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Direito Penal p/ AJAA do TRE Prof.

Pietro Chidichimo
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Direito Penal p/ AJAA do TRE

Prof. Pietro Chidichimo


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Sumário
SUMÁRIO 2

APRESENTAÇÃO DO CURSO 3

DIREITO PENAL 4

PRINCÍPIOS BÁSICOS 4
APLICAÇÃO DA LEI PENAL. A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO. TEMPO E LUGAR DO CRIME. LEI PENAL
EXCEPCIONAL, ESPECIAL E TEMPORÁRIA. 7
TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL 13
Territorialidade. 13
CONCLUSÕES IMPORTANTES: 16
CONTAGEM DO PRAZO 19
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL. 19
ANALOGIA 20
CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS 22
PRINCÍPIOS QUE SE APLICAM PARA SOLUCIONAR O CONFLITO APARENTE DE NORMAS: 22
O FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS 25
Conduta = ação ou omissão + vontade 26
DO ERRO. 37
ILICITUDE E CAUSAS DE EXCLUSÃO. 39
CONCURSO DE PESSOAS 55

SÚMULAS ACERCA DO TEMA 61

QUESTÕES COMENTADAS PELO PROFESSOR 62

LISTA DE QUESTÕES COMENTADAS 107

GABARITO 120

RESUMO DIRECIONADO 121

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APRESENTAÇÃO DO CURSO

Olá, tudo bem? Aqui é o professor Pietro Chidichimo Junior. Para aqueles que não me conhecem, sou
professor de cursos preparatórios para concursos há mais de 18 anos, sempre atuando nas disciplinas de Direito
Penal, Direito Processual Penal, Legislação Penal e Processual Penal Especial, Estatuto da Criança e do
Adolescente, Estatuto do Idoso, Lei

Brasileira de Inclusão (Pessoa com Deficiência) e Legislação Orgânica do Ministério Público. Esta também é
a minha área de formação: sou Promotor de Justiça há mais de 20 anos no Estado do Rio Grande do Sul, tendo
sido aprovado também nos concursos para ingresso às carreiras da Magistratura Estadual e Defensoria Pública
do Estado do Rio Grande do Sul.

Como já fui concurseiro, pretendo levar PDFs de altíssimo nível até vocês, mas sempre com uma linguagem
muito acessível e, às vezes, descontraída, pois pude comprovar ao longo desses anos, que exemplos em
humorados, etc. fazem com que o aluno fixe para sempre o conteúdo.
Espero que você goste deste curso, e que ele seja bastante útil na sua preparação para esse cargo tão
importante. Vou ficar na torcida para que, assim como vários dos meus ex-alunos nestes 18 anos como professor,
você seja aprovado e venha me contar a sua história de sucesso! Vamos juntos rumo à nomeação!

Saudações,
Prof. Pietro Chidichimo Jr.

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DIREITO PENAL

Princípios básicos
O Direito Penal pertence ao direito público, pois o poder de punir está concentrado nas mãos do Estado,
que se destina a prevenir e punir a prática de infrações penais. É certo que, no mais das vezes, as sanções pelo
descumprimento de regras fiscais por parte do contribuinte se dão nas órbitas administrativa e civil. Mas, por
vezes, quando além do inadimplemento, houver fraude, a punição também surge na seara penal. Para tanto,
imprescindível, em nosso concurso, estudarmos também o direito penal e seu regramento.
Diante da importância do direito penal na vida das pessoas, os princípios se mostram fundamentais, pois
representam uma verdadeira limitação a esse poder, que jamais poderá ser arbitrário. Quanto aos princípios
propriamente ditos, comecemos pelo mais importante, que é o princípio da legalidade.

- Princípio da Legalidade: art. 5º, XXXIX, CF. Art. 9º CIDH (Convenção Interamericana de Direitos
Humanos).

Art. 1º CP – “Não há crime sem lei anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal.”

Como se viu, o Direito Penal lida com o bem mais precioso do ser humano imediatamente abaixo da vida: a
liberdade. Em assim sendo, o Princípio da Legalidade é o expoente máximo do limite estatal do poder de punir.
Esse princípio, então, estabelece que uma conduta jamais poderá ser considerada crime se não houver previsão
legal anterior. Se assim não fosse, seria uma absoluta insegurança jurídica, pois nenhum indivíduo teria coragem
de praticar qualquer ato, pois, num futuro, esse ato poderia ser criminalizado.

→ Decorrem do aludido Princípio, os seguintes desdobramentos:

a) Estrita Reserva Legal/Estrita Legalidade: apenas a lei, em sentido estrito, pode veicular matéria penal
incriminadora. E deve ser lei ordinária, em sentido formal, ou seja, somente aquela emanada do Congresso
Nacional, sob pena de violação ao esse princípio.

Não podem cominar crimes ou penas:

- medida provisória (art. 62, §1º, I, b, CF/88);

- lei delegada (art. 68, §1º, II, CF/88).

Obs.: a necessidade de lei ordinária deriva de um princípio de lex populi, ou seja, o indivíduo tem o direito de ter sua
liberdade cerceada, limitada, apenas pela vontade de seus pares (representantes no Congresso Nacional), não pelo
soberano (Presidente da República). Deve ser respeitado, ainda, o direito ao processo legislativo (para que o povo
possa se manifestar, já que dele emana o poder).

b) Lei escrita: os costumes não possuem força de criar e estabelecer sanções penais, uma vez que a lei deve
ser escrita.

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c) Lei certa: os tipos penais devem ser compreendidos com facilidade por qualquer cidadão comum,
justamente para que possam saber o que é certo e o que é errado. Daí decorre que são proibidos tipos penais
vagos e indeterminados.

Isso significa que a lei deve ser determinada e clara. Imaginem que, a partir de agora, pessoas que ferissem
a moral e os bons costumes fossem punidas pela prática de um crime. Ora, ninguém, de modo taxativo, preciso e
claro pode definir o que são moral e costumes ofensivos.
d) Lei prévia: é vedada a aplicação de lei penal incriminadora a fatos não considerados crime antes de sua
entrada em vigor. Esse é o chamado princípio da anterioridade.

- Princípio da Legalidade das Penas: a pena também deve estar claramente prevista. No Brasil foi adotado
o sistema mais democrático que existe no mundo. O legislador, levando em conta o bem jurídico tutelado,
comina uma pena mínima e uma pena máxima. Após o juiz, levando em conta o caso concreto e o sistema
trifásico de aplicação da pena, deve operar dentro dos limites traçados pela lei.

- Princípio da Anterioridade: a lei deve ser anterior ao fato. Essa a razão pela qual se diz ser ela irretroativa.
A exceção fica por conta do art. 5º, inciso XL, da CF/88: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”
Assim, quando se entende por incriminar uma determinada conduta ou por aumentar, por exemplo, a pena de
um crime já existente, isso apenas valerá para a frente, não podendo serem aplicadas para o passado, ou seja,
jamais poderão alcançar fatos anteriores à sua entrada em vigor.

FIQUEM DE OLHO!!!

Aplicação da lei penal benéfica em vacatio (quando ainda não entrou efetivamente em vigor): não é
possível a aplicação, ainda que seja para beneficiar o réu, pois a lei em vacatio não tem efeito jurídico e
pode ser revogada sem entrar em vigor. A lei produz seus efeitos a partir de sua entrada em vigor. Não
poderá retroagir, salvo para beneficiar o réu.

- Princípio da intervenção mínima: para que o direito penal seja efetivamente justo e proteja os bens
jurídicos mais relevantes, devemos ter um Estado social máximo e um direito penal mínimo.

- Princípio da fragmentariedade: fragmento significa parte. Isso quer dizer que o direito penal apenas deve
se preocupar com bens efetivamente relevantes e que justifiquem, portanto, a intervenção de tão grave ramo do
direito.

FIQUEM DE OLHO!!!

Atualmente o que se observa é um movimento contrário, que é o que se tem chamado de direito penal
de emergência. Esse tipo de criação de norma, que leva em conta apenas o clamor popular do
momento, não se presta ao direito penal, pois é certo que haverá desproporcionalidade. Como exemplo
disso, tivemos um recente caso em que um homem ejaculou em uma mulher no interior de um ônibus.
É claro que a conduta deve ser reprimida, mas foi ela determinante para que fosse aprovada a Lei
13.718/18 que criou um novo tipo penal incriminador, qual seja, o art. 215 A, do CP:

“Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.”

- Princípio da subsidiariedade: o direito penal deve ser o último instrumento de que se deve valer o Estado
na busca da resolução dos conflitos sociais.

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- Princípio da insignificância ou bagatela: diz com o fato de que a lesão ao bem jurídico foi tão pequena que
não justifica tão drástica intervenção como é característica do direito penal. A sua natureza jurídica é a de uma
causa de exclusão da tipicidade material.

Mas devemos ter cuidado em relação à sua aplicabilidade, que exige os seguintes requisitos, segundo o
Supremo Tribunal Federal:

1. mínima ofensividade da conduta do agente;

2. nenhuma periculosidade social do agente

3. grau reduzido de reprovabilidade do comportamento do agente e

4. inexpressividade da lesão jurídica provocada.

CUIDADO:

- Súmula 589 do Superior Tribunal de Justiça: é inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

- Súmula 599 do Superior Tribunal de Justiça: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
administração pública.
- Súmula 606 do Superior Tribunal de Justiça: Não se aplica o princípio da insignificância a casos de
transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que caracteriza o fato típico previsto no art. 183
da Lei n. 9.472/1997.

- Não se aplica o referido princípio nos crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, desde
que dolosos.

- Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes de moeda falsa, pois o bem jurídico tutelado é a fé
pública e não o patrimônio.
- Não incide a bagatela em matéria de Lei de Drogas. Nem no tráfico e tampouco nas condutas vinculadas ao
uso próprio.

- Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho, desde que o valor do
tributo sonegado não ultrapasse o limite de R$ 20.000,00, a teor do disposto no art. 20 da Lei 10.522/2002.

- Princípio da responsabilidade pessoal, personalidade, pessoalidade ou intranscendência: somente aquele


indivíduo que cometeu o crime é que pode ser punido, não podendo a pena ultrapassar a pessoa do condenado.
- Princípio da vedação à responsabilidade penal objetiva: o indivíduo apenas poderá ser punido se tiver
agido com dolo ou culpa. Não há responsabilidade penal sem culpa. Aliás, é o que está disposto no art. 19 do CP,
no sentido de que, pelo resultado que especialmente agrava a pena, o agente apenas responde se o tiver
provocado, ao menos, culposamente.

- Princípio da proporcionalidade: significa que está vedado o excesso do Estado contra o cidadão. Trata-se
do chamado garantismo negativo.

Observação: o princípio da proteção deficiente diz respeito ao não-fazer por parte do Estado, diante da violação de direitos
fundamentais – é o se tem chamado de garantismo positivo.

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- Princípio da materialização do fato: não se pune o modo ou o estilo de vida do agente. Não são punidos
atos preparatórios, salvo algumas exceções.

- Princípio da alteridade: esse princípio proíbe a incriminação de atitude meramente interna do agente,
bem como do pensamento ou de condutas moralmente censuráveis, incapazes de invadir o patrimônio jurídico
alheio.

Em síntese, ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si próprio, pois uma das características
inerentes ao Direito Penal moderno repousa na necessidade de intersubjetividade nas relações penalmente
relevantes.

TCU – CESPE – 2015) No que se refere aos princípios do direito penal e às causas de exclusão da ilicitude, julgue o
próximo item.
Em consequência da fragmentaridade do direito penal, ainda que haja outras formas de sanção ou outros meios
de controle social para a tutela de determinado bem jurídico, a criminalização, pelo direito penal, de condutas
que invistam contra esse bem será adequada e recomendável.

Certo
Errado
RESOLUÇÃO:
Gabarito: errada. Em razão do princípio da fragmentaridade, o direito penal não serve e não deve proteger todos
os bens jurídicos, mas somente aqueles mais relevantes, uma vez que, quando possível, outros ramos do direito,
menos agressivos, devem agir. Trata-se, inclusive, de uma consequência do princípio da intervenção mínima, em
que o direito penal é o último instrumento de que se deve valer o Estado na busca da pacificação dos conflitos
sociais.

PRF – CESPE – 2013) O princípio da legalidade é parâmetro fixador do conteúdo das normas penais
incriminadoras, ou seja, os tipos penais de tal natureza somente podem ser criados por meio de lei em sentido
estrito.
RESOLUÇÃO:
Gabarito: certa. Somente a lei em sentido formal, ou seja, aquela oriunda do Poder Legislativo Federal é que
pode criar crimes e cominar penas.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL. A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO. TEMPO


E LUGAR DO CRIME. LEI PENAL EXCEPCIONAL, ESPECIAL E TEMPORÁRIA.

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Tempo de realização do ato Lei Posterior


Fenômeno da
(ir)retroatividade

Fato típico Torna o fato típico


Lei incriminadora –
irretroatividade – art. 1º

Mantém o fato típico, mas, de


Fato Típico Novatio legis in pejus
qualquer modo, prejudica o réu
Irretroatividade – art. 1º

Fato Típico Supressão da figura criminosa


Abolitio criminis
Retroatividade – art. 2º

Fato Típico Mantém o fato típico, mas, de


qualquer modo, favorece o réu Novatio legis in mellius
Retroatividade – art.2º, p. único

Fato Típico
O conteúdo típico migra para Princípio da continuidade
outro tipo penal normativo-típica

Assim, resumidamente temos que:

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO

Regra: “tempus regit actum”

Exceção: lei penal posterior mais benéfica

A Lei Penal no Tempo: em direito penal, o que vale é que a lei penal somente poderá retroagir em benefício
do réu. Ou seja, a nova lei penal que, de qualquer forma, favorecer o réu, será aplicada em seu benefício.

Art. 5º, XL, Constituição Federal (CF)

Art. 9º, Convenção Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)

Art. 2º, Código Penal (CP).

A justificativa da retroatividade benéfica não é de que se trata de impunidade.


Pelo contrário.

Trata-se de uma medida de justiça, pois o Estado, detentor do poder de punir, acabou por reconhecer que,
nesse momento, já não mais era necessário o rigor anterior.
Assim, como decorrência do Princípio da Legalidade, aplicamos, via de regra, a lei vigente à época do fato.
Por essa razão é tão importante sabermos o tempo do crime.

E para que?

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Justamente para que se tenha certeza de qual lei será aplicada ao caso concreto.

E qual a teoria adotada pelo Código Penal em relação ao momento do crime?


Segundo o art. 4º, CP:

Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado.

O Código Penal, assim, em relação ao tempo do crime, adotou o Teoria da Atividade.

A lei penal, dessa forma, deve ter sido criada antes da prática da conduta que pretenda incriminar. Mas,
como visto acima, a lei pode se movimentar, desde que seja para beneficiar o réu. A esse fenômeno damos o
nome de extra-atividade que é dividida em:

Retroatividade: possibilidade de a lei penal ser aplicada a fatos anteriores à sua entrada em vigor e

Ultra-atividade: trata-se da possibilidade de a lei penal ser aplicada mesmo após ter sido revogada ou ter perdido os seus
efeitos.

TCU – CESPE – 2015) Segundo o Código Penal Brasileiro vigente, a lei posterior que, de qualquer forma,
favorecer o agente delituoso aplica-se aos fatos a ela anteriores, desde que não decididos por sentença penal
condenatória transitada em julgado.
Certo

Errado

RESOLUÇÃO:
Gabarito: errada. Inclusive quando decididos por sentença penal condenatória transitado em julgado, aplica-se a
lei penal mais favorável ao agente (novatio legis in mellius ou lex mitior). Logo, a novatio legis in mellius, ou seja,
a lei nova que beneficie o acusado de qualquer modo, traz a consequência de ser retroativa.
A lei nova mais benéfica, portanto, “se movimenta” dentro de nosso ordenamento jurídico, justamente em prol
do réu. E esse tema é tão importante que o seu regramento está previsto no art. 5°, inciso XL, da Constituição
Federal, bem como no art. 2°, parágrafo único, do Código Penal:
“Art. 5º, CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”
“Art. 2º, CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”

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PRF - CESPE – 2013) Foi considerada correta a seguinte alternativa: “A extra-atividade da lei penal constitui
exceção à regra geral de aplicação da lei vigente à época dos fatos”.

RESOLUÇÃO:
Extra-atividade é a possibilidade da lei penal, depois de revogada, continuar a regular fatos ocorridos durante a
sua vigência (ultra-atividade) ou retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor
(retroatividade). A regra geral, trazida pela CF, é a proibição da retroatividade in pejus (para prejudicar o agente),
permitindo somente a retroatividade para beneficiá-lo.
Em regra, aplica-se a lei penal vigente ao tempo da prática do fato criminoso, de acordo com o princípio do
tempus regit actum. Isso significa que o instituto que envolve a lei durante seu período de vigência é denominado
de atividade, que é a regra gera. Quando a lei regula situações fora de seu período de vigência, ocorre a chamada
extra-atividade, que é a exceção.

CUIDADO: existem duas exceções quanto à movimentação da lei penal no tempo para, de certa forma, prejudicá-lo.

E eu costumo explicar da seguinte forma para que vocês jamais esqueçam:

“O ÔNUS É DO RÉU”
Isso significa haver dois casos em que, mesmo que entre em vigor uma lei penal mais grave, ela incidirá
retroativamente.

Muito cuidado com isso. Não quer dizer que a lei penal mais grave irá atingir atos anteriores a ela
praticados pelo réu. São casos em que o réu já iniciou o seu comportamento delitivo e, após o seus início, sem
que o réu pare de praticar os atos criminosos, entra em vigor uma lei penal nova e que agrava a sua situação.
Esses casos são:

Crimes Permanentes: são aqueles em que a consumação se prolonga no tempo. Ou seja, eles seguem
acontecendo, sem serem interrompidos, por um período de tempo relativamente longo.

É o caso de um crime de sequestro, por exemplo. Enquanto a vítima não for colocada em liberdade, o crime
segue se consumando. Agora imaginem que Pedrinho, a vítima, foi sequestrado no dia 10 de outubro de 2017 e
permanece assim, trancafiado em um cubículo até o dia 20 de janeiro de 2019. Mas quando o crime se iniciou (dia
em que Pedrinho teve a sua liberdade privada), a pena desse crime variava entre 02 a 05 anos. Mas que, no dia 21
de dezembro de 2018 (Pedrinho seguia sequestrado), tenha entrado em vigor uma lei que alterou a pena desse
crime, que antes era de 02 a 05 anos, passando para 05 a 12 anos de reclusão. Esse crime, pelo fato de que ainda
está acontecendo, mesmo tendo se iniciado à época da lei mais favorável, terá a pena estabelecida pela lei mais
grave. Isso quer dizer quem o réu será punido por uma pena que irá variar entre 05 e 12 anos.

Crime Continuado: esse instituto está previsto no art. 71 do CP e significa que, por uma ficção jurídica,

vários crimes praticados em sequência, desde que da mesma natureza e em idênticas condições de tempo,
local, modo de execução e outras semelhantes, os subsequentes devem compreendidos como continuação do
primeiro. Isso quer dizer que todos serão punidos como se fossem apenas um, mas com um aumento da pena.
Nesse caso, imaginem que um pai de família prometeu ao seu filho comprar um celular novo de Natal. Para
não “dar na vista”, acaba subtraindo uma determinada quantia durante vários dias, até completar o valor
necessário para a aquisição do aludido produto. Nesse caso, não obstante tenha praticado “vário crimes de
furto”, todos devem ser considerados como somente um. Então, se ele tivesse iniciado a prática dos crimes de

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furto no dia 10 de junho de 2018, em que a pena do referido crime fosse de 01 a 04 anos e seguisse cometendo os
crimes até as vésperas do Natal e, no dia 20 de dezembro do mesmo ano, entrasse em vigor uma lei dizendo que
a pena do furto seria de 02 a 6 anos, ele responderia por toda a série continuada com a pena nova, maior, ditada
pela lei nova, embora mais grave.

Aliás, nesse sentido é a orientação do Supremo Tribunal Federal que, inclusive, editou a seguinte súmula:

Súmula 711: a lei penal mais grave será aplicada ao crime continuado e ao crime permanente desde que sua
vigência seja anterior à cessação da continuidade ou permanência.

- Hipóteses de Conflito.

1) Abolitio criminis: é a descriminalização de determinada conduta por lei nova que deixa de considerar
crime conduta anteriormente tipificada como ilícito penal. Ela apaga qualquer efeito da lei penal incriminadora,
da pena em cumprimento, passando pelo processo e chegando até a própria anotação na ficha criminal do
indivíduo, não podendo ser considerada para configurar reincidência ou maus antecedentes.

ABOLITIO CRIMINIS

- Causa extintiva da punibilidade (art. 107, III, do CP)

- Faz cessar os efeitos da sentença penal condenatória

- Os efeitos extrapenais são mantidos

2) Novatio legis incriminadora: é a hipótese inversa, ou seja, lei nova que tipifica conduta que antes não era
considerada crime. Consagrando a anterioridade da lei penal, não se aplica a fatos anteriores a sua vigência.
3) Lex mitior: lei posterior que melhora a situação do sujeito. Corolário da retroatividade da lei mais
benigna, como consagrado na Constituição de 1988, a lei posterior mais benéfica sempre retroage, alcançando
inclusive os fatos já alcançados por decisão condenatória já transitada em julgado. Diferencia-se da abolitio
criminis, uma vez que aqui não é a conduta, mas outras circunstâncias que são modificadas pela nova lei como:
pena ou tempo de prescrição.

4) Lex gravior: lei posterior que agrava a situação do sujeito. A lei mais gravosa não retroage, aplicando-se
apenas aos fatos ocorridos após sua vigência. Aos fatos anteriores a lei mais gravosa, se aplica a lei anterior mais
benigna (ultra-atividade da lei mais benigna).

5) Lei intermediária: trata-se de uma lei que entra em vigor após o fato, mas é revogada antes mesmo do
julgamento desse fato. Se favorável ao réu, deverá ser aplicada, pois o sujeito não pode ser prejudicado pela
demora do Estado em julgar. Além disso, com a entrada em vigor da lei benéfica, ela passa a integrar o que se
chama de direitos públicos de liberdade.

6) Continuidade típico-normativa: ocorre quando uma lei nova aparentemente não mais tratou uma
conduta como criminosa. Mas, na verdade, o que ocorreu foi que a nova lei colocou o antigo crime em um novo
tipo penal. Exemplo.: foi o caso da Lei 12015/09 (que estabeleceu os crimes contra a dignidade sexual). Antes
dela, para se punir alguém que cometesse estupro contra menor de 14 anos, era preciso combinar alguns artigos
do Código Penal para tipificar o crime. Com ela, essa conduta passou a fazer de um artigo só, o 217-A, do CP que
prevê, expressamente, o estupro de vulnerável.
7) Combinação de leis em favor do réu: não pode o Poder Judiciário unir o que há de melhor em uma lei e na
outra, a fim de formar uma terceira lei, pois a tarefa de “criar leis” pertence ao Legislativo.

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8) Aplicação da lei penal benéfica em vacatio (quando ainda não entrou efetivamente em vigor): não é
possível a aplicação, ainda que seja para beneficiar o réu, pois a lei em vacatio não tem efeito jurídico e pode ser
revogada sem entrar em vigor.

SEFAZ-RS - CESPE – 2018 – Assistente Administrativo Fazendário) “A lei penal não retroage quando uma
conduta deixa de ser considerada crime.”

RESOLUÇÃO:
Gabarito: incorreta. A lei penal retroage quando beneficiar o agente. Quando a lei posterior deixa de considerar
uma conduta como crime (ABOLITIO CRIMINIS), está beneficiando o agente. Logo, retroage. Art. 2º, CP:
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.

Controvérsias.

Ultra-atividade das leis penais temporárias ou excepcionais: conforme previsto no art. 3°, do CP, as leis
penais temporárias (que preveem um prazo pré-determinado de vigência) ou excepcionais (que preveem a
vigência de determinada lei penal enquanto durarem situações de emergência como: enchente, terremoto) se
aplicam ao fato praticado sob sua vigência, ainda que revogadas. Parte majoritária da doutrina entende que não
se aplica a retroatividade de lei para beneficiar o réu, porque as situações tipificadas são diversas, permanecendo
a razão temporária de incriminação ou agravamento da punição. Parte minoritária entende que a exceção
prevista no art.5°, XL, da CR é incondicional e que todos os efeitos da lei penal temporária, quando perder
vigência, devem ser cassados.

DE OLHO NA MÍDIA.

Lei sobre importunação sexual retroage para beneficiar réu acusado de estupro.

A 6ª turma do STJ concedeu ordem de ofício para readequar a classificação do tipo penal por superveniência de lei penal
mais benéfica ao réu.

Quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A 6ª turma do STJ readequou a classificação do crime de estupro considerando a superveniência de lei penal mais benéfica
ao réu – a lei 13.718/18, que trata do crime de importunação sexual. A decisão unânime do colegiado foi proferida em HC de
relatoria da ministra Laurita Vaz, que concedia a ordem de ofício. No caso, o Tribunal de origem reconheceu que o réu
abordou a vítima, interceptou sua passagem, e passou a mão em seu seio e cintura. Contudo, considerou que tal conduta
não configuraria o delito de estupro, e desclassificou-o para a contravenção penal do artigo 65 do decreto-lei 3.688/41. A
ministra Laurita, em decisão monocrática do início de setembro, ao julgar o recurso do MP/PR, entendeu caracterizado o
delito de estupro: “Quanto à extensão do conceito de ato libidinoso diverso de conjunção carnal, o Superior Tribunal de
Justiça firmou entendimento de que sua prática pode ocorrer por diversas formas, incluindo toques e contatos voluptuosos,
consumando-se o estupro na ocasião em que ocorre o contato físico entre o agressor e a vítima.”

Aplicação retroativa

Já na análise do agravo regimental do paciente contra esta decisão, a ministra afirmou que, “não obstante a correção da
decisão agravada, nesse ínterim, sobreveio a publicação da Lei n.º 13.718, de 24 de setembro 2018, no DJU de 25/09/2018,
que, entre outras inovações, tipificou o crime de importunação sexual, punindo-o de forma mais branda do que o estupro, na
forma de praticar ato libidinoso”.

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De acordo com a ministra, o "crime mais grave" seria o do próprio art. 213 do CP, que prevê a elementar da violência ou
grave ameaça.

“No caso dos autos, pela descrição da conduta apurada pelas instâncias ordinárias, não houve violência ou grave ameaça (...)
o que se subsume à conduta descrita na novel legislação, mais branda e, portanto, de aplicabilidade retroativa.”

Assim, a ministra fixou a pena-base em 1 ano e 2 meses, a qual tornou definitiva em razão da ausência de atenuantes ou
agravantes e de causas de aumento ou diminuição. O regime inicial de cumprimento da pena fixado foi o semiaberto,
considerando a existência de circunstância judicial desfavorável.

TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL


Territorialidade.
Assim dispõe o art. 5º do CP:

Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e


aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

Como se pode verificar, esse artigo adotou o Princípio da Territorialidade para definir a área de abrangência
da lei penal brasileira. Na verdade, diz-se que o Brasil adotou o Princípio da Territorialidade Temperada. Isso
significa que o próprio artigo 5º do CP estabelece ressalvas, como os tratados, convenções e regras de Direito
Internacional.
Via de regra, a lei brasileira se aplica aos crimes cometidos no território nacional, mas, excepcionalmente, a
lei estrangeira poderá ser aplicada quando assim dispuserem os tratados e convenções internacionais.

Questões excepcionais.

- Princípio da reciprocidade: as embarcações e aeronaves estrangeiras, de natureza pública ou a serviço do


governo estrangeiro, são consideradas extensão do território estrangeiro, mesmo se estiverem em territó-rio
brasileiro.
- Passagem inocente: a passagem inocente, constituída pelo direito costumeiro internacional, é aquela
considerada contínua e rápida por águas territoriais internacionais, sob pena de caracterizar ilícito internaci-onal.
- Diante de suas características, temos que resta proibida manobras militares, atos de propaganda,
pesquisa e busca de informações, atividades de pesca, bem como levantamentos hidrográficos.

Veja-se o que dispõe o artigo 3º da lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993 que dispõe sobre o mar territorial, a
zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras providências:

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Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial
brasileiro.

§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança
do Brasil, devendo ser contínua e rápida.

§ 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais
procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força ou por
dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em
dificuldade grave.

§ 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo
Governo brasileiro.

Ademais, não podem os países dificultarem a passagem inocente mediante cobrança de taxas, muito
embora possam estipular rotas a fim de proteger instalações e equipamentos existentes, bem como tomar
medidas de proteção ao meio ambiente e à segurança das navegações.
No que tange à soberania, por fim, devemos apontar que nas águas internas, não caberá passagem
inocente, sendo a soberania absoluta. Já no mar no territorial, a soberania é relativizada, pois se faz permitida a
passagem inocente.

- Embaixadas: é importante observar que o Código Penal não trouxe qualquer regra específica atinente às
embaixadas, motivo pelo qual se conclui que elas, embora sejam invioláveis, não constituem extensão do
território do país que representam. Assim, a título de exemplo, a embaixada norte-americana no Brasil é
território brasileiro e ao crime nela praticado será aplicada a lei penal brasileira – salvo a incidência de convenção,
tratado ou regra de direito internacional.
- O Princípio da Extraterritorialidade prevê a aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos praticados
no estrangeiro, desde que cometidos contra o representante do governo brasileiro, ou contra as instituições que
compõem a União, os Estados e os Municípios. Aplica-se também a Lei Penal Brasileira nos atos praticados por,
ou contra, brasileiros no exterior, sem prejuízo das previsões contidas no artigo 7º, CP.

Extraterritorialidade.
Para analisarmos a extraterritorialidade, devemos definir o que vem a ser território nacional para fins
penais.

- É o espaço sujeito à soberania do Estado;

- É a superfície terrestre, o mar territorial que corresponde a 12 milhas marítimas a partir do litoral
continental e ilhas, conforme Lei 8.617/93;

- As embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do Brasil, onde estiverem;


- As aeronaves e embarcações brasileiras privadas que estejam em alto-mar ou sobrevoando o alto-mar;

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- As aeronaves e embarcações estrangeiras privadas que se achem em pouso ou em voo ou em porto ou


mar territorial brasileiro.

Então, como visto, o Código Penal considerada o local do crime para firmar a competência penal
internacional (não confundir com o disposto no art. 4º antes mencionado, que diz com o momento da prática do
crime).

Qual a teoria adotada pelo Brasil?


Em relação à extraterritorialidade, o Código Penal adotou a Teoria da Ubiquidade, conforme disposto no
art. 6º:

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Quando houver colisão de interesses acerca de quem deve punir determinada infração penal, temos de nos
valer de 06 princípios que vão nos auxiliar a solucionar cada caso.

São eles:
- Princípio da Territorialidade: aplica-se a lei do LUGAR DO CRIME, não se levando em consideração a

nacionalidade do sujeito ativo, do sujeito passivo ou do bem jurídico violado.

- Princípio da Nacionalidade Ativa: aplica-se a lei da NACIONALIDADE DO SUJEITO ATIVO DO CRIME.


Nesse caso, não interessa o local do crime, a nacionalidade do ofendido ou o bem jurídico violado.
- Princípio da Nacionalidade Passiva: é exatamente o contrário do que diz o anterior. Ou seja, nesse caso,

será aplicada a lei da NACIONALIDADE DO SUJEITO PASSIVO DO CRIME, OU SEJA, DA VÍTIMA.


- Princípio da Defesa ou Real: aplica-se a lei da NACIONALIDADE DO SUJEITO PASSIVO OU DO BEM
JURÍDICO VIOLADO. Aqui, não importa o local da prática do delito, tampouco a nacionalidade do sujeito ativo.

- Princípio da Justiça Penal Universal ou Cosmopolita: o agente fica sujeito à LEI DO PAÍS ONDE FOR
ENCONTRADO. Isso significa que não interessa a sua nacionalidade, o bem jurídico que foi violado ou o local do
fato. Como se pode observar, esse princípio está intimamente vinculado aos tratados internacionais que
envolvem a cooperação à repressão de determinados tipos de crimes, de caráter transnacional.

- Princípio da Representação ou da Subsidiariedade, do Pavilhão ou da Bandeira: a lei penal nacional aplica-


se aos crimes praticados em AERONAVES e EMBARCAÇÕES PRIVADAS, quando no ESTRANGEIRO E LÁ NÃO
SEJAM JULGADOS.

- Então, por certo que teremos casos em que haverá a incidência da lei penal brasileira a crimes praticados
no exterior. Daí decorre a previsão do art. 7º do CP:

Extraterritorialidade

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República – Princípio da Defesa ou Real, pois considera
a nacionalidade da vítima;

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b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de


Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
Público –
Princípio da Defesa ou Real, porque considera a nacionalidade do bem jurídico;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço – Princípio da Defesa ou Real, pois leva
em conta a nacionalidade do bem jurídico;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil – Princípio da Justiça Universal,
ou seja, aplica-se a lei do país onde o autor do crime for encontrado.

