Você está na página 1de 654

Vinte

e três anos atrás na Filadélfia


Por Marcella
É tarde da noite.
A rua silenciosa me assombra. A garoa fria e constante continua avisando que a
neve está a caminho. Ando a passos rápidos e meus ouvidos e visão estão em
alerta. Apesar de me certificar de que não estou sendo seguida, uma sensação
estranha me persegue. Tenho que conseguir, pois preciso chegar até meu destino.
Paguei um alto preço por acreditar nas palavras de um homem que até um ano
atrás pensava me amar. Fez promessas que jamais iria cumprir e quando dei a ele
a notícia de minha gravidez, o amor e doçura de outrora foram embora e
substituídas por uma figura de um homem irreconhecível. Jogou vários dólares
em minha cara dizendo ser o suficiente para um aborto. Aquilo doeu mais do que
a perda de meu pai, a pessoa mais importante de minha vida. Recolhi todo
dinheiro do chão e o expulsei de minha casa e de minha vida, e, percebi então
que Harry, na verdade, nunca me amou. Fui apenas um pequeno passatempo para
ele e agora, com uma filha nos braços, sou mais uma entre tantas mulheres
abandonadas por um cafajeste rico e poderoso.
Descobri da pior forma possível que o homem a quem me entreguei era casado,
pai de dois filhos e que jamais me assumiria. Eu, uma garota ingênua de Ohio,
caí como uma patinha na conversa de um homem totalmente experiente e mau
caráter.
Fugi de Ohio e, hoje, vivo com medo de tudo e todos.
Um homem vestindo um sobretudo está bem atrás de mim. Minha pulsação
acelera e o medo volta com força total. Estou a poucos metros do lugar onde
deixarei minha filha.
Terei que abandoná-la se quiser que ela continue viva. Há alguns dias, recebi
uma carta anônima com uma ameaça velada de morte e não pretendo pagar para
ver. Harry não mediria esforços para acabar comigo e com minha filha. Sendo
ele quem é, nada o atingiria. Portanto, deixarei minha filha em um orfanato para
sua própria segurança. Sei que minha atitude é covarde e mesquinha, mas ao
mesmo tempo, quero que ela viva e quem sabe não encontre alguém melhor que
eu para amá-la e oferecer-lhe uma vida que não está em meu alcance.
Essa foi a maneira de demonstrar que tenho sentimentos e lhe quero bem.
Tenho 19 anos, não tenho estudos e ainda por cima, nenhum teto onde descansar
a cabeça. O local onde vivo desde que Sophia nasceu é um alojamento para
quem não tem para onde ir. E pelo visto, já descobriram meu paradeiro.
Saí de lá com minha filha no colo e uma pequena valise contendo algumas
roupas. Não morarei com uma criança na rua, isso seria muito humilhante para
mim e também para Sophia que é a mais inocente nessa história toda. Arrumar
trabalho com uma recém-nascida entre os braços será uma das coisas mais
difíceis de se conseguir ainda mais correndo risco de ser descoberta. Não terei
paz se não desaparecer para sempre.
Um dia, espero que ela entenda e me perdoe por ser tão egoísta e covarde. Mas,
já me decidi e agora não voltarei atrás de minha decisão.
O homem que achei estar me seguindo passa por mim e nem me olha. Suspiro
aliviada.
Olho pela última vez para Sophia. Meu bebê. Tão linda! Olhos e cabelos pretos
como ônix, pele branca e um sorriso que possui as covinhas mais lindas que já
vi. Ela é minha cópia, a minha imagem e a minha continuação.
Beijo seu rosto, aperto-a em meu peito e meus olhos gravam suas feições. Não
quero jamais esquecer de sua face, ela, porém, jamais se lembrará da minha.
Ficarei nas sombras e nenhuma lembrança de sua mãe habitará sua memória.
Sophia não possui registro de nascimento.
Por medo, achei melhor não a registrar, achei que sendo assim não me
encontrariam, puro engano. Não sossegarão enquanto estivermos vivas.
Portanto, no orfanato a chamarão somente por Sophia.
Olho para o letreiro " Lar Sant Clair" — orfanato para meninas. É aqui! Chegou
a pior hora. Nossos laços agora se rompem e nunca mais seremos as mesmas
depois de minha atitude. Enrolada em um grosso cobertor, a deito no tapete
vermelho com a palavra Welcome escrito em amarelo. Acaricio seu rosto, deixo
um bilhete endereçado ao responsável pelo orfanato. Nele, há poucas
informações sobre minha filha, como seu nome e a data de seu nascimento.
Tiro a única coisa que ainda me resta de valor: Uma corrente em ouro branco e
um pingente de brilhante em formato de gota. Escondo-o entre suas roupas e
com as mãos trêmulas, aperto a campainha. Corro para a esquina e fico ao longe
observando quando uma mulher já idosa abre a porta e se abaixa. Ela nem ao
menos se espanta ao ver uma criança em sua porta. Isso deve ser muito comum
em seu cotidiano. A velha senhora se abaixa e recolhe Sophia com cuidado, entra
e fecha a porta.
Olho para o céu e a garoa acaba de cessar. As estrelas aparecem.
Minha alma se mistura com a baixa temperatura exterior. Nesse momento,
caminho sem pressa e vazia pois não há ninguém para salvar. Não tenho mais a
quem defender. Sophia está salva daquela família. Aquele ordinário jamais a
encontrará.
E com esse pensamento, desapareço na escuridão.
Por Sophia
— Vai aparecer alguém, Sophia. Você vai ver. — Dona Carmem afaga meu
cabelo e não percebe meus olhos carregados de lágrimas e tristeza. — Um dia,
terá sua família!
Ela tenta me consolar e sei que a cada dia que passa fica ainda mais difícil ser
adotada. Com um sorriso de despedida, levanto as mãos e aceno para Amanda
que sai acompanhada de um casal. Essa cena se repete por vários anos. Você cria
amizade com alguém, e de repente essa pessoa vai embora e você tem a certeza
de que nunca mais a verá.
Há onze anos, vivo em um lugar em que não sou amada. Não que eu seja
maltratada, longe disso. Sinto-me como um objeto posto na prateleira esperando
por alguém que se interesse. E já se passaram onze anos que estou disposta nessa
prateleira. Nenhuma família se interessou por mim.
Vivo sozinha e não sei o que o futuro me reserva. Corro para o dormitório e lá
me jogo na cama chorando até soluçar. Uma menina sem passado, sem presente
e quem sabe, sem futuro. A única coisa que sei é que fui deixada na porta desse
lugar por sabe se lá quem.
Quem seria minha mãe? Qual a minha história? Por que ela não me quis? Será
que está viva? E meu pai? A única coisa que tenho de meu passado é uma
corrente que guardo comigo. Qual seria a história por trás dessa joia?
Cansada de viver dessa maneira, um belo dia, resolvi fugir do orfanato, cansei de
viver como um animal doméstico à espera de carinho e de um dono.
Com uma mochila nas costas, pulo o muro dos fundos enquanto todos dormem.
E correndo pelas ruas, uma nova sensação de liberdade e esperança tomam conta
de mim.
[...]
Três dias vivendo nas ruas foi o suficiente para trazer mais dor e arrependimento
ainda. Dormindo embaixo de marquises e vivendo como uma garota de rua, sinto
falta do pouco que tinha no orfanato. Aqui é ainda pior, você anda pela rua e
continua sendo invisível, ninguém te olha exceto quando você, estando toda suja
e maltrapilha, para em frente alguma padaria e espera por um pouco de caridade
de quem sai de lá.
— Que quer aí parada, menina? — Uma mulher robusta sai de dentro de sua
confeitaria e me olha com uma espécie de ira como se eu fosse algo ruim.
— Estou com fome. — Digo, abaixando os olhos.
— Saia daqui, antes que eu chame a polícia, sua trombadinha!
Muito devagar, viro-me de costas e resolvo voltar para onde nunca deveria ter
saído. O sol está indo embora, meus pés doem e meu corpo está cansado e
faminto. Nunca havia passado fome e hoje sei o que ela significa.
Ao chegar à rua do orfanato, meus olhos não creem no que acabaram de ver. O
lugar está em chamas, todo tomado pelo fogo. Dona Carmem...
Corro em direção ao portão e um homem vestindo uma roupa de bombeiro me
segura. Tudo acabado, o pouco que me restava foi tirado de mim.
— Dona Carmem!! — Grito, no mesmo instante em que tento me desvencilhar
dos braços fortes do homem ao meu lado e as lágrimas escorrem de meu rosto
sem parar.
Ele se ajoelha em minha frente, olho em seu crachá. Larry.
— Sinto muito, tente se acalmar, mas não sobrou nada. Houve uma explosão no
local e todos os que estavam lá dentro morreram.
Aos poucos, meu corpo se rende à trágica realidade. Larry se afasta e se se junta
aos outros para acabar com as chamas que consomem o que ainda resta do Saint
Clair.
E mais uma vez, sendo invisível, caminho de volta às ruas, o meu novo e
horrível lar.
[...]
Depois de três anos morando na rua, aprendi a sobreviver e a me defender. Num
dia, você apanha, no outro também. Mas, chega um dia em que se cansa disso
tudo e resolve dar um basta. E foi assim que consegui me manter viva até hoje.
Sou mais uma menina abandonada e rejeitada pelo destino. E o que faço para
sobreviver? Roubo. Isso mesmo, roubo. Aprendi com uma companheira das ruas
que até pouco tempo vivia comigo, mas que desapareceu sem mais nem menos.
Foi minha única amiga das ruas, eu diria. Não era uma amizade como as outras.
Ela era grosseira e me ensinava as coisas de maneira bruta, mas no fundo eu
sabia que se importava comigo. Seu nome, Isabelle. Era só o que eu sabia dela e
tive um outro amigo também, um menino conhecido por Chuckie que também
sumiu sem deixar nenhum rastro.
Ando pela praça central e vejo um alvo fácil. Tenho uma ética para roubar.
Nunca roubo mulheres e crianças. Somente homens. Essa é a lei ditada por Isa.
Meu alvo está num telefone público e muito distraído. Bem, azar o dele. Sem
que me veja, me aproximo e num movimento rápido pego sua carteira e saio
correndo.
— Hey, volte aqui, sua ladra!
Esse era um dos meus vários nomes depois que saí do orfanato. Ladra,
trombadinha, entre outros ainda piores. Às vezes, até me esqueço de que me
chamo Sophia.
Olho para trás e o homem está em meu encalço. Ah, ele não pode comigo, sou
mais rápida e sempre venço.
E pela primeira vez na vida, fui pega! Num descuido, o homem me alcança e me
pega pelo braço.
Ele não é jovem, pelo contrário, deve ter uns 55 anos ou mais. Nunca imaginei
que ele tivesse tanto pique para me alcançar.
— Devolva-me a carteira, sua malandrinha! — Olha aí, mais um nome para
mim! Pega o objeto furtado de minhas mãos e me encara firme nos olhos. — Sua
tola, achou mesmo que iria me roubar?
Não digo nada, nunca digo nada, poucos conhecem a minha voz. Sua expressão
é séria e seus olhos escuros são frios. Ele tem uma voz bonita.
Solto meu braço e esfrego o local, o coroa tem uma mão firme e meu braço está
doendo.
— Roubar não é para qualquer um, mocinha! Roubar é uma arte! Agora vá
embora daqui, antes que eu chame a polícia!
Vira-se de costas para mim e coloca a sua carteira novamente em seu bolso. Fico
parada, observando-o ir embora. Ele dá mais alguns passos e olha para trás,
nossos olhos se encontram e por uma fração de segundos, vi que ele me olhou
com carinho. Coloca seus óculos escuros e desaparece.
A noite chega e me sento em um beco qualquer para o meu jantar. O máximo
que consegui hoje foram dois míseros dólares. Abro meu sanduíche e uma lata
de refrigerante. Abro meu velho tênis e tiro de lá a corrente com a gota
pendurada. Isso deve valer alguma coisa.
Não, esqueça Sophia! Não irá vender a única coisa que faz referência ao seu
passado.
Olho para a gota e ela reflete a luz do poste.
— Bonita joia, belezinha! Passe isso para cá! — A voz de um rapaz me faz
erguer os olhos.
Eles estão em dois. Um deles tem uma horrível cicatriz no rosto.
— Isso é meu e ninguém toca nisso! — Falo firme e sem ter medo. Esse
sentimento já me abandonou há muito tempo. Aprendi que quando não se tem
nada a perder, o medo vai embora e não lhe assombra mais.
Levanto-me devagar.
— Boneca, não temos tempo para brincar agora! — Um deles se aproxima e me
joga na parede com força.
Pega minha joia e ainda levo um soco no rosto.
— Isso é para aprender a não desobedecer, não é parceiro?
Acerto-lhe outro soco, mas parece que ele nem se mexe do lugar.
— Olha só, a mocinha sabe brigar! — O garoto com a cicatriz se junta ao outro e
me rendem fácil.
— Agora irá aprender a não ser tão valente, garota!
Um deles, rasga minha camiseta e sua boca desce até chegar em meu seio.
Chego a me encolher em repulsa, mas não consigo escapar e a única coisa que
me resta é gritar por socorro.
— Cale essa boca, sua ordinária, vai aprender o que é um homem de verdade. —
Segura meu pescoço me fazendo encará-lo.
E pela primeira vez em muitos anos o medo aparece para me enfraquecer.
— Still, quer ser o primeiro? — Pergunta para o amigo.
— Não, Marvin, a honra é toda sua.
Não!!! Nenhum homem jamais me tocou, não!!!
Sinto sua mão suja entrando em minha calça e seu dedo toca meu sexo. Nunca
imaginei viver isso, mas prefiro morrer nesse beco do que ser estuprada por
esses dois, minha vida não vale nada, portanto se a perder ao menos ganho
minha dignidade.
Seu hálito é fétido e nojento. Meus dentes atacam a sua orelha, mordendo até
sangrar.
— Vagabunda!! — Me joga no chão e abre a calça.
— Marvin, eu a seguro e você regaça com ela!
— Isso, Still. Segure firme!!
— SOCORRO!!
— Cale a boca, sua puta! — Se ajoelha e vejo seu membro duro vindo em minha
direção. — Ninguém irá lhe ajudar, você não é nada!! — O outro me chuta as
costelas, me fazendo gemer de dor. Mais alguns chutes e não tenho força para
reagir.
Serei estuprada!
— Soltem a moça!
Fecho os olhos em sinal de alívio, finalmente alguém veio me ajudar.
Meus olhos recaem sobre a sombra do homem de estatura média.
— Que isso, tiozinho? Vá para casa, o assunto aqui não lhe diz respeito. — Diz
o tal de Marvin.
— Não irei repetir, soltem a moça!
Olha para mim e eu o reconheço. O meu alvo, o homem a quem tentei roubar
essa manhã.
Ele me olha e continua.
— Mocinha, pode se levantar, esses babacas não irão encostar um dedo em você!
Com muita dificuldade, me levanto, mas uma dor aguda me atinge, acho que
quebraram minha costela, pois mal posso respirar. Sento-me encostada na parede
e ele não perde nenhum movimento, parece um leopardo em plena caça.
— Haha! Escutou essa, Still? O velhinho chega e acha que vai botar banca aqui,
coitado!
E num piscar de olhos os dois partem para cima do senhor bem vestido. Eles
tentam acertar o homem.
Se me contassem eu não acreditaria. Em míseros quatro golpes, ele deixa os dois
rapazes no chão sem que eles encostassem a mão em seu corpo. Em seguida,
com muita elegância, ajeita seus cabelos e me encara.
— Você está bem? — Ajoelha-se ao meu lado.
— Estou. — Gemo de dor. — Obrigada, se não fosse o senhor, a essa hora... —
Tenho uma crise de choro.
— Calma, está tudo bem, calma. — Ele me abraça e choro mais ainda.
Nunca havia sido abraçada em toda a minha vida. Ele toca meus cabelos com
carinho e mesmo estando suja e cheirando mal, ele não se importa.
Ele tem cheiro de hortelã misturado a tabaco. Um estranho salvou minha vida,
um homem conseguiu me enxergar em meio à multidão, finalmente me senti
alguém, mesmo que por segundos. Em seu abraço me sinto segura, sinto algo tão
diferente que ainda não sei explicar.
— Vou leva-la a um hospital, consegue se levantar?
— Acho que sim.
Ele enxuga as lágrimas que caem em meu rosto sujo. Sorri para mim e estende a
mão.
— Prazer, sou Vicenzo Angliane Salvatore.
Ergo minha mão e estendo de volta.
— Sophia, somente Sophia.
— Vamos sair daqui, venha!
— Minha corrente, preciso de minha corrente! — Aponto para o corpo de
Marvin que geme no chão.
Vicenzo se abaixa e pega das mãos do rapaz a minha única fortuna.
— Aqui! Sua corrente! — Coloca a joia em minha mão. — É roubada? — Sorri
e não resisto seu comentário.
— Não, é de família.
— Ah, entendi.
E com a sua ajuda, caminhamos até seu carro, onde pela primeira vez alguém
abre a porta para que eu entre, sem se importar com minha aparência feia e
imunda.
Nesse dia, conheci o homem que se tornaria meu pai adotivo...
Vicenzo Salvatore
Por Vicenzo — dez anos depois
Sophia completa 24 anos no mês que vem.
Estamos em setembro.
Amanhã, ela chega da Europa. Irei precisar de sua ajuda mais do que nunca,
mesmo não gostando de envolve-la em meus assuntos, só que dessa vez minha
velha parceira terá que entrar em ação. Depois de concluir esse serviço, irei me
aposentar.
Roubar nunca mais.
Quero uma vida tranquila, agora que vim para Nova Iorque, quero poder usufruir
de minha vida sossegada ao lado de meus filhos.
Só mais um roubo e estarei livre. Aceitei essa nova empreitada por se tratar de
um homem que se tornou meu amigo. Richard Sander Scott, inimigo declarado
de uma das famílias mais poderosas de Nova Iorque.
Ele quer que eu roube uma obra que está na galeria particular dessa família " A
leiteira" de Johannes Vermeer.
Parece que ele se tornou inimigo dessa gente após ter negociado com o senador
Sean Mackenzie e ter sido passado para trás em uma licitação. Briga de cachorro
grande e nem quero saber como isso irá terminar, pois só estarei cumprindo meu
trabalho e depois disso que se matem.
Receberei uma fortuna e ainda poderei ajudar muita gente com esse dinheiro.
Viajarei com meus filhos por um longo tempo.
Pego meu celular e ligo para Richard que está no aeroporto, esperando por
Sophia.
E pensando nela, me lembro como tudo começou ...
Flashback ON
Sentado ao lado de sua cama no hospital, vago em meus pensamentos e me
recordo dos acontecimentos dos últimos dias.
Sophia dorme profundamente e meu pensamento vaga em Constanza. Essa cama
de hospital me traz lembranças indesejáveis.
Constanza. A mulher que possuía sorriso mais lindo que um homem já vira.
Quando a conheci, eu tinha apenas 22 anos e ela 18. Éramos imigrantes italianos
tentando a vida no país do Tio Sam. Foi amor à primeira vista. Casamos após um
ano de namoro e mais um ano depois, nasceu Lorenzo.
Jurei que iria mudar de vida e viver honestamente, após o nascimento de meu
filho. Antes de Constanza, eu era um dos melhores ladrões do mundo da arte.
Roubava por encomenda e detalhe, sem deixar rastros. Bastava que escolhessem
o que iria ser roubado e depois de tudo muito bem planejado, a obra desaparecia
e nada, nem ninguém, me impediam. Autoridades policiais, polícia especializada
se juntavam e não conseguiam descobrir o paradeiro dos objetos e muito menos
o responsável pelo roubo. O dinheiro que recebia pela venda desses objetos era
gasto com jogo e mulheres. Nunca acumulei fortuna.
Éramos muito felizes. Constanza cuidava da casa e de nosso filho, enquanto eu
trabalhava como segurança em um museu de arte. Porém, o destino ou até
mesmo Deus resolveram me pregar uma peça. Minha mulher foi acometida por
um câncer no cérebro, porém nem a doença conseguiu tirar dela o seu eterno
sorriso e muito menos a sua alegria de viver a cada dia.
Meu salário e meu plano de saúde não custeavam as enormes despesas que se
assomaram. Os remédios e o tratamento com os melhores especialistas eram
muito caros. Era um homem em desespero fazendo qualquer coisa para salvar a
mulher amada. Sendo assim, voltei ao submundo do crime e com ele consegui
que minha mulher tivesse o melhor tratamento da época, mas isso não foi o
suficiente. Seis meses depois de inúmeras tentativas e uma cirurgia muito
arriscada, numa manhã de verão, em pleno domingo, ela resolveu me deixar.
Recordando-me como se fosse hoje, aproximei-me de seu leito e caminhei
devagar até chegar a ela. Sua aparência se assemelhava a um fantasma. Magra,
olhos fundos, sem cabelo e muito abatida. O câncer me devolveu o resto de
minha esposa. Consumiu-a como um hospedeiro até não poder mais e agora a
deixou em paz para se apossar de outra pessoa.
Ela sentiu a minha presença e muito devagar abriu seus olhos que sorriram para
mim. Mesmo sem força física pude a sentir a força de sua alma. Constanza
queria viver, amava viver e queria me dizer através de seu olhar que não estava
desistindo, mas a situação era mais forte do que ela. Já não havia forças para
lutar. Estendeu sua mão e segurou sem forças a minha.
— Vicenzo...
E como sempre foi generosa. Constanza me ofereceu seu sorriso. Sorriso que me
acalmava nas horas difíceis, que me fazia tanto bem.
— Não se esforce, minha querida!
Não queria cansa-la para que pudesse tê-la por mais tempo comigo.
— Meu lindo Vicenzo. Cuide de nosso menino.
Engoli seco e segurei as lágrimas. Não queria chorar para não deixar minha
amada em tristeza. Ela não queria me ver triste, mas por dentro estava morto.
Isso mesmo, Constanza parece mais cheia de vida do que eu, mesmo com a
morte lhe esperando.
— Por favor... — Apertei sua mão gelada. — Não me deixe!
Ela olhou firme em meus olhos e seus dedos magros limparam uma lágrima que
cai.
— Não estou lhe deixando. Nunca os deixarei. Levarei o seu amor e o de
Lorenzo comigo. Não pense nunca que desisti de vocês. Diga ao nosso filho que
sua mãe o amou acima de qualquer coisa e nunca deixe que as poucas
lembranças de que tem de sua mãe se apaguem. — Ela inspira o ar com
dificuldade. — Cuide bem dele e todos os dias o beije por mim.
— Não fale mais, por favor, vou chamar uma enfermeira.
Sua mão me segurou, desta vez, mais forte.
— Não precisa, não vamos desperdiçar nosso tempo. Não temos mais tempo...
Constanza chorou e ao ver seu choro não consegui me segurar.
— Vicenzo... Você foi o melhor homem da minha vida! Eu o amei e o amarei
para sempre! Quero que me prometa uma coisa...
Não tive forças para responder, estava tão desolado e é como se eu estivesse
morrendo com ela.
— Quero que reconstrua sua vida. E me perdoe por não ter lhe dado uma filha
como você tanto queria. Pois, encontre uma mulher que lhe faça feliz. Você
merece toda a felicidade do mundo, meu querido.
— Eu a amo, minha querida e não serei feliz ao lado de nenhuma outra a não ser
você.
Abaixei minha cabeça e beijei seus lábios de leve. A mulher que tanto amei
estava me deixando e não havia nada que eu pudesse fazer.
— Eu também o am...
E sua boca se curvou num último sorriso.
Perdi minha Constanza e nunca mais fui o mesmo. Dediquei minha vida ao meu
filho e ao meu trabalho como ladrão. Larguei meu emprego no museu e abri meu
próprio negócio. Uma cafeteria como uma espécie de disfarce. Continuei
roubando e a maior parte do dinheiro que eu conseguia, doava para hospitais
direcionados ao tratamento contra o câncer. Era uma maneira de me sentir bem.
Angelina, a nossa empregada, ajudava-me a cuidar de Lorenzo que tinha cinco
anos na época. Ele sentiu muita falta da mãe e tentei ao máximo suprir essa falta.
E todos os dias pela manhã eu fazia o que Constanza me pedira. Dava vários
beijos em Lorenzo e sempre falava e mostrava fotos da mãe. Não quero que ele a
esqueça, jamais.
E assim vivi meus dias com meu filho e a minha velha e fiel Angelina. Treze
anos depois, estou eu aqui olhando para uma moça desconhecida e que sem que
ela saiba possui o mesmo olhar e sorriso de minha Constanza. No caminho para
o hospital, pude analisar um pouco de sua personalidade. Sophia é uma menina
muito arredia e só me permitiu abraça-la por estar em um momento de
fragilidade. Uma garota marcada pela vida e sem destino como muitas.
Batidas na porta me tiram dos meus pensamentos.
Lorenzo coloca a cabeça na porta e digo para que entre. Traz uma sacola nas
mãos. Roupas para Sophia.
Entra e não tira os olhos da menina que dorme.
— Trouxe o que lhe pedi, filho?
Vira-se para mim e me entrega a sacola. Tudo certo.
— Vai mesmo leva-la para nossa casa?
— Sim. Ela não tem para onde ir, meu filho. Você vai gostar de Sophia. Aposto.
Espero que ela aceite minha proposta.
— Já gostei. — Pisca para mim e sorri de modo brincalhão. — Por que não
aceitaria?
— Sem gracinhas. Será como sua irmã. — O repreendo. — Sophia é um bicho
selvagem e ferido. Não será fácil domestica-la.
— Se ela aceitar, será muito bem-vinda em nossa casa. — Diz meu filho. —
Agora tenho que ir para a faculdade. Mais tarde a gente se fala, papai.
Beija meu rosto e afaga meu cabelo. Adoro quando ele faz isso.
Lorenzo sai e meia hora depois os olhos de Sophia se abrem.
Sua aparência é muito melhor do que antes. Exceto pelo hematoma no rosto. De
banho tomado, sua beleza de menina se aflora.
— Está melhor?
— Sim, muito obrigada mais uma vez. Não tenho como agradecer tudo o que fez
por mim. — Desvia seus olhos arredios.
— Você tem família, Sophia?
A garota me olha como se eu tivesse pedido para que tirasse a roupa. Baixa os
olhos e não responde nada.
— Sophia, eu lhe fiz uma pergunta.
— Não. — Me encara firme. Gosto disso nela. Não baixa os olhos. — Não que
eu saiba. Fui deixada em um orfanato ao nascer. É só o que sei. Fugi de lá e vivo
nas ruas há três anos.
— Hum... interessante.
Uma médica entra no quarto e examina Sophia lhe dando alta sai em seguida.
Entrego a sacola com as roupas limpas a ela. E percebo que foi tomada por uma
surpresa muito grande ao verificar o conteúdo.
— Para mim?
— Sim. Engordei alguns quilos nesses últimos meses e não me servem mais.
Ergue os seus olhos e pela primeira vez a vejo sorrir com meu comentário.
— O senhor tem bom gosto. E muito senso de humor. Parece Franz.
— Franz? Quem é Franz?
— Um conhecido da rua. Era travesti e me ajudou muito até que um dia foi
encontrado morto na rua.
Sophia se entristece ao falar do tal amigo.
— Pareço-me com ele em que sentido? — Tento estabelecer uma conversa
amistosa.
Curva a boca num sorriso.
— Ah, não... me perdoe... não quis dizer que o senhor é travesti.
Sorrio para deixa-la à vontade.
— Você ainda não sabe o que sou, Sophia!
Devolveu-—me um olhar muito intrigante. Quem sabe um dia eu conto a ela o
que faço para viver.
E com muito custo consegui leva-la para minha casa.
Contratei um amigo que trabalhava como detetive para que descobrisse qualquer
coisa sobre uma possível família de Sophia, porém nada foi descoberto. Então,
resolvi adotar a garota dando a ela o meu nome, a partir daquele dia, ela se
chamaria Sophia Angliane Salvatore.
No começo, ela se mostrou arredia. Às vezes, se afastava ao ser tocada, mas aos
poucos fui ganhando a sua confiança e agora ela não dorme mais sem meu beijo
e meu abraço de boa noite.
Angelina se encantou com Sophia quando pôs os olhos nela. Minha garota tinha
essa aura que nos puxava para si. Ela tinha o poder de nos prender em seus olhos
negros e puros. Sim, puros. Apesar de viver nas ruas, batendo carteiras, Sophia
era uma menina ingênua e doce.
Lorenzo se tornou um irmão super protetor. Levava e buscava Sophia no colégio
e fazia o papel de guardião, botando os meninos para correr. Sophia começava a
desabrochar para um mundo novo. Mundo, então, desconhecido para ela. E a
cada dia, ficava surpreendido pelo fato de que ela absorvia tudo muito fácil. Sua
inteligência era espantosa e fiquei muito feliz por sua dedicação, ela não me
decepcionou em nenhum instante. Agarrou com as duas mãos a chance que a
vida estava lhe dando.
Quando completou quinze anos, resolvi fazer uma surpresa a ela. Com a ajuda
de Angelina, comprei um lindo vestido e a levei para jantar fora. Seus olhos
pareciam ter luz própria tamanho o brilho de alegria ao ver o garçom
empurrando o carrinho com o bolo. Também a presenteei com um lindo colar em
brilhante e ônix, para combinar com seus lindos olhos e os mesmos se encheram
de lágrimas e sua boca tremia com o choro que estava prestes a sair, levantou-se
da mesa e se jogou em meus braços.
— Obrigada, obrigada por tudo! Jamais vou esquecer o que fez por mim!
Ergo seu rosto e limpo suas lágrimas.
— Você é muito importante para mim. Eu a amo como se fosse minha filha e
você o é. Espero lhe dar o mundo. Ensinar tudo o que sei. Quero que seja feliz e
que alce altos voos e, se alguém tentar impedi-la de seguir em frente, passe por
cima dela. — Aliso seus cabelos negros. — Eu te amo, minha filha e sempre
estarei aqui para te apoiar em tudo. Você não está sozinha nesse mundo.
— Obrigada, meu pai. Eu também o amo muito. Jamais imaginei que pudesse
encontrar alguém como o senhor. Isso era tão distante para mim. Pensei que
morreria sozinha e que ninguém fosse me amar.
Foi a minha vez de chorar. Essa foi a primeira vez que Sophia me chama de pai.
A emoção e o amor que senti com seu abraço me encheram o coração de alegria
indescritível.
Minha menina. Minha amada Sophia.
Sophia tomou gosto pela arte como eu. Tínhamos muitas coisas em comum. Ela
gostava de música italiana, clássica, soul, jazz e o velho e bom rock and roll.
Éramos muito parecidos em nossos gostos. Saímos muitas vezes para pescar,
fazer piqueniques, tomar sorvete. Seu preferido era de passas ao rum.
Quando completou dezoito anos, mandei-a para a França para estudar arte, um
curso de um ano. Na volta, ela estava mais linda ainda, aprendeu muito com os
franceses, além do idioma e do curso de arte barroca, Sophia aprendeu a vestir
com mais elegância, se tornando uma mulher muito charmosa, sem exageros.
Uma mulher como Lorenzo a definiu: intrigante.
Mas nunca a vi com namorado ou coisa assim, sempre a achei muito reservada,
apesar de muitos pretendentes aparecerem na cafeteria somente para vê-la.
Passado algum tempo, fui contratado para um serviço e estava em meu escritório
analisando os mapas do local a ser roubado, conferindo os últimos detalhes do
roubo de logo mais à noite e um vizinho bateu à minha porta e saí do meu
aposento para atendê-lo. Angelina não estava em casa, deve ter ido às compras.
Depois de atender ao meu vizinho, voltei para meu escritório e levei um susto ao
ver Sophia olhando os meus mapas.
— Saia daí, Sophia! Sabe que não gosto que mexam em meus pertences!
— Desculpe, não estava mexendo, vim até seu escritório, pois queria lhe pedir
para sair com um amigo.
— Amigo?
— Sim, o conheci há duas semanas no clube e ele queria me levar para jantar
amanhã, mas queria falar com o senhor primeiro.
Não disse que ela ainda é ingênua? Pede para sair com um rapaz como se tivesse
quinze anos. Ela já tem dezenove. E lá no fundo, adoro quando ela se comporta
como minha menina. Depois de interrogar a vida do rapaz todinha, permiti que
ela saísse com ele.
— Sim claro, pode ir.
Beijou meu rosto, como sempre.
Antes que ela saísse do escritório, eu a chamei de volta.
— Sophia...
— Sim...
— Tenho um compromisso inadiável hoje à noite. Não me espere, sim?
— Ok, papai.
E foi nessa noite que minha filha, soube o que eu realmente fazia para viver.
Subestimei a sua inteligência e acabei sendo descoberto. Quando estava prestes a
sair da galeria com a tela roubada nas mãos, o alarme que eu achava ter
desativado disparou. Escondi-me por detrás de uma coluna e vejo um guarda se
aproximar.
— Hey, parado! — Apontou uma arma para mim e ergui minhas mãos em
redenção! — De repente, o alarme para de soar.
O policial andou em minha direção e meus olhos se desviaram para um vulto
logo atrás do guarda.
Num movimento rápido, o mesmo dá um golpe na nuca do policial que caiu
desmaiado e me fez um sinal para que o seguisse. Andando muito rápido e de
costas, pude notar que se tratava de um corpo de mulher.
Quando saímos por detrás da galeria, em um beco escuro, ela tirou a máscara e
meus olhos não acreditaram no que viam. Sophia.
— Posso saber o que está fazendo aqui?
— Primeiro, senhor Vicenzo, me agradeça por salvar a sua pele.
Senti tanta raiva e espanto que estava em choque.
— Obrigado, agora quero explicações.
— Vamos sair daqui, esqueceu que o alarme foi disparado?
Entramos em meu carro e sumimos do local.
— Pronto, agora quero explicações! — Exigi.
— Vim para salvá-lo, você ia ser pego! — Argumentou.
— Como sabia disso?
— Está ficando velho, esqueceu-se disso! — E me mostrou um dispositivo
usado para desativar alarmes.
Esfreguei as mãos no rosto e a encarei.
— Isso não muda nada, continuo sendo seu pai e exijo respeito!
Ela me olhou com tanto amor.
— Nada no mundo me faria deixar de amá-lo, Vicenzo Salvatore! Descobrir que
rouba não muda em nada o que sinto pelo senhor e saber que rouba para ajudar
hospitais me deixou ainda mais emocionada, por isso vim ajuda-lo e a partir de
hoje, seremos uma dupla. Quero ajudar!
— De maneira alguma, tenho outros planos para você! Vai se formar e dar aula
de artes como sempre quis!
— E quem disse que não vou dar aulas? O senhor tem a cafeteria de disfarce e
eu posso ter o meu como professora também.
— Não, Sophia, você não é uma ladra!
— Já fui e pelo que o senhor pode ver, minhas aulas de defesa pessoal, mais as
aulas extras de Lorenzo sobre programas de segurança me ajudaram e muito
nessa noite. O senhor está ficando velho e um sangue novo no negócio pode
melhorar a situação. Desativei aquele alarme em 10 segundos. E não adianta me
dizer não, se não me quiser ajudando, darei um jeito de entrar nessa, o senhor me
conhece.
E foi assim que minha filha se tornou minha parceira.
E que parceira!!
Lorenzo me ajudava com os programas de segurança. Invadia os sistemas
derrubando senhas e códigos, mas era Sophia que ia para a frente de batalha
comigo, formávamos um trio perfeito.
A família Robin Hood!
Flashback OFF
Meu celular toca.
— Vicenzo, o avião de Sophia acaba de pousar. Logo estaremos aí.
— Obrigado, Richard.
Mal, vejo a hora de ver minha menina, matar a saudade e por nosso plano em
prática!
Que a família Mackenzie nos aguarde!!!
Sean Mackenzie
Por Sophia
Parece que foi ontem. Há quase dois anos me mudei para a Europa. Aqui, resolvi
me especializar em um curso de Arte Barroca e agora com um ultimato de meu
pai, retorno à América. Ele se mudou para Nova Iorque há seis meses. Em nossa
última conversa, alegou que irei adorar nossa nova casa e também a cidade.
Disse ainda que, tem um último "trabalho" e que conta com minha ajuda, mas
que somente daria mais detalhes quando estivesse em casa, saboreando seu belo
espaguete, meu prato favorito.
Vincenzo, na cozinha, é sensacional.
Quando morávamos na Filadélfia, meu pai conheceu um milionário chamado
Richard Sander Scott, tornando-se seu amigo e foi essa amizade que o levou a se
mudar para Nova Iorque. Meu pai gosta muito dele e sua amizade é algo muito
valioso para Vicenzo. Há um ano, quando estive na Filadélfia em férias, tive o
prazer de conferir com meus próprios olhos o que meu pai dizia por telefone e
realmente dei toda razão a ele. Richard é um homem pelo qual você se simpatiza
no primeiro momento. Com a cara fechada e de poucos sorrisos, é um excelente
amigo. Divorciado e pai de Lanna de cinco anos, ele vive para a filha e seus
negócios. Acabei me tornando sua amiga e apesar de nossa diferença de idade,
somos muito parecidos em muitas coisas. Meu pai abriu em sociedade com ele
uma das cafeterias mais requisitadas da grande metrópole e agora é para a Big
Apple que me dirijo.
Olhando para uma foto de Vicenzo em minha carteira, acaricio seu rosto e me
alegro mais uma vez. Esse homem sempre será o meu referencial. Generoso,
sincero e de uma força interior imbatível. Lorenzo e eu nos orgulhamos de fazer
parte de sua vida. Por falar em Lorenzo, estou com muitas saudades de meu
querido irmão.
Para ele serei sempre "Nina", apelido dado por ele, abreviação de menina. Não
vejo a hora de abraçar a minha família que tanto amo.
Minha vida estava traçada a dor e solidão, porém felizmente fui retirada desse
destino triste e vazio e hoje, sou feliz por ter uma família tão maravilhosa. Tenho
certeza de que ao chegar em casa, Angelina estará me esperando com seu
enorme sorriso e uma fôrma recém tirada do forno de cookies de chocolate. Isso
é felicidade. Ser amada nos pequenos detalhes de nossa vida, pequenas coisas se
tornarem grandes momentos e é assim que vivo e me apego a cada um desses
momentos e os guardo em seu coração.
Fecho os meus olhos e resolvo descansar. Ainda tenho horas de voo até chegar
ao meu destino.
Por Sean
— Algo mais a ser despachado? Ou podemos ir?
Assino os últimos documentos em meu gabinete e olho para meu assessor de
imprensa, Aidan que observa o movimento da rua através da janela.
Em seguida, meus olhos pairam em dois porta-retratos em minha frente. Em um
deles, minha mãe, linda como sempre, abraçada ao meu pai. Eles formam um
casal e tanto. No outro, uma foto minha e de meus irmãos. Max e a caçula
Alexia.
— Esses são os últimos. Essa semana teremos um recesso e aquela votação
importante sobre questões ambientais virá à tona na outra semana. O Green
Peace já se prepara para uma grande manifestação. Eles contam com seu apoio.
— Diz meu assessor de modo sério.
Suspiro e passo as mãos pelo rosto em sinal de muito cansaço. A semana foi
agitada no Capitólio e espero que com esse recesso ter um descanso merecido.
— Dei minha palavra a eles. E irei até o fim com essa questão.
— Mas seu pai não gostou muito de sua decisão. — Aidan se aproxima sentando
—se em uma cadeira à minha frente.
— Ele terá que entender. Mas, agora vamos mudar de assunto. — Assino o
último documento e entrego a pasta a minha secretária que sai fechando a porta
atrás de si. — Vou lhe dizer uma coisa, nunca mais saio com Virgínia, aquela
moça que você me apresentou essa semana.
Aidan me olha intrigado e espera minha resposta.
— Por que? A moça é linda, pensei que fosse gostar.
— Linda e burra. Quase acabei desistindo de leva-la para minha cama. — Faço
uma careta de desagrado. — Ela não falava nada que tivesse sentido, parecia de
outro mundo. Quando estava na cama com ela, tive que tapar sua boca pois não
parava de falar. Quem em sã consciência fala tanto durante a transa? Espero que
nunca mais encontre outra mulher como aquela.
Aidan solta uma risada alta e acabo por rir também.
— Sei como é isso. Não se preocupe, não cometerei o mesmo erro. — Balança a
cabeça. — Na próxima, lhe apresento uma que não fale nada.
Aidan além de meu assessor é meu grande amigo de infância. Estudamos juntos
na mesma Universidade e sempre fomos muito ligados, amigos até nas farras.
Somos como irmãos. Acho que ele me conhece mais do que Max.
O celular de Aidan toca e ele mostra o visor.
— Diversão garantida! — O nome Gi aparece no aparelho. — Com licença, mas
irei atender em outra sala. — Levanta-se e sai de meu gabinete.
Aidan é como eu. Não acreditamos em paixões e coisas do gênero. O que nos
importa é uma boa companhia e sexo. Somente sexo. Adoro as mulheres, mas
não me envolvo emocionalmente com nenhuma delas e sendo assim, nunca saio
com a mesma mulher mais de duas vezes para que ela não crie expectativas
futuras.
Tenho 33 anos e meu pai anda me pressionando com a palavra casamento. Ele
acha que está na hora de encontrar uma boa esposa e continuar o legado da
família. Já cansei de frequentar jantares organizados por minha mãe com o
intuito de me apresentar a alguma futura pretendente, porém sempre apego
alguma incompatibilidade e acabo escapando desse assunto.
Meu pai já chegou a me perguntar se eu era gay. Que bobagem. Na época, não
resisti à sua pergunta e é claro que disse que não. Não sou gay. Casamento está
fora de cogitação no momento e minha vida de solteiro vai muito bem, obrigado.
No aeroporto, minha aeronave me espera para me levar a Nova Iorque.
— Sua mãe irá organizar um baile, no sábado que vem. — Diz Aidan,
desligando o celular, enquanto se ajeita em sua poltrona. — Será um evento
muito importante. A abertura da Galeria Mackenzie.
— Detesto esses eventos. Ela sabe disso. — Na verdade, já me acostumei.
Beatrice, minha mãe, adora ser o centro das atenções e o faz com maestria. É
uma das mulheres mais elegantes de Nova Iorque, dita moda e é muito
requisitada para festas e eventos importantes na sociedade nova iorquina. Ela
ama fazer parte desse mundo e sua maior decepção é Alexia. Minha irmã jamais
será como ela. Alexia é uma mulher linda, mas não tem e nem quer ter o
glamour que minha mãe possui e espalha por onde passa.
Max, meu irmão do meio, é totalmente o meu oposto. Namora Sabrina há dois
anos e logo irá se casar. Um romântico. Nunca aprovou o meu modo de viver.
Disse que sexo por sexo, deixa as pessoas vazias e eu o corrijo.
“Sexo por sexo é a melhor coisa que inventaram. Deveria experimentar.” —
Rebati a ele
“Torço para que um dia encontre uma mulher que o faça mudar de ideia.” —
Falou com seu jeito todo formal.
“Esse dia não irá chegar, sabe por que?” — Lancei a pergunta em tom de
desafio.
“Por que? Não irá me dizer que é imune ao amor?”
“Melhor do que isso! Blindagem nível hard, meu irmão.” — Reafirmei com
convicção.
Max trabalha com meu pai em nossas empresas de telecomunicações. É seu
braço direito. Responsável e muito competente. Enfim, minha família e seus
defeitos. Amo meus irmãos e somos muito unidos, desde pequenos. Sempre
acabávamos encobrindo o outro de qualquer encrenca possível. E acho que isso
nunca irá mudar.
Aidan me tira de meus pensamentos e me faz voltar à realidade.
— Sean, que acha de irmos à Pink Elefant hoje à noite?
— Mas e a Gi? Vocês não iriam se encontrar hoje?
— A gente acabou se desentendendo ao telefone. Deixei claro que não temos um
compromisso, mas parece que ela não sabe disso.
— Viu? — Aponto meu dedo a ele. — Entende agora o porquê não saio várias
vezes com a mesma mulher. No começo, elas aceitam tudo, depois grudam como
chiclete. — Ergo minhas mãos. — Estou fora!
— Nisso você tem razão! — Sorri e pergunta. — E aí? Nosso programa está de
pé?
Desembarcamos em Nova Iorque e vou direto para minha casa. Nada como ter
privacidade. Adoro minha família, todavia me mudei para um lugar só meu. Um
local onde posso ficar sozinho ou acompanhado sem ser observado. Delly é
minha governanta e cuida de tudo para mim. Depois de falar com minha mãe e
ouvir tudo sobre o baile que ela está organizando, me despeço e me dirijo ao
banheiro. Tomo um banho, me troco e pego meu carro. Em Nova Iorque, faço
questão de dirigir. Não ando com motorista, exceto em ocasiões muito
excepcionais. Coloco meus óculos escuros e pego o trajeto em direção ao haras
da nossa família. Adoro cavalgar, adoro meus cavalos. Mais uma de minhas
paixões.
Por Sophia
O avião pousa e me dirijo para o setor de desembarque. No saguão, vejo ao
longe a figura de Richard sorrindo para mim. Ele se aproxima e me abraça forte,
em seguida, empurra o carrinho com as minhas malas.
— Bem-vinda a Nova Iorque! Espero que goste daqui, Sophia!
— Obrigada, Richard. Com certeza, irei gostar. Mas onde está o meu pai? Por
que não veio me buscar?
— Ele teve um problema na cafeteria que exigia sua presença, então me pediu
para que viesse busca-la. — Faz cara de tristeza. — Pensei que ficaria feliz em
me ver.
— Seu bobo. Claro que estou feliz. Sabe que lhe considero um grande amigo.
— Venha, meu carro está à nossa espera.
A caminho de casa, conversamos sobre vários assuntos e um deles é sobre o
trabalho de meu pai. Pelo pouco que sei, meu pai realizaria esse trabalho
encomendado pelo próprio Richard.
— Por que você quer aquele quadro? — Pergunto.
— Não é pelo quadro. É por outro motivo. O senador, filho de Harry Mackenzie,
descumpriu um acordo que tínhamos. Eles fizeram uma galeria particular e estão
divulgando aos quatro cantos do mundo que esse lugar é, sem sombra de
dúvidas, o mais seguro do mundo. Ninguém conseguiria invadir o local. E com a
ajuda de vocês, irei provar o contrário, além de obter uma das mais recentes
aquisições da pinacoteca da família.
— Entendi. E sendo assim, estará vingado? É isso?
— Digamos que sim. Tem mais uma coisa que me interessa.
— O que?
— O senador possui um programa que foi patrocinado por ele. Pelo que
descobri, é uma nova tecnologia digital. Quero que você o roube para mim.
— Não, senhor! Sabe muito bem que meu negócio é roubar obras de arte. Nada
além disso.
— Eu sei, mas você é a melhor e mais rápida que já vi.
— Esqueça, Richard. Ajudarei o meu pai nesse roubo e depois chega. Agora que
me formei, quero paz. Vou dar aulas de Arte para crianças. É isso que sempre
sonhei para mim.
Ele me olha resignado e conclui.
— Está bem, somente o quadro.
Richard para o carro em frente a nova cafeteria do senhor Vicenzo.
A fachada charmosa, com letras muito bem desenhadas, revela o bom gosto de
meu pai. "Toast all caffè" Um brinde ao café.
Richard, sempre cavalheiro, segura minhas malas e empurra a porta do local para
que eu entre. E no balcão, falando alto, gesticulando com as mãos e com um
sorriso que adoro, está a razão da minha existência. Seus olhos me encaram e o
vejo o brilho da alegria ao me ver nascer dentro deles. Ando rápido ao seu
encontro e ele me abraça tão apertado e com tanto amor que meus olhos ficam
lacrimejados.
— Minha linda Sophia! — Enche meu rosto de beijos e me apresenta a um
senhor que toma um café no balcão. Cumprimento o senhor que sorri para mim
como se visse uma joia.
Depois, Vicenzo agradece a Richard a gentileza de me trazer do aeroporto.
— Não precisa agradecer, Vicenzo. Sempre que precisar, é só chamar. —
Despede-se de todos, beija meu rosto de leve e leva minhas malas para o andar
de cima.
— Vou subir, papai, estou exausta!
— Sim, minha filha, suba e se acomode. Espero que goste de seu novo quarto. É
o segundo no corredor à direita. Angelina está de folga, mas amanhã estará de
volta. Vai ficar muito feliz em lhe ver.
Richard desce e se despede de mim e de todos.
— E eu também. Adoro a minha fofa. — Ela detesta ser chamada assim.
Subo as escadas que dão acesso ao segundo andar e me espanto com o tamanho
e mais ainda com o luxo da decoração. Quem olha a fachada pelo lado de fora
não imagina o que há aqui dentro. Entro em meu quarto e fico mais feliz ainda
por ver que Vicenzo o deixou quase do mesmo jeito que o deixei antes de ir para
a Europa. Minha coleção de livros infantis, minha primeira boneca e meu pôster
de Clive Owen ainda estavam no mesmo lugar.
— E aí, Nina, não abraça seu irmão?
A voz doce de Lorenzo às minhas costas me faz sorrir e me viro
instantaneamente me jogando em seu pescoço.
— Lorenzo! Que saudade!
— Uau! Que anda fazendo para ficar cada vez mais linda? Terei que redobrar a
segurança dessa vez!
— Não faça isso! Chega! — Sorrio e beijo seu rosto. — Ficarei solteirona desse
jeito. E não é isso o que quero. Darei a você muitos sobrinhos.
— Você está linda, Nina! Muito linda!
— Você também, essa barba lhe deu um ar sexy!!
— Hum, sexy? Eu?
Olha no espelho e passa a mão me seu rosto.
— Gostosão, delicioso! — Fala ao espelho me fazendo rir.
— Esqueceu-se do "convencido". — Completo.
— Pois é, mas as garotas não sabem disso. Somente minha irmã.
Momentos depois, ele sai do quarto e meu pai aparece. Trazendo nas mãos uma
caixa de presente.
— Ahh, papai, não precisava de nenhum presente.
Ele sorri e se senta na cama.
— Sua boba! Não é nenhum presente! Abra!
Dentro da caixa, há uma pasta, pego-a em minhas mãos e o olho sem entender
do que se trata.
— Quero que leia isso atentamente. É um levantamento que fiz sobre a família
Mackenzie. Tem uma semana para ler e guardar tudo em sua mente.
— Que presente fantástico. — Guardo a pasta de volta na caixa. — Amanhã,
começo a ler. Hoje, quero curtir minha família.
— Eu te amo, minha filha. Nem acredito que agora ficará conosco. Não
suportava a ideia de tê-la tão longe.
— Eu também senti muito a sua falta, mas agora vamos matar a saudade e
ficarmos juntos. Estou louca para comer o seu espaguete.
— Pois então se prepare porque Vicenzo Salvatore está indo para a cozinha.
E depois de me empanturrar de massa e um bom vinho rodeada dos meus
amores, Lorenzo me chama para sair. Argumentei cansaço, mas ele me pediu de
um jeito que não pude resistir.
Uma hora depois, estávamos na frente de uma boate cujo símbolo era um
elefante. Pink Elefant.
O ambiente estava lotado. Mal conseguíamos andar no recinto. Lorenzo encosta
a boca em meu ouvido para poder falar. Ficamos perto do bar.
— Espere aqui! Achei um amigo que quero que conheça, já volto.
— Lorenzo. — Tento chama-lo em vão, pois logo desaparece entre as pessoas.
Assim que meu irmão sai, olho para todas as pessoas ao redor. Muitos jovens
dançam animadamente e um casal me chama a atenção. Um homem agarrado à
uma moça a pouco mais de dois metros de distância de onde estou. Eles dançam,
bebem e se beijam como se fossem devorar um ao outro. O que me chamou
atenção foi a beleza do homem. Ele tem um rosto quadrado, olhos lindos e azuis
e para completar cabelos escuros. Sua boca tem traços finos, mas é muito bonita
também. Porte atlético. Alto. Diria gostoso. Diria lindo. Desvio os meus olhos e
procuro por Lorenzo e o vejo falando com uma moça.
Ah, meu irmão me esqueceu aqui. Que desaforo!
Peço um coquetel no bar e sem querer meus olhos procuram pelo bonitão e sua
garota. Eles continuam no mesmo lugar. Muito devagar, ele a encara e por um
segundo e confesso que senti um desconforto como se aquele olhar fosse
direcionado a mim. Meu corpo se aquece e olho para o meu copo. Resolvo
deixa-lo no balcão. A bebida fez com que minha pressão suba.
Ele a beija de modo tão possessivo que chego a engolir seco ao ver sua língua
invadindo a boca da moça. E pela primeira vez, sinto vontade de ser aquela
mulher, sentir o que ela sente. Meu sexo se lubrifica e me sinto confusa. Isso
nunca me aconteceu antes. Seus braços fortes a rodeiam e suas mãos correm por
todo o corpo dela. Com a boca ainda seca e sem tirar meus olhos dessa cena,
sento—me no balcão e continuo dando uma de voyeur. Ela fala algo em seu
ouvido e ele concorda com a cabeça. Em seguida, ela se afasta e numa fração de
segundos e o gostosão me flagra olhando para ele. Desvio o olhar de imediato e
me viro para o barman, pedindo algo gelado para amenizar o calor que acabo de
sentir.
Em meus históricos curriculares afetivos não constam beijos como esse e acho
que é por isso que me mantenho virgem até então. Na verdade, é mais que isso!
Sempre sonhei em me entregar a um homem quando estivesse apaixonada por
ele e vice-versa. No decorrer de poucos namoros fracassados, nunca me
apaixonei. Sempre acabava por enjoar do homem ao meu lado.
E assim, estou indo para a casa dos 24 anos.
Onde se meteu Lorenzo? Viro meu corpo para poder procura-lo entre a multidão
e levo um enorme susto com o homem de olhos azuis colado às minhas costas.
Olho para seu rosto e fico vidrada mesmo que por pouco tempo.
— Boa noite. — Seus olhos não saem de minha boca. E confesso que ele é ainda
mais lindo de perto e também mais safado. Acabou de beijar uma garota e se
aproxima de outra? Qual é?
— Boa noite.
Desço do banco e percebo que ele é bem mais alto do que eu.
— Boa noite, com licença? — Quero sair para tentar achar o meu delicioso
irmão. Vou comê-lo vivo por me deixar sozinha.
— Está sozinha? — Ele não sai do lugar.
— Não. Estou acompanhada. Se me dá licença...
— Que pena, estou indo para minha casa, se estivesse a fim poderíamos fazer
uma festa a três, iria adorar, o que acha? — Nesse momento, a mulher que o
acompanhava, pendura em seu pescoço e me oferece um sorriso como se
concordasse com isso tudo.
Que safado! O que ele pensa que sou? Uma vagabunda?
— Olha, me dê licença, sim?
— Não precisa ficar ofendida. Vi que estava nos observando e achei que
gostasse de um ménage.
— Pois errou. Não estou interessada. Agora saia da minha frente!
— Tudo bem, nervosinha! Da próxima vez, não fica me comendo com os olhos
para depois se fazer de inocente! Esse seu tipo não convence.
Eu tentei ser civilizada, mas esse cara passou dos limites. Ele me ofendeu e vai
ter o que merece.
Minha mão acerta em cheio seu lindo rosto, deixando a marca dos meus dedos
em sua pele.
— Sophia, o que está havendo?
Lorenzo resolveu aparecer com a cara mais amarela do mundo.
O deus grego adepto ao swing me olha com raiva e passa a mão no rosto, no
local em que levou o tapa. Muito merecido por sinal.
— Com licença! — Fala a Lorenzo e a seguir, segura a mão da piranha a tira
colo e me dá as costas.
— Pode me dizer onde se enfiou? — Bato meu dedo em seu peito. — Era assim
que queria sair com sua irmã e se divertir, Lorenzo?
Ele baixa os olhos e sabe que está errado.
— Desculpe-me minha irmã. Fui procurar o amigo e...
— Não precisa explicar, já entendi. Encontrou uma amiga no lugar e acabou me
esquecendo aqui. Tive que espantar aquele nojento que estava me propondo uma
festinha a três em sua casa.
— O que? Tem certeza? Aquele cara queria sair com você e outra mulher?
— Sim. Por que o espanto? Sou tão feia assim que não desperto desejo em um
homem a esse ponto tão baixo? — Falo, mais do que irritada.
Ele ri e me encara.
— Ah, Sophia! Você deve ter um imã, só pode. Sabe quem era aquele cara?
— Nem imagino. Quem? Um tarado? Um safado? Psicopata?
— Não, Nina. Aquele era o senador Sean Mackenzie. O homem que iremos
roubar daqui a alguns dias.
Meus olhos ainda o procuram na multidão, mas ele e sua companheira já se
foram.
Senador Mackenzie. Que safado.
E eu o roubarei com o maior prazer!
Baile de máscaras
Por Sophia
— Esse cara merecia uma lição, Nina! Que abuso! — Lorenzo imita meu gesto o
procurando entre as pessoas.
— Esquece. Agora, ele já foi embora! — Despejo minha raiva, quase bufando
para ele. — E se você não tivesse me deixado sozinha aqui, isso não teria
acontecido. — Olho-o com reprimenda.
— Me desculpe, minha irmã. — Estreita seus lábios. Lorenzo percebeu a
mancada que deu. — Prometo que nunca mais farei tal coisa.
— Não se preocupe, aquele homem não perde por esperar! — Faço uma pausa.
— Outra coisa, nenhuma palavra referente ao que houve nessa noite ao papai,
ele não ia gostar de saber disso! Que isso fique entre nós, ok?
— Tudo bem, você manda.
E com esse pensamento, peço outra bebida e aproveito a noite com meu irmão.
Por Sean
— Suas chaves, senhor! Obrigado e volte sempre. — O manobrista do local me
entrega as chaves de meu carro e não para de sorrir enquanto o faz.
— Obrigado.
Respondo automaticamente e abro a porta para Ellen entrar.
Meu humor se alterou de uma hora para outra e a razão para isso?
Não engoli aquele tapa.
Aquela mulher passou dos limites. Não sou cego e muito menos burro e percebi
que ela estava me olhando há um bom tempo. Nunca, não que me recorde, uma
mulher ousou encostar sua mão em mim. E o pior é que ela sabe bater, meu rosto
ainda sente a ardência do seu tapa. Só não revidei, porque não bato em mulheres.
Minha mãe sempre me ensinou que mesmo sendo a pior delas, não se bate em
mulher, porém minha vontade era dar-lhe uma boa bofetada naquela cara
atrevida.
No caminho para a minha casa, aos poucos, esse incidente vai ficando
esquecido. Afinal, não saí de casa para ficar pensando em uma maluca, pelo
contrário, saí para uma boa noitada, acompanhado de uma linda mulher e é isso
que farei, aproveitarei o máximo da companhia de Ellen que se mostrou muito
receptiva desde que pus meus olhos nela.
Espero nunca mais cruzar meu caminho com aquela fulana. Com esse
pensamento, abro a porta de minha casa e Ellen se joga em meu pescoço.
— Estou louca por você, Sean!
— Vamos subir e você irá me mostrar o quanto!
E mais uma noite, me divirto com uma boa trepada, é claro, sem compromisso.
Por Sophia
Lorenzo e eu chegamos em casa muito tarde. Sem fazer barulho, me dirijo ao
meu quarto e depois de um longo banho, deito em minha cama e penso em
minha noite. Então, aquele homem era Sean Mackenzie.
Que engraçado! Eu jamais poderia imaginar que ele fosse tão jovem e tão bonito.
A beleza do sujeito é inegável.
Quando seu olhar cruzou-se com o meu, senti meu corpo todo arrepiado e meu
coração bateu acelerado. Seus olhos exalavam perigo e se eu fosse uma garota
ingênua teria me rendido ao seu encanto cafajeste. Onde já se viu? Levar duas
mulheres para cama?
Que safado.
Sem conseguir dormir, levanto-me e pego a caixa de presente contendo o
relatório da família Mackenzie feito por meu pai.
Abro a pasta. O nome Harry Stewart Mackenzie aparece estampado em minha
frente junto com uma foto sua.
Casado com Beatrice Marie há mais de trinta anos. Bilionário, conhecido como
o Barão da Mídia. Adora jogar golfe com os amigos, além de amar as corridas
de cavalo. Resumindo, mais um homem ambicioso, onde a ganância não mede
esforços para se obter o que deseja.
Beatrice Marie Mackenzie, 55 anos, de origem francesa. Referência de beleza e
elegância na alta roda da sociedade de Nova Iorque. Adora roupas de grifes,
joias caras e obras de arte. Vive para a família e também para obras de caridade.
Nunca escondeu que seu filho mais velho é o preferido. Sempre que aparece em
público é rodeada por fotógrafos e fofoqueiros de plantão, loucos por uma foto
ou declaração sua e pelo visto, a madame adora aparecer.
Mais alguns detalhes da perua e tiro minhas conclusões: Uma dondoca inútil.
Maximiliano Mackenzie, formado em publicidade e propaganda é o segundo
filho do casal Mackenzie. Braço direito do pai em seus negócios, Max, como
prefere ser chamado, é um homem reservado e muito responsável. Noivo de
Sabrina Othon Fleyman há seis meses. Seu passatempo predileto é velejar e
passear pelo haras da família.
Por que todo bilionário adora um haras? Nunca irei entender o que essa gente
fresca pensa. Devem viver em uma bolha de aparência que chega a ser sufocante
para quem está de fora.
Alexia Mackenzie, vinte e três anos, se formou em Economia para agradar a
vontade do pai, porém nunca escondeu sua vontade de se tornar escritora.
Considerada a ovelha negra da família por não se comportar como uma
verdadeira Mackenzie. Alexia adora a noite e em muitas delas chegava em casa
em terrível estado de embriaguez, sendo internada em uma clínica para
desintoxicação há pouco mais de seis meses. Hoje, não é vista com frequência
em lugares públicos. Adora carros de luxo e viagens para locais exóticos. Muito
ligada aos irmãos e ao pai.
Ihhh, essa não combina com a megera enfeitada do clã.
Sean Lennon Mackenzie
Esse, eu já tive o desprazer de conhecer pessoalmente.
Senador dos Estados Unidos, eleito por Nova Iorque. Orgulho da família
Mackenzie, em especial da matriarca.
— Hm, xodozinho da mamãe! — Que interessante.
Continuo folheando o relatório.
Mais algumas linhas e anoto mentalmente os gostos peculiares do senador.
Carros esportivos, cavalos, roupas caras, bebidas e adora jogar polo. Um dos
solteiros mais cobiçados do país. Sempre acompanhado de belas mulheres,
todavia nunca se apegou a nenhuma delas.
Meu pai fez esse levantamento e esqueceu-se de acrescentar que o senador adora
um ménage.
Olho com atenção em todas as fotos dos Mackenzie. É perceptível que eles são
realmente unidos, isso não é superficial. Em todos os momentos que foram
registrados, eles se olham com amor e orgulho. É bonito de se ver. Algo raro
entre essas famílias de gente esnobe.
Meus olhos se detêm em uma foto de Sean. Com a barba por fazer, ele fica ainda
mais bonito. A lembrança de sua boca colada à daquela mulher me assombra
mais uma vez. Um pensamento mais que ridículo atravessa meu cérebro. A essa
hora os dois devem estar...
E daí, Sophia? Ele deve estar comendo a moça. E o que você tem a ver com
isso?
Volto minha atenção ao relatório e leio com atenção os detalhes sobre a Galeria
Mackenzie. Meus olhos não saem do papel e fico encantada com tantas obras
famosas expostas ali. Detalhe: É uma galeria particular, não consigo calcular a
fortuna existente ali. São muitas peças, todas elas escolhidas principalmente por
Beatrice.
Juntamente com esse pequeno dossiê dos Mackenzie, há um mapa do local.
Tubulações, saídas e portas, posições dos alarmes e todo o sistema de segurança.
Meu pai pensou em tudo. Agora é traçar o plano e marcar a data para o roubo.
Guardo tudo na caixa e resolvo me deitar. O dia está amanhecendo e preciso
descansar. Abraço meu travesseiro e fecho os meus olhos. Antes de pegar no
sono, um olhar perigoso e sexy aparece em minha mente. Durma, Sophia!
Esqueça aquele babaca. E assim, obedeço a meu consciente.
[...]
— Acorde, Sophia! É quase meio-dia!
A voz de meu pai me chama para o mundo real.
— Já? — Esfrego os meus olhos e em seguida, espreguiço, esticando meus
músculos como gato. — Resolvi adiantar a lição de casa e acabei ficando
acordada até tarde.
— E aí? Como foi a noite? Você e Lorenzo se divertiram?
Ele tinha que perguntar?
— Foi muito boa. Tomamos uns drinks e dançamos um pouco. Meu irmão sabe
se divertir.
— Que bom! — Responde. Sento-me na cama e me penduro em seu pescoço.
Hoje vamos sair, eu e você. Lorenzo irá sair com um amigo e a levarei para
almoçar fora.
— E a minha fofa? Onde está que não veio me acordar?
— Angelina está com a neta doente e virá trabalhar na parte da tarde. Mandou
um enorme beijo e quer lhe dar um abraço de quebrar as costelas.
— Que saudade dela. Espero que sua neta fique boa logo. Agora, se o senhor me
der licença, vou tomar um banho para almoçar com o homem mais charmoso de
Nova Iorque.
Vicenzo se levanta de minha cama e me joga um beijo antes de sair.
Depois que fecha a porta, pego celular e ligo para Richard.
— Boa tarde, linda! A que devo a honra de sua ligação?
— Boa tarde, obrigada pelo elogio! Tenho uma novidade para você!
— Adoro novidades. Diga, o que é?
— A respeito daquele roubo que recusei ontem. Mudei de ideia. Eu topo, com
uma condição...
Richard fica em silencio mais do que eu esperava. Finalmente, diz algo.
— Qual a condição?
— Roubarei sem a ajuda de meu pai. Quero testar minha capacidade. — Minto,
não é por esse motivo, porém não posso dizer a ele que estou com raiva da
vítima que queria que eu fizesse uma festinha a três com ele. — Seremos eu e
Lorenzo. Nessa, meu pai ficará de fora.
— Sem problemas. — Ainda conclui. — Confio totalmente em você.
— Ótimo. Combinado.
— A propósito do roubo do quadro. Quero aproveitar o ensejo e leva-la ao
grande baile de máscaras que será realizado na Galeria da família, no sábado que
vem. Lá, você poderá se familiarizar com o ambiente.
— Que maravilha! Máscaras? Vou adorar! Mas, foi convidado mesmo não
suportando a família Mackenzie?
— Minha desavença é com Sean Mackenzie e não com a família toda. Como sou
admirador da arte, a mãe do senador me mandou o convite com direito a uma
acompanhante. Que tal?
— Isso é ótimo. Não vejo a hora de chegar esse dia! — Faço uma pausa. —
Querido, agora tenho que desligar, almoço com papai.
Ele ri ao telefone e nos despedimos.
Tomo meu banho e ao olhar no espelho, meus olhos brilham ao pensar em meu
plano.
Baile de máscaras.
Sean Mackenzie, logo nos encontraremos novamente e prometo que será muito
divertido.
Por Aidan
Adoro os meus sábados. De preferência como esse. Sol, calor e uma linda
mulher deitada em minha lancha em alto mar. Trouxe Gi para me fazer
companhia em um passeio de barco e é claro que ela não recusou. Em seu
biquíni branco, minúsculo e usando óculos de sol, Gi parece uma modelo
posando para alguma revista glamorosa. Ela e eu saímos há algum tempo, mas
sem compromisso. Não quero me envolver e ela aceita o meu jeito. Às vezes
quer cobrar algo, eu sinto e ao olhar firme em seus lindos olhos ela retrocede.
Desligo o motor e deixo a lancha ancorada.
— Que bela visão! Sou um homem privilegiado!
Muito devagar e com o charme delicado que possui, Gi tira seus óculos e me
encara maliciosamente. Conheço esse olhar e não tiro meus olhos dele.
— Isso porque não pode ver a vista daqui, também sou uma mulher com enorme
privilégio.
Ajoelho-me entre suas pernas e pego sua coxa, roçando minha barba em sua
pele.
Ela joga a cabeça para trás, gemendo ao meu toque. Gi e eu somos perfeitos no
sexo. Adoro seu jeito selvagem e livre. Ela é uma mulher muito provocativa e
sabe como enlouquecer um homem.
— Aidan, que boca gostosa! Adoro, não pare!
Com meus dedos, desato o laço lateral da parte inferior de seu biquíni, deixando
seu sexo todo exposto e livre para minha boca.
— Só paro quando me implorar, baby!
Ela abre a parte superior e me mostra seus lindos seios com os mamilos rosados.
Sob o sol quente e a brisa do mar, minha boca ataca seu sexo com volúpia. Seu
gosto me deixa louco e mais excitado, mexe seus quadris de encontro à minha
boca.
— Calma... quero aproveitar cada milímetro de você...
Gi está quase lá e, com uma das mãos, seguro seus quadris e dito como e quando
ela irá gozar. Seu gemido insano faz meu membro endurecer ainda mais. Com a
outra mão massageio seu seio intumescido de desejo por mim.
Mordo de leve sua coxa, em seguida, minha língua rodeia bem devagar seu
clitóris e sinto seu sexo pulsando em minha boca. Ela nunca me obedece e goza
em minha boca agarrada aos meus cabelos.
— Ahh... — Geme e se convulsiona sob minha boca.
Tiro meu short de banho e a penetro em uma investida rápida. Gi enlaça suas
pernas em minha cintura e remexe os quadris me convidando a me perder nela. E
é o que faço. Meto sem parar, meu suor se mistura ao dela e parecemos dois
loucos em busca de algo que não sabemos o quê. Ela vira seu corpo e fica por
cima de mim, a visão dela sob o sol se entregando a cada investida minha é
muito erótica. Aumento o ritmo e ela me acompanha gozando comigo
novamente. Deita seu corpo sobre o meu e ficamos alguns minutos em silencio.
Sei o que vem a seguir. Sei o que ela quer de mim e evito que toque nesse
assunto. Gi quer compromisso, namoro. E para não chegarmos nessa conversa, a
convido para o nosso almoço.
E como sempre, ela aceita o que tenho a oferecer. Nosso passeio de barco foi
perfeito.
Alguns dias depois — Sábado
Por Sophia
Lendo o The New York Times, uma página inteira da coluna social dedicada à
família Mackenzie anunciando seu grande baile de máscaras de logo mais.
Em cima de minha cama, há uma enorme caixa cinza com um laço vermelho.
Richard fez questão de me mandar como presente um lindo Valentino vermelho.
É lindo. Nunca usei algo tão caro e fino. Sem alças e com uma saia em várias
camadas da mais fina musselina. Ao prova-lo parece que foi costurado sob
medida para mim. Richard não mediu gastos. Mandou um conjunto de brinco e
colar de rubis, me espantei com tamanho exagero, mas, segundo ele, são
emprestados e então me tranquilizo. Não poderia aceitar algo tão caro como
presente de um amigo, mesmo que esse amigo fosse muito rico como ele. A
máscara, eu mesma fiz questão de escolher. É preta e vermelha e não deixa
aparecer quase nada. É perfeita para o evento e também para o que tenho em
mente. Não serei reconhecida a menos que eu a tire do rosto. Sinto um frio no
estômago de ansiedade. Adoro o proibido e esse roubo terá um gosto especial,
farei dele algo memorável.
Angelina, minha fofa, aparece no quarto e se senta em minha cama enquanto
acerto os últimos detalhes do meu traje.
— Que lindo vestido, Sophia! Richard irá babar quando a ver com ele!
Olho feio para ela.
— Que isso, de onde você tirou essa ideia ridícula, Angelina? Sabe muito bem
que, Richard e eu somos meramente amigos.
— Só você ainda não viu como ele a olha! E se acha esperta, não é Sophia? Esse
homem é louco por você, venho reparando nisso há muito tempo!
— Deixe de bobagens, sim?
— Deixo, mas um dia irá me dar razão. E ele não é de se jogar fora, pense nisso!
Angelina sai do quarto e me deixa intrigada com essa história.
Richard? Será? Ah, não, deve ser mais uma das maluquices de minha fofa.
[...]
Enfim chega a hora. Olho no relógio e o motorista de Richard deve estar a
caminho.
Ouço alguém bater em minha porta. Meu pai.
— Uau!! Minha filha, você está linda! — Segura meus braços e me beija no
rosto. — Richard está na sala lhe esperando.
— Obrigada, meu pai. Já estou pronta.
— Tome cuidado, sabe o que fazer?
Bato com meus dedos na cabeça e sorrio.
— Está tudo aqui! Fique tranquilo!
Pego minha máscara e minha bolsa.
— Boa sorte, minha querida!
Sorrio para ele que me oferece seu braço. Saímos do quarto e vejo Richard
falando com Lorenzo.
Quando os dois me olham me sinto a Cinderela em todo seu esplendor. Lorenzo
assobia sem parar.
— Nina, você arrasou!
Richard vem ao meu encontro e pega minha mão, beijando-a.
— Está belíssima!
— Obrigada, meu querido.
— Vamos?
— Sim, vamos.
E no canto da sala, está Angelina me fazendo sinais para reparar em Richard.
Sem que os outros vejam, mostro minha língua a ela e em seguida, minha fofa
me joga um beijo e acena.
Chegamos em frente à Galeria Mackenzie e o local está bem movimentado. Na
porta, um homem confirma o nosso nome e adentramos o recinto. Muitos olhares
se voltam para nós e a causa disso, é ver Richard acompanhado de uma mulher
em um evento como esse, ele nunca faz isso. Ele acena com a cabeça para alguns
conhecidos e pega duas taças de champanhe para nós.
Meus olhos não saem das paredes cheias de lindas obras que tanto amo. Da
Vinci, Renoir, Monet, Rembrandt, Velásquez, Rubens, Picasso. Esse local é
próprio Éden da arte.
De repente, sinto sua presença. Olho para a frente e o vejo entrando de braço
dado com Beatrice. Os flashes disparam em sua direção e a matriarca se abre em
sorrisos. Alexia entra e Max acompanhado de Sabrina vem logo atrás. Alexia é a
sombra de uma mulher. Apagada e triste. Seu corpo está aqui, mas sua alma já
não existe mais. Por que será que ela é tão melancólica desse jeito?
Harry Mackenzie vai ao encontro do filho que lhe entrega a mãe.
— Essa é a imbatível família Mackenzie, Sophia!
— Estou vendo.
— Bom, vamos aproveitar o baile, enquanto você observa o local.
— Sim, vamos.
E é quando passamos perto do senador que seus olhos buscam os meus. Ele
parece vidrado em mim. Claro que para ele sou outra de suas conquistas, pois
nem imagina que sou a moça que lhe deu um tabefe.
A máscara me ajuda e muito, pois esconde o calor que senti ao ser praticamente
despida com seu olhar. Que homem mais abusado, não vê que estou
acompanhada? Ele não tira os olhos nem por um minuto e isso já está me
incomodando.
— Pelo jeito, fisgou o peixe, não disse? — Richard fala baixo em meu ouvido.
— Ele já lhe viu e pelo que pude notar, não vai lhe dar sossego enquanto não se
aproximar.
— Bom, vamos brincar um pouco, é hora dele conhecer alguém resistível ao se
charme. Pronto?
— Prontíssimo.
— Que comece o jogo!
Por Sean
Chamo Aidan num canto e pergunto.
— Quem é aquela mulher que está acompanhando Richard Scott?
Aidan procura pelo casal entre os convidados e os encontra perto da ala
impressionista.
— Não sei, nem imagino. — Responde, bebendo seu uísque.
— Pois então, trate de imaginar e descobrir quem ela é. Eu a quero. E a quero
hoje!
— Está maluco? A mulher está acompanhada, não vai querer sair daqui com
você!
— Meu amigo, meu lema é "não existe mulher difícil e, sim mulher mal
cantada", agora vá e descubra seu nome na lista de convidados. O resto deixa
comigo.
— Sabe, Sean, às vezes, você é maluco! Mais do que eu!
— Não sou não, só tenho bom gosto para a espécie feminina, você reparou no
par de seios dela? E o corpo? Ela é deslumbrante!
— Não. — Aidan deposita seu copo em uma bandeja e sorri. — Você deve estar
sob efeito de alguma droga! Já parou para pensar que ela pode ser horrorosa por
debaixo daquela máscara que esconde todo o seu rosto?!
— Tenho absoluta certeza de que ela é linda e sabe por que?
— Não.
— Richard não sairia com algo sem qualidade por aí. Ela deve ser linda e eu irei
ver seu rosto ainda hoje. Pode apostar!
— Bom, se você está dizendo, quem sou eu para discordar! Vou descobrir algo
sobre a mulher misteriosa, volto já.
— Está bem.
Aidan sai e meus olhos procuram por ela novamente.
De perfil, a máscara deixa a mostra a lateral de seu rosto e ela possui traços
muito delicados. Devagar, ela olha em minha direção e nossos olhares se cruzam
e para minha surpresa, ela levanta sua mão e acena para mim.
Não digo? Mamãe passou açúcar em mim, sou irresistível.
Minha noite será muito boa. Não vejo a hora de estar na cama com essa mulher.
Meu sangue se agita e aceno de volta. Ela vira as costas e meu olhar recai sobre
os seus ombros, sua pele é branca e imagino minha boca correndo por todo seu
corpo, aspirando seu perfume.
Minha mãe se aproxima e me beija no rosto.
— Meu filho, tem uma moça que quero que conheça.
— Mãe, não comece, não hoje!
— Mas, Sean...
— Mãe, quando eu achar que devo me casar, eu mesmo procurarei uma
pretendente, sim?
Ela sorri e passa mão em meu rosto.
— Está bem, meu filho. Você fica lindo de smoking e com essa máscara está
arrasando corações pelo salão.
— Obrigado, mas não quero arrasar ninguém.
Beatrice se despede e continua a circular entre os convidados.
E mais uma vez, meus olhos procuram pela mulher de vermelho.
Beijo inesperado!
Por Sophia
Chega o momento em que o Sr. Harry sobe ao palco e pede a atenção de todos.
Com muito entusiasmo, fala sobre a mais recente aquisição da Galeria e de
outras futuras obras que farão parte de seu grande acervo.
Agradece a presença de todos e chama ao palco a esposa que caminha muito
devagar absorvendo toda a atenção e também todas as fotos direcionadas a ela.
Harry a beija no rosto e todos esperam por algumas palavras suas.
Desvio por um segundo meu olhar para Sean que parece encantado com a
presença de sua mãe. Ele a olha como algo divino, seus olhos brilham e ela faz o
mesmo ao olhar para o filho. Vestindo um lindo vestido vinho, Beatrice tem
consciência de sua beleza e elegância maduras.
Faz o mesmo que o marido, agradece a todos pela presença e ressalta que como
muitos, também adora a arte e como muitas famílias do passado, a sua também
quer contribuir acolhendo e preservando essas obras que fazem parte de nossa
história.
Como se ela estivesse fazendo alguma caridade! Que hipocrisia! Está certo que
alguém tem que preservar a arte, mas no caso dessa família, seu acervo
demonstra o quanto são dispendiosos e excêntricos. O que importa a eles é estar
sempre entre os mais ricos e influentes no mundo da arte.
Mais algumas palavras e Beatrice desce do palco e as pessoas abrem caminho
para que ela chegue até um quadro coberto por um pano verde.
Como se premeditasse cada passo ou movimento, descobre o quadro e A leiteira
aparece para o vislumbre dos convidados, inclusive o meu. O quadro que meu
pai e eu roubaremos daqui a uma semana.
Toda a imprensa presente aproveita o momento e enche a elegante perua de
perguntas que ela faz questão de responder.
Richard me olha como se adivinhasse o meu pensamento.
— Eles não medem esforços para serem o centro das atenções. — Comenta.
— Não se preocupe, porque na semana que vem estarão ocupando as páginas
policiais de todos os jornais e programas de televisão. Eles irão aparecer e muito.
Pisca para mim e com um sorriso maldoso, completa.
— Obrigado por aceitar roubar o CD com o programa que lhe falei. Não imagina
a alegria que senti ao saber que irá fazer isso por mim.
— Não agradeça. Será um prazer pegar algo desse senador arrogante e esnobe.
Nesse momento, Harry desce do palco e a orquestra retoma sua função e volta a
tocar.
— Dança comigo? — Richard me estende o braço e quando meu olhar encara o
seu, lembro—me das palavras de Angelina. Ele me olha de uma forma incomum
e se o que minha fofa diz for verdade, sinto que estou em maus lençóis. —
Vamos provocar um pouco o nosso senador?
Richard é um homem pelo qual qualquer mulher se apaixonaria, porém, eu o
vejo como um irmão mais velho, um amigo inseparável e não tenho nenhum
interesse além disso.
A banda começa a tocar Unchain my heart e nos braços de meu amigo me deixo
conduzir.
Quando Richard me puxa em seus braços e me roda seguindo o balanço da
música, olhos muito azuis me espreitam como uma ave predadora prestes a
pegar sua caça. E ao encará-lo, Sean não desvia o olhar.
E durante toda a dança, o senador entre um gole e outro de champanhe não
desviou sua atenção para outra coisa que não fosse minha dança.
Quando a música termina, Richard me chama para ver o quadro mais de perto.
Meus olhos não perdem nenhum detalhe dessa maravilhosa obra do barroco
holandês.
— Sophia, pode me dar licença só um instante? — Pergunta. — Um velho
conhecido me pediu um minuto de sua atenção. Vou deixa-la admirando o
quadro e não demoro. Você se importa?
— Mas é claro que não. Fique à vontade, Richard! Eu lhe espero aqui! Pode ir
tranquilo.
Beija minha mão e sai por entre os convidados. Volto a contemplar o quadro e
em instantes, sinto uma forte presença em minhas costas.
— De uma beleza sem igual. — Com a voz grave e firme, o senador aparece
para jogar seu charme barato. Sophia! Ele pode ser tudo, menos barato! Sua
fama de mulherengo é conhecida em todo o país. O colecionador de mulheres, o
Don Juan moderno. E o pior que ele não faz questão de esconder o seu modo de
viver. Reparo pelo canto dos olhos como ele está lindo, vestido a rigor. As
mulheres presentes não disfarçam e o devoram com os olhos.
— Sim, é lindo realmente. — Mesmo que ele tenha soltado uma frase de duplo
sentido, irei focar a conversa no quadro e não seguir para outra diretriz.
— Está se referindo a isto? — Aponta o dedo para o quadro, ficando ao meu
lado, me dando uma visão de seu perfil. Sean tem um porte e tanto. Beleza e
inteligência, duas misturas muito perigosas em uma só espécie. — Não estava
me referindo ao quadro e sim a você.
Ele é mesmo direto quando quer. Se eu não fosse mais esperta a essa hora estaria
babando por seu galanteio. Mas, como tenho um serviço a fazer, aceito o elogio
e disparo.
— Obrigada, Excelência.
— Sean, por favor! — Olha para os lados. — Vejo que está sozinha! Seu
acompanhante deve ser maluco, deixar algo tão lindo por aí!
Sua loção pós barba cheirando à madeira, juntamente com o cheiro de sua pele
formam uma combinação muito provocativa para o meu olfato.
Será que ele pensa que tenho quinze anos? Uma conversa como essa não irá me
seduzir. Espero que ele tenha algo melhor escondido na manga. Vamos atiçar seu
imaginário e fazer com que acredite que é irresistível.
— Estou acompanhada, porém isso não quer dizer que esteja morta, Excelência.
— Um garçom passa e ele pega duas taças de champanhe, entregando uma delas
a mim.
Ele me dá um sorriso torto. Pronto! Agora deve achar que estou no papo.
— Desculpe-me, mas não sei o seu nome. — Bebe o líquido sem tirar os seus
lindos olhos de mim.
— Sophia. — Estendo minha mão e ele a pega entre as suas. O modo como a
leva em sua boca, me causou um certo desconforto.
Não posso negar, Sean é um homem muito atraente. Beija de leve minha pele e
por uma fração de segundos, imagino sua boca deslizando devagar pelo meu
corpo. Pisco firme para voltar ao normal e deixar de ser idiota fantasiando coisas
que não vem ao caso, no momento. — Sophia Salvatore, Excelência! — Estreita
o olhar e percebo que não gosta de ser chamado assim. Não, em uma ocasião
como essa.
— Sophia, por favor, me chame de Sean! — Frisa mais uma vez.
— Não quero me atrever e parecer tão íntima, não ainda!
Cachorro. Quero ver a sua cara quando souber quem está por de trás dessa
máscara. A mulher que lhe deu um tapa na cara.
— Espero que até o final da noite, possa me chamar pelo nome. Vou adorar que
se torne mais íntima, pode ter certeza. — Diz, com uma malícia subtendida em
sua voz.
Olho para o lado esquerdo e vejo Richard me observando. Conforme o nosso
combinado as coisas estão indo muito bem. Seduzir esse safado não é difícil,
porém seduzi-lo sem ir para a cama com ele, já é mais complicado. Sean não
deve ser o tipo de homem que se deixa levar por um simples flerte. Terei que
adotar uma outra tática, se quiser me dar bem.
— Isso vai depender de muitas coisas. — Desvio meu olhar. — Agora se me der
licença, o meu companheiro me chamou. Tenho que ir.
Ele segura meu braço de leve.
— Espere! Quando a verei novamente? Gostaria de vê-la sem essa máscara em
um local em que não fôssemos interrompidos.
Que pena. Isso não está em meus planos, senador!
— Tenho que ir. —Lanço um olhar de diva seduzida a ele. — Prometo que não
faltarão oportunidades para que possamos nos ver em outra ocasião.
Mesmo assim, ainda segura meu braço e com a outra mão, pega seu celular do
bolso.
— Seu número, por favor?
Já entendi como ele funciona. Só desiste quando enjoa do jogo. Seduz, usa e
depois descarta.
Bom, no meu caso, também seduzirei, não usarei e depois o descartarei.
Passo meu número a ele e o vejo salvando em seu celular. Imagino quantas
mulheres não estão salvas na letra S.
— Com licença, excelência. — Sorrio maliciosamente e saio jogando os quadris
na certeza de que ele não tirou os olhos de minha bunda.
Ah, Senador, vossa excelência não perde por esperar!
Por Sean
Então, ela gosta de ser seduzida? Gostei. Terei que flertar com ela até leva-la
para minha cama. E isso não vai demorar muito! Sei que também se sente atraída
e não causará resistência. Ao sair ao encontro de Richard, pude analisar seu
corpo todo de costas e a imaginei de quatro em minha cama, gemendo alto, e
louca por mim.
Aidan se aproxima.
— Aqui está! O nome da moça é Sophia Salvatore.
— Fui mais rápido que você! Já tenho o que me interessa. — Ergo meu celular.
— Ela me passou seu número. Amanhã mesmo, marcarei um encontro com essa
mulher.
Não vejo a hora.
— Boa sorte. Mas e Richard?
— Ela deixou bem claro que não tem compromisso algum com ele e, mesmo se
tiver não demonstrou ser uma mulher fiel.
— Sean Mackenzie, você não vale nada!
— E por acaso, você vale?
Bebo o restante do champanhe e a procuro entre os convidados. Nesse momento,
a vejo caminhar em direção ao banheiro.
Por Sophia
Conto ao meu amigo toda a conversa com Sean.
— Pode esperar, ele irá ligar.
— É, sei disso, estarei preparada. — Até ele saber de quem se trata.
— Richard, vou à toalete e depois podemos ir embora, que tal?
— Sim, você é quem manda! Espero-a aqui.
Com muita dificuldade, chego ao banheiro e vejo Alexia, a irmã de Sean, com os
olhos perdidos no espelho. Tiro minha máscara e me aproximo da bancada.
Sem hesitar, pergunto.
— Você está bem?
A moça desvia o olhar em minha direção.
— Sabe o que é ser invisível?
Ah, querida, se ela soubesse! Passei 14 anos de toda minha vida invisível. Ela
está falando com uma expert no assunto.
— Sei muito bem o que quer dizer.
— Sabe? Acho que não! — Sorri com sarcasmo. — Você chamou a atenção do
baile todo e eu? Ninguém me enxerga, ele não me enxerga.
Quem será esse “ele"?
— Você é Alexia Mackenzie, não é?
— Sim, isso faz alguma diferença para você? Por que para mim é minha
destruição. Detesto carregar esse nome e tudo o que vem com ele. — Diz,
amarga.
— Alexia, olhe para mim! — Peço com muita delicadeza e bem devagar ela me
olha. — Sei como se sente em relação a ser invisível. Estive nessa situação por
mais de uma década de minha vida. Sou Sophia Salvatore. — Estendo minha
mão a ela.
— Sério? — Me cumprimenta e continua atenta ao que acabei de dizer.
Consegui sua atenção. Ela é uma moça muito bonita. Deve ter a minha idade,
porém somos muito diferentes. Alexia é frágil e doce! O que essa família está
fazendo com ela?
— Sim. É o que posso dizer, no momento. — Não quero expor minha vida
particular. — Mas em relação a você, o que posso dizer é que sua família a ama.
— Ela não me ama. Aliás, não ama ninguém. Só Sean. Max e eu não existimos
em seu mundo. O que ela espera é que, me transforme em algo como ela. Odeio
isso.
Beatrice. Ela fala da mãe. E como será o relacionamento de Alexia com os
irmãos?
— Eu não quero parecer intrometida, mas vocês me parecem uma família unida!
Ela desata a rir.
— Isso é o que eles vendem. A imagem da família perfeita. A única coisa real
nisso tudo é o meu relacionamento com meu pai e meus irmãos. Adoro Max e
Sean e, eles a mim. O resto é ilusão. Pura ilusão.
Então Sean não é tão cafajeste assim. Ama os irmãos? Já é alguma coisa.
Olho para meu relógio. Tenho que ir. Não posso deixar Richard me esperando e,
no entanto, não quero deixar essa moça sozinha.
— Alexia, tenho que ir. Gostaria de ficar aqui com você, infelizmente não posso!
— Tudo bem, não há problema. Também gostei de falar com você. É sempre
bom desabafar com estranhos. Os psicólogos sempre me traem.
Sei que não devia, mas não consigo ficar neutra.
— Olha, se quiser sair outro dia para gente conversar mais. Adoraria sua
companhia. — Pego meu bloquinho verde em minha bolsa, anoto meu número
de telefone e entrego a ela. — Aqui. Se quiser alguém para desabafar...
Seus olhos brilham ao ver o papel em suas mãos.
— Vou ligar, pode ter certeza. Não tenho amigas e ultimamente ando me
sentindo muito sozinha.
— Também não tenho amigas e vou adorar sair com você. Vamos combinar algo,
é só me ligar, está bem?
— Sim. Obrigada.
Sophia, o que você está fazendo? Vai se envolver em algo que não cabe a você?
Irá roubar essa família e quer ser amiga de Alexia? Não acha que isso é
impossível?
Não sei explicar, todavia tenho vontade de estender a mão à essa moça. Sinto
que ela precisa de alguém que a entenda, somente isso. Não custa ser gentil.
Beijo seu rosto, ajeito minha máscara, deixando somente a minha boca de fora.
Cansei desse troço me sufocando a noite toda. Saio do banheiro e ao entrar no
corredor de acesso ao salão sou puxada para um canto escuro atrás de uma
pilastra.
Sean com olhos famintos me aperta contra o mármore frio.
— Aí está você!
É só o que ouço antes de sentir sua boca atacando a minha. Meus braços que
antes estavam erguidos, descem e se enroscam em seu pescoço e tocam seu
cabelo. Sinto sua língua me pedindo passagem e invadindo minha boca,
explorando cada canto-me tomando, me deixando a mercê de sua vontade. Tento
me afastar, mas ele me aperta ainda mais e posso sentir sua ereção entre minhas
pernas. Seu gemido rouco me deixa de pernas bambas e muito excitada. Porém,
não foi para isso que vim a esse baile. Vim para cumprir meu trabalho e fazer
tudo conforme combinei com meu pai.
Meu Deus! Se com um beijo ele me deixou assim, imagine se eu me entregasse?
Sua boca é quente e seu beijo é molhado e muito experiente. Ele sabe beijar. Mas
se depender de mim, ele jamais saberá disso.
Afasto-me e estamos ofegantes. E decido que é chegada a hora dele saber que
beijou uma mulher que lhe bateu. Não quero mais adiar o momento, pois assim
ele desiste dessa ideia de me seduzir. Ficará com raiva e me deixará em paz. Eu,
por outro lado, poderei concluir meu trabalho em paz sem ter que me preocupar
com joguinhos de sedução.
Puxo minha máscara e seu olhar de espanto é visível.
— Ora, ora, Excelência!
— Você?! — Sua cara de espanto é impagável.
— Sabia que não resistiria ao meu charme, mas posso ser franca? — Continuo,
sem deixar que ele fale algo. — Seu beijo é bem melhor visto de fora. Fiquei
bem mais excitada na boate. Não beija tão bem quanto imaginei, que coisa não?
Como as aparências enganam! — Uso meu sarcasmo.
— É mesmo? Então quer dizer que não sentiu nada ao me beijar? — Rebate,
ainda incrédulo pela minha presença em sua frente.
— É isso mesmo. — Ajeito minha bolsa. — E agora podemos voltar a sermos
dois estranhos e não precisamos mais nos encontrar. Passe bem, Excelência.
Nem meu voto o senhor terá!
Viro minhas costas e o deixo com a cara mais perplexa do mundo.
Eu sou demais. Agora é me concentrar no roubo.
Por Sean
Raiva. Muita raiva. Ela me enganou durante todo o baile. Trocamos olhares e me
fez acreditar que estava a fim. E ela era a moça da Pink.
Quando me beijou, tive a certeza de que sentiu o mesmo que eu. Ela estava com
tesão enorme, eu senti. Seu corpo estava entregue ao nosso beijo, mas ela
preferiu negar e fugir.
Nenhuma mulher até hoje me tratou dessa forma e se pensa que as coisas vão
ficar assim, está muito enganada.
Sophia Salvatore, me aguarde.
Ando em direção ao salão e já não a vejo. Deve ter ido embora.
Aidan se aproxima.
— Que cara é essa, amigo?
— Cara de quem vai acabar com a petulância de uma certa pessoa.
Ele me olha sem entender nada.
— Aidan, faça um levantamento da vida de Sophia Salvatore. Quero saber tudo
sobre ela. Onde mora, o que faz, quantos anos tem, tudo.
— Ok. Segunda-feira, começo a fazer isso.
— Você não entendeu! Quero isso para amanhã!
— Amanhã? Deve estar maluco! Amanhã é domingo! Não irei conseguir
levantar nada sobre ela.
— Tem até amanhã. Agora vou dançar com minha mãe, com licença.
Permaneço no baile por mais uma hora e depois Austin, meu motorista, me leva
para casa.
Tomo um banho e vou até meu escritório. Sirvo-me de uma boa dose de
conhaque e me sento olhando no nada.
Olhos negros aparecem e me perseguem.
Em toda minha vida, nunca fui homem de desistir fácil de alguma coisa. E dessa
vez, não será diferente. Tenho que ter essa mulher ou não me chamo Sean
Mackenzie.
Bebo o líquido e ele desce como água em minha garganta.
Se ela pensa que irá me tratar dessa maneira, está muito enganada!
Medo do desconhecido
Por Richard
Há algo no ar.
Sinto e tenho a certeza de que alguma coisa não está nos eixos. Saímos do baile
e Sophia não deu mais que dez palavras durante a metade do nosso trajeto.
Também evitou, a todo instante, o meu olhar. Mantém suas mãos entrelaçadas e
esfrega uma na outra, constantemente. Não quero intrometer-me, mas é visível
que alguma coisa a afetou.
Enfim, acabo não resistindo e pergunto:
— Sophia, está tudo bem?
Ela continua olhando o trânsito através da janela e nem ouve o que digo.
— Sophia! — Elevo um pouco a voz, na esperança de ser ouvido dessa vez.
Como se acordasse de um transe, dirige seus lindos olhos para mim.
— Sim? Que foi?
— Perguntei se está tudo bem com você?
Responde com rapidez.
— Sim, está. Por que a pergunta?
— Porque depois que saímos do baile, você permaneceu calada a maior parte do
tempo. Disse ou fiz algo que a chateasse?
Finalmente seu lindo sorriso com as covinhas que a deixam ainda mais linda
resolvem aparecer para deixar meu coração mais tranquilo.
— Deixe de bobagens, você nunca me magoa, Richard! — Suspira. — É que,
depois que saímos do baile, estive pensando em mudar minha estratégia para
roubar o programa que você tanto deseja.
— Por que? O que fez com que mudasse de ideia?
— Não irei seduzi-lo. Sou uma ladra e não uma prostituta, portanto irei roubar
Sean como sempre fiz. — Ajeita seu cabelo. — Entrarei em sua casa e pegarei o
que fui incumbida para roubar. Não quero joguinhos de sedução e, muito menos,
me esquivar das investidas do senador. — Seus olhos estão fixos em mim e seu
modo de falar se torna duro. — Sabe, perfeitamente, o que ele irá querer de mim.
E não estou afim de satisfazer sua vontade.
— Tudo bem, como achar melhor. Só adotamos essa tática, porque você mesma
queria ter acesso à casa e com isso ficaria mais fácil. — Estico meu braço e toco
sua mão. — Sabe que estou com você, sempre. Sem sedução ao nosso nobre
senador.
O que será que a fez mudar de ideia?
Como se adivinhasse meu pensamento, ela se adianta.
— Não quero perder tempo, fazendo o papel de moça de queixo caído por ele,
entende? Cansei. É um homem que não vale a pena. Quero me manter o mais
longe possível de Sean Mackenzie.
Ao mencionar o nome de Sean, Sophia parece se esquivar e manter-se na
retaguarda. Só espero que o meu pressentimento não esteja correto. Sophia, de
alguma forma, deixou—se enredar pela sedução barata daquele miserável. Não
Sophia, não a mulher que amo. Aquele calhorda não ousaria fazer qualquer mal
a ela e sairia impune. Eu o mataria com minhas próprias mãos.
— Esqueçamos isso e passemos para o seu plano mais recente.
— Obrigada, Richard. Sabia que iria me apoiar. Na sexta-feira, papai e eu
roubaremos aquele Vermeer. Na próxima sexta, será a minha vez. Invadirei a
casa de Sean, com a ajuda de Lorenzo e pegarei o que você deseja.
— Chegamos. — Digo assim que o motorista para o carro em frente à cafeteria e
desce para abrir a porta para Sophia.
— Obrigada pela noite, foi muito agradável. Ver toda a high society de Nova
Iorque reunida foi muito proveitoso. Quanto mais vejo essa gente, mais quero
me afastar deles.
— Quem tem que agradecer, sou eu. Obrigado pela companhia. — A encaro e
em meus olhos tento transmitir o que sinto por ela. — Durma bem, Sophia. —
Aproximo devagar de seu rosto e minha vontade é puxar seu pescoço e toma-la
num beijo, demonstrando o quanto a quero, a amo e desejo, porém ainda não é o
momento. Tenho medo de assustá-la e isso colocaria tudo a perder. Ela sempre
confiou em mim e perder a confiança de Sophia me deixaria muito triste.
E com isso, beijo seu rosto delicadamente.
— Você, também. Até mais.
Desce do carro e abre a porta lateral da cafeteria que dá acesso ao apartamento
dos Salvatore.
Antes de fechar a porta, joga-me um beijo e sorri. Espero que suba toda a escada
e quando vejo que as luzes do andar de cima foram acesas, dou sinal ao
motorista para que siga para casa.
Mais uma noite em que dormirei pensando em como seria ter Sophia como
minha mulher. Acho que tomarei uma decisão. Não posso mais esconder o que
sinto. Tenho que dizer a ela o que está entalado em minha garganta há muito
tempo.
Em meu quarto, deitado nessa cama vazia, imagino seus lindos olhos e cabelos
negros espalhados sobre o travesseiro dormindo profundamente após uma noite
de amor em meus braços.
Quem sabe isso não se torna real? Fecho meus olhos e durmo sonhando com
Sophia.
Por Sophia
A sala está quieta e nem sinal de Vicenzo ou de meu irmão. Caminho devagar,
sem fazer nenhum barulho. Ao passar em frente à porta do quarto de meu pai,
posso ouvir o barulho da televisão ligada. Ele adora filmes antigos, assim como
eu. A diferença é que, a essa hora, Vicenzo deve estar dormindo sentado em
frente a TV. Entro no quarto bem devagar e constato o que sempre ocorre. Com o
controle remoto nas mãos, ele dorme um sono pesado. Desligo a TV e seus olhos
se abrem.
— Sophia, acabei pegando no sono. — Esfrega o rosto, tentando abrir seus
olhos. — Estava lhe esperando. — Ele se ajeita em sua poltrona. — E aí, como
foi o baile?
Tiro meus saltos e meus pés agradecem.
— Correu tudo bem, mas se não se importa, prefiro falar sobre isso amanhã.
Estou muito cansada e preciso dormir.
— Claro, minha querida. Durma com os anjos. — Pega em minha testa e a beija
como de costume. Em seguida, repito o seu gesto e o beijo também.
— Durma bem, papai.
Saio de seu quarto e entro no meu. Tiro minha roupa e me encaminho para o
banheiro. Sem pressa, retiro a maquiagem e com o rosto limpo, encaro minha
face no espelho. Sinto raiva do que vejo. Detesto me sentir desarmada. Sempre
fui dona de minhas emoções e agora, algo mudou. Ou alguém que detesto veio
para mudar isso tudo.
Quando cheguei àquele baile e o vi entrando com sua mãe, sem que eu me dessa
conta, estava aprisionada em sua imagem, meu coração acelerou do nada e o
pior, torci a cada instante para que seu olhar me procurasse entre os convidados.
Quando me beijou, tentei resistir, mas a sensação de ter meu corpo preso ao dele
e de sua boca colada à minha tomou meu cérebro por inteiro e por míseros
segundos, me deixei levar por seu beijo com gosto de paixão ensandecida e
pecado.
Quando me afastei, meu corpo todo ansiava pelo seu. Cada parte de mim só
queria sentir o que ele poderia me oferecer.
Por isso, resolvi tirar a máscara e revelar-lhe quem estava por detrás dela. Assim,
ele desiste da ideia de flertar comigo e eu não terei o trabalho de seduzi-lo ou o
que é ainda pior, ser seduzida.
O mal se corta pela raiz e é isso que fiz nessa noite.
Ninguém imagina como sou na verdade. Os poucos namorados que tive sempre
me trataram como se eu fosse uma mulher forte e inatingível. Não sou nada
disso, sou uma mulher ultrarromântica que espera um homem apaixonado e
devotado a mim. Ninguém me enxerga desse modo e Sean é mais um deles. Ele
me vê como uma mulher estonteante e sensual, mais uma companhia agradável
na cama e nada mais.
Eu quero mais do que isso. Sexo sem paixão é tolice.
E afinal de contas, por que estou meu justificando?
Simples. Sei exatamente o que quero, mas confesso que, nessa noite, mesmo
sabendo dos riscos de ser usada e descartada, estava gostando do nosso jogo.
Seus olhos me buscaram a noite toda e sua atenção era voltada para cada
movimento meu.
Uma tolice. Ele faz esse mesmo jogo com todas.
No momento em que nossas bocas se descolaram, recobrei minha sanidade e
voltei à Terra. Homens como Sean nunca mudam. Nascem e morrem cafajestes.
Deitada em minha cama, toco em meus lábios e relembro o seu beijo. Nenhum
homem me beijou daquela maneira. Era como se ele me consumisse com sua
boca.
Bem, chega de pensar nisso. Minha meta é roubar aquele quadro com meu pai e
depois o cd. Tenho muitas coisas para organizar. Depois disso, procurarei
alguma escola para dar aulas de artes. Como diz meu pai: Há hora para tudo e
nossa hora de parar, chegou.
Uma chuva de outono molha minha janela. Fecho meus olhos e tento dormir,
mas a maldita imagem daquele beijo me persegue.
Por Sean
Chove forte. Sentado em meu escritório ouço os pingos caindo lá fora. Meu
pensamento é um só.
Sophia.
A primeira mulher a me dar um tapa e também a única a resistir ao meu beijo.
Alguém aperta a campainha. Minha empregada está de folga, portanto tenho que
me levantar e abrir.
Olho pelo olho mágico e aperto meus olhos diante a imagem atrás da porta. São
três horas da manhã. O que ela faz aqui?
Sophia com seu vestido vermelho.
Sem pensar em mais nada, abro a porta e ela sorri para mim.
— Não me convida para entrar, Excelência?
Seu tom de voz tem um quê de erótico e isso me faz puxá-la para dentro.
— Sophia... — Minha reação de surpresa é mais do que evidente.
Anda pela casa com a mesma graça com que circulou durante todo o baile e vira
—se de repente. Para e sem tirar os olhos dos meus, desce lentamente o zíper de
seu vestido que cai aos seus pés vagarosamente, revelando seu lindo corpo para
meu deleite. Meu corpo reage de imediato com a imagem de Sophia seminua em
minha frente.
Ela é exatamente como eu imaginava. Ombros delicados, seios perfeitos. Cintura
e quadris a medida certa para enlouquecer qualquer um como eu.
Ando até ela. De imediato, suas mãos enlaçam meu pescoço e seus dedos correm
pelos meus cabelos. Sua boca procura a minha e sinto seus mamilos rígidos sob
o tecido fino de minha camisa. Sedenta e ansiosa por mim, tira sua calcinha e
pega uma de minhas mãos colocando-a em seu sexo. Gemo ao sentir a quão
molhada ela está. Remexe seus quadris de encontro aos meus dedos que rodeiam
seu clitóris, deixando-a mais desejosa por mim. Desesperado por ela, sento-me
no sofá e a coloco em meu colo com uma perna para cada lado de meu corpo.
— Tem roupas demais aqui, Excelência!
— Sean... Me chame de Sean, por favor! — Murmuro, sem desviar meus olhos
de sua boca.
Seus dedos abrem minha camisa e sua boca faminta desliza pelo meu tórax com
suaves mordidas. Em seguida, suga meu mamilo com força e se esfrega
deliberadamente em mim, isso faz com que meu corpo só queira o seu. Seguro
firme em seu cabelo e encaro seus olhos que parecem ter luz própria.
Mesmo na penumbra, posso ver o brilho de desejo contido neles.
— Estava me deixando louco, sabia?
Minha boca precisa sentir o seu gosto, provar e leva-la ao seu limite. Jogo-a no
sofá e com as pernas abertas para mim, minha boca desce bem devagar por suas
coxas, fazendo com que ela se contorça de tesão. Ao chegar em seu sexo
excitado e molhado, nossos gemidos se confundem e me perco em seu gosto
doce e divino.
— Sean... Como quero você!
Sua voz mansa e sensual faz com que eu perca o controle. Eu a desejo e a quero
muito. Das inúmeras mulheres que já tive, Sophia é a única que despertou em
mim esse querer absurdo, esse desejo desenfreado, sem sentido.
Abro minha calça e me livro dela o mais rápido possível. Encaixo meu corpo
entre suas longas pernas e agarro um de seus seios em minhas mãos. Rodeio
minha língua em seu mamilo sem tirar meus olhos dos seus.
— Agora... — esfrega seu sexo molhado em meu membro duro e louco para me
enterrar nela.
Sem resistir mais tempo, penetro-a bem devagar. Ela arranha minhas costas e sua
respiração fica entrecortada em cada investida lenta e profunda.
Aumento o ritmo e ela coloca seu dedo em minha boca. Chupo-o com força e
sua boca se torce em um sorriso malicioso.
— Goza para mim, Sophia!
Ela está quase gozando e minha vontade é vê-la se entregando a mim por
completo. Quero leva-la ao cume e depois despencar com ela. Seu orgasmo
chega e Sophia se entrega como sempre imaginei em minhas fantasias com ela.
Joga seu pescoço para trás e absorve tudo. Geme alto e me faz gozar chamando
seu nome. Outra coisa única em Sophia. Jamais falei o nome de nenhuma mulher
durante o sexo. Gozo e pronto. Sempre foi assim até ela chegar e alterar tudo.
Descanso minha cabeça em seu ombro e aspiro seu cheiro. Doce e selvagem.
Essa é sua essência.
Acordo com meu celular tocando.
Droga!
Achei que fosse real. Olho para o visor e verifico que são quatro da manhã. O
nome Brunna aparece no visor. Ainda ofegante e com uma ereção que não quer
ceder, atendo.
— Sean...
— Brunna, aconteceu alguma coisa?
— Me desculpe ligar a essa hora, mas é que estava pensando em você a noite
toda. Você nem deu bola para mim durante todo o baile. Não dançou uma música
sequer comigo. — Diz, com a voz melosa de uma mulher que está louca para ser
comida.
Ah, Brunna, talvez seja porque estava vidrado em uma certa mulher atrevida.
— Ah, me desculpe, minha querida. Você está aonde?
— A uns dois quarteirões de sua casa!
— Hum... que boa notícia. Venha para cá. Podemos nos divertir enquanto o dia
ainda não amanheceu.
— Ah, não sei... não quero ser o consolo de fim de noite, Sean.
— De maneira alguma, você não é nada disso. — Minto. — Sabe que é especial,
não sabe?
Tenho que transar com alguém, senão enlouqueço. Não conseguirei dormir e se
tiver outro sonho como aquele, gozo dormindo.
— Já que você me convidou, aceito. Em dez minutos, estarei aí.
— Espero ansioso. Beijo.
Pelo menos nem tudo está perdido. Em alguns minutos, Brunna aparece em
minha porta.
Agarro-a ali mesmo em minha sala e a jogo no sofá. Estou tão impaciente e não
tenho tempo para preliminares. Como sempre, é a segunda vez que saímos juntos
e como regra, será a última.
— Sean... — sussurra meu nome, no mesmo instante em que a penetro com
força. Ela me acompanha e ergo minha cabeça para olhar em seus olhos.
É estranho. É algo automático, pois não sinto prazer. E como uma fixação, fecho
os meus olhos e imagino-a no lugar de Brunna. E ao ouvi-la gemendo com a
chegada de seu orgasmo, continuo minhas investidas e digo seu nome.
— Sophia... — Meu corpo relaxa sobre o seu e assim meu gozo chega.
Foi muito bom.
— Você me chamou de que? Quem é Sophia?
Brunna me empurra com força e sai debaixo de mim, furiosa.
— Não lhe chamei de Sophia, você deve estar enganada!
— Não sou surda, Sean. Ouvi perfeitamente quando disse o nome dessa mulher.
— Veste sua roupa e continua. — Você é mesmo um cretino! Só me chamou até
aqui, por que não deve ter conseguido comer essa tal Sophia. Pois, bem! Boa
sorte e não se preocupe, não ligarei para você nunca mais.
— Espere, Brunna! — Não me dá ouvidos. — Tento vestir minha calça o mais
depressa possível.
Caminha a passos rápidos até a porta principal.
E antes de sair, dispara.
— Se eu fosse essa Sophia, não me entregaria a você nem morta! — Seus olhos
exalam ira. — Espero do fundo do coração que você não consiga essa mulher!
— Fala com raiva. — E que broxe na próxima vez que estiver transando com
alguém pensando nela.
— Desculpe—me, Brunna, não é nada disso! — Tento argumentar sem êxito.
— Vá se ferrar, Sean Mackenzie.
Bate à porta com muita força, causando um estrondo.
Que droga! Que merda. Subo para o meu quarto e tomo um banho gelado. Não
tive a intenção de magoar Brunna, aliás nem percebi que havia chamado—a de
Sophia.
Deito em minha cama e tento dormir. Mais tarde, sairei para uma corrida no
Central Park. Isso irá me fazer bem. Também, ligarei para Aidan e verificar se
descobriu algo útil sobre Sophia, a mulher que está atormentando meus
pensamentos.
Por Sophia
Olho à distância e o vejo. Usando uma calça jeans e uma camisa xadrez
vermelha, ele é o homem mais bonito que meus olhos já viram. Seu rosto
quadrado com traços gregos me deixa de boca aberta. Anda pelo campo e
quando me vê vem em minha direção. Sem saber como e quando, me vejo em
seus braços. Seus olhos azuis me encaram e sua boca me lança um sorriso torto
que me faz ficar de pernas bambas. Minhas mãos correm por seus cabelos ainda
úmidos e seu perfume másculo invade minhas narinas provocando meus
hormônios e me deixando louca por ele.
Seus braços rodeiam meu corpo e sem pensar me entrego ao seu beijo. Seu hálito
fresco se mistura à minha boca quente. O beijo molhado e excitante me deixa
sem ar. Muito devagar, abre minha blusa e antes que que possa dizer qualquer
coisa, sua boca engole meu seio, deixando meu sexo molhado e vibrando por ele.
Deitada na grama, sob um dia ensolarado e com seu corpo todo cobrindo o meu,
sinto me perder em um abismo de sensações antes desconhecidas para mim. O
desejo, e a vontade se juntam e me deixam totalmente entregue.
— Sophia...
Sua voz não é a mesma, é uma voz conhecida e me faz encara-lo. Eu me
enganei. Não foi Sean quem me chamou e novamente a voz me chama.
— Sophia, acorde!
Abro meus olhos e Lorenzo sorri para mim.
Suspiro. Não acredito que estava tendo um sonho erótico com aquele crápula.
Isso só pode ser brincadeira. Está se tornando obsessivo. Tenho que parar de
pensar bobagens a respeito desse homem. Antes de encarar Lorenzo, olho para o
pôster de Owen que sorri para mim. Tenho que voltar a sonhar com você e não
com aquele cretino, penso.
— Lorenzo! Que horas são?
— Nina, quem é o cara?
Que cara? Será que falei algo dormindo? Só me faltava essa!
— Que cara, Lorenzo? Não sei do que está falando!
— Entrei no quarto para lhe chamar para me fazer companhia no café da manhã.
Você estava falando dormindo. Dizia coisas sem sentido, mas pelo sonho era um
dos bons. Senti ciúmes do cara e resolvi cortar o barato dele antes que a coisa
acontecesse.
Pego meu travesseiro e atiro contra ele.
— Seu idiota! — Solta uma gargalhada. — Nunca mais invada meus sonhos
dessa maneira.
— Só estou protegendo a minha Nina. Esse cara que fique longe de você. Não
quero ter que sair na porrada com ele.
— Lorenzo...
— Diga o que está havendo, Sophia!
Ele me conhece até do avesso. Poderia esconder minhas angústias, preocupações
e sentimentos num baú e tranca-los, porém, Lorenzo tem a chave para abrir e
desvendar tudo o que me assombra. Ele é meu irmão confessor. Tudo o que se
passa comigo divido com ele.
— Já se sentiu atraído por alguma mulher que você detesta?
Coça a barba por fazer e me encara.
— Já. Quem é o detestável?
— E o que você fez a respeito? — Não respondo a sua pergunta e jogo outra no
lugar.
— Transei com ela e a esqueci, mas tenho certeza de que você não fará isso.
Agora me diga, quem é ele?
Lorenzo sabe que ainda sou virgem e que não me entregaria a qualquer um sem
ter sentimento envolvido.
Meus olhos se fixam nas flores de meu edredom. Não conseguirei fugir de meu
irmão. Ele não me dará paz.
— Sean Mackenzie.
— Não acredito! Você se sente atraída por aquele cara?
— Hei, calma aí! Em primeiro lugar, ele é bonito e em segundo, é só uma
atração. Coisa normal para uma mulher gozando de plena saúde.
— Não sabia que gostava de homens de olhos azuis. Isso me pegou de surpresa.
— A mim também. Tanto que mudei meu plano para roubar o CD que Richard
me pediu.
— Fez bem, aquele playboy metido a senador, não é flor que se cheire. O cara
coleciona mulheres como troca de roupa.
— Sei disso. Ontem ele me beijou.
— O que? Onde? Durante o baile?
Conto a Lorenzo como tudo aconteceu.
— Bem, minha irmã, minha experiência me diz que isso ainda vai dar muito
pano para a manga. Ele não irá desistir fácil e se precisar de um help, estou bem
aqui.
Sentado em minha cama, me abraça forte e acaricia meu cabelo.
— Nina, eu a amo muito.
— Obrigada, Lorenzo por me ouvir! Também o amo muito.
— Agora saia dessa cama, faz um dia lindo lá fora e papai saiu cedo e só volta à
noite. Simon o convidou para ir ao rancho dele. E agora só me resta você para
me fazer companhia.
Depois de dividir minha aflição com Lorenzo me sinto mais aliviada e minha
força foi restaurada. Ele não julgou e nem condenou meus sentimentos, somente
me entendeu. Meu Lorenzo querido.
Tomamos café juntos e depois disso ele recebe um telefonema de uma garota e
acaba me deixando sozinha.
Foi bom ter a casa só para mim. Repassei alguns detalhes do mapa de segurança
da Galeria. Assisti a um filme romântico e depois fui à cozinha preparar o meu
almoço.
Meu celular vibra em cima da bancada e meu coração dispara ao imaginar que o
número desconhecido que aparece seja de Sean. Penso em não atender, mas no
fim acabo cedendo.
— Alô.
— Sophia?
A voz de Alexia faz meu coração bater mais devagar.
— Alexia, como vai? Que bom que ligou!
— Pois é, você me deu seu número agora me aguente. — Ri do outro lado. —
Estou ligando, pois gostaria de lhe convidar para almoçar comigo no clube.
Clube dos ricos? Nem pensar. Não quero correr o risco de encontrar o
irmãozinho dela por lá.
— Tenho uma ideia melhor. Estou sozinha em casa. Por que não vem até aqui e
almoçamos juntas?
Faz—se um silêncio do outro lado.
— Quer que eu vá à sua casa?
— Sim, por que o espanto? Anote aí o endereço.
Passo o endereço a ela.
— Está bem. Estou sem carro, mas pedirei ao meu irmão que me leve em sua
casa.
— Seu irmão?
Minha boca fica seca só de imaginar vê-lo novamente.
— Sim, Max está indo para a casa da namorada e pode me dar uma carona. Em
meia hora estarei aí.
Chego a suspirar de alívio e nos despedimos.
Por Sean
Corro por uma hora no Central Park. Minha cabeça anda a mil por hora. Pego
meu celular e ligo para Aidan.
Ele não conseguiu descobrir nada muito proveitoso. Sophia morava até pouco
tempo na Europa onde concluiu sua faculdade de Artes. Voltou há pouco tempo
e mora com o pai e o irmão. Parece que se dão bem.
Um detalhe muito interessante. O pai é sócio de uma cafeteria com Richard
Scott. Talvez Sophia e ele tenham alguma espécie de ligação. Isso iremos
descobrir muito em breve.
Corro até minha casa, pensando em como me aproximar dessa mulher.
Minha nova amiga
Por Beatrice
— Ah, querida, obrigada pelo elogio! O baile realmente foi um sucesso!
Bernadette Olsen pensa muito antes de descartar o seu cinco de paus. Adoro
jogar buraco com as amigas no clube em um dia de domingo. Harry deve estar
do outro lado do recinto jogando pôquer como de costume.
— Você estava lindíssima como sempre, aliás, a família toda estava
deslumbrante. Onde está Alexia? Não quis vir almoçar no clube?
— Ela disse que viria, mas está atrasada como sempre. Alexia e sua falta de
modos. Ah, Bernadete! Não sei o que fazer com minha filha! Alexia não me
obedece. Sei o que é melhor para ela, no entanto, insiste em bater de frente
comigo.
— Calma, Beatrice! Logo enxergará que se continuar com rebeldia só tem a
perder. Minha filha fez a mesma coisa e veja hoje... está completamente mudada.
— Assim espero...
Minha vez de jogar.
Um funcionário do clube se aproxima com um envelope. Pede licença e o
entrega a mim.
Agradeço com um sorriso e abro devagar a encomenda.
Meu sangue parece ter sumido de minha face. Ao ler a frase feita com recortes
de revista, meu coração parece saltar pela boca.
“Ele já sabe a verdade? Seu filho querido já sabe de toda a verdade?”
“Acha que irá esconder esse segredo e se manterá nesse pedestal de
arrogância para sempre? Imagine quando Harry souber? Aliás, quando
toda Nova Iorque souber da verdade?”
“Pense nisso, minha querida e até uma próxima vez.”
Com os dedos trêmulos, amasso o bilhete.
— Beatrice, você está pálida. É alguma notícia ruim?
Com toda a frieza que a vida me ensinou em momentos difíceis, sorrio para
Bernadete que me olha com preocupação.
— Não se preocupe, minha querida, foi só uma notícia de uma amiga que está
muito doente e me pegou desprevenida. Ela mora na Bélgica.
Bernadete fica mais tranquila e eu ainda remoo as palavras gritantes do bilhete.
Ele voltou. Há anos tinha parado de chegar. Quem será o responsável por essas
cartas, ou melhor, quem conhece o meu passado? Quer acabar com minha
reputação e o que é pior, destruir a relação com o filho que mais amo. Se Sean
souber a verdade nunca me entenderá e talvez não me perdoe. Morreria se ele
não mais me admirasse como agora.
Preciso descobrir quem está por detrás desses bilhetes maldosos. E vou
descobrir.
Por Max
— Bárbara, você está linda!
Minha noiva sorri e me abraça.
— Obrigada, meu querido, você demorou, está atrasado!
— Peço desculpas, mas dei carona à minha irmã. Ela ia se encontrar com uma
amiga no centro da cidade. Fiquei feliz em saber que Alexia anda fazendo novas
amizades.
— Está perdoado, meu lindo. Onde iremos agora?
— Que tal irmos almoçar no haras?
— Ah, não sei. Seus pais estão lá?
— Não, foram almoçar no clube.
— E seu irmão? Sabe que não gosto de Sean. Acho-o insuportável, às vezes.
— Querida, tem que parar com essa implicância com meu irmão. Sean é um cara
muito legal. Você está com uma impressão errada sobre ele. — Justifico. —
Quando o conhecer mais a fundo verá que tenho razão. E respondendo sua
pergunta. — Beijo seus lábios, levemente. — Sean não está no haras.
— Talvez. Me desculpe. Bem, sendo assim, vamos!
Abraço minha noiva e a conduzo até meu carro. Um domingo lindo com a
mulher mais linda ao meu lado. Amo Bárbara e pretendo me casar com ela em
novembro. Somos muito felizes juntos. Nossas famílias são amigas e sócias em
uma cadeia de rádios pelo país.
Bárbara mantém essa opinião destorcida sobre meu irmão, porém tenho certeza
de que a farei mudar de ideia. Ela detesta Sean. Acha que ele é um homem
desprezível, isso porque Bárbara mal o conhece, aliás as pessoas que pensam que
Sean não é uma boa pessoa, estão enganadas. Fazem esse julgamento precipitado
e mal sabem o que se esconde por detrás de toda a pose dele. Seu único defeito é
ser mulherengo, porém já disse a ele, um dia irá encontrar a mulher que fará com
que mude de vida.
Torço muito pelo meu irmão. Ele e Alexia são muito importantes para mim e
meus pais também. Sou um homem que ama e preserva minha família. Mesmo
sabendo que Sean é o filho estimado de minha mãe, isso nunca me abalou ou
causou algum embaraço e Sean nunca tirou vantagem disso. Pelo contrário,
odeia quando minha mãe o difere de mim e Alexia. Esse é o Sean que ninguém
conhece. Em sua carreira política, sempre procedeu de modo honesto e honra seu
mandato com muita seriedade. Admiro-o muito e espero que minha noiva o veja
como eu o vejo.
Chegamos ao haras para mais um dia feliz.
Por Alexia
Sophia prepara nosso almoço enquanto permaneço sentada em sua frente na
cozinha. Ela abre uma garrafa de vinho e nos serve, no mesmo instante em que
não tira os olhos do seu suflê no forno.
— Sophia, você já teve um amor não correspondido?
Bebe um gole de sua taça e me encara.
— Não, Alexia. Eu nunca amei um homem.
— Hum... nunca? Nem uma paixãozinha adolescente?
Sorri e pega dois souplast de madeira e os estende na bancada.
— Ah, sim, isso já. Tinha 16 anos. O cara era o gostosão do colégio. Ficamos
juntos algumas vezes e quando ele me pediu para transar com ele, não quis mais
me encontrar com Bernard.
— Sério? Mas não gostava dele? Por que não "deu" logo de uma vez?
Sophia me olha como se não acreditasse no modo como proferi essa frase e fica
boquiaberta com minha risada estridente.
— Eu não era apaixonada suficiente para me entregar a ele, Alexia.
— Desculpe-me o modo como falei com você, mas é que me sinto tão à vontade
ao seu lado que aqui posso ser eu, entende. Sou assim com meus irmãos, porém
na frente de minha mãe tenho que me conter sempre.
— Relaxa. — Pega os talheres e os arruma ao lado dos pratos.
— E aí? Quando foi que perdeu a virgindade? Foi legal? — Em seguida,
pergunto. Espero que ela não me acha muito intrometida.
Tira o suflê do forno e nos serve.
— Não foi.
— Como assim? Não foi? — E só então minha ficha cai. Sophia ainda é virgem.
Não posso crer numa coisa dessa. Em pleno século vinte e um, encontrar uma
mulher que nunca transou é uma raridade. — Você ainda é virgem, Sophia?
— Sim. Espantada? — Arqueia as suas sobrancelhas tão bem-feitas. — Não
fique. Saiba que não faltaram oportunidades, todavia quero me entregar a
alguém quando estiver apaixonada e não para qualquer um, entende? Fiz essa
opção.
— Entendo, claro e acho lindo. Eu já nem me lembro quando perdi a minha
virgindade. Acho que tinha quinze anos. Foi um horror. Não gosto nem de
lembrar.
Ela ri da maneira como eu falo. Acabo por rir também. Provo seu suflê, está
divino.
— Se cozinhar assim, vai pegar o cara pelo estômago. Está uma delícia.
— Obrigada, mas espero que ele veja outros atributos em mim e não somente
minhas habilidades culinárias. — Limpa o canto da boca com o guardanapo. —
E você vai me contar por quem seu coração anda batendo forte? Disse no baile
que ele não a enxerga!
É a minha vez de me sentir estranha.
— Tudo bem, se não quiser falar, entendo.
Falar sobre meus sentimentos por Aidan é muito delicado. Primeiro, é amigo de
meu irmão e segundo é mulherengo como ele. Sean nem imagina que gosto de
seu assessor, do contrário ficaria uma fera comigo.
Aidan não parece o cara que se apaixonará um dia. Vejo-o solteiro até a velhice.
Que horror.
— Aidan. Sou completamente apaixonada pelo melhor amigo de meu irmão.
— E ele não retribui esse sentimento, é isso? — Pergunta.
Sorrio em total deboche de mim mesma.
— Não, Sophia. Ele nem sabe que gosto dele.
— Então, faça-o saber, simples!
— Simples? Você acha simples porque não conhece meu irmão. Sean não iria
permitir que eu ficasse com Aidan e sabe por que?
— Não. Me diga.
— Porque conhece o amigo e sabe como ele é. Os dois vivem trocando de
mulher como trocam de cueca.
— Mas você vai ficar sofrendo por esse cara até quando? Se não quer se declarar
a ele, então parta para outra, ora!
— Já tentei. Não consigo.
Terminamos nosso almoço e a ajudo com os pratos.
— Bem, se não consegue esquecê-lo, teremos que dar um jeito para que ele a
note.
— Há jeito para isso?
— Sim. Vou ajudá-la a laçar esse cara. Fique tranquila.
Olho em meu corpo de cima a baixo e estreita os olhos.
— A primeira coisa que iremos fazer é mudar seu estilo de vestir-se.
— O que tem de errado com meu modo de vestir?
— Não há nada de errado, Alexia e nem de correto também.
— Ah, não! Não queira ser como minha mãe. Ela vive me perturbando por causa
de minhas roupas.
— Nesse sentido ela deve ter alguma razão. Você já se olhou no espelho? Suas
roupas são largas demais. Cabem duas Alexias aí dentro. Não valorizam a
mulher linda que você é. Amanhã, vamos fazer compras.
— Sophia, você não entende. Não quero mudar para que ele me veja. Quero que
note como eu realmente sou.
Ela me ouve e pega em minha mão com carinho.
— Jamais mudaria sua essência. — Me encara firme de modo firme. — Você é
meiga, sincera e muito linda. O que vou fazer é transparecer o seu eu. Essa daqui
— Pega em meu blusão. — Não é você! É apenas a sombra de uma moça que se
esconde, pois tem medo do que a espera se sair de sua prisão. Chegou a hora de
libertarmos a verdadeira Alexia. Confie em mim, sei o que estou dizendo.
No fundo da minha alma algo se transforma. As palavras de Sophia me
acertaram em cheio e ela soube descrever exatamente como me sinto. Toda presa
como se estivesse amarrada.
— Está bem! Eu confio. Não gosto de fazer compras. Minha mãe me levava com
ela. Era um tédio. Queria me transformar em Beatrice 2, a dondoca filha.
— Alexia, não irei muda-la em nada. Somente vou realçar o que está escondido.
E vamos começar por hoje. Que tal sairmos à noite?
— Aonde iríamos?
— Tem um local aqui perto, é muito legal. Chama-se Dreams. A música é uma
mistura de anos 70, Soul Music e muito mais. Vai gostar.
— Vamos. Eu topo.
— Ótimo. Venha até meu quarto. — Me puxa pela mão. — Vamos começar a
mudança. Vou escolher algo para você vestir.
— Olha lá — Caio na risada.
— Venha.
Entro em seu quarto e vejo um pouco mais dessa minha nova amiga. Acho graça
ao ver um pôster de Clive Owen na parede. Também há uma pequena prateleira
com muitos clássicos da literatura, uma coisa em comum. Adoro livros. Amo
escrever. Minha família nunca me entendeu. Somente meus irmãos me apoiaram,
porém, meu pai sufocou minha ideia de me tornar uma escritora e como ele é
muito importante para mim, não quis desagradá-lo. Cursei economia contra
minha vontade.
Mais uma corrida de olho em seu quarto vejo em sua escrivaninha vário livros de
Arte. Sophia me contou durante nosso almoço que é formada em artes.
Depois de despencar todos os cabides de seu armário, escolhemos um vestido
azul marinho. Na altura dos joelhos e justo, ele destaca minhas curvas. Meu
corpo parece outro. Ao me olhar dentro dele com os brincos, maquiagem e o
penteado que ela mesma fez, meus olhos não creem no que acabo de ver. Estou
irreconhecível. No baile de máscaras, usei um vestido salmão escolhido por
minha mãe, era bonito, mas agora é diferente, parece que consegui me enxergar
e ver que tenho vida e que quero aproveitar o que ela me oferece. Sophia fica
atrás do espelho e seu olhar de aprovação me faz sentir muito melhor.
— Viu só? Era isso que eu queria dizer. Aí está você. Quero ver esse cara não te
enxergar agora, só se for cego.
Sem pensar duas vezes, a abraço forte e ela retribui. Ao olhar em seus olhos, nós
duas estamos emocionadas.
— Obrigada, Sophia.
— Não me agradeça. O que fiz por você é o que aquele homem ali... — Aponta
uma foto de um senhor abraçado a ela. — Fez por mim. Eu não existia antes dele
aparecer. Era uma sombra e ninguém me via, Alexia. Vicenzo me deu um mundo
novo e me fez ver o quanto tenho valor. E nesse caso, sua autoestima estava
debilitada como a minha. Somente estou ajudando-a se curar e prometo que a
ajudarei sempre.
— Quem é Vicenzo?
— O meu salvador. Meu tudo. — Ela se emociona. — Meu pai adotivo. Eu vivia
nas ruas até que ele me encontrou. Deus o mandou para mim.
Aperto sua mão com força, ela continua.
— Nunca falo de minha vida com ninguém. Sou uma mulher que não tem
amigas, Alexia. Aliás, nunca tive uma amiga verdadeira. E confiei em você para
dizer isso.
— Eu também não tive amigas. Tinha falsas amigas para sair, beber, usar drogas
e cair na farra. Sou uma solitária como você. Os meus únicos amigos são Max e
Sean. Meus dois amores.
— Temos algo em comum. Tenho um irmão, Lorenzo.
Pela foto no criado-mudo pude ver Lorenzo.
— Ele é bonito.
— Sim, Lorenzo é bonito por dentro e por fora, um pacote completo.
Meu celular vibra em cima da cama.
Sean.
— Sean, querido!
Sophia muda sua expressão imediatamente ao ouvir o nome de meu irmão.
Que estranho.
Do outro lado da linha, ouço a voz preocupada de Sean.
— Alexia, onde você está? — Nem me cumprimenta direito. — Max me disse
que você foi visitar uma nova amiga. Posso saber quem é ela, onde a conheceu?
Entendo a preocupação dele. Antes, quando eu arrumava uma nova "amiga" era
confusão na certa. Mais uma companheira e uma nova droga.
— Quer se acalmar por favor e me escutar. Ela é uma amiga que conheci durante
o baile e hoje ela me convidou para almoçar em sua casa.
— Essa amiga tem nome?
Olho para Sophia que continua apreensiva.
— Sim, claro que tem— faço uma pausa e olho para minha nova amiga que
continua incomodada com essa ligação. — Sophia Salvatore.
Um minuto de silêncio e chego a pensar que a linha caiu.
— Sean?
— Você disse Sophia Salvatore?
— Sim, aliás já que está me ligando, não quer vir me buscar? — Peço, com
jeitinho. — Como sabe, estou sem carro e quero ir para casa porque mais tarde,
Sophia e eu iremos sair.
— Não saia daí, já estou indo!
Desliga.
— Mas... — que estranho. Nem passei o endereço. Será que ele pegou com
Max? Certeza.
Viro—me para Sophia.
— Era Sean. Ele vem me buscar. Vou te apresentar a ele.
— Acho que não será necessário, Alexia. Eu conheço seu irmão.
— Conhece? De onde? Você mesma me contou que está em Nova Iorque há
pouco tempo.
Eis aí o motivo pela sua cara.
— Sente—se aí. — Aponta a sua cama. — Pois vou lhe contar como conheci seu
irmão.
...
Depois de ouvir o que ela me contou, caio na gargalhada. Sean levando um tapa
e um chega para lá de uma mulher é inédito e deveria virar manchete.
— Você é a mulher mais louca que conheci.
— Sou? — Ri e se levanta, olha pela janela. — Seu irmão chegou.
Tiro meu vestido azul e coloco minha roupa. Sophia pega meu traje escolhido e
o coloca em uma sacola.
— Aqui está. É só colocar para abafarmos logo mais.
— Vamos descer, quero ver a cara dele quando te ver. Conheço meu irmão, pode
ter certeza de que ele não veio à toa me buscar. Quando disse seu nome ao
telefone, ele ficou mudo.
— Ele não vai com a minha cara, Alexia. Acho melhor não.
— De jeito nenhum. E vai me fazer perder essa? Amigas são para essas coisas.
Arrasto Sophia pela mão e noto como estão frias e suadas. Será?
Ah não! Quando saímos na calçada, meu irmão nem me olha, seu olhar recai
diretamente sobre Sophia. Ele tira os seus óculos escuros.
Que interessante. Nunca vi Sean olhar assim para mulher nenhuma. É diferente.
Ele a olha com desejo e uma pitada de algo mais.
Atrás de mim, está Sophia.
— Sean, esta é... — Tento apresenta-los, mas ele me interrompe.
— Tudo bem, Sophia?
Ele não quis fingir que não a conhece. Bom sinal.
— Bem e você? — Ela fala firme.
— Muito bem.
Os dois se olham como se eu não estivesse ali. Resolvo quebrar o momento.
— Vamos, Sean.
Ele me olha e responde.
— Vamos.
Antes de sair, abraço minha nova amiga e sussurro em seu ouvido.
— Não adianta negar. Tem algo acontecendo aqui.
— Quer parar? — Fala entre dentes.
— Até mais tarde, amiga! Dreams que nos aguarde! — Falo alto e Sean que já
está no carro deve estar ouvindo tudo. — Passo aqui às nove, está bem?
— Sim, você me paga, Alexia.
Sorrio para ela que quer me matar. Ela acaba sorrindo se volta e entro no carro.
Dou um tchauzinho e Sean acena a ela.
Os dois não sabem disfarçar. Que maravilha! Meu irmão safado foi flechado
pelo cupido! Vou tirar uma com a cara dele no caminho.
Sai com o carro e logo disparo.
— Parabéns, maninho! Finalmente, escolheu algo que vale a pena. Sophia é
linda e muito legal.
— Não seja ridícula. Do que está falando?
— Ora, acha que sou cega? Vi como a olhou. E sei que vocês já se conhecem.
— Ela lhe disse algo a meu respeito? — Que bonitinho, mesmo não querendo
assumir que está interessado, Sean não sabe se conter.
— Não. Só disse que já lhe conhecia. Ela e eu vamos sair hoje à noite.
— Ah é? Onde vão?
— Deixe de ser sonso, você ouviu muito bem onde vamos.
— Hum. Na Dreams?
— Sim.
Ele percorre o restante do caminho em silêncio e quando para em frente ao
portão de casa, me surpreende.
— Fique pronta às oito e meia. Passo para lhe buscar.
— Hei, não o convidei! Pode parar.
— Não negaria um favor desses ao seu irmão, não é? E se não me ajudar, vou
sem ser convidado. Levarei Aidan comigo. Nele eu confio e poderá lhe fazer
companhia.
Meu coração dispara.
Aidan irá também.
— Está bem, eu quebro essa para você. Só que se magoar Sophia, vai se ver
comigo.
— Combinado.
Por Sophia
Ele estava tão lindo. Cheguei a pensar em como seria ser sua namorada. Que
pensamento idiota.
Deito em meu quarto e sei que isso seria impossível. Primeiro porque ele é um
galinha; segundo, vou rouba-lo. Como isso daria certo? Esqueça essa loucura,
Sophia Salvatore.
Meu pai chega do seu passeio e me chama em seu escritório.
— Minha filha, mudança de planos. Richard quer que roubemos o quadro
amanhã.
— Amanhã? Por que a pressa? Não seria na sexta?
— Sim, mas, segundo ele, o comprador está em Nova Iorque e embarca na terça
para a Europa.
— Por mim, tudo bem. — Suspiro.
— Amanhã, repassaremos o plano durante o dia e à noite vamos roubar a Galeria
Mackenzie.
— Certo.
Depois desse roubo, invadirei a casa do senador e minha vida estará para sempre
desligada da sua.
Entro em meu quarto e abro meu armário. Preciso de uma roupa para me divertir
com minha mais recente amiga ...
Dreams
Por Sophia
É a quarta vez que troco de roupa.
Já coloquei uma calça e blusa e não me caiu bem. Saia e blusa, também não
gostei. Vestido preto? Não.
Bem, opto por uma chamise verde escura de mangas longas e completo o visual
com um cinto. Prendo meu cabelo, brincos. Uso somente batom e rímel para os
olhos. Meu perfume e ponto. Acho que está bom.
Olho para o canto da porta e vejo Lorenzo. Sorri torto e coça a cabeça, antes de
se jogar em minha cama.
— Vai sair?
— Nãooooo. — Resolvo brincar. — Durmo assim. É uma mania que aprendi
com as europeias.
— Sendo cínica, Sophia? — Entorta a cara para mim.
— Vou sair com Alexia Mackenzie. Ela e eu nos tornamos amigas.
— Até quando? — Fala sério comigo.
Entendo o que quer dizer. Minha amizade por Alexia não tem futuro.
— Vamos roubar essa família, Sophia e você parece que não se deu conta disso
ainda! Imagine quando Alexia souber que você se aproximou com intuito de
rouba-la?
— Você não entende, Lorenzo! Alexia e eu ... — Sento-me ao seu lado em
minha cama. — Não me aproximei dela pelo quadro. Jamais a usaria. Alexia não
merece isso.
— Conheço você, Nina. Mas, entenda! — Toca em meu ombro. — Meu maior
medo é de que, se porventura, alguém descobrir a nossa identidade a sua
amizade vai pelos ares. Ou acha que sua amiga irá entender que roubamos e não
ficamos com a grana? "Olha Alexia, sou ladra, mas vou lhe explicar,
amiga”. Acha que seria isso que realmente aconteceria? Acorde, minha irmã!
Essa gente irá nos esmagar se souber que tiramos o quadro e o vendemos. Não
haverá amizade e muito menos um homem afim de transar com uma ladra.
Agora ele se referiu a Sean.
— Chega, Lorenzo. Já entendi. Chega! — Ergo minhas mãos irritada. — Ainda
bem que para mim isso é o último. A causa é nobre, porém não justifica o meio.
Sei que ajudamos muitas pessoas. Mas, depois desse roubo, irei começar a dar
aulas e viver do meu trabalho e do que realmente gosto de fazer.
— Nina, não falei por mal! — Tenta se redimir da grosseria que acabou de dizer.
— É que fiquei preocupado pensando que você pode estar se envolvendo com
essa gente que não tem nada a ver conosco. Alexia, por exemplo, onde estão as
amigas dela? Deve estar sem nenhuma amiga drogada e a procurou para ser uma
espécie de escora.
— Não diga isso de Alexia. Você não sabe o que está dizendo. Ela é uma mulher
muito sozinha e as poucas amigas que ela tinha não eram suas amigas e sim,
como ela mesma citou, companheiras de copo e drogas. Alexia tem bom caráter
e está se sentindo perdida como eu me senti um dia. Só quero ajuda-la e nada
mais. Tentarei me manter longe após o roubo, prometo. Não se preocupe, sei me
cuidar.
— Tudo bem, Nina. Desculpe-me. É que temo por você. Aliás... — Senta-se na
cama e assovia. — Fique em pé!
Obedeço e ele continua.
— Está linda, minha irmã. Acho que vou junto para afastar os predadores.
— Obrigada, meu querido, mas deixe que deles cuido eu. — Pisco para ele.
— Alexia vem te buscar?
Olho em meu relógio. Faltam cinco minutos para as nove da noite.
— Sim, como Dreams é aqui perto, ela irá passar para me pegar daqui a pouco.
— Bom divertimento. — Anda em direção à porta de meu quarto. — Vou tomar
um banho e dormir. Estou exausto.
Beija minha testa e antes de sair, comenta.
— O safado vai estar lá?
— Acho que não. Por que a pergunta? — O questiono.
— Por precaução. Se ele estiver lá e fizer qualquer gracinha com você, é só me
chamar e mostrarei meu gancho de direita para ele.
— Está bem, meu Popeye.
Ele ri e sai do quarto. Meu celular vibra. Mensagem de minha amiga doidinha.
"Cheguei. Desça. Estou lhe esperando. Alexia."
Na sala, meu pai assiste a um jogo de beisebol e toma sua costumeira cerveja.
Seus palavrões em italiano me divertem. Beijo-o e desço para me encontrar com
Alexia.
Ao abrir a porta que dá acesso à calçada, minhas pernas amolecem, meu corpo
todo treme e posso assegurar-me de que não é pelo clima ameno dessa mera
noite de outono.
Um SUV preto com Sean ao volante e Alexia com os dentes escancarados me
esperam. Ela desce do banco do passageiro, vem ao meu encontro e os olhos de
seu irmão não me deixam. Ela seguiu à risca minhas dicas para se vestir.
Muito baixo, resmungo.
— A Dreams fica a cinco quarteirões daqui. Podemos ir andando.
— Está falando isso por ver meu irmão aqui? Eu o convidei. — Faz sinal
implorativo com as mãos. — Por favor, não brigue comigo, mas ele convidou
Aidan para ir também. Não resisti, pois queria muito que ele me visse assim.
Que tal estou?
Alexia dá uma volta em torno de si mesma, exibindo seu visual.
— Está linda, mas por que ele quis vir?
Alexia pisca para mim com a cara mais lavada do mundo.
— Você não me perguntou isso! Tem certeza de que não sabe a resposta?
— Ah, vamos logo!
Ela pega em meu braço e nos encaminhamos para o carro. Sean desce e ao vê-lo
vestindo uma calça e suéter pretos, quase desmonto.
Abre as duas portas. A traseira e a do passageiro. Alexia me puxa e quase me
joga no banco da frente.
— Boa noite, Sean. — É o máximo que consigo dizer.
— Está linda, Sophia. Boa noite.
— Obrigada.
Isso é totalmente ridículo. Situações embaraçosas como essa acontecem quando
somos adolescentes e não pessoas maduras. Alexia se senta no banco traseiro e
eu, com muita raiva dela, sento—me na frente ao lado de Sean. Ele liga o carro e
mesmo sem querer, meus olhos o medem de perfil. Seus braços, seus ombros,
seu pescoço tão bem torneado... ah, esse homem sabe ser bonito, Madonna mia!
Como diz, Vicenzo.
Alexia fala muito e chega a me fazer rir com seu jeito despojado. Sean entra na
conversa e também se mostra muito simpático. Em pouco mais de cinco
minutos, estacionamos em frente à Dreams. Foram os cinco minutos mais longos
da minha vida.
Descemos do carro e Sean nos pega pelo braço como um verdadeiro cavalheiro.
Entramos e o gerente vem até a porta para nos receber. Imagine o porquê. Não é
sempre que uma casa noturna recebe a ilustre presença de um senador de estado.
O ambiente é muito acolhedor. Pouca luz e mesas espalhadas pelos cantos.
Muitas pessoas bebem sentadas no balcão do bar, outras dançam
alucinadamente.
O gerente arruma uma mesa para nós em um local privilegiado e ao olhar ao
redor, muitas mulheres estão olhando para Sean. Acho que não gostaria de ser
sua namorada, se ele tivesse uma, é claro. Homem bonito é sinal de problema,
lindo então nem se fale. Não gostaria de ver todas mulheres cobiçando meu
namorado.
Arrasta uma cadeira para mim e Alexia que não tira os olhos da porta. De
repente, vejo o motivo para tal. Adentrando o local, usando jeans e um blusão
azul petróleo, Aidan caminha com um sorriso no rosto até nossa mesa.
Ao ver Alexia sua cara é de espanto total.
— Boa noite a todos.
Sean o cumprimenta e nós fazemos o mesmo.
— Alexia, você está linda!
— Obrigada, Aidan. — Diz, toda espavorida. Ela ainda precisa se controlar na
frente desse cara.
Um garçom ninja aparece não sei de onde. Gostei desse sujeito.
— O que querem beber? — Sean pergunta sem tirar os olhos de mim.
— Para mim, vodca com soda e rodelas de limão. — Alexia se adianta.
— Quero uma dose dupla de uísque sem gelo. — É a vez de Aidan escolher e o
garçom anota sem pestanejar.
— E você, Sophia? — A voz grave de Sean atinge meu cérebro.
— Quero um Martíni.
— Para mim, outro uísque duplo sem gelo. — Comenta.
O garçom se afasta e Aidan resolve puxar assunto. Ele olha para Alexia como se
a visse pela primeira vez. Espero que ela siga minhas dicas e não se jogue em
seu pescoço. Ela precisa mostrar a ele que não é uma mulher fácil e que se ele
estiver a fim terá que suar a camisa para alcançar o que quer. Igual a um certo
alguém à minha frente. Jamais me entregaria a Sean. Para que isso acontecesse,
ele teria que mudar totalmente o seu modo de ser.
Ou seja, nascer de novo, portanto isso nunca aconteceria.
Conversa vai, vodca com limão vem e Aidan convida Alexia para dançar. Há
uma pista enorme no local, onde muitas pessoas soltam seu corpo ao som
contagiante dos anos setenta.
O único problema é que não me sinto à vontade em ficar sozinha na companhia
de Sean.
— Gostei do lugar. — Menciona. — Não o conhecia ainda.
— Meu irmão que me trouxe aqui certa vez. — Comento e para não ficar de
mãos vazias, bebo o resto do meu Martíni. — Gostei do ambiente, das músicas e
principalmente, do atendimento.
— Seu irmão sabe das coisas.
Sean me pergunta sobre minha família o que me pega de surpresa, pois imaginei
que fosse perguntar qual a cor de minha calcinha. Falar sobre meus amados é
algo que adoro fazer.
— Você é como eu. — Diz. — Também ama sua família.
— Sim. Meu pai e meu irmão são muito importantes para mim.
Ele fala também sobre sua família e nisso ele tem razão. Temos algo em comum.
Termina sua bebida e arqueia as sobrancelhas.
— Vamos dançar?
Isso não vai funcionar. Dançar com Sean? Não, melhor não.
— Ahh, preferia ficar aqui conversando e...
Sem me dar tempo de terminar minha frase de recusa, sua mão agarra a minha e
me puxa para a pista. Sua proximidade durante a dança me deixa completamente
sem atitude. Aos poucos, me solto e quando dou por mim estamos
completamente à vontade.
Não vejo Alexia. Onde será que aquela maluca se meteu?
A música acaba e o que acho estranho é que Sean está se comportando como um
verdadeiro cavalheiro. Não tentou nada, nem me beijar, nem tocar meu corpo
durante a dança. Até estranhei. Não. Não é bem isso, senti falta mesmo.
Voltamos à nossa mesa e continuamos a conversar. Tento me desligar de tudo e
ouvir o que ele fala. Mas meu coração está tão apreensivo, estou com o homem
cuja família irei roubar. Isso me transforma em alguém sem caráter, sem
princípios e vergonha. Nunca tive contato com as vítimas e na primeira vez que
isso acontece, acabo me interessando por uma delas. Que ironia!
Por Aidan

Sean e eu sempre mantivemos um lema em nossa vida. Irmã de amigo é homem
aos nossos olhos. As minhas irmãs já são casadas, portanto não corro mais
riscos, tenho certeza disso. Também não saímos com mulheres comprometidas,
com tanta mulher solteira dando sopa, para que procurar dor de cabeça por aí?
Quando ele me ligou horas atrás, achei que ele estive maluco. Pediu-me para
fazer companhia à Alexia. Quis rir de seu pedido, mas depois entendi a sua
preocupação. Alexia é uma mulher muito bonita e que já deu muito trabalho à
família Mackenzie. E como ele confia em mim plenamente, aceitei seu pedido e
cá estou. Dançando com a irmã de meu melhor amigo e patrão.
Tudo para deixar Sean sozinho com Sophia. Não sei o que anda acontecendo
com ele. Sean nunca ficou tão obcecado por uma mulher quanto essa. Parece que
se tornou uma questão de honra arrastá-la para cama. Claro que ela é bonita, mas
nada fora do comum.
— Adoro essa música! — Alexia me traz à realidade e me surpreende se
aconchegando seu corpo no meu.
O som é lento e muito sensual. Ela se enrosca em mim e por mais que tente me
afastar, ela me aperta ainda mais. Seu cabelo e seu corpo todo exalam um
perfume inebriante.
Nunca havia reparado em como ela é bonita. Onde eu estava? O que eu fazia
para não ter notado seus lindos olhos e uma boca perfeita para ser beijada?
Afasto esses pensamentos e quando a música acaba a puxo para o bar. Peço mais
uma dose de uísque e ela mais uma vodca.
— Obrigada por me fazer companhia. A essa hora eu já teria queimado as mãos.
Não entendo seu comentário. Alexia sempre foi cheia de comentários
engraçados.
— Como?
— Já ouviu falar em segurar vela. Pois então, é o que estaria fazendo caso não
aceitasse ter vindo.
Acho graça e rio alto.
— Sério. Sean está a fim de Sophia. Espero que os dois se entendam. Chega de
amores desencontrados e não correspondidos.
Ela termina sua bebida e seus olhos me olham de um modo que conheço bem.
Alexia, nem pense nisso! Você é a irmã do meu melhor amigo. Acho que não vai
dar.
E sem me dar tempo ou espaço, sua boca cola—se na minha. Fico espantado
com a sua ousadia e não a beijo como uma irmã.
— Alexia, isso é loucura! — Vira o conteúdo do copo e não espera que eu
termine meu uísque. Arrasta—me para o banheiro e fecha a porta.
— Isso sim é uma loucura, Aidan e quero ver se é capaz de comete-la!
Ah, Alexia! Nunca brinque com o desejo de um homem. Bebo o último gole do
meu copo e a empurro na parede. Retenho o líquido em minha boca e jogo o
copo no chão. O vidro se estilhaça e minha boca encontra a sua despejando o
líquido quente em seus lábios.
Por Alexia
O líquido desce quente pela minha garganta. Sinto quando uma gota da bebida
escorre pelo meu pescoço e uma boca faminta suga cada centímetro de minha
pele. Sua boca volta a se apossar da minha e sua língua é voraz. Aidan sabe
como deixar uma mulher em brasas somente com seu beijo.
Segura em meu queixo e ao encará-lo vejo que engole seco. Esse movimento de
sua garganta me deixa com vontade de morde-lo bem ali em seu pescoço.
Seus olhos estão vivos e brilhantes.
— Que se dane tudo!
Prensa meu corpo na parede fria do banheiro e sinto seu membro excitado se
esfregando em mim. Fica de joelhos em minha frente e sem tirar seus olhos dos
meus, ergue meu vestido. Estou a ponto de gritar por ele nesse banheiro. Ainda
bem que a boate conta com mais dois iguais a esse. Do contrário, não
poderíamos estar aqui nesse momento.
— Foda-se! — Digo.
Tira minha calcinha e sem cerimônia, sua boca avança em meu sexo me fazendo
arfar de desejo. Sua língua explora cada canto me fazendo gemer alto. Sempre
sonhei com esse momento e hoje ele chegou. Quero aproveitar ao máximo o que
está por vir, mesmo que Aidan me ofereça somente sexo, quero me deixar levar e
gozar com o homem que sempre quis.
Penetra dois dedos em mim e continua ali, com sua boca maldita. Ele suga meus
lábios e depois volta a circular meu clitóris com a língua. Sem pensar no que é
certo ou errado, gozo em sua boca, ali em pleno banheiro de uma boate. Nunca
fui tão ousada.
Ele se levanta e tira do bolso traseiro de sua calça um envelope com camisinha.
Rasga—o e com desespero chamado desejo, ele abaixa sua calça e ajeita o
preservativo em sua ereção.
— Enrosque suas pernas em mim... — Diz num tom tão sensual e me penetra de
um modo firme. Sinto seu membro me preenchendo e me deixando louca
quando se movimenta segurando em meus quadris. — Ahh, que delícia, Alexia,
isso... remexa seu quadril e me sinta todo em você! — Mete ainda mais fundo.
Sua boca morde meu pescoço e nesse momento somos consumidos pelo desejo.
Nossos quadris se chocam um no outro e me deixo levar pelo melhor orgasmo de
minha vida. Meu homem dentro de mim. Seu corpo no meu. Agarro em seus
cabelos e mordo sua boca, enquanto sinto—o se perdendo em mim.
Não dizemos nada. Aliás, não sei o que dizer. Fiquei sem palavras e tenho medo
de falar algo que estrague o momento.
— Foi muito bom... — quebra o silencio. — Mas temos que voltar. Devem ter
dado por nossa falta. Vamos ajeitar nossas roupas, Alexia.
— Ou não. Eles podem muito bem-estar no banheiro ao lado, já parou para
pensar nisso?
Me dá um dos seus mais lindos sorrisos.
Ah, Aidan, se soubesse como gosto de você!
Olho-me no espelho e tento ajeitar minha roupa e disfarçar minha cara de quem
teve o melhor orgasmo de minha vida.
Minutos depois, saímos discretamente do banheiro. É claro que alguém deve ter
nos visto, mas para meu alívio, não foram Sean ou Sophia que estão sentados à
mesa conversando. Acho que desse mato não sairá coelho. Se depender de
Sophia, morrerá virgem.
Ao me ver, os olhos de minha amiga se estreitam em negativa. A mulher pode
ser virgem, mas é esperta que é o diabo! Que coisa, pensei que não notaria minha
cara pós—transa no banheiro.
Sentamos na mesa e Sean pergunta.
— Onde vocês estavam?
— No andar de cima, onde tocam soul Music, reencontrei um conhecido e
conversamos um pouco enquanto sua irmã dançava na pista, não é Alexia?
— Sim. Adorei o andar de cima. Mais animado e bem mais contagiante.
Sophia suspira e olha em seu relógio.
— Se vocês não se importam, preciso ir embora. Amanhã é segunda e tenho
muitas coisas para resolver.
— Ah, Sophia, mas já? Mal chegamos. Quero ficar mais um pouco, a noite ainda
é uma criança.
— Sophia tem razão. Amanhã, tenho que estar em Washington pela manhã.
Vamos, Alexia. — Diz Sean.
E para minha deliciosa surpresa, Aidan se adianta.
— Se você não se importar, levo sua irmã para casa, sã e salva. Ficaremos um
pouco mais e depois a levo embora.
Os olhos de Sean brilham de alegria e nem disfarçam. Claro que ele irá aceitar.
Levar Sophia para casa será a glória para ele. Uma oportunidade única. Conheço
meu irmão.
— Tudo bem, vamos Sophia! Eu a levarei para casa!
Ela me abraça para se despedir.
— Depois conversaremos, mocinha! Não é assim que as coisas darão certo. O
apressado sempre come cru. Guarde essa! — Me reprime e meu sorriso aberto
vai se fechando devagar.
— Boa sorte com a carona, amiga! — Não me contenho e pisco para ela. Sei que
mudei o foco da conversa, mas não quero estragar o que vivi naquele banheiro.
Mais tarde ela poderá me dar bronca. Agora não.
Vejo—a sair com Sean e me viro para Aidan.
— A noite apenas começou, venha!
Puxo—o para a pista de dança e me acabo em sua boca gostosa.
Por Sophia
O manobrista chega com o carro de Sean e me adianto.
— Se não se incomoda, posso ir andando, minha casa fica a poucos quarteirões
daqui. — Mantenho meus braços cruzados junto ao meu corpo.
— Sophia, não permitirei que ande pelas ruas sozinha à essa hora.
Coitado. Ele nem imagina de onde vim. Se com catorze anos, andava pela rua
tranquila, imagine hoje, com as aulas de defesa pessoal que pratico há anos.
— Não há perigo, Sean. Posso ir perfeitamente sozinha.
Quero evitar sua presença. Me sinto suja e desprezível.
— De modo algum.
Abre a porta para que eu entre e fico sem saída.
Saímos da Dreams e Sean dirige muito devagar. Parece que não quer que eu me
despeça.
— Fica até quando na capital?
Por que perguntei isso, afinal?
Sean me encara e sorri. Acho que enfiei os pés pelas mãos. Ele deve ter
entendido tudo errado.
— Quinta estou de volta. Por que o interesse?
Porque vou roubar sua casa, delicioso!
— Curiosidade. Não imaginei que um senador trabalhasse tanto.
— Ohhh, assim você me ofende, saiba que eu trabalho. — Solta uma risada torta
que deixa meu coração ainda mais apertado.
— Desculpe-me Excelência, se o ofendi.
— Vai me ofender se não voltar a me chamar por Sean.
Chegamos em frente à minha casa. Ele para o carro.
— Obrigada pela carona. Você foi muito gentil!
— Também sei ser gentil, às vezes.
— Pois deveria ser sempre gentil. Boa noite, Sean.
Coloco a mão na trava da porta para abri-la e antes que possa fazer isso, ele me
puxa para si.
Sua boca cobre a minha e sou pega de surpresa com seu beijo cheio de carinho.
Ao invés de me afastar, o que seria mais prudente, me enrosco em seus cabelos e
sugo sua língua arrancando um gemido rouco de sua garganta.
— Sophia, quero tanto você...
Seu hálito alcoólico me deixa extasiada e suas mãos atrevidas sobem por minha
coxa. O que sinto é algo novo, diferente e muito excitante. Seu rosto áspero,
devido a barba por fazer enlouquecem minha pele sensível e desejosa por seu
toque.
— Seja minha, Sophia...
Seus dedos alcançam meu lingerie. Esse ato é sem dúvidas, o atrevido que um
homem ousou chegar em meu corpo.
Quando seus dedos afastam o tecido e seu polegar desliza sobre meu sexo
molhado e completamente excitado, o beijo como mais desejo ainda. Quero
guardar esse momento para os dias que virão. Uma espécie de despedida.
— Você também me quer, eu sei, Sophia. — Pega uma de minhas mãos e a
coloca sobre seu membro excitado. — Olha como você me deixa. Sonho
pensando em você.
E é quando ele me penetra com seu dedo que o momento amasso se desfaz. O
que eu não queria que ele soubesse acabou sendo descoberto.
Com sua experiência, ele descobriu que ainda sou virgem.
— Mas, o que?
Me afasto e tento abrir a porta do carro. Não quero encara—lo. Não posso olhar
em seus olhos, pois estou muito constrangida.
— Destrave essa porta, por favor, quero sair daqui, agora! — Grito.
Ele me puxa e meu corpo se choca com seu peito.
— Não vai sair daqui dessa maneira! Não precisa fugir assim! — Diz, irritado.
— Me solta, me solta! — Insisto.
— Por que e do que você foge? Hã? — Fala, um tanto nervoso. — Se sente o
mesmo que eu? — Seus olhos me inquirem. — Você me deseja tanto quanto eu.
Que mal há nisso Sophia? Covardia não faz o seu perfil!
— Você disse tudo. Desejo. Somente desejo. Abra essa porta, quero sair ou irei
gritar e acordar a rua toda. Quer pagar para ver? — Mexo na trava do carro sem
parar.
— Você só pode ser maluca. Vá embora, se é o que quer, suma daqui!
Destrava a porta e saio do carro. Antes de sair, ele ainda ousa abrir a boca.
— Mesmo virgem, você me quer e vai vir até mim, mais dia, menos dia. Pode
apostar. E terei muito prazer em tirar sua virgindade. Até! — Solta essa frase
todo sarcástico.
Cretino. Onde estaria sua gentileza? Esse é o verdadeiro Sean Mackenzie.
— Pois estarei morta quando esse dia chegar, pode ter certeza, Excelência!
Sai em alta velocidade e me deixa com os olhos marejados de lágrimas.
Fraca. Fui uma fraca. Deixei que ele soubesse que ainda sou virgem. Idiota.
Um morador de rua passa por mim. Parece faminto.
— Não chore moça, por quem não lhe merece!
Abro minha bolsa e lhe dou uma nota de vinte dólares. Ele pega o dinheiro e não
parece acreditar que sou real. Agradece e some pela noite.
Em meu quarto, deitada na cama, choro tanto que meu travesseiro fica todo
molhado. Ah, Sean! Agora, vamos ver quem corre atrás de quem.
Amanhã, a essa hora, roubarei a sua Galeria e depois invadirei a sua casa e o
roubarei com todo prazer do mundo.
Descoberta
Por Sean
A voz da razão resolve aparecer, mesmo assim acelero e corro em direção à
minha casa. “Você é um idiota, Sean Mackenzie, veja como tratou a
moça!” Meu consciente não deixa barato e a cada instante, me sinto pior.
Mas não consigo entender aquela mulher. Ela me deseja e isso é óbvio. Está mais
do que claro o seu interesse por mim e na hora em que podemos compartilhar
desse desejo, ela se retrai e foge. Não consigo entender Sophia e nem quero
tentar! Vou manter distância dessa maluca, irei esperar o momento certo. Tenho
certeza de que ela irá se arrepender de ter fugido daquela maneira e ao me
procurar arrependida, será muito proveitoso.
Em minha cama, olhando para a luz da rua refletida na janela, tento dormir.
Ao fechar meus olhos, seu sorriso e seu olhar aparecem e me provocam dizendo
que não será nada fácil conseguir o que desejo. Mas conhecendo um pouco do
universo feminino, nada como mandar flores pedindo desculpas. Toda mulher se
derrete quando recebe flores. Tenho certeza de que ela me ligará para agradecer
as rosas, logo pela manhã.
Por Sophia
Meu rosto está todo inchado. Quero ver conseguir fugir das perguntas de
Angelina durante o café da manhã.
Virada de costas, soltando a voz em Oh Happy Day, Angelina lava a louça
restante na pia.
— Bom dia, Angelina!
Vira-se e enxuga suas mãos.
— Hey, que cara horrorosa é essa? Quem ou que foi o culpado por esses olhos
inchados?
— Não é nada, dormi e acabei sonhando com algo triste e quando acordei estava
chorando de verdade. — Tento persuadi-la.
Como sou tola! Mentir para a fofa. Ela arrasta uma cadeira e se senta ao meu
lado.
— Sophia, olhe para mim! — Me preparo e ergo o olhar em sua direção. — Por
que ou por quem andou chorando?
Sou salva pela entrada triunfante de Lorenzo na cozinha.
— Bom dia, gatas!
Angelina e eu respondemos quase juntas.
Lorenzo pega uma caneca de café e se senta à mesa.
— Que cara é essa, Sophia?
— Foi o que acabei de perguntar e estou aguardando a resposta. — Diz
Angelina.
— Gente, não foi nada! Querem, por favor, me deixarem em paz?
Vicenzo entra com um enorme ramalhete de rosas vermelhas.
— Para você! Acabaram de entregar. — Olha com cara feia para as flores. — O
cara deve ter madrugado para pedir que entregassem essas flores tão cedo.
Olha firme em meus olhos como se soubesse quem é o remetente do buquê.
Abro o cartão e uma letra masculina faz meu coração mudar suas batidas.
"Sophia,
Peço que me perdoe pelo meu comportamento. Confesso que você me deixa
confuso e acabei perdendo a cabeça. Você não merece ser tratada da forma
com que a tratei ontem. Espero que me perdoe e que na sexta-feira, aceite
jantar comigo.
Para você, somente Sean."
Coitado! Será preciso mais do que duas dúzias de rosas para me fazer mudar de
ideia. Ele é um cretino e continuará sendo. Pego o bilhete e o rasgo em
pedacinhos. Jogo-o na lixeira da cozinha juntamente com as rosas.
— Nossa! A coisa foi tão grave assim? — Meu pai inquire.
— Pai, você não, está bem? Vou sair para correr um pouco e volto para
acertarmos os detalhes de logo mais.
— Está bem, minha filha.
Lorenzo e Angelina se entreolham e em seguida cada um volta a sua atividade de
origem.
Na rua, com meu fone ligado, tento relaxar ao som de Clock, de Cold Play.
Aumento as passadas e logo estou correndo.
Fico feliz em constatar que durante toda a minha caminhada, aquele ordinário
não ocupou meu pensamento.
Mais tarde, meu pai, Lorenzo e eu repassamos cada detalhe de nosso roubo.
— Pelo que entendi, Richard é o intermediário nesse roubo. Ele irá repassar o
quadro a esse comprador que está em Nova Iorque, é isso? — Pergunta Lorenzo.
— Isso, meu filho. Richard não quer o quadro. Só nos contratou para rouba-lo.
Ele quer tirar a nova aquisição da família Mackenzie por vingança.
— Entendi. Bem, acho que já repassamos tudo. Sophia, está tudo certo?
— Para mim, tudo ok.
— Então, é só esperamos a noite chegar.
[...]
Lorenzo estaciona o carro na avenida Lexington, uma quadra abaixo de onde
fica a Galeria.
Com um pequeno notebook em seu colo, olha para Vincenzo e em seguida, para
mim.
— Prontos? Vocês têm um minuto a partir do momento que Sophia desativar o
alarme. É o tempo que o sistema demora para reiniciar.
— Vamos entrar pela tubulação. Sophia descerá presa pelos ganchos, desativa o
alarme e pega o quadro.
— Boa sorte, papai. A você também Sophia.
Olho para meu irmão e sorrio. Antes de colocar a máscara, respondo.
— Obrigada.
Em menos de três minutos, estou presa por ganchos e com o sinal afirmativo de
Lorenzo, desço até o alarme. Em cinco segundos, ele é desativado por minhas
mãos. A sala é silenciosa e somente os rostos das outras telas me encaram e
sabem o que estou fazendo aqui. A leiteira está bem à minha frente. Com muita
experiência, retiro a tela da moldura. Olho para cima e Vicenzo dá sinal que irá
puxar os ganchos. Peço calma com as mãos e retiro do bolso um batom. Nunca
fiz isso antes, mas como é meu último trabalho, achei que merecia um detalhe a
mais.
Com as iniciais, RH assino em vermelho gritante a placa com o nome do quadro
roubado.
Pronto.
Robin Hood esteve aqui!
Faço sinal e meu pai ativa a suspensão e meu corpo é erguido e finalmente mais
um trabalho cumprido.
— Posso saber o que ainda fazia lá embaixo?
— Todo artista assina sua obra e quis fazer o mesmo. — Mostro o batom a ele.
Mesmo com a máscara posso sentir o seu sorriso.
— Vamos. Lorenzo está nos esperando.
Em casa, com um belo champanhe trazido por Richard, brindamos ao nosso
sucesso. Sucesso? Será?
Penso em como será quando descobrirem. Quando Sean descobrir.
— Você foi magnífica, Sophia!
Sou acordada pela voz de Richard que sorri e bate sua taça na minha.
— Obrigada.
Por Danielly Austin
Ao longe, ouço um celular que toca. Alguém pode atender essa porcaria e me
deixar dormir?
Sou Danielly Austin, investigadora da 40º Departamento de furtos e roubos de
Nova Iorque. Especialista em recuperar objetos de valor. Na verdade, ando meio
parada ultimamente. O último caso grande para o qual fui designada há dois
anos. Um quadro de Picasso foi roubado do MOMa e até hoje não descobri o
paradeiro da tela e muito menos a identidade do ladrão.
Alguns suspeitos, mas nada confirmado.
Depois de uma bela noite de sexo com Phillip, estou me sentindo bem melhor.
Saímos para beber após o trabalho e no terceiro drink, seu olhar já não era mais
o mesmo, ele me devorava com seus olhos. Sua boca linda me provocava a cada
palavra. Como sou muito direta em tudo o que faço, me atirei em seus braços e
deixei que ele me levasse para seu apartamento. Phillip mal abriu a porta e suas
mãos abriram rapidamente a minha blusa, jogando-a para o lado. Fiz o mesmo
com a sua roupa. Liberei todo seu lindo corpo de suas roupas e o expus para meu
deleite. Parece que foi esculpido à mão. Não há nenhum sinal de gordura,
somente músculos. Adorei e minha boca também. Beijei cada parte de sua pele
quente, no mesmo instante que suas mãos passeavam pelas minhas coxas. Tirou
minha calça num só puxão e me deixou somente de calcinhas antes de me erguer
em seu colo e me levar para seu quarto.
Em sua cama, enroquei minhas pernas em sua cintura e com o preservativo à
mão, Phillip me olhou como se eu fosse a mulher mais linda que ele já vira.
— Linda...
Sua boca deslizou pelo meu pescoço e depois em meus seios. Meus mamilos
ficaram rígidos com as várias mordidas e chupadas que receberam. Beijei sua
boca e busquei sua língua macia e com gosto de vodca. E quando me penetrou,
suspirei de desejo e satisfação. Transamos como loucos e naquele momento,
deixamos de lado quem era quem na vida profissional.
Sou sua chefe. Trabalho com ele há seis meses e sempre deixava um clima de
desejo suspenso no ar, mas nunca quis ultrapassar a linha do profissionalismo.
Até que hoje, ele me convidou para uma bebida, após o expediente e cá estou,
nua, dormindo em sua cama.
Abro os olhos com muito esforço e o telefone continua tocando. Coloco o
travesseiro sobre minha cabeça e não resolve. É o meu celular que não para de
tocar. Tenho que atender. Droga, mas o que pode ter acontecido à essa hora da
madrugada? Três da manhã!
Olho para o lado e Phillip dorme um sono profundo. Também pudera. O cara é
insaciável.
— Danielly falando.
— Até que enfim. Pensei que estivesse morta. — Layane zomba do outro lado
da linha. — Estou ligando e você não atende essa porcaria.
Layane é uma das peritas que trabalham em minha equipe. Uma figura. Eu a
adoro. Trabalha comigo há três anos.
— Onde é o incêndio?
— Galeria Mackenzie. Acabaram de roubar uma obra de arte de lá. Toda a
polícia foi acionada, pelo jeito, daqui a pouco, essa gente irá chamar até a
Interpol. Até o senador, aquele pedaço de mau caminho, está vindo de
Washington. Não vejo a hora de pôr meus olhos na bunda dele.
Ela não é uma peça rara?
— Que exagero, Lay. E o que foi roubado?
— Um quadro só. Olha que desperdício! Entram numa galeria de milhões e
pegam somente um quadro. Eu já levaria dúzias deles.
Rio alto e Phillip acaba acordando. Aproxima, beijando meu pescoço e faço sinal
para que pare. A ligação é importante.
— Lay, estou indo para aí. Me espere.
— Como se eu tivesse escolha. Beijo.
Desliga.
Levanto-me da cama e enquanto me troco, conto a Phillip o que houve.
Vamos direto para o local do roubo. Harry Mackenzie vem ao meu encontro,
juntamente com um senhor chamado Armand, o gerente da galeria e também
pelo filho mais novo, Max. Não deixo de notar que ele é lindo. Um deus. Que
família de homens lindos, meu pai.
Lay se aproxima com suas mãos enluvadas e me chama.
— Danielly, por favor, venha até aqui.
Ao chegar perto de onde a tela estava exposta, vejo a assinatura do ousado
ladrão.
— Ousado, não é? — Comento.
— Ou ousada! Isso me cheira coisa de mulher.
— Não Lay! Ele quer que pensemos isso. Esse roubo foi feito por um homem.
— Será? Tenho minhas dúvidas. Venha até aqui e olha para as fitas de segurança.
— Já vi, Lay. Não há nada nelas. Estou quase certa de que são os mesmos
ladrões que roubaram aquele Picasso no MOMa.
— Mas, venha até aqui. Tomei a liberdade e pedi que liberassem imagens das
câmeras dessa avenida e também das paralelas e olha ali.
Lay é ótima no que faz. Muito perspicaz, não sei o que faria sem ela. Na
imagem, um carro parado e em seguida duas pessoas descem. Uma delas é mais
baixa e pelas curvas em seu corpo se trata de uma mulher. A câmera que captou
as imagens foi instalada ontem pela manhã.
Será? Minhas suspeitas estão se confirmando. Estou no encalço de Vicenzo
Salvatore há dois anos, sem sucesso.
— Lay, vamos para a delegacia. Quero pedir à justiça para grampearem alguns
telefones e também quero a quebra de sigilo dos mesmos.
— Sabe quem foi? Já descobriu?
— Uma suspeita, mas tenho quase certeza de que são os mesmos.
Conversamos mais um pouco com o Sr. Harry e Max. Me coloco à disposição e
depois nos despedimos. Trabalhar para descobrir furto de milionário é pior coisa
do mundo. Essa gente pega no seu pé e usa de toda sua influência para lhe
prejudicar ou até mesmo para lhe rebaixar de cargo, caso não estejam satisfeitos
com o seu trabalho. Por isso, quero mudar de setor. Quero trabalhar com a
violência contra a mulher e depois que resolver esse roubo, é isso que irei fazer.
Deixarei o cargo e voltarei para as ruas.
Por Sean
Não acredito. A galeria foi roubada. Mal cheguei em Washington e tive que
voltar. Meu pai me ligou contando que a galeria foi invadida e tivemos uma obra
roubada.
Quem teria feito isso?
Aidan e eu desembarcamos em Nova Iorque às seis da manhã. Fomos direto para
a casa de meus pais e lá pude colher mais informações sobre o ocorrido. Todos
estavam à mesa, tomando café da manhã, exceto Alexia que ainda dormia. Aidan
e eu nos sentamos e Max explica tudo nos mínimos detalhes.
— E a imprensa? — Pergunto. — Já estão divulgando?
— Muito pouco. Não quero que risquem a nossa imagem. O New York Times
fez uma nota muito pequena a meu pedido. — Diz meu pai. Sempre pensando
em tudo.
Minha mãe aparece linda e me beija no alto da cabeça, depois caminha até Max
e repete o gesto. Antes, ela só beijava a mim. Até que briguei muito com ela e
disse que, ou beija a todos ou não precisa me beijar mais. Acho ridículo o que
ela faz, me deixa numa situação constrangedora com meus irmãos.
— Quem está cuidando do caso? — Continuo.
— Danielly Austin. Superintendente da Antifurtos. Excelente profissional.
— Uma mulher?
— Sean?!— Max me reprime. — Olha o machismo, meu irmão. Ela trabalha
muito bem e além de tudo é muito bonita.
— Ah é?
Aidan começa a rir.
— Vamos parar vocês dois? — Minha mãe acaba com nossa conversa que estava
ficando animada. — Fomos roubados e não é hora para seus galanteios, Sean.
Ela tem razão, mas não custa dar uma olhada na Dra. Danielly.
— Austin? O sobrenome dela é Austin? Será que tem algum parentesco com
meu motorista?
— Não sei, meu filho. — Meu pai termina o seu café e nos pede licença.
Eu também termino e Aidan me parece distraído.
— Que foi amigo?
— Me chamou?
— Sim, perguntei se irá para sua casa.
— Não irá precisar de meus serviços por hoje?
— Não, pode ir para casa. Se precisar de você, eu ligo.
— Ok. Vou indo então.
Alexia aparece e me beija no rosto.
— O que aconteceu para ver você em casa em plena terça —feira?
— Uma longa história, dorminhoca. — Aperto seu rosto. — Aidan contará tudo
a você. Estou de saída.
Beijo seu rosto e vou direto para a delegacia. São oito e meia da manhã.
Sou encaminhado até a sala da Dra. Danielly e posso notar que ela é realmente
uma mulher muito bonita. Porém, não tem cara de que se deixa levar por
cantadas baratas. Ao pensar em cantadas baratas, Sophia chega em meu
pensamento. Ela não ligou para agradecer as flores como previ. Ela sempre me
surpreende.
Depois, ligarei e tentarei falar com ela. Não terei paz, se ela não aceitar minhas
desculpas.
— Senador Mackenzie, bom dia, em que posso ajudá-lo? Sente-se, por favor.
— Vim para saber sobre o roubo dessa madrugada. Há alguma novidade?
Ela me encara e pega uma pasta verde. Abre-a e me mostra.
— Isso é tudo o que descobrimos. Eu já ia lhe procurar, senador.
Vejo as fotos do local, a foto de uma assinatura com batom. E na próxima página
uma foto de Vicenzo Salvatore.
— Me procurar?
Meus olhos não saem da pasta em minha frente. Toda a ficha de Vicenzo aparece
e o que é pior: Uma foto de Sophia vem logo a seguir.
— Sim. Há dois anos estou trabalhando num roubo de um Picasso e estava
juntando alguns fatos para pegar os responsáveis.
— E?
— E acho que chegou minha hora. Está vendo essas fotos?
— Sim. O que tem elas?
— Esses são os ladrões mais procurados no mundo da arte, senador.
Não acredito no que acabo de ouvir. Sophia, uma ladra? Não!!
— Que absurdo é esse, doutora?
— Não é nenhum absurdo! Com a ajuda da justiça, consegui grampear o telefone
dessa moça e descobri que além de roubar a Galeria, ela irá invadir a sua
residência e roubar um CD com um programa muito importante. Por isso, iria
procura-lo ainda hoje.
Então, tudo não passou de um plano? Sophia se aproximou de mim para me
roubar? E eu achando que ela me queria.
— Tem certeza disso? Ela marcou a data do roubo?
— Sim, fala com um tal de Richard e confirma o roubo para hoje à noite.
Por isso a pergunta: "quando volta da capital?"
Ela queria saber se a casa estaria vazia.
Cadela. Vou matar Sophia. Ninguém me usa a esse ponto. — Chego a ranger os
dentes tamanha a minha raiva.
Levanto-me da cadeira e estendo a mão para Danielly.
— Senador, vamos pegar essa ladra e espero ter a sua colaboração.
Um sorriso se forma em minha boca.
— Tenho uma ideia muito melhor, doutora e espero ter a sua colaboração. — A
encaro sério.
— O que o senhor pretende?
— Irei esperar pela sua visita. A ladra será surpreendida por mim. A deterei e
chamarei a polícia.
— Ficaremos à paisana, senador.
— Não! Quero tudo como um dia normal. A essa hora, a imprensa deve ter
divulgado o roubo e qualquer deslize a fará desistir, não quero perder essa
oportunidade.
Sophia é muito abusada. Roubar-me e para que? Entregar o CD para Richard.
Ela deve ser muito apaixonada por ele. Só isso explicaria tal atitude.
— Está bem, senador. Quando ela for rendida o senhor nos chama. Estaremos na
quadra paralela à sua casa, assim chegaremos rápido.
— Combinado.
Saio da delegacia rangendo os dentes de raiva.
Pego o meu celular e boto o meu plano em prática.
Nudes!
Por Sean
Meu primeiro telefonema é para meu assessor.
Depois de contar meu plano a ele, Aidan resolve dar a sua opinião.
— Pode repetir, pois acho que não ouvi direito. — Rebate, com admiração na
voz.
— Isso mesmo que ouviu Aidan!
— Você só pode ter enlouquecido, Sean! Por que não deixa esse caso a encargo
da justiça?
— Quero pega-la com minhas próprias mãos e faço questão de entrega-la à
polícia.
— Está bem, convocarei uma coletiva como me pediu. Mas e o CD? Você não
acha que está exagerando? E se eles usarem essas imagens contra você?
— Não irão, tenho certeza disso. — Afirmo. — Richard ficará uma fera por ter
sido enganado. Esqueceu-se de que fomos amigos? Eu o conheço e sei que ele
não irá usar o conteúdo das imagens.
Aidan solta uma gargalhada.
— Posso saber qual a graça?
— Essa moça o deixou sem raciocínio. O que um homem rejeitado não faz, meu
Deus?
Engulo em seco.
— Ela me enganou, o que você faria em meu lugar? Sophia se aproximou de
mim somente pelo quadro e, pior deve rir da minha cara juntamente com
Richard. Eles me pagam.
— Você e suas ideias. — Faz uma pausa. — Bom, vou desligar e cuidar de tudo
para você. Boa sorte!
— Até daqui a pouco.
— Até. Vou arranjar a coletiva em seu escritório. Tudo bem? Daqui a uma hora,
pode ser?
— Sim, perfeito. O lugar não importa. O que quero é que ela pense que continua
me enganando.
Ele desliga e me dirijo para o meu escritório. Sophia irá aprender a não brincar
com fogo.
[...]
Por Sophia
Sentados à mesa durante o almoço, Vicenzo faz planos para o dinheiro
conseguido com a venda do quadro. Iremos ajudar muitos lugares. Hospitais,
abrigos e a pedido meu, uma parte dessa fortuna irá para um orfanato. Meu pai
me lembra que daqui quatro dias, completo 24 anos. Sabe que não quero festas,
mas todo ano, ele me prepara algo e lá no fundo, eu amo.
O quadro nos rendeu uma quantia exorbitante: U$ 150 milhões de dólares.
Adoro arte, mas jamais esbanjaria meu dinheiro comprando algo tão dispendioso
como uma tela de um pintor famoso. E ao me recordar de todas as obras que
estavam expostas na Galeria dos Mackenzie, faço uma rápida avaliação da
fortuna dessa gente. Eles, sem dúvida, são uma das famílias mais ricas e
poderosas dos Estados Unidos. Se nos descobrirem, estamos mortos.
Angelina aparece na copa, onde ainda estamos sentados e grita.
— Venham! O senador Mackenzie está dando uma coletiva nesse momento!
O que será que ele tem a dizer?
Meu pai e Lorenzo se levantam e saem às pressas, enquanto eu me arrasto até a
TV. Quero evitar pôr meus olhos nele, mas um magnetismo me puxa e não tenho
forças para resistir.
E lá está o metido a gostosão em seu trono de arrogância. Não deixo de reparar
em como ele está bonito; com seu terno azul, gravata rosa claro, exala seu poder
a todos em sua volta. Seu olhar azul e frio nada denotam. Depois de várias
perguntas, o assunto do roubo vem à tona:
"Senador Mackenzie, gostaríamos de saber se a polícia encontrou algum
suspeito pelo roubo em sua galeria?
Com um sorriso entre os lábios e as mãos entrelaçadas sobre sua mesa, seus
olhos azuis encaram a repórter que se derrete e em seguida, a responde:
"Segundo a polícia, ainda não há nenhum suspeito. E quanto a isso, podem
ficar tranquilos, pois serão os primeiros a saber.
Olha em seu relógio como se estivesse atrasado.
— Agora se me dão licença, tenho que voltar a Washington. Tenho muito o
que fazer pelo nosso país.
Demagogo. Mentiroso. Não me espantaria se fosse flagrado vendo vídeos de
sexo em pleno expediente.
Então, quer dizer que ele voltará à capital? Que boa notícia. Olho para Lorenzo
que já adivinhou meu pensamento. Vamos aproveitar o momento e invadir a casa
de Sean, ainda hoje.
[...]
Por Sean
Em minha academia, depois de me exercitar por um bom tempo, confiro as horas
no relógio pendurado na parede. É uma da manhã. Será que ela desistiu? Se ela
tivesse senso, não viria. Dra. Danielly e sua equipe esperam por meu telefonema.
Pego uma toalha e enxugo o suor do meu rosto. Olho para o espelho que se
encontra em minha frente e me pergunto o porquê. Por que fui pôr meus olhos
naquela mulher?
Fingida, dissimulada e pior, ladra. Saber que quer me roubar para agradar a
Richard me deixou com mais raiva ainda. Só quero ver ficarem juntos, depois
que ela for presa. Faço questão de vê-la atrás das grades. Ela e toda sua família
de larápios.
Apago a luz da academia e saio para esperar Sophia. E exatamente em quinze
minutos, ouço um ruído na janela de meu escritório. Sem acender as luzes,
caminho devagar e olho pela fresta da porta. Lá está ela.
Não acredito no que vejo, Sophia escalou a parede pelo lado de fora e abriu
minha janela com a maior facilidade sem que os alarmes fossem disparados. Não
vejo seu rosto, pois é coberto por uma máscara, mas através da luz exterior posso
ver sua silhueta. Ela usa uma roupa preta muito colada ao corpo e anda como um
felino dentro do aposento. Quem a vê como agora, não imagina que aquela
mulher de cabelos negros, com rosto de menina, é uma das mais procuradas
ladras do mundo das artes.
Caminha até o cofre calmamente, abre-o, mas antes de procurar o que deseja,
pega um de meus porta-retratos em cima da mesa. Olha-o por alguns segundos e
o volta no lugar. Estou nervoso. Minha raiva se mistura à decepção. Nunca fui
usado dessa maneira e a primeira vez a gente nunca esquece.
Abre o cofre sem nenhum problema. Revira os papéis e encontra o que
finalmente veio procurar. O CD. Deve estar se sentindo vitoriosa. Finalmente,
conseguiu o que queria, ou não.
Caminha para a janela e minha voz faz com que se assuste.
Por Sophia
Nunca me senti tão nervosa ao roubar algo. Cheguei a pensar em desistir, porém
a imagem daquele safado me estimula a seguir a diante. Dentro de seu escritório,
no terceiro andar da casa e com todas as luzes apagadas, caminho muito devagar.
Segundo Lorenzo, todo o sistema de segurança foi desligado, mas nunca se sabe.
Com minha mini lanterna, abro com facilidade o cofre e ao olhar para o lado,
vejo uma foto de Sean quando criança. A mãe o beija no rosto e ele sorri. O
olhar de Beatrice na foto é o que me fez parar por um instante. Seus olhos
brilham de uma forma impactante e mesmo sendo tirada há anos é como se fosse
real. Aquele olhar tem vida própria. Sean é muito amado pela mãe, disso não
tenho a menor dúvida. Isso é bonito, eu que não conheci a minha, admiro um
amor assim. Nem imagino como ela é como me olharia se me visse agora. Com
certeza, não imaginaria uma filha ladra.
E por pensar no assunto, não vim até aqui para olhar álbum de família. Tem algo
no cofre de Sua Excelência que me interessa. E lá no fundo eu o vejo. É um mini
CD. O seguro e o coloco no bolso traseiro de minha calça. Lorenzo me espera
com o carro há algumas quadras daqui. Só o que tenho a fazer é apertar um
dispositivo que o avisará no mesmo instante. Richard me espera em sua casa.
Ando até a janela e antes de ajeitar o gancho que está em minha cintura ao que
está preso à janela, ouço uma voz que faz meu coração gelar.
— Quem está aí?
É Sean. Mas como? Ele não estaria em Washington? O que faz aqui à essa hora?
Sophia essa é a sua casa e ele pode estar nela a hora que bem quiser. A intrusa
aqui é você.
Mal consigo respirar. Ainda bem que estou usando essa máscara. Preciso fugir,
ele não pode ver o meu rosto.
Ando mais rápido até a janela, mas sou agarrada por trás e sinto meu corpo e o
dele se chorarem na parede.
— Que maravilha, quem será que está por trás dessa máscara? — Segura meu
corpo com muita força. Será difícil escapar. Seus braços parecem ser feitos de
ferro. Ele é muito mais forte do que eu e mesmo com toda minha experiência em
defesa pessoal, não será fácil fugir. Por um momento, meu olfato sente o seu
cheiro, suor e perfume se misturam. E para completar, Sean está sem camisa,
com seu tórax todo à mostra. Sinto o roçar de minhas costas em sua pele quente.
Isso seria excitante em uma outra ocasião, não agora! Quando ele tenta puxar
minha máscara, não tenho outra alternativa a não ser impedi-lo e pegando o
senador de surpresa, viro meu corpo e o golpeio entre as pernas.
Ouço seu gemido e seus braços me soltam instantaneamente. Ele não esperava
por tanta agilidade. Corro para o parapeito da janela e ele vem ao meu encontro.
— Não irá fugir, Sophia! Volte aqui.
Ele sabe quem sou. E quando diz meu nome, é como se algo se quebrasse dentro
de mim e dói. Dói mais do que quando era chamada de trombadinha pelas ruas
da Filadélfia. Sean se aproxima e posso ver seus olhos de fúria mesmo na
escuridão.
Sento—me na janela e com o gancho ajustado em minha cintura, aceno um
adeus e desço pela parede. Aperto o dispositivo e Lorenzo deve aparecer a
qualquer momento. Quando estou quase chegando ao chão, o gancho é retirado
da parede e meu corpo se estatela ao chão e com o impacto da queda, machuco
meu ombro esquerdo. Olho para cima e o pego olhando para mim com o gancho
nas mãos. Maldito!
— Não irá escapar, não tem para onde ir! — Grita da janela.
Gemendo de dor, corro para o muro que dá acesso à rua. Ele não me segue.
Pensando melhor, agora percebo que fui enganada. Caí em uma emboscada.
Estava muito fácil para ser real. Onde estariam os seguranças que rondam essa
casa? Sean sabia que eu viria, mas como?
Com muita dificuldade, pulo o muro e o carro de meu irmão aparece. A porta se
abre para mim e entro o mais rápido possível com a mão no ombro machucado.
— O que houve?
— Depressa, saia com esse carro daqui! Sean descobriu quem o roubou! Rápido,
Lorenzo!
Meu irmão arranca com o carro e vamos direto para a casa de Richard.
No caminho, conto a ele o que se passou durante o roubo.
— Ahhhh, isso dói! — Gemo alto. Meu ombro está me matando.
— Estamos chegando. Lá, darei uma olhada nesse seu ombro. Esse cara é louco,
poderia ter lhe matado soltando esse gancho.
— Minha preocupação agora, meu irmão, não é essa e sim qual será a sua
atitude? Vai nos entregar à polícia? Papai vai me matar quando souber que me
arrisquei dessa forma! Não quero estar viva para ver isso!
— Tem razão! Vicenzo vai nos matar. Esqueceu—se de que estou nessa com
você?
Mesmo morrendo de dor, aliso seu rosto. Meu irmão querido, meu amado
Lorenzo.
— Obrigada, meu irmão.
— Disponha. — Sorri, sem jeito. — Chegamos. Vamos ver de perto esse seu
machucado. Se for grave, iremos a um hospital.
— Nem pensar!
Pensando bem, Sean sabia o que estava fazendo. Soltou o equipamento quando
eu estava prestes a chegar ao chão. Se fosse para me machucar teria soltado o
gancho muito antes.
Richard nos espera em sua sala com um copo na mão. Ao me ver entrando,
escorada por Lorenzo e com dor, corre ao meu encontro.
Sento—me no sofá e peço ao meu irmão que me ajude a abrir o zíper em minhas
costas. Quero ver o estrago de perto.
— O que houve? Ele a machucou?
Lorenzo me poupa de ter que narrar os fatos novamente e o faz em meu lugar.
Richard olha a mancha vermelha e o local inchado.
— Tente mover o braço, Sophia!
Com muita dor consigo me mexer. Não está quebrado, sei disso. A causa da dor
foi a pancada ao me impactar com o piso do jardim. Terei um ombro roxo por
alguns dias, é só.
Os dois insistem para que eu vá ao hospital, mas desistem. Não irei e ponto final.
— Quero um analgésico, por favor!
Richard me oferece um copo com água e um comprimido. Engulo-o e espero o
efeito chegar.
— Aqui está o que me pediu! Acabe com aquele filho da mamãezinha! — Retiro
o CD do bolso e entrego a Richard.
Ele sorri e beija minha testa.
— Vamos até o escritório, quero fazer uma cópia dessa belezinha aqui!
— Podem ir vocês! Já estou indo.
Os dois se dirigem para o escritório de Richard.
O remédio começa a agir em meu corpo e a dor lancinante resolve dar adeus.
— Sophia! Venha até aqui, rápido. — Lorenzo me chama.
O que será dessa vez?
Com o alívio causado pelo remédio, ando sem dificuldades e entro no escritório.
Lorenzo e Richard estão espantados e olham para mim.
— Fomos enganados. — Diz Richard.
— Como assim? Enganados? Não era esse o CD? — Meu rosto não disfarça
meu espanto.
Lorenzo olha para o monitor e solta uma gargalhada.
— O que tem aí? — Digo, curiosa.
— Venha até aqui e veja você mesma.
Richard permanece sério e ao me aproximar da tela, tapo a boca para não gritar.
No monitor, aparecem várias fotos de Sean, totalmente nu.

