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I 'V ' ' '

GASPAR FRUCTUOSO

SAUDADES DA TERRA

HISTORIA GENEALÓGICA

DE '

SAM MIGUEL.

PONTÁ DELGADA.

Ttp. do Amigo do Povo*

1876.

iNniflMfl unhe
UBRARIES
8J.00MJNGT0N

Era cotno que um mytho a historia insulana -— Saudades da Ter
sa — escripta por Gaspar Fructuoso.
Toda a gente fatiava d'esta obra, que entre os açorianos tem
perpetuado o nome de seu author, mas a poucos era dado o aprecial-a.
Do original d'aquelle trabalho, legado aos padres jesuitas, algumas
copias existiam em poder de opulentos, sendo o livro quarto, o que
trata de genelogias michaelenses, o mais multiplicado pelos copistas.
Havia para isso rasòes especiaes, e mais d'um pleito judicial se
instaurou sobre reinvidicaçao de bens, em virtude das arvore» genealo
gicas para os quaes este livro prestava seguros dados.
Emprehendendo a publicação d'este precioso repositorio de noticias
ácerca das antigas familias d'esta terra, pondo ao alcance de todos o
que até agora só poderia ser possuido por pessoas muito ricas, no caso
de poderem pagar as avultadas despesas d'uma copia manuscripta, ti
vemos em mira prestar um serviço publico.
Agora só quem fôr totalmente indifferente pelas cousas patrias; quem
não prestar o menor culto ao passado, em que tantos vultos eminentes
conquistaram para estas plagas glorias immorredouras; só aquelles pa
ra quem sào sem significação factos de tanta valia, como o conheci
mento das origens e constituição da familia michaelense, do seu modo
de ser nas primeiras idades d'esta terra, e de muitos outros de real
interesse para a philosophia da historia, continuará a viver d'elles igne-
rante.
Varias tentativas se tem feito para publicar pela imprensa o quasi
vedado fructo do trabalho do eminente michaelense Gaspar Fructuoso,
mas todas goraram em presença da avultada despeza que era preciso
realisar para as levar a effeito.
Nós mesmo nos não abalançaríamos ao tentamen, sem auxilio d'um
cavalheiro poderoso e profundamente amigo d'esta terra. A elle épois
devida a honra do serviço prestado com esta publicação.
<, i

,
II

Como ao sabe, as copias ilos uianu^criptos tiUo são sempre completa


raonte exactas. Se não ha altera-lo na essencia dos facto•, ha-a, quasi
sempre, na ortographia, algumas venesnas datas, e outras na reproduc-
çSo dos nomes ou appellidos da< pessoa* da quem «e trata.
NSo consideramos como genuina a copia de que nos servimos para
esta publicação ; temos ate que pecca muito em questão ortograpbica ,
e por isso, n'esta parte, despresámos a do manuscripto e seguimos o
n.,,is correntio modo de escrever na actualidade. Quanto á narração de
ftictos; indicações de datas, descripção de costumes, c a tudo ornais de
ir Cresse historico, o manuscripto que reproduzimos não ditfere em
cousa alguma de outros que compulsámos, e por isso o consideramos
exacto.
Já mo e pouco poder-se avançar isto ; c tambem se o n5o pudes
semos fazer desistiríamos do proposito desta publicação. A historia er
rada, em pontos tão essenciacs, não é cousa nenhuma.
Temos dado a rasão que determinou a publicação' d'estc volume.
E grande o desejo que temos de completar o trabalho imprimindo os
roais livros historicos e genealogicos, com relação a esta e demais ilhas
açorianas, que constituem as Saudades da Terra de Gaspar Fructuo
so. Depende a realisaçao do nosso desejo do exito d'oste emprehendi-
ínento, do favor com que o publico acolher a obra que vae ontrar em
circutação.

Sendo bem cabidas n'este logar a* noticias biographicas do emi


nente michaelense Gaspar Fructuoso, aqui reproduzimos as que, em
1860, um moço de grande vocação litteraria, © nosso muito presado
amigo, ANTONIO Pebeira, reunio no formoso quadro que se segue:

Reinava D. Joain III, e c»rria o segundo anu» ( ÍÒ22 ) depois


d'este monarcha ter subido ao throno , quando na ifha de S. Miguel,
na ainda villa de Ponta Delgada, nascia um dos maiores homens, qu,;
os Açores tem produeido no campo das lettras.
O primeiro historiador açoriano, o dr. Gaspar Fructuoso, era esse
homem.
S. Miguel, descoberta em 1444 por Gonçallo Velho Cabral de Mel •
lo, tinha crescia , em fertilidade è população por este espaço de 78
annos. . , .
Algumas villas e muitas aldeãs já alvejavam por aquelle solo. que
os primeiros descobridores tinbam visto rodo coberto de arvoredo es
pesso e verdejante.
Os moradores d'estas villas e aldeãs oceupavam-se nos trabalhos
agrieotas, è aquelles campos cheios de viço e virgindade retribuíam
com espantosa abundância as fadigas do lavrador.
O pae de Gaspar Fructuoso, senhor de muitas terras, que ainda no
seu-4empo eram dadas de sesmaria, tambem recolhia os fructos aben
çoados, do que seineavapelas veigas, que lhe pertenciam. Era uin lavra
dor abastado e um modeilo de virtudes entre os seus visinhos, por que-
o sangue de illustres antepassados, que lhe corria pelas veias, não ser
via senão d'incentivo para elle melhor as praticar, e não para se enso
berbecer, e cobrir-se de vaidades.
Tratou este honrado ponta-delgadense da educação de seu filho, as
sim que n'este começaram de despontar os primeiros alvores da rasao,
educação, como as que sôeiu dar portugueses de tempera rija, tende,
por norte a honra, è por esteio a probidade. Orçado assim Gaspar Fru
ctuoso, o seu futuro havia de ser muito differente do da maioria d*s
mancebos, que nasciam, entre o fausto e a grandeza da corte de D.
Joam III, onde os vícios e a desmoralização- tinham desmarcados limi
tes.
A barreira que o separava da corte era grande e era muito maior
ainda o espaço, que mediava entre o crer e o viver da metrepoli e p
crer eo viver de sua ilha. S. Miguel dava valentes soldados para acom
panharem nossos capitães na brilhante carreira de suas victorias pelo
oriente ; e para enristarem lanças na heroica defensão das praças africa
nas, mas nào se deixava poHuir com ouro c pedrarias. Gaspar Fruc
tuoso principiou logo no estudo de grammatiea a <iar mostras do talen
to e applieaçâo de que era dotado. Aquella alma como s flor mimosa
dos compos, que aos primeiros raios do sol, que lhe beijam as petalas,
ainda cobertas do orvalho da manhã, já principia • recender fragrân
cias, que hão de depois embalsamar aquellas campinas levadas pela. vi
ração da tarde, logo nos primeiros aunos e eom os primeiros estudos
mostrava a maneira de como se havia de destinguir no futuro, se lhe
conhecessem a vocação, e lhe aptainassem a senda para esta medrar e
robustecer. Costumou familarisar-se com os livros desde a primeira in- '
tancia ; eram depois os seus companheiros inseparaveis, os mais inti
mos amigos, com elles nutria o espirito, descnvolvia-o, formava-o, com
elles ee extasiava, e achava-lhe tal doçura, tal encanto, que quanto
mais os conhecia, quanto mais os amava.
Poesuia o condão d'aq'.ielles, que a Providencia destina para serem.
grandes pela intelligencia, para sobresahirem no meio das gerações,
que pass m pelo seu tempo, e terem na posteridade um ecco a repetir-
!h? pprperaaniente o nome. Quando seu pae o mandava cuidar dos ho.-
hk tis, que lhe trabalhavam as terras, Fructuoso caminhava, levando
debaixo do braefo os seus livrinhos. Lá á sombra de frondosa arvore
travava conversação com elles, e era tal o enlevo, que lhes achava,
que muitas vezes se esquecia da ordem paternal.
E aeksJudo-o o pae assim í segundo Cordeiro, a que y;mos seguin
do ) r aos scys homens descuidados do trabalho, enfadndo reprebendia-o,
di/.<,ndo-llie : que já que não prestava para tavrador, elle o mandaria
para tVua de >tia patria a estudar ás universidades.
IV

Era assim que aquelle pae conhecendo as tendencias de sen filho,


lhe abria caminho para elle seguir, obrando segundo os dictames da
boa rasão, e contribuindo para elle depois ser grande, que não ha ver
dadeira grandeza, senão aquella, que provem das prop^nçô*ea naturaes.
Imaginem aquelles, que aspiram seguir uma carreira litteraria,Ta
quem milhares de obstaculos se oppSem, tão fortes e tão invensiveis,
que acabam por fazer desanimar e amortecer essa luz de talento de
que Deos os dotou , a alegria que Fructuoso sentio, quando vio que lhe
abriam assim as portas d'uma universidade, onde podia saciar a sede
do saber, que o devorava.
Para Salamanca, onde existia a mais famigerada universidade das
Hespanhas, d'aquelle tempo, para onde concorria a mocidade de diffe-
rentes partes a receber a luz da instruoção, « d"onde vieram para Por
tugal alguus do* mais afamados professores, que D. Joam III convidou
uo3 paizos estrangeiros, quando passou a universidade existente em
Lisboa para Coimbra, e a reformou dando-lhe novos estatutos, partio
Gaspar Fructuoso depois de instruído no latim.
Estudou ali philosophia até á idade em que Veio ordenar-se de sa
cerdote á sua diocese, e recebeu, pela penetração de sen engenho, e
profundo estudo n'esta materia o gráo de Mestre em Artes. Depois de
ordenado, deixando saudades na patria, partio outra vez para Sala
manca, onde, tendo por professor o dominicano Fr. Domingues de Sot
to, um dos mais celebres oradores e moralistas da sua ordem n'aquelle
tempo, estudou theologia, na qual faculdade recebeu o gráo de doutor.
Na carreira de seus estudos distinguio-se como um dos primeiros, e
adquirio tal reputação de saber e virtudes, que D. Juliao d'Alva, bispo
de Miranda, fez todas as deligencias para o ter na sua companhia, o que
conseguio ; enchendo-o então de benefícios, cujo rendimento passava de
mil crusados. Por este tempo tambem Gaspar Fructuoso, tendo tomado
conhecimento com os jesuitas, que se tinham estabelecido em Bragança,
e principalmente com o reitor do collegio d'esta cidade, o padre Ruy
Vicente, leu theologia moral, alternativamente com elles. A sua demo
ra na companhia do bispo D. Julião d'Alva, durou até que este fosse
nomeado capelirio-nsor de El-Kei D. bebastiào, acabando tambem por
esse tempo sua residência em Bragança d'onde voltou para Lisboa, e
de lá para a sua patria.
O elle vir para a ilha de S. Miguel foi devido ás continuas rogati
vas, que de cá se lhe faziam para isso, e tambem ás instancias de D.
Mamoel d'Almada, que succedera no bispado de Angrà ao 3." bispa
d'esta cidade D. Jorge de Santiago, que conhecedor das altas qualida
des de Gaspar Fructuoso, o quiz trazer corasigo.
Diz-se que quando Fructuoso chegou a Lisboa, impressionou tanto
o animo de D. Manoel d'Almada, que este poz todos qs meios ao seu
alcance para elle ser nouie;,do bispo em seu logar, o que nunca pôde
tconspguir ,la sua modestia ; e estando por este tempo vaga a vigararí»
de Nossa Senhora da Estrella da villa da Ribeira Grande, foi Fruc
tuoso provido n'ella.
Partio pois para S. Miguel, e tomou posse do encargo, para que fora
nomeado, começando a vida do verdadeiro pastor e pae espiritual. «Na
administração da sua egreja encheu todas as obrigações de pastor soli
cito ( como diz Barboza na sua Biblioth, ca Lusitana ) não havendo ins
tante vago, que não occupasse em beneficio das suas ovelhas. No pul
pito reprehendia severamente os vicios; no confessionario atrahia suave
mente os peccadores, e dirigia prudentemente aquelles espiritos que
seguiam o caminho da virtude.,
Lembrando, se então d'aquella passagem de sua vida, em que gra
ças á penetração de seu pae, foi tirado da relha do arado para cursar os
estudos, mandou fazer um pari no para o frontal do altar-mór de sua
egreja, em que havia pintado um arado da parte do Evangelho com es
ta lettra = « Se soubera, , e um livro da parte da Epistola com esta
outra — t Não soubera,. Se soubera lavrar, não soubera ler. Segundo
tios consta este monumento d'aquelle grande homem já não existe.
Depois d uma vida toda de caridade e amor do proximo, deixou
de existir o dr. Gaspar Fructuoso no dia 24 de d'agosto de 1591, con
tando 70 annos de idade.
Sua morte foi sentida verdadeiramente por todos, que o conheciam.
O bispo d'Angra assistio ás suas exequias, e foi sepultado na capella-
mór da sua egreja, onde se lhe gravou o seguinte epitaphio :

Aqui jaz o Doctoe Gaspar Fructuoso, que foi Vigário, e Prega


dor d'ebta Igreja vebe Varão Apostolico, e ihsigne
eh lettra8, e virtudes.

Sua livraria, que excedia a quatrocentos volumes, deixou-• aos je


suítas, já estabelecidos por esse tempo em Ponta Delgada, como tam
bem seis manuscriptos do seu proprio punho.
Entre estes sobresahia o que acabou de compor no anno anteceden
te ao da sua morte, e que tem por titulo — « Descobrimento das Ilhas,
ou Saudades da Terra,. D'este existem varias copias; mas o original
pára na mão do ex.°° visconde da Praia, que o comprou a José Velho
Quintanilha, que já o tinha herdado do vigario da Lagoa, o ouvidor
Luiz Bernardo, herdando-o este tambem do governador Antonio Bor
ges de Bettencourt, a quem o reitor do collegio dos jesuitas de Ponta
Delgada o offe.reeeu para que o guardasse como notavel a esta ilha,
pois era vontade do autbor que d'aqui não pasasse o seu trabalho.
A offerta do manuscripto ao governador teve logar quando este foi
intimar os padres jesuitas a embarcarem d'esta ilha na fragata—Graça,
cumprindo as ordens do marquez de Pombal, que de Portugal e seus
domínio* expulsava aquolla ordem. Ainda os bens da poderosa coiupa
nhia nSlo tinham «ido confiscai!•*, e por tanto o reitor do collegio podia
dispor n;io só. d'aquellc mas do qualquer outro valor dos padres da
eompanhia.

Das copias que existem, tem uma i> ar." José do (Janto, que era de
Jofto d'Amida, authenticada por dons escrivães ; outra é propriedade
da bibliotheca publica de Lisboa, tirada pelo corregedor Veiga.

Até este momento tôem sido malogradas todas as tentativas para a


impressão deste livro. Como fonte de documentos genealogicos, é uma
obra inapreciavel ; quanto á philosophia da historia, correçào do estylo,
nada avançamos á vista dos pequenos excerptos que conhecemos.

E bom remate desta biographia, a seguinte noticia das honras


prestadas á memoria do insigne varão, por iniciativa do esclarecido mu-
nicipio da villa da Ribeira Grande:

A 3 de setembro de 18rji3procedeu-se á exhutnaçào das cinzas d 'es


te celebre varão michaelonse, vigario que foi na matriz da villa da Ri
beira Grande, e tinha sido sepultado na capella-mór da mesma egreja,
havia 275 anncs e dez dias.
,
Apenas começada aquclla excavaoEo, se encontraram a palmo e meio
de profundidade alguns ossos corroídos envolvidos em grande quanti
dade de cal. A circumstancia de se acharem tHo pouco soterrados estos
ossos, suscitou alguma duvida sobre se seria aquelle o logar do repou
se do venerando michaelense; mas desvaneceram-sc com as seguintes
rasoes : — porque o local onde se procuraram, era o indicado pelas me
morias escriptas e pela tradição de ali se vêr a lapide sepulchral ; —
porque encontrando-se uma pedreira nó sitio onde se acharam os ossos,
isto obstaria a que se fizesse maior escavação, formando-se no centro
d'«lla logar proprio para deposito do. cadaver ; por que a pouca profun
didade a que tinha sido enterrado, motivaria o emprego da cal que se
encontrou para facilitar a consumpçao sem prejuízo da saude publica ;
— porque dona concertos que na egreja •e tem feito, poderiam ter re
baixado alguma cousa o solo; —, c finalmente porque o logar escavado
foi aquelle em que se achou o epitaphio do virtuoso e sabio vigario,
sendo ainda certo que ninguem antes, ou depois d'elle, teve ainda se
pultura na capella-mór da egreja matriz.

Este acto d* iniciativa da camara, fe«-se com toda a soleumidade,


assistindo a mesma camara, administrador do concelho, outros funccio
',Hii,is c muitos cavalheiro*.
I

Os restos exhumados foram collooados sob una munumento ,iit'(-Í!i


* no cemiterio publico da Ribeira Grande, com a seguinte inscripçào :

AQUI JAZEM AS CINZAS

DO

Rf.vd." Gaspab Fructuoso, historiador das, ilhas i>os Açmts,


F. DOUTOR GRADUADO EM PhILOSOPHIA K TmEOLOGIA,
PELA UNIVERSIDADE DK SALAMANCA,

O QUAL
Nasceu na cidade dk Ponta delgada em '1522. e falleceb
nesta villa em 24 vagosto de 1591.

Tendo recusado o bispado d'Angra, que, em seu furor, quizera re


signar o oxc.m" bispo D. Manoel d'Almeida, preferio á mitra a vigara
ria da matriz d'esta villa, que servio por 40 annos.

A CAMARA MUNICIPAL D'eSTH CONCELHO A EXPENSAS DO MUNICÍPIO, K COADJUVADA


PELOS DONATIVOS DALGUNS MICHAELBNSKS, MANDOU ERIGIR ESTE
MONUMENTO Ã MEMORIA DE VARÃO TÃO INSIGNE
EM LETTRAS E EM VIRTUDES.
1867.

Offoreceuam donativos para coadjuvar a camara ribeira-graudonse


,no monumento referido : em Ponta Delgada as exc.,■,, sr." e cavalheiros :

D. Helena Victoria Machado, 55600 rs. ; D. Maria Anna Guilher-


na Fisher, 55600 rs. ; D. Margarida Ricarda Botelho da Camara,
35600 rs. ; Antonio Cymbron Borgas de Sousa, 55600 rs. ; dr. Er
nesto do Canto, 105000 rs. ; Francisco Rodrigues de Paiva Rios,
25400 rs. ; Jacintho C. Vieira, 45800 rs.- João da Silva Cabral,
25400 rs. ; José Jacom i Corrêa, 245000 rs. : José do Canto, 1205000
rs. ; Luiz Quintino d'Aguiar, 25400 rs. ; Nicoláo Antonio Borges,
75200 rs. ; visconde da Praia, 485000 rs.
Em Villa Franca — Nuno Gonçalves Botelho d'Arruda Coutinho de
Gusmão, 145400 rs.
Na Ribeira Grande — Antonio Julio de Mello, 105000 rs. ; Diogo
Tavares do Canto Taveira, 75200 rs. ; Francisco de Paula Velho de
TUI

Mello Cabral, 6#000 rs. ; Francisco Tavares Corrêa, 30600 r«. ; revi,'
Francisco Moniz Tavares, 20400 rs. ; revd.* José Ignacio Monia, 60000
rs. ; Jorge Botelho Pacheco, 50600 rs. ; revd.° Manoel Tavares da
Rezende, 20400 rs. — Total, 2990200 rs.
O monumento foi justo por mais do dobro d'esta quantia.

OS EDITORES =

Francisco Maria Siipico.

José Pedro Cardozo.

,
u n

POR
HISTORIA GENEALÓGICA
CAPITULO PH1MEMO.

Como koi achada a ilha de S. Miguel por Fr. Gonçallo, commendador


DE AlMOLMOL, DA QUAL FOI FEITO CAPITÃO. SENDO-0 ik DA ILHA DK
Santa Maria : enviaBo pelo infante dom Henuique a este des
cobrimento.

Querendo eu contaras cousas d'esta ilha de Sam Miguel na qual vivot


disse á fama : agora Senhora vos é necessario ter mais soffrimento em
me ouvir, do que até aqui tiveste ; por que (aliando d'esta ilha, por ser
ao presente minha morada, da qual sei mais particulares ; hei de dizer
muitas miudezas, que cançam e enfadam a quem as diz, ou as escreve,
e muito mais a quem as ouve. Ao que ella me replicou : com esses en
fadamentos me dês muito embora enfado ; eu por isso os peço, quero,
e desejo, para ser aprasivel a todos—e desenfadar a uns que hão-de lou
var o bem dilo, e enfadar a outros, que se desenfadarão, com terem que
dizer e murmurar do mal leito, que é a mais doce fructa da terra.

K assim cumprirei com a obrigação do meu nome ; pois este é o


meu natural e natureza. Vós, senhora, segui a vossa, que é dizer ver-,
<lades geraes e particulares, de cousas grandes e pequenas, ainda que
não sejam aprasiveis , quando toquem em culpas proprias, e cousas sec-
cas e estereis. Mas pois eu pretendo saber todas, contai-me as mais
que puderes e souberes ; que tudo como até aqui, me será manjar
aprasivel e gostoso. Ao que respondi, dizendo : Já que quereis, senho
ra, enfadamantos, que somente pertencem aos nataraos d esta ilha, ou-
vi-os; pois não ha aldeia no mundo, da qual os seus moradores não
contem grandes fundamentos da sua primeira habitação, e alguns fin
gidos. Quero, senhora, contar d'esta ilha de Sam Miguel os verdadeiros,
pelo melhor modo que me for possível sabel-os, com muitas inquirições,
perguntas e vigias, sem ter acceitação de pessoa, para deixar de fallar a
verdade sabida : se isto de mim não crerem os maldizentes e murmu-
rudores, que nunca faltam no mundo, nem faltarão até ao fim d'elle ;
eu fico comigo satisfeito, que diante de Deos não terei culpa n'esta ma
teria, ou parte, ( aiuda que outras muitas tenha ) de affeição, nem lison-

1
ti

]•, de odio, nem vingança, de temor, nem covardia, com qae me pude-
Ta cegar ; se algumas d'estas faltas tivera, para me desviar da verdade,
das cousas que cootei, e contar quero.
Porque ainda que seja condição geral de todas as gentes, por da
rem antigos e illustres principios a sua linhagem, fabularem sempre
cousas, ás quaes a antiguidade, se não testemunha, dá licença, assim co
mo não deixei de contar a certeza do que soube dos illustres capitães da
ilha da Madeira, Santa Maria, e seus moradores, assim tambem não
deixarei de dizer, pois lallo entre vivos, que se não viram, ouviram o
que ouvi afflrmar por muito certo, a alguns antigos, dignos de lé, d'esta
ilha de Sam Miguel, do que sabiam dá origem e feitos dos seus illus
tres capitães, que dos da ilha da Madeira descendem por linha mascu
lina. E ainda que aqui nascera, sem suspeita de natural, com rosto des
coberto, sem pejo nem empacho, direi verdadeiramente todo quanto dis
ser, dos naturaes d'esta ilha, reprovando alguns fingimentos antigos,
fóra de proposito e razão, que nio levam o caminho da verdade ; apro
vando os mais racionaveis e vefdàdeiros.

Já tenho dito atràz de algumas rasões, que deram motivo ao infan


te dom Henrique para mandar descobrir a ilha de Santa Maria, e as
mesmas teve para mandar, ou para se mover ao descobrimento d'esta de
Sam Miguel ; e das mais dos Açores. Pelo que depois de achada a ilha
de Santa Maria, ordenou de mandar descobrir esta, cuja empreza com-
metteu, e encommendou a Frei Gonçallo Velho, capitão de Santa Maria,
que então eátava no Algarve. Preparadas todas as cousas necessarias
para e novo descobrimento, partio o dito Fr. Gonçallo Velho com o re
gimento, que o infante para isso lhe deu , como contam os antigos : no
navio em que vinha de Sagres navegou até se pôr quasi na altura da
ilha de Santa Maria ; vendo por seus rumos e pontos, e ao depois co m
os seus olhos, que lhe tícava da bando do sul ; navegando entre estas
ilhas ás voltas, ora com um bordo para uma, ora com outro bordo
para oatra parte ; n5o podendo vér esta ilha de Sam Miguel, nem
achando terra alguma, tornaram para o reyno. E sendo perguntados Fr.
Gonçallo Velho e o piloto, por que banda tomaram a ilha de Santa Ma
ria, disseram que pela parte do norte : ao que replicou o infante, <1>
sendo : passastes ante o ilheo e a terra ; por que chamava ilheo á ilhaí
de Santa Maria, por ser pequena, e ter noticia d'isso, pela vêr no mappa,
que tinha, ou pelas outras rasões já ditas ; e entendia por terra esta de
Sam Miguel, por ser muito maior.
D'onde muitos se enganaram e engaaam, cuidando que era o dheo
de Villa Franca, aíBrmando que entre elle e a terra d'est» ilha de Sam
Miguel passou o navio que veio a este descobrimento ; não havendo es
se passado senão por entre duas ilhas, como já tenho dito. Alguns di
zem que depois tornou o infante a mandar a Pr. Gonçallo Velho, e que
achou primeiro o ilheo de Villa Franca, onde sahio sem vêr a ilha ; fa
zendo dizer n'elle missa, sem consagrar n'elta, por lhe parecer estava no
mar como em navio, por que era o ilheo pequeno ; e acabada a missa
começara a ouvir uns grandes gritos, que entenderam ser de demonios,
os quaes gritavão e diziam : nossa é esta ilha. nossa é ; mas comtudo
desembarcaram em terra, e tomaram posse d'elta, desapossando aos-
demonios.
Outra historia quafi semilhante conta Plutarco, de gritos de demo
nios, a qual recita o magnifico cavalleiro Pedro Messias, na sua Silva —
dizendo o mesmo Plutarco : Lembra-me haver ouvido a Emiliano, ora
dor, varão prudente e humilde, que vindo seu pay navegando pelo mar
para a Italia, passando a gente da náo acordada uma noite, junto a unw
ilha chamada Paraxis, ouvio uma grande e temerosa voz, que soava.
da dita ilha despovoada, chamando pelo. nome de Atamano, que assim'
se chamava o piloto da náo, o quaf era natural do Egypto: e ainda que
esta voz foi ouvida por Atamano, e por todos, uma e oiitra vez, nunca'
ousou responder, até que ouvindo se já chamar a terceira vez, respon
deu, dizendo : quem chama ? que quereis ? Ertfão a voz soou mqito mais
alto, e disse : Atamano, o que quero é, que tenhas em todo o caso cui
dado em chegando ao golpho, chamado a La.goa, fazer saber ali, e dizer
a brados, que o grande demonio, o senhor Pam, é morto.
Ouvindo a gente da náo a morte do demonio Pnm, ficou muito es
pantada; e acordou-se entre elles, que o mestre não curasse de dizer
tousa alguma, se o tempo lhe servisse quando por alli passase, senão se
guir o seu caminho. Ma6 aconteceu, que chegados á Lagoa, logar assigna
8

lado, subitamente lhes acalmo» o vento ; de sorte que não puderam nave
gar : e vendo-se assim em calma, determinaram fazer saber a nova, que
thes fora encommendada. Pondo-se o piloto ao bordo da aia, levantou a
voz quanto pôde, e disse ao ar- Faço-vos saber, que o grande diabo Pam,
é morto; e logo que disse estas palavras, foi ião grande a multidão de
vozes e gritos, que ouvio, que atroou todo o mar. e durou aquelle
choro, que ouviram fazer, muito grande espaço : o qual ouviram com
grandíssimo medo. Fizeram sua viagem pelo melhor modo que pude
ram ; e chegados ao porto, depois de vindos a Roma, publienu-se n'el-
ta este caso por muito estranho.

Eu não somente este, mas tamhf.m o outro de dizerem, que dizendo-


missa seeca no ilheo de Villa Franca, ouviram os gritos dos demonios,
que bradavam, dizendo : nossa é esta ilha, oossa è : ambos tenho por es
tranhos, e muito alheios da verdade ; ou pelo menos, ainda que o da La
goa aconteceu premitindo Deosque os demonios fizessem aquelUa queri-
monias do seu grande diabo ser morto, de dor e pasmo, no tempo da
paixão do Salvador do Mundo, que lhes desfazia seus enganos, tirou ,o. seu
dominio e tyrannia, sem o tal diabo poder morrer na realidade. Este
d'esta ilha nunca acconteceu, nem sahio no ilheo de Villa Franca Gon-
çallo Velho, e os que com elle vinham, a primeira vez qn« • acharam.
Mas a verdade d'este descobrimento passou-se d'esta mam ira.

Ha de st! notar, como tenho contado, que sendo a ilha de Santa Ma


ria descoberta por mandado do infante dom Henrique, a proveu de gados
para multiplicarem na terra : mandou trazer cava lios e egnas, com ou
tras cousas necessarias. Vindo os navios que as trouxeram junto d elia,
com os temporaes, que Ihè deram, e não podendo soffrer a tormenta, nem
pairar nos mares, tornaram a arribar. Alijaram no meio da travessa para
salvarem as vidas, lançaram as eguas ao mar, d'onde lhe ficou o nome do
vai das eguas : o qual lhe puzeram os primeiros descobridores. N'este
tempo, ou pouco, mais alem, aconteceu na ilha de Santa Maria, por algum
delito ou falta que fez a seu senhor, fugir um escravo, preto, da geração
dos moradores da ilha, e acolher-se á serra da banda do norte ; por ser
tempo de verão, e estar o ar limpo de nevoa, rio o negro da mesma
-

serra, algumas vezes, a ilha de Sam Miguel, quando estava o tempo claro.
E depois de tornar para casa do senhor, dizia —que da serra d onde au-
dara. vira uma terra grande para a banda do norte : sendo d'isto certifi
cado o infante dom Henrique ; por esta noticia e rasãq, que lhe acresceu
as mais que entendia, posto que já tinha mandado descobrir a ilha de
cam Miguel, sem os descobridores a poderem achar ; tornou a mandar
aq mesmo Fr. Gonçallo Velho, por ser capitão da ilha1 de Santa Maria, c
já cursado n'estas viagens, no descobrimento d'esta sua visinha.

Deixando o que atraz disse dos cai thaginezes, que conjecturei have
rem sido primeiros, e antigos descobridores d'ellas, ou das mais d'estas
ilhas dos Açores, o que me parece ter sombra de verdade, p°las rasões
já ditas : e não fallando no que outros dizem, que foi esta ilha de Sam Mi
guel, antes de ser achada pelos portuguezes, setenta annos atraz, desco
berta por um grego, que com tormenta desguerrou de Cadiz, e vindo a
dar n'ella a foi pedira El-Rey, que lh'a deu, e trazendo o gado qus n'elta
lançou, logo falleceu : ficando a ilha um ermo, até ao tempo que os por
tuguezes a descobriram, e n'ella acharam ossada de gados. Na bania da
Lagoa acharam-se ossos de carneiros, pelo que lhe puzeram o nome —
Porto dos Carneiros, o que eu tenho por cousa fabulosa, e longe da ver
dade. Direi o que sei do seu descobrimento por memorias e escríptos dos
antigos, e por tradição d'elles, que de mão em mão, ou de memoria em
memoria, veio ter ás mãos e lembrança dos moradores presentes, que
n'ella vivem, e é o que se segue.

Depois de turmr Fr. Gonçallo Velho, «apitão da ilha .do Santa -Ma
ria, da primeira viagem que (et por mandado do infante ao descobri
mento d'esta ilha de Sam Migue! sem a poder achar, nem vêr, andando
perto d'ella, tavrando os mares com muitos bordos, entre ambas as ilhas.
Pelo que o infante sabia, lhe respondeu : que andira entre o ilhea e a
terra, que é a ilha de Santa Maria, e a terra esta de Sam Miguel ; e
por que lhe disseram que a vira um negro fugido, tornou, como já disse,
a mandar ao mesmo Fr. Gonçallo Velho a buscal-a, dando-lhe por regi
mento que puzesse a popa no ilheo, que é a ilha de Sanía Maria, e nave
gasse para o norte, daria na ilha, que lhe mandava buscar. O que com-

/S
10

primlo o dito Fr. Gonçallo Velho, e o piloto que trazia, por nome Vi
cente, natural do Algarve, cujo nome não soube quasi doze annos intei
ros. Depois de ser descoberta a ilha. « aos oito dias do mez de maio
de mil quatro centos quarenta e quatro, , em dia do apparecimento do
archanjo Sam Miguel, principe da egreja, foi vista e descoberta por elles
esta ilha. Que por ser achada, e apparecer em tal dia e festa, lhe foi
posto este nome de ilha de Sam Miguel, de felicíssima sorte.
Goveraova o reyno o infante dom Pedro, filho de El-Rey dom Joam.
de feliz memoria, primeiro d'estenome. decimo rey de Portugal. O qua!
se prova : por que por morte d'este rey dom Joam, reynou seu filho dom
Duarte, que morreu na cidade de Thomar, no anno de mil quatro centos e
trinta e oito: e por sua morte houvera de reynar seu filho dom Affonso,
que nasceu na era de mil quatro centos trinta e dous ; por não ter mais
que seis annos, não se lhe entregou o reyno ; mas foi entregue a seu tio
o infante dom Pedro, que governou pelo dito sobrinho até ao anno de mil
quatro centos quarenta e oito. no qual foi entregue ao dito rey dom
Affonso. Entre estes annos, mil quatrocentos e trinta e dous em que nas
ceu o principe, ou o rey dom Affonso, e principiou a governar por elle
o infante donj Pedro, e o anno de mil quatro centos e quarenta 9 oito,
em que acabou de governar, por entregar o governo ao rey dom Affon
so, se inclue e conta o anno de mil quHtro centos quarenta e quatro,
quando esta ilha de Sam Miguel foi achada, e o infante dom Pedro go
vernava o rejno. Logo no anno de mil quatro centos quarenta e nove,
o serenissimo rey dom Affonso, governando no primeiro anno do seu rey-
nado, deu licença ao infante dom Henrique, seu tio, para mandar povoar
estas ilhas dos Açores, passados alguns dias do seu descobrimento. No
anno de mil quatro centos « oitenta, outros dizem que no de oitenta e
um, falleceu o rey dom Affonso, e no mesmo anno, antes do seu falleci-
mento, fez as pazes com Casteila.
Chegando a esta ilha os novos descobridores, tomaram terra no logar
onde agora se chanca a Povoação Velha, pela que ali fizeram depois nova;
como ao diante direi: e desembarcando entre duas frescas ribeiras, de
claras, doces e frias aguas, entre rochas e terras altas, todas cobertas de
alto e espesso arvoredo,, de cedros, louros, ginjas, fayas e outras arvo
res diversas. Deram todos com muito contentamento e festa, graças a Deos,
não as que por tão alta mercê lhe deviam, se não as que podem ihr
uns corações contentes com tão grande bem, que tinham presente, de
sejado por muitos dias, com tanto trabalho, enfadamento; importunas
viagens, e por tantas vezes buscado. De crer é trariam sacerdote, que
a li dissesse missa, como alguns dizem, onde no dito logar éstá agora
uma ermida de Santa Barbara ; e (01 a primeira que n'esta ilha se disse :
mas que missa fosse,ou quem a dissesse, não se sabem essas particulari
dades, nem outras que ali se passaram, como alguns querem dizer, e
contarei ao diante.

Andaram então os novos, e agora antigos descobridores, pouco pela


terra ; por que muitos não podiam, empedidus com as mattas; outros cor
riam a costa na barca do navio, vendo despenhar nas aguas salgadas os
christaes liquidos das doces ribeiras, que por entre o arvoredo das ro
chas corriam, examinando, e observando todas as particularidades, que
podiam, e os logares desertos. Saudosos da solitaria ilha, acompanhada de
altos montes, e baixos valles, povoados de arvoredo, cuja verdura vestia
toda a terra ; daudo grandes esperanças de ser muito fertil e proveitosa a
seus moradores, que n'ella fizessem novas colonias. Dizem commumente os
antigos, que vendo muitos e bons açores, dos quaes levaram alguns no
principio para o reyno , como tinham visto na ilha de Santa Maria, cha-
maram-lhes ilhas dos Açores. O que bem podia ser. Mas o que outros
tem por mais provavel, é que por haver aqui poucos açores, e como
adventícios vinham a esta ilha d outras terras não sabidas , vendo voar
muitos bilhafres semilhantes aos açores , julgaram ser o que pareciam e
puzeram-lhe o nome de ilhas dos Açores; cujo appellido se pegou ás ou
tras ilhas de baixo, que depois se descobriram, nas quaes não faltam bi
lhafres, aves de rapina.

E não fazendo os novos descobridores detensa muitos dias, nos que


ali estiveram tomaram agoas, ramos de arvores e algum caixão de terra ,
pombos, que sem trabalho, nem laços, apanharam ás mãis; e nutras cousas
que ali acharam, paia levarem por mostra ao infante. E partiram para Lis
boa alegres com a nova que levavam : contente os recebeu, e a todos foz
12

mercês com a benignidade devida a tão bons servos, e tae• servo» me-t
reciaut: fazendo particular mercê a Fr. Gonçalio Velho, da capitania da
ilha, que novamente achara, com a outra capitania que lhe tinha dado
da ilha de Santa Maria. Com justa rasão ficou capitão de ambas ; por
que os multiplicados serviços não se pagam com singellos premios, mas
sim Min mercês dobradas.

CAPITULO SEGUNDO.

Da mais açítkía e primeira povoação, e povoadores d' esta ilha.

Depois de achada a ilha de Sam Miguel, tornando para o reyno os


seus descobridores, foram pelo mar observa ndo-a em quanto a não per
deram de vista ; e notando a sua figura viram que em cada ponta da sua
distancia tinha um pico muito alto ( assim como foram criados oara seus
extremos, eram na grandeza extremados^ grandemente levantados, e su
periores a todos os montes, que no meio tinha. Marcou-a por elles o
piloto, para ao depois melhor a reconhecer. Chegando a Sagres, como
tenho dito, e havendo o infante feito mercê da capitania d'ella a Fr. Gon
çalio Velho, juntamente com a da ilha de Santa Maria, tornou logo a
mandar, ou ao mesmo Fr. Gonçalio Velho, como piloto, ou outro piloto
sem elle, com outra companhia, a deitar gado, aves e outras cousas ne
cessarias, para provar a ventura da sua fertilidade ; tambem mandou se
mentes de trigo, e legumes. Partiram de Sagres, e navegando com pros
pera viagem chegaram á vista d'esta ilha : vendo-a o piloto, descouhe-
ceu-a, por não ter já mais que um pico na parte do oriente, e faltar-!he
o outro do poente, pelos quaes a tinha demarcado. Por que n este tempo,
em quanto foram ao reyno, e tornaram, aconteceu levantar-seofogo, arre
bentando a primeira vez sabida nesta ilha, e arder aquelle alto pico da
parte do norte, junto á ponta dos Mosteiros, onde agora se chama as
Sete Cidades, ou as sete concavidades d'elle, das quaes tratarei particu
larmente.
Dizem que o mesmo piloto, e os .1o navio viram no mar muita pe
dra pomes, e troncos de arvores, que daquelle lugar sahiram, sem en-
tenderem a cauza. Mis ainda que então e depois foram achados os sij
gnaes, e effeitos do fogo; que fez arrebentar e abaixar aqnelle pico, não
foi visto por não ser povoada a ilha no tempo, que elle arrebentou: do
qual dizia Pedro Gonçalves Delgado, e Duarte Vaz seu irmão, antigos, e
parentes dos primeiros habitadores, que elles tinham ouvido a seu pay,
que o piloto, e os primeiros que vieram povoar esta ilha a desconhece
ram por não verem já o pico, pelo qual a demarcaram por causa do fogo
que sem elles o saberem tinha antes arrebentado, sumido, e espalhado
aquelle grande pico ; comtudo sahiram em terra na povoação, onde a
primeira vez haviam desembarcado ; certificando-se neste lugar ser esta
a mesma ilha que antes demarcaram. Ali foi o primeiro assento que se
fez de povoação de gente nesta ilha ; que nella desembarcou em dia da
Dedicação do Arcanjo Sam Miguel a vinte e nove de setembro do mes-
mô anno. Povoando ali primeirOi e ao depois em outras partes, chamou-
se aquelle lugar pelo tampo adiante em respeito das outras povoações, a
Povoação Velha.' O que foi grande dom de Deos, e especial mercê feita
a esta ilha a^har-se rio dia do appareciriiento de Sam Miguel, e torriar-se
a achar, e povoar no dia da sua dedicação, para se dedicar toda a este
Santo Arcanjo principe da Igreja, e telo por seu padroeiro, e patrono,
pois é sua chamando-se do seu nome.
Morando no mesmo lugar os descobridores nas suas cafuas de palha
e feno, ouviram quasi por espaço d'um anno tão grande ruido, brami
dos, c roncos que dava a terra com grandes tremores ainda procedidos
da subversão e fogo do pico antes sumido; que estando todos pasmados,
e medrosos su^ontando a vida com muito trabalho assentaram tornar pa
ra o reyno ; mas por falta do embarcação, o não fizeram : tinha-se au
sentado o navio, em que haviam vindo. E porque neste principio ha va
rios pareceres com diversas circumstancias dil-os-hei aqui todos, para
que cada hum tome e escolha delles o que mais lhe quadrar, e parecer
verdadeiro. Huns dizem que os primeiros habitadores que neste navio
vieram, e dezembarcaram nesta ilha foram Jorge Velho, e sua mulher
Africa Anes, Pedro de Sam Miguel, e sua mulher Aldonsa Roiz, Joam
u

de Rodes, e Joam de Royoles, outros dizem de Araujo, todos naturaes


da Africa, criados do infante dom Henrique ; porque mandava fazer ex
periencia da terra. Estes dizem foram os que fizeram justiça na ilha, e
enforcaram um homem em huma arvore na dita povoação : e foram os
que fizeram depois de morto o homem um processo das suas culpas,
como dizem se faz algumas vezes em Castella; e porque alegava defeza,
responderam: julgar-te, enforcar-te, e depois tirar-te inquiriciones.
Desta doutrina não podia deixar de ficar em bom foro a terra ; por
que se a observara enforcando logo aos malfeitores, e ladrões, que se
acham com o furto nas mãos, não andaram agora muitos nella a furtar
o fato alheio sem haver um castigo. Parece que como toda a couza vio
lenta não é perpetua, foi tão violenta neste principio a justiça na ilha,
que não poude durar muito tempo. Dizem outros que logo depois de acha
da esta ilha de Sam Miguel, e antes de ser habitada, sendo já povoada
a ilha de Santa Maria alguns annos, se affeiçoou nella hum homem com
huma mulher cazada. elhe matou o marido, pelo que se poz com ella
amante; e deu conta do successo a hum seu amigo pedindo-lhe favor, e
ajuda para escapar das mãos da justiça. Concedendo-lhe o amigo o seu
favor, ordenou tomar uma noite hum barco, como tomou, no qual em
barcaram ambos com a adultera, e partiram para esta ilha, que da de
Santa Maria tinam visto.ou ouvido dizer que se via,e tomaram a Povoação,
que é o porto mais perto e direito. Não passou muito tempo que o in
fante dom Henrique mandou gente para a povoarem, que desembarcou
no mesmo porto da Povoação, onde acharam rasto, e signal de gente na
area, e na terra, do que se maravilharam muito.
Mas os taes criminosos não appareciam senão a fazer-lhes alguns sal
tos no fato, e mantimentos, que tinham, nlo ouzando apparecer, pelo
mal que obraram. Porque, dizem, este amigo do matador se namorara
da dita mulher, o que elle sentio, e matou-o, tirando por amor delia a
vida a dous homens. Pelas ollensas e saltos que lhe fazia armnram-lhe la
ços, e buscaram todos os meios para o apanharem, como apanharam.
Outros dizem que a mulher enfadada de andar com elle nestes trabalhos
em huma terra deserta, o deixára buscando a gente, ou que os apanha
ram ambos ( ignorada a certeza, e verdade) mas dizem que ella desco
15

brio lodo o caso, como se passara na verdade, pelo que o enforcaram sem
mais processo de justiça. Dizem tambem outros que dez, ou doze ho
mens casados vieram com suas mulheres e filhos, de Santa Maria, 8 fize
ram assento na Povoação Velha ; e porque vinha na sua companhia hum
homem solteiro, e não queria trabalhar, nem montear com elles, mas
ficava sempre nas pousadas, que eram cabanas de palha, feno, ou rama;
temendo-se deste mancebo por ficar-se com suas mulheres, ordenaram
entre todos buscar modo para o castigarem por se verem livres do re
ceio que tinham. Fizeram entre si juiz, escrivão, e alcaide, e dizendo-se
que commettia adulterio, foi sentenciado á forca, como logo o enforcaram
em uma arvore : e por esta causa os mandara ir o infante D. Pedro, Re
gente, amarrados para os castigar, se não os patrocinassem os infantes, e
principalmente o infante dom Henrique seu irmão, que lhes deu, e alcan
çou perdão para todos.

Contam outros que alguns annos depois da ilha de Santa Maria ser
povoada se namorou um mancebo de uma moça filha de certo homem
principal da terra : e como ambos não podessem gozar d* seus amores,
nem satisfazer os seus desejos, determinou o mancebo furtal-a, e leval-a
para fora da ilha, para o que descobrio seu intento a hum amigo, por
cujo conselho tirou a moça de casa de seu pay ; e com ella vieram em
um pequeno barco para esta ilha de Sam Miguel, que então não era po
voada, ainda que havia dias estava descoberta, e muitas vezes se via da
ilha de Santa Maria. Parece vieram estes namorados em quanto o navio
que a descobrio foi ao reyno, ou depois de ter já o infante mandado lan
çar muito gado nesta ilha. Chegou o mancebo com a sua esposa, e
amigo a esta costa, desembarcaram na Povoação, e caminhando pela ter
ra dentro, fizeram entre as espessas matas umas pequenas choupanas nas
quaes viviam : passados alguns mezes peleijou o mancebo com o amigo
s>obre a moça, e matou um ao outro. Neste tempo chegou ao mesmo
porto um navio do reyno com gente que mandava o infante para povoar
a ilha : viram a grandeza da terra, a frescura da ribeira, que neste por
to entra no mar ; fizeram junto da mesma ribeira casas cobertas de pa
lha, que logo na primeira noite foram queimadas pelo homem, que es-

* . ')
16

tava na terra, por cuja causa, e mais suspeitas e receios, que delle tive
ram os novos povoadores, o prenderam em um cepo, que lhe armaram,
e enforcaram-no em uma das muitas arvores que ali havia. Consideran
do depois o mal que obraram, assentaram fazer autos do morto, e tirar
devassa; tirada esta sahiram com um, despacho sem appellação, como
dizem fez Joam do Monte a Melchior Martins na Lagôa.
Dizem que estes mesmos da primeira povoação foram os primeiros ,
que sainearam trigo, e os campos onde a samearam eram tão abundan
tes, e ferteis, que não. criava o trigo espiga; mas fazia canna grossa,
coberta de grandes e largas folhas, como dizem aconteceu no Brasil ;
feita esta, experiencia .escreveram ao. infante dizendo que a terra não era
capaz de ser povoada, pois não dava trigo, era muito estreita, um lom
bo de serra, e lhes desse licença para tornarem para o reino. Ainda que
afflrmavam dar com abundancia muitos legumes, como cbicharos, lenti
lhas, favas, e ervilhas, e o gado multiplicar tanto, que, do. pouco que
sua alteza mandara lançar, na terra, estava toda' cheia. Respondeu o in
fante que bastava dar legumes, e multiplicarem os gados tanto, como
aífirmavam. Demais se não dava trigo naquella parte pela fertilidade do
logar, que o daria em outra, como se vio d'ali a poucos annos ; pois dis
correndo estes novos povoadores pela costa em um batel, vieram ter a
uma pequena praia que tinha ao mar fronteiro um ilheo não' muito apar
tado delia onde desembarcaram; observando a terra com attenção- acha
ram um targo o espaçoso campo, determinaram cnltival-o, o sernearam-
no de trigo, o qual rendeu tanto, que os poz em admiração : a uma vil-
la que depois se edificou nes'.e campo chamaram Villa Franca do Cam
po; porque foi nelle fundada.
De todo o sobredito se infere, que o homem que veio da ilha de
Santa Maria, foi o povoador desta ilha, e o primeiro que neMa- levantou
casa ; e os que ao depois vieram foram os segundos povoadores, com
os quaes ficou a mulher que veio furtada da mesma ilha de Santa Ma
ria, ou fosso casada, ou solteira.
Ainda que a povoação, que agora chamam Velha, não desse trigo
B aquelles primeiros annos que o semearam, comludo deu-o ao depois
,

ein grande abundancia, e o melhor da illia, como são todas as cousas


fjuc a terra n'aquella parte cria, e fructifica sempre mais avantajadas
na bondade, e melhores de todas. Outros alfirmam que depois de des-
cuberta esta ilha de Sam Miguel, e lançados u'ella gados, ( BãO' podia
ser passado muito tempo do descobrimento, porque segundo dizem, os
carneiros que deitaram na Lagoa, ali os acharam juntos com alguma
multiplicação, sem se espalharem pela ilha : pelo que se chama aquelle
lugar Porto dos Carneiros ) , veio um Gonçalo Yaz, o grande, que de
pois foi ouvidor do capitão nesta ilha, povoal-a por mandado do infante,
de cuja casa era, e achou estes carneiros discorrendo a costa. Dizem
que este Gonçalo Vaz ( \ny de Gonçalo Yaz, e moço de Nuno Gonçal
ves, que ao depois se chamou de Rosto de Cam, foi o primeiro homem
que nasceu nesta ilha, pay de Joam Gonçalves, e Francisco Gonçalves ),
foi o primeiro que fez a Povoação velha, e vinha em sua companhia Af-
fonso Nunes do Penedo, e Rodrigo Affonso, Affonso Annes Columbrei-
ro, Vasco Pereira, Joam Affonso de Beleira, Pedro Affonso, João Pires,
Gonçalo de Teves, almoxarife, Pedro Cordeiro, seu irmão, escrivão do
almoxarifado, e tabellião publico em todas estas ilhas dos Açores acha
das, e por achar, e os naturaes d'África que jà disse, e outros, cujos
nomes ignoro, todos gente nobre di casa do infante dom Henrique.
Desembarcaram em terra alem da ribeira da Povoação, que fica da
parte do oriento junto ao.logar donde está a ermida de Santa Barbara ;
apartaram-se as mulheres para o feno que ali havia muito comprido. . A
mulher de Gonçalo Yaz, o grande, com grande sobresalto e medo
achou entre o feno um homem morto, e gritando chamou ao mari
do, e mais companhia: acudiram logo todos, e pasmaram vendo um ho
mem morto em uma terra deserta; confusos julgaram diversos parece
res, persuadindo-se, ou temendo houvesse algum gentio nesta ilha ; por
cuja causa se vigiavam ; até que veio o homem que o matou ter com el-
les, e descobrio a verdade : compadecendo-se delle deixaram-no andar
na sua companhia sem lhe fazerem mal algum. Mas a mulher sua amiga,,
não ouzando aparecer de vergonha, caminhou por um escalvado até uma
ribeira da p?rte do norte, aonde ao depois a foram achar uns hoineus,
18

buscando-a pelo immenso caminho ; acharam-na muito disforme, negra,


e descorada por falta dos mantimentos, e comer somente fruta da terra,
a que chamam tomania, ou uvas da serra, da qual ha muita quanti,lade
em toda a ilha ; comia tambem lapas junto ao mar, ou algum marisco.
Á ribeira chamaram ribeira da mulher, como hoje se intitula ; e o ho
mem homicida, indo elles a montear dentre os matos, roubava aos alheios
as cafuas de palha, e feno, queimando-lhes algumas, e furtando-lhes ò
mantimento, e fato sem o poderem depois colher ás mãos, porque se
escondia nas brenhas, d'aquelle esptsso e alto mato, que cobria toda a
terra. Usando porem de manha embarcaram-se em um batel, correram
a costa fingindo iam descobrir alguma cousa ; deixaram suas espias na
terra, e vendo-os o matador navegar foi ás cafuas, onde o apanharam as
espias ; por não haver cadeia para o prenderem consultaram todos entre
si, que pela inquietação que lhes dava, furtos que fazia, e morte do com
panheiro, que com etle viera de Santa Maria, o enforcassem.
Assim o fizeram porque o enforcaram logo, sem mais forma, nem
figura de juizo, em um zimbro grande que estava em uma quebrada da
terra, como baixa rocha junto a outra ribeira mais pequena, que está
para o occidente, entre a qual e outra grande ribeira está a Povoação
Velh3,ainda qt.e alguns dizem foi a forca em uma faia. Os mouriscos da
Africa, que o infante mandou de sua casa na companhia de Gonçalo Vaz,
o grande, seu criado, diziam n'aquelle auto de justiça : forcate, forcate,
e despoes tirate inquiricion. O que assim fizeram, pondo por obra o que
elles diziam de palavra, depois de enforcado o paciente fizeram auto das
suas culpas, e mandaram-ras ao infante, que houve por bem feito, e
aprovou sua morte. Alguns querem dizer, estranhou o regente este fac
to, e os mandava ir presos ; mas por rogos do infante dom Henrique seu
irmão lhes pordoou ; por dizer tinha necessidade d'elles para povoarem
a ilha ; alem de fazerem justiça, no que obraram, ainda que não guar
dassem a ordem, que nella se deveobservar.
Outros referem o mesmo por diverso modo (como acontece muitas
vezes, que uma cousa vista, ou ouvida de muitos, conta-se por diversa
maneira ) dizendo que- veio Gonçalo Vaz, o grande, por mandado do in
19

fante povoar esta ilha de Sam Miguel, e sahmilo alguns na Povoação em


terra com suas mulheres, acharam entre o feno um homem morto : e
como o achassem, temeram, e recolheram-se aos navios. No outro dia
tornaram a desembarcar com armas, a descobrir terra, e saber se era
povoada de gente e qual seria. Com esta resolução correram todas as
veredas, e logares por onde lhes parecia se poderia servir a gent<,, ha-
vendo-a na terra. Acharam somente tres rastos, dous granles e um pe
queno, a saber dos dous homens, e da mulher. Assim estiveram tres ou
quatro dias suspensos, sem verem pessoa alguma ; mis comtudo vigia-
vam-se, dormiam sempre nos navios. E passados oito dias sahio-lhes ao
encontro um honmm, que posto em tormentos confessou matára ao de
funto, que acharam, para gozar de sua amiga, a qual o mesmo morto
trouxera da ilha de Santa Maria, em cuja companhia elie viera; e aca
bando de fazer esta confissão, Gonçalo Vaz, o grande, o mandou enforcar
cm uma ginjeira, que ali estava, ao depois mandou vir o marido da
mulher de Santa Maria, distante d'esta ilha desesete legoas de um por
to ao outro, e entregou-lh'a reconciliando-a com elle, e faiendoos ami
dos.
Contam mais que semeára Gonçalo Vaz, o grande, e os que com
elle vieram trigo na Povoação Velha, e lhe dera a terra bom e muito tri
go ; mas que no segundo anno, por Deos Nosso Senhor não ser servi
do habitassem naquelle logar, lhe não dera senão joio, e aveia : e d'ali
hindo correndo a costa para o poente foram dar no ilheode Villa Fras
ca, sahiram defronte deite para terra, o ahi habitaram sameando e culti
vando o campo, qua lhes respondeu com muitas e abundantes novida
des.
De Villa Franca vinham correndo a costa em barcos, e sahindo em
Ponta Delgada, cinco legoas distante da mesma Villa , chegaram á ponta
de Santa Clara : montearam entrando pela terra dentro um tiro, ou tiro
. e meio de besta, sem poderem entrar mus porque os impediam os ma
tos. Estavam dois e tres dias, carregavam os barcos de porcos montezes,
e tornavam para suas casas bem providos. D'esta maneira contam di
versas cousas ; mas os mais dizem, que hiuve daas povoações.
Na primeira desembarcaram os naluraes d'Africa, logo quando ô
irifínte mandou lançar o gado nesta ilha, não tanto para a povoar, como
para experimentar a terra, como íica dito : cs quaes dizem ser cavalei
ros lidalgos da Africa, que trouxe o infante dom Henrique da mesma
Africa, quando por ella passou : e a um de quem fiava mais fez regen
te dos outros, dandollie poder para os governar, e ter debaixo de sua
obediencia. Achando-se este homem atraz dito, do qual se suspeitava
mal, perguntou o regente mourisco aos outros, que peru merecia quem
fazia adulterio? Responderam : o Rey manda dar morte de forca ; e ou
vindo elle a resposta, mandou-o enforcar, sem mais autos, nem inquiri
ções, ou eeremonias. Na segunda povoação desembarcou Gonçalo Vaz,
o grande, homem muito honrado, e principal dos da casa do infante
dom -Henrique, com os mais sobreditos da sua companhia, tambem ho
mens principaes e honrados, uns da casa do infante, tfutros naturaes do
Algarve, que o dito infante mandara para povoarem esta ilha. Delles, e
dos outros que vieram primeiro, se começou a fazer a povoação da ilha,
que ao depois se estendeu por toda a terra com nobre geração : afóra
outros homens tambem fidalgos, e honrados, que ao depois vieram d ou
tras partes, uns solteiros, outros casados com seus filhos, e filhas, como
ao diante direi.
Parece que Gonçalo Vaz, o grande, veio na era de mil quatro cen
tos quarenta e nove, pelo que no primeiro capitulo, Livro segundo, dé
cada primeira da sua Azia, diz o douto e curioso Joam de Barros em
algumas lembranças e livros d* Fazenda de el-Rey dom AlTonso quinto
deste nome. Somente acho que no anno de mil quatro centos e quaren
ta c nove deu o Rey licença ao infante dom Henrique para que podes-
se mandar povoar as ilhas dos Açores ; as quaes já n'aquelle tempo
eram descobertas ; e n'e!las se tinha lançado algum gado, por mandado
do mesmo infante, por um Gonçalo Velho Comendador de Almourol,
junto á Villa de Tancos, ou se não veio Gonçalo Vaz neste anno em que
o Rey deu esta licença, que foi o primeiro do seu reynado, sendo elle de
desesete annos depois de sahir da tutoria, e tomar posse do governo do
royno ; vieram logo no seguinte, ou não tardou muito porque para isso
21

se dava licença, para se dar a execução à povoação das ilhas, da qual


o infante dom Henrique era muito curioso, e cuidadoso; por gozar mais
depressa do fructo dos trabalhos do seu descobrimento.

CAPITULO TERCEIRO.

Dos DOUS CAPITÃES PRIMEIROS DA ILHA DE SaNTA MaMA E DA De SaII


Miguel. Da progenie dos Velhos, donde elles descendem, e os
DESTAS DUAS ILHAS, QUE DELLES PROCEDEM.

Como diz o douto Joam de Barros, muito aproveita a lição da his


toria, para virem os cursados nella a grande acrescentamento da fazen
da, o estado de honra. Como Marco Tulio, a quem uma das cousas que
o poz em dignidade '.onsular, e a maior d'aqiiellas idades, foi o grande
conhecimento das familias, linhagens, propriedades, c outros negocios pu
blicos do povo romano : sem as quaes cousas, o seu orar, fora edifício
sem fundamento, telhado sem paredes, folha sem tronco, rama sem raiz,
polpa sem ossos, carne sem nervos, musica sem compasso. Pelo que
direi aqui da progenie dos antigos descobridores, e povoadores d'esta
ilha ; principiando na geração e appellido dos Velhos , donde descendeu
o primeiro capitão d'ella Fr. Gonçalo Velho, commendador do Almou-
rol, que no principio a descõbrio, e povoou com os mais, que ao depois
a ella vieram. Os parentes d'esla ilha ( como as arvores d'ella estavam
no principio travadas com os seus ramos) estão tão enleados uns com
outros, que se foram mais frescos, e não foram discorrendo já do quar
to gráo por diante, escassamente se pudera contrahir matrimonio entre
pessoas nobres, e principalmente os da progenie dos Velhos, appellido do
primeiro capitão, que a veio descobrir e povoar.
Para alguma clareza se deve not3r. que houve em Portugal um fi
dalgo por nome Martinho Gonçalves de Travassos, casado com uma fi
dalga chamada Dona Cathariua Dias de Mello, os quaes tiveram dois íi-

v
22

lhos, um chamado Nuno Martins de Travassos, fidalgo tão abalisado no


reyno, e de tanta valia, que teve por seu pagem a um Fernando Roiz
Pereira, que ao depois deu por parente aos Pereiras, e foi aio da du-
queza infanta Dona Beatriz, mãedeel-Rey dom Manoel, e creou aos in
fantes seus filhos : e outro fidalgo Fernando Velho, casado com uma
fidalga chamada dona Maria Alves Cabral, filha do senhor do Belmonte,
que tivera os filhos seguintes : — Primeiro, Gonçalo Velho Cabral, cha
mado o famoso commendador do castello de Almourol, senhor das Pias,
Bezalga, Cardiga, capitão commendador d'esta ilha, e da de Santa Ma
ria. © segundo, Alvaro Velho, de quem não soube a descendencia, por
ficar em Portugal. A terceira, dona Tareja Velha, que casou com um
Fuão Soares, do qual nasceu Joain Soares d' Alhergaria, que depois foi
capitão d'estasduas ilhas, Sam Miguel e Santa Maria, por lhas deixar
seu tio Gonçalo Velho. A quarta filha de Fernando Velho e de dona
Maria Alves Cabral chamou-s*e dona Violanta Cabral. A quinta dona
Leonor Velha, e não sei se tiveram mais filhos.
Dona Violanta Cabral casou com Diogo Gonçalves de Travassos, fi
lho de Martinho Gonçalves de Travassos, e de sua mulher dona Catha-
rina Dias de Mello. D'este Diogo Gonçalves de Travassos, e de dona Vio
lanta Cabral, nasceram os filhos seguintes : Ruy Velho de Mello, a quem
Gonçalo Velho poz a commenda do castello de Almourol do senhorio das
Pias, Bezalga e Cardiga. Este Ruy Velho foi estribeiro-mór do serenis
simo Rey dom Joam, segundo d'este nome : teve um filho natural, e
uma filha, o filho chamado Simão Velho, viveu em Thomar, e foi á ín
dia, donde veio muito rico. A filha chamava-se Violanta Velha, e foi
casada com Francisco Botelho, que d'ella teve nobres filhos. Por morte
de Ruy Velho, que não casou, teve estas commendas dom Nuno Ma
noel; e ao depois o conde de Redondo. Tiveram mais os ditos Diogo
Gonçalves de Travassos, e dona Violanta Cabral, estes filhos — Pedro
Velho, Nuno .Velho, dona Catharina Velha Cabral, dona Leonor Velha
Cabral ; Pedro Velho de Travassos, e Nuno Velho vieram para estas
ilhãs com seu tio Gonçalo Velho, e n'ellas casaram como ao diante di
rei.
23

Dona Catharina Velha Cabral casou com um fidalgo, cujo nome ig-
poro ; teve a dona Catharina que casou com Martinho da Silveira, do
qual houve a Manoel da Silveira, capitão maior que foi do mar da In-
dia, e a mulher de Nuno da Cunha, que foi vice-rei da índia, e não sei
se teve mais filhos. Dona Leonor Cabral casou com outro fidalgo, cujo
nome não soube; d'elles nasceu uma filha por nome dona Cecilia, a qual
casou com Francisco de Miranda, de quem nasceram Diogo de Miranda,
e Pedro de Miranda, deão da sé de Évora. Diogo de Travassos, como
fica dito, filho de Martinho Gonçalves de Travassos, e de dona Cathari
na Dias de Mello, foi védor do infante dom Pedro, regente do reyno, e
seu escrivão de puridade, aio e padrinho dos filhos do dito infante, e
do conselho de el-Rey dom Affonso, quinto d'este nome ; jaz sepultado
no mosteiro da Batalha, defronte da porta da capella de el-Rey dom Joam
primeiro, e dos infantes seus filhos, da parte de fóra. Tem sobre a cova
uma campa com uma grande lettra D., que significa o seu nome Diogo ;
a qual lettra lhe mandou pôr o Rey, por ser muito privado seu ; tanto
que adoecendo mortalmente, o foi visitar a sua casa o mesmo Rey em
pessoa. Era homem grande de corpo, bem disposto, gentil-homem, va
lente, e forçoso ; com as quaes partes servio bem ao Rey nas guerras
com Castella ; e foi por seu mandado com o infante na tomada de Ceu
ta, onde foi armado cavalleiro pelo dito infante ; pelo que, era muito
favorecido dos principes.
Era Gonçalo Velho, o famoso commendador de Almourol, e pri
meiro capitão que foi da ilha de Santa Maria, e d'esta de Sam Miguel,
tão valente de sua pessoa, que mandando el-Rey dom Joam correr tou
ros em Évora, mandou elle fazer um cadafalso para levar a vel-os umas
sobrinhas suas, dona Cecilia, e dona Catharina, e outras parentas. Es
tando já o curro serrado entrou elle com as sobrinhas, c passando com
dous pagens, que iam diante para o cadafalso, estava para se correr um
touro, poderoso e bravo; mandou el-Rey o lançassem no curro a Gon
çalo Velho, que ia passando com as sobrinhas. Tanto que o touro entrou
no curro foi arremettendo a elle ; recolheu com o braço esquerdo para
traz aos pagens junto das sobrinhas : e chegando o touro jà muito perto
24

abaixando a cabeça, e fechando os olhos como costumam para o acom


metter, lirou elle d'um terçado, que leveva na cinta, e dando-lhe um
golpo no gerjilho, junto dos galhos, no logar onde lhe dão quando os
matam, derrubou lhe a cabeça, de maneira que cahio o touro por terra
perneando, e acabando a vida. Alimpou o terçado no mesmo touro com
muita quietação, dizendo: Os rapazes que cá vos mandaram, outro tanto
lhe fizera eu, se cà os spanhára. Levou as sobrinhas ao cadafalso. Joam
Roiz da Camara, quarto capitão d esta ilha de Sam Miguel, contava pela
ouvir na corte, onde andava, esta historia miudamente.

