutos de pesquisas e órgãos de pesquisa,
na solução de problemas administrativos e porém os modelos tendem a ser mais genéricos e
organizacionais (SCHEER, 1998). não tão detalhados.
Resumidamente, segundo VERNADAT
2.2 Modelo de Referência (1996), as vantagens em se adotar modelos de
referência consistem em:
Os modelos de referência, os quais podem ser • redução de tempo e custo no desenvolvimen-
desenvolvidos em situações reais ou em estudos to do modelo particular;
teóricos, documentam os vários aspectos de um • comparação das atividades da empresa com
processo de negócio. Pode-se distinguir entre as atividades propostas no modelo (i.e.,
modelos procedimentais ou de implementação melhores práticas);
de softwares padrão, e modelos de negócios tais • melhor suporte na implantação de sistemas de
como modelos para gestão da produção e gestão empresarial integrados.
desenvolvimento de produtos (SCHEER, 1998).
Além disso, os modelos de referência podem ser 3. Modelo de Referência para Gestão da
especializados para mercado, segmentos ou Produção – ATO
tipologias específicas, como por exemplo: setor
automotivo, setor de alimentos, indústria
aeroespacial e outros.
O objetivo do modelo de referência é prover
O desenvolvimento do modelo de referência
em questão foi motivado pelas pesquisas
desenvolvidas pelo Grupo de Logística Integrada
a empresa com uma solução inicial para seus – LI do Núcleo de Manufatura Avançada –
GESTÃO & PRODUÇÃO v.7, n.3, p.269-282, dez. 2000 273
NUMA. As atividades de pesquisa deste grupo produtos é limitada. Nos sistemas ATO as
tratam do planejamento, implementação, entregas dos produtos tendem a ser de médio
controle e otimização do fluxo físico e de prazo e as incertezas da demanda (quanto ao
informações da empresa e das cadeias de mix e volume dos produtos) são gerenciadas
suprimentos nas quais atua, a partir dos objetivos pelo excesso no dimensionamento do estoque
estratégicos definidos. Para tal, engloba as áreas de subconjuntos e capacidade das áreas de
de planejamento e controle da produção, supply montagem.
chain management e logística. Além disso existe • Produção sob Encomenda (MTO – Make to
o estudo sobre os sistemas ERP – Enterprise Order) – O projeto básico pode ser desenvol-
Resource Planning – como ferramenta para o vido a partir dos contatos iniciais com o
auxílio à gestão da produção. O resultado dessas cliente, mas a etapa de produção só se inicia
atividades é empregado em cursos para a após o recebimento formal do pedido. A
comunidade acadêmica e empresarial bem como interação com o cliente costuma a ser exten-
em projetos de extensão com empresas. siva e o produto está sujeito a algumas modi-
O processo de negócio de gestão da produção ficações, mesmo durante a fase de produção.
não ocorre de forma única nas empresas. Este Num sistema MTO, os produtos geralmente
deve ser modelado de acordo com as restrições não são um de cada tipo, porque usualmente
dos diferentes tipos de sistemas produtivos. os produtos são projetados a partir de especi-
Segundo PIRES (1995), uma das maneiras de se ficações básicas. Os tempos de entrega ten-
diferenciar os sistemas produtivos é pelo grau dem a ser de médio a longo prazo e as listas
com que o cliente final participa na definição do de materiais são usualmente únicas para cada
produto, sendo que as quatro tipologias de produto.
produção básicas são (Figura 2): • Engenharia sob Encomenda (ETO –
• Produção para Estoque (MTS – Make to Engineering to Order) – É como se fosse
Stock) – Caracteriza os sistemas que produ- uma extensão do MTO, com o projeto do pro-
zem produtos padronizados, baseados princi- duto sendo feito quase que totalmente basea-
palmente em previsões de demandas. Nesse do nas especificações do cliente. Os produtos
caso, nenhum produto é customizado, porque são altamente customizados e o nível de
o pedido é feito com base no estoque de pro- interação com o cliente é muito grande.
dutos acabados. Isso significa que a interação
direta dos clientes com o projeto dos produtos Essas quatro tipologias básicas de produção
é muito pequena ou inexistente. Os sistemas definem ou direcionam grande parte das
MTS têm como principal vantagem a rapidez atividades que compõem o processo de Gestão
na entrega dos produtos, mas os custos com da Produção. A escolha da tipologia ATO para o
estoques tendem a ser grandes e os clientes desenvolvimento do modelo de referência
não têm como expressar diretamente suas baseou-se no fato de que esta tipologia guarda
necessidades a respeito dos produtos. Nesses características tanto da tipologia MTS como da
sistemas, os ciclos de vida dos produtos ten- tipologia MTO. Além disso, existe uma
dem a ser relativamente longos e previsíveis. tendência das empresas que produzem exclusi-
• Montagem sob Encomenda (ATO – Assembly vamente sob encomenda, e das que produzem
to Order) – Caracteriza os sistemas em que para estoque, de migração para a tipologia ATO.
