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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS NÁUTICAS

DEPARTAMENTO DE MÁQUINAS

ESTUDO DOS IMAPACTOS DA GERAÇÃO DISTRIBUIDA PARA


PROTEÇÃO DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO

JOÃO PINTO ALBERTO

LICENCIATURA EM ENGENHARIA ELECTROMECÂNICA

Maputo, Maio de 2019

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Introdução

A Geração Distribuída (GD) permite, em princípio, a geração de energia de qualidade e com


alta taxa de confiabilidade, aumentando a eficiência de todos os seus recursos, a localização
da energia renovável sendo perto das zonas onde a energia é consumida, aumenta a eficiência
da transmissão, (DIAZ, 2005). A Geração Distribuída (GD), além de ser uma área chave
para a sustentabilidade e geração de energia limpa, causa um grande impacto em todo o
sistema de transmissão e distribuição de energia, uma vez que altera toda a concepção do
sistema atual. Isso leva a um funcionamento intermitente da geração de energia elétrica, que
funcionará em alguns momentos e em outros não.

A elevada penetração da Geração Distribuída nas redes de distribuição pode resultar em


impactos significativos na estabilidade das redes de transmissão. Portanto, a realização de
estudos dos impactos causados nos sistemas de potência pela conexão massiva da GD nas
redes de distribuição é de extrema importância para o planejamento da operação. (Barata,
2017)

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Objectivos

Este trabalho tem como objetivo avaliar os impactos da conexão de geração distribuída nos
sistemas de proteção de redes de distribuição, analisar as políticas de religamentos
automáticos, as filosofias de proteção adotadas pelas concessionárias e propor soluções
mitigadoras para os problemas identificados.

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Histórico

Após a revolução industrial, as oscilações nos preços da energia , a crise do petróleo e a queda
do preço do óleo e do gás natural implicaram na mudança da matriz energética e na alteração
da maneira organizacional adotada pelo sistema elétrico, como é o caso da adição de GD no
sistema elétrico.

O incentivo de uso da GD se deu inicialmente nos EUA a partir das mudanças na legislação,
iniciadas pelo Public Utilities Regulatory Policies Act (PURPA) em 1987 e que foram
ampliadas, em 1992, pelo Energy Policy Act. A difusão da GD teve como principal aliada a
evolução tecnológica mundial na área de computação, resultando em processamento de dados
e controles mais acessíveis financeiramente e mais rápidos, além da evolução no campo das
telecomunicações, que ofereceram maior rapidez e menor custo de transmissão de volume de
informação (INEE, 2016).

A Geração Distribuída (GD), além de ser uma área chave para a sustentabilidade e geração
de energia limpa, causa um grande impacto em todo o sistema de transmissão e distribuição
de energia, uma vez que altera toda a concepção do sistema atual se tornando um tema chave
de alta criticidade. De fato, com o advento das novas tecnologias de geração de energia de
forma distribuída, as redes elétricas e de comunicação passarão a interligar milhões de fontes
de energia renovável estocásticas [Keshav and Rosenberg 2011]. Usinas hidrelétricas que
não tenham reservatório, a geração de energia eólica que depende da força do vento e a
geração de energia solar que depende da incidência solar são exemplos em que a geração de
energia estará exposta a variações meteorológicas incontroláveis. Isso leva a um
funcionamento intermitente da geração de energia elétrica, que funcionará em alguns
momentos e em outros não. (Yona Lopes)

Porém, a implantação desse tipo de geração não é trivial, visto que a presença de GD nas
redes de distribuição de energia elétrica requer recursos e procedimentos operativos
adicionais em relação às redes convencionais, bem como padrões de conexão e práticas de
planejamento da expansão [Kagan and Gouvea 2013]. Essa implantação não afeta somente a
área de energia elétrica mas também as áreas de telecomunicações, computação, automação,
dentre outras. Sistemas de telecomunicações precisarão dar o suporte para sistemas de
gerenciamento e controle, para tratamento de dados, para proteção dos sistemas, etc. Além

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disso, são essenciais para sistemas de estabilização das demandas e tarifação que possibilitam
a garantia de resposta à demanda adequada e o livre mercado para compra e venda de energia
em tempo real por consumidores finais. Para tanto, será necessária uma rede de comunicação
altamente segura, confiável e com baixo retardo, de forma que o monitoramento e o controle
da rede elétrica possam ser realizados (Yona Lopes).

Definição da Geração Distribuída

Em IEEE Std 1547 (2003) GD é definida como “localidades geradoras de energia elétrica
conectadas a um sistema de potência local através de um ponto de acoplamento comum”
enquanto em CIGRE et al. (1999), GD é definida como “geração elétrica que não é planejada
para ser centralizada, conectada a rede de distribuição” (Junior, 2017).

Em contraste ao uso de poucas estações de geração de grande porte, usualmente, localizadas


longe dos centros de carga, que necessitam de linhas de transmissão de diferentes níveis de
tensão, como se baseou por um longo tempo o sistema elétrico brasileiro (LUIZ, 2012).
Sistemas de geração distribuída empregam inúmeras plantas, estas podem prover potências
entre uma fração de KiloWatt (kW) a cerca de 100 MegaWatts (MW). Geração de larga
escala produzem energia em capacidades que podem alcançar mais que 1000 MW
(CONSORTIUM ON ENERGY RESTRUCTURING, 2007).

