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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Vice-Reitoria de Ensino de Graduação – VREGRAD
Divisão de Assuntos Pedagógicos – DAP
Créditos Teórico / Prático
Código e Nome da Disciplina
J589– DIREITO ADMINISTRATIVO I 4,0

Curso DIREITO Centro


CCJ

Segundas e Quartas

19h00min – 20h40min

21h00min – 22h40min

Professor: João Marcelo Rego Magalhães

Aula 06

UNIDADE II – A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SERVIÇOS PÚBLICOS

 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SERVIÇOS PÚBLICOS

1. Noções de Administração Pública

1.1. Poderes do Estado e Administração Pública.

Quando do estudo do Poder Político do Estado aprendemos que tal Poder é, de


fato, indivisível, o que significa dizer que não existe propriamente uma divisão ou separação de
poderes, mas uma divisão ou separação de funções entre órgãos independentes e harmônicos.
Ainda naquela oportunidade vimos que são funções básicas do Poder Estatal legislar,
administrar e julgar, exercidas, respectivamente, pelos “Poderes” Legislativo, Executivo e
Judiciário.

A análise de cada um dos citados “Poderes” deixou claro que no âmbito de cada
um deles existe a função típica e pelo menos uma função atípica.

A função típica do Executivo é administrar, a do Legislativo é a produção das


normas legais e a do Judiciário é a solução dos litígios de acordo com o que prescrevem as
normas. O Legislativo e o Judiciário desempenham tarefas administrativas visando o bom
funcionamento de seus serviços e a manutenção de sua independência, o que executam como
função atípica. Portanto, cada um dos Poderes tem atribuições administrativas, ora como
função típica (Executivo), ora como função atípica (Legislativo e Judiciário). É justamente o
conjunto de órgãos e agentes (de todos os chamados “Poderes”) predispostos ao exercício das
tarefas administrativas que denominamos de Administração Pública.

1
Os autores de Direito Administrativo1 praticamente concordam que o conceito de
Administração Pública pode ser tomado em dois sentidos:

 Sentido subjetivo: o conjunto de órgãos e agentes públicos com a missão de


desempenhar as tarefas administrativas

 Sentido objetivo: a atividade administrativa em si, ou seja, os atos concretos que


se destinam à realização dos interesses coletivos

É o sentido objetivo que recebe maior atenção dos doutrinadores, que de forma
praticamente unânime classificam as atividades administrativas em:

 Prestação de serviços públicos

 Condutas baseadas no poder de polícia

 Medidas de intervenção e/ou fomento às atividades das pessoas físicas e


jurídicas, públicas ou privadas

1.2. Órgãos políticos e administrativos.

Determinados atos praticados com base na função administrativa destoam de


simples tarefas concretas, repercutindo de forma incontestável nos destinos dos cidadãos. Tais
atividades configuram o que chamamos de função política (ou função de governo). Seria ilógico
atribuirmos a um decreto presidencial de desapropriação e um decreto presidencial de
deflagração de estado de sítio a mesma importância. È evidente que a vida de todos os
cidadãos será profundamente transformada com o segundo decreto. Em virtude dessa
dicotomia entre atos de governo e atos puramente administrativos, a organização do sistema
constitucional pátrio prevê órgãos com função nitidamente política.

Podemos apontar como órgãos políticos, responsáveis pela condução superior da


Administração e pela implementação das políticas públicas, a Presidência da República, os
Ministros de Estado e o Pleno das Casas Legislativas da República, a Câmara e o Senado
Federais2.

2. Desconcentração e descentralização

2.1. Desconcentração administrativa

Desconcentração administrativa é a distribuição de competências dentro de uma


mesma pessoa jurídica da Administração Pública.

1
Dentre eles destacamos Celso Antônio Bandeira de Mello, Hely Lopes Meirelles, José dos Santos
Carvalho Filho, Sylvia Maria Zanella di Pietro, Marçal Justen Filho, Diógenes Gasparini, Odete Medauar e
Marcelo Figueiredo.

2
Não devemos esquecer que, obviamente, existem órgãos políticos também nos Estados – Governador,
secretários e Assembléia Legislativa – e Municípios – Prefeito, secretário e Câmara de Vereadores.

