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REVISTA DE DIREITO DOS MONITORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL


FLUMINENSE
I PROCESSO SELETIVO DE NOVOS MEMBROS

DELIBERAÇÃO N.º 1/2009 DE 8 DE MAIO DE 2009.

O CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA DE DIREITO DOS


MONITORES DA UFF, no uso de suas atribuições, tendo em vista o disposto no art. 4º, inciso
II, § 2º, do Edital nº 2/2009 RDM-UFF, referente ao I Processo Seletivo de Novos Membros, e
tendo em vista a decisão unânime de seus membros, APROVA, nos termos do abaixo
articulado, o CASO OBJETO DE ESTUDO DO CANDIDATO À ÁREA DE DIREITO
PÚBLICO, compreendendo o seguinte:

COMENTÁRIO À ADPF 144

Ementa: AINDA NÃO PUBLICADA1

I. Aspectos gerais

Será realizado um breve comentário à Argüição de Descumprimento de


Preceito Fundamental nº 144 nos termos do resumo abaixo2. Em linhas gerais, ela diz respeito à
avaliação da constitucionalidade da negativa do registro da candidatura, que estejam
respondendo a processos criminais. O comentário deve ser dividido em três partes. A primeira
possui cunho expositivo, resume o inteiro teor da decisão considerando a argumentação
favorável e contrária à negativa do registro em razão das ações criminais ajuizadas. A segunda
parte destacará da decisão a necessidade de maior “controle social com conteúdo jurisdicional”
dos direitos políticos. Por fim, a terceira parte será de cunho mais pessoal, sendo possível: (i)

1
STF, J. 6 ago. 2008, ADPF 144, Rel. Min. Celso Mello.
2
Esse resumo foi elaborado a partir dos apontamentos de Siddharta Legale
Ferreira, que assistiu quase integralmente ao julgamento, e das notícias disponíveis
no site do STF. Ele será utilizado tendo em vista que o acórdão do caso em tela
ainda não foi objeto de publicação.
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realizar um comentário crítica e propositivo à decisão do STF, isto é, propor e justifica


parâmetros mais rigorosos para o controle jurisdicional de direitos políticos – o que é mais
recomendável; ou (ii) concordar com a decisão, pontuando sua importância.

II. Resumo do Inteiro teor do caso

Após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prevendo que negar o


registro da candidatura aqueles que respondessem a processos criminais dependeria do transito
em julgado, a Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou a ADPF 144 com intuito
de permitir negar tal registro aos candidatos que se encontrassem sob tal situação. Argumentou-
se que as alíneas do artigo 1º, inciso I e o artigo 15 que exigiam o trânsito em julgado para
resolver pela inelegibilidade reduzem a eficácia do § 9º, art. 14, instituído pela Emenda
Constitucional de Revisão nº 4, cujo teor volta-se à ampliação da exigência de moralidade,
probidade através da análise da vida pregressa do candidato. Estaria violado, portanto, tal
preceito fundamental. O julgamento do Supremo Tribunal Federal, por maioria, foi pela
improcedência da ADPF, ou seja, somente após o trânsito em julgado os juízes eleitorais podem
efetivamente negar registro as candidaturas. Dois foram os principais votos: o do ministro
Celso Mello e do Ministro Carlos Ayres Britto.

O ministro Celso Mello, após longa fundamentação, julgou improcedente a


ADPF, vedando que o registro do candidato seja indeferido antes do trânsito em julgado. Os
argumentos utilizados foram os seguintes: (i) Não é possível invocar a moralidade para atropela
direitos fundamentais. Sem o trânsito em julgado, não é possível impor a inelegibilidade
(CRFB, art. 15, III); (ii) Na ausência de lei complementar dispondo sobre o assunto, não é
possível impor judicialmente tal perda. O judiciário estaria substituindo o legislador (CRFB,
art.14, § 9); (iii) há violação a garantia da não culpabilidade e da presunção de inocência; (iv) há
ruptura com a segurança jurídica; (v) é preciso tipicidade legal, um juízo normativo sobre tal
hipótese de inelegibilidade; (vi) haveria um retrocesso histórico; (vii) não existe previsão
constitucional para os juízes eleitorais avaliarem a vida pregressa dos candidatos; (viii) não
pode antecipar os aspectos penais e extra-penais.

