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10.37885/201001933
RESUMO
Este relato tem por objetivo descrever a experiência da implementação de uma sequên-
cia didática aplicada em 120 minutos através de etapas complementares (estratégias de
ensino) sobre funções inorgânicas com enfoque em ácidos e bases à alunos da 1ª série
do ensino médio de duas escolas estaduais localizadas no município de Santarém, Pará,
Brasil. Objetivamos promover a Aprendizagem Significativa, buscando proporcionar ao
aluno maior interação, tornando-o um agente protagonista do aprendizado e não ape-
nas um mero expectador. A execução desse projeto nos permitiu compreender como se
dá o uso de novas estratégias e como podem facilitar a aquisição dos conhecimentos
necessários para uma Aprendizagem Significativa. Para a coleta dos dados utilizamos
um questionário, do tipo misto que foi empregado no fim da sequência didática, além
de observação direta. Os resultados foram satisfatórios, pois percebeu-se que todas as
atividades desenvolvidas deram suporte ao foco principal, a verificação da aprendizagem
através do Quimionário das Funções Inorgânicas, um jogo, de perguntas e respostas
entre equipes. Os alunos se manifestaram favoráveis à utilização de novas estratégias
nas aulas de Química, tornando-as mais dinâmicas e prazerosas e, de igual modo, sen-
tiram-se protagonistas do processo ensino-aprendizagem.
Em 1649, João Amós Comenius, trouxe a lume, sua obra prima, Didática Magna:
Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. E, logo nas primeiras páginas, na seção em
que apresenta uma “Saudação aos leitores”, destacou: ‘Nós ousamos prometer uma Didática
Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza,
que seja impossível não conseguir bons resultados.” (COMENIUS, 1997, p. 13. Grifo nosso).
Desse relato de Comenius é apropriado enfatizar sua ousadia e, acima de tudo, sua
busca por “um método universal”. Ao contrário do que buscou o pai da Didática, um método,
no singular, hoje, no processo educacional, busca-se conhecer e fazer uso de uma multi-
plicade de Metodologias, Estratégias e Ferramentas, a fim de oportunizar ao maior número
possível de educandos a maneira mais apropriada para o desenvolvimento da aprendizagem,
pois, Michael (2006) concluiu que o uso de uma pluralidade metodológica torna o processo
educativo mais eficiente.
Nossa aproximação com Comenius, no aspecto da ousadia, não consiste na busca por
um único método eficiente, muito pelo contrário, trilhamos a via diametralmente oposta, a
da multiplicidade, da pluralidade de metodologias para o desenvolvimento de uma sequên-
cia didática. Assim, a ausodia deste, trabalho centrou-se na combinação dessas diversas
estratégias e ferramentas de ensino, de tal modo que chegasse ao discentes um produto
único e, não uma colcha de retalhos.
Falando em Química, atualmente, verifica-se que a disciplina é entendida pelos alunos
como um dos itens curriculares de difícil aprendizagem. Estudos revelam que a Química é
vista por eles como uma espécie de “vilã”, o que se explica por ser complexa, pois envolve
conhecimentos de todas as disciplinas do eixo das Ciências da Natureza, causando nos
alunos o questionamento sobre o motivo pelo qual ela lhes é ensinada. Segundo Valadares
(2001), um dos principais desafios no Ensino de Ciências é a integração do conhecimento
abordado em sala de aula com o cotidiano dos alunos, uma vez que o conteúdo químico tem
sido transmitido de forma dissociada da realidade, com objetivos e estratégias de ensino,
muitas vezes, distantes das necessidades requisitada para a formação da cidadania.
De acordo com as conclusões de Campos e Silva (1999), alguns livros didáticos trazem
problemáticas quanto à forma de abordagem dos conceitos da área de química e estes, do
modo como aparecem, muitas vezes, são entendidos pelos alunos como confusos e inúteis.