2
Na desconcentração administrativa não ocorre a criação de uma nova pessoa
jurídica administrativa; as competências são distribuídas dentro de secretarias, coordenadorias,
chefias ou outros departamentos administrativos dentro de uma mesma pessoa jurídica. A
Desconcentração pode ser realizada através de norma interna do órgão, atribuindo a
determinados setores competências que antes estavam centralizadas.

Alguns autores citam ainda o conceito de concentração administrativa, que seria


um instituto inverso da desconcentração, ou seja, quando uma determinada pessoa jurídica
administrativa reúne em um só órgão competências antes distribuídas a vários outros.

2.2. Centralização e descentralização administrativa

Ocorre centralização administrativa quando o Estado executa suas tarefas


diretamente por meio dos órgãos e agentes integrantes da denominada Administração Direta.
Neste caso, os serviços são prestados diretamente pelos órgãos despersonalizados das
pessoas políticas do Estado (União, estados, Distrito Federal e municípios).

A descentralização administrativa ocorre quando, por lei ou por contrato


administrativo, determinadas competências são transferidas a outras pessoas jurídicas (da
Administração Pública ou particulares).

Pressupõe a existência de uma pessoa jurídica distinta da Administração (do


Estado), que, investida dos necessários poderes de administração, exercita atividade pública
ou de interesse público.

O melhor exemplo de descentralização administrativa é a criação ou autorização


de criação das entidades da Administração Indireta (neste caso uma descentralização por lei).
São pessoas jurídicas formadas por meio de descentralização as autarquias, as empresas
públicas, as sociedades de economia mista e as fundações.

Ressalte-se que a descentralização pressupõe a existência de 2 pessoas


distintas: o Estado (União, estados, Distrito Federal e municípios) e a pessoa administrativa
que executará o serviço.

A descentralização pode ocorrer por outorga ou por delegação.

A descentralização será por outorga quando o Estado cria uma entidade (pessoa
jurídica da Administração Indireta) e a ela transfere determinado serviço público. A outorga
pressupõe obrigatoriamente a edição de uma lei que institua a entidade, ou autorize a sua
criação, e normalmente seu prazo é indeterminado.

A descentralização será por delegação quando o Estado transfere, por contrato


(concessão ou permissão de serviços públicos), unicamente a execução de um serviço para a
pessoa delegada, para que o preste à população por sua conta e risco, sob fiscalização do
Estado.

Vale salientar que enquanto a outorga transfere a titularidade do serviço público


transferido, a delegação transfere tão-somente a execução, ficando a titularidade do serviço
público com a pessoa política responsável pela delegação.

Em nenhuma forma de descentralização há hierarquia.

Na relação entre a Administração Direta e a Administração Indireta (tema adiante


analisado) diz-se que há vinculação (e não subordinação). A primeira exerce sobre a segunda

3
o denominado controle finalístico ou tutela administrativa ou supervisão. Para exercício desse
controle finalístico é exigida expressa previsão legal, que determinará os limites e instrumentos
de controle (atos de tutela).

3. Teoria do órgão público

Entre a pessoa jurídica administrativa em si e os chamados agentes públicos,


compõe o Estado grande número de repartições internas, necessárias à sua organização, tão
grande é a extensão que alcança e tamanhas as atividades a seu cargo. Tais repartições é que
constituem os órgãos públicos.

Dito de outra forma, podemos conceituar órgão público como o compartimento na


estrutura estatal a que são cometidas funções determinadas, sendo integrado por agentes que,
quando as executam, manifestam a própria vontade do Estado (Teoria do Órgão).

Os órgãos públicos são entidades despersonalizadas.

Não custa mencionar que a Lei 9.784/1999 traz, em seu art. 2º, o conceito de
órgão público, qual seja, a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração Direta
e da estrutura da Administração Indireta.

4. Serviços Públicos

4.1. Conceito e classificação de Serviços Públicos

SERVIÇO PÚBLICO  SEGUNDA FUNÇÃO OU ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

Segundo o professor Hely Lopes Meirelles, serviço público é “todo aquele


prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para
satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniência do
Estado”.