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir – Princípio da Justiça Universal, pois será
competente a justiça do país onde o agente for encontrado;

b) praticados por brasileiro – Princípio da Nacionalidade Ativa;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em


território estrangeiro e aí não sejam julgados – Princípio da Representação ou Subsidiário, pois o país em
tese competente acaba não julgando o crime.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a)

entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

CONCLUSÕES IMPORTANTES:
as hipóteses descritas no inciso I são denominadas de extraterritorialidade incondicionada, conforme o art.
7º, § 1º, do CP. Nesse casos, a extraterritorialidade é incondicionada, porque a aplicação da lei penal brasileira
não depende da satisfação de qualquer requisito, em razão da importância dos bens jurídicos tutelados.

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as hipóteses do inciso II são de extraterritorialidade condicionada, conforme art. 7º, § 2º, do CP. Nesses
casos, a extraterritorialidade é condicionada, pois para que a lei penal brasileira seja aplicada são necessários
certos requisitos (todos devem estar preenchidos, sob pena de não se poder aplicar a lei penal brasileira):

a) Brasileiro tem que entrar no território brasileiro (físico ou jurídico), AINDA QUE AQUI NÃO PERMANEÇA.
Entrar não significa permanecer.

b) O fato tem que ser típico no Brasil e no local onde foi praticado.

c) Estar o crime incluído entre aqueles em que a lei autoriza a extradição. O rol de crimes que o Brasil utiliza
para extraditar um estrangeiro é o mesmo rol que o Brasil utiliza para julgar o brasileiro que comete crime
no exterior.

d) Não ter o agente sido julgado, cumprido pena no estrangeiro;

e) Não ter o agente sido perdoado no estrangeiro ou não estar extinta a punibilidade, pela lei mais benéfica.

- as hipóteses do §3º do art. 7º são de EXTRATERRITORIALIDADE HIPERCONDICIONADA, porque agrega


mais duas condições, além das já previstas no § 2º. Nesses casos, além das condições do §2º é imprescindível no
caso em que estrangeiro pratica crime contra brasileiro.

a) Não ter sido requerida a extradição do estrangeiro;

b) Ter sido negada a extradição do estrangeiro;

c) Ter requisição do Ministro da Justiça.

A Lei 9.455/97 – Lei de Tortura – traz uma hipótese a mais de extraterritorialidade, devendo incidir o referido diploma ainda
que o crime não tenha sido cometido em território nacional, bastando que a vítima seja brasileira ou se o sujeito ativo estiver
em local sujeito à jurisdição brasileira.

Como esse tema já foi cobrado pela nossa banca:

TCU – CESPE – 2013) Julgue o item a seguir elencado, que trata da lei penal no tempo e no espaço.

Segundo a norma penal vigente, aplica-se a lei brasileira ao crime cometido em embarcações brasileiras, sendo
elas de natureza pública ou privada, salvo se essas embarcações não se encontrarem em águas internacionais.
Certo

Errado

RESOLUÇÃO:

Gabarito: errada. Entende-se por território nacional a soma do espaço físico (ou geográfico) com o espaço
jurídico (espaço físico por ficção, por equiparação, por extensão ou território flutuante).

Por território físico entende-se o espaço terrestre, marítimo ou aéreo, sujeito à soberania do Estado (solo, rios,
lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa — 12 milhas marítimas de largura, medidas
a partir da linha de baixa-mar do litoral continente e insular — e espaço aéreo correspondente).

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as

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embarcações e as aeronaves brasileiras (matriculadas no Brasil), mercantes ou de propriedade privada, que se


achem, respectivamente, em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente (art. 5°, §1°, CP).

É também aplicável a lei brasileira aos crimes cometidos a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil (art. 5°, § 2°, CP).

Dispõe o art. 5º, CP:


“Territorialidade

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço
aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.”
TCU – CESPE – 2013) Segundo a atual redação do Código Penal Brasileiro, os crimes cometidos no estrangeiro
são puníveis segundo a lei brasileira se praticados contra a administração pública quando o agente delituoso
estiver a serviço do governo brasileiro, salvo se já absolvido pela justiça no exterior com relação àqueles
mesmos atos delituosos. Certo
Errado

RESOLUÇÃO:
Gabarito: incorreta. Ainda que o agente que tenha cometido crime contra a administração pública brasileira ou
quando o agente delituoso estiver a serviço do governo brasileiro, aplica-se a lei penal brasileira,
independentemente de ter sido julgado pela justiça estrangeira e tenha sido absolvido. Nesse caso, será
julgado novamente pela justiça brasileira, pois incide, ao caso, o Princípio da Extraterritorialidade
Incondicionada.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes: (extraterritorialidade incondicionada)

contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (princípio da defesa)


contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (princípio
da defesa)

contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (princípio da defesa)
de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (princípio da justiça
universal/cosmopolita; para alguns, princípio da defesa; e para outros, ainda, princípio da nacionalidade
passiva)
II - os crimes: (extraterritorialidade condicionada)

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que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (princípio da justiça universal/cosmopolita)

praticados por brasileiro; (princípio da nacionalidade ativa)


praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados. (princípio da representação)

Extratorritorialidade incondicionada

§ 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.

CONTAGEM DO PRAZO
A forma de contagem dos prazos penais está regida pelos artigos 10 e 11, ambos do CP:

Contagem de prazo

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
calendário comum.

Frações não computáveis da pena

Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na
pena de multa, as frações de cruzeiro.

Exemplificando: para contarmos um prazo penal, sempre incluímos o dia do início e excluímos o do fim.

Isso significa que o termo final sempre cairá um dia antes do dia do início, no respectivo mês e ano, é claro.
E não interessa se o primeiro ou o último dia do prazo for dia útil ou não.
Vejamos: se precisarmos contar um prazo prescricional de quatro anos iniciado no dia 17/08/2018 teremos
como termo final o dia 16/08/2022. Outro exemplo: prazo prescricional de oito anos iniciado no dia 12/11/2019
termina no dia 11/11/2027.
Por fim, o prazo penal não se prorroga!

INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL.


Quanto ao sujeito/origem, ao modo e ao resultado.

a. Quanto ao sujeito que a interpreta (ou quanto à origem): a interpretação pode ser autêntica (ou
legislativa), doutrinária (ou científica) e jurisprudencial.

Interpretação autêntica (ou legislativa) é aquela fornecida pela própria lei, a exemplo do conceito de
funcionário público, trazido pelo art. 327 do Código Penal.

Interpretação doutrinária ou científica (communis opinio doctorum) é a interpretação feita pelos estudiosos,
pelos jurisconsultos. Não se trata de interpretação de observância obrigatória. Muito embora auxilie na

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interpretação das normas constantes do CP, a Exposição de Motivos não espelha hipótese de interpretação
autêntica, mas doutrinária, pois elaborada pelos estudiosos que participaram da sua confecção.

Interpretação jurisprudencial, judiciária ou judicial corresponde ao significado dado às leis pelos tribunais, à
medida que lhes é exigida a análise do caso concreto, podendo adquirir, hoje, caráter vinculante, dada a
possibilidade de edição, pelo STF, das “súmulas vinculantes” (artigo 103-A, CF/88, incluído pela E.C n0
45/2004).

b. Quanto ao modo, a interpretação pode ser gramatical, teleológica, histórica, sistemática, progressiva e
lógica (ou racional).

- Interpretação gramatical, filológica ou literal é a interpretação que considera o sentido literal das palavras,
correspondente a sua etimologia. A interpretação teleológica perquire a vontade ou intenção objetivada na
lei (volunta legis).

- Interpretação histórica é aquela interpretação que indaga a origem da lei, identificando os fundamentos da
sua criação.

- Interpretação de modo sistemático conduz à interpretação da lei em conjunto com a legislação que integra
o sistema do qual faz parte, bem como com os princípios gerais de direito.

- Interpretação progressiva ou evolutiva representa a busca do significado legal de acordo com o progresso
da ciência.

- Interpretação lógica se baseia na razão, utilização de métodos dedutivos, indutivos e da dialética para
encontrar o sentido da lei.

c. Quanto ao resultado, fala-se em interpretação declarativa, restritiva e extensiva.


- Interpretação declarativa ou declaratória é aquela em que a letra da lei corresponde exatamente
àquilo que o legislador quis dizer, nada suprimindo, nada adicionando.

- Interpretação restritiva é a interpretação que reduz o alcance das palavras da lei para que
corresponda à vontade do texto (lex plus dixit quam voluit).

- Interpretação extensiva amplia-se o alcance das palavras da lei para que corresponda à vontade do
texto (lex minus dixit quam voluit).

Ex.: o art. 130, ao tratar do perigo de contágio venéreo, incluiu não só o perigo, mas o próprio contágio;
“emprego de arma”, no art. 157, § 2º, I, CP (ora revogado).

ANALOGIA
O que vem a ser interpretação analógica? E a analogia? Podem ser empregadas em desfavor do réu?

“Interpretação analógica ou 'intra legem' é a que se verifica quando a lei contém em seu bojo uma fórmula
casuística seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a aplicação da lei aos inúmeros e

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imprevisíveis casos que as situações práticas podem apresentar.” (MASSON, Cleber. Direito Penal
Esquematizado: Parte Geral, v. 1).

Ex.: art. 121, § 2º, I, CP: “mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”.

Assim como ocorre em relação à interpretação extensiva, não há óbice em relação à interpretação
analógica em desfavor do réu.

Analogia: consiste no complexo de meios dos quais se vale o intérprete para suprir lacuna da lei e integrála
com elementos buscados no próprio direito.

CUIDADO!

Não se trata de interpretação da lei penal, pois sequer existe lei a ser interpretada. Por isso que se trata de integração do
ordenamento jurídico.

Subdivide-se em:

- analogia legis: quando o intérprete utiliza de outra disposição normativa para integrar a lacuna; - analogia
iuris: quando se emprega um princípio geral de direito.

ATENÇÃO!

Somente é admitida em favor do réu (analogia in bonam partem), sendo vedada a analogia in malam partem.

Há diferença entre tipo penal aberto e norma penal em branco?

Sim.

- Tipo penal aberto: é aquele que depende de complemento valorativo, a ser conferido pelo julgador no
caso concreto. Os crimes culposos, por exemplo, são descritos em tipos abertos, uma vez que o legislador não
enuncia as formas de negligência, imprudência ou imperícia.

Também são abertos os tipos em que o legislador utiliza na sua construção elementos normativos, que
demandam juízo de valor do magistrado. O art. 154 do CP, por exemplo, considera violação de sigilo a sua
revelação sem justa causa”.
- Norma penal em branco: é aquela que depende de complemento normativo. É dizer: seu preceito
primário não é completo, dependendo de complementação a ser dada por outra norma.
O que diferencia a norma penal em branco própria da imprópria?
- Norma penal em branco própria, em sentido estrito ou heterogênea: o seu complemento normativo não
emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. Ex.: art. 33 da Lei n. 11.343/06, que encontra
complemento na Portaria n. 344/2008/MS.
- Normal penal em branco imprópria, em sentido amplo ou homogênea: o complemento normativo, neste
caso, emana do próprio legislador, ou seja, da mesma fonte de produção normativa.

Podem ser:

- homovitelinas: quando o complemento emana da mesma esfera legislativa (ex.: art. 312 e o complemento
do art. 327, ambos do CP, ou seja, a definição do que seja funcionário público pata fins penais);

- heterovitelinas: quando o complemento da norma emana de instância legislativa diversa (Ex.: art. 236, CP,
complementado pelo Código Civil, que determina os impedimentos matrimoniais).

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CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS


No que consiste o conflito aparente de normas penais?

Ocorre quando a um único fato se revela possível, em tese, a aplicação de dois ou mais tipos legais, ambos
instituídos por leis de igual hierarquia e originárias da mesma fonte de produção, e também em vigor ao tempo
da prática da infração penal.

Por que o conflito é chamado de “aparente”?

O conflito é aparente, pois desaparece com a correta interpretação da lei penal, que se dá com a utilização
de princípios adequados.

Qual a finalidade de solucionar o conflito aparente de leis penais?

A solução do conflito aparente de leis penais dedica-se a manter a coerência sistemática do ordenamento
jurídico, bem como preservar a inaceitabilidade do bis in idem.

Quais os princípios regentes usados para a solução do conflito aparente?

A doutrina indica, em geral, quatro princípios para solucionar o conflito aparente de leis penais:

- Princípio da especialidade

- Princípio da subsidiariedade

- Princípio da consunção ou absorção

- Princípio da alternatividade

Como esse tema já foi cobrado pela nossa banca:

PRF - CESPE – 2013) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: “Havendo conflito aparente de normas,
aplica-se o princípio da subsidiariedade, que incide no caso de a norma descrever várias formas de realização da
figura típica, bastando a realização de uma delas para que se configure o crime”.

Resolução.
É que quando existem várias condutas previstas no mesmo tipo penal em que basta a prática de apenas uma
delas para que se configure o crime, estamos diante do princípio da alternatividade.

PRINCÍPIOS QUE SE APLICAM PARA SOLUCIONAR O CONFLITO APARENTE DE NORMAS:

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PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE.

A lei especial prevalece sobre a lei geral. Cuida-se daquela lei que reproduz a lei geral, tornando-a especial
pelo acréscimo de outros elementos, denominados especializantes. Há uma relação de gênero e espécie. Esse
princípio impõe que os delitos genérico e específico sejam praticados em absoluta contemporaneidade, no
mesmo contexto fático. A aferição se dá em abstrato, ou seja, dispensa a análise do fato praticado. A lei especial
pode contemplar crime mais grave ou menos grave do que o previsto na lei geral. Exemplos: homicídio e
infanticídio; contrabando e tráfico internacional de drogas.

Imaginem, meus caros, que alguém decide vender bebida alcoólica a crianças ou adolescentes. Que crime
está praticando?
Agora, galera, imaginem que o atendente de uma farmácia resolva vender, sem receita médica, Ritalina a
crianças ou adolescentes. Qual crime está cometendo?

No primeiro exemplo, o agente está praticando o crime do art. 243 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Vejamos:

Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a
criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)

Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

E qual a razão disso? É que o crime do art. 243 do ECA proíbe a venda, fornecimento, a entrega, etc. de
produtos cujos componentes possam causar dependência, e também de álcool. Em resumo, os produtos que são
objeto desse crimes são causadores de dependência, mas são lícitos no sentido de terem livre circulação entre
adultos, sem qualquer restrição. Apenas se tornam um fato típico quando alcançados à criança ou adolescente.

No segundo exemplo, o agente está cometendo o crime do art. 33, “caput”, na forma do art. 40, inciso VI,
da Lei de Drogas. Isso porque a Ritalina é um medicamente de uso permitido, mas que somente pode ser
adquirida com a receita médica respectiva, pois assim exige a Lista-A3 (lista das Substâncias Psicotrópicas),
sujeitas à notificação de Receita “A”. Ou seja, o metilfenidato (princípio ativo da Ritalina) está previsto na
Portaria 344/98, que é a norma que complementa a Lei de Drogas, pois define o que é efetivamente droga.

CONCLUSÃO: mesmo sendo o ECA uma lei penal especial, em se tratando de substância cujo complemento está vinculado
à Lei de Drogas, incidirá a norma mais específica que é a Lei 11.343/06.

PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE.

A lei primária prevalece sobre a lei subsidiária. Há subsidiariedade entre duas leis penais quando se trata de
estágios ou graus diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico. A lei primária possui descrição típica de fato mais
abrangente e mais grave. O fato deve ser apreciado em concreto, para aferir qual a disposição legal em que se
enquadra. A lei subsidiária somente será usada na impossibilidade da primária, atuando como verdadeiro
soldado de reserva.

- A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita.

É expressa quando é declarada pela própria lei. Exemplo: crime de dano, art. 163, parágrafo único, II, do CP
(“com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave”).

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É tácita quando a subsidiariedade é extraída da análise do caso em concreto. Exemplo: estupro e


constrangimento ilegal, ou seja, artigos 213 e 146, ambos do CP.

PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU ABSORÇÃO.

O fato mais amplo e grave consome os demais fatos menos amplos e graves, os quais atuam como meio
normal de preparação ou execução daquele, ou ainda como seu mero exaurimento. Por tal razão, aplica-se
somente a lei que o tipifica. A lei consuntiva prefere a lei consumida. Comparam-se os fatos, inferindo-se que o
fato mais grave consome os demais.

Qual a diferença entre o princípio da subsidiariedade e o princípio da consunção?

Na subsidiariedade, em função do fato concreto praticado, comparam-se as leis para saber qual é a
aplicável.
Na consunção, sem buscar auxílio nas leis, comparam-se os fatos, apurando-se que o mais amplo,
completo e grave consome os demais. O fato principal absorve o acessório. Não há um fato único, mas uma
sucessão de fatos em que o mais amplo e mais grave absorve os menos amplos e menos graves.
O princípio da consunção se aplica em quais situações?

São quatro situações: crime progressivo, progressão criminosa e atos impuníveis. Cabe frisar que o crime
consumado absorve a tentativa.

O que é o crime progressivo?


Ocorre quando o agente, almejando desde o início alcançar o resultado mais grave, pratica, mediante a
reiteração de atos, crescentes violações ao bem jurídico. Pressupõe um crime plurissubsistente (uma única
conduta, com um só propósito, mas fracionável em diversos atos). O ato final desejado consome os atos
anteriores, denominados crimes de passagem.

Requisitos: unidade de elemento subjetivo e de conduta; vários atos; progressividade no dano ao bem
jurídico. Exemplo: as lesões corporais praticadas com a finalidade de executar o homicídio ficam por este
absorvidas.
O que é a progressão criminosa?

Dá-se quando o agente pretende inicialmente produzir um resultado e, depois de alcançá-lo, opta por
prosseguir na prática ilícita e reinicia outra conduta, produzindo um evento mais grave. Há uma pluralidade de
desígnios, com alteração no dolo do agente. Exemplo: o agente que, após praticar vias de fato, opta por produzir
lesões corporais na vítima, e, ainda não satisfeito, acaba por matá-la, responde apenas por homicídio.

FIQUE LIGADO!

Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por
este absorvido”.

Galera, agora imaginem que eu, desejando aplicar um golpe em alguém, diga que estou “vendendo nuvens”. É, no céu
mesmo. Ora, para dar credibilidade a tamanho absurdo, prudente que eu exiba, na hora da venda, um documento (falso, por
óbvio) para comprovar que a nuvem X pertence a mim.

Pergunta-se? Qual é o meu objetivo?

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O meu objetivo é ganhar dinheiro de algum trouxa que tope comprar a minha nuvem (só se fosse de algodão doce). Mas
para isso, obrigatoriamente eu tenho de passar por um caminho, por um meio, que é justamente produzir um documento
falso (que também é crime). Mas, como disse, o meu objetivo é o estelionato (art. 171, do CP). Assim, conclui-se que o
documento falso é somente o meio pelo qual eu devo passa para atingir o fim. Logo, o fim absorve o meio – ou seja, o crime
de estelionato, que é o meu objetivo, acaba por absorver (engolir) o meio, que é o documento falso.

PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE.

Serve para resolver conflito entre verbos nucleares de um mesmo tipo misto alternativo. Isso significa que,
ao nos depararmos com crimes em que há várias condutas descritas, basta a prática de uma delas para a
consumação do crime.

O FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS


O conceito legal de crime está inserido no art. 1º, 1ª parte, da Lei de Introdução ao Código Penal:
“Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa”.

Quais as diferenças entre crime e contravenção?

Crime Contravenção

Aplicação dos princípios da territorialidade e


Apenas territorialidade.
extraterritorialidade

Punibilidade da tentativa Não se pune a tentativa

Dolosos, culposos ou praeterdolosos Basta ação ou omissão voluntária (art. 3º)

Tempo de cumprimento máximo em 30 anos Máximo 5 anos

Prazo mínimo de medida de segurança: 1 a 3


6 meses
anos

Já, o conceito analítico define crime como sendo a conduta típica, ilícita e culpável (conceito tripartido).

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Fato Típico: é a conduta (positiva ou negativa) que provoca um resultado (em regra) que se amolda
perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal, seja um crime ou uma contravenção
penal. O fato típico é composto dos seguintes elementos: conduta; resultado; nexo causal e tipicidade.

A) Conduta: é um dos elementos do fato típico, pois sem ela não se pode falar em crime. O conceito de
conduta, segundo a Teoria Finalista, adotada no Brasil, é toda ação ou omissão humana, voluntária e dirigida a
um fim. É imprescindível a existência de vontade dirigida a um fim. Essa teoria foi idealizada pelo alemão Hans
Welzel.

Além disso, a conduta deve ser voluntária. Isso significa que os atos involuntários, reflexos, oriundos de
coação física irresistível, praticados sob sonambulismo, hipnose ou, ainda, derivados de caso fortuito excluem a
conduta e, via decorrencial, o próprio crime.

TEORIA FINALISTA DA AÇÃO - a conduta é comportamento humano dirigido a determinada finalidade. Portanto, o dolo
(elemento subjetivo) e a culpa (elemento normativo) integram a conduta, não a culpabilidade, que abrange apenas o dolo
normativo (potencial consciência da ilicitude).

Conduta = ação ou omissão + vontade

Conduta, assim é um ato de consciência e vontade. Sem elas não teremos conduta, inexistindo crime por
ausência de seu primeiro elemento que é o fato típico.

Ausência de conduta.

Existem hipóteses em que, ainda que exista uma determinada modificação no mundo, o indivíduo atua
como mero instrumento, sem vontade ou qualquer consciência sobre o fato. Essas hipóteses configuram
ausência de ação e são as seguintes:

a) Inconsciência: é a falta de capacidade psíquica da vontade, que faz com que a conduta desapareça. É o
que ocorre com os chamados movimentos efetuados em estado de sonambulismo, hipnose, desmaio, coma, etc.

b) coação física irresistível: ocorre quando sobre o ser humano é empregada uma força tal que o faz intervir

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como uma mera massa mecânica.

c) Movimentos reflexos: atos reflexos que não dependem da vontade do indivíduo, como a reação ao
encostar numa superfície muito quente.

Cuidado!!! Não se pode confundir a coação física irresistível que elimina a ação e, por consequência, a própria tipicidade do
fato com a coação moral irresistível que exclui a culpabilidade. É o que está disposto no art. 22 do CP.

Se a coação for moral resistível, o que ocorre é a mera incidência de uma circunstância atenuante – art. 65, inciso III, letra “c”,
do CP.

Formas de conduta.

a) Conduta comissiva: a conduta penalmente relevante pode se manifestar de forma ativa, quando há um
movimento positivo do agente; uma ação.

b) Conduta omissiva: A segunda forma de manifestação pode se dar mediante uma inação, quando se
estará diante de uma conduta omissiva. É o que ocorre com o crime de omissão de socorro, previsto no art. 135
do CP, caso em que a norma jurídica espera de todos, a prestação de socorro quando dele necessite a vítima.

Então, na omissão existe sempre uma ação esperada, que pode ser dirigida a todos nós indistintamente,
quando, então, se estará diante de um crime omissivo próprio, em que o sujeito ativo é qualquer pessoa, ou seja,
é hipótese de crime comum.

Mais do que isso.


Essa ação esperada pode, ainda, ser dirigida a uma determinada finalidade e exigida, portanto, de uma
pessoa especificamente e que tenha, por isso, um vínculo com o sujeito passivo e, por essa razão, possua a
obrigação de evitar a ocorrência do resultado. Essa pessoa, que passa a ter a obrigação de agir, é chamada de
garante e as hipóteses estão previstas no art. 13, § 2º, do CP.

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O
dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Nesses casos, tem-se o que chamamos de crime omissivo impróprio. A omissão pode ser própria ou
imprópria. Um critério para fácil diferenciação entre ambas é sua localização na lei penal. A omissão própria é
prevista em determinados tipos penais (art.135 — omissão de socorro, art.244 — abandono material), enquanto a
omissão imprópria é prevista na parte geral (art.13, §2° do CP). Isso ocorre porque a omissão própria (dever
genérico de agir) é um dever de agir que surge de um tipo penal específico (omissão de socorro), que cria uma
imposição normativa genérica (todos aqueles que omitirem socorro são puníveis, bastando a mera abstenção) e
que somente pode ser cometido por omissão (o próprio tipo contém a palavra “omissão” ou forma equivalente
como “deixar de”). Já a omissão imprópria (dever especial de agir), também chamada de crime comissivo por

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omissão, é uma maneira de cometer o crime (que poderia ser cometido por meio de uma ação positiva, por
exemplo, “matar alguém”) não evitando o resultado que podia ou devia evitar segundo uma obrigação (posição
de garantidor, ex. bombeiro salva-vidas) que pode surgir de uma situação concreta (afogamento de banhista)
prevista em qualquer tipo penal que descreva um crime de resultado. A omissão própria é caracterizada segundo
o tipo penal, por exemplo, para configurar a omissão de socorro é preciso a situação de emergência, a não
prestação de socorro e que o sujeito ativo tenha reconhecido de alguma forma essa situação. Excluída a
responsabilidade penal se havia risco pessoal ou caso tenha pedido socorro a autoridade pública.

Já a omissão imprópria possui o critério especial da posição de garantidor. Assim, o indivíduo, além de
conhecer a situação e poder agir (possibilidade física), o resultado deveria ser evitável se tivesse agido (por
exemplo, se não socorreu banhista que se encontrava a uma distância que seria impossível chegar nadando),
além de ter o dever de impedir o resultado (posição de garantidor).
A posição de garantidor surge do dever de agir que a norma impõe, a partir do qual o indivíduo passa a ter
uma especial relação de proteção ao bem jurídico. Conforme previsto no próprio Código Penal (art.13, §2°, a, b e
c), tem o dever de agir aquele que:

a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (ex. médico em relação ao paciente,
pais em
relação aos filhos);

b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (ex. obrigação contratual,


como no
caso de segurança particular);

c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (ex. pessoa que ajuda
velinha a atravessar faixa de pedestre e a abandona no meio da travessia) — se aplica tanto a quem cria a
situação de risco quanto a quem de alguma forma agrava essa situação, concorrendo para o resultado.

B) Resultado.
Dispõe o art. 13 do CP:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

- Resultado naturalístico (físico ou material): O resultado naturalístico é a própria modificação do mundo


exterior causada pela conduta.

De acordo com o resultado naturalístico, as infrações penais assim podem ser classificadas:
- crime material: há, no tipo penal, a descrição de conduta e resultado e o crime apenas se consuma com a
produção do resultado. O exemplo clássico é o crime de homicídio, em que a lei exige a morte da vítima como
resultado naturalístico. Outro exemplo é o crime do art. 1º da Lei 8137/90, incisos I a IV, tanto que o próprio STF
já editou súmula nesse sentido:

“Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90,
antes do lançamento definitivo do tributo.”

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- crime formal: o tipo, da mesma forma como ocorre com o crime material, descreve conduta e resultado,
mas o crime já se consuma com mera prática da conduta, sendo irrelevante para esse fim o resultado. É o caso do
crime de extorsão mediante sequestro, previsto no art. 159 do CP. O tipo descreve a conduta (privar a vítima de
sua liberdade – sequestro) e um resultado que é a obtenção de qualquer vantagem como condição para resgate.

A propósito do texto, vejamos o que diz a Súmula 96 do STJ:

O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.

- crime de mera conduta: ao contrário dos anteriores, o tipo penal descreve apenas a conduta, sem fazer
menção a resultado. É o caso do crime de violação de domicílio, previsto no art. 150 do CP.

- Resultado normativo: para a chamada teoria normativa ou jurídica, resultado é a lesão ou a possibilidade
de lesão a um bem jurídico tutelado pela norma penal.

ATENÇÃO: para essa teoria, TODOS os crimes possuem resultado, seja ele normativo, seja ele jurídico.
Em assim sendo, podemos concluir que não há crime sem resultado jurídico!

C) Nexo de causalidade.
Voltemos ao art. 13 do CP:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Dessa forma, o nexo de causalidade pode ser entendido como o elo entre a conduta do agente e o
resultado naturalístico ocorrido no mundo exterior. Essa a razão de o nexo causal ter apenas importância para os
chamados crimes materiais, pois são os únicos que produzem alteração no mundo exterior.
Teorias acerca do nexo causal.

→ Equivalência dos antecedentes ou conditio sine qua non ou condição simples ou condição
generalizadora: criada por Glaser e desenvolvida por Von Buri e Stuart Mill em 1873. Causa é todo fato humano
sem o qual o resultado não teria ocorrido.
→ Causalidade adequada ou condição qualificada ou teoria individualizadora: causa é o antecedente não só
necessário, mas idôneo a gerar o resultado, excluindo-se os acontecimentos extraordinários, fortuitos,
excepcionais. A contribuição deve ser eficaz a juízo do “homem médio” e da experiência comum.

→ Relevância jurídica: a causa é a condição relevante para o resultado. Só o objetivamente previsível é


causa relevante.

Teoria adotada pelo código penal:


→ Como regra, a teoria da equivalência dos antecedentes (art. 13, caput). Não há diferença entre causa,
condição ou ocasião.
→ Para constatar se o acontecimento é causa, emprega-se o “método de eliminação hipotética” de Thyren
(1894): suprime-se mentalmente o fato, se desaparecer o resultado naturalístico, é porque era também causa; se
permanecer íntegro o resultado, não é causa.

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→ Qual crítica feita em relação ao método de eliminação? Será que essa crítica é procedente?

A grande crítica é a possibilidade de regresso ao infinito, sendo uma teoria “cega”.

No entanto, tal insurgência não procede, uma vez que não basta a mera dependência física do
acontecimento, exigindo-se a causalidade psíquica, ou seja, dolo ou culpa.

O Código Penal teria adotado alguma outra teoria acerca desse tema?

Sim. A chamada Teoria da Causalidade Adequada, prevista no art. 13, § 1º, do CP. Dela que decorrem os
estudos acerca das CONCAUSAS.

Concausas.

É a convergência de uma causa externa à vontade do autor, influindo na produção do resultado


naturalístico.

- Espécies de concausas.

As concausas podem ser dependentes ou independentes.

A dependente se insere no curso normal do desenvolvimento causal e existe dependência entre os


acontecimentos, pois sem o anterior não ocorreria o posterior. Desse modo, não exclui a relação de causalidade.
A independente é a que foge da linha normal de desdobramento da conduta. Seu aparecimento é
inesperado e imprevisível. Tem capacidade de por si só produzir o resultado.

→ Se absolutamente independente: são desvinculadas da ação ou omissão ilícita e produzem por si só o


resultado naturalístico. O agente da conduta principal responde apenas por seu dolo, mas jamais pelo resultado,
ante a falta de relação de causalidade. Não importa se preexistente, concomitante ou superveniente. Aplica-se,
então, a Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais (conditio sine qua non).

→ Se relativamente independente: tem origem na conduta do agente e, por isso, dependem da atuação do
agente para existir. Se preexistente ou concomitante responderá pelo resultado naturalístico, já que se
suprimindo mentalmente sua conduta, o crime não teria ocorrido como e quando ocorreu conforme art. 13,
caput do CP. Se superveniente e por si só produziu o resultado responderá de acordo com o art. 13, §1º do CP
(causalidade adequada).
Exemplo 1.: imaginem que João, com intenção de matar, efetua vários disparos de arma de fogo contra
Antônio, seu desafeto. Ferido, Antônio é internado em um hospital, no qual vem a falecer, não em razão dos
ferimentos, mas queimado em um incêndio que destrói a enfermaria em que se encontrava. Nessa situação, João
será responsabilizado por qual crime?

João responderá pela tentativa de homicídio, considerando que a morte de Antônio só ocorreu em função
de um incêndio ocorrido no hospital, que não teve qualquer participação de João. Assim, ele só

responderá por aquilo que efetivamente praticou. Porque houve uma causa que interrompeu o
desdobramento natural.

Exemplo 2.: Imagine que Paula, com intenção de matar Maria, desfere contra ela quinze facadas, todas na
região do tórax. Cerca de duas horas após a ação de Paula, Maria vem a falecer. Todavia, a causa mortis
determinada pelo exame necroscópico foi envenenamento. Posteriormente, soube-se que Maria nutria
intenções suicidas e que, na manhã dos fatos, havia ingerido veneno. Com base na situação descrita, Paula
responderá por qual crime?

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Paula responderá por homicídio tentado, porque a causa que levou Maria a morte não decorreu das facadas
efetivamente empregadas por Paula, mas, sim, ao veneno ingerido por Maria. Dessa forma, não houve a
consumação do delito de homicídio. Configura, na hipótese, concausa absolutamente independente
preexistente, pois a causa efetiva da morte foi o veneno e o comportamento concorrente foi às facadas.

