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Saudades Da Terra Historia Geneologica de-São-Miguel-Açores - PDF Versão 1
Saudades Da Terra Historia Geneologica de-São-Miguel-Açores - PDF Versão 1
GASPAR FRUCTUOSO
SAUDADES DA TERRA
HISTORIA GENEALÓGICA
DE '
SAM MIGUEL.
PONTÁ DELGADA.
1876.
iNniflMfl unhe
UBRARIES
8J.00MJNGT0N
IÁ
Era cotno que um mytho a historia insulana -— Saudades da Ter
sa — escripta por Gaspar Fructuoso.
Toda a gente fatiava d'esta obra, que entre os açorianos tem
perpetuado o nome de seu author, mas a poucos era dado o aprecial-a.
Do original d'aquelle trabalho, legado aos padres jesuitas, algumas
copias existiam em poder de opulentos, sendo o livro quarto, o que
trata de genelogias michaelenses, o mais multiplicado pelos copistas.
Havia para isso rasòes especiaes, e mais d'um pleito judicial se
instaurou sobre reinvidicaçao de bens, em virtude das arvore» genealo
gicas para os quaes este livro prestava seguros dados.
Emprehendendo a publicação d'este precioso repositorio de noticias
ácerca das antigas familias d'esta terra, pondo ao alcance de todos o
que até agora só poderia ser possuido por pessoas muito ricas, no caso
de poderem pagar as avultadas despesas d'uma copia manuscripta, ti
vemos em mira prestar um serviço publico.
Agora só quem fôr totalmente indifferente pelas cousas patrias; quem
não prestar o menor culto ao passado, em que tantos vultos eminentes
conquistaram para estas plagas glorias immorredouras; só aquelles pa
ra quem sào sem significação factos de tanta valia, como o conheci
mento das origens e constituição da familia michaelense, do seu modo
de ser nas primeiras idades d'esta terra, e de muitos outros de real
interesse para a philosophia da historia, continuará a viver d'elles igne-
rante.
Varias tentativas se tem feito para publicar pela imprensa o quasi
vedado fructo do trabalho do eminente michaelense Gaspar Fructuoso,
mas todas goraram em presença da avultada despeza que era preciso
realisar para as levar a effeito.
Nós mesmo nos não abalançaríamos ao tentamen, sem auxilio d'um
cavalheiro poderoso e profundamente amigo d'esta terra. A elle épois
devida a honra do serviço prestado com esta publicação.
<, i
,
II
Das copias que existem, tem uma i> ar." José do (Janto, que era de
Jofto d'Amida, authenticada por dons escrivães ; outra é propriedade
da bibliotheca publica de Lisboa, tirada pelo corregedor Veiga.
DO
O QUAL
Nasceu na cidade dk Ponta delgada em '1522. e falleceb
nesta villa em 24 vagosto de 1591.
Mello Cabral, 6#000 rs. ; Francisco Tavares Corrêa, 30600 r«. ; revi,'
Francisco Moniz Tavares, 20400 rs. ; revd.* José Ignacio Monia, 60000
rs. ; Jorge Botelho Pacheco, 50600 rs. ; revd.° Manoel Tavares da
Rezende, 20400 rs. — Total, 2990200 rs.
O monumento foi justo por mais do dobro d'esta quantia.
OS EDITORES =
,
u n
POR
HISTORIA GENEALÓGICA
CAPITULO PH1MEMO.
1
ti
]•, de odio, nem vingança, de temor, nem covardia, com qae me pude-
Ta cegar ; se algumas d'estas faltas tivera, para me desviar da verdade,
das cousas que cootei, e contar quero.
Porque ainda que seja condição geral de todas as gentes, por da
rem antigos e illustres principios a sua linhagem, fabularem sempre
cousas, ás quaes a antiguidade, se não testemunha, dá licença, assim co
mo não deixei de contar a certeza do que soube dos illustres capitães da
ilha da Madeira, Santa Maria, e seus moradores, assim tambem não
deixarei de dizer, pois lallo entre vivos, que se não viram, ouviram o
que ouvi afflrmar por muito certo, a alguns antigos, dignos de lé, d'esta
ilha de Sam Miguel, do que sabiam dá origem e feitos dos seus illus
tres capitães, que dos da ilha da Madeira descendem por linha mascu
lina. E ainda que aqui nascera, sem suspeita de natural, com rosto des
coberto, sem pejo nem empacho, direi verdadeiramente todo quanto dis
ser, dos naturaes d'esta ilha, reprovando alguns fingimentos antigos,
fóra de proposito e razão, que nio levam o caminho da verdade ; apro
vando os mais racionaveis e vefdàdeiros.
lado, subitamente lhes acalmo» o vento ; de sorte que não puderam nave
gar : e vendo-se assim em calma, determinaram fazer saber a nova, que
thes fora encommendada. Pondo-se o piloto ao bordo da aia, levantou a
voz quanto pôde, e disse ao ar- Faço-vos saber, que o grande diabo Pam,
é morto; e logo que disse estas palavras, foi ião grande a multidão de
vozes e gritos, que ouvio, que atroou todo o mar. e durou aquelle
choro, que ouviram fazer, muito grande espaço : o qual ouviram com
grandíssimo medo. Fizeram sua viagem pelo melhor modo que pude
ram ; e chegados ao porto, depois de vindos a Roma, publienu-se n'el-
ta este caso por muito estranho.
serra, algumas vezes, a ilha de Sam Miguel, quando estava o tempo claro.
E depois de tornar para casa do senhor, dizia —que da serra d onde au-
dara. vira uma terra grande para a banda do norte : sendo d'isto certifi
cado o infante dom Henrique ; por esta noticia e rasãq, que lhe acresceu
as mais que entendia, posto que já tinha mandado descobrir a ilha de
cam Miguel, sem os descobridores a poderem achar ; tornou a mandar
aq mesmo Fr. Gonçallo Velho, por ser capitão da ilha1 de Santa Maria, c
já cursado n'estas viagens, no descobrimento d'esta sua visinha.
Deixando o que atraz disse dos cai thaginezes, que conjecturei have
rem sido primeiros, e antigos descobridores d'ellas, ou das mais d'estas
ilhas dos Açores, o que me parece ter sombra de verdade, p°las rasões
já ditas : e não fallando no que outros dizem, que foi esta ilha de Sam Mi
guel, antes de ser achada pelos portuguezes, setenta annos atraz, desco
berta por um grego, que com tormenta desguerrou de Cadiz, e vindo a
dar n'ella a foi pedira El-Rey, que lh'a deu, e trazendo o gado qus n'elta
lançou, logo falleceu : ficando a ilha um ermo, até ao tempo que os por
tuguezes a descobriram, e n'ella acharam ossada de gados. Na bania da
Lagoa acharam-se ossos de carneiros, pelo que lhe puzeram o nome —
Porto dos Carneiros, o que eu tenho por cousa fabulosa, e longe da ver
dade. Direi o que sei do seu descobrimento por memorias e escríptos dos
antigos, e por tradição d'elles, que de mão em mão, ou de memoria em
memoria, veio ter ás mãos e lembrança dos moradores presentes, que
n'ella vivem, e é o que se segue.
Depois de turmr Fr. Gonçallo Velho, «apitão da ilha .do Santa -Ma
ria, da primeira viagem que (et por mandado do infante ao descobri
mento d'esta ilha de Sam Migue! sem a poder achar, nem vêr, andando
perto d'ella, tavrando os mares com muitos bordos, entre ambas as ilhas.
Pelo que o infante sabia, lhe respondeu : que andira entre o ilhea e a
terra, que é a ilha de Santa Maria, e a terra esta de Sam Miguel ; e
por que lhe disseram que a vira um negro fugido, tornou, como já disse,
a mandar ao mesmo Fr. Gonçallo Velho a buscal-a, dando-lhe por regi
mento que puzesse a popa no ilheo, que é a ilha de Sanía Maria, e nave
gasse para o norte, daria na ilha, que lhe mandava buscar. O que com-
/S
10
primlo o dito Fr. Gonçallo Velho, e o piloto que trazia, por nome Vi
cente, natural do Algarve, cujo nome não soube quasi doze annos intei
ros. Depois de ser descoberta a ilha. « aos oito dias do mez de maio
de mil quatro centos quarenta e quatro, , em dia do apparecimento do
archanjo Sam Miguel, principe da egreja, foi vista e descoberta por elles
esta ilha. Que por ser achada, e apparecer em tal dia e festa, lhe foi
posto este nome de ilha de Sam Miguel, de felicíssima sorte.
Goveraova o reyno o infante dom Pedro, filho de El-Rey dom Joam.
de feliz memoria, primeiro d'estenome. decimo rey de Portugal. O qua!
se prova : por que por morte d'este rey dom Joam, reynou seu filho dom
Duarte, que morreu na cidade de Thomar, no anno de mil quatro centos e
trinta e oito: e por sua morte houvera de reynar seu filho dom Affonso,
que nasceu na era de mil quatro centos trinta e dous ; por não ter mais
que seis annos, não se lhe entregou o reyno ; mas foi entregue a seu tio
o infante dom Pedro, que governou pelo dito sobrinho até ao anno de mil
quatro centos quarenta e oito. no qual foi entregue ao dito rey dom
Affonso. Entre estes annos, mil quatrocentos e trinta e dous em que nas
ceu o principe, ou o rey dom Affonso, e principiou a governar por elle
o infante donj Pedro, e o anno de mil quatro centos e quarenta 9 oito,
em que acabou de governar, por entregar o governo ao rey dom Affon
so, se inclue e conta o anno de mil quHtro centos quarenta e quatro,
quando esta ilha de Sam Miguel foi achada, e o infante dom Pedro go
vernava o rejno. Logo no anno de mil quatro centos quarenta e nove,
o serenissimo rey dom Affonso, governando no primeiro anno do seu rey-
nado, deu licença ao infante dom Henrique, seu tio, para mandar povoar
estas ilhas dos Açores, passados alguns dias do seu descobrimento. No
anno de mil quatro centos « oitenta, outros dizem que no de oitenta e
um, falleceu o rey dom Affonso, e no mesmo anno, antes do seu falleci-
mento, fez as pazes com Casteila.
Chegando a esta ilha os novos descobridores, tomaram terra no logar
onde agora se chanca a Povoação Velha, pela que ali fizeram depois nova;
como ao diante direi: e desembarcando entre duas frescas ribeiras, de
claras, doces e frias aguas, entre rochas e terras altas, todas cobertas de
alto e espesso arvoredo,, de cedros, louros, ginjas, fayas e outras arvo
res diversas. Deram todos com muito contentamento e festa, graças a Deos,
não as que por tão alta mercê lhe deviam, se não as que podem ihr
uns corações contentes com tão grande bem, que tinham presente, de
sejado por muitos dias, com tanto trabalho, enfadamento; importunas
viagens, e por tantas vezes buscado. De crer é trariam sacerdote, que
a li dissesse missa, como alguns dizem, onde no dito logar éstá agora
uma ermida de Santa Barbara ; e (01 a primeira que n'esta ilha se disse :
mas que missa fosse,ou quem a dissesse, não se sabem essas particulari
dades, nem outras que ali se passaram, como alguns querem dizer, e
contarei ao diante.
mercês com a benignidade devida a tão bons servos, e tae• servo» me-t
reciaut: fazendo particular mercê a Fr. Gonçalio Velho, da capitania da
ilha, que novamente achara, com a outra capitania que lhe tinha dado
da ilha de Santa Maria. Com justa rasão ficou capitão de ambas ; por
que os multiplicados serviços não se pagam com singellos premios, mas
sim Min mercês dobradas.
CAPITULO SEGUNDO.
brio lodo o caso, como se passara na verdade, pelo que o enforcaram sem
mais processo de justiça. Dizem tambem outros que dez, ou doze ho
mens casados vieram com suas mulheres e filhos, de Santa Maria, 8 fize
ram assento na Povoação Velha ; e porque vinha na sua companhia hum
homem solteiro, e não queria trabalhar, nem montear com elles, mas
ficava sempre nas pousadas, que eram cabanas de palha, feno, ou rama;
temendo-se deste mancebo por ficar-se com suas mulheres, ordenaram
entre todos buscar modo para o castigarem por se verem livres do re
ceio que tinham. Fizeram entre si juiz, escrivão, e alcaide, e dizendo-se
que commettia adulterio, foi sentenciado á forca, como logo o enforcaram
em uma arvore : e por esta causa os mandara ir o infante D. Pedro, Re
gente, amarrados para os castigar, se não os patrocinassem os infantes, e
principalmente o infante dom Henrique seu irmão, que lhes deu, e alcan
çou perdão para todos.
Contam outros que alguns annos depois da ilha de Santa Maria ser
povoada se namorou um mancebo de uma moça filha de certo homem
principal da terra : e como ambos não podessem gozar d* seus amores,
nem satisfazer os seus desejos, determinou o mancebo furtal-a, e leval-a
para fora da ilha, para o que descobrio seu intento a hum amigo, por
cujo conselho tirou a moça de casa de seu pay ; e com ella vieram em
um pequeno barco para esta ilha de Sam Miguel, que então não era po
voada, ainda que havia dias estava descoberta, e muitas vezes se via da
ilha de Santa Maria. Parece vieram estes namorados em quanto o navio
que a descobrio foi ao reyno, ou depois de ter já o infante mandado lan
çar muito gado nesta ilha. Chegou o mancebo com a sua esposa, e
amigo a esta costa, desembarcaram na Povoação, e caminhando pela ter
ra dentro, fizeram entre as espessas matas umas pequenas choupanas nas
quaes viviam : passados alguns mezes peleijou o mancebo com o amigo
s>obre a moça, e matou um ao outro. Neste tempo chegou ao mesmo
porto um navio do reyno com gente que mandava o infante para povoar
a ilha : viram a grandeza da terra, a frescura da ribeira, que neste por
to entra no mar ; fizeram junto da mesma ribeira casas cobertas de pa
lha, que logo na primeira noite foram queimadas pelo homem, que es-
* . ')
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tava na terra, por cuja causa, e mais suspeitas e receios, que delle tive
ram os novos povoadores, o prenderam em um cepo, que lhe armaram,
e enforcaram-no em uma das muitas arvores que ali havia. Consideran
do depois o mal que obraram, assentaram fazer autos do morto, e tirar
devassa; tirada esta sahiram com um, despacho sem appellação, como
dizem fez Joam do Monte a Melchior Martins na Lagôa.
Dizem que estes mesmos da primeira povoação foram os primeiros ,
que sainearam trigo, e os campos onde a samearam eram tão abundan
tes, e ferteis, que não. criava o trigo espiga; mas fazia canna grossa,
coberta de grandes e largas folhas, como dizem aconteceu no Brasil ;
feita esta, experiencia .escreveram ao. infante dizendo que a terra não era
capaz de ser povoada, pois não dava trigo, era muito estreita, um lom
bo de serra, e lhes desse licença para tornarem para o reino. Ainda que
afflrmavam dar com abundancia muitos legumes, como cbicharos, lenti
lhas, favas, e ervilhas, e o gado multiplicar tanto, que, do. pouco que
sua alteza mandara lançar, na terra, estava toda' cheia. Respondeu o in
fante que bastava dar legumes, e multiplicarem os gados tanto, como
aífirmavam. Demais se não dava trigo naquella parte pela fertilidade do
logar, que o daria em outra, como se vio d'ali a poucos annos ; pois dis
correndo estes novos povoadores pela costa em um batel, vieram ter a
uma pequena praia que tinha ao mar fronteiro um ilheo não' muito apar
tado delia onde desembarcaram; observando a terra com attenção- acha
ram um targo o espaçoso campo, determinaram cnltival-o, o sernearam-
no de trigo, o qual rendeu tanto, que os poz em admiração : a uma vil-
la que depois se edificou nes'.e campo chamaram Villa Franca do Cam
po; porque foi nelle fundada.
De todo o sobredito se infere, que o homem que veio da ilha de
Santa Maria, foi o povoador desta ilha, e o primeiro que neMa- levantou
casa ; e os que ao depois vieram foram os segundos povoadores, com
os quaes ficou a mulher que veio furtada da mesma ilha de Santa Ma
ria, ou fosso casada, ou solteira.
Ainda que a povoação, que agora chamam Velha, não desse trigo
B aquelles primeiros annos que o semearam, comludo deu-o ao depois
,
CAPITULO TERCEIRO.
v
22
Dona Catharina Velha Cabral casou com um fidalgo, cujo nome ig-
poro ; teve a dona Catharina que casou com Martinho da Silveira, do
qual houve a Manoel da Silveira, capitão maior que foi do mar da In-
dia, e a mulher de Nuno da Cunha, que foi vice-rei da índia, e não sei
se teve mais filhos. Dona Leonor Cabral casou com outro fidalgo, cujo
nome não soube; d'elles nasceu uma filha por nome dona Cecilia, a qual
casou com Francisco de Miranda, de quem nasceram Diogo de Miranda,
e Pedro de Miranda, deão da sé de Évora. Diogo de Travassos, como
fica dito, filho de Martinho Gonçalves de Travassos, e de dona Cathari
na Dias de Mello, foi védor do infante dom Pedro, regente do reyno, e
seu escrivão de puridade, aio e padrinho dos filhos do dito infante, e
do conselho de el-Rey dom Affonso, quinto d'este nome ; jaz sepultado
no mosteiro da Batalha, defronte da porta da capella de el-Rey dom Joam
primeiro, e dos infantes seus filhos, da parte de fóra. Tem sobre a cova
uma campa com uma grande lettra D., que significa o seu nome Diogo ;
a qual lettra lhe mandou pôr o Rey, por ser muito privado seu ; tanto
que adoecendo mortalmente, o foi visitar a sua casa o mesmo Rey em
pessoa. Era homem grande de corpo, bem disposto, gentil-homem, va
lente, e forçoso ; com as quaes partes servio bem ao Rey nas guerras
com Castella ; e foi por seu mandado com o infante na tomada de Ceu
ta, onde foi armado cavalleiro pelo dito infante ; pelo que, era muito
favorecido dos principes.
Era Gonçalo Velho, o famoso commendador de Almourol, e pri
meiro capitão que foi da ilha de Santa Maria, e d'esta de Sam Miguel,
tão valente de sua pessoa, que mandando el-Rey dom Joam correr tou
ros em Évora, mandou elle fazer um cadafalso para levar a vel-os umas
sobrinhas suas, dona Cecilia, e dona Catharina, e outras parentas. Es
tando já o curro serrado entrou elle com as sobrinhas, c passando com
dous pagens, que iam diante para o cadafalso, estava para se correr um
touro, poderoso e bravo; mandou el-Rey o lançassem no curro a Gon
çalo Velho, que ia passando com as sobrinhas. Tanto que o touro entrou
no curro foi arremettendo a elle ; recolheu com o braço esquerdo para
traz aos pagens junto das sobrinhas : e chegando o touro jà muito perto
24
esforço, animo, e valentia, que tinha, o fez commetter, sem estimar, nem
temer aquelle perigo. E por ser <i'esta qualidade e de tão boas partes,
'era muito privado do infante dom Henrique, e foi enviado por eMe a des
cobrir estas ilhas de Santa Maria, e Sam Miguel, que descobrio, e foi
fpito capitão d'ellas, trazendo comsigo aos ditos dous seus sobrinhos,
Pedro Velho e Nuno Velho. Tornando para o reyno por não se conten
tar viver em terra erma, senão na corte onde se criára nas abas dos
principes ; fizera os sobrinhos capitães, um d'uma, outro d'outra ilha,
mas o infante acabou com elle, que fosse capitlo d'ellas outro seu so
brinho, que andava em casa do mesmo infante, chamado Joam Soaresde
Alhergaria, filho d 'outra irmã do dito Gonçalo Velho, e irmão da
dita dona Violanta., mulher de Diogo Gonçalves de Travassos, atraz dito.
O qual feito depois capitão pela renuncia de seu tio, que ficou ém Portu
ga^ onde falleceu sem ter filhos; veio moiar a estas ilhas, governan-
do-as com muita prudencia e deligencia, residindo principalmente o mais
do tempo na ilha de Santa Maria, por ser mais povoada n'aquejle tempo.
Dos filhos que teve disse já tratando da ilha de Santa Maria ; pelo
que agora não direi maisd'elles, remettendo-me ao que tenho dito, nem
agora tornei a fali ar n'elles, senão pôr haverem sido dos primeiros ca
pitães d'esta ilha de Sam Miguel ; sendo Gorçalo Velho, primeiro, e seu
sobrinho Joam Soares, o segundo. Dos sobrinhos de Gonçalo Velho, cha
mados Pedro Velho Cabral, e Nuno 'Velho "Cabral, procederam os Ve
lhos d'estas ilhas de Santa Maria e Sam Miguel, como agora direi, alem
do que tenho dito d'elles, na historia da ilha de Santa Maria, já contada.
Dos dous filhos de Diogo de Travassos, e de dona Violanta Cabral, so
brinhos do capitão Gonçalo Velho, que com elle vieram a estas ilhas, e
houveram de ser capitães d'ellas, se o infante o consentira, o Pedro
Velho n'esta ilha de Sam Miguel fez a ermida de Nossa Senhora dos
Remedios da Lagôa, e jaz sepultado nella : viveu ali perto d'onde tinha
as suas terras ; não sei com quem foi casado. Mas da sua mulher, ( que
diz o capitão Manoel Rebello da Camara, que possue a sua terça, s,er
Catharina Affonso ) houve dous filhos, a saber — Gonçalo Velho, e Es
tevão de Travassos : e tres filhas, a saber — a mulher que foi de Joam
2G
Gonçalo Velho, filho de Pedro Velho, foi casado com uma mulher
da geração dos Amados, chamada Catharina Alves de Benavides, da
qual houve os filhos seguintes ; a saber — a mulher de Jorge Nunes Bo
telho, que se chamava Margarida Travassos, e Lopo Cabral de Mello, e
Thereza Velha, que casou com um letrado, chamado Antonio Alves, fi
lho de Joam Alves, do pico que arde da Ribeira Grande, e casou segun
da vez com Sebastião Fernandes de Freitas ; dos quaes não houve filhos.
Amador Travassos, filho de Gonçalo Velho, casou com Maria de Olyva,
na Africa, onde esteve muitos annos em serviço do Rey, e de lá a trou
xe, da qual houve a Hecudiano Cabral, sacerdote, e Affonso de Olyva,
Nuno Travassos, o uma filha, que se chama Briolanja Cabral ; a qual ca
sou com Pedro Castanho, homem de grandes espiritos, e outra filha cha
mada Margarida Travassos, que casou com Miguel Fernandes, filho de
Sebastião Fernandes de Freitas, e outra filha chamada Roqueza Cabral,
que casou com Antonio Corrêa de Sousa. Estevão Travassos, filho de
Pedro Velho, casou com Catharina Gonçalves, filha de Gonçalo Annes,
e de Cítharina Affonso, naturaes da cidade do' Porto, de quem houve
filhos Pedro Velho de Mello, Joam Cabral, Amador Travassos, sacerdote,
vigario que foi em Sam Roque : e filha Philippa Travassos, mulher de
Joam Cabral, que não houvera filhos.
Joam Cabral casou com uma filha de Vasco Vicente, da villa d'Agua
do Pao, irmã do padre beneficiado Manoel Vaz, na villa da Ribeira
Grande : houve de seu marido muitos filhos e filhas ; e Branca Velha
mulher de Christovão Roiz, do qual houve alguns filhos e filhas. Pedro
Velho de Mello casou em Lagos, com uma nobre mulher, a quem não
poude saber o nome.da qual houve duas filhas, Violanta Cabral, mulher
de Manoel Roiz, o Saramago de alcunha, e outra que se chamava An
tonia Travassos, que casou. .tom Manoel Fernandes, filho de Joam Fer
nandes, de Santa Clara. Violanta Velha, filha de Pedro Velho, sobrinha
27
Paiva, da qual não houve filhos : c depois com uma filha de Miguel Ser
rão. Teve mais Antonio Lopes da Fonseca, de sua mulher Constancia
Falcôa, outro filho, chamado Antonio Lopes da Fonseca, que casou com
Briolanja Gil, de quem tem filhos: e outro filho, por nome Ruy da Fon-
seca, casado com Guiomar Ferreira, filha dc Antonio AlTonso, cavalleiro,
e de, sua mulher Antonia Ferreira, de quem tem filhos. Houve mais a
dita Constancia Falcôa, de seu marido Francisco da Fonseca, duas filhas,
uma chamada Leonor Velha, casada com Joara Gonçalves, o cavalleiro,
morador no logar da Relva, de quem tem filhos e filhas.
Casou Maria Falcôa, segunda vez com o dito Antonio Lopes Rebe 11o,
primo segundo de Simão Rodriguez, de que houve estes filhos — o pri
meiro, chamado Ruy Lopes Rebello, que fallcceu solteiro em Lisboa. O
segundo, Manoel Lopes Rebello, que casou em Villa Franca, com Clara
da Fonseca, filha de Jorge da Motta, e de Bartholeza da Costa, de quem
houve um filho, por nome Manoel Botelho, que casou na villa da Ribei
ra Grande, com Maria Corrêa, filha de Sebastião Jorge 'Formigo, e de
Joanna Tavares, de quem tem filhos ò filhas. Houve mais Manoel Lo
pes uma filha, chamada Maria de S. Bento, freira no mosteiro de Villa
Franca. Outra filha de Antonio Lopes, chamada dona Izabel Fernandes,
casou, primeira vez, com Manoel de Logoarde, da Fajã, escrivão que
foi na mesma cidade ; e segunda vez com Gaspar dc Betancor de Sá, de
nenhuma houve filhos.
Teve tambem Nuno Velho de Travassos, a primeira filha Izabel Nu- .
nes Velha, casada como fica dito, com Fernando Vaz Pacheco, de que
houve quatro filhas, e um filho. A primeira filha, chamada Guiomar Pa
checo, foi casada com Heitor Barboza da Silva, filho de Sebastião Bar
boza da Silva, morador na Fajã, perto da cidade; de que houve filhos :
Nano Barboza, Pedro Barboza, Henrique Barboza, esforçado cavalleiro
na índia, e d'elle direi ao diante na geração dos Barbozas. Teve tambem
Izabel Nunes Velha, filha de Nuno Velho de seu marido Fernando Vaz,
outra filha Maria Pacheca, que casou corri Estevão Alves de Rezende,
do qual houve estes filhos : Fernando Alves Cabral, que fôra para fóra
d' esta ilha, e não se sabe d'elle : outro filho chamado Manoel Pacheco,
34
que foi a índia de Castells, sem mais virem novas d'elle. 0 terceiro fl* -
lho, Pedro Alves Cabral, que casou com Izabel Bicuda, filha de Vicente
Annes, e mora na Ribeira Grande, homem de nobre condição, e grandes
espiritos, que agora é capitão d'uma companhia na mesma villa da Ribei
ra Grande, de que tem alguns filhos. Teve mais Maria Pacheca de seu
marido Estavão Alves de Rezende, tres (ilhas, — a piimeira chamada
Leonor de Rezende, que casou com Raphael Coelho, irmão de Gabriel
Coelho, de quem houve filhos e filhas. A segunda filha é casada com
Gonçalo Tavares, filho do licenciado Antonio Tavares, de quem tem filhos
e filhas. A terceira filha foi casada com Diogo Ferreira, cidadão natu
ral da cidade do Porto, que mora agora na cidade de Ponta Delgada, de
quem tem filhos e filhas.