— Desgraçado! Ele nos enganou. — Digo.
— Ele sabia que iríamos roubá-lo, mas como? — Richard anda pelo aposento,
mordendo sua mão em estado de pura raiva e nervosismo.
— Devem ter usado grampos telefônicos, se estavam desconfiados... — Lorenzo
se adianta.
— Tem razão, disse a Richard que o roubaríamos por telefone. — Ainda dou
mais uma olhada na foto de Sean como veio ao mundo. Não posso negar que
corpo lindo ele tem!
Richard pigarreia, se aproxima de mim e desliga o monitor.
— Que mancada, Nina! — Meu irmão tem razão, mas agora já era.
— O que vamos fazer? Ele vai me denunciar, Richard! Iremos presos. — Um
pavor toma conta de mim.
— Calma, Sophia. — Alisa minha mão com muito carinho sem tirar seus olhos
dos meus. — Jamais deixarei que ele faça mal a você. Se ele tem poder, também
tenho meus contatos. Fique tranquila.
Depois de me acalmar, Lorenzo e eu vamos para casa.
Ao entrar em nosso apartamento, tudo está quieto.
Vicenzo deixou um bilhete avisando que foi jogar cartas com seu amigo, Frank.
Abro a geladeira na procura de algo para comer.
— Sophia... —Lorenzo me chama.
— Que é?
— Deveria ter feito uma cópia daquelas fotos. — Diz com cinismo. — Vi que
você estava olhando com certo interesse em nosso nobre senador.
Pego uma maçã e acerto—o no peito.
— Hei, que isso! Foi só uma brincadeira!
— Eu sei, mas não diga isso novamente! — Caio no riso. — Dei só uma
olhadinha, que mal fiz?
— A mim, nenhum, mas Richard não gostou nadinha. — Constata. — Reparou
que ele rapidamente desligou o monitor?
— Ah, você também com essa história de Richard, está parecendo a Angelina.
— Saio da cozinha com um pedaço de queijo na mão. — Vou dormir, pois tenho
um pressentimento que nosso dia não será dos melhores.
— Boa noite, minha Nina.
Deito em minha cama e o sono não vem. Repasso em minha mente cada detalhe
do que vivi naquela casa.
E agora? Sean já sabe que o roubei e deve me odiar. E Alexia? Tenho que falar
com ela antes que ele conte a ela. Preciso dizer que nossa amizade não teve nada
a ver com esse roubo, ela precisa acreditar em mim.
E aquelas fotos? Minha nossa! Ele é muito cara de pau! E que coxas!!!
Confesso que achei o corpo dele lindo, pena que não fiz uma cópia como
mencionou Lorenzo.
Por Danielly
Três da manhã! A essa hora, o senador já deveria ter me ligado, vou tentar falar
com ele.
Em dois toques, ele atende ao celular.
— Dra. Danielly, ela não apareceu, alarme falso! Acho que o melhor que vocês
têm a fazer é irem para casa e descansar, se ela tentar algo, iremos descobrir
através dos grampos telefônicos.
Olho para o lado e Lay baba no banco do carro em seu sono profundo.
— O senhor tem razão, vou me retirar do local, qualquer novidade, entre em
contato por favor!
— Sim, eu a aviso.
Desliga.
Que coisa! Perdi minha noite para ficar aqui, nesse friozinho de outono por
nada!
Ligo o carro e Lay acorda.
— E aí?
— Durma Lay, não aconteceu nada como previmos. Vou leva-la para casa.
Por Sophia
O dia amanhece e resolvo sair para caminhar um pouco no Central Park. Depois
de correr por 40 minutos resolvo me sentar num banco e observar as pessoas em
seu cotidiano. Vejo uma mãe empurrando um carrinho de bebê e fico pensando
se um dia irei fazer o mesmo.
Adoro crianças.
Duas mãos agarram meu ombro por trás e os apertam forte.
— Bom dia, que satisfação em a rever tão cedo!
Sinto tanta dor que chego a me encolher, mas não darei a Sean o gostinho de
saber que me machuquei.
Dá a volta e se senta ao meu lado. Ele veste um agasalho azul escuro com capuz
e me pergunto se ele fica feio de alguma forma. Tudo o que esse desgraçado
veste lhe cai bem.
— O gato comeu sua língua, ou deixe—me adivinhar! Durante a queda, você a
engoliu? — Seu cinismo chega na frente.
— Bom dia, Excelência!
— Serei muito breve, Sophia. — Pega em meu queixo e faz com que eu o
encare. — Você não passa de uma ladra mentirosa e oportunista que se
aproximou de mim e de Alexia para nos roubar! Pagará muito caro por isso!
— Me solta, está me machucando!!— meus olhos fixam nos seus.
— Nem comecei ainda, minha querida! Achou que iria roubar minha família e
nada iria lhe acontecer? Pois se enganou, chega de roubar e ficar gastando o
dinheiro alheio em viagens pela Europa, sua vagabunda! — Suas palavras me
atingem em cheio.
— Você não sabe o que está dizendo, não sabe o que passei! Não me ofenda
desse jeito!
— E nem quero saber, nada justifica uma coisa dessas! Roubar?! Nunca pensou
em trabalhar, sua ordinária? — Faz uma pausa e esfrega seus joelhos com as
mãos. — Não é porque é virgem que deixa de ser uma vagabunda!
Tiro suas mãos do meu rosto e tento me levantar, mas ele me puxa com força e
volto a sentar—me no banco. Ele está mesmo irado e se não estivéssemos em
um local público, não sei o que seria de mim.
— Era só pelo quadro? Era somente por dinheiro? — Me coloca na parede com
essa pergunta. — É assim que você age quando quer roubar algo? Seduz a vítima
e se aproxima de sua família! Tenho vontade de matá-la Sophia, tamanha a raiva
que estou sentindo!
— Pois me mate, tenho consciência de que o que fiz é extremamente errado, mas
não vou ficar aqui me justificando para um homem que não sabe de nada, um
arrogante que sempre teve de tudo e não faz nada por aqueles que realmente
precisam, Senador Mackenzie. — Grito em desabafo e quando ele tenta falar, eu
o impeço — Ainda não acabei! Sabe o que é ficar em uma rua com frio, sede,
fome e ver um amigo seu morrendo congelado ao seu lado e não ter um cobertor
para aquecê-lo? — Meus olhos se enchem de lágrimas ao me lembrar de Steven,
um amigo da rua, que morreu ao meu lado, com pneumonia. — E a única
alternativa é deitar seu corpo magro e faminto em cima dele para tentar aquecê-
lo? Eu roubo para...
Mesmo balançado por minhas palavras, sua arrogância não o abandona e
completa:
— Roubar não é a saída para mudar de vida, Sophia, já pensou se todo mundo
sair por aí roubando? A vida se tornaria um caos. E não tenho culpa se não nasci
pobre. E quanto ao que diz em ajudar os necessitados, você não sabe o que faço
a respeito, então não venha me julgar, não é sobre mim que estamos falando e
sim, sobre você!
Não tenho como argumentar, ele tem razão.
— Aquele quadro não valia nada comparado ao que... — sua voz se torna calma.
De repente, para. Não completa a frase e muda o tom da conversa.
— Se queria roubar para ajudar Richard, se deu mal. Ele agora tem fotos minhas
jamais vistas. Aliás, você as viu?
Cretino.
— Não. — Minto.
— Que pena, gostaria que tivesse visto o que perdeu. Poderíamos ter nos
divertido muito, saiba disso? — Se levanta. — Pois, chega de conversa, agora
vamos tratar de negócios. — Não ergo meus olhos e os fixo em seu par de tênis.
— Sei que roubou o quadro e invadiu minha casa. Tenho provas suficientes para
colocar a você e toda sua família na cadeia. Quero que se afaste de Alexia, pois
não a quero perto de minha irmã, prometo não dizer a ela quem nos roubou.
Pelo menos, ele está cavalheiro.
— Sean...
— Não me interrompa! — Grita — Quero o quadro ou o dinheiro da venda do
mesmo em 48 horas, ou então você será presa!
Respiro fundo! Toda aquela gente a quem íamos ajudar!! Tudo que fiz em vão!
— Está bem, o quadro já foi vendido, mas o dinheiro estará em suas mãos em 48
horas.
— Ótimo, foi um desprazer negociar com uma ladra! Maldita a hora em que a
conheci! Não quero vê-la nunca mais em minha frente. — Quase cospe em mim.
— Não cruze meu caminho novamente ou então, não responderei por meus atos.
Meu peito arde. Ouvir desaforos de um estranho não é nada, mas ouvir ofensas
de quem se gosta é a pior coisa do mundo. Também o que eu esperava? Que ele
me abraçasse e dissesse: Sophia que lindo gesto! Você rouba para ajudar as
pessoas!!
Nunca poderei tê-lo. Jamais iremos ter algo. Ele me odeia e com razão.
— Eu ligarei e marcarei o local da entrega.
— Nem pense em fugir, coloco a polícia internacional em seu encalço, sua ladra!
Sem olhar para trás começo a correr e minhas lágrimas descem sem parar pelo
meu rosto, minha visão se embaraça e com as costas das mãos, as enxugo.
Nunca me senti tão pequena, tão humilhada! Se Sean quer o dinheiro de volta,
ele terá! E o terá de uma maneira muito peculiar, políticos adoram se aparecer,
então, ele também terá seu momento de glória. Aguarde!
Ato de caridade
Por Sophia
Em casa, um pouco mais calma, após digerir cada palavra dita por Sean,
arquiteto meu plano para devolver o seu dinheiro.
Meu pai entra no quarto e se senta ao meu lado na cama. Segura minha mão e
me olha nos olhos.
— Vai me contar o que está acontecendo ou perdeu a confiança no seu velho
pai? — Seus olhos me desvendam e ao seu lado me sinto tão frágil. — Que
loucura foi essa? Invadir a casa de Sean Mackenzie sozinha?
Uma vez raposa, raposa até morrer. Vicenzo é muito sagaz e me conhece como
ninguém. Para ele, sou como o vidro, sempre transparente.
— Quem lhe contou? Lorenzo já deu com a língua nos dentes?
Me olha atravessado.
— Olha como fala de seu irmão! — Me repreende. — Não foi Lorenzo. Richard
me colocou a par de tudo e me fez prometer que não brigaria com você.
Me aconchego em seu peito, seus braços me envolvem e me apertam. Tudo o
que ergui como muralha de defesa caiu por terra e meu choro reaparece.
— Ele descobriu tudo! — Reclamo. — Sean Mackenzie, aquele ordinário, filho
da mãe, arrogante, prepotente e...
— Hei, calma... — alisa meu cabelo. — Não acha que está arrumando muitos
adjetivos para esse homem?
— Desculpe—me, mas é que ele merece todos os palavrões para qualifica—lo.
Eu o vi hoje, ele me ameaçou, dizendo que tem provas que nos incriminam e que
quer todo o dinheiro de volta, ou então seremos presos.
— Esse velho já teve sua idade, Sophia. Não nasci com esses cabelos brancos,
há mais alguma coisa que a senhorita está me escondendo, ou ao menos,
tentando?
Ergue meu queixo e como se eu ainda fosse uma garotinha, limpa todas as
minhas lágrimas.
— Ele me disse coisas horríveis, me humilhou e me senti a pior pessoa do
mundo.
— Você é a melhor pessoa do mundo. Jamais deixem que a diminuam. Seu
coração é grandioso e sua alma também. — Se levanta e caminha até a janela,
em seguida se vira para mim. — Entendo como ele se sente. Para ele, foi usado e
sente a mesma raiva que você está sentindo agora.
— O senhor vai defende-lo? — Me sinto indignada por meu próprio pai tomar a
defesa de Sean.
— Não, minha querida! Somente estou pensando como homem, é muito
simples!
Vicenzo suspira. Pensa como eu. Nas pessoas que deixaremos de ajudar. Coça a
cabeça e sorri.
— Se ele quer o dinheiro, devolva-o a ele.
— Pois é exatamente isso que farei. Só que será do meu jeito.
— E depois disso? — Pergunta.
— Depois o que?
— Irá esquecê-lo?
Meu pai não existe. Será que meu sentimento é tão visível assim? Mesmo assim,
disfarço.
— Não sei se que o senhor está falando! — Finjo que não sei ao que ele se
refere.
— Pois, se não sabe, direi. Você está apaixonada por esse homem e não adianta
negar, Sophia. Vejo isso em seus olhos e a cada vez que ouve o nome desse
homem, todo seu rosto se transforma e seu olhar muda. Acha que não a
conheço?
Baixo minha cabeça, não posso ser tão previsível assim.
— Sabe que a amo e quanto quero a sua felicidade, mas acho que seu coração
fez uma péssima escolha. Esse homem não merece nenhuma migalha do que
você sente por ele.
— Sei disso, meu pai. — Me dou por vencida, afinal, Vicenzo e meu irmão são
os únicos em quem posso confiar. — Sean não é homem para mim. Foi somente
uma atração passageira, não se preocupe.
Levanto—me e caminho até a porta ao seu encontro.
— Minha querida, às vezes, a felicidade está onde menos esperamos, pense
nisso.
— Obrigada, papai. Já me sinto melhor. Agora, preciso fazer algumas ligações.
— Qualquer coisa, estarei no Café.
Beija meu rosto e sai, em seguida, abro minha bolsa e de lá retiro um celular
descartável que consegui depois de minha linda conversa com o Senador
Mackenzie. Ligo para Richard. Ele poderá me ajudar em meu plano.
Explico a ele a minha ideia e como sempre, tenho seu total apoio.
— Sophia, depois que entregar esse dinheiro, eu tenho algo para lhe falar e tem
que ser hoje, é importante.
Seu tom de voz é sério, o que me deixa curiosa e preocupada.
— Pode adiantar o assunto? Tem algo ver com o roubo?
— Não, minha querida! Mas, quero muito falar com você, em particular. —
Alguns segundos de silêncio e volta a falar. — Jante comigo, hoje à noite?
É impressão minha ou Richard assumiu um tom mais romântico à nossa
conversa? Ah, não! Tudo o que eu precisava no momento! O homem que
considero meu amigo, apaixonado por mim. Mais essa agora!
— Está bem, aceito. Até mais ver!
— Até mais.
Desligo e fico olhando para o celular como se estivesse em transe. Angelina,
Lorenzo e papai. Eles têm razão. Richard sente algo por mim e nesse momento,
resolveu se declarar. Justo agora! Não quero magoa-lo, porém não posso
alimentar um sentimento que não existe em mim. Não sou o tipo de pessoa que
acredita que o sentimento vem com o tempo.
Ou se está, ou não apaixonada.
Fecho os olhos e a imagem de duas safiras intrigantes aparecem em minha
frente. Por que eu tinha que me apaixonar pelo homem mais cretino dessa terra?
Ainda bem que tenho consciência do que ele é. Agora só me resta esquecer que
Sean Mackenzie existe ou, ao menos, tentar. Farei o impossível para que isso
aconteça.
Depois de tudo organizado, chega a pior parte. Ligar para dono do dinheiro.
Teclo seu número várias vezes e desisto.
E pela quinta vez, deixo a ligação ser completada.
Um, dois, três, quatro toques e nada. Penso em desligar, mas ele resolve atender.
— Sean.
Será que ele tem noção do quanto sua voz é bonita? Deve saber disso. O homem
é um poço de convencimento.
— Estou ligando para marcarmos a hora e local para que eu possa lhe devolver o
seu dinheiro.
Sou direta e encontro um homem mais objetivo ainda.
— Ótimo. Pode falar.
Passo o endereço e ele não esconde o espanto por se tratar de um hotel
conhecido da cidade.
— Achei melhor um local público, se não se incomoda, senador.
— O importante é que irei recuperar o que me roubou, o local é irrelevante.
— Concordo. Até amanhã à noite.
— Até.
Encerra a ligação. E em seguida, meu celular toca, Alexia.
Ela vem me ligando várias vezes e a tenho evitado com muita tristeza. Não
queria perder a sua amizade, pois ela é uma garota rara. Franca e amável como
poucas. Suspiro e resolvo atender.
— Ufa! Pensei que estivesse morta, Sophia. Por que não atende às minhas
ligações?
— Desculpe-me, Alexia. Meu celular anda com problemas.
— Pois então, trate de arrumar essa porcaria! Preciso muito falar com você!
Na verdade, eu também, Alexia. E que se dane seu irmão. Não posso
simplesmente abandonar minha amiga e me afastar dela.
— Também preciso muito falar com você, Alexia. Podemos nos encontrar na
Bangles, daqui a meia hora?
— Claro, estarei lá.
[...]
Sentada com uma fatia de torta de framboesa em minha frente, aguardo minha
amiga.
Pela janela da confeitaria, posso acompanhar toda a movimentação das pessoas
na rua. E no meio delas, vejo quando Alexia desce de um BMW conversível.
Pelo jeito, comprou um automóvel.
Ao entrar, seus lábios me oferecem um lindo sorriso e seus olhos também.
— Olá, sumida. — Fala e se senta à mesa. Um atendente anota seu pedido e se
retira.
— Andei mesmo ocupada e também não quis lhe incomodar. Mas, me diga, e
Aidan?
— Era exatamente sobre isso que eu queria falar com você. Aquele dia, ficamos
juntos, mas agora ele tem me evitado.
— Não disse? Você foi apressada demais!
— Apressada? Sabe há quanto tempo eu queria dar para aquele homem?
Alexia e seu jeito desbocado.
— Um século?
É sua vez de rir.
— Nem tanto. Agora com meu irmão e toda a minha família não falam em outra
coisa a não ser o roubo de um maldito quadro. Aidan tem se mantido ocupado e
não ficamos mais juntos. — O atendente traz sua torta de limão e ela a prova,
revirando os olhos. —Isso é quase um orgasmo! — Dá mais outra garfada. —
Ficou sabendo que fomos roubados?
— Sim, fiquei. — Minha garganta chega a dar um nó.
— Que pergunta mais idiota a minha! Quem não ficou! Nova Iorque inteira
soube desse roubo.
E não sei se onde tirei coragem para dizer o que vem a seguir.
— Alexia, sou uma ladra.
Ela continua comendo e, segundos depois, me encara.
— Ladra? Como assim?
Conto um pedaço de minha história a ela e finalmente explico sobre o roubo do
quadro e também sobre o CD.
Alexia nada diz. Pego sua mão, estou prestes a ser humilhada novamente. Ela
não irá me perdoar.
— Você entrou naquela galeria e pegou aquele quadro? Depois invadiu a casa de
meu irmão? É isso?
— Sim. — Aperto ainda mais a sua mão, como se quisesse mantê-la ali. — Mas,
não foi por isso que vim falar com você. Não quero que pense que me aproximei
de você pelo quadro. Isso foi algo à parte. A única coisa boa disso tudo.
Seus olhos grandes me encaram. E me sinto encolher diante deles.
— Sophia... Olhe para mim. Minha família se preocupa com essas porcarias, eu
não. — Diz com a voz mais calma e sincera aos meus ouvidos. — Se o que você
me diz é verdade e sinto que é. Eu só tenho uma coisa a dizer.
— Diga. — Ela vai me condenar também. Mais uma pessoa que gosto irá me
dizer coisas que irão me machucar.
— Deveria ter me chamado. Eu a ajudaria. Roubar os bibelôs de minha mãe
seria muito divertido.
Meu corpo relaxa ao saber que ela não é como Sean.
— Não está zangada comigo?
— Sim, estou. Por não ter me contado. Não ter confiado em mim! — Me averte.
— Aquela foto sua e de seu pai justificam qualquer coisa. É a imagem mais linda
que já vi entre pai e filha e se vocês roubam para ajudar as pessoas, não irei
julgá-la, pelo contrário.
— Seu irmão sabe que fui eu.
— E? — Arqueia as sobrancelhas e espera a minha conclusão.
— O que você acha? Sorriu para mim e disse: Ah, linda, você é demais! —
Reviro meus olhos. — Quase me comeu viva, Alexia!
Alexia sorri torto e emenda.
— Bem, ele queria te comer viva na Dreams, mas você é parada como uma
tartaruga.
Ela ri.
— Estou falando sério, Alexia. Ele quer o dinheiro de volta.
— Ele te disse isso?
— Sim, ou devolvo o dinheiro ou irei presa.
— Posso lhe dizer uma coisa?
— Claro.
— Você não percebe o que está acontecendo?
— Como assim? — Fico curiosa.
— Pelo que você me contou mais as coisas que vi, meu irmão está com ciúmes
de você, isso sim.
— Não sabia que ser roubado causava ciúme. — Debocho.
Ela solta uma gargalhada e duas senhoras da mesa ao lado olham em nossa mesa.
— Sua boba. Ele está com ciúme por você ter roubado a pedido de outro
homem. Acredite.
— Acreditando ou não, amanhã devolverei o dinheiro e se quiser ver essa cena
de perto é só ir ao Trianon Palace amanhã às seis da tarde.
— Não perderia isso por nada! Quero ver a cara dele.
E assim, sigo para casa na certeza de que fiz a coisa certa.
Quinta-feira — Dezessete horas e trinta minutos.
Trianon Palace
Meu nervosismo é palpável. Estou uma pilha de nervos. Richard me tranquiliza
dizendo que tudo dará certo, mas a impressão que tenho é de que a qualquer
momento a polícia entrará pela porta do salão de convenções e anunciará minha
prisão.
Muitos fotógrafos e repórteres já estão a postos. O cinegrafista faz algumas
imagens e os diretores de cinco entidades também estão presentes. Alexia chega
e me cumprimenta. Agora, é só esperar o principal convidado.
Por Sean
— Saberia me dizer o porquê desse lugar para a entrega desse dinheiro? —
Aidan me olha enquanto ajeita a gravata. Meus seguranças seguem em um carro
logo atrás. Austin estaciona em frente ao hotel e na recepção o gerente vem ao
nosso encontro.
Ele se apresenta e sou muito breve. Meus olhos procuram por ela e não a
encontro.
— A senhorita Sophia e toda a imprensa o aguardam no salão azul.
— Imprensa? — Aidan se adianta.
— Vamos, Aidan. Agora fiquei curioso, seja o que for que Sophia armou para
mim, enfrentarei.
Caminhamos para o salão azul e vejo a presença de alguns fotógrafos e
repórteres. Mais ao fundo, vejo Richard que conversa com Sophia.


Meu coração bate mais forte quando ela se vira e seus olhos se encontram com
os meus. No canto direito, Alexia fala com o irmão de Sophia e seu pai. Pelo
jeito, ela veio com escolta. A família toda está aqui.
Ela caminha em minha direção com a elegância de sempre. Sophia tem uma
beleza ímpar. Seu corpo e suas curvas são perfeitas. Imagino minhas mãos
correndo por ele, enquanto minha boca devora seus lábios.
Ela pega o microfone e começa a falar.
Por Sophia
Sinto sua presença mesmo estando de costas.
Ao me virar, seus olhos se apoderam dos meus. Mesmo trêmula, caminho até ele
com o microfone nas mãos.
O câmera me segue e antes de falar procuro pelos olhos que sempre me guiaram
nos momentos difíceis. O olhar firme de Vicenzo. Ele me apoia com uma
piscada.
— Boa tarde, Excelência! Sempre pontual. — Sorrio forçadamente e ele se
mantém sério. — Bem, é um dia muito especial para todos nós. Confesso que
quando me disse que pretendia doar 150 milhões a essas instituições de caridade,
quase não acreditei, mas conhecendo um pouco do seu altruísmo e dedicação às
causas tão nobres, sua atitude me deixou sem palavras. — Toda a atenção do
salão está voltada para mim. Portanto, aproveito a deixa e continuo com meu
intuito.
— Este homem que vocês veem aqui não é uma pessoa superficial que se
preocupa somente com dinheiro e, sim um verdadeiro filantropo que ajuda os
que mais necessitam. E o faz em silêncio. — Em seus olhos toda a sua raiva é
canalizada e transferida a minha pessoa. Felizmente, hoje, achei que esse ato
merecia ser filmado e divulgado para que as pessoas o conheçam melhor senador
Sean Mackenzie, uma salva de palmas a ele!
Os presentes batem palmas.
Seus olhos brilham ainda mais de indignação e vejo quando enrijece seu maxilar.
Ele me morderia até arrancar pedaços.
Está exalando ódio.
— Senhorita Salvatore, não precisa agradecer. É uma honra poder ajudar,
sempre. — Sorri de uma maneira involuntária.
Chamo os diretores das entidades e faço as apresentações.
— Aqui, o microfone é todo seu! — Entrego-o a ele e seus dedos tocam os
meus. Sinto um arrepio ao sentir sua pele em contato com a minha, mesmo que
por tão pouco tempo.
Deixo-o com a imprensa e a seguir entrego a maleta contendo todo o dinheiro ao
seu assessor. Caminho por entre as pessoas até encontrar Richard que me oferece
seu braço para sairmos.
Na porta do salão, nos deparamos com uma mulher usando um distintivo. Deve
ser da polícia. Muito bonita por sinal, está acompanhada de uma loira. As duas
me olham, mas nada dizem.
— Você foi maravilhosa, Sophia! — Richard é somente sorrisos.
— Pegue minhas mãos, estão geladas! Achei que não fosse conseguir!
Ele segura em minhas mãos e as beija. Seu olhar não é mais o mesmo e sinto que
aquela conversa que tanto quero adiar, terá que acontecer.
Por Sean
Ela saiu à francesa.
Desgraçada!
Com a imprensa aqui, ao vivo, não pude lhe dizer o que queria. Ainda me
provocou indo embora de braços dados com aquele idiota.
Termino a coletiva e o dinheiro do quadro já era. Fiz a maior doação já feita por
minha família. Toda situação ruim tem suas vantagens. Isso irá repercutir muito
bem em minha imagem. Fará com que muitas pessoas mudem seu conceito a
meu respeito.
Ao sair, uma repórter me para e quer fazer algumas perguntas. Ela tem cabelos e
olhos negros como Sophia. Morde o lápis no canto da boca, num gesto
provocativo.
Depois de algumas perguntas inúteis, pergunto se ela não gostaria de ir para
minha casa e a bela morena aceita, sem pestanejar.
Marianne é o seu nome.
Em meu quarto, ela tira minha roupa com uma rapidez, deixando claro o seu
desejo desenfreado. Beijo sua boca e imagino estar nos braços dela, nos braços
de Sophia. Suas mãos abrem minha calça e sem pensar, ela me joga na cama,
caindo por cima de mim. Sua boca audaciosa corre por meu abdômen e em meu
pensamento lá está ela. Fecho os olhos, mas é Sophia a quem desejo, a quem
meu corpo clama.
E quando sua boca engole meu membro e o chupa parece que todo desejo que
sentia se vai. Isso nunca me aconteceu antes.
— Marianne...
— Sean...
Sem me ouvir, ela continua a me lamber todo e a pior coisa que poderia
acontecer a um homem viril, acontece. Broxo pela primeira vez na vida.
A morena ao meu lado fica constrangida e com razão, pois nem eu sei explicar o
motivo para tal situação.
— Marianne... posso explicar! — Só não sei como. — Estou com muitos
problemas...
— Relaxe, senador! Isso acontece! — Ela me olha com cinismo e sei que vou
virar algo de fofocas entre suas amigas.
Veste sua blusa, pega sua bolsa e sai.
E eu fico ali, deitado, pensando na coisa mais absurda que já me aconteceu,
nunca perdi o desejo em plena transa! E as palavras de Brunna, aparecerem para
me assombrar! Bato na madeira para isolar. Não posso colocar isso na cabeça, ou
então ficarei paranoico.
No mesmo instante, meu celular toca. O que mais o dia me reserva?
— Senador, aqui é Dra. Danielly. Tenho novidades. Podemos conversar?
— Sim, pode vir até minha casa?
— Sim, senhor, em dez minutos estarei aí.
[...]
— Não posso acreditar no que estou vendo!
— Sim, confesso que também fiquei espantada ao ler tudo o que foi levantado!
Eles não têm conta na Europa, nem bens, nada... tudo o ganham na venda dos
objetos de arte são doados para várias instituições de caridade. Eles são uma
espécie de Robin Hood modernos. Por isso a assinatura com batom na placa do
quadro roubado.
Eu a ofendi, a humilhei. Disse coisas horríveis a ela. Sophia não merecia ser
tratada daquela forma e me sinto muito mal com isso.
— Posso ficar com esses papéis? — Pergunto.
— Sim, tenho uma cópia. — Diz
— Dra. Danielly, quero retirar a queixa contra os Salvatore e arquivar o
processo.
— Senador, em relação ao seu processo, podemos sim retirar a queixa e arquivar
o processo, mas tenho que seguir com a investigação, porque eles roubaram
outras obras e precisam pagar pelo que fizeram. Roubaram uma obra do MOMa,
uma obra de todos os americanos.
— Entendo.
Respiro fundo, ela não está me entendendo. Terei que usar o meu poder para
salvar a pele daquela teimosa e de sua família.
O que estou fazendo? Será que enlouqueci?
Não a resposta para isso é outra. Eu me apaixonei por Sophia.
A investigadora e eu nos despedimos e assim que ela sai, pego meu telefone.
— Alo, aqui é o senador Sean Mackenzie, gostaria de falar com Ronald
Campbell.
A governanta da casa me pede um minuto. Vamos ver se aquela investigadora
poderá recusar um pedido vindo do Secretário de Segurança dos Estados Unidos.
Apaixonado
Por Sophia
— Richard, gostaria de lhe pedir um favor.
Sentados à mesa do Le Cirque, enquanto esperamos nosso jantar, Richard me
olha e responde.
— Peça o que quiser, Sophia. Amanhã é um dia especial, é seu aniversário.
Pigarreio e não querendo me aproveitar da amizade de Richard que sempre se
pôs à disposição para qualquer situação, acabo fazendo meu pedindo.
— Gostaria que me emprestasse a sua casa em Aspen, durante esse fim de
semana.
O garçom nos serve e se afasta. Mesmo sem fome, não poderia recusar o convite
para jantar com ele e provo meu salmão.
— Mas é claro. Tive uma ideia melhor. Que tal se eu e você fôssemos juntos?
Lembra-se do ano passado, quando fomos todos para lá, você, eu, seu pai e
Lorenzo?
Acho que Richard não me entendeu. Quero sair de Nova Iorque. Ficar sozinha
longe de tudo e todos. Dois dias em um lugar isolado me farão muito bem.
— Richard, dessa vez, prefiro ir sozinha. Estou procurando isolamento, você me
entende?
Ele toma um gole de vinho e prova seu filé.
— Sem problemas. Mando arrumarem tudo amanhã para a sua chegada. Meus
funcionários irão acomoda-la e faço questão de que aceite viajar em minha
aeronave.
— Não, absolutamente. Aí já é demais, meu amigo.
Coloca a mão em seu bolso e tira de lá uma pequena caixa azul escura
aveludada. Pelo formato, deve se tratar de alguma joia.
— Meus parabéns adiantados. Espero que goste. Mandei fazer especialmente
para você.
Um pouco sem jeito, pela maneira como ele está me olhando abro a caixa e me
surpreendo com uma linda pulseira em esmeralda e brilhantes.
— É linda, mas não posso aceitar algo tão caro, Richard.
E nesse momento, ele resolve abrir o jogo. Na pior hora, escolheu um momento
em que não estou disposta aceitar e negar nada. Apenas quero me esconder em
algum lugar e deixar os problemas fora de meu mundo, como se eu conseguisse
me livrar do que me consome simplesmente viajando para outro estado.
— Sophia, preciso de dizer uma coisa que há muito tempo venho guardando
comigo.
Ah! Richard, não faça isso, irá colocar nossa amizade em xeque! Não quero
magoá-lo e não vejo saída a não ser dizer o que sinto se acaso ele resolver se
declarar. Tomo meu vinho branco e ele não tira os olhos dos meus.
— Sou apaixonado por você, Sophia e faria qualquer coisa para tê-la ao meu
lado.
Por um momento, penso em como seria se eu estivesse aberta à essa paixão. O
que ele não faria por mim? Como seria nossa vida juntos se eu permitisse viver
ao seu lado. Sei que Richard não mediria esforços para me fazer a mulher mais
feliz do mundo, mas uma coisa trago comigo desde sempre. A franqueza.
E sendo assim, não posso enganá-lo e lhe dar esperanças mesmo correndo o
risco de perder a sua amizade.
— Richard...
— Espere, não terminei. Antes de dizer qualquer coisa, me deixe terminar. Eu a
amo Sophia e poderia fazer de você a mulher mais feliz desse mundo. Sei que
você não sente o mesmo por mim, porém se me der uma chance, por menor que
seja, a amarei por nós dois e com o tempo você passará a me amar como eu a
amo.
Seus olhos quase imploram por uma resposta positiva.
— Sinto muito, Richard, mas não posso. Sinto—me honrada por ter esse
sentimento em relação a mim. Mas, sabe que não acredito em um
relacionamento onde somente uma pessoa está envolvida.
— Sophia, uma chance... é o que lhe peço.
Olho firme em seus olhos e aperto suas mãos.
— Poderia aceitar e deixa-lo feliz. Viveria com você uma mentira e pior, mais a
frente poderia magoá-lo a ponto de perder o que mais prezo em minha vida, a
sua amizade. — Ele fecha os olhos, inconformado. — Eu o vejo como um
amigo, o melhor que já tive até hoje. Não me faça colocar tudo a perder,
Richard.
— Você está apaixonada por ele, não é?
E mesmo evitando que seu nome apareça, lá vem ele para me assombrar. Sean
parece que virou uma espécie de sombra, por qualquer lugar por onde eu passe,
sua presença se impõe e faz com que eu a encare.
— Não sei a que você se refere.
— Eu sei. Não me menospreze, Sophia, não a mim e à minha inteligência. —
Diz, amargurado. — Vi como você o olhou quando ele apareceu naquela coletiva
no Trianon. Seus olhos brilhavam com tanta intensidade que cheguei a sentir
inveja por nunca ter me olhado daquela forma.
— Sean e eu não daríamos certo da mesma forma que você e eu.
— Não me compare a ele. Sean só quer se divertir com você. Uma conquista a
mais. Sabe disso. Ele não é homem para se entregar à mulher alguma. Faria com
que sofresse em muito pouco tempo.
— Não precisa me dizer o óbvio. Sei exatamente como ele é e por isso não me
entreguei ao que sinto. Acha que sou boba o suficiente para me deixar levar por
uma paixão por um homem como ele?
— Esperava que não. Sean não vale a pena.
— Eu sei, Richard e isso está muito claro para mim. O que sinto por Sean é uma
espécie de atração, nada mais do que isso. Vai passar, garanto. Principalmente
agora que ele me odeia.
— Ele não a odeia. Engano seu. Não pense que Sean desistiu do que quer. Vai
fazer de tudo para vê-la rastejando aos seus pés.
— Então, ele vai morrer tentando. Sabe que não sou mulher que rasteja por
alguém e muito menos por um traste como Sean Mackenzie.
— Espero que seja muito feliz. Mas, também quero que saiba que estarei aqui
esperando por você caso mude de ideia. — Ergue sua taça. — Amigos?
Brindo com ele, mas sinto no ar que algo mudou e para sempre entre nós. Não
seremos mais os mesmos depois dessa noite. Terminamos nosso jantar e Richard
me leva para casa.
Por Richard
Sentado em minha biblioteca, com um copo na mão, penso na noite fatídica de
hoje. Ela está apaixonada por ele.
E o culpado por toda essa situação sou eu. Isso mesmo. Sophia só o conheceu
devido ao roubo que encomendei.
Uma pergunta não sai da minha cabeça. Por que as mulheres preferem os
cafajestes?
Elizabeth, minha primeira esposa, foi assim e agora Sophia.
Quando conheci Sean Mackenzie, era casado há menos de um ano. Vivia feliz
com minha esposa e um dia descobri que eles haviam tido um caso antes dela se
casar comigo. Elizabeth mesma me contou esse fato e me assegurou de que
aquilo foi somente uma pequena aventura do passado. E para mim o que foi
passado, lá permanece.
E esse foi meu erro.
Um belo dia, em um jantar, ao entrar em meu escritório, vejo-o agarrando minha
mulher que ao me ver caiu em prantos.
— Richard, esse homem me agarrou!
— O que? Você deve estar maluca! — Sean grita e olha para mim. — Sua esposa
me puxou para cá, alegando ter algo importante a me dizer e quando entrei em
seu escritório, ela se jogou em meus braços e estava tentando me afastar dela.
Sabe que não me envolveria com a mulher de um amigo. Posso ser mulherengo,
mas mulher casada não faz meu tipo.
E acreditando nas palavras de Elizabeth, expulsei Sean Mackenzie de minha
casa. Desfizemos nossos negócios juntos e nos tornamos meros desconhecidos.
A partir desse dia, me tornei seu inimigo e jurei faze-lo pagar pelo que me fez.
Elizabeth acabou me traindo com outro homem e quando estávamos assinando
os papéis de nosso divórcio, ela me disse que o que houve naquela noite com
Sean foi tudo uma armação de sua parte. Ele não a havia agarrado como ela
dissera, alegou que fez tudo aquilo porque ainda se sentia atraída por ele.
Aí, a minha pergunta: O que as mulheres veem nele?
Mesmo sabendo da verdade, Sean e eu nunca mais nos tornamos amigos. Nunca
o procurei e pedi desculpas por tudo o que disse a ele. E assim vivemos nossas
vidas cada um para um lado, até que nosso destino se cruzou novamente e para
minha tristeza, mais uma vez ele vence, tirando de mim o que mais amo na vida:
Sophia.
Espero que ele não tentou usa-la ou eu mesmo acabo com ele com minhas
próprias mãos.
Por Sean
Após inúmeras ligações, finalmente consegui meu intuito. Aquela investigadora
terá de parar com sua investigação e ainda por cima, irá me entregar todas as
provas sobre o caso Salvatore. Claro que não a prejudicarei. Ela ainda será
promovida e tenho certeza de que ela irá gostar de seu novo posto.
No fim, todos saem ganhando. Sempre resolvi as coisas dessa maneira.
Tomo um banho e me troco. Austin me espera no jardim como sempre.
Depois de passar na delegacia e pegar os papéis que tanto desejava, me
encaminho para o escritório de meu pai. Preciso falar com Max e só ele irá me
entender no momento.
Ao chegar em frente à sua sala, sua secretária me anuncia, logo a porta se abre e
meu irmão me recebe de braços abertos.
— Entre. — Me olha com sorriso aberto de sempre. — A que devo a honra dessa
visita tão ilustre à essa hora em plena sexta—feira?
Sento—me em uma cadeira em frente à sua mesa e ele se ajeita em sua poltrona.
— Não precisa zombar de mim, não você! Sabe que não apareço com mais
frequência por aqui pois meu tempo é escasso como o seu.
— Estou brincando com você. Fico feliz quando podemos conversar.
— Max, tenho uma coisa para lhe falar e não poderia deixar para mais tarde.
— Sim, diga.
Inquieto e me sentindo nervoso, prefiro ficar em pé andando pela sala.
— Max, não sei como começar.
— Muito fácil, meu irmão, pelo início.
Sorrio e ele espera pelo que tenho a dizer.
— Quero um conselho seu.
— Sobre? — Ele cruza os braços e franze o cenho. — Diga logo, Sean, está me
deixando curioso.
— Isso nunca me aconteceu antes. Não me reconheço. Max! Tenho raiva dela, e
mais raiva ainda por estar longe. Penso em Sophia o dia todo.
— Sophia? Quem é Sophia?
— Uma mulher que conheci há pouco tempo.
— Vocês saíram juntos?
— Não. Trocamos um beijo somente.
— Está explicado o seu fascínio. Ainda não a levou para a cama. Por isso, ainda
se sente fortemente atraído por ela.
— Você não está entendendo Max, é mais do que isso. — Deixo meus braços
caírem ao lado de meu corpo. — Tentei me afastar, não mais pensar nela, porém
quanto mais eu tento, pior fico.
Ele se levanta e vem ao meu encontro. Bate em minhas costas e solta uma
gargalhada.
— Bem-vindo ao clube dos apaixonados!
Passo a mão pelo cabelo e o encaro.
— É isso que acontece quando estamos apaixonados? — Encaro-o intrigado. —
Quero voltar a ser como antes. Não gostei de minha nova versão!
— Não se preocupe! Quando estiver ao lado dela, irá se sentir o homem mais
feliz do mundo.
— Aí é que está o problema.
Conto a ele um pouco sobre minha história e de Sophia, sem mencionar o roubo,
é claro.
— Acho que deve procura-la e se abrir. Talvez, ela esteja esperando essa atitude
de você.
— E se ela não me quiser mesmo depois de me declarar.
— Bom, se você diz que ela sente algo por você, com certeza, irá gostar de saber
que você está apaixonado.
Nunca me imaginei em uma situação como essa. Pedindo conselhos ao meu
irmão mais novo. Quando mais jovem, ainda no colégio, tive uma namorada,
mas nada sério e como não conseguia me manter fiel, optei por ter
relacionamento baseados em sexo. Até ela aparecer, com seu rosto marcante,
olhos negros e um sorriso com mistura de malícia e inocência.
— E Sean, tem mais. Estar apaixonado inclui fidelidade e devoção. — Fala,
sério com muita presteza. — Se está disposto a ficar com essa moça terá que
abrir mão dessa vida de playboy irresistível e assumir uma postura de um
homem que sabe o que quer.
Ele tem razão. Mas será que consigo?
— Estar com a mulher por quem se está apaixonado é muito mais difícil do que
imagina. Encerram-se as conquistas baratas e fáceis para darem lugar a
conquistar a mesma mulher todos os dias.
Max é o irmão que todo homem inexperiente nesse assunto deveria ter.
— Obrigado. Não sabe como me ajudou.
Ele me abraça forte.
— Torço por você. Sempre. E não vejo a hora de conhecer essa mulher. Ela tem
o meu respeito.
Caminho até a porta e pego na maçaneta.
— Você a conhecerá muito em breve, se me dá licença, tenho algo muito
importante a fazer. Até mais.
Ergue a mão e acena para mim.
Austin está me esperando na calçada e abre a porta para mim.
— E agora senhor? Onde vamos?
Meus olhos cruzam os seus no retrovisor. Meu velho e querido Austin.
— Para o café Toast all caffè.
[...]
Por Sophia
24 anos. Para mim, são dez. Dez foram os anos que nasci para o mundo. O resto
de minha vida foram somente pedaços de um tempo infeliz. Deixo-os guardados
e trancados em algum canto qualquer.
Abro meus olhos como todo aniversário a mesma cena se repete desde que
cheguei a essa casa e, para mim é como se ela fosse vista pela primeira vez.
Vicenzo entra no quarto com um bolo cheio de velas acesas, cantando parabéns
seguido por Lorenzo que sopra um apito, causando um enorme barulho. Posso
ver essa cena por mil anos seguidos e ela sempre causará a mesma emoção em
mim.
Amo esses dois incondicionalmente.
Vicenzo lambuza meu nariz com chantilly e depois enche meu rosto de beijos.
Seu abraço é o meu renovo.
— Parabéns, minha filha! Vamos tomar nosso café. Angelina lhe preparou um
café da manhã especial.
Lorenzo me beija no rosto e aperta minhas bochechas.
— Parabéns, Nina. Lamento lhe dizer que está ficando para titia.
— Ah, é? Pode reformular essa frase? Estamos ficando para titios. Você também
está encalhado tanto quando eu.
Vicenzo cai no riso.
— Sophia, há um lindo ramalhete de tulipas brancas na cozinha lhe esperando.
Meu coração acelera. Sean? Não. Ele não sabe a data de meu aniversário.
— Richard lhe mandou flores, Nina. Esse ano, superou os anteriores. Um buquê
enorme. — Completa meu irmão com ar de deboche.
Ele não vai desistir tão fácil.
— Papai, por falar em Richard, pedi emprestada a ele a sua casa em Aspen.
Quero passar um final de semana lá. — E antes que ele proteste, aviso. — E irei
sozinha. Volto na segunda, se não formos presos por nossos furtos, espero
receber a resposta de uma escola que recebeu meu currículo.
Ele suspira. Não aprovou minha ideia.
— Mesmo não concordando, sei que irá do mesmo jeito. Que horas pretende
partir?
— Daqui a pouco. Vou descer para tomar café com vocês e o motorista de
Richard irá me levar ao seu hangar. Ele me emprestou a casa e fez questão que
eu fosse em seu avião.
— Milionário apaixonado é outro nível. — Lorenzo resolve soltar outra de suas
gracinhas e eu o repreendo.
— Isso mesmo, Lorenzo. Sem gracinhas.
E como todos os anos os dois saem do meu quarto discutindo pelo corredor.
Duas horas depois, olhando pela janela do avião, fecho os olhos e penso no que
ele estará fazendo...
Por Sean
Desço do carro e olho para o café com sua fachada estilo século XIX. Que
mundo pequeno. Jamais me imaginei parado aqui pensando no que dizer a ela.
Tantas coisas que quero falar e espero que as palavras não sumam de minha
mente. Ensaiei cada vocábulo desde ontem à noite e meu maior medo será a sua
reação. E se ela não me perdoar?
Afasto essa ideia negativa da cabeça e entro no local. Várias pessoas tomam seu
café e conversam sem notar minha chegada, exceto uma pessoa.
O pai de Sophia.
Vicenzo Salvatore me olha e fecha a cara. Um homem muito atrevido por sinal,
pois quem tinha que olha-lo dessa maneira era eu. Ele me roubou e não o
contrário.
Sem me intimidar, me aproximo do balcão.
— Pois não? — Diz.
— Preciso falar com Sophia, por favor.
— Sophia não está. Viajou e só volta na segunda-feira.
— Viajou? Para onde? Posso saber?
— Não, não pode. — Serve um café a um cliente e vira suas costas a mim.
Imagino esse homem como sogro. Isso vai ser difícil.
— Preciso muito falar com ela, o senhor precisa entender.
Ele se volta para mim. Seu olhar duro e suas rugas apontam que ele é um homem
de poucas palavras.
— Vai humilha-la mais do que já fez?
— Não. É importante. Me diga onde ela está, por favor!
Retira o seu avental e sai detrás do balcão.
— Pietro, já volto, sim?
Diz ao jovem funcionário e passa por mim. Ergue o braço e me chama para subir
as escadas que dão acesso à sua casa.
— Entre.
Passo por ele e paro no meio da sala. Uma senhora muito simpática vem ao meu
encontro.
— Senador Mackenzie, prazer! — Vicenzo fecha a cara para ela, mas nada
resolve. — Sou Angelina. Aceita um café?
— Não, obrigado.
Corro meus olhos pela sala e no canto direito vejo um piano com um grande
retrato de Sophia. Na foto, ela sorri.
Linda.
— Angelina, por favor, quero falar com o senador em particular.
A senhora nos deixa a sós e meus olhos mais uma vez recaem sobre a foto sobre
o piano.
— Sente-se, por favor. — Diz e se senta em um dos sofás da sala. Obedeço e me
sinto como um adolescente ridículo falando com o pai da namorada. Se Aidan
me visse assim, diria que enlouqueci.
— Obrigado.
— Não pude deixar de reparar que estava olhando aquela foto sobre o piano. —
Aponta para o porta-retratos.
— Sim. Ela está linda naquela foto.
— Meu rapaz, vou ser muito direto. Não sei o que tem de tão importante para
tratar com minha Sophia. — O velho é dos meus; possessivo. — Mas, quero
deixar claro que não o quero perto dela.
— Senhor Vicenzo... —, tento falar e sou interrompido.

— Vicenzo, por favor. Somente Vicenzo.
— Está bem, Vicenzo. Vim para me desculpar com Sophia. Fui muito duro com
ela.
Ele anda até um balcão e tira de lá outra foto e me entrega.
— Olhe bem para essa foto! Quero que observe cada detalhe principalmente o
olhar de Sophia.
Sophia era mais jovem. Deveria ter no máximo uns quinze anos na época. Olhos
inseguros e tristes. Não digo nada e entendo perfeitamente o que se passa por
aqui.
— Essa foto foi tirada um mês depois que Sophia veio para minha casa. Sabe
onde e como a encontrei?
Nego com a cabeça.
E ele me conta como adotou Sophia. Então aquilo que ela me contou sobre o seu
amigo que morreu nas ruas era verdade? Achei que ela estivesse inventando
aquilo para me amolecer e justificar os seus atos de roubar.
— Ela era a sombra de uma menina. E com muito cuidado e carinho, Lorenzo e
eu a trouxemos para a superfície. Quando fala na filha sua voz assume um tom
de emoção. — Sophia não tinha autoestima, se sentia como um cachorro que foi
chutado por várias vezes nas ruas e mesmo assim, esperava por migalha de
atenção que alguém pudesse oferecer. Fiz com que ela visse o seu valor, sua
grandeza. E o que você vê sobre aquele piano é o reflexo de tudo que construí
em dez anos.
Sua voz é firme. E seus olhos estão cheios de lágrimas.
— Sou um ladrão por escolha. — Ele faz um breve resumo de como começou a
roubar. Falou também sobre a morte da esposa e sua volta ao mundo do crime. E
volta a falar de Sophia — Mas, ela não. Sophia teve que sobreviver a indiferença
dos pais que ela nem conhece, o desprezo de outros que não a quiseram em um
orfanato e pior ainda, a vida fria e cruel das ruas. Eu a encontrei ferida, suja,
maltratada e muito arredia. Mas, aos poucos, foi se abrindo para mim e tive a
certeza de que Deus me colocou em seu caminho para salvá-la. A minha Nina.
Bate em seu peito com força.
Ele tira um lenço do bolso e enxuga os olhos. Também fico emocionado. Jamais
imaginei que Sophia tivesse uma história como essa.
— Ela me amou sabendo o que eu era. Se orgulhava por aquilo que eu fazia e
um dia, ela me salvou em um roubo. E a partir desse dia, nos tornamos mais do
que pai e filha. Nos tornamos parceiros.
— Vicenzo...
— Ainda não terminei... — Fala, áspero. — Sophia me trouxe a vida. Eu a salvei
e ela fez o mesmo por mim. Era um viúvo triste e ela veio como uma brisa numa
tarde quente e abafada. Seu sorriso me dava alegria e o amor que ela sente por
mim, me dá forças para continuar vivendo pela minha família. E lhe digo que,
ninguém nesse mundo fará a minha filha sofrer. Ela já passou por todo
sofrimento que uma jovem suportaria. Você a humilhou e a fez chorar. Sequei as
suas lágrimas e a consolei no dia em que a maltratou. Não gostei do que fez a ela
e pouco me importa se você é poderoso e rico. Eu o mataria sem pensar duas
vezes, se ousar faze-la derramar uma lágrima sequer de tristeza novamente. —
Seu ar de ameaça é veemente. — Sou um homem que já viveu muito e não me
importaria de apodrecer na cadeia por ter defendido o meu bem mais precioso
que são os meus dois filhos. Agora pode falar o motivo de sua vinda até aqui.
Ele não é nada fácil. Agora vejo que Sophia mesmo não sendo sua filha
biológica herdou muito dele.
— Vicenzo, vim para me desculpar com Sophia. Eu a tratei com desprezo e disse
coisas a ela na hora da raiva, que na verdade, não queria dizer. Eu achei que ela
estivesse me usando e brincando com meus sentimentos, somente para me
roubar. E vi o quanto me enganei. Gostaria de poder dizer isso a ela, mesmo que
não me perdoe, necessito dizer isso pessoalmente. Eu me apaixonei por sua filha
e esse sentimento é sincero.
— Infelizmente, ela não está. Volta na segunda-feira.
Suspiro e vejo que Vicenzo e eu temos uma relação não muito amistosa. Mesmo
assim, foi bom ter vindo até aqui. Fiquei conhecendo um pouco mais de Sophia.
Me levanto e ele faz o mesmo.
— Vou indo. Se ela ligar, diga que estivesse aqui, por favor.
— Sim, eu direi a ela. Agora, se me dá licença, vou voltar para o café.
E antes que ele saia, Lorenzo aparece na sala e me cumprimenta.
— Eu o acompanho até lá embaixo, Sean. — Diz Lorenzo.
Ao descermos as escadas, ele olha para trás e me entrega um bilhete.
— Aqui está o endereço de onde ela está. Ouvi toda a conversa sua e de meu pai
e resolvi lhe dar um voto de confiança. — Me olha, inquiridor. — Mas, se fizer
minha Nina chorar acabo com sua raça. Vá e faça uma surpresa a ela. Hoje é seu
aniversário.
— Obrigado, Lorenzo. Não sei como lhe agradecer.
— Não precisa me agradecer. Estou fazendo isso por Nina. Faça minha irmã
feliz. Ela gosta de você.
Saio do café com um sorriso no rosto e na calçada trombo com Richard que me
junta pela camisa e me joga na parede. Acerta-me um soco no queixo, mas acabo
me soltando e o juntando pelo colarinho, revidando o golpe e acabando
engalfinhados na calçada. Lorenzo chega para apaziguar a situação. Richard
levou a pior pois acabei pegando pesado com ele.
— Seu miserável! Que faz aqui? Veio para seduzi-la e depois jogá-la como as
outras? — Limpa sua boca com sangue.
Ele também ama Sophia.
— Não lhe interessa o que vim fazer, Richard! — Respondo e entro no carro.
Tenho muitas coisas para cuidar, uma delas é ir atrás da mulher por quem estou
apaixonado. Se ela está em Aspen, é para lá que vou. Também temos uma casa
lá.
Antes de entrar no carro, ele me ameaça.
— Pagará caro, Sean Mackenzie. Isso não ficará assim.

Por Sophia

Onze horas da noite. Sentada em frente à lareira tomando um belo vinho, fico
olhando o crepitar das chamas da lareira. Esse silêncio todo me relaxa por
completo. Foi uma ótima ideia ter vindo para Aspen. Os empregados já se
recolheram e eu não consigo dormir apesar do fuso horário. Em Nova Iorque são
quatro horas da manhã.
Lá fora, faz frio e ainda estamos no outono.
Alguém toca a campainha. Quem será a essa hora?
Mesmo de robe, resolvo atender a porta. Abro uma fresta e quase tenho um
colapso ao ver Sean parado à minha porta.
— O que faz aqui? Já não disse tudo o que tinha para me dizer? — Pergunto com
o coração quase saindo pela boca. Ele usa uma camisa branca e um sobretudo
preto, sua barba dá sinais em seu rosto lindo.
— Vai me deixar congelar aqui fora? Preciso falar com você, é urgente!
Afasto—me e deixo que ele entre. Seu perfume invade a sala, sua presença
domina o ambiente. Sinto—me pequena e vulnerável em sua frente.
— Diga logo o que veio fazer aqui. — Digo, quase engasgando.
— Vim para buscar o que você me roubou.
Noto que ele segura uma pasta nas mãos.
— Eu já devolvi o que lhe roubei, não iremos começar com essa história
novamente. — Passo a mão em minha têmpora e prevejo uma discussão
duradoura.
Seus olhos devoram meu corpo e me sinto nua diante deles.
— Não devolveu nada! — Ele caminha até a lareira. — Está vendo isto?
— Sim, o que é? Meu mandado de prisão? Veio com sua autoridade e abuso de
poder para me prender?
— Não, isso aqui são todas as provas dos roubos praticados por você e sua
família.
Meu coração acelera. Ele veio com a intenção de me deixar na pior.
— Ha—há, sabia que iria me chantagear. O que vai querer com isso?
— Já disse, vim para buscar o que você me roubou.
— Sean, vá embora, não temos mais nada a falar, roubei e pronto, pode me
processar!
Endireita seu corpo e continua a me fitar com seus malditos e lindos olhos azuis.
— Você roubou o meu eu... — bate em seu peito. — O meu coração, meu
sentimento, bagunçou minha cabeça e não penso em outra coisa a não ser em
você. — Balança a cabeça, querendo ordenar seu pensamento. — Não estou
falando de sexo, estou me referindo à paixão, roubou meu coração e eu o quero
de volta com você dentro dele, sua ladra maldita! — Joga todas as provas na
lareira e vem ao meu encontro.
Ainda estou sob choque pelas palavras que acabei de ouvir.
Sean, apaixonado por mim?
Ele me abraça e me encara. Sua mão prende meu pescoço e sua boca esmaga a
minha em um beijo que me deixa sem fôlego. Sinto o calor do seu corpo ansioso
pelo meu.
Ao se afastar, ele sorri.
— Sou louco por você, Sophia, me perdoe por ter ofendido você!
— Eu também sou louca por você! — Não sei se estou em alguma espécie de
sonho, só espero que Lorenzo não me acorde dessa vez.
— Venha, vamos sair daqui!
Puxa—me pela mão em direção à porta.
— Para onde irá me levar a essa hora?
— Surpresa! — Sussurra em meu ouvido. — Quero fazer amor com você em
outro lugar que não seja aqui, nessa casa!
Ele tira seu casaco e o coloca em minhas costas.
— Vamos? — Sorri com malícia e paixão em seus lindos olhos.
— Vamos.
E saio abraçada a ele para minha tão sonhada primeira noite....
Nossa primeira vez
Sexta-feira — Mansão Mackenzie
Por Max
— Onde está Sean? — Mamãe, com toda sua pompa, sentada à mesa de jantar,
pergunta. — Ele nunca se atrasa para os nossos jantares de sexta.
Nunca se atrasava, ela quis dizer. O que é uma verdade. O que ela não sabe é que
seu filho, à essa hora, atravessa o país para ir atrás de uma garota pela primeira
vez.
— Sean não virá para o jantar. — Rebato, porém não direi a verdade à minha
mãe. Sean me pediu sigilo e será isso que irei fazer. Alexia me dirige um olhar
de cumplicidade mesmo não sabendo o motivo de minha resposta.
— Como não virá? Ele nunca falta e sabe o quanto é importante para mim reunir
a todos nesse jantar. Onde ele está? — Diz, coberta de indignação.
— À essa hora, indo para o Colorado, tratar de um assunto muito importante. —
É o máximo que posso dizer.
Alexia toma o vinho e através do brilho do cristal posso ver seu olhar de
curiosidade. Até minha noiva, que não costuma se intrometer em assuntos da
família, diz:
— Nossa, esse assunto deve ser muito importante, pois ele nunca falta aos
jantares de fim de semana.
Meu pai acaba encerrando o assunto. Ele também sabe o real motivo da viagem
e ficou muito feliz em saber que seu filho, finalmente se interessou por alguém a
ponto de fazer uma viagem tão longa para ir atrás dessa mulher. Sean nos pediu
segredo e, portanto, não iremos abrir a nossa boca.
— Sean foi cuidar de um assunto a meu pedido, querida. Deve voltar domingo à
noite. Desculpe-me por não ter avisado antes. Acabamos esquecendo, não é meu
filho?
Papai me lança um sorriso e leva o garfo à boca. Beatrice, mesmo inconformada
com a ideia, resolve aproveitar o nosso momento família, mas percebo que para
ela, um jantar sem Sean não é a mesma coisa. Eles são muito ligados, isso não
posso negar.
Terminamos nosso jantar e passamos para a sala de estar. A copeira nos serve
café e licor. Sem menos esperar, a campainha toca e Joseph Wendell adentra o
aposento acompanhado de nossa governanta.
— Com licença, atrapalho alguma coisa? — Diz, sem jeito. — Acho que cheguei
cedo demais para nossa jogatina!
Joseph é amigo de nossa família há anos e quase todas as sextas, se reúne com
meus pais para jogarem cartas. Joseph sorri e minha mãe se adianta lhe
devolvendo um dos seus sorrisos mais simpáticos.
— Joseph! Que maravilha! Você nunca atrapalha! Venha, sente-se conosco.
— Isso mesmo, amigo! Hoje, Sean nos deixou na mão, Bill deve estar chegando.
Venha, tome um café conosco! — Diz meu pai.
Bárbara aperta minha mão e me puxa disfarçadamente para a outra sala. Com
suas mãos em meu colarinho, beija de leve meus lábios.
— Espero que quando nos casarmos, não seja como seu pai e Sean que se
reúnem para passar a noite toda jogando cartas.
— Querida, é um dos passatempos prediletos de meu pai quando está em casa.
Não vejo mal algum nisso, porém fique tranquila, não gosto de jogar.
— Ainda bem. — Roça seu nariz no meu. — Sorte a minha. Já não posso dizer o
mesmo da pobre que se casar com seu irmão, aliás, se isso acontecer, é claro!
— Vocês terão uma surpresa muito em breve, é o que posso dizer! O velho Sean
está indo embora para dar lugar a um novo homem.
— O que quer dizer com isso?
— Nada. É só um palpite. Sean, pela primeira vez, está interessado em uma
mulher.
Bárbara me olha com estranheza e completa.
— Sean? Estamos falando do mesmo Sean?
— Sim. E a essa hora, ele deve ter chegado ao seu destino. Mas, vamos mudar
de assunto e falemos de nós. No sábado que vem, marcaremos a data do nosso
casamento, que acha?
Sorri e me beija ardorosamente.
— Não vejo a hora, meu querido.
— Nem eu.
Por Sophia
Sua mão aperta a minha ao sairmos pela porta principal, um vento congelante
nos atravessa e sem que eu reclame ou diga algo sobre o tempo, ele me ergue nos
braços e se encaminha para o carro.
— Ainda sei andar, sabia? — Beijo seu pescoço e meu coração e minha mente
tentam se acalmar. Ainda não acredito no que Sean acabou de fazer. Como ele
recolheu aquelas provas? O que ele arriscou para consegui-las e o melhor de
tudo isso, cometeu tal loucura por mim. Minha alma está tão feliz que não
permite que minha boca se feche.
— Sabia, mas queria carrega-la e aquece-la com meu corpo. — Abre a porta de
seu carro com uma das mãos e antes de me pôr no chão, sua boca encontra a
minha. Seu beijo não é mais aquele.
A primeira vez que ele me beijou, havia fúria e um desejo contido que ele tentou
extravasar naquele baile de máscaras. Agora, seu beijo é um misto de muitas
outras coisas. É tudo diferente, seu desejo é o mesmo, mas Sean o demonstra de
outra maneira, há sentimento ali. Afasto-me de seus lábios e entro no carro. Ele
dá a volta e meus olhos não perdem um movimento seu.
— Posso saber como me encontrou? —Pergunto assim que ele entra no carro.
Arqueia as sobrancelhas e passa seus dedos em meu rosto.
— Fui procura-la no Café e dei de cara com seu pai. — Liga o carro e sai
devagar. — E tive uma longa conversa com ele. Agora sei a quem você puxou.
Ele me ameaçou sem piscar os olhos.
— Sério? Não acredito que ele fez isso!
Sean muda de assunto.
— Sophia... — Coloca a mão em meu joelho e mesmo sendo um toque banal,
meu corpo todo espera por mais. Imagino o que a noite me reserva, seu corpo
forte sobre o meu, sua boca na minha e em todo meu corpo, chego a salivar ao
imaginar meus lábios descendo por todo o seu peito. Sua camisa aberta revela
alguns pelos do seu tórax e essa visão atordoa meus sentidos que eram antes de
Sean, muito controlados. — Antes de mais nada quero que me perdoe. Disse
coisas que não devia ou queria. Sei que a magoei. Mesmo sem saber o quanto
estava apaixonado, minha raiva era por me sentir usado por você. Na hora da
raiva, disse coisas impensadas e que a fizeram chorar, não a quero fazer chorar,
entende?
Aconchego meu corpo no seu e numa atitude ousada para mim, minhas mãos
sobem por sua coxa musculosa.
— Acha que se eu não o desculpasse, estaria dentro desse carro, louca para ser
amada por você? — Ele solta um gemido rouco e gutural, me acendendo ainda
mais. Mordo sua orelha de leve e sussurro em seu ouvido. — Sou sua, mesmo
inconsciente, mesmo que tenha lutado contra todo esse sentimento. Agora, nada
importa, somente você e eu. Por curiosidade, onde está me levando?
— Para minha casa. — Se adianta. — Não me sentiria à vontade com você, na
casa de Richard. E não me pergunte o porquê. Você já sabe.
Ele tem razão. Sei a causa e acho que transaríamos dentro do seu carro ou até
mesmo na rua, mas não na casa de Richard.
É correto. Assim, não o magoo ainda mais.
Sean afaga meu cabelo e mesmo não o conhecendo intimamente me sinto como
se fôssemos um casal há muito tempo. Abraçada ao namorado em um passeio de
automóvel.
— Se não fosse por Lorenzo, não estaria aqui. Ele me deu o seu endereço.
Lorenzo. Agora está explicado. Ele me ligou há uma hora, perguntando se estava
tudo bem.
Meu irmão safado. O safado que amo.
Sean para o carro.
— Chegamos. Venha.
Abre a porta para mim e me abraça assim que saio do carro.
A casa de Sean é muito bonita. Com madeiras rústicas, pedras e grandes janelas
em vidro ela se destaca entre o grande jardim com as luzes acesas e faz um
conjunto ainda mais acolhedor ao lado do rio. A noite fria e carregada de estrelas
é testemunha de minha felicidade.
Abre a porta devagar e acende a luz, me deixando boquiaberta ao ver o que ele
preparou para mim.
Estou sem palavras. Tiro o sobretudo e o jogo em uma poltrona.
— É lindo, Sean!
— Feliz aniversário, minha linda! Corri para preparar algo em seu aniversário.
A enorme sala foi toda enfeitada com tulipas vermelhas e por onde meus olhos
recaiam, lá estão elas me felicitando. Não sei como ele descobriu, são minhas
flores preferidas.
Em uma mesa, perto da lareira acesa, há um bolo de aniversário com minha
imagem vestida de vermelho. O traje do baile de máscaras.
— Obrigada! Você arrumou isso tudo? Como soube que adoro tulipas
vermelhas?
— A ideia foi minha. Contratei pessoas para executa-la. — Olha para o bolo e
ele adivinha o meu pensamento. — Tenho uma foto sua com esse vestido e
quanto às flores, eu vi uma foto em cima do seu piano enquanto falava com seu
pai. Você estava cuidando de um vaso com essa mesma flor e achei que elas
combinavam muito com você.
— São lindas, adorei, mas não me lembro de ter tirado nenhuma foto no baile,
Sean! — Falo, intrigada.
Ele abre o champanhe com muito cuidado e nos serve entregando uma das taças
a mim, levantando um brinde. Bebo um gole generoso e o álcool me relaxa.
Apesar de querer muito estar com o homem à minha frente, me sinto nervosa,
não sei o que fazer e nem o que me aguarda. E se ele não gostar de mim? Se
transar comigo e não sentir o mesmo que eu?
Seus olhos ficam mais brilhantes com o reflexo da luz do fogo.
— Pedi para que tirassem e você nem deve ter percebido. Você estava linda
naquele baile. E a partir daquele dia, fui me tornando cada vez mais preso a
você. — Pega a minha taça e a coloca sobre a mesa junto com a sua, em seguida,
segura minha mão e a leva aos seus lábios. — Sophia, isso tudo para mim
também é novo. Nunca fui tão longe por mulher nenhuma. Elas nunca habitaram
meu pensamento e muito menos o meu coração. Você veio para mudar isso e
pela primeira vez em minha vida, sinto medo. Nunca estive apaixonado por
ninguém e no começo, isso me deixou irritado, nervoso. Lutei contra esse
sentimento e acabei me dando por vencido, pois ele é mais forte do que eu. Tão
forte que me fez passar por cima de meu orgulho e vir atrás de você.
Suas palavras me prendem de tal forma que nem respiro direito para não perder
nenhum detalhe. Sean se declarando a mim é uma das melhores coisas que já me
aconteceu.
— Mesmo correndo o risco de ser rejeitado. Não podia deixar de vir até você e,
se não me quisesse, precisava olhar em seus olhos e ouvir de sua boca que não
sentia nada por mim.
Enlaço meu braço em seu pescoço e o silencio com minha boca. Eu o quero,
preciso sentir o seu corpo todo em mim. Uma espécie de urgência, um desejo
nunca antes sentido. Completamente apaixonada e entregue.
Ele me aperta contra o seu corpo e sinto como ele me quer. Sinto sua ereção
pressionando minha pélvis. Fico mais molhada ainda quando sua mão sobe pela
minha coxa.
— Toda molhada para mim... — Seus dedos tocam meu sexo e sinto minhas
pernas amolecerem de tanto desejo. Sean abre meu robe e o deixa cair sob meus
pés. Abaixo meus olhos, um tanto envergonhada.
Nunca estive nua na frente de um homem.
Sua mão ergue meu queixo, seus olhos me encaram e sua boca linda me sorri.
— Não precisa ter vergonha! Você é linda, exatamente como eu a via em meus
sonhos. Dormia e sonhava com você e, estando acordado a via como estou
vendo agora. Seus olhos me dizem o quanto me quer. Só falta uma coisa.
Ele pega uma caixa em cima da mesa e a abre. Um colar com uma enorme
pedra- granada e brilhantes.
— Isto. — Coloca-o em meu pescoço e sua boca corre por todo meu colo, no
mesmo instante que suas mãos fortes acariciam meus seios. — Eu a imaginava
assim...
Coloco minhas mãos sobre as suas e, viro meu pescoço no instante que meus
lábios buscam os seus. Sua língua invade a minha boca se enroscando com a
minha. Gemo ao imaginar essa língua em outras partes de meu corpo.
Me sinto poderosa, desejada pois a cada gemido meu, desperto em meu homem
mais desejo. Ele vira-se e me pega em seus braços.
— Quero você em minha cama, vou ama-la com meu corpo, Sophia. Vai sentir o
quanto lhe desejo e o quanto me tem em suas mãos.
— Sean...
Agarrada em seu pescoço, abro os botões de sua camisa e mordo de leve seu
ombro forte.
Ao chegar em seu quarto, mais tulipas por todo o quarto. Sean me põe no chão e
ele abre as abotoaduras para se livrar de sua camisa. Não disfarço meu desejo ao
contemplar seu corpo mais que perfeito.
— Você é lindo...
— Não, como você!
Devagar, me conduz até a enorme cama com lençóis vinho. Deita meu corpo e
em seguida se deita ao meu lado. Minhas mãos correm com sofreguidão por suas
costas perfeitas e quentes à medida que sua boca encontra meu seio. Sinto sua
língua quente sugando meu mamilo e arqueio minhas costas, oferecendo-me
mais a ele. Lambe, suga e mordisca meu seio e meu ventre sente as contrações
provocadas por tanto tesão.
Ele se ajoelha na cama e abre devagar a sua calça. O azul dos seus olhos está
ainda mais forte e não consigo me desviar deles. Quando se livra de toda a sua
roupa, meus olhos medem todo o seu corpo perfeito. Não há nada fora do lugar,
como naquelas fotos.
— Se você a visse agora como eu a estou vendo... uma beleza única e o que vejo
é só meu...
Em seguida, apoia com os cotovelos na lateral de meu corpo e sua boca continua
a explorar meu corpo todo, seus lábios descem por minha barriga, meu umbigo...
e quando chega em meu sexo sinto um prazer tão intenso que ele me segura
pelos quadris para me imobilizar e torturar com sua boca faminta.
— Que delícia, você é, Sophia... Todos os dias, sonhava estar chupando você
toda, como agora! Minha Sophia...
Sua língua é quente e macia, um misto de devassidão e loucura a cada
movimento cadenciado que faz.
Ele me puxa ainda mais para sua boca e a cada lambida, gemo como louca...
fazendo-o gemer também.
— Quero você... — Tento puxá-lo para mim em vão.
— Não antes de você gozar em minha boca! — Me encara com malícia e quase
desfaleço ao sentir sugando meu sexo com força. — Se solte, quero você muito
excitada quando eu a penetrar, não quero que sinta dor e se sentir, será a mínima
possível. — Isso, relaxe e sinta minha língua em você, estou faminto por você,
quero devorá-la todinha...
Com os olhos fechados e com minhas mãos agarradas em seu cabelo, me solto e
rebolo em sua boca gostosa e sinto quando meu orgasmo se forma em meu
ventre... meu sexo pulsa sob sua boca que continua a me lamber toda.
— Sean... Ohhh... — Arfo de tanto desejo, nunca senti algo tão intenso.
Sobe com sua boca por todo meu corpo e ela esmaga a minha. Sinto que ele se
controla, pois do contrário, já teria me penetrado há muito tempo. Sean quer que
nossa e a "minha primeira vez" seja especial e isso me surpreende, jamais
imaginei que ele seria tão carinhoso.
Suas mãos continuam a explorar cada parte do meu corpo e sua boca me beija
com voracidade. Quero me deixar consumir de tanto desejo. Minhas pernas se
enroscam nas dele e sinto seu membro duro roçando em minha pele quente.
Levanta seu corpo e alcança sua calça, retira de lá um envelope com
preservativo. Com muita calma, rasga-o com a boca e olha para mim. Coloca-o
sobre sua ereção e se deita sobre meu corpo.
— Quero tanto você! Muito... — Acaricia meu rosto e continua. — Seus olhos
negros me fizeram enxergar algo além de sexo. — Passa seu polegar em minha
boca. — Essa boca ousada que me enfeitiçou com suas palavras atrevidas. — No
mesmo instante, sua mão cobre meu peito, onde meu coração bate acelerado. —
E seu coração indomesticável se apossou do meu. Meu porto seguro é bem aqui,
Sophia, em seu coração, nunca me expulse daqui. Você o roubou e eu não aceito
devolução.
Quando pensava em minha primeira vez, imaginava um homem carinhoso e que
faria com que me sentisse especial, mas me surpreendi. Sean me deixou sem
chão, me sinto sem palavras para algo tão profundo como isso que acabei de
ouvir. Meus olhos ficam lacrimejados e toco sua boca com meus dedos.
— Sou uma mulher que está completamente apaixonada e entregue a você,
Sean! Meu coração é seu e nunca o maltrate!
— Farei tudo por você. — Sussurra com sua a boca colada à minha. — Para
mim é como se fosse a minha primeira vez.
Sem entender o que realmente ele quer dizer, o encaro.
— É minha primeira vez com a mulher por quem estou apaixonado, para mim é
tudo novo como para você!
— Sean... — Sorrio de felicidade e sua boca busca a minha. Não quero mais
esperar para me tornar sua, eu o quero e o quero agora.
Abre minhas pernas devagar e com cuidado me penetra aos poucos. Mesmo com
cuidado, sinto um desconforto, uma pequena ardência. Ele percebe na hora e
para.
— Está doendo muito?
— Não, meu amor, foi somente um desconforto.
— Quer que eu pare? — Beija meu rosto com delicadeza.
Tenho vontade de rir, mas não é o momento, ele pode ficar chateado. Como vou
parar se estou morrendo de desejo por ele e vice-versa?
Em resposta à sua pergunta, mordo de leve seu lábio inferior e arqueio meus
quadris em direção a ele, fazendo com que me penetre por inteira. Pronto, assim
o desconforto vai embora de uma vez.
— Sophia... — Geme meu nome e isso me faz esquecer qualquer dor. Aos
poucos, se movimenta dentro de mim e eu o acompanho. Sua respiração alterada
em meu ouvido me deixa louca e mais alucinada ainda quando me beija de modo
mais agressivo. Imagino quantas facetas Sean deve possuir na cama, espero que
me mostre todas elas.
— Adoro seu corpo, Sophia... — Morde meu pescoço, descendo por meu colo
até abocanhar um dos meus seios. — Adoro você!
Suga com força e suas investidas são lentas e profundas, sinto-o todo dentro de
mim. Agarro sua bunda e o impeço seus movimentos, me encara e assim eu
começo a me movimentar, rebolando sob seu corpo...
— Goze olhando para mim, quero ver seu rosto ao gozar em mim. — Peço.
Quero ver seu lindo rosto e quero que a partir de hoje, eu seja a única a quem ele
deseja e tenha em seus braços.
Ele aumenta o seu ritmo e sem que eu imagine, um outro orgasmo se forma
dentro de mim, uma sensação ainda mais forte e intensa que o anterior.
Gozamos quase juntos, sem tirar nossos olhos um do outro e eu não podia ser
mais feliz.
Por Sean
Acordo com ela enroscada em meu corpo.
Devagar, retiro uma mecha de cabelos que cai sobre seu rosto, escondendo sua
beleza.
Depois da noite que passamos juntos, jamais serei o mesmo. Sophia abriu um
espaço em mim e só ela pode fechá-lo.
Perdi a conta de quantas mulheres já tive em minha cama, mas uma coisa é certa:
Nenhuma delas me fez sentir o que vivi com Sophia. Aqui, fui completo e o
prazer que senti foi o mais intenso que vivi até hoje. Meu corpo ansiava por suas
mãos trêmulas e a cada vez que ela me tocava, me sentia mais extasiado. Quero
a partir de agora, ser um homem diferente, quero namorar Sophia, nem que para
isso tenha que tolerar aquele chato do pai dela. Algo novo se inicia e mesmo
assustado com toda essa mudança, estou disposto a tudo por ela.
Levanto devagar e vou para o banheiro, tomo um banho rápido e ao olhar no
espelho, vejo as marcas das unhas de minha tigresa em minhas costas. Sorrio e
vou para a cozinha. Quero preparar um café especial para ela. Ainda tenho outra
surpresa que guardei para hoje.
Arrumo a bandeja com nosso café e perto de sua xícara, deixo uma tulipa e uma
caixa contendo a surpresa. Passo pela sala e vejo que os empregados guardaram
o bolo que estava em cima da mesa, acabamos esquecendo de comê-lo.
Entro no quarto e a vejo acordada e linda olhando para mim.
Meu desejo se reacende e sinto meu pau dar sinal de vida na mesma hora ao vê-
la linda enrolada nos lençóis, sorrindo para mim. Caminho até ela e coloco a
bandeja sobre a cama.
— Café da manhã na cama com uma mulher linda e minha, outra primeira vez
para mim — Digo.
Ela se ajoelha e me beija com desejo. Quero mostrar a Sophia muitas formas de
prazer na cama e uma delas, ela já possui. Um desejo por mim incontrolável.
— Hum, que delícia. — Roça sua boca na minha. — Vou comer todinho esse
café...
E assim nossa manhã de sábado começa...
Namora comigo?
Por Sean
— Todinho?
Sophia segura meu rosto em suas mãos e mantém seu rosto próximo ao meu.
— Nunca ouviu dizer que essa é a refeição mais importante do dia? — Suas
covinhas aparecem convidativas ao lado de sua boca estreita.
— Sim, já — Aos meus olhos, ela me parece ainda mais linda. Max tinha razão,
estar ao lado da pessoa por quem se está apaixonado é algo muito bom.
— Estou muito feliz por estar aqui com você.
Seu pensamento parece estar ligado ao meu. Sophia não sabe o que fez comigo e
não tem a exata noção do que eu era e no que venho me transformando em tão
pouco tempo. Isso é normal? Para onde isso me levará? Também não tenho a
resposta. A única coisa na qual tenho certeza é de que estar ao seu lado me deixa
feliz como nunca estive e daqui não quero sair.
Passo meu polegar sobre seus lábios inchados pelos beijos que trocamos, em
resposta, ela fecha os olhos para receber meu toque e quando os abre, eles me
encaram com um brilho intenso. Conheço esse olhar, o seu corpo me deseja, me
quer para si.
Antes, ser desejado era uma coisa que fazia parte de meu cotidiano, porém agora
é muito mais que isso. Sophia não quer somente o meu corpo, me quer por
completo e ao encará-la, seus olhos que já me prenderam constatam que não há
como retroceder e nem fugir ao que sinto, minha única saída é me entregar a ela
sem resistência.
Ajoelhada e nua em minha frente, ela se aproxima devagar e se senta em meu
colo. Suas mãos não estão trêmulas como horas antes e muito devagar, elas
abrem o laço do meu roupão. Seguro em seu pescoço e a puxo para mim. Sua
boca se abre para receber a minha, no mesmo instante em que seus dedos
descem por meu peito.
Ela não sabe o que acontece quando suas mãos me tocam. Não sabe como me
sinto. É como se fosse tomado por algo muito forte, minha pele anseia por ela.
Meu mundo não mais existe para dar lugar ao seu domínio sobre mim e me
sentir dominado não me torna inferior ou menor, pelo contrário, me torna
grandioso, capaz de absorver o mundo. Esse mesmo sentimento me apavora e ao
mesmo tempo, me faz sentir uma força brutal que me move para ela e sinto que
não estou sozinho nessa.
Sophia também sente o mesmo.
— Sean... — Sussurra com sua voz rouca e sexy. Sinto seus mamilos túrgidos
em contato com meu tórax numa carícia excitante. Minhas mãos não resistem e
os acariciam de leve, enquanto sua boca passeia pelo meu pescoço. — Seu
cheiro me deixa louca, sabia?
— Você é que me deixa louco, Sophia! — Gemo ao sentir sua boca em meu
ouvido. Lentamente, seus lábios se esfregam nos meus e sua língua quente
invade minha boca. E sem mais controle, nos entregamos ao desejo que nos
consome. Sinto seu sexo molhado em minha coxa e aperto-a ainda mais quando
ela se esfrega em mim deliberadamente. Sua língua explora cada canto de minha
boca me permitindo degustar o seu gosto doce e viciante, gemo como louco ao
sentir sua mão apertar meu membro duro e louco por ela.
Eu a quero para mim. Somente para mim. E não por horas ou dias. Quero fazer
parte de seu mundo, viver dentro de seu cotidiano e descobrir tudo a seu respeito
e deixar que ela invada o meu espaço e também me tome todo para ela.
Seguro sua mão, impedindo-a de prosseguir, do contrário, gozaria em suas mãos.
Toco em seu sexo e fecho os meus olhos ao sentir sua umidade sob meus dedos.
Ela arqueia seus quadris de encontro a eles.
— Adoro suas mãos em mim...você todo em mim...
Sem querer me afastar dela, alcanço uma camisinha e dessa vez, Sophia pega-a
de minhas mãos. Sorri com malícia mordendo os lábios e somente com esse
simples gesto faz meu pau ficar ainda mais duro. Rasga o envelope com os
dentes e com uma sensualidade inata, coloca-a sobre minha ereção.
— E agora? — Pergunto, apertando forte suas nádegas.
— Agora? — Pega meu pau em sua mão e o coloca em sua entrada, montando-o
devagar, me deixando louco de desejo. Nosso encaixe é perfeito. — Agora, você
é meu! Só meu e eu sou sua, sua Sophia! E de ninguém mais!
— Minha... — Sempre. Não permitirei que algo ou alguém a leve de mim. Ela se
movimenta lentamente e joga a cabeça para trás, cavalgando sobre mim. Penetro
mais fundo e ela geme alto.
— Isso... assim... — Determina o ritmo e sinto quando seu sexo aperta ainda
mais o meu membro. Quero dar a Sophia muito prazer, mas mais do que isso,
quero que ela sinta que existe algo mais além do que desejo em nossa cama. —
Sean... — Sua respiração falha e sinto quando ela se entrega toda a mim. Ela me
beija com paixão e muito desejo. Seus gemidos em minha boca me arrastam com
ela e fecho os olhos, murmurando seu nome ao gozar também.
Com sua testa na minha, vejo sua boca num largo sorriso.
— Adorei meu café, sem dúvida, o melhor que já experimentei até hoje.
— Para mim também.
Ela fica sem jeito. Acho que ainda não acredita totalmente no que digo. Não a
recrimino por isso. Se estivesse em seu lugar, pensaria o mesmo. E sendo assim,
não provarei o contrário com palavras e sim com atitudes. Através delas, Sophia
saberá o que realmente quero dizer.
Saio de dentro dela ainda ereto. Vou até o banheiro e me livro do preservativo.
Ao voltar, ela se encontra apoiada sobre os cotovelos olhando para mim.
Sento-me na cama e pego a bandeja, com nosso café já frio. Pego a tulipa na
bandeja e a coloco em seu cabelo.
— Linda.
— Você me deixa sem jeito. Não estou acostumada a receber elogios desse jeito.
— Abaixa seus olhos toda embaraçada.
— Duvido. — Ergo seu queixo e deslizo meus dedos em seu queixo.
Imagino quantos homens não a elogiaram antes de mim. Não posso culpa-los,
ela tem uma beleza única.
Junta meu rosto com as mãos e sorri.
— Não dessa maneira. Não como me vê. Sem saber, você me enxerga mais do
que qualquer outro. A você, me mostro sem máscara. Somente o meu pai me
conhece dessa forma.
— E a cada dia, quero lhe conhecer ainda mais.
Pego a caixa da bandeja e entrego a ela.
Estreita os olhos, desconfiada.
— Outro presente? Não acha que já chega.
— Esse não é um presente. É algo para nós dois. Abra.
Devagar, abre a caixa e seu olhar é de surpresa ao ver dois anéis em ouro branco
e um bilhete lá dentro, segura-o em seus dedos e o lê em voz alta.
"Namora comigo?"
— Aceito. — Respondo prontamente. — Estava ansioso por esse pedido —
Respondo em tom de brincadeira sem tirar meus olhos dos seus.
Seus olhos e sua boca me devolvem um sorriso de tirar o fôlego.
— É tudo o que eu podia querer! — Responde.
Pego o anel menor e seguro sua mão direita. Coloco-o em seu dedo anelar e o
beijo. Ela faz o mesmo comigo.
— Agora é oficial! — Digo. — Minha namorada. — Ergo minha mão.
— Espero que essa argola em seu dedo afaste todas as predadoras. — Brinca.
— Não é o anel que irá afasta-las, Sophia! — A encaro, sério. — E sim o que
vamos viver a partir de hoje. E tem uma coisa que quero lhe perguntar, antes de
mais nada.
— Sim...?
— É. — Não sei como abordar o assunto a respeito de seus roubos, mas se quero
a resposta, tenho que formular a pergunta. — Sophia, você e sua família
planejam mais algum roubo?
— Se eu dissesse que sim, teria que retirar esse anel? Mudaria algo entre nós? —
Suas sobrancelhas se estreitam.
— Não. Meu sentimento por você vai além do que faz. Não mudaria nada. Ele
continuaria em seu dedo, juntamente com o seu namorado aqui.
Por Sophia
Sem que ele saiba ou tenha consciência disso, Sean teve a mesma atitude que eu.
Primeiro, me pediu em namoro e me aceitou como ladra, agora me pergunta se
continuarei a roubar.
É claro que não.
Meu pai e eu já havíamos combinado que esse era o último trabalho e assim será,
mas confesso que fiquei mais feliz ainda em saber que ele me namoraria mesmo
sendo o que sou.
— Mesmo sabendo que tenho um namorado cúmplice, a resposta é não. Não irei
roubar mais nada. Esse era o último. Só não contava em me apaixonar. — Beijo
meus dedos cruzados na frente de meus lábios em sinal de promessa.
— Nem eu. — Faz uma pausa. — Fico feliz com sua atitude. O que pretende
fazer agora?
— Dar aulas. Estou esperando a resposta de algumas escolas para onde enviei
alguns de meus currículos. — Pega uma uva da bandeja e a põe na boca. —
Obrigada por salvar a mim e minha família da prisão. Não queria que arriscasse
sua carreira por mim.
— Não precisa agradecer. Não a deixaria ir presa de modo algum. Não, depois
de saber o que vocês faziam com o dinheiro do roubo. Se alguém quiser lhe fazer
algum mal usando essas provas, já era. E não foi esforço algum. Só usei o que
alguns chamam de influência.
E que influência!
— Vicenzo. Ele começou com isso e quando me dei por mim, estava com ele e
não me arrependo. Por ele, faria tudo novamente.
— Sophia, quero lhe dizer uma coisa. Você vai ouvir coisas horríveis a meu
respeito. Muitas delas são verídicas, outras, são imaginação de alguma mente
doente, espero que esteja preparada quando aparecermos em público.
— Não irei fugir de você, se é o que teme! Acho que já percebeu que não sou
uma mulher comum.
— Não mesmo! Foi a primeira mulher a me dar um tapa na cara e também a me
fazer doar 150 milhões para entidades filantrópicas.
Seu sorriso torto me desmonta.
— O tapa foi merecido. Nenhum homem me fez uma proposta tão indecente
como aquela. — Toca meu rosto com seus dedos macios. — Em relação ao
dinheiro, acho que aquilo subiu seu conceito de bom moço perante à sociedade,
no fim acabei lhe ajudando.
— Nisso você tem razão! — Sorrio. — Bom, vamos sair desse quarto, pois
quero passear com minha namorada.
— Estou sem roupas, esqueceu? Tenho que buscar minha mala na casa de
Richard.
— Serve aquela? — Aponta para o canto esquerdo do quarto. — Mandei um
funcionário ir à casa dele e pegar suas coisas.
Sua gentileza misturada à marcação de território me pegou de surpresa. Espero
que ele não crie problemas com minha amizade com Richard.
— Não precisava ter se incomodado. Eu poderia ter ido buscar.
Levanto-me da cama e ligo o meu celular. Ando até o banheiro e ele me puxa
com cuidado pelo braço.
— Não é o que está pensando! Não quero sufocar você. Foi somente uma
gentileza.
— Tudo bem. Não quero perder minha identidade com nosso relacionamento,
está bem?
Nesse momento, meu celular toca. Mal ligo essa coisa e ele já toca.
Quem será? Papai, Lorenzo ou pior, das hipóteses, Richard.
Olho no visor e fico com a terceira opção.
— Sophia, como vai?
Conheço sua voz e tenho certeza de que à essa hora, ele já sabe que não dormi
em sua casa.
— Richard. — Olho para Sean que não diz nada, porém pela sua cara de
desagrado, sei que não gostou dessa ligação. Caminha para o banheiro e logo
ouço a água caindo do chuveiro. Depois cuido dele. — Bem e você?
— Aproveitou bem a noite?
Ele não imagina como, ou imagina. Por isso deve ter ligado.
— Richard, obrigada por ceder a sua casa, mas agora estou hospedada na casa de
Sean. — Nunca fui mulher de rodeios e então ser direta é minha marca, mesmo
que doa nele, prefiro a verdade, sempre.
— Sean? Ele conseguiu, não é? — Ouço seu suspiro de desapontamento. — Ele
vai lhe usar, Sophia e quando enjoar, irá descarta-la.
— Amigo. — Faço questão de frisar essa palavra, porque é o que ele significa
para mim. — Sei me cuidar, está bem? Não vamos discutir por telefone.
— Está bem? Quando volta?
— Amanhã à noite, estarei em Nova Iorque.
— Até mais, bom passeio. Um beijo.
— Até.
Desligo e fico parada com o celular nas mãos. Afinal, por que Richard mantém
esse sentimento de ódio por Sean? Negócios ou mulheres? Fico com a mistura
dos dois.
Sean sai do banheiro e não diz nada. Não pergunta nada a respeito de meu
telefonema. Ele entendeu que não quero que se intrometa nas minhas amizades.
— Vou tomar um banho.
— Tudo bem. Podemos sair para dar uma volta pela cidade.
— Ótima ideia.
Ao sair do banheiro, Sean está vestido em um suéter azul e calça jeans. Lindo,
como não poderia deixar de ser.
— Sophia, sente-se aqui. Vou lhe contar como conheci Richard.
E pelo visto, vou conhecer mais uma das manchas do passado de Sean.
Ele me conta toda a história que eu não conhecia. Achava que meu amigo queria
vingança porque foi passado para trás nos negócios. Mas, a coisa é mais
complicada do que isso. Apesar de conhecer Richard há muito mais tempo do
que Sean, percebo que meu namorado está sendo franco e a história que acabei
de ouvir explica muita coisa.
— Vamos deixar esse assunto enterrado, cuidarei de Richard quando voltarmos a
Nova Iorque, está bem assim?
Por Richard
Quis ouvir da boca de Sophia, o que na realidade eu já sabia.
Quando liguei em minha casa em Aspen, minha funcionária relatou que Sophia
não dormiu em casa e que logo pela manhã, um empregado da casa dos
Mackenzie veio buscar a bagagem dela.
Ele conseguiu. O filho de uma mãe seduziu Sophia. Não posso permitir que ela
se deixe levar por aquele conquistador barato. Ele vai aprender a não brincar
comigo.
Pego meu telefone e ligo para Núbia, minha assessora de imprensa. Quero ver o
estrago que posso causar aquele crápula.
Por Sophia
Saímos para almoçar e quando chegamos ao restaurante, desço do carro e olho
ao redor. E claro, não é diferente do que eu pensava. Muitas mulheres passam e
não deixam de observar o meu namorado. Ele é lindo e muito pior que isso,
conhecido em todo o país.
Namorado. Que coisa estranha. Até poucos dias, ele era somente um homem
com o qual eu lutava para não me entregar e agora de mãos dadas pela calçada,
não consigo disfarçar a alegria que estou sentindo.
Seu celular toca e ele me pede licença para atender. Aidan. Assessor e amigo.
Atende e não se separa de mim. Me mantém abraçada a ele.
— Não, Aidan. Não irei. Estou em Aspen agora.
O outro responde do outro lado.
— Sim, em Aspen. E estou com minha namorada.
Aidan deve ter tido um ataque cardíaco!
— É isso mesmo que ouviu. Namorada. Estou namorando Sophia e se quiser
pode anunciar para todo mundo. — Sean ergue minha mão e a beija enquanto
fala ao celular. — E quanto à festa que me convidou, a resposta é não. Não estou
afim desse tipo de festa. Sou um homem compromissado agora.
Finjo de morta, mas por dentro estou soltando fogos. Ele não vai à festa com seu
amigo de farra. Tomara que isso seja duradouro e não somente uma fase na vida
de Sean.
Desliga e entramos no restaurante para nosso almoço.
Andamos pela cidade e depois voltamos para casa. Meu pai me liga e pelo jeito
Nova Iorque inteira já sabe que estou com Sean. Ele me pergunta quando Sean
volta de Washington. Mesmo entender o motivo da pergunta, Sean responde que
na sexta estará na cidade.
— Pois diga a ele, mocinha, que o quero aqui em casa para um jantar! Se ele
quer namorá-la, terá que pedir sua mão ao papai aqui, primeiro!
Não creio no que ouço.
— Pai, estamos no século XXI!!
— Sei disso e mesmo assim, em qualquer século em que estivermos você
continua sendo minha filha.
Esse é o meu adorado pai.
— Está bem, senhor Vicenzo. Direi a ele. Um beijo.
Não iria adiantar nada brigar. Passaríamos a tarde toda ao telefone e não
chegaríamos a lugar nenhum.
Sean se adianta.
— Se ele quer que eu peça sua mão, eu irei. Sem problemas. Se eu tivesse uma
filha como você, faria o mesmo.
— Eu te adoro, sabia!
— Eu te adoro mais. — Beija minha boca com desejo. — Estou disposto a tudo
por você.
À tarde, ficamos deitados em frente à lareira e Sean me conta como escolheu a
carreira política. Falo um pouco de minha vida, mas só a parte Sophia "D.V.",
Sophia depois de Vicenzo. Antes disso, não há nada que valha a pena saber.
Quando chega a noite, Sean me convida para sairmos.
Vamos à um local muito aconchegante para casais. Na volta, ele liga o rádio do
carro e a música Goo Goo Dolls invade o nosso silêncio e traduz de alguma
forma o que estamos sentindo...
— Nossa história será diferente da canção, Sophia, eu lhe prometo.
Na cama, deitada sobre seu peito, repasso todos os momentos que vivi até aqui
com ele. Ergo minha cabeça e olho para o seu rosto. Dorme profundamente. Fico
contemplando sua beleza e imaginando como será nosso futuro. Aos poucos, ele
abre os olhos e sorri.
— Sem sono?
— Sim, estava olhando para você e pensando como o mundo é pequeno e nos
prega peças. Jamais imaginei estar aqui com você e me sentir tão bem como
agora.
Ele se deita cobrindo meu corpo com o seu.
— Pequeno ou grande, nos encontramos e por mim não iremos nos separar, eu a
quero junto de mim, sempre!
Será que essa frase seria um "Eu te amo precipitado"?
Não, ainda é cedo para isso, porém espero ouvir sua voz grave e gostosa,
sussurrando essa frase em meu ouvido, enquanto nos amamos. Aí, sim, serei a
mulher mais feliz desse mundo.
— Eu também quero ficar sempre ao seu lado.
Com isso, ele me beija e me mostra o quanto é apaixonado por mim.
Domingo à noite — Nova Iorque
Por Sophia
Chegamos em frente ao café, Sean para o carro e desce para abrir a porta para
mim. Em seguida, pega minha mala e segura minha cabeça entre suas mãos.
— Sophia, esse foi o melhor fim de semana da minha vida! Nunca se esqueça
disso!
— Não vou me esquecer, pois para mim também foi muito especial, era tudo o
que eu sonhei e mais um pouco!
— Amanhã, partirei logo cedo para Washington e volto na sexta para jantar com
sua família.
— Tudo bem, morrerei de saudade.
— A gente se fala por telefone, vou ligar inúmeras vezes. Você tem Skype?
— Sim, tenho.
— Melhor ainda, poderei ver seu rosto enquanto mato a saudade.
— Eu também.
Ele me beija e eu o abraço forte. Quando nos afastamos, estamos sem fôlego.
— Sábado, meu irmão mais novo, irá marcar a data de seu casamento e haverá
um jantar em família na casa de meus pais, quero que vá comigo, está bem? —
Enruga sua testa e me faz esse convite de um jeito tão lindo que não conseguiria
negar minha presença.
— Sim, irei com você, já avisou que irá me levar?
— Fique tranquila, meus pais irão gostar de você.
— Espero que sim.
Alisa meu rosto e ergue sua mão com o anel de compromisso.
— Isso é o que importa, se acaso, eles não gostarem, eu gosto e muito. Ponto
final.
Outro beijo de tirar o fôlego e resolvo entrar. Subo as escadas, como uma
adolescente apaixonada que não vê a hora de ver seu namorado novamente...
Que minha semana passe rápido!
O passado volta à tona
Por Sophia
Abro meus olhos e dou de cara com Angelina em minha frente, com os dentes
escancarados olhando para mim, segurando um lindo ramalhete de rosas
vermelhas.
— Bom dia, dorminhoca! Acorde, são para você!
Sento-me na cama, ainda sonolenta, pois demorei a pegar no sono pensando em
tudo o que me aconteceu nesse fim de semana. Seguro o buquê e abro o cartão.
Angelina, que não sai de perto, abusada e curiosa como sempre, emenda:
— O que o bonitão escreveu?
Eu posso com ela?
— Quer deixar de ser indiscreta, Angelina? — A recrimino sem esperanças de
conseguir o meu intuito.
— De jeito nenhum, tentei ler, mas a letra dele é difícil de entender, Nina!
— Você o que? Leu meu cartão? — Olho seriamente para ela que nem dá sinais
de constrangimento. — Vou furar seus olhos na próxima, sua enxerida!
— Na próxima, finjo que não li! — Solta uma risada tão gostosa que é
impossível brigar com essa mulher.
Angelina sempre esteve presente em muitos momentos importantes em minha
vida e sempre ela zelou por mim como fez com Lorenzo. Nunca fez acepção de
minha pessoa e para mim, ela tomou o lugar de uma mãe, um pouco intrometida,
confesso, mas a mãe que eu adoro.
Pego o cartão e leio:
“Como em Aspen, gostaria de estar ao seu lado quando acordasse. Nunca
senti saudade de alguém como agora e conto os dias e horas para poder lhe
ver. Espero que pense em mim, como pensarei em você e em cada minuto que
estive ao seu lado.
Até sexta.
Do seu
Sean.”
Seguro o pedaço de papel entre os lábios e suspiro.
— Ele está mesmo apaixonado, garota. Sexta-feira ele esteve aqui e pude ver o
material de perto. O cara sabe ser bonito, viu!
— Sean é muito bonito. E não somente por fora Angelina, por dentro também.
Ela toca meu rosto e sorri, em seguida, se levanta e ajeita seu avental.
— Sabe o quanto lhe quero bem e lhe desejo a felicidade do tamanho do céu.
Você e Lorenzo merecem tudo de bom.
— Obrigada, minha fofa. — Levanto da cama e a aperto em meus braços,
enchendo-a de beijos.
— Não pode me chamar de outra coisa que não seja fofa? — Seus olhos tem um
brilho divertido. — Emagreci, não notou?
— Você pode pesar 50 kg, mas para mim será sempre minha fofa!
— Fazer o que, não é?
Caminha para a porta e me joga um beijo.
— Não demore a descer, o café vai esfriar. Fiz brioche que você gosta. E tem
outra coisa; a paixão lhe fez bem, está com uma cara ótima. O fim de semana
deve ter sido daqueles. — Se abana, me provocando.
Pego meu travesseiro e tento acerta-la em vão. Fecha a porta rapidamente.
Angelina é terrível.
Depois que ela sai, pego meu celular. Quero agradecer as flores ao meu
namorado, mas seu celular se encontra na caixa de mensagens. Ligarei mais
tarde.
Tomo um banho e desço. Lorenzo ainda está na mesa de café e o beijo no rosto
como de costume.
— Bom dia, Nina. Como foi o fim de semana?
Morde sua torrada e seus lindos olhos azuis me encaram esperando a resposta.
— Foi muito bom. Tenho que agradecer ao meu cupido. — Pisco para ele.
— Papai quase me matou quando descobriu que Sean estava em Aspen. Richard
contou a ele.
— Richard deve estar magoado comigo. Ele se declarou apaixonado por mim e
recusei é claro. Mas o problema é que ele odeia Sean.
E conto a história de sua ex-mulher a meu irmão.
— Não tem coisa pior que corno ressentido. — Lorenzo e suas falas engraçadas.
— Richard é um cara legal, mas se você não gosta dele, paciência. — Come um
pedaço de queijo. — Deve ser difícil.
— O que deve ser difícil? — E me preparo para suas piadas de humor negro.
— Ele deve estar pensando: O que ele tem que eu não tenho?
Suspiro.
— Não sei te explicar! Agora se me dá licença, vou sair e entregar mais alguns
currículos em algumas escolas.
Angelina aparece na cozinha e anuncia que Richard está na sala e quer falar
comigo.
— Falando no falecido... Boa sorte! — Lorenzo acaba seu café e pega sua
mochila, afaga meu rosto e sai.
Ao chegar à sala, Richard se vira para mim. Seu olhar é triste e seu semblante
amargo e preocupante.
— Richard — Me antecipo. — Antes que você diga qualquer coisa, quero dizer
que sei o que estou fazendo.
— Você não sabe, Sophia! Não conhece o homem que ele é! Sean lhe mostrou
somente sua face doce e gentil. Vai lhe machucar quando botar as suas garras de
fora.
Quase chora em minha frente. É desconfortável vê-lo assim nesse estado.
— Não sou mais criança, sabia? Agradeço a sua preocupação, mas deixe que eu
cuide de minha vida e com quem me relaciono.
Ele se aproxima e segura de leve em meus braços.
— Sophia, não quero que sofra e será exatamente isso que irá acontecer caso
continue com esse relacionamento. Sean usa as mulheres e depois as descarta,
será que você não vê que será mais uma?
— E se lhe disser que quero ser mais uma? — Serei objetiva, não gosto de
conversas longas, ainda mais se tratando de um assunto que se refere a mim.
— Não posso acreditar nisso — Solta meu braço e alisa o cabelo de modo
impaciente.
— Acredite. Não me importo se ele vai me usar e depois me abandonar. Posso
abandona-lo primeiro, já pensou nessa hipótese? Ou acha que nenhuma mulher
poderia fazer esse tipo de coisa com ele?
— Eu te amo, droga! — Ele grita e sem que eu espere, me puxa pelo braço e
esmaga a minha boca em um beijo de súplica.
— Me solte! — Eu o empurro, ofegante e nesse momento, meu pai invade a sala.
— Richard! — Fala ríspido. — Sophia disse não! Me olha para certificar-se de
que estou bem. — Agora, vá embora, antes que eu perca a cabeça e acabemos
brigando. Está com a cabeça quente e isso faz com que um homem muitas vezes
cometa muitas besteiras. Não quero perder sua amizade, mas se tratar minha
filha dessa maneira novamente, perco o amigo e também o sócio!
— Me desculpe. — Ele se dirige a mim. — Perdi a cabeça! Prometo que jamais
me comportarei assim novamente. E antes de sair, olha em meus olhos. —
Estarei esperando por você, quando ele lhe dispensar.
Bate a porta e sento-me no sofá. Vicenzo se senta ao meu lado e me abraça.
— Não foi minha intenção magoa-lo! Jamais poderia imaginar que Richard fosse
apaixonado por mim, papai!
— Onde você estava que não percebeu? — Me aconchego ainda mais em seu
corpo.
— Sei lá, eu o vejo como um amigo muito querido e só. Mas acho que nem isso
eu terei de sua parte.
— Calma, ele está com raiva. Nada que o tempo não cure! Conheço Richard! Irá
superar isso tudo, pode apostar! — Meu pai afaga meu cabelo, enquanto fala
comigo.
No fundo, quero muito acreditar nas palavras de Vicenzo.
— E espero que Sean cuide de você. Se ele pensa que pode brincar com minha
filha...
Começo a rir.
— O senhor o ameaçou? Como pode fazer uma coisa dessas? Ele me contou. —
Ergo meu rosto e o encaro com ar de riso.
— Ameacei e ameaçaria novamente. Ele virá na sexta? — Me lança seu olhar de
raposa experiente.
— Sim, virá.
— E esse anel? Foi ele quem lhe deu? — Quem disse que os olhos de um
homem não reparam em tudo é porque não conhecem o olhar de um ladrão.
Vicenzo tem olhos de lince, tudo vê e nada se esconde diante dele. Isso temos
em comum.
— Anel de compromisso! — Ergo minha mão, orgulhosa.
— Bom, ao menos, ele está tentando acertar. — Sorri e isso é um bom sinal.
Tudo vai dar certo.
Vicenzo se levanta e desce para o café.
Meu celular toca. Alexia. Mal atendo e ela me bombardeia com perguntas.
— E aí? Como foi o fim de semana? Quero saber de tudo, cunhada!
Que rapidez. Será que Sean disse a ela sobre nosso namoro?
— Ora as notícias correm rápido por aqui, como soube?
— Hahaha! Eu ajudei a escolher o anel que porventura está em seu dedo nesse
momento, ok? Portanto, a senhorita tem obrigação de me contar tudo! — Sua
voz está mesmo alegre por saber que eu e seu irmão estamos juntos.
— Não há o que contar que você não saiba! Estamos namorando.
— Uhul!! — Grita ao telefone. — Estou tão feliz que, quando Sean me ligou
contando sobre a novidade, nem acreditei. Nunca o vi tão feliz, está mesmo
apaixonado pela primeira vez na vida.
Ainda bem que Alexia não pode ver minha cara de boba do outro lado.
— Eu também sinto o mesmo por ele, Alexia.
— Mas... — Quer ver a pergunta indiscreta? — Você não vai me dizer que ainda
é virgem?
— O que você acha?
— Acho que não, mas isso ele não quis contar. — Cai no riso ao celular.
— Não acredito que você perguntou isso a ele!
— Mas é claro. Foi a primeira coisa que fiz quando falei com ele. Ele mudou de
assunto. Aí tive certeza! Sophia não é mais virgem.
— Você não toma jeito, mas gosto de você assim mesmo!
— Bom, vou desligar, não quero atrapalhar seu dia!
— Nunca me atrapalha, minha querida!
— Sorte nesse namoro! Torço por vocês.
— Obrigada, Alexia. — Nos despedimos e encerro a ligação.
Meu dia começou agitado. Espero não ter mais novidades.
Por Sean
— Está falando sério? Namorando?
— Sim, qual o problema? Pelo que sei, você também teve uma namorada no
passado!
Minha assistente parlamentar traz minha agenda com o cronograma da semana e
também meu café, depois sai discretamente.
— Ah, bem diferente amigo! Eu não estava apaixonado como você! Já se olhou
no espelho? Você parece outra pessoa!
— Estou muito feliz, Aidan! Nunca pensei que pudesse sentir algo assim por
mulher alguma! Mesmo com medo, quero arriscar! Max estava certo! É muito
bom estar com alguém.
— Bem, quem sou eu para discordar. Quero que saiba, antes de mais nada, que
serão prato cheio para a imprensa. O senador playboy finalmente aparece
acompanhado em público! Irão especular, publicar fotos e tudo mais!
— Por isso é que contratei o melhor assessor de imprensa que alguém como eu
poderia querer. Cuidará desses detalhes para mim. — Pego um pen drive e o
jogo a ele. — Há material suficiente aí. Muitas fotos minhas e de Sophia em
Aspen. Peça para alguém revela-las, por favor!
— Sim, perfeitamente, farei o que me pede. Por falar em cuidar, na semana que
vem, teremos uma conferência em Toronto. Já confirmei sua presença.
— Perfeito.
O celular de Aidan vibra e ele, de repente, fica sem jeito para atender.
— Não vai atender?
— Depois retorno. Assunto pessoal.
— Então, vamos ao trabalho.
E mesmo concentrado em um documento para uma votação importante de logo
mais, ela invade meu pensamento. A essa hora, já deve ter acordado. Aidan
estava certo, a imprensa não nos dará sossego. Mas, nesse caso, quanto mais
reclusos ficarmos, será ainda pior. Portanto, Sophia e eu seremos vistos juntos
em muitos lugares, assim eles enjoam e param de nos importunar.
Olho para minhas fotos e agora há mais uma em especial. Linda, vestida de
vermelho, Sophia foi pega sorrindo pela lente do fotógrafo que valorizou cada
ângulo do seu lindo rosto.
Meu telefone toca e no visor aparece o seu nome. Aidan sai da sala me deixando
a sós com meu celular.
— Sophia!
— Bom dia, espero não estar atrapalhando você! Queria agradecer pelas flores,
são lindas, mas gostei muito mais do cartão.
— Hum, gostaria que dissesse que gosta mais de quem escreveu o cartão.
— Isso você já sabe, não é nenhuma novidade. Espero ansiosa pelo fim de
semana.
Ela tem uma voz irresistível.
— Eu também. Quero passar o final de semana todo com você.
— Consegui meu emprego! — Num tom muito animado e continua. — Darei
aulas de arte para alunos do colegial no Colégio San Germain.
— Meus parabéns! Quando eu chegar, iremos comemorar. Irei leva-la para jantar
comigo em um local bem legal.
— Hm… prefiro café da manhã... aliás, adoro tomar café com você. — Diz com
a voz rouca com uma pitada de algo a mais.
Ao lembrar daquela manhã em Aspen, sinto meu desejo se espalhando pelo meu
corpo, principalmente pelo meu membro que começa a ficar duro. A imagem de
Sophia nua em meu colo é algo muito excitante.
— Haverá muitos cafés, almoços e jantares pode ter certeza, meu amor!
— Promessa de campanha, senador? — Me provoca com a brincadeira.
— Não, mostrarei a diferença de uma promessa de campanha com o que acabei
de dizer.
— Irei cobrar todas elas!
— Estou contando com isso!
Depois de mais alguns minutos, ela me fala de sua carga horária no seu novo
emprego. Sophia dará aulas no período da tarde.
Depois de mais alguns minutos com ela, infelizmente tenho que desligar, mas
digo a ela que à noite, tornarei a ligar.
Volto ao trabalho e as horas passam voando.
Por Aidan
Meu amigo apaixonado! Se me contassem, acharia que era alguma piada de mau
gosto, porém ao vê-lo entrando em seu avião em mais uma segunda-feira, notei
algo diferente nele. Sean está alegre e sorrindo à toa. Perdi o amigo de farra, mas
espero que ele seja feliz.
Olho no visor de meu celular e vejo a ligação perdida de Alexia. Essa garota é
maluca. Se Sean souber que saímos juntos, ficará uma fera. Combinamos de sair
na sexta.
Por Lorenzo
Saio do escritório para meu almoço. Olho para o céu de Manhattan e sinto que
mais tarde, teremos chuva.
Ando a passos rápidos, pois mesmo contra a vontade do Sr. Vicenzo acabo
comendo qualquer coisa na rua para sobrar tempo para descansar em meu
horário de almoço.
Entro em uma livraria à procura de um livro que me indicaram no trabalho.
Uma vendedora com seios enormes se aproxima e me ajuda na procura.
Em outra prateleira em frente à minha, vejo uma loira conversando com outra
mulher de cabelos castanhos. Elas riem muito e não posso imaginar o motivo.
Assunto de mulher é terreno perigoso.
Os olhos azuis da loira encontram—se com os meus e em seguida ela me sorri.
Caminha para o caixa com sua amiga e pego o livro que havia escolhido e faço o
mesmo. Fico logo atrás das duas e elas são atendidas e saem sem olhar para trás.
— São dezenove dólares! — A moça do caixa cobra o meu livro e saio
rapidamente pela rua à procura da loira em questão. Nada. Nem sinal da moça.
Ela me olhou de um jeito! Parecia que iria rolar algo mais. Bem, não foi dessa
vez. Volto para o escritório e no caminho me encontro com Núbia, uma moça
que trabalha para Richard. Uma ruiva interessante. Ela e eu já estivemos nos
mesmos lençóis.
— Lorenzo, quanto tempo!
— Núbia, como vai?
— Bem, trabalhando muito, mas estou bem.
O escritório de Richard fica num arranha-céu em frente ao prédio onde trabalho.
— Que tal um drinque após o expediente? — Pergunto. Estou sem nada para
fazer e esse poderia ser um fim de tarde bem agradável.
Depois do expediente, encontro-a num pub muito charmoso na Times Square.
Muitos drinques depois, ela me convida para ir até o apartamento dela. Bem, já
que estou aqui, não custa nada aceitar.
Transamos como loucos. Nubia faz um boquete como nenhuma outra.
Deitada sobre meu ombro, ela reclama.
— Estou cansada, gostaria de mudar de profissão.
— Não entendo. — Respondo. — Não era você que dizia que adorava o que
fazia?
— Sim, Lorenzo, mas você conhece Richard. Trabalhar para ele, às vezes, é um
pé no saco. Sua missão é infernizar a vida do senador Sean Mackenzie. Acho
que ele deveria se casar novamente. Quem sabe não deixava essas picuinhas de
lado?
— Gosto dele. É amigo de meu pai há alguns anos e sempre o achei estranho.
— Pois é. Enquanto ele não acabar com a imagem de Sean Mackenzie, não irá
sossegar. Gostaria de saber o porquê desse ódio todo. Amanhã ele irá lançar uma
bomba na imprensa.
— Ah, é? — Me faço de desentendido — Que tipo de bomba?
— Não posso dizer, segredo profissional, espero que entenda. — Alisa meu peito
e distribui vários beijos por ali.
E quando Nubia me diz essas palavras, um estalo, uma ideia me atravessa. As
fotos do Cd. Richard podem muito bem usa-las contra Sean. E se não estou
enganado é exatamente isso que ele está armando.
Não que eu me importe que essas imagens venham a público, porém é minha
irmã que sofreria com tudo isso.
Levanto-me da cama e Nubia me chama de volta.
— Não posso. Me lembrei de que tenho um compromisso inadiável. — E como
todo casal que se despede quando não quer compromisso, beijo de leve sua boca
e completo. — A gente se cruza por aí.
Essa frase é o lema para quem não quer nada sério com ninguém.
Saio de seu apartamento e resolvo ligar para Sophia.
Melhor não. Falarei com ela ao chegar em casa.
Temos que agir rápido ou então o seu namorado será capa de vários jornais como
veio ao mundo.
Do outro lado de Nova Iorque
Por Claire
O maior erro que um ser humano pode cometer é menosprezar o inimigo. E foi
exatamente isso que aquela ordinária acabou fazendo.
Éramos amigas e dividíamos um apartamento no subúrbio de Nova Iorque. E
num piscar de olhos, Beatrice não mediu esforços para me passar para trás.
Sempre ambiciosa e soberba, sabia que eu, uma mera amiga sem classe, não
conseguiria prender um homem como Harry. Eu o conheci durante as férias de
verão e logo começamos a namorar. Harry era tudo o que uma mulher poderia
querer. Rico, bonito elegante e gentil. Me apaixonei perdidamente por ele.
Beatrice nunca saía ou se envolvia com ninguém. Não me lembro de ter a visto
com nenhum homem, exceto Joseph, meu irmão. Ela estava apaixonada por ele e
o mesmo era como eu. Pobre. Não tínhamos onde cair mortos.

Mesmo morrendo de amores por ele, Beatrice nunca se conformou com a vida
que possuía. Trabalhava em um antiquário como vendedora e não se permitia
morrer nessa vida miserável, Beatrice fez tudo às minhas costas. Dispensou
Joseph que morria de amores por ela e o que fez? Seduziu Harry e o tomou para
si.
Tivemos uma discussão horrível e ela jogou em minha cara que eu nunca
conseguiria ser uma mulher elegante. Uma mulher à altura de Harry. Ela foi
embora de meu apartamento e um mês depois, estava casada e grávida do
homem que eu tanto amava.
O problema é que me menosprezar foi seu erro.
Encontrei uma carta no lixo que ela iria entregar a meu irmão e deve ter
desistido de última hora. Nessa carta, ela relata que o amava, porém seguiria seu
caminho, pois não queria morrer pobre ao seu lado. E no último parágrafo da
carta, relata que o filho que carregava no ventre não era de Harry e sim de
Joseph. Guardei esse segredo por medo, pois ela se tornou uma mulher muito
influente e poderosa, podendo me destruir como a um inseto.
Porém há alguns anos, perdi esse medo e minha vingança começou a tomar
corpo. Envio a bilhetes anônimos a ela esporadicamente e tenho certeza de que a
assustei de alguma forma, ela não imagina de onde possam vir esses bilhetes e
vejamos até quando manterei esse segredo comigo. Joseph é completamente
apaixonado por ela e sua devoção chega a tal ponto de ignorar que Beatrice não
vale nada e esconde dele o filho que ele nem imagina ter. Os dois são amigos até
hoje e meu pobre irmão frequenta a sua casa como o melhor amigo da família.
O verdadeiro pai de Sean.
Cansei de agir pelas sombras e a rainha Beatrice não perde por esperar.
Tudo por você!
Por Bárbara
Ouço seu coração que, instantes atrás, batia acelerado. Minha convivência com
Max tem se tornando difícil, quase um martírio muito doloroso. Ir para a cama
com ele me requer muito sacrifício e nem sempre foi assim. No começo de nosso
namoro era apaixonada por Max e via nele, tudo o que uma mulher precisa para
ser feliz, porém quando ficamos noivos há seis meses, isso veio mudando
gradativamente. Os beijos de meu noivo se tornaram sem sabor e seu toque nada
desperta em mim. A razão para isso tudo?
Sem querer, me apaixonei pelo seu irmão, Sean.
Por mais que eu tentasse não pensar nele, era pior. Mesmo sua fama de cafajeste
e mulherengo me fizeram repensar meus sentimentos e tentar esquece-lo. Não há
explicação para meu sentimento, pois Sean nunca me olhou e muito menos me
desrespeitou, pelo contrário, sempre me tratou como mais um membro de sua
família.
A cada vez que eu o via em minha frente é como se algo se mexesse dentro de
mim. Tenho consciência de que estou errada e mais ainda, traindo meu noivo que
é totalmente apaixonado por mim.
Sean nem imagina o que sinto por ele e também que esse sentimento me
consome a cada dia, ainda mais com a ideia de um casamento próximo. Como
irei me casar com Max, com meu pensamento ligado ao seu irmão? Se nas vezes
em que Max me toca, fecho os olhos e imagino seu irmão em seu lugar? É Sean
quem desejo e quero em minha cama. Imagino sua boca e suas mãos me
tomando e fazendo meu corpo se render e isso vem se tornando um hábito
constante, porque sem isso, não consigo chegar ao orgasmo. É isso mesmo, gozo
pensando em Sean e o que ele faria comigo em sua cama.
Como poderei ser feliz nesse casamento, nutrindo essa paixão por ele?
No sábado, a data do meu casamento será marcada e para mim é uma espécie de
sentença de morte. Chego a sonhar, muitas vezes, em Sean se declarando e me
pedindo para que cancele tudo e viva com ele. Acordo assustada, mas muito
feliz.
Uma coisa está me intrigando. Essa moça por quem Sean parece interessado.
Quem seria? Como ele a conheceu? Não estou acreditando nessa história, pois
conheço um pouco de sua personalidade e tenho certeza de que isso tudo, esse
interesse repentino irá embora assim como veio.
Por minha família, sei o que esse casamento representa, continuarei minha farsa
e não sei até quando suportarei tanta infelicidade. Olho para o rosto de meu
noivo e sinto um aperto em meu peito. Max não merece isso, não sou digna de
tê-lo ao meu lado. Mas, se é isso que minha família precisa para se manter em pé
e será exatamente isso que preciso fazer, me manter firme e aguentar até o fim.
Por Sophia
Organizo umas coisas em meu armário e meus olhos não saem do celular.
Aguardo a ligação de Sean.
Amanhã, começo uma nova etapa de minha vida. Meu primeiro trabalho
realmente honesto. Trabalharei no turno da tarde e estou muito ansiosa para que
o amanhã chegue logo. Sempre sonhei em dar aulas e ensinar o que sei às outras
pessoas.
Ouço alguém batendo à porta.
— Entre.
Lorenzo, com uma expressão séria, entra em meu quarto. E como se fôssemos
transparentes demais um ao outro, pergunto.
— O que houve? Está com uma cara horrível e não é sinal de falta de beleza!
Tento manter o nível da observação em tom de brincadeira. É como sempre
fazemos.
— Richard irá publicar aquelas fotos de Sean, Sophia!
Parece que não digeri direito a informação.
— Richard, o que?
Não posso acreditar que estamos nos referindo à mesma pessoa.
— Acho que ele quer atingir Sean e com essa atitude medíocre, acha que irá
mudar alguma coisa em relação ao seu sentimento. E se esquece de que fazendo
isso a afasta cada vez mais.
— Lorenzo, não acredito que ele irá fazer uma coisa tão baixa como essa! Como
foi que descobriu?
— Rubia, uma funcionária dele, acabou soltando umas coisas e peguei tudo no
ar. — senta em minha cama e me olha preocupado. — Além de inconformado, é
burro. Preciso dar umas aulas para ele. Mulher não gosta de se sentir sufocada e
ele não consegue entender isso. Vim lhe contar assim que soube.
Afago seu rosto e o beijo.
— Obrigada por me contar. Preciso falar com Sean. Ele precisa estar a par da
situação.
— Desculpe, mas acabei fazendo isso. Se essas imagens irão para a internet
achei que quanto antes ele soubesse seria melhor. Falei com seu assessor, Aidan.
— Não precisa pedir desculpas. Fez muito bem. Espero que eles consigam
impedir a veiculação desse material.
— Seu assessor disse que iria se empenhar ao máximo e pelo jeito ficou muito
irritado com essa situação. Sean não deveria ter feito aquele CD. Acho que ele
não pensou nas consequências dessas fotos.
— Tem razão. Bom, vou tentar falar com ele.
Meu irmão se levanta e caminha para a porta.
— Diga que lhe desejo sorte, acho que será difícil reverterem essa situação.
— Papai sempre nos diz uma coisa: “Só não há jeito para morte”. — Encaro-o.
— Portanto, vamos ver o que dá para ser feito. Obrigada por avisa-lo e me
avisar. Te amo.
— Eu também a amo e muito. Agora, vou tomar um banho e comer alguma
coisa. Se precisar de mim, só chamar.
— Está certo. — Pego meu celular e ligo para Sean.
Não atende. Merda. Onde ele se enfiou quando preciso falar com ele?
Por Sean
Em sua sala, Aidan anda de um lado para o outro e isso está me deixa irritado.
— Quer parar? Ou vai afundar o chão, Aidan.
Deixo meu celular no modo silencioso e espero meu assessor descarregar sua
fúria em mim, com razão.
— Minha vontade é afundar um soco bem no meio da sua cara, mas não seria
boa ideia, portanto me deixe ficar calmo e pensar em algo a ser feito! — Aidan
está mesmo com raiva. O telefonema de Lorenzo o deixou muito preocupado e
eu também. — Sabe qual é o seu problema?
Ergo os ombros.
— Você não me ouve! Não disse que esse CD poderia nos causar problemas e
você o que fez? Nem me ouviu! Agora, joga essa batata quente em minhas mãos
como se fosse possível fazer algo em tão pouco tempo!
Agi por impulso e agora estou numa enrascada. Se essas fotos forem mesmo
publicadas, minha imagem será arranhada, perderei meu prestígio e terei sérios
problemas com meu partido. Não imaginei que Richard fosse um cara tão baixo!
E pior, Sophia. Acho que ela não irá ficar feliz com essa exposição. O namorado
nu na internet.
— Tem razão. Estava cego.
— Não, muito pior do que isso! — Esbraveja. — Pensou com a cabeça debaixo.
Ficou tão desesperado pela garota e olha a cagada que fez! Primeiro, perde uma
fortuna por ela, agora isso! Essa garota deve ter uma boceta daquelas!
— Cale essa boca! — Grito. Não irei admitir que Aidan diga um disparate desse.
Aproximo-me dele e aponto meu dedo em riste. — Nunca mais ouse dizer isso
de Sophia, entendeu? Ou quem lhe acerta um soco bem no meio da cara sou eu!
Ela é minha namorada e não admitirei que se refira a ela dessa maneira!
Ele recua. Acho que percebeu que exagerou.
— Desculpe-me, Sean! Estou nervoso. — Passa as mãos pelos cabelos. — Não
tive a intenção de ofender sua namorada. Mas por que você tinha que nos enfiar
numa merda dessa? Que coisa. E olha que seu pai é influente e você também.
Mesmo assim, sabe que um material como esse é ouro em mãos erradas. E pior,
não sabemos onde isso será veiculado.
— Vamos dar um jeito. Vou até minha sala e darei alguns telefonemas.
— Está bem. — Diz ao sentar-se em sua mesa. — Lembre-se de que vou exigir
aumento de meu salário. Acho que mereço por trabalhar para você.
Somos assim, dizemos coisas um ao outro e nos acertamos rapidamente,
conheço Aidan e sei que ele não me deseja o mal. Sorrio e caminho para minha
sala. Ao olhar para minha mesa, me dei conta de que acabei esquecendo meu
celular e volto para pegá-lo. No visor, há várias ligações de Sophia.
Aperto chamar e espero que ela atenda.
— Sean! Até que enfim, estava aflita para poder falar com você. — Sua voz
indica que já sabe sobre as fotos.
— Me perdoe, estava na sala ao lado e acabei esquecendo meu celular.
— Conseguiu recuperar o CD?
— Não, minha querida. Aidan entrou em contato com várias pessoas ligadas à
mídia e ninguém sabe onde está esse material. Acreditamos que ainda está com
ele e que só irá sair de suas mãos amanhã pela manhã, quando as fotos serão
publicadas.
— Mas, então... se o CD das fotos ainda está com Richard...
— Não posso fazer nada! Ele não irá negociar. Seu interesse não tem fins
lucrativos e sim, vingativos.
— Sei disso. Ele esteve aqui, hoje.
Por Sophia
Acho melhor contar a ele minha conversa com Richard e o beijo também.
Falo pausadamente e conto tudo. Um silencio estratosférico se abate na linha e
chego a pensar que a ligação caiu.
— Cachorro! — Diz, finalmente. — Vou acabar com a raça dele.
— Sean, ele não significa nada para mim.
Suspira.
— Mas para mim acaba de se tornar algo que exige minha atenção.
Eu o interrompo.
— A culpada de tudo isso sou eu! Se não tivesse concordado em roubar e invadir
a sua casa, nada disso teria acontecido.
— Linda, escute! — Sua voz é grave e fala com toda calma. — Mesmo com
raiva, não posso deixar de agradecer a Richard. Se não fosse por ele, nunca a
teria conhecido. E ele sabe disso e essa é sua maior raiva.
— Nisso, você tem razão, mas e se não conseguir pegar esse material? Amanhã,
estará exposto em todo o mundo. Isso vai manchar sua carreira, Sean. — Me
preocupo com ele. Tenho que impedir Richard.
— Se não conseguir localizar o CD, paciência. Espero que não termine nosso
namoro depois disso.
— Sean... Richard terá que fazer muito mais do que publicar essas fotos para me
separar de você.
— Não tem que fazer mais nada. Tem que parar com essa bobagem, isso sim.
— Vou pegar esse CD de volta.
— Nada disso! Não a quero envolvida nisso. — Diz, taxativo. — Esse assunto
não tem nada a ver com você. Deixe que de Richard cuido eu.
— Mas...
— Sophia. — Seu tom de voz agora é mais sério. — Não! Chega de se
comportar como uma ladra. Chega de invasões e roubos, está bem? Mudando de
assunto. A que horas começa no novo emprego?
— Às treze horas e sairei às dezessete.
Se ele pensa que ficarei de braços cruzados, Sean está muito enganado. Se esse
material está com Richard, irei recuperá-lo, depois disso, Sean poderá brigar
comigo.
— Sophia, estou com saudade!
Parece que o vejo sorrindo do outro lado.
— Eu também.
— Ainda faltam quatro dias. Quero ficar com você durante todo o fim de
semana.
— Assim, vai acabar enjoando fácil.
Silencio novamente. Acho que não está mais sorrindo.
— Sophia, sei que parece difícil de acreditar, mas quando digo que estou
apaixonado por você, é sincero e não uma brincadeira. Não a vejo como diversão
e sim, como alguém muito importante a quem não consigo ficar longe. Queria
muito que estivesse aqui.
— Desculpe-me, meu amor. Eu não quis dizer isso.
— Não repita mais isso, está bem?
— Está certo. Não repetirei.
— Agora, tenho que deligar. Tenho que recuperar aquelas fotos antes de
amanhecer! Um beijo e amanhã de manhã, ligarei para ouvir sua voz rouca que
tanto gosto.
— Hm. Ia me esquecendo... tenho uma surpresa.
— Surpresa? Me diga o que é. Fiquei curioso.
Sorrio em imaginar o que ando fazendo. Devo estar maluca.
— Só amanhã. Beijo nessa boca gostosa.
— Ah, não! Assim não conseguirei dormir.
— Dorme sim, me imagine abraçada a você e durma.
Sussurra ao telefone, fazendo meu corpo todo se arrepiar.
— Tenha a certeza de que quando estiver abraçada a mim, a última coisa que
farei será dormir.
— Era isso que queria ouvir...
— Quero traze-la para passar uma semana aqui comigo!
— Vou adorar, pode ter certeza.
— E minha surpresa?
— Amanhã, pela manhã eu lhe mando.
— Vou ficar esperando.
Ouço a voz de Aidan que o chama. Melhor eu me despedir, ele tem coisas
importantes para resolver.
Me despeço, enquanto escolho uma roupa para o que farei a seguir.
Três horas depois, paro meu carro a alguns metros de sua casa. As luzes estão
acesas. Espero que eu encontre o que vim buscar. Se depender de mim, Richard
não divulgará essas fotos.
Com o maior cuidado para não ser flagrada pelas câmeras, dou a volta pelos
fundos e escalo a parede até chegar à janela que dá acesso ao seu escritório. Se
ele guardou essas fotos em casa, o lugar mais seguro para isso é o seu cofre.
Com muito cuidado, entro em seu aposento e ando até sua mesa. O cofre fica
atrás de um quadro de Renoir. Retiro a tela e em alguns segundos, abro o cofre e
lá está o CD. Mas e a cópia? Ele deve ter feito uma cópia. Olho para seu
notebook em cima da mesa. Invado seu e-mail com facilidade e vejo os últimos
que foram enviados. Sem dúvida, ele iria soltar essas imagens pela internet.
Em pouco mais de um minuto, encontro uma pasta na área de documentos. Está
com senha.
Mais um pouco e um clique certeiro, apago todas elas e as limpo da lixeira. Com
um pouco mais de paciência, instalo um vírus em seu computador e o que estava
nele, já era.
Pego o CD e coloco outro no lugar, músicas clássicas. Espero que ele goste. Saio
de seu jardim e penso que ele poderia ter agido de forma diferente comigo.
Atingir Sean dessa maneira é uma atitude muito baixa e isso me surpreendeu
vindo de meu melhor amigo. Mesmo estando apaixonado, não é essa a melhor
maneira de resolver a questão!
Volto para casa e com o CD nas mãos, sorrio. Espero que tudo acabe bem.
Por Sean
Após uma noite mal dormida, sou acordado pelo toque de meu celular. Alcanço
o aparelho e vejo o nome de Aidan no visor.
— Diga, Aidan. Qual a má notícia? — Pisco os olhos para focar minha visão e
bocejo ao telefone.
— Meu amigo, está sentado?
Sento—me na cama e esfrego os olhos. São sete da manhã.
— Fale, logo. Não faça rodeios, pelo amor de Deus!
— Suas fotos não foram publicadas. Segundo uma pessoa ligada ao responsável
pela divulgação, as mesmas sumiram das mãos de Richard. Isso não é uma
maravilha?
Sophia.
Fecho meus olhos e suspiro. Aquela teimosa. Não pedi a ela? Não fui claro o
bastante? Mas ela não me ouviu e com certeza se arriscou para recuperar essas
fotos.
— Sim, Aidan. É uma ótima notícia. Estou indo para o trabalho. Encontro você
em uma hora.
Após desligar o celular, ligo para Sophia, mas ela não atende. Deve estar
dormindo. Mais tarde, terei uma conversinha com ela.
No chuveiro, deixo a água quente cair pelo meu corpo.
Pensando bem, Sophia fez isso para me salvar. Não posso brigar com ela por
esse motivo, não seria nada justo. Arriscou-se por minha causa e salvou minha
pele.
Em meu closet, olho para o espelho enquanto ajusto o nó de minha gravata e
meu celular vibra.
Mensagem de Sophia.
“Bom dia, meu amor.
Sei que você deve estar chateado comigo e com razão, mas não poderia deixar
que você fosse exposto dessa forma. A partir de hoje, a única que pode ver seu
corpo nu, sou eu. Não poderia dividi-lo com o resto do mundo, sou egoísta e
havia me esquecido de lhe dizer! Espero que entenda meu gesto e prometo não
mais tomar esse tipo de atitude.
Como recompensa, tirei algumas fotos para você. Quando olhar para elas,
verá que estou morrendo de saudade. Se acaso me ligar, não poderei atender,
estou em uma reunião na escola.
Beijos de tirar o fôlego
Da sua teimosa
Sophia.”
Leio e releio cada palavra e ao abrir as fotos que me enviou, meus olhos não
saem da tela. São lindas e muito sensuais. Salvo-as em meu celular e coloco uma
senha. Não quero que ninguém as veja.
Mando uma resposta.
“Uma imagem vale mais do que mil palavras, não imagina o efeito que elas
tiveram em mim. Quero-a usando essa roupa na sexta. Me deu ideias muito
boas. Um beijo apaixonado.
Babando aqui.
Do seu Sean.”
No senado, enquanto um senador do Texas discursa, mais uma vez, olho para as
fotos que minha namorada me mandou. Ela está absurdamente linda. Olha fixo
para a lente como se me visse do outro lado. Sentada em uma cadeira vermelha e
com uma blusa transparente preta, me deixa excitado só de imaginar nosso
encontro de sexta-feira.
Por Sophia
Depois da reunião na escola, saio da mesma e Alexia me liga. Precisa conversar
comigo.
Nos encontramos em uma casa de chás e pedimos uma torta de chocolate bem
calórica. O frio justifica nossa ousadia.
Conversamos sobre suas saídas com Aidan e mais uma vez, a alerto de que ela
tem que se impor se quer algo mais sério com o rapaz.
— Você tem razão, Sophia. Sou muito precipitada. Quero que ele se apaixone
por mim e acabo fazendo tudo errado.
— Siga o que acabei de lhe dizer e verá o resultado. Homem não gosta de
mulher muito fácil, disponível, pode apostar.
— Apostar? Está brincando? Estou falando com a expert no assunto. A mulher
que fez meu irmão deixar de fazer bacanais e comer uma mulher em cada
cômodo da sua casa! — Continua sem notar como isso me deixou chateada. —
Não posso discutir com você e sim aprender.
Alexia diz isso sem malícia. Mas para mim foi como um soco no estômago. Um
pouco antes de me encontrar com sua irmã, Sean me ligou e disse que quer que
eu fique em sua casa, no fim de semana.
Somente ele e eu.
Para mim, seria mais uma lá dentro.
Pode parecer bobagem ou infantilidade, mas não me sinto bem sabendo que ele
usava sua casa como um bordel. Não ficarei à vontade, deitando na mesma cama
que se deitaram sei lá quantas outras.
— Sophia, está tudo bem?
— Sim. Está. É que me lembrei de que tenho que ir para casa. Começo a dar
aula, hoje.
Levanto da mesa e abro minha carteira. Ela se recusa a aceitar o meu dinheiro,
mesmo assim acabo insistindo.
— Ah, que legal. Bom primeiro dia de aula, para você.
Saio da confeitaria e entro em meu carro.
À noite, terei uma conversa séria com Sean. Ele não imagina como estou me
sentindo.
E não vejo a hora de sexta-feira chegar!
Por Richard
Sophia. Sei que foi ela.
Como descobriu? Nem imagino. No fundo, sabia que ela não permitiria que
essas fotos chegassem ao destino que eu havia escolhido. Ela está mesmo
apaixonada por ele. Senti inveja por saber que ela invadiu minha casa, roubou
algo para protege-lo.
Mas, agora não vou atrapalhar esse namoro. Esse relacionamento não dará certo,
Sean não é homem de se prender por tanto tempo à uma só mulher. Deixe que o
tempo se encarregue de separa-los. Água e óleo nunca se misturam.
Volto ao meu trabalho e me concentro em meus negócios...
Tudo novo!
Por Sophia
Como todo primeiro dia de trabalho, a gente se sente um pouco perdida,
deslocada e acha que nunca irá se adaptar à nova rotina.
Conheci todo o corpo docente do colégio e fui muito bem acolhida por eles.
Quando entrei na sala de aula, os alunos me olharam com espanto. E depois,
uma delas confessou que o motivo pelo mesmo era a minha pouca idade. Tive
muita sorte, pois todos que estavam na sala, queriam muito aprender sobre o
assunto: Pintura Barroca.
Dory, umas das mais falantes em sala de aula, se mostrou atenta e participou
com muito entusiasmo que até citou a obra que foi roubada da Galeria
Mackenzie.
Ah, se ela soubesse!
Depois de acabar o meu turno, volto para casa e encontro Angelina, como
sempre, fazendo algo delicioso. O aroma de baunilha e maçã invade toda o
ambiente e é para a cozinha que esse cheiro bom me leva. Torta de maçã.
Isso me traz muitas boas lembranças. Chego de mansinho e lá está a minha fofa,
com seu avental branco, cantando I say a little prayer for you com sua voz
forte e limpa.
Agarro-a por trás lhe dando um enorme susto. Me pergunto, às vezes, como seria
minha vida se minha mãe não tivesse me abandonado naquele orfanato. Com
certeza, não teria conhecido Angelina e não a amaria como agora. Na cozinha,
ela domina o ambiente e mesmo quando está de folga, sua presença marcante é
sentida por cada canto do aposento.
— Minha lindona, você me assustou! — Enxuga as mãos no avental e segura
meu rosto. — Como foi o primeiro dia de aula?
— Que mãos geladas! — Ela ri. Fiz de propósito. — Foi tudo bem. Gostei de
meus alunos, eles gostam de Arte como eu, vamos nos dar muito bem.
— Que bom! Isso é maravilhoso!
Ela me serve um pedaço de torta e também uma xícara de café. Senta-se comigo
à mesa e pela sua cara quer perguntar algo. Mas, se retém.
E então, me lembro de algo que preciso dizer a ela. Coisas de mulher.
Olho para a porta para me certificar de que nenhum homem está por perto e olho
para ela que toma seu café.
— Que foi? Vai dizer logo ou irá ficar com essa cara de bezerro assustado
olhando para mim?
— Como você é indelicada, fofa! — Sinto vontade de rir.
— Diz isso porque não se olhou no espelho, Sophia.
— Fofa, estava pensando em uma coisa. — Bebo o café, antes que o líquido
esfrie. — Preciso ir ao médico.
— Por que está doente? — Me olha apavorada.
Tenho vontade de rir.
— Quem está com cara de bezerro assustado agora é você! Não é por doença,
vou a um ginecologista, preciso de um método anticoncepcional.
— Ah, entendi. — Segura minha mão. — Tem razão. Não seria nada legal você
arrumando um filho nesse momento.
— Pois é. Marquei uma consulta para amanhã. Anette, uma professora muito
legal, me indicou uma médica muito boa. Já marquei a consulta para amanhã de
manhã.
— Quer companhia? Se quiser, posso ir com você!
— Obrigada, mas não é necessário. — Sorrio.
Termino minha torta e a ajudo com os pratos. Em seguida, entro em meu quarto
e me lembro das palavras de Alexia. Aquilo não me sai da cabeça. E mulher é o
ser mais estranho que existe na face da terra. Quando algo se implanta em seu
cérebro, ninguém tira. E esse é o meu caso, nesse momento.
Olho para o relógio e são quase dezoito horas. Meu celular toca e é Sean. Vou
abordar o assunto que está me incomodando! Não consigo esperar até sexta—
feira para isso.
— Oi, minha linda, como foi seu primeiro dia de aula? — Sua voz ao telefone é
um dos melhores sons que já ouvi.
— Foi bom. — Faço um pequeno relato do meu dia na escola. — E o seu, como
foi?
— Cansativo. Ainda tenho uma sessão que vai se arrastar por muitas horas.
Aproveitei um intervalo para falar com você. Estava com saudade de sua voz.
— Só da voz? Isso é fácil. Gravo um texto bem grande e lhe mando.
— Não só da voz, sabe disso.
E como não sou mulher de subterfúgios, abordo o assunto que tanto me
incomoda. Não sei como será a sua reação, se ele não gostar do que tenho a
dizer, não posso fazer nada.
— Sean, não vou para sua casa na sexta-feira. Prefiro não ir.
— Como assim? Não entendi! — Altera o tom de voz. — Não tínhamos
combinado que depois do jantar com seu pai, você e eu iríamos para minha casa?
Estou louco de saudade, contando os dias para lhe ver. O que a fez mudar de
ideia?
— Estive pensando e não quero dormir em sua cama.
— Continuo sem entender. Pode ser mais clara?
Posso, claro que posso.
— É que não quero me deitar na mesma cama em que sei lá, uma dúzia, dezenas
ou centenas de mulheres já se deitaram.
Faz-se um silêncio apavorante do outro lado. Gostaria de poder ver sua cara toda
franzida de estranheza. Pelo jeito, deve ter achado absurdo minha atitude.
Gostando ou não, terá que aceitar.
— Sophia, que bobagem é essa? Somos adultos. O importante é vivermos daqui
para frente. O antes já era, não importa e não faz a menor diferença. —
Continua. — Se o problema é a cama eu mando trocar, pronto. O que não quero
é ficar sem você.
— Não é tão simples assim, Sean! Acho que não me sentiria bem na casa como
um todo. Você...
Ele me interrompe.
— Espere aí! Está querendo dizer que não vamos passar o fim de semana juntos
porque não quer ficar em minha casa? O que quer que eu faça? Leve-a para um
hotel? Motel? Quero que saiba que não ficarei sem você! Não mesmo! — Diz,
irritadiço.
— Também não.
— Sophia, a casa ou a cama são objetos apenas. O que sinto por você é mais
forte do que isso tudo. Pare de ser infantil! Se pensar assim, não vamos ficar
juntos. Teria que me trocar também!
Ele falou isso para mim? Será que ouvi direito?
— Infantil, eu? Então, está bem. Vamos inverter a situação. — Faço uma pausa.
— Imagine que eu o levasse para minha casa onde fizesse várias festas e já
tivesse transado com inúmeros homens em todos os cômodos do imóvel! E não
somente isso, em minha cama já tivessem se deitado Andrey, Benjamin, Carls,
Dylan, Paul, Steve, William e perdi a conta de quantos mais. Responda,
sinceramente, você iria gostar?
Sean pigarreia.
— Não. Não iria gostar. Ficaria me sentindo mais um deles.
— Bobagem sua, pura infantilidade, não é mesmo? Troco a cama e tudo se
resolve, não é?
— Entendi, Sophia. Já entendi. Vamos fazer o seguinte; quando eu chegar na
sexta a gente conversa a respeito, está bem?
— Tudo bem, só queria deixar claro como iria me sentir.
— Está bem, só quero que tudo fique bem entre nós e farei tudo o que estiver ao
meu alcance para isso, ok?
— Sabia que iria entender.
— Vou voltar para o plenário e mais tarde eu te ligo. Um beijo.
— Outro.