Sendo este Gonçalo Velho commendador de Alm< urol. como era


muito privado da casa do infante dom Henrique, que mandou descobrir
estas ilhas ; c brigando certa hora com uns fidalgos da casa do mestre
de Santiago, que foi antes de dom Jorge, filha de el-Reydom Joam, (ouj
tros dizem que do mesmo dom Jorge, o que parece não ser este ) sobre
qual d'elles era maior senhor, — se o infante dom Henrique, se o dito
mestre de Santiago : affrontados elles das palavras, que Gonçalo Velho
lhes dissera, indo elle para a sua commenda de Almourol, acompanha
do de vinte homens de cavallo, fora outra gente de pé : recolheu-se em
certa pousada, e passando de noite resava vesperas, e completas por
umas horas : atiraram-lhe por um buraco da porta com uma besta ; e o
quadrelho lhe deu, e pregou nas oras por onde resava, sem lhe fazer
damno algum. Chamando então pelos criados, sahio com elles a cavallo
buscando os contrarios, sem os poder achar ; somente sendo já manhã
viram uns signaes das ferraduras, e tropel dos cavallos, que se iam re
colhendo, por de dia o não ousarem acommetter, senão de noite com
espias diante ; por conhecerem do dito Gonçalo Velho ser ião v ,lente, e
esforçado de sua pessoa, qae não podiam d'elle de dia tirar o melhor,
rosto a rosto ; e por isso o foram acommetter á traição de noite.

Era Gonçalo Velho de tantas forças, que podia espremer um ho


mem, e esmiuçal-o entre as mãos ; alem d'isto muito animoso : pelo que,
foi de noite no alcance, buscando aos seus contrarios, o que, d'alguns
foi taxado, e julgado por temeridade, porque fôra possível serem tantos
seus inimigos na cilada, q' o puderam tomar aquella noite. Mas. 0 grande
$5

esforço, animo, e valentia, que tinha, o fez commetter, sem estimar, nem
temer aquelle perigo. E por ser <i'esta qualidade e de tão boas partes,
'era muito privado do infante dom Henrique, e foi enviado por eMe a des
cobrir estas ilhas de Santa Maria, e Sam Miguel, que descobrio, e foi
fpito capitão d'ellas, trazendo comsigo aos ditos dous seus sobrinhos,
Pedro Velho e Nuno Velho. Tornando para o reyno por não se conten
tar viver em terra erma, senão na corte onde se criára nas abas dos
principes ; fizera os sobrinhos capitães, um d'uma, outro d'outra ilha,
mas o infante acabou com elle, que fosse capitlo d'ellas outro seu so
brinho, que andava em casa do mesmo infante, chamado Joam Soaresde
Alhergaria, filho d 'outra irmã do dito Gonçalo Velho, e irmão da
dita dona Violanta., mulher de Diogo Gonçalves de Travassos, atraz dito.
O qual feito depois capitão pela renuncia de seu tio, que ficou ém Portu
ga^ onde falleceu sem ter filhos; veio moiar a estas ilhas, governan-
do-as com muita prudencia e deligencia, residindo principalmente o mais
do tempo na ilha de Santa Maria, por ser mais povoada n'aquejle tempo.

Dos filhos que teve disse já tratando da ilha de Santa Maria ; pelo
que agora não direi maisd'elles, remettendo-me ao que tenho dito, nem
agora tornei a fali ar n'elles, senão pôr haverem sido dos primeiros ca
pitães d'esta ilha de Sam Miguel ; sendo Gorçalo Velho, primeiro, e seu
sobrinho Joam Soares, o segundo. Dos sobrinhos de Gonçalo Velho, cha
mados Pedro Velho Cabral, e Nuno 'Velho "Cabral, procederam os Ve
lhos d'estas ilhas de Santa Maria e Sam Miguel, como agora direi, alem
do que tenho dito d'elles, na historia da ilha de Santa Maria, já contada.
Dos dous filhos de Diogo de Travassos, e de dona Violanta Cabral, so
brinhos do capitão Gonçalo Velho, que com elle vieram a estas ilhas, e
houveram de ser capitães d'ellas, se o infante o consentira, o Pedro
Velho n'esta ilha de Sam Miguel fez a ermida de Nossa Senhora dos
Remedios da Lagôa, e jaz sepultado nella : viveu ali perto d'onde tinha
as suas terras ; não sei com quem foi casado. Mas da sua mulher, ( que
diz o capitão Manoel Rebello da Camara, que possue a sua terça, s,er
Catharina Affonso ) houve dous filhos, a saber — Gonçalo Velho, e Es
tevão de Travassos : e tres filhas, a saber — a mulher que foi de Joam
2G

Alves do Olho, e a mulher de Joana AlTonso, o Corcos por alcunha, que


era tambem da casta dos Velhos, e a mãe de Joam Velho Cabral, cujas
foram as casas, que agora são de Jeronymo Luiz, filho de Sebastião
Luiz, e genro de Aires Lobo.

Gonçalo Velho, filho de Pedro Velho, foi casado com uma mulher
da geração dos Amados, chamada Catharina Alves de Benavides, da
qual houve os filhos seguintes ; a saber — a mulher de Jorge Nunes Bo
telho, que se chamava Margarida Travassos, e Lopo Cabral de Mello, e
Thereza Velha, que casou com um letrado, chamado Antonio Alves, fi
lho de Joam Alves, do pico que arde da Ribeira Grande, e casou segun
da vez com Sebastião Fernandes de Freitas ; dos quaes não houve filhos.
Amador Travassos, filho de Gonçalo Velho, casou com Maria de Olyva,
na Africa, onde esteve muitos annos em serviço do Rey, e de lá a trou
xe, da qual houve a Hecudiano Cabral, sacerdote, e Affonso de Olyva,
Nuno Travassos, o uma filha, que se chama Briolanja Cabral ; a qual ca
sou com Pedro Castanho, homem de grandes espiritos, e outra filha cha
mada Margarida Travassos, que casou com Miguel Fernandes, filho de
Sebastião Fernandes de Freitas, e outra filha chamada Roqueza Cabral,
que casou com Antonio Corrêa de Sousa. Estevão Travassos, filho de
Pedro Velho, casou com Catharina Gonçalves, filha de Gonçalo Annes,
e de Cítharina Affonso, naturaes da cidade do' Porto, de quem houve
filhos Pedro Velho de Mello, Joam Cabral, Amador Travassos, sacerdote,
vigario que foi em Sam Roque : e filha Philippa Travassos, mulher de
Joam Cabral, que não houvera filhos.
Joam Cabral casou com uma filha de Vasco Vicente, da villa d'Agua
do Pao, irmã do padre beneficiado Manoel Vaz, na villa da Ribeira
Grande : houve de seu marido muitos filhos e filhas ; e Branca Velha
mulher de Christovão Roiz, do qual houve alguns filhos e filhas. Pedro
Velho de Mello casou em Lagos, com uma nobre mulher, a quem não
poude saber o nome.da qual houve duas filhas, Violanta Cabral, mulher
de Manoel Roiz, o Saramago de alcunha, e outra que se chamava An
tonia Travassos, que casou. .tom Manoel Fernandes, filho de Joam Fer
nandes, de Santa Clara. Violanta Velha, filha de Pedro Velho, sobrinha
27

do primeiro capitão da ilha de Santa Maria, e d'esta tio Saia iiiDuui,


chamado Gonçalo Velho, commendador de Almourol, casou com Joain
Alves 'do Olho, de quem houve quatro filhos, e uma filha, que casou
com Pedro da Costa.de Villa Franca do Campo. O primeiro filho, cha
mado Alvaro Velho, casou com Margarida Alves, de quem houve estes
filhos, a saber — Gaspar Velho, Balthasar Velho, Sebastião Velho, Joana
Cabral, Violanta Velha, e Maria Fernandes. O segundo filho, chamado
Ruy Velho, foi casado com Guiomar de Teves, filha de Pedro de Teves,
da Calheta da Meza, filho d'um homem a quem não soube o nome, da
casa do Rey de Castella, d'onde veio fugido a esta ilha, no tempo das
communidades, e casou aqui com Izabel, ou Guiomar Franca.
Houve o dito Ruy Velho de sua mulher os filhos seguintes : o pri
meiro chamado Pedro Velho, que casou com Leonor Pereira, do quem
teve quatro filhos, e uma filha ainda de pouca idade. Houve mais Ruy
Velho uma filha, por nome Violanta Velha, que casou com Gomes Gon
çalves, morgado, de quem houve tres filhos, e uma filha : um d'elles
chamado Joam Velho, que casou com uma filha de Manoel Aflbnso, de
quem teve um filho, e uma filha. Outro filho de Ruy Velho, e Guiomar
de Teves, chamado Amador Velho, casou em Portugal com Izabel da
Costa, de quem não teve filhos. Outro filho chamado Ruy Velho, comu
seu pay, casou com Anna d'Aguiar, de quem teve dous filhos de pouca
idade. Outro filho de Ruy Velho, chamado Sebastião Velho, casou com
Briolanja Alfonso, filha ite Pedro Affonso Pereira, e de Guiomar Fer
nandes, da qual houve tres filhas e um filho.
Outro filho houve Joam Alves do Olho de sua mulher Violanta Ve
lha, chamado André Travassos, que casou com Izabel Roiz, de quem
houve um filho, chamado Joan. Travassos, e uma filha por nome Vio
lanta Velha. O quarto filho de Joam Alves do Olho, e de Violanta Ve
lha, chamado Pedro Velho, foi casado com Beatriz Paes, filha de Joam
Paes, cidadão da cidade do Porto, e de sua mulher Clara Gonçalves : o
qual Pedro Velho houve estes filhos — o primeiro, Salvador Paes, que
casou em Portugal. O segundo Paes que falleceu menino. O terceiro,
Joam Paes, ainda solteiro. O quarto, Sebastião Velho, que ca^ou em
28

Grã-Canaria. O quinto, Antonio Paes, que foi para as lu,lias de Cis-


tella. O sexto, Pedro Velho, meirinho das execuções nesta ilha de Sam
Miguel, que foi preso na cidade de Angra, por ser da parte de el-Rcy
Philippe ; o qual por isso lhe fez mercê do habito de Santiago, com
vinte mil reis de tença. Houve mais Pedro Velho de sua mulher Beatriz
Paes Velha uma firha, chamada como sua mãe Beatriz Paes, que casou
com Christovão d'01iveira, filho de Manoel dOliveira, escodeiro-mór,.
na Ribeirinha, termo da Ribeira Grande, de quem não teve filhos.

A mulher de Joam AlIonso Corcos filha de Pedro Velho, chamada


Leonor Velha, teve estes filhos. A saber — Adam Travassos, que ca
sou com uma mulher de casa de Gaspar Betancor, por nome Genebra
de Sequeira. Teve mais o Corcos duas filhas, a saber — a mulher de
Gaspar Perdomo, chamada Beatriz Velha, e a de Lourenço Mendes de.
Vasconcellos, chamada Margarida Cabral, ambos fidalgos ; tiveram mui
tos filhos, e muitas filhas. Gaspar Perdomo houve de sua mulher Bea
triz Velha estas filhas : dona Francisca, que n5o casou, e duna Simoa,
que casou em Portugal com dom Joam Pereira, bisnesto du conde de
Pereira. Houve tambem Gaspar Perdomo tres filhos, a sabei— Bibonel
de Betancor, Balthasar de Betancor, e Melchior de Betancor, os quaes
casaram n'esta ilha comi mlíito honradas e virtuosas mulheres; Lourenço
Mendes teve filhos, Francisco Mendes, e Jordam de Vasconcellos, e fi

lhas, dona Francisca, edona Beatriz, que não oasaram.


Joam Velho Cabral, filhe d'uma filha de Pedro Velho de Travassos.,
que fez a ermida de Nossa Senhora dos Remedios, teve de sua mulher
dona Izabel Pereira, estes filhos, a saber — O licenciado Sebastião Ve
lho Cabral, que foi juiz de fóra em Almodovar, uma villa de Portugal
ho campo de Ourique ; e ao depois falleceu em Cabo Verde com sua
mulher Maria de Paiva; de quem ficaram um filho e duas filhas, a mais
velha chamada Helena Cabral, que casou com Gonçalo Bezerra, filho
do mestre Joam, e de GolimonJa Tavares, na villa da Ribeira Grande ;
e a outra, Francisca Cabral, esta solteira : o filho chama-se Manoel Ca
bral, qoe como mancebo de bons espiritos, se foi d'esta ilha a buscar
alguma ventura. Teve mais o dito Joam Velho uma filha chamada Bran
29

ca Velha, que casou com Duarte de Mendonça, homem fidalgo, e alfe


res da Bandeira da cidade de Ponta Delgada, de quem não teve filhos,
mas houve uma filha que falleceu menina. Casou o dito Duarte de Men
donça segunda vez com Maria de Medeiros, neta de Raphael de Medei
ros e de sua mulher dona Maria.
Dizem que casou Joam Velho Cabral segunda vez com Beatriz Al
vas, filha de Joam Alves do Olho, e de sua segunda mulher chamada
Beqtriz Alves, de quem houve um filho chamado Nuno Cabra!, que fal
leceu solteiro, e foi marto pelos francezes na caravella de Francisco de
f Moraes: e duas filhas, uma por nome Brianda Cabral, que casou com
um filho de Antonio Tavares, chamado Jordam da Silva, alferes do ca
pitão seu irmão Gonçalo Tavares, na mesma cidade, de quem tem mui
tos filhos e filhas, e outra ainda solteira chamada Francisca Cabral, mu
lher de muita virtude. Lopo Cabral de Mello, filho de Gonçallo Velho,
casou com uma filha de Diogo Vaz, cavalleiro, e de sua mulher Cons
tancia Affonso, filha de Affonzo Annes, da Maia, de quem houve filhos,.
Fr. Jeronymo de Mello, da ordem de Sam Domingos, que por sua gran
de virtude e lettras, foi prior, primeiro em Coimbra, depois em Aveiro
e Elvas, e ao depois em Bemfica ; e foi em capitulos geraes um dos de
finidores. Uma vez, se afirma, que o queriam fazer, ou geral, ou pro
vincial, e elle se escusou por querer antes estar recolhido, e quieto na
sua cella : e outro, Diogo Cabral de Mello, é nas índias de Castella ; e
Manoel Cabral que casou com Maria da Costa, filha de Joam Roiz Ca-
mello ; e Theodosio Cabral, que casou com Catharina de Vasconcellos,
filha de Gonçalo Mourato, e de Catharina de Oliveira.
Houve o dito Lopo Cabral' de Mello, lambem da primeira mulher,
uma filha clnmada Izahel Cabral, que casou com Manoel Lopes de Sou
sa, filho de Sebastião Affonso de Sousa, capitão d'uma bandeira d'aquel-
la banda da Bretanha, e de sua mulher ízabel d'01iveira, e outra filha
religiosa, chamada Roqueza Cabral, e agora Roqueza das Chagas, freira
no mosteiro de Jesus, da villa da Ribeira Grande. Depois casou Lo
po Cabral de Mello, com dona Philippa de Mello, filha de Manoel de
Mello, e de Antonia de Bulhão, natural de Alcacer do Sal, irmã de Joam
30

de Mello, genro de Francisco d'Arruda da Costa, da qual tem filhos


Manoel de Mello, que casou na villa da Ribeira Orando, com Anna da
Ponte, filha d'André Lopes, e de Margarida da Ponte ; Jeronymo de Mel
lo, Christovão de Mello, e uma filha que falleccu.

Tinha mais Gonçalo Velho, pay de Lopo Cabral de Mello, e sua mu


lher Catharina Alvçs de Benavides, um filho por nome Nuno Velho,
que casou no Algarve, em Alvor,, com Ignez dOliveira, filha de um
cavalleiro do habito de Santiago, e 'de Maria Alves sm mu
lher. O qual Nuno Velho teve um filho chamado Amador Travassos,
que é clerigo, e prior do Sobral, termo da villa de Morte Agoa. Teve
Nuno Velho mais uma filha chamada Catharina Cabral de Mello, que
casou no Algarve com Antonio Portela, moço da camara do Rey, dc!
quem teve filhos e filhas. Houve Nuno Velho de sua mulher Ignez de
Oliveira outra filha por nome Margarida Cabral, que fallecou solteira, e
foi dama da condessa mulher do conde de Lyra, sobrinho de el-Rey.
Teve mais Gonçalo Velho, pay de Lopo Cabral de Mello, uma filha
chamada Beatriz Velha, que foi casada com Affonso Annes Columbreiro,
de quem houve uma fima chamada Beatriz Velha, como a mãe, e era
meia irmã do padre Joam-da Costa ; a qual casou com Fernandes Pires
Quental, de quem houve uma filha do nome de sua mãe. O segundo fi
lho de Diogo Gonçalves de Travassos, e de dona Violanta Cabral, sobri
nho de Gonçalo Velho, primeiro capitão d'estas ilhas, chamado Nuno
Velho de Travassos, casou aqui a primeira vez cora Izabel Affonso, de
quem houve um filho, chamado Diogoj Velho, que casou no logar da
Relva, avô de Manoel da Fonseca Falcão, e Izabel Nunes Velha, mulher
de Fernando Vaz Pacheco, e Guiomar Nunes Velha, mulher dAndré
Lopes Lopo, da casa do duque de Bragança, os .quaes moraram todos
n'esta ilha de Sam Miguel.
Casou o dito Nuno Velho segunda voz na ilha de Santa Maria, com
AfriCH Annes, viuva, que fora mulher de Jorge Velho, da qual houve
o primeiro filho chamado Duarte Nunes Velho, cavalleiro do habito de
Santiago, que morou em Malhusca, da dita ilha ; e Grimanesa Affonso
de Mello, que casou com Lourenço Annes, da ilha Terceira, nobre e po
31

tferoso ; dó qual houve um filho chamado Sebastião Nunes Velhoi pay


de Ignez Nunes Velha, mãe de dom Luiz de Figueiredo de Lemos, an
tes deão da Só d'Angra, e agora benemerito bispo do Funchal, o mo
tenho dito, quando tratei da ilha de Santa Maria ; e outros filhos. Nuno
Velho casou a primeira. vez n'esta ilha com IzabeJ Affonso, mulher no
bre, não sei caja filha ; da qual houve duas filhas, a primeira Guiomar
Nunes Velha, que casou com André Lopes Lopo, da casa do duque de
Bragança, pay de Aires Lobo.; a segunda filha de Nuno Velho e Izabel.
AfionsOi ch?mad-í Izabel Nunes Velha, casou com Fernando Vaz Pache
co, do qual houve quatro filhas, e um filho: a primeira filha Guiomar
Pacheco,, casou com Heitor Barboza da Silva, filho de Sebastiãp Barbo
za da Silva, do qual houve tres filhos, e duas filhas," o primeiro, Nuno
Barboza, o segundo, Pedro Barboza, o terceiro,. Henrique Barboza, o
valente, que falleceu na índia; a primeira filha Philippa da Silva,, a se
gunda Maria. Pacheca, que ambas fallecera.m soltéiras.
A segunda filha de Fernando Vaz Pacheco,, e de Izabel Nunes Ve
lha, chamada Maria Pacheca, casou com Estevãó Alves de Rezende, fi*
lho de Pedro Alves das Cortes,, da Fajã, de quem houve filhos e filhas,
como já disse. A terceira filhare Fernando Vaz Pacheco, e de Izabel
Nunes Velha, chamada Briolanja Cabral,. casou com Melchior Dias, mo
rador na Ribeira Chã, junto a Agoa de Páo, de quem houve filhos e fi
lhas. A quarta filha de Fernando Vaz Pacheco, e Izabel Nunes Velha,,
chamada Catharini Velha, casou com Jorge Furtado, de quem houye.
um filho, Leandro de Sousa, e uma filha Maria de Castro, freira pro
fessa no mosteiro de Santo André, de Villa Franca. Casou Jorge Furta
do, a segunda vez, com dona Guiomar Camelia, filha de Gaspar Camel-
lo Pereira, e de don^ Beatriz Jorge, filha de Pedro Jorge, de quem
houve dous filhos, Martinho de Sousa, grande cavalleiro, e Jorge Furta
do de Sousa, conego na só da cidade do Funchal, da ilha da Madeira,
ambos discretos, como seu pay. o de grandes espiritos ; e duas filhas,
dona Anna, e dona Izabel. Dona Anna casou com Br,az Neto de Aires,
filho do licenciado Gonçalo Nunes de Aires, contador e juiz do mar, que
foi na cidade (16 Ponta Delgada. Dona Izabel casou com Balthasar Mar
tins de Castro, como direi na geração dos Furtados.
Duarte Nunes Velho, filho primeiro de Nano Velho de Travassos,
c de Afriea Annes, casou a primeira vez em Portuga!, com uma mulher
nobre e honrada, Izabel Fernandes, do quem houve filhos, Joam Nunes
Velho, que casou na villa da Ribeira Grande, d'esta ilha de Sam Mi
guel, com Maria da Camara, irmã de Guiomar da Camara, filhas ambas
de Antam Rodrigues da Camara, de quem houve filhos, Joam Nunes
Velho, que foi vigario e ouvidor na ilha de Santa Maria, e Thomé da
Camara, cavalleiro fidalgo da casa de el-Rey, e Manoel da Camara, mes
tre em artes, e bacharel formado em theologia ; que agora é prior em
Sam Pedro d'Alamquer : e outros filhos que falleceram na índia, no ser
viço de Sua Magestade, e uma filha chamada dona Dorolhea, que agora
ó capitoa da ilha de Santa Maria, casada com Braz Soares de Sousa,
quinto capitão d'ella. Houve mais Duarte Nunes Velho de sua mulher
o segundo filho, chamado Jordam Nunes Velho, que foi casado, e mo
rador na dita ilha de Santa Maria, e Nuno Fernandes Velho, de muita
nobreza e virtude, que agora mora na fazenda de Malhusca, a qual her
dou com o morgado de seu pay : tem uma filha chamado dona Maria,
que foi capitoa da mesma ilha, mulher do capitão Joam Soares, terceiro
do nome, e outros filhos, que já disse, quando tratei da mesma ilha. Te
ve tambem Duarte Nones Velho, outros filhos, filhas e netos nobres e
honrados.

O segundo filho de Nuno Velho Travassos, chamado Diogo Velho,


foi casado com Maria Falcôa, de nobre geração, de quem houve duas
filhas, uma chamada Francisca Velha, que casou com Pedro Gonçalves
Ferreira, de quem houve filhos, um por nome Joam Velho, que falleceu
na ilha de Santiago, de Cabo Verde, e outro, Manoel Ferreira, que falle
ceu, e está enterrado na egreja de Nossa Senhora* das Neves, do logar
da Relva, e Diogo Velho, que casou com uma filha de Sebastião Gonçal
ves, A segunda filha de Diogo Velho, e da dita Maria Falcôa, chamada
Constancia Falcôa, casou com Francisco da Fonseca, filho de Antonio
Lopes, do logar dà Relva, segundo marido de Maria Falcôa. de quem
houve um filho chamado Manoel da Fonseca Falcão, escrivão, da cidade
de Ponta Delgada, que casou com Maria de Paiva, filha de Melchior de
33

Paiva, da qual não houve filhos : c depois com uma filha de Miguel Ser
rão. Teve mais Antonio Lopes da Fonseca, de sua mulher Constancia
Falcôa, outro filho, chamado Antonio Lopes da Fonseca, que casou com
Briolanja Gil, de quem tem filhos: e outro filho, por nome Ruy da Fon-
seca, casado com Guiomar Ferreira, filha dc Antonio AlTonso, cavalleiro,
e de, sua mulher Antonia Ferreira, de quem tem filhos. Houve mais a
dita Constancia Falcôa, de seu marido Francisco da Fonseca, duas filhas,
uma chamada Leonor Velha, casada com Joara Gonçalves, o cavalleiro,
morador no logar da Relva, de quem tem filhos e filhas.

Casou Maria Falcôa, segunda vez com o dito Antonio Lopes Rebe 11o,
primo segundo de Simão Rodriguez, de que houve estes filhos — o pri
meiro, chamado Ruy Lopes Rebello, que fallcceu solteiro em Lisboa. O
segundo, Manoel Lopes Rebello, que casou em Villa Franca, com Clara
da Fonseca, filha de Jorge da Motta, e de Bartholeza da Costa, de quem
houve um filho, por nome Manoel Botelho, que casou na villa da Ribei
ra Grande, com Maria Corrêa, filha de Sebastião Jorge 'Formigo, e de
Joanna Tavares, de quem tem filhos ò filhas. Houve mais Manoel Lo
pes uma filha, chamada Maria de S. Bento, freira no mosteiro de Villa
Franca. Outra filha de Antonio Lopes, chamada dona Izabel Fernandes,
casou, primeira vez, com Manoel de Logoarde, da Fajã, escrivão que
foi na mesma cidade ; e segunda vez com Gaspar dc Betancor de Sá, de
nenhuma houve filhos.
Teve tambem Nuno Velho de Travassos, a primeira filha Izabel Nu- .
nes Velha, casada como fica dito, com Fernando Vaz Pacheco, de que
houve quatro filhas, e um filho. A primeira filha, chamada Guiomar Pa
checo, foi casada com Heitor Barboza da Silva, filho de Sebastião Bar
boza da Silva, morador na Fajã, perto da cidade; de que houve filhos :
Nano Barboza, Pedro Barboza, Henrique Barboza, esforçado cavalleiro
na índia, e d'elle direi ao diante na geração dos Barbozas. Teve tambem
Izabel Nunes Velha, filha de Nuno Velho de seu marido Fernando Vaz,
outra filha Maria Pacheca, que casou corri Estevão Alves de Rezende,
do qual houve estes filhos : Fernando Alves Cabral, que fôra para fóra
d' esta ilha, e não se sabe d'elle : outro filho chamado Manoel Pacheco,
34

que foi a índia de Castells, sem mais virem novas d'elle. 0 terceiro fl* -
lho, Pedro Alves Cabral, que casou com Izabel Bicuda, filha de Vicente
Annes, e mora na Ribeira Grande, homem de nobre condição, e grandes
espiritos, que agora é capitão d'uma companhia na mesma villa da Ribei
ra Grande, de que tem alguns filhos. Teve mais Maria Pacheca de seu
marido Estavão Alves de Rezende, tres (ilhas, — a piimeira chamada
Leonor de Rezende, que casou com Raphael Coelho, irmão de Gabriel
Coelho, de quem houve filhos e filhas. A segunda filha é casada com
Gonçalo Tavares, filho do licenciado Antonio Tavares, de quem tem filhos
e filhas. A terceira filha foi casada com Diogo Ferreira, cidadão natu
ral da cidade do Porto, que mora agora na cidade de Ponta Delgada, de
quem tem filhos e filhas.
Houve mais Izabel Nunes Velha, filha de Nuno Velho, e mulher de
Fernando Vaz Pacheco, do dito seu marido um filho e duas filhas, alem
das duas já ditas. O filho chamava-se Manoel Pacheco, homem de muito
peso, e boas partes, que morreu na índia, no serviço. de el-Rey, e uma
filha chamada Catharina Velha, que foi casada com Jorge Furtado, de
quem houve um filho, chamado Leandro de Sousa ( como já disse, ) e
uma' filha, freira no mosteiro de Villa Franca, chamada Maria de Chris-
to, e outra filha chamada Briolanja Cabral, que foi casada com Melchior —
Dias, morador que foi no Porto Formozo, do qual houve os filhos se
guintes : O primeiro, chamado Fernando Vaz Cabral, casado com uma
filha de Antonio Furtado, chamada Beatriz de Medeiros, de quem tem
filhos. O segando chamado Jeronymo Pacheco de Mello, meio conego da
sé d' Angra. Das filhas, a primeira chamava-se Mecia Cabral, casou com
o licenciado Sebastião Pimentel, homem de muitas leltras e virtudes,
de quem tem filhos. A segunda filha chamava-se Maria Pacheca, casou
com Manoel de Freitas, filho de Pedro de Freitas, morador em Villa
Franca, de quem teve um filho.
Outra filha segunda de Nuno Velho de Travassos, chamada Guiomar
Nunes Velha, foi casada com André Lopes Lobo, fidalgo da casa do du
que de Bragança, o da traição, por cujo respeito veio a esta ilha enver
gonhado de apparecer no reyno, pelo que seu smhor fizera ; e morou.
35

.tios Fenaes da Maia: de quem houve filhos, Aires Lobo, pay de Fran
cisco Lobo, escrivão na cidade de Ponta Delgada, que casou com uma
filha de Lucas de Sequeira, chamada Barbara de -Sequeira, de quem te-
veum filho chamado Manoel Lobo, que casou com uma filha de Joam
Rodrigues Cernando, de Rabo de Peixe, é de sua mulher tem fóra este
casado, duas filhas e um filho, a quem não sei o nome : e uma filha
Izabel Loba, ainda solteira. Outra filha do dito Aires Lobo, chamada
Guiomar Nanes, casou com Jeronymo Luiz, homem de muita nobreza,
virtude o prudencia, e muito rico; de quem tem um filho chamado Se
bastião Luiz, como seu avó, e uma filha chamada Izabel Nunes. Outro
filho teve Aires Lobo, chamado Manoel Lobo, esforçado cavalleiro, que
falleceu na índia, servindo a el-Rey. Houve mais André Lopes, estes fi
lhos : Antonio Lobo, vigario que foi no logar da Relva, Curistovão Lo
bo, e uma filha chamada Barbara Loba.

Antonio Lopes Lobo pay de Aires Lobo, e avô de Francisco Lobo,


era filho de Ruy Lopes Lobo, e neto de Mem Rodrigues Lobo de Mon-
serras. Como tenho dito, por morte de dom Fernando, duque de Bra
gança, que el-Rei dom Joam segundo mandou degolar, passou a Castel-
!a em companhia do marquez de Monte-mór, irmão do duque, e d'ahi
a Arzila, onde esteve fronteiro tres annos ; d'ònde se passou a esta ilha :
e não tornou ao Alemtejo, por elle, e alguns seus parentes darem um
ponto na bocca, com um cabo do sapateiro, a um homem, fidalgo nota
vel, em uma sua quinta, por dizer na praça de Villa Viçosa : t- ainda
não enforcaram a estes tredos. Pelo que ficando seus irmãos em Castel-
la. na companhia do mirquez irmão do duque, se desnaturalisou o dito
André Lopes a Castella, de Castella a Arzila, e de Arzila a esta ilha,
onde casou com Guiomar Nunes Velha Cabral. Aos seus descendentes
alem das armas dos Velhos pertencem as dos Lobos e Cabraes, como
tem em seu brazão, e em um escudo esquartelado ao primeiro dos Lo
bos, que trazem o campo de prata, e cinco lobos pretos em aspa, arma
dos de vermelho. Ao segundo, dos Cabraes, que tem o campo de prata
e duas cabras de preto, com cabello, e assim os contrarios : e livro de
prata aberto, guarnecido de ouro ; paquife de prata e vermelho, e

- .
30

prata em preto ; por timbre um dos lobos das armas ; por diferença
uma morleta de azul, e nella uma estrella de ouro.
Sebastião Velho Cabral, filho legitimo de Gonçalo Velho, e de Mar
garida Affonso, neta de Alvaro Velho, irmã que foi doutro Gonçalo
Velho, capitão d'esta ilha de Sam Miguel, e de Santa Maria, commenda-
dor d'Almourol, bisneto de Fernando Velho, e de Maria Alves Cabral,
sobrinho de Ruy Velho, commendador do dito castello de AlmouroJ, foi
casado com Francisca Fernandes, filha de Maria Gonçalves, a Ama: hou
ve de sua mulher a Joam Cabral, Gaspar Cabral, e outro filho que foi
para fóra da ilha, eduas filhas, Maria Cabral e Anna Cabral. Joam Ca
bral, casou com Margarida Alves, filha de Joam Alves do Olho, de que
houve um filho chamadoJeronymo Cabral, que mora na Kibeira Gran
de, e é agora alcaide n'ella, casou em Portugal com Escota de Moura,
mulher nobre, sobrinha de Mem da Molta, capitão que foi da Mina e
da índia muitos annos; por que estava em Lisboa por capitão na torre
de Setubal quando veio o duque de Alva sobre efla. Gaspar Cabra I
casou com Anna Luiz, de quem não teve filhos.

A primeira filha de Sebastião Velho Cabral não casou. Houve tam


bem Balthasar Tavares de sua mulher Maria Cabral duas filhas. A pri
meira, Izabel Tavares, casou com Joam do Monte, do qual tem muitos
filhos e filhas. A segunda, Leonor Cabral, casou com Simão de Paiva,
filho de Alvaro da Horta, de quem não tem filhos. Maria Gonçalves, mu
lher nobre, chamada Ama, porque creou ao capitão Manoel da Camara ,
veio a esta terra em que teve dadas e herdadas ; trouxe primeiro as
silvas a Ponta Delgada, foi casada com Fernando Gonçalves, o Amo,
homem nobre, irmão de Joam Gonçalves, da Vargea dos Fenaes, termo
da cidade, de que houve tres filhos : Gaspar Galvão, Joam Galvão, e
Luiz Galvão: e tres filhas, a saber — Francisca Fernandes, que casou
com Sebastião Velho Cabral, acima dito, e outra chamada Brazia Galvoa,
que casou com Mendo, de Vas^concellos, de quem houve íilhos — Fran
cisco de Mendonça, e Duarte de Mendonça, que morreram na índia em
uma batalha, aos inimigos defendendo um ao outro, e outros, que to
dos eram desanove. Outra filha houve Fernando Gonçalves, chamada
37

Bartholeza Gahioa, que casou com Affonso de Mattos. Francisco de Men


donça casou nas Feteiras com dona Beatriz Camelia, filha de Pedro
Affonso Columbreiro, de quem houve uma filha chamada dona Leonor,
casada com Antonio Pereira, filho de Diogo Pereira, que foi ouvidor
n'esta ilha.

Duarte de Mendonça casou primeira vez com Branca Velha, filha de


Joam Velho Cabral, de quem nâo houve filhos: e segunda vez com do
na Catharina de Medeiros, filha d'Antonio Camello, e de Maria de Me
deiros sua mulher, e neta de Raphael de Medeiros, e dona Maria, sua
mulher.de quem tem uma filha chamada dona Anna : e casou terceira
vez com dona Guioamar, filha de Simío de Teves, filho de Pedro de
Teves e de Beatriz Gonçalves, mulher do dito Simão de Teves.

Martinho Vaz de Bulhão, generoso homem, prudente, nobre e gran


dioso, foi criado de el-Rey, do habito de Christo, vedor e contador da
Fazenda do mesmo Rey, em todas estas ilhas dos Açores, servindo es'
tes cargos mais de cincoenta annos ; casou em Portugal, dentro do Cas
tello de Almourol, com Izabel Botelha, sobrinha de Ruy Velho, commen-
dador de Almourol, de quem houve um filho chamado Manoel de Mel
lo, que teve n'esta ilha, no logar da Relva, termo de cidade de Ponta
Delgada, fazenda que lhe rendia, em cada um anno, passante de cem
moios de trigo : o qual casou em Alcacer do Sa!, com Antonia de Bu
lhão, filha d'um fidalgo, a quem não soube o nome, de quem houve uma
fillia, chamada Izabel de Mello, que morreu solteira, e um filho chama
do Joam de Mello, fidalgo de muita prudencia e virtude, do habito de
Christo, que casou com Maria d'Arruda da Costa, filha de Francisco
d' Arruda da Costa, e de sua mulher Francisca de Viveiros, e outros
que falleceram meninos. Teve mais Martinho Vaz, contador, de Izabel
Botelha, sua mulher, uma filha chamada Joanna Botelha, que foi casada
com Simão Rodrigues Rebello, criado d' el-Bey, fidalgo da sua casa, de
quem tem brazão os Rebellos, que são fidalgos de cota de armas, por
que era filho legitimo de Luiz Rodrigues, cavalleiro da casa de el-Rey
dom Joam, e de Beatriz Rebella, que foi neta de Joam Rodrigues Re
bello, que foi do tronco d'esta geração, fidalgo honrado, cujas armas
3ÍJ

são um escudo com campo azul, e tres fachas de ouro em cada-unia,


uma flor de liz vermelha postas em banda ; e por diferença uma brica
de prata : elmo de prata aberto, guarnecido de ouro, paquife de ouro
« azul: por timbre duas flores de liz de vermelho.
Da qual Izabel Botelha, sua mulher, houve estes filhos — o primei
ro, Luiz Rebello, grande latino e poeta, que casou com Marqueza Gon
çalves Pimentel, filha de Domingos Affonzo Pimentel, do logar de Rosto
de Cio, e de sua mulher Beatriz Cabeceiras, filha de Gonçalo Vaz Car
ro iro, e de Izabel Cabeceiras, de^quem houve um filho, chamado Manoel
Rebello, clerigo de grande habilidade, e uma filha Maria de S. Francis*
co, freira proiessa no mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta
Delgada. Casou o dito Luiz, Rebello, segunda vez, com Isabel Castanha,
filha de Joam Fernandes, de Santa Clara, e de sua mulher Maria Rodri
gues Badilha, filha de Joam Rodrigues Badilho, e de Catharina Pires,
de quem tem alguns filhos. Teve mais Simão Rodrigues Rebello, um
filho chamado Antonio .Rebello, que estando ordenado de ordens sacras
falleceu em Lisboa. Procedem os Rebellos de França, porque um gran
de cavalleiro francez, respondeu a el-Rey t Bello Rebello , ; o que lhe
ficou por appellido.
Houve mais Martinho Vaz de Bulhão, contador, de sua mulher Iza
bel Botelha, uma filha por nome Philippa de Mello, que casou com Bar-
tholomeu Godinho Machado, criado de el-Rey, cavalleiro fidalgo da sua
casa, de quem tinha brazão do seu filhamento : do qual houve um filho
chamado Francisco de Mello, que casou com Beatriz da Costa, flha de
Manoel do Porto, e de Beatriz da Costa sua mulher, de quem houve
uma filha, que falleceu menina. Houve mais Bartholomeu Godinho uma
fdha Jzabel Botelha, que casou com Joam Lopes, filho de Joam Lopes,
dois .Mosteiros, que foi meirinho do capitão muitos annos, e outro cha-
madojtartholomeu Botelho, que casou com Catharina de Nabões, filha
da Joam Serrão, e de sua muiher Leonor Lopes, de quem houve fdhos
e filhas. Teve. tambem Martinho Vaz, contador, uma filha chamada Ma
ria Travassos, que casou com Garcia Roiz Camello, viuvo, sobrinho de
lernando Camello, pay de Pedro Camello, Henrique Camello e Maneei
39 ,

Camillo3, que todos foram fidalgos escriptos wrt livros de Sua Magesta- '
de, de quem houve estes filhos _ IzabehBatelha, que casou com Ruy
Gago da Camara, fidalgo parente dos capitães d' esta ilha, de quem hou
ve filhos e filhas que direi quando tratar da progenie dos Gagos, e ou
tra filha chamada Jeronywa de Mello, que casou com Roque Gonçalves-
Caiado, filho de Francisco Dias Caiado, dos nobres e principaes d'esta
ilha. e de sua mulher Marquei» Gonçalves, de quem houve um filho
que se chamou Francisco de Mello, casado com uma filha de Joam Fer
nandes, e de sua mulher Catharina de Castro ; e outro filho chamado
Braz de Mello, que casou com Beatriz, da Silva, e outros filhos e filhas,
ainda moços.

Teve Garcia Rodrigues Camello um filho chamado Joam Botelho de


Mello, que casou com Ignez d'01iveira, filha de Fernando Affonso, tabel-
lião na cidade, e de sua mulher Catharina Manoel, de quem houve uma '
filha, freira no mosteiro de Santo André, da mesma eidade, Beatriz do
Espirito Santo, e duas solteiras. Teve Garcia Rodrigues outro filho cha
mado Francisco de Mello, solteiro, que foi d'esta ima á guerra de Gra
nada, e dahi ás índias de Castella. Houve mais uma filha chamada Ma
ria de Mello, freira ao mosteiro de Jesus, da villa da Ribeira Grande, .
onde reside, e antes abbadessa no mosteiro de Santo André, da cidade,
que agora se chama Maria da Trindade; e outros filhos e filhas, que fal-
leceram moços. Da primeira mulher de Garcia Rodrigues Camello, e dos
filhos que teve delia,, direi quando tratar da geração dos Camellos. Ca
sou terceira vez Garcia Rodrigues Camello com Margarida Gil Affonso,
da villa da Lagôa, de que não houve filhos.

D'esta maneira sobredita não somente são os Velhos, principalmente"


Lopo Cabral, e a mulher de Jorge Nunes Botelho, seus irmãos, descen
dentes e parentes do capitão da Hha de Santa Maria ; mas tambem leadôs
com os Lobos e Rezendes, segundo tenho dito : e com os Botelho?, como
em parte já disse, e ao diante direi. Com os Pereiras, por que um so
brinho de seu visavô por nome Fernando Roiz Pereira, foi védor da .
duqueza de Bragança, cuja neta era dona Catharina, de que foram os
paços da Ribeirinha, da villa da Ribeira Grande, d'esta ilha de Sam Mi-
40

guel, mãe de Ruy Pereira ; o qual tinha de moradia cada meztres mil e
vinte reis, e teve n'esta ilha no termo da dita villa, cento e vinte moios
de trigo de renda em cada um anno, do morgado que lhe ficou de seu
pay.
S5o tambem parentes dos Silveiras, pois Manojl da Silveira, senhor
de Terena, e Diogo da Silveira, seu irm5o, que foi capitão maior do
mar na índia, são seus sobrinhos, filhos de dona Catharina sua prima
segunda, mulher de Martinho Silveira, pay dos sobreditos. E com os
Cunhas, pois que outra sua prima foi casada com Nuno da Cunha, que
foi vice-rey da índia. Tem tambem leança com os Mirandas do reyno,
pois Pedro de Miranda, de5o da sé d'Evora, e seu irmão Diogo de Mi
randa, são seus sobrinhos no mostno grão dos acima ditos, por serem fi
lhos de dona Cecilia sua prima, mulher que foi de Francisco de Miran
da, fidalgo dos principaes destes reynos. Tem tarnbem leança com os
Figueiredos, pois Joam Soares d'Alhergaria, segundo capitão da ilha de
Santa Maria, sobrinho de Gonçallo Velho, primeiro capitão d'estas ilhas,
descendia dos Figueiredos, como tenho dito, quando tratei do seu prin
cipio, fallando da ilha de Santa Maria. Alem <'os mais appellidos que tem
pertence-lhes dos Velhos, Soares, Travassos, Cabraes e Mellos : e todos
os de Portugal, e d'esta ilha, de grandes espiritos, viveram e vivem
sempre á lei da nobreza, abastados com cavallos de estado, criados, e
escravos de seu serviço.
Tem ós Velhos seu brazão authentijo de sua nobreza e fidalguia de
cota de armas, e solar conhecido : e por armas um escudo de campo
vermelho, e cinco vieiros de ouro em aspa. A saber : uma no meio, as
outras nos cantos ; e algumas tem uma estrella branca ; tem um quadra
do preto por devisa : e outros tem outras devisas differentes ; não tem
elmo, nem paquife, nem timbre, do que não poude saber a rasão : se
não é por que n'aquelle tempo antigo, não se costumavam pôr nas ar
mas, que no escudo com sua insignia se punham, presando-se trazer as
outras nos hombros, antes que nos brazões : e depois, pelo tempo adian
te, se costumaram pôr n'elles os mais signaes de honra, como em ou
tros seus brazões achei, que tem elmo de prata aberto, guarnecido de
-ouro, paquife de ouro, vermelho, prata e purpura ; e por timbre um
.chapéo pardo com uma olheira de ouro na borda da volta.
Dizem alguns que mandando Gonçillo Velho, commendador dAl-
mourol, vir Ires sobrinhos — Pedro Velho, Nuno Velho, e Lopo Velho,
para estas ilhas, das quaes 3ra capitão, foram os sobrinhos com uma
tormenta á ilha da Madeira. Indo Lopo Velho pela terra dentro, levan-
1ou-se o navio, no qual vieram á ilha de Santa Maria Pedro Velho e
Nuno Velho ; e ficou elle na ilha da Madeira : vendo-se sem meios íoi
ajudar a trabalhar em um engenha d'assucar ; no qual soltando-se um
-espeque deu com elle em uma parede, quebrou-lhe os braços e pernas,
e ficou maUrado da cabeça ; pelo que depois Je curado na casa da mi
sericordia, e ficando aleijado, se casou ahi. Depois mandou-o Pedro Ve
lho, seu irmão, primo, ou parente em outro gráo, ou como outros affir-
rcam, irmão, filho natural do pay do dito Pedro Velho, vir de lá com
sua mulher, e teve-o em sua casa, junto de N. Sr.* dos Remedios, on
de vivia ; e d'ahi o apresentou na villa da Ribeira Grande, e na rua das
Pedras, onde teve muitas moradas de casas suas, e alguns filhos. A sa
ber — Joam Lopes, Affonso Lopes, Guião Lopes ; e filhas, Catharina
Lopes, e outras, das quaes não soube o nome.
Joam Lopes houve de sua mulher um filho chamado Antonio Lopes
Travassos, que casou na villa da Ribeira Grande com Simóa Gonçalves,
filha de Gonçallo Pires, e de Margarida Gonçalves, de quem tem filhos
e filhas; Catharina Lopes, irmã de Joam Lopes Travassos, casou com
Pedro Dias, da Achada, homem muito rico e honrado, de quem teve
muitos filhos e filhas: um (Telles chamado Miguel Dias, bom sacerdote,
beneficiado na freguesia de N. Sr.r da Estrella, da villa da Ribeira
Grande : è uma filha, irmã de Miguel Dias, chamada Catharina Dias, foi
casada com Sebastião Pires Paiva, homem nobre, rico e abastado da
governança da diu villa : teve alguns filhos e filhas.
4^

CAPITULO QUARTO'

Da ' GERAÇÃO . E DESCENDÊNCIA DE GONÇALLO V AZ BOTELHO,. CHAMADO O


GRANDE, MAIS VELHO E PRIMEIRO DOS.-ANT1GOS POVOADORES DA ILHA DE
S. Miguel.

Como a casa do infante dom. Henrique -que mandou descobrir estas


ilhas, segundo diz o douto Joam.de Barros* era quasi uma religião ob
servante da limpeza e virtudes, e uma escola de virtuosa nobreza, onde
a maior parte da fidalguia do reyno se criou, por elle sen o creador e
zelador da creaçlo dos. fidalgos, para os doutrinar em bons costumes*:.
deixando á parte os VeHios, que atraz disse virem da sua- casa ; sende»
tambem creados n'ella, e como taes generosos , Gençallo Vaz Botelho,
chamado o grande, Affonso Ann.es>. Rodrigo. Affonso, e Pedro Affonso -
Columbreiro, Gonçallo de Teves, almoxarife primeico d'esta ilha, e Pe
dro Cordeiro, seu. irmãov escrivão. do almoxarifado,. Affonso Annes do
Penedo, Vasco Pereira, Joam Pires-, Joana Affonso de Beleira : e segun
do alguns afirmam vindo tambem tfesta- companhia Jorge Velho, que
casou depois com Africa Annes, Pedro de Sam Miguel, e. sua mulheY
Aldansa Rodrigues* Joam de Rodes. Joam de Royolos,. que outros di
zem de Araujo, todos naturaes d AJrica^ criados do infante dom Hen
rique, e outras pessoas nobres ; mandou-os. comoprimeiro seminario, ou ..
nova colonia, o dito infante, povoar esta ittia<de Sam Miguel, sendo. ca
pitão.dfellafr:" Gonçalla Velho, commendador d'Almourol, que ao.
tempo da chegada dos' sobreditos, nãopoude sabep se vinha no mesmo
navio? se ficava ,no reyno; oa se porventura regia na ilha dè Santa Ma
ria, que então efa mais povoada, por ser primeiro dtescoberta. Pelo que
direi da progenie.de alguns' d'eHes,. e d'oulros que a povoaram, o que.
poude alcançar: começando- na de Gonçallo Vaz Botelho• que era mais.
veHjdi que todos os primeiros, e de muita authoridade.
Gonçallo Vaz Botelho, filho de Pedro Botelho, commendador mor
de Christo, no reyno de Portugal, por ser tão abalisado fidalgo, invicto*
favorecido entre outro» fida%os na casa dov. infante tíom Heprique* quev
' %z ■
' f munclou tiescóbrir estas ilhas dos* Açores, foi enviado por eTle • ptf*03r
. efcta bVSam Miguel, de sua nobre geração. D'onde se chamou Gonçalle
Vaz, o;grande, assim por ser grande no corpo, e condição, como por
'respeito d'umseu filho chamado Gonçallo Vaz, o moço. O qual Gonçal*
-lo A"az, o grande, vindo a esta -terra dez annos, como alguns dizem, de
pois do seu descobrimento, trouxe comsigo sua mulher, da qttai não
soube o nome : d'ella houve cinco filhos, Nuno Gonçalves, Antam Gon-
-çàlves, Gonçallo Vaz, o moço, •chamado Andrinbo, Joam Gonçalves, e
^Francisco Gonçalves.
Nuno Gonçalves, primeiro filho de Gonçallo Vaz, o grande, foi o
primeiro homem que nasceu n'osta ilha, de que sua mãe vinha pejada :
-casou com Cathat ma Rodrigyes, -mulher nobre, viveu oo principio em
"Villa Franca, e depois em Rôsto de Cão, por ter ali a melhor parte de
sul fazenda : teve de sua mulher dous filhos, e tres filhas, muito honra
dos, ricos, graves e grandiosos ; o ppimeiro, Jorge Nunes Botelho, foi
casado cora Margarida de Trawasos, filha de Gonçallo Velho Cabral, 4a
geração dos Velhos, ,atraz ditos : da qual houve o primeiro filho Nuno
Gonçalve* Botelho, que foi juiz do-Reziduo «'esta ilha muitos annob, e
•casou com dispensa oom Irabel de Macedo, sua prima segunda : da qual
teve os filhos seguintes :.todos valentes hom3ns para muito — o primeiro,
-Jorge Botelho, "ca*sou 'com feabel de Sousa, filha de Joanna Annes, de
'quem teve filhos e filhas. O segundo, André Botelho, qae agora é mor
gado, e anda na índia de Castella no serviço de el-Rey. O terceiro, Fer
nando de. Macedo, "chamado o Esquerdo, homem de bons espiritos, gran
des forças, invicto, valente de sua pessoa, como tem mostrado na índia,
onde esteve, n'esta ilha e em outras partes : o qual casou com uma fi
dalga, por parte de quem espera berdar um rico morgado, sobre que
traz' demanda. O quarto, Manoel Cabral, casou com Ignez Ferreira, fi
lha de Balthasar 'Ferreira, de quem tem filhos e filhas. O quinto, Pedro
Botelho, está casado com Leonor Vaz, que tem muitos e nobres "filhos
na Villa da Praia da ilha Terceira. O sexto, Jeronymo Botelho; que ca
sou na ilha de Santá Maria com Guiomar Ferreira.
Teve mais Nuno Gonçalves Botelho uma filha por nome Guiomar
44

Botelha, casada com Joam Mendes, irmão de Antonio Mendes Pereira,-


de quem houve dous filhos, André Botelho, e Manoel Botelho, e duas
filhas Izabel de Macedo, eoutra freira no mosteiro de Villa Franca. Te
ve mais Jorge Nunes Botelho de sua mulher outro filho Manoel Bote
lho Cabral, que depois de ser alguns annos contador n'esta ilha, foi pa
ra a índia, onde casou rico, e está servindo a el-Rey ; è hemem para
muito, grandioso , discreto, de grandes espiritos , e generosa
condição, muito privado do vice-rey da índia. Dom Luiz d'Athayde par
tiu de Lisboa na sua companhia a 6 d'abril da era de 1570, o qual
entrando na rtáo, mandou que todos obedecessem ao dito Manoel Bote
lho, como a sua pessoa, e assim se fez em toda a viagem. Chegando á>
índia a àet d'outubro do dito anno, em uma das embarcações, que vie
ram de terra, o mandou o dito vice-rey com recado ao outro que esta
va em terra, fazendo-me a saber a sua chegada : na qual honra foi inve
jado de muitos, por str havido por mais capaz para esta embaixada,
que outros muitos fidalgos que iam em suacompinhia r e é tão pruden
te, discreto e grave, que soube representar o negocio a gosto do vice-
rey, seu, e de todos os que o ouviram e estiveram presentes ; dos
quaes o acompanharam mais de tresentos homens de Cavallo até *
pousada d'Antonio Botelho, seu parente, onde se foi agazalhar, e não
somente é servido dos da terra, mas tambem do vice-rêy recebia muitas-
honras e mercês.

Tem muitos cargos o sobredito, dos quaes tira muitos proventos : e


um só serve importante, e do honra com larga jurisdição e alçada de
dinheiro a quem o souber guardar, se cahe nas suas mãos ; as quaes-
teve sempre abertas e liberaes. Pelo que não pôde poupar muito, com os
grandes- gastos que se lhe oíferecem, e principalmente muito mais ex
cessivos no anno de 1571, por rasão da grande guerra, que houve na-
cidade e ilha de Goa, pela ter de cerco o Hidalcam , poderoso Rey, ( a
cujos avôs foi tomada ) nove mezes com 150 mil homens de peleja, nos
quaes entram trinta e seis mil de cavallo, sete centos elefantes armados
os mais d'elles, que è uma das maiores forças que os Reys lá tem na
guerra, e outra tanta gente e poder lhe ficava guardando suas terras
e fortalezas. Com o qual cerco deu muito trabalho aos portuguezes, e
houve com elles muitos recontros, e perdas de parte a parte, até que o
levantou, deixando perto de quinze mil homens mortos no campo, mui
tos elefantes e cavados, e dos nossos morreram duzentos.

N'este tempo houve outro cerco em uma cidade, sessenta leguas de


G-oa, chamada Chaul, onde foi em pessoa o Issa-Maluco, poderoso Rey
confederado com o sobredito Hidalcam, com outra tanta gente'e ele
fantes, e tambem se levantou no cabo dos nove mezes, que se acabr-
ram em Agosto de li , indo desbaratado com perda de trinta mil ho
mens dos seus; e dos nossos morreram quatrocentos, de mil e quinhen
tos, que defendiam a cidade sem muros. N'este conflicto e cerco de
Goa, gastou Manoel Botelho Cabral tanio dinheiro com a gente de sua
estancia, em todo o tempo que durou o cerco, dando-lhe de comer á
sua custa ; sustentando dous òavallos" na guerra, estando a índia muito
cara. Valia o moio de trigo á sessenta e dous mil reis, o fardo d'arroz,
que terá tres alqueires, a doze e a quinze pardáos ; de meia guerra por
diante, que faltaram os mantimentos, custava uma gaílinha doas par
dáos, um ovo um vintem : e havendo outras carestia^ semilhantes daá
mais cousas comestíveis, tirando o pescado que não comiam de nojo,
porque era comer os proprios mouros, e a elles sabia ; nem comia o
peixe outra cousa, que tantos1 eram os mouros mortos no rio. Este gas
to tem o sobredito Manoel Botelho Cabral por bem empregado, pelo
gosto que recebia em o fazer, e pelas honras que ganhava nos assaltos,
combates e batalhas, em que se achou com o esforçado e. prudente ca
pitão: ganhando a todos, assim nas mezas e iguarias que dava, como nas
dianteiras na guerra, o cargo que agora tem na Indh, de grande au-
thoridade ejurisdição.
Tem o nome antigo de escrivão da matricula, porem é provede r
d"ella, por que tem jurisdição egual, manda prender e soltar; tem mui
tos officiaes diante de si, tendo cada um de ordenado cento e quarenta
mil reis por anno, fóra os pros e precalços, que valem outro tanto :são
quatro officiaes continuos, e quando ha paga dos soldados, que se faz na
meza, são seis officiaes ; excepto um feitor de Sua Magestade que lhe"

6
16

1dã o dinheiro, c um meirinho com doze piões para aflastar a gente. A


,esta meza vae o vice-rey em pessoa posto em armas, acompanhado dos
capitães, fidalgos e soldados, a receberem seus soldos. E quando isto
acontece, como jà em seu tempo havia acontecido, algumas vezes lhe
largava Manoel Botelho a soa cadeira, por lhe fazer bom agazalho, e
ficava em uma cadeira rasa ; e não ha outras cadeiras na casa por mais
monarchas que n'ella estejam : do vice-rey para baixo todo o genero
de homem vivo. e os que requerem pelos mortos a ella vão, e toma
d'elle Manoel Botelho, o cortejo que lhe quer fazer na honra do assen
to. O despacho das náos do reyno, pendem da mesma meza um grande
pedaço, eo outro pertence ao védor da Fazenda, que faz'a carga. Todo
o homem que se vae com licença nesta meza se despacha, e com certi
dão por elle assignada se apresenta para ser admittido em seus reque
rimentos no reyno ; e se d'ali a não leva, não tem despacho. O dinhei
ro dos mortos, da mesma meza se manda por um caderno, para saber
quanto, e de quem è, para Sua Magestade o mandar pagar a seus her
deiros ; e alem d'estas cousas tem outras muitas, que acreditam e en
grandecem o cargo.
Outro filho tem Jorge Nunes Botelho chamado André Botelho Cabral,
ainda solteiro, de maxima, magnifica e grandiosa condicção, muita pruden
cia, e esforçado cavalleiro, valente soldado digno de grandes cargos, se os
quaes não tivera, se sahira d'esta ilha a outras partes do reyno, ou fóra
d'elle; mora na cidade de Ponta Delgada, nas graves e formozas pousadas
deseupay.o qual pelas obras q'fez, e esforço que mostrou contra os fran-
cezes, na defeza d'esta ilha, recebeu de Sua Magestade um habito de
Christo, com boa tença. Houve mais Jorge Nunes uma 01 lia , por nome
Guiomar Nunes, que foi casada com Pedro Pacheco, homem principal, e
fidalgo, como direi na progenie dos Pachecos, filho de Antam Pacheco,
que foi ouvidor do capitão, nesta ilha, em Villa Franca, antes do delu-
vio, e n'ella falleceu. O qual Pedro Pacheco tem duas filhas, uma cha
mada dona Philippa, que foi casada com Marcos Fernandes, homem no
bre, que veio da índia de Portugal muito rico, onde servio a el-Rey : da
qual houve filhos, Miguel Pacheco, que casou com Suzanna Pereira, ne
47

ta do Joam Tavares, filha do bacharel Miguel Pereira, e de Calharina'


Tavares. Houve Marcos Fernandes da dita dona Philippa outro filho cha
mado Joam Pacheco, muito valente homem, que casou com dona Bea
triz, filha de Melchior de Betancor. Teve mais Marcos Fernandes de sua
mulher outro filho chamado Antam Pacheco, de boas partes e grandes
espiritos, ainda solteiro.
Houve mais o dito Marcos Fernandes uma filha chamada Guiomar
Nunes, beata de raras virtudes; o por fallecimento de Marcos Fernan
des casou dona Philippa com Antonio de Sá de Betancor, fidalgo do ha
bito de Cliristo, filho de Simão de Betancor e de dona Margarida Gago,
filha de Luiz Gago, morador que foi na Ribeira Grande, e casou com
dispensa com ella, por serem parentes ambos no terceiro gráo, do qual
houve duas filhas, a saber —- dona Maria Pacheca, que casou com Si
mão Lopes d'Andrade, e dona Beatriz com Manoel de Andrade, ambos
ricos e cidadãos do Porto, irmãos de rara habilidade. A outra filha de
Pedro Pacheco, que chamam dona Margarida casou com Jorge Camello
da Costa, fidalgo filho de Pedro Alfonso Columbreiro, de quem não hou
ve filhos ; e mora na sua quinta e fazenda das Feiteiras; é homem de
boa renda e de muitas virtudes, muito liberal, devoto e prudente : fez
uma rica ermida junto das suas casas, em que gastou mais de tres mil
crusados da sua fazenda.
Outra filha de Jorge Nunes Botelho, casou com Fernando Corrêa do
Sousa, fidalgo dos Correas, Furtados e Sousas da ilha da Madeira ; (que
tèm este appellido por sustentarem uma torre comendo corroas, dos
couros que deitavam de molho, sem a quererem entregar aos contrarios,)
primo do dito Pedro Pacheco, da qual teve uma filha que se chamava
Maria da Madre de Deos, freira que fez profissão no mosteiro de Jesus
da Ribeira Grande, em vida de seu pay, antes do incendio, sendo abba-
dessa Maria de Christo, de grande virtude e prudencia, irmã de seu pay,
e no dito mosteiro falleceu. Este Fernando Corrêa veio da ilha da Ma
deira, e trouxe comsigo duas irmãs, Catharina de Sousa, que casou com
Duarte Ferreira, escrivão da cidade, sobrinho de Jorge Nunes Botelho,
e Maria de Christo, que metteu freira em Villa Franca, e d'ahi veio
48

para abadessa, da $i beira Grande, e depois do mosteiro de Santo An


dré, onde .agora está. Teve Jorge Nunes Botelho outra filha que casou
com Antonio Fernandes Bicudo, filho de Fernando Annes de Lessa, do
Porto, que. estava na, villa da Ribeira Grande, com trato muito grossu,
e houve muita fazenda, que tem agora o dr. Francisco Bicudo, e morreu
sem haver filhos de sua mulher. Outra filha teve Jorga Nunes, chama
da dona Roqueza, que casou com Francisco do Rego de Sá , filho de Gas
par do Rego Baldada, e de dona Margarida de Sá, de quem não tem.fi'
lhos, e casaram com rdispensa, por serem parentes.

