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Artigo Alexandra Kollontai A Familia e o Estado Socialista
Artigo Alexandra Kollontai A Familia e o Estado Socialista
A família no passado
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08/05/2020 A Família e o Estado Socialista
mudanças e que não há nada fixo e invariável, quer se fale dos costumes, quer
das organizações políticas. E a família, nas diversas épocas da humanidade,
mudou várias vezes de forma, e no passado foi muito diferente do que estamos
habituados a ver hoje. Houve um tempo em que se conhecia somente uma forma
de família: a família genética, quer dizer, aquela que tinha como chefe uma
velha mãe, à volta da qual se agrupavam os filhos, os netos, os bisnetos para
trabalharem juntos. Noutra época conheceu-se a família patriarcal, presidida pelo
pai-patrono, cuja vontade era lei para os demais membros da família. Todavia,
também nos nossos dias se podem ver em algumas aldeias estas famílias
camponesas. Com efeito, ali os costumes e as leis da família não são os mesmos
que os do operário da cidade; nas aldeias afastadas dos grandes centros ainda
se encontram muitos costumes que já desapareceram nas famílias do
proletariado urbano. A forma da família e seus usos variam segundo os povos.
Há povos (por exemplo os turcos, os árabes, os persas, etc.) onde a lei admite
que um só marido tenha várias mulheres. Houve, e há ainda, povos onde o uso
tolera absolutamente o contrário, quer dizer, que uma mulher tenha vários
maridos. E, ao contrário do costume habitual do homem dos nossos dias, que
exige que a jovem permaneça virgem até o seu matrimônio legítimo, havia
povos em que a mulher se vangloriava de ter muitos amantes e usava nos
braços e nas pernas tantos anéis quantos amantes possuía...
A família, na sua forma atual, não é outra coisa senão uma das ruínas do
passado. Sólida, encerrada em si mesma e indissolúvel, já que se considera
como tal o matrimônio abençoado pelo pope , era também necessário que assim
fosse para todos os membros. Se a família não tivesse existido, quem teria
alimentado, vestido e educado as crianças e quem as teria guiado através da
vida? A sorte do órfão era no passado a pior de todas as sortes. Na família a que
estamos acostumados, o marido trabalha e mantém a mulher e os filhos,
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A mulher, a mãe operária, sua sangue para cumprir três tarefas ao mesmo
tempo: trabalhar durante oito horas num estabelecimento, o mesmo que seu
marido; depois, ocupar-se da casa e, finalmente, tratar dos filhos. O capitalismo
pôs nos ombros da mulher uma carga que a esmaga; fez dela uma assalariada,
sem ter diminuído o seu trabalho de dona de casa e de mãe. Assim, a mulher
dobra-se sob o triplo peso insuportável, que lhe arranca amiúde um grito de dor
e que, às vezes, também lhe faz verter lágrimas. O afã foi sempre a sorte da
mulher, mas nunca houve sorte de mulher mais terrível e desesperada que a de
milhões de operárias sob o julgo capitalista durante o florescimento da grande
indústria...
trabalham fora de casa, em que a mulher nem sequer tem tempo de preparar a
comida dos seus! Que vida de família é a que o pai e a mãe podem passar
apenas alguns momentos com seus filhos! Em outros tempos a vida da família
era muito diferente; a mãe, dona de casa, permanecia no lar, ocupando-se dele,
e não cessava de cuidar dos filhos. Hoje, mal nasce o dia, ao primeiro apito da
sirene da fábrica, a operária corre para o trabalho; e, quando vem, à noite, de
novo ao apito da sirene, apressa-se em voltar para casa para preparar a comida
da família e fazer os trabalhos de casa mais urgentes. Depois de ter dormido
insuficientemente, volta no dia seguinte à sua jornada de operária; a vida da
operária casada é um verdadeiro presídio! Não é de surpreender, por
conseguinte, que em tais condições, a família se desmembre e se decomponha
cada vez mais. Vê-se desaparecer pouco a pouco tudo o que antes fazia sólida a
vida da família e a colocava sobre bases estáveis. A família deixa de ser uma
necessidade, tanto para os membros que a compõem como para o Estado. A
antiga forma da família torna-se hoje um estorvo.
Que fazia tão forte a família no passado? Em primeiro lugar, o fato de que o
marido-pai mantinha a família; em segundo lugar, que o lar comum era
necessário para todos os membros da família, e finalmente, a educação dos
filhos por parte dos pais. Que fica hoje de tudo isto? Dissemos já que o marido
deixou de ser o único amparo da família. Neste sentido, a operária é igual ao
homem; aprendeu a ganhar a vida para si mesma e até, às vezes, para o marido
e filhos. Fica a casa e a educação, assim como a criação dos filhos de tenra
idade.
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Fonte
Inclusão 13/03/2014
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