Exemplo 3.: Pedro, hemofílico, foi atingido por um golpe de faca em uma região não letal do corpo. Júlio,
autor da facada, que não tinha dolo de matar, mas sabia da condição de saúde específica de Pedro, sai da cena
do crime sem desferir outros golpes, estando Pedro ainda vivo. No entanto, algumas horas depois, Pedro morre,
pois, apesar de a lesão ser em local não letal, sua condição fisiológica agravou o seu estado de saúde. Acerca do
estudo da relação de causalidade, por qual crime Júlio irá responder?

O fato de Pedro ser hemofílico é uma causa relativamente independente preexistente, e Júlio deve
responder por lesão corporal seguida de morte. Aqui, a causa efetiva do resultado origina-se direta ou
indiretamente da causa concorrente, sendo uma concausa relativamente independente, que poderá ser
preexistente, concomitante ou superveniente. A causa que levou Pedro à morte decorreu da facada
efetivamente empregada, sem dolo de matar, mas, sim, lesionar. Dessa forma, não houve a consumação do
delito de homicídio. Assim, a causa efetiva do resultado origina-se direta ou indiretamente da causa concorrente
(por isso relativamente independente) e da hemofilia preexiste à facada (por isso preexistente).
Existem, ainda, conforme mencionado, causas absolutamente independentes, pois rompem o nexo causal.
Nesses casos, a imputação pode ser excluída, ou seja, haverá exclusão do resultado por parte do agente.

Ocorre essa situação especificamente nos casos de superveniência de causa relativamente independente,
respondendo o agente apenas pelo que ele causou. Exemplo clássico: “A” leva um tiro de “B” e é socorrido. No
caminho para o hospital, a ambulância se envolve em um acidente e “A” acaba morrendo em razão dessa
circunstância.

Imaginem que alguém dispara no peito de outrem. Esta pessoa ferida é socorrida, a ambulância trafega de
maneira veloz e na contramão e vem a tombar, fazendo com que a vítima tenha um agravamento e morra no
hospital em virtude de infecção hospitalar. Como devemos analisar, na hipótese, a relação de causalidade?

O acidente automobilístico representa uma concausa superveniente relativamente independente. O


acidente causou um agravamento da lesão anterior, sendo o óbito causado em razão da infecção hospitalar, que
NÃO POR SI SÓ produziu o resultado. Assim, responderá o agente por homicídio consumado, pois não rompido
o nexo causal.
Observação: a infecção hospitalar é tratada como o erro médico, ou seja, não por si só causam o resultado.

Teoria da imputação objetiva.

Responsabilidade=

Causalidade Objetiva: Causalidade Simples + Teoria da Eliminação Hipotética.

Risco do regresso ao infinito

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Causalidade Psíquica: dolo e culpa. Evita a


responsabilidade ao infinito.

Insurgência da Teoria da Imputação Objetiva

A doutrina clássica equivoca-se porque aponta como causa o infinito. A imputação objetiva se insurge
contra esse regresso ao infinito. Para Teoria Clássica, ainda que a responsabilização do agente (do início da
cadeia que possibilitou gerar o evento danoso) possa ser evitada pela análise do elemento subjetivo, esse agente
será causa.

Exemplo: a confeiteira que faz o bolo, que posteriormente será envenenado, poderia ser punida. A Teoria
da Imputação Objetiva visa, justamente, a evitar isso.

TEORIA TRADICIONAL TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

Causalidade objetiva: nexo físico.


Causalidade Objetiva: não basta o nexo
Relação de causa e efeito
físico, é imprescindível também a presença do
nexo normativo.

O nexo normativo é constituído de:

- criação ou incremento de um
risco não permitido;

- realização do risco no resultado;

- abrangência do tipo.

Apenas após a análise do nexo normativo é


que se analisa dolo e culpa

Causalidade Psíquica: dolo e culpa. Causalidade Psíquica: dolo e culpa

Acrescenta o nexo normativo à


causalidade

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Insurgindo-se contra o Regresso ao Infinito da Causalidade Simples, a Teoria da Imputação Objetiva


enriquece a causalidade, acrescentando o NEXO NORMATIVO, este composto de:

a) Criação ou incremento de um risco não permitido: risco não tolerado pela sociedade;

b) Realização do risco no resultado: resultado na linha de desdobramento causal normal da conduta;

c) Abrangência do tipo: risco abrangido pelo tipo penal.

A teoria pode ser aplicada a quais tipos de crimes quanto ao resultado?

Apenas aos crimes materiais, em que há sempre resultado naturalístico. Nos formais e de mera conduta
sequer é necessária a utilização da teoria dos equivalentes dos antecedentes e, portanto, a imputação objetivo é
de desnecessária aferição.

D) Tipicidade.
- Conceito: tipicidade é a perfeita adequação de um fato ao modelo normativo.

- Função do tipo penal.

É o tipo penal que demarca o campo do que é lícito (permitido) e ilícito (proibido), individualizando e
limitando os fatos puníveis aqueles descritos na lei penal (tipicidade formal), ou seja, é o elemento da teoria do
delito que expressa o princípio da legalidade. Exerce, portanto, importante função de garantia, de limitação das
possibilidades de intervenção do poder punitivo. Permite ainda a identificação do bem jurídico protegido, ou
seja, o valor que o direito penal busca tutelar. Com isso possibilita a aferição da lesão ao bem jurídico no caso
concreto (tipicidade material), excluindo a tipicidade das condutas insignificantes.

- Elementos que integram o tipo penal.

Integram o tipo o elemento objetivo, a descrição da conduta (“matar alguém”), e o elemento subjetivo,
pressuposto geral da vontade do agente em praticar a conduta descrita (a intenção de matar). Integram ainda o
tipo os elementos normativos, que não descrevem objetivamente uma conduta, exigindo um juízo de valor
acerca de seu significado, como por exemplo, a expressão “indevidamente” na violação de correspondência
(art.151 do CP — “devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem”). A
interpretação dos elementos normativos não se esgota na leitura do tipo (é, portanto, um tipo aberto, em
oposição ao tipo fechado), uma vez que requer do intérprete o conhecimento da definição jurídica de
determinada expressão, no presente caso o conhecimento da expressão “indevidamente” fora das situações em
que a lei permite devassar a correspondência. Existem situações, entretanto, que o tipo faz menção a expressões
que não possuem definição jurídica exata, como “obsceno” no crime de ato obsceno (art. 233, do CP), o que
requer um juízo de valor essencialmente moral por parte do juiz. Nessas situações a taxatividade do tipo penal

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(corolário do princípio da legalidade) fica comprometida pela forma adotada pelo legislador, devendo o juiz
interpretar restritivamente o tipo.
Tipo Objetivo.

O tipo penal pode ser divido em tipo objetivo e tipo subjetivo. O tipo objetivo é aquele que descreve a
conduta, da qual pode se inferir o autor (quem pode praticar o crime), a ação ou omissão (o que praticou), o
resultado (a consequência dessa prática) e a relação de causalidade (o nexo entre a ação e o resultado dessa
prática). O núcleo do tipo é o verbo que expressa a conduta proibida (ex. “matar”). Além da conduta principal
prevista no caput dos tipos penais (ex. “matar alguém”, art. 121 do CP), existem circunstâncias, motivos e modos
de execução que podem se somar a conduta principal do agente. O essencial é o crime previsto na sua forma
básica (ex. homicídio simples, art.121, caput, do CP), que por si só já configura o crime.

As circunstâncias que se somam ao tipo básico são tudo aquilo que se revela como acessório, eventual ou
acidental. Não excluem a responsabilidade penal, podendo somente mudar a pena (tipo qualificado — ex.:
homicídio qualificado — art.121, §2°, do CP — que muda a um limite de 6 a 20 anos para 12 a 30 anos) ou prever
causas de aumento ou diminuição de pena (que adicionam ou diminuem determinada fração a pena prevista no
tipo base, ex. diminuição de 1/3 a 1/6 em caso de homicídio cometido por relevante valor social ou moral —
art.121, §1°, do CP). O tipo objetivo se refere, portanto, àquelas circunstâncias essenciais para que uma conduta
possa ser considerada penalmente típica.
Tipo Subjetivo.

O tipo subjetivo se refere ao elemento de vontade, o querer realizar a conduta descrita no tipo objetivo. A
vontade não é um elemento descrito no tipo penal, uma vez que é um pressuposto geral de qualquer delito. O
que é expresso no tipo são os elementos subjetivos especiais (especial fim de agir, por exemplo, “para si ou para
outrem” no furto) presentes em determinados tipos penais e a responsabilidade penal por culpa, punível
somente quando expressamente previstos em lei (art.18, parágrafo único, do CP). O tipo subjetivo, portanto,
contempla o dolo e a culpa que, a partir da teoria finalista da ação, migraram da culpabilidade para a tipicidade.

Dolo.

Elementos do dolo: conhecimento e vontade.

Dolo é a vontade consciente de realizar o tipo objetivo. O dolo pressupõe conhecimento e vontade.
Conhecimento efetivo das circunstâncias de fato do tipo objetivo, que implica um saber atual ao momento da
prática do crime que abrange todos os elementos essenciais do tipo (como a vítima, o meio empregado e a
previsão do resultado). É a representação mental desses elementos. A vontade é o querer realizar o tipo objetivo,
é a disposição interna, o ânimo, que quer diretamente (dolo direto) ou ao menos consente na produção do
resultado lesivo (dolo eventual). Nos termos da lei penal, consoante art. 18, I:

Crime doloso.

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;


- Elementos subjetivos especiais do tipo.

Existem alguns tipos penais que além da vontade geral (dolo) que caracteriza todo tipo penal, exigem
elementos subjetivos especiais, distintos do dolo, que exigem um especial fim de agir para que o tipo penal seja
caracterizado. Por exemplo, não basta a subtração de coisa alheira móvel para caracterizar o furto, mas também
uma intenção de apropriação do bem.
Espécies de dolo.

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O dolo pode ser:

a) direto, de primeiro; segundo ou terceiro grau;

b) indireto (ou eventual).

O dolo direto de primeiro grau é aquele em que há uma pretensão de realizar o fato típico, uma simetria
entre o querer, o meio empregado e o fim atingido. A dispara arma de fogo para matar B.

O dolo de segundo grau (ou de consequências necessárias) é aquele em que, embora o agente queira um
resultado específico (ex. A queira matar B), os meios utilizados extrapolam essa finalidade, gerando como
consequência necessária lesão a bem jurídico de terceiros (ex. explodir avião para matar um inimigo gerando a
morte dos demais passageiros).

O dolo indireto, ou eventual, é aquele em que o autor não almeja o resultado, mas assume com seu
comportamento o risco de produzi-lo. O dolo eventual será melhor tratado a seguir, quando da análise do limite
entre dolo (eventual) e culpa (consciente).

Culpa.

O direito penal prevê, além do dolo, uma responsabilidade excepcional por culpa (princípio da
excepcionalidade dos crimes culposos). Enquanto a responsabilidade do dolo é genérica, presente
implicitamente em todo tipo penal, a culpa é subsidiária, estando expressamente prevista nos tipos penais que a
admitem (ex. art. 121, §3°, do CP — homicídio culposo).

O crime é atribuído ao agente como como resultado de uma imprudência, negligência ou imperícia (art.18,
II, do CP), violando assim um dever de cuidado objetivo. Ao contrário do tipo doloso, no tipo culposo o agente
não quis o resultado. O resultado ocorre pela falta de diligência do agente, que deveria ter previsto as possíveis
consequências de sua conduta. Com isso o direito quer incutir um dever de cuidado, a prudência necessária para
agir num contexto social. O princípio da confiança estabelece uma expectativa recíproca de comportamentos
conforme o dever de cuidado. No trânsito de veículos, por exemplo, a direção, embora atenta e defensiva, conta
com o respeito as normas de circulação como: a ultrapassagem à esquerda e a circulação do lado direito. Daí
porque o resultado lesivo (atropelamento, colisão) decorrente do desrespeito a essas normas possa gerar
responsabilidade penal.

Elementos que compõem a culpa.

Para configurar a culpa é preciso:

a) Uma ação ou omissão humana voluntária;

b) um resultado lesivo para o bem jurídico;

c) um nexo de causalidade que ligue a ação ao resultado;

d) previsibilidade: a possibilidade de previsão desse resultado — a imprevisibilidade do resultado


exclui a culpa (situações extraordinárias, ex. pessoa que se joga numa pista de alta velocidade e é atropelada).
A previsibilidade é objetiva, feita a partir de um juízo comparativo em que se pergunta: “na situação concreta
do agente era possível prever o resultado?”;

e) a inobservância do dever objetivo de cuidado — o agente não age com a cautela devida por
imprudência (conduta arriscada), negligência (falta de atenção, displicência) ou imperícia (falta de habilidade
no exercício de profissão, arte ou ofício). Deve, portanto, agir de forma a reconhecer o perigo, levando em

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consideração as possíveis consequências de sua conduta, se abstendo de agir ou agindo com a precaução
necessária quando essa ação implicar perigo de lesão à bem jurídico;

f) tipicidade: o que o agente fez deve corresponder a uma conduta proibida pela lei penal (ex.: art.
129 do Código Penal).

Espécies de culpa.
A culpa pode ser inconsciente ou consciente.

Na culpa inconsciente o agente não prevê resultado que era previsível, gerando um resultado de dano fruto
de uma conduta imprudente. Nesse caso, a censurabilidade da conduta (valoração da quantidade de pena a ser
aplicada) é menor.
Na culpa consciente o agente prevê o resultado, mas confia que pode evitá-lo, não reconhecendo a
imprudência de sua conduta. Nesse caso a censurabilidade é maior. Por exemplo, motorista em alta velocidade
(conduta imprudente) que atropela vítima (resultado lesivo), avistada de longe (consciência), em faixa de
pedestre em sinal vermelho (violação de dever de cuidado), confiando que com sua habilidade poderá desviar
caso ela permaneça na pista quando de sua passagem. Diferente seria se esse mesmo motorista não visse o
pedestre e, na mesma situação, o atropelasse. Nesse caso a culpa seria inconsciente, porque embora não tenha
visto a vítima (não previsão), deveria ter previsto a possibilidade do resultado, já que atravessava sinal vermelho
em local com faixa de pedestre.

Dolo eventual e culpa consciente.


Como visto anteriormente o crime é doloso não só quando o agente quer o resultado, mas também quando
assume o risco de produzi-lo. Nesse caso, como diferenciar o dolo eventual da culpa consciente, já que em ambos
existe a previsão do resultado? O ponto de distinção é que no dolo eventual há uma aceitação da possibilidade de
produzir o resultado lesivo (indiferença quanto à produção do resultado), enquanto na culpa consciente há uma
rejeição dessa possibilidade (confiança de que o resultado não vai acontecer).

Outras questões relativas à culpa.

A culpa pode ser ainda imprópria, quando o agente prevê e quer o resultado, mas age em excesso ou em
erro de tipo evitável na justificação da conduta, ou seja, quando, por exemplo, em legítima defesa de furto
espanca o ladrão (excesso) ou quando pensa erroneamente que uma pessoa que passa ao seu lado irá lhe roubar
por alguma atitude que achou suspeita (erro de tipo evitável). O excesso nas causas de justificação e o erro de
tipo serão vistos em seguida, na antijuridicidade e culpabilidade, respectivamente. Existem determinados crimes
em que o resultado da ação lesiva supera o resultado que estava no plano do autor.
Por exemplo, querendo praticar lesão corporal com uma faca o agente acerta parte vital e causa a morte da
vítima (art.129, §3°, do CP — lesão corporal seguida de morte). Esses são os chamados crimes qualificados pelo
resultado, ou preterdolosos, em que há uma combinação de dolo e culpa, porque o agente quis resultado menos

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grave, mas com sua ação gerou resultado mais grave, ou seja, dolo no resultado querido e culpa no resultado
obtido. Para sua configuração eles devem estar expressamente previstos como qualificadores nos tipos penais na
parte especial do código. Em determinados casos pode haver concorrência de culpas, ou seja, que o resultado
lesivo seja consequência de duas ações imprudentes, por exemplo, a colisão de dois carros em um cruzamento
em que um dos motoristas se encontrava bêbado e em alta velocidade e o outro tenha atravessado o sinal
vermelho. Nesse caso as culpas não se compensam, podendo o agente responder pelo eventual resultado lesivo
(ex. morte de motorista do outro carro).

DO ERRO.
Erro de Tipo.

O erro de tipo pode ser classificado como essencial ou acidental.

Erro de Tipo essencial.

É aquele que recai sobre dados essenciais do injusto: elementar, descriminante ou circunstância.

Erro sobre ELEMENTAR: é o dado essencial da figura típica sem o qual ela não subsiste.

Conceito: por equivocada compreensão da situação de fato, o sujeito não sabe, não tem consciência, que
realiza as elementares do tipo. Ex.: pegar celular igual ao seu sem o saber; não tem consciência da elementar
“alheia”.
Consequência: sempre exclui o dolo (porque dolo = consciência + vontade; sem consciência, não há dolo).
O erro pode ser:

inevitável/escusável: aquele que o cuidado comum não evitaria. Consequência: se o resultado não é fruto
da quebra de cuidado, fica também afastada a culpa.
evitável/inescusável: aquele que o cuidado comum evitaria. Consequência: responde por culpa, se previsto.

Erro sobre descriminante.

É sinônimo de excludente de antijuridicidade.

Por equivocada compreensão da situação de fato, o sujeito imagina estar em situação que, se fosse real,
tornaria sua conduta acobertada por uma excludente de antijuridicidade.

Consequência: no Brasil, é adotada a Teoria Limitada da Culpabilidade, segundo a qual as consequências da


descriminante putativa por erro de tipo são as mesmas do erro de tipo sobre elementar, ou seja, sempre exclui o
dolo. Se o erro for inevitável, exclui a culpa. Se o erro for evitável, responde por culpa, se previsto; é a chamada
culpa imprópria, que decorre de uma descriminante putativa por erro de tipo evitável. É chamada imprópria pois
a conduta é dolosa, mas por determinação legal (art. 20, §1º, CP), receberá as penas do crime culposo.

Pela Teoria Extrema da Culpabilidade, que não foi adotada no Brasil, não existe descriminante putativa por
erro de tipo. Toda descriminante putativa será tratada como erro de proibição. Quer o erro incida sobre a
situação de fato, quer tenha como objeto o conteúdo do ordenamento.

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Erro sobre Circunstância.

Circunstância é o dado acessório à figura típica que orbita as elementares e tem como função influir na
dosagem da pena.

O autor por equivocada compreensão da situação de fato pratica um crime em circunstâncias diversas das
pretendidas.

Consequência: para parte da doutrina, deve o agente responder como se tivesse alcançado (praticado a
conduta) nas circunstâncias desejadas, pois o que importa é o desvalor subjetivo, caso, por exemplo, furte algo
diverso do que pretendia.

O erro só pode ser interpretado a favor do réu, ou seja, por um lado o sujeito não pode responder além do
limite de seu dolo e, por outro, não pode responder pelo que objetivamente não fez.

Atualmente se trabalha com o desvalor da conduta juntamente com o desvalor do resultado.

Erro de Tipo Acidental.

São eles: erro sobre o objeto/coisa/error in re; erro sobre a pessoa/error in persona, erro na
execução/aberratio ictus; resultado diverso do pretendido, erro sobre o nexo causal/aberratio causae.

Erro sobre o Objeto/Coisa/Error in Re.

Em razão de equivocada compreensão da situação fática, o sujeito erra sobre a coisa que é objeto material
do crime (lembrar que objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do autor).
Consequências:

se a distinção entre a coisa querida e a coisa atingida tem repercussão na pena, incidem as regras do erro
sobre circunstância. Aliás, para parte da doutrina, o erro sobre circunstância é espécie de erro sobre o objeto;
se a divergência entre a coisa querida e a coisa atingida não interfere nas circunstâncias, responde
normalmente, ou seja, o erro não interfere no dolo.

Erro sobre a Pessoa/Error in Persona.

Art. 20, §3º, CP. Por equivocada identificação da vítima, o autor atinge pessoa diversa da pretendida.
Consequência: responde como se tivesse atingido a vítima pretendida.

Erro na execução/Aberratio Ictus.

Art. 73, CP. Por imprecisão no golpe executório, ou seja, por falha na mira, o sujeito atinge pessoa diversa
da pretendida.

Consequências:

se atinge apenas terceiro, responderá como se tivesse atingido a vítima pretendida. É um erro na execução
com resultado simples, único, que tem a mesma consequência do erro sobre a pessoa;

resultado múltiplo ou complexo: se atinge quem pretendia e também terceiro. Nos termos do art. 73,
responde na forma do concurso formal.

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Observações sobre o elemento subjetivo na aberratio com resultado múltiplo:

à luz do princípio constitucional da responsabilidade subjetiva, concretizado na legislação penal no art. 19


CP, deve ser exigida culpa no resultado não desejado, e a punição se traduz em um concurso formal do crime
doloso com o outro culposo.

Observações sobre a combinação da aberratio ictus com excludente de antijuridicidade:

é pacífica a possibilidade de combinação das excludentes de antijuridicidade com a aberratio ictus e, assim,
o sujeito pode ser absolvido por legítima defesa mesmo tendo alvejado terceiro inocente. Mesmo na aberratio
como resultado múltiplo, a excludente de antijuridicidade alcança também o resultado agravador.

Resultado diverso do pretendido.

Art. 74, CP.

Hipótese: sujeito quer praticar o crime A e alcança o crime B, por culpa:

- deveria responder pela tentativa do crime A em concurso com o crime B, culposo. No entanto, nos termos
do art. 74, o crime B, culposo, absorve a tentativa de A;
- se o crime B não foi previsto na forma culposa, nada pode absorver, e o autor responde pela tentativa de
A;

se consuma o crime A e também o crime B, culposo, responde nas regras do concurso formal.

Obs.: mesma discussão da aberratio ictus sobre a necessidade de culpa no resultado agravador.
Erro sobre o Nexo Causal/Aberratio Causae

Sujeito alcança o resultado pretendido por meio ou modo diverso do planejado.

O desvio do nexo causal é classificado na doutrina como irrelevante ou relevante:

- será irrelevante o desvio em um ato, em um momento, como o tiro no coração que acerta o
pulmão, ou o empurrar da ponte para afogar e a vítima morre ao chocar a cabeça na pilastra. Em tais casos,
o erro não interfere no dolo e o autor responde pelo crime consumado;

- desvio relevante é o desvio em dois ou mais momentos ou atos. A situação é a seguinte: o sujeito
apresenta um plano criminoso global, mas que se desdobra em dois atos, por exemplo – o agente deseja
matar a sua sogra e atirar o corpo num lago. Prevalece o entendimento no sentido de que o dolo de matar a
querida senhora e de jogar seu corpo no lago já engloba ambas as condutas, não podendo serem
separados. É de se considerar, assim, um “dolo geral” de matá-la e de jogar seu corpo no rio.

ILICITUDE E CAUSAS DE EXCLUSÃO.


Ilicitude.

É a contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico, capaz de lesionar ou expor a perigo de lesão
bens jurídicos penalmente tutelados.

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Seu juízo é posterior e dependente do juízo de tipicidade; assim, todo fato penalmente ilícito é,
necessariamente, típico.

Causas de exclusão.

São 4 as excludentes de antijuridicidade previstas no art. 23, CP:

- estado de necessidade;

- legítima defesa;

- estrito cumprimento do dever legal; - exercício regular de direito.

Doutrina e jurisprudência aceitam a existência de causas extralegais excludentes da antijuridicidade, dentre


as quais se destaca o consentimento do ofendido.

Obs1.: lembrar que o consentimento deve ser válido e livre e o bem jurídico, disponível.

Obs2.: lembrar que nos tipos que exigem expresso dissenso da vítima (“constranger”, os tipos de
constrangimento), o consentimento afasta desde logo a tipicidade.
Requisito subjetivo das excludentes: a partir do Finalismo, para ser beneficiado por excludente de
antijuridicidade, o autor deve conhecer a situação de fato que justifica a sua conduta. Explicação: a partir do
Finalismo, o dolo é objeto do juízo de valor da antijuridicidade, pois reconhecido na conduta típica; até o
Finalismo, o dolo era reconhecido na culpabilidade, e por isso o conteúdo da vontade não poderia ser objeto do
juízo de antijuridicidade.

Estado de necessidade.

Conceito.
Trata-se da causa de exclusão da ilicitude que depende de uma situação de perigo, caracterizada pelo
conflito de interesses lícitos, ou seja, colisão entre bens jurídicos pertencentes a pessoas diversas, que se
soluciona com a autorização conferida pelo ordenamento jurídico para o sacrifício de um deles para a
preservação do outro. Está previsto nos artigos 23, inciso I e 24, ambos do CP.

Requisitos.
1) Situação de perigo atual: é o perigo que está ocorrendo, presente, concreto, ou seja, consiste na
possibilidade de se efetivar um dano ao bem jurídico tutelado.

- Atentar: previsão do dispositivo só fala em perigo atual (na legítima defesa constam atual e iminente),
mas “perigo” já traz em si a situação de iminência; ver como vem a pergunta na prova.
2) Que não pode ter sido criada voluntariamente pelo autor: não haverá a excludente se o agente tiver
causado a situação de perigo por sua própria vontade, ou seja, com dolo.

- Controvérsia sobre a expressão “voluntária”: prevalece a interpretação restritiva, segundo a qual


apenas o perigo criado por dolo afasta o estado de necessidade.

3) Sacrifício inevitável e razoável: inevitável é aquele que não se pode evitar sem risco pessoal. No Brasil,
entende-se razoável o sacrifício de um bem para salvar outro de igual ou maior valor. Se o sacrifício não for
razoável não há estado de necessidade excludente da antijuridicidade, mas o juiz poderá diminuir a pena, de 1/3 a
2/3. É o que está previsto no art. 24, § 2º, do CP:

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Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços.

4) Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: nos termos do art. 24, §1º, do CP, não está em estado
de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o perigo, como ocorre nos casos em que o sujeito, por
exemplo, esteja na posição de garante e tem esse dever, como ocorre com policiais, bombeiros, etc.

Observação: para a doutrina, o dispositivo em comento deve ser interpretado com razoabilidade. O autor
pode ter o dever de enfrentar o perigo, mas não de se auto-sacrificar.

Teoria adotada no Brasil em relação a que elemento do crime o estado de necessidade exclui.

Tendo sido adotada no Brasil a Teoria Unitária/não-diferenciadora, o estado de necessidade é sempre


justificante, ou seja, exclui a antijuridicidade/ilicitude, e o sacrifício é razoável para salvar bem de igual ou maior
valor.

Atenção: Teoria Diferenciadora/não-unitária: o estado de necessidade pode ser:

a) Justificante: excluindo a antijuridicidade no sacrifício de um bem para salvar outro de maior valor;
b) Exculpante: que permite a exclusão da culpabilidade no sacrifício de um bem para salvar outro de menor
ou igual valor.

Obs.: para a Teoria Diferenciadora, não é razoável, em princípio, sacrificar a vida para salvar outra vida,
pois não se pode brincar de Deus. Tal sacrifício só poderia ser admitido por motivação pessoal, que se vincula à
culpabilidade, e não a antijuridicidade.

Outras questões acerca do estado de necessidade.


É possível haver estado de necessidade recíproco?

Sim, é perfeitamente admissível que duas ou mais pessoas ajam, simultaneamente, em estado de
necessidade, umas contra as outras.

Nesse caso, deve ser afastada a ilicitude do fato, sem a interferência do Estado, que permanece neutro no
conflito.

Exemplos: “O caso dos exploradores de cavernas”, uma tábua de salvação para dois náufragos.

Há hipóteses específicas de estado de necessidade, além da previsão geral do art. 24, do CP?

Sim. A Parte Especial do CP prevê casos específicos de estado de necessidade, como nos arts. 128, inciso I;
146, §3º; 150, §3º, inciso II c/c art. 5º, inciso XI, CF; e arts. 151, 153 e 154.

O estado de necessidade comunica-se aos coautores e partícipes?

Sim. O estado de necessidade exclui a ilicitude do fato típico, afastando a infração penal. Desaparecendo
esta em relação a um dos envolvidos, a excludente se comunica aos demais, pois para eles o fato também será
lícito.

O estado de necessidade é compatível com crimes permanentes e habituais?

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Em regra, não, por faltarem os requisitos da atualidade do perigo e da inevitabilidade do fato necessitado.

Legítima defesa.

Art. 25, CP.

- Conceito: trata-se de causa de exclusão da ilicitude consistente em repelir injusta agressão, atual ou
iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos meios necessários. É prevista nos arts. 23,
inciso II e 25 do CP.
Requisitos.
a) Injusta agressão: agressão é o ato lesivo humano (força da natureza ou ataque espontâneo de
animal, não). Movimentos corpóreos que não configuram conduta também não são agressões (espasmos
convulsivos, por ex.). Toda agressão é injusta, salvo se acobertada por excludente de antijuridicidade. Possível
concluir pela inviabilidade de legítima defesa real recíproca, ou seja, que duas pessoas estejam em legítima
defesa real uma contra a outra ao mesmo tempo.

Commodus discessus (saída mais cômoda): se viável a fuga, é permitida a reação? Prevalece que sim;
porque o homem não pode ser compelido a fugir. Prevalece que, ainda que possível a fuga, será legítima a
reação, pois ninguém pode ser obrigado a fugir, a ser covarde. Legítima defesa contra inculpáveis (criança, louco,
idoso): prevalece que á admitida (Hungria é contra), mas, nesse caso, se era possível a fuga, não se admite a
reação.

b) Atual ou iminente: atual é a que está acontecendo; iminente é a que vai acontecer no próximo
instante. Assim, não se admite legítima defesa contra agressão passada ou futura.

c) Bem jurídico próprio ou de terceiro: se o bem de terceiro for disponível, deve ser percebido o
interesse
real ou presumido na defesa. É necessária razoabilidade entre o bem defendido e o bem objeto da reação.

d) Meio necessário: é o meio menos lesivo ao alcance do autor suficiente para afastar a agressão.
Na
valoração do meio necessário não se exige a precisão da balança de farmácia.

Espécies de Legítima Defesa.


1) Real: se presentes todos os requisitos do art. 25, CP.

2) Putativa: a legítima defesa por erro, que pode ser de tipo ou de proibição;

3) Sucessiva: a reação contra o excesso doloso ou culposo em legítima defesa;


4) Subjetiva: excesso exculpante;
5) Recíproca.

LD Real LD Real Impossível (LD


Recíproca)

LD Real LD Putativa Possível

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LD Putativa LD Putativa Possível

LD Real Excesso Doloso / Possível (LD Sucessiva)

Culposo

LD Real Impossível. Roxin*


LD Subjetiva (excesso
exculpante)

LD Putativa LD Real Possível se de terceiro

Quais são as diferenças entre legítima defesa e estado de necessidade?


a) no estado de necessidade, há conflito de interesses legítimos; na legítima defesa, o conflito ocorre entre
interesses lícitos, de um lado, e ilícitos, de outro (agressão ilícita x reação lícita);
b) na legítima defesa, a preservação do interesse ameaçado se faz através de defesa dirigida contra o autor

da agressão; no estado de necessidade, ataca-se bem jurídico de terceiro inocente;

c) no estado de necessidade existe ação e na legítima defesa, reação.

ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA

Conflito entre vários bens jurídicos diante da Ameaça ou ataque a um bem jurídico
mesma situação de perigo.

Pressupõe perigo atual e sem destinatário Pressupõe agressão humana, atual ou


certo. iminente, injusta e dirigida (com destinatário certo).

Os interesses em conflito são legítimos. Os interesses do agressor são ilegítimos.


Conclusão: é possível estado de necessidade Conclusão: não é possível legítima defesa
recíproco. recíproca.

Estrito cumprimento do dever legal.

Conceito.

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É a atuação de acordo com a lei ou por ela autorizada. A expressão lei abrange tanto a lei em sentido estrito
quanto os atos normativos, como regulamentos, decretos, provimentos, portarias, etc.

Natureza jurídica.
Prevalece que é causa excludente de ilicitude.
Requisitos.
- Dever legal – existência de lei. Não legitima a exclusão da ilicitude o dever moral, social, religioso e as
resoluções ou ordens de caráter pessoal. Na última hipótese, o agente pode invocar a obediência hierárquica
para ver afastada a culpabilidade (art. 22, do CP) Lei é comando abstrato e geral que impõe dever.

Observância dos limites do dever legal. É necessário que os limites legais sejam observados, sob pena de o
agente responder pelo excesso.

O agente responde por eventuais excessos, como por exemplo, abuso de autoridade, lesão corporal,
violação de domicílio.

Consciência de ação no estrito cumprimento do dever legal.