E inclui:

• Co-geração
• Gerador que utiliza resíduos de processo como combustível
• Gerador para uso em horário de ponta
• Gerador de emergência
• Painéis foto-voltáicos
• Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCH’s

Aspectos Gerais da Geração Distribuída

A Geração Distribuída, pode ser definida como aquela em que há uma produção de energia
elétrica em pequena escala, junta ou próxima da carga (Consumidores), podendo esta ser ou
não conectada a rede elétrica de distribuição (MATOS, 2013). Esta se diferencia da Geração

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Centralizada, por convencionalmente ser instalada em locais de pequeno espaço geográfico
(SHAYANI, 2011).

Segundo (CAMARGO, 2013), uma fonte de energia elétrica somente será considerada como
geração distribuída, uma vez que a mesma atender aos seguintes parâmetros:

➢ Possuir conexão direta a rede de distribuição;


➢ Ser conectada junta ou próxima ao consumidor de energia elétrica;
➢ Ser capaz de suprir sistemas de energia elétricos isolados;
➢ Estar conectada a rede de distribuição, sem que seja geração centralizada

Segundo Ackermann et al., (2000), entende-se que a geração distribuída é a instalação e


operação de uma unidade de geração de energia elétrica conectada diretamente à rede de
distribuição ou conectada à rede do consumidor. O autor divide a geração distribuída pela
sua faixa de potência:

Micro GD: Sistemas com potência inferior a 1 MW;

Pequena GD: sistemas com potência entre 1 e 30 MW;

Média GD: sistemas com potência entre 30 e 50 MW;

Grande GD: Sistemas com potência entre 50 e 100 MW.

Figura 1. Sistema de distribuição de energia

Fonte: mundo da energia.

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Aspectos gerais de Sistema de Distribuição

Os sistemas elétricos de potência têm a função essencial de fornecer energia elétrica aos
usuários, com qualidade adequada, no instante em que for solicitada.

Os sistemas elétricos de potência podem ser subdivididos em três grandes blocos:

- Geração: que perfaz a função de converter alguma forma de energia em energia elétrica.

- Transmissão: que é responsável pelo transporte de energia elétrica dos centros de produção
aos de consumo.

- Distribuição: que distribui energia elétrica recebida do sistema de transmissão aos grandes,
médios e pequenos consumidores.

Principais Tecnologias da Geração Distribuídas

O uso da GD envolve tecnologias não-renováveis, como microturbinas e motores de


combustão interna, e renováveis, como energia eólica e solar. Tecnologias de GD também
podem ser classificadas como controláveis e não controláveis, sendo as controláveis
caracterizadas por sua habilidade de controlar o suprimento de combustível aos geradores,
ou seja, a potência de saída pode ser determinada; já as não controláveis, ocorre quando o
operador não consegue determinar a potência de saída, pois esta depende de variáveis, como
a velocidade do vento e a densidade do ar para o caso de energia eólica.

O quadro 1 contém as classificações de tecnologias de emprego comum na GD e o quadro 2


é um resumo da lista de tecnologias classificadas como controláveis e não controláveis
(Vasconcelos, 2016).

Elementos de conexão

Os elementos de conexão interligadas a microrrede á rede de distribuição. Avanços na


electrónica de potência nesta área substituíram as interfaces tradicionais que utilizavam reles
e outros componentes por um único sistemas com um processador de sinais digitais (DSP)
capaz de efetuar funções de chave de potência (como disjuntores, tirístores, IGBT, entre
outros). Reles de proteção, sistemas de comunição e medições das condições da rede em

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ambos os lados, na microrrede e na rede de distribuição, através de transformadores de
corrente (TC) e transformador de potência (TP) (Rocha, 2010).

Figura 2 – Conexão mais comum com a rede.

Fonte – Adaptado de Bollen & Hassan (2011)

Impactos causados pela Geração Distribuida na Proteção dos Sistemas de Distribuição

Os impactos da inserção de GD nas redes das distribuidoras são diversos, podendo ser
positivos ou negativos. Contudo, existe uma troca de benefícios entre a geração
descentralizada e a centralizada, onde cada uma pode dar suporte à outra. Como exemplo, a
geração centralizada ou em grande escala, por suas condições técnicas específicas, pode
cobrir desligamentos emergenciais ou programados dos geradores distribuídos.

Entre os impactos mais relevantes causados pela GD na proteção dos sistemas da


concessionária (Junior, 2017). destacam-se:

Distorções nas formas de onda

Causadas pela comutação dos dispositivos eletrônicos que conectam a geração à rede,
causando ruídos na rede elétrica, além dos efeitos causados aos transformadores, como
aumento das perdas no cobre e ferro e necessidade maior de isolamento devido às
sobretensões.

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Figura 3 – Formas de onda típicas, indicando o fenômeno da comutação.

