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O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas:

uma aplicação para o Brasil

Newton Paulo Bueno


Departamento de Economia
da Universidade Federal de Viçosa

Palavras-chave Resumo Abstract


dinâmica de sistemas, O objetivo deste texto é contribuir para a This paper aims at contributing to the Brazilian eco-
macroeconomia, modelo discussão sobre o crescimento econômico nomic growth discussion based on a new approach:
Solow-Swan, Brasil. brasileiro utilizando uma abordagem inédita: system dynamics. Specifically, we intend to develop a
Classificação JEL O41. a dinâmica de sistemas. Especificamente, pre- systemic version of Solow-Swan model which allows
tende-se desenvolver uma versão sistêmica do the exploration of new angles of some important in-
modelo de Solow-Swan que permita explorar sights from recent Brazilian studies using that model
novos ângulos de insights de trabalhos que têm and the assessment of the ability of the economy to
empregado o modelo para o Brasil e avaliar grow in the near future. The reason for approaching
as possibilidades de crescimento da economia the problem from that perspective is that it allows
brasileira no futuro próximo. A motivação modeling economic growth as a complex dynamic
para abordar o tema com essa metodologia é process. We shall argue that studying the issue from
que ela permite modelar o crescimento eco- the systemic perspective may open new avenues of
nômico como um processo dinamicamente research such as allowing the performance of more
complexo. Mostrar-se-á que abordar o tema accurate sensitivity analysis and the obtention of
dessa perspectiva abre uma gama de novas more reliable forecasts for non observable parameters
possibilidades no que diz respeito à experi- by means of calibration procedure.
mentação com modelos teóricos, tais como
Key words proceder a análises mais acuradas de sensi-
system dynamics, macroeconomics, bilidade de soluções e obter estimativas para
Solow-Swan model, Brazil. parâmetros não observáveis, por meio do
JEL Classification O41. procedimento de calibragem.

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288 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

1_ Introdução Barro e Sala-i-Martin (2004, cap.12),


Após um período em que pareceu que os por exemplo, concluem que, para uma
métodos de previsão não estruturais por ampla amostra de países, é possível de-
si sós seriam capazes de permitir aos eco- tectar uma tendência de convergência
nomistas inferir os movimentos das vari- condicional das taxas de crescimento do
áveis macroeconômicas diretamente das PIB per capita. Em uma perspectiva Bra-
séries de dados com um mínimo de teo- sileira, Bacha e Bonelli (2005) prevêem
ria, é possível detectar uma revalorização que a taxa de crescimento equilibrado
dos modelos teóricos em gerar previsões derivada do modelo Solow-Swan esta-
passíveis de ser confrontadas com a evi- belece um limite para a acumulação de
dência empírica. Diferentemente dos an- capital para o Brasil, dado pela taxa de
tigos modelos estruturais da década de aproximadamente 4%, o qual somente
1960, entretanto, os modelos atuais ten- poderia ser superado por uma aceleração
dem a ser de menor escala e mais funda- da taxa de progresso técnico.
mentados microeconomicamente (Die- O objetivo deste texto é contri-
bold, 1998). buir para essa discussão utilizando uma
Assim é que, tanto na vertente abordagem ainda não empregada pe-
novo-clássica, empregando modelos di- los economistas brasileiros: a dinâmi-
nâmicos de equilíbrio geral, como os de ca de sistemas. Especificamente, preten-
ciclo real de Kydland e Prescott (1982 e de-se desenvolver uma versão sistêmica
1996), ou modelos de crescimento endó- do modelo de Solow-Swan para avaliar
geno (Kremer, 1993), como na verten- as possibilidades de crescimento da eco-
te neokeynesiana, modelos de dimensão nomia brasileira no futuro próximo, bem
relativamente reduzida e estruturalmente como para identificar eventuais obstácu-
simples têm sido utilizados para estudar los e pontos de alavancagem atuais para
o processo de crescimento econômico. o crescimento.
Nesta segunda vertente, especificamen- A motivação para abordar o tema
te, textos importantes têm chegado à com essa metodologia é que ela permite
conclusão um tanto inesperada de que modelar o crescimento econômico como
o modelo de Solow-Swan gera previsões um processo dinamicamente complexo,
em geral consistentes com a evidência em que o fato de as variáveis macroe-
empírica para períodos mais longos. conômicas encontrarem-se interligadas

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com defasagens temporais em ciclos de essência do modelo de Solow-Swan a es-