Trata-se do requisito subjetivo. O agente deve ter consciência de que sua atuação decorre de um dever
legal. Na hipótese em que imagina a existência de um dever legal que na realidade não existe, pode-se configurar
estrito cumprimento de dever legal putativo. Dá-se o tratamento do erro de tipo, ou seja, se invencível, afasta-se
dolo e culpa, e se vencível, afasta-se o dolo podendo se punir por culpa se houver previsão de modalidade
culposa. A hipótese retrata, portanto, descriminante putativa.
Beneficiários.
Prevalece na doutrina que tanto os agentes públicos quanto os agentes particulares que eventualmente
exercem a função pública podem se beneficiar.

Adota-se um conceito de funcionário público do art. 327 do CP, que é mais amplo e, portanto, mais
benéfico.
Dever legal de matar.
Só se exclui a ilicitude pelo estrito cumprimento do dever legal nas hipóteses de guerra declarada, quais
sejam, pela atuação em campo de batalha, por condenação à pena de morte e no caso da lei do abate, cuja
previsão no Código da Aeronáutica autoriza a destruição de aeronaves hostis.
Nas demais hipóteses em que houver morte, é caso de legítima defesa própria ou de terceiros. Exemplos
dessa excludente da ilicitude são a prisão em flagrante, o uso de algemas, etc.

Exercício regular de direito

Conceito.
É a atuação conforme o direito, ou seja, no exercício de uma prerrogativa legalmente prevista.
Natureza Jurídica.
Prevalece que é causa excludente de ilicitude.
Hipóteses caracterizadoras.

Flagrante facultativo (art. 301, primeira parte, do CPP), é aquele praticado por qualquer do povo.

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Retenção de coisa alheia para o ressarcimento de dívida (art. 664 do CC).

Intervenções médicas e cirúrgicas: essa intervenção deve ser precedida de consentimento da vítima. Se não
houver autorização, mas for necessária para salvar a vida da vítima, o médico estará agindo em estado de
necessidade.

Violência desportiva, desde que seja inerente à modalidade de esporte.

Meios de correção: havendo excesso, o agente responderá pelo crime equivalente como maus tratos (art.

136 do CP) ou tortura (art. 1.º, II, da Lei n.º 9.455/97).

Requisitos.
existência de um direito: a expressão “direito” deve ser entendida de forma abrangente, abarcando
prerrogativas advindas da Constituição da República, do CP, do CC, e de dispositivos diversos.

Regular exercício do direito: significa que haverá punição quanto ao excesso, podendo configurar o crime
de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP), ou mesmo do constrangimento ilegal (art. 146 do CP).
Consciência de que age amparado pela excludente da ilicitude. É o requisito subjetivo.

Consentimento do ofendido.

Alcance.
É uma causa supralegal de exclusão da ilicitude. Poderá, outrossim, afastar a própria tipicidade. Para
determinar se atua como causa de justificação ou atipificante, deve-se verificar se o bem jurídico é disponível ou
indisponível e se o consentimento da vítima integra a estrutura típica.

Bem indisponível.
É a vida, por exemplo. Quando o interesse público se sobrepõe ao privado, há bem indisponível. Neste caso,
o consentimento do ofendido não retira do Estado a legitimidade para punir o agressor.

Bem disponível.
É aquele em que o interesse particular prevalece. A honra e o patrimônio são bens disponíveis por
excelência.

Consentimento do ofendido que exclui a própria tipicidade.


Ocorre quando o dissenso da vítima é elementar do crime, como ocorre, por exemplo, na invasão de
domicílio (art. 150 do CP) e no estupro (art. 213 do CP). Nesses casos, exclui a própria tipicidade, pois se o sujeito
autoriza o ingresso de outrem na sua casa, não há crime, o mesmo ocorrendo com o estupro.

Consentimento do ofendido que exclui a ilicitude.


Ocorre quando o dissenso da vítima não atua como elementar típica, como, por exemplo, no furto, dano,
injúria.

Momento do consentimento.

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Para excluir a tipicidade ou a ilicitude, o consentimento deve ser revelado até a consumação do crime.

Condição de validade.

Para que o consentimento tenha validade, exigem-se os seguintes requisitos:

a) ser expresso, pouco importando a forma (oral ou escrito, solene ou não);

b) ser livre, não decorrente de coação ou ameaça, nem de paga ou promessa de recompensa;

c) ser moral e respeitar os bons costumes;

d) ser manifestado previamente à consumação da infração penal;

e) o ofendido deve ser plenamente capaz para consentir. Não produz efeitos o consentimento prestado pelo
representante legal.

Capacidade para consentir com atos sexuais.


Pela leitura do art. 217-A do CP, depreende-se que a capacidade para consentir com a prática de atos
sexuais se dá aos 14 anos, não se falando em crime se houver consentimento do ofendido a partir dessa idade.

O Superior Tribunal de Justiça já sumulou a matéria:

“Súmula 593: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato,
sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.”

Ofendículos ou ofendículas.

Conceito.
É um mecanismo de proteção colocado para salvaguardar um bem jurídico, tendo por melhor exemplo a
colocação de cerca elétrica em residências para evitar invasão pelos criminosos. São aparatos predispostos a
proteger bens jurídicos (vida, patrimônio, dignidade sexual).

Espécies.
O ofendículos podem ser visíveis ou invisíveis, também chamados de ocultos ou de defesa mecânica
predisposta.

Natureza Jurídica.
Parte da doutrina afirma que os ofendículos se tratam de exercício regular de direito e outra parte entende
que é legítima defesa preordenada, havendo ainda os que diferenciam quanto a espécie do ofendículo, pois no
caso dos visíveis trata-se de exercício regular de direito e no dos ocultos seria legítima defesa preordenada.

Excesso.

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Havendo desproporção entre o bem jurídico tutelado e o agredido, o agente responde pelo excesso a título
de dolo ou a título de culpa.

Terceiro inocente.
Para aferir a responsabilidade do agente que utilizou do ofendículo e atingiu pessoa inocente, deve-se
perquirir a previsibilidade do resultado. Havendo previsibilidade, o agente responde por crime culposo em face
da imprudência constatada. Trata-se de culpa inconsciente.

Excesso nas excludentes.

O excesso pode ser doloso, culposo ou exculpante. Nos termos do art. 23, par. único, CP será punível se
doloso ou culposo.

No excesso doloso, o sujeito se aproveita da primitiva situação excludente da antijuridicidade para,


deliberadamente, ultrapassar seus limites e atacar. No excesso doloso, o sujeito é movido por afetos
estênicos, emoções fortes, como ódio, vingança, raiva.

Consequência: responderá pelos atos praticados em excesso a título doloso.

No excesso culposo, o autor transborda os limites da excludente por descuido. É movido por afetos

fracos, astênicos, como medo, desespero, pavor.

Consequência: responderá pelos atos praticados em excesso a título culposo.

No excesso exculpante, o sujeito rompe os limites da excludente, sem dolo ou culpa, também movido por
afetos fracos, astênicos.

Consequência: irrelevante penal.

Obs.: o excesso exculpante na legítima defesa é chamado legítima defesa subjetiva.

O excesso pode ser classificado como intensivo ou extensivo:

- intensivo é o abuso qualitativo, intensidade;

- extensivo é o abuso na duração da ação ou reação.

CULPABILIDADE.
Conceito
É a censurabilidade; um juízo de reprovação sobre aquele que pode e deve agir de acordo com o Direito.

Qual é a relação entre ilicitude, tipicidade e culpabilidade?


Tipicidade, ilicitude e culpabilidade estão de tal forma relacionadas que cada elemento posterior do delito
pressupõe o anterior, numa divisão tripartida de valoração que permite um resultado mais justo e adequado.

Assim, uma vez afirmada a tipicidade da conduta, o seguinte degrau valorativo corresponde à análise da
ilicitude, que expressa um juízo de contradição entre a conduta típica e o ordenamento jurídico.

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A tipicidade é indiciária da ilicitude: realizado o juízo de subsunção do fato a um determinado tipo, o passo
seguinte consiste em verificar se esse fato é desaprovado pelo ordenamento ou se, no caso, há alguma
circunstância que o autorize. O operador do direito efetua um juízo de valor para determinar se o indício de
ilicitude se confirma, ante a ausência de causas de justificação, ou se pode ser desconstituído, pela presença de
uma dessas causas.

Então, praticado o fato típico, presume-se a sua ilicitude. Mas essa presunção é relativa, juris tantum: um
fato típico pode ser lícito se seu autor demonstrar que agiu acobertado por uma causa de exclusão da ilicitude.

OBSERVAÇÃO: para identificar uma causa de exclusão da ilicitude, o art. 23 do CP usa a expressão
“não há crime”; para tratar de causa de exclusão da culpabilidade, o CP emprega os termos “não é punível”,
“é isento de pena” etc. Porém, na Parte Especial, há situações em que a expressão “é isento de pena” e
outras análogas referem-se à exclusão do crime (ex. artigos 128 e 142, ambos do CP).

A culpabilidade é formada por 03 elementos:

- imputabilidade;

- potencial consciência da ilicitude;


- exigibilidade de conduta diversa.

Imputabilidade

O Código Penal não define a imputabilidade, apresentando, contudo, as hipóteses de inimputabilidade, que
estão previstas nos artigos 26, caput; 27; e 28, §1º.

Imputabilidade é a capacidade de entender e querer. Noutros termos, é a capacidade de entendimento


acerca do caráter ilícito do fato (elemento intelectivo) e de determinar-se (autodeterminação) conforme esse
entendimento (elemento volitivo). É composta por DOIS ELEMENTOS: um INTELECTUAL (capacidade de
ENTENDER o caráter ilícito do fato) e outro VOLITIVO (capacidade de DETERMINAR-SE de acordo com esse
entendimento).

A CRFB/88 e o Código Penal brasileiro adotaram um critério cronológico, no tocante à imputabilidade. É


dizer, são imputáveis os maiores de 18 (dezoito) anos. Neste momento, surge a presunção absoluta de
imputabilidade.
A imputabilidade deve ser analisada no momento da conduta. Esse entendimento é um desdobramento da
teoria da atividade, consagrada pelo art. 4º, do CP, em relação ao tempo do crime, o que também está no art. 26,
caput, do CP.

Se ao tempo da conduta o réu era imputável, a superveniência de doença mental não altera sua situação.
Assim, ele será tratado como imputável, limitando-se a suspender o processo, até o seu restabelecimento.

Quais são os sistemas para identificação da inimputabilidade?


• Biológico: esse sistema indica que basta a presença de uma deficiência mental, para que o indivíduo
seja considerado inimputável. Há, aqui, a entrega de parcela importante de poder para o perito. Esse sistema
é adotado, como exceção, para os menores de 18 (dezoito) anos.

• Psicológico: pouco importa se o agente tem doença mental ou não, bastando a incapacidade de
entendimento e autodeterminação. Esse sistema dá muito poder para o juiz, que decidirá sobre a referida

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incapacidade, independentemente de laudo pericial. Também é adotado, como exceção, no caso de


embriaguez completa, fortuita ou acidental.

• Biopsicológico: esse sistema é uma fusão dos dois anteriores. O indivíduo deve ter uma deficiência
mental, e esta deve acarretar na incapacidade de entendimento e autodeterminação. O perito trata da
questão biológica e o juiz da psicológica. Este sistema é a regra geral prevista no art. 26, caput, do CP. Não
basta ser louco, tem que agir como louco.

Quais são as causas de inimputabilidade?


a) Menoridade.
O CP adota o critério biológico para os menores de 18 anos. Art. 228 CF e art. 27 CP. Para os menores de 18
anos existe uma presunção absoluta de inimputabilidade. Não cabe prova em contrário. A prova da menoridade,
segundo a Súmula 74 do STJ, pode ser feita por documento hábil, e não somente pela certidão de nascimento.
Para o Direito Penal, o menor de 18 (dezoito) anos civilmente emancipado é inimputável. A capacidade civil não
interfere na imputabilidade penal.

A ressalva contida no art. 50 do CPM (possibilidade de imputabilidade aos 16 anos), não foi recepcionada
pela Constituição Federal de 1988.
Uma vez completados os 18 anos, o agente torna-se imputável. Assim, no primeiro minuto da data de seu
aniversário, independentemente da hora em que nasceu, o agente adquire a maioridade penal, com todas as
implicações dela decorrente.
Diminuição da maioridade penal. É cláusula pétrea? Há divergência. Doutrina majoritária entende que o
direito fundamental do menor de 18 anos de não ser processado pela Justiça Comum é cláusula pétrea implícita.
Por isso, só poderia ser alterado com outra Constituição, fruto do Poder Constituinte Originário. Outros dizem
que é possível a redução por emenda constitucional, por não ser cláusula pétrea. (PEC 26/02) tramitando no
Congresso Nacional)

Crimes permanentes e superveniência da maioridade penal: poderá ser responsabilizado pelos atos
praticados após o início da sua imputabilidade penal. Os anteriores são desprezados para fins penais. Se praticou,
por exemplo, tortura em alguém sequestrado enquanto era menor, ele não responderá na Justiça Comum por
essa circunstância, seja como crime autônomo ou para aumentar a pena.

b) Doença mental.
Essa expressão deve ser interpretada em sentido amplo, para abranger todas as doenças mentais
permanentes ou transitórias (desde que presente ao tempo da prática da conduta.), congênitas ou adquiridas,
patológicas ou de origem toxicológica ou que retiram a capacidade de entendimento e de autodeterminação. O
doente mental que pratica um crime durante um intervalo de lucidez será considerado imputável, de acordo com
a teoria biopsicológica.

c) Desenvolvimento mental incompleto.


O maior exemplo é o silvícola. Entretanto, a inimputabilidade não será automática, pois dependerá de
perícia médica. A depender do resultado, o silvícola pode ser imputável, semi ou inimputável.
d) Desenvolvimento mental retardado.
A pessoa não se mostra em sintonia com os demais indivíduos que possuem sua idade cronológica, em
razão de deficiências psíquicas. O maior exemplo é o surdo-mudo. Entretanto, a inimputabilidade não será

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automática, pois dependerá de perícia médica. A depender do resultado, o surdo-mudo pode ser imputável, semi
ou inimputável.

e) Embriaguez acidental completa (art. 28, §1, CP).


Perícia médica
Prova da inimputabilidade: a perícia médica é o meio legal de prova da inimputabilidade, e somente ela
poderá provar a inimputabilidade de um maior de 18 (dezoito) anos. A sentença de interdição civil e a inspeção
judicial não provam a inimputabilidade. Importante ressaltar que o laudo pericial não vincula o juiz (art. 182 CPP).
Essa perícia é chamada de incidente de insanidade mental. Esse incidente pode ter início pela provocação de
qualquer das partes ou de ofício pelo juiz (só é instaurado mediante a presença de indícios).É processado em
autos apartados. Suspende a ação penal, mas não suspende a prescrição.

Obs. O art. 45 da Lei de Drogas traz uma causa especial de exclusão da culpabilidade, que ocorre em razão da dependência.

Quais são os efeitos da inimputabilidade?


a) Para os menores de 18 anos. Adota-se a sistemática do ECA, encaminhando o procedimento
investigatório à Vara da Infância e Juventude.

b) Os demais inimputáveis serão processados e julgados pela Justiça Comum. Constatado que
cometeram um fato típico e ilícito, haverá uma sentença de absolvição imprópria (art 386, parágrafo único, III,
CPP), na qual se aplica a medida de segurança. Os inimputáveis sempre serão absolvidos, diante da ausência de
culpabilidade (juízo de reprovabilidade). O juízo de culpabilidade será substituído pelo juízo de periculosidade.
Deste modo, é possível concluir que os inimputáveis sempre serão absolvidos (absolvição própria ou imprópria),
já que não existe culpabilidade.

c) Semi-imputabilidade/imputabilidade diminuída/imputabilidade restrita (art. 26, §único, do


CP).
A semi-imputabilidade é uma causa de diminuição da pena (1/3 a 2/3), levando em consideração o grau da
perturbação da saúde mental. A diferença em relação à inimputabilidade é de grau. O agente tem diminuída sua
capacidade de entendimento e de autodeterminação. É por esse motivo que o semi-imputável também é
chamado de fronteiriço. A pessoa tem culpabilidade, mas em um grau menor.

Como o agente se encontra em posição biológica e psicológica inferior em relação a um imputável, a


reprovabilidade da conduta é menor. Os semi-imputáveis são processados e julgados pela justiça Comum e a
sentença contra eles proferida é (I) condenatória com redução da pena de 1/3 a 2/3 e (III) análise da substituição
da pena diminuída por medida de segurança, se o laudo indicar que ele precisa de tratamento curativo (art 26,
CP). Também utiliza-se o sistema biopsicológico.
Natureza jurídica da semi-imputabilidade.
Trata-se de causa obrigatória de diminuição de pena. O juiz vai determinar apenas o montante da redução,
com base no grau de capacidade do agente.

Dessa forma, na semi-imputabilidade, subsiste a culpabilidade, devendo o réu ser condenado. Entretanto,
se o semi-imputável necessitar de tratamento curativo, porque dotado de periculosidade (a perícia recomendar e
o juiz concordar), a pena privativa de liberdade pode ser substituída por medida de segurança (art. 98 CP).

O Código Penal adota o sistema vicariante ou unitário. Assim, o semi-imputável ou cumpre a pena
diminuída ou a medida de segurança.

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Antes da reforma da parte geral, o Código Penal adotava o sistema do duplo binário ou dos dois trilhos ou
da dupla via: primeiramente, o semi-imputável cumpria a pena, depois a medida de segurança, se ainda fosse
considerado perigoso.

Emoção e paixão.
Art. 28, I, CP – não excluem a imputabilidade penal a emoção ou a paixão. Historicamente o CP
Republicano 1890 dizia que a perturbação dos sentidos afastava a culpabilidade. Essa sistemática abria um
espaço muito grande para o homicídio passional, a legítima defesa da honra. Pelo atual Código Penal, a emoção
e a paixão não excluem a culpabilidade.

O CP traz, implicitamente, duas exceções.


1) Se essa emoção ou paixão forem patológicas, comprovadas por perícia, elas serão equiparadas às
doenças mentais, aplicando-se o art. 26, caput, CP (inimputabilidade ou semi-imputabilidade).
2) Coação moral irresistível. Por inexigibilidade da conduta diversa – VIP: NOSSA BANCA ADORA
QUESTIONAR ISSO!!!!!
Qual a diferença entre emoção e paixão?
São alterações do estado psicológico do ser humano. A diferença diz respeito à duração. A emoção é de
natureza transitória, ex. raiva, medo, vergonha, surpresa, prazer erótico. Ela vem, afeta e logo passa. A paixão é
duradoura, o que não quer dizer eterna. Tem um quadro de permanência, ex. amor, inveja, avareza, fanatismo. O
Código se refere à emoção e paixão de conteúdo normal. Aquelas inerentes a todas as pessoas. Podem ser sociais
ou antissociais (ódio). Podem ser astênicas (pessoa tem debilidade, vive com medo) ou estênicas (pessoas ativas,
nervosas).

Vale ressaltar que a “violenta emoção” pode configurar atenuante genérica ou homicídio e lesão corporal
privilegiado.

- INFLUÊNCIA de violenta emoção – atenuante (art. 65, III, c, CP)


- DOMÍNIO de violenta emoção – homicídio e lesão corporal privilegiado (art. 121, §1º e art.
129, §4º, ambos do CP).
- Embriaguez.
Conceito.
É a intoxicação aguda do organismo humano por álcool ou por substância de efeitos análogos, apta a
provocar a exclusão da capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Quais são as fases, períodos ou etapas da embriaguez?


A embriaguez apresenta três fases:

a) eufórica – falante, desinibido, feliz. Fase do “macaco”.


b) agitada - fase do “leão”. Agressivo, voz pastosa, andar desajeitado.

c) comatosa ou fase do coma – cansaço, sono, coma. Fase do “porco”

Nas duas primeiras fases o sujeito pode praticar crimes comissivos ou omissivos. Na terceira fase somente
crimes omissivos próprios ou impróprios.

Quais são as espécies de embriaguez?

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- Quanto à intensidade.

a) completa, total ou plena: é aquela que chegou na segunda ou terceira fase

b) incompleta, parcial ou semiplena: é aquela que ficou na primeira fase.

- Quanto à origem.

a) voluntária ou intencional: O sujeito quer se embriagar, mas ele não quer praticar crime algum. A vontade

se limita à embriaguez.
b) culposa: o sujeito não quer se embriagar, mas por imprudência ele se excede no consumo do álcool e

acaba embriagado.
c) preordenada ou dolosa: O sujeito quer se embriagar para cometer um crime. Não exclui a
imputabilidade

penal e também caracteriza uma agravante genérica. Art. 61, II, l. CP

d) fortuito ou acidental: é aquela que emana de caso fortuito ou de força maior. Ex. pessoa faz uso de

medicamento que não sabe ser incompatível com álcool. Sequestrador injeta álcool na veia do sequestrado. Se
for completa, exclui a culpabilidade (art. 28, §1º, CP) Se for incompleta, não exclui, mas a pena será diminuída de
1/3 a 2/3. (Art. 28, §2, CP).
- A embriaguez voluntária e a culposa não excluem a imputabilidade penal. Art. 28, inciso II, do CP

Potencial consciência da ilicitude.

Trata-se de elemento integrante da culpabilidade, no qual exige-se que o autor tenha o conhecimento, ou,
no mínimo, a potencialidade de entender o caráter ilícito de seu comportamento.

No sistema clássico, a consciência da ilicitude era atual e situava-se na culpabilidade, no interior do dolo.
Era o chamado dolo normativo.
No sistema finalista, a potencial consciência da ilicitude está inserida na culpabilidade e o dolo foi
transferido para a conduta (fato típico). Assim, o dolo passou a ser natural.

Causa legal de exclusão que exclui a potencial consciência da ilicitude.


O erro de proibição escusável (invencível) previsto no art. 21 CP.

O que exclui a potencial consciência da ilicitude é o erro de proibição,

O erro de proibição é definido como a falsa percepção do agente acerca do caráter ilícito do fato típico por
ele praticado, de acordo com um juízo profano, mediante simples esforço de consciência. Essa consciência
provém dos conhecimentos adquiridos na vida em sociedade. Trata-se da consciência profana do injusto.
Erro de proibição inevitável: o sujeito, ainda que no caso concreto tivesse se esforçado, não poderia ter
evitado o erro. Exclui a culpabilidade

Erro de proibição evitável: o erro poderia ser evitado com o normal esforço de consciência pelo agente.
Subsiste a culpabilidade, mas é causa de diminuição da pena.

Mas, como compatibilizar o erro de proibição com a inescusabilidade do conhecimento da lei?

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O desconhecimento da lei é inescusável. Para assegurar a convivência em sociedade e obediência ao


ordenamento jurídico, o art. 3 da LINDB impõe uma ficção jurídica, qual seja, a presunção legal absoluta acerca
do conhecimento da lei por todos a partir de sua publicação. Mas a presunção da ciência da existência da lei é
diferente do conhecimento do seu conteúdo (lícito ou ilícito), que somente se adquire com a vida em sociedade.
Nesse ponto, insere-se o instituto do erro de proibição.

Embora seja inescusável o desconhecimento da lei, em razão do elevado número de normas que compõe o
ordenamento jurídico a alegação do desconhecimento da lei pode ser:

- Atenuante genérica, seja inescusável ou escusável, o desconhecimento da lei (art. 65, II, CP)

- Autoriza o perdão judicial nas contravenções penais, desde que o desconhecimento da lei, seja escusável.
(art. 8, LCP).

Inexigibilidade de conduta diversa.

É o elemento da culpabilidade em que o agente podia agir em conformidade com o Direito, mas preferiu
violar a lei penal.
Quais são as causas excludentes da exigibilidade de conduta diversa?
A exigibilidade de conduta diversa apresenta causas excludentes legais e supralegais.
As causas legais são coação moral irresistível e obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal.
A) Coação moral irresistível.

Há dois tipos de coação, a moral e a física. A moral irresistível exclui a culpabilidade (art. 22, CP) e incide
sobre a exigibilidade de conduta diversa. A física irresistível torna o fato atípico, por excluir a conduta.

A coação recai sobre a vontade, viciando-a, de modo a retirar a exigência legal de agir de maneira
diferente. Fundamenta-se no fato de que a lei não pode impor às pessoas o dever de atuar de modo heróico.
Requisitos da coação moral irresistível.

- Ameaça séria, grave e irresistível do coator: é a promessa da realização de um mal grave e iminente. A
ameaça deve ser direcionada ao coagido ou pessoa próxima a ele. Se for a desconhecido não há coação
moral irresistível, mas pode ser causa supralegal de inexigibilidade de conduta diversa.

- Inevitabilidade do perigo: o coagido não tem outra forma de afastar esse perigo, a não ser ceder ao
coator.

- Presença, em regra, de pelo menos três pessoas: coator, coagido e vítima do crime. Ou duas, no caso do
coagido matar o coator. Não seria caso de legítima defesa, pois não haveria agressão atual ou iminente.

Quais são os efeitos jurídicos da coação moral irresistível?


Trata-se de hipótese de autoria mediata ou indireta. Isso significa, em primeiro lugar, não haver concurso
de pessoas entre o autor mediato e o autor imediato (que sequer sabe o que está fazendo e por essa razão não
responderá pelo crime)

Somente o coator responde pelo crime. O coagido fica isento de pena. Entre coator e coagido não há
concurso de pessoas. Falta o vínculo subjetivo.

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Se a coação moral for resistível existirá concurso de pessoas entre coator e coagido. Para o coator incidirá
uma agravante genérica. Para o coagido incidirá uma atenuante genérica.

CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIREM:


→ Coação física irresistível: o fato é atípico pela ausência de vontade e o coagido não responde por
crime algum. Ele atua como instrumento do crime a serviço do coator.
→ Coação moral irresistível: exclui a culpabilidade, pois o coagido age com vontade, embora esteja
viciada. Não há concurso de pessoas, pela ausência do liame subjetivo.
→ Coação moral resistível: não exclui a culpabilidade, mas o coagido tem direito a uma atenuante
genérica. Há concurso de pessoas e o coator tem sua pena agravada.

B) Obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal.


Causa legal excludente da inexigibilidade da conduta diversa, que ocorre quando um funcionário público
subalterno pratica uma infração penal em decorrência do cumprimento da ordem, não manifestamente ilegal,
emitida pelo superior hierárquico.

Requisitos da obediência hierárquica.


a) Ordem não manifestamente ilegal.
- Natureza da ordem pode ser:

→ Ordem legal: não há crime nem para o superior nem para o subalterno. Estrito cumprimento do dever legal
(excludente da ilicitude Ex. comandante manda o PM prender quem está em flagrante delito.

→ Ordem manifestamente ilegal: ambos responderão pelo crime, em concurso de pessoas. Para o superior
hierárquico incidirá uma agravante (art. 62, III, 1ªa parte, CP) e para o subalterno uma atenuante (art. 65, III,
c. CP)

→ Ordem não manifestamente ilegal: é a ordem ilegal, mas de aparente legalidade. Ex. comandante
manda prender alguém dizendo que praticou crime, mas na verdade é porque namorava a filha dele. O
subalterno fica isento de pena e o superior responde pelo crime. É mais uma hipótese de autoria mediata.

b) Ordem emanada de autoridade competente.


Se a autoridade for incompetente, pode ser caso de erro de proibição inevitável.

c) Relação de direito público.

Só é possível nas relações de direito público, pois só nessas relações há poder hierárquico.

Presença de pelo menos três pessoas.

Superior hierárquico, funcionário público subalterno e vítima do crime.


d) Cumprimento estrito da ordem.
O subalterno cumpre exatamente a ordem do superior. Ele não extrapola.

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CONCURSO DE PESSOAS
Quais são os requisitos para a caracterização do concurso de pessoas?

1. Pluralidade de condutas e de agentes: pelo menos dois agentes, sejam autores ou autor e partícipe. Nunca
haverá concurso de pessoas apenas com condutas acessórias (partícipes). Um dos agentes pode ser
inimputável ou não ter sido identificado, pois isso não afasta o concurso. Em caso de utilização de um
inimputável como instrumento para a prática de crime, não haverá concurso, e sim autoria mediata.

2. Relevância causal de todas as condutas: todas as condutas devem ter contribuído para o mesmo
resultado. Se uma conduta não puder ser considerada causa a partir da análise do nexo de causalidade, será
irrelevante penalmente. Além disso, se uma das condutas ocorreu após a consumação, não há concurso de
pessoas (provavelmente haverá crime autônomo, como o favorecimento real).

3. Liame subjetivo entre os agentes: também chamado de concurso de vontades. Deve haver
homogeneidade do elemento subjetivo – ou ambos os agentes agem com dolo, ou ambos agem com culpa.
Não há participação culposa em crime doloso e vice-versa.

- “Pactum sceleris”: acordo prévio entre os agentes. Não é necessário o pacto prévio, basta que um adira à
vontade do outro.

4. Unidade de fato: todos, sejam coautores ou partícipes, respondem pelo mesmo crime (teoria monista, que
é a regra). Há, contudo, exceções que serão vistas a seguir.

- Até que momento pode uma pessoa colaborar com uma ação e ser considerada coautora?

Prevalece que a participação deve se dar até a consumação do delito, sob pena de os fatos posteriores serem
enquadrados em outro delito (como o favorecimento real).

Pode-se defender o cabimento do concurso de pessoas até o exaurimento do crime, como no caso da
extorsão, em que um dos indivíduos pode apenas ir buscar o dinheiro extorquido, sem participar da ação que
consumou o crime (delito formal, consuma-se com a prática da conduta).

Qual é a teoria do concurso de pessoas adotada no Brasil? Essa regra comporta exceções?

Há uma teoria como regra e duas exceções.

1) Teoria monista – todos respondem pelo mesmo crime. É a regra.

2) Teoria dualista – um crime para os autores, um para partícipes.

Pode ser considerada exceção pelo final do caput do artigo 29 e pelos seus parágrafos.

Esse desvio pode ser quantitativo (ofende de forma mais grave o mesmo bem jurídico ou bem de natureza
semelhante) ou qualitativo (ofende bem jurídico distinto do plano original).

3) Teoria pluralista – um crime para cada agente participante.

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É exceção, como no artigo 29, § 2°, do CP (cooperação dolosamente distinta ou desvio subjetivo de conduta)
ou os diversos exemplos da parte especial e das leis especiais (aborto consentido, corrupção, tráfico e
informante do tráfico, etc.)

Como se define quem age como autor e quem age como partícipe em uma ação delituosa?

Observa-se que duas são as principais teorias que conceituam autor, embora outras sejam encontradas na
doutrina especializada:

1) unitária – todos são autores ou coautores, não há partícipe. É a teoria adotada nos crimes culposos, nos
quais só há concurso de pessoas se todos forem autores.

2) restritiva – separação de autor e de partícipe, em decorrência de condutas principais e acessórias.


Dividese em:

a) objetivo-formal – autor é aquele que pratica o verbo nuclear do tipo; partícipe é quem concorre sem

praticar o núcleo do tipo.


b) objetivo-material – autor é aquele que dá a contribuição material mais importante para o crime;

partícipe é quem concorre sem contribuir de forma importante.


A teoria do domínio do fato é adotada no Brasil?
Além das teorias citadas, imprescindível referir a teoria do domínio do fato, idealizada por Roxin e
considerada por muitos como uma teoria restritiva, porém estudada em separado em virtude de sua relevância.

O STJ adota a teoria, e o STF já adotou no processo do mensalão.

Para a teoria do domínio do fato, quem é autor do delito?


Para a teoria do domínio do fato, é autor do delito aquele que tem o domínio sobre “se” o crime será
cometido e “como” o delito será cometido:

Domínio da ação (autor imediato) – autor é quem domina a sua própria ação, realizando pessoalmente o
núcleo do tipo.

Ex.: subtrai, mediante violência, bens alheios.

Domínio da vontade (autor mediato) – autor também é aquele que domina a vontade de terceiro, utilizado
como instrumento para a prática do crime.

É o que ocorre no erro determinado por terceiro (art. 20, § 2°, do CP), na coação irresistível e obediência
hierárquica (art. 22, do CP) e nos aparatos organizados de poder (chefe de organizações criminosas, teoria do
domínio da organização).

- Domínio funcional do fato (autor funcional) – autor é quem pratica ato relevante durante a execução do
plano delitivo global. Ex.: motorista que leva os assaltantes ao local do delito e aguarda para auxiliar na
fuga.

Quem será partícipe do delito para a teoria do domínio do fato?

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O partícipe, na teoria do domínio do fato, é aquele que participa do delito instigando, induzindo ou
auxiliando, porém sem nenhum domínio sobre o resultado.

Quanto à participação, quais as formas de sua ocorrência?


A participação se dá em duas formas:
a) moral (induzimento e instigação) – induzir é fazer nascer a ideia; instigar é reforçar a ideia já existente.

b) material (auxílio) – é a contribuição por meio de um comportamento, seja na preparação ou na execução

do delito (vigiar o local do crime ou emprestar os instrumentos que serão utilizados na execução).