Outro filho teve Nuno Gonçalves, filho de Gonçallo VazKo grande,


que chamavam Diogo Nunes Botelho, que foi contador n'esta*ilhas dos
Açores, e no primeiro anno que servio o dito efficio, que era sen pro
prio, falleceu na sua quinta em Rosto,de Cão. onde morava, e tinha sua
fazenda: era cavalleirordo habito de Christo. Foi casado com Izabel Ta
vares, ,filha de Ruy Tavares, moradores na Ribeira Grande, homem fi
dalgo, dos. Tavares de Portugal, muito rico, e principal : o qual tem de
soa mulher estes filhos — O primeiro, Simão Nunes, que casou com
uma^sobninha do. mestre Gaspar, o Velho, de quem houve uma filha que
é freira professa em Villa Franca. O segundo filho de Diogo Nunes, que
se chama Manoel Nunes Botelho, foi casado com Maria de Lemos, mu
lher fidalga, da qual houve uma filha, que casou com Gaspar do Rego,
filho de Joam do Rego Beliago. Teve Diogo Nunes outro filho que cha
mam Jorge Nunes Botelho, homem de muita nobreza, prudencia e sa
ber, que casou com uma filha de Adam Lopes, de Rabo de Peixe, dos
principaes e ricos da terra, da qual houve, fóra outros, um filho chama
do Ruy Tavares, que estudando leis falleceu em Coimbra: imitava bem
a sea pay na prudencia e saber ; fóra outras duas filhas que tem no
mosteiro de Villa Franca, e outra chamada Izabel Tavares, que casou
com 'Pedro de Faria, da villa da Lagoa : e um filho de grandes esperan
ças, que'falleceu de pouca idade; e outra filha menina.
Vive este' Jorge Nunes com grande concerto em sua casa, mais que
muitos dos moradores da ilha, conservando, acrescentando, e não dimi
nuindo ( como outros fazem,) tudo. o que de seu pay lhe ficou: na sua
.49

iSmeufla tem um pico pomar, que somente de larangeiras Xem cento e


zselè; fóra outras muitos fróclciras, como ao diante direi. Teve mais Dio-
.go Nunes quatro filhas freiras professas no mosteiro de Villa Franca —
-Maria .de Sam Joam, Maria da Assumpção, Izabel dà Madre de Deos, e
•outra que íalleceu. Houve mais o dito Nuno Gonçalves, filho de Gonçallo
Vaz, o grande, uma filha chamada Izabel Nunes Botelha-, que casou com
Sebastião Barboza da Silva, fidalgo muito discreto e generoso, que mo- '
•rava na sua quinta da Fajã, termo da cidade de Ponta Delgada, onde ti-
,nha sua fazenda, e ali falleceu, sendo muito velho, e teve os filhos que
direi1 na progenie dos'Ôarbózas.
Houve Nuno Gonçalves uma filha, que casou com Gonçallo Pedrozo,
.«idadão do Porto, e lá foi morar, de quem houve alguns filhos, um dos
^quaes chamavam Pedro Borges, que era grande, letrado, e esteve por
',corregedor em Santarem, e em outras partes, do reyno: falleceu na
-índia, tendo lá> um ^cargo honroso. Teve mais "Nuno. Gonçalves, filho de
•.Gonçallo Vaz, o grande, uma filha chamada Margarida Nunes,, que foi
casada com um Henrique Ferreira, homem fidalgo, çayalleiro da guarda
deel-Rey, de quem houve um filho chamado Duarte Ferreira, que foi
escrivão da cidade de. Ponta Delgada, e uma filha que casou emPortugal
-com um criado de El-Rey- Teve Nuno Gonçalves Botelho grossa fazen
da no logar de Rosto de Cão, que partia da ermida de Santa Maria Mag-
dalena, e chegava ás portas do biscouto grande; que eram todas terras
<le pão e vinhas : seguinlo a ilha pelo meio, commeçando no mar do sul,
sahia da outra parte do norte, até emparelhar com o logar de Rabo de
Peixe, em pouco menos largura d^guas vertentes de ambas as partes; e
agora possue-a o grande capitão Francisco do Rego de Sá; fóra outras
grandes fazendas, que tem seus herdeiros na Povoação Velha, e om ou
tras partes d'esta Hha, como pessoas nobres, ricas, poderosas, que sem
pre foram.
Teve mais Gonçallo Vaz Botelho, o grande, um filho por nome An-
tam Gonçalves Botelho, que foi o segundo homem que nasceu nesta
ilha, o qual casou e houve uma filha chamada Beatriz Gonçalves Bote
lha, que casou com Pedro de Novaes, avôa dos Serrões, d •, quem hou
50

ve os filhos que direi na geração dos Serrões, Novaes, e Quentaes. O


terceiro filho de Gonçallo Vaz,- o grande, chamado Gonçallo Vaz, o mo
ço, e tambem Gonçallo Vaz Andrilho, foi casado com uma lilha de Pedro
Cordeiro, tabellião das notas de Villa Franca, e de toda a ilha, um dos
primeiros homens que veio a ella, da qual houve estes filhos — O pri
meiro d'elles, chamou-se Gaspar Gonçalves, .ao qua! matou um touro
sendo solteiro. O segundo, André Gonçalves de Sampaio, o mais rico
homem que houve n'esta terra em seu tempo, e por isso lhe chamavam
o Congro, que dizem ser o maior peixe do mar dos que se comem, o
qual casou com Guiomar de Teves, filha de Joam de Teves, almoxarife
d' esta ilha, qua morava em Villa Franca, irmão de Pedro do Teves, da
Calheta, 6 irmão do licenciado Joam de Teves, que foi corregedor em
Castello Branco, e morreu no serviço de el-Rey,da qual não teve filhos.
Teveo dito Gonçallo Vaz, o moço, outro filho que chamavam Sebastião
Gonçalves, casou com Margarida Pires, filha de Aires Pires Cabral, da
primeira mulher de Joam d'Arruda da Costa. A este Sebastião Gonçal
ves mataram os filhos de Ruy Lopes Barboza, a saber — Sebastião Bar
boza, e Braz Barboza, por uma afronta que linha feito a seu pay. O qual
Sebastião Gonçalves teve de sua mulher Margarida Pires, uma filha
chamada tambem Margarida Pires, que casou com Gaspar do Rego Bal-
daia, da qual houve o dito Gaspar do Rego os filhos que direi na gera
ção dos Regos.

teve mais Gonçallo Vaz Andrilho, o moço, outra filha que casou
com Fernando de Macedo, homem fidalgo, irmão do capitão do Fayal,
do qual houve os filhos seguintes, a saber : — Jeronymo Teixeira, que
foi casado com Margarida Barboza, filha de Ruy Lopes Barboza, que mo
rou na cidade, á Calheta de Pedro de Teves, de quem não houve filhos.
Teve mais Fernando de Macedo, outro filho chamado Manoel de Mace
do, que casou a furto na Maia, termo de Villa Franca, com uma mulher
nobre, de quem teve poucos filhos, e todos falleceram. A este Manoel
do Macedo mataram na cidade á bésta, sendo valentíssimo homem. Teve
mais o dito Fernando de Macedo uma filha chamada Izabel de Macedo,
que casou com Nuno Gonçalves Botelho, filho de Jorge Nunes, de quem
51

houve os filhos já ditos na geração de Nuno Gonçalves Botelho, filho de


Gonçallo Vaz, o grande. Teve mais o dito Fernando Vaz de Macedo ou
tra filha que casou com Gaspar Homem da Cosia, fidalgo, morador em
Villa Franca do Campo, de quem houve muitos filhos. Alem d'essas
duas filhas casadas, teve André Gonçalves Andrinho, o moço, filho do
Gonçallo Vaz, o grande, quatro filhas, ás quaes não soube os nomes ;
algumas d'ellas casaram, uma com um Luice Annes, cuja foi a fazenda
de Christovão Soares, na Atalhada da villa da Lagoa, outra com outro
homem, a quem não soube o nome.e de nenhuma d'ellas ha posteridade.
Joam Gonçalves, quarto filho de Gonçallo Vaz, o grande, foi casado;
não pude saber o nome de sua mulher, de quem houve os filhos seguin
tes. A saber — Joam d'Arruda da Costa, m rador em Villa Franca, ho
mem muito principal e rico, n'esta ilha, o qual casou com Catharina Fa-
vella, natural da ilha da Madeira, irmã de Margarida Mendes, da cidade
de Ponta Delgada, e foi mulher de Aires Pires Cabral, de quem houve
os filhos, que houve na geração dos Costas. De Joam Gonçalves, quarto
filho de Gonçallo Vaz, o grande, e de sua mulher, a quem não soube
o nome, nasceu outro filho chamado Pedro da Costa, que se botou ao
mar para sustentar Arzilla. O qual Pedro da Costa foi casado com uma
irmã de Lopo Barriga, viuva* que fora mulher de dom Joam de Mene
zes, da qual houve um filho chamado Henrique da Costa, o qual indo
em o campo correndo contra os mouros, deu-lhe um junco em um
olho, de que ficou cego de ambos, e até ali achava-se sempre um ca-
valleiro muito esforçado, em quanto teve vista, pelo que el-Rey lhe fa
zia muitas mercês. Recebeu por mulher, á hora da morte, uma Catha
rina Romeira, de quem lhe ficou uma filha, que casou com Joam de Ro
bles, castelhano nobre, de quem não tem filhos.
Teve mais Joam Gonçalves uma filha, por nome Maria Roiz, a qual
casou com Ruy Martins Furtado, de quem houve dous filhos, Antoni o
Furtado, e Jorge Furtado, grandes de corpo, muito valentes, discretos,
' mocissos e bons cavalleiros, dos quaes tratarei ao diante na geração de
Martim Annes Furtado, pay do dito Ruy Martins : o qual fallecido, ca
sou ella, segunda vez, com o bacharel Joam Gonçalves, morador no lo
52 '

gar de Rosto de Cão, do qual não houve filhos, e fallecendoBna primeíf,


ro, ficaram os filhos do primeiro marido ricos, com trinta moios de ren
da cada um, fóra casas, e muito movei de gado, escravos e outras fazen-
das. E ficando o bacharel viuvo, casou com Francisca de Medeiros, filha
deLope Annes de Araujo, morador em Villa Franca, como direi quan
do tratar d'elle. ,
Teve mais Gonçallo Vaz, o grande, o quinto filho chamado Francisco.
Goncalves, que falleceusem ter filhos. Se Gonçallo Vaz, o grande, teve-
algumas filhas não o pude sjber, por serem cousas muito antigas. As>
suas armas, dos Botelhos e dos seus descendentes, de que tem seu bra--
zão, são as seguintes : um escudo com o campo dò ouro, e quatro ban
das de vermelho, elmo de prata aberta, guarnecido de ouro: paquife de
ouro, e de vermelho; e por timbre um meio leio de ouro, banda de
vermelho, e alguns tem por diferença uma morleta de prata, os quaes-
primeiros descendentes- foram homéns poderosos, ricos e abastados, o
tiveram grandes casas, vivendo á lei-cía ' nobreza, com cavallosr criados o
escravos com grande familia.

CAPITULO QUINTO.

Dos Costas, Arrcdas^ Favellas, Mottas e. Portos, l«ados cosi os'


Botelhos.

Seguindo, a nobre progenie dos Favellas procede dó conde Favilla;


e do conde dom Pelayo, asturianos, que ajudaram a ganhar a Hespanha•
perdida em tempo de el-Rey dom Rodrigo; por terem perto de Olyven-
ça, no extremo de Castella e Portugal, onde moravam, grandes diferen
ças com alguns seus amigos, se vieram viver a este reyno, entre os
quaes veio um Joam Favella, que el-Rey dom Affonso, o quinto, casou
com Beatriz Coelha, dama de sua casa, sobrinha ou filha d'um irmão
do Coelho, a quem tiraram o coração pelas costas, por ser leal a este
reyno, e o principe, depois de seu pay morto, o matou com este generd
53

<3e morte por se vingar d'elle. Houve Joam Favella d'esta Beatriz Coe
lha, estes filhos — o primeiro, Fernam Favella, que casou na ilha da
Madeira, onde estava seu tio Nuno d'Athouguia, provedor da fazenda
na dita ilha. O segundo, Joam Favella, homem nobre ede grande fama,
tambem casou na mesma ilha : O terceiro, Bartholomeu Favella, o qual
teve uma filha que casou com Diogo Mascarenha, fidalgo muito parente
'do conde de Castelhar, e sobrinho de dom Pedro Mascarenhas, que
n'estes reynos eram fidalgos marcados.
Houve mais Joam Favella de sua mulher Beatriz Coelha, uma filha
chamada Catharina Favella, com a qual casou Joam d'Arruda da Costa,
filho de Joam Gonçalves Botelho, e de Izabel Dias da Costa sua mulher,
e neto de Gonçallo Vaz Botelho, o grande, que veio povoar esta ilha,
como já disse. De Joam d'Arruda da Costa, e de sua mulher Catharina
Favella, nasceram os filhos seguintes : Amador da Costa, Pedro da Cos
ta, Francisco d'Arruda da Costa, Manoel da Costa, Izabel Dias da Cos
ta, que depois se chamou do Espirito Santo, e Maria da Trindade, frei
ras professas de muita virtude, e algumas vezes abbadessas no mosteiro
de Villa Franca ( o qual fez Joam d'Arruda da Costa, e outros homens
nobres, para suas filhas e netas ), Bartholeza da Costa, e Beatriz da
Costa.
Amador da Costa casou com Barbara Lopes, filha de Alvaro Lopes
de Vulcão, homem muito honrado e rico, de quem houve filhos, Manoel
da Costa, que foi para as índias de Castella, Alvaro da Costa, todos sol
teiros, homens para muito ; e filhas Izabel Dias, mulher que foi d'An-
tonio Borges da Gamdia, filho de Balthasar Rebello, morador á Calheta
de Pedro de Teves, e de Guiomar Borges, e outras seis filhas freiras no
mosteiro de Villa Franca, muito boas religiosas, que ás vezes são abba
dessas e vigarias. Deixou Margarida Mendes um rico morgado a Ama
dor da Costa, que ficou a seu filho Manoel da Costa, sobrinho de Mar
garida Mendes, sua tia, meia irmã de sua avô Catharina Favella. A qual
Margarida Mendes era filha de Ruy Pires, irmão de Vasco Pires : os
quaes eram dous cavalleiros os mais afamados que havia em tempo de
el-Rey dom AlTonso ; e por serem taes lhe queria el-Rey tanto, que quan

7
-So estavam á sua meza, estavam assentados ; e por não haver confusão
nos outros, tomava el-Rey por causa, que por terem os pés pequenos o
fazia. Depois de morto Ruy Pires, que era casado com Beatriz Coelha,
viuva, veio Joam Favellado extremo de Castells, por certa causa já dita,
e como era fidalgo, andando no paço, tendo el-Rey conhecimento d'elle,
o casou com Beatriz Coelha, mulher que foi de 'Ruy Pires, pay e mãe
tia dita Margarida Mendes, a qual nasceu em Évora, onde teve e tem
onuitos parentes, muito honrados, e fidalgos dos Mendes.
Depois que Joam Favella casou com Beatriz Coelha, trouxe comsigo
para esta terra a Margarida Mendes, por ser filha de sua mulher ; e aqui
houve Joam Favella os tres filhos já ditos, e a filha chamada Favella,
que foi ca?.ada com ?Joam d'Arruda da Cosia n'esta ilha de Sam MigueI,
e era meia irmã de Margarida Mendes, por ser filha de Ruy Pires, ,e
Catharina Favella ser filha de Joam Favella, e por ser Margarida Men
des meia irmã deJGatharina Favella, Amador da Costa seu sobrinho lhe
deixou o morgado. no qual. stfccedeu Manoel da Costa, filho de Amador
da Costa, e neto da dita Catharina Favella ; o qual morgado começa
da praça da cidade de Ponta Delgada, principiando do mar do sul, até
vêr o mar da banda do norte, d'«sta ilha. Outros filhos de Joam Favella
e de Beatriz Coelha, se crearam na ilha da Madeira, depois da morte
de seu pay, e Nuno d'Alhouguia seu tio, viveram muito ricos e honra
dosí á lei de fidalgos, como elles eram, e assim vivem os filhos, netos e
bisnetos do dito Joam d' Arruda, e Catharina Favella, sobrinhos da dita
Margarida Mendes, n'esta ilha de Sam Miguel, e por esta causa, como
está dito, herdou Manoel da Costa d elia o dito morgado da praça, fóra
outro que tem de seu vis-avô Joam Gonçalves Botelho, em Rosto de
Cão, termo da cidade.
Nuno d Athouguia, tio de Catharina Favella e dos tres irmãos, foi
na ilha da Madeira o mais prospero fidalgo, que em seu tempo n'ella
havia ; e como tal o fez el-Rey provedor o védor de sua fazenda, que
era o melhor cargo que n'ella houve, e do el-Rey era muito conhecido,
tendo diante d'elle grande nome ; era da geração dos Favellas ; o qual
casou com uma filha de Joam Esmeraldo, que foi outro segundo ; e mais
55

"Wmbem provedor, fidalgo tão rico e poderoso, que o capitão lhe não
pôde nunca fazer avesso, nem direilo em nada, e tleixou ,om..morgado
de mais dc dous. centos e meio de renda. Da progenie dos Favellas, ha
Fernam Favella de VasconeelLos^ neto de Fernantk>> Favella, e friho de
Antonio Favella, que é rico morgado, e vive á lei de -fidalgo, como fo
ram seus avôs todos..

O segundo filho de Joam d'Arrudà da Costa,, chamado Pedro da Cos


ta, homem muito principal,, rico fde fazenda, e de virtudes, cidadão mo
rador em Villa Frane3, . easoi* com uma filha de Joam Alves do Olho,
da' cidade de Ponta Delgada, de quem houve outros dous filhos que
falleceràm com sua mãe ; e depois- casou, segunda vez, com uma filha
de, Ruy, Tavares, morador na villa da Ribeira Grande, da qual houve os
filhos seguintes :. — O primeiro, Joam d' Arruda, que casou com dona
Guiomar da Cunhn, filha de Heitor Gonçalves Minhoto, e neto do Joam
Soares, capitão da ilha de Santa Maria, de quem houve tres,, ou quatro
filhos. O segundo Ruy Tavares, que era casado oom uma filha de Gabriel
Coelho, de quem teve duas filhas que morreram com a mãe, depois ca
sou com Maria de Sousa, mulher de grande virtude e prudencia, filha
de Pedro Cordeiro, cidadão de Villa Franca, de quem n3o teve filhos.
Houve mais Pedro da Costa de sua segunda mulher, algumas filhas,
duas das qnaes Calharina de Sam Miguel, e Catharina de Santiago,. são
freiras professas, e boas religiosas, no mosteiro de Villa Franca.

E outra filha, por nome Izabel Tavares, que falleceu em casa dè seu
pay solteira, mulher de meia idade ; a qual sendo antes muito galante
e formoza, qundo pretendia casar virou as costas ao mundo, sahimlo-
lhe muitos e ricos casamentos ; e fazia vida santa e abstinente, dando
seus ricos vestidos ás egrejas e pobres. com os quaes repartia largas es
molas : e andando vestida como beata acabou bemaventuradamente ; cuja
morte foi sentida de todos, e muito mais dos pobres, a quenvella dava
vida. Deixou por seu fallecimento muitas esmolas, fazendo-se os officios
do seu enterramento, a que se acharam presentes muitos religiosos,
elerezia, e muita gente nobre de toda a ilha. Com grande choro e sen
timento de todos que foram convidados aquelle dia em. casa de seu pay,
56

esto comeu com elles á mesa no convite, por lh'o a filha deixar encom-
mendado e ser elle tão prudente, que com todo seu sentimento e nojo da
ausência de tal filha, quiz celebrar as exequias da sua morte com sum
ptuoso banquete, como se fóra o dia qae a casara com Dcos, verdadeiro
esposo da sua alma.

O terceiro filho de Joam d'Arruda da Costa, chamado Francisco


d' Arruda da Costa, é homem de grandes espiritos, prudente, discreto e
de muito liberal condição, a quem se encommendam n'esta ilha todos os
cargos de importancia, assim d'el-Rey, como do povo, de que elle dá a
conta, que da sua prudencia e pessoa se espera : servio já de juiz do
mar, e contador, e de capitão-mór das ordenanças ; e de provedor da
misericordia muitas vezes, e de outros cargos semilhantes, digno de
muitos maiores, e do vida perpetua para amparar a patria, como pay que
é d'ella : ao qual deu Sua Magestade o habito de Christo com boa tença,
e outras mercês de grandes favores ; e casou com Francisca de Vivei
ros de Sousa, filha de Gaspar de Viveiros, homem de muita nobreza e
riqueza ; de quem houve os filhos seguintes. — O primeiro, Amador da
Costa, que casou com Izabel Pereira, filha de Pedro Afíbnso Pereira,
de quem tem alguns filhos ; o segundo Damiam da Costa, que está ser
vindo a el-Rey na índia, onde casou com Maria Salema, mulher de mui
ta caridade e grandemente rica. O terceiro, Sebastião da Costa, que ca
sou com iMaria Sens, filha de Pedro de Maeda, da nação Biscainha,
mestre das obras e fortificações de el-lley, nesta ilha, de quem tem al
guns filhos.
Tem mais Francisco d'Arruda uma filha chamada dona Maria d' Ar
ruda, casada com Joam de Mello, nobre fidalgo, filho de Manoel de
Mello, e neto do contador Martinho Vaz Bulhão, o qual por ser quem é,
pessoa de muita prudencia e virtude, sendo vereador, foi pela cidade de
Ponta Delgada dar obediencia ao muito alto, poderoso e catholico Rey
Phillippe, que lhe deitou o habito de Christo. com boa tença; tem de
sua mulher um filho chamado como seu pay Joam de Mello : tem mais
Francisco d'Arruda tres filhas freiras professas, e uma solteira chama
da Çosma da Costa, de grande merecimento e virtude, e outras que fal
57

Teceram. Houve mais Joam d' Arruda da Costa, de sua mulher Cathariaa
Favelta, estas filhas. A primeira, Bartholeza da Custa, que casou com
Jorge da Motta, viuvo, cavalleiro do habito de Aviz, da geração dos Mot-
tas —dos ouros, que são fidalgos neste reyno, de quem houve os filhos
seguintes: — O primeiro, Joam da Motta, que casou, a primeira vez, com
uma filha de Joam Roiz, dos Fenaes da Maia, de quem houve um filho
chamado Manoel da Motta, do habito de Christo, casado primeiro com
uma filha de Melchior Gonçalves, e depois com Paula de Maeda : e ca
sou Joam da Motta segundariamente com Beatriz de Medeiros, filha de
Lope Annes d'Araujo, de quem tem alguns filhos.

O segundo filho de Jorge da Motta, Manoel Favella, casou com Vio-


lanta Mendes, filha de Antonio Mendes Pereira, de quem tem alguns
filhos, mora na Villa Franca, na quinta que foi de seu pay, ímitando-o
tanto na discrição e virtudes, como na riqueza e nobre condição. O ter
ceiro filho de Jorge da Motta, chamado Francisco da Motta, falleceu sol-
tèiro. Teve mais o dito Jorge da Motta, da segunda mulher, cinco filhas,
Guiomar da Cruz, Maria de Santa Clara, Catharina de Sam Joam, Anna
de Sam Miguel, e Úrsula de Jesus, todas freiras professas, de grande
religião e virtude, no mosteiro de Santo André, de Villa Franca, onde
serviram e servem os melhores cargos, e Guiomar da Cruz foi tambem
abbaJessa no mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta Delirada.
Houve mais Jorge da Motta, de sua mulher Bartholeza da Costa, uma
filha chamada Clara da Fonseca, que casou primeiro com Manoel Lopes
Falcão, filho de Antonio Lopes, da Relva, de quem houve um filho, por
nome Manoel Botelho, agora casado na Bibeira Grande, com Maria Cor
rêa, filha de Sebastião Jorge Formigo, e de Joanna Tavares, e uma filha
freira professa, no mosteiro de Villa Franca, chamada Maria de Sam
Bento. Fallecido Manoel Lopes, casou Clara da Fonseca com Antonio Pa
checo, fidalgo, cidadão de Villa Franca, filho de Matheus Vaz Pacheco,
fidalgo, cidadão de Villa Franca, filho de Matheus Vaz Pacheco, do Porto
Formozo, de quem houve alguns filhos.
Houve mais Joam d'Arruda da Costa, duas filhas, freiras professas,
no mosteiro de Villa Franca, chamadas Izabel do Espirito Santo e Maria
58

da Trindade, de muita virtude e grande exemplo na religião, pelo que •


serviram de abbadessas e vigarias muitas vezes. Teve tambem Jcam de •
Arruda da Costa uma filha chamada Beatriz da Cosia, que casou com
Manoel do Porto, cidadão da cidade do Porto, homem muito honrado,
prudente, discreto e rico, da qual houve estes filhos : o primeiro, Jcam
d' Arruda da Costa, que casou com Maria Mendes, filha de Antonio Men.
des, prima dos Mendes e Pereiras do reyno, (ie quem tem muilos filhos
9 filhas : uma das quaes chamada Catharina Favella, casou com Christo-
vão Paym, fidalgo dos Payns da Villa da Praya da ilha Terceira , O se
gundo, Manoel da Costa, !e'.rado em canones, bom sacerdote, e religioso
na companhia de Jesus. O terceiro, Bartholomeu Favella, que casou na
ilha Terceira com Justa Neta, filha de Joam Alves Neto, fidalgo, e gran
de cavalleiro, que andou muitos annos em Africa, quando lá estava Vas
co Annes Corte Real, e foi muito tempo provèdór-mór .das armadas
das nãos da índia e Mina.e vive na dita ilha, arrecadando ( sendo almo
xarife) todos os rendimentos dvella para sua alteza : e foi homem de mui

ta valia entre todos os que, em seu tempo, foram d'aquella terra. Houve
Bartholomeu Favella um filho de sua mulher que falleceu.
O qual Bartholomeu Favella, neto de Joam d'Arruda da Costa, e •
bisneto de Joam Gonçalves Botelho, e trisneto de Pedro Botelho, com-
mendador-mór que foi de Christo, no reyno de Portugal, como descen
dente de taes pessoas por serviço de Deos o d'el-Rey ; e por satisfazer á
obrigação da sua nobreza, andando peleljando a armada d'el-Rey de
Portugal, da qual era capitão Pedro Corrêa de Lacerda, fidalgo de sua
casa, contra tres navios inglezes de corsarios, que andavam entre Sam
Jorge e a ilhn Terceira, de seu motu proprio, se ajuntou com Joam de
Betancor de Vasconcellos, e Aires Jacome Corrêa, fidalgo da casa de
el-Rey: e tomando um batel de pescar, muito pequeno, em que não ca
biam mais que os remadores, e elles com um Gaspar Estacio, cidadão
nobre da Terceira ; se foram todos quatro acudir á dita armada, por sa-
rjerem não tinha gente para se defender, como era necessario ; e por
serem dos primeiros que chegassem, partiram assim em barco tão pe
queno, no qual por ser o mar tãn grosso correram risco de se perde
59

< rem ; por uaais que de terra eram chamados de muita gente de cavallo,
i por não, perecerem.
E elles estimando mais sua honra que a vida, sem quererem tornar
atraz, seguiram seu caminho adiante, aonde ^uasi milagi osamente foram
• ter com a armada, sem a verem, nem aos inimigos que d'ella eram, por
. q' havia tanta briga, e guerra entre elles, q' não enchergavam navio algum
• com a grande fumaça das muitas bombardas, que uns aos outros atira
vam : por entre estes perigos, e obscuridade, foram ter com o capitão
maior, passando muito risco de mar e da artilharia : chegando ás daz
horas' do dia entraram no galeão, onde se offereceram todos quatro
ao capitão para serviço do seu Deos e do seu Rey, começando logo a
pelejar com seus arcabuzes, ajudando a assestar a artilharia, animando
os soldados, dizendo-lhes que da terra vinham muitos arcabuzeiros em
seu favor. Passado aquelle dia em que pel jaram varonilmente até noite,
, chegaram em anoitecendo, vinte arcabuzeiros de terra, e com elles
dentro, guerrearam continuamente com os inimigos tres dias, e tres noi
tes, sem descançarem : e por trazerem mais atormentados aos contrarios,
deixaram a artilheria atada de dia. para de noite a dispararem n'elles.
No dia em que chegaram mataram dos corsários 26, ou 27 homens,
e depois tomaram-lhe um dos navios com muita artilheria, e alguma
mercadoria: osquaes adversarios se não tomaram todos por falia de pol
vora na armada, que se gastou toda n'aquelles tres dias e noites, em
que lhe atiraram mais de quinhentos pelouros : e não foram balroar aos
ditos inimigos, por o galeão ser só, e elles tres, que as duas carave
las de el-Rey não quizeram balroar, pelo que foram bem castigados
no reyno ; e se não foram os ditos Bartholomeu Favella, Joam de Be-
tancor, Aires Jacome Corrêa, e Gaspar Estacio, muito risco correra a
armada d 'el-Rey : e muitas vezes succedendo fazer-se a armada na ilha
Terceira, e n'esta de Sam Miguel, contra corsarios, que sempre a ellas
vem, vão n'ella o dito Bartholomeu Favella da Costa, e os outros acima
ditos ; por se porem a este perigo, e a outros muitos. Escreveu el-Rey
a cada um d'elles duas cartas de muitos agradecimentos e honras, em
que lhes prometteu fazer-lhes muitas mercês, encommendando-lhes.sem-
•pre o seu serviço em taes successos.
<>()

Houve tambem Manoel do Porto, o quarto filho chamado Francisco


da Costa, que casou com Catharina Ferros, dos Ferreiras, de quem não
teve filhos, e íalleceu vindo de Cabo Verde. Teve mais Manoel do Por
to, de sua mulher Beatriz da Costa, duas filhas, Margarida da Costa, e
Maria de Sam Pedro, freiras no mosteiro de Villa Franca : e outra filha,
Beatriz da Costa, mulher que foi de Francisco de Mello Machado, fi
dalgo muito honrado, filho de Bartholomcu Godinho Machado, e de
Philippa de Mello, fidalgos ; e não tiveram mais que uma filha, que fal-
leceu : e morrendo Francisco de Mello, casou ella com Joam Lopes Mo
niz, filho de Adam Lopes, neto de Joam Moniz; e falleceu sem ter d'ella
filhos. Jorge da Moita, genro de Joam d'Arruda da Costa, foi primeiro
casado com outra mulher, de quem houve alguns filhos, como direi na
geração dos Cordeiros. As armas dos Costas são um escudo com o campo
de vermelho, com seis costas de prata em facha, em duas palas: e algu
mas tem por diferença uma flor de liz de ouro, elmo de prata aberto,
guarnecido de ouro, paquife de prata e vermelho, e por timbre duas
das costas em aspa.

CAPITULO SEXTO.

dos cogombreiros, que agora com vocabulo corrupto se chamam


columbreiros, que primeiramente vieram povoar a ilha de sam
Miguel.

Houve no Algarve um homem nobre erico, da casa do infante dom


Henrique, que mandou descobrir estas ilhas dos Açores, chamado, ou
Joanne Annes da Costa, ou Rodrigo Annes, ou AfTonso Annes da Costa,
morador na Rapozeira, onde tinha um seu jardim, e horta, que dava
em seu tempo muitos cogombros, o qual tinha muitos filhos, filhas, ne
tos, e grande familia, em cuja casa, dizem alguns, que pousava o dito
infante, quando ia por aquellas partes, e vendo a grande multiplicação
da sua geração, e a horta com os cogombros, disse-lhe—vós, ande-vos cha
mar « Cogtfmbreiros. • Outros dizem que por ver tão multiplicai.; a
*'sua progenie, disse —• vós daes-vos aqui como Cogombros : por que é
hortaliça que dá muita íructa : de qualquer d'é$tas duas maneiras que
Tosse, d'aqui tomou esse nome Cogombreiro, beijando a mão ao infante
, pela mercê, que Ibe fazia d'este appeliido ; eos da sua progenie chama-
-ram-se —CogombreiFos — : que depois corrupto o vocabulo, se dis
seram Columbreiros ; e alguns seus descendentes foram d'ali para a ilha
da Madeira, e de lá vieram para esta ilha alguns no principio da sua
' povoação, quando veio Gonçallo Vaz Botelho, chamado o grande : como
'foram Áffonso Annes, Rodrigo Affonso, Pedro Alfonso, e Diogo Affon
zo ; segundo cuido, todos tres irmãos Columbreiros, filhos de Affonso
Annes, filho de -Rodrigo Annes Cofambreiro, que são tambem da gera
ção dos Costas, como se vê claramente no brazão de Jorge Camello da
Costa, morador no Jogar das Feteiras ; de cuja progetiie direi, o que
pude saber' com .pouca ordem, por não achar antigos que a soubessem
dizer.
O primeiro Affonso Annes da Costa, dizem que morou na Ponta da
' Garça, termo de Villa' Franca, foi casado com uma Fuão Corrêa, nobre
'mulher, natural do Porto, de quem houve estes filhos-: — O primeiro,
Vicente Affonso ; o segundo, Joam Affonso ; o terceiro, Gabriel AlTon
so ; o quarto, 'Áffonso Annes da Cunha Mouro Velho ; o quinto, Diogo
Affonso ; o' sexto, Pedro Affonso, pay de Jorge Camello; o setimo, Ro
drigo Affonso ; o oitavo, Jordam. que falleceu moço. Vicente Affonso,
dizem que casou em Villa Franca. Joam Affonso casou com uma irmã
de Marcos Lopes, de Agua de Páo, de quem houve uma filha e dou: fi
lhos que falleceram sem geração. Gabriel Affonso foi casado com Guilia
Soares, filha de Joam Velho, primo coirmão de Joam Soares, capitão
•da ilha de Santa Maria, primeiro, e d'esta de Sam Miguel. O qual Ga
briel Affonso houve de sua mulher um filho chamado Joam Soares, que
morou nos Mosteiros, e casou com Marguil, filha de Gil Vaz, do dito
logar dos Mosteiros, e de Maria Annes, filha de Joam Moreno, morador
em Ponta Delgada, irmão da mulher de Affonso Ledo.

Houve Joam Soares de sua mulher um filho chamado Francisco Soo

8
02

res, e uma filha por nome Catharina Velha, que morou com Gaspar
Dias, morador na ilha do Corvo, filho de Joam Dias, lutador na ilha
Terceira. Téve mais Joam Soares outra filha, Izabel da Costa, que casou
com Joam Rodriguez, filho de Joam Fernandes, de Santa Clara, e de
Maria Rodriguez Castanha, moradores em Santa Clara, da cidade. O
quarto filho chamado como seu pay Alfonso Annes, casou com Ignez
Martins, fifha de Martinho Annes Furtado, Irmão da m3e de Pedro Pa
checo, que houve estes filhos : Simam, que falleceu moço; Anna Alfon
so, casada com' Domingos Fernandes, Gazalhado, de quem não teve fi
lhos: e Solanda Lopes, que casou com Alfonso d'OIiveira, de quem bou- '
ve muitos filhos. Este mesmo Alfonso Annes, quarto filho de Alfonso
Annes da Costa, casou segunda vez com Beatriz Velha, filha de Gonçal-
lo Velho, sogro de Jorge Nunes Botelho, de quem houve uma filha
chamada Beatriz Velha, que casou com Fernando Pires do Quental, de
quem tem uma filha : casou o dito Alfonso Annes terceira vez com Joan- .
na Soares, filha de Francisco' Soares, tio de Christovão Soares, da Ata
lhada, da villa da Lagôa, de quem houve um filho Joam Soares da Cos
ta, sacerdote, beneficiado, que foi na freguezia de Sam Sebastião de
Ponta Delgada. Falleceu. este Alfonso Annes da Cunha Mouro Velho
no deluvio de Villa Franca.

0 quinto filho de Alfonso Annes, Diogo Alfonso Cogombreiro, ho


mem rico e poderoso, viveu primeiro em Villa Franca, e depois em Pon
ta Delgada, junto à ermida da Mãe de Deos, que elle ordenava fazer
em sua vida, e tendo já engalgadas as paredes, estando para armar a
obra de madeira, deshouve-se no preço com Diogo Dias, carpinteiro, pelo ,
que cessou a obra, até que sua mulher depois do seu fallecimento, a fez
acabar ; fazendo-lhe Nicolau Fernandes, que fez a egreja de Sam Sebas
tião da cidade, a capella de abobada, como agora está. Foi casado o dito
Diogo Alfonso, com Branca Roiz Medeiros, filha de Ruy Vaz Medeiros,
da Lagôa, de quem houve estes filhos: — o primeiro, Gaspar Carneiro,
que casou com uma filha de Joam do Porto, chamada Catharina Dias,
aturai da ilha da Madeira, de quem teve estes filhos: o primeiro, fal-
1 solteiro nas índias de Castella ; o segundç, Diogo Alfonso, casou
th
• ' com Baftholeza Pays, filha de Joam de Teves; o terceiro, Pedro Furta
do, que casou com Maria Soares, filha de Gaspar do Monte, o moço, e
• neta de Gaspar do Monte, o velho ; o quarto, Gaspar Carneiro, que fal-
leceu frade de Sam Domingos, em Coimbra. Houve mais Gaspar Carnei
ro, quatro filhas, a primeira, Guiomar Rodrigues, que casou com Vicen
te Annes da Costa, de quem houve muitos filhos e filhas.
A segunda Antonia Carneira, casou com Joam Esteves, viuvo, de
quem teve dons filhos e uma filha ; um chamado Pedro Carneiro, casou
com uma filha de João Jorge, o moço, da villa da Lagôa. O outro, Ma.
noel Carneiro, casou em Ponta Delgada, com uma neta de Bartholomeu
Affonso Cadimo. Outra filha, a quem não soube o nome, casou com Bar
tholomeu Affohso Guiluardo, morador nos Mosteiros, de quem tem duas
filhas e um filho. Branca Rodrigues, quarta filha de Gaspar Cirneiro,
, casoq com Alvaro Rodrigues, de quem houve filhos e filhas. O quarto fi
lho de Domingos Aflbnso, Sebastião Affonso, casou com uma filha de An-
' drè Manoel Pavão, da villa de Agua de Páo, de quem teve quatro filhas,
tres falleceram solteiras, e estão enterradas na ermida da Mãe de Deos,
que ordenou fazer seu avô Diogo Affonso da Costa : a outra casou core
Sebastião Rarboza, filho de Estevão Nogueira, e neto de Sebastião Bar
boza da Silva, o velho. Outro filho de Sebastião Affonso, casou com Ma
ria de Froes, filha de Manoel de Froes, escrivão de .Villa Franca.
Outro filho, chamado Aleixo Furtado de Mendonça, está na Mina.
Este Sebastião Affonso, sendo depois de velho ermitão nas Furnas, te
ve cm gallo que peleijava cruamente com a gente que lhe cantava como
gallo, ferindo os homens com o 'bico e esporões, com tanta braveza, que
não se podendo com um páo, uma vez, deTender d'elle um homem, cha
mou aqui el-Rey sobre elle, tirando» espada, com que ainda senão po
dera valer, se outros os não apartassem acudindo ao ruido. Teve tam
bem Diogo Affonso, quinto Tilho de Diogo Affonso Cogombreiro, duas
filhas, a primeira, dona Maria Medeiros, que foi casada com Francisco
Betancor, morgado, de quem teve os filhos que direi na geração dos
Betancores, A segunda, Izabel Carneiro, não casou. O sexto filho de
• Affonso Annes, Pedro Affonso da Costa, casou com dona Leonor Came)
'

là, filha de Fernando Camello Pereira, fidalgo, e,' de dona Beatriz" sas (
mulher, de quem teve tres filhos : Sebastião de Sousa Pôreira, que ca--
sou com dona Izabel, filha do doutor Francisco Tosvano, corregedor
que foi com alçada n'esta itha, de quem teve alguns filhos;' Jorge Camel
lo Pereira, que casou com dona Margarida, filha de Pedro Pacheco, de
quem não teve filhos : e uma filha, dona Beatriz, que casou- com Fran
cisco de Mendonça, filho de Mendo de Vasconcellos, fidalgo:

O setimo filho de Affonso Annes, Rodrigo Affonso, falleceu sem ca


sar. O outavo, por nome Jordam, como já disse, falleceu moço. Teve
mais Affonso Annes da Costa tres filhas : a primeira, chamada Brane*
Affonso, casou n'esta ilha com Luiz Gago, da Vilte da Ribeira Grande,
de quem houve os filhos que direi na geração dos Gagos.. A segunda,
Beatriz Affonso, casou com Heitor Alves, homem fidalgo, morador na
Agoalva, termo da Villa da Praya, da ilha Terceira ; do quaf houve ,
estes filhos — Diogo Homem, Joam Homem, Pedro Homem da Costar
e dous que morreram no mar ; e uma filha chamada Beatriz; Homem,
que casou com Antonio Dopes Homem, fidalgo. Dizem tambem ter Af
fonso Annes da Costa outra filha, que casou com Felix Fernandes, fi- .
delgo, que veio da ilha da Madeira, dò qual teve tres filhos ; o primei
ro, Hercales Fernandes, que foi para a índia. O segundo, Diogo d' An
drade. O terceiro, a quem nao soube o nome, que se foram fóra d'esta
terra, e lá falleceram. Teve tambem tres filhas, a primeira, Catharina de
Rezende, casada com Joam Mourato, A segunda, Iria de Rezende, casouv
com Rodrigo Annes, que foi da villa da Ribeira Grande, de quem houve
filhas, Anna Roiz, Iria Roiz, Maria d'Andrade, e um filho por nome An
tonio Roiz.
O que eu tenho por mais certo d'esta geração dos Columbreiros,
conforme ao brazão que tem Jorge Camello Pereira, filho de Pedro Af
fonso da Costa Cogombreiro, e neto de Rodrigo Annes dg Costa Cogom-
breiro. É que o dito Rodrigo Annes da Costa, Cogombreiro foi fidalgo
muito honrado do tronco d'esta- linhagem dos Costas, que dizem trazer
sua origem da Torre de Moncorvo, d'onde se passaram ao .Algarve, ondè
o dito Rodrigo Annes da Costa foi morador na Rapozejra; e era dà cas*
65

do infante dom Henrique, que descobrio estas ilhas ; e hoje em dia está,
ali na Raposeira uma torre que elle fez para agasalhar aq,, infante, e
principes, quando lá iam. O qual Rodrigo Annes não veio a esta ilha,
mas foram seus filhos morar á ilha da Madeira, no logar que se chama
o Caniço, e depois vieram de lá povoar esta ilha, e moraram, no logar
da Ponta da Garça tres irmãos filhos do dito Rodrigo Annes da .Costa., O
mais velho chamado Affonso Annes, que como disse foi casado com uma
Fuão Çarneira, filha d'um cidadão da cidade do Porto, de quem houve
os filhos, e filhas já ditos. Ainda que, outros sómente dizem serem seis,
« Diogo. Affonso da Costa, Vicente Affonso, Pedro Affonso, pay de Jorge
Cameljo, Affonso Annes Mouro Velho, Rodrigo Affonso, e Gabriel Af-.
fonso,, e. as filhas já ditas.

O segundo, Joam Annes da Costa. O terceiro, Pedro Annes da Cos


ta. Joam Annes veio casado com Izabel Borges, mulher nobre, da
qual houve estes filhos: Affonso Raphael, que casou com uma filha de
Joam Affonso, homem principal da Grota Funda, de quem houve al
guns filhos. O segundo, que casou com Maior da Ponte, filha de Hereira
Alves, e de seu pay não soube o nome. A qual Maior da Ponte, era
mãe de Pedro da Ponte, o velho. O terceiro filho de Joanne Annes Co
lunarei™, chamava-se Gonçallo Borges, dos principaes de Villa Franca,
que , casou com Izabel de Povos, d'Agua de Páo. Teve mais este Joanne
Annes Columbreiro seis filhas, a primeira, Catharina Borges, que casou
com Simão de Teves, letrado em leis, como direi na geração de Joam
de Teves. A segunda, chamava-se Constancia Raphael, que tambem ca
sou honradamente com Francisco Annes de Arranjo, de quem não hou
ve filhos. A terceira, chamava-se Guiomar Borges, que foi casada com
Gonçallo Annes Bulcão, do habito de Santiago, bom cavalleiro, morador
em Rabo de Peixe, da governança da villa da Ribeira Grande, de quem
não teve filhos. A quarta chama-se Maria Borges, que tambem foi casa
da honradamente com Marcos Roiz, cidadão da cidade de Villa Franca,
viuvo, pay do padre Fr. Gaspar Marques, confessor . que foi das freiras
de Jesus, no mosteiro da Ribeira Grande, de quem .houve muitos filhos
ji defuntos, e, outta Maria Borges, casada com Manoel Çurvello, da ilha
6T,

de Santa Maria, de quem tíio houve muitos filhos e 'filhas. Â qm"ritacb$-


mavá-se Clara Annes, que n3o casou. Á sexta chatoava-se Ignez Bor
ges, que não poude saber se foi cásàda.
,Pedro Annes Columbreiro, irmão de Joanne Annes Columbreird,
tambem morava na .Ponta da .Garça, oasou, enão seio nome de sua mu
lher, de quem houve os 'filhos segifirites: Joanne Annes, que morou na
Achada, e casou na villa da Ribeira Grande, com Catharina Fernandes,
'filha de Fernando Affonso, oruyvo, de quem houve tres filhos: Gaspar
Pires, Balthazar Jaques, e Fernando Annes. Teve mais Joanne Annes,
filho de Pedro Annes, estas filhas : uma chamada Bianca Jaques, que
casou com um Filão de Bastos, morador na Achada. Teve Joanne Annes
'Outra filha, Beatriz Delgada, que casou com Francisco Fernandes, fta
Achada, e depois de viuva casou com Lopo Dias, homem cavalleiro do
habito de Santiago, morador na Ribeira Grande, .de quem não houve
filhos, e ali falleceu.
Tem os Colombreiros as armas dos Costas, que sãoum escudo com
o campo vermelho, e seis costas de prata em faxa em duas palas, e al
guns tem por differença um trifulio de ouro, elmo de prata aberto, guar
necido de ouro, paquife de prata, e vermelho, e por timbre duas costas
em aspa das armas : foram todos n'esta terra muito valorosos, ricos, e
abastados, sustentavam suas casas com cavallos, criados, escravos, e
grande família.

CAPITULO SÉTIMO.
, • I
Dos Teves, e dos Cordeiros antigos povoadores d'esta ilha de Sam
Miguel, e de alguns Mottas.

Em companhia' de Gonçallo Vàz Botelho, chamado o grande, veio'


a esta ilha por mandado de el-Rey, ô do infante, Gonçallo de Teve
Paym, francez, natural de Paris, filho de Goniçâllo de Ornellas Paym,
capitão de el-Rey de França, que em umas guerras que o Rey teve,
67

segundo dizem-, com italianos, guardou c defendeu com grande esforço»


uma porta dos muros da dita cidade de Paris, sendo acpmme^ida dos1
^óimigos; com que não eqtraram nella. Pelo que apparecendo diante
de el-Rey, que o mandou chamar depois d'esta victoria, lhe perguntou
como se chamava: respondeu elle, que o seu nome era Gonçallo ^e Or-
nellas Paym ; lhe disse el-Rey,. chamo:vos eu Gonçallo da Teves, pois
tivestes com tanto esforço as portas da mjnha cidade de Pariz, pojon.de
me defendestes de não entrarem meus. inimigos. n'.ellat e d'a$ui, ficou este
appellido de Teve a elle• e a seus descendentes..

Gonçallo de Teve Paym, filho d'este Gonçallo de QrneHas Paym,


vindo a esta ilha por mandado do infante, de cuja casa era, com gran
des poderes para repartir e dar terras, e com cargo de almoxarife, foi
o primeiro n'ella : onde o capitão e elle, em nome de el-Rey, faziam as
datas das terras e a repartição d'ellas ; teve dous filhos, Pedtò de Teve,
e Joam de Teve, que por ser mais velho, foi o segundo almoxarife, de
pois do fallecimento de seu pay. O qual Jòam de Teve cisou com Izabel'
Manoel, filha de Manoel Affonso Pavão, o velho, morador na villa de
Agua de Páo, da qual houve estes filhos: O.primeiro, Joam de Teve,,
doutor, e desembargador, de que não houve filhos. Houve mais ioam,
de Teve, segundo almoxarife, uma filha chamada Guiomar de Téve, que
foi mulher de André Gonçalves de Sampaio, de quem não ficaram fi
lhos. Teve mais o dito Joam de Teve um filho chamado Joam de Teve,
que houve de sua mulher um filho só*
Houve Gonçallo de Teve, primeiro almoxarife, de sua mulher, 3.
quem não soube o nome, o segundo filho, chamado Pedro de Teve, e'
irmão do dito Joam de Teve ; ambos segundo alguns dizem, primos
coirmãos, ou parentes muito chegados de Antonio de Teve, thesoureiro
mor, que foi no reyno de Portugal : o qual Pedro de Teve, segundo fi
lho de Gonçallo de Teve, que viveu na cidade, janto da Calheta, que
tomou d'elle o nome , casou com Francisca de Mezas, da geração dos
Mezas, e Francos, irmãos da mulher de Joam Affonso, Cadimo, por al
cunha, que morou nos Biscoutos, junto de André Gonçalves de Sam
paio, e irmão da mulher de Aires Lobo, todas filhas de Izabel Franca
ú

de Menezes, da qual houve o dito Pedro de Teve estes filhos : O pri


meiro, Amador de Teve, que casou com Beatriz Roiz, filha de Pedro de
Teves Benavides, de quem houve um filho chamado Gaspar de Teve,
que por ser homem de grandes espiritos, e muita descrição, foi capilão
da companhia da guarda da fortaleza da cidade de Ponta Delgada : e
agora é capitão d'uma companhia : o qual casou com uma (ilha de Ma
noel Machado, e de Leonor Ferreira, filha de Gaspar Ferreira, de quern
tem alguns filhos.
O segundo filho de Pedro de Teve, chamou-se Sinalo de Teve, què
casou com uma filha de Gil Vaz, morador na Bretanha. O terceiro, Se
bastião de Teve, casou com uma filha de Alvaro Roiz, procurador do
numero, imorador nos Biscoutos, da Fajã : pay da mulher de Sebastião
Luiz, pay de Jeronymo Luiz. O quarto, Jeronymo de Teves, que falle-
céu solteiro.
Teve mais Pedro de Teve uma filha chamada Francisca de Teve, mu
lher d' Antonio da Motta: outra, Izabel de Teve, freira no mosteiro da Es-
perança, da cidade de Ponti Delgada, e Anna de Teve, mulher de Se
bastião Gòhçafvès, Éhò de Francisco Dias 'Caiado ; e Guiomar de Teve,
que casou com .Rtiy Véiího, filho da Jòam Afres dò^lho, de quem (em
os filhos que se 'flisSè tia geração dos Velhos.
Alem d'estes 'fíítíòs teve Gonçallo de Teve outro fflho, chamado Si
mão de Teve, qfrè casou com Catharína Borges, filfea de Joanne Annes
Columbreiro, morador em Villa Franca, onde morreVam no deluvio.
Veio tambem com o dito Gonçallo de Teve, primeiro almoxarife, por
mandado de el-fíey e do infante, a esta ilha de Sam Miguel, por Wrimeiro
escrivão do almoxarifado, um seu irmão (segundo afirmava Pedro Soa
res, capitão da ilha de Santa Maria ) chamado Pedro Cordeiro, que mo
rou em Villa Franca, com sua mulher, da qual tinha quatro filhas mui
to formozas, e virtuosas ; uma casou com Gonçallo Vaz Andrinho, o
moço, filho de Gonçallo Vaz Botelho, da qual houve estes filhos, An
dré Gonçalves de Sampaio, o Congro, por alcunha, e a mulher de Joam
de Bctancor de Sá, fidalgo, e a mulher de Fernam de Macedo, tambem
fidalgo, irmão do capitão do Fayal, como disse na geração de Gonçallo
Vaz, o grande.
69

A segunda filha de Pedro Cordeiro, chamada Leonor Cordeiro, casou


com Fernam Camello, pày de (Gaspar Camèlío, fidalgo, e de Pedro Ca-
mèllo, e dè Jorge Camello, e de Henrique Camello. como direi na gera
ção dos Camellos. A terceira filha de Pedro Cordeiro, que se chamava
Cathárina Cordeiro, casou com Vicente d'Abreu, homem fidalgo, de
Portugal, da qual houve um filho chamado Pedro d'Abreu, que por ca
sar com uma irmã de Francisco Ãffonso, de Vila Franca, contra vonta
de de seu pay, o mandou caminho cie Portugal, logo em casando ; ella
falteceu. A quarta filha de Pedro' Cordeiro» chamada Maria Cordeiro,
casou com Joam Roiz, recebedor d'el-Rey, que n'aquelle tempo cha
mavam recebedores aos feitores ; este era criado de el-Key, bomem de
muita sorte, da qual houve um filho e duas filhas : o filho, Pedro Ro
drigues Cordeiro, casou com Catharina Cordeiro, sexta filha de Martim
Annes Furtado, de quem teve os filhos que direi na geração dos Fur
tados.
A primeira filha do feitor Joam Rodrigues, casou com Sebastião Ro
drigues Panchina, irmão de Pedro Xnnes, Bernardo Annes, Joam An
nes, e Jorge Vaz Panchina : o quaí Sebastião Roiz morou alem da Ca
lheta, e Pedro de Teve na Quintan, onde agora mora seu sobrinho An
tonio Ledo, filho de Joanne Annes Panchina, casado com uma filha de
Joam Roiz dos Alqueires, de quem teve filhos e filhas, e irmão de Ma-
noef de Castro, solteiro ; e Leonor Joam, que casou com Catharina An
nes, filha de Luiz Galvão, dè quem tem duas filhas, irmão tambem de
Simôa de Castro, q^ie casou com Migue) Martins, filho de Joam Alves,
o esganado, da Lagoa, è de Catharina Martins, sua mulher, de quem
houve um filho chamado Miguel Martins, clerigo bem entendido, e bom
cantor, que foi cura na cidade; e duas filhas, Leonor Leda, casada com
um sobrinho de Balthasar de Armenteiros, castelhano, chamado Gaspar
de Armenteiros ; e a outra, Catharina Miguel, casada com Christovão
Cordeiro, filho de Christovão Cordeiro, escrivão que foi da alfandega.
Hoíive Sebastião Rodrigues Panchina, de sua mulher estes filhos :
Sebastião Roiz, vigario que foi nos Fenàes, e dfipóis da Relva, termos
da cidade, e uma filha chamada Maria Cordeiro, que casou com Roque
.70

S^qpes, escrivão da correição, de quem não houve filhos ; e depois.càscrç


segunda vez com Nuno Barboza da Silva, filho de Heitor Barboza da
•Silva, de quem tambem não teve filhos. Houve Sebastião Rodrigues
,Panchina,. de sua mulher outro filho, chamado Christovão Cordeiro, que
foi escrivão da alfandega n esta ilha de Sam Miguel, e casou com Solanda,
•Rodrigues de Benavides, "de quem houve estes filhos. O primeiro, Joam
.Rodrigues Cordeiro, qno foi alcaide na cidade de Ponta Delgada, e casou
com Maria Luiz, filha de Luiz Martins, e de Margarida Gonçalves, de
quem tem filhos e filhas. O segundo, Manoel Cordeiro do Sampaio, de
habito de Christa, com trinta mil reis de tença, que agora é juiz do.
mar, 'homem de muita discrição, prudencia, e altos espiritos, digno de
grandes cargos, que casou com Mecia Nunes, filha do licenciado Gon-
•çallo Nunes de Aires, e de sua mulher, filha d*rm almaxarife, da cida
de d'Angra, fla ilha Terceira, dos priucipaes d'ella..

O terceiro filho de Christovão Cordeiro, chamado, como . seu pay ,


«Christavão Cordeiro, é casado com Catharina Miguel, como atraz disse.
<0 quarto, Pedro Alves de Benavides, que foi para as índias de Castella.
O quinto, chamado André Cordeiro, casado com Maria de Mattos, 'filha
'de Jeronymo do Quental. O sexto, Antonio de Benavides, letrado em
leis de grande habilidade, o qual pcleijando por defeza da patria, foi
'morto na batalha naval, que houve entre as armadas de el-Rey Philippe,
e a dos corsarios, que vieram da Terceira -ao porto da cidade de Ponta
,Delgada. O setimo, chamado Matheus Cordejro. é amla solteiro, todos
homens de grandes espiritos ; e outros qae faUeceram. Houve mais Joam
Roiz, feitor, de sua mulher Maria Cordeiro, ou|ra filiia que casou com
Jordam Jacome .Rapozo, de quem houve os filhos.que direi na geração
,de Ruy Vaz do Tracto Rapozo.
Por fallecimento -do dito feitor Joam Rodrigues, ficou sua mulher
Maria Cordeiro viuva, « casou segunda vez com Jorge da Motta, filhe
de Fernam da Motta, honrado e rico, natural e cidadão do Porto, paren
te de dom Joam de Souro, bispo do. Algarve, o qual se aposentou em
Villa Franca, e tinha dous filhos — Jorge da Motta, e Pedro da Motta:
os quaes estando ambos com seu pay rico, casou Jorge da Motta com*
n

«fita Maria Cordeiro, desgostamlo-se seu pay d'isso, só por ser ella viiit?,
pelo que se tornou com o filho Pedro da Motta para o Porto. Jorge da
Motta, que cà ficou, foi um homem muito honrado, virtuoso e discreto,
e era cavalíeiro do habito d'Aviz. O quar houve dia dita Maria Cordeiro*
sua mulher, tres filhos e um» filha. O primeiro, Antonio da Motta, ca
sou na cidade de Ponta Delgada, com Francisca de Teve, filha de Pedra
«Te Teve, de quem houve os filhos que se dirão em outra parte.

O segundo filho de Jorge da Motta, e de Maria Cordeiro, chamado


Sim3o da Motta, casou com Izabel Affonso,. filha de Joam Affonso da
Costa, pay de Jorge Affonso, do Nordeste, de quem houve alguns filhos;
depois casou segunda vez- comnma filha dw Joam Roiz, dos Fenaes da
Maia, filho de Fernando Roiz, da Lsgôa, de quem houve dois filhos, Fr.
Jorge da Motta, e Fr. Manoel1, que foram bons religioso*, pregadores,
da ordem de Sam Domingos, e tiveram alguns cargos honrosos na dita
ordem. Depois caso» terceira vez com Catharina Ferraz, viuva, que fô-
ra mulher de Francisco da G*sta, filho de Manoel do Porto, da cidade
de Ponta Delgada, da qual nSo sei se houve alguns filhos. Outro filho,
terceiro, houve Jorge da Motta, chamado Christovãò-da Motta, clérigo, e
beneficiado em Villa Franca, que com sua liberal condição,. sustentou
I sempre èm quanto viveu': uma casa de muitos hospedas. '.• , ,
; A filha do dito Jorge d> Motta, chamada Maria de Teve, for a pri
meira freira que hpwve n'esta ifha de Sam Miguel,, e em todas as ilhas
dos Açores ; qpe depois do deluvio de Villa Franca se foi metter em
uma ermida de Yalfe de Cabaços, da villa d'Agua de Páo r levando com-
sigo algumas meias irmãs, que seu pay depois teve de outra mulher
com quem casou; ali estiveram guardando a regra da religião intei
ramente, e fazendo penitencia em um pequeno mosteiro que lá se fèz,
e d'ahi se mudaram para outro que lhe fizeram em Villa Franca, onde
ella acabou santamente, como a seu tempo direi ; e foi em seu tempo
a mais discreta mulher que houve n'esta ilha, acompanhada de muitas
virtudes.
Depois de fallecida Maria Cordeiro, casou Jorge da Motta com Bar-
tholeza da Costa, filha de Joam d' Arruda da Costa, da qual houve os fr
72

lhos e filhas que tenho dito na geração de Joam Gonçalves Botelho, fi-
lho de Joam Gonçallo Vaz, o grande. Joam Roiz Cordeiro, ( seu npme
proprio era Joam Roiz de Sousa , e foi postiço este nome por ter tres
inconvenientes, que não fazem ao caso para a nossa historia, porem
devia ser parente dos Cordeiros,) tem por armas cinco cordeiros de pra-
ta em campo verde, e uma aguia por timbre.

CAPITULO OITAVO.

De Jorge Velho antigo povoador da ilha de Sam Miguel, e dos Jorges

seus descendentes.