retroalimentação pode produzir resulta- sa linguagem, e a seção 4 calibra a ver-
dos contraintuitivos, não identificáveis a são sistêmica do modelo para a econo-
priori com base em uma abordagem não mia brasileira no período 1970-2000 e
sistêmica. Mesmo quando esses resulta- testa sua validade. A seção 5 discute os
dos são consistentes com os obtidos com resultados da simulação, inclusive a ca-
outras metodologias, como se verá que pacidade do modelo de prever a evolu-
será o caso deste trabalho, abordar o te- ção das principais variáveis macroeconô-
ma dessa perspectiva abre uma gama de micas brasileiras no período recente. A
novas possibilidades no que diz respei- seção 6 conclui o trabalho, procurando
to à experimentação com modelos te- destacar os benefícios de utilizar a meto-
óricos. Por exemplo, a metodologia de dologia de dinâmica de sistemas em es-
dinâmica de sistemas é uma ferramenta tudos econômicos.
altamente flexível para modelar relações
não lineares e simular o comportamen- 2_ A abordagem de dinâmica
to dos sistemas correspondentes sob di- de sistemas
ferentes especificações dessas relações. Sistemas são conjuntos de elementos or-
Ela também permite proceder a análises ganizados intencionalmente pela ação
mais acuradas de sensibilidade das solu- humana ou que simplesmente se auto-
ções encontradas e obter estimativas pa- organizam para cumprir propósitos es-
ra parâmetros não observáveis, por meio pecíficos. O sistema elétrico de um au-
do procedimento de calibragem. tomóvel é um exemplo do primeiro tipo,
O texto está estruturado do se- e uma biota não explorada por seres hu-
guinte modo. A seção 2 apresenta uma manos, um exemplo do segundo tipo.
descrição sumária da abordagem sistêmi- Os sistemas econômicos são de um ter-
ca, visando a definir com mais precisão ceiro tipo que envolve tanto elementos
o conceito de “complexidade dinâmica”, de intencionalidade quanto de auto-or-
que, por ser uma característica intrínse- ganização. Os três tipos de sistema po-
ca dos processos econômicos, aconselha dem exibir graus consideráveis de com-
a utilização dessa abordagem para estu- plexidade, mas apenas os do segundo e
dar temas como o crescimento econô- do terceiro tipo definem-se como siste-
mico. A seção 3 mostra como adaptar a mas dinamicamente complexos.

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Complexidade dinâmica é uma caso de falha do equipamento. Já siste-


propriedade que decorre do fato de que, mas dinamicamente complexos, em que
em sistemas que a exibem, encontram-se se encontram inseridos agentes, conse-
presentes diferentes agentes que respon- quências não intencionais podem facil-
dem a informações exógenas ou geradas mente ocorrer, pelo simples fato de que,
pelo próprio comportamento do sistema. por exemplo, os agentes tentam anteci-
A presença dessa propriedade implica par, de forma muitas vezes difícil de pre-
que o sistema pode responder de forma ver, as reações dos demais.
não intencional do ponto de vista dos A dinâmica de sistemas (system dy-
agentes que tentam influir sobre ele, isto namics) é uma metodologia desenvolvida
é, pressupondo que o sistema pode se exatamente para rastrear os resultados
auto-organizar. É fácil ver, então, que sis- de ações isoladas sobre o comportamen-
temas caracterizados por extrema com- to de variáveis que se encontram inter-
plexidade de detalhes podem ser dinami- ligadas em malhas de retroalimentação, 1
As técnicas incluídas nessa
camente simples na medida em que não em que as relações entre causas e con- metodologia começaram a ser
envolvam agentes capazes de responder sequências estão geralmente distanciadas desenvolvidas pelo pesquisador
a novas informações, e sistemas relati- no tempo. Melhor dizendo, em que as do Massachusetts Institute of
Technology Jay Forrester, na
vamente simples em termos de detalhes variáveis relacionam-se com defasagens década de 1960, em uma série
podem ser dinamicamente complexos. temporais normalmente não captadas de estudos clássicos sobre
A propriedade de auto-organiza- em nosso modelo mental.1 economia regional e urbana,
ção ou emergência ocorre porque, em A metodologia de dinâmica de e vêm sendo empregadas em
estudos aplicados em campos
sistemas dinamicamente complexos, as sistemas pode assim ser definida sinteti- tão distintos do conhecimento,
decisões individuais encontram-se inter- camente como abordagem informação/ como política internacional,
ligadas em ciclos de retroalimentação (fe- ação/consequências, como representa- ecologia, gestão de recursos
edback). Sistemas dinamicamente simples do na Figura 1.2 naturais e economia. Uma
bibliografia de referência
evidentemente podem também envol- Novas informações levam a ações básica pode ser obtida em
ver ciclos de retroalimentação, como no ca- (fluxos) que alteram o estado (nível) das http://www.systemdynamics.
so de um aparelho de ar-condicionado, condições de um sistema após certa de- org/short_bibliography.htm.
que mantém uma temperatura pré-pro- fasagem de tempo (as duas marcas pa- Uma referência básica para
uma visão abrangente da
gramada em um ambiente, mas, se devi- ralelas sobre a seta indicam a existência metodologia e das principais
damente projetados, não são capazes de de uma defasagem (delay) temporal entre técnicas é Sterman (2000).
gerar efeitos não pretendidos, salvo em a execução da ação e a mudança no es- 2
Ver Coyle (1996).

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Figura 1_ A abordagem de dinâmica de sistemas junto de variáveis de nível ou de estoque


relevantes, as quais definem os fluxos
que o sistema extrai ou devolve ao meio
ambiente em que se localiza. O estoque
de peixes em um reservatório, por exem-
plo, define o volume de pesca capaz de
ser efetuado de modo a não levar o fluxo
de nascimentos a cair abaixo do fluxo de
capturas, o que levaria a população, e as-
sim a capacidade de regeneração do sis-
tema, a diminuir.
Os autores sistêmicos gostam de
Fonte: Coyle (1996, p. 4).
usar a analogia de enchimento de uma
banheira para retratar a dinâmica dos sis-
temas estudados. Qualquer sistema será
tado do sistema). Ação, nível e informa-
sustentável, de acordo com essa analogia,
ção interligam-se em dois tipos de ciclo
apenas se a vazão da torneira for maior
de retroalimentação. O primeiro é o ci-
ou igual à do ralo da banheira. Se isso
clo de realimentação negativa ou de equi-
não ocorrer, mesmo que por uma peque-
líbrio em que o sistema reage a mudan-
na margem, a banheira inevitavelmente
ças, compensando-as. O segundo tipo
se esvaziará. A condição de sustentabili-
é o ciclo de realimentação positiva ou de
dade ou de equilíbrio de um sistema po-
autorreforço, em que o sistema ampli-
de ser assim definida intuitivamente em
fica eventuais perturbações. A próxi-
termos de equações em diferenças ou de
ma seção desenvolve um modelo pa-
equações diferenciais se utilizarmos um
ra o processo de crescimento utilizando
intervalo de integração suficientemente
essa abordagem.
pequeno. O modelo de Solow-Swan, va-
lendo-se de sua versão tradicional base-
3_ Uma versão sistêmica do
ada em equações diferenciais, pode ser
modelo Solow-Swan traduzido em uma versão sistêmica co-
3
A documentação completa
O estado de um sistema em um momen- mo mostrado na estrutura estoque-fluxo
do modelo encontra-se
no Apêndice. to particular do tempo é dado pelo con- na Figura 2.3

