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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
2 O QUE É A FILOSOFIA?.......................................................................................... 6
5.1.4 Estética............................................................................................................. 24
5.1.5 Política.............................................................................................................. 24
2
6.2.1 Santo Anselmo (Reino da Borgonha, 1033–1109 d.C.) .................................... 28
9.2 Filosofia como base para a formação da educação da civilização grega ............ 53
3
12 FILOSOFIA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS ................................................ 72
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
5
2 O QUE É A FILOSOFIA?
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exemplo, até o final do século XIX, a psicologia ainda era vista como parte da filosofia.)
Isso sugere que a filosofia pode ser identificada, ainda que um tanto indiretamente,
como a origem daqueles temas que as pessoas ainda não aprenderam a investigar
em termos científicos. Isso inclui alguns temas com respeito aos quais é difícil imaginar
que isso jamais aconteça, porque são demasiado gerais, demasiado difíceis e,
possivelmente, demasiado fundamentais.
Em quarto lugar, quase todos os filósofos concordam que a história da filosofia
é importante para a própria natureza da filosofia e para a contínua investigação
filosófica de um modo em que as outras histórias de outras disciplinas não são
igualmente importantes para elas. Isso se reflete na proporção bastante grande de
seleções históricas no presente volume. Contudo, os filósofos também discordam
sobre o quão importante a história da filosofia é – e sobre por que ela é importante.
Uma abordagem da filosofia, oferecida pelo filósofo americano do século XX,
Wilfrid Sellars, pode ajudar a resumir alguma das ideias anteriores e também revelar
um pouco mais do sabor do assunto:
Fonte: http://www.novageracaoeducacional.com.br/
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Enquanto muitas pessoas creem que a filosofia é obviamente importante e
valiosa, existem aquelas que desprezam o pensamento filosófico como jogo mental
irrelevante, desprezível, sem importância. Bertrand Russell argumenta que a filosofia
é valiosa mesmo que se revele como produzindo pouco ou nenhum conhecimento
seguro. Assim, pois, mais de 2.000 anos depois de Platão ter escrito o Eutífron e a
Apologia, Russell defendeu o estudo e a prática da filosofia como essenciais ao melhor
tipo de vida (BONJOUR, 2010).
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3. à natureza fundamental dos valores, sobretudo valores que pertencem às
relações éticas ou sociais entre as pessoas e entre as pessoas e outras partes da
realidade, tais como animais não humanos, o ambiente, e assim por diante (a
ramificação da filosofia chamada de axiologia, que inclui os campos mais específicos
da ética, da filosofia política e da estética) (BONJOUR, 2010).
3 A HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Você sabe o que significa filosofia? Boécio (1998) nos lembra que, segundo a
etimologia dessa palavra, filosofia significa “amor à sabedoria”. Ou seja, o desejo de
conhecer, compreender e explicar as coisas da vida de forma mais profunda e
reflexiva faz parte dessa disciplina. Mas como filosofar? Por meio da própria reflexão
sobre o pensar e o agir humano. Então qualquer pessoa pode propor questões
filosóficas? Sim, qualquer pessoa pode fazer suas questões diante do mundo,
inclusive você.
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Indagar sobre a vida cotidiana também nos permite desenvolver o pensamento
reflexivo, uma vez que as ideias do senso comum são questionadas, e, por meio da
investigação filosófica, pode-se constituir o pensamento crítico. Desse modo, é
preciso tomar distância do que conhecemos costumeiramente, a fim de analisar como
se conhecêssemos aquilo pela primeira vez, como nos provoca Chauí (2000, p. 9):
Sendo assim, você pode realizar análises filosóficas a partir de muitas questões
e ainda englobar inúmeras abordagens nessa reflexão, como enfatiza Aranha e
Martins (2009, p. 21):
Fonte: https://estudeja.com.br/
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3.2 Períodos históricos da filosofia e as escolas filosóficas
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Uma das escolas mais representativas deste período da Filosofia Antiga é a
Escola Socrática. Seu representante é Sócrates, que viveu durante o ano de 470 a.C.
em Atenas, na Grécia. Dentre as preocupações centrais deste filósofo estavam a ética,
a razão, a verdade e o questionamento. O discípulo mais conhecido de Sócrates foi o
filósofo Platão que, inclusive, foi responsável por compilar e escrever as ideias de seus
mestres (visto que Sócrates nada de escrito deixou).
Sócrates foi um filósofo que agiu pela fala e por ela influenciou seus
concidadãos – e se um indivíduo se define como político na medida em que
age e influencia os demais por meio da palavra viva, em ato (isto é, a fala),
Sócrates foi sem dúvida o mais público, o mais político, o mais cidadão de
todos os filósofos. E, embora só possamos ter e construir imagens dele a
partir do que se escreveu a seu respeito – o que é inevitável –, a imagem que
predomina sobre as demais – ou as monopoliza – é a de um filósofo em ação
e sobretudo da ação: um cidadão que agiu sobre outros cidadãos falando,
conversando e discutindo com eles; um cidadão que sustentou e defendeu a
palavra falada, viva (em contraposição à palavra escrita, que tinha na conta
de morta), como meio de ação na e para a pólis.
O método utilizado por ele ficou conhecido como método socrático. Esse
método visava à construção de conhecimento pelo homem a partir de
questionamentos sobre questões banais. Assim, o diálogo entre professor e aluno não
era mais um processo de simples transmissão de ideias, mas uma profusão de trocas
em que se podia realizar novas aprendizagens.
Uma das escolas que se destacou nessa época é a escola marxista. Karl Marx
nasceu na Alemanha, em 1818, e morreu no Reino Unido, em 1883. Sua proposta de
metodologia envolvia a análise socioeconômica das relações sociais e visava à
dialética para a transformação. Para Marx, é a contradição das próprias ideias que
levam a novas ideias. Portanto, a proposição da dialética é de refletir acerca da
realidade, e não mais de interpretá-la.
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4 DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO HUMANO
[...] trata-se de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentá-las
em algo diferente de uma convicção pessoal; mais ainda, o núcleo essencial
da filosofia não é constituído de crenças tematicamente definidas e
racionalmente fundadas, senão de problemas e soluções.
Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que
sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos,
não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância se mantém
em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no
mundo se conservam como eficazes e úteis, de modo que não temos nenhum
motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e,
consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber. [...] A
incerteza é diferente da ignorância porque na incerteza, descobrimos que
somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da
realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito
tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não
sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou
diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios
de perplexidade e somos tomados pela insegurança.
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conhecimento sobre o mundo. Chauí enfatiza que: “[...] para se relacionarem com o
mundo e com os outros humanos, os homens devem valer-se de um outro instrumento
– a linguagem – para persuadir os outros de suas próprias ideias e opiniões” (2000,
p. 139). Um dos atributos da linguagem é que ela nos ajuda a encontrar a verdade, a
expor nossas ideias e a chegar a conclusões sobre o mundo.
Sendo o homem questionador sobre si e o mundo em que vive, cabe a ele
desvendar o desenvolvimento humano por meio da linguagem e buscar novas
verdades. Essa troca entre os seres humanos é fundamental, e o que é construído
como saber pode ser acumulado como conhecimento não só para o homem que a
descobriu, mas também para as gerações futuras.
Fonte: https://circulo.site/
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filósofos que se destacaram desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e pela
Idade Moderna e chegando às reflexões dos pensadores contemporâneos.
Chauí (2012) sugere que levantar questionamentos deve ser a primeira reação
aos diversos acontecimentos da vida diária. Jamais se devem aceitar ideias ou visões
sem antes refletir criticamente sobre elas. Nesse sentido, a autora aponta que a
filosofia surge justamente quando os seres humanos começam a exigir provas e
justificações racionais que validem ou invalidem as crenças e ideias cotidianas.
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Strenger (1998) afirma que a filosofia grega abarca um período de seis séculos
antes e seis séculos depois de Jesus Cristo. Ela pode ser dividida em quatro grandes
períodos:
1. de Tales de Mileto até Sócrates (do séc. VII ao séc. V a.C.) — preocupações
de cunho cosmológico;
2. Sócrates, Platão e Aristóteles (séc. V e IV a.C.) — preocupações
psicológicas;
3. depois da morte de Aristóteles até o surgimento da escola neoplatônica (fim
do séc. IV a.C. ao séc. III d.C.) — preocupações de cunho moral;
4. escola neoplatônica (do séc. I d.C. até o fim da filosofia grega, no séc. VI
d.C.) — preocupações místicas.
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5.1.1 Metafísica
5.1.2 Lógica
5.1.3 Epistemologia
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aspectos cognitivos da realidade. Também é possível compreender a epistemologia
como a investigação sobre as possibilidades do conhecer, a origem do conhecimento,
a essência do objeto do conhecimento, os tipos de conhecimento e os métodos de
obtenção do conhecimento (CASTANON, 2007).
