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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2021.0000620454
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1005350-66.2021.8.26.0405 e código 16611395.
ACÓRDÃO
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE TARCISO BERALDO, liberado nos autos em 04/08/2021 às 09:03 .
O julgamento teve a participação dos Desembargadores PEDRO KODAMA
(Presidente) E ANA CATARINA STRAUCH.
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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COMARCA: Osasco - 6ª VC
APTES. : BANCO BRADESCO S.A. e ADVOCACIA BELINATTI PEREZ
APDO. : BENEVALDO NICÁCIO CHAVES
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE TARCISO BERALDO, liberado nos autos em 04/08/2021 às 09:03 .
quinze vezes por dia, de segunda-feira a sábado
Afirmações do prejudicado tidas por verdadeiras, ante
inexistência de impugnação útil e demonstração em
contrário pelos réus Inteligência do disposto no art, 187
do Código Civil e no inciso VIII do art. 6º e no art. 42 do
CDC Arbitramento da indenização em oito mil reais e
imposição de obrigação de não fazer Cabimento
Diminuição incabível, tanto da indenização como da multa
diária, dadas as peculiaridades do caso, tanto mais em face
da limitação para a última a trinta dias Apelações
improvidas.
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indenização e que “que além da correção monetária, também os juros de
mora incidem a partir da data da fixação do valor do dano (Conforme
Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça)”;
b) BANCO BRADESCO S.A., que não tem
responsabilidade porque “não teve condições de avaliar a regularidade
ou falha do processamento/repasse”, em não tendo o apelado “juntado
comprovante válido que certifique o pagamento alegado” sendo,
portanto, “regular o seu procedimento” uma vez que “o número
telefônico está vinculado” ao cadastro do devedor, motivo pelo qual não
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tem obrigação de indenizar, tanto mais porque obedece normas éticas
ditadas pela FEBRABAN quanto à cobrança e seus horários, bem assim
aos envios de mensagens de texto, sem configuração de “erro na
prestação de serviço” e de ato ilícito que justifique a condenação, tanto
mais no valor arbitrado e sem prova do dano, o mesmo ocorrendo com a
cominação da multa diária.
Postula o apelado, em sua resposta, o improvimento.
Determinou-se ao segundo apelante a
complementação do preparo, efetivada.
Não houve oposição a julgamento virtual.
Recursos, no mais, adequadamente processados.
É o relatório.
Os inconformismos não vingam, anotando-se, de
pronto, que o do banco inclui afirmações que nada têm a ver com a
natureza da fundamentação da pretensão inicial, uma vez que ao apelado
não cabia fazer prova de pagamento de dívida de que não era devedor e,
mais ainda, que não pode ser apenado por deficiência de registros que,
equivocadamente, incluem número telefônico dele (“vinculação a
cadastro”).
Registre-se, de pronto, que, como bem anotou o culto
Magistrado, é incontroverso que foram realizadas inúmeras mais de
quinze por dia, ao longo de ano e meio e em quase todos os dias da
semana, ao que nenhum dos apelantes apresentou impugnação
consistente; o escritório cobrador (agindo, nessa atividade, como
verdadeiro preposto do banco credor), aliás, até admitiu o ocorrido, de
certa forma, uma vez ter dado notícia da retirada (atitude elogiável,
embora) dos números telefônicas de sua listagem.
Apelação Cível nº 1005350-66.2021.8.26.0405 -Voto nº 46981 3
fls. 257
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poderiam ter feito juntando cópias das contas referentes aos aparelhos
telefônicos de que se utilizam em suas atividades, sendo sim caso típico
de inversão do ônus da prova.
Perfeita, portanto, a percuciente constatação feita
pelo MM. Juiz (fls. 178), segundo a qual “analisando os autos, observo
que o autor alega que está recebendo ligações em seu telefone celular
e fixo, referente a cobranças em nome de terceiro. O réu não
impugnou as cobranças realizadas em nome de terceiro para o
telefone do autor, tornando-se fato incontroverso. Também não
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demonstrou que os números informados pelo autor na petição inicial
não lhes pertenciam, ônus que lhes cabiam por serem prestadores de
serviços (artigo 6º, inciso VIII do CDC). Ademais, a corré Advocacia
Bellinati Perez admite que retirou o número do telefone do autor de
seu sistema, o que demonstra que realizava as ligações para o autor.