Por Sean

Depois de falar com Sophia, chamo minha secretária e despacho alguns papéis.
Aidan aparece e fica surpreso ao me ver encomendando um carro novo.
— Vai trocar de carro?
— Sim, vou. E a propósito, me passe o telefone daquele corretor imobiliário que
fechamos negócio no ano passado.
— Igor?
— Esse mesmo. Quero escolher um imóvel.
— Que tipo de imóvel?
"Tipo que eu não tenha transado com ninguém dentro dele."
— Uma casa.
— Vai se mudar?
— Pretendo.
— Bem, aqui está o telefone dele. — Me entrega um papel. — Quer que eu ligue
e veja isso para você?
— Não é necessário, pode deixar, cuido disso pessoalmente.
— Como quiser.
Somente Sophia me faz cometer tantas loucuras em um só dia. Tenho feito
coisas que nem eu mesmo me reconheço.
Sexta-feira
Por Sophia
— Nina, sente-se. Ele virá, tenha calma! Olhar para a janela o tempo todo não
resolve!
Lorenzo toma sua cerveja e meu pai acaba de sair do seu quarto. São quase oito
horas. Estou ansiosa demais, tenho medo de que algo saia errado.
Depois que cheguei do trabalho, ajudei Angelina com os preparativos para nosso
jantar. Vicenzo escolheu com muito cuidado o vinho que irá acompanhar a
maravilhosa vitela que será servida.
Mais tarde, em meu quarto, demoro para escolher o que vestir e acabo optando
por uma saia escocesa em azul e preto com uma blusa de gola alta também preta.
Uma bota de salto baixo. O espelho aprova, espero que meu namorado também.
Brincos e gloss na boca e pisco para minha imagem. Apago a luz e me junto aos
demais na sala.
Pela última vez, abro a cortina e vejo quando um carro estaciona em frente o
café. Não é o carro de Sean, porém é ele quem desce do mesmo enquanto ajeita
seu terno. Desço as escadas para me encontrar com ele. Antes que interfone,
abro a porta.
A cada vez que o vejo, sinto algo novo. Sua beleza sempre me deixa sem fôlego,
é como ver um quadro e a cada vez que meu olhar recai sobre ele, acabo
achando algo mais interessante ainda. Nesse caso, meus olhos não se cansam de
admirar algo tão belo como o rosto perfeito de Sean.
Vestindo um terno claro e uma gravata azul, cabelos úmidos e muito bem
cortados, ele é a personificação do príncipe encantado que sempre desejei para
mim.
— Pensei que tivesse desistido de vir!
Seus braços me enlaçam pela cintura e sua boca cobre a minha. Aperta meu
corpo junto ao seu e seu perfume delicioso paira no ar. Seu beijo é lento e sua
língua me provoca, deixando meu corpo em brasas.
Retribuo o beijo mostrando a ele que também sinto o mesmo. Desejo, saudade e
vontade de tê-lo dentro de mim. Sugo sua língua com força e gemo quando sua
mão invade minha blusa e seus dedos tocam em meu seio por cima da renda do
sutiã. Ele também se excita e muito.
— Precisa me conhecer melhor, se pensou uma coisa dessa natureza. — Morde o
lóbulo de minha orelha e corre sua mão por minhas costas.
— É exatamente isso que estou fazendo, conhecendo-o melhor, muito melhor.
Meus olhos o encaram e ele toca em minha boca com seu indicador.
— Estava morrendo de saudade de você! Pensava nessa boca o tempo todo. —
Pisca para mim, me derretendo por dentro.
— Também senti muito sua falta e não somente da sua boca.
— Sua boba, você entendeu o que eu quis dizer!
— Vamos subir? Meu pai está nos esperando. — Olho para o automóvel parado
na rua. — Carro novo?
— Uhum, carro novo, roupa nova. — Toca a lapela do paletó.
— Você não irá me dizer que trocou de carro pelo meu comentário de terça?
— Também. Depois que nos falamos fiquei pensando em você com outros em
uma cama e não gostei nada. — Torce o nariz. — Foi estranho ao meu ver. E
você tinha toda a razão. Então, achei que aquele carro também merecia ser
trocado.
Beijo—o com mais intensidade. Ao me afastar, estou sem ar.
— Que bom, esse carro novo me deu uma ideia.
Segura minha mão firme e me encara.
— Uma só? Tenho muitas versões de sua ideia em minha mente.
— Mais tarde, você me mostra, estou louca para saber quais são. Agora, vamos
subir e jantar. Meu pai está com um rifle e Lorenzo com um punhal lhe
esperando.
Franze o cenho o deixando mais charmoso ainda. Como se isso fosse possível.
— Vamos enfrentar as feras.
E durante o nosso jantar, meu pai e Lorenzo deixaram Sean o mais à vontade que
imaginei. Eles falaram de vários assuntos. Política, arte e cavalos. Não falei
muito, apenas observei como Sean é educado e elegante. Ele e Vicenzo pareciam
velhos amigos. Lorenzo, com seu jeito amistoso, fez a conversa ficar muito
animada. E quando estávamos na sobremesa, Lorenzo pede licença alegando ter
um compromisso e o mesmo só pode ser mulher. Nesse momento em que
ficamos somente os três à mesa, meu pai faz um enorme sermão sobre minha
importância em sua vida e que se Sean me magoar, ele não medirá esforços para
acabar com sua raça. E eu que pensei que ele não ia dizer uma coisa dessas,
quase me escondi embaixo da mesa. No final, Sean garantiu a ele que seu
sentimento por mim é mais profundo e suas intenções são as melhores possíveis.
— Bom, agora que já falou tudo o que tinha para dizer, Sean e eu vamos dar uma
volta, tudo bem?
Vicenzo me olha seriamente, depois olha para o relógio.
— Tudo bem. Não demore!
Ele deve estar brincando.
— Pode deixar, papai! — Beijo seu rosto e suas bochechas se contraem num
sorriso.
Na calçada, Sean abre a porta do carro para mim. É um Aston Martin preto,
lindo.
— Onde vamos? — Pergunto.
— Para minha casa!
Será que ele não entendeu o que eu disse ao telefone?
Liga o carro e sai em alta velocidade.
— Sean, não quero parecer chata, mas...
— Mas?
Continua atento ao trânsito.
— Se não se importa, não quero ir para sua casa! Falei sério ao telefone.
— Disse a você que entendi. Relaxe.
O trajeto que percorremos indica que iremos para sua casa. Se ele pensa que irei
ceder por estar com saudade, irá quebrar a sua carinha linda. Permaneço em
silêncio durante o trajeto e ele também faz o mesmo.
Paramos em frente ao portão e ele desliga o carro. Abre o cinto e dá a volta para
abrir a porta para mim, mas me adianto e salto antes que ele se aproxime.
— Muito bem, Excelência! — Sei que não gosta de ser chamado assim por mim.
— Acho que você não entendeu o que eu disse na terça e se é assim, prefiro
voltar para casa.
— Vai continuar mesmo com essa história? Prefere ficar longe de mim, do que
entrar e ficarmos juntos em minha casa? — Ergue sua sobrancelha esquerda. —
E não me chame assim, sabe que não gosto!
— Sim. Prefiro.
Ele suspira e pega a minha mão, me puxa e atravessamos a rua. Em frente à sua
casa, há uma outra com a placa vende-se. Sean anda até ela e a tira do chão,
jogando-a de lado.
— Acho que essa terá que servir!
Não acredito!
— Vai comprar essa casa? — Questiono.
— De jeito nenhum, já comprei, venha!
— Você é maluco!
Segura meu rosto entre suas mãos, encosta sua testa na minha.
— Disse que faria tudo para que desse certo, e falava sério a respeito. Sou
maluco por você!
Enfia a mão no bolso da calça e retira de lá as chaves que abrem a porta
principal.
O hall de entrada é iluminado pela luz da rua e posso ver as várias janelas da sala
de estar.
— Sem móveis ainda, vou me mudar na semana que vem! Vamos conhecer o
segundo andar!
Sean sobe as escadas quase correndo e praticamente me arrasta com ele. Ao
chegarmos na segunda porta à direita, abre-a e vejo um colchão com várias
almofadas azuis e vermelhas. Algumas velas e flores completam o cenário.
Olho para ele.
— O colchão também é novo! — Diz sem tirar os olhos dos meus e me lança um
sorriso sexy com um ar de menino que só ele tem.
Depois disso, nada mais precisa ser dito. Um homem faz tudo para se ajeitar em
meu mundo, torna-lo mais próximo do que desejo em menos de três dias, merece
ser tratado com muito carinho.
Puxo-o para mim e ele vai me conduzindo até cairmos sobre as almofadas.
Mesmo com o frio no ambiente, posso sentir o calor que vem do seu corpo que
me prensa no colchão.
— Agora, somos só você e eu! Nosso canto, nosso mundo, tudo novo!
— Sean... — seguro em seu pescoço e sua boca se encaixa na minha de modo
voraz enquanto suas mãos arrancam minhas roupas, me deixando somente de
calcinha. Minha mão afrouxa o nó de sua gravata e aos poucos, depois de tirar o
paletó e colete, abro o último botão de sua camisa e minha boca percorre seu
tórax tão bem definido. Adoro cada parte de seu corpo, mas seu peito é uma das
minhas partes favoritas. Nossos olhos não se desgrudam e nossa respiração é
uma só.
Ajoelhado em minha frente só de boxer, Sean parece outro homem. Ele vem se
transformando aos poucos e talvez nem se dê conta disso, mas a cada dia que
passa me sinto mais apaixonada. Meu único medo é de que todo esse encanto,
essa felicidade seja momentânea. Que mais dia, menos dia, enjoe desse romance
todo e volte a ser o que era. E como se meu rosto transparecesse a dúvida do que
ele sente, segura em minha perna e sua boca desliza por minha pele que se
arrepia toda com esse gesto.
As luzes tremulantes das velas batem em seu rosto e o brilho dos seus olhos
azuis ficam mais fortes.
— Você me faz muito feliz, nem imagina o quanto! — Morde de leve o interior
de minha coxa, arrancando um gemido de minha garganta seca.
— Também sou muito feliz com você e espero que sempre me olhe assim... Não
quero perde-lo nunca!
Suas mãos fortes apertam meus quadris e bem devagar, me deixa nua.
— Agora que nos encontramos, não irei perde-la. Antes, eu tinha mulheres em
minha cama. — Me sinto constrangida quando menciona seu passado. — Agora,
tenho você aqui! — Coloca a mão em seu peito e todo esse desconforto se vai e
dá lugar a segurança de um futuro ao seu lado. — Onde quer que vá, você está
aqui! Sempre.
Abaixa sua cabeça e beija meu umbigo, com seus olhos vidrados nos meus. Nem
nos romances que já li, imaginei viver esse momento tão perfeito. Quando sua
língua invade meu sexo e me lambe com uma fome animal, sinto meu corpo
todo entregue a ele.
Gemo seu nome, arqueando os quadris contra seus lábios e sua mão aperta um
dos meus seios, no mesmo instante que a outra mão acaricia meu sexo
encharcado. Penetra seu dedo em mim e sobe com seu corpo até encontrar minha
boca e se apossar dela de modo selvagem. Sinto sua ereção roçando entre minhas
pernas e sem poder esperar mais, sussurra:
— Depois de você não haverá outra, jamais imaginei sentir o que sinto por você
e agora é tarde, muito tarde para mudar tudo isso, me entreguei. Sou seu e você,
minha!
— Sua... — Enrosco minhas pernas às dele e o incito a me penetrar, mas ele rola
seu corpo me levando com ele.
Espalmo minhas mãos em seu peito e minha boca cobre de beijos seu pescoço,
ombros, tórax e vou descendo pelo seu abdômen. Suas mãos se enroscam em
meus cabelos e continuo a escalar seu corpo másculo e só meu.
— Delícia... — Ele puxa meus cabelos ao sentir que minha boca desce e engole
a cabeça do seu membro rijo. — Isso... ahhh... não pare...que boca gostosa...
É a primeira vez que faço sexo oral. Aliás, tudo para mim está sendo novidade,
espero que eu saiba como agrada-lo. Levada pelo instinto de dar prazer a ele,
chupo-o com muito desejo e a cada vez que minha língua passa por sua
extensão, seu gemido me deixa louca, insana e querendo-o em minhas mãos, o
aperto firme para leva-lo ao limite. Minha outra mão corre por suas pernas
fortes, arranhando-o de leve.
Ofegante e com a respiração alterada, segura minha cabeça e investe em minha
boca, primeiro num ritmo lento e profundo, quase torturante, pois imagino esse
movimento em mim, dentro do meu corpo. Em seguida, aumenta o ritmo e estica
os braços tocando em meu sexo, massageando meu clitóris que vibra sob sua
mão.
Ergo meus olhos e ele está lá observando cada movimento meu.
— Quero fazer amor com você a noite toda, ouvi-la gemendo com meu pau todo
em você! — Gemo ao imaginar seu corpo no meu e me deixo levar por um
orgasmo que me faz gemer alto, fazendo com que ele se entregue e goze em
minha boca.
Quando penso que ele vai se recuperar, me puxa para seu corpo e me mantém
por cima dele.
— Já está tomando pílula?
— Sim, estou.
Ajeita seu membro em minha entrada e meu corpo desliza até senti-lo inteiro
dentro de mim.
— Sou todinho seu. — Suas mãos seguram em minha cintura, sinto seus dedos
cravados em minha pele, deixando sua marca. Posse e domínio se misturam.
Começo a me movimentar e ele me acompanha. Vejo-o fechar os olhos e
sussurrar meu nome como uma súplica quando remexo os quadris de encontro ao
seu membro. — Goza comigo, Sophia!!
Antes que eu responda, vira meu corpo e fica sobre mim. Toma minha boca e
abafa meus gemidos com seus lábios. Ele determina o ritmo que é rápido com
estocadas profundas. Sua boca recai em meu seio, sugando com força e lança em
um orgasmo ainda mais intenso... goza comigo nos deixando ofegantes.
Horas depois, com o corpo mole e sonolento, sinto seu braço sobre o meu corpo.
Tento me mexer, mas me segura.
— Onde pensa que vai?
— Ora, estou presa? Não sabia dessa!
— Agora já sabe.
— Que horas são?
Ele alcança o relógio.
— Quatro da manhã!
— Nossa, meu pai vai me comer viva!! Foi bom ter conhecido você! —
Levanto-me rapidamente e saio pegando minhas roupas pelo chão.
— Que exagero! Vicenzo sabe muito bem que está comigo!
— Eu sei, mas quando ele disse não demore, falava sério. Portanto, o melhor que
tem a fazer é trocar-se e me levar para casa.
— Sendo assim, não quero criar caso com seu pai. Não agora, mas em um futuro
distante, o desafiarei.
Seria uma afirmação de que vamos ser mais do que namorados no futuro? Será
que um dia, ouvirei de sua boca um "eu te amo"?
Trocamos de roupa e seguimos para minha casa.
Em frente ao café, ele me beija com muito carinho.
— Não se esqueça, amanhã teremos um jantar com minha família, venho busca-
la às vinte horas.
— Combinado.
[...]
Abro a porta da sala muito devagar e ando com muito cuidado até meu quarto.
Acendo a luz, e após tirar minha roupa, tomo um banho e quando saio do
banheiro, levo um susto. Vicenzo está sentado em minha cama e me olha com
uma cara não muito boa.
— Quatro e meia da manhã, senhorita Sophia!
— Perdi a hora, me desculpe.
Aproximo da cama e o beijo.
Ele me olha nos olhos e o vejo emocionado.
— Minha menina se tornou uma mulher, imaginava que esse dia iria chegar e
que sentiria ciúmes do homem que tivesse seu coração, mas agora, olhando para
você e a vendo tão feliz, só posso agradecer a Deus por me conceder mais esse
momento. Espero que Sean a faça muito feliz, gostei dele. É um homem com
muitas qualidades e não tem nada a ver com o que comentam por aí. Conheço as
pessoas e com o passar do tempo, aprendi a enxerga-las melhor.
— Obrigada, papai! — O abraço e ele sai do quarto.
— Boa noite e durma bem!
— O senhor também.
Sábado
Sempre acordei muito cedo, porém como minha noite não foi como as outras,
acabei perdendo a hora.
Angelina praticamente arromba o quarto com uma caixa branca de papelão com
um enorme laço vermelho.
— Dessa vez, não abri, juro! — Cruza os dedos em frente sua boca.
Sento—me na cama, abro o laço e dentro da caixa embrulhado em um papel fino
está um vestido lindíssimo vermelho com alças em pedras.
No fundo, outro cartão.
"Não vejo a hora de vê-la nesse vestido! E mais ainda, não vejo a hora de
tirá-lo!
Do seu apaixonado
Sean"
— É lindo, Sophia, você vai arrasar.
Horas depois.
— Linda! Como imaginei! — Beija minha mão, enquanto dirige.
No fundo, estou nervosa, não sei o que os pais de Sean acharão de mim e por
mais que eu diga a mim mesma que isso não faz diferença, não é a verdade.
— Não precisa ficar nervosa, vai adorar a minha mãe!
É isso o que mais temo, a sua mãe.
Ao chegarmos em frente à enorme mansão, somos recebidos por um mordomo
que nos encaminha para a sala, onde estão todos os presentes. Vejo Alexia que
ao me ver, sorri e se aproxima.
— Bem-vinda, cunhada!
— Obrigada, Alexia!
Sean segura firme a minha mão fria e se encaminha até os seus pais. Beatrice me
olha de cima abaixo e sorri, Harry, um pouco mais simpático, não disfarça o
incômodo ao me ver em sua frente.
— Mãe, essa é Sophia, minha namorada!
Ela estende a mão de modo elegante e faço o mesmo.
Harry continua me olhando de modo intrigante.
— Não nos conhecemos de algum lugar?
— Acredito que não, senhor Mackenzie.
— Harry, por favor. — Olha para o mordomo e pede para que nos sirvam
champanhe. Somos servidos e o pai de Sean o chama para irem ao escritório
tratar de um assunto de trabalho.
Beatrice resolve interagir comigo.
— Sophia, bonito nome, Sean tem muito bom gosto! Você é uma mulher muito
bela!
— Obrigada. — Respondo polidamente, mas sinto que ela não foi com minha
cara.
Falamos sobre moda e arte. Bruxatrice, apelido inventado com carinho, entende
de arte. Pelo menos temos uma coisa em comum.
E quando olho para o fundo da sala, vejo Max e sua noiva Bárbara.
Pessoalmente, ela é ainda mais bonita. Vestindo um Dior verde escuro, brincos e
colar de esmeraldas, ela está radiante. Mais uma coisa me intrigou desde que pus
meus olhos nela. A noiva me parece infeliz e quando Sean retorna à sala e me
abraça, seus olhos mudam e um brilho incomum se apodera deles.
De mãos dadas com Max, ela se aproxima com muita elegância e Sean faz as
apresentações.
Também conheci os pais da noiva, muito simpáticos por sinal.
E não é que branquela não tira os olhos de meu namorado? Será que estou vendo
coisas, ou as pessoas fingem não ver?
Será que ela e Sean? Não, isso seria muito sujo. Ele pode ter mil defeitos, mas
seu caráter com seus familiares já se mostrou elevado.
Depois que jantamos, Beatrice nos convida a passar para outra sala. Max e
Bárbara marcam a data do casamento para daqui a um mês. Ela parece que
bebeu um pouco além da conta. Tanto que a anfitriã pede para que cortem os
licores e seja servido somente café.
A casa é um luxo em cada detalhe, obras de arte e as melhores tapeçarias
adornam a enorme sala de estar. Sentada no sofá com Sean ao meu lado,
conversamos animadamente até que o mordomo aparece e avisa que há alguém
querendo falar com meu namorado ao telefone.
Sean se retira e fico sentada com os olhos de Harry a me observar. Que estranho!
Ele deve estar me confundindo com alguma outra pessoa.
Mais alguns instantes e é a vez de Bárbara pedir licença e sair da sala.
Sophia, Sophia. Espero do fundo de minha alma, estar errada, mas como sou
mulher e meu sexto sentido me deixa em alerta, resolvo dar um tempo e seguir a
nossa noiva infeliz.
Ando por um enorme corredor e ouço vozes alteradas de mulher. Meu coração se
aperta e imagino o que será de mim, se minhas suspeitas se confirmarem. Sean e
Bárbara, amantes?
Ela fala alterada.
— Por favor, Sean, Só uma palavra sua e desmancho esse casamento. Sou
apaixonada por você e não suporto nem mais um dia, viver ao lado de seu irmão,
diga qualquer coisa e eu me separo de Max para ficar com você.
— Você está louca? Max não merece isso! E eu nunca olhei para você, Bárbara!
Tapo minha boca em espanto. E sem que me vejam volto para a sala e com muito
jeito chamo o irmão de Sean para vir comigo. Ele precisa saber que tipo de
mulher que está ao seu lado.
E quando chegamos mais perto, Max vê com seus próprios olhos, sua noiva se
jogando em cima de seu irmão.
Bárbara — A barraqueira
Por Harry
Coincidência ou não?
Não tenho como responder.
O que sei é que a namorada de Sean é idêntica a ela. Os traços, trejeitos e até a
voz. Parecia estar vendo Marcella em minha frente em toda sua beleza jovem.
Voltei ao passado e me lembrei do como fui feliz enquanto estávamos juntos. Ela
me deixava muito à vontade num momento em que meu casamento estava em
crise. Não mais suportava viver ao lado de Beatrice, uma mulher que no início
de nossa união se mostrava companheira e doce, mas que, aos poucos, mostrou
sua verdadeira face, fria e ambiciosa.
E por várias vezes me pego pensando: Se tivesse me casado com Claire?
Ela era uma garota simples e sem os requisitos refinados de Beatrice, porém ela
era verdadeira e dizia me amar de verdade.
Nunca mais nos falamos. Temos contato com Joseph que permaneceu nosso
amigo, mas Claire, que também era amiga de Beatrice, se afastou e não mais
tivemos notícias. Quando pergunto a Joseph como vai a família, a resposta é
sempre a mesma: Vai bem. Troquei-a pelos encantos e qualidades que julgava
importantes para um homem de minha posição e me condenei à infelicidade até
que os negócios nos separem. Beatrice e eu vivemos bem até o nascimento de
Max. Após esse tempo, via nela um adorno importante e imprescindível às
minhas relações comerciais. Elegante e muito articulada, abrilhantava tudo com
sua presença. Requisitada por todos para os mais importantes eventos, Beatrice
sempre adorou esse mundo onde o poder da imagem e a aparência valem mais
do que tudo.
Quando conheci Marcella em uma viagem de negócios, ela me lembrou Claire.
Não em sua aparência externa, mas em seu jeito simplório e ingênuo. Marcella
não tinha ambições e nem almejava o mundo como minha mulher. Ela queria tão
pouco. Quando dei a ela uma joia, uma simples colar com um pingente, seus
olhos brilhavam tanto e seu sorriso era tão radiante que cheguei a pensar se
aquela garota era mesmo real num mundo tão desumano e perigoso.
Não tinha estudos e era sozinha no mundo. Tão ingênua que não imaginava
quem eu era e, isso me fez ligar-se mais e viver um caso amoroso que me fez
muito bem. Porém, ela engravidou e eu, sendo um Mackenzie, não poderia
assumir um filho de uma relação extraconjugal. Cheguei a propor que abortasse
o bebê, mas sua reação foi irredutível e acabei me afastando. Acabei ameaçando-
a e a fiz prometer que não me procurasse, do contrário, tomaria medidas
drásticas para que ela não atravessasse o meu caminho. E desde então nunca
mais a encontrei ou tive notícias dela e muito menos sobre a criança.
Beatrice, na época, engravidou de Alexia. Percebendo que eu estava tendo um
caso, minha mulher mudou de comportamento e voltou a ser a doce Beatrice.
Mas isso durou muito pouco tempo, nossa filha nasceu e lá estava de volta a
megera, a verdadeira Beatrice.
Hoje, vivemos numa relação cordial. Chegamos a um acordo e estamos ligados
somente pelos nossos filhos e patrimônio da família. Pura aparência que
desempenhamos magnificamente bem. Para meus filhos, somos um casal
perfeito que se ama e se preza, para os demais somos o exemplo de família a ser
seguido e para mim, somos o que se chama de casal infeliz.
Uma coisa é certa. Beatrice se dedicou à educação de nossos filhos e seu tempo
foi dedicado a eles. Sean, nosso primeiro filho, sempre foi o seu preferido. Para
ela, ele sempre foi perfeito. Como sou o único que a conhece como ninguém,
tenho certeza de que não gostou da namorada de Sean. Quando ele avisou que
traria sua namorada para que conhecêssemos, Beatrice ficou intrigada e tentou
descobrir quem seria a moça em questão, mas Sean quis fazer surpresa e ao
apresentar Sophia, seus olhos a examinaram por completo e para mim a moça é
uma excelente pessoa, mas aos olhos de Beatrice, nunca estará à altura do filho,
aliás mulher alguma estará nesse patamar a não ser a que ela mesmo escolha a
dedo.
Como já errei muito em minhas escolhas, deixo-as a encargo de meu filho a sua
felicidade. Não vejo restrição nenhuma na moça em questão. A única coisa que
me chocou foi a brutal semelhança com Marcella.
Por Max
Vejo quando Bárbara se joga nos braços de Sean. Ele a segura mantendo-a à
distância e a repreende.
— Bárbara, meu irmão não merece isso! Espero que você não pense em levar
esse relacionamento a diante. Se não contar a ele, eu mesmo contarei.
— Sean, acha que não lutei? — Fala entre lágrimas. — Pensa que me apaixonei
por você propositalmente? Não, Sean. Eu tentei e foi mais forte do que eu.
— Pouco me importa se lutou ou deixou de lutar, a verdade é que jamais olharia
para a mulher de meu irmão.
— Me beije, só um beijo, por favor!
A cada palavra proferida por ela, sinto que meu cérebro vai explodir.
Bárbara, a mulher que sonhei ser ideal como esposa e mãe de meus futuros
filhos é apaixonada pelo meu irmão. Como pude ser tão cego a ponto de não
enxergar isso? Sempre se mostrando devotada a mim ...
Nenhum ser humano imagina viver uma situação dessas. E Bárbara dizia que
não gostava de Sean. Dissimulada, ordinária, mau caráter!
Sophia me olha pelo canto dos olhos e quando dou um passo em direção à cena
mais ultrajante que já presenciei, ela me segura.
— Calma, Max! — Sussurra.
— Chega, Sophia! Já ouvi o suficiente. Vou acabar com esse noivado de mentira.
Saio de trás da pilastra e grito.
— O que está havendo aqui?
Sophia vem logo atrás de mim.
Posso ver o constrangimento nos olhos de meu irmão. Sean fica sem reação, mas
é Bárbara que se adianta nas explicações, olhando diretamente para Sophia.
— Max... — Entre soluços e choramingo, se aproxima. — Sean me agarrou! —
Encosta em meu ombro e minha vontade é joga-la longe, porém quero ver até
onde essa vagabunda pretende ir.
— O que? — Sean me olha contrariado. — Eu não fiz isso, Bárbara, você está
maluca!
— Não adianta negar, Sean! Estava passando pelo corredor quando você me
puxou e tentou me beijar.
Seguro em seus ombros e seus olhos estão em lágrimas. Quantas vezes a
consolei quando chorava sem motivos? Agora vejo suas lágrimas correrem e elas
não me comovem mais. Elas me dão nojo. Sinto raiva por ter acreditado nelas
um dia.
— Max. — Sean me chama. — Você me conhece e também conhece meu
caráter. Jamais agarraria sua noiva! — Ele se justifica calmamente e desvia seu
olhar para Sophia que olha tudo sem dizer nada.
Sean caminha e segura o braço de Sophia que o abraça em sinal de apoio. Afinal,
ele não teve nenhuma culpa nessa história, é tão inocente como eu.
— Mentira, Max. Sean sempre me olhou de modo diferente. Por esse motivo,
não gostava dele. Sempre me quis, esse mulherengo!
E eu que sempre fui um homem ponderado e pacato, perco a cabeça pela
primeira vez na vida.
— Cale a boca, sua vadia! — Acerto-lhe um tapa tão forte que ela se desiquilibra
e vai ao chão. — Não quero ouvir mais uma palavra dessa sua boca imunda. Sua
mentirosa!
— Max... — Esfrega o rosto e me olha com espanto. Não esperava essa reação
de minha parte. — Estou falando a verdade! — Grita desesperada.
— Desde quando? Quero saber, me diga! — Meus gritos ecoam por toda a casa e
logo meus pais e os pais de Bárbara se aproximam para ver o que está havendo.
Alexia também. Enfim, todos os convidados são atraídos pelos meus gritos.
Minha mãe se aproxima.
— Max, o que houve, meu filho?
— Peguei essa vagabunda se jogando nos braços de Sean!
O pai de Bárbara, Joel, rebate.
— Olha como fala de minha filha, Max!
Bárbara se mantem no chão e a levanto pelo braço.
— Max, por favor, me ouça! — Ela chora como se estivesse sofrendo uma
injustiça.
— Já ouvi tudo! Ouvi sua declaração ao meu irmão e o quanto está sendo difícil
me suportar. Ouvi tudo, Bárbara e nunca senti tanta raiva de alguém como sinto
agora!
Abaixa os olhos e ao levanta-los, me desafia.
— É isso mesmo! Sou apaixonada pelo seu irmão. Eu o quero! Não consegui
sufocar o que sinto. Não seria feliz com você, pelo contrário! Mesmo que você
seja bom de cama, era só ele estalar os dedos e eu correria para ele. — Vocifera,
descontrolada.
Não posso ouvir mais nada. Todos olham para Bárbara incrédulos pelas coisas
horríveis que acabou de dizer.
— Vagabunda! — Outro tapa e ela cai novamente. Dessa vez, parto para cima
dela e não consigo me controlar. Minha raiva é tanta que a agrido sem parar, só
assim me sentirei melhor. Meu pai e Sean me separam dela e me seguram forte
para que eu não parta para cima dela novamente.
— Max, meu filho, acalme-se!
Deyse, a mãe de Bárbara, a levanta do chão. Seu nariz sangra, seu rosto está
inchado e vermelho pelos tapas que desferi. Ela esfrega a mão no local e me olha
com desprezo. O que não é novidade, pois também sinto o mesmo por ela.
Seu olhar recai sobre Sophia.
— E você, mocinha? Acha que esse namoro irá durar?
Deyse intervém.
— Bárbara, já chega de escândalos, vamos embora!
— Não irá ficar com ele e sabe por que, Sophia? Sean irá enjoar de você em
pouco tempo. Isso é só uma fase, minha cara. — Chega muito perto da namorada
de Sean.
Não conheço a personalidade de Sophia, mas receio que ela não ficará quieta ao
ouvir mais algum desaforo.
— Chega, Bárbara! — Sua mãe não consegue controla-la.
Ela continua.
— Mais um mês e você já era! — Ébria e descontrolada, aponta o dedo para
Sophia que olha a todos na sala. — Esse é o tempo para que ele transe com você
até enjoar! Sua franguinha sem classe!
Por Sophia
Quem disse que rico não faz barraco?
Max perdeu o controle e encheu a cara da noiva de tapas. Sua ira o fez perder
todo o controle. No fundo, essa confusão teve início por minha causa. Eu é que
fui buscar Max para ver com seus próprios olhos a mercadoria que estava
comprando. Bem ou mal, agora ele sabe. Espero que Sean não se aborreça com
minha atitude.
Agora que a roupa suja foi lavada, a baranga se dirige à minha pessoa com
insultos.
Tinha que sobrar para mim? A mulher se apaixona pelo irmão do noivo, que é
meu namorado, bebe até falar chega, se declara apaixonada pelo irmão em plena
festa de noivado e ainda vem tirar onda com a minha cara?
— Bárbara, não quero ser indelicada com você, pare, por favor! — Falo com
educação, pois não quero que pensem que não sei me portar numa situação como
essa.
— Indelicada? Você sempre será indelicada, cachorra sem dono! Sua qualquer!
Ah, não. Agora chega, ela me ofendeu e isso não posso admitir. Não há
elegância que sobreviva a isso a não ser que corra água em minhas veias ao
invés de sangue.
— Não ouse falar assim comigo! — Perco minha paciência e desço minha mão
em sua cara. — Qualquer é você, sua vagabunda!
O tapa foi tão forte que até minha mão fica doendo.
— Bárbara, basta! Chega de escândalo. Por favor, vá para casa!
É a voz de Beatrice que ecoa no ambiente. Deyse pega a filha e a ampara.
— Vamos, Joel! — O pai de Bárbara não diz nada, mas sua vergonha é notável.
Deyse e ele estão muito constrangidos.
Ao olhar para Sean que ainda segura o irmão, não consigo decifrar o que ele está
pensando. Sua expressão é fria, a mesma quando foi à coletiva que armei para a
doação do dinheiro do quadro. Se ele não gostou do meu comportamento, não
posso fazer nada, não poderia ficar quieta para essa mulher e suas ofensas.
— Com licença! — Saio sem olhar para trás e Alexia pergunta onde vou.
— Embora, a festa acabou e não quero parecer intrusa em um problema de
família. Vou indo.
— Espere. Quer que eu a leve para casa?
— Não é necessário, chamarei um táxi, Alexia.
— Você veio comigo e é comigo que irá para casa! — A voz imperiosa de Sean,
seguida de sua presença forte aparece atrás de Alexia.
— Acho melhor você ficar! Seu irmão precisa de você! — De certo modo, estou
me sentindo sem jeito e ele também. Parece que nos sentimos culpados por algo
que não cometemos.
Ele se aproxima e pega em meu antebraço. O modo como me segura, diz muita
coisa. É delicado e gentil.
— Desculpe por tudo isso, jamais imaginei que Bárbara tivesse algum
sentimento por mim. Não quero que...
Antes que ele termine, silencio seus lábios com meus dedos.
— Shhh... Não precisa explicar mais nada! Eu entendo e seu irmão também
entendeu. Vocês são unidos e não será uma mulher sem caráter que irá os
separar. Agora, é melhor que eu vá para casa.
Beatrice aparece com um sorriso montado diante de nós.
— Sophia, peço desculpas por tudo e espero que não carregue má impressão de
nossa família. Quero poder conhece-la melhor. Que tal um almoço na semana
que vem? Só você e eu?
Pude ver de perto, toda a admiração pela mãe através do olhar de Sean. É lindo
como ele a olha. Ela parece um ser divino em plena redenção em sua frente.
Nossa, que delícia. Ela e eu num almoço! Ah, meu Deus! O que uma mulher
apaixonada não tolera? Tenho medo de sair com congestão dessa refeição.
— Sim, claro, vamos marcar! Será um prazer. Agora, acho melhor ir para casa!
—Sorrio, educadamente.
— Como quiser, minha querida.
A voz dela me causa arrepios. Sean beija seu rosto e nos despedimos.
[...]
Dentro do carro, Sean não falou muito e conto a ele como Max ouviu tudo.
Pensei que ele fosse brigar comigo, mas sua reação me surpreendeu.
— Meu pai sempre nos ensinou uma coisa. Sermos leais, sempre. — Noto que
seus dedos pressionam o volante. — Em qualquer situação. Mesmo que Max não
tivesse ouvido aquilo tudo, mesmo assim... — Pausa e me olha enquanto o sinal
está vermelho — Acreditaria em mim. Sempre agimos dessa maneira. Ele me
conhece e sabe que jamais faria aquilo com ele. O meu maior medo era de que
você não acreditasse. Que achasse que eu e Bárbara...
— Confesso que quando cheguei na casa de seus pais e a vi olhando para você,
meu sexto sentido me deixou um alerta, mas depois vi que não era recíproco o
que ela sentia.
Chegamos em frente à minha casa e antes de descer, Sean me puxa para seus
braços.
— Tinha outros planos para nossa noite. — Roça seus lábios nos meus e eu o
provoco passando minha língua entre eles. Sua mão entra em meus cabelos
presos e os solta, enquanto sua boca ataca a minha num beijo sem tréguas,
apaixonado e extremamente erótico.
Se afasta e minhas mãos pousam sobre seu rosto.
— Amanhã, tenho um jogo de polo que minha mãe organizou em prol de uma
entidade. Será às dez da manhã. Gostaria que fosse comigo. Minha mãe gostou
de você!
Como a madrasta gostava de Cinderela. Hesito um pouco e ele insiste.
— Por favor, aceite. Max, com certeza não irá devido a esse incidente, mas não
podemos cancelar em cima da hora. Tenho que comparecer. Faço parte do time.
Não resisto ao seu olhar de cachorrinho pidão. Acabo aceitando.
— Está bem, eu irei. Em que posição você joga?
— Atacante.
— Hum, interessante. Vai dedicar um gol para sua namorada?
— Um só não, todos eles.
— Louca para vê-lo naquele uniforme. Me deixou excitada agora.
Arqueia as sobrancelhas encosta sua boca na minha.
— Hum, mesmo? Sério isso?
— Seríssimo.
Mordo sua boca de leve e ele me empurra para o banco do passageiro com sua
boca esmagando a minha e me fazendo gemer com sua mão audaciosa correndo
por sobre meu vestido e acariciando meus seios.
Lembramos de que estamos em plena rua e então, ele se afasta ofegante, com os
olhos brilhando de desejo. Fica mais lindo e perigoso assim. Adoro.
— Você me faz perder o controle, Sophia.
— Isso é bom ou ruim?
— No momento, nessa situação é muito ruim. Mas, quando estivermos em outro
local refaça essa pergunta, por favor. — Ajeita com elegância o seu terno.
— Farei, pode deixar. Agora, tenho que entrar.
Seu celular toca e é Harry.
— Sim, pai. O que houve?
Harry parece nervoso do outro lado.
— Já entendi. Vou ver se o encontro e o levo para casa, está bem? — Sean se
mostra preocupado.
Encerra a ligação.
— Max saiu transtornado de casa. Meu pai quer que eu o encontre e cuide dele.
Sinto que Max vai entrar numa fase muito ruim depois do que houve.
— Melhor você ir. Não precisa abrir a porta para mim. Eu mesma o faço. Boa
noite e sonhe comigo.
— Sonho com você, desde o dia em que lhe conheci.
Cubro seu lábio com um selinho e desço.
— Amanhã, venho lhe buscar, às dez, ok?
— Ok. Qualquer coisa, me ligue.
Sean me joga um beijo e sai com seu carro.
Já em minha cama, as palavras daquela loira me fazem perder o sono. Será que
ele vai enjoar de mim? Ainda não tenho resposta para isso. Tudo é muito novo
tanto para mim, quanto para ele.
Por Aidan
Tomo minha terceira dose de vodca e Gise se esfrega em mim como uma gata no
cio.
Ontem, me encontrei com Alexia e tivemos o que eu diria, uma transa e tanto.
Fui convidado pela sua família para participar do jantar onde Max irá marcar a
data do casamento, porém preferi me divertir de outra forma. Alexia pode achar
que indo a esses compromissos em família, estaria levando-a a sério. O que não
é o caso. Quero manter a coisa nesse nível. Nada me prendendo, gosto de ser
livre e continuarei assim. Sean é que mudou depois de Sophia, parece outro
homem e não quero me transformar no que ele é hoje.
Olho para um canto do bar e vejo Max. Ele está sozinho em uma mesa e com
uma garrafa de uísque como companhia. Peço licença à Gise e vou até ele.
— Max? Que faz aqui, amigo?
Ele levanta o olhar de quem já esvaziou metade da garrafa e sorri.
— Um brinde às mulheres vagabundas!
Fico na mesma, sem entender o que se passa, para mim, à essa hora ele estaria
comemorando e não dessa forma.
— Você está bem? — Indago, preocupado. Em todos esses anos, nunca vi Max
embriagado, isso era coisa para mim e Sean.
— Sim, por que a pergunta? Não posso mais beber? Sou adulto e hoje quero me
divertir um pouco, chega de ser o bom moço.
Olha para uma moça e a convida para se juntar a ele. O que será que houve nesse
jantar? Max abraça a moça e a beija, como se eu nem estivesse ali. Bem-vindo
ao clube dos cafajestes! Afasto-me e volto para minha mesa.
Tenho coisa melhor para fazer do que cuidar da vida de Max. Gise me olha e
cruza as pernas de um jeito só dela.
— Vamos sair daqui? — Digo.
Maliciosamente, ela arruma seu decote que deixa um pouco à mostra seus seios
perfeitos.
— Pensei que não iria perguntar isso nunca...
Saio com Gise agarrada a mim e dou uma última olhada para Max que está
agarrado à moça na mesa.
Amanhã, ficarei sabendo das novidades, agora quero me divertir...
Ciúmes de sogra!
Por Aidan
Abro a porta do carro para Gise. Minha curiosidade é maior que meu desejo por
ela. Ainda fora do veículo, ligo para Sean. Preciso saber o que está havendo.
— Sean, boa noite! Serei direto, aconteceu alguma coisa no jantar de hoje?
— Nossa, as notícias ruins correm tão rápido? Quem te contou?
— Você não entendeu! Não estou sabendo de nada, pelo contrário. — Gise me
olha, impaciente, através do vidro do carro. Paciência. — Estou perguntando se
aconteceu alguma coisa, pois encontrei Max e nunca o tinha visto bebendo.
Estranhei vê-lo daquele jeito.
— Onde você o viu?
— Acabei de sair do Cânions. Ele estava embriagado. Nem parecia o Max que
conheço. Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. Bárbara fez um escândalo durante o jantar. Eles romperam. Irei
busca-lo, depois lhe conto os detalhes.
— Nossa, pareciam tão apaixonados, quem diria!
— Pois é, também me surpreendeu. Vou desligar e obrigado por me avisar,
Aidan.
— Não há de quê. — Antes de encerrar, completo. — Nosso jogo está em pé
amanhã?
— Sim, nos vemos no clube! Até mais.
— Até.
Entro no carro e levo Gise para um motel recém-inaugurado. Antes de descer,
meu celular vibra em cima do painel do carro. Pego-o e vejo uma mensagem de
Alexia. Abro-a.
"Saudade"
Apago e coloco o celular no mesmo lugar. Olho para Gise e toco seu rosto com
os dedos.
Não sei onde Alexia pretende chegar com essa atitude. Nossa relação é restrita a
encontro furtivos e nada mais.
Já no quarto, Gise toma a iniciativa e me deixa louco com sua boca descendo por
todo o meu corpo.
Suas unhas arranham de leve as minhas coxas e sua língua quente e audaciosa
brincam com meu membro.
Jogo-a na cama e acabamos por fazer um 69 alucinante. Gise é fogosa e muito
receptiva, sabe o que fazer para me levar ao limite. Coloco-a de quatro e a
penetro com força, fazendo com que seus gemidos ecoem pelo quarto. Suas
curvas perfeitas e sua pele quente me deixam mais excitado e ao remexer seus
quadris de encontro às minhas estocadas, goza novamente e me leva junto com
ela.
Saio de dentro dela e me deito ao seu lado com a respiração irregular. Sempre
quando faço sexo, prefiro ficar em silêncio. Nada de buscar palavras certas para
dizer, fico calado e sem minha permissão, o rosto de Alexia aparece em minha
mente e então, me lembro de que, na última vez em que estivemos juntos, depois
do sexo ela ficou mais falante e sorridente. Gise quebra o silencio e me chama.
— Aidan... Estarei torcendo por você no jogo de amanhã!
— Obrigado, Gise. Agora, vamos para casa, preciso dormir um pouco e se ficar
aqui com você, isso não será possível. Eu te conheço muito bem. — Solto uma
piscada a ela.
Saio da cama e pego minha roupa que se encontra espalhada pelo quarto.
— Hum, por que diz isso? — Me olha com malícia.
— Você sabe a resposta. Levante-se!
Sorrio para ela, enquanto fecho minha camisa.
Em meu apartamento, deitado em minha cama, adormeço tranquilo. Vida de
homem solitário é muito melhor, mesmo que o vazio me acompanhe, prefiro
assim.
Por Sean
Max estava mesmo irreconhecível. Bêbado, completamente embriagado.
Aproximo—me de sua mesa e ao me ver, ergue as mãos.
— Pode parar! Não preciso de babá! Quero ficar sozinho, por favor!
— Max, vamos para casa! Ficar desse jeito não resolve nada! Irá acordar com
uma dor de cabeça e tudo o que estiver sentindo ainda estará lá.
Ele me olha com dor. Sinto pena de meu irmão e não posso ajudá-lo.
— Sean, volte para casa, por favor! Me deixe! — Fala de modo alterado. Nunca
o vi levantar a voz dessa forma. A garrafa em sua mesa explica tudo. Vazia.
Chego à uma conclusão. Se ele não quer vir comigo por bem, terá que vir por
mal.
— Você é quem pediu! Vou leva-lo daqui, Max!
Lá fora meus dois seguranças me esperam. Peço licença à moça que acompanha
meu irmão e o junto pelo braço. Max tenta relutar, porém como bebeu demais,
sua força já era. Geoffrey, um de meus funcionários, entra no bar e me ajuda a
leva-lo para o carro. Depois de pagar a conta, entro no carro e lá está ele, bêbado
e muito infeliz. Espero poder fazer alguma coisa para conforta-lo. Ele já fez
muito por mim. Quando era jovem, várias vezes em que extrapolava nas noites,
era Max quem cuidava de mim e me dava conselhos. E quando me senti
apaixonado, ele foi o primeiro a torcer por minha felicidade. Agora, é minha vez
de amenizar a sua dor. Bárbara foi muito cruel com suas palavras. Disse coisas
que o ofenderam e muito.
Durante o trajeto, ele não deu uma palavra. Um de meus seguranças vem logo
atrás, dirigindo o seu carro. Ao chegarmos em frente à casa de meus pais, ajudo-
o a descer e ele resolve falar.
— Por que ela fez isso comigo, Sean? Por que?
Fala quase chorando. E eu o deixo desabafar.
— Eu a amava e sempre fui fiel aos meus sentimentos! E o que recebo em troca?
Entro com ele apoiado em mim. Meu pai ainda estava acordado esperando por
notícias.
— Vou leva-lo para seu quarto. Mamãe está acordada?
— Não, ela tomou um sedativo e acabou dormindo. Melhor assim.
— Os empregados já foram dormir? — Pergunto.
— Sim. — Responde.
— Por favor, papai, vá até a cozinha e faça um café bem forte.
Concorda com a cabeça e sai da sala.
Levo Max até seu quarto e o enfio debaixo do chuveiro sob protestos.
— Viu como é bom! Quando eu reclamava, você não dava a mínima. Minha vez!
— Brinco.
Ele acaba sorrindo para mim.
— Obrigado, meu irmão.
Ajudo a se trocar e meu pai aparece com o café. Max bebe a contragosto e
reclama.
— O que puseram nessa xícara? Fel?
Meu pai sorri e passa as mãos em seu cabelo molhado. Em seguida, me deixa a
sós com meu irmão.
— Estou melhor, obrigado Sean.
— Max, guarde uma coisa em sua cabeça e não a retire nunca de lá. — Me olha
com atenção. — Sei que você deve estar fazendo mil perguntas, se questionando
e tudo mais. Você não teve culpa do que houve. Bárbara é que não teve a
dignidade de romper com tudo quando se viu naquela situação.
— Apaixonada por você!
— Não pense por esse lado, poderia ser qualquer um. O problema é que ela não
era mulher suficiente para você e melhor descobrir isso agora do que depois de
casados, não acha? Ela foi covarde e mais ainda, baixa ao dizer aquilo tudo a
você! Quem perdeu foi ela, você saiu ganhando em não se casar com aquela
encomenda. — Tento da melhor forma, fazer com que ele reflita sobre tudo.
Max bebe o restante do líquido e se levanta.
— Tem razão, mas é que dói muito sabe? Não é tão simples assim. As palavras
confortam, mas não tiram a sua dor. Esqueci de lhe avisar que amor também
machuca.
— Você vai se levantar e irá encontrar outra que lhe faça bem e que o mereça,
meu irmão.
— No momento, vou permanecer solteiro. Não seria boa companhia para
ninguém.
— Entendo. — Me levanto e coloco minhas mãos em seu ombro. — Tente
dormir um pouco, vou ficar por aqui hoje. Qualquer coisa, é só bater em meu
antigo quarto.
— Pode deixar. E a propósito, sua namorada é linda! Parabéns! Gostei dela!
— Obrigado. Sophia é muito especial para mim. — Meu sorriso se abre ao falar
de Sophia.
— Percebi. Seus olhos o entregaram a noite toda. Vejo casamento à vista.
— Ainda é cedo para isso, mas quem sabe? Mudando de assunto, vai participar
do jogo de amanhã?
— Não ia, mas agora que estou sóbrio, comparecerei se minha cabeça não
amanhecer explodindo.
Saio e fecho a porta. Entro em meu antigo quarto. Minha mãe o conserva do
mesmo jeito que deixei. No criado-mudo, uma foto minha abraçado a ela. Linda
como não podia deixar de ser. Apesar de tarde, pego meu celular e envio uma
mensagem para Sophia avisando que encontrei Max e que está tudo bem, a essa
hora ela deve estar dormindo.
Tomo um banho e me deito. Penso no que faria no lugar de Max. Se Sophia se
apaixonasse por ele. Seria muito dolorido para mim e acho que não me
recuperaria tão facilmente. Apesar de não dizer a ela, sinto que a amo muito e
que depois dela, não há nada que supere esse sentimento. Sophia é a mulher da
minha vida. Espero que eu seja o mesmo para ela. Do contrário, serei muito
infeliz.
Meu celular vibra. Ela respondeu minha mensagem.
"Que bom que o encontrou. Estava preocupada. Agora, vou dormir, quero
estar linda para encontrar um lindo jogador de polo, logo mais. Bjs nessa
boca que adoro."
Sorrio ao ler a resposta e adormeço.
Por Sophia
Acordo ao som do despertador de meu celular. Dormi tarde devido aos
acontecimentos. Tomo um banho e desço para tomar meu café. Vicenzo está à
mesa com o jornal nas mãos. Lorenzo ainda dorme.
— Bom dia, papai. — Beijo seu rosto e me sento ao seu lado.
— E aí, como foi o jantar na mansão dos Mackenzie?
— Foi um horror. — Conto a ele tudo o que vi no jantar e ele me mostra a nota
sobre o noivado de Max
Maximiliano Mackenzie e Bárbara Othon Fleyman, em nota oficial,
romperam o noivado. Não se sabe o motivo do rompimento.
— Não divulgaram nada. Pai, aquilo parecia briga em subúrbio. A coisa foi feia.
— Me sirvo de café. — Tive pena de Max. No fim, a bonita da noiva veio me
ofender.
— E o que fez? — Meu pai me olha através do jornal.
— O que o senhor acha? Enfiei a mão na cara dela sem dó.
Ele ri e completa.
— Isso mesmo, foi isso que lhe ensinei! Nunca engula sapos de ninguém.
Olho para o relógio.
— Vai a algum lugar? — Pergunta.
— Sim, Sean virá me buscar. Ele vai jogar polo e quer que eu o acompanhe. Não
tive como dizer não. Logo pela manhã, ver Beatrice ninguém merece. — Como
uma fatia de queijo. — Aquela mulher não foi com minha cara, mas tento ser o
mais distante possível, não quero intrigas entre mãe e filho.
— Faz muito bem, agora, vá se trocar e fique bem bonita. Mostre aquela vaca
enfeitada que você também sabe se vestir.
— O senhor é incorrigível e eu o amo muito por isso.
Abraço-o e ele me beija na bochecha.
— E você é a menina mais doce e meiga que conheço. Eu a amo muito, minha
filha.
Em meu quarto, olho para meu armário e fico pensando no que vestir. O clima lá
fora é típico de outono. A manhã está ensolarada, então, escolho um conjunto em
cor areia quase branco. Uma saia lápis, uma blusa e um casaco por cima. Colar
de pérolas e um chapéu. Será que não está muito exagerado? Acho que não.
Faltando quinze minutos para as dez da manhã, olho pela janela e meu lindo e
gostoso namorado chega para me buscar. Meu pai o recebe na sala e quando
apareço, os seus olhos não disfarçam e me medem por completo. Acho que
gostou muito do que acaba de ver. E posso dizer o mesmo, usando uma camisa
polo azul marinho, calça de montaria branca e botas pretas, ele me fez suspirar
ao olhar para ele. Meus olhos não disfarçam o desejo que senti ao vê-lo nesse
uniforme.
— Você está linda, Sophia! — Vem até mim e beija minha mão. Sua vontade era
me beijar na boca, porém a presença de Vicenzo o inibe de tal atitude.
— Linda mesmo! — Vicenzo comenta. — Bom passeio para os dois. Vou sair e
volto à noite.
— Bom domingo para você. — Sean diz quando Vicenzo passa por nós.
Ele sai da sala e Sean me puxa para ele, no mesmo instante que sua boca se cola
à minha num beijo íntimo e muito excitante.
— Como imaginei! — Sussurro com seus lábios colados ao meus. — Você ficou
lindo com essa roupa. Mexeu com meu humilde cérebro apaixonado.
— Essa sua saia também mexeu muito comigo. — Sobe suas mãos por minhas
coxas e alcança meu lingerie. — Suga meu lábio inferior e sinto meu ventre se
contrair devido ao desejo que sinto.
— Depois que eu ganhar, vou querer meu prêmio: Você embaixo de mim,
molhada como agora, gemendo enquanto a penetro bem devagar. — Fala com a
voz grave, bem baixo ao meu ouvido...
— Hum, que delícia... — seu perfume com essência de madeira misturado ao
cheiro de sua pele, me deixa louca de excitação. Se não estivéssemos atrasados,
o arrastaria para meu quarto e me entregaria a ele nesse exato momento.
A contragosto, se afasta e tenta se recompor.
— Melhor irmos, ou então, o time sofrerá o desfalque de um atacante.
— Tem razão. — Meu corpo ainda sente o formigamento pelas palavras que ele
disse em meu ouvido.
Pega a minha mão e vamos para o clube. Que esse programa não venha
acompanhado de mais baixarias. Chega as de ontem!
[...]
Ao chegar no local do jogo, muitas pessoas olham em nossa direção,
especificamente para mim. Será que não gostaram de minha roupa?
— Sean, todo mundo está me olhando com estranheza, sabe me dizer o motivo?
Para no meio do caminho e toca meu rosto.
— Sim, sei. Primeiro que nunca trouxe nenhuma mulher nesse lugar; segundo,
nunca viram alguém tão linda como você e terceiro devem estar especulando o
que somos um do outro, mas isso será logo resolvido, quer ver?
Não entendo o que ele quis dizer com isso e só encontro a resposta ao ver vários
repórteres e fotógrafos vindo em nossa direção.
— Senador Mackenzie, pode nos ceder uma pequena entrevista.
Sean me aperta em seus braços, como uma proteção contra os abutres ávidos por
informações.
— Sejam breves, por favor, uma partida me espera.
Um deles pergunta sobre o evento e sobre o que Sean espera dessa partida.
— O real motivo dessa partida é a filantropia. Todos os anos, minha mãe,
organiza esse evento com o objetivo de arrecadar fundos que são repassados à
entidade a qual ela sempre ajudou. — Diz, compenetrado em suas palavras.
Uma jovem repórter me olha e em seguida, inquire.
— E essa linda moça ao seu lado, pode nos apresenta-la?
Sean me olha e responde o mais conciso possível.
— Essa é Sophia, minha namorada. Estamos juntos há algum tempo e agora
tornei o nosso relacionamento público.
Ele dá alguns passos e as perguntas mais banais aparecem.
"Teremos casamento em breve?"
"O que Sophia faz da vida?"
"Quantos anos ela tem?"
Deixamos a nuvem de perguntas e entramos no clube. Beatrice estava à nossa
espera.
— Meu filho, pensei que não viesse mais!
Olha para mim e pelo pouco, notei que acertei na escolha de minha roupa. Toda
a fútil sociedade de mulheres bem vestidas estava naquele local e muitas delas
não tiravam os olhos de mim. Beatrice veste um tailleur cinza impecável e
também usa um chapéu.
— Sophia, minha querida, como vai? — Beija meu rosto e sorri. Falsa.
— Bem, obrigada! — Olho ao redor e posso ver o bom gosto com que ela
organizou tudo. As flores, os garçons, enfim, tudo perfeito.
— Papai e Max onde estão?
— Estão esperando você no estábulo. Devem estar nas baias, ajeitando os
últimos detalhes.
— Sim, vou até eles — Sean beija meu rosto de leve e em seguida, beija o da
mãe.
— Sophia, a deixo em companhia de minha mãe. Vejo vocês depois.
Ele sai e a madame me pega pelo braço e vamos procurar os nossos assentos.
Alexia já estava sentada e o motivo desse interesse fui descobrir mais tarde.
Aidan também joga no time juntamente com Harry e Max. Ele também é
atacante como Sean. Max joga no meio de campo e Harry na defesa. Sento-me e
Beatrice senta-se ao meu lado.
Os jogadores entram em campo e a partida começa acirrada. O outro time
vestindo camisa verde começa marcando um gol.
O local está lotado e mesmo com tanta gente, mesmo assim, consigo enxergar os
olhos de Richard me observando. Não imaginava que ele viesse a esse evento.
Espero que não apronte nenhuma confusão.
— Aidan não está lindo? — Alexia parece vidrada no rapaz.
— Sim, ele está lindo e se você olhar um pouco para a direita, vá ver outra
mulher achando o mesmo que você.
— Que cunhada estraga— prazeres!
— Nada disso, observadora! Você não me ouve, esse cara não lhe dará valor
enquanto achar que a tem nas mãos, Alexia!
Abaixa a cabeça e quando volta a me olhar, diz.
— Você acha mesmo?
— Sim, pelo que observei, ele não quer compromisso e tanto você como aquela
moça ficam à sua disposição e basta que ele estale os dedos para que qualquer
uma de vocês corra para ele. Assim, nunca sentirá falta de alguém.
— Tem razão.
Volto a me concentrar no jogo e meus olhos não se desviam de Sean que fica
lindo sobre o cavalo.
Instantes depois, ele faz um lindo gol, cavalga perto de uma garota que segura
várias rosas. Pega uma delas e a beija jogando-a para mim.
Beatrice chega a engolir seco, mas disfarça muito bem toda a sua indignação.
Mais dois gols de Sean, ele oferece, dessa vez uma rosa à mãe, seguido da irmã.
Pronto, assim me sinto mais confortável.
Quando a partida acaba, é a hora da entrega dos troféus. Um senhor se aproxima
do camarote onde estou sentada e me chama.
— Senhorita Sophia?
Beatrice olha para o senhor muito bem vestido à nossa frente.
— Sim, sou eu.
— Tony, que prazer revê-lo!
— Senhora Mackenzie. — Beija sua mão e se volta para mim.
— Senhorita Sophia, o senhor Sean a chama para entregar o troféu aos
vencedores.
Alexia muito maldosa, quase me faz engasgar com seu comentário ácido.
— Você vai matá-la antes dos 56 anos desse jeito! Esse era o seu momento de
glória. Vai lá cunhada e arrasa.
Fico constrangida e mesmo assim me levanto e acompanho o senhor bem
trajado.
A solenidade de entrega de troféus e medalhas é acompanhada por vários flashes
e em todas as fotos, Sean está agarrado de modo possessivo à minha cintura.
Depois que a cerimônia acaba, ele me olha e agradece a todos pela presença e
oferece o jogo de hoje a mim. Se ele não parar de me agradar desse jeito, sua
mãe vai praticar tiro ao alvo com seu olhar em minhas costas, tamanho o ódio
com que ela está sentindo.
— Fique aqui, já volto. Vou levar o cavalo para a baia.
— Tudo bem, meu querido, prometo não fugir.
Pego uma taça de champanhe para ter algo com que me distrair, pois não tenho o
costume de beber tão cedo.
— Você está muito bonita, Sophia.
A voz de Richard me faz virar em sua direção.
— Obrigada. Mas gostaria de lembra-lo de que não tenho motivos para lhe
dirigir a palavra depois do que tentou fazer comigo. Publicar aquelas fotos de
Sean não seria uma atitude de um homem adulto. — Demonstro minha
indignação em minha voz.
— Peço desculpas e prometo não dizer ou fazer nada que atrapalhe o seu
namoro. Tenho certeza de que ele próprio naufragará sozinho.
— E você ainda diz me amar? Assim? Querendo a minha infelicidade?
— Não. Gostaria apenas que você acordasse e visse o erro que está cometendo.
Sean irá machuca-la e isso é só uma questão de tempo.
— Com licença, Richard, vou procurar por Sean!
Cansada de ficar ouvindo essa conversa, o deixo falando sozinho e saio a
procura de Sean. Vejo ao longe uma moça de cabelos cacheados entrando em
uma das baias. Max e Harry conversam mais ao longe. Continuo andando e ao
me aproximar, vejo a infeliz caminhando na direção de Sean.
— Oi, Sean! Lembra de mim?
Ele se vira e de onde ele está não pode me ver.
— Suzana? Como vai?
Ele guarda os nomes das peruas, que memória!
— Bem, vim cumprimenta-lo pessoalmente pela vitória.
— Obrigado.
Detesto a educação masculina, na maioria das vezes, é bem irritante.
A perua se aproxima e pelo jeito não vai sair tão cedo dali. Que mulher mais
ousada.
— Agora se me dá licença, vou procurar a minha namorada.
Chupa essa, baranga!
— Vai levar esse namoro a sério por quanto tempo, Sean? Sabemos que você
não é homem de compromisso!
— As coisas mudam, Suzana e não quero ser grosseiro com você, mas por favor,
agora saia daqui!
A moça cai em si e vai embora. Dou alguns passos para trás como se estivesse
chegando até o local. Puro disfarce, não quero que ele saiba que estava ouvindo
a conversa.
— Sean. — Chamo-o
— Aqui, baia cinco.
— Estava demorando e resolvi lhe procurar!
— Já estava indo!
— Quem era a moça que saiu daqui?
— Ninguém importante, sabe que a partir de agora, somente você me importa. O
resto não significa nada e acho que ela descobriu isso! — Me lança um olhar tão
impactante que não tenho como duvidar de suas palavras. Sean tem uma
autenticidade única e essa é umas de suas enormes qualidades.
— Hum... — Mudo de assunto — Adorei aquele gol que ofereceu para mim! —
Me aproximo e ele me abraça forte. — E também amei vê-lo em cima daquele
cavalo, você ficou muito sexy, sabia?
Num movimento rápido, ele me empurra sobre o feno e seu corpo cai sobre o
meu.
— Você também está muito sexy com essa roupa... — Sua mão macia e quente
sobe por minha coxa, enquanto sua boca desliza sobre meu pescoço me deixando
com o corpo todo excitado. — E faço questão de receber meu prêmio
pessoalmente...
Por Alexia
Aidan desapareceu após o jogo juntamente com a tal Gise.
Saio pela lateral do clube para espairecer um pouco. Minha mãe ficou com o
humor muito alterado depois que Sean ofereceu aquele gol à Sophia e pior,
quando a mesma foi entregar os troféus. Por mais polida que Beatrice seja, por
dentro, ela estava se mordendo.
Alguns passos e ouço gemidos e tenho certeza de que não são de dor. Aproximo
—me e vejo Gise seminua com as pernas enroscadas em Aidan que investe sobre
ela. Minha garganta quer gritar, quero xingar e minha voz não sai. Sei que ele
não me prometeu nada e que não temos nenhuma espécie de compromisso, mas
não imaginava que ele fosse tão cafajeste.
Pego uma pedra do chão e arremesso contra suas costas. Ele se vira rapidamente
e nossos olhos se encontram.
— Alexia!
— Desculpe-me devia ter esperado você gozar, cretino!
Sem olhar para trás, ouço quando ele me chama.
Desgraçado! Sophia tem razão! A partir de hoje, Aidan conhecerá uma nova
Alexia e vai rastejar aos meus pés como uma minhoca!
Volto para o salão e tento ser o mais sociável possível.
Por Harry
Após conversar com Sean a respeito de sua nova namorada, acabo descobrindo
que ela é filha de um certo Vicenzo Salvatore, esse nome não me é estranho, mas
o melhor de tudo foi constatar que ela não é quem eu pensava ser, se fosse filha
de Marcella, teria que dizer a Sean a verdade, pois não poderia permitir que dois
irmãos namorassem. Beatrice conseguiu disfarçar seu ciúme de todos, menos de
mim. A conheço e sei que quando Sophia entregou aquele troféu a Sean, sua
vontade era de matar a pobre moça, coitada de Sophia, não sabe o que a aguarda,
espero que seja forte, muito forte!!!
Delegada arrogante!
Por Sean
Seus olhos negros brilham intensamente, enquanto minha boca desce lentamente
em direção à sua. Seu beijo é, para mim, doce e comparado a algo novo nunca
provado. Todas as vezes em que a minha boca cobre a sua, me pergunto, onde
ela estava? Por que não a conheci antes?
Estamos vivendo uma paixão saudável e muito intensa. Somos adultos e
sabemos muito bem o que queremos. E isso, muitas vezes, me deixa inseguro.
Sim, inseguro. Meu maior medo é de que Sophia seja somente apaixonada por
mim e sabemos que a paixão é efêmera como uma estação do ano, ela vem e
passa, não é como o amor, eterno e forte por natureza. Como sei disso, sem
nunca ter me apaixonado? Eu sinto. Sinto algo forte e duradouro. Sophia veio
para ficar dentro de mim. Quero me declarar e poder ouvir de seus lábios o
quanto me ama e que me pertence para sempre.
Minhas mãos acariciam seus seios sob o tecido fino de sua blusa e sinto seus
mamilos ficarem rijos ao meu toque.
Abro, devagar, um botão e a encaro.
— Sean, se viramos manchete na seção policial por atentado ao pudor em pleno
clube de pólo, a culpa é sua!
— Por você, cometo qualquer loucura, sabe disso.
Afasto a renda branca de seu sutiã e abocanho seu mamilo todo em minha boca.
Sugo-o com força e ela retribui com seu gemido rouco e excitante.
Uma de suas mãos agarra meu cabelo, no mesmo instante que a outra entra por
baixo de minha camiseta, seus dedos alisam minhas costas e me fazem gemer ao
percorrerem meu peito e todo meu abdômen.
Esfrego meu corpo no seu deliberadamente para lhe mostrar o quanto a quero. E
ao fazer isso, seu corpo vem de encontro ao meu, me deixando ainda mais
excitado. Ergo meus olhos e a vejo mordendo o lábio, no mesmo instante que
seus dedos ousados abrem minha calça e envolvem meu membro de modo
possessivo, me tomando como seu.
Com a outra mão, ela pega em meus dedos e os leva até a parte interior de suas
coxas.
— Sinta como estou... Veja o que você faz comigo. Fiquei molhada somente ao
vê-lo durante o jogo. — Seus lábios correm pelo meu queixo e seus dentes o
mordem devagar, numa carícia provocativa. — Saiba que você também me faz
perder totalmente o controle, Sean!
— Bom saber que não sou o único, minha Sophia!
— Me imaginei exatamente assim, nesse lugar, louca de desejo por você...
Ao sentir seu sexo todo molhado e quente, pego em sua mão que me tortura com
movimentos lentos e a impeço de continuar. Com a calça nos joelhos, beijo sua
boca e ergo sua saia, arrancando sua calcinha. Me encaixo entre suas pernas e
fecho meus olhos ao penetrar em seu sexo ávido por mim. Ela suspira de desejo
e se movimenta de modo frenético e mesmo estando por baixo é ela quem
comanda dessa vez. Eu apenas a sigo, absorvendo todo o seu desejo e permito
que ela me domine por completo. Suas pernas se enroscam em meus quadris me
fazendo ir mais fundo e me deixando ainda mais louco de tesão. Beija minha
boca de modo selvagem, sua língua encontra—se com a minha, abafando meu
gemido quando sinto seu sexo se contraindo.
— Mais rápido, meu amor... — Aumento o ritmo de minhas investidas e seguro
em seu rosto antes que ela e eu cheguemos ao orgasmo.
Nossos olhos se encontram e posso ver nosso sentimento interligado através
deles.
— Se solte e sinta o que estou sentindo, Sophia... — Ela agarra em meus quadris
e seu corpo se entrega juntamente com o meu. Mais duas estocadas e nossos
corpos ficam exaustos, suados e completamente satisfeitos.
Ainda dentro dela e sobre o seu corpo, ela toca em meu rosto.
— Às vezes, parece que estou sonhando. Você não é real! — Sorri e sinto que
estamos em um mesmo impasse. Nos amamos e temos medo de que ao
tomarmos conhecimento disso, de nos declararmos e que de repente alguma
coisa se rompa. Ela ainda pensa que não estou levando a sério o nosso
relacionamento e que se estiver, é somente uma fase nova em minha vida, que
isso logo vai passar. Engano seu. Eu a amo e vou mostrar a cada dia a sua
importância ao meu lado e assim vou poder ouvir que ela também sente o
mesmo.
— Acho que preciso me recompor. Devo estar assustadora, com feno nos
cabelos e toda amassada!
— Para mim, continua sendo a mulher mais linda do mundo! Mas, há um
banheiro logo ali no fundo, venha! Eu te mostro onde fica!
Ergo minha calça e levanto-me, estendendo minha mão a ela. Espero que saia do
banheiro e como lá dentro, não há espelho; ajudo-a a deixar sua aparência um
pouco menos comprometedora, ajeitando seu chapéu. Quem for um pouco
experiente, vai saber o que andamos fazendo com certeza.
Saímos do estábulo e voltamos para o salão principal. Meus pais e Max
conversam e ao nos verem pedem para que nos juntemos a eles.
Por Sophia
— Ah, o casal apaixonado está ai! — Se não fosse a voz de Max a dizer isso e
sim Beatrice acharia que o cinismo intrigante estaria nos rondando, porém Max
demonstra uma alegria sincera ao me ver ao lado de seu irmão.
Harry e eu travamos um diálogo sobre obras de arte e também sobre meu
namoro com Sean. Ele não esconde que ficou feliz com a atitude do filho em
tornar nossa relação pública a todos. E aos poucos, ele se torna simpático aos
meus olhos. Beatrice fica de braços dados com Sean, revogando o seu lugar,
marcando o seu território como se isso fosse necessário. Ela não me engole, não
mesmo. Acha que apareci de paraquedas na vida do filho e irei toma-lo dela e
leva-lo para longe.
O almoço é anunciado e os convidados se dirigem para suas respectivas mesas.
Nos sentamos e consigo relaxar mesmo sendo observada pela mãe coruja negra.
— Minha querida, não se esqueça de nosso almoço, essa semana!
— Claro, Beatrice (Bruxatrice, para mim), não me esquecerei! — Tento parecer
a mais animada possível, por Sean.
Ele olha em seu relógio e me convida para irmos embora. São quase três da tarde
e as poucas horas que temos juntos estão se esgotando. Será mais uma semana
longa de saudade, pois na segunda-feira, Sean embarca para Toronto para um
importante encontro político e só voltará na sexta.
— Sean, gostaria de lhe convidar para um jogo de pôquer, logo mais à noite!
Que tal? — Diz o pai, sentado ao lado dele. — Como nos velhos tempos. Eu,
você, Max e Joseph. — Em um sussurro, completa. — Acho que isso irá ajudar
seu irmão a não se embriagar por aí, que acha?
Max, que permaneceu um tanto calado durante o almoço, resolve falar.
— Seria uma boa ideia, vou raspar o pato de meu irmão.
Mesmo que queira ter meu namorado exclusivamente para mim, devo concordar
que Max, nesse momento delicado que está vivendo, precisa mais do irmão e se
o pai encontrou uma maneira de traze-lo para perto e mantê-lo ali, quem sou eu
para discordar.
Sean me olha como se eu precisasse concordar para que ele dê a resposta.
Aliso seus dedos e o tranquilizo com um sorriso. Depois da sobremesa, peço
discretamente a ele que me leve para casa. Já chega de circular pela high society.
Amanhã, serei prato cheio para as fofoqueiras de plantão. Acho que já dei
motivos para falarem por um mês.
Sean sobe comigo e a casa encontra-se no mais puro silêncio. Papai e Lorenzo
ainda não chegaram. Jogo meu chapéu no sofá e me encaminho para a cozinha,
ele me acompanha.
— Sophia, quero lhe dizer uma coisa!
Olho em seus olhos e nem imagino o que possa ser.
— O que foi?
— Agora que todos sabem que estamos juntos, tenho uma preocupação com o
assédio da imprensa e também com sua segurança!
— Bobagem sua, sei me cuidar muito bem. Eles não vão importunar por muito
tempo. Irão cansar!
Abro o armário e pego um copo. Estou com sede.
— Você não me entendeu! — Enfia as suas mãos nos bolsos de sua calça e
encostado no balcão da cozinha cruza seus tornozelos. — Preciso cuidar de sua
segurança, mesmo que seja a distância, terá alguém cuidando de você como
todos em minha família.
— Sean, isso é realmente necessário?
Anda em minha direção e me encosta na pia, nesse instante suas mãos em
seguram meu rosto.
— Sim, minha família e eu temos inúmeros inimigos. Uns com razão, outros
gratuitos e, com isso não quero me preocupar enquanto estiver fora. Preciso
saber que está segura e que posso trabalhar em paz. Você é muito importante
para mim, Sophia!
Suspiro resignada. Ter alguém vigiando meus passos é algo que não me deixa à
vontade.
— Tudo bem, mesmo achando tudo isso desnecessário, aceito para lhe
tranquilizar. Se isso lhe deixa feliz, aceito.
Aperta meu queixo com os dedos.
— Muito feliz, saber que está segura e protegida! — como se adivinhasse meus
pensamentos, completa — irei sentir muito a sua falta durante minha ausência.
Quero lhe pedir mais uma coisa!
O que pode ser dessa vez?! Roça seus lábios nos meus.
— Na semana que vem, já estarei instalado no novo endereço. Gostaria que você
deixasse algumas roupas suas lá. Quero o final de semana só nosso e mais
ninguém.
— Não acha que estamos indo depressa demais?
— Não, estamos na velocidade certa! E estamos indo muito bem!
Meus braços o enlaçam pela cintura e seu corpo forte me prensa ainda mais na
pia. Sua língua lambe os meus lábios e meu corpo todo manda sinais de
excitação. Recebo sua língua exigente que acaricia todos os cantos de minha
boca, nos deixando excitados. Adoro sua boca, amo ser beijada por ele.
Afasto-me e o encaro. Meus dedos se prendem aos seus.
— Venha! Vamos para o meu quarto, quero tomar um banho com você.
Quero retribuir a intimidade que ele compartilhou com as minhas roupas. Um
banho a dois é uma forma de dividir algo íntimo. Seu olhar entende o que quero
dizer e ele me surpreende ao dizer que nunca dividiu o banheiro com nenhuma
mulher. Não posso negar o quanto me isso me deixou alegre. Pode parecer
pouco, mas a cada vez que temos algo novo em comum, nosso relacionamento
se torna maior.
— Eu lavo suas costas! — Caminhamos abraçados para a sala e a imagem de
Vicenzo que acaba de entrar, nos dá um verdadeiro banho de água fria.
— Boa tarde! — Meu pai nos cumprimenta e respondemos quase juntos. Quero
acreditar que ele não ouviu a minha última frase.
— Como foi o jogo? — Pergunta, sem tirar os olhos de Sean que permanece
atrás de mim, ainda excitado.
Por dentro, quero rir de nervoso e também por constrangimento.
— Foi muito bom, vencemos com facilidade! — Seus dedos acariciam os nós
dos meus. Sinto que ele se controla e respira normalmente.
Meu pai lhe oferece um café, mas Sean recusa e acha melhor ir andando. Depois
do nosso tão sonhado banho ter sido cancelado, essa é melhor coisa a ser feita.
Ele se despede e o acompanho até a rua.
— Essa foi por pouco! Imagine se estivéssemos no chuveiro e Vicenzo chegasse,
com que cara iria olhar para ele? — Fala de modo divertido.
— Faria com que descesse pela janela de toalhas. Ele não lhe veria! — Beijo seu
pescoço.
Solta uma risada que o deixa mais lindo.
— Imagino que cena mais patética, eu descendo de toalhas pela janela. — Acho
graça e ele suspira, enquanto me abraça forte. — Vou ter muito o que pensar até
sexta. Imaginar seu corpo debaixo do chuveiro junto ao meu, vai ocupar muito
tempo de minha mente, pode apostar.
— A minha também! Será um banho e tanto.
Abaixa sua cabeça e me beija até ficarmos sem ar.
— Tenho que ir. — Se afasta e dá a volta em seu carro. A alguns metros dali,
posso ver dois homens usando terno em pé nos observando. Seus seguranças. —
Sentirei muita saudade e juízo senhorita! Não se esqueça de que tem namorado e
ele é ciumento!
— Digo o mesmo ao senhor! Avise à todas que além de ciumenta, sou vingativa!
Ele me lança uma piscada para lá de sexy e entra no carro.
— Boa viagem e bom trabalho!
— Obrigado. Ligo mais tarde!
— Ok. Estarei esperando.
Espero que ele saia até seu carro desaparecer de minha visão. Se meu pai não
tivesse chegado, a essa hora eu estaria num banho daqueles. Que coisa! Agora é
esperar até semana que vem.
Subo as escadas e fico torcendo como sempre para que a semana passe rápido.
Por Max
Graças a uma noite muito agradável juntamente com meu pai e Sean, por alguns
instantes até arrisquei a sorrir.
Sei que meu irmão deixou de sair com Sophia para ficar comigo e me dar força.
E isso é sinal do quanto sou importante para ele.
Eu me pergunto quando essa dor irá me deixar. A lembrança de Bárbara está por
toda parte e muitas vezes não me deixa em paz, principalmente quando tento
dormir. A imagem se aproxima e me diz o quanto estou errado em tê-la
abandonado. Quer me fazer acreditar que o errado sou eu e que a vítima é ela.
Depois de jogarmos por horas a fio, Joseph e Sean se despedem e cada um vai
para sua casa. Meu pai se recolhe em seu quarto e eu permaneço no meu, onde a
solidão me faz companhia.
São quatro horas da manhã e ainda não consegui dormir. Acho que a única saída
para esse impasse é dormir embriagado, só assim, me esqueço de que fui um
completo idiota ao me apaixonar por Bárbara.
Pego as chaves do meu carro e resolvo dar uma volta. Vejo um dos seguranças
da família a me seguir. Não me afeto mais com isso, já me acostumei e acelero
até parar em um barzinho charmoso.
O letreiro chama a atenção com sua cor gritante. Em verde-limão e algumas
delas estão queimadas. "Bonaparte". Entro, procuro um lugar calmo, onde eu
possa me sentar em paz, sem os olhares curiosos de todos. Bebo algumas doses e
me sinto melhor. Sei que não devo procurar no álcool a saída para esse tipo de
situação, tenho ciência de que isso só piora, porém a dor e a tristeza querem me
consumir e tendo uma garrafa ao meu lado, me sinto mais forte e enfrento
qualquer coisa.
Quando saio do local, o sol já apareceu. É a primeira segunda—feira que a essa
hora não estou me arrumando para ir ao trabalho. E não estou nenhum pouco
preocupado com isso. Sei que bebi um pouco a mais do que o costume, mas me
sinto bem.
O que mais queria nesse momento era voltar no tempo e ter resistido aos
encantos daquela mulher. No fundo, meu irmão tem toda a razão quando disse
que foi melhor assim e que Bárbara não me merecia. Ter me casado com ela
seria um erro fatal.
Deixo meu carro parado na calçada e resolvo caminhar pela rua. O vento bate
em meu rosto levando embora o efeito do álcool. Observo que as pessoas se
atropelam para chegarem ao seu destino e nem olham umas nas outras. Parecem
robôs em larga escala tentando cumprir seu papel. Uma vida corrida para
chegarmos onde? O que queremos além da felicidade?
O cheiro maravilhoso de café me atinge e resolvo entrar no estabelecimento para
uma xícara desse líquido revigorante.
O local está cheio, mas ainda há algumas mesas vazias. Peço um café e quando a
garçonete traz o meu pedido, vejo uma mulher sentando-se em uma mesa ao meu
lado. Mais uma olhada e consigo reconhecer o seu rosto. Danielly Austin, a
investigadora que estava cuidando do caso do quadro roubado em nossa Galeria,
ele pede café com creme e ao me ver lança—me um sorriso. Olhando com mais
atenção, vejo como ela é linda. Seus olhos e todo seu rosto parecem ter sido
desenhados.
Vejo-a falando ao telefone e antes de desligar, ainda olha em minha direção.
Levanto-me para ir ao caixa e sem saber como, sinto um metal frio encostado em
minhas costas.
— Quieto ou estouro seus miolos, playboy! — A voz nervosa de um ladrão ecoa
por toda a cafeteria e atrai a atenção de todos, inclusive a de Danielly.
— Ninguém se mexe, isso é um assalto. — O indivíduo me usa como escudo e
bem devagar, me empurra até o caixa. Não posso reagir, ou então, ele pode
disparar essa arma em mim.
O dono da cafeteria também demonstra cautela e abre o caixa muito devagar. O
ladrão em estado entorpecente me joga ao chão, dispensando minha utilidade,
seu alvo agora é o dinheiro e nada mais. Ao passar por mim, a única reação que
tenho é passar-lhe uma rasteira e ouço o baque surdo de seu corpo indo ao chão.
Ele dispara sua arma e percebo que cometi um erro, colocando a vida dos
presentes em risco. Em uma questão de segundos, a linda policial consegue
rende-lo e o algema. Pega o seu rádio e chama uma viatura para levarem o
homem que se debate em vão.
Fico em pé e ela joga seus lindos cabelos, ajeitando-os sobre os ombros. Seu
olhar é de fúria e indignação.
— Nunca mais reaja a um assalto dessa forma, quem pratica um crime não tem
nada a perder e alguém poderia ter sido ferido, inclusive você. Não queira bancar
o corajoso numa situação como essa!
O ladrão continua no chão e ela o mantém sob vigilância.
— Desculpe-me, agi por impulso!
— Na próxima, não aja dessa maneira, pode ser que não haja algum policial à
paisana no local.
— Ainda mais uma policial tão linda como você. Isso é uma raridade.
Ela nem liga para o meu elogio e sai levando o bandido pela camisa.
Que policial mais arrogante! Não posso reclamar, se não fosse por ela, a essa
hora poderia estar morto.
Uma viatura logo chega e dois homens o levam embora.
Aproximo-me da calçada e ela preenche um relatório.
— Deixe-me apresentar. Max Mackenzie. Deve se lembrar de mim!
Seus olhos se erguem e seus lábios se curvam em um meio sorriso.
— Sim, claro. Sei quem você é!
— Gostaria de agradecer pelo que fez por mim! Que tal um jantar?
Danielly fecha a cara e rebate.
— Estava apenas cumprindo o meu dever. Não precisa se preocupar em me
agradecer. Isso não é um privilégio de sua condição social. Eu faria a mesma
coisa por qualquer um!
Ela é mesmo muito arrogante. Estou tentando ser gentil e sou tratado dessa
maneira.
— Passar bem, Max e cuidado!
Ela entra em seu carro e sai em alta velocidade.
Balanço a cabeça e penso que fui mal interpretado. Ela deve ter me achado
presunçoso e mais, estava lhe passando uma cantada, o que não era o caso.
Mas, a linda policial me fez pensar em como pode ser divertido um pequeno
flerte. Mesmo enferrujado, não custa tentar usar o meu charme para tentar me
aproximar. Sei que ela também me olhou de um modo diferente e apesar de ter
sido profissional, tenho certeza de que me achou interessante. Sendo assim, vou
tentar me aproximar da nobre policial.
Por Marcella
Meus sonhos foram destruídos muito cedo. Não consegui ser alguém na vida,
apesar de lutar muito para isso. Continuei sendo a mesma garota sem estudos e
medíocre e pior, a amargura e infelicidade me tornaram uma pessoa depressiva e
sem futuro. Trabalho como faxineira em um prédio de alto luxo em Los Angeles
e assim vivo a cada dia como se não houvesse o dia seguinte.
Não me casei e não pude ter mais filhos. Somente Sophia. Ao me lembrar da
recém-nascida abandonada na porta de um orfanato, meu coração se aperta.
Anos depois, fui até orfanato à procura de minha filha, mas o que encontrei
foram destroços do que restaram de um incêndio que matou a todos os que ali
moravam.
O que seria de Sophia se eu não a tivesse abandonado?
Olho para meu pequeno quarto contendo uma cama e uma cômoda velha e não
vejo nada diferente para nós duas que esse cenário deprimente.
Em uma das minhas gavetas, estão todos os recortes de jornal onde a foto de
Harry Mackenzie aparece sozinho ou com a sua família.
Todos os dias, recolho os jornais velhos garimpando notícias daquele homem
insensível que me negou ajuda em um momento tão difícil. Eu as recorto e
guardo em minha gaveta. Fazendo isso, tenho algo como referência à vida e não
me sinto um ser sem história.
Hoje é meu dia de folga e pretendo descansar em meu quarto.
Amanhã, volto ao meu trabalho e mais um dia de ser ninguém me espera.
L&L (Lorenzo e Lay)
Por Lorenzo
Acordo com a conversa de Angelina e Sophia no corredor. As duas quando se
juntam, ninguém segura. Olho em meu relógio e verifico as horas. Sete da
manhã. Quando vou abrir a boca para reclamar, me lembro que é segunda-feira e
que sou um pobre mortal, trabalhando em um escritório em Manhattan.
Cheguei em casa por volta das quatro horas e estou pregado. O dia promete
muitas xícaras de café e muitas idas ao banheiro para lavar o rosto, na intenção
de manter-me acordado.
Tomo meu banho e vou para a cozinha. Meu pai toma seu café, enquanto lê o seu
jornal. Nina, como em todas as manhãs, está radiante. Sua primeira paixão lhe
fez muito bem e a cada dia que passa seu rosto fica mais iluminado.
— Bom dia!
Beijo o rosto de meu pai e sem que ele perceba, sempre olho para a cadeira em
frente a ele e imagino minha mãe sentada conosco à mesa. Eles formavam um
casal muito bonito e se amavam muito, foi mesmo uma pena que ela tenha nos
deixado tão cedo.
— Bom dia, meu filho.
Sento-me ao lado de Nina e beijo seu rosto.
Angelina me serve panquecas. Um de meus pratos favoritos. Passo geleia em
uma delas e saboreio meu café da manhã.
Vicenzo abre o jornal na página da coluna social e uma foto enorme de Sean
abraçado à Sophia aparece em destaque. Em uma pequena entrevista, ele anuncia
o namoro com minha irmã e deixa claro que está feliz ao seu lado. Para qualquer
um que vê a foto, consegue enxergar mais do que a imagem. Os dois estão
apaixonados para valer.
— Você está linda nessa foto, Nina!
— Linda mesmo! — Confirma meu pai.
— Obrigada! Acho que não agradei a mãe de Sean. Pior que ela quer almoçar
comigo essa semana e por ele, não quis dizer que não iria.
— Não se preocupe, essa cisma dela vai passar, quando a conhecer melhor. —
Vicenzo conclui.
— E se não passar, mande-a à merda, Nina. Quem ela pensa que é? — Digo.
Ela ri do meu comentário.
Levanto-me da mesa. Pois infelizmente tenho que trabalhar.
No caminho, resolvo comprar chocolates para Angelina, pois sei que ela adora
doces. Sempre compro bombos de cereja para agradá-la.
Entro em uma loja de chocolates finos e para minha surpresa, lá está ela, a loira a
quem estava seguindo outro dia. Não resisto e me aproximo da moça que olha
vários tipos de chocolate na prateleira e me parece indecisa.
— Bom dia! — Cumprimento-a.
— Bom dia. — Responde num sorriso.
Olho para as mais variadas embalagens e rebato.
— Você trabalha aqui? — Estava cansado de saber que não, pois não é a
primeira vez que venho ao local em um curto período e nunca a vi nessa loja.
— Não! — Responde rápido. — Preciso escolher algo para presente.
— Que coincidência! Eu também! Poderia me ajudar?
— Sim, claro.
Olho direto para os seus olhos.
— Prazer, Lorenzo Salvatore.
— Layanne Willians.
Por Lay
Que droga! Pareço ter um imã para coisas estragadas. Olha aí! Esse não é
casado, porém até onde sei é ladrão. Roubava com o pai e a irmã.
Lorenzo. De perto, ele é ainda mais bonito. Olhos azuis e cabelos escuros. Seu
sorriso é ao mesmo tempo doce e perigoso, faz qualquer mulher se sucumbir.
Volto ao assunto que fez com que ele se aproximasse. O cara é tão abusado que
ainda me pede ajuda para escolher algo para dar a outra. Quanta ousadia em uma
só pessoa!
— O que você procura? Como é a pessoa em questão?
Pigarreia.
— Bem, não a conheço muito, mas acho que gosta de chocolates. — Faz uma
pausa e depois continua — Quero que seja algo especial, pois toda vez que a
encontro, sinto algo diferente. Ela tem olhos e sorriso lindos.
— Você a conhece há muito tempo?
— Não muito.
Caminho entre os vários tipos de chocolate com ele atrás de mim.
— Amiga? Namorada? Amante? — Não resisto e pergunto. Afinal, mesmo com
raiva da sua ousadia, se quero ajuda-lo preciso saber qual o grau de intimidade
de quem irá receber esse presente. Acho que minha pele está vermelha tal a
minha vergonha.
— Namorada? Não! — Responde de imediato.
Amante com certeza.
— Ainda é cedo para ser minha namorada! Mas quem sabe! E também não é
minha amante.
— Trabalham juntos?
— Na verdade, nem sei onde ela trabalha.
— Mulher misteriosa, hein?
— Nem tanto. Se você a visse, saberia o que escolher.
Escolho propositalmente uma caixa de bombons recheados com tâmaras. Duvido
que essa moça vá comer algo desse tipo. É horrível. Sei disso porque já comi e
não gostei.
— Esse? — Ele segura a caixa.
— Sim, é algo especial. Tenho certeza de que ela irá adorar.
Lorenzo se encaminha para o caixa e eu o acompanho. Paga pelo chocolate e
pede para que o embrulhe para presente.
A moça que fica no setor de pacotes quase se joga em sua direção. Como diz
Dany: Já fiz minha boa ação de hoje! Escolho uma caixa de chocolate amargo
para Dany que ama chocolate e pago com meu cartão. Enquanto a moça faz o
embrulho, me aproximo e me despeço.
— Lorenzo, até mais. Tenho que ir!
— Espere, por favor, eu a acompanho.
Pega o embrulho com o maior cuidado e saímos da loja.
— Agradeço a sua gentileza!
— Imagine, não precisa agradecer! Você me pediu um favor e não me custou
nada.
— Que tal, almoçar comigo mais tarde? Saio do trabalho às treze horas.
Não posso aceitar. Mais um homem bonito e comprometido. Esse já veio com o
rótulo na testa, nem tive o trabalho de descobrir. Acho que da próxima vez, um
deles me pedirá para escolher a aliança de casamento, ou então a casa onde irão
morar. Que raiva!
— Não posso, obrigada!
— Já que é assim, aqui está. — Me estende a caixa de chocolates e fico sem
entender nada. — São para você!
— Para mim? — Minha cara de espanto é óbvia.
— Sim, pensou que eu pediria para que me ajudasse a escolher algo para outra?
Não consigo conter o riso em plena calçada.
— Posso saber qual a graça? Também quero rir.
— Ai... Ai... — Tomo fôlego, pois minhas costelas doem de tanto rir — Pode
sim! Escolhi um dos piores chocolates e fiquei imaginando a pobre moça ao
comer isso — Ergo a caixa e não consigo parar de rir.
Ele me fita seriamente para em seguida rir junto comigo.
— Deveria me lembrar de um velho ditado: Nunca peça ajuda a estranhos!
— Pois é, ainda mais se for uma mulher!
E nesse momento, Lorenzo segura meu queixo com a mão.
— Ainda mais se for a mulher pela qual você está interessado chegando a segui-
la pela rua!
Seus lábios encostam em minha boca de modo doce. Abro minha boca e ele me
aperta em seus braços no meio da calçada em pleno centro da cidade. Mesmo de
olhos fechados, imagino a cena e como as pessoas devem estar nos olhando.
Meus braços o enlaçam pelo pescoço. Seu beijo me deixa tonta.
— Como assim, interessado?
Ao me afastar, pergunto.
— Eu a vi outro dia comprando livros, mas quando tentei me aproximar, você
desapareceu da loja e hoje quando a vi novamente não poderia deixa-la fugir. —
Passa seu dedo em meu rosto.
— Me lembrei agora! Se tivesse me pedido ajuda para escolher um livro...
— Nem imagino o que recomendaria!
Lorenzo olha em seu relógio.
— Lay, tenho que ir para o trabalho! Estou atrasado.
— Eu também tenho que ir, meu dever me chama.
— Vou reformular a pergunta: Agora, almoça comigo?
Sorrio e digo que sim. Ele me pede o número de meu telefone e me passa o dele.
Caminhamos até meu carro e como imaginei, Lorenzo abre a porta para mim.
Ao sair com o carro, pisco e ele me joga um beijo. Quem diria, comprar
chocolates para acalmar o nervosismo de Danielly me deu sorte. Ela não vai
acreditar no que me aconteceu.
Por Danielly
— Aqueles inquéritos já foram arquivados? — Me dirijo à responsável pelo
almoxarifado.
— Sim, Sra. Delegada.
Desde o dia em que recebi o telefonema do Secretário Nacional de Segurança
para arquivar o processo contra os Salvatore, de investigadora passei a ser
chamada de delegada. E como sempre quis trabalhar nesse cargo, com o
arquivamento veio a minha promoção. Sei exatamente como isso aconteceu e
porquê. Mas, agora isso não mais importa. Trabalho duro e sempre da forma
mais justa com todos. Meus colegas de trabalho me respeitam e sabem que não
faço acepção de pessoas e muito menos privilegio a quem quer que seja. Max
Mackenzie ainda não sabe disso, ou será que pensa que o salvei pela sua rara
beleza acompanhada por sua enorme fortuna?
Não posso negar que ele é um homem muito bonito e detalhe, agora está solteiro.
Minha parceira, Lay, me pôs a par das últimas notícias da família. O noivado foi
rompido. Estranho! Eles pareciam muito apaixonados, pelo menos era essa a
impressão que eu tive. Quem diria que esse casamento não iria acontecer?
Bom, o melhor que faço é voltar ao meu trabalho e esquecer os lindos olhos de
Max. Apesar de adorar a espécie masculina e aproveitar ao máximo a sua
companhia, achei mais plausível, recusar o seu convite para jantar. Sei muito
bem onde isso iria nos levar. Com certeza iríamos parar em sua cama ou na
minha. Obviamente que, nem ele e muito menos eu, queremos compromisso. Há
três anos, também tive um relacionamento sério com um homem, Alec, um
renomado advogado da Carolina do Norte. Vivíamos bem até que comecei a
trabalhar como investigadora e o tempo foi nosso maior inimigo. Quase não nos
víamos e a distância foi se tornando cada vez maior até que um dia, chegando
em casa de madrugada, Alec me esperava com seu conhaque na mão.
Bastou olhar para ele para saber que a hora de pôr um fim em nossa relação
havia chegado. Não havia como adiar e como dois adultos, chegamos à
conclusão de que seria muito melhor cada um seguir seu caminho. Somos
amigos até hoje, Alec se casou e tem três filhos. Mora em Miami e trabalha
como advogado para uma multinacional.
Ainda me pego pensando em como seria se eu tivesse feito outra opção, se
escolhesse viver ao lado de um homem e deixasse meu trabalho de lado. Seria
mais feliz? Acho que não, pois amo o que faço. Trabalhar com a lei e agir com
justiça sempre foram a minha maior alegria.
Doris entra na sala segurando um lindo ramalhete de flores.
— Acabaram de chegar.
Phillip, que ainda trabalha em minha equipe, olha com certo espanto, porém
nada diz. Tento manter nossa relação em um nível elevado. Ele já me pediu algo
mais, uma espécie de namoro, mas neguei. E negarei quantas vezes forem
necessárias. A partir do momento que uma mulher arruma um namorado, ele
passa, aos poucos, a querer dominar os seus passos e se meter em sua vida.
E como a minha anda muito boa para ser estragada, prefiro ficar sozinha. É claro
que em fevereiro, no mês dos namorados, sinto vontade de ter alguém para estar
comigo. Lay, que é muito brincalhona, sempre diz que, deveriam haver
namorados de aluguel para esse dia. Quem abrisse um negócio como esse ficaria
rico. Concordo com ela. Lay é parecida comigo, mas o problema dela é outro.
Sempre que arruma um namorado, o mesmo é comprometido e ela acaba
descobrindo da pior maneira possível. Já servi de ombro amigo várias vezes a ela
e muitas delas tive vontade de quebrar a cara do fulano por fazer sofrer uma
pessoa tão doce e meiga como Lay. Ela é minha melhor amiga. Aqui, na
delegacia, todos a amam e não há como ser diferente. Ela é uma das poucas
pessoas que conheço que fazem piadas de si mesma. Uma figurinha única.
Pego o buquê e abro o cartão.
“Se não fosse por você, a essa hora, essas flores não estariam em suas mãos.
Mesmo sendo arrogante, não poderia deixar de praticar um ato de delicadeza e
lhe agradecer por ter salvo a minha vida. Sei que cumpriu o seu dever, porém
me sinto em dívida com você. Sendo assim, ainda lhe devo um jantar.
E não aceitarei "não" como resposta. Do contrário, mandarei flores todos os
dias em seu local de trabalho até que mude de ideia.
PS. Ligarei mais tarde para saber a sua resposta.
Max.”
Arrogante, eu? Quem esse almofadinha metido a herói pensa que é! Coitado, não
me conhece mesmo. Amasso o cartão e o arremesso na lixeira.
— Parece que não agradou?
Phillip me olha satisfeito, como se o ato de não aceitar as flores, fizesse muita
diferença. Para mim, ele e eu continuamos na mesma situação. Saímos para
beber de vez em quando e acabamos transando. É só e nada mais.
— Não. Não agradou. Vamos voltar ao trabalho?
Ele vira as costas e sai de minha sala. E eu volto a me concentrar em meu
trabalho pensando numa boa resposta para Max Mackenzie.
Por Beatrice
Em meu closet, escolho algo para vestir. Tenho um encontro com Jane, a
decoradora que Sean escolheu para decorar sua nova casa. Ele me pediu para que
ajudasse a decoradora e que agilizasse tudo para o fim de semana. Achei absurda
a ideia da compra dessa nova casa, interpelado por mim, meu filho argumentou
que não estava satisfeito com a antiga residência.
Ele anda muito diferente. Não é o mesmo Sean de antes. E o motivo dessa
mudança? Sophia. A moça por quem ele se encontra interessado. No jogo de
ontem, ele não tirava os olhos dela. Conheço meu filho e sei que esse
comportamento irá passar, por isso, o melhor que tenho a fazer é parecer amiga
de sua "namorada".
Sean nunca se prendeu por mulher nenhuma e não será uma reles professora de
artes que irá fazer com que isso aconteça. Ela é simples demais para ficar ao lado
de meu filho. Criei-o para brilhar e se destacar entre todos e não ficarei feliz
enquanto não vê-lo longe dessa moça.
Ela tem algo de desafiador em seu olhar. Não teme a nada, pude sentir em seus
olhos. Sophia caiu nas graças de todos em casa, menos na minha. Não gosto do
seu jeito e não a quero junto de Sean. Não foi isso que sonhei para ele. Quero
uma mulher à altura de seu porte. Alguém refinada, elegante, nascida de uma
família com sangue nobre e não uma qualquer. Não sei o que se passa na cabeça
de meu filho.
Sei que ele tem pretensões políticas. Quer se candidatar à presidência dos
Estados Unidos na próxima eleição, mas há de convir comigo que não
conseguirá apoio de muitos de nossa classe se acabar se casando com essa
mulherzinha sem pedigree.
Pensando nela, resolvo ligar e marcar o nosso almoço. Quero ter uma conversa
com ela e deixar claro o que penso a seu respeito. Sophia pode ter enganado meu
filho, porém aquele jeitinho doce e alegre esconde uma mulher dissimulada e
interesseira. E se ela pensa que irei permitir que ela invada a vida de meu filho,
está muito enganada. Espero que não ouse atravessar o meu caminho, pois todos
que tentaram até hoje se deram muito mal.
Marcamos nosso almoço para amanhã. Logo, Sophia conhecerá o meu lado
materno mais protetor.
Por Alexia
Meu pai não esconde a surpresa ao me ouvir dizer que quero trabalhar em sua
empresa. Quero mostrar a ele que sou capaz de fazer algo útil. Deixarei de
escrever por essa razão? Claro que não. Escrever meus contos e poemas são
vitais para mim, porém no momento, minhas prioridades são outras. Mudarei
radicalmente e vou mostrar aquele imbecil do Aidan que não sou algo fácil e
descartável.
Depois de me acertar com meu pai, saio de sua sala e uma de suas secretárias me
encaminha para uma sala vazia onde será o meu local de trabalho.
Algum tempo depois, uma mesa, um computador e aparelho telefônico são
instalados para que eu desempenhe as minhas funções.
Estamos no final de outubro e me lembro de que no início de novembro Sean faz
34 anos. Como todo ano, planejarei uma festa bem bacana para ele.
Ligo para sua sala em Washington, preciso saber quais os seus planos para esse
ano. Minha surpresa maior foi que Aidan atendeu o telefone direto de meu
irmão. Quando pergunto por ele, o cafajeste quer mudar o tom da conversa.
— Sean está em uma ligação em seu celular! — Faz uma pausa para pensar em
alguma safadeza e continua — Alexia, a respeito de ontem queria lhe dizer...
Apesar de ter demorado para enxergar que ele estava me usando, tenho minha
dignidade e acho melhor cortar esse assunto pela raiz.
— Aidan, não liguei para ouvir sua voz e muito menos para falar com você e sim
para falar com meu irmão. Se quisesse explicações, ou qualquer coisa do tipo
teria ligado diretamente em seu telefone, não acha? Esqueça aquele episódio e
também os anteriores que nos levaram a essa conversa, ok?
Ele para por segundos, acho que não esperava a minha atitude.
— Tudo bem, como quiser. Só queria que me desculpasse, se acaso a magoei de
alguma forma.
— Não me magoou, em absoluto. Pode ficar tranquilo. Deve saber que como
você posso encontrar aos pares por aí. Agora, se meu irmão vai demorar, ligo em
outra ocasião.
— Ele está vindo. — Diz, seco.
Ouço passos e a voz de Sean ecoa em meu ouvido.
— Bom dia, meu querido! Adivinha onde estou?
— Fazendo compras.
— Passou longe. Vou ser breve, não quero atrapalha-lo.
— Sabe que não me atrapalha, Alexia.
— Estou sentada em uma sala na empresa de nossa família. Pedi a papai que me
arrumasse algo para fazer. Quero aprender tudo por aqui. Comecei a trabalhar e
serei assessora de Max, não é legal?
— Muito, Alexia. — A voz alegre de Sean demonstra que realmente ficou feliz
com minha atitude. — Papai deve ter ficado orgulhoso de você e eu também.
— Obrigada, porém não liguei somente por essa razão. Quero saber o que vamos
fazer em seu aniversário nesse ano?
— Não pensei em nada específico, mas esse ano, não quero festas ou algo do
gênero. No máximo, um jantar em família. Também quero tirar uns dias de férias
e viajar com Sophia.
— Ora, ora! Quem te viu e quem o vê! — Vejo que esse relacionamento de Sean
vai longe. — Tudo bem! Não esqueça de me avisar se acaso mudar de ideia.
— Pode deixar, avisarei com certeza!
Nos despedimos e me concentro em meu trabalho. Hoje, começo uma nova vida,
uma nova Alexia que surge e devo começar pelo meu guarda-roupa. E já sei a
quem pedirei ajuda para me transformar em uma mulher sexy e elegante...
Pratos limpos
Por Lorenzo
Lay e eu tivemos um almoço muito agradável. Ela me falou um pouco de sua
vida e eu da minha e descobrimos que temos muitas coisas em comum.
Ela foi muito direta e isso me deixou admirado. Perguntou-me sem rodeios se eu
e minha família pretendíamos continuar a roubar e da mesma maneira que ela foi
direta e honesta dizendo o que pensava, respondi de imediato que não, que o
roubo da Galeria Mackenzie havia sido o último. Depois disso, ela mudou de
assunto e nossa conversa girou em torno de nossos gostos por música, lugares
para se conhecer e etc... Enfim, encontrei em Lay uma coisa que não havia
encontrado em nenhuma outra mulher, a vontade de me abrir e também de
conhecer a pessoa ao meu lado e não somente tê-la em minha cama.
Em vários momentos, me peguei observando-a. Seu sorriso me cativou mais do
que tudo, isto porque quando sorriu para mim não foi somente um movimento de
lábios, foi como se ela sorrisse com a alma e me absorvesse em sua alegria.
Quando chegou a hora de voltarmos cada um ao seu trabalho, sabia que a partir
do momento que a conheci não poderia mais me afastar. Quero estar perto, quero
estar com ela em vários momentos e, diferente das outras, que não são poucas,
quero leva-la a sério, então depois de beija-la, convido-a para sairmos logo mais
à noite. Lay disse que tem plantão na delegacia e que hoje não poderia sair
comigo. Então marcamos para o dia seguinte. Assim andamos de mãos dadas até
o estacionamento onde ela deixou seu carro. Trocamos vários beijos antes de me
despedir.
E durante toda a tarde em minha mesa, me peguei rindo à toa ao me lembrar de
que encontrei a garota que vale a pena.
Por Danielly
Lay voltou ao trabalho cantarolando "Corinne Bailey Era
— Put your records on" e sendo assim, posso imaginar que seu almoço com
Lorenzo Salvatore foi muito proveitoso. Como entre nós não existe segredo, ela
me conta como foi o encontro com o rapaz.
— Amiga, acho que dessa vez terei mais sorte! Assim espero!
Pego em sua mão e sorrio para ela.
— Tomara que Lorenzo seja o cara certo. Chega de dar cabeçadas, não é?
— Tem razão. Não aguento mais, ainda bem que minha cabeça é bem dura!
E como sempre, minha amiga ri dela mesma e me acabo rindo junto. Olha para o
vaso com flores em cima de minha mesa e muda o foco da conversa.
— Dany e aí o bonitão já ligou?
Ela tinha que me lembrar de Max?
— Não. — Respondo secamente e volto a me sentar em minha mesa.
— Vai aceitar o convite para jantar?
— Não, melhor não.
— Se tem tanta certeza de que não irá, por que ficou tão apreensiva quando
toquei no assunto? Sinceramente não vejo motivos para recusar, é só um jantar,
ele não lhe convidou para transar com ele.
Olho feio para ela, que dá de ombros.
— Está bem, não está mais aqui quem falou!
— Sabe, Lay, Max acabou de romper um noivado e o que você acha que ele está
procurando no momento? — Faço uma pausa e me levanto. — Diversão!
— E você, por acaso, quando transa com Phillip procura o quê?
Lay e sua franqueza, às vezes, são irritantes.
— É diferente, amiga!
— Diferente, como? Pode me explicar?
— Nunca fui apaixonada por Phillip, diferente de Max que amava a noiva. Não
estou procurando romance, porém não quero ser válvula de escape para
ninguém. Quando vou para cama com um homem, ele tem que estar na minha,
todo na minha. Não sou remédio para curar feridas amorosas. Isso não é para
mim.
— Entendo. Nisso, você tem razão.
E nesse momento, o telefone de minha mesa toca.
— Dra. Danielly. — Falo.
— Boa tarde, minha salvadora! — Max e sua voz gostosa me deixam em estado
de euforia.
— Boa tarde, Max. — Respondo de modo indiferente. — Obrigada pelas flores,
deveria ter ligado antes para lhe agradecer e também dizer que mesmo contra sua
vontade, não poderei aceitar o seu convite para jantar essa noite.
Lay dá um tchauzinho e sai da sala.
O que estou fazendo? Por que disse a palavra essa noite? Por que não recusei de
forma mais direta?
— Fui bem taxativo no cartão. Não há problema, se não pode hoje, que tal
amanhã? Quero lhe confessar uma coisa, sou uma pessoa muito insistente e não
costumo desistir fácil do que quero.
Resolvo provoca-lo para me divertir um pouco.
— E o que você quer, Max, posso saber?
Alguns segundos de silêncio se colocam entre nós.
— Ainda não sabe?
— Se soubesse, não estaria perguntando.
— Somente um jantar. — Suspira ao telefone e o imagino passando as mãos por
seus lindos cabelos. — Nunca pensei que fosse tão covarde, Dra. Danielly!
— Não considere minha recusa como covardia, assim o senhor está se
vangloriando demais, não acha?
Covardia! Max está tentando parecer cafajeste, mas não está se saindo bem.
Como ficou com Bárbara durante um longo período ficou enferrujado para a
coisa, ou então, nunca levou jeito para tal. Fico com a segunda hipótese.
— Então diga que aceita e veremos quem de nós está com a razão!
— Bem, diante de tanta insistência, vou aceitar o seu convite. Não hoje, como já
disse anteriormente, tenho plantão. Que tal amanhã?
— Não poderia ser mais perfeito. Passe-me seu endereço. Irei busca-la às oito
em ponto. Está bem, assim?
— Por mim, está ótimo!
Passo meu endereço a ele e sinto um frio na barriga comum à uma adolescente
que marca seu primeiro encontro. Que ridícula! Isso passa, não tenho idade mais
para isso. Max se despede e volto para meu trabalho, e me deparo muitas vezes
pensando em como será o nosso jantar e o que virá como sobremesa.
Por Sophia
Guardo meu livro em minha pasta e apago a luz da sala. Os alunos já se foram e
agora é minha vez de ir para casa. Sean me ligou na hora do almoço, estava
embarcando para o Canadá e como sempre essa distância me mata de saudade.
Disse a ele que amanhã irei almoçar com sua "doce mamãe", claro que, não usei
esse termo cínico com ele. Não quero que ele pense que tenho algo contra a
poderosa e nojenta Beatrice. É claro que estarei preparada para enfrentar a
megera. Se ela pensa que me intimida é porque não é inteligente o suficiente
para me analisar.
Chego em casa por volta das seis da tarde. Angelina estava de saída, seu
expediente se encerrou e ela me dá um beijo ao sair. Lorenzo ainda não chegou
do trabalho e meu pai ainda está no Café.
Mais tarde, preparo o jantar e, com meus dois amores me sento à mesa para uma
deliciosa refeição em família.
Meu pai resolve assistir um jogo e Lorenzo me ajuda na cozinha. Enquanto
coloco os pratos na máquina, ele me conta que conheceu uma garota e pelo
brilho dos seus olhos, ela deve ser "A garota."
Lorenzo entusiasmado por alguém. Isso é muito bom. Acho que agora só falta
arrumarmos alguém para Vicenzo.
Em meu quarto, tomo um banho, prendo meus cabelos num coque solto e coloco
minha camisola. Deito-me na cama e pego meu notebook. Vasculho por
informações de meu namorado e a página do Google oferece muitas opções.
Vejo várias fotos dele em alguns eventos e em muitas delas, ele aparece com
alguma mulher estonteante. Loira, ruiva, morena. Várias, todas penduradas em
seu pescoço. Sou o oposto de todas elas. Claro que tenho vaidade, mas não sou
tão afetada quanto essas mulheres. O que será que ele viu em mim? Bom, não
quero pensar nisso, sei que ele é apaixonado por mim, tanto quanto eu e isso me
basta. E se está comigo ...
Para minha surpresa, Sean faz uma chamada de vídeo e sua imagem aparece na
tela.
Seu rosto parece cansado e suas linhas de expressão ainda mais acentuadas.
Olheiras profundas e o maxilar rijo mostram que o dia não foi fácil. Encostado
na cabeceira de sua cama, ele ainda usa camisa e gravata.
— Oi, meu amor! Que saudade! Como foi seu dia? — Não consigo disfarçar
minha alegria.
Aperta os olhos entre os dedos e sua testa enrugada lhe dão um toque ainda mais
charmoso.
— Meu dia foi péssimo! Sabe quando você não consegue chegar a um acordo e
fica rodando em círculos?
— Sim. Sei.
Tenho toda ciência de como isso funciona.
— Pois foi isso que me ocorreu durante a reunião de hoje. Só não mandei todos
à merda porque estamos tentando ajustar um acordo importante para implantar
uma tecnologia desse país. Precisamos de diplomacia nessa hora.
— Vai dar tudo certo, meu querido, você vai ver. — Mudo de assunto para tentar
relaxá-lo. — Queria estar aí com você, faria uma massagem bem relaxante e
depois a gente poderia sair para jantar.
Ele me olha de um jeito que faz o ar sumir dos meus pulmões.
— Se estivesse aqui comigo, não sairia dessa cama por nada nesse mundo. Estou
morrendo de saudade de você. — Pende o pescoço de um lado a outro como se
estivesse se alongando e depois me encara com um sorriso. — Essa camisola
está me deixando louco aqui, você está linda e irresistível nela. — Faz uma
pausa. — Solte seu cabelo, por favor? — Pede de um jeito carinhoso e eu
obedeço.
— Hum... e eu adoraria estar nessa cama com você — Ajeito meu cabelo e seus
olhos me devoram. Fico presa em seu olhar, Sean com a camisa sem gravata é
ainda mais atraente. Sua barba mostra sinais e isso deixa seu rosto ainda mais
másculo. — Podemos resolver isso, quer que eu a tire?
Mesmo com os poucos namorados que tive, nunca fui ousada a ponto de me
mostrar em uma câmera para nenhum deles, minha timidez nunca permitiu ir tão
longe, até hoje. Até conhecer Sean.
Com um sorriso deliciosamente malicioso, rebate.
— Quero... tire-a... — Sua voz rouca, me faz viajar e imagino-a em meu ouvido,
me deixando mais excitada com essa brincadeira.
Baixo somente uma das alças e a curva do meu seio aparece levemente.
— Assim? — Respondo com a voz carregada de desejo.
— Mais um pouco... sabia que ainda estou pensando naquele banho? —
Murmura, se ajeitando na cama — E só em pensar nisso, fico excitado... e louco
por você.
Vejo quando ele passa a mão sobre sua ereção.
— Não acha que tem roupas demais aí? — Pergunto. Ao imaginar seu corpo nu
sob a luz do abajur e olhando para mim, me sinto a mulher mais desejada e
sortuda desse mundo.
— Quer que eu tire? — Me devolve um olhar de malícia que deixa até meus
poros eriçados.
— Sim, tire a gravata ...
Sem desviar seus olhos dos meus, desata o nó da gravata e bem devagar a joga
para o lado, depois abre lentamente cada botão de sua camisa e, por último, as
abotoaduras.
Quando ele finalmente tira a camisa, corro meus olhos pelo seu tórax e constato
que estou toda molhada.
Chego a engolir seco.
— Há pouco, estava no chuveiro e pensei em nosso banho, mas agora vendo-o
sentado nessa cama, minha mente pensou outra coisa.
— Ah é? O que sua mente pensou? — Seu timbre de voz fica ainda mais rouco
quando se excita. — Fiquei curioso agora, mas antes quero vê-la sem essa
camisola...
Fico de joelhos na cama e com a câmera ajustada, desço as duas alças me
livrando da peça. Ao olhar para ele, vejo o movimento de sua garganta engolindo
em seco como eu, minutos atrás.
— Se estivesse comigo sabe o que eu faria? — Diz com a voz rouca.
— O que?
— Minha boca desceria por seu pescoço todo, sentiria seu perfume que adoro e
depois faria você gemer com minha língua em seu seio, chuparia com força
como você gosta, enquanto meus dedos estariam em sua boceta molhada, louca
por mim...
— Aiii, que gostoso... — Só em imaginar a cena, meu ventre dá voltas. —
Continua...
— Continuo, se você tirar a calcinha... — Seus olhos estão mais azuis e seus
lábios entreabertos me fazem perder o raciocínio ao imaginá-los por todo meu
corpo.
Em um movimento rápido, tiro minha calcinha...
— Queria seu corpo no meu, cavalgaria em seu colo, você me pegaria com força
e me faria gozar em seu pau gostoso — Digo, sem nenhuma reserva, me
desconheço ao pronunciar algo tão devasso.
— Por que a pressa? — Seus dedos abrem o cinto e vejo-o baixando sua calça
juntamente com sua cueca, liberando sua ereção. Chego a me contorcer de tanto
desejo ao ver todo seu corpo nu. Do rosto até suas coxas musculosas, tudo em
Sean é perfeito. — Chuparia você toda primeiro... cada pedaço de seu corpo
estaria sob minha língua...
— Sean... — Aperto meus seios com as mãos ao mesmo tempo que contraio
minhas pernas como se buscasse alívio.
Ouço seu gemido rouco.
— Abra suas pernas para mim, Sophia... quero vê-la se tocando, gozando com
suas mãos e me imaginando no lugar dos seus dedos, enquanto eu vou gozar
para você...
Abro minhas pernas e toco em meu sexo molhado e todo inchado, fecho meus
olhos e gemo baixo ao deslizar meu dedo devagar por toda minha vagina. Ao
abri-los, vejo Sean se masturbando devagar com a boca entreaberta e com os
olhos vidrados em mim.
Primeiro coloco somente um dedo e o retiro em seguida. Levo-a minha boca e o
chupo todinho sem desviar meu olhar. A sensação que tenho é de pura luxúria,
misturada ao enorme prazer que estou sentindo e fazendo-o sentir.
— Queria você aqui, me comendo, me fazendo gozar gostoso nessa cama, você
me pegando de quatro e sendo só meu... — Penetro dois dedos e me toco sem
parar... — Quero tanto você!!
— Feche os olhos e imagine-a de quatro e eu ali, metendo em você bem devagar.
— Depois, deixaria que você cavalgasse no meu pau, enquanto minha língua se
enroscasse à sua abafando cada gemido nosso...
Geme alto e não se segura, seu orgasmo chega e fico extasiada por poder fazer
isso com ele. Aumento o meu ritmo e sinto minhas pernas amolecerem em um
gozo maravilhoso.
— Eu a quero muito, muito! — Sua testa está suada e seu peito também. — Não
vejo a hora de te ver. — A imagem de Sean sem camisa e com seu rosto após ter
gozado para mim é inesquecível. — Devo chegar sexta pela manhã, isso que
acabamos de fazer só aumentou a minha vontade de ter você!
Sei que para muitos homens isso é comum, mas duvido que Sean seja adepto
dessa prática, até porque nunca deve ter ficado sem transar quando tinha
vontade.
— Não saia daí, vou ao banheiro, já volto. — Se levanta e vai até o banheiro.
Minutos depois, ele volta somente com cueca e se deita na cama.
— Sean, quando ia me contar sobre seu aniversário?
— Quem lhe contou? Aposto que foi Alexia! — Diz, um tanto desconfortável.
— Por que? Era segredo?
— Não, longe disso, sabe que não tenho segredos para você.
— Que bom, assim, penso em algo para lhe dar até lá!
— Não quero que se preocupe com isso, ok? O que eu mais quero é você!
Ficamos mais alguns minutos conversando e infelizmente nos despedimos.
Durmo pensando em como estou feliz.
No dia seguinte, na hora e local marcados para o meu almoço com a megera,
chego com cinco minutos de antecedência.
Como meu sexto sentido nunca falha, parece que não estou indo a um simples
almoço e sim a um interrogatório da Santa Inquisição. Se Beatrice pensa que
fugirei como uma coelha assustada, irá cair do cavalo.
Ao entrar no restaurante francês luxuosíssimo, o mâitre vem ao meu encontro e
me leva à mesa onde minha querida sogrinha me aguarda.
Quando me vê, me oferece seu sorriso "a la peçonha" mais simpático.
— Minha querida que bom que veio, a propósito, muito linda a sua roupa.
Ela não perde uma! Ainda bem que vim prevenida.
Fazemos nossos pedidos e o garçom logo traz a nossa entrada. E o espetáculo da
mãe obsessiva acaba de dar início.
— Sophia, quero deixar claro não aprovo seu namoro com meu filho.
Antes de levar a taça à boca, rebato.
— Até onde sei, Sean é maior de idade, não sabia que precisasse de sua
autorização para isso.
Ela cospe veneno pelos olhos enquanto brinca com seus talheres.
— Você me entendeu. O que eu quero dizer é que não criei e eduquei meu filho
para se envolver com uma qualquer interesseira. Você não tem nome e muito
menos dinheiro e pelo que vejo, é uma caça-níquel.
Muito calma, sem perder a classe, digo.
— Já sei! Deixe-me lembrar! Quando se casou com Harry a mãe dele fez o
mesmo que está fazendo agora?
— Por que colocar a mãe de Harry em questão?
— Porque você era tão pobre e sem nome quanto eu. Ou acha que não conheço
seu passado, Beatrice? Se sou interesseira como diz, o que não é o caso, deve ter
se lembrado de si como referencial. Sua sogra era ruim como você?
— Chega! Você é muito ousada! E se pensa que meu filho vai ficar com você
para sempre está enganada! Quero alguém que se equipare a ele e não uma vira-
lata como você! E não se esqueça de que quando meu filho chegar, direi a ele
todos os desaforos que me disse nesse almoço. Farei de tudo o que estiver ao
meu alcance para separar vocês!
Saboreio o meu vinho, pois a comida não desce, minha vontade é perder a classe
e enfiar a mão na cara dessa bruxa, porém me controlo e sorrio.
— Não precisa se dar ao trabalho. — Abro minha bolsa e tiro de lá um gravador.
Seus olhos se dilatam espantados. — Se quiser, faço uma cópia para você.
Gravei tudo!
— Sua ordinária, você não tem modos, elegância e nem deve saber o que uma
mulher de um político importante deve saber. Aposto que mal fala o inglês.
Levanto-me da cadeira e olho para ela com o maior sarcasmo.
— Bumser*
— Fakku*
— Cazzo*
— Baiser*
— Joder*
*Foda-se, de cima para baixo: Alemão, Japonês, Italiano, Francês e Espanhol
Incrédula com a minha arrogância, fica totalmente sem resposta.
— Agradeço pelo almoço, sogrinha! Foi um prazer, vê-la novamente! Até mais.
Acontecimentos
Por Richard
Vicenzo me dá um abraço a seu modo me apertando como sempre.
Sei que andei enfiando os pés pelas mãos por Sophia, mas nossa relação de
amizade não se abalou e depois de uma conversa muito séria, Vicenzo e eu nos
acertamos e continuamos sócios.
Tenho evitado encontrar-me com Sophia. Mesmo sem querer, acabei dizendo a
ela coisas que só fazem piorar a nossa relação. Depois daquele incidente das
fotos, ela vem me tratando com maior indiferença e eu aceito esse tratamento
como punição para minha atitude torpe.
— Ficará quanto tempo em Genebra? — Vicenzo pergunta, enquanto me serve
um expresso.
— Não muito tempo! Tenho alguns negócios pendentes por lá e também será
muito bom me ausentar por uns tempos. — Explico.
Mesmo aposentado, acho que Vincenzo nunca perderá seu faro de raposa.
— Entendo-o, meu caro. Sei o que está sentindo. Tenho certeza de que
encontrará uma mulher que corresponderá aos seus sentimentos. — Bate seus
dedos sobre o balcão.
— Amo sua filha, Vicenzo. Agora, mesmo que isso me doa muito, quero-a feliz.
— Alego. — Por isso, prefiro me afastar. Vê-la com Sean me mata um pouco a
cada dia. Portanto, vou tentar me curar. — Sorvo o líquido quente e saboroso. O
expresso de Vicenzo é um dos melhores de Nova Iorque. — Lanna, minha filha,
irá comigo.
Termino meu café e me despeço de meu velho amigo.
— Richard, qualquer coisa, estarei por aqui. Sabe onde me encontrar. — Me
estende seu sorriso sincero.
— Obrigado, amigo.
Saio do café e na calçada olho para cima em direção à janela do quarto de
Sophia.
Sorrio e entro em meu carro. Espero que essa viagem me faça bem.
Por Sean
— Sean, meu filho, tem certeza de que quer trocar toda a mobília da casa? Não
entendo o porquê disso tudo, me parece exagero! — Minha mãe demonstra todo
seu espanto em minha decisão.
— Mamãe, faça tudo sem me questionar, está bem? — Olho para todos os
documentos espalhados em minha mesa e me questiono quanto tempo ficarei
aqui até despachar todos eles. — Acha que Jane termina tudo até minha
chegada?
— Acho que sim. Tem um batalhão de pessoas na casa e Jane não para nem para
almoçar. Quer entregar tudo no prazo combinado!
— Ótimo. E por falar em almoço... como foi o almoço com Sophia?
Minha mãe se cala. Eu a conheço e sei que que nenhuma mulher irá fazer com
que ela caia de amores e elogios.
— Foi bom. Sua namorada é um encanto. — Faz uma pausa e muda de assunto
como uma página de jornal, isso me intriga e muito. — Seu quarto está ficando
lindo. As cores que escolhemos...
Eu a interrompo.
— Senhora Mackenzie, aconteceu algo nesse almoço? — Ela detesta que eu a
chame assim, quando quero irritá-la, é esse o nome que uso.
— Não fale assim comigo, não você! — Sinto tristeza em sua voz. — Sean,
vocês são o oposto um do outro, isso não irá dar certo, meu filho! Ela não
combina com você!
— Mãe, por seu meu oposto, Sophia completa o que falta em mim e por isso eu
a amo! — Tento impor algo que mais cedo ou mais tarde minha mãe terá que
aceitar.
— Como assim, a ama?
— Amo Sophia e tenho certeza de que ela é a mulher da minha vida. Finalmente,
encontrei alguém que me fez querer mais. — Atesto e sei que ela me contradirá.
— Meu filho, sei o que é isso! A paixão nos deixa cegos! Isso com o tempo irá
passar!
— Mãe, a senhora não entendeu! — Acabo me exaltando com ela. — Disse que
amo Sophia. Ela ainda não sabe disso, mas a amo e espero que respeite meu
sentimento por ela e a trate como merece ser tratada, entendeu?
— Sim, meu filho. Entendi, perfeitamente. Bem, irei deixa-lo trabalhar. Quando
volta?
Ela não muda. Concordou comigo para não brigarmos, mas sei que por dentro
não aceitou o que acabei de dizer. Por hora, também não quero discussão, o que
quero é que ela acabe entendendo o quanto Sophia é importante para mim.
Ela encerra a ligação. Fico pensando em como foi seu encontro com minha
namorada. Mais tarde, descobrirei.
Por Sophia
Velha nojenta! Cobra vestida de grife!
Ao me lembrar de suas palavras, me arrependo de não ter socado a sua cara
naquele restaurante. Entro na escola e tento me desligar dos acontecimentos
passados e me concentrar em meu trabalho, afinal meus alunos não têm culpa de
nada. Olho pela janela da sala de aula e vejo um homem loiro, de terno e óculos
escuros parado bem na esquina. Ele olha tudo ao redor e permanece ali. Quem
será?
Depois de encerrar meu turno, caminho pelo estacionamento e o estranho bem
vestido ainda se encontra por ali.
Aproximo-me do meu carro e ele vem ao meu encontro.
— Senhorita Salvatore?
— Sim, pois não?
Ele tira os óculos e vejo seus olhos azuis. Sua expressão é séria, parece um
agente secreto.
— Damon Wright! — Estende sua mão e aperta a minha com firmeza. — Seu
novo segurança!
— Ah, sim. — Havia me esquecido completamente dessa história maluca de
Sean. Achei que ele não estivesse levando isso tão a sério, mas, pelo jeito, está e
muito. Ter alguém me vigiando não será nada legal. — Minha rotina é muito
corriqueira, Damon. — Narro. — Acho que não terá muito o que fazer! Agora,
vou para casa e de lá não pretendo sair!
— Perfeitamente, senhorita. Me manterei por perto até a troca de turno.
Espere aí. Troca de turno? Quer dizer que serei vigiada 24 horas. Ah, não! Sean
está exagerando! Quando ele chegar, terei uma longa conversa com ele, claro
que depois que eu cobri-lo de beijos. Estou morrendo de saudade.
— Pois bem, Damon. Por enquanto, é só!
Me despeço e de repente Alexia aparece não sei se onde e para seu carro
próximo a mim.
— Sophia! — Desce do carro eufórica. — Preciso de sua ajuda!
Olha para a esquina e depois para mim.
— Vai gostar de Damon. Logo se acostuma em ter olhos às suas costas.
— Não tenho tanta certeza, mas por que precisa de minha ajuda?
— Quero que me ajude a mudar meu guarda-roupa! Vou mudar radicalmente
meu visual e você já me provou que sabe fazer isso! — Me olha como uma
criança grande que acaba de fazer uma grande descoberta. — Faria isso por
mim, minha cunhada favorita?
— Hei, que história é essa de favorita, que eu saiba Max está solteiro, portanto ...
sou a única cunhada que você tem no momento, ou não?
— Estou brincando com você! — Arregala seus grandes olhos. — Vai ou não me
ajudar?
— Claro, vou deixar meu carro em casa e vamos às compras com o meu novo
armário loiro ali, certo?
— Combinado.
Saímos e vamos para um programa que toda mulher ama.
Compras.
[...]
— Alexia, acho que já chega! Temos um guarda—roupa completo! Você
comprou quase a loja toda!
— Só mais esse! — Acrescenta um vestido preto de gala, lindíssimo por sinal.
Saímos e resolvemos tomar um café.
— Posso saber por que essa mudança toda? O que a fez cair em si? — Pergunto.
— Você tinha toda razão! Preciso me valorizar!
Ela me conta que agora trabalha com o irmão nas empresas da família.
— Ainda bem que enxergou isso a tempo!
— Pois é, quero que Aidan veja o que perdeu!
— Só isso? Ver o que perdeu?
— Não — Toma seu cappuccino e completa. — Na verdade, o quero rastejando
a meus pés como uma minhoca.
— Minhoca? Ele não tem cara de minhoca! — Brinco.
— Engraçadinha, você entendeu o que eu quis dizer!
— Sim, entendi. Torço por você! — Seguro sua mão.
— Eu sei disso, não poderia ter uma cunhada melhor!
Nesse momento, meu celular vibra. Mensagem de Sean.
"Precisamos conversar. Antecipei minha volta, chego amanhã à tarde!"
Pela minha cara, Alexia se antecipa.
— Notícias ruins?
— Nada que não se resolva! — Ao menos, espero.
A essa hora, a megera da Beatrice já deve ter desenhado vários modelos de
caveira com meu nome para entregar ao seu filho.
— Amanhã, terei uma reunião importante, Sophia. Será a primeira vez que
participo de uma reunião entre acionistas.
— Isso é muito bom! — Tento parecer o mais alegre possível, porém, aquela
mensagem seca e tão vaga não sai de minha cabeça.
Já em casa, fico esperando algum sinal de vida de Sean. Ligo, mas ele não
atende. Pelo visto, a conversa terá que esperar até amanhã.
Durmo pensando que meu relacionamento com ele pode estar em risco e que sua
mãe não estava blefando quando disse que faria qualquer coisa para nos separar.
E não sei qual é a influência que ela exerce sobre ele. Se acaso ele quiser
terminar nosso namoro, devido ao meu encontro com sua mamãezinha, e se
estiver certa, isso prova que ele nunca sairá da barra de sua saia.
Por Marcella
Quatro da tarde e já posso ir para casa.
Casa! Se é que posso chamar aquele quarto minúsculo e solitário de casa. Ao
abrir a porta, coloco minhas sacolas de compras sobre a mesa, juntamente com o
jornal de ontem. Melissa, uma secretária muito simpática, é quem me dá esses
jornais. Ela os guarda para mim.
Leio as secções de política, economia e pouco entendo do assunto, e minhas
mãos e olhos ansiosos vão direto para a coluna social.
Várias fotos de Harry e sua família aparecem, estão numa espécie de jogo de
polo. Uma foto em particular me chama muito a atenção. O filho mais velho,
Sean, abraça uma moça e sua semelhança comigo é assustadora. Seu nome,
Sophia.
Não, não pode ser. Minha filha está morta juntamente com todas aquelas
crianças que estavam naquele incêndio. Como mais uma vez os seus olhos sobre
o seu rosto e meu coração se aperta. Preciso descobrir quem é essa moça!
Urgente!
Por Danielly
Durante o jantar, Max se mostrou o mais cavalheiro dos homens. Falamos sobre
trabalho e sobre vários outros assuntos, menos sobre nossa vida íntima.
— Max, sua companhia é muito agradável, porém preciso ir, se não se importa
gostaria que me levasse para casa!
Confere as horas em seu relógio e seus malditos olhos azuis me encaram.
— Como quiser! — Diz seco, como se eu tivesse dito ou feito algo que o
desagradasse.
Pede a conta e saímos do restaurante. Olho para o céu e respiro o ar frio da noite.
O manobrista traz seu carro e abre a porta para mim.
O silencio se torna irritante e fico sem saber o que dizer. Esse cara deve ter
algum problema ou então deve ter um irmão gêmeo. Parecia tão simpático e
agora mal fala comigo.
Vejo que pega uma rodovia e se afasta da cidade.
— Max... — Me olha de um modo estranho. — Só para lembra-lo, o caminho de
minha casa não é por aí!
Sorri e rebate.
— Sei disso, quero lhe mostrar uma coisa.
Percorremos mais alguns quilômetros e finalmente ele para o carro. Desce e abre
a porta para mim.
Nem mesmo eu conhecia esse lugar. Nova Iorque, a cidade pulsante, apaixonada
e perigosa ao longe e suas inúmeras luzes apontam que ela está lá, viva e pronta
para qualquer situação.
Max se senta no capô do carro e eu o imito.
— A vista daqui é linda! Vem sempre aqui?
— Ultimamente, tenho vindo com mais frequência. Paro aqui e fico por algum
tempo olhando a cidade e me pergunto: Milhares de pessoas vivendo em um
mesmo local e eu escolhi a pior delas! — Balança a cabeça em negativa.
Ah, não! Terreno pessoal a essa hora, nem pensar!
— Todos erramos, Max, não se culpe por isso!
Do nada, ele se levanta e diz.
— Vamos, vou te levar para casa!
Ele é completamente estranho, mal acabamos de chegar e já quer ir embora, eu
hein!
Entra no carro e como deixou de ser cavalheiro e não abriu a porta para que eu
entrasse, o faço e ele liga o carro. Anda alguns metros e desliga o veículo.
Sem que eu espere, me puxa e sua boca se encontra com a minha. Seu beijo tem
algo suplicante, é como se tentasse se curar de algo e como disse antes, não sou
remédio para dores de cotovelo alheia. Minha pele se arrepia ao sentir sua barba
roçando em meu rosto.
Sua mão invade a minha saia e seus dedos exploram a minha pele de um modo
diferente. Ele toca com carinho cada parte e me faz querer mais, esperar por
mais. Ao sentir uma arma presa em minha coxa direita, sorri com malícia.
Puxa ainda mais o meu corpo e seus dedos continuam a escalar a minha perna,
chegando em minha virilha. Confesso que se fosse em outra ocasião, transaria
com ele nesse lugar ermo, sem me importar com o perigo do local e muito
menos de me apaixonar por ele, mas meu radar de senso crítico está conectado à
minha razão e, portanto, é melhor parar por aqui.
— O que mais a delegada esconde aqui em baixo?
— Max... — Me afasto e, mesmo excitada tomo o controle da situação. Max não
está buscando diversão e sim consolo. Nem mesmo ele se deu conta disso. —
Me leve para casa, sim?
— Por que? Quer tanto quanto eu!
— Pode até ser, mas quando vou para cama com um homem, faço isso na certeza
de que ele está com seu pensamento todo voltado para mim, o que não é o seu
caso. Se você me quer para estancar alguma ferida, estou fora, quando realmente
me quiser, sabe onde me encontrar, por hora, acho melhor mantermos nossa
relação em nível de amizade!
Ele passa as mãos pelos cabelos, irritado e sai em alta velocidade.
— Está bem, se não quer, não irei obriga-la.
— Max... — Toco em seu joelho. — Não faça isso com você, não se maltrate,
sinto que está magoado, porém sei também que por baixo dessa mágoa toda, há
um homem maravilhoso e se porventura, sua noiva não enxergou esse sujeito,
ela não lhe merece e muito menos o sofrimento que está passando por ela.
Acho que falei demais. Seus olhos quase me fuzilam, não devia ter sido tão
direta.
Segue o restante do trajeto em total silêncio e quando para em frente ao meu
prédio, desliga o carro e olha para mim.
— Desculpe-me, eu não fui uma boa companhia, você tem razão!
— Você é uma ótima companhia, não se menospreze, todos nós temos nossos
maus momentos e o seu irá passar, acredite! — Abro a porta do carro e antes de
descer, Max me puxa para seus braços, penso que me daria um beijo daqueles,
mas somente cobre sua boca na minha, um selinho na verdade.
— Boa noite, durma bem! — Diz com sua boca próxima à minha!
— Você também, durma bem!
Saio do carro e me sinto um tanto confusa, esse cara tem algo que mexe comigo,
não é como Phillip. Não é somente carne, há algo que me intriga e me faz ficar
presa em sua imagem.
Deitada em minha cama, ajusto o relógio para despertar e tento dormir sem
pensar nesse homem complicado e intrigante que é Max Mackenzie.
Por Lay
Lorenzo e eu vamos à uma danceteria. Há muito tempo não me divertia tanto.
Depois de dançarmos agarrados ao som de Easy, ele pega minha mão e
resolvemos ir embora.

Dentro do carro, trocamos olhares de desejo, paixão repentina, sei que parece
loucura, mas me sinto apaixonada e viva por dentro. Ele me leva para meu
apartamento.
— Não quer subir? — Pergunto sem pudor.
— Quer que eu suba?
Meu olhar confessa o que as palavras afirmam.
— Se estou convidando...
[...]
Em meu quarto, sob uma luz única de meu abajur, Lorenzo me despe e eu faço o
mesmo com suas roupas.
— Você é linda, Lay! — Beija meu ombro, no mesmo instante que suas mãos
descem pelas minhas costas até chegar em minha bunda. Aperta meu corpo junto
ao seu e geme baixo quando sente as minhas unhas deslizarem em suas costas.
Sinto seus músculos se contraírem e bem devagar, subo com meus dedos até seu
pescoço. Aos tropeços, caímos em minha cama, Lorenzo acaricia todo o meu
corpo e por onde sua boca passa, sinto um calor e um desejo sem igual.
Ao tocar meu sexo com sua língua, chego a gemer alto tamanha a ânsia de
querer seu corpo no meu.
— Lorenzo...
Sobe devagar e ao encontrar minha boca, roça seu sexo no meu, me instigando
ainda mais. De repente, se afasta e pega sua calça que está caída no chão e pega
sua carteira, tirando de lá uma camisinha.
Volta com seu sorriso carregado de malícia e desejo, e se deita sobre mim.
Penetra bem devagar e entrelaça seus dedos nos meus. Seu movimento é quase
uma tortura e meu corpo cede sem pressa...
— Gostosa... — sua língua invade minha boca e seu beijo me devora, aos poucos
aumenta seu ritmo e sem pensar nos entregamos a um clímax mais que perfeito.
Momentos depois, deitada sobre seu peito, sorrindo como boba, Lorenzo me
chama.
— Lay, quero que conheça a minha família, vai adorar o meu pai e minha irmã.
Eles vão gostar de você, tenho certeza!
— Se você está dizendo, vamos lá.
E assim, minha noite se encerra nos braços de meu Lorenzo, agora meu
"Amorenzo".
No outro dia...
Por Sophia
Acordo cedo e, como de costume saio para caminhar. Confiro se há alguma
mensagem ou ligação perdida pela décima vez e não há nada.
Se ele não me liga, também não irei ligar.
Já em sala de aula, peço aos meus alunos um trabalho sobre a vida e obra de
Rembrandt, finalizo a aula e dispenso meus alunos.
Cabisbaixa e abatida, caminho para o estacionamento do colégio. Uma de
minhas alunas me alcança e caminha comigo até o meu carro.
— Sophia, vi sua foto no jornal! Você estava linda e, desculpe a indiscrição, seu
namorado é um gato! Meu pai!
— Obrigada, Larissa. — Vejo Damon me olhando à distância.
— E de perto é mais ainda! — Diz, enquanto aperta meu braço.
Olho para frente e lá está ele. Sean!
Austin abre a porta do seu Sedan e ele desce, trajando seu terno impecável e
óculos escuros, chamando a atenção de todas as alunas do colégio e me
impossibilitando de enxergar sua expressão através de suas lentes escuras. Elas
protegem seus olhos e sua boca se mantém em uma linha rígida e séria.
Minha aluna se afasta e, eu continuo caminhando até ele com minhas pernas um
pouco bambas.
— Oi. — Digo, com um medo guardado no peito.
— Oi. — Aponta o carro. — Entre no carro, quero falar com você, mas tem que
ser em um local mais reservado.
O motorista abre a porta para mim e dentro do carro, sento minha garganta
queimar.
O que será que tem a me dizer?
Bônus: Eu te amo, muito!
Por Sophia
Sean entra no carro se sentando ao meu lado e sua mão busca a minha. Segura—
a forte e fico confusa com seu toque. Frio minutos atrás e agora parece que busca
em mim um ancoradouro para se proteger.
— Para a minha casa, Austin — Aperta o botão e um vidro escuro se ergue e nos
separa do seu motorista que está atento ao trânsito. Vira-se para mim e tira seus
óculos.
— Tentei falar inúmeras vezes com você, mas não consegui, por isso lhe enviei
aquela mensagem.
Parece nervoso e imagino qual seja a razão: Sua mamy querida!
— Sim? — Meu coração parece que parou de bater. — Suponho que essa frieza
ao me ver tenha alguma causa? Se tiver, diga logo, sabe que detesto rodeios,
Sean!
Ele me olha com estranheza.
— Calma, Sophia! Saiu com uma cara tão feia daquela escola, que cheguei a
pensar que havia perdido a minha namorada, por isso achei que estivesse
zangada comigo, fiquei surpreso não frio.
— Surpreso? É assim que você se comporta quando fica surpreso?
— Não, só com você! Deixe-me explicar, por favor! — Leva minha mão à sua
boca e a beija, fechando os olhos. Mas o que está acontecendo com ele? — Falei
com minha mãe, ontem à tarde.
— Ah, sua mãe... E? — Aposto que ela deve ter dado seu jeitinho para colocá-lo
contra mim. — Já sei porque está desse jeito!
— Sabe? Não vai me ouvir primeiro?
— Sim, desculpe, pode falar!
O carro para em frente à sua casa e Austin desce e abre a porta para que eu
desça. Sean desce e segura leve em meu braço.
— Austin, está dispensado, obrigado!
O motorista faz uma reverência com a cabeça e se afasta.
Entramos em sua nova casa e vejo o quanto ficou linda.
Ele me convida a se sentar na enorme sala decorada em preto e cinza e azul,
austera e moderna, a cara de Sean. Tira o paletó e o joga em outra poltrona ao
lado.
— Sophia, você sabe que nunca tive uma namorada antes e não foi por falta de
oportunidades. Optei por permanecer sozinho até conhece-la.
— Sim, só não estou entendendo onde quer chegar com isso!
— Conheço minha mãe, sempre quis me arrumar pretendentes que ela achava
propícias para mim, cabíveis aos seus padrões o que sempre evitei. Se fosse para
ter alguém, eu mesmo encontraria a mulher que viveria ao meu lado. — Coloca
um de suas mãos no bolso de sua calca e seu corpo se encosta na lareira da sala.
— Beatrice tem um mal, já percebi isso há muito tempo, talvez ela nem faça isso
de propósito, mas pode ser que você acabe se afastando de mim por medo de que
minha mãe seja um problema para nós dois.
— O que ela disse a meu respeito?
— Disse que é encantadora.
Fingida!
— Jura? O que mais? Você não está me contando tudo!
Conheço meu namorado e sei que esconde algo.
— Que não somos compatíveis, o oposto um do outro. Não daremos certo.
— E o que respondeu?
— Os opostos se atraem.
— Boa resposta, e ela?
— Argumentou de várias maneiras, mas o que quero dizer é que por mais que
ela diga ou faça algo que não goste, não quero que desista de nós, por esse
motivo, entende?
Sean está querendo me dizer que ficou com medo de que eu desistisse dele,
depois de falar com a sua mãe?
E eu pensando que ele queria terminar comigo.
— Espere aí, deixe-me ver se entendi. — Faço uma pausa — Está querendo me
dizer que estava com medo de que eu desistisse de você por causa de sua mãe?
— Mais ou menos isso, sei que ela não é uma pessoa fácil e pode querer magoá-
la, confie em mim, não deixarei que isso aconteça. Das minhas escolhas, cuido
eu.
Ufa, chego a suspirar! Meu namorado não é um filhinho da mamãe! Isso é muito
bom!
— Ai, Sean! — Me jogo em seus braços e ele me aperta. — E eu pensando que
você estava bravo comigo porque a ofendi no almoço ontem.
— A ofendeu? — Intrigado, sua boca forma um meio sorriso.
Olho em seus olhos e questiono.
— Sean, alguma vez, passou pela sua cabeça que tenho interesse em seu
dinheiro?
— Claro que não, se eu pensasse isso, jamais me envolveria com você! Sei que é
íntegra e se está comigo é porque gosta de mim e isso me basta.
Não gosto de você, eu o amo. — Penso.
Abro minha bolsa e entrego o gravador para ele. Me olha com estranheza, porém
aperta o botão que liga o aparelho.
Ouve cada palavra da mãe e passa a mão pelo queixo. Em seguida, seus olhos
ficam tristes e pelo seu semblante, uma pequena decepção se instalou ali.
— Por que gravou isso? — Fecha o cenho e sua cara não é das melhores.
— Sean, não quero me colocar entre sua mãe e você, longe disso! — Me
justifico. — Fui criada sem a presença da minha e sei como ela é importante para
você. Quando aceitei almoçar com ela, sabia onde estava pisando, talvez você
não a veja como eu e foi por isso que resolvi gravar tudo, para que se ela me
dissesse algo, eu pudesse me defender. E parece que ela tentou fazer com que
você desista de mim, ou não me diga que ela não lhe falou que sou uma
interesseira?
— Como sabe disso?
— Intuição e pela nossa conversa gravada, pode constatar que tenho razão.
Sempre fui boa em enxergar além das pessoas e com sua mãe não foi diferente.
Ele se levanta e anda até a lareira.
— Ela passou dos limites e terei uma conversa muito séria com ela, isso não irá
se repetir, fique tranquila, tem minha palavra!
Minha mão toca seu rosto.
— Admiro—a ainda mais, acho que foi a primeira mulher a desafiar minha mãe.
— Aperta a minha mão em seu rosto.
— Seu bobo, acho que somente Deus me separaria de você, e nunca mais me
busque na escola com aquela cara, você quase me faz ter um colapso nervoso,
pensei que iria terminar comigo!
Ele me puxa e depois de tanta ansiedade e medo, finalmente me beija com
paixão. Fico sem fôlego depois que se afasta.
— Venha comigo!
Me puxa pela casa e passamos por uma sala onde há um piano.
— Não sabia que tocava!
— Não toco, mas você sim! Quando fui à sua casa em sua procura, seu pai me
disse que aquele piano era seu. Então, imaginei que pudesse tocar algo para
mim, um dia.
— Um dia, quem sabe! — Sorrio e pisco para ele.
Ainda segurando minha mão, me leva até seu quarto novo. Abraçado a mim por
trás, beija meu pescoço e como se adivinhasse meu pensamento e conclui.
— É a primeira e espero que seja a única a entrar nesse lugar, fiz tudo isso para
mostrar o quanto é importante para mim, esse quarto, a casa toda, quero que seja
o nosso refúgio, nosso lugar, sempre.
Viro—me para ele e nem sei o que dizer.
— Sean... — não consigo dizer nada, então quero me doar a ele como prova de
que o amo acima de tudo. Minha boca beija de leve o seu rosto e sem mais
esperar, ele esmaga a minha boca e me conduz ao banheiro.
— Pensei que estrearíamos a cama! — Digo com minha boca colada à dele.
— Depois... quero um banho com você! Pensei nisso o tempo todo. — Seus
dedos abrem os botões de minha camisa. — A propósito, adorei vê-la se tocando
para mim e adorei gozar só para você.
Fico vermelha e mordo o lábio.
— Também gostei muito. — Ajudo-o a se livrar de sua camisa e em seguida, ele
me prensa na bancada do banheiro me transmitindo seu calor com seu corpo
másculo grudado ao meu.
Abre o fecho de meu sutiã jogando-o de lado. Sua mão cobre meu seio e em
seguida o aperta me fazendo gemer. Numa ânsia de uma saudade que nos
consome, ficamos nus em segundos, e nossas bocas não se descolam. Sean abre
o chuveiro e me puxa para ele.
A água morna escorre entre nossos corpos e minha pele parece queimar por onde
suas mãos fortes percorrem. Morde meu pescoço e me faz suspirar ao deslizar
seu dedo em meu sexo molhado. Procuro sua boca, ao sentir seu dedo me
penetrando.
— Senti tanto a sua falta, Sophia! Não gosto de ficar longe, não gosto de me
afastar de você! — Fala entre gemidos e despudoradamente se esfrega em mim
todo excitado.
— Eu também não!
Olha em meus olhos, e com sua boca gostosa desce pelo meu corpo. Primeiro,
chupa cada um dos meus seios, rodeando-os com a língua, estimulando cada um
de meus mamilos. Continua descendo pelo meu abdômen e se ajoelha com a
água caindo sobre o seu lindo rosto. Olha para cima, e com um sorriso carregado
de desejo e malícia ataca meu sexo com a boca.
— Aiii... Ohhh... que delícia!! — Chego a me encolher absorvendo as contrações
em meu ventre.
— Você é minha delícia, meu tesão, meu tudo, Sophia. — Suga meu sexo
devagar e me faz gemer alto.
Segura minhas nádegas e me devora em um vai e vem com sua língua que me
deixa quase lá. Quero senti-lo dentro de mim, ser possuída pelo homem que me
ensinou a amar, a conhecer o amor homem-mulher.
Puxo-o para mim e eu me enrosco em sua cintura, segurando-o pelo pescoço.
— Eu te quero, Sean! — Digo olhando em seus olhos.
Sean entrelaça uma de suas mãos na minha, e com a outra posiciona seu membro
na entrada de meu sexo, me penetra fundo como se me tomasse toda para si.
Sem tirar seus olhos dos meus, me diz as palavras mais esperadas depois que o
conheci. Minha pulsação até acelera.
— E eu te A-M-O, Sophia!
Meus olhos se enchem de lágrimas devido à emoção que acabo de sentir. Ele me
ama, Sean me ama!
— Eu o amo muito, muito... — Me entrego ao seu beijo e ele me conduz,
fazendo amor comigo como se o tempo parasse para nosso mundo permanecer
ali, intacto, só nosso.
— Somos uma dupla imbatível, Sophia, nada e ninguém irá me separar de você,
só a deixo quando não me quiser mais. A amo hoje, amanhã e sempre!
Gozamos juntos e depois de um tempo já deitados em nossa cama, Sean alisa
meu cabelo.
Sonolenta, ele me aperta em seus braços, acho que se explodissem o mundo, não
poderia morrer mais feliz. Não paro de sorrir.
— Preciso ir para casa, meu amor! — Digo.
— Só mais um pouquinho, está tão bom aqui com você! — Me fita com sua
testa franzida. — Não vejo a hora de poder ficarmos juntos para sempre, sem
precisar nos despedirmos.
— Hum, pensando em casamento, senhor Mackenzie?
— Acho que já provei o quanto a amo e também o quanto é importante para
mim, quero-a como minha de corpo, alma e para as convenções sociais como
minha legítima e única esposa. A não ser que você não queira.
— É o que mais quero na vida.
Sean cobre meu corpo com o seu e me mostra todo seu amor através do toque de
suas mãos, da carícia de sua boca e com todo seu corpo.
Dormimos agarrados e felizes.
Baba Baby!
Por Sean
Sophia dorme aconchegada em meu corpo. Mal dormi, fiquei observando o seu
sono e não quis perder nem um instante ao seu lado. Seu respirar é calmo e
tranquilo. Afago seu cabelo, e bem devagar, meu indicador corre por suas
sobrancelhas, escorregam pelo nariz perfeito e paro em sua boca. Os lábios que
horas antes, confessaram que me ama. Ao ouvir sua voz rouca a se declarar, me
senti imenso, como se nada mais importasse e se alguém ou algo me atingisse e
isso não fizesse a mínima diferença. Sophia é toda minha e pertenço todo a ela.
Quero pedi-la oficialmente em casamento.
Quero tê-la todos os dias e, com isso, criar uma rotina só nossa como Sophia
sendo minha mulher.
Acabo sorrindo como um bobo. É assim que todo homem se sente? Amo Sophia
e quero protege-la de tudo. Sei que já sofreu o bastante até conhecer Vicenzo e
agora ela também tem a mim. Ninguém fará mal a você, sussurro como se ela
me ouvisse.
Amo minha mãe, ela é especial para mim, mas as palavras duras direcionadas à
Sophia ainda martelam a minha mente e somente quando ter uma conversa séria
com ela é que me sentirei melhor.
São oito horas da noite e com um cuidado a mais, saio da cama sem acorda-la.
Visto meu roupão e saio do quarto.
Na cozinha, abro a geladeira e procuro algo para o jantar. Esqueci de avisar
Delly de que voltaria mais cedo para Nova Iorque. Opto por comprar comida
chinesa.
Ligo para meu restaurante favorito e peço o jantar. Volto para o nosso quarto e a
encontro vestindo minha camisa. Uma coisa que antes era totalmente arbitrária
para mim, permitir que uma mulher usasse algo meu. Transava, me satisfazia e
depois a mulher caía fora de minha vida e de minha casa. Com minha camisa na
altura dos joelhos e seus cabelos revoltos, Sophia é a mulher mais linda aos
meus olhos.
Ao sentir minha presença, seu olhar encontra o meu.
— Meu pai me ligou, perguntou onde eu estava! — Diz, sorrindo.
— E o que disse? — Caminho até ela e a abraço, aspirando seu cheiro na região
de seu pescoço.
— Só me repreendeu por não tê-lo avisado que não iria para casa. — Morde meu
pescoço. — A propósito, achei que não precisava deixar um segurança à minha
disposição! Está exagerando, Sean!
— Cuidar de você, nunca será um exagero para mim, meu amor! — Beijo seus
lábios de modo suave. — Agora, vamos sair desse quarto e pedi comida chinesa,
sua segunda favorita, depois da italiana, é claro.
— Adoro você, sabia?
Sentados e relaxados terminamos nosso jantar ao mesmo tempo fico ouvindo
Sophia falar sobre seu trabalho. Sua satisfação com suas aulas a faz parecer
como uma criança empolgada com seu brinquedo favorito, só que essa
empolgação tem algo de diferente, não será efêmera e sim, muito duradoura.
Pelo que senti, Sophia sempre quis dar aulas e fará disso a sua carreira. Quando
acaba de me contar tudo a respeito de seus alunos está radiante.
— Meu amor. — A chamo e ela mantém seu hashi suspenso no ar, enquanto me
olha curiosa. — Gostaria de lhe pedir algo.
— Pode pedir qualquer coisa!
— Hum, qualquer coisa? — Falo em sentido dúbio.
— Sabe que a você não nego nada! — Faz uma cara travessa.
— Já lhe pedi antes, mas a senhorita levou o que eu disse em tom de brincadeira
e acabou não acatando meu pedido. — Faço uma pausa. — Sobre passarmos os
fins de semana juntos, gostaria que trouxesse algumas de suas roupas e objetos
pessoais para deixá-los aqui.
— Não levei na brincadeira, só achei que estávamos indo depressa demais!
— Ainda é o que pensa?
A expressão de seu lindo rosto se altera e um sorriso iluminado desponta em sua
face.
— Absolutamente, agora é diferente!
— Diferente como? Pode me dizer?
Deixa minha pergunta suspensa no ar e pega o seu biscoito da sorte, quebra—o
retirando um pequeno papel de lá de dentro.
— Hum, olha o que temos aqui! — Faz cara de espanto.
— Se não irá responder minha pergunta, deixe-me ver! — Estico minha mão e
tento alcançar o papel, mas ela me sorri ironicamente e se desvencilha de meu
alcance.
— Não, senhor, o lerei para você! — Diz com divertimento. — Está escrito:
Pigarreia fazendo graça e lê bem devagar, alternando o olhar entre o papel e eu.
" Sean Mackenzie, você é, sem dúvidas, o homem mais importante da minha
vida. Meu amor por você é sólido, seguro e sem sombras. Eu o amo e sempre o
amarei. Desculpe—me se não disse isso antes, mas tive medo de que não
compartilhasse desse sentimento comigo. Agora que sei que é recíproco, quero
que o mundo saiba que depois de você, minha vida se transformou ainda mais
e que sem você, não há Sophia Salvatore.
Eu te amo, Sean.
Por isso, agora, tudo faz diferença."
Sem conseguir articular qualquer palavra que caiba em minha alegria, puxo—a
para mim e sua testa se encosta na minha.
— Foi a coisa mais linda que você já me disse até hoje! Eu a amo! — Beijo seu
nariz. — E de agora em diante, só como comida chinesa desse local, eles têm os
melhores biscoitos da sorte que existem!
— Concordo com você!
Por Sophia
Passamos a noite juntos, e pela manhã, Sean me leva para casa. Logo mais à
noite, iremos a um jantar de sua empresa. Comemoração aos 50 anos da Empire
Holding Communications. Com certeza, encontrarei minha doce e amada sogra.
Por Alexia
Vestida com um tailleur, azul escuro, saltos altos e cabelos presos, chego à
reunião dos acionistas com alguns minutos de antecedência para a surpresa e
alegria de meu pai.
Olho para os lugares marcados e me dirijo para o meu.
Os acionistas vão chegando um a um e, com um pequeno atraso, damos inícios
às pautas importantes. Max abre a reunião e não tiro meus olhos dele. Sei que
meu irmão vem passando por uma fase muito ruim, e se eu pudesse, faria
qualquer coisa para tirá-lo dessa tormenta.
Meu pai se levanta a seguir e apresenta Leon Welsh. O acionista jovem,
aparentando uns 30 anos, cabelos e olhos claros, é representante de Osmond
Welsh um dos acionistas minoritários e amigo particular de meu pai. A sua
presença é justificada pelo estado de saúde de Osmond que não pode comparecer
à reunião.
O que me deixou intrigada e um tanto quanto constrangida é que esse homem
não deixou de me observar, nem por um minuto. Todas as vezes que meus olhos
corriam em sua direção, nossos olhares se chocavam e eu desviava
imediatamente a atenção para outro lugar.
Até as plantas da sala serviram de alvo para disfarçar minha atitude.
Ao término, todos vão saindo aos poucos e ao passar pela porta, o bonitão me
segura pelo braço.
— Alexia, não está lembrada de mim?
Por mais que eu force minha memória corroída por anos de bebida alcóolica, não
faço a menor ideia de quem ele seja. Porém, como sou uma moça aparentemente
educada, não digo isso a ele.
— Desculpe—me, mas no momento, não estou me lembrando, de onde nos
conhecemos?
— Sou amigo de Max, estudamos juntos. Faz uns seis anos que a vi pela última
vez.
— Tempo, não? — Quero justificar o meu esquecimento.
— Sim, costumava sair com seu irmão, antes dele conhecer a noiva e se amarrar.
Você está mais linda do que antes.
Que novidade! Ele deve ter me visto com 17 anos, era desengonçada e sem
graça, o que ele queria? Que ainda tivesse a mesma aparência?
— Obrigada, Leon. Vai ao jantar de amanhã?
— Irei, se me acompanhar, é claro!
Direto como eu! Gostei e como estou sem companhia para esse evento, nada
melhor que um anjo loiro desses para me acompanhar.
— Combinado!
Ele beija meu rosto e me dá um sorriso de abalar as estruturas de qualquer
espécie feminina. De costas, analiso seu porte atlético, esguio. Costas largas e
quadris finos. Um verdadeiro monumento e nada melhor do que um tipo como
esse para causar em um evento com Aidan presente. Quero mostrar a ele que não
sinto a sua falta e que não é o único homem na Terra.
No meio do expediente, meu pai me chama e para minha surpresa, sou muito
elogiada por ele. Disse que desempenhei muito bem meu papel como assessora
de Max e que tenho um futuro promissor em nossa empresa.
[...]
Nunca usei algo tão ousado. Sophia queria denegrir minha imagem ao escolher
esse vestido que revela quase todo meu corpo. Depois de me maquiar, pareço
outra mulher.
Max está na sala e assovia ao me ver. Meus pais me olham e especialmente
Beatrice não disfarça a alegria de me ver com algo sofisticado e em sua
medíocre cabecinha deve estar pensando que poderei arrumar algum bom partido
nesse jantar.
Será que Aidan estará presente? Esse é o único partido que me interessa!
Por Aidan
Circulo pelo evento e, olho incessantemente para a porta principal, primeiro
porque quero falar com Sean, que ainda não chegou e segundo por que espero
que Alexia esteja presente.
Quero desmanchar o mal-entendido que se estabeleceu entre nós. Minha
intenção não foi machucá-la e muito menos que nossa amizade fosse abalada.
Não querer algum tipo de compromisso com ela não quer dizer necessariamente
que precisemos romper nossa relação amistosa.
Leon Welsh entra no recinto acompanhado de uma mulher estonteante. O casal
para todo o salão e muitos se viram para olhar com mais atenção para a
companhia feminina ao seu lado. Confesso que até eu fiquei curioso. Leon é um
homem reservado que não costuma se exibir com qualquer uma.
Ao se aproximarem, posso visualizar a beleza da moça e meu queixo quase cai
ao me dar diante de Alexia.
Não posso deixar de cumprimentar o casal e vê-la mais de perto.
— Leon, como vai? — Estendo minha mão e ele retribui com um sorriso
amistoso.
— Bem, e você, Aidan?
Ele olha para Alexia e pergunta a ele se já nos conhecemos e para minha raiva e
surpresa, rebate.
— Sim, ele trabalha como assessor de meu irmão, Sean. — Segura em seu braço.
— Vamos, querido, quero aproveitar ao máximo nossa noite.
Os dois saem e me deixam ali, plantado como quem viu um fantasma. Pego um
segundo copo de uísque e vejo quando Sean entra acompanhado de sua
namorada, Sophia.
Por Beatrice
Ela veio! A vadiazinha teve a petulância de acompanhar meu filho a esse jantar.
Estou com tanto ódio dessa moça que não consigo disfarçar minha raiva.
Hoje pela manhã, meu filho esteve em minha casa e quase brigamos por causa
desse seu namoro. Só não discutimos porque acabei prometendo que não direi
mais nada que magoe a boneca.
Agora, vejo-os entrando e os dois são só sorrisos.
Harry não faz objeção nenhuma a esse relacionamento, pelo contrário, Sophia é
perfeita para Sean, segundo ele.
Sean conversa com os convidados, com a Sophia abraçada a ele.
Em nossa mesa, Harry conversa com Max e vejo Alexia com Leon. Um rapaz
distinto. Até que enfim, minha filha acordou para o mundo real e arrumou
alguém à sua altura.
Peço licença e me encaminho à toalete. Ao voltar, olho para o meu prato e, muito
bem escondido, há um envelope sob o souplast. Sem que Harry perceba, pego o
pequeno envelope e guardo-o em minha bolsa. Meus olhos correm ao redor e
fico imaginando quem pode ter colocado esse cartão aqui, e pior, não posso
perguntar aos demais se viram algo. Tenho que descobrir quem está me
aterrorizando dessa maneira.
Isso tem que acabar.
Sean e Sophia se aproximam e tomam seus lugares à mesa. Ela me cumprimenta
friamente e eu, tento, por meu filho, ser a mais simpática possível.
— Está muito bonita, Sophia! — Elogio seu vestido longo com duas alças em
pedrarias.
— Obrigada, Beatrice, você como sempre linda e elegante!
Cachorra!
Vejo que ela e Alexia conversam animadamente e riem muito.
No momento, deixarei que curta sua felicidade passageira, tenho coisas muito
mais importantes com que me preocupar. Novamente, peço licença e saio para
circular entre os convidados. E então, o vejo. Joseph.
O homem que faz meu coração bater forte e descompassado há mais de 30 anos.
Ele se aproxima e sorri.
— Beatrice, sempre maravilhosa!
Beija meu rosto e esse simples toque me faz esquecer toda raiva, deixando meu
corpo relaxado.
— Você sempre um cavalheiro!
Conversamos e o convido a se sentar conosco em nossa mesa, estar na presença
dele me ajuda a esquecer o quão infeliz me sinto em meu casamento.
Voltamos a nos sentar e Joseph trava uma conversa com Sean, nesse instante,
meu pensamento se aquece e viaja. Fico imaginando se eu tivesse me casado por
amor como estaria à essa hora. Com certeza, essa cena entre pai e filho seria
corriqueira e não teria o mesmo impacto que me causa.
Disfarçadamente e não me contendo de curiosidade, abro o cartão em minha
bolsa.
"Meu dia chegará, sua ordinária! Não se sentará em seu trono de merda
para sempre! Seu filho descobrirá toda a verdade!"
E mais uma vez, amasso o papel com uma ira contida.
Por Max
Estar nesses eventos sociais é muito chato, estar sozinho é pior ainda. De
repente, me lembro de Danielly, a mulher que me dispensou com a maior
facilidade.
Pego meu telefone e ligo para ela.
Depois de alguns toques, finalmente ouço a sua voz.
— Como vai, delegada?
— Bem e você?
— Melhor agora, falando com você!
Olho em meu relógio e me pergunto o que ela estará fazendo a essa hora.
— Obrigada, estou no trabalho, espero que não se importe de me ligar em uma
outra hora, no momento, não posso lhe dar atenção.
— Sai a que horas de seu plantão? — Pergunto, direto sem rodeios.
— Daqui a uma hora.
— Passo aí para te buscar.
— Max...
Desligo sem deixar que ela diga não. Hoje, Danielly não me escapa.
Por Aidan
Depois de algumas doses extras me sinto mais relaxado, porém não me sinto à
vontade ao ver Alexia grudada no loirinho simpático.
Eles dançam animadamente e em um dado momento, vejo quando ele toca em
seu rosto. Ela retribui com seu lindo sorriso e isso me irrita. Esse sorriso era meu
e esse cara acaba de chegar, quem ele pensa que é?
Meio tonto pela bebida, me aproximo do casal e bato nas costas de Leon.
— Com licença, quero falar com Alexia, um instante!
Ele me olha com desdém e continua a dançar, ela também me ignora e isso me
faz ficar puto da vida.
Empurro o babaca e ele se desequilibra, derrubando Alexia no chão.
E então, Leon se vira para mim com a mão fechada e minha diversão apenas
começou...
Coisas de moleque!
Por Aidan
Leon avança em minha direção e me acerta um soco em cheio no queixo, tento
revidar, mas minha embriaguez faz com que meus reflexos fiquem lentos e com
isso, sinto quando ele me empurra e acabo caindo sobre uma das mesas que por
ocasião de nossa briga estava vazia.
Vejo quando Sean e Sophia se aproximam e nos olhos de meu amigo posso ver
que ele não entende a razão de me ver atracado com Leon. Esse cara arrogante
não acha que vai chegando e pegando a irmã de meu amigo. Isso não! Alexia é
indefesa e qualquer um pode tentar iludi-la.
Qual é, Aidan? A quem quer enganar com esse papo furado? Minha raiva foi que
ela me esnobou desde que chegou. Todas as vezes em que a olhava, em nenhuma
delas nossos olhos se encontraram. Seu desprezo mexeu comigo de alguma
forma e não sei explicar o porquê. Levanto-me com dificuldade e constato que
aquele filho da puta me acertou em cheio, pois meu nariz sangra.
Em pé, encaro Leon que me olha atentamente. Se não tivesse bebido tanto,
arrebentaria com esse safado.
— O que está havendo aqui? — Sean fala de modo alterado olhando diretamente
para mim. — Aidan?
— Esse imbecil me empurrou sem mais nem menos, Sean! — Leon aponta para
mim enquanto ajeita a gravata borboleta. — Dançava com sua irmã numa boa...
— Coisa minha Sean! Não se meta! — É a única coisa que posso dizer no
momento, não posso falar que transei com Alexia e muito menos que estou
bancando o idiota que foi desprezado por ela.
Sean se coloca entre nós e Max chega para ajudar.
Max afasta Leon e simultaneamente vejo quando Sophia leva Alexia em direção
ao banheiro. Será que a machuquei?
As pessoas ao redor, aos poucos, voltam ao normal e a música preenche o
ambiente, de modo que a festa volta ao seu ritmo descontraído.
Sean me pega pelo ombro e me encara.
— Quero uma explicação!
— Já falei, coisa minha e desse babaca que está com sua irmã!
— E eu me chamo Madonna, prazer! — Me olha com muita desconfiança. —
Desembucha, Aidan! Conheço-o muito bem e sabe disso!
Agora que a porca torceu de vez o rabo! Como irei explicar a minha atitude?
— Leon e eu temos uma rixa antiga, não lhe contei?
— Não, isso para mim é novidade! E não por deixar para resolver isso em outra
ocasião? Tinha que estragar a festa de meu pai?
— Bebi umas doses a mais e acabei fazendo besteira. Desculpe-me!
Ele respira fundo.
— Bem, acho melhor você ir para casa! Olhe para você! — Aponta para minha
roupa toda amassada e suja de sangue.
— Tem razão. — Ajeito minha gravata e dou-lhe um tapa leve nos ombros em
sinal de despedida.
Pior que conhecendo Sean como conheço, sei que não engoliu uma só palavra
que proferi. Não acreditou em mim e acabará descobrindo que banquei o idiota
na festa, me comportei como um adolescente bêbado brigando por uma garota.
E pior, essa garota é sua irmã.
Ao chegar no estacionamento, tive uma ideia infantil, coisa de moleque, mas que
causará muita raiva em Leon. Com meia dúzia de palavras com o manobrista,
descubro qual o veículo do idiota e me encaminho ao estacionamento. Encontro
meu carro e no porta-luvas, pego um pequeno canivete. Fecho a porta e verifico
se não há alguém olhando. Olho para os lados, para cima à procura de câmeras
de segurança, não quero ser visto. Ao me aproximar do jaguar do branquelo,
agacho-me e corto os quatro pneus de seu carro. No fundo, ele saberá que fui eu,
nem ligo. Pena que não poderei ficar para ver a sua cara ao encontrar seu carro
nessa situação. Ele terá que pegar um táxi essa noite!
Dentro do meu carro, olho meu nariz inchado pelo retrovisor. Leon Welsh com
Alexia você não fica!
Por Alexia
A coisa foi tão rápida que quando dei por mim, estava estatelada no chão e
Aidan era jogado sobre uma mesa. Sophia me estendeu a mão para que me
levantasse e Sean se dirigiu aos dois valentões. Como homem adora resolver as
coisas no soco? Não crescem e continuam sendo moleques sempre.
— Você está bem? — Sophia me abraça e me puxa em direção ao banheiro.
— Sim, estou. — Somente ela poderá me ajudar. Espero que Aidan não abra a
boca e diga a Sean que saímos juntos. Conheço meu irmão e ele não iria deixar
isso barato.
Sentada em uma poltrona, Sophia se agacha ao meu lado e aperta minha mão.
— Alexia, você está usando esse cara para atingir Aidan?
— Usando não, ele me convidou para acompanha-lo nesse jantar e acabei
aceitando, achei que a ideia de vir acompanhada seria mais interessante. Assim,
Aidan viu o que perdeu!
— Amiga, escute! Entendi a sua jogada e talvez fizesse o mesmo nessa situação,
mas acho melhor não ir por esse caminho. Viu como Aidan se comportou?
— Ele está com ciúmes, não acha?
— Orgulho de macho, eu diria! Aidan acha que você é sua propriedade e só pode
se sentir atraída por ele, portanto não gostou de lhe ver com outro.
— Isso não é maravilhoso?
— Não!
Olho com espanto para minha cunhada. Ela deve estar maluca. O homem que
amo briga por mim e ela acha pouco?
— Não?
— Não. Ele fez isso para defender o território como um homem das cavernas,
meteu os pés pelas mãos armando essa briga. Não é assim que ele tem que se
portar. Para merece-la, tem que fazer algo que seja adulto e não sair bebendo e
distribuindo socos com o seu acompanhante, não acha?
— Tem razão. Ele se comportou muito mal. — Ergo meus olhos. — Tomara que
Sean não descubra, ao menos por enquanto! Ele me comeria viva literalmente.
— Bom, vou tentar ajudar.
— Sophia, eu acho que fiz tudo errado! Usar Leon para atingir Aidan não foi
uma boa ideia. Leon é um cara legal e não merece isso!
— É isso aí, agora gostei!
Ela se levanta e ajeita seu vestido. Nesse momento, minha mãe entra no
banheiro.
— Alexia, você está aí! O que significou aquela cena ridícula?
Beatrice dirige um olhar frio para Sophia.
— Não foi nada demais, mamãe, já passou!
— Ah, claro! Dois marmanjos se engalfinham como bichos e isso para você não
é nada!
Sophia se despede e me deixa a sós com Beatrice. E para minha tristeza, minha
mãe resolve declamar a sua ladainha.
— Lexi. — Para meu espanto, usa esse apelido que há anos não o ouvia saindo
de sua boca. — Não acha, que está mais do que na hora de achar um homem que
cuide de você?
— Não sou animal de estimação, mamãe! Quero encontrar um homem a quem
eu ame e não que cuide de mim.
— Você não sabe o que está dizendo! Me preocupo com você e quero o seu
melhor, minha filha. Amar, muitas vezes, não é o suficiente, acredite.
Noto que ela fica serena e desarmada.
— Pode achar que não me preocupo com você, que não a amo, mas está
enganada! Eu quero que seja feliz, minha filha.
Alisa meu cabelo e toca meu rosto.
— Vamos voltar para a festa! Coloque um sorriso nesse rosto!
Oferece seu braço e nos dirigimos para a nossa mesa. Sean lança um olhar em
minha direção que me diz "eu sei o que você andou fazendo no mês passado".
Todos os homens de nossa mesa se levantam e Leon arrasta a cadeira para que eu
me sente. Em nenhum momento, ele me tocou no assunto Aidan.
Depois de todos os discursos e homenagens, acho melhor me retirar e peço a
Leon que me leve para casa.
Ao chegarmos no estacionamento, o responsável do local vem até nós e, muito
constrangido, explica que alguém danificou os quatro pneus de seu carro.
— Senhor Welsh, peço-lhe mil desculpas, isso nunca nos ocorreu antes,
asseguro-lhe que descobriremos o responsável por esse incidente. E cobriremos
toda as despesas causadas em seu automóvel.
Leon olha para o senhor à nossa frente e responde com muita calma.
— Não se preocupe! Isso deve ser serviço de algum moleque, mas aceito sua
ajuda me chamando um táxi.
— Sim, senhor.
O homem de meia idade sai aliviado por não ter tomado nenhuma bronca. Leon
parece que não se importou na verdade com o que houve com seu carro, mesmo
tendo a certeza de quem foi o responsável pelo dano.
O táxi logo chega e vamos direto para minha casa. Dentro do carro, Leon e eu
mantemos uma conversa amena e divertida. Ao chegar em casa, ele desce do
carro e me acompanha até a porta.
— Obrigada pela noite, você foi maravilhoso comigo e me desculpe pelo
transtorno que lhe causei há pouco.
— Se está se referindo aquele homem, esqueça! Ele é muito idiota para que eu
perca meu tempo! Com uma companhia agradável como a sua, não quero
desperdiçar meu tempo com um homem imaturo como ele. Não se desculpe, ele
não merece isso!
— Tem razão.
Leon é o primeiro homem que conheço com essa maturidade. E sua atitude não
foi como algo externo, superficial e sim algo inerente à sua personalidade forte e
madura. De algum modo, admirei sua conduta e imaginei que fosse reagir de
modo impulsivo e degradante, mas o que presenciei foi uma atitude elegante que
neutralizou qualquer desconforto que aquela briga possa ter deixado.
O taxista permanece com o motor ligado e Leon pede que ele desligue e espere
por alguns instantes.
— Alexia, adorei a noite! Você é adorável.
— Também gostei muito de sua companhia.
Bem devagar, ele se aproxima de meu rosto e automaticamente fecho meus olhos
esperando um beijo que não vem. Somente beija meu rosto e segura meu queixo
em sua mão.
— Gostaria de vê-la mais vezes, Alexia.
Nesse momento, não estou pensando em Aidan e nem na hipótese de estar
usando Leon. Percebi que meu acompanhante se mostrou superior a tudo isso e
não posso sair com ele na intenção de usá-lo. Com toda a sua educação e
elegância deixou subtendido que, por baixo de sua aura civilizada esconde um
homem que não mediria esforços para esmagar quem brinca com sua cara. Essa
força toda mexeu comigo e então, aceito seu convite para sair.
Nos despedimos e ao entrar em minha casa e olhar em meu celular, vejo cinco
ligações perdidas de Aidan.
Penso “agora, baba, baby!” Está me perdendo. Ou cresce e vira homem ou
então, já era!
Por Sophia
— Vamos embora, meu amor! — Nos despedimos de seus pais e também de
Joseph. Max saiu à francesa e desapareceu.
— Vamos. — Pega-me pela mão e caminhamos para fora do recinto. Muitas
mulheres me olham com raiva e imagino o motivo. Porém, como sou mais eu e
finjo que não é comigo saindo de cabeça erguida.
Austin nos espera e outros dois seguranças também. Damon é um deles.
— Austin, para a casa da senhorita Salvatore, por favor!
Falo baixo.
— Não íamos para a sua casa?
— Não antes de você fazer o que lhe pedi me lança um sorriso que sai do canto
dos seus lábios. — Vamos passar em sua casa e depois que pegar algumas roupas
suas, iremos para a minha casa, ok?
— Você é quem manda!
Deito minha cabeça em seu peito e sorrio.
— Sophia, o que Alexia lhe contou sobre aquela briga inesperada na festa?
Ai. Agora lascou-se. Não posso trair a confiança de Alexia e muito menos a de
meu namorado.
— Quer saber se ela me falou sobre o motivo da briga?
Segura em meu rosto e me encara.
— Você não está se fazendo de desentendida, não é Sophia?
Ele fica tão lindo quando fica sério.
— Acho que o que sei é o mesmo que você, ou seja, nada. Ela não se abriu
comigo se é o que quer saber!
— Mas, por que todo mundo está me achando com cara de idiota? Primeiro,
Aidan, agora você! Acha que sou burro ou coisa parecida? Tem algo errado
nessa história e vou descobrir e se você não quer me contar, entendo.
— Entende?
— Sim, Alexia é sua amiga e a admiro por não trair a sua confiança, mesmo que
eu queira muito saber o que está havendo.
Aconchego—me em seus braços e roço meus lábios nos seus.
— Eu o amo, sabia?
— Muito? — Sua expressão se suaviza e com a voz em um murmúrio erótico e
grave, encosta sua boca na minha no mesmo instante que sua língua instiga meus
lábios.
— Muito. Imensamente. Amo você, todo.
— Eu também a amo toda!
Beijo-o como se fosse devora-lo. A noite toda tivemos que nos conter para não
parecermos dois adolescentes. Mas, agora que estamos a sós, o lá fora não
importa.
— Quando chegarmos em casa, quero devorá-la todinha! — Me aperta em seus
braços e meu corpo parece que vai explodir tamanho meu desejo por Sean.
Entre beijos quentes e mãos bobas seguimos para minha casa.
Ao entrar na sala, vejo Lorenzo com uma loira de sorriso simpático ao seu lado
no sofá. Vicenzo não se encontra no local.
— Boa noite — Digo aos dois.
Sean faz o mesmo.
— Nina, quero que conheça minha namorada, Lay.
Lay estende a mão e eu a aperto retribuindo o sorriso que ela me dá. Em seguida,
a apresento ao meu namorado. Os dois se cumprimentam. Lorenzo chama Sean
até a cozinha para pegar uma bebida.
— Lorenzo fala muito em você! — Diz, tentando não parecer tímida.
— Hum, temos algo em comum! Ele anda falando muito de você!
Ela fica vermelha.
— Não precisa ficar tímida, aqui, todos têm liberdade para falar tudo o que
pensamos, ou quase tudo.
Os dois voltam com um copo na mão.
— Bem, vou deixar vocês aqui na sala e só vou pegar umas coisas e vou indo. —
Olho para Sean e o puxo através do corredor.
— Anda rápido, o senhor Vicenzo está a caminho. — Ri Lorenzo.
Entro em meu quarto seguido de Sean e ele olha tudo ao redor, inclusive meu
pôster do Clive Owen.
— Não sabia que era fã desse cara!?— me olha de modo divertido.
— Bem, faz parte da adolescência de qualquer garota. — Coloco algumas coisas
em uma pequena valise. — Não me diga que ficou com ciúme?
— Isso é somente um pedaço de papel! Não tem significado! Também tenho um
pôster da Marylin Monroe em meu antigo quarto. Coisas de adolescentes e
jovens. — Me dá um sorriso torto. — Mas ela já está morta, no entanto, ele...
Me aproximo e o fito com ar divertido.
— Seu bobo! Não tenho olhos para mais ninguém, só para você!
Fica perto de mim e bebe seu uísque e ao acompanhar o movimento de sua
garganta engolindo o líquido meu sangue corre mais rápido em minhas veias.
— O que importa agora são as nossas fotos juntos, a nossa história que se inicia.
— Beija minha mão. — E vamos logo, antes que meu futuro sogro chegue.
Apago a luz do quarto e vamos para o nosso refúgio.
Por Danielly
É a oitava vez que analiso essas fotos. Algo não encaixa aqui. O homem acusado
de estupro não bate com as provas que tenho em mãos e não quero, de modo
algum, ser injusta com ele.
Phillip me convida para bebermos algo depois do meu plantão. Acabo
recusando, porque sei que atrás desse convite há sexo subtendido.
Com a cara amarrada, sai de minha sala e me deixa sozinha. Mais alguns
minutos e resolvo guardar a pasta em meu arquivo. Chega de investigação por
hoje, estou cansada. A noite foi calma, duas detenções por embriaguez e outra
por agressão. Quero chegar em casa, tomar um bom banho e me jogar na cama.
— Boa noite, delegada!
A voz inconfundível de Max soa às minhas costas.
— Max, não me deixou terminar ao telefone, não sabia que era mal-educado!
— Está de saída?
— Ainda não! — Minto. — Tenho algumas coisas para resolver.
Max usa um terno escuro, camisa branca com dois botões abertos. Uma visão
perturbadora.

— Não me importo de esperar!
— Max, sua insistência está se tornando insuportável!
Na verdade, nenhum homem lindo pegou tanto no meu pé por uma simples
transa, estou até gostando da coisa.
— Por isso, não! Vim até aqui para resolver isso de uma vez por todas! E você
irá pôr um fim nisso!
Em dois passos, ele me alcança e me prensa entre o arquivo e seu corpo. Seu
cheiro misturado a vodca me deixa tonta e por mais que eu tente negar, me sinto
atraída por esse maluco carente.
Seus olhos me encaram.
— Estou aqui por você! — Se esfrega em mim como um animal em desespero
pela sua fêmea. — Não parei de pensar em tê-la o dia todo.
— Se é assim, me mostre o quanto me deseja, Max!
Me arrasta e me põe sentada em cima de minha mesa, num movimento rápido,
joga todos os objetos existentes ali.
— Dani... — beija meu pescoço e sinto sua barba roçando minha pele sensível
enquanto sua mão desliza pelo meu sexo através do tecido da calça. Com
habilidade, ele abre o zíper e gemo em sua boca ao sentir que explora todo meu
sexo molhado e ansioso por muito mais.
Meus dedos abrem os botões de sua camisa e minhas mãos ansiosas correm por
seu tórax definido. Quando dou por mim, Max abaixa minha calça juntamente
com minha calcinha. Abre minhas pernas e se encaixa ali. Sua língua se enrosca
na minha de modo selvagem e ouço quando ele abre o zíper de sua calça.
Devo estar maluca, transar em minha sala de trabalho e em pleno expediente,
mas não consegui resistir aos seus olhos e muito menos a sua boca que está me
deixando louca ao lamber meu mamilo por cima da renda.
Puxo seus quadris e seu membro toca em minha coxa.
— Max...
Com a boca colada à minha ele tira um envelope contendo uma camisinha do
bolso do seu paletó, e nos damos conta de que não estamos totalmente nus e isso
torna a coisa mais excitante ainda.
Ao me penetrar, gemo de pura satisfação, meu sexo envolve o dele e remexo
meus quadris em busca de alívio. Sexo selvagem, adoro. Sexo por desejo, mais
ainda!
— Dani— ele geme e mete ainda mais fundo, me lançando num abismo onde só
quero cair sem chegar ao chão.
Morde meu ombro com força e segura meus quadris, enquanto continua suas
investidas.
— Que delícia... mais, não pare!
— Quer mais? — Ele me provoca, girando seus quadris e aumentando o ritmo.
Goza como um louco e me leva com ele.
Ofegantes e suados, sai de dentro de mim e retira o preservativo. Vem até mim e
segura em meu rosto.
— Eu a quero, não sei explicar como, mas ainda a quero. Não pense que a estou
usando, não é nada disso!
— Max, sem explicações, não vamos estragar o momento!
Ele termina de se recompor e me olha de modo implacável.
— Não estou estragando nada! Bom trabalho e pense em mim durante o seu
expediente, nos veremos muito em breve! Aguarde.
Sai da minha sala e bate a porta atrás de si, me deixando confusa e ao mesmo
tempo, ansiosa por vê-lo novamente.
Por Sophia
Acordo com os olhos pesados e olho para meu namorado lindo ao meu lado. Na
quarta-feira que vem, será seu aniversário e quero lhe fazer uma surpresa. Mas o
que?
Um pensamento vem à minha cabeça e acho que ele irá gostar.
Deitado de bruços, Sean dorme profundamente, me deito por cima dele e beijo
sua orelha, seu pescoço, provocando-o. Adoro seu perfume e todo o calor de sua
pele.
Tivemos uma noite e tanto. Ao me lembrar, meu corpo se acende e fica excitado.
— Hum... que gostoso! Assim, não sairemos desse quarto hoje! — Diz, com a
voz rouca e sonolenta enquanto continuo mordiscando seu pescoço.
— Essa é a minha real intenção!
Ele me vira, deixando seu corpo sobre o meu.
— Safadinha! — Beija minha boca e me faz a mulher mais feliz do mundo...
Surpresa, meu amor!
Por Beatrice
— Ótimo. Você foi magnífico! Não poderia ser melhor.
Harry se aproxima e sorri, dizendo.
— Mande um abraço a ele e diga que o espero no clube no domingo para uma
partida de golfe.
— Querido, Harry lhe manda um abraço e lhe espera para uma partida de golfe,
no domingo.
— Mande outro e diga que estarei lá, com certeza!
— Tenho que desligar, mantenha-nos informados se algo acontecer.
— Fique tranquila, ligarei.
Nos despedimos e encerro a ligação.
— Acho que esse problema está resolvido, não acha? — Pergunto a Harry.
— Sim, acho que é só esperar o tempo e nosso plano sairá exatamente como
planejamos.
— Vamos almoçar? — Meu marido inquire.
— Estou esperando por Sean! — Olho em meu relógio. — Está atrasado, aliás,
ultimamente isso virou rotina! — Acabo demonstrando meu desagrado.
— Deve estar chegando!
— Desde que se envolveu com aquela moça, Sean tem se mostrado relapso em
relação à nossa família.
— Beatrice, deixe de implicância! — Harry sempre tomando a defesa dessa
moça. — Sophia é uma boa moça e sabemos que um dia nosso filho iria se
apaixonar por alguém! — Caminhamos até a mesa já posta para o almoço. — E
todo homem apaixonado fica assim! Deixe nosso filho aproveitar esse momento.
Arrasta uma cadeira e me sento, ajeitando o guardanapo em meu colo.
— Espero que esse relacionamento seja passageiro, Harry!
— Beatrice, nosso filho já deixou muito claro que está levando a sério o
compromisso com Sophia e confesso que fico feliz por ele. Os dois formam um
belo casal.
— De quem vocês estão falando? — Alexia se aproxima e se senta em seu lugar.
— De Sean e Sophia. — Diz Harry.
— Ah! Concordo com você, papai!
— E por falar em casal, você fica muito bem ao lado de Leon Welsh, minha
filha! — Comento e nesse momento, Max é o próximo a chegar.
— Olha quem apareceu? Nosso Houdini! — Brinca Alexia. — E respondendo o
seu comentário, mamãe, Leon me convidou para sairmos e respondi que seria
um prazer.
— Boa tarde a todos! — Max beija o meu rosto e em seguida, se senta. — Tive
um compromisso inadiável, por isso me ausentei da festa. Aconteceu mais
alguma coisa?
— Não, meu filho. Só notamos a sua falta. — Diz Harry.
— Que ótima notícia, Alexia! Parece que você resolveu criar um pouco de juízo.
— Digo de modo simpático.
— Desculpem o atraso!
Olho para a porta e vejo meu filho lindo.
Sean!
Ele não se esqueceu de nosso almoço. Aproxima-se da mesa e como sempre
beija meu rosto com muito carinho. Sua presença me traz muita alegria.
— Meu filho, sente-se! Que bom que veio! — Aliso seu rosto.
Sean se senta e nosso almoço em família não poderia ser mais proveitoso. Todos
comem em paz e conversam tranquilos. O incidente entre Aidan e Leon nem foi
cogitado durante o nosso almoço. Melhor assim, Alexia pensa que sou boba,
estou cansada de saber que ela e o assessor de Sean estavam tendo algum tipo de
ligação. E sei também que esse relacionamento não tem nenhum futuro.
Ainda bem! Já não basta Sean se envolvendo com a plebe!
Max me pareceu muito falante durante o almoço. O fim do noivado deixou-o
abalado, sei disso. Mas, me parece que ele está se recuperando rápido, o que
acho muito bom. Bárbara era, o que eu sempre dizia, a mulher perfeita. Pena que
não deu certo e pior, como tudo acabou. Por mais que a admirasse, não poderia
aceitar o seu comportamento. Enganar Max daquela maneira e o humilha-lo em
pleno noivado fez com que ela ganhasse o meu desprezo. Nunca mais tive
contato com ela e com sua família. Depois do escândalo que graças à nossa
influência foi abafado, sua família desapareceu dos círculos sociais.
Durante a sobremesa, falo com meu filho favorito.
— Sean, meu querido, na sexta, gostaria de oferecer um jantar em comemoração
ao seu aniversário, que acha?
— Sexta?
— Sim. Não me diga que já tem compromisso!
— Ele não quis que eu organizasse a sua festa desse ano, mamãe! — Alexia
completa.
— E não quis mesmo. Esse ano, não pretendo fazer nenhum tipo de festa. — Se
volta para mim. — Agora, um jantar em família não será nada mal.
— Que bom, combinado então! — Digo, entusiasmada.
— Traga Sophia. — Harry olha para mim, numa reprimenda. Eu não tinha a
intenção de convida—la. Aquela intrusa petulante.
Sean me olha na espera de uma confirmação do convite de Harry e por meu
filho, terei que abrir uma exceção.
— Sim, claro. Traga a sua namorada.
Sei perfeitamente que ele espera que sejamos amigas, mas o que meu filho não
imagina o quanto desprezo essa moça.
— Obrigado, mamãe! — —pega em minha mão em sinal de agradecimento.
Max pede licença e se retira da mesa. Logo, Alexia faz o mesmo.
— Sean, tenho um assunto muito importante que quero tratar com você,
podemos ir até meu escritório?
— Sim, papai. Vamos.
Os dois pedem licença e se dirigem ao escritório de meu marido. Também me
levanto da mesa e vou cuidar dos meus afazeres. Tenho um jantar para organizar
e quero que tudo saia perfeito.
Meu Sean merece.
Por Harry
— Sente-se, meu filho!
Sean se senta em uma poltrona e faço o mesmo sentando-me ao seu lado.
— Diga, papai, o que tem de tão importante a me dizer?!
Coloco meu braço em seu ombro.
— Sean, estive essa semana falando com Dr. Evens, meu cardiologista.
— E? — Noto em seu rosto que fica preocupado.
— Vinha sentindo dores constantes no peito e depois de alguns exames
complementares, o diagnóstico foi um câncer no pulmão.
— Câncer?
— Ninguém sabe, você é o primeiro e único da família a quem confiei. Não
quero preocupar sua mãe e seus irmãos.
— Mas é grave?
— Meu caso é delicado, segundo o oncologista a quem recorri. O tumor se
espalhou pelo pulmão e não tenho muitas chances com o tratamento.
Os olhos de Sean ficam marejados de lágrimas como os meus.
— Chamei-o aqui porque confio em você para cuidar da nossa família quando eu
não estiver mais aqui.
— Não diga uma coisa dessas, pai!
— Estou sendo realista, Sean! Não gosto de ser pego de surpresa e, portanto,
deixarei tudo certo. Max cuidará da MEmpire e quero que você prossiga com sua
carreira política. Será meu orgulho, vê-lo na presidência da República.
— Não diga isso, vamos procurar outros médicos, outra opinião. — Sean me
contradiz. — Você não pode se dar por vencido dessa maneira, não foi isso que
me ensinou, Harry Mackenzie.
— Às vezes, o melhor que se tem a fazer é entregar-se. No meu caso, o
tratamento não me dá muitas chances e seria somente um adiamento para o
inevitável.
— Vai esconder isso da mamãe até quando?
— Quero esperar as festas de Natal e Ano-novo. Não quero tristeza nessa época
do ano. Depois conto com seu apoio para dar a notícia aos demais.
Sean segura meu braço com força. Ele sempre foi forte, puxou a mim. Temos o
mesmo sangue, a mesma maneira de resolver tudo e somente uma diferença.
Sean é generoso. Uma qualidade que não herdou do meu ser e muito menos de
sua mãe.
Tenho a certeza de será tudo o que não consegui ser. Além de bem-sucedido,
quero que seja feliz com Sophia. Amo meus filhos, mas devo concordar com
Beatrice, Sean tem algo que o difere dos demais. Carismático e de um coração
enorme. Esse é meu querido e amado filho.
— Não vamos desistir assim tão fácil, ok?
— Quem disse que estou desistindo, o que quero é que esteja preparado para
tomar as providências necessárias quando chegar a hora.
— Sua hora ainda não chegou! Pare com isso! Vamos lutar contra essa doença.
Estou com você para o que der e vier!
Sean me abraça e o aperto forte. Das poucas coisas boas que me orgulho, essa é
uma delas. O amor dos meus filhos. Não contenho a emoção e acabo chorando
em seu abraço. Ele me aperta ainda mais e sei que também está chorando. Eu
precisava desse momento com ele, ter uma pessoa que sabe exatamente como
você se sente. Meu filho sabe o que a impotência causa em mim, perder o
controle e não conseguir recupera—lo. Saber que algo maior está acabando com
você e não há muito o que se fazer.
Depois de desabafar me sinto melhor. Me levanto e ele faz o mesmo.
— Papai, obrigado pela confiança!
— Disponha, sempre. — Esfrego minha mão em sua cabeça e como sempre seu
sorriso de menino aparece. Nunca esquecerei esse sorriso.
Saímos do escritório e fazemos de conta que nada mudou.
Por Sean
O fim de semana passou voando. A notícia da doença de meu pai mexeu muito
comigo. Ele é muito importante para mim e saber que posso perde-lo, me deixa
muito apreensivo. Acabei dividindo minhas preocupações com Sophia e ela,
como sempre, se pôs ao meu lado me dando apoio e me mostrando mais uma vez
o quanto me ama.
Despedir-me dela a cada semana que se inicia tem sido um martírio. Sinto sua
falta antes mesmo de me separar dela.
No próximo fim de semana, a convidarei para uma pequena viagem a um lugar
onde ficaremos isolados do mundo.
Em meu gabinete, dirijo meu olhar para a sua foto que sorri para mim.
Aidan entra em minha sala e nem sabe que chegou a hora de termos uma
conversa séria.
— Mandou me chamar?
— Sim, sente-se.
— Diga. — Permanece em pé.
Levanto-me da mesa e o encaro.
— Vou ser direto e quero uma resposta na mesma altura. Por que agrediu Leon
na festa da semana passada? Ou melhor, vou refazer a pergunta: O que há entre
você e minha irmã?
— Sua irmã? Você enlouqueceu? — Me olha, encurralado.
— Não. E não tente me enganar! Eu o conheço. Aquela briga teve um motivo e
espero que seja homem para me dizer o que na verdade já sei.
Junto-o pelo colarinho da camisa e o ergo do chão.
— Sean, me ouça!
— É o que estou fazendo a partir de agora, fale! — Minha voz sai exaltada.
Aidan saindo com Alexia em minhas costas.
— Transei com sua irmã!
— Transou? Só isso? Fala como se fosse pouco!
Jogo—o no sofá e tento esfriar minha cabeça.
— Espera aí, ela é maior de idade e também quis, não a obriguei a nada!
— Desde quando estavam saindo juntos?
— Desde o dia em que fomos na Dreams juntos.
— E por que me escondeu isso esse tempo todo? Pensei que fôssemos amigos.
Você come a minha irmã e esconde isso de mim, Aidan! — Grito.
— Foi mal, cara. Juro. Espero que me perdoe.
— O que sente por ela?
— Alexia e eu não temos nada sério, era somente atração física.
— E por que a briga com Leon? Ciúmes?
— Não, esqueça aquilo. Bebida em excesso, só isso. Ele me olhou de modo
arrogante e eu bêbado não me contive, acabei partindo para cima dele.
— Quero-o longe dela, está me ouvindo! Se era somente atração, não o quero
arrastando asas para seu lado, novamente, estamos entendidos? Sou seu amigo e
pretendo continuar sendo! Fui claro?
— Perfeitamente. Quero a felicidade de Alexia. Ela é uma mulher
extraordinária!
Minha vontade era quebrar a cara de Aidan, mas pensando melhor e ouvindo os
conselhos de Sophia, Alexia já é uma mulher e sabe o que faz, pelo menos eu
acho. Não vou bancar o irmão que sai distribuindo socos em todos que saem
com ela.
— Está bem! Vamos colocar uma pedra sobre esse assunto.
— Sim. Amigos?
Sorrio para ele e lhe estendo a mão como sempre fazemos após discordarmos de
algo.
— Amigos, mas estou de olho em você!
Ele ri de volta e sai de minha sala.
Por Aidan
Ufa! Pensei que perderia o amigo. Ainda bem que ele relevou o fato de ter me
envolvido sexualmente com Alexia. Seria somente isso? Seria só sexo?
Ainda não tenho a resposta para minha atitude infantil naquela festa. Alexia me
deixou confuso. O melhor que tenho a fazer agora é resolver a enrascada em que
me meti. Por mais cuidadoso que fui, uma das câmeras de segurança do
estacionamento me filmou no exato momento em que me abaixo e rasgo um dos
pneus do carro de Leon. Um de seus advogados entrou em contato comigo e
disse que o seu cliente irá mover uma ação contra mim por danos. Estou fodido!
Bem, depois resolverei esse assunto! Agora, tenho que fazer o que Sophia me
pediu.
Por Sophia
Terça-feira
Sean me liga no começo da tarde e me convida para o jantar de aniversário que
sua digníssima mãe está organizando.
— Sean, meu amor, acho melhor não comparecer! É um jantar íntimo com sua
família! — Tento levar a coisa para esse lado, não quero ser grosseira com ele e
dizer que não suporto aquela cascavel e além do mais, tenho que deixá-lo
nervoso para que minha surpresa saia perfeita.
— Sophia, para mim, você é parte da família! É a mulher que amo, todos em
casa sabem disso!
— Ficaria chateado se eu dissesse que realmente prefiro não ir?
Ouço seu suspiro.
— Se não quer ir, não irei obriga-la. — Faz uma pausa. — Então, façamos o
seguinte, depois que sair desse jantar, passo em sua casa para lhe pegar, vamos
fazer uma pequena viagem, só nós dois. — Parece animado. Tadinho, terei que
estragar o seu dia, meu querido.
— Na sexta à noite?
— Sim, por que? Não me diga que também não quer ir?
— Querer é pouco, mas não posso! Esqueci de lhe dizer. O diretor do colégio me
designou para ir até a Virgínia nesse fim de semana, haverá um concurso de artes
e um aluno de minha turma está na disputa. Preciso acompanha-lo.
— Concurso de artes?
Ele está ficando furioso, consigo sentir que não demora a explodir.
— Sim. Na verdade, essa viagem já estava programada há algum tempo, perdoe-
me esqueci completamente de lhe falar.
— Que droga é essa? O que está havendo?
Consegui. Agora ele grita ao celular.
— Hei! Não precisa gritar comigo! É o meu trabalho, pensei que respeitasse o
que faço!
— E respeito, muito! Tem um detalhe somente! Pensei que ficar comigo em um
lugar legal seria mais importante do que um concurso de artes de que nem fui
informado!
— Aí, lá vem você! — Rebato à altura para que pareça convincente. — Está
novamente desmerecendo minha profissão! Pois saiba que isso é tão importante
para mim quanto ficar com você. As duas coisas me fazem bem. Não coloque a
situação nesse nível, Sean!
— Quem a colocou nesse nível foi você! — Bufa, queria poder ver a sua cara,
ele fica ainda mais lindo quando fica bravo. Tenho certeza de que está mordendo
o canto da boca nesse momento. — Tudo bem, quando voltar a gente se fala,
veja se encaixa um horário para mim em sua agenda.
— Não fale assim! Eu...
Desliga o celular na minha cara. Ah, bobinho! Não sabe o que te espera.
Ligo em seguida para Aidan e repassamos os últimos detalhes.