5.1.4 Estética
5.1.5 Política
Por sua vez, a política é o estudo dos direitos, das relações de poder e do
papel dos cidadãos (KLEINMAN, 2014). A palavra “política” vem da expressão grega
ta politika, vinda de polis (cidade enquanto espaço cívico, comunidade organizada,
formada pelos cidadãos). O filósofo Aristóteles compreendia a política como a
habilidade humana de organizar e orientar as relações internas e externas dos grupos
sociais, estabelecendo normas e ações para a superação das adversidades e em prol
do bem comum. Todavia, nas diferentes sociedades, a política desenvolve-se de
maneira diferente. Está associada ao poder do Estado, ao poder ideológico, ao poder
econômico, entre outros.
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5.1.6 Ética
Fonte: https://www.cartamaior.com.br/
Até aqui, você viu os principais pilares da filosofia, que constituem os grandes
temas de reflexões do campo filosófico. Agora, você vai conhecer, em ordem
cronológica, pensadores que contribuíram para a sistematização da filosofia no mundo
ocidental. Contudo, você deve notar que não é possível elencar aqui todos os filósofos
importantes da história. Por isso, você vai estudar aqueles pensadores cujas teorias
ainda são debatidas na atualidade.
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6.1 Idade Antiga
Fonte: https://www.netmundi.org/
Aristóteles contribuiu com reflexões sobre diversos temas, mas uma de suas
contribuições mais significativas para o campo da filosofia e do pensamento ocidental
foi a criação da lógica. Para ele, o aprendizado se estabelece a partir de três
categorias: teoria, prática e produção. A lógica, por sua vez, não pertence a
nenhuma delas. Ela poderia ser utilizada para se obter conhecimento sobre algo,
tornando-se o primeiro passo do aprendizado. Assim, a lógica capacita o ser humano
a descobrir erros e estabelecer verdades (KLEINMAN, 2014).
Pode-se encontrar nas obras de Platão e Aristóteles várias distinções em
relação a diversas áreas do comportamento humano e da organização da sociedade.
Além disso, eles discorreram sobre pensamentos metafísicos: o que é o bem, o que é
o amor, o que são as virtudes, etc. Uma das distinções mais assertivas entre ambos
consiste em suas teorias do conhecimento: enquanto Platão (2000) defende um
dualismo entre o mundo sensível e o mundo das ideias, Aristóteles acredita que o
conhecimento se dá de modo inverso. Ou seja, se para Platão a verdade advém das
ideias, para Aristóteles é possível conhecê-la pela causa, pelos sentidos.
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Fonte: https://www.netmundi.org/
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Aristóteles à escolástica. Um dos pontos importantes de sua filosofia consiste na
demonstração da existência de Deus por cinco vias: pelo movimento; pela causa
eficiente; pelo possível e pelo necessário; pelos graus da perfeição; pelo
governo do mundo.
Para Santo Tomás de Aquino, é no mundo que se pode perceber a existência
de Deus, visto que todas as vias partem de uma realidade verificável. Com essas vias,
Santo Tomás de Aquino não procurou definir Deus, mas provar a sua existência.
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as coisas em evidência, duvidar de tudo; a segunda regra é elaborar divisões das
dificuldades; a terceira regra é a síntese, que implica conduzir por ordem os
pensamentos, dos mais simples aos mais complexos; a quarta regra é a elaboração
de enumerações completas e revisões gerais sobre os objetos em análise. Para
Descartes, todo conhecimento científico deve se iniciar com uma dúvida e, em
seguida, exige uma atitude crítica (MARCONDES, 2001).
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sujeitos descobririam as respostas para muitas das questões filosóficas. Desse modo,
Kant desloca-se da metafísica em direção à epistemologia.
Fonte: https://gabrielmarmentini.com.br/bacon-descartes-kant/
John Locke teve grande influência em sua época. Sua principal obra foi escrita
ao longo de 20 anos e é denominada Ensaio sobre o entendimento humano (1689).
Locke vê a filosofia como uma tarefa crítica e preparatória para a ciência. Nessa obra,
ele desenvolve uma concepção empirista, antiespeculativa e antimetafísica do
conhecimento. Para Locke, todo o conhecimento e todas as ideias são derivadas de
experiências sensíveis, não havendo outras formas de conhecimento. Portanto, para
ele não há conhecimento inato, mas saber elaborado a partir dos dados obtidos pela
experiência concreta da realidade. É nesse sentido que Locke afirma que a mente
humana é como uma tábula rasa, uma folha em branco na qual a experiência vai
deixando as suas marcas (MARCONDES, 2001).
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fundamentação do conhecimento e das teorias científicas. A concepção de uma
filosofia sistemática e teórica, que pudesse dar conta de toda a realidade e dos
saberes humanos, passou a ser vista como problemática e, por vezes, irrealizável.
É importante você compreender que uma abordagem sobre as principais
referências da filosofia contemporânea não é uma tarefa fácil. Afinal, há uma
quantidade enorme de pensadores e referências. Por isso, aqui você vai ver aqueles
filósofos que ainda marcam a filosofia. Assim, você vai estudar aspectos da filosofia
da linguagem, do Círculo de Viena e da Escola de Frankfurt.
De acordo com Marcondes (2001), a filosofia analítica desenvolveu-se
sobretudo na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Austrália, embora tivesse vertentes
na Alemanha, na Áustria e na Polônia. Suas raízes estão ancoradas na filosofia de
Leibniz, bem como no desenvolvimento da matemática e das ciências naturais desse
período. Uma das principais questões propostas pela filosofia analítica é a seguinte:
como os atos mentais, sendo subjetivos, podem ter a validade universal e objetiva
requerida pela ciência?
A filosofia analítica considera que o tratamento e a solução dos problemas
filosóficos devem ser superados por meio da análise lógica da linguagem, como
aponta Marcondes (2001, p. 261):
Os principais filósofos que fazem parte dessa corrente filosófica são Gottlob
Frege, Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein. Entre eles, existem inúmeras
diferenças, porém o que os une é o projeto de desenvolvimento de uma análise lógica
da linguagem e a adoção de formas lógicas da proposição como ponto inicial da
análise filosófica. Os filósofos do chamado Círculo de Viena acreditavam que a lógica
e o distanciamento do subjetivismo seriam o caminho para a fundamentação das
teorias científicas (MARCONDES, 2001).
Entre os anos 1929 e 1938, na Universidade de Viena, um grupo de notáveis
estudiosos, como Philipp Frank, Otto Neurath, Hans Hahn, Moritz Schilick, Rudolf
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Carnap e Hans Reichenbach, unem-se em torno da defesa de uma tradição empirista.
Os estudiosos do Círculo de Viena (Wiener Kreis) — ou neopositivistas, como ficaram
conhecidos — iniciaram seu projeto a partir da publicação do manifesto A Concepção
Científica do Mundo (1929). Assim, o grupo atraiu muitos pensadores com a intenção
de discutir as possibilidades de todas as ciências adotarem o mesmo método
legitimamente científico. Você deve notar que:
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[...] a Escola de Frankfurt teve sua origem em Frankfurt, na Alemanha, por
um decreto do Ministério da Educação, em acordo juntamente com o Instituto
de Pesquisas Sociais, em 03 de fevereiro de 1923. Teve como principal
incentivador Félix J. Weil, filho de um negociante argentino de cereais, doutor
em Ciências Políticas, que procurou organizar a “Primeira Semana de
Trabalho Marxista”, e que poderia ser uma escola de corrente sociológica,
mas que optou por ser uma corrente de ordem filosófica, também preocupada
com diversos assuntos, dentre eles: econômicos e políticos [...]
(NASCIMENTO, 2014, p. 245).
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7.1 Clarificar e justificar: as bases do pensamento filosófico
Antes de continuar, é importante que você entenda que a filosofia não é uma
lista de perguntas, mas que efetivamente faz uso delas para ir além. A filosofia busca
compreender algo que está em torno das pessoas, material ou imaterial. Mas, se você
pensar bem, vai começar a se questionar também o que é material, o que é imaterial
e sob quais perspectivas as respostas podem ser dadas. Enfim, todo conceito ou
pensamento, toda explicação ou não explicação tem a ver com o ato de filosofar,
buscar sentido e não apenas acatar. Ou seja, tem a ver com as alegações, perguntas
e respostas ao seu redor (SAVATER, 2015).
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Se você refletir, vai se dar conta de que a filosofia é tão indispensável à sua
existência quanto o ar que respira, pois desde a tenra idade você busca ver sentido
em tudo o que o rodeia. Até o último suspiro de vida, as pessoas repensam quem são,
qual é o sentido da vida e da morte. Assim, “viver” a filosofia leva os sujeitos a
pensarem sobre questões importantes, muitas das quais estão além do seu contexto
social imediato. Observe a imagem a seguir, que ilustra como as perguntas são
essenciais para o pensamento filosófico.
. O diálogo entre Sócrates e Deus mostra que são as perguntas que movem a filosofia.
Fonte: Ruas (2012).
Quando se cogita debater filosofia, geralmente isso é feito com base em uma
alegação, que é algo dito explicitamente com a intenção de significar alguma coisa,
que é ou verdadeira ou falsa, no sentido literal ou metafórico. Porém, nem toda
alegação necessita de clarificação ou justificação pelo seu sentido direto (BONJOUR;
BAKER, 2010). Esse é o caso destas frases: as vacas dão leite/os cachorros ladram.