Houve mais Izabel Nunes Velha, filha de Nuno Velho, e mulher de
Fernando Vaz Pacheco, do dito seu marido um filho e duas filhas, alem
das duas já ditas. O filho chamava-se Manoel Pacheco, homem de muito
peso, e boas partes, que morreu na índia, no serviço. de el-Rey, e uma
filha chamada Catharina Velha, que foi casada com Jorge Furtado, de
quem houve um filho, chamado Leandro de Sousa ( como já disse, ) e
uma' filha, freira no mosteiro de Villa Franca, chamada Maria de Chris-
to, e outra filha chamada Briolanja Cabral, que foi casada com Melchior —
Dias, morador que foi no Porto Formozo, do qual houve os filhos se
guintes : O primeiro, chamado Fernando Vaz Cabral, casado com uma
filha de Antonio Furtado, chamada Beatriz de Medeiros, de quem tem
filhos. O segando chamado Jeronymo Pacheco de Mello, meio conego da
sé d' Angra. Das filhas, a primeira chamava-se Mecia Cabral, casou com
o licenciado Sebastião Pimentel, homem de muitas leltras e virtudes,
de quem tem filhos. A segunda filha chamava-se Maria Pacheca, casou
com Manoel de Freitas, filho de Pedro de Freitas, morador em Villa
Franca, de quem teve um filho.
Outra filha segunda de Nuno Velho de Travassos, chamada Guiomar
Nunes Velha, foi casada com André Lopes Lobo, fidalgo da casa do du
que de Bragança, o da traição, por cujo respeito veio a esta ilha enver
gonhado de apparecer no reyno, pelo que seu smhor fizera ; e morou.
35
.tios Fenaes da Maia: de quem houve filhos, Aires Lobo, pay de Fran
cisco Lobo, escrivão na cidade de Ponta Delgada, que casou com uma
filha de Lucas de Sequeira, chamada Barbara de -Sequeira, de quem te-
veum filho chamado Manoel Lobo, que casou com uma filha de Joam
Rodrigues Cernando, de Rabo de Peixe, é de sua mulher tem fóra este
casado, duas filhas e um filho, a quem não sei o nome : e uma filha
Izabel Loba, ainda solteira. Outra filha do dito Aires Lobo, chamada
Guiomar Nanes, casou com Jeronymo Luiz, homem de muita nobreza,
virtude o prudencia, e muito rico; de quem tem um filho chamado Se
bastião Luiz, como seu avó, e uma filha chamada Izabel Nunes. Outro
filho teve Aires Lobo, chamado Manoel Lobo, esforçado cavalleiro, que
falleceu na índia, servindo a el-Rey. Houve mais André Lopes, estes fi
lhos : Antonio Lobo, vigario que foi no logar da Relva, Curistovão Lo
bo, e uma filha chamada Barbara Loba.
- .
30
prata em preto ; por timbre um dos lobos das armas ; por diferença
uma morleta de azul, e nella uma estrella de ouro.
Sebastião Velho Cabral, filho legitimo de Gonçalo Velho, e de Mar
garida Affonso, neta de Alvaro Velho, irmã que foi doutro Gonçalo
Velho, capitão d'esta ilha de Sam Miguel, e de Santa Maria, commenda-
dor d'Almourol, bisneto de Fernando Velho, e de Maria Alves Cabral,
sobrinho de Ruy Velho, commendador do dito castello de AlmouroJ, foi
casado com Francisca Fernandes, filha de Maria Gonçalves, a Ama: hou
ve de sua mulher a Joam Cabral, Gaspar Cabral, e outro filho que foi
para fóra da ilha, eduas filhas, Maria Cabral e Anna Cabral. Joam Ca
bral, casou com Margarida Alves, filha de Joam Alves do Olho, de que
houve um filho chamadoJeronymo Cabral, que mora na Kibeira Gran
de, e é agora alcaide n'ella, casou em Portugal com Escota de Moura,
mulher nobre, sobrinha de Mem da Molta, capitão que foi da Mina e
da índia muitos annos; por que estava em Lisboa por capitão na torre
de Setubal quando veio o duque de Alva sobre efla. Gaspar Cabra I
casou com Anna Luiz, de quem não teve filhos.
Camillo3, que todos foram fidalgos escriptos wrt livros de Sua Magesta- '
de, de quem houve estes filhos _ IzabehBatelha, que casou com Ruy
Gago da Camara, fidalgo parente dos capitães d' esta ilha, de quem hou
ve filhos e filhas que direi quando tratar da progenie dos Gagos, e ou
tra filha chamada Jeronywa de Mello, que casou com Roque Gonçalves-
Caiado, filho de Francisco Dias Caiado, dos nobres e principaes d'esta
ilha. e de sua mulher Marquei» Gonçalves, de quem houve um filho
que se chamou Francisco de Mello, casado com uma filha de Joam Fer
nandes, e de sua mulher Catharina de Castro ; e outro filho chamado
Braz de Mello, que casou com Beatriz, da Silva, e outros filhos e filhas,
ainda moços.
guel, mãe de Ruy Pereira ; o qual tinha de moradia cada meztres mil e
vinte reis, e teve n'esta ilha no termo da dita villa, cento e vinte moios
de trigo de renda em cada um anno, do morgado que lhe ficou de seu
pay.
S5o tambem parentes dos Silveiras, pois Manojl da Silveira, senhor
de Terena, e Diogo da Silveira, seu irm5o, que foi capitão maior do
mar na índia, são seus sobrinhos, filhos de dona Catharina sua prima
segunda, mulher de Martinho Silveira, pay dos sobreditos. E com os
Cunhas, pois que outra sua prima foi casada com Nuno da Cunha, que
foi vice-rey da índia. Tem tambem leança com os Mirandas do reyno,
pois Pedro de Miranda, de5o da sé d'Evora, e seu irmão Diogo de Mi
randa, são seus sobrinhos no mostno grão dos acima ditos, por serem fi
lhos de dona Cecilia sua prima, mulher que foi de Francisco de Miran
da, fidalgo dos principaes destes reynos. Tem tarnbem leança com os
Figueiredos, pois Joam Soares d'Alhergaria, segundo capitão da ilha de
Santa Maria, sobrinho de Gonçallo Velho, primeiro capitão d'estas ilhas,
descendia dos Figueiredos, como tenho dito, quando tratei do seu prin
cipio, fallando da ilha de Santa Maria. Alem <'os mais appellidos que tem
pertence-lhes dos Velhos, Soares, Travassos, Cabraes e Mellos : e todos
os de Portugal, e d'esta ilha, de grandes espiritos, viveram e vivem
sempre á lei da nobreza, abastados com cavallos de estado, criados, e
escravos de seu serviço.
Tem ós Velhos seu brazão authentijo de sua nobreza e fidalguia de
cota de armas, e solar conhecido : e por armas um escudo de campo
vermelho, e cinco vieiros de ouro em aspa. A saber : uma no meio, as
outras nos cantos ; e algumas tem uma estrella branca ; tem um quadra
do preto por devisa : e outros tem outras devisas differentes ; não tem
elmo, nem paquife, nem timbre, do que não poude saber a rasão : se
não é por que n'aquelle tempo antigo, não se costumavam pôr nas ar
mas, que no escudo com sua insignia se punham, presando-se trazer as
outras nos hombros, antes que nos brazões : e depois, pelo tempo adian
te, se costumaram pôr n'elles os mais signaes de honra, como em ou
tros seus brazões achei, que tem elmo de prata aberto, guarnecido de
-ouro, paquife de ouro, vermelho, prata e purpura ; e por timbre um
.chapéo pardo com uma olheira de ouro na borda da volta.
Dizem alguns que mandando Gonçillo Velho, commendador dAl-
mourol, vir Ires sobrinhos — Pedro Velho, Nuno Velho, e Lopo Velho,
para estas ilhas, das quaes 3ra capitão, foram os sobrinhos com uma
tormenta á ilha da Madeira. Indo Lopo Velho pela terra dentro, levan-
1ou-se o navio, no qual vieram á ilha de Santa Maria Pedro Velho e
Nuno Velho ; e ficou elle na ilha da Madeira : vendo-se sem meios íoi
ajudar a trabalhar em um engenha d'assucar ; no qual soltando-se um
-espeque deu com elle em uma parede, quebrou-lhe os braços e pernas,
e ficou maUrado da cabeça ; pelo que depois Je curado na casa da mi
sericordia, e ficando aleijado, se casou ahi. Depois mandou-o Pedro Ve
lho, seu irmão, primo, ou parente em outro gráo, ou como outros affir-
rcam, irmão, filho natural do pay do dito Pedro Velho, vir de lá com
sua mulher, e teve-o em sua casa, junto de N. Sr.* dos Remedios, on
de vivia ; e d'ahi o apresentou na villa da Ribeira Grande, e na rua das
Pedras, onde teve muitas moradas de casas suas, e alguns filhos. A sa
ber — Joam Lopes, Affonso Lopes, Guião Lopes ; e filhas, Catharina
Lopes, e outras, das quaes não soube o nome.
Joam Lopes houve de sua mulher um filho chamado Antonio Lopes
Travassos, que casou na villa da Ribeira Grande com Simóa Gonçalves,
filha de Gonçallo Pires, e de Margarida Gonçalves, de quem tem filhos
e filhas; Catharina Lopes, irmã de Joam Lopes Travassos, casou com
Pedro Dias, da Achada, homem muito rico e honrado, de quem teve
muitos filhos e filhas: um (Telles chamado Miguel Dias, bom sacerdote,
beneficiado na freguesia de N. Sr.r da Estrella, da villa da Ribeira
Grande : è uma filha, irmã de Miguel Dias, chamada Catharina Dias, foi
casada com Sebastião Pires Paiva, homem nobre, rico e abastado da
governança da diu villa : teve alguns filhos e filhas.
4^
CAPITULO QUARTO'
6
16
teve mais Gonçallo Vaz Andrilho, o moço, outra filha que casou
com Fernando de Macedo, homem fidalgo, irmão do capitão do Fayal,
do qual houve os filhos seguintes, a saber : — Jeronymo Teixeira, que
foi casado com Margarida Barboza, filha de Ruy Lopes Barboza, que mo
rou na cidade, á Calheta de Pedro de Teves, de quem não houve filhos.
Teve mais Fernando de Macedo, outro filho chamado Manoel de Mace
do, que casou a furto na Maia, termo de Villa Franca, com uma mulher
nobre, de quem teve poucos filhos, e todos falleceram. A este Manoel
do Macedo mataram na cidade á bésta, sendo valentíssimo homem. Teve
mais o dito Fernando de Macedo uma filha chamada Izabel de Macedo,
que casou com Nuno Gonçalves Botelho, filho de Jorge Nunes, de quem
51
CAPITULO QUINTO.
<3e morte por se vingar d'elle. Houve Joam Favella d'esta Beatriz Coe
lha, estes filhos — o primeiro, Fernam Favella, que casou na ilha da
Madeira, onde estava seu tio Nuno d'Athouguia, provedor da fazenda
na dita ilha. O segundo, Joam Favella, homem nobre ede grande fama,
tambem casou na mesma ilha : O terceiro, Bartholomeu Favella, o qual
teve uma filha que casou com Diogo Mascarenha, fidalgo muito parente
'do conde de Castelhar, e sobrinho de dom Pedro Mascarenhas, que
n'estes reynos eram fidalgos marcados.
Houve mais Joam Favella de sua mulher Beatriz Coelha, uma filha
chamada Catharina Favella, com a qual casou Joam d'Arruda da Costa,
filho de Joam Gonçalves Botelho, e de Izabel Dias da Costa sua mulher,
e neto de Gonçallo Vaz Botelho, o grande, que veio povoar esta ilha,
como já disse. De Joam d'Arruda da Costa, e de sua mulher Catharina
Favella, nasceram os filhos seguintes : Amador da Costa, Pedro da Cos
ta, Francisco d'Arruda da Costa, Manoel da Costa, Izabel Dias da Cos
ta, que depois se chamou do Espirito Santo, e Maria da Trindade, frei
ras professas de muita virtude, e algumas vezes abbadessas no mosteiro
de Villa Franca ( o qual fez Joam d'Arruda da Costa, e outros homens
nobres, para suas filhas e netas ), Bartholeza da Costa, e Beatriz da
Costa.
Amador da Costa casou com Barbara Lopes, filha de Alvaro Lopes
de Vulcão, homem muito honrado e rico, de quem houve filhos, Manoel
da Costa, que foi para as índias de Castella, Alvaro da Costa, todos sol
teiros, homens para muito ; e filhas Izabel Dias, mulher que foi d'An-
tonio Borges da Gamdia, filho de Balthasar Rebello, morador á Calheta
de Pedro de Teves, e de Guiomar Borges, e outras seis filhas freiras no
mosteiro de Villa Franca, muito boas religiosas, que ás vezes são abba
dessas e vigarias. Deixou Margarida Mendes um rico morgado a Ama
dor da Costa, que ficou a seu filho Manoel da Costa, sobrinho de Mar
garida Mendes, sua tia, meia irmã de sua avô Catharina Favella. A qual
Margarida Mendes era filha de Ruy Pires, irmão de Vasco Pires : os
quaes eram dous cavalleiros os mais afamados que havia em tempo de
el-Rey dom AlTonso ; e por serem taes lhe queria el-Rey tanto, que quan
7
-So estavam á sua meza, estavam assentados ; e por não haver confusão
nos outros, tomava el-Rey por causa, que por terem os pés pequenos o
fazia. Depois de morto Ruy Pires, que era casado com Beatriz Coelha,
viuva, veio Joam Favellado extremo de Castells, por certa causa já dita,
e como era fidalgo, andando no paço, tendo el-Rey conhecimento d'elle,
o casou com Beatriz Coelha, mulher que foi de 'Ruy Pires, pay e mãe
tia dita Margarida Mendes, a qual nasceu em Évora, onde teve e tem
onuitos parentes, muito honrados, e fidalgos dos Mendes.
Depois que Joam Favella casou com Beatriz Coelha, trouxe comsigo
para esta terra a Margarida Mendes, por ser filha de sua mulher ; e aqui
houve Joam Favella os tres filhos já ditos, e a filha chamada Favella,
que foi ca?.ada com ?Joam d'Arruda da Cosia n'esta ilha de Sam MigueI,
e era meia irmã de Margarida Mendes, por ser filha de Ruy Pires, ,e
Catharina Favella ser filha de Joam Favella, e por ser Margarida Men
des meia irmã deJGatharina Favella, Amador da Costa seu sobrinho lhe
deixou o morgado. no qual. stfccedeu Manoel da Costa, filho de Amador
da Costa, e neto da dita Catharina Favella ; o qual morgado começa
da praça da cidade de Ponta Delgada, principiando do mar do sul, até
vêr o mar da banda do norte, d'«sta ilha. Outros filhos de Joam Favella
e de Beatriz Coelha, se crearam na ilha da Madeira, depois da morte
de seu pay, e Nuno d'Alhouguia seu tio, viveram muito ricos e honra
dosí á lei de fidalgos, como elles eram, e assim vivem os filhos, netos e
bisnetos do dito Joam d' Arruda, e Catharina Favella, sobrinhos da dita
Margarida Mendes, n'esta ilha de Sam Miguel, e por esta causa, como
está dito, herdou Manoel da Costa d elia o dito morgado da praça, fóra
outro que tem de seu vis-avô Joam Gonçalves Botelho, em Rosto de
Cão, termo da cidade.
Nuno d Athouguia, tio de Catharina Favella e dos tres irmãos, foi
na ilha da Madeira o mais prospero fidalgo, que em seu tempo n'ella
havia ; e como tal o fez el-Rey provedor o védor de sua fazenda, que
era o melhor cargo que n'ella houve, e do el-Rey era muito conhecido,
tendo diante d'elle grande nome ; era da geração dos Favellas ; o qual
casou com uma filha de Joam Esmeraldo, que foi outro segundo ; e mais
55
"Wmbem provedor, fidalgo tão rico e poderoso, que o capitão lhe não
pôde nunca fazer avesso, nem direilo em nada, e tleixou ,om..morgado
de mais dc dous. centos e meio de renda. Da progenie dos Favellas, ha
Fernam Favella de VasconeelLos^ neto de Fernantk>> Favella, e friho de
Antonio Favella, que é rico morgado, e vive á lei de -fidalgo, como fo
ram seus avôs todos..
E outra filha, por nome Izabel Tavares, que falleceu em casa dè seu
pay solteira, mulher de meia idade ; a qual sendo antes muito galante
e formoza, qundo pretendia casar virou as costas ao mundo, sahimlo-
lhe muitos e ricos casamentos ; e fazia vida santa e abstinente, dando
seus ricos vestidos ás egrejas e pobres. com os quaes repartia largas es
molas : e andando vestida como beata acabou bemaventuradamente ; cuja
morte foi sentida de todos, e muito mais dos pobres, a quenvella dava
vida. Deixou por seu fallecimento muitas esmolas, fazendo-se os officios
do seu enterramento, a que se acharam presentes muitos religiosos,
elerezia, e muita gente nobre de toda a ilha. Com grande choro e sen
timento de todos que foram convidados aquelle dia em. casa de seu pay,
56
esto comeu com elles á mesa no convite, por lh'o a filha deixar encom-
mendado e ser elle tão prudente, que com todo seu sentimento e nojo da
ausência de tal filha, quiz celebrar as exequias da sua morte com sum
ptuoso banquete, como se fóra o dia qae a casara com Dcos, verdadeiro
esposo da sua alma.
Teceram. Houve mais Joam d' Arruda da Costa, de sua mulher Cathariaa
Favelta, estas filhas. A primeira, Bartholeza da Custa, que casou com
Jorge da Motta, viuvo, cavalleiro do habito de Aviz, da geração dos Mot-
tas —dos ouros, que são fidalgos neste reyno, de quem houve os filhos
seguintes: — O primeiro, Joam da Motta, que casou, a primeira vez, com
uma filha de Joam Roiz, dos Fenaes da Maia, de quem houve um filho
chamado Manoel da Motta, do habito de Christo, casado primeiro com
uma filha de Melchior Gonçalves, e depois com Paula de Maeda : e ca
sou Joam da Motta segundariamente com Beatriz de Medeiros, filha de
Lope Annes d'Araujo, de quem tem alguns filhos.
ta valia entre todos os que, em seu tempo, foram d'aquella terra. Houve
Bartholomeu Favella um filho de sua mulher que falleceu.
O qual Bartholomeu Favella, neto de Joam d'Arruda da Costa, e •
bisneto de Joam Gonçalves Botelho, e trisneto de Pedro Botelho, com-
mendador-mór que foi de Christo, no reyno de Portugal, como descen
dente de taes pessoas por serviço de Deos o d'el-Rey ; e por satisfazer á
obrigação da sua nobreza, andando peleljando a armada d'el-Rey de
Portugal, da qual era capitão Pedro Corrêa de Lacerda, fidalgo de sua
casa, contra tres navios inglezes de corsarios, que andavam entre Sam
Jorge e a ilhn Terceira, de seu motu proprio, se ajuntou com Joam de
Betancor de Vasconcellos, e Aires Jacome Corrêa, fidalgo da casa de
el-Rey: e tomando um batel de pescar, muito pequeno, em que não ca
biam mais que os remadores, e elles com um Gaspar Estacio, cidadão
nobre da Terceira ; se foram todos quatro acudir á dita armada, por sa-
rjerem não tinha gente para se defender, como era necessario ; e por
serem dos primeiros que chegassem, partiram assim em barco tão pe
queno, no qual por ser o mar tãn grosso correram risco de se perde
59
< rem ; por uaais que de terra eram chamados de muita gente de cavallo,
i por não, perecerem.
E elles estimando mais sua honra que a vida, sem quererem tornar
atraz, seguiram seu caminho adiante, aonde ^uasi milagi osamente foram
• ter com a armada, sem a verem, nem aos inimigos que d'ella eram, por
. q' havia tanta briga, e guerra entre elles, q' não enchergavam navio algum
• com a grande fumaça das muitas bombardas, que uns aos outros atira
vam : por entre estes perigos, e obscuridade, foram ter com o capitão
maior, passando muito risco de mar e da artilharia : chegando ás daz
horas' do dia entraram no galeão, onde se offereceram todos quatro
ao capitão para serviço do seu Deos e do seu Rey, começando logo a
pelejar com seus arcabuzes, ajudando a assestar a artilharia, animando
os soldados, dizendo-lhes que da terra vinham muitos arcabuzeiros em
seu favor. Passado aquelle dia em que pel jaram varonilmente até noite,
, chegaram em anoitecendo, vinte arcabuzeiros de terra, e com elles
dentro, guerrearam continuamente com os inimigos tres dias, e tres noi
tes, sem descançarem : e por trazerem mais atormentados aos contrarios,
deixaram a artilheria atada de dia. para de noite a dispararem n'elles.
No dia em que chegaram mataram dos corsários 26, ou 27 homens,
e depois tomaram-lhe um dos navios com muita artilheria, e alguma
mercadoria: osquaes adversarios se não tomaram todos por falia de pol
vora na armada, que se gastou toda n'aquelles tres dias e noites, em
que lhe atiraram mais de quinhentos pelouros : e não foram balroar aos
ditos inimigos, por o galeão ser só, e elles tres, que as duas carave
las de el-Rey não quizeram balroar, pelo que foram bem castigados
no reyno ; e se não foram os ditos Bartholomeu Favella, Joam de Be-
tancor, Aires Jacome Corrêa, e Gaspar Estacio, muito risco correra a
armada d 'el-Rey : e muitas vezes succedendo fazer-se a armada na ilha
Terceira, e n'esta de Sam Miguel, contra corsarios, que sempre a ellas
vem, vão n'ella o dito Bartholomeu Favella da Costa, e os outros acima
ditos ; por se porem a este perigo, e a outros muitos. Escreveu el-Rey
a cada um d'elles duas cartas de muitos agradecimentos e honras, em
que lhes prometteu fazer-lhes muitas mercês, encommendando-lhes.sem-
•pre o seu serviço em taes successos.
<>()
CAPITULO SEXTO.
8
02
res, e uma filha por nome Catharina Velha, que morou com Gaspar
Dias, morador na ilha do Corvo, filho de Joam Dias, lutador na ilha
Terceira. Téve mais Joam Soares outra filha, Izabel da Costa, que casou
com Joam Rodriguez, filho de Joam Fernandes, de Santa Clara, e de
Maria Rodriguez Castanha, moradores em Santa Clara, da cidade. O
quarto filho chamado como seu pay Alfonso Annes, casou com Ignez
Martins, fifha de Martinho Annes Furtado, Irmão da m3e de Pedro Pa
checo, que houve estes filhos : Simam, que falleceu moço; Anna Alfon
so, casada com' Domingos Fernandes, Gazalhado, de quem não teve fi
lhos: e Solanda Lopes, que casou com Alfonso d'OIiveira, de quem bou- '
ve muitos filhos. Este mesmo Alfonso Annes, quarto filho de Alfonso
Annes da Costa, casou segunda vez com Beatriz Velha, filha de Gonçal-
lo Velho, sogro de Jorge Nunes Botelho, de quem houve uma filha
chamada Beatriz Velha, que casou com Fernando Pires do Quental, de
quem tem uma filha : casou o dito Alfonso Annes terceira vez com Joan- .
na Soares, filha de Francisco' Soares, tio de Christovão Soares, da Ata
lhada, da villa da Lagôa, de quem houve um filho Joam Soares da Cos
ta, sacerdote, beneficiado, que foi na freguezia de Sam Sebastião de
Ponta Delgada. Falleceu. este Alfonso Annes da Cunha Mouro Velho
no deluvio de Villa Franca.
là, filha de Fernando Camello Pereira, fidalgo, e,' de dona Beatriz" sas (
mulher, de quem teve tres filhos : Sebastião de Sousa Pôreira, que ca--
sou com dona Izabel, filha do doutor Francisco Tosvano, corregedor
que foi com alçada n'esta itha, de quem teve alguns filhos;' Jorge Camel
lo Pereira, que casou com dona Margarida, filha de Pedro Pacheco, de
quem não teve filhos : e uma filha, dona Beatriz, que casou- com Fran
cisco de Mendonça, filho de Mendo de Vasconcellos, fidalgo:
do infante dom Henrique, que descobrio estas ilhas ; e hoje em dia está,
ali na Raposeira uma torre que elle fez para agasalhar aq,, infante, e
principes, quando lá iam. O qual Rodrigo Annes não veio a esta ilha,
mas foram seus filhos morar á ilha da Madeira, no logar que se chama
o Caniço, e depois vieram de lá povoar esta ilha, e moraram, no logar
da Ponta da Garça tres irmãos filhos do dito Rodrigo Annes da .Costa., O
mais velho chamado Affonso Annes, que como disse foi casado com uma
Fuão Çarneira, filha d'um cidadão da cidade do Porto, de quem houve
os filhos, e filhas já ditos. Ainda que, outros sómente dizem serem seis,
« Diogo. Affonso da Costa, Vicente Affonso, Pedro Affonso, pay de Jorge
Cameljo, Affonso Annes Mouro Velho, Rodrigo Affonso, e Gabriel Af-.
fonso,, e. as filhas já ditas.
CAPITULO SÉTIMO.
, • I
Dos Teves, e dos Cordeiros antigos povoadores d'esta ilha de Sam
Miguel, e de alguns Mottas.
«fita Maria Cordeiro, desgostamlo-se seu pay d'isso, só por ser ella viiit?,
pelo que se tornou com o filho Pedro da Motta para o Porto. Jorge da
Motta, que cà ficou, foi um homem muito honrado, virtuoso e discreto,
e era cavalíeiro do habito d'Aviz. O quar houve dia dita Maria Cordeiro*
sua mulher, tres filhos e um» filha. O primeiro, Antonio da Motta, ca
sou na cidade de Ponta Delgada, com Francisca de Teve, filha de Pedra
«Te Teve, de quem houve os filhos que se dirão em outra parte.
lhos e filhas que tenho dito na geração de Joam Gonçalves Botelho, fi-
lho de Joam Gonçallo Vaz, o grande. Joam Roiz Cordeiro, ( seu npme
proprio era Joam Roiz de Sousa , e foi postiço este nome por ter tres
inconvenientes, que não fazem ao caso para a nossa historia, porem
devia ser parente dos Cordeiros,) tem por armas cinco cordeiros de pra-
ta em campo verde, e uma aguia por timbre.
CAPITULO OITAVO.
seus descendentes.
