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Faculdade de Gestão de Turismo e Informática

Licenciatura em Direito

Direito das Sociedades Comerciais

Discente – David Alberto Alforma

Docente – Tânia Muriezai

Personalidade e capacidade jurídica das sociedades comerciais

Como é sabido, “as sociedades gozam de personalidade jurídica e existem como tais a
partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem (art. 5.º). A atribuição de
personalidade jurídica às sociedades comerciais implica que estas sejam titulares de direitos e de
obrigações e não os seus sócios: cada sócio é titular de uma participação social (de um “conjunto
unitário de direitos e de obrigações actuais e potenciais do sócio (enquanto tal), não tendo
direitos sobre o património da sociedade.

Como ALEXANDRE SOVERAL MARTINS refere, “a atribuição de personalidade


jurídica às sociedades comerciais torna necessário que se reconheça o carácter autónomo do
respectivo património”. Por isso, os bens que integram o património social apenas respondem
pelas dívidas da sociedade e não pelas dívidas dos sócios.

Aquisição da personalidade jurídica a partir do acto constitutivo: os casos de


desconsideração da personalidade jurídica

A personalidade jurídica é um importante instituto no direito, pois possibilita a


regularização de milhares de empresas que passam através dele, a ser sujeitos de direito e
obrigações, e, portanto, protegidas pela legislação pois se inseriam no âmbito jurídico.

A desconsideração da personalidade jurídica nasceu, na verdade, para corroborar o instituto do


princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, evitando-se que haja fraude ou abuso de
direito. Assim, ela é um reforço indireto para que sócios e administradores atuem visando ao
bem comum da sociedade empresária, preservando-a e mantendo a sua função social, coibindo
manipulação da pessoa jurídica com o fim de fraudar credores. É nesse sentido o comentário de
Fábio Ulhôa Coelho: a teoria da desconsideração da personalidade jurídica não é contrária à
personalização das sociedades empresárias e à sua autonomia em relação aos sócios. Ao
contrário, seu objetivo é preservar o instituto, coibindo práticas fraudulentas e abusivas que dele
se utilizam.

Capacidade de gozo nas sociedades comerciais

A capacidade de uma sociedade, segundo o disposto no n.º1 do art. 6.º, compreende os


direitos e as obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim. O mesmo
preceito ressalva, contudo, exceções. Assim, a sociedade não terá capacidade para praticar os
atos que lhe sejam vedados por lei (geral ou específica consoante essa limitação valha para todos
os tipos societários ou apenas para alguns) e os que sejam inseparáveis da personalidade
singular. Como referimos, a finalidade da sociedade é a obtenção do lucro e a atribuição ao (s)
sócio (s). Assim, os atos que não sejam necessários ou convenientes à prossecução do lucro são
nulos por violação de uma norma imperativa, o art. 6.º, n.º1 CSC (art. 294.º CC).

Capacidade de exercício de direitos: o problema da representação das sociedades


comerciais e da sua vinculação externa

As sociedades comerciais por não terem existência física são representadas por órgãos a
que já nos referimos supra e que variam de acordo com o tipo societário. Importa agora determo-
nos sobre a vinculação da sociedade pelos atos praticados pelos seus representantes. Tal implica,
antes de mais, que esses atos tenham sido praticados pelos seus representantes e os terceiros
tenham não apenas a possibilidade, mas o dever de verificar se quem age como representante da
sociedade, efetivamente o é. Ora, quem age em representação da sociedade deve indicar a
qualidade em que o faz tendo já sido estabelecido no Acórdão de Uniformização de
Jurisprudência n.º1/2002, pelo Supremo Tribunal de Justiça, que “a indicação da qualidade de
gerente prescrita no n.º4 do artigo 260.º do Código das Sociedades Comerciais pode ser
deduzida, nos termos do art. 217.º do Código Civil, de factos que, com toda a probabilidade, a
revelem”.

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