As atividades econômicas em sentido amplo se dividem em serviços públicos e


atividades econômicas em sentido estrito. O Estado exerce diferentes controles sobre as
atividades econômicas e os serviços públicos3:

3
Ver Alexandre Santos Aragão, “Agências reguladoras”, 3ª ed., 2013, p. 146-179.

4
a) Serviços públicos estritamente estatais (com disciplina legal): emissão de
passaportes etc.;

b) Serviços públicos de utilidade pública;

1. Serviços públicos de utilidade pública com controle de preços4: água,


luz, transporte coletivo etc.;

2. Serviços públicos de utilidade pública com controle de entrada5:


transporte aéreo etc.;

3. Serviços públicos de utilidade pública com amplo controle estatal: táxis


etc.;

c) Atividades econômicas com controle de preços: planos de saúde etc.;

d) Atividades econômicas com controle de entrada: mercado financeiro etc.;

e) Atividades econômicas que sofrem medidas de ordenação: transporte


individual por aplicativos etc.

1. Classificações encontradas na Doutrina:


a. estatais e não estatais
b. uti singuli e uti universi
c. essenciais e não essenciais
d. compulsórios e facultativos
e. de natureza social e de natureza econômica

2. Classificações particulares na Doutrina:


a. Marcelo Alexandrino: serviços propriamente estatais X serviços não
propriamente estatais (que se dividem em serviços de utilidade pública e
serviços essenciais)
b. Celso Antônio Bandeira de Melo: serviços privativos e exclusivos do Estado
X serviços públicos passíveis de concessão X atividades que são serviços
públicos quando prestadas pelo Estado
c. Hely Lopes Meirelles: serviços próprios do Estado X serviços impróprios ou
serviços públicos essenciais X serviços de utilidade pública
d. Serviços públicos essenciais  serviços próprios do estado / essencialidade
como característica principal / pró-comunidade
e. Serviços de utilidade pública  serviços que podem ser delegados /
conveniência como característica principal / pró-cidadão
 Hely Lopes Meirelles diferencia outorga de delegação pelo
caráter estatutário ou contratual da concessão (a outorga é por lei e a
delegação por contrato)
4
O controle de preços pode ocorrer em razão da exclusividade de rede que garante uma posição
vantajosa (água, luz) ou pela necessidade de garantir a universalidade (transporte coletivo).

5
Em razão da necessidade de garantir parâmetros de segurança ou solidez.

5
 Seu conceito de serviço público essencial relaciona-se com a
importância que o serviço tem para o Estado, daí a definição ser a mesma
que utiliza para serviço próprio do Estado; essa essencialidade não se dá
em relação às necessidades do cidadão
f. José dos Santos Carvalho Filho: delegáveis X indelegáveis e
administrativos X de utilidade pública

3. Classificação na Jurisprudência
STF (RE 89.876)  serviço público propriamente estatal X serviço público
essencial ao interesse público X serviço público não essencial

 Classificação sugerida:
1. Serviços públicos estritamente estatais  por disposição constitucional ou por
questões de soberania do Estado; são os serviços públicos essenciais segundo Hely
Lopes Meirelles
2. Serviços públicos delegáveis de natureza comum  são os serviços de utilidade
pública segundo Hely Lopes Meirelles
3. Serviços públicos delegáveis de natureza essencial  quando delegados ao
particular seu regime jurídico deve levar em consideração sua importância para a
sobrevivência / qualidade de vida do cidadão; também são serviços de utilidade
pública para Hely Lopes Meirelles; como exemplo temos o fornecimento de água,
energia etc.
4. Serviços públicos prestados em concorrência com atividade empresarial de
particulares  são serviços públicos apenas quando prestados pelo Estado;
sujeitam-se ora ao regime do CDC ou a normas específicas (quando prestados pelo
particular), ora ao regime da Lei nº 8.987/1995 (quando prestados pelo Estado);
servem como exemplos os serviços educacionais e de saúde.

4.2. Princípios regentes da prestação de serviços públicos:

a. Generalidade ou universalidade
 Serviços uti singuli  a universalidade é garantida com a tarifa
(importância da modicidade)
 Serviços uti universi  a universalidade é garantida por custeio ou
fundos especiais
b. Continuidade
 Conflito aparente entre art. 22 do CDC e art. 6º da Lei
8.987/1995 (o art. 22 do CDC não mais deve ser aplicado em
relação aos serviços públicos)
 Serviço essencial deve ser prestado pelo Estado (e mesmo
prestado pelo particular não deveria ser suspenso por
inadimplência)
 Entendimento atual do STJ é que mesmo o fornecimento de
água (bem/serviço essencial, mas, quando concedido, prevalece o
caráter econômico) pode ser suspenso por falta de pagamento; o
“corte” não pode, contudo, atingir órgãos essenciais do Poder
Público inadimplente (escolas e hospitais, p. ex.), conforme
Informativo STJ 207