Como tenho dito, quando tratei da, ilha de Santa Maria, com o pri
meiro capitão Gonçallo Velho, comméndador de Almourol, no principio,
logo quando esta ilha da Sam Miguel foi achada, entre os primeiros
que a povoaram, veio ter a ella, desembarcando na Povoação Velha,
um Jorge Velho, bom cavalleiro da Africa, da casa do infante dom Hen
rique, por seu mandado a deitar gado n'ella; e outros dizem que então
veio Gonçallo Vaz, o grande, e á ilha de Santa Maria um Gonçallo An
nes, filho de Simão de Sá. de Portugal, homem de nobre geração, d'on-
de dizem que se auzentou, por que como homem poderoso, que lá era
affrontara um prelado : e trouxe comsigo uma filha muito formoza, dis
creta, e grave, de pouca idade, chamada Africa Annes; e por que mor-
rendo-lhes todos os filhos que tinha, o dito Gonçallo Annes, lhe disseram
que ao primeiro que lhe nascesse, puzesse um nome estranho, que nin
guem tivesse, e nascendo-lhe esta filha, lhe poz o nome de Africa , que
ao depois se chamou Africa Annes, tomando osobrenome dopay, o qual,
ou por envelhecer, ou por se auzentar por um desastre da morte, dei
xou a dita sua filha encarregada ao capitão Fr. Gonçallo Velho, seu gran
de amigo, em cuja companhia viera do reyno. O qual capitão a casou
com Jorge Velho, acima dito, que tambem com elle havia vindo. Do
7 • 73
qual houve uma filha chamada Ignez Alfonso, que viveu na ilha de San
ta Maria, e casou com Jorge da Fonte, bom cavalleiro, de quem houve
estes filhos: — Alvaro da Fonte, e Joam da Fonte, que gastou toda a
sua fazenda no descobrimento da ilha nova, sem a poder achar ;-,=• e
Adam ds Fonte, e outros filhos cavafteiros, dos da ordem de Christo,
e dos da ordem de Santiago, todos muito nobres e< honrados. ' ^
.' • Da ilha de Santa Maria, trouxe a esta de Sam Miguel, onde tinha
sua fazenda o dito Jorge Velho, sua mulher Africa Annes, de quem
houve tres filhos — Joam Jorge, Pedro Jorge, e Fernando Jorge. O
primeiro filho Joam Jorge, foi morador em Agua de Páo, e casou a
primeira vez, na mesma villa de Agua de Páo, com Catharina. Martins,
natural de Beja, da qual houve estes filhos : — Fr. Barthplomeu Jorge,
que foi a Africa, e de lá se armou cavalleiro á custa de seu oay, com
armas e cavallo : e em uma iortida que fizeram contra os mouros, can
sado do trabalho das armas, se lhe alvoraçou o sangue, e abafou ; foi
enterrado em uma egreja de Jesus, acompanhado dq çapjjfão e de todos
os fidalgos e cavalleiros. Teve mais Joam Jorge o segundo filho chama
do Fernam Jorge, que casou na villa d'Agua de Pão com ízabel Vieira,
filha de Pedro Vieira, de quem houve quatro filhos: Barftíolòmeu Jor
ge, que morreu na índia; Sebastião Vieira, que mora éiti Agua de Páo;
e Manoel/ e Amador, defuntos, Solteiros; e uma filha chamada Catharina
,Vieira, que foi casada com Domingos Nunes, de quem ficaram alguns
filhos.
,, .. • .. ",' . .i." ir,.-) , . I ,,.. ',:.'ií !i ,
1 Teve mais Joam Jorgeí d'esta primeira, mnlhçrf( Catharina Martins^
tres filhas, a primeira, . Ignez Jorge, que foi casan^ com Fernando Gd
Jaques, fidalgo natural de Lagos, do qual houve un^, filho por nome Gil
Jaques, que casou com uma filha de Soeiro da Costa, de Lagosf tio de
Ruy Ga gq da Camara, primp coirmão de sua, avó, chamada, Bra^ça A£,
fònso. A segunda filha de Joam Jorge, chamaya-se Violada Jorge., que(,
casou com Ruy Vaz Baleato, morador na cidade de Ponta Delgada ^ da^
qual houve um filho, por nome Amador Roiz, que casou com,,uma Fuâo
Paes, irmã da mulher de , Pedro Velho, filho de Jòam Alves do Olho-j
Houve mais Ruy Vaz de sua mulher tres filhas : a primaira, chamada
74
ízabel Roiz, qu*í foi casada com, André Travassos, filho de Joam Alves»
do Olho, de quem houve um filho chamado Joam Travassos, que casou >
nos Mosteiros ; e um» filha chamada -Violante Velha, tambemxasada'" nos -
Mosteiros..
A segunda filha. dè Ruy Vaz,. a quem nãe soube o nomei casou com .
Bartholomeu Aflonso Cadimo, filho de Joam AlTonso Cadimo, morador^
na cidade de Ponta Delgada, na Calheta. A terceira filha de Ruy Vaz,,
chamada Francisca, falleceu solteira, de peste, na dita. cidade de Ponta'
Delgada. A terceira filha de Joam Jorge, chamava-se Izabel Jorge, e ca- -
sou com Vasco Vicente Rapozo, natural da Rapozeira, do Algarve, do*
qual houve seis filhos e quatro filhas.. O primeiro filho* chamado Adam t
Vaz, foi clerigo de missa, dos primeiros que cantaram missa n'esta ilha,,
e beneficiado na villa d'Aguade Pão. O segundo, Roque Vaz, que casou,
na mesma viíla com Helena Fernandes*, filha de Alvaro. Fernandes, do.
qual houve um filho, chamado Francisco Vaz, e duas filhis, uma por-
nome Maria Roque, quefalfeceu casada,, e deixou, filhos e filhas,, e a ou«-
tra segunda filha falleceu creança.
O terceiro filho de Vasco» Vicente e de Izabel Jorge, . chamava-se,
Vicente Vaz, que casou com. Antonia Gonçalves*, na villa da Lagoa, do.
quem houve dous filhos, Gaspar e Antonio, que foram papa as índias da
Castella. O, quarto, filho de Vasco Vicente, ,e de Izabel Jorge, por. nome
Sebastião Vaz, casou com Margarida Coelha, na villa id'Agua de P8p.Se*
quem houve quatro filhos e tres filhas. O quinto filho de Vasco Vicente,
e de sua mulher Izabel Jorge, chamava-se Manoel. Vaz, clerigo e bene
ficiado, na villa da Ribeira Grande. O sexto, por nome Joanae, falleceu,
moço. A primeira filha de Vasco Vicente, e de Izabel Jorge, chamava-
se Eva Vaz, que falleceu no tempo do deluvio de Villa Franca, na villa
d'Agua de Páo, sendo ainda solteira, por que com o terremoto cahio o
quadrado d'uma casa, e a acertou serce pelo meio. A segunda filha cha
mava-se Catharina Vaz, que casou com Joam Cabral, dos Remedios, fi
lho de Estevão Travassos, e de Violanta Gonçalves, da qual houve cinco
filhos — Antonio Cabral, casado com uma filha de Rodrigo Alves, da
Bretanha, e tem filhos e filhas : Adam Vaz, que falleceu solteiro ; Franr.
•Í5
- éisco Travassos, que casou com uma filha de Thomé Lopes, de quem
tem filhos e filhas ; Joam Cabral ; e Manoel Velho, solteiros.
Houve mais Joam Cabral, de sua mulher Catharina Vaz, cinco fi
lhas; a primeira, Simôa Cabral, casou com Melchior Trajos, no logar
de Rabo de Peixe, filho de Joam Tavares, de quem tem filhos e filhas ;
« uma filha casada com Manoel de Puga, primo do licenciado Bartholo-
meu de Frias. Á segunda filha, por . nome Roqueza Cabral, casou com
-Lucas Affonso, filho de Braz Affonso, da Praia, e de Branca do Monte,
*de quem tem filhos e filhas. A terceira, chamada Briolanja, casou com
Manoel de Viveiros, filho de Custodio Affonso, e de sua mulher, mora
dores em Rosto de Cão, de quem. tem um filho e uma filha. A quarta e
quinta estão ainda solteiras.
A terceira filha. de Vasoo Vicente, e de Izabel Jorge, chamada Ma
ma, Vaz, foi casada com Braz Gonçalves, na Lagôa, de quem houve tres
.filhos, e uma filha, casados todos na vilia da Lagoa, elles e ellas tem
fijhos e filhas. A sexta .filha de Vasco Vicente, è casada com .Manoel
Martins, escrivão dos captivos, em toda esta ilha, do qual houve dous
filhos, e quatro filhas ; tem um Gasado, e outro solteiro; duas filhas ca
sadas, e duas por casar.
Casou o dito Joam Jorge a seganda vez com Beatriz Vicente, natural
- «lo Algarve, da qual houve tres filhos —Roque Jorge, que casou com
Maria Affonso, filha de Pedro Annes Preto, de quem houve um filho,
. por nome Roque. O segundo, chamado Joam Jorge, que casou com Mor
de Sequeira, filha de Affonso .Fernandes de Sequeira, e de sua mu
lher, de quem houve dous filhos — Antonio e Cosme, que falleceram; e
uma filha chamada Catharina de Sequeira, que casou com Salvador Dias,
morador na villa da Lagôa. O terceiro filho de Joam Jorge, e de Beatriz -
Vicente, sua mulher, chama-se Joam Jorge, o moço, que casou com
Izabel da Costa, de quem tem. dous filhos casados, e duas filhas casadas,
e uma filha freira no mosteiro de Santo Andre, na cidade de Ponta Del
gada.
Houve mais Joam Jorge da segunda mulher Beatriz Vicente, quatro
filhas, a primeira Margarida Jorge, foi casada .com Francisco Soares,
76
Beatriz Vicente sua mulher, cbamava-se Joanna Jorge; que foi casada -
com Francisco Corrêa de Sousa, escrivão da camara que foi na villa da
Lagôa : da qual houve tros filhos — Henrique Corrêa, Jorge Corrêa, e
Francisco Corrêa ; todos casados na Lagôa ; e uma filha chamada Mari*
Corrêa de Souza, casada em Agua de Páo, com Ruy Gonçalves, filho
de Jeronymo Gonçalves, e de sua mulher, moradores que foram na Villa
Franca, de quem tem filhos e filhas.
O segundo irmão de Joam Jorge, chamava-áe Pedro Jorgèf, caSou
ná cidáde de Ponta Delgada, com um* filha de Gonçallo Ahries, e de
Catharina Affohso, naturaes da cidade di> Porto, irmào d6'Jòam Rodri
gues, o Velho, pay de Melchifor Rodrigues, escrivão da camara, que fòi
na cidade, e irmão da mulher de Joam Fernandes Alcalà, de quem hou
ve dous filhos, o primeiro eftamado Gaspar Jorge, falleceu solteiro eito
Portugal ; o segundo por nome Jeronymo Jbrge, que casou com Beatriz*
de Viveiros, filha de Gaspar de Viveiros, e de sua mulher, da qual hou
ve quatro fiffios. O primeiro, Pedro Jorge, que falleceu em Lisboa, e
Fr. Jeronymo, da ordem de Sam Domingos, religioso de muita virtude,
bom letrado e pregador : e o terceiro, Gaspar de Viveiros, casado com
Maria Balda ia, filha de Melchior Beldaia, que tem agora o morgado dto
seu avô Pedro Jorge, e é administrador da sua capella. O quarto; An
tonio Jorge, que casou em Portugal.e falleceu sem filho nem- filha.
Houve mais Jeronymo Jorge,, de sua mulher Beatriz de Vidros, Cin
co filhas : a primeira, chamada Maria Jeronyma, què fòi casada com
Manoel do Rego, de quem houve dous filhos, Gonçallo do Rego, que
casou primeira vez no Nordeste, e a segunda vez com uma filha de Joam
Roiz dos Alqueires, de quem tem alguns filhos, e o segundo filho, Ma
noel do Rego, que casou com Jeronyma de Sousa, filha de Nuno de
Sousa, e de sua primeira mulher Catharina de Moura, de quem tem fi
lhos1. Houve mais Manoel do Rego quatro filhas, freiras no mosteiro da
Esperança, da cidade de Ponta Delgada, e outra casou com Luiz de Cha
ves, de quem tem filhos e filhas. Houve mais Jeronymo Jorge, de sua
mulher Beatriz de Viveiros, a segunda filha chamada dona LdzW, que
e asou com Ruy Gonçalves da Camara, fidalgo, filho de Henrique de Bet
10
78
taocor, e de dona Simôa sua mulher, de quem tem filhos e filhas ; algu»
freiras no mosteiro de Jesus da villa da Ribeira Grande.
Houve mais Jeronymo Jorge da dita sua mulher, tres filhas, duas
são solteiras, e uma casada com Antonio da Costa, filho de Joam Vaz, •
da Achada. Houve tambem Pedro Jorge de sua mulher duas filhas, uma-
chamada Catharina Jorge, que casou com Pedro Gonçalves Carreiro, -
de quem houve um filho chamado Diogo Vaz Carreiro, que casou co m
Beatriz Roiz, filha de Garcia Rodriguez Camello, e de sua mulher Leo
nor Soeira, de quem. não teve filhos, e fez o mosteiro de Santo André
da cidade tio. Ponta.. Delgada, para n'elle recolher suas parentas pobres,
com doação de sessenta moios, d'elle e de sua mulher, de retida' cada
um anuo, de que agora, é padroeiro o licenciado Antonio de Frias, seu.
sobrinho.
A^segunda filha.de Pedro Jorge e de sua mulher, chama-se Beatriz
Jorge, que foi casada com Gaspar Camello Pereira, filho de Fernam
Camello, morador que foi nas Feteiras, de quem houve Pedrb Camello,
juiz dos orphãos, na cidade de Ponta Delgada, casado com dona fria :
e Leonor Camello, mulher de Alvaro Martins Mem, porteiro mór dos
captivos, e outros que ao diante direi,-na geração dos Camellos : e dona
Jeronycaa, mulher de Jorge Furtado, do habito de Christo, com vinte
mil reis de tença, que agora tem seu filho Martim de Sousa. O terceiro
irmão de Manoel Jorge, e de Pedro Jorge, chama-se Simão Jorge, mui
to esfqrçado cavalleiro, o .qual foi d esta ilha ao reyno, com um navio
carregado de sevada para seus gastos, e trouxe de Lisboa o alvará de
villa no logar de Ponta Delgada, e depois tratava em Cabo Verde; e
falleceu solteiro, estando em Lisboa muito rico. Tendo em sua vida a
principal morada na ilha da Madeira, na cidade do Funchal, d'onde vi
nha algumas vezes a esta ilha a ver seus parentes e irmão Joam Jorge,
que morava na villa da Lagôa, e Pedro Jorge na cidade de Ponta Del
gada, que eram as villas onde tinham grossas fazendas, e viviam todos
ricos e poderosos ; pelo que foram servir a el-Rey na Africa com outros
seus parentes, á sua propria custa ; d'onde tornaram todos armados ca-
valleiros, excepto um Bartholomeu Jorge, filho de Joam Jorge, homem.
79
—. —! J——* ' • t.
CAPITULO NONO.
Como atraz tenho contado, quando tratei das ilhas Canarias ( segun
do o que escreve Estevão de Gaoribay, universal chronista de Hespafiha)
governando o reyno de Castella a raynha dona Catharina, mulher que
foi de el-Rey dom Henrique, terceiro do nome, pelo principe infante
dom Joam, que foi o segundo Rey do nome, como governadora dos
reynos ; um moço Presbeon, segundo outros, Prubim de Brancaihonte,
almirante de França, lhe pedio a conquista das ilhas Canarias, com ti
tulo de Rey phra um fidalgo francez seu -parente, chamado Mossem, ou
.Monsiur Joam de Betancurt, a quem outros Chamam Betancor — e que
a raynha lh?s dera, e o ajudara. Partindo com boa armada de Sevilha
o novo Rey, e chegando ás ilhas Canarias, ganhou tres delias : Lança
rote, Forteventura, e a do Ferro; sem poder conquistar a Grã-Canaria,
pela resistencia que achou n'ella ; mas das outras mandára mercadorias
a Hespanha, em que fazia proveito ; e estando n'esta conquista, ou ma
taram ao novo Rey Mossem Joam de Retancor, ou como outros dizem,
se foi a França refazer de novo para a conquista, e deixára ahi um so
brinho, chamado Mossem Menante, ou Mossem Maciot de Betancur.
O qual, não tornando seu tio de França, por não poder sustentar a
guerra, vendera as Canarias ao infante dom Henrique, por certa cousa
que lhe dera na ilha da Madeira, que ao diante direi, quando tratar de
Ruy Gonçalves, capitão tereeiro d'esta ilha, e primeiro do nome, e de
80
sua mulher dona Maria de Betancor, que veio das Canarias com seu pay
Mossem Maciot de Betmcor, para a ilha da Madeira, onde casou com
este capitio, e dahi veio com elle para esta ilha de Sam Miguel ; da
qual era capitão : e por estar aqui sem parentes, mandou vir ao depois
da dita ilha a um seu sobrinho, chamado díspar de Betancur!, filho de
Mo•sem Maciot, ao qual encabeçou em um morgado, o que fez por nío ter
filhos de seu marido, como ao diante direi.
Este Gaspar de Betancor, sobrinho da primeira capitoa dona Maria
de Betanqor, e parente muito chegado de Mossem Rubem, ou Rubira
Sraneamonte, almirante dç França, e descendente de Mossem, ou Mon-
siur Joam de Betancor, Rey das ilhas Canarias, se foi d'esta ilha dar a
el-Rey, e casar em Portugal, como casou com dona Guiomar de Sá, da
ma do paço, filha de Henrique de Sá, do Porto, que os mouros mataram
estando servindo a el-Rey em Ceuta i e por ser costume naquelle tem
po não casarem dentro no paço, consertando o casamento, se desposaram
em casa de dona Violanta, sua prima co-irmã, mulher do conde da Cas
tanheira. E não deixarei de dizer, o que cm verdade aconteceu antes
dos desposorios ; e foi assim.
Andando a dita dona Guiomar de Sá no paço, fazendo certa devo
ção de Sam Joam, ou outra .1'outro Santo, em que esperava, no derra
deiro dia d'ella, que o primeiro homem que hou visse nomear do mes
mo nome havia ser o marido que com ella casasse, e se havM ser por'
tuguez, ou não; como é costume de mulheres, ou supersticiosas, ou de
masiadas, muito desejosas de saber o que lhes ha de succeder ; ás qua^s
o demonio responde por successor, permitlindo Deos que sejam enga
nadas d'elle, ou ás vezes certificadas ; pois em logar de Deos o vão bus
car no que pertendem. Succedeu no tempo e dia que Gaspar de Be-
tancor foi beijar a mão a el-Rey, vestido de verdoso, e no mesmo dia
antes que o visse, contava a mesma dona Guiomar, ir ter um som^aos
seus ouvidos, que o marido que com ella houvesse de casar havia ser
íranc«z. e a primeira vez que o visse, o veria vestido de verdozo, como
vio. Com estes successos engana muitas vezes o demonio a muitas mu
lheres, quf façam semilhantes superstições, como esta.
t
Depois de casados em PortugaL como tenho dito, Se vieram para
«sta ilha, e viveram ambos em Villa Franca, antes d'ella subvertida al
gum tempo; e n'esta ilha houveram os filhos seguintes: — O primeiro
filho legitimo, chamado Henrique de Betancor, andou no paço com boas
,moradias servindo e!-Rey dom Manoel, ao qual o mesmo Rey fez mercê
das saboarias d estas ilhas ; casou com dona Maria d' Azevedo, filha de
Manoel d'01iveira, estribeiro-mór do cardeal, e iexe uma filh• que cason
com dom Alvaro de Luna, filho de dom Pedro de Gusmão, castelhano,
que foi dos cabeças das communidades, e falleceu ella, sem haver entre
elles mais filhos. O segundo filho, Joam de Betancor de Sá, foi o melhor
cavalleiro das ilhas, e apanhava muitas laranjas do chão na carreira, indo
correndo a espora fita, e corr ia tambem a cfrvallo indo em pé sobre a
sella, e fazia outras muitas destrezas de extremado cayaHeiro ; casou
com Gujomar Gonçalves, filha de Gonçallo Vazf O jpoçty c^^A0
<Jrinho, e neta de Gonçalfo Vaz Botelho, o Grande^ da qual houve os
-filhos seguistes.
O primeiro, Francisco de •Betancor de Sá, que, lhe su/ççfideu no
'morgado, e teve boas saboarias na ilha da Madeira, o qual foi casado
,com dona Maria de Medeiros, filha de Diogo Affooso Coiombreiro, ho-
ftiem fidalgo muito principal e rico n'esta terra ; de qtusm houve um
filho, chamado André de Betancor, que ficou: só, e herdou o morgado,
•e outros que falleceram. O qual André de Betencor casou na ilha da
Madeira, com dona Izabel de Aguiar, filha de Ruy Dias de Aguiar, e de
sua mulher Francisca de Abreiu, mulher que foi de Joam d'Ornellas
•de Sá Vedras, que vivia na capitania de Machico, que é do senhor
^ristão Vaz da Veiga, que, foi capitão de Malaca, e agora capino de
Hfjactyjçp, e capjtãp-uior da guerra em toda a ijfta da, Ma^eijra, e ajcaide
ra^r da fortaleza, tio de (Jona kabel, filha de seu primo, ,co;ir.mj>o, e
spbjjnho dos capitães da ilha, e sobrinha de. Marechal, e. de dom Diogo
Afi Squsa, qu* fqjíVipç-^,^a Ifldja. t ,
Seus filhos, o mais velho, chama-se Francisco de Betancor de Sá;
o segundo, Ruy Dias de Aguiar; o terceiro, Gaspar de Betancor de Sá;
cuji fazenda va lerá cento e cincoenta mil cruzados. Outro filho leve
82
Lasso, seu cunhado, marido que fora de sua irmã dona Beatriz ; e assim*
andou encobertamente dous annos, sem ser de todo descoberto o despo-
sorio, aiada que se murmurava d'isso. Alé que a imperatriz adoecendo
d'uma grave enfermidade, a chamou e lhe disse que casasse com dom
Pedro Lasso, se tinha alguma obrigação de casar com elle, linda que
ella levava desgosto por razão do que se dizia amigo reconciliado, e com
esta licença da imperatriz, e dispensado papa, se receberam ; é tambem
entre ambos não houveram filhos.
Guiomar cioco fitbos eritre machos e fêmeas, elles com boas e ricas eoro-
mendas de Santiago. Outra filha de Aotonio Juzarte de Mello, e de do
na Guiomar de Sá, chamada dboa Izabel, por não tarem nesta ilha tan
ta renda, a queriam casar arapi com Ruy Gago da Camara, e elte não*
quiz pelo pouco dote que fcaèa ; e o que fats de pobres ricos• de peque
nos grandes, e sabe com quera reparte seu» dtaa• e quem melhor os
merece , ordenou como fosse latada a Castelfo, 0 por ser a dto êon*
Izabel muito grave e formoza, e de grande virlode, casou-a com dbn
Joam Colomo, vice-rey da ilha Sardento, qan é. agora conde de íhoas
em Valença, e tem nove contos de renda, ebfaa) hm quatorze filhos e
filhas. De modo que por todos tem agora donai Guíotrar de Sá, mulher
de Antonio Juzarte de Mello, d'estas ditas Ires Olhas, «inte oito netos em
Castália.
11
alvará que teve de mercê do Rey, da sepultura para elle, mulher e fi
lhos ; em que tambem lhe concedia que pudesse ter sobre ella suas
armas dependuradas com bandeira descida, como teve alguns annos, até
que se desfez a egreja, para se acrescentar como agora está, e depois
não houve filho nem neto a quem lembrasse uma mercê 13o grande,
que a nenhuma pessoa abaixo dos infantes se concedeu. Dona Guiomar
de Sá, sua mulher que falleceu no atino de mil quinhentos e quarenta e
sete, também está com elle enterrada ; fez em vida doarão de quinze
alqueires de terra aos padres de Sam Francisco, onJe pudessem fazer
casas e oflkinas, para n'ellas servirem a Deos, como depois fizeram um
sumptuoso convento, com encargo d uma missa resada na semana, e
missas resadas no Natal, Paschoa e Espirito Santo.
Sua filha dona Izabel, mulher de dom Pedro Lasso, de quem atraz
fica dito, mdfrendo em Castella no annô de mil quinhentos e sett#ta e
.quatro, deixou toda a herança que n esta ilha tinha de seu pay, .em ca*
i peitas, e ptír administradores ô prbveôor e irmãos da casa da Misericor
dia da eidatlè de Ponti Delgada, e por capellâes parentes de sua linha ;
fez tambem esmola do chão em que se fez a egreja do Corpo Santo, na
mesma cidade> para os mareantes d' ella. Deixou tambem Gaspar de Be-
tancor um filho natural, que houve de Maria Dias, moça solteira, e legi-
timou-o depois, por nome Gaspar Pordomo, o qual, como já disse na
geração dos Velhos, casou.com Beatriz Velha, filha de Joam AíTonso
Gorcos, e de Leonor Velha, filha de Pedro Velho, da qual liouve os fi
lhos e filhas jà ditos na geração dos Velhos, a saber — Manoel de Be
tancur, que casou primeiro com uma filha de Joam do Porto, irmã de
Manoel do Porto, e depois com dona Izabel irmã de Melchior Roiz, es
crivão dà tamara da cidade, e de nenhuma houve filhos ; e Balthasar de
Betancor, que casou, e não houve filhos ; e Melchior Betancor, que ca
sou e teve filhos e filhas.
Houve mais Gaspar Pordomo duas íillns, a primeira dona Francisca,
que não casou; a segunda, dona Simôa, que casou em Portugal com
dom Joam Pereira, bisnesto do conde da Feira, de quem houve uma
filha chamada dona Beatriz, que casou com Joam de Frias, filho do
87
CAPITULO DECIMO.
fete Thomé Vaz Pacheco teve um filho chamado Manoel Vaz Pa-
'checo, genro que foi de Jacome Dias Corrêa, como direi na geração de
Buy Vaz do Trato : era Thomé Vaz Pacheco filho de Pedro Vaz Pache
co, que veio casado de Portugal, e morreu em Villa Franca do Campo,
onde teve quatro filhos ; o primeiro, Thomé Vaz Pacheco, casado com
uma filha do Affonso Lourenço, pay de Domingos Affonso, de Rosto de
Cão, e de Joanna Lourenço Tição, e morreu no deluvio de Villa Fran
ca com sua mulher e filhos, por morar lá então, ainda que tinha sua
fazenda em Porto Formozo. O segundo filho de Pedro Vaz, casou com
uma irmã de Estevão Alves de Rezende, da cidade de Ponta Delgada,
viveu muito rico e abastado, e era sua Ioda a ponta da terra do Porto
Formozo, que agora é de Antonio de Brum da Silveira.