Por Sean
Estou com raiva de Sophia. Pela primeira vez, ela me tirou do sério. Sei que tem
seu trabalho, porém poderia ter me avisado antes. Primeiro se negou a jantar em
minha casa, a entendi. Sei que não gosta de minha mãe e não se sente à vontade
em sua presença. Depois, organizo um final de semana para nós e ela diz que vai
viajar e não vamos nos ver! Ela só pode estar brincando comigo.
Se ela pensa que vai à essa viagem está muito enganada. Vou dar um jeito nisso
amanhã!
Parabéns, Excelência!
Por Sean — Quarta-feira
Logo pela manhã, recebo a ligação de minha mãe me parabenizando pelo meu
aniversário. Ela faz questão de ser sempre a primeira a me ligar, passa o telefone
para meu pai que também me deseja felicidades. Em seguida, é a vez de Max e
por último, Alexia.
A caminho para o senado, espero por uma ligação importante: A de Sophia.
Ontem depois que desliguei o telefone em sua cara, não quis ligar de volta e
pedir desculpas. No fundo, me comportei mal em relação ao seu trabalho, me
colocando como prioridade máxima em sua vida. O que mais me deixou
chateado foi o fato de que ela se esqueceu de me contar. Arrependido, liguei
várias vezes e ela não me atende.
Em meu gabinete, minha secretária me parabeniza e ao entrar em minha sala,
Aidan me recebe com um abraço amigo.
— Parabéns, amigo! Sabe que te desejo tudo de bom!
— Obrigado, Aidan! — Sento-me e minha mão vai direto ao telefone. — Preciso
resolver algo urgente! — Digo a ele.
— Que houve?
— Vou ligar no colégio em que Sophia dá aulas. Há uma excursão marcada para
sexta—feira, quero mais informações sobre essa tal viagem.
— Sean... Melhor não! — Coloca a mão no telefone sobre a mesa. — Deixa que
cuido disso! Não fica bem um senador conhecido como você ficar bisbilhotando
informações sobre uma viagem de sua namorada, não concorda?
Recuo e olho para ele.
— Pensando por esse lado, você tem razão!
— Então, deixe que eu entro em contato com o colégio como um estranho
qualquer!
— Fico grato.
— Não há de quê.
Aidan sai da sala e mais uma vez, olho para meu celular, na esperança de ouvir a
voz de Sophia. Ligo novamente e nada! Que droga!
Por Sophia
— Bom dia!! — Digo ao entrar na cozinha.
Depois de acertar tudo com Aidan, tenho muitas coisas para fazer. Vicenzo está
sentado à mesa do café e Angelina lhe serve seus deliciosos brioches quentinhos.
— Bom dia, linda! E aí? Tudo certo para hoje?
— Sim, a essa hora, Sean deve me achar a namorada mais sem sentimentos que
ele já conheceu! Até agora não dei sinal de vida!
— Quer um conselho para ficar pior? — Angelina sorri de um modo safado que
só ela tem.
— Veja lá o que vai dizer à minha filha, Angelina! — Vicenzo diz com ar
divertido.
— Diga, fofa! — Me sirvo de café.
— Ligue mais tarde e nem toque no assunto e se por acaso ele lhe lembrar que é
seu aniversário, diga que esqueceu e peça mil perdões.
— Era exatamente isso que eu tinha em mente, fofa!
— Tenho medo da mente de vocês, mulheres são terríveis! — Termina seu café
— Bom, tenho que trabalhar! Boa viagem e se cuide! — Papai se levanta e me
beija ao sair.
— Obrigada, papai.
As horas passam e meu coração fica apertado, pois não é do meu feitio esquecer
a data do aniversário de quem amo. Espero que Sean me perdoe e não queira me
mandar catar coquinhos depois dessa. Faço minhas unhas, pinto-as de vermelho,
para combinar com o que preparei. Comprei um lindo roupão de seda azul
escuro para ele, espero que goste! Para comemorar o seu dia, comprei um Moet
& Chandon, uma ocasião especial, merece um champanhe especial.
Antes de embarcar, asseguro com Damon que ele não abrirá a boca para dizer a
Sean que me viu entrar nesse avião. Ele dá a sua palavra e fico mais tranquila,
senão a surpresa vai para os ares!
No aeroporto de Washington, conforme combinado, Aidan manda uma pessoa
para me entregar as chaves do apartamento de Sean. Ficarei lá até que ele
chegue, tomara que fique feliz em me ver. Antes, passo em uma confeitaria e
compro um lindo bolo para meu amado.
O táxi para em frente ao seu prédio e salto em direção à portaria. A fachada é
toda em mármore negro e letras douradas "Edifício Monastier". Cumprimento o
porteiro e pelo seu sorriso já sabe quem sou eu. Aidan é mesmo muito eficiente,
cuidou dos mínimos detalhes. Também me assegurou que fará com que Sean
venha direto para casa.
Dentro do apartamento, tudo está quieto e na mais perfeita ordem. Caminho
pelos cômodos e observo cada detalhe, imagino se Sean já trouxe alguma mulher
nesse lugar. Também não posso querer exclusividade em tudo, aí sim seria
infantilidade minha. Ando até a cozinha, abro a geladeira. Nela, há vinho,
algumas frutas e pães. Coloco o champanhe no gelo, guardo o bolo, abro os
armários e pego duas taças, levo para o seu quarto.
Entro e sinto o seu cheiro ali. Em seu closet, suas roupas estão todas muito bem
organizadas. Gravatas e abotoaduras, tudo na mais perfeita ordem. O ambiente é
todo decorado em preto e branco, sobre o criado-mudo, uma foto nossa.
São quatro da tarde. É hora de continuar o teatro. Pego meu celular e ligo para
ele. Demora a atender, deve estar espumando pela boca.
Atende seco. Lá vou eu!
— Oi meu amor, estava com saudade de você!
Quer ver a patada?
— Estava? Não parece! — Chega a engolir de tanta raiva. — Por onde você
andou? — Fala áspero. — Liguei várias vezes e você não atendeu!
— Ah, desculpe-me. Tive que sair para resolver um assunto urgente com meu
pai. E deixei o celular em casa! — Uma pausa para respirar pela mentira. —
Como foi seu dia?
— Esperava que fosse melhor!
— Aconteceu alguma coisa que não saiu como esperava?
— Sim, esperava que a minha namorada, a mulher que eu amo, tivesse um pingo
de consideração e me ligasse ou me mandasse uma mensagem dando os
parabéns pelo meu aniversário. Todos me ligaram, porém esperava por sua
ligação, Sophia! Você se esqueceu?
— Oh, querido!! — Faço tom de espanto. — Olha eu não vou mentir, acabei
esquecendo, de verdade. Saí, como disse, com meu pai para ver um carro novo!
— Quem em sã consciência esquece do aniversário do namorado para comprar
um carro com o pai?
— Por esse motivo acabou esquecendo o aniversário do homem que você diz
amar, é isso? Um carro novo? Poupe-me Sophia!
Tenho a impressão que desligará o telefone em minha cara novamente.
— Sean, ouça... — Coitado, sua voz está tão triste, carente, deve me achar uma
mulher totalmente sem coração.
— Tudo bem, achei que não esqueceria! Deixa para lá! Irei sair logo mais para
beber alguma coisa em um bar. — Diz, rude. — Tenho que desligar, até sexta.
— Espere! Vai sair? — Faço de desentendida. — Como assim, até sexta?
— Vou, preciso espairecer minha cabeça! Acho que não irá se importar! E sexta,
a gente se vê!
— Querido, me desculpe, sei que errei, mas não quis magoá-lo e não imaginei
que ficaria tão chateado! Se isso lhe deixa melhor, cancelo a viagem de sábado
para ficarmos juntos o fim de semana todo, que acha?
Faz-se um silêncio eterno do outro lado.
— Faça o que achar melhor, não quero me meter em seu trabalho! Agora se me
dá licença, tenho que desligar, vou para casa, tomar um banho e sair com Aidan.
Uhuuul!! Ele virá para casa!
— Tudo bem, ligo mais tarde! Te amo!
— Até.
Desliga.
Nossa! Nem um eu te amo de volta?
Senti muita pena dele, não gosto de fazer isso, mas se não for assim, a surpresa
não terá graça.
Abro minha valise, pego meu laço vermelho. Tomo um banho demorado, passo
meu perfume favorito, ajeito meus cabelos, mantendo-os soltos, batom
vermelhíssimo, rímel e sombra destacando os olhos. Ok, estou pronta.
Agora é só aguardar o meu lindo senador chegar.
Por Sean
— Sean, liguei no colégio como me pediu e realmente há uma viagem
programada para sexta—feira da turma de Artes.
— Obrigado, amigo, vou enterrar esse assunto, não quero me desgastar! —
Verifico as horas. — Vou para casa e em uma hora lhe encontro no Dupont.
— Ok, combinado.
Em Washington, não abro mão dos serviços de meu motorista, Austin abre a
porta para mim e me pergunta o meu destino.
— Para meu apartamento, Austin.
Desço do elevador com as chaves nas mãos. Nunca me imaginei sendo deixado
de lado como agora, mulher nenhuma me tratou com tanto desprezo quanto
Sophia, até porque as outras não tinham relevância e esse tipo de atitude partindo
dela me magoou muito. Querer ser o centro das atenções seria exagero, mas
também ser esquecido me deixou triste.
Não esperava esse comportamento dela. Ao dizer que saiu com o pai para
resolver algo, achei que fosse um assunto de grande importância, mas comprar
um carro novo?
Isso foi a gota d'água para mim, não gostei desse tipo de comportamento e não é
isso que quero ao longo do nosso namoro. Estar acompanhado e se sentir
sozinho e o que é pior, abandonado não é legal.
Sexta-feira, terei uma conversa séria com ela.
Entro e caminho direto para a cozinha. Minha mente está tão ligada a ela que
chego a sentir o seu perfume. Parece que todo o ambiente tem seu cheiro. Tomo
um pouco de água e caminho devagar para o meu quarto.
Abro a porta e levo um enorme susto. Me surpreendo com Sophia deitada em
minha cama, amarrada a um enorme laço envolvendo seu corpo nu.
— Parabéns, Excelência! Feliz aniversário! — Sorri com sua boca acompanhada
de um sorriso sexy.
Linda! A visão de Sophia em minha cama é uma das mais lindas que já
presenciei. Minha tristeza se transforma em algo inexplicável, ela não se
esqueceu!
— Sophia! — Sento-me na cama e a puxo para meus braços. — Minha vontade
há alguns minutos era de te matar!!
— Matar? Porque? — Ela se enrosca em meu pescoço.
— Estava tão triste, achei que tivesse esquecido! — Distribuo vários beijos em
seu rosto.
— Jamais esqueceria do seu aniversário, você é o homem que amo e se o fiz
pensar o contrário é porque queria lhe fazer uma surpresa! Como não sabia o que
lhe dar, resolvi me dar toda a você!
Seus olhos me encaram e ele toca o laço e pega o pequeno cartão anexo, abrindo
—o. Lê em voz alta, ainda olhando em meus olhos.
" Pensei muito em lhe dar algo único, exclusivo, imaterial e duradouro. E
cheguei à conclusão que só poderia lhe dar a mim mesma. Se você me
perguntar se sou única, irei responder que sim, pois quando seu olhar
encontra o meu, me sinto única e exclusiva. O que sinto por você também é
duradouro e imaterial, nada o compra ou substitui. Parabéns, me dou a você
de corpo e alma, porque é o único homem que amei, amo e amarei por toda
vida!
De sua Sophia.
Obs.: Não aceito devolução e muito menos troca!
Ao terminar de ler, sorri para mim de modo mais que apaixonado!
— Esse é o melhor presente que eu poderia ganhar! Não troco, não vendo e
muito menos empresto. Eu te amo e muito, Sophia!
Por Sophia
— E me enganou direitinho! Senti muita raiva de você. — Suas mãos correm
por minhas costas. — Estava desolado ao entrar aqui e cheguei a pensar que
estava louco ao sentir o seu perfume!
Me deita na cama, cobrindo meu corpo com o seu.
— Desculpe, meu amor! Queria lhe fazer uma surpresa, até pedi licença por dois
dias para ficar aqui na capital com você!
Seu sorriso vai de orelha a orelha.
— Jura? Vai ficar comigo e poderemos voltar juntos na sexta? — Seus olhos
brilham de alegria e sua boca permanece com um sorriso de tirar meu fôlego.
— Só se você não quiser que eu fique! — Digo, enquanto minhas mãos desatam
o nó de sua gravata.
— Claro que quero! — Beija meu pescoço e distribui mordidas leves que me
deixam louca por ele. — Presente em dobro! — Abro os botões de sua camisa,
enquanto suas mãos correm pelo meu tórax todo.
— Quero você, muito. Sempre. — Murmuro ao sentir sua boca deslizando sobre
meu colo.
— Vou aproveitar cada segundo com meu presente. — Sobe até minha boca e
me beija com um desejo alucinante. Minha língua se enrosca na dele no mesmo
instante que minhas mãos tocam sua pele quente e o ajudam a livrar-se do
restante de suas roupas. Totalmente nu e excitado, Sean se ajoelha em minha
frente e com os olhos vidrados em mim, completa.
— Fique de joelhos e de costas para mim!
Devagar, me ajoelho na cama e o obedeço.
— Assim? —Fico na posição que ele me instruiu.
— Isso. — Segura em minha cintura. — Agora se mantenha assim, abra um
pouco suas pernas.
O que ele pretende fazer?
— Posso saber o que vai fazer?
— Pode.
Ele se deita de costas na cama e se encaixa sob o meu corpo onde suas mãos
fortes seguram minhas coxas. Fico excitada somente ao vê-lo nessa posição.
— Você é muito gostosa, sabia? — Sussurra, enquanto sua língua abre meu sexo
e com movimentos lânguidos e precisos faz minhas pernas bambearem.
— Sean... Ahh... que gostoso, não pare, meu amor!
A sensação misturada à visão de ter Sean me tomando dessa forma é algo muito
excitante. Remexo meus quadris de encontro à sua boca.
Aperta minha bunda em seguida, me dá um tapa em minhas nádegas.
— Vou chupar você todinha... — Morde de leve a parte interna de minhas coxas.
Com lambidas extremamente eróticas e cadenciadas, ele me leva à beira da
loucura.
— Não aguento mais, por favor... — Me agarro à cabeceira da cama tamanho o
desejo que sinto. Meu ventre se contrai e meu corpo só quer ter meu homem
dentro de mim.
Sai debaixo d meu corpo e fica grudado em minhas costas. Afasta meus cabelos
e sua boca desliza por todo meu pescoço mordendo minha orelha bem devagar.
Minha pele está tão sensível que sinto o roçar dos pelos do seu tórax em minhas
costas, no mesmo instante que sua boca se cola em meu ouvido e sua língua
passeia por ali. Esfrego meu corpo no seu e ele vira meu pescoço segurando em
meu queixo tomando minha boca num beijo de posse e desejo. Eu o acompanho
pois também me sinto sua dona, me sinto dominadora e dominada por ele. Sua
língua suga a minha com força e nesse momento, seu joelho afasta minhas
pernas e devagar ele me penetra por trás, arrancando gemidos de nossas bocas.
Suas mãos apertam meus seios e a cada estocada, sinto que vou enlouquecer com
o que Sean me oferece.
— Adoro você. — Uma de minhas mãos enlaça seu pescoço e remexo meus
quadris absorvendo essa torrente de sensações novas que se misturam e me deixa
com mais desejo ainda. Seus dedos tocam em meu clitóris, massageando-o e
gemendo como louca busco alívio. Meu orgasmo vem forte e me deixa quase
sem ar.
— Adoro-a muito mais. — Murmura em meu ouvido com sua voz carregada de
tesão. — Adoro seu corpo louco pelo meu, Sophia! Adoro sentir você gozando
para mim...
Ainda ofegante, ele me põe de quatro e segura em meus quadris. Seu toque não
tem nada de delicado e seu ritmo é intenso e suas investidas rápidas e nada
delicadas. É o seu jeito selvagem de me mostrar que me domina por completo. E
me entrego a ele e permitindo que me domine toda. Estoca e remexe seus
quadris me fazendo gemer alto.
— Sophia... — Ouvi-lo sussurrar meu nome quando fazemos amor é muito bom.
Sean se deixa levar e sinto seu gozo em mim, me marcando como sua, sempre.
Sai de dentro de mim e se deita me puxando para o seu corpo suado. Meu cheiro
está em seu corpo como o dele está no meu.
Seu coração bate acelerado e me aconchego ainda mais em seu corpo.
— Foi o melhor aniversário que já tive em toda a minha vida, Sophia! Só não
gostei da pegadinha! — Ri, ainda ofegante. — Isso não se faz com um pobre
homem apaixonado!
— Ahh! — Apoio em meu cotovelo e encontro seu olhar de amor para mim. —
Prometo que no próximo capricho mais. — Aliso seu rosto. — E temos que
brindar, trouxe champanhe e um outro presente para você, caso não gostasse do
primeiro! — Faço beicinho.
— Adorei o primeiro. Tenho certeza de que nada irá supera-lo. E não precisa
caprichar em nada, vai me matar no próximo, isso sim! — Fala com ar de
zombaria.
Levanto-me da cama e abro nosso champanhe. Antes de entregar sua taça,
entrego-lhe o outro pacote embrulhado com laço azul.
— Espero que goste! Achei a sua cara.
Abre o embrulho e tira de lá o robe de seda.
— É lindo, mas ainda prefiro o primeiro presente. — Veste o robe e o amarra.
Ficou perfeito. Lindo como imaginei.
— Que bom que gostou! Quando estiver com ele, se lembrará de mim.
Segura meu queixo e dispara uma frase mais que romântica aos meus ouvidos.
— Sabe que não preciso de nada para me lembrar de você! Você está em meu
pensamento a cada segundo de minha vida. Te amo!
— Eu o amo muito!
Entrego a taça de champanhe a ele e brindamos à nossa felicidade.
— Espero que goste de mais surpresa, vamos cantar os parabéns! — Puxo-o pela
mão e o levo até a cozinha onde deixei o bolo escondido. Ao ver o bolo, ele me
deixa mais feliz com o lindo sorriso que me dá.
Canto parabéns a você e ele apaga as velas. E continuamos nossa comemoração
a dois.
Por Alexia
Leon me convidou para jantar e como sempre sua presença é agradável e me faz
muito bem. Ele me trata com carinho e como uma mulher especial.
Chega um momento na vida de uma mulher em que ela se torna mais seletiva e
meu momento acaba de chegar. Esse homem lindo, educado e simpático veio
para me mostrar que a espécie Aidan está com os dias contados. Ao me deixar
em casa, Leon me acompanha até a porta e me beija de leve nos lábios. Aí vem a
dúvida, mesmo sendo um beijo inocente, foi algo frio e sem frisson. Não me
senti com vontade de aprofundar o toque e ser beijada de outro modo.
Com Aidan era diferente. Bastava olhar para ele e minhas entranhas ficavam
acesas e pedindo por ele. O seu beijo era como o dispositivo que acionava o meu
lado mais selvagem. E eu sinto falta disso. Como queria ter Aidan comigo!
— Até amanhã, Alexia! Durma bem!
— Você também, durma bem, Leon.
Entro e a casa está toda quieta. Meus pais saíram e pelo jeito, Max também não
está.
Depois de tirar a maquiagem, tomar um banho e me trocar, deito-me e relembro
cada momento que vivi nos braços daquele cretino.
Deixa estar, Aidan! O final de semana me aguarda ou não me chamo Alexia!
Bônus — Max/Dany ♥ Lay e Lorenzo
Por Danielly
— Dany! Está me ouvindo? — Ouço ao longe alguém dizer meu nome e a
imagem daqueles olhos azuis somem do meu campo de visão. Tenho pensado em
Max mais do que deveria e isso não é a regra.
— Lay, me desculpe. O que foi?
— O que foi? — Bate os braços na lateral do corpo em sinal de frustração. —
Estou aqui há meia hora lhe contando sobre a linda família de meu Amorenzo e
você diz o que foi? Onde você está?
— Perdoe-me é que acabei me desligando da conversa. Um novo caso está
tomando meu pensamento.
— Imagino — Lança um sorriso irônico. — Esse caso tem nome e endereço e
não a culpo, ele é lindo mesmo! Max deve ter virado a sua cabeça em algum
ponto do caminho. Você nunca foi mulher de ficar pensando em nenhum tipo de
homem. Acertei?
Lay é muito observadora, além de ser minha amiga. Sempre soube dizer tudo o
que se passava comigo antes mesmo que eu abrisse a boca e ainda hoje, isso não
é diferente.
— Digamos que sim. Transei com Max.
— O que? E não me contou? Ahhhh! Que amiga você anda me saindo, hein? —
Bate em meu ombro com o seu.
— Estou contando agora! — Concluo — Ele me intriga, Lay. Max acabou de
romper um noivado, o motivo que ainda desconheço, mas sei que é apaixonado
pela ex noiva. E você sabe como reajo a isso, não gosto de me meter em
relacionamentos mal resolvidos. Ele esteve aqui outro dia, em um de meus
plantões e acabamos ficando juntos.
— Sério? Como foi?
— Foi muito bom! Não esperava que Max fosse tão ousado! Aquela cara toda
certinha, esconde muita coisa. E o que me deixou mais intrigada foi que ao sair
ele disse que me quer, não sabe descrever como, mas me quer!
— Isso não é bom sinal? Dureza se você ficasse com ele e ao terminarem a
transa lhe dissesse: Outro dia a gente se vê! Sabe que essa frase é mortal para
quem cultiva esperança de rever o cara! Esse "outro dia" é como 30 de fevereiro,
não existe!
Acabo rindo.
— Você tem razão! E essa frase e o modo como saiu daqui não saem da minha
cabeça, Lay! O cara sumiu! Não deu mais notícias e não quero pensar que ele é
tão infantil e canalha a ponto de mandar flores e ser tão insistente só para ter
uma transa e depois sumir!
— Isso não! Ele não me parece esse tipo de homem! — Pausa. — Mas, por que
a preocupação? Não estou lhe entendendo! Cadê a supermulher que usa os
homens e pouco se importa quando eles vão embora?
Sento em minha cadeira e a encaro.
— Ah, não me diga que se interessou por Max?
— Não chega a ser interesse, acho que foi o modo como ele conduziu a coisa.
Todo o tempo, ele me fez pensar que eu estava no controle, ditando as regras e
isso estava divertido, mas quando veio até mim e depois saiu daquele jeito me
deixou um pouco desarmada, não esperava por isso, entende?
— Entendo e espero do fundo do meu coração que vocês se resolvam!
Meu celular toca e é um chamado urgente! O trabalho me faz voltar ao mundo
real.
Por Max
Abro uma gaveta em meu closet e pego uma caixa. Nela estão guardadas muitas
recordações que eu achava importantes e que hoje, serão jogadas fora. Não quero
nada que me lembre Bárbara e nosso relacionamento. Cartões, pequenos bilhetes
e algumas fotos de momentos descontraídos, tudo vai para o lixo.
Quando me lembro de seu rosto, já não sinto raiva e nem dor, a cura veio aos
poucos e as palavras de meu irmão me fizeram refletir e lhe dar razão. Não há
nada de errado comigo e sim, Bárbara é que não soube me dar valor e sendo
assim, a cada dia, estou dando a volta por cima com superioridade, me arrependi
de ter lhe batido com tanta raiva, aquele foi um momento de descontrole e se
pudesse voltar ao passado a trataria com desprezo e somente a mandaria embora
de minha casa.
Depois de jogar as coisas no lixo, pego meu capacete e saio do quarto. Vou dar
uma volta de moto e talvez, quem sabe, ver a minha delegada. Aquele momento
em que ficamos juntos permanece em minha mente e por várias vezes, me
peguei sorrindo como um bobo.
Gostei de sua reação, ela sente atração por mim, isso é inegável e sendo assim,
poderemos manter um relacionamento sem máscaras ou convenções. Quero vê-
la novamente, leva-la para um lugar romântico, afinal, transar em uma delegacia
foi bom, mas Danielly merece algo mais especial. Olho em meu relógio e ela
deve estar encerrando seu expediente.
Saio com minha moto em alta velocidade. E meu destino: Buscar Dani para uma
volta comigo, espero que ela aceite!
Paro em frente à delegacia e vou direto à sua sala. Com os cabelos soltos,
trajando um colete à prova de balas, Danielly engana a quem pense que por trás
de seu rosto belo e meigo exista algo de fraco. Ela é forte e segura, sabe o que
quer, como e quando quer. Foi isso que me chamou a atenção quando a conheci.
Paro na porta e a vejo tirar o colete e sua arma. Ao me ver, estende um lindo
sorriso.
— Ora, resolveu aparecer? Não me diga que sentiu saudade, porque se disser,
perderá o pouco da credibilidade que ganhou nesses últimos dias!
Sorrio de volta e completo.
— Andei ocupado, colocando umas coisas em ordem e agora que elas estão em
seus devidos lugares, vim para terminar o que comecei.
Vejo-a engolir. Seus olhos castanhos se dilatam e desvia o olhar
instantaneamente.
— Começou o que?
— Disse que a queria, não disse? Pois então, quis vê-la de novo.
— Max, adorei o que tivemos, mas...
— Mas?
— Acho que vamos cometer um erro saindo juntos! Não sou mulher que me
envolva fácil e não quero magoar ninguém com esse meu jeito.
— E quem disse que irá me magoar sendo franca comigo? — Arrasto uma
cadeira, me sento. — Disse que a quero, podemos muito bem manter uma
relação em nível totalmente sexual, se assim você preferir, não estou querendo
força-la a nada e muito menos transformar isso em um caso complicado para nós
dois.
Em seguida, levanto-me e me aproximo, segurando de leve em seu braço.
— Vamos dar uma volta comigo? Estou de moto e gostaria de te levar em um
local muito charmoso.
— Hum, sei. Deixe-me pensar. — Morde o lábio inferior e imagino essa boca
gostosa em várias partes de meu corpo. — Aceito, vou pegar minha bolsa.
Ao sair de sua sala, ofereço a minha mão a ela e por um instante, hesita em pegá-
la. Seus dedos entrelaçam nos meus e saímos em direção à rua, os poucos
funcionários a olham com espanto e um deles em especial, me olha com mais
atenção e posso sentir que não gostou de me ver com Dani.
Sento-me na moto e ofereço um capacete a ela, que o coloca e sobe na moto
agarrando-se a minha cintura.
— Quem é aquele cara que estava na última sala?
— Phillip, que tem ele?
— Nada, somente curiosidade, esquece!
Ligo a moto.
— Pronta?
— Prontíssima.
Acelero e com o corpo de Dani grudado ao meu a levo para um lugar especial.
Por Lay
Lorenzo me liga e combinamos de sair juntos, antes ele me pede que eu passe
em sua casa, quer me mostrar uma coisa.
Saio da delegacia e em encaminho para o Café. Vicenzo atende um cliente e ao
me ver, vem me dar um abraço caloroso. Beija meu rosto e aperta meus ombros
de modo muito vibrante, como se não me visse há anos. Assim é o pai de
Lorenzo, alegre e muito fácil de se gostar, afetivo e muito ligado a todos.
— Lorenzo está lá em cima, suba por aqui! — Aponta a escada que dá acesso ao
apartamento deles.
Peço licença e saio por entre as mesas. Subo os degraus e chego em frente à
porta principal. Toco a campainha e nada de Lorenzo abrir a porta. Como fui
autorizada a subir e meu namorado me espera, giro a maçaneta e constato que a
porta não está trancada, entro devagar e chamo pelo seu nome.
— Lay, aqui em meu quarto!
Caminho pelo corredor e entro em seu quarto. O barulho do chuveiro indica que
meu Amorenzo está no banho. Ui! Que tentação calorosa!
Em cima da cama, há dois ingressos para um show com Rolling Stones. Ele me
enganou, safado! Quando disse que gostaria de ir a esse show, ele fez careta e me
fez desistir da ideia.
Caminho para o banheiro e o vapor me impede de ver o seu lindo corpo por
detrás do vidro esfumaçado do box. Ele o abre e me chama com o seu indicador.
— Não posso, seu pai está em casa, esqueceu?
— Papai está no Café e de lá não sairá tão cedo, venha tomar um banho comigo,
vem? — Fala com um jeito sexy que me desarma toda.
Arranco minha camiseta e seus olhos azuis acompanham cada movimento meu.
Nua, entro no box com ele, deixando a água e seu corpo quente me envolverem.
— Estou ficando maluca, sabia?
Beija meu pescoço todo no instante que suas mãos correm por minhas costas.
— Posso saber por que?
— Primeiro, seu pai pode aparecer aqui a qualquer momento e segundo, detesto
água quente.
— Relaxe, meu pai não irá aparecer e se não gosta de água quente, mudo a
temperatura.
Abre mais o registro e a água cai mais amena, enquanto sua boca ataca a minha.
— Não resolveu muito, a temperatura continua a subir. — Digo, maliciosamente.
— Vai subir muito mais, com certeza.
Esfrega seu corpo excitado no meu e suas mãos sobem por minha coxa até
alcançar o meu sexo. Gemo ao sentir seu toque em mim.
— Que delícia... — Minha língua se enrosca na sua e ele me aperta ainda mais
para si.
— Lorenzo, você está aí? — A voz de Vicenzo, dentro do quarto, nos faz parar
no mesmo instante.
Tapo minha boca para não gritar.
— E agora?
Nem tudo é o que parece!
Por Lorenzo
— Fique calma! Não diga nada! Deixe que eu falo. — Saio do box e entrego
uma toalha a ela.
— No banho, papai, estou saindo! Só um minuto!
Lay se enxuga e começa a se vestir.
Ergo seu queixo lhe dou um selinho. Seu rosto parece um tomate maduro.
— Não saia daqui! — Sussurro.
Com ar de riso, rebate.
— Como se eu tivesse como! Por onde? Pela janela do banheiro? — Tapa a boca
para não rir.
— Já volto.
Saio enrolado na toalha e meu pai segura as chaves de um carro nas mãos.
— Estava no banho! Que foi?
Olha ao redor e questiona.
— Onde está sua namorada? Ela não entrou aqui? — Me olha com toda a sua
perspicácia.
— Sim. Está no quarto de Sophia. Vamos ao show do Rolling Stones e ela me
pediu para usar o banheiro.
— Ah. Tudo bem. Gosto daquela garota. Você soube escolher!
— Obrigado, papai! Lay é muito especial para mim. Mas, o que o senhor queria?
— Ah, vim lhe dar isso!
Entrega a chaves do seu carro novo.
— Dar? Como assim? Dar? Acabou de comprar esse carro!
— Comprei-o para você! Quero que fique com ele!
Afaga meu cabelo molhado como se eu ainda fosse um menino.
— Papai, não posso aceitar! O carro é seu, Sr. Vicenzo!
— Pegue logo e deixe de frescura! — Coloca as chaves em minha mão. — É um
presente e você merece. Agora, se vista logo e leve a sua namorada para dar uma
volta como um bom rapaz.
Abraço-o apertado e quando me encara seus olhos estão brilhando.
— Você e Nina são meu orgulho! Eu te amo, meu garoto!
— Também o amo, muito!
Finalmente, ele sai do quarto e entro no banheiro, Lay está vestida. Que pena!
Íamos tomar um banho tão bom!
— Queria ter um pai como o seu! Ele é o máximo!
— Sim, ele é! Mas, hoje ele atrapalhou o nosso banho e minha nota em relação a
ele caiu radicalmente!
— Seu bobo! — Lay me abraça e beijo sua boca. — E que história é essa de que
não gostava de Rolling Stones?
— Pois é, era para ser surpresa!
— E foi, fiquei surpresa e adorei.
— Então, já que nosso banho deu errado, vamos para o nosso show.
— Vamos!
Por Danielly
Sentir seu perfume e seu corpo tão próximo é algo muito diferente para mim, em
meus últimos relacionamentos esse tipo de circunstância sempre foi evitada,
sempre tentei manter distância para que surpresas como essas não aparecessem.
E mesmo lutando contra a vontade de estar com ele, aqui estou agarrada ao seu
corpo forte e me sentindo uma alegria renovada. Durante o percurso, Max me
mostra algumas paisagens exóticas que sob meus olhos sempre passaram
despercebidas.
Em vinte minutos, para sua moto em frente à uma casa de madeira muito rústica,
com várias azaleias servindo como cerca-viva. Ao entrar na pequena residência,
reparo na mobília aconchegante e me remeto à casa de minha avó. Junto do sofá
de madeira com três lugares, almofadas coloridas e um grande tapete espalhado
ao pé de uma grande lareira em pedra. Quadros de paisagens campestres
dispostos em cadência dão um ar ainda mais familiar.
— Que lugar maravilhoso!
— Sabia que iria gostar! — Tira a jaqueta e a joga numa poltrona. Dou uma
pequena conferida em seu corpo por cima da camiseta, músculos definidos e
uma estrutura invejável. — Quando quero paz é para cá que venho, pego minha
moto e esqueço de tudo nesse paraíso. Lá fora há um lado, logo atrás da casa.
Gosto de pescar e isso me relaxa, além de cavalgar. Fique à vontade, vou pegar
uma bebida. O que gostaria de beber? — Dá dois passos em direção à cozinha e
volta a me encarar. — Vinho tinto ou cerveja?
— Vinho, por gentileza!
Em dois minutos, volta com uma garrafa de Bordeaux, duas taças nas mãos.
— Vamos nos sentar? — Convida enquanto enche as taças. Entrega uma delas a
mim e batemos uma taça na outra em sinal de brinde.
Me conduz ao sofá e se senta ao meu lado. Surpreendo-me ao ouvi-lo dizer.
— Senti sua falta!
Olha fixo para o líquido e brinca com o cristal em suas mãos.
— Max, nós...
— Dani... — Adoro o diminutivo do meu nome em seus lábios, ele o pronuncia
de um modo tão carinhoso, ou talvez seja igual a todos e somente eu ache tudo
diferente vindo de Max. — Depois que saí da delegacia naquela noite, alguma
coisa mexeu comigo e sei que você pode achar que eu estou brincando com
você, mas o fato é que queria vê-la outra vez e agora que está aqui, quero que
isso se repita.
De todas as hipóteses possíveis, Max estaria me pedindo em namoro?
— Diga algo, por favor!
Ergue seus olhos e coloca a taça sobre a mesa de centro.
Nunca fui boa com palavras que expressem meus sentimentos e agora não é
diferente, travei e não consigo dizer alguma coisa cabível ao momento. O que sei
é que também fiquei mexida depois que transamos e senti vontade de vê-lo
novamente.
Sem pensar duas vezes, puxo seu pescoço e sua boca se encosta na minha. Essa é
minha resposta, quero tê-lo perto de mim. Isso basta.
Corresponde ao beijo de modo intenso e empurra meu corpo deitando-se no sofá
sobre mim.
Nossos corpos se encaixam e nossas bocas permanecem coladas.
— Também senti sua falta, Max!
Contorna meu lábio inferior com seu indicador. Em seguida, o morde levemente
e passeia com sua língua por ali. Sua mão acaricia meu seio por baixo do tecido
de minha camisa me deixando ofegante. Força seu quadril num movimento
provocativo e minha reposta é ir de encontro ao seu corpo ávido por mim. Abre
os botões de minha camisa sem deixar meus olhos sob seu foco e sua boca se
contorce em um sorriso deliciosamente irônico, como quem diz" sabia que
também sentia o mesmo que eu". Por onde passam suas mãos deixam minha pele
arrepiada, enquanto sua barba roça pelo meu colo.
— Cheirosa... — Murmura no mesmo instante que sua língua desliza em meu
pescoço.
— Max... — Com ousadia, minha mão alisa seu sexo por sobre o seu jeans.
Em instantes, arrancamos nossas roupas e Max reverencia meu corpo com sua
boca e passeia com ela me levando a implorar por ele. A noite cai lá fora, o ar se
torna frio de repente, Max faz amor comigo de um jeito lento e suave, mas uma
ânsia de absorver tudo me consome e exijo mais, quero que me tome de modo
urgente, como se fossemos desaparecer a qualquer momento deixando de existir.
Ao chegarmos ao clímax, ele me abraça forte e sussurra meu nome de forma
mais doce ainda. Ah, estou perdida! Acabei me apaixonando por ele e agora?
Mais tarde, depois de outra rodada de sexo no banheiro, deito minha cabeça
sobre seu tórax e um medo bobo me invade. E se a ex noiva o quisesse de volta?
Ele voltaria para ela?
Como não gosto de sentir-me insegura, abordo a questão de modo curto e direto.
— O que você quis dizer com "querer me ver novamente?"
Ele se apoia sobre seu antebraço e me encara.
— No começo, você era para mim um desafio e aos poucos uma obsessão. E
agora, uma necessidade. — Toca em uma mecha de meu cabelo. — Você me fez
tanto bem, não sabe como!
— E seu noivado? O rompimento é irreversível ou há possibilidade de volta?
— Irreversível. Não sinto nada por Bárbara, é uma página virada. Esqueça isso!
O que mais quero é ter algo novo com você, se quiser, é claro!
Não transpareço, mas por dentro estou feliz como há muito não me sentia.
Beijo sua boca e sorrio para ele.
— Não custa tentarmos, porém quero deixar claro que meu trabalho toma muito
do meu tempo e muitas vezes você pode não gostar de ficar sozinho. Foi por isso
que meu antigo relacionamento fracassou.
— A gente vai achar um jeito, o que não quero é deixa-la ir. Preciso de você,
minha delegada!
Deito por cima dele e seus braços me prendem ali.
— Se é assim, aceito.
Sua boca me devora em poucos instantes estamos entregues, sabendo que agora
somos um pertencente ao outro.
Por Sophia
Pisco meus olhos e ao virar para o lado, encontro um travesseiro vazio. La fora,
o sol, com seus primeiros raios despontam atravessando o tecido da cortina.
Ouço passos e vejo Sean todo vestido, dando o nó em sua gravata azul.
— Bom dia! — Senta-se na cama e me beija. — Ainda é cedo, volte a dormir.
Tenho que ir ao senado, mas tirei a tarde para ficarmos juntos. Podemos almoçar
e depois lhe mostrarei a cidade, que tal?
— Hum... Bom dia. Ainda estou com sono, culpa sua! — Pisco para ele e meus
braços rodeiam seu pescoço enquanto suas mãos alisam minhas costas bem
devagar, causando arrepios por onde seus dedos passam.
— Minha? O que eu fiz? Não tenho culpa se meu presente de aniversário é
insaciável como eu! — Diz, com a boca colada à minha. — Não resisti e adorei
cada minuto acordado!
— Minuto? Que horas são? Fomos dormir quase cinco da manhã! E você já está
em pé? — Tento me levantar, ele me impede. — Quer que eu prepare seu café?
— Não se incomode com isso, eu já tomei meu café. Se não tivesse que
comparecer no trabalho, estaria enroscado a você e dormiríamos até mais tarde.
— De cabelos curtos e com a barba feita, Sean é visão perturbadora que
qualquer mulher olharia incansáveis vezes sem enjoar. Sua beleza não me cansa
nunca. — Então, durma mais um pouco e se sinta à vontade. O apartamento é
todo seu. Volto para lhe buscar para almoçarmos juntos. Qualquer coisa é só me
ligar!
— Vou sentir saudade! E vou mexer em tudo! — Faço uma cara travessa.
— A futura Sra. Mackenzie pode mexer onde quiser! Volto assim que terminar
por lá!
Ele se despede com um beijo com gosto de quero mais, muito mais e quando se
afasta, sua íris fica ainda mais azul e me encara com um desejo explícito em seus
olhos.
— Infelizmente, tenho que ir.
Fica em pé e ajeita seu colete, e eu deitada observo maravilhada o meu homem
se arrumando para mais um dia de trabalho. Penso em como será quando nos
casarmos. Vou adorar compartilhar momentos como esse.
Joga-me um beijo e sai do quarto. Viro-me e adormeço. Sonho com o mar e uma
mulher caminhando na beira da praia.
Por Marcella
A imagem daquela moça não me sai da cabeça, já olhei aquele recorte por mais
de vinte vezes. Cheguei a pensar que ela fosse a minha Sophia, mas depois de ler
a matéria completa perdi a ilusão, ela é filha de um tal de Vicenzo Salvatore e
pelo que conheço de Harry, se soubesse que Sophia era adotada, não iria permitir
que o filho em ascensão política namorasse uma moça desse nível. Dobro o
jornal e o guardo em minha gaveta juntamente com os outros. Não foi dessa vez
que encontrei a minha menina, talvez seja melhor aceitar a ideia de que esteja
morta com as outras crianças queimadas naquele incêndio.
Por Leon
A cada dia que passa sinto que Alexia está mais envolvida por mim. A ideia de
me fazer cavalheiro, gentil e educado foi muito bem aceita e realmente deu certo.
Quero ir devagar, pois não quero erros e muito menos perder a minha grande
aliada nessa história.
Ter Alexia como esposa é só uma questão de tempo, sei que ela é apaixonada por
Aidan, aquele idiota sem futuro, mas provei ser superior a ele e conquistarei o
coraçãozinho de Alexia, fazendo com que ela esqueça aquele rapaz para sempre.
Ela deve me achar contido demais, por não ter tentado leva-la para minha cama.
Tudo a seu tempo! Ganhar a confiança e ser escolhido pelos Mackenzie para
conquistar a filha rebelde foi a melhor coisa que me aconteceu, lucrarei muito
com isso, tanto financeiramente quanto sexualmente, Alexia me parece uma
mulher muito atraente e voluptuosa.
Pensando nisso, ligo para Beatrice e relato o passeio agradável com sua linda
filha.
Aidan e Alexia
Por Sophia
Depois de dormir por mais duas horas, levanto e me arrasto para o banheiro.
Deixo a água descer pelo meu corpo e isso me revigora. Ao me olhar no espelho,
vejo uma mulher feliz, totalmente diferente daquela adolescente de anos atrás.
Troco de roupa e na cozinha, preparo meu café. Em seguida, ligo para meu pai e
digo que está tudo bem. Ando pelo apartamento e me sento na biblioteca.
Observo a coleção de inúmeros volumes. Vitor Hugo, Dickens, Balzac e
Shakespeare. Tudo muito organizado e disposto a quem gostar de um bom livro.
Fico por ali até meio-dia. então, recebo uma mensagem de Sean. Diz que já está
a caminho. E em menos de quinze minutos, estamos saindo para nosso almoço.
Ele escolhe um restaurante de comida árabe e grega Zaytinya. Nossa mesa já
estava reservada, Sean me indica os melhores pratos da casa e depois de
fazermos os pedidos, Sean entrelaça sua mão na minha.
— Estou muito feliz que esteja aqui comigo, Sophia! Quero que isso se torne
uma constante em nossa vida!
— Hum, o que? Minhas surpresas?
Estreita os olhos e sorri.
— Não!! Suas surpresas podem acabam me matando! — Diz, com ar divertido.
— Fui bem mais generoso em seu aniversário! No próximo, sentira a força de
uma surpresa!
— Uau! Desafio, senador?
— Promessa velada. Aguarde.
Após nosso belo almoço, Sean me leva para conhecer alguns pontos turísticos da
Capital.
Passamos Memorial Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, Galeria Nacional,
Biblioteca do Congresso e por último o Capitólio. Ali, entramos de mãos dadas e
ao passar pelo hall e caminhar pela extensa estrutura, fico maravilhada com a
arquitetura neoclássica com seus arcos e colunas em mármore. Sean me mostra
tudo com muita paciência e muitas vezes, sem que ele perceba, observo seu jeito
de falar sobre a sua carreira, sobre o país e o que ele espera dele. Sua
empolgação por fazer a diferença como político e servidor da nação me deixam
mais orgulhosa ainda.
Na saída, uma voz feminina gritando por Sean como se houvesse fogo em algum
lugar nos faz parar e olhar para trás.
— May Ashler. — Sussurra antes que a mulher chegue até nós.
— Fiquei na mesma. — Sussurro de volta.
— Deputada pelo nosso partido.
A ruiva se aproxima e não para de sorrir ao ver Sean.
Ela me cumprimenta com um leve aceno de cabeça e dispara a falar.
— Precisava falar com vossa Excelência! Poderia me receber na semana que
vem?
Esse vossa Excelência me pareceu forçado e segundo minha intuição, aí tem
coisa.
— Sim, marque com minha secretária, por favor! Agora, se me dá licença, estou
de saída.
Não gostei da fulana, nem ela de mim.
— Se estiver na capital no fim de semana poderemos nos encontrar no JR's bar.
JR's?! Hum, pelo jeito, as excelências já se conhecem.
— Não, volto a Nova Iorque amanhã com Sophia, minha namorada!
— Ah, que pena! — Sua cara de desapontamento é evidente. Chupa essa, cara de
cabrita! — Então, até semana que vem.
May se afasta e penso na relação que existia entre os dois. Mesmo sendo
passado, não posso deixar de ficar com ciúme, afinal ela queria um
encontrozinho furtivo e acabou se dando mal. Claro que não comento ou deixo
transparecer meu sentimento, mas não é nada agradável encontrar os casos
antigos de quem se ama.
Caminhamos até o carro e antes que Austin abrisse a porta e que Sean abrisse a
boca, Aidan aparece não sei se onde.
— Sean, Sophia!
Sorri, pega a minha mão e a beija. Aidan, cavalheiro, quem diria?
— Desculpe atrapalhar vocês, mas é que voltarei hoje para Nova Iorque e
gostaria de avisá-lo!
— Aconteceu alguma coisa? Algum problema?
Sean demonstra sua preocupação com o amigo.
— Não, nada importante, mas gostaria de poder estar em minha casa mais cedo.
— Sem problemas. Peça para o piloto te levar. Volto amanhã cedo!
— Obrigado, nos vemos depois!
— E obrigado por ajudar Sophia na surpresa. Foi muito amigo de sua parte.
Aidan e eu nos entreolhamos e acabamos caindo no riso.
Durante esse período em que mantive contato com Aidan, aprendi mais sobre ele
e meu conceito em relação à sua pessoa acabou subindo. Sean pode não gostar
da ideia, mas ele e Alexia ainda vão acabar ficando juntos. Aposto e se depender
de mim, serão muito felizes. Os dois merecem.
— Que isso, amigos são para essas coisas! Bom, vou indo!
Sai por entre os carros e arrisco um comentário.
— Aidan é um bom sujeito! Gostei dele!
— Sim, ele é. — Dentro do carro em movimento, Sean completa. — Não me
venha com essa Sophia!
— Essa o que? Nem abri minha boca! Disse que Aidan é um bom sujeito!
— E você acha que não te conheço? Que durante os dias que estavam armando
pelas minhas costas, não falaram sobre Alexia, logo você?
Não posso mentir. Acabei dando muitas dicas de como conquistar Alexia, mas
fiz isso ciente de que ele é um sujeito que vale a pena ajudar e se o fiz, do porque
ele me pediu ajuda para se aproximar de minha amiga. Quer uma chance e esse
retorno antecipado tem tudo a ver com isso.
— Logo eu? Que tem eu? Assim você me ofende, Sean. — Brinco, fazendo cara
de ofendida. — Olha... — Me aproximo do seu corpo e roço meus lábios nos
seus. — Quero o bem de Alexia e quero que ela seja tão feliz quanto eu sou.
— Com Aidan? Mulherengo do jeito que é?
— Não acha que se sentou no próprio rabo? — O encaro intrigada. — Muitos
diriam a mesma coisa de você há algum tempo atrás.
Chega a engolir com a minha resposta.
— Diferente.
— Diferente? Como? Sua fama era igual ou pior do que a dele. E você não se
apaixonou por mim? — O inquiro, mexendo em sua gravata azul. — Por que
Aidan não pode se apaixonar verdadeiramente por sua irmã? Há algo errado
nisso?
— Não. — Aperta minha mão. — Não há nada errado, Sophia! É que...
— Não me diga que não quer os dois juntos porque Aidan não pertence à mesma
classe social que sua família, como sua mãe mesma me disse?
Seus olhos me fuzilam. Acho que não devia ter dito isso.
— Sophia, sabe que não compartilho desse tipo de pensamento. Aidan é meu
assessor e quer seguir carreira política, candidatando-se ao congresso como
deputado. Terá todo o meu apoio, o problema entre ele estar interessado por
Alexia é que...
— Machismo de irmão, entendo vocês homens, Lorenzo já teve essa fase, mas
passou. Meu irmão não lhe ajudou com nosso relacionamento?
— Sim, mas...
Acabo o interrompendo novamente! — Tem que parar com isso, Alexia é maior
de idade e ele é um cara legal. Aquele Leon não me desceu.
— Também não gostei daquele sujeito.
— Ninguém é tão perfeito, Sean, parece que foi fabricado! Treinado, sei lá.
Suspira e toca meu rosto.
— Tudo bem, darei um crédito a meu amigo, mas se ele magoar minha irmã eu
acabo com ele!
— Está certo, lembrando que Lorenzo deve ter lhe dito a mesma coisa!
Puxa meu pescoço, colando sua boca na minha.
— Você é muito persuasiva, não quer trabalhar para mim? Seríamos muito bons,
trabalhando juntos!!
— Não. Se aceitasse, cometeria assédio ao meu patrão. Prefiro assim, estou livre
de qualquer processo.
— Que bom, pensando assim, estamos os dois livres desse tipo de acusação.
Posso tirar proveito de cada pedaço seu. — Fala num gemido e beija meu
pescoço no mesmo instante que sua mão aperta minha coxa.
Chegamos em seu apartamento e Sean me agarra ali mesmo em sua sala, em
determinado momento me dou conta de que estamos no chão, trocando beijos
ardentes. Tira a minha roupa e eu o ajudo com a sua. Montada sobre ele com as
mãos espalmadas em seu peito, gemo ao sentir que ele me penetra fundo
saciando meu desejo e me conduzindo como só ele sabe fazer. Não que eu possa
compará-lo a alguém, mas o que sinto por Sean jamais será substituído por outra
pessoa, se o perder, estarei também perdida para sempre.
Muda de posição, ficando sentado e ainda dentro de mim, enrosca sua mão em
meus cabelos, enquanto sua língua duela com a minha.
Ofegante, me encara.
— Eu a amo, casa comigo? — Sua voz fica extremamente sexy quando faz amor
comigo e ainda mais com uma frase dessa, Sean quer me levar à loucura. —
Casa? — Morde meu lábio, me provocando enquanto espera pela resposta.
— Caso. Aceito, eu te amo, Sean!
Aumenta o ritmo de suas investidas e me aperta ainda mais em seus braços, me
levando ao clímax, me arrastando junto com ele.
Ainda dentro de mim, com sua testa colada à minha, respiração entrecortada e
todo suado, ele parece um semideus, divino e pecaminoso e meu.
— Vamos ficar noivos em dezembro, antes do Natal e nos casamos em janeiro.
Que tal?
— Mas, já?
— Sim, por que esperar? Eu a amo e você sente o mesmo. A única coisa que
quero é ter você comigo, sinto tanta sua falta quando temos que nos despedir.
— Também sinto, mas...
— Já sei, vai me dizer que mesmo casados, teremos que nos separar alguns dias
da semana, não é isso?
— Sim, tenho minhas aulas também.
— Não se preocupe, isso a gente resolve, aqui na Capital, temos várias escolas e
você vai continuar dando suas aulas.
Sean tenta a seu modo, encaixar as coisas e não posso me queixar, afinal, faz isso
para ficarmos mais tempo juntos e sei que futuramente se ele resolver se
candidatar à presidência, terei que abdicar de minhas aulas para acompanha-lo
como primeira-dama. Por enquanto, aceito sua sugestão, eu o amo muito e quero
ser sua esposa.
— Como o senhor quiser, meu senador gostosão!
— Minha gostosa.
E meus dias na famosa Washington DC terminam muito bem, diga-se de
passagem.
Por Aidan
Quem diria que eu, Aidan Smith Foster, livre, amante da liberdade e da
variedade de companhias femininas e vivendo a cada dia com essa diversidade,
de repente, me visse pensando em alguém de maneira constante. E mais
surpreendente ainda, com uma garota que vi se tornar uma mulher. Quando
conheci Alexia, ela era nada mais que uma adolescente rebelde e hoje, uma
mulher que amadureceu rápido e me fez ficar de algum modo preso e encantado
por ela.
Sophia tem toda razão. Se quero conquistar Alexia tenho que me mostrar
maduro e merecedor de seus sentimentos. Me comportar como um garoto
mimado só irá afasta-la ainda mais. Tenho que faze-la compreender que Leon
não é o homem certo para ela. Espero também que ela ainda mantenha algum
sentimento por mim.
Ao chegar em Nova Iorque, ligo em seu celular. Não me atende. Como sou
insistente, ligo mais uma vez e outra até que na quarta tentativa, ouço sua voz.
— Alexia, sou eu, Aidan.
— Aidan — Não transmite nenhuma emoção na voz, mesmo assim, continuo.
— Preciso falar com você e tem que ser hoje, poderia se encontrar comigo no
Poison?
Um local público é a melhor opção, talvez, através dessa atitude ela veja que não
tenho segundas intenções com ela.
— Acho que já dissemos tudo o que tinha para ser dito, não acha?
— Alexia, por favor!
Depois de alguns longos segundos, o silêncio é interrompido por sua resposta.
— Está bem, eu vou.
Passo a ela o local e marcamos um horário compatível a nós.
Alexia
O que Aidan pode querer comigo? Senti sua aflição pelo telefone e se ele pensa
que vou cair novamente em sua conversa doce e gentil, irá cair do cavalo. A
Alexia ingênua e disponível não existe mais.
Tomo meu banho e me arrumo para encontra—lo. Ao sair pela porta principal
sou interpelada por dona Beatrice.
— Onde vai, minha filha?
— Preciso resolver um assunto pessoal. — Viro-me e respondo. — Ah, não
precisa me esperar para o jantar!
Por Beatrice
Onde Alexia pensa que vai? Quem seria esse assunto tão importante? Uma nova
aventura? Não. Acho que não.
Não confio em minha filha e o melhor que tenho a fazer é ficar de olho nela.
Pego meu telefone e tomo minhas providências cabíveis. Como diria uma velha
conhecida: figurinha repetida não completa álbum ou será que Alexia pensa que
completa?
Por Alexia
Na garagem, entro em meu carro e me encaminho ao Poison. Boa escolha de
Aidan, adoro os coquetéis que são servidos ali.
Ao entrar no local, corro meus olhos e o vejo entre todos que estão sentados ali.
Sua beleza é inquestionável. Usando um suéter azul e uma calça preta, Aidan é
perfeito. Nossos olhos se encontram e caminho devagar até ele. Arrasta a cadeira
para mim e beija meu rosto, dizendo como estou linda. Sua barba toca meu rosto
e lembranças muito quentes afloram em minha mente.
Um garçom indiano se aproxima e anota nossos pedidos. Em seguida, se afasta e
pergunto.
— Aidan, diga-me o que quer? Não posso me demorar.
— Alexia, queria dizer... — A bebida chega e ele bebe sua cerveja. — Ando
pensando em você.
— Está brincando comigo? Ah, claro! O garoto percebeu que perdeu o
brinquedinho para outro e agora o quer de volta, acertei?
— Não é nada disso, Alexia!
— Claro que é! Depois de me ver com Leon, deve ter percebido que ele me
levou a sério e quer um compromisso comigo, enquanto você só queria algumas
escapadas de vez em quando.
— Quer me ouvir? — Sua voz se exalta e me faz prestar atenção nele. —
Confesso que não me comportei como um homem em relação a você e lhe devo
mil desculpas. O que quero dizer é que se você ainda sente algo por mim, quero
estar com você! Ficar com você!
Tomo meu coquetel e concluo.
— Comigo e com a Gise, não é? Revezaríamos? Ficaria com as segundas,
quartas e sextas? É isso?
— Não. Nada de Gise. Não tenho falado com ela desde que percebi que você é a
mulher que eu quero. Sophia me...
Sophia? O que minha cunhada andou aprontando?
— Você andou falando com Sophia e o que ela lhe disse?
— Nada demais. Mas me abriu os olhos e pude ver que estava sendo um idiota
em deixar você ir embora de minha vida.
Suas sobrancelhas arqueadas o tornam mais charmoso e seus olhos me dizem
que ele fala a verdade.
— Aidan, não quero me machucar, você já causou muitos danos em mim, sabe
disso!
— Sei disso, e quero agora lhe curar e me curar também, viver algo sério ao seu
lado, estou me declarando a você Alexia, nunca fiz isso antes! Por favor, me diga
que pode me dar uma chance e eu vou provar que estou disposto a tudo para
ficarmos bem e faze-la feliz?!
Segura a minha mão fortemente e sem tirar seus olhos dos meus, aproxima-se e
sua boca fica a poucos centímetros da minha.
Seu hálito misturado ao cheiro de cerveja, juntamente com seu perfume me
hipnotizam e sem resistir mais tempo, acabo me entregando ao seu beijo intenso.
Seus braços me rodeiam e quando vejo estou enroscada em seus cabelos,
devorando-o com meus lábios. Como senti falta de seu toque, seu corpo, seu
cheiro, enfim, todo ele.
Afastamos sem ar e seu sorriso com suas covinhas, me faz suspirar.
— Namorados?
— Namorados.
Pede a conta e saímos em direção ao meu carro.
— Vamos para meu apartamento? — Direto como sempre, hesito.
— Acho melhor não.
Pega em meu pescoço e me prensa entre o carro e seu corpo forte.
— Diga que sim, estou morrendo de saudade de você, não precisamos transar se
não quiser, mas podemos ter mais privacidade se aceitar.
Sorrio, mordendo o lábio.
— Tudo bem, vamos!
— Me siga! — Bate em minha bunda de leve.
Seu sorriso largo me deixa nas nuvens. Abre a porta do meu carro e espera que
eu entre, fecha a porta, me joga um beijo e se encaminha para o seu Audi.
Ah, Alexia, meu coração não cabe em mim!
Por Leon
Então, Beatrice estava certa! Eles estão se encontrando novamente. Tenho que
arrumar uma maneira de afastar de uma vez por todas esses dois. Por hoje,
deixarei que ela se divirta, pensarei em algo e logo ela estará se consolando em
meus braços.
Vejo os dois carros saindo do estacionamento do Poison e me encaminho à
direção oposta.
Sorriam, vocês estão sendo filmados!
Por Alexia
Aidan abre a porta de seu apartamento e me convida a entrar. Sinto-me
constrangida e não sei explicar o porquê.
— Aceita beber alguma coisa?
— Não, obrigada.
Ele caminha até o enorme sofá de couro marrom e me estende sua mão para que
eu faça o mesmo. Ao seu lado, parece que estou sonhando.
Eu, Alexia namorando Aidan. O cara que se apossou de meu coração e me fez
cometer muitas loucuras por ele. Quantas vezes, sem que ele me visse, ouvia
suas conversas com Sean, atrás das portas, sobre suas conquistas e sentia ciúme
pois queria ser uma de suas mulheres.
Agora, sou sua namorada. Estou tão feliz e torço tanto para que tudo dê certo.
Sean não vai gostar muito da ideia, mas tenho uma aliada e futura cunhada que
irá me ajudar.
Aidan afasta meu cabelo dos ombros e seus olhos não saem de minha boca.
— Você é tão linda! Estava mesmo cego. — Espalma meu rosto com sua mão
esquerda. — Tudo à minha frente e eu não conseguia enxergar.
Tapo sua boca com meus dedos e ele os segura beijando um a um.
— Vamos viver o nosso presente! Não precisamos do passado que não pode nos
alcançar. — Digo.
— Tem razão. — Suas mãos fortes apertam minha cintura e me puxam para seu
corpo. — A partir de hoje, o que nos importa é o que estamos vivendo e vamos
viver.
Meus dedos correm pelos seus músculos fortes por baixo de seu suéter e minha
boca procura a sua. Beijo—o com desejo desenfreado e sem pudor, sussurro ao
seu ouvido.
— Faz amor comigo? — Sem vergonha de pedir ou querer, Aidan se levanta e
me pega em seu colo.
— Seu desejo, uma ordem, Alexia. — Com sua boca presa à minha chegamos ao
seu quarto, ofegantes.
Ele me desce do seu colo e tira o seu suéter, me dando uma visão maravilhosa do
seu peitoral tão bem definido. Em seguida, me ajuda com minha blusa e desce
muito calmamente as alças de meu sutiã, por onde seus dedos passam, sua boca
os segue e me faz inflamar ainda mais.
Com cuidado, me arrasta até sua cama, cobrindo meu corpo com o seu. Sua
língua se enrosca na minha, sugando-a com força, absorvendo e arrancando um
gemido de minha garganta ao descer com sua mão dentro de minha calça.
— Deliciosamente molhada! — Explora meu sexo com habilidade e ofereço
ainda mais meus quadris a ele. — Molhada para mim.... Adoro isso... Assim...
Geme na minha mão, Alexia, quero fazer amor com você, deixa-la louca de
desejo com meu corpo. — Arranca minha calça juntamente com a minha
calcinha.
— Aidan... — Sua boca desce pelo meu ombro e sua barba arranha e incita
minha pele.
— Adoro essa marquinha, aqui! — Sua língua lambe uma pequena marca de
nascença que tenho ao lado do meu mamilo esquerdo, a seguir, o suga com força
fazendo com que meu ventre se contraia de tanto desejo. — Adoro seu corpo
todo!
Tira sua calça e nu volta a se deitar sobre mim, sinto seu membro excitado se
esfregando em minhas coxas e abro minhas pernas para recebe-lo, porém não me
penetra e me instiga a querer ainda mais seu corpo dentro de mim.
Beija minha barriga e sua escalada acaba em meu sexo sedento por alívio. Não
sou uma garota inexperiente e já tive vários homens, mas o que sinto por Aidan
vai além de tesão, é mais denso e forte do que um simples sexo. Faz parte do
meu eu, como se vivesse em mim e sem ele não sei mais seguir sozinha.
Ergue meu quadril e sua boca continua a me atacar sem piedade, penetra dois
dedos em mim, girando-os e nesse instante me lança em um orgasmo intenso,
tirando meu ar e me deixando mole com as mãos agarradas em seu cabelo.
Morde, acaricia a parte interna de minhas coxas e quando minha respiração volta
ao normal, vejo-o me encarando, no momento que rasga um envelope com
preservativo e o coloca sobre sua ereção.
Abre minhas pernas e se encaixa em mim, penetrando bem devagar enquanto sua
boca toma posse da minha. Me preenche por inteira e aos poucos investe com
mais rapidez e de modo profundo, tocando em um ponto que me deixa louca de
desejo.
— Isso, vem comigo. — Me puxa ainda mais para ele e com nossos corpos
colados a ponto de nem mesmo ar se coloca entre nós. Fica de joelhos e
segurando em minha cintura mete de modo selvagem e meu corpo obedece a
cada sensação nova que ele me apresenta. — Ahh, Alexia, você é tão gostosa...
Gozo novamente e suas mãos se entrelaçam nas minhas, então sinto que ele não
mais se segura e se entrega a um orgasmo violento, ficando ofegante.
Esparramados sobre o colchão, ouço seu respirar juntamente com as batidas
descompassadas de seu coração.
— Minha namorada está muito quieta, o que houve? Costuma ser tão falante! —
Acaricia minhas costas em um vai e vem delicioso. Ergo meus olhos e sorrio.
— Estou tão feliz em estarmos juntos, sonhei com esse momento e já havia
perdido a esperança de vive-lo com você!
— E agora que somos namorados, temos que anunciar isso à sua família, em
especial a seu irmão. — Mordisca meu lábio. — Sean pode não gostar de saber
que estamos juntos!
— Deixe que eu faço isso, falo com ele primeiro, depois você fala, ok?
— Tem certeza?
— Sim, em casa, meus pais estavam fazendo torcida para que eu e Leon
ficássemos juntos e eu cheguei a cogitar essa hipótese para esquecer de você.
Mas, foi em vão.
— Leon. — Coça o queixo em desagrado ao ouvir o nome desse homem em
nossa conversa. — Você ia ficar com ele, Alexia?
— Ia. — Respondo sem rodeios. — Ele queria algo sério e estava pensando se
não seria melhor ficar com ele do que sonhar com um homem que não me
queria. Aí, do nada, recebo seu telefonema e tudo voltou a ser como antes. Sou
apaixonada por você e tira-lo da minha mente estava sendo um suplício.
— Ainda bem, agora que entrou minha vida, não sairá mais!
Sorri e me beija apaixonadamente.
— Aidan, tenho que ir. — Digo ao conferir as horas.
— Ainda é cedo, fique mais um pouco!
Desvencilho de seus braços e me levanto a contragosto da cama.
— Não posso, minha mãe deve estar me esperando e ela pensa que não sei: está
me vigiando, não me admira se ela já não souber que estivemos juntos quando
eu chegar em casa. Ela nunca me enganou! Sean a venera, Max a respeita e eu
mantenho meu olho aberto! Com o passar dos anos, aprendi que minha própria
mãe é uma manipuladora incorrigível que só visa o seu bem-estar. Nada mais!
— Não acha que está exagerando?
Fecho o botão de minha calça e o encaro.
— Sei o que estou dizendo, somente Sean ainda não a enxergou como eu. Ainda
espero que esse dia chegue!
Ele se levanta e toca em meu braço.
— Vamos ficar juntos, mesmo que sua família se oponha, não a deixarei de
novo, prometo!
Rodeia seus braços em torno do meu corpo e me aperta forte.
— Me acompanha até a porta?
— Contra a minha vontade, acompanho.
Na rua, olho para o céu cinzento cheio de nuvens carregadas e como tudo na
vida é relativo, acho a noite estupidamente linda, tudo se torna lindo quando
estamos bem com quem amamos.
Volto para casa com brilho e sorriso nos lábios.
Por Sophia
Voltamos para Nova Iorque na sexta-feira pela manhã. Sean me deixa em casa e
Sean reafirma que virá me buscar para o jantar que a "Mortícia" preparou para
ele em comemoração o seu aniversário. Terei que ter muito sangue frio e
estômago forte para encarar a bonitona.
Que esse jantar seja breve!!
Por Aidan
Alexia me liga em meu escritório e me diz que comunicou a família a respeito
do nosso namoro. Segundo ela, tanto Harry quanto Beatrice não se opuseram ao
nosso relacionamento o que causou estranheza à minha namorada. A mim não.
Até suspirei em sinal de alívio pois não terei que enfrentar a soberba e
preconceituosa Beatrice.
Com Sean, Alexia relata que foi mais fácil, com a ajuda de Sophia a novidade
foi recebida por ele com algumas recomendações dirigidas a mim. E ele fez
questão de reforça-las quando pode ficar comigo a sós.
— Se magoar minha irmã, acabo com sua raça, carreira e tudo o mais que
envolva o seu nome entendeu, Aidan? Somos amigos e pretendo continuar
sendo.
E com uma espécie de juramento digo a ele que minhas intenções com sua irmã
são as melhores possíveis.
E nesse meio tempo, tudo corre na mais perfeita harmonia até que sou convidado
para um jantar na casa dos Mackenzie. Beatrice fez questão de me ligar
pessoalmente e fazer o convite, claro que tive que aceitar.
É estranho de algum modo estar envolvido com essa família. Minha relação com
os Mackenzie sempre se resumiu a amizade com Sean e meu trabalho prestado a
ele, nada mais. Essa mudança de posição me deixa um pouco desconfortável,
mas por Alexia faço qualquer sacrifício até mesmo enfrentar aqueles olhos
inquiridores de Beatrice.
Na sexta, antes de servirem o jantar, Sean e Sophia se aproximam e conversamos
os quatro animadamente. Os dois anunciam que irão ficar noivos daqui a vinte
dias e que em janeiro pretendem subir ao altar.
— Quero vocês dois como meus padrinhos. — Sean dirige seu olhar para mim e
Alexia.
— Será um prazer. — Respondo.
De repente, somos surpreendidos por um convidado especial. Beatrice fez
questão de convidar Leon, mostrando a mim e a Alexia o quanto ela aprova a
nossa relação. O homem entra de braços dados com Fergie, uma antiga
conhecida minha, me deixando mais desconfortável ainda. Alexia me olha e sem
precisar explicar, entende o que se passa e sua maturidade me faz admirá-la
ainda mais.
A senhora Mackenzie deixa explícito com essa atitude que não aceitou minha
entrada na família. Espero que a noite não me reserve surpresa.
Não sabia que ele e Fergie se conheciam. Não quero acreditar que ele a trouxe
para me provocar! Se for isso, ele terá o que merece. Não estou bêbado como no
outro dia e darei uma surra nesse ordinário que ele nunca mais esquecerá.

Por Beatrice

Leon é um excelente parceiro. Fez tudo conforme combinamos até aqui. Trazer
um antigo caso de Aidan a esse jantar foi uma manobra muito perspicaz pois
percebi que o namorado de Alexia se mostrou um tanto desconfortável e será
com essa moça que tentarei mostrar à minha filha que esse mero assessor não lhe
é apropriado.
O jantar é servido e os lugares marcados. Propositalmente, coloquei Fergie
próxima aos pombinhos. Alexia parece que nem liga para os olhares que a moça
lança ao seu namorado.
Acabado o jantar, servimos o café na sala de estar e para minha maior dor e
decepção, Sean anuncia que ficará noivo antes do Natal. O café desce amargo e
tudo perde a cor. Sorrio automaticamente e noto como Sophia me olha. Ela sabe
que não a engulo e que depois de cuidar de Alexia, irei me dedicar
exclusivamente ao término dessa loucura que Sean diz ser o amor de sua vida.
Bobagem. Nada que o tempo, viagens e outras mulheres não apaguem.
Max pelo jeito achou uma diversão. A delegada. Não me faltava mais nada! Meu
filho namorando uma delegada! Mas, por ora já tenho coisas demais para cuidar.
De Max e sua xerife cuidarei mais tarde.
Sem que os convidados percebam, faço um sinal a Leon. Preciso saber se nosso
plano está todo arranjado.
Ao se aproximar com a mulher cheirando a perfume vagabundo, Leon disfarça e
finge que se despede para não levantarmos suspeitas, pois os olhos de Alexia não
perdem nada.
— Sra. Mackenzie foi uma noite muito agradável! — Beija minha mão e me
olha de modo sedutor. Ah, os homens! Sempre galanteadores e fracos.
— Obrigada, Leon! Haverá muitas outras como essa! — Retiro minha mão e ele
ainda me encara jogando seu charme barato sobre mim. Não me conhece
mesmo, será que me imagina flertando com ele?
Mas, como toda mulher inteligente poderei usar essa arma a meu favor. A vida
me ensinou uma lição, nunca descarte uma possibilidade que lhe pode ser útil,
portanto manterei Leon à minha disposição enquanto necessário.
— Assim espero!
A moça contratada para nos ajudar beija meu rosto em sinal de despedida, sinto a
marca deixada pelo seu batom. Que mulher mais vulgar!
— E nosso plano? Tudo certo? — Pergunto a Leon.
— Sim. Tudo arquitetado! Alexia terá uma surpresa ao ver o que o namorado
anda fazendo nas horas vagas.
— Perfeito. Vamos ver se ela ainda continuará com esse rapaz! Agora, vão! Não
podemos ficar conversando ou poderemos levantar suspeitas.
E depois de me despedir do meu cúmplice e admirador volto a circular pela sala
até a saída do último convidado.
Aidan se despede de Alexia e mando uma mensagem para o celular de Leon.
Por Aidan
Em meu apartamento, tomo meu banho, e já de pijama tento relaxar um pouco
ouvindo música e tomando uma dose do meu uísque preferido.
Alexia tem razão. Sua mãe não é confiável. Durante o jantar, ela não tirou os
olhos de mim e de Fergie. Leon se engana se acha que iria trocar Alexia por
Fergie está muito enganado.
Levanto do sofá e ligo o sistema de câmeras antes de ir dormir. Já tive meu
apartamento invadido uma vez e não quero correr o risco novamente. Só assim
durmo tranquilo, há câmeras escondidas em vários cantos do apartamento.
A campainha toca. Não estou esperando ninguém. E que diabos faz o porteiro
que não anuncia a entrada de visitantes. Um sorriso ilumina meu rosto. A não ser
que seja Alexia!
Abro a porta e meu sorriso se esvanece ao ver Fergie parada em minha porta.
— Aidan, preciso falar com você, é sobre Leon!
Leon? O que será que esse cara está aprontando?
Abro a porta e a deixo entrar.
— Diga-me logo. O que Leon fez?
Ao passar por ela para me sentar, sinto uma picada nas costas e ao me virar,
dispara:
— Bons sonhos, tolinho!
Fergie segura uma seringa e seu olhar é sinistro.
Tento manter meus olhos abertos, mas não consigo e a última imagem que vejo é
a de Fergie abaixada perto de mim. Desgraçada! Se ela e Leon pensam que irão
me prejudicar, sorriam, vocês estão sendo filmados!
Por Leon
No quarto de Aidan, Fergie fica nua e segura o seu celular. Ela aceitou nos
ajudar meramente por dinheiro. É uma modelo que fracassou na carreira e que
agora faz programas para sobreviver e quando descobri que já tinha se envolvido
com Aidan, a escolha não poderia ser mais perfeita. Por míseros dez mil dólares,
a garota está em minha frente e pronta para a fase final de nosso plano.
— Boa garota! — Colocamos o corpo de Aidan sobre a cama e tiramos sua
calça. — Agora é com você! Tire quantas quiser. Estarei na sala lhe esperando.
— Ok. Saio num minuto!
Na sala, me sirvo de uma bebida e me sinto vitorioso. Quero ver a cara de Alexia
ao ver fotos onde, uma moça que já foi seu caso antigo beija todo o corpo do seu
namorado. Vamos ver o quão forte é o seu amor?
Ajudar Beatrice nessa empreitada foi um enorme prazer. Aquela mulher mexe
comigo e sua beleza e charme me transforma em seu escravo. Faria qualquer
coisa por aquela mulher! Até matar!
Apanhe, você foi flagrado!
Por Leon
— Prontinho, aqui estão! Serviço realizado com sucesso! — Fergie mostra seu
celular e sorri. — E agora? Qual o próximo passo? — Fala, enquanto fecha sua
blusa. — Quer que eu as envie à namoradinha dele?
— Calma. — Ergo as mãos. — Ainda não! Temos que usar a cabeça! Pense
comigo... — me olha com curiosidade. — Se enviarmos essas fotos agora, ela
pode vir ao encontro do namorado e o encontrar totalmente dopado. Seria muito
suspeito e Alexia pode ser ciumenta, mas não é uma mulher que se deixa
enganar facilmente.
— Ah, entendi!
— Vamos esperar até o amanhecer. Avisarei o momento certo do envio.
— Você está se esquecendo de um detalhe. — Fergie se serve de um drink. —
Como irá explicar o que fazia no prédio de Aidan? As câmeras internas
registraram sua entrada!
— Oh, inocente garota! Já pensei nisso! Nada que uma boa gorjeta não resolva.
Já tomei todas as medidas possíveis para preservar a minha imagem. Minha
aparição jamais será comprovada. O funcionário responsável pelas câmeras
internas do prédio receberá uma boa recompensa para apagar tudo. Aidan não
poderá me acusar de nada! E quanto a você... — Toco em seu queixo. — Mande
as fotos e desapareça conforme o combinado! Ganhou muito bem por isso.
Beatrice e eu não queremos ter problemas com você. Está bem?
— Sim, entendi perfeitamente, tenho tudo pronto. Desaparecerei e ninguém irá
me encontrar.
Por Aidan — 05h30min
Com muita dificuldade, abro meus olhos. Sinto minhas pálpebras pesadas e a
boca seca. Olho para a cama e aos arredores, não há ninguém em meu quarto.
Estou nu e sinto uma leve tontura. Minha visão permanece desfocada.
O que aquela maluca andou fazendo?
Coloco uma calça e ainda cambaleante, ando até o meu escritório, onde
mantenho o monitor com todas as gravações que minhas câmeras captaram.
Ao olhar as imagens gravadas, vejo o quão sujo é esse tal Leon. Com certeza
essas fotos irão parar nas mãos de Alexia e, se isso ainda não aconteceu tenho
que agir rápido se pretendo desmascará-lo. Ligo em seu celular e torço para que
Alexia me atenda.
Sei que ficará chocada com as fotos, mas tenho como explicar e sei que ela
entenderá que caímos numa armadilha para nos separar.
— Atenda, por favor... — Digo comigo mesmo.
Com medo de que tudo tenha saído como aquele cachorro queria e se porventura
Alexia não me ouvir e resolver acreditar nele, será mesmo o fim. Sei que meus
antecedentes não me ajudam e tenho certeza de que a primeira coisa que virá em
sua cabeça é que a traí. Minha palavra, talvez, não seja suficiente para convencê-
la.
Essas imagens que irão me salvar.
— Alô? — Atende com a voz sonolenta. — Aidan? Aconteceu alguma coisa?
— Sim, preciso que venha em meu apartamento urgente.
— Que horas são? O que pode ser tão grave?
— Não posso falar por telefone, pegue seu carro e venha imediatamente.
— Está bem, me dê alguns minutos que irei me trocar e logo estarei aí.
Após desligar, salvo todas as imagens em um CD, tomo um banho e quando saio
do banho, minutos depois, ouço a campainha tocar.
— Oi, estou aqui. — Diz, assustada. — O que houve? — Toca meu rosto e beija
de leve em meus lábios. — Que cara horrível!
— Sente-se, vou lhe contar o que aconteceu depois que nos despedirmos.
E relato detalhe por detalhe da noite anterior.
— Aidan, isso é horrível!
— Tem mais. Venha comigo!
Levo-a até meu escritório e lhe mostro as imagens.
Sua cara de decepção e espanto se misturam, tapa a boca ao ver a imagem de
Leon em meu apartamento me arrastando para o quarto.
— Cheguei a acreditar nesse homem!
— Pois é, enganou muita gente com seu jeito peculiar. Muito perfeito. Sophia
não confiava nele e tenho que admitir que ela estava certa. Disse que não existia
homem tão perfeito assim, ele devia esconder algo.
— O que vamos fazer?
— Bem, pensei em arrebentar a cara dele, mas tive uma ideia melhor. Vamos
aguardar seus próximos passos, você irá receber essas fotos. Então, fará de conta
que acreditou em tudo que viu, ok?
— Mas, por quê?
— Quero ver até onde esse sujeito pode chegar. De algum modo, essas fotos irão
chegar até você. Finja que ficou horrorizada com o canalha. É isso que ele
espera: que você procure consolo com ele. Vamos dar uma lição nesse otário,
para que nunca mais atravesse nosso caminho.
Ela me abraça e eu a beijo demonstrando todo meu amor e alívio por tudo ter
dado certo.
— Ainda bem que consegui falar com você a tempo, eu a amo e não quero
perde-la!
— Eu te amo, Aidan e nada irá me separar agora que estamos juntos!
Assim, repasso todo nosso plano e Alexia vai embora.
Por Alexia
Volto para casa, e conforme Aidan e eu combinamos, espero que a mensagem
com as fotos chegue. Exatamente às 9 da manhã, recebo-as por um número
desconhecido.
Imagino o choque que iria levar se não soubesse a verdadeira história. Será que
acreditaria em meu namorado? Talvez fosse injusta e o perdesse por uma
armação suja, vinda de alguém que acreditava ser sincero.
Tomo meu café da manhã sozinha, meus pais saíram cedo e como todo sábado,
eles estão no haras. Max, pelo jeito, nem dormiu em casa. Ligo para Aidan e
peço para que venha. Vamos botar nosso plano em prática.
Bem, Leon, você quem pediu!
Vai aprender que não é só você que sabe mentir. Nunca menospreze a
inteligência alheia.
Em dois toques, o safado atende. E com uma voz de profunda tristeza, digo
"alô".
— Leon, estou arrasada!
— Minha querida, o que houve? — Minha vontade é de xingá-lo, mas prometi a
Aidan que iremos pegá-lo juntos.
Conto a ele sobre as fotos, e digo que preciso vê-lo.
— Claro, Alexia. Diga-me onde quer que lhe encontre.
— Pode vir aqui em casa? Estou sozinha e me sinto péssima.
— Em meia hora, estarei aí.
Aidan chega antes de Leon, e fica numa sala anexa à sala de jantar. Em poucos
minutos, Leon chega aflito, e junta minhas mãos geladas, geladas de tamanha
raiva que estou sentindo por esse grande filho da mãe.
E eu que cheguei a pensar em ter algum relacionamento com ele. Que espécie de
namorado ele seria?
— Alexia, vim voando! Fiquei muito preocupado com você!
Ando até o sofá e vejo, pelo canto da parede, o rosto de Aidan revirando os olhos
pela frase proferida por Leon. Tenho vontade de rir, mas me contenho.
— Pois é, Leon. Fui traída. — Isso saiu de modo verdadeiro, pois ele me traiu
quando armou essa cilada para me separar de quem amo.
Sento-me, e ele se senta ao meu lado.
— Não fique assim, minha querida. Estou aqui para lhe dar todo o apoio. Aidan
não merece e nunca será digno de você. Pensei que tivesse aprendido a lição,
mas teve que passar por uma situação como essa para enxergar. Não posso dizer
que estou triste por vocês, pois sabe o que sinto por você.
— Ai, Leon. Sabia que poderia contar com o seu apoio. Aquela vagabunda me
mandou fotos horríveis. Veja.
Ele olha, uma por uma, e posso ver em seu olhar a satisfação do dever cumprido.
— Uma pessoa que faz uma coisa dessas com você não merece o seu perdão,
não merece nada, Alexia.
— Tem razão. — Digo. — E quem faz isso, merece? — Abro o vídeo, onde ele
aparece arrastando Aidan. Sua face fica lívida, sem nenhuma cor.
— O que significa isso?! — Se levanta, imediatamente.
— Ah, senhor certinho! Tem certeza de que não sabe? — A voz de Aidan ressoa
no ambiente. Caminha até Leon e o junta pelo colarinho.
— Não sei do que você está falando, seu traidor. Você trai Alexia, e quer coloca-
la contra mim, montando essa imagem! — Grita com Aidan.
— Seu vagabundo! Tome isso! — Meu namorado soca a cara dele com tanta
força, que o mesmo vai ao chão.
De sua boca, sangue é jorrado.
Ele tenta se levantar para rebater o ataque, e por seguinte, leva outro soco. A
raiva de Aidan é visível. Leon não consegue acertá-lo, e em dado momento, peço
a Aidan que basta.
No mesmo instante, meus pais adentram à sala e minha mãe é a primeira a se
manifestar.
— Mas o que está acontecendo aqui?! — Olha para mim, horrorizada.
Aidan se adianta.
— Esse homem tentou me acusar de algo que não fiz, Sra. Mackenzie, e foi
flagrado por minhas câmeras que provam minha inocência.
Beatrice olha com espanto para Leon.
— Isso é verdade, Leon?!
Com o rosto todo machucado, diz:
— Sim, é. Queria acabar com o namoro de Alexia, e acabei perdendo o controle
de quem sou.
— De quem você é? Faça me rir! — Diz Aidan. — Você não é nada, seu
imundo!
— Fora de minha casa! — Diz meu pai. — Não quero vê-lo em minha frente! E
quanto ao cargo de diretor que ofereci há uma semana, sugiro que o esqueça!
— Mas, Sr. Mackenzie... — Tenta argumentar.
— Não ouviu o que meu marido disse? Saia de nossa casa agora, Leon!
Ele limpa a boca e anda vagarosamente até a porta. Minha mãe o acompanha e
espera que saia cabisbaixo.
Por Beatrice
Ainda bem que Leon e eu tínhamos um plano B, se acaso algo desse errado, ele
levaria toda a culpa e jamais diria que estou envolvida. Como consegui isso?
Fácil. A sedução é a pior arma para uma mulher astuta, e sendo bem dosada, é
uma ótima ferramenta. Ter Leon aos meus pés, totalmente apaixonado, facilita
tudo para mim, principalmente nessa ocasião, em que o TOUPEIRA foi pego em
flagrante. Acabamos vacilando, tenho ciência disso. Não imaginava que Aidan
tivesse câmeras em seu apartamento e isso foi puro descuido nosso.
Agora, terei que esperar a poeira abaixar para fazer algo a respeito desse namoro
patético.
Ao passar pela porta, trocamos olhares.
— Não me procure! Eu o faço, não coloque tudo a perder novamente. —
Sussurro.
E assim, fecho a porta e volto para junto de minha família como uma matriarca
que sabe muito bem apaziguar a sua família...
Passado bate à minha porta!!
Por Sophia
Depois do constrangedor incidente envolvendo Leon, os dias se seguem na mais
repleta paz e felicidade. Aidan e Alexia estão juntos e muito felizes. Aquele
homem, felizmente, não conseguiu seu intuito e não tivemos mais notícias suas.
Ando pelas ruas de Nova Iorque com Alexia à procura de algo para vestir em
meu noivado. Daqui a três dias, Sean e eu ficaremos noivos oficialmente e o
jantar será oferecido em minha casa. Meu pai fez questão de que fosse assim,
mesmo com a oposição de Beatrice que queria um jantar com toda a pompa e a
presença de metade da cidade.
Guerra perdida.
Sean concordou comigo e deixou claro que não fará de nosso noivado um evento
e sim, uma reunião íntima somente para a família e amigos.
— Que acha desse? — Alexia me mostra um lindo vestido verde, colocando-o
em sua frente.
— Bonito, deixe-me provar.
E depois de rodarmos por várias lojas, terminamos nossas compras e entramos
em uma lanchonete.
— Estou faminta, compras sempre me dá fome! — Pede um sanduíche e um
refrigerante.
— E eu, cansaço. Estou morta! — Bebo meu suco de abacaxi. — Não é para
menos, rodamos quase a cidade inteira à procura de algo que lhe agradasse.
Morde seu sanduíche e depois de limpar a boca em um guardanapo de papel e o
amassa.
— Não tenho culpa se me tornei uma mulher exigente e que sabe o que quer.
— Pois é. Aqui estamos, cheias de sacolas e sacolas.
Acho graça. Alexia e eu nos tornamos amigas desde o instante em que nos vimos
e adoro a sua companhia.
— Por falar em saber o que quer, e seu livro como anda?
— Ah, pensei que tinha esquecido!
— Como iria me esquecer? Sei que adora poesia e me disse que seu sonho era
publicá-las.
— Não te contei? — Bebe o refrigerante. — Uma editora se interessou pelos
meus poemas. Querem publicar e lança-los no mercado.
— Mas isso é maravilhoso! — Pego um guardanapo de papel e estendo a ela
juntamente com uma caneta. Alexia me olha sem entender e brinco. —
Autografe, por favor! Quando ficar famosa, poderei dizer que a conheci muito
antes da fama!
— Boba! — Bate na minha mão e eu a seguro forte.
— Sabe o quanto fico feliz por você. Sua amizade é muito importante para mim.
Gosto muito de você, Alexia.
— Eu também, cunhada. — Diz num sorriso.
Meu celular vibra. Mensagem de Sean.
“Estou em casa. Acabei de chegar. Ainda fazendo compras?”
Respondo.
“Já acabamos. Estou indo para aí, saudades. Bjs”
“Esperando faminto. Bjs”
Mesmo com o frio cortante da cidade, essa frase acabou de me aquecer.
Terminamos nosso lanche e nos despedimos. Ao olhar para o outro lado da rua
vejo meu cão de guarda me observando. Acho que nunca irei me acostumar com
a ideia de ter alguém em meu encalço.
Isso é tão estranho!
Ligo meu carro e parto para a casa de Sean. Corrigindo, nossa futura casa! A
partir de janeiro, será também o meu lar. Entro na garagem e a fecho. Pego
minha bolsa e uma de minhas sacolas. Comprei uma linda camisa para meu
noivo e quero que ele a use em nosso noivado.
Abro a porta da sala e caminho até seu escritório. Vazio. Pensei que estivesse
aqui. Ah, claro! Deve estar em nosso quarto. Giro a maçaneta e bem devagar
empurro a porta.
Nada. Cama vazia e banheiro também.
Onde esse homem se meteu?
No corredor anexo à biblioteca, ouço sons vindo de uma TV ligada. Passo pela
porta que está aberta e tenho a melhor visão que uma mulher apaixonada pode
ter. Sean deitado no sofá, usando somente uma calça de moletom preta,
totalmente concentrado assistindo à um filme. Ele não percebe minha presença e
então, aproveito para admirar essa cena incomum. Com as sobrancelhas
arqueadas e semblante compenetrado, braços dobrados atrás do pescoço ele não
tira os olhos da tela. Realmente lindo.
— Que folga é essa? — Digo, enquanto me aproximo.
— Estava esperando por você! — Estende seus braços e me aconchego entre
eles no mesmo instante que sua boca quente e possessiva esmaga meus lábios —
como você estava demorando, resolvi assistir a um filme. — Passa os dedos por
meu queixo. — Estava com saudade.
Me derrete com sua voz grave e quente.
— Eu também, muita.
— Adorei esse vestido, está linda nele!
— Obrigada. — Olho para seu corpo esparramado no sofá. — Você também está
lindo usando essa calça.
Puxa meu corpo para o seu e me deita de costas para ele. Seu braço se enrosca
em minha cintura.
— Supremacia Bourne? — Digo, reconhecendo o filme em questão.
— Sim. — Afasta meu cabelo e distribui vários beijos em meu pescoço.
— Não vai assistir? — Gemo ao sentir suas mãos acariciando meus seios por
cima do tecido de meu vestido.
— Não. — Morde o lóbulo de minha orelha. — Tenho coisa muito melhor para
fazer. — Sua voz sai numa espécie de sussurro rouco e erótico, me causando
arrepios. — Estou faminto, não disse?
— Uhum... — Seus dedos sobem por minhas pernas e agarram a barra do meu
vestido, arrancando-o devagar. — Adoro meu futuro marido faminto.
De calcinha e sutiã, suas mãos fortes passeiam pelo meu corpo enquanto se
esfrega em mim deliberadamente e totalmente excitado. Viro meu pescoço e
nossas bocas se encaixam num beijo carregado de desejo e paixão.
— Faminto por você, sempre. — Abre meu sutiã e solto um gemido rouco ao
sentir seus dedos apertando meus mamilos. Minhas mãos o agarram pelo
pescoço enquanto sua boca beija e mordisca de leve meus ombros. — A vida
toda, só você! Eu a amo muito, Sophia! — Se livra de sua calça, pega uma de
minhas mãos e a coloca sobre seu membro excitado.
— Eu o amo e jamais haverá outro em minha vida, Sean. Só você me completa,
é tudo o que busquei para mim!
Bem devagar, tira minha calcinha e a joga no chão. Seus dedos apertam minha
coxa e em seguida, penetram em meu sexo com uma calma que me faz perder o
controle. Quero que seja voraz, intenso como só ele sabe ser comigo.
— Sean... arqueio e tento movimentar meus quadris, buscando meu orgasmo
com urgência.
— Ainda não... calma... quero deixar minha mulher louca de tesão. — Sua
respiração em meu ouvido e sua boca deslizando em minha pele só aumentam a
minha pressa. — Com muito tesão...
— Venha para mim, vem... — Peço num gemido e coloco seu membro em minha
entrada, incitando-o.
Ele se esfrega em meu sexo numa tortura alucinante, porém não me dá o que
quero. Com seus olhos semicerrados solta um longo suspiro ao sentir que o
incito a me penetrar com urgência.
— Assim não vale, meu amor... — Digo num sussurro.
— Estou aqui para você... — Vira meu corpo e seu olhar de macho dominante
me prendem. — Mantenha seus olhos abertos, meu amor e continue olhando
para mim. — O obedeço e muito devagar, o sinto penetrar em meu corpo. Um
suspiro involuntário escapa de mim e sua boca esmaga a minha. Sean segura-me
pelos quadris me puxando ainda mais para ele, metendo mais rápido e ainda
mais fundo.
— Ah, não pare... — me sinto dependente desse homem, nas suas mãos me sinto
forte, desejada, poderosa e amada. E isso me faz querê-lo sempre mais. Desejar e
amá-lo como ninguém. — Adoro você em mim...
Meus dedos correm por seu cabelo tão macio, no instante que minha boca
percorre seu rosto distribuindo beijos e pequenas mordidas em seu queixo.
— E eu adoro estar dentro de você! — Para de se movimentar e segura meu
quadril, impedindo qualquer movimento meu. — Seu gemido a cada metida
minha, me deixa ainda mais louco de desejo por você! — Volta a se movimentar
e não me aguento mais, meu orgasmo me dilacera, da cabeça aos pés sinto todo
meu corpo se entregar a ele e mais algumas estocadas e chega sua vez de se
entregar a mim.
Agarrada a ele, com seus dedos em meus cabelos, comento.
— Supremacia Bourne se tornou meu filme favorito a partir de hoje!
— Bom saber disso, tenho a coleção completa.
[...]
Durante o nosso jantar, Sean comenta:
— Sophia, o jornal The Washington Post entrou em contato comigo, querem
fazer uma matéria com você, saber mais sobre minha futura esposa.
— E o que você respondeu? — Levo o garfo à boca. — Não acha desnecessário,
afinal já não iremos aparecer no jornal de propriedade de sua família?
— Sim, iremos. Mas o dono do jornal é amigo de meu pai e não achei
conveniente negar. Mandei uma foto nossa e uma jornalista entrará em contato
com você. Só o que tem a fazer é responder as perguntas e, se achar melhor,
mande as informações por e-mail.
— Sendo assim, não há problemas, faço isso por você. — Ainda debocho. —
Será que ela irá perguntar como nos conhecemos? E como nosso romance
começou?
— Se perguntar, diga "quase" a verdade, se contar que ia me roubar e acabamos
nos apaixonando, ninguém irá entender! — Toma o restante do vinho e sorri.
Saímos da mesa e nos dirigimos para nosso quarto.
— Adorei a camisa, a usarei na sexta-feira, em nosso noivado. — Prova meu
presente e o mesmo caiu-lhe como uma luva.
— Que bom que gostou! Ficou perfeita em você! — Levanto-me da cama e pego
minha roupa sobre a poltrona.
— Onde vai? Posso saber?
— Preciso ir para casa, amanhã, logo cedo, tenho mil coisas para resolver. Se eu
ficar, acabarei perdendo a hora.
— Fique, — Anda até mim e segura-me pelo queixo. — Também tenho que
acordar cedo. Amanhã, deixo você em casa, prometo.
— Não faça essa cara, sabe que acabo não resistindo. — Jogo a roupa de volta
na poltrona.
— Combinado! Então, vamos para cama, já é tarde!
— Hum, pensei que nunca iria dizer isso! — Me olha com malícia, esfregando
as mãos.
— Para dormir, engraçadinho!
— Estava justamente me referindo a dormir, você que tem a mente suja e pensou
ao contrário, sou um bom menino, não se esqueça disso! — Faz uma careta e
sorri.
No outro dia, já em minha casa, propriamente em meu quarto, Angelina entra
como um relâmpago em dia de tempestade.
— Sophia, há uma moça querendo falar com você! Mandei-a aguardar na sala!
— Quem é?
— Ela se identificou como Andy, jornalista do Washington Post.
— Vou recebe-la. Andy me ligou há pouco, quer fazer uma matéria que irá sair
na coluna social de quinta-feira. Já mandei por e-mail, mas achei melhor gravar
uma entrevista para ela.
Durante a entrevista, Andy se mostrou muito simpática e me deixou muito à
vontade. Respondia todas suas perguntas, ou quase todas. Claro que evitei as
perguntas relacionadas à minha mãe biológica, pois a seu respeito nada sei, o que
não é nenhuma mentira. Falo sobre o orfanato, onde vivi até os onze anos, e
minha nova família.
Acho que isso será suficiente.
Muitos irão criticar a união de um homem de família nobre e influente com uma
moça que até alguns anos era órfã. Que se danem! Não irei esconder o meu
passado para viver de convenções que considero banais e fúteis. Claro que não
mencionei minha profissão obscura, meus roubos do passado ficaram em off.
Andy se despede e me deseja felicidades. Ela tem um sorriso largo e me parece
uma mulher muito simpática.
Depois que ela sai, Angelina e eu conferimos tudo para o jantar de sexta. Não
quero que nada saia errado. Vicenzo ficou encarregado dos vinhos, e eu do
cardápio, flores, copeiros e tudo mais.
Com tanta coisa para fazer, nem me dou conta do tempo que passa rapidamente.
No dia seguinte...
Por Marcella
Limpo toda a recepção do prédio e ao terminar, empurro meu carrinho ao
escritório da gerência que comanda o meu setor.
Peço licença e minha chefe, Irony, está concentrada em alguns papéis e nem me
olha direito. Em seguida, ergue a cabeça e ajeita seus óculos.
— Pois não, Marcella, gostaria de falar comigo? Do que se trata?
— Preciso de uma dispensa amanhã! Tenho um assunto urgente a tratar.
— É grave? Posso ajudar em alguma coisa.
Irony, como chefe do setor, sempre se mostrou muito próxima de todos os
funcionários, inclusive eu. Sempre que algum de nós tem um problema, ela não
mede esforços para nos ajudar. É uma excelente pessoa.
— É um assunto particular, preciso estar em Nova Iorque amanhã.
— Sem problemas. Já reservou a passagem?
— Sim, já. Parto logo cedo.
— Precisa de algum adiantamento?
— Não, obrigada. Tenho algumas economias.
— Então, boa viagem e que consiga resolver seu problema.
— Obrigada, até segunda.
— Até.
No vestiário, olho mais uma vez para a foto do casal e toco seu rosto.
Minha filha, minha Sophia. Era ela! Não estava enganada. Pude comprovar sua
identidade através da entrevista cedida por ela. Viveu na Filadélfia, no orfanato
Saint Clair até os 11 anos, e depois foi adotada por Vicenzo Salvatore.
Minhas mãos tremem, e as lágrimas molham o papel. Tantos anos separadas,
como ela irá reagir ao me ver? Ainda mais em uma situação como essa!
Além de me apresentar como sua mãe, terei que revelar a identidade de seu pai
biológico que, por sinal, é o pai de seu noivo! Com isso, não poderão se casar,
porque são irmãos. Ah, meu Deus! Quantas ciladas a vida nos impõe!
Ela é tão linda e me parece tão feliz ao lado do rapaz. Aliás, os dois parecem
muito felizes juntos. Mesmo partindo o meu coração, não posso deixar que uma
tragédia como essa aconteça. Estou dividida entre dois sentimentos: a alegria de
tê-la encontrado e de ser a responsável por acabar com sua felicidade.
Ao chegar em meu pequeno quarto, pego a foto de Sophia ainda bebê, e uma
foto minha usando a corrente que deixei com ela ao abandoná-la. Espero que ela
ainda tenha essa joia, ou ao menos tinha posto os olhos naquele pingente. É a
prova de que sou sua mãe. Também nada que um exame de DNA não comprove
isso!
Arrumo minha pequena valise e preparo meu jantar. Amanhã, partirei para Nova
Iorque. O grande dia de rever minha filha finalmente chegou!
Sexta-feira — Jantar de noivado
Por Sophia
Confiro os últimos detalhes e Angelina chama minha atenção:
— Está tudo certo, Sophia! Agora, é só esperar a velha pedante com cara de
enterro!
Acho graça.
— Você sabe das coisas, fofa! Essa deve ser a cara de minha futura sogra no dia
de hoje!
— Não ligue! Você não ficará noiva dela, e sim, de seu filho!
— Sei disso.
Vicenzo e meu irmão aparecem na sala com seus trajes impecáveis.
Meu pai se aproxima de mim e beija meu rosto.
— Você está linda, Sophia! — Olha para o meu pescoço e emenda. — Há muito
tempo não a via usando essa joia.
— Pois é. — Toco a gota e sorrio. — Senti vontade de usá-la. De alguma forma,
minha mãe estará presente em meu noivado para me abençoar.
— Tem razão. Tenho certeza de que se ela estivesse aqui, sentiria muito orgulho
de sua filha, como eu.
A campainha toca e eu mesma vou até a porta para receber os convidados.
Os primeiros a chegar são Aidan e Alexia. Ela me abraça tão forte que parece
que vai me quebrar ao meio.
Em seguida, Lay aparece com seu olhar e sorriso radiantes. Ela e Lorenzo
formam um casal e tanto. Espero ver casamento em breve dessa relação.
Enfim, Sean aparece. Estava pensando que havia desistido. Aidan e Lorenzo me
enchem de piadinhas maldosas a respeito.
Noto que ele realmente usa a camisa que comprei.
De mãos dadas, ficamos conversando à espera de Max e a namorada, Joseph,
que também foi convidado e logo são recebidos por Angelina.
Chego a pensar que a megera não virá. Porém, mais um toque a campainha
indica que me enganei.
Harry e Beatrice entram e vêm ao nosso encontro. Ela, como sempre, muito
elegante e bem vestida, me cumprimenta com um beijo "de Judas" no rosto.
Harry, por outro lado, parece ter visto um fantasma ao olhar diretamente para
mim.
— Sophia, — Ele diz com dificuldade, parece muito nervoso. — Onde
conseguiu esse colar?
Minhas mãos pairam sobre o pingente e não imagino o porquê desse espanto
repentino de meu sogro.
— Era de minha mãe. É a única coisa que me sobrou como lembrança. Está
comigo desde que fui abandonada no orfanato.
Ele parece que entra em choque.
— Papai, o que houve? — Questiona Sean.
E nesse exato momento, não sei como vejo uma estranha aparentando uns 50
anos, invadindo minha casa e falando aos berros:
— Esse noivado não pode acontecer!
— Quem é você? — Vicenzo anda até ela, e segura em seu braço.
— Sou Marcella Pavanelli, mãe de Sophia. Estou aqui para impedir que ela
cometa um erro. — Grita, esbaforida como se estivesse tentando apagar um
incêndio.
— A senhora deve ter cometido um engano! Por favor, queira se retirar. —
Vicenzo argumenta.
Harry, que até então se mantinha calado, resolve abrir a boca.
— Marcella?
— O senhor a conhece? — Sean intervém.
— Claro que me conhece! Harry Mackenzie e eu tivemos um caso há muitos
anos, ele é o pai de Sophia!
Sean engole em seco, e todos na sala ficam chocados.
— Pai de Sophia? — Beatrice entra na conversa.
— Sim, Harry é pai de Sophia. Portanto, eles não podem se casar.
Eu não consigo dizer nada, pensar em nada, simplesmente sento me e fico ali,
paralisada, observando cada movimento.
Sean nota minha reação e segura minha mão gelada.
— É verdade o que essa louca disse, Harry? — Beatrice segura-o pelo braço.
Ele dá alguns passos e se vira, olhando para mim.
— Sim, Marcella e eu mantivemos um relacionamento amoroso.
A sensação que tenho é de que o mundo desabou em minha cabeça. Há menos de
quinze minutos, me sentia a pessoa mais feliz dessa terra e, agora essa sensação
desaparece. Dadas as circunstâncias, não há possibilidade de volta.
— Meu amor, diga algo. — Sean está tão abalado quanto eu.
Meus olhos encontram os seus e não consigo dizer nada, apenas lágrimas de dor
e muita tristeza caem do meu rosto. Acho que nunca chorei com tanta angústia
como agora.
— Não chore, por favor. — Ele tenta me consolar, mesmo sendo mais forte,
sinto o quanto está sofrendo. — Isso deve ser um engano, você vai ver!
Lorenzo se aproxima e se senta perto de nós. Coloca sua mão em meu ombro.
A estranha se aproxima e me chama.
— Sophia, sou sua mãe! Essa corrente que você usa é um presente que Harry me
deu quando estávamos juntos.
Isso não pode ser verdade. Não agora! Não comigo!
— Diga que isto é uma brincadeira, por favor! — Peço em soluços.
Vicenzo está sem palavras. Ele, que sempre soube o que dizer nas piores horas,
está tão chocado como eu. Permanece atrás do sofá com as mãos em minha
cabeça.
— Gostaria de tirar essa tristeza do seu rosto e poder dizer que estou mentindo.
— Diz a mulher que para mim nunca teve um rosto. — Sempre tive esperanças
de poder reencontrá-la, e não pense que para mim esse momento está sendo
fácil. Deveria ser um momento de alegria, no entanto, lhe trago dor e
infelicidade. — Ela também chora.
Solto das mãos de Sean, e fico em pé. Enxugo as lágrimas e encaro um a um.
Beatrice me olha e em seus olhos posso ver as duas faces de sua alma perversa e
mesquinha. Por um lado, vejo o ódio por eu ser a prova de seu casamento
rodeado de traição. Sou a prova viva disso e, por outro, sua alegria em saber que
Sean não ficará ao meu lado como eu sonhava.
— Angelina, dispense todo o buffet, por favor. O jantar está cancelado!
Angelina obedece ao meu pedido.
Marcella tenta se aproximar, mas é estranho, eu a evito. Não quero que ela me
toque. Em seus olhos, quando criança, imaginava minha mãe voltando para me
buscar, me tirar da solidão em que me encontrava. Ela era linda e doce. Como
uma fada. Agora, voltando à realidade, vejo em minha frente uma mulher
amarga e infeliz. E minha intuição se aguça e me diz que ela não veio até mim
simplesmente por amor e para me avisar sobre meu parentesco com Sean.
Marcella não me parece ser uma vítima e indefesa, espero estar enganada.
— É uma longa história, sentem-se, por favor. Quero esclarecer os fatos. — É a
vez de Harry falar.
E então, o meu passado me olha e diz que chegou a hora de encará-lo.
Sem você!
Por Harry
Antes de começar a falar, Aidan e Alexia, Danielly e Max juntamente com
Joseph saíram cada um para suas casas, deixando somente as pessoas envolvidas
da família para a tão difícil conversa. Até Lorenzo, irmão de Sophia, sai levando
Lay com ele.
Depois de relatar tudo o que sabia, Marcella não me olha nos olhos quando se
dirige a mim.
Isso não poderia acontecer agora, meu filho estava tão feliz! Encontrou a mulher
por quem estava apaixonado e iria se casar e finalmente ia ter a sua família.
Poderia morrer tranquilo sabendo que tudo estava entrando nos eixos. Nada saiu
como planejei.
— E foi assim que eu e Marcella rompemos. Ela anunciou sua gravidez e eu me
afastei definitivamente. — Proferi, amargurado.
— Seu miserável, me traindo descaradamente e vivendo como um homem
solteiro em outro estado. Nunca imaginou ser descoberto, não é Harry? —
Beatrice anda de um lado para o outro. — Se queria me humilhar na frente de
todos, conseguiu o feito!
— Beatrice, nossos problemas conjugais, discutiremos mais tarde quando
estivermos a sós! O problema aqui é outro. Não seja egoísta, pelo amor de Deus.
— Grito. — Há questões muito mais importantes a serem resolvidas aqui do que
nosso "casamento".
Ela se assusta e se retém a ficar quieta. Olho para Sean e não sei como me
aproximar e acalma-lo. Sophia, em pé, já não tem o mesmo brilho de alegria de
outrora. O passado acaba de mostrar suas cartas e nós, jogadores, nos
encontramos em um jogo difícil onde ninguém sairá sem ser machucado.
Sophia. Quem diria que essa moça bonita e inteligente fosse a criança que
rejeitei há tantos anos. Quando Sean a apresentou como namorada, ela me
cativou de imediato. Uma de suas maiores qualidades, sua coragem. Seus olhos
negros como os da mãe exalam força e coragem. Agora, a vejo como um animal
doente e ferido que só deseja o isolamento para morrer sozinho sem que os
outros vejam o seu fim.
— Sophia. — A chamo e muito devagar e ela me encara. — Sugiro que façamos
um exame de DNA na segunda-feira para comprovar o que Marcella acaba de
dizer, nessa sala.
— Você sabe que estou dizendo a verdade, Harry. Tenho absoluta certeza do que
digo. — Marcella argumenta. — Não levantaria um assunto como esse se não
tivesse a certeza do que estou dizendo.
Sophia anda até mim.
— Está bem. Também quero tirar isso a limpo, apesar de todas as evidências
comprovarem o óbvio. — Ela se vira para todos e olha um por um. — Quero
deixar claro desde já que, com o resultado positivo, não mudarei o meu nome.
Não me tornarei uma Mackenzie nessa situação.
— Mas, por que? — Pergunto.
— Porque me orgulho do nome que tenho. Aquele homem! — Aponta em
lágrimas para Vicenzo, que a olha com adoração e pesar do momento. — Me deu
mais que um nome, me deu uma família, amor e carinho que jamais imaginei
obter em minha vida. É meu pai e o continuará sendo. — Vira-se para mim. —
Nada mudará! Teria o nome Mackenzie se me casasse com Sean, mas tirar o
nome do meu verdadeiro pai seria uma grande ingratidão e eu detesto ser ingrata.
Vicenzo se enche de orgulho do sentimento de Sophia. Ela, realmente, é uma
filha muito especial. Também sentiria o mesmo.
— Mas, minha filha, você tem seus direitos. — Marcella volta a falar.
— Marcella. — Sophia se dirige a ela. — Por favor, depois conversarei com
você! No momento, deixe-me esclarecer mais alguns pontos.
Marcella se encolhe e consente.
— Outra coisa, Sr. Mackenzie! — Faz uma pausa e olha para Sean. — Não
quero que nada que foi dito nessa sala seja divulgado! — Limpa seu nariz com
as costas das mãos. — Por Sean, pela sua carreira, pelo amor que sinto por ele.
Não divulguem o motivo de nosso rompimento.
— Ora, ora pelo menos concordamos em algo, Sophia! — Beatrice sorri como se
acabasse de vencer uma partida de gamão. — Parece que os noivados em nossa
família estão fadados ao fracasso. — Seu sorriso vem acompanhado de um
escárnio evidente e fora de hora.
Meu olhar de fúria recai sobre minha esposa e ela resolve se calar. Egoísta,
Beatrice diz amar tanto seu filho e, no entanto, não percebe o quanto o magoa
abrindo sua boca para dizer certas coisas.
— Mamãe, por favor! — Sean a repreende e se levanta. Anda até a janela e seu
olhar fica perdido através da vidraça. Nunca o vi tão triste e o pior é que não
posso tirar a sua dor. Beatrice se aproxima dele e o abraça. Fala com ele e o
acaricia no rosto.
Sophia continua.
— Nada irá mudar. Diremos à imprensa que resolvemos nos separar por um
motivo comum a todos os casais. Vimos que não estávamos apaixonados o
suficiente para irmos em frente. — Passa as mãos pelos cabelos, ela está muito
nervosa. — Agora, se todos me dão licença, gostaria de falar a sós com Sean.
— Minha filha... — Marcella novamente a interrompe. — Precisamos nos falar,
por favor!
— Papai! Leve Marcella lá para dentro. — Aponta para o corredor.
— Sim, minha filha! — Ele diz.
— Conversaremos depois. — Encara Marcella com desconfiança.
Sean se solta dos braços de Beatrice e caminha até Sophia. A tristeza de ambos é
angustiante.
Nos despedimos e todos saem da sala, deixando-os a sós.
Nada, nesse momento, pode ajudar a amenizar o sofrimento que os atinge.
Por Sophia
A sala parece um eterno abismo. Sean em minha frente me encarando com os
olhos avermelhados e tristes como nunca vi. Não consigo dizer quem está mais
infeliz. Se eu ou ele.
Sei que minhas palavras sairão entrecortadas pelos vários soluços de dor que
atravessam minha alma.
— E agora? — Pergunta.
Toco seu rosto e mantenho minhas mãos ali. Meu coração se aperta. Nunca mais
o terei, jamais ele será meu como antes.
De olhos fechados, ele segura minha mão em seu rosto.
— É o fim para nós. — Digo em prantos. — Tudo o que sonhamos desmoronou!
Só nos resta esquecer tudo, passar uma borracha e tentar viver como se isso
fosse parte de um sonho bom.
— Me diz como, Sophia? — Pega minha mão e a deposita em seu peito. —
Como tira-la daqui? E daqui? — Aponta para sua cabeça. — Isso dói muito,
muito. — Nunca o vi com a voz tão amarga.
De seus lindos olhos, uma lágrima cai. Passo meus dedos por ela, tentando
aliviar o sofrimento do único homem que amei em minha vida.
— Eu não sei a resposta, Sean. Estou me sentindo fraca, destruída. Como vou
olhar para você e pensar que agora é meu irmão? Como deixar de deseja-lo? De
amar você?
Meu rosto está coberto de lágrimas. Não consigo me controlar.
— Sophia, vamos embora, sumir... desaparecer e viver em outro lugar como se
essa história nunca tivesse existido!
Ele me aperta em seus braços em desespero. Limpa minhas lágrimas e me
encara.
— Viveríamos em qualquer lugar, por você eu largo minha carreira, família,
tudo! O que não posso é viver sem você!
— Sean... Olhe para mim! Eu o amo e não sei como irei lidar com esse
sentimento a partir de hoje. — Agora são suas lágrimas que não param de cair.
— O amo tanto que não quero viver na sombra com você. Já fui invisível a todos
e sem conhecer qualquer espécie de carinho. Vicenzo apareceu e me mostrou a
luz. Eu me apeguei a essa luz de tal forma que não quero viver na escuridão. E
você também nasceu como eu. Não merecemos viver dessa forma. Temos
caráter! Você e eu não conseguiríamos viver com esse problema entre nós.
Acabaríamos nos separando da mesma maneira. Você nasceu para brilhar, Sean.
Fecha seus olhos deixando mais lágrimas se derramarem pela sua face.
— Tem razão, me desculpe! Meu desespero por perder você é tão grande que
acabei dizendo isso.
— Olha, eu o amo como homem e a partir de agora terei que tirar forças não sei
se onde para sufocar esse sentimento. Ah, Sean... — o abraço forte pela última
vez.
Sua camisa está molhada com minhas lágrimas.
Ele segura em meus braços e tenta levantar minha cabeça.
— Sophia... Não faz assim... Se você não for forte, eu também não irei
conseguir...não chore... não aguentarei vê-la assim.
Inspiro forte o ar e tento me recompor, pois a nossa dor é tanta que parece que
nos dizima a cada segundo.
— Serei forte por nós dois. E quero dizer algo que jamais imaginei dizer a você!
— Completa.
— O que, diga? — Ele tira uma mecha do meu cabelo que está em minha testa.
— Você é uma mulher inigualável e... — Engole seco e continua. — Não sei
como será daqui para frente, mas quero que seja feliz, por mais que isso me doa,
Sophia. — Ele começa a derrubar lágrimas novamente. — Eu a quero muito bem
e saiba que mesmo de longe, estarei olhando por você, se precisar de mim para
qualquer coisa, sabe onde me encontrar.
— Não fale assim, minha felicidade foi embora a partir do momento em que
Marcella apareceu por aquela porta. Jamais amarei alguém como eu o amo. E
agora, terei que deixar de amar. — Meu pranto se aperta e esmaga a minha
garganta, pois sei que nunca mais o terei para mim.
Ele aperta a minha mão.
— Sophia, tenho que ir...
Não quero que ele se vá, sei que tudo acabou e que ao sair por aquela porta,
meus sonhos, minhas alegrias e uma parte boa de mim irá com ele.
Anda alguns passos, gira a maçaneta da porta. Antes de sair, e olha com seus
olhos vermelhos e tristes.
— Adeus, meu sonho bom...
Fecha a porta atrás de si e desabo no sofá, choro tão alto que meu pai vem ao
meu auxílio.
— Oh, minha filha, estou aqui! Chore...
Ele me embala junto a ele como há dez anos, naquele beco. Só que agora a dor é
ainda maior, pois na rua eu não conhecia nenhum tipo de sentimento e nesse
momento daria tudo para voltar no tempo.
Angelina também se aproxima e me afaga.
— Estamos com você, minha linda, não ficará sozinha!!
Me recomponho e olho para minha fofa.
— Obrigada, minha fofa! Vá para casa, querida, você já trabalhou demais por
hoje! Fique tranquila. — Ela me olha com tanta piedade que chego a me sentir
mal.
— Tem certeza de que não precisará de mim? — Diz.
— Sim, pode ir.
Ela pega sua bolsa e vai embora.
— Vou dizer à Marcella que volte amanhã, Sophia, ela está na cozinha e você
não está em condições de falar com mais ninguém. — Meu pai limpo com um
lenço as últimas lágrimas insistentes.
— Não. Irei até ela e será agora.
— Você está muito abalada, minha filha, não acha melhor conversarem amanhã?
Levanto-me e respiro fundo.
— O senhor me ensinou uma coisa muito importante e irei usá-la agora: De
minha fraqueza, farei minha força e irei até ela e teremos uma conversa
definitiva.
Conheço tanto Vicenzo e posso sentir sua aflição. Ele teme que com a aparição
de Marcella, algo mude entre nós.
— Papa. — O chamo assim quando quero toda a sua atenção em minhas
palavras. — Eu o amo. — Pisco para ele e me dirijo à cozinha.
A cada passo em direção à cozinha, um pensamento me vem à cabeça e que
Deus me puna se estiver enganada, em verdade, gostaria de me enganar, nesse
momento, a respeito dessa mulher. Trajando roupas simples, olhar cansado e de
poucas palavras, minha intuição nunca me deixou na mão e com isso pude fazer
um raio—x de Marcella enquanto estava na sala.
Agora, terei a conversa mais esperada de nossas vidas. Talvez, a primeira e
última.
— Marcella.
Com o olhar absorto em uma xícara de café, ergue os olhos e sorri.
— Sophia, esperei tanto por esse momento, mas quero que saiba que, não queria
ter lhe causado tanto sofrimento.
— Nem vou lhe perguntar como me encontrou. — Sento-me em frente a ela. —
Deve ter visto minha entrevista nos jornais. — Você mora em Nova Iorque? —
Digo seca, não consigo sentir nenhuma emoção pela dor causada em meu peito
há pouco.
— Não, minha querida, moro em Los Angeles, trabalho como zeladora e você
tem razão, vim assim que li uma matéria sua no The Washington Post.
Sirvo-me de uma xícara de café, preciso de algo que me desperte, sempre a quis
conhecer e, no entanto, meu pensamento está lá fora. Penso em Sean.
— Marcella, por que me abandonou daquela forma? Não me amava?
Fecha os punhos e abaixa a cabeça. Sinal de covardia.
— Bem, parte da história você ouviu pelo Harry.
— Sim, agora quero ouvir a sua parte. Pode começar, estou aqui para saber tudo
o que houve.
Ela ainda espera alguns segundos para começar a falar.
— A verdade é que, na época, era uma jovem ingênua de Ohio e conheci Harry
quando me mudei para a Filadélfia. Sem estudos, porém com muitos sonhos e
Harry parecia um príncipe caído dos céus para me tirar de toda a vida miserável
em que me encontrava. Começamos o que eu achava que seria um belo romance,
até que engravidei.
— Hum... E? — Não sinto nenhuma pena por ela.
— Harry chegou a me oferecer dinheiro para um aborto, mas eu recusei. Então,
vivi com você com algumas poucas economias até que me vi sem saída, com
uma criança recém-nascida e sem trabalho.
— Milhares de mulheres vivem sozinhas em dificuldades, mas não abandonam
seus filhos, Marcella.
— Sophia, me perdoe. Sei como deve ter sido difícil para você!
— Sabe? Tem certeza?! — Bato na mesa com força. — Não, você não sabe. Foi
abandonada por um homem que não a quis, porém isso é muito diferente de ser
rejeitada pela própria mãe.
— Sophia, me ouça!
— Me ouça você, primeiro! Eu vivi num orfanato e lá eu não existia. Fugi, vivi
na rua durante três anos e só me senti alguém quando Vicenzo me deu um lar.
— Queria o melhor para você! Alguém que pudesse lhe dar o que eu não
conseguiria!
— O que você não poderia me dar? Roupas, casa? É isso? Acha que eu não
viveria debaixo de uma ponte sendo amada? Se me amasse, eu comeria lixo
junto com você! — Meu desabafo ecoa pela cozinha. — Mas, preferiu me deixar
e voltar agora para me trazer ainda mais dor!
— Sophia, fui covarde, admito. Mas, não me acuse de egoísta, fiz tudo para
poupar sua vida. — Olho-a, sinto algo verdadeiro ali. — Estava recebendo
ameaças e senti muito medo, pela sua vida.
— Ameaças? Quem a ameaçou?
— Harry, só pode ter sido ele. — Diz, em acusação. — Recebi várias cartas
anônimas com ameaças veladas de morte. Tive muito medo, e então, a deixei
num orfanato. Voltei anos depois para saber se ainda se encontrava lá, mas o
local já não existia mais, foi consumido pelo fogo.
Pego minha xícara e a deposito na pia.
— Está bem, Marcella. Eu não vou julgá-la por sua atitude. — Me sinto
exaurida. — Entendi seus motivos, e agora, não adianta lamentarmos o passado.
Temos o presente que caminha para um futuro.
— Obrigada, ainda bem que você me entendeu. Fiquei tão feliz em saber que
está bem, vivendo em uma casa confortável.
E como nunca me engano, minhas suspeitas se confirmam. Ela veio atrás de
dinheiro. Uma filha que a ajude e vamos ver até onde ela quer chegar com esse
papo furado de "minha filha, voltei".
— Sim, tenho uma vida confortável, e não posso me queixar.
— E o que eu poderia dar a você? Vivo em um quarto—sala menor do que o
lavabo desse apartamento.
— Já pensou que nós duas poderíamos ter um lar juntas, fosse ele de qualquer
tamanho e que não estaríamos nessa situação?
— Sim, minha filha, eu sei disso. Mas, agora que será reconhecida como uma
Mackenzie, se tornará uma mulher muito rica, não é bom? Há males que vem
para o bem! Ao menos, não será uma miserável como eu!
Marcella é tão pequena que não enxerga nada em sua frente. Além de ter me
abandonado quando bebê, me traz essa horrível notícia e me abandona
novamente pensando somente em dinheiro. Será que não vê como estou
sofrendo?
— Você é surda ou se faz de idiota? — Perco minha compostura e falo alto. Até
meu pai aparece na cozinha.
— Que foi que eu disse de errado?
— Não fui clara o bastante? Quando disse que não quero o dinheiro dos
Mackenzie, falei sério.
— Mas, Sophia. Aquele dinheiro também é seu por direito.
— Saia da minha frente, sua interesseira! Suma daqui! Agora, entendi tudo!
Ela não se mexe, parece que ficou chocada com os meus gritos.
— Me procurou por todo esse tempo, não por amor, e sim, para saber se estava
bem financeiramente. Se Sean e eu não fôssemos irmãos, você iria aparecer de
qualquer maneira, pois seria sua chance de lucrar de alguma forma. — Me
aproximo e junto em seu braço, levantando-a da cadeira. — Você irá sair por
aquela porta e nunca mais irá me procurar, entendeu?!
— Minha filha, espere! Eu só quero o seu bem!
— Saia! E se abrir a boca para contar a alguém sobre meu parentesco com Sean,
eu acabo com você!
— Sophia, por favor! — Vicenzo intervém. — Já chega!
Vira-se para Marcela, que mantém os olhos arregalados e ajeita sua bolsa nos
ombros.
— Marcella, acho melhor você ir! Sophia está com a cabeça quente. Outro dia,
talvez.
— Não haverá outro dia para ela, pai! Dei a chance de mostrar que é humana e o
que vi nessa cozinha é alguém correndo atrás de dinheiro como se eu fosse um
baú com moedas.
— Eu vou. — Caminha até a porta dos fundos. — Sophia, não me odeie!
— Você já faz isso por mim. Você não se ama, não se valoriza, Marcella. Vá
embora, por favor.
Ela sai e Vicenzo a acompanha pela saída dos fundos.
— Vou para o meu quarto. — Digo.
Lorenzo que havia saído para levar Lay para casa acaba de entrar na cozinha e se
depara comigo.
— Sophia. — Me abraça forte. — Vamos, eu a acompanho até o quarto.
Em minha cama, Lorenzo se senta ao meu lado.
— Beba isto, vai lhe fazer bem! — Oferece um comprimido.
— O que é isso?
— Um relaxante, vai se sentir melhor amanhã. — Bebo o remédio e deito minha
cabeça em seu colo. Lorenzo afaga meu cabelo em silêncio.
— Eu a amo, Nina. Você não merecia isso. Mas, um dia tudo irá passar. Estarei
sempre ao seu lado, minha irmã!
Um sono forçado causado pelo medicamento me domina. E sonho com Sean
sorrindo para mim.
Por Sean
Ao sair da casa de Sophia, entro em meu carro e fico rondando sem rumo pela
cidade. Me sinto tão perdido que não quero voltar para casa. Lá, tudo me faz
lembra-la.
E nesse momento em que me encontro muito triste, prefiro não confrontar os
inúmeros fantasmas que ainda irão me rondar daqui para frente.
Ligo o rádio e Bono Vaz solta sua voz.
Mesmo não querendo, meus olhos ficam embaralhados pelas lágrimas que caem.
Resolvo ir para a casa de meus pais. Preciso desabafar, falar com alguém e pôr
para fora essa dor que me dizima, me maltrata.
Ao chegar em frente ao portão, vejo ao longe as luzes acesas. Entro com meu
carro e subo a alameda que dá acesso à escada principal. No hall de entrada,
deixo minhas chaves sobre o aparador e me encaminho para a sala de estar. Na
penumbra da enorme sala, há apenas um abajur aceso, ela está sentada como se
soubesse que viria até ela. Minha mãe, vestida em seu robe elegante, me olha
com ternura e estende seus braços a mim.
— Sabia que viria, meu filho. Estava lhe esperando.
— Mamãe. — Ando rápido até ela e me sento no chão, colocando a cabeça em
seu colo. — Por que? Me diz? Por que isso tinha que acontecer comigo?
Com suas mãos delicadas, ela afaga meu cabelo e tenta me consolar.
— Sean, meu querido, estou muito triste por você, sabe disso. Sua felicidade é a
coisa mais importante para mim.
— Amo Sophia. Como eu vou viver sem ela? Me diga!
— Sei disso! Mas, agora terá que esquecê-la. Harry não podia ter feito isso
conosco. — Ergue meu rosto e me sorri. — Vamos superar isso, juntos. Você e
eu somos fortes, Sean. Vamos dar tempo às nossas feridas e elas desaparecerão,
confie em mim. Estou aqui para lhe ajudar no que for necessário.
— Eu a amo, como nunca amei outra mulher! — Choro em seu colo.
— Chore. Pode chorar o quanto quiser, estou aqui.
Permaneço deitado em seu colo, por muito tempo, de repente, meu pai aparece e
me abraça. Pede-me perdão por tudo, pois jamais imaginava que o destino
aplicasse esse golpe tão doloroso sobre mim.
Noto que minha mãe o ignora, e não a culpo por isso, se sente traída e magoada.
Não é para menos, descobrir que o marido tem uma filha de um relacionamento
extraconjugal não deve ser nada fácil de engolir. Ficará marcado em nossa
família como um dia de muita tristeza. Em meu antigo quarto, me deito e não
consigo dormir. Amanhã cedo, ligarei para Vicenzo.
Quero que Damon continue mantendo a segurança de Sophia.
Como ela estará nesse momento? Olhando para o teto, ouço todos os barulhos
que a noite traz e vejo os primeiros raios de sol invadindo minha janela. Passei a
noite toda remoendo minha tristeza em lágrimas que ninguém poderá secar.
Apago as fotos que ela tinha me enviado, não fica bem mantê-las aqui. Levanto-
me e parto para uma nova jornada em minha vida.
Por Joseph — Segunda-feira
Durante a minha caminhada matinal, penso nos acontecimentos anteriores, e
mesmo contra minha vontade, tive que deixar Beatrice sozinha por um momento
tão delicado. Gostaria de oferecer meu apoio e meu ombro amigo.
E Sean? Fiquei muito triste por ele.
Passo por uma banca de jornal e abro-o diretamente na seção da coluna social. A
foto de Sean e Sophia aparecem separadas, e a notícia principal é o rompimento
do noivado. Como presumi, o motivo foi ocultado. Melhor assim.
Terei novidades para contar à Claire quando ela chegar de sua viagem à Polônia.
Por Sophia
Harry e eu fizemos os exames separadamente, e com isso, não tive o desprazer
de ver a megera acompanhando seu marido no laboratório.
O resultado saiu no final da tarde, e como já se era esperado, sou mesmo filha de
Harry Mackenzie.
Infelizmente.
Vários sites de fofocas não falam de outra coisa a não ser do rompimento do
meu relacionamento com Sean.
Uma revista famosa entra em contato comigo e pede uma entrevista exclusiva,
falando sobre os meses em que vivi ao lado de Sean Mackenzie. Recuso e a
moça do outro lado ainda insiste, me oferecendo a foto da capa. Desligo em sua
cara e a primeira coisa que faço é trocar o número do meu celular.
Marcella e eu tivemos mais uma conversa antes dela voltar à Califórnia.
Esclareci meu ponto de vista e deixei claro minha opinião sobre ela. Mesmo que
ela seja minha mãe, não a sinto como tal e como sou franca, faço questão de
estabelecer um relacionamento cordial e educado, nada mais do que isso.
Durante o jantar, pareço um zumbi. Somente um corpo sentado e distante
permanece à mesa.
— Não vai comer nada, Sophia? — Lay me olha, preocupada.
— Estou sem fome, desculpe-me. Vou sair um pouco, preciso de ar.
— Onde vai? — Meu pai interpela.
— Só uma volta, não demoro. Vou até a praça que fica a dois quarteirões daqui.
— Quer compainha? — Vicenzo tenta se levantar.
— Não, obrigada, papai. Prefiro ir sozinha, se não se importa.
— Tudo bem, tome cuidado, minha filha.
Ando pela rua, olhando as vitrines enfeitadas para o Natal.
Esse seria o meu primeiro Natal ao lado de Sean. Pare, agora, Sophia! Assim,
você não conseguirá esquecê-lo! O ar gelado do inverno me faz bem, me sinto
um pouco melhor, não menos triste, mas melhor.
Antes de chegar em casa, reconheço um carro parada do outro lado do café. É
ele! Não está em Washington. Me aproximo e nossos olhos se cruzam pelo
retrovisor. Sua aparência não é diferente da minha. Cansado, olhos fundos,
totalmente abatido. Depois que me vê, liga o carro e sai.
Ah, Sean! Quando essa dor irá nos deixar?
Em meu quarto, deito-me e olho para as fotos que tiramos juntos. Rasgo uma a
uma, como se estivesse me cortando.
Não sei por quanto tempo suportarei essa dor. Por que o destino tinha que ser tão
cruel?
Viúvo é quem morre!
Por Sean
Minha vida se tornou monótona e vazia. Já não abro as mensagens alegres que
me faziam sorrir e animavam meu dia, nem recebo as ligações com sua voz
rouca que me deixavam mais ansioso por vê-la.
Nada. Não restou nada. Só dor.
A cada dia me arrasto, tento sobreviver ao que essa vida me reservou como
brinde. Todos à minha volta me dão apoio. Alexia com seu carinho e Max com
sua compreensão fazem o máximo possível e se esforçam para me verem sorrir.
Depois de tudo que aconteceu, meu pai resolveu não contar a verdade sobre sua
doença. Alega que já causou dor suficiente e que prefere que as coisas se
mantenham assim. Com o resultado positivo no exame de DNA, minhas
esperanças, mesmo que fossem mínimas, se dissolveram, e agora, o amor que
sinto terá mesmo que ir embora. Alguém poderia me dizer como? Eu não
consigo pensar em Sophia e vê-la como uma irmã!
Me sinto confuso e totalmente perdido.
Dez dias se passaram e o Natal e Ano-novo chegam. E para mim, isso tudo
perdeu totalmente a graça. Comemorar o que? Agradecer a vida? Sim, agradeço.
Mas, que vida? Essa que estou levando?
— Sean, você tem que reagir! — Durante um jantar de família, Max chega sem
que eu perceba e toca em minhas costas. — Sei que está sofrendo, mas não há o
que mude essa situação. Tenho visto chegar tarde em casa, totalmente
embriagado.
— Anda me vigiando, Max?
— Não, meu irmão, mas me preocupo com você, como fez comigo. E nesse
momento, chegou minha vez de lhe dar apoio!
— Obrigado, Max. — deposito minha mão em seu ombro. —Tem sido muito
difícil para mim, só consigo dormir quando encho a cara.
— Entendo você, mas até quando ficará nesse estado?
— Max, — Olho-o, firme. — Sabe o que mais dói? — Sempre que penso ou
toco nesse assunto, uma agonia e dor se aproximam querendo me sufocar. — É
saber que fomos separados, não por deixarmos de amar e sim, por uma situação
que nos machuca. Sou irmão de Sophia e a amo como um homem. Isso está me
matando aos poucos.
— Meu irmão, isso irá passar. Esse sentimento confuso e tribulado dará lugar à
razão. Você vai encontrar uma outra pessoa que o fará feliz. — Faz uma pausa e
toma seu uísque. — Não digo agora, mas vai encontrar uma outra pessoa.
Outra pessoa que não seja Sophia.
— Max, vou sair um pouco, está bem? — Mudo de assunto.
— Quer companhia? — Aidan se aproxima e toma parte na conversa.
Aidan e eu saímos e como há muito tempo não fazíamos, com uma diferença;
não procuro diversão e sim, quero somente espairecer e não me lembrar que ela
existe e que a essa hora está em um canto da cidade pensando em mim.
[...]
— Mande devolver isso, por favor! — Entrego à Austin o bracelete de brilhantes
que havia comprado para dar à Sophia como presente de Natal.
Tinha tudo planejado, havia pensado em tudo. Em janeiro, com as férias no
congresso, iríamos nos casar e a levaria para uma viagem maravilhosa de lua de
mel. Agora, nada disso irá acontecer.
De óculos escuros, vejo Austin entrando na joalheria e entregando o presente
juntamente com o par de alianças. Olho para minha mão e me lembro que ali, há
alguns dias atrás, existia um anel de compromisso.
Por Alexia
Bato na porta de seu quarto e não sei qual será a sua reação ao me ver.
Lorenzo me disse que ela não tem saído, quase não come e que todas às noites,
passa acordada em prantos. Isso me corta o coração. Antes de saber que ela era
minha irmã, Sophia era, e continua sendo, minha melhor amiga. Não posso
deixa-la numa hora como essa.
— Sophia, abra essa porta. Sou eu! Alexia! Preciso falar com você!
Alguns segundos de total silêncio, e de repente, ouço passos vindo em direção à
porta.
A figura em minha frente não tem nada a ver com a mulher que conheci e que
tanto me ajudou. Magra, abatida, com olhos inchados e nariz avermelhado, sem
contar o estado de total desolação.
Essa é a nova Sophia.
— Entre. — Diz, com voz chorosa.
Espero que encoste a porta e a aperto em meus braços.
— Sophia, minha amiga, não sei o que dizer para lhe consolar.
Com os olhos escuros, me encara e me dá um sorriso triste.
— Não há nada que me console, mas fico feliz em saber que ganhei uma irmã e
ela é você!
— Ah, Sophia!
Nos abraçamos e ela chora em meus braços e acabo chorando também. Sua dor e
desespero atravessam minha alma e a aperto com mais força.
— Não fique assim! Posso fazer alguma coisa por você? Já fez tanto por mim!
Sophia se afasta, limpa o rosto e me puxa para sentarmos em sua cama.
— Você já está fazendo, e muito! Veio me ver! Obrigada.
Olha para o chão, para a janela e depois vira-se para mim.
— Como ele está? — Refere-se a Sean.
— Bem... esfrego minhas mãos sem saber ao certo o que dizer a ela. — Ele não
está diferente de você! Triste, cabisbaixo, não fala muito.
— Cuide dele por mim! — Fala com carinho.
— Cuido sim, minha irmã.
Ela aperta a minha mão com força.
— Alexia, sempre, em meus piores momentos, me senti preparada para o pior.
Mas, essa situação exauriu minhas forças, não estou suportando viver a cada dia
e saber que jamais terei Sean de volta. Me sinto morta por dentro.
— Sophia, não posso medir sua dor e nem comparar nada que vivi com o que se
passou entre vocês, porém quero dizer que torço por sua felicidade e que irá
superar tudo isso. É a mulher mais corajosa que conheço.
— Era, Alexia. O que você vê em sua frente é somente o que restou dela.
— Nada disso! Ela está aí dentro, esperando curar as feridas e irá subir à
superfície a qualquer momento.
— Obrigada, mesmo, veio em uma boa hora.
Levanto-me da cama.
— Preciso lhe pedir uma coisa e não sei se irá aceitar.
— Diga, o que é?
— É sobre meu livro.
— . Sim, você havia me falado, vão publicá-lo, não é? E o que tem ele?
— Exatamente, já o publicaram e o lançamento será nesse fim de semana.
— E?
— Gostaria muito que fosse. Sua presença é muito importante para mim, sabe
disso.
— Alexia, acho melhor não. — Solta um suspiro. — ainda não estou preparada
para encontrar seu irmão.
Ia corrigi-la e dizer "nosso irmão", mas seria muito indelicado e cruel de minha
parte, ainda bem que me segurei antes de abrir minha boca.
— Por um minuto, somente. Tiramos uma foto juntas e depois poderá ir embora.
Não precisa falar com ninguém. — Alego. — Por favor, por mim, Sophia!
— O que em pede é algo tão difícil... — Se levanta, suspirando. — Mas está
bem! Afinal não poderei me esconder pelo resto da vida. Pode contar comigo,
irei!
Abraço-a e a beijo no rosto com muito amor. Por mais triste que tudo se pareça,
ganhar uma irmã como Sophia foi um enorme presente.
Por Richard
Ainda penso muito em Sophia e tudo ao que se refere a ela me interessa. Mesmo
em Genebra, me mantenho atualizado sobre cada passo dado por ela e a notícia
do rompimento de seu noivado me pegou de surpresa.
E mais, confesso que me deixou muito feliz.
Sabia que isso iria acontecer. Sean deve ter se cansado da vida monótona de bom
moço apaixonado e devotado à uma só mulher e resolveu voltar às origens ao ser
o canalha de sempre. O triste disso tudo é que deve ter magoado Sophia que era
apaixonada por ele. Semana passada, ao ligar para Vicenzo, toquei no assunto
como quem fala sobre algo casual e ele me pôs a par dos últimos
acontecimentos.
Vicenzo me contou que os dois romperam o noivado alegando que não se
gostavam o suficiente para irem ao altar.
Sendo assim, minha volta a Nova Iorque será adiantada. Quero estar ao lado de
Sophia, saber como ela está e tentar pela última vez uma aproximação. Espero
que ela me dê a tão sonhada chance e com isso possa provar a ela o quanto a
amo.
— Vamos voltar para a nossa casa, papai? — Lanna, com seu ursinho agarrado
ao peito e sorriso de menina, aperta minha mão e me tira dos pensamentos
direcionados à mulher que amo.
— Sim, meu amor. Vamos voltar. Seremos mais felizes do que antes, papai
promete.
E de mãos dadas, caminhamos para o portão de embarque.
Por Beatrice
Sei o quanto Sean ainda sofre. Sei também que poderia ter acabado com todo o
seu martírio e dor, mas para que isso acontecesse, muita coisa estaria em jogo.
Meu passado guardado há mais de trinta anos teria que ser revelado, uma
mentira que carreguei durante tanto tempo para justamente transformá-lo no que
ele é hoje. Por mais que me doa vê-lo sofrendo, não me arrependo de ter ficado
calada, pois não quis e não o quero com Sophia. Foi o momento certo para
separá-los e não estou triste com isso. Essa moça nunca foi e agora, graças a
Harry e sua traição patética, nunca será a mulher de Sean. Meu orgulho por ter
sido traída se tornou muito menor ao saber que poderia separar meu filho
definitivamente daquela bastarda. Prefiro engolir uma traição e seu fruto, do que
ter uma nora como ela.
Espero que Sophia não pense em fazer parte da família. No dia do fatídico
noivado, ela deixou muito claro que não pretende ter o nome de Harry, mas isso
pode muito bem mudar com o tempo. Conheço as pessoas e muitas vezes, em
um momento explosivo dizem coisas das quais se arrependem mais tarde.
Não aceitarei Sophia ao lado dos meus filhos vivendo entre eles como irmã. Se
Harry a quer como filha, o problema é todo dele. Nosso casamento já se desfez
há muito tempo e pouco me importa o que ele faz ou deixa de fazer contando
que isso não implique em prejudicar o bem-estar de nossa família e nosso
patrimônio que ajudei-o a ampliar por todos esses anos.
No jardim, tomo meu chá olhando para meus lindos flamingos e vejo que Harry
se aproxima.
— Beatrice, preciso falar com você!
— O que poderia ser? — Deito minha xícara no pires. — Não me diga que
apareceu mais uma filha bastarda a ser reconhecida?
— Vamos parar com isso, por favor? O que foi feito, está feito! Não há nada que
mude o passado e só eu sei a dor que carrego por não poder muda-lo. Daria tudo
para ver Sean feliz novamente, o que não posso dizer de você. Ou acha que não
notei sua alegria ao saber que os dois não poderão jamais ficarem juntos?
— Você me conhece bem, Harry e sabe o que penso! Mas está redondamente
enganado! — Minto. — Não queria ver nosso filho tão infeliz por tudo o que
houve, quero que seja feliz mesmo que se casasse com alguém que não aprovo.
— Pois bem! Meu assunto é outro! — Senta-se e cruza as pernas olhando para o
lago à nossa frente. — Estou muito doente!
— Doente? Como assim, o que você tem?
— Descobri um câncer pulmonar há algum tempo e comecei meu tratamento em
sigilo. Não tenho muito tempo e não há o que ser feito para reverter o caso.
— Alguém mais sabe ou me deu a honra de ser a primeira dessa vez? — Uso
minha ironia.
— Sean sabe. E é por isso que me preocupo com ele agora. Não sei como será
quando... — seus olhos se enchem de água e alcança minha mão apertando-a
forte.
— Harry... — Não consigo expressar qualquer sentimento de compaixão, amor,
amizade ou dor. Me sinto como uma pedra bruta que foi lapidada para enfeitar
um jardim. Uma estátua me define, no momento. — Não diga isso, você é forte,
irá vencer essa doença!
— Não, Beatrice, meu tempo está se esgotando, como em uma ampulheta. Só
queria que perdoasse os meus erros e todas as mágoas que a fiz sentir. Quero ir
em paz com todos.
— Meu querido, não é hora para se preocupar com isso. Esqueça! Agora, é hora
de cuidar de você, nada é mais importante do que seu tratamento. Vamos deixar
as rusgas de lado para uma outra ocasião. Irei ajuda-lo a enfrentar essa batalha,
pode contar comigo!
— É capaz de me perdoar? Mesmo que nossa união tenha fracassado, acho que
vivemos alguns momentos bons e dessa relação, tivemos nossos filhos
maravilhosos e é com esse pensamento que quero descansar em paz.
Levanto-me da cadeira e o abraço forte.
— Sim, Harry, eu o perdoo.
É evidente que o perdoarei, serei a mulher que cuidará muito bem do marido
enfermo até sua morte e quando descer seu caixão em sua lápide, estarei lá para
assumir meu papel de viúva magistralmente. Além de tudo, herdarei sua fortuna
e assim poderei viver em paz e quem sabe não poderei ter meu grande amor de
volta?
Uma chama de esperança reacende meu coração e um sorriso escapa de minha
boca enquanto o abraço.
— Fico aliviado em saber disso! — Comenta.
— Agora, quero que me ajude com Alexia e Max. Tenho que contar a eles.
— Com certeza, meu querido. Estou aqui com você e irei até o fim.
— Vamos?
— Sim, vamos.
Deixamos o jardim de mãos dadas e caminhamos para a nossa casa.
Em seu escritório, Harry dá a notícia aos nossos filhos com muito cuidado. Em
resposta, se agarram o pai e choram como duas crianças. Entendo, sempre foram
apegados a ele e não posso tirar a dor que sentem. Harry sempre foi o melhor pai
que pode, e eu por outro lado, tentei sem sucesso ser a melhor mãe para eles,
nunca escondi minha preferência por Sean.
Depois de alguns minutos em prantos, Alexia e Max finalmente se acalmam.
Harry diz tudo o que espera deles após sua morte.
Que se depender de mim, será ainda mais breve!
Deixo-os no escritório e vou para meu quarto, tenho muitas coisas para
planejar...
Por Claire
Desembarco no aeroporto de Nova Iorque às dez da manhã. Estou muito
cansada, mas a viagem me fez muito bem. Ao longe, vejo Joseph com as mãos
nos bolsos esperando por mim. Ao me aproximar dele, recebo seu abraço
caloroso.
— Saudade, minha irmã!
— Eu também estava, tenho presentes para você! — Abro-lhe um enorme
sorriso.
No carro, abre o porta-malas e me ajuda com a bagagem.
— E aí? Quais as novidades, enquanto estive ausente? Sabe que a casa de nossa
tia fique praticamente isolada de tudo e de todos.
— Ilhada, você quer dizer. — Brinca. — Aquilo é lugar para malucos como
você, Claire! Não aguentaria um só dia naquele marasmo, pode apostar.
— Sei disso, mas me fez muito bem.
A caminho de casa, Joseph me conta uma novidade que faz meu coração saltar
de alegria.
— Sean Mackenzie rompeu seu noivado!
— Ah, isso não é novidade, meu irmão! Ele sempre colecionou mulheres, não
me espanta que não queira se casar!
— Claire, foi uma bomba, eu estava lá! Romperam porque descobriu-se que a
noiva em questão era filha bastarda de Harry.
— O que?
— Sim, eram irmãos, Harry teve uma filha de um relacionamento extraconjugal
e a noiva era essa filha!
— E Beatrice? O que disse? — Que mulher maldosa, sabia que Sean não era
irmão da moça! Cobra.
— O que ela poderia dizer? Ficou em choque, coitada! Sentiu-se traída. — Faz
uma pausa. Joseph é cego por essa mulher, quando fala dela muda até o tom de
voz. — O noivado acabou e a imprensa não sabe o real motivo, tudo foi abafado
e pediram sigilo aos poucos convidados que estavam presentes.
— Que horror, coitado dos noivos!
— Pois é, agora Sean anda muito triste, pelo jeito, amava muito a moça e vice-
versa.
— Sean não merece isso! —Digo.
— Pois é, coisas da vida.
E olhando para o tráfego constante, um sorriso se estampa em meu rosto. Minha
hora chegou! Beatrice vai ter que pegar sua vassoura e desaparecer. Sean saberá
a verdade e poderá ser feliz. Meu sobrinho não merece viver infeliz por uma
mentira contada há tanto tempo por aquela meretriz de luxo.
— Beatrice, prepare seu caldeirão, a coisa vai ferver!!
Descobrindo a verdade!
Por Sophia
— Nina, tem certeza de que quer mesmo ir a esse evento?
No café, encostado no balcão, Vicenzo enche uma xícara de café e me oferece.
— Prove, acabei de prepara-lo.
— Obrigada. — Sorvo o líquido, apreciando o seu sabor. O café de meu pai é
uma das coisas que, me remetem à várias boas lembranças de nosso convívio. —
Sim, irei. Prometi à Alexia que iria. Está contando com minha presença e ficarei
somente alguns minutos. Um abraço e uma foto, não me custará nada, é o
mínimo que posso fazer por ela.
— Boa noite a todos! — Richard chega e nos cumprimenta. Viro-me para ele e
noto que caprichou no visual, vestindo um sobretudo preto, ficou com uma
aparência mais séria e também lhe deu um certo charme.
Lá fora, o frio é cortante.
— Aceita um café, Richard? — Pergunta meu pai.
— Não, Obrigado. — Seu olhar recai sobre mim. — Está linda, Sophia.
— Obrigada, Richard. — Ele deve me amar muito, pois estou me sentindo feia e
sem graça. Escolhi um vestido que não me favorece em nada, tanto pela cor,
quanto o modelo. Meus cabelos desalinhados não receberam nenhuma atenção e
somente um batom para dar um pouco de cor ao rosto. E mesmo recebendo um
elogio, pouco me importa, não faz nenhuma diferença para mim!
— Vamos, Sophia ou chegaremos atrasados.
— Sim, vamos. — Deixo a xícara no balcão, pego meu casaco e ele me ajuda a
colocá-lo.
Dou a volta no balcão e beijo o rosto de Vicenzo, que me olha preocupado.
Segura meu rosto firme e o beija de modo estalado.
— Se cuide e tente se divertir!
— Obrigada, tentarei!
Na calçada, Richard abre a porta do seu carro para mim e estando dentro do
veículo, penso que ele renovou suas esperanças em relação a nós. Devido ao
rompimento de meu noivado com Sean, Richard deve achar que chegou a sua
hora. Mesmo sem tocar no assunto, seu olhar mais alegre o denuncia.
Infelizmente, não será dessa vez! Estando longe de Sean não significa que irei
me jogar em seus braços como consolo.
Ao chegarmos à Barnes e Nobles, umas das maiores livrarias de Nova Iorque,
desço do carro e meu corpo sente muito frio e não é só pela sensação térmica do
clima. Fotógrafos registram o evento e ao passar por eles, vários flashes são
disparados em minha direção. Ter sido a primeira noiva de um senador metido a
conquistador me trouxe muitos dissabores. A perseguição da imprensa foi uma
delas, eles não me esquecem! Richard coloca sua mão em meu ombro e me
ajuda a escapar de um repórter indiscreto que insiste em perguntar sobre meu
relacionamento com Sean.
Guardamos nossos casacos e adentramos o recinto. Inúmeras pessoas circulam
com o exemplar do livro de Alexia nas mãos. Ergo meus pés em meio à multidão
para poder encontrá-la. Ao fundo, a vejo sorrindo e distribuindo dedicatórias em
seu livro. Tenho certeza de que esse será o primeiro de muitos dos seus sucessos.
Minha "irmã" merece.
Abro caminho até que ela me vê e seus grandes olhos claros se iluminam. Pede
licença a todos na fila e vem ao meu encontro.
— Que bom! — Me aperta em seus braços e me roda como se não me visse há
anos. — Você veio!
Richard permanece logo atrás.
— Prometi que viria, não prometi? — Seguro suas mãos. — Meus parabéns,
merece todo esse sucesso e isso não vai parar por aqui!
— Obrigada, Sophia! Vamos, quero uma foto com você!
O fotógrafo se aproxima e tira a nossa foto.
Meus olhos correm por todos os cantos e nada de sua presença. Vejo Beatrice e
Harry conversando animadamente com algumas pessoas, Max e Dany em outro
canto, mas nada de Sean.
Harry me olha e me dá um sorriso e um breve aceno de cabeça. Eu o
cumprimento da mesma maneira. Manterei a cordialidade, ser meu pai biológico
não muda em nada o que sinto por ele.
Aidan aparece e segura Alexia pela cintura. Beija-a de leve e me cumprimenta.
Cometi uma indelicadeza ao convidar Richard para esse evento. Aidan mal o
olha e Alexia também não. Imagino se Sean me visse com ele. Acho que não iria
gostar nada da ideia. E não foi nada premeditado ou proposital; meu pai não
gosta desse tipo de festa, Lorenzo iria sair com Lay e eu, que não quis vir
sozinha, portanto o convidei. Foi o que me restou como companhia de um velho
amigo.
Peço licença aos dois e me afasto levando Richard comigo. Olho com mais
atenção para a capa do livro. "O sentido de tudo — Por dias mais floridos". O
título veio bem a calhar. Abro-o e na primeira página, Alexia faz uma linda
dedicatória ao pai. Sei que ele está enfrentando uma grave doença e sei de sua
importância para minha irmã.
Quando a conheci, Alexia era uma moça triste e insegura querendo desabrochar
como uma flor. Agora, ela é uma mulher muito diferente e essa rosa e o nome do
livro a definem perfeitamente bem. Sua personalidade desabrochou e veio para
dias muito melhores.
Não consigo vê-lo, mas mesmo de costas, posso sentir sua presença. Ele chegou.
Meu coração bate forte, minhas pernas fracas e bambas quase sucumbem o peso
de meu corpo. Sei exatamente de onde vem sua aura e não tenho coragem de
busca-lo com meus olhos, pois sei o quanto irá doer.
Richard me segura pelo cotovelo me amparando.
— Quando quiser ir embora, é só dizer, Sophia. — Percebe minha palidez
repentina e sabe exatamente a causa de meu mal-estar.
— Um momento — Alexia fala ao microfone e me viro para sua direção. —
Gostaria da atenção de todos, por favor!
Sean está ao seu lado. Seu semblante é carregado e mesmo assim continua lindo.
Lindo e meu irmão! — Beija Alexia no rosto e a figura de May, a cabrita de
Washington, aparece logo atrás dele.
Estariam juntos? Me questiono. E se estiverem? O que tenho a ver com isso?
Hein, Sophia? Ele, agora, não é um simples ex e sim seu irmão. Não tem direitos
sobre ele.
É tão difícil explicar o que sinto, não consigo aceitar e ver o homem que amei ao
lado de outra e mesmo não sendo correto, não deixo de sentir ciúmes, tento
afastar esse sentimento e ele não me deixa.
Alexia começa a ler um de seus poemas que fala de amor.
E se não fosse amor, o que seria?
É inconfundível este sentimento que nos abraça, nos prende, nos eleva e ao
mesmo tempo nos afunda fazendo tudo ao redor ficar pequeno. Pergunto-
me, às vezes, como um sentimento faz com que desejemos com tanta força o
bem para outra pessoa, como faz nos sentirmos parte da outra, como se
fossemos costurados com a mesma linha de pele fina, fazendo nos sentirmos
um só, avassalador dentro de todos os seus sentidos, forte arrebatador,
nenhuma paixão o supera, nenhuma possessão o domina, embora forte
também é brando, trazendo doçura e brisas de esperança, para os corações
que são cheios de sua leveza, nenhuma distância o parte, nenhuma mentira
o pega.
E no meio desse lindo poema, nossos olhos se encontram e conseguimos sentir
toda a tristeza que guardamos dentro de nós. Seu olhar me reprime como se me
perguntasse: O que você está fazendo com esse cara ao seu lado? Estão juntos?
Sou a primeira a desviar os olhos. É muito forte suportar esse olhar que tanto me
fez feliz.
É o sentimento que te traz liberdade, mas mesmo você tendo a opção de não
tê-la prefere reafirmá-la todos os dias, é não reconhecer a palavra desistir, é
construir pontes ao invés de levantar muros tão altos que possam tapar a
visão um do outro. É querer estar, é lutar e lutar...é não fechar os olhos para
a realidade, é enxergar alternativas que consertem os erros, não pedir
garantias, não colocar de frente um júri, é sentir que precisa do outro para
respirar, mas ter a certeza que nunca se sufocará, é assistir ao pôr do sol e
deixar que ele te traga todas suas vibrações, mas é querer que o outros
também os receba... é infinito, único, é amor ... e só ele, puro amor...não
teria como ser outra coisa.
Quando Alexia termina, me vejo em lágrimas e toda a estrutura que montei para
comparecer à essa livraria, foi destruída.
Estou um caco.
— Richard, me leve daqui, por favor.
— Sim, querida, vamos.
Saio sem olhar para trás e antes mesmo de chegar até a porta, uma voz me
chama. O que ele pretende com isso? Me arrastar ainda mais para o abismo que
já me encontro? Tornar mais difícil o meu sofrimento?
Sean se coloca ao meu lado.
— Sophia...
Vê-lo de perto é ainda mais dolorido, porém busco forças e o encaro.
— Sean.
Ele me dá um beijo no rosto. Meu corpo gela e quando sinto seus lábios em
minha face é como se ela fosse marcada com ferro quente, dói, como se eu fosse
cortada ao meio.
— Ia embora sem me cumprimentar? — Franze o cenho e vejo a mesma dor em
seus olhos azuis.
— Pois é, me desculpe, estou com pressa. — Olho para Richard que não diz
nada, só observa minha atitude. May, que se encontra ao lado de Sean, também
permanece em silêncio.
— Richard, vamos?
— Até mais, Sean.
Saio às pressas, sem olhar para trás. Na calçada, me sinto sufocada ao respirar o
ar frio da noite.
— Sophia, você está bem?
— Sim, só me leve para casa, por favor!
Durante o percurso, Richard me olha pelo canto dos olhos.
— Se não queria encontrá-lo, não deveria ter vindo ao lançamento, Sophia.
— Vim por Alexia — Interrompo-o, antes que comece a remexer nos
acontecimentos da noite. — Podemos mudar de assunto, por favor?
— Não, não irei mudar de assunto! — Com o punho cerrado, bate com força no
volante em sinal de protesto, isso me deixa assustada partindo de Richard que
sempre foi tão calmo e ponderado. — Onde está a Sophia que conheci? A
mulher forte, corajosa e alegre? Para onde aquele ordinário a levou? Não avisei
que ele iria acabar com você?! — Fala e demonstra toda a sua indignação. —
Sabia perfeitamente que ele faria isso. A faria sofrer. Deixaria que se
apaixonasse e depois a dispensaria.
Tudo o que eu não precisava no momento era um sermão 'à la Richard'.
— Quer parar, por favor? — Falo aos berros.
Não resolve.
— E o que ele faz? Ainda a chama para mostrar a você sua nova conquista, quis
feri-la e pelo visto conseguiu e muito.
— Chega!! — Meu grito dessa vez o faz parar. — Você não sabe o que está
dizendo e muito menos o que houve entre nós!
— Ah, não?! Claro que sei! Sean não gostou de tê-la visto ao meu lado e por isso
a chamou para ver se ainda exercia algum fascínio sobre você. Não quer o
brinquedo, porém não quer que ninguém mais brinque com ele. Ora, Sophia,
Sean não vale nada!
— Cale sua boca, agora! Ou desço desse carro e nunca mais falo com você! Já
disse, não sabe o que houve! — Digo aos berros.
— Mas estou louco para saber! Aposto que ele lhe traiu e descobriu isso no dia
do noivado!
— Não, ele não me traiu! — Não aguento mais essa conversa e resolvo acabar
com esse assunto. — Sean é meu irmão, Richard! Irmão, ouviu bem?
Ele fica chocado e com o carro parado num sinal, me encara.
— Irmão? Co-como assim? — Chega a engasgar.
— Irmão, descobri da pior forma possível. — Falo, quase chorando novamente.
E com isso, conto a verdade a ele que fica sem palavras. Finalmente, consegui
fazer com que se calasse.
— Satisfeito, agora?
— Desculpe-me, fui um tolo, arrogante e grosseiro! Jamais imaginaria uma
história dessas!
— Richard, não pode dizer isso a ninguém, é segredo! Dessa vez, espero contar
com seu sigilo!
— Tem minha palavra.
— Já me traiu uma vez, se contar à imprensa, nunca mais falo com você! Se usar
isso para atingir Sean, juro que acabo com você!
— Prometo. — Cruza os dedos nos lábios.
Em frente ao Café, desliga o carro e segura em minhas mãos, eu me adianto.
— Richard, quero lhe dizer outra coisa.
— Diga, quantas quiser. Estou aqui para ouvi-la.
— Por favor, me esqueça! Não serei sua hoje e muito menos amanhã. Sei que
jamais terei Sean de volta. Acabou, mas não quero com isso me envolver com
alguém para esquecê-lo e isso inclui você! Não quero lhe dar esperanças e peço
que siga sua vida, procure uma mulher que o ame de verdade. — O encaro e vejo
a decepção em seus olhos. Sei que ele esperava algo partindo dessa situação. —
Você sempre terá um lugar especial em meu coração, o lugar destinado aos
eternos amigos! Quero que deixe de me amar, não quero causar mais dor do que
já sinto!
Seus olhos lacrimejam e ele me abraça.
— Sophia...
— Richard, estava tão feliz e tudo se foi. Não aguento abrir meus olhos todas as
manhãs e me deparar com a minha realidade. Não sinto vontade de viver, não
tenho motivos para continuar assim.
— Não fale isso! — Me segura pelos braços e olha firme em meus olhos. —
Nunca mais diga uma coisa dessas! Se não me quer, entendo. Por mais que isso
me machuque, está sendo franca comigo. Aceitarei de uma vez por todas a sua
decisão, porém quero que reaja, Sophia! Sua família a ama muito e não pode se
entregar dessa maneira! E saiba que tem a mim, como amigo, para qualquer
coisa!
Inspiro todo ar que posso para controlar minhas lágrimas. Ele as enxuga com
carinho.
— Obrigada, por me entender. — Beijo seu rosto e me despeço.
Em meu apartamento, entro como uma morta-viva e vejo Vicenzo em sua velha
poltrona, esperando por mim.
— Nina, o que houve? Andou chorando?
Corro até ele e como uma criança e Vicenzo me pega em seu colo.
— Oh, minha menina, não chore, não fique assim!
— Ah, pai! Eu o vi! — Na segurança de seus braços, minhas lágrimas não
cessam. — Ele estava lá.
— Sophia... você sabia que iria encontrá-lo, isso não é nenhuma surpresa!
— Sei disso, mas é que... estava acompanhado e isso doeu tanto aqui... — Bato
em meu peito. — Não imaginei que fosse me abalar tanto! — Quando isso irá
acabar, pai? — Ele me puxa para seu peito e afaga meu cabelo, até que eu me
acalmo.
— Irá passar, minha querida, um dia tudo o que é ruim passa. Ouça o seu velho
pai.
— Pai, pode tirar uns dias de folga e sair de Nova Iorque? Quero que me tire
daqui! Preciso de um lugar isolado de tudo e de todos, onde eu possa andar na
rua tranquilamente sem ser fotografada e minha vida não seja especulada. Só nós
dois, por favor!
Ele se afasta e me dá aquele sorriso que tanto amo. Suas rugas me dizem que
tudo vai ficar bem.
— Ok, a levarei para onde quiser, minha Nina, irei tirá-la daqui e farei qualquer
coisa que estiver ao meu alcance para aliviar o seu sofrimento. Amanhã, bem
cedo, estaremos longe daqui!
Em seguida, ele me leva até o meu quarto, me põe para dormir como há muito
tempo não fazia e fica comigo até meu sono chegar...
Por Sean
Sophia acompanhada de Richard.
Não posso descrever o que senti. Ciúmes? Raiva?
É mais forte do que eu. Ainda me sinto como uma espécie de dono de Sophia.
Até pouco tempo, tudo que ela sentia era meu, possuía seu corpo e também os
seus sentimentos.
Não estou preparado para vê-la com outro. Ao cumprimenta-la, tudo o que tentei
sufocar veio à tona e ainda sinto o seu perfume ao meu redor. May percebeu a
minha aflição e tentou falar sobre o assunto. Levei-a até o hotel onde a mesma
estava hospedada.
Ela me chamou para subir de modo convidativo, no hall de entrada. Não me
senti atraído sexualmente por mulher alguma, e nesse momento, o que mais
quero é ficar sozinho.
Meu celular toca e um número desconhecido aparece no visor.
Atendo e a voz de Richard soa do outro lado.
Será que ele não está satisfeito? Não é o bastante me ver separado de Sophia?
— Sean, me desculpe por ligar a essa hora, mas precisava falar com você!
— O que quer? Diga logo.
— Não quero falar por telefone. Você está em casa? Posso ir até aí?
E para minha surpresa, alguns minutos depois, eu e Richard conversamos em
minha sala como duas pessoas civilizadas.
— Pode me dizer a que veio, Richard! Aceita algo para beber?
Ele diz que sim e lhe sirvo um bom uísque.
— Pedir desculpas e para falar de Sophia.
— Desculpas...?
— Sim. Devo-lhe desculpas por achar que foi desonesto comigo.
— Esqueça isso, pois já esqueci. Se me ligou por esse motivo, pode ficar
tranquilo, está desculpado. Já faz tanto tempo, não vale a pena voltar a esse
assunto.
Um dia, cheguei a me importar com a opinião de Richard, mas hoje, com tantos
problemas maiores na cabeça, isso se torna tão insignificante.
— E Sophia? O quer me dizer? Que estão juntos? É isso?
O medo da resposta é tanto que fecho os olhos, esperando pelo que virá.
— Não, não é isso. Sophia me contou tudo a respeito do rompimento de vocês.
Estou muito triste por ela. Imagino como deve ser difícil para vocês.
— Imagina? Pois é, Richard. Agora, o caminho está livre para você!
— Não diga bobagem, Sean. Sophia o ama, e mesmo que esteja sozinha, deixou
claro que não me quer. Mesmo que a ame mais que tudo — Faz uma pausa. —
Realmente estou preocupado, ela anda muito infeliz.
— Preocupado, como? Do que está falando?
Suspira e conclui.
— Acho melhor que ela se afaste de Nova Iorque. Ficar na mesma cidade que
você não está fazendo bem a ela.
— Tem razão. O que mais quero é que Sophia fique bem.
Richard se levanta e toca em meu ombro.
— Não pense que essa situação me agrada, preferia vê-la sorrindo ao seu lado do
que ver seu estado agora.
— Sei disso.
— Bem, vou indo. Até mais.
No dia seguinte...
Por Sophia
Na manhã seguinte, vestindo meu roupão, olho mais uma vez a cidade com seu
ar frio e impetuoso.
— Vamos, minha filha? — Meu pai aparece no quarto e me abraça.
— Sim, só um minuto, vou me trocar.
Ao sair do quarto, tenho a certeza de que esse sofrimento irá acabar muito em
breve! E hoje porei um fim a esse tormento chamado infelicidade!
Por Sean
Ao acordar, esfrego minhas mãos no rosto, mais um dia sem ela. Tomo meu
banho e me troco. Já é quase uma hora da tarde. Ultimamente, não tenho
motivos para acordar cedo.
Se Sophia está mal, preciso ajudá-la. Estou sendo forte, mas se ela sucumbir, não
resistirei.
Ligo para Damon e peço para que fique de olho nela. Redobre a sua segurança,
vigie cada passo seu e me relate tudo ao final do dia.
Dely bate em minha porta, parece aflita.
— Sr. Mackenzie, por favor, telefone para o senhor. É sua irmã, Alexia.
O que será que houve?
— Obrigado, Dely. Vou atender aqui mesmo!
Seus passos desaparecem pelo corredor.
Pego o telefone e o choro de Alexia aparece antes de sua voz.
— Sean, é papai! Eu o encontrei desacordado em seu quarto, chamamos a
ambulância, estamos no hospital.
— Como ele está?
— Agora sua situação se normalizou, mas os médicos ainda estão cautelosos em
dar os prognósticos.
— Me passe o endereço do hospital, estou indo. Mamãe está aí?
— Sean, estamos todos aqui!
Entro em meu carro, e ao sair pelo portão, uma mulher loira entra em minha
frente, quase causando um acidente.
— Está maluca?! Poderia ter sido atropelada! — Com a cabeça para fora do
carro, grito.
— Sean Mackenzie, sou Claire Wendell Philips, irmã de Joseph, preciso falar
com você, urgente!
Minha cabeça está tão tribulada que nem me lembrava de que Joseph tinha uma
irmã.
— Nesse momento, estou muito ocupado, tenho um assunto muito importante.
Meu pai foi hospitalizado.
— Harry? O que ele tem?
— Está muito dente! Se me dá licença...
Ligo o carro e ela se põe ao lado do vidro, e toca em meu braço, com força.
— Sean, é urgente!
— O que pode ser mais urgente do que a saúde de meu pai?
Seus olhos se arregalam e um brilho intenso ressalta deles.
— Sua felicidade. — Sua voz é calma e de uma certeza no que diz. —Se eu te
disser que você e Sophia não são irmãos? Hã? Isso não seria motivo suficiente?
— Ergue suas sobrancelhas, intrigada.
— Olha, sei ser cavalheiro, mas o que mais detesto é brincadeira de mau gosto,
com licença.
— Espere! Não estou brincando, e posso provar o que digo. Me dê cinco
minutos do seu tempo, por favor! — Permanece na frente do meu carro.
Desligo o carro e desço. Convido—a para entrar, e com certa desconfiança,
espero que ela prove o que acabou de dizer. A esperança em uma desconhecida
me deixa muito apreensivo, porém se ela puder provar o que diz, terá me salvado
para sempre da infelicidade.
— Claire, não sei quais são as suas reais intenções, mas quero dizer que Sophia é
minha irmã e um DNA comprova isso!
— Bem, o que eu tenho em mãos também prova o contrário. — Abre sua bolsa e
tira de lá um envelope, um papel pardo e o estende a mim. — Leia isso e veja se
reconhece essa letra.
Meus olhos correm pelo papel, e cada linha que leio, sinto o sangue gelar. Nas
letras perfeitas de minha mãe, uma mentira guardada por mais de trinta anos, um
segredo sobre meu verdadeiro pai.
— Joseph é meu pai? Onde conseguiu essa carta?
Ela se senta muito calmamente no sofá, cruza as pernas e entrelaça seus dedos
sobre seus joelhos. E me conta toda a sua história vivida com minha mãe.
— Mas por que esperou tanto tempo para revelar esse segredo?
— Sua mãe é uma mulher astuta e perigosa, nem mesmo Joseph conhece o teor
dessa carta, tive medo que ela se vingasse de alguma forma se soubesse a
verdade. Ela tem dinheiro e influência e isso é uma arma muito perigosa em
mãos erradas. — Alega.
Ando como um louco pela sala, passo as mãos nervosamente pelos cabelos e
concluo.
— Então, ele também não sabe que sou seu filho?
— Isso, não sabe de nada. Há algum tempo, venho mandando alguns bilhetes a
Beatrice para que ela tome alguma atitude, mas pelo jeito, nem quando a verdade
tinha que aparecer, ela se manifestou.
Não posso descrever o que sinto. Traído pela pessoa que eu mais respeitava, a
mulher que tinha todo meu amor e dedicação. A achava perfeita e nada se
comparava a ela. Alguns de seus meros defeitos como a sua superproteção
passavam batido devido ao amor que eu sentia por ela. Agora, meu sentimento
se transforma na maior decepção de minha vida.
— Claire, posso ficar com a cópia?
— Sim, claro, aqui está. — Me entrega o papel e o pego com as mãos trêmulas
de raiva.
— Se me der licença. Tenho que sair, agora. Muito obrigado, por me contar. Essa
revelação me trouxe muita tristeza e na mesma proporção, muita alegria.
— Não me agradeça, não podia deixar você acreditar nessa mentira por toda a
vida! Beatrice me tirou seu pai e não pense que isso é um ato de bondade, estou
me vingando de sua mãe. Sou sua tia bruxa! Adeus e boa sorte com Sophia!
Quero ser convidada para o casamento!
Caminha até a porta e antes de sair, seguro em seu ombro.
— Obrigada, Claire! Mandarei um convite com muito prazer!
Em alta velocidade saio em direção ao hospital.
Ao chegar, atravesso os corredores e me dirijo à ala de tratamento intensivo.
Durante esse trajeto, a única imagem que vem à memória é a que me deito no
colo de Beatrice e ela, ao ver todo meu desespero, se manteve omissa e ainda se
mostrou comovida com minha dor. Ela me consolou.
Numa antessala à direita dos corredores se encontram Alexia, deitada no ombro
de Aidan, e Max abraçado a Beatrice.
— E papai, como está? — Pergunto a Alexia, pois não consigo encarar minha
mãe diante de tamanha raiva que sinto.
— Agora, está melhor. Estamos esperando o doutor que está cuidando dele, se
encontra lá dentro fazendo os últimos exames.
— Beatrice, — A chamo pelo nome e ela se retesa toda. — Quero falar com
você a sós, um minuto.
— Sim, meu filho.
Com sua elegância fria, ela me sorri e a acompanho até outra sala anexa e vazia.
Ao fechar a porta, avanço em seu ombro jogando seu corpo contra a parede.
— Diga-me, você me ama realmente?! Que espécie de ser você é?!
— Sean, o que é isso?! Que modos são esses? Por que está agindo assim? É
claro que o amo. Ainda tem dúvidas? Você é meu filho favorito. Sabe disso! —
Assustada, me olha sem entender o meu comportamento.
Pego a carta em meu bolso e esfrego com força em seu rosto. Nem mesmo eu me
reconheço.
— Tem certeza? Leia isso com atenção e me diga ao final. Que mãe vê o filho
em desespero por algo e ela finge estar triste por ele? Hein?
Ela corre os olhos pela carta, e mesmo com toda a sua pose, seus olhos se tornam
aflitos e algumas lágrimas se formam dentre eles.
— Onde conseguiu isso?
— Não importa. Quero saber! Fiz uma pergunta e quero a resposta. — Digo,
abrupto.
— Você não entenderia... — Tenta tocar meu rosto e me afasto rapidamente. —
Não podia contar a verdade, isso era um segredo.
— Não me diga que isso não é seu, pois sei que é! Se negar a verdade, entrarei
naquele quarto e pedirei a Harry um exame de DNA!
— Não!! Por favor, Harry não pode saber no momento! Ele está muito doente!
Não aguentaria uma coisa como essa. Sean, meu filho — Ela chora, e agora suas
lágrimas parecem verdadeiras, porém não me deixam comovido.
— Beatrice, chorei por noites e noites, tentando entender porque o destino havia
me separado de Sophia, e você? — Aponto meu dedo próximo ao seu rosto. —
Nada fez! Perdi a mulher que eu amo e a fiz sofrer. Seu medo, medo de revelar a
todos o que pensava estar escondido foi revelado. Olhe para mim! Não sou filho
de quem pensava ser. Sou uma farsa que você ajudou a construir.
— Não diga isso, meu filho. Você é o melhor que eu pude fazer. A única coisa
boa de minha vida. O amei desde que vi seu rosto pela primeira vez e jurei que
nada, nem ninguém, o magoaria, ou lhe faria mal.
— Isso só coube a você mesma, não é? Você me fez mal, me magoou!
— Não, meu filho, me perdoe. Fui fraca, eu sei. Mas foi por um bem comum,
nossa família. Você é Sean Mackenzie e sempre será. O meu filho mais querido.
— Chega! Não quero ouvir nenhuma palavra sua. — Limpo meus olhos que
insistem em chorar. — Vou sair por aquela porta e ouça bem o que vou dizer: O
amor e toda a admiração que eu sentia por você morreram aqui nessa sala.
— Sean, por favor. — Ela se joga em meus pés e tenta impedir com que eu saia
pela porta.
— Solte-me, esse papel de mulher ridícula e humilhada não combina com você.
Adeus, Beatrice Mackenzie e fique tranquila. No momento, não contarei nada a
Harry. Não porque me pediu, mas por ele.
— Sean! Volte aqui. — Grita em prantos.
Saio pelo corredor e nem me despeço dos demais, tenho algo muito mais
importante a fazer: reencontrar com a mulher que amo!
Pego meu celular e ligo para Daimon.
Meu anjo!
Por Sean
Damon me passa as últimas informações a respeito de Sophia.
Segundo ele, Vicenzo e ela foram para uma casa na praia de Main Beach, aqui
mesmo em Nova Iorque. Isso me causou um pouco de estranheza, pois quem em
sã consciência vai à uma praia em pleno inverno? Ele me passa o endereço do
lugar e fico feliz em saber que ela não está longe, poucos minutos de distância
nos separam.
Finalmente, ficaremos juntos.
Mesmo com toda a ansiedade de poder encontrá-la, tenho que primeiro me
inteirar a respeito do estado de saúde de meu pai. Parado na porta do hospital,
dou meia volta em direção ao quarto onde ele está internado. Depois disso, irei
atrás de Sophia. Mais calmo, entro na mesma antessala de antes e vejo minha
mãe, com olhos muito vermelhos, abraçada a Max. Ao me ver, endireita seu
corpo e me sorri. Friamente, não retribuo o sorriso, pois não consigo fingir que
nada aconteceu e se o fizesse estaria sendo falso o que não é de minha natureza.
— O médico já o examinou, pode entrar para vê-lo, papai perguntou por você!
— Max, com seu jeito polido, me sorri e percebe o clima pesado entre minha
mãe e eu.
Concordo com um movimento de cabeça e adentro no quarto, Alexia se encontra
ao seu lado sentada em uma cadeira, com uma das mãos segura a de papai.
— Meu filho, estava esperando por você! Venha, sente-se aqui ao lado de
Alexia!
— Como o senhor está? — Arrasto outra cadeira e me sento próximo a ele.
Agora que sei a verdade, sinto-me estranho. Não quero que esse segredo seja
encoberto por muito mais tempo. Meu medo de que ele parta sem saber a
verdade me corrói por dentro e mais ainda, medo por não saber ao certo qual
será a sua reação, me deixa ainda mais inseguro. Beatrice terá que contar logo a
verdade ou então, eu mesmo o farei. Não quero perder o amor que ele sempre
dedicou a mim, conheço Harry e sei o quão orgulhoso é. Saber que foi enganado
assumindo uma criança como seu filho será uma punhalada e tanto. Com essa
mentira, pode-se abrir um enorme abismo em nossa relação, deixando-a
estremecida para sempre e a culpada por tudo isso é minha mãe.
O que ela fez foi imperdoável.
— Estou bem, meu querido, foi somente um susto. O médico me examinou e
disse que terei alta em dois dias. Trocou toda a medicação e me convenceu a
começarmos uma quimioterapia para impedirmos o avanço da doença. É o que
farei a partir da semana que vem.
— Fico muito feliz que tenha mudado de ideia. —Aperto sua mão e olho para
Alexia. Não me sinto bem. — Se o senhor me der licença, tenho um assunto
urgente a tratar.
— Sim, meu filho, pode ir tranquilo! Alexia ficará me fazendo companhia e Max
com sua mãe também estão aí fora.
Beijo sua testa e depois o rosto de Alexia. Ao sair do quarto, constato que Max
se encontra sozinho na sala, despeço-me dele e sigo pelo corredor. Ao cruzar à
esquerda, dou de cara com Beatrice que me segura pelo braço.
— Sean, por favor! — Suplica e em seus olhos, vejo muita angústia. — Aceito o
desprezo de todos, menos de você, meu filho. Eu o amo!
Dirijo meu olhar para sua mão que prende meu braço, somente esse gesto faz
com que ela me solte de imediato.
— Beatrice... — Não consigo chama-la por mãe quando estou com raiva e nesse
momento, raiva não me falta. — Não sabe o que significa amar. O que sente por
mim é algo obsessivo e doentio, um sentimento de posse e a partir de hoje,
deixei de ser propriedade sua, está me ouvindo?
— Continua sendo meu filho! — Quer exercer seu poder sobre mim, falando aos
prantos, usando chantagem emocional, porém esse velho truque não me pega
mais.
— Tem razão. Infelizmente, não posso mudar isso!
— Não fale dessa maneira comigo!
— Estava de saída, estou com pressa! — Falo alto. — E tem mais. —Quero
deixar bem claro que você tem uma semana para contar a verdade a ele. Ao
voltar para casa e se sentir mais estabelecido, Harry terá de saber que não sou
seu filho e sim filho de Joseph, o homem que frequenta nossa casa durante todos
esses anos e que ele considerava como um amigo. E, minha mãe, a toda
poderosa Beatrice, age como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. — Ela
abaixa o olhar e ao me encarar, não consegue dizer nada, por mais que busque
palavras e argumentos, nesse momento está encurralada.
— Sean, não me condene. Tudo o que fiz, foi por amor. Você pode não entender
a minha forma de amar, mas não me julgue!
— Vê o quanto você é suja? Não me espantaria saber que mantiveram um caso
às escondidas durante esse tempo!
Ela se revolta.
— Jamais, diga isso novamente! Nunca tivemos um caso! Sempre respeitei meu
casamento e meu nome! E Joseph é um homem íntegro e jamais aceitaria
tamanha sujeira! — Toca meu rosto com carinho. — Preciso do seu perdão, meu
filho, por favor!
— No momento, não posso nem olhar para sua cara, quanto mais perdoá-la. Sua
dissimulada!
Viro-me e saio a passos largos em direção ao estacionamento.


Por Leon
A doença de Harry pegou a todos de surpresa. Meu avô, que tem por ele muito
respeito, pediu-me para que o levasse até o hospital para uma visita. Respondi
que poderia acompanha-lo até lá, mas não entraria no quarto onde Harry está
internado. Não precisei dar detalhes da situação e muito menos meu avô me
questionou minha atitude.
Assim que entramos no local, ele segue para a UTI e fico vagando por entre os
corredores. Uma discussão calorosa me chama a atenção pela voz conhecida de
uma das pessoas envolvidas. Reconheceria essa voz dentre milhares.
Beatrice.
Pelo canto da parede, olho e a vejo junto de Sean. Parece-me que eles estão
tendo uma conversa nada agradável, pois noto que ela está muito abalada o que
me deixou surpreso. Nunca pensei ver essa mulher em tal estado e ainda por
cima, em lágrimas.
Ouço o suficiente e meus lábios se curvam em um sorriso. Então, a dama da
sociedade também possui seus segredinhos? Bem, se ela quer manter esse
segredo por alguns dias, terá que pagar pelo meu silêncio. E não me refiro a
dinheiro, o que desejo é muito maior do que dólares. Depois que fui flagrado
pelas câmeras Aidan, fiquei esperando que me procurasse e nada disso
aconteceu. Acho que ela se esqueceu do velho amigo, espero que fique feliz em
me ver novamente.