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Figura 2_ O modelo de Solow-Swan em linguagem sistêmica

Fonte: Elaboração própria.

O estoque de capital de uma eco- capital per capita, K/L, aumenta, o que,
nomia (K), a principal das variáveis de dados a produtividade marginal do capi-
nível do sistema, que são representadas tal e o ritmo de progresso técnico, leva
no interior de retângulos, cresce com o a uma maior produtividade, isto é, a um
fluxo de investimentos em bens de ca- maior PIB per capita. O sinal positivo so-
pital (no modelo de Solow não expandi- bre o vínculo significa que existe uma re-
do) e decresce com o fluxo de deprecia- lação direta entre as variáveis, e o sinal
ção, isto é: negativo, uma relação inversa. Assim, o
dK/dt = Investimento – Depreciação (1) crescimento populacional, tomado isola-
damente, leva a uma redução na disponi-
Se esse estoque cresce mais rapi- bilidade de capital per capita.
damente do que a população economica- As exportações reduzem a absor-
mente ativa (definida como uma fração ção interna de bens, mas elevam a capa-
da população total), a disponibilidade de cidade de importação e, assim, a dispo-

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nibilidade interna de oferta de bens de Mas, além do ciclo de autorrefor-


capital produzidos no exterior, elevando ço R, existe outro ciclo, assinalado tam-
o nível de poupança bruta; quanto mais bém em linhas mais grossas como B, que
favorável for a relação de troca, isto é, tende a atenuar o crescimento, dado pela
a relação entre os preços internacionais depreciação do capital: maiores níveis do
dos bens domésticos e dos bens impor- estoque de capital levam a maiores flu-
tados, maior o poder de compra inter- xos de depreciação e, assim, a uma re-
nacional gerado por certo volume físico dução do estoque de capital. Observe-se
de exportações. O acesso a emprésti- que esse ciclo é de equilíbrio ou de es-
mos externos que se somem à poupan- tabilização, no sentido de que, se os in-
ça interna, finalmente, permite em prin- vestimentos forem inferiores à taxa de
cípio aumentar as importações de bens depreciação, o estoque de capital se re-
de capital. duzirá até o ponto em que o fluxo de ca-
A condição de equilíbrio para o pital se iguale à depreciação.
crescimento do estoque de capital é fa- A interação entre esses dois ciclos
cilmente derivada da equação 1, como: reproduz a dinâmica básica do mode-
lo Solow-Swan. A equação fundamental
Investimento = Depreciação (2)
desse modelo (ver Barro e Sala-i-Martin,
A variável “ Investimento” segue uma 2004, p. 30), em que, utilizando a clás-
trajetória dada por um ciclo de realimen- sica metáfora sistêmica já referida, a va-
tação positiva ou de autorreforço, assi- zão da torneira é exatamente igual à do
nalado em linhas mais grossas na figura ralo da banheira, é análoga à condição
com a letra R. O aumento do estoque de de equilíbrio 2:
:
capital leva a uma maior dotação de ca- l = s.f (k) - (n + d) .k (3)
pital por trabalhador. A maior dotação
de capital permite, devido à produtivi- onde k é a dotação de capital por trabalha-
dade do capital, crescimento do produ- dor, K/L, n é a taxa de crescimento popu-
to per capita. O crescimento do produto, lacional e δ é a taxa de depreciação média
por causa da propensão a poupar, viabi- do estoque de capital. Isto é, a variação lí-
liza maiores níveis de poupança e, por- quida do estoque de capital por trabalha-
tanto, maiores níveis de investimentos dor é igual à poupança per capita = s.f(k),
em capital adicional. menos a soma da taxa de crescimento

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populacional e a depreciação (a lógica capital por trabalhador torna-se igual a


aqui é que o aumento do número de tra- zero. O Gráfico 1 ilustra o processo.
balhadores diminui o valor do estoque A dotação de capital por trabalha-
de capital por trabalhador da mesma for- dor cresce a partir do nível k(0) porque
ma que a depreciação). nesse ponto a poupança e, portanto, o
Como a função de produção na investimento bruto serão maiores do que
forma intensiva f(k) em (3) está sujeita a a parcela do estoque de capital deprecia-
rendimentos decrescentes no estoque de da somada à parcela utilizada para em-
capital por trabalhador, enquanto o se- pregar novos trabalhadores. O nível em
gundo termo cresce linearmente, é fácil que o estoque de capital se estabilizará
concluir que haverá um ponto, definido (estado estacionário) será k*, no qual o
como estado estacionário, em que o lado investimento bruto será igual à deprecia-
esquerdo da equação se anula e, portan- ção. Desse modo, no modelo sem pro-
to, a taxa de crescimento da dotação de gresso técnico, a economia poderá cres-

Gráfico 1_ O estado estacionário na acumulação de capital

(n + ).k
f(k)

s.f(k)

k
k(0) k*

Fonte: Barro e Sala-i-Martin (2004, p. 29).

