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RESUMO:
ABSTRACT:
The herein article was developed as final stage of the Educational Development
Program – EDP, to teachers of the State Public Department of teaching of Paraná.
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Professora de História do Colégio Estadual Rui Barbosa de Brasilândia do Sul-Pr, Pós Graduada em
Administração, Supervisão e Orientação Educacional pela UNOPAR e Processo Ensino
Aprendizagem pelas Faculdades Clarentianas, Batatais-SP.
Professor de História da UNIOESTE, Campus de Mal. Cândido Rondon, doutor em História pela
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PUC-SP.
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The work proposes the analysis of the life and the labor conditions of the people who
work in canebrakes in the town of Brasilândia do Sul, until the year 2007, considered
one of the most developed agricultural areas of this country. Based on direct
observations, interviews with the laborers of the sugar-cane alcohol industry sector
and consult to pertinent bibliography, the analysis reveals the process of extreme
exploitation of the labor force. It also discusses the daily exposition of the cane
cutters to physical, chemical and biological cargo, which causes several sickness,
injuries and other accidents and the life condition in which those laborers live due to
the low salary they earn.
1. INTRODUÇÃO
“... Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá
vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas
como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer”.
(Pinsky, 2005, p. 28).
No que se refere à história oral, esta resulta não apenas numa mudança de
enfoque, como também na abertura de novas áreas importantes para investigação.
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2. DESENVOLVIMENTO
Outro fator que favorece o cultivo da cana nessa região é a pouca ocorrência
a risco de geadas, que em outras regiões do Estado é bastante grande.
Há divisão de trabalho entre eles, pois uns cortam cana queimada, outros
cana crua, outros plantam, não são contratados só para realizar uma tarefa, mas
também outras tarefas. Se não der para cortar cana ou plantar ou se não for época
da colheita da cana, por exemplo, eles vão carpir.
“Tem dia assim que levanto quatro horas no dia que vai sair mais cedo, tem dia que levanto
cinco horas, faço o almoço, quer dizer deixo pronto o almoço levanto de manhã só faço a mistura e
esquento, põe na marmita, me troco e daí a gente vai pro ponto ali no Fome Zero”.
Quando chegam no Fome Zero (Local onde serve café e pão para os
trabalhadores) tomam café com pão e margarina e ficam esperando o ônibus para
seguir para o trabalho. O transporte não é confortável, sendo um ônibus velho, que
foi comprado para transportar esses trabalhadores para o trabalho. Eles pegam no
serviço por volta das sete horas. Conforme o depoimento de Eliane de 28 anos.
“No Fome Zero, tomo café lá. O ônibus não é muito confortável é tipo circular com banco
reto, sete horas estamos na roça”.
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Se o canavial for perto chegam por volta das seis horas e trinta minutos e se
for longe chegam por volta das sete horas. Daí começa todo o preparativo para
começar o corte. Como diz Cristina:
“A gente leva algumas roupas na bolsa pra por lá, porque tem vez que eles põe a gente
na diária então a gente não pode ir pronta pra corta cana né, então com uma calça e uma saia e um
pano na cabeça, daí chega lá se vai corta, bota uma camisa de manga comprida por cima da outra
que sai de casa, coloca o mangote, amarra o pano bem na cabeça, nóis temo uma caneleira que vem
da usina, um avental, um óculos, boné, com um paninho assim por cima do boné e outro por dentro,
pra protege do sol e de alguma palha de cana que fica...”
“... a usina não dava o instrumento, tudo era nosso, era nóis que comprava, tinha dia que
trabaiava de chinelo ou de sapatão normal de roça, não usava luva nem óculos nem caneleira, só o
facão e a lima, depois com o tempo vei a lei e daí pra cá eles começou a dá o instrumento, como:
luva, sapatão, caneleira, depois veio o óculos e bonel.”
Uma cortadora de cana Dona Cristina conta: “eles fala que é pra gente usa direto o
ray-ban, mas tem vez que a gente abusa, né, porque a gente não agüenta usa direto porque é muito
calor daí a gente usa ele em cima do boné né, e quando a gente vê o segurança a gente corre e põe
nas vistas”.
plantadas a cana), por um comprimento que variava por trabalhador, que era
determinado pelo que conseguia cortar em um dia de trabalho. Este retângulo é
chamado pelos trabalhadores de eito, e seu comprimento varia de trabalhador para
trabalhador, pois depende do ritmo de trabalho e da resistência física de cada um.
(Alves, 2006)
Paulo de 37 anos, afirma: “Nóis recebe por metro, o metro vareia né, a cana mais ruim
como ontem mesmo, nóis cortemo a R$ 0,04, hoje já foi a R$ 0,14, o salário não é um preço fixo por
mês, vareia né, tem mês que recebo quatrocentos e noventa reais outro quinhentos e pouco reais”.
mês, pois depende da produção de cada um, mais o salário no final do mês fica em
torno de R$ 450,00 a R$ 585,00.
