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CONTEÚDO EXCLUSIVO

REGGIO EMILIA
O modelo italiano de Educação Infantil que é referência no mundo todo.

INTRODUÇÃO
Quando convivemos mais tempo com as crianças pas-
samos a ter um olhar diferente sobre como elas podem
aprender. Com o desejo de tentar transformar a educa-
ção nasce e o anseio de expandir as ideias já compro-
vadas para aprendizagem na educação infantil, por isso
traremos aqui as concepções da abordagem e as práti-
cas de Reggio Emilia, e buscaremos elucidar como uma
educação voltada para as vivências e questionamentos
das crianças pode ser possível.

REGGIO EMILIA: PEQUENO


HISTÓRICO
A cidade de Reggio Emilia, localizada no norte da Itália,
começa a ser reconhecida mundialmente na década de
90, quando pesquisadores norte-americanos dão inicio
a divulgação da experiência italiana como referencia
em educação da primeira infância.

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Foi em 1991 com a edição de dezembro da revista
norte-americana Newsweek (1991, p. 50-59) que Re-
ggio Emilia ganhou destaque mundial. Em artigo
publicado pela revista, na qual listava as 10 melhores
escolas do mundo, a Escola Diana, da rede de Reggio
Emilia, foi eleita a melhor do mundo para crianças de
até seis anos.

Para entender, como teve inicio a abordagem de Re-


ggio Emilia se faz necessário contextualizar histori-
camente, partimos da Europa devastada pela Guer-
ra, foi então que um pequeno grupo de pessoas, que
pensaram em reconstruir a cidade de Reggio Emilia,
mas partindo da formação humana, pensando em es-
colas para crianças pequenas.

[...] uma espécie diferente de escola, uma que pudesse educar suas crianças de outro modo.

A ideia de aprendizagem e ensinamento focada na criança pequena de Reggio


Emilia foi sendo construída com o passar dos anos, baseada no trabalho de Lóris
Malaguzzi, com o auxílio de professores, pais e alunos.

QUEM FOI LORIS MALAGUZZI, O CRIADOR DA


ABORDAGEM REGGIO EMILIA

Loris Malaguzzi, nasceu na Itália em 1920, se formou em um curso supe-


rior de magistério em plena II Guerra e em 46 se matriculou no primei-
ro curso pós-guerra em Roma de psicologia na região conhecida como
Reggio Romana. Nessa pobre região, os cidadãos, padres e crianças co-
meçaram a coletar madeira e pedras para construir a escola. Sabendo
disso Malaguzzi, decidiu ver com seus próprios olhos e impressionado
pelo fato, acabou por ficar. A escola, foi financiada pela venda de um
tanque alemão, nove cavalos e dois caminhões militares. Esta escola fi-
cava próxima da cidade de Reggio Emilia e assim as ideias de Malaguzzi,
ficaram conhecidas como o método “Reggio Emilia”.

A sua filosofia é baseada na crença de


que as crianças são seres humanos
poderosos, cheios de desejos e ha-
bilidades que os permitem crescer e
construir o próprio conhecimento.
A criança não só tem a necessida-
de, mas, o direito de interagir, co-
municar-se e com outros. Assim, as
crianças são protagonistas da apren-
dizagem e os professores são guias,
as famílias são chaves e a arte é uma
ferramenta de expressão vital e o es-
paço é um “terceiro professor”.

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REGGIO EMILIA E LORIS MALAGUZZI
METODOLOGIA
Desde sua origem, Reggio Emilia é uma escola diferente, enraizada na vontade
das famílias de construir um mundo melhor por meio da educação.

Atraído pelo projeto educativo, Loris Malaguzzi seguiu para Villa Cella e se en-
cantou com tal experiência.

Esta ideia pareceu-me incrível! Corri até lá em minha bicicleta e descobri que
tudo aquilo era verdade. Encontrei mulheres empenhadas em recolher e lavar
pedaços de tijolos. As pessoas haviam-se reunido e decidido que o dinheiro para
começar a construção viria da venda de um tanque abandonado de guerra, uns
poucos caminhões e alguns cavalos deixados para trás pelos alemães em retirada.
(MALAGUZZI, 1999, p.59)

Novas escolas foram construídas, todas operadas por pais e com o auxílio do Co-
mitê Nacional para Libertação. Por meio desse processo de construção e amplia-
ção das escolas, o maior ensinamento que os pais passaram a seus filhos foi à
possibilidade de reconstrução com base nas ruínas e no sentido de coletividade
e união para se alcançar um objetivo. Portanto, a escola de Reggio Emilia é ino-
vadora também porque os pais dos alunos fazem parte dela; porque os eventos
são organizados pelas famílias, professores e alunos, objetivando a integração e a
coletividade; porque constitui uma continuidade do lar; e por causa da crescente
intensificação do seu papel sociocultural naquela sociedade.