Como se não bastasse, as ligações de cobranças em nome de terceiro
perduraram por mais de ano, fato que os réus não impugnaram em
suas defesas. Logo, comprovados estão os fatos trazidos na inicial,
motivo pelo qual houve má prestação dos serviços pelos réus, e por
isso deverão indenizar os danos experimentados pelo autor, nos
termos do artigo 14 do CDC”.
Além disso, e conforme igualmente se vê na petição
inicial, o apelado deu sempre notícia dos enganos, do que nada resultou,
uma vez que a cobrança prosseguiu por seguidos dias.
Ora, se, por um lado, é verdade que a conduta tratada
nos autos não pode ser considerada “vexatória”, por outro, não é menos
certo que sua reiteração, após informação do erro e por tantas vezes em
dezoito meses, cinco dias por semana, pelo menos, cristaliza aquele
abuso de direito a que se refere o art. 187 do Cód. Civil (“Também
comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”) aplicando-se, mais ainda,
e no que pertinente, o disposto no inciso VIII do art. 6º e no art. 42 do
CDC.
No que toca à existência do dano moral, a verdade é
que o fato de suportar aquelas inúmeras ligações e mensagens consiste
em sofrimento que certamente ultrapassa os contornos dos simples
aborrecimentos corriqueiros do dia-a-dia.
É agravo, de resto, cuja existência se constata por si
Apelação Cível nº 1005350-66.2021.8.26.0405 -Voto nº 46981 4
fls. 258
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diretamente da violação do direito da vítima quando essa excede “a
naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou
angústias no espírito de quem ela se dirige” (REsp 599.538/MA, Rel.
Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em
04.03.2004, DJ 06.09.2004 p. 268).
Nesse sentido, destaca-se, ainda, que “A concepção
atual da doutrina orienta-se no sentido de que a responsabilização
do agente causador do dano moral opera-se por força do simples
fato da violação (“danum in re ipsa”). Verificado o evento danoso
surge a necessidade da reparação, não havendo que se cogitar da
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prova do prejuízo, se presentes os pressupostos legais para que haja
responsabilidade civil (nexo de causalidade e culpa)” (REsp
23575/DF, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA
TURMA, julgado em 09.06.1997, DJ 01.09.1997 p. 40838).
Diante disso, o pedido de indenização por danos
morais foi bem acolhido, uma vez presente a obrigação de indenizar,
assim como a determinação de cessação das cobranças indevidas, sob
pena de multa, em valor compatível com a natureza da discussão, tanto
mais que limitada a trinta dias.
No que se refere ao “quantum”, da compensação
pelos danos morais, assinala-se que deve se ter presente a moderação
recomendada na doutrina e na jurisprudência, tanto para que se evite
enriquecimento indevido de uma parte em detrimento de outra como,
ainda, para que se observem os limites geralmente aceitos em casos
análogos, de modo a que se chegue a um valor que, compensando a dor
moral sofrida, contenha componente de punição e desestímulo, sem
excesso nem aviltamento.
Mais ainda, “deve o juiz: 1) punir pecuniariamente
o infrator, pelo fato de haver ofendido um bem jurídico da vítima,
posto que imaterial; 2) por nas mãos do ofendido uma soma, que
não é o pretium doloris, porém o meio de oferecer oportunidade de
conseguir uma satisfação...ou seja um bem estar psíquico
compensatório do mal sofrido, numa espécie de substituição da
tristeza pela alegria...” (CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA,
“Direito Civil”, Vol. II, nº 176).
Feitas essas considerações, tem-se que a quantia
arbitrada mostra-se adequada, necessária e suficiente como lenitivo para
a dor sofrida, sem excesso nem aviltamento, dado o dissabor decorrente
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Anota-se, por fim, que o termo inicial dos juros da
mora, tomado como sendo o da citação, é até mais benéfico para os
apelantes, na medida em que poderia ter sido o do evento danoso em se
tratando de relação extracontratual (Súmula nº 54 do C. Superior
Tribunal de Justiça); nada se altera, nesse ponto, por falta de recurso do
apelado.
Feitas essas considerações, mantem-se a r. sentença
tanto pelos seus próprios fundamentos (art. 252 do Regimento Interno
deste C. Tribunal de Justiça: “nos recursos em geral, o relator poderá
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limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando,
suficientemente motivada, houver de mantê-la”) como, ainda, pelos
aqui adicionados; não se majoram os honorários advocatícios (§11 do
art. 85 do Cód. de Proc. Civil) posto tenha o Relator signatário
pensamento diferente, anteriormente porque lá já arbitrados no
percentual legal máximo.
Nega-se provimento às apelações.