Existem dois tipos de cana a ser cortada: a cana queimada para a produção
do açúcar e do álcool e a cana crua, ou seja, em palha destinada para o plantio.
para a saúde da população, tais como: irritação nos olhos, nariz, garganta, tosse.
Quem mais sofre com esse problema são os idosos e crianças. A fuligem da cana e
os gases atingem toda a população em geral, seja na área urbana ou rural, porque a
fuligem e os gases são espalhados pelo vento atingindo até as cidades próximas.
Por exemplo, em Brasilândia do Sul quando cortam cana queimada, a fuligem suja
casas, roupas, calçadas e ruas, elevando ainda mais o consumo de água e energia
elétrica. Já a fumaça e labareda aumentam o número de acidentes em rodovias.
Sem contar os animais que morrem queimados quando se queima a cana.
Afiando o facão
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canela; o de cabo comprido, que oferece maior segurança ao cortador porque o local
do corte mantém distante do corpo, geralmente permitindo cortar um número maior
de canas por batida, diminuindo o esforço do braço e coluna, pois o trabalhador
necessita abaixar-se menos para fazer o corte; o de cabo torto, que permite um
corte “pranchado” (rente ao solo, promovendo um corte horizontal) não deixando
toco alto, evitando que o cortador raspe a mão no chão e curve demais a coluna; o
com folha ou lâmina torta, que possui as mesmas vantagens que o facão de cabo
torto. Cada trabalhador escolhe o que achar melhor para o seu labor.
Em relação a isso, Clarice afirma: “a gente tem que corta bem certinho e tem que tira
o ponteiro certinho né, que é o olho da cana, a gente corta bem baixinho, pra corta a gente pega o
tanto de cana que guenta, pode corta uma, duas, três, quatro ou cinco de uma vez.
Como disse a entrevistada, o corte deve ser feito bem rente ao solo,
promovendo um corte horizontal, evitando-se o toco alto, pois é no pé da cana que
se concentra a sacarose.
Para a empresa:
Para o cortador:
• Necessidade de repasse;
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• Perda de tempo;
O corte não pode atingir a raiz para não prejudicar a rebrota. É proibido deixar
jacarés (cana não cortada que fica escondida em baixo do monte ou esteira). Os
trabalhadores fazem isso para se ter um maior rendimento no eito.
Existe também o “Baião de Dois”, que é o corte feito por dois cortadores no
mesmo eito. É permitido em algumas empresas durante uma ou duas horas antes
do término do expediente ou quando a cana está muito ruim, diz Alvina. Mas a usina
Sabaralcool não permite esse tipo de corte, segundo alguns entrevistados.
• Cana em pé: É aquela que se encontra reta por ocasião do corte, conhecida
como cana paquinha, etc.
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“ Nóis trabaia na cana seis dias na semana, de segunda a sábado, quando é feriado é
dispensado, mas tem feriado que eles não que dispensa, eles paga mais né, pra pode corta, porque
as vezes tem bastante cana queimada daí eles pede pra gente corta também no feriado, as vezes
eles faz acordo com o motorista pra gente í né corta, ou eles paga mais ou deixa falta um dia na
semana,um dia desses nóis foi corta no domingo porque tinha bastante cana queimada e tinha que
corta, eles reuniu com o motorista e com nóis pra í corta e nóis foi e na segunda eles deu folga pra
nóis.”
Como disse Paulo em sua entrevista: “Eles dão alguns remédios, por exemplo, pra
dor de cabeça, e pra alguma dor no corpo, esses remédios fica no ônibus, quem que toma, vai lá e
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pega, quem não que não toma, eles dão um suco em saquinho pra abate o cansaço né? um
energizante vitamínico. Eu trago o meu saquinho pra casa e muitas vezes tomo em casa perto da
hora de dormi”.
“Quando a gente fica doente e leva atestado daí eles paga, mas se a gente leva declaração
eles não aceita, porque é costume de a gente í consulta e eles dá declaração e daí não adianta
porque eles dá gancho do mesmo jeito, esses dias pra tráis acho que faz uns dois méis eu não tava
muito boa né fiquei em casa pra consulta daí consultei daí o médico me deu uma declaração...
Aquele dia trabalhei mas quando foi no outro dia eu fiquei em casa, fiquei de gancho e sendo que
estava doente”...
Cristina disse em sua entrevista que muitos deles levam guarda chuva,
porque muitas vezes chove e o motorista sai, e eles abrem o guarda chuva para se
proteger da chuva.
“Esse ano corto em torno de sete e oito toneladas de cana por dia, esse ano caiu 100% né
em relação ao ano passado, que cortava 18 a 20 toneladas. Agora esse ano eles tão dando uma
cesta básica, alguns não recebe a cesta porque a maioria não consegue atingir a tonelada”.
de sacarose (açúcar). Tudo ótimo, menos para o trabalhador, que precisa cortar 100
metros de cana para produzir dez toneladas e por causa da novidade transgênica
precisará cortar o triplo para produzir a mesma quantidade.