6
 Vide art. 6º da Lei 8.987/1995
c. Igualdade ou uniformidade
d. Modicidade
 Remuneração dos serviços públicos  TAXA x TARIFA 
Informativo STF 397
e. Obrigatoriedade
f. Transparência
g. Cortesia (apontada como princípio por alguns autores)
h. Participação dos usuários
 Lei nº 13.460/2017

4.3. Concessão de Serviços Públicos

Lei geral das concessões  Lei nº 8.987/1995


(Lei da Anatel dispõe de forma específica sobre a concessão do serviço de telefonia)

Concessão de serviço público  contrato (entre Estado e concessionário)


“Privatização” da execução do serviço público  normas regulatórias

Lei nº 8.987/1995  arts. 2º, 6º, 7º, 9º, 10, 11, 13, 23, 29 a 39

Lei nº 8.987/1995 (lei das concessões de serviços públicos)

Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:

I - poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município, em


cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra
pública, objeto de concessão ou permissão;

II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder


concedente, mediante licitação, na modalidade concorrência ou diálogo competitivo, a
pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; (Redação dada pela Lei
nº 14.133, de 2021)

III - concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a


construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de
quaisquer obras de interesse público, delegados pelo poder concedente, mediante

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licitação, na modalidade concorrência ou diálogo competitivo, a pessoa jurídica ou
consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e
risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado
mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado; (Redação dada
pela Lei nº 14.133, de 2021)

IV - permissão de serviço público: a delegação, a título precário, mediante


licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física
ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao


pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.

§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,


continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação
e modicidade das tarifas.

§ 2º A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das


instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.

§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em


situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.


(...)

Art. 7º

(...)

Art. 9º A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo preço da proposta
vencedora da licitação e preservada pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no
edital e no contrato.

§ 1º A tarifa não será subordinada à legislação específica anterior e somente nos


casos expressamente previstos em lei, sua cobrança poderá ser condicionada à
existência de serviço público alternativo e gratuito para o usuário.
(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)

§ 2º Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a fim de


manter-se o equilíbrio econômico-financeiro.

§ 3º Ressalvados os impostos sobre a renda, a criação, alteração ou extinção de


quaisquer tributos ou encargos legais, após a apresentação da proposta, quando
comprovado seu impacto, implicará a revisão da tarifa, para mais ou para menos,

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conforme o caso.

§ 4º Em havendo alteração unilateral do contrato que afete o seu inicial equilíbrio


econômico-financeiro, o poder concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à
alteração.

§ 5º A concessionária deverá divulgar em seu sítio eletrônico, de forma clara e de


fácil compreensão pelos usuários, tabela com o valor das tarifas praticadas e a evolução
das revisões ou reajustes realizados nos últimos cinco anos. (Incluído
pela Lei nº 13.673, de 2018)

Art. 10. Sempre que forem atendidas as condições do contrato, considera-se


mantido seu equilíbrio econômico-financeiro.

Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder


concedente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade
de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de
projetos associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade
das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.

Parágrafo único. As fontes de receita previstas neste artigo serão obrigatoriamente


consideradas para a aferição do inicial equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Art. 12. (VETADO)

Art. 13. As tarifas poderão ser diferenciadas em função das características técnicas
e dos custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de
usuários.

(...)

Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão as relativas:

(...)
IV - ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos para o reajuste e a revisão das
tarifas;

V - aos direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da concessionária,


inclusive os relacionados às previsíveis necessidades de futura alteração e expansão do
serviço e conseqüente modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e
das instalações;

Art. 29. Incumbe ao poder concedente:

I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar permanentemente a sua


prestação;

II - aplicar as penalidades regulamentares e contratuais;

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III - intervir na prestação do serviço, nos casos e condições previstos em lei;

IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei e na forma prevista no


contrato;

V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta Lei, das
normas pertinentes e do contrato;

VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regulamentares do serviço e as


cláusulas contratuais da concessão;

VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar e solucionar queixas e
reclamações dos usuários, que serão cientificados, em até trinta dias, das providências
tomadas;

VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários à execução do serviço ou


obra pública, promovendo as desapropriações, diretamente ou mediante outorga de
poderes à concessionária, caso em que será desta a responsabilidade pelas indenizações
cabíveis;

IX - declarar de necessidade ou utilidade pública, para fins de instituição de


servidão administrativa, os bens necessários à execução de serviço ou obra pública,
promovendo-a diretamente ou mediante outorga de poderes à concessionária, caso em
que será desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis;

X - estimular o aumento da qualidade, produtividade, preservação do meio-


ambiente e conservação;

XI - incentivar a competitividade; e

XII - estimular a formação de associações de usuários para defesa de interesses


relativos ao serviço.

