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O direito do trabalho divide-se nos seguintes ramos: individual, coletivo e

tutelar. No direito individual, tem-se como ponto de sustentação a relação de


emprego, tratando diretamente do contrato de trabalho em si e tendo como sujeitos
principais o empregado e o empregador. Já no direito coletivo, é possível perceber
um foco maior nas relações entre as categorias profissionais e econômicas,
considerando que este disciplina as organizações sindicais, sua estrutura, suas
relações, entre outros, sempre apostando em uma negociação coletiva entre
pessoas (ADORNO JÚNIOR; NASCIMENTO, 2009).
Por fim, temos o sub ramo do direito tutelar do trabalho, onde
compreendem-se as regras relativas às proteções mínimas asseguradas ao
trabalhador e ao contrato de trabalho propriamente dito. É importante, então, notar
que “tutelar” significa proteção, desejo de salvaguardar, ou seja, esse ramo busca
resguardar um patamar mínimo para que o trabalhador hipossuficiente não tenha
sua mão de obra explorada (HASSE, 2015). Em vista disso, a função principal
dessa área é a delimitação de um quadrante dentro do qual os espaços de livre
negociação podem atuar.
Assim, a título de exemplo, algumas dessas proteções são: a limitação da
duração do trabalho (sendo o máximo 8 horas diárias e 44 horas semanais), a
aplicação das normas de segurança do trabalho, a fixação de intervalos obrigatórios
na jornada, as férias remuneradas, a garantia de um salário mínimo, entre outros
que, juntos, buscam garantir a saúde e o bem estar do trabalhador. Nesse sentido,
ainda é importante lembrar que, segundo a Organização Mundial da Saúde, o termo
“saúde” não se trata de apenas uma coisa, e na verdade precisa reunir três
requisitos: estado de bem estar físico, mental e social (sendo, nessa tríplice, todos
igualmente importantes).
Logo, todo o incentivo dado à proteção desses direitos são devidos à sua
importância perante a sociedade, já que, desde muito tempo, inúmeros
trabalhadores tiveram e têm sua atividade explorada sem uma remuneração ou
condições de trabalho justas devido à sua hipossuficiência em relação ao
empregador. Então, é importante sempre lembrar que o trabalho é realizado por
seres humanos, não máquinas, devendo, assim, ser combinada uma duração de
jornada razoável, que possa ser conciliada com toda a vida do trabalhador
(CARVALHO, 2017).
Assim, percebe-se que, para que ocorra essa proteção ao trabalhador em
suas relações particulares, há uma intervenção do Estado garantindo esse mínimo e
o protegendo de cláusulas abusivas dentro do contrato (CASSAR, 2018). Dessa
forma, fica claro que, no direito brasileiro, as proteções nascem do Estado, fazendo
com que tenhamos, no país, uma concepção heterocomposta com relação a este
nascimento.
A concepção heterocomposta assim é chamada pois nela, a tutela dada ao
trabalhador é feita a partir da intervenção estatal e não dos participantes da relação
jurídica, ou seja, cabe ao Estado em si promover a defesa dos direitos trabalhistas.
Então, buscando tutelar essas relações, que são expressamente marcadas por
subordinação e dependência (WYZYKOWSKI, 2019), temos o sistema legislado,
utilizado tradicionalmente no Brasil.
Nele, há um predomínio do dirigismo do Estado, onde este cria normas a
serem seguidas, como por exemplo, a Constituição Federal (CF) e a Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), que juntas, fornecem os patamares mínimos de
condições para um trabalho digno. Nesse sentido, é evidente que isso traz ao país
uma forte presença do estado, o que automaticamente reduz a autonomia da
vontade das partes. Assim, de acordo com o jurista e político brasileiro Arnaldo
Sussekind:

“O princípio da proteção do trabalhador resulta das normas imperativas, e,


portanto, de ordem pública, que caracterizam a intervenção básica do
Estado nas relações de trabalho, visando a opor obstáculos à autonomia da
vontade. Essas regras cogentes formam a base do contrato de trabalho”.
(SUSSEKIND, 2000)

Em vista disso, temos que, apesar de tal processo de proteção decorrer de


um longo caminho histórico que ainda está se modificando, o Brasil já demonstrou
uma maior preocupação legislativa na tutela dos interesses de pessoas
hipossuficientes (WYZYKOWSKI, 2019). Contudo, após modificações implantadas
pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17), muitas normas foram flexibilizadas, o que
acarretou quase um desmonte de vários artigos da CLT, já que, nela, poucos
interesses dos trabalhadores foram apontados e muitos direitos foram desfeitos,
mudando de forma substancial o funcionamento do mercado de trabalho brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; NASCIMENTO, Christiane Mangilli Ayello. O Direito


Tutelar do Trabalho e a Saúde Mental do Trabalhador. Revista Universitas – Ano
2, Nº 2, São Paulo, p. 49-65, 19 abr. 2009. Disponível em:
http://www.revistauniversitas.inf.br/index.php/UNIVERSITAS/article/view/94/76.
Acesso em: 24 abr. 2021.

HASSE, Ricardo Beier. Direito tutelar do trabalho: Noções de Direito do trabalho e


do meio ambiente do trabalho. Jusbrasil, São Paulo, 2015. Disponível em:
https://rhasse.jusbrasil.com.br/artigos/224584612/direito-tutelar-do-trabalho. Acesso
em: 27 abr. 2021.

CASSAR, Vólia Bomfim. DIREITO DO TRABALHO: DE ACORDO COM A


REFORMA TRABALHISTA E A MP 808/2017. 15ª. ed. rev. atual. e aum. Rio de
Janeiro: Método, 2018. 23 p. Disponível em:
http://sumarios.grupogen.com.br/jur/MET/9788530978853_Amostra.pdf. Acesso em:
26 abr. 2021.

WYZYKOWSKI, Adriana Brasil Vieira. Autonomia privada e vulnerabilidade do


empregado: critérios e limites para o exercício da liberdade negocial individual no
direito do trabalho. Orientador: Prof. Dr. Edilton Meireles de Oliveira Santos. 2019.
297 p. Tese (Doutor em direito) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019.
Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/30090. Acesso em: 24 abr. 2021.

SUSSEKIND, Arnaldo. Os Princípios do Direito do Trabalho e a Constituição de


1988, Revista da Academia Nacional de Direito do Trabalho, ano 8, n. 8, 2000.

CARVALHO, Sandro Sacchet de. Uma visão geral sobre a reforma trabalhista.
Política em foco: Mercado de trabalho: conjuntura e análise, Rio de Janeiro, n. 63,
p. 81-94, out. 2017. Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8130/1/bmt_63_vis%C3%A3o.pdf.
Acesso em: 25 abr. 2021.

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