Os usineiros da cana
Ostenta esta visão
Política do lucro fácil
Cultura da exploração
Um pensamento arcaico
Do tempo da escravidão
O trabalhador do campo
É mais do que explorado
Dez toneladas por dia
Pra manter registrado
Quem não atingir este teto
Já está desempregado
Milhares de nordestinos
Vivem estes empecilhos
Num trabalho sub-escravo
Seus olhos perderam os brilhos
Acorda Brasil, acorda!
Pra cuidar dos teus filhos...
Devido o trabalho árduo e exaustivo “cortadores de cana têm vida útil menor
que a dos escravos, já que o tempo de trabalho no setor é de cerca de 12 anos, diz
estudo; escravos chegavam a trabalhar até 20 anos”. (Folha de São Paulo, 2007)
Verificamos nas visitas que foi feita nas residências desses trabalhadores
que as condições de vida da maioria são bem precárias, pois vivem em casa bem
simples, sem forro, só com contra piso, cobertas de telhas de amianto, com poucos
cômodos. Destas, algumas são próprias, financiados pelo BNH, outras são
alugadas, sem infra-estrutura.
No canavial, os
trabalhadores fazem as suas
higienes, muitas vezes, em
condições precárias. Em alguns
canaviais são montadas as barracas
sanitárias, que são tendas
desmontáveis, sustentadas por
hastes de alumínio ou ferro, fixadas
ao solo formando uma pirâmide
revestida de lona plástica. Depois Pia e barraca sanitária.
de montada é aberto no interior da barraca um buraco no chão, para que após cada
utilização seja jogado um pouco de cal virgem. No fim do dia a barraca é
desmontada pelo motorista do ônibus e a fossa vedada. Há também uma pia com
uma torneira para lavar as mãos.
Vaso sanitário.
“O serviço da roça era pouco, pois o sítio eras pequeno pra mim e os meus filhos, que
nessa época moravam comigo, então os meninos sempre cuidava da roça, eu trabalhava com o
caminhão na usina, como agenciador dos bóias-frias pra leva pra corta cana”.
“Quando chega nos canavial as pessoas ia trabaia eu ia administra o povo... (...) fica
administrando pra pode faze o serviço bem feito né, a tarde os fiscal media a cana cortada... (...) a
usina pagava pra mim, e eu fazia o pagamento pra os bóia-fria, eles recebia por metro, era tudo de
empreita...”
Seu João relata em seu depoimento que ele ganhava por comissão, 8% do
que a turma cortava, e as despesas do caminhão eram por sua conta. E que
naquela época os cortadores não tinham proteção, nem o facão a usina fornecia
tudo era por conta do trabalhador.
A vida desses motoristas não é nada fácil. Como não são empregados da
usina, se ficar doentes tem que pagar outro motorista para levar os trabalhadores,
não tem carteira assinada, nem férias e nem 13º salário.
Chegando ao canavial armam o toldo, abre uma fossa no chão para servir
de privada, instala a barraca sanitária, a torneira para a higiene pessoal e no final do
dia desmonta tudo e veda a fossa.
“Acho esse serviço cansativo né, mas é razoável, melhor do que ir carpi trabalhar com
trato”.
Neste serviço, há uma divisão de trabalho: para cada caminhão são quatro
jogadores e passam o dia todo em cima de um caminhão jogando as canas; quatro
plantadores, que geralmente são mulheres, jogam as canas nos sulcos; quatro
picadores ficam no chão picando as canas dentro dos sulcos; também tem um
bombeiro para servir água para as pessoas. Como aponta Edmar de 38 anos, um
picador de cana em seu depoimento:
“São quatro pessoa em cima do caminhão jogando cana inteira, joga dois dum lado e dois
do outro, o caminhão vai na frente, ele vai jogando a cana para as plantadeiras que coloca dentro do
suco, e a gente vai só picando dentro do suco com um facão, picamos duas ou três cana de uma só
vez, com uma só batida de facão”.
Eles plantam quatro a seis ruas de uma vez, o caminhão fica no meio das
ruas para facilitar na hora de jogar as canas dos dois lados, logo atrás vem um trator
jogando terra para cobrir as canas, se ficar ponta sem tampar vem algumas pessoas
com uma enxada para terminar a cobertura. Segundo Edmar esse processo é feito
de fevereiro a final de novembro, já nos meses de dezembro e janeiro e feito a
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replanta e a carpa ou então em época de seca quando a terra fica muito dura e não
dá para plantar.
“Sim, tem uma máquina que planta a cana, mas ela é mais lerda doas pessoas plantando,
ela só planta na terra plana, fica umas quatro pessoas em cima da máquina uns tira a palha da cana
e outros coloca a cana na máquina daí ela pica e planta, só que o ano passado foi usado pouco e
este ano ainda não foi usada”.
CONCLUSÃO:
Há que se reiterar, porém, que a política pública que mais gera trabalho e
renda é a da reforma agrária e assentamento de trabalhadores.
FONTES ORAIS
João, 74 anos, aposentado, natural de Grão Mogol- MG, amasiado, trabalhava como
motorista de caminhão.
REFERÊNCIAS