Este Pedro Vaz Pacheco mandava sempre cada anno um navio car
^89
•vega'do'de"trigo" ao 'Algarve, em que ganhava multo, por ter lá um gran
ÍAWTULOUNDECIMOv
Dizem os antigos, que ? origem do» BerSozas. ppocedeui d' uma hon
rada e valorosa mulher, a qual, estando doos Homens. fidalgos pelbijando-
na sua rua, onde ella morava, não havendo quenv os ' apartasse, sahindo
de sua casa com um montante, os apartou, como se fôra algum- esfor
çado cavalleiro, ou valentíssimo soldado, o que'sabendo el-Rey, disse —
< bravoza, ou barboza mulher foi esta , : e seodb-lhe pedido Ibe deu este
9*
appellido, que por ventura anda corrupto o vocabulo, dizendo por fira*
vçjza, Barboza — ; d"onde procedem os Barbozas, e procedeu um Ruy
Estevão Barboza, criado de el-rRey,, morador entre Douro e Minho, ho
mem tão valoroso e poderoso, que, quando- ia .á corte pousava em casa
do regedor, por amisade que tinha com elle. tinha o regedor em casa
uma irmã chamada Phj,lipjpla da Silva, da qual o dito Rpy Estevão Bar
boza se namorou, e ella d'elle, de maneira qpe casajram ,a fpjto.
12
quem teya Ires Alhos e uma filha, tudus ju defuntos : um d'eUes, chama
do Ruy Barboza, íui «serivão ta» cidade do Ponta Delgada, homem do
grandes espíritos, casado o mi uma irmã do Genebra Annes, mulher do
Diogo Vasconcellos, letrado em leis, que foi ouvidor do capitão nesta
ilha, da qual teve alguns filhos que falleceram.
O segundo, Braz Barboza, do halbílo de Chr isto, nobrõ e muito gen
til homem, esteve em Africa muitos atinos, servindo a el-Rey, onde ca
sou em Alcarcer Ceguer, com uma utfjJlvcr muito honrada, e ali morou
muito tempo depois de viuvo ; vindo da Africa foi voador do ilustríssimo
e grandioso bispo de Miranda, dom Juliam de Alva, e depois foi guarda-
mórdas damas: sendo muito velho,, teve duas li lhas, uma freira pro
fessa,, e outra muito virtuosa, que felleçeu solteira. O terceiro filho de
Ruz Lopes .Barboza, chamado Francisco Barboza, discreta, gracioso, de
delicados ditos, e muito bom judicial, casou com uma mulher da geração
de Joam Alves do Pico, de quem houve alguns filhos, q.tàe faiUecennn :
e casando segunda vez com Izabel do Miranda, da ilha de Sautu Maria ,
houve d'ejla Harçulqs Barboza Lea), dador-jwr dos pasceis nesta ilha
por el-Rey, çwp boa renda ; que caswu qa cidade de Punta Delgada, on
de mora, com IfíibeJ. Ferreira^ neta de Gaspar Ferreira, filha de Fernan
do Lourenço, e de Leonor Ferreira, de quem teve filhos e filhas; e ou
tro filho solteiro chamado Duarte Barboza, e quatro filhas, uma por no
me Izabel Barboza, casada com o licenciado Henrique Nunes, que mora
na cidade do Porto, de quem. tem filhos, alguns bons letrados, e algu
mas filhas. A segunda chamada Philippa 4a Silva, que foi casada com
Francisco Vaz, que foi escrivão na cidade de Ponta Delgada : e outra
por nome Anna Tavares, casada com Antonio Vaz, seu irmão : e outra
chamada Guiomar Fernandes, mulher de Gaspar Roiz, filho de Joam
Roiz Fernandes, de Rabo de Peixe. • ,i • :
95
Posto que, o dito Antonio Borges se nSò achou nVste negocio, còm-
tudo mandou vir diante de sí um castelhano, seu companheiro, e o fez
atanazar ; e ha de se entender, que, o attnazar d'aquelfa^ partes n2ò é
conforme ao que faz a justiça emterras dè christSós, senfí) é còni uthàs
tanazes tão agudas e amoladas, que onde pegmtiram a catoe dè manei
ra, que ficam os homens nos ossos taes., que assim ficon este 'castelhano:
mandou tambem buscar a Antonio Borges, para lhe fírzer outro tanto ;
e diz uma carta que escreveu Sua Magestade tw cardeal Alherto, que o
dito Antonio Borges lhe respondôu de maneira , que nau sótòente
lhe deixou de fazer mal, mas antes lhe mandou dar sesenta doblás, e
cessou de fazer nos captivos mais mortes, nem cruezas. O que' fugio
chamava-se Vasco da Fonseca Coutinho, e outro clerigo Francisco Burges'
de Sousa, inquisidor que foi para a índia, dos tres da mesa gràrtdè, to
rtos tres irmãos : fugio o mais moço, por 19o gentil arte, que chegando
ao reyno lhe deitou el-Rey dom Henrique o habito de ChristO; com bua1
tença. . : •
radar nos Fenaes da Maia, casou com Maria de Medeiros, filha d'Alvaro
Lopes de Medeiros, e de Anna Fernandes, sua mulher, de quem tem.
quatro filhas e um filho : e agora é casado segunda vez, com Margarida
Pacheco da Silveira, filha de Gomes Fernandes, do Fayal, viuva, mulher
que foi de Jorge Corrêa, filho de Pedro Roque Cordeiro, e de Cathari-
ua Corrêa, moradores que foram em Villa Franca, e tem d' ella dous
filhos e duas filhas. O terceiro filho de Heytor Barboza, chamado Hen
rique Barboza da Silva, foi d'esta ilha sendo de idade de vinte annos,
para a índia de Portugal, onde casou, e tem feito muitos serviços a el-
Rey, como ao diante contarei, na vida do condè dom Ruy Gonçalves da
Camara, sétimo capino d'esta ilha de Sam Miguel, em cujo tempo vie-
ram ter a ella os instrumentos publicos, bem provados e authenticos de
seus heroicos feitos.
Teve mais Sebastião1 Barboza da Silva, de sua mulher Izabal Nunes
Botelho, ires filhas, umaiflmmada Paulina Barboza, que foi casada com
Ehtevão Nogueira,. ppy de-Bartholomeu Nogueira, homem rieoe princi*
pai, que teva muito tempo. as, rendas de el-Rey n'esta ilha; de quem
houve um» filha, que casou com o licenciado Manoel d'Qliveira, chama
da Jzabel Nogueira; e dous, filhos — Sebastião Barboza, e Ambrozio No
gueira : e outra, filha de Sebastião Barboza, chamada Guiomar Barboza,
foi casada com Jorge Terras, homem de muita descrição, de grandes ha
bilidades, morador em Vdla Franca. Teve mais Sebastião Barboza, &
velho, outra filha chamada Branca da Silva, que casou com o licencia
do Antonio Tavares, filho de Gonçalo Tavares, da Ribeira Grande, do.
qual teve dois filhos: Gonçalo Tavares, criado de el-Rey, e capitão d'uma
bandeira das ordenanças na cidade de Ponta Delgada; e casou com Iza-
bel Cabral, filha de Estevão Alves de Rezende, e de Maria Pacheco: de
quem houve muitos filhos e filhas: e houve tambem o dito licenciado
Antonio Tavares outro filho, por nome Jordam da Silva, alferes da ban
deira da capitania de seu irmão, e è casado com Brianda Cabral, filha
de Joam Velho Cabral, homem principal da cidade, de quem tem mui
tos filhos e filhas.
As armas dos Silvas, que tem os Barbozas, são dentro em uma ro
"99
ida ile silvas verdes, que parece uma formoza capella, e uai esçydo, que
tem o campo branco, com uma banda na cinta azul, que atravessa o
escudo da esquina de cima da mão esquerda, a quem o vê, até.á outra
parte de baixo da mão direita, com cinco meias luas brancas na mesma
cinta azul, com as pontas para baixo para a mesma mão direita ; a qual
cinta sabe d' uma parte d'uma bocca aberta de serpente, com seus den
tes e lingua vermelha, e acaba e se vae metter em outra bocca d'outra
cabeça de' semilhante serpente ; e da parte direita d'esta cinta um leão
como que vae subindo com duas esirellas vermelhas diante do rosto, e
da outra parte, debaixo da mesma cinta, ontro semilhante leão, com
uma estreita vermelha em os pés : não lhe achei n estas armas elmo,
nem paquife, nem timbre.
- 9 r 9
CAPITULO DUODÉCIMO.
i
Os Gagos e Bocarros, são da cidade de Beja, d' onde veio Luiz Gago
-a esta ilha, por ter nrella seu tio Luiz Vaz Gago, chamado do trato,
quando tambem veio André Lopes Lobo, e se aposentou na villa da Ri
beira Grande ; èra filho de Estevão Rodrigues Gago : Unha estes paren
tes em Beja, a saber — Lourenço Annes Gago, que era pay de Ruy
Vaz do Trato, que aqui viveu n'esta ilha muito rico, como logo direi,
quando fallar n'elle ; Ruy Gago, morador em Alcacer ; Estevão Gago,
ouvidor que foi das terras da , infanta ; André Gago ; Joam Gago ; e Pe
dro Gago ; todos fidalgos e parentes, no segundo, terceiro e quarto
1.00
morgado que por sua morte deixou e instituiu Nuno d'Athouguia, n'es*
ta ilha de Sam Miguel, de perto de cem moios de renda ; o qual não
casou, e o deixava por successão a dom Martinho, filho de dom Diogo,
que morreu nà guerra da Africa : e seu pay dom Diogo o possue agora
como tenho dito ; e valeu tanto no reyno, que esteve'despachádo por
vice-rey para a índia ; e não quiz ir, por depois os do conselho ordena
rem dous governadores da índia, um de Goa, e o outro de Malaca: e
vendo elle que dividiam o governo da índia, não quíz acceitaro cargo
de vice-rey, que antes lhe estava offerecirfo e concedido ,' dizendo —
que não podiam goveriur bem duas cabeças. Tambem dizem que foi ho
Algarve vice-rey alguns annos.
13
102i
cai termo da viHa da Ribeira Grande, como ji Misse na geração dos Bar*
bozas. Outra chamada Beatriz de Sousa, de grandté 'Virtude, sem qu%*
rer casar, está em sua casa, com doas irmãos, que* tem solteiros, a sa*
ber — Martinho Annes Bapozo, e Apolinario Rapozo >'de Sousa. Outro
filho de Jordam Jacome, chamado Ruy Vaz Corrêa', perdéu-se no mar
em um navio, onde elle falleceti. Outro filho natural teve Jordam Jaco*
me, chamado Antonio Jacome Corrêa, homem de muitarvirtude e pru
dencia, e ainda solteiro. '
Jordam Jacome Rapozo, filho de Jacome Dias Corrêa, foi casado
primeira vez com Francisca Rodriguez Cordeiro, filha de Joam Bodri-
guez, feitor d'el-Rey nesta ilha, que naquelle tempo antigo se chama
va recebedor das rendas d'el-Rey, e seu feitor como disse atraz , irmão
de Pedro Bodriguez Cordeiro; e d'es'a mulher houve estes filhos — Ma
noel Rapozo. Sebastião Jacome Corrêa, André Jacome Corrêa, Baram
Rapozo Corrêa ; e duas filhas que foram freiras. O primeiro filho, Ma
noel Bapozo; casou com Margarida Luiz, de quem houve tres filhos e
duas filhita' — o primeiro filho, Baram Rapozo. falleceu solteiro. O se
gundo, Miguel Rapozo, tambem falleceu solteiro. O terceiro, Manoel Ra
pozo. casou com uma' filha de Francisco Mendes, e de Estacia de Sousa,
A primeira filha de Manoel Rapozo casou com Aires Pires do Rego. de
quem não bouve filhos* a segunda, Francisca Corrêa, casou com Joam
da Costa',! filho de Pèdfo Barriga, do Nordeste. •
H!) primeiro filho, Thomé Vaz Pacheco, casou com Paulina d'Ornef-
"ias, de quem não tem filhos. O segundo filho, Braz Rapozo, agora ca
pitão d'uma companhia na cidade, casou com Calharina de Frias, filha
<1e Fernando Annes, pay do licenciado Bartholomeu de Frias, de quem
houve, fora os defuntos, duas filhas gemeas : a primeira, Maria Jacome,
que casou com Manoel Martins, rico mercador, homem de grande pru
dencia e saber, de quem tem alguns filhos e filhas. A segunda filha de
•Braz Rapozo, chama-se Anna da Madre de Deos.e é freira no mosteiro de
Santo André da cidade de Ponta Delgada, O terceiro filho de Manoel
Vaz Pacheco, Francisco Pacheco, casou com uma filha de Manoel Lo
pes, escrivão em Villa Franca, de quem não tem filhos nem filhas. O
quarto frtho de Manoel Vaz, Bartholomeu Pacheco, casou com uma fi
lha de Joam Lopes, ^mercador, e de sua mulher Francisca Sabea, de
.quem tem filhos e filhas. O quinto filho, Jordam Pacheco, de grandes
espiritos, casou na Ribeira Grande com Maria Tavares, filha de Luiz Ta
vares, e de sua mulher Izabel Vaz, de quem tem filhos e filhas. A se
gunda filha do dito Manoel Vaz Pacheco, Maria Jacome, casou com Lo-
pe Annes Furtado, cidadão de Villa Franca, filho de Antonio Furtado e
de Maria d'Araujo, de quem oão tem filhos, e é fallecida.
Ires vezes com nobres mulheres, das quaes não houve filhos.
O terceiro filho de ChristoTão Dias Corrêa, chamado primeiro Jor1
dam Jacome Corrêa, depois o capitão Alexandre, por lhe pôr este nome
0 senhor dom Joim de Áustria, por valentias que fez no tempo di guerra
naval, que teve com o turco, ao qual alem do habito de Santiago com
boa tença, el-Rey Philippe, por seus serviços, fez mercê de duzentos mil
1 eis de renda, pagos aos quarteis cada anno na alfandega desta ilha de
Sam^Miguel, onde casou com Catharina Mendes, filha de Antonio Men
des Pereira, e de Izabal Fernandes, com a qual lhe deram em dote seis
mil crusados de raiz ; e delia não tem filhos : das valentias e feitos he
roicos do tal capitão Alexandre, direi ao diante mais largamente em seu
logar. O quarto filho de Christovão Dias, chamado como seu pay Chris-
tovão Dias Corrêa, e o quinto Manoel Corrêa, falleceram ambos solteiros-
na ilha Terceira, em casa de Joam da Silva do Canto.
Houve mais Christovão Dias de sua mulher duas filhas: a primeira
Aldonsa Jacome, casou com Sahador de Araujo, por alcunha o Farto,
morador em Villa Franca, de quem houve um filho chamado Christovão
Dias, ainda solteiro. A segunda filha de Christovão Dias Corrêa, o velho,
falleceu solteira. Vieram depois a esta terra Gabriel Coelho e Raphael
Coelho, irmãos ; e Antonio Jorge Corrêa, homens nobres, parentes mui
to chegados de Jacome Dias Corrêa. Gabriel Coelho teve grande trato, e
perdeu muito em uma companhia que teve com Antonio de Pesqueira
Burgales, e com Antonio de Brum. Casou com uma neta de AlTonso An
nes, dos Mosteiros, rico e nobre, da qual teve alguns filhos e filhas. Ra-
pbael Coelho casou com uma filha de Estevão Alves de Rezende. Anto
nio Jorge casou com Margarida de Chaves, tambem neta de Affohso
Annes, dos Mosteiros, da qual houve alguns filhos ; os vivos são : Manoel
Corrêa, letrado em leis ; Gonçalo Corrêa de Sousa, canonista ; e uma
filha chamada Maria Corrêa, que agora está no mosteiro de Santo André
da cidade; todos de muita virtude e de bom exemplo, imitadores de
soa mãe, que depois de viuva se deu tanto a Deos ca oração, que se tem
e é julgada por santa, como direi a diante.
DUepi alguns que estes appelidos de « Correas gente nobre, teve
m
^principio eft uns, que guardando uma torre sem se quererem entregar
aos coirtrarios, estiveram tanto tempo cercados, que faltando-lhes o man
timento, faziam em tiras e correas os couros das caixas encouradas; e
deitandoos de molho os comiam1 depois de brandos. Outros dizem que
por um d'e)les em uma batalha vencer um poderoso inimigo, e o atar
com umas correas, trazendo-o captlvo, lhe ficou este appelido de Cor-
rOas, que por isso tem as suas armas a figura d'um homem atado pelas
mãos com umas correas.
Tinha Ruy Vaz do Trato, fóra suas rendas, muito gado e muitas
criações, n'esta ilha, em Villa Franca, nas Furnas, nas Sete Cidades, no
pico dos Ginetes, em Rabo de Peixe, e na Ribeira Grande ; as quaes ia
visitar em pessoa cada anno. E vindo um dia da criação das Sete Cida- %
des, a cavallo, lhe aconteceu junto do logar de Rabo de Feixe, que ain
da estava despovoado è ermo, sem haver n'elle mais que duas cafuas
em que dormiam os vaqueiros, e os rossadores dos mattos. Chegando de
noite a uns biscootos, que estão alem de Rabo de Peixe, da banda da
villa da Ribeira Grande, onde elle ia para sua casa, que estava no Mor
ro, abaixo do arrebentão, da parte do mar, onde então morava : que
depois mudou Joam do Outeiro, seu seccessor, para junto da Ribeira
Secca, abaixo da ermida de Sam Pedro; e ahi fez outras casas e. gra
neis de telha, desfazendo as em que morava, pelas não achar de seu
gosto, por serem desviadas da povoação. Ê chegando de noite Ruy Vaz
ao dito biscoito , quasi sahia d'elle onde estava uma cruz em um peque
no outeiro de pedra , quando lhe sahio ao caminho um phantasma como
touro e se arremeçou a elle; e cuidando que era touro andou com elle ás
lançadas, levando tanto trabalho n'isso, e o cavallo o mesmo, que quan
do chegou a sua casa ia já todo pisado, sem dizer a sua mulher, nem a
outra pessoa alguma, o que lhe acontecera.
Deitando-se na cama, sem comer, muito cançado , ao outro dia antes
que amanhecesse, foi vér se achava o touro naquelle logar, e não achou
rasto, nem mostra alguma, por onde se pudesse crer, que andasse ali
touro, nem outra alimaria, nem pessoa, por que tudo ali era cuberto de
hervas frescas, entre as quaes ia uma vareda por onde se camiohava;
108
nem se podia fazer cousa alguma, que não mostrasse o rasto tio que se
tizera : vendo elle isto, e entendendo que era algum demonio, ou cousa
má, a que ali lhe apparecera, se tornou turbado para casa ; e o eoniou-
a sua mulher, que dificultosamente o poude já entender, por elle quasi
não poder fallar, e logo falleceu d'este assombramento : e depois de viu
va se casaram as tres filhas, como tenho dito.
Indo Luiz Gago dar conta a el-Rey por seu tio Ruy Vaz Gago, que
nada ficou devendo, casou cá a dita Catharina Gomes Rapozo com Joam
do Outeiro, mercador que procurava pelas cousas de seu marido, e era
seu feitor, do qual houve uma filha, que conforme ao costume daquelle
tempo, desposou com Jorge Nunes* irmão do capitão Ruy Gonçalves, pay
do c pitão Manoel da Camara, ao qual mataram os mouros, andando em
Africa á custa do sogro, no tempo dos desposorios, e depois a tornou a
casar Joam1 do Outeiro com dom Juliannes da Costa, filho de dom Al
varinho, como direi quando tratar de seu morgado, e das differenças
que houve sobre elle.
Luiz Gago, primo co-irmão de Luiz Gago dó Trato, ainda que lhe
chamava tio, por ser Ruy Vai o mais velho, e o ter em sua casa, que*
por sua causa veio a esta ilha; morou na Ribeira Secca, termo da Villa
da Ribeira Grande, e era como tenho dito filho de Estevão Roiz Gago,
fidalgo, que fez muitos serviços a el Rey nas guerras de Castella, onde.
foi muito ferido, principalmente duma lançada, que em se recolhendo
os pcrtuguezes lhe deram os castelhanos de arremessa por Baixo das1
couraças nos lombos, de que lhe ficou um nó grande por signaL Era
tambem primo co-irmão do doutor Ruy Gago, juiz dos feitos de el-Rey;
foi homem latino, discreto, e de boas partes, não bebia vinho, mas sem
pre tinha muitas pipas d'elle em sua casa, para agazalhar muitos hospe
des e religiosos, que a ella iam : era muito amigo dos pobres e viuvas,
que amparava : vivea muito honradamente e abastàdo, com cavallos e
mullas na estrebaria, que tinha bem pensados, por ser bom cavalleiro :
e muitos escravos, e escravas* criados e criadas, e grande família : foi
casado com Branca Affonso da Costa, fidalga dos ColumbVeiros, atraP dfc*
tos, da qual houve os filhos seguintes:
109 ,
Com o qual cargo, em todo o tempo que o teve e tem. assim quan
do foi capitão menor, como maior, é de tal condição, e tão nobre, qwe
nunca aggra.you soldado seu, nem usou deksondenação ; reprehendendo*
os e tratandp-os com muito amor, como filhos ; e assim é pay de todos,
e da mesma- villa ; acudindo primeiro que ninguem a todas as pressas
e necessidades d'ella, e fóra delia com t«óã pessoa e fazenda : o qual
houve de sua mulher, (zabel Botelha, os filhos seguintes : bem confor
mes nos costumes a tão bom pay e mãe que os geraram. O primeiro,
Paulo Gago, morgado, que parece um anjo na condição e virtude ; o
qual casou,,com Izabel de Medeiros, filha de Jeronymode Araujo, fidal
go cidadãq de,í¥iila Franca, como^á itenbo dito. O segundo filho, Ruy
Gago, muito cortesão ie discreto; ©terceiro, Pedro Gago. O quarto, An
dré da Camara. Tem tambem doas filhas, a primeira, dona Maria, ca
sou com Manoel, da Gamara, fidalgo, filho de Henrique de BetMicor, com
dispensa,. por, serem parentes. A segunda filha, fzabel da Camara, ca
sada com Manoel Moniz, filho de Adim Lopes, e de Maria Moniz, fóra
outros que Calleceram ; e tres d'elles .continuamente a cavallo, e pelas
festas quando ha folgares, vem com elle em cavallos bem ajaezados e
lustrosos.
O terceiro filho de Luiz Gago, chamado Sebastião Gago, criado de
el-Rey, morreu em seu serviço na índia, com outros soldados, sendo ca
pitão d'um navio de alto bordo, pregado um braço com as frechas ao
bordo d'elle. O quarto filho, chamado André Gago, falleceu no diluvio
de Villa Franca d'esta ilha, estando já no estudo aprendendo para cle
rigo, sendo muito bom musico, bom cantor e tangedor. O quinto, por
nome Jacome Gago, gentil homem, discreto e grande cavalleiro, falleceu
solteiro na ilha Terceira. O sexto filho de Luiz Gago, chamado Estevão
Gago, morador na Ribeira Secca, casou com uma filha de Joam do Mon
te, 10 velhos da qual houye tres filhos: O primeiro, Luiz Gago, degranr
m
des espiritos, que foi daqui solteiro ter ás Canarias, onde se chamou Luiz
de Betancor, e d'ahi se mudou para outra parte, e não se sabe d'elle. O
segundo, Sebastião Gago. O terceiro, Pedro Gago, que tambem se foi
d' esta ilha, onde não se sabe se são vivos.
,Teve mais Luiz Gago tres filhas. A primeira, dona Alda Gago, ca-
sou-<c©m Henrique Camello Pereira, fidalgo, 'filho de Fernando Camelie
Pereira, da qual houve dous filhos de grandes partes, como direi na1
geração dos Camellos. A segunda, dona Margarida Gago, casou com Si
mão de Betancor da Sá, fidalgo, filho de Joam de Betancor, de quem'
houve os filhos e filhas que disse na geração dos Betancores. A tercei
ra, 'Beatriz Roiz da Costa, casou coin Férnando Corrêa de Sousa, viuvo,
fidalgoda geraçfo dos Corrêre de 'Portugal, que veio daittra da Madeira,
d'onde trouxe Unia filha chamada Branca Corrêa, que falfeceu solteira :
o qual Fernando 'Corrêa se fót d'esta ilha em um navio.muito" grande,
qne aqui fez, no logar do Porto Formozo, que se pertfeu na ilha da
íladeira : fom o qual desgosto se foi para as índias de Castell», e nun
ca mais houve novas d'elle ; era gentil homem, grande de corpo, mag
nifico nas obras, e muito discretô, do qual já disse na geração de Nuno
Gonçalves, filho de Gonçallo Vaz, o grande ; e a cada uma d'estas filhas
deu Luiz Gago, em casamento, vinte moios de renda em propriedades,
que agora valem dobrado.
Tem os Gagos por armas um escudo de campo vermelho, com uma
aspa, e tres luas de prata nos tres vãos de baixo da aspa, e uma estrel-
)a de ouro no quarto vão de cima : e n'elle mesmo, por differença, um
cardo de ouro florido ; eo elmo azul, guarnecido d'ourocom sua folha
gem ; da parte direita a que tem ave de ouro e vermelho, e da parte
esquerda de prata e vermelho ; paquife de prata e vermelho, e por tim
bre um leão deprata, com uma estrella douro na testa.
Í12
tosse vèaclor de sua fazenda, do qual cargo elle se escusara por muitas
vezes, por que o não queria servir, sem el-Rey lhe receber escusa ; ao
,que elle lhe disse — que pois os fidalgos da corte tinham inveja d'elle,
e de sua privança, lhe pedia que primeiro que comecasse a servir o
ylito officio, sua alteza lhe mandasse fazer inventario da sua fazenda, pop
que havendo em algum tempo algum mexiriqueiro, se soubesse quanto de
,antes tinha. Respondeu-lhe el-Rey, que não havia necessidade de lhe
•fazer inventario, pois confiava d'e!le. Mas não contente dom Juliannes,
chamou certos escrivães e contadores, com os quaes fez rezenba da sua
fazenda, mostrando-lhes? os títulos que tinha d'ella, a 'qual feita, montou
de t movei e rajz• que tinha assim nesta ilha como no reyno, eqtran-
do um conto e duzentos mil reis, que Ihp ,pjagàYa e^?y Ae jur8
cada um amip, uma e outra, a duzentos mil cruzadas . 'ifaquel-
Je tempo do inventario somente : f^ra o que depois multiplicou ; e ou
tras mercês grandes que lhe, fez el-Rey : que 4 hora, de sua morte po
dia ser toda trezentos mil cruzados. Servio de vèador f^wtos tempos a
eoiiientameHto de el-Rey> ^erviq^o-se .mag^ifiçan^te, ,acnmpaj|it|ado de
todos os fidalgos, e muitos d eites ricos, .
apoz elle: dom Antonio da Costa da Silva, moço muito discreto, eomv
elles eram todos : determinou o pay e a mãe com o cardeal fazel-o sacer
dote, para que o segundo íosse herdeiro no morgado, como de (acto o
fizeram clerigo ; e o dito dom Alvaro depois que entendeu e viu que
não podia herdar o morgado, ficou muito triste, apartando-se logo de
seu pay, sem nunca uiais serem amigos, e ioi para o estudo de Coim
bra, onde Jlie mandava dar o pay mil cruzados de renda cada anno ; es
tudando alguns annos, onde tomou gruo, e com isto se foi para Ikwía
sem, o pay o saber; e quando o soube, contente com iss*r o mandou
prover lá com todo o necessario com muito dinheiro.