os subconjuntos, grandes componentes e Isso porque as empresas que produzem para
materiais diversos são armazenados até o estoque tendem a ganhar com a possibilidade de
recebimento dos pedidos dos clientes conten- fornecer um produto menos padronizado, que
do as especificações dos produtos finais. A melhor atenda as necessidades dos clientes, e as
interação dos clientes com o projeto dos empresas que trabalham exclusivamente sob
274 Bremer & Lenza – Um Modelo de Referência para Gestão da Produção
Fases do produto
P
Projeto Fabricação Montagem Expedição
E
F
R
O MTS
S
R C
Produção sob O
Previsões N L
ATO N
I
Produção sob E A
Pedidos C E
L
E MTO N
I
D T
Z
O ETO E
A
R S Ç
E Matéria-prima Componentes Semi-acabados Produtos
acabados Ã
S
Ciclo Produtivo
O
Gerenciar
Produção
Realizar previsões
por segmentos de
mercado
Realizar previsões
por representantes
de vendas Primeiro nível de detalhamento
do modelo
Consolidar
informações sobre
o mercado
Segundo nível de detalhamento
Levantar grupos do modelo
de produtos por
seg. de mercado
Gerar plano
agregado de
vendas
dos clientes sejam determinadas e satisfeitas Gerenciar Demanda seja realizado pelos gerentes
(VOLLMANN, 1993). O processo Gerenciar e coordenadores dessas áreas da empresa, dando
Demanda, busca prover a empresa de um assim um caráter multidisciplinar a esse
conjunto de atividades capazes de gerir sua conjunto de atividades.
demanda, ou seja, identificar quais as necessida- O principal resultado do processo Gerenciar
des dos clientes em termos de produtos e Demanda é o plano agregado de vendas. Esse
serviços, dimensionar a capacidade de absorção plano contém uma meta de vendas da empresa
de cada segmento de mercado e segmento de para um determinado período. Esse é um período
cliente, e determinar qual o nível de atendimento longo, geralmente de um ano. O plano agregado
para cada um desses segmentos. de vendas, como o próprio nome diz, fornece as
Desse modo, o processo Gerenciar Demanda quantidades para vendas em termos agregados,
deve estar diretamente vinculado com o plane- ou seja, em função de valores financeiros, ou
jamento estratégico da empresa (VOLLMANN, então para grupos ou famílias de produtos, ou
1997). Outra característica desse processo é que ainda por segmentos de mercado. Essas
apesar de fazer parte do processo de Gestão da informações são extremamente importantes para
Produção, envolve informações e decisões a produção, e devem respeitar as metas
financeiras, de vendas, da produção, da estabelecidas no planejamento estratégico da
engenharia ou desenvolvimento de produtos, e empresa. Desse modo o plano agregado
de marketing. Isso faz com que o processo consegue atender uma característica da tipologia
276 Bremer & Lenza – Um Modelo de Referência para Gestão da Produção
Clientes
Apresentações Testes
CONHECIMENTOS
filosofias/conceitos – métodos/técnicas – soluções/ferramentas
Tipo de Empresa: procura definir o ambiente A relação existente entre esses quatro elemen-
para o qual foi desenvolvido o modelo de tos é que o tipo de empresa e o tipo de produto
referência. Fatores como porte, área de atuação, dão as restrições necessárias para o desenvolvi-
segmento de mercado, produtos, fornecedores mento do modelo de referência. Associados ao
ajudam a caracterizar um tipo de empresa. Ou modelo desenvolvido estão os conhecimentos
seja, para cada configuração que se cria, como necessários para a realização das atividades.
por exemplo: uma empresa de grande porte, Além desses quatro elementos é preciso
que atua tanto no mercado interno como prover o cenário de uma infra-estrutura capaz de
regionalmente, dentro do segmento automotivo; suportar a aplicação disso tudo. Essa infra-
tem-se um modelo de referência que é mais estrutura deve ser composta por hardwares,
adequado. softwares, recursos áudio visuais capazes de
Tipo de Produto: tem como finalidade carac- suportar realização das atividades do modelo de
terizar o produto desenvolvido e comercializado referência.
pela empresa. De acordo com o tipo de produtos, Desse modo, tem-se um ambiente onde é
tem as definições de como é o sistema produtivo possível transmitir conhecimento com maior
dessa empresa, como é o relacionamento com nível de absorção, ou seja, pela vivência dos
seus fornecedores e clientes, e quais são as conhecimentos necessários para realização das
tecnologias envolvidas no seu processo de atividades do modelo de referência para um
fabricação. determinado tipo de empresa e produto.
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282 Bremer & Lenza – Um Modelo de Referência para Gestão da Produção
The search for competitiveness in the companies heads each time more for a business process
oriented structure. Ahead of this, the reference models came up with a relevant importance, because
they are responsible for documenting and mapping the business processes. This article presents a
reference model for the business process of Production Management, applied for assembly to order
enterprises. This reference model was developed by the Integrated Logistic Group from the Nucleus of
Advanced Manufacturing from USP – São Carlos. Initially the selection process of the modeling
method is presented, ahead of the main existing methods. After this, the development process of the
reference model is presented, as well as the main activities and information that compose it and finally
a discussion about the possibilities of the use of the model presented is made and an application for
education is shown.