Como tenho dito, quando tratei da, ilha de Santa Maria, com o pri
meiro capitão Gonçallo Velho, comméndador de Almourol, no principio,
logo quando esta ilha da Sam Miguel foi achada, entre os primeiros
que a povoaram, veio ter a ella, desembarcando na Povoação Velha,
um Jorge Velho, bom cavalleiro da Africa, da casa do infante dom Hen
rique, por seu mandado a deitar gado n'ella; e outros dizem que então
veio Gonçallo Vaz, o grande, e á ilha de Santa Maria um Gonçallo An
nes, filho de Simão de Sá. de Portugal, homem de nobre geração, d'on-
de dizem que se auzentou, por que como homem poderoso, que lá era
affrontara um prelado : e trouxe comsigo uma filha muito formoza, dis
creta, e grave, de pouca idade, chamada Africa Annes; e por que mor-
rendo-lhes todos os filhos que tinha, o dito Gonçallo Annes, lhe disseram
que ao primeiro que lhe nascesse, puzesse um nome estranho, que nin
guem tivesse, e nascendo-lhe esta filha, lhe poz o nome de Africa , que
ao depois se chamou Africa Annes, tomando osobrenome dopay, o qual,
ou por envelhecer, ou por se auzentar por um desastre da morte, dei
xou a dita sua filha encarregada ao capitão Fr. Gonçallo Velho, seu gran
de amigo, em cuja companhia viera do reyno. O qual capitão a casou
com Jorge Velho, acima dito, que tambem com elle havia vindo. Do
7 • 73
qual houve uma filha chamada Ignez Alfonso, que viveu na ilha de San
ta Maria, e casou com Jorge da Fonte, bom cavalleiro, de quem houve
estes filhos: — Alvaro da Fonte, e Joam da Fonte, que gastou toda a
sua fazenda no descobrimento da ilha nova, sem a poder achar ;-,=• e
Adam ds Fonte, e outros filhos cavafteiros, dos da ordem de Christo,
e dos da ordem de Santiago, todos muito nobres e< honrados. ' ^
.' • Da ilha de Santa Maria, trouxe a esta de Sam Miguel, onde tinha
sua fazenda o dito Jorge Velho, sua mulher Africa Annes, de quem
houve tres filhos — Joam Jorge, Pedro Jorge, e Fernando Jorge. O
primeiro filho Joam Jorge, foi morador em Agua de Páo, e casou a
primeira vez, na mesma villa de Agua de Páo, com Catharina. Martins,
natural de Beja, da qual houve estes filhos : — Fr. Barthplomeu Jorge,
que foi a Africa, e de lá se armou cavalleiro á custa de seu oay, com
armas e cavallo : e em uma iortida que fizeram contra os mouros, can
sado do trabalho das armas, se lhe alvoraçou o sangue, e abafou ; foi
enterrado em uma egreja de Jesus, acompanhado dq çapjjfão e de todos
os fidalgos e cavalleiros. Teve mais Joam Jorge o segundo filho chama
do Fernam Jorge, que casou na villa d'Agua de Pão com ízabel Vieira,
filha de Pedro Vieira, de quem houve quatro filhos: Barftíolòmeu Jor
ge, que morreu na índia; Sebastião Vieira, que mora éiti Agua de Páo;
e Manoel/ e Amador, defuntos, Solteiros; e uma filha chamada Catharina
,Vieira, que foi casada com Domingos Nunes, de quem ficaram alguns
filhos.
,, .. • .. ",' . .i." ir,.-) , . I ,,.. ',:.'ií !i ,
1 Teve mais Joam Jorgeí d'esta primeira, mnlhçrf( Catharina Martins^
tres filhas, a primeira, . Ignez Jorge, que foi casan^ com Fernando Gd
Jaques, fidalgo natural de Lagos, do qual houve un^, filho por nome Gil
Jaques, que casou com uma filha de Soeiro da Costa, de Lagosf tio de
Ruy Ga gq da Camara, primp coirmão de sua, avó, chamada, Bra^ça A£,
fònso. A segunda filha de Joam Jorge, chamaya-se Violada Jorge., que(,
casou com Ruy Vaz Baleato, morador na cidade de Ponta Delgada ^ da^
qual houve um filho, por nome Amador Roiz, que casou com,,uma Fuâo
Paes, irmã da mulher de , Pedro Velho, filho de Jòam Alves do Olho-j
Houve mais Ruy Vaz de sua mulher tres filhas : a primaira, chamada
74

ízabel Roiz, qu*í foi casada com, André Travassos, filho de Joam Alves»
do Olho, de quem houve um filho chamado Joam Travassos, que casou >
nos Mosteiros ; e um» filha chamada -Violante Velha, tambemxasada'" nos -
Mosteiros..

A segunda filha. dè Ruy Vaz,. a quem nãe soube o nomei casou com .
Bartholomeu Aflonso Cadimo, filho de Joam AlTonso Cadimo, morador^
na cidade de Ponta Delgada, na Calheta. A terceira filha de Ruy Vaz,,
chamada Francisca, falleceu solteira, de peste, na dita. cidade de Ponta'
Delgada. A terceira filha de Joam Jorge, chamava-se Izabel Jorge, e ca- -
sou com Vasco Vicente Rapozo, natural da Rapozeira, do Algarve, do*
qual houve seis filhos e quatro filhas.. O primeiro filho* chamado Adam t
Vaz, foi clerigo de missa, dos primeiros que cantaram missa n'esta ilha,,
e beneficiado na villa d'Aguade Pão. O segundo, Roque Vaz, que casou,
na mesma viíla com Helena Fernandes*, filha de Alvaro. Fernandes, do.
qual houve um filho, chamado Francisco Vaz, e duas filhis, uma por-
nome Maria Roque, quefalfeceu casada,, e deixou, filhos e filhas,, e a ou«-
tra segunda filha falleceu creança.
O terceiro filho de Vasco» Vicente e de Izabel Jorge, . chamava-se,
Vicente Vaz, que casou com. Antonia Gonçalves*, na villa da Lagoa, do.
quem houve dous filhos, Gaspar e Antonio, que foram papa as índias da
Castella. O, quarto, filho de Vasco Vicente, ,e de Izabel Jorge, por. nome
Sebastião Vaz, casou com Margarida Coelha, na villa id'Agua de P8p.Se*
quem houve quatro filhos e tres filhas. O quinto filho de Vasco Vicente,
e de sua mulher Izabel Jorge, chamava-se Manoel. Vaz, clerigo e bene
ficiado, na villa da Ribeira Grande. O sexto, por nome Joanae, falleceu,
moço. A primeira filha de Vasco Vicente, e de Izabel Jorge, chamava-
se Eva Vaz, que falleceu no tempo do deluvio de Villa Franca, na villa
d'Agua de Páo, sendo ainda solteira, por que com o terremoto cahio o
quadrado d'uma casa, e a acertou serce pelo meio. A segunda filha cha
mava-se Catharina Vaz, que casou com Joam Cabral, dos Remedios, fi
lho de Estevão Travassos, e de Violanta Gonçalves, da qual houve cinco
filhos — Antonio Cabral, casado com uma filha de Rodrigo Alves, da
Bretanha, e tem filhos e filhas : Adam Vaz, que falleceu solteiro ; Franr.
•Í5

- éisco Travassos, que casou com uma filha de Thomé Lopes, de quem
tem filhos e filhas ; Joam Cabral ; e Manoel Velho, solteiros.
Houve mais Joam Cabral, de sua mulher Catharina Vaz, cinco fi
lhas; a primeira, Simôa Cabral, casou com Melchior Trajos, no logar
de Rabo de Peixe, filho de Joam Tavares, de quem tem filhos e filhas ;
« uma filha casada com Manoel de Puga, primo do licenciado Bartholo-
meu de Frias. Á segunda filha, por . nome Roqueza Cabral, casou com
-Lucas Affonso, filho de Braz Affonso, da Praia, e de Branca do Monte,
*de quem tem filhos e filhas. A terceira, chamada Briolanja, casou com
Manoel de Viveiros, filho de Custodio Affonso, e de sua mulher, mora
dores em Rosto de Cão, de quem. tem um filho e uma filha. A quarta e
quinta estão ainda solteiras.
A terceira filha. de Vasoo Vicente, e de Izabel Jorge, chamada Ma
ma, Vaz, foi casada com Braz Gonçalves, na Lagôa, de quem houve tres
.filhos, e uma filha, casados todos na vilia da Lagoa, elles e ellas tem
fijhos e filhas. A sexta .filha de Vasco Vicente, è casada com .Manoel
Martins, escrivão dos captivos, em toda esta ilha, do qual houve dous
filhos, e quatro filhas ; tem um Gasado, e outro solteiro; duas filhas ca
sadas, e duas por casar.
Casou o dito Joam Jorge a seganda vez com Beatriz Vicente, natural
- «lo Algarve, da qual houve tres filhos —Roque Jorge, que casou com
Maria Affonso, filha de Pedro Annes Preto, de quem houve um filho,
. por nome Roque. O segundo, chamado Joam Jorge, que casou com Mor
de Sequeira, filha de Affonso .Fernandes de Sequeira, e de sua mu
lher, de quem houve dous filhos — Antonio e Cosme, que falleceram; e
uma filha chamada Catharina de Sequeira, que casou com Salvador Dias,
morador na villa da Lagôa. O terceiro filho de Joam Jorge, e de Beatriz -
Vicente, sua mulher, chama-se Joam Jorge, o moço, que casou com
Izabel da Costa, de quem tem. dous filhos casados, e duas filhas casadas,
e uma filha freira no mosteiro de Santo Andre, na cidade de Ponta Del
gada.
Houve mais Joam Jorge da segunda mulher Beatriz Vicente, quatro
filhas, a primeira Margarida Jorge, foi casada .com Francisco Soares,
76

avô do capitão Ruy Gonçalves da Camara, pay de Manoel da Camara, da


qual teve um filho chamado Diogo Soares, que se foi d' esta ilha, sem
mais se saber d'elle. A segunda filha de Joam Jorge, e de Beatriz Vi
cente, chamada Maria Jorge, foi casada com Gaspar Pires Cavalleiro,
filho de Pedro Annes Prèto, fidalgo, e de Catharina Luiz, sua mulher ;
houve d'ella doas filhos — Manoel e Francisco, que falleceram moços;
e tres' filhasi tmia chamada Margarida Henrique, casada com Amador
Coelho.de quem hoove uma filha que falleceu moça, e um filho, bom
clerigo, chamado Manoel Coelho, beneficiado na villa d' Agua de Páo, e
outros tres filhos.^- Pedro Coelho e Ruy Coelho, casados ; e Lourenço
Coelho, solteiro. , ,! ;

A segunda filha de Gaspar Pires,*£de 9ua mulher Maria Jorge, cha-


ma-se Catharina Luiz, que casou com Miguel Lopes de Araujo, filho de
Lope Ahhés, é de sua. mulher Guiomar Rodrigues de Medeiros, do qual
houve tres filhos e duas filhas, um d'elles, chamado Antonio d'Araujo,
que ê agofa" vigario na villa d' Agua de Páo; e outro solteiro chamado
Manoel de Medeiros, e outro filho, Francisco d'Araujo, que casou era
Portugal, e agora é escrivão da camara, do publico e judicial, em Villa
Franca; e duas filhas, uma chamada Anna de Medeiros, que casou com
Gaspar Dias, honrado e muito rico cidadão, de quem tem tres filhos e
uma filha. A outra filha chamada Maria de Medeiros, casou com Ma
noel Rebello, filho de Balthasar Rebello, e de sua mulher Guiomar
Borges. < '•" ' r '*•'

A terceira filha de Gaspar Pires, chamada Jeronyma Luiz, que ca


sou com Antonio Daria, natural da ilha da Madeira, filho de Simão
Daria, dò quaítem filhos e filhas. Houve mais Joam Jorge, de sua mu
lher, Beatriz Vicente, à terceira filha, por nome Francisca Jorge, que
casou com Matheus Dias, homem muito honrado e rico, da qual houve
úm filhò chamado Manoel Dias, que foi casado com uma filha de Anto
nio íernánde^Furtadò^dò Fayal, de quem houve filhos e filhas : e ou
tro ' filha segundo1; chamado Joam Dias, que foi casado primeira vez com
uma filha de Melchior Vaz Fagundes, de quem houve filhos e filhas, e
agora è casado Segunda1vez1 tia Mala. A quarta filha' de Joam Jorge, e de
77

Beatriz Vicente sua mulher, cbamava-se Joanna Jorge; que foi casada -
com Francisco Corrêa de Sousa, escrivão da camara que foi na villa da
Lagôa : da qual houve tros filhos — Henrique Corrêa, Jorge Corrêa, e
Francisco Corrêa ; todos casados na Lagôa ; e uma filha chamada Mari*
Corrêa de Souza, casada em Agua de Páo, com Ruy Gonçalves, filho
de Jeronymo Gonçalves, e de sua mulher, moradores que foram na Villa
Franca, de quem tem filhos e filhas.
O segundo irmão de Joam Jorge, chamava-áe Pedro Jorgèf, caSou
ná cidáde de Ponta Delgada, com um* filha de Gonçallo Ahries, e de
Catharina Affohso, naturaes da cidade di> Porto, irmào d6'Jòam Rodri
gues, o Velho, pay de Melchifor Rodrigues, escrivão da camara, que fòi
na cidade, e irmão da mulher de Joam Fernandes Alcalà, de quem hou
ve dous filhos, o primeiro eftamado Gaspar Jorge, falleceu solteiro eito
Portugal ; o segundo por nome Jeronymo Jbrge, que casou com Beatriz*
de Viveiros, filha de Gaspar de Viveiros, e de sua mulher, da qual hou
ve quatro fiffios. O primeiro, Pedro Jorge, que falleceu em Lisboa, e
Fr. Jeronymo, da ordem de Sam Domingos, religioso de muita virtude,
bom letrado e pregador : e o terceiro, Gaspar de Viveiros, casado com
Maria Balda ia, filha de Melchior Beldaia, que tem agora o morgado dto
seu avô Pedro Jorge, e é administrador da sua capella. O quarto; An
tonio Jorge, que casou em Portugal.e falleceu sem filho nem- filha.
Houve mais Jeronymo Jorge,, de sua mulher Beatriz de Vidros, Cin
co filhas : a primeira, chamada Maria Jeronyma, què fòi casada com
Manoel do Rego, de quem houve dous filhos, Gonçallo do Rego, que
casou primeira vez no Nordeste, e a segunda vez com uma filha de Joam
Roiz dos Alqueires, de quem tem alguns filhos, e o segundo filho, Ma
noel do Rego, que casou com Jeronyma de Sousa, filha de Nuno de
Sousa, e de sua primeira mulher Catharina de Moura, de quem tem fi
lhos1. Houve mais Manoel do Rego quatro filhas, freiras no mosteiro da
Esperança, da cidade de Ponta Delgada, e outra casou com Luiz de Cha
ves, de quem tem filhos e filhas. Houve mais Jeronymo Jorge, de sua
mulher Beatriz de Viveiros, a segunda filha chamada dona LdzW, que
e asou com Ruy Gonçalves da Camara, fidalgo, filho de Henrique de Bet

10
78

taocor, e de dona Simôa sua mulher, de quem tem filhos e filhas ; algu»
freiras no mosteiro de Jesus da villa da Ribeira Grande.
Houve mais Jeronymo Jorge da dita sua mulher, tres filhas, duas
são solteiras, e uma casada com Antonio da Costa, filho de Joam Vaz, •
da Achada. Houve tambem Pedro Jorge de sua mulher duas filhas, uma-
chamada Catharina Jorge, que casou com Pedro Gonçalves Carreiro, -
de quem houve um filho chamado Diogo Vaz Carreiro, que casou co m
Beatriz Roiz, filha de Garcia Rodriguez Camello, e de sua mulher Leo
nor Soeira, de quem. não teve filhos, e fez o mosteiro de Santo André
da cidade tio. Ponta.. Delgada, para n'elle recolher suas parentas pobres,
com doação de sessenta moios, d'elle e de sua mulher, de retida' cada
um anuo, de que agora, é padroeiro o licenciado Antonio de Frias, seu.
sobrinho.
A^segunda filha.de Pedro Jorge e de sua mulher, chama-se Beatriz
Jorge, que foi casada com Gaspar Camello Pereira, filho de Fernam
Camello, morador que foi nas Feteiras, de quem houve Pedrb Camello,
juiz dos orphãos, na cidade de Ponta Delgada, casado com dona fria :
e Leonor Camello, mulher de Alvaro Martins Mem, porteiro mór dos
captivos, e outros que ao diante direi,-na geração dos Camellos : e dona
Jeronycaa, mulher de Jorge Furtado, do habito de Christo, com vinte
mil reis de tença, que agora tem seu filho Martim de Sousa. O terceiro
irmão de Manoel Jorge, e de Pedro Jorge, chama-se Simão Jorge, mui
to esfqrçado cavalleiro, o .qual foi d esta ilha ao reyno, com um navio
carregado de sevada para seus gastos, e trouxe de Lisboa o alvará de
villa no logar de Ponta Delgada, e depois tratava em Cabo Verde; e
falleceu solteiro, estando em Lisboa muito rico. Tendo em sua vida a
principal morada na ilha da Madeira, na cidade do Funchal, d'onde vi
nha algumas vezes a esta ilha a ver seus parentes e irmão Joam Jorge,
que morava na villa da Lagôa, e Pedro Jorge na cidade de Ponta Del
gada, que eram as villas onde tinham grossas fazendas, e viviam todos
ricos e poderosos ; pelo que foram servir a el-Rey na Africa com outros
seus parentes, á sua propria custa ; d'onde tornaram todos armados ca-
valleiros, excepto um Bartholomeu Jorge, filho de Joam Jorge, homem.
79

grande e bem disposto, valente e tão extremado cavalleiro, ,juc corren


do, na carreira apanhava as laranjas do chão; ao qual mataram os mou
ros em um recontro, que com elles teve em Africa.

—. —! J——* ' • t.

CAPITULO NONO.

'Da progenie dos betancores, que vieram DA ILHA DA MaD£1HA POVOAR


esta de Sam Miguel, no tempo de Ruy Gonçalves da Camara,
terceiro CAprrAo e primeiro do nome.

Como atraz tenho contado, quando tratei das ilhas Canarias ( segun
do o que escreve Estevão de Gaoribay, universal chronista de Hespafiha)
governando o reyno de Castella a raynha dona Catharina, mulher que
foi de el-Rey dom Henrique, terceiro do nome, pelo principe infante
dom Joam, que foi o segundo Rey do nome, como governadora dos
reynos ; um moço Presbeon, segundo outros, Prubim de Brancaihonte,
almirante de França, lhe pedio a conquista das ilhas Canarias, com ti
tulo de Rey phra um fidalgo francez seu -parente, chamado Mossem, ou
.Monsiur Joam de Betancurt, a quem outros Chamam Betancor — e que
a raynha lh?s dera, e o ajudara. Partindo com boa armada de Sevilha
o novo Rey, e chegando ás ilhas Canarias, ganhou tres delias : Lança
rote, Forteventura, e a do Ferro; sem poder conquistar a Grã-Canaria,
pela resistencia que achou n'ella ; mas das outras mandára mercadorias
a Hespanha, em que fazia proveito ; e estando n'esta conquista, ou ma
taram ao novo Rey Mossem Joam de Retancor, ou como outros dizem,
se foi a França refazer de novo para a conquista, e deixára ahi um so
brinho, chamado Mossem Menante, ou Mossem Maciot de Betancur.
O qual, não tornando seu tio de França, por não poder sustentar a
guerra, vendera as Canarias ao infante dom Henrique, por certa cousa
que lhe dera na ilha da Madeira, que ao diante direi, quando tratar de
Ruy Gonçalves, capitão tereeiro d'esta ilha, e primeiro do nome, e de
80

sua mulher dona Maria de Betancor, que veio das Canarias com seu pay
Mossem Maciot de Betmcor, para a ilha da Madeira, onde casou com
este capitio, e dahi veio com elle para esta ilha de Sam Miguel ; da
qual era capitão : e por estar aqui sem parentes, mandou vir ao depois
da dita ilha a um seu sobrinho, chamado díspar de Betancur!, filho de
Mo•sem Maciot, ao qual encabeçou em um morgado, o que fez por nío ter
filhos de seu marido, como ao diante direi.
Este Gaspar de Betancor, sobrinho da primeira capitoa dona Maria
de Betanqor, e parente muito chegado de Mossem Rubem, ou Rubira
Sraneamonte, almirante dç França, e descendente de Mossem, ou Mon-
siur Joam de Betancor, Rey das ilhas Canarias, se foi d'esta ilha dar a
el-Rey, e casar em Portugal, como casou com dona Guiomar de Sá, da
ma do paço, filha de Henrique de Sá, do Porto, que os mouros mataram
estando servindo a el-Rey em Ceuta i e por ser costume naquelle tem
po não casarem dentro no paço, consertando o casamento, se desposaram
em casa de dona Violanta, sua prima co-irmã, mulher do conde da Cas
tanheira. E não deixarei de dizer, o que cm verdade aconteceu antes
dos desposorios ; e foi assim.
Andando a dita dona Guiomar de Sá no paço, fazendo certa devo
ção de Sam Joam, ou outra .1'outro Santo, em que esperava, no derra
deiro dia d'ella, que o primeiro homem que hou visse nomear do mes
mo nome havia ser o marido que com ella casasse, e se havM ser por'
tuguez, ou não; como é costume de mulheres, ou supersticiosas, ou de
masiadas, muito desejosas de saber o que lhes ha de succeder ; ás qua^s
o demonio responde por successor, permitlindo Deos que sejam enga
nadas d'elle, ou ás vezes certificadas ; pois em logar de Deos o vão bus
car no que pertendem. Succedeu no tempo e dia que Gaspar de Be-
tancor foi beijar a mão a el-Rey, vestido de verdoso, e no mesmo dia
antes que o visse, contava a mesma dona Guiomar, ir ter um som^aos
seus ouvidos, que o marido que com ella houvesse de casar havia ser
íranc«z. e a primeira vez que o visse, o veria vestido de verdozo, como
vio. Com estes successos engana muitas vezes o demonio a muitas mu
lheres, quf façam semilhantes superstições, como esta.
t
Depois de casados em PortugaL como tenho dito, Se vieram para
«sta ilha, e viveram ambos em Villa Franca, antes d'ella subvertida al
gum tempo; e n'esta ilha houveram os filhos seguintes: — O primeiro
filho legitimo, chamado Henrique de Betancor, andou no paço com boas
,moradias servindo e!-Rey dom Manoel, ao qual o mesmo Rey fez mercê
das saboarias d estas ilhas ; casou com dona Maria d' Azevedo, filha de
Manoel d'01iveira, estribeiro-mór do cardeal, e iexe uma filh• que cason
com dom Alvaro de Luna, filho de dom Pedro de Gusmão, castelhano,
que foi dos cabeças das communidades, e falleceu ella, sem haver entre
elles mais filhos. O segundo filho, Joam de Betancor de Sá, foi o melhor
cavalleiro das ilhas, e apanhava muitas laranjas do chão na carreira, indo
correndo a espora fita, e corr ia tambem a cfrvallo indo em pé sobre a
sella, e fazia outras muitas destrezas de extremado cayaHeiro ; casou
com Gujomar Gonçalves, filha de Gonçallo Vazf O jpoçty c^^A0
<Jrinho, e neta de Gonçalfo Vaz Botelho, o Grande^ da qual houve os
-filhos seguistes.
O primeiro, Francisco de •Betancor de Sá, que, lhe su/ççfideu no
'morgado, e teve boas saboarias na ilha da Madeira, o qual foi casado
,com dona Maria de Medeiros, filha de Diogo Affooso Coiombreiro, ho-
ftiem fidalgo muito principal e rico n'esta terra ; de qtusm houve um
filho, chamado André de Betancor, que ficou: só, e herdou o morgado,
•e outros que falleceram. O qual André de Betencor casou na ilha da
Madeira, com dona Izabel de Aguiar, filha de Ruy Dias de Aguiar, e de
sua mulher Francisca de Abreiu, mulher que foi de Joam d'Ornellas
•de Sá Vedras, que vivia na capitania de Machico, que é do senhor
^ristão Vaz da Veiga, que, foi capitão de Malaca, e agora capino de
Hfjactyjçp, e capjtãp-uior da guerra em toda a ijfta da, Ma^eijra, e ajcaide
ra^r da fortaleza, tio de (Jona kabel, filha de seu primo, ,co;ir.mj>o, e
spbjjnho dos capitães da ilha, e sobrinha de. Marechal, e. de dom Diogo
Afi Squsa, qu* fqjíVipç-^,^a Ifldja. t ,
Seus filhos, o mais velho, chama-se Francisco de Betancor de Sá;
o segundo, Ruy Dias de Aguiar; o terceiro, Gaspar de Betancor de Sá;
cuji fazenda va lerá cento e cincoenta mil cruzados. Outro filho leve
82

Joam de Betancor, chamado Simão de Betancor, que casou na viffa tf*


Ribeira Grande, com dona Margarida Gago, fiiba de Ruy Gago, de quem
houve os filhos seguintes : Joam de Betancor, que falleceu clerigo de
evangelho; e Antonio de Sá, que já disse, cavalleiro do habito de Chris-
to, com twa tença ; que casou com dona Philippa Pacheco, filha de Pe
dro Pacheco, de quem houve os filhos atraz ditos na geração de Gon-
çallo Vaz Botelho, chamado o grande. Houve Simão de Betancor de
sua mulher, dona Margarida Gago, outro filho, que foi religioso» cha
mado Fr. , Pedro, frade de missa, observante da ordem de Sam Fran
cisco ; e quatro filhas freiras, no mosteiro de Jesus da vi lia da Ribeira
Grande ; a- saber — Guiomar de Jesus, que foi muitos annos abbadessa;
Beatriz da Madre de Beos ; Francisca dos Anjos ; e Maria de Santíi Cla
ra;: professas, perfeitas religiosas, e de muita virtude.

Teve Joam de Betancor outro filho chamado Gaspar de Betancor,


que casoa com dona Beatriz de Mello, filha do capitão da Graciosa, de-
quem não houve filhos, o depois casou com dona Izabel Fernandes, fi
lha de Antonio Lopes, que morou na Relva, homem muito honrado, da
governança da cidade, e rico, e de Maria Falcôa, de quem tambem não
teve filhos : teve tambem Joam de Jietancor de Sá outro filho, chamado
Antonio de Sá, muito bem posto e gentil homem, valente de sua pessoa,
que servio a el-Rey na Africa, e falleceu solteiro : estando em Cabo de
Gue, cercada esta villa, e não tendo lingua, elle sahindo delia achou
«m mouro de Pusagate, e jogando com elle ás lançadas» prendeo-o e
levou-o dentro dos muros ás costas : do qual souberam o que se passa
va entra os mouros.

Teve tambem Joam de Betancor outro filho, chamado Ruy de Sá,


que casou com dona Maria Cabeceiras, filha de Bartholomeu Rodrigues
da Serra, homem principal e rico, morador nos Fenaes, termo da cida
de, da qual houve muitos filhos. Teve o dito Joam de Betancor, outro
filho, chamado Joam de Betancor, muito discreto e prudente, sacerdo
te e beneficiado m egreja principal de Sam Sebastião da cidade de Pon
ta Delgada. Teve mais o dito Joam de Betancor, uma filha por nome
dona Margarida de Sã, que caiou com Gaspar do Rego Baldaia, d*
8$

sitiem liouve um filho chamado Francisco do Rego, muito rico, a quéfh


ficou muita fazenda por morte de seu pay, e gastou muita d'ella na cor
te, e em armadas que fez á sua custa, para guardar o mar entre estas
irhas; por servir a eURey n'isso; e«m outros serviços que lhe fez,
do qual direi na geração dos Regos. Teve mais Joam de Betancor de Sà,
outra filha chamada dona Izabel, que depois de freira professa no mos
teiro de Jesus da vilia da Ribeira GraBde, onde está boa religiosa, se
chamou Izabel da Madre de Oeos.

Houve tambem Gaspar de Betancor., de sua mulher dona Guiomar de


Sá, algumas filhas; — a primeira, dona Beatriz de Sá, que foi dama do
paço, -em tempo d'el£Rey dom Maaoel, o qual lhe deu seis moios de
trigo em cada anno de tença, nos proprios da fazenda de Martini Vaz,
contador, e depois por morte d'ella, trespassou esta mercê a dona Iza
bel, irmã de dona Beatriz ; a qual dona Beatriz se creou com el-Rey
dom Joam terceiro do nome, e foi para Castella com a pfincezade Por
tugal, quando casou com o imperador Carlos quinto. No caminho sendo
muito privada da princeza, dom Pedro Lasso da Veiga;' que fora nas
communidades de Castella com dom Pedro Giram, e dôm Joanrde Pa
dilha, andando fóra da graça do dito imperador, que por este caso lhe
tinha tomado sua fazenda, e alcadarias, e todo seu senhorio, vendo que
pela- privança de dona Beatriz, podia ser restaurado, teve intelligencia de
easarcom ella, o que se effectuou": e por ella lhe foram tornadas as vil-
1as dos Arcos, Bactes e Corcos, e outras de que antes era senhor. Es
tando casada com elfe adequirio, assimporsua privança a sua irmã dona
Izabel, segunda filha de Gaspar de Betancor para dama. da imperatriz;
que d'esta ilha foi chamada para isso.' ." !,
Morrendo dona Beatriz sem ter filhos de dom Pedro Lasso, teve tal'
estrella sua irmã dona Izabel, que veio a ser camareira-mór da impera
triz, e aia dos principes, e em tanta conta era tida, que nos anãos ulti
mos de sua privança, estando já fóra do paço, quando el-Rey Phiiippe
faltava n'ella, não a nomeava senão por dona Izabel, mi madre ; tendo
toda esta privança, e estrella por si com os principes castelhanos, fez
uma cousa que se lhe estranhou muito, que foi casar-se com dom Pedro
84

Lasso, seu cunhado, marido que fora de sua irmã dona Beatriz ; e assim*
andou encobertamente dous annos, sem ser de todo descoberto o despo-
sorio, aiada que se murmurava d'isso. Alé que a imperatriz adoecendo
d'uma grave enfermidade, a chamou e lhe disse que casasse com dom
Pedro Lasso, se tinha alguma obrigação de casar com elle, linda que
ella levava desgosto por razão do que se dizia amigo reconciliado, e com
esta licença da imperatriz, e dispensado papa, se receberam ; é tambem
entre ambos não houveram filhos.

Outra filha teve Gaspar de Betancor de stm mulher, chamada dona:


Guiomar de Sá, como sua mãe, que casou com Antonio Juzarte de Mel
lo, fidalgo, natural d'Evora. a quem deu em casamento quinhentos mif
reis, quenaquelle tempo era muito dinheiro, pelo pouco que havia*. Per
desse Antonio Juzarte de Mello* em uma. armada que fez o marquez
de Aiamonte ao Rio da Prata, por o'aquelte tempo viver' no dito logar
de Aiamonte, e andar fóra do reyno de Portugal, por razão d'um cor
regedor <}Be matou qsasi na face d'el-Rey, que lhe tinha dado seguro
real. Houve dona Guiomar do dito Antonio Juzarte de Mello, quatro fi
lhas, as quaes todas foram para o reyno de Castella a servir a imperatriz
por suas damas-,, por rasão da valia de sua tia dona Izabel, irmã de sua
mãe, da qual já fica dito, que asadequirio lá, e lhes deu os dotes, e casou
algumas : uma chamada dona Beatriz está em Toledo freira professa, d»
ordem deSantrge, e prioreza muitas vezes. Outra chamada dona Maria,
foi casada eom dom Francisco de Cisneiros, padroeiro dos estudos de
Akaláv oá quaes fundou o arcebispo de Toledo seu tio; e .«enhor, e se
nhor de qnatorze mil eruzados de rehdá, do qual houve a dita dona
Maria, que é já faflecidri, tres flthos, edaas filhas, damas dò paço hoje"
em dia.
Outra1 chamada dona Guiomar, casou com dom Luiz Valhegas, apo*
zentadoT-mo>d'ôf-Rey Philippe, que veio por embaixador a este reyno
de Portuga^ é foi estrroeiro-môr da rataha^ illtima mulher do mesmo
rey, por ser enviado1 á Bdemia1 a tratar este casamento, e trazer como
trouxe a rainha a CastèUa, do mesmo reyno de Boemia, onde comeu
com o imperador por razão da embaixada que levava : do qual tenvdon*
85

Guiomar cioco fitbos eritre machos e fêmeas, elles com boas e ricas eoro-
mendas de Santiago. Outra filha de Aotonio Juzarte de Mello, e de do
na Guiomar de Sá, chamada dboa Izabel, por não tarem nesta ilha tan
ta renda, a queriam casar arapi com Ruy Gago da Camara, e elte não*
quiz pelo pouco dote que fcaèa ; e o que fats de pobres ricos• de peque
nos grandes, e sabe com quera reparte seu» dtaa• e quem melhor os
merece , ordenou como fosse latada a Castelfo, 0 por ser a dto êon*
Izabel muito grave e formoza, e de grande virlode, casou-a com dbn
Joam Colomo, vice-rey da ilha Sardento, qan é. agora conde de íhoas
em Valença, e tem nove contos de renda, ebfaa) hm quatorze filhos e
filhas. De modo que por todos tem agora donai Guíotrar de Sá, mulher
de Antonio Juzarte de Mello, d'estas ditas Ires Olhas, «inte oito netos em
Castália.

A qual dona Guiomar de Sá, fallecido Antonio Juzarte de Mello, ca


sou com dom Fernando de Castro, de quem não houve filhos., e falleçeu
n'esta ilha, e está enterrada na capella-mòr do convento de Sam Fran
cisco da cidade de Ponta Delgada, onde deixou uma capeila e um moio-
de trigo para sempre, de renda cada anno, aos Lazaros d'esta ifha ; era
seu administrador Antonio de Sá, seu sobrinho. Outra filha teve Gaspar
de Betancor de sua mulher dona Guiomar de Sá, chamada dona Mar
garida de Betancor, que casou com Pedro Ruy da Camara, filho natural
de Joam Ruy da Camara, quarto capitão d'esta ilha, unico do nome, ao
qual deu em casamento duzentos e cincoenta mil reis, qtre n'aquelle
tempo era como agora muitos mil cruzados ; da qual houve este» filhos s
Joam Ruy da Camara, Manoel da Camara, Simão da Camara, Ruy Gon
çalves da Camara, Antonio de Sá, Henrique de Betancor, todos fidalgos
com moradias nas casas dos reys de Portugal, e alguns commendadores
da ordem de Christo : e dona Francisca, mulher de dom Antonio de
Sousa : e dona Maria, dos quaes direi particularmente, quando adiante
tratar dos capitães d' esta ilha, na geração dos Camaras.

Falleceu Gaspar de Betancor na anno de mil quinhentos e vinte dous,


o do deluvio de Villa Franca; foi enterrado na capella-mór de el-Rey da
egreja antiga do martyr Sam Sebastião, da cidade de Ponta Delgada, por

11
alvará que teve de mercê do Rey, da sepultura para elle, mulher e fi
lhos ; em que tambem lhe concedia que pudesse ter sobre ella suas
armas dependuradas com bandeira descida, como teve alguns annos, até
que se desfez a egreja, para se acrescentar como agora está, e depois
não houve filho nem neto a quem lembrasse uma mercê 13o grande,
que a nenhuma pessoa abaixo dos infantes se concedeu. Dona Guiomar
de Sá, sua mulher que falleceu no atino de mil quinhentos e quarenta e
sete, também está com elle enterrada ; fez em vida doarão de quinze
alqueires de terra aos padres de Sam Francisco, onJe pudessem fazer
casas e oflkinas, para n'ellas servirem a Deos, como depois fizeram um
sumptuoso convento, com encargo d uma missa resada na semana, e
missas resadas no Natal, Paschoa e Espirito Santo.
Sua filha dona Izabel, mulher de dom Pedro Lasso, de quem atraz
fica dito, mdfrendo em Castella no annô de mil quinhentos e sett#ta e
.quatro, deixou toda a herança que n esta ilha tinha de seu pay, .em ca*
i peitas, e ptír administradores ô prbveôor e irmãos da casa da Misericor
dia da eidatlè de Ponti Delgada, e por capellâes parentes de sua linha ;
fez tambem esmola do chão em que se fez a egreja do Corpo Santo, na
mesma cidade> para os mareantes d' ella. Deixou tambem Gaspar de Be-
tancor um filho natural, que houve de Maria Dias, moça solteira, e legi-
timou-o depois, por nome Gaspar Pordomo, o qual, como já disse na
geração dos Velhos, casou.com Beatriz Velha, filha de Joam AíTonso
Gorcos, e de Leonor Velha, filha de Pedro Velho, da qual liouve os fi
lhos e filhas jà ditos na geração dos Velhos, a saber — Manoel de Be
tancur, que casou primeiro com uma filha de Joam do Porto, irmã de
Manoel do Porto, e depois com dona Izabel irmã de Melchior Roiz, es
crivão dà tamara da cidade, e de nenhuma houve filhos ; e Balthasar de
Betancor, que casou, e não houve filhos ; e Melchior Betancor, que ca
sou e teve filhos e filhas.
Houve mais Gaspar Pordomo duas íillns, a primeira dona Francisca,
que não casou; a segunda, dona Simôa, que casou em Portugal com
dom Joam Pereira, bisnesto do conde da Feira, de quem houve uma
filha chamada dona Beatriz, que casou com Joam de Frias, filho do
87

íícenciado Bartholomeu de Frias, da qual tem alguns filhos. Teve mais


Gaspar deBetancor outro filho natural, homem baso, chamado Raphael
de Betancor, que falleceu sem ter filhos. .
S3o os Betancores fidalgos de solar conhecido dos. priflcipa«6 d'este
feyno, e dizem que descendentes dos dose pares de França, e dos reys
das Canarias (como lenho dito) que aqnelte de França vieram a conquis
tar como pessoas nobres e poderosas. Tém por insignias das soas armas
as sete ilhas de Canarias, e sete cordas entremeadas em seu estfudb ao
redor d' om leão, que está d'uma parte ao meio d'elle oait uma coroa
na cabeça, e da outra parte um Castello com sete bandeiras, & em cima
do escudo uma aguia partida com duas cabeças, e uma coroa, como a
teve o que da sua progenie foi Rey das mesmas ilhas de Canarias, e
sobre ella uma flor de liz, que é das armas de França, o qual titulo do
Rey lhe concedeu a rayuha de Castelta dona Catharina, por seus ante
cessores terem ajudado a el-Rey de Castelta em certas guerras.

CAPITULO DECIMO.

Da progenie dos Pachecos, que vieram a esta ilha de Sam Miguel mo


tempo de Ruí Gonçalves da Camara, terceiro capitAo d'ella e.
primeiro do nome.

Os Pachecos são cavatleiros de antiga e notavel fidalguia de Castil


la, dos Pachecos de Minhaja, que è um logar na Mancha, de Aragão,
perto de Madrid, e são senhores de vassalos, e antigamente serviram a
el-Rey, aprimados e aparentados á casa de Alva, em todas as guerras
que se offereciam : pelo que o duque de Alva, grande e afamado capi
tão fez sempre grande caso delles por serem seus parentes, e sua fei
tura ; e o cardeal Pacheco, arcebispo de Burgos, irmão do marquez de
Senalvo, que tem uma casa em cidade Rodrigo, è d'esta progenie dos
Pacbecos ; e tem as mesmas armas, que tem os da casa de Alva : vie
88

Mfij alguns d 'cl 1 es de Castella para Portugal, no 'tempo das eouimunifla-


des, por serem culpados n'ellas — e de Portogdl se passaram alguns a
estas libas ; e a esta de Sam Miguel no tempo que a governava Ruy Gon
çalves da Camara, terceiro capitão d'ella, e primeiro do nome ; como
foi um Antam Pacheco, que casou em Villa 'Franca, com Philippa Mar
tins, filha de Martim Annes Furtado ( e era ouvidor do capitão, quando
foi subvertida Villa Franca do Campo ), da qual teve um só filho cha
mado Pedro Pacheco, grande cavalleiro, genro de Jorge Nunes Botelho,
de cuja filha houve os filhos e filhas que jà contei na geração de Gonça
lo Vaz Botelho.
Antes da subversão de Villa Franca, houve um Thomè Vaz Pache
co, d'esta progenie dos Pachecos, homem rico e de muita authoridade,
'morador entre o Iogar do Porto Formozoe a Maia, termos de Villa Fran
ca, o qual mandando lavrar suas terras, que ali tinha, um dos bois/que
lavravam, lançou a lingua de fora com a arreigada, e 'logo acabando de
ciar dous, ou tres regos, acabou dc morrer : vendo esta acontecimento,
tpor ser para todos' cousa 'nova, o dito Thomé Vaz, em um alto oiteiro
aliipegado, mandou edificar uma ermida em honra de Sam Braz, 'que!foi
'depors'de muita romagem, por se fazerem n'ella muitos milagres, onde
ainda .vão devotos doentes da garganta e tosse, e se acham sãs.

fete Thomé Vaz Pacheco teve um filho chamado Manoel Vaz Pa-
'checo, genro que foi de Jacome Dias Corrêa, como direi na geração de
Buy Vaz do Trato : era Thomé Vaz Pacheco filho de Pedro Vaz Pache
co, que veio casado de Portugal, e morreu em Villa Franca do Campo,
onde teve quatro filhos ; o primeiro, Thomé Vaz Pacheco, casado com
uma filha do Affonso Lourenço, pay de Domingos Affonso, de Rosto de
Cão, e de Joanna Lourenço Tição, e morreu no deluvio de Villa Fran
ca com sua mulher e filhos, por morar lá então, ainda que tinha sua
fazenda em Porto Formozo. O segundo filho de Pedro Vaz, casou com
uma irmã de Estevão Alves de Rezende, da cidade de Ponta Delgada,
viveu muito rico e abastado, e era sua Ioda a ponta da terra do Porto
Formozo, que agora é de Antonio de Brum da Silveira.
Este Pedro Vaz Pacheco mandava sempre cada anno um navio car
^89
•vega'do'de"trigo" ao 'Algarve, em que ganhava multo, por ter lá um gran

de amigo seu correspondente, que foi causa d'elle se ir morar a Lagos


do dito Algarve, onde morou com mulher e filhos, até que falleceu : e
por isso, e por 1he roubarem franceses por vezes alguns navios, que
-imndava carregados, recebendo muHa perda, vendeu a dita terra- da
ponta, ao dito \ntenio de Brum, e por fim morreu pobre. O terceiro
filho de Pedro Vaz Pacheco, chamado Fernando Vaz Pacheco, casou
•com Izabel Nanes Ve1 lia, Irmã da mulher de André Lopes Lopo, pay de
Aires Lobo, e de Christovão ILobo, e 'Antonio Lobo, vigario que foildo
Hogar da Relva. Este Fernando' Vaz teve qutltro ' filhas, ' uma casou com
, Estevão Alves de Rezende, ontra com 'Heytor Barboza da SHva, outra
com Jorge Furtado, outra comrMèlbhior Dias, 'da Ribeira Chã, sogro do
• ,licenciado Sebastião Pimentel, como tenho dito.

I Foi Fernando Vaz homem rico, e morador em Porto Formozo, onde


tinha sua fazenda. O quarto filho de Pedro Vas Pacheco, chamado Ma
theus Vaz Pacheco, casou com Suzanna Affonso, irmã de Domingos
\Affonso, de Hosto de Cão, de quem houve estes filhos: o primeiro Gas
par Pacheco, nnauito *valente, ao qual estando dormindo em Castella, ma
tou um castelhano, que efle tinha injuriada O segundo Thomé Vaz Pa-
.checo, beneficiado que foi na villa do Nordeste, onde depois falleceu. O .
terceiro Antonio Patíheco, casou com Clrra da Fonseca, filha de Jorge
da Motta, de Villa "Franca. O quarto. Custodio Pacheco, genro de Anto
nio furtado, que mataram os mouros na Africa, na infeliz batalha de el-
Hey dom Sebastião, que haja gloria. O quinto, Paulo Pacheco, genro de
Jacome das Povoas.
Teve mais Matheus Vaz Pacheco uma filha, que casou com Mel
chior da Costa, de quem não teve filhos; e depois casou a segunda vez
com Pedro da Ponte, filho de André da Ponte, de Villa Franca, e tev«
filhos, e uma filha chamada. Suzanna Pacheco, que casou com Manoel de
Paiva, filho de Pedro de Paiva, da villa da Ribeira Grande ; e por des
gostos que tiveram, o dito Pedro da Ponte, e seu cunhado Custodio Pa
checo, succedeu o dito Custodio Pacheco ferir ao cunhado Pedro da
Ponte, que falleceu das feridas, na.mesmo. lpgar do Porto Formozo, onde
90

se dizem algumas capellas obrigatorias, que Matheus Vaz e seu irmão


deixaram.
A nobreza dos Pachecos è muito autiga, e dizem ser das quatro mais
antigas de Portugal : e segundo parece d'um papel, que anda nas armas
das. genacões de Portugal, já no tempo de Cesar era esta gente nobre ;
goE^e iima das trovas diz :~"

... i ,. Pachecos de tal ventura


Em soster e ter segura
Sua nobreza; e crescendo
• . : •• . Que em tempo de Cesar sendo,
Ainda lhe agora dura.:

D'esta illustre gente houve em Portugal Joam Fernandes Pacheco* .


que foi senhor de Ferreira, e mordomo-mór do infante dom Pedro, ar
quem o papa Pio terceiro, em Avinhão, deu nma rosa de ouro, que ben
zeu a quarta dominga da quaresma, que se chama da Rosa ; a qual não
costuma dar se não a pessoa muito illustre : e esta rosa poz o dito Joam
Fernandes Pacheco na sé de Lisboa, onde está ; foi casado com dona
Maria Sanches, filha de dom Ruy Gil de Villa Lobos, e de dona The reza
Sanches, filha de el-Rey dom Sancho, de Castella. Elie e sua mulher fi
zeram a capella dos Carmos, que está na Crasta, detraz da capella
maior da sé, da cidade de Lisboa ; e deixaram missa perpetua até ao
fim do mundo. Depois os seus successores, e parentes mandaram levar,
a sua ossada para Castella ; somente estão em Lisboa na dita capella;os
seus monumentos, elio á banda direita, tirado ao natural de vulto, e ella
á esquerda, da mesma maneira, com coroa de Raynha na cabeça.
Houve mais d'esta geração dos Pachecos — Diogo Lopes Pachçco,
que descendia da geração de dom Hieremias, como d\z a. chronica de
Portugal : este foi o que ajudou a matar dona Ignez de Castro, em Coim
bra; e depois de ido para Castella, por este caso, succederam as guerras
de Portugal; e pelo quep'isso fez, o honrou el-Rey de Castella muito.;
e foi depois seu filho, dom Joam Pacheco, mestre de Santiago, e duqi»
itie Escalona, e marquez de Vilhena, como mais claro se vê da chronica
.de el-Rey dom Joam, o segundo, de Castella ; e do principio que teve
a dita ordem de cavallaria em Castella, onde diz quaes foram os mes
tres que eram filhos de Reys ; e depois foram dous d'estes Pachecos
mestres, pay e filho. Houve outro Joam Fernandes Pacheco, por quem
Mem Roiz de Vasconcellos 'disse a el-Rey de Portugal, que não lhe fal
tavam a elle os cavalleiros da Tavola Redonda, por que ahi bs tinha, e
rçomeando-os, o segundo que nomeou ( como se verá na chronica do dito
Rey) foi este Joam Fernandes Pacheco, dizendo — ahi está Joam Fer-
nendes Pacheco, que é tambem como dom Gueas.
Houve tambem agora em nossos tempos aquelle invicto capitão Duar
te Pacheco, da índia, de quem o grande poeta Luiz de Camões, nas suas
Luziadas, tanto tratou, e os mais livros dà índia tambem celebram ; este
é pay de João Fernandes Pacheco, que ainda hoje vive. A este Duarte
Pacheco, vindo da índia de Portugal, o foi buscar el-Rey dom Manoel,
e o levou comsigo debaixo do pallio a Sam Domingos, e ia de uma ban
da o infante dom Luiz, e da outra este Duarte Pacheco. Pr6gou,-se d° el
le ali, e em todos os reynos de Portugal : e despedio el-Rey embaixado
res ao Santo Padre, e mais Reys christãos, contando-lhes as grandes
maravilhas d'este homem, que em suas armas tem um Rey atravessado.
D'eáta geração, como tenho dito, vieram a estas ilhas muitos homens
nobres, que todos serviram aos Reys passados, nesta ilha de Sam Mi
guel, os que tenho dito: e na ilha Terceira hoave o primeiro Joam Pa
checo, que tem dous filhos que serviram em Africa muito honradamen
te; o mais velho chamava-se Gomes Pacheco de Lima, por sua mãe ser da
mesma geração, filha de Gomes Fernandes de Lima, prima coirmã de
dom Fernando de Lima, o Velho ; o qual Gomes Pacheco, mandou el-Rey
dom Joam, e o infanta dom Luiz, por capitão maior d uma grossa ar
mada, a fazer o despejo das ilhas de Buam, na costa de Guiné, onde o
mataram em campo. Outro irmão se chamou Manoel Pacheco, que foi o
que descobrio o reyno de Angola, e foi por embaixador de el-Rey dom
Joam, o terceiro, ao Rey de Congo, e lá morreu. Estes tiveram um so
brinho que se chamava Manoel Pacheco, como seu tio, o qual foi coo*
92

lador ilas ilhas todas de baixo, pessoa de muito respeitou autboridadV,.


e rio Fayal ha um neto d'estes, a quem chamam Gomes Pàcheco de Li'
ma, como seu avô, de quem direi quando tratar d'aque11a ilha. Tambem-
houve um primo coirmão d'estes, que foi vigario geral e visitador em"
toda a índia, e foi o primeiro deão, que houve u'estas~ ilhas, que se cha.1
môu Joattt Pacheco.
As armas dos Pacbeeos^sfio. um escfldo' com o. campo. de ouro; por
que, quando alguem é já. nobre, e fax cousas asignaladasy nas armas-
dão-lhe o campo de ouro por mais nobreza das armas : — tem, duas cal
deiras em pala, uma' acima da.outrar que se deram por armas a esta
gente, por que a derradeira cousa que fica no despojo do campo são as
caldeiras:. tem n'e!las,. nas azas; enr cada uma quatro cabeças de serpe r-
por1 que um d'estes," de quenv vemí esta progénie, venceo em- campo.
quatro capitães geraes.,. como ooroneis :, tem o paqmfe de preto e ver
melho, em signalí de dÒ' e tristeza, por serem as guerras- entre Gbris*.
tãos e parentes, como as guerras de Portugal' e Castella r tem o elmo*
de prata, e pòr timbre duas cabeças de" serpe ; e neste escudo traz
Duarte Pacheco o Rey atravessado oom uma espada,, que lhe deu por
armas el-Rey de Cochim-

ÍAWTULOUNDECIMOv

Dos Barbozas t Sílvas, que \iu\m a bsía ilha de Sam: Miguel.

Dizem os antigos, que ? origem do» BerSozas. ppocedeui d' uma hon
rada e valorosa mulher, a qual, estando doos Homens. fidalgos pelbijando-
na sua rua, onde ella morava, não havendo quenv os ' apartasse, sahindo
de sua casa com um montante, os apartou, como se fôra algum- esfor
çado cavalleiro, ou valentíssimo soldado, o que'sabendo el-Rey, disse —
< bravoza, ou barboza mulher foi esta , : e seodb-lhe pedido Ibe deu este
9*

appellido, que por ventura anda corrupto o vocabulo, dizendo por fira*
vçjza, Barboza — ; d"onde procedem os Barbozas, e procedeu um Ruy
Estevão Barboza, criado de el-rRey,, morador entre Douro e Minho, ho
mem tão valoroso e poderoso, que, quando- ia .á corte pousava em casa
do regedor, por amisade que tinha com elle. tinha o regedor em casa
uma irmã chamada Phj,lipjpla da Silva, da qual o dito Rpy Estevão Bar
boza se namorou, e ella d'elle, de maneira qpe casajram ,a fpjto.

Sabendo isto o regedor, e determinando de o mater, acoHtèprse elle


a.Galiza. onde dizem que andava sobre um valente macho, com um
montante nas mJos/ acompanhado de seis galegos seus, criados, com bés-
tas armadas sempre, vivendo com resguardo e receio, sendo muito va
lente, rico e honrado:, ficando sua, mulher Philippa da Silva.prenhed'el-
le. o regedor a metteu em unv, mosteiro, onde , pario um ftmo, que en
viou lc.go a seu payf o qual elle mandou criar a Traz os Montes, e se
chamou Ruy Lopes, o cavalleiro pelo' ser extremado; e andandij ,na
corte se, casou com uma viuva rica, que fôr# mulher d'um Bejeagoi Se
gurador das 9áos das índias, chamada Branca Gil de Miranda.' e uma.
filha, por nome Maria Dias, que de Beliago seu marido lhe ficou, foi jcasa-
da n'este ilha com Diogo de Estorga Coutinho, de qaemnão houve filttos, .
deode procedeu o morgado, que agora tem Nuno Barboza, no morro da ,
Ribeira Grande, por elle o deixar a Sebastião Râfbofca, seu^avô, que
era seu meio irmão: •
Este Ruy Lopes^ o xayalleiro, veiojle Portugal a ,es te ilha com. gran
de casa, no tempo de, Rpy Goncalves, terceiro capitão, e primeiro do
nome : de sua mujh^r Branca Gil de Miranda, teve filhos — Ruy Lopes
Barboza, Henrique . Barboza, Sebastião Barboza, e uma filha chamada
Philippa da Silva, que nunca casou. Ruy Lopes Barboza, que se conje
ctura vir a este ilha no tempo do terceiro capitão Ruy Gonçalves da Ca
mara, primeiro do nome, morador á Calheta de Pedro de Teve, muito
rico. foi casado com Guiomar Fernandes Tavares, nlha de Fernando An"
nes Tavares; e d'ella teve quatro filhos, o primeiro, Sebastião Barboza'
que casou com uma honrada mulher, dos principaes de Agua de Páo,
irmã de Gaspar Pires, o velho, sogro de Miguel. Lopes d' Araujo, da

12
quem teya Ires Alhos e uma filha, tudus ju defuntos : um d'eUes, chama
do Ruy Barboza, íui «serivão ta» cidade do Ponta Delgada, homem do
grandes espíritos, casado o mi uma irmã do Genebra Annes, mulher do
Diogo Vasconcellos, letrado em leis, que foi ouvidor do capitão nesta
ilha, da qual teve alguns filhos que falleceram.
O segundo, Braz Barboza, do halbílo de Chr isto, nobrõ e muito gen
til homem, esteve em Africa muitos atinos, servindo a el-Rey, onde ca
sou em Alcarcer Ceguer, com uma utfjJlvcr muito honrada, e ali morou
muito tempo depois de viuvo ; vindo da Africa foi voador do ilustríssimo
e grandioso bispo de Miranda, dom Juliam de Alva, e depois foi guarda-
mórdas damas: sendo muito velho,, teve duas li lhas, uma freira pro
fessa,, e outra muito virtuosa, que felleçeu solteira. O terceiro filho de
Ruz Lopes .Barboza, chamado Francisco Barboza, discreta, gracioso, de
delicados ditos, e muito bom judicial, casou com uma mulher da geração
de Joam Alves do Pico, de quem houve alguns filhos, q.tàe faiUecennn :
e casando segunda vez com Izabel do Miranda, da ilha de Sautu Maria ,
houve d'ejla Harçulqs Barboza Lea), dador-jwr dos pasceis nesta ilha
por el-Rey, çwp boa renda ; que caswu qa cidade de Punta Delgada, on
de mora, com IfíibeJ. Ferreira^ neta de Gaspar Ferreira, filha de Fernan
do Lourenço, e de Leonor Ferreira, de quem teve filhos e filhas; e ou
tro filho solteiro chamado Duarte Barboza, e quatro filhas, uma por no
me Izabel Barboza, casada com o licenciado Henrique Nunes, que mora
na cidade do Porto, de quem. tem filhos, alguns bons letrados, e algu
mas filhas. A segunda chamada Philippa 4a Silva, que foi casada com
Francisco Vaz, que foi escrivão na cidade de Ponta Delgada : e outra
por nome Anna Tavares, casada com Antonio Vaz, seu irmão : e outra
chamada Guiomar Fernandes, mulher de Gaspar Roiz, filho de Joam
Roiz Fernandes, de Rabo de Peixe. • ,i • :

Houve Ruy Lopes Barboza, de sua mulher Guiomar FernandesTa-


\ares, tres filhas. A primeira, Izabel Barboza, que casou com Antonio
Borges de Sousa, fidalgo da casa de el-Rey, e seu feitor, que foi tf esta
ilha, da qual houve estes filhos. — O primeiro, Duarte Borges de Gam
boa, que veio a estas ilhas por provedor da fazenda de el-Rey, bom fi
>

95

dalgp de muita prudencia e virtude, thesoureiro-mór do revoo, e tem


o habito de Chnisto, com boa tença ; e está casado muito rico em Portu
gal, com umà fidalga, de quem houve dous filhos, que foram, captivos
na guerra do captiveiro da Africa, onde iam, com el-Rey. Outro clerigo,,
o mais velho, chamado Antonjo Borges, captivo d'um acrenegado, que
se chama Sambanha Veneziano, que esteve este tempo em Constantino
pla e Argel, por el-Rey : e por que os mouros da comarca se alevanta-
ram, foi dar n'elles, e por a cidade de Tripoli ficar desapercebida, os
seus captivos se levantaram : e por terem marchado, foram, sentidos e
mortos pelos turcos: acudindo, aos rebates el-Rey de Asambanha, fez
nos qu? ficaram grandes cruezas : a uns esfolou vivos, e a outros es-
padaçou, e deu de comer aos vivos os pedaços. ^

Posto que, o dito Antonio Borges se nSò achou nVste negocio, còm-
tudo mandou vir diante de sí um castelhano, seu companheiro, e o fez
atanazar ; e ha de se entender, que, o attnazar d'aquelfa^ partes n2ò é
conforme ao que faz a justiça emterras dè christSós, senfí) é còni uthàs
tanazes tão agudas e amoladas, que onde pegmtiram a catoe dè manei
ra, que ficam os homens nos ossos taes., que assim ficon este 'castelhano:
mandou tambem buscar a Antonio Borges, para lhe fírzer outro tanto ;
e diz uma carta que escreveu Sua Magestade tw cardeal Alherto, que o
dito Antonio Borges lhe respondôu de maneira , que nau sótòente
lhe deixou de fazer mal, mas antes lhe mandou dar sesenta doblás, e
cessou de fazer nos captivos mais mortes, nem cruezas. O que' fugio
chamava-se Vasco da Fonseca Coutinho, e outro clerigo Francisco Burges'
de Sousa, inquisidor que foi para a índia, dos tres da mesa gràrtdè, to
rtos tres irmãos : fugio o mais moço, por 19o gentil arte, que chegando
ao reyno lhe deitou el-Rey dom Henrique o habito de ChristO; com bua1
tença. . : •

Teve tambem Antonio Borges outros dous filhos, Pedro Borges, e


Jeronymo Borges, valentes homens, que falleceram na índia solteiros,
no serviço de el-Rey, eduas filhas; a primeira, Clara Borges, que. casou
no reyno ires vezes, com tres fidalgos ricos, que tiveram alguns honro
sos cargos, e serviram a el-Rey no reyno e fóra delle ; é já fallecida •'
âa qual ficaram filhos de grande nome e esforço na índia, e no reyno?
A segunda filha de Antonio Borges, e de sua mulher Izabel Barboza,
chamada Guiomar Borges, foi casada com Balthasar Rebello, fidalgo dos
Rebellos no reynol que foi almoxarife de el-Rey, e leal-dador-mór dos
pasteis desta ilha, homem prudente e poderoso, morador na Calheta de
Pedro de Teve, rià cidade de Ponta Delgada, de quem houve o pri
meiro filho Antonio Borges, que casou primeira vez com Izabel Dias,
filha de Amador da Costa; e segunda vez 'com* Beatriz Castanha^ filha
de Pedro Castanho, já defunto. O segundo filho, Manoel Hebello, casou
com Maria do Medeiros, filha de' Miguet' Lopes, da vrtla d'Âgua de Pio :
e^Peclro Borges, solteiro.
Os Borges são de Bragança, teni por armas no meio do escudo um
le2o de ouro en> campo vermelho, e ao redor dez flores de Jiz de t>uro
sobre azul > é os Rebellos tem, segundo alguns dizem, por 'drmas um
escudo com oito barras : a primeira, azul ; a segunda, de oilro com
uma flor de liz ; a terceira, azul; a quarta, de ouro com unia llor de
liz ; a quinta, azul; a sexta, de ouro com uma flor de lia; a setima,
azul ; a oitava, de oiro ; e todas as flores de liz de ouro ; mas segundo
outros nos afirmam, tem as armas jà ditas na geração dos Velhos.
A segunda filha de Ruy Lopes Barboza, por nome Guiomar Barbo
za, foi casada com Balthasar Martins, nobre e rico, de quem não
houve filhos. A terceira filha, chamada Margarida Barboza, casou com
JeroBymo Teixeira, fidalgo, filho de Fernando de Macedo, irmão do ca
pitão do Fayal, de/quem não houve filhos, como disse na geração de
Gonçalo Vaz Andriano^ oraoço, filho de Gonçalo Vaz Botelho, o grartde.
Henrique Barooza, segundo filho de Ruy Lopes, o cavalteirff, foi casado
n'esta ilha, em Villa Franca do Campo, com Maria Correa,' filha de Mar-
tim Annes Furtado, e de Solanda Lopes, sua mulher, de quem teve uma
filha, por nome Philippa da Silva, tão formoza mulher como sua mãe,
que foi a mais formoza que liouve em seu tempo, nesta ilha de Sam
Miguel, da banda do sul, e ambas falleceram .no tempo do deluvio de
Villa Franca, estando Henrique Barboza na corte servindo a el-Rey : e
depois tendo uma commenda em Aveiro, se foi morar a Santarem, sem
nunca mais casar.
^terceiro filho de Ruy Lopes, ocavaileiro, chamado Sebastião "Bar-
Hoza da Sdva, morador na Fajã, da .cidade, muito rico e abastado, bom
.cavalleiro, discreto, de bons ditos e respostas dé repente, muito grave e
gracioso, foi casado com lzabel Nunes Bdtelho, filha de Nuno Gonçal
ves, de Rosto de Cão, e neta de Gonçalo Vaz, o grande por alcunha,
como tenho dito ; de quem houve Nuno Barboza, criado de el-Rey, ca
valleiro fidalgo da sua casa, que falleceu solteiro, cursado muitos annos
tia guerra ; e Ião bom cavalleiro, que algumas vezes, quando el-Rey ia
fóra, correndo alguns senhores e fidalgos a carreira diante d'elle, man
dava d mesmo Rey dar a lança a Nuno Barboza, e como corria dizia —
para que è vér' mais correr ? do que, entre os fidalgos navia grande
inveja' : e Hercules Barboza, tambem cavalleiro, fidalgo,' que sendo sol
teiro falleceu em Africa, entre os mouros. Estando na guerra, vindo pe
dir um rcavaIlo. por ter o seu morto,' Ae mandou o capitão, com algu
mas penas, que se recolhesse á bandeira, ao que eile respondeu — não
sou eu homem q' mandem recolher, * d'onde morrem tantos homens meus
amigos, irei a pe ; e assim foi, e 'fez' muitas vantagens na batalha como
grande e esforçado cavalleiro ,que era, onde morreu à vista do capitão,
que isto contava d'ellè, como palavra de escandalo.
O terceiro filho de Sebastião Barboza, chamado Heytor Barboza ,
tambem cavalleiro, fidalgo da casa d'el-Rey, foi casado com Guiomar
Pacheco, filha de Fernando Vaz Pacheco, e de sua mulher Izabel Nunes
C.«bral, de quem houve muitos filhos, que falleceram sendo moços, como
disse atraz ; e tem agora vivos Ires, muito nobres e esforçados. O pri
meiro, Nuno Barboza, que tem o morgado de Diogo de Estorga.no
morro da Ribeira Grande ; e foi casado com Francisca Cordeiro, viuva,
mulher que foi de Roque Lopes, escrivão que foi da correição, filha de
Sebastião Roiz Panchina, avô de Manoel Cordeiro de Sampaio, juiz do
mar em toda esta ilha de Sam Miguel, de quem não houve filhos. Se
gunda vez casou com Anna lacome, filha de Jordana Jacome Rapozo,
cidadão de Villa Franca, e de Margarida da Ponte, de quem tem dous
filhos e uma filha.
O segundo filho de Heytor Barbozi, chamado Pedro Barboza, W.
98

radar nos Fenaes da Maia, casou com Maria de Medeiros, filha d'Alvaro
Lopes de Medeiros, e de Anna Fernandes, sua mulher, de quem tem.
quatro filhas e um filho : e agora é casado segunda vez, com Margarida
Pacheco da Silveira, filha de Gomes Fernandes, do Fayal, viuva, mulher
que foi de Jorge Corrêa, filho de Pedro Roque Cordeiro, e de Cathari-
ua Corrêa, moradores que foram em Villa Franca, e tem d' ella dous
filhos e duas filhas. O terceiro filho de Heytor Barboza, chamado Hen
rique Barboza da Silva, foi d'esta ilha sendo de idade de vinte annos,
para a índia de Portugal, onde casou, e tem feito muitos serviços a el-
Rey, como ao diante contarei, na vida do condè dom Ruy Gonçalves da
Camara, sétimo capino d'esta ilha de Sam Miguel, em cujo tempo vie-
ram ter a ella os instrumentos publicos, bem provados e authenticos de
seus heroicos feitos.
Teve mais Sebastião1 Barboza da Silva, de sua mulher Izabal Nunes
Botelho, ires filhas, umaiflmmada Paulina Barboza, que foi casada com
Ehtevão Nogueira,. ppy de-Bartholomeu Nogueira, homem rieoe princi*
pai, que teva muito tempo. as, rendas de el-Rey n'esta ilha; de quem
houve um» filha, que casou com o licenciado Manoel d'Qliveira, chama
da Jzabel Nogueira; e dous, filhos — Sebastião Barboza, e Ambrozio No
gueira : e outra, filha de Sebastião Barboza, chamada Guiomar Barboza,
foi casada com Jorge Terras, homem de muita descrição, de grandes ha
bilidades, morador em Vdla Franca. Teve mais Sebastião Barboza, &
velho, outra filha chamada Branca da Silva, que casou com o licencia
do Antonio Tavares, filho de Gonçalo Tavares, da Ribeira Grande, do.
qual teve dois filhos: Gonçalo Tavares, criado de el-Rey, e capitão d'uma
bandeira das ordenanças na cidade de Ponta Delgada; e casou com Iza-
bel Cabral, filha de Estevão Alves de Rezende, e de Maria Pacheco: de
quem houve muitos filhos e filhas: e houve tambem o dito licenciado
Antonio Tavares outro filho, por nome Jordam da Silva, alferes da ban
deira da capitania de seu irmão, e è casado com Brianda Cabral, filha
de Joam Velho Cabral, homem principal da cidade, de quem tem mui
tos filhos e filhas.
As armas dos Silvas, que tem os Barbozas, são dentro em uma ro
"99

ida ile silvas verdes, que parece uma formoza capella, e uai esçydo, que
tem o campo branco, com uma banda na cinta azul, que atravessa o
escudo da esquina de cima da mão esquerda, a quem o vê, até.á outra
parte de baixo da mão direita, com cinco meias luas brancas na mesma
cinta azul, com as pontas para baixo para a mesma mão direita ; a qual
cinta sabe d' uma parte d'uma bocca aberta de serpente, com seus den
tes e lingua vermelha, e acaba e se vae metter em outra bocca d'outra
cabeça de' semilhante serpente ; e da parte direita d'esta cinta um leão
como que vae subindo com duas esirellas vermelhas diante do rosto, e
da outra parte, debaixo da mesma cinta, ontro semilhante leão, com
uma estreita vermelha em os pés : não lhe achei n estas armas elmo,
nem paquife, nem timbre.