A seguir estão dois pontos importantes que permitem perceber a práxis do
pensamento filosófico quando as alegações carecem de melhor compreensão:
clarificação e justificação (BONJOUR; BAKER, 2010).
Clarificar: significa explicar ou expressar em detalhes uma alegação, que
pode ser verdadeira ou falsa, de sentido real ou metafórico. Tem como premissa
explicar os termos da alegação sem julgar sua razão, dependendo do contexto em
que se apresenta.
Justificar: significa compreender quão verdadeiros são os argumentos (a
premissa) de uma alegação, a fim de assim se obterem as razões para crer ou não
em seu sentido, conseguindo chegar a uma conclusão.
Para compreender melhor esses conceitos, veja o Quadro a seguir:
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Alegação literal Alegação metafórica
O Sol é maior do que o vemos. (CHAUÍ, Dinheiro não pode comprar felicidade.
2000) (BONJOUR; BAKER, 2010)
Clarificação: o que se sabe Clarificação: Sabe-se que dinheiro não
concretamente é que o Sol é maior que a compra sentimentos (paz, bem-estar, saúde).
Terra. Ele parece menor pela distância a A alegação tem a ver com a ideia de trocar
que as pessoas estão dele, porque elas sua jornada profissional, emocional ou moral
estão “dentro da Terra”. Contudo, ele é por dinheiro e com isso sofrer algum tipo de
maior do que parece, ou seja, se sabe que estagnação.
do espaço não seria possível ter a mesma
percepção
Justificação: a distância e o referencial Justificação: trata-se de buscar o próprio
(dentro do Planeta) impedem que as caminho e descobrir a sua felicidade, seu
pessoas tenham uma noção real do bem-estar consigo mesmo, e não encurtar sua
tamanho da Terra e do Sol. Logo, elas têm jornada em troca de dinheiro.
a impressão de que o Sol é menor, apesar
de saberem racionalmente que isso não é
verdade.
Conclusão: a alegação é verdadeira se Conclusão: a alegação é verdadeira porque
estiver sendo feita por um observador na ter dinheiro não implica ter qualidade de vida,
Terra. bem-estar, paz e outros fatores reconhecidos
como provedores da felicidade.
Fonte: Adaptado de Bonjour e Baker (2010) e Chauí (2000).
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possibilidades, rever crenças fundamentadas, ampliar o raciocínio diante do que se
busca indagar.
Porém, o grande espaço da filosofia no mundo atual tem sido garantido pelo
ensino escolar. Tal ensino tem vivido ciclicamente entre altos e baixos. Isso ocorre
porque ele depende principalmente de os professores terem uma intenção “filosófica”
ou não e de as “linhas pedagógicas e humanas de poder” serem favoráveis ao ensino
da filosofia ou não. Muitas vezes, o “pensar filosoficamente” é substituído por um mero
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repassar de conteúdo e fixação de temas. Ou seja, chegam ao final da vida
educacional tanto indivíduos capacitados quanto incapacitados para contextualizar
sua individualidade frente à sociedade e para formular pensamentos críticos (SILVA,
2005).
Entretanto, ao mesmo tempo em que existe uma crise quanto à sua práxis, é
preciso reconhecer que a filosofia também tem vivido, como nunca antes, uma
revitalização. Com relação a essa revitalização, você pode considerar os aspectos
listados a seguir.
Diversos educadores filosóficos têm conseguido, por meio da
experimentação de práticas multidisciplinares, reavivar a crítica filosófica em seus
alunos (YANO, 2012).
Alguns filósofos utilizadores de instrumentos de comunicação de massa têm
apostado nas redes sociais como plataforma de divulgação dos conceitos filosóficos
e do questionamento de seus significados através do tempo, desde a época dos
primeiros filósofos aos dias de hoje. Esses filósofos utilizam uma linguagem
“simplificada”, contestadora, que tem conseguido romper barreiras espaciais e
mentais, mostrando o sentido do pensamento crítico e a importância da autonomia de
pensamento (PEREZ, 2016).
Essas questões devem levar você a repensar em que tipo de modernidade o
indivíduo, como “ser social”, está imerso. Afinal, o que se percebe cada vez mais na
sociedade são as amarras invisíveis que visam a impedir as pessoas de pensar.
Porém, se você se ativer aos caminhos históricos e políticos da humanidade, de certa
forma poderá entender muito bem os motivos das crises filosóficas cíclicas. Nesse
sentido, você pode considerar que o indivíduo está inserido num cotidiano repleto de
signos e ordens sociais, em que sua individualidade e sua coletividade são igualmente
convidadas a “não questionar” tanto a sua rotina social quanto a sociedade que a criou
(VERONEZE, 2013). Assim:
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Existe alienação quando ocorre um abismo entre o desenvolvimento humano-
-genérico e as possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos humanos,
entre a produção humano-genérica e a participação consciente do indivíduo
nessa produção. Esse abismo não teve a mesma profundidade em todas as
camadas sociais; assim, por exemplo, fechou-se quase completamente nas
épocas de florescimento da pólis ática e do Renascimento italiano; mas, no
capitalismo moderno, aprofundou-se desmesuradamente (HELLER, 2004, p.
38 apud VERONEZE, 2013, p. 55-56).
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Pensadores contemporâneos do Brasil: Mário Sérgio Cortella, Leandro Karnal e Clóvis de Barros
Filho, em reportagem da revista IstoÉ intitulada “Eles fazem a cabeça dos jovens”.
Fonte: Perez (2016).
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Observe a Figura a seguir:
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De modo geral, é impossível compreender as questões do mundo sem um certo
nível de transversalidade dos conhecimentos e sem relativizar a “verdade” a fim de
transpor barreiras e buscar responder a perguntas do cotidiano.
O exemplo que você acabou de ver demonstra como a filosofia está no núcleo
de todo debate e questionamento que busca elucidar ou minimamente esclarecer um
assunto. Desse modo, a filosofia é indissociável de toda pessoa que se indaga sobre
o sentido de algo. Ela é fundamental para entender as dificuldades e o seu contexto,
bem como para enxergar possíveis respostas que, mesmo não sendo de todo
satisfatórias, permitam dar um passo à frente na resolução de problemas (SECCO,
2010).
Nesse contexto, é possível afirmar que a filosofia no espaço educativo (filosofia
da educação) pode e deve ser incentivada num viés transversal. A aliança entre
conhecimentos e cotidiano com certeza produz novos olhares sobre a sociedade e as
pessoas. Logo, a necessidade de se ter um “pensar filosófico” é fato e tem a ver com
reinventar a prática em sala de aula (SECCO, 2010).
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Assim, o “fazer pensar” é indispensável para que não haja a “alienação do
sujeito”, ou seja, a sua simples existência como objeto de uma engrenagem sob a qual
apenas reage, sem questionar o seu lugar ou papel nas atividades sociais e
hierarquias do mundo moderno. Nesse sentido, é importante que você tenha em
mente que a prática filosófica cotidiana é um ato que pode até certo ponto ser
“ensinado”. Como você sabe, no cotidiano as pessoas fazem escolhas que as levam
a um ou outro caminho. Portanto, se pensarem filosoficamente, terão a chance de
questionar os caminhos supostamente “imutáveis” da sociedade. Com isso em mente,
você pode considerar que a filosofia é o caminho pertinente para a tomada de
consciência do indivíduo diante das engrenagens sociais postas. Consciente, ele pode
decidir seguir, mudar ou criar um novo caminho para si (GUIMARÃES, 2002).
Fonte: http://aguerradasimaginacoes.blogspot.com/
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8 FILOSOFIA E SENSO COMUM
Você sabe o que significa o conceito a priori? Nesta seção, serão abordados
os principais termos, o senso comum e o conhecimento metafísico – “nada pode ser
intuído, mas comprovado”. Na teoria de Kant, é preciso aprofundar os conhecimentos
verdadeiros, ou seja, buscar sua origem. Na realidade escolar, é preciso aproveitar os
conhecimentos oriundos dos alunos, associando-os ao conhecimento metafisico
(cognitivo).
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Quando, no século XVIII, Hume (1748), um empirista, demonstrou que os
conceitos metafísicos não correspondem a nenhuma realidade externa, a concepção
de metafísica se alterou. É necessário afirmar, portanto, que a metafísica não está
circunscrita aos domínios da filosofia, mas que possui autonomia e, por isso, pode ser
compreendida em várias dimensões, ou seja, em sua forma ocidental e em sua forma
oriental. Assim, ao entender a metafísica como englobando o campo de conhecimento
espiritual investigado pelo intelecto, estará se admitindo a possibilidade de que o ser
humano possua uma faculdade cognitiva a ser desenvolvida e que, uma vez utilizada
com propriedade, pode ampliar a nossa visão de mundo.
Segundo Hume (1748), as ideias metafísicas existiriam apenas no interior do
sujeito, na imaginação. A partir de então, a metafísica passou a estudar percepções,
as quais não possuem constatação concreta, fornecidas pelos sentidos, servindo de
parâmetro para compor teorias e não certezas.