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cer durante a transição de um nível de Poupança = (Absorção interna


dotação de capital de equilíbrio para ou- +Importações) * Propensão (6)
tro. Mas a única forma de uma econo- a poupar4
mia apresentar uma taxa sustentável de onde:
crescimento ao longo do tempo é, então, Absorção Interna = PIB – Exportações
deslocando progressivamente a função
de produção f(k) para cima, via introdu- As relações externas são modeladas, sim-
ção de progresso técnico, caso em que a plificadamente, da seguinte forma:
equação 3 se transformaria em: Exportações = X0 (7)
:
k = s.f[k,A(t)] - (n + δ).k Importações = Exportações * rela-
ções de troca + Emprestí- (8)
A única diferença com a equação (3),
mos internacionais
sendo que o nível de produto depende
do nível de tecnologia A(t) (Barro e Sala- Relação de troca = hrt + Índice
i-Martin, 2004, p. 54). médio de preços das expor-
(9)
No modelo do Gráfico 1, o ciclo tações/Índice médio de
de autorreforço representa o primeiro preços das importações
termo da expressão para o investimento Empréstimos Internacionais = E0 (10)
4
Como a preocupação
líquido, e o ciclo de equilíbrio, o segun- Isso reflete as pressuposições sim-
desse exercício é determinar
o produto potencial da do termo. O PIB per capita, f(k), e a pou- plificadoras de que as Exportações e os
economia, assume-se que pança são dados, então, por: Empréstimos Externos são determina-
o País utilize uma parcela
das importações, dada pela f(k) = A*(K/L)α (4) dos exogenamente pela evolução do co-
propensão a poupar, para e mércio internacional. As importações
complementar a oferta PIB = f(k)*L (5) serão maiores para cada nível de expor-
doméstica de bens de capital.
tações quanto mais favorável for a rela-
Versões mais realistas do onde A, α e L são, respectivamente, o ní-
modelo deveriam utilizar ção de troca e quanto maior o fluxo de
uma especificação do tipo
vel de tecnologia, a produtividade margi- empréstimos internacionais; hrt é um pa-
Mundell-Fleming, em que nal do capital e a população economica- râmetro de deslocamento dessa relação a
parte das importações é de mente ativa. ser estimado por calibragem.
bens intermediários e matérias-
primas, e que, por isso, A equação para a poupança total O progresso técnico, finalmente,
correlaciona-se positivamente que, em equilíbrio, iguala os investimen- ocorre exogenamente, dado pela especi-
com o nível de atividade. tos é dada por: ficação a seguir, em que o valor de rpt se-

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rá calibrado nas simulações, como expli- low-Swan, produzem mudanças de ní-


cado na próxima seção: vel na dotação de capital por trabalhador
(K/L) e no PIB per capita; nesse sentido,
A = (1+taxa de progresso técnico)t (11) aumenta a taxa de crescimento de tran-
(12) sição – que ocorre quando a economia
Taxa de progresso técnico = rpt
se desloca de um nível para outro –, mas
não a taxa de crescimento de longo pra-
zo, que é zero.
4_ Resultados
Variações nas relações de troca e
As simulações para um período de 50 na taxa de crescimento populacional têm
anos, a partir de 1970, a seguir, foram re- o mesmo efeito. Um valor para a relação
alizadas com o software Vensim (Ven- de troca de 0,5 significa que a razão en-
tana Systems); os parâmetros emprega- tre os preços dos produtos exportados e
dos correspondem às características da dos importados é 50% maior do que o
economia brasileira em 1970, tendo sido valor adotado como referência, 1 (a re-
extraídos diretamente das séries históri- lação de troca é dada por 1 + hrt, em
cas e de Bacha e Bonelli (2005), Bonelli que hrt é o parâmetro de deslocamen-
(2005) e Morandi e Reis (2004); os valo- to). O efeito apenas de nível da relação
res monetários estão em bilhões de dóla- de troca sobre o PIB explica-se pelo fa-
res de 1970. Os principais parâmetros do to de que, na especificação adotada nes-
modelo de simulação encontram-se des- te trabalho, uma melhoria nessa relação
critos no Quadro 1. aumenta a poupança bruta da economia
Nos Gráficos 2 a 7 apresentam-se e, assim, tem o mesmo efeito de um au-
algumas das simulações mais esclarece- mento de s.
doras do modelo, que confirmam as pre- Já o efeito da taxa de crescimento
visões do modelo Solow-Swan de que populacional corresponde ao aumento
alterações de parâmetros da economia do produto devido ao aumento do em-
elevam o nível, mas não a taxa de cresci- prego do fator trabalho, que, como o fa-
mento de longo prazo do PIB. tor capital, está sujeito a rendimentos de-
Variações na propensão a pou- crescentes, o que explica o efeito apenas
par, como previsto pelo modelo de So- de nível dessa variável.