- 9 r 9
CAPITULO DUODÉCIMO.
i

Dos Gagos, Bocahros e Rapozos, que vieram povoar esta ilha, no


TEMPO DE RuY GONÇALVES DA CAMARA, TERCEIRO CAPITÃO D'ELLA, E
PRUtEIRO DO NOME.
• ', >i : o .. •'' ' '•, •'

Os Gagos e Bocarros, são da cidade de Beja, d' onde veio Luiz Gago
-a esta ilha, por ter nrella seu tio Luiz Vaz Gago, chamado do trato,
quando tambem veio André Lopes Lobo, e se aposentou na villa da Ri
beira Grande ; èra filho de Estevão Rodrigues Gago : Unha estes paren
tes em Beja, a saber — Lourenço Annes Gago, que era pay de Ruy
Vaz do Trato, que aqui viveu n'esta ilha muito rico, como logo direi,
quando fallar n'elle ; Ruy Gago, morador em Alcacer ; Estevão Gago,
ouvidor que foi das terras da , infanta ; André Gago ; Joam Gago ; e Pe
dro Gago ; todos fidalgos e parentes, no segundo, terceiro e quarto
1.00

gráo, e da feitura da creação de el-Rey dom Joam, segundo do nomBy.


e dom Manoel tinha tambem em um logar, que chamam Frielas, termo.
de Lisboa, um parente chamado Pedro da Costa, homem muito princi
pal, e fidalgo, de quem se chamam tambem Costas : e em Vjanna de;
Alvito, tinha nma nobre parenta, chamada dona kabel Cardozo, sobri
nha de Beatriz Roiz , mulher que foi de Affonso Annes ColumbreirOj
morador na Ribeira Secca, termo da villa da Ribeira Grande, avó do,
vigario Pedro Gago, filha d'um irmão, por nome Rodrigo Annesr mu
lher que foi d'um Manoel Fernaudesv

Ruy Vaz Gago, natural de Beja' do Alemtejo, cliamádo do Trato, por


ser homem rico. e poderoso, e tpatar iam el-Rey na Mina, Cabo Verde,
e outras partes, onde mandava seus navios ; chamado tambem Rapozo,'
por ser casado eom Catharina Gomes Rapozo, veio a- esta ilha, onde teve
grande casa e familia, e -foi o mais rico homem d'ella : por que trazen
do muito dinheiro, alem.das dadivas que lhe deu o capitão Ruy Gonçal
ves da Camara, primeiro do nome, em cujo tempo comprou muitas ter
ras, coíb que veio a ter perto de trezentos moios de renda todos de
propriedade. Ruy Vaz morou primeiro em.Villa Franca, e depois se
mudou para os Fenaesr onde viveti algàns annos : era casado com Ca-
tharina Gomes- Rapozo, mulher muito nobre, de quem houve tres filhas,
que depois de seu fallecunento lhe casou Luiz Gago, seu sobrinho; uma
com Estevão Nunes d'Athouguia, fidajgo de Por-tug^l ;: & a outita com
outro fidalgorehamado/Eistev3a Alves de Abreu; e outra se casoa com•
Jocome Dias Corria, da geração dos Correas, cidàdSu dà cidade do Por
to, todos bem dotados e ricos.

{louve tambçm Ruy. Vaz do Trato, de sua mulher Catharifla Gomes


Rapozo, dous filhos, Diogo Ruy Rappzo, e Pedro Ruy Rapozo, que fal-
Teceram soíteiros em Africa, servindo ' a. el-Rey. De Estevão Nunes e
sua mulher, ficou um filho, chamado Nuno d'Athouguia, e uma filha,
por nome dona Catharina, mulher gue ora é de dom Diogo de Sousa,
pagem que foi da lança de eN^Rey dom íoam. terceiro do nome, e capi
tão de Sofala da índia, e capitão maior de todà a armada de mil navios,
quando el Rey dom Sebastião passou á Africa, e ido .conselho. Possue. e*
M

morgado que por sua morte deixou e instituiu Nuno d'Athouguia, n'es*
ta ilha de Sam Miguel, de perto de cem moios de renda ; o qual não
casou, e o deixava por successão a dom Martinho, filho de dom Diogo,
que morreu nà guerra da Africa : e seu pay dom Diogo o possue agora
como tenho dito ; e valeu tanto no reyno, que esteve'despachádo por
vice-rey para a índia ; e não quiz ir, por depois os do conselho ordena
rem dous governadores da índia, um de Goa, e o outro de Malaca: e
vendo elle que dividiam o governo da índia, não quíz acceitaro cargo
de vice-rey, que antes lhe estava offerecirfo e concedido ,' dizendo —
que não podiam goveriur bem duas cabeças. Tambem dizem que foi ho
Algarve vice-rey alguns annos.

Teve tambem Nuno d'Athouguia, cunhado de dom Diogo de Sousa,


um filho natural, chamado Nuno d'Alhouguia, a quem deixou trinta e
ires, ou trinta e quatro moios de renda, junto ao logar de Rabo de Pei
xe ; que tem ao presente o capitão Alexandre, por troca em alguns an
nos da tença, que lhe deu o catholico Rey Philippe, no reyno, onde a
manda arrecadar , e logra o dito Nuno d Athouguia. Sebastião Alves
d' Abreu, houve de sua mulher alguns. filhos, uns dos quaes andam no
serviço d'el-Rey, e os mais d'elles são defuntos. Jacome Dias Corrêa,
fóra os defuntos, teve de sua mulher, Beatriz Roiz Rapozo, estes filhos :
Jordam Jacome ; Baram Jacome; dona Izabel, mulher de Joam da Sil
va do Canto, da ilha Terceira; e Catharina Gomes Rapozo, mulher que
foi de Manoel Vaz Pacheco, e Aldonsa Jacome, mais velha, mulher que
foi d'Agostinho Imperial.

Jordam Rapozo, primeiro filho de Jacome Dias, casou segunda vez.


com Margarida da Ponte, filha de Pedro da Ponte, o velho, de Villa
Franca, e de Anna Martins, filha de Martim Annes de Sousa, da qual
houve cinco filhas e tres filhos : duas são freiras professas no convento
de Villa Franca ; outra chamada Clara de Sousa, c?sou com Melchior
Fernandes Mesquita, homem honrado e rico, que tem cincoenta moios
de renda , e outra muita fazenda que herdou de seu pay Francisco Fer
nandes de Caminha, rico mercador, que foi, na cidade. Outra filha, An
na Jacome, casou com Nuno Barboza da Silva, morador na Ribeira Sec

13
102i

cai termo da viHa da Ribeira Grande, como ji Misse na geração dos Bar*
bozas. Outra chamada Beatriz de Sousa, de grandté 'Virtude, sem qu%*
rer casar, está em sua casa, com doas irmãos, que* tem solteiros, a sa*
ber — Martinho Annes Bapozo, e Apolinario Rapozo >'de Sousa. Outro
filho de Jordam Jacome, chamado Ruy Vaz Corrêa', perdéu-se no mar
em um navio, onde elle falleceti. Outro filho natural teve Jordam Jaco*
me, chamado Antonio Jacome Corrêa, homem de muitarvirtude e pru
dencia, e ainda solteiro. '
Jordam Jacome Rapozo, filho de Jacome Dias Corrêa, foi casado
primeira vez com Francisca Rodriguez Cordeiro, filha de Joam Bodri-
guez, feitor d'el-Rey nesta ilha, que naquelle tempo antigo se chama
va recebedor das rendas d'el-Rey, e seu feitor como disse atraz , irmão
de Pedro Bodriguez Cordeiro; e d'es'a mulher houve estes filhos — Ma
noel Rapozo. Sebastião Jacome Corrêa, André Jacome Corrêa, Baram
Rapozo Corrêa ; e duas filhas que foram freiras. O primeiro filho, Ma
noel Bapozo; casou com Margarida Luiz, de quem houve tres filhos e
duas filhita' — o primeiro filho, Baram Rapozo. falleceu solteiro. O se
gundo, Miguel Rapozo, tambem falleceu solteiro. O terceiro, Manoel Ra
pozo. casou com uma' filha de Francisco Mendes, e de Estacia de Sousa,
A primeira filha de Manoel Rapozo casou com Aires Pires do Rego. de
quem não bouve filhos* a segunda, Francisca Corrêa, casou com Joam
da Costa',! filho de Pèdfo Barriga, do Nordeste. •

O segundo filho de Jordam Jacome, chamado Sebastião Jacome Cor


rêa, casou com Ignez da Ponte, filha de Pedro da Ponte, o velho, e de
Anna Martins, que tem d'el!a dous filhos. O primairo Bartholomeu Ja
come Rapozo, que casou com Constancia Affonso. filha de Joam Affonso,
o moço, do Fa^al1,' e dos Fagundes da villade Agua de Páo, e de quem
não tem filhos. Este é mais velho, pelo que por morte de seu pay Se
bastião Jacome, lhe ficou uma administração e morgado, que rende níafs
de setenta e cinco moios de trigo, cada um anno, os quaes possuia dom
Juliannes da Costa, o velho, com o qual trouxe Jordam Jacome Bapozo '
uma comprida demanda sobre o dito morgado, que durou mais de vltrté
annos, e sem embargo de muita valia, que tinha no reyno o dito dom
:103
•Juliannes, Ião poderoso e privado , houve finalmente sentença contra el-
le Jordam Jacome, por ter clara justiça. Porque, dizia o testamento da
mulher de Joam do Outeiro, que foi primeira mulher de Ruy Vai do
Trato, avo de Jurdam Jacome, que por seu fallecimento ficasse esse mor
gado e administração a sua filha dona Maria, mulher de dom Juliannes,
que foi filha unica de Joam do Quteiru, e assim corresse a linha do dito
Joam do Outeiro até se acabar : e acabando-se, tornasse á linha de Ruy
Vaz do, Trato, .primeiro marido: e por que se acabou em uma neta de
dom Juliannes, fiando elle herdeiro da sua fazenda, o queria tambem
ser da dita administração, dizendo que era de bens partiveis ; e que a
neta o nomeava no testamento por herdeiro da dita administração. Po
rem como não era direito nomear ella pessoa algum,a,,nws $umprir-se a
vontade da mulher de Joam do Outeiro , Jordam " Jacome, como foi
filho primeiro da filha mais velha de Ruy Vaz Gago do Trato, fez esta
demanda: vencedor vencido, sem lograr a rendado morgado mais que
um anno, por que não se lhe pagou cousa alguma de quanto gastou, e
depois possuiu Sebastião Jacome, marido da dita Ignez da Ponte, estes
setenta e cinco moios de renda seis ennos ; e por sua morte seu filho
mais velho Bartholomeu Jacome, que agora a possue, morador na villa
da Ribeira Gsande, e não tem filhos que a herdem.

Teve tambem Sebastião Jacome, de sua molher o segundo filho cha


mado Pedro da Ponte, que casou com outra filha de Joam Alfonso, o
moço, do Fayal, chamada Leonor Fagundes, de quem tem uma filha de
pouca idade. Teve mais Sebastião Jacome Corrêa, de sua mulher Ignez
da Ponte quatro filhas, Ires d elias, a saber : Francisca Rapozo, Anna
Jacome, e Margarida da Ponte, casaram com Ires netos de Joam Affon-
so, o velho, do Fayal, cidadão de Villa Franca do Campo; a saber —
Francisca Rapozo, com Melchior Pimentel, filho de Gaspar Manoel, ci
dadão de Villa Franca ; Anna Jacome, com Gaspar Manoel, filho do pri
meiro Gaspar Manoel ; e Margarida da Ponte, com Nuno Gonçalves Pi
mentel, filho de Nono Gonçalves Madruga, que é fallecido : a outra fi-
Hia de Sebastião Jacome, chamada Izabel Rapozo, é ainda solteira. O
segundo filho de Jordam Jacome, chamado André Jacome, morador no
104

Nordeste, casou com Apolonia da Costa, filha de Pedro Aílonso da Costa


Barriga, cidadão de Villa Franca, de quem tem filhos e filhas, e é fal-
leeido. O quarto filho de liaram Raposo, falleceu sendo de ordens de
Evangelho. Teve mais Jordam Jacome, de Francisca Rodrigues Cordei
ro, sua primeira mulher, duas filhas, que foram freiras professas no
mosteiro de Santo André, de Villa Franca do Campo, já fallecidas.

O segundo filho de Jacome Dias Corrêa, chamado Baram Jacome,


foi homem grandioso em tudo, de grande capa como seu pay, e de
muitas e grossas esmollas ; casou com Catharina Simôi, filha de Marti
nho Simão, morador nu Terceira, no logar dos Altares, de quem houve
fóra os defuntos, um filho chamado Aires Jacome Correa, que foi casado
com Maria do Coito, filha de Fernando Braz do Coito, morador na cida
de de Angra, da qual houve, fóra os defuntos, um filho e tres filhas
ainda solteiras. A primeira filha de Jacome Dias Corrêa, chamada Al-
donsa Jacome, casou com Agostinho Imperial Genovez, de quem, fóra
os defuntos, houve estes filhos e filhas : o primeiro filho, Alexandre Im
perial, casado em Genova, onde um anno teve o sceptro, e depois veio
por embaixador a Madrid, no anno de mil quinhentos e oitenta e tres ;
c foi homem rico, poderoso, e de muito nome ; falleceu então na corte.
A filha mais velha de Agostinho Imperial, chamada Maria* Imperial, ca
sou em Genova, com um morgado muito rico, e senhor de titulo.

A segunda filha de Jacome Dias, chamada dona Izabel, casou com


Joamda Silvado Canto, da ima Terceira, do conselho de el-Rey, homem
nomeado e conhecido em quasi todo o mundo, principe na condição, na
virtude e nas obras, e de muito grambs esmolas, grandioso em tudo :
do qual houve uma filha chamada dona Violnnta da Silva, de grande
virtude, bem imitadora das grandes esmotas de seus pays e avoz; de
quem direi adiante. Houve Joam da Silva do Canto um filho natural,
chamado Francisco da Silva do Canto, que casou em Ceuta, e vive po
bre, por não ter favor de seu pay em quanto viveu. A terceira filha de
Jacome Dias, chamada Catharina Gomes Rapozo, casou com Manoel Vaz
Pacheco, fidalgo, cidadão de Villa Franca, de quem houve estes filhos
e filhas.
105

H!) primeiro filho, Thomé Vaz Pacheco, casou com Paulina d'Ornef-
"ias, de quem não tem filhos. O segundo filho, Braz Rapozo, agora ca
pitão d'uma companhia na cidade, casou com Calharina de Frias, filha
<1e Fernando Annes, pay do licenciado Bartholomeu de Frias, de quem
houve, fora os defuntos, duas filhas gemeas : a primeira, Maria Jacome,
que casou com Manoel Martins, rico mercador, homem de grande pru
dencia e saber, de quem tem alguns filhos e filhas. A segunda filha de
•Braz Rapozo, chama-se Anna da Madre de Deos.e é freira no mosteiro de
Santo André da cidade de Ponta Delgada, O terceiro filho de Manoel
Vaz Pacheco, Francisco Pacheco, casou com uma filha de Manoel Lo
pes, escrivão em Villa Franca, de quem não tem filhos nem filhas. O
quarto frtho de Manoel Vaz, Bartholomeu Pacheco, casou com uma fi
lha de Joam Lopes, ^mercador, e de sua mulher Francisca Sabea, de
.quem tem filhos e filhas. O quinto filho, Jordam Pacheco, de grandes
espiritos, casou na Ribeira Grande com Maria Tavares, filha de Luiz Ta
vares, e de sua mulher Izabel Vaz, de quem tem filhos e filhas. A se
gunda filha do dito Manoel Vaz Pacheco, Maria Jacome, casou com Lo-
pe Annes Furtado, cidadão de Villa Franca, filho de Antonio Furtado e
de Maria d'Araujo, de quem oão tem filhos, e é fallecida.

Teve mais Jacome Dias Corrêa, um filho natural chamado Christo-


vão Dias Corrêa, imitador da nobreza, e condição de seu pay : o qual
casou duas vezes : da primeira mulher houve quatro filhos ; a saber —
Jacome Dias, morador na Villa da Praya, da ilha Terteira, casado là com
uma nobre mulher, onde foi escrivão publico do judicial. Outro filho,
Gaspar Dias, é casado na mesma Villa da Praya, feitor do capitão da di
ta villa. Outro, Balthasar Dias, casado em Castella. Ò quarto filho, Mel
chior da Costa Ledesma, que casou na villa do Nordeste com Anna Af-
fonso, irmã de Jorge Affonso, da Ponta da Garça, e foi escrivão de Villa
Franca, de quem não houve filhos. Casou segunda vez Christovão Dias
com uma mulher nobre, da qual houve estes filhos : o primeiro, Jorge
Dias, que casou, e de sua mulher houve a Sebastião Corrêa, o qual anda
por alferes d'uma galé de el-Rey Pliilippe. O segundo filho de Christo
vão Dias, Antão Corrêa, que é cego, mas não no entendimento, e casou
106

Ires vezes com nobres mulheres, das quaes não houve filhos.
O terceiro filho de ChristoTão Dias Corrêa, chamado primeiro Jor1
dam Jacome Corrêa, depois o capitão Alexandre, por lhe pôr este nome
0 senhor dom Joim de Áustria, por valentias que fez no tempo di guerra
naval, que teve com o turco, ao qual alem do habito de Santiago com
boa tença, el-Rey Philippe, por seus serviços, fez mercê de duzentos mil
1 eis de renda, pagos aos quarteis cada anno na alfandega desta ilha de
Sam^Miguel, onde casou com Catharina Mendes, filha de Antonio Men
des Pereira, e de Izabal Fernandes, com a qual lhe deram em dote seis
mil crusados de raiz ; e delia não tem filhos : das valentias e feitos he
roicos do tal capitão Alexandre, direi ao diante mais largamente em seu
logar. O quarto filho de Christovão Dias, chamado como seu pay Chris-
tovão Dias Corrêa, e o quinto Manoel Corrêa, falleceram ambos solteiros-
na ilha Terceira, em casa de Joam da Silva do Canto.
Houve mais Christovão Dias de sua mulher duas filhas: a primeira
Aldonsa Jacome, casou com Sahador de Araujo, por alcunha o Farto,
morador em Villa Franca, de quem houve um filho chamado Christovão
Dias, ainda solteiro. A segunda filha de Christovão Dias Corrêa, o velho,
falleceu solteira. Vieram depois a esta terra Gabriel Coelho e Raphael
Coelho, irmãos ; e Antonio Jorge Corrêa, homens nobres, parentes mui
to chegados de Jacome Dias Corrêa. Gabriel Coelho teve grande trato, e
perdeu muito em uma companhia que teve com Antonio de Pesqueira
Burgales, e com Antonio de Brum. Casou com uma neta de AlTonso An
nes, dos Mosteiros, rico e nobre, da qual teve alguns filhos e filhas. Ra-
pbael Coelho casou com uma filha de Estevão Alves de Rezende. Anto
nio Jorge casou com Margarida de Chaves, tambem neta de Affohso
Annes, dos Mosteiros, da qual houve alguns filhos ; os vivos são : Manoel
Corrêa, letrado em leis ; Gonçalo Corrêa de Sousa, canonista ; e uma
filha chamada Maria Corrêa, que agora está no mosteiro de Santo André
da cidade; todos de muita virtude e de bom exemplo, imitadores de
soa mãe, que depois de viuva se deu tanto a Deos ca oração, que se tem
e é julgada por santa, como direi a diante.
DUepi alguns que estes appelidos de « Correas gente nobre, teve
m

^principio eft uns, que guardando uma torre sem se quererem entregar
aos coirtrarios, estiveram tanto tempo cercados, que faltando-lhes o man
timento, faziam em tiras e correas os couros das caixas encouradas; e
deitandoos de molho os comiam1 depois de brandos. Outros dizem que
por um d'e)les em uma batalha vencer um poderoso inimigo, e o atar
com umas correas, trazendo-o captlvo, lhe ficou este appelido de Cor-
rOas, que por isso tem as suas armas a figura d'um homem atado pelas
mãos com umas correas.
Tinha Ruy Vaz do Trato, fóra suas rendas, muito gado e muitas
criações, n'esta ilha, em Villa Franca, nas Furnas, nas Sete Cidades, no
pico dos Ginetes, em Rabo de Peixe, e na Ribeira Grande ; as quaes ia
visitar em pessoa cada anno. E vindo um dia da criação das Sete Cida- %
des, a cavallo, lhe aconteceu junto do logar de Rabo de Feixe, que ain
da estava despovoado è ermo, sem haver n'elle mais que duas cafuas
em que dormiam os vaqueiros, e os rossadores dos mattos. Chegando de
noite a uns biscootos, que estão alem de Rabo de Peixe, da banda da
villa da Ribeira Grande, onde elle ia para sua casa, que estava no Mor
ro, abaixo do arrebentão, da parte do mar, onde então morava : que
depois mudou Joam do Outeiro, seu seccessor, para junto da Ribeira
Secca, abaixo da ermida de Sam Pedro; e ahi fez outras casas e. gra
neis de telha, desfazendo as em que morava, pelas não achar de seu
gosto, por serem desviadas da povoação. Ê chegando de noite Ruy Vaz
ao dito biscoito , quasi sahia d'elle onde estava uma cruz em um peque
no outeiro de pedra , quando lhe sahio ao caminho um phantasma como
touro e se arremeçou a elle; e cuidando que era touro andou com elle ás
lançadas, levando tanto trabalho n'isso, e o cavallo o mesmo, que quan
do chegou a sua casa ia já todo pisado, sem dizer a sua mulher, nem a
outra pessoa alguma, o que lhe acontecera.
Deitando-se na cama, sem comer, muito cançado , ao outro dia antes
que amanhecesse, foi vér se achava o touro naquelle logar, e não achou
rasto, nem mostra alguma, por onde se pudesse crer, que andasse ali
touro, nem outra alimaria, nem pessoa, por que tudo ali era cuberto de
hervas frescas, entre as quaes ia uma vareda por onde se camiohava;
108

nem se podia fazer cousa alguma, que não mostrasse o rasto tio que se
tizera : vendo elle isto, e entendendo que era algum demonio, ou cousa
má, a que ali lhe apparecera, se tornou turbado para casa ; e o eoniou-
a sua mulher, que dificultosamente o poude já entender, por elle quasi
não poder fallar, e logo falleceu d'este assombramento : e depois de viu
va se casaram as tres filhas, como tenho dito.

Indo Luiz Gago dar conta a el-Rey por seu tio Ruy Vaz Gago, que
nada ficou devendo, casou cá a dita Catharina Gomes Rapozo com Joam
do Outeiro, mercador que procurava pelas cousas de seu marido, e era
seu feitor, do qual houve uma filha, que conforme ao costume daquelle
tempo, desposou com Jorge Nunes* irmão do capitão Ruy Gonçalves, pay
do c pitão Manoel da Camara, ao qual mataram os mouros, andando em
Africa á custa do sogro, no tempo dos desposorios, e depois a tornou a
casar Joam1 do Outeiro com dom Juliannes da Costa, filho de dom Al
varinho, como direi quando tratar de seu morgado, e das differenças
que houve sobre elle.

Luiz Gago, primo co-irmão de Luiz Gago dó Trato, ainda que lhe
chamava tio, por ser Ruy Vai o mais velho, e o ter em sua casa, que*
por sua causa veio a esta ilha; morou na Ribeira Secca, termo da Villa
da Ribeira Grande, e era como tenho dito filho de Estevão Roiz Gago,
fidalgo, que fez muitos serviços a el Rey nas guerras de Castella, onde.
foi muito ferido, principalmente duma lançada, que em se recolhendo
os pcrtuguezes lhe deram os castelhanos de arremessa por Baixo das1
couraças nos lombos, de que lhe ficou um nó grande por signaL Era
tambem primo co-irmão do doutor Ruy Gago, juiz dos feitos de el-Rey;
foi homem latino, discreto, e de boas partes, não bebia vinho, mas sem
pre tinha muitas pipas d'elle em sua casa, para agazalhar muitos hospe
des e religiosos, que a ella iam : era muito amigo dos pobres e viuvas,
que amparava : vivea muito honradamente e abastàdo, com cavallos e
mullas na estrebaria, que tinha bem pensados, por ser bom cavalleiro :
e muitos escravos, e escravas* criados e criadas, e grande família : foi
casado com Branca Affonso da Costa, fidalga dos ColumbVeiros, atraP dfc*
tos, da qual houve os filhos seguintes:
109 ,

0 'primeiro fiiho chamou-se Pedro Gago, que foi. estudar • a Salaman-.


ca, e depois foi vigario da egreja <le Sam Sebastião da cidade de Ponta
Delgada, muitos annos , onde falleceu ; e d'a*íi o levaram à enterrar á
villa da Ribeira Grande, em ,uma Capella de seu . pay Lai» Gago, o qual,
teve um filho natural, licenciado em canones, chamado Pedro GagoBo-
carro, de grande virtude. O segundo filho de Luiz Gago, por nome Pau
lo Gago, morreu na Ribeirinha, termo da Ribeira Grande, onde tinha
sua fazenda: casou nesta ilha de Sam Miguel com Guiomar da Camara, .
filha de Antão Ruy da Camara, fidalgo, filho de Joam Roiz da Camara, .
capitão que foi d'esta ilha. O qual Paulo Gago era discreto latino, e bom
cavalleiro, um dos dous melhores que havia na ilha, e nenhum lhe leva
va vantagem de bem poato, e concertado, jmuito airoso a Cavallo. Hou
ve de sua mulher os filhos seguintes :

O primeiro, Ruy Gago da Camara, qua fallecehdo dous filhos e uma


filha, por ficar só em casa, o criou sèu pay com muita doutrina, íazen-
do-o aprender latim e bons costumes, alem de o fazer bom cavalleiro, .
com ter sempre de continuo, na estrebaria, dous cavallos, mulla e quar-
tam, fóra outros de emprestimo, e muitos escravos e escravas,' criados
e criadas, ,e grande familia ; vivendo em uma rica quinta ,que tinha na
Ribeirinha* termo da villa dá Ribeira Grande, onde tinha a cabeça do •
seu morgado : pelo que era havido pelo mais rico homem da villa. Ca
sou o dito Ruy Gago da Camara na cidade de Ponta Delgada, com Izabel
Botelha, filha de Garcia Roiz Camello, e de sua mulher Maria Travassos,
filha dó contador Martinho Vaz, da geráçãó dos Camòllos, Cabraes e
BotelhOs ; é homem muito temente a Deos, resistadó nas cousas de' cons
ciencia, humilde, manso, e bem acondicionado : foi desoito annos capi
tão' á'uma bandeira de duzentos e cincoenta homens, na, dita villa da Ri
beira Grande ; tinha por cabos óe esquadra ós melhores- da terra : e
servindo este tempo de capitão, succedèu mandar fazer el-Rey novo re
gimento n'ésta ilha, que noà logares oride houvesse mais d'uma bandei
ra^ só fizessem capitães maiores, o que fói ordenkdo pelo capitão Manoel
da Camara, na era1 de mil qdlrtfrentbs e sessenta e Abas, ou sessenta e
tres. Na qual eleição elle foi eleito pelo povo por geral de quatro ban-
110

deiras, cada uma de duzentos e cincoenta homens de armas ; tres tfèV


las dentro da villa, e uma no logar de Rabo de Peixe, seu term», que
em todas juntas ha mil homens de peleija,; e «depois se fez outra ban
deira. , . íi ..• „,

Com o qual cargo, em todo o tempo que o teve e tem. assim quan
do foi capitão menor, como maior, é de tal condição, e tão nobre, qwe
nunca aggra.you soldado seu, nem usou deksondenação ; reprehendendo*
os e tratandp-os com muito amor, como filhos ; e assim é pay de todos,
e da mesma- villa ; acudindo primeiro que ninguem a todas as pressas
e necessidades d'ella, e fóra delia com t«óã pessoa e fazenda : o qual
houve de sua mulher, (zabel Botelha, os filhos seguintes : bem confor
mes nos costumes a tão bom pay e mãe que os geraram. O primeiro,
Paulo Gago, morgado, que parece um anjo na condição e virtude ; o
qual casou,,com Izabel de Medeiros, filha de Jeronymode Araujo, fidal
go cidadãq de,í¥iila Franca, como^á itenbo dito. O segundo filho, Ruy
Gago, muito cortesão ie discreto; ©terceiro, Pedro Gago. O quarto, An
dré da Camara. Tem tambem doas filhas, a primeira, dona Maria, ca
sou com Manoel, da Gamara, fidalgo, filho de Henrique de BetMicor, com
dispensa,. por, serem parentes. A segunda filha, fzabel da Camara, ca
sada com Manoel Moniz, filho de Adim Lopes, e de Maria Moniz, fóra
outros que Calleceram ; e tres d'elles .continuamente a cavallo, e pelas
festas quando ha folgares, vem com elle em cavallos bem ajaezados e
lustrosos.
O terceiro filho de Luiz Gago, chamado Sebastião Gago, criado de
el-Rey, morreu em seu serviço na índia, com outros soldados, sendo ca
pitão d'um navio de alto bordo, pregado um braço com as frechas ao
bordo d'elle. O quarto filho, chamado André Gago, falleceu no diluvio
de Villa Franca d'esta ilha, estando já no estudo aprendendo para cle
rigo, sendo muito bom musico, bom cantor e tangedor. O quinto, por
nome Jacome Gago, gentil homem, discreto e grande cavalleiro, falleceu
solteiro na ilha Terceira. O sexto filho de Luiz Gago, chamado Estevão
Gago, morador na Ribeira Secca, casou com uma filha de Joam do Mon
te, 10 velhos da qual houye tres filhos: O primeiro, Luiz Gago, degranr
m

des espiritos, que foi daqui solteiro ter ás Canarias, onde se chamou Luiz
de Betancor, e d'ahi se mudou para outra parte, e não se sabe d'elle. O
segundo, Sebastião Gago. O terceiro, Pedro Gago, que tambem se foi
d' esta ilha, onde não se sabe se são vivos.
,Teve mais Luiz Gago tres filhas. A primeira, dona Alda Gago, ca-
sou-<c©m Henrique Camello Pereira, fidalgo, 'filho de Fernando Camelie
Pereira, da qual houve dous filhos de grandes partes, como direi na1
geração dos Camellos. A segunda, dona Margarida Gago, casou com Si
mão de Betancor da Sá, fidalgo, filho de Joam de Betancor, de quem'
houve os filhos e filhas que disse na geração dos Betancores. A tercei
ra, 'Beatriz Roiz da Costa, casou coin Férnando Corrêa de Sousa, viuvo,
fidalgoda geraçfo dos Corrêre de 'Portugal, que veio daittra da Madeira,
d'onde trouxe Unia filha chamada Branca Corrêa, que falfeceu solteira :
o qual Fernando 'Corrêa se fót d'esta ilha em um navio.muito" grande,
qne aqui fez, no logar do Porto Formozo, que se pertfeu na ilha da
íladeira : fom o qual desgosto se foi para as índias de Castell», e nun
ca mais houve novas d'elle ; era gentil homem, grande de corpo, mag
nifico nas obras, e muito discretô, do qual já disse na geração de Nuno
Gonçalves, filho de Gonçallo Vaz, o grande ; e a cada uma d'estas filhas
deu Luiz Gago, em casamento, vinte moios de renda em propriedades,
que agora valem dobrado.
Tem os Gagos por armas um escudo de campo vermelho, com uma
aspa, e tres luas de prata nos tres vãos de baixo da aspa, e uma estrel-
)a de ouro no quarto vão de cima : e n'elle mesmo, por differença, um
cardo de ouro florido ; eo elmo azul, guarnecido d'ourocom sua folha
gem ; da parte direita a que tem ave de ouro e vermelho, e da parte
esquerda de prata e vermelho ; paquife de prata e vermelho, e por tim
bre um leão deprata, com uma estrella douro na testa.
Í12

CAPITULO DÉCIMO TERCEIRO.

. Da vida k estado de Dom JulianNes da Costa, o Velho, filho de'Dòm


Alvarinho, que ?ob casar n'esta ilha, com uma fíijia de João do
Outeiro e da mulher quk foi de Ruy Vaz Gago do Trato, hkrdou
muita fazenda, que n'ella tem seus filhos e herdêiros.

Dom Juliannes da Costa, filho dedom Alvarinho, sendo fidalgo. co


mo era, andando na corie, commetterato-lh.3 um casamento n'esta ilha,
com grande somma de dinheiro e fazenda, (jue lhe deu Joarh do Outei-
rd, com dona Maria, sua filha, que houve de Catharina Gomes Rapozu,
sua mulher, que fora de Ruz Vaz do Trato, entre o qual dote lhe deram
na villa d? Ribeira Grande e seu termo, na cidade, e em Villa Franca*
quatro centos moios da trigo de renda, que rendiam naquelle tempo,
e agora rtndem muito mais : ^eran^ltie tambem na dita, i)h,a, de renda,
duzentos crusados em dinheiro e em foros de casas. Viveu dom Julian
nes com esta primeira, mulher dous annos, pouco mais ou menos : por
que morreu ella, e ficou elle viuvo, onde esteve um anno sem casar- De
pois, andando no paço, muito favorecido de el-Rey, o casaram com dona
Joanna da Silva, prima do regedor, e muito parenta do governador ;
mujto fidalga e discreta: com a qual lhe, deram dote que chegou a qua
renta mil cruzados em dinheiro e fazenda : tiveram quatro filhos e qua
tro filhas, de cada um dos quaes tratarei ao diante.

Vivendo ambos na corte, vieram a multiplicar tanto com sua fazen


da, e a ter tanto credito com el-Rey, que o mandou por embaixador a
França, onde esteve por espaço de tres annos, muito favorecido de el-
Rey dom Joam, terceiro do nome : o qual depois da sua vinda, gostou
tanto do seu serviço, que o tornou a mandar por embaixador a Roma e
Alemanha ; nas quaes partes tratou os ditos cargos muito a gosto de
quem )h'os encarregou, e depois de sua tornada, estando na corte com
grande credito, e fa2endo-lhe el-Rey moitas mercês, lhe mandou que
ft3

tosse vèaclor de sua fazenda, do qual cargo elle se escusara por muitas
vezes, por que o não queria servir, sem el-Rey lhe receber escusa ; ao
,que elle lhe disse — que pois os fidalgos da corte tinham inveja d'elle,
e de sua privança, lhe pedia que primeiro que comecasse a servir o
ylito officio, sua alteza lhe mandasse fazer inventario da sua fazenda, pop
que havendo em algum tempo algum mexiriqueiro, se soubesse quanto de
,antes tinha. Respondeu-lhe el-Rey, que não havia necessidade de lhe
•fazer inventario, pois confiava d'e!le. Mas não contente dom Juliannes,
chamou certos escrivães e contadores, com os quaes fez rezenba da sua
fazenda, mostrando-lhes? os títulos que tinha d'ella, a 'qual feita, montou
de t movei e rajz• que tinha assim nesta ilha como no reyno, eqtran-
do um conto e duzentos mil reis, que Ihp ,pjagàYa e^?y Ae jur8
cada um amip, uma e outra, a duzentos mil cruzadas . 'ifaquel-
Je tempo do inventario somente : f^ra o que depois multiplicou ; e ou
tras mercês grandes que lhe, fez el-Rey : que 4 hora, de sua morte po
dia ser toda trezentos mil cruzados. Servio de vèador f^wtos tempos a
eoiiientameHto de el-Rey> ^erviq^o-se .mag^ifiçan^te, ,acnmpaj|it|ado de
todos os fidalgos, e muitos d eites ricos, .

Houve dom Juliannes, de sui mulher dona Joanna da Silva, primei


ramente um filho, chamada dom Alvaro da Costa da Silva, o qual sendo
menino muito mimoso de seu pay por ser o primeiro, lhe 'aconteceu
qm grande desastre, por .que tendo alguns barris de pólvora em sua
casa, que lhe ficou de quando veio a esta ilha visitar sua fazenda, em
uma nào armada, que lhe deu el-Rey para vir em Sha guarda ; mandando
deitar polvora ao so! a secar em uns guardameses, dom xÀ'lvâro' com
outros meninos pagens, quizeram fazer foguetes, ' e trouxeram lume,
d 'onde se veio a pegar na polvora, e alcançando -os o ,fogo matou dous
d'elles, e outros ficara.m aleijados, como ficou dom Alvaro, que lhe
queimou todos os peitos, e o rosto, d'onde ficou cego d'um olho, mui
to disforme das costuras do fogo, e as mãos e dedos muito alegados,
como são hoje em dia ; e sem embargo d'isso é muito bom escrivão.
Vendo seu pay e mãe esta dasgraça, foram muito anojados por ser o
. primeiro -filho morgado : depois quiz-lhe Nosso Senhor dar outro .filho
H4

apoz elle: dom Antonio da Costa da Silva, moço muito discreto, eomv
elles eram todos : determinou o pay e a mãe com o cardeal fazel-o sacer
dote, para que o segundo íosse herdeiro no morgado, como de (acto o
fizeram clerigo ; e o dito dom Alvaro depois que entendeu e viu que
não podia herdar o morgado, ficou muito triste, apartando-se logo de
seu pay, sem nunca uiais serem amigos, e ioi para o estudo de Coim
bra, onde Jlie mandava dar o pay mil cruzados de renda cada anno ; es
tudando alguns annos, onde tomou gruo, e com isto se foi para Ikwía
sem, o pay o saber; e quando o soube, contente com iss*r o mandou
prover lá com todo o necessario com muito dinheiro.

E como dom Juliamtes era muito conhecido em. Roma, d» quando


lura por embaixador, era lá favorecido de todos os cardeaes e senhores ;
e trata vH-se como grande senhor ; e d esta. vez privou tanto, que trouxe
cinco benefieios muito .bons, vindo-se para Coimbra sem ir a casa de seu
pay ; e ahi tornou a estudar, até que se poz em grão de doutor, como é;
comendo as rendas das sua» egrejas, que Ibe podiam, n'aquelle tempo,
render duus mil cruzados, com mais mil que Ibe dava sen pay. E indo
algumas vezes á corte se tratava com. quinze e desafieis pagens, todos-
vestidos de seda, com gorras de velludo, e com quatro ou cinco homens
de pé e outros de cavallo, de modo que na corte não havia quem lhe .
fizesse vantagem. Depois não contente com isto se tornou a Roma ; este
ve lá tres annos, d'onde trouxe, d'esta segunda vez, nove benefícios, fóra ,
o Deyado da Guarda, que é uma grave e proveitosa dignidade, que Ihè
rende em cada um anno, seiscentos e cincoenta mil reis, que serve um,
criado por elle, em seu nome como coadjutor, que eram já quinze be
nefícios.

Depois tornou outra vez a Roma a trazer Ires, que são desoito ; tem
dados a dous criados dous, licando-lhe desaseis. Também alcançou com
o papa, por seu favor e de seu pay, que lhe deu os benefícios das egrejas
em transferende : e diz no transferende logo d'esta maneira : — que o
dito dom Alvaro poderá dar e renunciar as ditas egrejas nas pessoas en>
quem elle mais quizer, com tanto que tenham ordens menores, e não se
jam parentes no quarto gráo : e esta data será valiosa sem maisauthori
ThidS .flò papa, nem bispo : e será renunciado vinte quatro horas antes'
dí sua morte para que esteja enY seu sizo : e logo diz que, se n'aquelle
tempo n5o estiver tão prestes notário, ou escrivão, para fazer a tal re-
titinciação, que renuncie dianté de doas testemunhas, e que seja válida.'1
. e depois de renunciada será confirmada ' pelo bispo do bispado, aonde
estiver o beneficio. De maneira que The fenderam os benefícios em cada
um anno, dous contos, forros para si. Alem (Vestes benefícios, tem de'
patrimonio de herança de seu pay, trezentos e sÃenla mil reis de juro,
que lhe paga el-Rey no almoxarifado de Santarem, em cada um anno :
tem mais n'estas ilhas a sua pàfte, que'fh"e rende cada um anno cem
frtoios de "trigo, pouco mais ou menos. Rendem-lhe mais em dinheiro,
os foros que aqui tem, trinta mil reis : e'tem quintas, propriedades,
moinhos, marinhasse casas que lhe rendem, em cada um anno, 'mais de
dous mil"è dazentos" cruzados.

Não tem «asa certa, tem uma casa em Lisboa, outra em Coimbra,
outra no Porto, outra rta Guarda, e outras onde tem as égrejas ; e es
tando quinze, vinte dias em uma parte, vae estar outros tantos em ou
tra ; bão quer estar na corte, nem ser bispo, nem outra dignidade; d'es-
ta maneira passa a vida quietamente. Depois dom Antonio herdou o
morgado, que lhe poderá render perto de quatro contos em cada um
anno, onde entra uma roa que fez .-dom Juliannes* em seu i tempo, ao
pelourinho velho, nas casas que foram dos Coutos; que é a melhor cou
sa ífde' ha em Lisboa : .que lhe rendem cada um anno, os alagueis das
casas,' Ires mil cruzados ; e tem tres filhas, e nenhum filho: foi com el-
Rey para a Africa ; dizem, que lhe deram quatro lançadas, das quaes
morreu. O terceiro filho dé Juliaones da Costa, é muito rico, casou já
duas vezes, e de ambas lhe daram grossos dotes, alem do patrimonio'
que lhe deu- seu pay, que passa de dous contos de renda, onde não en
tra o d'estás' ilhas, cento e quarenta mok» de trigo, fòra os foros de
•dinheiro. .

O quarto filho de Juliannes da Cotia, mancebo já casado, è o mais


•inovo, ;fleixar-lhe-ia seu pay um conto e meio de renda, que come; não

entram cem moios de trigo que tem n'esta ilha cada anno, fóra es foros
de dinheiro : c homem de raro engenho, musico, latino, e èem entendi-,
do na lingua italiana ; tem grande habilidade na arte de poesia, e n» ,
oratoria, tem escripto muitas cousas, e a jornada de el-Rey dom Sebas
tião com grave estilo : de moço começou a andar nas galés que andavam ,
de armada ; e ainda de pouca idade fugiu de casa de seu pay para Tan
ger, onderesidio quatro annos. e.é agora capitão de Ceuta. Uma das fi
lhas, dona Philippa, casou com dom Fernando Mascarenhas, fidalgo mui
to principal, e grande capitão que, foi, em Tanger muito» annos, e muito .
qperido de el-Rey ; tão erforçado e manhoso, qoe fazia muitas vantagens-
de cavallaria diante de el-Rey : e tão apessoado, que tinha feição de gi~
gaote na grandesa e forças : e está sabido que na coutada de Almeirim,
indo com el-Rey correndo no cavallo debaixo do arvoredo, se pegava,
em cima das arvores, e apertando as-„ pernas, alevantava do chão o Car
vallo com ellas: ao qual os mouros mataram , com el-Rey dom Sebas
tião, tendo elie primeiro morto muitos.

Outra filha de dom Juliannes casou eom,dom Thomaz de Noronha,


grande fidalgo, dos prineipaes do reyno, rico, devoto lio amigo de Deos,
que não faz outra cousa senão sempre resar, Tem outras duas filhas frei
ras no mosteiro de Almoster, jonto de Sanearem, ás quàés dòo grossos
dotes, e todo» ião vivos : somente dom Antonio, morgado coro quatro
contos de renda, ao qual tendo quatro filhas de sub mulher, sem filho
varão, levou el-Rey dom Sebastião comsigo na jornada dá Africa, è ao»
dous irmãos dom Joam e dom Juliannes ; e na batalha se diz qu3 mata
ram os mouros ao dito morgado : outros dizem que foi visto captivo em
Constantinopla : os dous irmãos ficaram captivo» em Barbaria, e sahi-
ram por resgate : dom Joam, dizem, que custou sete mil e quinhentos
cruzados, e dom Juliannes cinco mil e quinhentos cruzados. E por que
ao dito dom Antonio não ficou filho vario, fica o morgado (segundo di
zem ) a dom João, por ser irmão segundo de dom António : por que o
pay o instituio com condição, que sempre andasse por via masculina ; de
modo que ao filho que menos, deixou dom Juliannes da Costa, foi um
conto e mem de renda ; a qual fazenda maoou do principio que teve n; es
ta ilhs com o grande dote que lhe deram em casamento com » Jlha de
Joana do Outeiro, e da mulher que foi de Ruy Vaz Gago do Trato, doo?
de Ioda procede : e nesta era de mil quinhentos e oitenta e sete, se acha
n'esta ilha de Sam Miguel, render a fazenda, que ficou do dito Ruy Vaz
Gago do Trato, mil e trezentos moios de trigo cada anno, de raiz, ou
propriedade, pouco mais ou menos : a qual renda está nas mãos dos fi
lhos de Julíánnes daCosta, como tenho dito, e entJ Aires JacoiSlé' Corrêa,
e emdonaVíolanta da Silva, em dom Diogo de Soupa, em dom 'Francis
co Manoel, em Jeronymo d'Araujo, em Anna da Abreu, mj^lhièr qúe foi
* de Pedro d'Aguiar, e filha de Sebastião Alves de Abreu, em Nuno de
Athouguia. em Thomè Vaz Pacheco, em' Braz Rapozo, sens irmãos, e
n'os herdeiros de Jordam Jacome, e o morgado ' que póssufc agora Bar'
tholométoJacome Pacheco, n'esta ilha.

capítulo decimo quarto:

Dos Camellos e Pereiras, fidalgos que vieram de Portuga^ a éttà


ILHA, SENDO TERCEIRO CAPITÃO J>' ELLA Ruv GONÇALVES DA CAMARA,
PRIMEIRO DO NOMb

Dos primeiros qtíe i esta ilha vieram, no (empo de Ruy Gonçalves


da Camara, terceiro capitão d'ella, primeiro do nome , veio um Diogo
de Castello Branco, um Fernão Camello Pereira, fidalgo dos Camellos
de Portugal, com grande fausto, cavallos e escravos, e aqui casou com
Beatriz Cordeiro, filha de Pedro Cordeiro, dos primeiros povoadores
que houve , morador em Villa Franca, de quem houve estes filhos : —
Jorge Camello; Manoel Camello ; Pedro Camello ; Gaspar Camello ; *
í*8

,Henrique Camello , todos com appellidos de Pereiras : e daas, DThas,


dona Leonor Camello, e dona Beatriz Camello ; os quaés cinco fiíhos le-
vou Fernão Camello d'aqai a Portugal, e cs deu a el-Rey por moços fi-
dalgos.
. E o primeiro, Jorge Camello, depois de o servir, andando na corte
alguns annos, morreu no serviço de BMley^ sendo capitão d uma náo da
índia, sem casar e sem filhos. O segundo, Manoel Camello Pereira, indo
por capitão d'outra náo da índia, passaram alem d'ella ; e com os traba
lhos da comprida jornada, ajnda que elle e seis ou sete companheiros
seus somente escaparam . no mar, sahipdo e desembarcando em terra,
morreram logo todos : foi casado, a primeira vez, com uma filha de
Luiz Vaz Maldonado, momposteiro-mór dos captivos em todas estas ilhas;
e a segunda vez casou com uma Fuam Tavares, sem ter filhos d'ella.
O terceiro filho, Pedro Camello Pereira, casou em Lisboa com dona
Maria de Alpoim, de quem não houve filhos: e servindo a el-Rey em
uma armada, tendo briga com uns francezes, havendo tiros de parte a
parte, com a polvora logo ficou cego : pelo que lhe fez el-Rey mercê das
pensões de todas estas ilhas dos Açores, e da saboaria da ilha de Sam
Miguel : e casou segunda vez com dona Maria, de quem não houve filhos:
a qual depois da morte d'eife, casou "com o licenciado Luiz da Rocha, de
Vianna, ouvidor que foi do capitão d'esta ilha, e depois provedor da
fazenda de el-Rey na comarca de Bragança, onde falleceu. . .

O quarto filho, GaspaV CamehVPerèii'*, casou com Beatriz Jorge,


filha de Pedro Jorge.de quem houve filhos Pedro Camello Pereitfa, que
agora é juiz dos orphãos na cidade de Ponta Delgada, e casou em Por
tugal com dona Iria, fidalga muito principal, de quem tem um filho cha
mado Nicoláo Pereira, e uma filha por nome dona Victoria. Teve Gas
par Camello Pereira tres filhas :—1, casou uma com o bacharel Gonçallo
do Rêgo, dê quem houve um filho, Gaspar Camelío, que casou na Praia
da Una Terceira, com uma filha de Ài varo Cardozo; o qual Alvaro "Car
dozo, por fatlècimèhto de Gonçallo do Rego, casou corr. dona Beatriz-
A segunda fííha dè Gaspar Camello, casou corh Alvar ò Martins, mom-
r^steirò-mór dos captivos d'esta ilha de Sam Miguel, àtí quem houve
H9

)8 ; um se chama Pedro de Sousa, que foi escrivão da camara do


elegantissimo e grande pregador dom Antonio Pinheiro., primeiro bene
merito bispo de Miranda, e depois de Leiria, chronista-mór de Portu
gal, tão expediente em todo o género de negocios, e de tanto saber e
prudencia, que bem pudera governar o mundo todo; e outro que foi
para a índia de Portugal : e uma filha, por nome Izabel de Jesus, freira
professa no mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta Delgada ; e
outra chamada dona Beatriz Camello, casou com Ruy Vaz de Medeiros,
capitão dos aventureiros na cidade de Ponta Delgada ; pór ser muito va
lente de sua pessoa, e homem de grandes espiritos, sua mage3tade lhe
dèu o habito de Christn.com boa tença.

A terceira filha de Gaspar Camello, chamada doDa Guiomar Çamel-


lo, casou com Jorge Furtado, como direi na geração dos Furtados.
O quipto filho de Fernão Camello Pereira, chamado' Henrique Camello
Pereira, foi casado, primeira vez, com uma filha de Luiz Gago, da Ri
beira Grande, chamada dona Alda Gago, de quem houve dous filhos —,
Jorge de Sousa Pereira, e Pedro de Sousa de Castello Branco ; ambos
os quaes eram muito discretos, musicos, e valentes de suas pessoas, e
foram, para a índia em serviço d'el-Rey. Jorge de Sousa, o mais velhq,
foi capitão de Cochimje <Tahi foi com uma armada sobre as ilhas de
Maldiva, que estavam levantadas conira o seu rey, que ficava em Co-
chim, onde viera pedir favor a dom Constantino, que era então vice-rey,
o qual mandou a Jorge de Sousa por capitão d'esta armada a este soc-
corro; e; tendo já tomado e sugeitadq duas d,as ilhas, entrando m ter:
Ceira, morreu com toda a gente em uma rijada que os inimigos lhe
armaram: e conta-se que pelo d3mnofc;u.e.tii|ha, feito n'elles, o amarra
ram a um páo, eo mataram ás cana viadas.

O segundo filho de Henrique Camello Pereira, chamado Pedro dé


Sousa de Castello Branco,,servio de capitãp-mór na costa de Melinde, em
tempo que Francisco Barreto foi ao descobrimento do Rio do Ouro de
Menopotapa, ,e acabando seu tempo de capitão da dita costa de Melin
de, casou em Moçambique com uma viuva, e ahi vive até hoje. Casou
Henrique Camello, a segunda vez, com uma nobre mulher, a quem não
120

sòube o nome, nem sei se teve d'ella filhos. Das doas filhas de Fernan
do Camello Pereira, uma chamada dona Leonor Camello, casou çom Pe
dro Alfonso da Costa Columbreiro, morador na freguezia de Santa Lu
zia, no togar das Feteiras ; de quem houve estes filhos: — Sebastião de
Sousa, que casou com dona Izabel, filha do doutor Francisco Toscano,
quando estava por corregedor n'esta ilha de Sam Miguel, de quem hou
ve filhos e filhas muito virtuosas e honradas. — Francisco Toscano, e
Fr. Pedro, relegioso e pregador, prior que agora é de Nossa Senhora
da Graça, da cidade de Angra ; e dona Leonor, de grande saber e vir
tude, e outras que falleceram.
Houve mais Pedro Alfonso da Costa Columbreiro, de sua mulher
dona Leonor Camello, um filho chamado Jorge Camello da Costa, ho
mem de gránde virtude, muito bom cavalleiró; magnifico, grandioso, e
tio liberal; que gasta quanto tem da sua renda com agasalhar hospe
des e pobres, tanto que parece sua casi o. hospital : e lei no ldgaMas
Feteiras, ohde^mdfca', qâç casaç que Joram j^e leu pay, uma sujnptiiosa
ègreja, em,,quB gaâioti ipais dè três riiil cruzados ; e casou com dona
, MajgaridaVltlha de Pedro P^clièco, dè quem não houve filhos , como
disèe nà jjeraçaò de Nuno Gonçalves, íllho de GonçallojVaí, 6 Grande,
è'hà 'géração dos Cogómbreiros. riouve mais Pedro A{fohsò Çcgombrei-
ro, de sua mulher, uma filha chamada, dona. .Beatriz, que casou com
Francisco de Mendonça, fidalgo, filho de Mendo de Vascohcellos, de
quem houve uma filha chamada dona Leonor, que casou com Antonio
Pereira, filho do bacharel Diogo Pereira, de quem tem alguns filhos —
. dona Margarida ; Diogo Pereira ; Marcos Pereira ; e outros de pouca
idade. A segunda filha de Fernando Camello, chamada dona Beatriz,
casou com Pedro Homem da Costa, fidalgo, morador na Praia, da ilha
Terceira, de quem não houve filhos.

Veio depois dé Portugal Garcia Roiz Camello, sobrinho, de Fernão


Camello, o qual tem e tevê da primeira mulher, chamada Quiomar Soei
ro, tia do licenciado Diogo Dias Soeiro, uma filha, .chamada Beatrjz Roiz,
que casou com D.iogoVaz Carreiro, de quem houve ujn filhp.que falle-
ceu menino: Ouira filha de Garcia RohV Cabello', chamada Leonor Soei-
f 121
y,rò, casou, com Manoel Àffonso Pavão, filho de Manoel Affonso Pavão,
da villa d'Agua de Páo, de muita ndbreza, de quem houve os filhos se
guintes : o primeiro, Joam Roiz.Pavão. O segundo, Garcia ttoíz, que
ambos moram no logar de Candelaria. O terceiro, Pedro . Manoel., O
<juartn, Antonio Affonso. O quinto, Simão Roiz, vigario que íbi de.SJmi
Roque, O sexto, Manoel Pavão. ;0. setimo, Ruy Vaz. O .oitavo, Matheus
, Camello', e outros , que Calleflecam ; e duas filhas, a primeira, . Jjeonor
joeiro, casou com Pedro de Teves, filho de Antonio da Motta', de
Villa Franca. A segunda, Beatriz Roiz, casou com o licenciado Anto
nio de Rrias, filha do licentiado.Bartholoroeu de Frias.

Houve mais Garcia Roiz um filho chamado Joami Roiz Cabello, grán-
fle e esforçado cavaleiro, ^ que casou a primeira vez com «ma nóbre
tâtflhér. de quem houve aô licenciado Antçniò Çainéfio, tão bom cavallei-
. Vo'cOmb letrado, que casou com Yaonor Días, filha de Antonio Affonso,
%' Ãòrador na villa do ííordeste, e de sria mulher Maria Dias. .Teve tam
bem Joam Rofz ÇaWílo, áa primeira majtòer, uma filha chamada Ma-
\ ria dV Costa, 'que casou, primeira vez, com um Manoel Homem, de quem
houve um filho, que chamam Manoel Tfiomem,, o- Ante Christo, por ser
. de grandes «spiritos.e .Ião extremado, cavalleiro, que indo correndo dous,
. salta elle do seu cavaflo no 'do óotro, e do outro no seu : e segunda vez
casou, 9 sobredita, 'cdm Manoel Cabral de Mello, fidalgo, filho de Lopo
Cabral de Mellor, e de sua mulher Izabel Dias, de quem tem uma filha,
q:ue chamam Izttbâ Cabral.

. Casou Joam Roiz, segunda vez, com uma mulher da Terceira, cha-
, tnada Maria Badilha, de quem não teve filhos. Er terceira vez casou Joam
Roiz, em Villa Franca, com Catharina Corrêa, filha de Gaspar de Gou-
vea, e de Solanda Cordeiro, de quem houve uma filha chamada primei
ro, Beatriz Roiz, e agora Beatriz de Christo, por ser freira no mosteiro
de Santo André, da cidade de Ponta Delgada ; e dous filhos pequenos.
Depois casou Garcia Roiz, segunda vsz, com Maria Travassos, filha de
Martim Vaz Contador, de quem houve os filhos já ditos na geração dos
Velhos ; e falleceu rico e abastado, deixando seus filhos e genros bem
herdados: terceira vez casou Garcia Roiz com Margarida. GH, viuvat de
m

qoem, n3o houve filhos. Tambem. Gaspar Camello Pereira^ é filho ligiti-
mo de Fernão Camello, fidalgo, c de Maria Roiz de Azevedo, sua, se--
gunda mulher ; mora na villa da Lagôa. Os irmãos e dous filhos d'este
Fernão Camçllo, serviram a el-Rey de moços fidalgos, e estão assenta
das em seps livros, de que tem- seus instrumentos autenticos.
• loam1GaHÍello, foi um homem fidalgo da casa de el-Rey dom Manoel,
morador na!villa. de Atfesiram, e capitão maior de todos os coutos de
AI;obàç*/EMe t*vé tros filhos, um dos quaes por nome Antonio Camel
lo," vèio moço de doze annos ter a esta ilha,ao logar das Feteiras, a casa
do dito Fernando Camello, seu tio, onde se criou até à idade de vinte
annos, em m^e se casou com Izabel Velozo, filha de Joam Esteves Ve
lozo, o velho, homem principal, que então servia de almoxarife de. el-Rey;
e com pila viveu, muitos annos na, cidade de Ponta Delgada, e no go
verno, p^ella; ç sendo ^ de idade de cincoenta annos, sabendo que seu
payx Joam. Camejlo, ejja ^fajjecido, se foi d'esta ilha a Portugal ; e tra
zendo, demanda. sqbr^um^morgado que de seu pay lhe ficafa, eom ou
tro seu 41'mão^ que o. possuja, por se ter por morto, falleceu, e foi en
terrado na, ogjjeja de. Alfestrar», na cova de seti pay.
D este Antonio CameHo ficaram dons filhos e tres filhas,, que todos
foram criados na eidade de Ponta Delgada, como filhos de quem. eram:
e um d'eUes, chamado .como seu pay Antonio Camello, sendo de idade
de vintei annos, se casou com Maria de Medeiros, filha do afamado Ra-
phael de Medeiros, com a qual viveu na cidade de Ponta Delgada doze
annos: po fim dos quaes se foi aPortugal,acabar a demanda que seu pay
havia começado : e por seu tio ser homem rico e poderoso, a não aca
bou; e.foi para a índia, onde falleceu no naufragio da náo Sam Paulo.
D'este Anjonjo Camello, que falleceu na índia, ficaram um filho, e uma
filha chamada dona Catharina. a qual casou com Duarte de Mendonça,,
fidalgo, e falleceu deixando uma filha, que agora vive. O filho do dito
Antonio Camello. que falleceu na índia, çhamadp Gaspar Camello, é
casado eom uma filha de Manoel Alves Pinheiro : depois de casado foi
acabar a demanda, que seu avô e pay tinham começado, como pessoa
a quem pertencia ; e cobrou o morgado que là possuía, e se tornou pa
•ra esta ilha, onde agora vive rico e abastífilo na ciclà'de dó Ponta Delga
da, e tem nm filho por nome Joam Camellò, e uma filha de pouca
idade. " '« ' • *Mr.i M

Outro filho de Pedro Antonio Camello, filho de Joam Camello, cha


mado Braz Camello, foi d'está ilha para o reyno tle 1 (jastelta, e' lã 'andou
alguns annos Sendo mancebo, e tornando, se metteu na òrdáti 'de Sam
Francisco, onde cantou missa, e viveu vinte annos : ao cabo dos qaaes
foi a Roma, e passou a outra ordem de Santo Agostinho izentóV e vin
do a esta ilha, viveu em uma ermida de Valle dé£&baços, jniito da Vil
la de Agua de Páo, doze annos, onde fez muito fructo de doutrina, que
ensinava a grandes e a pequenos : e por fim se tornou a metter na pri
meira ordem de Sam Francisco ; e succedendo um interdicto que poz o
bispo dom Gaspar de Faria no mosteiro das freiras da. Esperança, na
cidade, foi sobre isso enviado o dito. Fr. Braz Camello, ao reyno, onde
alcançou que logo sc levantasse o interdicto : e procedendo na causa
d'estas duvidas, levou tudo ao cabo em favor das religiosas ; para. o que
mandou o cardeal e infante dom Henrique vir a esta ilha o muito reve
rendo e religioso padre Luiz de Vasconcelos, reytor do collegio da
Companhia de Jesus, da cidade d'Angra, que com sua grande prudencia
a virtude, compoz e apagou estas diferenças.