Qual é a natureza jurídica da participação?


Quanto à natureza jurídica, a participação é uma norma de extensão pessoal (art. 29, do CP), uma das
espécies de adequação típica mediata ou indireta.

Como se identificam e diferenciam as teorias da acessoriedade?


Para diferenciar uma teoria da acessoriedade das demais é necessário analisar a conduta principal (do
autor):

a) Acessoriedade mínima: o partícipe será punido desde que o autor pratique um fato típico.

b) Limitada/média (prevalece): o partícipe poderá ser punido desde que o autor pratique um fato típico e
ilícito.

c) Máxima/extremada: o partícipe poderá ser punido desde que o autor pratique um fato típico, ilícito e

culpável.
d) Hiperacessoriedade: o partícipe poderá ser punido desde que o autor pratique um fato típico, ilícito,

culpável e punível.

É possível concurso de pessoas em crime culposo?


Prevalece que não cabe participação em crime culposo. Isso porque um dos requisitos do crime culposo é a
violação do dever de cuidado objetivo, dever este imposto a todas as pessoas, de modo que a cada violação
ocorrerá uma autoria.

Nessa linha de raciocínio, a maioria entende possível a coautoria. Exemplo: dois operários lançam uma
barra de ferro que não alcança o objetivo e atinge pedestre, ambos responderão por homicídio culposo em
coautoria, pois houve liame subjetivo na ação de lançar a barra, apesar de não haver dolo na conduta de nenhum
deles.
As circunstâncias e condições pessoais do agente se comunicam aos coautores e partícipes?
Não se comunicam as circunstâncias e as condições pessoais, salvo quando elementares.

Dessa forma:

a) circunstâncias objetivas ou reais: comunicam-se, desde que conhecidas pelos coautores.

b) circunstâncias subjetivas ou pessoais: não se comunicam no concurso de pessoas.

c) elementares: sejam objetivas ou subjetivas, comunicam-se, desde que seja conhecida pelos coautores.

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Em complemento, a circunstância influencia na pena, como é o caso do furto durante o repouso noturno,
enquanto as elementares influenciam na tipicidade, como é o caso da condição de funcionário público no
peculato.

Como se conceitua autor mediato?


O autor mediato é aquele que, sem realizar diretamente a conduta prevista no tipo, comete o fato punível
por meio de outra pessoa, usada como seu instrumento.

A diferença entre o partícipe e o autor mediato é que este pratica o crime usando uma pessoa como seu
instrumento, enquanto o partícipe assessora uma pessoa que é autora principal. Ambos não praticam o verbo
núcleo do tipo. Daí a crítica ao conceito objetivo-formal de autor, pois nele não se enquadra o autor mediato.
Quais são as hipóteses de autoria mediata?

As hipóteses tradicionais de autoria mediata são:

a) erro determinado por terceiro (art. 20, § 2°, CP).

b) coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte, CP).

c) obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte, CP).

d) caso de instrumento impunível (ex.: autor usa adolescente para subtrair veículo).

e) autoria de escritório - forma especial de autoria mediata, pressupõe uma máquina de poder determinando
a ação de funcionário, os quais, no entanto, não podem ser considerados meros instrumentos nas mãos dos
chefões. O autor de escritório tem poder hierárquico sobre seus soldados (ex.: PCC), e os soldados também
são punidos quando executam as ordens.

Cabe autoria mediata em crimes próprios e de mão própria?


Admite-se a autoria mediata nos crimes próprios, desde que o autor mediato reúna as condições pessoais
necessárias à configuração do crime.

Ex.: um funcionário público pode usar como instrumento um particular para cometimento de peculato,
sendo aquele o autor mediato e este, o imediato. O inverso, entretanto, não é válido, pois o particular não reúne
as condições para ser condenado sozinho por peculato. Cuidado para não confundir com as hipóteses de
coautoria, nas quais a condição de funcionário, por ser elementar, comunica-se ao particular.

Já nos crimes de mão própria a maioria da doutrina não admite a autoria mediata, na medida em que
somente quem reúne as condições pessoais exigidas pelo tipo e comete o delito pessoalmente pode ser autor.

Há, no entanto, corrente minoritária que entende ser cabível a autoria mediata no caso de falso
testemunho, quando, por exemplo, a testemunha é coagida a prestar falso depoimento.

Em que consiste a autoria colateral? Quais as consequências jurídicas de sua ocorrência?


A autoria colateral ocorre quando há mais de um autor, ambos agindo com intenção de cometer o delito,
mas que não sabem da existência um do outro.

Nesse caso, não há liame subjetivo (vínculo psicológico). Não havendo liame subjetivo, não há concurso de
pessoas, respondendo cada coautor por sua conduta.

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Se for possível determinar qual foi a conduta causadora do resultado, responderá seu autor pelo delito
consumado e o outro pela tentativa.

Também pode acontecer a autoria incerta, na qual não se tem a certeza de quem foi o causador do
resultado. Para se evitar responsabilidade penal objetiva, nenhum dos supostos autores responderá pelo
resultado consumado, mas sim pela tentativa.

Por fim, caso as duas condutas, quando analisadas individualmente, sejam insuficientes pra consumar o
intento, mas se somadas levarem ao objetivo, há duas correntes: i) com base no art. 13 do CP, as duas concausas
são relativamente independentes e não causaram por si sós o resultado, devendo a consumação ser imputada a
ambos os coautores; ii) para evitar responsabilidade penal objetiva, imputa-se apenas os atos efetivamente
praticados pelos agentes, ou seja, apenas a tentativa.

O que é autoria acessória ou autoria colateral complementar?


A autoria acessória ocorre quando duas pessoas concorrem para o mesmo fato sem terem ciência da ação
da outra e, portanto, agindo sem liame subjetivo. A conduta de cada uma delas é insuficiente para atingir o
resultado do delito, mas, combinadas, acabam causando o dano pretendido.

Ex.: Peterson e Augusto ministram veneno na comida de Ana. A dose de veneno utilizada pelos dois
agentes é insuficiente, por si só, para causar a morte de Ana. Ocorre que a soma das doses causa a morte da
vítima.

Nesse caso, surgem três correntes quanto à punição dos agentes:


1ª corrente: como cada agente contribuiu para o resultado morte e a concausa relativamente independente
não causou o resultado por si só, ambos responderão pelo homicídio consumado.

2ª corrente: cada agente responderá apenas pela conduta cometida, ou seja, a tentativa de homicídio. Isso
porque o risco criado era insuficiente para matar, mas eficaz para lesar.

3ª corrente: haverá crime impossível, tendo em vista que as condutas dos agentes, quando isoladas, iram
incapazes de atingir o objetivo. Ora, se nenhum dos agentes conhecia a vontade do outro e, portanto, restava
ausente o liame subjetivo e, cada uma das doses de veneno, por si só, isoladamente consideradas, era inócua a
causar a morte da vítima, a solução mais adequada ao caso, sob pena de colocarmos “por terra” toda a
principiologia acerca do concurso de pessoas, é essa última.

Quem é o autor de reserva?


O autor de reserva é aquele que fica de prontidão aguardando o cometimento da infração. Caso haja
alguma necessidade de apoio ao agente que está cometendo o crime, o autor de reserva entra em ação e auxilia
na obtenção do resultado pretendido (ex: atirador com rifle de precisão fica em ponto mais alto aguardando a
necessidade de intervir em ação que acontece na rua).

O que se entende por participação de participação, participação em cadeia ou participação mediata?

Ocorre quando o agente que havia sido instigado ou induzido a praticar um delito, em lugar de cometê-lo,
instiga ou induz terceiro a praticá-lo em seu lugar.
Segundo o mestre Alexandre Salim (Direito Penal, Parte Geral, 8ª edição, Editora Juspodivm), a
participação mediata é punível da mesma forma que a imediata.

Como fica a punibilidade da participação sucessiva?

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Na participação sucessiva, o agente “A” é instigado ou induzido por “B” a cometer um delito; ocorre que,
posteriormente, “A” conversa com “C”, que sem saber da atuação de “B”, também instiga “A” a cometer a
infração penal.
Caos as duas participações sejam imprescindíveis na formação da vontade de “A”, os dois partícipes serão
punidos. Entretanto, se “A” já estava decidido a cometer o crime quando conversou com “C”, este não será
punido, pois sua conduta não influenciou no resultado.

Participação de menor importância e cooperação dolosamente distinta.


A participação de menor importância está prevista no artigo 29, § 1°, do CP, determinando a redução de um
sexto a um terço da pena. Apesar de a norma trazer a expressão “pode”, prevalece que a redução da pena é
obrigatória se o juiz reconhecer que a participação foi de menor importância. Aplica-se apenas para partícipes.
Já a cooperação dolosamente distinta vem logo na sequência, no § 2° do art. 29. Segundo a norma, se o
agente quis participar de crime menos grave, duas são as possíveis consequências: i) caso o crime mais grave
tenha sido previsível, será aplicada a pena do menos grave, aumentada até a metade; ii) caso o crime mais grave
não tenha sido previsível, responderá o coautor apenas pelo crime do qual quis participar.
É cabível concurso de pessoas em crime omissivo?
Nos crimes omissivos próprios prevalece o entendimento de que apenas é possível a figura da participação,
pois “NINGUÉM PRECISA DE AJUDA PARA NÃO FAZER NADA”. Isso significa que quem se omitiu em parte de
um tipo penal omissivo próprio ou puro, já o consumou por completo.

E nos crimes omissivos impróprios?


Como são crimes de resultado, tanto é cabível a participação como a coautoria.

O que são crimes de concurso eventualmente necessário?


Os crimes de concurso eventual ou monossubjetivos, maioria no ordenamento brasileiro, são aqueles que
podem ser cometidos por apenas uma ou por mais pessoas, não sendo essa circunstância causadora de aumento
de pena ou qualificação do delito.

Os crimes de concurso necessário ou plurissubjetivos são delitos que exigem a concorrência de mais de uma
pessoa para sua configuração (rixa, associação criminosa).

Por fim, os crimes de concurso eventualmente necessário são aqueles que podem ser cometidos por
apenas uma pessoa, mas quando cometidos por mais de uma sofrem a incidência de majorante ou qualificam-se
(furto qualificado, roubo majorado).

Existem casos em que a participação não será punida?


Sim, o próprio Código Penal traz a determinação de que a participação não é punível se o crime não chega a
ser ao menos tentado (artigo 31, do CP).

Aprofundando o tema!
Entretanto, há outro caso mais complexo, que ocorre nas situações em que o autor principal desiste
voluntariamente da ação ou se arrepende eficazmente (artigo 15 CP).

Nesse ponto, a comunicação do benefício dependerá da natureza jurídica dada ao instituto jurídico.

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a) em sendo considerados causas de isenção de pena, a conduta do autor principal seguirá sendo típica
e ilícita, de modo que o partícipe será punido pela tentativa normalmente.

b) se forem considerados causas de exclusão da tipicidade, a tentativa não poderá ser atribuída ao
partícipe, pois adotada a teoria da acessoriedade limitada, que exige conduta típica e ilícita do autor principal
para a punibilidade do partícipe.

SÚMULAS ACERCA DO TEMA

→ Do Supremo Tribunal Federal:


- Súmula 711: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

- Súmula Vinculante 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos
I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

→ Do Superior Tribunal de Justiça:

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- Súmula 501: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combinação de leis.
- Súmula 589: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

- Súmula 599: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

- Súmula 593: O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.

- Súmula 606: Não se aplica o princípio da insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de
internet via radiofrequência, que caracteriza o fato típico previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997.

Questões comentadas pelo professor

1. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público

A legítima defesa
é meio de exclusão da ilicitude em face de qualquer injusta agressão, desde que os bens jurídicos atacados sejam
o patrimônio, a vida ou a integridade corporal.

é cabível ainda que o bem agredido esteja submetido a outra forma de especial proteção, como o proprietário
que ameaça o inquilino para que preserve o imóvel.

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se legitima como forma de exclusão da antijuridicidade diante de agressão injusta, entendida como aquela
realizada mediante comportamento do agressor que implique em crime doloso.

quando praticada em excesso, após cessada a agressão, implica em punição na modalidade culposa.

exclui a antijuridicidade da conduta quando repele agressão injusta que esteja ocorrendo ou em vias de ocorrer,
desde que a ação defensiva seja moderada e utilize os meios necessários.

RESOLUÇÃO.
Primeiro, vamos observar o que diz o art. 25, CP:

Legítima defesa

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Esmiuçando o conceito legal dessa excludente temos que:

1- Ameaça ou ataque a um bem jurídico: pressupõe uma agressão humana, injusta e que seja atual ou
iminente.
2- Essa agressão, nos moldes do que foi dito antes, deve ser injusta.

OBS.: é possível legítima defesa contra o ataque de inimputável, pois a injustiça da agressão deve ser
conhecida do agredido.
3- Uma vez constatada a injusta agressão, o agredido pode rebatê-la não se lhe exigindo a fuga do local
(comodus discessus não é requisito da legitima defesa, mas do estado de necessidade).

Assim, analisando as alternativas:

- A letra “a” está errada, pois não há rol taxativo de quais podem objeto de uma legítima defesa.

- A letra “b” está errada. O exemplo apresentado não caracteriza legítima defesa, visto que não se trata de
agressão injusta. Caberia, no caso concreto, ação possessória no âmbito cível.

- A letra “c” está errada, pois não é requisito que a agressão se qualifique como crime doloso ou não, desde
que seja injusta, atual ou iminente.

- A letra “d” está errada. É que o excesso das excludentes pode ser punido na forma dolosa e culposa. Isso
porque os excessos podem ser doloso ou culposo.

- A letra “e” está certa, perfeita. A legítima defesa exclui a antijuridicidade da conduta quando repele
agressão injusta que esteja ocorrendo ou em vias de ocorrer, desde que a ação defensiva seja moderada e utilize
os meios necessários. Exatamente, até porque se houver excesso, o agente por ele responderá.

Gabarito: E

2. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial -
Administrativa
Não há crime quando o agente pratica o fato: I. Em estado de necessidade.
II. Em estado de embriaguez culposa pelo álcool.

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III. Em estrito cumprimento de dever legal.

IV. No exercício regular de direito. V. Sob o efeito de emoção ou paixão.

Está correto o que se afirma APENAS em

A) I, II e III.

B) I, IV e V.

C) II, III e V.
D) II, IV e V.

E) I, III e IV.

RESOLUÇÃO.

São causas de exclusão da ilicitude (ou seja, que excluem o crime):

- Estado de necessidade;

- Estrito cumprimento do dever legal;

- Exercício regular do direito;


- Legítima defesa.

Vai aí um macete, galera:


Basta lembrarem do famoso lutador BRUCE
Legítima defesa
Estado de necessidade
Estrito cumprimento do dever legal

O código Penal assim dispôs em seu artigo 23:

Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I- em estado de necessidade;

II- em legítima defesa;

III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Em assim sendo, podemos concluir que as assertivas de números I; III e IV estão corretas, pois retratam
fielmente as causas de exclusão do crime.
Já, as assertivas II e V estão erradas, pois retratam causas que não excluem a imputabilidade penal (mesmo
que excluíssem seria a culpabilidade).
No sentido do texto:

Emoção e paixão

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Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

I - a emoção ou a paixão;

Embriaguez

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

Gabarito: E.

3. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial -
Administrativa
Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado. Tal enunciado refere-se ao
princípio da

A) proporcionalidade.

B) intervenção mínima.

C) ofensividade.

D) bagatela imprópria.

E) alteridade.
RESOLUÇÃO.

- A letra “a” está errada. O princípio da proporcionalidade possui relação com o preceito secundário da
norma penal incriminadora, pois é fundamental quando se:

- estabelecem as penas mínima e máxima em abstrato;

- é o vetor a ser seguido pelo juiz na aplicação da pena, segundo o método trifásico. E proporcionalidade é
a ideia central do juízo de culpabilidade e

- durante o cumprimento da pena, da mesma forma, a execução deve ser proporcional.

- A letra “b” está errada. É que o princípio da intervenção mínima ou ultima ratio significa que o direito
penal apenas deve intervir quando absolutamente necessário.

- A letra “c” é a correta. Não basta que o fato seja típico. É necessário que o fato ofenda, de maneira
efetiva e concreta, o bem jurídico pretensamente protegido pela norma penal.

- A letra “d” está errada, pois a bagatela imprópria tem íntima relação com a desnecessidade de aplicação
da pena. Ou seja, atua como uma causa de extinção da punibilidade. Caso clássico é o do perdão judicial.

- A “e” está errada. É que o, para que algo seja considerado crime, imprescindível que cause lesão a um
bem jurídico de terceiro. Por essa razão, o direito penal não pune a autolesão, salvo quando for com o objetivo de
obter prêmio de seguro.

Gabarito: C

4. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-SC Provas: FCC - 2018 - SEFAZ-SC - Auditor-Fiscal da Receita
Estadual - Auditoria e Fiscalização (Prova 1)

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À luz do que dispõe o Ordenamento Penal brasileiro,

A) o agente que desiste de forma voluntária de prosseguir na execução do crime, ou impede que o resultado se
produza, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

B) o arrependimento posterior, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, deve ocorrer até
o oferecimento da denúncia ou da queixa.

C) não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.
D) crime impossível é aquele em que o agente, embora tenha praticado todos os atos executórios à sua
disposição, não consegue consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.

E) diz-se crime culposo, quando o agente assumiu o risco de produzi-lo.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. É que, no caso em tela, o agente responde pelos atos já praticados, sendo que o
CP não especifica diminuição de pena. É exatamente o que diz o art. 15, CP:

Desistência voluntária e arrependimento eficaz


Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.

E muita atenção. A questão é pegadinha mesmo. Isso porque dá margem a que você confunda o instituto
da “ponte de ouro” – desistência voluntária com a tentativa.
Na tentativa sim, a redução se dá com base na pena do crime consumado, sempre reduzida de 1 a 2/3,
conforme dispõe o art. 14, inciso II, CP. Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços.
- a letra “b” está errada. E é a mais pura “pegadinha”. O enunciado diz:

o arrependimento posterior, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, deve ocorrer
até o oferecimento da denúncia ou da queixa.

Ocorre que, por uma palavra, a questão está errada. O art. 16, CP, previsão do instituto afirma:

Arrependimento posterior (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
a dois terços.

Então, para que se possa aplicar o arrependimento posterior, é imprescindível que a reparação do dano ou
a restituição da coisa seja efetivada até o recebimento da denúncia ou queixa e não até o seu oferecimento.
E esses 02 momentos precisam estar muito bem delineados.

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FATO OF. D/Q REC. D/Q

Legendas:
- OF. D/Q: oferecimento da denúncia ou da queixa.
- REC. D/Q: recebimento da denúncia ou queixa.
Lembrando que o oferecimento da denúncia ou da queixa é o momento em que se inicia a ação penal. Já, o
recebimento da denúncia ou da queixa, antes do advento da Lei 11.719/08, era o momento em que se iniciava o
processo.
Já não é mais, pois o art. 363, CPP diz que o processo penal se inicia com a citação do réu:

Art. 363.O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado.(Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008).

- a letra “c” é a correta. Com efeito.


Retrata exatamente o que diz a súmula 145, STF:
Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.

É o caso, por exemplo, em que a polícia vem monitorando um traficante. Em determinado momento, um
dos policiais se faz passar por consumidor de drogas e aborda o traficante querendo adquirir certa porção de
cocaína.

Ora, o flagrante, caso realizado pelo verbo vender será nulo, pois tudo não passou de obra do agente
provocador. Além disso, retrata o texto do art. 17, CP:

Crime impossível

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
objeto, é impossível consumar-se o crime.

- a letra “d” está flagrante errada. É que não obstante fazer menção ao crime impossível, acaba
descrevendo exatamente o instituto da tentativa. É exatamente o que diz o art. 14, inciso II, CP:

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

- a letra “e” está errada, pois o enunciado fala em crime culposo e fala em assunção de risco.

Ora, assumir o risco é a definição clássica do dolo eventual.

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

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Gabarito: C.

5. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-SC Provas: FCC - 2018 - SEFAZ-SC - Auditor-Fiscal da Receita
Estadual - Auditoria e Fiscalização (Prova 1)
Acerca da aplicação da lei penal no direito brasileiro, o ordenamento vigente estabelece que
A) a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, exceto se já houve o
trânsito em julgado da sentença, hipótese em que a decisão se torna imutável.
B) a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, somente se a sua vigência for
anterior ao início da prática delitiva, em razão do princípio da irretroatividade da lei penal mais severa.
C) as contravenções praticadas contra a Administração pública, por quem está a seu serviço ficam sujeitas à lei
brasileira, embora cometidas no estrangeiro.
D) a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando idênticas, ou nela
é computada, quando diversas.
E) a lei temporária aplica-se ao fato praticado durante sua vigência, embora decorrido o período de sua duração.
RESOLUÇÃO.
- a letra “a” está errada. É que independentemente do trânsito em julgado, a lei posterior que de qualquer
modo favoreça o agente deve ser aplicada.

Lei penal no tempo

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Assim, inclusive dispõe o art. 66, inciso I, Lei de Execução Penal:

Compete ao Juiz da execução:

I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;

Por fim, e mais importante, o disposto no art. 5º, XL, CF (Constituição Federal):

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Dessa forma, errada a assertiva.


- a letra “b” está errada, pois afronta, modo flagrante, o enunciado sumular número 711, STF:
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência

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Assim, no caso, quando se tratar de crime permanente (aquele cuja consumação se prolonga no tempo) ou
de crime continuado (art. 71, CP), como se trata de uma sequência criminal, aplica-se a alei vigente à época da
cessação respectiva, mesmo que mais grave do que aquela que estava em vigência quando crime se iniciou.

- a letra “c” está incorreta. As contravenções praticadas fora do território nacional são indiferentes penais.
Isso significa que o Princípio da Extraterritorialidade da lei penal apenas se aplica aos crimes. É o que diz o art. 2º
da Lei de Contravenções Penais:
Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.

- a letra “d” está errada. Galera, letra fria da lei. Atenua a pena quando diversas e nela é computada quando
forem idênticas as penas.

Pena cumprida no estrangeiro

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

- A letra “e” está correta. A principal característica das leis temporárias e excepcionais é serem editadas
para atender situações de emergência. Assim, não haveria qualquer sentido em não permitirem a punição,
mesmo quando cessada a sua vigência, aos fatos que foram praticados durante a sua vigência. Se assim não
fosse, não haveria qualquer sentido na sua existência.
É o que se extrai do art. 3º, CP:

Lei excepcional ou temporária

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Gabarito: E.

6. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 – Câmara
Legislativa do Distrito Federal - Técnico Legislativo - Agente de Polícia Legislativa

De acordo com o que estabelece o Código Penal,

A) não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de direito.

B) entende-se em legítima defesa quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar.

C) é possível a invocação do estado de necessidade mesmo para aquele que tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.

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D) é plenamente possível a compensação de culpas quando ambos os agentes agiram com imprudência,
negligência ou imperícia na prática do ilícito.

E) considera-se praticado o crime no momento do resultado, ainda que outro seja o momento da ação ou
omissão.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está correta. É que, de fato, não há crime quando o agente o pratica no exercício regular de um
direito.

Segundo o art. 23, III, CP:

Exclusão de ilicitude

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

- a letra “b” está errada. Muito cuidado, pessoal! O conceito trazido pelo enunciado da letra “b” é o do
estado de necessidade, conforme prevê o art. 24, CP:

Estado de necessidade

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços.

- a letra “c” está errada. Os requisitos do estado de necessidade são:


1. ameaça a direito próprio ou alheio;

2. existência de um perigo atual e inevitável;

3. inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado;

4. situação não provocada voluntariamente pelo agente;


5. inexistência de dever legal de enfrentar o perigo;

6. conhecimento da situação de fato justificante.

Assim, quem possui o dever legal de enfrentar o perigo não pode invocar estado de necessidade. São os
chamados garantes, cuja previsão legal está no art. 13, § 2º, alíneas “a”, “b” e “c”, CP:

Relevância da omissão

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2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever
de agir incumbe a quem: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

- A letra “d” está errada. É que eventual culpa da vítima não afasta a culpa do sujeito ativo. Somente a culpa
exclusiva do ofendido é que torna atípico o fato. Mas a culpa concorrente é irrelevante para a caracterização do
crime, sendo somente levada em conta na aplicação da pena.
Logo, é entendimento pacífico que não existe a compensação de culpas no direito penal, devendo cada
agente responder pelo que tiver sido causado ao outro, mas na medida de sua culpabilidade.

- a letra “e” está errada. É que conforme o art. 4º, CP, a lei penal brasileira adotou a teoria da atividade no
que diz respeito ao momento em que o crime ocorreu.

Tempo do crime

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.

Gabarito: A.

7. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto
O erro sobre elementos do tipo, previsto no artigo 20 do Código Penal, A)
exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
B) sempre isenta o agente de pena.
C) não isenta o agente de pena, mas esta será diminuída de um sexto a um terço.
D) não tem relevância na punição do agente, pois o desconhecimento da lei é inescusável.
E) se inevitável, isenta o agente de pena; se evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a um terço.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está correta. Exatamente a consequência do erro de tipo, ou seja, sempre exclui o dolo, mas
permite a sua punição a título de culpa, desde que o crime também seja punido na modalidade culposa.

Erro sobre elementos do tipo

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.

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Imaginem o seguinte caso: um médico, insidiosa e dolosamente, quer a morte do paciente. Entrega à
enfermeira uma seringa afirmando nela conter remédio, quando, na verdade, há veneno. Nesse caso, o médico
responde por homicídio qualificado. Mas e a enfermeira?

É o caso do erro de tipo. Excluído ficará o dolo, mas, caso fosse possível a ela detectar a existência de
veneno, responderia por homicídio culposo, pois o homicídio prevê a modalidade culposa também.

Homicídio culposo

§ 3º Se o homicídio é culposo:

Pena - detenção, de um a três anos.

- a letra “b” está errada. Devemos atentar para o chamado erro de tipo permissivo, que é o caso em que o
agente pratica uma conduta supondo situação de fato que, caso existisse, tornaria a sua ação legítima.

É o caso em que alguém, supondo estar sob a égide de uma causa de exclusão da ilicitude, por exemplo,
legítima defesa, acaba se defendendo de uma situação imaginária. É a chamada legítima defesa putativa.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.

DESCRIMINANTES PUTATIVAS ERRO DE TIPO (erro de tipo Erro sobre os pressupostos fáticos
permissivo) de uma descriminante

ERRO DE PROIBIÇÃO (erro de -Erro sobre a existência de uma


proibição indireto) descriminante

- Erro sobre os limites de uma


descriminante

Além disso, outro motivo pelo qual a presente assertiva está errada é o uso da expressão SEMPRE.
Sabemos que essas palavras acabam tornando errada a questão, pois nada no direito é fechado, não admitindo
qualquer exceção.

- a letra “c” está errada. O erro de tipo, como questiona o enunciado, afasta o dolo ou permite a punição a
título de culpa. Não há a redução de pena prevista nessa alternativa.

A redução de pena está prevista no art. 21, CP (erro de proibição):

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de
pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

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Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

- a letra “d” está errada, pois, conforme já visto, o erro de tipo possui sim relevância na punição do agente.
- a letra “e” está errada. É que o erro de tipo se

INEVITÁVEL: exclui o dolo e a culpa

EVITÁVEL: exclui o dolo.

Gabarito: A.

8. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto
O arrependimento eficaz
A) configura-se quando a execução do crime é interrompida pela vontade do agente.
B) dá-se após a execução, mas antes da consumação do crime.
C) decorre da interrupção casuística do iter criminis.
D) é causa inominada de exclusão da ilicitude.
E) exige que a manifestação do autor do crime seja posterior à consumação do delito.
RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada, pois a situação narrada é da desistência voluntária, ou também chamada de “ponte
de ouro” (GOLDEN BRIDGE – coloquei assim para reforçar sua memória, mas NÃO me fale assim na prova).

Desistência voluntária e arrependimento eficaz (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.

Ou seja, acabou narrando a hipótese do art. 15, primeira parte, do CP.


- a letra “b” está correta. O arrependimento eficaz (como o próprio nome está a indicar) deve ocorrer após a
execução do crime, mas antes de sua consumação – NÃO ADIANTA CHORAR SOBRE O LEITE DERRAMADO.
Em assim sendo, se a própria expressão fala em eficaz, é lógico que o arrependimento tem um momento limite
para ocorrer – antes da consumação do crime.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.

Assim, a segunda parte do art. 15, CP retrata fielmente o instituto do arrependimento eficaz.
a letra “c” está errada. Quando a interrupção do crime se dá casuisticamente, significa que não foi por
vontade do agente, mas por circunstâncias alheias à sua vontade. Ou seja, essa assertiva está falando sobre a
tentativa, cuja previsão está no art. 14, II, CP:

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Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

- a letra “d” está errada. É que o arrependimento eficaz é uma causa de exclusão da tipicidade, exatamente
por permitir que o agente responda pelos atos até praticados. Em assim sendo, como haverá punição, não se
pode falar em causa de exclusão da ilicitude.

- a letra “e” está errada. Caso se trata de crime sem violência ou grave ameaça à pessoa e a manifestação
do agente ocorrer após a consumação do crime, estar-se-á diante do instituto do arrependimento posterior;
jamais eficaz. Para que se trate de arrependimento eficaz, o crime não pode ter chegado à consumação.

Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
a dois terços.

Gabarito: B.

9. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto
Nos termos do Código Penal, pune-se o crime tentado com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços. Para o Supremo Tribunal Federal, a pena será diminuída A) considerando as
circunstâncias judiciais do artigo 59, do Código Penal.

B) tomando-se por base os antecedentes e a personalidade do acusado.


C) com base nas condições de ordem subjetiva do autor do delito.
D) na proporção inversa do iter criminis percorrido pelo agente.
E) de forma equitativa ao dano causado à vítima do crime
RESOLUÇÃO.
- a letra “a” está errada. É que o art. 59, CP não obstante seja o mais importante qualitativamente para a
fixação da pena, pois é o momento em que mais se exige do juiz, não é ele levado em conta para que se
estabeleça o percentual de redução pela tentativa.

- a letra “b” é uma fração do que integra o todo do art. 59, CP.

Com efeito.

Antecedentes e personalidade do agente são 02 das circunstâncias previstas das 08 no art. 59, CP.

Ainda. Se a “a” está errada, logicamente que a “b” também está.

- a leta “c” está errada. É que, mais uma vez, o examinador apenas trocou a circunstância do art. 59, CP,
desta incluindo a conduta social do agente. Pelas mesmas razões já expostas, a assertiva está errada.

Fixação da pena

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Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

- as penas aplicáveis dentre as cominadas;

- a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;

- o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;

- a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

- a letra “d” está certa. É pacífico o entendimento, tanto no STF como no STJ, de que a maior redução da
pena em razão da tentativa é inversamente proporcional ao iter criminis percorrido.

Nesse sentir, lição do Supremo Tribunal Federal:

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE HOMICÍDIO.


CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. DOSIMETRIA DA PENA. ANÁLISE DO ITER CRIMINIS.
REVOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS. 1. Tendo em vista o princípio da especialidade, não cabe
sustentação oral no julgamento de agravo regimental em matéria processual penal. Vedação expressa do
regimento interno do Supremo Tribunal Federal (STF). Precedentes do Plenário e de ambas as Turma. 2. O
STF não admite a utilização do habeas corpus em substituição à ação de revisão criminal. Precedentes.
Pacientes condenados a 3 anos de reclusão, em regime inicial aberto, por decisão transitada em julgado. 3. O
acórdão impugnado está alinhado com a orientação jurisprudencial do STF no sentido de que a definição do
percentual de diminuição da pena pela tentativa (art. 14, II, CP) deve levar em consideração a proximidade
do resultado almejado pelo agente. Precedentes. 4. Hipótese em que a redução da pena na fração de ½
(metade) pela tentativa de homicídio foi justificada pelas instâncias de origem com apoio em dados objetivos
da causa e na prova judicialmente colhida, notadamente pelo fato de que a vítima foi atingida duas vezes
com uma barra de ferro em sua cabeça, além da ameaça real de atropelamento, comprovada nos autos.
Para dissentir dessas premissas, seria necessário o revolvimento da matéria fático-probatória, inviável na via
estreita do habeas corpus. Precedentes. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.

Assim, quanto mais próximo da consumação do crime, tanto menor será o percentual de redução pela
tentativa.

- a letra “e” está errada. Mais uma vez, as consequências do crime (de forma equitativa ao dano causado à
vítima do crime) é uma das operadoras do art. 59, CP. Não é o caso, então, de ser levado em conta para o fim de
redução do percentual pela tentativa.

Gabarito: D.

10. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-RS Prova: FCC - 2018 - DPE-RS - Defensor Público

O afastamento da tipicidade, quando verificada lesão penalmente irrelevante decorrente de conduta


formalmente incriminada, dá-se por: A) princípio da adequação social.
B) princípio da intervenção mínima.
C) princípio da humanidade das sanções.
D) princípio da insignificância.