À época em que Malaguzzi começou a acompanhar de perto a construção desse


projeto educativo, os professores eram formados pelas escolas católicas e eram
muito receptivos à ideia de ensinar as crianças enquanto eles mesmos aprendiam.
Nesse quadro, a perspectiva que emerge é a de aprender por meio da escuta, mar-
cada pela disposição do professor em aprender enquanto ensina. A finalidade era
que o educador aprendesse com a criança a dar aulas, mediante seu esforço em
compreender a lógica de aprendizagem dela, e, a partir daí, a pensar alternati-
vas eficientes para ajudá-la a continuar aprendendo. Nesse sentido, houve uma
inversão de posição com relação ao detentor do saber, atribuindo mais valor ao
conhecimento da criança.

Esta metodologia educacional orienta, guia, cultiva o desenvolvimento intelec-


tual, emocional, social e moral das crianças. É baseada na crença de que as crian-
ças têm habilidades em potencial, e curiosidade e interesse na construção de sua
aprendizagem, encaixar-se em interações sociais.

O foco está em cada criança, não isoladamente, mas em conjunto com outras
crianças, com a família, com os professores, com o ambiente da escola, da comu-
nidade e do resto da sociedade.

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O PROTAGONISMO INFANTIL
A origem etimológica do termo remete
à palavra protagonistés que, no idioma
grego, significava o ator principal de uma
peça teatral, ou aquele que ocupava o lu-
gar principal em um acontecimento (Fer-
reira, 2004). As restrições mais comuns
em relação ao uso desse termo, no jargão
sociológico, se devem a fatores de ordem
política, uma vez que a utilização alterna-
tiva da palavra ‘participação’ parece suge-
rir “uma abordagem mais democrática na
ação social, sem colocar em destaque um
protagonista singular” (Ferretti, Zibas &
Tartuce, 2004, p. 3).

A criança-sujeito se constitui na e pela interação com outras crianças, com os


adultos, com o meio físico, social e ideológico. Na interação com o meio físico
são importantes as brincadeiras, principalmente as tradicionais (fazem parte do
folclore, que é cultura) – cultura infantil, que é constituída de elementos culturais,
quase exclusivos das crianças caracterizados pela natureza lúdica, apesar de gran-
de parte dos elementos da cultura infantil prover da cultura do adulto.

Segundo Fillipini (2009), a escola é vista como espaço de vida, acredita no poten-
cial das crianças e tem dela uma imagem positiva: “Cada um de nós tem o direito
de ser protagonista, de ter papel ativo na aprendizagem na relação com os outros.
Esse é o motor da educação”.

A abordagem educacional de Reggio Emilia destaca-se, pela quebra de paradigmas


tradicionais de educação, já que compre-
ensão é contrária a relação tradicionalista
entre o detentor do saber e o recebedor,
professor e aluno. Em tal projeto educa-
cional propõe-se que o professor aprenda
enquanto ensina, compreendendo a lógica
de aprendizagem da criança por meio da
escuta – que é o ponto central do trabalho
pedagógico. A escola em Reggio Emilia
está em contínua mudança porque o pro-
jeto de educação que propõe se baseia no
relacionamento e na participação (rede de
comunicação entre crianças, professores e
pais), e, consequentemente, seu trabalho é reflexivo, repensa-se e reconstrói-se
constantemente.