Depois tornou outra vez a Roma a trazer Ires, que são desoito ; tem
dados a dous criados dous, licando-lhe desaseis. Também alcançou com
o papa, por seu favor e de seu pay, que lhe deu os benefícios das egrejas
em transferende : e diz no transferende logo d'esta maneira : — que o
dito dom Alvaro poderá dar e renunciar as ditas egrejas nas pessoas en>
quem elle mais quizer, com tanto que tenham ordens menores, e não se
jam parentes no quarto gráo : e esta data será valiosa sem maisauthori
ThidS .flò papa, nem bispo : e será renunciado vinte quatro horas antes'
dí sua morte para que esteja enY seu sizo : e logo diz que, se n'aquelle
tempo n5o estiver tão prestes notário, ou escrivão, para fazer a tal re-
titinciação, que renuncie dianté de doas testemunhas, e que seja válida.'1
. e depois de renunciada será confirmada ' pelo bispo do bispado, aonde
estiver o beneficio. De maneira que The fenderam os benefícios em cada
um anno, dous contos, forros para si. Alem (Vestes benefícios, tem de'
patrimonio de herança de seu pay, trezentos e sÃenla mil reis de juro,
que lhe paga el-Rey no almoxarifado de Santarem, em cada um anno :
tem mais n'estas ilhas a sua pàfte, que'fh"e rende cada um anno cem
frtoios de "trigo, pouco mais ou menos. Rendem-lhe mais em dinheiro,
os foros que aqui tem, trinta mil reis : e'tem quintas, propriedades,
moinhos, marinhasse casas que lhe rendem, em cada um anno, 'mais de
dous mil"è dazentos" cruzados.
Não tem «asa certa, tem uma casa em Lisboa, outra em Coimbra,
outra no Porto, outra rta Guarda, e outras onde tem as égrejas ; e es
tando quinze, vinte dias em uma parte, vae estar outros tantos em ou
tra ; bão quer estar na corte, nem ser bispo, nem outra dignidade; d'es-
ta maneira passa a vida quietamente. Depois dom Antonio herdou o
morgado, que lhe poderá render perto de quatro contos em cada um
anno, onde entra uma roa que fez .-dom Juliannes* em seu i tempo, ao
pelourinho velho, nas casas que foram dos Coutos; que é a melhor cou
sa ífde' ha em Lisboa : .que lhe rendem cada um anno, os alagueis das
casas,' Ires mil cruzados ; e tem tres filhas, e nenhum filho: foi com el-
Rey para a Africa ; dizem, que lhe deram quatro lançadas, das quaes
morreu. O terceiro filho dé Juliaones da Costa, é muito rico, casou já
duas vezes, e de ambas lhe daram grossos dotes, alem do patrimonio'
que lhe deu- seu pay, que passa de dous contos de renda, onde não en
tra o d'estás' ilhas, cento e quarenta mok» de trigo, fòra os foros de
•dinheiro. .
entram cem moios de trigo que tem n'esta ilha cada anno, fóra es foros
de dinheiro : c homem de raro engenho, musico, latino, e èem entendi-,
do na lingua italiana ; tem grande habilidade na arte de poesia, e n» ,
oratoria, tem escripto muitas cousas, e a jornada de el-Rey dom Sebas
tião com grave estilo : de moço começou a andar nas galés que andavam ,
de armada ; e ainda de pouca idade fugiu de casa de seu pay para Tan
ger, onderesidio quatro annos. e.é agora capitão de Ceuta. Uma das fi
lhas, dona Philippa, casou com dom Fernando Mascarenhas, fidalgo mui
to principal, e grande capitão que, foi, em Tanger muito» annos, e muito .
qperido de el-Rey ; tão erforçado e manhoso, qoe fazia muitas vantagens-
de cavallaria diante de el-Rey : e tão apessoado, que tinha feição de gi~
gaote na grandesa e forças : e está sabido que na coutada de Almeirim,
indo com el-Rey correndo no cavallo debaixo do arvoredo, se pegava,
em cima das arvores, e apertando as-„ pernas, alevantava do chão o Car
vallo com ellas: ao qual os mouros mataram , com el-Rey dom Sebas
tião, tendo elie primeiro morto muitos.
sòube o nome, nem sei se teve d'ella filhos. Das doas filhas de Fernan
do Camello Pereira, uma chamada dona Leonor Camello, casou çom Pe
dro Alfonso da Costa Columbreiro, morador na freguezia de Santa Lu
zia, no togar das Feteiras ; de quem houve estes filhos: — Sebastião de
Sousa, que casou com dona Izabel, filha do doutor Francisco Toscano,
quando estava por corregedor n'esta ilha de Sam Miguel, de quem hou
ve filhos e filhas muito virtuosas e honradas. — Francisco Toscano, e
Fr. Pedro, relegioso e pregador, prior que agora é de Nossa Senhora
da Graça, da cidade de Angra ; e dona Leonor, de grande saber e vir
tude, e outras que falleceram.
Houve mais Pedro Alfonso da Costa Columbreiro, de sua mulher
dona Leonor Camello, um filho chamado Jorge Camello da Costa, ho
mem de gránde virtude, muito bom cavalleiró; magnifico, grandioso, e
tio liberal; que gasta quanto tem da sua renda com agasalhar hospe
des e pobres, tanto que parece sua casi o. hospital : e lei no ldgaMas
Feteiras, ohde^mdfca', qâç casaç que Joram j^e leu pay, uma sujnptiiosa
ègreja, em,,quB gaâioti ipais dè três riiil cruzados ; e casou com dona
, MajgaridaVltlha de Pedro P^clièco, dè quem não houve filhos , como
disèe nà jjeraçaò de Nuno Gonçalves, íllho de GonçallojVaí, 6 Grande,
è'hà 'géração dos Cogómbreiros. riouve mais Pedro A{fohsò Çcgombrei-
ro, de sua mulher, uma filha chamada, dona. .Beatriz, que casou com
Francisco de Mendonça, fidalgo, filho de Mendo de Vascohcellos, de
quem houve uma filha chamada dona Leonor, que casou com Antonio
Pereira, filho do bacharel Diogo Pereira, de quem tem alguns filhos —
. dona Margarida ; Diogo Pereira ; Marcos Pereira ; e outros de pouca
idade. A segunda filha de Fernando Camello, chamada dona Beatriz,
casou com Pedro Homem da Costa, fidalgo, morador na Praia, da ilha
Terceira, de quem não houve filhos.
Houve mais Garcia Roiz um filho chamado Joami Roiz Cabello, grán-
fle e esforçado cavaleiro, ^ que casou a primeira vez com «ma nóbre
tâtflhér. de quem houve aô licenciado Antçniò Çainéfio, tão bom cavallei-
. Vo'cOmb letrado, que casou com Yaonor Días, filha de Antonio Affonso,
%' Ãòrador na villa do ííordeste, e de sria mulher Maria Dias. .Teve tam
bem Joam Rofz ÇaWílo, áa primeira majtòer, uma filha chamada Ma-
\ ria dV Costa, 'que casou, primeira vez, com um Manoel Homem, de quem
houve um filho, que chamam Manoel Tfiomem,, o- Ante Christo, por ser
. de grandes «spiritos.e .Ião extremado, cavalleiro, que indo correndo dous,
. salta elle do seu cavaflo no 'do óotro, e do outro no seu : e segunda vez
casou, 9 sobredita, 'cdm Manoel Cabral de Mello, fidalgo, filho de Lopo
Cabral de Mellor, e de sua mulher Izabel Dias, de quem tem uma filha,
q:ue chamam Izttbâ Cabral.
. Casou Joam Roiz, segunda vez, com uma mulher da Terceira, cha-
, tnada Maria Badilha, de quem não teve filhos. Er terceira vez casou Joam
Roiz, em Villa Franca, com Catharina Corrêa, filha de Gaspar de Gou-
vea, e de Solanda Cordeiro, de quem houve uma filha chamada primei
ro, Beatriz Roiz, e agora Beatriz de Christo, por ser freira no mosteiro
de Santo André, da cidade de Ponta Delgada ; e dous filhos pequenos.
Depois casou Garcia Roiz, segunda vsz, com Maria Travassos, filha de
Martim Vaz Contador, de quem houve os filhos já ditos na geração dos
Velhos ; e falleceu rico e abastado, deixando seus filhos e genros bem
herdados: terceira vez casou Garcia Roiz com Margarida. GH, viuvat de
m
qoem, n3o houve filhos. Tambem. Gaspar Camello Pereira^ é filho ligiti-
mo de Fernão Camello, fidalgo, c de Maria Roiz de Azevedo, sua, se--
gunda mulher ; mora na villa da Lagôa. Os irmãos e dous filhos d'este
Fernão Camçllo, serviram a el-Rey de moços fidalgos, e estão assenta
das em seps livros, de que tem- seus instrumentos autenticos.
• loam1GaHÍello, foi um homem fidalgo da casa de el-Rey dom Manoel,
morador na!villa. de Atfesiram, e capitão maior de todos os coutos de
AI;obàç*/EMe t*vé tros filhos, um dos quaes por nome Antonio Camel
lo," vèio moço de doze annos ter a esta ilha,ao logar das Feteiras, a casa
do dito Fernando Camello, seu tio, onde se criou até à idade de vinte
annos, em m^e se casou com Izabel Velozo, filha de Joam Esteves Ve
lozo, o velho, homem principal, que então servia de almoxarife de. el-Rey;
e com pila viveu, muitos annos na, cidade de Ponta Delgada, e no go
verno, p^ella; ç sendo ^ de idade de cincoenta annos, sabendo que seu
payx Joam. Camejlo, ejja ^fajjecido, se foi d'esta ilha a Portugal ; e tra
zendo, demanda. sqbr^um^morgado que de seu pay lhe ficafa, eom ou
tro seu 41'mão^ que o. possuja, por se ter por morto, falleceu, e foi en
terrado na, ogjjeja de. Alfestrar», na cova de seti pay.
D este Antonio CameHo ficaram dons filhos e tres filhas,, que todos
foram criados na eidade de Ponta Delgada, como filhos de quem. eram:
e um d'eUes, chamado .como seu pay Antonio Camello, sendo de idade
de vintei annos, se casou com Maria de Medeiros, filha do afamado Ra-
phael de Medeiros, com a qual viveu na cidade de Ponta Delgada doze
annos: po fim dos quaes se foi aPortugal,acabar a demanda que seu pay
havia começado : e por seu tio ser homem rico e poderoso, a não aca
bou; e.foi para a índia, onde falleceu no naufragio da náo Sam Paulo.
D'este Anjonjo Camello, que falleceu na índia, ficaram um filho, e uma
filha chamada dona Catharina. a qual casou com Duarte de Mendonça,,
fidalgo, e falleceu deixando uma filha, que agora vive. O filho do dito
Antonio Camello. que falleceu na índia, çhamadp Gaspar Camello, é
casado eom uma filha de Manoel Alves Pinheiro : depois de casado foi
acabar a demanda, que seu avô e pay tinham começado, como pessoa
a quem pertencia ; e cobrou o morgado que là possuía, e se tornou pa
•ra esta ilha, onde agora vive rico e abastífilo na ciclà'de dó Ponta Delga
da, e tem nm filho por nome Joam Camellò, e uma filha de pouca
idade. " '« ' • *Mr.i M
Por Fr. Braz Camello ser pessoa para fazer qualquer negocio im
portante, foi em Lisboa eleito por commissario da corte ; que servio dous
annos, no fim dos quaes, em capitulo, o fizeram guardião da casa de
Sam Francisco, d' Angra da ilha Terébira j e acartou de ser no tempo do
levantamento d'ella, d'onde elle ficou culpado de modo que vindo es
condido para esta ilha, foi preso, pelo conde Ruy Gonçalves da Camara,
e mandado a Lisboa, e d'ahi para Castella, por morador pára a casa de
Sam Francisco de Gaudelafára, óttde eaíS. Bakfillias ffÁhtòríid Camello,
filho de Joam Camello, uma chamada Maria Camello, casou com Paulo
de Moura, que a levou para Portugal, onde falleceu, ficando-lhe duas fi
lhas, àtóa pôf hòme dona Maria, outra que a raynha dona Catharina
mdttèu 'freira, b tita filhb qiie 'foi' para a 'índia. Outra filha do dito Anto-
Tbio JCàrmfeMbv (tànWdajCtàbijtàr "cineíló; casou com Alvaro Dias, natu
i24r
ral dp Algarve, homem rico, viveu u'esta illja, no lugar dasf Feteiras;.
tem dous filhos — Gaspar Camello e Jorge fome lio, e uma filha que
falleceu, depois de professa, no mosteiro da Esparaaça da cidade de Pon
ta Delgada.
16
í2G
doas gerações : Tavares, e outra a qnem não sdobe n nome, sobre 'uma
mulfftr fidalga e muito rica, da geração dos Tavares, que foi tirada' fal
samente de casa de seu pay, c contra vontade de todos seus parentes :
e por força a fizeram casar com dm filho do fidalgo que a tirou, que
era muito pobre e de menos valia, que o pay da m'oça ; onde se mata
ram seteou oito pesáoas, e feriram mais de trinta. E por que o dito
Fernando Annes Tavares, irmão do pay^da moça, foi culpado na morte
d'éstes homens, que tambem eram pessoas de multa qualidade, e muito
•aparentados, se anzentou com outros parentes para diversas partes. Elie
foi para a ilha da Madeira, onde casou com Izabel Gonçalves de Moraes,
mulher nobre, natural da dita ilha, das-principaes d'ella : com que sa
bendo quem elle era, lhe deram bom dote ; e d'ahi veio ter com o dito
capitão Ruy Gonçalves da Camara, que comprou esta ilha para elta,
com grande familia, que o servia, onde pelo não conhecerem que era
Tavares, se Chamou Fernando Annes, sómènte, por serem os Tavares
buscadds, e 'mandados por el*Rey prender : e aítíando Tdguns (Vestes
que sabiam haver fugido de Pórtalegre Faziam justiça n'elles ; por que
traziam seus contrarios solicitos requerimentos" na corte ; e pela mesma
rasão foi Fernando Annes Tavares morar á Ribeira Secca, termo da Ri
beira Grande, que ainda não era villa; por viver tão apartado do porto
do mar, por não ser conhecido, onde teve umas fazendas e casas, que
agora possuem seus descendentes.
O terceiro filho de Ruy Tavares, por nome Joam Roiz Tavares, foi
criado de el-Rey, bom cavslleiro, musico, discreto e muito geotil homem;
e falleceu na índia em seu serviço. O quarto, Gaspar Tavares, grande
cavalleiro, jjue fez muitas sortes. O quinto, Garcia Tavares, grande ca
valleiro, que tambem falleceu na índia, onde elle e seu irmão fizeram
grandes cousas ena serviço de el-Rey, até morrerem em uma batalha. O
sçxto, Fr. Paulo Tavares, religioso da ordem de Sam Domingos, prega
dor de muita virtude eWemplo. O seiímo, Pedro Tavares, tambem bom
cavalleiro; casou na villa da .Ribeira Grande com Maria de Paiva, filha
• de Joam Fernandes de Paiva, e de Francisca Pires, de quem não houve
filhos ; e todos estes irmãos foram dos melhores genetarios que houve
nr esta ilha: e' teve tambem :J\uy Tavares, um filho natural, chamado
Agostinho Tavares, bom sacerdote, discreto e virtuoso.
ria de Paiva, ile quem teui filhos ainda pequenos. O segundo, Adrião*
Bezerra Tavares, que dizem ser casado em Granada.
17
m
quando efle contra sua. 'vontade foi para casa do conde, já bom latin©\
dizia moitas mes que esperava acabar no serviço de Deos.
'Fogo, onde elle estava por tenente do capitão d'ella, tendo este' cargo
''muitos annos, até kjue falleceu no mar onde se perdeu, indo de Lisboa
para lá, levando muita fazenda, e' iddo com a serventia da dita capitania,
e dtpots falleceu dUa na dita iftiadoFogo, ficando-lhe de seu marido
estes filhos -^Joám1 Fernandes Tavares, Pedro Corrêa Tavares, Gon-
çallo Tavares, e uma filha chamada (2abel Corrêa, que agora é casada
com Luiz Fèruàudes, criado de el-Rey, de gente nobre de Évora, juiz
dos orphãos da dita ilha.ohfle muitás vezes servio da capitão, e é' muito
rico, sem ter filhos.
O primeiro filho, Joam Fertíaitâés Tarares, casou com fcaoèl de
Rezende, filha do bacharel Joam de Rezende, de quem houve duas fi
lhas, uma das quaes casou com um rico homem da mesma ilha do Fogo,
e a outra £ ainda solteira. O segundo, Pedro Corrêa, casou lá honrada-
mente, tambem rico, e é grande cávalleiro. O terceiro, Gonçallo Vaz Ta
vares, falléceu soítéfro. A segunda filha de Gonçallo Tavares, chamada
Joanna Tavares, fói casada com Sebastião Jorge Formigo, criado de el-
tíey, gentil hómém, discreto, filho de Jorge Gonçalves Formigo, caval
leiro do habito de Santiago, natural de Santarem, de quem Louve Ires
filhos e tres filhas. O primeiro filho, Thomé Jorge Formigo, muito man
so, prudente e discreto, casou com Briolanja de Braga, filha de Diogo
Fernandes, mercador, e de Ca tnarina de Braga, moradores no villa da
Ribeira Grande, de quem tem filhos e filhas; e segunda vez casou com Ca-
(narina Modrinha, dè quem tôm um filho de tenra idade.
— Affonsò Rodrigues Tavares, 'yóám' Roizi 'e Lucasi nalares.: os' dous
mais velhos falleceram solteiros em Roma, sendo um criado do papa, e
o outro d'um cardeal, ambos gentis homens e esforçados. O mais moço
foi em uma armada para o Brasil, onde casou, e lhe ficaram .filhos ri
cos, e lá morreram. Teve; mais £ffitaaPhdippa Tavares, filha de Fer
A filha nwis velha, Simòa Tavares, casou com Joam Lopes, filho de
Alvaro Lopes Cavalleiro, de quem houve uma filha chamada Francisca;
Carneira, casada com Bartholomeu do Amaral, de quem tem filhos de
pouca idade. A segunda filha de Francisca Carneira foi casada com An
tonio Fogaça* nobre e rico, natural do Porto, de quem não teve filhos.
Estes tres irmãos, Ruy Tavares, Henrique Tavares, e Gonçallo Tavares,
tiraram seus brazões que tem dos Tavares de Portalegre de bons fidal
gos, por serem filhos legítimos de Fernando Annes Tavares, de Porta
legre, que foi do tronco da geração dos Tavares, cujas armas são estas :.
Um escudo com o campo de ouro com cinco estreita de vermelho em
aspa, e por diferença tem alguns uma flor de liz azul, e outros outras
divisas : elmo de prata aberto, guarnecido de ouro ; paquife de ouro e
de vermelho, e por timbre um pescoço do cavallo vermelho* com a bri
da • guarnições de ouro, com falsas redes.
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,
m
tres filhos de poaca idade. A segunda, dona Izabol, è casada com Bal,
thasar Martins de Castro, como tenho dito na geração dos Velhos.
Villa Franca ; de quem teve tres filhos e duas filhas i o primeiro, Joam
Rodrigues Cordeiro, foi casado com Simoa Manoel, filha de Joam Affon-
so, do Fayal, de quem houve duas filhas ; ambas são casada? : a mais
moça casou com Miguel Rotelho, filho de Joam da Motta, e de Beatriz
de Medeiros, e a mais velha casou contra vontade de seu pay e mãe, e
está bem casada. Depois de viuvo Joam Rodrigues, casou na cidade com
Agueda Alfonso Leda, da geração dos Ledos de Santo Antonio, termo
da cidade de Ponta Delgada, mulher honrada, já de dias, e rica ; da
qual não houve filhos. O segundo filho de Pedro Rodrigues Cordeiro,
chamado Pedro de Sampaio, casou com Izabel Morena, filha de Joam
Morano, cidadão de Villa Franca, de quem não tem filhos.
bera) condição, e com este gosto fez a primeira viagem para Lisboa, e
de lá para a ilha da Madeira, d'onde elle era natural : sahindo em terra
foi recebido com muita honra dos seus parentes e amigos ; com os quaes
estando jantando levantou-se uma grande tormenta que deu com o navio
á costa, e o fez em pedaços, sem nada se salvar, em que elle perdeu
quanto tinha, e vendo-se assim desbaratado e pobre, se foi para as ín
dias de Castella, sem se saber mais novas d'elle ; dizem que è falleeido.
sempre era chamado para os jogos das canas, escaramucas e outras fes
tas, que se faziam nesta ilha ; homem honrado e rico, morador nos Fe-
naes da Maia, termo de Villa Franca, em sua fazenda : da qual sua mu
lher Izabel de Sousa, houve uma filha por nome Beatriz Corrêa, que
casou duas vezes. A primeira com Manoel Homem, filho de Joam Ho
mem, do qual houve alguns filhos que falleceram ; ficando um só vivo,
chamado Manoel Corrêa, que casou nos Fenaes da Maia, com uma (ilha
de Antonio Rodrigues, de quem tem filhos.
Uma das filhas de Francisco Dias Cayado, casou com Joam Sipi-
mão, fidalgo inglez, de quem houve um filho chamado Thomaz Sipimão,
e uma filha, Margarida Sipimoa, que está casada com Luiz Olfos Bormão,
flamengo, muito honrado e rico, que tambem é da governança da terra.
Falleceu o dito Joam Gonçalves Alharnaz, ou tangedor, na era de mil
quinhentos e desaseis ; deixou uma capella de Nossa Senhora do Rosa
rio, na egreja do Martyr Sam Sebastião, da cidade, ás terças-feiras, can
tada, e ornada com vestimentas de damasco ; declarando em seu testa
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t6ò
seus parentes, de que slIes todos gosam: o tíahí por diante o dito tri
savô dos Serrões, por causa d'esta victoria se chamou Francisco Botelho
de Novaes; pelo que el-Rey lhe disse, quando veio do caminho pedir-
lhe a provisão, e assim se intitulou elle sempre e seus descendentes.
Mas como os invejosos enrpagrecem com a gordura do seu proximo,
nao faltando na corte murmuradores, que praguejassem de tantas mer
cês, quantas do Rey recebia, deram motivo para que lhe fizessem ou
tras maiores ; por que vindo isto á noticia do mesmo Rey, diante d'al-
guns d'elles veio a por em pratica, dizendo um dia que bem sabia que
murmuravam dós favores que elle fazia a Francisco Botelho Novaes ; que
nao se espantassem (Pfsso, por que «quem tal, fizera, e tão bem linha ser
vido, tudo, emais merecia; pelo que d'ahi por diante o dito Francisco
Botelho, tomou por alcunha e por appellidos de honra Novaes o Quen
tal, dos que seus suceessores e os da sua geração hoje em dia se hon
ram, e intitulam rfestes reynos de Portugal, e n'esta ilha onde ha mui
tos Navaes e Quentaes. Este Francisco Botelho Novaes tinha um irmão
mais moço, chamado Lopo Affonso Novaes Coutinho, do qual e de sua
mulher nasceram Ruy Lopes, e dona Philippa Coutinho, mulher de Ruy
Gonçalves da Camara, segundo do nome, e quinto capitão d'esta ilha.
por espaço d'annos, como ha pessoas vivas rjue isto afirmam e sabem.
*flè Novaes e sua mulher, Beatriz Gonçalves Botelho, outro filho qtfe
/chamavam Francisco de Novaes, que casou na ilha da Madeira com Joan-
na Ferreira de Drumond, de casta grande, que procede de dana Bella,
mulher de el-Rey da Escocia : foi uma pessoa muito principal da cidade
do Funchal, e da. governança da dita ilha; de quem procederam filhos,
alguns, dos quaes andam na índia, no serviço de el-Rey.
Joam da Castanheira, homem fidalgo, cujo foi um pico que está aci
ma da cidade de Ponta Delgada, que se oham• o pico de Joam da Cas
tanheira, veio de Portugal, primeiro á ilha de Santa Maria, e depois a
esta, e teve uma fifta chatfrida Margarida de Mattos, que casou com
Fernando do Quental, irmão de Pedro de Novaes, filhos ambos de Am
brosio Alvares Homem de Vasconcellos, de quem houve estes filhos :
Affonso de Mattos, que casou, primeira vez, com uma filha de Fernan
do Gonçalves, amo do capitão, e de Maria Gonçalves, sua mulher, cha
mada Guiomar Galvôa ; da qual Guiomar Galvôa, houve Affonso de Mat
tos estes filhos : o primeiro, Sebastião de Mattos, e outros ; segunda vez
casou dam Beatriz Cabeceiras, filha de Bartholomeu Rodrigues da Serra,
de quem houve filhos e filhas. Teve mais Fernando do Quental, de sua.
mulher, otrtro filho, por nome Manoel de Mattos, que casou com Izabel
Nunes, de Portugal, de quem houve um filho chamado Antonio de Mat
tos, que primeiro foi casado com Maria Cabeceiras , mulher dppois de
Ruy de Sá, de quem teve uma filha, que é freira no mosteiro da Espe
rança, a qual Izabel Nunes, depois de viuva, casou com Balthasar do Ama
ral, de quem não houve filhos.
Teve mais Fernando do Quental, de sua mulher, outro filho, chama
do Jeronyme do Quental, que casou, a primeira vez. com uma filha de
Pedro Jòrge, e de sua mulher, da qual houve um filho chamado Anto
nio do Quental, que falleceu solteiro, e uma filha chamada Maria do
Quental, que casou com Balthasar Gonçalves, filho de Gonçallo Annes
Ramires, de quem houve filhos e filhas. Teve tambem Jeronymo do Quen
tal outra filha, chamada, Izabel do Quental, que casou com Salvador Gon
çalves, filho do dito Gonçallo Annes Ramires : e cagou segunda vçz Jero
nymo do Quental, com a mulher que foi de Jorge Affonso, de quem teve
filhos. Teve mais Fernando do Quental outro filho, chamado Henrique do
Quental, que casou com Maria de Rezende , filha de Pedro Alvares das
Ih?