Por Fr. Braz Camello ser pessoa para fazer qualquer negocio im
portante, foi em Lisboa eleito por commissario da corte ; que servio dous
annos, no fim dos quaes, em capitulo, o fizeram guardião da casa de
Sam Francisco, d' Angra da ilha Terébira j e acartou de ser no tempo do
levantamento d'ella, d'onde elle ficou culpado de modo que vindo es
condido para esta ilha, foi preso, pelo conde Ruy Gonçalves da Camara,
e mandado a Lisboa, e d'ahi para Castella, por morador pára a casa de
Sam Francisco de Gaudelafára, óttde eaíS. Bakfillias ffÁhtòríid Camello,
filho de Joam Camello, uma chamada Maria Camello, casou com Paulo
de Moura, que a levou para Portugal, onde falleceu, ficando-lhe duas fi
lhas, àtóa pôf hòme dona Maria, outra que a raynha dona Catharina
mdttèu 'freira, b tita filhb qiie 'foi' para a 'índia. Outra filha do dito Anto-
Tbio JCàrmfeMbv (tànWdajCtàbijtàr "cineíló; casou com Alvaro Dias, natu
i24r

ral dp Algarve, homem rico, viveu u'esta illja, no lugar dasf Feteiras;.
tem dous filhos — Gaspar Camello e Jorge fome lio, e uma filha que
falleceu, depois de professa, no mosteiro da Esparaaça da cidade de Pon
ta Delgada.

A terceira filha de Antonio Camello, filho de Joara Gauiello, cha>


piada Margarida Camello, casou com Sebastião de Macedo, filho de Gon-
çaUo Braz, de Santo Antonio : dizem que teve mais o dito Antonio Co
melio, outra filha chamada Leonor Camello, que casou .com Francisco*
Annes, e Beatriz Camello, que çasou. com Simão de Teve.

A Joçge Camelfo, morador no togaf das Feteiras, pertence as armaV


dos Costas, e as dos Càmeltos :. asldos^ Costas são no campo do escudo-
vermelho seis costas de prata em facha, e duas palas ; e por diferença
um trifolie de ouro ; elmo de prata aberto, guarnecido de ouro ; paqui-
fe de prata e vermelho; e por timbre duas costas' das armas em aspa.
As mesmas des Gamellos são um, escudo com o campo de prata, e tres
vieiras de azul- riscadas de ouro ém, triangulo, e por diferença umarmor-
leta preta, e elmo de prata aberto, paquife dé prata e azul : por tim
bre una pescoço de camello, com cabeça da? sua cor: e de ambas- estas
armas seus brazões muito authorisadosv

CAPITULO DECBtO QUINíOi .

Da PROGÉNIE DOS TaVARES, NOBRES FIDALGOS QUE VIERAM A POVOAR ESTA


ILHA, QUASI NO PRINCIPIO DC SEU DESCOBRIMENTO.

I , .' ' 1•• "

No principio da povoação <Testa ilha, sendo terceiro capitão d'ella


Huy Gonçalves da Camara,, primeiro do nome, e filho do segundo ou do
primeiro capitão da ilha da Madeira Joam Gonçalves Zargo, vaio de lá
125

um Fernando Annes Tavares, que era primo co-irtaão de Simão de Sotf-


sa Tavares, filhos de dous irmãos, de Portalegre : este Simão de Sousa
Tavares foi alcaide-mór de Aveiro, homem muito discreto, de quem por
suas boas partes el-Rey dom Manoel, e dom Joam, terceiro do nome,
faziam muita conta. O qual depois de viuvo se fez frade Capucho, dei
xando o inundo ; e íargando o morgado a um filho que tinha, por nu
me dom Francisco Tavares de Sousa, e a alcadaria-mór, que o dito dom
Francisco servio, e não sei se ainda agora serve : mas sendo de media
na idade foi á índia, onde fez famozas e heroicas obras, servindo de ca
pitão ; e depois de velftb se veio aposentar em Aveiro, muito rico e no
bre fidalgo. Duas filhas qjue tinha Simão de Sousa Tavares, foram' freiras
professas, e Virtuosas religiosas no mosteiro de Santa Glafa em Coimbra,
onde as vinha eito visitar depois de frade, muito velho e santo, vestido
em um habito pobre e de baixo burel, quem andando no mundo se não
contentava com ricos vestidos de fina seda ; e quando virim á corte, por
el-Rey dom Manoel saber elle quem era, e eomo deixara o mundo, lhe
fazia muitas mercês e honras, e lhe beijava o habito : e d'esiá maneira
viveu com muita virtude e exemplo de vida, até que se acabaram1 seus
dias no mosteiro dos Capuchos.
Quando começou a reynar dom Joam, terceiro do nome, tinha Fer
nando Tavares, pay de Fernando Annes Tavares, dous irmãos, chama
dos um e outro Joam Tavares : e sendo criados do infante dom Fernan
do, moços fidalgos de sua casa, os chamava o dito infante para fallar
com elles, o que lhe relevava, e ás vezes mandando chamar a um vi
nha o outro, por serem ambos d'úétf nome ; pelo que disse ao mais ve
lho: já que vos chamaes Joam Tavares cômo vosso irmão, para que co
nheça qual de vós mando chamar, vos dou cargo da copa, e vos faço
meu copeiro-mór ; e d'ahi por diante dizia : chamem cá a Joam Tavares
da Copa, que lhe ficou por apellido ; e os filhos e .netos d'elle se chama
vam Tavares da Copa ; eram nobres fidalgos em Aveiro : alguns dos
quaes foram ao descobrimento da índia, e lá morreram com muita hou-
fa e bom nome em serviço d'el-Rey.
Houve tambem em Portalegre grandes diferenças e banidos entre;

16
í2G

doas gerações : Tavares, e outra a qnem não sdobe n nome, sobre 'uma
mulfftr fidalga e muito rica, da geração dos Tavares, que foi tirada' fal
samente de casa de seu pay, c contra vontade de todos seus parentes :
e por força a fizeram casar com dm filho do fidalgo que a tirou, que
era muito pobre e de menos valia, que o pay da m'oça ; onde se mata
ram seteou oito pesáoas, e feriram mais de trinta. E por que o dito
Fernando Annes Tavares, irmão do pay^da moça, foi culpado na morte
d'éstes homens, que tambem eram pessoas de multa qualidade, e muito
•aparentados, se anzentou com outros parentes para diversas partes. Elie
foi para a ilha da Madeira, onde casou com Izabel Gonçalves de Moraes,
mulher nobre, natural da dita ilha, das-principaes d'ella : com que sa
bendo quem elle era, lhe deram bom dote ; e d'ahi veio ter com o dito
capitão Ruy Gonçalves da Camara, que comprou esta ilha para elta,
com grande familia, que o servia, onde pelo não conhecerem que era
Tavares, se Chamou Fernando Annes, sómènte, por serem os Tavares
buscadds, e 'mandados por el*Rey prender : e aítíando Tdguns (Vestes
que sabiam haver fugido de Pórtalegre Faziam justiça n'elles ; por que
traziam seus contrarios solicitos requerimentos" na corte ; e pela mesma
rasão foi Fernando Annes Tavares morar á Ribeira Secca, termo da Ri
beira Grande, que ainda não era villa; por viver tão apartado do porto
do mar, por não ser conhecido, onde teve umas fazendas e casas, que
agora possuem seus descendentes.

O qual houve de sua mulher quatro filhos — Joam Tavares, Ruy


Tavares, Henrique Tavares e Gonçallo Tavares : e tres filh&s —Guiomar
Fernandes Tavares, Philipp^ Tavares, e Anna Tavares : e como era ge
neroso não curava de adéquèrir tanto para guardar, quanto para gastar :
segundo o que era acceito ao capitão por saber secretamente quem elle
era, e ver n elle partes para isso ; seus descendentes foram os mais ri
cos de toda a ilha ; mas elle não procurava muito para si, nem desco
bria a ninguem quem era, ainda que suas obras mostravam sua nobreza
e fidalguia. Joam Tavares, primeiro filho de Fernando Annes Tavares,
falleceu em Africa mancebo solteiro, sendo discreto e bom cavalleiro, a
"quem o capitão queria muito.
127

O segundo fillio, Ruy Tavares, rnandou-o tambem seu pay a Africa


servir el-Rejy em Arzila e Tanger, d'onde veio feito cavalleiro por ins- ,
trume^to. e alvará dp. mesmo Rey : gpnde, cavaleiro e judicial ; e(C£(spu
n'est? ilha com, Leonor ^ffopso, filha de Francisco Annes, mui tírico,
contra vontade, da, seq.paj• que era uçaa mulher de esmpllas,, e, nobre
condição : pelo que, par^ o, contentar, fo^necessarfp dar-Jhe.muitfl, fazen
da, e com o grande, dpte, vive, u sempre mm^p rico na vilh^ da Ribeira ,
Grande, com muita familia de escravos, e criados, onde faleceu ; e hou
ve de sua mulher sete filhos e quatro filhas. O primeiro, chamado Joam
Tavares, casou com Luzia Gonçalves, filha de Joam Gonçalves Garcia,
de quem houve cinco filhos e duas filhas. O primeiro, o licenciado Ruy
Tavares, que casou na cidade do Porto com Mecia Borges, filha d' um
cidadão de lá, de quem houve alguns filhos ; e viuvando d'ella, casou
em Vianna, com Violanta Lopes, nobre mulher, parenta de Diogo de
Morim, e viveu em Ponte de Lima, onde servio de corregedor, e lá fal-
leceu, vivendo sempre com bom nome e honradamente. O segundo fi
lho de Joam Tavares, chamado Gaspar Tavares, casou com uma filha de
Duarte Fernandes, e de Catharina Simões, morador em Rabo de Peixe
e teve muitos filhos.
O terceiro filho de Joam Tavares, chamado Manoel Tavares, casou
a furto com uma filha de Afibnso Roiz, de Rabo de Peixe, de quem hou
ve filhos e filhas ; o qual foi extremado caçador, e de grandes forças e
habilidades. O quarto filho de Joam Tavares, por nome Balthasar Tavar
res, casou com Catharina cie Figueiredo, filha de Lope Dias, homem
cavalleiro do habito de Santiago, e de Guiomar Alves, de quem tem
dous filhos — Leonel Tavares e Balthasar Tavares, mancebos de grande
virtude : e o dito Balthasar Tavares é tambem grande caçador de aves,e
tem o morgado que foi de seu avô Ruy Tavares.

O quinto filho de Joarn^ Tavares, casou, com uma filha de Joam Ca


bral de Vulcam, da qual tem muitos filhos e filhas, uma das quaes casou
com Manoel de Puga, sobrinhp do licenciado Bartholomeu de Frias. A
primeira filha de Joam Tavares, Cathariua Tavares, foi casada com o
licenciado Miguel Pereira, fidalgo dos principaes de Viauna, da qual
houve um filho que falleceu solteiro, e duas filhas. A segunda, Izabel
Pereira, que casou com Antonio Machado, da cidade de Ponta Delgada,
de quem tem filhos : um dos qcaes por nome Diogo Machado Pereira,
peleijou contra os inimigos que vieram acommetter a armada que estava
surta no porto da cidade de Ponta Delgada, de el-Rey Philippe, aos vin
te tres dias de maio, de mil quinhentos e oitenta e dous; onde matou
cinco dos inimigos, e ferio muitos : foi por feitor de Goa, e capitão por
tres annos, com grande tença de sua Magestade.

A segunda filha de Catharina Tavares, e de Miguel Pereira, que cha


mam Susanna Pereira, casou com Miguel Pacheco, nobre fidalgo, que
mora alem de Santo Antonio, na fazenda que lhe ficou de seu avô Pe
dro, Pacheco, como morgado, filho de Marcos Fernandes, e de dona Phi-
lippa, filha de Pedro Pacheco, e de Guiomar Nunes ; de quem tem filhos
e filhas ainda de pouca idade. A segunda filha de Joam Tavares, chama
da Maria Tavares, foi casada com Cyprianno da Ponte, dos nobres Pon-
tes de Villa Franca, da qual houve uma filha, freira no mosteiro de Je
sus da Vilta da Ribeira Grande, onde elle é morador.

O segundo filho de Ruy Tavares, Ralthasar Tavares, foi tão grande


cavalleiro, que quando ia correr e escaramuçar fóra dos muros de Se
vilha, onde então estava, o sahiam a vôr todos os cavalleiros. e grande
parte do povo, dizendo —vamos vêr ao portuguez; de cuja destreza se
espantavam : este casou com Maria Cabral, filha de Sebastião Velho Ca
bral, fidalgo da progenie dos Velhos, morador na cidade de Ponta Del
gada, de quem houve um filho chamado Joam Cabral, que casou na
villa da Ribeira Grande com Catharina Jorge, filha de Jorge Gonçalyçs
. Formiga, cavalleiro do habito de Santiago, de quem tem filhos ainda
meninos ; o qual tem a administração da fazenda da terça que foi de
Leonor Alfonso, mulher que foi de Ruy Tavares, seu avô, que é como
morgado. Teve mai« Ralthasar Tavares, duas filhas — a primeira, Iza
bel Tavares, casada com Joam do Monte, morador na Lomba, filho de
Gaspar do Monte, nobre, rico e abastado ; de quem tem muitos filhos e
filhas, como direi na progenie dos Montes. A segunda filha de Ralthasar
Tavares, chamada Leonor Cabral, casou com^Simão de Paiva, filho de
129

Alvaro da Horta, e de Leonor de Paiva, da villa da Ribeira Grande, on


de vive, e de quem não tem filhos.

O terceiro filho de Ruy Tavares, por nome Joam Roiz Tavares, foi
criado de el-Rey, bom cavslleiro, musico, discreto e muito geotil homem;
e falleceu na índia em seu serviço. O quarto, Gaspar Tavares, grande
cavalleiro, jjue fez muitas sortes. O quinto, Garcia Tavares, grande ca
valleiro, que tambem falleceu na índia, onde elle e seu irmão fizeram
grandes cousas ena serviço de el-Rey, até morrerem em uma batalha. O
sçxto, Fr. Paulo Tavares, religioso da ordem de Sam Domingos, prega
dor de muita virtude eWemplo. O seiímo, Pedro Tavares, tambem bom
cavalleiro; casou na villa da .Ribeira Grande com Maria de Paiva, filha
• de Joam Fernandes de Paiva, e de Francisca Pires, de quem não houve
filhos ; e todos estes irmãos foram dos melhores genetarios que houve
nr esta ilha: e' teve tambem :J\uy Tavares, um filho natural, chamado
Agostinho Tavares, bom sacerdote, discreto e virtuoso.

A primeira filha de Ruy( Tavares, Guiomar . Tavares, casou contra


vontade de seu pay, com Antonio Correa, natural da Villa, do Conde ;
engeitan do muitos e grandes casamentos, que lhe commettiam. Depois
casou, segunda vez, com Mendo de Vasconcellos, nobre fidalgo, mora
dor na cidade de Ponta Delgada, e de nenhum teve filhos. A segunda
filha, Izabel Tavares, casou com Diogo Nunes Rotelho, contador que foi
de todas estas ilhas, morador na freguezia de Sam Roque, do logar de
Rosto de Cão, onde tem sua quinta, de quem houve os filhos já ditos
na geração de Nuno Gonçalves Botelho, ,filho de Gonçallo Vaz Botelho,
chamado o grande. A torceira -filha, Francisca T .vares, foi casada com
Alexandre Barradas, de gente honrada dos principaes da ilha da Madei
ra, de quem houve cinco, filhos já defuntos, e uma filha chamada Maria
Barradas, que casou com Joam Fernandes, dos nobres da villa da La-
gôa, irmão de Joam Alves Examinado, de quem houve dous filhos e
duas filhas.

O primeiro filho,. Antonio Barradas, um dos melhores cavalleiros


d'esta ilha, tão destro, que parecia que nasceu sobre um cavallo, .em
que fazia muita? cousas notaveis ; entre as quaes foi subir a cavallo por
130

quinze ingremes degráos, que sobem para a casa da audiencia da vills


da Ribeira grande, onde era morador, e virando a Cavallo em um es
treito recebimento, tornava a descer por elles; discreto e nobre Qdalgo,
ca>ou com Cathartna de Figueiredo, filha de Miguel de Figueiredo, fi
dalgo, morador na ilha de Santa Maria, e irmã do illustrissimo senhor
licenciado dom, JLuiz de Figueiredo de Lemos, primeiro deam da sé de
Amjra, vigário gorai, e governador em todo o bispado, e agora bene
merito, bis^p do Funchal: o qual Antonio Barradas falleceu sem ter fi
lhos. O segundo, lilho, chamado Sebastião barradas, é de pouca idade,
como a segunda filha, Francisca Tavares; ea primeira, chamada Pauli
na Tavares, casou com Duarte Pires Furtado, tambem grande iavallei-
ro, o moradpr, priinefiro no Telhai da Ribeira Secca, onde tem grande
parte da sua fazenda, e agora na villa da Ribeira Grandi.

A quarta filha de Ruy Tavares, Maria Tavares, casou com Pedro da


Costa, filho de Joam d^Arruda da Costa, cidadão de Villa Franca, de
quem houve os filhos jí ditos na geração dos Costas. O terceiro filho
de Fernando Annes Tavares, chamado Henrique Tavares, bom caçador,,
e bemfeítorda republica ; feito cavalleiro em Africa, andando lá servin
do a el-Rey; casou na villa da Ribeira Grande, com Izabel do Monte,
filha de Joam de Pia Monte, e de Leonor Dias, d'onde procedemos
Montes, nobres cavalleiros da Africa, onde estiveram servindo a el-Rey :
da qual teve oito filhos e tres filhas. O primeiro filho, chamado Tava
res, foi casado com Ervila Marques, filha de Marcos Alfonso, rico mer
cador na villa da Ribeira Grande ; da qual houve um filho que falleceu
na índia, e uma filha chamada Izabel dos Archanjos, boa religiosa no
mosteiro de Jesus da dita villa.
O segundo filho de Henrique Tavares, chamado Simão, falleceu sol
teiro na ilha da Madeira. O terceiro, Thomaz, Ta vares, falleceu em Se
vilha, onde vivia honradamente, casado sem ter filhos. O quarto, Luiz
Tavares, muito nobre fidalgo, e bom cavalleiro, casou com Izabel Vaz,
filha de Pedro Vaz, leal-dador dos pasteis n'esta ilha, de nobre gera
ção, e de Helena Fernandes, filha de Fernando Affonso de Paiva, da
qual tem estes filhos e filhas.
131

O primeiro Henrique Tavares, que casou em Santarem com Leonor da


Paz, de quem tem filhos de pouca idade. O segundo filho, Pedro Vaz
Tavares, casou com Tzabel de Braga, de quem tem filhos ainda meni
nos, e é fallecido. O terceiro filho, Fernando Tavares, casou com Mar-
garida Dias, filha de Pedro Fernandes, e Catharína Dias. O quarto, Fran
cisco Tavares, casou em Villa Franca, com uma filha de Pedro de Frei
tas, cidadão da dita villa, de quem tem filhos. O quinto, Simão Tavares,
clerigo de missa, entendido e virtuoso.
A primeira filha de Luiz Tavares, chamada Maria Tavares, casou
com Jordam Pacheco, fdho de Manoel Vaz Pacheco, fidalgo, e de Catha-
rina Gomes Rapozo, de quem tem filhos e filhas. A segunda, Apolonia
Tavares, casou com um mancebo de boa geração, filho dos principaes
do Nordeste. O quinto filho de Henrique Tavares, chamado Miguel Ta
vares, casou com Izabel Lopes, do quem não houve filhos. O sexto fi
lho de Henrique Tavares, é Francisco Tavares, grandioso de condição,
discreto e bom cavalleiro ; casou primeira vez com Anna de Paiva, fi
lha de Joam Lopes, e de Maria de Paiva, filha de Alvaro da Horta, e
de Leonor de Paiva, de quem não houve filhos; o, a segunda vez casou
com Antonia Dias, filha de Antonio Dias, e neta de Pedro Dias, da A-
chada, nobre e rico, da qual houve seis filhas e tres filhos, todos ainda
solteiros, e o maior d'elles dá de si grandes esperanças. O setimo filho
de Henrique Tavares, chamado Joam Tavares, esteve nas índias de Can
tella, muito rico e casado, e é já fallecido. O oitavo, Manoel Nunes Ta
vares, que falleceu soltéiro.

A primeira filha de Henrique Tavares, Anna Tavares, casou com


Francisco Pires da Rocha, filho de Duarte Pires, da Lomba, e de Anna
Fernandes, de quem tem filhos e filhas, que direi na sua prpgenie. A
ssgunda filha, Maria Tavares, casou com Gaspar Privado, filho de Diogo
Martins, ou Marques, e irmão de Duarte Privado, sargento maior na vil
la da Ribeira Grande, de quem não tem filhos. A terceira filha, Chris-
monda Tavares, foi casada com o mestre Joam Surgião, natural de Vian-
na, de quem tem dous filhos, o primeiro, Gonçallo Becerra Tavares, ca
sou com Helena Cabral, filha do licenciado Joam Velho Cabral, o. de Ma
132

ria de Paiva, ile quem teui filhos ainda pequenos. O segundo, Adrião*
Bezerra Tavares, que dizem ser casado em Granada.

O quarto liiho de Fernando Annes Tavares, chamado Gonçallo Ta


vares, muito discreto e bom cavalgador, amigo de concertos, e de raut-
ta virtude, foi servir el-Rey à Africa, á sua custa, no anno de mil qui
nhentos e oito, com seus irmãos, Ruy Tavares e Henrique Tavares, e ou
tros homens nobres d'esta ilha, em companhia de Ruy Gonçalves da Ca
mara, quinto capitão desta ilha, segundo do nome, onde foram armados
cavalleiros, e entre elles o dito Gonçallo Tavares, que no dito anno de
mil quinhentos e oito, aos nove do mez de março, sahio de Arzila com o
conde dum Vasco Coutinho, capitão e governador da dita villa de Ar
zila, em uma armada que fez ao campo de Benacultate, em que se toma
ram vinte cinco mouros e mouras, muitos bois e vaccas, e outros mui
tos despojos. Pelas cousas que fez em armas o dito Gonçallo Tavares, o
fez então cavalleiro o dito conde ; alem de se achar 'tambem Gonçallo
Tavares em outras cavalgadas, e entradas, entre as quaes foi uma nas
aldeias de Antemud, em que se tomaram cento e oito mouros e mouras,
e outro muito despojo. Casou o dito Gonçallo Tavares, n'esta ilha, em
Villa Franca do Campo, com Izabel Corrêa, filha de Martim Annes Fur
tado de Sousa, e de Solanda Lopes, da quaí, fóra os fallecidos, teve oito
filhos e duas filhas.

O segundo filho do licenciado Antonio Tavares, muito bom letrado,


discreto e gentil homem, foi casado com Branca da Silva, filha de Sebas
tião Barboza da Silva, nobre fidalgo: indo a Portugal por procurador
d'esta ilha, lá o fizeram juiz de fóra, da cidade de Tavira do Algarve ;
da qual vindo buscar sua mulher nunca mais appareceu, pelo que se
suspeita que se perdeu o navio em que vinha : houve de sua mulher
dous filhos, o primeiro, Gonçallo Tavares da Silva, criado de el-Rey, que
è agora capitão d'uma bandeira da cidade de Ponta Delgada, discreto e
musico : o qual casou com Izabel Cabral, filha de Estevão Alves de Re
zende, e de Maria Pacheca, de quem tem filhos e filhas, todos solteiros.

O segundo filho, Jordam da Silva Tavares, alferes da bandeira de


seu irmão, discreto e musico, casou com Branca Cabral, filha de Joam
Velho Cabral, de quem tem filhos, e filhas, como já tenho dito. O ter
ceiro filho de Gonçallo Tavares, Simão Corrêa, clerigo discreto, bom la
tino, e bem entendido, foi primeiro beneficiado na villa da Ribeira
Grande, é dépois prior de Rapa e de Mangoal, tendo de reiída com es
tas egrejas ôitébta mil reis cada aono, e là faileceu em Rapa. O quarto
filho, Fr, Braz Tavares, de graciosos e discretos ditos, religioso da or
dem de s/francisco, sacerdote "de missa, faileceu no mosteiro de San
to Espirito de òòuvea. O quinto filho, Manoel Tavares Furtado, bom sa
cerdote, virtuoso, latino, e bem entendido, tem um beneficio na egreja
Matriz de Nossa Senhora da Estrella, da Ribeira Grande, onde reside.

O sexto, Duarte Tavares, andando em casa do conde de Portalegre


mordomo-mór, que o tinha já dado a el-Rey, e houvera de subir mui
ta na corte pelas boas partes que tinha, deisou tudo, sendo mancebo,
gentil homem, e discreto, e fez-se religioso em Sam Vicente de Fora,
de Lisboa ; o quo sabido peio conde e condessa, que não queriam qua
elle fosse frade sem primeiro o fazerem saber a seu pay Gonçallo Tava
res, qae n'esta ilha fazia pelas cousas de sua fazenda, e era,de criação,
o mandaram chamar do mosteiro, e rogar ao seu guardião que o não
consentisse, trazendo-o com o habito diante tfelles, zombando d'elle òs
criados do conde, seus companheiros, os desanganou, que por mais que
fizessem e dissessem, não se havia apartar da sua tenção : e rogo escre
veu a seu pay uma carta a esta ilha, em que dizia, que elle queria ser
vir à outro Senhor maior que el-Rey.de quem elle maior galardão es
perava, e maior honra : pelo que se despedia d'elle, esperando de se
não verem se não na gloria; e d'ahi desappareceu, e passados alguns
annos, sem se saber d'elle mais, se estava na Cartuxa, ou em Santa
Cruz de Coimbra ; até que Agostinho Imperial escreveu de Genova a
seu pay Gonçallo Tavares, seu compadre e amigo, que ao hospital de
Génova foram ter dous apóstolos, ambos mancebos pregadores, muito
catuolicos portugueses, um dos quaes se chamava Duarte Tavares, de
Sam Miguel, cujo companheiro morrera no dito hospital, e dissera que
em outro hospital ahi,,perto no caminho fallecera o dito Duarte Tavares
de Sam Miguel, os quaes tinham por santos, e não é muito, por que

17
m

quando efle contra sua. 'vontade foi para casa do conde, já bom latin©\
dizia moitas mes que esperava acabar no serviço de Deos.

Ò setimo, Jeronymo Tavares, hascen mudo e surdo, mas è tão dis^


creto que lhe não falta se não a falia, que supre cdm signaes e acenos,
que faz, entendendo o que lhe fazem ; com que alcança as cousas d*
nosáa santa fé tão inteiramente como qualquer pessoa discreta que saiba
fallar, e ouvir os mysterios da encarnação* nascimento* norte, paixão,
resurreição e ascenção do filho de Deos, e a vinda do Espirito Santo,
e que è Deos Trino em pessoa e um na essencia, 6 que vendo o bispo
dom Jorge de Santiago, e o modo e signaes Com que mostrava ter esta
noticia, lhe mandou dir o Santissimo Sacramento d'ali por diante* ne-
gando-lho antes os seus vigarios; e com os mesmos acenos se confessa
muito bem as vezes que quer : e pelas quaresmas, em que faz sua pe
nitenciai e sabe os dias santos, que vem em diversos tempos* e as perro*
gativas d'ellesi dizendo por r.laros signaes, que Sam . Sebastião é advo
gado da peste. Santa Luzia dos olhos, Santo Antão do gado, « alima
rias, Sam Braz da garganta* Santo Amaro das pernas,- Sam Joam da ca
beça, e todas as cousas semilha&tes : se d'elle estão faltando sem olha
rem para elle, entende que lhe faliam ; soube conhecer e contratar com
prudencia, e o merecimento das pessoas, suas gerações e condições*
governa as cousas da lavoura e cearas como qualquer pessoa que fali*;
entende e joga a bola, e lavra os riscos tambem, como o melhor joga
dor .o\) jogo; nem pessoa alguma o pode enganar em partidos cota sua
palavra ; pagando a quem deve, e ao tempo quê promette, e se não pô
de dá sua escusa, e pede espera : é muito loução da vontade, finge ser
namorado ; è tambem agastado e colerico, mas dura-lhe pouco.
O oitavo filho rfe Gonçallo Tavares, Chamado Sebastião Taváres, fal-
leceu moço de nove annos. Teve tambem o dito Gonçallo Tavares de sua
mulher ízabel Corrêa, duas filhas, a primeira chamada Clciontar Ta vá"
res, casou par cartas, tratando o casamento Um SimSo Lopes de Almei
da, fidalgo, grande amigo de Gonçallo Tavares, que d'esta ilha fora com
um nobre homem de Cabo Verde, que chamavam Antonio Tres, o ried*
« de lá' a.veio receber a esf» ilha, d'oha*e a tornou a levar para a ilha rio
t35

'Fogo, onde elle estava por tenente do capitão d'ella, tendo este' cargo
''muitos annos, até kjue falleceu no mar onde se perdeu, indo de Lisboa
para lá, levando muita fazenda, e' iddo com a serventia da dita capitania,
e dtpots falleceu dUa na dita iftiadoFogo, ficando-lhe de seu marido
estes filhos -^Joám1 Fernandes Tavares, Pedro Corrêa Tavares, Gon-
çallo Tavares, e uma filha chamada (2abel Corrêa, que agora é casada
com Luiz Fèruàudes, criado de el-Rey, de gente nobre de Évora, juiz
dos orphãos da dita ilha.ohfle muitás vezes servio da capitão, e é' muito
rico, sem ter filhos.
O primeiro filho, Joam Fertíaitâés Tarares, casou com fcaoèl de
Rezende, filha do bacharel Joam de Rezende, de quem houve duas fi
lhas, uma das quaes casou com um rico homem da mesma ilha do Fogo,
e a outra £ ainda solteira. O segundo, Pedro Corrêa, casou lá honrada-
mente, tambem rico, e é grande cávalleiro. O terceiro, Gonçallo Vaz Ta
vares, falléceu soítéfro. A segunda filha de Gonçallo Tavares, chamada
Joanna Tavares, fói casada com Sebastião Jorge Formigo, criado de el-
tíey, gentil hómém, discreto, filho de Jorge Gonçalves Formigo, caval
leiro do habito de Santiago, natural de Santarem, de quem Louve Ires
filhos e tres filhas. O primeiro filho, Thomé Jorge Formigo, muito man
so, prudente e discreto, casou com Briolanja de Braga, filha de Diogo
Fernandes, mercador, e de Ca tnarina de Braga, moradores no villa da
Ribeira Grande, de quem tem filhos e filhas; e segunda vez casou com Ca-
(narina Modrinha, dè quem tôm um filho de tenra idade.

O segundo, Antonio Tavares, que casou com Alaria Lopes> filha de


André Lopes, de quem tem filhos e filhas. O terceiro, Duarte Tavares,
muito discreto e gentil homem, casou com Leonor de Paiva, filha de
Duarte Privado, juiz dos orpbãos, na villa da Ribeira Grande, e de Mar
garida de Paiva, de quem tem dous filhos, e uma filha ; são todos da
governança da dita villa. A primeira e segunda filha de Sebastião Jorge
Formigo, e de Joanna Tavares, falleceram de pouca idade. A terceira,
chamada Maria Corrêa, casou com Manoel Botelho da Fonseca, fidalgo,
filho de Monoel Lopes Falcão, cidadão de Villa Franca, e de Clara da
Fonseca, de quem tem dous filhos e uma filha. Na primeira oitava da
136

festa dó Natal, na vilta da Ribeira Grande, onde o dito Gonçallo Tava


res merava, se revestiram no altar tres filhos sèiis, sacerdotes r1 Siniãó
Corrêa Tavares, prior de Rapa, o mais velho^énftltíri1 missa ; Fr. Bm
Tavares, 'apoz «lletia idade, disse d EvangêTho ; MánòfeFTàviíresi ma/ís'
moço que elles, disse a Epistoía ; estanáo seto fne e mãe presentes r'o
que acontecera no mundo poucas vezes.
, , 1', , f . i ' '. 'j'. '• , i ' ''i • , . ti V , * J t.'i... '. ! ., i J J
A primeira filha de Fernando Annes Tavares, chamada Guiomar
Fernandes Tavares, casou com Ruy Lopes Rarboza, homem .fidalgo, e
d'elle houve os filhos ditos na geração dos Rarbozas e Silvas. A segun
da filha do dito Fernando Annes, por nome Philippa Tavares, foi casada
com LuizrPífes Cabea, homem muito honrado, e beúve d'elle tres filhos

— Affonsò Rodrigues Tavares, 'yóám' Roizi 'e Lucasi nalares.: os' dous
mais velhos falleceram solteiros em Roma, sendo um criado do papa, e
o outro d'um cardeal, ambos gentis homens e esforçados. O mais moço
foi em uma armada para o Brasil, onde casou, e lhe ficaram .filhos ri
cos, e lá morreram. Teve; mais £ffitaaPhdippa Tavares, filha de Fer

nando Anne^i de séu maridó'1Luiz Pires Cabea, quatro filhas. A primei


ra, Beatriz Cabea. que fòi casada com Fernandó 'Vaz, mercador rico,
morador na cidade de Ponta Delgadá, dè quem houve tres filhos e cluas
filhas'.' O primeiro filho, Simão Cábea, provedor da fazenda de el:Réy,
etn' Sam Thámé. fallecen sèm' filhos.

A primeira filha, foi casada com Joam Gon^alvss ^«jig3<í, ,irruão


do padre Jeronymo Perdigão, de quem tem uma filha freira no conven
to de Santo André, de Villa Franca. A segunda filha de Fernando Vaz,
e Beatriz Cabea, chamada Maria Tavares, casou com Francisco Vaz Ma
ciel, natural de Vianna, cidadão de Villa Franca, grandemente rico, de
quem tem muitos filhes e filhas; à' elles e a sua mãe, ficaram por mor
te do dito Francisco Vaz Maciel, quinzé mli' cfuzaflas. O irmão da dita
Maria Tavares, chamado Simão Cabea, casando com tlrfrá fillia tlõ pilb-
to-mór da carreira de Sam Thomé, viuvou sem ter1 filhos, pêío que dei
xou a esta sua irmã; èm sua vida, um morgadòde cem mil cruzados,
e por sua mortè a sen filho Pedro Cabea. A segunda filha de Luiz Pires '
Cabea, e de Philippa Tavares, chainadá Ignez Tavares, casou 'com Dio-
Í37

gemias Brandão, cidadão de Villa Franca, morador na Ponta da Gar-


ça,.onde tinha sua fazenda ; da qual não houve filhos. A terceira, Ca-
tharina Cabea, foi casada com Melchior Gonçalves, chançarel em todas
estas ilhas dos Açores, de quem houve tres filhos e duas filhas. O pri
meiro, Gaspar Gonçalves, ainda solteiro ; o segundo, Melchior Cabea,
que faHeceu solteiro em Sam Thomé ; o terceiro, Joam Tavares, bene
merito conego da sé dAngra, homem de muita virtude e bom saber, me
recedor de cousas maiores. Das duas filhas do dito chançarel, uma é
freira professa, e outra solteira, chamada Guiomar Cabea, de muita per
feição o virtude* ... :,ut ,
A quarta filha de Luiz Pires Cabea, e de Philippa Tavares, por no
me Philippa Cabea, foi casada com o bacharel Francisco Marquês, de
quem-houve um filho que faHeceu solteiro, e uma "filha chamada Mar
que» do Espirito Santo, freira professa no mosteiro da cidade de1' Pon
ta Delgada ; e d'ahi foi para outro da cidade d'Angra, ondé esteVel per
vigaria, e agora é abadessa1 no mosteiro da iltíà do FayaH 'FàHítei86' ò1
bacharel Francisco Marques, 'càsou Fràhcisca CaWéa, segWnfla^zfcfJnV
Joam Lopes, rico e nobre mercàdòry natural dVTavira do' Áfgarve^é
quem houve tres Brbò^ é duas filhas.' 'Õ^pritoeirb fimÓifàéM'solteií 'o!'
o segundo está rico em Sam Thomé :' rimadas 'ftihásj (íhatiiada Ignez'
Tavares, casou com Bartholomew PaéfiWo1,' 'filho de Manoel. Vafr!ftacW'
co, de quem tem filhos ; outra foi casada com um filho de Jacome de
Povas, de quemmão houve filhos, e outra falleceu solteira.

A terceira filha de Fernando Annes Tavares, chamada Anna Tava


res, foi em seu tempo a mais íormoza -mulher que da banda do norte
nasceu, pelo que em sua mocidade lhe chamavam todos — Estrella do
Norte — a qual casou com Antonio Carneiro, cidadão da cidade do
Porto, primo co-irmão do secretario Antoaio Carneiro* pay de Pedro tfce
Alcaçoba, tambem secretario de el-Rey. O terceiro firhoj Fr. Afitbnio
Carneiro, foi frade de Sam Francisco, musico, tangedor, e de muita vir-
tude, o qual sendo ja de todo cego, cantava nos officios da semana santa
as Paixões de cor, tendo o livro 'aberto, è virando as folhas como ho-
• ', ,•'" i, J. 1U ,. 'iJi BÍ) Ou! '. Vi ! € '.'I. V. '" , ijf I 'i
mém que via ; e sómeníe disse duas missas sendo já cego, com dispen-
i do papa. O quarto. Fr. Joam Carneiro, tambem religioso da ordeia.
àtà Sam Francisco, e pregador. O quinto, Miguel Tavares, o qual sendo,
cego se fez doutor em medicina por ter grande habilidade ; casou em
Galliza com uma fidalga, viuva, de quem não houve filhos. E' de notar
que todos os filhos machos nasceram mal vistos e vieram depois a ce
gar de todo ; i as ilibas, que eram duos, ambas nasceram e vieram,
com a vista perfeita, sem nunca a perderem.

A filha nwis velha, Simòa Tavares, casou com Joam Lopes, filho de
Alvaro Lopes Cavalleiro, de quem houve uma filha chamada Francisca;
Carneira, casada com Bartholomeu do Amaral, de quem tem filhos de
pouca idade. A segunda filha de Francisca Carneira foi casada com An
tonio Fogaça* nobre e rico, natural do Porto, de quem não teve filhos.
Estes tres irmãos, Ruy Tavares, Henrique Tavares, e Gonçallo Tavares,
tiraram seus brazões que tem dos Tavares de Portalegre de bons fidal
gos, por serem filhos legítimos de Fernando Annes Tavares, de Porta
legre, que foi do tronco da geração dos Tavares, cujas armas são estas :.
Um escudo com o campo de ouro com cinco estreita de vermelho em
aspa, e por diferença tem alguns uma flor de liz azul, e outros outras
divisas : elmo de prata aberto, guarnecido de ouro ; paquife de ouro e
de vermelho, e por timbre um pescoço do cavallo vermelho* com a bri
da • guarnições de ouro, com falsas redes.

CAPITULO DECIMO SEXTO.

bos ptibtados k correas, nobres fidalgos, também povoadores d esta


ilha de Sam Miguel.

No principio do descobrimento d'esta ilha de Sam Miguel, do tempo,


de Ruy Gonçalves, terceiro capitão, e primeiro do nome, veio a ella da
ilha da Madeira, Martinho Annes Furtado de Sousa,, com sua mulher
Sôlanda Copes, e apòáèíiUiram-se ecb Villa Fraiíba ; ò qual era bdmete
fidalgo, rico e honrado, dos princípaes da ilha da Madeira, da geração
dbs Fariados, Corréas e Sonsas, que se mudaram para a Graciosa, uma
d'estas ilhas dos Açores, e sua mulher, Solanda Lopes, procedia de fla
mengos honrados, que moravam antigamente na dita ilha da Madeira.
« tiveram entre ambos um filho e seis ninas; que irei dizendo por sua
ordem, começando nos mais velhos.

Philippa Martins, mais velha, casou com Antão Pacheco, terceiro


ouvidor do capitão que foi nesta ilha, morador em Villa Franca, onde
falleceu no tempo do deluvio, .ficando-lhe um filho, por nome Pedro Pa
checo, qge-.casbu na cidade dè Ponta Delgada, com Guiomar Nunes,
fha de Jorge Nunes Botelho; como fica dito na geração de Nano Fer
nandes, filho deGonçallo Vaz. o grande .- o qual Pedro Pacheco teve de
sua mulher duas filhas : a primeira, dona Philippa, casada com Marcos
Fernandes, homem rico e honrado, que veio da índia, de cujos filhos
Hftà dito na geraCão de Gonçalló Vaz, o grande. Fallecido Marcos Fer
nandes, casou ella, segunda vez, cónV Antonio de Sá, fidalgo, de quem
houve o^filhosjà^âito? na geração dós fietancores : outra chamada dona
Margarida", casou Wm Jorge Cítttello tia Co»ta> fidalgo, -qtfe já contei oa
ge>"aç30'dtJsGogombre1ros a Caffiétto».

A segunuVfilha de Martim Ánnes, Maria Corrêa, foi casada' com


Henrique Barboza da Silva, fidalgo, «fado de el-Rey, irmão dé Sebas
tião Barboza da Silva, de Ruy Lopes Barboza, o da mulher de Diogo de
Èstorga : o qual estando na corte servindo a el-Rey, no tempo do terra
moto de Villa Franca, na mesma noite se afogou com a terra que correu
Maria Corrêa, sua muíber, e Philippa da Silva, de quem já disse na
geração dos Barbona. À terceira filha, ígnez Martins, foi casada com
Affonso Annes Cogombreiro, por alcunha o mouro velho, fidalgo, n rico,
de quem bouve duas filhas, Philippa Martins, que casou com Diogo Fer
nandes, escrivão do ecclesiastico, morador que foi na Ribeira Grande,
tom quem esteve pouco tempo casada, sem haver (Telles filhos. A nutra
filha, Solanda Lopes, casou com Affonso de Oliveira, honrado e rico,
<rae tinha uma fatenda grossa, no legar dos Mosteiros, termo da «idaèr
de Ponta Delgada, onde fez uma ermida de Sam Lazaro, por enfermar
da enfermidade que este santo teve, e quantos filhos e filhas teve, sem
nunca sua mulher se querer apartar, ficando sempre sã,, como, viveu^
entre os doentes, em sua fazenda ; apartados todos da conversação d*
8ente- . mo . .; .-, %

Fallecendo a dita fgnez Martins, casou seu marido Affonso Annes,


com Joanna Soares, mulher honrada, efe casa da capitoa dona PMtppa ;
de quem houve um filho chamado Joam Soares da Costa, bom sacerdo
te, beneficiado que foi na egrejà de Sam Sebasilãò, da cidade de Ponta
Delgada; e fallecido elle, casou elta, segunda vez, com um homem, de
quem houve a Fr. Braz Soares, da ordem de Santo Agostinho, muito-
virtuoso e bom religioso. A quarta filha de Martim Annes Furtado, Iza-
bel Corrêa, casou com Gonçallo Tavares, cavalleiro e fidalgo, natural da
villa da Ribeira Grande, de cujos filhos e filhas tenho dito atraí, na ge
ração dos Tavares.

O filho de Martim Annes Furtado, chamado Rujf , Martins,' fpi ho


mem de grandes espiritos, muito rico e abastado, gentil homem,, e es
forçado, bom cavalgador, grande musico e tangedor de viola; morava em
uma rica quinta que tinha na sua fazenda, no logar de Rosto de Cão;
foi casado com Maria Rodrigues, filha de Joam Gonçalves, e neta de
Gonçallo Vaz, o grande ; irmã de Joam de Arruda da Costa, dos pri
meiros que principiaram à povoação d'esta ilha ; da qual houve dous
filhos, António Fartado, e Jorge Furtado, ambos muito esforçados ca-
valleiros. Antonio Furtado casou com Maria d'Araujo, filha de Lope An
nes de Araujo, cidadão de Villa Franca ; da qual houve sete filhos, qua
tro machos e tres fêmeas. O primeiro, Ruy Martins Furtado, bom cle
rigo, que fói cora ria egreja de Santa Clara, da cidade de Ponta Delga
da, já o'í
fallecido.
vl\ ••fii (,•,0 secundo, Lope í Annes 1 Furtado, ' ,muito
' ' 'esforçado
• "•,,r,f^ ca-
'
vajleiro, casou
i" i oiiOif i r; com
••••.•»uma filha de Gaspar Corrêa Redcalho,
.'.,',/ ... . \ , i li! , . . juiz i que foi
dos orphãos. na dita. cidade ; sendo primeiro casado com uma filha de
. 'itlX" r tr '.ii ItJl t,u . • • ( t r, ; "' '"ft . . , ,£/ " '' ' ' Vrji
Manoel Vaz Pacheco, de quem não houve filhos. , r
, O terceiro, Manoel Furtado, falleceu solteiro. O quarto;, Foam Jiqte-
ibo, chamado o Branco;'par que era alvo e barrozo, foi casado com uma
m

filha de Joam Gonçalves, da Ponta da Garça, pay do padre Jeronymo


Perdigão, nobre e rico ; das filhas, a mais velha, chamada Jordóa Bote
lha, foi casada com Custodio Pacheco, do Porto Formozo, filho de Ma
theus Vaz Pacheco, que falleceu na guerra d' Africa, servindo ao seu Rey;
de quem ficaram alguns filhos. A segunda filha casou com Fernando
Vaz Pacheco, filho de Melchior Dias, da Ribeira Chã, e de Briolanja Ca
bral. A terceira, casou com um filho do Pedro de Freitas, cidadão dos
antigos de Villa Franca ; e outros filhos e filhas que falleceram moços.
Casou segunda vez com uma Fuam Pereira, filha de Duarte Lopes Pe
reira, filho de Simão Lopes Pereira, do logar da Maia, de quem tem
alguns filhos. O segundo filho de Ruy Martins, chamado Jorge Furtado,
do habito de Christo, na discrição e magnifica condição, como seu irmão,
ambos como seu pay liberaes, graciosos, de bons ditos, cavalgadores,
musicos, tangedores, e de outras boas partes , foi casado com Cathari-
Da Nunes Velha, da geração dos Velhos.

A quarta filha de Fernando Vaz Pacheco, e de ízabel Nunes Velha,


filha de Nuno Velho, irmã de Pedro Velho, que fez a ermida de Nossa
Senhora dos Remedios, n'esta ilha, ambos sobrinhos de GonçaMo Velho,
commendador de Almourol, e primeiro capitão que foi n'estas ilhas de
Santa Maria e Sam Miguel ; de quem houve, fóra os defuntos, nm filho
e uma filha freira professa no mosteiro de Santo André de Villa Fran
ca do Campo, chamada Maria de Christo. O filho, Leonardo de Sousa,
foi casado na mesma villa com Beatriz Perdigôa, filha de Melchior Gon
çalves, nobre e rico cidadão de Villa Franca, e de Margarida Alves, de
quem houve, fóra os defuntos, dous filhos chamados Jorge Furtado e
Francisco Furtado ; e uma filha Maria de Sousa ; todos ainda de pouca
idade. Casau Jorge Furtado, segunda vez, com dona Guiomar Camello,
filha de Gaspar Camello, e de Beatriz Jorge, de quem, fóra os defun
tos, houve dous filhos e duas filhas. O primeiro, chamado Martinho de
Sousa, bom cavalleiro. e grandi'030 como seu pay. O segando, Jorge
Furtado, que agora è 'conego da se do Funchal r das duas filhas, que são
mais velhas que os filhos, a primeira chama-se dona Ánna, a qual casou
com Braz Neto de Aires, feitor de el-Rey na ilha <?o Fayàl, de quem tem

18

,
m

tres filhos de poaca idade. A segunda, dona Izabol, è casada com Bal,
thasar Martins de Castro, como tenho dito na geração dos Velhos.

Tem Jorge Furtado e seus herdeiros, casas ricas e sumptuosas em


Villa Franca, na «idade, e no logar de Sam Roque, ora vivendo em uma
parte, ora em outra : d'estes dous irmãos disse já na geração de Joam
Gonçalves, filho de Gonçallo Vaz, o grande ; e Jorge Furtado, tio habi
to de Christo, com boa tença, falleceu à pouco tempo: do qual habito
fez Sua Magestade mercê a seu filho Martinho de Sousa, que é casado
eom dona Leonor, neta do doutor Francisco Tuscano. A quinta filha de
Martinho Annes Furtado, chamada Anna Martins, foi casada com Pedro
da Ponte, o velho, homem nobre e rico, cidadão de Villa Fnnca, de
quem houve Ires filhos e duas filhas. O primeiro, André da Ponte de
Sousa, tambem cidadão de Villa Franca, e rico, casou com Izabel do
Quental, filha de Fernando do Quental, ouvidor que foi n'esta ilha, mo
rador em Ponta Delgada, de quem teve seis filhos e duas filhas. O pri
meiro, Pedro da Ponte, foi casado em Porto Formozo com Maria Pache-
ca, filha de Matheus Vaz Pacheco, viuva, mulher que fora de Melchior
da Costa, sem lhe ficar d'ella filho. O segundo, Martinho Annes de Sou
sa, que solteiro grangea a fazenda da mãe, muito valente homem de sua
pessoa, como mostrou quando peleijou na armada de Portugal, com os
corsarios junto d'esta ilha.
O terceiro, Antonio de Mattos, casou com Jeronyma Lopes, 1lilha de
Joam Lopes, escrivão na cidade de Ponta Delgada. O quarto,. Philippe
do Quental, casou com uma filha de Simão da Motta, d'Agua de Alto.
O quinto, Paulo da Ponte, latino, muito discreto, macio, e afavel, tão
honroso, que andando em Lisboa, não pedio por satisfação dos seus ser
viços a sua Magestade, senão a soltura de seu irmão, preso nas galés
por ter a voz do senhor dom Antonio, pelo que lhe soltaram o irmão,
e o fizeram contador d'esta ilha de Sam Miguel, cargo que agora tem,
« pode ser ter a perpetuo. O sexto, Fernando do Quental, solteiro. Das
filhas do dito André da Ponte, Margarida de Mattos, é solteira, e não
quer casar, tendo bom dote. Sua irmã Izabel do Quental, mais moça,
casou com Sebastião Cardozo, gentil homem, rico, criado de el-Rey, com
143

tènça, filho de Joam Lopes, escrivão na cidade. O segundo filho de Pe


dro da Ponte, e de Anna Martins, chamado Manoel da Ponte, falleceu
sokeiro. O terceiro, Simão da Ponte, casou no Nordeste com uma filha
de Gaspar Manoel, filho de Joam Alfonso, do Fayal, de quem tem al
guns filhos ; o mais velho dos quaes chamado Manoel da Ponte, casou
com uma filha de Joam Serrão de Novaes* Simão da Ponte afogou-se
no mar, de noite, em um batei, em que ia de Villa Franca para a ci
dade de Ponta Delgada, que virou na ponta da Gaíê, e escaparam os
outros que n'elle iam.
A primeira filha de Pedro da Ponte, o velho, e de Anna Martins,
chamada Margarida da Ponte, casou com Jordam Jacome Rapozo, de
quem houve cinco filhas e tres filhos, como jà tenho dito. A sexta filha
de Martinho Annes Furtado, chamada Calharina Corrêa, foi mulher de
Pedro Rodrigues Cordeiro, filho de Joam Rodrigues, feitor de el-Rey, e
de Maria Cordeira, primeiro escrivão das notas nresta ilha, cidadão de

Villa Franca ; de quem teve tres filhos e duas filhas i o primeiro, Joam
Rodrigues Cordeiro, foi casado com Simoa Manoel, filha de Joam Affon-
so, do Fayal, de quem houve duas filhas ; ambas são casada? : a mais
moça casou com Miguel Rotelho, filho de Joam da Motta, e de Beatriz
de Medeiros, e a mais velha casou contra vontade de seu pay e mãe, e
está bem casada. Depois de viuvo Joam Rodrigues, casou na cidade com
Agueda Alfonso Leda, da geração dos Ledos de Santo Antonio, termo
da cidade de Ponta Delgada, mulher honrada, já de dias, e rica ; da
qual não houve filhos. O segundo filho de Pedro Rodrigues Cordeiro,
chamado Pedro de Sampaio, casou com Izabel Morena, filha de Joam
Morano, cidadão de Villa Franca, de quem não tem filhos.

O terceiro, Jorge Corrêa, casou com uma filha de Comes Fernandes,


do Fayal, de quem houve uma filha, ainda solteira, e fallecendo elle,
casou ella segunda vez com Pedro Barboza da Silva, fidalgo, morador
nos Fenaes da Maia. termo de Villa Franca. A filha mais velha de Pe
dro Rodrigues Cordeiro, chamada Solanda Cordeiro, casou com Gaspar
de Gouvea. natural de Lamego, fidalgo e discreto, que veio ter a esta
ilha, de Guiné, rico ; de quem houve um filho, bom clerigo, chamado
144

Joam de Gouvea, e outro Antonio Gouvea, que está na índia, solteiro :


teve mais duas filhas, a primeira, Catharina Corrêa, casou com Joam
Rodrigues Camello, fidalgo, discreto, c bom cavalleiro, sendo viuvo, de
quem houve dous filhos e uma filha : a segunda filha de Solanda Cor
deiro, Izabel de Jesus, é freira no mosteiro de Villa Franca. A segunda
filha de Pedro Rodrigues Cordeiro, e de Catharina Corrêa, chamada Ma
ria de Sousa, é de grande virtude; casou com Ruy Tavares da Costa,
viuvo, discreto, e de grandes espiritos, filho de Pedro da Costa, de quem
não tem filhos, tendo da primeira mulher, filha de Gabriel Coelho, duas
filhas, que falleceram.

Teve Martinho Annes Furtado, na ilha da Madeira, um irmão por


nome Affonso Corrêa de Sousa, pessoa nobre, e bom fidalgo, casado na
mesma ilha com uma mulher muito honrada, da progenie dos Cogom-
breiros, de quem tinha um filho ohaaiadotFernam Corrêa de Sousa^ gen
til homem, discreto e grandioso ; e duas filhas, que para esta ilha vie
ram todos : o qual Fernam Corr.êa, pousando com Pedro Pacheco seu
sobrinho, genro de Jorge Nunes Botelho, da cidade de Ponta Delgada, o
dito Pedro Pacheco os casou com uma sua cunhada, filha do dito Jorge
Nunes, da qual houve uma filha, Maria da Madre de Deos, que íoi frei
ra professa no convento de Jesus, da villa da Ribeira Grande : e no
tempo do segundo terremoto d esta ilha, se foi com as mais religiosas
para a cidade de Ponta Delgada, onde estiveram nas casas de seu avo
Jorge Nunes, por serem grandes, e muradas com uma grande cerca, e
depois que foi acabado o mosteiro de Santo André, que fez Diogo Vaz
Carreiro, se mudaram para elle, onde falleceu Maria da Madre de Deos,
e fallecendo a mulher de Fernando Corrêa, casou elle, segunda vez, com
Beatriz Rodrigues, filha de Luiz Gago, e de Branca Affonso ria Costa,
morador na villa da Ribeira Grande, da qual houve uma filha, chamada
Branca Corrêa, que falleceu solteira, como já disse na geração dos Ga
gos.
Este Fernando Corrêa de Sousa fez um grande navio, dos maiores
que se fizeram n'esta ilha, em Porto Formozo, o qual foi lançado ao mar
com muita festa, e grandes banquetes, como elle costumava com sua li
m

bera) condição, e com este gosto fez a primeira viagem para Lisboa, e
de lá para a ilha da Madeira, d'onde elle era natural : sahindo em terra
foi recebido com muita honra dos seus parentes e amigos ; com os quaes
estando jantando levantou-se uma grande tormenta que deu com o navio
á costa, e o fez em pedaços, sem nada se salvar, em que elle perdeu
quanto tinha, e vendo-se assim desbaratado e pobre, se foi para as ín
dias de Castella, sem se saber mais novas d'elle ; dizem que è falleeido.

A primeira filha de Affonso Corrêa, por nome Catharina de Sousa,


casou tambem n'esta ilha com Duarte 'Ferreira, tabelliío na cidade de
/Ponta Delgada, filho de Henrique Ferreira, cavalleiro da guarda de el-
,Rey, e Margarida Nunes Botelho, irmã de Jorge Nunes Botelho, da qual
houve tres filhos, dous dos quaes falleceram na índia, no serviço de el-
Rey, e outro em casa do capitão Manoel da Camara, que lhe queria mui
to, por ser discreto mancebo, gentil homem, e valente de sua pessoa,
chamado Jorge Corrêa, como eram seus irmãos Henrique Ferreira, e
Affonso Corrêa, e todos falleceram solteiros: a filha de Duarte Ferreira,
chamada Margarida Botelha, como sua avó, casou em Villa Franca, com
Sebastião Gonçalves, cidadão, filho de Jeronymo Gonçalves e de Guio
mar Dias, da qual houve filhos, alguns dos quaes falleceram, e outros
são vivos ainda,. solteiros. A segunda filha de Affonso Corrêa, chamada
"Maria deChristo, é freira professa, e logo como veio da ilha da Madeira
entrou no mosteiro de Santo André de Villa Franca, onde esteve muitos
annos servindo sempre os principaes cargos, por ser religiosa muito dis
creta, e de grande virtude, bem entendida : por ser tal a levaram para
o mosteiro de Jesus, que se fez novamente na villa da Ribeira^ Grande,
para reformação d'elle, onde esteve muitos annos, servindo sempre de
abbadessa, até que, como disse, se mudaram para a cidade, no tempo
do segundo incendio, onde servio de abbadessa até acabar de cegar, e
nunca deixara o cargo de prelada se não cegára, por que era tão bem
acceita de todos, e tinha tão grandes espiritos, prudencia e discrição,
que nenhuma lhe precedia no mosteiro que fez Diogo Vaz Carreiro, onde *
agora esta, tendo-lhe todas as religiosas muito respeito, como pessoa
aposentada «jubilada.
Teve tambem Martinho Annes Furtado,, na ilha da Madeira, um ir
mão chamado ( segundo cuido) Henrique Vaz Corrêa, ou irmã, que
tinha um filho e duas filhas, as quaes vieram para esta ilha ; o filho cha
mado Francisco Corrêa, escrivão da camara e do publico, na villa da
Lagoa, onde casou, e houve os filhos seguintes. — O primeiro Hênrique
Corrêa, casou tres veves.; a primeira com Branca Dias, filha de Fernan
do Alvares, boticario, de quem houve alguns filhos; a segunda mulher
chamada Constancia Rodrigues Ferreira, filha de AITonso Gonçalves Fer
reira, escrivão de Ponta Delgada, a qual fora nuilher de Sebastião Fer
nandes, de quem não tem filhos. A terceira mulher.,, filha de Antonio
AfTonso. ede Marqueza de Sousa, e neta de Domingos Alfonso, do logar
de Rosto de Cio. O segundo filho, Francisco Corrêa, ou Jorge Corrêa,
casou na villa da Lagoa. O terceiro, chamado Francisco Corrêa, como
spu pay, casou na cidade de Ponta Delgada, com Guiomar da Paz, filha
de Luiz Rodrigues, mercador, de quem não tem filhos.

Uma filha de Francisco Corrêa, escrivão da camara da Lagoa, casou


com Ruy Gonçalves, filho de Jeronymo Gonçalves, cidadão de Villa Fran
ca, e mora na villa de Agua de Pão, por ter ali sua fazenda, de quem
tem filhos e filhas, de pouca idade. A primeira filha do irmlo ou irmã de
Martinho Annes, chamada Genebra Henriques, veio viuva a esta ilha com
seu irmão Francisco Corrêa, e tinha dous filhos ; o primeiro Antonio
Corrêa de Sousa, casou com Simôa Quaresma, de casa da capitoa dona
Philippa Coutinho, mulher do capitão Braz Gonçalves, a qual' era natu
ral de Villa Franca, filha de Branca de Paiva, do quem houve alguns
filhos, que falleceram na índia, e casou segunda vez com uma filha de
Amador Travassos de quem teve alguns filhos. O segundo filho de Ge
nebra Henriques, foi frade de Sam Francisco, e falleceu captivo em Ca
bo de Gue, quando ca pti varam ao capitão Manoel da Camara, em cuja
companhia elle estava. A segunda filha do irmão, ou irmã de Martinho
Annes, chamada Izabel de Sousa, casou em Villa Franca, com Miguel
Vaz, filho de Raphael Vaz, e de Leonor AfTonso Iveza, que procedia de
Irtanda, mulher grande de corpo, das maiores da ilha, como seu mari
do, que tambem é grande, e tão bom cavalleiro, que antes de ser velho
147

sempre era chamado para os jogos das canas, escaramucas e outras fes
tas, que se faziam nesta ilha ; homem honrado e rico, morador nos Fe-
naes da Maia, termo de Villa Franca, em sua fazenda : da qual sua mu
lher Izabel de Sousa, houve uma filha por nome Beatriz Corrêa, que
casou duas vezes. A primeira com Manoel Homem, filho de Joam Ho
mem, do qual houve alguns filhos que falleceram ; ficando um só vivo,
chamado Manoel Corrêa, que casou nos Fenaes da Maia, com uma (ilha
de Antonio Rodrigues, de quem tem filhos.

Casou a dita Beatriz Corrêa, segunda vez, com Christovão de Vas-


concellos, fidalgo, morador na *.illa da Ribeira Grande, de quem não
houve filhos. Este appellido dos Corrêas, se diz que alcançaram uns no
bres homens, que lhe deram principio , por estarem cercados dos ini
migos em uma torre que guardavam com tanto aperto de combates e fo
me, sem a quererem entregar ; que lhe foi necessario botar alguns cou
ros de muiho feitos em corrêas, para com elles se sustentarem, como
já disse ati az.

CAPITULO DECIMO SÉTIMO.

Dos Cayados, LtAitos com os Albaknàzes ; e dos Mkzas e Francos,


lkadus com os Tevks, Camkllos, Velhos e Lobos.

Um Joam Gonçalves, natural de Biscaya, a quem n'esta ilha muda


ram o appellido, chamando-lhe tangedor, por ser grande musico, e tan-
gedor de viola, por diferença d'outros que havia na terra do mesmo D' -
me : foi criado do marquez de Villa Real, e o acompanhou muitos annos
na Africa á sua custa, com armas, cavallos e criados, que seu pay Ibe
mandou de Biscaya, onde fez muitas sortes, como bom cavalleiro ; de
pois de casado, o mandou o marquez a esta ilha com sua mulher, seus
escravos e criados, onde foi o primeiro vereador da cidade de Ponta,
Delgada, sendo villa; sempre servio os cargos da governanç?, atèsaa-
morte: houve de sua mulher dous filhos e duas filhas : o primeiro filho
Gaspar Gonçalves, frade pregador da ordem de Sam Domingos, e Mel
chior Gonçalves, chansarel em todas estas ilhas dos Açores, o qual ca
sou com Guiomar Cabea, na villa da Ribeira Grande, dos nobres Cabeas;
de quem tevê tres filhos e duas filhas, freiras ; um filho, Joam Tavares.
Cabea, é conego na sé de Angra, de bom exemplo, e muita virtude;
outro esti solteiro ; e outro foi servir a el-Rey, á sua custa, na índia :
todos ires immitadores da mansidão e bondade de seu.pays
O segundo filho de Joam Gonçalves, tangedor, chamado Melchior
Gonçalves, falleceu solteiro. A primeira filha do dito Joam Gonçalves,
chamada Marqueza Gonçalves, casou com Balthasar Rodrigues, homem
nobre, de. quem não houve filhos. A segunda filha, Tereja Gonçalves,
casou com' Francisco Dias Cayado, cidadão da cidad.3 do Porto, que ser-
via)dejjfl£; e vereador na cidade de Ponta Delgada, sendo villa, até que
falleceuT» era de mil quinhentos e quarenta e tres, o qual houve de
sua mulher onze filhos e filhas, dos quaes casou tres e uma (ilha, O pri
meiro, Amador Francisco, do habito de Santiago, casou com uma filha
de Louí^nço Aires Redovalho, juiz dos orphãos, que foi na cidade de
Ponta Delgada. O segundo, Sebastião Gonçalves, casou com uma filha
de Pedro de Teve. O terceiro, Roque Gonçalves, bom ca vai leiro, casou-
com uma filha de Gracia Rodrigues Camello. O quarto, Fr. Manoel,
que foi frade da ordem de Sam Francisco ; e os mais filhos todos foram
da governança da terra : um dos quaes chamado Braz Dias Cayado, fal
leceu na índia, no serviço de el-Rey, e os mais falleceram.