Autores como Zanon e Freitas (2007), Cardoso e Colinvaux (2000), Wartha et al (2013),
da Cunha (2012), Santos e Schnetzler (2003) entre outros afirmam que muitos discentes
demonstram dificuldades em aprender química nos diversos níveis do Ensino Médio, e
este obstáculo ocorre por diversos fatores, sobretudo no que diz respeito à capacidade de
A aula expositiva e dialogada, segundo autores como Gil (1997), Anastasiou (1998) e
Lopes (2012), pode ser entendida como aquela em que há a exposição por parte do docente
dos conteúdos a serem aprendidos, com participação ativa dos discentes. Nesta modali-
dade didática, os conhecimentos prévios dos estudantes devem ser considerados pontos
de partidas para aquilo que será ensinado, ou seja, funcionam como subsunções, suportes
para a assimilação de novos conceitos (AUSUBEL, 1968). O papel do professor, deve ser
o de despertar a curiosidade nos discentes, incitar discussões, contextualizar o objeto de
aprendizagem e estabelecer relações entre este e o cotidiano dos alunos.
Para Pacca e Scarinci (2010, p. 711), “a aula expositiva vem localizada no corpo geral de
um planejamento e é capaz de estabelecer uma situação perfeitamente adequada dentro de
um processo de construção do conhecimento”. Para que esse processo ocorra, no entanto, é
importante que o docente compreenda a seriedade do planejamento das aulas, consideran-
do sempre os conhecimentos prévios dos discentes. Caso contrário, o aluno pode assumir
uma posição passiva de apenas ouvinte, o que pode levar a dificuldade de desenvolver um
espírito crítico, participativo e transformador (LEAL; CORNACHIONE JUNIOR, 2006).
Em síntese, a aula expositiva e dialogada é uma das modalidades didáticas mais uti-
lizadas nas instituições de ensino devido a uma série de fatores, como a flexibilidade e o
Experimentação
Jogo Didático
Quando falamos sobre jogo, por ser uma palavra que remete a uma infinidade de
aplicações, cada pessoa pode entender à sua maneira, porém, quando aplicado à didática,
o jogo tem um foco na ludicidade e no ensino. O jogo didático tem sua fabricação objeti-
vando proporcionar aprendizagens pré-determinadas, diferenciando-se de outros materiais
SEQUÊNCIA METODOLÓGICA
Este trabalho foi planejado durante a disciplina “Tópicos Especiais para o Ensino de
Química” do Curso de Especialização em Ensino de Ciências e Matemática do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – Campus Santarém, no período de 06
a 30 de setembro de 2019. Primeiramente foi solicitado a turma de especialização que se
dividisse em equipes. Após o agrupamento dos alunos, estes foram desafiados a elaborarem
uma sequência didática que fizesse uso de diferentes estratégias de ensino, com o objetivo
final de aplicar a sequência elaborada em escolas de nível médio e levantar o feedback dos
alunos da educação básica após o desenvolvimento do trabalho.
Assim, visando a Aprendizagem Significativa dos estudantes no que tange ao ensino de
funções inorgânicas, optou-se pelo desenvolvimento de atividades com base nas estratégias
didáticas supracitadas: Tempestade Cerebral, Aula Expositiva e Dialogada, Experimentação
demonstrativa e Jogo Didático, nessa ordem.
Para a execução da aula, foram selecionadas duas turmas de 1ª série do Ensino
Médio de duas escolas distintas, porém, ambas pertencentes a rede estadual de ensino,
no município de Santarém-PA. Na escola A, participaram 31 alunos com faixa etária entre
14 a 17 anos, e na escola B, 35 alunos de mesma faixa etária. A atividade se deu através
de 5 etapas com duração total de 120 minutos. Estas etapas foram pensadas de maneira
Como defendido por Pacca e Scarinci (2010) a aula expositiva e dialogada tem a ca-
pacidade de estabelecer uma situação perfeitamente adequada dentro de um processo de
construção do conhecimento. Tomando como ponto de partida as ideias apresentadas na
etapa anterior, foram apresentadas perguntas estimuladoras para que os próprios educandos
levantem questionamentos sobre o tema. Em cima destes, foi apresentado notícias de jornais
que apresentavam relação com o conteúdo a ser estudado. Em continuidade, abordou-se
Ajudas Descrição
São quatro cartas de baralho (Ás, 2, 3, Rainha). Cada equipe poderá solicitar a ajuda das cartas uma vez por partida. As cartas são
viradas e embaralhadas. Ao solicitar as cartas a equipe escolherá uma ente elas. Caso escolha o ás poderá eliminar uma alternativa
Cartas
incorreta dentre as quatro; se for o 2 eliminara duas alternativas incorretas; se for o 3 eliminara três alternativas incorretas e se for
a carta contendo a Rainha não será eliminada nenhuma alternativa incorreta.