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ordenado para ser clerigo, e elle por certa amisade qiie' tevte 'com. um
mancebo da ilha de Santa Maria, se embarcou com elle para ella, e lá
se casou com uma filha de Antonio Roiz Carneiro, que n'aquelle tempo
governava a dita ilha, sendo logar-tenente do capitão Joam Soares, que
era menino, com sua mulher, chamada Antonia da Costa. Viveu Raphael
d« Medeiros, n'esta ilha de Sam Miguel, e teve duas filhas, uma das
quaes por nome Leonor de Medeiros, casou em Lisboa, com um homem
alemão, com o qual se foi para a índia ; e fallecido este se casou com
outro, com quem esteve no governo da ilha de Moçambique muitos an-
nos, e teve d'elle um filho, homem que agora é de muito peso no ser
viço d'êl-Rey. A outra filha chama la Maria de Medeiros, casou n'esta
ilha com Antonio Camello Pereira, 'filho «"'Antonio Camello, com o quaj
viveu muitos annos, e se foi para a índia, onde falleceu, e ficaram um
filho e uma filha : o filho por nwne Gaspar1' Cam&Io, discreto e gentil
homem, è casado na cidade de Ponta Delgada, conVuma filha dé Manoel
Alvares Pinheiro, chamada ítuiomar Alvares, e tem um filho e uma fi
lha ; a filha da dita Maria de Medeiros, por nome dona Catharina, casou
com Duarte de Mendonça, homem fidalgo : falleceu, e fkou-lhe uma fi
lha, que ora vive, como tenho dito na geração dosCamellos.
Teve' mais o dito Jordão Vaz de Medeiros uma filha, que casou com
Manoel'do Roi, escrivão em Villa Franca. O quinto filho de Ruy Vaz de
Medeiros, falleceu, por um desastre, afogado. Houve tambem Ruy Vaz
àé Medeiros <a primeira filha, que casou coin Diogo Affonso Cogombrei- •
16*
moios ile renda ; fóra õ que deu a outra filha, que falleceu freira, e a
outra que casou com Duarte Vaz Delgado, irmão de Pedro Gonçalves
Delgado, deu em dote fazenda que hoje 'vale perto de trinta moios de
renda ; e depois de ter .todos casados, e agazalhados, falleceu a mulher
do dito Ruy Vaz de Medeiros, e se mandou sepultar em uma capei la,
que mandaram fazer na egreja parochial de Santa Cruz, na villa da La
goa, onde est2o ambos enterrados.
O velho Ruy Vaz de Medeiros, tanto que se vio só deixou a Jordão
Vaz de Medeiros, seu filho mais moço, o cargo de seu administrador, e
vendeu muito gado, escravos, e algumas cousas do mais movei, que ti
nha, de que fez dous mil crusados, com que se partio em romaria para
a Terra Santa, onde determinava morrer servindo ao Senhor ;, e seguin
do sua jornada soube em Veneza, que o turco tinha quebrado o saívo-
conducto dos romeiros, de maneira que não havia embarcação ; o que
foi causa de não ir ávante ; e tornando-so de Veneza veio ter a Nossa
Senhora deGuadelupe, onde esteve , por espaço de dous annos, e d'ahi
se veio a esta ilha, onde falleceu. Jaz enterrado na sua capella ; e o di
nheiro que levou, repartio com muitos pobres e orpblos que casou :
trouxe muitas reliquias sagradas, e um jubileu dos que passavam n'a-
quelle tempo de tarde em tarde. Viveu depois que veio, na Ponta da
Garça, junto a Nossa Senhora da Esperança, que mandou tambem fazer
á sua custa na sua fazenda ; e depois a deu ao povo para sua freguesia;
por que era tão rico em sua vida, que alem da renda que tinha, fazia
grandes searas, ,de qqe bavia muito trigo, n'aquelle tempo t5o barato que
'vendeu uma vez sessenta moios por sessenta cruzados; tinha tambem
tanto gado vaccum, que cada anno lhe pariam passantè de cem vaccas, e
muitas porcas e ovelhas, fora a grande familia que tinha de criados e
escravos.
•CAPITULO UMDECIMO.
Este GonçaHo Moniz veie das Astúrias a Sevilha, onde casot»' com
Maria Fernandes Sanches ; e como alguns dizem, por. morte d'um ho
mem ; e segundo outros aBrmam, por que vindo de Còjrdova paja Se
vilha, foi roubado de ladrões, e despojado de muito dinheiro e fazenda ;
veio de Sevilha á ilfta da Madeira pela fama d'esta irha;e achoU'n'ella a
Joam, Roiz .da iGamara", quarto capitão que for'd'esta ilha de Sam Miguel :
o qual. vendo 'a pessoa de Gonçallo Moniz, e o aparato de seus criados,
e ricos vestidos que trazia, lhe rogou que viesse com ellè para esta ilha
de Sam Miguel, onde lhe faria grandes favores, e (faria larga; dadas de
terra : e na mesma rlharda Madeira pario a. mulher dè Gonçallò Moniz
uma filha, que se chamou Cathafina Moniz, de quem foi compadre o dito
capitão Joam Roiz da Camara ^que o trouxe para esta soa ilha, e o apo
sentou na Lages, danda-lhe aqneMa làrgueza dè terras, que. estão logo
sahindo da dita Lagoa, partindo com as dó capitão, correndo para Agur
de Páo, do mar á serra ; as quaes depois vendeu; e entrou nesta ilha
com duas filhas, Izabe! Moniz, que trouxe de Castei la de idade de doze
annos, e Catharina Monie, nascida na ilha*da Madeira, afilhada do dito
capitão Joam Roiz, como tenho dito, que então creava ; ficaododhe em-
Castei la outra filha, Joanna Moniz, que deixou casada em Sevilha, muito
rica ; pario a mulher estando n'esta ilha dous filhos, Joam Moniz, e Af-
fonso Moniz, e outras duas filhas, Agueda Moniz e Maria Moniz.
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VGè
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muitos filhos de pouca idade : e Jeronyma Nunes, que foi casada coo»
Pedro Affonso Caldeira, de quem tem um filho, Jorge Nunes ; e uma fi
lha, Izabel Caldeira, que casou com Francisco Taveira, cavalleiro fidalgo,
da casa d'el-Rey. Teve mais Vicente Annes outro filho, chamado Ma
noel Bicudo, que falleceu solteiro ; e outra filha chamada Guiomar Nu
nes, que falleceu de pouca idade. Teve mais IVfecia Nunes, de seu ma
rido Vicente Annes, uma filha, Beatriz da Conceição, que falleceu moça.
Casou Mecia Roiz, segunda vez, com Diogo Annes, n'esta ilha de.
Sam Miguel, onde veio a ser muito rico, depois de viuvo, da ilha da
Graciosa, de quem houve estes filhos — Pedro Annes Furtado, clerigo,
beneficiado na villa da Ribeira Grande ; Manoel Roiz Furtado, que ca
sou com Beatriz Marques, filha de Marcos Affonso, e de Ignez de Xaxes,
natural de Xaxes da fronteira, de quem houve filhos —Marcos e André*
que falleceram meninos ; e o licenciado Pedro Roiz Furtado, casado na
cidade de Angra com Gracia Vaz de Sousa, de quem não tem filhos ; &
Matheus Nunes, sacerdote, e cura na mesma villa, e Antonio Furtado,
casado com Beatriz do Canto, filha de Francisco Sodrè, e de Mecia de
Paiva, da governança da Ribeira Grande, de quem tem alguns filhos,
Matheus Furtado, religioso no mosteiro de Xabregas, onde falleceu no
tempo da peste ; e Manoel Roiz Furtado, clerigo de missa. Teve mais
a dita Meoia Roiz Furtado, de seu marido Diogo Annes, outro filho cha
mado Diogo Annes Furtado, licenciado em leis, que falleceu na cidade
d'Angra, da ilha Terceira.
Moniz, casada com Alvaro Lopes da Cosia, filho de Joam Lopes dor-,
deiro. • • •
pois- tuesíe.ubns de besta ; por que como era bom,* aborrecia muito a»
maldades, e nunca fallava á vontade a seus amigos, senão reprehenden-, .
do-os asperamente das tachas e faltas que sentia n'elles : para. um com .
quem ás ' ezes jogava o trumpho, de quem elle soube uma falta grave,
eocontrando-o em casa, tomou um páo, foi apoz elle, dizendo .— ainda, .
vós eutraes aqui qi^e fizestes cousa tão mal feita ? e assim o foi enxo- .
tando, e o outro fugindo d elie.
Uma filha d este Joam Moniz, que foi casada com Diogo Gonçalves,
escrivão dos coutos, estando em sua casa com seu sobrinho Christovão.
Moniz, ainda .moço pequeao, na cidade de Ponta Delgada, subia um ho
mem mancebo pela escada, bem tratado com sua espada e aziaga, por ,
uma informação falsa que lhe deram, e disse á dita Mecia Moniz que
tinjba em sua casa uma besta sua, para a levarem ao moinho ; e res
pondeu ella, com muita humildade, que fora mal informado : disse elle -
com soberba, que nas lojas a tinha escondida, e pois lha não queriam
dar, se havia ir queixar á justiça : ouvindo ella isto, tomou uma vara
de medir, grossa, e deu-lhe na cabeça, com ella, tal pancada, que que-
brou a varo pelo meio, e arremetendo logo aos cabides tomou ,Telles
uma partazana nas mãos, e poz-lh'a nos peitos, dizendo— se elle faltas
se alguma cousa, que ali o havia espetar, como frango; ora ide, e en-
sinar-vos-hão como haveis fallar em similhantes logares, e com siini-
Ihantes pessoas, que vos estou dizendo que não está esta besta em mi
nha casa, e vós não me quereis crer, e dizeis o contrario.
teri a, n curado o casou com sua filha Beatriz Cabeceiras. Depois o man
dou a esta ilha por capitão d'uin navio: chamava-se n esta ilha este
Gonçallo Vaz Carreiro, Gonçallo Vaz Delgado ;' não por ser seu.appel-
lido, se: não por rasão de ser homem comprido e secco, e haver outros
d'este nome, como Gonçallo Vaz, o grande, que era. muito grOBSo, e'ôa-
tro Gonçalio Vaz Andrinho ; e o capitão Joam Roiz da Camara lhe mu
dou primeiro este nome de Carreiro a Delgado, por diferença dos ou
tros que aqui havia ; casou no Algarve, como tenho dito, com uma mo
ça tão formoza, que se fallou na sua formosura á meza de el-Rey dom
Joam ; e por casar contra vontade do pay, fidalgo e rico, se veio com
conselho do sogro a esta ilha, com um seu navio armado á sua custa :
e sendo o capitão Joam Roiz da Camara muito satisfeito d'elle, lhe ro
gou que quizesse viver aqui.
Pelo que foi buscar sua mulher, chamada ízabel Cabeceiras, filha de
Duarte Cabeceiras, homem prinçipai, dizem que natural de Lagos, e al
moxarife em Tavira ; e trouxe comsigo alguns homens honrados : um
dosquaes foi Joam do Penedo: e por ser muito aoceito do dito capitão
Joam Roiz, recebeu d'elle muitas dadas de (erra, e tantas que se afirma
rendiam cada um anno, n'este tempo d'agora, mais de dous mil moios
de trigo : e se o capitão lhe dava quanto elle pedia, tambem alie tor
nava logo a dar. quanto lhe pediam; por que era tão fidalgo e liberal,
que até a capa dava; e achando na cadeia algum preso por divida, o
fazia soltar pagando por elle. indo um dia para Villa Franca, encontrou
no caminho, um pobre, que lhe pedio pelo amor de Deos que trocassem
os vestidos, pois era poderoso para tornar a fazer outro : o que elle lo
go fez de boa vontade ; de modo que não Linha cousa propria ; e libe
ralmente dava tudo, assim por sua boa condição, como por não fazer
caso de viver n'esta ilha, se não de se tornar para seu natural : pelo
que sendo tão rico, e tão liberal, n'esta terra falleceu pobre a respeito
do muita que antes possuía. Um irmão o uma irmã que tinha em Lis
boa lhe mandaram pedir os filhos para os darem a el-Rey, e elle pela
muita abundancia cresta ilha os não mandou, fazendo pouco caso da pri-
vança e da corte. Tendo cã tanta valia com o capitão Joam Roiz, que
22
174
176'
•i
ADos Recos quk vieram da cidade do Ponto a esta ilha de Sam Miguel,
EM TEMPO DO CAPITÃO JoAM RoiZ DA CaMABA, E DOS 1 REDOVALHOS COM
OS QUAES SE I.EARAM.
'das armadas, e quatro náos da índia, com asquaes se partio para o rey
no; e por não faltar mais que uma náo da índia, deixou o capitão-mór
' dom Pedro de Almeida para guarda delia ; e dos mais navios que vies-
' sem de Sam Thome,' Brasil, e Cabo Verde, dòus galeões — Sam Lou
renço e Santo Antonio —*• e duas zabras — a Pompeia e Santa Barba-
- ra. E por que o cargo de capitão-mór ficava a Christovão Juzarte, fi-
"- dalgo natural da índia e México, se mostraram aggravados os outros ca-
piães, não lhe querendo obedecer , eo capitão do galeão'Santo Antonio
se foi logo nas costas da armada para o reyno, ficando os outros tres
navios ; entre os capitães dos quaes sempre houve muito desgosto, e as
sim hão acompanhavam os navios : que foi causa, que vmdo o dito anno
a esta ilha um navio armado, de corsarios, de França, que saqueou e
roubou a ilha de Santa Maria.' por ser navio tão grande, que no porto
parecia de quatrocentas tonelladas, muito alto, e todo cercado de varan-
; ;das, quanto dizia a alcaseva: por que defronte do mastro grande para a
' •proa, todo em redondo, tinha varanda ; o qmt encontrando-se com o
galeão Sam Lourenço, o tomou, por andar só, e mal apercebido.
fez um grande rombo, o que foi causa de não poder seguir mais o al
cance, pela moila agiw que fazia ; n'este tempo vendo os áo gateão Sam
Lourenço, como o ladrão ia fugindo, e não fazia caso d'elle, virando as
veltas se foram direitos, ap pprto.d^pgra, onde surgiram, e assim es
caparam.
!3
182
' tTotíde depois dé estarem ali vinte e dous dias esperando por tém-
^po, tendo bom partiram para Lisboa ; mas durou-lhe pouco a bonança ;
ípor tjue indo atravez do Algarve, se lhe mudou o tempo-, sem poderem
lazer "Viagem . e por que já nos dias da' tormenta a não da índia que fi
cara atraz, e a náo dos vianezes, não foi mais vista da armada, confor
me ao tempo criam que estaria já em 'Lisboa.' Por Francisco do'Règode
•Sá ir enfadado do mar, determinaram entrarem Villa 'Nova de Portimão,
e deixando ahi a náo, se toi porterra .com algumas pessoas d'ella, que
de sua obrigação e companhia levava- ; pelo que tomou as cavalgaduras
necessarias até Alcacer do Sal, e d'ali;se foi pelo rio a Setubal, onde
achou os navios da armada, a saber — S. "Francisco e as zabras ; e per
guntando pelos capitães, soube como em chegando os navios, viera ter
ali um carregador de Lisboa, o qual levara presos aos dous capitães das
zabras ; e isto se fez com tanta brevidade, por que como a náo da índia
e a dos. vianezes chegassem primeiro a 'Lisboa, contou o capitão Álvaro
-Roiz de Tavora a el-Rey, o que Francisco do Rego de Sá, por seu ser
viço fizera ; o que el-Rey lhe agradeceu muito, e lh'o acceitou em gran
de serviça; o que bem mostra, por que indo depois o mesmo Francis
co do Rego de Sá visital-o, Ibe disse : sejais muito bem vindo, Francisco
-do Rego, sois «grão capitão , : pelo qual appellido èlle lhe beijou a
Mnão, e depois em todas as provisões de èl-Reyllre punham o mesmo; e
os capitães das zabras, depois do estarem presos por alguns dias, publi-
camente foram condemnados, a saber : Diogo da Silveira com dez annos
' de1 degredo para a ilha do Principe, trazido primeiro com uma, rocha e
• pregão; e Gaspar 1'ereira, capitão da Pompeia, foi degolado no pelouri
nho da Ribeira de Lisboa. Esta é a causa da origem d"este appellido do
grão capitão Francisco do Rego de Sá, por lhe chamar assim el-Rey dom
Sebastião, pelos serviços que naquclle tempo lhe fizera.
casou com Gaspar de Viveiros, filho de Jeronymo, que tem agora o mor
gado de seu pay. Segunda vez casou Melchior Baldaia, com Izabel Rapo-
zq, de quem tem dous filhos, Gaspar Baldaia, e Manoel do Rego. O ter
ceiro foi Jorge do Kego, que morreu solteiro. O quarto filho de Gonçal-
lo do Kego, e de Marin Baldaia. chamado Gonçallo do Rego, letrado em
le,s, casou n'esu ilha com dona Beatriz, filha de Gaspar Camello, e de
Beatriz Jorge, de.quem houve um filho, Gaspar Camello. e uma filha
dopa Maina. .Houve tambem Gonçaliodo Rego, o velho, de Izabel Pires,
sua segunda mulher, nesta ilha, dous filhos, grandes cavalleiros, e uma
filha. O pfimeiro filho, Manoel dn Rego, casou com Maria Jeronyma, fi
lha de Jeronymo Jorge, e Beatriz de Viveiros, de quem, fóra seis filhas,
houve dois filhos — Gonçallo do do Rego, e Braz do Rego.
Casou Aires t*ires do Rego, segundá vez, com Maria de Medeiros, filha
de Manoel Rapozo, e de Margarida Luiz.de quem não houve filhos. A filha
de GonçàHlo do Rego e de sua mulher Izabel Pires, chamada Anna do
Rego, de grande virtude e nobreza, casou com Manoel Pires de Almada,
cavalleiro fidalgo da casa de el-Rey, o foi tomado por el-Rey dom Joam,
terceiro do nome, do qUal teve desaseta filhos entre machos e fêmeas,
quatro são mortos, e nove vivos, dos quaès dous estudaram theologia, e
dons lels, e um canones; e da camara de el-Rey s5o todos moços, e
bons letrados, prudentes e 'discretos, virtuosos, imitando bem a virtude
de seu pay e nrôe. O primeiro filho, chamado Gonçallo do Rego, foi re
ligioso de grande doutrida, e muito aprovada virtude, bom pregador na
companhia de Jesus; muitos que o conheceram e sabem da sua vida e
exemplo, o tem por santo.
E deixando os mais filhos defuntos ; o segundo, Salthasar do Rego
Sanches, e outro fidajgo da casa de el-Rey, letrado em leis, foi juiz de
fóra em Mertola, onde deu boa conta de si em negocios de importancia,
que lhe aconteceram tendo o dito cargo em tempo da peste de Évora.;
foi corregedor de Alemquer ; agora é provedor da fazenda em todo o
reyno do Algarve, como ao diante direi. O terceiro, Manoel Sanches de
Almada, moço da camara, capellão de Sua Magestade, é grande letrado
e pregad, r, licenciad» em theologia, mestre em artes, e agora, vigario?
pregador da egreja de Sam Pedro, da cidade de Ponta Delgada. O quan
to, Gaspar do Rego Sanches* cavalleiro fidalgo da casa de el-Rey, e Jetra-
do em leis, juiz em.Monsam,d'onde com muita gente de pé.eda eavallo,.
foi o primeiro que de Portugal foi com o soccorro a Bayona, quando o
duque desembarcou n'ella, O quinto, Antonio do Rego de Almada, le
trado em canones, de muita virtude. Ú sexto, Jeronymo do Rego, ainda
de pouca idade, mas de grandes esperanças. As filnasi fóra as defuntas,
Anna do Rego, e .Maria de Almada, ainda solteira•; Izabel da Madre de
Deos, e Cecilia da Encarnação, freiras professas no mosteiro da Espe
rança, de Punta Delgada.
H
190
No anno de sessenta e nove, sua alteza houve por seu serviço, que
elle fosse em companhia do capitão maior Jorge de Lima, quando veio das
ilhas a buscar as náos da índia, por capitão da náo Nossa Senhora da
Gu*a ; para o qual elle se fez prestes de mantimentos e soldados, para
o ir servir. Estando para partir, o barão de Alvito, veador da fazenda,
lhe disse e escreveu uma carta que mandada sua alteza, ficasse para ir
correr a costa, por ter novas de corsarios; e passasse logo para o ga
leão Sam Paulo, que tinha já mantimentos ; ao qual se passou, por a
dita náo ir para a Malagueta. Na passagem gastou muito, por fazer duas
despezas ; e depois sua alteza lhe mandou outra provisão, para que fosse
correr a costa, por capitão do navio Misericordia, onde se tornou a pas
m
Sua alttza lhe mandou por uma sua cai ta, q' tornasse ás ilhas com mais
,duas caravelas da armada; eq' fizesse o q' lhe mandasse o dito Joam da
-Silva do-Caulo ; e por íhe parecer ser maia serviço de sua alteza ir com
* sua gente embarcada com o dito capitão-mór, por lhe fátar gente, se
embarcou com elle com setenta- pessoas, sem nenhum soldado, nem man
timentos.^de sua alteza, tudo á«èua propria custa. E por que a dita ar
mada veio ter a esta ilha de Sam Miguel, o dito capitão maior lhe deu
'licençaque ficasse etn sua casa por vir' muito mal disposto; onde ficou:
e por neste tempo virem novas da ilha da Madeira ao dito capitão maior,
de como Jaques Sol ia, corsario de França, com sua armada tinha toma
do muitos navios sobre a dita Hha, -esporando a armada do governador
do Brasil, dòm Luiz, para com elle peieijar, e ter mais por novas de ou
tros corsarios da Arrochela andarem pelo mar roubando, e dizerem que
haviam vir ter com elle ; lhe escreveu uma carta, em que lhe pedia, que
•com a maior brevidade que pudesse, fizesse prestes um navio armado, e
a melhor, e mais gente que pudesse, por que cumpria assim muito ao
sei viço de sua alteza, pelas novas que tinha ; o que elle logo fez ; e em
tres dias com muita deiigencia se aviou, e foi para o dito capitão maior
,coin um navio de cento e viiite homens, com oitenta homens e muitos
.parentes seus, eo acompanhou até ao porto de Lisboa, levando a náo
capitania da índia; e tudo fez á sua custa, em que gastou muito do seu;
por que não somente .gastou nas ditas viagens, mas Uanbem. gastou mui
to na cidade de Lisboa com a gente que tinha, á qual dava de comer, e
todo o necessario para comsigo os ter : esperando assim alguns mezes
por mandado de el-Rey, coro um galeão, e um patacho seus, e.m que o
havia ir servir. i . ,.,.t, "• .
Sua alteza lhe mandou dizer que se não fosse de Lisboa, que seque-
' ria servir d'elle ; pelo^que lhe foi necessario mandar umanào sua ás
ilhas a buscar-lhe msàtimehtos, e provimento : estando carregada a dita
uáo, com o tempóíal ^ue succeden, fez-se em pedaços na costa ; e im
f94
portava a perda mais de tres mil crusados. Seu pay, Gaspar do Rego
Baldaia. vendo isto lhe lez logo prestes uma caravella, fornecendo-a de
mantimentos, artilheria e muitos soldados, e lh'a mandou ao reyno.para
com ella servir a el-Rey : e chegando a dita caravella a Nossa Senhora
da Guia. entrada da barra de Lisboa, encontrou um ladrão, com quem
peleijuii. e o ladrão a tomou, e lhe matou o capitão com vinte cinco
homens ; em a qual ia o provedor da fazenda Francisco de Moraes ; è
sua alteza, mandpu visitara Francisco do Rego por dom Martinho Pe
reira, peja dita perda. No anno de sessenta e um, o mandén el-Rey da
armada ás ilhas, em companhia de Joam de Mendonça, capitão maior
e Bernardino Ribeiro, dizendò-lhe por uma carta-, fizesse o dito serviço
com o seu galeão á sua custa ; eelle o fez e levou as náos da índia de
aquelle anno.
No dito anno tornou sua alteza a mandar que fosse com o dito ga
leão, á sua custa, com Bernardino Ribeiro Pacheco, a correr a costa do
reyno, o q| elle fez, e achando-se apartado da armada, com o tempo q'
lhe deu, tomou duas náos inglezas, que levou a Lisboa, e foram presos
no Limoeiro, e entregues a Simão Cabral, por mandado de el-Rey, que
lh'o agradeceu. O anno de setenta e quatro vindo Francisco Nobre por
capitão maior da armada, ter a esta Hha de Sam Miguel, á vista de terra
lhe requereu da parte de sua alteza fosse tomar umas tres náos de cor
sários, em que entrava a náo Principe; que estavam surtas d'ahi cinco
leguas, fazendo aguada; ao que respondeu que iria; mas com condição,
que havia Francisco do Rego fazer uma náo, e ir em sua companhia pe-
leijar com os ditos corsarios ; por que estava só um galeão muito pe
queno, e não tinha mais que uma caravela, e zabra em sua companhia;
vendo Francisco do RegodeSá.o que elle, capitão-mór, e a terra lhe
pedia, armou logo uma náo á sua custa, e gente, e acompanhou ao dito
capitão-mór, e todos juntos foram buscar aos corsarios, e peleijaram, e
lhe mataram muita gente.
.apilão. vendo os muitos corsarios que andavam nas illns. que armasse
logo : e tomando uma formoza caravella que estava no porto d^Angra,
se vieram a esta ilha de Sam IVriguei. onde logo puzeram em ordem a
dita armação.
O corregedor lhe mandou dar uma nào. que no porto estava, ,via-
neza. e se foi á fortaleza, de que era capitão dom Ror Gonçalves da Ca
mara, para lhe dar a artilheria necessaria, munições, e polvora, por sua
alteza assim o mandar: e que d 'isso uão houvesse autos publicos, se
não entre elles. corregedor e grande capitão, o praticassem e assentas
sem : e o ouvidor do capitão lhe defeodia a artilheria, que lh'a não que
ria dar, pelo que o corregedor se ajuntou em camara, e com os da go
vernança acentaram darem-llie a artilheria e munições; e pondo bandei
ra na porta da alfandega da feitoria, a modo de armazem, com muito di
nheiro, e tambores tocados pela cidade, com pregões, que diziam : quem
quizer assentar-se em soldado n'esta armada, que faz Francisco do Rêgo
de Sá, paga mil reis por mez, vá-se assentar á porta da alfandega, onde
está a bandeira, e muito dinheiro.
gastos e fretes das nãos, lhe pedio se fosse desarínaF, o que elle fea. •
i
Estando já desarmado n'esta ilha, lhe veio uma carta de el-Rey, em
qac lhe mandava que se ajuntasse com dom Pedro de Almeida, capitão
maior, com a sua armada, e andasse debaixo da sua bandeira todo o
tempo que elle cá andasse, e tirasse a bandeira que trazia, e assim fosse
ao reyno com sua armada : e por estar desarmado, e a artilheria entre
gue á fortaleza, a tornou a pedir ao capitão da dita ilha, o qual não lh'a
quiz dar ; de que tirou um instrumento de aggravo, e se fez pres
tes em uma náo ingleza que trazia tomada, e com gente, e arti
lheria da mesma náo, se foi á Terceira, com o capitão de Vianna,
<]ue encontrou ; onde o doutor Diogo Alves Cardozo, veio a seu bordo ;
e lhe deu conta, como dom Pedro de Almeida era partido, e os capitães
que deixara andavam divizos com o seu capitão maior ; e que fora para
os prender, e os não pudera colher em termos para isso : e lhe pedio
acudisse a isso, por quanto andavam entre as ilhas diferentes. Ao que
elle foi com o capitão de Vianna, e achou as duas zabras, das quaes era
capitão Gaspar Pereira e Diogo da Silveira ; para o que os mandou vir
a seu bordo; e lhes perguntou por seu capitão maior ; c elles respon.
deram que não tinham capitão maior, nem o conheciam ; ao que elle
respondeu : nem a mim conhecereis por capitão maior, pois regeitaes
a Christovão Zuzarte Tisão, um bom fidalgo: de ambos de dois vede
qual quereis que seja capitão maior, por que vos obedecerei, até encon
trarmos o nosso capitão maior : e elles elegeram a elle, grande capitão,
e o foi.