Fonte – Seixas et al. (2002)

Ilhamento

Onde a GD continua a alimentar a falta mesmo quando há o seccionamento da área afetada


pela falta, ou até mesmo, quando há o desejo de fazer manutenção na rede, podendo causar
danos aos consumidores e ao pessoal técnico encarregado da linha.

Mudança na corrente de curto

Onde a GD contribui para a falta, o que pode causar uma inadequação na habilidade de
secionamento dos dispositivos de proteção por terem os níveis de corrente alterados,
alterando em conjunto e as zonas de proteção.

Redução do alcance dos relés de distância

Fazendo com que o sistema permaneça em falta por causa da ação retardada do esquema de
proteção de distância.

Mudança no sentido da corrente

E com isso, causando cegueira na proteção, disparos solidários e mudança no fluxo de carga
do sistema,

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Figura 4- Exemplo de aumento do nível de curto-circuito em função da contribuição

da GD.

Circuito equivalente

Figura 5 – circuito equivalente de SE com conexão de GD

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Segurança

O impacto sobre a segurança depende do tipo de sistema da GD, seu tamanho, bem como o
tipo e quantidade de GD vizinhas conectadas à rede. GDs conectadas a partir de inversores
tem a capacidade de níveis de corrente em falta de cerca de 1,2 pu e necessitam que o THD
e a injeção de tensão contínua, sejam controladas. Já as que utilizam máquinas de indução
tem, em média, uma corrente de falta de 6 pu, além disso, deve haver a preocupação com o
fator de potência das máquinas, o qual, deve ser corrigido. As que utilizam máquinas
síncronas, tem correntes de falta de até 10 pu, porém, apresentam baixo THD e fator de
potência controlável. Com isso, percebe-se que as considerações de segurança e atuação,
variam de acordo com a GD estudada (HAYNES, R.; WHITAKER, 2007).

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Conclusão

A geração distribuida é um conceito que vem ganhando importância ao longo dos ultimos
anos e os impactos que decorrem dela sempre foram preocupantes para as concessionarias de
distribuição e impacto sobre a segurança depende do tipo de sistema da GD, seu tamanho,
bem como o tipo e quantidade de GD vizinhas conectadas à rede.

As redes de distribuição geralmente são planejadas de uma forma diferente das linhas de
transmissão, esses sistemas não foram planejados para conexão de geradores elétricos, isto
é, a conexão de um gerador leva a uma mudança na corrente de falta, assim, um
replanejamento das proteções contra faltas nos sistemas podem ser necessárias, tal como
serão investigadas.

Percebeu-se que a geração distribuída causa diversos impactos, entre eles estão mundanças
no nível de tensão e corrente de falta, alterações na qualidade da energia, inserção de
harmônicos, mudança no fluxo de carga, redução do alcance dos relé de distância, entre
outros. Após as análises, percebeu-se que há a necessidade de se refazer os esquemas de
proteção quando houver a adição de geração distribuída à rede, a fim de manter a
confiabilidade dos sistemas de proteção.

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Referências
ACKERMANN, T., ANDERSSON, G., SODER, L. Distributed generation: a definition. Department of
Electric Power Engineering, Royal Institute of Technology, Electric Power Systems, Stockholm,
Sweden, 2000.

Barata, H. A. (2017). Impacto de Redes de Distribuição com Massiva Conexão de Geradores


Fotovoltaicos na Estabilidade de Tensão de Longo-Prazo em Sistemas de Potência. Belém.

CONSORTIUM ON ENERGY RESTRUCTURING. Introduction to distributed generation. 2007.

<http://www.dg.history.vt.edu/ch1/introduction.html>. Consortium on Energy Restructuring,

Virginia Tech Acessado 18/02/2017. Citado 2 vezes nas páginas 13 e 16.

COSTA, F.; MONTI, A.; PAIVA, S. Overcurrent protection in distribution systems with

distributed generation based on the real-time boundary wavelet transform. IEEE Transactions

on Power Delivery, IEEE, 2015.

DIAZ, M. V. X. Geração Distribuída no Brasil: Oportunidades e Barreiras. Universidade Federal de


Itajubá, Brasil, 2005.

FANTI, F. (2007). concepcao, metodos construtivos e dimensionamento de terminais para


conteineres . Sao Paulo .

HAYNES, R.; WHITAKER. (2007). A guide to distributed generation interconnection issues. 5 ed.

INEE. INSTITUTO NACIONAL DE EFIÊNCIA ENERGÉTICA. Geração Distribuída. Disponível em:


http://www.inee.org.br/forum_sobre_gd_cg.asp?Cat=gd. Acesso 27 maio 2016.

Junior, E. C. (2017). Geração Distribuída: Uma Revisão Bibliográfica. Juazeiro.

Rocha, B. d. (2010). Estudo electricos para avalicao do impacto da geracao distribuida na rede de
distribuicao e na formacao de microrredes. Rio de Janeiro.

Vasconcelos, L. E. (2016). Análise do Impacto da Geração Distribuída na Estabilidade Transitória.


Brasília.

Yona Lopes, N. C.-S. (n.d.). Geracao Distribuida de Energia: desfios perspectiva em Redes de
comunicacao. RJ - Brasil.

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