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Laís Curvão
E-ISBN
Cofundador da 3G Capital
PRÓLOGO
A venda para o Itaú, por outro lado, tornaria sua vida mais
simples. Mesmo desembolsando pouco mais de 6,5 bilhões
de reais, o Itaú estava se comprometendo a deixá-lo no
comando da XP por ao menos outros dezesseis anos. Ele
teria, assim, fôlego renovado para planos de crescimento
mirabolantes. A associação com o Itaú, concluiu, faria a XP
tirar ainda mais clientes do próprio Itaú. O caminho
romântico seria partir para o IPO. Contudo, naquele
momento, talvez não fosse o mais pragmático nem o
melhor para o futuro da companhia. Depois de dar a
segunda volta no Parque do Povo, nas imediações da
marginal Pinheiros, Guilherme se deu conta de que passara
duas horas e meia correndo. Seu relógio marcava uma
distância percorrida de trinta quilômetros. Voltou para o flat,
tomou banho e às oito e meia da manhã estava no
escritório da XP.
— Estou vendo que você quer abrir o capital. Será que não
tem espaço para fazermos algo juntos? — perguntou
Setúbal.
— Vamos conversar — respondeu Guilherme, sem se
comprometer. — Mas como a gente colocaria isso de pé?
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A casa caiu. Ele não tinha o que dizer. O pai estava irado
pelas mentiras consecutivas e pelo descaso do filho com a
formação acadêmica. Ele, afinal, tinha se tornado um dos
mais procurados cardiologistas do Rio e membro da
Academia Nacional de Medicina depois de se matar de
estudar. Guilherme, por sua vez, não via sentido no curso de
economia. Não queria aprender teorias econômicas, discutir
marxismo e “um monte de coisa que não deu certo em
lugar nenhum do mundo”, resmungava. Mas a chamada do
pai teve efeito imediato. Pediu demissão do Icatu e
conseguiu fazer tudo em um semestre, formando-se em
1999.
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Após conversar com o pai, Júlio optou por fazer um MBA nos
Estados Unidos. Mas Guilherme, sentindo que o amigo
estava balançado, fez uma proposta: Capua montaria a tal
gestora de recursos (ou asset, no jargão do mundo das
finanças) dentro da XP, para que eles tivessem fundos
próprios para oferecer aos clientes. Guilherme e Marcelo
propuseram ainda criar uma nova empresa, que seria
controlada pela XP e da qual Júlio seria sócio.
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— Gui, não vou ler nem uma vírgula disso aqui, confio em
vocês — disse Klebinho, de pé, enquanto assinava a
papelada.
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— A gente tem que criar uma prisão sem muros pra esses
caras. Senão eles vão embora e a gente fica largado —
repetia Guilherme. — Quero todo mundo com a nossa
marca.
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— Estou cortando custos que nem doido, essa crise vai ser
terrível — disse Buccheim.
— A gente lá na XP tá indo bem pra cacete — respondeu
Guilherme.
— É dealbreaker!
— Tem que liberar pra galera assistir na TV, senão vai ficar
todo mundo pendurado no celular ou no computador
assistindo e vai sobrecarregar nossa rede de internet —
defendeu Marchetti.
— Isso é um absurdo! A gente não pode incentivar o cara a
parar de trabalhar pra ver TV, você está totalmente
desalinhado com a empresa — rebateu Glitz.
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POUCO MAIS DE quatro anos após a venda de uma
participação para a Actis, a XP era, em 2015, outra
empresa. A disciplina dos sócios financeiros criara uma
governança que contrastava fortemente com certo
amadorismo de outrora. Havia comitês para tudo, um
conselho de administração que orientava e cobrava. Antes,
apenas os diretores tinham meta. Em 2015, depois da
implementação de um plano da consultoria Falconi, todos os
funcionários passaram a ter metas acompanhadas
mensalmente.
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— Gui, você não precisa do Itaú. Vem pra casa — disse Ana,
sentindo a agonia do marido.
— Era assim que tinha que ser, pessoal. A gente nunca quis
banco. Vamos com tudo para a bolsa! — escreveu no grupo
de WhatsApp do Projeto Novo.
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Ficou meia hora com os sócios e foi para casa. Afinal, tinha
de estar no escritório às oito da manhã do dia seguinte.
Guilherme tinha acabado a maior maratona de sua vida —
mas já começava a se preparar para a próxima.
POSFÁCIO
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Aquela conversa não foi marcada à toa. Nos dois anos que
se passaram desde a transação com o Itaú, a manutenção
da cultura da XP se tornou a maior preocupação de
Guilherme. Ter sócios ricos representava, para ele, um
desafio novo. O sangue nos olhos, a disposição para ralar
horas e horas sem parar, o foco obsessivo no sucesso da
empresa — foi essa a receita que fez a XP ser o que era. O
acordo bilionário com o Itaú e a possível abertura de capital,
pensava ele, não poderiam colocar em risco essa fórmula.
Abs.
AGRADECIMENTOS
© Paulo Vitale