Com ventos suduestes rijos, que lhe deram, foram ter sobre Angra,
onde em amanhecendo encontrou o galeão francez Principe do Mar, de
quinhentas toneladas, com o galeão Sam Lourenço, de el-Rey, e uma
caravella de Cabo Verde, e outra dè Sanaga, o que tudo o corsario tra
zia tomado; e as zabras .de el-Rey amanheceram d'elle, grande capitão,
tres leguas detraz da ponta dos Altares ; e elle só foi apoz o ladrão, o
qual lhe foi largando o galeão de el-Rey, que trazia tomado com as mais
saravellas, ás quaes não tinham ainda feito damno algum ; e dando-lhe
caça todo o dia, ia alijando o ladrão muitos cofres encourados, pipas,
Tò
*93
O que vendo elle,. grande capitão, mandou fazer fogão, e que assas
sem e comessem todos, que o tempo.era prospero sendo travessia :man-
dou ao seu piloto, Jorge Gonçalves, que fosse na volta do mar, o que
foram ; e ao outro dia, em amanhecendo se acharam sem vista de terra,
com quinze leguas-: mandou governar na, volta d'ella ao norte, por o pi
loto dizer que estava- apeado, na qual volta vieram tomar o rio deAnco>
ra, que é em Caminha; e já mettidjs tanto a terra, se acharam em um.
rio, que é o de Caminha ; correndo do rio de Ancora para Caminha a-
quella costa, onde tiveram grande tormenta, por que continuamente a ha
nella, maiormente aos que nunca por ali passaram ; por que nem elle,
nem o piloto^ nem os soldados, se acharam por aquellas partes; ende
houveram vista da Ibsua..queè a Galiza, que estava já a este tempo por
sua Magestade : e os soldados castelhanos lhe capeavam com as ctpas
para a banda onde havia lançar o leme; cam os quaes signaes governa
ram ; dando t3o grandes mares.no navio, que lhe levara o pedaço do bor
do fóra ; livrou-os Deos: até que se puzeram entre a Insua e a terra ;
e logo vieram. ao seu.navio muitos barcos carregados de gente/ castelhaua,
que estava ali de presidio, na. dita Insua ; e entraram no navio, que es
tava já despojado de cartas e papeis, que lhe podiam fazer nojo ; e bo
tando ao mar a bandeira, tambor, e tudo o que podia fazer damno de'
obrigação de os prenderem.
Tinha o grande capitão dito a Joam Roiz, que depois foi escrivão dos
«rpliãos em Villa Franca,. que se fizesse mercador do navio, por respeito,
200
efe livrar muito triga que levava, e muitas carnes, assim de porco, como
de vacca , e dissesse que aquella gente toda eram estudantes, que iam
para os estudos ; e outros iam com appellaçõeí para o reyno, e que aga-
zalhasse a dita gente castelhana, e lhe désse de todo o melhor, que ha
via no navio a comer, e chamasse por elle, grande capitão, que andava
em trajos de marinheiro, em diferente nome, como que fosse marinhei
ro ; e o mandasse a terra buscar p3o fresco : o que fez ; e o dito grande
capitão foi no barco com este nome com quatro homens, e chegando a
terra que estava com grande concurso de gente em Caminha, esperando
para saberem novas, tratando de buscar escapula lhe diziam, que era
navio que vinha das ilhas carregado de trigo, e que os levassem a uma
casa de estalagem para remediarem a vida, e comerem ^uns bocados ;
onde foram levados, e á meia noite disse elle, grande capitão, ao esta-
lagadeiro, que lhe buscasse quatro azemolas, que os levasse a Vianua,
tres leguas d'ali ; buscadas partiram para lá ; e foram ter com Alvaro
Roiz de Tavora, capitão que foi da armada vianeza, a tomar lingua, e
conselho, do que haviam fazer.
-lhes a rasãoda certa verdade, que seria por mira sabida : poJindj-Itvís
me fizessem prestes uma cai avalia á custa da minha fazenda, o foram
debaixo d'este juizo: mas o respeito com que o íizura erc este modo,
fora para vir dar menagem a sua Magestade, e pai a salvar-me e reme
diar o não perder a vida e fazenda : e o que mais estimava e tinha em
maior conta, eram os muitos serviços que tinha feito ácorôa d'este r eyno.
Mas foi isto parte para deixar o conde de Lemos de mandar um juiz
commissario á caravelta, ires leguas de distancia, a tomar informação do
conteudo ; mas em fim lhe foi tomado tudo o que acharam na caravella
ser seu ; sem até hoje lhe ser tornado ; e a elle, grande capitão, foi man
dado pelo conde de Lemos, sob pena de forca, qae não sahisse de Vian-
na. Por culpas que sua Magestade teve do conde de Lemos, foi manda
do a dom Diogo Henriques, nobre castelhano, que fosse ás ditas partes
por governador, e que o dito conde de Lemos fosse deposto, e recolhido
ás suas terras da Galiza. O qual dom Diogo Henriques fatiando com el
le, grande capitão, como o ouvio nomear por Sá, lhe perguntou que
parentesco linha com a condessa de Elda. dona Izabel de Sá; e por lhe
dizer o grande capitão que era sua tia, prima co-irmã de sua mãe
dona Margarida de Sá, lhe fez muitas honras, e lhe den ordem para
sahir d'aqueHe trabalho, em que estava : com lhe dar cartas para sua
Magestade, e para os seus secretarios de favor ; peia ordem que lhe deu
o dito governador, comprou nm macho e um asno, com que caminh ou
por arrieiro delles até Coimbra.
i
CAPITULO VIGÉSIMO QUARTO.
DOS SoUSAS, QUE VIERAM POVOAR ESTA ILHA, NO TEMPO 00 CAPITÃO JOAií
Roiz da Camara. '
*. ' '.*.{• '
Houve em Portugal um fidalgo, cujo nome não soube, que casoa
204
Este Gaspar Vaz de Sousa, e seu irmão Joam de Sousa, dizem que
eram primos filhos de irmãos de Martim Affonso de Sousa, e de Diogo
Lopes de Sousa, abalizados cavalleiros, e fidalgos; e a estes pertencem as
armas dos Sousas. Joam de Sousa, irmão d'este Gaspar de Sousa, e fi
lho de Ireza de Sousa, casou com Izabel Alvares, mulher nobre ; de quem
houve tres filhos, chamados Balthasar de Sousa, Diogo de Sousa, e Pe
dro de Sousa ; deixando á parte o mais velho, Balthasar Vaz de Sousa,
205
de quem logo direi ; seu irmão gemeo, Diogo de Sousa, casou na vj||a
da Ribeira Grande, com uma filha de Pedro Affonso, irmã de Duarte
( Pires, o velho, e de Alvaro Pires, de quem houve alguns filhos. O ter
ceiro filho de Joamde Sousa, chamado Pedro de Sousa, casou na Maia,
com Violanta Lopes, irmã de Simão Lopes, de quem houve alguns fi
lhos. Teve mais Joam de Sousa, de sua mulher Izabel Alves, cinco fi
lhas : a primeira, Izabel de Sousa, casou com Pedro Annes, cavalleiro
antecessor de Joam Roiz, gallego, que morou em Rabo de Peixe, de
quem teve um filho, chamado Balthasar Vaz, que falleceu no deluvio de
Villa Franca. A segunda casou com Simão de Santarem, escrivão em
Villa Franca, em cujo deluvio tambem falleceu com os filhos que linhs.
A terceira, Catharina de Sousa, casou com Pedro Lourenço, o velho,
que viveu na Ribeira Grande, de quem houve alguns filhos. A quarta,
Violanta de Sousa, casou com Gonçallo Annes, que foi alcaide em Villa
Franca, e falleceu no deluvio d'ella. A quinta, Guiomar de Sousa, aca
bou solteira no mesmo deluvio.
po cio capitão Joam Roiz da Camara, tinha na sua terra um irmão cbar
mado Pedro de Paiva, em cuja casa estava por ser mancebo, e orphlo
de pay e mie, e seu irmão Pedro de Paiva ser rico, e honrado ; um fi
dalgo de nome, seu visinho, ia muitas vezes á casa do campo, e depois
de se desenfadar, ia tomar cabritos ou cordeiros, muitas vezes do gado
de Pedro de Paiva; cojo irmão Fernando. Àffonso de Paiva, tinha já
com elle passado palavra sobre isso: e vendo que o fidalgo não deixava
seu uso de rapina, cavalgando um dia em um cavallo do irmão, foi ter
entre as cabras, e ovelhas, com o fidalgo ; vindo a brigar ambos, lhe
atirou Fernando de Paiva do cavallo com uma zagaia, ferindo-o tio mal,
que d'ahi a tres dias falleceu ; então se passou á ilha da Madeira, bem
provido do necessario, aonde lhe mandou o irmão Pedro de Paiva mais
provimento de dinheiro ; e na ilha da Madeira casou com Beatriz Pires
Delgada, irmã «le Pedro Delgado, parenta dos Delgados da Poota do Sol
e do Caniço : por-1 respeito da morte do fidalgo mudou Fernando de Pai-
va o nome, chaittantio-se Fernanda Affonso somente, sendo dos Pajvas ;
e seu irmão Pedro 'de Paiva, está sepultado na cidade de Viseu,
. ., i * . , • ,
filho, Diogo Fernandes Homem, que foi casado com Philippa Nunes Ho-
meta', filha de Nuno Gonçalves, que foi senhor de Lagooza, de Passos»
o do Sergueiros; em tempo do quarto capitão Joam Koiz da Camara ,
veio a esta ilha Luiz Fernandes, seu neto, natural do bispado de Vizeu,
e primeiro foi ter á ilha da Madeira, onde casou com Izabel Djas, natu
ral da mesma ilha, mulher honrada e principal da terra : e de lá veio
para a Villa da Praia, da ilha Terceira, onde servio alguns annos de ou
vidor ilo capitão, pelo conhecimento que tinha d'elle, que era tambem
fidalgo, o ali achou tambem parentes fidalgos : como eram Pedro Ho
mem da Costa, e outros, por cujo respeito foi ahi ter ; d'onde se veio
depois, com sua mulher, para, esta ilha de Sam Miguel, e o capitão lhe
deu um» grossa fazenda na Maia, que chamam as Lombas dos Costas,
por elles morarem ivellas, e strem suas.
.... ,
cwaHeiro da Africa, onde servio a el-Hoy com dous cavallos, sendo Uo-
mem de muitas forças e bondade, que foi por rogo» do capitão, alcaide
trinta e tres aanos, na cidade de Ponta Delgada, em toda a ilha, e da
governança d'ella; casou tom Izabel Castanha, filha de Joam ttoiz Ba-
dilha, cavalleiro da Africa, e de sua mulher Catharina Pires, filha de
Pedro Vaz, por alcunha o Marinheiro, da qual houve um filho, Gaspar
Roiz de Benevides, que falleceu solteiro, e uma filha chamada Beatriz
Roiz Benevides, que casou com Amador de Teve ; de quem houve filhos,
Gaspar de Teve, que é capitão d'uma bandeira da cidade de Ponta Del
gada, e casou com uma filha de Manoel Machado, e de Leonor Ferreira,
chamada Francisca Ferreira : houve Pedro Alvares, de sua mulher Iza-
bel Castanha, outra filha, por nome Solanda Roiz de Benevides, que foi
casada com Christovão Cordeiro, escrivão da alfandega, filho de Sebas
tião Roiz Panchina ; e de Violanta Roiz. Era Christovão Cordeiro, ho
mem muito grave, e de grandes espiritos; do qual, e de sua mulher
Solanda Roiz, nasceram os filhos e filhas já ditos na geração dos Cor
deiros.
Teve Alvaro Roiz, de sua mulher Beatriz Atoada, outra filha, por
'nome Margarita Alves de Benevides, que foi casada com Joam Dias'
morador junto de Nossa Senhora da Piedade, cuja ermida elle fez, que
era homem rico, dos principaes, e da governança da cidade ; de quem
houve Pedro Dias Carvalho, que casou com Anna Roiz, de quem houve
filhos, Roque Dias Carvalho, Joam Roiz Carvalho, e Braz Dias Carvalho:
e filhas, Margarida Alves Carvalho, que oSo casou, e outra que casou
com Salvador Daniel, filho de Daniel Fernandes, de Agua de Páo, que
foi escrivão na cidade de Ponta Delgada. Teve Alvaro Roiz de Benevi
des de sua mulher Beatriz Amada, outra filha chamada Guiomar Alva
res de Benevides, que foi casada com Bartholomeu Roiz, pay de Baltha-
sar Roiz, de Santa Clara : houve a dita Guiomar Alvares, sua segunda
mulher, um filho chamado 'Duarte Roiz que casou com Margarida de
Alpoim, filha de Estevão' Roiz de Alpoim, de quem houve um filho cha
mado Gaspar Roiz, que casou segurida vez com uma" filha oVíicenciadò
'Francisco Guariam.
Teve mais Guiomar Alvares, de seu segundo marido, outro filho eha
inado Heitor Roiz, qu9 não foi casado, e outro chamado Estevão .Roiz,
que se foi d'esta terra ; e uma filha por nume Estacia Roiz, que falla-
ceu solteira. Teve mais Alvaro Roiz, de sua mulher, uma filha chama
da Izabel Alvares, que foi casaca çqm Estevão Fernandes Salgueiro,
cavalieiro da Africa, de quem teve filhos — Diogo Salgueiro, Manoel
Salgueiro, Pedro Salgueiro, Izabel Salgueira, e outras que falleceram.
Diogo Salgueiro, casou com uma filha de Joanne Annes Panchina, irmão
de Sebastião Roiz Panchina, de quem houve uma filha chamada Izabel
dos Santos, freira no mosteiro de Jesus da villa da Ribeira Grande,; e
os mais filhos de Estevão Fernandes falleçeram sem filhos. Teve mais
Alvaro Roiz, de sua mulher, outra filha chamada Violanta de Benevides,
que foi casada com Roiz de Sousa, irmão inteiro de Baíthasar Roiz, de
Santa Clara, e de Izabsl Castanha, mulher de Gaspar de Viveiros, o ve
lho, sogro de Francisco d'Arruda, de quem houve o dito Pedro Roiz,
da Relva, um filho por nome Manoel Roiz de Sousa, clerigo que foi para
o Brasil ; e uma filha chamada Guiomar Roiz de Sousa, qae casou com
88
m
Este Lopo das Cortes, d'e«ta progénie dos Almeidas, rasado com.
Izahel Mascarenhas, houve da dita sua mulher díuis filhos, Bartholomen
Lopes áv, Almeida, e Sim5o Lopes de Atmeida. que vieram a esta ilha,
e moraram. na villa da Ribeira Grande. Bartholometi Lopes de Almeida
da governança da dita villa, casou com uma nobre mulher, a quem nio
soube o nome, de quem houve estes filhos : O primeiro, Adam Lopes, «
que casou com Maria Ferreira, de quem nio teve filhos. O segundo Gas
par Lopes, casou com Hilaria Calva, de quem n5o houve filhos. O ter
ceiro, Balthasar Lopes, falleeeu solteiro. Simão Lopes de Almeida, ca
valheiro do habito de Christo. casou com Margarida Luiz, filha de Ama
dor da Gama, do Porto Formozo, da qual teve dous filhos — Pedro de
Almeida, e Salvador de Almeida; os quaes tomou el-Rey dom Joam,
segundo do nome, por seus criados, e a ambos deu cargos honrosos.
Lopo das Cortes, pay d'estes dous irmãos, Bartholomeu Lopes de Al
meida, e Simão Lopes de Almeida, era irmão do avô de Simão de Al
meida, filho de Joam Gonçalves de Lessa, e de Beatriz Jorge, que ago
ra mora na villa da Ribeira Grande, casado com Beatriz Jorge, filha de
Custodio Affonso, e de HeIenadeViveiros.de quem tem uma filha cha
mada Beatriz de Almeida, e vive á lei da nobreza: tem estes fidalgos
as armas dos Almeidas do reyno.
Os Benevides são naturaes de Baltar, onde tem bando com outra
geração dos Carvajalles, e dora boje em dia a competencia d'elles.
Houve um Benavides que fez uma grande cavalgada, quando os reypos
225
m,
ta. casou com Solanda Cordeiro, filha de Joam Roiz Cordeiro. Mathiís
Lopes d' Araujo, primeiro filho macho de Lope Annes d' Araujo, o ve
lho, casou.com Eva Francisca, filha de Francisco Fernandes, de quem
bio houve filhos ; foi homem magnifico de condição, muito abastado; e
de grande casa de muitos hospedes, e grande cavalleiro. Miguel Lopes
dAraujo casou com Citharina Luir, filha de Gaspar Pires, o velho, teve
filhos — Antonio d'Araújo, discreto e bom sacerdote, vigario na villa de
Agua de Páo, Manoel de Madeiro, solteiro, e Francisco d'Araujo, casado
em Lisboa ; e filhas — Anua de Medeiros, e Maria de Medeiros. Anna
de Medeiros, casou com Gaspar Dias, nobre e rico cidadão, filho 'de Ma
noel Dias: tem filhos e filhas; Gaspar Dias servio os nobres cargos da ilha.
erp quaesquer discórdias que entre partes havia na terra ; e tudo aro-
bava,'e"punha em paz, oom muita descrição que tinha, e com a gravi
dade b authoridade da soa pessoa ; por ser homem de quem se tinha
grande confiança, e fazer tudo bem feita, como foram as cousas do ca
pitão,. ém Portugal : e quando tornou recebeu d'eUe muitas honras e
boas obras : sempre o teve o capitão em muita estimação, por que era.
eHe paia isso, como foran* depois e são seus filhos, e netos : e o mesmo
Lope Aones so diz que foi casar, e Pedro Soares, capitão da ilha de
Santa kMaria, á dha da Madeira. Tem estes fidalgos, d'esta progenie dos
Lopos.ou Lobos, as armas dos \raujos e Lobos,
Manoel Pavão veio casado de Portugal a esta ilha, no tempo .de Hu?
Gonçalves da Camara, quinto capitão d'ella, e segundo do nome ; habi
tou primeiramente na villa d'Âgua de Páo, e houve de stía mulher tres
filhos : — Primeiro, Manoel Pavão, que foi casado com Guiomar Viairina,
e houvé d'ella tres filhos — Gaspar Manoel, André Manoel, e Manoef
Affonso Pavão. Gaspar Manoel' casou com Vmtanta de Vasconcellos, R>
iha de Diogo de Orireira, e íiouve d eíla tres filhos =±= Manoel de Oli
veira Pavão, Pedro Manoel, e Pedro, que falleceu moço. Manoel d'Oli-
Teira casou com uma filha de Manoel de Castro, de quem não tevê fi
lhos ; Pedro Manoel casou em Lisboa, e não teve filhos. Teve mais Cas
par. Manoel uma filha chamada Marquez a Manoel, que casou a primeira
39 .
230
vez com Sebastião Vicente, de qaeru teve um filho. Agora está casado
na villa d'Agua de Páo. André Manoel, segundo filho de .Pedro Manoel
Pavão, e de sua mulher Guiomar Vianna, casou com uma filha de Joam
Gonçalves, da ilha da Madeira.de quem houve dous filhos: um charaa-
do Gaspar Manoel, que casou nas Sete Cidades, e outro Manoel A Afonso,
que falleceu solteiro. Manoel A Afonso Pavão, ÍHho de Pedro Manoel e
de Guiomar Vianna, sua mulher, casou com Leonor Soeira, filha de
Garcia Roiz Camello, da cidade de Ponta Delgada, de quem tem estes
filhos — Pedro Manoel Pavão, que casou duas vezes ; outro chamado
Joam Roiz Pavão, que casou primeira vez com Maria Pimentel, filha de
Joam Lourenço Tisão, e de Maria Roiz Martins, de quem tem uma filha
por nome Maria de Sam Joam, freira professa no mosteiro de Santo An
dré, da cidade ; e segunda vez nas Sete Cidades : e outro por nome Si
mão Roiz Pavão, sacerdote, que foi vigario da freguesia de Sam Roque,
no logar de Rasto de Cão. Houve mais Manoel Affonso Pavão, filho de
Pedro Manoel, duas filhas, uma chamada Beatriz Roiz, que casou com
o licenciado Antonio de Frias, cavalleiro do habito de Christo, padroeiro
do mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta 'Delgada ; e outra Guio
mar Soeira, que casou com Pedro de Teves, filho de Antonio da Motta,
morador em Rasto de Cão, de quem tem filhos e filhas.
' mio', tom sua' mulher,' natural de Aragão, a quem não soube o nJme :
teve quatro filhos e tres filhas: uma chamada Mecia Affonso, visavó dos
filhos ài Amador da Cosia. Outra, dizem que Africa Annes, a qual ca
sou na ilha de Santa Maw.a. : outra, ée quem nasceram Alvaro Pires,
•da Lomba, Duarte -Pireá, e outros. O primeiro filho de Agostinho Roiz
Paião, chamado Manoel Affonso' Pavão, teve estes filhos : O primeiro,
-Pedro Manoel Velho. O segundo, Joam Manoel. O terceiro, Pedro Ma
noel, o moça, e seis -fimas ; uma delias casou com Goterres Lopes;
, outra, Anna Manoel, mãe de Lourènço/Roiz, de Agua de Páo; outra,
mulher de Estevão d'Oliveira, ^pay do licenciado . Manoel d'01i<véfra,
.grande jurisconsulto.
bouve os doze filhos que disse : um dos quaes foi Simão Rôiz Cameilo,
vigario de Sam Roque, n'esta ilha de Sam Miguei.
v
CAPITULO TRIGÉSIMO»
Pires; filho, de Pedro Anões Preto, natural de Agua de Páo, que foi es-:, .
crivãoda cidade de Ponta Delgada, de quem houve tres filhos e uma. fi
lha. O primeiro filho chamado Amador de Vasconcellos, foi estribeiro
do infante dom Affonso, que foi arcebispo de Évora, e cardeal,; lá ca
sou, efalleeeu. O segundo filho, chamado Pedro d'Ohveira, aprendia
para clerigo, musico, tangedòr, de boas paptes, e gentil 'homem; falle-
eeu moço. O terceiro filho, chamado Diogo,d'Ollveirái casou ; na cidade
de Ponta Delgada, com uma parenta de Aires d'Oliveira, e é fallecido..
T£ve mais Joam Pires uma filha de Izabel dtí VSsconcellos, sua mulher,
chamada Catharina d'OKveira, que foi casada com Gonçallo Mòuratõ, es
crivão que foi dós reziduos. de quem teve filtms e filhas,^ nm filho sa
cerdote, já defunto. • ." • '
, . • , •, ;• v "* • .» • ri rnt,í. i
A segunda filha de Diogo d'ORveira, chamada Violante .d^; Vascon
cellos, casou com Gaspar Manoel PavSoN. de quem houve filhos ^e, filhas,
como disse na geração dos Pavões. Pedro Annes Preto, homem princi
pal, vmo de fóra, e aposentou -se na villa d' Agua de Páo, já casado com
Catharina Alves, de quem houve tres filhos e uma filha. O primeiro fk
lho, Joam Pires, casou com Izabe! de Vasconcellos, filha de Diogo d'OIi-
veira, e de Maria Esteves,, sua mulher, da qual houve os filhos que dis
se na geração, de Diogo d'01iveira. O sjegundo, Gaspar- Pires, cavalleiro
da. 'Africa, casou com Maria Jorge, de quem j£ disse na geração das
Jorges, edos filhos que teve. O terceiro filho, Sebastião Pires Carva
lho, foi casado a primeira vez, com uma filha de Joam Alvares, o moço,
e de Margarida Affónso, sua mulher , de quem houve filhos e filhas, dos
quaes estão alguns casados na villa d' Agua de Páõ: e casou segunda vez"
com Tereja Lopes, filha de Lopo Esteves Laio, de quem houve muitos
filhos e filhas. ,-•* , rm^
Teve mais Pedro Annes Preto, de sua mulher Catharina Luiz, duas
filhas, uma chamada Agueda Pires, que foi casada com Sebastião Bar
boza, o moço, que foi á Africa, filho de Ray Lopes Barboza, de quem
houve dous filhos. O segundo, Ruy Barboza da Silva, que foi escrivão
na cidade de Ponta Delgada, e casou com uma filha de Diogo de Paiva,
da Lagoa, do quem houve alguns filhos, e uma filha chamada Lucrecia
237
3»
por que mandou tazer náos e navios n'esta ilha ; qua morava jiiiiUi tia
jiraça, da cidade de Ponta Delgada, defronte da cadeia : teve estes fi
lhos — Diogo Vaz, Duarte Vaz, Joam Vaz, e VultãoVaz ; e filhas : Vio-
Janta Pires, Catharina Pires, e Grimaneza Pires. Diogo Vaz, casou com
Constancia Affonso, irmã de Domingos Affonso, cavalleiro da ordem- de
Santiago, de quem te, e estes filhos : Beatriz Calva, Sebastião Vaz, Eva
Vaz, Izabel Dias, mulher que foi de Lopo Cabral de Mello, e Izabel Vaz.
Beatriz Calva casou com Gonçallo Castanho, homem nobre, natural de
Vizeu, escrivão na cidade de Ponta Delgada, sendo ainda villa ; de quem
houve um filho chamado Pedro Castanho, homem valente, dw grandes
espiritos, que casou com Briolanja Cabral, filha de Amador Travassos;
da qual, (ora os defuntos, houve estes filhos. — Uma filha chamada
Francisca Cabral, que casou com o doutor Christovão de Mary, que foi
provedor do? resíduos n'esta dha, e depois corregedor em Ponte de
Lima, e um filho chamado Amador Travassos, estudante legista em Co
imbra, e uma filha chamada Beatriz Castanha, que casou com Antonio
Borgtw, filho de Balthasar Rebello, e de Guiomar Borges.