São quatro placas (1,2,3,4). Cada equipe poderá solicitar a ajuda das placas uma vez por partida. Cada placa representa uma alter-
nativa. Quando solicitado pela equipe participante do Quimionário, cada membro da equipe responsável pelas placas levantará uma
Placas
placa com o número da alternativa que ele reconhece que esteja correta. A equipe participante se guiara pelo número que mais se
repetir nas placas, podendo concordar ou discordar da alternativa escolhida.
São convidados que quando solicitados pela equipe participante do Quimionário, ajudarão com dicas sobre a pergunta em questão
Universitários
na rodada do jogo). Cada equipe poderá solicitar a ajuda dos universitários uma vez por partida.
Quando solicitada essa ajuda, a equipe poderá passar a pergunta para a próxima equipe, assim, dando continuidade ao jogo. Tam-
Passar
bém, cada equipe só poderá utilizadá-la uma vez por partida.
Fonte: dados obtidos na pesquisa pelos Autores,2019.
Visando verificar a percepção dos alunos frente a dinâmica desenvolvida, optou-se pela
aplicação de um questionário misto, isto é, com perguntas abertas e fechadas. Segundo Gil
(2008, p. 21) o questionário, enquanto “técnica de investigação composta por um conjunto
de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre
conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temo-
res, comportamento presente ou passado etc.” apresenta uma série de vantagens, como:
amplo alcance, podendo ser respondido por um elavado número de pessoas; baixo custo;
possibilidade de manter o anonimato dos respondentes; entre outros.
Juntamente com o questionário, os alunos assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), autorizando o uso das informações prestadas. Os dados, após a
coleta, foram tabulados em um programa de computador editor de planilhas, permitindo a
organização de tabelas e geração dos gráficos que aqui estão expostos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Escola A Escola B
Perguntas
Sim Não Sim Não
1- Você gosta de Química? 80,64% 19,36% 100% 00%
2- Você já havia participado de uma aula como a de hoje? 19,36% 80,64% 17,14% 82,86%
3- Na sua opinião, aulas como a de hoje são relevantes para a aprendizagem? 100% 00% 100% 00%
4- Você já havia tido contato com o assunto funções inorgânicas: ácidos e bases? 77,42% 22,58% 57,14% 42,86%
5- O jogo Quimionário proporcionou uma maior proximidade do conteúdo abor-
93,55% 6,45% 100% 00%
dado com o seu cotidiano?
6- A partir da aula de hoje você já se sente capaz de identificar ácidos e bases? 77,42% 22,58% 94,29% 5,71%
7- O Jogo Quimionário desenvolvido na aula de hoje tornou a aula mais motiva-
100%/ 00% 100% 00%
dora e dinâmica?
8- O jogo Quimionário contribuiu para um melhor entendimento do conteúdo? 80,64% 19,36% 100% 00%
9- Você deseja que atividades como essas sejam aplicadas em outras disciplinas? 100% 00% 100% 00%
Fonte: Dados obtidos na pesquisa pelos Autores, 2019.
Apesar da maioria dos alunos já ter tido contato com o conteúdo em questão em
anos anteriores do processo de escolaridade, foi identificado algumas percepções incorre-
tas. Apesar das inconsistências conceituais verificadas, foram seguidas as instruções de
Anastasiou e Alves (2003) que afirmam que durante a atividade de Brainstorming não se
deve interferir nas ideias expressas pelos indivíduos, independente de estarem corretas
ou não, pois tudo deve ser considerado para a construção do conhecimento. O objetivo é
que, com o decorrer das próximas estratégias, os discentes possam identificar seus erros
e assimilar novos conceitos trazendo assim uma nova compreensão sobre o assunto a ser
aprendido, no caso, ácidos e bases.