Art. 30. No exercício da fiscalização, o poder concedente terá acesso aos dados
relativos à administração, contabilidade, recursos técnicos, econômicos e financeiros da
concessionária.

Parágrafo único. A fiscalização do serviço será feita por intermédio de órgão


técnico do poder concedente ou por entidade com ele conveniada, e, periodicamente,
conforme previsto em norma regulamentar, por comissão composta de representantes
do poder concedente, da concessionária e dos usuários.

Art. 31. Incumbe à concessionária:

I - prestar serviço adequado, na forma prevista nesta Lei, nas normas técnicas
aplicáveis e no contrato;

II - manter em dia o inventário e o registro dos bens vinculados à concessão;

III - prestar contas da gestão do serviço ao poder concedente e aos usuários, nos

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termos definidos no contrato;

IV - cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e as cláusulas contratuais da


concessão;

V - permitir aos encarregados da fiscalização livre acesso, em qualquer época, às


obras, aos equipamentos e às instalações integrantes do serviço, bem como a seus
registros contábeis;

VI - promover as desapropriações e constituir servidões autorizadas pelo poder


concedente, conforme previsto no edital e no contrato;

VII - zelar pela integridade dos bens vinculados à prestação do serviço, bem como
segurá-los adequadamente; e

VIII - captar, aplicar e gerir os recursos financeiros necessários à prestação do


serviço.

Parágrafo único. As contratações, inclusive de mão-de-obra, feitas pela


concessionária serão regidas pelas disposições de direito privado e pela legislação
trabalhista, não se estabelecendo qualquer relação entre os terceiros contratados pela
concessionária e o poder concedente.

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar a
adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas
contratuais, regulamentares e legais pertinentes.

Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que


conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites da
medida.

Art. 33. Declarada a intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de trinta dias,
instaurar procedimento administrativo para comprovar as causas determinantes da
medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de ampla defesa.

§ 1º Se ficar comprovado que a intervenção não observou os pressupostos legais e


regulamentares será declarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente
devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à indenização.

§ 2º O procedimento administrativo a que se refere o caput deste artigo deverá ser


concluído no prazo de até cento e oitenta dias, sob pena de considerar-se inválida a
intervenção.

Art. 34. Cessada a intervenção, se não for extinta a concessão, a administração do


serviço será devolvida à concessionária, precedida de prestação de contas pelo
interventor, que responderá pelos atos praticados durante a sua gestão.

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Art. 35. Extingue-se a concessão por:

I - advento do termo contratual; [prazo final / tem como efeito a reversão de bens]

II - encampação; [sem culpa do concessionário / motivo: interesse público]

III - caducidade; [com culpa do concessionário / há o dever de indenizar o Estado]

IV - rescisão; [com culpa do poder concedente / pela via da ação judicial]

V - anulação; e [vício de legalidade]

VI - falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou


incapacidade do titular, no caso de empresa individual.

§ 1º Extinta a concessão, retornam ao poder concedente todos os bens reversíveis,


direitos e privilégios transferidos ao concessionário conforme previsto no edital e
estabelecido no contrato.
§ 2º Extinta a concessão, haverá a imediata assunção do serviço pelo poder
concedente, procedendo-se aos levantamentos, avaliações e liquidações necessários.
§ 3º A assunção do serviço autoriza a ocupação das instalações e a utilização, pelo
poder concedente, de todos os bens reversíveis.
§ 4º Nos casos previstos nos incisos I e II deste artigo, o poder concedente,
antecipando-se à extinção da concessão, procederá aos levantamentos e avaliações
necessários à determinação dos montantes da indenização que será devida à
concessionária, na forma dos arts. 36 e 37 desta Lei.

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das
parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou
depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a continuidade e
atualidade do serviço concedido.

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente


durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei
autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo
anterior.

Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acarretará, a critério do poder


concedente, a declaração de caducidade da concessão ou a aplicação das sanções
contratuais, respeitadas as disposições deste artigo, do art. 27, e as normas
convencionadas entre as partes.