Uma das filhas de Francisco Dias Cayado, casou com Joam Sipi-
mão, fidalgo inglez, de quem houve um filho chamado Thomaz Sipimão,
e uma filha, Margarida Sipimoa, que está casada com Luiz Olfos Bormão,
flamengo, muito honrado e rico, que tambem é da governança da terra.
Falleceu o dito Joam Gonçalves Alharnaz, ou tangedor, na era de mil
quinhentos e desaseis ; deixou uma capella de Nossa Senhora do Rosa
rio, na egreja do Martyr Sam Sebastião, da cidade, ás terças-feiras, can
tada, e ornada com vestimentas de damasco ; declarando em seu testa
149

mento, que as cantassem os vigarios presentes c, futuros: o lho deixou


vinte e tres alqueires de terra, que rendem, uns annos por outros, de
zoito até vinte mil reis.
Quando as cazas de Ponta Delgada ainda eram de páo pique, veio a
esta ilha um Fernando de Meza, castelhano, criado 'de el-Reydom Af-
fonso de Castel la, casado com sua mulher Izabel Franca, dc quem tinha
um filho etres filhas: o fittio, chamado Joam de Meza, foi escrivão na
villa da Lagoa; casou e houve filhos e filhas. A primeira filha de Fer
nando de Meza, chamada Francisca de Meza, casou com' Pedro de Te
ve, de quem, como está-to* houve o primeiro filho Simão de Teve,
que casou com uma filha de Gil Vaz, da Bretanha, de quem houve mui
tos filhos. O segundo filho chamado Sebastião de Teve, foi casado com
uma filha de Alvaro Pires, irmão da mulher de Sebastião Luiz, pay de
Jeronymo Luiz, de quem teve" filhos. O terceiro filho, amador de Teve,
casou com uma filha de Pedro Alves Benavides, de quem houve Gaspar
de Teve, que é 3gora capitão a"uma companhia fla Cidade de Ponta Del
gada. O quarto filho de Pedrò de' Teve, e de sua rfluther Frannsca de
Meza, chamado Je/ohymo de Teve, Talleceu solleiro. Teve mais 'Pedro
de Teve quàtro' filhas í a primeira, ^Guiomar 'de Teve, que casou com
Ruy Vetho, de quem houve mViitos fllliòs e filhas.
A segunda filha de Pedro de "Teve, casou com Antonio da Motta,
de quem teve o primeiro filho Pedro de Teve, que casou com Guiomar
Soeira, filha de Manoel AíTonso Pavão, de quem tem filhos e filhas. O
segundo, Manoel da Fonseca, casou com uma filha de Ruy Pires, de
quem tem filhos ; ambos estes irmãos grandes cavalleiros. O terceiro,
Joam de Teve, bom sacerdote, e Jorge da Motta, que casou com uma ir
mã de Francisco d'Aguiar. vigario da Povoação, ao qual mataram na
cidade de Ponta Delgada, .e lhe £cQo,um filho, chamado como seu pay,
Jorge da Motta, grande tangedor de tecla, e muito musico, e destro no
campo. Teve maií Antonio da Motta, uma lilha que casou com Joam
Rodrigues, rico e nobre mercador; e outra <casada com um rôltao1 (Veste
Joam Rodrigues. A terceira filha de Pedro de Teve, chamada Joanna de
Teve, que cisou com Sebastião Gonçalves, "filho òVFrancisco Dias Caya-
do, de quem tem filhos e filhas.

19
t6ò

A quarta filha de Pedro de Teve, e de Francisca de Meza, por n'ò'


tne Izabel da Trindade, mulher de grande prudencia e virtude, foi reli
giosa, e muitas vezes abbadessa no mosteiro da Esperança da cidade dé
Ponta Delgada. A segunda filha de Fernando de Meza, Leonor de Meza,
casou com Joam Affonso Cadimo, de Monte-mór o Velho, dê quem tevê
filhos. O primeiro, Roque Affonso, casou com uma parenta dos Colum-
breiros, de quem houve filhos. O segundo, Bartholomeu Affonso. casou
com a filha de Ruy Vaz Baleia, de quem tem filhos e filhas. O terteiro,
Jeronymo de Meza, casou com uma filha de Diogo Affonso, da Bretanha,
da geração dos Alharnazes, de quem houve filhos.

O quarto filho, Custodio Affonso, foi casado com Helena de Viveiros,


irmã" de Gaspàr de Viveiros* sogra de Francisco d' Arruda da Costa, de
quem houve muitos filhos e filhas. Teve mais Joam Affonso Cadimo, de
sua mulher Leonor de Meza, a Izabel Franca* que casou com Bartho
lomeu Esteves, de quem houve alguns filhos. A segunda, Helena Cadi
ma, casou com Joam Dias., filho de Joam Dias, negro, de Candellaria,
de quem teve filhos. Izabel Franca, terceira filha de Fernando de Meza,
cesou com Aires Lobo, filho de Fernando Lobo, da casa do duque de
Bragança, de quem houve um filho, chamado Francisco Lobo, de muita
prudencia e virtude, casado Com tóranca de Sequeira, filha de Lucas de
Sequeira, aio do capitão conde, de quem houve filhos c filhas; c uma
filha, que casou com Jeronyim Luiz, homem de grande virtude e pru
dência.

CAPITULO DÉCIMO OITAVO.

Dos Serrões, Novaes k Quentaks, que com vocabulo corrupto, s*


CHAMAM NODAES E QuiNTAES.

Miguel Serrão, Manoel Serrão, Catharina de Novaes e Izabel Serrão,


todos irmãos, filhos de João Serrão de Novaes, e seu primo co-irmão.
filho de Margarida de Novaes, irmão de Joain Seri ão, morador em Vil
la Frarfca do Campo, desta ilha de Sam Miguel, casado com Maria Jor
ge, lillia de íorge Alfonso, das. grotas fundas, natura! da villa do Nordes
te, são bisnestos duma dona Maria de Novaes, a qual procedeu de illus-
tre geração e fidalguia do reyno de França, d'onde vieram ter à Hes-
panha ao reyno de Castella, da qual progenie procedeu un* Francisco
Botetho de Novaes, que (oi pay da ditá dona Maria de Novaes, avô dos
sobreditos Serrões, e seu trisavô Fráncisco Botelho de Novaes, era um
fidalgo de muita marca, e de grande nome e renda, e senhor de mor
gado : c residindo elle na corte de el-Bey de Castella, aconteceu que
indo a raynha de Napoles com Uúía romaria veio ter ao mesmo reyno
de Napoles uma grossa armada de turcos ou mouros, os quaes sahirido
em terra a tomaram e saquearam, e captivaram o dita raynha, e se
apoderaram do seu reyno ; o que vindo ã de el-Rey de Castella, muito
depressa llie mandou soccorco de mui ta gente de armas de cavallo, e de
iniahteria; por capitão da qual ia o dito trisavô dos Serrões, que no
tal tempo se chamava somente Francisco Botelho, da progenie dos Bo-
ttibos atras ditos, e de Gonçallo Vaz Botelho, chamado o graude, que
foi úm dós príncipaes povoadores d'esta ilha de Sam Miguel.

mdo Francisco Botelho com sua ordem e gente de guerra- em soecor-


ro d'esta raynha de Napoles , no caminho vio que lhe era necessaria
uma provisão de el-Rey de Castella, é deixando o exercito em ordem
se tornou aterrado á corte, e entrando no paço afrontado do caminho,
por que nenhuma detença fazia , espantado el-Bey de assim o vêr tor
nar, lhe perguntou, dizendo: que é isto, no-vaes? Respondeu-Mie : si
vou, mas é-me necessaria uma provisão, a qual logo no paço lhe foi fei
ta, e assignada pelo Bey, o com eito se foi no soccorro ao reyno de Na
poles, onde houve Victoria em uma batalha que teve com os mouros ou
turcos, veucendo-os, e desbaratando-os : e tirando do captiveiro a dita
raynha de Napoles, e restituindo-a ao seu reyno ; e tornando com esta
tão grande victoria, el-Rey de Castella lhe fez grandiosas mercês, e lhe
acrescentou em suas armas, no escudo, dous leões, duas aguias, duas se
tas, e duas barras, por que as mais armas são da geração dos Botelhos,
152

seus parentes, de que slIes todos gosam: o tíahí por diante o dito tri
savô dos Serrões, por causa d'esta victoria se chamou Francisco Botelho
de Novaes; pelo que el-Rey lhe disse, quando veio do caminho pedir-
lhe a provisão, e assim se intitulou elle sempre e seus descendentes.
Mas como os invejosos enrpagrecem com a gordura do seu proximo,
nao faltando na corte murmuradores, que praguejassem de tantas mer
cês, quantas do Rey recebia, deram motivo para que lhe fizessem ou
tras maiores ; por que vindo isto á noticia do mesmo Rey, diante d'al-
guns d'elles veio a por em pratica, dizendo um dia que bem sabia que
murmuravam dós favores que elle fazia a Francisco Botelho Novaes ; que
nao se espantassem (Pfsso, por que «quem tal, fizera, e tão bem linha ser
vido, tudo, emais merecia; pelo que d'ahi por diante o dito Francisco
Botelho, tomou por alcunha e por appellidos de honra Novaes o Quen
tal, dos que seus suceessores e os da sua geração hoje em dia se hon
ram, e intitulam rfestes reynos de Portugal, e n'esta ilha onde ha mui
tos Navaes e Quentaes. Este Francisco Botelho Novaes tinha um irmão
mais moço, chamado Lopo Affonso Novaes Coutinho, do qual e de sua
mulher nasceram Ruy Lopes, e dona Philippa Coutinho, mulher de Ruy
Gonçalves da Camara, segundo do nome, e quinto capitão d'esta ilha.

Teve tambem Francisco Botelho NoVaes, de sua legitima mulher,


uma filha, dona Maria Novaes, acima dita, avô dos Serrões ; a qual fi
cando por morte de sua mãe muito menin?, foi trazidà á corte d'f'stes
reynos de Portugal, não sei por que causa, por seu tio Lopo Affõnso de
Novaes, e foi damnda raynha dona Leonor, mulher de el-Rey dom Joam;
segundo' do nome, ou dá raynha mulher de el-Rby dom1 Affonso, |'iay
d'este mesmo Ref; por ser prima co-irmã do dito Ruy Lopes Coutinho,
e de dona Jgnez Serrão; filha do dito Lopo Alfonso de Novaes, e de sua
i
ligitima mulher, .) quem não soube o' nome, e sobrinha de Lopô Affonso
de Novaes, pay do dito Ruy Lôpes Cdutmhò, que foi pay da" capilôa
dona Philippa Coutinho, mãe de Manoel da Cafmara, sexto capitão d'è'sta
ilha ; o qual parentesco está provado por instrumentos aathenlicos : e
estaalona Maria de Novaes veio a ca?ar com um grande fidalgo como
agora direi.
153

Havia em casa do infante dem Henrique, que descobriu estai ilhas",


um fidalgo de sua mesma casa, chamado Pedro Alvares Homem, o qual
foi iuviado por elle á ilha da Madeira, com grandes eargos, e provedor
•de sua fazenda ; e eelando com estes cargos casou no mesma ilha com
Margarida Mendes de Vasconcellos, irmã, segundo dizem, do capitão que
np tal tempo era da capitania do Machico, por vontade e contentamento
do dito infante, que para isso lhe deu licença; e muito a gosto de to
dos os que eram partes, e parentes ; e houveram um' filho, por nome
Ambrosio Alvares de Vasconcellos, que foi servir ao infante, como fi
dalgo que era de sua casa ; e andando no paço veio. a casar a furto com
a dita dona Maria de Novaes ; divulgado o casamento na corte pela
grande pena qae linha, e tem os que taes delitos commettem no paço,
-mandou el-Key dom Affonso a seu lilho dom Joam segundo prender, a
elle no Castello, e recolher a dona Maria de Novaes, em um mosteiro de
freiras ; estando nas prisões em termos para se fazer justiça d'ell«s : veio
o lW a casar uma filha com o imperador de Alemanha, e quarendo-
Iha mandar por terra, antes que partisse a princeza, pedio a el-Rey seu
pay lhe desse para levar comsigo os ditos Ambrosio de Vasconcellos, e
dona Maria de Novaes ; concedeu-lhe el-Rey, e mandou-os logo soltar,
e foram para a Alemanha, em companhia da princeza; e indo seu ca
minho, passado o reyno de França, e entrando por Italia, veio a infer-
mar a princesa ; e caminhando. para o esposo da terra, foi gozar do es
poso do ceu.

Fallecendo cila, elle Ambrosio Alvares de Vasconcellos, e sua mu


lher dona Maria de Novaes, se tornaram pira o reyno de Portugal, com
outros fidalgos que iam na mesma companhia, aos quaes querendo el-
Rey galardoar e fazer mercês, depois de passados os dias de seu nojo,
os apresentou com rendás, e cahio a sorte ao dito Ambrosio ArvareS
Homem, c sua mulher dona Maria, aposental-os na ilha Terceira; com
Ihés fazer mercê de lhes dar a faienda e terrà dtis proprios, que' na
dita ilha tinha., e lá fdram morar ; fazendo-lhe el-Rey mercê tambem
de mortpostéiro-mòr dos captivOs em todas estas ilhas dos Açores ; o
qual me parece ser o primeiro que houve n'ellas, e servio este cargo
154

por espaço d'annos, como ha pessoas vivas rjue isto afirmam e sabem.

Ambrosio Alvares Homem de Vasconcello.;, e dona Maria de Navaès


houveram estes filhos; Pedro de Novaes, avô dos Serrões, e Fernando'
do Quental, avô dos Quentaes, e Fr. Simão de Novaes, frade, e Lou
renço do Quental, e uma filha por nome dona Violauta Novaes, que da
ilha Terceira foi para o paço; e estando na corte por dama da raynha,
falleceu da vida presente, sem ràsar. Ambrósio Alvares Homem, e sua.
mulher, enfadados das Hhas, e desejando viver »a corte, onde foram.'
criados, vieram a vender a fazeikhrqúe tinham na ilha Térceira, dos
proprios, de què eURey' lhes tinha feito mercê', que agora; dizem sei*
dos Gorte-Heaés/ em cujaprogenie. andada ;a' capitania da ilha Terceira, e
se foram' para o paço ; e seus filhos, Pédro dé Nbvaes, avô-dos Serrões,
e Fernando do Quental, avò dos Qòentaes, se vieram para esta ilha de
Sam Miguel, indo' Fernando do Quental primeiro á ilha da Madeira, e
déptHS vindo pela ima de Santa Maria ter a esta, onde casaram e tive
ram filhos. Pedro de Novaes casou com Beatriz Gonçalves Botelho, filha
ligitima de Àntam Gonçalves Botelho, filho de Gonçalío Vaz Botelho,
chamado o grande ; que segundo alguns, foi o primeiro homem que com
outros veio povoar esta ilha de Sam Miguel, e era filho de Pedro Bote
lho, commendador-mór da ordem de Christo, que foi r' estes reynos de
Portugal, e fidalgo de marca, pelo que claramente se vè o estreito pa
rentesco que tem entre si os Botelhos, Novaes, Quentaes, Serrões, Ho
mens, Vasconcellos, e todos estes appellidos e armas d'elles, lhes per
tencem pelas gerações donde procedem,
Pedro de Novaes houve de sua mulher, Beatriz Gonçalves Botelho,,
os filhos seguintes: O' primeiro, André Novaes, que d'esta ilha se foi na
era, de mil quinhentos e quarenta, no principio da guerra que o impe
rador Carlos quinto, tevo com el-Rey de França ; e tanto que o dito •
André Novaes chegou à Italia, logo foi reconhecido por homem fidalgo,
e parente dos Novaes de Çastella, como era ; e em companhia de An-i
dré Doria, o Velho, o fizeram capitão de cinco galés : e na guerra onde
andava, muito abalisado e favorecido, acabou seus dias em serviço do
dito imperador, pois d'elle até agora não ha mais novas. Tiveram Pedro
Í55

*flè Novaes e sua mulher, Beatriz Gonçalves Botelho, outro filho qtfe
/chamavam Francisco de Novaes, que casou na ilha da Madeira com Joan-
na Ferreira de Drumond, de casta grande, que procede de dana Bella,
mulher de el-Rey da Escocia : foi uma pessoa muito principal da cidade
do Funchal, e da. governança da dita ilha; de quem procederam filhos,
alguns, dos quaes andam na índia, no serviço de el-Rey.

Houve mais Pedro de Novaes, de sua mulher. Beatriz.Gonçalyes"Bo-


! telho,, outro filho chamado Serrão de Novaes, nobre fidalgo, de muito
liberal e macia condição; o qual casou com Beatriz Lopes, filha de Lo
po Dias, da Praia, dos nobres da terra, e de Izabel ,Vav.sua mulher, fi-
ilha de Duarte ,Vaz, inarinheiro, de alcunha ; por qiie mandava fazer
'muitas náosá.siia custa, e navios; da qual houve Filhos de sira condi
ção generosa : Miguel Serrão, e Manoel Serrão ; e filhas, Catharina de
Novaes,, Izabel Serrão, e outros que falleceram. Miguel Serrão casou
com Izabel Nunes, filha de Manoel Galvão, e de Catharina Nunes, de
tmem tem filhos e filhas, uma. casada, com, Manoel da Fonseca, fidalgo.
Manòel Serrão, bóm latino, curioso e discçeto, e de outras boas partes,
está casado com Izabel Gonçalves, , .filha de Silvestre Gonçalves, e de
Izabel Gonçalves, de 'quem lém 'filhos e filhas. Catharina de Novaes ca
sou com Barthoípmeu 'Botelho, fidalgo, filho de Joam Lopes, meirinho
,que foi do capitão muitos annos, filho de Joam Lopes, dos Mosteiros,
de quem houve filhos e filhas.

A segunda filha de Joam Serrão* e de sua mulher Beatriz Lopes,


•chamada Izabel Serrão, casou cpm Manoel da Ponte, em Villa Franca,
teve Pedro Novaes, de Beatriz .Gonçalves Botelho, sua mulher, outro
filho, chamado Bernardo de Novaes, que foi d'esta ilha seguir as ventu
ras do mundo, indo para o Brasil, onde falleceu. Houveram mais outro
filho, chamado Antonio do Quental, que casou em Lisboa com Izabel
Cardozo, fidalga, e viveu n'esta ilha com ella. Hou^e mais o dito Pedro
de Novaes, de sua mulher Beatriz Gonçalves, quatro filhas : Maria de
Novaes, Margarida de Novaes, e Catharina de Novaes, que foram casa
das com pessoas muito honradas, e dos prineipaes da terra, das quaes
quatro irmãs não ha filhos nem filhas ao presente vivos ; senão um fí
156

lho de Margarida de Novaes, chamado Joarn dc Novaes, morador em.


Villa Franca, de muita prudencia e virtude, casado como já tenho dito
com Maria Jorge, filha de Jorge Affonso, das grotas fundas, da villa do
Nordeste, da qual tem filhos e filhas.

Joam da Castanheira, homem fidalgo, cujo foi um pico que está aci
ma da cidade de Ponta Delgada, que se oham• o pico de Joam da Cas
tanheira, veio de Portugal, primeiro á ilha de Santa Maria, e depois a
esta, e teve uma fifta chatfrida Margarida de Mattos, que casou com
Fernando do Quental, irmão de Pedro de Novaes, filhos ambos de Am
brosio Alvares Homem de Vasconcellos, de quem houve estes filhos :
Affonso de Mattos, que casou, primeira vez, com uma filha de Fernan
do Gonçalves, amo do capitão, e de Maria Gonçalves, sua mulher, cha
mada Guiomar Galvôa ; da qual Guiomar Galvôa, houve Affonso de Mat
tos estes filhos : o primeiro, Sebastião de Mattos, e outros ; segunda vez
casou dam Beatriz Cabeceiras, filha de Bartholomeu Rodrigues da Serra,
de quem houve filhos e filhas. Teve mais Fernando do Quental, de sua.
mulher, otrtro filho, por nome Manoel de Mattos, que casou com Izabel
Nunes, de Portugal, de quem houve um filho chamado Antonio de Mat
tos, que primeiro foi casado com Maria Cabeceiras , mulher dppois de
Ruy de Sá, de quem teve uma filha, que é freira no mosteiro da Espe
rança, a qual Izabel Nunes, depois de viuva, casou com Balthasar do Ama
ral, de quem não houve filhos.
Teve mais Fernando do Quental, de sua mulher, outro filho, chama
do Jeronyme do Quental, que casou, a primeira vez. com uma filha de
Pedro Jòrge, e de sua mulher, da qual houve um filho chamado Anto
nio do Quental, que falleceu solteiro, e uma filha chamada Maria do
Quental, que casou com Balthasar Gonçalves, filho de Gonçallo Annes
Ramires, de quem houve filhos e filhas. Teve tambem Jeronymo do Quen
tal outra filha, chamada, Izabel do Quental, que casou com Salvador Gon
çalves, filho do dito Gonçallo Annes Ramires : e cagou segunda vçz Jero
nymo do Quental, com a mulher que foi de Jorge Affonso, de quem teve
filhos. Teve mais Fernando do Quental outro filho, chamado Henrique do
Quental, que casou com Maria de Rezende , filha de Pedro Alvares das
Ih?

Cortes,' e de Leonor Alvares de Benevides sua mulher, <1e quem houve


dous filhos, que foram para o Brasil, e outros que falleceram. Houve
Fernando do Quental outro filho, chamado Braz do Quental, que falle-
ceu solteiro. Teve mais Fernando do Quental uma filha, chamada Iza-
bel do Quental, que casou em Villa Franca com André da Ponte de
Sousa, de quem houve filhos e filhas.
Estes dousf irmíos, Pedro de Novaes e Fernando do Quental, foram
os principaes-homens que antigamente povoaram esta ilha, e a gover
naram, ministrando jttstiça com verdade, em quanto viveram : Pedro de
Novaes servio no principio da povoação d'esta ilha de logar tenente, em
nome do capitão d elia, por provisão de el-Rey; e em nome de el-Rey
e como capitão, deu a muitos muitas terras de dadas, de sesmaria : e
seu irmão Fernando do Quental servio n'ella por vezes de ouvidor, em
nome do capitão Ruy Gonçalves, pay do capitão Manoel da Camara ; a
causa de virem ter á esta ilha, foi o parentesco e rasáo que tinham com
a capitoa Philippa Coutinho.
Fr. Simão de Novaes, fradevda ordem de Sam Francisco, irmão dos
sobreditos Pedro de Novaes e Fernando do Quental, tambem veio a esta
ilha, e fez edificar o mosteiro da Praia da ilha Terceira, e n'clle foi
guardião, e falleceu santamente ; antes que fallecesse (segundo alguns
dizem ) sendo-lhe revelado que : seus dias eram poucos, se veio a esta
ilha despedir de seus irmãos, e tornando durou pouco ; de cuja morte
se conta, que estando resaude vesperas, bem disposto, disse que lhe
puzessem uma pedra na egreja para por a cabeça n'ella, que queria re-
pouzar ; por que esta era a sua cama na sua cella, onde não dormia se
não no chão, com uma padra por cabeceira : estando depois de vespe
ras ali repouzando, adormeceu de tal maneira, que d'aquelle somno
passou da vida presente, no mesmo mosteiro da Praia, que elle fizera,
e afirma-se que a terra da sua sepultura tinha virtude para curar algu
mas enfermidades.
Lourenço do Quental, irmão dos ditos, e filhos todos de Ambrozio
Alvares Homem de Vasconcellos, e de dona Maria de Novaes, tambem se
aposentou noreynode Portugal, d'onde procederam filhos e netos,- que-

80 ....
m

agora se nomeiam cTestes appellidos dos Nobaes, e Quintaes, que como


tenho dito andam corruptos estes nomes, havendo de dizer segundo a
origem d'elles ;— «'Novaes e,Quentaes • ; dos quaes procedem Simão
do Quental, capitão do numero, que foi sargento-mór nesta ilha de Sam
Miguel, e foi ao soccorro da iiha de Santa Maria, como já tenho conta
do, quando d'e!ia tratei. Falleceodo o pay d'estes fidalgos, Ambrosio
Alvares Homem de Vasconcellos, de afluem procederam os Homens da
Villa da Praia, da ilha Terceira ;,e ficando viuva sua mulher dpna Ma
ria de Novaes, logo, como no tal lempo,se costumava, tirou o « dom ,.
chamandoise Maria de Novaes, sem mais fausto de nome nem criados,
servindo-se somente de dous homens honrados, que a acompanhavam :
um dos quaes foi Alvaro Lourenço, tabellião publico, e do judicial geral
em toda esta ilha.

Por assim se costumar entre as matronas fidalgas, não usou mais a


dita dona Mária de Novaes de vestidos leigaçs, vestindo-se como freira,
de habito e manto pardo, muito comprido, e de authoridade : nos quaes
trajos acabou n. esta 'ilha seus dias, para onde havia tornado do reyno,
por ter n'ella seus filhos ; e foi sepultada na capella-môr do mosteiro
de Sam Francisco, que havia antes da subversão de Villa Franca, no
anno de mil quinhentos e vinte dous. Do dito se vê claramente o estrei
to parentesco, que entre si tem os Botelhos, Novaes, Quentaes, Serrões,
Homens, e Vasconcellos; e como todos estes appellidos, e armas d'elles
lhes pertencem, pelas nobres gerações d'onde procedem.

CAPITULO DECIMO NONO.

Dos Medeiros, que tiveram seu principal assento na villa da Lagôa.

Rny Vaz de Medeiros, de nobre geração, veio no principio da po


voação d'esta ilha, em tempo do capitão Ruy Gonçalves, primeiro do
159

nome, de Ponte d« Lima, ou de Guimarães, fugido a seu pay, indo ter


primeiro á illia da Madeira, onde casou honradamente, como quem era,
com uma filha d'um nobre cidadão chamado Jorge de Mendonça, de quem
tem muitos parentes hoje em dia d'este appellido dos Meodonças e Fur
tados : teve na dita ilha muita amisade com Kuy Gonçalves da Camara,
irmão do capitão d'ella, que depois o fui (festa ; em cujo tempo veio a
ella : por que conhecendo-o lá, vendo sua riqueza e nobreza, como se
tratava com cavallos na estrevaria, criados e escravos em casa, que o
dito Ruy Vaz tinha ; juntamente com sua boa condição, o trouxe a esta
ilha, onde lhe deu muita? datas de terra dé sesmaria, no termo da villa
da Lagoa, de que foi muito abastado, e hotrve de sua mulher, chamada
Anna Gonçalves, os filhos seguintes :
O primeiro, Vasco de Medeiros, foi um dos primeiras que n esta
ilha casaram. Casou com uma filha de Fernando Rodrigues, dos nobres
da Lagoa, e houve em dote quinhentos crusados em propriedades, que'
valem hoje em dia, em diversas partes onde estão, mais de vinte mil
crusados : foi este o melhor dote que n'aquelle tempo se deu : o qual
por ter muitos cavallos e gado, foi servir a el-Rey á Africa, com"dois
filhos, todos tres com seus cavallos, armas e criados, onde foram capti-
vos na guerra que fizeram : e parece que morreram martyres no cap
ineiro, segundo alguns dizem, no tempo do capitão Luiz de Loureiro,
com um irmão d' Antonio Corrêa do Sousa. Tem Vasco de Medeiros' de
sua mulher Calharina da Ponte, os filhos seguintes : O primeiro, Ama
dor de Medeiros, que casou com um» nobre mulher, a quem não soube
o nume. de quem houve filhos e filhas, cujos nomes tambem n3o pude
saber. O segundo filho de Vasco de Medeiros, falleceu solteiro. O ter
ceiro Fernando Roiz de Medeiros, casou com uma filha de Pedro. Ma
noel, da villa d' Agua de Páo, de quem teve alguns filhos. O quarto, Si
mão de Medeiros, falleceu solteiro. O quinto, Marcos da Ponte, casou
com uma filha de Antonio Camello, das Feteiras, da qual houve filhos,
quò fa lie ceram.
Houve mais Ruy Vaz de Medeiros, o velho, o segundo filho, Ra-
phael de Medeiros, que sendo mancebo de sua idade, o trazia sen pay
160

ordenado para ser clerigo, e elle por certa amisade qiie' tevte 'com. um
mancebo da ilha de Santa Maria, se embarcou com elle para ella, e lá
se casou com uma filha de Antonio Roiz Carneiro, que n'aquelle tempo
governava a dita ilha, sendo logar-tenente do capitão Joam Soares, que
era menino, com sua mulher, chamada Antonia da Costa. Viveu Raphael
d« Medeiros, n'esta ilha de Sam Miguel, e teve duas filhas, uma das
quaes por nome Leonor de Medeiros, casou em Lisboa, com um homem
alemão, com o qual se foi para a índia ; e fallecido este se casou com
outro, com quem esteve no governo da ilha de Moçambique muitos an-
nos, e teve d'elle um filho, homem que agora é de muito peso no ser
viço d'êl-Rey. A outra filha chama la Maria de Medeiros, casou n'esta
ilha com Antonio Camello Pereira, 'filho «"'Antonio Camello, com o quaj
viveu muitos annos, e se foi para a índia, onde falleceu, e ficaram um
filho e uma filha : o filho por nwne Gaspar1' Cam&Io, discreto e gentil
homem, è casado na cidade de Ponta Delgada, conVuma filha dé Manoel
Alvares Pinheiro, chamada ítuiomar Alvares, e tem um filho e uma fi
lha ; a filha da dita Maria de Medeiros, por nome dona Catharina, casou
com Duarte de Mendonça, homem fidalgo : falleceu, e fkou-lhe uma fi
lha, que ora vive, como tenho dito na geração dosCamellos.

E depois de se casar a farto Raphael de Medeiros, contra vontade


de seu pay, fez tantas travessuras, brigas e homizios, tirando muitos pre
sos da cadeia, e outras pessoas das mãos da justiça, tudo por sua espa
da e muita valentia : que mandou el-Rey dom Joam a esta ilha corre
gedores para o prenderem ; sem nunca o poderem pôr em effeito, por
sua muita desenvoltura, e quando andava homeziado, embarcou para a
índia, e tendo no mar diferença com o capitão da náo, em que ia, vie
ram a palavras, de maneira que senti ndo-se afrontado d'ellas, o desafiou
para quando chegassem a terra, e desembarcando, arrancando com o
capitão lhe cortou uma perua : d'ali a tres dias se tornou a embarcar
para Portugal em outra náo; depois que, veio da índia, andando homisia-
do por cortar varas ás justiças, e soltar presos das suas mãos e das ca
deias, desejando muito os corregedores de o prenderem com espias que
traziam para este effeito ; zombava elle tanto d'elles, que sabendo este.
desejo do corregedor Francisco Toscano, como en grande musico, ;e do
gentil voz, lhe foi dar á sua porta uma musica muito concertada, de cla-
•ricordio e outros instrumentos, que para isso levou ; cantando tão sua
vemente ao som d'elles, 'que encantou ao corregedor de tal maneira,
•que se perdia por èlle, e lhe mandou rogàr que se Hésse á prisão, pro-
-metendo-lhe de o livrar, como -t)e feitò livrou; e sendo livre, depois de
fatlecida sua mulher, se fez clerigo ; alem de ser grande musico tinha
outras muito boas partes, e teve medianamente fazenda, que gastou quasi
toda no homisio, fora o que lhe fieou, que hoje em dia tem «eus netos,
que *valerá como quinze moios de renda. Sendo clerigo de miss», se foi
jo Algarve vêr muitos parentes, que lá tem os Medeiros, onde falleceu
dia de Endoenças.

O terceiro filho de Ruy Vaz Medeiros, Joam Vaz Medeiros, morador


na Atalhada, da Lagoa, foi casado com Izabel de Frias, filha de Ruy de
Frias, de quem ,houve um filho .chamado Ruy Vaz de Medeiros, morador á
Atalhada ; e uma filha ,que casou com Gonçallo Vaz, filho 4e Domingos
Affonso, do logar de Rosto de Cão., Houve Ruy Vaz de Medeiros, o
quarto fitho chamado Jordão Vaz dé Medeiros, 'ò qual séndo moco .veio,
a cegar de bexigas ; comtudo casou em ViUa franca com' uma filha de
Branca de Paiva, e .de Frónr.isco Affonso, pay de -Leonor .Quaresma, quj
foimulher" de António Corrêa de Sousa, e dé Beatriz Capata, que falle-
ced.em' VíHfa Franca : ó qual Jordão Vaz houve de sua mulher um filho
cliátnado Ruy Vaz de Medeiros, homem muito esforçado, discreto è de
grandes espiritos, xjue foi capitão dos aventureiros na cidade de Ponta
Delgada, e agora é d' oma bandeira das ordenanças da milicia, o qual
casou, a primeira vez, com uma (ilha de Manoel Alvares, chamada An
na Alvares, e a segunda, com dona Beatriz, filha de Alvaro Martins, •
momposteirò-mór-que.foi dos çaptivos, n'esta ilha, e neta de Gaspar
' Came.!)?, das Feteiras, de quem tem filhos.

Teve' mais o dito Jordão Vaz de Medeiros uma filha, que casou com
Manoel'do Roi, escrivão em Villa Franca. O quinto filho de Ruy Vaz de
Medeiros, falleceu, por um desastre, afogado. Houve tambem Ruy Vaz
àé Medeiros <a primeira filha, que casou coin Diogo Affonso Cogombrei- •
16*

ro, como disse na geração dos Cogombreiros. A- segundo filha de Ruy


Vaz de Medeiros, por nome Guiomar Roiz de Medeiros, casou com Lope
Annes d'Araujo, de quem houve os filhos já ditos na geração dos Arau-
jos. A terceira filha de Maria de Medeiros, casou primeiro com Rodri
go Alvares, filho de Alvaro Lopes, dos Remedios, de quem teve fi
lhos : Rodrigo Alvares, que casou com Beatriz Nunes, filha de Sebas
tião de Alharnaz; e o segundo filho, Alvaro Lopes Furtado, morador nos
Fenaes, termo de Villa Franca, casou com Anna Fernandes, filha de
Christovão Martins, de Rabo de Peixe, de quem houve os filhos seguin
tes : — O primeiro casou com uma filha do fidalgo Joam Nunes da Ca
mara. O segundo, Braz Furtado, casou com uma filha de Joam de Sou
sa, e de lgnez Antunes. O terceiro casou com Ignez d'Oliveira, filha de
Sebastião Alfonso, da Bretanha, e de sua mulher Guiomar d'Oliveira.

Houve o dito Alvaro Lopes duas filhas, a primeira chamada Maria


de Medeiros, casou com Pedro .Barbosa da Silva; a segunda, chamada
Izabel Moniz, está casada com Antonio de Faria, discreto e de grandes
espiritos sobrinho de Antonio Lopes de Faria, da Lagoa, Houve mais a
dita Maria dó Medeiros, de seu marido Rodrigo Alvares, uma filha por
nome Margarida Luiz, que casou com Manoel Rapozo, filho de Jordão
Jacome Rapozo, de quenVtete filhos e filhas, ditos na geração dos Ra-
pozos: Caèbd a dífe Maria de Medeiros, filha de Ruy Vaz de Medeiros,
a terceira1 Vè4 com Christovão Soares, de quem não houve filhos; e o
dito Christovão Soares, casou depois com dispensa, com uma parenta
d'esta Maria de Medeiros, de quem tem muitos filhos e filhas; uma das
quaes está casada com Fernando Gomes, da villa da Lagoa, e outra ca
sou .com Francisco Thomaz, mercador, e morador na cidade de Ponta
Delgada.
Ruy Vaz de Medeiros deu a Lope Annes de Araujo, em dote, fa
zenda que valia cincoeuta moios de renda, e a Rodrigo Alvares, pay de
Alvaro Lopes Furtado, e de Margarida Luiz, sogra de Aires Pires do
Rego, propriedades, que renderão hoje em dia, cada anno, mais de ses
senta motos de trigo : e a outra filha que casou com Diogo Aflonso Co-
gombreiro, que teve muitos filhos e filhas, todos ricos, mais de oitenta
463 ,

moios ile renda ; fóra õ que deu a outra filha, que falleceu freira, e a
outra que casou com Duarte Vaz Delgado, irmão de Pedro Gonçalves
Delgado, deu em dote fazenda que hoje 'vale perto de trinta moios de
renda ; e depois de ter .todos casados, e agazalhados, falleceu a mulher
do dito Ruy Vaz de Medeiros, e se mandou sepultar em uma capei la,
que mandaram fazer na egreja parochial de Santa Cruz, na villa da La
goa, onde est2o ambos enterrados.
O velho Ruy Vaz de Medeiros, tanto que se vio só deixou a Jordão
Vaz de Medeiros, seu filho mais moço, o cargo de seu administrador, e
vendeu muito gado, escravos, e algumas cousas do mais movei, que ti
nha, de que fez dous mil crusados, com que se partio em romaria para
a Terra Santa, onde determinava morrer servindo ao Senhor ;, e seguin
do sua jornada soube em Veneza, que o turco tinha quebrado o saívo-
conducto dos romeiros, de maneira que não havia embarcação ; o que
foi causa de não ir ávante ; e tornando-so de Veneza veio ter a Nossa
Senhora deGuadelupe, onde esteve , por espaço de dous annos, e d'ahi
se veio a esta ilha, onde falleceu. Jaz enterrado na sua capella ; e o di
nheiro que levou, repartio com muitos pobres e orpblos que casou :
trouxe muitas reliquias sagradas, e um jubileu dos que passavam n'a-
quelle tempo de tarde em tarde. Viveu depois que veio, na Ponta da
Garça, junto a Nossa Senhora da Esperança, que mandou tambem fazer
á sua custa na sua fazenda ; e depois a deu ao povo para sua freguesia;
por que era tão rico em sua vida, que alem da renda que tinha, fazia
grandes searas, ,de qqe bavia muito trigo, n'aquelle tempo t5o barato que
'vendeu uma vez sessenta moios por sessenta cruzados; tinha tambem
tanto gado vaccum, que cada anno lhe pariam passantè de cem vaccas, e
muitas porcas e ovelhas, fora a grande familia que tinha de criados e
escravos.

•CAPITULO UMDECIMO.

DoS MUNIZES, QUE VIERAM A ESTA ILHA, NO TEMPO DE JOAM RoiZ DA CA


MARA, QUARTO CAPITÃO DEI-LA, E ÚNICO DO NOME.

Gonçallo Moniz Barreto, natural das Asturias, procedeu de Egas


Moniz Barreto Autoniano, que fpi aio de primeiro. Rey, que levantaria?
em Portugal, a quem appareceram as chagas de Christo Nosso Redem-
ptpr, e Unham por brazão, por armas a espada na mão, e a outra mão
batendo no peito ; por que quando lhe appareceram as chegas, ficaram
atonitos com as espadas na mão; como pasmados^ batendo com a . outra
nos peitos, dizendo o Rey, não a mim Senhor que vos oonheço, e creio-
firmemente em vós, se não aos mouros: nas quaes armas está Egas,. Mo
niz vestido em uma alvar como ia a padecer, e entregar-se a el-Rey de
Càstella por el-Rey de Portugal não querer , cumprir, o queeUe, por
elle lhe prometteu, quando o tinha em cerco,' M

Este GonçaHo Moniz veie das Astúrias a Sevilha, onde casot»' com
Maria Fernandes Sanches ; e como alguns dizem, por. morte d'um ho
mem ; e segundo outros aBrmam, por que vindo de Còjrdova paja Se
vilha, foi roubado de ladrões, e despojado de muito dinheiro e fazenda ;
veio de Sevilha á ilfta da Madeira pela fama d'esta irha;e achoU'n'ella a
Joam, Roiz .da iGamara", quarto capitão que for'd'esta ilha de Sam Miguel :
o qual. vendo 'a pessoa de Gonçallo Moniz, e o aparato de seus criados,
e ricos vestidos que trazia, lhe rogou que viesse com ellè para esta ilha
de Sam Miguel, onde lhe faria grandes favores, e (faria larga; dadas de
terra : e na mesma rlharda Madeira pario a. mulher dè Gonçallò Moniz
uma filha, que se chamou Cathafina Moniz, de quem foi compadre o dito
capitão Joam Roiz da Camara ^que o trouxe para esta soa ilha, e o apo
sentou na Lages, danda-lhe aqneMa làrgueza dè terras, que. estão logo
sahindo da dita Lagoa, partindo com as dó capitão, correndo para Agur
de Páo, do mar á serra ; as quaes depois vendeu; e entrou nesta ilha
com duas filhas, Izabe! Moniz, que trouxe de Castei la de idade de doze
annos, e Catharina Monie, nascida na ilha*da Madeira, afilhada do dito
capitão Joam Roiz, como tenho dito, que então creava ; ficaododhe em-
Castei la outra filha, Joanna Moniz, que deixou casada em Sevilha, muito
rica ; pario a mulher estando n'esta ilha dous filhos, Joam Moniz, e Af-
fonso Moniz, e outras duas filhas, Agueda Moniz e Maria Moniz.

Izabel Moniz, primeira filha, casou com Christovão Martins, naturaV


da cidade de Xares, emCastel!a,a qual veio a esta ilha-, ppr que indo a
16fc

orar de noite com candieiro, incendiou-se o lume ha semeais de grSo,


fjzendo grande perda, de que tinha pena de morte, e por lhe fugir, se
auzentou. Teve Christovão, ou AntSo Martins, Joam Martins, e Gonçallo
Moniz, e tres filhas, Joanna Martins, mulher de Joam Roiz, da lomba
<la Ribeira Grande, e Agueda Monte, mulher de Sebastião Gonçalves,
« Anna Fernandes, mulher de Alvaro Lopes Furtado* morador nos Fe-
naes da Maia. Catharina Moniz, segunda filha de Gonçallo Moniz, casou
com Estevão Fernandes, cavaleiro d'Africa, de quem não houve filhos.
Agueda Moniz, terceira fllha, caSou com Duarte Vaz, de casa do pay de
Gaspar de Bettancor, que se chamava Mecil Maciote : teve filhas, Marga'
rida Vaz, casada com Joam Roiz, pay de Manoel Roifc. vigario dos Fe-
naes da Maia, e Barbará Moniz, mulher de Francisco Fernandes Furta
do, de quem teve filhos, Fernão Gil, e Manoel Furtado ; e filhas, Ca
tharina Moniz, Maria Moniz, e Barbara Moniz. Maria Moniz, quarta filha
de Gonçallo Moniz, casou com Bartholomeu Roiz, cavalleiro da ordem
de Santiago, de quem teve filhos, André Roiz, e Pedro Rodrigues, e
muitos descendentes que vivem no logac de Rabo de Peixe.

Joam Moniz, filho de Gonçallo Moniz, casou com Gatharina Roiz


Furtado, filha de Rodrigo Affonso, cavalleiro d' Africa, no tempo de el-
Rey dom Affonso, natural de Faro, de quem teve filhas, Maria Moniz,
casada com Adam Lopes, e Mecia Moniz, casada com Diogo Gonçalves,
escrivão dos coutos, de quení não houve filhos ; e Maria Fernandes, que
casou~com Manoel Roiz, que depois de viuvo foi clerigo em Villa Fran
ca. Adam Lopes, filho de Alvaro Lopes, houve de sua mulher Maria
Moniz, os filhos seguintes : Joam Lopes, que casou com Catharina da
Costa, filha de Manoel do Porto, de quem não houve filhos. O segundo,
Francisco Lopes, morador na Lagoa, casou com Catharina Luiz, filha de
Joam Lopes, escrivão na cidade de Porta Delgada, e de sua mulher Ce
cilia Luiz, de quem tem alguns filhos. O terceiro, o licenciado Christo
vão Moniz, sacerdote de grande virtude e humildade, o qual tinha gran
de devoção e efficacia nas pregações, que fazia com grande zelo, da
salvação das almas, desapegado de todos ps cargos, honras e interesses
do mundo, engeitando tudo por puro amor de Deos : do bispo dom Pe

31
VGè

'dfô de*€astilho, acceilou a vigairaria davilla de Sam Schastfão..da iíhà


Terceira, e depois falleceu sendo 93 arctWliago do Fnnchal.

O. quarto, Manoel Moniz, casou com Izabel da Camara, filha de Ruy


•Gago da Camara, e tem as forças, habilidade e condição de seu avô
•3oam Moniz , e como elle. nem zombando, nem Tora de zombaria diz
Mentira ; é no cavalgar e amansar cavallos Òesenfrèiados, lèm a mesma
•árté de "seu avô; e ordinariamente tfiflos os d esta geração são bons e
Virtuosos, e de boa e sincera condição. O quinto, Alvaro Lopes Moniz,
,doutor em leis, opositor das cadeiras que pretendeu ná universidade de
Coiíribra, pôr ter grande habilidade, e ,agôra já é Catl}edraliòo de Esta
tula, e collêgial do collegio real de Sam 'Paulo, no ànnpde mil sèiscen-
tòs e vinte seis ; .e atites era desembargador do paço, de Sua Mages.
ladc A primeira filha de Adam Lopes, e de Maria Moniz, casou com
Francisco Cabreira, natural da cidade de CordoVa, de qu£m teve nove
filhos e duas filhas : um frade de Sam Domingos, e outro He SanrJe-
ronymo, ambos pregadores. Ã segunda filha, Jerohymà 'Lopes, casou
com Jorge Nunes Botelho, môrador no logar de Sam Roque, de quem
tem filhos, Ruy Tavares, qoe falleceu sendo estudante em canones, em
Coimbra, imitando e tendo o assento e prudencia de seu pay ; e Bar-
tholomeu Botelho : filhas, Izabel Tavares, solteira ; c Maria de Sam
Joam, e Francisca de Christo, freiras no mosteiro de .Villa Franca : e
outra que ca•ou com Pedro de Faria,, como tenho ditõ. na geçaçãp dos
Botelhos, e de Catharina Botelho, mulher de Jacome Leite: ide Vascon-
cellos, de.quem houve sete filhos.

A terceira filha dè Adam Lopes, e de Maria Moniz, Andreza Lopes,


C*sou com Gaspar de Braga, filho de Pedro de Braga, cidadão da cida
de do Porto, de quem tem um filho, por nomo Pedro de Braga, cdmo
seu avô. de pouca idade, e de grandes esperanças, pela virtude e boa
habilidade que tem. A quarta filha, Catharina Moniz, Casou com Manoel
da Costa Redovalho; tem um filho chamado Manoel da Costa ; e filhas,
Maria da Esperança freira no mosteiro da Esperança da cidade de An-
gra ; e Clah da Costa, e Anna da Costa, tambem freiras ; e Beatriz da
"Costa, e Catharina: Moniz, ainda -solteiras. A quinta filha ."Francisca de
m

CtirfeW, freira, nu iuosteiío.da Esperança da cidadã do Ponta Belgadat,


que por ser boa religiosa foi por abbadessa para. o mosteiro da Espe
rança da. cidade de A,ngi;a.
ir • *
Rodrigo Aflbnso, sogro. do. dito Jòam Moniz, teva de dada qnínzè'
moios de terra em.Rabo.de Peixe; era casado com Macia Gonçalves, de
quem teve filhos, AHonso Roiz„ Pedro Roiz. Furtado, Ruy Gonçalves^
e Sebastião Roiz ; e filhas, Catharina Roiz, mulher de Joam Moniz, co
mo lenho, dito ; e Izabel Ruiz" Furtado, Branca Roiz Furtado, Beatriz
Gonçalves Furtado,, e Mecia. Roiz; Furtado. Alfonso Roiz não casou
Pedro. Roiz foi para Guiné ; Ruy Gonçalves, e Sebastião Gonçalves Roiz,
mataram um, homem, pelo querer lançar forçosamente da. sua dada, e
fugiram. para a Africa, onde morderam : Izabel Roiz Furtado, foi. casada,
com Ferroando Gil ; howe. fillios, Francisco Fernandes Furtado, mora
dor que foi, na. Ponta da Garça, e Ignez Fernandes Furtado, mulher de
Jorge Aííonso.. Branca Roie casou com Fernando Lopes de Frielas ,. teve
filhas, Guiomar de Freitas,, que casou, com Buy. Pires, rico, morador na
vilia da Lagoa, que è mãe do padre Pedro de Freitas,, e, de Leonel de
Friela ; Francisca de Freitas, que casou corri Pedro Roiz, morador em
Agua de Páo, de quem. teve filhos, que governaram a vilia; e Beatriz
Gonçalves, que casou com Jorge Gonçalves, de alcunha o máo clerigo ,.
de quem teve filhos, Margarida- de Mendonça, Izabel Furtado, e Gaspar
Furtadoi , .•
Mecia. Roiz Furtado, casou com Nuno Gonçalves,, da Graciosa, de-
quem teve um filho, por nome Matheus Nunes, casado com Izabel dé'
érnellas, qde sehíio muito terBpo de ouvidor na dita ilha, muitosvirtuo-
so, de quem tem' um filho, chamado. Xisto. de Ornellas, e uma filha por
noiiie Antdnia.de Ornellas, que casou. com Feliciano de Quadros, de quem
tem filhos. Teve mais Macia. Roiz, de seu. marido Nuno Gonçalves, uma.
filha por nome Mecia Nunes, que- casou. com. Vicente Annes Bicudo, es
crivão na vilia da. Ribeira. Grande, de quem teve um filho, Malhias Bit
cudo, e Francisco Bicudo, defunto, e Nuno. Bicudo, da casa de dom Dio
go de Sousa* que o deu a el-Rey por seu moço fidalgo : e filhas, Izabel'
Bicudo* casada com Podro Alvares Cabral, nobre fidalgo, de qum, tem
I

168

muitos filhos de pouca idade : e Jeronyma Nunes, que foi casada coo»
Pedro Affonso Caldeira, de quem tem um filho, Jorge Nunes ; e uma fi
lha, Izabel Caldeira, que casou com Francisco Taveira, cavalleiro fidalgo,
da casa d'el-Rey. Teve mais Vicente Annes outro filho, chamado Ma
noel Bicudo, que falleceu solteiro ; e outra filha chamada Guiomar Nu
nes, que falleceu de pouca idade. Teve mais IVfecia Nunes, de seu ma
rido Vicente Annes, uma filha, Beatriz da Conceição, que falleceu moça.

Casou Mecia Roiz, segunda vez, com Diogo Annes, n'esta ilha de.
Sam Miguel, onde veio a ser muito rico, depois de viuvo, da ilha da
Graciosa, de quem houve estes filhos — Pedro Annes Furtado, clerigo,
beneficiado na villa da Ribeira Grande ; Manoel Roiz Furtado, que ca
sou com Beatriz Marques, filha de Marcos Affonso, e de Ignez de Xaxes,
natural de Xaxes da fronteira, de quem houve filhos —Marcos e André*
que falleceram meninos ; e o licenciado Pedro Roiz Furtado, casado na
cidade de Angra com Gracia Vaz de Sousa, de quem não tem filhos ; &
Matheus Nunes, sacerdote, e cura na mesma villa, e Antonio Furtado,
casado com Beatriz do Canto, filha de Francisco Sodrè, e de Mecia de
Paiva, da governança da Ribeira Grande, de quem tem alguns filhos,
Matheus Furtado, religioso no mosteiro de Xabregas, onde falleceu no
tempo da peste ; e Manoel Roiz Furtado, clerigo de missa. Teve mais
a dita Meoia Roiz Furtado, de seu marido Diogo Annes, outro filho cha
mado Diogo Annes Furtado, licenciado em leis, que falleceu na cidade
d'Angra, da ilha Terceira.

Antam Martin9, filho de Christovão Martins, e de Izabel Moniz, ca


sou com Maria Jorge, filha de Joam Jorge, de Agua de Páo, de quem
houve filhos, André Roiz, e Christovão Martins, e filhas, Izabel Mo
niz, Catharida Moniz, e Margarida Moniz, todas beatas muito virtuosas,
que moram na Lagoa, junto das casas de Antonio Lopes de Faria : outro
filho de Christovão Martins, e de Izabel Moniz, filha de Gonçallo Mo
niz, e de Maria Fernandes Saaches, chamado Joam Martins, casou com
Elvira Marques, viuva, filha de Marcos Affonso, de quem houve um fi
lho, e duas filhas, Calharina Moniz, casada com Braz Martins, e Agueda
169

Moniz, casada com Alvaro Lopes da Cosia, filho de Joam Lopes dor-,
deiro. • • •

Joam Moniz, filho de Gonçallo Moniz, e de Maria Fernandes, viveu


setenta e tres annos sem ser demandado, nem demandar a outrem ;
• foi lavrador de duzentos e cincoenta moios de trigo cada anno; o debu
lhava com cebre de «guas ferradas, com os feixes levantados, cada tres
dias um calcadouro ; sameava andando em cima d' uma egua, trazendo
um homem que lhe fazia as belgas ; e recolhia tambem cada anno cin
coenta moios de cevada ; negociando tudo com seus escravos de casa e
outros criados ; homem de bem ; a cada um dos qaaes dava quatro e
cinco moios de trigo, de soldada, e todos vieram a ser honrados e abas
tados : era grande domador de cavallos, e tinha tio boa mão, que vindo
um dia um cão apoz as suas ovelhas, sabendo-o elle, sendo já de ses
senta annos, sahio sobre um ginete com um arremeção na mão, e cor
reu apoz o cão, saltando quatro ou cinco paredes, por uns biscoitos, até
o alcançar e maUr. E quando quiz tornar, por ser jâ muito velho, e n
cavallo inquieto, e alvoraçado, se desceu d'elle, trazendo-o pelas redeas;
« abrindo os portaes das paredes que tinha saltado.

Como bom cavalleiro sempre teve dous cavallos na estrevaria, a so.


havia algum desemfreado n'esta ilha, dando-lh'o a elle, logo o amansava;
corria em um cavallo metendo-o pela porta da casa, e pondo a mão na
verga da porta, tanta força tinha, que o fazia pôr as ancas no chão ;
não sabia ler nem escrever ; nunca foi citado nem demandado, como
tenho dito : era homem tão verdadeiro, que se afirma d'eMe, nunca di
zer mentira, e como elle fadava, ou dizia alguma cousa, o tinham por
verdade ; dizendo todos — verdade é, que Joam Moniz o dis..,e ; era tão
crú para os escravos, que tinha ruins, que indo um escravo seu buscar
uma mulher casada, levando de casa um temeroso cão, com que se de
fendeu do marido d'ella, e de outras pessoas que tinham em sua ajuda,
por ser tão valente e ferir alguns daquelles que o perseguiam, fazendo
este queixume a seu senhor Joam Moniz, o tomou e enfreou com o
freio do cavallo, cavalgando sobre elle com as esporas calçadas, ferin-
do-o pelas ilhargas, e dizendo, ha! besta, como besta te hei de tratar,
170.

pois- tuesíe.ubns de besta ; por que como era bom,* aborrecia muito a»
maldades, e nunca fallava á vontade a seus amigos, senão reprehenden-, .
do-os asperamente das tachas e faltas que sentia n'elles : para. um com .
quem ás ' ezes jogava o trumpho, de quem elle soube uma falta grave,
eocontrando-o em casa, tomou um páo, foi apoz elle, dizendo .— ainda, .
vós eutraes aqui qi^e fizestes cousa tão mal feita ? e assim o foi enxo- .
tando, e o outro fugindo d elie.

Uma filha d este Joam Moniz, que foi casada com Diogo Gonçalves,
escrivão dos coutos, estando em sua casa com seu sobrinho Christovão.
Moniz, ainda .moço pequeao, na cidade de Ponta Delgada, subia um ho
mem mancebo pela escada, bem tratado com sua espada e aziaga, por ,
uma informação falsa que lhe deram, e disse á dita Mecia Moniz que
tinjba em sua casa uma besta sua, para a levarem ao moinho ; e res
pondeu ella, com muita humildade, que fora mal informado : disse elle -
com soberba, que nas lojas a tinha escondida, e pois lha não queriam
dar, se havia ir queixar á justiça : ouvindo ella isto, tomou uma vara
de medir, grossa, e deu-lhe na cabeça, com ella, tal pancada, que que-
brou a varo pelo meio, e arremetendo logo aos cabides tomou ,Telles
uma partazana nas mãos, e poz-lh'a nos peitos, dizendo— se elle faltas
se alguma cousa, que ali o havia espetar, como frango; ora ide, e en-
sinar-vos-hão como haveis fallar em similhantes logares, e com siini-
Ihantes pessoas, que vos estou dizendo que não está esta besta em mi
nha casa, e vós não me quereis crer, e dizeis o contrario.

Alvaro Lepes de Vulcão, ou dos Remedios, por morar junto da er


mida de Nossa Seahora dos Remedios, veio a esta terra em tempo de
Joam Roiz, quarto capitão d' ella, trazendo da ilha da Madeira um navio
carregado de vinhos ; por ter muito dinheiro quando quiz vir, per
guntou em que o traria empregado, não sendo mercador ; respondeu-,
do-lhe que em vinhos, que. n esta terra sempre tiveram valia, o empre..
gou nelles ; chegando aqui pedio terras ao capitão Joam Roiz da Cama
ra, que lhe deu todo o Vulcão, e terras até ao mar ; que se descobrem
da casa de' Nossa Senhora, onde viveu solteiro, quatro ou cinco annos»
com muita prosperidade, e serviço de escravos e escravas : e depois car
"•' Sou cóm Mecia Affonso, filha de Francisco Annes da Praia, d* VTlla
' Franca, homem muito rico e honrado, e tão devot ,, que dizem delje
que todas af vezes que entrava nò seu granel fazia reverencia ao trigo,
dizendo aos que lhe perguntavam a rasão d'isso, que sem aquelle se não
podia celebrar. Teve filhos, Rodrigo Alvares, Joam Alvares, Julião Lo
pes, e Adam Lopes ; e filhas, Eva Lopes, Ignez Alvares, Barbara Lo
pes. Maria Alvares, e outras que ' fallecera m moças.

Rodrigo Alvares, casou com Maria de Medeiros, filha de Ruy Vaz


de Medeiros; teve filhos, Alvaro Lopes, dos Fehaes da Maia, Rodrigo
Alvares, e André de Medeiros. Joam Alvares, casou com Beatriz da Cos
ta ; teve filhos, Antonio da Costa, e Maria da Costa,, mulher de Antonio
Lopes de Faria. Joam Lopes, casou com Margarida Gil; houve filhos,
Braz Affonso, Manoel Lopps, Antonio Lopes, e Maria Alvares. Adam
Lopes, casou com Maria Moniz 1 teve os filhos que atraz tenho dito. Eva
;' Lopes, casou com Ferham Vieira. Fernam Vieira teve filho?, Manoel
' Vieira, Pedro Vieira; t Antonio Vieira ; e filhas, Luiza Vieira, casada
com Antonio Gonçalves', dos Passos';' Maria Vieira, casada com"' Joam Re-
' bello; Catharina Vieira^casada côfn Gonçallo Moniz. Ignez Alvares ca
sou com Joam Roiz; tem filhos,' Manoel Roiz, clerigo, vigario que foi
•dos Fenaes da Maia, e António* Roiz ; Catharina da Ponte, Maria' Alva
res, e Mecia Affonso.

. Barbara. Lopes casou com,. Amador da Costa d'Àrruda; tem filhos,


. Manoel, da Costa e Alvaro da Costa, qua Síndo ricos não quizeram casar;
. é Antonio da Costa, que se foi desta terra ; e filhas, Catharina deChris-
to, Beatriz da Conceição, e Francisca dos Anjos, muito boas religiosas,
no mosteiro de, Villa Franca ; e kabel Dias, que casou com Antonio
Borges, filho de Balthasar Rebello, e Guiomar Borges : como disse na
geração dos Arrudas. Alvaro Lopes, casou com Anpa Fernandes ; hou
ve filhos, Manoel de Medeiros, Antonio Moniz, Braz Furtado, Sebastião
de Medeiros, e Ruy Vaz de Medeiros; e filhas, Maria de Medeiros, que
foi casada com Pedro Barboza da Silva ; Izabel Moniz, casada com Anj
tonio de Faria, discreto e nobre fidalgo, sobrinho de Antonio Lopés de
E Fafia, morador ná villa da Lagoa, como já tenhd dito. Quando veie Fr.
172

Aflbnso de Tolledo, grande pregador, de Castella a esta ilha, conhecen


do Joam Moniz ser parente de Egas Moniz, lhe disse que mandasse bus
car o seu brasão ; mas elle não curou d'isso por sua humildade.
/

CAPITULO UMDECIMO PRIMEIRO.

DOS CAnKEiHOS, FIDALGOS QVE VIERAM A ESTA ILHA, NO TEMPO DO CAPITÃO


Joam Roiz da Camara.

No tempo de Joam Roiz da Camara* quarto capitão d esta ilha de


Sam Miguel, e unico d este nome, veio do Algarve, ou de Lisboa, um
Gonçallo Vaz Carreiro, filho d' um fidalgo dos Carreiros de Portugal, a
quem não soube o nome ; que no tempo das guerras de Castella guar
dava com muitos soldados, de que tinha cargo, uma porta de Lisboa, e
era tão ncceito do duque de Bragança, que o mesmo duque ia muitas ve
zes a sua. casa, e seu filho Gonçallo Vaz Carreiro, era tambem cavallei-
ro, a quem o duque mandava os poldros para- lh'os ensinar, e depois de
ensinados lh'os tornava ; e algumas vezes tomava seus filhos, em cada
perna um, e corria a cavallo com elles, para lhes tirar o medo, parando
o cavallo com os dentes. E sendo solteiro correu uma carreira onde cor
riam os cavallos, por entre el-Rey dom Joam, segundo do nome, estando
presentes muitos senhores de titulo, com tanta graça e desenvoltura,
que el-Rey poz os olhos n'elle, dizendo-lhe : gentij-homem, alevantai o
gibam ; por que levava o cabeção d'elle dobrado para baixo : e descaval-
gando elle muito presto, lhe foi beijar o pé, e tornou a cavalgar, sem
pôr o "pé no estrivo.