A respeito do protagonismo infantil, para que a criança se torne protagonista do


seu conhecimento é preciso que esteja em um ambiente social, em intercâm-
bio com outras crianças e adultos, participando de práticas sociais historicamen-
te construídos, internalizando experiências vividas que lhe propiciam dominar
conceitos, valores e formas de comportamento.
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PRINCÍPIOS DA LINHA MALAGUZZIANA
• A arte é a ferramenta mais importante dessa abordagem. O ensinamento que
dá base para esta ideia parte de alguns princípios desenvolvidos pelo educador,
alguns dos quais são:

• Pedagogia da Escuta é a ideia que dá sus-


tentabilidade a todo o projeto desenvol-
vido pelo autor;

• Atividades desenvolvidas por intermé-


dio de projetos;

• As ideias dos projetos nascem na inte-


ração com os alunos (vem do interesse
desses aprendizes;

• Os projetos são desenvolvidos por meio


de diferentes tipos de linguagem, ou
seja, múltiplas linguagens (sem que predomine o estímulo de uma delas);

• Dança, pintura, interpretação, fotografia e muitas outras linguagens fazem par-


te do cotidiano das crianças e fazem parte dos projetos por elas desenvolvidos;

• A construção dos saberes se dá nessa interlocução: professor/facilitador de si-


tuações de aprendizagem e aluno, linguagens diferenciadas sendo desenvolvi-
das por meio de projetos, o mundo do conhecimento não está mais dividido
em disciplinas e áreas (talvez aí a melhor ação de interdisciplinaridade);

• O saber é conquistado e desenvolvido por intermédio da parceria criança/pro-


fessor, criança/criança; criança/meio;

• O espaço da escola é também considera-


do um elemento mobilizador da criativi-
dade e ação criadora das crianças;

• A aprendizagem real vem da alegria cria-


tiva e libertadora do espaço, da forma
como se ensina e aprende;

• Arte e estética caminham de mãos jun-


tas: representação e expressão (desenhos,
movimentos, jogos, construção de mate-
riais, dentre outros).

• A criança é respeitada, bem como suas produções e inquietações. Ela é vista


como um pequeno pesquisador, um descobridor de sentidos;

• As crianças são protagonistas do próprio aprendizado, da vida e por serem es-


timuladas ao desenvolvimento de habilidades diferentes produzem mudança;

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• Aprendizagem cooperativa e tra-
balho conjunto também são prin-
cípios bastante explorados.

• A documentação pedagógica apre-


sentada como elemento necessário
à melhoria do trabalho (é prática
das escolas malaguzzianas: regis-
trar acontecimentos, anotar obser-
vações, fotografar situações do co-
tidiano, selecionar produções das
crianças e com elas construir me-
mória sobre as experiência).

PEDAGOGIA DA ESCUTA

No dia a dia, a pedagogia malaguzziana segue alguns eixos principais, como a


documentação pedagógica, a valorização do processo de pesquisa protagonizado
pela criança, a arte e a criatividade.

Ao contrário da matriz transmissiva que norteia a educação tradicional, na qual o


professor “ensina” e o aluno “aprende”, para a pedagogia reggiana, tanto a criança,
quanto o adulto e o próprio território são sujeitos ativos da aprendizagem: trata-
-se de uma matriz participativa de educação.

A proposta entende a criança como um indivíduo pleno e muldimensional (ou


seja, é dotado de razão e emoção) e utiliza a observação atenta como intenção
pedagógica, tanto de reconhecer competências e valorizar a linguagem da crian-
ça quanto de transformar.

“Muitas escolas de hoje formam ninguéns, pessoas que são destituídas de seu ‘eu’
para serem aquilo que o outro manda”.

Segundo a concepção da Pedagogia da escuta malaguzziana, o papel do professor


é de fazer uma interação participativa, e de assumir a consciência de que a escola
é muita vezes o lugar da pergunta. Se na educação tradicional são valorizadas as

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verdades e as certezas, a escola reggiana dá lugar à incerteza, ao imprevisível e ao
fazer junto. Diretor, coordenador, educador, atelierista, criança: aqui, todos são
sujeitos aprendizes.

Para facilitar a compreensão de todos esses conceitos, listamos abaixo em tópicos


os principais alicerces da Pedagogia da Escuta:

• Escutar é ter a sensibilidade de se conectar ao outro.


• A escuta é um movimento sensorial: não se escuta só com os ouvidos, mas com
o corpo todo.
• A escuta como um verbo ativo, que interpreta e produz sentido.
• A escuta não produz respostas prontas, mas constrói perguntas.
• A escuta legítima provoca um processo de reciprocidade: quem escuta tam-
bém deve ser ouvido. A escuta é emoção.
• Escutar requer que mostremos a nós mesmos o valor do desconhecido, para
que vençamos o sentimento de precariedade que toma conta de nós sempre
que nossas certezas são colocadas em crise.
• A escuta demanda tempo: um tempo cheio de silêncios e longas pausas.