§ 1º A caducidade da concessão poderá ser declarada pelo poder concedente


quando:

I - o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou deficiente, tendo por


base as normas, critérios, indicadores e parâmetros definidores da qualidade do serviço;

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II - a concessionária descumprir cláusulas contratuais ou disposições legais ou
regulamentares concernentes à concessão;

III - a concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, ressalvadas as


hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força maior;

IV - a concessionária perder as condições econômicas, técnicas ou operacionais


para manter a adequada prestação do serviço concedido;

V - a concessionária não cumprir as penalidades impostas por infrações, nos


devidos prazos;

VI - a concessionária não atender a intimação do poder concedente no sentido de


regularizar a prestação do serviço; e

VII - a concessionária não atender a intimação do poder concedente para, em 180


(cento e oitenta) dias, apresentar a documentação relativa a regularidade fiscal, no
curso da concessão, na forma do art. 29 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
(Redação dada pela Lei nº 12.767, de 2012)

§ 2º A declaração da caducidade da concessão deverá ser precedida da verificação


da inadimplência da concessionária em processo administrativo, assegurado o direito
de ampla defesa.

§ 3º Não será instaurado processo administrativo de inadimplência antes de


comunicados à concessionária, detalhadamente, os descumprimentos contratuais
referidos no § 1º deste artigo, dando-lhe um prazo para corrigir as falhas e
transgressões apontadas e para o enquadramento, nos termos contratuais.

§ 4º Instaurado o processo administrativo e comprovada a inadimplência, a


caducidade será declarada por decreto do poder concedente, independentemente de
indenização prévia, calculada no decurso do processo.

§ 5º A indenização de que trata o parágrafo anterior, será devida na forma do art.


36 desta Lei e do contrato, descontado o valor das multas contratuais e dos danos
causados pela concessionária.

§ 6º Declarada a caducidade, não resultará para o poder concedente qualquer


espécie de responsabilidade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou
compromissos com terceiros ou com empregados da concessionária.

Art. 39. O contrato de concessão poderá ser rescindido por iniciativa da


concessionária, no caso de descumprimento das normas contratuais pelo poder
concedente, mediante ação judicial especialmente intentada para esse fim.

Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput deste artigo, os serviços prestados


pela concessionária não poderão ser interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial
transitada em julgado.

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 (a outorga é por lei e a delegação por contrato)

 Ver Hely Lopes Meirelles e Celso Antonio Bandeira de Mello

 Para José dos Santos Carvalho Filho, temos delegação legal e delegação
contratual, e não outorga e delegação

Concessão de serviços públicos pode ocorrer por outorga ou delegação

a. Natureza da concedente
b. Regra: União / Estados / DF e Municípios
c. Exceção: ANATEL e ANEEL
d. Contratos de concessão: cláusulas regulamentares (ou de serviço) e
cláusulas financeiras (ou econômicas, como prefere Celso Antônio
Bandeira de Mello)  Celso Antônio Bandeira de Mello, 2006, p. 674
e. Cláusulas com caráter de mutabilidade  cláusulas regulamentares (ou
de serviço)  a alteração unilateral é expressão das chamadas cláusulas
exorbitantes ou de privilégio
f. Cláusulas com caráter de imutabilidade  cláusulas financeiras (ou
econômicas)
g. Política tarifária
h. PPP (Lei 11.079/04)

 Natureza do contrato entre concessionário e usuários: 3 correntes doutrinárias 


contrato de direito privado / contrato de direito público / contrato de adesão
 Deve ser considerada a corrente do contrato de adesão, tendo em vista que o
contrato entre concessionário e usuário é um contrato aprovado/fiscalizado por
autoridade competente, além do fato de que o Poder Público garante por lei os
direitos básicos dos usuários, ou seja, é um contrato cuja autonomia das vontades é
mitigada pelas regras da Lei nº 8.987/1995

O STF assim decidiu sobre cobrança de taxa de ocupação de solo e espaço


aéreo por concessionárias de serviço público de telefonia:

RE 581947

Repercussão Geral – Mérito

Órgão julgador: Tribunal Pleno

Relator(a): Min. EROS GRAU

Julgamento: 27/05/2010

Publicação: 27/08/2010

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EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RETRIBUIÇÃO PECUNIÁRIA. COBRANÇA.
TAXA DE USO E OCUPAÇÃO DE SOLO E ESPAÇO AÉREO. CONCESSIONÁRIAS DE
SERVIÇO PÚBLICO. DEVER-PODER E PODER-DEVER. INSTALAÇÃO DE
EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS À PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO EM BEM
PÚBLICO. LEI MUNICIPAL 1.199/2002. INCONSTITUCIONALIDADE. VIOLAÇÃO.
ARTIGOS 21 E 22 DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. Às empresas prestadoras de
serviço público incumbe o dever-poder de prestar o serviço público. Para tanto a elas é
atribuído, pelo poder concedente, o também dever-poder de usar o domínio público
necessário à execução do serviço, bem como de promover desapropriações e constituir
servidões de áreas por ele, poder concedente, declaradas de utilidade pública. 2. As faixas
de domínio público de vias públicas constituem bem público, inserido na categoria dos
bens de uso comum do povo. 3. Os bens de uso comum do povo são entendidos como
propriedade pública. Tamanha é a intensidade da participação do bem de uso comum do
povo na atividade administrativa que ele constitui, em si, o próprio serviço público [objeto
de atividade administrativa] prestado pela Administração. 4. Ainda que os bens do domínio
público e do patrimônio administrativo não tolerem o gravame das servidões, sujeitam-se,
na situação a que respeitam os autos, aos efeitos da restrição decorrente da instalação, no
solo, de equipamentos necessários à prestação de serviço público. A imposição dessa
restrição não conduzindo à extinção de direitos, dela não decorre dever de indenizar. 5. A
Constituição do Brasil define a competência exclusiva da União para explorar os serviços
e instalações de energia elétrica [artigo 21, XII, b] e privativa para legislar sobre a
matéria [artigo 22, IV]. Recurso extraordinário a que se nega provimento, com a
declaração, incidental, da inconstitucionalidade da Lei n. 1.199/2002, do Município de Ji-
Paraná.

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STF considera válida imposição de limite de idade para veículos de transporte coletivo

Segundo a ministra Rosa Weber, a norma de MG diz respeito ao poder de polícia administrativa sobre os
serviços de transporte intermunicipal.
17/07/2020 17h03

O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade


(ADI) 4212, ajuizada pela Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros (Antpas) contra
dispositivo de lei estadual de Minas Gerais que estabelece limite de idade para a circulação de
ônibus. A decisão foi por unanimidade, nos termos do voto da relatora, ministra Rosa Weber, na
última sessão virtual realizada pelo Plenário no primeiro semestre.

A Antpas questionava o artigo 107 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal 9.503/1997), que
atribui aos estados a competência para definir critérios de segurança, higiene e conforto para
autorizar o uso de veículos de aluguel destinados ao transporte individual ou coletivo de
passageiros, e o artigo 2º, inciso IV e parágrafos, do Decreto estadual 44.035/2005 de Minas Gerais.
O decreto e suas modificações posteriores proíbem o uso de veículos com mais de 20 anos.

Segundo a associação, a limitação imposta pelo decreto estadual extrapolou sua função
regulamentadora e não tem respaldo na legislação estadual ou federal. O artigo 107 Código de
Trânsito, por sua vez, versaria sobre matéria reservada a lei complementar.

Poder de polícia

Para a ministra Rosa Weber, é desnecessária a utilização da via da lei complementar para
regulamentar a limitação da idade da frota destinada ao aluguel, por não se tratar de competência
legislativa sobre trânsito e transporte, mas sim do poder de polícia administrativa sobre os serviços
de transporte intermunicipal. A relatora explicou que compete à União organizar as diretrizes
básicas sobre a política nacional de transporte, ao estado-membro dispor sobre o transporte estadual
e intermunicipal e ao município as regras de interesse local. Assim, em sua avaliação, não existe
ofensa ao artigo 22, inciso XI, da Constituição Federal.

Segundo a ministra, o STF já assentou a constitucionalidade da fixação de normas regulamentares


pelos estados como decorrência do respectivo poder de polícia em relação à segurança do transporte
intermunicipal de passageiros. Ela observou ainda que o Decreto Estadual 44.035/2005 e suas
modificações posteriores têm natureza regulamentar e que, em caso análogo, a Primeira Turma do
STF decidiu que não houve violação à competência privativa da União na limitação a 20 anos de
fabricação do tempo máximo para o licenciamento de veículo utilizado no transporte intermunicipal
de passageiros.

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