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Quadro 1_ Parâmetros do modelo de simulação

Parâmetro Valor Descrição


Depreciação considerando vida útil média
D 0,05
dos equipamentos de 20 anos

Considerando uma taxa de crescimento populacional


População 93 milhões de pessoas
de 2,5% a.a. até 1990 e de 2,00% a partir desse ano

Taxa de crescimento
2,5% e 2,0% Considerando uma queda na taxa a partir de 1980
populacional

PEA 0,55 A PEA é 55% da população total

Estoque de capital inicial US$ 72 Calculado com base na relação capital/produto de 1,8

Valor mínimo assumido nos estudos atuais;


Produtividade do capital 0,35
tais valores variam entre 0,35 e 0,5; sujeito a calibração

Valor inicial para as simulações;


Taxa de progresso técnico 0,0075
sujeito a calibração

US$ 5,5 para o período 1970-1985


Absorção externa Valor mediano das exportações nos períodos
e US$ 11,5 para 1986-2000

Empréstimos para cada ano na segunda metade da


década de 1970, em que o crescimento foi financiado
Empréstimos US$ 5
em grande parte por endividamento; o valor para os
demais anos é zero

Relação de troca 1 Valor de referência; sujeito a calibração

Valor usado convencionalmente nos estudos


Propensão a poupar 0,20
aplicados; sujeito a calibração

Fonte: Elaboração própria.

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298 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

Gráficos 2 a 7_ Efeitos de mudança nos parâmetros na dotação de capital


por trabalhador e no nível do PIB “per capita”

K/L PIB per capita

20 4

15 3

10 2

5 1

0 0
1970 2000 2020 1970 2000 2020
Ano Ano
s = 0,3 s = 0,3
s = 0,2 s = 0,2

8 4
6 3.25
4 2.5
2 1.75

0 1
1970 2000 2020 1970 2000 2020
Ano Ano
rt = 0,5 rt = 0,5
rt = -0,5 rt = -0,5

10 4
7.5 3.25
5 2.5
2.5 1.75

0 1
1970 2000 2020 1970 2000 2020
Ano Ano
Taxa de crescimento populacional = 1,5% Taxa de crescimento populacional = 1,5%
Taxa de crescimento populacional = 2% Taxa de crescimento populacional = 2%

Fonte: Elaboração própria.

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Mesmo investimentos em capital A única forma de elevar a taxa de


humano, que, no modelo de Solow au- crescimento de longo prazo seria, então,
mentado pelo capital humano, teriam o como fartamente sabido, gerar as con-
efeito de aumentar a produtividade total dições para um processo sustentado de
do capital (α)5, teriam apenavs um efei- introdução de progresso técnico, como
to de nível, como mostrado nos Gráfi- mostrado nos Gráficos 10 e 11.6
cos 8 e 9.
Gráficos 8 e 9_ Efeito de investimentos em capital humano
K/L PIB per capita
20 4
15 3
10 2
5 1
0 0
1970 2000 2020 1970 2000 2020
Ano Ano

alfa = 0,5 alfa = 0,5


alfa = 0,35 alfa = 0,35

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 10 e 11_ Efeito de investimentos em infraestrutura geradora de progresso técnico


K/L PIB per capita

20 4

15 3

10 2

5 1
5
Ver Barro e Sala-i-Martin 0
0
(2004, p. 59-61). 1970 2000 2020 1970 2000 2020
6
A taxa de progresso técnico Ano Ano
de 0,01 significa que o fator rpt = 0,01 rpt = 0,01
multiplicativo da função de rpt = 0 rpt = 0
produção (A) está crescendo a
1% ao ano. Fonte: Elaboração própria.

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300 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

Avaliar a pertinência de modelos Para sanar essa deficiência, pro-


sistêmicos – ou proceder à sua valida- cedeu-se à calibragem do modelo como
ção na linguagem do campo – é sempre no Gráfico 13, a seguir, o que aumenta
um processo controverso, uma vez que consideravelmente sua aderência à série
as técnicas estatísticas tradicionais são de de PIB real. Calibrar um modelo signi-
pouca valia em modelos de simulação. fica encontrar os valores das constantes
Há, entretanto, uma série de testes para que geram trajetórias das variáveis en-
estimar o grau de validade de um mode- dógenas que melhor se ajustam aos da-
lo sistêmico (ver Barlas, 1996). dos reais correspondentes. Embora a
Um primeiro teste é avaliar o grau calibração possa, em princípio, ser feita
em que o modelo é capaz de reproduzir manualmente reduzindo os erros entre
a dinâmica real da economia que se es- valores simulados e reais para cada va-
tá estudando. O Gráfico 12 indica que riável, o Vensim permite calibrar auto-
o grau de aderência do modelo, no sen- maticamente modelos complexos com
tido explicitado, é relativamente satisfa- grande número de variáveis endógenas
tório, embora o modelo tenda a supe- e parâmetros.
restimar o valor do PIB no período final
do experimento.

Gráfico 13_ Dinâmica do modelo calibrado


Gráfico 12_ Grau de aderência
350
do modelo não calibrado 350

350
350 175
175

175
175 0
0
1970 1980 1990 2000
0 Ano
0
PIB simulado: modelo calibrado
1970 1980 1990 2000
Ano PIB observado

PIB simulado: modelo calibrado Modelo não calibrado: s = 0,20; rtp = 0,0075;  = 0,35; hrt = 1
PIB observado Modelo calibrado: s = 0,18; rtp = 0,005;  = 0,35; hrt = 10

Fonte: Elaboração própria. Fonte: Elaboração própria.