É por isto que, para Kant, a metafísica diz respeito àquilo que a capacidade de
cada um permite conhecer, tomando como base o já conhecido que altera a
percepção. Em outras palavras, passaram a fazer parte da metafísica questões
subjetivas, aquilo que existe para cada sujeito e que pode ser relativizado. A função
da metafísica passou a ser tentar fornecer explicações lógicas para a percepção da
realidade pelo homem — o que é diferente de tentar verificar se a realidade existe, tal
como faz a teoria do conhecimento.
Não obstante, não era esta a concepção original da metafísica dentro do
contexto de seu nascimento. A vinculação entre metafísica e teoria do conhecimento,
como é óbvio, conduziu a uma crise.
Partindo da teoria do conhecimento, Hume (1748) mostrou que as ideias nada
mais são do que hábitos mentais que não saem do nada, não são inatas e não
possuem inspiração divina. As ideias seriam fruto de uma associação de sensações,
percepções e impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na memória,
sendo esta última alterada por novas percepções (GUIMARÃES, 2002).
Assim, as substâncias ou essências seriam apenas imagens da consciência. A
causalidade, portanto, poderia ser definida como mero hábito da mente estabelecido
por percepções sucessivas. Consequentemente, as questões metafísicas seriam
criações artificiais, não possuindo correspondência com a realidade. Isso se tornou
tão evidente, que filósofos, como Kant, chegaram a afirmar que Hume tinha feito os
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homens despertar do sonho dogmático. Hume havia tornado as questões metafísicas
vazias de sentido, já que não eram universais, mas inerentes a cada sujeito.
Entretanto, Kant não concordava inteiramente com Hume, pois considerava
conceitos científicos inatos como questões metafísicas. No caso, conceitos como
espaço, tempo, quantidade ou causalidade eram, para Kant, apenas questões
metafísicas, sendo subjetivos e não possuindo uma natureza concreta ou real, embora
palpável.
O tempo, por exemplo, não pode ser tocado, então não possui materialidade
concreta, mas seus efeitos podem ser sentidos, remetendo à investigação metafísica.
Podemos notar que, mesmo quando um objeto parece ser de natureza puramente
cientifica, a metafísica ressurge das cinzas como uma fênix.
Assim, é preciso dotar a metafísica de um método seguro. Esse método
revolucionou a concepção de conhecimento: em vez de os objetos penetrarem
passivamente na mente, os objetos são regulados pelo entendimento do sujeito de
conhecimento, que estabeleceria algo a priori sobre os objetos. Isso se dá por meio
de uma faculdade capaz de apreender o que é dado à experiência e que, portanto, se
encontra no tempo e no espaço. Assim, para Kant, o conhecimento é ativo — não pura
apreensão passiva da mente, como se ela fosse uma página em branco na qual são
impressas as qualidades sensíveis dos objetos (GUIMARÃES, 2002).
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uma elaboração espontânea da razão, ao passo que o conhecimento científico resulta
de uma elaboração refletida, metódica, prosseguida de modo voluntário e, por vezes,
árduo.
Conhecer algo é adquirir um novo conceito sobre algo. Esse novo conceito
nasce das nossas experiências. Podemos adquirir conhecimento de diversas formas
diferentes: por meio de experiências, relações interpessoais, lendo livros, vendo
programas de televisão etc. Um dos conhecimentos mais comuns é o conhecimento
empírico.
O conhecimento empírico, que também é conhecido como conhecimento vulgar
ou senso comum, é o conhecimento sem qualquer base de pesquisa teórica. Ele é
passado de geração em geração ou adquirido da experiência de vida das pessoas. É
baseado apenas nas crenças do indivíduo.
O senso comum, ou conhecimento empírico, é desconsiderado como uma
forma de argumento para as pesquisas científicas. Isso acontece pelo fato de esse
tipo de conhecimento não possuir nenhum embasamento teórico, sendo
desvalorizado no meio acadêmico e científico (GUIMARÃES, 2002).
A melhor forma de validar o conhecimento empírico é testá-lo e transformar o
conhecimento empírico em um conhecimento científico que tenha sido testado por
pesquisadores. Um bom exemplo é a afirmação “leite com manga faz mal”, que é um
conhecimento empírico, apenas reproduzindo uma afirmação passada de geração
para geração. Se uma comunidade científica fizesse testes com isso e descobrisse
que é uma realidade, então esse conhecimento empírico passaria a ser válido e aceito
como um conhecimento científico (RUIZ, 1995).
Fonte: https://www.profissaoatitude.com.br/
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9 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO, A HISTÓRIA DA FILOSOFIA E
A VISÃO MITOLÓGICA DO MUNDO
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estreita a relação temporal e a divisão entre o mito e a racionalidade, o pensamento
racional começou a se infiltrar na narrativa mítica, ou seja, no período de decadência
mitológica, a racionalidade passou a fazer parte do mito, por exemplo: para Homero,
o mar originava todas as coisas; para Tales de Mileto — o primeiro filósofo pré-
socrático –, a água era o princípio original de todas as coisas; já Hesíodo, por meio
da narrativa mítica, buscava uma compreensão coerente e, em certa medida, racional
em relação à realidade e à formulação dos problemas.
Hesíodo, com a sua cosmologia, influenciou o caráter científico do início da
filosofia. Isso significa dizer que o pensamento filosófico pré-socrático não implicou
imediatamente no encerramento do pensamento mítico, ou seja, a mitologia, sem a
preocupação com a expressão mais coerente, nesse sentido racional, sobre a
realidade, permanece desacordada com os fatos. A filosofia, sem a indagação
originária dada pela mitologia, permaneceria sem a preocupação racional de ordenar
e indagar a realidade. Assim, a filosofia primeira tem como sua indagação central não
o comportamento humano, mas a origem de tudo, por meio de uma reflexão
centralizada no argumento científico. Nesse contexto, vale ressaltar que o homem
passa a ser pensado depois que o cosmos é refletido, ou seja, parte-se do todo para
a parte: o cosmos interior ganha lugar de reflexão após o universo e o mundo serem
pensados.
Nesse cenário, os primeiros filósofos surgiram, em meio a fermentação de uma
nova narrativa explicativa da realidade. Assim, pensadores como Tales de Mileto,
Pitágoras, Anaxágoras, Anaximandro, Heráclito, entre outros, ganharam lugar de
destaque. A figura do filósofo aspirava um ser que apartava-se da sociedade para
refletir sobre tudo, em especial, sobre a “ciência das coisas do alto” (JAERGER, 2003,
p. 194–195). Enquanto isso, a sociedade olhava para esses pensadores como
aqueles que queriam superar os limites humanos impostos pelos deuses e imitá-los.
Dessa forma, institui-se outra noção, outro valor da verdade. Assim, as
verdades tidas até aquele momento como tais, são rebaixadas em detrimento de uma
racionalidade: passa a ter validade aquilo que o eu racional pode comprovar. Essa
maneira de pensar altera a forma de o cidadão grego lidar com a realidade, e isso se
manifesta não apenas na filosofia, mas nos escritos sobre história e geografia, de
Heródoto, em escritos médicos da época, todos marcados pelo caráter racional
testemunhado por um “eu”.
51
Assim, o ponto de partida dos pré-socráticos fundamenta-se na compreensão
da physis: “o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para
onde tudo retorna é o elemento primordial da natureza e chama-se physis (em grego,
physis vem de um verbo que significa fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir)”
(CHAUÍ, 2000, p. 41). A partir desse conceito, os pré-socráticos buscavam duas
coisas: problematizar a origem das coisas, o que fazia com que eles estabelecessem
outra relação com o tempo, pois a origem de tudo é antecessora a todo humano; e
desenvolver outro modo de relacionar-se com a realidade, o modo empírico, que inclui
experimentos científicos a fim de compreender as causas naturais.
Esse movimento racional ocorrido na Grécia sofreu grande influência de outros
países, como o Egito, por exemplo, uma vez que a relação portuária proporcionava
grande intercâmbio cultural com os navegadores e comerciantes. Esses povos
influenciaram os experimentos e observações empíricas dos gregos, o que
desencadeou um modo sensível de se relacionar com o mundo. Com isso, teve início
o declínio mítico. Na cidade de Mileto, por exemplo, portuária e conhecida como
metrópole cultural, surgiram os primeiros pensadores desse período: Tales,
Anaximandro e Anaxímenes (JAEGER, 2003).
Anaximandro foi um dos pensadores desse período que mais contribuiu com o
estudo da física (JAEGER, 2003). Foi o primeiro a projetar uma imagem do mundo,
configurando o primeiro mapa do mundo. Isso expressa a busca por ordenar o mundo
por meio da ideia, da racionalidade e de uma articulação universal. Sua imagem do
mundo era, rigorosamente, matemática e serviu como modelo para Heródoto, o
historiador.
Tales, mais conhecido como Tales de Mileto, de acordo com o pensamento,
com o questionamento sobre a physis — de onde tudo veio e para onde tudo vai? —,
acreditava que a água era o elemento originário. Para ele, o fato de a água evaporar,
transformar-se em ar, congelar e solidificar indicava que, por sua capacidade de
mutação, era o elemento do qual tudo provinha (JAEGER, 2003).