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E) ineficácia absoluta do meio ou absoluta impropriedade do objeto (crime impossível).


RESOLUÇÃO.
- a letra “a” está errada. O princípio da adequação social, criado por Hans Welzel, não é considerado causa
de exclusão da tipicidade. Inclusive, há discussão acerca de que elemento do crime ficaria afastado.

- a letra “b” está errada. O princípio da intervenção mínima tem como destinatário o legislador, para
impedir que tipifique condutas que devem ser reservadas a outros ramos do direito.

- a letra “c” está equivocada. O princípio da humanidade das sanções visa a proibir penas de caráter
perpétuo, de banimento, que causem sofrimento, que sejam cruéis, etc.

É o caso do art. 75, CP, limitando ao máximo de 30 anos o tempo de cumprimento da pena privativa de
liberdade.

Limite das penas

Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.

Ou seja, o princípio da humanidade nada tem a ver com a exclusão da tipicidade.

- a letra “d” está certa. É que o princípio da insignificância decorre da ausência de tipicidade material. Ou
seja, a ínfima lesão ao bem jurídico não justifica a intervenção do direito penal, devendo o fato ser considerado
atípico.
São requisitos do princípio da bagatela:

Mínima ofensividade da conduta

Ausência de periculosidade social da ação

Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento

Inexpressividade da lesão jurídica

Logo, é a correta, pois exclui a tipicidade.

- a letra “e” está errada. Nela há a narrativa perfeita acerca do crime impossível. Ou seja, sequer se tem o
condão de ferir o bem jurídico, sendo sequer o caso de análise da tipicidade.

Crime impossível

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
objeto, é impossível consumar-se o crime.

Gabarito: D.

11.Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-RS Prova: FCC - 2018 - DPE-RS - Defensor Público
Na madrugada de um sábado, Jorge, cabo da Polícia Militar, retornava para casa, em um bairro bastante violento
da capital. Policial experiente, que já havia sido ameaçado por algumas lideranças do tráfico na região, ciente das
constantes disputas entre grupos rivais que ocorriam na comunidade, Jorge era cuidadoso e sempre caminhava
pelo bairro em trajes civis. A cerca de 5 metros da esquina de sua casa, Jorge assustou-se com dois homens que
dobraram a esquina correndo, os quais, ao vê-lo, apontaram-lhe as armas que portavam. Diante da situação

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sinistra em que se via, Jorge não titubeou e agiu conforme seus treinamentos: sacou seu revólver com extrema
rapidez e habilidade e, com disparos certeiros, atingiu letalmente os dois homens que lhe apontavam as armas.

Jorge, então, acionou a Polícia Militar e o serviço de socorro médico de emergência, que compareceram ao local,
tendo os agentes militares constatado que os homens atingidos eram dois policiais civis que participavam de
uma operação contra o tráfico no bairro e se preparavam para prender alguns suspeitos em flagrante.

Da leitura do enunciado, é correto afirmar:


A) Apesar de sua conduta típica e ilícita, a Jorge não deve ser aplicada qualquer pena, sendo-lhe inexigível
conduta diversa diante das circunstâncias que compunham o contexto em que se viu envolvido, que o levaram a
supor situação de fato que, se existisse, tornaria sua ação legítima.

B) A Jorge deve ser imputada a prática de dois homicídios dolosos, em concurso material, qualificados por terem
como vítimas policiais civis (art. 121, § 2°, VII − por duas vezes −, c/c art. 69, ambos do CP).

C) A Jorge deve ser imputada a prática de dois homicídios dolosos, em concurso material, sem possibilidade de
qualificação pela condição das vítimas, uma vez que o autor desconhecia essa circunstância (art. 121, caput − por
duas vezes −, c/c art. 69, ambos do CP).

D) A Jorge deve ser imputada a prática de dois homicídios culposos, em concurso formal, tendo em vista sua
conduta imprudente, uma vez que efetuou os disparos sem prévia identificação e ordem de parada (art. 121, § 3°
− por duas vezes −, c/c art. 70, ambos do CP).
E) A Jorge não deve ser imputada a prática de crime, uma vez que agiu sob o pálio da legítima defesa enquanto
excludente da ilicitude, estando sua ação especialmente justificada pelas circunstâncias da situação em que se
viu envolvido − a chamada legítima defesa putativa.
RESOLUÇÃO.

Devemos atentar para o chamado erro de tipo permissivo, que é o caso em que o agente pratica uma
conduta supondo situação de fato que, caso existisse, tornaria a sua ação legítima.
É o caso em que alguém, supondo estar sob a égide de uma causa de exclusão da ilicitude, por exemplo,
legítima defesa, acaba se defendendo de uma situação imaginária. É a chamada legítima defesa putativa.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.

DESCRIMINANTES PUTATIVAS ERRO DE TIPO (erro de tipo Erro sobre os pressupostos fáticos
permissivo) de uma descriminante

ERRO DE PROIBIÇÃO (erro de -Erro sobre a existência de uma


proibição indireto) descriminante

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- Erro sobre os limites de uma


descriminante

Após essa explicação, automaticamente ficam afastadas as alternativas “b”; “c” e “d”.

DE OLHO NA MÍDIA.

PM que matou ao confundir furadeira com arma é absolvido, diz TJ-RJ. Cabo do Bope participava de operação contra o
tráfico no Andaraí. Absolvição foi pedida pelo próprio Ministério Público; partes podem recorrer.

Como aconteceu.

O caso aconteceu na manhã do dia 19 de maio de 2010. Policiais do Bope faziam uma operação no Morro do Andaraí, na

Zona Norte. Eles estavam à procura de traficantes do Morro do Borel, na Tijuca, que estariam escondidos no Morro do
Andaraí. Perto dali, numa vila, morava Hélio Barreira Ribeiro, que estava no terraço de casa pregando uma lona com uma
furadeira, para proteger o local da chuva. A mulher dele, Regina Ribeiro, também estava no terraço, regando as plantas.

Na época, uma vizinha de Hélio contou que, quando ele viu os policiais do Bope, chegou a comentar com a mulher: “Vão
pensar que estou armado.” Instantes depois ele foi atingido por um tiro disparado pelo cabo Albarello e morreu na hora.

Reconstituição

Peritos da polícia fizeram no dia 24 de junho de 2010, mais de um mês depois, a reconstituição da morte de Hélio.

“Vamos tentar retratar o mais fielmente possível o que aconteceu. Queremos saber se havia possibilidade de o policial
escutar a furadeira, de a vítima ter ouvido o policial e se o policial, naquela distância, poderia distinguir uma arma de
uma furadeira”, explicou na ocasião a delegada Leila Goulart, da 20ª DP (Vila Isabel).

Na época, o então comandante do Bope, tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, disse que a ação do cabo foi um erro, mas
que o policial pode ter “agido conscientemente” por achar que estava numa situação de risco pare ele e os companheiros.

A família disse na época que o policial atirou sem falar nada. Já a PM deu outra versão. Segundo capitão Ivan Blaz, do Bope,
foi dado um grito de alerta para o morador, que fez um movimento brusco, e o policial disparou.

É exatamente o relato da nossa questão.

- o erro da letra “e” está no fato de fazer menção à exclusão da ilicitude.

Gabarito: A.

12. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-RS Prova: FCC - 2018 - DPE-RS - Defensor Público
Arquimedes dirigia seu caminhão à noite, por uma estrada de serra, com muitas curvas, péssima sinalização e
sob forte chuva. Ele estava sonolento e apenas aguardava o próximo posto de combustíveis para estacionar e
dormir. Motorista experiente que era, observava as regras de tráfego no local, imprimindo ao veículo a
velocidade permitida no trecho.

Entretanto, a 50 Km do posto de combustíveis mais próximo, após uma curva, Arquimedes assustou-se com um
vulto que de súbito adentrou a via, imediatamente acionando os freios, sem, contudo, evitar o choque.
Inicialmente, pensou tratar-se de um animal, mas quando desembarcou do veículo, pôde constatar que se
tratava de um homem. Desesperado ao vê-lo perdendo muito sangue, Arquimedes logo acionou o serviço de

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socorro e emergências médicas, que chegou rapidamente ao local, constatando o óbito do homem em cujo bolso
foi encontrado um bilhete de despedida. Era um suicida.

Da leitura do enunciado, pode-se afirmar que:

A) Arquimedes não praticou crime, tendo em vista a incidência na hipótese da inexigibilidade de conduta diversa
− excludente de culpabilidade.

B) a Arquimedes deve ser imputada a prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor, em razão de
sua conduta negligente.

C) a conduta de Arquimedes não reúne os elementos necessários à configuração do fato como crime.

D) Arquimedes não praticou crime, uma vez que agiu em exercício regular de direito − excludente de ilicitude.

E) a Arquimedes deve ser imputada a prática de homicídio doloso (dolo eventual), tendo em vista que, ao dirigir à
noite, sonolento e sob chuva intensa, assumiu o risco de matar alguém.

RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. Para que possamos analisar a culpabilidade, conforme a teoria finalista tripartite de
crime, necessário vencer a presença do fato típico e ilícito. Todavia, o enunciado da questão deixa claro que
Arquimedes praticou o fato sem conduta, ou seja, foi um ato reflexo oriundo de algo que sequer era previsível (a
previsibilidade é a última fronteira da responsabilidade penal).
- a letra “b” está errada. Arquimedes não agiu com culpa. Percebam que ele viu um vulto, pensou tratar-se
de um animal, mas viu, após, ser um homem. Demais disso, se não houve conduta dirigida a um fim, não pode
Arquimedes por nada responder.
- a letra “c” está correta. Com o comentamos antes, como Arquimedes sequer conduta teve, uma vez que
não praticou um ato dirigido a um fim. Assim, ausente conduta, ou seja, consciência e voluntariedade, não há
crime. Enfim, ele não reuniu os elementos necessários à configuração de um fato definido como crime.
- a letra “d” está errada. É que, como sequer houve conduta, nem há o que se falar na análise da ilicitude. E,
além disso, nenhuma situação narrada no enunciado poderia levar ao exercício regular de um direito.

- a letra “e” está errada. Não obstante o enunciado falar que Arquimedes estava sonolento, ele conduzia o
veículo de forma normal, ou seja, não estava obrando com dolo ou com culpa. Além disso, por mais que fosse o
caso de ter agido com culpa, não haveria o que se falar em nexo de causalidade, pois o fato ocorreu de culpa
exclusiva da vítima.

Gabarito: C.

13. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: ALESE Prova: FCC - 2018 - ALESE - Analista Legislativo - Processo
Legislativo
É certo que um crime pode ser praticado por uma ou mais pessoas. Quando isso acontece, está-se diante da
hipótese de concurso de pessoas, também conhecido como concurso de agentes. Nesse caso,

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A) ainda que algum dos concorrentes tenha querido participar de crime menos grave, ser-lhe-á,
obrigatoriamente, aplicada a pena idêntica do crime praticado pelo seu comparsa, ante a adoção pelo Código
Penal da teoria monista.
B) em hipótese alguma se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal na coautoria.
C) o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são sempre puníveis, ainda que o crime não venha a ser
tentado.
D) os crimes plurissubjetivos não admitem a coautoria e a participação.
E) se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
RESOLUÇÃO.

-a letra “a” está incorreta. É sabido que o Brasil adotou a teoria monista/unitária/igualitária em relação ao
concurso de pessoas. Isso quer dizer que todos aqueles que concorrerem para o crime praticam o mesmo crime,
devendo a pena ser aplicada de acordo com a culpabilidade de cada um. Mas o crime é um só.

Ocorre que nem sempre todos os agentes desejavam cometer o mesmo crime dos demais. Ou seja, diante
da adoção da responsabilidade penal subjetiva, ninguém pode ser punido sem que tenha atuado com dolo ou
culpa.
Imagine-se o seguinte exemplo: 05 pessoas, desejando inicialmente a prática de um crime de furto,
invadem uma residência litorânea, em pleno inverno, acreditando piamente não haver qualquer morador no seu
interior. Um deles permanece do lado de fora da casa para garantir a fuga dos demais (é o famoso motorista). No
interior da casa, no entanto, os outros 04 acabam se deparando com uma moradora e cometem um estupro e um
latrocínio. O motorista, por certo, sem desconfiar de nada, acredita que os seus comparsas estava subtraindo os
objetos do interior da casa. Qual não foi a sua surpresa quando, ao retornarem ao veículo com objetos
subtraídos, narram efetivamente os crimes cometidos.

Pergunta-se: por qual crime responde o motorista?


Ora, era previsível a presença da moradora na residência? Não.
Diante da ausência absoluta de previsibilidade, jamais poderia, nesse caso, o motorista responder elos
delitos de estupro em concurso material com latrocínio. Ele responderá literalmente pelo crime que passou pela
sua cabeça: furto.

Esse o teor do art. 29, § 2º, CP, também chamado de “participação dolosamente distinta”:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

Logo, falsa a assertiva. Mais do que isso. A expressão “ser-lhe-á, obrigatoriamente, aplicada a pena
idêntica do crime praticado pelo seu comparsa” jamais recomendaria fosse essa a correta.
- embora de redação sofrível, o art. 30, CP deixa claro que a assertiva “b” está incorreta:

Circunstâncias incomunicáveis

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Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares
do crime.

Em assim sendo, as circunstâncias de caráter pessoal, em tese, não se comunicam, salvo se elementares do
crime.

Ou seja, é como o slogan do cartão VISA, lembram?


Pessoal e intransferível.

- a letra “c” está errada. É que, segundo o art. 31, CP, ocorre exatamente o contrário:

Casos de impunibilidade

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

Assim, o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio não são puníveis, salvo expressa disposição em
sentido contrário.

CUIDADO COM A REBIMBOCA DA PARAFUSETA:

Segundo o art. 5º, Lei 13.260/16 (Terrorismo), existe a possibilidade de punição de atos meramente preparatórios:

Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito:

Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade.

Mas prevalece a regra do art. 31, CP. Essa a razão de estar errada a presente alternativa.
- a letra “d” está errada. É que os crimes plurissubjetivos, justamente por serem obrigatoriamente
cometidos por mais de uma pessoa, admitem coautoria e participação.
Imagine-se o caso do crime do crime de bigamia previsto no art. 235, CP:

Bigamia

Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância,
é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.

§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia,
considera-se inexistente o crime.

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Assim, salvo se a pessoa for tão linda como o nosso querido professor Daniel
Negreiros (que poderia, por isso, casar-se consigo mesmo, rsrsrsrs), ninguém pode
praticar o crime de bigamia sozinho. Logo, o crime de bigamia é um crime de concurso
necessário ou também chamado de plurissubjetivo de condutas convergentes.

Logo, nos crimes de concurso necessário, sempre se admite o concurso de pessoas, seja pela forma da
coautoria, seja pela forma da participação.

- a letra “e” está correta. É a pura letra fria da lei. Com efeito. Se a participação for de menor importância (o
que significa ser de levíssima eficácia causal), a pena será diminuída de 1/6 a 1/3. Para tanto, vejamos o que diz o
art. 29, § 1º, do CP:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

Gabarito: E.

14. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: ALESE Prova: FCC - 2018 - ALESE - Analista Legislativo - Apoio
Jurídico
Hamilton resolve chamar um táxi pelo aplicativo do celular a fim de conduzi-lo até determinado endereço. Após
ingressar no veículo, Hamilton recebe uma ligação em seu telefone, ocasião em que diz a pessoa que está do
outro lado da linha que está se dirigindo até o endereço do amante de sua esposa a fim de matá-lo. O motorista
do táxi, mesmo após ouvir a conversa de seu passageiro, o conduz até seu destino. No dia seguinte, o motorista
toma conhecimento pelo noticiário televisivo de que Hamilton realmente matou o amante de sua mulher. Diante
do caso hipotético, o taxista
A) responderá pelo crime de homicídio doloso como partícipe.
B) responderá pelo crime de homicídio doloso como coautor.
C) responderá pelo crime de homicídio culposo.
D) responderá pelo crime de favorecimento pessoal.
E) não responderá por nenhum crime.
RESOLUÇÃO.

São requisitos do concurso de pessoas:

a) Pluralidade de condutas:por certo, para que haja o concurso de pessoas é imprescindível que exista
pluralidade de pessoas.

Mas, o mais importante:

- exigem-se ou duas figuras principais (caso da coautoria) ou uma figura principal e outra acessória (caso da autoria e da
participação). Jamais haverá concurso de pessoas somente com figuras acessórias, ou seja, somente com partícipes.

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b) Relevância causal de cada uma das AÇÕES: havendo relação entre a ação de cada uma das condutas e
o resultado, ou seja, havendo relevância causal de cada ato delituoso, concorreram essas pessoas para o evento e
por ele serão responsabilizadas.

c) Liame subjetivo entre os agentes: é necessário, também, uma ligação psicológica entre os vários
autores, ou seja, o conhecimento de que cooperam numa ação comum. Não basta atuar o agente com dolo (ou
culpa), sendo necessária uma relação subjetiva entre os concorrentes. Somente a adesão voluntária, objetiva
(nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização de um
objetivo comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e responsabiliza os agentes à pelas consequências da
ação. Inexistente esse liame psicológico, não há que se reconhecer o concurso de agentes disciplinado no art. 29
do Cód. Penal.

d) A identidade de fato: tendo sido adotada a teoria monista/unitária ou igualitária, todos aqueles que
concorrem para o crime cometem o mesmo crime, mas a pena deve ser individualizada de acordo com a
culpabilidade de cada um.

Ora, no caso em comento, o taxista não possuía qualquer liame subjetivo com o homicida. Assim, ausente o
vínculo subjetivo, ou seja, a vontade de concorrer para a ação de outrem, desaparece o concurso de pessoas.

O taxista somente responderia pelo crime caso tivesse a obrigação de agir, ou seja, estivesse na posição de
garante. Portanto, o mero conhecimento de um fato criminoso não confere ao indivíduo a posição de partícipe
por força de sua omissão, salvo se presente o dever de agir para impedir a produção do resultado.
Gabarito: E.

15. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público

No Direito Penal brasileiro, o erro


A) sobre os elementos do tipo impede a punição do agente, pois exclui a tipicidade subjetiva em todas as suas
formas
B) determinado por terceiro faz com que este responda pelo crime.
C) sobre a pessoa leva em consideração as condições e qualidades da vítima para fins de aplicação da pena.
D) de proibição exclui o dolo, tornando a conduta atípica.
E) sobre a ilicitude do fato isenta o agente de pena quando evitável.

RESOLUÇÃO.
- a letra “a” está errada. É que o erro sobre elemento constitutivo do tipo exclui o dolo. No caso de ser o
erro inescusável ou evitável o agente responderá pela forma culposa do deito, desde que assim previsto em lei.

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- a letra “b” está certa. Ora, quando o erro tiver sido determinado por terceira pessoa, é ele quem responde
pelo delito, pois foi quem determinou o erro.

- a letra “c” está errada. No caso de erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, CP) consideram-se as condições da
vítima virtual, ou seja, aquela a quem se pretendia atingir e não da que foi efetivamente atingida.

Assim, desejando “A” matar o próprio pai, mas acabando por atingir pessoa diversa, responderá pelo
homicídio com a agravante de ter o crime sido cometido contra ascendente.
- a letra “d” está errada. É que o erro de proibição não exclui o dolo, mas isenta o réu de pena, se escusável.
Quando inescusável, conduz à diminuição da pena entre 1/6 e 1/3.

- a letra “e” está errada. É que o erro sobre a ilicitude do fato, caso inevitável, isenta o réu de pena. Se
evitável, faz reduzir a pena entre 1/6 a 1/3.

No sentido do texto:

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de
pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

Gabarito: B

16. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Analista Jurídico de Defensoria -
Ciências Jurídicas
O erro de tipo, no Direito Penal,
A) exclui a culpabilidade subjetiva, impedindo a punição do agente.
B) quando escusável, permite a punição por crime culposo.
C) é incabível em crimes hediondos e equiparados.
D) é inescusável nos crimes da Lei de Drogas, no desconhecimento da lei penal.
E) incide sobre o elemento constitutivo do tipo e exclui o dolo.
RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. O erro de tipo não exclui a culpabilidade subjetiva do agente, impedindo sua
punição, mas exclui a tipicidade, pois sempre afasta o dolo.

- a letra “b” está errada, pois quando o erro de tipo for escusável, exclui o dolo e a culpa.

- a letra “c” está errada, pois não há qualquer vedação quanto à incidência do erro de tipo em crimes
hediondos ou equiparados.

- a letra “d” está incorreta. O desconhecimento da lei penal é sempre inescusável e não apenas na Lei de
Drogas.

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- a letra “e” está correta. O erro de tipo incide sobre constitutivo do tipo e exclui o dolo. Se inevitável,
invencível ou escusável exclui dolo e culpa. Se evitável, vencível, inescusável, exclui dolo, mas permite a punição
por crime culposo, se previsto em lei.

Gabarito: E.

17. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: FCC - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO -
AnalistaJudiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal

A coação moral irresistível

A) torna o fato atípico.

B) é causa excludente de ilicitude.


C) é circunstância que sempre atenua a pena.
D) tem o mesmo tratamento legal da coação física irresistível.

E) é causa de isenção da pena.

RESOLUÇÃO.
Em primeiro lugar, o que exclui a tipicidade é a coação física absoluta, por excluir a conduta do agente. A
coação moral irresistível exclui a culpabilidade diante da inexigibilidade de conduta diversa.

Assim, a COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL é causa de exclusão da culpabilidade, ficando o réu isento de pena.

A COAÇÃO FÍSICA ABSOLUTA é causa de exclusão da tipicidade, excluindo a conduta, assim, tornando o fato atípico.

Nos dois casos, temos o instituto denominado AUTORIAMEDIATA, ou seja, somente o responsável pela
ordem é que será punido.

Observação: se a coação for resistível, o agente responde pelo crime, mas incide a atenuante do art. 65, III,
"c", do CP.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

III - ter o agente:

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou
sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

Hipóteses de exclusão de tipicidade:


a) Caso fortuito e força maior;

b) Hipnose;

c) Sonambulismo;

d) Movimentos reflexos;

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e) Coação física irresistível;

f) Erro de tipo inevitável;

g) Arrependimento eficaz e desistência voluntária;

h) Crime impossível;

i) Princípio da insignificância ou bagatela própria.

Hipóteses excludentes de ilicitude:


a) Estado de necessidade;

b) Legítima defesa;

c) Estrito cumprimento do dever legal;

d) Exercício regular do direito;

e) A legislação reconhece em certos casos o “consentimento da vítima” (causa supralegal de


exclusão da ilicitude).

São causas que excluem a culpabilidade:


a) Inimputabilidade penal;

b) Erro de proibição inevitável;

c) Coação moral irresistível;

d) Obediência hierárquica.

Gabarito: E.

18. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: FCC - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista
Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal
Considere:
I. Não provocação voluntária do perigo.
II. Exigibilidade de sacrifício do bem salvo.
III. Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.
IV. Conhecimento da situação justificante. V. Agressão atual ou pretérita.

São requisitos do estado de necessidade o que se afirma APENAS em


A) I, III e IV.
B) II, III e IV.
C) I, II e V.
D) II, IV e V.

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E) I, III e V.
RESOLUÇÃO.
São requisitos para a configuração do estado de necessidade, conforme o art. 24, CP:

Estado de necessidade

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços.

1) Requisitos objetivos:
O perigo deve ser atual, podendo decorrer de:

- fato da natureza (exemplo: desmoronamento);

- Comportamento humano (exemplo: carro desgovernado);

- Comportamento de um animal (exemplo: ataque de um cachorro).

B) Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente pelo agente:
- somente o causador do perigo que o tenha feito de modo doloso não pode alegar estado de
necessidade. O culposo, sim;

C) Salvar direito próprio ou alheio:


D) Inexistência do dever legar de enfrentar o perigo:
- não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. Quanto a
quem possui o dever legal de enfrentar o perigo, temos que ter presente o art. 13, § 2º, letras “a”; “b” e “c”,
CP:

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O
dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

E) Inevitabilidade do comportamento lesivo:

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o comportamento considerado lesivo deve ser absolutamente necessário para salvar direito próprio ou de
terceiro e inexigibilidade de sacrifício do direito ameaçado:

2) Requisito subjetivo:
Conhecimento da situação de fato justificante

Gabarito: A.

19. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: FCC - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista
Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal
Édipo, irritado com as constantes festas que seu vizinho Laio promove à noite, atrapalhando seu descanso,
resolve procurá-lo a fim de resolver definitivamente a situação. Para tanto, arma-se de uma espingarda e se
dirige à casa de Laio, vindo a encontrá-lo distraído. Ato contínuo, aponta a arma em sua direção a fim de efetuar
um disparo contra sua cabeça. Contudo, Jocasta, que, por coincidência, havia acabado de chegar ao local,
surpreende e consegue impedir Édipo de seu intento, retirando-lhe a arma de sua mão, evitando, assim, o
disparo fatal. A conduta de Édipo, para o Direito Penal, pode ser enquadrada no ordenamento jurídico como

A) arrependimento posterior.

B) desistência voluntária.
C) crime tentado.
D) circunstância atenuante.
E) arrependimento eficaz.
RESOLUÇÃO.

A base para a solução da questão está na diferença entre a desistência voluntária e a tentativa.

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.

Assim, a partir da leitura atenta dos artigos acima citados, temos que:

- Desistência voluntária - Posso prosseguir, mas não quero (vontade própria)

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- Tentativa - Quero prosseguir, mas não posso.


Demais disso, a desistência voluntária ocorre durante o crime. Já, o arrependimento eficaz, de pois de
iniciado o crime, mas da sua consumação.

Por essa razão que a desistência voluntária é denominada de PONTE DE OURO: o agente está diante de
um fato cujo resultado material é alcançável, mas, até que ocorra a consumação, abre-se a possibilidade (ponte
de ouro) para que o agente retorne à situação de licitude, seja desistindo de prosseguir na execução, seja atuando
positivamente no intuito de impedir a ocorrência do resultado.

Já, a PONTE DE PRATA é o chamado arrependimento posterior, conforme prevê o art. 16, CP:

Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
a dois terços.

Gabarito: C.

20. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Agente de Polícia

Patrícia, ao visitar seu companheiro Jorge, que cumpre pena em regime fechado pela prática de crime de roubo,
tenta ingressar no estabelecimento prisional trazendo consigo um aparelho de telefone celular que seria
entregue a Jorge, ocasião em que é surpreendida pelos agentes penitenciários no momento da revista.
Considerando a situação hipotética,

A) o fato praticado por Patrícia é atípico.

B) Patrícia não praticou qualquer crime.


C) Patrícia não praticou qualquer crime. Jorge, contudo, praticou falta grave prevista na Lei de Execuções Penais.
D) Patrícia, embora tenha praticado fato típico, previsto no Código Penal, por ser companheira de Jorge, é isenta
de pena.
E) o fato praticado por Patrícia é crime punido com detenção.
RESOLUÇÃO.
Pronto: lá vem a Fundação Cola-Copia.

Estávamos indo tão bem. De repente. Uma questão decoreba. Vamos lá? Coragem!

- a letra “a” está errada, pois o fato praticado por patrícia não é atípico, pois ela incorreu nas iras do art. 349,
A, CP:
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela
Lei nº 12.012, de 2009).

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Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009).

- a letra “b”, da mesma forma, está errada. Ora, se não marcamos a assertiva anterior, jamais poderíamos
marcar essa aqui. Percebam que em ambas Patrícianão teria cometido crime, embora já estejamos cientes de
que ela praticou o crime do art. 349, A, CP.

- a letra “c” está incorreta. É que Patrícia, como já falado, praticou crime. Assim, a primeira parte da
questão está errada. Já, Jorge cometeu sim falta grave, lembrando que a falta tentada é punida como
consumada no âmbito da execução penal.

Vejamos o diz o art. 49, parágrafo único, da Lei de Execução Penal:

Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local especificará as
leves e médias, bem assim as respectivas sanções.

Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada.

E, quanto à falta grave praticada, está prevista no art. 50, inciso VII, LEP (Lei de Execução Penal):

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Portanto, errada essa assertiva.

- a letra “d” está incorreta na parte em que fala que Patrícia ficará isenta de pena por ser companheira de
Jorge. Ora, se assim fosse, jamais alguém iria cometer esse crime e ele tornar-se-ia letra morte. Sabemos que
são parentes, cônjuges/companheiros que fazem esse tipo de entrega no interior de estabelecimentos prisionais.
- por fim, a letra “e” está correta. Realmente, o crime do art. 349, A, CP é punido com detenção:

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela
Lei nº 12.012, de 2009).

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009).

Gabarito: E.

21. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Agente de Polícia
Mário e Mauro combinam a prática de um crime de furto a uma residência. Contudo, sem que Mário saiba, Mauro
arma-se de um revólver devidamente municiado. Ambos, então, ingressam na residência escolhida para subtrair
os bens ali existentes. Enquanto Mário separava os objetos para subtração, Mauro é surpreendido com a
presença de um dos moradores que, ao reagir a ação criminosa, acaba sendo morto por Mauro. Nesta hipótese

A) Mário e Mauro responderão pela prática de latrocínio.

B) Mário e Mauro responderão pela prática de furto.

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C) Mário responderá pela prática de furto simples e Mauro responderá pela prática de furto qualificado.
D) Mário responderá apenas pelo furto e Mauro responderá pela prática dos crimes de porte ilegal de arma de
fogo, furto e homicídio.
E) Mário responderá pela prática de furto e Mauro pelo crime de latrocínio.
RESOLUÇÃO:

- a letra “a” está errada. É que, não obstante tenhamos adotado a teoria monista em relação ao concurso
de pessoas, é sabido que o limite da responsabilidade penal é a previsibilidade.

No caso em tela, jamais Mário poderia responder por latrocínio.

Explico.
É que ele sequer tinha conhecimento de que Mauro estava armado.

- a letra “b” está errada, pois nesse caso é evidente que ambos não responderão pelo mesmo crime. É que
incide ao caso o art. 29, § 2º, CP, ou seja, a participação dolosamente distinta, a mais importante exceção
pluralista à teoria monista:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

- a letra “c” não possui qualquer fundamento e deve ser rechaçada. É que não há sentido algum em ambos
responderem por furtos, embora um deles qualificado. É flagrante ser caso de participação dolosamente distinta,
em que Mário responderá por crime de furto e Mauro por latrocínio.
- a letra “d” também não deve ser marcada. É que não obstante vá mesmo responder pelo crime de furto,
Mauro não responderá por porte ilegal de arma de fogo, furto e homicídio.

Ora, a questão relativa a Mauro é facilmente resolvida pelo princípio da consunção, já que a arma de fogo
foi utilizada para a subtração. Mais do que isso.
Se a intenção era a subtração, mas tendo havido morte, ele responderá por latrocínio.
- a letra “e” é a correta. É que, efetivamente, levando-se em conta que sequer Mário poderia imaginar estar
Mauro armado, jamais responderia por latrocínio. Mas pelo crime de furto, que foi o que passou pela sua cabeça
(foi, desde sempre, o delito por ele desejado).

Gabarito: E.

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22. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia
João decide agredir fisicamente Pedro, seu desafeto, provocando-lhe vários ferimentos. Porém, durante a luta
corporal, João resolve matar Pedro, realizando um disparo de arma de fogo contra a vítima, sem contudo,
conseguir atingi-lo. A polícia é acionada, separando os contendores. Diante do caso hipotético, João responderá

A) apenas por lesões corporais.

B) apenas por tentativa de homicídio.


C) por rixa e disparo de arma de fogo.

D) por lesões corporais consumadas e disparo de arma de fogo.

E) por lesões corporais consumadas e homicídio tentado.

RESOLUÇÃO.

- no caso em tela, ocorreu o que chamamos de progressão criminosa. Isso ocorre quando o animus (vontade
do agente) acaba sendo alterada no curso dos acontecimentos.

Foi o que ocorreu no caso da questão.

Inicialmente, João decidira agredir fisicamente Pedro, seu desafeto. Ou seja, pretendia apenas causar-lhe
lesões corporais. No entanto, durante a luta corporal travada entre ambos, João resolveu matar Pedro, porém
não logrou atingi-lo. A polícia chega e acaba separando os contendores.

Ora, tal situação retrata fielmente um caso de tentativa de homicídio, pois apenas o resultado não se
consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente, qual seja, a pronta chegada da polícia.
Definição de progressão criminosa: o agente substitui o seu dolo, dando causa a resultado mais grave. O
agente deseja praticar um crime menor e o consuma. Depois, delibera praticar um crime maior e o também o
concretiza, atentando contra o mesmo bem jurídico.

Gabarito: B.

23. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia
De acordo com os dispositivos da parte geral do Código Penal, é correto afirmar:
A) Na hipótese de abolitio criminis a reincidência permanece como efeito secundário da prática do crime.
B) O território nacional estende-se a embarcações e aeronaves brasileira de natureza pública, desde que se
encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar.
C) Crimes à distância são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um país e o resultado, em outro.
D) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta de pena; se
inevitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
E) É isento de pena o agente que pratica crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde que,
voluntariamente, repare o dano ou restitua a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa.

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RESOLUÇÃO.

- a letra “a” está errada. É que ocorrendo o fenômeno da abolitio criminis cessam todos os efeitos penais,
permanecendo somente os efeitos civis. É o que dispõe o art. 67, inciso II, CPP:

Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:

II - a decisão que julgar extinta a punibilidade;

De outra banda, cessam todos os efeitos penais, pois a abolitio criminis nada mais é do que o caso em que
uma lei nova deixa de considerar aquela conduta como crime. É o que se extrai do art. 2º, CP:

Lei penal no tempo

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

- a letra “b” está incorreta. Segundo o art. 5º, § 1º, CP:


Territorialidade

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e


aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

- a letra “c” está correta. É que crimes à distância são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um país
e o resultado em outro.

- a letra “d” está incorreta. A banca acabou por inverter os conceitos que estão dispostos no art. 21, CP:

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de
pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

Ou seja, o correto é:

- se inevitável, isenta de pena;


- se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
- por fim, a letra “e” está incorreta. É que a assertiva está fazendo referência ao instituto do
arrependimento posterior, previsto no art. 16, CP:

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Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
a dois terços.

Nesse caso, desde que não se trate de crime doloso praticado mediante violência ou grave ameaça contra a
pessoa, e o agente tiver reparado o dano ou restituído a coisa até o recebimento da denúncia ou da queixa, por
ato voluntário, a pena será reduzida de um a dois terços. Mas o réu não ficará isento de pena.

Gabarito: C.

24. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: POLITEC - AP Provas: FCC - 2017 - POLITEC - AP - Perito Médico
Legista
Após uma discussão em um bar, Pedro decide matar Roberto. Para tanto, dirige-se até sua residência onde arma-
se de um revólver. Ato contínuo, retorna ao estabelecimento e efetua um disparo em direção a Roberto.
Contudo, erra o alvo, atingindo Antônio, balconista que ali trabalhava, ferindo-o levemente no ombro. Diante do
caso hipotético, Pedro praticou, em tese, o(s) crime(s) de A) lesão corporal leve.
B) lesão corporal culposa.
C) homicídio tentado e lesão corporal leve.
D) lesão corporal culposa e tentativa de homicídio.
E) homicídio na forma tentada.
RESOLUÇÃO.

A questão versa acerca do erro sobre a pessoa, previsto no art. 20, § 3º, CP:

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.

Erro determinado por terceiro

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

Erro sobre a pessoa

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o
crime.

É o contrário do que ocorre no chamado erro na execução ou aberrartio ictus:

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Erro na execução

Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa
que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o
agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Não se confunde com o erro em relação à pessoa. Neste (sobre a pessoa), o agente, apesar de perfeito na
execução, atinge vítima equivocadamente representada.

Na aberratio ictus, o agente, apesar de representar bem a vítima, erra na execução do crime.
Gabarito: E.

GALERA! Estão percebendo que as questões da FCC (nossa banca) estão muito repetitivas e já estamos nas do ano de 2017.
Então, passo a comentar questões mais atuais e que abordam de forma diferente esse conteúdo, embora o faça de acordo
com a banca CESPE!

25. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Agente de
Polícia Federal

Depois de adquirir um revólver calibre 38, que sabia ser produto de crime, José passou a portá-lo municiado, sem
autorização e em desacordo com determinação legal. O comportamento suspeito de José levou-o a ser
abordado em operação policial de rotina. Sem a autorização de porte de arma de fogo, José foi conduzido à
delegacia, onde foi instaurado inquérito policial.

Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item seguinte.


Se, durante o processo judicial a que José for submetido, for editada nova lei que diminua a pena para o crime de
receptação, ele não poderá se beneficiar desse fato, pois o direito penal brasileiro norteia-se pelo princípio de
aplicação da lei vigente à época do fato.
Certo

Errado

RESOLUÇÃO.

Sabemos que a lei penal, por possibilitar a imposição de uma pena privativa de liberdade, não pode
retroagir, salvo se for para beneficiar o réu. Isso significa que lei penal sempre abrange situações e
comportamentos efetuados a partir da sua entrada em vigor. Do contrário, se pudesse abarcar fatos pretéritos,
ninguém mais ousaria fazer qualquer coisa, sob o iminente risco daquela conduta ser criminalizada, mesmo já
tendo sido praticada.

Nesse sentido, reza o Código Penal:

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Lei penal no tempo

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Assim, a única hipótese em que a lei penal se movimenta no tempo é quando ela vem para favorecer o réu,
que é exatamente o caso da questão.

Gabarito: errada.

26. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Papiloscopista Policial Federal
Na tentativa de entrar em território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um veículo, um traficante disparou
um tiro contra agente policial federal que estava em missão em unidade fronteiriça. Após troca de tiros, outros
agentes prenderam o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade policial local e levaram o colega
ferido ao hospital da região.

Nessa situação hipotética, se o policial ferido não falecer em decorrência do tiro disparado pelo traficante,
estarse-á diante de homicídio tentado, que, no caso, terá como elementos caracterizadores: a conduta dolosa do
traficante; o ingresso do traficante nos atos preparatórios; e a impossibilidade de se chegar à consumação do
crime por circunstâncias alheias à vontade do traficante.

Certo

Errado
RESOLUÇÃO.

No caso em tela, se o policial federal não tiver falecido em decorrência do tiro efetuado pelo traficante,
estar-se-á diante da figura da tentativa de homicídio. Até aqui tranquilo, pessoal. O problema está em parte dos
elementos caracterizadores: o ingresso do traficante nos atos preparatórios; e a impossibilidade de se chegar à
consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do traficante. Ora, é sabido que no Brasil não se
punem os atos preparatórios, salvo exceções expressamente previstas em lei. Atos preparatórios são justamente
definidos como aqueles realizados no momento anterior ao início da execução do delito. Exemplos de punição de
atos preparatórios temos no art. 291 do CP (que é preparatório ao delito de fabricação de moeda falsa); o art. 34
da Lei de Drogas (que pune aquele que possui petrechos para produzir a droga para o tráfico) e, ainda, no art. 5º
da Lei 13.260/16, em que o legislador, por questões de política criminal, entendeu por bem em punir os atos
preparatórios de terrorismo.
De maneira contrária, não havendo lei que puna os atos preparatórios, não poderão ser objeto de punição,
sob o risco de violação ao princípio da legalidade. Logo, para a assertiva estar correta, deveria ter constado:
ingresso do traficante nos atos executórios.

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A questão é facilmente solucionada, ainda, pelo teor do art. 14, inciso II, do CP:

Art. 14 - Diz-se o crime:

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.”

Ou seja, na própria definição do crime tentado, a lei dispôs que deve ser iniciada a execução e não ter
havido consumação por razões alheias à vontade do agente.

Gabarito: errada.

27. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Papiloscopista Policial Federal
Na tentativa de entrar em território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um veículo, um traficante disparou
um tiro contra agente policial federal que estava em missão em unidade fronteiriça. Após troca de tiros, outros
agentes prenderam o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade policial local e levaram o colega
ferido ao hospital da região.
Nessa situação hipotética, para definir o lugar do crime praticado pelo traficante, o Código Penal brasileiro adota
o princípio da ubiquidade.
Certo
Errado
RESOLUÇÃO.
Macete: LUTA

Lugar
Ubiquidade

Tempo

Atividade

Lugar do crime

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

O critério da Ubiquidade, definido no art. 6º do CP, deve ser utilizado em situações em que conflito
internacional de jurisdições, ou seja, quando mais de um país, igualmente soberano, disputa o julgamento
daquele delito. Nela, o legislador une duas outras teorias, quais sejam: da atividade e do resultado. Isso porque
afirma que se considerada praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Logo, trata-se de um critério misto, já que une
tanto a teoria da atividade, como a teoria do resultado.

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Mais do que isso.

Segundo a doutrina, não se aplica a Teoria da Ubiquidade nos seguintes casos: a) Crimes conexos; Crimes
plurilocais;

Infrações penais de menor potencial ofensivo;

Crimes falimentares e

Atos infracionais

→ Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: TCE-SC Prova: Auditor Fiscal de Controle Externo - Direito
No Código Penal brasileiro, adota-se a teoria da ubiquidade, conforme a qual o lugar do crime é o da ação ou
da omissão, bem como o lugar onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. CERTO.

→ Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA Prova: Delegado de Polícia Civil
b) Nos crimes conexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, devendo cada crime ser julgado pela legislação
penal do país em que for cometido. CERTO.

→ Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: PC-DF Prova: Escrivão de Polícia


Na definição de lugar do crime, para os efeitos de aplicação da lei penal brasileira, a expressão “onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado” diz respeito, respectivamente, à consumação e à tentativa.
CERTO.

→ Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TJ-PI Prova: Juiz


a) Em relação ao lugar do crime, o legislador adotou, no CP, a teoria do resultado, considerando praticado o
crime no lugar onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. ERRADO.

Gabarito: certa.

28. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de exclusão da culpabilidade,
concurso de agentes, prescrição e crime contra o patrimônio.
Arnaldo, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares quando foi abordado por
dois indivíduos fortemente armados, que ameaçaram os ocupantes do veículo e exigiram de Arnaldo o
fornecimento de determinada senha para a realização de uma operação bancária, o que foi por ele prontamente
atendido. Nessa situação, o uso da senha pelos indivíduos para eventual prática criminosa excluirá a
culpabilidade de Arnaldo.
Certo

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Errado
RESOLUÇÃO.
Com efeito.

No caso em comento, Arnaldo, que estava com seus familiares no interior de um veículo, ao ser abordado
por dois sujeitos fortemente armados que ameaçaram os seus familiares, ao entregar a senha para que os
agentes realizassem operação bancária, está acobertado por uma causa de exclusão da culpabilidade, qual seja, a
coação moral irresistível.
É o que dispõe o art. 22 do CP:

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

A regra do art. 22 do Código Penal trata de situação em que o autor do fato tem sua vontade anulada em
razão da ação de terceiro, que o domina moralmente ou que lhe é funcionalmente superior, sendo, por essa
razão, a responsabilidade pela prática do fato será somente daquele que exerceu a coação moral irresistível ou do
superior hierárquico que determinou a ordem.

A coação irresistível pode ser física ou moral. No caso da coação física, como a própria conduta do agente
fica afastada, diz que há uma excludente da tipicidade. Na coação moral irresistível a excludente é da
culpabilidade, pois, no caso, fica caracterizada a inexigibilidade de conduta diversa. E, por fim, não confundir a
coação moral irresistível, que afasta a culpabilidade com a resistível, que somente é uma causa atenuante da
pena, respondendo o sujeito pelo crime.
Gabarito: certa.

29. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Cristiano, maior e capaz, roubou, mediante emprego de arma de fogo, a bicicleta de um adolescente, tendo-o
ameaçado gravemente. Perseguido, Cristiano foi preso, confessou o crime e voluntariamente restituiu a coisa
roubada. Nessa situação, a restituição do bem não assegura a Cristiano a redução de um a dois terços da pena,
pois o crime foi cometido com grave ameaça à pessoa.
Certo

Errado

RESOLUÇÃO.
Conforme o site Dizer Direito, ao comentar o Informativo número 590 do STJ, tem-se que:
O arrependimento posterior é previsto no art. 16 do Código Penal, nos seguintes termos:

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Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1/3
a 2/3. Trata-se de um benefício ou prêmio para estimular o agente a restituir a coisa ou reparar os danos
causados com sua conduta.

Requisitos:

O crime deve ter sido praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa. Se o agente praticou violência
contra a coisa: pode receber o benefício. Se o agente praticou, culposamente, violência contra a pessoa: pode
receber o benefício. O art. 16 vale para todos os crimes com que ele seja compatível, sem distinção, inclusive
contra a Administração Pública. Assim, é errado pensar que o arrependimento posterior aplica-se apenas para os
crimes contra o patrimônio.

O agente, voluntariamente, deve ter reparado o dano ou restituído a coisa. A reparação do dano ou
restituição deve ser total ou pode ser parcial? A doutrina afirma que o benefício somente deveria ser concedido
em caso de reparação integral. Vale ressaltar, no entanto, que a 1ª Turma do STF decidiu que a incidência do
arrependimento posterior, contido no art. 16 do CP, prescinde da reparação total do dano. Em outras palavras,
entendeu-se que a reparação poderia ser parcial (HC 98658/PR, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
9/11/2010).
Essa reparação ou restituição deve ter acontecido antes do recebimento da denúncia ou queixa. Se for feita
após o recebimento, o agente terá direito apenas à atenuante genérica prevista no art. 65, III, “b” do CP:

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

III - ter o agente:

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- lhe

as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;

A redução da pena, no caso de arrependimento posterior, varia de 1/3 a 2/3.

Qual é o parâmetro para a redução?


A 1ª Turma do STF já decidiu que o juiz, ao definir o quanto da pena será reduzido, deverá levar em
consideração a extensão do ressarcimento (se total ou parcial) e também o momento de sua ocorrência. Assim,
se a reparação for total e no mesmo dia dos fatos, a redução deve ser a máxima de 2/3 (HC 98658/PR, red. p/ o
acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 9/11/2010).

Comunicabilidade no concurso de pessoas

O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não tenham
participado da restituição da coisa ou da reparação do dano. Assim, uma vez reparado o dano integralmente por
um dos autores do delito, a causa de diminuição de pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP,
estende-se aos demais coautores. STJ. 6ª Turma. REsp 1.187.976-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
7/11/2013 (Info 531).
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética:

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João, na condução de um veículo automotor, atropelou Pedro, causando-lhe a morte. Duas semanas depois
do ocorrido, João e os herdeiros de Pedro celebraram composição civil por meio do qual o autor do homicídio
pagou indenização à família da vítima. Passadas mais algumas semanas, o Ministério Público denunciou João
pela prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB). Diante disso, indaga-se:
João poderá ser beneficiado com a causa de diminuição de pena do art. 16 do CP?

O arrependimento posterior pode ser aplicado para o homicídio culposo na direção de veículo automotor?
NÃO.

Não se aplica o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o homicídio culposo na direção
de veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que tenha sido realizada composição civil entre o autor do crime a
família da vítima.

Para que seja possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do CP é indispensável que o
crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. STJ. 6ª Turma. REsp 1.561.276-BA, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/6/2016 (Info 590). O delito do art. 302 do CTB não é um crime patrimonial
ou de efeito patrimonial. O bem jurídico por ele tutelado é a vida. Não se pode reconhecer o arrependimento
posterior porque é impossível a reparação do dano cometido contra o bem jurídico "vida". Além disso, a vítima
não poderá aproveitar a composição financeira realizada entre a sua família e o autor do crime. Sendo assim,
inviável o reconhecimento do arrependimento posterior na hipótese de homicídio culposo na direção de veículo
automotor.”

Em assim sendo, como se trata de crime praticado com violência ou grave ameaça (roubo), não é possível a
aplicação do instituto do arrependimento posterior.
Gabarito: certa.

30. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.

Sílvio, maior e capaz, entrou em uma loja que vende aparelhos celulares, com o propósito de furtar algum
aparelho. A loja possui sistema de vigilância eletrônica que monitora as ações das pessoas, além de diversos
agentes de segurança. Sílvio colocou um aparelho no bolso e, ao tentar sair do local, um dos seguranças o deteve
e chamou a polícia. Nessa situação, está configurado o crime impossível por ineficácia absoluta do meio, uma vez
que não havia qualquer chance de Sílvio furtar o objeto sem que fosse notado.

Certo

Errado

RESOLUÇÃO.
Crime impossível é considerado aquele que, pela ineficácia total do meio empregado ou pela
impropriedade absoluta do objeto material, é impossível de se consumar. É o que dispõe o art. 17 do CP:

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Crime impossível

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
objeto, é impossível consumar-se o crime.

Na questão em comento, Sílvio, maior e capaz, entrou em uma loja de celulares com o intuito de furtar um.
A vigilância eletrônica que monitora a ação das pessoas, por si só, não torna impossível a consumação do delito
contra o patrimônio. É que, por mais câmeras que existissem no local, sempre existe chance de o ladrão sair com
o objeto que pretende subtrair. Isso significa que sempre deverá haver a intervenção de algum agente de
segurança para impedir a consumação do crime. Logo, trata-se de situação de furto na modalidade tentada e
não de crime impossível.

A propósito, ainda, o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula número 567:

Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de
estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.

Gabarito: errada.

31. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.

Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova lei, esse tipo penal foi
formalmente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal. Nessa situação, Manoel
responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova lei.

Certo
Errado

RESOLUÇÃO.

Imaginem o seguinte caso. Antes da entrada em vigor da Lei 12.015/09 tínhamos as figuras dos artigos 213
(estupro) e 214 (atentado violente ao pudor), ambos do CP. Com o advento dela, será que aquele que cometeu
ato libidinoso diverso da conjunção carnal (como sexo anal ou sexo oral com a vítima) foi beneficiado pela
abolitio criminis, já que o art. 213 do CP foi revogado?
A resposta é negativa. Nesse caso, não ocorreu a revogação do crime de atentado violento ao pudor.
Apenas passou para o mesmo tipo penal do estupro, passando o “novo” art. 213 a abarcar tanto o estupro como
o atentado violento ao pudor. A redação de cada um deles era assim:

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Estupro

Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça:

Pena - reclusão, de três a oito anos.

Atentado violento ao pudor

Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se
pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal:

Pena - reclusão de dois a sete anos.

Com a entrada em vigor da Lei 12.015/09 passou a ser assim:

Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2º Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Art. 214 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)

Assim, não obstante tenha sido revogado o crime de atentado violento ao pudor, ele apenas foi realocado
para o crime do art. 213, que passou a abarcar as duas condutas.

A isso chamamos de fenômeno da continuidade típico-normativa. Nesse caso, o que ocorre é apenas uma
realocação de um tipo penal incriminador para outro, não havendo a sua descriminalização. Diferentemente
ocorre com a abolitio criminis, ocasião em que uma nova lei acaba não mais mantendo a tipificação anterior de
um fato outrora definido como crime. Nesse caso, aplica-se o princípio da retroatividade da lei penal mais
benéfica, abarcando, inclusive, fatos anteriores. Em conclusão, o princípio da continuidade normativa típica
ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal
revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou
normativamente diverso do originário. Ou seja, nesse caso, há somente uma revogação formal, mas a conduta
segue sendo materialmente típica. Na abolitio criminis há revogação formal e material do tipo penal
incriminador.
Gabarito: certa.

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32. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2018 - Polícia Federal – Perito
Criminal Federal - Conhecimentos Básicos - Todas as Áreas
A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para posteriormente revende-
os. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça pública de uma cidade brasileira,
Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o conduziram coercitivamente até a
delegacia.

Com referência a essa situação hipotética, julgue o item subsequente.

Se a conduta de Pedro não se consumar em razão de circunstâncias alheias à sua vontade, ele responderá pelo
crime tentado, para o que está prevista a pena correspondente ao crime consumado diminuída de um a dois
terços. Certo

Errado

RESOLUÇÃO.
Mas temos de ter muito cuidado com a forma pela qual a questão foi exposta.

Explico.
Trata-se a conduta de Pedro de violação de direito autoral, cujo crime está previsto no art. 184 do CP:
Violação de direito autoral

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por
qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os
represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à
venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou
fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do
direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a
expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou
qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um
tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou
indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor de fonograma, ou de quem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

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§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou
os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a
cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de
lucro direto ou indireto.

Especificamente no parágrafo segundo está descrita a conduta de Pedro (expor à venda). Nesse momento,
a conduta de Pedro já estava consumada. Portanto, quando da chegada dos policiais, Pedro já tinha consumado
o crime do art. 184, § 2º, do CP, não havendo mais o que se falar em modalidade tentada. É como ocorre no art.
33 da Lei de Drogas em que temos 18 verbos nucleares, sendo muito difícil a ocorrência da figura da tentativa.
Então, galera, por isso peço muito cuidado. A situação narrada no enunciado, na sua primeira parte, já descreve o
crime de violação de direito autoral na forma consumada. Mas prestem atenção na ‘pegadinha” do CESPE: “Se a
conduta de Pedro não se consumar em razão de circunstâncias alheias à sua vontade, ele responderá pelo crime
tentado, para o que está prevista a pena correspondente ao crime consumado diminuída de um a dois terços.”

Ora, essa parte, embora não revele a situação em que se encontrava Pedro (pois já havia consumado o
crime) está absolutamente correta. Entenderam a “jogadinha” do CESPE? Narram um caso de crime consumado
e depois afirma algo absolutamente correto em relação á tentativa, mas que não diz respeito ao caso concreto. É
como se você tivesse que considerar somente a última parte do enunciado, pois se levar em conta a tudo o que
foi escrito, não resolve a questão de modo correto (e ainda corremos o risco de ficar tararacas).
Gabarito: certa.

33. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia
Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz, na
frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de seu
pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube depois de
quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos
fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser socorrida.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
A culpabilidade de Carlos poderá ser afastada por inexigibilidade de conduta diversa.
Certo
Errado
RESOLUÇÃO.

É que para que a culpabilidade fique afastada pela inexigibilidade de conduta diversa, ele deveria estar
obrigado a praticar a conduta, como já vimos em questões anteriores, como no caso do gerente do banco cuja
família está sendo alvo de ameaça de morte. Na presente questão, Carlos retornou ao clube passados 40min do
corrido, com um revólver em punho, o que nos dá a certeza de que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Aliás, esse ínterim pode, inclusive, caracterizar a vingança, já que ele teve tempo suficiente para “esfriar” a
cabeça e, mesmo assim, retornou ao local armado. Boa intenção, então, Carlos não tinha. Nesse caso, o crime
não resta afastado, o que poderá ocorrer é a diminuição da pena a ser imposta.

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Se estiver sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima, sua pena poderá ser
reduzida entre um sexto a um terço.

Homicídio simples

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Caso de diminuição de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a
um terço.

Caso estivesse sob a influência de violenta emoção (influenciado é muito menos do que estar dominado)
teremos uma atenuante.

Circunstâncias atenuantes

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

III - ter o agente:

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior,

ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

A diferença, portanto, fica evidente. Devemos lembrar, ainda, que a emoção e a paixão não excluem o
crime (já pensaram se excluísse?).

Emoção e paixão

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

I - a emoção ou a paixão;

Gabarito: errada.

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Fim de aula! Aguardamos a sua presença em nosso próximo encontro!


Saudações,
Prof. Pietro Chidichimo e Prof. Alexandre Salim.

Lista de questões comentadas

1. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público
A legítima defesa
A) é meio de exclusão da ilicitude em face de qualquer injusta agressão, desde que os bens jurídicos atacados
sejam o patrimônio, a vida ou a integridade corporal.
B) é cabível ainda que o bem agredido esteja submetido a outra forma de especial proteção, como o proprietário
que ameaça o inquilino para que preserve o imóvel.
C) se legitima como forma de exclusão da antijuridicidade diante de agressão injusta, entendida como aquela
realizada mediante comportamento do agressor que implique em crime doloso.
D) quando praticada em excesso, após cessada a agressão, implica em punição na modalidade culposa.
E) exclui a antijuridicidade da conduta quando repele agressão injusta que esteja ocorrendo ou em vias de
ocorrer, desde que a ação defensiva seja moderada e utilize os meios necessários.

2. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial -
Administrativa
Não há crime quando o agente pratica o fato: I.
Em estado de necessidade.
II. Em estado de embriaguez culposa pelo álcool.
III. Em estrito cumprimento de dever legal.
IV. No exercício regular de direito. V. Sob o efeito de emoção ou paixão.
Está correto o que se afirma APENAS em
A) I, II e III.
B) I, IV e V.
C) II, III e V.
D) II, IV e V.

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E) I, III e IV.

3. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PE Prova: FCC - 2018 - MPE-PE - Técnico Ministerial -
Administrativa
Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado. Tal enunciado refere-se ao
princípio da
A) proporcionalidade.
B) intervenção mínima.
C) ofensividade.
D) bagatela imprópria.
E) alteridade.

4. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-SC Provas: FCC - 2018 - SEFAZ-SC - Auditor-Fiscal da Receita
Estadual - Auditoria e Fiscalização (Prova 1)
À luz do que dispõe o Ordenamento Penal brasileiro,
A) o agente que desiste de forma voluntária de prosseguir na execução do crime, ou impede que o resultado se
produza, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
B) o arrependimento posterior, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, deve ocorrer até
o oferecimento da denúncia ou da queixa.
C) não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.
D) crime impossível é aquele em que o agente, embora tenha praticado todos os atos executórios à sua
disposição, não consegue consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade. E) diz-se crime culposo,
quando o agente assumiu o risco de produzi-lo.

5. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-SC Provas: FCC - 2018 - SEFAZ-SC - Auditor-Fiscal da Receita
Estadual - Auditoria e Fiscalização (Prova 1)
Acerca da aplicação da lei penal no direito brasileiro, o ordenamento vigente estabelece que
A) a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, exceto se já houve o
trânsito em julgado da sentença, hipótese em que a decisão se torna imutável.
B) a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, somente se a sua vigência for
anterior ao início da prática delitiva, em razão do princípio da irretroatividade da lei penal mais severa.
C) as contravenções praticadas contra a Administração pública, por quem está a seu serviço ficam sujeitas à lei
brasileira, embora cometidas no estrangeiro.

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D) a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando idênticas, ou nela
é computada, quando diversas.
E) a lei temporária aplica-se ao fato praticado durante sua vigência, embora decorrido o período de sua duração.

6. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara
Legislativa do Distrito Federal - Técnico Legislativo - Agente de Polícia Legislativa
De acordo com o que estabelece o Código Penal,
A) não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de direito.
B) entende-se em legítima defesa quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar.
C) é possível a invocação do estado de necessidade mesmo para aquele que tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.
D) é plenamente possível a compensação de culpas quando ambos os agentes agiram com imprudência,
negligência ou imperícia na prática do ilícito.
E) considera-se praticado o crime no momento do resultado, ainda que outro seja o momento da ação ou
omissão.

7. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto
O erro sobre elementos do tipo, previsto no artigo 20 do Código Penal, A)
exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
B) sempre isenta o agente de pena.
C) não isenta o agente de pena, mas esta será diminuída de um sexto a um terço.
D) não tem relevância na punição do agente, pois o desconhecimento da lei é inescusável.
E) se inevitável, isenta o agente de pena; se evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a um terço.

8. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto
O arrependimento eficaz
A) configura-se quando a execução do crime é interrompida pela vontade do agente.
B) dá-se após a execução, mas antes da consumação do crime.
C) decorre da interrupção casuística do iter criminis.
D) é causa inominada de exclusão da ilicitude.
E) exige que a manifestação do autor do crime seja posterior à consumação do delito.

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9. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto
Nos termos do Código Penal, pune-se o crime tentado com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços. Para o Supremo Tribunal Federal, a pena será diminuída A) considerando as
circunstâncias judiciais do artigo 59, do Código Penal.
B) tomando-se por base os antecedentes e a personalidade do acusado.
C) com base nas condições de ordem subjetiva do autor do delito.
D) na proporção inversa do iter criminis percorrido pelo agente.
E) de forma equitativa ao dano causado à vítima do crime

10. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-RS Prova: FCC - 2018 - DPE-RS - Defensor Público
O afastamento da tipicidade, quando verificada lesão penalmente irrelevante decorrente de conduta
formalmente incriminada, dá-se por: A) princípio da adequação social.

B) princípio da intervenção mínima.


C) princípio da humanidade das sanções.
D) princípio da insignificância.
E) ineficácia absoluta do meio ou absoluta impropriedade do objeto (crime impossível).

11.Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-RS Prova: FCC - 2018 - DPE-RS - Defensor Público
Na madrugada de um sábado, Jorge, cabo da Polícia Militar, retornava para casa, em um bairro bastante violento
da capital. Policial experiente, que já havia sido ameaçado por algumas lideranças do tráfico na região, ciente das
constantes disputas entre grupos rivais que ocorriam na comunidade, Jorge era cuidadoso e sempre caminhava
pelo bairro em trajes civis. A cerca de 5 metros da esquina de sua casa, Jorge assustou-se com dois homens que
dobraram a esquina correndo, os quais, ao vê-lo, apontaram-lhe as armas que portavam. Diante da situação
sinistra em que se via, Jorge não titubeou e agiu conforme seus treinamentos: sacou seu revólver com extrema
rapidez e habilidade e, com disparos certeiros, atingiu letalmente os dois homens que lhe apontavam as armas.
Jorge, então, acionou a Polícia Militar e o serviço de socorro médico de emergência, que compareceram ao local,
tendo os agentes militares constatado que os homens atingidos eram dois policiais civis que participavam de
uma operação contra o tráfico no bairro e se preparavam para prender alguns suspeitos em flagrante.
Da leitura do enunciado, é correto afirmar:
A) Apesar de sua conduta típica e ilícita, a Jorge não deve ser aplicada qualquer pena, sendo-lhe inexigível
conduta diversa diante das circunstâncias que compunham o contexto em que se viu envolvido, que o levaram a
supor situação de fato que, se existisse, tornaria sua ação legítima.
B) A Jorge deve ser imputada a prática de dois homicídios dolosos, em concurso material, qualificados por
terem como vítimas policiais civis (art. 121, § 2°, VII − por duas vezes −, c/c art. 69, ambos do CP).

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C) A Jorge deve ser imputada a prática de dois homicídios dolosos, em concurso material, sem possibilidade
de qualificação pela condição das vítimas, uma vez que o autor desconhecia essa circunstância (art. 121, caput −
por duas vezes −, c/c art. 69, ambos do CP).
D) A Jorge deve ser imputada a prática de dois homicídios culposos, em concurso formal, tendo em vista sua
conduta imprudente, uma vez que efetuou os disparos sem prévia identificação e ordem de parada (art. 121, § 3°
− por duas vezes −, c/c art. 70, ambos do CP).
E) A Jorge não deve ser imputada a prática de crime, uma vez que agiu sob o pálio da legítima defesa
enquanto excludente da ilicitude, estando sua ação especialmente justificada pelas circunstâncias da situação
em que se viu envolvido − a chamada legítima defesa putativa.

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12. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-RS Prova: FCC - 2018 DPE-RS - Defensor Público
Arquimedes dirigia seu caminhão à noite, por uma estrada de serra, com muitas curvas, péssima sinalização e sob
forte chuva. Ele estava sonolento e apenas aguardava o próximo posto de combustíveis para estacionar e dormir.
Motorista experiente que era, observava as regras de tráfego no local, imprimindo ao veículo a velocidade
permitida no trecho.
Entretanto, a 50 Km do posto de combustíveis mais próximo, após uma curva, Arquimedes assustou-se com um
vulto que de súbito adentrou a via, imediatamente acionando os freios, sem, contudo, evitar o choque.
Inicialmente, pensou tratar-se de um animal, mas quando desembarcou do veículo, pôde constatar que se
tratava de um homem. Desesperado ao vê-lo perdendo muito sangue, Arquimedes logo acionou o serviço de
socorro e emergências médicas, que chegou rapidamente ao local, constatando o óbito do homem em cujo bolso
foi encontrado um bilhete de despedida. Era um suicida.
Da leitura do enunciado, pode-se afirmar que:
A) Arquimedes não praticou crime, tendo em vista a incidência na hipótese da inexigibilidade de conduta diversa
− excludente de culpabilidade.
B) a Arquimedes deve ser imputada a prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor, em razão de
sua conduta negligente.
C) a conduta de Arquimedes não reúne os elementos necessários à configuração do fato como crime.
D) Arquimedes não praticou crime, uma vez que agiu em exercício regular de direito − excludente de ilicitude.
E) a Arquimedes deve ser imputada a prática de homicídio doloso (dolo eventual), tendo em vista que, ao dirigir
à noite, sonolento e sob chuva intensa, assumiu o risco de matar alguém.

13. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: ALESE Prova: FCC - 2018 - ALESE - Analista Legislativo - Processo
Legislativo
É certo que um crime pode ser praticado por uma ou mais pessoas. Quando isso acontece, está-se diante da
hipótese de concurso de pessoas, também conhecido como concurso de agentes. Nesse caso,
A) ainda que algum dos concorrentes tenha querido participar de crime menos grave, ser-lhe-á,
obrigatoriamente, aplicada a pena idêntica do crime praticado pelo seu comparsa, ante a adoção pelo Código
Penal da teoria monista.
B) em hipótese alguma se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal na coautoria.
C) o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são sempre puníveis, ainda que o crime não venha a ser
tentado.
D) os crimes plurissubjetivos não admitem a coautoria e a participação.
E) se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

14. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: ALESE Prova: FCC - 2018 ALESE - Analista Legislativo - Apoio Jurídico

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Hamilton resolve chamar um táxi pelo aplicativo do celular a fim de conduzi-lo até determinado endereço. Após
ingressar no veículo, Hamilton recebe uma ligação em seu telefone, ocasião em que diz a pessoa que está do
outro lado da linha que está se dirigindo até o endereço do amante de sua esposa a fim de matá-lo. O motorista
do táxi, mesmo após ouvir a conversa de seu passageiro, o conduz até seu destino. No dia seguinte, o motorista
toma conhecimento pelo noticiário televisivo de que Hamilton realmente matou o amante de sua mulher. Diante
do caso hipotético, o taxista
A) responderá pelo crime de homicídio doloso como partícipe.
B) responderá pelo crime de homicídio doloso como coautor.
C) responderá pelo crime de homicídio culposo.
D) responderá pelo crime de favorecimento pessoal.
E) não responderá por nenhum crime.

15. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público
No Direito Penal brasileiro, o erro
A) sobre os elementos do tipo impede a punição do agente, pois exclui a tipicidade subjetiva em todas as suas
formas
B) determinado por terceiro faz com que este responda pelo crime.
C) sobre a pessoa leva em consideração as condições e qualidades da vítima para fins de aplicação da pena.
D) de proibição exclui o dolo, tornando a conduta atípica.
E) sobre a ilicitude do fato isenta o agente de pena quando evitável.

16. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Analista Jurídico de
Defensoria - Ciências Jurídicas
O erro de tipo, no Direito Penal,
A) exclui a culpabilidade subjetiva, impedindo a punição do agente.
B) quando escusável, permite a punição por crime culposo.
C) é incabível em crimes hediondos e equiparados.
D) é inescusável nos crimes da Lei de Drogas, no desconhecimento da lei penal.
E) incide sobre o elemento constitutivo do tipo e exclui o dolo.

17.Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: FCC 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista

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Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal


A coação moral irresistível A) torna o fato atípico.
B) é causa excludente de ilicitude.
C) é circunstância que sempre atenua a pena.
D) tem o mesmo tratamento legal da coação física irresistível.
E) é causa de isenção da pena.

18. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: FCC - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista
Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal
Considere:
I. Não provocação voluntária do perigo.
II. Exigibilidade de sacrifício do bem salvo.
III. Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.
IV. Conhecimento da situação justificante. V. Agressão atual ou pretérita.

São requisitos do estado de necessidade o que se afirma APENAS em


A) I, III e IV.
B) II, III e IV.
C) I, II e V.
D) II, IV e V.
E) I, III e V.

19. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: FCC - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista
Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador Federal
Édipo, irritado com as constantes festas que seu vizinho Laio promove à noite, atrapalhando seu descanso,
resolve procurá-lo a fim de resolver definitivamente a situação. Para tanto, arma-se de uma espingarda e se
dirige à casa de Laio, vindo a encontrá-lo distraído. Ato contínuo, aponta a arma em sua direção a fim de efetuar
um disparo contra sua cabeça. Contudo, Jocasta, que, por coincidência, havia acabado de chegar ao local,
surpreende e consegue impedir Édipo de seu intento, retirando-lhe a arma de sua mão, evitando, assim, o
disparo fatal. A conduta de Édipo, para o Direito Penal, pode ser enquadrada no ordenamento jurídico como A)
arrependimento posterior.
B) desistência voluntária.

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C) crime tentado.
D) circunstância atenuante.
E) arrependimento eficaz.

20. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Agente de Polícia
Patrícia, ao visitar seu companheiro Jorge, que cumpre pena em regime fechado pela prática de crime de roubo,
tenta ingressar no estabelecimento prisional trazendo consigo um aparelho de telefone celular que seria
entregue a Jorge, ocasião em que é surpreendida pelos agentes penitenciários no momento da revista.
Considerando a situação hipotética, A) o fato praticado por Patrícia é atípico.
B) Patrícia não praticou qualquer crime.
C) Patrícia não praticou qualquer crime. Jorge, contudo, praticou falta grave prevista na Lei de Execuções Penais.
D) Patrícia, embora tenha praticado fato típico, previsto no Código Penal, por ser companheira de Jorge, é isenta
de pena.
E) o fato praticado por Patrícia é crime punido com detenção.

21. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Agente de Polícia
Mário e Mauro combinam a prática de um crime de furto a uma residência. Contudo, sem que Mário saiba, Mauro
arma-se de um revólver devidamente municiado. Ambos, então, ingressam na residência escolhida para subtrair
os bens ali existentes. Enquanto Mário separava os objetos para subtração, Mauro é surpreendido com a
presença de um dos moradores que, ao reagir a ação criminosa, acaba sendo morto por Mauro. Nesta hipótese
A) Mário e Mauro responderão pela prática de latrocínio.
B) Mário e Mauro responderão pela prática de furto.
C) Mário responderá pela prática de furto simples e Mauro responderá pela prática de furto qualificado.
D) Mário responderá apenas pelo furto e Mauro responderá pela prática dos crimes de porte ilegal de arma de
fogo, furto e homicídio.
E) Mário responderá pela prática de furto e Mauro pelo crime de latrocínio.

22. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia
João decide agredir fisicamente Pedro, seu desafeto, provocando-lhe vários ferimentos. Porém, durante a luta
corporal, João resolve matar Pedro, realizando um disparo de arma de fogo contra a vítima, sem contudo,
conseguir atingi-lo. A polícia é acionada, separando os contendores. Diante do caso hipotético, João responderá
A) apenas por lesões corporais.

B) apenas por tentativa de homicídio.


C) por rixa e disparo de arma de fogo.
D) por lesões corporais consumadas e disparo de arma de fogo.
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E) por lesões corporais consumadas e homicídio tentado.

23. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia
De acordo com os dispositivos da parte geral do Código Penal, é correto afirmar:
A) Na hipótese de abolitio criminis a reincidência permanece como efeito secundário da prática do crime.
B) O território nacional estende-se a embarcações e aeronaves brasileira de natureza pública, desde que se
encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em alto-mar.
C) Crimes à distância são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um país e o resultado, em outro.
D) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, isenta de pena; se
inevitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
E) É isento de pena o agente que pratica crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, desde que,
voluntariamente, repare o dano ou restitua a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa.

24. Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: POLITEC - AP Provas: FCC - 2017 - POLITEC - AP - Perito Médico
Legista
Após uma discussão em um bar, Pedro decide matar Roberto. Para tanto, dirige-se até sua residência onde arma-
se de um revólver. Ato contínuo, retorna ao estabelecimento e efetua um disparo em direção a Roberto.
Contudo, erra o alvo, atingindo Antônio, balconista que ali trabalhava, ferindo-o levemente no ombro. Diante do
caso hipotético, Pedro praticou, em tese, o(s) crime(s) de A) lesão corporal leve.
B) lesão corporal culposa.
C) homicídio tentado e lesão corporal leve.
D) lesão corporal culposa e tentativa de homicídio.
E) homicídio na forma tentada.

GALERA! Estão percebendo que as questões da FCC (nossa banca) estão muito repetitivas e já estamos nas do ano de 2017.
Então, passo a comentar questões mais atuais e que abordam de forma diferente esse conteúdo, embora o faça de acordo
com a banca CESPE!

25.Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Agente de
Polícia Federal
Depois de adquirir um revólver calibre 38, que sabia ser produto de crime, José passou a portá-lo municiado, sem
autorização e em desacordo com determinação legal. O comportamento suspeito de José levou-o a ser
abordado em operação policial de rotina. Sem a autorização de porte de arma de fogo, José foi conduzido à
delegacia, onde foi instaurado inquérito policial.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item seguinte.

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Se, durante o processo judicial a que José for submetido, for editada nova lei que diminua a pena para o crime de
receptação, ele não poderá se beneficiar desse fato, pois o direito penal brasileiro norteia-se pelo princípio de
aplicação da lei vigente à época do fato.
Certo
Errado

26. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Papiloscopista Policial Federal
Na tentativa de entrar em território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um veículo, um traficante disparou
um tiro contra agente policial federal que estava em missão em unidade fronteiriça. Após troca de tiros, outros
agentes prenderam o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade policial local e levaram o colega
ferido ao hospital da região.
Nessa situação hipotética, se o policial ferido não falecer em decorrência do tiro disparado pelo traficante,
estarse-á diante de homicídio tentado, que, no caso, terá como elementos caracterizadores: a conduta dolosa do
traficante; o ingresso do traficante nos atos preparatórios; e a impossibilidade de se chegar à consumação do
crime por circunstâncias alheias à vontade do traficante.
Certo
Errado

27.Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Papiloscopista Policial Federal
Na tentativa de entrar em território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um veículo, um traficante disparou
um tiro contra agente policial federal que estava em missão em unidade fronteiriça. Após troca de tiros, outros
agentes prenderam o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade policial local e levaram o colega
ferido ao hospital da região.
Nessa situação hipotética, para definir o lugar do crime praticado pelo traficante, o Código Penal brasileiro adota
o princípio da ubiquidade.
Certo
Errado

28. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Delegado de Polícia Federal
Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de exclusão da culpabilidade,
concurso de agentes, prescrição e crime contra o patrimônio.

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Arnaldo, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares quando foi abordado por
dois indivíduos fortemente armados, que ameaçaram os ocupantes do veículo e exigiram de Arnaldo o
fornecimento de determinada senha para a realização de uma operação bancária, o que foi por ele prontamente
atendido. Nessa situação, o uso da senha pelos indivíduos para eventual prática criminosa excluirá a
culpabilidade de Arnaldo.
Certo
Errado

29. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal -
Delegado de Polícia Federal
Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Cristiano, maior e capaz, roubou, mediante emprego de arma de fogo, a bicicleta de um adolescente, tendo-o
ameaçado gravemente. Perseguido, Cristiano foi preso, confessou o crime e voluntariamente restituiu a coisa
roubada. Nessa situação, a restituição do bem não assegura a Cristiano a redução de um a dois terços da pena,
pois o crime foi cometido com grave ameaça à pessoa.
Certo
Errado

30.Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Sílvio, maior e capaz, entrou em uma loja que vende aparelhos celulares, com o propósito de furtar algum
aparelho. A loja possui sistema de vigilância eletrônica que monitora as ações das pessoas, além de diversos
agentes de segurança. Sílvio colocou um aparelho no bolso e, ao tentar sair do local, um dos seguranças o deteve
e chamou a polícia. Nessa situação, está configurado o crime impossível por ineficácia absoluta do meio, uma vez
que não havia qualquer chance de Sílvio furtar o objeto sem que fosse notado. Certo
Errado

31.Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de
Polícia Federal
Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base
na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de execução penal, lei penal no
tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior.
Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova lei, esse tipo penal foi
formalmente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal. Nessa situação, Manoel
responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova lei. Certo

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Errado

32.Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2018 - Polícia Federal - Perito
Criminal Federal - Conhecimentos Básicos - Todas as Áreas
A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para posteriormente
revendêlos. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça pública de uma cidade
brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o conduziram coercitivamente
até a delegacia.
Com referência a essa situação hipotética, julgue o item subsequente.
Se a conduta de Pedro não se consumar em razão de circunstâncias alheias à sua vontade, ele responderá pelo
crime tentado, para o que está prevista a pena correspondente ao crime consumado diminuída de um a dois
terços. Certo

Errado

33. Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-SE Prova: CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia
Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz, na
frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de seu
pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube depois de
quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos
fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser socorrida.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
A culpabilidade de Carlos poderá ser afastada por inexigibilidade de conduta diversa.
Certo
Errado

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Gabarito
1. E 9. A 17. E A
2. E 10. D 18. C
3. C 11. A 19. E
4. C 12. C 20. E
5. E 13. E 21. B
6. A 14. E 22. C
7. A 15. B 23. E
8. B 16. E 24. ERRADA
25. ERRADA
26. ERRADA
27. CERTA
28. CERTA
29. CERTA
30. ERRADA
31. CERTA
32. CERTA
33. ERRADA

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Resumo direcionado
Veja a seguir um resumão que nós preparamos com tudo o que vimos de mais importante nesta aula.
Espero que você já tenha feito o seu resumo também, e utilize o nosso para verificar se ficou faltando colocar
algo.

PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL.


Princípio da Reserva Legal ou da Legalidade: sem legislação específica não há crime. É uma forma de
limitação do poder punitivo do Estado (Art. 5º, inciso XXXIX da CF/88 e Art. 1º do Código Penal Brasileiro).

Princípio da Intervenção mínima: limita o poder de atuação do ente estatal. O direito punitivo só será
aplicado em observância ao princípio da reserva legal, com o fim social de impedir o legislador de se exceder na
construção do Direito Penal aplicável.

Princípio da Irretroatividade da Lei Penal: a lei penal só pode retroagir para beneficiar. Com isso, fica
afastada a possibilidade de uma lei nova (mais rígida) prejudicar fatos pretéritos. A retroação só pode acontecer
se a lei nova for mais benigna ao agente do delito (Art. 5º, XL, da CRFB/88).
Princípio da Insignificância ou Bagatela: aferida a irrelevância de uma conduta delituosa, ou sua
insignificância (por exemplo a apropriação de bagatelas), deve ser excluída sua tipicidade penal.

APLICAÇÃO DA LEI PENAL.


Essa matéria está tratada a partir do art. 1º até o art. 12, CP.
Lei Penal no tempo: conforme a Teoria da Atividade, considera-se consumado o crime no momento da
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

A Teoria da Ubiquidade diz respeito ao local em que se considera praticado o crime para fins de qual lei será
aplicada ao caso concreto.
Lei Penal no espaço: segundo o princípio da territorialidade, a lei penal brasileira deve incidir dentro do
território nacional, respeitando-se os tratados e convenções internacionais, quando existentes. São considerados
como parte do território nacional as aeronaves e embarcações públicas, além das aeronaves e embarcações
privadas. A Lei Penal Brasileira será sempre aplicada em embarcações e aeronaves estrangeiras que estiverem de
passagem pelo território nacional.

Questões excepcionais:
Princípio da reciprocidade: as embarcações e aeronaves estrangeiras, de natureza pública ou a serviço do
governo estrangeiro, são consideradas extensão do território estrangeiro, mesmo se estiverem em território
brasileiro.

Passagem inocente: A passagem inocente, constituída pelo direito costumeiro internacional, é aquela
considerada contínua e rápida por águas territoriais internacionais, sob pena de caracterizar ilícito internacional.
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Diante de suas características, temos que resta proibida manobras militares, atos de propaganda, pesquisa
e busca de informações, atividades de pesca, bem como levantamentos hidrográficos.

Veja-se o que dispõe o artigo 3º da lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993 que dispõe sobre o mar territorial, a
zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras providências:

Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial
brasileiro.

§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança
do Brasil, devendo ser contínua e rápida.

§ 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais
procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força ou por
dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em
dificuldade grave.

§ 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo
Governo brasileiro.

Ademais, não podem os países dificultarem a passagem inocente mediante cobrança de taxas, muito
embora possam estipular rotas a fim de proteger instalações e equipamentos existentes, bem como tomar
medidas de proteção ao meio ambiente e à segurança das navegações.
No que tange à soberania, por fim, devemos apontar que nas águas internas, não caberá passagem
inocente, sendo a soberania absoluta. Já no mar no territorial, a soberania é relativizada, pois se faz permitida a
passagem inocente.
Embaixadas: é importante observar que o Código Penal não trouxe qualquer regra específica atinente às
embaixadas, motivo pelo qual se conclui que elas, embora sejam invioláveis, não constituem extensão do
território do país que representam. Assim, a título de exemplo, a embaixada norte-americana no Brasil é
território brasileiro e ao crime nela praticado será aplicada a lei penal brasileira – salvo a incidência de convenção,
tratado ou regra de direito internacional.

O Princípio da Extraterritorialidade prevê a aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos praticados no
estrangeiro, desde que cometidos contra o representante do governo brasileiro, ou contra as instituições que
compõem a União, os Estados e os Municípios. Aplica-se também a Lei Penal Brasileira nos atos praticados por,
ou contra, brasileiros no exterior, sem prejuízo das previsões contidas no artigo 7º, CP.

FATO TÍPICO.
Conceito de Crime: crime é uma ação típica, antijurídica, culpável e punível. Os crimes podem ser
praticados por ação (crimes comissivos) ou por omissão (crimes omissivos).
Fato Típico: são os elementos do crime, ou seja: a conduta humana, o resultado, o nexo de causalidade e a
tipicidade.
Conduta: ato humano, voluntário e dirigido a um fim.

O agente sempre deve agir com dolo ou culpa, lembrando que, via de regra, os delitos somente são punidos
na forma dolosa.

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Resultado: trata-se de elemento do fato típico.

Em crimes materiais existe previsão de conduta e resultado, mas a consumação apenas se dá com a
obtenção do resultado.

Nos crimes formais, embora o tipo também preveja conduta e resultado, a consumação se dá com a prática
da mera conduta.
Já nos crimes de mera conduta, em que apenas há a previsão de conduta, basta a sua prática para que já se
considerem consumados.

Nexo de causalidade: é o vínculo entre a conduta e o resultado. Dependendo do caso, se sobrevier uma
concausa, poderá o nexo de causalidade ser excluído e o resultado não poder ser imputado ao agente.

ILICITUDE.
As causas que excluem a ilicitude estão previstas no art. 23, CP e, uma vez ocorrendo, sequer é possível
falar-se na ocorrência de um crime.
“Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.”

Estado de Necessidade: segundo o artigo 24, CP, “considera-se em estado de necessidade quem pratica o
fato para se salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”. Acrescente-se que aquele que
tenha o dever legal de enfrentar o perigo não pode alegar em seu favor estado de necessidade.
Legítima Defesa: conforme disposto no art. 25, CP: “entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

Estrito Cumprimento do Dever Legal: não haverá crime quando ao gente o pratica em estrito cumprimento
de seu dever legal.

Exercício Regular de Direito: praticar ou deixar de praticar algo, devido ao exercício regular de direito.

CULPABILIDADE.
Trata-se do juízo de reprovabilidade, de censurabilidade que deve ser atribuída ao agente em razão do fato
por ele praticado.
A culpabilidade é formada por 03 elementos, sem os quais não haverá crime:

- imputabilidade

- potencial consciência da ilicitude e

- inexigibilidade de conduta diversa.

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DO CONCURSO DE PESSOAS.
Um crime pode ser realizado por uma ou mais pessoas. Quando o delito é cometido por duas ou mais
pessoas, verifica-se um caso de concurso de pessoas, também conhecido como concurso de agente, concurso de
delinquentes, coautoria, codelinquência ou participação. O Código Penal de 1940 adota, na questão do concurso
de pessoas, a teoria da equivalência dos antecedentes quanto à relação de causalidade, igualando os vários
antecedentes causais do crime, não distinguindo entre os vários participantes da conduta criminosa e reunindoos
sob a denominação de “coautoria”. A colaboração de várias pessoas para o crime pode verificar-se na fase de
ideação ou execução, variando também o grau de importância maior ou menor, bem como as espécies de
contribuição de cada agente para o resultado final.

- Definição: o concurso de pessoas pode ser definido como a ciente e voluntária participação de
duas ou mais pessoas na mesma infração penal. Há, na hipótese, convergência de vontades para um fim
comum, que é a realização do tipo penal, sendo dispensável a existência de um acordo prévio entre as
várias pessoas; basta que um dos delinquentes esteja ciente que participa da conduta de outra para que se
esteja diante do concurso.

Nisto, vemos que para que se considere que um crime ocorreu em concurso de pessoas não é necessário
que as partes, necessariamente, combinem para agir conjuntamente, mas uma delas deve ter noção que
concorre em parte na realização da conduta delituosa e busca produzir o mesmo resultado.

- Concurso de pessoas e suas espécies. Dos crimes de concurso eventual. Dos crimes de concurso
necessário.

É preciso distinguir o concurso de pessoas, que é um concurso eventual, ou seja, pode ocorrer em qualquer
infração penal passível de ser praticada por uma só pessoa (crimes unissubjetivos), do chamado concurso
necessário. Concurso Necessário é aquele que em sua própria natureza jurídica devem estar presentes dois ou
mais agentes, ou seja, só podem ser cometidos por duas ou mais pessoas, como a bigamia, a rixa, o crime de
quadrilha, etc. São chamados de crimes plurissubjetivos.
- Teorias sobre o concurso de pessoas – vamos saber agora quantas pessoas existem no concurso
de pessoas, ou seja, se todas respondem pelo mesmo crime ou cada uma responde por crime diverso

- Teoria Monista/Unitária ou Igualitária.

A tradicional teoria monista, unitária ou igualitária prega que o crime, ainda que tenha sido praticado em
concurso de várias pessoas, permanece único e indivisível. Não se faz distinção entre as várias categorias de
pessoas (autor, partícipe, instigador, cúmplice etc.), sendo todos autores (ou coautores) do crime. Esse é o
posicionamento do Código Penal de 1940 ao determinar no artigo 29 que “quem, de qualquer modo, concorre
para o crime incide nas penas a este cominadas”. Dessa regra se deduz que “toda pessoa que concorre para a
produção do crime causa-o em sua totalidade e, por ele, se imputa integralmente o delito a cada um dos
partícipes”. Portanto, todos os que tomam parte na infração penal cometem idêntico crime.

- Teoria Pluralista ou Pluralística.

Para a teoria pluralista, à multiplicidade de agentes corresponde um real concurso de ações diversas e, em
consequência, uma pluralidade de delitos, praticando cada uma das pessoas um crime próprio, autônomo. A
falha apontada nessa teoria é a de que as participações de cada um dos agentes não são formas autônomas, mas
convergem para uma ação única, já que há um único resultado que deriva de todas as causas diversas.

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O Código Penal adota-a como exceção, ao disciplinar o aborto, fazendo com que a gestante que consinta a
prática do aborto em si mesma responda como incursa no art. 124 do Código Penal, enquanto o agente
provocador do aborto, em lugar de ser coautor dessa infração, responda como incurso no art. 126 do referido
Código, aplicando-se o mesmo no contexto da corrupção ativa e passiva e da bigamia.
Da mesma forma, em relação ao art. 29, § 2º, do CP também chamado de “participação dolosamente
distinta.
Com efeito.

A fim de que evite a responsabilidade penal objetiva, essa verdadeira e justa exceção pluralista à teoria
monista é aplicável aos casos em que o agente não quis o resultado mais grave visado pelos demais agentes.
Assim, deve responder somente pelo que “passou pela sua cabeça”, sob pena de se configurar a responsabilidade
penal objetiva.

- Teoria Dualística.

Para a teoria dualística, ou dualista, no concurso de pessoas há um crime para os autores e outro para os
partícipes. Neste caso, deve-se separar os coautores, que praticam um delito, e os partícipes, que cometem
outro.
No crime há uma ação principal, que é a ação do autor do crime, o que executa a ação típica, e ações
secundárias, acessórias, que são as realizadas por aqueles que instigaram ou auxiliaram o autor a cometer o
delito.
- Requisitos do concurso de pessoas.

Para que ocorra o concurso de pessoas deve haver as seguintes condições:

a) Pluralidade de condutas: existentes condutas de várias pessoas é indispensável, do ponto de vista


objetivo, que haja nexo causal entre cada uma delas e o resultado. Sempre deverá haver um autor e outro
coautor (ou seja, duas condutas principais) ou um autor e um partícipe (ou seja, uma conduta principal e uma
acessória) – jamais haverá concurso de pessoas somente com partícipes, ou seja, com condutas acessórias.

b) Relevância causal de cada uma das AÇÕES: havendo relação entre a ação de cada uma das condutas e o
resultado, ou seja, havendo relevância causal de cada ato delituoso, concorreram essas pessoas para o evento e
por ele serão responsabilizadas.

c) Liame subjetivo entre os agentes: é necessário, também, uma ligação psicológica entre os vários autores,
ou seja, o conhecimento de que cooperam numa ação comum. Não basta atuar o agente com dolo (ou culpa),
sendo necessária uma relação subjetiva entre os concorrentes. Somente a adesão voluntária, objetiva (nexo
causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização de um objetivo
comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e responsabiliza os agentes à pelas consequências da ação.
Inexistente esse liame psicológico, não há que se reconhecer o concurso de agentes disciplinado no art. 29 do
Cód. Penal.

d) A identidade de fato: tendo sido adotada a teoria monista/unitária ou igualitária, todos aqueles que
concorrem para o crime cometem o mesmo crime, mas a pena deve ser individualizada de acordo com a
culpabilidade de cada um.

- Autoria.

- Teorias para a conceituação e delimitação de quem é autor do crime:

Teoria Unitária: todos são considerados autores, não havendo a figura do partícipe.
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Teoria Restritiva de Autor: é a teoria adotada pelo Brasil, e por ela entende-se como autor aquele que
realiza conduta típica descrita na lei, ou seja, é quem pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que subtrai,
que mata, que sequestra etc. Não é autor, portanto, o mandante do crime autor ou o autor intelectual, uma vez
que tais condutas (não obstante nos dias de hoje, numa criminalidade ultra organizada, sejam as condutas mais
importantes) não estão descritas no tipo. Essa teoria, portanto, poderia perfeitamente continuar a ser utilizada
se a criminalidade de hoje em dia ainda fosse aquela do tempo de nossos avós, com todo o respeito.

Teoria Extensiva de Autor: para essa teoria, além daquele que realiza a conduta típica, será considerado
autor aquele que contribui com alguma causa para o resultado. Para essa teoria, instigador e cúmplice são
igualmente autores, já que não se distingue a importância da contribuição causal de uns e outros. Tampouco se
faz a distinção entre autor e partícipe, uma vez que todos os agentes contribuíram para o resultado.

Teoria do Domínio do Fato ou Objetivo-Subjetiva ou Objetivo-Final: segundo essa teoria, o autor é aquele
que detém o domínio total do fato até a sua consumação, ou seja, autor é quem tem o poder de decisão sobre a
realização do evento pretendido. É o mandante, aquele que planeja a ação delituosa, que organiza e dirige a
atuação dos demais mesmo que não a realize o núcleo do tipo.

O autor, portanto, possui o domínio finalista, diferenciando-se do partícipe que é um simples colaborador
no fato, um concorrente acessório mesmo que sua contribuição seja dolosa.

- Autoria Mediata: autor mediato é aquele que realiza a ação típica através de outra pessoa que atua sem
culpabilidade, ou seja, utiliza-se de outra pessoa como instrumento para a prática de um delito.
Os crimes de autoria mediata podem resultar de:
a) Valer-se de um inimputável:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (CÓDIGO PENAL).
Imputabilidade é a capacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento. Todo agente é inimputável, salvo quando ocorrer uma causa de exclusão:
1 – Doença mental;

2- Desenvolvimento mental incompleto;

3- Desenvolvimento mental retardado;

4 – Embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.


b) Coação moral irresistível: Coação moral é obrigar alguém por meio de grave ameaça a realizar uma

conduta típica.

c) Obediência hierárquica;

d) Erro de tipo escusável, provocado por terceiro: O erro de tipo acontece quando o agente não sabe que

está cometendo um crime, mas acaba por praticá-lo.

e) Erro de proibição escusável, provocado por terceiro: No erro de proibição o agente sabe o que faz, mas
erra sobre a ilicitude da sua conduta.

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→ Como exemplo de autoria mediata podemos citar a mãe que manda seu filho menor matar a vizinha, ou
que subtraia algum objeto em uma loja, ou ainda, o pai que manda seu filho doente mental desferir golpes de
faca em seu desafeto. Nesses casos inexistiu a vontade do executor material do fato.

O domínio do fato pertence exclusivamente ao autor e não ao executor, o qual não detém o domínio da
ação e, consequentemente, do fato.
É, portanto, impossível nos crimes de mão própria e inaplicável nos tipos culposos. Admite-se, porém, a
participação entre autor mediato e terceiro, como também coautores mediatos.

- Autoria Imediata: autoria imediata consiste em que o domínio do fato pertence exclusivamente ao
executor, ou seja, é autor imediato aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que mata, que
sequestra, que lesiona.

- Autoria Colateral: prática de um crime por duas ou mais pessoas sem que um saiba ou conheça a
intenção da outra, ou seja, inexiste liame subjetivo entre eles. É o agir conjunto de diversos agentes, sem
reciprocidade consensual.

Como exemplo, podemos citar a seguinte situação: A e B executam simultaneamente a vítima, sem que um
conheça a conduta do outro.
Imaginando que no exemplo citado apenas o tiro de uma matou a vítima, para a autoria colateral é
necessário que se saiba quem produziu o quê. Aquele autor do disparo causador da morte responderá por
homicídio, enquanto o outro responderá por tentativa. Se houvesse liame subjetivo, ambos neste caso
responderiam por homicídio em coautoria.
Se, neste caso não pudesse saber quem matou a vítima, surge a autoria incerta.

- Autoria Incerta: na autoria incerta sabe-se quem realizou a conduta, mas não se sabe quem foi o
causador do resultado.

Apesar de alguns doutrinadores acreditarem que na iminência de condenar um inocente deve-se absolver
ambos acusados, e outros, adeptos a teoria monista, acreditarem que todos deveriam responder pelo resultado,
ou seja, neste caso A e B deveriam responder por homicídio, a maioria da doutrina acredita que nesses casos
ambos deverão ser condenados por tentativa de homicídio, pois houve início da execução e a intenção dos
agentes era de matar, porém não se conhece o verdadeiro autor do crime.
- Coautoria: coautoria ocorre quando dois ou mais agentes, conjuntamente, realizam o verbo do tipo, ou
seja, o coautor é aquele que executa junto com outras pessoas a infração penal. A coautoria nada mais é que a
própria autoria, e para que ela exista não é necessário um acordo prévio de vontades, bastando somente a
consciência do agente de estar contribuindo para a ação.

É desnecessário também que todos pratiquem o mesmo ato executivo, para configurar a coautoria basta
que cada um dos agentes contribua efetivamente na realização e no aperfeiçoamento do crime.

Funda-se a coautoria sobre o princípio da divisão do trabalho. Se duas pessoas disparam suas armas,
alvejando a vítima e causando-lhe a morte, responderão por coautores, assim como aqueles que subtraem a
coisa no crime de roubo, onde cada autor colabora com sua parte no fato.

Na coautoria, o domínio do fato pertence aos diversos agentes que se apresentam como peças
fundamentais na execução do plano.

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Direito Penal p/ AJAA do TRE Prof. Pietro Chidichimo
Aula 00

- Participação: partícipes são aqueles que por meio de conduta acessória concorrem para o crime, ou seja,
entende-se por partícipe não aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal, mas quem pratica uma atividade
que contribui para a realização do delito.

A participação pode se dar através da instigação, induzimento, organização e chefia, auxilio material e
moral etc. A doutrina, entretanto, considera duas espécies mais relevantes:

a) Instigação: instigar significa animar, estimular, reforçar uma ideia existente. Ocorre a instigação quando
o partícipe atua sobre a vontade do autor, ou seja, ele influencia no processo da formação da vontade,
provocando a resolução criminosa do autor, não tomando parte nem na execução nem no domínio do fato. Pode
ser exercida por meio de mandato, persuasão, conselho, comando etc.
ATENÇÃO: a instigação deve dirigir-se à prática do crime determinado, não constituindo participação a
incitação genérica para a prática de infrações penais.”

b) Cumplicidade: é a participação material onde o partícipe exterioriza a sua contribuição através de um


comportamento, como o empréstimo de arma de fogo, revelação do segredo de um cofre, empréstimo de
veículo com o intuito de deslocar-se mais facilmente etc.
- Espécies de Acessoriedade: vamos ver agora o que é necessário que o autor realize para que o partícipe
seja punido, já que a participação é conduta acessória à conduta do autor.
Existem quatro classes de acessoriedade:

a) Acessoriedade mínima: para essa teoria é suficiente que a ação principal seja típica, sendo indiferente ser
ilícito ou não. Como exemplo, aquele que induzir o autor a agir em legítima defesa responderá pelo crime,
enquanto o executor, autor direto, será absolvido pela excludente de ilicitude.

b) Acessoriedade limitada: será considerado partícipe aquele que tiver tomado parte de uma conduta típica
e antijurídica, mesmo que o autor não seja culpável. Isso quer dizer que a participação é acessória da ação
principal, de um lado, mas que também depende desta até certo ponto. Esta é a teoria adotada pela nossa
Legislação.

c) Acessoriedade máxima ou extremada: o partícipe somente é responsabilizado se o fato principal é típico,


antijurídico e culpável. Por essa teoria, caso o executor seja inimputável ou tenha agido por erro de proibição
escusável, não haveria participação uma vez que a conduta principal não é culpável.

d) Hiperacessoriedade: será considerado partícipe aquele que participou de uma conduta típica, antijurídica
e culpável e, concorrerá inclusive as causas agravantes e atenuantes de caráter pessoal relativas ao autor
principal.

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