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Newton Paulo Bueno 301

Esse procedimento7 consiste em tos intervalos, gerar satisfatoriamente a


determinar a combinação de parâmetros dinâmica observada das variáveis de in-
que minimiza o erro entre valores simu- teresse. Mas não parece ser esse o caso.
lados e observados das variáveis de con- Primeiro, a hipótese de propen-
trole do modelo j sistêmico construído, is- são a poupar de 0,18 é consistente com a
to é minimiza ∑ wi (Yi e − Yi r ) 2 , onde j e wi relação entre a Poupança Bruta e o PIB
i =1
são, respectivamente, o número de va- nos anos recentes. Textos atuais esti-
riáveis a ser calibradas e a ponderação mam a poupança bruta em torno de 20%
com que cada uma delas entra na função do PIB por volta do ano 2000, após ha-
de “payoff”, de modo que não seja dado ver atingido um pico de 24% no início da
peso maior no processo a variáveis com década de 1980 (ver, por exemplo, Ba-
maior dimensão absoluta (para detalhes, cha e Bonelli, 2005; Castro e Hermann,
ver Ventana Systems, 2005, cap. 18). 2005 e Apêndice Estatístico).
O presente modelo foi calibra- Segundo, o valor calibrado para o
do de modo a minimizar o erro (quadra- progresso técnico (rpt) de 0,5% a.a. tam-
do) entre as séries de valores estimados bém não parece inconsistente com as
e observados do PIB, no período 1970- estimativas obtidas em outros estudos.
2000. Os parâmetros calibrados foram a Silva Filho (2001) supõe o crescimento
propensão a poupar(s), a produtividade anual da PTF nos períodos 1980-1992
marginal do capital (α) a relação de tro- e 1993-2000, em -0,7% e 0,9%, respec-
cas (rt) e a taxa de introdução de pro- tivamente; Souza Júnior e Jayme Júnior
gresso técnico (rpt). A Figura 13 mostra (2004), em -2,0 e 0,5%, e Bacha e Bonelli
que o modelo calibrado apresenta maior (2005), em -0,8 e 1,2%.
grau de aderência (visual) à série obser- Terceiro, o valor da produtivida-
vada de PIB. de marginal do capital é consistente com
Se esses parâmetros tivessem de outros estudos (Bacha e Bonelli, 2005),
assumir valores patentemente irrealis- embora seja admissível que esse valor
tas para que as simulações reproduzis- possa estar em alguma medida subesti-
sem os dados observados da economia mado pelo procedimento de calibragem.
7
O procedimento é, em brasileira, não haveria razão para aceitar Por último, o valor do desloca-
essência, o mesmo proposto
sua validade, mesmo que o modelo fosse mento da função de relação de troca
por Kydland e Prescott
(1982 e 1996). eventualmente capaz de, dentro de cer- (hrt) de 10 significa que o valor da rela-

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302 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

ção de troca, isto é, a razão entre o po- série histórica em 1970 e 2008 são de,
der de compra das exportações sobre o respectivamente, 10 e 109).
preço das importações no que diz res- Uma segunda forma de avaliar a
peito ao ano-base de 1970 em 2000 é de pertinência desses modelos é testar sua
11, ou seja, onze vezes maior no perío- robustez, no sentido especifico de que
do estudado do que no ano-base. As sé- seus resultados básicos não sejam inacei-
ries estatísticas disponíveis não refutam tavelmente sensíveis a variações de pa-
essa hipótese. A série de Capacidade de râmetros muitas vezes não diretamente
Importar do IPEA Data, por exemplo, observáveis, como a produtividade mé-
indica um valor equivalente de hrt em dia do capital ou a taxa de introdução de
2000 de 4,1 e 9,9 em 2008 (os índices de progresso técnico (Gráfico 14 a 21).
capacidade para importar reportados na

Gráficos 14 a 21_ Análises de sensibilidade do modelo


(continua)
Variações em hrt (-0,50 > rt < 1,50)

K/L PIB per capita


8 8

6 6

4 4

2 2

0 0
0 7.5 15 22.5 30 0 7.5 15 22.5 30
Ano Ano

Variações em alfa 0,35 <  < 0,50

K/L PIB per capita


20 6

15 4.5

10 3

5 1.5

0 0
0 7.5 15 22.5 30 0 7.5 15 22.5 30
Ano Ano

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Newton Paulo Bueno 303

Gráficos 14 a 21_ Análises de sensibilidade do modelo

(conclusão)
Variações na taxa de depreciação (0,025 < d < 0,05)

K/L PIB per capita


20 4

15 3

10 2

5 1

0 0
0 7.5 15 22.5 30 0 7.5 15 22.5 30
Ano Ano

Variações na taxa de progresso técnico (0,005 < rpt < 1,02)

K/L PIB per capita


10 4

7.5 3

5 2

2.5 1

0 0
0 7.5 15 22.5 30 0 7.5 15 22.5 30

Ano Ano

50% 75% 95% 100%

Fonte: Elaboração própria.


Notas: A ferramenta de análise de sensibilidade do Vensim simula automaticamente o modelo (por meio de
métodos de simulação Monte Carlo) para variações aleatórias nos valores de parâmetros escolhidos
dentro de intervalos preestabelecidos. Assim, por exemplo, define-se o intervalo de variação para a
taxa de introdução de progresso técnico entre 0,5%, o valor estimado por calibração neste trabalho
para o parâmetro, e 1,2%, a taxa estimada por Bacha e Bonelli (2005) para o período 1993-2002. Os
dois últimos gráficos mostram que variar esse parâmetro não altera os resultados de forma significa-
tiva: as simulações para o PIB per capita e K/L distribuem-se em torno de U$ 2.800 e 9 no último
ano da simulação, respectivamente. Essa conclusão se mantém para os demais parâmetros.