No centro do quadro magnético, foram escritas algumas respostas dadas pelos alunos
sobre ácidos e bases (Figura 2A), e, rapidamente, surgiram as palavras e/ou expressões,
para ácidos: produtos de limpeza, refrigerante, dissolve, azedo, ácido digestivo, casca de
laranja, corrosivo, ácido sulfúrico, frutas azedas e água quente. E para bases: banana, açú-
car, esmalte, algodão doce, amaciante, potassa, hidróxido de sódio, hidróxido de alumínio e
Na Etapa 3 foi executada a atividade experimental para que houvesse uma relação entre
a teoria e a prática, a fim de dar-se ênfase às etapas da atividade química de laboratório.
Guimarães (2009, p. 198) afirma que “no ensino de ciências, a experimentação pode ser
uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização
e o estímulo de questionamentos de investigação”. Ou seja, o experimento, neste trabalho,
caracterizou-se como uma resposta as dúvidas e aos questionamentos feitos pelos discen-
tes nas etapas anteriores, os quais sejam, o baú de ideias e a aula expositiva e dialogada.
O indicador natural extraído a partir da flor da Ipomoea purpurea (Figura 3) foi escolhido
por ser uma planta que pode ser encontrada nas escolas nas quais as ações ocorreram,
ou seja, o próprio indicador utilizado é familiar aos discentes, o que pode ampliar o grau de
interesse desses pela prática executada. E, também, porque o procedimento de extração
do indicador a partir do material in natura é extremamente rápido e simples.
Tão logo iniciou-se a testagem dos materiais supracitados os discentes puderam obser-
var a mudança de cor das substâncias estudadas através da reação do material submetido ao
teste com o indicador produzido, revelando a variação de tonalidade (Figura 4), em seguida
comparando com a escala de pH citada na etapa 2, trazendo assim alguns questionamentos
a respeito dos fenômenos ocorridos com tais produtos (Figura 5).
Na Etapa 4 foi realizada a aplicação do Jogo Quiminionário. Entende-se que este mo-
mento constituiu o ápice da proposta, uma vez que o recurso utilizado atuou não somente
como um instrumento de aprendizagem mas também de avaliação. Assim, a discussão acerca
Maldaner (2003) assegura que existe uma necessidade de mudança em como os con-
teúdos de química vem sendo abordados. Neste sentido é possível inferir que o fato desses
alunos não se sentirem atraídos pela disciplina química pode se dar pelo fato de, na maioria
das aulas, não haver atrativos. Essa afirmação pode ser comprovada pelas respostas da-
das às questões 2 e 3 da Tabela 1, nas quais a maioria dos alunos afirmam nunca terem
participado de aulas com algumas estratégias diferenciadas das utilizadas normalmente em
sala, e que estas estratégias diferenciadas são facilitadoras no processo de aprendizagem.
Em relação ao jogo Quimionário, quando interrogados sobre a aproximação que este
suscitou com o conteúdo de química vivenciado no seu dia a dia (pergunta 5), todos da
escola B responderam que a atividade proporcionou essa aproximação. Já na escola A não
houve unanimidade, contudo, apenas uma minoria, 6,45% responderam que não. Com base
nesse resultado concordamos com Kishimoto (2003, p. 13):
O jogo como promotor de aprendizagem e do desenvolvimento passa a ser considerado
nas práticas escolares como aliado importante para o ensino, já que coloca o aluno diante
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jogos didáticos, bem como as demais atividades realizadas neste relato de expe-
riência, revelaram-se uma excelente ferramenta na promoção do ensino e da aprendizagem
do conteúdo de funções inorgânicas com foco nas funções ácidos e bases. Assim, propostas
como as apresentadas neste trabalho podem ser utilizadas por educadores durante as suas
aulas. Faz-se necessária a superação, por parte dos docentes, de ancorarem seus planeja-
mentos apenas em uma única modalidade didática – em sua maioria, aula expositiva – fa-
zendo uso de um pluralismo metodológico. Cabe ressaltar que essa pluralidade apresenta
inúmeros resultados positivos, dado que toda e qualquer modalidade de ensino terá suas
limitações, e a ampliação das estratégias permitirá alcançar um maior número de estudantes.
A metodologia Tempestade Cerebral – Braindstormig tem a seu favor a valorização do
conhecimento prévio que cada aluno possui sobre os assuntos, podendo estes serem mais
formais e técnicos ou ainda apresentarem relações com o cotidiano dos aprendizes e serem
mais basedos no conhecimento do senso comum. Neste sentido, o uso desta estratégia
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