Por Sophia
O local escolhido por Vicenzo é uma praia de Nova Iorque. No verão, é o local
mais frequentado pelos nova-iorquinos, mas nessa época do ano se torna deserta
e as únicas presenças são as das gaivotas que andam e voam pela praia à procura
de alimento.
A casa em que nos hospedamos é bem simples. Toda feira em madeira cinza com
detalhes em branco. A vista é sem igual. O mar é o companheiro perfeito para
quem busca paz e isolamento de tudo.
Meu pai me pede para ir ao empório para comprar alguns itens que faltam na
dispensa. Ele quer preparar um almoço especial para nós.
Usando óculos escuros e andando de cabeça baixa, aos poucos, me solto e me
sinto mais livre. Nada de fotos feitas por paparazzi indiscretos e indesejáveis.
Aqui, me tornei uma mera mortal e isso me trouxe muito alívio.
Caminho por mais dois quarteirões e vejo estampado em uma banca de jornal,
uma foto de Sean ao lado de May. A revista sensacionalista dá destaque à
manchete com letras gigantes e chamativas:
Novo affair de Sean Mackenzie?
Ele está conseguindo seguir em frente. Isso é bom, é saudável e natural.
Gostaria de fazer o mesmo e não ficar presa ao passado. Começar do zero e ser
feliz. Não! Não seria essa a palavra cabível aqui. Ser menos infeliz, essa seria a
resposta correta.
Volto com os pedidos de meu pai e depois de duas ou três garfadas em seu
fettuccini maravilhoso, peço licença e ajudo-o com a louça. Depois disso, me
recolho em meu quarto. Quero descansar um pouco.
No cair da tarde, sento-me em frente à janela e fico admirando a vista. Vicenzo
bate à porta e me diz que irá descansar um pouco.
— Qualquer coisa é só me chamar, Nina!
— Tudo bem, papai— me beija e se retira.
Com um bloco e lápis nas mãos, começo a dizer o meu adeus entre inúmeras
lágrimas que caem no papel.
Dobro o papel molhado e olho o entardecer. O céu avermelhado com tons de
violeta se mistura ao pôr do sol. Algumas nuvens se arrastam com o vento forte
que balançam as palmeiras solitárias.
Com muito cuidado, entro no quarto onde Vicenzo dorme profundamente.
Encolhido pelo frio, eu o cubro e beijo seu rosto aspirando de leve seu perfume e
corro minha mão pelos seus cabelos grisalhos delicadamente para que ele não
acorde.
Meu último beijo.
Sussurro baixinho:
— Sentirei sua falta. Adeus.
Coloco a carta ao lado de seu travesseiro e saio bem devagar, sem olhar para
trás. Lá fora, desço as escadas e fecho meu agasalho, colocando as mãos nos
bolsos, caminho em direção à praia que se encontra vazia.
Analisando minha vida de tristezas e alegrias, relembro de cada momento que
vivi ao lado de Sean. Com tudo que vem acontecendo, a música Unbreak my
heart, de Toni Braxton se transformou em meu lema de vida. Olho para o
horizonte mais uma vez. A imagem de Sean aparece e as lembranças dos nossos
momentos me fazem sorrir. O primeiro olhar que trocamos, nosso primeiro beijo,
a primeira vez que nos amamos e o momento mais importante para mim:
quando, durante nosso banho ele me disse: Eu te amo! Nunca mais ouvirei essa
frase de seus lábios e jamais terei seu corpo aconchegado ao meu nas manhãs
frias. Para sempre fui separada do calor e segurança de seus braços. Suspiro e
tiro meu tênis. Avanço para a água e a onda fria toca meus pés me convidando a
acabar com esse sofrimento em definitivo. A imensidão do mar me acolhe e me
diz que meu tempo de dor logo desaparecerá.
Por Vicenzo — alguns minutos atrás...
Abro meus olhos e uma carta ao lado de meu travesseiro me faz despertar de
imediato. Sou macaco velho e sei que essa carta me diz que Sophia vai fugir ou
cometer alguma besteira. Acha que fugindo encontrará a solução para seu
problema.
Ao correr meus olhos pela carta, sua letra trêmula me traz a imagem de minha
filha e seu desespero ao me dizer adeus.
Papa,
Não me recordo, ao longo desses dez anos, de ter lhe escrito uma carta.
Exceto alguns bilhetinhos corriqueiros que eu e Lorenzo escondíamos
embaixo de sua xícara de café no dia de seu aniversário.
Agora, tomei coragem e resolvi escrever a carta mais triste da minha vida,
uma carta de despedida. Ao lê-la, você me achará uma fraca, covarde,
insensível e talvez, pense que não o amo por tomar uma atitude tão egoísta.
Porém, lhe digo o contrário. Por amá-lo demais que resolvo ir embora, não
quero causar mais dor e tristeza ao me ver tão infeliz. Eu o amo e sempre o
amarei.
Fui uma garota rejeitada pela mãe e tratada com indiferença pelo pai. E no
dia em que me salvou daqueles marginais e me tomou como filha não houve
a quem eu mais amasse, adorasse e idolatrasse que não a você.
Não adotou uma adolescente e moradora de rua, tomou para si uma recém-
nascida que nada sabia sobre a vida e me ensinou inúmeras coisas
desconhecidas para mim. Deve estar se perguntando quais seriam elas.
*Você me ensinou a falar:
Não as primeiras palavras que os bebês aprendem com seus pais, você me
ensinou a falar o que sinto, a me expor e não permitir que outras pessoas me
calassem sem que eu tivesse argumentado. Também me ensinou a dizer
"amo você" e outras palavras de carinho que antes não conhecia o
significado por nunca tê-las ouvido de alguém.
*Me ensinou a receber carinho:
Na noite em que me salvou, recebi meu primeiro toque de carinho. Aquele
abraço vai ficar guardado para sempre em mim, eternizado como uma
marca, uma tatuagem. Um mero desconhecido me abraçou. Seus braços me
envolveram com tanto amor e naquele instante, me senti a garota mais
amada de toda a Terra.
*Me ensinou a andar:
Quase como uma criança, me ensinou a caminhar com passos seguros,
olhando para o futuro e servindo de apoio quando, muitas vezes tropecei e
caí. Mostrou-me a direção certa a seguir e me deu a Arte como ferramenta
para chegar onde eu queria. E com sua ajuda, eu cheguei.
Por quantas noites, você e Lorenzo não ficaram acordados me ensinando
equações de Matemática? Quantas vezes, me acalentou quando me sentia
inferior às outras pessoas?
Você é o melhor pai que uma garota poderia ter. Fez de uma menina que se
sentia um nada, uma mulher que podia tudo! Deus foi tão sábio e generoso
ao me dar você, meu maior presente, meu Vicenzo Salvatore!
E o que dizer do meu primeiro vestido e bolo de aniversário? Eu nunca
havia ganhado um bolo na vida! Naquele restaurante, quando o garçom
veio em nossa direção, empurrando um carrinho com as chamas
tremulantes das velas, meu coração ficou tão cheio de alegria que me joguei
em seus braços e agradeci a Deus por ter me mandado um anjo na forma de
homem para me amar da maneira que eu precisava e aceitava ser amada.
*Me ensinou a ouvir:
Lembra das lindas canções que ouvimos juntos? A primeira vez que me
levou a um concerto? Está tudo aqui em minha mente, eu tinha dezessete
anos.
*Ensinou-me a sentir:
Nas lindas estradas da Suíça, naquele verão magnífico, cercado de belas
paisagens coloridas, sentei-me ao seu lado num conversível e ao som de Me
and Bob Macgee, com os cabelos ao vento, deixei a brisa bater em meu rosto
e pude sentir a sua alegria ao me ver tão feliz.
Foi o pai mais perfeito quando me levou em uma danceteria. As luzes
coloridas giravam e iluminavam a nossa dança. Minha risada ecoou no local
ao vê-lo dançando ao som dos anos 70. Pegou-me pela mão e me embalou
junto ao seu corpo, e em seus olhos maduros assegurou que sempre estaria
ao meu lado para tudo o que eu precisasse e o fez, como ninguém.
*Você me alimentou:
Quando vivia no orfanato, as refeições eram vazias e aquela comida não
tinha gosto para mim; apenas sustentavam meu corpo, mas minha alma era
faminta por calor. Ao chegar em sua casa, você me fez sentar à mesa junto
de Lorenzo e assim fui acolhida pelo calor que aquela refeição irradiava. Os
sabores maravilhosos com o sentimento de amor ali presentes me
alimentaram para toda vida, saciaram minha alma. Nunca havia
participado de uma refeição tão sublime feita especialmente para mim.
Papa, você me ensinou tudo e muito mais. Devo minha vida e tudo de bom
que conheci, ao longo dela, estando ao seu lado. Não me arrependo de nada
que tenhamos feito juntos. Ser sua parceira, me fez tornar-me sua fiel
seguidora.
Para mim, você será sempre meu Robin Hood.
Pela primeira vez na vida, terei uma atitude ingrata, indo contra tudo o que
me ensinou. Estou desistindo de seguir minha vida. Não consigo dar mais
um passo sequer em direção ao futuro. Mas quero que saiba que onde
estiver, eu o amarei eternamente.
PS: Diga à Lorenzo que a sua Nina quer descansar. E seu sorriso de menino
vai comigo e também todas as nossas brincadeiras estão guardadas em
minha mente. Vocês me deram um grande legado e dele jamais abrirei mão.
Diga também que ao me despedir dele pela manhã, esqueci de dizer o
quanto o amo!
Adeus.
Sem conter minhas lágrimas, coloco meus sapatos e pego meu casaco. Preciso
encontrá-la com vida, trazê-la para mim, pois se ela morrer, não sei se suportarei
viver sem a sua presença.
Minha Nina não pode me deixar!
Corro para as escadas e o carro de Sean estaciona na calçada.
Deus deve estar do meu lado, nesse momento, desesperado corro ao seu encontro
e lhe mostro a carta.
— Sean, precisamos encontrá-la!
— Onde ela está?
— Sophia irá se matar! — Não consigo e nem preciso dizer mais nada. Aponto
para a praia deserta e ele sai correndo para tentar impedir mais uma tragédia.
Ele é muito mais rápido do que eu, não consigo acompanha-lo.
Rogo a Deus que não seja tarde demais.
Por Sean
Paro o carro em frente ao endereço dado por Damon.
Me assusto ao sair do carro e ver Vicenzo aos prantos enquanto desce as escadas,
às pressas.
Com uma carta nas mãos ele me conta que a mulher da minha vida irá cometer
um suicídio. Meu cérebro dá um nó. E sem nos falarmos muito, saio em direção
ao mar para procurá-la.
A luz do sol está indo embora, somente a lua cheia e as luzes fracas de alguns
postes próximos à orla iluminam meu caminho. Se Sophia estiver morta, não sei
o que será de mim, não quero pensar nessa hipótese e afasto esse pensamento
mórbido e o dirijo para os vários momentos que passamos juntos. E tudo isso se
foi por culpa de minha mãe.
Um garoto usando um agasalho cinza passeia com seu cachorro tranquilamente
pela areia.
— Você, por acaso, viu essa moça por aqui? — Mostro a ele a foto de Sophia
que ainda estava guardada em minha carteira.
— Vi, sim, ela foi por ali — Aponta com o dedo. — A vi entrando na água.
— Obrigado.
Corro mais que posso, e ainda ofegante, a vejo ao longe. Desesperado, grito seu
nome enquanto vejo-a se afundando na água. Ela não me ouve. Então, corro até
o local, arranco meus tênis e me atiro ao mar.
Espero que não seja tarde. Deus! Não deixe que ela morra. Não agora.
A água gela os meus ossos e com muita dificuldade, consigo encontrar seu corpo
e arrastá-la até a superfície. Segurando-a em meus braços, ando com seu corpo
inerte e gelado deitando-a na areia.
— Sophia! — Faço respiração boca-a-boca e ela não reage. Seus lábios estão
frios e azulados. Sua pele, branca como papel. — Meu amor, por favor! — Mais
uma vez, repito o procedimento, e de repente, ela tosse, cuspindo a água que
estava em seus pulmões. — Sophia, olhe para mim, sou eu, Sean! — Bato em
seu rosto, tentando acordá-la.
Ela abre os olhos devagar, e me encara.
— Eu morri? Estou sonhando? Por que me salvou?
— Não, meu amor. Você não morreu, e jamais deixaria meu sonho bom morrer!
— Meu choro de alegria e alívio se misturam. — Não poderia viver sem você!
— Ela treme de frio e eu a ergo em meus braços. Tenho que levá-la para se
aquecer.
— Sean, não faça isso. Não podemos...
— O destino nos quer juntos, Sophia. Descobri que não sou filho de Harry
Mackenzie. Nesse caso, você é a princesa da história, e eu apenas o sapo. E isso
foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. — Falo sem parar, apertando-a
ainda mais.
Beijo sua boca, e a aperto junto de mim, para aquecer nossos corpos gelados
com o ar da noite.
— Eu o amo. — Beija minha boca de leve e ela treme de frio, mas em seus olhos
posso ver a volta do brilho que antes me fascinava. — Obrigada por me salvar,
queria morrer sem você!
— Se você morresse, me deixaria muito infeliz. Quero me casar com você o
mais rápido que puder. — Ergo seu corpo da areia e caminho de volta para sua
casa.
Vicenzo nos alcança e nos olha, confuso.
— Pai, não somos irmãos! — Sophia, diz eufórica e Vicenzo nos olha sem
entender nada.
— É isso mesmo, Vicenzo, Sophia e eu não somos irmãos!
Vicenzo se aproxima e a beija no rosto, colocando seu casaco sobre seu corpo
molhado.
— Minha Nina. Graças a Deus, está viva. Nunca mais ouse fazer uma coisa
dessas! Você quase me matou de susto. — Vira-se para mim. — Obrigado, Sean.
Salvou a vida de Sophia. Agora, vamos para casa, vocês precisam tirar essas
roupas molhadas e me contar que história maluca é essa.
Mesmo sentindo frio, seguro Sophia em meus braços e, por dentro, meu coração
volta a bater, e minha alma se aquece.
Agora, ninguém mais nos separa!
Bônus — Você é o único!
Por Sophia
Depois de um banho quente e roupas secas, Sean, meu pai e eu nos sentamos na
sala e meu noivo nos conta, em detalhes, tudo o que aconteceu depois que nos
separamos. Gesticula com as mãos enquanto relata o momento em que leu a
carta de sua mãe, guardada há mais de 30 anos. Posso notar em sua voz toda a
decepção, raiva, angústia e mágoa guardadas dentro de si. Seu maxilar se
mantém tenso e em seus olhos se encontra alojada muita tristeza. Em seguida,
toma minha mão e olha para meu pai.
— Vicenzo, agora que sabemos da verdade, quero me casar com Sophia o mais
rápido possível.
Meu pai que já esperava por essa atitude de Sean o encara e lhe responde.
— Tem minha permissão e que sejam muito felizes juntos.
Sean volta seu olhar para mim e conclui.
— Que tal na segunda semana de fevereiro?
Parece que vivo num sonho e olho para ele como se fosse acordar a qualquer
momento.
— Para mim, é mais que perfeito, meu amor.
Só sei sorrir.
— Quero os dois assim, sempre— meu pai sorri e pisca para mim.
— Então, estamos acertados — Entrelaça sua mão na minha. — Darei entrada
nos papéis e você poderá cuidar dos outros detalhes como cerimônia, festa e
todas essas coisas.
— Se não se incomodar, terei uma ajudante: Alexia.
— Faça como quiser, contando que se case comigo, o resto é mero detalhe. —
Emenda e beija minha mão.
Meu pai se levanta e vai até a cozinha para buscar mais café.
Sean aproveita o ensejo de estarmos sós e comenta.
— Acho que é hora de irmos, quero voltar à vida, ficar com minha mulher... Só
eu e você, o que acha? — Arqueia as suas lindas sobrancelhas e seu rosto me
parece ainda mais lindo pela ausência que nos abateu.
Tanto ele como eu, sentimos a necessidade de ficarmos sozinhos. Termos um ao
outro, nos amarmos para apagar todo o sofrimento que nos manteve afastados
por todo esse tempo.
— Vamos. Vou avisar a meu pai e podemos voltar.
[...]
No caminho para casa, deito minha cabeça em seu ombro. Esse é o lugar que
mais desejei estar nesses últimos dias tão solitários e agora não contenho a
felicidade que sinto ao ter Sean de volta.
Ele estaciona o carro na garagem e aperta o controle remoto que desce as portas
da mesma.
— Chegamos. — Sai do carro e dá a volta para abrir a porta para mim.
Ao descer, ele me puxa e inesperadamente me agarra prensando meu corpo entre
o seu e o metal frio do veículo.
— Não imagina a falta que me fez! — Segura meu rosto em suas mãos.
— Senti o mesmo a cada segundo em que estivemos separados. Achei que nunca
mais sentiria o seu abraço ou seu beijo. — Digo sem desviar meus olhos dos
seus. — Morrer para mim era o alívio para a angústia que nossa separação me
causou. — Sussurro em seu ouvido, minha voz está embargada de emoção.
— Agora, estamos aqui, nada de morte, tristeza ou saudade. Somos só eu e você.
— Ele me acalma com suas palavras e me abraça forte.
Beija minha boca de modo apaixonado e minhas mãos deslizam pelos seus
cabelos, pescoço e através de seu agasalho, sinto o calor de sua pele que queima
de desejo por mim. Seus braços me erguem e minhas pernas enlaçam sua cintura.
— Vamos para nosso quarto! — Morde de leve minha boca. — Do contrário,
não resistirei a você e acabaremos em cima do capô desse carro.
— Hum. — Mordo de leve sua boca. — Até que não seria má ideia.
— Também acho, mas nossa cama também sentiu sua falta, o capô fica para uma
outra ocasião.
Anda comigo assim, enganchada em seu corpo com sua boca colada à minha.
Me leva ao nosso lugar, o nosso quarto.
Caio no colchão com seu corpo forte sobre o meu. É nosso momento.
O desejo de estarmos juntos é muito forte, Sean tira seu agasalho e em seguida, é
vez de sua camiseta. Meu olhar brilha ao ver a imagem de seus braços, seu tórax
que tanto gosto.
Sua boca beija todo meu pescoço me deixando ainda mais desejosa por ele.
Minhas unhas passeiam e arranham de leve os músculos rijos de suas costas
musculosas, no mesmo instante que ele despe minha blusa me deixando
seminua.
— Minha futura mulher está vestida demais! — De joelhos, abaixa minha calça
juntamente com minha calcinha.
A sensação que temos é que uma eternidade se passou antes que pudéssemos
viver esse momento novamente.
Pior, nas circunstâncias que nos encontrávamos, isso nunca mais aconteceria.
— Meu futuro marido também. — Sento-me na cama com uma pressa
desmedida, abro o botão de sua calça e com sua ajuda o deixo totalmente nu para
meu deleite.
— Eu a quero tanto, Sophia! — Me deito, encarando-o com todo meu desejo.
Minhas pernas se movem inquietas e ansiosas por ele e adivinhando meus
pensamentos, se encaixa entre minhas pernas e com o olhar ávido totalmente
quente de desejo. Penetra-me sem preliminares, pois a ânsia do momento exige
que seja assim, nossos corpos não querem esperar. Sean quer me possuir, me
marcar e eu necessito sentir-me possuída e totalmente em suas mãos.
Gemo alto e sua boca alcança a minha quando se movimenta profundamente
dentro de mim. Me sinto plena e muito feliz. Tenho absoluta certeza de que não
conseguiria viver sem seu toque e seu corpo por toda a minha vida.
Sua língua faz movimentos provocativos conforme suas investidas se tornam
mais intensas. Arqueio e remexo meus quadris para absorver esse fogo que me
consome, Sean entrelaça suas mãos nas minhas e nossos olhos se encontram.
Meu orgasmo chega e é para ele que me rendo toda, convulsionando de tanto
prazer o puxo ainda mais para mim, na certeza de que ele jamais se afastará
novamente.
Nada o levará de mim.
— Sou seu por toda vida... — Morde meu queixo e geme ao sentir meu sexo
contrair—se. — Ninguém irá interferir em nosso mundo, jamais! Amo você e é
para sempre. — Num sussurro rouco em meu ouvido, essas palavras me deixam
sem ar.
— Amo-o tanto, jamais quero perde-lo, Sean!
Extasiada pelo clímax, ele continua seu ritmo e quando se entrega a mim, seu
corpo se retesa e me aperta forte em seus braços.
Permanecemos nessa posição por alguns minutos, como se quiséssemos atestar
que é a nossa nova realidade e não um sonho.
Sai de dentro de mim e se deita ao meu lado. Com a cabeça em seu ombro, meu
braço o envolve. Beija minha testa e se aconchega em mim como sempre fazia.
Era isso que me fazia tanta falta.
— Todas as noites, quando entrava nesse quarto, era essa imagem que mais me
perturbava. Seu sorriso após fazermos amor, sua expressão de felicidade
estampada em lindo seu rosto. Isso acabava comigo e bêbado me deitava aqui e
chorava até dormir. — Aperto-o ainda mais. — Havia perdido tudo isso e era
para sempre! — Seus dedos correm de leve minha espinha.
Apoio minha cabeça e o encaro. Seus olhos voltaram a ter o brilho de antes e
toda expressão de tristeza e amargura o abandonaram.
— Sem você, não sou nada Sean! Saber que o amava e não poderia estar junto
de você era como me envenenar aos poucos e meu corpo a cada dia sucumbia à
infelicidade até que resolvi...
— Shhhh. — Ele me cala com seus dedos. — Não quero falar sobre isso. Quase
morri ao vê-la naquela praia, meu maior medo era de não ter chegado a tempo!
Não suportaria perder a mulher que amo dessa forma!
Abaixo minha cabeça e roço minha boca em seus lábios. Lábios que me sorriem
e me encantam, me beijam com desejo e me enlouquece enquanto escalam meu
corpo, que me salvaram com a verdade e mais importante, lábios que me dizem
eu te amo com uma intensidade incomum de um amor verdadeiro.
— Não irá me perder nunca mais. — Beijo-o e sua mão se enrosca em minha
nuca, puxando—o para si.
Agora, sem pressa nos amamos mais uma vez como se cada parte dos nossos
corpos quisessem transmitir o que sentem.
Com seu corpo agarrado ao meu, Sean adormece e fico ali, parada, olhando o
seu ressonar.
Além de belo é lindo por dentro, tem uma alma generosa e é tão amável. Como
sua mãe pode decepcioná-lo tanto, magoar ao máximo a quem diz amar?
Sua crueldade foi além dos limites da razão, sua frieza é imensa e pior, Beatrice
é uma mulher perigosa. Ficarei com meus olhos bem abertos nessa cobra.
Meu indicador corre por suas sobrancelhas e contornam todo seu rosto. Não me
canso de olhar para ele e saber que agora o terei todos os dias de nossa vida que
se inicia. É muita alegria para uma mulher só.
Com cuidado para não o acordar, saio da cama e na ponta dos pés, saio do
quarto. Sem sono, ando nua pela casa e me familiarizo com tudo o que havia
deixado para trás. Aproximo-me do piano e resolvo tocar algumas notas para
expressar o que minha alma sente no momento. As várias fotos que existiam ali,
se foram. Talvez tenham sido rasgadas, queimadas num momento de dor pela
nossa situação, mas o que esses acontecimentos não tiraram, queimaram ou
apagaram foram as lembranças vivas em nossa memória.
Começo a tocar “Still the One” de Shania Twain e cantarolo bem baixinho. No
meio da canção, olho para a porta e lá está a razão por tudo que tenho vivido.
Sean. Usando o robe que dei a ele em seu aniversário, deliciosamente lindo.
Sorri para mim e caminha devagar até o piano.
— Não pare, por favor!
Se senta ao meu lado e ajeita meu cabelo.
— Sempre quis vê-la tocando algo para mim, acho que mereço. — Solta uma
piscada com ar de menino e me derrete por completo.
— Tem razão, meu amor.
E ao acabar de tocar, seus olhos estão como os meus. Cheios de lágrimas.
Se levanta e me segura pela mão. Surpreende-me com seu olhar de malícia.
— O piano também pode ficar para uma outra hora... — Me ergue em seu colo e
me leva para o quarto, mostrando-me como necessita de mim...
Missão cumprida!
Por Harry
Mais um dia!
Abro meus olhos e a luz da manhã incide sobre a minha janela. Amanhã, estarei
de volta em minha casa e acredito que aos poucos, poderei voltar à minha rotina.
Sinto-me bem e agora é viver o tempo que me resta da melhor forma possível.
Mesmo me evitando, preciso ter uma conversa com Sophia. Tentei entrar em
contato com ela em vão, pois não atende às minhas ligações. Preciso, com muito
jogo de cintura, dizer algumas coisas e sendo tarde ou não, chegou a hora de
serem ditas.
Beatrice passou a noite me fazendo companhia, o que me causou certo espanto,
pois não esperava essa dedicação de sua parte. Fico grato por saber que ela
manteve nosso casamento em um nível elevado. O que notei é que ela está muito
abatida e triste, ao entrar em meu quarto não deixo de comentar.
— Beatrice, o que está havendo? Tem algo lhe incomodando?
Com passos calmos, se aproxima da cama e segura minha mão.
— Não se preocupe, Harry, é que você nos deu um susto enorme!
— Não precisa ficar assim, minha querida, deve estar exausta! — Aliso sua mão
delicada. — Dormir em um hospital não é nada confortável! Vá para casa e
descanse e ficarei bem! — Constato. — Alexia e Max virão mais tarde e a
propósito, tem notícias de Sean?
Engole seco e seu olhar recai sobre a janela.
— Não.
— Estranho, ele não costuma sumir assim! Esteve aqui ontem e disse que iria
resolver um assunto urgente e até agora não deu mais notícias. Sabe que me
preocupo com ele.
— Ele sabe se cuidar, Harry! — Uma funcionária entra trazendo uma bandeja
com café da manhã, acompanhada de uma enfermeira trazendo um arsenal de
medicamentos.
— O melhor que você tem a fazer agora é ir para nossa casa e descansar!
— Está bem, meu querido! Estou indo, qualquer coisa é só me ligar e virei
correndo!
— Obrigado.
Com toda a sua calma e elegância e calma, pega a sua bolsa e deixa o quarto.
Por Claire
Superar mágoas não é uma coisa fácil. Há pessoas que lidam com os rancores
como quem descarta um objeto em uma lixeira, mas eu nunca consegui esquecer
o que aquela Monalisa embalsamada me fez. Com seu jeito astuto e dissimulado
me roubou o único amor que tive em minha vida. Se não fosse por ela, eu e
Harry teríamos vivido uma história juntos. Poderia ser que nos separássemos em
determinado momento, mas pelo menos eu saberia se daria certo ou não. E se
ficássemos juntos quem estaria cuidando dele nesse momento delicado, seria eu
e não ela.
Como um guarda em sentinela, vejo o exato momento em que Beatrice deixa o
estacionamento do hospital. Sei que passou a noite cuidando do marido e agora
ele está sozinho, somente com os cuidados das enfermeiras.
Portanto, minha hora chegou!
Quero estar a sós com ele e dizer tudo o que ficou entalado em minha garganta
por todos esses anos. O que vou fazer não me envaidece, pois Harry está doente
e minha atitude é até maldosa, mesquinha e covarde, mas não posso mais
permitir que esse segredo permaneça escondido e que Beatrice determine o
melhor momento para conta-lo.
Isso se o fizer.
Ao lembrar da carta, imagino que a essa hora Sean e Sophia devam estar juntos.
Dessa sujeira toda, alguma coisa boa aconteceu. Me sinto feliz e segura por
desmascarar essa bruaca e tirá-la de seu trono e com esse pensamento carregado
de hostilidade, entro no hospital com um sorriso no rosto de pura satisfação
embutida em minha alma.
A recepcionista me informa o quarto em que Harry se encontra. Com minha
bolsa a tiracolo, cumprimento com leve aceno de cabeça algumas pessoas que
passam por mim no corredor. Finalmente, paro em frente a porta de seu quarto.
Há uma sala que antecede o seu leito e com firmeza giro a maçaneta e entro.
Deitado, usando seus óculos, segura o The New York Times em suas mãos.
Mesmo que o tempo tenha passado, Harry continua bonito. Totalmente absorto
na seção de economia, não percebe a minha presença. Alguns segundos se
passam até que seus olhos através das lentes se erguem e encontram os meus.
Não consigo articular palavra alguma.
Foram mais de 30 anos para que esse momento chegasse a acontecer.
— Claire?
Sua cara de espanto me faz rir.
— Mudei tanto assim para que tenha dúvidas? — O questiono em tom de
brincadeira. Ando até os pés da cama e minhas mãos se mantêm fechadas. —
Sim, sou eu. Vim assim que soube de seu estado de saúde. Precisava muito falar
com você e não queria esperar mais tempo.
Ele me oferece um sorriso largo. O mesmo sorriso que há anos atrás fazia meu
coração bater forte.
— Que pena! Pensei que tivesse vindo somente me ver!
— Sabe que não gostaria de causar nenhum constrangimento me deparando com
sua mulher.
— Bem, sente-se aqui! — Aponta para uma cadeira. — Não se preocupe!
Beatrice e eu não vivemos como um casal apaixonado e com crises de ciúmes há
muito tempo! Joseph deve ter dito isso a você!
— Absolutamente, meu irmão não costuma se intrometer e muito menos fala
sobre assuntos alheios. — Justifico. — A única coisa que me disse quando voltei
de viagem é que seu filho rompeu seu noivado e me contou os motivos. Você
tem uma nova filha, é isso?
— Sim, foi uma triste coincidência. E Sean ainda não se recuperou, eles se
amavam. — Suspira, resignado. — Infelizmente tiveram que se separar.
Em seguida, segura a minha mão.
— Às vezes, penso se não a tivesse abandonado...
— Harry... — Interrompo-o. — Não quero que nossa conversa tome esse rumo,
não foi para isso que vim até aqui. — Mesmo assim, me ignora e continua.
— Sei que não é o momento e muito menos o local para lhe dizer essas coisas,
mas é que penso em como seria se ficássemos juntos, se não tivesse sido um tolo
e não me deixasse levar pelas aparências. Retira seus óculos. — Beatrice é como
uma cópia de uma grande obra de arte. Linda e sem defeitos aos olhos dos
leigos, porém aos experientes não tem nenhum valor. E eu, leigo e inexperiente,
demorei para conhecer o seu real valor, ou seja, nenhum.
— Não diga uma coisa dessas, afinal, viveram tantos anos juntos e deve ter
sobrado algo de bom ao longo desse tempo.
Dobra o jornal e o coloca em um criado-mudo ao lado de sua cama. Com os
olhos sombrios e inexpressivos, continua.
— Vivi um casamento de mentira, Claire. Com o passar do tempo, Beatrice
mostrou sua verdadeira face e a partir daquele momento, nossas vidas deixaram
de estarem ligadas. Após o nascimento de Sean, ela mudou da água para o vinho
e com isso arrastamos nossa relação para um casamento de aparência e
totalmente sem amor. Um fracasso. — Fala sem emoção. — Tive várias amantes
e ela aceitava tudo em silêncio, esse desprezo e frieza me irritavam ainda mais,
me sentia como se não existisse aos seus olhos. Até que um dia, ouvi de sua
própria boca que minhas aventuras sexuais não a incomodavam desde que essas
brincadeiras não afetassem o nosso nome e o patrimônio da família. Ela iria se
dedicar à educação de nossos filhos e o resto poderia ser muito bem
administrado. Ou seja, ela se casou comigo somente por dinheiro e poder que ele
carrega.
Harry fala com mágoa, mas sei que também tem sua culpa, tolerar amantes não é
uma coisa fácil, ainda mais para uma mulher orgulhosa como Beatrice.
— Harry, eu o amava tanto! — Digo, quase chorando pelo nosso destino. — Não
tem ideia de como sofri! — Solto tudo, sem medir as palavras. — Sei que agora
é tarde para nós dois. — Afago seu rosto com a barba grisalha e seus olhos se
fecham para receber o meu toque. — Carreguei tanta mágoa dentro de mim, me
tornei amarga e fria, nunca me casei e nem tive filhos.
Meus olhos se enchem de lágrimas.
— Você me perdoa, Claire?
— Não vim até aqui para que você fosse perdoado, talvez depois de ouvir o que
tenho a lhe dizer, sinta raiva e me culpe por ter guardado esse assunto por tanto
tempo. Vim aqui para isso e não para falarmos do que poderíamos ou não ter
vivido. O que aconteceu entre nós foi bom e será sempre um tempo feliz em
minhas memórias.
— Que bom, pelo menos isso. Então, me diga, o que a trouxe aqui? — Me
encara com seus frios olhos azuis.
— Não quero que morra sem saber da verdade, ou talvez eu possa morrer antes e
não me perdoaria se não o deixasse a par de tudo o que houve há mais de trinta
anos. O tempo é inimigo de toda a verdade encoberta e chegou a hora de mostrar
a você como Beatrice lhe enganou.
Abro minha bolsa e tiro a carta, entregando-a.
Ele me olha com o papel nas mãos e muito devagar, coloca novamente os seus
óculos. Lê linha por linha e, ao terminar, seus olhos azuis ficam vermelhos de
puro ódio.
— Sean não é meu filho!! — Amassa a carta como se estivesse com dor.
— Pois é. Para mim, isso foi uma surpresa e tanto.
— Você sabia disso esse tempo todo? — Me olha com desdém. — Foi essa a
maneira que encontrou para se vingar? Saiba que conseguiu, Claire! — Bate os
braços ao lado do corpo em sinal de inconformidade.
— Sim, sabia! — Faço uma pausa e fecho os olhos escolhendo a melhor maneira
de continuar. — Encontrei essa carta no lixo, logo depois que Beatrice saiu de
minha casa. E naquele momento tinha a arma para acabar com toda a alegria que
ela carregava por ter arrumado um bom partido e com isso, poderia trazer você
de volta para mim. — Ensaiei tanto esse momento e ele não está saindo como
planejei. — Mas minha raiva era muito maior e achei que você a merecia e
juntamente com ela, toda a mentira que ela lhe contou, um filho ilegítimo. —
Minhas mãos suam frio e minha boca fica seca.
Seu maxilar enrijece e não diz nada por um longo tempo.
— Joseph sabe?
— Nããão! — Respondo, prontamente. — Claro que não! Meu irmão é tão
inocente quanto você! Nem imagina que é o pai biológico de Sean.
— Sean ... Filho de Joseph... agora tudo se encaixa, o cuidado excessivo, toda a
proteção, a preferência por ele. Por que ela fez isso comigo? — Harry mostra
toda a decepção em suas palavras.
— Essas explicações não cabem a mim. — Sorrio, sem graça. — Agora que sabe
a verdade, faça o que quiser dela. Se achar melhor e pelo bem de todos guarde
esse segredo e o leve com você, entenderei perfeitamente.
— Obrigado, Claire, mas preferia que tivesse vindo me ver por outro motivo que
não esse!
Completamente abalado, conclui.
— Acho que Deus quis antecipar a minha ida. Essa notícia me deixou muito
abalado. Sean! Meu Sean. Por que agora, Claire?
Ele ficou magoado comigo também, como se toda a culpa por esse passado
sórdido fosse minha.
—Porque jurei um dia me vingar! Vingaria tudo que Beatrice me tirou e a
colocaria no lugar de onde nunca deveria ter saído: A sarjeta! Também fiquei
sabendo ao chegar de viagem que Sean rompeu seu noivado e Joseph me contou
o que houve naquele dia. E fiquei abismada com a frieza de sua esposa que sabia
de tudo e poderia pôr um fim naquela situação e não o fez. — Preferiu ver o
filho sofrendo, mas o seu passado intacto. Ela alega amá-lo, acho que não
conhece a palavra ódio. — Reconheço.
— Ordinária! — Grita. — Ela é uma ordinária e pagará caro por me enganar
durante todos esses anos. Sean estava em desespero e ela fazendo o papel de mãe
consoladora e mulher traída. Tenho vontade de matá-la com minhas próprias
mãos. Preciso contar a Sean.
— Não se preocupe, já falei com ele! — Me adianto. — Procurei-o ontem à
tarde e revelei a ele quem é sua mãe, à essa hora, ele deve ter ido atrás da mulher
que ama e os dois devem estar juntos.
Harry esfrega as mãos em seu rosto, ainda incrédulo.
— Ele sabia! Percebi que ele estava estranho ontem, desviava os olhos quando
eu o encarava e estava muito inquieto. — Esfrega a mãos nos lábios. — Saiu
daqui para resolver um assunto urgente.
— Bom, era isso, Harry! Desculpe—me se fui rude, seca e também insensível.
— Me levanto da cadeira. — O tempo me deu essas qualidades como presente.
Tenho que ir! Se quiser pode ficar com essa carta. — Aponto para o papel
envelhecido jogado em seu colo. — Ela já não tem utilidade para mim!
Antes de abrir a porta ele me chama mais uma vez.
— Claire, não tenho muito tempo e gostaria que me perdoasse, é uma maneira de
ir em paz. Não quero que saia desse quarto carregando mágoas e rancores.
Ando até ele e suas mãos prendem as minhas de modo firme. Me lembro de um
tempo em que esse gesto significava tanto para mim.
— Fique em paz, meu querido. Não se preocupe comigo! Eu o amei e mesmo
que o tenha traído guardando esse segredo, não consegui cultivar rancor por
você. Não posso culpa-lo por achar que Beatrice era melhor do que eu. Ela
desempenhou muito bem seu papel de atriz, muitos acreditaram nela, não só
você!
Quando digo isso, me lembro de Joseph, cego e apaixonado por aquela víbora.
Beijo seu rosto e me despeço. Sei que não o verei novamente. Minha missão foi
cumprida.
Por Beatrice
Deito minha cabeça na borda da banheira e fecho meus olhos. Meu peito parece
que irá explodir diante da aflição misturada à inquietude que sinto. Não consigo
relaxar e ficar em paz.
Penso em Sean e em suas duras palavras, o seu desprezo doeu mais que qualquer
outra coisa. Permaneço dentro da água até enrugar minhas mãos e pés. Como
gostaria que meu filho colocasse tudo na balança e entendesse que tudo o que fiz
foi por ele e para o seu bem, sempre. Toda mentira tem o seu preço e não
imaginava que o destino me cobraria tão caro.
Saio da banheira, coloco meu roupão e ando até meu closet. Dentro de minha
bolsa, meu celular toca. Atendo e a voz irritante de Leon soa em meu ouvido.
— Bom dia a mais elegante dama de Nova Iorque!
— Bom dia, Leon. — Digo, secamente. — Não disse para não me procurar?
— Você se esqueceu de seu amigo, por isso resolvi procura-la!
— Claro que não, meu querido! — Reviro os olhos. — É que minha vida anda
um pouco conturbada, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e com a
doença de Harry não tenho tempo para mais nada.
— Que pena! Quero muito falar com você a sós, a respeito de sua dívida para
comigo, lembra?
— Sim, lembro, não esqueço minhas dívidas, Leon e a pagarei com gosto. Mas
no momento, isso será impossível, espero que entenda. — Reviro os olhos por
essa conversa entediante.
— Está me dispensando, Beatrice?
— Não. Estou dizendo que no momento não posso falar com você, espero que,
como um cavalheiro, entenda a minha situação. — Minha voz soa um pouco
mais irritada do que o normal.
— Entender? O que? Que fui usado por você e que levei toda a culpa naquele
plano? Aidan moveu um processo criminal contra mim e com certeza perderei a
causa. — Grita ao telefone.
— Não se faça de inocente, pois aceitou os riscos, conversamos muito bem antes
de tudo, lembra? — Falo entre dentes, tentando me manter calma.
— Sim, mas agora exijo meu pagamento. — Fala, todo cheio de si.
— Exige? Você não está em condições de exigir nada, Leon!
Solta uma gargalhada em sinal de algum trunfo nas mãos, chego a ficar
arrepiada.
— Sim, tenho condições e exijo. Ou vai querer que eu vá até aquele hospital e
diga a Harry que Sean é um bastardo.
Minhas mãos ficam geladas e sinto meu sangue sair de meu rosto. Como ele
ficou sabendo dessa história?
— Beatrice? Está aí? — Percebe meu choque como confirmação de suas
palavras.
— De onde você tirou esse absurdo, Leon. Que bobagem! Harry jamais irá
acreditar numa coisa dessas, ainda mais vindo de sua boca. — Disparo com a
voz branda dessa vez. Preciso despistar esse assunto.
— Ah é? E seu eu disser que ouvi toda a sua conversa com Sean e ele mesmo
exigiu que você acabasse com essa mentira e ainda lhe deu um prazo para contar
a seu marido?
Cercada e sem armas para rebater esse infeliz, única solução no momento é
aceitar o que ele me pede.
— Está bem, amanhã à noite, poderemos nos encontrar.
— Irei confiar em você, não tente me enganar! Estarei esperando ansioso em
meu apartamento.
Desliga e me deixa perplexa. Não posso permitir que meu passado caia em mãos
de pessoas como Leon, terei que contar a Harry antes que seja tarde demais.
Cuidarei desse verme mais tarde, com muito carinho, pode apostar. Irá aprender
a nunca bater de frente com Beatrice Mackenzie.
Por Sophia
Abro lentamente meus olhos e o vejo olhando para mim.
— Dormiu bem?
— Muito bem, me belisca?
— Assim? — Grito ao sentir que me beliscou com força. — Não está sonhando
se é que o deseja saber!
Algo o preocupa, mesmo estando com a aparência mais tranquila, sinto que há
algo no ar.
— Sean, tem algo que queira me falar? — Ele se levanta.
— Sabe, Sophia, amo meu pai e ele foi o único que conheci, não quero pensar no
que vai ser se ele não me aceitar como seu filho, e não falo isso pelo nome ou
pelo dinheiro, isso não me atinge e pouco me importaria se ele me excluísse
como seu herdeiro.
Em pé, o abraço por trás.
— Sean, ele sempre demonstrou muito carinho por você, e tenho certeza de que
não iria deixar de amá-lo.
— Será? Meu pai é um homem orgulhoso, e descobrir que sou fruto de outro
relacionamento fere esse orgulho a ponto de me renegar como seu filho.
— Olhe para mim. — Seguro seu rosto em minhas mãos. — Tudo vai ficar bem!
Merecemos ser felizes e iremos ser. Muito! Acredite em mim.
Seu celular vibra sobre o criado. É o seu pai.
Por Sean
— Pai, bom dia!
— Bom dia, meu filho. E seu assunto urgente, foi resolvido?
Olho para Sophia ao meu lado e sorrio.
— Sim, pai. Tudo resolvido.
Ele fala às pressas.
— Sean, preciso que venha ao hospital imediatamente.
— Aconteceu alguma coisa?
— É muito importante! Não posso dizer ao telefone!
— Tudo bem, vou me trocar e logo estarei aí.
— Estarei lhe esperando.
— Um abraço.
Antes de desligar, ele ainda completa.
— Sean, nada muda meu sentimento em relação a você. Continuará sendo meu
filho sempre. Eu o amo e isso ninguém tira de mim.
Ele sabe a verdade. Mas como? Será que minha mãe já lhe contou a ele?
— Eu também o amo muito, meu pai!
— Bom, mandei chamar Beatrice, quero que ela também participe de nossa
conversa.
— Em meia hora estarei aí. Até.
— Até!
Desligo e Sophia está me encarando com olhos inquisidores.
— Está tudo bem?
— Sim, meu amor. Meu pai quer falar comigo, e pelo jeito, já sabe a verdade.
Vamos ver mais um estrago que minha mãe causou com isso tudo. Espero que
tudo acabe bem.
Abraço Sophia a única coisa boa disso tudo.
[...]
Depois de deixar minha noiva em sua casa, me dirijo ao hospital. Entro no
quarto de meu pai e me deparo com Beatrice aos prantos ao lado da cama.
— Sean, que bom que chegou! Feche a porta! — Sua cara não é das boas. —
Vamos pôr todas as cartas na mesa! Sua mãe andou escondendo umas coisinhas
de nós dois, presumo que você já saiba do que se trata!
Percebo como ele está alterado e quero que essa conversa saia na mais perfeita
paz, para que não prejudique ainda mais o seu estado de saúde.
— Pai, por favor!
— Sente-se. A partir de agora, eu falo... não me interrompa!
Rua da amargura!
Por Harry
Antes da chegada de Sean...
— Harry, aconteceu alguma coisa? Quando me ligou, fiquei preocupada! Você
está bem?
Beatrice corre até mim demonstrando preocupação. Tenta afagar meu rosto, mas
não quero suas mãos em mim, então, as afasto.
— Você deve me achar um imbecil, não é mesmo? Deve se achar a mulher mais
esperta e inteligente desse planeta! — Encaro-a com tanta raiva que, se não
estivesse em uma cama, a agrediria fisicamente.
— Harry, do que está falando?
— Não adianta me olhar com essa cara de cadela dócil e inocente. Sei de tudo.
Acabei de descobrir do que você é capaz, sua meretriz!
— Você não pode se exaltar nesse estado. Harry, quer se acalmar, por favor! —
Fala de modo manso e simulado.
— Ah, não posso me exaltar?! — Me exalto ainda mais. — Antes eu podia, por
que não me contou então que Sean não é meu filho, hein? Até quando iria
esconder de todos que Joseph é o seu pai?
Empalidece em minha frente e fica calada. Segundos depois, caminha até a
janela e, de costas para mim, comenta.
— Sei que o que fiz foi errado, carreguei essa mentira a vida toda e sabia que o
destino iria me cobrar. Não sou uma pessoa perfeita, sou defectível, Harry. Mas,
se quer saber se um dia fui apaixonada por você a ponto de mentir, a resposta é
sim!
— Ah, claro. E essa carta com sua linda declaração de amor abandonando o pai
de Sean é uma ilusão, presumo? — Mostro a carta a ela e a encurralo na parede,
deixando-a sem resposta. — Iria mudar a estratégia, meu bem? O que seria dessa
vez? A mulher ingênua se apaixona por jovem rico, mas está grávida de outro
cara sem ter onde cair morto. Algumas palavras e bum! Já era. Peguei o
afortunado, fisguei o peixe. — Desabafo, sentindo asco por essa mulher
irreconhecível em minha frente. — Caso-me. Minto uma gravidez. Tenho o filho
e pronto. O babaca assume a criança, o ama como seu filho e eu, todos os dias,
vejo-o se orgulhar de seu herdeiro. Passam-se mais de 30 anos, e então, a
verdade vem como um raio e você quer justificar o quê? Minhas traições a
fizeram mentir? Ou foi sua ambição e soberba combinadas com egoísmo e
orgulho?
— Harry, me ouça, por favor!
— Calada, eu falo agora! — Não dou a ela meios para explicar algo tão sórdido.
— Você ama tanto nosso filho que era a única capaz de tirá-lo do sofrimento que
se encontrava, e o que a mamãe fez? — Aponto meus dedos em sua cara
deslavada. — Calou-se! Eu a odeio por isso, Beatrice! Odeio a mim por ter
errado tanto e me casado com você! Perversa, egoísta, ambiciosa e mentirosa.
Você não presta e me arrependo do dia em que dei a você o meu nome!
A sua única arma agora é o choro. Lágrimas, sem sentimentos, somente lágrimas
de orgulho.
— Não queria que fosse assim, Harry, eu juro!
— Não importa! Agora que sei a verdade, darei a entrada nos papéis do nosso
divórcio e você não ficará com um centavo do que construí.
— Nunca! — Rebate, controversa. — Eu o ajudei a levantar o seu império! Você
era rico quando nos casamos, mas triplicou tudo o que tem graças a mim! Não
seja ingrato!
— Não serei! Darei a você a chance de provar que ama tanto seu filho como diz.
— Não entendo onde quer chegar. É claro que amo Sean. — Limpa suas
lágrimas.
— Tem certeza? — A inquiro com cinismo. — Então, não se importará de sair
com uma mão na frente e outra atrás desse casamento. Do contrário, se tentar
obter algum ganho recorrendo a um divórcio litigioso, procurarei a imprensa e
direi o porquê do fim de uma união tão feliz.
— Seu ordinário! Você não teria coragem! Seria ruim para seus negócios, sabe
disso?
— A mim? Sabe que não! Um homem traído é sempre apoiado pela sociedade.
Agora, a mulher que trai e ainda por cima esconde um filho por tanto tempo será
massacrada por toda a alta roda. Pense bem, isso sim prejudicaria a carreira de
seu filho.
Não tenho intenção de tornar essa história pública, isso é somente uma maneira
de fazer essa cachorra ficar no olho da rua com nossa separação. Tenho também
que falar com meus advogados, meu testamento será todo reformulado.
Com meu dinheiro ela não fica.
Quieta, ela morde o seu indicador e permanece em silêncio por algum tempo.
— Está bem! Eu aceitarei as suas condições, não posso permitir que a carreira de
meu filho seja prejudicada dessa forma.
— Muito bem! Até que enfim resolveu pensar no bem de alguém que não seja
você mesma! — Suspiro, em sinal de vitória. — Entrei em contato com meus
advogados antes mesmo de ligar para você. Eles irão redigir um termo onde você
abre mão de qualquer bem de nossa família.
— E quanto as minhas joias?
— Fique com elas de esmola. Irá precisar, pois sei que elas não durarão a vida
toda. Mais uma coisa, tem um ditado que diz: A consciência do ser humano é o
medo de ser descoberto.
Nesse momento, Sean adentra o quarto e vê a mãe com os olhos em prantos.
E após dizer tudo à Beatrice, mando-a sair do quarto.
Cabisbaixa, ainda devagar, tenta falar com o filho que a ignora. Sean também
está com muita raiva da mãe, talvez até mais do que eu. Ele sempre a teve em
alta conta, e descobrir que ela não é quem ele imaginava o deixou muito irado.
— Sean, agora que Beatrice já se foi, somos você eu. Acho que temos muito o
que conversar. — Ele se senta ao lado de meu leito.
— Pai, eu nem sei o que dizer... fiquei desnorteado com essa história toda e, às
vezes, parece que isso é somente um pesadelo.
Coloco a mão em seus cabelos, e o vejo quando menino.
— Diga que me ama! É o que seu velho pai deseja ouvir! Que nada se alterou
em nossa convivência depois disso tudo.
Ergue seus olhos e sorri.
— Eu o amo, meu pai! Meu maior medo era de que, ao chegar aqui, me
deparasse com seu desprezo. Que me dissesse coisas que não estava preparado
para ouvir.
— Jamais! Você é tão inocente quando eu nessa história. Senti o mesmo medo,
não gostaria de perder o seu amor.
— Não perdeu. Tudo o que sei, aprendi com você, meu pai!
Pego sua mão e a seguro firme.
— Quando você nasceu, minha vida tomou um novo sentido. Tinha alguém que
dependia de mim e que eu poderia ensinar-lhe tudo. Prepará-lo para ser melhor
do que eu, e em nenhum momento, você me decepcionou. Se tornou um homem
com caráter e de bom coração. E mesmo sabendo que em seu sangue não corra o
meu, nada mudou para mim. Fui eu que te ensinei a jogar baseball, tênis e
também a velejar. Pescamos inúmeras vezes juntos, jogamos cartas e também lhe
ensinei a paixão por cavalos. Joseph poderia ter vivido o que vivi, e talvez ser
um pai melhor do que eu. Mas isso ninguém tira de mim, sempre será meu filho,
meu Sean.
Sean se levanta e me abraça forte. Suas lágrimas molham a minha camisola do
hospital. Isso pouco me importa no momento, pois também molho a sua camisa
com as minhas. E durante esse contato, percebo o quanto Sean é especial.
— Devo lembrar a você de que sou muito possessivo em relação a vocês. São
meus filhos e, se Joseph, mesmo que entre nessa história e venha reivindicar o
que é seu, terá problemas.
— Pai. — O sorriso de menino dele está ali, para me presentear. — O senhor não
existe!
— E outra coisa que queria de você. Aliás, duas!
— Diga, pode pedir qualquer coisa!
— Primeiro, quero que traga Sophia até mim, preciso lhe falar. É importante! —
Sempre atento a tudo, seus olhos não saem dos meus. — Segundo, depois que
sair desse maldito hospital, quero organizar o baile anual de aniversário da
MEmpire.
— Pai, não acha melhor cancelarmos o baile desse ano?
— Absolutamente, faço questão. Alexia está cuidando de todos os detalhes.
Deixei a seu encargo a organização desse ano.
— Bem, você é quem sabe. Se acha que está em condições de frequentar esses
eventos.
— Sim, quero que seja um baile inesquecível. Acho que estamos acertados.
Agora, preciso descansar um pouco. Estou exausto. — Me ajeito entre os
travesseiros.
— Vou indo! Descanse, volto mais tarde. Amanhã, quando sair daqui, quero
contar aos meus irmãos toda a verdade.
— Sim, faremos isso juntos.
— Outra coisa, Sophia e eu resolvemos nos casar em fevereiro.
— Que ótima notícia!
— Pois é. Mas gostaria de pedir a você que não conte nada à Beatrice. Quero
mantê-la ao máximo de distância de minha vida. Não consigo vê-la como uma
pessoa confiável no momento.
— Fique tranquilo. — Pisco a ele.
— Sabia que poderia contar com você!
Sean me deixa sozinho e Dr. Oswald rompe meu quarto.
— Bom dia, Harry Mackenzie! Como está se sentindo?
— Entediado. Muito entediado, doutor. Quero ir para casa.
— Sua família já sabe de seu real estado de saúde, senhor Mackenzie? — Fala
com cinismo divertido.
— Não, não sabem e pretendo levar essa história até o fim.
— Tem certeza? Além de médico, sou seu melhor amigo e não sei como
concordei com essa maluquice.
— Na verdade, Oswald. O seu hospital cometeu um erro naquela ressonância.
Meu tumor não é maligno como o resultado apontava. Portanto, você me deve
essa! Quero manter segredo e continuarei meu tratamento até ficar curado.
Tenho muito para viver.
— Mas não acha que esconder de sua família a sua real situação é uma coisa
desonesta?
— Sim, eu sei disso e pretendo contar aos meus filhos. Mas, quanto à minha
mulher, continuará achando que vive com um moribundo.
Ele ri.
— Bem, e você não está com cara de quem está entre a vida e a morte.
— Ainda bem. — Bato na madeira do criado-mudo e nós dois caímos no riso.
Oswald deixa o quarto e resolvo dormir um pouco. O dia hoje começou muito
agitado.
Por Danielle
— Amor, vou ao banheiro e já volto!
Levanto-me da nossa mesa e tento sair sem esbarrar nas pessoas que se
encontram amontoadas nessa boate.
Com muita dificuldade, consigo chegar até o banheiro, porém a fila me deixa
desanimada. Fazer o quê? Encosto-me na parede e espero por minha vez.
Para meu azar, vejo quando a ex noiva de Max sai e esbarra em meu ombro.
Tanto lugar para sair em Nova Iorque e eu escolho justo a mesma boate que essa
vaca? É quando penso que isso não foi algo provocativo, e sim um mero
esbarrão, a bonita resolve falar comigo.
— Você é a nova namorada de Max? — Me encara tentando causar intimidação.
— Por que a pergunta se já sabe a resposta?
As outras mulheres se entreolham e preveem confusão.
— Max perdeu a noção de bom gosto! Anda pegando qualquer uma! Chegou a
ter dó!
— Mau gosto ele tinha quando estava com você, puta loira! — Perco a
compostura e acabo dizendo baixarias!
— Olha como fala comigo, sua delegada desclassificada. Tenho nome e você? O
que tem? Um distintivo? Acha que isso será suficiente para agarrar Max e leva-
lo ao altar?
— Olha, tenho outras coisas que você nem imagina! E ele não reclamou! Agora,
me dá licença que não tenho mais tempo a perder com você!
Chega a vez da mulher que está à minha frente na fila. Ela entra e eu dou um
passo à frente.
Bárbara não se dá por vencida e resolve brincar de puxar cabelo. Coitada! Esse
tipo de briguinha eu já praticava na escola aos 10 anos. Hoje, minha defesa
melhorou muito e essa franga vestindo Chanel vai conhecer a força do meu
braço.
Com seu reflexo apurado, acerto-lhe com uma cotovelada no nariz e a prenso na
parede. Coloco meu braço embaixo de seu pescoço, e a encaro firme.
— Escute aqui, boneca! — Seus olhos parecem os de um coelho assustado. —
Não costumo brincar em serviço, então, sugiro que erre o meu caminho! Procure
não esbarrar em mim novamente ou conhecerá uma desclassificada muito mais
violenta! Sacou?
Empurro-a para a porta, e a moça que estava em minha frente sai. Minha vez de
usar o banheiro.
Algumas que estão na fila aguardando se espalham, e voltam às suas mesas. Na
frente do espelho, lavo meu rosto e o enxugo calmamente. A raiva dessa fulana é
tanta que meu rosto chega a queimar!
Volto para minha mesa e torço para que Max não esteja sabendo da minha briga
com Bárbara.
— Demorei? — Sento-me ao seu lado.
— Uma eternidade. Até já pedi a conta. Quero ir para um lugar mais calmo, para
ficarmos a sós. — Morde o lóbulo de minha orelha causando-me arrepios e me
fazendo esquecer aquela briga horrorosa de minutos atrás.
— O que estamos esperando? — Estendo minha mão e o puxo para sairmos.
Se aquela loira aguada achava que poderia estragar minha noite, estava muito
enganada.
Conversa franca
Por Danielly
Dentro do carro, me sinto incomodada e não acho que seja correto esconder de
Max a minha briga com Bárbara. De certa forma, um relacionamento sadio
começa com franqueza para que a confiança seja estabelecida e se torne cada vez
mais forte.
Ao chegarmos em meu apartamento, acendo a luz do abajur e jogo minha
jaqueta sobre a poltrona. Ajeito meus cabelos e o encaro, inquieta.
— Max, tenho que lhe contar uma coisa!
Caminha até mim e seriamente me encara.
— O que foi?
— Enquanto fui ao banheiro, naquela boate, encontrei sua ex noiva e acabamos
discutindo!
— Discutiu com Bárbara? — Ajeita-se no sofá e sustenta um ar de riso.
— É sério, ela me provocou e quando dei por mim, acabei dando-lhe uma
cotovelada no nariz. Perdi meu autocontrole com as suas gracinhas.
Estende sua mão e toca a minha.
— Venha cá, sente-se aqui! — Fala com carinho.
Ao me sentar, seu corpo se aconchega no meu, afagando meus cabelos.
— Se acaso a encontrar novamente, ignore-a. Não vale a pena brigar por ela. —
Beija meu pescoço, ignorando totalmente o que acabei de revelar.
—Mas não briguei por ela e, sim por você! — Argumento. — Pelos desaforos
que ela me disse.
—Sei disso, meu amor. — Afasta uma mecha de cabelo que cai sobre meu rosto.
— Mesmo assim, não quero que saia por aí batendo em ninguém por nossa
causa, muito menos em Bárbara. Ela sabe muito bem que não sinto mais nada
por ela e que sua presença não me atinge.
—Sei que agi de modo infantil, me desculpe...
—Não precisa se desculpar, olhe... — Beija de leve meus lábios. — Sei o quanto
Bárbara pode ser provocativa e sabendo que não tem armas para nos atingir sua
tentativa foi lhe desestruturar. Ela é passado, tão passado que nem me lembro
que existe. Se um dia sofri por ela, isso ficou lá atrás. O que temos juntos é
muito maior do que senti por qualquer outra. Eu realmente gosto de você,
Danielly Austin. Confio em você e ao contrário dela, conheço seu caráter. Jamais
a trocaria e sei também que sente o mesmo em relação a mim.
Nossos olhos se encontram e ele continua.
—Você é a mulher mais fascinante que tive o prazer de conhecer e
principalmente, ter como namorada.
— Eu lhe adoro, Max!
—Vê? Isso que importa! Isso que realmente tem valor a nós dois! — Se levanta
e me puxa para seus braços e agarrados nos encaminhamos para meu quarto.
Joga-me na cama com seu corpo sobre o meu.
—Minha briguenta favorita! — Morde minha boca, enquanto suas mãos
acariciam minhas costelas por debaixo de minha blusa.
—Favorita? Não gostei! — Falo em tom de brincadeira. — E minha
exclusividade onde fica? Você é só meu, garotão! — Viro meu corpo, ficando
por cima dele.
— Você é exclusivamente minha e eu unicamente seu! — Tira minha blusa e
agarra meus seios com um toque possessivo. Adoro isso em Max. Quem vê a sua
carinha de bom moço não imagina o quanto é surpreendente na cama, claro que
isso não revelo a ninguém!
— Acho muito bom! — Meus dedos abrem com rapidez os botões de sua camisa
e deixam à mostra seu peito másculo. Arranho-o de leve descendo por todo seu
tórax até chegar em seu cinto.
Nesse instante, se senta e abre meu sutiã correndo com seus lábios pelo meu colo
todinho. Deixa meu corpo todo arrepiado enquanto suas mãos acariciam meu
sexo através do tecido de minha calça.
— Max... — Gemo o sentir sua língua rodeando meu mamilo, deixando-o
intumescido com os movimentos circulares alternados com leves mordidas.
Abre minha calça e seus dedos invadem minha calcinha. Arqueando meus
quadris de encontro ao seu toque experiente me deixa tonta de desejo.
— Quero você, agora, Dani.
Como uma ordem a ser seguida, uma entrega a ser feita, em segundos, ficamos
nus e ainda montada sobre ele, sinto-o todo dentro de mim. Com minhas mãos
em seu pescoço e as suas em minha cintura, ele determina nosso ritmo. Nossas
bocas permanecem coladas, sua língua dança com minha em movimentos
eróticos que nos fazem gemer. Meus dedos apertam suas costas suadas e em
entrego a ele com paixão. Gozo intensamente e momentos depois, o arrasto
comigo.
Minutos depois, deitada sobre seu peito, ainda ouço as batidas desenfreadas do
seu coração e aos poucos, nossa respiração volta ao normal.
— Max...
— Hum... — Responde, sonolento.
Como todas as vezes depois de nos amarmos em meu apartamento, Max acaba
indo embora e nunca passa a noite comigo. Nunca tomamos um café em minha
casa juntos. Era uma regra que impus a ele no começo para não dividir minha
intimidade e, com o passar dos dias, acabei me arrependendo, pois sinto sua falta
ao abrir os olhos pela manhã.
— Fique comigo essa noite, não quero que vá embora!
Surpreso, ele se apoia em seu cotovelo e me encara.
— Está falando sério, Dani?
— Claro, por que? Algum problema?
Seu sorriso lindo confirma o contrário.
— Achei que nunca fosse me pedir isso!
Beija minha boca e com isso amanhecemos juntos e melhor, acordados!
Por Sophia — No dia seguinte
Logo pela manhã, antes de sair de meu quarto para meu café da manhã, Angelina
rompe o ambiente como se houvesse estourado a terceira guerra.
— Posso saber qual o motivo dessa entrada rompante? Já estava saindo para o
café.
— Seu noivo está aí!
— Sean, a essa hora?
— Sim, e não veio sozinho, parece-me que o senhor Harry está com ele. Vicenzo
os recebeu na sala.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Sean aparece na porta e pede licença
para entrar. Minha ansiedade aumenta ao imaginar Vicenzo e Harry sozinhos na
sala. Vicenzo não é homem de meias palavras e vai acabar ofendendo Harry
Mackenzie.
— Sim, claro. Estava de saída.
Assim que ela sai, toma minha mão e a beija, em seguida, beija minha boca e
explica o motivo de sua visita inesperada com direito a acompanhante.
— Harry quer falar comigo, é isso? — Acho que não seria uma boa ideia. —
Achei que já tivesse dito a ele tudo no dia de nosso noivado, Sean!
Segura em meus braços com carinho e completa.
— Só uma conversa, ele me pediu para que o trouxesse aqui e que pudesse lhe
falar. — Atesta, argumentativo. — Nada mais justo, Sophia. Ele e meus irmãos
foram os únicos que realmente ficaram tristes por nossa separação. Harry sempre
gostou de você, antes mesmo de descobrir que era seu pai.
— Sean, nada do que ele diga irá mudar o que sinto por ele. Para mim, ele será
sempre o pai de meu marido, só isso!
— Eu lhe entendo, querida! Nem ele quer exigir de você algo grandioso como
algum sentimento maior. No caminho do hospital até aqui, Harry não quis ir para
casa e me pediu para trazê-lo para falar com você. Isso é muito importante para
ele. Sei como se sente, pois também descobri que tenho um pai biológico que em
nada mudou meus sentimentos pelo pai que me criou.
Resignada, suspiro.
— Tudo bem, vamos até ele. Assim, colocamos um ponto final nessa história
toda!
— Eu te amo, sabia? E não vejo a hora de estarmos casados!
— Também o amo muito e estou contando os dias para ser sua esposa!
Nos encaminhamos para a sala e os olhos de Vicenzo se encontram com os
meus. Harry se levanta do sofá.
Abatido pelo seu estado de saúde, ele me sorri e retribuo o sorriso como forma
de aliviar o clima que se instalou na sala no momento.
Vicenzo e Sean deixam a sala e parece que a distância entre Harry e eu aumenta.
Nos sentimos constrangidos e mesmo sendo objetiva e muito franca, não sei o
que dizer a ele para dar início a qualquer diálogo. Espero então, que ele diga
alguma coisa.
— Sophia, antes de mais nada, quero que saiba que fiquei muito feliz em saber
que você e Sean estão juntos novamente. Sempre achei que fosse a mulher
perfeita para ele.
— Obrigada, Harry. Para que isso acontecesse, tivemos que passar por algumas
verdades escondidas que trouxeram dor a você, lamento por tudo isso.
— Não lamente! — Ele se levanta e caminha até o meu piano. — Como você
não deixou de amar aquele que a criou e lhe deu amor, Sean também fez o
mesmo por mim. Para ele, não importa se Joseph é o seu pai biológico, e sim o
pai a quem o criou. Você deve pensar que, para mim, um homem orgulhoso e
preso a valores ridículos, isso seria uma punhalada!
— Não pensei em nada disso! Confesso que nem parei para analisa-lo. Estava
em uma tristeza tão grande que, quando Sean me encontrou e contou a verdade,
a única coisa que me importou foi saber que poderia ficar junto dele.
— Posso lhe dizer que depois de minha doença, muita coisa mudou dentro de
mim e ao meu redor. Gosto de dinheiro? Sim. Do poder? Claro que sim. Mas,
coloquei isso tudo em segundo plano. Tenho meus filhos e eles, no momento,
são tudo que tenho de maior importância.
— Que bom, Harry. Fico feliz por vocês.
— Sophia... — Vem até mim e se senta ao meu lado. — Sei que o que o passado
já escreveu não se apaga, mas peço para que me perdoe por ter sido egoísta a
ponto de rejeitá-la como filha. Não posso pedir que me ame, isso seria mais um
egoísmo de minha parte, porém, gostaria de sentir orgulho por ter uma filha
como você! Disse a Vicenzo há pouco, que devo minha gratidão a ele. Cuidou de
você perfeitamente bem e foi o melhor pai do que eu poderia ter sido.
Ele quer meu perdão! Quantas vezes, jogada nas ruas, imaginava quem seria o
meu pai? Por onde andaria? Como seria o seu rosto? O que diria ao me ver?
Hoje, essas perguntas com suas respostas não me fazem diferença, não me
importam, pois, ao conhecer Vicenzo, elas desapareceram de minha mente ainda
em fase de amadurecimento.
Na vida, há momentos em que a paz deve ser primordial, e se você é o
responsável por estabelece-la, então que o faça. Minhas mágoas e ressentimentos
não me servirão de alicerce para nada, e sim, o amor que carrego comigo. E é
com esse amor que eu digo a Harry que esqueça qualquer mágoa que um dia
carreguei dentro de mim por sua rejeição.
— Eu o perdoo, Harry. Quero viver em paz com Sean e toda sua família.
— Obrigado, Sophia. Posso lhe dar um abraço?
Ele me aperta em seus braços e beija meus cabelos. Sinto que segura suas
lágrimas, e ao me afastar, elas dão lugar ao seu sorriso.
— Você é uma mulher extraordinária, Sophia! Meu filho, ao seu lado, terá um
futuro mais que brilhante.
O lado pai dá lugar ao ambicioso Harry. Há coisas que simplesmente não
mudam. Deixei claro a ele que em meus documentos, o nome de meu pai será o
de Vicenzo, e isso nunca mudaria.
— Não pensamos em nosso relacionamento por esse lado, Harry.
— Eu sei, mas sabe que esse momento irá chegar e tenho certeza de que você
será a primeira dama mais linda desse país. Serão uma dupla e tanto juntos.
— Tudo ao seu tempo, não é? — Sorrio para ele e me levanto. — Bem, se me
der licença, tenho algumas coisas para resolver!
— Claro, não quero atrapalhar. E obrigado por me ouvir, Sophia!
Minutos depois, Sean e Harry tomam café conosco, e Harry nos convida para o
grande baile de gala, organizado para comemorar o 40º aniversário da E. M.
Meu pai agradece o convite e confirma sua presença. Harry pede a Sean que o
leve para sua casa. Após ver os dois saindo, relato a Vicenzo toda a minha
conversa com Harry.
— Melhor assim, minha filha! Fez muito bem, viver em paz é a melhor maneira
de desfrutar a vida!
Por Sean
Na casa de meus pais, meus irmãos recebem Harry com muita alegria.
Beatrice parece um ser a parte, isolada. Harry nos chama em seu escritório, e ali,
perante Alexia e Max, conta a eles a verdade sobre meu passado. Alexia fica
chocada e Max em silêncio. Vejo nos dois tudo o que senti em relação à nossa
mãe. A decepção, somente isso justificaria o momento.
Depois de explicar todos os detalhes e dizer que nada mudou em nossa relação,
Alexia e Max me abraçam e transmitem todo o amor que sempre nos uniu.
Após essa conversa, peço licença a todos, e saio dali.
A essa hora, Joseph me espera em um local escolhido por mim.
Antes disso, peço a Austin que pare em frente à Tiffany's. Compro um anel de
brilhantes e um novo par de alianças para minha amada. Hoje à noite, iremos
jantar juntos e quero colocar um anel em seu dedo.
Agora, Sean, vamos ter a conversa com o homem que você descobriu ser seu
pai.
Sentado ao fundo da lanchonete, ele brinca com a xícara e se mostra impaciente
pela espera.
Me aproximo, e ele sorri ao me ver. Claire não disse nada a ele. Portanto, quem
vai dizer a verdade dessa vez, sou eu.
— Joseph! Que bom que veio. — Arrasto uma cadeira e sento. Em seguida, peço
um café.
— E então, o que queria me falar de tão urgente?
— É uma longa história. — Suspiro e começo a contar tudo o que descobri ao
longo desses dias!
Bebida amarga!
Por Sean
— Pela sua cara, a coisa é muito grave! — Se ajeita na cadeira e eu observo
todos os traços de seu rosto procurando algo semelhante que possamos ter. —
Tudo bem com sua família?
— Tudo sim. — Solto um suspiro. — Joseph, é um assunto muito delicado e
também fui pego de surpresa. — Digo, logo, pois não quero deixa-lo na
expectativa.
— Pode dizer logo do que se trata, assim vai me deixar mais nervoso do que me
encontro. — Completa. — Nunca havia me chamado para conversarmos, exceto
no haras, em sua casa e eventos onde nos cruzamos.
— Joseph. — O atendente traz o meu café e nos deixa a sós. — Beatrice
escondeu-nos um segredo por mais de 30 anos. — Inicio o assunto sem saber
como ele irá reagir. — Caiu como uma bomba em nossa família e esse mesmo
segredo envolve você.
— A mim? Mas o que ela poderia ter guardado que prejudicasse a sua família?
— Bem, pelo pouco que eu sabia, você e minha mãe são amigos desde a época
em que ela era solteira, certo?
— Sim, — Ele se sente desconfortável. — Conheço Beatrice muito antes dela se
apaixonar por seu pai. Ela era amiga e dividia um apartamento com Claire,
minha irmã.
— Vocês tiveram algum tipo de relacionamento, não é?
— Ela disse isso?
— Joseph! Estou apenas perguntando!
— A bomba era essa? Beatrice e eu no passado? — Dispara um riso amargo. —
Espero que não, porque o que sua mãe e eu tivemos não passou de um simples
relacionamento entre dois jovens, depois que ela conheceu seu pai, nunca mais
nos vimos, acho que isso responde sua pergunta.
— Responde sim, não estou querendo insinuar que vocês ainda mantêm esse
relacionamento, Joseph. A situação não é essa!
— Ah, não! O que pode ser tão grave assim?
Tomo meu café e o encaro.
— Beatrice, quando se casou com Harry, estava grávida e esse filho não era dele,
e sim, seu! Não sou filho de Harry e sim...
Ele paralisa. Não diz nada e fica ali, me olhando. Ao ouvir minha voz que o
desperta, responde:
— Filho? Que maluquice é essa, Sean? Esse filho só pode ser de Harry!
Seu espanto e descrença são visíveis.
— Mas não era. Veja isso. — Tiro a famosa carta do meu bolso e a entrego a ele.
Joseph lê muito devagar, como se tivesse que absorver cada palavra escrita por
Beatrice. Ao final, ergue seus olhos, eles estão marejados de lágrimas.
— Você é... meu filho! — Solta quase sem voz.
— Sim, Joseph! Ela enganou a todos. — Sorvo o líquido quase frio da xícara
para molhar a minha garganta que se encontra seca. — Enganou a Harry, a você
e a mim. Acreditei a vida toda que era um Mackenzie e o pior de tudo que no dia
de meu noivado, minha mãe viu o quanto essa verdade era importante, e mesmo
assim, resolveu se calar. Estou muito magoado com ela e não sei se um dia a
perdoarei.
— Sean, eu... — Passa a mão pelos cabelos. — Beatrice não poderia ter feito
isso comigo. Eu sempre fui...
— Apaixonado por ela? — Completo. — Agora que as coisas foram
esclarecidas, consigo ver, Joseph. Você ainda ama minha mãe! Mesmo em
silêncio, mesmo sem demonstrar seu amor, e ela sabe disso! Não o julgo. Hoje,
conheço o que é o amor e sei o que ele faz conosco.
— Meu filho. — Repete como um mantra. — Como ela teve coragem de me
negar isso?
Fala consigo mesmo, incrédulo com tudo que acabou de saber.
— Também fiquei surpreso, Joseph. Minha cabeça ficou muito confusa e, por
mais que tente, não entendo o motivo por ela ter feito o que fez.
— Sean, Beatrice sempre foi, para mim, a mulher que amei. Não me casei e
muito menos tive filhos.
Tento não pensar por esse ângulo.
— Você e minha mãe...
— Não! Não pense uma coisa dessas. — Rebate de imediato. — Durante todo
esse tempo em que frequentei a casa de seus pais, sempre respeitei o casamento
e a escolha dela. A tinha como uma amiga muito especial.
— Entendo, me desculpe se pensei o contrário. — Digo, sem jeito. — É que isso
é tão absurdo. Ela o tratando como um amigo de família e sabendo o que havia
por trás de tudo.
— Posso amá-la em silêncio, mas nunca desrespeitaria o homem que me recebeu
em seu lar. E Beatrice sempre se portou como uma dama. Depois que começou a
namorar seu pai, nunca mais nos encontramos. Só anos depois a encontrei e ela
fez questão que eu voltasse a frequentar a sua casa.
— Admiro sua honestidade, Joseph!
— Acho que isso é o mínimo que se espera em uma atitude de um homem, a
honestidade para mim, sempre foi sinônimo de verdadeiro caráter.
Nesse momento, Joseph estica suas mãos e segura a minha.
— E agora, Sean? O que vamos fazer com essa verdade?
— Sabe, Joseph, não posso dizer que essa revelação me deixou mais feliz ou
triste. Feliz por ter Sophia e triste por saber que vivi uma mentira criada por
minha mãe. E agora que tudo foi esclarecido entre nós, quero lhe dizer que não
posso olhar para você como pai. Não da noite para o dia. Isso seria impossível. O
vejo como um grande amigo e o amor que sempre dediquei a Harry está em
mim. — Explico da melhor maneira possível para não o desprezar ou até mesmo
magoar a um homem que até pouco tempo era considerado um grande amigo. —
Não quero que pense que estou sendo egoísta e frio, talvez você fosse um pai
muito melhor se ao menos tivesse tido a chance de demonstrar isso.
— Sean, entendo você! Vamos dar tempo ao tempo, e sabendo que é meu filho, a
única coisa que lhe peço é que, se um dia, precisar de qualquer coisa... — Ele se
emociona e me deixa emocionado também. Joseph sempre foi tão leal e discreto.
— Saiba que, como amigo, não mediria esforços para ajuda-lo, e sendo seu pai
então, morreria para fazer algo por você!
— Obrigado, me lembrarei sempre disso!
— Agora, me diga uma coisa! Como vocês descobriram essa história?
Não quero causar confusão entre Claire e ele, mas também não é justo esconder
e dar nascimento a outra mentira.
— É uma longa história! — Conto a ele tudo o que sei. Espero que não guarde
rancor de Claire.
Quando termino, ele conclui.
— Claire sabia! Meu Deus! Por que tanto ódio? Tanta raiva contida por tanto
tempo? Amo minha irmã e terei uma conversa séria com ela.
— Por favor, Joseph. Por mim, vamos tentar manter a calma e não brigue com
sua irmã. Converse com ela com calma.
Desvia os olhos para a rua, e depois olha diretamente para mim.
— Está bem, irei falar com ela sem me exaltar e tentar entender o porquê
escondeu esse segredo por tanto tempo.
— É isso aí, assim é que se fala, Joseph. — Mudo de assunto. — E a propósito,
temos que jogar juntos qualquer dia desses, que tal?
— Só marcar!
Um clima agradável se instala e conversamos como velhos amigos. Como ele
mesmo diz, tudo ao seu tempo.
Nos despedimos e, ao entrar em meu carro, o pego olhando para mim. Aceno
novamente e espero sinceramente que tudo seja restabelecido.

Por Sophia — No dia seguinte...
Olho para a minha mão direita e sorrio. Angelina me serve o café e não deixa de
observar.
— Acho que esse anel irá acabar sumindo desse dedo. Você não tira os olhos
dele, Sophia.
— Ah, fofa! Estou tão feliz!
— Eu sei que está. E será ainda mais, você vai ver!
— Quando Sean o colocou em meu dedo ontem, tive que disfarçar, queria ficar
olhando para minha mão o tempo todo.
— Sua bobinha!
Levanto-me da mesa e deixo minha xícara na pia.
— Vou sair e comprar um vestido para o baile de sábado. Não estava afim de ir,
porém, Sean quase me intimou.
— Vá e brilhe. Mostre para aquela cobra que você é muito mais forte do que ela
pensa.
— Não gosto desse tipo de coisa, Angelina. Gostaria que tudo fosse resolvido na
maior paz. Beatrice é, e sempre será a mãe de Sean. Será uma pessoa que terei
que conviver, querendo ou não!
— Tudo se resolve, minha linda! Ainda bem que ele viu que tipo de mercadoria
é a mãe!
— Pois é. — Pego um brioche e saio da cozinha. Preciso encontrar um vestido à
altura para esse baile.
Por Beatrice
Vivo em minha casa como se fosse um móvel. Todos estão me isolando. Alexia e
Max mal falam comigo. Mudaram totalmente após descobrirem a verdade sobre
Sean. Este, não fala comigo desde que soube a verdade. O mundo poderia ter me
virado às costas, mas a dor de não ver o sorriso de Sean é algo insuportável para
mim. Todos podem me julgar, isolar, menos ele. O único que amo e prezo.
Mesmo que não entenda os meus motivos, ele não pode duvidar do meu amor.
Eu o amo mais que a mim.
Olho para o meu closet e escolho um vestido para o evento de gala no sábado.
Harry exigiu minha presença e me disse que, após o aniversário de Alexia,
estaremos separados. Ou seja, estarei na ruína a partir desse dia. Ele está
cuidando de tudo com muito carinho e posso sentir a sua doce vingança ao me
deixar na sombra do fundo do poço.
Por um milagre, Alexia aparece em meu quarto. Olho para ela e noto o quanto
mudou. Mais segura e bonita do que antes.
— Oh, minha filha! Que bom vê-la!
— Ah, vim para lhe pedir uma coisa!
— O que é, diga! — Me sinto melhor em saber que alguém precisa de mim para
alguma coisa.
— Queria uma joia sua emprestada, um anel, mais especificamente.
— Claro, minha querida! Vou pegar minha caixa de joias, só um minuto! —
Minha filha se senta e seus olhos correm ao redor de todo o aposento.
— Você não se perde aqui?
A olho pelo canto dos olhos e solto um riso com seu comentário.
— Não, adoro esse lugar! — Trago a caixa e mostro a ela todos os meus anéis.
— Pode escolher o qual lhe agrade mais, exceto esse! — Reservo um enorme
anel de turquesa e brilhantes. — Esse combinará com meu vestido.
— Tudo bem, quero esse aqui! — Alexia escolhe um anel em esmeraldas para
combinar com seus olhos e seu vestido verde escuro.
— Vai ficar lindo, tenho certeza!
— Obrigada, mãe!
Mesmo dividindo algo tão corriqueiro, nossa distância é avassaladora. O pouco
de afinidade que tínhamos foi-se embora. E meu maior medo é de que nossos
laços nunca mais se estreitem.
— Alexia, me diga uma coisa...
— Sim... — Vira-se antes de sair do closet.
— Sabe me dizer se Sean reatou com Sophia?
— Não, não sei. Acho que ela não estava em Nova Iorque na última vez que
falei com Sean. Mas, acho que eles vão reatar. Agora, nada os impede, não é
mesmo?
— Sim, é verdade. — Engulo isso como uma espinha de peixe em minha
garganta.
Alexia sai do aposento e continuo a escolher minha roupa para o baile de gala.
Leon, me aguarde.
Mesmo sabendo de que sua chantagem já não tinha valor, continua me
importunando. Agora, me ameaça dizendo que, se eu não ceder aos seus
caprichos, irá contar a Alexia minha participação na noite da invasão do
apartamento de Aidan.
Se esse verme maldito acha que vai ficar me colocando na parede dessa maneira,
está muito enganado. Não sou mulher de submeter à nenhuma chantagem. Pego
meu anel e confiro o conteúdo no compartimento. Fecho e volto-o no lugar.
Tenho tudo planejado! Baile, câmeras, gente, fotos, discursos, terraço... Duas
taças de champanhe e um idiota sendo envenenado! Chega de ser boazinha. Já
tenho problemas demais e esse rato me tirando a paz! Depois disso, tenho que
cuidar de Harry. Vamos ver se assinarei esse termo de separação abrindo mão de
tudo.
— Quem sabe ele não morra antes e me torno uma viúva? — Estalo a língua em
contentamento e apago a luz do aposento. As coisas vão entrar em seus eixos,
tenho certeza disso!
Por Joseph
A pedido de Sean, tive uma conversa franca e sem ofensas com minha irmã.
Claire, em nenhum momento, se mostrou arrependida de ter mostrado a carta à
Sean da maneira como fez. Disse que teve seus motivos e que se eu não
entendesse, paciência!
Sei que ela guarda enorme rancor de Beatrice. Entendo sua raiva.
Depois de acertarmos nossas diferenças em relação a isso, ligo para Beatrice.
Preciso falar com ela e lhe dizer o quanto estou chateado, afinal, ela me
escondeu um filho por mais de 3 décadas.
Uma funcionária atende e diz que a Sra. Mackenzie não se encontra no
momento.
Agradeço e ligo em seu celular. Atende de modo cauteloso pois deve imaginar o
porquê de minha ligação.
— Preciso falar com você, Beatrice. É importante!
— Joseph... Se for a respeito daquela carta...
— É a respeito da carta e todo o assunto que a envolve.
— Estou muito ocupada, tenho um evento importante no sábado e estou
ajudando Harry a organizá-lo.
Ela está tentando se esquivar do assunto.
— Você já me deixou de lado por tanto tempo, já era o esperado. Isso nem me
incomoda mais.
— Por favor, Joseph. Não fale assim! Não quero que tire conclusões sem antes
nos falarmos, mas façamos o seguinte — Faz uma longa pausa e fala com outra
pessoa ao seu lado, deve estar em alguma loja. — No domingo, almoçamos
juntos no haras, que tal? Somente você e eu. Sabe que não tenho justificativa
para o que fiz, mas ao menos me deixe pedir perdão de uma maneira digna e
civilizada?
— Tudo bem, nos falamos no domingo. Passar bem!
Como alguém toma uma atitude dessas e quer que tudo corra como se nada
tivesse acontecido? Beatrice não percebe a gravidade da situação ou se faz de
louca? Isso é o que quero descobrir.
• Baile de Gala — Sábado •
Por Sophia


Parado em frente à calçada, Sean me espera. Ele está lindo como sempre.
Durante todo o trajeto, sua mão segura a minha e nossos olhos se cruzam por
várias vezes.
— Nervosa? — Pergunta, antes de descermos do carro. Austin abre a porta para
que eu desça, e ao pôr o pé para fora do veículo, vários flashes são disparados
em minha direção!
Escolhi um vestido vermelho longo sem mangas e, mesmo no inverno, a noite
colaborou muito para que eu o usasse.
— Senador! Senador! Por favor, uma foto!
— Vamos dar a eles o que querem, Sophia. — Sussurra em meu ouvido.
— Tem certeza? — Falo entre dentes.
— Sim, hoje saberão que estamos prestes a nos casar.
Uma jornalista nos aborda e Sean resolve dar a ela uma pequena entrevista.
Depois de três ou quatro perguntas superficiais, dispara.
— Quer dizer que o senador e a senhorita Salvatore reataram o namoro?
E encara de modo sério e responde com calma.
— Não somente reatamos o namoro, como nos casaremos no mês que vem.
— Então, casamento à vista?
— Sim, casamento em breve! — Ergue sua mão direita e mostra a ela a aliança
em seu dedo. — Agora, se nos dá licença, temos que entrar.
Caminhamos por todo o tapete e os olhares não saem de nossa direção. Fico até
incomodada. Virei celebridade novamente. E quando adentramos ao salão, um
par de olhos escuros me fuzilam. Vestindo um longo azul, Beatrice me encara
como a um inimigo. Seu olhar é puro veneno, só falta dar o bote!
Bom, tentei ser uma nora razoável, e já que ela não se deu por satisfeita e quase
acabou com a felicidade Sean e a minha, então conhecerá uma mulher que não
tem medo de cara feia.
Sorrio e exalo simpatia a todos que cumprimento. Harry nos vê e nos
cumprimenta com um sorriso. Sean me conduz até uma mesa onde estão seus
irmãos. Alexia me abraça e fica feliz ao saber da novidade de nosso casamento.
Dani, um pouco mais tímida, logo se entrosa na conversa.
— Ah, mas antes de vocês se casarem, saibam que no dia 24, ficarei mais velha!
— Nossa, tinha me esquecido, minha irmã. — Sean bebe seu champanhe. —
Pretende dar uma festa?
— Mas é claro! Só faço aniversário uma vez ao ano, não é, meu amor? — Seu
olhar é dirigido ao namorado.
— Sim, tem razão. — Aidan sorri. — Vocês nem imaginam o que essa doida tem
em mente, se eu fosse vocês... correriam enquanto há tempo!
— Alexia! O que anda aprontando? — Pergunto.
Com seu sorriso de menina travessa, bebe seu vinho branco e conclui:
— Aguardem! Será a festa do ano!
— Sean, quando ela diz isso, sinto arrepios! — Diz Max.
— Pois é. Dá última vez, Alexia fez uma festa em alto mar. Foi horrível! —
Sean completa.
— Ah, gente! Parem! O que minhas cunhadas pensarão de mim?
— A verdade, Alexia. — Dani fala, sorrindo.
— Viu? — Completo. — Nós já a conhecemos, cunhada!
E nossa conversa animada corre solta com os olhos da Bruxatrice nos
observando.
Harry sobe ao palco, pede a atenção de todos e discursa. Agradece a presença
dos demais. A seguir, desce e pede que a banda continue. Sua aparência é de
quem goza de muita saúde.
Meu pai e Lorenzo não quiseram participar dessa festa. Vicenzo preferiu ficar
em casa com Frank, jogando baralho. Lorenzo saiu com Lay. Acho que logo
teremos mais uma integrante em nossa família. O namoro deles é para valer.
A banda toca Fly Me Too The Moon e, para minha surpresa, Harry se aproxima
de nossa mesa e me convida para uma dança. Levanto-me e sou conduzida até o
centro da pista.
— Você está linda, Sophia!
— Obrigada, Harry.
— Sabe, sou um homem de muita sorte!
— Posso saber porque? — Gira-me ao som da música que nos embala. Ele sabe
mesmo dançar.
— Claro que pode. Ganhei dois presentes: uma nora e uma filha maravilhosa!
— Oh, obrigada! — Um pouco constrangida, dou-lhe um beijo de leve no rosto.
Seus olhos se iluminam e seu sorriso largo me diz o quanto esse beijo foi
importante para ele.
— Se depender de mim, vocês serão sempre felizes.
Deixa no ar sua promessa velada e continuamos a dançar até que a música chega
ao final.
— Obrigado pela dança, Sophia.
— Eu que agradeço, você é um excelente par. Sean teve a quem puxar. — Pisco
para ele e, ao voltarmos à minha mesa, Sean parece feliz ao ver que as coisas,
aos poucos, tomam o seu devido lugar.
Nada como o tempo. O experiente e sábio tempo!
— Agora é minha vez! Quero dançar com minha noiva!
Nos braços de meu futuro marido me solto e me sinto muito amada.
Por Leon
No terraço, observo as luzes da cidade e dos arranha-céus. Não quis permanecer
no meio daquela festa, não foi para isso que vim. Minha presença tem outro
motivo. Beatrice.
Marcou para se encontrar comigo no terraço, disse que era mais discreto e até
mandou que desligassem a câmera de segurança do local. Teremos toda a
privacidade.
Ouço passos elegantes se aproximando e, ao me virar, a vejo, linda, caminhando
com seu sorriso estonteante em seus lábios vermelhos. Com duas taças de
champanhe nas mãos, chega até mim.
— Aqui estou, meu querido! Promessa de Beatrice Mackenzie é dívida!
— Que bom, pensei que não viria!
Bebe o líquido sem tirar os olhos dos meus. Faço o mesmo. Dou um grande gole.
A bebida desce pela minha garganta molhando minha boca que estava seca pela
ansiedade do momento.
Toco em seu braço e seu olhar recai, bem devagar sobre minhas mãos. Um
pouco mais ousado, escalo seu pescoço e toco em seu rosto. Fecha os olhos,
absorvendo meu toque.
Suave, macia, cheirosa como sempre imaginei.
— Leon... — Sussurra. — Alguém pode nos ver! É arriscado demais!
Bebo o restante do champanhe e coloco minha taça no parapeito do terraço.
— Sei disso, minha querida, só um beijo. — Aproximo minha boca da sua.
Nesse instante, me sinto sufocar!
Não consigo respirar e o ar se torna cada vez menor. Como uma das mãos na
garganta e a outra estendo a ela pedindo por socorro.
— Achou mesmo que me entregaria a você? Jamais me chantageará novamente,
seu verme!
— Beatrice, por favor...
Agonizando, vejo seu sorriso frio e desprezível. Caio no chão e vejo quando leva
as taças vazias e o balançar do vestido se distancia. O barulho dos seus saltos vai
ficando cada vez mais longe.
Lay — doidinha de pedra!!
Por Sophia
— Que tal irmos embora, meu amor? — Sean sussurra ao meu ouvido, sentados
à mesa. — Acho que já aparecemos o bastante, demos à imprensa muita notícia
para divulgarem amanhã.
— Nisso você tem toda razão! Vamos, meu querido!
Despedimos de todos e saímos discretamente.
No interior do automóvel, Sean sobe o vidro e nos mantém separados de Austin.
— Adorei o baile! — Digo, olhando para os carros em movimentos.
Pega minha mão e morde um de meus dedos com força.
— Mentirosa! — Solto um gritinho de dor. — Você é como eu, detesta esse tipo
de evento.
— Sim, mas estando ao seu lado, até as coisas mais desagradáveis se tornam
especiais. Ainda mais agora, todas ficarão sabendo que agarrei o solteirão mais
cobiçado do pedaço.
Sorri e me encara.
— Você me agarrou desde o dia que pus meus olhos nos seus! — Se aproxima e
beija meu pescoço, deixando minha pele arrepiada ao sentir sua boca gostosa. —
Mesmo sem saber, me tornei seu a partir de então. E que todos fiquem sabendo
que você é inteiramente minha e de mais ninguém.
— Sean... — Sua mão entra em meus cabelos desmanchando-os e várias mechas
caem sobre meus ombros enquanto seus lábios me tomam num beijo exigente.
Em resposta, mordo seu lábio inferior e o mantenho preso entre meus dentes.
— Adoro, meu senador possessivo!
— Adora, é? — Seu gemido me incita ainda mais e então desato o laço de sua
gravata. — Sou possessivo e ciumento, muito ciumento em relação a você. —
Seus dedos acariciam minha coluna até chegar em meus quadris, me puxando
para ele.
Sean ciumento? Seria uma surpresa para mim, pois ele nunca demonstrou tal
sentimento. — Depois de você, aprendi a possuir e me tornar posse de alguém,
sou totalmente ligado a você e desejo-a como jamais quis nenhuma outra.
— Por isso, combinamos tanto. — Roço minha boca em seu queixo. — Somos
idênticos. Também sinto o mesmo por você.
— Isso é muito bom, minha Sophia! — Seus dedos deslizam por baixo da alça
direita de meu vestido e com sua boca colada à minha, desce-a deixando meu
seio à mostra.
— Sean, estamos dentro do carro em movimento, esqueceu?
Devagar, sua boca desce em meu ombro até abocanhar meu mamilo e deixando
duro sob sua língua quente.
— Sei disso, quer que peça a Austin que pare?
Sorrio com malícia e minhas mãos estão em seus cabelos, puxando-o ainda mais
para mim. Me deixo absorver de toda a sensação que sua carícia é capaz de
produzir. Desce a outra alça e faz o mesmo com o outro seio.
— Não, meu amor, mas...
Mais ousado ainda, sobe com uma das mãos por minha coxa até chegar em meu
lingerie.
— Não me peça para parar Sophia... — Geme enquanto invade meu sexo com
seu dedo, rodeando-o com seu polegar, me fazendo gemer também. — Você está
toda molhada, louca e prontinha para mim. Adoro isso em você, fico louco
quando sinto seu desejo por mim.
Nesse momento, minhas mãos correm por seu tórax por baixo do tecido de sua
camisa, sua pele é quente e exala seu perfume que me deixa embriagada. Meus
dedos correm pelos seus músculos bem feitos de seu abdômen, mais abaixo,
aperto seu membro e vejo como nosso desejo se equipara, estamos nos
consumindo como animais.
O carro diminui a velocidade.
— Sr. Mackenzie, estamos chegando! — A voz cavernosa de Austin aparece
através do sistema de som e quebra o nosso clima.
Devagar, Sean ajusta as alças de meu vestido e me olha com o mesmo desejo de
instantes atrás. — Guarde suas energias, irá precisar, futura sra. Mackenzie, pois
nossa noite será muito longa.
Com essas palavras, meu rosto fica em brasas, pois sei o que essa promessa
significa, uma noite maravilhosa, com Sean insaciável por mim. Irá me
enlouquecer de várias formas em nossa cama.
No hall de entrada, após fechar a porta atrás de si, ele me conduz até a sala
principal. Com seu corpo colado às minhas costas, desce o zíper de meu vestido
em um movimento rápido, deixando o tecido aos meus pés.
— Não vamos para o nosso quarto? — Ofego ao sentir sua boca em meu
pescoço, sugando, mordiscando-o e deixando um rastro de luxúria por onde seus
lábios passam.
Com minha ajuda, ele fica sem sua camisa, senta-se no sofá e me puxa para seu
colo, me mantendo montada sobre ele, usando somente meus sapatos.
— Nosso quarto pode esperar, temos a noite todinha pela frente. Quero ter você
em cada cômodo dessa casa, marca-la com sua presença, como se marcasse
nosso território. Quero-a aqui e agora! — Aperta minhas nádegas com força,
exercendo seu domínio sobre mim.
Minha língua dança com a sua, no mesmo instante que minhas unhas arranham
de leve seu tórax. Ansiosa por tê-lo dentro de mim, esfrego meus quadris em seu
membro excitado por cima de sua calça. Geme em minha boca e suas mãos
abrem seu cinto, tirando o restante de sua roupa, ele libera sua ereção. Meu sexo
fica mais molhado ainda ao sentir seu pau se esfregando em mim, chego a pensar
que irei explodir de tanto desejo.
— Sean... — Não preciso dizer mais nada, me penetra devagar e meu corpo se
entrega totalmente a ele, me preenchendo por inteira.
— Sophia... — Fala de modo rouco e investe lento e profundamente em mim. —
Isso, cavalga gostoso em mim! — Aumento o ritmo, querendo muito mais.
Segura em minha cintura e montada sobre seu corpo firme, me deixo levar pelo
prazer enlouquecedor que só ele consegue extrair de meu corpo. Com a
respiração ofegante, agarro em seu pescoço e sinto meu ventre se contrair, um
formigamento sobe por minhas pernas quando ele massageia meu clitóris e gemo
alto ao sentir meu clímax chegar. Vários espasmos me atingem e Sean aumenta
seu ritmo, apertando ainda mais meu corpo junto ao seu e a sensação de prazer
se mantém ali, fazendo meu corpo se abrir, meu primeiro orgasmo duplo. Nossos
corpos estão suados e colados um ao outro.
Geme, dizendo que me ama, antes de sentir seu gozo dentro de mim.
— Amo-o sempre, muito. — Distribuo vários beijos em seu lindo rosto. Com
seus olhos semicerrados e seus lábios curvilíneos e estreitos num meio sorriso de
êxtase, Sean é personificação de beleza masculina sem contestação alguma.
Me mantém nessa posição até nossos corpos se acalmarem. Sem sair de dentro
de mim, se levanta e me segura pelos quadris.
— Onde vamos, meu amor?
— Nossa cama não pode ficar esperando, não acha? — Com um olhar
deliciosamente quente, me leva em seu colo, me cobrindo de beijos.
Que noite de gala!
Por Beatrice
Me livro da taça com o restante do líquido envenenado e volto ao baile me
juntando aos demais. Um problema a menos em minha vida que se tornou tão
turbulenta. Olho à minha volta na procura por Sean e não o encontro. Deve ter
ido embora com a vadiazinha da sua namorada. Harry com seu sorriso cínico e
irritante aparece em minha frente se mostrando preocupado ao me ver.
— Procurei-a por todo o salão! Onde se meteu?
Devolvo um olhar de surpresa a ele e rebato.
— Ora, ora, Harry, desde quando lhe devo satisfação de meus passos? E desde
quando se preocupa com minha existência? Se eu desaparecesse, ficaria feliz
tenho certeza!
— Não precisa ser deselegante, minha querida! E se por acaso você
desaparecesse, saiba que não seria uma má ideia! A essa hora, teria motivos de
sobra para comemorar. — Levanta a taça de seu champanhe, vira-se de costas e
me deixa em meio ao salão.
Seu idiota! Sorria, enquanto pode! O próximo será você!
Por Harry
— Sr. Harry, queira me acompanhar, por favor! — Paul, chefe da segurança,
acompanhado de mais dois homens aparecem e me chamam discretamente
enquanto falo com alguns amigos.
— Com licença! — Digo às pessoas em minha roda e me junto ao grandalhão.
Longe de tudo e todos, inquiro.
— O que houve?
— Senhor, encontramos um homem morto no terraço. Íamos chamar a polícia,
mas achei prudente avisá-lo antes.
— Morto? Um homem?
— Sim, presumimos que seja algum convidado de sua festa, está trajando
smoking como todos presentes e não apresenta sinais de sangue, muito menos
foi agredido.
— Tocaram no corpo? — Estou em choque. Um cadáver no terraço enquanto a
festa corre solta.
— Não, senhor.
— Chamem a polícia, mas antes me levem até o corpo. Quero ver se reconheço
o indivíduo.
Subo rapidamente as escadas e ao chegar no terraço, vejo o corpo de Leon
estendido ao chão com os olhos abertos.
Paul liga para a polícia e peço para que um dos homens chamem a chefe de
cerimonial. Teremos que acabar com a festa com a maior descrição possível, não
quero que essa informação abale meus convidados. Ficarão sabendo de tudo
através dos meios de comunicação.
Glorya vem ao meu encontro, explico a ela todo o ocorrido e, com muita
sutileza, esvazia todo o salão. É uma excelente profissional, trabalha para mim
há anos. Meus filhos já foram embora, somente Beatrice ainda se encontra
presente.
— Harry. — Ela vê o corpo estendido e tapa a boca, incrédula. — Quem poderia
ter feito isso a ele?
— Ainda não sabemos, a polícia está vindo para cá!
Em poucos minutos, um senhor aparentando uns cinquenta anos se aproxima.
Identifica—se como investigador da divisão de homicídios.
— Sou Norton Wallace, da 59ª DP, divisão de homicídios. Posso lhes fazer
algumas perguntas? — Dirige a palavra a mim e Beatrice.
— Sim, claro. Vamos nos sentar, por favor.
Ele nos cobre de perguntas e ao olhar ao redor, vejo homens fardados por todos
os lados, um perito colhendo minuciosas provas e tirando várias fotos do corpo
de Leon. Que cena mais horrível. Em saber que instantes atrás, ele nem imagina
ter esse trágico fim.
Norton anota tudo o que falo em um bloco de notas. Depois, repete as mesmas
perguntas à Beatrice e não sei como isso possa ter algum valor, porém é seu
trabalho e devo respeitar o seu modo de agir, já que não entendo nada de
investigações criminais.
O perito se aproxima. Tira sua máscara e também as luvas.
— Inicialmente a causa da morte do senhor identificado como Leon Welsh foi
envenenamento, Norton! Levaremos o corpo e faremos uma autópsia mais
complexas e determinar com precisão o tipo de veneno usado.
— Envenenamento... — Repito essa palavra como se tivesse a explicação
plausível para tamanha crueldade. Quem o envenenaria? Quem teria interesse
em livrar-se dele? E pior, em uma festa? Claro, uma festa! Muitas pessoas
circulando e com isso a suspeita poderia recair sobre qualquer convidado.
— E as câmeras? — Norton anda até Paul que surge coçando a cabeça,
preocupado.
— Não há nenhum registro das câmeras desde a saída do salão até o terraço.
Quem planejou esse assassinato sabia muito bem o que estava fazendo,
investigador. As câmeras foram desligadas.
— Quero que verifiquem quem são os responsáveis pelo monitoramento. —
Digo. — Se alguém desobedeceu a minhas ordens e desligou essas câmeras, será
responsabilizado.
Norton dispensa Paul que se despede.
— Sim, senhor, vou averiguar, me deem licença!
O perito parece uma águia em momento de caça, seus olhos observam Beatrice o
tempo todo, ela se sente incomodada.
— Bem, Sr. Mackenzie, por enquanto é só. Quero a lista de todos os presentes e
também farei algumas perguntas aos seus filhos. O local será isolado pela polícia
para que as provas não sejam alteradas ou desapareçam, qualquer digital nesse
local que não seja a do morto é importantíssima.
— Sim, senhor! Conte comigo para o que precisar, quero saber quem cometeu
esse assassinato em minha festa. Estou indo para a minha casa e aqui está o meu
cartão, qualquer coisa é só entrar em contato.
— Obrigado, sr. Mackenzie, peço que não saia do país, nem sua família.
Beatrice se manteve calada durante todo o tempo e ao chegarmos em casa, seu
silêncio continua. Acho que esse assassinato a chocou de alguma forma.
Amanhã, teremos muito trabalho a fazer. Cuidar da imagem de minha empresa e
zelar pela minha família são prioridades, como sempre foram.
O melhor a fazer é ligar para meus filhos, a começar pelo mais sensato, Sean.
Por Lay
— Meu amor, o caminho está errado, não é por aí! — Lorenzo entra em um local
ermo.
— Calma, sei o que estou fazendo, minha querida!
Meu amorenzo dirige atento à estrada e teima comigo que esse é o lugar que nos
leva ao endereço que escolhemos anteriormente. Um restaurante à beira mar,
onde servem lulas recheadas.
A cada minuto, as luzes da cidade ficam mais distantes.
— Não disse, teimoso?!
Estaciona o carro na beira da estrada e somente o mar é nosso companheiro
nessa noite. A brisa é fria, mas suportável.
— Lorenzo, que brincadeira é essa? Vamos ficar parados aqui nesse fim de
mundo? E nosso jantar, querido?
Ele se aproxima e toma minha boca de modo apaixonado.
— Devo um amasso a você, nesse carro, lembra?
Solto uma gargalhada e meus olhos brilham ao ver Lorenzo arrancando sua
camisa jeans. Agarra-se a mim e me deita no banco do passageiro, cobrindo meu
corpo com o seu.
Aperto suas costas fortes, enquanto ele tira minha blusa.
— Sempre quis fazer isso com você, confesso que estou com medo dessa
estrada. — Digo num gemido ao sentir sua boca correndo por todo meu colo,
seios, barriga... Ai que boca, tem meu namorado!!
Em instantes, estamos nus, e sem esperar muito, pois nosso desejo exige
urgência, sinto quando ele me penetra fundo e suas investidas são recebidas pelo
meu corpo com gemidos altos de puro prazer. Sua boca cobre a minha e sua
língua desvenda cada canto da minha. Suados e entregues ao nosso amor, gozo
gemendo seu nome, grudada ao seu pescoço.
Minutos depois, deitada sobre seu corpo, Lorenzo fica muito quieto e isso me
deixa cismada e ansiosa. Ele sempre fala tantas coisas lindas depois que fazemos
amor. Estranho.
— Lay... — Ufa, uma palavra! Graças, reviro os olhos aos céus!
— Que foi, meu amor?
Se ajeita no banco, me encarando.
— Eu a amo, muito!
Morenzo me ama? Eu, Lay, a doidinha de pedra? A loira maluca? Não estou
acreditando!!
Avanço em sua boca e o prendo em meus braços.
— Hey, quero uma resposta, minha querida.
— Eu te amo, seu bobo! Pensei que eu fosse tão maluca que nunca fosse capaz
de me dizer isso!
— Tem mais... — Abre o porta-luvas do carro e tira de lá uma caixinha. Minhas
pernas viram gelatina e não sei se estou preparada para desmaiar. — Abre e tira
de lá um anel lindo de brilhantes. — Quer ser minha esposa, senhorita Lay?
Antes que diga que possa ser cedo demais, quero dizer que nunca é cedo para o
amor e eu a quero para todo sempre comigo!
— Isso é o que eu mais quero nesse mundo, meu amor...
Coloca o anel em meu dedo e o beija.
— Vamos esperar Sophia se casar e logo será o nosso. Farei a muito feliz, minha
linda perita.
Beijo sua boca e repito que o amo aos berros dentro do carro.
— Calma, assim irá acordar até os peixes!!
Minha noite não poderia ser melhor...
Aniversário de Alexia!
Por Sean
Beijo sua boca e a deito em nossa cama.
— Você me faz o homem mais feliz desse mundo, Sophia. Conto os dias para
que estejamos finalmente casados. Não vejo a hora de que seja minha mulher.
Seu largo sorriso acompanhado de suas lindas covinhas comprova que o que
sinto é recíproco.
— Seu bobo! Sou sua mulher desde sempre! O resto é mera formalidade. —
Atesta.
— Sei disso! Mas quero que o mundo saiba disso.
Nesse momento, somos interrompidos pelo meu telefone que toca em cima do
criado-mudo.
Mesmo a contragosto, resolvo atender. Do outro lado da linha, meu pai, com
uma voz extremamente preocupante, me chama para ir até sua casa com
urgência. Sento-me na cama e respondo.
— Pai, o que houve? — Pergunto, atônito.
— Meu filho, venha o mais depressa que puder. Vou ligar para seus irmãos e
pedir-lhes que façam o mesmo! É importante! — Diz, sem nenhuma pausa. —
Leon foi assassinado em nossa festa.
— O que? Leon? Como?
— Sim, encontraram o corpo no terraço durante o baile! Segundo os policiais,
ele foi envenenado!
Sophia me olha assustada.
— Estou indo, me aguarde. Em pouco tempo estarei aí.
— Obrigado, meu filho. — Desliga.
— Leon está morto! — Digo à Sophia.
— Leon? Como? Quem poderia fazer uma coisa dessa e por quê?
— A polícia ainda não sabe. Tenho que falar com meu pai, ele está me
aguardando. Meus irmãos também estarão presentes.
Sophia se levanta da cama e a repreendo.
— Meu amor, volte para a cama! Vou até lá, mas volto assim que puder.
Fica junto a mim e toca meu rosto com carinho.
— Melhor que eu vá, meu amor! Com esse assassinato, não acha melhor
adiarmos nosso casamento? Tinha combinado com Alexia que iríamos falar com
a chefe de cerimonial hoje, sendo assim, acho melhor cancelar. — Calmamente
se vira e caminha para o banheiro.
A passos longos, a alcanço e seguro em seu braço.
— Nada irá mudar! Nosso casamento não tem nada a ver com isso! Não precisa
cancelar nada, vão e façam tudo conforme tem que ser.
— Mas...
— Nada de "mas". Iremos nos casar e pronto! — A encaro seriamente. — Não
quero e não irei esperar nem mais um dia! Não vou deixar que nada nos
atrapalhe, minha querida. Eu a amo e a quero comigo!
— Também o amo muito, Sean! — Beija meus lábios de leve e a seguro pelo
pescoço, aprofundando nosso beijo.
Depois de tomarmos banho, trocamos de roupa e saímos.
Deixo Sophia em frente ao café e vou direto para a mansão Mackenzie.
Quando entro na sala, encontro meu pai sentado ao lado de Alexia e Max parado
perto à lareira.
— Sean... — Alexia se levanta e vem ao meu encontro. Seus braços me
envolvem em um abraço apertado. Sinto que está nervosa.
— Hey, calma, minha irmã! Tudo ficará bem!
— Que horror, meu irmão! Mataram Leon! Eu ainda não acredito nisso!
Olho ao redor e noto que uma pessoa não quis se fazer presente.
— Beatrice não irá participar de nossa conversa?
— Sua mãe tomou um calmante muito forte e foi dormir. — Diz Harry. — Sendo
assim, resolveremos o que faremos ao amanhecer. Quero que colaborarem e
digam tudo o que viram nessa noite. Qualquer mero detalhe é importante. Irão
interrogar a todos que estavam na festa.
Sentados na sala, acertamos tudo.
Por Sophia
Durante o café da manhã, conto a meu pai e a Lorenzo sobre o assassinato de
Leon.
— Crime de mulher. — Diz Vicenzo.
— Olha aí, Sophia! Temos um Sherlock Holmes em casa! — Lorenzo morde sua
torrada.
Meu pai sorri e esfrega as mãos nos cabelos de Lorenzo.
— Homem não costuma matar usando esse método de envenenamento. —
Conclui. — Quem o matou era uma mulher e tenho certeza de que a polícia já
tem conhecimento disso.
— Papai tem razão. — Completo.
Termino meu café e me levanto.
— Já vai minha filha?
— Sim, papai. Mesmo com essa confusão toda, Sean não quer que adiemos
nosso casamento!
—Sendo assim, vá cuidar de sua vida.
Beijo seu rosto e depois o de Lorenzo. Alexia me manda uma mensagem
confirmando nosso compromisso. Mesmo em pleno domingo, a chefe cerimonial
irá nos atender.
Por Alexia
— Escolho esse! — Sophia aponta para o arranjo da foto e espera a minha
opinião. Realmente lindo.
Sarah, a chefe cerimonial, sorri e faz mais alguns acréscimos à decoração que
minha cunhada escolheu.
Depois de tudo acertado, saímos do local e, dentro do carro, Sophia comenta.
— Alexia, acha que ficará bem dar essa festa de aniversário com esse assassinato
rondando sua família? — Sophia me estende um olhar acabrunhado.
Praticamente, a fuzilo com o olhar.
— Se pensa que desistirei de comemorar o meu aniversário à minha moda, está
enganada! — Ela ri. — Papai mesmo disse que tudo se resolverá. Faz questão
que eu comemore meus 24 anos com muita pompa.
— Se você está dizendo, quem sou eu para discordar? — Faz uma pausa. —
Pompa? Você disse pompa? — Diz com cinismo divertido.
— Isso aí. E pode se preparar! Quero todo mundo com a fantasia que escolhi.
Sophia faz careta e reclama.
— Vou de Cleópatra, já resolvi!
— A-hã! Negativo! Quando cheguei em sua casa, hoje pela manhã, deixei bem
claro o que irá usar! — Balanço a cabeça. — Minha festa, minha escolha!
— Alexia, vou ficar ridícula! Sem contar na fantasia que escolheu para Sean.
Aliás, seremos dois ridículos!
— Pare de drama! Você prometeu que usaria o que eu determinasse, tá aí, já
escolhi e pronto.
— Sean já sabe o que você andou escolhendo para ele?
— Não, ainda não! Depois, contarei a ele. — Acelera o carro e dá uma
gargalhada. — Pago para ver a cara dele.
— Somos duas. — Diz.
— Agora, que já resolvemos todos os detalhes de seu casório, onde vamos?
— Almoçar, cunhada, e você paga a conta! — Sorrio para ela e nos dirigimos
para um almoço agradável entre amigas/ irmãs.
Por Wallace — Segunda-feira
— Temos muito trabalho a fazer! — Pressiono meus olhos diante da pilha de
papéis que se acumula a cada dia em minha mesa.
Evan, o perito, adentra minha sala com um pequeno saco plástico.
— Está vendo isso?
— Sim, o que temos aí?
Aproxima-se de minha mesa e me mostra um fio de cabelo dentro do invólucro.
— Foi encontrado nas mãos da vítima. O dono desse fio esteve com Leon Welsh,
minutos antes dele morrer. Pode muito bem tê-lo envenenado! Como sabemos,
envenenamento costuma ser o crime preferido por mulheres.
— Sim, mas esse cabelo pode muito bem ser de um homem, não seja tão
machista.
Evan ri.
— Sim, acho que me precipitei ao prejulgar a prova encontrada. Mandarei essa
belezura para análise.
— Enquanto isso, tenho uma lista com mais de 300 pessoas que estavam naquela
festa. E a autópsia? Como anda?
— Descobrimos que a vítima bebeu champanhe misturado a veneno, em suas
mãos, não encontramos nenhuma amostra de outro tecido. Só temos esse maldito
cabelo!
— Já viu os jornais de hoje?
— Ainda não! O que temos de novo?
— Harry Mackenzie é mesmo muito poderoso! A notícia da morte de Leon não
arranhou em nada a sua reputação. Sua assessora de imprensa deve ganhar uma
fortuna. Fizeram um excelente trabalho. Divulgaram a morte de uma maneira
muito sucinta e que fez parecer um mero acaso. E de acordo com o nosso
superior, temos ordens para manter tudo em sigilo absoluto. O avô de Leon é
rico, mas comparado à Harry é peixe miúdo. Portanto, temos que investigar sem
arranhar a imagem do figurão. Cada coisa! Quem pode, pode!
—Vamos obedecer. Essa é a única solução! — Diz Evan saindo de minha sala.
Por Alexia
Junto todas as pastas sobre minha mesa e chamo Patrícia à minha sala.
Ela entra com seu jeito sério e compenetrado no que faz, caminha em minha
direção e entrego todo material a ela. Noto, porém, que seu rosto está com um ar
feliz, e como nunca fui discreta, resolvo perguntar a ela o motivo dessa alegria
contida.
Patrícia Ferrarezzi se tornou minha secretária desde que comecei a trabalhar com
Max. E muito mais que isso, se tornou uma amiga confidente. Todos os dias em
nossa rotina, tomamos café e almoçamos juntas, e é claro, assuntos e mais
assuntos são digeridos enquanto comemos.
— Patrícia, que cara é essa? Aconteceu algo nesse fim de semana que ainda não
me contou?
Pigarreia e tenta disfarçar sua risada. O que é impossível.
— Alexia, conheci um homem interessantíssimo.
— Uau! Quem é o "interessantíssimo"? — Falo com entusiasmo.
— Você deve conhece-lo!
— Se você não disser quem é, não tenho como adivinhar, não é?
— Richard Scott.
— Richard? Seria o mesmo Richard que estou pensando? — Viajo em minhas
conclusões e espero mesmo que esse cara encontre alguém. Assim, ele não mais
entrará no caminho de meu irmão.
— Bom, se é o mesmo que está pensando, quem não pode responder, sou eu!
— Richard da Sander & Sander?
— Esse mesmo! Conheci-o há uma semana! Saímos para almoçar no sábado e
jantamos juntos no domingo.
— Hum, interessante! E o que mais? — Ergo meus olhos, esperando que ela me
conte que transaram e muito.
— Quer parar de ser indiscreta! Você sempre malicia tudo, Alexia. Saímos
juntos e ele me parece um cara legal.
Richard? Que mundo pequeno! Acho que desistiu de correr atrás de Sophia.
Deve ter visto que, se continuasse com essa história, morreria solteirão.
— Sim, ele é um cara legal. Tomara que vocês se acertem. Levará ele ao meu
aniversário como acompanhante?
— Posso convidá-lo? — Me olha com espanto.
— Mas é claro que pode, se estou perguntando! — Pego um papel e anoto a
fantasia que ele deverá usar e entrego a ela. — Aqui, essa será a fantasia que ele
usará, ok?
Ela segura o papel juntamente com as pastas e sorri em agradecimento. Sai da
sala e me deixa com outra pilha de papéis intermináveis.
Olho para a foto de meus irmãos, meus pais, uma de Sophia, e junto delas, uma
foto de Aidan compõe o conjunto de todos que amo.
Pego meu telefone e acabo de acertar todos os detalhes de minha grande festa de
sábado!
Quero arrasar.
Por Beatrice
Relembro cada palavra de ofensa dita por Joseph no almoço de domingo. Mais
um a me odiar. Perdi meu filho e agora o homem por quem mantive certo
sentimento. Espero que com o tempo, eu consiga recuperar ao menos o amor de
Sean, meu Sean.
Tenho que acompanhar cada passo da polícia sem levantar suspeitas pelo meu
repentino interesse. Em casa, durante a semana que se passou, Alexia está mais
preocupada com sua festinha de aniversário que nem se dá conta do que ronda o
seu redor. Max só tem olhos para sua delegada e Sean, que não é mais o mesmo,
só pensa em Sophia. Porém, tenho que me precaver e sei que Harry está
tramando algo para se ver livre de mim. Falando nele, o mesmo aparece à mesa
para o café da manhã.
— Beatrice, bom dia! — Senta-se e coloca o guardanapo em seu colo.
— Bom dia, Harry! Como está se sentindo?
Espero sempre uma resposta negativa, mas nada muda em seu quadro de saúde,
parece que a cada dia, ele se recupera e sua doença já não é minha aliada.
Mesmo trocando toda a sua medicação por pílulas de farinha, Harry goza de
plena saúde, não entendo!
— Muito bem, minha querida.
— Fico muito feliz em saber disso, Harry.
— Beatrice, como sabe, sábado é aniversário de Alexia e a festa será à fantasia.
— Sabe que nessa casa, ultimamente, não tenho sido consultada como deveria!
Alexia organizou tudo sozinha e pior Sean irá se casar em breve! Não sou
comunicada de nada que ocorre com minha família, acha isso correto?
— Tudo que se planta, se colhe, minha querida! — Toma seu café. — Mas não
foi para discutirmos sua isenção e exclusão familiar matriarcal que toquei nesse
assunto, o que quero dizer é que não irei participar dessa festa. É uma festa para
jovens, no jardim e para poucos convidados, Alexia me fez prometer isso. Quero
ir para um lugar tranquilo onde poderemos conversar com a sós sobre nossa
separação. Os papéis estão quase prontos e acredito que no sábado eles estarão
em minhas mãos. Resolver nossa situação se tornou prioridade para mim.
O café se torna ainda mais amargo, Harry quer se livrar de mim o quanto antes.
— Sim, faça como achar melhor! — Concordo, mas por dentro, minha vontade é
eliminar esse homem ingrato e ordinário com quem me casei.
— Então, iremos passar a noite em nosso iate! Tudo bem para você?
— Sim, por mim, está perfeito!
Ele sai da mesa e não poderia me deixar mais feliz... serei a viúva mais elegante
que Nova Iorque já conheceu.
Para que essa boca tão grande?
Por Sophia
— Aiii!! — Grito ao sentir que Angelina aperta meu corpete me tirando o ar. —
Se quer me matar, avise com antecedência, fofa!
Ela olha através do espelho e sua resposta vem cínica e debochada.
— Tem certeza de que esse corpete foi feito sob medida para você? — Encaro-a
espantada.
— Mas é claro que sim, por que a pergunta?
Com as mãos na cintura, conclui:
— Porque seus peitos vão sair voando dessa peça! Você andou engordando,
Sophia.
— Isso é uma afirmação indelicada, um desejo oculto de me ver gorda ou foi
somente uma observação?
Ela sorri e suas covinhas aparecem me fazendo sorrir também.
— Deixa para lá. Você está lindíssima! — Ajuda-me a pôr a tiara em meu
cabelo. —Senhor Vicenzo, Lorenzo, venham até aqui! — Grita como louca.
— Fofa, não exagere! É somente uma fantasia! — A recrimino por fazer desse
momento algo mágico. — Estou parecendo um ser de outro mundo, ridícula. —
Pisca e solta sua risada estrondosa.
— Ah, minha querida! Tenho absoluta certeza de que quando Sean a ver nessa
roupa não achará a mesma coisa. — Sai do quarto para pegar o laço e o capuz
que completam minha fantasia.
Nesse momento, meu pai aparece na soleira da porta acompanhado de Lorenzo.
Os dois ainda não se trocaram para a festa.
— Nina... — Vicenzo se aproxima e me estende a mão para que eu levante. —
Você está linda, muito linda!
— Obrigada, papai! — Beija minha testa e sorri.
— Faço minhas as palavras de nosso pai, Nina! Está linda! Se fosse seu noivo,
pensaria duas vezes antes de sair com você vestida assim. Fantasia escandalosa
essa! — Fala Lorenzo.
— Ah, quer parar de bobagens, Lorenzo? — Toca meu rosto e me dá seu mais
lindo sorriso de menino.
— É assim que queremos vê-la sempre, Nina, irradiando alegria! Essa é a garota
que tanto amamos e que nos deu tanta alegria ao vir para essa casa!
— Amo vocês dois, aliás, adoro vocês! — Abraço-os e eles me apertam em seus
braços. Angelina aparece e pigarreia no meio do quarto.
— Não quero ser inconveniente e estragar o momento família, mas o super-
homem acaba de ligar e pede para avisá-la de que está a caminho. — Me entrega
o capuz e me ajuda a ajeitar o laço em minha cintura.
— Espero-os na festa. — Viro-me para Angelina:
— Obrigada, mais uma vez, fofa! Você é demais! — Beijo sua bochecha e a
deixo totalmente sem graça e emocionada. Fofa é assim, pequenas coisas a
derretem. E eu a amo por isso.
— Senhor Vicenzo! Isso é uma intimação e não adianta fugir! Quero vê-lo
naquele jardim usando sua fantasia. — Sua piscada me tranquiliza.
— Pode me aguardar. Há muito tempo que não participo de um baile à fantasia.
— Nossa, ia me esquecendo! — Meu irmão bate a mão na testa. — Tenho que
ligar para Lay, com licença! — Sai às pressas do quarto.
Já na sala, olho pela janela e vejo quando o carro de Sean estaciona.
— Sean chegou, estou descendo! — Ajeito meu capuz e pego a caixa contendo o
presente de Alexia. Espero que ela fique feliz! — Um lindo casaco que ela
mencionou ter gostado. Fui mais rápida e o comprei antes dela.
Antes de sair pela porta, Angelina e seu humor debochado dão as caras.
— Ora, o homem de aço não teria que vir voando?
Solta mais uma risada estrondosa e mantém as mãos em sua cintura.
— Sua boba! Beijos! — Jogo vários deles a ela e saio.
Desço as escadas e ao chegar na calçada, meu coração dispara ao me deparar
com o homem mais lindo que já vi.
Sean, vestido de Homem de Aço, ficou divinamente lindo e tentadoramente
devastador. Seus olhos brilham ao me ver e estendendo seus braços fortes e
delineados pela sua roupa, me encaixo entre eles.
Beija meus lábios de leve.
— Você está linda, minha amazona! — Me olha de cima a baixo. — Zeus sabia
muito bem o que estava fazendo quando criou algo tão belo!
— Obrigada, meu amor! Você também ficou lindo! E... — Encaro-o de modo
sério. —Olhando melhor...
— Sei o que irá dizer, estou ridículo, não é? Alexia deve me amar muito para me
fazer passar por isso.
— De maneira alguma! Olhando melhor ... — Faço, digo divertida. — Não é
que você está a cara do Henry Cavill?
Ri alto e as poucas pessoas que passam pela rua não deixam de olhar em nossa
direção.
— Ah é? Não conheço esse sujeito.
— Muito menos eu. Só o vi pela TV.
— Bom mesmo! — Me lança um sorriso torto que tanto gosto. Afasta-se e seus
olhos correm mais uma vez pelo meu corpo. — Alexia só pode ter escolhido sua
fantasia de propósito, você está muito gostosa, sabia? — Cola sua boca em meu
ouvido e sussurra. — Sua fantasia mexeu com meus pensamentos!
— Isso porque não imagina o que ela fez com os meus! Está vendo isso? —
Seguro o laço em minha cintura.
— Estou... — Roça seu rosto no meu.
— Pois então, nem imagina o que quero fazer com ele, quando estivermos
sozinhos!
— Hum, adorei a imaginação fértil de minha mulher! Agora, vamos ou
chegaremos atrasados.
Minutos mais tarde, entramos pelo portão da mansão e me sinto aliviada por
saber que Beatrice não estará presente. Por um lado, isso é uma pena! A festa
ficará desfalcada sem uma bruxa tão original. Por onde meus olhos correm, vejo
pessoas fantasiadas descendo dos seus respectivos automóveis. Branca de Neve,
Cinderela e Aladin se esbarram no jardim a caminho da festa. Alexia pensou em
tudo com muito cuidado. Ao fazer a lista de convidados e distribuir os convites,
tinha em mente o que cada um deveria usar e, sendo assim, ninguém correu o
risco de se vestir igual a outro convidado.
Ao descermos as escadas que dão acesso ao jardim, vejo a aniversariante em seu
típico traje de Chapeuzinho Vermelho.
Aidan se vestiu como um príncipe guerreiro da idade média.
Os dois conversam animadamente com uma moça vestida de Elektra e o famoso
Cavaleiro das Trevas, Batman. O ambiente ficou muito bem decorado, tudo
muito colorido e lúdico. Minha cunhada é muito boa nesse quesito.
— Vamos cumprimentar Alexia! — Diz Sean, enquanto percorremos todo o
caminho até ela. Mais alguns passos, nos encontramos com Dany e Max. Ele
assume uma personalidade sombria ao se fantasiar de conde Drácula e Dany
assume a leveza e graça de uma princesa.
— Ora, se não é meu herói favorito? —Max zomba de Sean e me cumprimenta
com sorriso. Dany me cumprimenta a seguir com um beijo no rosto.
— E aí, como se sente ao vestir essa roupinha linda? — Max continua a zombar
de Sean.
— Não comece, Max! — Sean o repreende, mas há divertimento em seus olhos.
Olho para Dany e comento. — Você ficou linda, Danielly, adorei seu vestido.
Sorri em resposta e completa.
— Você também ficou linda de Diana!
— Sean, junte-se a nós, estamos naquela mesa. — Aponta para o lado esquerdo
do jardim. — Diz Max.
— Logo nos juntaremos a vocês, primeiro temos que cumprimentar Alexia.
— Tudo bem, será uma honra me sentar ao lado de um super-herói.
Sean ri e diz:
— A honra será toda minha, Conde.
— Tudo bem, nos vemos mais tarde.
Alexia está de costas e ao nos ver, grita eufórica.
— Ahhh, vocês vieram! — Pula no pescoço de Sean que a abraça forte.
— Parabéns, sua maluca!
— Obrigada, meu irmão! Achei que tinham desistido da ideia de participarem da
brincadeira.
— Vontade não faltou, chegamos a cogitar a ideia, mas sabíamos que ficaria
triste e sendo o seu aniversário, não poderíamos contrariar a pessoa que tanto
amamos, não é Sophia?
— Sim, meu querido!
— Está certíssimo, Sean! E quero dizer que ficou uma gracinha com essa
fantasia. — Diz Aidan.
— Vá se ferrar, Aidan!
— Own, brincadeira! Não quero ter alguém tão forte como inimigo.
Os dois acabam rindo depois de tanta bobagem. Alexia vira-se para mim.
— Ficou linda, como imaginei!
— Obrigada, Chapeuzinho! — Como Alexia nunca se comporta de maneira
discreta, lança uma das suas.
— Viu quem veio a festa? — Sem ter a mínima ideia de quem se trata, arqueio
minhas sobrancelhas em sinal de dúvida.
— Richard Sander, ali vestido de Batman.
Sean ouve toda nossa conversa e pergunta.
— Você o convidou, Alexia?
— Relaxe, kryptoniano, veio acompanhando uma amiga minha, não vi mal
nenhum nisso.
— Isso é verdade, Sean. — Digo e meu noivo parece discordar de mim.
— Bem, estamos numa festa para nos divertirmos, meus queridos. Logo virá
uma festa ainda maior. O casamento de vocês. Vamos nos divertir! Até depois.
— Alexia e Aidan se despedem e desaparecem em meio a pista de dança.
Por Alexia
Aidan sai com Max para falar com uns amigos, eu sendo anfitriã até poderia ter
ido com eles já que a ocasião manda-me cumprimentar cordialmente a todos,
mas já cumprimentei tanta gente que resolvi ficar por aqui mesmo... a única
coisa que queria realmente, nesse momento, era me jogar na pista de dança que
estrategicamente os organizadores colocaram no meio do jardim, mas dançar
com quem? O único que me interessa e poderia fazer isso era Aidan, mas Max,
aquele chato, o roubou de mim, faço uma nota mental para atrapalha-lo mais
tarde com Dani, onde já se viu tirar o par da aniversariante? Encostada em um
dos grandes pilhares decorados converso assuntos aleatórios com alguns amigos,
Patrícia, minha colega do escritório, me faz companhia, a fantasia de Elektra
caiu muito bem para ela.
— Estou doida para dançar Pathy. — Falo, descruzando os braços. — Era para
eu estar lá no meio. — Aponto para um bando de conhecidos dançando ao som
alto que o DJ está tocando.
— Vamos então, o que estamos esperando? — Diz, me puxando.
E como tudo na minha vida parece ter saído de um filme, esse momento em
especial não poderia passar batido, o ritmo da música começa, e mal posso
conter a euforia, sei muito bem de que canção se trata é Wishing Well.
Por quantas vezes dancei essa música escondida em meu quarto, imaginando
estar fazendo um show para uma plateia inteira, ela é totalmente contagiante, a
batida dos instrumentos junto com a voz irritantemente e sedutora de Terence
Trent D'Arby arrepiam cada pelo do meu corpo. Em plenos 24 anos me sinto
completando quinze, como uma adolescente louca, pronta para desvendar o
mundo e abraçar a tudo, talvez eu nunca perca isso, aquela coisa boa, aquela
alma leve que se deixa rir por tudo e de todos, que aproveita até o último minuto,
viver intensamente como se o mundo fosse acabar ali. Isso! Essa sim é Alexia,
mesmo com toda a responsabilidade e mudança não deixo que minha essência se
perca. Dirigimo-nos rapidamente até a pista, o som alto, as luzes e a música tudo
me excitam. Então, me entrego ao ritmo que tanto amo, e quando o som está
para acabar, sinto que dois braços rodeiam meu corpo e apertam minha cintura
fortemente, o perfume inconfundível impregna as minhas narinas.
— Você está uma delícia nessa fantasia, minha “Chapeuzinho”. — Aidan diz
passando a mão lentamente pelo tecido fino da minha capa. — Tentadoramente
deliciosa. — Aproxima ainda mais seu corpo do meu e morde o lóbulo de minha
orelha.
— Isso é jogo baixo, meu príncipe! Não se pode brincar desse jeito com uma
inocente Chapeuzinho Vermelho. — Aidan solta uma risada que faz meu coração
se alegrar por inteiro, mas logo se recompõe e acompanha meus passos roçando
sua ereção em minha bunda.
— Você entrou bem no personagem, meu amor. — Sussurra no meu ouvido. —
É uma pena eu não ter vindo de lobo.
— Mas você pode me devorar como um, meu príncipe! — Falo sem nenhum
pudor. — Adoraria que o lobo mau me pegasse de jeito. — Aproveito que
ninguém está reparando e dou uma rebolada bem lenta no ritmo do último refrão
da canção e sinto o quão faminto ele está.
Imagens eróticas fluem em minha cabeça
Então eu quero ser
O seu passeio da meia noite
Rapidamente...
Mas meu lindo príncipe me repreende.
— Alexia, pare com isso. — Aperta firme minha cintura. — Ou a comerei aqui
perto de todos.
— Não seria uma má ideia, um pouco exibicionista, mas... acho que poderíamos
dar um jeito. — Digo e me viro para ele, abraçando-o.
— Eu quero você, linda, vamos sair daqui! — Aperta-me mais em seu abraço.
Sem relutar, desgrudo de seu corpo escutando um suspiro saindo de seus lábios.
— Vamos achar um lugar onde possamos brincar, seu lobo.
— Estou adorando isso, vamos logo, minha “chapeuzinho”.
Por Aidan...
Alexia me excitava em todos os sentidos e ainda tentando achar as respostas para
saber o porquê de uma mulher conseguir me abalar tanto assim, quer dizer, eu
realmente sabia, eu a amava e tudo só fazia sentido. Agora que tenho certeza de
que a amo, não preciso de respostas para nada. Seus olhos que parecem duas
esmeraldas me prendem, aquela boca me hipnotiza para devorá-la e, aquele
corpo. Ahh, aquele corpo! Se encaixa perfeitamente no meu como se tivesse sido
moldada para mim. Alexia é minha perdição, minha completude, não há mais
Aidan sem Alexia, minha vida é um mero rabisco sem a sua existência.
Deixei-a sozinha na festa mesmo a contragosto. Ela está linda, ainda mais com
aquela fantasia de chapeuzinho vermelho, que me faz ter os desejos mais
pecaminosos em minha mente, queria poder pegá-la como um homem das
cavernas e jogá-la em uma cama, saborear cada parte gostosa de seu corpo que
me deixa louco. Eu e Max fomos até o escritório da casa onde ele havia
guardado o presente que comprei para ela. Fiquei pensando por dias no que dar à
minha amada, porque Alexia não é apegada em coisas materiais, fica feliz com
pequenos mimos, não se prende a esses valores. Decidi, então, lhe comprar dois
presentes, um era um par de brincos de esmeraldas em formato de gotas que me
lembravam seus olhos tão lindos, que veem através de minha alma; e o outro era
uma pequena caixinha de música com dois bonequinhos se beijando, uma
miniatura de nós mesmos. Coloquei os brincos dentro da mesma e, na parte
externa em uma plaquinha de ouro mandei gravar as seguintes palavras.
"Para minha preciosa, minha joia, a flor mais amada de um jardim sem fim
Do seu eterno Aidan..."
— Perfeito os presentes, Aidan, minha irmã com certeza vai adorá-los. — Max
me dá tapinha nas costas. — Mas continuamos de olho em você! — Se refere a
ele e Sean, com certeza. — Alexia pode ser uma mulher linda, mas, ainda sim, é
minha garotinha.
— Pode ficar tranquilo, Max, não decepcionarei você e nem sua irmã, Alexia é a
mulher da minha vida.
— Vejo que está apaixonado mesmo, hein, cunhado! Fico feliz que minha irmã
tenha encontrado um amor, ela merece, é uma garota formidável!
— Sim ela é, e no que depender de mim, será muito feliz.
Depois de pegarmos o presente, cada um foi atrás de seu par, Max atrás de
Danielle, e eu atrás de minha “chapeuzinho”, conhecendo bem Alexia deve estar
frustrada por tê-la abandonado. Entro na área externa da casa onde se encontram
todos os convidados e tenho uma visão que me deixa zonzo, Alexia dança
sensualmente ao som de uma música dos anos 80, longe de ser nostálgica e sim,
contagiante, Alexia remexe seu quadril ao ritmo da música mandando um
chamado direto para meu pau, devassamente perfeita, leve e solta inebriada pelas
batidas, e com toda essa visão maravilhosa, não consigo conter a vontade de ter
seu corpo com o meu.
Caminho até ela sem que note minha aproximação, chego ainda mais perto e
passo a mão lentamente por sua capa que me dá ideias deliciosas para mais
tarde. Sente minha presença, vejo quando um sorriso se faz brotar em seu rosto,
a abraço, apertando sua cintura e digo coisas loucas e desconexas em seu ouvido.
Depois disso, só o céu presenciou a nossa transa insana naquela festa, o que
realmente posso dizer é que comemorei realmente o aniversário do meu amor.
Por Alexia...
Aidan me prensa na parede, enquanto devora os meus lábios, havia um pouco de
medo em mim, poderíamos ser pegos, estamos em uma parte reservada do
jardim, mas fazer algo excitante e perigoso aumenta a minha adrenalina e quero
mais que ela tome meu corpo por inteiro.
— Você é uma delícia, minha “chapeuzinho”. — Morde o lóbulo da minha
orelha, seus lábios quentes tocavam minha pele, e por conta de todo esse fogo,
sinto as ondas de calor percorrerem meu corpo.
— Eu quero você Aidan, por favor.
Ele me dá um sorriso de lado e passa seus dedos sobe o tecido do corpete que
compõe a minha fantasia, abre devagar todas as faixas de cetim que os prendem,
meus seios saltam sob o tecido preto de seda Aidan olha para eles com fome.
Abaixa a sua cabeça e beija a separação entre eles, no mesmo instante que os
aperta com as mãos, belisca os bicos que se encontram rijos e passa a língua
lentamente por eles, sugando-os. Meus gemidos são baixos, mas minha vontade
era gritar de prazer, o prazer que meu homem me dá.
— Amooooor, por favor. — Digo choramingando e ele ri. Preciso de Aidan
dentro de mim, quero me consumir em seu corpo.
— Vir-se para mim, Alexia, coloque suas mãos na parede e não olhe para trás,
porque agora o lobo mau vai te devorar.
Obedeço, sinto seu hálito em meu pescoço seguido de pequenas mordidas,
deixando meu corpo mais ansioso por ele.
— O que você quer? — Pergunta, passando a mão sobre minha capa e a
colocando para lado.
— Eu quero você Aidan, só você — digo, com a voz falha.
— Então, pede, minha “chapeuzinho”. — Sussurra em meu ouvido, com sua voz
rouca e carregada de desejo— Peça para que eu te devore!
— Por favor, me devore todinha! Faça o que quiser comigo!
Mal termino de falar e ele literalmente me ataca. Levanta minha saia até a
cintura e a prende, puxa a minha calcinha para o lado, minha intimidade já
estava encharcada de tanto desejo, então, se abaixa e afasta minhas pernas e com
sua cabeça entre elas, me chupa com maestria, fortemente meu clitóris sofria
com sua língua, me fazendo gritar de prazer. Aidan se levanta e tapa minha boca,
delicadamente.
— Não grite meu amor ou seremos ouvidos!
Beijo sua boca espalmada em meus lábios, ouço o barulho de sua calça se
abrindo e duro como pedra, se enterra em mim, sinto meu corpo todo estremecer
com a brutalidade do ato, mas logo ele se acalma moldando minhas partes ao seu
corpo, a sensação de tê-lo me preenchendo é maravilhosa, e poderia jurar que
havia gozado desde o primeiro minuto, mas mal sabia o que estava por vir!
Aidan me leva ao paraíso me fazendo gozar fortemente, nosso sexo dessa vez foi
diferente, já havia feito anal, mas nada que pudesse ser tão prazeroso, confesso
que por diversas vezes sonhei em fazer esse tipo de sexo com Aidan, pois
saberia que ele me corresponderia da maneira que eu esperava.
Ele aproveitou o quanto estava lubrificada e com os dedos espalhou os fluidos
para o meu ânus me deixando preparada para receber seu membro, depois forçou
a cabeça e foi entrando lentamente, senti dor era uma coisa inevitável, mas era
prazeroso, quanto mais ele se enfiava mais vontade tinha que ele entrasse em
mim por inteiro, minha respiração não chegava aos pulmões. Suas investidas
eram fortes, tão fortes que já estavam me deixando de pernas bambas, segurando
firmemente em minha cintura aumentou as estocadas que agora eram rápidas,
seu corpo se debatia contra o meu, sua respiração estava pesada.
Mordendo os lábios, continuei tentando abafar os gemidos que estavam
teimando em escapar, quando senti que não ia aguentar mais, rebolei e senti
Aidan desabar em minhas costas, e assim ele explodiu junto comigo em um
orgasmo avassalador.
— Foi maravilhoso amor, você é perfeita meu anjo. — Disse ofegante.
Com um sorriso nos lábios e saciada optei por não dizer nada, Aidan saiu de
mim me deixando uma sensação de vazio, ainda estava segurando na parede para
não cair, quando escuto vozes.
— Merda, Alexia! Coloque rápido a sua roupa amor. — Diz, ofegante colocando
a sua calça.
— Sério? Logo agora?
Ele segura minha cabeça entre suas mãos e sorri.
— Talvez, eles pensaram o mesmo que nós, ao procurar esse jardim. Abaixe-se!
Olha só quem vem ali?
Por entre as folhagens vejo Sean arrastando Sophia pela mão. Não é possível!
Tenho que sair daqui!
— Aidan... — Digo num sussurro. — Não quero ficar aqui para dar uma de
voyeur, ainda mais com meu irmão!
Ele ri.
— Vamos sair pelo outro lado.
Vejo quando Max e Dany se aproximam, imagino que eles devem ter tido a
mesma ideia que meu namorado e eu.
Por Sophia
Sean me abraça e sinto que está incomodado com a presença de Richard.
— Hey, posso saber por que está com essa cara? Não me diga que ficou assim
porque Alexia permitiu que Richard participasse de sua festa? Ciúme bobo não
combina com você, Sean!
— O que não combina comigo? — Me devolve um olhar contrariado
acompanhado de seu maxilar rígido. — Sentir ciúme de você? Ou não gostar da
presença dele na festa? Sabemos que até bem pouco tempo, esse cara era
caidinho por você!
— Sei disso e fiquei muito feliz ao saber que ele resolveu seguir sua vida. —
Constato. —Ele, mais do que ninguém, sempre soube do meu amor por você.
Aliás, todos que me rodeiam sabem o quanto é importante para mim. — Toco
seu rosto numa carícia leve e ele fecha os olhos. — Eu o amo mais do que tudo.
— Abre os olhos e sorri. — Só você me interessa.
Solta um longo suspiro e se retrata a seguir.
— Desculpe-me se me comportei como um garoto, foi muita bobagem de minha
parte!
Esfrego minha boca na sua e ele me aperta contra seu corpo.
— Outra coisa! — Concluo. — Nunca fui fã do Batman. Sempre tive uma queda
por essa capa vermelha. Super homem sempre foi meu fraco e hoje realizei meu
sonho, ele está aqui comigo e quero aproveitar cada segundo ao seu lado. — Sua
boca busca a minha.
Em nosso relacionamento nunca houve nenhuma sombra que nos deixasse
inseguros em relação ao outro. O amor que sentimos não permite dar espaço para
nada além de nós mesmos. Nos amamos e ponto. Nosso beijo se intensifica e
pouco nos importa se estamos sendo observados, sua língua macia me provoca e
me deixa muito excitada ao me lembrar do que ela é capaz quando desliza sobre
meu corpo.
Ao nos afastarmos, o nosso clima volta ao normal e o homem que amo toma o
seu lugar.
— Vamos dançar, mulher Maravilha? — Pega-me pela mão e me leva para a
pista de dança. Em instantes depois, vejo meu pai descendo as escadas.
Acompanhado de Lorenzo e Lay, Vicenzo ficou magnífico de pirata. Ele deu ao
traje à sua personalidade e não o contrário. Bem a sua cara. Lorenzo e Lay
formam um par lindo. Ela escolheu vir de Sandy, do filme Grease, trajando uma
saia rodada amarela, uma blusa branca, sapatilhas e cabelo alisado, está perfeita.
Lorenzo a acompanha trajando a roupa de John Travolta no mesmo filme em
seu personagem Danny. Eles cumprimentam Alexia e logo nos veem. Meu irmão
e sua namorada ficam por ali, dançando divertidamente. Já Vicenzo procura por
Max e Dany. Sei como ele se sente deslocado e só aceitou o convite por
insistência de Alexia. Com a sua simpatia e jeito despojado, conquistou o
coração do velho Salvatore e quando isso acontece podemos esperar as maiores
demonstrações de carinho vindo de sua parte, como agora.
A banda toca “Start me up, de Rolling Stones” e não consigo conter a euforia.
Essa música me faz lembrar o primeiro show em que meu irmão e eu fomos
juntos. Adorava rock e, aos dezesseis anos, sentada sobre seus ombros cantei
essa música até ficar sem voz.
— Uhul! — Grito e assovio. — Sean me olha espantado e chamo por Lorenzo
que também lembrou do mesmo que eu. — Loh, essa música... — Lorenzo pisca
para mim e Lay assobia em resposta.
— Adoro essa canção. — Digo com meu corpo colado ao de Sean. Remexo
meus quadris ao som contagiante e suas mãos fortes seguram em minha cintura,
me impedindo de continuar. Arqueia as sobrancelhas e com um sorriso
malicioso, rebate.
— Não se esqueça: Sou de aço, mas não de ferro! Se continuar a se esfregar em
mim dessa maneira, não conseguirei conter meu corpo que está louco pelo seu e
essa roupa me denunciaria e me colocaria numa situação muito constrangedora.
— Suas mãos descem pela minha coxa e a aperta forte. — Não tem ideia de
como está sendo difícil manter o controle!
— E você não tem ideia do que planejei para logo mais!!
— Falando assim, perdi todo meu interesse nessa festa! — Diz em meu ouvido.
— Que tal irmos para casa e você me mostra o que tem em mente? Beijo sua
boca incitando-o ainda mais.
— Vou ao banheiro e não demoro.
— Ok, estarei aqui lhe esperando! Abro espaço entre os convidados até chegar
ao banheiro. Instantes depois, no caminho de volta, esbarro sem querer em
Richard. A roupa de homem morcego lhe deu um ar muito intimidador.
— Sophia, como vai?
— Bem e você? — Um garçom passa e Richard pega duas taças de champanhe e
oferece uma delas a mim.
— Fico feliz de vê-la tão bem! Bebo meu champanhe e me dou conta de que
meu estômago está vazio.
— Está linda!
— Obrigada, Richard. A propósito, meus parabéns, a sua nova namorada é linda!
Espero que deem certo juntos.
— Obrigado, Sophia. — Olha tudo ao redor. — Patrícia é mesmo um encanto de
mulher. Mais um gole e de repente, minha visão parece sair do foco.
Uma pequena vertigem e minhas vistas escurecem.
— Sophia!! — Richard me apoia em seus braços e por segundos penso que vou
desmaiar, mas felizmente o mal-estar vai embora. Está melhor?
— Sim, obrigada, já passou! Vou voltar para minha mesa.
— Não quer que eu a acompanhe?
— Eu a levo, pode ficar tranquilo! — A voz áspera de Sean atravessa meus
ouvidos.
Espero que ele não pense bobagens com a cena que acabou de presenciar. Ele se
aproxima e me toma com cuidado em seus braços.
— Vamos. — Antes de sair olha para Richard e agradece. Calado com seus
braços ao redor do meu corpo, nos despedimos de Alexia que fica contrariada ao
saber que estamos indo embora. Dentro do carro, finalmente, ele resolve quebrar
o silencio.
— Meu amor, o que acha de passarmos nossa lua de mel no Caribe? Meu pai
tem uma casa em uma daquelas praias e poderíamos ficar isolados num clima
mais agradável.
— Sabe que estando com você, nossa lua de mel poderá ser em qualquer lugar.
Caribe, Jordânia, embaixo da ponte... — Brinco. — Para mim, qualquer lugar é
perfeito e Caribe é uma ótima ideia.
Tira a mão do volante e a deposita em meu joelho.
— Melhor?
— Sim, foi somente um mal-estar passageiro. O champanhe não me caiu bem.
— Ele quer perguntar alguma coisa, sinto isso. Então, eu mesma resolvo falar. —
Richard está muito feliz com Patrícia. Torço por ele. Acho que, finalmente,
encontrou alguém que o mereça.
— E que o faça esquecer de você! — Diz de modo natural, nada pretensioso,
sem notas de cinismo. Esse é Sean! Franco e direto. — Ele pode ser legal, mas
era apaixonado por você.
— Era, verbo no passado, Sean! Disse muito bem! E agora se não pode me levar
voando sob sua capa, acelere esse carro. — Fico mais perto do seu corpo e subo
minhas mãos por sua coxa, ele suspira quando sussurro ao seu ouvido o que
tenho em mente. Vejo o quanto se excitado na mesma hora.
— Vou adorar cada segundo, minha amazona! — Acelera e nos leva para nossa
casa.
Por Harry
O tempo anuncia chuva a caminho. Ancorados em alto mar, depois de um jantar
tranquilo, vou até o cofre onde guardo o termo redigido pelo meu advogado e o
laudo dos testes feitos nos medicamentos que Beatrice manipulou. Quero deixar
bem claro que ela está em minhas mãos. Ela irá pagar caro ao tentar me matar.
Sentada no convés com uma taça de Bourbon na mão, ela parece distante,
porém uma coisa é certa, Beatrice ainda é uma mulher linda e sua elegância dá a
ela mais charme. Pena que seu caráter é podre e sua essência vazia como ar.
Aqui estão! Só assinar, por favor!
— Harry, pensei melhor e não irei assinar esse termo onde abro mão de minha
parte em sua fortuna. Não é justo!
— Ah, acha que não é justo? E isso aqui? É justo? — Jogo o laudo em suas
mãos. Ela o lê atentamente e seus olhos não mudam, não transmitem nada,
nenhuma emoção.
— Trocou minha medicação, sua ordinária. Sabe o que isso significa? Queria
me matar! Serei muito claro, Beatrice, irá assinar esses papeis e depois irei
coloca-la na cadeia, onde é o seu lugar, sua víbora!
— Está bem, Harry, assino qualquer coisa que me pedir, mas por favor não me
denuncie. Cometi esse ato num momento de desespero. Prometo sair de sua vida
e não mais voltar. Ela se ajoelha em minha frente e se humilha como nunca tinha
presenciado
Pega os papéis e os assina, um a um. Quando acaba, pega a garrafa de vinho e
enche sua taça. Vira-a em um só gole.
— Vamos voltar para casa! Vou ligar os motores.
E ao me virar de costas, sinto uma forte pancada na cabeça.
Ao me virar, ela me ataca e me empurra convés abaixo. Quase desacordado caio
ao mar...
Por Beatrice
Avisei a Harry, avisei que você seria o próximo.
Pego os papéis e os queimo em uma lixeira de metal. Agora, Beatrice é hora de
completar o seu teatro perfeito. Já me vejo nas manchetes: Casal Mackenzie
atacados por ladrões em alto mar. Harry Mackenzie foi assassinado e jogado ao
mar. A viúva está em estado de choque!
Olho para o mar revolto e a chuva forte que cai sem dar trégua. O corpo de
Harry desapareceu nas profundezas.
Deus é justo. Agora vamos cuidar de tudo. Esse iate precisa de certos retoques.
Coloco minha luva e começo a quebrar vários objetos e a cada estilhaço de
vidro, uma gargalhada de satisfação sai de minha garganta.
Homem ao mar!
Por Sean
Com seus dedos entrelaçados nos meus, Sophia me conduz ao nosso quarto.
Subitamente, para e se vira para mim com um sorriso enigmático estampado em
seu lindo rosto. Lentamente, abre o laço de seu capuz e o tecido desliza aos seus
pés.
— Finalmente, somos você e eu. — Digo.
— Sim. — Centímetros separam sua boca da minha. Seu perfume misturado ao
seu hálito doce me deixa inquieto pelo que está por vir. Não seria justo, educado
e muito menos honesto de minha parte comparar Sophia com as muitas mulheres
experientes que levei para a minha cama. Porém, mesmo com certa ingenuidade
em relação ao sexo, minha mulher me surpreende como agora, devorando-me
com seus olhos negros e totalmente disposta a qualquer coisa para satisfazer os
nossos desejos.
O que ela talvez não saiba é que mesmo sendo mais experiente do que ela,
sempre busco agradá-la ao máximo, satisfazê-la em todo o seu limite por medo
de que algum dia ela deixe de sentir esse enorme desejo por mim. Esses
pensamentos se dissipam de minha mente, quando sua boca se abre para dizer o
quanto me ama.
Afasta-se e olha atentamente cada canto do aposento e suas famosas covinhas
aparecem para confirmar o que procurava:
Duas colunas no meio do quarto que dão acesso ao closet.
— Perfeito! — De modo sensual e provocativo caminha até mim. — Preparado?
— Para você, sempre!
— Adorei saber disso! Venha comigo, meu amor! — Me puxa até as colunas e
me faz ficar entre elas.
— E agora? — Pergunto. — Sophia não percebe, mas estou um tanto nervoso.
Em todas as minhas aventuras sexuais, jamais permiti que mulher alguma me
submetesse a participar de brincadeiras e fetiches como esse.
— O que pretende fazer, minha querida? — Em minha voz deixo transparecer a
minha apreensão.
— Me dê suas mãos!
Com o semblante carregado, entrego a ela minhas mãos. Devagar, Sophia tira o
laço de sua cintura e o desenrola. O que me deixa mais tranquilo é que ao olhar
para ela posso ver que sua respiração está descompassada e através do corpete e
seu lindo decote, seus seios sobem e descem em um ritmo um tanto quanto
anormal.
O que me deixa surpreso foi a rapidez com que assume sua calma inata agindo
com cuidado e precisão. Pega uma de minhas mãos e a amarra em uma das
colunas. Em seguida, olha para mim e sorri. Confere se estou bem amarrado,
depois faz a mesma coisa com a outra, repetindo o mesmo ritual.
— Pode ficar tranquila, não tentarei fugir porque essa não é minha vontade e
muito menos derrubarei essas colunas. — Digo em tom de brincadeira para
amenizar meu estado nervoso.
— Força do hábito! — Morde seu lábio inferior e sem nenhum pudor, esfrega-se
em meu corpo num balanço extremamente sensual. Depois, com a mão
espalmada sobre meu peito, corre seus dedos deslizando-os pelo meu antebraço,
braço e mais devagar desce pelo meu tórax, finalmente chegando em meu
abdômen. Sem tirar seus olhos de minha boca, acaricia meu membro excitado
por cima do tecido de minha roupa e nesse momento deixo escapar um gemido
rouco quando ela o aperta em sua mão. Dá dois passos para trás e nesse instante,
retira de sua cintura um pequeno punhal escondido em sua fantasia.
Surpreso e curioso, meus olhos não saem da lâmina afiada do mesmo. Sophia
brinca com o objeto rodando-o entre os dedos numa familiaridade incomum, ou
seja, quer demonstrar que sabe muito bem o que está fazendo ao manejar algo
tão perigoso.
— O que mais poderá estar escondido nessa roupa? Estou surpreso! — Para não
dizer assustado.
— Adoro quando o surpreendo, sabia? — Gira o punhal novamente entre os
dedos e engulo em seco.
— Ossos de um antigo ofício! — Se aproxima do meu rosto e encosta sua boca
na minha em um beijo leve. Em vão, tento aprofundar nosso beijo e sentir sua
língua desesperada pela minha, porém se afasta, roçando seus lábios em meu
queixo e, em seguida, em meu pescoço, me torturando com seu toque macio que
me deixa louco ao ser amarrado sem poder tocar, acariciar e deixar seu corpo
implorando pelo meu.
— Sophia... — Sussurro seu nome. Essa espera me deixa impaciente, quero tê-la
e mostrar o quanto a desejo. Meu corpo todo anseia pelo contado e cheiro da sua
pele na minha.
Não quero esperar, não posso e não aguento mais esperar.
Com cuidado, pega o punhal e abre uma pequena fenda na base do meu peito. E
de um modo bruto, junta o tecido em suas mãos e rasga-o em duas partes me
deixando nu até as coxas. Sorri maliciosamente e joga o objeto ao chão bem ao
lado dos meus pés.
— Lindo e todo meu! — Arranha meu abdômen e pega em meu pau duro e
louco para me enterrar nela.
— Sempre seu! — Em resposta sua boca percorre cada centímetro do meu
pescoço e continua sua escalada gostosa pelo meu peito. Me beija com devoção,
como se eu fosse a figura de um semideus ou algo sagrado que ela cultua com
seus lábios macios e ousados.
Suas unhas deixam marcas em minhas costelas. Marcas de uma mulher
insaciável e louca por mim. Olhos negros se encontram com os meus ao descer
com sua boca pelo meu abdômen. Distribui vários beijos e mordidas em minha
barriga, alternando entre uma coxa e a outra me deixando maluco.
— Adoro seu corpo... adoro minha boca passeando em cada parte, provando e
deixando -o assim... Com tesão!
— Adoro sua boca em mim. — Respondo entre dentes ao ver que ela se ajoelha,
ajeita seus cabelos com sensualidade e toma meu pau em sua boca.
Até me esqueço de que estou preso e puxo meus braços com força para tocar em
seus cabelos.
— Oh... meu amor... que delícia... chupa gostoso, vai! — Me encara e passa sua
língua por toda minha extensão.
— Vou lhe mostrar o que uma amazona apaixonada é capaz de fazer com o
homem que ama.
— Me mostre. — Seus olhos não saem dos meus e ela o engole todo chupando-o
com vontade. Suas mãos agarram e passeiam por minhas pernas e em seguida,
agarra minha bunda puxando-me mais para si.
Se ela continuar assim, vou acabar enlouquecendo.
Jogo minha cabeça para trás e de olhos fechados, me deixo levar por esse prazer
indescritível, minha respiração se torna irregular e me seguro ao máximo para
não me render e gozar tão rápido.
— Adoro isso, adoro quando suas mãos e boca estão em mim e quando estou
dentro de você... seus gemidos a cada metida minha... — Digo entre gemidos.
Ser o primeiro homem de Sophia, não me torna especial ou exclusivo, isso só me
faz pensar em ser o único e eterno homem a quem ela deseja e, me manter nesse
lugar é meu intuito. Não posso perde-la e não admito que isso ocorra. Quero seu
amor e desejo eternos, pois a mim ela já possui por inteiro.
Seus baixos gemidos me deixam como um animal no cio, enlouquecido. Jamais
esquecerei esse momento em que me sinto tão vulnerável e entregue à mulher
que amo. Somente Sophia consegue extrair de mim um prazer bruto
acompanhado de um sentimento inexplicável ao chegar ao orgasmo. Me sinto
completo, extasiado como nunca me senti antes.
Quando sua boca me suga com força e suas mãos me masturbam com
movimentos cadenciados não mais me seguro e gozo como um louco em suas
mãos, gritando seu nome e confirmando o quanto a amo.
Estou ofegante e ainda a desejo.
Sua boca me deixou com mais fome. Quero me afundar em seu corpo e extrair e
absorver tudo o que ela me dá ao se entregar a mim.
— Eu te amo, Sophia! Não imagina o quanto!
Em pé, com a faca na mão, beija minha boca com muito desejo.
— Imagino, pois o amo com a mesma intensidade. Somos um só!! — Corta a
corda, livrando meus pulsos. Tomo o punhal de suas mãos.
— Agora é a sua vez! Verá o que um homem apaixonado é capaz de fazer com a
amazona mais linda desse mundo!
Por Sophia
Ver Sean amarrado e nu em minha frente me deixou mais ansiosa. Minha boca
quer estar em cada parte desse seu corpo perfeito e exclusivamente meu. Seus
músculos e toda a sua compleição foram desenhados para enlouquecer a espécie
feminina. Meus dedos passeiam em todo seu tórax acariciando os pelos macios
do seu peito. Todo esse monumento só tem olhos para mim, sou mesmo uma
mulher de muita sorte. Ajoelhada em sua frente, tomo-o em minha boca e ao
olhar para cima, vejo fechar os olhos e jogar sua cabeça para trás, com a boca
entreaberta. Essa visão me deixa tonta de desejo e meu ventre se contrai devido à
reação que essa imagem me causa. Ver seu peito arfando, buscando ar enquanto
movimenta seus quadris de encontro à minha boca faminta é algo muito erótico.
A cada investida, ele quer mais e dou a ele o que busca em mim, fico muito
excitada e mal vejo a hora de sentir seu corpo no meu.
Adoro satisfazer o seu desejo e sei que ao desamarrá-lo, sentirei o seu desejo
máximo, a busca pelo nosso prazer e a confirmação de nosso amor com nossos
corpos grudados e ansiosos pelo outro.
Quando goza, sua voz rouca e grave dizendo alto o meu nome se torna
necessária ao meu ouvido, a cadência de suas palavras confirmando o quanto me
ama me deixa em alfa. Ao cortar as cordas, avanço com desejo em sua boca e
encontro o mesmo furor contido em seus lábios. Nosso desejo se torna palpável e
desesperador.
— Agora é a sua vez! Verá o que um homem apaixonado é capaz de fazer com a
amazona mais linda desse mundo! — Gemendo e de costas para ele, me esfrego
em seu corpo forte e grito ao sentir sua mão prendendo meus cabelos num rabo
de cavalo.
Sinto sua boca correr por todo meu pescoço.
Não são toques delicados e sim mordidas e chupadas que deixam minha pele
vermelha. Adoro Sean totalmente selvagem e descontrolado na cama. Com o
mesmo punhal, corta os cordões de meu corpete, liberando meus seios inchados
de tanto desejo. Suas mãos os agarram e apertam com força aliviando meu
desejo de ser tocada por ele.
— Adoro você assim...
— Assim como? — Com a boca colada em minha orelha, sua língua invade meu
ouvido e sua mão toca em meu sexo por cima da roupa.
— Louco por mim...
Minhas pernas bambeiam com seu toque firme.
— Sou louco por você sempre, Sophia!
— Isso meu amor! — Viro meu pescoço buscando sua boca.
Com nossos lábios colados, Sean me empurra até a cama, me deixando de
bruços e seu corpo pesado cai sobre o meu. Mais agressivo ainda arranca a parte
de baixo de minha fantasia me deixando somente de calcinha.
— Adoro quando fica assim... Louca para ser fodida por mim! — Aperta minhas
nádegas e seus dedos invadem meu lingerie, tocando meu sexo molhado e
desesperado por ele. Mantém meu rosto colado no colchão.
— Ah que tesão você é, minha Sophia! — Desliza dois dedos para dentro de
mim e rebolo buscando alívio. — Calma, minha amazona! Vamos com muita
calma! — Gira seus dedos e com seu polegar massageia meu clitóris me fazendo
gritar.
Seu corpo forte sobre o meu e sua pele quente me incitam. Tomada por um
desejo insano, imploro por ele. Retira seus dedos de meu sexo e os leva à minha
boca. Chupo cada um deles no mesmo instante que Sean distribui várias
mordidas em minhas costas enquanto esfrega seu pau em mim por trás.
— Sean... Não aguento mais, por favor...
— Diga o que você quer... — faz uma pausa e morde meu queixo de leve. — Me
quer todo dentro de você? Hum?
— Sim. Quero. Quero muito...
Num movimento rápido, desce meu lingerie, ergue meus quadris e me penetra
de modo firme e possessivo. Cobre meus lábios com os seus e a sua língua
invade minha boca explorando cada canto me fazendo gemer. Ele aumenta o
ritmo e seus gemidos guturais me deixam mais acesa. Rebolo de encontro ao seu
corpo para provoca-lo, mas ao fazer isso sou acometida por ondas de prazer que
me levam a um orgasmo enlouquecedor.
— Adoro ouvi-la gemendo assim, goza gostoso, goza! — Seu tom de voz fica
mais sacana. Agarrada aos lençóis, meus espasmos sacodem meu corpo e ele
continua num ritmo ainda mais acelerado. Sinto seu membro pulsar dentro de
mim, gozando em seguida gemendo meu nome. Depois, sinto-o relaxar e nesse
instante, cobre meu rosto com vários beijos. Viro meu pescoço e o encaro. Sua
roupa toda rasgada, cabelos desalinhados e o rosto suado após esse sexo
maravilhoso o deixam ainda mais lindo. Um privilégio só meu.
Sai de dentro de mim e se deita ao meu lado me puxando para ele.
— Sean...
— Hum... — Responde ainda ofegante.
Ergo meus pés e ele ri. Ainda estamos usando nossas botas.
— Isso agora importa? — Olha-me com uma malícia divertida.
— Absolutamente que não, adorei cada segundo.
— Eu também! — Esfrega seu nariz em meus cabelos, aspirando meu perfume.
—Adorei aquele punhal e a partir de hoje, só faremos amor com sapatos e afins.
Adorei ser rasgado por suas mãos experientes! — Me puxa, pondo meu corpo
sobre o seu.
— Seu bobo. Eu o amo, sabia? — Olha-me com carinho e com seu indicador
afasta uma mecha de meus cabelos que cai sobre meu rosto, em seguida seu
dedo traça todo o contorno de minha boca.
— Sabia e a cada dia agradeço por ter seu amor. A cada hora, dia, semana eu a
amo mais. Minha vida é toda sua, Sophia!
Uma chuva forte chega e bate na janela, deixando nosso quarto com clima mais
romântico e aconchegante.
— Assim, você me mata de alegria, Sr. Mackenzie! — Me joga de costas na
cama e tira sua capa e o que sobrou de sua roupa.
— De maneira alguma, Sra. Mackenzie. — Adoro quando ele me chama assim,
me sinto ainda mais pertencente a ele. — Sabe se alguém já morreu de prazer?
— Seus olhos azuis se tornam mais escuros e se abaixa mordendo minha boca.
— Nunca ouvi dizer, porém adoraria ser a primeira! — Provoco-o arqueando
meus quadris de encontro ao seu.
— Então... creio que entrará para a história, meu amor... — Seu corpo me mostra
tudo o que sua boca acabou de dizer...
Por Beatrice
Reviro cada compartimento do iate e por toda a parte, tudo se encontra fora de
lugar. Louças e objetos quebrados e muitos cacos estilhaçados pelo chão. Quem
entrar aqui irá se deparar com uma típica cena de latrocínio. Agora, o detalhe
final: Com um bastão de madeira e haste de metal, bato com força em minha
testa e o sangue quente escorre sem parar. A seguir, me jogo na parede batendo
com minha face de encontro a mesma até que várias marcas roxas apareçam em
minha pele branca. Minha ansiedade me faz andar de um lado para outro.
Conferindo o relógio a cada minuto, tenho que esperar um pouco mais até que
possa avisar a polícia pelo rádio. Mais uma vez, olho para fora do convés e a
chuva fria acompanhada de ventos fortes balançam o barco. Noite mais que
perfeita para que um corpo desapareça em alto mar. Um tempo depois, pego o
rádio e tento por várias vezes, chamar a polícia sem sucesso. Na nona vez, um
atendente, chamado Arnold, atende com uma voz sonolenta. Devia estar
dormindo.
Com a voz embargada de choro misturada ao desespero, começo a falar sem dar
pausas, o que deixa o homem sem entender nada do que se passa.
— Senhora, quer falar um pouco mais devagar, tente se acalmar, por favor! Não
estou compreendendo o que está falando. — Suspira, resignado. — Por favor,
mantenha calma!
— Mataram meu marido! Invadiram nosso barco e jogaram Harry ao mar, por
favor, venham depressa!
Com a maestria de uma excelente intérprete, o policial tenta me acalmar e diz
que em instantes uma patrulha virá ao meu auxílio. Pergunta as coordenadas de
minha localização. Respondo que não tenho a mínima ideia de onde posso estar
e a única coisa que digo é que nosso barco não está longe da costa. Com muita
educação e paciência, pede-me para usar o sinalizador. Depois de seguir as
instruções de Arnold, sento-me no sofá e espero pelos policiais.
Em meia hora, ouço um barulho de um motor e várias luzes incidem sobre meu
barco. Ando até o convés e ergo os braços, balançando-os para chamar a
atenção. Vários homens entram no convés, enquanto uma lancha e outros
mergulhadores procuram pelo corpo de Harry.
Um policial com cara de buldogue francês vem até mim e toma meu
depoimento. Uma hora depois, outro policial entra e sua expressão é de puro
desalento. Devem ter encontrado o corpo de Harry. Torço mentalmente.
— Sra. Mackenzie!
— Sim? — Levanto-me assustada.
— Vasculhamos toda a área e nem sinal do corpo de seu marido. Tem certeza de
que viu quando ele foi jogado ao mar!?
— Sim, Harry tentou reagir e um deles o atingiu com um objeto na cabeça e o
lançaram ao mar. — Soluço. — Foi horrível, outro homem me segurou pelos
braços e me bateu fortemente na cabeça com um bastão. Desmaiei e quando
consegui abrir os olhos, corri para o convés a procura de Harry, mas não o
encontrei, então, entrei em contato com a polícia pelo rádio.
— Tem ideia de quem sejam esses homens?
— Senhor policial, meu marido é um homem que durante toda a sua vida
manteve suas relações em nível máximo de cordialidade. O que não posso
afirmar que não tenha contraído inimizades. Por que a pergunta? Acha que foi
algum tipo de crime encomendado?
— Ainda é cedo para afirmarmos. — O homem me olha com certa desconfiança.
— Pelo que a senhora nos relatou, os mesmos levaram vários objetos de valor,
não é isso? Por enquanto, trabalhamos com a hipótese de um assalto seguido de
morte.
— Sim, senhor. Eles levaram várias peças valiosas em uma bolsa a tiracolo.
— A senhora conseguiria identificar algum deles? Algum detalhe?
— Não, senhor! Todos usavam máscaras e falavam por sinais. A única coisa que
reparei é que usavam um tipo de solado isolante nos sapatos.
— Deve ser por isso que não encontramos pegadas no convés. — Passa a mão
no queixo. — Bem, vamos continuar as buscas apesar do mau tempo. Vamos! A
levarei a um hospital, precisa verificar esse machucado.
— Nãooo. — Me exalto. — Quero meu marido e não sairei daqui até que o
encontrem vivo ou morto. — Finjo um acesso de pânico.
— Sra. Mackenzie, não há nada que a senhora possa fazer no momento a não ser
esperar. Agora o trabalho é da polícia. Estamos empenhados nisso! Vamos
encontrar seu marido, no momento iremos levar o iate e colher todas as provas
possíveis e sugiro que a senhora vá para casa e fique lá até que tenhamos novas
informações.
— Sim, senhor. Meus filhos, tenho que avisar aos meus filhos. — Respondo
resignada e com as mãos no rosto, escondo minha felicidade.
— Que o diabo o carregue, Harry Mackenzie! — Penso, enquanto um médico e
policial verifica meu corte na cabeça.
Por Barney — horas atrás
Droga! Bendita hora em que resolvi sair de casa para pescar. Ao invés de relaxar
minha cabeça, estou mais estressado ainda.
O céu estava propício para uma noite de muita cerveja e vários e grandes peixes.
De repente, o céu escureceu e uma chuva forte carregada de um vento mais forte
ainda se abateu sobre o mar Melhor voltar para casa e ouvir as lamentações de
Jessy sobre nossos filhos. Ao fazer a conversão com meu pequeno barco de volta
a baía, vejo algo se debatendo no mar. Hei, isso é um homem.
Acendo minha grande lanterna e me aproximo. Com muita dificuldade pelo peso
do indivíduo e pelas várias cervejas que consumi, tiro o corpo do mar e o jogo
para dentro do barco. O homem está vivo e eu o reconheço. É Harry Mackenzie,
um figurão de Nova Iorque. Mas o que ele estaria fazendo aqui jogado à própria
sorte? Pego uma manta e o cubro. Ele treme com o frio e me afasto pegando um
pouco de conhaque que me sobrou de outra pescaria. Ajudo a se sentar e com
dificuldade ele toma o líquido.
— Seu nome, por favor?
— Barney, senhor. Posso ajudá-lo em algo mais?
Ele me olha com seriedade e me diz:
— Agradeço por salvar minha vida, se não fosse você, a essa hora estaria morto.
Agora, preciso que continue a me ajudar. Será muito bem recompensado, é só
seguir tudo o que eu disser.
Levo-o para minha casa e me sinto desconfortável pela sua presença em um
lugar tão humilde. Ele se senta e Jessy traz um caldo quente para aquecê-lo.
Depois nos deixa a sós e ele começa a falar.
— Quero que faça o seguinte para mim, Barney...
Por Sean
Acordo em um sobressalto ao ouvir o toque de meu celular sobre o criado-mudo.
Ligações a essa hora da madrugada geralmente são atribuídas à coisas ruins.
Tateando no escuro, acendo o abajur e pego o aparelho.
— Alô? — Esfrego meus olhos e pisco várias vezes para despertar.
— Sean Mackenzie?
— Sim, ele mesmo. — Com a mente desperta, respondo prontamente.
— Sr. Mackenzie, sou Jordan Miller, da polícia costeira. Recebemos um
chamado vindo do iate de sua família. — Encosto-me na bancada do banheiro e
aguardo a má notícia. Ele continua. — Seus pais foram abordados por ladrões
que os roubaram, usaram de violência com sua mãe e seu pai reagiu ao assalto.
— Como assim? — Espero que não tenham abusado de minha mãe, isso seria
intolerável.
— Estamos procurando por seu pai. Seu paradeiro é desconhecido. Vasculhamos
por toda a área e também pela costa e não encontramos nem um sinal, nada que
nos dê ao menos uma pista dos bandidos. Eles sumiram como pó. — Em silêncio
por alguns instantes, a voz de Jordan me tira do choque em que me encontro. —
Senador, achamos melhor levar a sua mãe para casa, a sra. Mackenzie estava
muito abalada.
— Violentaram minha mãe? — Minha garganta se fecha pelo nervosismo.
— Não, sr. Mackenzie, eles a agrediram com um bastão, sofreu um corte
superficial na cabeça e passa bem, enquanto que seu pai... — Será que esses
policiais não sabem dar uma notícia sem deixar os familiares mais aterrorizados
do que já se encontram? Com essa pequena pausa, várias imagens horríveis se
formam em minha cabeça. — Seu pai foi agredido e jogado ao mar.
— Ele está vivo? — Ansioso com uma resposta positiva, tento parecer calmo. —
como ele está?
— Continuamos as buscas, mas sem nenhum sucesso.
Pergunto a ele mais detalhes desse terrível acontecimento e Jordan com sua
calma inerente relata tudo o que se passou até o momento
— Obrigado, por me avisar, policial! Estou indo para a casa de meus pais e me
mantenha informado sobre qualquer alteração nas buscas, por favor!
— Sim, senhor! Avisarei se o encontrarmos. A polícia antirroubos também foi
acionada. Encontraremos os responsáveis, senador!
— Assim, espero, policial! Não descanso enquanto não encontrar os
responsáveis por esse crime.
— Fique tranquilo, senador. — Encerra a chamada e minhas mãos suam frio e
um tremor se abate sobre meu corpo.
— Sean, o que houve? Está passando mal? — Sophia entra no banheiro e segura
meu rosto em suas mãos, parece que todo sangue existente ali desaparece, estou
branco feito papel.
— Meu pai. — Abraço-a e choro convulsivamente. — Meu pai foi....
— O que aconteceu com Harry, Sean? — Apoiado a ela, me conduz de volta ao
quarto e me ajuda a sentar-me na cama. Harry, o homem que mesmo sabendo
que eu era ilegítimo me amou e continuou a me tratar como pai, a quem sempre
tive respeito e admiração, está morto! Morto. Recomponho minha calma e conto
à Sophia o que a polícia acabou de me informar.
— Meu amor, isso é horrível! — Suas mãos ainda estão em meu rosto e,
enxugam cada lágrima que insiste em cair. Ao encará-la, vejo seus olhos
inundados como os meus.
— Estão à procura pelo corpo. Preciso falar com meus irmãos. Beatrice, a essa
hora, já deve ter dado a notícia a eles. — Levanto-me bruscamente da cama e
corro a mão pelos cabelos. — Alexia, minha irmã deve estar arrasada, logo no
dia de seu aniversário. Ela o venerava, era seu referencial, Sophia!
— Estou sem palavras. — Comenta, desolada.
— Vou me trocar, meu amor! Preciso ir até à mansão. Por mais que não
estejamos nos falando, Beatrice está em choque e detesto agir com ingratidão.
Ela deve estar precisando de todos os filhos. Se não quiser me acompanhar, levo
—a para casa e depois irei direto para lá.
— De jeito nenhum! Irei com você. — Se levanta e me abraça, fazendo com que
eu a encare. — Na alegria e na tristeza sempre, não é assim que tem que ser?!
Estou com você em qualquer situação. Não tenho uma relação amistosa com sua
mãe, porém isso é irrelevante perante à situação em que nos encontramos. Você é
maior do que tudo isso para mim. E quanto a Harry, sinto muito mesmo. Ele era
um homem bom. Gostava dele como sogro e ao descobrir que era meu pai
biológico, respeitou meu sentimento por Vicenzo e com o tempo, conseguimos
manter uma relação saudável, sem mágoas ou rancores pelo passado. Isso se
deveu pela sua franqueza, ele foi franco comigo desde o início e eu o respeitei e
admirei por essa razão. — Eu a amo ainda mais por ser assim!
— Faço qualquer coisa para deixá-lo feliz, Sean. Qualquer coisa, até o
impossível e inalcançável.
— Estar ao meu lado me deixa muito feliz, saber que posso contar com você em
qualquer situação é muito importante para mim!
Trocamos de roupa e minutos depois nos encontramos no jardim da casa de
meus pais, onde momentos antes várias pessoas se divertiam. Pelo muito que
conheço de meus irmãos, eles devem estar desolados por essa catástrofe que se
abateu sobre nossa família. Meu pai sempre foi o alicerce que nos sustentava e
nas horas mais difíceis, era o que pensava rápido para que tudo se resolvesse da
melhor forma possível.
Dias atrás, ele estava tão otimista. Contou a mim e aos meus irmãos toda a
verdade envolvendo sua doença, ficamos tão felizes com sua vontade de
reconstruir sua vida, iria se separar de minha mãe. Apoiamos sua decisão e o
incentivamos a buscar uma nova vida feliz ao lado de Claire, a mulher que ele
abandonou por achar que Beatrice era o amor de sua vida.
De mãos dadas com Sophia, subo as escadas que dão acesso à porta principal.
Nesse momento, meu celular volta a tocar e mais um número desconhecido me
deixa apreensivo novamente.
— Sophia, vá na frente, vou logo em seguida!
Ela hesita, mas acata minha decisão. Aceito a chamada e uma voz sinistra fala do
outro lado.
— Sean Mackenzie? — Não me deixa ao menos responder. — Você não me
conhece, porém sei onde seu pai se encontra.
Sabia!! Sequestradores. Vão exigir dinheiro pelo resgate de meu pai.
— Seu miserável, não se contentou em roubá-lo ainda por cima quer dinheiro?
— Me ouça, por favor! Não posso explicar, não tenho tempo!
— Terá tempo suficiente quando for para a cadeia, pois será direto para lá que
irá. A polícia irá encontra-lo, seu ladrão! — Digo, exaltado.
Todos os seguranças da casa me olham assustados e em seguida, uma voz que
jamais imaginei ouvir novamente, grita para me acalmar.
— Seu teimoso! Quer se acalmar e ouvir o que Barney tem a dizer!
— Pai! É você?! — Falo num sussurro, não posso deixar que me ouçam, então
me afasto o máximo possível, me adentrando pelo jardim.
— Fale baixo, não quero que saibam que estou vivo!
— Mas... — Me interrompe. — Ouça o que tenho a dizer. Não posso explicar
muito, mas espero contar com sua ajuda!
Harry, com sua calma, me conta todo o ocorrido como se narrasse um jogo de
beisebol.
— Sim, eu o ajudarei! — Digo após ouvir por alto tudo o que minha mãe foi
capaz de fazer.
— É isso, Sean, fingirá que não sabe de nada. De sua mãe, cuidarei
pessoalmente.
— E a polícia? Vai se manter escondido até quando?
— Não se preocupe. Na hora certa, voltarei. Você está em casa? Tem alguém ao
seu lado?
— Não, estou sozinho, Sophia está com meus irmãos, estou na mansão.
— Muito bem, faça seu papel. Conto com você, meu filho! Depois que terminar
a conversa com seus irmãos, lhe espero no local que Barney passará a você,
temos muitas coisas para conversarmos, muitos detalhes para o meu plano! —
Passa o telefone para Barney e ele me dá o endereço.
— Está certo, em uma hora, mais ou menos, estarei aí!
Ele desliga. Tudo parece um absurdo. Minha própria mãe tentou matar meu pai.
Ela só pode estar fora de si. E pior, enquanto todos procuram pelo seu corpo, ele
se encontra escondido e me assegurou que entrará em contato em breve. Isso é
muito surreal. E meus irmãos? Meu pai me fez prometer que guardarei esse
nosso segredo. Como vou encarar Alexia, Max e Sophia e fingir um sofrimento
que já não existe pela notícia que acabei de receber? Suspiro e resolvo entrar. O
jogo começa agora! Infelizmente, minha mãe encontrou um inimigo à altura.
Meu pai nunca jogou para perder.
Depois que desligo o celular, entro pela porta principal e tento parecer abalado.
Preciso fazer isso pelo meu pai. Sei que isso não é correto, mas não tiro sua
razão, Beatrice precisa ser parada ou pode acabar machucando mais pessoas pela
sua ambição e frieza. Todos se encontram na sala. Sophia parece distante dos
demais. Meus olhos se cruzam com os de Beatrice. Trajando seu robe preto e
cabelos soltos, sua aparência dissimulada é de quem passou por algo muito
doloroso. Se não soubesse a verdade, estaria, no momento, me sentindo solidário
com sua situação.
Noto que ela mal olha para Sophia e se ela acha que assim poderíamos viver
como uma família novamente, se enganou. Alexia, que estava chorando nos
braços de Aidan, ao me ver, desvencilha-se dele e vem ao meu encontro. Se joga
em meus braços e chora muito. Oh, minha irmã, não chore! Tudo irá se resolver!
Como gostaria de contar a vocês, mas ainda não posso. O ambiente todo é de
muito pesar. Max, de mãos dadas com Dani, levanta o seu olhar para mim e não
diz nada. Somente dor e tristeza habitam ali. Ele se levanta e também precisa do
meu abraço.
— Vai ficar tudo bem, confiem em mim! — Tento tranquiliza-los com minhas
palavras.
— Sean! — A voz de Beatrice nos chama a atenção e nos viramos para ela. —
Meu filho, por favor... — Anda lentamente com a mesma elegância de sempre.
Sophia observa tudo de onde está. Beatrice se aproxima e estende os braços para
mim com seus olhos carregados de lágrimas e dor. — Agora, mais do que nunca,
temos que nos mantermos unidos. — Olha para Alexia, depois para Max. — É
hora de passarmos uma borracha sobre o passado e tentar ao menos vivermos
felizes como antes.
— Alexia, Max, eu e você. Temos um ao outro. — E mais uma vez, ela não
deixa sua soberba de lado. Não menciona em nenhum momento o nome de
Sophia. Mesmo que ela não viesse a se tornar minha futura esposa, é filha de
Harry tanto quanto os outros.
— Isso mesmo, meu irmão! Vamos esquecer tudo de ruim que já passamos e nos
unir novamente. Perdoe a nossa mãe, por nossa família. — Alexia, com seus
olhos avermelhados de tanto chorar, argumenta em favor à megera. Pobre
Alexia, logo saberá que tipo de mulher se esconde sob essa casca de madeira
podre.
Toca meu rosto e sorri. Tempos atrás, esse sorriso era algo muito valioso para
mim, hoje, porém, ele não me diz nada, pelo contrário, revela o quanto uma
mulher pode ser má, astuta e vingativa.
Nunca fui homem de duas caras, mas se quero ajudar Harry terei que abdicar de
certos valores e jogar conforme as cartas chegam em minhas mãos e é
exatamente isso que faço agora, jogo com Beatrice. Suspiro e concluo.
— Tem razão! Somos uma família e só temos uns aos outros. Vamos esquecer
tudo e vivermos em paz! — Não consigo olhar na direção de Sophia. Sei que ela
deve estar me achando maluco ou até quem sabe um fraco. Beatrice se joga em
meus braços e me abraça como nos velhos tempos.
— Sean, meu menino, sabia que você não iria me desprezar. Eu o amo tanto!
Sempre cuidei de você! Dou a minha vida pela sua, meu querido!
— Acho que era isso que Harry iria querer, não é mesmo? Nossa família unida!
— Encaro-a e não vejo nem um indício de arrependimento ou dor pelo que fez.
Ela é um monstro, a pior pessoa que já me deparei. Não sei como fui gerado por
alguém desse nível. E pegando a todos de surpresa, caminha até Sophia que fica
imóvel ao ouvir as palavras de "minha sincera mãe ".
— Minha querida, isso também inclui você! Sei que não começamos com o pé
direito e estou em dívidas com você pelo mal que lhe causei, mas há situações
que exigem que retrocedamos e eis-me aqui para lhe pedir humildes desculpas
por tudo. — Minha noiva me olha e depois encara Beatrice. Conheço Sophia o
bastante e sei que aceitará essas desculpas para me agradar. Beatrice lhe dá um
abraço fervoroso. Ah! Minha querida, isso terá um fim, prometo a você! —
Tento expressar o que sinto através dos meus olhos, mas estando surpresa Sophia
não enxerga nada através deles.
Mudo o foco da conversa.
— Alguma novidade, Max? — Dirijo a pergunta a ele pois acaba de atender a
um telefonema.
— Não. Era a assessoria de imprensa. Estamos cuidando de tudo o que será
divulgado.
— Faz muito bem! — Imagino quando souberem a verdade! A imprensa vai
ficar de boca aberta com a verdadeira história sobre o desaparecimento de Harry
Mackenzie. Meu pai deve ter pedras na cabeça ao invés do cérebro, espero que
realmente saiba o que está fazendo.
Max volta a se sentar e segura a mão de Danielly. Aidan se aproxima e me
pergunta se preciso de alguma coisa. Não está me oferecendo seus serviços e sim
seus préstimos como amigo.
— Não, obrigado, meu amigo! — Dou-lhe um tapa nas costas em sinal de
agradecimento.
Agora, a hora mais difícil. Encarar Sophia.
— Minha querida...
— Não precisa me explicar nada, meu querido. Afinal de contas, ela é sua mãe e
sabia que esse dia iria chegar. Ela o ama e você também, o que é natural.
Beatrice sempre o manteve acima de tudo. Só não me peça para adorá-la, pois
aquele abraço de urso não me convenceu. — Essa é a mulher que amo! Adoro
sua honestidade.
Beatrice se aproxima de nós e interrompe nossa conversa.
— Meus queridos, não quero parecer intransigente e muito menos contrária ao
relacionamento de vocês, mas acho que o momento exige que cancelem a data
de seu casamento. Ainda não sabemos quanto tempo irá levar para encontrarem
o corpo de Harry, porém, ao encontra-lo teremos muito o que fazer. Do contrário,
faremos uma solenidade simbólica.
— Mãe... — Argumento.
—Sua mãe tem razão, Sean. Um casamento não cairia bem nesse momento. E o
mais importante é que estamos juntos, afinal. — Um pouco de sarcasmo dirigido
à Beatrice não faz mal a ninguém na voz grave de minha noiva.
— Viu, meu filho? Nós mulheres, somos mais racionais, às vezes, não é Sophia?
— Em absoluto! — Contesto, veemente. — Sophia e eu nos casaremos
conforme o combinado e disso não abro mão. Se Harry estivesse aqui,
concordaria comigo. Com ou sem corpo, meu casamento não será adiado, está
decidido. — Aperto forte a mão de Sophia para impedir que ela abra a boca para
me contestar.
Beatrice se retira, um tanto contrariada, mas devido aos fatos, aceita de bom
grado a minha decisão. Max pede licença e leva Dani para casa. Alexia e Aidan
vão passar o restante da noite aqui mesmo. Pedem licença e se recolhem para o
quarto de minha irmã. Se fosse em outros tempos, jamais aceitaria tal situação.
Meu amigo de farra dormindo com minha irmã? Porém sei que ele a ama e isso
me tranquiliza, a situação agora é outra.
Sophia deve estar confusa. Primeiro perdoo minha mãe, depois me mostro
totalmente insensível ao desaparecimento do corpo de Harry. Sentada no sofá,
permanece em silêncio. Estendo a minha mão a ela.
— Vamos, irei leva-la para casa! — Confiro as horas e conforme combinei
anteriormente, Barney irá me levar até Harry. Não posso me atrasar. — Tenho
um compromisso inadiável, meu amor!
— Compromisso à essa hora? — Me inquire com seu olhar frio.
— Sim.
— Não querendo ser chata, posso saber que tipo de compromisso pode ser
resolvido em plena madrugada de domingo? Acho também que no momento,
não há assunto mais importante do que o desaparecimento de Harry.
— Negócios importantes que não podem esperar e tem a ver com meu pai. São
coisas ligadas a ele. — Mais um pouco e acabo contando tudo a ela. Contrariada
e de cara amarrada, saímos da mansão. Tento abraça-la e ela se afasta. Ao
chegarmos perto de meu carro, senta-se no capô e cruza os braços, ao tentar me
aproximar, sai e abre a porta, batendo-a com muita força.
Ah, como Sophia é difícil!
Entro no carro e dou a partida. Abordo outros assuntos comum a nossos
interesses.
— Sophia, preciso de seus documentos. Aquela escola em que você dará aulas
na capital, entrou em contato comigo e me pediram sua documentação para
acertarem os últimos detalhes. Suas aulas começarão depois que voltarmos da
nossa lua-de-mel. Dará aulas no período da tarde e à noite será somente minha.
— Deposito minha mão direita em seu joelho, ela retira-a no mesmo instante.
— Muito bem, Sean Mackenzie! Chega de teatro! Pode enganar meio mundo,
mas a mim não. O que realmente está acontecendo? — Nem se importou com
meu charme para despistar a conversa, também, escolhi uma ex ladra, esperta
como a raposa de Vicenzo, como mulher, o que mais eu esperava?
— Não tenho ideia do que está falando!
— Ah, não?! Irá negar que não está havendo nada? — Cruza os braços e não dá
uma palavra até que paro o carro em frente ao seu apartamento.
— Sabe guardar um segredo? — Tento, mais uma vez, distrai-la em vão.
— Piada velha, meu querido! — Abre a porta do carro e antes que ela saia, a
impeço. Não posso e não quero esconder nada de Sophia.
— Está bem, Sophia, vou lhe contar o que está acontecendo. — Sua boca se
curva num sorriso e ela se atira em meus braços e me beija apaixonadamente.
— Tinha certeza de que não me deixaria fora dessa — esfrega seu nariz no meu.
— Diga logo, antes que eu morra de curiosidade.
— Já que insiste! Farei melhor! — Ligo o carro e a levo comigo para meu
encontro às escondidas com Harry Mackenzie.
No caminho, conto tudo o que sei.
— Nossa e você irá ajudar seu pai nesse plano maluco?
— Irei não! Já o estou ajudando. Aquela encenação com minha mãe faz parte do
plano. — Ela solta uma gargalhada que ecoa pelo interior do veículo.
— Meu amor, isso será muito divertido, pode contar comigo!
— Pensando bem, acho que irei precisar de seus serviços.
Por Wallace — segunda-feira, pela manhã
Com a cópia das fitas de segurança da festa dos Mackenzie e mais as gravações
telefônicas do celular de Beatrice, o quebra-cabeça começa a se encaixar. Volto a
fita pela terceira vez e vejo quando Leon chega ao salão. Beatrice e ele trocam
olhares comprometedores e em seguida, ela desaparece do meio das pessoas.
Será que mantinham um caso secreto? Agora, para piorar a situação, o marido
está desaparecido. Em minha última conversa com a madame, consegui, sem que
ela percebesse, arrancar um fio de seus lindos cabelos. Espero que a perícia não
demore para compará-lo com o já existente. Não vejo a hora de enquadrar a falsa
madame, que para mim não passa de uma cachorra de grife!!
Harry, o fantasma nada camarada!
Por Harry...
Enquanto aguardamos a chegada de Sean, Barney me conta um pouco sobre sua
pacata vida e vários outros assuntos. Em meu seleto ciclo de amigos, nunca
encontrei alguém tão aberto e sincero a ponto de se abrir comigo como se me
conhecesse há anos. Este homem me recebeu em sua casa da maneira mais gentil
e o mais nobre, arriscou sua vida em uma tempestade em alto mar para me
salvar. Quero e irei recompensá-lo, afinal se não fosse por ele, à essa hora,
estaria morto.
Sentamos na varanda de sua pequena casa e ao longe consigo ver as luzes de
Nova Iorque. Barney me serve a sua cerveja e fala com orgulho de seus dois
filhos que pretendem ingressar na Universidade. Descobri, pelo modo como ele
fala dos filhos o quanto temos algo em comum. Seus olhos brilham ao falar deles
e seu sorriso sincero se mostra a cada referência que faz a cada um. Sua mulher,
Jessy pouco fala, mas se mostrou uma mulher sincera e de gostos muito simples.
Vejo quando o carro de Sean se aproxima e, ao estacioná-lo, noto que não veio
sozinho. Sophia o acompanha. Sean desce do carro e gentilmente abre a porta
para que ela desça. É claro que os dois formam um belo casal e quem os vê não
deixa de notar o quanto estão felizes e completamente apaixonados.
Segura a mão de Sophia e os dois caminham em minha direção. Não sei
descrever a emoção que senti ao ver nos olhos dos dois a alegria em me
reencontrar com vida. Os olhos de Sean brilham ainda mais e quando alcança a
varanda, me puxa para um abraço muito apertado que confirma o que seus olhos
anunciavam.
— Pai, estou muito feliz por estar vivo! — Olha para Barney e lhe estende a mão
amigavelmente. Em seguida, é a vez de Sophia. Ela me abraça e meu mais novo
amigo vai buscar duas cadeiras para que ela e Sean se sentem.
— Também estou muito feliz em poder vê-los novamente! — Dizendo isso,
conto a eles como consegui sobreviver à tentativa de assassinato de minha
própria esposa. — Beatrice bateu em minha cabeça e isso me deixou atordoado
me fazendo cair ao mar, porém o choque com a água fria me fez despertar e a
primeira coisa que fiz foi ficar boiando de bruços para que sua mãe acreditasse
que realmente estava morto, do contrário, tenho a certeza de que ela não
hesitaria uma segunda tentativa usando uma arma para me eliminar de vez.
Vendo que meu corpo submergia, ela se deu por satisfeita e entrou no iate, então
me afastei o mais que pude aproveitando a má visibilidade devido a tempestade.
— Aponto para meu salvador. — E foi a esse homem que devo todo o mérito por
estar aqui falando com vocês. — Bato nas costas de Barney que fica
constrangido por tanta gratidão.
— E agora, papai? O que pretende fazer? — Sean pergunta.
— Beatrice não pode continuar impune, meu filho. — Falo, com certeza na voz.
— Ela tentou me matar porque descobri que ela trocou a minha medicação, ou
seja, se eu fosse mesmo um paciente com câncer em fase terminal a essa hora, já
teria morrido há muito tempo.
— Que absurdo! Minha mãe enlouqueceu, só pode! — Sean se mostra
inconformado com as coisas que vem descobrindo da mulher que sempre
admirou.
— Ainda não, Sean, mas a partir de hoje, irá ficar!
— Se eu não tivesse recebido sua ligação, a teria consolado pela grande mentira
que ela contou à polícia. Tenho pena de Alexia e Max, mal sabem eles o que está
realmente ocorrendo. — Rebate meu filho.
— Quando ela se deu conta de que estava encurralada, resolveu se livrar de mim
e criar essa história maluca de assalto. Por enquanto, deixe-a pensar que estou
morto. O testamento, segundo as leis, não poderá ser aberto de imediato, se é o
que ela tem em mente. Há um prazo estabelecido. Portanto, ela não poderá abri-
lo no momento e mesmo que o fizesse daria com os burros n'água, pois a
deserdei por motivos mais que suficientes assim, ela não ficará com um centavo!
— Aceitam uma cerveja? — Barney pergunta a meu filho e à Sophia. Eles
recusam e ele adentra sua casa e volta com mais uma lata. Senta-se e ouve tudo
atentamente.
Continuo a falar.
— O que quero é dar uma lição em Beatrice antes de colocá-la atrás das grades
onde é o seu devido lugar.
— Sabe que não concordo com essa sua ideia. — Sean me interrompe. — Na
minha opinião, deveria aparecer e fazer o que é certo. — Sean e seu
"politicamente correto" em modo on.
— Vamos brincar um pouquinho, que tal? — Pisco para Sophia, que sorri em
resposta.
— Brincar? Acha que é hora para isso? — Sean não concorda mesmo comigo.
— Quero assombrá-la e fazer com que perca totalmente a estrutura e conto com
a ajuda de vocês! — Olho para Sophia e vejo que está em meu favor.
—Tem certeza disso, Harry? — Quando Sean me chama pelo nome é porque não
entramos em um acordo plausível.
— Amor, não perderia isso por nada! — Sophia o encara de modo travesso e ele
suspira, resignado. — Adorarei ajuda-lo, Harry, um pouco de travessura não fará
mal a ninguém.
— Está bem, vocês me convenceram! — Finalmente, ele muda de ideia e sorri.
— O que vamos fazer? — Sophia abre um sorriso maldoso e completa. — Tenho
uma excelente ideia e faço questão de executá-la, claro, se acaso concordarem.
— Conta sua ideia e Sean a olha de modo divertido.
— Não imaginava o quanto você pode ser perigosa, Sophia! Irei me lembrar
disso quando o padre perguntar se aceito me casar com você!
— Ainda há tempo, pense bem! — Ela responde, com os olhos brilhantes.
— Pois é, meu filho! Lembre-se que nas veias de sua noiva corre o sangue do
velho e teimoso Harry aqui.
Ela solta sua risada tão natural que me deixa muito feliz. Depois de tudo que
passamos, Sophia e eu encontramos um caminho para a nossa relação. E depois
de relatar todas as suas ideias, bato palmas para cada uma delas.
Minha filha é mesmo uma gênia e muito corajosa!
Por Sophia
— Alguma dúvida? —Arqueio as sobrancelhas, esperando uma resposta.
— Não, de minha parte, entendi tudo perfeitamente! — Diz Sean. — Só uma
coisa, quando faremos isso?
— Quero que comecem amanhã! — Harry fala. — Não daremos trégua e muito
menos tempo à Beatrice.
— Bem, se tudo já está acertado, acho melhor irmos para casa. — Sean segura
minha mão.
— Vamos. — Concordo, e antes de nos despedirmos, Sean pergunta ao pai:
— Vai ficar mesmo aqui? Não quer ir para um outro lugar?
— Não, meu filho! Barney me ofereceu sua hospitalidade e prefiro me manter o
mais afastado possível, aqui nesse lugar estou muito bem escondido. — Harry
aperta o ombro de Sean. — Ah, quero que me faça um favor!
— Sim! Diga!
— Traga-me roupas novas! Nada de pegar coisas em minha casa, compre
algumas peças para mim e as traga amanhã sem falta!
— Tudo bem, cuidarei disso! — Sean assente com a cabeça.
Logo depois, Sean me deixa em casa e, conforme combinamos, durante esses
dias, ele vai dormir na mansão para que Beatrice fique ainda mais segura de sua
armação. Ter o filho querido ao seu lado em tempo integral, deixara a bruxa mais
aliviada.
Em meu quarto, deito-me, e abraçada ao meu travesseiro, repasso mentalmente
todo meu plano para deixar aquela maluca mais maluca ainda.
Ah, Beatrice, não vejo a hora de ver a sua cara!
[...]
Acordo ao som de Angelina em meu quarto.
— Acorde, sua preguiçosa. A moça do cerimonial está na sala e diz que precisa
falar com você.
— Havia me esquecido completamente desse detalhe! Também, pudera, tanta
coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Sento-me na cama e tento colocar meu cérebro para funcionar.
— Me dê alguns minutos, sirva a ela um café.
Angelina me olha torto e completa:
— Por acaso, quer ensinar o pai-nosso para o vigário? Já lhe oferecei café e
Vicenzo está na sala lhe fazendo companhia.
Saio da cama e abraço minha fofa por trás. Dou—lhe um beijo em sua bochecha
macia, fazendo—a sorrir. A seguir, caminho para o chuveiro. Ao tirar minha
camisola, Angelina me olha de um modo estranho.
— Sophia, quando foi que menstruou pela última vez?
Viro-me para ela e não consegui captar até onde quer chegar com essa pergunta.
— Por que? — Abro o chuveiro. Ela ainda permanece dentro do banheiro. —
Não estou entendendo o porquê dessa sua pergunta!
— Vai me responder ou não?
E é então que me dou conta de que meu ciclo menstrual está atrasado. Pior que
isso, descubro o motivo desse atraso. Depois que Sean e eu nos separamos, parei
com as pílulas, e ao reatarmos, me esqueci completamente delas.
Coloco a mão na boca e a encaro.
— Fofa, acha que...
— Se eu acho? — Solta uma risada de estremecer os azulejos do banheiro. Não
acho, tenho certeza! Olhe para o seu corpo! Está mais cheinha!
— Será? — Coloco as mãos em meu ventre. Ainda custo acreditar que possa
estar grávida.
— Minha querida, se tem dúvidas, faça um teste! Mas pode se considerar uma
futura mamãe. — Antes de sair do banheiro, ainda diz. — Vicenzo vai amar ser
avô!
Me deixa sozinha e começo a absorver a novidade. Olho com mais atenção para
meu corpo e, realmente, muita coisa mudou por aqui. O que será que Sean vai
achar ao saber que será pai? Ficará feliz? Ou não?
Isso me deixa apreensiva. Não tínhamos planos para um bebê no momento, mas
confesso que a ideia de ser mãe sempre me agradou e muito. E se isso for
mesmo verdade, quero dar a essa criança todo o amor que não recebi ao nascer.
Pensando nisso, a imagem de Marcella vem em minha mente. Ela nunca mais
deu notícias, e eu também não posso dizer que sinto sua falta.
Depois de várias reflexões no banheiro, tomo meu banho e me troco. Sarah não
tem o dia todo para me esperar.
Sean me liga, minutos antes e combinamos de almoçarmos juntos.
Ao chegar na sala, me deparo com uma cena inusitada. Vicenzo é todo sorrisos
para Sarah. Impressão minha ou o galanteador italiano surge nesse ambiente?
Ele fica sério ao me ver entrar e se despede rapidamente nos deixando a sós. Mas
ele não pense que esse assunto ficará assim! Quero saber mais sobre essa
história!
Com muita eficiência, Sarah repassa alguns detalhes que haviam ficado
pendentes a respeito da festa de meu casamento. Uma hora mais tarde, ela vai
embora e eu corro até uma farmácia próxima de minha casa para comprar um
teste de gravidez.
A cor azul na etiqueta confirma. Serei mãe. Como o pai desse bebê irá receber a
notícia?
Na cozinha, Angelina lava alguns legumes e seu olhar é como um raio x em meu
semblante.
— A fofa aqui estava certa, não é? — Lava um prato e o leva ao escorredor.
— Sim, estou grávida, Angelina! — Digo sem assimilar muito bem a notícia.
Num sobressalto, ela joga o que tinha em mãos dentro da pia e pula em cima de
mim.
— Oh, que alegria, minha menina! Você será mamãe!
A recrimino pela algazarra.
— Fale baixo, sua doida! Ainda não contei ao meu pai! Como será que ele vai
reagir?
— Ah, sua boba! Vicenzo vai amar a ideia! Não se preocupe com isso!
Pego um copo com água e suspiro.
— Vou sair, almoçar com Sean! Tenho que contar a ele, fofa, depois, falo com
papai!
— Está bem, bom almoço!
— Obrigada.
Por Wallace — Segunda-feira ao meio-dia
Então, Beatrice Mackenzie é a dona desse lindo fio de cabelo. A comparação das
amostras comprovou o que eu já suspeitava. Agora, é hora de pegar essa
assassina! Ela não perde por esperar! Quero ver o que ela irá alegar.
Nesse momento, meu telefone toca e uma voz do outro lado me deixa surpreso.
Minutos após, Harry Mackenzie desliga o telefone, e eu fico fali, boquiaberto.
Ele não era dado como morto? Não estava desaparecido? Pelo pouco que me
disse ao telefone, Harry tem provas mais do que contundentes para colocar a
esposa na cadeia. E para isso, pede que eu o encontre num determinado local.
Bem, vamos ver o que esse homem tem a me dizer.
Por Sophia
No restaurante, inquieta e batendo a sola dos pés embaixo da mesa sem parar,
penso na maneira mais suave de dar a notícia a ele. Mal toquei na comida e falei
muito pouco durante à sobremesa.
— Muito bem, Srta. Sophia Salvatore e futura Sra. Mackenzie, agora é minha
vez! Chega de me esconder o que está afligindo você! Vamos, o que está
havendo? — Cruza os dedos sobre a mesa e bufa discretamente.
— Sean... — Não sei como dar essa notícia a ele. — Estamos com um problema.
— Problema? — Franze a testa e nesse momento, o garçom traz seu café. Bebe o
líquido vagarosamente, sem tirar seus olhos de minha direção. — Diga, qual
seria esse problema?
— É que depois que reatamos, eu... — Bebo água para umedecer meus lábios
que de repente, se tornaram ressecados devido ao meu nervosismo.
— Você o que...? Não pode ser direta como sempre?
— Não estava tomando pílula e ...
A mudança em seu semblante é espantosa. Seus olhos mudam de apreensivos
para extremamente alegres.
— Você está querendo me dizer que vai me dar um filho? Esse seria o
problema?
— Sim, eu...
Segura a minha mão e a aperta.
— Isso não é um problema, e sim, a melhor notícia que recebo nos últimos dias.
Saber que espera um filho nosso é maravilhoso!
Um alívio imediato e mais que satisfatório toma conta de mim.
— Tive medo de que não ficasse feliz.
— Então, é porque não me conhece! — Beija minha mão e aquele nervosismo
todo se vai como uma chuva passageira. — Serei o marido e melhor pai do
mundo!
— Eu te amo, Sean! — Estou sorrindo feito uma boba.
— Eu a amo mais, sempre! Se soubesse disso antes, teria pedido champanhe
para comemorarmos!
— Teremos muito tempo para isso!
Momentos depois, saímos do restaurante e nossa felicidade é visível a quem quer
que passe por nós. Durante toda a tarde, ficamos em minha casa e com a ajuda
de Lorenzo que se encontra de férias do trabalho, arrumamos todos os
brinquedinhos necessários para logo mais. O assunto de minha gravidez ficou
guardado para uma ocasião mais especial, Sean quer que contemos ao meu pai
de modo mais solene e acabo concordando.
Quando a noite cai...
— Tem certeza de que quer ajudar Harry nessa ideia maluca? — Pergunta ao
entrar no portão da residência de seus pais.
— Mas é claro! Não vejo a hora de ver a cara da sua mãe! Às vezes, acho que
você foi trocado na maternidade. Ela não poderia ter gerado alguém tão diferente
dela!
— Tem razão, até eu cheguei a pensar a mesma coisa.
E chega a hora de executarmos nosso plano.
Beatrice nos recebe muito bem. Muito cordial e sorridente como sempre, ela
nem imagina o que a aguarda. Dentro de minha bolsa, alguns presentinhos lindos
que farão a bruxa gritar em seu quarto.
Jantamos em um ambiente tranquilo e a megera distribuiu gentilezas a todos à
mesa.
Passamos para a sala de café e me retiro pedindo licença a todos alegando que
vou ao banheiro.
Chegou minha hora!
Entro no quarto de Beatrice e coloco todos os pequenos explosivos feitos por
Lorenzo. Meu irmão é um mestre nessa arte. Em três minutos, executo meu
trabalho e volto à sala para me juntar a Sean. Deixo o controle dos dispositivos
com ele e é uma pena que não possa ficar para assistir a cena da maldita
levando aquele susto.
Por Beatrice