Anaxímenes acreditava que o elemento formador era o ar — o ar ocupa todo o
espaço, e até a alma é um sopro. Por sua vez, Anaximandro elenca o termo grego
apeiron — sem limites — como aquilo que se apropria de tudo, que inclui tudo e
governa tudo, ou seja, um infinito que tudo rege e de tudo se apropria. Sobre outros
pensadores tão importantes quanto os citados, a preocupação com a physis
52
fundamentou todo o período e pensamento da filosofia pré-socrática, que só foi
perdendo espaço a partir da instauração da democracia na cidade de Atenas, que
proporcionou o debate público sobre questões relacionadas à política. Nesse
contexto, a figura de Sócrates começou a protagonizar uma nova maneira de pensar
a filosofia, dessa vez, mais relacionada ao homem.
53
de uma disputa entre eles pela qualidade extrema de todas as virtudes naturais: o
motivo de disputa não se fixava apenas no corpo (o mais ágil e forte), mas também
nas qualidades pessoais (o melhor amante, o mais ético, o bom).
Com a ascensão da democracia em Atenas (século V a.C.), a educação grega
foi alterando-se (JAEGER, 2003). Vale ressaltar que, por mais que falemos em
períodos da história formativa — ideais culturais —, nenhuma mudança no
pensamento grego deu-se abruptamente, mas tratava-se de uma mudança cultural e
levaria certo tempo. Com o surgimento do sistema democrático em Atenas, as praças
públicas começaram a ser ocupadas e serviram de palco para os debates entre os
cidadãos e discursos. O cerne das questões deixou de ser o ideal mítico e heroico,
uma vez que o caráter racional da filosofia pré-socrática já estava difundido, e passou
a ser relacionado ao homem.
O grande filósofo a marcar esse período foi Sócrates (469 a.C.), um homem
simples, sem riquezas, filho de uma parteira e de um escultor. É conhecido até os dias
atuais como o pai da filosofia. No período em que Sócrates viveu, a figura do sofista
era de grande destaque (JAEGER, 2003). Os sofistas eram oradores muitos astutos
que ficavam na praça participando de debates e fazendo discursos sobre a sociedade
e a política ateniense. Atribui-se aos sofistas o ofício de primeiros professores gregos.
Entretanto, eram os grandes inimigos de Sócrates, em especial, por dois motivos: os
sofistas não tinham compromisso com a verdade, argumentavam de acordo com a
doxa (opinião); outro ponto é que cobravam para ensinar aos jovens a arte da oratória,
o que, para Sócrates, tratava-se de mercenarismo. Sócrates compreendia não ser
possível ensinar a filosofia, mas conduzir a juventude a filosofar, ou seja, o método
socrático consistia em questionar os indivíduos e fazê-los chegar à verdade.
Conhecido como maiêutica, o processo dava-se da seguinte maneira (CHAUÍ, 2000):
Sócrates colocava-se como ignorante na discussão, abordava as pessoas
com ironia, fazendo perguntas que todos achavam saber o que era, por exemplo: “o
que é o bem?”
Assim, levava a pessoa a refletir e seguia respondendo aos seus
interlocutores com outra pergunta, e esse movimento no diálogo ficou conhecido como
retórica.
Por fim, levava o interlocutor a uma resposta própria, buscando a verdade,
por meio desse processo dialético.
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Sócrates fazia uma analogia com o ofício de sua mãe, ou seja, acreditava fazer
as pessoas parirem a verdade. Ele foi mestre do filósofo Platão, e suas teorias, nesse
sentido, são concordantes, dado que a teoria platônica defende que se chega à
verdade por meio da dialética. Para Platão (2000), a educação grega deveria ser
fundamentada em uma formação geral, ou seja, o sentido político é o sentido geral da
pólis. Em sua obra República, Platão (2000) argumenta que a pólis deveria ser dividida
de acordo com as aptidões de cada indivíduo, ou seja, de acordo com a teoria
platônica, tudo o que existe no mundo real/ sensível é cópia do mundo das
ideias/inteligível.
A pólis deveria ser organizada de acordo com a alma: a parte racional é a da
cabeça; a parte irascível é a do coração, responsável por nossos sentimentos; e a
parte baixa, que é a concupiscível, é a responsável pelo apetite e desejo sexual. Essa
estrutura deve ser reproduzida na pólis: os que se dedicariam ao trabalho manual; os
corajosos que se dedicariam aos esportes e à proteção da cidade; e os filósofos
representando a parte racional, que comandariam a pólis. Assim, cada classe dessa
sociedade seria educada para desenvolver suas habilidades de acordo com a sua
função na pólis (PLATÃO, 2000).
Fonte: http://www.consciencia.org/
O filósofo Aristóteles (322 a.C.) surgiu após Platão e era seu discípulo.
Aristóteles se opôs a Platão em diversas teorias, a começar pelo modo como ele
compreendia a realidade, que destoava de seu mestre. Aristóteles acreditava que o
conhecimento se dá pelos sentidos: primeiramente, sentimos e, depois, elaboramos o
55
que aprendemos por meio do sentido, de modo racional (CHAUÍ, 2000). Portanto, a
experiência do conhecimento dá-se pela realidade. Outro ponto dissonante era a
concepção de formação. Para Aristóteles, o homem aprende imitando desde a tenra
idade, o que ele denominou como mimesis. Assim, o homem deve ser formado desde
criança por meio da educação que cabe ao Estado, ou seja, Aristóteles defendia que
a educação fosse pública para os cidadãos gregos e que deveria ter como finalidade
a formação do indivíduo virtuoso para a pólis. Dessa forma, o ato de educar deveria
ocorrer pela repetição, pelos experimentos e pelos atos virtuosos.
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Agostinho (354–430 d.C.), viam grande compatibilidade entre os pensamentos de
Platão e Aristóteles e as escrituras sagradas. Dessa forma, Santo Agostinho,
influenciado pela teoria platônica, refletiu sobre questões pertinentes à Bíblia: livre
arbítrio, o bem, a verdade e Deus (AGOSTINHO, 1995). O mesmo ocorreu com São
Tomás de Aquino (1225–1274 d.C.), que aproximou as teses aristotélicas das
escrituras sagradas. Também nesse período, o conhecimento filosófico ficava, em
grande parte, restrito à Igreja, uma vez que o conhecimento era repassado para
aqueles que dedicavam-se à vida religiosa (CHAUÍ, 2000).
Posteriormente, após o Renascimento (CHAUÍ, 2000), a Idade Moderna foi
marcada por avanços científicos e autonomia do indivíduo. Com a perda de poder da
Igreja após o Renascimento, o período moderno foi considerado o do iluminismo.
Assim, a partir das teorias de René Descartes (1596–1650), o indivíduo passou a ser
considerado autônomo e capaz de chegar ao conhecimento. Descartes (2001), em
Discurso do método, afirmava que o sujeito poderia chegar ao conhecimento pela sua
razão, partindo do questionamento sobre a sua existência (como posso provar que
existo?) — ora, se eu penso, sou uma consciência pensante, isso em si já é prova de
minha existência, ou seja, “penso, logo, existo”. Isso alterou totalmente o modo como,
até então, interpretava-se a realidade, pois comprovou que é a razão, e por meio dela,
que se conhece, ou seja, é a razão que existe.
Fonte: https://blogdoaftm.com.br/charge-filosofia-moderna/
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Outros filósofos marcaram esse período com teorias sobre justiça, política,
ciência, e não apenas filósofos, Newton desenvolveu sua teoria da gravidade, por
exemplo. Portanto, esse foi um período marcado pelo conhecimento e pela autonomia
em se conhecer.
Esse período termina com o filósofo Imannuel Kant, com o seu livro A Crítica
da Razão Pura (KANT, 2001). Nessa obra, Kant demonstra que a razão não é absoluta
e expõe os limites da razão, ou seja, a razão pode formular ideias, mas não pode
comprová-las como objetos em si, assim como Deus, amor, alma e outras ideias
metafísicas. Nesse sentido, Kant inaugurou uma forma de pensar o que é possível ser
conhecido pela razão. Contemporâneo a Kant foi o filósofo Karl Marx (1818–1883).
Marx dedicou sua obra a pensar os meios de produção, a economia e a opressão à
classe proletária no século XIX (MARX; ENGELS, 1999). O seu pensamento acabou
por influenciar pensadores como os da Escola de Frankfurt, que atrelavam a crítica ao
capitalismo para pensar diversas categorias da vida humana, por exemplo, a produção
artística enquanto entretenimento e ferramenta de alienação das massas.
Nos dias atuais, após as grandes guerras ocorridas no século XX, a filosofia
contemporânea se debruça sobre questões, por vezes, totalmente novas. Exemplo
disso é a virada tecnológica, que apresenta problemas referentes às relações
humanas, ao modo de vida, à biotecnologia, à política atual (que conta com
fenômenos como terrorismo, bombas nucleares, xenofobia e imigração), à arte
contemporânea, entre várias outras problematizações que fazem parte do contexto
em que vivemos no século XXI.