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Em sentido contrário, o Ministro Carlos Ayres Britto argumentou que (i) o


princípio da presunção de inocência não é absoluto; (ii) a situação não se equipara a suspensão
ou perda de direitos políticos, tampouco é causa de inelegibilidade. É sim causa de
elegibilidade; (iii) A lógica dos direitos políticos é diferente da dos direitos individuais e sociais.
Os dir. Políticos decorrem da soberania popular e do Estado democrático de direito. Não se
prestam a servir exclusivamente aos seus titulares, mas sim ao bem comum. Nessa linha, a idéia
de república legitima que aqueles que pretendem concorrer ao cargo eletivo devem ter
“considerado sua vida pregressa” e o respeito à noção de moralidade; (iv) os representantes
devem obedecer limites e restrições; (v) o trânsito em julgado é para suspensão ou perda dos
direitos políticos. Não para condição de elegibilidade.

O Ministro Joaquim Barbosa, por sua vez, entendeu que a sentença


condenatória confirmada por uma segunda instância é suficiente para tornar um cidadão
inelegível. Ele frisou que não existem direitos fundamentais de caráter absoluto e que o
exercício político por pessoas ímprobas repercutem de maneira negativa no próprio sistema
representativo como um todo. “É a própria democracia que se veria diminuída e deslegitimada”,
salientou. Assim, no confronto entre a presunção de inocência e as exigências impostas pelo
artigo 14, parágrafo 9º, da Constituição Federal, estas ultimas devem prevalecer. Disse o
ministro: “O poder judiciário não pode dar de ombros e jogar culpa no legislador”, em momento
que concluiu sua manifestação, votando pela procedência parcial da Argüição proposta pela
Associação dos Magistrados Brasileiros.

Esses foram os votos que sintetizaram os principais argumentos debatidos


nesse julgamento em que a quase totalidade dos ministros julgaram improcedente a ADPF para
declarar que só é possível negar o registro ao candidato que tiver condenação criminal com
trânsito em julgado.

III. Comentário

O comentário deve considerar, além dos aspectos teóricos e normativos


relevantes, o contexto brasileiro de crise política, assolado constantemente, por escândalos
políticos sobre a corrupção e incapacidade de controle social dos governantes pelos governados.

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Deverá, ainda, considerar pelo menos uma parte substancial dos aspectos pontuados a seguir,
bem como e responder na medida possível às seguintes dúvidas:

• Democracia e controle social

• Conceito e Espécies de controle (social e jurisdicional).

• Déficit do controle social “puro” de direitos políticos

• A negativa do registro como forma de controle social com conteúdo jurisdicional:


constitucional ou inconstitucional?

• Auto-contenção ou ativismo judicial?

• A norma do art. 14, § 9º, é de eficácia plena ou não? Quais as implicações da


classificação. Ver petição inicial da ADPF 144.

• Abordar a possibilidade do controle de interpretação judicial por violação de preceito


fundamental na ADPF 144. Ver petição inicial da ADPF 144.

• Analisar criticamente ou propor parâmetros para o controle dos candidatos que


respondam a processo criminal. Ver votos vencidos da ADPF 144.

Além disso, verificar a viabilidade de propor o seguinte parâmetro


procedimental:

(i) Seria possível a negativa do registro da candidatura, deve haver pelo


menos uma decisão em segunda instância?

Criticar ou justificar com os argumentos dos votos dos Min. Carlos Ayres
Britto e Joaquim Barbosa.

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Verificar viabilidade de propor o seguinte parâmetro material:

(ii) Seria válido propor um rol de crimes legítimos para negar o registro da
candidatura deve ter alguma relação com o prejuízo ao interesse da coletividade ou do Estado?

Niterói, 8 de maio de 2009.

Conselho Editorial da Revista de Direito dos Monitores da UFF

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