Todos já se foram.
Sean levou Sophia para casa e voltou para passar a noite em seu antigo quarto.
Ele tem se mostrado o filho devotado que sempre foi. Em minha enorme cama,
penso no que farei para destruir, de uma vez por todas,
aquela mulherzinha chamada Sophia. Se ela acha que irá se tornar a esposa de
meu filho, está muito enganada! Nem que para isso eu tenha que eliminá-la com
minhas próprias mãos. Elas já estão sujas de sangue e mais um, menos um, não
fará a menor diferença.
Fecho meus olhos e tento relaxar. Terei muitas coisas para cuidar agora que
praticamente sou viúva de Harry. Amanhã, bem cedo, irei até meus advogados e
verei o que é preciso fazer para abrir o testamento daquele idiota. Enquanto isso,
torço para que algum tubarão esfomeado encontre o seu corpo e o devore
todinho.
Nesse momento, todos os meus quadros impressionistas que ficam na parede
lateral de meu quarto começam a cair, um após o outro! Levo um tremendo
susto. Me levanto da cama e confiro o que pode ter causado tal acidente.
A seguir, outro susto... um vaso de porcelana em um aparador despenca ao chão.
A luz do abajur começa a piscar. Acendendo e apagando. — Não sou uma
mulher que se assusta com facilidade, mas confesso que esse tipo de coisa me
deixa assustada. Ao me virar, ouço uma voz vinda não sei de onde e isso me
deixa petrificada de medo!
Beatrice, você não irá escapaaaaarrrrrrr!!
— A voz de Harry! Mas como?!
Grito acordando a casa toda. Me jogo na cama, tapando os ouvidos e mais alguns
objetos ainda caem sem parar.
— NÃO!! Você está morto!! Fique longe de mim! Não se atreva a chegar perto
de mim!!! — Grito como uma desequilibrada e tento me concentrar que
fantasmas não existem.
Suando frio, ainda ouço outros objetos caindo dentro de meu closet.
Sean adentra o quarto e me encontra em posição fetal, agarrada ao meu
travesseiro, tremendo dos pés à cabeça.
— Mamãe, o que houve?!
— Seu pai... — Aponto para as paredes e meus olhos permanecem cobertos de
medo...
Enlouquecendo a megera!
Por Sean — horas atrás
— É mesmo uma pena que eu não possa ver a cara da toda poderosa Beatrice
Mackenzie, ao ver aqueles objetos caindo!! — Paro o carro na calçada e o olhar
divertido de minha futura esposa acaba me fazendo rir.
— Sabe o que é realmente uma pena? — Me aproximo de seu corpo e a prendo
em meus braços.
— Não faço ideia, meu senador! — Sua boca encosta na minha e suas mãos
deslizam entre meus cabelos.
— Não podermos passar a noite juntos! — Me aproximo de sua boca, roçando
meus lábios nos seus. — Gostaria de comemorar a sua gravidez! — Deposito
minha mão em sua barriga e ela sorri. — Imagino sua barriga daqui a alguns
meses, será a mãe mais linda desse mundo! — Busco seus lábios macios e em
seguida, mordo de leve o canto de sua boca. Sophia deixa escapar um gemido,
deixando meu corpo louco por ela. — Sua língua me provoca e aprofundo mais
nosso beijo.
Quando nos afastamos, estamos sem ar.
— Eu o amo tanto, Sean, como jamais imaginei. — Olha diretamente em meus
olhos e eles refletem tudo o que sinto.
Amo, adoro, venero, respiro Sophia.
— Eu a amo e não há nada nesse mundo que me separe de você, Sophia! Vamos
ser muito felizes juntos.
— Já somos, felizes, meu amor! — Ficamos mais alguns minutos no carro e ela
me convida para descer.
— Não, meu amor, já é tarde. — Olho em meu relógio. — Não quero parecer
inconveniente aos olhos de seu pai. — Faço uma pausa e beijo sua mão. — Não
se esqueça que temos que contar a ele sobre o nosso bebê. Também quero contar
aos meus irmãos. Que acha se marcarmos um jantar e assim diremos a todos de
uma vez?
— Acho uma excelente ideia!
— Sophia, outra coisa, essa semana voltarei ao congresso, as minhas férias
acabaram. Vou sentir muito a sua falta!
— Não poderemos nos ver todos os dias, ah que pena!! — Diz, enquanto arruma
o nó de minha gravata.
— Também sentirei a sua, porém depois de casados, você irá comigo para a
capital, portanto logo não ficaremos mais longe um do outro! Em menos de um
mês, você será a minha esposa!
— Não vejo a hora de me tornar a Sra. Mackenzie! — Olho para a janela do
apartamento de Sophia e é a quinta vez que vejo a sombra de Vicenzo na janela.
Ele é mesmo uma figura!
— Meu amor, agora tenho que ir. — Suspiro e me afasto de seu corpo. — Antes
que seu pai venha lhe buscar, ele não para de nos observar da janela! — Sophia
olha na direção de seu apartamento e constata com seus próprios olhos o que
acabei de dizer.
— Acho que ele está desconfiado de que ando escondendo algo dele. E também
está preocupado com toda essa história do desaparecimento e surgimento de seu
pai. — Abraça-me e suas unhas deslizam por meu tórax e mesmo através do
tecido sinto seu desejo ali, todo entregue a mim para me levar à loucura como só
ela sabe fazer.
Sua boca atrevida esmaga a minha e sua língua quente explora cada canto de
minha boca, sem me conter, gemo e ela se afasta de repente. Seus olhos mesmo
no escuro brilham de desejo, desejo por mim.
— Melhor você ir andando. — Sussurra em meu ouvido de maneira tão sexy
como quem não tem certeza do que acabou de dizer, a seguir minha mão invade
sua blusa e sinto seu mamilo intumescido ao meu toque. — Não podemos ficar
no meio da rua!
— Ninguém vê nada, o vidro é escuro, esqueceu-se? — Mordo o lóbulo de sua
orelha e a faço gemer quando minha língua brinca com sua orelha. — Se não
tivesse que ir, arrancaria toda a sua roupa e a sentaria em meu colo e
transaríamos aqui, no banco desse carro...
— Hummm... Que delícia... —Para me deixar mais excitado ainda ela desliza
sua mão por minha ereção e a aperta forte.
— Se não quer ir presa por atentado ao pudor e virar manchete no país todo,
sugiro que tire essa mão daí!! — Sorri maliciosamente e para.
— Tem razão, agora não podemos, quem sabe... em uma outra ocasião?
— Quem sabe?? Não gosto de quebrar o nosso clima, mas é melhor ir andando.
Tenho muito a fazer ainda hoje.
— Por favor, me ligue e conte tudo, do contrário, não conseguirei dormir.
— Pode deixar, mulher maldosa! — Beijo seu nariz e depois seus lábios num
beijo leve. Sophia abre a porta do carro e antes de descer, comenta.
— Quero ver se o que ela disse durante o jantar é mesmo verídico! Fantasmas
não existem! Eu tentei argumentar, ela me interrompeu, não é? — Fora do carro,
joga-me um beijo e sai em direção à porta que dá acesso à sua casa. Com o carro
ligado, fico olhando-a até que ela entre.
Essa linda, inteligente, carinhosa, generosa mulher me ama! Não poderia ser
mais feliz no momento. Abro o vidro do carro e jogo mais um beijo à minha
amada.
Em casa, ao entrar pela sala principal noto que a casa parece tão vazia e solitária.
A verdadeira essência de família é inexistente aqui. Só há lindos móveis e
objetos de decoração e mais nada do que isso.
Minha família será diferente. Sophia e eu construiremos um lar verdadeiro e sem
máculas do passado. Subo para meu quarto e vejo pelo vão da porta que Alexia
ainda está acordada. Bato de leve e entro devagar.
Encontro minha irmã sentada, abraçada aos joelhos, com uma foto de Harry em
sua frente. Suas lágrimas caem e ao me ver se vira para mim. Ela está sofrendo
pela falta de nosso pai e não posso continuar a ser um egoísta e ver a minha irmã
que tanto amo, sofrendo por algo desnecessário.
— Sean... Nunca mais o verei e sinto tanto a sua falta! — Me sento ao seu lado.
— Nós já brigamos tanto, batemos de frente um com o outro, mas sabia... —
Soluça e tem dificuldades para continuar. A abraço e aconchego seu corpo junto
ao meu beijando o alto de sua cabeça. — Sabia o quanto ele me amava, o quanto
queria o meu bem. E agora? O que vamos fazer sem ele, Sean? — Suas lágrimas
molham meu peito e como se voltasse no tempo, ergo seu rosto e a encaro. Era a
mim que Alexia recorria quando algo não estava bem. Sempre depositou sua
confiança em mim e eu ajudava sempre.
— Alexia, não chore! Por favor, não fique assim! — Não sei o que dizer para
consolá-la.
— Não consigo, meu irmão. Dói muito. Enquanto eu me divertia em minha
festa, ele estava correndo perigo! —Aperto-a ainda mais e fecho os olhos. Harry
que me perdoe, mas não posso mentir para quem amo. Alexia precisa saber a
verdade e será agora!
— Minha querida, escute! — Afasto-a e faço com que ela me encare. — Você
confia em mim?
— Sim, claro. Sempre. — Limpa o nariz com as costas das mãos.
— Vou lhe contar um segredo como nos velhos tempos e depois falo com Max.
Vocês têm o direito de saber a verdade.
Seus olhos permanecem arregalados ao me ouvir.
E sentado em sua cama, após contar tudo o que vem acontecendo, minha irmã
sorri e se joga em meus braços como uma menina que acaba de receber seu
melhor presente.
— Ele está vivo!! Nosso pai não morreu!! — Fala alto e tapo sua boca.
— Quieta! Fale baixo! Quer que Beatrice ouça e descubra tudo?
— Ah, me desculpe! — Faz cara de criança sendo repreendida. — Estou tão
feliz! Meu velho Harry é mesmo o melhor!! Não vejo a hora de poder abraça-lo.
— Faz uma pausa. — E agora, o que pretendem fazer?
Conto a ela a maluquice de Harry e sua boca se abre num sorriso muito parecido
com alguém que conheço.
— Quero ajudar, isso será divertido! — Tento ficar sério, porém não resisto à
alegria contagiante de minha irmã.
— Que engraçado! Já ouvi isso antes vindo de minha noiva.
— Ahh, minha cunhada sabe das coisas! — Ela se levanta rapidamente e me
puxa para fora da cama.
— Onde vamos? — Pergunto.
— Ora! Não podemos deixar nosso irmão de fora dessa! Lembra—se? Todos
unidos na mesma confusão! — Seus olhos de esmeraldas reluzem de alegria.
— Eu a amo, Alexia. Sempre pode contar comigo, esteja onde estiver! — Ela
põe a mão em meu rosto e responde. — Você é muito importante para mim, meu
irmão! Também o amo muito.
Dizendo isso, saímos de seu quarto e vamos em direção ao quarto de Max. E lá,
mais emoção e companheirismo me surpreendem. Amo aos meus irmãos. Em
seu quarto, sinto o calor de uma família que se ama e mais que isso, se respeita...
[...]
Depois de acionar todos os dispositivos que Sophia me entregou, os gritos de
minha mãe são ouvidos em outro continente. Corro até ela e de acordo com
nosso plano, teremos mais surpresas reservadas para essa noite. Entro em seu
quarto e a encontro totalmente desequilibrada, olhando para todos os lados e
com muito medo, parecendo um coelho assustado e com o coração batendo
forte.
— Seu pai... — Aponta para a parede vazia, onde os quadros estavam
pendurados.
— Papai está morto!
— Eu sei... Ele quer se vingar de mim!! — Passa as mãos nervosamente pelos
cabelos. — Veio para se vingar de mim!!
Instantes depois, Alexia e Max entram em seu quarto e sem que Beatrice perceba
os dois riem pelas suas costas.
— Vingar-se? — A contrario. — Que bobagem, você deve estar muito cansada e
isso está lhe afetando seriamente! Fantasmas não existem, não é isso? — Ela não
para de olhar para a grande janela ao fundo do quarto. —E por que razão ele
faria uma coisa desse tipo? Não teve culpa alguma pela fatalidade que se abateu
sobre vocês, não é mesmo? — Seu medo continua ali. — Que tal tomar um
calmante?
— Não me deixe aqui sozinha, meu filho, por favor, estou com muito medo! —
Estende a mão para mim, tentando segurar meu braço.
— Calma, estou bem aqui!
Ouço Alexia pigarreando baixinho.
—Alexia, por favor, traga um copo de água e Max vá até o armário do banheiro
e traga o calmante de nossa mãe! — Seu corpo todo treme.
Nesse instante, ela solta outro grito estridente. Tento disfarçar e não rir, mas a
sua cara de espanto apontando para a cortina é algo inesquecível. Sei que não é
nada correto o que Harry nos propôs, porém o que ela vem fazendo é, sem
dúvidas, mil vezes pior.
— Ali, seu pai está bem ali, sorrindo para mim! Aaaah! — Max traz o calmante
e ao olhar para a cortina, tenta disfarçar a sua expressão.
A imagem de Harry usando uma roupa rasgada, toda manchada de tinta
vermelha com cara de fantasma sorrindo para Beatrice, merecia um Oscar.
— Onde? — Falamos juntos, Max e eu. Nisso, Alexia entra e se depara com essa
cena ridícula de um filme trash.
— Calma, mamãe, não há nada ali além da cortina. Ainda está em choque por
tudo que aconteceu. — Repito. — Deito-a na cama e com a ajuda de meus
irmãos, ela toma o calmante.
— É ele, vocês precisam acreditar em mim, eu o vi!!
— Mãe, tente se acalmar, papai não faria uma coisa dessas! Jamais lhe causaria
medo sem motivos! — A vez de Alexia argumentar e olhar mais uma vez para
Harry. Ele dá uma piscada para ela e sorri.
Meu pai não existe e todos nós deveríamos ser internados como a família mais
louca do mundo e a mais unida com exceção de Beatrice que mostrou ser a pior
mãe da face da Terra.
Ela não solta minhas mãos até que o remédio surte seu efeito. Ao fechar os olhos
e cair em sono profundo, Alexia corre até a cortina e se joga nos braços de nosso
pai. Max faz o mesmo e ao me aproximar deles, sou acolhido por todos.
— Vocês foram geniais, meus filhos!!
— O senhor deveria ter nos avisado antes. Quase morri de tanto chorar por um
morto—vivo. — Alexia o beija no rosto.
— Desculpem, não queria envolve-los nessa brincadeira maldosa, porém percebi
que nunca deixarão de serem minhas eternas crianças. — Beija Max e o abraça
apertado.
— E você, Sean, obrigado por me ajudar. Agora, preciso voltar para o mundo
dos fantasmas. Pela manhã, tenho algo muito importante a fazer. Sua mãe não
perde por esperar!!
Por Harry
A manhã chega trazendo a promessa de um dia muito melhor. Sentado em uma
lanchonete bem afastada da área central de Nova Iorque, totalmente disfarçado,
tomo meu café expresso e olho para o relógio na parede.
Aguardo a chegada de Wallace que chega com alguns minutos de atraso. Ele
passa pela porta e com seu faro investigativo logo me reconhece sem que eu
tenha lhe dado algum sinal. Puxa uma cadeira e se senta à minha frente.
— Bem-vindo ao mundo dos vivos! — Estala os dedos e uma garçonete loira,
meia-idade, anota o seu pedido.
Café puro.
— Obrigado, pela hospitalidade, Sr. Wallace. Confesso que ser invisível, às
vezes, é muito bom!
Ele prova o seu café e acende um cigarro.
— Serei direto ao ponto que me fez vir ao seu encontro, Sr. Mackenzie. Sua
esposa é a principal suspeita pela morte de Leon. Gravações telefônicas, imagens
captadas pela câmera de segurança do edifício de sua empresa e um fio de cabelo
encontrado com a vítima, apontam a Sra. Beatrice Mackenzie como a autora do
crime.
— Ora. Ora! Mas isso é uma ótima notícia! — Wallace me olha sem entender
absolutamente nada. Também pudera!! Que marido não questionaria e
defenderia a própria esposa?
— O senhor me ouviu bem? Disse que... — O interrompo.
— Ouvi perfeitamente o que disse e irá ficar mais espantado ainda com o que
tenho para lhe dizer.
Após contar em detalhes tudo sobre minha linda e perigosa mulher. Wallace
tenta se manter centrado, mas posso sentir que tudo o que acabou de ouvir,
deixou-o abalado.
— Harry, em tantos anos de profissão, nunca me deparei com um caso desses.
Sua mulher sofre de alguma psicopatia. Não há outra explicação para tamanha
frieza.
— Psicopata ou não, quero-a atrás das grades.
— Sim, com tudo o que me relatou mais as provas inquestionáveis que a polícia
coletou, ela não terá saída. Será presa!
— Mas... — Coço minha barba e o encaro. — Gostaria de lhe pedir um favor...
— Conto a ele o meu plano e a seguir. Faz sinal negativo com a cabeça.
— Como um policial, não posso permitir que brinque dessa maneira com um
assunto tão sério, Sr. Mackenzie!!
Sabia o tempo todo que Wallace não concordaria com a minha ideia e como
nunca joguei para perder, um bom jogador sempre tem alguma carta na manga. E
usando a minha neste momento, o celular do investigador toca e ao atender, leva
um grande susto ao ouvir a voz do próprio Secretário Nacional de Segurança.
Acho que um pedido vindo do alto é irrecusável. Ele fala em monossílabos e
todos numa cadência de "sins”.
Ao terminar, me encara e prossegue.
— Jogo baixo, Sr. Harry! Ou melhor, jogo alto!! — Bate as cinzas de seu cigarro
em um cinzeiro de vidro. — Mas, vamos lá, o que pretende fazer antes de
prendermos sua esposa?
— Vou dizer tudo o que pretendo fazer e conto com sua ajuda, caro policial...
Voltei, minha querida!
Por Sophia
Mal dormi tamanha a minha ansiedade. A cada quinze minutos, meus olhos
pairavam no relógio do criado-mudo. Sean prometeu me ligar assim que pudesse
e, fiquei acordada até que pude ouvir a sua voz ao telefone me contando tudo.
Por várias vezes, fui acometida por ataques de risos e batidas de minhas pernas
no colchão ao imaginar minha amada sogrinha em pânico.
Logo após, Sean e eu nos despedimos e meu sono me deu adeus em definitivo e,
sem nenhum motivo aparente, simplesmente foi-se embora.
Horas depois, aqui estou com uma cara horrorosa e cansada. Ando até o
banheiro e um banho morno melhora a situação. Ao sair, enrolada na toalha, vejo
Lorenzo esparramado em minha cama.
— Bom dia, Nina! — Sorri e se senta.
— Bom dia, Lorenzo. Posso saber o que fez o senhor acordar tão cedo e invadir
meu quarto dessa maneira?
— Estava com saudade! — Sorri de modo estranho. — Temos nos falado pouco,
ultimamente!
— Ah, é verdade, isso você tem toda razão! Só um minuto! — Pego meu roupão
e me dirijo ao banheiro para me trocar. — Pronto, agora podemos conversar.
Sento-me ao seu lado e ele toca meu cabelo. Sem rodeios e muito objetivo, diz:
— Quando vai me contar que serei titio? — Minha boca se abre e não consigo
fecha-la. — Não adianta me olhar com essa cara e me perguntar como descobri!
O fato é que estou muito feliz em saber que terá um filho.
— Foi a fofa? Aquela linguaruda? — Estreito meus olhos, imaginando mil
maneiras de matar a minha fofa.
— Foi. Mas não brigue com ela, eu já tinha notado algo no ar, a única coisa que
fiz foi dar uma indireta e ela caiu em minha armadilha.
— Vou ser mãe e estou muito feliz. — O encaro, sorrindo. — Não havia lhe
contado antes, porque Sean queria algo especial. Um jantar com todos da
família. — Continuo. — Acha que papai desconfia de algo?
Lorenzo ri e suas lindas covinhas surgem, dando mais beleza a ele.
— Bem, sabemos que ele não é nada bobo, mas acho que ainda não sabe de
nada. — Alisa meus cabelos. — Nina... Minha Nina vai ser mãe!! — O azul de
seus olhos fica embaçado por uma lágrima que desponta ali. — Você merece
toda a felicidade que conseguir abraçar, minha irmã!
— Digo o mesmo a você, meu Loh querido!
— Para quando é o bebê? — Pergunta de repente. — Já foi ao médico?
— De acordo Com minhas contas... outubro. E quanto a ir ao médico, minha
primeira consulta é na semana que vem.
Ele se levanta e toma minha mão, me puxando com ele.
— Menino ou menina, quero ser o padrinho. Exijo! — Abro meu sorriso a ele e
concordo com sua exigência. — Serei o tio preferido, você vai ver!
— Disso, não tenho dúvidas.
— Vamos tomar café? — Estende sua mão para mim.
— Vou me trocar e já me junto a você.
Caminha para a porta e me joga um beijo. A seguir, vou até meu armário e
escolho um vestido estampado e cinto para combinar. Sapatos, meus brincos e
batom.
Depois do café, irei à mansão para ver de perto o estrago do fantasma de Harry.
Ao passar pelo corredor, a porta do quarto de Vicenzo está entreaberta e ao me
ver cruzando a mesma, chama-me sorrindo. Entro devagar e vejo, em cima de
sua cama, inúmeras camisas de várias tonalidades e meu pai perdido no meio
delas.
— Bom dia, minha Nina! — Beija meu rosto e completa. — Pode me ajudar? —
Diz, enquanto coloca uma camisa sobre seu corpo diante do enorme espelho.
— Claro. — Respondo. Reparo que ele está mais perfumado que de costume. —
Alguma ocasião especial?
— Digamos que sim! — Me olha todo cheio de si.
— Hummm... Deixe-me ver. — Ando até a cama e pego uma dentre as inúmeras
camisas que ali se encontram.
— Essa! — A pega de minhas mãos e repete o gesto como fez com a anterior. Só
que dessa vez, aprova minha escolha. — Obrigado, irei com essa. — Tira a que
estava usando e coloca a escolhida por mim. Minha curiosidade chega a coçar
meus vasos sanguíneos, encaro-o através do espelho e pergunto.
— Não vai me contar como se chama essa ocasião especial?
Nesse instante, fecha a cara e me arrependo de ter perguntado. Fecha o último
botão e depois sorri.
— Só lhe conto o nome da minha ocasião especial, se me contar que em breve
estarei com um filho seu em meus braços, babando feito criança a cada
movimento que essa criança fizer.
— Ahhhh, pai! — Meus olhos lacrimejam, pois, contar a ele sobre meu filho era
algo mais que especial para mim — O senhor sabia?? — Ele se vira e me abraça
muito, mas muito forte.
— Achou que poderia enganar o seu velho Vicenzo, não é?
— Não, eu ia contar. Só estava esperando o momento certo. Foi a fofa, não foi?
— Não, Angelina não me contou nada. Foram esses lindos olhos e seu jeito tão
transparente que levantaram minhas suspeitas. E também percebi que Sean
mudou muito seu jeito. Me fez lembrar como fiquei quando Constanza estava
grávida de Lorenzo. — Encosta sua testa na minha. — Serei o melhor avô que
esse bebê vai ter.
— Tenho certeza disso. — E como sempre Vicenzo com seu jeito divertido,
completa.
— Harry não será páreo para mim! — Beijo seu rosto e ele sorri.
— Você é maravilhoso, eu o amo muito!
— E você é minha linda e eterna Nina! —Olha mais uma vez no espelho e
pergunta:
— Que tal? — Chegou minha vez de mostrar que também vejo longe.
— Está um charme, como sempre! Sarah vai adorar, pode ficar sossegado. —
Ele fica vermelho como um tomate.
— Nina!! — Tenta me repreender com o olhar, mas desiste.
— Aprendi com o melhor!! — Saímos do quarto e Lorenzo nos espera para
nosso café da manhã em família.
Na mesa, durante o café, falamos sobre Harry e seu plano para se vingar de
Beatrice, mas felizmente o assunto predominante foi a chegada de mais um
membro na família. Angelina não cabe em si de alegria. Cantarolando e sorrindo
como sempre, me abraça e diz o quanto Deus é justo e maravilhoso.
Meu pai é o primeiro a sair da mesa. Pisca para mim e nos avisa que irá
demorar.
— Boa sorte! — Digo a ele.
Lorenzo que não tem noção do que estamos falando, completa. — Mesmo sem
saber, desejo-lhe boa sorte!
— Obrigado, meus filhos!!
Também me levanto a seguir e pego minha bolsa.
— Até mais tarde! — Jogo um beijo a ele e saio em direção à garagem.
Minutos depois, estou na sala de estar dos Mackenzie.
É tão estranho! Carrego o sangue de Harry, porém não me sinto um deles. Acho
que nunca me acostumarei com a ideia. Ser sua nora já me é suficiente.
Alberto, o mordomo, aparece e me pergunta se desejo um café, um suco ou algo
mais. Agradeço e digo que não. Sai da sala e analiso a sua figura saída de filmes
de Agatha Christie. Alto, cabelos brancos, rosto comprido. Polido e reservado,
nunca vi um sorriso estampado em seu rosto. Segundo Sean, trabalha na família
desde que ele nasceu e nem mesmo meu noivo o viu sorrindo. Olhando para um
dos valiosíssimos Monet pendurado sobre o aparador da lareira e nem noto
quando Alexia se aproxima e toca em meu ombro.
— Bom dia, minha cunhada! Caiu da cama?
— Não, literalmente, mas devo lhe dizer que dormi muito pouco e você? Não irá
trabalhar hoje?
Junta em meu braço e me faz sentar ao seu lado no sofá.
— Sophia, Sean me contou. — Seus olhos me sorriem. — Estou muito feliz, não
imaginava que isso poderia acontecer, ser tia tão rápido!!
— Pois é. Serei mãe!! — Acho que não iremos precisar de um jantar para
anunciar essa gravidez.
— Serei titia! Parabéns, minha amiga, cunhada e irmã! Quero que seja uma
menina linda como o exemplar original aqui! — Aponta para si.
— Pode deixar, como sua Alteza desejar! — Faço mesura com a cabeça e rimos
juntas.
— Sean não está em casa? — Liguei em seu celular e não atendeu, inquiro.
— Ainda está dormindo! Também depois da noite dos horrores de ontem, deve
estar cansado. — Pisca para mim. — Nem Beatrice acordou ainda. Max já foi
para o trabalho e eu também estou de saída, se não se importa.
— Sabe que não, minha cunhada!
Ajeita sua bolsa e se levanta.
— Até mais tarde! Sabe onde é o quarto de seu noivo, tenho certeza de que ele
irá adorar ser acordado por você!
Subo as escadas e paro em frente a terceira porta à direita. Giro devagar a
maçaneta e entro na ponta dos pés.
Através das grossas e escuras cortinas, um pequeno feixe de luz solar atravessa o
ambiente e incide sobre a cama, dando-me a privilegiada visão de Sean
dormindo de bruços, enrolado ao edredom e ainda agarrado ao travesseiro. Em
uma poltrona ao lado da cama, vejo sua camisa jogada juntamente com sua
calça. Mais dois passos em direção a ele e, meus olhos recaem sobre o criado-
mudo e ali se encontram seu relógio de pulso, carteira, seu celular e ao fundo
uma nova foto tirada dias depois que reatamos.
Permaneço por alguns instantes, ali, parada, admirando o homem que amo. Seu
cheiro está impregnado no ar e seu semblante é um misto de homem com ar de
menino. Essa aura é o que mais gosto nele. Seu rosto colado ao travesseiro e sua
boca entreaberta me dão vontade de ficar ali, totalmente absorta nessa imagem
tão perfeita, tão Sean.
Dou a volta na cama e me deito, agarro seu corpo e me aconchego nele
aspirando seu cheiro. Não resisto e digo ao seu ouvido:
— Acorde, dorminhoco!
Ele suspira e com sua voz grave e deliciosamente sonolenta, diz:
— Estou sonhando? — Me apoio em meu cotovelo e mordo de leve seu ombro
beijando seu pescoço disparo um sussurro ao seu ouvido:
— Não, não é um sonho. — Sua mão audaciosa agarra a minha e a leva à sua
ereção. Meus dentes mordem de leve seu queixo e nesse instante, se vira para
mim passando sua língua em minha boca bem devagar, num ato provocativo e
muito erótico. Umedece seus lábios e me puxa para eles em um beijo quente e
cheio de desejo.
A seguir, puxa o edredom e meu corpo cola-se ao seu. Quente, firme e louco por
mim. Sean está nu e sinto o roçar de seu membro em minha coxa. Minha mão
arranha seu peito forte e meus lábios escalam cada parte desse corpo que tanto
gosto. Ombros largos, peito definido e suas coxas musculosas que lhe dão ar de
uma imagem esculpida para meu delírio.
— Sophia... — Geme meu nome ao sentir minha boca escalando seu corpo com
minha língua e nesse momento, distribuo mordidas leves em sua barriga. Beijo
suas coxas torneadas e sua respiração fica alterada.
Suas mãos agarram meu cabelo.

— Hum... — Meu gemido de desejo escapa ao colocar seu membro duro em
minha boca.
— Ahh, assim você me tortura, Sophia... — Sussurra com sua voz grave quando
o engulo quase todo. Sinto um desejo louco ao imagina-lo todo dentro de mim,
me levando ao prazer máximo e me deixando totalmente entregue a ele.
Seus braços fortes me puxam para ele. Com rapidez, abre o zíper de meu
vestido e me deixa somente de calcinha e sutiã sobre seu corpo.
Ataca minha boca com sua língua enroscando-a à minha. Sem que eu me dê
conta, Sean tira meu sutiã, seguido de minha calcinha. Sua barba por fazer
arranha meu pescoço enquanto meus dedos se enroscam em seus cabelos à
medida que sua mão desde pelo meu ventre até chegar em meu sexo molhado.
Arfo de prazer ao sentir que seu polegar desliza sobre meu clitóris.
— Como desejo você! — Diz ao penetrar seu dedo em mim. — Como amo
você, minha Soph. — é a primeira vez que Sean me chama desse modo. Esse
simples nome, a maneira e o momento em que ele foi pronunciado abre minha
alma ainda mais para absorver esse momento tão feliz ao lado dele.
— Eu o amo muito. — Retira seu dedo de dentro de mim e me penetra bem
devagar com sua boca mordendo meus lábios. Remexo meus quadris e ele me
acompanha num ritmo lento e profundo. Suas mãos agarram minha bunda e me
puxa ainda mais para ele. Olho em seus olhos e ele me devolve seu olhar
totalmente devotado e coberto de desejo por mim.
— Quero-a para sempre, assim, comigo.
— Sou sua, sempre. — Vira meu corpo, ficando por cima de mim. Sinto seu
hálito quente sugando meu seio, no mesmo instante que suas investidas se
tornam mais exigentes. Flexiono os quadris de encontro a ele e meu orgasmo
chega, deixando meu corpo todo formigando.
— OHHH, Sean... continue... — Fica de joelhos e me puxa para ele. Com
minhas costas apoiadas por suas mãos, ele continua dentro de mim e sussurra em
meu ouvido: Adoro você gemendo assim quando goza? Sophia... — Murmura
com a voz grave, todo desejoso de meu corpo.
Mais algumas investidas e ele goza com sua boca na minha.
Minutos depois, deitada sobre seu peito, meus dedos contornam os músculos de
seu abdômen.
— Outra coisa que anotarei como regra depois de nos casarmos.
— Que regra? — Sorrio para ele.
— Jamais acordarei antes de você! Adorei ser acordado!
— Hum, pode deixar, irei acorda-lo de várias maneiras diferentes. — Paro por
um instante e completo. — E quando brigarmos, o balde de água será o seu
despertador.
— Não será necessário! — Diz, sorrindo. Aquele sorriso acompanhado de suas
sobrancelhas arqueadas que fazem parecer muito mais jovem.
— Não? Posso saber o porquê?
— Porque não iremos brigar a ponto de dormirmos sem nos falarmos, prometo.
E uma promessa minha, aliás é uma dívida, futura Sra. Mackenzie. Agora,
vamos tomar um banho. — Me afasto devagar.
— Toma café comigo? — Com um pedido assim, quem sou eu para recusar
algumas calorias a mais?
Por Beatrice
Assustada, abro os olhos de repente sem saber ao certo onde estou. Balanço a
cabeça e minha mente se ajusta em meu cérebro. Tive a pior noite de minha vida.
E aquilo não foi um pesadelo! Harry voltou do inferno para me atormentar. Mas,
se ele quer me deixar louca, serei uma louca rica antes disso. Ligo a TV e o
noticiário anuncia que toda a polícia costeira cessa-se as buscas do corpo do
bilionário Harry Mackenzie.
Está vendo, Harry? — Digo olhando no nada. — Será esquecido e com o
tempo ninguém mais irá lembrar de você, seu medíocre!!
Meu fiel mordomo entra no quarto trazendo meu café em uma bandeja. Sorri e
me cumprimenta com seu rotineiro: Bom dia, madame! — coloca com muito
cuidado a bandeja sobre meu colo e sai. No canto direito da mesma há um
pequeno envelope. Meu coração bate acelerado prenunciando o algo ruim no
conteúdo do mesmo.
Abro-o e um pequeno ramo de alfazema cai sobre minhas mãos trêmulas. Junto
do mesmo, um bilhete com recortes de revistas, escrito: Você vai pagar por
todos os seus crimes, sua assassina!
Dou o primeiro espirro e jogo o pequeno buquê ao longe. Só Harry conhecia
minha alergia à essa flor. Não pode ser!! Alguém sabe que o matei, mas quem?
Deixando meu café intacto, vou ao banheiro e vejo meu rosto todo empolado
devido ao pólen da alfazema. Maldito seja!
Nesse instante, Alberto entra e me olha assustado:
— Madame, há um homem em sua sala e é da polícia, diz que deseja lhe falar!
— Onde está Sean?
— Na sala, juntamente com sua noiva.
— Diga que estou descendo, por favor. Mesmo com toda a maquiagem não
consegui disfarçar o estrago que aquela maldita flor fez em minha linda pele.
Pareço estar com cataporas devido as pequenas bolhas em meu rosto. Ao chegar
à sala, todos me olham assustados, mas é Sophia quem resolve abrir a boca.
— O que houve com seu rosto, Beatrice?
— Algo que comi e não me caiu bem, minha querida!
Que nojo dessa fingida!!
Olho para Wallace que se levanta e deixa sua xícara sobre a mesa de centro.
— Bom dia, Sra. Mackenzie.
— Bom dia, o senhor deseja falar comigo, qual o assunto?
Com o olhar firme e direto, diz:
— A senhora está presa pela morte de Leon Welsh e pelo assassinato de seu
marido!!
Solto uma gargalhada nervosa ao ver meu filho me encarando.
— O senhor deve estar fora de si! Com que alegação ousa vir a minha casa e me
dizer um disparate dessa natureza?
— Tenho provas contundentes e um mandado de prisão. Acho melhor que a
senhora não resista!
Olho para Sean que se mantém impassível, ele não pode acreditar no que esse
homem diz.
— Sean, ligue para nosso advogado. — Manifesto-me indignada. — Não saio
daqui sr. Wallace! Não matei ninguém e se Harry estivesse aqui, me defenderia
de um absurdo como esse!
Sean não se mexe...
E de repente, como uma miragem, Harry aparece na sala.
— Voltei, minha querida, me chamou?
Ele vem ao meu encontro e tudo fica escuro...
Purgatório!
Por Beatrice
Não posso determinar por quanto tempo permaneci desacordada, mas o fato é
que ao abrir meus olhos, ele ainda estava ali!!
Harry com seu sorriso irritante e tranquilo voltou das profundezas para me
atormentar.
— A senhora está melhor? — As mãos de Sean apertam as minhas.
— Harry!! Não pode ser! — Repito a mim mesma essa frase por várias vezes e o
próprio fantasma resolve quebrar o silêncio.
— Isso é o que eu chamo de emoção!! — Me encara e posso ver a frieza em seus
olhos. Ele não está para brincadeiras e dessa vez, vai me levar para o buraco. —
Sabia que ficaria emocionada ao me ver, minha querida!
Ele não morreu! Como? Se eu vi seu corpo boiando em alto mar. Como
sobreviveu e agora se encontra em minha frente com o olhar de um jogador de
xadrez prestes a dar seu xeque mate. À essa hora, pouco me importa se matei
Leon ou tentei matar Harry. O que me deixa mais apreensiva e triste é a maneira
como os olhos de meu filho me olham. Eles já haviam perdido o brilho ao me
ver, porém, agora me encaram com pesar e muita decepção.
— Vejo que não está feliz em me ver! — Tento abrir a boca para argumentar,
mas sou interrompida por Wallace.
— Como vê, seu marido está vivo, sua mentira acabou, Sra. Mackenzie!
Nem dou atenção ao que esse estranho diz, pois, minha preocupação é outra.
Sean solta minha mão e me encara.
— Você sempre foi meu exemplo e nunca me senti tão decepcionado como
agora. — Sua voz assume um tom de tristeza assim como a falta de brilho em
seus olhos ao me encarar. — A mulher que considerava perfeita é uma assassina
mentirosa.
— Sean, meu filho, por favor, você não! Todos podem me desprezar, odiar e me
querer pelas costas, mas não você!! — Tento agarrá-lo.
Ele se afasta e abraça Sophia. Ou seja, quer me dizer com esse gesto que não se
importa mais comigo e nesse momento em que mais preciso dele, me dá as
costas.
— Achou que iria se safar, minha querida? Parece que o jogo virou, não é
mesmo? — Harry e seu cínico humor fora de hora!!
— Como eu o odeio! — Vira-se para o investigador e comenta.
— Podem leva-la, Wallace! Ela é toda sua!
— Exijo um advogado! — Berro ao ver mais dois homens entrarem na sala e me
algemarem. Meu olhar se encontra com os seus. Vejo a enorme satisfação
disfarçada de tristeza ao me ver tão humilhada, mas seu dia chegará, sua
ordinária. Não adianta fingir que está triste, Sophia! Meu mundo era perfeito
antes de você chegar e invadi-lo. Tomou-me o que eu tinha de mais sagrado, o
amor de meu filho. Transmito todo meu rancor e uma promessa velada de
vingança à Sophia.
Um dia, nos encontraremos e ela não terá ninguém para defende-la.
Encho meus pulmões de ar e Harry fala.
— Terá um advogado público, sua assassina! Ou acha que gastaria algum
centavo para defender meu próprio algoz? — Balança a cabeça negativamente e
alisa seus lábios. — Só se estivesse fora de mim, como você!
— Vamos sair daqui, Sophia, não quero ver essa cena deprimente. — Vira-se e
totalmente frio e distante, me dá Adeus. Essas são as últimas palavras de Sean.
— Seaaaaaaannnn! — Desesperada e em lágrimas tento me debater para tentar
impedi-lo de ir embora, mas sou impedida pelos policiais.
— Podem leva-la! — Wallace dá ordem como se fosse um deus. De cabeça
erguida sou escorraçada de minha própria casa, a mesma que ajudei a construir.
Do lado de fora, uma viatura me espera e o desespero toma conta de mim.
Irei para a prisão, um lugar frio, sem conforto e nunca mais sairei de lá.
— Sou inocente, Harry! Você me paga! Armou para mim! Eu te odeio!
Nesse instante, Alberto aparece e pede licença a todos e se aproxima de mim.
Ele também está triste, meu fiel Alberto! Sinto seu abraço e em meu ouvido,
sussurra: Irei visita-la o mais urgente possível, seja forte madame!!
Ao menos uma pessoa se importa comigo, isso me dá um pouco de alento. Sei
que irei precisar de toda a ajuda que vier de fora e Alberto há de servir. Antes de
ser colocada no carro, ergo meus olhos e o vejo através da cortina. Sean me olha
com tamanha tristeza que ela chega até mim como um corte profundo e
sangrento.
Não me olhe assim, meu menino! Eu te amo tanto, faço tudo por você! Só por
você!! — Sussurro e sua imagem desaparece dali. Quero chorar, não de
arrependimento, pois não sou uma mulher que cultive esse sentimento. Quero
chorar pelo sentimento de perda, pela segunda vez em minha vida, me sinto
sozinha. Não pude salvá-lo! Eu que prometi que ninguém o faria nenhum mal e,
agora me vejo impossibilitada de cuidar, proteger a quem amo.
Harry, Alberto e mais dois funcionários permanecem ali até que Wallace dá
ordem para saírem. Devagar, olho para o jardim, onde inúmeras vezes Sean
corria alegre quando menino. Tempos felizes. Ao cruzarmos o portão, lembro-
me de Alexia e Max! Não pude ao menos me despedir deles. Quando chegarem,
saberão da verdade.
Meu orgulho se sobrepõe e imagino as chacotas que virão ligadas ao meu nome.
Nome pelo qual zelei por toda a vida, o poder de minha imagem acabou. Serei
alvo das manchetes policiais. Meu nome será arrastado para a lama. Pior, irei
para uma penitenciária imunda e fria, dormirei em uma cela e cercada de pessoas
de nível totalmente inferior ao meu. Pessoas sem nenhuma classe ou distinção do
que é belo.
Ao chegar nesse ambiente deprimente e passar por todos os trâmites
necessários, sou recebida por uma mulher corpulenta, em seu crachá com letras
destacadas Norma- chefe carcerário. Recebo um horrendo e decadente
uniforme e depois de me trocar, outra mulher, mais alta e magra, me conduz um
longo corredor onde ficam as celas. As detentas me olham como se fosse algo
exótico e muitas delas dizem coisas desagradáveis aos meus ouvidos. Sem olhar
para os lados sou recolhida à uma dessas celas e ouço o estampido seco de um
velho cadeado selando minha realidade.
A agente penitenciária se afasta e fico ali, parada olhando para a cela em minha
frente, uma detenta negra e mais velha do que eu, grita para as outras:
— Meninas, vocês viram quem chegou? — Cospe ao chão e continua. — Olha
se não é a dama mais elegante de Nova Iorque? — Seus olhos me encaram com
muito rancor. — A dondoca mais nojenta e arrogante que tive o prazer de
conhecer. — Seu olhar transparece o escárnio rodeado de desprezo e satisfação.
— Não se lembra de mim Beatrice Marie?
Por Harry
Acabou! Penso assim que a viatura sai pelo portão de minha casa. Beatrice teve
o que merecia! Pagará pelos seus crimes e jamais atormentará a quem quer que
seja. Ao entrar na biblioteca, vejo Sean sentado em uma poltrona e Sophia em pé
passando as mãos em seu cabelo.
Ao erguer seu rosto, posso ver um Sean totalmente inconformado com os
acontecimentos.
Achei que, por algum momento, tenha passado por sua cabeça que tudo não
passou de um engano, uma brincadeira de mau gosto. E agora, enfrenta uma dura
realidade. Desde que descobriu não ser meu filho legítimo, sua devoção à mãe
foi desaparecendo aos poucos e logo em seguida, vem a tentativa de assassinato.
Isso tudo destruiu o que restava de amor e consideração que ele poderia nutrir
por Beatrice.
Chego a ter compaixão por ele.
Sean sempre foi um filho apegado à família e principalmente à mãe. Ela era sua
referência de conduta e caráter. Em sua visão, Beatrice era perfeita, só alterando
esse quadro com a chegada de Sophia. Nesse momento, Beatrice, possessiva e
destrutiva afastou, aos poucos, por ciúme e ambição o seu filho preferido.
Querendo exercer domínio sobre os sentimentos dele, perdeu sua confiança ao
esconder a verdade sobre seu pai biológico. E conhecendo Sean, tenho certeza de
que ele não se sente bem com tudo isso. Sempre age com seriedade em tudo o
que faz, com ética, boa conduta e o mais importante, a paz.
— Eles já a levaram? — Pergunta, se levantando da poltrona. Sophia me lança
um olhar de preocupação. Ela percebe o mesmo que eu.
— Sim, meu filho, já se foram. Alexia e Max estão vindo para cá. Mandei
chamar nossa assessoria de imprensa. Seu assessor, também. Acho que irá
precisar dos serviços de Aidan.
— Obrigado. — Passa a mão pelos cabelos, nervosamente. — Essa notícia vai
repercutir como uma bomba no país todo. Morte de Leon, sua aparição e a
culpada disso tudo: Beatrice Mackenzie!! Parece pesadelo! — Anda até a janela.
— Nunca imaginei que minha mãe fosse tão perigosa e dissimulada. Sinto
vergonha ao olhar para você, Harry.
— Não peça desculpas, meu filho. Você é diferente dela e isso não muda em
nada em nossa convivência. — Quanto ao impacto que isso irá nos causar, deixe
tudo por minha conta. Tudo irá se resolver, afinal o tempo é o melhor remédio
para tudo. Sua mãe pagará um alto preço por agir com tanta maldade. Achou que
ninguém iria descobrir seus feitos e com isso, menosprezou a todos.
— O que temos a fazer agora é nos mantermos unidos. Vamos viver
tranquilamente, seremos uma família novamente. Prometo a você, teremos paz.
— Toco em seu ombro e o aperto. Vira-se para mim. — Ainda mais agora que
teremos mais um Mackenzie a caminho. — Me olha surpreso. — Alexia me
contou por telefone, não resistiu! Meus parabéns aos dois!
Enfim algo que o faz sorrir. Seu filho.
— Obrigado, pai! — Sophia se aproxima e a abraço em seguida.
— Que vocês sejam muito felizes.
— Obrigada, Harry. — Ela me lança seu sorriso mais doce.
Junto-os em meus braços, como se quisesse protege-los. Sinto-me aliviado, acho
que tomei a decisão mais acertada. A prisão é o lugar de assassinos e será o novo
lar de Beatrice.
Alexia e Max chegam logo em seguida e contamos tudo a eles. Mais tarde,
minha sala se torna um verdadeiro QG no quesito organização. Meus assessores
juntamente com Aidan trabalharam ininterruptamente regados a várias xícaras de
café durante a madrugada e conseguiram um trabalho excepcional. No começo
da manhã, os jornais e toda a cadeia de rádio e TV noticiavam meu aparecimento
e a prisão de Beatrice. Para a imprensa, minha mulher matou Leon por crime
passional e desiquilíbrio.
A polícia teve um papel fundamental em toda a divulgação. Contando com o
apoio de Wallace, o caso de Beatrice será abafado. Quanto ao meu
reaparecimento, nada será relacionado à ela, portanto, manteremos a versão
contada por minha mulher assassina. Fui salvo por Barney, o qual fiz questão de
recompensar e mantenho uma dívida de gratidão eterna, além de me tornar seu
mais novo amigo.
E olhando para o horizonte com o nascer do sol despontando, imagino como
Beatrice deva estar se sentindo em seu mais novo lar.
Por Beatrice
Sentada no pátio, desolada e sozinha não posso imaginar um fim mais triste do
que esse.
— Olha, a rainha prefere se manter longe do seu povo! — É minha vizinha de
cela! A impertinente! Não me lembro de onde possa a ter conhecido.
— Se me dá licença... — Tento me levantar e suas mãos calejadas e fortes me
seguram, impedindo-me.
— Sempre com esse olhar arrogante não é, Sra. Mackenzie??
— Eu a conheço?
— Não se lembra de mim? Uma pena! Pois, não me esqueci da mulher mais
ordinária e fria que o mundo já viu. — Com muita rapidez, a mulher tira uma
tesoura do bolso e outras se aproximam formando um círculo em minha volta.
Antes de usar o objeto, aperta meu rosto em suas mãos. — Que cabelo lindo!!
Uma pena, mas ficará sem ele!! — Tento me desvencilhar, mas suas mãos ágeis
e com ajuda das companheiras vejo as várias mechas caindo ao chão. Grito e
uma das vigilantes do pátio vem em meu auxílio. As detentas se separam como
se nada tivesse acontecido, porém antes de sair, a negra deixa sua ameaça no ar.
— Você pagará cada centavo de sua maldade! Aguarde!
Sou levada de volta à minha cela. Deito-me no colchão e choro amargamente.
Um dia ela me paga! A causa disso tudo é Sophia! Hoje, sofro eu, amanhã será
você!
Tudo a seu devido tempo!
Por Beatrice
Dormir e ter medo de acordar, abrir e fechar rapidamente os olhos imaginando
que tudo não passou de um pesadelo. É exatamente isso que fiz repetidas vezes
nessa manhã com o intuito de que minha antiga e maravilhosa vida
permanecesse junto de mim. Uma lágrima intrometida aparece no canto de meus
olhos ao pensar em todas as coisas deixadas do lado de fora desses muros.
Perdi a coisa mais preciosa que possuía, o amor de meu filho querido.
Não possuo mais o brilho aos seus olhos e nem ocupo meu lugar em seu coração.
Mesmo assim, Sean continuará sendo a pessoa mais importante de minha vida. E
o que dizer de minha casa, minha linda casa! Cada canto, tecido ou objeto ali
presente tem o meu toque. Minha essência reside ali e todos os aromas e
perfumes existentes naquele lugar, aliviam a minha dor ao fechar os olhos e
imaginar meus momentos de glória vividos ali.
Agora nesse lugar decadente onde pessoas brigam por qualquer coisa, me sinto
totalmente deslocada e muito menos tenho a pretensão de fazer parte dessa ralé
de presidiárias. No refeitório, mais humilhações; para uma mulher que as portas
se abriam e que o 'aguardar' não existia , entrar em uma fila por um mero pedaço
de pão, de gosto horrível por sinal, uma laranja e uma xícara do pior café que
pude provar é a maior punição que eu poderia receber.
Aqui não há paladar requintado, elegância e prazer de uma boa mesa e sim,
infelizes famigeradas e pobres mulheres que nunca souberam o que o dinheiro
pode custear. Pego minha bandeja com meu breakfeast e procuro um local mais
isolado, onde eu possa ao menos usufruir de alguma privacidade, sem ter que
compartilhar da companhia desagradável dessas mulheres.
Empurro a bandeja com o estômago embrulhado. Ergo minha cabeça e ela está à
minha frente pronta para me atacar. Descobri que seu nome é Francis. E por mais
que force minha memória não consigo me recordar quem possa ser.
— O café não está de seu agrado, madame? — Cínica e abusada arrasta uma
cadeira e se senta.
— Não é de sua conta! — Rebato sem olhar para a cara da infeliz.
— Pode me dizer o que a trouxe a esse lugar, Beatrice?
— Eu a conheço?
— Digamos que tive o infortúnio de trabalhar para Sua Majestade.
Lanço-lhe um sorriso torto.
— Não irá me dizer que veio parar nesse pardieiro por minha culpa?
— Não. Estou aqui por tropeços da vida, nada que eu mesma não seja
responsável. Mas...
A interrompo.
— Trabalhou para mim?
— Sim, fui babá de seu primogênito e me lembro como se fosse hoje, o dia em
que me mandou embora porque ele fugiu, como qualquer criança peralta, acabou
caindo de uma escada. Lembra?
— Não me recordo de maus funcionários. — Minto.
— Você veio como um animal feroz e me mandou para o olho da rua! — Sorri e
posso ver a falta de alguns dentes em sua boca. — Sua atitude foi tão cruel, pois
graças à sua influência, fiquei sem emprego por dois anos. Nenhuma agência me
oferecia uma oportunidade e tive que trabalhar fora de Nova Iorque. Comi o pão
que o diabo amassou, ou melhor, que você amassou para que eu comesse! E eu
que desacreditava na justiça divina, refiz todo meu pensamento. Deus fez justiça
e te botou onde merece, sua bruxa! — Continua. — Com o passar do tempo e
com mais maturidade pude perceber que não perdi aquele emprego somente pela
queda do menino, mas sim porque ele se apegou a mim. — Meu coração acelera
e sinto minha garganta se fechando ao ouvir as palavras dessa mulher tão
insolente. — Me chamava de "Fancis", seus olhos me dizem que se lembrou de
tudo, não é? Sentiu ciúme do sentimento que Sean tinha por mim e por isso me
mandou embora.
— Francis é seu nome? — Gesticula afirmativamente. — Pois bem, Francis!
Não me recordo de tal fato e mesmo que o fizesse aqui e agora, acho um absurdo
tudo o que acabou de dizer! Não queira achar nada, muito menos intrometa-se
em assuntos que não lhe dizem respeito. Fui clara? Se foi mandada embora com
certeza devo ter tido meus motivos. E quanto à sua referência... — Parto o pão
com as mãos. — Não acho que cometi erro algum, se você fosse boa pessoa não
estaria aqui, sua negra!
Seus olhos adquirem um tom avermelhado e em segundos ela avança sobre mim.
O impacto da cadeira em contato com o chão causa enorme estrondo, chamando
a atenção das outras mulheres presentes no refeitório. Suas mãos fortes apertam
minha garganta e me deixam sem ar.
— Você é pior do que qualquer uma de nós, sua vaca de raça! Vou lhe mostrar a
força de uma negra, com muito orgulho! — Desfere-me um soco no lado
esquerdo e em seguida, no direito. — Onde está sua família perfeita? Cadê o
filhinho da mamãe que não vem para ajudá-la? Não a ama mais? — Ao redor, as
detentas esperam a minha derrota. Elas são violentas, porém ingênuas. Pensam
que sou inquebrável. Elas não me conhecem, não sabem como cheguei tão
longe.
Ao tocar em meu ponto mais sensível, mais íntimo, essa mulher, desperta em
mim uma ira inexplicável. Com a força de um animal acuado e sem saída,
consigo derrubá-la e rapidamente pego de seu bolso, a tesoura que horas antes
ela cortou o meu cabelo. Com a ponta em sua garganta a encaro. Nesse
momento, somos iguais, não encontro em seus olhos o medo da morte.
— Nunca mais ouse abrir sua boca para falar de meu filho! Meu Sean! — forço
a ponta da tesoura e um pequeno furo vermelho jorrando sangue demonstra que
não sou uma mulher para se brincar.
Norma chega e me tira de cima de Francis. Outra carcereira vem e a leva para a
enfermaria. As outras, aos poucos, se espalham decepcionadas pelo espetáculo
interrompido, enquanto eu sou levada para minha cela.
Lá, acaricio minha face inchada e dolorida. Aqueles socos não doeram mais do
que suas palavras. Francis me atingiu na alma, Sean me abandonou aqui! Não
quer mais me ver, pensa que sou má. Ele tem que me enxergar como antes. Sou a
mesma, amo-o como sempre e somente eu sei cuidar de meu menino. Abraço o
travesseiro e risadas de um garoto alegre vêm em minha mente.
— Vamos brincar lá fora? — O vejo em minha frente chamando por mim.
— Agora não podemos, Sean! Papai logo chegará. — Um frio se aloja em meu
estômago ao dizer essa frase. Ele vai chegar... Ele vai chegar... Não! — E o
tempo ri sarcasticamente e me traz de volta a cela, suando frio. Rasgo o
travesseiro imaginando ser o corpo daquele porco imundo...
Por Alexia
Ventos melhores levam as nuvens sombrias que cobriam nossa família durante
esse período tão difícil. Com a prisão de minha mãe noticiada nos quatro cantos
da Terra, muitas coisas tiveram que sofrer alterações. Meu pai, mestre como
sempre, nos ensinou como sair de tudo sem sofrer muitos danos que o
necessário. Sean voltou ao cenário político, Max e eu ao nosso trabalho nas
empresas Mackenzie.
Tantas coisas para se fazer, com a chegada do casamento de Sophia, ajudo-a
juntamente com Sarah para que tudo saia perfeito. Mesmo contra a vontade da
noiva, Sean faz questão de uma grande festa, com muita pompa para celebrar o
dia mais feliz da vida dos dois. A cerimônia e a recepção serão realizadas nos
jardins da Mansão.
Absorta em meus pensamentos volto a digitar meu novo livro "Senhor das
minhas vontades", um romance erótico, acompanhado de uma linda história de
amor. Acho que isso seria uma forma de transmitir ao mundo o que vivo por
dentro. Todo meu sentimento por Aidan extravasado em linhas.
Patrícia bate à porta e entra.
— Ocupada?
— Não, pode falar, terminei meu trabalho e comecei a trabalhar em meu novo
livro. — Digito as últimas linhas do epílogo, salvo-o arquivo em um pen drive e
guardo-o em minha bolsa, a seguir, desligo e fecho meu notebook.
— Que legal! Quando será lançado?
— Calma, Paty. As coisas não funcionam assim.
— Como não? Você é uma ótima escritora, escreve coisas lindas.
— Obrigada, amiga, mas por enquanto esse aqui vai ficar na gaveta esperando o
momento certo para ser lançado.
— Torço por você, sabe disso!
— Claro que sei. E você e seu novo macho Alfa? Como vão?
Paty se senta e pela sua cara nada animadora, percebo que tem muita coisa para
me contar.
— Estou feliz se é o que quer saber! No entanto, sei que Richard não me ama
como eu gostaria e sim, é apaixonado por mim!
— Como assim? Não te ama? Não estou entendendo!!
— Outro dia, dormi em sua casa e no meio da noite acordei e dei por sua falta na
cama. Levantei-me e saí em sua procura. Encontrei-o em seu escritório, olhando
a chuva através da janela e ele nem percebeu minha chegada. Tenho certeza de
que pensava em outra mulher. Minha intuição nunca falha!
— Que chato isso, Paty! Espero que sua intuição esteja com defeito e se acaso
estiver funcionando, espero que consiga fazê-lo esquecer essa mulher!
Nunca contei à Paty quem seria a mulher pela qual Richard ainda suspira.
— Também espero. Eu o amo e farei qualquer coisa para que a esqueça de vez.
— Vai conseguir, tenho certeza! — Aperto sua mão e sugiro uma pausa com um
delicioso almoço em um restaurante fora da empresa. Passamos duas horas
muito tranquilas antes de voltarmos à nossa rotina diária. Olho em meu celular e
vejo uma mensagem do meu amor, combinando um passeio no fim de semana.
Meu dia fica ainda mais azul depois disso.
Por Max
— Bom dia, dormiu bem, meu amor?
— Não como gostaria, você sabe disso! Mas ouvir sua voz pela manhã me deixa
feliz até o momento de te ver. — Amo a voz de minha namorada.
— Hoje estarei em casa mais cedo se acaso lhe interessar! — Responde e mesmo
sem poder vê-la sei que mantém um sorriso inebriante em seu rosto perfeito.
— Tudo o que se refere a você me interessa, acho que já sabe disso, linda! Tenho
uma surpresa para você, logo mais espero que goste.
Dany pede-me um minuto e a ouço falando com outra pessoa ao seu lado.
Reconheço essa voz. É aquele cara que trabalha em sua equipe. Phillip. Ele não
vai com a minha cara e muito menos eu com a dele.
— Desculpe-me. — Volta e diz. — Sabe que como toda mulher adoro surpresas.
—Sinto a voz de Dani ficar tensa. Algo de ruim aconteceu.
— Algum problema, minha linda?
— Nada que não se resolva, problemas no trabalho, mas não quero falar sobre
isso. Desperdiçar tempo com o homem que amo falando de coisas maçantes é
idiotice.
— Diga novamente. — Peço, meio que sem jeito.
— O que? Que o amo?
— Sim, não me canso de ouvi-la dizendo isso.
— Eu o amo, Max! Isso é tudo! Você é meu tudo!
— Eu a amo muito! Não irei tomar mais o seu tempo, tive uma folga aqui e
resolvi ligar. Te vejo a noite.
— Está bem, a noite a gente se vê!
— À noite, pela madrugada e manhã também, não se esqueça! — Sua risada
gostosa deixa meu coração leve e feliz.
— Não me esquecerei, meu amor. Até. Ao olhar para sua foto em minha mesa,
sorrio e espero ansioso que Danielly goste da surpresa que estou preparando para
nós dois.
Por Sophia
— Não adianta me olhar com essa cara azeda, vamos! Hora de acordar,
senhorita.
Angelina é o melhor despertador que uma pessoa pode querer. Sean precisa
conhecer o seu método de trabalho.
— Mais dez minutos, fofa! — Aperto o travesseiro em meu rosto e rezo para que
ela saia do quarto.
— Nem mais um segundo! — Puxa meu edredom de forma abrupta. — Quem
manda ficar acordada a noite toda falando com o noivo ao telefone? Sarah ligou
e já está a caminho. Não é hoje a prova do seu vestido? E após o almoço, você
tem suas aulas.
Angelina tem razão. Sean e eu ficamos acordados até o sol nascer ao telefone.
Estou com muitas saudades. Ouvir sua voz até pegar no sono tem sido meu
remédio.
— Sim, é. — Com dificuldades, abro os olhos e então vejo que não irei sozinha
à prova desse vestido. Fofa, em minha frente, com um vestido estampado com
botões vermelhos e um chapéu daqueles que ela faz questão de exibir com
orgulho. Claro, ela mesma o fez.
— E você? Onde vai vestida assim? — Pergunto, mesmo sabendo a resposta.
— Você acha que minha linda Nina vai provar o seu vestido de noiva e irei
perder esse momento? Há-há! — Abaixa-se e aperta meu nariz — Jamais! —
Arranca meu travesseiro enquanto solta suas deliciosas farpas. — Se bem que do
jeito que você está engordando até o dia do casamento acabo lhe emprestando
algo meu! — Pega em seu vestido e dá uma rodadinha. — Será a fofa II!
— Você é tão desagradável, às vezes, sabia? — Não resisto a vontade de rir e
levanto-me, olhando meu corpo no espelho.
— Só para ver essa sua carinha nervosa, sua boba! Vou espera-la na cozinha! —
Antes de sair olha para a parede onde antes havia um pôster de Clive Owen. —
Ué? Para onde ele foi? Gostava daqueles olhos.
— Ah, fofa, eu também gostava, mas agora tenho os olhos de Sean, então
dispensei o Owen.
— Que pena, nem pude me despedir! — Pende o pescoço e sorri mostrando seus
dentes. — Não deixou telefone?
— Boba! — Acabo rindo de seu comentário. — Vou tomar banho e logo estarei
pronta. Meu celular toca e Angelina sai do quarto, fechando a porta.
A voz desagradável e estridente de Marcella me pega de surpresa.
— Sophia, não desligue por favor, sou eu, sua mãe! — Essa palavra em sua boca
soa descaradamente falso e superficial.
— Marcella... Estou de saída! — Não quero parecer grosseira, então essa é a
saída!
— Não tomarei seu tempo, minha querida. Venho ligando há dias. Gostaria de
prestar meu apoio a você depois de tudo o que passou.
— Obrigada, Marcella.
E eu sou Lady Gaga. Acha que me engana com esse assunto!
— E a propósito, não irá convidar a sua mãe para o seu casamento? Sei que se
casará na semana que vem e confesso que tinha esperança de receber o convite.
Não falei? Como existem pessoas que não carregam amor próprio? Será que ela
não chegou à conclusão de que não faço questão de sua nobre presença em meu
casamento?
E essa mulher conseguiu me deixar sem jeito.
— Mandarei um convite a você. Pode ficar tranquila.
— Ah! — Suspira como sua pobre alma pudesse descansar em paz depois disso.
Encurto o assunto o mais que consigo e desligo.
Se Marcella acha que irá tirar proveito de meu casamento, enganou-se muito!
Por Harry
O motorista para o carro e abre a porta para mim. Em frente à sua casa, fico
parado por alguns minutos e penso mais uma vez se tomei a melhor decisão ao
procurá-la.
A grama bem aparada contrasta com a cerca branca que rodeia toda a casa. No
jardim, uma pequena estátua de um dos anões da Branca de Neve, o feliz. Noto
quando o carteiro chega e deixa sua correspondência na caixa de correios. Claire,
pelo visto, preserva seus gostos tão peculiares. A casa pintada em azul muito
claro, janelas da mesma cor da cerca fazem dessa pequena construção algo
aconchegante. Uma argola dourada é a minha campainha. Bato e aguardo ser
atendido. Uma sombra aparece no pequeno vidro da porta.
Ao abrir, seus lindos olhos me sorriem, de modo desconfortável.
— Harry??
— Posso entrar? Tenho algo muito importante a dizer...
Recuperando o tempo perdido!!
Por Claire
Mesmo me sentindo como uma colegial desajeitada, convido-o a entrar. Vendo-o
de costas, faço uma rápida análise sobre como o tempo foi generoso e manteve
Harry com o mesmo charme de antes.
Com seu terno marinho impecável, ele se vira e me lança um sorriso tão familiar
de tempos passados.
— Me deixou curiosa, agora! O que pode ter tirado o grande Harry Mackenzie
de seu império e arrasta-lo até aqui?
— Não me convida a sentar? — Me inquire com seus lindos olhos azuis.
— Oh, desculpe-me, por favor! — Corrijo minha falta de modos
instantaneamente. Abrindo o botão de seu paletó, senta-se e cruza as pernas. —
Harry, quero dizer que apesar de detestar sua esposa e tudo o que ela representa,
sinto muito por você e seus filhos, principalmente por Sean que, sem dúvidas,
era o mais apegado a ela.
— Ex esposa, diria eu. — Ressalta a palavra 'ex'. — E obrigado, Claire. —
Encara-me e confesso que seu olhar ainda mexe com algo lá no fundo de meu
coração de manteiga.
— Aceita um café? — Nessas horas, esse tipo de pergunta vem muito bem a
calhar.
— Sim, aceito.
Levanto-me e na cozinha suspiro encostada na pia, enquanto coloco água na
cafeteira. Pelo canto da porta, posso ver que ele repara em todos os objetos
pendurados na parede da sala. São várias fotos minhas em diferentes momentos
decorrentes de minha vida.
Em seguida, fica em pé e se dirige para uma foto em especial: A de minha
formatura. Foi exatamente nesse ano em que ele e eu começamos a sair e logo
depois, a namorar. Tudo era lindo, tinha cheiro de felicidade acompanhado de
muitos projetos futuros. E todos eles, ficaram para trás ao surgir Beatrice. O que
muitas pessoas talvez não saibam é que em todas as relações onde há um
terceiro; um sempre acabará machucado, isso é fato. Final da história, Harry
achando ter tirado a sorte grande, me trocou por Beatrice.
Passei por todos esses anos esperando por esse momento em que me encontro
agora. O dia em que Harry não mais está ligado àquela mulher odiosa. Sem
vendas e artifícios que o deixem cego, eis que o homem que amo se encontra em
minha casa com olhos pedindo por perdão.
Não houve um só dia em que não tenha sonhado com isso. Sirvo o café e coloco
as xícaras em uma bandeja. Sorrio ao ver que ele ainda olha a mesma foto.
— O café... — O interrompo e ele se vira para mim e em seguida, volta a olhar
para o retrato.
— Você estava tão linda nessa foto! — Estendo a xícara e ele a segura.
— Obrigada, muita coisa mudou. O tempo não foi muito generoso comigo! —
Ele sorve o líquido fumegante e aprecia o gosto.
— O tempo não é generoso com ninguém, Clarie Wendell! Mas, se porventura
ele nos conceder uma oportunidade de resgate, devemos nos ater a ela e
fazermos bom uso sem hesitar. — Repousa a xícara na bandeja e dá um passo
em minha direção. Segura meu queixo entre seus dedos. — E é exatamente isso
que ele está fazendo agora! Nos dando uma segunda chance!
— Harry... — Meus olhos ficam cobertos de lágrimas e quando penso em dizer
algo para quebrar o silêncio, as palavras me fogem.
— Diga que me perdoa e que podemos recomeçar. Sei que o que lhe ofereço é
muito pouco comparado ao que você merece, mas é tudo que tenho.
— Acho que não devíamos...
— E eu acho que não temos mais idade para medos descabidos. — Me fita
esperançoso de que eu lhe perdoe e mais que isso, o aceite de volta.
— Eu demorei para enxergar o que estava em minha frente. Eu a amo, Claire! E
quero viver o resto de minha vida ao lado de alguém que realmente se importa
comigo.
Não mais hesito e aceito o que o destino me reservou e trouxe de volta.
— Eu o amo, sempre amei, você sabe disso!
Quando encosta seus lábios nos meus, sinto a magia do tempo dominar meu
mundo. É o mesmo beijo, o mesmo desejo e o mesmo sabor de sua Boca. Não
temos o frescor da juventude que nos fazia mais belos, mas temos o sentimento
que atravessou décadas para confirmar nesse momento o que nunca mudou.
Pego em sua mão e o levo para meu quarto, onde ninguém jamais entrou e um
tanto nervosa e tímida, Harry se mostra o homem maravilhoso que é.
Momentos depois, deitada sobre seu peito, com um sorriso nos lábios, respondo
à sua pergunta de minutos atrás.
— Bem, não tenho escolha! Irei ao casamento de Sean, como você tanto quer. Só
espero não causar algum desconforto.
— Sabe que não. Sean está feliz e quer que todos à sua volta sintam o mesmo. A
partir de agora, quero que se acostume, quero-a comigo em todos os lugares e
momentos de minha vida.
E como se o tempo resolvesse retroceder, Harry passa o dia todo ao meu lado.
Sem dúvida, passear de mãos dadas com ele pelas ruas de Nova Iorque foi uma
das melhores coisas que já fiz na vida.

Por Danielly
Faço os últimos retoques em meu rosto e me sinto feliz com o resultado. Não sei
qual será a surpresa que Max me preparou, só sei que ansiedade me define.
Coloco os saltos e mais uma olhadinha no espelho para garantir. Max me pediu
que tirasse dois dias de licença do trabalho, na certa, irá me levar a algum lugar
interessante onde passaremos o dia todo na cama.
Adoro!
São seis da tarde, sei que é muito cedo para usar esse tipo de traje que estou
vestindo. Um lindo longo vermelho a pedido de Max.
Meu celular vibra em cima da cama e é ele. Está me esperando em frente ao meu
prédio.
Ao sair na calçada, meu coração bate mais forte ao ver meu lindo namorado,
segurando uma rosa vermelha. Uma limusine com direito a tapete vermelho
completa o cenário mais romântico que alguém preparou para mim.
Caminha ao meu encontro e pega em minhas mãos.
— Você está linda, muito linda, meu amor! — Beija de leve os meus lábios,
fecho os olhos na ânsia de receber um beijo mais "caliente", afinal de contas,
passei a tarde toda me arrumando para essa noite.
Um tanto desapontada, comento:
— Hum, acho que merecia um beijo mais apaixonado, não acha?
Seus olhos se estreitam e sua boca se curva num sorriso. Com a porta da
limusine aberta, faz sinal para que eu entre, sem me dar resposta alguma.
Sento-me e ajeito meu vestido. Max se senta ao meu lado e com sua boca colada
em meu ouvido, me diz:
— Se beijá-la nesse momento, não conseguirei me controlar, você me conhece!
— Roça sua barba em meu pescoço, deixando meu corpo arrepiado. — E quero
que toda Las Vegas a veja como estou vendo agora!! Deslumbrante!!
Espera aí!! Ouvi direito? Max disse Las Vegas?
— Las Vegas?!! — Meu cérebro deve estar hibernado, pois não consegui
processar corretamente a informação. — Deve estar brincando?
— Não, absolutamente, daqui iremos para o aeroporto, há um jatinho nos
esperando! Partiremos direto à Cidade do Pecado.
Hum... será que ele planeja um casamento em Vegas?
Chegamos ao aeroporto e piloto e copiloto nos aguardam dentro da aeronave.
Max os cumprimenta e eu faço o mesmo. Logo em seguida, nos acomodamos
nas poltronas e ouvimos a voz de fumante do piloto através do sistema de som,
avisando que iremos decolar. Uma comissária de bordo nos oferece champanhe e
meu namorado levanta um brinde.
— À mulher da minha vida e a tudo de bom que nosso futuro nos reserva! — o
som do cristal ecoa na cabine.
— A nós! — Provo o champanhe e meus olhos encontram os seus.
Quatro horas de voo e milhares de luzes coloridas despontam aos meus olhos
quando olho pela janela. Pousamos e um carro com motorista nos leva ao
Bellagio. Um vislumbre luxuoso e elegante em meio a tantas luzes. A suíte
escolhida por Max possui uma enorme janela que dá acesso ao terraço.
Um funcionário deixa nossa pouca bagagem no quarto e depois de ganhar sua
gorjeta, sai com seu sorriso de teclas de piano.
Max fecha a porta e vem ao meu encontro.
— Venha! — Me puxa até a murada do terraço, me agarra por trás e me faz olhar
para todo o brilho colorido e contagiante da cidade.
— Você vê todas essas luzes?
— Sim, claro.
— Imagine muitas delas brilhando como se quisessem chamar a minha atenção,
mas você tem seu brilho incomum e meus olhos não se desviam nem por um
segundo e muito menos se focam em outra mulher a não ser a que amo. Todas
podem brilhar, porém é a você que me entreguei de corpo e alma, minha
delegada!
Nesse instante, tudo parece ficar estático. Não ouço nenhum som a não ser
minha respiração seguida de minhas batidas cardíacas.
— Max... Você é o homem mais maravilhoso que já conheci e o amo muito,
muito, muito...
— Eu também amo muito. — E finalmente, sua boca cobre a minha em um beijo
cheio de paixão. Ele toma a minha mão e me conduz à uma mesa impecável
posta para dois onde arrasta uma cadeira e eu me sento. Max faz o mesmo e pega
a garrafa de champanhe no balde de gelo.
— Quero que essa noite seja especial!
— Para mim, já está sendo, meu querido! — Digo. — Ele mantém seu olhar
sobre mim e meu sentido diz que teremos mais surpresas por vir. Ergue sua taça
e então, continua.
— Danielly Austin, aceita se casar comigo?
Pisco meus olhos repetidas vezes para certificar-me de que não é um sonho.
— Max... — Sem pensar duas vezes, respondo. — É claro que aceito.
Segura uma das taças e a enche, seus olhos de desejo e paixão me cercam e me
deixam paralisada.
Levanto a minha taça e ao leva-la a boca percebo algo no fundo do mesmo. Um
lindo anel de brilhantes. Retiro a joia da taça e ele se aproxima, pegando-o de
minhas mãos. Sua boca quente roça em meus lábios e sem sair dela, coloca o
anel em meu dedo.
— Assim, está bem melhor, Dany! Quero faze-la muito feliz!
Beijo seu maxilar e ressalto. — Nos faremos felizes!! — Max me levanta do
chão e me ergue em seus braços. Toda a minha pele se agita com seus lábios a
correr pelo meu pescoço, no mesmo instante em que me deita na cama. Sinto seu
corpo pesando sobre o meu, deliberadamente. Sinto seu desejo a cada vez que
seus quadris investem sobre mim. Suas mãos fortes sobem por minha coxa e
ultrapassam a fenda de meu vestido. Enquanto isso, sua outra mão abaixa uma
das alças do mesmo. Sua língua audaciosa cobre meu seio e gemo com suas
carícias ousadas.
Abro os botões de sua camisa e com minha boca passeio pelo seu lindo tórax,
distribuindo leves mordidas arrancando gemidos sussurrados em meu ouvido.
Sem pressa, ficamos nus. Max beija cada centímetro do meu corpo me deixando
desesperada por mais. Junta minha cabeça entre suas mãos e com seu corpo
encaixado entre minhas pernas, me penetra sem tirar seus olhos dos meus.
Arqueio meus quadris e o acompanho.
Num desespero total, aumentamos o ritmo e a visão desse homem com os
cabelos desalinhados e expressão de paixão e desejo por mim me lançam em um
clímax onde meu corpo se abre, deixando minhas pernas e braços dormentes e
muito relaxados.
— Me sinto preso a você, minha delegada. — Força seu quadril e não mais se
movimenta. Sinto seu membro pulsar dentro de mim. — E nunca mais quero me
soltar.... — Movimenta-se devagar e profundamente. Vejo-o quando se entrega a
mim num gozo intenso. Sua boca procura a minha e seu gemido rouco e abafado
por nosso beijo.
Minutos depois, enroscados entre os lençóis. Max acaricia minhas costas.
— Escolha a data e que seja o mais breve possível, sim? — ergo minha cabeça e
sorrio.
— Claro, sabe perfeitamente que não nego nada a você. Vira-se sobre meu corpo
me prendendo entre suas pernas.
— Isso é muito bom, minha delegada. Antes você só me dizia não.
— Isso foi antes de você se tornar o homem que amo. Agora, você me tem toda
só para você! Você me desarmou desde o dia em que entrou em minha vida! —
Seu sorriso largo me desarma ainda mais.
— Eu o amo muito!
— Eu a amo para sempre.
E assim, todas as luzes da Cidade Pecado presenciam nossa felicidade.
Por Beatrice
— Beatrice, venha! Há uma pessoa querendo falar com você! — Meus olhos
brilham ao imaginar Sean vindo me visitar. Arrumo meus cabelos como posso,
pois eles já não são os mesmos. Sem trato, sem vida, como eu. Olho para a
minha roupa e não há nada que possa ser melhorado nesse uniforme ridículo e
então sigo Norma até o local onde recebemos aos visitantes. É a primeira vez,
durante esses dias, que alguém vem me ver.
Ao ver Alberto sentado do outro lado do vidro, minha alegria se esvanece. Não é
Sean, muito menos meus outros filhos. Espero que ao menos Joseph não tenha
me virado as costas.
Sento-me e pego o fone para poder falar com meu antigo e fiel mordomo.
— Madame, o que fizeram com seu rosto? — Ele não deixa de notar os vários
hematomas deixados por aquelas vadias miseráveis que insistem em me bater
quase todos os dias. Mas chegará o tempo em que sairei desse inferno e ninguém
mais irá tocar em mim, assim como o porco imundo.
— Não foi nada, Alberto. Me diga, como vão as coisas? — Mudo o foco da
conversa.
— Seu filho se casa no sábado, madame! Todos estão felizes!
Felizes. Egoístas e ingratos. Comemoram enquanto estou aqui, nesse lugar,
sozinha a mercê da própria sorte.
— Que bom, Alberto. Sabe o quanto a felicidade de Sean é importante para
mim. — Isso não é uma mentira. Quero que Sean seja feliz e isso só será
possível se aquela mulherzinha desaparecer do planeta.
— Guardou o que lhe pedi?
— O dinheiro sim, está guardado, porém suas joias foram guardadas pelo Sr.
Mackenzie.
Maldito, Harry! — Penso.
— Aquelas joias me pertencem!
— Sim, madame, mas ele as pegou de minhas mãos quando tentava guarda-las
conforme combinamos.
— Tudo bem, Alberto. Agora não adianta reclamar. Guarde o dinheiro e depois
que Sean se casar, quero que volte aqui. Tenho que lhe pedir um favor, sim?
— Perfeitamente, madame. O tempo permitido se esgota e Alberto vai embora.
Imagino tudo o que está acontecendo na mansão, a movimentação para
organizarem o casamento. E eu aqui, compartilhando de migalhas de
informações de terceiros. Isso não ficará assim.
Quando Sean voltar de sua lua-de-mel, o livrarei daquela mulher!!
Quinta-feira
Por Sophia
Sean chega hoje da capital e no sábado estaremos casados. O tempo passou
voando e se não fosse a ajuda de Alexia juntamente com a competência de
Sarah, acho que eu não daria conta de tudo.
Resolvo fazer uma surpresa a ele. Irei busca-lo no aeroporto. Ligo para seu
motorista e dispenso os seus serviços.
Sean e eu optamos por não fazer nenhum tipo de despedida de solteiro e
passaremos juntos a véspera do nosso casamento. Estamos muito felizes por
finalmente termos paz e tranquilidade em nossa vida. Dou a partida em meu
carro e ligo o rádio. Beyoncé canta Halo e traduz tudo o que Sean representa em
minha vida.

Momentos mais tarde, aguardo seu jato pousar. Vejo Aidan descendo na frente,
seguido por um outro jovem assistente e em seguida meu anjo de olhos azuis
aparece descendo as escadas com seu andar seguro. Nem preciso acenar, pois
seus olhos me veem ao longe.
— Serviço de translado, Excelência? — Digo, fazendo brincadeira.
Olha de um lado para outro e com aquele sorriso estreito e lindo que tem, rebate.
— Nunca a vi por aqui. — Espalma suas mãos uma de cada lado do meu corpo e
o prensa entre o veículo.
Beija minha boca com muito desejo e Aidan passa por nós e zomba.
— Hey, vocês dois, olhem o escândalo!
— Vá à merda, cunhado. — Morde minha boca e sussurra. — Vamos? — Entra
no carro e ajusta o seu cinto de segurança.
— Já ouviu dizer que nunca se deve entrar em um carro com estranhos? Irei
sequestra-lo e mantê-lo o dia todo comigo! — Falo, enquanto dou a partida.
Arqueia as sobrancelhas e responde.
— Não ouse entrar em contato com minha família, eu a mato! — Diz,
brincalhão.
— Pois bem, foi você quem pediu!!
Ligo o carro e saio em alta velocidade.
O grande dia!
Por Sophia
— Tem certeza de que não irá dormir comigo hoje? — Sua boca corre pelo meu
pescoço muito devagar, enquanto sua voz grave e macia penetra em meus
ouvidos. — Vai me deixar sozinho logo na véspera do nosso casamento? — Sean
faz cara de carneirinho perdido.
— Sean, a partir de amanhã, teremos muitas noites pela frente. — Ressalto. —
Vim dormir na mansão a pedido de Alexia. Me trocarei aqui, assim fica tudo
mais prático.
— E por que não posso dormir aqui também? — Diz a contragosto.
— Para não dar azar, meu amor!!
— Você ainda está aqui? — A voz de Alexia ecoa em minhas costas. — Não
adianta fazer essa cara de cachorro vira-lata!! Trate de ir para a sua casa e só
volte pela manhã. — Olha para mim. — E a senhorita irá para a cama agora! Sua
pele tem que estar descansada.
— Está bem, um complô armado contra mim. Estou indo! — O acompanho até a
porta principal. Aperta minha mão e beija minha boca de leve. — Amanhã, você
será senhora Mackenzie e eu o homem mais feliz do mundo!
— Eu também serei a mulher mais feliz, eu o amo e esse dia será o mais
importante para mim! — Toca a minha barriga e me encara sorrindo. — Somos
uma família, prometo cuidar muito bem de vocês.
— Sei disso. Cuidaremos um do outro! — Lhe asseguro — Fico na ponta dos
pés e roço meu nariz no seu. Em seguida, me aperta em seu corpo e me dá um
belo beijo de despedida.
— Até mais. Durma bem, minha linda esposa.
— Até, meu lindo marido. — Joga-me um beijo e o vejo entrando no carro.
Minutos depois, deitada no quarto de hóspedes, fico olhando meu vestido
pendurado. Olho-o por muito tempo até que levanto e vou até a cozinha. Preciso
de um chá relaxante para dormir. O estômago cheio de borboletas devido à
ansiedade não me deixa em paz.
Quando consigo relaxar e dormir já é madrugada. Dormi pouco e ao abrir os
olhos, Alexia adentra o quarto acompanhado de Angelina.
— Bom dia!! Hora da noiva acordar, temos zilhões de coisas para fazer. — Dia
minha cunhada-irmã.
— Bom dia às duas! Posso ao menos despertar primeiro? — Com uma bandeja
de café da manhã nas mãos, minha cunhada a deposita em um móvel e abre as
cortinas, trazendo a claridade de um lindo e radiante dia lá fora.
— O jardim ficou lindo, olhe!! — Fofa se aproxima da janela e sorri.
— Realmente, ficou tudo muito lindo! Sarah fez um excelente trabalho. —
Levanto-me e caminho até elas. Ao olhar para o jardim, fico maravilhada. Sarah
fez tudo como eu imaginava. As flores, os lugares para os convidados, o altar,
tudo.
Enfim, tudo perfeito!
Pela movimentação nos corredores, a casa está bem tumultuada. Pego meu
celular e várias mensagens aparecem. Sean, meu pai e Lorenzo. Mando a
resposta a cada um deles e depois de tomar meu café, me encaminho para o
banheiro. Após um belo e relaxante banho, saio do banheiro e o quarto já não é
mais o mesmo. Sarah conversa com Alexia, gesticulando com as mãos.
Maquiador e cabeleireiro estão à postos me aguardando.
— Sophia, vou deixá-la nas mãos de Denis. — Diz Alexia, enquanto sai do
aposento. — Também quero estar linda, afinal irei acompanhar o noivo até o
altar.
Fico imaginando se Beatrice estivesse aqui. Mesmo não me suportando, ela faria
desse dia o mais glamouroso de todos. Estaria em glória, cuidando de cada
detalhe em especial. Acompanhar Sean ao altar seria para ela o melhor de tudo.
Balanço a cabeça em negativa e afasto a imagem daquela mulher de minha
mente, afinal é um dia especial e não, um dia para pensar em coisas ruins.
Angelina não saiu do quarto um só minuto, parecia um cão de guarda. Sou
depilada, maquiada e penteada, tudo ao que uma noiva tem direito. Olho para um
pequeno relógio sobre a penteadeira, são dez e meia da manhã. Falta apenas
meia hora!
Pela janela, posso ver quando os primeiros convidados chegam e se ajeitam em
seus lugares. Com a ajuda de minha Fofa, coloco meu lindo Vera Wang e ao me
olhar no espelho, me sinto linda!
— Você está deslumbrante, minha linda! — Com as mãos na boca e olhos
lacrimejantes, Angelina me olha de cima a baixo.
— Não me olhe assim que eu choro, Fofa!
Nesse momento, ouço uma batida na porta. O cabeleireiro juntamente com o
maquiador e assistentes saem e para minha surpresa, Vicenzo adentra o quarto.
Não preciso descrever a emoção que senti ao olhar para ele. Meu pai amado,
minha fortaleza. Me abraça forte como sempre.
— Nina, você está linda! Linda como no dia em que vestiu seu primeiro vestido,
lembra-se? — Vejo seus olhos marejados de lágrimas e o repreendo.
— Nunca irei me esquecer de meu vestido verde água! Obrigada, pai. Mas, me
faça um favor! Não chore, senão a noiva se derrete toda! — Limpo o canto dos
meus olhos, onde uma lágrima atrevida aparece.
— Prometo que irei me controlar. — Alisa meu rosto. — Gostaria que
Constanza estivesse aqui! Ela iria adorar ver a nossa filha se casando!
Por um momento, imagino a linda esposa de Vicenzo, e mais uma vez penso:
Será que iria gostar de mim?
— Eu também gostaria muito que ela estivesse aqui! Sei o quanto o senhor a
amava!
Ele tira um lenço do bolso interno de seu paletó e limpa as suas lágrimas. Nesse
instante, mais batidas na porta e dessa vez, Alexia não veio sozinha. Harry,
Lorenzo Lay adentram o quarto na maior algazarra.
— Sophia, você está linda! — Harry beija meu rosto e seus olhos transmitem
muita alegria.
— Obrigada, Harry!
Lorenzo segura meus braços e com um sorriso de deixar qualquer um feliz e
comenta.
— Linda, minha Nina! Parabéns!
O quarto se torna um lugar cheio de energia boa. Minha família, todos os que
amo ao meu redor!
— Viemos fazer uma brincadeira com a noiva! — Diz Lay. — Lalalalala, na
verdade é uma tradição, não é Alexia?
Lay é a mulher mais extrovertida e engraçada que conheço, nesse tempo em que
ela e meu irmão estão juntos tive o privilégio de me tornar sua amiga. Ela é
meiga, amiga, querida com todos e muito, mais muito escandalosa. Essa é sua
marca. Todos que a conhecem, já sabem.
— Sim. — Diz Alexia com uma caixinha nas mãos. — Vamos ser supersticiosas
agora:
Something old,
something new,
something borrowed,
something blue
and a sixpence in her shoe.
Tradução: Alguma coisa velha, alguma coisa nova, alguma coisa emprestada,
alguma coisa azul e uma moeda prata no sapato dela.
— Você terá que usar tudo o que nós trouxemos para você no dia de hoje para
lhe dar sorte. — Alexia está toda atrapalhada nesse momento. — Ah, vamos
logo com isso ou então atrasaremos a cerimônia. Esqueci de dizer, o noivo
acabou de chegar!
— O que vocês irão aprontar? — Digo curiosa.
Meu pai coloca a mão dentro do bolso de seu paletó e de lá retira um colar de
diamantes. Eu reconheço a joia. Era de sua esposa. Não, ele não está pensando...
— Eu começo pela coisa velha... — Diz. — Esse colar era de Constanza e se ela
estivesse aqui, tenho certeza de que gostaria que ficasse com ele. Ele simbolizará
a sua nova vida e a ligação com o passado. — Pisca para mim. — Para não
esquecer de seu velho pai, Ok?
Como esquecer o meu ancoradouro? O homem que se deu por mim e que me
reergueu tijolo a tijolo até me transformar no que sou hoje?
Coloca o colar em meu pescoço e me beija.
— Sabe que jamais o esquecerei. Tenho orgulho do meu passado junto a você,
sabe disso!
Lay chega com cara de quem aprontou alguma.
— Minha vez! Infelizmente a noiva não poderá mostrar a vocês o algo novo que
comprei. Eu tive a ideia de lhe comprar uma linda lingerie para esse dia! — Olha
para mim. — Você está com ela como pedi, não é?
Todos caem no riso e eu fico vermelha, morrendo de vergonha.
— Era por isso que insistiu tanto que eu a usasse? — Pergunto.
— Era. — E dá de ombros, como só ela sabe fazer.
— Valeu. Mais alguma surpresa?
Sarah interrompe nossa brincadeira e chama Angelina para ajudá-la. Não deixo
de notar olhares furtivos entre ela e Vicenzo. Os dois estão juntos e tentam ser
discretos, mais tarde, darei um jeito nisso!

Chega a vez de Alexia.
— O meu tem dois significados, o emprestado e o azul. — Ergue um de brincos
incrustados em safiras! — Ajuda-me a coloca-los. — Isso simbolizará a
felicidade de um casamento duradouro e desejos de boa sorte de uma verdadeira
amizade. O azul da safira, simbolizará o amor, modéstia e fidelidade ao futuro
marido. — Beija meu rosto. — Eu te amo, minha irmã! — Seus olhos verdes
estão molhados. Para não chorar, brinca! — Esse é emprestado, não vai fazer
como muitas atrizes de Hollywood que emprestam as joias e depois não querem
devolver, hein?
— Pode deixar! — Ela sabe que um dia fui ladra. Segredo nosso.
— Bem, sobrou algo para mim, Sophia! — Harry se aproxima e diz.
— Tire o seu sapato esquerdo. Quero que use isso dentro dele! — Uma moeda
antiga de prata, com certeza, deve ser de sua coleção.
— Essa moeda é para dar sorte e estabilidade financeira, tudo como manda a
tradição. — Ele me ajuda com a moeda e se levanta. Toma meu rosto em suas
mãos e me deixa emocionada com suas palavras.
— Me perdoe, por ter sido tão cego e deixado você sozinha! Eu fui um idiota!
Hoje, sou um homem de muita sorte! Vejam... — Diz olhando para todos. —
Ganhei uma filha e uma nora maravilhosa!
Por Alexia
— Esperamos vocês lá embaixo, não demorem! — Sua voz está rouca. — Os
convidados já chegaram e o padre também. A cerimônia irá começar. — Saio do
meu quarto juntamente com os demais.
Só Vicenzo permanece com Sophia.
Cruzo com Angelina no corredor, ela segura o buquê de Sophia, e entra em seu
quarto.
Entro no antigo quarto de meu irmão e o vejo ajeitando a gravata nervosamente.
— Deixe-me ajuda-lo! Quer parar quieto?! — Rebato.
Ele sorri e pergunta.
— Sophia já está pronta?
— Sim, acho melhor descermos, ou ela irá desistir.
Franze a cara para mim.
— Estou brincando!
— Sabe, Alexia, se tudo fosse diferente, a essa hora, ela estaria aqui e brilharia.
— Pois é. — Ele se refere à nossa mãe. — Uma pena tudo o que aconteceu.
Mas, hoje não é dia de trazer coisas tristes para nossa lembrança. Sua noiva está
linda e você também, meu irmão querido.
Estendo o braço e ele me segura.
— Vamos, quero ver a cara de enterro daquelas solteironas ao verem o grande
Sean Mackenzie se amarrando.
— Sua boba!
— Que nada! Não sou boba, sou má!! — Solto uma gargalhada e ele toca meu
nariz com seu indicador.
— Vamos! — Estende seu braço para mim.
A cerimônia dá início e Angelina entra toda pomposa ao lado de meu pai. A
pedido de Sophia, ela ficará ao lado de Vicenzo, no altar, durante a cerimônia.
Em seguida, é a nossa vez! Sean e eu entramos de braços dados e lhe cutuco ao
ver uma de nossas primas com cara de enterro. Só faltou o lenço.
— Não falei? — Falo entre dentes.
— Quer parar? — Sussurra de volta.
Ao chegar no altar, afasto-me e vou fazer companhia a meu lindo pai. Claire está
sentada logo abaixo e Aidan faz companhia a ela.
Instantes depois, a marcha nupcial é tocada e vejo quando Sophia aparece
acompanhada de Vicenzo. Mas é o olhar de Sean ao vê-la que me chama a
atenção. Seu olhar reflete o mais puro sentimento de amor.
Por Sophia
— Lá vamos nós, minha nina!
A marcha nupcial é tocada e meu pai me segura firme em seu braço.
Ao olhar para frente, Sean sorri e vejo que está nervoso como eu. Mesmo assim,
não deixo de notar como me olha. Não consigo desviar meus olhos, pois não
quero perder esse momento.
— Olhe a cara de Angelina! — Meu pai me tira do transe em que me encontro. E
ao olhar minha Fofa, tenho vontade de chorar. Ela se derrete em lágrimas.
Angelina. O que dizer de uma mulher que me adotou como filha e, que junto de
Vicenzo, teve toda paciência e carinho quando mais precisei? A mesma que me
viu chorar aos quinze anos ao ser desprezada pelo garoto popular da escola. E
que me fez confiar à ela todos os meus segredos?
Fofa é a única mãe que tive. Por isso, seu lugar é ali, no altar, como se fosse
minha verdadeira mãe. Mesmo que Marcella esteja sentada em uma das fileiras,
vestida de azul, toda sorridente, é para Angelina que sopro um beijo de gratidão.
Ela o pega no ar e o guarda em seu peito.
— Viu quem estava sentada ali atrás? — Pergunto.
— Sim, vi. Ela me parece feliz por você, Sophia.
— Não, papai, está feliz por estar no meio dessa gente toda, por estar na festa de
pompa, é só isso! Feliz por mim está aquela criatura que amo tanto, em pé no
altar. — Olho para Angelina. — Ela sim, tem o meu respeito.
Chegamos no altar e Sean se aproxima, segurando minha mão.
— Você está linda, minha Soph.
— Cuide dela, meu rapaz! Estou de olho em você! — Vicenzo abraça Sean e
bate a mão em suas costas.
— Fique tranquilo, senhor Vincenzo.
Ao ficar a sós com meu noivo, digo.
— Você também está lindo!
O padre começa a cerimônia e, em seu sermão, fala sobre o verdadeiro sentido
do amor.
Ao trocarmos as alianças, Sean diz algumas palavras improvisadas, não menos
profundas. Quando chega a minha vez de colocar a aliança em seu dedo, estou
muito emocionada.
— Eu os declaro marido e mulher!
Sean me beija de leve nos lábios e saímos pelo corredor, recebendo sorrisos de
felicitação dos convidados. Algumas, é claro, estão chorando de tristeza, me
olham como se eu fosse a culpada por estar casando com Sean.
Lay e Dani nos cobrem com uma chuva de arroz, não diria chuva, e sim,
tempestade! Lay tanto jogava o arroz quanto gritava sem parar.
— Viva os noivos!
— Minha arara loira, amo você!
— Você acha que não sei disso? — Pisca para mim.
Sentados à mesa dos noivos, Sean e eu conversamos animadamente, quando vejo
que Marcella se aproxima.
— Sophia, gostaria de lhe dar os parabéns. — Olho para Sean e ele fez sinal para
que eu aceite os cumprimentos. Ele tem razão. Afinal, ela é minha mãe.
Levanto-me e a abraço.
— Sua festa está um luxo, minha filha! Digna de muitas fotos em jornais e
revistas!
Como ela pode ser tão superficial?
— Que bom que gostou! Aproveite a festa. — Lhe lanço um sorriso amarelo e
ela continua.
— A propósito, senador! Agora que somos da mesma família, gostaria de lhe
pedir um favor!
— Marcella. — Falo, ríspida. — Por favor, aqui não!
Harry se aproxima e percebe o meu desconforto.
— Que bom que a encontrei, Marcella. Venha até o meu escritório mais tarde,
tenho um assunto para tratar com você! Com licença aos noivos! — Pega-a pelo
braço e a leva dali.
— Calma, Sophia. Ela não faz por mal! — Sean profere para trazer o nosso
clima de volta.
— Nem por bem! Marcella só vê o que é material, meu amor!
— Um dia, quem sabe ela não aprende? — Toca meu rosto com carinho.
— Quem sabe?! Tomara. — Digo, sem ânimo.
— Deixe isso para lá, vamos aproveitar a nossa festa!
Vicenzo me olha para certificar de que está tudo bem, sorrio levantando um
brinde.
E assim, voltamos ao clima da festa.
Por Vicenzo
— Gostaria da atenção de todos, por favor!
Em pé, com minha taça na mão, ergo em sinal de brinde.
— Vamos levantar um brinde aos noivos!
Todos repetem o gesto e continuo a falar.
— Quero também falar sobre renascimento. — Pigarreio, antes de continuar. —
Isso mesmo, renascimento. Falo sobre duas vidas que renasceram ao se
encontrarem. Falo de uma jovem que me ensinou a amar e me doar novamente, e
com isso, juntos, vivemos numa família unida, cercada de muito amor.
— Tempos atrás, Nina me deu um susto acompanhado de uma das cartas mais
lindas que eu poderia ter recebido. — Olho diretamente para minha linda filha.
— Pois é, Sophia! Agora, chegou a minha vez!! Nunca fiz um discurso antes.
Nele, quero agradecer por tudo que você me deu
Por Sophia
Conheço tão bem ao meu pai e sei o quanto ele está emocionado. Sua boca,
trêmula e seu rosto, na cor de um tomate maduro, denunciam sua emoção. Sean
aperta minha mão e me aconchega em seu peito, pois sei que Vicenzo irá me
fazer chorar e muito com suas palavras.
— Você me deu a chance de fazer alguém feliz. — Olha para todos para que
prestem atenção em suas palavras. — Todas as vezes em que eu a abraçava, a
beijava e lhe dava atenção, o seu sorriso de gratidão era, para mim, o maior
pagamento que eu poderia receber. Me deu a chance de ser um homem melhor
quando disse que me amava naquele restaurante. — Pega novamente seu lenço e
enxuga os olhos. — Meu coração parecia que tinha se aberto para um novo
mundo, uma nova vida, muito mais cheia de alegria. Tudo o que lhe ensinei foi
para que, um dia, eu pudesse presenciar o que vejo hoje: Minha filha feliz e
amada por todos os que a conhecem. — Sua voz fica embargada prenunciando
um choro iminente. — Poderia citar inúmeras coisas para vocês conhecerem um
pouco mais de Sophia. Mas, quero que olhem para ela agora e vejam do que
estou falando. Esse olhar direcionado para mim é como uma luz irradiante em
plena escuridão. Eu a amo, minha Nina, e que vocês sejam muito felizes. Viver
com você e Lorenzo é a melhor coisa da minha vida!
Não consigo conter minhas lágrimas. E, ao olhar para Lorenzo, meu Loh, vejo
que também está chorando com nosso papá.
— Um brinde aos noivos e à mulher mais doce, corajosa e cheia de vida que tive
o prazer de encontrar nessa existência!
Todos aplaudem suas palavras e eu também.
Logo depois de cortarmos o bolo, Sean me convida para a nossa dança.
Ao som de Unforgettable, sou embalada por seus braços e nossa felicidade não
tem tamanho.
De repente, ao meu ouvido, ele repete o refrão da canção.
— Você é inesquecível, Soph! — Beija meus lábios com carinho.
De repente, meu pai interrompe a nossa dança.
— Minha vez, você terá todo o tempo para dançar com ele! — Vicenzo cutuca o
braço de Sean.
Sean dá de ombros, e me entrega a ele, sorrindo.
Dançamos até que a música termine. Vicenzo olha para a banda e dá um sinal
com as mãos.
Completa o clima me dando sua famosa piscada, acompanhada de seu lindo
sorriso.
— Dança comigo, Sra. Mackenzie?
A banda começa a tocar Stayin Alive de Bee Gees e minha risada é ouvida em
todos os cantos.
— Não creio!
Ele me pega pela mão, e ao som dos anos 70, dançamos como nos bons e velhos
tempos.
Os convidados batem palmas e os assovios de Lay completam a folia.
Somos aplaudidos de pé. Vicenzo beija minha mão e me leva de volta à mesa
dos noivos.
Mais alguns brindes e choros e, chega a hora de jogar o buquê.
A sortuda é Alexia. As outras batem o pé, mas é minha cunhada quem segura-o
com unhas e dentes.
Chega a hora de nos despedirmos. Entramos na mansão para trocar meu vestido,
e então, ouço Harry conversando com Marcella na biblioteca.
Sean tenta me segurar em vão. Preciso saber o que essa mulher ainda quer. Vejo-
a chorando, e ao me ver, Harry fica tenso.
— Meu filho? Sophia?
— Bem, não queria atrapalhar, mas ouvi meu nome enquanto passava pelo
corredor! Posso saber o que está havendo aqui? — Inquiro, nervosa.
— Sophia, vamos nos trocar e irmos embora? A festa já acabou e o avião está a
nossa espera para nossa viagem! — Sean tenta me tirar dali.
— Sim, meu amor, eu irei depois que Marcella me disser o verdadeiro intuito de
sua presença no meu casamento.
Marcella se vira para mim e volta a falar no dia em que me deixou na porta
daquele orfanato.
— Isso não é novidade, Marcella, já conheço toda essa história!
— Sim, minha filha, e agora, Harry acabou de me contar que descobriu quem foi
o culpado pelo incêndio naquele lugar.
— Quem? — Pergunto.
— Beatrice.
— Sean bate os braços ao redor do corpo como sinal de espanto e incredulidade.
— Também? Ela teve coragem de fazer isso?!
— Sim, Sean. Sua mãe teve esse ato de crueldade e eu nem tomei conhecimento
na época.
— E o que isso tem a ver comigo? — Inquiro a mulher que se acha no direito de
me chamar de filha. — O que muda? Você, por acaso, mudou seu
comportamento após saber disso?
— Sophia, por favor... — Sean tenta me acalmar.
— Meu amor...
— Queria apenas que conseguisse me amar, me visse como sua mãe.
Ao olhar em suas mãos, vejo um papel dobrado entre seus dedos, o que presumo
ser um cheque. Um cheque de Harry.
— É assim que quer que eu a ame? — Devolvo-lhe um olhar endurecido. —
Vindo em meu casamento para extorquir dinheiro? Você não é melhor do que
Beatrice, Marcella, suma daqui, com esse dinheiro.
É a vez de Harry.
— Só quis ajuda-la, Sophia. Não é grande coisa!
— Você acha que ela vai parar por aí? Não se engane, Harry. — Olho para Sean.
Não quero perder o meu tempo com essa mulher. — Vamos, Sean. Vou arrumar
minhas coisas e ir para minha viagem. Espero não vê-la nunca mais, Marcella.
Ela junta sua bolsa e sai com a cabeça baixa.
Saio em compainha de Sean, que me abraça forte.
— Temos muito em comum. — Seu olhar é sério e sua voz carrega um pouco de
tristeza que logo se dissipa. — Nossas mães! Mas agora, vamos esquecer tudo e
aproveitar cada segundo, juntos... Caribe? Você e eu?
— Sim, Caribe, vamos meu amor!!
Momentos depois, nos despedimos de todos, rumo à nossa viagem. Que venham
dias e dias felizes.
Sol, mar e você!
Por Sophia
Nossa viagem ao Caribe foi muito tranquila. Sean permaneceu ao meu lado
durante todo o voo.
A alegria que sentíamos era tanta que por muitas vezes nos surpreendíamos
sorrindo um para o outro.
— Vamos pousar em cinco minutos! — Avisa o corpulento copiloto.
— Olhe o que nos aguarda! — Sean beija minha mão e aponta para a belíssima
paisagem vista através da pequena janela.
— É lindo! — A cor do mar de Aruba, numa das ilhas que fazem parte do
Caribe, onde a família de Sean mantém uma casa, é uma das mais lindas que já
pude ver. E em contraste com esse azul incomparável da água, uma areia
branquíssima juntamente com as verdes palmeiras emprestam a esse cenário um
contorno magnífico digno de um lindo quadro de paisagem.
— Sabia que iria gostar! — Diz Sean, enquanto sua boca se aproxima da minha.
— Quero aproveitar cada segundo com a minha esposa! — Viro-me e seus
lábios colam-se aos meus. Sua mão atrevida sobe pelo interior de minhas coxas e
mais ousado ainda, afasta-as devagar onde seus dedos correm pela renda de
minha calcinha.
— Meu amor... — Gemo em sua boca tentando emitir um falso protesto para que
ele pare e, conhecendo meu eu e meu corpo, sua língua invade minha boca me
tomando num beijo que me deixa subindo pelas paredes.
Excitada e ofegante, seus dedos fazem movimentos cadenciados e precisos. —
Não vejo a hora de ficarmos a sós... — Sussurra com sua voz grave e olhos
exalando desejo, com sua boca ainda próxima à minha. — Molhadinha, toda só
para mim... — Sua língua invade minha boca mais uma vez, enquanto me
penetra com seu dedo.
Gemo baixo e remexo meu quadril na busca de alívio das contrações que sinto
em minha pélvis.
— Sean... — Com a mão livre ele me segura firme pelas costas. Seus dedos
habilidosos não me dão trégua e seu polegar massageia meu clitóris enquanto
suas estocadas profundas me deixam maluca.
— Se solte, minha esposa, goze na minha mão e imagine o meu corpo no seu
naquela praia, meu pau todo em você... — Sua voz assume um tom devasso e
sacana. Quer me deixar tranquila e relaxada, pois meu medo é ser flagrada pelos
tripulantes da aeronave.
O avião começa a pousar e meu marido aumenta o ritmo de seus dedos. A
sensação que tenho é de que vou ter um colapso, o frio da barriga durante o
pouso juntamente com Sean me masturbando é algo muito, mas muito excitante
e incomum. Minhas mãos deslizam em seu cabelo e o puxo ainda mais para mim
quando um orgasmo intenso chega me fazendo gemer em sua boca, me deixando
sem ar. — Isso... Goza para mim... Minha Soph... — Ao tocar o chão, sinto-me
tão leve como se ali não houvesse gravidade. Mordo seu lábio e sorrio olhando
em seus olhos.
— Você vai me matar assim! — Digo ofegante, tentando me recompor na
cadeira.
— Vou? — Seus dedos ainda estão em meu sexo molhado e todo sensível e, ao
massageá-lo novamente me dou conta de que isso foi só o combustível para me
deixar louca por ele. — Morreremos, então. — Diz com malícia e contra a
minha vontade, ajeita minha calcinha. Eu o quero, todo meu corpo o quer. Quero
sentir suas mãos, sua boca me levando à loucura. A seguir, sem tirar seus olhos
dos meus, lambe o deu dedo médio e sorri para mim.
— Logo, estaremos em casa. E então... A gente se mata!!
O avião finalmente pousa e ao parar na pista, há um carro conversível nos
esperando. Logo atrás, outro carro com dois homens. Seguranças. Pelo visto,
terei que me acostumar a isso, ainda mais que pelas poucas menções que ouvi,
Sean pretende, futuramente, se candidatar à presidência e aí sim, adeus a
palavrinha mágica "privacidade'.
Mas, por hora, devo aproveitar a minha viagem ao lado do meu marido e deixar
preocupações futuras.
Sean pega nossa bagagem e a coloca no bagageiro do automóvel. Dá a volta e
abre a porta para que eu entre.
— Só um minuto, já volto! — Coloca seus óculos escuros e anda em direção dos
dois homens, deve estar instruindo-os de algo. De braços cruzados e com a
camisa branca do lado de fora de sua calça, Sean me dá uma visão privilegiada
de suas costas largas e seus quadris estreitos. Observo-o pelo retrovisor lateral do
carro e alguns instantes depois o vejo retornar em minha direção.
— Demorei?? — Senta no banco do motorista, inclina seu corpo e me beija de
leve.
— Sim, estou louca para morrer, se esqueceu!? Se vai me matar, que seja rápido.
— Brinco.
Lança-me seu sorriso de garoto levado e rebate.
— Devo confessar à minha esposa que sua morte não terá nada de rápida. Será
muito lenta...
— Confesso que isso estava em minhas expectativas, meu marido, prolongar
tudo ao máximo... — Acelera o carro e ao entrarmos na estrada que dá acesso ao
mar, meus olhos se encantam com um lugar tão belo. Mais alguns quilômetros e
entramos e Sean dobra à esquerda e mais duas quadras posso ver a casa da
família Mackenzie.
Ostentação em excesso, eu diria. Um local tão luxuoso e somente usado em
algumas ocasiões. Sean estaciona o veículo na garagem. Descemos e ele segura
as malas, enquanto meus olhos sob as lentes escuras, analisam o lugar. Em cada
canto do jardim é possível identificar o seu toque. A sua essência está ali.
Beatrice, com seu bom gosto, deixa sua marca por onde passa.
— Venha, meu amor, vamos conhecer a casa por dentro. — Sean me puxa,
deixando meus pensamentos de lado. Dentro da casa, mais luxo. Só que aqui ele
é muito dosado. O ambiente praiano exige algo leve e nada se compara à
decoração da casa de Nova Iorque. Móveis em madeira de tonalidade mais clara,
muito branco nos tecidos e alguns objetos de decoração coloridos, dão um ar
alegre, divertido e tropical. Beatrice é mestra no que faz. Não posso desmerecer
o seu bom gosto.
Subimos as escadas e no corredor, vejo várias fotos em preto e branco. São
imagens da família registradas em momentos de descontração. Em uma delas,
Sean segura a mãe no colo, ameaçando-a jogá-la ao mar. Sean era muito mais
jovem nessa foto. Devia ter uns vinte anos, mais ou menos. Não há como negar a
felicidade de Beatrice nesse retrato. Seus olhos parecem iluminados e a câmera
capta exatamente essa aura de alegria.
— Bons tempos. — Sean percebe meu interesse pela foto e para junto a mim.
— Estão lindos nessa foto! — Comento.
— Nesse verão, me lembro que viemos comemorar o aniversário de Max. Todos
estávamos muito felizes. Infelizmente... — Suspira, longamente. — Deixe para
lá! —sorri e me puxa para uma porta à esquerda. Entramos no quarto e as
cortinas tremulam com a brisa leve e quente. São quase quatro da tarde e o sol
irradia calor e deixa todo o aposento claro e limpo com sua luz.
Sean deixa a mala no chão e me abraça por trás. Sua boca quente desce por meu
pescoço e suas mãos ágeis abrem os botões de mim blusa.
— Nesses dias, quero esquecer o mundo lá fora, meu amor! — Sussurra em meu
ouvido numa suplica subtendida em suas palavras. Com isso, me pede para nos
isolarmos e não permitir que nada nos tire da nossa felicidade acompanhada da
paz que estamos sentindo.
— Só eu e você... — Mordisca de leve o lóbulo de minha orelha e arranca minha
blusa, jogando-a ao chão
— Sim, só nós dois! Prometo. — Confirmo sua vontade e minhas mãos agarram
seu pescoço. Sinto seu membro roçando em minha bunda e o provoco ainda mais
remexendo meus quadris de encontro a ele. Desce o zíper de minha saia que
desce até meus pés. Viro meu corpo e o encaro.
— Eu o amo e prometo que seremos felizes, eu, você e nosso filho!
— Sophia, eu a amo tanto! — Sua boca esmaga a minha e em seu beijo sinto sua
urgência. Sean me empurra no colchão. Permanece em pé enquanto tira sua
camisa, diz.
— Você, eu e nosso filho! — Tira sua calça, ficando somente de cueca. Mordo
meu lábio inferior e sinto meu coração bater acelerado ao ver tanto desejo em
seus olhos azuis. Inquieta, esfrego minhas pernas uma na outra e o chamo para
mim.
Ele se aproxima devagar, ajoelhando-se ao colchão. Tira sua cueca e somente de
olhá-lo em toda sua masculinidade, sinto meu sexo latejar na necessidade de
senti-lo todo dentro de mim, me possuindo, me tomando toda e me arrastando
com ele. Ainda ajoelhado, suas mãos fortes apertam meus seios, me fazendo
gemer ao sentir seus dedos apertando meus mamilos intumescidos sob a renda.
Em seguida, ele abre o fecho do mesmo, liberando-os para que sua boca sugue
um após o outro numa carícia lenta e torturante.
Nesse momento, arqueio meus quadris e ele arranca minha calcinha à medida
que seus dedos acariciam toda a minha intimidade.
— Por favor... — Digo, quase numa súplica.
— Calma, minha Soph, quero deixa-la desesperada por mim, pelo meu corpo no
seu!
— Eu já me sinto em desespero... — Escala meu corpo com seus lábios
alternando com beijos e leves mordidas, deixando minha pele toda arrepiada e
ansiosa por seu toque. Agarro seus cabelos ao sentir que sua língua invade meu
sexo.
— Ah, Sean... — Passo a língua em meus lábios e engulo seco. — Isso é tortura,
mas não ouse parar! Me chupa toda, meu amor!
Suga-me com força e ao olhar para suas bochechas côncavas, arqueio meus
quadris gemendo seu nome como um mantra. Presa em suas mãos, me imobiliza
e sua língua se move verticalmente sem parar. Tento em vão puxá-lo para mim.
— Gostosa... — Morde de leve o interior de minhas coxas e sobe com sua boca,
numa nova trilha de beijos e lambidas eróticas. Morde meu ombro, meu pescoço
e em seguida, segura minha cabeça em suas mãos e seu membro roça em minha
entrada. Esfrega-se deliberadamente de modo provocativo.
— Nunca pensei que a amaria tanto... Você me completa todo, Sophia. — Seus
olhos transcendem todo esse amor indivisível. — Saber que me ama, me faz
maior do que realmente sou. — Abro minha boca para responder, porém seu
beijo me cala e é nele que Sean busca sua resposta. Encaixado entre minhas
pernas, me penetra devagar e num ritmo lento e com estocadas profundas, seu
gemido involuntariamente rouco é abafado por nosso beijo. Sua língua se
enrosca na minha numa dança erótica e, assim exploramos mais uma vez um
mundo novo, sensações diferentes que nos deixam satisfeitos e sempre ansiosos
por mais. Aumenta seu ritmo e segura uma de minhas pernas, metendo mais
fundo. Sinto meu sexo se contraindo e tento absorver e ao mesmo tempo
prolongar essa maravilhosa sensação de prazer pleno.
— Oh, Sophia... — Fala entre gemidos ao sentir que o aperto ainda mais dentro
de mim.
Gozamos quase juntos, como se estivéssemos totalmente interligados. Segundos
se arrastam e meus dedos correm por suas costas, pela lateral de suas costelas.
Ergue seu rosto lindo e sorri.
— Não morremos? — Fala em tom de malícia.
— Não. Gostei muito da tentativa e ansiosa pela próxima.
— Safada!
— Gostosão!
Ainda com ele dentro de mim, remexo meu quadril, incitando-o.
— Você é quem pediu, sra. Mackenzie!
Morde meu queixo com força e me aperta forte em seus braços.
Aí, já era! Começamos tudo de novo!
[...]
Um tempo depois, comemos um lanche servido por Mercedes, a copeira e
ficamos deitados na varanda olhando para o mar e seu lindo pôr-do-sol. Sean me
convida para sairmos mais tarde para conhecermos um pouco da vida noturna do
lugar.
— Não conhecia o Caribe, adorei. Ainda mais na companhia do meu amor! —
Comento. — Ergo meu rosto e o encaro.
— Estive algumas vezes aqui, mas essa é especial. — Entrelaça seus dedos ao
meu. — Há vários locais para conhecermos e um deles é o Moomba Beach.
Dizem que é um dos melhores lugares daqui.
— Tenho certeza de que vou amar. E amanhã quero dar um mergulho na praia e
me deitar na areia, que tal?
Na rede, deita-se sobre seu corpo e seus braços me envolvem com aquele sorriso
'Me enterre que dói menos, como sempre diz a doida da Lay', responde:
— Ótima ideia, não necessariamente nessa ordem!
Curiosa, ergo meus olhos e o encaro.
— E em que ordem seria?
Pigarreia e se faz uma cara séria e como já o conheço, sei que vai fazer graça.
— Primeiro, entramos no mar...
— Hum, e...? — Com ar de curiosidade, espero sua conclusão.
— Depois, vou te cobrir de beijos dentro da água...
— Hummmm... Já gostei dessa nova alteração. — Roça sua barba por fazer em
meu rosto.
— Depois, irei enlaçar essas longas pernas em minha cintura... — Agarra minha
bunda e a aperta e em seguida, passa as mãos em minhas coxas, segurando — As
de modo firme.
Suspiro e rebato.
— E aí?
— Aí, vou meter gostoso em você dentro do mar e com seu corpo colado ao
meu, não satisfeito, irei deitá-la na areia e amá-la ainda mais. Então só depois
disso, sigo a sua ordem.
Beijo seus lábios e minha língua invade sua boca gostosa.
— Me deu uma vontade de ir à praia nesse exato momento! — Brinco, enquanto
sua boca desliza pelo meu queixo.
— Amanhã, prometo que iremos, minha esposa.
— Promessa para mim é dívida, Excelência.
— Sempre cumpro minhas promessas! — Ficamos deitados sentindo a brisa do
mar e o lindo entardecer de Aruba. Adormecemos e mais tarde nos arrumamos
para a nossa noitada caribenha!!
Por Alexia
Aidan me chama para dar uma volta à tarde, na verdade, estou um caco. O
casamento me esgotou as forças, mas ele pede com tanto jeito que acabo não
recusando.
— Venha até meu quarto, vou me trocar e a gente sai.
— Isso não é uma boa ideia, meu amor! Se eu a acompanhar, adeus passeio.
— Que nada, tenho certeza de que nosso passeio nos reserva coisas mais
excitantes do que uma rapidinha em meu quarto. — Pisco para ele.
— Tem toda razão meu amor!
Subimos até meu quarto e vou direto para o banheiro. Aidan me espera na cama.
— Amor! — Grito do banheiro.
— Oi.
— Me faz um favor?
— Diga. — Responde, prontamente.
— Abra minha gaveta do criado-mudo e pegue um vidro azul, são minhas
vitaminas. —Meu médico prescreveu algumas delas e confesso que isso me fez
muito bem.
— Ok, meu amor! — Ele entra no banheiro e ao sair do box me entrega um
comprimido.
— Vou espera-la na biblioteca, Alexia. Lembrei-me de tenho um telefonema a
fazer.
— Tudo bem. — Mesmo achando muito estranho esse telefonema aparecer
assim tão de repente, não o questiono.
Beija minha boca de leve e sai do banheiro e o bater da porta confirmam que ele
desceu.
Por Aidan
Alexia está mentindo para mim, sei que ela queria escrever um livro erótico e fui
absolutamente contra. Combinamos que eu iria ingressar na carreira política
como deputado e que ela poderia esperar um pouco mais, porque o partido a que
me filiei faz parte de uma ala conservadora e com o apoio de Sean seria
facilmente eleito.
Agora, ao abrir sua gaveta vejo um envelope com uma etiqueta e tenho certeza
de que é um novo livro. O pen drive contido no mesmo confirmam minhas
suspeitas. Se ela quer ser escritora é claro que terá todo meu apoio, mas não
escrevendo sobre sexo. Ela sabia minha opinião desde quando veio com essa
ideia.
Na biblioteca, abro o documento que está salvo no pen drive e em poucas linhas,
um conteúdo explícito aparece nas palavras escritas por minha futura mulher.
Leio uns dois capítulos e ouço passos vindo pelo corredor. Retiro rapidamente o
pen drive, guardo-o em meu bolso e pego o telefone do gancho fingindo falar
com alguém.
— Vamos, estou pronta.
— Valeu a demora, você está linda!
Levanto-me da cadeira e vou ao seu encontro.
— Vamos? Saio abraçado a ela e fico remoendo o porquê dela não me contar
sobre o livro. Quero ver até quando ela irá me esconder essa história!!
Noite em Aruba
Por Sean
— Vamos procurar a nossa mesa e nos sentarmos, Sophia!
Mantenho meu braço sobre seu ombro e enquanto ela caminha à minha frente
amarro a cara para vários babacas que desviam seu olhar para minha esposa. E
isso me faz pensar em como o mundo dá voltas. Antes, eu era um desses caras e
acabava flertando mulheres pouco me importando se elas estavam
acompanhadas ou não. Hoje, percebo o quão patético eu era.
Um tremendo ridículo. Quando disse à Sophia que ela me transformou em um
novo homem, simplesmente, ela me deu seu sorriso contagiante e disse: Não o
transformei em nada, tudo o que você é hoje, estava aqui dentro. — Tocou meu
peito alisando meu tórax com carinho. — Você só não sabia disso, meu amor!
Antes, um olhar dirigido a mim, era a porta para mais uma conquista barata que
acabaria em uma cama. Depois, era partir para outra sucessivamente. Manter um
relacionamento monogâmico era a pior coisa que alguém poderia ter inventado.
Hoje, ser fiel à Sophia não é uma obrigação e muito menos modelo de conduta,
isso me é natural. Nada além dela ocupa a minha mente e meu coração. Estar
ligado à uma só mulher é algo que me torna maduro e completo.
Chegamos até a nossa mesa e arrasto uma cadeira para minha esposa.
Moomba Beach é um local bem frequentado. Ele conta com dois grandes
quiosques. Um bar e outro restaurante. E o mais interessante é que se pode beber
ou comer apreciando o mar à sua frente.
Chamo o atendente e um rapaz de estatura baixa, origem mexicana e com um
sorriso mostrando seus dentes largos e brancos se aproxima.
— Buenas noches, señor. — Entrega-me o cardápio e seu sotaque é uma questão
de orgulho transparecido em sua voz.
— Quero uma cerveja e para minha esposa um Sunset of the beach. — Ele anota
com muita rapidez e minha esposa me olha pelo canto dos olhos.
— Posso saber o que vou beber, meu amor?
— Algo que vai gostar e sem álcool. — Sorrio. Ao fundo, a música latina e os
drinks servidos deixam as pessoas mais soltas, falando alto e mais alegres. Posso
ouvir sons de uma risada mais do que reconhecível vindo de uma mesa ao fundo.
Não é possível que existindo tantas praias nesse mundo, Willy Fauer escolheu
Aruba para fazer suas gracinhas.
— Algo errado, Sean? — Sophia percebe meu incômodo e me recomponho.
Willy é um deputado popular e que na vida privada mantém seu humor até nas
horas mais impróprias. Ele surgiu na esfera política com o apoio do povo. No
congresso, é um defensor ferrenho das classes menos favorecidas.
— Não, desculpe-me Soph! — Seguro sua mão nas minhas e acaricio seus
dedos. O atendente volta com nossos pedidos e mantenho as risadas de Willy
fora do meu campo auditivo, confesso que isso será uma árdua tarefa. Depois de
beber mais duas cervejas, peço licença à minha esposa e vou ao banheiro. Não
há fila, o que me deixa despreocupado, pois não gosto muito de esperar.
No banheiro, enquanto lavo minhas mãos, a imagem de minha última conversa
com William surge como um telão em minha frente. O que era para ser uma
reunião de homens sensatos transformou-se numa enorme discussão e alguns
poucos políticos que estavam presentes tentaram a todo custo acalmar nossos
ânimos. Não sei ao certo como tudo começou. Fui convidado a comparecer em
uma reunião com alguns deputados para acertarmos questões burocráticas
pendentes.
Reparei que, ao entrar na sala, William também havia sido convocado para a tal
reunião e em determinado momento em que eu expunha minhas ideias, o
deputado começou a fazer brincadeiras desnecessárias tentando desviar o foco de
minha fala. Pigarreei mesmo com essa interrupção e continuei expressando meu
ponto de vista.
Insatisfeito, o recém-eleito deputado me insulta, fazendo com que eu perdesse
meu controle.
— Ora e não é que o 'senador almofadinha' pensa? Sempre o imaginei
brincando de cavalinhos de raça e carrinhos de luxo!
Qual é a desse sujeito? Por acaso, ele conhece meu trabalho. — Pensei. — Sabe
os esforços pelo qual venho lutando junto às empresas privadas e públicas e
outras instituições para angariar fundos para projetos que beneficiem as classes
menos favorecidas. Tenho certeza de que ele nem fazia ideia. E então, parti para
cima dele sem nenhuma hesitação, tentando calá-lo. Aidan e outros dois colegas
me seguraram, no mesmo momento em que outros seguravam William enquanto
trocávamos várias ofensas. Por fim, acabamos nos acalmando, porém, uma
tensão ficou instalada ali e o clima ficou péssimo e a reunião foi encerrada.
William é um dos mais influentes deputados eleitos pelo partido republicano.
Nunca escondeu sua origem humilde. Também nunca ligou para baixarias e
muito menos dispensa uma boa briga. Na época, nosso desentendimento não foi
noticiado pela imprensa por se tratar de uma reunião interna, todavia isso irá
mudar quando se iniciarem as campanhas eleitorais. Sei que ele pretende
concorrer à uma vaga ao Senado e com sua enorme popularidade não me
espantaria se fosse eleito com uma margem extensa de votos. Balanço minha
cabeça em negativa perante o espelho.
Que isso, Sean! O que pensa que está fazendo? Para que trazer esse assunto tão
desgastante justamente aqui num bar onde você e sua mulher se encontram em
lua de mel?
Minha razão me traz de volta. Não é hora e muito menos local para se tratar
desse assunto. Sophia e eu já passamos por muitas situações tribuladas e difíceis
e agora o momento é deixar que tudo isso se mantenha em total distância. Saio
do banheiro e não acredito no que meus olhos veem.
Sophia e William trocam um fervoroso abraço e ela o convida a sentar-se em
nossa mesa.
Eles não me veem e de longe, fico observando por mais alguns segundos. Ele faz
uma careta e Sophia ri como se as famosas palhaçadas de William fossem as
mais engraçadas que ela já vira.
Ao me aproximar, noto que ele mantém a sombrinha de papel do coquetel em
seu nariz. Ao cruzar meus olhos com os dele, tento transmitir através deles que
já é hora do sujeito cair fora, porém antes que isso aconteça, Sophia comenta.
— Meu amor, que bom que chegou, você não imagina quem eu reencontrei.
Não posso acreditar! Sophia não irá me dizer que o conhece? Só me faltava
essa!
Ela prossegue.
— Esse é Wi... — A interrompo, pois quero que ela perceba que não quero
estender a conversa com esse homem.
— William Fauer, deputado federal pelo partido republicano. — Sem retirar as
mãos dos bolsos para estende-las em sinal de civilidade, minha esposa percebe
que há algo estranho entre ele e eu.
— Ah, que bom, então podemos dispensar as apresentações. — Diz.
— Ér... Sim, Sophia, conheci seu marido ao ingressar na vida política. — Ele
responde.
— Sean, William está hospedado na casa de amigos, próxima à nossa casa.
— É mesmo? — Pergunto sem nenhum interesse.
A questão é uma só.
De onde Sophia conheceu esse sujeito insuportável? Amizade ou existiu algo
mais?
— Sim, estou na casa dos Fergson. — Faz uma pausa. — Soph, foi muito bom
revê-la, agora que lhe reencontrei, não quero perdê-la de vista. Espero poder
visita-la em Nova Iorque.
— Mas é claro, Willy agora que nos encontramos novamente, não quero perder
meu contato com você.
Espera aí? Agora, ele é Willy? E o cara a achou por Soph?
Achei que somente eu a chamasse assim de modo tão íntimo. Sentado à mesa e
totalmente a parte na conversa, aguardo a oportunidade de chama-la para
voltarmos para casa. A nossa noite acabou. Fecho a cara e o sujeito percebe na
hora resolvendo de despedir.
Sophia para me deixar mais irritado, entrega a ele um cartão com seu telefone.
— Só me ligar, a qualquer hora, Willy. Ele pega em sua mão e aperta entre as
suas, em seguida, deposita-lhe um beijo ali.
Meu rosto pega fogo de raiva e meu maxilar enrijece, me fazendo morder o
canto da boca até sangrar.
— Até mais, Soph. — Finalmente, ele se vai e Sophia me lança seu olhar sagaz.
— Pode me dizer que bicho lhe mordeu? Ou melhor? Que comportamento mais
infantil é esse? Não o estou reconhecendo Sean! — Me olha, indignada.
— Vamos embora. — A ignoro e faço sinal ao atendente pedindo a conta. O
mesmo se aproxima e entrego-lhe meu cartão.
— Ainda não terminei meu coquetel! — Pela primeira vez em todo nosso
relacionamento, Sophia me responde em tom de desafio. O atendente volta
trazendo meu cartão, agradece e sai. Me levanto e seguro em seu braço.
— Pois então, pegue seu copo e o termine a caminho de casa!
Mesmo a contragosto, ela se levanta e saímos do Moomba Beach. O que era
para ser uma noite agradável, de repente, se tornou numa noite com um clima
pesado entre nós. Estaria eu com ciúmes?
Sim. Estaria. Depois de Richard, essa foi a segunda vez que sinto ciúme de
Sophia. Sei que isso é uma bobagem, pois sei o quanto ela me ama. O que me
incomodou também foi descobrir que o amigo de minha esposa é um dos meus
adversários políticos. Acho que desconfortável seria a palavra correta para
descrever o que senti.
Dentro do carro, a caminho para casa, tentei inúmeras vezes puxar conversa com
minha mulher, mas ela resolveu adotar a política do sim, do não ou talvez. Ao
entrar na sala de casa, explodo.
— Você não acha que quem deveria estar de cara feia seria eu e não você?
Hein?
— Cara feia? Quem aqui está com cara feia? Eu? — Me olha com sarcasmo.
— Ah, não está? Vai ser cínica agora? Vai negar que ficou assim depois que
reencontrou seu amiguinho.
— Sean, menos, por favor! — Ela sobe as escadas, me dando as costas e eu a
sigo. Sophia se fechou em algum lugar e quer se manter ali.
Ao entrarmos no quarto, calmamente ela deposita a bolsa em uma cadeira e seus
olhos negros me encaram.
— Posso saber por que não gosta dele?
— Do seu amigo?
— Não, do Rei Arthur! — Deixa seus braços caírem ao lado de seu corpo,
demonstrando insatisfação. — De quem mais estávamos falando? Por que não
gosta do deputado William Fauer? Vi que não curte a cara dele e vice-versa.
— Discutimos por motivos políticos, nada mais.
— Quais seriam? — Pergunta séria.
— Sophia... — com as mãos na cintura, rebato. — Acabamos de nos casar,
estamos em lua de mel, não a trouxe em Aruba para falarmos de política, fui
claro? — Acabo atacando-a. — Por que quer saber? Ainda não me disse de onde
o conhece!
— Quero saber se você é como os outros hipócritas que habitam aquele covil
chamado senado e menospreza alguém que veio de tão baixo como Willy.
— Tão baixa? Como assim? — Cerro meus olhos a encarando seriamente.
Ela altera a voz e seu tom assume um modo firme.
— Responda Sean, perguntei primeiro.
— Não é nada disso. Não gosto daquele sujeito porque há algum tempo atrás,
trocamos alguns desaforos e só não partimos para a agressão porque nos
separaram. — Atesto. — Conheço muito pouco sobre a carreira meteórica dele.
O que sei é que era pobre e hoje, conseguiu seu lugar ao sol. Tinha uma
lavanderia e era presidente de uma associação que cuidava de moradores de rua.
Está achando que não gosto dele por ser pobre?
Fica em silêncio.
— Se pensou isso de mim é porque não me conhece, Sophia. Nunca
menosprezei ou destratei quem quer que seja por mera classe social. Discuti com
seu amigo e ele me chamou de Senador almofadinha. Isso me deixou muito
irado, mas mais furioso ainda ao vê-lo chamando-a de Soph.
Ela disfarça um sorriso.
Por Sophia
Sean sai da mesa e se encaminha para o banheiro. Um cara de cabelos castanhos
não para de olhar em minha direção e isso está me deixando incomodada. Não
contente com isso, ele se levanta e olha diretamente para o colar em meu
pescoço. Meu primeiro colar, aquele que Marcella deixou comigo antes de me
abandonar. Nossa que coisa mais depressiva para se lembrar logo agora? Deixa
isso para lá. O fato foi que o homem olhou para mim e disse:
— Não nos conhecemos de algum lugar? — Para uma cantada, ele não tem
nenhuma originalidade.
Respondo secamente que não. E aí ele me pergunta.
— Você não é Sophia da Filadélfia?
Meus olhos pairam em seu rosto penso de onde esse sujeito me conhece? Será
que andei roubando-o? Pagarei para ver.
Antes de responder, ainda olho para o banheiro masculino e nada de Sean.
— Sim, morei na Filadélfia. Não quero ser grosseira, mas o senhor me conhece
de onde?
— Senhor? Qual é Soph? Não me reconhece mais? Sou eu, Chuckie, lembra? Ao
ouvir esse nome, meu coração parece que vai bater forte até explodir. Meu
amigo de rua, meu companheiro Chuckie. Ele está mais gordo. Levanto-me da
cadeira e o abraço forte.
Ele me conta que me procurou por toda a Filadélfia, mas foi em vão. Achou que
eu estivesse morta e desistiu de me procurar. Disse que também pensava o
mesmo dele e que estava muito feliz em constatar-me de que ele venceu na vida
como tanto queria. E agora, parada em meu quarto com Sean em minha frente
imitando William dizer meu apelido é muito hilário. Gostaria
de ter uma câmera e filmar sua cara impagável.
— Não me diga que está com ciúme de Willy, Sean? — Não me responde e me
lança outra pergunta.
— De onde o conhece?
— Bem, é uma longa história. Está disposto a ouvir? — Ele senta em uma
poltrona em frente à cama e eu escolho o colchão.
— Das ruas da Filadélfia. Para muitos William, Willy, mas para mim, apenas
Chuckie.
— Nunca soube que ele fosse morador de rua. — Sean fala com a mão no
queixo.
— Também fui e você só ficou sabendo porque contei e Vicenzo confirmou a
história. São poucos os que tem coragem de dizer de onde vieram, poucos falam
abertamente sobre esse assunto, fica como uma cicatriz escondida.
— Entendo, perfeitamente e me perdoe. Fui um idiota. — Tenta se levantar, mas
faço sinal para que permaneça onde está.
— Havia acabado de fugir do orfanato, tentei voltar e essa parte você já sabe. —
Começo a narrar mais uma parte de minha história. — Antes de Vicenzo me
adotar como sua filha, vivi alguns anos como moradora de rua, que foram para
mim os mais difíceis. Ali, eu tinha que sobreviver a cada dia a fome, frio, à
maldade das ruas e a indiferença da sociedade. — Tudo vem à tona como um
filme que você resolve rever. — Na rua, ou você se impõe ou se junta a um
grupo, um bando melhor dizendo, como sistema de defesa. Foi me sentindo
sozinha e desprotegida que m juntei ao bando de Chuckie. Ele liderava um
pequeno grupo de 4 meninos e 2 meninas. Era o cara mais esquentado e violento
que conheci. Com cara de mau e magérrimo, com uma cabeleira vermelha e
espetada ganhando o apelido de Ckuckie.
Sean me ouve atentamente.
— Nesse grupo, ele me ensinou a sobreviver nas ruas. Ali, todos os respeitavam.
Havia a lei de Chuckie, quem não as seguisse, sofria as consequências. Eu
morria de medo dele e foi numa tarde quente de primavera que ele me fez
gargalhar pela primeira vez. Colocou em seu nariz duas cascas de limão, uma em
cada narina, e fez uma das caretas mais engraçadas que já vira. O que hoje
parece patético, na época era muito engraçado. Ele era o meu palhaço, o medo
que sentia por ele foi-se embora, mas o respeito continuava ali. Ele foi o meu
Vicenzo das ruas. Ninguém encostava a mão em mim. Ele me protegia como se
eu fosse um filhote. O seu filhote. Me protegia de tudo. As duas garotas que
faziam parte do grupo resolveram partir para outro caminho, o da prostituição e
nunca mais as vi. Três dos outros meninos também tiveram um destino muito
infeliz. Dois deles foram mortos em um assalto e o outro morreu vítima de
atropelamento. Sobraram eu, Chuckie e Valentim.
Minha voz sai por um fio e Sean se senta ao meu lado no colchão. Meus olhos
ficam embaçados e ele tenta me impedir de continuar.
— Sophia, meu amor. Já chega. Olha, não é bom você ficar triste em seu estado.
Não a quero triste, por favor!
— Não estou triste, meu amor. Fique tranquilo, nosso bebê sabe a mãe que tem e
ele também será forte.
— Valentim era muito raquítico, quieto e triste. Numa noite muito fria, nós
tentamos aquecê-lo com nossos corpos tentando salva-lo de uma pneumonia.
— Sophia, por favor. —Sean ainda tenta me impedir de falar.
Tudo parece estar ali em minha frente. Quantas vezes não sonhei estar nas ruas e
aos prantos acordava aos berros e Vicenzo vinha para me abraça.
— Você é o terceiro a saber dessa parte de minha vida. O primeiro é o próprio
Chuckie que viveu isso tudo comigo. Segundo: Vicenzo com quem partilhei
minha dor. Agora, quero que saiba tudo sobre mim. Nesse dia, mesmo servindo
de cobertor para Valentim, ele morreu ao amanhecer. Restaram somente nós
dois. E desse dia em diante nos tornamos inseparáveis. Ele se mostrou o mais
fiel amigo que tive.
— Mesmo que tudo fosse difícil, ele usava suas brincadeiras para amenizar a
nossa dor. Chuckie não era de fazer carinho e nem de receber abraços ou beijos.
Demonstrava o seu jeito de gostar de outra forma onde não houvesse o toque. O
máximo que ele me toucou foi um carinho em meu cabelo e quando, hoje, recebi
o seu abraço hoje, percebi que muitas de suas feridas também haviam sido
curadas, Sean.
Meus olhos lacrimejam.
— Sophia...
— Numa véspera de Natal, vagávamos famintos pelas ruas enfeitadas do centro.
Deviam ser umas oito horas da noite e ao parar em uma vitrine de uma padaria,
meu olhar recaiu em vários donuts coloridos. O cheiro de baunilha penetrava em
meu nariz e batia direto em meu estômago. Um segurança se aproximou e como
sempre nos afastou dali. A fome era tanta que minhas pernas estavam fracas e
bambas. Mas mesmo assim, eu gostava de correr meus olhos pelas vitrines e
mesmo achando que Papai Noel não sabia que eu existisse, sonhava um dia estar
numa sala linda com uma imensa arvore e vestindo um vestido verde água que
estava bem em minha frente em outra vitrine cobrindo um manequim.

— Aquele vestido era algo inalcançável para mim, Sean. — Olho para meu
marido que me ouve com seu semblante agora austero. — Mais tarde, ainda com
fome, sentados embaixo de um viaduto, onde dormíamos, Chuckie ajeitou o meu
cabelo e disse que um dia, venceria na vida só para me comprar aquele vestido e
ver meus olhos brilharem como quando estava a olhar a vitrine.
"Você é linda, Sophia. Tem nome de princesa! Um dia, quero te ver brilhando."
— Ele disse.
Mal consigo falar tamanha minha emoção.
— Cheirando mal, toda rasgada e com dentes sujos, mesmo assim, ele me
elogiava e me fazia acreditar em suas palavras. Ele me dava esperanças, me fazia
sentir bela, Sean. — Abraço meu marido aos soluços e ele também fica
emocionado.
— Sophia, não tive a intenção de faze-la chorar, me perdoe. Vamos esquecer
isso.
— Não estou lhe contando isso para que tenha pena de mim, mas para que veja o
quanto respeito William e porquê. Não são lembranças tristes, são minhas
memórias e pretendo guarda-las comigo. Nem no orfanato com cama, roupas
limpas e comida eu me sentia bem como na companhia de Chuckie.
— No dia de natal, amanheci com uma febre muito alta. Gripe. Fome e frio,
muito frio. Abri meus olhos com dificuldade e disse ao meu amigo que Deus era
muito injusto às vezes. Ele tocou minha testa e tirou do seu corpo o seu único
velho e rasgado casaco. Me cobriu e disse.
"Seja forte, aguente, eu volto." — Via a preocupação estampada em seu olhar.
Seria mais uma amiga que ele perderia. "Me espere, Soph, por favor, não me
deixe! "
— As horas se arrastaram e eu comecei a ficar preocupada pela sua demora. O
tempo nublado e com nuvens carregadas anunciava chuva eminente. Ao
entardecer, já não aguentava mais de tanto frio e fome. Fechei os meus olhos e
chorei muito, como há muito tempo não fazia. E foi aí que ouvi uma voz
gritando ao longe.
Mordo minha mão para criar forças para contar a Sean o desfecho da minha
história. Ele me abraça por trás e aconchegada nele, eu continuo.
— Ele gritava “hô, hô, hô” como Papai Noel e trazia em sua mão duas sacolas.
Se aproximou de mim e disse.
"Sabia que não iria me deixar, trouxe algo para você, Soph. Feliz Natal, minha
princesa."
Não sei lhe explicar o que senti, mas o frio que sentia, foi-se embora.
Continuo a relatar tudo como se isso tivesse acontecido ainda ontem.
— Numa das sacolas havia 2 cachorros-quentes e refrigerante e também uma
caixinha de remédios. Me fez tomar o comprido e comer todo meu lanche, o que
fiz em poucas mordidas. Era meu melhor natal e o melhor lanche que havia
comido.
— Sean...
Me viro e as lágrimas escorrem do rosto de meu marido.
— Eu sabia que ele havia passado a tarde toda roubando, batendo carteiras, mas
naquele momento aquilo era o máximo que alguém havia feito por mim.
Sean tenta enxugar minhas lágrimas e eu as dele. Beija meus lábios e pergunta.
— E o que havia na outra sacola?
Outra crise de choro me abate.
— Na outra sacola, ele me trouxe uma caixa cheia de donuts e uma echarpe
verde água, disse que era para combinar com o vestido que um dia ele me daria.
Mais lágrimas caem do meu rosto e também do rosto de Sean.
— Entende a minha alegria ao saber que ele venceu na vida?
— Claro que entendo, meu amor. — Toca meu rosto com carinho.
—Um dia, ele saiu cedo e não voltou mais. O procurei por todos os lugares e
alguns dos moradores que o conheciam me disseram que ele havia sido preso e
transferido para outro estado. Nunca mais o vi e como não sabia seu nome
verdadeiro não consegui localiza—lo. Esse é meu amigo William e tenha certeza
de que se ele será um grande político como você se tornou. Espero que vocês se
deem bem e trabalhem juntos para tirarem das ruas as inúmeras Sophias,
Chuckies e Valentins que estão espalhados por aí. Eu o amo, Sean e sei que fará
isso por mim e pelo seu coração. Que não façam como muitos que se fecham em
seu mundo e não os enxergam.