O PAPEL DOS PROFESSORES

Para definir o papel do professor em Reggio Emilia podemos começar falando


sobre o que se espera dele, suas dimensões essenciais – promoção da aprendiza-
gem das crianças nos domínios cognitivo, social, físico e afetivo; manejo de sala
de aula; preparação do ambiente; oferecimento de incentivo e orientação; co-
municação com os envolvidos com a escola (pais e comunidade em geral); busca
de crescimentos profissional; engajamento no ativismo político para defender a
causa da educação pública precoce e condução de pesquisas sistemáticas sobre
o trabalho diário em sala de aula para finalidade de difusão profissional, plane-
jamento do currículo e desenvolvimento do professor – e tudo isso levando em
conta a imagem das crianças, que são tidas como comunicadores com identidade
pessoal, histórica e cultural.

As crianças, como entendidas em Reggio, são protagonistas ativas e competentes


que buscam a realização através do diálogo e da interação com outros, na vida co-

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letiva das salas de aulas, da comunidade e da cultura, com os professores servindo
como guias (EDWARDS, FORMAN E GANDINI, 1999, p.160).

Nas palavras de Edwards, Forman e Gandini (1999, p. 161):

“O papel do professor centraliza-se na provocação de oportunidades de descobertas, atra-


vés de uma espécie de facilitação alerta e inspirada e de estimulação do diálogo, de ação
conjunta e da co-construção do conhecimento pela criança”.

Em Reggio Emilia os professos tra-


balham em pares, o que é considera-
do difícil pois precisam adaptar-se e
acomodar-se constantemente a fim
de trabalharem juntos, cooperando
entre si. Comunicando-se sempre
com os pais, encorajando-os a evol-
verem-se com as atividades dos fi-
lhos a fim de compreender a infância
de um modo mais rico.

Para melhor compreensão podemos


detalhar passo a passo todas as ati-
vidades de um professor em Reggio
Emilia.

Ele guia a aprendizagem da criança, captando suas ideias sendo um ouvinte e


as usa para formular ações no grupo (turma); escreve o que as crianças falam e
depois lê para elas a fim de motivar sua aprendizagem; ideias que surgem das
conversas entre as crianças são expostas na tentativa de torna-las em futuras ati-
vidades para o grupo.

“ Examinar a questão, a hipótese ou o argumento de uma criança, portanto, torna-se parte


de um processo continuo de levantar e responder questões para todos. Com o auxílio do pro-
fessor, a dúvida ou a observação de uma criança leva as outras a explorarem um território
jamais percorrido, talvez jamais sequer suspeitado. ” (Edwards, Forman e Gandini, 1999.
p. 162).

Durante o desenvolver de um projeto os professores refletem, exploram, estudam


e planejam possíveis modos de elaborar e estender o tema por meio de atividades,
matérias, passeios, tudo é planejado e documentado de diversas maneiras,

“[...] mas em geral, a documentação inclui registros em fita e transcrições do diá-


logo das crianças e das discussões em grupo, materiais impressos e fotografias em
slide de momentos cruciais das atividades e coleta de produtos e de construções
feitos pelas crianças” (Edwards, Forman e Gandini, 1999. p. 164).

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PARA REFLEXÃO:
As Cem Linguagens da Criança, de Loris Malaguzzi

A criança é feita de cem.


A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar,
de jogar e de falar.
Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar.
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem),
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça,
de escutar e de não falar,
De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem,
roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia,
a ciência e a imaginação,
O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário,
as cem existem.

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REFERÊNCIAS:
• A PROPOSTA PEDAGÓGICA DE LORIS MALAGUZZI: REGISTROS NO
COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL , Clarina Alves do Prado e INESA
MIGUEL, Marelenquelem Inesa Miguel.

• A ABORDAGEM DE REGGIO EMILIA PARA APRENDIZAGEM NA EDUCA-


ÇÃO INFANTIL - Danielle Marafon - Ana Claudia Menezes.

Recomendação de vídeo sobre o tema:

• Conhecendo Reggio Emilia - Programa do Curso de Pedagogia Unesp/Uni-


vesp - Disciplina de Educação Infantil - Abordagens Curriculares.
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=vEnTD8wOZz4

Sugestão de Livro:

• Diálogos com Reggio Emilia: Escutar, investigar e aprender. Editora Paz &
Terra – Autor Carla Rinaldi

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