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Disponível em <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-528-28-junho-1890-506935-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 20Mar. 2021.
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Devemos levar em conta que, anteriormente a Gilberto Freyre, haviam pensadores sociais como Nina Rodrigues, Sylvio
Romero, Euclides da Cunha, Alberto Torres e Oliveira Vianna que, cada um à sua maneira, e em diversos graus, realizavam,
conforme a fala de Bernardino-Costa (2018) uma sociologia consular, pois considerada uma expansão cultural da Europa e
EEUU, ao analisar a sociedade brasileira mediante categorias próprias, valores e intencionalidades europeus e norte-
americanos. Nesse sentido, a obra de Gilberto Freyre, ao substituir a categoria da raça pela cultura, representa um ponto axial
de virada nessa situação.
Atlântico, e comentava:“como explicar, por exemplo, que um jovem estudante preto, chegando à
Sorbonne com o objetivo de se graduar em filosofia, antes mesmo de entrar em contato com qualquer
organização conflitante que o espera, assuma uma atitude defensiva?”(2008, p.130).
Formulando no alvorecer da década de 1960 um pensamento ‘proto-decolonial’, assim se
pronunciava Frantz Fanon na sua obra mais conhecida: “A Europa assumiu a direção do mundo com
ardor, cinismo e violência. E vejam como a sombra dos seus monumentos se estende e se multiplica.
Cada movimento da Europa empurra os limites do espaço e do pensamento. A Europa se recusou a toda
humildade, a toda modéstia, mas também a toda solicitude, a toda ternura. Ela se mostrou parcimoniosa
com o homem, mesquinha, carniceira, homicida. Então, irmãos, como não compreender que temos algo
melhor a fazer do que seguir a Europa? Essa Europa que nunca para de falar do homem, de proclamar
que só se preocupa com o homem, sabemos hoje com que sofrimentos a humanidade pagou cada uma
das vitórias do seu espírito” (2005, p.361-362).
Resultados e Discussões
Os negros foram sistematicamente submetidos, conforme revelou Kabengele Munanga (2004),
a um sistema monocultural e eurocêntrico, apartados assim de uma memória cultural que lhes é de
pleno direito. No decurso dos encargos didáticos da disciplina eletiva História e Cultura Afro-
brasileira, determinada pelos efeitos da Lei 10.639/03, nossos esforços têm consistido em prover os
cursos de formação de Professores sob esse enfoque, no que sistematicamente, estampamos na
imprensa universitária textos envolvendo temáticas que gravitam pela História da Educação Brasileira
(COSTA,2017); reflexões que objetivaram recensear publicações e experiências docentes
(COSTA,2018a), ou que buscaram iluminar práticas de ensino (COSTA, 2018b; COSTA, 2018c;
COSTA, 2018d); ou ainda, com vistas a ressignificar páginas da História Brasileira (COSTA, 2020).
Consideramos que esses temas devam assumir prioridade na formação de Professores, com especial
relevância para o público docente que atuará junto à EJA.
Considerações Finais
Há muito a se avançar no trabalho da Educação das relações étnico-raciais. Conectar
bibliografias com potencial convergente (decolonialidade) se apresenta como um trabalho essencial.
Sensibilizar professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos consiste no entanto em peça
essencial para atingir um público escolar (discente) potencialmente apto a ocupar os espaços públicos,
investindo nas lutas coletivas de forma voluntária e autônoma, para inscrever as justas e incontornáveis
demandas dos afro-descendentes na agenda pública, de forma democrática e consciente.
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