— Agora, senhora Mackenzie vamos fazer o seguinte. — Ele se levanta da
cama. — Amanhã, ligue para seu amigo e diga que ele está convidado a jantar
conosco. Será um prazer recebe-lo. Vamos começar do zero e eu a amo, minha
Soph. — Sorrio ao ouvi-lo dizer isso.
— Jura? — Me jogo em seus braços e ele me aperta. — Deus me fez passas por
tantas coisas difíceis para que eu pudesse chegar aqui hoje e viver isso tudo.
Amo viver, amo todos da minha família e amo o homem com quem quero passar
o resto dos meus dias.
— Para sempre. — Diz. — Agora, chega de emoções por hoje, você está com
uma aparência horrível, cama já!
Ele me acompanha até o chuveiro, me ajuda a tomar um banho e a me enxugar.
Me sinto mimada e amada ao mesmo tempo. A seguir, me ajuda a colocar minha
camisola. Sei que se eu quisesse sexo, Sean ele estaria ali, pronto para mim, me
desejando e me querendo como sempre. Mas não era isso que eu queria naquele
momento e Sean me deu exatamente o que eu esperava.
Abraçado a mim, ele faz carinho em meu cabelo e diz em meu ouvido.
— Casamento é isso, viver as alegrias e dividir com quem se ama todas as
tristezas, amo tudo o que temos, agora descanse minha linda.
[...]
Acordo com o Sol batendo nas cortinas. Ao lado de meu travesseiro, um bilhete.
Não quis acordá-la, sra. Mackenzie, pois dormia como um anjo. Aguardo-a
ansioso no jardim para tomarmos nosso primeiro café da manhã de
casados.
Do seu eterno
Sean
Tomo um banho rápido e coloco minha saída de banho, ao chegar ao jardim,
Sean está deitado em uma espreguiçadeira, com óculos escuros e sem camisa.
Nosso café da manhã promete...
Me derreto por você!
Por Sophia
Ele não percebe a minha presença, portanto paro por uma fração de segundos e
fico a observá-lo. Sean não é somente um homem bonito e atraente. O que mais
me prende a ele, são suas atitudes tão surpreendentes em certas circunstâncias.
Ontem, ele me mostrou duas faces bem distintas de sua personalidade; a
primeira aparece como um animal raivoso defendendo sua fêmea e logo, seu
comportamento muda radicalmente e sua maturidade aparece e me deixa ainda
mais apaixonada.
— Bom dia, meu amor! — Me aproximo e ele vira-se para mim. — Senti sua
falta e quando acordei e não o vi junto de mim, achei que você tivesse desistido
de mim e dado o fora!
Tira seus óculos, sorri e, em seguida estende sua mão a mim.
— Venha cá! — Me puxa para ele. Beija minha boca, num roçar de lábios. —
Por que acha que eu faria uma coisa dessas?
— Desculpe-me, ontem eu não fui uma boa companhia!
Toca meu rosto, erguendo meu queixo para que o encare.
— Sophia, obrigado.
O olho sem entender ao que se refere.
— Não entendi. Obrigada pelo quê? Acho que quem deve agradecer aqui, sou
eu.
— De modo algum! — Continua. — Agradeço por confiar em mim e por ser
minha mulher. Uma mulher que não carregou uma única mágoa pelo passado
que teve.
— Que isso, meu amor. De nada adiantaria me tornar amarga e ressentida? —
Ergo meus ombros.
— Pois então, é exatamente por isso que se torna mais especial para mim. Sabe,
estava aqui pensando antes de você chegar. — Alisa meu antebraço. —
Imaginei-a nas ruas e, por um momento, quem deveria estar em seu lugar era eu.
Você é a verdadeira herdeira de Harry e eu o que era? Um filho ilegítimo.
— Shhh... — Coloco meu dedo em seus lábios para que não diga mais nada. —
Isso já passou, ok? Vamos esquecer isso tudo e obrigada por aceitar Willy como
meu amigo. Não imagina como me senti quando você disse que poderia convidá-
lo para jantar conosco.
— Hum, sabia que isso subiria meu conceito. — Franze sua testa com todo seu
charme. — Então, fiz mais. — Abre a boca e suspira, fazendo suspense. —
Tomei a liberdade de ligar para ele, hoje de manhã.
— Você ligou para ele? — Como será que Sean o abordou durante a ligação? O
que será que eles conversaram? — E aí?
Ah, perdi essa! Não me conformo de ter dormido tanto! beijo seu pescoço. Tem
como não amar esse homem?
— Ele achou que eu fosse xingá-lo ou coisa do tipo. Mas, levantei bandeira
branca e tomei a liberdade de dizer a ele que agora sabia da verdade e pedi
desculpas por ter entendido tudo errado.
— E ele?
— No final de tudo a gente riu ao telefone. Ele disse que entendeu o meu lado,
porque se fosse o contrário, também sentiria ciúmes. Convidei-o para jantar com
a gente, nessa noite, que tal?
Acho que todas as mulheres do mundo deveriam encontrar um exemplar de Sean
Mackenzie em algum lugar por aí. Sempre me fazendo surpresas que me deixam
mais feliz.
— Eu o amo, Sean. A cada dia, o amo mais!! Adorei, você é perfeito!
— E eu amo vocês! — Deposita sua mão em minha barriga. — Minha família, a
partir de agora!
— Assim, você me deixa muito convencida.
— Tem todo o direito, pode ficar, eu deixo. — Acaricia meu pescoço com seus
dedos, descendo por meu colo até chegar na curva de meus seios. — Mas não
deixei aquele bilhete em meu travesseiro para ficar aqui sem meu café da
manhã!! — Nesse momento, suas mãos escalam minha barriga por baixo de
minha saída de banho e sua boca gostosa cobre a minha. Seus dedos acariciam
meus mamilos que ficam sensíveis ao seu toque.
— Sean... onde está a empregada, os seguranças? — Olho para os lados, com
receio de estar sendo vigiada.
— Não se preocupe, dispensei a todos!
— Hum, sendo assim... — Me deixo levar por suas carícias. — Adoro café da
manhã com você, sabe disso! — Minhas mãos correm por seu cabelo e o puxo
para mim aprofundando nosso beijo. Seu gemido rouco ecoa em minha garganta
e arqueio meus quadris, sentindo seu desejo através de sua ereção. Em seguida,
aperta minha bunda e é minha vez de deixar escapar um gemido ao sentir o roçar
de seu membro excitado me estimulando a cada investida.
— Eu também... adoro cada segundo ao seu lado, você me tem todo para você,
Soph. — Seus dentes prendem meu lábio inferior enquanto suas mãos se livram
de minha saída de banho me deixando totalmente nua sobre seu corpo. O roçar
de minha pele na sua me deixa mais desesperada ainda e minha mão um tanto
ousada desce pelo seu abdômen explorando sua pele firme e seus músculos
talhados para deixar qualquer uma com desejo de tocá-lo. Desço até o cós de seu
calção de banho e mais um pouco, deslizo por debaixo do tecido e pego seu
membro em minha mão.
Sua boca desliza por meu pescoço distribuindo beijos, lambidas e leves mordidas
que arrepiam todo meu corpo. Com minha ajuda, ele se livra do seu calção e nós
dois ficamos nus e ansiosos pelo outro. Em seguida, sua boca desce e ele toma
um de meus seios em sua boca, contornando meu mamilo com sua língua
quente. Segura-o em sua mão e o suga enquanto a outra mão desce em direção
ao meu sexo.
— Sean... — Quase imploro por ele, minha respiração falha ao ver que ele desce
pela espreguiçadeira mantendo-me ali imóvel. Ele vai me levar à loucura se fizer
o que estou pensando. Desce um pouco mais e com a voz carregada de desejo,
ordena...
— Suba um pouco mais... assim... isso... quero sua boceta na minha boca... —
Meu ventre chega a se contrair tamanho o desejo que sinto. Suas mãos fortes me
seguram pela cintura e me deixam totalmente exposta para ele. De um modo
mais selvagem, distribui leves mordidas entre minhas coxas, me fazendo
encolher tamanho o meu desejo e de minha garganta escapa um gemido alto ao
sentir sua língua aveludada abrindo meus lábios e me lambendo bem devagar.
— Ohhh, meu amor... — Minha única saída é acompanhar o seu ritmo.
Movimento meus quadris e seus movimentos se tornam mais exigentes. Ao olhar
para baixo, o vejo se tocando ao mesmo tempo que me chupa sem piedade.
— Isso, rebola gostoso em minha boca... — Sua barba por fazer roça em minha
pele sensível e quando meu orgasmo chega, ele suga-me com força e digo alto o
seu nome. Em um movimento rápido, ele sobe e me puxa para ele, me
penetrando todo numa investida só. Gemendo roucamente o meu nome, busca
minha boca, totalmente selvagem. Mete com força e me faz acompanha-lo
segurando meus quadris, me dominando toda. Sua língua se enrosca na minha e
sinto quando seu membro começa a pulsar dentro de mim, contraio meu sexo e
ele geme. Adoro fazer isso com ele, senti-lo também preso aos meus domínios.
Um outro orgasmo se aproxima e me entrego à essa sensação de amor e desejo
que Sean me faz sentir.
— Mete gostoso no meu pau... — Seus olhos se fecham e ele solta um gemido
animalesco ao se entregar todo a mim.
Solto meu corpo sobre o seu e ele me abraça, beijando minha testa toda suada.
Aliás, estamos muito suados.
—Agora, sim, acho que estou fazendo-a derreter. — Ele brinca.
— Se eu virar uma poça d'água, a culpa é sua!!
Tomamos um banho e depois preparamos nosso café da manhã.
Relaxados e felizes passamos a tarde toda andando pela praia e depois voltamos
para casa. Sean me ajuda com os preparativos do jantar que daremos mais tarde
para recebermos nosso amigo.
Por Beatrice
Meu filho se casou e eu não pude estar ao seu lado no altar. Sentada no pátio,
uma das detentas me entregou o jornal em que aparecem várias fotos dele com a
noiva. Senti uma dor tão grande! Esse era o meu sonho, ver meu Sean no altar. É
claro que não com aquela mulherzinha e sim, com uma mulher à sua altura.
Francis nunca mais me perturbou. Deve ter percebido que não sou tão frágil
quanto pareço. Nesse momento, Norma me chama e me avisa que uma pessoa
veio me ver. Quem será dessa vez?
Ao me aproximar da sala de visitas, o reconheço de costas. Joseph.
Corro para ele com uma sensação de alegria não justificável. Mas dentro de
mim, conheço a explicação para tal fato. Alguém se lembrou que eu existo, sabe
que mesmo que tenha errado, tenho sentimentos e me sentir abandonada por
todos me trouxe uma forte angústia e desespero.
— Joseph!
Ele se vira para mim e em sua mão direita segura um buquê de gérberas
brancas.
— Beatrice! — Se aproxima e me beija no rosto. Um sentimento de vaidade
aparece. Gostaria de me sentir bela, perfumada e estonteante como antes e não
usando esse uniforme horrendo, cheirando a sabão em pedra de péssima
qualidade. Já não tenho o mesmo brilho e beleza. Uma única coisa é certa.
Ninguém tirou minha elegância.
Sentamos em um banco e uma das agentes se mantém por perto, monitorando
todos os meus passos e palavras. Por bom comportamento, as pessoas que vem
me visitar não precisam me ver somente através de um vidro ridículo.
— Me conte querido, como foi o casamento de Sean?
E para a minha surpresa, Joseph conta-me que preferiu não ir. Achou melhor
assim, não queria parecer um intruso e forçar a situação. Não era o momento
para isso e sim dia de comemoração.
— Claire foi e me disse que foi um casamento muito lindo.
— Ela disse? — Pergunto, curiosa.
— Sim. Ela e Harry estão juntos.
Harry e Claire? Ora, ora, quem diria? Me jogou nesse inferno e resolveu por as
manguinhas de fora.
Harry, aquele safado!
— Não sabia, Joseph!
— Pois é, minha irmã sempre foi apaixonada por ele, isso você sabia, não é?
— Sim, sabia. — Sorrio de modo sem graça e como um homem muito educado,
Joseph muda o assunto e falamos de outras coisas que não sejam desagradáveis.
Terminado nosso tempo, ele se despede e reafirmo mais uma vez o quanto fiquei
feliz com sua visita. Ele me promete voltar mais vezes.
Vejo-o saindo e antes de desaparecer de meu campo de visão. acena com um
sorriso no rosto.
É, Beatrice, escolhas erradas que fizeram toda a diferença. Pensando assim,
volto para minha cela e lá fico olhando a foto do casamento de Sean por horas a
fio...
Ah, safadinho!!
Por Sophia
— Pode deixar, meu amor, eu abro a porta! — Sean se apressa ao ouvir a
campainha tocando.
Ouço a risada de Willy e me junto a eles no hall de entrada. Sean o cumprimenta
e convida a se sentar na sala de estar, enquanto pega uma bebida para todos.
Meu amigo, como sempre, arruma uma maneira de me surpreender e em suas
mãos uma caixa branca com um laço enorme de cetim verde.
— Para você, Sophia! — Acho que Willy está receoso de me chamar de Soph na
frente de Sean. Tenho que saber mais dessa conversa que os dois tiveram ao
telefone.
— Obrigada, meu querido, não precisava ter se incomodado!
Desfaço o laço e ao abrir a caixa, fico muito emocionada. Não era o mesmo
vestido, mas era lindo e verde água. Ele se lembrou.
— Willy, você lembrou? — Pela segunda vez, o abraço forte, mesmo sem saber
se ele gostaria de ser tocado tão efusivamente. Mas, minha dúvida se esvai
quando ele me aperta ainda mais. Então, sei que está tudo bem. Meu amigo
também deve ter vencido todos os seus fantasmas.
— Prometi lembra? — Me lança seu largo sorriso. — E quando disse aquilo a
você, seus olhos tinham esperança, pois acreditava em mim, um mero ladrão de
ruas! Prometi e aí está. Obrigada por me fazer acreditar que eu poderia voar,
Soph. — Agora sim, esse é meu amigo Chuckie.
— Não fiz nada de mais, sua força é que fez tudo sozinha! — E como sempre
fazia para mudar de assunto quando algo mexia com seus sentimentos, resolve
brincar para descontrair e deixar claro que o momento é de alegria por nos
reencontrarmos. Sentamos no sofá e Willy e Sean travam um diálogo ferrenho
sobre política. Cada um à sua maneira, expõem seu ponto de vista, porém
sempre com algo em comum.
Willy fala sobre seus projetos em prol dos mais carentes e também sobre um
programa para ajudar a erradicar a grande população de menores que moram nas
ruas. Com entusiasmo e muito amor pelo que faz, para e ouve atentamente tudo
o que meu marido tem a dizer. Sean, um pouco mais experiente, esclarece a
Willy algumas das dificuldades que ele irá encontrar e se coloca à disposição
para o que ele precisar. Por isso, admiro-o ainda mais. Também propõe uma
aliança com Willy. Os dois trabalhariam com o mesmo ideal, um mesmo
objetivo. Seria uma junção perfeita. A popularidade de Willy com a força
política e empresarial de meu marido. Ao final, os dois chegaram a um
denominador comum e a única coisa que me restou foi sorrir e agradecer por
esse momento tão feliz. Jantamos em um clima agradável e perguntei ao meu
amigo se nesse tempo todo ele não se apaixonou.
Ele sorri e diz que arrumou uma namorada. Pergunto onde ela está e por que não
a trouxe consigo. Com maior cara lavada dirige seu olhar para Sean e rebate.
— Você acha que eu traria sanduíche em festa? Aruba é um paraíso dos
solteiros!
— Cuidado, Willy! — Sean o adverte. — Já fiz parte dessa turma até que
encontrei Sophia. — Pisca para mim e prova seu vinho.
— Ah, mas enquanto isso não acontece... — Willy levanta a sua taça e faz um
brinde. — Ao reencontro mais feliz de minha vida. Felicidades à minha amiga e
também a você, Sean. Confesso que te achava um tremendo babaca político, mas
meu conceito em relação a você mudou consideravelmente.
Sean o olha com desconfiança e eu também.
— Hei, não se preocupe amigo! Seu passado dálmata está seguro. — Bebe um
gole de vinho e continua. — Casou-se com a melhor amiga que já tive e,
olhando em seus olhos, vejo o quanto a faz feliz. Tem meu respeito, Sean
Mackenzie!
— Ufa! — Sean expira o ar fazendo graça. — Pensei que entregaria meus podres
aqui!
Acho graça na descontração dos dois. Não é algo forçado e artificial. Sean me
surpreende, pois a cada brincadeira de Willy, ele rebate com outra. Esse lado de
meu senador é novo e muito divertido.
Acabamos o jantar e passamos para a sala de estar novamente. Meu celular toca
e peço licença para atender. É meu irmão, Loh. Ligou-me para dizer que está
com saudade, mas como conheço Lorenzo e a voz de Lay ao fundo, gritando sem
parar me diz que ele quer me contar algo.
— Também estou com saudade, meu querido. Mas, diga logo, Lorenzo, o que
aconteceu??
— Nossa, precisa ser tão direta?!
Minha linda arara loira grita ao fundo. Dá-lhe Sophia!
Lorenzo pigarreia e completa. — Senhor Vicenzo assumiu seu namoro com
Sarah.
— Jura?? Que ótima notícia, Loh!!
— Pois é, você o conhece bem. Veio falar comigo todo cheio de cerimônia,
constrangido, como se me pedisse permissão para namorar. Foi muito
engraçado.
Ah! Finalmente, meu pai encontrou alguém.
— Fico tão feliz por ele! — Comento.
— Eu também, Nina! Acho que ao voltar de viagem, ele vai fazer o mesmo com
você. Fará um enorme discurso e depois dirá que está namorando Sarah.
— Obrigada, por me contar, meu irmão e antes que minha cunhada tenha um
ataque do coração, mande-lhe um beijo. Amo vocês. Agora, preciso desligar,
estou recebendo uma visita muito importante. Depois lhe contarei os detalhes.
Nos despedimos e ao voltar para a sala, Willy e Sean ainda falam animadamente
sobre o assunto que parece não sair da roda, política e também futebol
americano.
Uma hora depois, meu amigo se levanta e diz que é hora de ir. Ao se despedir,
beija minha testa e sorri.
— Obrigado por tudo, Sophia, Sean. Estou voltando a Nova Iorque amanhã e
então, nos vemos por lá. Sean e ele trocam um abraço e ele se vai.
Sai e ficamos na porta esperando sua imagem desaparecer do nosso campo de
visão.
Momentos mais tarde, de banho tomado, escolho uma de minhas camisolas
compradas especialmente para minha lua de mel. Longa, preta de seda pura. Ao
vesti-la, me olho no espelho e vejo o quanto estou feliz. Sean me faz bem, meu
casamento me faz bem, enfim, minha vida me faz muito bem! Deixo meus
cabelos soltos, me perfumo e saio do closet à procura de meu marido.
Ao sair do quarto, o vejo deitado em nossa cama, seminu, usando somente um
short preto de pijama. Encostado entre os travesseiros, ele vira-se para mim e me
lança aquele olhar que faz meu corpo parecer estar descendo em um carrinho de
montanha—russa. Ando lentamente até o interruptor e apago a luz, deixando
somente a luz do abajur incidir sobre ele. As portas e janelas do quarto estão
abertas e o vento que vem juntamente com o cheiro de mar, balança as cortinas e
mesmo com esse cenário ultrarromântico, a única imagem que me prende é o
olhar faminto de Sean. Seus olhos parecem terem luz própria e reluzem como
fogo ao me verem.
— Está linda, minha esposa. Venha cá! — Estica seus braços e tenta me puxar
para si, mas me desvencilho e solto um sorriso malicioso.
— Obrigada, que bom que gostou! — Devolvo meu olhar na mesma intensidade.
— No entanto, ir até você, no momento, está totalmente fora de cogitação.
Franze as sobrancelhas e diz, sério.
— Posso saber o porquê?
Abaixo-me e beijo seu tornozelo e em seguida o mordo de leve.
— Pode... — Digo num sussurro carregado de desejo. — Quero saborear cada
parte da paisagem à minha frente e se for como você sugere, perderei o prazer de
minha jornada... — Repito o gesto com a boca em outra perna, desço minhas
unhas em sua coxa musculosa e ao olhar para ele vejo que se ajeita na cama
mantendo seu braço por trás da cabeça totalmente relaxado.
Beijo e mordo de leve cada centímetro de sua perna e ao chegar em sua coxa,
minhas mãos correm pelo seu short alisando sua ereção.
— Isso é muito bom... Continue, minha Soph! — Diz com a voz grave e cheia de
tesão ao sentir minha boca lambendo o interior de suas coxas. Com minhas
mãos, seguro o cós de seu short e Sean ergue seus quadris me ajudando a livrar-
se da peça.
— Adoro sua pele, sabia? — Meus dentes cravam de leve em sua pélvis e ele
solta um suspiro. — Seu cheiro... — Desço em direção ao seu membro excitado
e o pego em minha mão. Abaixo-me e masturbando-o de leve, minha língua
desce devagar em seus testículos e nesse momento sua mão agarra meu cabelo e
seu gemido animal é um sinal para que eu continue.
— Soph, isso... Quero... não termina a frase e engole seco ao sentir que minha
boca engole um de seus testículos e em seguida, corro minha língua pelo seu pau
todinho.
— Quer o quê, meu amor? — Gemo ao abocanhar a cabeça do seu membro em
minha boca alisando com a língua.
— Quero sua boca gostosa, assim... Me chupando e me deixando louco! —
Força seu quadril e estoca em minha boca lentamente. Minha calcinha está toda
molhada ao imaginar Sean me penetrando nesse ritmo e me deixando a ponto de
enlouquecer de desejo.
Engulo-o todo e absorvo todo o seu gosto. Aumento o ritmo de minha mão
mantendo-o cadenciado com meus lábios.
Nesse instante, Sean é só gemidos.
— Soph, assim vou gozar muito rápido, não consigo me segurar, essa boca... —
Oh! — Sugo-o com força e sinto que ele está quase lá. Paro de repente e ele me
olha sem entender o que está havendo.
— Quem não aguenta mais, sou eu. — Tiro minha calcinha e monto sobre ele.
Pego em seu membro e o posiciono em minha entrada, forçando meu quadril até
senti-lo todo dentro de mim.
— Que delícia, isso... — Crava seus dedos em minha cintura. Não me mexo,
somente contraio meu sexo e gemo em seguida, ao remexer devagar meus
quadris de encontro aos seus.
Sean morde meu seio intumescido por cima do tecido da camisola e nesse
instante, suas mãos a puxam por cima de minha cabeça. Aí então, volta a sugar,
lamber meu mamilo mais sensível ainda. Minhas mãos correm por suas costas e
sua pele está tão quente como a minha.
Rebolo e ele pragueja baixinho...
— Droga, vou gozar!
O que ele não sabe é que era exatamente isso que eu queria. Gozar em minha
boca era pouco para mim. Eu o queria dentro de meu corpo, se rendendo a mim
de modo insano. Segura minhas costas e mete fundo, tocando em um ponto
sensível em meu ventre.
— Goza para mim... — Digo num sussurro, agarrando em seus cabelos, tomando
sua boca no mesmo instante que acompanho suas investidas bruscas. Estou
quase gozando e é quando o sinto se entregar a mim de modo selvagem que meu
orgasmo chega e me faz gemer em sua boca com nossas línguas entrelaçadas.
Afasta lentamente de minha boca e morde meu queixo, ajeitando meu cabelo
deslizando seus lábios macios pelo meu pescoço, explorando minha pele suada,
relaxada e ainda sensível. Em meu ouvido, sussurra que me ama e que sou a
única e eterna mulher de sua vida.
— E você é o único e eterno da minha. — Vira meu corpo, deitando-se sobre
mim. E assim, o mar, o vento e todo cosmo testemunham nossa felicidade.
Deitada sobre seu peito, ficamos ali, fazendo planos para nosso futuro.
Por Alexia
Estou muito ansiosa. A editora-chefe da editora Direty me ligou há alguns dias e
aprovou o meu manuscrito. Alegou que o enredo é original, bem descrito e as
cenas eróticas bem dosadas e não vulgarizadas. Chegou meu momento, preciso
mostrar às pessoas o que gosto de fazer e mais, o que consigo fazer bem. Uma
pena que meu namorado não entenda o valor que esse trabalho tem para mim.
Convencê-lo não tem sido uma tarefa fácil, pois sempre que tocamos no assunto,
ele logo acha um atalho para desviar do mesmo, me deixando frustrada. Eu o
amo e gostaria de contar com seu apoio e mais do que isso, receber o
reconhecimento de meu futuro marido. Se é que vamos nos casar. Não me
espantaria se ele chegasse em mim e quisesse dar um tempo em nossa relação.
Aidan é um cara estranho, tão aberto e ao mesmo tempo convencional. Estamos
num cabo de guerra. Eu, de um lado, escondendo que acabei meu livro e
pretendo publica-lo, do outro, ele fingindo não saber de nada. Em uma última
tentativa, deixei, de propósito, o pen drive dentro de minha gaveta e ele, sem
saber, caiu em minha armadilha. Nós, mulheres, somos imprevisíveis. Já os
homens...
Uma coisa é certa: Conto com o apoio total de minha família. Meu pai e Max
não veem motivos para que eu me esconda e deixe de fazer o que me dá prazer e
satisfação profissional. Só falta Sean. Mas, conhecendo minha cunhada-irmã sei
que ela me ajudará nessa empreitada.
Ela me garantiu que iria falar com ele e, se meu irmão tivesse alguma opinião
contrária a respeito, Sophia me garantiu que o persuadiria. Em relação a isso,
estou tranquila.
Vagando nessas esperançosas ideias, Patrícia bate em minha porta e avisa que a
editora está na linha 4. Tapo a boca em sinal de euforia e solto todo o ar antes de
atender. Ao dizer alô, tento disfarçar meu entusiasmo. Conversamos durante
alguns minutos e a pessoa responsável pelas publicações quer que eu compareça
na editora para que possamos acertar os últimos detalhes de meu novo livro.
Quase salto da cadeira e ao desligar, Paty que não tirou os olhos de mim se
apressa em minha direção e me abraça.
— Yes, baby! Você conseguiu! — Giramos abraçadas como duas meninas e ao
me afastar, meu sorriso se esvanece.
Aidan. Como reagirá?
— Patrícia, e Aidan?
Com a paciência e o companheirismo de sempre, ela me olha e responde.
— Alexia, se Aidan realmente lhe ama, terá que entender que esse projeto é
importante para você e se, acaso, o seu agir for diferente disso é porque ele
nunca lhe amou de verdade. — Pega uma pasta de documentos em minha mesa e
continua. — Aí é com você, escolhe se fica com um cara que lhe quer à sombra
dele. Ou segue seu sonho, sem dar importância ao que ele pensa. Resumindo,
que ele se exploda!
Ela me faz rir com sua conclusão maluca, mas que faz todo sentido. Pego minha
bolsa e a aviso que tenho que sair e logo mais estarei de volta. No elevador,
confiro minha aparência no grande espelho. Minha saia lápis preta, camisa verde
e sapatos também pretos me dão ar de secretária sofisticada e eficiente. Em meu
carro, ligo para Aidan em seu escritório. Como Sean está em viagem, meu
namorado fica em sua sala aqui, em Nova Iorque.
A secretária diz que ele está muito ocupado e não pode me atender, no
momento. Por que será que tenho a nítida sensação de que ele está me evitando?
Ah, Aidan Smith se minhas impressões se confirmarem, mato você!
No elevador, digo ao ascensorista o meu andar. No vigésimo quarto andar, desço
e me encaminho para o escritório de assessoria de Aidan. Beth, a secretária, uma
senhora grisalha e muito elegante, me olha através de suas lentes redondas e
douradas.
— Pois não, senhorita Alexia. Em que posso ajuda-la?
— O sr. Aidan está?
— Só um minuto, por favor. — Pega o telefone ao seu lado e tecla o número da
sala de meu namorado. Não deixo de observar a elegância natural de Beth. Sabe
aquelas pessoas que possuem esse modo de ser, sem terem sido treinadas para
isso? Minha mente se remete à lembrança de minha mãe. Beatrice era uma
dessas pessoas. Com gestos, modos elegantes e comedidos no falar, andar, comer
e portar-se muito bem sob qualquer situação. Ela só não soube amar.
Infelizmente, minha mãe é uma pessoa digna de pena.
— Senhorita Alexia! O sr. Aidan a espera!
Balanço a cabeça, jogando a imagem de Beatrice num canto qualquer.
— Ah, obrigada e com licença.
Abro a porta e o vejo atrás de sua grande mesa de carvalho. Está ao telefone e
ergue a mão para que eu espere. Com as mãos entrelaçadas em minhas costas,
ando a passos lentos até uma cadeira. Arrasto-a e me sento. Um minuto se
arrasta e nesse breve espaço, corro meus olhos em meu homem, sentado e lindo
à minha frente. Usando uma camisa branca com abotoaduras e uma gravata azul
claro, reparo no contorno perfeito de seus músculos sob o tecido. Sei exatamente
o que há por baixo dessa polidez toda e conheço muito bem o homem que é por
trás desse executivo que está em minha frente. Encerra a ligação.
— Que surpresa, meu amor! Aconteceu alguma coisa? — Pergunta e me chama
para que eu me sente em seu colo.
— Na verdade, tenho algo a lhe dizer. — Levanto-me e bem devagar, sento-me
em seu colo. Me beija de leve e sua loção pós barba penetra em minhas narinas
despertando meu desejo por ele, porém não foi para isso que saí de meu trabalho
e sim, para ter uma conversa muito séria e definitiva. Então, sem mais rodeios,
começo a falar.
— Aidan, sobre meu livro. Eu resolvi, vou publicá-lo.
— Como? — cerra suas sobrancelhas e me olha como se eu dissesse: "transo
com você, baby, mas meu negócio é mulher".
— Foi isso mesmo que ouviu!
— E resolve isso sozinha? Sem me consultar, é isso? — Diz, indignado. — Se é
assim, nem sei porque está me comunicando!
Nesse momento, se levanta me deixando em sua cadeira.
— Hey, espere aí! Achei que quisesse saber, afinal sou sua futura mulher e
queria muito dividir essa notícia com você e esperava uma reação mais alegre,
Aidan.
Ele se mantém com o corpo virado para a grande janela de vidro.
— Sabe minha opinião a respeito. Não quero minha mulher escrevendo sobre
como os casais transam em seus romances. Ponto.
— Você não sabe o que está dizendo! Por acaso leu o que escrevo? Como pode
julgar-me?
— Não estou julgando-a, meu amor, apenas gostaria que entendesse de uma vez
por todas. — Se vira para mim. — Não quero que publique esse maldito livro!
— Olha como fala do meu trabalho! — Grito.
— Está bem, me desculpe. — Corre a mão nervosamente pelos cabelos.
— Meu amor, eu amo o que faço e esse é o momento para provar isso.
— Alexia, você já não publicou um livro, não é o bastante? Seu ego já não foi
suficientemente massageado?
— Aidan, a questão não é quantos livros eu venha a escrever e publicá-los e o
que estamos discutindo aqui é o seu apoio. Sua carreira não depende disso,
coloque isso em sua cabeça!!
Morde o lábio. Parece mesmo irritado.
— Vamos fazer o seguinte, Alexia. Vamos sair para almoçar e durante o almoço
a gente fala sobre isso, tudo bem?
— Sim, perfeito. Desde que você não desvie o assunto.
— Pode ficar tranquila, não o farei. —Se aproxima de mim e me beija de modo
apaixonado.
— Eu a amo, Alexia. Muito.
Meu sexto sentido diz que tudo vai acabar bem.
— Eu o amo muito, sabe disso!
— Agora, me de licença, vou ao banheiro e a gente pode sair para nosso
almoço.
— Ok.
Ele entra no banheiro e fico tamborilando meus dedos na mesa, enquanto meus
olhos se fixam na tela de seu notebook.
E um ícone com nome Alexia, chama minha atenção. Ao clicar no mesmo, abro
a boca em "O" gigantesco percebendo então que meu futuro marido não lê
somente jornais.
"Ah, safadinho"! Você está lendo meu livro, não é?
Coloco minhas pernas cruzadas sobre sua mesa de modo provocativo e ao sair
do banheiro, Aidan leva um susto.
— Não sabia que mantinha um gosto por livros eróticos! — Digo com malícia e
divertimento.
— Não gosto, o que a faz pensar o contrário?
Viro a tela do notebook e mostro a ele a janela onde se encontra uma cena muito
picante.
— Li, pronto. Era isso que queria saber? — Questiona, constrangido. — A cena
é ótima, me deixou excitado, confesso. Imaginei nós dois nessa sala.
— Está falando sério? — Digo, boquiaberta.
— Sim, pronto. É sério. Você é ótima no que faz!
— Depois dessa, quero lhe mostrar como escrevi essa cena. — Abro o primeiro
botão de minha camisa. — E tenho certeza de que mudarei seu conceito em
relação a este livro. Foi exatamente nessa sala, com você me olhando desse
modo a maior fonte de inspiração para o que estava lendo.
Em resposta, Aidan me surpreende e começa a afrouxar o nó de sua gravata. Seu
olhar de predador faminto me diz que essa cena fica muito melhor quando real.
— Então, me mostre tudo o que imaginou, Alexia.
Se aproxima e avança sobre minha boca...
Maldosa Beatrice!
Por Aidan
Afrouxo o nó de minha gravata sem tirar meus olhos dos seus. Seu olhar é de
puro desejo, luxúria inebriante para o que tenho em mente. Seus
mamilos intumescidos se destacam através do fino tecido de sua blusa e sua
respiração entrecortada denuncia sua excitação. Alexia é, dentre todas que já
possuí, a mais especial. Com ela, o prazer vem acoplado de algo muito maior,
uma cumplicidade única e revigorante a cada toque. Quando estou dentro dela,
sinto-me extasiado e completo.
Nada, a não ser Alexia me importa nesse momento. Seus gemidos e sussurros
me instigam a dar-lhe mais de mim e guardá-la ainda mais em meu peito.
Eu a amo como nunca amei outra mulher.
Mais alguns passos em sua direção e seus dedos abrem mais um botão de sua
camisa revelando a curvatura de seu lindo par de seios sob a renda de sua
lingerie.
— E agora? — Me aproximo e seguro em sua mão puxando seu corpo contra o
meu. — O que Collen faria? — Roço minha barba em seu pescoço e ela suspira
agarrando meu cabelo.
— Você não leu toda a cena? — Me provoca e se esfrega em mim de modo
sensual.
— Li... — Mordo o lóbulo de sua orelha e minha língua invade seu ouvido. —
Reli...e fiquei imaginando-a em cada detalhe daquela cena, sinta como você me
deixou... —Pego sua mão delicada e a coloco sobre minha ereção. — Meu pau
estava duro como pedra...
—Aidan... — Seus dedos friccionam minha ereção me fazendo gemer. Minhas
mãos apertam sua bunda puxando-a para aumentar ainda mais o nosso contato.
Em um movimento súbito, a ergo colocando-a sentada em minha mesa com as
pernas abertas para mim. Me encaixo entre elas e tudo o que havia em cima do
móvel se espalha pelo chão.
— Era isso que você imaginou? — Subo com uma de minhas mãos por sua coxa
até sua virilha e meus dedos afastam a única coisa que me impede de toca-la, a
renda de sua calcinha. Sinto o tecido úmido e ao invadir sua intimidade, fecho os
olhos por sentir minha mulher tão excitada. Sua boca entreaberta me convida a
devorá-la, então, abaixo minha boca e esmago a sua, invadindo e explorando
cada canto com minha língua.
— Collen tocava Lucy assim? — Indago ao mesmo tempo que penetro dois
dedos dentro dela, estocando-os bem devagar, enquanto meu polegar massageia
seu clitóris arrancando gemidos de sua garganta.
— Era... Assim mesmo. Retiro meus dedos e um gemido de protesto.
Mais gemidos escapam de sua garganta e seus dentes prendem meu lábio inferior
no mesmo instante que seus dedos abrem minha camisa e deslizam pelo meu
tórax. Com uma urgência ímpar, ela abre meu cinto e o botão de minha calça,
segurando, em seguida, meu pau duro em sua mão. Seus dedos o envolvem e
Alexia me tortura com movimentos lentos. Respiro profundamente buscando ar
e controle para não me apressar e meter como um louco em seu corpo. Deito-a
sobre a mesa e seguro em seu tornozelo. Distribuo beijos em suas longas pernas
até que chego ao interior de suas coxas; roçando minha barba em sua pele quente
e ela se contorce ansiosa por mim.
Vejo-a amparar-se em seus cotovelos e nossos olhos se encontram. Com minha
boca próxima ao seu sexo passo minha língua por cima do fino tecido e em
resposta, ela arqueia os quadris para que eu continue. Prendo o cós de sua
lingerie entre meus dentes e a puxo até me livrar da peça. Endireito meu corpo e
nossos olhos se encontram.
Retiro meus sapatos, seguidos de minha calça arriada. Busco sua boca e minhas
mãos libertam seus seios de seu sutiã. Aperto seus mamilos entre meus dedos e
escalo com minha boca seu pescoço e colo perfumados, ao chegar em seus seios
minha boca suga cada um deles e minha mulher implora por meu pau dentro
dela.
— Aidan, por favor... — Ela ronrona como uma gata no cio e se oferece toda a
mim. Continuo descendo com minha boca e língua em sua pele toda arrepiada e
ao chegar em seu sexo liso e molhado, olho-a com desejo e transmito através dos
meus olhos o que quero e espero dela a seguir.
— Minha língua vai provar você todinha, minha gostosa.
— Adoro sua boca em mim... — Ao dizer essas palavras, minha boca cobre seu
sexo ávido, molhado e quente.
— Ohh... — Ela arqueia os quadris e joga seu pescoço para trás. — Chupa
gostoso, vai! — Aumento o ritmo de minha língua alternando com chupadas que
a fazem gritar descontrolada.
Seguro seus quadris e a imobilizo para conseguir o que desejo. Chupá-la até
senti-la gozando em minha boca. E isso não demora a acontecer e totalmente
imóvel sob meus domínios a faço chegar ao orgasmo e continuo a estimular cada
parte sensível de seu sexo. Suas mãos que estavam em meus cabelos tentam me
puxar para si.
Levanto-me e a trago para perto de meu corpo sedento. Ela me beija com
volúpia e desespero e sem esperar a seguro pelas nádegas e agarrada a mim, com
suas pernas em minha cintura, a penetro devagar, sentindo sua boceta molhada e
apertada envolvendo meu pau. Estamos loucos de desejo, nossos corpos falam
por si.
Alexia morde meu pescoço e geme em cada investida minha. Encosto-a na
grande janela de vidro e sem tabus nos entregamos um ao outro. Ela remexe seus
quadris e eu a acompanho. Abocanho seu seio e suas unhas arranham minhas
costas à medida que suas pernas me apertam ainda mais. Aumento meu ritmo e
ela não aguenta e se entrega a outro clímax ainda mais violento e me arrasta com
ela. Ainda enroscada em meus braços, com nossas bocas coladas e sem sair de
dentro dela, a levo de volta à mesa e tentamos recuperar o fôlego. Encosto minha
testa na sua.
— Alexia, não pode publicar esse livro!
Sua expressão de alegria se transforma em perplexidade. Tenta sair da mesa,
porém meus braços a impedem.
— Me deixe sair! Você é um tremendo idiota, Aidan! Me fez pensar que... —
Coloco meu dedo em sua boca e a silencio.
— Não pode publicar esse livro sem antes me mostrar todas as cenas que você
escreveu nele pensando em nós dois. Amei cada segundo do que houve aqui!
Então, seus lindos olhos verdes voltam a sorrir e ela percebe que não sou
homem de voltar atrás em minhas decisões.
— Fala sério? Me dará apoio mesmo que isso talvez lhe prejudique
profissionalmente?
— Eu a apoiarei em qualquer circunstância. Acharemos uma saída plausível e
tudo dará certo. Eu a amo, Alexia e não há nada mais importante do que ver seus
olhos brilhando para mim como agora.
— Eu o amo tanto!
Me aperta em seus braços e me faz acreditar no quanto o amor vale a pena.
Dois dias depois...
Por Sean
É uma pena que tenhamos que deixar Aruba. Durante esses dias em que Sophia e
eu nos isolamos de tudo e todos foram os melhores de nossas vidas. Amanhã,
embarcamos para Nova Iorque e na semana seguinte, Sophia vai comigo para
Washington. Dará aulas em meio período em uma escola de Artes.
Para ela é o que mais gosta de fazer.
Deitada ao meu lado, ela dorme profundamente e eu, fico a contemplá-la em
toda a sua beleza. Em imaginar que daqui a alguns meses serei pai, uma alegria
invade meu peito e sem que ela acorde toco em sua barriga e sorrio. Nosso bebê
está aqui. Nossa continuidade, nosso filho ou filha, ainda não sabemos.
Quando me apaixonei por Sophia, sabia que ela era uma mulher forte e que sabia
o que queria da vida. Mas convivendo mais com ela, percebi que é ainda mais
forte e decidida do que imaginei. A única vez que a vi sucumbir à fraqueza foi
quando nos separamos. Aquela não era minha Soph e sim essa, que está aqui
agarrada a mim com seus cabelos negros caídos sobre sua pele alva.
"Meu porto seguro é você", sussurro baixinho e beijo de leve a sua boca.
— Você também é o meu! — Ela responde sonolenta e se enrosca ainda mais em
meu corpo. —Agora, meu amor, durma! — Beija meu peito e acaricia minha
pele.
— Acordada? — deslizo meus dedos em seus braços acariciando sua pele.
— Não. Mas adorei ouvir o que me disse há pouco!
Me obedece e a seguir e volta a dormir e também sou embalado pelo sono ao
lado de minha Soph.
Por Sophia
Sempre adorei a visão do pôr do sol. O vermelho intenso misturado entre com as
nuvens e a nuance do azul do céu fazem desse momento uma visão estonteante.
Sean recebeu um telefonema urgente há pouco. Assuntos políticos.
Fiz uma cara de desagrado, pois não queria que qualquer assunto ou situação
chegasse até nós, nesse momento. Sendo assim, vesti meu biquíni, minha saída
de praia e sai pelo jardim em direção ao mar pisando na areia úmida e quente
que massageia meus pés. Sei que, a partir de agora, muita coisa irá mudar! Sean
tem a ambição de chegar à Casa Branca daqui a três anos e, tenho plena
consciência do meu papel nisso tudo. Imagino também, o quão desgastantes
serão essas campanhas.
Abaixo-me e pego uma pequena concha na areia.
Aproximo-me da onda que bate em meu tornozelo e a água morna me convida a
dar um belo mergulho. Toda essa paisagem paradisíaca me faz esquecer de
assuntos que não cabem nesse lugar.
Tiro minha saída de praia, a jogo na areia e mergulho. A água massageia meu
corpo todo e me deixa relaxada. Ao subir à superfície, vejo Sean parado me
observando à beira-mar.
Sorri ao cruzar seus olhos com os meus, tira sua camiseta e mergulha na água
vindo ao meu encontro em largas braçadas. Ao se aproximar, me abraça e beija
minha boca de leve.
— Desculpe-me Sophia, mas tive que atender aquele telefonema.
— Está tudo bem, Sean. Devo saber que me casei com um político. Seria quase
como me casar com um médico. — Ergue meu queixo e sorri.
— Não, é bem diferente! — Suas mãos fortes percorrem pelas minhas costas e
desatam o laço de meu biquíni. — Políticos fazem promessas de campanha e
muitos não cumprem sabia?
Enlaço minhas mãos em seu pescoço e seus dedos acariciam meus seios e me
contorço toda ao me esfregar em seu corpo másculo e sentir seu desejo por mim.
Sinto seu membro excitado roçando em minha pélvis
— Está querendo me convencer, Senador Mackenzie, de que é diferente?
Chupa meu lábio e sua língua pede passagem para invadir minha boca sedenta
por ele. Afasta-se e sua íris azul me deixa desnorteada, seu desejo por mim se
irradia ali.
— Não quero convencê-la, sra. Mackenzie. Apenas mostrar que cumpro aquilo
que prometo e se você queria um banho de mar, aproveite, pois terá o melhor
banho de mar a partir de agora!!
Por Beatrice
Sentamos em um banco um pouco afastados das demais. Dennis, um velho
companheiro, acerta todos os detalhes de meu plano contra Sophia.
Alberto seguiu minhas últimas instruções corretamente e eis trouxe até mim um
aliado do outro lado dessa prisão que me ajudará a livrar-me daquela
mulherzinha intolerável, aquela que acabou com minha relação com Sean.
A pedra em meu sapato!
— Dennis, tem certeza de que ela não sairá com vida?
— Beatrice, você me conhece! Aquele incêndio só não a matou, porque essa
criatura não estava junto com as demais. E melhor, faço tudo sem deixar rastros.
Dessa vez, sua nora querida não escapará, pode ter certeza!
— Bem, você sabe que voltam de Aruba essa semana, não é?
— Sim, seu mordomo me mantém informado de tudo e quando chegarem,
colocarei meu plano em prática.
— Excelente!
Mesmo que Sean sofra, sei o que é melhor para ele e um dia me agradecerá por
tirar aquela mulher de seu caminho.
Dennis se levanta e é hora de ir.
— Melhor que eu não volte mais a vê-la, Beatrice, pois não quero levantar
suspeitas. Qualquer coisa que queira me falar, passe o recado a seu mordomo e
ele saberá onde me encontrar.
— Disse algo a ele sobre nosso plano? — Pergunto receosa.
— Claro que não! Seu fiel mordomo acha que estou tratando de sua soltura,
pensa que sou advogado! — Sorri em deboche. — Velhinho ingênuo!
— Alberto é um bom homem, mas não tem malícia das coisas e pretendo mantê-
lo longe de meus planos, querido!
— Bem, sendo assim, adeus, minha querida!
Ele beija minha mão como nos velhos tempos. Ao se afastar, sinto que meus dias
a partir de agora serão melhores, sem aquela ordinária atravessando meu
caminho.
Um apito de recolher me faz acordar de meus pensamentos. Desço do banco e
me junto às outras detentas.
Adeus, senhora Mackenzie!
Por Sophia
— É isso aí! Ganhou o meu respeito e, melhor do que isso, o meu voto Senador!
— A poucos centímetros de sua boca, o provoco roçando meus lábios nos seus,
enquanto a brisa do mar nos embala mansamente.
Em resposta imediata, Sean me abraça forte e engancha minhas pernas em sua
cintura. Elas se fecham ao redor do seu corpo e suas mãos me seguram firme. A
água morna cobre nossos corpos e o cair da noite se aproxima apontando as
primeiras estrelas no céu.
— Já disse, sou o diferencial na política! Cumpro tudo o que prometo! — Sua
boca passeia pelo meu pescoço e meu corpo se arrepia todo com as leves
mordidas em meu colo.
— Isso, eu estou vendo! Hum... — Me contorço com sua boca explorando meu
seio, sua língua rodeando meu mamilo e pressionando-o de leve entre seus
dentes. Mordo de leve seu pescoço e corro minha língua pela sua orelha
saboreando o gosto de sua pele e aspirando seu perfume, sussurro seu nome,
completamente excitada. Com uma de suas mãos, penetra devagar na parte
inferior de meu biquíni. Ao sentir seus dedos deslizando em mim, arqueio meu
corpo de encontro a ele, absorvendo, buscando-o ainda mais. Enquanto me toca
e me faz gemer em seus dedos, seus olhos me encaram e lentamente sua boca
cobre a minha. Sua língua passeia com suaves lambidas em meus lábios.
Com a voz rouca e cheia de desejo diz ainda com a boca colada à minha.
— Pegue em meu pau! — Não é uma ordem e sim, uma súplica. Com seus dedos
em mim, ele estoca devagar e me deixa com mais desejo ainda completamente
louca pelo que virá. Sempre foi e será assim, me sinto dependente do seu amor,
do seu toque e do seu corpo em mim.
Abro o botão de sua bermuda e também o zíper. Minha mão agarra seu membro
duro e quente. Seu beijo se torna mais agressivo, sugando com força minha
língua, mordendo meus lábios num desejo cada vez mais insano e pela primeira
vez, pouco me importa se estou em uma praia e que possa ser vista por alguém.
Meus dedos o acariciam e seu gemido se confunde com o meu. Sean está em seu
limite e eu também. Nosso sexo tem algo muito intenso. Não precisamos de
acrobacias e invenções eróticas para nos satisfazermos. O que nos basta é termos
um ao outro. Um olhar ou um simples toque é o combustível necessário para nos
consumir.
Sean, em seguida, retira seus dedos de dentro de mim e sem que ele diga ou faça
alguma coisa, afasto meu biquíni e esfrego seu pau em minha entrada louca por
ele. Segura meus quadris e puxa meu corpo contra o seu, penetrando e me
preenchendo toda. Suspiro de prazer e arqueio meus quadris, totalmente
alucinada. Então, me imobiliza e seus lindos olhos me encaram. E nesse
momento, ele volta a se mover em seu ritmo lento e profundo. Sei que quer
prolongar esse momento ao máximo, mas ao fazer isso, me faz querer mais,
ansiar por muito mais.
Me movimento com mais intensidade e contraio meu sexo, apertando-o dentro
de mim. E a cada gemido seu, meu corpo fica cada vez mais febril. Sem me dar
conta, ele anda até a beira da praia e ainda dentro dele, me deita na areia e
continua suas investidas em mim de um jeito selvagem e possessivo. Suas mãos,
agora livres, correm por todo meu corpo e sua boca permanece na minha
abafando cada gemido meu quando chego ao orgasmo.
— Isso... geme no meu pau... — Prendo seu lábio entre meus dentes e
acompanho seu ritmo frenético. Sean retesa seu corpo e assim sinto-o gozar
como um louco dentro de mim. A onda vem e cobre nossas pernas entrelaçadas.
Mantém a sua testa colada na minha e muito ofegante beija meu lábio de leve e
em resposta à sua carícia, toco seu rosto suado com seus cabelos desalinhados.
Meu homem, meu marido e apenas meu Sean.
— Este foi sem dúvida o melhor banho de mar que já tomei! Só espero que
ninguém tenha nos visto! Os seguranças ou algum turista voyeur! — Digo.
Sai de dentro de mim e me faz deitar sobre ele. Ajeita meu biquíni e sua
bermuda.
— Não se preocupe! Antes de sair de casa, deixei ordens expressas aos
seguranças de que queria privacidade na praia. Quanto a algum turista, esse local
é propriedade particular. Acho que não corremos esse risco. — Pega em uma
mecha molhada de meu cabelo e brinca com ela. —E tem outro detalhe, Sra.
Mackenzie! — Encaro-o de modo sério. — Sempre preservei a minha imagem e
agora cuidarei da sua também.
Solto um riso ao me lembrar de algo que contradiz tudo o que acabou de dizer.
— Não foi isso que pensei ao ver um certo CD com fotos muito
comprometedoras!
Ele solta uma gargalhada estrondosa, pendendo sua cabeça para trás.
— Aquilo não conta, aquelas fotos eram para você! — Alega ainda sorrindo.
— Uhum, sei! Devem existir inúmeras cópias espalhadas por aí! — O provoco.
Ergue seu pescoço e me encara com uma de suas covinhas no lado esquerdo de
seu rosto.
— Não, aquela foi a maior loucura que já fiz por uma mulher. Estava apaixonado
e não sabia como chegar até você!
— Pois saiba que nem olhei para elas! — Digo, piscando os olhos em sinal de
inocência.
— Que pena! — Faz cócegas em mim. — Pena que mente muito mal.
— Confesso! Pare por favor, dei uma pequena olhadinha! — Respondo sem
fôlego de tanto rir.
— Você me fez cometer coisas mais absurdas, Sophia. — Fica sério ao dizer isso
e sem tirar seus olhos dos meus e continua. — Dominou meus pensamentos a tal
ponto que cheguei a dizer seu nome à outra em minha cama.
É lindo como ele resolve dizer algo tão íntimo para expressar o que eu
significava a ele.
— E quanto mais tentava afastá-la de minha mente, mais eu a queria. Queria
tanto que no dia daquela coletiva armada por você, tentei sair com uma outra
para esfriar a raiva que senti ao vê-la saindo com Richard. — Tento dizer algo,
ele me impede com seus dedos em minha boca. — Saí com uma mulher e pela
primeira vez em minha vida, não consegui fazer sexo com ela.
Sean está me dizendo que broxou por minha causa? Jamais imaginei que o
tivesse afetado a tal ponto.
— Deixou-me preso a você e quando fui a Aspen para procura-la, não sabia
como iria reagir se acaso me dissesse não. Eu não estava preparado para o não,
Sophia!
— Mas agora estamos aqui, casados e muito felizes. Já passamos todas as fases
dos medos e receios de um relacionamento e temos a certeza de nosso
sentimento pelo outro.
— Sim...eu a amo mais a cada dia!
Roço minha boca em seu queixo.
— Amo você e me sentiria vazia se o perdesse.
Segura-me pelo pescoço e sua boca me devora. E nossa última noite em Aruba
não poderia ser melhor.
[...]
Depois de nossa bela lua de mel, chegamos em Nova Iorque no dia seguinte, ao
anoitecer. Mesmo cansada, fiz questão de passar no café para abraçar meu velho
Vicenzo. Ao me ver entrando, sai rapidamente detrás do balcão e me aperta em
seus braços, me erguendo ao ar. Em seguida, dá um forte abraço em Sean e nos
oferece um café. Sean, educado como sempre, aceita a bebida. Pergunto por
Lorenzo e papai disse que ele havia saído com Lay.
Eles planejam se casar no próximo mês.
Mais alguns minutos de conversa e nos despedimos e vamos direto para casa.
Sean liga para seu pai, fala com Max e por último, Alexia. Ele sabe a respeito de
seu novo livro. Contei a ele em Aruba. Pela sua cara, sei que não achou a ideia
muito agradável, porém o convenci de que Alexia já é bem grandinha para
escolher os caminhos que irá trilhar e, então ele não disse mais nada sobre o
assunto.
Desfaço as malas enquanto Sean pede algo para comermos. Um banho quente e
depois cama. Estamos exaustos e uma boa noite de sono, com certeza, fara muito
bem.
Dez dias depois...
Por Sophia
Olho em meu relógio e são quase três da tarde. A escola em que dou aulas na
capital é ainda melhor do que a de Nova Iorque. O motivo? É uma escola voltada
somente para aquelas pessoas que querem saber tudo sobre esse mundo. Minha
turma é bem eclética, composta por jovens, adultos e algumas senhoras, aquelas
bem simpáticas de cabelos branquinhos que você tem vontade de pegá-las no
colo e chama-las de vovó.
Encerro minha matéria e uma dessas vovós me entrega uma caixa com cookies
que ela mesma preparou para mim. Fiquei sem palavras para agradecer e então,
ela me abraça dizendo que sou uma excelente professora. Agradeço e abro a
caixa instantaneamente e com o cheiro de baunilha e chocolate, vieram as
lembranças de minha fofa. Ela sempre me fez esses mesmos biscoitos.
No estacionamento dentro do carro, penso em meu marido. Sean saiu em viagem
à Califórnia há quatro dias e só volta na sexta-feira. Hoje, ainda é quarta.
Cansada e com saudade dele, mando uma mensagem em seu celular, mas não
recebo a resposta. Deve estar ocupado, portanto mais tarde nos falaremos.
Passo em um empório e compro alguma coisa para o jantar. Mesmo na
primavera, o calor na capital é castigante. Ao sair do estabelecimento, noto que
um carro azul escuro me segue. Mais algumas quadras e, ele vira à direita e me
deixa mais tranquila. Era um engano.
Subo o elevador com meus pacotes e meus biscoitos e ao abrir a porta, vejo sua
gravata jogada no sofá. Meu coração se alegra ao saber que ele veio para casa
mais cedo do que o planejado. — Deixo minhas coisas em cima do aparador
ando até nosso quarto.
Jogadas ao chão, uma trilha de tulipas vermelhas até chegarem ao banheiro. Em
cima da cama, se encontram suas roupas espalhadas no colchão.
Uma música suave sai do sistema de som do banheiro. Billy Joel solta sua voz
em Just way you are e ao parar na porta do mesmo, vejo-o dentro da banheira
com uma garrafa e uma taça de vinho nas mãos. Franze a resta e ao erguer sua
sobrancelha, já sinto muito mais calor que o normal.
— Estava com saudade e então resolvi antecipar minha volta e fazer-lhe uma
surpresa!
— Pensei que isso fosse uma miragem devido ao calor, mas já que não é... —
Tiro meu vestido e seus olhos correm por todo meu corpo. Bebe um gole
generoso de vinho e meu olhar recai sobre o movimento de seu pomo de Adão.
Se ele soubesse como está sexy, não me olharia desse modo. Deposita a taça na
bancada ao lado da garrafa e estende sua mão para mim.
— Venha tomar um banho comigo!
Tiro o restante de minhas roupas e me junto a ele num banho muito bom...
Por Dennis
— Alberto, avise sua patroa de que o processo será avaliado hoje pelo juiz.
Logo, entro em contato novamente.
— Sim, senhor, mas o senhor mesmo não quer transmitir a boa notícia à ela?
Tenho certeza de que a madame ficará feliz por ter a chance de sair daquele lugar
horrível.
— Não, Alberto. Quero que você faça isso por mim! Estou muito ocupado e não
me encontro em Nova Iorque! E sua patroa irá entender. — Velho babaca! Pensa
que a patroa é uma santa! Será que não percebe a víbora que ela é?
Também não tenho nada a ver com isso, estou sendo pago para prestar um
serviço e pouco me importa o que Alberto pensa ou deixa de pensar. Aproveitei
que o nobre senador se encontra em viagem e anotei todos os passos de sua
esposa. Percebi que ela anda sem segurança, o que facilitou e muito o meu
trabalho. Ao sair da escola, segui—a para depois despistar meu rastro e com
muita facilidade, consegui entrar em seu prédio e cortar os freios de seu
automóvel. Ao sair amanhã para dar suas aulas ela terá uma surpresa. Será o fim
de Sophia Mackenzie!
Por Sean
Abro meus olhos e Sophia não se encontra ao meu lado. Somente sua camisola
se encontra jogada na poltrona ao lado da cama. Levanto-me e vou para o
banheiro e após um banho rápido, saio do quarto à procura de minha esposa.
— Bom dia! — Digo ao vê-la arrumando uma bandeja com café e algumas
frutas.
— Ahhh! Bom dia! — Diz decepcionada ao me ver. — Era para ser surpresa,
iria levar seu café na cama!
Abraço-a por trás e beijo seu pescoço.
— Por isso não! — Levanto-a do chão e a conduzo em direção ao nosso quarto.
Agarrada a mim, sua boca colada em meu rosto esboça um sorriso.
— Sean, nosso café ficou na cozinha!! O que pensa que está fazendo? — Solta
sua risada rouca que tanto gosto.
— Você não disse que levaria meu café na cama? Pois então! É o que estou
fazendo!
Entre gargalhadas e muitos beijos apaixonados, começamos mais um dia juntos.
Mais tarde, após o almoço, me troco para ir ao congresso. Nesse instante, Austin
me liga e avisa que meu carro apresentou problemas e que ele se encontra em
plena avenida esperando pelo guincho.
— Sem problema, Austin, chamarei um táxi! — Desligo e continuo a ajustar
minha gravata.
— Meu amor, não pude deixar de ouvir, Austin não virá busca-lo? — Sophia
aparece atrás do espelho com meu paletó em suas mãos.
— Sim, minha querida, irei chamar um táxi! — Ajeito minha camisa em frente
ao espelho. — Meu carro apresentou problemas e tenho uma reunião com um
aliado que mora em Alexandria.
— É longe?
— Não minha querida, fica a 20 minutos daqui!
— Vá com meu carro, não tenho aulas hoje!
Coloco meu paletó e ela me entrega as chaves de seu carro.
— Você não irá mesmo precisar dele? — A inquiro.
— Absolutamente, hoje ficarei em casa, preparando minha aula de amanhã e
esperando meu marido voltar. — Beija minha boca de leve e sorri.
— Então, até mais tarde, senhora Mackenzie!
Por Dennis
Parado em frente ao Monastier, prédio onde reside Sean e sua esposa, vejo
quando o carro prateado de vidros escuros sai da garagem. Pensei que ela tivesse
desistido de sair hoje. Olho em meu relógio e ligo meu carro. Preciso ver com
meus próprios olhos o fim da Sra. Mackenzie! Tenho certeza de que será um
trajeto bem divertido!
Beatrice em pânico!
Por Aidan
Impaciente, verifico meu relógio mais uma vez. Sean sempre zelou pela sua
pontualidade, no entanto, está quinze minutos atrasado. Ligo mais uma vez e a
única resposta é a voz da sua caixa de mensagens. Temos que chegar a
Alexandria às duas da tarde, trata-se de um encontro importante, desses que não
se põe a perder.
Ligo em seu apartamento e Sophia é quem me atende.
— Sean saiu há mais de meia hora, Aidan! Ligou em seu celular?
— Sim, Sophia, mas ele não me atendeu.
— Bem, pode ter tido algum imprevisto, sabe como é! O trânsito nessa cidade
está um verdadeiro caos!
— Tem razão, mas se acaso ele entrar em contato com você, diga para se
apressar! Estamos atrasados!
— Pode deixar e meus parabéns cunhado! Fiquei orgulhosa por ter aceitado a
publicação do livro de Lexi.
— Acho que eu estava sendo muito duro com ela, Sophia!
— Sim, e numa guerra com Alexia, sabe que nunca poderia ganhar, ela o
dobraria no final!
— Tenho certeza disso, agora!
Sorrio ao telefone, mulheres são mesmo terríveis, coitado de nós, homens!
Me despeço de Sophia e ligo novamente para o celular de Sean.
Por Dennis
Sigo o veículo que pega a rodovia em direção ao mar. Onde a senhora
Mackenzie estaria indo? Não iria dar aulas como de costume? O carro pega certa
distância e acelero. Não posso perder esse espetáculo.
E em uma curva fechada, ela não consegue frear e o carro bate em alta
velocidade em uma mureta.
Vários carros param e pessoas descem para ajudar. Vejo outras com seus
celulares nas mãos, devem estar chamando socorro.
Forçam a porta e uma delas grita:
— Homem ferido!
Homem? Não seria uma mulher? Mas que merda é essa?
Saio do carro e me aproximo dos demais e vejo o rosto ensanguentado de Sean
Mackenzie.
Tenho que sumir daqui! Beatrice me comerá vivo!
Por Sophia
Coloco o telefone no gancho e volto para a cozinha, abro o congelador e pego
meu sorvete preferido: banana.
Pego uma colher e me sirvo em uma taça. Ando muito comilona devido à minha
gravidez, acho que devo ter engordado uns três quilos. Saboreio meu sorvete e
com a taça na mão, volto para o escritório, onde tenho uma aula para preparar.
Novamente o telefone toca e rapidamente atendo.
— Alô!
— Boa tarde! — Uma voz muito grave fala do outro lado, acompanhada de
muito barulho. — É a Sra. Mackenzie?
— Sim, ela mesma!
— Sou o Dr. Ezra, paramédico do Hospital George Washington!
Só com essa apresentação, me sinto nervosa!
Sean, aconteceu algo com meu marido!
— Pois não, aconteceu alguma coisa?
— Senhora, seu marido sofreu um acidente na rodovia e testemunhas dizem que
ele estava em alta velocidade quando bateu de frente contra uma mureta de
concreto no acostamento.
— Como ele está? — Meu estômago fica embrulhado e nesse momento, sou
acometida por um forte enjoo todo o sorvete que ingeri, parece que vai sair pela
minha boca.
Com muita calma, comum à experiência do homem que fala do outro lado,
responde.
— Tivemos dificuldades para tirá-lo das ferragens e...
Me sinto tonta, a taça escapa de minhas mãos e o barulho de cacos de vidro me
fazem apoiar-me na mesa e Ezra me chama com certa preocupação.
— Sra. Mackenzie tente ficar calma sim? Está me ouvindo?
Como ele pode querer que fique calma se acaba de me dar a notícia de que meu
marido sofreu um grave acidente.
— Estou lhe ouvindo, diga-me por favor, como ele está? Para onde o levaram?
— Ele se encontra inconsciente no momento e, o estamos levando para o
hospital! Só um momento, por favor!
Um outro homem pega o telefone.
— Sra. Mackenzie, aqui é o detetive Isaac Ward, FBI.
— FBI?
Estou tão abalada, como se estivesse paralisada que demoro a responder.
— Senhora Mackenzie, está sozinha em casa?
— Sim, detetive, estou.
— Não saia daí até que mandemos alguém para acompanha-la ao hospital.
— Posso saber o motivo, detetive? — Minhas mãos suam frio, sento na mesa e
tento me acalmar para que o mal-estar vá embora.
— Ainda é cedo para afirmarmos, mas peritos examinaram o carro que seu
marido dirigia e constataram que os freios foram cortados.
— Meu Deus! Mas quem faria uma coisa dessas? Sabotaram o meu carro?
— É o que queremos descobrir, Sra. Mackenzie.
— Por que ele estava usando o seu veículo?
Só me faltava essa! Acharem que fui a responsável pelo acidente.
— O motorista viria busca-lo, porém seu carro enguiçou a caminho.
— Certo. Pode me passar o nome e telefone do motorista de seu marido?
— Sim, claro. Seu nome é Austin, — Passo o número a ele. — Por acaso,
desconfia de Austin, detetive?
— Obrigado, em alguns minutos, um de meus homens irá busca-la e a levará ao
hospital. Não saia daqui, a senhora entendeu? — Ele nem responde à minha
pergunta.
— Voltando à sua questão, senhora, o senador é um homem público, estou
empenhado em descobrir o que realmente houve. Espero que ele se recupere em
breve. É só isso, por enquanto, senhora. Tenha uma boa tarde.
— Boa tarde.
Ele desliga. E meu corpo todo fica gelado. Preciso ver Sean! Preciso ligar para
meu pai! Desço da mesa e ando até o lavabo. O enjoo volta com forma total e
tudo o que tinha no estômago sai de lá.
Sento-me no chão com a cabeça entre os joelhos. As lágrimas caem sem minha
permissão. Meu peito arde e tenho dificuldade para respirar. Preciso criar forças
e me levantar, tenho que ver como ele está. As palavras do detetive martelam em
minha mente. Atentado! Mas quem? Sean teria muitos inimigos? Enxugo minhas
lágrimas e pego meu celular. Em dois toques, a voz de Vicenzo me faz chorar.
— Sophia, acabei de saber pela televisão! Como ele está?
— Ah, papai, não sei! — Mais soluços e Vicenzo, de modo carinhoso, tenta me
acalmar.
— Nina, fique calma! Lorenzo e eu estamos indo para aí. Chegaremos em duas
horas. Em que hospital ele está?
Limpo meu rosto e respondo, um tanto mais calma.
— George Washington, estou indo para lá, nesse momento.
— Está bem, minha Nina, tudo irá ficar bem, não chore!! Não fará bem ao seu
estado!
— Sei disso, mas estou tão assustada! — Antes de desligar, comento. — Papai, a
polícia acha que foi atentado.
— Atentado??
— Sim, cortaram os freios do meu carro e Sean o estava dirigindo no momento.
E era o meu carro, ou seja, era para eu estar naquele veículo.
— Tem ideia de quem possa ser?
— Não papai, a polícia irá investigar!
Olho através da cortina e vários carros da polícia param em frente ao meu
prédio. Tenho que desligar.
— Pai, tenho que ir! Eu te amo, obrigada!
— Nina, se cuide e tenha fé!
— Eu terei, até depois!
A campainha toca e ao abrir vejo um homem usando um colete com letras
amarelas FBI. Tira os óculos e se identifica.
— Sou Isaac Ward, FBI, falei com a senhora há pouco pelo telefone. Poderia me
acompanhar?
— Sim, só irei pegar a minha bolsa.
O prédio parece ter sido sitiado por policiais. O porteiro me olha ao passar pela
portaria. Seu olhar é aflito e preocupante. Cumprimento-o e ao passar por ele,
me pergunta se Sean está bem e lhe manda um abraço. Agradeço a gentileza e na
calçada sou rodeada por gente de todos os lados. Alguns curiosos e a famosa
imprensa. Ao passar pelos repórteres, eles me enchem de perguntas e não
respondo à nenhuma delas. Permaneço em estado de choque.
Meu celular toca e peço licença ao policial para atender.
Dentro do carro, Harry quer saber mais notícias sobre o acidente e eu, sem
notícias concretas, relato o que sei até o momento. Ele e os outros filhos estão
embarcando no avião da família. Devem chegar em pouco tempo. Harry desliga
e mal coloco o celular na bolsa e o aparelho volta a tocar.
Dessa vez, é Joseph. Ele está chorando ao telefone. Me sinto impotente e
gostaria de poder dizer que está tudo bem, mas só poderei fazer isso quando ver
meu marido de perto. Torço para que nada de muito grave tenha acontecido a
ele.
— Sophia, Harry deve chegar ao hospital a qualquer momento, mas não posso
me isentar nessa hora. Quero estar ao lado de Sean, é tudo que peço, mesmo que
seja constrangedor. — Ainda com a voz chorosa, menciona.
— Joseph. — Falo com um pouco mais de calma. — Não precisa pedir
permissão para ver seu filho e fico muito feliz que se preocupe dessa maneira.
Não se preocupe com Harry, ele jamais criaria algum tipo de situação
constrangedora numa hora dessas. Será muito bem-vindo, obrigada.
— Sendo assim, logo estarei no hospital. Estou na Virgínia à negócios e soube
do acidente pelo rádio. Devo chegar ao hospital em meia hora.
Ele finaliza a ligação e fecho meus olhos. Que mundo mais desorientado em que
vivemos. De manhã, Sean e eu estávamos tão felizes! Como imaginar que algo
tão terrível se abateria sobre nós?
— Sra. Mackenzie, chegamos! — O homem ao meu lado anuncia. — Mas antes
de ir embora, gostaria de fazer—lhe umas perguntas, é possível?
— Sim, senhor, estou à disposição.
Ao entrar no hospital, todos os olhos se voltam para mim, funcionários e
enfermeiras que cruzam pelo corredor me olham de modo estranho. Não me
sinto confortável. Parece que me olham com pena.
Sou encaminhada à uma sala anexa ao CTI onde nesse momento, Sean está
sendo atendido. Sentada com a cabeça entre as pernas, sinto o seu toque em
meus cabelos. Finalmente, meu pai chegou! Ele e meu irmão vieram para me
darem forças. Lorenzo me puxa e me afaga em seus braços. Tento parecer forte,
mas ao ser acolhida pelos braços de meu pai, desabo em lágrimas e ali
permaneço até me acalmar.
Logo, vejo a figura abatida de Joseph. Saio dos braços de Vicenzo e lhe ofereço
um pouco de conforto, afinal ele merece.
Mais alguns minutos se arrastam e meus olhos não saem da porta do CTI. Vejo
enfermeiras que entram e saem às pressas, mas nenhuma nos trazem notícias.
Essa espera me agoniza, maltrata e arrasa comigo. Harry aparece com Clarice,
Max veio com Dani e Alexia com seus olhos tristes se mãos dadas com Aidan.
Nos sentamos e Harry demonstra um gesto de grandeza ao apertar a mão de
Joseph e ficar conversando com ele. Um homem usando o uniforme médico sai
da sala e me levanto ansiosa. Ele se adianta, retira a máscara.
— Boa tarde, sou o dr. Hugh Lewinsck.
Harry toma a frente de todos.
— Dr. Hugh, sou Harry Mackenzie, pai de Sean, por favor, nos diga como ele
está?
— Bem, sr. Mackenzie, o seu filho sofreu um leve traumatismo craniano, nada
grave, fiquem tranquilos. — Fala, pausadamente. — Fizemos vários exames e
nada consta de anormal em seu cérebro. Suas atividades cerebrais estão
funcionando perfeitamente. Não teve nenhuma fratura também! — Ele fala se
dirigindo a todos, pois quer nos tranquilizar. — Porém ele perdeu muito sangue e
teremos que fazer uma transfusão, o tipo sanguíneo de Sean é O negativo,
portanto só poderá receber esse mesmo tipo de sangue. Todos se entreolham. —
Alguém aqui possui esse tipo sanguíneo?
— Eu doarei. — Joseph diz prontamente, no canto da sala.
— Muito bem, o seu nome?
— Joseph.
— Pode me acompanhar senhor? — O médico o encaminha para o setor de
coleta, mas antes que ele desapareça no final do corredor, o alcanço.
— Doutor, por favor! — Uma enfermeira aparece e leva Joseph e o dr. Lewinsck
vira-se para mim.
— Sean vai ficar bem? — Ele sorri e toca em meu ombro.
— Sim, ele ficará bem! Sean é forte e resistiu bravamente o que outro paciente
talvez não aguentaria.
— Quando poderei vê-lo?
— Sra. Mackenzie, fique calma! Assim que ele for liberado do CTI, poderá vê-
lo. Claro, que ele estará inconsciente. Agora, sugiro que relaxe e aguarde.
Voltarei com mais notícias assim que seu quadro se estabilizar. O médico se
despede de mim e desaparece pelo corredor. Volto junto aos demais e sento-me
ao lado de Vicenzo.
Olho, a cada minuto o grande relógio na parede e ele parece não andar. Instantes
depois, Joseph aparece um pouco mais aliviado. Entendo sua posição, ele queria
poder fazer algo por Sean como pai e conseguiu.
Seu sangue salvará o seu filho.
Por Beatrice
Pego minha bandeja e procuro um canto qualquer onde nenhuma das detentas
me incomode. Aqui, nesse pardieiro, janta-se muito cedo. São seis horas da
tarde, o horário em que estaria acabando o meu chá das cinco. Estou feliz, me
sinto feliz. Mal vejo a hora de saber pelos jornais que a linda Sophia se foi.
Dennis foi claro ao dizer a Alberto que seria hoje.
O barulho que vem da televisão juntamente com a orquestra de talheres, pratos e
a conversa alta das demais deixa qualquer ouvido sensível. Uma jovem repórter
aparece no monitor e o nome de Sean aparece na tela. Minha curiosidade é mais
do que natural. E quando chego mais perto e vejo imagens do carro de Sophia
com a notícia de que meu filho sofreu um grave acidente há algumas horas. No
mesmo momento, me sinto como se levasse um soco no estômago.
Meu corpo todo treme e a bandeja se estatela ao chão chamando a atenção de
algumas detentas ao meu redor.
— Sean, não! Meu filho não! Outra vez, nãooooooo! — Grito em fúria e Norma
aparece para me segurar, meus olhos ficam lacrimejantes e com as duas mãos na
cabeça. Repito a mim mesma várias vezes em forma de sussurro. — Ele não! De
novo, não!
— Tente se acalmar, Beatrice!
— Não toque em mim, não quero me acalmar, quero meu filhoooooo!
Não consigo parar de gritar, imagens de Sean e eu se formam em minha mente.
Ele sorrindo, brincando, ganhando troféus importantes, sua formatura, sua
eleição ao senado!
Ele não pode morrer, não Sean. Aquela miserável é que deveria estar em seu
lugar. Olho novamente para a televisão e a imagem dela chegando, momentos
antes, aparecem para me mostrar que Dennis falhou em seu plano.
Norma me segura com firmeza e mesmo me debatendo com força não consigo
me soltar, ela é muito mais forte do que eu.
— Acalme-se ou jogo você na solitária! — me ameaça e todas as outras me
olham esperando minha reação. Respiro fundo e sou levada por ela de volta à
minha cela. Ao me colocar lá dentro, caio aos seus pés em desespero.
— Norma, por favor, preciso ver meu filho, ele precisa de mim!
— Fale com seu advogado e consiga a permissão de um juiz, não posso ajuda-la!
— Norma, um pedido como esse demoraria, sabe disso perfeitamente. Sei
também que uma carcerária, portanto ganha muito pouco. Pense bem, posso
pagá-la e terá minha palavra, não irei fugir. Só preciso ver meu filho de perto.
Ela me encara como se eu tivesse dito algo anormal e ri em deboche.
— Supondo que eu a ajude, como acha que entraria naquele hospital sem ser
reconhecida?
— Disso cuido eu! O que preciso de você é somente sair por algumas horas
desse lugar, prometo que volto.
Antes de sair e trancar a cela, me encara.
— Vou ver o que posso fazer por você, Beatrice!
Por Sophia
Depois de mais um tempo à espera, dr. Hugh aparece com o rosto cansado.
— Tenho boas notícias! Sean está sendo transferido do centro cirúrgico para uma
unidade do CTI.
— E como ele está? Podemos vê-lo? — Me adianto.
— Sean permanece sob efeito da medicação, demorará a acordar.
— Mesmo assim, doutor, gostaria de vê-lo! — Insisto. Todos, na sala, percebem
minha aflição. Harry toma a palavra.
— Doutor, por favor, só por alguns instantes?
O médico suspira e por fim, responde.
— Permitirei que duas pessoas entrem, uma de cada vez, somente cinco minutos.
Sorrio para Harry que agradece a Hugh e completa.
— Sophia será a primeira.
O médico alto e de cabelos grisalhos me olha.
— Por favor, venha comigo, Sophia!
[...]
Depois de me preparar, colocando as roupas necessárias e toda parafernália
exigida para se entrar em um ambiente como esse, abro a porta devagar como se
não quisesse acordá-lo de um sono profundo.
Sean respira sem aparelhos. Somente recebe medicação através de uma sonda
em seu braço. Há um grande hematoma em sua testa e outro em seu ombro. Com
as mãos trêmulas, toco em seu cabelo.
— Estou aqui! Você me assustou, meu amor! — Olho para o monitor e seus
batimentos cardíacos marcam 80 bpm. Afago seu rosto e agradeço a Deus por ter
deixado meu marido com vida.
Seguro sua mão com os olhos carregados de lágrimas. Lágrimas de alívio e
alegria. Aliso seus dedos e digo repetidas vezes o quanto o amo.
Uma enfermeira chega e me avisa que meu tempo se esgotou.
Mesmo contra a minha vontade, saio e Harry entra na sala.
À noite, todos resolvem comer alguma coisa. Estou sem fome, porém me
arrastam para um restaurante próximo ao hospital. O assunto da mesa gira em
torno do atentado e minha mente só pensa em ver o sorriso de Sean. Harry com
sua calma diz que não irá descansar enquanto não descobrir quem foi o
responsável. Depois do jantar, voltamos à uma sala de espera ao lado do quarto
onde Sean ainda permanece desacordado.
Todos esperam ansiosos o momento em que ele irá acordar, mas a enfermeira
nos adverte que talvez o paciente só acorde pela manhã, portanto o mais
recomendado seria irmos para casa e descansarmos.
Harry e os demais concordam e dizem que vão para um hotel. Discordo e digo
para que fiquem em nosso apartamento. Após uns minutos de discordância,
acabam aceitando. Alexia vai embora com Aidan. Joseph diz que irá ficar na
casa de um amigo.
Ao chegarmos em frente ao prédio, mais repórteres à espreita. Entramos sem dar
nenhuma declaração.
Em meu apartamento, deitada em nossa enorme cama, o sono não quer vir. Olho
para uma foto nossa no criado-mudo.
Rolo e um lado e de outro. Levanto-me e troco de roupa. Vou voltar ao hospital.
Quero estar lá quando meu amor acordar!! Sei que a polícia está me vigiando e
que não devo sair sozinha, mas nesse caso, meu velho instinto ladra entrará em
ação.
Saio às escondidas e me encaminho para o hospital.
Por Beatrice
Norma conseguiu exatamente o que eu queria. Estou na rua, do lado de fora
daquele lugar. Por muitos dólares, estou em frente ao hospital que, nesse
momento, meu filho está internado. Ela também conseguiu um uniforme de
enfermeira que me foi muito útil.
Sei que ele passa bem, mas preciso ver com meus próprios olhos o que os
médicos noticiaram pela TV.
O hospital está cheio de agentes federais. Ajeito meu uniforme e meu falso
crachá. Entro pelos fundos e ninguém percebe que não faço parte do local. Com
essa falha na segurança, se Sean estivesse na mira de algum inimigo a essa hora
já estaria morto.
E com muita facilidade, chego ao CTI.
Finalmente, poderei ver meu Sean e dizer quanto o amo...
Te peguei, safada!
Por Beatrice
O acidente envolvendo Sean causou uma movimentação nos corredores do
hospital. Na recepção é possível ver pessoas ligadas à imprensa ávidas por
qualquer notícia. Sei que corro um sério risco de ser reconhecida e levada de
volta à prisão sem ao menos poder ver meu filho, mas esse é um risco que
correrei sem pestanejar. Coloco minha toca acompanhada de uma máscara, pois
quanto menos verem meu rosto, melhor será.
Na sala das enfermeiras olho com atenção as planilhas e escalas. Meu filho está
na ala A e é para lá que me dirijo.
Um pouco perdida, caminho com um pouco de pressa, pois não tenho muito
tempo. Norma me deu apenas algumas e seu eu não cumprir com minha palavra,
ela mesma virá me buscar e aí, as coisas entre mim e ela irão piorar. Claro que
eu poderia aproveitar a oportunidade e desaparecer para nunca mais voltar, mas
meu plano é exatamente outro. Tenho boa conduta na prisão e quem sabe não
consiga cumprir o restante de minha pena em liberdade, sei que isso é um sonho,
pois as leis em nosso país são mais severas. Se tivesse o apoio de Harry ou até
mesmo de Sean talvez as coisas tivessem outro curso.
Ergo meus olhos e vejo a placa indicando CTI. Um homem alto parado à porta
de uma dos quartos indica que Sean se encontra naquele aposento. Com uma
prancheta em mãos, passo por ele sem nenhum problema.
Encosto a porta e corro até a cama onde o meu lindo menino dorme
profundamente. Há quanto tempo não via seu rosto assim tão de perto. Para
mim, parecem anos. Toco o ferimento em sua testa e corro meus dedos por seus
cabelos. Minhas lágrimas pingam no lençol e também molham o tecido da
máscara.
Falando o mais baixo que posso, converso com ele como se pudesse me ouvir.
Ah, Sean! Ah, meu menino lindo! Se soubesse o quanto é importante para mim?
Não me perdoaria se algo acontecesse a você. Sabe que jamais o machucaria.
Você é a razão única de minha felicidade, o motivo pelo qual continuei a viver e
lutar pela sua felicidade.
Você me lembra tanto ele. Tanto. Às vezes, quando olho para você é como se o
visse!
Sabe, meu filho, às vezes penso que Deus é sádico. Sim, você riria de mim e
diria que estou blasfemando, mas é o que penso. Tive uma infância tão
desgraçada e a única coisa boa que possuía, Deus a tirou de mim. Nunca falei
de minha vida com ninguém, nunca me abri, pois quando me lembro de tudo o
que passei nas mãos daquele porco imundo, tenho vontade de vomitar.
Minha mãe se matou quando eu tinha 10 anos. Cansada de ser agredida por
meu pai, um belo dia a encontrei com um vidro de remédios caída no chão da
sala. Ela nos deixou, a mim e a Sean, meu irmão de 4 anos.
A pessoa que mais amei, depois de você.
Quando meu pai agredia minha mãe, eu juntava nas mãos de Sean e corríamos
para nos esconder, não queria que ele ouvisse os gritos e o barulho dos socos e
pontapés. Eu o protegia de tudo. Era como se fosse a sua mãe. Sempre depois
das surras, sua avó fingia que nada havia acontecido, sempre mergulhada em
sua depressão e, eu também nunca tocava no assunto. Mas, foi depois de sua
morte que minha vida virou um verdadeiro inferno. Um mês depois de sua avó
ter sido enterrada, seu avô, Clement, me agrediu e me estuprou em plena luz do
dia. Senti tanta dor e tristeza que me fechei em meu quarto e só saí de lá uma
semana depois. Parei de ir à escola, porque achava que as pessoas ao me verem
descobririam o que havia acontecido comigo.
Sean, na época, com suas pequenas mãos, afagava meus cabelos e limpava
minhas lágrimas de sofrimento e me prometeu que seria meu anjo da guarda e
que ninguém iria me fazer sofrer novamente.
Ele me chamava de "Bea".
Tapo minha boca para não chorar alto, a dor causadas pelas lembranças é menor
que o alívio do desabafo.
Aquilo deixou-me marcas, meu filho, que até hoje doem. Ele me batia quase
todos os dias e quando chegava bêbado e queria bater em Sean, eu me punha em
sua frente e acabava apanhando em seu lugar. Um ano se passou e o terror
continuava.
A pobreza em que vivíamos era tanta e muitas vezes, deixei de me alimentar
para que meu pequeno irmão não ficasse sem alimento. Pensava que aquela
vida miserável nunca acabaria. Clement era marceneiro, mas a doença do
álcool o impedia a trazer dinheiro para casa, era um tempo muito sofrido, Sean!
Cheguei a ponto de pedir ajuda a vizinhos para que pudéssemos nos alimentar.
Numa tarde de verão, estava sentada na sala olhando uma revista de moda. Eu
adorava ver as roupas e sapatos das modelos, sonhava um dia ser linda e usar
tudo aquilo, eu me via naquelas roupas, nos lindos lugares e tudo o mais.
Ouvi, então, quando o portão foi aberto. Aquele som era para mim o som do
medo, o som da angústia, pois sabia que ele estava chegando. Sean se sentou ao
meu lado com as mãozinhas para trás, como se escondesse algo e olhos muito
assustados. A porta da sala se abriu e o cheiro da bebida chegou na frente,
exalando aquele fétido odor pelos quatro cantos do aposento.
Clement, cambaleando se aproximou de mim e puxou—me pelo braço. Mesmo
me debatendo, ele me jogou em outra velha poltrona e desafivelou o seu cinto.
Não podia acreditar que ele abusaria de mim na frente de Sean e comecei a
gritar pela primeira vez, pedindo socorro. Com toda a sua estupidez, aquele
verme me golpeou na boca e o sangue quente jorrava de minha pele sem parar.
Abaixou suas calças e o vi ali com seu pênis duro vindo em minha direção.
E foi assim que Deus salvou minha vida me cobrando um alto preço por ela.
Minha vida pela de meu anjo menino, que enfurecido pela cena horrenda que
acabara de presenciar saiu do sofá com uma pequena faca em suas mãos frágeis
e trêmulas para atacar a Clement. Gritei para que ele não o fizesse e num golpe
mais bruto ainda, aquele monstro sem alma usou da faca para atingir o próprio
filho e o matar ali em minha frente.
Acho que foi necessário que isso tivesse acontecido para que eu tomasse alguma
atitude. Ao ver meu irmão ali agonizando por sua vida, uma ira e uma força
descomunal desceu sobre mim. Dei um chute naquele miserável e saí pela porta
gritando por toda a vizinhança :Assassino! Assassino!
Os vizinhos me acolheram e chamaram a polícia que levaram o porco para a
cadeia e nunca mais o vi, não fiz questão nenhuma de ter notícias dele.
Carreguei e carrego a culpa por não poder protege-lo.
Meu menino, tão frágil e se fez tão forte somente para me salvar. Jamais o
esqueci.
Cresci em uma casa de família, trabalhando como babá. Voltei a estudar e anos
mais tarde conheci Harry. Nos casamos e quando você nasceu e o peguei em
meus braços e a primeira coisa que veio em minha mente era que Deus me
devolveu a chance de ter alguém para amar e cuidar. Você, meu filho. Meu
amado Sean.
Cuidei de você com extremo zelo, sei disso. Sou exagerada, mas a razão para
isso é que tenho medo de perde-lo como perdi meu irmão.
E assim, vivi intensamente pelo seu bem, sua felicidade e será sempre assim.
Cuidarei para que nada de mal lhe aconteça.
Por Sophia
Passo pela portaria e um agente à paisana me segue. Ao sair na calçada, ele me
chama.
— Senhora? Onde pensa que vai?
— Voltar ao hospital, por acaso estou sob prisão domiciliar e não tenho
conhecimento? — Uso meu cinismo. Estou cheia desses policiais em toda a
parte, enquanto deviam estar atrás do responsável pelo possível atentado.
— Absolutamente, senhora, porém tenho ordens expressas de meu superior para
não deixa-la sair sozinha seja onde for. Infelizmente, terei que acompanha-la,
querendo ou não.
Em seguida, o agente usa uma espécie de rádio e passa todas as informações ao
seu superior, Isaac.
— Agora, podemos ir senhora! Por favor. — Abre a porta do carro parado em
frente ao prédio. Fico imaginando como seria a vida de uma primeira-dama. Será
que elas vão ao banheiro sem serem seguidas? E pior, será que o casal
presidencial transa com privacidade ou ao olhar atrás das cortinas e embaixo da
cama, os seguranças estão escondidos e ouvindo tudo? Espero que não, ficaria
maluca com tanta pressão!
Ao chegarmos ao hospital, dou de cara com o detetive Ward. Parece que estava à
minha espera. Ele me conduz à uma sala e nem me deixa ir ao CTI, diz que tem
algo muito importante a me dizer a respeito das investigações. Assegurou-me de
que realmente o acidente com Sean se tratava de um atentado malsucedido.
— Malsucedido? — Indignada, ando até o bebedouro e pego um copo de água,
minha boca está seca devido ao nervosismo. — Meu marido quase morre e me
diz que foi malsucedido?
— Sim. O alvo não era seu marido e sim, a senhora. Segundo o que me disse, o
senador estaria viajando e só voltaria na sexta-feira, exato?
— Sim, perfeitamente!
— Pois então, a pessoa que sabotou seu veículo não imaginou que ele voltaria
mais cedo e muito menos que, usaria o seu carro nessa tarde. A essa hora, quem
estaria machucada ou morta seria a esposa do senador.
— Tem ideia de quem poderia ter feito isso?
— Recolhemos as fitas das câmeras do seu prédio e uma coisa nos chamou a
atenção. Um homem usando uma roupa preta, entrou na garagem assim que a
senhora chegou naquela tarde. Mas, ele deve ter invadido o sistema, pois nada
foi gravado após sua chegada e as câmeras só voltaram a funcionar uma hora
depois de desligadas. Trata-se de um profissional e chegamos à conclusão de que
foi pago por alguém.
— Entendo. — Balanço a cabeça em negativa. — Sean é tão correto, não vejo-o
arrumando inimigos a esse ponto.
— Ele pode não arrumar, inimigos, às vezes vem de graça e essa pessoa não está
brincando e sugiro que a partir de agora, vocês dobrem a segurança. Claro que
nós estamos fazendo nosso papel e iremos protege-los até encontrar o
responsável.
— Pode deixar, detetive. Agora se me dá licença, gostaria de ver meu marido.
— Sim senhora. Vou para casa agora e se por acaso, o senador acordar, me avise.
Quero fazer-lhe algumas perguntas.
— Perfeitamente.
— Sra. Mackenzie, qualquer novidade, entre em contato em meu número! — me
entrega um cartão.
A seguir, sai da sala a passos lentos e cabeça baixa. Analisando a figura que
acaba de sair, chego a duvidar de sua capacidade profissional. À primeira vista,
ele me pareceu distante e sem foco. Espero que eu esteja totalmente enganada.
Jogo meu copo plástico na lixeira e me encaminho para a ala A. Lugar onde
instalaram meu marido.
Ao chegar perto da porta, o agente parado ao lado da mesma me chama. Com a
mão na maçaneta e antes que eu entre, ele diz.
— Há uma enfermeira lá dentro. Recomendo que a senhora espere aqui fora.
Consinto com a cabeça e dou alguns passos para trás. Escolho uma das poltronas
e me sento. Um tanto impaciente, tamborilando meus dedos em meu joelho. Será
que o quadro de Sean agravou-se?
Acho que a paciência é uma virtude que não possuirei. Levanto-me e caminho
até a porta que se abre e a enfermeira sai de lá chocando seu corpo com o meu.
Ela me encara e eu a reconheço de imediato. Jamais esqueceria aquele olhar de
ódio misturado a desprezo.
O olhar de Beatrice, minha amada sogrinha!
Após me encarar por uma fração de segundos, desvia o olhar e dá um passo em
direção à saída da ala, porém meu corpo não se mexe, continuo obstruindo a
passagem
— Posso saber o que faz aqui, Beatrice? Não deveria estar na prisão? — Finge
não me ouvir e insiste em passar por mim. — Hey, sua víbora! Eu lhe fiz uma
pergunta! — seguro firme em seus braços e o agente se aproxima.
Ergo as mãos sugerindo que ele fique onde está. De imediato, volto meus olhos
para Beatrice e ela rebate a minha pergunta sem pestanejar.
— Não lhe devo explicações, sua bastarda! — Desce sua máscara e acrescenta.
— Vim ver meu filho!!
Solto uma risada de deboche.
— Ver seu filho? —Viro-me para o homem que nos olha com atenção. — Por
favor, veja se o senador está bem. — O homem obedece me deixando a sós com
a cascavel.
— Não me surpreenderia se você o matasse como tentou fazer com Harry,
Beatrice!
Seu olhar que antes era de fúria, se transforma em algo descontrolado e
perigoso.
— Jamais faria mal a ele. Você não tem ideia do quanto Sean é importante para
mim. Morreria ou até mesmo mataria com minhas mãos qualquer um que
mexesse num fio sequer de seus cabelos. — Qualquer um, entendeu? Sean é e
sempre será o meu filho, mesmo que você o tenha colocado contra mim. Ela se
encontra em um estágio de desequilíbrio.
— Nunca coloquei seu filho contra você, quem fez isso foi você mesma!! —
rebato, furiosa.
— Sua vagabunda, você acha que terá Sean para sempre, não é? Que essa
aliança que usa em seu dedo faz com que ele fique preso a você? A esse
casamento ridículo?
— Por que ao invés de se revoltar, não aceita de uma vez por todas que seu filho
me ama?? É tão difícil assim? — A encaro, tentando achar alguma razão por
esse ódio gratuito.
Parece que ao dizer essas palavras a atingi em cheio, como se eu tivesse aberto a
caixa de Pandora, ou melhor, a caixinha de Beatrice. Ela parte para cima de mim
e joga meu corpo contra a parede.
Ela não acha que pode comigo, ou acha?
Seguro seus braços com facilidade a imobilizo torcendo seu punho a fazendo
gritar. E olhando diretamente em meus olhos, ela cospe em meu rosto.
Funcionários se aglomeram na sala, mas somente observam.
— Ah, sogrinha!! Você é mesmo uma espécie rara de peçonha. Vamos, tente me
picar com seu veneno e não cuspi-lo dessa maneira! — Ofegante, acerto-lhe um
golpe em seu rosto que a faz cair.
— Leve essa mulher daqui! — Digo ao policial parado às minhas costas. — A
cadeia a está esperando.
O jovem policial a ajuda levantar e ela esbraveja.
— Tire suas mãos de mim!
O segurança do hospital também se junta na missão de retirar a doida do recinto.
Antes de sair, ela ainda me olha e completa.
— Mais dia, menos dia, você irá pagar pelo que me fez, Sophia Salvatore!
Em resposta, digo.
— Mackenzie. Esqueceu-se do Mackenzie!
Eles a arrastam e a cadeia voltará a ser seu lar. Ajeito minhas roupas e me dirijo
ao agente.
— Relate a seu superior tudo o que houve aqui. Peça para que ele fique atento.
Em seguida, ligo para Damon e lhe peço para que mande seguranças ao hospital,
quero redobrar os cuidados. Se Beatrice conseguiu entrar e circular facilmente
pelo hospital, qualquer um conseguiria.
Respiro fundo e tento me acalmar. Vim para ver e ficar com Sean até que ele
acorde e é para seu quarto que caminho. Abro a porta e tudo se encontra em
silencio e penumbra. Ele ainda dorme. Coloco uma cadeira ao lado da cama.
Beijo sua testa e afago seu cabelo. Seguro sua mão, acariciando os nós de seus
dedos.
Perco a noção do tempo. Meu celular vibra em meu bolso e uma mensagem de
Vicenzo: Nina, sua fujona, na próxima vez que sair e não deixar um bilhete,
puxarei sua orelha!
Sorrio pelo conteúdo de reprimenda com uma pitada de diversão e digito a
resposta, tranquilizando-o. E quando olho para meu marido, ele parece que está
acordando.
Sean pisca os olhos por várias vezes antes de manter seu foco em mim.
— Sophia... — Ele fala sonolento.
— Sean!! Meu amor, até que enfim, acordou!
— Quanto tempo dormi?
— Dormiu por horas, meu querido.
Beijo de leve sua boca e ele levanta seu braço para tocar meu rosto.
— Pensei que não veria seu rosto novamente, achei que fosse morrer!
— Não diga isso, Sean. Já passou, você está aqui comigo.
— A última coisa de que me lembro foi de ter tentado frear o seu carro.
— Depois falaremos sobre isso, estou tão feliz!! — Deito meu corpo sobre o seu
e me esqueço de que ele estava com um ferimento no ombro. Seu gemido me faz
lembrar disso.
— Desculpe, meu querido.
— Eu te amo, Soph! Mesmo se morresse continuaria a amar você!
Meus olhos se enchem de lágrimas.
— Eu não saberia viver sem você, pare de falar bobagens, senador!
Ele sorri. Pensei que não o veria sorrir de novo.
— Estou com sede! — Tenta se levantar, o impeço.
— Não se mexa, vou chamar a enfermeira e verificar se poderá beber água, não
se mexa!
Aperto um botão e em um minuto uma enfermeira aparece. Logo, o médico da
equipe do dr. Hugh examina meu marido e diz que está tudo bem. Todos saem e
nos deixam a sós. Pego um copo com água e lhe ofereço. Ele bebe devagar e ao
terminar, digo.
— Sean, alguém tentou nos matar!
— O que? — Seus olhos demonstram incredulidade ao que acabei de dizer.
— Isso mesmo que você ouviu! Cortaram o freio de meu carro e à essa hora, eu
estaria em seu lugar!
Nesse momento, Isaac adentra a sala com um bloco em mãos!
— Senador Mackenzie, que bom que acordou! Podemos conversar? Tenho
novidades!!..

Por Beatrice
Deitada em uma solitária após ser duramente punida por Norma, penso naquela
vagabunda. Se ela pensa que desisti de acabar com sua raça, está redondamente
enganada! Tenho contas a acertar com ela e chegará a nossa hora. No momento,
tenho que falar com aquele imprestável de Dennis. Sua incompetência quase tira
a vida de meu amado Sean.
E ao dormir, sonho com ele me chamando por Bea e mais uma vez suas
mãozinhas me afagam e sua voz meiga me garante que tudo ficará bem!!
F... o repouso!
Por Sean
— Detetive Ward, meu marido acabou de acordar, ainda é madrugada! — Sophia
verifica as horas em seu relógio. — Não pode deixa-lo descansar e voltar mais
tarde?
— Absolutamente. Saí daqui e estava indo para casa quando me ligaram e
prenderam um suspeito pelo atentado.
Me sento na cama e ainda um pouco tonto devido à medicação, tento ordenar
minhas ideias.
— Atentado? — Ainda não acredito no que ouço. — Sophia me falou acabou de
me falar algo a respeito. Mas ainda não acredito que o acidente que sofri tenha
alguma ligação com algo intencional.
— Desculpe-me senador, deixe-me apresentar. Sou Isaac Ward, FBI. Estou à
frente das investigações sobre seu acidente.
Ele vem até mim e oferece a sua mão. Aperto-a e ele sorri. Tem cara de ser um
bom sujeito.
— O senhor acabou de dizer que acharam um suspeito. Ele está preso?
— Sim, ele detido sob acusação de ser o responsável pelo seu acidente.
Conseguimos algumas imagens do estacionamento da escola onde sua mulher
saía e notamos que um carro saiu logo atrás. — Enfia as mãos nos bolsos da
calça e tira de lá um papel todo amassado e seu celular. — Como as câmeras do
seu prédio foram desligadas, conseguimos imagens das câmeras de edifício
vizinho e vimos o mesmo carro chegando logo após sua mulher entrar na
garagem. — Pigarreia e olha para o seu celular que vibra em sua mão. Desliga-o
e volta a falar conosco.
— E no dia seguinte, esse mesmo veículo o seguiu pela manhã. A placa do
veículo foi adulterada, porém quando o carro que o senhor usava se chocou
naquela rodovia, o estranho desceu do seu veículo e foi verificar com seus
próprios olhos o estrago e então a câmera de uma loja de conveniência registrou
sua imagem e pudemos identifica-lo. Dennis Coyle. No momento, está sendo
interrogado e se nega a cooperar. Achamos que esse crime foi encomendado,
senador!
Suspiro e aperto meus olhos.
— Queriam matar minha esposa, é isso??
— Sim, chegamos à conclusão de que como o senhor estaria em viagem, o alvo
era sua mulher. O que quero nesse momento é que se lembre se há alguma
pessoa que o senador suspeite?
— Eu não sou um homem de contrair inimigos, pelo contrário detetive. Sempre
fui amigável e flexível até com meus adversários políticos.
Sophia não diz nada, somente observa. Parece que quer me dizer algo.
— Bem, senador, se o senhor lembrar de qualquer detalhe, por favor, entre em
contato e como já disse à sua esposa sugiro que redobre a sua segurança. Até
mais tarde. — Se afasta com uma das mãos no bolso. — Vou voltar à delegacia e
ver se o suspeito confessou alguma coisa. Obrigado pela atenção.
Estendo minha mão e pego os dedos de minha mulher. Acaricio como se
quisesse tranquilizá-la.
— Fique tranquilo, detetive. Se acaso lembrar de algo, entro em contato com o
senhor.
E assim o homem de cara triste sai do quarto.
— Sophia, onde está meu celular?
Me olha torto.
— O que pensa que vai fazer, Sean? Está em repouso!
— A primeira coisa que vou fazer é beijar você! — Puxo-a para mim e seu corpo
cai sobre o meu e mesmo sentindo dor, tomo sua boca e me afundo em seus
lábios. Busco sua língua e sinto em seu beijo a mesma sensação. Queremos
dissipar a aflição, o medo da perda. Estamos juntos mais uma vez, firmes e mais
fortes. Quem quer que tenha tentado nos separar não obteve sucesso. Sugo seus
lábios macios e minhas mãos correm por seu corpo todo. Seu calor e seu cheiro
me acalmam.
— Ninguém toca em você, minha Soph! Irei proteger vocês com minha vida, se
necessário!
— Não diga isso, quero você comigo, sempre! —Com a respiração ofegante ela
toca meu rosto. — Somos uma dupla e ninguém irá nos separar. — Beija meu
queixo e o morde de leve. Gemo numa espécie de sussurro e comento em tom de
malícia.
— Essa cama me deu ideias, que acha? — Brinco, enquanto seus dedos correm
pelo meu peito e tocam meu ferimento.
— Engraçadinho! Você está doente e não costumo me aproveitar de
convalescentes.
— Convalescente!? Pareço doente?
— Oh, que paciente mais tarado! — Morde minha orelha nunca carícia que
confirma que nada nos separará.
— Sou obcecado por você, sabe disso, completamente tarado por cada parte do
seu corpo.
Do nada, Sophia muda sua expressão. Seus olhos que brilhavam de desejo, ficam
ofuscados e tensos. Ela se afasta e se senta na cama.
— Meu amor, sua mãe esteve aqui!
— Minha mãe?? Ela fugiu da prisão? O que ela queria aqui??
— Ela queria lhe ver. Beatrice saía do seu quarto disfarçada de enfermeira
quando a reconheci. Não sei exatamente se ela fugiu, acabamos discutindo e ela
partiu para cima de mim e eu a agredi para me defender. Chamei o agente que
estava presente e mandei que a levassem de volta à cadeia em Nova Iorque.
Suspiro longamente.
— Sabe, Sophia, começo a achar que minha mãe sofre de algum distúrbio.
Parece que nunca a conheci como realmente é. Ambiciosa, má e desequilibrada.
Sophia me relata em detalhes tudo o que aconteceu.
— Quando sair daqui, terei que ter uma conversa séria com ela.
— Seria bom se ela entendesse de uma vez por todas que eu o amo e o que sente
por mim não interfere em nada no que você sente por ela, não é?
— Exatamente. Se é que posso dizer que sinto algo por ela nesse momento. —
Depois de tantas coisas que descobri sobre Beatrice, sua imagem aos meus olhos
são outros. O que eu enxergava era algo totalmente distorcido. Meu celular,
Sophia!?
— Para quem você vai ligar a essa hora, Sean? — Me olha controversa.
— Quero tomar algumas providências, meu amor, só isso! — Me encara e franze
o cenho.
— Nada disso! Pela manhã, você liga! Agora, irá descansar!
— Sophia, estou ótimo, não quero descansar!
Ela também me contou que Joseph doou sangue para minha transfusão. Meu pai.
Mesmo que nossa afinidade não tenha evoluído, fiquei feliz ao saber que ele
estava ali e pronto para me ajudar.
— Não quer, mas vai ou chamo a enfermeira e ela vai dar um jeito em você,
paciente teimoso!
— Tudo bem. Descanso com uma condição!
— Haha! Além de teimoso é chantagista? — Me presenteia com seu doce
sorriso. — Acho que meu marido não está em condições de impor nada, não
acha?
— Estou sim. Descanso se você também for para casa e fizer o mesmo. Já que
insiste em dizer que estou doente, você está grávida e precisa se cuidar. Por
acaso, a senhora se alimentou hoje?
Ao sorrir, as covinhas de seu rosto aparecem a deixando com o ar mais jovem.
Adoro isso em minha mulher.
— Enquanto você dormia, Alexia e meu pai só faltaram me enfiar comida goela
abaixo. Comi na marra!
— Que bom saber que posso contar com eles! — Puxo-a para meus braços e a
abraço forte. — Agora, vá para casa e só volte mais tarde com uma aparência
melhor!
— Hey, onde está o homem elegante com quem me casei? Por acaso, está me
chamando de feia?
— Estou. — Beijo de leve sua boca linda. — Olha o nosso trato! Descanso, se
você descansar!
— Certo. Estou indo, capitão!
Então ela me beija mais uma vez, levanta e pega sua bolsa. Observo cada
movimento seu. Seu corpo está mudando devido a gravidez e a cada dia, fica
mais bonita.
— Que foi? — Ela me flagra olhando.
— Nada. Estava admirando minha mulher! — Dá dois passos em minha
direção.
— Sean, às vezes, você sabe como me deixar sem graça e amo quando faz isso!
Até mais tarde, senador gostosão!
— Até mais, minha gostosa! — Tenta sair e a seguro. — Não irá sozinha, sabe
disso, não é? A partir de agora, só andará acompanhada de segurança.
— Eu sei. Prometo que seguirei suas ordens, mesmo achando tudo isso um
horror!
Sai e fecha a porta atrás de si. Jogo lençol para o lado e saio da cama. Sophia
deixou meu celular em uma pequena mesa perto da janela. A primeira ligação
que faço é para Damon. Atende no primeiro toque. Ele sempre foi o meu melhor
segurança. Passo a ele minhas novas ordens, segurança dobrada para Sophia.
Quem fez isso, irá voltar e quero estar preparado. Em seguida, ligo para Aidan e
ele fica feliz em ouvir minha voz. Alexia pega o telefone e em sua voz meiga
transparece toda sua alegria.
— Feliz em saber que está bem, meu irmão e comprovar que erva ruim não
morre fácil. — Quando ela quer se fazer de forte, usa esse lado ácido para não
chorar. Em resposta, digo que não a deixaria tão cedo. Temos muitas brigas pela
frente.
Mesmo do outro lado da linha posso ver seu sorriso e seus grandes olhos
brilharem. Ela se despede e passa a ligação para Aidan. Repasso todos os
detalhes e encerro a ligação. Deito—me na cama e busco dormir um pouco.
Amanhã quero sair desse hospital e descobrir quem está por trás desse atentado.


Por Sophia

Depois de ser escoltada até minha casa, entro bem de mansinho e me deparo
com meu pai me esperando, então fecho minha noite. Conto a ele as novidades
sobre Sean e também sobre minha amada e benquista sogra. Tentei, juro que
tentei dormir mas a única coisa que consegui foram alguns cochilos
acompanhados de pesadelos onde Sean aparecia dentro de um caixão.
Então, acordei primeiro que todos e fui direto para a cozinha preparar um café.
Meu celular vibra e no visor o nome de Sean me faz largar tudo para ler sua
mensagem. “Médico me deu alta. Já não sou convalescente, aguardando
minha esposa vir me buscar! Te amo. Sempre seu, Sean."
Respondo: Indo o mais rápido que posso. Levarei roupas para sua
Excelência, pois deduzo que não irá sair nu desse lugar, vê-lo nu somente
sua esposa. Bjs. Da sua única e exclusiva Sophia”
Envio e um alguns instantes vem a resposta. “Sempre única, exclusiva e
eterna. Bjs nessa boca que adoro.”
Uma hora depois, chegamos na ala onde Sean se encontra e fico feliz ao ver meu
amigo Willy sentado na sala ao lado do quarto de Sean. Ao me ver, se levanta e
me dá um abraço.
— Soph, não vim antes porque estava em viagem. Não me deixaram entrar no
quarto para falar com Sean, aí resolvi esperar por você.
Sentamos e explico a ele tudo o que houve. Espero o momento em que esse
assunto seja esquecido. Não aguento mais falar sobre isso.
Ao olhar para a porta, vejo May entrando toda pomposa. Não acredito que ela
teve a cara de pau de ter vindo. Minhas veias saltam em minha testa e Willy toca
em meu braço. Alexia também se adianta e fica ao meu lado.
— Sabe cunhada, por isso nunca gostei de ruivas!
— Eu não tinha nada contra elas, até um certo tempo atrás.
May se aproxima de Harry e Max. Dani também se junta ao nosso bando. Claire
fica ao lado de Joseph.
— Viu quem acaba de chegar e veio saber se Sean está bem? — Diz, Dany.
— Vi e disfarce que a lhama ruiva está vindo em nossa direção! — Digo.
Antes que ela se aproxime, dr. Hugh sai do quarto de Sean e me chama.
— Sra. Mackenzie, bom dia! Posso falar-lhe um instante?
Noto que May acompanha meus movimentos e tenta ouvir o que o médico tem a
me dizer.
— Sim, doutor. Venha até a outra sala!
Passamos para uma outra dependência do setor e ele começa a falar.
— Senhora Mackenzie, dei alta a seu marido, porém quero que ele permaneça
em repouso por no mínimo três dias e tome a medicação que lhe prescrevi.
Devido ao impacto do acidente, ele sentirá fortes dores nos locais atingidos.
— Perfeitamente, doutor. Cuidarei para que Sean siga suas orientações. — Só
não sei como o farei, penso.
— Obrigado, seu marido já pode ir para casa, tenha um bom dia!
Gostei dele, prático e objetivo.
Volto e não encontro a lhama. Ela não teve essa ousadia, ou teve? Antes de
entrar no quarto, Alexia faz um sinal para mim e sim, May teve a coragem de
entrar no quarto para ver Sean. Entro de uma vez e a vejo em pé ao lado da
cama. Só falta babar nele. Ao me ver se retesa e como toda lhama só falta cuspir
em mim.
Lata enferrujada.
— Bem, Sean, vou indo. Fico feliz que esteja bem. — Ameaça tocar em seu
rosto para se despedir, mas hesita. — Esperamos sua volta ao trabalho. Faz muita
falta no senado. — Parada às minhas costas, Sean quer rir ao me ver fazer uma
careta para ela. Ele agradece e ao passar por mim, me cumprimenta.
Depois que ela sai, deixo a sacola com as roupas de Sean em uma poltrona.
— O que ela queria?
— Ora, você não viu?
— Sim, vi. Além de comê-lo com os olhos, queria algo mais?
Ri e sai da cama, estendendo seus braços.
— Não me diga que está com ciúmes?
— Não, nenhum pouco, por que? Teria motivos para sentir? — Faço uma cara de
desagrado.
Roça seus lábios nos meus e responde.
— Sabe que não! Você é única, minha esposa!
— Ainda bem. Mas não irei mentir. Estava com ciúmes e muita vontade de jogá-
la pela janela.
Mais uma linda gargalhada sai de sua boca, se solta de meus braços e pega a
sacola.
Ele se troca e ao sair do quarto, Joseph é o primeiro a quem Sean se dirige. Ele
se aproxima e Joseph lhe dá um longo e apertado abraço. Sean agradece por tudo
e eles trocam mais algumas palavras, só então cumprimenta os demais. Willy
também lhe dá um abraço e se despede.
O detetive Isaac aparece como fumaça de gelo seco em espetáculos teatrais.
— Bom dia a todos!
Seu olhar recai sobre Sean.
— Senador, podemos nos falar um instante.
— Sim, claro. — Meu marido responde e se afastam. Meu pai e eu trocamos
olhares e sentimos o cheiro de confusão no ar.
Minutos depois, Sean volta com Ward ao seu lado e pela sua cara, o assunto o
deixou visivelmente abalado e nervoso. Seus olhos exalam raiva e deduzo que
Isaac descobriu o responsável pelo acidente.
Ao deixarmos o hospital, tento entender o que se passa, mas Sean permanece
calado durante o trajeto e Austin dirige de modo mais veloz. Olho para trás e um
SUV com Damon e mais 4 homens nos seguem. À nossa frente, outro carro com
Alexia e Aidan acompanhados de mais dois seguranças.
Quando entramos em nosso apartamento, mais seguranças aguardam as ordens
de Damon. Sean me pede para arrumar nossas malas, pois partiremos para Nova
Iorque imediatamente. Segundo ele, ficará alguns dias descansando em casa,
mas ele não me engana, depois daquela conversa com o detetive Ward, Sean
mudou da água para vinho.
Pousamos no aeroporto de Nova Iorque. De lá, seguimos para nossa casa. Meu
pai e Lorenzo seguem para o café, enquanto Harry e os demais se dirigem à
mansão Mackenzie. Em nossa casa, Sean com seu comportamento totalmente
estranho, entra em seu escritório e uma hora depois sai de lá falando com Aidan
ao telefone. Pelo pouco que pude ouvir, meu marido irá sair.
— Vai sair? — Pergunto.
— Sim. Não demoro. — Abotoa seu paletó e se aproxima para me dar um beijo
de despedida.
— Não irá me dizer aonde vai? E seu repouso Sean? O médico...
Não me responde.
— Volto logo. — Se existe algo no mundo que mais me irrita é alguém me tomar
por tola colocando minha pessoa de lado. Pior ainda quando essa pessoa é meu
marido.
— Tudo bem, deu para guardar segredinhos agora? Se é assim, saiba que
também posso fazer o mesmo daqui para frente.
— Sophia! — Usa um tom para que eu baixe a guarda e não comece uma
discussão.
— Não venha me dizer que não tem nada ocorrendo por sei que há e deve ser
muito grave ou pensa que não notei a sua cara, de Harry, Aidan e Max? Todos
colocaram uma máscara de preocupação e vieram de Washington até aqui
tentando parecerem normais.
Ele nada diz.
— Ou você acha que não percebi que mudou após falar com o detetive. Aliás,
todos mudaram desde então. Até meu pai e Lorenzo. Durante a nossa volta para
casa, vocês fizeram de tudo para disfarçarem, porém não me enganaram em
nenhum momento. Tem algo errado e se não confia em mim para dizer, só
lamento. — Caminho até o banheiro para guardar minha nécessaire, faço uma
pausa e continuo.
— Não irá me contar quem é?
— Quem é, o quê?
— A miss Nova Iorque! — Me revolto pelo seu comportamento protetor. — Ah,
Sean! Basta! Não quer me contar, não conte! Pode ir ao seu compromisso, ou
então, irá se atrasar!
Ele volta e segura em meu cotovelo.
— O que você acha que é pior? Ter uma mãe que lhe abandonou e ao
reencontra-la pensa em obter algum benefício financeiro ou uma mãe que
sempre se dedicou a você, amando-o a um ponto exageradamente doentio?
Sei que ele se refere às nossas respectivas mães.
— Nesse caso, ainda ficaria com a sua mãe. Ela pode ser maluca, mas o ama
acima de tudo. Já Marcella...
— Mesmo amando a tal ponto de mandar matar a quem o seu filho mais ama? —
Meu coração fica apertado ao ver os olhos de Sean tristes e vazios.
— Sua mãe está por trás desse acidente? Mas como?
E então, me conta que depois de algumas poucas horas de interrogatório, o
homem chamado Dennis acabou confessando a autoria do atentado e que
Beatrice encomendou o mesmo. Queria a minha morte. E nesse momento, me
recordo de suas palavras no corredor do hospital. Ela deixou escapar algo no ar.
Tapo minha boca e sinto meu peito arder.
Achava que Beatrice fosse doente e apegada a Sean a ponto de mentir, enganar,
mas mandar me matar? Até onde vai o ódio dessa mulher?
— Sean, não me diga que... — Toco seu rosto e só então me lembro das
recomendações do dr. Hugh e ao invés de segui-la, meu teimoso marido vai sair
e nesse momento, sei exatamente onde vai. — Meu querido, o médico pediu que
repousasse, não acha melhor ficar em casa e descansar? — Conhecendo Sean
quando está com raiva, sei que nada e nem ninguém o fará mudar de ideia, muito
menos eu.
— Preciso faze-la parar, nem que para isso, tenha que ameaça-la.
— Acha mesmo necessário? Agora que descobriram que mesmo atrás das grades
ela continuou a infligir a lei, ficarão mais atento à ela. — Faço uma pausa e
continuo. — Não acha que a polícia cuida desse assunto? Afinal, é o papel
deles!!
— Me espere para o jantar, prometo que não demoro e por hipótese alguma, saia
sozinha! — Beija minha boca e sai do quarto. Sabia que minhas palavras seriam
jogadas ao vento. Ele não me ouviu e pior, foi até aquela penitenciária horrível
onde sua mãe se encontra.
Por Beatrice
Estar em uma solitária é a mesma coisa do que se sentir enlatada. Até mesmo
uma pessoa em condições normais de saúde mental se sente incomodado com o
pouco espaço e até mesmo a pouca ventilação do local. Se eu sofresse de
claustrofobia a essa hora estaria em crise. Imagino uma pessoa com uma
síndrome de pânico! Morreria muito antes que alguém a socorresse. Sem saber
que horas são, a única coisa que me resta fazer é deitar-me ficar olhando para o
teto cinza todo descascado.
De repente, o pequeno compartimento da porta é aberto e os olhos de Norma
aparecem.
— Tem visita para você, venha! — Abre a pesada porta e espera que eu saia. —
Dessa visita, você irá gostar.
Norma é uma mulher amarga e seca, todavia em raros momentos como agora,
sinto que ela se importa com o seu redor e não só consigo mesma. Sua pose
egoísta às vezes desaparece.
— Seu filho veio visita-la! — E ela nem espera que eu questione qual deles e
acrescenta. — O filho que você fala tanto. Norma percebe o efeito que essa
notícia causou em mim.
— Sean?? — Digo sem conter a alegria.
— Ele mesmo. Você está de parabéns! Ele é um homem muito educado!
— Não lhe disse? Sean é raríssimo!
Vejo-o de costas. Usando o seu terno impecável azul marinho, com uma das
mãos no bolso e nem percebe quando me aproximo. Digo seu nome como se
dissesse o nome de uma divindade. Quando se vira para mim, seus olhos me
olham de modo estranho.
— Não imagina como estou feliz em vê-lo!! Pensei que estivesse esquecido de
sua mãe. — A carcereira mantém uma distância e nos deixa mais à vontade.
Minhas mãos tentam tocar seu rosto e ele se afasta rapidamente.
— Serei muito breve. Também serei claro e objetivo e espero que entenda e
guarde cada palavra do que tenho a dizer!!
Não me deixa dizer nada e continua.
— Você é realmente minha mãe?
Essa pergunta me deixa com medo.
— Claro que sim, que pergunta tola é essa meu filho??
— Tem certeza? Você me ama?
— Mas que a mim, Sean! Dou minha vida por você! Não entendo onde ele quer
chegar com essa conversa. — Sou o mais sincera que posso.
— Pois, a partir de hoje, venho aqui e peço para que esqueça de que tem um
filho!
— Como??
As palavras ditas uma a uma de maneira dura me atingem como se fosse um
soco no estômago.
— Isso mesmo que eu disse! Quero que me esqueça, porque eu farei questão de
esquecer a uma mulher que tentou matar a pessoa que amo.
Solto uma gargalhada nervosa.
— Está insinuando que sua mãe tentou matar Sophia, é isso?? Sean, estou presa!
Como faria isso??
— Chega desse teatro barato, Beatrice! Seu cúmplice já bateu com a língua nos
dentes e você era a mandante do atentado que mataria Sophia e meu filho!
— Filho?
— Sim. Sophia está esperando um filho!!
— Não sei o que esse maluco disse, mas sou inocente, tem que acreditar em
mim! —Pego em seu braço e ele retira minha mão rapidamente, evitando-me ao
máximo.
— Eu a desprezo, você me decepcionou ainda mais! Onde acha que chegará
fazendo tantas maldades?!
As palavras desprezo e decepção saídas da boca de Sean me doem mais do que
qualquer outra.
— Seja ao menos digna de assumir seus erros Beatrice! Não adianta negar,
temos provas contundentes de que Dennis trabalhava para você. Até Alberto
você envolveu nessa sujeira! Ele está em choque por ajuda-la sem saber qual era
o seu intuito! — Se aproxima de mim e me empurra na parede.
Nunca o vi tão nervoso! E tudo por causa daquela cachorra!!
— Saiba que se algo acontecesse à Sophia, eu acabaria com você!
— Não fale assim comigo! — Me exalto.
— Como quer que eu fale? Como me dirijo à mulher que quase mata o seu
próprio neto e por engano o seu filho quase morre! Imagina a dor que senti ao
saber que você estava por trás disso tudo? Por pior que fosse, nunca imaginei
que me faria sofrer tirando Sophia de mim! — Seus olhos não saem dos meus e
vejo o quão abalado ele se encontra.
— Sophia! Essa mulher o enfeitiçou, não é possível!! Vagabunda! — Digo, com
a voz carregada de todo meu rancor. — Ainda usou do velho golpe da gravidez
para prendê-lo ainda mais à ela! Lamento muito por você estar naquele carro,
meu filho e também não sabia que Sophia estava grávida pois se soubesse não
teria pedido para Dennis mexer naquele carro!
— Está me dizendo que se arrepende? Que a gravidez de Sophia muda tudo? —
Arqueia sua sobrancelha e espera minha resposta.
— Não, Sean. O que quero dizer é que se eu soubesse que aquela cachorra sem
pedigree estava esperando um filho que ela diz ser seu, eu mesma acabaria com
ela!
E depois de dizer essas palavras, sinto a mão forte de Sean me golpeando num
tapa que me faz perder o equilíbrio. A carcereira se aproxima e Sean levanta as
duas mãos em sinal de rendição.
— Não a quero ver nunca mais em minha frente, sua doente! — Sua voz é um
misto de desprezo e raiva. — Não se aproxime de mim novamente ou de minha
família.
— Sean, não diga isso!! Tudo que faço é para seu bem, um dia me agradecerá,
você vai ver!
— Não tenho mãe a partir de hoje! Esse era o motivo de minha visita, vim para
lhe dizer isso pessoalmente!
Vira as costas para mim e me jogo aos seus pés pedindo que não me despreze
dessa forma.
— Guarde um pouco de sua dignidade se é que você ainda a tem!
E com a voz fria chama a agente penitenciária avisando que sua visita acabou. A
mulher se aproxima de mim e tenta me tirar dali, mas eu não quero sair dali. Ele
está me deixando, meu filho está com raiva de mim. E mais uma vez, a culpada é
Sophia!
Por Sophia
Cansada de esperar por meu marido, acabo jantando sozinha, seu celular ainda se
encontra indisponível e não consigo ficar tranquila sem saber notícias suas.
Resolvo tomar um banho para relaxar. Regulo a água em um jato forte e deixo
que a pressão da mesma massageie minhas costas. Ouço a porta se abrir e, em
seguida, Sean com a cara abatida e amargurada adentra o box.
Me abraça por trás afastando meu cabelo e sem dizer uma palavra, morde meu
pescoço me prensando na parede enquanto sua boca quente explora todo meu
colo e em seguida, vira meu queixo invadindo sua língua em minha boca.
— Sean, o médico pediu repouso! — Gemo ao sentir suas mãos apertando meus
seios.
— Foda-se o médico, foda-se repouso! Preciso de você agora... — Dizendo essas
palavras, desce com seus dedos em meu sexo...
Calmaria
Por Sophia
Deito meu pescoço em seu ombro no mesmo instante que sua boca se mantém
colada em meu ouvido e seus dentes brincam com o lóbulo de minha orelha,
mordendo de leve e causando uma sensação gostosa com essa leve pressão. Seus
dedos invadem meu sexo e ao tocar em meu ponto mais sensível acabo soltando
um gemido involuntário. Com seu rosto colado ao meu, sua boca se curva em
um sorriso deliciosamente malicioso que me faz querer seus lábios nos meus.
No início, seus lábios encostam nos meus de modo delicado, terno e muito
carinhoso e ao sentir que minha língua busca a sua com urgência, tudo se altera.
Sean controlado e afável dá lugar ao meu homem desejoso e faminto por mim.
Sua boca esmaga a minha enquanto seu corpo me prensa ainda mais na parede
fria. Seu desejo é tão forte quanto a sua mágoa.
Sim. Consigo sentir o quanto está magoado. A conversa com sua mãe não deve
ter sido das melhores e ao me tomar dentro desse box, Sean espera aliviar,
mandar para longe e esquecer o que tanto o incomoda. E, então, estou aqui,
pronta para ele.
Sua boca juntamente com sua língua audaciosa e quente traçam uma trilha de
beijos e lambidas que vão do meu pescoço e descem por minha coluna fazendo
meu corpo se agitar por inteiro. Em seguida, ele se põe de joelhos e suas mãos
fortes apertam minhas nádegas seguidas de minhas coxas.
— Sophia... Afaste suas pernas... — Coloca sua mão entre elas e fricciona meu
sexo latejante e extremamente excitado. Mordo meu lábio e me apoio no
mármore frio com os olhos fechados e o coração batendo muito forte. Obedeço-o
e com as pernas afastadas, segura em minha cintura forçando meu quadril para
trás e me deixando totalmente exposta a ele.
— Empine essa bunda gostosa para mim! — Me puxa para sua boca e ao sentir
sua língua lambendo meu sexo molhado, sinto meu ventre se render em fortes
contrações de prazer. Ele geme e nesse som gutural e excitante me entrego a ele
permitindo que Sean absorva tudo de mim. É o que ele precisa no momento,
tomar tudo o que há para curar o que o machuca. Quer ter a certeza de que não
irei deixa-lo ou o que é pior decepciona-lo como fez sua mãe, pois é em mim
que ele busca refúgio e alento. A única pessoa que ele ainda admira e ama de
verdade.
Amor e desejo. Carinho e cumplicidade. É o que Sean procura e encontra ao me
tomar para si.
Sua língua faz movimentos cadenciados em um vai e vem alucinante.
A cada vez que ele rodeia sua língua em meu clitóris e o suga, um prazer intenso,
um tesão desenfreado toma conta de meu corpo e minha única reação é
movimentar meus quadris e gemer com o orgasmo que se forma dentro de mim.
Curvo meu pescoço e olho para meu marido ali, ajoelhado e me levando à
loucura com sua boca. Não contente em me ouvir gemendo alto enquanto a água
cai e o vapor se espalha dentro do box, Sean penetra dois dedos em mim me
fazendo buscar o ar tão rarefeito no momento. Estoca com rapidez e aumenta o
ritmo de suas lambidas.
— Goze para mim agora, diga que é minha! — Diz como uma ordem explícita.
E com as mãos espalmadas na parede, grito seu nome ao sentir meu orgasmo me
partindo em pedaços.
— Somente sua, sempre! — Busco o ar e sussurro: Eu te amo, meu Sean.
Meus espasmos vão cessando e ele continua ali a me chupar toda. A pele de todo
meu corpo fica sensível e Sean se levanta devagar distribuindo beijos por onde
sua boca passa. Tento ficar de frente para ele, porém me mantém de costas e
entrelaça suas mãos nas minhas no alto de nossas cabeças. Me sinto totalmente
rendida a ele. Esfrega seu membro excitado em meu sexo, fazendo com que eu o
queira ainda mais ao sentir seu desejo por mim.
— Eu te amo, minha Soph!
Afasta minhas pernas com seu joelho e me penetra bem devagar, me
preenchendo por inteira. Sua boca suga meu pescoço e sobe por meu queixo até
encontrar meus lábios. Ele geme em minha boca ao sentir que rebolo para
acompanhar o seu ritmo que se intensifica a cada investida.
Sean levanta uma de minhas pernas e mete ainda mais rápido e é quando
chegamos ao clímax juntos. Ainda ofegante, vira meu corpo e me abraça forte
com sua boca na minha. Conseguimos deixar tudo lá fora, restando somente o
nosso mundo.
Momentos mais tarde, em nossa cama, deitado sobre meu ombro, resolvo tocar
no assunto Beatrice. E então, ele ergue seu rosto e me encara. Mesmo na
penumbra posso ver seus olhos se entristecerem ao falar da mãe. Enquanto narra
toda a conversa com ela, afago seu cabelo e o ouço cada palavra.
— Não tenho mãe, Sophia! — Diz, resignado e aborrecido. — Aquela não pode
ser a mesma mulher que eu tanto admirava, a que me educou e me ensinou tudo
o que sei!
Por mais que Beatrice tivesse assassinado Leon e tentado acabar com a vida do
próprio marido, sei que Sean ainda creditava a ela alguma espécie de carinho.
No coração de meu marido, ela ainda tinha um lugar, mesmo que muito pequeno,
reservado à ela.
Esse é Sean.
Agora, com esse atentado o que restava dessa relação foi-se para longe e nunca
mais voltará.
— Nunca mais quero ouvir falar dela, você está me ouvindo? — Frisa muito
bem cada palavra dita.
— Sim, meu querido. Não falaremos mais nela. Prometo.
— Outra coisa que gostaria de discutir com você. — Apoia-se em seu cotovelo
e me encara.
— Sim? — Contorna meu lábio com seu indicador.
— Sophia, quero que pare de dar aulas!
— O que disse? Por que eu faria isso? — Falo, num sobressalto.
— Porque sabe a pretensão que tenho para disputar as eleições presidenciais
daqui a dois anos.
— Sei disso. — Viro meu rosto, olhando para a janela.
Sean, porém, espalma sua mão em meu rosto e me faz olhar para ele.
— Sophia... Olhe para mim.
— Estou olhando e não entendo o porquê teria que parar de dar aulas para me
posar de esposa do candidato à presidência. — Tento não parecer decepcionada
com seu pedido, mas em meu rosto é mais do que evidente esse sentimento. —
Enfeite?
Ele me desarma com seu sorriso.
— Jamais a trataria como um bibelô, sabe disso.
— Não parece, Excelência! Também sabe que dar aulas é minha paixão. Adoro
o que faço.
Ele não acha que ficarei à toa, acompanhando-o como uma fútil e esnobe mulher
de político.
— Sim, eu sei. E, se eu disser que tenho um projeto onde vou precisar
integralmente de seu apoio. Um projeto onde ajudaremos milhares de pessoas!
— Projeto? — Digo, interessada. — Ao ouvi-lo dizer projeto, tudo muda aos
meus olhos.
— Isso mesmo. Willy e eu criamos um projeto para ajudar pessoas que vivem
nas ruas e que não têm esperanças de sair de lá. E nada melhor do que você para
me guiar e dizer qual o passo seguinte a ser dado.
Sou tomada por uma emoção muito grande. Sean se importa com as pessoas.
Realmente se importa e me quer junto dele para fazermos a diferença.
— E então, o que me diz? Ou aquela história de somos uma dupla invencível era
conversa fiada? — Arqueia sua sobrancelha e a seguir, abaixa sua cabeça e
distribui vários beijos em meu colo, esperando minha resposta.
— Humm... — Solto um gemido rouco, quando sua boca engole meu seio. — E
se eu me negar, o que fará senador?
Seus olhos azuis me olham com divertimento e malícia.
— Sei exatamente como convencer a minha esposa. Sou ótimo em articulações e
manobras políticas para o bem comum. Quer ver?
— Não. Eu aceito trabalhar com você. Adorei a sua ideia.
— Então, quero comemorar a minha nova parceria. E tomando minha boca em
um beijo apaixonado e cheio de desejo, Sean e eu demonstramos o quanto somos
um do outro.
E por mais um dia, adormeço feliz nos braços de meu senador.
Nos dias que se seguiram, nossa vida seguiu uma rotina cercada de seguranças e
estratégias para que ninguém ousasse chegar perto de mim. É sufocante olhar
para o lado e ver um homem alto de óculos escuros lhe escoltando e lhe dizendo
por onde ir, mas uso a razão e decido que melhor isso a colocar em risco minha
vida e a do meu bebê.
Sentada na cozinha da casa de meu pai, Angelina vira-se com uma colher de pau
em riste e comenta.
— Será um menino!
— Fofa, como sabe?
— Escute essa velha e gorda feiticeira! Será um menino! — Olho em meu
relógio e ainda falta meia hora para a minha consulta. Sean vai vir me buscar
para irmos juntos.
Nesse momento, o futuro noivo, meu irmão Lorenzo adentra a cozinha e me
aperta em seus braços.
— Como se sente sabendo que deixará a solteirice daqui a quinze dias meu
irmão?
— Sinto-me ótimo. — Diz todo alegre — Lay e eu estamos certos do que
queremos e muito apaixonados.
Fofa entra na conversa, como sempre.
— Lay é um amor, mas às vezes, a danada parece uma araponga de tão ardida!
— Que isso, Angelina? — Lorenzo finge reprimir seu comentário.
— A verdade, Lorenzo. Sei quando ela está chegando ao pisar na frente do café.
Escandalosa!! — E ri, balançando a cabeça.
Logo após, ouço meu pai chegando acompanhado de Sean. Os dois conversam
animados e Vicenzo beija meu rosto de modo estalado como sempre fez. Adoro
isso. Ele e Sarah, agora sua namorada oficial, farão uma viagem pela Europa
após o casamento de Lorenzo.
Saímos minutos depois e ao chegar na calçada nos deparamos com Richard. Ele
me parece bem e veio para falar com meu pai, aliás eles ainda são sócios. Sean o
cumprimenta com um aceno de cabeça e eu faço o mesmo. Richard me parece
feliz e me sinto aliviada ao ver que aquele sentimento que ele nutria por mim
aparentemente se foi. Ele nos conta em poucas palavras que está noivo de
Patrícia e faz questão de que compareçamos à cerimônia.
De modo mais polido possível, Sean agradece pelo convite e com os seguranças
a postos, entramos em nosso carro e Austin nos leva à clínica onde irei fazer uma
ultrassonografia para ver o sexo do nosso bebê. Uma hora depois, voltamos para
casa e não paro de olhar para o rosto de Sean. Ele mal cabe em si de alegria.
Como a feiticeira fofa previu, seremos pais de um lindo menino.
— Quer um babador? — Seguro em sua mão e brinco com os nós dos seus
dedos.
— Não. Mas, não nego que um menino era minha preferência.
— Acha que eu não sabia? Uma menina seria problema futuro ao papai coruja e
ciumento.
— Você me conhece mesmo. Imagine se ela puxasse a mãe? — Leva minha mão
à sua boca e a beija. — Eu morreria.
Abraço-o e ele acaricia meu cabelo.
— Sophia... — Meu nome sai de sua boca de um jeito tão carinhoso e tão Sean.
— Agora que sabemos que será um menino, que tal escolhermos o nome?
Austin para em um semáforo e no carro logo atrás, Damon mais três homens nos
seguem.
— Ótima ideia. Que tal o nome do pai? — Pisco para ele.
— Não gosto do meu nome.
— Acho-o lindo. — Rebato.
— Só o nome? — Roça sua boca em meu lábio. — Fiquei magoado!
— Sim, só o nome. — Brinco.
— Thomas. — Me olha sério.
— Thomas?
— Thomas Salvatore Mackenzie. — Espera minha opinião.
Gostei. Pareço visualizar o rostinho de nosso bebê e esse nome lhe caiu muito
bem.
— Perfeito. De onde você tirou esse nome?
— De lugar algum, apenas gostaria que nosso bebê se chamasse assim.
— Será Thomas.
Sean se abaixa e beija minha barriga.
— Não vejo a hora de pegar você em meu colo, meu pequeno Thomas.
Tenho certeza de que Sean será um excelente pai.
Dias depois...
Por Lay
Como moro sozinha, meus pais vieram de Massachussetts exclusivamente para o
meu casamento. Lorenzo e eu resolvemos que será uma cerimônia pequena para
poucos convidados. Dividiremos nossa alegria com quem realmente se importa e
torce pela nossa felicidade. Dani e Max serão os meus padrinhos e Sophia e
Sean, os de Lorenzo.
Ao me olhar no espelho, lágrimas de uma mulher chorona e escandalosa
aparecem para me mostrar o quanto estou feliz. Amo meu Morenzo, amo a vida
e tudo o que ela me proporcionou de bom. Vamos nos casar e em seguida,
seguiremos para Madri em nossa lua de mel.
Meu pai aparece no quarto, enquanto minha mãe me recrimina pelas lágrimas.
— Mesmo sendo lágrimas de alegria, minha filha, elas também borram a
maquiagem e vai parecer uma bruxa se continuar a chorar.
— Tem razão. — Enxugo meus olhos e meu pai olha no relógio.
— Vamos, Lay. Não quer que Lorenzo desista, não é?
Solto uma risada, pois sei que meu pai adora me atormentar com seus
comentários.
— De jeito nenhum!
Claro que meu Lorenzo jamais desistiria de mim. Ele me ama e eu a ele.
Saímos do quarto. E, dentro do carro com meu pai, seguimos para a pequena
capela, onde será celebrada a cerimônia. Acho que estou preparada para um
banho de lágrimas de felicidade....
“Casamento de Lay e Lorenzo”
Por Lay
Sempre apostei na alegria. Quem me conhece um pouco sabe do que estou
falando. Ser e permanecer alegre, ver sempre o lado sorriso da coisa. Mesmo
quando a vida me empurra para o inverso é com minhas doideiras que sempre
afasto o mau humor.
Nesse momento, ao entrar na igreja de braços dados com meu pai a sensação é
toda diferente. A alegria se transformou em algo muito maior. Todos os presentes
conseguem ver e sentir a felicidade que irradia de mim e de Lorenzo no altar.
Nossos olhos se cruzam e ele pisca para mim. Mesmo parecendo relaxado, sei
que Morenzo também está nervoso.
Nosso casamento não é apenas um evento onde nós, os noivos, queremos
notoriedade. Chegamos e estamos aqui para confirmar o que já sabemos. Viver
ao lado do outro em qualquer circunstância. Dani, ao lado de Max no altar, sorri
com seus lábios trêmulos de emoção. Ela, mais do que ninguém, sempre torceu
por minha felicidade e não foram um, mas vários momentos em que mesmo
atolada no trabalho fechava a porta de sua sala e me consolava pelas lágrimas
derramadas por relacionamentos naufragados. Minha mais que amiga, minha
delegada favorita joga-me um beijo e respiro fundo para conter a emoção.
Do outro lado do altar, outra cena me deixa emocionada. O olhar de amor que
Sophia direciona a Lorenzo. Quando a conheci, sabendo de todo seu passado
como ladra cheguei a pensar que não iríamos nos dar bem. Porém, bastou meu
primeiro sorriso e uma Sophia totalmente diferente do que eu visualizava surgiu
em minha frente. Estou entrando para uma família que se ama
incondicionalmente me tornei parte dela.
Por Lorenzo
Não sou o cara do tipo que se derrama em lágrimas à toa, isso não quer dizer que
não seja emotivo. Ao olhar para a grande mulher que me acompanha até o altar
engulo seco para desfazer o nó que se forma em minha garganta.
Angelina caminha orgulhosa em sinal de missão cumprida e a ela devo-lhe todo
o mérito, pois junto de meu pai fez o papel de mãe para um garoto ainda muito
pequeno e supriu com seu carinho e atenção.
Ela preencheu sem cobrar nada em troca a lacuna deixada por minha mãe. E
nunca permitiu que eu esquecesse Constanza. Quase chegando ao altar eu o vejo.
O meu amparo, o homem que viveu para mim e por Sophia. O senhor de cabelos
grisalhos com o soco de direita mais pesado que pude sentir ao querer
demonstrar rebeldia aos 15 anos.
Vicenzo Salvatore ou simplesmente, meu pai.
Ele me olha e franze o cenho, mas dentro de seus olhos experientes vejo todo
amor que ele tem por mim e por tudo o que construiu, nossa família. Em pé,
esperando ansioso pela noiva. Ergo os pés e os sustento em meus calcanhares
por várias vezes enquanto aperto meus dedos um a um. Sophia me olha
tranquiliza com seu sorriso.
E então, a marcha nupcial é tocada, a porta da capela se abre e Lay aparece. O
azul de seus olhos parece mais brilhante e nunca o seu sorriso esteve tão lindo.
Não tem como não amar e querer Lay. No começo, ela me intrigou com seu jeito
espalhafatoso e intrigante. Me fazia rir mesmo quando estava com problemas e
sempre conseguia me relaxar com seu lindo sorriso.
Depois passei a amá-la de tal forma, de um jeito tão intenso que não conseguia
me manter longe e sendo assim me vi apaixonado e resolvi pedir sua mão em
casamento. Na frente no padre, atesto que a amo e a farei feliz e, na saída da
igreja, depois de receber os abraços dos padrinhos, sua risada aparece ao sermos
cobertos por uma chuva de arroz lançada por Sophia e Danielly.
Durante a recepção, fomos presenteados por muitos brindes entre eles, meu pai e
Sophia me fizeram derramar aquela lágrima que estava escondida. Lay e eu
dançamos a valsa e após cortarmos o bolo e minha noiva se juntar às demais
para jogar o buquê, resolvemos ir para o aeroporto, onde partiremos em lua de
mel para Madri.
Por Lay
Tudo saiu mais do que perfeito. A cerimônia, nossos votos e a recepção cercada
de risos e porque não, algumas lágrimas também. Não preciso dizer que antes de
sair da festa, tive que correr ao toalete e limpar meus olhos borrados, eu parecia
a cópia fiel na noiva do Chuckie. Agora, sobrevoando o Atlântico, com minha
mão segurando a de Lorenzo e minha cabeça recostada em seu ombro, repasso
todos detalhes mentalmente e os gravo para nunca mais perde-los em minha
memória. Horas mais tarde, desembarcamos no aeroporto da capital espanhola e
mesmo com todo cansaço, não deixamos de admirar a cidade em toda a sua
beleza num cair da tarde estonteante.
O hotel escolhido por Lorenzo é o Grand Meliá. Grandioso e cercado de luxo
por todos os lados.
Fico maravilhada ao entrar em nossa suíte. Agarrado a mim por trás, Lorenzo me
mostra todos os detalhes do quarto. Na verdade, mesmo cansada, esperava esse
momento com muita ansiedade. Fazer amor com Lorenzo, agora meu marido.
Vira meu corpo para si e ao abraça-lo, meus olhos recaem sobre meu dedo anelar
e na aliança ali depositada.
Feliz ao extremo, ele me segura pelo pescoço, invadindo sua língua em minha
boca. Em seguida, tapa meus olhos com uma de suas mãos e solto um grito de
euforia que ecoa pelo quarto. Lorenzo cola sua boca em meu ouvido.
— Senhora Salvatore, eu a amo muito.
O impacto que essa pequena frase causa em mim é instantâneo. Ter o seu nome é
mais do que uma simples convenção para mim. Sou de Lorenzo, pertenço e
quero dividir meu mundo e toda a minha vida com ele. — Espero que goste da
pequena surpresa que preparei para você! Lembra do nosso primeiro banho? —
Caminhando a passos lentos, com Lorenzo colado em meu corpo finalmente
chegamos ao banheiro do quarto.
Solto uma risada e ele me pergunta a razão para isso.
— Amor, me assegure que seu pai não estragará nosso banho como daquela
vez!!
— Sua boba. — Morde minha orelha, me fazendo gritar.
Ao tirar sua mão dos meus olhos, minha reação não foi gritar e sim ficar
boquiaberta. Em uma banheira, inúmeras pétalas de rosa vermelha fazem o
cenário romântico com as pequenas velas espalhadas pelo ambiente.
Lorenzo vira meu corpo e seu olhar exala desejo. Segura na barra de minha blusa
e suas mãos quentes roçam em minha pele bem devagar, como se quisesse me
torturar até que a peça sai pela minha cabeça me deixando com meus seios à
mostra.
— Você é linda, Lay! — Abaixa sua cabeça e sua boca engole meu mamilo
fazendo meu sexo se contrair de desejo. Sem esperar, afoita e louca por ele,
arranco a sua camiseta e minhas unhas contornam seu peito forte.
— Você que é lindo, meu amor. — Continuo a explorar suas costas e contorno
todos seus músculos. Sua mão desce pela minha barriga e alcançam o cós de
minha calça. Mais ousado, morde minha boca com força e a suga em seguida
para aliviar a dor. Gemo ao sentir sua língua brincando com meus lábios e ao
mesmo tempo sentindo seus dedos invadindo minha calcinha e exploram meu
sexo me fazendo arfar.
Sem conseguir conter nosso desejo, ele arranca o restante de minha roupa e faço
o mesmo com ele e, nus seguimos para a banheira cheia de sais perfumados.
Lorenzo apaga a luz, deixando somente a luz das velas iluminando o ambiente e
o deixando ainda mais romântico.
Na beira da banheira, sobre um pequeno aparador, um balde com champanhe e
gelo nos espera juntamente com uma tigela com morangos frescos. Lorenzo,
pelo jeito, cuidou de tudo para que nossa primeira noite de casados fosse
perfeita.
Ele entra primeiro na banheira e segura minha mão me convidando a entrar com
ele. Senta-se e eu monto sobre seu corpo. A água morna toca em minha pele e
relaxa o restante do cansaço que eu ainda sentia.
Suas mãos apertam minha cintura e faz minha pélvis se esfregar em sua ereção.
Pendo meu pescoço para o lado e ele corre sua boca por toda essa região e por
onde suas mãos correm deixam minha pele arrepiada. Mordo sua orelha e ele
geme baixinho percorrendo meu sexo com seus dedos habilidosos e me dizendo
o quanto sou gostosa e o quanto estou excitada. Busco sua boca e nossas línguas
se enroscam e nosso beijo se torna selvagem e devasso. Lorenzo encaixa seu pau
em minha entrada e com as mãos em minha cintura me puxa de encontro a ele,
fazendo que sinta-o todo dentro de mim.
— Oh, que delícia, meu amor! — Digo, ofegante.
Remexo meus quadris e começo a cavalga-lo em um ritmo intenso, Lorenzo me
acompanha e me dá o que quero: Prazer e amor, muito amor. Meu corpo é todo
seu e ele sabe onde e como gosto de ser acariciada e tomada na cama. Segura
minha cabeça entre suas mãos e nossos olhos se encontram no exato momento
que ele me penetra ainda mais forte e um clímax intenso me atinge me fazendo
gemer seu nome quase sem ar. Em seguida, chega sua vez. Meu marido se
entrega a mim e ao gozar diz o quanto me ama e me quer para si.
Com a respiração entrecortada, permanecemos abraçados até nos acalmarmos.
Lentamente, ele sai de dentro de mim e alcança a garrafa de champanhe. Enche
as duas taças e me oferece uma delas. Não me olhei no espelho, mas tenho a
certeza de que meu rosto deva estar vermelho após esse amor maravilhoso que
acabamos de compartilhar.
Toco meu rosto e Lorenzo cobre minha mão com a sua e com a outra levanta a
taça em um brinde especial.
— À minha vida na sua e à sua na minha. Eu te amo! — Mordo meu lábio e
agradeço aos céus mentalmente por ele ter me dado um homem tão maravilhoso
e que me ama tanto.
— À toda minha vida na sua e toda sua na minha. Sempre! Eu o amo muito!
Bebemos o champanhe e após esse banho dos deuses, caímos na cama e
adormecemos abraçados.
Amanhã iremos conhecer Madri.
Por Marcella
Ao assistir o noticiário, durante todos esses dias, pude acompanhar através de
toda a imprensa, o acidente envolvendo meu genro, Sean Mackenzie. Então,
penso em minha filha. Sophia deve me achar um poço de interesse e uma via
única para a vida mais fácil. Mas, refletindo com mais calma, percebi o quão
infeliz eu fui ao perder a única oportunidade de ter minha filha de volta. Ela
esperava algo de mim, cheguei a ver isso nas poucas vezes em que nos
encontramos e seus olhos clamavam por isso. Era só dar um passo à frente e
abraça-la mas a minha alma miserável se fez mais forte e coloquei a minha vida
de privações materiais na frente de tudo, perdendo o que pudesse ser o amor
mais puro que eu poderia viver.
Agora que fiquei sabendo de sua gravidez, gostaria de poder reparar o dano
causado pela impressão que ela guarda de minha pessoa.
Quero pedir desculpas sinceras e dizer o quanto sinto por tê-la magoado. Admiro
a mulher que ela se tornou, Sophia é tudo o que sonhei um dia para mim e fico
feliz ao saber que aquele bebê enrolado em um cobertor junto ao meu corpo
pelas noites frias da Filadélfia, tenha conseguido vencer na vida e sem minha
ajuda!
Com esse pensamento, apago as luzes do saguão do prédio após mais um dia de
trabalho. Em casa, pego o meu caderninho de anotações e faço algumas contas
de minhas economias. Acho que poderei dizer à minha filha tudo o que desejo e
com as poucas economias que juntei, poderei levar algo para meu futuro neto.
Espero que o destino me reserve uma última chance...
Uma chance a mais!
Por Lay
Passear pelas ruas de Madri ao lado de Lorenzo é muito bom. Aliás, bom não, é
ótimo. De mãos dadas e lançando olhares de cumplicidade e extrema alegria
seguimos pela Gran Via, a principal avenida da capital que dá acesso a vários
lugares badalados como restaurantes, lojas de grife, teatros e muitos outros
entretenimentos.
A manhã ensolarada com um céu completamente sem nuvens transforma o nosso
tour madrileno em um dia carregado de surpresas. Em uma confeitaria, Lorenzo
me faz provar uma iguaria espanhola, churros ou na língua portuguesa seria:
Porra. Só não gargalhei na mesa, pois meu marido me alertou sobre o nome do
doce antes que nos servissem. E não é que o docinho é mesmo gostoso?
Em seguida, entramos no Museu Del Prado e ao caminhar pelas inúmeras salas
rodeadas de arte, nos lembramos de Sophia. Abraçado a mim, Morenzo me
mostra o pouco que aprendeu sobre pintura com o pai. Me apresenta Velásquez e
também Goya. E ao ver todas essas obras me lembro de como a arte me uniu a
Lorenzo. Através de uma tela antiga e muito valiosa me deparei com um homem
maravilhoso que se apaixonou por mim tornando-me sua mulher.
Saímos do museu e caminhamos mais alguns quarteirões até chegarmos à Plaza
Maior, outro ponto turístico famoso de Madri. Ali, resolvemos fazer uma parada
para nosso almoço. Meu marido optou por uma sopa de gaspachos acompanhada
de tortilhas de batatas e eu mais comilona, não resisti a um cozido madrileno.
Lorenzo pediu também uma bebida muito consumida por aqui, o verano, uma
mistura de vinho tinto com refrigerante de limão. Comi horrores e cheguei a
brincar com meu marido que voltaria rolando para o hotel. Ele achou graça como
sempre e me chamou de boba.
Na parte da tarde, visitamos outro ponto muito conhecido na terra de Gaudí, o
Retiro, parque muito famoso onde nos deparamos com uma paisagem bela e
tranquila. Depois de inúmeras fotos e troca de beijos e abraços em público,
normal para um casal que está apaixonado, voltamos para o hotel no fim da
tarde, mortos de cansaço. Tomamos um delicioso banho juntos, carregado de
muito amor e depois pedimos nosso jantar no quarto. Lorenzo e eu falamos dos
nossos planos juntos para o futuro e o que esperamos daqui para frente em nossa
vida em comum. No outro dia, não sei dizer o porquê aceitei que meu marido me
levasse em uma tourada. No começo até achei divertido, o local chamado Los
Ventos estava lotado e os muitos olés ecoavam pelo are deixando quase surda. O
toureiro era muito bom e sabia exatamente o que estava fazendo. Com muita
leveza, se desvencilhava do touro com muita facilidade, levando os espectadores
ao delírio. Meus olhos não queriam ver o que estava por vir e com precisão o
homem trajando uma roupa toda verde com brocados em preto, sangrou o
enorme touro e as pessoas gritavam ensandecidas enquanto rosas e muitos
aplausos eram recebidos pelo toureiro que se mantinha curvado recebendo toda
as congratulações enquanto eu, Layanne, chorava pela morte do animal. Lorenzo
percebendo a situação, me abraçou e me tirou do local. Nos dias que se
seguiram, saímos para conhecer o Palácio Real e também as feiras populares
onde compramos algumas lembranças para meus pais, meu sogro e também para
Sophia.
Lorenzo fala com o pai quase todos os dias e também com a irmã. Ela, mesmo
gestante, se empenhou numa empreitada com Sean. Um projeto, onde ele
conseguiu reunir política e iniciativa privada para financiar um projeto que irá
ajudar muitas pessoas carentes.
É de políticos assim que o mundo precisa. Minha cunhada me deixa muito
orgulhosa e meu cunhado arrasa!!
Depois de dez dias de noites e porque não manhãs e tardes de puro amor,
deixamos Madri e voltamos a Nova Iorque. No pequeno loft comprado por
Lorenzo temos a árdua e ao mesmo tempo deliciosa missão de abrir e organizar
todos os presentes que ganhamos em nosso casamento. E nossa vida juntos tem
um belo início...
Alguns dias depois...
Por Sean
Sophia se mostra incansável durante todo o tempo em que trabalhamos juntos e
o que mais me impressiona é sua audácia. Ela não se intimida ao discordarmos
em algum ponto do nosso projeto e busca com muita inteligência argumentos
cabíveis que me fazem dar razão à ela. Longe um do outro há uma semana e
trancado nesse quarto frio de hotel em Indiana, ajeito minha mala e mal vejo a
hora de voltar para casa e ver a minha mulher. Outra coisa que me faz pensar em
Sophia e que sempre batemos de frente é sua teimosia ao trabalhar demais. Sei
da sua dedicação e importância em nosso trabalho, mas cheguei a ponto de me
irritar e brigar feio com ela devido ao seu estado e por ela esquecer-se de que
carrega um filho nosso.
Depois daquele infeliz atentado, mesmo sabendo que nossa segurança foi
redobrada, somente fico tranquilo quando estou perto e posso cuidar dela e do
nosso filho pessoalmente. Olhando para meu relógio, verifico quanto tempo falta
para pousarmos em Nova Iorque. Aidan digita algo em seu notebook e parece
absorto no me faz.
— Sean. — Aidan levanta os olhos da tela do seu note e me encara. — Tenho
algo a lhe dizer cunhado.
Como se eu não imaginasse o que estaria por vir. Quando minha irmã e ele
começaram a namorar, fui contra porque conhecia Aidan bem demais, porém
Sophia me pediu para que desse uma chance ao meu amigo, afinal se eu havia
mudado meu comportamento, ele também poderia, não é? Essa foi a questão
levantada por minha mulher a qual me deixou sem nenhum tipo de argumento
para contestar.
— Diga, cunhado. — Com meu rosto apoiado em uma de minhas mãos espero o
momento em que meu amigo vai me dizer que vai se casar com minha irmã. Isso
estava mais do que na cara e óbvio também.
— Sabe o quanto amo a sua irmã, não é?
— Sei, continue.
Não acredito que ele vai pelo caminho mais longo! Fecho a cara para ele
esperando a sua reação. O resultado disso é um Aidan todo nervoso.
Engole seco e continua.
— E cheguei à uma conclusão.
— Sim?
— Bem, gostaria de que você fosse o primeiro a saber.
Ele vai dizer que os dois pretendem se casar. Já não era sem tempo!!
— A saber de quê? — Fecho minha cara ainda mais. — Dá para parar de me
olhar com essa cara e dizer logo que irá se casar com Alexia?
— Cara, não precisa estragar a minha onda. Não é sempre que se pede a mão da
mulher de sua vida ao melhor amigo, não é?
— Isso você tem toda razão, Aidan. — O copiloto nos avisa que iremos pousar.
— Saiba que não precisa de minha permissão para se casar com minha irmã. Sei
o quanto se amam e para mim esse é o sinal verde para a felicidade de vocês.
— Obrigado, Sean.
— Eu que agradeço por me dar a honra de ser o primeiro a saber.
Ao descer da aeronave, ligo meu celular e dentro do carro mando uma
mensagem para minha mulher. “A caminho de casa, morto de saudade!” —
Aperto enviar. Segundos depois, a resposta: “Não estou morta e sim, enterrada
de saudade!” — sorrio ao ler a resposta e lhe envio mais uma mensagem: “Eu
te desenterro, fique tranquila! Te amo!”
Austin para o veículo em um engarrafamento.
— Acidente, senhor!
Mais uma resposta de Sophia que me deixa muito mais ansioso para chegar em
casa.
“Sem ar e contando os segundos para ser desenterrada! Esperando meu
senador em nossa banheira! Não demore! Te amo mais!”
Mais alguns minutos e a enorme fila resolve sair do lugar.
[...]
Abro a porta principal e subo as escadas que dão acesso à nossa suíte.
Desabotoou os botões do meu paletó. Jogo-o sobre nossa cama e rapidamente
entro no banheiro. Sophia se encontra com os cabelos presos e totalmente
desalinhados e caídos sobre seu colo. Seu corpo que tanto gosto está quase todo
coberto por espuma. Seus olhos me encaram com desejo e essa imagem
misturada à toda saudade que senti me deixam excitado. Percebendo o efeito que
causou em mim, ela morde seu lábio e com seu indicador me chama para ela.
— A água está uma delícia meu amor! — Suas mãos brincam com a espuma
espalhando-a sobre seus seios.
— Sei exatamente o que é uma delícia. Pois estou vendo-a em minha frente! —
Abro os botões de minha camisa e a jogo no chão do banheiro. Em seguida, me
livro da calça e a cueca.
Sem nenhuma inibição, minha mulher me devora com seu olhar que não se
desvia quando entro na banheira ficando de frente para ela.
Sua barriga já protuberante, seios maiores e seu quadril mais largo deram à
minha Soph uma beleza ainda maior. As primeiras mudanças em seu corpo
fizeram com que ela chegasse a pensar que eu não mais a desejaria como antes e
provei o quão errada estava. Meu desejo por Sophia vai muito além do corpo, a
desejo com minha alma e não seriam alguns quilos a mais que me farão perder o
imenso desejo que sinto por ela.
Sento-me na banheira e imediatamente a puxo para meu colo. Dobra seus
joelhos e se senta sobre minhas pernas, enlaçando seus braços em meu pescoço,
suas mãos penetram em meu cabelo.
Sinto sede.
Sede de sua boca e de sua língua atrevida e assim sendo, uma de minhas mãos a
puxa pelo pescoço de modo bruto e em seus lábios macios e quentes sacio minha
vontade. Com minha outra mão acaricio suas costas e em resposta ao meu beijo
mais intenso, ouço seu gemido acompanhado de um sussurrar gostoso e lento
chamando meu nome. Beijo-a de modo voraz e sem tréguas. E como sempre
Sophia me acompanha dividindo comigo as mesmas sensações. O roçar de seu
sexo em minha coxa e de seus seios em meu tórax fazem meu pau ficar ainda
mais duro e louco por ela.
— Estava com tanta saudade, na próxima vez, a levo comigo! — Murmuro com
minha boca colada ao seu pescoço. Não me aguentava sem você, meu amor! —
Pende seu pescoço dando-me passagem para explorar ainda mais a sua pele com
minha boca. Passo minha língua por sua garganta e a aperto contra meu corpo.
— Essa semana pareceu uma eternidade!
E nossa última discussão foi exatamente por isso, Sophia queria me acompanhar
nessa viagem e eu com certo receio devido à sua gravidez me opus. Me
arrependendo amargamente.
Ela puxa meus cabelos com força e me faz encará-la.
— Sabia que iria mudar de ideia, senador. — Sorri em sinal de vitória
conquistada carregada de malícia.
— Sei admitir meus erros, Sra. Mackenzie!
Abaixo meu pescoço e minha boca alcança seu mamilo enrijecido e o faço ficar
ainda mais duro sob minha língua. Sugo-o com força e para meu deleite ela
geme pegando em meu pau duro feito pedra.
— Ainda bem, por isso eu o amo cada dia mais, Sean! Me sinto desenterrada! —
Dizendo isso morde o lóbulo de minha orelha e corre sua língua audaciosa por
ali arrancando gemidos de minha garganta.
— É? — Sugo seu lábio e minhas mãos apertam seus seios, descendo por sua
linda barriga e pairando em seu sexo todo depilado, quente e muito excitado. —
Pois agora, vou me enterrar gostoso em você e fazê-la gozar como louca.
Ela morde minha boca e sinto sua língua me pedindo passagem para um beijo
carregado de desejo. Ela arqueia seu corpo de encontro aos meus dedos que a
torturam. Mais audaciosa ainda, retira minha mão de sua boceta e leva meu dedo
à sua boca, chupando-o bem devagar e ao mesmo tempo me surpreende ao pegar
meu membro e encaixá-lo em seu sexo.
— Sou louca por você, meu Sean. Quero-o todo em mim, agora! Se enterra
gostoso, vai!! — Diz com a boca colada à minha.
Engulo seco tamanho o desejo que sinto ao ouvir Sophia dizendo algo mais
sacana que o normal. Ela aprende fácil e adoro quando me surpreende dessa
maneira.
Devagar a penetro com sua boca colada à minha. Ela arfa de desejo e seu sexo
ávido e extremamente molhado se encaixa no meu. Tento manter o controle e ser
o mais delicado possível, pois não quero machucá-la. Assim, ela começa a se
mover e acompanho o seu ritmo lento e muito gostoso. Suas unhas arranham
minhas costas de leve enquanto puxo seus quadris de encontro ao meu pau que
pulsa dentro dela.
— Que delícia, meu amor, não pare! — Sussurra em meu ouvido e rebola me
fazendo gemer.
— Sophia, meu tesão, minha ... Só minha!
Somos gemidos e bocas, toques e desejo. Absorvemos tudo um do outro e
Sophia goza quando aumento meu ritmo e a seguro firme em meus braços. Logo,
não me seguro e gozo como um louco dizendo que a amo, sempre!
Depois que nossos corpos se acalmam, viro-a de costas para mim e lavo seu
corpo massageando cada parte de sua pele.
Adoro cuidar de minha Soph.
Na cama, agarrada a mim, sua voz é sonolenta e gostosa de se ouvir. Me sinto
feliz, muito feliz, estando ao lado de quem tanto amo. Sophia, minha mulher e
mãe de Thomas, nosso filho que logo fará parte de nossos dias!
Afago seu cabelo e ela está quase dormindo.
— Sean, Marcella me ligou enquanto você esteve fora!
Isso me pega de surpresa. O que essa mulher interesseira pode querer com a
filha? Ela já demonstrou não ter guardado algum carinho por Sophia e sei que
isso ainda a magoa, mesmo que não fale sobre isso.
— O que ela queria? — Demonstro indignação em minha voz.
— Disse que queria me ver nem que fosse pela última vez para desfazer a má
impressão que deixou a respeito dela.
Sinto que Sophia se retrai ao se aprofundar sobre esse assunto.
— E você? O que respondeu?
Sophia ergue seu olhar para mim e sei o que passa em sua cabeça. No fundo,
somos iguais. Ela também acredita que sua mãe possa ter algo bom a oferecer e
assim, a única coisa que posso fazer por ela, é apoiá-la. Se minha mulher quer se
aproximar de Marcella, não serei contra, somente me manterei em alerta, pois
não quero que nada de mal lhe aconteça.
— Ela me disse que pretende vir a Nova Iorque e me pediu para que a recebesse.
Sabe, meu amor, lá no fundo eu acreditei nela, pois dessa vez me pareceu
sincera! — completa. — Disse que irei recebe-la.
— Tudo bem, fico feliz se vocês se acertarem. Se ela está mesmo disposta a
reparar tudo o que já fez, nada mais justo que dar à ela uma nova chance!
Sorrio para ela e com minha resposta de apoio sinto que ela relaxa em meus
braços.
— Deus quando fez você, rasgou a receita fora, Sean. Eu o amo por me
compreender e me conhecer tanto!
— Hum, assim fico convencido!
Beija minha boca e me dá seu mais lindo sorriso.
— Pode ficar, eu deixo! Meu único e eterno Sean.
Ela se aconchega em meus braços e adormecemos felizes.
O surto de Beatrice!
Por Beatrice
A psiquiatra me encara como se eu fosse uma demente.
Nesses últimos dias em que estive na prisão, dois médicos, um psicólogo e mais
um psiquiatra me examinaram e chegaram à conclusão de que sofro de um
transtorno chamado amor patológico. Com isso, fui transferida da penitenciária
para uma prisão psiquiátrica e não sei qualificar qual dos dois lugares é mais
deprimente. Nas inúmeras conversas com o tal psiquiatra, tentei mostrar a ele
que meu amor por Sean não tem nada de doentio e que, se o defendo e me
preocupo com ele e porque tenho meus motivos.
O que esse bando de medíocres não entende é que me mantendo aqui, meu filho
corre perigo nas mãos daquela mulher. Tudo agora faz sentido. Sophia se aliou
ao porco imundo para querer acabar com Sean e enquanto ela não conseguir seu
intuito, não sossegará!
Sou dispensada de mais uma consulta cansativa e sem nenhum avanço. Sentada
em um banco, debaixo de uma árvore, observo os outros presos que andam pelo
jardim. Uns correm atrás dos outros como numa brincadeira de pega-pega.
Outros, assim como eu, preferem o isolamento e ficam por horas sentados e
absortos em seus pensamentos.
Aqui, todos têm seu próprio mundo e vivem dentro dele do seu jeito. O meu
mundo me foi tirado e vou recuperá-lo o mais breve possível. Tenho tudo
planejado. Dessa vez, não serei covarde como no passado, defenderei Sean e o
livrarei daquela mulher perigosa!
Eu o salvarei! Eu mesma cuidarei dela!
Fecho meus olhos e deixo o vento e os raios de sol penetrarem em minha pele.
Está um lindo dia. Um lindo dia...
Por Danielly
Cansaço, eis a palavra. Preciso urgentemente de férias e sei que isso só será
possível daqui a três meses. Ando trabalhando demais e isso tem me esgotado.
Lay voltou ao trabalho há algum tempo e a vida de casada lhe fez muito bem,
sua cara não poderia ser mais feliz.
Max quer marcar a data de nosso casamento, diz que não há motivos para
ficarmos esperando se temos a certeza do nosso amor. Nisso, tenho que
concordar com ele. Nos amamos e desejamos estar um ao lado do outro para
toda a vida. Amo meu gato gostoso!
Ontem à noite, Aidan durante um jantar que parecia ser normal, levantou-se da
mesa, olhou para todos, em especial para Harry e surpreendeu a todos pedindo a
mão de Alexia em casamento. Sean e Sophia não pareciam nada surpresos.
Talvez, já soubessem da novidade.
O sorriso de minha cunhada era de orelha a orelha e a entendo como ninguém.
Alexia conseguiu o amor de Aidan após anos de espera. Ela não desistiu de
acreditar que ele um dia seria seu e relembrando o seu olhar dirigido a ele na
mesa, tive a certeza de que ela se sente completa com o seu amor, assim como
eu.
Para completar a noite de festa, Max segurou minha mão e quando Aidan se
sentou foi a vez de meu noivo pronunciar algumas palavras. Felicitou aos noivos
e deixou claro que após o casamento de sua irmã, ele e eu iremos para o altar.
Agora, sentada em minha mesa e olhando para meu anel de noivado, sorrio
como boba e nem acredito que um mero assalto iria unir Max e eu dessa
maneira. Esse mundo é mesmo cheio de novidades.
Por Alexia
— Sophia, nem adianta! — Ela sorri para mim tentando me convencer do
contrário. — Você combinou comigo que hoje iríamos às compras e agora fica aí
com essa cara de égua empacada! — A olho, contrariada. —Sean está em
Washington e você disse que iria comigo, sua tratante!!
— Isso lá é jeito de tratar sua irmã favorita? Sua cunhada grávida de quase sete
meses?? Quando estiver nessa situação irá lembrar de mim e pensará: Sophia
tinha razão, ela não era uma égua empacada!
— Não me venha com desculpas! Vamos e pronto! E quando Thomas nascer,
terei uma séria conversa com ele! — Aliso sua barriga e para minha alegria o
meu sobrinho se mexe lá dentro! Mal vejo a hora de poder pegá-lo em meus
braços.
— Eu também não vejo a hora! Vou matar o pobrezinho de tanto beijar, apertar,
abraçar! Ser mãe para mim há tempos atrás parecia uma coisa impossível,
Alexia!
— Mas agora é muito possível! Você ficou uma grávida muito bonita!!
— Obrigada. Deve ser porque estou muito feliz! Isso faz a gente parecer mais
bonita do que é.
— Hum, modesta! E não adianta mudar de assunto, se for assim quero falar de
coisas mais interessantes do que sua beleza.
Ela franze a cara, surpresa.
— Que coisas mais interessantes seriam essas?
— A vida sexual de uma gestante! Quero detalhes! — Falo em sinal de deboche.
Sophia é reservada nesse quesito, nunca fala suas intimidades e olha que já tentei
fazê-la falar, sempre brinco com ela e a tiro do sério com esse assunto.
— Se eu lhe mandar para o inferno, você jura que não fica brava comigo?
— Não! Claro que não! Mas, deixe esse assunto para mais tarde, quem sabe uma
outra vez, não é? Vamos? — Pego minha bolsa.
— Alexia, tem certeza? — Sophia se levanta do sofá, sua barriga está enorme e
linda! Penso que logo será a minha vez! Ter um filho de Aidan, mais um sonho
que realizarei! Morro de alegria por dentro só em pensar nisso. — Toda vez que
vou sair, sabe que um arsenal de seguranças me acompanha. Sean não me deixa
sair sozinha! Ele morre de medo de que me aconteça algo! Deixou ordens
expressas a Damon que não me larga nem por um segundo fora dessa casa!
— Sophia, Sean faz isso porque a ama e eu acho lindo a forma como ele cuida
de vocês!
— Não estou me queixando, Alexia! É que, às vezes, sinto saudade de poder ir a
qualquer lugar sem ter homens de preto ao meu lado. Já argumentei com seu
irmão dizendo que sei muito bem me defender.
Sophia só pode estar brincando! Que mulher com uma barriga desse tamanho se
defende de alguém?
— Você só pode estar de brincadeira, não é?
— Foi isso que Sean me disse acompanhado é claro de uma enorme gargalhada!
Só espero que depois do nascimento de Thomas, ele baixe um pouco a guarda.
— Esqueça, minha querida, pois irá piorar! Se esqueceu de que ele vem
trabalhando para chegar à Casa Branca?
— Desisto, então! — ela caminha até uma mesinha ao lado do sofá, pega seu
celular e sua bolsa. — O que não tem remédio, remediado está, não é esse o
ditado?
Sorrio para ela e me levanto, ficando ao seu lado. Estendo minha mão e ela a
segura do seu modo Sophia, apertando-a com força.
— Às compras?
— Às compras!!
— Quero comprar todo o estoque de lingeries para minha lua de mel, estou tão
eufórica! Vou me casar e nem acredito minha cunhada!
— Fico muito feliz por você, Alexia! Desde que lhe conheci naquele banheiro no
baile na Galeria eu me apeguei a você de um jeito que ainda não sabia explicar.
— Eu também me senti muito bem ao seu lado, você me parecia confiável e tão
segura que tive vontade de me aproximar!
Fico emocionada e para disfarçar minha emoção abraço por trás e a arrasto para
a porta principal.
— Mas agora chega de confetes, vamos sair dessa casa, senhora Mackenzie!
— Como quiser, futura senhora Smith!
— Não consigo ouvir esse nome e não me associar à Angelina Jolie!
Sophia solta uma risada alta e acabo sorrindo também.
Saímos para o mundo mulher! O delicioso mundo maravilhoso das compras!!
Por Sophia
Final de semana tinha tudo para ser perfeito. Sean resolveu dispensar o
contingente de seguranças deixando nossa casa com cara de lar e, não de um
quartel ou alguma espécie de embaixada. Acordamos tarde no sábado e o dia
ensolarado e com um céu azul sem nuvens prometia algo muito bom.
Prometia, mas parece que esse sonho de sair para passear ao lado de meu marido
num dia quente de verão terá que ficar para uma outra ocasião. Mal me levantei
da mesa do café e meu celular me avisa que meu programa de sábado terá que
ser adiado: Marcella.
Atendo e Sean permanece ao meu lado, com seu olhar sério, como se fosse um
cão de guarda cuidando de seu dono.
— Alô, Sophia, Marcella. — Ela poderia ficar anos sem falar comigo, jamais
esqueceria essa voz!
— Olá, Marcella, como vai?
— Muito bem, minha querida, cheguei à cidade hoje e gostaria de saber se
poderíamos nos ver. — Faz uma longa pausa. — Quero muito falar com você!
Tapo o celular com a mão e repito a Sean o que acabei de ouvir.
Ergue os ombros como quem diz: Faça como quiser!
E então, passo à ela meu endereço. Ela fica toda agradecida e me diz que em
quinze minutos chegará em casa, irá pegar um táxi. Sean ao perceber que terei
uma visita nada convencional, sai pelo corredor e volta minutos depois com
short branco e uma camisa polo azul marinho. Nas mãos, carrega sua raquete e
uma mochila.
Antes que eu o questione, ele se adianta.
— Vou jogar tênis com meu pai, meu amor. — Seu semblante fica sério. —
Acho que essa conversa terá que ser entre você e sua mãe, não quero parecer um
intruso. Qualquer coisa, me ligue! E logo mais, à noite, sairemos para jantar fora.
Faz tempo que não paparico a minha esposa. — Beija minha boca e roça seu
rosto com a barba por fazer em meu queixo, adoro quando ele faz isso!
— Acho isso muito bom! Adoro ser mimada!
Toca em meu rosto com a ponta de seu dedo e em seguida, caminhamos até ao
hall de entrada que dá acesso à porta principal.
— Se ela disser algo de que não goste, por favor, expulse-a daqui.
Enlaço meus braços em seu pescoço e o tranquilizo.
— Será somente uma conversa, fique tranquilo.
— Não demoro, prometo!
Dou um tapa em sua bunda e ele franze uma suas sobrancelhas.
— Eu amo vocês!
— Também o amo muito!
Entra no carro e sai pelo jardim. Entro e minutos mais tarde, conforme o
esperado, a campainha toca.
Ando apressada até a porta sem saber ao certo o motivo para meu nervosismo.
Acho que a gravidez me deixou muito mais sensível. Abro a porta e por
segundos me vejo na figura dela. Somos muito parecidas fisicamente.
— Entre, Marcella, por favor!
Afasto-me da entrada, dando passagem sua pessoa.
— Obrigada!
Noto que carrega em suas mãos, um pacote embrulhado em um papel azul bebê
envolto por um laço azul escuro.
Fecho a porta e inesperadamente Marcella se aproxima e me abraça de modo
apertado. Um tanto constrangida, ergo meus braços e retribuo o gesto de modo
automático.
Ao se afastar e dirigir seu olhar para mim, Marcella tem os olhos cheios de
lágrimas.
— Obrigada por me receber, Sophia!
— Não precisa agradecer! Vamos nos sentar, por favor?
— Isso é para seu filho, sei que será um menino!
Estende-me o pacote e segurando-o nas mãos, convido-a se sentar.
— Obrigada, Marcella, não precisava ter se incomodado.
A enorme barreira entre nós será difícil de ser derrubada, pois foram anos de um
distanciamento e agora romper esse abismo não é nada fácil.
Abro com todo cuidado o presente e minha alegria é visível ao ver um lindo
ursinho marrom de pelúcia e em seu babador o nome de Thomas bordado à mão.
Fico ali olhando para o primeiro presente que meu filho ganhou.
Como gostaria que minha mãe e eu tivéssemos um outro começo, um novo
rumo.
Dessa vez, quem se emocionou fui eu!
— É lindo! Adorei! Thomas vai adorar também. — Enxugo uma lágrima que
pairava no canto de meu olho. — Aceita um café, um suco ou um copo d’água?
— Não, obrigada, minha querida! O que mais quero é poder falar com você! —
Olha ao redor e pergunta. — Sean onde está?
— Saiu, não deve demorar!
— Ah, sim.
Sentada com as mãos sobre os joelhos, ela começa a falar:
— Sabe o que aprendi em minha vida com o passar do tempo?
— Nem imagino. — Digo.
— Que cada pessoa nasce com um dom, uma aptidão e carrega consigo um
defeito também.
Aonde ela quer chegar com essa conversa? Marcella prossegue.
— Quando você nasceu, sabia que tudo mudaria desde então. Eu era uma garota
ingênua e sonhadora de Indiana e quando percebi que tinha uma grande
responsabilidade em meus braços, me senti apavorada! — lentamente, olha para
mim, buscando algo em meu rosto, porém continuo a encarar sem demonstrar
nenhuma comoção.
— E?
— Tinha um ser totalmente dependente de mim e não sabia como seria dali para
frente. Eu tinha sonhos, Sophia! Queria vencer na vida!
— Digamos então que eu seria um estorvo, um empecilho naquele momento?
— Não! Por favor, não foi isso que eu quis dizer! Como disse anteriormente,
cada um nasce com aptidão e defeitos. Eu deixei que meu defeito sobrepujasse
minha aptidão.
— Isso foi realmente uma pena!
— Há mulheres, Sophia, que nasceram com coragem para enfrentar as mais
difíceis situações e eu, nasci sem essa qualidade! Junte a isso, uma menina pobre
e sem recursos que recebe uma ameaça através de uma carta. Quando me envolvi
com Harry não sabia que ele era casado e muito menos que sua mulher era tão
perigosa. — Enquanto fala, retorce os dedos das mãos nervosamente. — Jamais
imaginei que ela havia me mandado aquela carta e que anos mais tarde mandaria
atear fogo no Saint Clair.
Ela se levanta e anda até a janela. De costas para mim, continua a falar.
— Me diga o que eu poderia fazer para lhe proteger? Estava sendo caçada como
um rato e sabia que era uma questão de tempo para que fôssemos encontradas.
Hoje sei que Harry não sabia de nada, pois quando me deu dinheiro para que eu
a abortasse, fiz com que ele acreditasse que realmente que você não nasceria.
Mesmo sendo ignorante e ingênua, tinha consciência do que uma pessoa
poderosa pode fazer. — Então, ela se vira para mim e seus lábios estão trêmulos.
— Você acha que não sofri ao deixa-la naquele orfanato? Sei que você se
questiona e pensa: Covarde! Marcella foi uma covarde! E não a recrimino,
porém o que uma moça sozinha e sem estudos poderia fazer contra alguém
poderoso que desejava o seu fim e tinha tudo a seu favor para que isso se
realizasse? Quis protege-la, Sophia! E naquela circunstância uma menina sem
sobrenome num orfanato era a única saída pela sua sobrevivência!!
— Imaginava mil coisas naquele orfanato! — estou emocionada, repeti a mim
mesma que não choraria, mas é mais forte do que eu! — Imaginava o dia em que
minha mãe voltaria para me buscar e você nunca apareceu!
— Oh! Sophia! — Caminha até mim e se ajoelha ao meu lado. — Quando
voltei, só encontrei cinzas. Eu ia leva-la comigo! E ao ver somente o que restou
do lugar, tudo morreu!
Pelo menos isso, ela foi me buscar! Seguro meus dedos e os aperto forte.
— Espero que um dia perdoe a minha fraqueza!
— Por que ao me reencontrar anos mais tarde, você demonstrou tanta
insensibilidade? Seu sentimento foi trocado por dinheiro, Marcella! Tem ideia de
como me senti?
Senta-se ao meu lado.
— Por isso estou aqui! Sei o quanto fui egoísta! Sabe, Sophia, a vida dura me
transformou em uma pessoa pior. Quando vi uma foto sua no jornal ao lado de
Sean, seu noivo na época, a primeira coisa que pensei foi em impedir que esse
casamento se realizasse pelo fato de vocês serem irmãos. E, ao vê-la pela
primeira vez, tive a certeza de que, se não a tivesse abandonado naquela noite
fria, você não estaria naquele local e não seria quem é. Sou grata à Angelina e a
Vicenzo e confesso que senti inveja deles por terem seu amor e respeito ,
enquanto eu me mostrei fria e ambiciosa! — sua voz, pela primeira vez, denota
uma emoção verdadeira. — Por um momento, saboreei um pouquinho de
vingança ao tirar dinheiro daquela família! Esse foi meu maior erro e defeito!
Fiquei cega e somente pensei numa possibilidade de uma nova vida mais
confortável. Por favor, sei que a magoei, mas lhe peço, me dê uma nova chance
de lhe mostrar que não sou tão terrível assim! — Ela chora ao dizer cada palavra.
— Me deixe mostrar o quanto estou orgulhosa por vê-la feliz! Por ver que se
tornou mãe!! Você está tão linda, Sophia!! — Alisa meu cabelo. — Quando a
beijei pela última vez naquela noite, fechei os meus olhos e lhe juro, pedi a Deus
que lhe protegesse e cuidasse de cada passo seu!
Soluço de emoção, foram anos esperando respostas. Anos sem saber o que
minha mãe pensava e agora ouvindo tudo, minha alma se sente aliviada.
Ela me puxa para seus braços e me abraça forte e minha reação é abraça-la
também. Nosso primeiro e verdadeiro abraço. Minhas lágrimas molham a sua
blusa verde e as dela escorrem em meu ombro.
Ela me afasta e sorri para mim.
— Saiba que jamais poderei reparar meu erro! Nunca! Mas quero ao menos
saber que não tenho o seu desprezo, quero viver meus dias em paz, Sophia!
Enxugo minhas lágrimas e tento me acalmar.
— Obrigada por me contar tudo e ter sido franca comigo! E não a desprezarei,
pode ficar tranquila, estava muito ferida com a sua volta repentina e todo seu
comportamento comigo. — Respiro fundo, contendo minha emoção. — Todo
mundo comete erros na vida e se reconhecem esse erro têm direito à uma
segunda chance! Talvez nossa relação não seja a mais perfeita e não consigamos
avançar muito, porém demos o primeiro passo nessa sala e me sinto feliz por
isso!
— Obrigada! — Junta minha mão entre as suas. — Muito obrigada! Tenho
orgulho de poder fazer parte de um milésimo de sua vida! Linda, generosa e
muito querida! Você superou a tudo que sonhei! Parabéns!!
— Obrigada.
Ela toca a minha barriga.
— Quando nasce Thomas?
— Começo de outubro! Mal vejo a hora!
— Eu poderei ver o meu neto?
— Claro, Marcella! Um nova chance, lembra? E quero que almoce comigo!
Surpreendo-a com esse convite.
— Não quero incomodar!
— Não será incômodo algum! Faço questão!
— Sendo assim, aceito! Desde que possa ajudar na cozinha! Mas antes gostaria
de lavar meu rosto, devo estar com a cara toda borrada! — Sorri, toda sem jeito.
— Aceito a ajuda! O lavabo é logo ali, depois daquela parede. — Aponto com o
dedo. — Fique à vontade.
Ela caminha em direção ao lavabo e pego meu celular. Quero mandar uma
mensagem a Sean, dizendo que está tudo bem.
Teclo algumas palavras e ao apertar enviar, ouço um clique de um gatilho.
— Dessa vez, não errarei o alvo, Sophia! Sabia que fui campeã no clube de
caça?
Meus olhos não acreditam no que veem. Beatrice, com uma roupa toda
amassada, cabelos desgrenhados e um olhar assustador.
Meu celular vibra, resposta de Sean.
— Não se atreva a se mexer, sua ladra!
Será que ela conhece meu passado?
— Você roubou meu filho! E hoje, vou matá-la com minhas próprias mãos para
que não haja mais enganos!
Grita como louca e meu maior medo é de que a qualquer momento ela puxe esse
gatilho. Meu coração bate tão forte que chega a balançar o tecido de minha
roupa. Tremo inteira!! E agora?? O que vou fazer?!
Por Marcella
Lavo meu rosto e me olho no espelho. Me sinto melhor, como se tivesse
renascido! Todo o peso de anos de covardia saiu de dentro de minha alma que se
debatia gritando por alívio. Consegui ao menos que Sophia me desculpasse por
ter sido tão egoísta!
Enxugo minhas mãos e saio em direção à sala e pelo espelho existente em uma
parede anexa, vejo uma cena que me deixa paralisada.
Beatrice aponta uma arma para Sophia.
Pego meu celular em meu bolso e ligo para a polícia. Explico à atendente a
urgência do caso e lhe digo que se trata da esposa do senador Sean Mackenzie,
nessas horas, tudo faz diferença!
Ela me pede calma e diz que está mandando uma viatura. Em seguida, busco
minha agenda e não encontro o nome de Sean em meus contatos telefônicos, mas
sim o de Harry.
Ligo e ele demora a atender.
— Harry falando! — Atende, ríspido.
— Harry, é Marcella. Não tenho tempo de falar, mas Sophia corre risco de vida!
— O que? Como assim? O que você fez com ela?
— Me escute, por favor, seu imbecil! Beatrice invadiu a casa e mantém um arma
apontada para ela.
— Meu Deus.
Ouço a voz de Sean ao fundo que pega o telefone.
— Marcella, por favor, vá até onde Sophia está e tente ajudá-la a ganhar tempo.
Estou a caminho!
Ele desliga e caminho rapidamente para a sala.
A louca me vê e sorri.
— Ora, matarei dois coelhos numa cajadada só! — Diz ensandecida.
Olho para Sophia e tento fazer-lhe um sinal e então, tento provar à minha filha o
quanto ela é importante para mim...
Desesperado!!
Por Sean
Meu pensamento é um só! Chegar a tempo para salvar minha esposa e meu
filho! Tenso e muito preocupado, tento afastar imagens que me deixam
apreensivo e temeroso ao que possa acontecer a eles.
— Tome cuidado, Sean! Se continuar dirigindo dessa maneira, poderemos sofrer
algum acidente! — Meu pai, sentado no banco do passageiro, me adverte após
me ver passar em um sinal vermelho.
— Preciso impedi-la, papai! O senhor sabe melhor que ninguém o verdadeiro
estado de saúde de Beatrice!! — Viro em alta velocidade e entro na avenida
rumo à minha casa.
— Sim, sei. Quando sugeri sua transferência para uma prisão psiquiátrica achei
que fosse a melhor e mais plausível decisão a ser tomada devido ao progresso de
seu distúrbio. — Solta uma risada amarga. — Que coisa mais bizarra! Me casei
com uma demente e nunca me dei conta disso!
— Nenhum de nós percebeu isso. — Atesto. — Segundo dr. Klaus em nossa
última conversa, o passado traumático desenvolveu em sua mente um amor pelo
irmão que se fora. Ele era a única pessoa a quem ela devotava algum sentimento
e após sua morte, esse sentimento permaneceu latente até o meu nascimento.
Aquele cuidado, o carinho se transformou em algo doentio e ela o transferiu todo
para mim. Em sua visão distorcida e deturpada, sou seu filho e ao mesmo tempo
o irmão que ela tanto amou e que não conseguiu defender.
— Isso é horrível! Sempre admirei o modo como ela o tratava, claro que achava
um tanto exagerado, mas enfim, ela o amava. — Meu pai bate as mãos em seus
joelhos em sinal de impotência. — Nunca soube nada de seu passado, estava tão
apaixonado que nunca procurei conhecer sua história e seus antecedentes. Como
ela chegou a esse ponto? Assassina e louca?
— Os assassinatos não estão veiculados à sua demência, pai! Isso foi o seu lado
ganancioso e maléfico! Detesto admitir, mas minha mãe é um ser humano
desprezível! O seu lado permanecia sob controle até o momento em que ela se
sentiu ameaçada. Quando me interessei por Sophia, Beatrice achou que perderia
minha atenção e meu amor! Ela acha também que minha mulher quer me fazer
mal e só ela poderá me defender de Sophia. Meu medo é de que cheguemos
tarde demais!! Se ela fizer algo contra minha mulher e ao meu filho, não sei qual
será a minha reação!
— Mantenha calma! Tudo ficará bem, meu filho! — Toca meu ombro, tentando
me acalmar.
— Tomara. Sempre disse que por Sophia desceria ao inferno se fosse preciso e,
se Deus estiver me pondo à prova nesse momento, estou pronto para enfrentar o
pior!
Meu pai permanece em silêncio. Viro a rua que dá acesso à minha residência e a
imagem que vejo é parecida com séries de assassinato e filmes de suspense.
Bloquearam a rua e várias viaturas da polícia estão no local. Saio do carro e ergo
a faixa amarela que cerca a rua. Vejo Danielly ao longe gesticulando com os
braços em direção ao jardim. Sinto um pouco de alívio ao saber que ela está no
comando da operação.
Ao me ver, se aproxima e tenta me manter calmo.
— Sean, a casa está toda cercada e temos dois atiradores de elite em suas
posições. Estava aguardando por sua chegada! — Para e, em seguida, justifica
sua presença ali. —Estava em uma ronda de rotina e passava pela região quando
ouvi pelo rádio um chamado que vinha de seu endereço. No mesmo momento,
chamei reforços e vim voando para cá.
— Obrigado, Danielly. Fico grato por tê-la aqui! — Olho tudo ao redor com
muita atenção. — Mas não usaremos atiradores e muitos menos policiais
invadirão minha casa!! — Digo de modo firme à minha futura cunhada.
Dois minutos e uma ambulância com dois enfermeiros acompanhados de Dr.
Klaus chegam no local. O médico que cuida de Beatrice se aproxima e o
colocamos a par da situação. Ele explica que Beatrice é uma psicopata dotada de
inteligência o que a torna ainda mais perigosa.
Dr. Klaus concorda com minha ideia e me orienta como devo proceder ao me
deparar com Beatrice em estado de surto.
Harry permanece ao meu lado e se espanta, Danielly também. Os dois falam
quase ao mesmo tempo.
— Como assim? Pensa em entrar lá sozinho??
— Irei entrar lá e salvar Sophia!
— Enlouqueceu, meu filho?
Danielly espera minha resposta. Ela mantém a mão em seu coldre.
— Sean, pela minha experiência, acredito... — A interrompo.
Nada me fará mudar de ideia, absolutamente nada.
— Se há alguém que pode parar Beatrice esse alguém sou eu! — Bato em meu
peito com uma aflição jamais sentida. — O único que ela ainda ouve e que
mantém algum sentimento. Ela não dará ouvidos a mais ninguém!
— Sean tem razão!! — Ressalta o dr. Klaus mais uma vez.
— Você correrá um enorme risco entrando sozinho, Sean! — Argumenta
Danielly.
— Sei o que estou fazendo e correrei esse risco.
Por Marcella — minutos antes...
O que houve com aquela mulher sofisticada e fria que conheci? O que vejo em
minha frente é o que a loucura fez à ela. Muito magra, com os ossos da face
salientes, olhos lacrimejantes e um brilho carregado de muita ira. Sem contar o
largo uniforme e seus cabelos totalmente sem vida e desalinhados. Uma insana.
Beatrice é a personificação da loucura!!
E nesse instante, mantém uma arma engatilhada para minha filha. Tenho que
tomar uma atitude, pois do contrário, ela irá matar Sophia!!
Ao dirigir meu olhar para minha filha, vejo o medo estampado em seus olhos. O
tecido do seu vestido largo e comprido balança pelo tremor do seu corpo.
— Beatrice, abaixe essa arma por favor! — são as primeiras palavras que me
veem à cabeça! Preciso ganhar tempo até a chegada da polícia e também de meu
genro que está a caminho.
— Cale a boca, sua aprendiz de prostituta! Por sua causa, estou nessa sala
apontando uma arma para o fruto desgraçado de seu relacionamento com meu
marido! Se não fosse por isso, se você não fosse uma prostitutazinha de quinta
categoria, à essa hora teria me poupado de muitos dissabores e um deles era não
ter sua filha imunda infiltrada em minha família e meu filho enfeitiçado por ela.
Beatrice tem a arma apontada de modo firme, noto que sua mão não treme. Ou
seja, mesmo em surto sua frieza é notável!
— Sua filha roubou Sean, o meu filho Sean! — bate forte no peito com a mão
cerrada. — E agora que não me resta mais nada, vou acabar com ela antes que
faça algum mal ao meu filho! — Pronuncia cada palavra com muita calma e um
sorriso irônico e demente nos lábios, sem tirar os olhos de Sophia.
— Beatrice, sei que não temos afinidades e que não gosta de mim, mas quero
que saiba que os sentimentos de Sean por você nunca foram trocados como você
diz! — Sophia argumenta e sua voz já não tem a mesma firmeza de sempre. —
Você sempre teve seu lugar no coração dele!!
— Não adianta, Sophia! Agora suas palavras dissimuladas chegaram ao fim! —
Dá dois passos em direção à minha filha que se mantém no mesmo local.
Onde estaria Sean??
Sem pensar duas vezes, resolvo acabar com essa angústia e pavor. Tento salvar a
vida de minha filha e meu neto. Avanço para cima de Beatrice e a pego de
surpresa, seus olhos se arregalam por segundos e não hesitando, a louca aperta o
gatilho e sinto uma dor muito forte em meu braço esquerdo.
Caio ao chão e gemendo de dor, ouço o grito alarmante de minha filha.
— Marcella!!
A louca presta atenção em cada mínimo movimento nosso e continua a apontar
sua arma para mim e simultaneamente para Sophia. Sinto que será nosso fim.
Essa mulher não sossegará enquanto não ver Sophia sem vida!! Aperto meu
braço para tentar estancar o sangue. A dor que sinto é muito forte e ao tentar me
levantar, Beatrice grita dizendo para que eu não me mexa.
Ela se encontra em um estado tão forte de perturbação que a única coisa que
enxerga em sua frente é Sophia não percebendo quando policiais chegam e
cercam a casa. Suspiro aliviada e rogo para que eles consigam impedir essa
maluca de fazer uma besteira ainda maior.
— Quando digo acabarei com a raça das duas, não estou brincando, Marcella!!
Matarei sua filha!! — Limpa sua boca com o cotovelo e toda sua classe parece
ter sido abandonada. — Quero que presencie o seu fim e depois disso será a sua
vez!! — Sophia olha para mim e, pela sua expressão de alívio, deve ter visto a
chegada dos policiais.
Por Sean
Depois do grave estampido de um tiro, me adianto e caminho para o portão
principal. Um policial com a arma apontada para Beatrice avisa que Marcella foi
atingida de raspão.
Chega! É hora de acabar com isso!
— Sean, aqui está! — Danielly me oferece um colete à prova de balas e uma
arma. Balanço a cabeça em negativa.
— Você não está entendendo, Danielly! No estado em que Beatrice se encontra
se me ver armado, pensará que também a traí e não é isso que quero! Ela tem
que me ver e não um homem tentando defender Sophia! Irei ao seu encontro sem
armas e sem defesas e tirarei Sophia e Marcella de lá.
— Sendo assim, só posso lhe desejar sorte!
— Obrigado.
Abro o portão e a encaro. Meu pai se mantém logo atrás com o olhar apreensivo.
Nesse mesmo instante, o carro de Vicenzo estaciona ao longe e ele desce do
mesmo como um leão em defesa de seu território.
Abro a porta principal e a tensão no ambiente pode ser sentida ao pisar no hall de
entrada. Ando mais alguns passos e Sophia ergue os olhos e me vê. Meus olhos
se iluminam ao ver que ela ainda está viva e sem nenhum arranhão! Tento
tranquiliza-la através de meu olhar e também pedir perdão por fazê-la passar por
isso.
Marcella permanece deitada ao chão com a mão em seu braço sujo de sangue.
Respiro fundo e coloco meu plano em ação.
— Mamãe! — Chamo Beatrice como nos velhos tempos quando ao chegar de
viagem a procurava pela casa antes de qualquer outra coisa.
Ela ouve a minha voz e se vira para olhar para mim.
Está irreconhecível. Não se parece em nada com a mulher com quem convivi.
— Sean! Você chegou? — Me devolve um sorriso quase sem vida.
Caminho devagar porque mesmo desviando os olhos por algum momento em
minha direção ela mantém a arma apontada para Sophia. Mais alguns passos e
fingindo não ver minha esposa, falo somente com Beatrice.
— Sim, acabei de chegar! O que a senhora faz com essa arma? Posso saber?
Ela afasta seu cabelo do rosto e sorri de modo tímido. Nunca tinha visto esse seu
sorriso.
— Vou defender você dessa vez, Sean! Dessa vez, estou preparada e poderemos
viver em paz, você e eu!!
Volta a encarar Sophia que entende aonde quero chegar com meu plano.
— Beatrice, estou deixando essa casa, deixando Sean! Você venceu! — Minha
mulher assume uma voz mais segura. — Ele sempre a amará mais do que a mim!
— Sophia pronuncia essas palavras esperando obter algum resultado positivo.
Porém, a louca em nossa frente insiste na ideia de matar, somente matar. E
assim, não tenho outra alternativa. Quando Beatrice aponta o revólver para a
barriga de Sophia, entro na frente da arma e digo.
— Deixe que ela se vá, mamãe!
— Não! A única maneira dessa mulher desaparecer é morrendo e eu irei matá-la,
meu filho! Saia da frente da arma, por favor! Não quero machucar você. —
Vocifera.
— Se quer realmente matar Sophia, terá que me matar primeiro! E se acaso
matá-la e me deixar vivo, eu a mato e depois me mato também! — Essas
palavras causaram-lhe algum impacto, pois noto que sua reação foi de tristeza e
dor.
Sei que ela não me mataria!
E sem que ela veja, meus dedos alcançam a mão fria de Sophia. Acaricio-a por
alguns segundos e ela aperta meus dedos nervosamente.
— Sabia que você iria me trair também! Eu dediquei toda a minha vida a você,
meu filho e o que recebi em troca? Desprezo! Você me desprezou!! — Grita e
seu berro é ouvido por toda a casa.
Nervoso com toda essa tensão, desvio meu olhar para a janela lateral da sala,
onde um atirador mantém uma arma apontada para Beatrice. Ele espera um sinal
de minha parte para executar sua tarefa. Não quero vê-la morta e só darei o sinal
a ele se não conseguir fazer com que se renda. Tenho outros planos para minha
mãe! E matá-la não me faria sentir-me um herói e muito menos a vítima.
Beatrice somente morrerá em último caso.
— Sean disse para não matar Sophia, mas Bea vai matá-la! — Seu surto parece
incontrolável e ela fala no irmão já morto. — Sean é inocente! Não sabe que ela
enganou a todos com seu jeito! Sean gosta de Sophia — ela bate a mão na
cabeça em total desespero com o passado e presente! Bea vai proteger Sean!
Meu lindo menino!
Solto da mão de Sophia e comovido por ver a mulher em que Beatrice se
transformou, estendo minha mão à ela e uso meu sentimento de compaixão!
— Mamãe! — Minha voz a faz olhar diretamente em meus olhos. — Sei que
você está aí, tenho certeza de que essa mulher à minha frente não é a mesma que
conheço!
Ela toca seu rosto tentando entender o que digo!
Continuo a falar.
— A mulher que me amou sem medidas, que me ensinou tudo o que sei e que
carrego comigo até hoje! A mesma que quando criança brincava comigo e me
preparava o melhor milk shake de chocolate!
Seus olhos se enchem de lágrimas e os meus também.
— Lembra-se disso? Eu me lembro de tudo! Está tudo aqui! — Bato em meu
peito com força. — Tudo o que você fez por mim! — pego em seu rosto e
encaro firme em seus olhos insanos. — A mulher linda e sofisticada em seu robe
de seda branco afagando meu cabelo a noite toda em que eu me encontrava
febril. — Uma lágrima cai de seu rosto passando por minha mão. — E essa
mesma mulher sempre esteve em todos os momentos em que ganhei medalhas e
prêmios e me consolava quando eu não alcançava o meu objetivo. O amor dessa
mulher por mim, toda a sua dedicação, me fizeram o que sou hoje e nada e nem
ninguém vai tirar o lugar dela do meu coração!
— Sean... — Ela se derrama em lágrimas e desce o braço com a arma.
Meus pensamentos vagueiam por um tempo feliz ao lado dela. Tenho muita
mágoa de Beatrice, jamais ela será como antes aos meus olhos, mas quero
guardar dela o melhor que vivemos.
— É essa mulher maravilhosa que amo e não esse monstro que está aí dentro. A
mulher que fazia as melhores panquecas no café da manhã nos meus aniversários
e lambuzava meu nariz com geleia de amora! Eu quero aquela mulher de volta, a
do sorriso largo e elegante! — Minha voz também falha devido à minha emoção.
— A mais linda e sofisticada que já conheci! Beatrice Marie, minha única e
eterna mãe! E se você estiver me ouvindo e me ama de verdade como diz, largue
essa arma agora!
Ouço a arma caindo no chão e ela se atira em meus braços aos soluços. Eu
aperto em meus braços e dou sinal à Marcella para se levantar.
Sophia está em lágrimas e nesse momento gostaria de poder abraça-la, porém
ainda tenho que terminar o que comecei. Olho em seus olhos e movo meus
lábios dizendo um eu te amo silencioso.
Ela retribui da mesma maneira e sorri nervosamente. Espero que esse susto não
prejudique a sua gravidez.
Danielly entra na sala com mais dois enfermeiros e um policial. Eles levam
Marcella para tratar do seu braço ferido. Vicenzo vem logo atrás e dou graças
por isso, pois Sophia sai abraçada a ele.
Beatrice continua agarrada a mim com muita força. E, depois que todos saem, a
faço olhar para mim!
— Você está muito doente e vai me prometer que irá ficar em uma clínica que eu
escolher e fará todo o tratamento até se sentir melhor!
— Vai me mandar para aquela prisão novamente? — Tenta se desvencilhar de
meu abraço. — Não quero! Sean diz que lá não é um lugar bonito!
— Você irá para a mesma clínica, só que em outro setor! Terá cuidados
especiais! Tenho certeza de que Sean vai gostar desse lugar! — Pego seu rosto
magro e triste entre minhas mãos e digo: Prometo que jamais a abandonarei,
mãe!
Dessa vez, ela não fugirá! Terá tratamento intensivo e monitorada 24 horas.
O dr. Klaus chega com mais dois ajudantes e peço mais um minuto antes de
leva-la. Toco mais seu rosto e seus cabelos, afago suas costas e ela faz o mesmo
comigo, toca em meu rosto e enxuga uma lágrima que escorre em minha face.
— Sabia que não havia deixado de me amar! Sabia! — Beija a palma de minha
mão. — Isso ninguém vai tirar de mim! Meu filho querido!
— Eu a amarei sempre e sou grato por tudo o que fez por mim.
Ela se afasta e o médico a leva dali.
Ao sair da casa, na calçada, antes de entrar na ambulância ela me joga um beijo e
diz adeus.
Minha família se encontra toda ali. Alexia e Max presenciam a triste cena de ver
nossa mãe assassina e louca sendo levada para o lugar de onde nunca deveria ter
saído. Danielly cuida de todas as questões burocráticas e em seguida, caminho
até Sophia. Vicenzo a mantém em seus braços.
— Sean!
Ela sai dos braços do seu pai e se joga nos meus!
— Acabou, meu amor! — Beijo seus cabelos e aspiro seu perfume. — Me
perdoe por ter passado por tudo isso! Eu te amo!
— Eu também o amo muito! Senti tanto medo de que... — A silencio com minha
boca. Beijo seus lábios assegurando-a de que nada mais irá nos atingir. Nem me
preocupo com a presença de Vicenzo.
— Somos uma equipe, invencíveis, lembra? — Roço meu nariz no seu. — Que
tal procurarmos seu médico para ver se está tudo bem com o bebê?
— Lembro! Estou bem, Sean! O susto já passou! — Enxuga seu rosto. —
Marcella ficou mais apavorada do que eu, coitada! O médico a levou para o
hospital, estava em estado de choque!
— Sean!
Meu sogro se aproxima e me dá um forte abraço.
— Obrigado por salvar a minha filha! Você demonstrou muita coragem!
Admiro-o ainda mais por isso!
— Não me agradeça, Vicenzo! Amo sua filha e faria tudo outra vez!
Ele sorri e se afasta, nos deixando a sós.
A movimentação se desfaz em frente à nossa casa e então peço à meu pai para
que cuide da imprensa. Não quero ninguém bisbilhotando sobre o que se passou
em nossa residência essa manhã!
Alexia e Max vem e me abraçam antes de irem embora. Minha irmã não
escondeu a sua preocupação com o estado de Sophia.
— Alexia, estou bem, acredite! — Sophia a acalma.
— Se você diz, teimosa! Acredito! Vou para casa e qualquer coisa é só me ligar,
entendeu?
— Sim, cunhada.
[...]
Em nosso quarto, Sophia me conta como foi a conversa com sua mãe e pelo
menos algo bom aconteceu nesse dia terrível. Tomamos um banho, descemos
para a cozinha e preparamos algo para comer.
Vamos esquecer o dia de hoje, tentar apaga-lo de nossas mentes, assim como
apagamos o dia de nossa separação forçada, a tentativa de suicídio de Sophia e
tudo o mais de ruim que se abateu sobre nós.
Por Beatrice
Assim que chego na clínica, peço com muita educação ao dr. Klaus para que me
deixe ligar para uma pessoa.
Ele permite desde que possa permanecer na sala durante a minha conversa. Digo
que sim e ele me entrega o aparelho.
Me sinto leve e diferente.
E continuo a amar meu Sean.
Em dois toques, Alberto atende a minha ligação.
— Alberto, querido, quero que me traga com urgência aquele ursinho que
pertencia à Sean e também aquele pequeno boneco de louça chinesa que pedi
que guardasse. Pode me trazê-lo ainda hoje? — Passo o endereço a ele.
— Sim, Madame! Logo, estarei aí!
Desligo e sorrio ao médico à minha frente.
Ao voltar para minha cela, deito-me na pequena e dura cama e ele se aproxima
afagando meu cabelo.
“Bea vai ficar bem! Cuidarei sempre de você!”
— Você viu, Sean? Meu filho me ama! — Sorrio para meu pequeno irmão. — E
irei deixa-lo em paz! Nunca mais quero vê-lo chorando por minha causa!
“Estou feliz por Bea e vou ficar esperando você em nosso lugar favorito!” — Ele
responde.
Ele me joga um beijo e vai embora.
Momentos mais tarde, levanto-me da cama e uma enfermeira abre a minha cela
trazendo o ursinho e meu boneco chinês.
O primeiro ursinho de Sean. De meu irmão Sean que depois de anos guardado
passou a ser de meu filho Sean.
Abro um compartimento do boneco chinês e o pó ainda está lá.
Sento-me na cama e com lápis e uma folha de papel nas mãos desejo ao meu
amado filho uma nova vida, sem uma mãe perturbada e doente em seu caminho.
Amanhã à essa hora, ele saberá o quanto o amo e o quanto prezo a sua
felicidade! Me afastarei para sempre para deixar que ele e Sophia possam viver
em paz!!
Afinal, meu lindo menino merece...
Nas primeiras linhas, aparecem minhas palavras de amor e devoção eternas
juntamente com inúmeras lágrimas.
Despedida!
Por Sean
Meu sistema nervoso deixou meu corpo muito tenso. Depois que tudo se
acalmou tive a sensação de ter sido atropelado por um trem e cada músculo
permanece muito dolorido. O olhar de insanidade e amor de Beatrice ainda
permanece gravado e se reproduz a todo instante em minha mente me deixando
agoniado.
Deitado em nosso quarto, Sophia dorme ao meu lado e estendo meu braço para
tocá-la. A noite recai no silêncio e por vezes consigo ouvir ao longe, o barulho
de algum automóvel passando pela rua e o vento soprar pelas janelas. De costas
para mim, aliso seu cabelo e respiro completamente aliviado. Ela e Thomas estão
bem! Aconchego meu corpo ao seu e beijo seu cabelo.
Minha Soph! O que dizer da mulher que usou sua coragem e força para ajudar o
marido a lidar com uma mãe em um surto psicótico? Mesmo temendo pelo pior,
se fez forte para me encorajar a prosseguir e com isso, conseguimos juntos
atravessar mais uma barreira em nosso caminho. Somos mesmo invencíveis! Eu
e minha Sophia!
Ela sente meu corpo colado ao seu e nesse instante, enlaça sua mão na minha e a
leva aos seus lábios.
— Está tudo bem agora! Eu o amo muito, tente dormir, Sean!
— Estou tentando!
Ela se vira para mim e espalma sua mão em meu rosto. Seu toque é leve, porém
carregado de carinho. Fecho meus olhos e coloco minha mão sobre a sua e então,
ela comenta.
— Senti muita pena dela! Nem raiva, mágoa ou ódio, somente pena e sei o
quanto tudo isso mexeu com você!
Sinto uma enorme vontade de chorar e me retenho. Não quero deixar minha
mulher preocupada comigo, vou ficar bem! É só uma questão de tempo.
— Você, pela segunda vez, se arriscou para salvar a minha vida! — Com os
olhos e a voz ainda sonolentos, me encara. — Meu anjo lindo, obrigada sempre!
Amamos você, muito!
Sophia leva minha mão até sua barriga e a mantém ali. Meu filho e minha
mulher. As duas pessoas mais importantes para mim e ao olhar em seus olhos
negros repleto de lágrimas, acabo chorando e ela me oferece seus braços.
— Minha vez de oferecer meu colo, meu amor! Já chorei tantas vezes no seu!
Ela me abraça e me aperta forte em seus braços e toda a minha angústia e dor
dão às caras através de minhas lágrimas.
— Por que tinha que ser assim? — Inspiro o ar, tentando me acalmar. — Por que
ela tinha que adoecer a tal ponto? Eu a amava muito e a cada loucura e maldade
sua, meu amor por ela morria junto. Dói muito, Soph!
— Meu amor, entendo você e sei o que está sentindo! Olhe, para mim! — Ela
enxuga meu rosto e continua. — A única coisa verdadeira dessa loucura toda é o
amor que ela sente por você. É tão insano e maior, é algo tão imenso que ela
própria faz questão de se orgulhar do que sente e foi justamente esse amor que
me manteve viva. A mim e nosso bebê!
— Sei disso. — Digo mais calmo. — Espero que a partir de agora, com o
tratamento adequado, ela melhore. Sei que nunca ficará curada, porém pode ficar
melhor!
— Sim, vamos torcer para isso! Agora, tente descansar! Você parece exausto!
Beija de leve minha boca e a seguro pela nuca aprofundando o beijo. Minha
língua invade sua boca e se enrosca na sua e peço através dos seus lábios que ela
me cure, me acalme e ela o faz, me traz de volta ao nosso mundo, me faz
lembrar como sou parte dela e como ela pertence a mim. Ao me afastar, as más
lembranças vão, aos poucos, me abandonando e agarrado à mulher que me ama
mais do que tudo, adormeço.
Acabo dormindo mais do que devia, ao olhar no relógio constato que se passam
das dez da manhã. O travesseiro de Sophia se encontra vazio e então caminho
para o banheiro. Depois de um banho, coloco uma calca de agasalho e desço à
procura de minha esposa.
Usando uma roupa larga, e cabelos presos, ela permanece de costas e sente a
minha presença enquanto prepara o nosso café da manhã, encostada no balcão da
cozinha.
— Dormiu bem, meu amor?
Abraço-a por trás e beijo seu pescoço.
— Sim, dormi muito bem, bom dia!. — Corro minha boca em sua orelha, no
mesmo instante que minhas mãos invadem sua blusa tocando seus seios e
deixando seus mamilos entumecidos sob minhas mãos. Ela geme e pende ainda
mais seu pescoço para que minha boca explore cada pedaço de sua pele quente e
macia. Basta tocar em seu corpo e a resposta é minha mulher louca para ser
tocada e amada por mim.
— Bom dia! — Sua pele doce e macia instiga ainda mais o meu desejo.
— Hum, percebi, acordou muito bem-disposto, Sr. Mackenzie!
— Não imagina o quanto, minha esposa!
— Nunca fui boa em imaginar, sabia? Prefiro pagar para ver! — Remexe seus
quadris me provocando ainda mais.
— Somos dois!
Viro seu corpo e cubro sua boca com a minha. Mas, quando subo minhas mãos
por sua coxa para acariciar seu sexo, somos interrompidos pelo som do meu
celular que quebra o nosso clima de romance.
Atendo e a voz de dr. Klaus me faz ficar tenso. O que pode ter ocorrido dessa
vez?
E, ele com toda a sua calma inata e sua vasta experiência adquirida através dos
anos me relata que minha mãe após ter tomado seu café da manhã foi encontrada
morta em sua cela.
Motivo da morte: suicídio.
Sophia percebe minha consternação e segura meu braço me encarando e
tentando descobrir o que está acontecendo.
— Avisou a Harry? — Ele diz que sim e que deseja falar comigo pessoalmente.
— Está bem, eu o aguardo, doutor!
Ele desliga e permaneço estático sem conseguir dizer nenhuma palavra.
— Sean, meu amor, o que houve? Você está tão pálido!!
Aquele adeus antes de entrar na ambulância, ela estava se despedindo de mim!
Como não percebi isso? Seus olhos... o seu sorriso...
— Sean!
— Minha mãe se matou, Soph!
— Ah, meu Deus! — Com a mão tapa sua boca e vejo que minha esposa
também não desejava esse fim para Beatrice. — Como?
— O dr. Klaus vem pessoalmente falar comigo, ela deixou uma carta para mim
juntamente com um ursinho que eu brincava quando criança. Segundo ele, ela se
envenenou!
Com certeza, o mesmo veneno que matou Leon!
— Vou me trocar para espera-lo!
Sophia me acompanha até o quarto e um misto de emoções conflitantes se
apossam de mim. Dor, tristeza, raiva e arrependimento por não ter prestado
atenção em Beatrice. Ela sempre foi doente e de alguma forma conseguiu
esconder isso de todos até algum tempo atrás.
Harry me liga e sinto o pesar em sua voz. Mesmo que tudo tenha caminhado
para uma relação de ódio e ambição, meu pai tem um bom coração e não
desejava esse fim para a mãe de seus filhos. Ele também me conta que ligou para
Joseph que permaneceu em silêncio ao receber a triste notícia. Ele a amava!
Deve ter ficado muito abalado! Alexia está inconsolável e Aidan a levou para
seu apartamento. Max também ficou abalado. Afinal, ninguém imaginava que
ela tomaria uma atitude como essa.
Troco de roupa e espero o doutor chegar. Momentos depois, a campainha toca e
ele adentra a sala principal com uma sacola nas mãos. Ali estão alguns dos
objetos de minha mãe. Sua vida se resumiu em tão pouco. Convido o dr. Klaus
para que venha até meu escritório. Acatando contra vontade um pedido meu,
Sophia sai e me deixa a sós com o médico que cuidou de minha mãe até o seu
trágico fim. Quero falar com ele e não quero que Sophia se abale ainda mais. Ela
não diz, porém sei que seu sistema nervoso foi abalado e com razão. Depois,
contarei tudo a ela minimizando os danos, é claro.
— Primeiramente, meus pêsames e gostaria de lhe dizer que jamais
imaginávamos que Beatrice fosse cometer um ato tão drástico dessa forma.
Diz dr. Klaus ao se sentar em uma cadeira em frente à minha mesa.
— Acho que ninguém imaginava uma coisa assim! Quando falei com ela ontem,
acreditei que ela fosse levar o seu tratamento a sério. — Cruzo as mãos sobre a
mesa. — Como o veneno chegou até suas mãos? Ela teve a ajuda de alguém? —
Pergunto.
— A única pessoa que esteve com ela foi o seu antigo mordomo. Os dois se
falaram em minha frente. Não havia nada errado na conversa. Ele trouxe alguns
objetos que ela havia pedido a ele e meus funcionários revistaram as peças e não
encontraram nada que pudesse causar algum dano. Ela nos enganou direitinho. O
veneno se encontrava em um compartimento imperceptível e assim quando a
encontramos sem vida, encontramos também o boneco de louça em vários cacos
pelo chão. O erro foi totalmente nosso, Sean! Eu sinto muito e estou sem
palavras para justificar tamanho descuido!
Sinto que ele realmente fala com sinceridade.
— Entendi, doutor. Não precisa se desculpar! Beatrice era muito ardilosa e se
pretendia cometer o suicídio, arrumaria uma maneira para executar o seu plano.
Isso era somente uma questão de tempo. Agora, não há mais nada que possamos
fazer! — O profissional em minha frente fica mais aliviado. Seu medo era de
que eu ou mesmo minha família resolvêssemos abrir algum processo contra a
sua clínica.
— Ela se mostrou adepta demais ao tratamento, aceitou tudo sem questionar e
então...
O interrompo.
— Agora, o que nos resta é aceitar e tentar apagar essa triste página de nossa
família. Sei também que o senhor faria tudo o que estivesse em seu alcance para
que essa morte fosse evitada. O fato é que ela se foi e não há nada que possamos
fazer para mudar isso!
— Sim, é verdade! — Ele estende a sacola para mim. — Aqui estão os objetos
pessoais que ela mantinha.
— Obrigado. — Seguro a sacola em minhas mãos sem abri-la. — Se me der
licença, dr. Klaus, gostaria de ficar a sós!
— Perfeitamente, Sean. Estou de saída e qualquer coisa que precise, é só me
ligar!
Ele se retira e então abro a sacola de papel e com cuidado, tiro de lá cada objeto.
Um livro de contos ingleses, um pequeno álbum de fotos, meu ursinho e um
envelope lacrado e endereçado a mim.
No álbum, alguns dos nossos momentos em família. Em todas elas, o olhar de
Beatrice é exclusivamente direcionado a mim.
Sophia bate à porta.
— Sean?
— Entre.
Ela me olha preocupada e sorrio para ela tentando tranquilizá-la.
— Está tudo bem? — Seus olhos recaem sobre o envelope em minhas mãos.
— Está sim, meu amor! Sente-se aqui! — Arrasto uma cadeira para que Sophia
se sente ao meu lado.
Ela se senta e encosto minha testa na sua.
— Tem certeza de que quer ler essa carta?
— Tenho.
— Quer ficar sozinho?
Seguro forte a sua mão, mantendo ali, sob a minha.
— Não, quero que fique comigo. — Peço com uma dor subtendida em meu
peito.
Abro o envelope e retiro de lá de dentro o papel cuidadosamente dobrado por
Beatrice e é como se seu a visse momentos antes escrevendo essa carta. Consigo
visualizar sua mão esquerda segurando a caneta e com a escrita e caligrafia
perfeitas tentando passar todo seu sentimento. Ela como sempre, só pensou em
mim. Chego a me sentir desconfortável com esse seu comportamento e me
pergunto se ela fosse uma mulher normal, será que me trataria de uma forma
exclusiva aos demais filhos?
Sophia se deita em meu ombro e começo a ler em voz alta.
“Meu amado Sean
Desculpe-me se através dessas linhas não conseguir transmitir de maneira
correta tudo o que sinto. Essas últimas palavras serão para mim uma espécie de
libertação ou até mesmo uma condenação, mas conhecendo um pouco do seu
caráter sei que não me julgará e tentará entender de alguma forma como tudo
se passou.
Como você já deve saber, tive um passado forte cercado por fantasmas
incomuns. Sim, eles não eram parte de um sonho ruim como os seus pesadelos
infantis, onde várias vezes me deitava em sua cama e ordenava que esses
fantasminhas da sua infância fossem embora. Os meus eram reais e me
acompanharam desde sempre.
Saiba que mesmo parecendo um monstro louco e abominável, eu o amei.
Quando perdi meu irmão de modo tão bruto e repentino, jurei a mim mesma e ao
próprio Deus que jamais me apegaria a alguém e amaria novamente de modo
tão intenso. E quando você nasceu e o puseram em meu colo pela primeira vez,
aquele sentimento avassalador chegou novamente de forma muito violenta e,
sem pedir licença tomou meu peito de modo febril. Mesmo pequeno e frágil
segurou meu polegar com tamanha força e a partir daquele momento eu tinha
Sean novamente comigo. Tinha alguém para amar e cuidar e jurei tocando seu
lindo rostinho que dessa vez ninguém faria mal a quem amava.
Há uma passagem bíblica que diz que uma árvore má não dá bons frutos. Eu
discordo. Você é a prova viva dessa discordância. Foi a criança, adolescente e
adulto mais generoso que conheci. Nunca me decepcionou e será sempre o meu
exemplo. Você sempre me mostrou o melhor em tudo, o mais educado, meigo,
compreensivo e o que mais me deu orgulho em tudo o que fez. Seu coração é tão
grande, meu filho, que mesmo descobrindo ter uma mãe desequilibrada e má
não me expulsou de dentro dele e pude sentir assim, que posso fazer algo de que
você se orgulhe!”
Engulo seco e solto uma bufada para poder prosseguir.
“Sei que nunca irei mudar! Tenho ciência de minha situação e sendo assim, não
quero viver a base de medicamentos que somente me entorpeceriam, porém não
me curariam. Gostaria de viver em paz, como toda pessoa normal, ser o meu
melhor eu! Aquela que brincava na areia da praia e lhe fazia castelos enormes.
A que ajeitava sua gravata todas as manhãs! Ser uma mãe dedicada sim, mas
não tornar isso uma obsessão! Era isso o que eu realmente queria!
Ou você acha que me orgulho do que sinto?
Não, eu não me orgulho.
E quando você se apaixonou por Sophia eu a vi como uma inimiga e não a
mulher que lhe faria feliz. Nesse momento de lucidez tenho plena certeza de que
você fez a escolha certa, mas e daqui a um minuto? Posso estar odiando sua
mulher e desejando vê-la bem longe de você. Esse é o meu problema, uma mãe
normal nunca acha que a nora é perfeita para seu filho, porém, no meu caso a
coisa é ainda pior. Minha nora seria um alvo, alguém a ser eliminado. Um
perigo para mim, a mulher que dividiria o seu amor que achava ser somente
meu!
Resumindo, sou uma mulher ambiciosa, arrogante, egoísta, soberba e psicótica.
Não quero que tenha pena de mim, nunca! Minha doença não justifica tudo o
que fiz. E como acredito em Justiça Divina, sei exatamente o que me aguarda.
E então, para que meu filho possa viver em paz com sua esposa e agora também
com meu neto, tomei uma decisão. Eu o deixarei em paz!”
Não consigo continuar e com os olhos em lágrimas entrego a carta à Sophia.
— Por favor, continue!
Pega o papel de minhas mãos e com a voz embargada continua a ler.
“Muitos me criticarão, até mesmo você! Mas não importa! Essa vida me
pertence e cabe a mim decidir o que fazer com ela. Por um amor que poucos
entenderiam, eu me despeço e levarei comigo eternamente o seu sorriso de
menino! Meu lindo e amado Sean.
Como um lobo em pele de cordeiro , como o joio entre o trigo que deve ser
arrancado e jogado ao fogo, sou o mal que deve ser cortado pela raiz porque do
contrário, poderei perder aquele lugarzinho que você me guarda em seu coração
e, se acaso isso acontecesse aí sim, minha alma estaria morta.
Agora é hora de ir. Vou em paz porque sei que está em boas mãos. Sei que
Sophia cuidará muito bem de você e também dos filhos que venham a ter. Diga à
ela que sempre a achei linda e no dia em que me desafiou em um almoço, mesmo
com raiva, tive que admitir que ela era alguém de muita coragem. A mulher
perfeita para alguém como você!
Sou muito orgulhosa, todavia por amor a você dispo desse orgulho e peço
perdão à Sophia. Perdão por querer sua morte sem pensar nas consequências
que isso nos levariam. Perdão por ofende-la e deixar que pensasse que ela era
sua irmã.
Sei que ficará bem e eu irei em paz, pois Sean me espera sorrindo. Iremos
brincar de esconder como sempre fazíamos e agora livres, pois o porco imundo
não pode mais nos encontrar. Cuidarei dele e ele de mim! Sem choro, sem
mágoas e sem loucuras!
E onde eu estiver, baterei palmas e sentirei mais orgulho ao vê-lo como
presidente desse país!
Ps.: Esse ursinho é seu. Foi de Sean e ele quer que ele permaneça com você! Foi
a única lembrança que consegui guardar dele. O resto, aquele porco imundo
jogou fora e só não o fez com Marlie porque eu o escondi. Marlie é como você o
chamava, lembra? E agora, ele fica aos seus cuidados! Espero que cuide bem
dele!
Eu o amei, amo e o amarei pelo resto da eternidade. Do meu jeito, é verdade,
mas amei. Isso é indiscutível! Morreria por você um milhão de vezes!
Adeus!!
Beatrice Marie Mackenzie”
Sophia enxuga as lágrimas do rosto com as mãos trêmulas e olha para mim. Lê o
último parágrafo e me abraça em soluços.
“Diga a Max e à Alexia que os amei à minha maneira e que se não soube dividir
o amor entre vocês é porque fui uma tola! Gostaria que tudo fosse escrito de
outra forma com uma história com um final menos trágico.
Teria outra vida e faria todos que estivessem ao meu redor muito mais felizes. E
não conte a ninguém, isso é um segredo nosso: Você sempre será o meu
preferido!! "
Abraço Sophia e não consigo dizer mais nada. Choro sem parar e ela somente
me abraça me permitindo extravasar tudo o que ainda restava de dor e tristeza
dentro de mim.
[...]
O corpo de Beatrice foi velado em uma cerimônia fechada somente para os
familiares. Joseph me abraçou e em seus olhos não poderiam haver mais tristeza.
E numa tarde de sol sem nuvens, me despeço de Beatrice, a mulher do sorriso e
andar elegantes que deixa essa existência louca e incompreendida. Deposito uma
rosa branca em seu corpo e meus irmãos repetem meu gesto. Através dos meus
óculos escuros vejo o caixão entrar na urna do crematório.
A pedido da própria Beatrice suas cinzas foram jogadas no jardim da Mansão
Mackenzie.
Que sua alma descanse em paz!
Casamento de Alexia
Por Sophia
Depois de tantos acontecimentos ruins, nada mais justo para todos que as coisas
tomem um rumo diferente. A morte de Beatrice deixou em cada um sua
impressão e também uma marca. Todos, sem exceção, em nenhum momento,
discordaram que ela em seu estado mais perturbado não perdeu sua
personalidade, não negando a sua condição mental e também suas mais terríveis
maldades.
Um mulher dissimulada com uma franqueza espantosa.
Essa foi Beatrice Mackenzie.
Sean se mostrou mais forte do que imaginávamos. Permaneceu alguns dias um
tanto cabisbaixo e calado e, é claro que respeitei a sua dor, o seu momento, mas
aos poucos, ele voltou a ser o meu Sean, o marido mais que devotado, o futuro
pai amoroso, o homem que tanto amo e admiro.
Marcella e eu mantemos um relacionamento saudável desde aquele fatídico dia.
Tenho conhecimento de quanto ela errou, porém quase perdeu sua vida para me
mostrar o quanto se arrependeu se colocando em minha defesa perante a arma de
Beatrice. Me deu a prova de que tenho muita importância para ela, isso não
posso negar e seria ingrata se o fizesse. Balanço a cabeça e repito comigo: Águas
passadas! Agora, outros tempos!
Passados alguns dias, a rotina de todos voltou ao normal e com o casamento de
Alexia deixamos as tristezas e renascemos para um novo futuro. A organização
do casamento de minha cunhada-irmã tem nos mantido muito ocupadas. Ela
escolheu um casamento no campo e isso está me deixando de cabelos em pé por
dois motivos. De um lado, sou seu braço direito para que tudo saia perfeito,
afinal ela me ajudou e muito quando me casei e do outro lado, tenho um marido
que pega no meu pé alegando que ando me esforçando demais. Sarah também
nos auxilia com sua experiência e finalmente conseguimos deixar tudo como
Lexi sonhou.
Completei sete meses e meio de gestação e somente algumas semanas me
separam do meu filho que esperamos com tanta ansiedade. Seu quarto o espera
todo decorado em vários tons de azul e Sean parecendo um garoto anda
comprando carrinhos em miniaturas para completar a decoração.
Thomas é esperado por todos.
Ele terá uma mãe e um pai e será muito amado pelos tios e disputado pelos avós.
Sim, disputado. Harry e Vicenzo chegam a brigar muitas vezes, discutindo antes
mesmo de Thomas nascer quem ensinará mais coisas ao menino. Sean e eu
achamos graça nisso tudo e nos lembramos que nosso filho é um sortudo, pois
terá um terceiro avô, Joseph. Faremos questão do convívio do pai biológico de
Sean com nosso filho.
E agora em frente ao espelho, retoco minha maquiagem e ouço a voz de Sean me
dizendo que chegaremos atrasados à cerimônia. Portanto, pego minha echarpe e
me encaminho ao encontro de meu marido. Ao me ver, seus olhos sorriem para
mim e como sempre esse pequeno gesto me deixa com a mesma sensação de
felicidade extrema.
— Vamos, Soph! Somos os padrinhos e não podemos chegar atrasados! — Olha
em seu relógio para depois segurar em meu antebraço e me acariciar com seus
dedos. — Mais linda a cada dia que passa! — beija meu pescoço e seu perfume
penetra minhas narinas e incita meu cérebro a relembrar desse cheiro em todo
meu corpo quando nos amamos.
Toco seu nariz com ponta dos meus dedos e o provoco.
— Mentiroso! — Digo, sorrindo.
Ele fecha a cara e rebate.
— Sra. Mackenzie, sabe muito bem que não costumo mentir! — Beija de leve
meus lábios e continua a me provocar com o roçar de sua boca na minha. —
Você está cada dia mais linda e é assim que meus olhos a veem e a verão
sempre! Eu a amo, Sophia! — rodeia seus braços em meu corpo e em resposta,
enlaço meus braços em seu pescoço.
Quem diria que aquele cara mais arrogante e mulherengo se tornaria um homem
extremamente apaixonado e romântico e o que é melhor, fiel?
— Eu o amo, muito, Sean! — encosto minha testa na sua no mesmo instante que
suas mãos sobem e descem pela minha coluna espalhando arrepios por toda a
minha pele. — Mas sugiro que vá a um oftalmologista e comece a usar óculos,
meu marido não anda enxergando bem!
Arqueia sua sobrancelha e entorta sua boca contrariado. Se ele soubesse como
fica lindo assim... Enche o peito de ar fazendo graça e completa:
— E eu sugiro que você pare com essa conversa, antes que eu a pegue em meu
colo e a leve para a nossa cama. Tenho certeza de que lá a farei mudar todo seu
conceito sobre minha opinião. Minha boca, minhas mãos e todo meu corpo são
muito persuasivos, pense bem!
— É realmente uma pena estarmos atrasados! — Mordo seu queixo de leve e ele
geme de imediato, adoro saber que ele me deseja e se excita com um simples
toque meu em seu corpo. Até mesmo através de meu olhar consigo deixa-lo com
desejo e isso me faz sentir a mulher muito amada e desejada ao extremo, até
mesmo com parecendo um pote de barro com um vestido de alta costura.
Mais uma vez, confere as horas em seu relógio.
— Não ficaremos nesse casamento para sempre, lembre-se disso, meu amor!!
— Sendo assim, espero ansiosa para ver de perto o seu poder de persuasão,
Excelência!
— Sempre me desafiando, não é, Sra. Mackenzie? — Pisca para mim.
— Sempre!!
— Adoro desafios!
— Já sabia disso!
Estende sua mão para mim e segura firme em meus dedos.
— O meu maior desafio foi ter a mulher por quem me apaixonei perdidamente
ao meu lado e mais ainda, ter o seu amor para mim foi minha maior gratificação!
Será que Sean não imagina que guardei minhas lágrimas para o casamento? Quer
me ver chorando antes mesmo de chegar até lá?
— Assim, você me quebra em mil pedaços!
Pisca para mim.
— Não se preocupe, eu faço questão de juntar e colar cada pedacinho depois!
Agora, vamos!
— Vamos!!
Saímos de mãos dadas e Austin nos espera com um sorriso discreto.
No caminho, olho para o céu azul acompanhado de lindas nuvens e agradeço ao
tempo, muitas vezes apontado como um inimigo. Engano nosso, o tempo é sábio
e tem suas razões e métodos para lidar com qualquer que seja a situação. Coisas
ruins são jogadas ao longe para que possamos seguir em frente e as boas ele
guarda para que sempre acreditemos na felicidade.
Extremamente feliz ao lado de meu marido, agradeço ao irmão Tempo tudo o
que ele tem feito por mim.
Por Alexia
Decidi por um casamento mais simples. Uma cerimônia em uma casa de campo
cercada de poucos convidados e os familiares. Um casamento ao ar livre com
muitas flores do campo, as minhas prediletas. A celebração será feita por um juiz
de paz e a seguir, uma recepção com direito à muita alegria para que todos
compartilhem de nossa felicidade.
Optei por algo mais íntimo, pois mesmo que ninguém toque no nome de minha
mãe, ao olhar para cada canto ou objeto da mansão tudo se remete a ela. Seu
toque está em todos os lugares. Harry e Claire, em breve, irão se casar somente
no civil e tenho a impressão de que eles não continuarão a viver nessa casa. Com
certeza, eu faria o mesmo.
O maquiador termina seu trabalho juntamente com o cabeleireiro. E assim, só
falta colocar meu vestido de noiva. Alguns instantes depois, já vestida, meu pai
bate à porta do quarto e pede licença para entrar.
Ao me ver de noiva, seus olhos acompanhados de suas rugas que lhe dão um
charme à parte brilham para mim e me remeto à minha infância quando me
apresentava na escola e ele sempre estava lá, no primeiro banco, me olhando
como se eu fosse a menina mais linda do mundo.
— Minha menina está linda! — Segura minhas mãos e sinto seus dedos
tremendo de emoção. — A noiva mais linda do mundo!
— Obrigada, papai!
Pigarreia e sei que tem algo a dizer, ele sempre age da mesma forma, quando
quer dizer algo.
— Obrigada a você por ter sido essa filha tão querida e tão amada. Sei que
tivemos muitos percalços e que muitas vezes não a compreendi e deixei que se
afastasse de mim. Mas, sempre você foi a minha menina levada e carinhosa.
Desculpe-me por, no passado, ter ofuscado seu brilho e a deixado na sombra.
Você nasceu para brilhar, como agora, ser feliz ao extremo e para todo sempre,
tenho muito orgulho de ser seu pai!
Seguro minhas lágrimas, pois quando ele se refere aos "percalços", quer retratar
de alguma forma a sua ausência quando me envolvi nas drogas e no álcool para
me sentir alguém.
— Obrigada a você, meu pai, meu herói! Eu sempre o amei e agora não quero
mais falar em coisas que nos tragam tristezas. Hoje é o dia mais feliz da minha
vida! — Olho para a janela e o vento balança as folhas de um grande carvalho ao
lado da casa que alugamos para a cerimônia. — Está vendo aquelas folhas
arrastadas pelo vento?
— Sim, estou. — Olha para onde aponto com meus dedos e em seguida, seu
olhar se volta para mim.
— Pois é assim que vejo as coisas ruins. Elas se vão com o vento e atrás delas,
outras melhores virão! Vamos?
Estendo meu braço a ele e nesse instante, Sophia adentra no quarto.
Seu olhar de alegria ao me ver de noiva é inebriante. Eu adoro essa minha irmã
que virou minha cunhada, ou melhor, minha cunhada que virou minha irmã. Não
importa! O fato é que nos unimos tanto que ela me deu a alegria de junto com
Lorenzo batizar Thomas. Serei sua tia-madrinha e mal vejo a hora dele nascer.
— Você está linda, Lexi!
Meu pai se afasta, mas posso ver a seu sorriso por presenciar a nossa alegria.
— Obrigada, Sophia!
— Aidan já roeu todas as unhas das mãos e acho melhor a senhorita se apressar
antes que ele tire os sapatos para roer a dos pés. — Brinca. — O juiz de paz já
está presente. Melhor irem andando! — Olha para mim e para Harry.
— Sophia tem razão. Vamos, minhas filhas!
Harry estende seus braços e nos aconchega em seu corpo. Beija o rosto de
Sophia e depois o meu.
Eles tiveram uma conversa onde Harry fez questão de frisar à Sophia que mesmo
não tendo o amor que ela dispensa a Vicenzo, ele quer fazer parte de sua vida e
que depois que ela perdoou Marcella e a aceitou como mãe, gostaria que ela com
seu coração imenso também o aceitasse como pai. Ainda completou, segundo o
que Sophia mesma me contou, que ele fiou muito feliz pois não é todo dia que
alguém se torna avô ao quadrado.
— Vamos, papai! — Dizemos juntas.
Sophia apressa seus passos e vai se juntar a Sean. Danielly e Max também serão
meus padrinhos e logo teremos mais um casamento na família.
Ao som da marcha nupcial e de braços dados com meu pai, ando pelo corredor
com um sorriso e olhos lacrimejantes de felicidade. Mesmo que evite, não
consigo deixar de pensar em tudo o que vivi para chegar até aqui. Fui uma
adolescente invisível e problemática, uma usuária de drogas e depressiva; que
num belo dia, resolveu voltar a viver e lutar pelo único homem que tinha espaço
dentro do meu coração: Aidan!
E a cada passo em direção a ele, penso na nossa trajetória e me sinto realizada.
Consegui vencer como pessoa, como filha e como mulher. Amo esse homem e
lutaria até o fim dos meus dias para ver o lindo sorriso que ele acaba de me
lançar ao cruzar seus olhos com os meus.
Seus pais me olham e sorriem e sei que sempre torceram para me verem ao lado
de seu filho.
O juiz de paz faz uma linda cerimônia e depois de trocarmos as alianças, meus
olhos a veem. Sophia sorri e me entende. Sabe o que sinto nesse momento, pois
ela se tornou para mim um espelho. Ela é forte e completa. E foi essa força que
me atraiu quando a vi no baile de máscaras. Generosa, dividiu essa mesma força
a mim e a todos que a rodeiam. Jogo um beijo a ela e vejo quando limpa uma
lágrima que cai e como se fôssemos siamesas, faço o mesmo ao vê-la jogando
outro beijo a mim.
Terminada a cerimônia, recebo de Max aquele abraço apertado e sua velha mania
de me erguer como se eu ainda fosse uma criança. Atrás dele, vem meu segundo
herói: Sean!
Ele me abraça e me beija forte nas bochechas e olhando para Aidan ao meu lado,
conclui:
— Está muito bem avisado, meu amigo! Sem devolução e muito menos danos na
mercadoria. — Brinca com Aidan, batendo em seu ombro.
— Hey! — Digo, fingindo indignação. — Virei mercadoria agora?
Sean morde o canto da boca e Aidan responde.
— Sim, você é como uma peça rara, meu amor e meus cunhados aqui presentes
podem ficar tranquilos, pois serei muito cuidadoso com essa mercadoria que
tanto amo!
Sophia e Danielly riem com a cara que Aidan faz ao dizer isso.
Mais tarde, sentados na mesa dos noivos, meu agora marido se levanta e ergue
sua taça em sinal de brinde. Pede atenção de todos e começa a falar.
— Quero agradecer e dizer a todos presentes que hoje é um dia muito especial
para mim. Não o mais importante, pois este seria o dia em que me dei conta do
quanto essa mulher sentada ao meu lado era importante em minha vida. Nunca
me imaginei apaixonado e muito menos pensava em me casar, essa era uma
ideia das mais remotas possíveis. Quando tudo caminhava bem, ou eu achava
que caminha bem, ela apareceu. Alexia! Jamais imaginei conhecer a mulher
extraordinária em que ela se transformou, pois quando a olhava, a via somente
como irmã de meu melhor amigo e com isso demorei a enxergar que essa mesma
mulher sentia algo por mim. Bagunçando minha cabeça, me fez deixar meu
orgulho de conquistador barato para me transformar em um homem que
necessitava de alguém e esse alguém seria exclusivamente ela.
Ele se vira para mim e sorri.
— Alexia, eu a amo como nunca e jamais sonhei amar uma mulher. Você me
completa e me faz sentir completo ao seu lado. Que o dia de hoje seja
eternamente gravado em nossa memória e ao seu lado irei, a cada dia, construir
uma vida repleta de felicidade e amor.
Eu te amo, Lexi!
Ele se vira para mim e sorri.
Não preciso dizer que minha maquiagem a essa hora foi pelos ares. Todos
aplaudem o seu discurso e muitos esperam que eu diga algumas palavras, mas
não consigo. Sou boa com palavras no papel e em se tratando de emoções fortes,
eu travo e com isso, a única coisa que consigo fazer é me levantar e beijá-lo
dizendo o quanto o amo.
Momentos depois, cortamos o bolo e chega a hora de jogar o buquê.
Para a minha surpresa, Patrícia é quem o agarra e joga-me um beijo, sorrindo
como uma boba.
Espero que Richard tome logo uma decisão! Arraste essa minha amiga doida
para o altar.
Ela me abraça e me deseja muitas felicidades. Sei que é mais que sincero vindo
de Paty.
Saímos da festa um pouco antes que acabe. Aidan quer chegar ao aeroporto para
pegarmos o nosso voo para nossa tão sonhada lua de mel em Roma.
Dentro da limusine, ele me segura pela cintura e seu rosto fica próximo ao meu.
— Enfim, casados! — Ele diz.
— Enfim, casados! Agora sou a sra. Smith! — Estico minha mão esquerda e a
aliança reluz em meu dedo.
— Agora, sra. Smith, temos muitas cenas de seu livro para pormos em prática.
— Sua língua macia invade minha boca. — Espero que tenha guardado muita
energia para cada uma delas, pois sei que são várias!
— Meu amor, não só tenho energia para essas como podemos criar muitas
outras!
Solto um grito de euforia quando me deita no banco da limusine e beija meu
pescoço.
— Sabia que não iria me decepcionar com minha autora favorita!
Thomas, apressadinho!
Por Alexia
Chegamos em Roma às três da manhã, hora local. Aidan e eu estamos no fuso
horário de Nova Iorque, ou seja, dez horas da noite. Pegamos um táxi ao sairmos
do aeroporto e fomos direto para o Hotel Éden.
Estive em Roma há quatro anos, claro que não estou comparando uma viagem
com amigos com minha lua de mel, isso seria inadmissível para uma mulher que
está apaixonada. Agora, tudo se torna mais bonito e o que era antes opaco e sem
vida ganha cor e enche meus olhos de admiração.
Essa cidade eclética continua imponente e contemporânea como sempre e dentro
do automóvel, Aidan segura todo o tempo em minha mão. Ao passarmos por
uma avenida próxima ao Coliseu não deixamos de vislumbrar sua magnífica
arquitetura e o legado de todo o seu poderio romano que se estendeu por toda a
Europa. Ele continua ali há mais de dois milênios e exerce seu fascínio a todos
que colocam seu olhar sobre ele.
Sei que não escolhemos a melhor época do ano para visitarmos Roma. É período
de temperaturas elevadíssimas e clima pegajoso, porém quando tentei
argumentar com Aidan a respeito, ele me surpreendeu dizendo que escolheu a
Cidade Eterna como nossa primeira viagem juntos. Ela seria uma testemunha de
que tão eterna quanto sua história também caminharemos com o mesmo intuito,
nosso amor eterno.
Cansada, mas com um sorriso de um enorme guarda-chuva aberto no rosto
descemos em frente ao hotel e de mãos dadas com meu marido segui para a
recepção e fazemos nosso check-in.
Ao entramos em nossa maravilhosa suíte, a primeira coisa que faço é arrancar e
atirar longe meus malditos sapatos para em seguida me jogar sobre a enorme
cama à minha frente. Aidan sorri e repete meu gesto se deitando ao lado do meu
corpo.
— Cansada??
Busco apoio em meu cotovelo direito o encaro radiante.
— Um pouco e você?
— Não. — Sua aparência nega qualquer sinal de cansaço. Aidan está lindo
usando uma camisa cinza e calça preta. — Sabe que não me canso fácil! — Sua
voz assume um quê de desejo e ao tocar meu pescoço de leve com seus dedos,
minha reação ao seu toque juntamente com a frase de duplo sentido é imediata.
Somos assim, Aidan sabe como me deixar louca por ele com uma simples frase
como essa.
— Com fome? — Seus olhos sorriem com malícia.
— Não. Aquela “deliciosa” comida no avião me fez esquecer que possuo um
estômago. — Beija de leve meus lábios e continua a me provocar com o roçar de
sua boca na minha. Sua barba bem-feita estimula ainda mais minha pele
sensível.
Ele solta um riso e rebate.
— Devo lhe lembrar, minha amada esposa, de que sua comida também me fará
esquecer muito em breve de que possuo estômago.
Deito meu corpo sobre o dele e seu olhar cinzento me encara de modo divertido.
— Nunca lhe disse que possuía dotes culinários, meu caro! — Abro dois botões
de sua camisa e escorrego meus lábios em seu peito. — Casou-se comigo com
plena consciência de que poderia morrer de fome! Não o agarrei pelo estômago,
meu amor!
— Não mesmo! Você me prendeu pelo modo mais surpreendente! — Toca meu
rosto com a ponta de seus dedos. — Me amarrei em sua linda boca que me
beijava com desejo absurdo; em seus olhos que viam como um homem diferente
e melhor do que eu era e, em todo seu corpo... — Suas mãos descem por minha
coluna até apertar com força meus quadris. — Que se entregou a mim de forma
total e por último e mais importante, a sua alma... — Ergue seu pescoço e beija
meu peito onde bate o meu coração acelerado. — Que se entregou a mim sem
pensar em receber nada em troca. A que me amou antes mesmo que eu
reconhecesse a sua importância em minha vida, Alexia.
— Aidan... — Com essas palavras ele me deixa emocionada e completamente
sem resposta para palavras tão profundas.
Beija de leve meus lábios e um sorriso maroto brota em sua boca.
— Isso não quer dizer que não farei caretas ao comer o seu macarrão à
bolonhesa!
— Ah, então é assim?
— Não!! Podemos e vamos contratar uma cozinheira! Quero minha esposa com
o tempo livre só para mim!
— Assim é bem melhor!
— Tempo livre e exclusivo somente para mim! — Imita meu gesto anterior e
lentamente abre a minha camisa. Seus olhos se acendem ao ver a renda branca
de meu sutiã encobrindo meu mamilo já enrijecido. — Excitada e louca por
mim.
Pendo meu corpo até minha boca encostar-se na sua.
— Mudei completamente de ideia, estou com muita fome!
— Muita? — Suas mãos penetram em meus cabelos, retira o prendedor que os
mantinham presos e me imobilizam completamente, arrancando de mim um
gemido sôfrego ao correr sua língua sobre meus lábios.
— Muita. — Respondo em meio a um sussurro. Sem me dar conta, estou sem
minha camisa e Aidan acaba de abrir o fecho de meu sutiã, liberando meus seios
que são tomados um a um sua boca. Meus quadris se remexem sob sua ereção e
esse contato nos deixa com muito desejo. Desejo emitido por cada toque, gemido
ou palavras presentes. Ele acaricia um dos meus seios com sua língua quente e
voraz ao mesmo tempo que sua mão abre o zíper de minha calça e a invade com
seus dedos hábeis tocando meu sexo por sobre a renda de minha calcinha,
incitando todo meu corpo com ondas de prazer cada vez mais intensas.
Isso desencadeia em mim uma reação única que é a de dar e receber prazer.
Minhas mãos inquietas correm por todo seu tórax o arranhando de leve,
enquanto meus lábios descem pelo seu pescoço e ombros.
Desesperados um pelo outro, nos livramos das roupas e montada sobre ele, sinto
seu membro excitado sob o meu que anseia por tê-lo dentro de mim.
— Lexi... — Sua boca cobre a minha. Seus lábios firmes e experientes exploram
cada canto de minha boca e sua língua sedenta dança com a minha me instigando
com suas lentas lambidas e deliciosas mordidas. Pega seu membro e o encaixa
em minha entrada, porém não me penetra. Solto um gemido de desagrado. —
Calma, meu amor! Para que a pressa?
Sempre adorei a voz de Aidan e agora, nesse momento tão íntimo e sensual ela
fica ainda mais gostosa de se ouvir.
— Não faz assim, Aidan... — Suplicante quase imploro por ele que faz questão
de esfregar a cabeça de seu pau em meu sexo molhado e penetrar
vagarosamente. Quando aquela sensação maravilhosa de preenchimento me
abate, ele sai de dentro se mim e retoma o mesmo ritual. — Ohhh, não! Assim,
vai me deixar louca, meu amor!
— Ah, é? — Geme com meu mamilo em sua boca e em seguida o segura entre
seus dentes numa pressão deliciosa. — Me mostra o quanto a deixo louca, vai!!
Sem hesitar, pego em seu membro e o coloco em meu sexo muito excitado. Tão
excitada que ao forçar meu quadril e sentir que ele me penetra, suspiro em sinal
de alívio pelas fortes contrações em meu ventre. Amo ser dependente do seu
corpo e nunca me envergonhei disso. Desde a primeira vez em que me entreguei
a ele na Dreams tinha consciência de que seria sempre assim.
— Isso, Lexi!! — Sibila entre dentes. — Agora é você que está me deixando
louco!
Endireito meu corpo e remexo meus quadris num ritmo acelerado e Aidan fecha
os olhos e força sua cabeça para trás.
— Devagar, meu amor! — Segura em minha cintura tentando diminuir meu
ritmo. Sem obedecer, aumento ainda mais o ritmo, aperto meus seios com
minhas mãos e contraio meu sexo apertando seu pau arrancando outro gemido de
sua garganta — Já que você quer assim...
Em um movimento rápido, ele sai de dentro de mim e me deita de costas. Uma
mecha de seu cabelo cai em seu rosto suado e com a respiração ofegante o
deixando mais irresistível ainda.
Sua boca desce pelo meu abdômen numa trilha de beijos lascivos e muito
excitantes. Ao chegar em meu sexo, de modo selvagem, sua língua lambe minha
excitação em movimentos verticais e acelerados. Chego a arquear meu corpo de
tanto prazer. Ele suga, lambe e distribui pequenas mordidas em mim. Seguro em
seus cabelos quando pega minhas coxas e as joga sobre seu ombro deixando meu
corpo mais exposto para sua boca.
— Aidan!!
— Minha boca quer seu gozo, Lexi!
Sinto como se uma avalanche de sensações dominasse meu corpo e quando meu
orgasmo se aproxima, ele aumenta o ritmo de sua língua.
Meu orgasmo chega e me faz gemer alto. E então, sinto que ele me penetra
novamente de modo profundo e lento, mostrando o quanto me domina.
Segurando firme em meus quadris, suas investidas aumentam simultaneamente
com meus espasmos e gozando juntos sussurrando coisas que só tem significado
a nós dois.
Deitado sobre mim, passo meus dedos em suas costas numa caricia leve e lenta.
— Prometo que da próxima vez, não o desafio mais, irei obedece-lo! — Brinco.
Ergue seu rosto e seu sorriso carregado de charme é um presente para mim.
— Pois não ouse me obedecer! Adorei minha mulher cavalgando feito louca
sobre mim! — Distribui vários beijos em meu colo. Me desobedeça sempre!!
Se deita ao meu lado e me puxa para ele. Meu corpo está totalmente relaxado e
uma leve sonolência se abate sobre nós.
— Daria tudo para ser auto-limpante, Aidan!
— Infelizmente, não somos! O banheiro nos espera!
Em pé, estende sua mão e me dá uma vista privilegiada de seu corpo perfeito e
melhor do que isso, esse homem à minha frente é todo meu!
Caminhamos para o banheiro abraçados e após um banho relaxante, nos
deitamos e meu marido adormece primeiro. Ao observa-lo dormindo, penso em
nossa história e todas dificuldades que tivemos para chegarmos até aqui e com
um meio sorriso, acabo de ter uma ideia. Um novo romance não com
personagens inventados e histórias mirabolantes e sim, algo vivido entre duas
pessoas que se encontraram, apaixonaram-se e viveram um grande amor. Algo
comum para quem ler, porém com um significado extremamente importante para
mim. Fecho meus olhos e deixo a brisa que entra pela porta da sacada me levar e
embalar num sono feliz e cheio de planos para nosso futuro.
[...]
Abro meus olhos e vejo meu marido saindo do banho, enrolado em uma toalha
branca. Sorri para mim e comenta.
— Bom dia, minha linda! Acho que perdemos a hora! Pedi nosso café no quarto
em plena tarde!
Esfrego meus olhos e me sento na cama. O sol está radiante lá fora, assim como
eu nessa cama.
— Esses fusos horários me matam, Aidan!
Ele se senta ao meu lado e toca meu rosto. Fico de joelhos e meus braços o
envolvem.
— Que tal comermos e sairmos um pouco?
— Excelente ideia, meu lindo! Vou tomar um banho e depois de comer algo
decente poderemos ir.
Sentada em uma mesa posta lindamente na sacada da suíte, meu marido e eu
comemos tranquilamente e apreciamos a linda vista do hotel. O sol bilha sobre
todos os telhados com suas diferentes tonalidades avermelhadas e não muito
longe dali, podemos ver a abóbada da Basílica de São Pedro.
— Aidan, sua ideia de sair candidato a deputado federal está mesmo em pé?
Tomo um gole do refrescante suco de tangerina e o encaro esperando a resposta.
Acho que não escolhi uma boa hora para tocar nesse assunto.
Descansa seu garfo no prato e cruza as mãos repousando seu cotovelo sobre a
mesa.
— Achei que tivesse sido claro em relação a isso, Alexia! Tem alguma objeção?
— Hey!! — Ergo meus braços em rendição ao seu modo defensivo. — É uma
simples pergunta. Pelo que me lembre em nossa última conversa, você se
candidataria à uma vaga como deputado estadual, não é isso?
— Desculpe-me Lexi, havia esquecido de mencionar que Sean me quer no
congresso para ajudá-lo na aprovação de seus projetos. — Morde um pedaço de
queijo e continua. — Sendo assim, vou para o congresso, Willy tentará uma vaga
no senado e Sean concorrerá à presidência!
— Hum, entendi.
Faço uma cara de maus pensamentos.
— Que foi? Posso saber o que acabou de pensar aí nessa cabecinha maluca?
— Ora, meu amor, nem pensar eu posso mais? Esse negócio de invadir
pensamento não estava incluso no pacote casamento que adquiri. Mas, já que faz
tanta questão de saber.
— Hum... Diga!
Franze a testa esperando minha resposta.
— Teremos uma eleição bem inusitada e o eleitorado feminino votará em peso
nos candidatos gatos desse partido! Terei que acirrar meus cuidados com essas
eleitoras!
Estende sua mão, segurando a minha com força.
— Pode ficar tranquila, aquele cara que você conheceu está totalmente mudado e
para melhor. Só tem olhos para a mulher que ele escolheu para viver ao seu lado
durante o resto dos seus dias. — Aidan me prova diariamente que mudou e isso é
para valer. — Sabe, Lexi, quando Sean se apaixonou por Sophia, achei que ele
tinha enlouquecido, mas sua loucura o tornou muito melhor. O amor nos mudou,
tanto a mim quanto a ele.
— E com essa loucura toda, me casei com o homem da minha vida!
Ele se levanta da mesa e me toma em seus braços. Beija minha boca e quase sem
ar, diz olhando em meus olhos.
— Eu te amo, sempre! Minha raridade!
— Ohhh... Se disser que virei mercadoria novamente, te jogo sacada abaixo!
— Não, é muito mais que isso! Agora deixe de conversa e vamos sair desse
quarto! — Caminha para o criado-mudo para pegar o seu relógio. Vira-se para
mim e diz sorrindo. — Quero andar por toda Roma e exibir minha linda mulher
por aí!
— Vamos! — Estendo minhas mãos e saímos pela Cidade Eterna e quem nos vê
passar sabe o quanto estamos apaixonados.
Andamos pelas ruas e paramos em muitos pontos para eternizarmos nossos
momentos com fotos e imagens gravadas com a câmera que Aidan fez questão
de carregar conosco. Numa visita à Capela Sistina ficamos por um longo tempo
contemplando o lindo afresco de Michelangelo em seu Juízo Final. Sophia deve
ter se maravilhado quando esteve aqui. Também passeamos pelo Panteão e por
último visitamos a Piazza de Spagna com suas escadarias famosas desde a Idade
Média. Regressamos ao hotel e à noite saímos para jantar em uma deliciosa
cantina italiana. Mais tarde, em nosso quarto, um homem completamente
apaixonado e louco de desejo deixa minha noite de verão italiano ainda mais
quente.
No dia seguinte, passeamos pelo Coliseu e ficamos admirados com toda
grandeza e sobretudo com o seu legado de soberana tirania. Mesmo parcialmente
em escombros, nossa mente vaga pelo tempo e projeta a sua importância para o
povo romano. Homens gladiadores lutando por sua sobrevivência e um
imperador impiedoso que determinava com um simples gesto se o lutador
morreria ou viveria segundo sua vontade. Era o homem se tornando Deus.
Mais tarde, jogamos nossas moedas na Fontana de Trevi e deixamos nosso
desejo de voltar a Roma juntos.
Possamos os melhores dez dias na companhia um do outro e chega o momento
de voltar à realidade. Depois de noites de amor incríveis e dias de passeios e
lugares lindos de se ver ao lado de Aidan voltamos a Nova Iorque.
Por Sophia
Um mês depois...
— Tem certeza de que ficará bem?
É a terceira vez que Sean me pergunta isso em menos de cinco minutos. Como
se não bastasse toda segurança dispensada a mim e a Thomas que ainda nem
nasceu, Sean anda ainda mais cuidadoso. Diria cuidadoso ao extremo. Minha
pressa de ver meu filho nascer agora vai além do amor e ansiedade que sinto em
tê-lo comigo, mas sim pela vontade de respirar sem ter dois olhos azuis me
chocando como se eu fosse ovos de ouro.
— Pode ir tranquilo, meu amor! A casa está repleta de seguranças, não corro
perigo algum. Seu pai o espera no haras para almoçarem. Meu pai e Lorenzo
também estarão presentes.
Convenci meu marido a sair um pouco e jogar conversa fora. Faz um domingo
lindo lá fora.
— Qualquer coisa, me ligue!
— Sean, claro que ligarei! Que coisa! Vá logo, está atrasado! — O empurro em
direção à saída principal. — E também não estarei sozinha, Lay me ligou e virá
me fazer uma visita!
— Sendo assim, fico mais tranquilo. — Estreita os olhos e conclui. — Não
ficará sozinha!
— Sabichão, não ficarei sozinha! Esqueceu-se de que tenho um homenzinho
cuidando de mim? — Coloco a mão sobre minha barriga e ele faz o mesmo.
— Sei disso. Ele defenderá sua mãe, tenho certeza desse fato, mas você entendeu
o que eu quis dizer. Seu parto está próximo e quero estar presente quando essa
hora chegar.
— Está bem! Porém ainda faltam duas semanas para completar nove meses e
Thomas não está com pressa para dar as caras... — Pisco para ele.
Acompanho-o até a porta e Sean como todas as vezes em que sai de casa, toca
meu rosto e me beija com carinho. Sai em direção à garagem e olhando-o de
costas penso em como ele é especial. Um homem raro entre muitos. Recebi
muito mais do que merecia ao dividir minha vida com ele.
Lay chega logo depois para me fazer companhia e juntas nos encaminhamos
para a cozinha onde ela com toda a sua bagagem gastronômica faz questão de
preparar algo muito elaborado para nosso almoço. Acompanhado de risos e mais
risos nosso almoço vai às mil maravilhas, quando de repente, sinto minha bolsa
se romper. Lay continua rindo e seus olhos estão fechados e lacrimejantes pelas
hilárias bobagens que acabou de dizer.
Fico séria de imediato e digo.
— Cunhada, se eu não estiver enganada minha bolsa se rompeu!
Ela para de rir e como se eu tivesse dito algo muito estranho, responde:
— Você está brincando, não é Soph?
É engraçado quando Lay fica nervosa, sua voz aguda se torna grave e sai aos
tropeços.
— Não faria xixi nas calças de tanto rir se é o que está pensando!
Eu deveria ter ficado quieta, pois foi aí que conheci a cunhada mais louca e
atrapalhada em uma situação como essa. Ela estufa os olhos e mantém sua boca
aberta.
— Tho-Thomas irá nascer?
Que devo responder numa hora como essa?
— Sim, acho que ele resolveu antecipar a sua chegada. — A primeira contração
me faz encolher ao tentar me levantar.
— Lay, alcance meu celular que está sobre aquela mesinha de canto.
Toda atrapalhada, ela pega o aparelho e ainda o deixa cair de suas mãos.
— Sophia, me desculpe! Sempre que me vejo em situações como essa, eu me
atrapalho toda!
— E não é que percebi isso agora? — Tento mantém o clima calmo, mas parece
que quem vai ter um filho em plena sala é Layanne.
Pego o celular e ligo para Sean.
Em dois toques, ouço sua voz ofegante. Parecia estar correndo ou algo parecido.
Nesse mesmo instante outra contração ainda mais forte atravessa meu abdômen
e tento dizer algo a ele sem causar alarde.
— Sean... — Minha voz sai com dificuldade.
— Sophia, o que houve?
— Acho que Thomas não quer mais esperar para vir ao mundo! Aiii! — outra
pontada dessas e eu não sei se serei forte o bastante para ir até o fim.
— Lay está aí com você?
— Sim.
Olho para a direção de minha cunhada e tenho vontade de rir. Sem que eu tivesse
percebido minha cunhada aparece em minha frente com a chave do carro em sua
mão, a mala que se encontrava no quarto de Thomas com suas roupas e uma
outra valise.
E eu que cheguei a pensar que ela era lenta.
— Diga à ela para que a leve ao hospital imediatamente, encontro vocês lá!
Enquanto isso, ligarei para a sua médica. Seu pai e Lorenzo estão aqui ao meu
lado.
Ouço a voz de meu pai e também a de Harry ao fundo.
— Ok.
— Sophia... — Fala antes de encerrar a chamada. — Te amo!
Mesmo com dor, sorrio ao telefone!
— Nós também!
Desligo o telefone e minha araponga loira não para de falar e se movimentar
como uma barata tonta. Fico imaginando quando chegar a sua vez! Coitado de
meu irmão!
Os seguranças nos veem saindo de casa e dois deles nos acompanham em outro
carro.
Dentro do veículo, sentindo dores horríveis, Lay olha assustada para minha
barriga e diz:
— Thomas, só gostaria de avisar que a titia ardida aqui não sabe fazer parto,
portanto seja bonzinho e espere até a gente chegar ao hospital com a sua mamãe.
— Seus olhos olham simultâneos para a rua. — Estou muito nervosa e se me
desobedecer, cantarei uma canção de ninar em seu ouvido a noite toda e tenho
certeza de que nunca mais vai dormir na vida!
Pisca para a minha barriga como se meu filho estivesse atento às suas palavras.
E com berros estridentes, seguimos para o hospital.
Meu Thomas
Por Sophia
Por mais doidinha que minha cunhada pareça, conseguimos chegar sãs e salvas
ao hospital. Ao adentrarmos na recepção, duas enfermeiras vêm ao nosso
encontro e como se fosse Lay que estivesse tendo um filho pelo desespero
demonstrado, elas solicitam calma à minha cunhada e me pedem para
acompanha-las sentada em uma cadeira de rodas. As dores se repetem em um
menor espaço de tempo e vêm com muito mais força.
Essa é a dor mais estranha que já senti, uma dor acompanhada de uma ansiedade
gritante e alegria infinita. Me sinto especial, trarei uma vida ao mundo e em
meus braços demostrarei ao meu menino o quanto é importante para mim.
Sou preparada e levada para a sala de parto. Na maca, passo por Lay que, entre
lágrimas segura minha mão e a beija me desejando sorte. Instantes depois, minha
médica entra vestindo seu uniforme azul acompanhada de toca e máscara.
Como gostaria de que Sean estivesse aqui! Ele queria tanto assistir ao
nascimento de nosso bebê.
Por Sean
Depois de falar com Sophia, ligo para Dra. Virgínia. Com a mesma calma de
sempre, me diz que está a caminho do hospital. Me sinto nervoso por não estar
ao lado de minha mulher e espero que tudo acabe bem. Imaginar que posso
perder Sophia deixa meu peito em uma extrema angústia. Mas, felizmente o meu
subconsciente me tranquiliza e rapidamente essa sensação ruim dá lugar a antiga
ansiedade.
O momento agora é de alegrias e não de tristezas.
Chega de pensar em coisas mórbidas.
— Vocês me ouviram ao celular, Sophia está indo para o hospital, Lay irá leva-
la. — Digo a todos que estão à minha volta. Meu pai, sogro e cunhado.
— Lay a está levando para o hospital? — Lorenzo solta um meio sorriso e fico
sem entender nada. — Coitada de minha irmã e de meu sobrinho!
— Por que diz isso? — Inquire Harry, assustado.
Acho que meu cunhado não foi muito feliz em seu comentário e prefere manter a
boca fechada depois do olhar de censura de Vicenzo. O famoso olhar “É melhor
ficar quieto” de meu sogro surtiu efeito imediato.
— Lorenzo, vamos para o hospital, quero estar presente quando meu neto
chegar.
— Você quer dizer nosso neto. — Harry resolve impor o seu papel.
— Vocês dois querem parar com isso? — Digo, entrando em meu carro
rapidamente. — Isso não é hora para briguinhas de avós infantis.
Eles percebem o papel patético que estavam fazendo e assim, Harry entra em
meu carro e Vicenzo e meu cunhado nos seguem em outro veículo.
Thomas, seu apressadinho! — Penso, com um sorriso no rosto e uma alegria
imensa. Hoje, mais um ciclo se inicia em minha vida e na de Sophia. A chegada
do nosso filho, nosso primogênito. Sim, o primeiro. Sophia faz questão de
termos outros filhos. Uma família grande e unida, construída com amor e
respeito e caráter a ser seguido. Seremos para eles pais amorosos, dedicados a
faze-los pessoas do bem. Não vejo a hora de pega-lo em meu colo.
Dirigindo o mais rápido e prudente que consigo, chegamos ao estacionamento do
hospital Lenox Hill, a seguir, procuro uma vaga no estacionamento e ao sair do
carro, saio às pressas correndo meus olhos pelo amplo local visualizo o carro de
Lay parado em uma das vagas ao longe. Elas já chegaram. Ligo para o celular de
Lay, pois Sophia à essa hora não poderá atender a nenhuma ligação.
Lorenzo e seu pai chegam a seguir e estacionam seu veículo em uma vaga ao
lado de meu carro.
Entramos no hospital e as funcionárias da recepção olham, em nossa direção, um
tanto assustadas, pois meu pai e Vicenzo começaram a discutir quem iria levar
Thomas para o seu primeiro passeio. Discretamente, repreendo os dois com um
olhar, pois não é hora e muito menos local para esses dois discutirem tal assunto.
Me aproximo do balcão onde uma recepcionista com o nome Dayse me atende.
— Boa tarde, minha esposa entrou em trabalho de parto e deu entrada nesse
hospital e gostaria de saber em que ala ela se encontra? — Antes mesmo de dizer
o nome de Sophia, ela se adianta.
— Por aqui, sr. Mackenzie!
Ela sai detrás de onde estava e eu a acompanho. Permanecem, logo atrás, Harry
e Vicenzo como se fossem cães de guarda. Sigo a mulher de meia idade que anda
a passos rápidos e, ao chegarmos num corredor com um placa
inscrita Maternidade, a mesma para e me indica por onde seguir. Pede licença e
virando as costas, volta para o seu setor.
Sentada no fundo do corredor está Lay. Ela não nos vê, pois seus olhos estão
compenetrados em seus dedos que ela morde como se fosse engoli-los.
Lorenzo aumenta o passo e, ao vê-lo, sua voz estridente é ouvida por toda a ala.
— Morenzo, levaram Sophia para aquela sala! — Aponta a porta dupla à
esquerda.
— Faz tempo que vocês chegaram? — Pergunto.
— Há uns cinco minutos, Sean! Até ameacei meu sobrinho, tive medo de que
nascesse no carro! — Ri, nervosa.
— Thomas sabe o que faz! — Completa Lorenzo, rindo para a esposa, tentando
descontraí-la.
Sabia que elas chegariam antes de nós, o hospital fica mais próximo de casa do
que o haras.
Me afasto dos dois e procuro alguém para me dar as informações que preciso.
Harry e Vicenzo saem e se instalam em uma sala de espera anexa ao corredor.
Lorenzo e Lay saem em busca de café na cantina e eu não pretendo ficar aqui
sentado esperando.
E eu quero estar ao lado de Sophia quando Thomas chegar.
Um enfermeiro passa por mim e me identifico como marido de Sophia. Explico
que conforme combinado com a médica de minha esposa, eu poderia assistir ao
parto sem nenhum problema.
— Aguarde um instante, senhor! Vou verificar se será permitida a sua entrada na
sala de parto! Volto em um instante.
Ando de um lado a outro do corredor apertando meus dedos nervosamente.
Meu celular toca. Ligação de Alexia.
Depois de berrar, chorar e me deixar quase surdo ao telefone ela se despede
dizendo que a tia-madrinha mais linda e inteligente do planeta está a caminho do
hospital. Sempre me fazendo rir com seu jeito Alexia de ser. Harry e Vicenzo
falam em seus celulares, meu pai parece uma criança com Claire ao telefone e
Vicenzo não é diferente ao falar com Angelina. Nesse momento, lembro-me de
alguém que merece saber o que está acontecendo. Joseph.
Ligo para ele e, ao saber da notícia, consigo sentir sua emoção e também ouvir
sua voz discretamente embargada pelo simples fato de ter me lembrado dele.
Como o esqueceria? Afinal, se estou aqui, nessa sala, devo isso a ele! Faço
questão de que Thomas conviva com ele e conheça o homem bom que ele é.
Desligo e é a vez de Max me ligar. Ele decidiu passar o fim de semana com
Danielly em Aruba, em nossa casa de praia, mas pelo visto, Alexia deve ter
contado a novidade a ele. Me deseja sorte e felicidades e está voltando para
Nova Iorque para me dar um abraço. Acho que desconheço alguém mais feliz
por ter irmãos tão queridos.
O jovem enfermeiro aparece e sorri. Sinal de boas notícias.
— Sr. Mackenzie, queira me acompanhar por favor!
— Obrigado.
Ele me encaminha para uma sala onde recebo uma roupa esterilizada e todos os
aparatos necessários para poder estar na sala com Sophia.
Instantes depois, estou em frente à porta que me separa de minha mulher e de
meu filho. Abro a maçaneta devagar e a vejo com semblante de dor, toda suada,
tentando trazer ao mundo o nosso Thomas. Ninguém pode ver o meu sorriso
através da máscara ao ver essa imagem, mas ele está ali.
E então, quando Sophia consegue respirar em sinal de alívio pela dor da
contração que se foi, desvia o seu olhar para a porta e seus olhos negros se
deparam com os meus. Suas covinhas aparecem e seu sorriso é um dos mais
lindos que ela já me deu.
Por Sophia
Deitada em uma posição nada agradável, Dra. Virgínia me pede calma e diz que
em mais alguns instantes meu Thomas estará em meus braços.
— Sophia, quando sentir dor, faça força, sim? — Ela se senta em uma cadeira
em minha frente e Celine, a pediatra que faz parte da equipe permanece em pé ao
seu lado. — Sua dilatação é perfeita, o parto será rápido e muito tranquilo.
— Sim, doutora, porém gostaria de lembra-la de que o tempo, em determinadas
ocasiões, é muito relativo. — Fecho os olhos e tento não parecer uma mãe
escandalosa ao sentir outra contração chegar.
— Você tem toda razão, Sophia, mas agora vamos trazer Thomas ao mundo e
conto com sua ajuda!
Dra. Virgínia é uma mulher na casa dos cinquenta anos, de poucos sorrisos, mas
muito competente. Ela me parece ser o tipo de pessoa que mantém a calma sob
qualquer tipo de situação. Portanto, nada do que eu diga ou faça fará com que ela
perca a cabeça.
Respiro fundo e como fui orientada, ao sentir uma forte dor, faço o máximo de
força possível.
— Isso, Sophia!!
Nesse momento, minha vida se passa em segundos em minha frente. Da menina
que roubava nas ruas da Filadélfia à Sophia, filha de Vicenzo, mulher de Sean e
agora, o mais importante, mãe de Thomas. A cada dor lancinante fico mais
próxima de ter meu filho em meus braços.
Ele terá uma mãe que o amará da forma mais intensa que ela puder. E como uma
leoa o protegerá de tudo até que seu filhote saiba caminhar sozinho.
E ao relaxar meu corpo exausto pela força que estou fazendo eu o vejo. Meu
Sean. Ele finalmente veio para me fazer companhia e dividir esse momento tão
importante para nós.
Seus olhos brilham ao me ver e, nesse momento, é como se eu fosse a mais linda
das mulheres.
Por Sean
Aproximo-me devagar e a Dra. Virgínia me cumprimenta com um aceno de
cabeça, voltando sua atenção para seu trabalho.
Entrelaço minha mão na de Sophia e a aperto com força como se com esse
pequeno gesto eu conseguisse aliviar a sua dor.
— Você está linda! Deveria filmar esse momento!
Ela enruga sua testa como sempre faz quando algo a contraria e rebate.
— Não goze com minha cara, por favor! Me filmar sentindo dores não seria
nada legal! Aiii! — Ela se contorce quando mais uma contração a atinge e sua
mão aperta a minha ainda mais.
— Eu editaria a fita, sua boba! — Respondo em tom de brincadeira.
— Como você é gentil! Por isso eu o amo tanto!
Mais uma forte contração e a médica comenta.
— Thomas está vindo, mais força!!
Sophia a obedece e como se estivesse em seu limite, dá tudo de si e vejo-a em
lágrimas que se confundem com as minhas ao ouvir o choro do nosso bebê.
— Bem-vindo, Thomas! — Dra. Virgínia o ergue para que Sophia possa vê-lo.
Sei que a partir de agora, esse som será constante em nossa casa. O som de uma
nova vida totalmente dependente de mim e de sua mãe.
Beijo sua testa e sussurro.
— Amo vocês!
— Amamos você, Sean, muito!
Chorando e sorrindo trocamos olhares de cumplicidade e amor. Mesmo abatida,
ofegante e descabelada, Sophia é a mulher mais linda para mim, sem sombra de
dúvidas.
A obstetra entrega nosso menino à pediatra que o leva dali para limpá-lo e
quando volta com ele, estendo meus braços e o seguro com cuidado, levando até
a mãe.
Não sei descrever a emoção que sinto no momento. São os três quilos mais
lindos que já tive o prazer de ter em meus braços e ali seguro em suas delicadas
mãos. Quando Alexia nasceu e a segurei em meu colo ao voltar do hospital, me
senti um homem que tinha uma irmã para cuidar, porém nesse momento o que
sinto é incomparável a qualquer emoção.
— Thomas, meu filho, eu amo você!
Não consigo tirar meus olhos dele. Ele é tão pequeno e ao mesmo tempo, tão
forte. Meu legado. Meu fruto. Alguém para me chamar de pai e me fazer ser o
mais protetor dos homens. Quero dar a ele o meu melhor e dividir tudo o que
meu pai me ensinou durante toda a minha vida.
— Hey, meu amor, também quero vê-lo.
Sophia me observa e percebe o quanto estou emocionado. Levo nosso menino
até ela e o deposito com cuidado em seu colo. Beijo de leve os lábios de minha
mulher e agradeço por ter me dado algo tão valioso. Tudo o que passamos, o que
vivemos, para chegar nesse lindo momento mais que inesquecível.
— Ele não é lindo? — Minha esposa toca seus poucos cabelos e não consegue
parar de sorrir.
— Muito lindo!
Retiro do bolso da calça o meu celular e peço gentilmente à enfermeira que tire
uma foto nossa. Essa vai ser uma das fotos mais importantes de minha vida, ao
lado das outras que guardo com carinho em minha mesa.
Sophia amamenta Thomas e a seguir, uma enfermeira o leva para poder trocá-lo.
E dra. Virgínia me expulsa com muita educação da sala de parto para que cuidem
de Sophia. Ela será transferida para o quarto.
Jogo um beijo a ela e asseguro que a verei mais tarde.
Momentos depois, na sala anexa ao quarto onde minha mulher ficará instalada,
recebo fortes abraços e tapas nas costas de todos que estavam aguardando
ansiosos a chegada de meu filho.
Vicenzo é o último a me parabenizar. Ao se aproximar com seu jeito sério e
seguro, toca em meu ombro e diz.
— Agora, estou de olho em você duplamente, meu rapaz!
— Sabia que iria dizer isso, Vicenzo!
— Estou brincando, venha cá e me dê um abraço.
Ele me abraça e seus olhos estão marejados como os meus.
— Obrigado por fazer minha Nina tão feliz e com isso, você me deixou feliz.
Vocês me deram a maior alegria que um velho rabugento poderia viver!
Obrigado também por meu neto! — Ele chora como um menino e enxuga as
lágrimas em seu velho lenço que sempre aparece do nada em suas mãos. — Que
Deus os abençoe sempre!
— Obrigado, Vicenzo. Cuidarei dos dois com minha vida, pode apostar.
— Tenho certeza disso! Sei que estão em boas mãos.
Deixo o hospital, pois quero buscar em minha casa, o presente que guardei como
surpresa para essa ocasião. No trajeto, ligo para Marcella e lhe conto a novidade.
Ela fica feliz e diz que em breve virá a Nova Iorque para ver Thomas. Nesse
momento, me lembro de minha mãe. Uma pena que nossa história tenha se
encerrado dessa maneira. Seria muito bom para ser verdade, se hoje, eu a visse
naquela sala me abraçando feliz pela chegada de seu neto. Infelizmente, nem
tudo é como a gente quer e sendo assim, aproveito o que de bom essa vida me
reservou.
Sou um homem muito feliz.
Por Sophia
Meu quarto ficou parecendo uma festa. Vicenzo aparece com um feixe de balões
coloridos e Harry aparece com minhas famosas tulipas vermelhas.
Sabe quando você está prestes a explodir de alegria? É assim que me sinto.
Lorenzo e Lay também entram trazendo um enorme urso de pelúcia e me
pergunto onde eles arrumaram esse bicho gigante. Lay, minha arara favorita, diz
que saíram para comprar enquanto eu berrava de dor na sala de parto.
Acho graça e agradeço a ela por ter me ajudado em trazer Thomas ao mundo.
— Que nada, cunhada, agradeça sempre à minha voz! Ele pensou duas vezes
antes de nascer naquele carro e depois passar noites ouvindo “Um elefante
incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais” — Essa é minha
cunhada.
Meu irmão e ela ficam por mais alguns minutos e em seguida se despedem.
Harry também me parabeniza e logo sai. Na verdade, eles não querem que eu me
canse. E felicidade por acaso cansa?
E então, ficamos eu e meu mais que amado pai.
Ele se senta na beira da cama, toma minha mão e diz com os olhos em lágrimas.
— Meus parabéns! — Seus olhos denotam que ele andou chorando e muito. —
Aquela menina que mais parecia um coelho assustado, arredia e tímida, mas que
por dentro tinha uma fortaleza prestes a ser descoberta...
— Não faz isso, pai... assim eu choro!
Estamos em lágrimas e assim que funcionamos. Lembramos dos nossos
primeiros momentos juntos.
— A que me deu o beijo de agradecimento mais gostoso que já recebi em minha
vida. — Toca meu rosto. — E como eu sempre soube que isso aconteceria, você
venceu! Nada a derrubou, nada a abateu, você continuou firme e me orgulho a
cada dia por ter ser você a filha que Deus me deu de presente!
Rebato em lágrimas.
— Não venceria sem você! — Aperto de volta sua mão.
— Você venceria de qualquer jeito! Não se menospreze, fui um afortunado que
recebeu de você uma coisa que ninguém me tira: Seu respeito e amor, Nina.
Me jogo em seus braços e o encho de beijos.
— Obrigada, por tudo!!
Ele se afasta e enxuga minhas lágrimas.
— Eu o vi no berçário. Ele é lindo!! Espero ter mais tempo para poder passear
com Thomas e poder contar a ele a mãe excepcional que ele tem.
— Vai viver muito ainda e Thomas irá se orgulhar do avô maravilhoso que ele
tem.
Alguém bate à porta. Angelina. Meu pai se levanta ainda enxugando os olhos.
Diz que vai à cantina procurar um café para beber.
— Que choradeira é essa? Posso saber? — Diz, carregando um pequeno
embrulho nas mãos.
— Ah, minha fofa! — Estendo os braços e ela vem ao meu encontro.
— Passei no berçário e o vi. Ele é lindo, Sophia!
— Não é? — Digo.
— Sim, claro que puxou ao pai, porque você tem cara de ratinha. Deus teve
misericórdia de seu filho.
— É mesmo? — Finjo indignação.
— Claro, sabe que só digo a verdade!
Essa é minha fofa. Minha mãe postiça. A que me adotou de um modo único.
Amou sem questionar de onde vim e para onde iria. Apenas amou.
Ao me lembrar de tantas coisas que passamos juntas, me emociono e com nossas
mãos entrelaçadas e olhos brilhando em lágrimas, digo.
— Eu te amo, minha eterna Fofa!
— E eu também a amo muito. Desde o primeiro dia em que pus meus olhos em
você!
— Hoje, ao ver seu filho dormindo tão gostoso, pensei. A minha garota de lindos
olhos escuros merece tudo de bom.
Entrega-me o embrulho e ao abrir quase bato em Angelina. Um chocalho de
prata todo trabalhado. Sei o quanto ela ganha e sei o quanto economizou para dar
a Thomas algo tão valioso.
— Não devia ter gasto seu dinheiro, Fofa.
— Queria dar a ele algo duradouro. — Seus grandes olhos estão embaçados
pelas lágrimas. — O meu amor ele já tem, o chocalho é brinde!
Eu poderia ter mãe melhor?
Logo em seguida, chega a bafônica Alexia.
Me aperta tanto que parece que vai me quebrar. Junto com Aidan, ela está tão
feliz com a chegada do sobrinho que chega a ser engraçado.
Depois de meia hora, ele chega.
Meu marido.
Entra sorrindo com um lindo ramalhete de rosas brancas e uma caixa de veludo
nas mãos.
Angelina e os demais saem me deixando a sós com ele.
Caminha em minha direção com um sorriso de parar a Terra...
Papai Sean!
Por Sophia
E como sou uma mera mortal apaixonada me encontro presa em seu sorriso até
que ele se senta em minha cama e toca meu rosto com carinho.
— Demorei? — Roça sua boca em meus lábios e me beija de leve.
— Muito. Liguei para a Interpol para fazerem uma busca atrás de você! — Digo,
sorrindo.
— Fui buscar isso. — Entrega-me uma caixa de veludo azul e presumo ser um
presente de aniversário adiantado, afinal faço 26 anos daqui a três semanas. — É
para você! Espero que goste!
Olho-o com desconfiança.
— Sean, ainda faltam alguns dias para o meu aniversário, não sabia que era tão
ansioso!
— E quem lhe disse que esse é seu presente de aniversário? Abra logo! —
Franze as sobrancelhas e fica esperando minha reação.
Abro a caixa e minha boca se abre surpresa ao ver um lindo cordão com um
pingente em formato de uma Madonna, simplesmente lindo.
— É lindo! — Sean o retira da caixa e em seguida me ajuda a colocá-lo em meu
pescoço.
— Agora sim, ficou lindo. — Beija meu colo, meu pescoço e minha orelha. —
Obrigada, meu amor! Você me deu o maior presente que eu poderia ganhar, um
filho lindo. — Pendo meu pescoço para encontrar seus olhos e ao fazer isso,
encontro-os com um brilho tão intenso de alegria que me deixa sem fala. — Não
me canso de repetir, amo vocês!
— Jamais me cansarei de ouvir isso! Ser amada dessa forma me faz sentir
inteira, completa.
— Isso se aplica a mim, também. Seu amor por mim preenche minha alma e me
deixa extremamente feliz.
Abraçados, nosso momento de intimidade é interrompido por batidas insistentes
na porta como se a pessoa do outro lado estivesse muito nervosa a ponto de
arromba-la, se acaso ninguém viesse a abri-la.
Sean me olha intrigado e se levanta de imediato. Anda até a porta e abre
rapidamente antes que outra sessão de batidas se repita.
— Mas o q...
Antes que ele possa terminar sua frase, vejo o largo sorriso de meu eterno amigo
Willy parado à porta com um embrulho envolto em um papel azul em uma mão e
uma bola de futebol americano na outra.
— Atrapalho?
Estende a mão para Sean que o recebe com um abraço.
— Claro que não, entre! — Meu marido rebate. — Pensei que iria arrebentar a
porta.
— Ah, por acaso, não me ouviu batendo? Sou um homem muito educado! —
Pisca para mim no mesmo instante em que adentra no quarto.
— Percebemos.
Acabamos rindo da cara engraçada que ele nos dirige.
— Seu marido me ligou avisando que meu sobrinho havia nascido, vim o mais
depressa que pude.
— Obrigada, meu amigo!
— Obrigado, Willy. — Sean também agradece e seu celular toca. A seguir, pede
licença e sai do quarto nos deixando a sós.
— Eu vim e quis trazer algo para que Thomas nunca se esqueça do seu tio aqui.
— Bate no peito e me entrega a caixa embrulhada.
Com ar de riso, começo a abrir o presente.
— Pode abrir tranquila, não é uma boneca inflável e muito menos minha coleção
de Revistas Playboy.
— Ainda bem, se fosse esse o presente, te matava!
Ao retirar o papel, meus olhos não acreditam no que veem no conteúdo da caixa.
— Minha réplica. — Diz com ar de riso.
Ele é muito gozador.
Pego o boneco Chuckie de dentro da caixa e não consigo parar de rir.
— Isso vai assustar meu filho, isso sim! Não vou deixar que Thomas brinque
com isso!
— Hey, está me chamando de feio? Saiba que esse exemplar foi difícil de
encontrar, Soph! — Pega o boneco de cabelos vermelhos de minha mão. — E
comigo, ele pode brincar? Você deve ser mesmo maluca! — Willy sempre faz
piada de si mesmo. Eu amo esse meu doidinho.
Original como sempre. Me fazendo rir para mostrar o quanto sou importante.
Esse é o jeito que meu velho amigo Chuckie demonstra seus sentimentos.
Toco seu rosto e ele fecha os olhos como na noite de Natal em que foi meu pai,
mãe, médico e meu Noel de cabelos vermelhos.
— Adorei e saiba que não será necessário um boneco para que Thomas se
lembre de você. Faço questão que ele conviva com o tio mais maluco que ele já
teve o prazer de ter em sua família.
Ele fica vermelho e seus olhos brilham de emoção. Willy é exatamente igual a
mim. Só buscamos ser amados e tratados com carinho. E quando isso acontece
nos desarmamos e recebemos o carinho que as pessoas nos oferecem.
— Combinado? — Reafirmo minhas palavras.
Segura minha mão e beija meu rosto.
— Combinado, Soph.
— E essa bola? — Aponto para a mesma em cima da cama.
— Ah!! Essa também é dele. — Coloca-a em meu colo. — Quero ensiná-lo a
jogar e leva-lo aos grandes campeonatos que virão.
— Thomas será muito disputado, Lorenzo quer leva-lo para andar de Kart, meu
pai quer ensina-lo a pescar, Harry a montar e Sean quer fazer isso tudo que
mencionei acima sozinho.
— Caraca! Isso é que eu chamaria de família competitiva. — Abre seu sorriso
largo. — Entrei para o páreo e quando entro em disputa, entro para vencer! Diga
isso aos outros concorrentes. Comigo, Thomas só tem a ganhar!!
— Ah, claro, sem dúvidas!
Willy permanece conversando por mais alguns minutos e Sean reaparece se
juntando a nós.
O assunto não poderia ser diferente.
Política. A campanha presidencial será daqui a dois anos e para quem não
entende muito do assunto como eu, acha que ainda há muito tempo para se
pensar nisso, certo? Errado. Os candidatos começam as articulações e a busca
por apoios partidários muito antes do que imaginamos.
Eles falam quase a mesma língua, só que de maneiras diferentes. Depois de
alguns minutos sobre os próximos passos, meu amigo se despede de mim e de
Sean e se retira do quarto.
Instantes depois, uma enfermeira traz o meu bebê para ser novamente
amamentado. Ela sai e me deixa com Thomas no colo e meu marido babando
por ele. O amamento e de barriga cheia, meu filho adormece em meu colo e, eu
toda boba acaricio seus poucos cabelos. Mentalmente, agradeço a Deus por ter
me dado a oportunidade de gerar algo tão lindo.
Seu rostinho é tão fofo tenho vontade de morde-lo.
A enfermeira reaparece e contra a minha vontade, leva meu menino de volta para
o berçário.
— Quando terei alta, Sean?
— Segundo Dra. Virgínia, amanhã cedo ela lhe dará alta.
— Que notícia boa!
— Muito boa! Agora, a senhora irá descansar. — Me faz deitar na cama
enquanto ajeita meu travesseiro.
— Não estou cansada, meu amor!
— Sophia... Shhhh, não seja teimosa! Vou para casa tomar um banho e volto
para passar a noite aqui com você.
— Não há necessidade, meu amor.
Passa seu indicador na ponta do meu nariz.
— Não discuta comigo, sempre sinto necessidade de estar ao seu lado.
Depois de uma resposta dessa, devo argumentar? Acho que não.
Beija minha boca de modo carinhoso e sai. Momentos depois, caio num
delicioso sono.
No dia seguinte, Thomas e eu saímos do hospital e toda a imprensa de Nova
Iorque estava à nossa espera ávida por notícias. Em pleno estacionamento, os
seguranças, todos a postos, impediam que muitos repórteres se aproximassem de
maneira abusiva. Sean, como sempre foi muito educado com a imprensa e,
depois de posar ao lado de meu marido com Thomas em meus braços, entro no
carro. Meu marido dá a eles uma pequena coletiva e assim, por hora, os mesmos
sorriem e nos deixam em paz.
Ao voltar para a tranquilidade de meu lar, recebo, no dia seguinte, a visita de
Danielly que está toda boba, pois irá se casar em novembro. Não preciso
mencionar que Sean e eu seremos os padrinhos de Max.
Dez dias depois, Sean volta ao senado e minha rotina se estende agora a cuidar e
mimar meu lindo menino sem a sua ajuda. Thomas não me dá trabalho, porém,
às vezes é acometido por cólicas e aí, seu chorinho é ecoado por todo o quarto.
Que pulmão essa criaturinha tem! Meu marido me liga a todo instante todo
preocupado, Sean como pai é muito fofo.
É tarde da noite e me deito em minha cama, exausta. Olho para o travesseiro ao
meu lado e a saudade de Sean aperta meu peito. Hoje, completo 26 anos. Há
exatamente um ano, Sean e eu nos amamos pela primeira vez, em Aspen. No
relógio é quase uma da manhã. A essa hora, ele está em algum lugar do céu,
sobrevoando o território americano de volta para casa. Ele me prometeu que
chegaria a tempo para comemorarmos o meu aniversário e também nosso
primeiro ano juntos.
Acabo adormecendo e ao abrir os olhos meio sonolenta, constato que dormi por
mais ou menos umas duas horas. Esfrego meu rosto com as mãos e através do
som da babá eletrônica em meu criado-mudo ouço algo que me deixa sem
palavras. Em um sobressalto, coloco meus chinelos e muito devagar me dirijo
para o quarto de Thomas com minha pequena câmera nas mãos.
A porta entreaberta me permite espiar sem ser notada.
Sean, de terno, com olheiras profundas, a gravata desatada ainda no pescoço e
com a aparência visivelmente cansada embala Thomas que ao ouvir a voz mansa
do pai, aos poucos, vai se acalmando. Ele acaricia suas pequenas costas com seu
corpo aconchegado a ele, para aliviar mais uma de suas famosas cólicas
noturnas.
“Vai passar, calma, meu bebê!” — Sean se senta em uma poltrona e coloca
Thomas em seu colo, aninhando-o com tanto cuidado.
Nesse momento, penso nele menino, cuidando de Alexia.
“Andou mamando demais, não é, seu guloso?” — Massageia o pequeno
abdômen de nosso filho e as suas dores vão cessando fazendo—o parar de
chorar.
“Viu, só? Passou!!” — Thomas solta pequenos resmungos como se quisesse
conversar com seu pai. — “E agora, conte para o papai: Cuidou de sua mãe
direitinho enquanto estive fora, conforme combinamos?” — Distribui vários
beijos em sua cabeça enquanto conversa com nosso bebê.
Thomas resmunga mais uma vez e ele continua como se os dois estivessem em
um diálogo. Mordo meu lábio e seguro a vontade de entrar no quarto, não quero
perder e muito menos estragar esse momento dos dois, portanto prefiro filmá-los
à distância.
“Ah, sim, você cuidou dela?” — Sorri para nosso bebê. — “Muito bem. Todas as
vezes que o papai sair em viagem, você será o homem da casa, certo?”
Thomas agita os bracinhos e Sean pega uma de suas pequenas mãos e a leva em
sua boca, beijando-a. Se levanta a seguir e anda de um lado a outro do quarto,
ninando nosso menino sussurrando uma canção de ninar.
“Agora, é hora do menino mais lindo do mundo dormir, ok?”
Como se obedecesse ao pai, Thomas logo adormece e sem que meu marido
perceba, desligo a câmera e volto correndo para nosso quarto. Deito-me e finjo
que estou dormindo.
Essa cena jamais sairá de minha mente. Sean sendo pai é uma das coisas mais
lindas e fofas que já presenciei.
Instantes depois, entra em nosso quarto e bem devagar, se aproxima da cama e
beija meus lábios.
— Cheguei, meu amor!
Abro os olhos e encaro seus lindos olhos azuis, sorrio para ele.
— Estava com saudades! — Me sento na cama.
— Eu também estava com muitas saudade de você e de Thomas.
Seus olhos falam por si.
Exalam amor, desejo e ao encará-lo novamente devolvo-lhe o mesmo olhar. Com
seus lábios quase colados aos meus, aspiro o seu hálito e seu cheiro que só me
fazem pensar e querer uma coisa: seu corpo no meu. E tenho absoluta certeza de
que é nisso que meu senador está pensando no momento.
Me beija de leve e suspira, se levantando.
— E aí, deu tudo certo? — Pergunto.
— Sim, estou exausto, porém o cansaço valeu a pena. — Tira seu paletó e o joga
na poltrona próxima a ele. — Vou tomar um banho e depois lhe conto como foi
tudo.
Em outra época, eu o acompanharia nesse banho, mas devido ao nascimento de
Thomas, sexo nem pensar, ou melhor, só pensar; fazer, ainda, é proibido.
Momentos depois, Sean aparece vestindo seu roupão azul, o mesmo que o
presenteei em seu aniversário. Se ele tivesse piedade de mim, não tiraria essa
peça diante dos meus olhos. Com um olhar provocativo, abre seu roupão bem
devagar e o deixa em um canto qualquer. Usando somente uma boxer branca,
não consigo desviar meus olhos de seu corpo. Acho que a temperatura subiu de
repente.
— Sophia, não deveria me olhar dessa maneira. — Se deita ao meu lado e coloca
o braço direito atrás da cabeça.
Solto um riso abafado.
— Para que isso não acontecesse, você deveria sair daquele banheiro embalado
numa caixa inscrito “cuidado frágil”!
Ele solta uma gargalhada chegando a pender a cabeça para trás, parece um
garoto lindo sorrindo.
Me deito sobre seu corpo, roçando meu rosto em sua barba por fazer.
— Prometo me lembrar disso no próximo banho. — Diz enquanto suas mãos
recaem em minha costas, acariciando-as num lento vai e vem.
— Adoro suas promessas.
— Prometi que estaria aqui para comemorar seu aniversário e nosso primeiro
ano juntos. — Ele não tira os olhos de minha boca. — Faço o possível e também
o impossível por você, Soph!
— Jura? — Beijo seu pescoço absorvendo seu cheiro e misturado à sua pele
quente, o perfume magnífico de sua colônia pós banho. — Então, como um
pedido impossível, gostaria que você fizesse o tempo passar de imediato e nos
poupar dessa situação que está me deixando maluca...
— Soph... — Enrosca suas mãos em meus cabelos e me puxa para sua boca e
então sua língua invade meus lábios e busca a minha com sofreguidão. Seu
hálito é fresco e ele explora cada canto de minha boca. Gemo e o faço gemer
quando sugo sua língua prendendo-a na minha. Sem ar, vejo seus olhos
brilhantes de tesão. — Se eu pudesse fazer isso, a essa hora, estaria gemendo
com meu pau metendo gostoso em você! Esses dias tem sido um tormento sem
poder fazer amor com minha esposa.
Engulo seco ao ouvir sua voz rouca e carente de desejo. Sua boca desce pelo
meu pescoço e sinto minha pele em brasas no momento em que ele abaixa as
alças de minha camisola e meus mamilos roçam nos pelos de seu tórax. Esse
simples contato faz meu corpo se abrir e meu ventre se contrai deixando meu
sexo molhado sob o tecido de minha calcinha.
Arqueio meus quadris de encontro à sua pélvis e, em resposta, o encontro
extremamente excitado. Ele me prende contra seu corpo, estocando devagar num
movimento torturante. Mesmo sobre o tecido que nos separa posso sentir todo o
seu desejo por mim.
Ousada, desço minha mão por seu corpo e meus dedos agarram seu membro
quente e duro. Sean solta um gemido preso em sua garganta e aperta com força
meus quadris.
— Está me provocando, Sophia?
Morde meu lábio inferior e o prende em seus dentes.
— Não tenho ideia do que você está falando! — Digo com uma maliciosa
inocência.
Em resposta, ele escorrega sua mão por entre nossos corpos e seus dedos
invadem minha calcinha acariciando meu sexo numa tortura inebriante.
— Tem certeza de que não tem ideia, meu amor?
Circula meu clitóris com seu polegar numa deliciosa pressão, no mesmo instante
em que sua língua faz movimentos cadenciados em minha boca.
— Hummmm... Que delícia! — Solto um murmúrio de desejo quase
enlouquecedor.
Mordo seu queixo e inicio minha escalada em seu corpo. Minha língua desce em
círculos pelo seu peitoral, e sua reação é imediata.
— Que saudade dessa boca, minha gostosa!
Em seu abdômen trabalhado distribuo leves mordidas enquanto minhas mãos
deslizam pelos músculos de suas coxas.
Desço um pouco mais e com urgência, puxo sua cueca e o deixo nu para meu bel
prazer. Ajoelhada entre suas pernas e com as mãos espalmadas em suas coxas,
encaro-o e passo minha língua molhando meus lábios.
Sem dizer mais nada, me curvo e minha boca e língua beijam todo o interior de
suas pernas até chegar ao seu membro extremamente excitado e louco por
atenção.
Ao deslizar minha língua por toda sua extensão, ele ergue seus quadris me
incitando a abocanhá-lo todinho. E obedecendo aos seus desejos, o engulo
fazendo movimentos com minha língua acariciando-o por inteiro.
Vejo-o fechar os olhos e se entregar à minha boca.
Sugando, mordiscando e o masturbando de leve, seus gemidos de prazer me
deixam com a mente mais aguçada ao imaginar seu corpo encaixado no meu,
soltando gemidos de prazer ao investir devagar dentro dele e me fazendo sentir
um prazer único que só ele sabe me dar. Sean se segura e tenta prolongar ao
máximo esse momento antes de gozar, mas quero-o perdido em meu toque,
rendido a mim e então, com uma das mãos, massageio suas coxas, seus testículos
rígidos e minha boca vai mais fundo, engolindo-o todinho, fazendo com que ele
agarre meus cabelos e grite meu nome ao chegar ao orgasmo.
Ergo meus olhos e o vejo com a testa suada, peito ofegante e sua boca
entreaberta. Queria saber fazer um desenho dessa sua imagem, para que somente
eu desfrutasse de tal beleza ao admirá-la.
A seguir, me puxa para seu corpo.
— Venha cá, minha vez!
Ele puxa minha lingerie e me deixa de camisola. Ajoelhada em frente a ele, Sean
encaixa sua cabeça entre minhas pernas.
Chego a em encolher ao sentir sua língua quente abrindo meus lábios e
deslizando bem devagar nessa região, sugando num ritmo frenético e
sincronizado me fazendo mover os quadris em direção à sua boca. Meu corpo
todo busca alívio para as várias contrações que atingem meu ventre, fecho os
olhos e pendo minha cabeça para trás, enquanto uma de suas mãos me segura
forte pela cintura e a outra aperta meu seio sensível ao menor contato.
— Sean... — Seus olhos encontram os meus e gemo alto quando ele suga meu
sexo de modo mais agressivo, vejo suas bochechas côncavas pelo movimento me
lançando em um orgasmo intenso e muito prazeroso e massageando meu clitóris
sua boca me devora por completo.
— Saudade dessa boceta gostosa gozando em minha boca... — Diz de modo
rouco e sussurrante, no mesmo instante que continua a me lamber até que meus
espasmos cessem.
Após esse momento de total cumplicidade e amor, deslizo meu corpo para seus
braços que me aconchegam e me fazem sentir a mulher mais amada do universo.
— Eu a amo, Sophia!
— Eu o amo mais, Sean. Sempre.
Minutos se passam e ficamos ali, abraçados, até que ele se levanta e vai até seu
closet. Volta de lá com uma caixa comprida e estreita e também um envelope
vermelho com um laço azul.
— Feliz aniversário, meu amor!
Senta-se na cama e me entrega a caixa.
Afoita, abro-a e me deparo com uma linda pulseira toda em brilhantes com
vários S&S entrelaçados. “Sean e Sophia”.
— É lindíssima, meu querido! — Minha cara explícita de alegria denota o
quanto amei meu presente.
— Que bom que gostou.
— Não gostei, simplesmente, adorei.
A seguir, pego o envelope nas mãos e o abro.
Meu coração se abre de alegria ao ver a foto de Sean com Thomas em seu colo.
— Não sou tão bom com as palavras como minha esposa, mas o que vale é a
intenção, eu e Thomas esperamos que você goste. — Diz, todo tímido.
Logo abaixo, uma pequena mensagem com a letra de meu marido:
“Sophia,
Sei que deveria estar comemorando o seu aniversário, porém quem ganhou o
maior presente fui eu. Você já se deu a mim de presente, lembra-se?”
Meus olhos já ficam embaçados e ele espalma sua mão em meu rosto.
“Desde que entrei em sua vida, quem ganhou sempre fui eu.
Ganhei também ao deixar o meu orgulho há um ano e me declarar à mulher
que hoje me completa e me fez um homem por inteiro. Você é tudo o que
sonhei ter, Soph! A melhor namorada, noiva, mulher, amante, amiga,
companheira e agora a melhor mãe. Thomas ainda não tem noção da grande
mulher que Deus lhe deu de presente como mãe, mas afirmo que ele terá o
maior privilégio que é compartilhar de uma vida de amor ao lado da pessoa
mais generosa e espetacular que cruzou minha vida. Eu a amo e amo por
inteira.
Agradeço todos os dias por ter me encontrado com você durante essa jornada,
chamada vida. E hoje, eu que já lhe pertencia por completo, reafirmo que sou
seu. E também não aceito troca e muito menos devolução.
Ah, também não aceito ser rejeitado se acaso enjoar de mim!”
Lágrimas molham o papel e também a foto que está colada a ele. E Sean me diz
que não é bom com as palavras!
“Nós a amamos e sempre você existirá dentro de mim! Essa é mais uma de
minhas promessas com você!
PS.: Esse cartão foi assinado pelos dois homens da sua vida e ele é o único
pelo qual não tenho nenhum ciúmes.
Sean e Thomas”
Ao olhar para a o canto da página, há uma pequena digital no papel ao lado da
assinatura de Sean, me jogo em seus braços e choro feito criança.
— Nunca mais faça isso comigo, você quase me mata do coração, seu chato! —
Empurro-o com meu ombro e aperto a ponta de seu nariz.
— Vocês são os meus maiores presentes! — Digo.
Ele afaga meu cabelo e depois seca meu rosto molhado pelas lágrimas.
— Agora, venha até a cozinha! Tem um bolo nos esperando. — Diz, sorrindo.
— Bolo? Você comprou bolo?
— Claro! Aniversário sem bolo não tem graça!
De mãos dadas com meu amor, vamos comemorar o "nosso aniversário".
Tudo às mil maravilhas!
Por Sean
Sem passes de mágica ou algo semelhante, a felicidade e paz se instalaram em
definitivo em nosso cotidiano. Thomas completou seu primeiro mês de vida e a
cada dia que passa o meu amor por ele só aumenta.
Na cerimônia de seu batizado, Alexia o segurava em seus braços e ao olhar para
mim, seus olhos imensamente agradecidos me encheram de alegria. Minha
querida irmã finalmente encontrou seu caminho, refez sua vida e conseguiu
provar a todos a sua força e o seu valor. Liberta, livre e feliz. Era assim que eu
sonhava vê-la um dia e, ao jogar um beijo a ela enquanto o padre celebrava o
batismo o meu sonho se transformou em realidade.
Tenho orgulho de minha família. De todos eles, sem exceção.
Joseph também estava presente no batizado e quando Sophia entregou Thomas
para que ele o segurasse, surge em seu rosto um sorriso tímido misturado à
emoção de ser avô. Ele beija a bochecha rosada de meu filho e através de seus
olhos lacrimejados me agradece por viver esse momento.
Foi uma tarde muito agradável, onde toda a atenção foi direcionada ao meu
filho. Max se aproxima e bate em meu ombro.
— Quem diria que viveríamos tudo isso, meu irmão?
Viro-me para ele e sorrio.
— Pois é, Max, se alguém dissesse há um ano atrás que estaria casado e pai de
um menino, diria que essa pessoa só poderia estar maluca. Mas, agora, não me
vejo de outra forma. — Seguro em seu ombro. — E daqui a alguns dias será a
sua vez!
Max sorri e seu olhar recai em Danielly que está conversando com Sarah, Claire
e as outras mulheres presentes.
— Isso aí, quem diria que um assalto mudaria minha vida por completo?
Quase que digo o mesmo ao meu irmão, mas a vida secreta de minha esposa será
sempre um segredo mantido por mim.
Aidan se aproxima e entra na conversa.
— Sobre o que os nobres senhores estavam falando?
— Sobre o seu filho com minha irmã! Quero ser tio, oras! — Brinco.
Ele solta uma risada e rebate.
— No momento, Thomas é mais do que suficiente. Alexia e eu queremos curtir a
dois. Temos muitas outras coisas que queremos fazer e um filho exige atenção
total, com isso, acho melhor você se contentar com o baixinho ali. — Aponta
para Thomas que está no colo de Vicenzo — Agora conhecido como “vovô
babão”!
Dias depois...
Meu aniversário de 35 anos foi recheado de surpresas preparadas por minha
esposa. Ela fez uma montagem de vários vídeos gravados por ela, sem que eu
visse é claro. Momentos meus e de Thomas e ao assistir as imagens, confesso
que estava muito emocionado. Espero que a cada ano, mais emoções como essa
possam fazer parte de minha vida ao lado de minha linda família.
Devido à indicação de meu nome para concorrer à presidência dos EUA, minha
vida se resume à muitas reuniões, conferências e muitas entrevistas. Hoje, por
exemplo, tenho que comparecer a um programa de televisão onde eu e minha
esposa seremos entrevistados e visto em todo âmbito nacional. Sei que Sophia
detesta esse tipo de coisa com a qual também não sou muito adepto, mas toda
conquista tem seus sacrifícios e o mais lindo de tudo é ver a pessoa que vive ao
seu lado abrir mão de sua vontade para lhe apoiar em tudo o que você faz. Ela
sabe que chegar à Casa Branca é o meu maior sonho e então, me dá seu total
apoio em toda essa difícil campanha.
Sempre ao meu lado, sorrindo e toda simpática, com isso cativa cada vez mais o
eleitorado americano.
Essa é minha Sophia.
— Está pronta? — Abraço-a e nossos olhos se cruzam através do espelho.
— Quase, meu querido! — Vira-se para mim beijando meus lábios e em seguida
limpando com seus dedos a marca deixada pelo seu batom. — Sue ficará com
Thomas, espero que não demoremos nessa entrevista, sabe que não gosto de
deixar nosso bebê tanto tempo sem nossa presença.
Puxo-a ainda mais para o meu corpo e minha boca desliza sobre a pele macia de
seu pescoço.
— Sabe que não iremos demorar! — Sua boca se curva num sorriso carregado
de malícia. — Como foi a sua consulta com a Dra. Virgínia?
— Hum, seu interesseiro! — Suas mãos descem por minhas costas e apertam
minha bunda. — Infelizmente, sexo só depois do Natal! — Fala de modo sério.
— O que? Está brincando comigo, não é? — A encaro, fechando o cenho com
uma cara indignada.
Nesse momento, ela solta sua gargalhada rouca e dispara.
— Estou sim, queria ver a sua cara de espanto e só não tirei uma foto porque não
estou com meu celular em mão.
Estreita seus olhos e sua boca fica a centímetros da minha.
— Estamos, atrasados, Excelência! Quanto mais demorarmos a sair, mais
demoraremos a voltar!
Termina de ajeitar a minha gravata e seus olhos não se desviam de minha boca.
Minha vontade é de prensá-la nesse espelho e me enterrar todo dentro dela.
— Tem razão, Sra. Mackenzie, vamos? — Beijo seu lábio de leve.
Estendo meu braço à ela e depois de fazer todas as recomendações à Sue, a babá,
saímos para mais um compromisso social.
Durante todo o programa, Sophia era só sorrisos e mostrou que é a perfeita
esposa de um candidato, não somente pela simpatia como pelas respostas
inteligentes a respeito dos nossos projetos de campanha. Agradou e muito todos
os espectadores e também os milhares de telespectadores que aumentaram e
muito a audiência do canal em questão.
Acabada a entrevista, entramos no carro e Austin nos leva para casa.
No hall de entrada, agarro minha mulher por trás e mordo de leve sua orelha
deixando seu corpo todo arrepiado.
— Quero você, agora, Sophia!! — Pressiono meu membro excitado em suas
nádegas e ela solta um gemido rouco.
— Hum... Adoro meu marido tarado e ansioso. — Vira seu pescoço e sua boca
busca a minha. Cambaleamos pela sala e de repente, ela se esquiva de meus
braços. — Amor, tenho que ver como Thomas está e dispensar a babá. — Faz
sinal com as mãos. — Pedirei que Austin a leve embora, sim? — Ainda
completa. — A casa não é mais somente nossa, se esqueceu?
Passo as mãos pelos cabelos e concordo plenamente com minha esposa.
— Tem razão! — Afrouxo o nó de minha gravata. — Te espero em nossa cama,
não demore, por favor! — Pisco e jogo-lhe um beijo.
Por Sophia
Entro no quarto de meu lindo menino e Sue prontamente se levanta. Ela tem se
mostrado muito eficiente e muito amorosa com Thomas. Sempre me ajuda
quando necessito, geralmente em momentos como esse. Sei que daqui a algum
tempo, a minha agenda irá se apertar e terei que deixar meu filho aos cuidados
de outra pessoa, isso me deixa muito irritada, porém farei o possível para que eu
possa estar o máximo de tempo com ele. Digo à Sue que está dispensada, pago-
lhe e ainda lhe gratifico, causando um espanto mais que visível em sua cara ao
ver o dinheiro em suas mãos.
— Sra. Mackenzie, isso é muito dinheiro!
Sorrio para ela e completo.
— Está vendo aquele serzinho ali? — Ela olha para o berço onde Thomas
balança braços e pernas, resmungando ao ouvir minha voz. — Ele vale mais do
que tudo o que tenho e esse dinheiro é só uma gratificação e isso não chega a um
por cento do que lhe devo ao cuidar com tanto carinho de meu filho! — Ela fica
sem jeito. — Confio plenamente a você a pessoa que mais amo nessa vida, Sue.
Agora, Vá para casa e descanse! Austin irá leva-la. Até amanhã.
— Obrigada, Sra. Mackenzie.
— Sophia, por favor! Pode me chamar por Sophia!
— Sophia. — Diz timidamente.
Sue sai do quarto sorrindo como toda a garota de sua idade ao receber algo
grandioso.
Momentos depois, saio do quarto do meu menino após ter o amamentado e
trocado sua fralda. Entro em nosso quarto e suspiro ao ver meu marido, sem
roupas, deitado em nossa cama coberto por um lençol até sua cintura.
Caminho devagar até ele e seu olhar quase me desmonta.
— Demorei?
— Milhares de anos. — Sua boca entreaberta e seus olhos fixos em mim, fazem
meu corpo estremecer. E sem tirar seus olhos dos meus faz sinal com o indicador
para que eu me aproxime ainda mais.
— Não foi a minha intenção... — Diminuo ainda mais o passo e abro o zíper de
minha blusa, deixando-a cair em meus pés. Parada próxima à nossa cama, ele
aponta para minha saia.
— Quer fazer a gentileza? — Pergunto, virando-me para ele.
— Não, quero que você se dispa para mim!
Obedeço-o e minha saia cai ao chão.
— E agora? — Mordo meu lábio inferior e sinto meu sexo ficar molhado ao ver
que ele passa sua mão sobre sua ereção através do lençol.
— Sutiã... — Coloco as mãos em minhas costas e abro o fecho, e seus olhos de
predador não saem de meus mamilos endurecidos.
Ele engole seco e estende sua mão para mim.
— Calcinha? — Pergunto ao sentir seus dedos segurando os meus.
Num sobressalto, ele se livra do lençol e com sua mão presa à minha, me puxa
para ele me fazendo sentar em seu colo.
— Faço questão. — Rasga minha lingerie enquanto sua boca desce pelo meu
pescoço deixando um rastro quente com sua língua audaciosa.
Jogo minha cabeça para trás absorvendo cada toque de sua boca em minha pele.
Sean corre sua língua em meus mamilos e com suas mãos em minhas costas me
aconchega ainda mais em seu corpo, esfregando sua ereção em meu sexo
molhado.
Não quero mais a espera de ter meu marido dentro de mim, me esfrego nele sem
pudor e pelos seus gemidos, acho que ele sente a mesma urgência. Sua boca
prende a minha e seu beijo me domina por inteira, sua língua me provoca e meu
gemido é engolido por seu beijo cada vez mais selvagem. Estica o braço para o
criado-mudo e pega um envelope com preservativo.
Rasga o envelope sem tirar seus olhos dos meus e continua assim até que, sinto
seu membro encaixado em minha entrada encharcada de desejo. Segura em
minha cintura e seu membro me penetra devagar me fazendo suspirar de alívio.
Ao senti-lo todo dentro de mim, remexo meus quadris de maneira insana e então,
Sean distribui vários beijos e leves mordidas em meu maxilar e a seguir, se deita
entre os travesseiros e me arqueia seus quadris fazendo com que me preencha
ainda mais.
— Cavalga no meu pau, bem gostoso, cavalga!
Seu tórax suado e olhos de um azul intenso me fazem perder o controle e me
entregar ao prazer intenso de ter o homem que amo todo dentro de mim. Remexo
meus quadris e aumento o ritmo buscando alívio, Sean, com olhos semicerrados,
me acompanha segurando firme em minhas nádegas e nesse momento, me puxa
para sua boca e me beija alucinadamente.
Remexe seu quadril e toca em um ponto sensível dentro de mim e à medida que
meu orgasmo chega, meu gemido é abafado com sua boca colada à minha,
dizendo meu nome enquanto goza comigo. Com meu rosto em seu peito, ouço
seu coração bater forte e totalmente descompassado. Sorrio feliz ao saber que
tenho meu lugar ali, reservado e isso é mais que recíproco.
Ergo meus olhos e me perco no brilho dos seus.
Deito-me ao seu lado e ele retira a camisinha. Vira-se para mim e delicadamente
afasta uma mecha de meu cabelo que estava em meu rosto.
— Eu a amo tanto, minha Sophia! — Beija minha testa, meus olhos e desce
lentamente para minha boca tocando meus lábios de leve.
— Eu o amo muito, meu Sean.
E antes mesmo que eu tome fôlego, meu marido me puxa para ele e me beija
com paixão. Isso nos acende e sem que me dê conta o vejo com outra camisinha
em mãos. Pega uma de minhas coxas e a joga sobre seu corpo. Ele está faminto e
me deixou acesa novamente.
— Essa rodada foi somente a entrada, agora quero o prato principal!
E sendo assim, acabamos nos braços um do outro, demonstrando todo o nosso
amor incondicional.
Por Max — dias depois...
— Nervoso?
Meu pai ajeita o cravo em minha lapela e sorri.
— Um pouco, afinal não é todos os dias que nos casamos, não é?
— Verdade, meu filho!
Ele me abraça e ouço quando Sean bate de leve na porta e pede licença para
entrar.
Os dois me felicitam e eu não poderia ser mais agradecido por ter uma família
que me ama e respeita tanto. Somos muito felizes. Alexia deve estar no outro
quarto com Sophia ajudando Dani a se trocar.
— Sua noiva já está quase pronta, acho que não fica bem o noivo se atrasar meu
irmão! — Sean toca meu ombro e abraçados seguimos para o meu casamento.
Minha noiva e eu decidimos por um casamento para poucas pessoas e detalhe:
na praia. Queremos o mar como testemunha de nosso amor e nossa felicidade.
E assim, em pé no altar de frente para o mar, aguardo ansioso a chegada da
mulher que invadiu minha vida e me prendeu em seu coração para sempre!
Minha delegada que tanto amo!
Casamento de Danielly & Max
Por Danielly
Casamento na praia era um desejo oculto mantido em meu subconsciente desde
minha adolescência. Achava lindo quando me deparava com uma cena linda
entre duas pessoas que se amavam numa praia, rodeada de poucos amigos e um
imenso mar a completar esse cenário de felicidade. Depois de tantos namoros
desencontrados e relações fracassadas deixei de lado esse sonho e me conformei
com a realidade por muito tempo. Sempre me relacionava com o sexo oposto
sem fazer planos de um futuro juntos até que me deparei com Max, o homem
que me fez rever todo meu conceito sobre o amor.
Quando ele pediu minha mão em casamento, essa foi a primeira imagem que me
veio à cabeça e, quando marcamos a data senti que esse sonho teria que ser
adiado, pois a temperatura no mês de novembro em Nova Iorque é muito baixa
para que esse meu desejo se tornasse realidade. Claro que não me abalei por esse
motivo, porque o mais importante do que um casamento à minha moda, é estar
ao lado de Max e dividir nossa vida e seguirmos juntos. Meu amor por ele vai
além de um casamento na praia.
Meus pais moravam na Carolina do Norte e há seis meses resolveram se mudar
para Califórnia. Meu pai, delegado aposentado, e minha mãe, dona de casa
escolheram Malibu como o lugar para viverem até o fim de seus dias, como eles
mesmo disseram. E quando finalmente Max e eu decidimos a data de nosso
enlace, tive uma ideia, porém com receio de que meu noivo a recusasse, me
contive e ao perceber meu comportamento receoso, me fez confessar o meu
desejo secreto.
Resultado: Max adorou a ideia e me deu carta branca para a realização de meu
sonho. Nosso casamento na praia, ao pôr do sol, com tudo o que sonhei. Poucos
convidados, praia decorada com muitas flores e uma festa estilo luau onde os
noivos dançam e se divertem até a exaustão. E agora, estou aqui, na casa de
meus pais, vestida de noiva em frente ao espelho refletindo minha alegria a
ponto me fazer chorar. Meu desejo se tornou real e teremos uma cerimônia linda
rodeada das pessoas que realmente se importam com a nossa felicidade. Toda a
família de Max e alguns amigos vieram de Nova Iorque num avião fretado por
meu querido sogro. Às vezes, me esqueço de que estou me casando com um
milionário e esse mundo, onde a falta de recursos nunca foi um problema, me
assusta.
Charles, meu pai, me olha pelo espelho e sinto a sua comoção. E nesse
momento, me viro, caminho até ele e seguro em suas velhas mãos.
— Vamos, minha filha, seu noivo deve achar que você acabou desistindo.
— Obrigada, papai por tudo! — Sorrio e estendo meu braço. — Vamos?
Não preciso explicar meu agradecimento, meu pai sabe a que me refiro. Quando
decidi que seguiria a mesma carreira que ele, tivemos nosso primeiro embate e
um desentendimento que durou por todo período em que me preparava para me
tornar delegada, na cabeça de meu velho pai, essa profissão era cabível somente
aos homens e foi me dedicando e provando a cada dia a mim mesma que era
capaz que ganhei o seu respeito e admiração. Ah, essa minha profissão me deu
também um homem lindo que me ama e me quer para sempre junto dele.
E, segurando meu buque de copos de leite, com as mãos e corpo trêmulos sigo
de braços dados com meu pai ao encontro do meu futuro marido.
Por Max
Todos se levantam para receber a noiva.
Meus olhos não querem perder um mínimo movimento seu. Ela anda devagar,
linda e tímida.
Sim, Dany é muito tímida. Quem a vê atrás de sua mesa no departamento de
polícia ou até mesmo em alguma diligência, não sabe que ao tirar seu distintivo e
seu coldre ela se transforma como se tivesse uma outra personalidade
subtendida. Quando isso acontece, a Dany com sorriso e jeito de garota assume
seu lugar e até hoje não sei determinar ao certo qual desses jeitos eu mais gosto,
a delegada durona e incorruptível ou a romântica e carinhosa mulher.
Seu sorriso permanece trêmulo até que seus lindos olhos castanhos se encontram
com os meus. Ela fecha os olhos por segundos e ao abri-los, um brilho de
cumplicidade se conecta ao meu olhar. Devo tudo à Dany. Devo minha alegria,
minha vontade de viver, meus sonhos futuros e o mais importante, me mostrou
como é se sentir realmente amado, desejado e único. Minha delegada abriu em
meu peito um largo caminho por onde seguiremos com nosso amor e sonhos.
Nada do que vivi antes dela teve valor. Era inocente e cego em meu
relacionamento anterior e ao me deparar com Dany percebi o quanto estava
errado ao achar que sofreria a vida toda por alguém sem ao menos ter a certeza
de que era amor verdadeiro.
Hoje posso afirmar com clareza o que sinto e carrego com orgulho em meu
coração. Eu a amo intensamente e nunca me cansarei de demonstrar através de
atos de carinho ou palavras doces o que sinto por minha mulher.
No altar, na hora dos votos, ela me emociona com palavras que não foram tiradas
de algum texto e sim, vieram de sua alma e ao terminar, sorrio enquanto uma
lágrima insiste em cair de meus olhos. Em seguida, a minha vez de dizer a todos
os presentes os meus votos à mulher mais bela desse planeta. Alguém pode achar
exagero, mas quem sente o que sinto saberá que não há nada demasiado em meu
comentário.
Pigarreio e passo os dedos sobre o nó de minha gravata, fazendo graça e os
convidados riem. Sean ao lado de Sophia me olha e sorri. Ele sabe exatamente
como me sinto e tento, através de meu olhar, dizer obrigado por cada palavra dita
quando me encontrava perdido. Mesmo sem experiência alguma, ele me
assegurou numa noite de embriaguez e tristeza que eu encontraria alguém que
merecesse o meu amor. Fico feliz por ele estar certo.
“Danielly,
Cada olhar, palavra ou sorriso estão guardados aqui. Meu amor por você é
eterno e a farei feliz como você me tem feito desde o dia em que entrou em
minha vida! — Toco em meu peito, ela respira fundo, segurando a vontade
de chorar. — Quero que todos que estão presentes, nessa tarde,
compartilhem desse momento em que posso olhar para você e dizer que a
amo e em cada dia de nossas vidas demostrarei o significado dessas
palavras.”
Trocamos as alianças e somos declarados marido e mulher. Olhamos para o sol
que acaba se se por. Como nossa testemunha, ele vai embora com a promessa de
voltar no dia seguinte para presenciar nossa felicidade.
Nesse momento, aplausos e muitos assobios que vem particularmente de minha
querida Alexia que, chorona como sempre, me joga repetidos beijos.
Era esse o casamento que Dany e eu sonhávamos. Algo íntimo e verdadeiro.
Cada pessoa que nos cumprimentou com abraços ou beijos transmitiu sinceros
votos de uma vida feliz.
— Feliz? — Beijo de leve sua boca que se escancara num sorriso.
— Muito, meu amor! Tudo o que sempre sonhei estava aqui!
Olho ao redor e vejo os convidados se divertindo com a linda recepção em plena
praia.
— Verdade. Tudo ficou muito bonito!
— Max, não me refiro a festa e sim ao que vivi nesse dia! Você e suas palavras
me deixaram sem fôlego. Eu o amo muito, Max Mackenzie! — Seus braços
rodeiam meu pescoço.
— Humm... Muito bom saber disso, não vejo a hora de tirar seu fôlego de uma
outra maneira, Danielly Mackenzie! — A aperto em meu corpo — E eu a amo
muito, meu ar, meu viver. Venha, tenho uma surpresa para você! — Agarro sua
mão e a arrasto para perto do palco montado na praia.
Por Danielly
Tentei durante toda a cerimônia segurar o máximo de lágrimas possíveis, claro
que sempre há aquelas mais teimosas e audazes que descem pelo seu rosto e
caem vitoriosas para confirmar toda a emoção que a gente sente.
De todos os abraços e cumprimentos calorosos, o de minha amiga Lay foi o que
mais me deixou sem chão. Parceira maravilhosa, amiga para qualquer situação e
de uma abraço quente que te faz querer ser o mais egoísta possível guardando —
a somente para si e mais ninguém. Trabalhamos e corremos perigos juntas e na
maioria das vezes quando um caso parecia insolucionável, ela sempre
encontrava uma maneira de me fazer rir e esse relaxamento me dava ânimo para
encontrar o desfecho que faltava. Lay é a irmã doidinha que todo mundo queria
ter!
E o dia parece me reservar ainda mais surpresas inesquecíveis. Max, sem que eu
soubesse, contratou a banda Il Divo para cantar uma canção que fez parte de
nossa história...
A banda começa a tocar e ele desce e me toma em seus braços, levando meu
corpo com canção Sortilégio de amor.
— Você se lembrou? — Digo, eufórica.
— Como me esqueceria? Se quando a ouvi pela primeira vez, tinha você em
meus braços depois de amá-la, ouvi de seus lábios o quanto me amava?
Em outra vida, devo ter sido muito boazinha para merecer um homem como
Max.
À nossa volta, Sophia dança com Sean e Alexia agarrada a Aidan, mantém seus
olhos fechados deixando a canção falar pelo momento.
A festa segue animada e depois de cortar o bolo, levantar brindes que mais uma
vez, me fizeram chorar e jogar o meu buque às solteiras de plantão é chegada a
hora de nos despedirmos e curtir a nossa primeira noite de casados. Max
reservou uma bela suíte em um dos melhores hotéis de Malibu, na manhã
seguinte, partiremos para a Índia.
Em nossa suíte, após fechar a porta, meu lindo marido agarrado a mim, sussurra
em meu ouvido.
— Quero fazer um brinde só nosso! Espere só um segundo, por favor! — Afasta
e pega uma garrafa de champanhe que estava em um balde com gelo. Abre-a e
serve o espumante em taças. Antes de entregar uma delas a mim, ele escolhe
uma música do sistema de som do hotel e a voz de Ticiano
Ferro cantando Imbranato deixa o nosso momento mais romântico. Outra de
nossas canções favoritas e carregada de nossa história para um dia ser lembrada.
Com a taça na mão, brinda ao nosso passado, presente e futuro juntos. Sorve o
líquido devagar e nesse momento, retira a bebida de minha mão e a coloca sobre
um móvel qualquer. Toma minha boca num beijo apaixonado e com o gosto de
champanhe enrosco minha língua na sua, deixando-me com mais desejo ainda.
Me puxa de modo brusco e meu corpo se choca com o dele sentindo toda sua
excitação sob as roupas que nos separam.
Toca em meus cabelos e seus dedos penetram por entre eles, soltando meu
penteado, fazendo-os caírem sobre meus ombros.
— Prefiro assim ... — O azul de seus olhos brilha ao olhar para os meus, em
seguida, descem para minha boca. — Soltos... — Suas mãos tocam a alça de
meu vestido e as descem de modo lento e provocativo. Minha pele fica sensível
ao sentir as pontas de seus dedos pairarem sobre o zíper em minhas costas.
Tiro seu paletó e o atiro ao chão, a seguir é a vez da gravata. Já fizemos amor
inúmeras vezes, porém essa noite tudo é especial. A camisa também se junta às
demais peças espalhadas pelo chão.
Max me vira me mantendo de costas para ele e assim meu vestido desce pelo
meu corpo, caindo aos meus pés. Segurando em seu pescoço por trás, sua boca
macia desliza pelo meu pescoço. Os pelos macios de seu tórax roçam em minhas
costas no mesmo instante que o cheiro de seu perfume invadem minhas narinas
me deixando louca de desejo.
A música continua tocando e sou embalada com seu corpo colado ao meu. Suas
mãos espalmam meu seios deixando meus mamilos sensíveis e entumecidos, no
mesmo instante que ele sussurra a estrofe da canção em meu ouvido, seguido de
leves mordidas no lóbulo de minha orelha.
“Desculpe, sabe, se tento insistir
Me torno insuportável, eu sou
Mas te amo, te amo, te amo
É engraçado, tudo bem, é antiquado, mas te amo”
— Max... — Agora sua mão audaciosa invade minha calcinha e seu dedo médio
desliza sobre o meu sexo excitado, molhado e extremamente ansioso por ele.
— Diga o que você quer, minha delegada... — Cada palavra sua sai de modo
rouco em forma de gemido.
— Você... — Gemo.
Vira meu corpo, pegando uma de minhas mãos e a coloca sobre sua ereção.
— Sou todo seu...
Abro sua calça e sem pudor, meus dedos agarram seu membro quente e excitado
fazendo-o grunhir com meu toque.
Max me empurra para a cama e se livra do restante de suas roupas e se deita
sobre mim, se esfregando de modo despudorado entre minhas pernas, sua mão
puxa meus cabelos mantendo meu pescoço livre para sua boca que passeia com
sua língua audaciosa até chegar aos meus seios túrgidos e híper sensíveis.
Com mão livre, me despe deixando nossos corpos livres e em contato com o
outro. Antes que ele diga ou faça qualquer coisa, seguro seu membro em minha
mão, e sem tirar meus olhos dos seus, arqueio meus quadris e deixo que ele me
penetre todinha. Chego a arfar com a satisfação de sentir-me preenchida por ele.
— Dany...
Segura em minha cintura com suas mãos fortes e tenta comandar o ritmo, porém
o domino e busco nosso prazer aumentando os movimentos dos meus quadris e
arrancando um gemido alto de sua garganta. Quero que seja intenso, voraz, cheio
de luxúria e selvagem. E ao beijar sua boca e o provoca-lo com minha língua,
Max me dá o que quero e cada metida sua me lança ao abismo maravilhoso que
é o orgasmo. Flexiono meus quadris e o levo comigo arranhando de leve suas
costas ao ouvir seu gemido dizendo meu nome.
Ergue seu lindo rosto e sorri com malícia.
— Você é que me deixou sem fôlego, meu amor!
Beija meus lábios bem de leve.
— Adorei saber que posso fazer isso com você! — Falo, em tom de deboche.
Sério, arqueia as sobrancelhas e dispara.
— Você nem imagina o que pode fazer comigo, Dany. Me tem em suas mãos
para fazer o que quiser de mim! Eu a amo sem medidas!
Toco seu rosto e fico sem palavras para uma declaração tão comovente como
essa. Max quer me ver chorando novamente, só pode.
— Agora, realmente, fiquei sem fôlego, meu amor!
Me deito sobre ele e roço meu nariz no seu.
— Farei com você o mesmo que fez comigo! Me fez sentir a cada dia mais
amada e é isso o que terá de mim, Max!
Depois dessas palavras, meu marido me deixa novamente sem fôlego...
Em Nova Iorque — por Bárbara
Sentada em minha cama, olho a enorme foto na seção da coluna social de New
York Times. A manchete de meia página anuncia o casamento dos noivos em
Malibu. Cerimônia será para parentes e amigos muito próximos. Noto o brilho e
sorriso no olhar de Max. Esse sorriso já foi meu, mas olhando mais
detalhadamente há uma diferença. Ele olha para Dani com algo mais. Há leveza
e força em sua expressão.
Danielly o olha da mesma maneira e não posso ser medíocre ao negar que ela
realmente o ama. Resumindo, fui apaixonada por um homem que se casou com
uma maria-ninguém chamada Sophia e troquei o homem que me daria o mundo
por nada. O tempo passou e quem saiu perdendo fui eu!
Tola!
Agora, é desejar sorte a Max! Que ele seja muito feliz com uma mulher que o
ame como eu nunca consegui amar!
Felicidade em dobro!
Por Sophia
O primeiro Natal após o nascimento de Thomas foi recheado de uma noite
maravilhosa com todos da família reunidos em uma linda Ceia de Natal. O frio
lá fora era cortante e os flocos de neve caíam insistentemente deixando tudo
branco em contraste com as inúmeras luzes coloridas de nosso jardim.
Estávamos muito felizes, recheado de paz e uma tranquilidade incomum.
Harry fez um lindo discurso sobre a união em família e, ao redor da enorme
árvore de Natal, ouvimos suas lindas palavras. Claire, linda como sempre, o
olhava com muito amor. Fico pensando quanto tempo ela não teve que esperar
para poder viver ao lado dele. Sean e eu sabemos o que cada frase de Harry
significou. Toda a nossa família conseguiu atravessar os momentos mais difíceis
graças ao amor e respeito que temos um pelo outro.
Momentos depois, ao redor de uma mesa farta, somos risos, brindes de eterna
felicidade e lágrimas de muitas alegrias.
Alexia, ao ver Harry discursando, parecia uma menina vendo o Papai Noel. Seus
olhos grandes brilhavam e se encheram de lágrimas, que ele mesmo fez questão
de enxugar ao abraça-la e depois dessa demonstração de carinho, minha cunhada
—irmã anunciou que andava muito emotiva, porque mais um Mackenzie estava
a caminho.
Saber que seria tia me deixou muito feliz, porém Alexia queria muito mais e
com isso, anunciou durante a abertura de presentes que eu seria a madrinha de
seu bebê. Esse foi um dos presentes de Natal mais lindos que alguém já me deu.
Ficam ainda a nos dever sobrinhos, Dany e Lay. Elas fazem negativas com a
cabeça quando eu e Angelina a intimamos pela chegada de mais babys.
Nessa noite, todos deveriam estar alegres como eu, mas infelizmente, sei que
milhares de pessoas nesse momento, não têm a mesma sorte. Algumas choram
em algum leito de hospital por sua grave doença, umas choram a perda de um
ente querido que a deixou na mais triste solidão. E outras e mais especiais,
aquelas que desacreditam que essa época seja especial, pois vivem em tamanha
miséria e se acham esquecidas de Deus. Se Sean chegar à Casa Branca, essa será
a minha luta. Quero trabalhar intensamente por aqueles invisíveis e esquecidos
de toda a sociedade, pois um dia estive entre eles e o destino me brindou com
uma nova vida cercada de tudo o que jamais sonhei de bom.
Sentada ao meu lado à mesa, Marcella me olha com um sorriso terno e estende
sua mão. Ao segurar meus dedos entre os seus, sua velha mão cansada transmite
calor e mais uma vez, ela me agradece por permitir fazer parte da minha vida.
Vicenzo também resolve dizer algumas palavras. Sua voz firme e carregada de
força me faz pensar em como o admiro. Casou-se com Sarah, em uma cerimônia
muito íntima em seu apartamento e noto que a companhia da esposa fez muito
bem a ele. Meu eterno herói. Amá-lo é pouco, eu o adoro e quando acaba de nos
desejar boas festas, saio de meu lugar e ao ficar perto do meu velho Vicenzo,
beijo forte sua bochecha e ele sorri ficando com o rosto vermelho.
É hora de posar para as fotos. Sean ajeita a câmera e corre para ficar ao meu
lado. Essa noite, ficará gravada não somente nos vídeos engraçados que fizemos
e muito menos nas inúmeras fotos que foram tiradas. Permanecerá intacta dentro
do meu eu e jamais será arrancada de mim. Temos amor, carinho, amizade,
fidelidade, sinceridade e muita, mas muita fé no viver. Cada um presente nessa
foto, carrega a sua história e nesse momento as nossas vidas se cruzam em um
momento único.
[...]
Elijah, filho de Alexia nasceu em julho. Ela e Aidan não podiam estar mais
felizes. Claro que sendo mãe, Alexia sempre nos surpreende. Desajeitada como
ela só, deixa a encargo do pai coruja muitas das tarefas com meu lindo afilhado.
[...]
No primeiro aniversário de Thomas, resolvemos fazer uma festa muito pequena,
pelo simples fato de que ele ainda é muito pequeno para entender o que
realmente está acontecendo. Não posso deixar de mencionar que Harry e
Vicenzo continuaram na disputa de melhor avô.
Minha arara favorita logo me dará o segundo sobrinho, aliás sobrinha.