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304 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

Uma última forma de “validar” mica calibrada para a dinâmica do PIB


um modelo sistêmico é testá-lo para brasileiro no período 2001-2007. Como
condições extremas, por exemplo, su- o modelo foi calibrado exclusivamente
pondo que a propensão a poupar ou a para o período 1970-2000, pode-se con-
produtividade do capital sejam iguais a siderar este como tendo sido uma épo-
zero. Para passar no teste de validação, ca de treinamento, e o período poste-
o modelo não pode apresentar trajetória rior, como o de previsão. A impressão
inconsistente do ponto de vista lógico, óbvia é de que o modelo faz um traba-
mesmo nessas condições extremas. Di- lho muito bom em prever a evolução do
versos testes de dinâmica sob condições PIB real nos últimos anos, o qual estaria
extremas foram efetuados, por exemplo, convergindo para o nível de produto es-
supondo s e α =0, sendo que o mode- timado com base no modelo de Solow-
lo não apresentou dinâmicas inaceitáveis Swan (Grafico 22).
para as variáveis relevantes como PIB ou As simulações de modo geral tam-
estoque de capital negativo. bém confirmam os resultados encontra-
dos por autores que recentemente têm
5_ Discussão procurado identificar as principais fon-
O Gráfico 22 apresenta as previsões do tes do crescimento da economia brasilei-
modelo de Solow-Swan em versão sistê- ra, com diferenças pontuais:

Gráfico 22_ Evolução estimada do PIB: 2001-2007


350
350

175
175

0
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Time (Month)
PIB simulado: Yr2007
PIB real: Yr2007
Fonte: Elaboração própria.

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Newton Paulo Bueno 305

– A taxa de progresso técnico tem si- – O impacto dos investimentos em


do em geral baixa; quando medida capital humano sobre o crescimen-
para todo o período, obtém-se a ta- to do produto potencial tem sido
xa de crescimento média de 0,5% insignificante, visto que a produti-
ao ano; as taxas de progresso téc- vidade marginal do capital se situa
nico da Coreia do Sul e de Taiwan no nível mais baixo entre todas as
para um período comparável, por estimativas, 35%.
exemplo, foram de 1,7% e 2,6% – O crescimento do produto per capita
a.a., respectivamente (Barro e Sa- no período pode ser em grande par-
la-i-Martin, 2004, p. 440). Essa ta- te atribuído ao aumento da dotação
xa, apesar disso, é ainda maior do de capital por trabalhador; enquan-
que a estimada por Bacha e Bonelli to a relação capital produto da eco-
(2005) para o período 1984-2002, nomia elevou-se cerca de 2,9% a.a.,
que é de aproximadamente zero.8 a dotação de capital cresceu cerca
– As relações de troca melhoraram de 5% a.a. em termos médios du-
substancialmente, refletindo princi- rante todo o período. As simula-
palmente a diversificação da pauta ções, entretanto, revelam que es-
de exportações a partir de meados ta taxa foi significativamente maior
da década de 1980, como aponta- no início do período de simulação:
do pelo parâmetro hrt calibrado em entre 1990 e 2000, por exemplo, a
um valor em torno de 10. taxa média da dotação de capital
– A taxa bruta de poupança, isto é, foi de apenas 1,9% a.a., o que su-
considerando a poupança domés- gere que a economia esteja se apro-
8
Ponderando as taxas de tica e a interna, que melhor “ajus- ximando do seu nível estacionário,
crescimento da PTF por cada ta” o modelo é de 18% para todo o como mostrado na Figura 2, e que,
período estudado. Assim, período. Mas é possível identificar portanto, a contribuição desse fator
por exemplo, a taxa de
progresso técnico estimada também que o impacto favorável para o crescimento tenda a diminuir
para o período 1984-1993 da poupança tem sido declinante de importância no futuro próximo.
é de -0,008, a qual entraria ao longo dos anos: os valores ob- – Parece provável também que não
com uma ponderação de possamos esperar aumentos sig-
servados dessa variável em 1980 e
aproximadamente 33% no
cômputo da taxa média 1975, por exemplo, foram de 29% nificativos na taxa de crescimento
do período. e 34%, respectivamente. (de transição), provenientes de re-

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306 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

dução na taxa de crescimento po- valor de, digamos, 0,5, em consequência


pulacional e em melhoria ulteriores desses investimentos. Isso ocorrendo, o
das relações de troca. As análises PIB per capita poderia aumentar em cer-
de sensibilidade realizadas indicam ca de 50% quando o pleno impacto des-
que variação nesses parâmetros, ses investimentos se fizesse sentir. Deve-
além de produzir apenas variação se lembrar, entretanto, que esse seria um
de nível, não afeta significativa- efeito de nível, isto é, não elevaria a taxa
mente a dinâmica de longo prazo de crescimento de longo prazo em ter-
da economia. mos permanentes. Assim não parece ha-
ver muita saída para o País, como suge-
rido pela teoria e pela evidência empírica
6_ Conclusão disponível, a não ser focalizar a política
na constituição de um ambiente favorá-
A conclusão geral a ser extraída do exer- vel à inovação tecnológica.
cício de simulação realizado é relativa- Mas em que medida as simulações
mente pessimista. O Brasil ainda não foi realizadas podem ser tomadas como uma
capaz de alcançar uma trajetória de cres- base confiável para fundamentar esta
cimento do progresso técnico consisten- conclusão? Como todo modelo, o em-
te com uma taxa de crescimento acei- pregado neste trabalho é altamente ir-
tável. As fontes que até o momento realista, de modo que chega a ser sur-
sustentaram um crescimento relativo do preendente que ele seja capaz de gerar
PIB nas últimas décadas, como a inten- previsões tão consistentes com a evidên-
sificação da dotação de capital por ho- cia empírica disponível; nenhuma de su-
mem, parecem estar atingindo seu teto as previsões, como aferido pelos testes
de longo prazo. A possibilidade de ele- de condições extremas, é patentemente
var o nível do PIB per capita através de absurda ou mesmo desvia-se acintosa-
investimentos em infraestrutura e em mente dos dados observados. Mas será
educação, por outro lado, parece plau- que faz realmente sentido fazer inferên-
sível, visto que a produtividade do ca- cias com base em dados tão agregados?
pital, medida pelo parâmetro α, encon- Como é fácil suspeitar, achamos
tra-se em níveis relativamente baixos e que sim e por uma razão simples. O cres-
provavelmente pode aumentar para um cimento de uma economia depende de