Assim, a passagem do mito à racionalidade deu-se por um processo cultural,
ou seja, a ascensão do argumento racional foi ganhando espaço como modo de
formação e educação do grego, nas palavras de Jaeger (2003, p. 13): “colocar estes
conhecimentos como força formativa a serviço da educação e formar por meio deles
verdadeiros homens [...] é uma ideia ousada e criadora que só podia amadurecer no
espírito daquele povo artista e pensador”. Nesse contexto, os gregos deixaram como
herança para a humanidade a ação educadora por meio da filosofia. Outro aspecto é
o legado grego para os períodos posteriores da história da filosofia: devemos desde a
medicina até a poesia aos gregos, levando em consideração que todo o conhecimento
ocidental, ou grande parte dele, formulou-se a partir do que eles chamaram de
filosofia.
58
10 AS EXIGÊNCIAS DA REFLEXÃO FILOSÓFICA
Fonte: https://brainly.com.br/
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a partir da razão humana, sendo esta capaz de permitir o conhecimento de si mesma
(CHAUÍ, 1995).
Para importantes filósofos, a reflexão e o pensamento são considerados uma
purificação intelectual. Tal purificação possibilita ao espírito humano conhecer a
verdade invisível, imutável, universal e necessária. Ou seja, as imagens sensoriais
seriam falsas e mentirosas, cabendo abandoná-las para o alcance do conhecimento
verdadeiro (CHAUÍ, 1995).
Conforme destaca Chauí (1995), ao contrário de Sócrates e Platão, os sofistas
aceitavam a validade e o uso das opiniões e das percepções sensoriais para a
produção de argumentos de persuasão. Já Sócrates e Platão as consideravam fontes
de erro ou formas imperfeitas de conhecimento.
Para Bonjour (2010), uma versão mais atual e também modesta do conceito de
filosofia destacaria que os filósofos descobrem o conhecimento a partir de uma análise
mais precisa dos conceitos empregados no processo de reflexão e pensamento. Ou
seja, eles buscam os significados das palavras correspondentes a esses conceitos.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato de que diversas áreas de
investigação surgem a partir dos preceitos filosóficos. Nesse sentido, surgem a ciência
e suas várias ramificações para explicar e responder aos questionamentos filosóficos.
Bonjour (2010, p. 21) afirma que: “Isso acontece, aproximadamente, quando as
questões envolvidas tornam-se definidas de modo suficientemente claro para tornar
possível investigá-las em termos científicos, através de observação empírica e de
teorização com base empírica”.
Aristóteles foi um dos principais filósofos que se preocuparam com a
classificação dos campos do conhecimento filosófico. Ele conceituou esses campos
como ciências produtivas, ciências práticas e ciências teoréticas, contemplativas ou
teóricas, estas últimas sendo salientadas pelo filósofo como o ponto mais alto na
metafísica e na teologia e como a origem de todos os outros conhecimentos (CHAUÍ,
1995).
Contudo, segundo Bonjour (2010, p. 21):
Você ainda deve considerar que, para a grande maioria dos filósofos, há um
consenso no tocante à história da filosofia, sendo ela importante para a própria
natureza da filosofia e para a contínua investigação filosófica. Afinal, uma das
atividades filosóficas principais concentra-se no objetivo de entender a natureza
essencial das coisas (ou dos conceitos), ou seja, a clarificação dos fatos. Os filósofos
constantemente criam discussões sobre o que realmente significam as palavras
(BONJOUR, 2010).
A seguir, você vai ver as principais concepções da reflexão e da argumentação
filosóficas. Assim, você vai identificar no exercício do ato de filosofar a busca pela
compreensão da natureza das coisas e de seus significados.
61
No tocante à valorização da filosofia, você deve ter em mente que essa área se
relaciona ao exercício do pensamento lógico, crítico, aguçado. A partir dela, é possível
perceber que o pensar é algo importante e elaborado, especialmente pelo fato de que
o pensamento transcende a repetição, que é o ocorre em outras teorias. Assim, o
pensamento é um processo singular, pois o tempo, a forma e a circunstância em que
ele ocorre são intrínsecos ao que se pensa (SILVA, 2010).
Com base nas características da atitude filosófica, você pode perceber que ela
está relacionada à capacidade de conhecer e de pensar, tornando-se um pensamento
interrogativo de si mesmo, isto é, a filosofia se realiza como reflexão (CHAUÍ, 1995).
Pode-se afirmar ainda que a “atitude filosófica” é a atitude de quem tem coragem de
questionar a si e ao mundo no qual está inserido a fim de descobrir crenças, escolhas
e experiências (SILVA, 2010, p. 4).
A atitude filosófica, ou ainda o método do pensamento filosófico, demanda um
conjunto de habilidades e alguns hábitos intelectuais diferenciados, também
denominados hábitos filosóficos da mente. Esses hábitos correspondem ao exercício
das concepções e dos argumentos filosóficos desenvolvidos, isto é, implicam clarificar
e justificar alegações (BONJOUR, 2010).
Chauí (1995, p. 14–15) esclarece que a reflexão filosófica se organiza a partir
de pelo menos três grandes conjuntos de perguntas ou questões, como você pode ver
a seguir:
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1. Por que as pessoas pensam o que pensam, dizem o que dizem e fazem o
que fazem? (Motivos, razões e causas para o que se pensa, diz e faz);
2. O que as pessoas querem pensar quando pensam, o que querem dizer
quando falam, o que querem fazer quando agem? (Sentido do que se pensa,
diz e faz);
3. Para que as pessoas pensam o que pensam, dizem o que dizem, fazem o
que fazem? (Intenção do que se pensa, diz e faz).
Você viu até aqui que a filosofia, a reflexão filosófica e a argumentação são
temas muito complexos. Portanto, para entendê-los não basta compreender uma
definição única da filosofia. Em linhas gerais, o estudo da reflexão e da argumentação
envolve concepções sobre a visão de mundo, a sabedoria da vida, o esforço racional
para conceber o universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido, além
de uma fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas (CHAUÍ,
1995).
Os elementos inerentes da filosofia estão relacionados numa essência teórica,
o que não significa que essa essência esteja definida como uma doutrina ou saber
acabado. Como afirma Aranha (1993, p. 72), “Para Platão, a primeira virtude do
63
filósofo é admirar-se”. Nesse sentido, o termo “admiração” trata-se da condição
relacionada à problematização, isto é, a filosofia não é tida como dona da verdade, e
sim como propulsora da busca por essa verdade.
Você viu também a complexidade da argumentação. Para haver um bom
argumento, duas coisas são necessárias: o argumento tem de ser válido e suas
premissas precisam ser verdadeiras. Além disso, um argumento pode ser ruim,
mesmo que suas premissas e sua conclusão sejam verdadeiras. Como exemplo,
considere:
64
identificar como são as ações, isto é, julgar o valor da ação, objetivando extrair o seu
significado (ARANHA, 1993).
Para você compreender a relação entre as premissas e inquietudes dos
filósofos e a educação, deve conhecer o conceito de educação e os elementos
filosóficos que o constituem, especialmente no que se refere à sua relação com o
conceito de cultura, dentro de uma perspectiva também filosófica.
Fonte: https://pedagogiaaopedaletra.com/
Você pode considerar ainda que a filosofia é necessária pois, por meio da
reflexão, ela dá ao homem mais de uma perspectiva, indo além da dimensão
relacionada ao agir imediato em que “[...] o homem prático se encontra mergulhado”
(ARANHA, 1993, p. 75).
Assim, a filosofia permite a transcendência humana, ou seja, corresponde à
capacidade do homem de superar o cenário posto. Com isso, o ser humano se
apresenta como um ser de projeto, pois constrói o seu destino por meio da liberdade
que tem para isso. Para Aranha (1993, p. 75), “[...] o distanciamento é justamente o
que provoca a aproximação maior do homem com a vida”. Sendo assim, oportuniza a
evolução, rompendo com a estagnação.
Você pode ainda visualizar a filosofia como um movimento em busca da
verdade. Parte-se do pressuposto de que existe uma certeza, mas ao mesmo tempo
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também se nega essa certeza por meio da superação proposta pela síntese. Tal
síntese promove uma nova tese, isto é, uma nova certeza. Para Aranha (1993), a
filosofia ainda é a procura da verdade, não a sua posse.
Cabe salientar que um estilo reflexivo também deve ser considerado no tocante
à prática educativa, em que pese especialmente o ato de ensinar. Afinal, a filosofia
não se confunde com transmissão de conteúdo: ela é meio de aquisição de
conhecimento. O aluno precisa adquirir o hábito da reflexão com método e
fundamento.
Nesse sentido, Savater (1998, p. 176) ressalta que o papel da escola não é
transmitir a cultura dominante, mas principalmente “[...] o conjunto de culturas em
conflito do grupo no qual ela nasce”. Assim, é primordial a educação promover
alternativas para os educandos, atribuindo significativa responsabilidade àquele que
pretende educar.
Por fim, você pode considerar que estudar os conceitos filosóficos e os
elementos da reflexão filosófica tem o objetivo de “[...] desmascarar a realidade
utilizando a própria realidade como matéria” (SILVA, 2010, p. 4). Ou seja, cabe ao
professor empregar os elementos da reflexão filosófica nos temas inerentes ao
contexto do educando para, assim, possibilitar a discussão. A ideia é contemplar
esses temas num processo de ensino e aprendizagem que permita o desenvolvimento
de um pensamento mais amplo e crítico do aluno diante da sua realidade.