Lorenzo é todo cuidadoso com ela e estamos todos ansiosos para a chegada de
Gabriella. Agora, só falta a nossa delegada resolver fazer seu pedido à cegonha!
Faltando exatamente um ano para as eleições presidenciais, Sean e sua equipe
começam o difícil trabalho de campanha. Minha residência se transformou num
horrendo QG político e muitas vezes, acabo dormindo e não vejo quando meu
marido entra no quarto. Essa jornada de visitas aos estados, apertos de mãos e
sorrisos é muito cansativa. Sem falar na imprensa lhe tirando a privacidade a
todo instante. Tento proteger Thomas o máximo possível e sei que Sean também
não gosta dessa exposição toda.
Estamos ainda em agosto. Minha agenda se torna ainda mais apertada. Conciliar
a vida de mãe com a de futura primeira-dama, parece ser fácil, mas engana-se
quem pensa assim. Sabe aqueles dias em que você mal se deita e ao abrir os
olhos já é hora de se levantar? É assim a minha rotina.
Hoje, faz quinze dias que Sean foi para o oeste do país e a saudade aperta a cada
instante. Sem ser exagerada e já sendo, fico imaginando se eleito for, terei que
marcar horário para podermos ficar juntos, pois confesso que está difícil
reservarmos um tempo só nosso para um programa a dois. Recebo uma
mensagem de meu marido, me dando uma boa notícia: Volta ainda essa noite
para Nova Iorque. Brincando no tapete da sala com Thomas e suas pecinhas de
montar, sorrio para os seus grandes olhos azuis e digo:
— Papai chega hoje!! — Pego-o em meu colo e beijo suas bochechas rosadas.
— E nada de querer ficar acordado, viu? Mamãe tem assuntos muito importantes
para tratar com seu pai!
Meu menino sorri me mostrando seus poucos e lindos dentinhos. Como se ele
entendesse o a que me refiro. Acho que não tenho os miolos no lugar.
Todas as noites, sem exceção, conto uma pequena história para Thomas. Sei que
ele ainda é muito novinho, mas quero que ele guarde em seu subconsciente os
lindos contos infantis e que deles retire a melhor parte, o fundo moral de tudo
isso e os use no decorrer de sua vida. Coçando os olhinhos, coloco-o em sua
cama, beijo-o várias vezes, asseguro mais uma vez que o amo muito e antes de
fechar seus olhos, toca meu rosto com sua pequena mãozinha e sorri. Apago a
luz do quarto e encosto a porta.
Tomo um banho relaxante e coloco um roupão. Olho no relógio e constato que
são duas da manhã. E nada de Sean Mackenzie.
Me dirijo para a cozinha e ao olhar para a janela, vejo ao longe o portão que dá
acesso aos fundos da casa se abrir e dois carros entram em alta velocidade.
Ele chegou!! Ouço sua voz conversando e dispensando os seguranças que
viajaram com ele. Espero que ele entre pela porta da garagem e saio da cozinha
ao seu encontro, pois não consigo esperar que ele entre tamanha a saudade que
estou sentindo.
De costas, ele ajusta o controle e as senhas da garagem.


Ao se virar, chego a engolir em seco ao ver seu rosto com a barba crescida e um
olhar que não preciso descrições para entender o que significa.
— Bem-vindo, Excelência, estava morta de saudade... — Caminho até ele bem
devagar. Seus olhos recaem sobre a abertura de meu roupão que deixa à mostra a
curvatura de um de meus seios. Me sinto como se estive numa espécie de cio,
louca para ser possuída por meu marido, ali, lindo me desejando com os seus
olhos.
— Estava? Não está mais? — Segura em minha cintura e respiro profundamente,
aspirando seu cheiro. Madeira e Sean. Roço meu rosto em sua pele e ele segura
em minha nuca, atacando minha boca com muito desejo. Imito seu gesto e
segurando seu pescoço com minhas mãos, puxando-o mais para mim,
arrancando de sua boca um gemido tão gostoso que estremece meu corpo
todinho. — Contei os segundos do aeroporto até aqui... louco de saudade... —
Suas mãos descem por minha coluna e apertam meus quadris de encontro à sua
ereção.
— Vamos para nossa cama? — Digo num murmuro carregado de desejo.
Num movimento rápido, ele me encosta no carro e se esfrega todo em mim, me
fazendo gemer também. Estamos tão sedentos que o quarto terá que esperar.
— Nossa cama terá que esperar, Soph!! — Abre meu roupão e o deixa cair em
meus pés. Sua boca quente juntamente com os pelos de sua barba roça por minha
pele sensível e desejosa por cada toque vindo dele. Ao engolir meu seio e passar
sua língua macia em meu mamilo deixando-o duro, meu ventre se contrai e sinto
meu sexo latejar ansiosa para ser preenchida por ele.
— Sean, as câmeras estão ligadas... — Passa para o outro seio e ao ouvir minhas
palavras me encara. O azul dos seus olhos brilha e ele me responde com um
sorriso indecente acompanhado de uma malícia somente sua.
— Senti seu perfume antes mesmo que você chegasse até mim! — Passa sua
língua em meu lábio inferior, em seguida o suga devagar. — O que acha que eu
estava fazendo com aquele controle na mão?
Ele desligou as câmeras da garagem.
Safado, que adoro!
Tiro seu paletó e com sua ajuda arranco sua camisa, deixando seu tórax livre
para minhas mãos, unhas e boca. Arranho suas costas ao sentir que ele prende
meu mamilo entre seus dentes e puxa me fazendo arfar de desejo. Sobe com a
mão direita por minhas coxas e abre os lábios extremamente úmidos de meu
sexo com seus dedos mais que habilidosos. Ele sabe me levar à loucura somente
com pequenos toques.
— Gostosa... — Penetra seu dedo em mim e estoca devagar. — Minha Soph...
— Arranha sua barba por meu pescoço deixando um rastro de pura luxúria em
minha pele. Seu dedo me deixa com mais tesão e então, clamo por ele.
— Sean, por favor!!
Ouço o barulho de seu cinto sendo aberto. Ele abaixa sua calça e vejo seu
membro duro e louco por mim.
E prensada em nosso carro, ele ergue uma de minhas pernas e a coloca ao redor
de sua cintura.
Antes de me penetrar, coloca a cabeça de seu pau em minha entrada e se esfrega
todo em mim, me lubrificando ainda mais. Me faz encará-lo e avança sobre
minha boca, me devorando com seus lábios e minha resposta mais que imediata
é remexer os meus quadris em desespero. Se ele não me penetrar, vou gritar
nessa garagem.
Sentindo minha urgência, penetra sua língua em minha boca ao mesmo tempo
que seu membro desliza para dentro de mim.
— Ohh, Sean... — Arqueio meus quadris e rebolo como louca, absorvendo cada
sensação que seu corpo me proporciona.
Aperta minha bunda e aumenta seu ritmo, estocando cada vez mais fundo. Seu
gemido grave é como um afrodisíaco para mim. A cada investida, ondas muito
fortes de prazer atingem meu corpo.
Nunca cometemos tal loucura, transar em plena garagem. Confesso que estou
adorando cada segundo.
— Estava louco para fazer amor com você! — Segura-me com um de seus
braços e com o outro livre, aperta meus seios com força. — Foder você todinha e
ouvir seu gemido rouco, minha Soph!
Mordo de leve seu pescoço quando meu clímax me atinge. Gemo, grito e ele
continua a meter como um louco em mim.
— Goza para mim. — Minha boca corre por sua orelha e em seu ouvido digo
coisas sacanas que o deixam mais aceso ainda, como se isso fosse possível.
— Soph... — Sinto quando seu membro se contrai e ele goza dentro de mim.
Encostado em meu ombro, todo suado, ele ergue seu rosto e beija meus lábios de
leve.
— Agora, sim! Podemos ir para nossa cama.
Ainda dentro de mim e com sua boca colada à minha, digo:
— Olha que promessa é dívida!
Com um sorriso torto, sai de dentro de mim e ergue sua calça, em seguida, fecha
meu roupão, me erguendo em seus braços.
— Adoro cumprir cada promessa que faço a você, minha eleitora preferida!
Me dá uma piscada que estremeço.
Entre beijos e carícias chegamos ao nosso quarto e meu senador cumpre mais
uma de suas promessas.
Momentos depois, acordo e não o encontro ao meu lado. Ele está no quarto de
Thomas. Deve estar com ele em seu colo, tenho certeza. É sua rotina quando
volta de viagem, já me acostumei.
Mesmo sendo sacrificante não ter Sean ao meu lado todos os dias ultimamente,
sei que cada minuto ao seu lado é algo precioso e inesquecível.
Dois meses depois...
Durante uma visita que fizemos ao estado de Ohio, em uma convenção, tive que
me retirar quando Sean discursava. Acho que andei comendo algo que não devia
e meu estômago reclamou durante quase toda a solenidade. Damon, nosso
segurança, me acompanhou até a sacada do local, eu precisava de ar e respirei
fundo várias vezes para não acabar vomitando ali.
Ao terminar seu discurso, Sean se aproxima preocupado e mesmo contra a
minha vontade, ele me faz voltar para o hotel, pois o pior já havia passado e
pretendia ficar com ele até o final.
Ao voltarmos para Nova Iorque, dias depois, sou novamente acometida por esse
mesmo mal-estar e na cozinha do apartamento de meu pai, Angelina me olha
torto, enquanto corto uma maçã para oferecer a Thomas que corre de Vicenzo
num pega-pega em plena cozinha.
— Nina, será que só eu que percebi que você está grávida novamente?
Angelina só pode ter caído de algum trem e ter batido com a cabeça.
— Fofa, dessa vez, você está redondamente enganada.
— Redonda, pode ser, mas enganada, nunca! — Para de bater seu bolo e ergue a
colher de pau. Nesse instante, Sean adentra a cozinha e ela para de falar.
Ele sai e ela ainda vai até a porta para se assegurar que não poderá nos ouvir.
— Angelina, estou tomando pílulas, sem chance de ser gravidez.
— Bato uma aposta com você, pílulas falham minha querida! Foi assim que tive
Charles, meu segundo filho.
E não é que Angelina tinha razão? Após dar um grito no banheiro ao ver a faixa
azul gritante num exame de farmácia, acabei me conformando. Estou novamente
grávida e há pouco tempo das eleições. Não tinha planos para me tornar mãe
novamente e meu medo era de que Sean ficasse chateado ao receber a notícia.
Como sempre, ele me surpreendeu e me mostrou o marido maravilhoso que é.
Não só amou saber que será pai, como me fez prometer que teremos um time de
polo em casa,
Uma semana de fortes enjoos e acabo marcando uma consulta com minha
médica, Dra. Virgínia. Sean cancelou um compromisso só para me acompanhar.
Durante o ultrassom, meu marido olhava atento para o monitor e ao ouvir da
médica que seriam dois bebês, achei que ele quebrar minha mão ao apertá-la tão
forte, em sinal de alegria.
No caminho para casa, ele não falava em outra coisa que não fosse nossos
gêmeos e na certeza um pouco machista de que seriam mais dois meninos.
— Amor, pode estar errado, e se forem duas meninas?
— Tenho certeza de que serão dois meninos, porque se forem meninas, eu vou
surtar. Não quero nem pensar, eu Sean, sendo pai de duas garotas.
— Ora, por que?
Não imaginava que meu marido fosse tão ciumento no quesito filhas.
E surtando ou não, dois meses mais tarde, descobrimos que Sean e eu seremos
pais de gêmeas!
Felicidade em dobro!!
Meu presidente — Parte I
Por Sean
Deitado ao lado do corpo de Sophia enquanto ela, com seus dedos, brinca com
uma mecha de meu cabelo, fecho meus olhos e me delicio com esse simples
toque.
— Sean...
— Hum, que foi meu amor?
Minhas mãos fazem contornos circulares em seu colo e descem pela sua pequena
barriga de quatro meses.
Abro bem os meus olhos e busco seu olhar que me sorri.
— Agora que sabemos que serão duas meninas, temos que escolher o nome para
nossas filhas.
Ergo meu pescoço e fico bem próximo à sua boca.
— Saiba que ainda estou digerindo a ideia! Se quando Lexi nasceu fui um irmão
ciumento, imagino pai de duas meninas? Você ficará viúva, Sophia, pode ter
certeza, não chegarei aos cinquenta anos!
Então, seu sorriso denuncia o quanto demonstro a minha insegurança paternal e
possessiva. O sorriso de minha mulher com suas lindas covinhas ainda me abala
como se eu o visse pela primeira vez.
— Deixe de besteiras, Sean!
— Acha que estou brincando? Já me imaginei de cabelos brancos de tanto ciúme
dessas duas. Como o mundo dá voltas!
— Por que diz isso?
— Quando começamos a namorar, achava que seu pai era um porre, hoje
confesso que mudei meu conceito. Ele tinha toda razão. Serei mil vezes pior que
ele.
— Seu bobo! Ciumento ou não, será um excelente pai. — Beija a ponta do meu
nariz.
Arqueio minhas sobrancelhas e minha boca roça em seu maxilar, subindo e
descendo do queixo até sua orelha. Sophia solta um gemido e acaricia os
músculos de minhas costas, apertando minha pele.
— A culpa é da garagem! — Com ar divertido, sua voz rouca é uma das coisas
que mais gosto.
Quem solta uma gargalhada sou eu.
— Não seja por isso, se chegarmos à Casa Branca, teremos muitos cômodos para
colocarmos a culpa.
— Com isso, está querendo me dizer que quer ter mais filhos, senador?
Meus lábios prendem o lóbulo de sua orelha e sinto que ela se contorce quando
minha língua percorre essa região.
— Sim, meu time masculino está em desfalque, estamos em menor número.
Quero mais um menino!
— E se vier mais uma menina?
Me encaixo entre suas coxas e beijo sua boca demonstrando o quanto ela é
essencial para mim.
— Quantas garagens teria a Casa Branca? — Brinco.
— Não tenho a mínima ideia, meu amor!
Rimos juntos.
— Louise. — Digo, mudando de assunto e sem entender a que me refiro,
aguarda minha conclusão. — Gostaria que uma delas se chamasse Louise. Era o
nome de mãe de Harry, minha avó paterna.
— Lindo nome. Perfeito.
Sua vez de dizer sua escolha.
— Valentina, que acha?
— Não gostei. — Rebato.
— Anne. — Espera minha opinião.
— Negativo.
— Hum... Deixe-me pensar. — Faz uma cara séria, ela vai fazer piada. —
Exigente, você, hein? — Diz de modo travesso. — Carlota Joaquina??
— Muito lindo, mas também não serve. — Digo, segurando meu riso.
— Ah, pensei que gostaria desse!
— Outro, sem brincadeiras!
— Victoria. — Diz, como se fizesse uma grande descoberta.
— Gostei. Victoria é bonito.
— Tinha pensado em homenageá-lo, mas mudei de ideia. Seanzinha ia ficar
lindo. — Ri, como boba de seu próprio comentário.
— Nossa, me senti lisonjeado agora. — Faço cócegas em suas costelas e ela se
encolhe toda perante às gargalhadas! — Seanzinha, é?
— Chega, Sean!! Por favor... — Seus olhos estão lacrimejantes devido aos risos
e ela chega a suspirar quando cesso minha tortura.
— Adoro fazer isso em você!
Delicadamente, meu polegar enxuga uma lágrima que se formou em seus lindos
olhos.
— Sou tão feliz ao seu lado, Sophia, você nem imagina o quanto!
— Sinto a mesma coisa. Se fosse voltar no tempo, faria tudo da mesma forma,
exceto roubá-lo!
Aperto-a em meus braços e respondo.
— Eu faria muito melhor.
Sophia me olha intrigada.
— Naquela boate, quando vi seus olhos negros me observando, deixaria aquela
mulher que me acompanhava e me aproximaria de você de outra maneira...
— Ah, é? Me diga como? — Diz, curiosa.
— Mesmo me achando um louco e correndo o risco de levar outro tapa no rosto,
diria que num futuro não muito distante, você seria a mulher pela qual quebraria
qualquer regra e que, eu a amaria profundamente mais do que a mim.
Seus olhos se estreitam e ela se emociona. Seus lindos cabelos negros
espalhados sobre o travesseiro emolduram a pele branca de seu rosto perfeito e a
deixam excepcionalmente linda.
— Muito original, meu senador, mas acho que não acreditaria em você!
— Saiba que estaria sendo sincero como nunca fui.
Sorri e prende meu lábio inferior entre seus dentes.
— Mas, confesso que seu convite indecente e safado também deu certo.
— Certo? Levei o primeiro tapa na cara! Que mão pesada, Sra. Mackenzie!
— Sim, claro que deu certo, muito certo. — Seu corpo se esfrega no meu, me
deixando mais excitado. — A partir daquele dia, não parei um só minuto de
pensar em você. Foi seu primeiro tapa e também o primeiro homem a me deixar
sem defesa alguma. E agora, estamos juntos, começando certo ou não, você é o
homem da minha vida.
Mesmo que Sophia repita essa frase mil vezes ela sempre terá um impacto em
minha alma. Ser o homem de sua vida é a coisa mais relevante da minha.
— E você a eterna mulher da minha!
— Então, me mostre!
Beija meu pescoço, enquanto suas mãos correm pelo meu corpo até encontrar
meu membro duro e louco por ela.
— Com todo prazer!
Por Alexia
Minha vida tomou um rumo totalmente novo após a chegada de Elijah. Meu
filho se tornou o centro do meu mundo, a essência vital de minha existência. Ser
mãe me fez analisar conceitos antes muito antiquados e que hoje acabei
acatando-os como base para a educação de meu menino.
Faltando apenas um mês para as eleições, resolvi dar a Aidan um presente. Algo
inesperado e imaterial. Uma renúncia pelo amor que sinto por ele e tudo que o
nosso amor representa. Estaria abrindo mão dos meus sonhos por ele.
Absolutamente. Minha decisão foi além de colocar qualquer um de nós em
primeiro lugar. Pelo contrário, encontrei um meio plausível para realizar meu
sonho e por meio de um consenso, contribuir para que Aidan também alcance o
seu objetivo sem ter que fazer concessões e malabarismos para chegar até lá.
O que mais me deixa feliz é que meu marido nem imagina o que o tenho
guardado para essa noite.
Ao sairmos de mãos dadas até a garagem, sinto sua apreensão. E essa sua
decisão de colocar a minha vontade sobre tudo é que me fez retroceder faltando
apenas dois dias para o meu livro ser encaminhado para a impressão.
Sorrio ao lembrar a cara de espanto da chefe da editora ao ouvir minha decisão.
Discutimos e cheguei a dizer: é isso ou cancele a publicação.
E chegando a um acordo, mudei o título e as cenas de sexo foram todas
adequadas a algo mais leve e nada comprometedor.
A caminho do local onde será o lançamento, me sinto feliz porque sei o quanto
meu marido irá se sentir. O farei especial como ele me faz sentir exclusiva.
A livraria fica repleta de amigos, conhecidos e alguns críticos literários que
resolveram aparecer para enaltecer ou quem sabe banalizar e detonar o meu
trabalho.
Sophia chega ao lado de Sean e a euforia toma conta dos repórteres. Eles se
tornaram o casal favorito da América e nas pesquisas, meu irmão lidera
incondicionalmente. Quando chegam até mim, Sophia me beija no rosto e me
felicita e, em seguida, o delicioso abraço mais que apertado de meu amado
irmão.
Papai veio com Claire e circula com ela exalando alegria. Estamos na melhor
maré de nossas vidas e todos os dias agradeço aos céus por termos finalmente a
paz para continuarmos assim.
Max e Dany chegam atrasados para posarmos para as fotos em família. Faço
questão de que todos apareçam na foto. Nem precisamos do famoso "x" quando
o fotógrafo dispara sua câmera.
Ao abrir e folhear meu livro meu marido se surpreende ao ver que todo o
conteúdo foi mudado e que há uma enorme dedicatória aos dois homens de
minha vida. Ele e Elijah.
Seus olhos exprimem exatamente o que eu esperava. Amor, cumplicidade e
gratidão. Aidan percebe o quanto meu amor vai além de uma coisa egocêntrica
chamada fama. Como autora consegui provar que posso escrever sobre o amor
sem prejudicar ou inibir a quem amo imensamente.
— Alexia! Você mudou tudo? Por que?
— Porque quero estar ao seu lado, ajudando a construir algo muito maior do que
provar que sei escrever sobre sexo. O amor que senti quando me apoiou
independentemente do que poderá ocorrer nas eleições me fez pensar que seu
sonho pode ser conciliado com o meu. Eu o amo muito, Aidan!
— Eu a amo demais, Lexi!
Segura-me em seus braços e me beija perante todos. Recebemos aplausos e
assobios principalmente de Sean, o único que sabia de minha decisão.
Autografo o seu exemplar e depois de agradecer aos presentes e autografar
vários outros livros, circulamos para receber os cumprimentos. Pisco para minha
amada cunhada-irmã que com sua sensatez me fez enxergar que a vida é isso:
viver sem medo!
Momentos mais tarde, em nosso apartamento, Aidan e eu brindamos nossa noite,
é claro, com champanhe e muito sexo. E essa noite foi para mim a mais
completa e feliz de muitas vividas.
Por Sophia
Como era esperado, Sean venceu disparado nas urnas e também atingiu a
maioria dos votos nos colégios eleitorais do país. Estou feliz por fazer parte do
seu grande sonho que é contribuir para uma América mais humana. Com Willy e
Aidan também eleitos, essa tarefa de realmente fazer algo para mudar a triste
situação de muitos se torna acessível.
Alexia de braços dados com Aidan irradia alegria. Ela me olha e sorri me
mandando beijos. Assim como eu, ela optou por apoiar seu marido em tempo
integral e pela sua cara não se arrependeu.
Trajando um vestido e um casaco rosa bebê, cabelos presos num coque
sofisticado e sapatos Channel permaneço logo atrás de Sean e segurando firme a
mão de Thomas. Ele ainda é muito pequeno para entender a dimensão de tudo à
sua volta, porém seus olhos azuis como os do pai brilham ao ver Sean
agradecendo os votos no salão de convenções do partido. Muitas eleitores
vieram para se juntar à festa. Cartazes, camisetas, faixas são erguidas e o nome
de Sean é dito em um coro uníssono. Ele pega o microfone e nesse momento,
assume uma personalidade diferente. O Sean político, de poucas risadas e de
palavras diretas e objetivas. De costas para mim, ele inicia o seu discurso de
agradecimento citando um outro presidente muito popular na história da política
americana: John Kennedy. Ele cita o seu mais famoso discurso:
“Compatriotas: não perguntem o que seu país pode fazer por vocês,
perguntem o que você fazer por seu país. Concidadãos do mundo: não
perguntem o que os Estados Unidos podem fazer por vocês, e sim o que
podemos fazer juntos pela liberdade do ser humano'.
E a partir dessa frase continua:
“É por essa América que vamos lutar juntos, não só o presidente, mas cada
americano que sonha com um país melhor e mais justo. Faremos o impossível
para que aqueles que confiaram em meu trabalho não se arrependam disto.
“Quero agradecer a todos que compareceram e aos que trabalharam
intensamente nessa campanha.”
Vejo Joseph no canto do palco. Seus olhos brilham tanto que parecem ter luz
própria. É visível sua admiração por Sean. No outro canto, está Harry.
Aplaudindo sem parar, ele transmite toda a sua alegria ao ver a realização de um
grande sonho se concretizando.
“E também quero agradecer à pessoa mais importante nessa campanha. Sem
ela, sem sua força, incentivo e participação ativa com certeza eu não estaria
aqui hoje comemorando com vocês.”
Ele se vira para mim e estende a sua mão. Estou nervosa, pois ainda não me
acostumei com plateia e multidões. Sean pega Thomas no colo e ao meu lado,
agradece o apoio incondicional de toda a sua família. Beija de leve meus lábios e
mais aplausos ressoam no ambiente.
Foi uma noite cansativa, cercadas de fotógrafos, jornalistas e abraços que nem
sei de onde vinham, mas foi uma noite feliz. Willy se aproxima e diz:
— No jantar de posse, farei uma surpresa a você, Soph!
— Veja lá o que tem em mente, agora sou a primeira dama! — Digo em tom de
zombaria.
Ele se encolhe, fingindo medo.
— Seu vestido verde-água lembra?
— Ah, Willy! — Digo, emocionada.
— Primeira dama para quem não a conhece! Para mim, minha eterna amiga com
cara de princesa!
Estende seus braços e me aperta entre eles.
— Meus parabéns, Chuckie! Estou muito feliz que tenha conseguido chegar ao
senado. E mesmo que o vestido que me der me faça parecer um botijão de gás
verde-água, vou adorar usá-lo!
— Obrigado, Sophia, mas sozinho eu não chegaria! Aquele filho da mãe. —
Aponta para Sean que conversa com Harry, Joseph e outros homens que não faço
ideia de quem sejam. — Ele me ajudou e muito, me ensinando como conseguiria
meu respeito dentro do partido e pessoas importantes que irão nos apoiar no
futuro com nosso projeto de campanha.
Tem como não amar Sean a ponto de idolatra-lo?
Meu pai me liga me parabenizando. Ele não quis participar dessa festa achou
melhor ver tudo pela TV, no apartamento de Lorenzo. Sei o quanto ele detesta
multidões. Lorenzo também fala um pouco comigo e ouço ao fundo a minha
arara e sua ararinha Gabriella na maior festa.
Despeço dos meus amores e me junto aos demais para comemorarmos a vitória
de Sean.
Dois meses depois — Jantar de posse na Casa Branca
Por Richard
Ela estava simplesmente maravilhosa. De braços dados com Sean, distribuiu seu
lindo sorriso e radiante como sempre, Sophia estava feliz.
Fiquei feliz pela vitória de Sean, pois sempre soube de sua vontade de chegar até
aqui. No fundo, ele poderia ser dono do universo se quisesse, isso pouco me
importaria. Ele tem algo que jamais terei. O amor de Sophia.
Bebo meu champanhe e o olhar de Patrícia, hoje minha esposa, me faz sorrir.
Sou apaixonado por ela, nossa relação é tranquila e me sinto muito bem ao seu
lado, porém, muitas vezes, me acho indigno do seu amor.
Patrícia chegou em uma boa hora e com seu jeito meigo e divertido, me deu um
pouco de vida que eu nem mais sabia que existia. Só que, lá no fundo do meu eu,
ainda habita o amor por essa mulher que circula estonteante mesmo em sua
enorme barriga de gestante.
Seria errado sentir inveja de Sean? Sim, completamente errado e contra meus
princípios. E não é esse o sentimento que cultivo.
Amar Sophia me faz ir além do egoísmo de tê-la comigo e, sim querer que ela
seja muito feliz ao lado de quem a ama. Se me perguntarem se sofro em silêncio,
a resposta é não. Já sofri o bastante e agora canalizei esse sentimento e cheguei a
uma conclusão: Ela jamais me amaria como ama o marido. Quem a vê ao lado
dele e de seu filho sabe que é impossível invadir esse espaço. Então, vim a esse
jantar para vê-la pela última vez e dar meu adeus à essa mulher linda e
maravilhosa que pude conhecer. Parto, com minha esposa e filha, para Suíça e lá
faremos nossa nova morada. E espero que a distância faça seu papel e apague
esse sentimento que carrego em meu peito.
Ela se aproxima de minha mesa de mãos dadas com Sean e cumprimenta minha
esposa primeiro. A seguir, ela me abraça e a parabenizo pela vitória e também
pelas bebês. Cumprimento nosso presidente e após trocarmos algumas palavras,
eles se despedem e passam para outra mesa.
Na hora da tradicional valsa, tento disfarçar a minha emoção ao ver a mulher dos
meus sonhos sendo a mulher dos sonhos de outro.
Vicenzo aparece do nada e toca em meu ombro.
— A maior virtude de um homem é saber quando o intocável não está ao seu
alcance. — Pisca para mim como se lesse minha mente. — Admiro seu caráter,
Richard e espero que o que sente por Nina o abandone e assim possa viver em
paz com Patrícia.
— Obrigado, sócio.
Ele me abraça e depois junta meu rosto em suas mãos.
— Para qualquer lugar que vá, saiba que aqui, nesse país, você tem um eterno
amigo. Conte comigo sempre!
As palavras do velho Vicenzo me deixam emocionado. Sempre nos demos muito
bem e nada abalou a nossa amizade. Sentirei sua falta.
Momentos depois, chamo minha esposa e vamos para um hotel. Deitado ao lado
de Patrícia, me aconchego em seu corpo e ela, como sempre, me dá um sorriso
carregado de amor que espero um dia retribuir na mesma intensidade.
Por Sean — dias depois...
Uma gaivota faz seu voo rasante e sincronizado sobre o mar. Caminho pela areia
branca e o sol no alto do céu, faz com que minha sombra me acompanhe. O
vento é morno e ar é tranquilo. Ando mais alguns metros e a sensação de andar
descalço pela areia molhada me relaxa.
Ao longe, sobre algumas rochas, uma silhueta muito conhecida aos meus olhos
permanece a observar o movimento das ondas. Ela ajeita seus cabelos revoltos
pelo vento se virando para mim e aquele velho sorriso que tanto admirei está de
volta. Ela estende sua mão para que eu sente ao seu lado.
— Sabia que você viria, meu filho!
Beatrice parece mais jovem. Toda aquela aparência perturbada e infeliz
desapareceu.
Não sei o que dizer à ela, mas me sinto feliz e aliviado por saber que ela está
bem.
— Mãe!!
Ao seu lado, a primeira coisa que ela faz é tocar meu rosto e me beijar como
sempre fazia. Seus olhos brilham pela alegria e pelas lágrimas que se formam
ali.
Tento dizer algo e ela toca meus lábios me silenciando.
— Obrigada! Seu amor me libertou de tudo, meu filho. Graças a você, estou
liberta e livre de toda a angústia e tomento que vivia em mim. — Ela olha para o
horizonte e sorri. — Sabe, meu filho, agradeço a Deus por ter tido o privilégio de
ser sua mãe. O melhor filho, marido e pai que eu conheci. Eu o amarei sempre,
meu menino!
Toco seu rosto e desato em lágrimas.
— Não chore! Meus parabéns pela sua vitória. Mostre o que você é capaz de
fazer pelo bem de todos e deixe seu nome marcado na história. Sempre soube
que chegaria longe.
— Obrigado. Você me ensinou muitas coisas. — Digo, quase sem fala pelo
choro engasgado em minha garganta.
— Devia ter lhe ensinado mais. — Sua voz é calma, a mesma ela se dirigia a
mim com carinho.
Ela se levanta e atira uma pequena pedra ao mar.
— Diga à Sophia que Thomas é lindo como o pai. — Afasta seus cabelos do
rosto e completa. — E que ela ganhou meu respeito como nora favorita. Ela o
fez feliz e por isso a admiro, agora tenho que ir.
Desce das pedras e a chamo.
— Espere, tenho tantas coisas para dizer e a emoção não me deixa! Eu a amo
tanto!
Minha mãe balança a cabeça em negativa e me rebate sorrindo.
— Não precisa dizer nada, só o seu amor e seu olhar ao me ver me bastam, meu
filho! Seja muito feliz!
Joga-me um beijo e desaparece.
Acordo num sobressalto e suando muito.
Sophia dorme tranquila ao meu lado e não quero acorda-la. Esfrego a mão em
meu rosto e esse sonho me fez bem. Acordei aliviado e feliz! Pela janela de
nosso quarto, olho para o jardim e penso nas palavras de Beatrice. Farei o meu
melhor como presidente, marido e pai!
Meu Presidente — Final
Por Sean
Aperto meus olhos para afastar o cansaço. Olho para a minha mesa e ainda tenho
inúmeros documentos para serem despachados. São quase nove horas da noite e
nem imagino quanto tempo irei levar até que possa estar junto de minha família.
Essa é a dura rotina de um chefe de estado. Tempo escasso e privado de passar
mais tempo com meu filho e minha Soph.
Paro por alguns instantes e contemplo as várias fotos de Sophia com nosso filho
e também alguns retratos mais antigos dos nossos momentos juntos. Sorrio e
pego uma dentre elas. Estávamos em Aruba, em nossa lua de mel.
Nossa vida depois que assumi a presidência teve uma mudança radical. Minha
agenda é extremamente apertada, reuniões, pautas a serem acertadas e viagens
ao exterior. Minha esposa não reclama, porém sei que não foi essa vida que ela
sonhava para nós dois. Temos tomado muitas precauções e medidas que prezem
a nossa privacidade. Eu, muito menos ela, gostamos de ter nossa vida privada
remexida e divulgada em revistas e jornais sensacionalistas. Nossa segurança foi
estritamente redobrada e cada passo nosso é monitorado. É uma vida de
sacrifícios que vista de fora tem uma imagem distorcida de alguém que vive uma
vida dispendiosa e fácil. No Senado, minha responsabilidade era grande, todavia
meu tempo não era escasso e muito menos cronometrado. Não haviam tantos
seguranças e assessores me dizendo por onde ir e o que fazer.
Espero governar com prudência, responsabilidade e competência e que meus
filhos, no futuro, tenham orgulho de mim. Que todo esse sacrifício valha a pena.
Sophia se mostra incansável e otimista com o nosso projeto de apoio aos
menores abandonados e moradores que vivem nas ruas. Com o apoio do
congresso e também da iniciativa privada conseguimos a verba necessária para
os investimentos em massa. Iremos construir centros de reabilitação direcionado
a esse contingente e faremos o possível para dar à essas pessoas total apoio para
que saiam da invisibilidade e tenham esperança no futuro.
Uma hora mais tarde, saio de meu gabinete e me dirijo aos aposentos
presidenciais. Abro a porta da sala muito devagar e paro por alguns segundos a
observar minha esposa com sua enorme barriga de oito meses, linda, com
Thomas em seu colo alisando seu rosto e a enchendo de beijos. Ela desvia o
olhar para a porta e me vê.
— Olha quem chegou!! — Grita a Thomas que pega um carrinho que estava no
sofá e desce rapidamente do colo da mãe e corre até mim.
— O que o senhor faz acordado a essa hora, posso saber? — Digo, erguendo-o
no ar.
Ele sorri com ar de travessura e roça seu pequeno nariz no meu.
— Papai! — Beijo seu rosto e aperto-o forte em meus braços. Nossa semelhança
é impressionante, é como se eu me visse criança novamente. Ele é um menino
muito inteligente para sua idade. Carinhoso, educado e alegre ao extremo. —
Carrinho! — Me mostra seu carrinho novo.
— Esse é ainda mais bonito que o azul! Amanhã é sábado e poderemos brincar
com esse carrão, que acha?
Abre seu melhor sorriso e aperta meu pescoço, ele adora quando brincamos
juntos.
Ando até Sophia que se encontra em pé sorrindo para mim.
— Estávamos lhe esperando, meu amor!
Beijo de leve sua boca e suspiro.
— Desculpe-me. Pensei que ia amanhecer naquele gabinete.
Ela toca meu rosto e suas mãos macias e somente esse pequeno me faz um bem
enorme.
Depois de colocar Thomas para dormir e tomar meu banho, meu cansaço dá um
trégua. Ajoelhada em nossa cama, Sophia aperta meus ombros numa deliciosa
massagem relaxante e conversamos sobre nosso projeto e também sobre onde
passaremos nossas férias de verão.
Durmo agarrado ao seu corpo, aspirando o delicioso e familiar perfume que vem
de seus cabelos. Minha mão pousa em sua barriga e minhas meninas se mexem
lá dentro. Logo, elas estarão conosco nos deixando mais felizes ainda.
— Eu amo vocês! — Beijo a cabeça de Sophia.
Bem lentamente, ela se vira para mim. Seus lindos olhos sonolentos se abrem
com dificuldade.
— E nós também o amamos muito, Sean!
— Não queria acordá-la. — Aconchego-me mais em seu corpo e vejo que ela
sorri.
— Adoro quando faz isso. — Vira seu pescoço e sua boca toca a minha. Eu a
desejo tanto e no momento não posso ter o que quero: Meu corpo dentro do seu!
— Tocar minha barriga e dizer o quanto nos ama. Agora, senhor presidente,
sugiro que durma! Amanhã é sábado e você será só nosso e de mais ninguém!!
Corre o contorno de meu rosto com a ponta de seus dedos, passando-os
lentamente por minha testa, nariz, queixo e quando faz o contorno de minha
boca não tira seus olhos dos meus.
— Tem razão, então, por gentileza, pode acatar uma ordem presidencial? —
Estreito meus olhos, respirando fundo ao tentar afastar o desejo que me assola.
Enlaça seus dedos nos meus e os leva aos seus lábios.
— Claro, sempre, Excelência!
— Evite me olhar desse jeito. Seu presidente está morrendo de saudade do seu
corpo. E sei que temos muito tempo antes que eu possa realizar minha vontade,
senhora primeira dama.
Sua boca se abre num enorme sorriso.
— Prometo manter meus olhos fechados! — Fecha seus olhos bem apertados de
modo travesso.
E instantes depois, durmo profundamente agarrado à minha Soph.
[...]
No dia primeiro de março, Louise e Victoria chegaram ao mundo. E exatamente
nesse dia, estava em uma conferência na ONU quando um de meus assessores
me avisa que Sophia deu entrada no hospital da capital. Pior de tudo, foi ter que
esperar a conferência chegar ao fim para poder me dirigir ao encontro das
minhas filhas e de minha mulher.
Quando cheguei em frente ao hospital, haviam muitos repórteres e fotógrafos
ávidos por qualquer notícia ou imagem que pudessem divulgar. Cercado por
seguranças, os jornalistas queriam informações que nem eu mesmo poderia dar.
Sendo o mais educado possível, parei por um instante, respondendo alguns
perguntas para a satisfação da imprensa.
Seguindo algumas de minhas ordens, assessoria presidencial cuidou de tudo e
nada seria veiculado sem a nossa permissão.
Ando pelos corredores ainda cercado de seguranças. O que era para ser um
momento íntimo de um pai ansioso, se torna um evento presidencial como se
minhas filhas pertencessem aos Estados Unidos e não a mim. Cruzo com pessoas
desconhecidas pelo hospital que me parabenizam com sorrisos e outras
simplesmente com um olhar de alegria. A enfermeira chefe do setor neonatal me
encaminha até o berçário. Ela me estende uma roupa adequada e permite
somente a minha entrada. Damon e o restante dos homens ficam à espreita do
lado de fora. Chego perto do berço e lá estão as duas.
Minhas princesas. Impossível não sentir emoção com um momento como esse.
Quebrando qualquer regra, peço à uma enfermeira para que me ajude a coloca-
las em meus braços. Tudo se repete, aquele mesmo sentimento quando segurei
Thomas em meus braços pela primeira vez. E mesmo sem jeito, quando olho
para as duas, abaixo minha cabeça e beijo uma, depois a outra. Nesse momento,
não importam os choros noturnos, as cólicas, as fraldas e todo o trabalho que um
bebê nos traz e sim, o amor incondicional que sinto ao segurá-las junto de mim.
Elas são lindas e minhas. Por mais pacífico e civilizado que eu seja, pelos meus
filhos me torno selvagem e agressivo, não permitindo que nada, nem um
arranhão sequer os atinja. Beijo mais uma vez cada uma delas e com a ajuda da
enfermeira, elas voltam para o berço. Minha boca não se fecha pelo estado de
alegria em que me encontro. Toco o rostinho de Louise e, em seguida, o de
Victoria e sussurro baixinho.
“Papai ama vocês, agora, vou ver como está a mamãe!”
Saio do setor e me dirijo ao quarto de Sophia. Na porta, dois policiais federais
montam guarda. Ao me verem, abrem espaço para que eu possa entrar. Devagar,
giro a maçaneta e a encontro dormindo profundamente. Gostaria de ter estado
com ela durante o parto, infelizmente não pude e, o que mais me faz feliz é saber
que mesmo me querendo ao seu lado e sabendo de minha impossibilidade,
Sophia me compreende e põe a minha obrigação como presidente acima de tudo.
Sento-me na beira da cama e paro por alguns segundos contemplando seu rosto
abatido. Minha Soph, tão forte, tão autêntica. Eu a amo tanto como jamais
imaginei que pudesse. Desde que me dei conta disso, minha existência só faz
sentido ao seu lado.
Meus dedos tocam em uma mecha de seus cabelos e seus olhos, de repente, se
abrem devagar.
— Sean... — Se mexe tentando se sentar e eu a impeço. Obtive informações de
que seu parto não foi tão tranquilo como o de Thomas.
— Não se esforce, por favor, minha querida! — Com a mão espalmada em seu
rosto, vejo que ela fecha os olhos para que eu continue a tocá-la. — Me desculpe
pela demora, queria muito estar com você!
Seus olhos negros me encaram com um brilho único e o que ela me diz em
resposta me deixa sem chão.
— Não se desculpe! Você esteve comigo o tempo todo, bem aqui! — Pega
minha mão a coloca em seu peito. — E assim, nunca me sinto sozinha enquanto
você viver dentro de mim, Sean!
— Soph... — Emocionado, cubro seus lábios com os meus e a beijo com muito
amor. — Minha Soph!
— Sempre, sua! Eu o amo muito, em quaisquer circunstâncias, senhor
presidente! — Fala em tom de brincadeira para não acabar em lágrimas.
— Elas são lindas!
— Ah, dessa vez, puxaram a mãe, acertei?
— Sou suspeito para falar, onde estaria Angelina? — Fecho meu cenho e espero
sua resposta contraditória, porém, ela nada diz e sua risada rouca ecoa pelo
quarto e abre minha alma extremamente feliz.
Na manhã seguinte, levo minha rainha juntamente com minhas duas princesas
para casa, onde meu príncipe Thomas as aguarda com muita euforia.
Por Sophia
A chegada das minhas duas meninas transformou nossas vidas como diz a linda
e eternizada canção de Edith Piaf “La vie in rose” (A vida em rosa). Sean, mais
coruja ainda, agora conta com a ajuda de um mascote muito eficaz, nosso
Thomas. Mesmo muito pequeno, ele se impõe no papel de irmão mais velho e
não somente me ajuda a cuidar das duas como demonstra que, como Sean,
espreitará cada passo que elas derem.
Falar de minhas bonecas sem sorrir é impossível. Louise e Vitória deram ainda
mais alegria às nossas vidas e não sei descrever qual das duas tem o sorriso mais
lindo. Elas são quase idênticas, os olhos azuis do pai e cabelos escuros iguais aos
meus. Louise é mais manhosa e Victoria um pouco mais independente.
Por inúmeras vezes, tive que repreender Sean pelo simples fato de que ele adora
morder a bochecha de Louise só para vê-la fazendo carinha de choro.
Sean e eu continuamos a adotar a política de privacidade para nossos filhos,
porém nas poucas vezes em que são vistos, fotografados ou até mesmo filmados
sabemos até que ponto podemos expô-los. Em uma dessas aparições em público,
onde Sean participou de uma maratona beneficente, Thomas estava ao meu lado
juntamente com suas irmãs. A imprensa e a população presentes foram ao delírio
quando viram Sean com as filhas em seu colo.
Mesmo contrariada por toda a exposição, não posso evitar que as pessoas
queiram nos ver. Parece que viramos mitos e todos ao nosso redor nos veneram.
Se o que Sean me prometeu for cumprido, ele não irá entrar na disputa para
reeleição. Encerrará seu mandato e somente cuidará dos negócios da família.
Disse também que prefere estar presente a cada dia junto de nossos filhos e
vendo-os crescer e se continuar na carreira política isso será impossível. Nesse
caso, não achei nenhuma razão para discordar, se é o que ele realmente deseja e
não posso negar que fiquei muito feliz com a sua decisão.
Disse também, que continuará ajudando incansavelmente nos projetos de fundo
social. Portanto, nada de reeleição! Sean apoiará Willy e dedicaremos nosso
tempo à nossa família.
No aniversário de um ano das gêmeas, a rixa entre Harry e meu pai ainda
continua ativa. Eles inventam mil coisas e fazem mil comparações para
chegarem a um consenso de quem é o melhor avô. Mesmo vivendo distante dos
tios e avós quando se encontram a festa é garantida.
Gabriella, filha de Lorenzo e Elijah, meu afilhado, correm com Thomas pelo
jardim. Olho para eles e sorrio. Felizes, livres e isentos de qualquer preocupação.
Tem melhor fase que a infância?
Danielly se aproxima com sua barriga de sete meses. Já não era sem tempo!
Alexia e eu a infernizamos tanto para que ela entrasse para o clube das que não
tem mais hora para dormir e muito menos para acordar que Dany acabou
aderindo a ideia.
— Mas isso de não ter hora para acordar é ótimo! Não entendo porque vocês
reclamam! — Disse Dany com cara de deboche, na época.
Alexia que não deixou passar nada em branco, rebateu.
— Minha querida, não ter hora para acordar não significa dormir até babar no
travesseiro, pelo contrário, não temos hora para acordar literalmente. A qualquer
minuto, vem o choro ou uma voz gritando: Mãããeeeee! Simples, delegada!
Lembre-se sempre do seu treinamento na polícia! É quase a mesma coisa, só
falta o som da corneta.
— Sophia, assim acabo desistindo de vez! — Disse Dany.
— Que nada, vai querer sentir aquele ser tão indefeso em seus braços e de uma
inocência tamanha que lhe ele ama mesmo sem saber quem você é. — Rebato.
— Seus defeitos e mágoas não lhe fazem a mínima diferença. Então, mesmo que
você esteja morta de sono ou até mesmo louca para ter uma noite daquelas com
seu marido e ouve um choro repentino, você corre para acolher o seu filho e
recebe por recompensa um olhar imaculado e o mais lindo sorriso que você já
viu! Isso vale a pena, te garanto.
Minhas palavras fizeram algum efeito, Nicholas chega daqui a dois meses. E
Danielly ficou uma grávida linda.
Após um ano de implantação de nosso projeto, recebi uma homenagem de
centenas de internos que hoje, tem um lugar acolhedor, educação, esporte e arte.
Tudo inspecionado diretamente por mim. Ninguém melhor que uma ex garota de
rua para ficar à frente de um trabalho que lida com pessoas que passaram por
isso.
Ao receber de uma menina de 10 anos um ramalhete de flores acompanhado de
um sorriso ainda receoso, a abracei forte com o rosto banhado em lágrimas. E
para onde quer que meus olhos se dirigissem eram esses mesmos sorrisos de
gratidão que meu olhar encontrava. No final, indiretamente, eu fui a Vicenzo
Salvatore dessas meninas e meninos.
Thomas também tomou parte da homenagem o que deixou Sean surpreso e
emocionado.
No último ano do mandato de meu marido, durante uma viagem oficial de Sean
à Inglaterra, tive uma ideia mais do que maluca para poder comemorar seu
aniversário mesmo estando tão longe. Primeiro, tentei fazer isso pela porta da
frente, de maneira civilizada e oficial. Liguei para ele, pela manhã, e claro que
meu plano oficial foi pelo ralo. Ele não só me impediu de ir ao seu encontro
como ainda acabamos discutindo ao telefone. Cheguei a usar muitos argumentos,
até um leilão de Rubens, na Sotheby's entrou na conversa. Nada adiantou.
— Tudo bem. — Digo, em tom inconformado. — É o terceiro aniversário seu
que passamos separados. Queria algo diferente esse ano, Sean!
— Quando eu chegar a gente comemora, Sophia! — Solta taxativo e sem chance
de ceder.
— Tenho uma surpresa! — Uso minha última argumentação.
— Soph, chego um dia depois de meu aniversário, poderá fazer qualquer
surpresa que quiser.
Não é a mesma coisa. Dessa vez, quero lhe dar um presente bem inusitado, além
do susto que irá levar ao me ver dentro do seu quarto na embaixada.
Uma coisa que Sean deveria ter como regra: Nunca discuta ou tente mudar a
opinião de uma mulher teimosa.
Se ele não aceitou minha ideia de me encontrar com ele em Londres e lhe fazer
uma surpresa em seu aniversário, paciência. Irei assim mesmo. Claro que terei
que contar com a ajuda de Damon e de Fred (o chefe da segurança do FBI). Ele é
um homem muito difícil de ser convencido, porém sem esses dois não
conseguirei meu intuito maluco.
Com Damon a coisa foi fácil. Expliquei a ele o que precisava ser feito e depois
de repassar tudo o que eu tinha em mente, ele acabou concordando, porém com
Fred tive que usar de muito mais persuasão e no final acabei conseguindo.
Damon ficou na capital cuidando de minha e da segurança de meus filhos. Fred
acompanhou Sean e toda a sua comitiva nessa viagem de mais de dez dias.
Até gostaria de levar meus filhos comigo, mas receio que o pai delas pode não
achar legal e nos despachar em uma gaiola para a América. E como vou e volto
no dia seguinte, se tudo der certo é claro, eles ficarão com a nossa babá de
confiança, Geórgia.
Na véspera de seu aniversário eu já tinha tudo pronto e esquematizado. Saí de
Washington, às oito da manhã, com a maior discrição e nem mesmo alguns
assessores de Sean que permaneceram em Washington notaram a minha
ausência. Ter sido ladra, nesse caso, me ajudou e muito. Harry mesmo me
achando uma maluca e sorrindo ao telefone, me apoiou e ofereceu sua aeronave
para completar a minha surpresa. Só tenho a agradecer por ter dois pais malucos
e que me amam. Harry é um pai-sogro maravilhoso.
Dentro do avião, fecho meus olhos e tento dormir um pouco. A viagem ocorreu
tranquila e ao pousar no aeroporto de Londres e descer as escadas usando lentes
de contato e uma peruca ruiva me senti como se estivesse em um filme de
espionagem. Não posso ser reconhecida.
“Ah, Sophia, nunca deixarei de ser boba.”
Há um carro com motorista me esperando, tudo arranjado por Harry. Dentro do
veículo, ligo meu celular e faltam exatamente cinco minutos para meia-noite, ou
seja, poucos minutos para o aniversário de Sean. Em meu celular há cinco
ligações perdidas do Excelentíssimo e resolvo ligar de volta para saber se ele já
sabe que não estou em Nova Iorque.
— Boa noite, meu querido!
— Onde você esteve o dia todo? — Não me dá chances de responder e continua
com um tom de voz nada amistoso.
— Sai às compras e depois resolvi ir até a casa de Alexia. Os funcionários e os
seguranças não lhe avisaram?
— Sim, mas por que não atendeu minhas ligações?
— Meu celular está com problemas, aqui não tem nenhuma ligação sua. —
Minto, descaradamente.
Respira fundo e ouço quando cubos de gelo se chocam uns nos outros. A essa
hora, ele já deve estar em seu quarto com sua dose de uísque. Essa imagem
projetada em meu consciente faz meu corpo se inquietar.
— Pois trate de providenciar outro e jogue essa merda no lixo!
— Sim. — Fica em silêncio. Ele fica uma fera quando não consegue se
comunicar comigo. — Irei cuidar disso amanhã! Queria ser a primeira a lhe
desejar felicidades, já que não pude estar ao seu lado em seu aniversário como
pretendia.
Posso sentir sua expressão de riso do outro lado.
— Obrigado, meu amor. Estou com muita saudade! Que tal me esperar da última
vez?
— Pensarei seriamente em seu pedido. — Mudo de assunto, acabo de entrar na
Embaixada e caminhando pelos fundos, olho tudo atentamente. Com a ajuda de
Fred, ando rápido pelos inúmeros corredores. Claro que não posso travar uma
conversa erótica com meu marido nesse momento. — E seu encontro com o
Primeiro-ministro, como foi?
Ele percebe meu corte e novamente o barulho de um cubo gelo, dessa vez, o
mesmo se encontra em sua boca. Minha vontade era poder pegar esse gelo com
minha língua.
— Melhor do que eu esperava. Acabei de chegar de um jantar. Meu dia foi muito
corrido. Vou tomar um banho e em seguida, eu te ligo, ok?
Ainda chateado pelo corte, resolve se mostrar frio também. Pensa que não o
conheço.
— Sem problemas. Eu espero sua ligação. — Entro em um quarto anexo ao de
Sean, onde segundo Fred há uma passagem secreta que dá acesso direto aos seus
aposentos. Sinto aquele delicioso friozinho na barriga perante a expectativa de
poder ver meu Sean. Fred me deixa a sós no quarto e sai. Então, resolvo
provocar meu marido um pouquinho. — Se eu estivesse com você nesse banho,
enxugaria cada gota d'água em seu corpo com minha língua, Excelência!
Ouço o afrouxar de sua gravata.
— Não faça isso comigo, Soph! Me deixar de pau duro é muita maldade.
— Ai que delícia, imagine ele, duro na minha boca gulosa. — Sua respiração se
altera e a minha também. — O chuparia todinho, meu amor! — Ainda bem que
nossos celulares possuem anti-grampo, do contrário ...
— E eu foderia sua boca sem piedade, depois meteria gostoso em sua boceta
toda molhada e quente.
— Amor, tenho que desligar! — Corto nosso clima para dar continuidade ao
meu plano absurdo de uma surpresa ao meu aniversariante.
— Não!! — Diz, imperioso com sua voz carregada de desejo, como uma
deliciosa promessa de uma tórrida noite de amor. — Não me deixe assim, vai?
— Eu te amo, tome seu banho e depois me ligue. As meninas estão me
chamando.
— Mande um beijo à elas e a Thomas. Ligo em quinze minutos, não ouse não
atender minha ligação!
Me despeço e corro para o banheiro. Quero tomar um banho e estar linda para
meu marido. Minutos depois, ele retorna a ligação e propositadamente deixo o
celular no modo silencioso.
Após várias outras ligações, recebo uma mensagem furiosa dele:
“Obrigado! Não me atender foi o melhor presente de aniversário que você já
me deu. Conseguiu se vingar por eu não permitir sua vinda a Londres,
portanto só me resta dormir! Tenha uma boa noite! Volto para casa, logo
pela manhã.
Ps.: Você sabe ser irritante, às vezes.
Sean”
Ficou mesmo nervoso.
De acordo com meus planos, voltaremos juntos, meu amor.
Aguardo mais alguns instantes e vestida para matar, coloco uma máscara para
completar meu fetiche. Apago a luz de meu quarto e abro o compartimento
secreto que dá acesso à suíte presidencial. Com uma garrafa de champanhe nas
mãos, ando a passos lentos e precisos pela sala escura. Propositadamente,
derrubo um objeto na esperança de que Sean apareça. Sento-me em uma das
poltronas e ouço seus passos vindo diretamente para a sala. Para minha surpresa
e deleite, ele aparece usando somente uma calca preta de pijama e uma arma
engatilhada nas mãos. Acendo a luz do abajur antes que ele resolva atirar em
mim.
A máscara negra cobre todo meu rosto, impossibilitando-o que me reconheça.
— Quem é você? — Aponta a arma sem hesitar. — Nem um passo ou estouro
seus miolos!!
Adorei isso. Se soubesse que seria tão excitante teria realizado essa fantasia
muito antes.
— Se queria me matar realmente, nem precisava dessa arma, sua aparência me
causou um dano enorme, Excelência!
Mesmo com pouca luz, posso ver o espanto em seus olhos ao reconhecer a
minha voz.
— Sophia??
Ele desengatilha a arma com elegância e maestria e até esse gesto me deixa mais
excitada.
— Ora! — Descruzo minhas pernas e seus olhos fazem uma escalada muito
interessante em todo meu corpo. — Espantado? Não me diga que estava
esperando por alguma inglesa atirada?
Levanto-me devagar e retiro a máscara revelando meu rosto cheio de saudade e
desejo. Sean caminha até mim e me puxa para seus braços.
— Sabe muito bem que não há nenhuma outra mulher na minha vida! — Suas
mãos correm pelas minhas costas e eu retribuo seu gesto, correndo meus dedos
sobre seu tórax divino. — Quase a matei, nessa brincadeira, sabia, senhora
Mackenzie? — Sua boca esmaga meus lábios e sua língua macia me faz gemer
ao explorar cada canto de minha boca. Segurando meu pescoço com força, nosso
beijo se encaixa de modo perfeito enquanto sua outra mão habilidosa desata o
laço de meu casaco, deixando-me nua em sua frente.
— Hum... Não me diga que viajou assim? — A pele áspera de seu rosto devido a
sua barba que começa a despontar, faz meu pescoço ficar todo sensível por onde
ele passa. Sua mão aperta meu seio sensível e carente ao seu toque. Meus
mamilos estão inchados e doloridos esperando somente as carícias
enlouquecedoras que somente a boca experiente de Sean que sabem como,
quando me tocar e me enlouquecer de prazer.
— Não! — Respondo num gemido ao sentir sua boca correndo por todo meu
colo. — fique tranquilo. Isso é somente para você! — Morde meu lábio e em
seguida corre sua língua em minha boca sedenta por ele. — Não vai me mandar
embora, vai?
Me lança um sorriso perversamente erótico e me seus dedos se encaixam no
meio de minhas pernas. Meu sexo molhado esperava por isso e quando ele toca
em meu clitóris, uma contração atinge meu ventre e minha reação é esfregar
meus quadris para tentar aliviar esse prazer intenso que seus dedos provocam em
mim.
Minha mão atrevida desce por seu abdômen tão bem talhado e invadindo sua
calca, aperto seu membro quente e duro entre meus dedos. Gemendo, arqueia os
quadris e me incita a continuar tocando-o.
Fecho os olhos ao sentir sua boca engolido meu mamilo e sugando-o com a
língua numa carícia de bambear minhas pernas. Gemo alto e insisto para que
continue. Para me deixar mais ansiosa por ele, desce meu corpo com sua boca e
quase me faz perder o equilíbrio ao jogar uma de minhas pernas sobre seu ombro
e nesse instante, sua boca assume o comando e me lambe de modo voraz.
— Era isso que você queria? — Fala entre gemidos e sucções que fazem meu
corpo se encolher.
Sean é como uma bebida destilada. Quanto mais envelhecida, melhor. Me
embriaga, entorpece e me deixa totalmente viciada e dependente do seu corpo.
— Era... continue ... assim... — Me esfrego deliberadamente em sua boca de
forma despudorada e sentindo meu sexo inflamado e prestes a explodir em um
orgasmo intenso, Sean me joga no sofá, arranca sua calça e encaixado entre
minhas pernas me penetra com força.
— Ah, Sophia! — Seus quadris se movem de modo intenso e eu o acompanho
fazendo cada investida se tornar ainda mais profunda e prazerosamente sexy. Ele
se move com a graça e dominação de um animal feroz sobre sua fêmea, nesse
caso, eu.
Como se não bastasse sentir toda essa intensidade, Sean usa seu polegar e o
rodeia em meu clitóris no mesmo instante que sua boca busca minha, prendendo
minha língua na sua. Era o que me faltava. Era o empurrão que faltava para que
eu despencasse num abismo de prazer intenso. Gozo apertando seu corpo,
trazendo-o ainda mais para mim. Meu sexo pulsa e ao mesmo tempo, ouço-o
gemer e sussurrar em meu ouvido de modo devasso fazendo meu corpo querê-lo
novamente.
— Adoro quando sua boceta aperta meu pau, toda gulosa... — Avança com mais
força — Vem comigo, quero gozar sentindo seu gemido quando gozar de novo
em meu pau.
Ele remexe seu quadril de modo profundo e intensamente devasso, enquanto sua
boca desliza sobre meu ouvido e pescoço. Em seguida, estoca de modo frenético
e me faz atingir um segundo orgasmo. De olhos semiabertos, vejo-o se perdendo
em meu corpo.
Suados e agarrados um ao outro no sofá, Sean permanece com a boca colada em
minha testa, totalmente ofegante.
— Quer dizer que a senhora Mackenzie entrou furtivamente na Embaixada?
Voltando aos velhos tempos de ladra, minha esposa? — Ele diz brincalhão, na
certeza de que a surpresa acabou aqui.
Não resisto ao seu comentário e gargalho alto.
— Senti saudade de quando um certo alguém me chamou de ladra maldita e me
deu o meu primeiro beijo com paixão. — Meus olhos grudam nos seus.
— Minha maldita e única ladra. Roubou-me para si eternamente. — Arqueia
suas sobrancelhas e me dá um sorriso torto com suas sobrancelhas arqueadas em
um semblante que me deixa mais apaixonada. — Eu a amo, amo, amo. Um
milhão de vezes, amo!
— Eu também o amo eterna e incondicionalmente, Sean.
Cobre seu corpo com o meu e me encara sorrindo.
— Não vejo a hora de poder curtir minha família. Faremos uma longa viagem
eu, você, Thomas e as meninas.
Pigarreio e roço meu nariz no seu.
— Esqueci de lhe dar seu presente, meu amor!
— ??
Pego sua mão direita e a coloco sobre meu ventre.
— Bem aqui, a minha surpresa para você!
Seus lindos olhos azuis reluzem de alegria e ele me beija de um jeito só seu.
— Sophia, estou muito feliz!
Olho-o intrigada e digo.
— E se vierem mais duas meninas, Excelência?
Me olha com cara de menino. Sean fica lindo assim.
— Se forem meninas, dessa vez, a culpa foi da biblioteca da Casa Branca.
Rimos juntos e de repente, me encara de modo sério.
— Um milhão de vez! — Beija de leve meu lábio, com a voz carregada de uma
promessa que jamais será quebrada.
— Eternamente!
[...]
Dessa vez, não botamos a culpa em nenhum cômodo. Sentada na varanda de
nossa casa de verão, acaricio minha barriga e olho para Sean que brinca de bola
com nossos filhos.
— Está vendo, Heitor? Logo, você conhecerá o pai mais incrível desse mundo!
Sean me olha e me joga um beijo e as crianças avançam sobre ele derrubando-o
no gramado. Chego à uma conclusão: felicidade em excesso não mata!
Epílogo
Por Sophia
Nossa vida, agora mais calma após o término do mandato de presidente de Sean
segue a normalidade de qualquer outra família feliz. Ele, juntamente com Max,
cuida dos negócios da família e Alexia decidiu por acompanhar Aidan em sua
vida política. Por sua vez, após o nascimento de meu bebê, voltarei a dar aulas
como sempre quis. No momento, sou mulher e mãe dedicada em tempo integral.
Durante esse tempo, todos meus queridos familiares seguem sua vida na mais
perfeita harmonia e tranquilidade.
Vicenzo e Sarah continuam casados e vão muito bem. Ela continua a trabalhar
como chefe de cerimonial e ele mantém seu café firme e forte.
Lorenzo, meu amado irmão, mudou de profissão. Deixou o escritório no centro
da cidade e, agora, trabalha para a Agência Nacional de Inteligência dos Estados
Unidos. Seu conhecimento em invasão de sistemas de segurança teve algum
proveito.
Lay, minha arara favorita, continua na perícia da polícia. Os dois continuam
muito apaixonados e Gabriella, minha sobrinha, é o xodó da família.
Harry tomou uma decisão que nos pegou de surpresa e causou espanto em todos.
Decidiu dividir a sua fortuna. Ele quer desfrutar seus dias viajando pelo mundo
na companhia de Claire, alegando que já trabalhou demais e agora deixa tudo a
encargo dos seus filhos. Relutei e até mesmo hesitei em aceitar essa herança e
sob protestos, principalmente de Harry, acabei cedendo, pois segundo ele, sou
sua filha e nada mais justo que eu aceite o que me cabe por direito.
Com isso, tive uma ideia e resolvi fazer algo por uma pessoa a quem devo a
minha vida. Divido minha ideia com Sean e ele como sempre me apoiou em
tudo.
E pensando em Marcela chego à conclusão que ela me deu a maior prova de
regeneração mesmo sem que eu pedisse por isso. Como nunca gostei de
ingratidão, achei que ela merecesse sair da pequeno local em que morava na
Califórnia e viesse viver perto de sua filha e netos. Pedi que vendesse a casa em
questão e que deixasse o restante por minha conta. Relutante, minha mãe ainda
resistiu à ideia de morar em uma enorme cidade como Nova Iorque, porém
minhas duas princesas me ajudaram e muito durante minha conversa com a avó
ao telefone. As duas insistiram fazendo seu charme de neta e ela acabou
aceitando nossa oferta.
No dia em que a levei para ver o imóvel em questão, meus filhos nos
acompanharam e dentro do carro eles soltavam risos e mal disfarçavam a alegria
de ter a avó agora mais perto deles. Ao olhar pelo retrovisor e encontrar o olhos
de Thomas sorrindo, sabia que estava fazendo a coisa certa e que todos estavam
felizes com a minha decisão. Louise sentada no banco de trás, alisava o cabelo
de Marcella e lhe contava as novidades da escola.
Ao lhe entregar as chaves da casa, fazendo à ela uma surpresa, seus olhos
ficaram molhados e balançando a cabeça em sinal de um não, ela disse:
— Não posso aceitar e nem quero que pense que tenho algum interesse no que é
seu. Fui assim um dia e só me distanciei de você, quase perdendo-a para sempre.
Toco seu rosto cansado e digo enquanto deposito as chaves em suas mãos.
— Marcella, chega de pensar e se martirizar pelo que passou. Já pensou que eu
não estaria aqui se optasse por um aborto?
— Sim, mas eu a abandonei e isso me dói até hoje!
— Não pense mais nisso, por favor! Agora é hora de viver, vivermos coisas
juntas, sermos felizes de agora em diante e se Deus nos colocou juntas, com toda
certeza, Ele nos quer felizes. — Derramando lágrimas que ainda denotam
arrependimento, ela me abraça na porta principal de sua nova casa. — Nunca
mais quero falar no que passamos, entendeu? Nossa história começou no dia em
que me deu a vida novamente, se colocando na frente de Beatrice para me salvar.
— Ajeito seu cabelo que cai sobre o rosto. — Essa casa é sua e o que está
esperando para abrir essa porta, dona Marcella?
As crianças a agarraram e entramos todos grudados e aos tropeços pela nova
casa.
E a partir desse dia, nosso relacionamento se tornou ainda mais sólido e íntimo.
Tudo o que era ruim no passado, no passado deve permanecer e que venha o
futuro escrito de uma nova forma, um novo início carregado de coisas boas.
Marcella se tornou a avó mais que perfeita me surpreendendo e me fazendo
pensar como teria sido nosso convívio como mãe e filha. Meus filhos a adoram e
a respeitam muito. Sua paciência com Louise e Victoria vai além e acho que
minha mãe quer compensar tudo que poderia ter feito por mim e que por fatores
que não vem ao caso serem citados no momento, agora quer provar ser uma boa
avó e conseguiu. É óbvio que não me esqueço de minha eterna fofa. Angelina é e
sempre será indispensável em minha vida e meus filhos sabem e reconhecem o
valor fundamental que ela teve na vida de sua mãe.
[...]
Abro meus olhos lentamente, esticando meus braços num espreguiçar gostoso
após uma bela noite de sono. Domingo, acordar um pouco mais tarde é tudo de
bom.
Ao meu lado, meu príncipe moderno, dorme com o rosto colado ao travesseiro,
com a boca entreaberta e o braço envolto sobre minha barriga. Bem devagar,
meus dedos tocam de leve sua boca deslizando pelas leves linhas de expressão
existentes ali. Contorno seus lábios e sinto um arrepio gostoso ao me lembrar do
que essa boca é capaz quando desliza sobre meu corpo. Nunca me canso de olhar
para Sean e acha-lo bonito. Melhor é saber que sua beleza é ainda mais intensa
por dentro.
Estamos em maio e ainda faltam dois meses para a chegada de Heitor. Meu
primogênito e as meninas também estão ansiosos pela chegada do irmão e se
organizam entre sei sobre quem irá cuidar do bebê e qual brincadeira irão fazer,
etc. Thomas que se acha o tal por ser o mais velho, quer ditar as regras e no final
acaba sempre perdendo porque tudo eles decidem em votação e nesse caso, as
meninas sempre são a maioria. Ele ainda deixa muito claro que quando Heitor
chegar e crescer tudo irá mudar.
Ao tocar em seu ombro descoberto, Sean solta um longo suspiro, se remexe na
cama e abre seus lindos olhos.
— Não queria lhe acordar, meu amor, desculpe-me.
— Bom dia. — Com a voz rouca, abre seu lindo sorriso, tão familiar e ao mesmo
tempo sempre impactante para mim. Ele se aproxima devagar, ficando a
centímetros de minha boca despertando em mim um querer ainda imaginário de
seu corpo sobre o meu. Respiro fundo inalando seu perfume e seus braços fortes
envolvem meu corpo. — Estava acordado, deixei que se aproveitasse de mim!
— Beija minha boca de leve e desce por meu pescoço distribuindo leves
mordidas em minha pele. — Adoro ser acordado por você, sabe disso. Não ouse
pedir desculpas!
Sorrio maliciosamente.
— Hum... não me esquecerei desse detalhe, seu safado! — Gemo ao sentir seus
dentes pressionarem de leve o lóbulo de minha orelha no mesmo instante que
pressiona sua ereção em minha coxa. — Sean, temos que sair dessa cama ou já
se esqueceu de que iremos para a casa de Max? Hoje, é aniversário de Nicholas
— Ele ergue o rosto e lança-me um sorriso torto.
— Estava me esquecendo do aniversário de meu sobrinho. — Roça seu queixo
no meu. — Alguns minutos de atraso não farão diferença, meu amor! — Desce
sua mão atrevida pela lateral de meu corpo, levantando minha camisola e
escalando o interior de minhas coxas. — Não resisto a você... — Sua boca
desliza entre meus seios até tomar um de meus mamilos em sua boca. Suga bem
lentamente e, em seguida, corre sua língua e um gemido rouco rompe minha
garganta.
— Assim, fica difícil resistir, meu amor!
— Sei muito bem ser persuasivo quando quero! — Sua voz sai em meio à
lambidas e meus dedos estão enroscados em seus cabelos macios enquanto sua
boca passa para o outro seio.
— Você pode ter esquecido, mas nossos filhos não veem a hora de irem. —
Tento argumentar, louca para que ele me penetre e me faça gozar como louca.
— Eles podem esperar... — Se aproxima de minha boca e sua respiração pesada
me deixa com tesão.
— Tem toda razão, eles podem...
E como se eu dissesse alguma palavra mágica a porta do nosso quarto é aberta e
nosso clima é quebrado no instante em que as três razões de minha vida entram
como um raio subindo no colchão e se jogando aos beijos e abraços entre Sean e
eu.
Meu marido arqueia as sobrancelhas e brinca.
— Eles adivinharam, né? — Passa a mão nos cabelos e fala de modo divertido,
bem baixinho para que somente eu possa ouvi-lo. — Mais tarde, não me
esquecerei de trancar a porta.
— Mamãe! Papai! — Falam quase ao mesmo tempo. — Vamos, Nicholas está
nos esperando para uma nova brincadeira de pirata!
Amar é... Ser interrompido em um momento a dois e nunca reclamar. Você
pouco se importa com isso. Ser beijada, apertada e sentir o quanto é amada por
esse ser que saiu de dentro de você, isso sim é o que tem realmente valor. Eu os
trouxe ao mundo e ganho como recompensa um carinho e amor imensuráveis.
Victoria e Louise ainda de camisolas se deitam uma de cada lado de meu corpo
se aconchegando em meus braços. Sean puxa Thomas e o aperta fazendo
cócegas arrancando-lhe a mais deliciosa das risadas.
— Bem, vamos nos levantar e nos trocarmos, tem gente muito ansiosa para
irmos para a casa do tio Max. — Digo, tentado sair da cama.
Vários vivas ecoam pelo quarto nos deixando quase surdos.
Max e Dani se mudaram para uma casa, um lugar mais espaçoso para viverem
mais tranquilos. Danielly tomou gosto pela maternidade e grávida de cinco
meses, espera pela chegada de Clara.
Ao chegarmos, meus filhos descem rapidamente e se juntam ao restante da
criançada. Com exceção de Elijah, que mora na capital, todos os outros primos
estudam no mesmo colégio e são mais que unidos, portanto quando se juntam é
uma verdadeira festa.
No feriado de 4 de julho, nos reunimos num delicioso almoço com todos da
família. O último a chegar foi Joseph, ele se mudou para o Canadá e não o
vemos com tanta frequência. Sean o recebe calorosamente e ele se junta aos
demais para uma animada conversa.
Mais tarde, Lorenzo pega um bola de futebol e organizam um time. Foi o pior
jogo que já assisti. Todos, exceto eu, Marcella, Claire e Sarah que assistíamos
sentadas na varanda à algazarra feita na hora de dividirem os times, resolveram
entrar na brincadeira. Vicenzo e Harry eram os goleiros. Lorenzo e Sean capitães
dos seus times e Joseph, o árbitro.
Foi um show à parte. Lay jogava na defesa e já deu para imaginar o que acabou
acontecendo. Foram vários tombos e muitas risadas. Sean, aos berros,
coordenava as jogadas e eu achava a maior graça porque ele era péssimo
jogando como meio de campo. Aidan e Alexia xingavam o árbitro que ameaçava
expulsá-los do campo apontando um cartão amarelo e Max todo ponderado,
tentava apaziguar os ânimos como meio de campo.
Thomas jogou como atacante e em determinado momento ficou cara a cara com
Vicenzo, que o olhava sério para intimida-lo. Foi um lindo gol e ele me deixou
emocionada ao sair gritando pela grama, olhando em minha direção e dedicando
à mim a sua conquista acompanhada de vários beijos soltos no ar. Depois, foi a
vez de Elijah fazer outro gol e no final, o jogo acabou empatado, mas a diversão
foi garantida.
Como na minha vida, tudo é inusitado não preciso mencionar que entrei em
trabalho de parto em pleno feriado. Ao cair da tarde, senti minha primeira
contração e Lay que perde a amizade, mas nunca a piada disse:
— Dessa vez, não precisarei ameaçar Heitor com minha linda voz, não é
Sophia?
— Verdade! Thomas teve sérios problema quando recém-nascido, mal conseguia
dormir por culpa sua! — Completo. — Tadinho!
Sean me levou ao hospital e todos queriam ir junto. Foi uma loucura deliciosa. O
hospital parecia um hospício, mas no final ninguém foi preso.
Heitor Salvatore Mackenzie nasceu às 22 horas e tudo correu bem.
Agora, com a chegada de Heitor tudo ficou completo. Depois de completar seis
meses de idade, voltei à dar aulas e também continuei com meus programas
sociais juntamente com meu amigo e presidente Willy. Jamais deixarei de lutar
por aqueles que precisam e enquanto houver uma Sophia nas ruas, eu estarei lá
para oferecer a minha mão.
Na volta para casa, depois de um jantar beneficente, Sean estaciona o carro na
garagem e desliga o mesmo. Estico o braço para abrir a porta e ele me impede
colocando sua mão sobre a minha. Ao olhar em seus olhos, um calor repentino
chega mesmo que estejamos em pleno outono.
— Posso saber, sr. Mackenzie, o que tem em mente?
Aproxima-se devagar e busca meus lábios de modo faminto e desesperado, nesse
momento, suas mãos sobem por minhas pernas até chegar às minhas coxas numa
invasão luxuriosa e muito gostosa.
— Adoro garagens... — Sussurra correndo a língua em meus lábios. — E aqui,
tenho certeza de que não seremos interrompidos, sra. Mackenzie. — Seus dedos
tocam a renda de minha calcinha e afastando o tecido muito devagar geme ao
sentir meu sexo úmido e excitado.
— Mas, meu amor... — Ofegante e com muito desejo ainda tento contestar.
— Shhh... — Enfia seu dedo em mim e o gira lá dentro me fazendo contorcer de
desejo no mesmo que me toma em um beijo animalesco. — As crianças podem
esperar... Mas, eu não... — Coloca minha mão sobre sua calça e sinto seu
membro duro. Aperto-o em meus dedos, fazendo-o gemer e fechando os meus
olhos me deixo levar por esse momento maluco e único que meu marido me
proporciona. — Nunca transamos dentro de um carro, lembra? — Morde meu
pescoço, enquanto inclina meu banco cobrindo meu corpo com o seu.
Em resposta, mordo seu queixo e concluo.
— Tem razão, para tudo há sempre uma primeira vez...
Sean solta seu sorriso delicioso carregado de malícia e assim transformamos
uma transa dentro de um carro em algo muito especial.
Momentos mais tarde, entramos devagar como adolescentes que não querem ser
pegos em flagrante e conferimos se nossos filhos estão bem.
E agora, tenho certeza de que todos sabem como sou feliz ao lado de minha
família e amigos.
— Sophia Salvatore Mackenzie, a mulher mais feliz que já imaginei conhecer!
Prazer, sua sortuda! — Pisco para meu reflexo no espelho e digo a mim mesma
com olhos brilhando de alegria após um maravilhoso banho com meu marido.
Apago a luz do banheiro e me junto ao meu amado, na esperança de muitos dias
como esse...
Fim

Você também pode gostar