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Newton Paulo Bueno 307

fatores estruturais os quais são em gran- das em outros trabalhos. A contribuição


de parte determinados por suas insti- mais importante que a metodologia da
tuições. Como bem estabelecido na li- dinâmica de sistemas pode oferecer em
teratura mais recente,9 as instituições estudos como este é a de, devido a sua
fundamentais de um país apresentam al- flexibilidade, abrir uma gama de novas
to grau de estabilidade. Assim o ritmo possibilidades no que diz respeito à ex-
de introdução de progresso técnico, por perimentação com modelos teóricos, ao
exemplo, depende, entre outras variáveis, possibilitar, por exemplo, realizar aná-
do grau de estabilidade de instituições lises de sensibilidade de soluções atra-
como o regime de proteção da proprie- vés de procedimentos simples e estimar
dade intelectual e do grau de eficiência o valor de parâmetros não observáveis
do Poder Judiciário em garantir a aplica- com base no procedimento de calibra-
ção das leis correspondentes. ção. A dinâmica de sistemas, em ou-
Por isso, embora seja plausível tras palavras, pode ser um instrumen-
que esse ritmo possa diminuir em perí- to eficiente para a escolha de políticas
odos de dificuldade econômica, faz sen- econômicas, particularmente as relacio-
tido imaginar que, em uma perspectiva nadas com a questão do desenvolvimen-
um pouco mais ampla, ele dependa de to econômico.
variáveis que se ajustam lentamente, o
que torna convincente a ideia de que tal-
vez seja mais realista utilizar uma mes-
ma previsão dessa variável para períodos
não excessivamente longos, mas tam-
bém não tão curtos, como o estudado
neste trabalho.
Dessa perspectiva, parece que
exercícios como o que se realizou aqui
podem ter mais um caráter esclarece-
dor do que investigativo, pois, afinal, as
conclusões a que se chegou foram exa-
9
Ver, por exemplo, tamente as previstas pela teoria econô-
Acemoglu et al. (2005) mica relevante e semelhantes às já obti-

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308 O modelo de Solow-Swan na linguagem de dinâmica de sistemas

Referências bibliográficas

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n. 3, 2005.
an econometric tool. Journal of revision 2).
BARLAS, Y. Formal aspects of Economic Perspectives, v. 10, n. 1,
model validity and validation in Winter 1996. O autor agradece ao CNPq pela
system dynamics. System Dynamics concessão de bolsa de produtividade
KYDLAND, F.; PRESCOTT,
Review, v. 12, n. 3, 1996. em pesquisa que viabilizou o estudo
E. Time to build and aggregate
BARRO, R.; SALA-I-MARTIN, fluctuations. Econometrica, v. 50, em que este trabalho se baseia.
X. Economic growth. Cambridge, n. 6, 1982.
Mass.: MIT Press, 2004.
MORANDI, L.; REIS, E. J.
E-mail de contato do autor:
BONELLI, R. O que causou o Estoque de capital fixo no Brasil: npbueno@ufv.br
crescimento econômico no Brasil? 1950-2002. In: ENCONTRO
In: CASTRO, L. B.; HERMAN, NACIONAL DE ECONOMIA,
J. (Eds.). Economia brasileira 32., 2004, João Pessoa.
Artigo recebido em maio de 2009;
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Newton Paulo Bueno 309

Apêndice Documentação Completa do Modelo de Simulação Calibrado


A = (1 + taxa de progresso técnico)^t
Absorção Interna = PIB – Exportações
alfa = 0,35
d = 0,05
Depreciação = K*d
dK/dt = Poupança
E=5
Empréstimos = PULSE (5, 10)*E
Exportações = “x*”
FINAL TIME = 30
rt = 1
Importações = Exportações * relação de troca + Empréstimos
INITIAL TIME = 0
K = INTEG (+ “dK/dt” – Depreciação, 72)
L = População * PEA
PEA = 0,55
PIB = PIB per capita * L
PIB per capita = A * ((“K/L”)^alfa)
População = 93 * (1 + taxa de crescimento populacional)^t
Poupança = (Absorção interna + Importações) * Propensão a poupar
Propensão a poupar = s
Relação de troca = 1 + hrt
rpt = 0,005
s = 0,15
taxa de crescimento populacional = 0,025 – STEP(0,005, 20)
taxa de progresso técnico = rpt
TIME STEP = 1
x* = 5,5 + step(16,6)
PIBreal = variável com dados reais

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