66
De acordo com Kneller (1966, p. 9):
Qualquer professor que pretenda ser sério em sua vida de trabalho tem de
responder a essas perguntas.
A lógica, outro tema muito debatido e explorado pela filosofia, também se
relaciona com a educação, na medida em que a tarefa de ensinar a pensar e raciocinar
se mostra como um grande desafio. A lógica pode ser classificada como lógica formal
e lógica dialética, a partir do seu uso como instrumento do conhecimento.
Etimologicamente, a palavra lógica vem do grego logos, que significa “palavra”,
“expressão”, “pensamento”, “conceito”, “discurso”, “razão”. A ela interessa “apenas
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investigar a validade dos argumentos e dar as regras do pensamento correto. A lógica
é, portanto, uma disciplina propedêutica, é o vestíbulo da filosofia, ou seja, a
antessala, o instrumento que vai permitir o caminhar rigoroso do filósofo ou do cientista
(ARANHA, 1993).
Com base nas concepções que você viu, é possível estabelecer que os
objetivos da filosofia da educação com relação à formação do educador residem em:
oportunizar a reflexão e a criticidade;
promover práticas educativas que consideram a visão de mundo, as
experiências de vida e os conhecimentos acadêmicos do sujeito no processo de
ensino e aprendizagem;
investigar quais problemas necessitam ser tratados a partir de uma
abordagem específica.
De acordo com Kneller (1966, p. 47):
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processos pedagógicos somente o necessário para o condicionamento de
novos comportamentos (CALEGARI, 2014 apud LIMA, 2018, p. 150)
Além disso:
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Gadotti (2001, p. 253) destaca ainda, nessa perspectiva, as contribuições de
Paulo Freire, que sustenta uma “[...] concepção dialética em que educador e educando
aprendem juntos numa relação dinâmica na qual a prática, orientada pela teoria,
reorienta essa teoria, num processo de constante aperfeiçoamento”.
Fonte: https://www.tanaarea.com.br/
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Esta parece ser uma das razões para o mau desempenho das escolas
(CASTRO, 2013, p. 17).
Fonte: https://www.upf.br/
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giram em torno da Internet, mídia que se consolida no final dos anos 1980 e já envolve
grande parte das ações cotidianas.
Nesta seção, você vai aprender um pouco sobre como a filosofia pode servir
para entender os problemas sociais da nossa época. Você vai focar em duas questões
bastante delicadas do nosso cotidiano: (1) os efeitos das mídias digitais sobre a
sociedade e (2) os dilemas éticos suscitados pelo desenvolvimento da tecnologia.
Certamente, esses dois assuntos se tocam, na medida em que, como
mostraram Adorno e Horkheimer (1985) na Dialética do Esclarecimento, os meios de
comunicação são produto de uma sociedade que produz tecnologia com o interesse
de expandir o seu poder sobre a natureza e sobre o ser humano. Isso quer dizer que,
se por um lado, podemos nos comunicar de forma cada vez mais rápida e eficiente,
por outro, esse poder coloca em questão a nossa responsabilidade perante os nossos
semelhantes e a natureza. Afinal, o clichê às vezes está correto: grandes poderes
trazem grandes responsabilidades.
A maioria das pessoas utiliza meios de comunicação poderosos como a internet
seguindo interesses pessoais específicos, sem necessariamente refletir sobre os seus
efeitos sociais mais amplos. Neste capítulo, focado em questões sobre ética e
tecnologia, você vai descobrir como a filosofia, desde Platão, no século IV a.C., já
pensava nesses problemas, que são tão antigos quanto a própria humanidade.
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Entretanto, foram a filosofia e a sociologia do início do século XX que mais se
empenharam em entender as mudanças causadas pelo aprimoramento técnico dos
meios de comunicação. Era bastante evidente para os estudiosos que o surgimento
dos mass media causariam um impacto direto, não apenas na vida cotidiana de cada
indivíduo, mas também no destino político das nações. Entre os problemas que
conduziram aos questionamentos filosóficos sobre os meios de comunicação de
massa destacam-se o uso da propaganda massificada por regimes autoritários
(nazifascismo, estalinismo, Estado Novo, etc.), o surgimento da cultura de massas
(cinema, rádio, televisão, propaganda, etc.) e a influência das mídias sobre a
educação e o comportamento dos cidadãos.
Como na maior parte dos casos de surgimento de novas tecnologias, a história
dos meios de comunicação de massa começa com boas intenções. Com o intuito de
facilitar a publicação de livros, Gutenberg inventou, no século XV, a imprensa de tipos
fundidos. Com essa máquina, cada vez mais pessoas passaram a ter acesso ao
conhecimento e à informação. Antes de Gutenberg, a maior parte dos livros eram
produzidos a mão. Assim, era preciso muito tempo e empenho para produzir cópias
de um mesmo texto e, por isso, o acesso ao conhecimento ficava restrito a uma parte
reduzida da população — notadamente, o clero e a nobreza (RUIZ, 1995).
A possibilidade de produzir textos de modo mais rápido e eficiente aumentou o
número de leitores e escritores. A demanda por entretenimento e informação gerou
uma nova indústria: editoras e jornais foram crescendo, escritores e jornalistas foram
se profissionalizando, e os periódicos — que antes eram mensais ou semanais —
tornaram-se diários. Com isso, o interesse pela expansão do público consumidor de
informação acabou contribuindo com a consolidação de uma população letrada: saber
ler e escrever deixou de ser um privilégio, tornando-se um direito de todos. Assim foi
se consolidando o conjunto de meios de comunicação a que hoje chamamos de
“imprensa”, em referência à máquina inventada por Gutenberg.
No início do século XX, o rádio tornou mais fácil ainda o acesso da população
à informação. Com um simples aparelho na sala, era possível ouvir direta e
instantaneamente em sua casa as palavras de ordem do líder de sua nação. Isso
ainda apresentava uma série de vantagens em relação ao texto impresso: a linguagem
oral não exige que os ouvintes sejam alfabetizados (o que significa que todos, sem
exceção, podem ser informados); as ondas de rádio AM viajam longas distâncias com
74
muita rapidez, fazendo com que as informações cheguem quase instantaneamente
de um lugar a outro; por fim, todas as pessoas podem se informar ao mesmo tempo,
não dependendo do atraso característico do jornal impresso (que só podia ser
comprado de manhã). As mesmas vantagens se aplicam à televisão, que a partir da
segunda metade do século XX passou a fazer parte do cotidiano do homem moderno
— sendo ainda um dos principais meios de entretenimento no mundo (RUIZ, 1995).
Em maior ou menor medida, o desenvolvimento das tecnologias de
comunicação buscou reduzir ao mínimo os limites físicos que o ser humano
experimenta, simplesmente por ser feito de carne e osso. Ignorando os limites do
tempo, as informações são cada vez mais instantâneas; ignorando os limites do
espaço, são cada vez mais ubíquas. Assim, o nosso poder sobre a natureza
aumentou, na medida em que a tecnologia nos torna capazes de realizar aquilo que o
nosso corpo não pode fazer por conta própria.
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poder absoluto sobre as ações dos indivíduos. No entanto, sabemos também que o
seu poder de sugestão não é pequeno.
Com a consolidação da internet como grande mídia do século XXI, as
mobilizações sociais ganharam novo escopo. O sociólogo francês Pierre Levy, em seu
livro Cibercultura (1999), acreditava que a grande vantagem da internet em relação
ao passado estava no seu caráter interativo. Isso significa que a internet é diferente
das mídias dos séculos anteriores por não supor um consumidor passivo. Enquanto
no modelo da imprensa, da tevê e do rádio os jornalistas e produtores decidem os
conteúdos que serão veiculados, na internet cada consumidor torna-se também um
possível produtor. Qualquer um pode publicar os seus escritos em um blog, escrever
comentários numa notícia, compartilhar uma opinião no Facebook, divulgar um vídeo
pessoal no YouTube. O otimismo de Levy (1999) o levou a dizer que isso tornaria a
sociedade mais democrática. A internet, fundada em práticas de troca generosas e
desinteressadas, encarnaria assim os próprios ideais da Revolução Francesa:
liberdade, igualdade e fraternidade (RUIZ, 1995).
Infelizmente, a inocência de Levy (1999) não dava conta de explicar toda a
realidade. Embora tenha havido experiências positivas em torno desse novo uso das
mídias digitais — como as revoltas no mundo árabe, que levaram à deposição de uma
ditadura —, nem todas as mobilizações sociais organizadas por meio digital têm
caráter democrático. Algumas inclusive têm tido um caráter bastante autoritário,
lembrando os tempos do nazifascismo — isto é, expressam o desrespeito à
diversidade e à livre discussão de ideias.