Vultão Vaz, houve filhos e filhas, que se chamaram as Vultôas. Ou
tro filho de Pedro Vaz Marinheiro, chamado Pedro Vaz, como seu pay,
foi leal-dador-mór dos pasteis, muito tempo, n esta ilha ; casou com
uma irmã de João Fernandes Paiva, de quem houve os filhos já ditos na
geração dos Paivas : outro filho, João Vaz, casou com Margarida Pires,
do Algarve, de quem houve filhos e filhas. De Duarte Vaz direi adiante,
e de Izabel Vaz, filha de Diogo Vaz.
Joam Alvares do Olho, homem nobre, que veio de Portugal, e de
sua primeira mulher Violante Velha, filha de Pedro Velho, teve os fi
lhos que disse na geração dos Velhos; a saber : — Alvaro 'Velho, R«y
Velho, André Travassos, e Pedro Velho ; e uma filha, que casou com
Pedro da Costa : casou e^te Joam Alvares do Olho, segunda vez, com
Beatriz Alvares, filha de Pedro Vaz Marinheiro, de quem houve estes
filhos : — o primeiro, Manoel Alvares, a segunda, Beatriz Alvares, a
terceira, Izabel Alvares, que casou com Melchior Baldaia, a quarta, Ca
ba nna Alvares, a quinta, Bartoleza Fernandes, e o sexto, Duarte ;Vaz.
239
da vez com Bento Mendes, de quem houve uma filha, ainda solteira. A
segunda filha de Joam Alvares do Olho, e de Beatriz Alvares, sua" mu.
lher, se1 chamou Maria Alvares; e foi casada com' Pedro da Costa, de
quem houve uma filha, que é freira no mosteiro <\e Villa' Franca. A
terceira filha de Joam Alvares do- QWiO, se chamava Izabel' Alvares1, qae1
casou com Melchior Baldaia, de quem houve um filho chamado Joam
Baldaia, e duas filhas, Izabel Baldaia, que casou com Balthasar Rapozo,
fiího de Joam Fernandes, alcaide ; e outra chamada Maria Baldai», que
casou com Gaspar de Viveiros, morgado, filho de Jerooymo Jorge; de1
quem teve filhas.
A quarta filha de Joam Alvares do Olho.chamada Catharina Alvares,
casou com Manoel da Costa, de Santo Antonio, de quem houve filhos; e
depois -casou segunda vez, com uma filha de Diogo AfTònso, coma já
contei na geração dos Velhos, dos quaes houve alguns filhos e filhas.
A segunda filha de Joam Alvares do Olho, chamada Bartoleza Fernandes,
casou com Gaspar Corrêa, filho de Lourenço Aires Rodovalho, jniz dos
orphãos na cidade de Ponta Delgada, de quem não houve filhos.
A segunda filha de Pedro Vaz Marinheiro, chamada Margarida Al
vares, casou com Álvaro Velho, de quem houve filhos — Gaspor Velho,
Balthasar Velho, Sebastião Velho, e Joam Cabral; e filhas = Violanta
Velha, e Maria Fernandes.
Gaspar Velho, casou com Maria Paes, filha de Joam Paes, almoxa
rife n'esta ilha ; de quem houve filhos e filhas. Baltasar Velho, e Se
bastião Velho, não casaram. Joam Gabral, casou com uma filha de Joam
Roiz, dos Mosteiros. Violanta Velha, filha de Alvaro Velho, casou com
Joam Fernandes, filho de Duarte Fernandes, do logar de R ibo ,le Pei
xe, de quèm houve um filho e duas filhas. Maria Fernandes, filha de
Alvaro Vèlho, casou com Sebastião Gonçalves,, feitor, morador na Rel
va, de quem não lem fildòs. IzaM Vaz, terceira filha de Duarte Vaz,
filho de Pedro Vaz Marinheiro, casou com Lopo Dias, filho de Lopo Dias
de Paiva, e de Maria Dias, de quem houve filhos —Melchior Dias, e
Izabel Dias, solteiros ; e outros que falleceram : e filhas — Beatriz Lo
pes, Maria Dias, Leonor Dias, e outra que falleceu. A primeira filha de
''",m
topo Dias, e de Izabel Vaz, sua mulher, chamada Beatriz Lopes, casou
com Joam Serrão, de quem houve filhos — Miguel Serrão, Márioel Ser
rão : e filhas : Catharina de Novaes, Izabel Serrão, e outras que falle
ceram ; os quaes foram casados, e tiveram filhos c filhai coo» já tenho
contado na geraçiò dos Novaes, e Quihtae». •
Maria Dias, filha de Lopo Dias,. e de Izabel Vaz, casou com Fru
ctuoso Días, viuvo, de quem houve filnós — Jo'ámT)ias, eManoel Dias,
solteiros; e uma filha chamada Maria Dias, qtfe casou còm1 Gaspar Fer
nandes, filho de Antonio Fernandes, da Relva, e dè Anna Esteves, de
quem tem filhos e filhas. Leonor Dias, terceira filha de Lopo Dias, e de
sua mulher Izabel Vaz, casou com António Jorge, escrivãft dtts rezidoos,
filhodum Adail, que foi em Africa, e de Beatriz Gonçalves, de quem
houve filhos e filhas. Violanta Pires, primeira fflba de Pedro Vaz Mari
nheiro, casou com Bartholomeu Afibnso Perèira ; pof alcuriha o aRatò•,
de quem teve fiíhos — Duarte Affonso, Melchior' Affonso, alem" d'outros
quatorze, todos machos, que falleceram. Duarte' Afitinsb/ casou com
Maria Roiz, cujos filhos fallfeèeram".
Pedro Affonso Pereira, filho de Bartholomeu Aftonsb, íòi casado
com Guiomar Fernandes, de quem houve um filho macho — Bartholo
meu Affonzo, casado com Anna Velha, filha de Diogo Velho ; e um fi
lho, que está na índia ; outros que falleceram, e uma filha chamacia
Izabel Pires, que casou com Amador da Costa, filho de Francisco dAr-
ruda da Costa, e de Francisca de Viveiros, dè quem tem filhos e filhas;
duas velhas freiras no convento de Santo André, de Villa Franca ; e ou
tra filha de Pedro Adorno, chamada Briolanja Affonzo, casou com Sebas
tião Velho, filha de Ruy Velho, e de Guiomar de Teves, de: quem tem
filhos.
Catharina Pires, filha de Pedro Vaz Marinheiro, foi casada com Joam
RoizBadilha, de quem teve lilhos— Ambrosio Castanho, Francisco Ròiz.
e Joam Boiz; e filhas-— Izabel Castanha, Maria Boiz; Leonor Dias, c
Beatriz Castanha . que 'fallPcou solteira. Casou Ambrosio Castanho com
Beatriz Ferreira, filh.i de Alvaro Pires, e de Leonor Dias, de quemlriu.
ve filho,: o filhai. Pedro R^z, casou com uma Fuam d'Ornpllas. Joam
245
31
teve alguns Mm, que íaUeeeram ; e um chamado Huy Vaz de Medei
ros, capitão dos Aventureiros, na cidade de Ponta Delgada, cavatleire
do habito de Christo, com quinze mil rets de tença ; que casou doas
vezos, como fica dito na geração dos Medeiros : teve tambem rtna filha
chamada Anna de Frias, que casou com GonçaHo Vaz, filho de Domin
gos AfJonso, do Jogar de Rasto de Cão, que falleceu oom seus irmãos.
Para maior declaração do sobredito, digo- que Ruy de frias, avô do
licenciado Barthólomeu de Frias, e Ròmlo de Frias, sen irmão, eràm
naturaes das montanhas dè Castella ; e sendo Hespanha dos .mouros , dons
irmãos da soa geração, capitães <T um exercito, conquistaram a cidade
de Frias, que é uma das principaes cidades das montanhas ; tendo ga
nhado a ponte e um castello, que n'eflá" estava, muito forte, acommet-
teram a cidade, e a tomaratai
El-Rey lhes fez mercê, pela victoria, de lhes dar o castello, com ti
tulo de alcaide -mor, d'onde tomaram o appellido de « Frias •, com as
armas, de que El-Rey lhes fez mercê, que são uma ponte com um cas-
" tello ; sobre a ponte e rio em campo vermelho, 6 da outra parte uma
insigna com um lobo, atado a ella em campo amarello.
Correndo o tempo, honve o condestavel de Castella, du El-Rey, ser
duque da dita. cidade de Frias, e cottmetteu ao possuidor da akaidaria,
que lh'a largasse, e lhe satisfaria com outra cousa egual ; o que não
quiz acceitar, sobre o que houve grandes bandos, onde se matou uma
pessoa ppinópal da Gasa do condestavel, que foi causa dós ditos Ruy
de Frias, avô do licenciado Bartholomeu de Frias, e seu irmão RomUo
de Frias, se .ausentarem tia sua pateta, e vieram a esta ilha ; oudè Huy
de Frias vwu muitos, anuos, na villa da Lsgoa, e sempre foi conhecido
por homem fidalgo, e como tal a governou, sendo juiz o vareadòr, qTVe
são os officios principaes e honrados ; casou suas filhas com os mais
honrados da terra, e aqui falleceu ; seu irmão Romão de Frias, c*sóe
na 'ilha da Madeira, na cidade do Funchal, com uma mulher das princi
paes, e viveu muitos aanos ; ficaram-lhe filhos e filhas, que casarei com
os prjpcipaos da terra ; e elle foi tido sempre por fidalgo, e «'essa^ «JU-
ta estão agora os que d'elle procedem.
Fernand©' Annes de Puga, era natural de Ponte de Lima, e proce
dia da geração do» Pugas, da cidade « Dorens • de Galliza, os quaes
á'esta geração são dos principaes fidalgos de Galiza, e entre Douro e
Minhj : a casa d'esta progenie dos Pugas, tem soga e cochilo, e por ser
tal, indo Ruy Vaz de Medeiros (que foi um dos principaes homens d'es-
ta ilha, é tinha casado um seu filho com um» filha de Ruy de Ffias ) a.
Portugal, foi ter a Ponte de Lima, e estando ali algurts diasrlève amiza
de com Fernando Annes de Puga ; por estar informado de quem era,
o commetteu com o casamento de Genebra de Frias, filha de Ruy de
Frjas, que foi primeiro casada com o irmão de Joam d'Arruda, e esta
va viuva ; por ter muita fazenda, e Ruy Vaz certificar a Fernando An
nes de Puga, da honra de Ruy de Frias, avô do licenciado Rartholomeu
de Frias, e de sua filha Genebra de Frias, eda muita fazenda que tinha,
acecitou o casamento; e por esta causa veio a esta terra, e aqui viveu
muitos annos, e sustentou sua casa com muitos criados e escravos, como-
quem era ; como tal sè tratava, e era conhecido, e andou sempre no re
gimento da villa da Ribeira Grande ; em cujo termo era morador, e pox
seus filhos no estado em que esta notorio, e no mais que tenho dito.
Aqui 0,ve4e ver seu irmão, a.ubado de Moreira,. qflft foi tup dos
principaes homens de entre Douro e Minho, em honra e renda, e como
tal se tratou n'esta ilha. com dois e tres cavallos na. estrevaria, os me
lhores que n'3lla havia, acompanhado de muitos criados : e todos os
principaes d'esta terra lhe tinham muito acatamento, e o acompanha
vam ; foi ouvidor do ecclesiastico alguns annos, e deixou nesta ilha um
seu neto, por noníe Manoel de Puga, homem de grandes espiritos, mui
ta prudencia e virtude, em casa dò licenciado Rartholomeu de Frias, seu
sobrinho, e tio do dito Manoel de Puga ; o quaf seu tfò o casou com
Luzia Cabral, filha de Melchior Tavares, e de Simôa Cabral, sria' mulher,
e neta de Joam Tavares, filho dè Ruy1 Tavares, é neta de^Joam Cabral,
da villa da Lagóa,t da geração dos Velhos, e Cabraes, fidalgos, e muito
parentes de Gonçallo Velho, commendador de Almourol, e senhor de-
Rezalga e das Pias, que foi o primeiro, qne por mandado do infante dom
Henrique, desrobrio estas ilhas, de Santa Maria, e de Sam Miguel, efoi
2tS
ilha, que casou ama filha, por nome Caminha de Rezende, com um fi
lho do almoxarife velho, que chamavam Joam Thoiuè Velho ; outra fi
lha de Fernando Vir, Anna de Rezende, casou tambem com outro filho
do almoxarife velho.
Teve mais Joam Vaz das Virtudes, um filho que chamavam Pedro
Vaz, mestre, que também curava por virtude, e estancava por devotas
palavras o sangue das feridas, ( não se pode usar de semilhanles •pala
vras) o qual veio a esta ilha, e casou na Villa com Guiomar Alvares,
filha de Pedro Alvares, e de Jgnez Moura, colassa de dona Ignez, mu
lher que foi de Joam Roiz, que casou com a dita Guiomar Alvares, e
lhe deu quatro moios de terra, no Morro, da villada Ribeira Grande,
para ajuda do seu casamento. Teve mais Joam das Virtudes, tres filhas—
•Barbara Vaz, que casou na ilha de Santa Maria, com Alvaro Pires de
Arvéllos, que veio de Portugal, homem fidalgo, de quem teve alguns
fhhos. A terceira filha de Joam Vaz, chamada Marqueza Vaz, casou com
Joam da Ponte, homem muito honrado, que viveu rico, e gastou sua fa
zenda em buscar uma ilha nova, que nunca se pode achar.
32
254
pedir a Deos com procissões, sendo seu serviço, lhe désse vida, para
remedio e sustentação da dita ilha, como elle até ali linha feito ; mas
Deos como sabedor de. todas as cousas, o levou para si, para lhe dar
mais prestes os premios dos seus merecimentos.
Este Gonçallo Aires teve três irmãos, que na dita ilha habitaram
com elle, todos homens de muito nom°, e estimados na conta de suas
pessoas ; um d'elles chamava-se Manoel Affonso Ferreira de Drumonde,
outro Melchior Gonçalves Escocia, e ootro Balthasar Gonçalves Escocia
Ferreira, dos quaes foi povoada a ilha da Madeira, e se intitulavam em
nome de casa, ou Casta Grande, por descenderem de tão nobre casta,
e alta progenie, como foi de Anna Bella, raynha de Escocia ( como vi
por brazão passado pelos reys de Portugal ) e approvado descenderem
da dita casa de Drumonde, em Escocia : estes ditos quatro irmãos eram
sobrinhos do primeiro Gonçallo Aires, companheiro de Joam Gonçalves
Zargo, primeiro capitão que foi na ilha da Madeira, e todos eram pa
rentes.
De Melchior Gonçalves Escocia, um d'estes quatro irmãos que vie
ram de Escocia á ilha da Madeira ; descendeu Joam Gonçalves Ferreira,
que n'esta ilha de Sam Miguel, se chamou da « Serra d' Agua •; oqual
veio da ilha da Madeira a esta de Sam Miguel, no tempo d'uma grande
peste, que deu na dita ilha da Madeira, em uma casa d'esta Casta Gran
de dos Ferreiras, onde uma irmã de Joam Gonçalves Ferreira, que de
pois se chamou da Serra d'Agua ( como adiante direi ) vivendo na ilha
da Madeira, em sua quinta, muito rica, com grande casa, onde tinha
muitos escravos, que lhes não sabia o nome, mandando-lhe uma pedra
de linho fino, a mandou guardar com outro ; e d'ahi a algum tempo fa-
zendo-a tirar por uma escrava, d'entre outro, em o tirando e descobrin
do, deu o mal da pesU na escrava, que o tirava, d'ahi em os mais da
casa ; e d'ahi se atirou no porto da cidade do Funchal, e por toda a ilha
da Madeira, que foi causa de se despovoar quaâi toda a terra: esta foi
a rasão por que os mais dos graodes, e principaes homens, se desterra-,
ram da ilha da Madeira, e se foram, uns para as Canarias, e outros para
outras par'cs. Entre os quaes o dito Joam Gonçalves Ferreira, da Cas
256
fa Grande, se veio a esta ilhe de iam Miguel, com sua mulher Cathari-
ua Affonso, com toda a sua familia, muitos escravos e escravas, vaccas,
e muita fazenda de dinheiro, baixella de prata, e muita patacaria : e se
aposentou ua villa da Ribeira Grande, perto íéf a da wlla ; comprou ter
ras, onde mandava fazer sua lavoura ; acconteceu um domingo irá egre-
ja com sua mulher, filhos e escravos, dos quaes andava bem acompa
nhado, e estando ouvindo missa, se levantou .o fogo em sua casa e lhe
queimou toda a sua fazenda, de tal sorte, que quando acudio estava.tu-
do ardido, e acharam depois do logo apagado, as pranchas de prata da
baixella. e outras peça» que se fundiram, pelo que se veio. morar
abaixo á villa, em umas boas casas que comprou, sobre a ribeira, junto
da ponte, onde mandou fazer um engenho de serra d'agua, como os da
ilha da Madeira, com seus escravos, e um Joam Lourenço, seu criado,
que era mestre do dito engenho, e endereçava os escravos.
Este Joam Gonçalves Ferreira, d» Casta Grande, da casa de Dru-
monde, • da progenie dos reys de Escocia, teve de sua mulher Catba-
rina Affonso, tres filhos ligitimos, e tres filhas ligitimas : o primeiro cha-
mava-se Affonso GoBçalves Ferreira ; viveu na cidade de Ponta Delga
da, sempre rico, com escravos e escravas, senhor da bons ginetes, que
levava alguns á dextra quando sahia em jogos de canoas, com seus mo-
xibs de vellodo, e ricos arreios ; casou eutn Grimaneza Luiz, filha de
Joam Roiz, escrivão, homem muito principal e de nobre progenie, da^
qual houve tres filhos, e tres filhas. O primeiro filho, Manoet Ferreira,
fallèceu solteiro. O segundo, Joam Roiz Ferreira, que agora é capitão
d'uma bandeira ; casou com Maria Lopes, filha de Joam Lopes, de quem'
tem filhos e filhas. O terceiro falleceo moço.
A primeira filha, chamada Izabel Ferreira, casou com Diogo Gon
çalves Corrêa, fidalgo, sobrinho do visconde de Ponte de Lima, e do
bacharel Diogo Pereira, fidalgo, que foi nesta ilha de Sam Miguel, ou"
vidor do capitão, muitos annos, dos Correas do reyno, que tem este
appcllido pelas rasôes ditas, quando tratei de Jacome Roiz Dias, na,
progenie dos Gagos ; da qual Fzabel Ferreira, e Diogo Gonçalves Cor
rêa, nasceram dez filhos ; falleceram seis, e os vivos são os seguintes :
\ , 257 , ,
\ i
' , A primeira chamada Grimaneza Ferreira de Escocia, que casou
tom Affonso de Goes, mestre da capella da cidade de Ponta Delgada,
estremado não só no canto, voz e engenho, mas em todas as suas cou
sas, natural de Campo Maior, do Alemtejo, filho de Gil Fernandes Caio*
ia, e de Joanna Dias Mexia, dos de Castella, prima de Affonso Mexia^
vedor que foi na índia, da fazenda, escrivão d'ella em Portugal, que
está sepultado em Sam Domingos, em Lisboa, em uma capella, à qual
vmcniou um morgado de mais de duzentos moios de renda ; e o dito
seu pay, natural da cidade dElvas, foi casado Ires vezes, a primeira
com uma irmã de Pedro Lopes da Silva, feitor que foi de Flandres.e em-
baixadi r de Castella ; a segunda, com outra nobre mulher; e a terceira
com a dita Joanna Dias Mexia, das quaes todas houve vinte e tantos filhos
e filhas ; por cuja causa se veio o dito Affonso d» 1 Góes, para esta
ilha com Francisco de Mesquítá, casado com dona Francisca, filha de
Joam Sotil, prima do mesmo Affonso Goes, que tem seus brazões de
muita nobreza, assim d'uma como de outra parte, o qoàl tem cinco fi
lhos e uma filha, fóra tres filhas e dois filhos, que lhe falleceram da
dita Grimaneza Ferreira, e o dito Gonçallo Fernandes Caiola, seu pay,
que foi muitas vezes juiz, e vareador da dita cidade d' Elvas, que tem
quatro mil visinhos, e em Campo Maior que tem md e quatrocentos.
•A* segunda filha de Diogo Gonçalves Corrêa, e de Izabel Ferreira,
chamada Maria Corrêa Durrnonde, casou com o doutor Gaspar Gonçal
ves, de tanto nome e fama na medicina, alem de moitas outras
graças e perfeições de que o Senhor o dotou ; que quando o chamam
para curar algum enfermo, se diz commumente, que chamam a saude ;
de quem não tem filhos. •.. ..•,.
â59
Corrêa i se quereis saber se sou moço chegai para cá, e sabel-o heis ;
por que sou tambem fidalgo como \ós ; ao que accudio o capitão da
galé, e os poz em paz ; ficando Miguel Corrêa no logar de capitão d'a-
quelia estancia : chegando a galé dos mouros, peleijou varonilmente, e
da sua estancia, com um montante nas mãos, saltou na galé dos contra
rios, e fez n'elles grandes estragos, até acabar de os vencer ; mas oVali
o. trouxeram quasi todo ataçalhado de Geridas, cora as armas mettidas
pelo corpo, de tal maneira, que na primeira cura, que lhe fizeram, se
gastou grande parte d'um toucinho, em, mechas; alem d outras cousas
notaveis, que fez na índia, como foi um desafio com um valente solda
do, e o venceu n'elle e rendeu : e outra vez em um caminho, a dous
renegados, e os levou presos a uma fortaleza : agora dizem alguns, que,
está casado, muito rico, na China, outros, que em outra parte da índia.
O segundo filho de Gabriel Ferreira, de tanto animo, que.se acer
tava de ser sam, fora dos melhores soldados de muitas partes.
to
Fernando Lourenço, que casou com Leonor da Fonseca, e um» lillia cha
mada Beatriz Ferreira, (|ue casou com Manoel Pires, de quem tem filhos.
E outra, por nome Izabel Ferreira, que casou com Hercules Barbo
za, leal-dador dos pasteis, de quem tem muitos filhos, e casou segunda .
vez com Maiioel Machado, mestre das obras de Fl-Rey ; de quem teve
uma filha chamada Margarida Machado, que casou com Gaspar de Vi"
veiros Morgado.
Outra, por nome Francisca Ferreira, que casou com Gaspar de Teve,
homem de Grandes espiritos, capitão d uma companhia, da cidade de
Ponta Delgada. Teve mais Gaspar Ferreirai de sua mulher Izabel dt)
Braga, uma filha, que disse atraz vir de Portugal e chamada C.itli3rina
Ferreira, que casou primeiramente com Antonio Furtado, de quem não
teve filhos ; a segunda vez com Gaspar do Rêgo, filho de Aires Pires do
Bego, de quem houve uma filha chamada Beatriz de Santiago, freira pro
fessa no mosteiro de Jesus, da villa da Ribeira Grande. Casou Gaspar
Ferreira, segunda vez, com Francisca Furtado, de quem não houve filhos.
Tinham em seu brazão um escudo com o campo de vermelho, qua
tro fachas de ouro por differença, uma brica azul, e n'ella um annel de
pruta, elmo de prata, aberto, guarnecido do ouro, paquife de ouro e da
vermelho, e por timbre uma ema, com uma ferradura de ouro no bico.
Dos Amabaes, que tambem são dos Mendes e Vasi;unc':ixos, que vie
ram Á ilha de Sam Miguel, mo iuipo do capitão Buy Gonçalves
da Camara, secundo do nome.
casou duas vezes, a primeira com Izabel Nunes, Viuva, e não teve filhos?
segunda vez casou com Beatriz do Monte, filha de 'Pedro Annes, merca
dor, e de Suzanna do Monte, moradores na Ribeira Grande, de quem
nSo tem filhos. O segundo filho de Affonso Alvares do Amaral, chama
do Melchior do Amaral, casou com Maria Goncalves, filha de Joam Gon
çalves Caldeira, e de Beatriz Pires, moradores na Lomba da dita villa ;
não tem filhos : Vive honradamente, é homem discreto, e bom cavalleiro.
31
270
Ao primeiro dia de abril, logo foi faltar com dom Leão, padre da
companhia de Jesus, confessor d'EI-Rey, e com Jorge Serrão, tambem
padre da companhia, doutor na sagrada theologia, aos quaes ambos deu
conta do que passara com sua alteza, e mostrou-Ihe- os apontamentos.
275
que levava das camaras, para requerer, e outras cousas particulares
relevantes e necessarias ao bem commum d 'esto ilha, que elles ouviram
muito bem, e louvaram todos : e o consolaram, promettendo-lhé. que
Ek,Rey o ouviria, e lhe faria justiça ; depois o ouvio El-Rey, e maudou
ter muito couta com elle, de maneira que alcançou justiça nos mais dos
negocios, que pode tratar e requerer, no tempo que n'isso gastou em
Lisboa ; desde treze de março, até vinte e quatro de outubro, que se
foram as casas, e El-Rey para Almeirim, aonde tambem andou nos re
querimentos desde vinte e seis de outubro de mil e quinhentos setenta
e nove, até ao derradeiro de maio de mil quinhentos e outenta.
Foi casado primeiro com Maria Manoel, filha de Pedro Affonso Bar
riga, da villa do Nordeste, e de izabel do Quental, filha de Fernando do
Quental, e de nenhuma tem filhos. Casou Estevão Nogueira, segunda
vez, com uma mulher da geração ,dos Barradas, de quem houve filhos,
como já tenho dito.
Veio a esta ilha Jacome das Povoas Privado, de nobre geração, pay
de Antonio das Povoas Privado, moradores na cidade de Ponta Delgada.
De Joam Privado, nasceu Aldonsa Rodrigues Privada, e Fernando An
nes das Povôas, moradores que foram na sua quinta do Real termo de
Barcellos. Nasceu Ruy das Povôas, morador que foi na cidade do Porto,
e d'elle nasceu Jacome das Povoas Privado, pay de Antonio das Povôas
Privado, e casado na cidade de Ponta Delgada, que vive á lei da nobre
za, e tem as armas dos Privados, que são as seguintes, das quaes tem o
seu brazúo : — O escudo de ouro, com quatro barras vermelhas, lan-
çantes, e uma flor de liz em cima, entre as pontas das duas barras ver
melhas, que de cima começa ; elmo de prata, guarnecido d omo, com
paquife de ouro e vermelho ; por timbre um grifo de ouro e vermelho,
com o bico, azas e unhas de ouro. Tambem veio a esta terra, e viveu
na villa da Ribeira Grande, Diogo Privado, filho de Violante Brandôa,
filha de Joam Brandão, e de Anna de Armi, da geração dos Privados,
Brandões, o Coutinhos ; por vir de Villa Real, d onde era da casa do
marquez da dita Villa Real, por um homicídio mudou aqui o sobrenome,'
chamando-se Diogo Martins : teve muitos filhos, nobres, moradores to--
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dos na villa da .Ribeira Grande — como Duarte Privado, agora juiz dos
orpbãos na dita Villa; e outros que sempre se trataram á lei da no
breza, e tem as mesmas armas dos Privados.
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