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O impacto disso sobre a cultura foi gigantesco: não só os hábitos das
populações de diferentes países tornaram-se bastante parecidos, como também os
gostos e as ideias. Já nem percebemos mais o quanto muitos dos nossos hábitos
cotidianos tiveram origem em lugares distantes. Por exemplo, o gesto simples de
cantar parabéns no dia do aniversário, diante de um bolo com algumas velas acesas,
e depois fazer um pedido ao apagá-las parece natural no Brasil, mas é na verdade um
costume surgido nos Estados Unidos, que já faz parte do repertório cultural de vários
países do mundo — inclusive no Oriente.
Nesse sentido, uma das maiores preocupações da filosofia atualmente tem sido
entender de que forma esse processo de homogeneização da cultura tem nos afetado.
Hoje, devido ao poder de comunicação das mídias digitais, a filosofia tem se
preocupado cada vez mais com os dilemas que envolvem a livre circulação de ideias.
Se, por um lado, é desejável defender o direito à liberdade de expressão conquistado
pelos iluministas, por outro, a produção desenfreada e irresponsável de conteúdos
tem entrado diretamente em conflito com o projeto de uma sociedade democrática.
Não conseguimos ainda encontrar um equilíbrio entre o global e o local, e muitas
vezes a mera vontade de exprimir um sentimento ou uma ideia numa mídia social
pode descambar para a violência, o autoritarismo e a negação sistemática das
opiniões diferentes. Nesse sentido, a tarefa de problematizar a nossa posição como
disseminadores de informação tornou-se urgente. Se quisermos de fato viver
harmoniosamente em sociedade, precisamos refletir criticamente sobre a nossa
responsabilidade como habitantes dessa “aldeia global” (RUIZ, 1995).
Um dos fenômenos que mais tem entrado em conflito com os interesses das
sociedades democráticas é a disseminação de notícias falsas na internet. Conhecidos
globalmente pelo termo inglês fake news, tais textos podem ser definidos como
notícias fabricadas ou inventadas por pessoas que têm algum interesse na sua
divulgação. Esses textos mantêm o mesmo formato visual e a mesma estrutura formal
dos textos jornalísticos, mas não são produto de um processo jornalístico de apuração
e verificação.
Antes da internet, não existiam tantos canais diferentes para se buscar a
informação como há hoje. Lia-se o jornal, assistia-se à TV ou ouvia-se o rádio; nesses
meios, a informação era produzida por jornalistas capacitados para apurar a
veracidade dos fatos. Os jornais impressos tinham interesse em vender notícias
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confiáveis e imparciais, da mesma forma que um comerciante numa loja quer vender
um produto de qualidade para manter os seus clientes. Desse modo, criou-se uma
confiança muito grande nos meios de comunicação de massa: algo era considerado
verdadeiro se estivesse publicado no jornal, e tudo o que estava no jornal podia ser
considerado verdadeiro — foi daí que surgiu a expressão “preto-no-branco”, que
usamos até hoje para indicar confiança e veracidade (RUIZ, 1995).
Na era da internet, o monopólio dessas empresas de comunicação foi
desestabilizado. Com a possibilidade de produzir informações mais baratas, surgiram
empresas que flexibilizaram os critérios de apuração das informações. A concorrência
entre os antigos meios e a internet fez com que o investimento em produção de
notícias diminuísse e, com isso, perdeu-se boa parte da credibilidade que a população
tinha nelas.
Além disso, a facilidade e a velocidade do aceso à informação fez com que
houvesse cada vez menos tempo para apurar um fato ou refletir sobre um
acontecimento. O critério jornalístico de que a melhor notícia é a mais imediata fez
com que os textos da internet prezassem mais pela velocidade com que a informação
chega às pessoas do que com a qualidade da apuração. Assim, naturalmente, com
menor tempo gasto para a produção da notícia, a sua confiabilidade também é menor.
Embora as fake news tenham aparecido com mais intensidade atualmente, elas
não são uma novidade da era da internet. Na verdade, os historiadores dos meios de
comunicação sabem muito bem que a maior parte dos jornais nasceu em nome de
interesses políticos bastante precisos. O próprio Platão disse, ainda na Grécia Antiga,
que uma mentira contada por um rei seria útil, desde que servisse aos interesses da
cidade. Foi só no final do século XIX que surgiu o critério da objetividade no jornalismo,
justamente para combater o excesso de notícias falsas (RUIZ, 1995).
O que é próprio da internet, então? Os estudiosos têm mostrado que o maior
problema das atuais fake news é a velocidade com que uma notícia falsa é
compartilhada. Uma pesquisa norte-americana constatou que entre 9% e 15% dos
usuários do Twitter são bots, isto é, contas falsas. Constatou-se que a maior parte
deles produz conteúdo extremista ou politicamente radical, feito para ser rapidamente
compartilhado. Há também fortes evidências de que as eleições de 2016 nos Estados
Unidos foram influenciadas por essa prática.
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Quantas vezes, antes de apertar o botão “compartilhar”, você de fato se
perguntou se a notícia é verdadeira? Ou se a fonte é confiável? Ou ainda se o jornal
que se responsabiliza pela notícia é uma empresa socialmente responsável? São
raras as pessoas que se preocupam com isso. O preocupante é que são essas
notícias falsas, criadas por pessoas com interesses eticamente duvidosos, que têm
conduzido o debate de ideias. Por isso, as fake news têm sido um desafio para a
filosofia contemporânea, especialmente aquela preocupada com a política e com a
ética. Ao que parece, estamos habitando um mundo em que os critérios para o que é
verdadeiro ou falso estão se alterando — e esse é, em larga medida, o problema
fundamental da filosofia desde Platão.
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humana. Assim, Heidegger (2001) afirma que, para o homem moderno, não é a
hidrelétrica que está no rio, mas é o rio que está na hidrelétrica. O que isso quer dizer?
Tudo se passa, para nós, como se fosse óbvio que o rio está ali para ser explorado.
A técnica moderna vê a natureza simplesmente como algo ao nosso serviço, à nossa
disposição; nós escravizamos a natureza, esquecendo que é graças a ela que somos
livres.
Aquilo que parecia uma ideia inovadora na época de Heidegger (2001) tornou-
se, a partir das décadas de 1970 e 1980, um dos principais debates sobre o
desenvolvimento tecnológico. Foi nessa época que se começou a dar importância
cada vez maior ao conceito de sustentabilidade. É provável que você já tenha ouvido
esse conceito. Ele indica uma nova forma de o homem se relacionar com o seu
ambiente, de modo a evitar os erros cometidos pelo consumismo desenfreado dos
séculos XIX e XX. Em 1987, o Relatório de Brundtlande, também conhecido como
Nosso futuro comum, apresentou ao mundo a conclusão de que os padrões de
consumo atuais eram incompatíveis com a manutenção do meio ambiente. Assim,
esse documento definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as
necessidades de uma geração sem colocar as necessidades das outras em risco
(RUIZ, 1995).
É por conta dessa reflexão que hoje a maior parte dos países tem buscado
conter o aspecto predatório do desenvolvimento tecnológico. Na verdade, a ciência
agora busca soluções mais inteligentes para manter o nosso modo de vida sem afetar
negativamente o meio ambiente e até mesmo o meio social. A busca por fontes de
energia renováveis tem sido uma das linhas de frente desse debate. Levando em
conta que grande parte da energia consumida do mundo tem origem em combustíveis
não renováveis (como o petróleo), se a ciência não encontrar outras saídas, haverá
um momento em que o atual modo de vida será impossibilitado.
Entretanto, a sustentabilidade não tem a ver somente com o meio ambiente,
como a maioria das pessoas pensam. As ações sustentáveis também visam a um
desenvolvimento social e econômico mais igualitário, que crie condições de vida
melhores para as gerações futuras — e isso envolve pensar na saúde, na segurança
e na educação daqueles que ainda estão por nascer. Não basta apenas salvar
espécies em risco de extinção, diminuir a emissão de gás carbônico ou cuidar para
que não se esgotem as nossas fontes de energia: é preciso também pensar nas
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interações humanas e nas instituições que criam o ambiente da vida social. Isso
envolve pensar questões mais “humanas”, como a violência urbana, a criminalidade,
os direitos fundamentais do homem, a igualdade social, as condições de trabalho, a
urbanização, a higiene, a vacinação... enfim, tudo aquilo que, a partir da interação
entre o homem e a natureza e entre o homem e a sociedade, gera um “hábitat” ou um
“ambiente”.
Heidegger (2001) lembra que os gregos antigos chamavam de ethos o “hábito”
de alguém, o seu modo de ser, de agir, de pensar — isto é, de “habitar” o mundo. A
palavra ética, que deriva de ethos, é a parte da filosofia que reflete sobre os modos
como nós podemos habitar a Terra. Portanto, podemos dizer que um mundo
sustentável é também um mundo ético, e é por isso que a sustentabilidade é uma
questão filosófica tão urgente.
Fonte: https://medium.com/
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 3.ed. São Paulo: Moderna,
2006. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. Cortez, 2011.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
PEREZ, F. Eles fazem a cabeça dos jovens. Isto é, out. 2016. Disponível em: .
Acesso em: 5 jun. 2018.
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SANTOS, I. O. Tomás de Aquino e o século XIII. Ágora Filosófica, n. 1, jan./jun.
2017. Disponível em: . Acesso em: 18 dez. 2018.
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