Sendo mancebo fogio a seu pay, em um navio, em que foi roubado


dos francezes ; e muito maltratado e ferido, o deitaram em Tavira do
Algarve, onde o agazalhou e curou em sua casa, o almoxarife d'aquella
473

teri a, n curado o casou com sua filha Beatriz Cabeceiras. Depois o man
dou a esta ilha por capitão d'uin navio: chamava-se n esta ilha este
Gonçallo Vaz Carreiro, Gonçallo Vaz Delgado ;' não por ser seu.appel-
lido, se: não por rasão de ser homem comprido e secco, e haver outros
d'este nome, como Gonçallo Vaz, o grande, que era. muito grOBSo, e'ôa-
tro Gonçalio Vaz Andrinho ; e o capitão Joam Roiz da Camara lhe mu
dou primeiro este nome de Carreiro a Delgado, por diferença dos ou
tros que aqui havia ; casou no Algarve, como tenho dito, com uma mo
ça tão formoza, que se fallou na sua formosura á meza de el-Rey dom
Joam ; e por casar contra vontade do pay, fidalgo e rico, se veio com
conselho do sogro a esta ilha, com um seu navio armado á sua custa :
e sendo o capitão Joam Roiz da Camara muito satisfeito d'elle, lhe ro
gou que quizesse viver aqui.

Pelo que foi buscar sua mulher, chamada ízabel Cabeceiras, filha de
Duarte Cabeceiras, homem prinçipai, dizem que natural de Lagos, e al
moxarife em Tavira ; e trouxe comsigo alguns homens honrados : um
dosquaes foi Joam do Penedo: e por ser muito aoceito do dito capitão
Joam Roiz, recebeu d'elle muitas dadas de (erra, e tantas que se afirma
rendiam cada um anno, n'este tempo d'agora, mais de dous mil moios
de trigo : e se o capitão lhe dava quanto elle pedia, tambem alie tor
nava logo a dar. quanto lhe pediam; por que era tão fidalgo e liberal,
que até a capa dava; e achando na cadeia algum preso por divida, o
fazia soltar pagando por elle. indo um dia para Villa Franca, encontrou
no caminho, um pobre, que lhe pedio pelo amor de Deos que trocassem
os vestidos, pois era poderoso para tornar a fazer outro : o que elle lo
go fez de boa vontade ; de modo que não Linha cousa propria ; e libe
ralmente dava tudo, assim por sua boa condição, como por não fazer
caso de viver n'esta ilha, se não de se tornar para seu natural : pelo
que sendo tão rico, e tão liberal, n'esta terra falleceu pobre a respeito
do muita que antes possuía. Um irmão o uma irmã que tinha em Lis
boa lhe mandaram pedir os filhos para os darem a el-Rey, e elle pela
muita abundancia cresta ilha os não mandou, fazendo pouco caso da pri-
vança e da corte. Tendo cã tanta valia com o capitão Joam Roiz, que

22
174

jnuitas vezes jantava e ceiava com elle ; e o capilOo Huy Gonçalves d»


Camara lhe queria tambem muito ; o qnai amor lhe fez esquecer o da
patria, d'onde lhe vinham muitos presentes de seus parentes, ricos íi-
.dalgos, e criados d'el-Rey, que lá tinha ; e hoje em dia ha em Lagos al
guns, como são os filhos de Gomes Carreiro, que foi em Lisboa mom -
posteiro-mór dos captivos.

Houve Gonçallo Vaz Carreiro, de sua mulher Izabel Cabeceiras,


sete filhos e tres filhas. O primeiro filho, Pedro Gonçalves, casou com
Catharina Jorge, filha de Pedro Jorge, de quem houve un}. $ó filho^cha-
mado Diogo Vaz Carreiro, discreto e bom cavaleiro, que, casou tom
Beatriz Roiz Camello, filha de Gracia Roiz Camello, de que.m.houvçum
filho que falleceu menino ; e por não ter herdeiros fez o mosteiro de
Santo André, da cidade de Ponta Delgada, para nelle se recolherem
suas parentas pobres, com grossa renda, que para isso applicou. Este
Pedro Gonçalves viveu cento e quatorze annos ; foi homem muito rico
e são, e nunca sentia trabalho que lhe viesse : não foi sangrado, nem
purgado, não entrou em batel, nem em marr nunca foi a Villa Franca,
que è cinco leguas da cidade de Ponta Delgada, onde morava, nem pas
sou dá villa da Ribeira Grande para a Maia, Achada, nenrFurnas, nem
sabia que cousa era author, nem réo: fez seus officios faneraes todos
antes de morrer, e esteve presente a elles, estando por espaço de tem
po na cama sem lhe doer nada, até que espirou; morreu com todos seus
dentes, menos um, e com perfeito juizo : e o que é mais para espan
tar, sendo de idade de cincoenta annos, mudou dous dentes, os quaes
lhe tiraram, e nasceram-Ihe logo outros, e depoisMinha menos um dente :
e dizia que náo lhe lembrava quando lho cahira, e sendo tão velho roia
um osso como um mancebo ; e tambem mudou os cabellos dos braços
de pretos em brancos, e depois lhe cahiram os brancos, e nasceram ou
tros pretos, e lhe duraram assim até ao fim da sua vida ; sendo sem
pre muito são e descançado do espirito, grosso tía velhice, e muito del
gado e ligeiro sendo mancebo, e desenvolto monteiro, e grande fraguei-
ro, de que se prosavam os homens quando esta tsrra era coberta de
matto, pelo que tambem lhe chamavam Delgado.
175

, O 'segundo filho ile Gonçallo Vaz Carreiro, chamado Gonçallo Vaz,


como seu pay, tambem foi casado com Catharias de Almeida, filha de
Pedro Teixeira, meio irmão de Simão Lopes d'Almeida ; viveu outro
tanto como seu irmão, ainda que falleceu quasi dous annos depois d'elle
O terceiro, Duarte Vaz, casado com uma irmã de Vasco de Medeiros e
Raphael de Medeiros. O quarto Bartholomeu Vaz, pay de Lourenço Vaz,
casado com Margarida Furtado, filha de Gaspar Roiz Ribeiro, da cidade
de Ponta Delgada. O quinto, Diogo Vaz da Fajã, casado com uma irmã
do padre Diogo Fernandes, capelião da capitoa dona Phihppa. O sexto,
Henrique Vaz. O setimo, Joam Cabeceiras, que falleceu de sessenta an
nos, menos idade q' todos os seus irmãos; e tiveram filhos e filhas, que
falleceram.

A primeira das tres filhas de Gonçallo Vaz Carreiro, chamada Maria


Vai, casou com Alvaro Martins, amo do capitão Manoel da Camara por
sua mulher o ciear a seu peito ; d'ella houve Ires filhas e um filho ; áf
primeira e á segunda chamavam Izabel Cabeceiras, e Beatriz Alvares ;
á terceira não soube o nome, mais que ser chamada a Colassa, que foi
muito formoza, e falleceu sem casar : o filho, chamado Miguel Martins,
por um desgosto que teve do capitão Ruy Gonçalves, pay de Manoel da
Camara, o quizera uma noite matar, estando fallando com seu pay Al
varo Martins, e entrando em casa para isso, seu pay apagou as candeas,
e ficaram às escuras, pelo que se tornou sem fazer o que queria , e se
embarcou para as Canarias, e lá falleceu. A segunda filha de Gonçallo
Vaz, Beatriz Cabeceiras, casou com Domingos Affonso Pimentel, da fre-
guezia de Sam Roque, que foi almoxarife nesta ilha, e d'ella houve cin-"
co filhos e seis filhas. O primeiro, Gonçallo Vaz. O segundo, Nuno Gon- .
çalves. pay do licenciado Sebastião Pimentel. O terceiro, Manoel Vaz,
que falleceu ern Cabo Verde. O quarto, Antonio Affonso. O quinto, Lu
cas de Rezende, todos casados e honrados. A primeira filha de Domin
gos Affonso, chamada izabel Cabeceiras, casou com Manoel Dias, filho
de Pedro Dias Caridade. A seguuda, Jordoa de Rezende, casou com o
licenciado Bartholomeu de Frias. A terceira, Maria Gonçalves, casou
com Balthasar de Beiancor. A quarta, Simoa de Rezende, casou com o
I

176'

licenciado Luiz Leite. A quinta, Marque»» Gonçalves, foi casada com


Luiz Rehello. ," '• •

A terceira filha de Gonçallo Vaz, Izabel Cabeceiras, casou com Bar-


Iholomeu Roiz da Serra, dito assim por n'ella fazer sen ássento, vindo'
de Vizeu a esta terra, que viveu muito rico ; de quem houve alguns fi
lhos. O primeiro, Francisco da Mara, que casou com Brabazia Jacome,
(ilha de Jorge Gonçalves, o cavalleiro, de quem houve filTios e filhas.
O segundo, Joam Roiz Carreiro, casou com Joanna Ferreira, filha de
Antonio de Braga, e de Francisca Fernandes, de quem tem filhos e filhas:
e outro filho que falleceu : teve tambem oito filhas. A primeira, Maria
Cabeceiras, casou com Balthasar Roiz, de Santa Clara, cavalleiro do ha
bito de Santiago, homem de grande força e valentia. A segunda, Joanna
Gonçalves, casou com Jorge Gonçalves, cavalleiro tambem do mesmo
habito, e feitor de dom Juliannes da Costa, n'esta ilha. A terceira, Ma
ria Roiz, casou com Manoel Vaz, da Ribeirinha, homem honrado e rico,
que por eabir em pobreza com fianças, se foi para o Brasil, com cinco
filhos e tres filhas, e dizem que faljeceram todos antes que lá chegassem.
A quarta, Antonia Roiz, casou com Affonso de Mattos, filho de Fer
nando do Quental, tão bom judicial, que dizem nunca sentença sua se
revogou no desembargo. A quinta, Simoa Roiz, casou com Gonçallo Pi
res, meirinho da serra. A sexta, Francisca Roiz, casou com Alvaro Lou
renço, da Maia. A setima, Maria Cabeceiras, casou com Fernando do
Quental, o moço, neto de Fernando do Quental, o velho, e filho de Ma
noel de Mattos, e de Izabel Nunes, mulher que foi depois de Balthasar
do Amaral, e casou a dita Maria Cabeceiras segunda vez com Ruy de
Sá. A oitava, Martha Roiz, ainda que lhe sahiram muitos e honrados
casamentos, nunca quiz casar, vivenda sempre com muito recolhimento,
e virtude. Esta Izabel Cabeceiras, mulher de Bartholomeu Roiz da Ser
ra, falleceu de cenrannos.

Gonçallo Vaz Carreiro, e seus descendentes, são da geração dos Car


reiros. Progenie do reynu de Portugal, fidalgos de cota do armas, e
1em seu brasão. O escudo com o campo de vermelho e uma banda azul.
'e n'ella um leão douro entre dous pinheiros verdes, com as raizes de
,T77

: prata na banda ; erlmo de prata aberto, guarnecido de ouro ; paquiféde


ouro e de vermelho ; e por timbre um meio leão de ouro. A rasão, di
zem ser, por que o pay ou avô do dito Gonçallo Vaz indo por uma es
trada, com seu cavado e armas, -lhe anoiteceu em uma serra, entre uns
^pinheiros ; sobre um dos.quaes se acolheu vendo um leão perto, ao qual
, de cima matou ás lançadas, vindo-o acommetter, depois de lhe matar o
, cavallo: pelo que.el-Rey lhe fpz-mercê das ditas armas.

•i

CAPITULO VIGÉSIMO SEGUNDO.

ADos Recos quk vieram da cidade do Ponto a esta ilha de Sam Miguel,
EM TEMPO DO CAPITÃO JoAM RoiZ DA CaMABA, E DOS 1 REDOVALHOS COM
OS QUAES SE I.EARAM.

Os Regos são nobres fid*lg03: tiveram sua morada e principio na


cidade do Porto, e seu termo, onde pouco tempo ha que falleceu uma
Izabel do Rego, na terra da Feira, em um logar seu, que chamam An-
tai, já muito velha, e muito mais honrada : dous filhos seus anda vão na
índia no serviço de el-Rey; e duas filhas tinha em casa, uma cham ada
Lucrecia da Cunha, e outra Izabel da Cunha, cujo marido tambem an
dava na índia; e o pay d'e!>ta 4zabel do Rego, senhora de A fitai, foi
Diogo Fernandes Homem, irmão de Nuno Roiz Homem, que era avô de
dom Rodrigo, da Covilhã, filhos de Fernando Homem, casado "com
uma filha do mestre e dom Vasco de Sequeira, a quem chamavam dona
Sancha de Sequeira: houve tambem outra fidalga, Leonor do Rego, neta
de Joam do Rego, casada, de cujo marido não soube o nome, mas é cer
to que os Regos são fidalgos de muito grande nome ; e o conde da Fei
ra foi uma das testemunhas na justificação da sua nobreza.

Gonçallo do Rego, filho dc Joam Vaz do. Rego, do tronco d'esta ge


m

ração Jus Regos, natural e cidadão da cidade do Porta, fidalgo da casa


,lê el-Rey dom Fernando, foi casado na mesma cidade do Porto com uma
mulher fidalga, chama.ta Maria Baldaia, da qual' houve quatro filhos, e
duas lilhas : deixando as filhas no reyno, e depois de viuvo, se veio com
seus filhos, todos cavalleiros, ricos e abastados, a esta ilha, em tempo
que era capitão d elia Joam Roiz da Camara, onde casou, segunda vez,
com Izabel Pires, viuva, mulher que fora primeiro de Sebastião Gon
çalves, filho de Gonçallo Vaz, o grande. Eu primeiro filho do dito Gon-
çallo do Rego, chamado Gaspar do Rego Raldaia, casou primeira vez com .
Margarida Pires, filha do dito Sebastião Gonçalves, já defunto, e de Iza-
bel Pires, sua madrasta ; da qual houve um filho, chamado Joam do Re
go Beliago, que falleceu solteiro na corte, servindo a el-Rey, sem ter
mais que um filho natural, por nome Gaspar do Rego, que casou com
uma filha de Manoel Nunes Botelho, neta de Diogo Nunes Botelho, do
logar de Rosto de Cão, que foi contador n'estas ilhas.

Leonor Baldaia, uma das duas filhas de Gaspar do Rego, e de Mar


garida Pires, foi casada com Amador de Alpoim, do qual se livrou por
ser antes casada, a furto, com Joam Roiz Tavares, filho de Ruy Tavares,
da Ribeira Grande, que falleceu na índia, no serviço de el-Rey: e outra,
Maria Baldaia, casou com um capitão, chamado Antonio de Olaia, que*
veio a esta ilha do Peru, muito rico. e tornando-se para lá a levou com-'
sigo, onde falleceu ; deixando uma filha, Jeronyma de Olaia, que casou-
com dom Fernando de Monsão, que dizem ser a capitania de seu sogro,,
e rende-lhe sua fazenda, cada anno, doze, ou treze mil pezos de ouro.
Casou Gaspar do Rego, filho de Gonçallo do Rego, segunda vez, nesta-
ilha de Sam Miguel, com dona Margarida de Sá, filha de Joam de Be-
lancor, e de sua mulher Guiomar Gonçalves, da qual houve só um filho,
chamado Francisco do Rego de Sá, o grande capitão, que casou <;om do
na Roqueza, filha de Jorge Nunes Botelho, e de Margarida Travassos»
da qual não tem filhos ; tem este appellido de grande capitão, pelo que
agora direi.
Em tempo de el-Rey dom Sebastião,' por seu mandado armou o
mesmo Francisco do Rego de Sá, para guardar estas ilhas, dos corsarios,
â sua custa-, tres navios, a saber — uma náo vianeza, "uma caraVefia, 6
" uma mexeriqueira, com a qual armada tomou uma náo iugleza, que an
dou com elle ás bombardas ; e depois de andar com a dita armada se
* recolheu, já meado de junho, por ser chegada a armada de sua alteza
-para guarda das armadas : e assim mandou a armada que do reyno veio
• entre as ilhas de baixo, perto d'um mez, no qual ajuntou a maior parte

'das armadas, e quatro náos da índia, com asquaes se partio para o rey
no; e por não faltar mais que uma náo da índia, deixou o capitão-mór
' dom Pedro de Almeida para guarda delia ; e dos mais navios que vies-
' sem de Sam Thome,' Brasil, e Cabo Verde, dòus galeões — Sam Lou
renço e Santo Antonio —*• e duas zabras — a Pompeia e Santa Barba-
- ra. E por que o cargo de capitão-mór ficava a Christovão Juzarte, fi-
"- dalgo natural da índia e México, se mostraram aggravados os outros ca-
piães, não lhe querendo obedecer , eo capitão do galeão'Santo Antonio
se foi logo nas costas da armada para o reyno, ficando os outros tres
navios ; entre os capitães dos quaes sempre houve muito desgosto, e as
sim hão acompanhavam os navios : que foi causa, que vmdo o dito anno
a esta ilha um navio armado, de corsarios, de França, que saqueou e
roubou a ilha de Santa Maria.' por ser navio tão grande, que no porto
parecia de quatrocentas tonelladas, muito alto, e todo cercado de varan-
; ;das, quanto dizia a alcaseva: por que defronte do mastro grande para a
' •proa, todo em redondo, tinha varanda ; o qmt encontrando-se com o
galeão Sam Lourenço, o tomou, por andar só, e mal apercebido.

Estando o gateão tomado, vieram ter a esta ilha os vranezes, qtie no


--mesmo anno fizeram em Vianna tres navios de armada, dos quaes não
vieram aqui mais que a capitania e uma zabra „• por que a sota capita-
. nia ficara na ilha da Madeira ; e por que Francisco do Rego de Sá se
qneria ir para o reyno, a requerer alguns negocios na corte, fazendo
aqui na terra grande agasalhado, e recebimento ao capitão-mór dos via-
nezes, que se chamava Alvaro Roque de Tavora, determinou ir-se em
companhia da náo que tinha tomado aos inglezes ; e indo juntos para a
Terceira em busca da armada que lá ficara, para que todos de compa
nhia se fossem para o reyno : acharam lá o galeão tomado ; e por nio
í80"

iuver vista da náo, nem do galeão, tomaram bem informação da terra,


e ajuntando-se com as duas zabras que estavío no porto, determinaram
de os ir buscar : e por que os vianezes iam de per si, como acmada que
eram pessoas particulares, determinaram os capitães que eram^dos tres
navios, a saber : as zabras e náo de Francisco do Rego de Sá, fazer ca-
pitão-mór, para que os outros acudissem a elle : para o que rogaram a
Francisco do Rego de Sá acceitasse; o que elle forçado acceitou ; e d'es-
ta maneira partiram todos os cinco navios da Terceira, na volta das ilhas
de baixo, onde- andaram quatro ou cinco dias; e no Fayal tomaram um
navio pequeno, francez, carregado de assucar ; e tornando na volta da
Terceira houveram vista da náo, e galeão tomado, os quaes andavam no
canal que está entre a ilha de Sam Jorge e a mesma Terceira, aos quaes
logo deferiram : e por que o inimigo trazia alguma gente no galeão; em
que ainda iam cincoenta ou sessenta portuguezes ; não tendo gente para
sustentar tantos navios, mandou passar os francezes do galeão para a
náo, em uma lancha que trazia, e mandou que a gente portugueza que
ficava n'elle fosse na sua esteira ; e a náo fosse logo na volta do mar,
com a proa no sul.

E por o navio de Francisco do Rego de Sá, que vinha mais ao mar,


lhe seguir logo o. alcance, com toda a deligencia possível, mettendo todo
o panno, e indo-se já chegando ao inimigo, elle alijava muitas pipas,
quartos, cajxas, e outras muitas cousas, para que com aquillo se deti
vesse Francisco do Rego ; mas elle rião fazendo caso de cousa alguma
mais que seguil-o, chegou a elle, e começou a atirar alguns .tiros de
bombarda, para vér se o podia deter, até chegarem os outros navios,
por o sen não ser para com elle poder abalroar, por ser muito peque
no ; e ainda assim o foi entrando tanto, que de parte a parte houve duas
ou tres surriadas de arcabuzaria, com que os seus correram muito ris
co, por estarem debaixo do contrario, e ficarem descubertos. E por que
até então o galeãoi francez não tinha tirado a artilheria, sabendo que
com alguns tiros de Francisco do Rego lhe .tinha feito algum damno :
vendo o,navio atravessado lhe atirou com um tiro de popa, de quatro
que trazia em duas fieiras, com o qual dando-lhe no lume de agua ihe
r81

fez um grande rombo, o que foi causa de não poder seguir mais o al
cance, pela moila agiw que fazia ; n'este tempo vendo os áo gateão Sam
Lourenço, como o ladrão ia fugindo, e não fazia caso d'elle, virando as
veltas se foram direitos, ap pprto.d^pgra, onde surgiram, e assim es
caparam.

Francisco do Rego,, vendo que por causa da bombarda, não podia


seguir o que determinava, arrebentando de colera e dor, mandou que
se tomasse a agua o melhor que ser pudesse, e não deixassem de se
guir o alcance, o que se poz por obra, mas todo aquelle dia o não pode
alcançar. Já n este tempo a zahça Pompeia, e a náo dos vianezes iam
chegando ; e vendo o que succedera a Francisco do Rego de Sá, lhe
apitaram para saber se houvera algum perigo; e tendo tomado a agua
como melhor e conforme o tempo puderam, por ser já sol posto, hou
veram conselho que em toda a noite o seguissem, por que era isto no
mez d'agosto, e em que toda a noite fazia luar, e que pela manhã so
achassem juntos ap ladrão, de maneira que o balroassem, a náo vianeza
d'uma banda, e a, zabra Pompeia da. outra ; na qual zabra ia por capitão
um criado de el-Rey, por nome Gaspar Pereira ; e que os outros, navios
se chegariam para favorecer se fosse necessario : indo com esta,deter-
minação, amanhecendo, 6c,ou a, zabra Pompeia tão longe do inimigo, e
tão pouco agil ao venjo, que não puJeram fazer o que determiparam :
o que vendo o capitãp,vianez eFrancjsco do Rego de Sá, se meteram ás
bombardas com o francez; o qua! não corava de mais que velejar e
alongar-se d'elles; assim lhe foram todo o dia no alcance, sem a zabra
chegar a elles senão de noite: e por que o navio de Francisco, do Rego
fazia ainda muita agua, e o ladrão se lhe perdeu de vista n'aquella noi
te, estando ao travez de Sam Miguel, determinaram ir a terra para con
certar o rombo do navio, o que assim foi feito. Estando aqui em Sam
Miguel, chegou a náo Sam Lourenço, da índia, na qual vinha por capi
tão dom Luiz d'Almeida, irmão do arcebispo de Lisboa, com muita falta
de gente ; e a que trazia tãq doente, que só trinta homens vinham sãos:
e por que o provedor Joam da Silva foi d'isto avisado, mandou a uma
caravella de Sauaga, e outra de Cabo Verde, que estavam no porto, quef

!3
182

acompanhassem a náo até vir a armada, que cada hora esperavam ; a


qual tambem mandou prover de alguma gente de terra.

Andando assim a náo viram de terra o francez, que na noite que


desappareceu da armada, tornou na volta da Terceira, buscar o galeão ;
de que logo foi avisado o provedor Joam da Silva, o qual indo*se ao
porto com toda a preça. mandou levantar todos os navios, que estavam
surtos, e de terra mandou embarcar muita gente, que em barcas soc-
corressem a náo da índia, o que não pode ser com tanta brevidade, que
o ladrão primeiro não chegasse junto da náo ; mas como o capitão que
n'ella vinha era muito esforçado, e ella muito grande, não ousou acom.,
mettel-a. Logo qup 9 corsario foi visto, despachou o provedor um barco
ligeiro para esta ilha de Sam Miguel, crendo que os navios da armada
estariam cá, com uma carta ao capitão Francisco do Rego de Sà, em que
lhe contava a necessidade em que ficava posta a náo da índia, requeren-
do-lheda parte de sua alteza, que com a, brevidade possível acudisse,
pois tanto importava ao seu serviço. O ladrão ainda que não acommet-
teu a náo, andou todo aquelle dia sempre em, bordos ao redor d'ella,
tão perto, que bem pudera bombardeal-a ; e n este espaço se proveu a
náo de gente, de modo que o não temia ; o qual na noite seguinte de
sappareceu d'ali,sem mais o verem : ainda que depois, por dez, ou doze
dias, andaram ali a náo e os navios da armada, que logo como viram o
recado, estando já o navio de Francisco, do Rego concertado, se foram
acompanhar a náo da índia; indo tambem o capitão Alvaro Roiz de. Ta
vora com os seus navios.
Para a náo se prover, e por o tempo ser contrario se detiveram os
dias que digo, nos quaes o capitão-mór Francisco do Rego de Sá, visi
tou ao capjtãp da 049,, e dando-lhe conta de tudo o que lhe tinha succe-
dido acerca do galeão S. Lourenço, e das brigas que entre os capitães
houvera, e da sua tomada ; pelo que determinava leval-os presos ao rey-
no, para que sua al{teza, conforme era devido, os castigasse. O capitão
dom Luiz d' Almeida lhe disse que n'isso fazia o que devia ao serviço de
el-Rey ; que lhe parecia bem não o dilatar, porque não fizessem ©lies
outra cousa: o que elle vindo da náo. poz Logo por obra. vindo pelas
183

cabras com algumas pessoas de conbauça que trazia no sju barco, en


trou n'ellas, chamando aos otliciaes, convem a saber: mestres, pilotos, e
escrivães, lhes disse o que determinava ; e pondo logo na zabra Santa
Barbara por capitão a Bartholomeu Nogueira, que em sua companhia ia
tambem para o reyno, lhe entregou o capitão Diogo da Silveira, fazendo
de sua prisão, e entrega dos papeis necessarios ; e mandando aos ofíi-
ciaes, que sob pena de serem tredos á coroa, obedecessem ao capitão
que lhes dava, o que elles prometteram e acceitaram. O mesmo fez em
a Pompeia, pondo por capitão a um criado de el-Rey, que D ella vinha,
cujo nome não soube, entregando-lhe tambem o capitão da maneira do
outro : e depois de tudo isto feito, proveu de terra ao galeão Sam Lou
renço de mantimentos, indo n'elle por capitão um Fuão de Tavora, mo
rador na Terceira : se foram via do reyno, com tempo sempre contrario,
o que foi causa d» ser a viagem muito enfadonha e comprida.
Indo pois em meia travessa, havendo seis dias que eram partidos da
Terceira ; houveram vista d oma vella grande, a qual vinha na mesma
esteira, que elles levavam : e depois de sérem recebidos com muita fes
ta de artilheria e arcabuzaria, se salvaram" uns aos outros, que todos
eram conhecidos ; que era o galeão Sam 'Francisco, cujo capitão era "Mi
guel de Menezes, o qual vinha para recolher as armadas como capitão-
mór, por ser já lá chegado o gafeão Santo Antonio: e por que eille vi
nha falto de mantimentos, por haver já alguns mezes que se apartará da
armada da costa ; da qual fora capitão-mór dom Francisco de Menezes,
e por esse respeito quiz chegar ás ilhas, pai a se prover, e recolher al
guns navios, que ainda faltavam. O capitão Francisco do Kego de Sá
mandou botar barca fóra, e se foi ver com elle onde lhe requereu cia
parte de sua altera não desacompanhasse a náo da índia ; pois tudo o
que aquelle anno ficava por recolher das armadas não era alguma cou
sa, em respeito de aquella, dando-ihe tambem conta do que tinha feito
com os capitães das zabras; entregando-lhe todos os papéis, como a ca-
pitão-mór de ioda a armada ; e que quanto era a vir mal por via de
mantimentos, elle lhe faria serviço de o prover dos que levava, que por
ir de sua casa ia muito provido; e tambem da náo da índia se poderia
prover de alguns fardos de arroz para a gente
184

O que ao capitão dom Miguel de Menezes pareceu bem ; e ácercí»


da prisão que fizera o louvou muito, não querendo mudar nada de que
elle tinha feito; e os mantimentos que lhe offerecia lhe agradeceu por
extremo ; e logo lhe mandou uma caixa grande nova, como as costu
mam fazer n'esta ilha, cheia de biscoito branco, muito formozo, e muito
diferente e avantajado do que se costuma nas taes armadas: mais lhe man
dou um cofre de cousas doc«s,e algumas gallinhas e queijos de Flandes e
Alemtejo, de que ia bem provido, como sempre trouxe a sua armada ; e
desta maneira fizeram sua viagem, que pelos ventos lhe foi contrastada ;
e por a não da índia ser muito ruim de vella, descahia tanto com o vento,
que era muito escasso, que cada dia amanhecia quatro ate cinco leguas atra
vez da armada, o que foi causa de porem mais de vinte dias d'ali a ter
ra: a qual do navio de Francisco do Rego de Sá fo; vista, por levar avanço
d'um dia, e logo mandou atirar um tiro, ao q' os outros navios em signal
de festa tambem atiraram ; mas como o dia foi crescendo, vieram alguns
nevoeiros, com que se não vio a terra, e o vento era sul ; já u'este
tempo os navios todos iam faltos de mantimento, e por conselho do ca-
pitão-mór, não pretendiam mais que cada um buscara terra, e qual
quer porto que tomassem ; e por qoe iam discorrendo o cabo de Sam
Vicente pela costa do Algarve, e o vento ia crescendo não ousaram com-
melter a terra, e assim andaram ali dous dias, nos quaes indo sempre o
vento em crescimento, estando atravez das Areas Gordas, havendo muita
chuva e nevoeiros grandes, não havia senã.> dar atravez ; e os pilotos por
ser o logar tão rigoroso, indo com o prumo na mão sondando, mandan
do sempre ler ao mar, não podiam tanto com a braveza do vento, que
não mostrassem a desconfiança que tinham de se poderem salvar, por
que muitas vezes davam em dez, doze braças ; e estando o tempo tao
escuro, que não viam a terra: era tanto o clamor da gente chamando
por Nosso Senhor, e pela Virgem sua Mãe, que só esse era o remedio
que lhe ficava, e lhe valeu .; e assim acabados os dous dias da tormenta,
se acharam sobre as portas de Cadis, na qual bahia entraram, onde se
proveram de"btantimentos do Porto de Santa Maria, d'nm feitor de sita
alteza, que ahi residia.
'185

' tTotíde depois dé estarem ali vinte e dous dias esperando por tém-
^po, tendo bom partiram para Lisboa ; mas durou-lhe pouco a bonança ;
ípor tjue indo atravez do Algarve, se lhe mudou o tempo-, sem poderem
lazer "Viagem . e por que já nos dias da' tormenta a não da índia que fi
cara atraz, e a náo dos vianezes, não foi mais vista da armada, confor
me ao tempo criam que estaria já em 'Lisboa.' Por Francisco do'Règode
•Sá ir enfadado do mar, determinaram entrarem Villa 'Nova de Portimão,
e deixando ahi a náo, se toi porterra .com algumas pessoas d'ella, que
de sua obrigação e companhia levava- ; pelo que tomou as cavalgaduras
necessarias até Alcacer do Sal, e d'ali;se foi pelo rio a Setubal, onde
achou os navios da armada, a saber — S. "Francisco e as zabras ; e per
guntando pelos capitães, soube como em chegando os navios, viera ter
ali um carregador de Lisboa, o qual levara presos aos dous capitães das
zabras ; e isto se fez com tanta brevidade, por que como a náo da índia
e a dos. vianezes chegassem primeiro a 'Lisboa, contou o capitão Álvaro
-Roiz de Tavora a el-Rey, o que Francisco do Rego de Sá, por seu ser
viço fizera ; o que el-Rey lhe agradeceu muito, e lh'o acceitou em gran
de serviça; o que bem mostra, por que indo depois o mesmo Francis
co do Rego de Sá visital-o, Ibe disse : sejais muito bem vindo, Francisco
-do Rego, sois «grão capitão , : pelo qual appellido èlle lhe beijou a
Mnão, e depois em todas as provisões de èl-Reyllre punham o mesmo; e
os capitães das zabras, depois do estarem presos por alguns dias, publi-
camente foram condemnados, a saber : Diogo da Silveira com dez annos
' de1 degredo para a ilha do Principe, trazido primeiro com uma, rocha e
• pregão; e Gaspar 1'ereira, capitão da Pompeia, foi degolado no pelouri
nho da Ribeira de Lisboa. Esta é a causa da origem d"este appellido do
grão capitão Francisco do Rego de Sá, por lhe chamar assim el-Rey dom
Sebastião, pelos serviços que naquclle tempo lhe fizera.

O segundo filho de Gonçallo do Rego, e de Maria Baldaia, chamado


Melchior Daldaia, de grandes partes, como ao diante direi, casou n'esta
ilha comlzabel Alvares, filha de Joam Alvares do Olho, de quem houve
um filho. Joam Baldaia, e duas filhas, Izabel Baldaia, que casou com Bal-
Ihaí-ar Rapozo, fillio de Jn3m Gonçalves Rapozo, e Maria Baldaia, que
m

casou com Gaspar de Viveiros, filho de Jeronymo, que tem agora o mor
gado de seu pay. Segunda vez casou Melchior Baldaia, com Izabel Rapo-
zq, de quem tem dous filhos, Gaspar Baldaia, e Manoel do Rego. O ter
ceiro foi Jorge do Kego, que morreu solteiro. O quarto filho de Gonçal-
lo do Kego, e de Marin Baldaia. chamado Gonçallo do Rego, letrado em
le,s, casou n'esu ilha com dona Beatriz, filha de Gaspar Camello, e de
Beatriz Jorge, de.quem houve um filho, Gaspar Camello. e uma filha
dopa Maina. .Houve tambem Gonçaliodo Rego, o velho, de Izabel Pires,
sua segunda mulher, nesta ilha, dous filhos, grandes cavalleiros, e uma
filha. O pfimeiro filho, Manoel dn Rego, casou com Maria Jeronyma, fi
lha de Jeronymo Jorge, e Beatriz de Viveiros, de quem, fóra seis filhas,
houve dois filhos — Gonçallo do do Rego, e Braz do Rego.

Gonçallo do Rego casou a primeira vez com Briolanja Manoel : a se


gunda vez casou comlz&belde Faria. Braz do Rego casou com Jeronyma
de Sousa, filha de Nuno de Sousa, da Ribeira Grande. O segundo filho de
Gonçallo do Rego, chamado Aires Pires, casou primeira vez com Bea
triz de Sousa, filha de Balthasar Vaz de Sousa, e de Leonor Manoel, <ía
Bibeira Grande, de quem houve quatro filhos e uma filha. O primeiro,
Manoel do Rego, falleceu na índia no serviço de el-Rey, peleijando. O se
gundo, Gaspar do Rego de Sousa, homem discreto e de grandes espiri
tos, muito valente de sua pessoa, e tão destro nas armas, que estando
nomez de julho de mil quinhentos e setenta e quatro, em Lisboa ; en
trando um dia na escola de esgrima do mestre' Joam de Bovadilha, um
alemão muito alto do corpo, e gentil-homem, desafiando toda a escola
de espada e adaga, e ferindo a tres ou quatro que lhe saturam a esgri
mir com elle, de modo que ficou o mestre afrontado ; dando conta d is
so ao dito Gaspar do Rego de Sousa, dizendo-lhe que o alemão havia
jornar á escola o domingo seguinte. Por desafrontar o mestre o esperou
naquelle dia Gaspar do Rego de Sousa na escola ; iodo a ella o alemão,
levando consigo seis ou sete, e um moço, que era uma lingua para o
verem jogar as armas. E entrando poz-se no campo á espada, e adaga,
á qual elle logo arremetteu ; e tomando Gaspar do Rego outra espada e
adaga, estando já avisado, que o elemão jogava muito rijo, e não guar
àava nenhuma cortesia rio jogo; começaram a batalha atirando-lhe 6
alemão nm altibaixa rijo, Gaspar do Rego se metteu debaixo, e ampa-
rando-se com a espada, lhe deíi uma adagada debaixo d'um braço; e
tornando em outro tempo lhe deu com a maçã da adaga outra detraz da
orelha, de que sahiu muito sangue ; depois outra na garganta, e por fim
outra acima da sobrancelha, fazendo outra grande ferida, de que sahio
muito sangue. O que vendo seus companheiros tomaram espadas bran
cas, e Gaspardo Rego tomou tambem a sua, já todos alvoraçados para
brigarem ; mas os qHe estavam na escola apartaram a briga ; maravilha
dos todos da desenvoltura do dito Gaspar do Rego de Sousa : o qual ca
sou n 'esta ilha com Catharina Ferreira, de quem houve uma filha cha
mada Beatriz de Santiago, freira profèssa no mosteiro de Jesus, da villa
da Ribeira Grande.

Casou Aires t*ires do Rego, segundá vez, com Maria de Medeiros, filha
de Manoel Rapozo, e de Margarida Luiz.de quem não houve filhos. A filha
de GonçàHlo do Rego e de sua mulher Izabel Pires, chamada Anna do
Rego, de grande virtude e nobreza, casou com Manoel Pires de Almada,
cavalleiro fidalgo da casa de el-Rey, o foi tomado por el-Rey dom Joam,
terceiro do nome, do qUal teve desaseta filhos entre machos e fêmeas,
quatro são mortos, e nove vivos, dos quaès dous estudaram theologia, e
dons lels, e um canones; e da camara de el-Rey s5o todos moços, e
bons letrados, prudentes e 'discretos, virtuosos, imitando bem a virtude
de seu pay e nrôe. O primeiro filho, chamado Gonçallo do Rego, foi re
ligioso de grande doutrida, e muito aprovada virtude, bom pregador na
companhia de Jesus; muitos que o conheceram e sabem da sua vida e
exemplo, o tem por santo.
E deixando os mais filhos defuntos ; o segundo, Salthasar do Rego
Sanches, e outro fidajgo da casa de el-Rey, letrado em leis, foi juiz de
fóra em Mertola, onde deu boa conta de si em negocios de importancia,
que lhe aconteceram tendo o dito cargo em tempo da peste de Évora.;
foi corregedor de Alemquer ; agora é provedor da fazenda em todo o
reyno do Algarve, como ao diante direi. O terceiro, Manoel Sanches de
Almada, moço da camara, capellão de Sua Magestade, é grande letrado
e pregad, r, licenciad» em theologia, mestre em artes, e agora, vigario?
pregador da egreja de Sam Pedro, da cidade de Ponta Delgada. O quan
to, Gaspar do Rego Sanches* cavalleiro fidalgo da casa de el-Rey, e Jetra-
do em leis, juiz em.Monsam,d'onde com muita gente de pé.eda eavallo,.
foi o primeiro que de Portugal foi com o soccorro a Bayona, quando o
duque desembarcou n'ella, O quinto, Antonio do Rego de Almada, le
trado em canones, de muita virtude. Ú sexto, Jeronymo do Rego, ainda
de pouca idade, mas de grandes esperanças. As filnasi fóra as defuntas,
Anna do Rego, e .Maria de Almada, ainda solteira•; Izabel da Madre de
Deos, e Cecilia da Encarnação, freiras professas no mosteiro da Espe
rança, de Punta Delgada.

Learam-se os Regos com os Redovalhos da maneira seguinte : O avô


de Lourenço Aires Redovalho, era natural de França, nobre e rico ; o
qual vindo em uma náo sua ter a um porto de Portugal',- d'alt foi a Vian-
ii a muito mal disposto, onde desembarcando no Alemtejo, foi recebido
em casa d um homem dos principaes da villa ; e sepdo a doença prolon
gada, mandou ir a náo para França; e depois que convalesceu casoir
com uma filha do hospede, em conhecimento do agazalho recebido. Ot.
qual houve da sua mulher uma filha e um filho. A filha, chamada
Beatriz Pires, falleceu de noventa annos, sem casar, vivendo sempre
muito abastada, com muita virtude, e tanta authoridade, que punha em
paz n aquella villa a todos os que tinham duvidas, ou discordias. O filho
Aires Pires Redovalho, foi de Vianna com trato para Guiné; e tornan
do rico veio ter muito doente a esta ilha ''e Sam Miguel, onde pousou em
casa d'um criado de el-Rey, que aqui estava então por almoxarife, que
lhe fez muitas honras, e mimos, até se achar bem. O qual sendo casado
tinha em sua companhia uma moça muito dama, por nome Guiomar Roiz;
a qual foi engeitada á rainha dona Leonor, mulher que foi de el-Rey dom
Manoel, que ella mandou crear; e depois de creada a trouxe este almo
xarife para esta ilha por ser cousa sua ; e a casou com este Aires Pires
Redovalho, depois de convalescido da sua enfermidade. A qual acceiton
por mulher pelos benefícios recebidos. '
Viveu n'esta ilha muito rico e, abastado.; possuip a rua do Valverde
ijsa

até á de Molchior Roiz ; escrivão da camara do mar á serra ; « foi fil


mem de grandes espiritos, e bom judicial : teve de sua mulher nm - filho
e uma filha : o filho chamado Lourenço Aires Rodovalho, servio a el-Rey
na Africa, onde foi armado cavalleiro; e foi na vi||» da: P>ntí EMgad •
juiz dos orphãbs, e muitas vezes do judicial, e vereador ; cuja mulher
era do Algarve natural, chamada Ignez Corrêa, de quem houve dous fi
lhos e cinco filhas. O primeiro filho, Aires Pires, falleeeu sacerdote de
missa. O segundo, Gaspar Corrêa Rodovalho, que foi depois de seu pay
juiz dos orphãos na cidade de Ponta Delgada, e casou, a primeira vez*
com Bartholeza Fernandes, filha de Joam Lopes, dos Mosteiros, de quem
houve filhos e filhas ; a mais velha, Ignez C)rrêa, casou com Lopè An
nes Furtado, filho da Antonio Furtado, e um filho chamado Gaspar Cor
rêa, casou com uma filhado Melchior da Costa, alcaide domar n'esta ilha.

A primeira, filha Anna Lourenço, foi mulher de Ruy da Costa, da


Faji. cavalleiro do habito de Santiago, de quem houve estes filhos —
Lourènço Aires, bom cavalleiro, que casou com Branca Roiz, filha de
Joam Roiz Cernando,* morador em Rabo de Peixe; e éarão da Costa,
que casou com Beatriz Roiz, filha de Pedro Dias, da Fajã ; Ignez Cor
rêa, que casou com Bartholomeu Roiz de Sousa, filho de Bartholomeu
Roiz, do Pico da Pedra ; Bartholeza dos Anjos, freira professa no con
vento de Jesus, da vilta da Ribeira Grande ; Manoel da 'Costa,' que casou
com Catharina Moniz, filha de Adam Lopes, e de Maria Moniz ; Clara da
Costa, casada com Pedro Gonçalves, filho de Francisco Alvares, mora
dor nas Feteiras; e Gaspar Corrêa, que casou, primeira vez, com Ca
tharina Gracia; Catharina da Costa, e Antonio da Costa, ambos soltei
ros, fóra os fallecidos. A segunda filha de Guiomar Roiz, casou com Fer
nando Gonçalves Bulcam, de miem houve filhos e filhas. A terceira filha
de Lourenço Aires Redovalhu, Helena Lourenço, casou com Amador
Francisco, ca valleiro do habito de Santiago, filho de Francisco Dias Caia
do, e de Tereja Gonçalves, de quem tem filhos e filhas ; uma das quaes
chamada Maria Caiada, casou com Sebastião Vaz, filho de Joam Lopes,
dos Mosteiros.

A quarta filha de Izabel Corrêa, casou com Pedro Vaz de Alpoim,

H
190

filho de Estevão Roiz de Alpoim, de quem teve filhos e filhas. A quinta


filha de Lourenço Aires Redovalho, chamada Maria Redovalho, casou
primeira vez, com Bartholomeu Nunes, cavalleiro da Africa, e de sua
mulher Beatriz Coelho, de quem houve alguns filhos que falleceram ; a
segunda vez casou com Joam Alvares, de quem tem dous filhos, um dos
quaes casou com uma filha de Joam Lopes, e outro com a de Nuno de
Sousa. A filha, chamada Izàbel Pires, casou, primeiro com Sebastião
Gonçalves, filho de Gonçallo Vaz, o moço ; de quem houve uma filha,
por nome Margarida Pires, que casou depois com Gonçallo do Rego,
viuvo, pay do dito Gaspar do Rego, e de Manoel do Rego, Aires Pires,
e Anna do Rego, como atraz tenho dito. D'este modo ficaram leados em
parentesco os Regos, e Redovalhos : d'esta progenie de Vianna, proce
dem tambem os Barradas.

Casou depois Aires Pires Redovalho, pay de Lourenço Aires Redo


valho, com Margarida Mendes, filha de Ruy Pires, grande cavalleiro, e
de sua mulher Beatriz Coelho, a qual depois de viuva casou-a el-Rey
dom Alfonso com Joam Favella, quando veio do extremo de Castella. E
este Joam Favella vindo a esta ilha com sua mulher Beatriz Coelho,
trouxe comsigo a dita Margarida Mendes, sua enteada, que casou com o
dito Aires Pires Redovalho, sendo viuvo, de quem não houve filhos ; e
fallecendo deixou a ella a parte maior da sua fazenda, que possuía com
as casas da praça, e rua do Mestre Gaspar, e a nova de Santo André,
da cidade de Ponta Delgada. O casal e terra junto das casas de Manoel
Alvares, e muitos escravos e escravas : o que tudo a dita Margarida Men
des deixou em morgado a Amador da Costa da Arruda, que agora pos
suo seu filho mais velho Manoel da Costa, irmão de Alvaro da Costa,
como mais claramente tenho contado, quando tratei da progenie dos
Costas — Arrudas — Favellas— Mottas — e Portos. As armas do bra-
zão dos Regos são um escudo com o campo de verde, e uma banda de
prata, e n'ella tres vieiras de ouro prefiladas de azul. Elmo de prata
aberto, guarnecido de ouro, paquife de ouro e verde ; e por diferença
uma moleta de ouro; por timbre uma vieira de ouro entre dous pena
chos verdes.
191

CAPITULO VIGÉSIMO TERCEIRO.


i.f > '

DOS HERÓICOS FKITOS, E GRANDES SERVIÇOS, QUE FEZ Á COROA O GRANDE


capitAo FnANCisco do Rego de SA.

Por não dilatar isto para diante, continuarei logo, contando os he


roicos feitos, e grandes serviços que fez á corôa, o grande capitão Fran
cisco do Rego de Sá : o qual sendo mancebo foi servir a cl-Rey no ser
viço da ilha da Madeira, em companhia do capitãomór Sebastião de Sá ;
e por elle capitão-mór lhe requerer na dita ilha que cumpria ao serviço
de sua alteza, ir por capitão do galeão Sam Diniz, em que fora por ca
pitão dom Francisco d' Almeida, por se passar ao galeão Sam João, de
que fora por capitão Pantaleão de Sa, que ficou na dita ilha por sua al
teza o haver assim por seu serviço. Elle, Francisco do Rego, vendo
quanto importava ao serviço d'el-Rey ir no dito galeão, o acceitou ; e
por partir 3a dita ilha, que estava roubada e falta de mantimentos, lhe
custou tres vezes mais do que lhe custára se partira do reyno : logo se
fez prestes em dous dias com muitos soldados, e mantimentos, tudo á
sua custa, e foi por capitão do dito galeão ás ilhas Canarias, e Cabo Ver
de, até tornar ao reyno : no caminho lhe falleceu muita gente, com as
febres de Cabo Verde ; e viu-se muito mal tratado das ditas febres, sem
receber de sua alteza nenhum ordenado, nem mercê.

No anno de sessenta e nove, sua alteza houve por seu serviço, que
elle fosse em companhia do capitão maior Jorge de Lima, quando veio das
ilhas a buscar as náos da índia, por capitão da náo Nossa Senhora da
Gu*a ; para o qual elle se fez prestes de mantimentos e soldados, para
o ir servir. Estando para partir, o barão de Alvito, veador da fazenda,
lhe disse e escreveu uma carta que mandada sua alteza, ficasse para ir
correr a costa, por ter novas de corsarios; e passasse logo para o ga
leão Sam Paulo, que tinha já mantimentos ; ao qual se passou, por a
dita náo ir para a Malagueta. Na passagem gastou muito, por fazer duas
despezas ; e depois sua alteza lhe mandou outra provisão, para que fosse
correr a costa, por capitão do navio Misericordia, onde se tornou a pas
m

sar ; c por ueste tempo morrerem em Lisboa da peste Lizuarte Piié.$


de Andrade, provedor dos armazens, lhe mandou da parte de sua alte
za desistisse da dita viagem, por fugir a gente do dito mal, e morrer enj
nas nãos. C por elte estar ainda esperando, o que d eUe mandava sua
alteza, dom Martinho Pereira, veador da fazenda, lhe mandou da parte
de el-Rçv, que, se podia ir para d onde quizesse ; pois o tempo não da
va logar para o ir servir, e haver tres mezes que esia\a espei ando man
dado de sua alteza, em tempo de tanto perigo, e sustentar . os soldados
quetiuha para o servirem, tudo á sua custa; no que gaitou muito da
sua fazenda, e se foi pai a sua casa.

Estando elle n esta ilha de Sam Miguel, onde è morador, na força da


peste; por lhe parecer que. do reyno não podia vir armada ás ilhas, pe
la muita peste, que havia em Lisboa, e haver falta .de gente ; e sua al
teza estar longe para soccorrer estas necessidades : com o zelo que tinha
de o servii , vendo que era chegada uma não da índia, e uas ilhas não
andava armada, elle se foi offerecer á ilha Terceira, trinta leguas, onde
morava Joam da Silva do Canto, que servia de provedor das armadas
nas ditas ilhas, conr. um navio armado á sua custa de mantimentos e ar-
tilheria, com oitenta soldados, e marinheiros de sobrescellente ; e com
provimento para a dita náo se prover do que houvesse mister ; e o dito
provedor mandou logo apoz elle um recado que a seguisse, e acompa*
nhasse, dando-lhe regimento no que havia fazer na derrota , o que elle
Tez com brevidade e deligencia ; chegando á costa logo escreveu a sua
alteza, e a dom Martinho Pereira, da vinda da dita nào, e que visse o
que mais mandava d elle : e sua alteza escreveu que logo fosse em bus
ca de dom Francisco de Menezes, capitão maior, e o acompanhasse e fi
zesse o que elle mandasse : o que elle fez, e tudo á sua custa, sem re
ceber uada da fazenda de sua alteza ; e o encontrou, e com elle arribou
ã barra de Lisboa com tempos contrarios; e estando no rio com a ar
mada, veio nova ao dito capitão maior, que vinham duas nàos da índia
de arribada ; e elle capitão-mór, se metteu na caravella de Francisco do
Hego, e as foram buscar, as qnaes acharam quinze leguas ao mar, e as
levaiam ao Porto ; na .vigia que Francisco do Hego teve na guarda das
"^itas uáos, loiuou muito cravo e eanella, que d ellas se tituu escoiulidt);
<pje todo íoi entregue a Simão Cabral, em que deu á fazenda muito pro
veito.

Sua alttza lhe mandou por uma sua cai ta, q' tornasse ás ilhas com mais
,duas caravelas da armada; eq' fizesse o q' lhe mandasse o dito Joam da
-Silva do-Caulo ; e por íhe parecer ser maia serviço de sua alteza ir com
* sua gente embarcada com o dito capitão-mór, por lhe fátar gente, se
embarcou com elle com setenta- pessoas, sem nenhum soldado, nem man
timentos.^de sua alteza, tudo á«èua propria custa. E por que a dita ar
mada veio ter a esta ilha de Sam Miguel, o dito capitão maior lhe deu
'licençaque ficasse etn sua casa por vir' muito mal disposto; onde ficou:
e por neste tempo virem novas da ilha da Madeira ao dito capitão maior,
de como Jaques Sol ia, corsario de França, com sua armada tinha toma
do muitos navios sobre a dita Hha, -esporando a armada do governador
do Brasil, dòm Luiz, para com elle peieijar, e ter mais por novas de ou
tros corsarios da Arrochela andarem pelo mar roubando, e dizerem que
haviam vir ter com elle ; lhe escreveu uma carta, em que lhe pedia, que
•com a maior brevidade que pudesse, fizesse prestes um navio armado, e
a melhor, e mais gente que pudesse, por que cumpria assim muito ao
sei viço de sua alteza, pelas novas que tinha ; o que elle logo fez ; e em
tres dias com muita deiigencia se aviou, e foi para o dito capitão maior
,coin um navio de cento e viiite homens, com oitenta homens e muitos
.parentes seus, eo acompanhou até ao porto de Lisboa, levando a náo
capitania da índia; e tudo fez á sua custa, em que gastou muito do seu;
por que não somente .gastou nas ditas viagens, mas Uanbem. gastou mui
to na cidade de Lisboa com a gente que tinha, á qual dava de comer, e
todo o necessario para comsigo os ter : esperando assim alguns mezes
por mandado de el-Rey, coro um galeão, e um patacho seus, e.m que o
havia ir servir. i . ,.,.t, "• .
Sua alteza lhe mandou dizer que se não fosse de Lisboa, que seque-
' ria servir d'elle ; pelo^que lhe foi necessario mandar umanào sua ás
ilhas a buscar-lhe msàtimehtos, e provimento : estando carregada a dita
uáo, com o tempóíal ^ue succeden, fez-se em pedaços na costa ; e im
f94

portava a perda mais de tres mil crusados. Seu pay, Gaspar do Rego
Baldaia. vendo isto lhe lez logo prestes uma caravella, fornecendo-a de
mantimentos, artilheria e muitos soldados, e lh'a mandou ao reyno.para
com ella servir a el-Rey : e chegando a dita caravella a Nossa Senhora
da Guia. entrada da barra de Lisboa, encontrou um ladrão, com quem
peleijuii. e o ladrão a tomou, e lhe matou o capitão com vinte cinco
homens ; em a qual ia o provedor da fazenda Francisco de Moraes ; è
sua alteza, mandpu visitara Francisco do Rego por dom Martinho Pe
reira, peja dita perda. No anno de sessenta e um, o mandén el-Rey da
armada ás ilhas, em companhia de Joam de Mendonça, capitão maior
e Bernardino Ribeiro, dizendò-lhe por uma carta-, fizesse o dito serviço
com o seu galeão á sua custa ; eelle o fez e levou as náos da índia de
aquelle anno.

No dito anno tornou sua alteza a mandar que fosse com o dito ga
leão, á sua custa, com Bernardino Ribeiro Pacheco, a correr a costa do
reyno, o q| elle fez, e achando-se apartado da armada, com o tempo q'
lhe deu, tomou duas náos inglezas, que levou a Lisboa, e foram presos
no Limoeiro, e entregues a Simão Cabral, por mandado de el-Rey, que
lh'o agradeceu. O anno de setenta e quatro vindo Francisco Nobre por
capitão maior da armada, ter a esta Hha de Sam Miguel, á vista de terra
lhe requereu da parte de sua alteza fosse tomar umas tres náos de cor
sários, em que entrava a náo Principe; que estavam surtas d'ahi cinco
leguas, fazendo aguada; ao que respondeu que iria; mas com condição,
que havia Francisco do Rego fazer uma náo, e ir em sua companhia pe-
leijar com os ditos corsarios ; por que estava só um galeão muito pe
queno, e não tinha mais que uma caravela, e zabra em sua companhia;
vendo Francisco do RegodeSá.o que elle, capitão-mór, e a terra lhe
pedia, armou logo uma náo á sua custa, e gente, e acompanhou ao dito
capitão-mór, e todos juntos foram buscar aos corsarios, e peleijaram, e
lhe mataram muita gente.

No anno de setenta e cinco, estando elle, grande capitão, n'esta ilha


de Sam Miguel, veio ter aqui Vasco Lourenço Carracão, capitão duma
náo da índia, e pedio ao feitor da dita ilha ò provesse de mantimentos,
"aTti\hérià e gente ; por que não pudera tomar a cidade de Àqgra ; sen
do a armada de sua alteza ida para o feyno, da qual era capitão maior
Pedro Corrêa de Lacerda ': e por o feitor lhe não dar os homens^ arti-
Iheria, polvora e munições, que lhe pedia, elle, grande capitão, por en
tender 9er serviço de el-Rey, e vér o perigo em que a dità náo es
tava, por andar só, lhe deu muita gente feita a soldo, e parentes seus á
sua custa, com tatobem fazer uma caravella de armada, com que acom
panhou a dita náo da índia até ao reyno ; e deti á náo munições, artilhe-
ria, e polvora, e toda a gente necessaria ; sem o feitor da dita ilha a na
da d'isso acudir ; o que fez com muko gasto, e despeza, e risco de sua
pessoa. •

No anno de setenta e seis, estando elle n'esta ilha de Sam Miguel ;


el-Rey escreveu uma carta ao doutor Diogo Alvares Cardozo, corregedor
da correição d'estas ilhas, e outra carta a elle, grande capitão; e íh'a
mandou o corregedor a esta ilha de Sam Miguel, trinta leguas d'úma
ilha á outra ; em a qual lhe mandava se fosse logo a vêr com o dttd cèr-'
regedor, e fizesse tudo o que lhe mandasse de sua parte, e isto com to
do o segredo, e que não o soubesse pessoa alguma ; e de assim o elle
faier, Íh'o agradeceria muito, por cumprir muito a seu serviço : o que
vendo elle fretou logo uma caravella, dizendo que ia em romaria, se foi.
ver com o corregedor, a quem deu 3 carta d'el-Rey, e lhe ficou na mão,
por sua alteza assim o mandar. O corregedor lhe mostrou outra cartado
mesmo Rey, em que lhe mandava a lesse a elle, grande capitão ; e lhe
pedisse da sua parte lhe armasse dous navios para guarda da costa de .
todas as ilhas, assim dos navios que a ellas vem, como dos que d 'ellas
partem, e que todos os navios que achasse francezes, e inglezes, pare-
cendo-lhe de máo titulo os mettesse no fundo, e não désse vida a ne-.
nhum ; e das fazendas lhe fazia mercê, para elle e sua soldadesca : di
zendo mais, que d' esta fazenda não pagasse direitos nas alfandegas.; e.
que se fosse descoberto este segredo por elle, lhe mandava cortar a ca
beça ; e que não houvesse medo, se em algum tempo o mandasse pren
der nos seus castellos, e fortalezas, por que seria parte de o fazer dos
grandes homens do seu reyno. O corregedor assentou com elle, grande
196

.apilão. vendo os muitos corsarios que andavam nas illns. que armasse
logo : e tomando uma formoza caravella que estava no porto d^Angra,
se vieram a esta ilha de Sam IVriguei. onde logo puzeram em ordem a
dita armação.
O corregedor lhe mandou dar uma nào. que no porto estava, ,via-
neza. e se foi á fortaleza, de que era capitão dom Ror Gonçalves da Ca
mara, para lhe dar a artilheria necessaria, munições, e polvora, por sua
alteza assim o mandar: e que d 'isso uão houvesse autos publicos, se
não entre elles. corregedor e grande capitão, o praticassem e assentas
sem : e o ouvidor do capitão lhe defeodia a artilheria, que lh'a não que
ria dar, pelo que o corregedor se ajuntou em camara, e com os da go
vernança acentaram darem-llie a artilheria e munições; e pondo bandei
ra na porta da alfandega da feitoria, a modo de armazem, com muito di
nheiro, e tambores tocados pela cidade, com pregões, que diziam : quem
quizer assentar-se em soldado n'esta armada, que faz Francisco do Rêgo
de Sá, paga mil reis por mez, vá-se assentar á porta da alfandega, onde
está a bandeira, e muito dinheiro.

Armados o$ ditos navios, e matalotados. postos em ordem de guer


ra, embarcou^se o corregedor com elle para o pôr na Terceira, d* onde
partio ; e se foi na volta dô mar, correndo as ilhas todas, e fazenda seu
officio de capitão maior, o melhor que sabia e podia onde andou quatro
jneres de armada, e se encontrou com muitos corsarios, com os quaes
peleijou, e lhe aconteceram bons síiccessos; e com umà náo, que trazia
desoito remos por banda, de cujo successo escreveu a sua alteza. Em to
do o tempo que andou a armada, que foi até chegar dom Pedro de Al
meida, se não tomou navio, nem roubou, nem fez aggravo. por que os
amparava com soa armada, trazendo-os aos portos das ilhas, para onde
vinham: e como dom Pedro d'A1meida, capitão maior, chegou ás ilhas
Terceiras com sua armada, que eram duas náos, e duas caravellas ; as
que trazia, se foi a elle offerendo-lh'as para o que fosse necessario, e o
serviço deel-Rey. E por o capitão maior lhe dizer que trazia armada
convalescente, c saber qne havia quatro mezes, que elle, grande capitão,
andava de armada, em que trazia trezentos homens á sua custa, com os
497

gastos e fretes das nãos, lhe pedio se fosse desarínaF, o que elle fea. •
i
Estando já desarmado n'esta ilha, lhe veio uma carta de el-Rey, em
qac lhe mandava que se ajuntasse com dom Pedro de Almeida, capitão
maior, com a sua armada, e andasse debaixo da sua bandeira todo o
tempo que elle cá andasse, e tirasse a bandeira que trazia, e assim fosse
ao reyno com sua armada : e por estar desarmado, e a artilheria entre
gue á fortaleza, a tornou a pedir ao capitão da dita ilha, o qual não lh'a
quiz dar ; de que tirou um instrumento de aggravo, e se fez pres
tes em uma náo ingleza que trazia tomada, e com gente, e arti
lheria da mesma náo, se foi á Terceira, com o capitão de Vianna,
<]ue encontrou ; onde o doutor Diogo Alves Cardozo, veio a seu bordo ;
e lhe deu conta, como dom Pedro de Almeida era partido, e os capitães
que deixara andavam divizos com o seu capitão maior ; e que fora para
os prender, e os não pudera colher em termos para isso : e lhe pedio
acudisse a isso, por quanto andavam entre as ilhas diferentes. Ao que
elle foi com o capitão de Vianna, e achou as duas zabras, das quaes era
capitão Gaspar Pereira e Diogo da Silveira ; para o que os mandou vir
a seu bordo; e lhes perguntou por seu capitão maior ; c elles respon.
deram que não tinham capitão maior, nem o conheciam ; ao que elle
respondeu : nem a mim conhecereis por capitão maior, pois regeitaes
a Christovão Zuzarte Tisão, um bom fidalgo: de ambos de dois vede
qual quereis que seja capitão maior, por que vos obedecerei, até encon
trarmos o nosso capitão maior : e elles elegeram a elle, grande capitão,
e o foi.
Com ventos suduestes rijos, que lhe deram, foram ter sobre Angra,
onde em amanhecendo encontrou o galeão francez Principe do Mar, de
quinhentas toneladas, com o galeão Sam Lourenço, de el-Rey, e uma
caravella de Cabo Verde, e outra dè Sanaga, o que tudo o corsario tra
zia tomado; e as zabras .de el-Rey amanheceram d'elle, grande capitão,
tres leguas detraz da ponta dos Altares ; e elle só foi apoz o ladrão, o
qual lhe foi largando o galeão de el-Rey, que trazia tomado com as mais
saravellas, ás quaes não tinham ainda feito damno algum ; e dando-lhe
caça todo o dia, ia alijando o ladrão muitos cofres encourados, pipas,


*93

•quaftos, rumas de balajos, e os bateis e fogão ; mas elle e o ladrão am


bos andaram ás bombardas toda a tarde (Vaquelie dia, matando-lho o
grande capitão muita gente, c ali deixou a sua lancha á vista da ilha Ter
ceira ; dando-lhe o Jadrao muitas bombardas, entre ellas lhe deu com
,uma aspera ao lais da verga, que se ia a não ao fundo, e dando com
ella á banda, lhe botou um conro com que piedosamente se sustinha a
não sobre a agua, e os seus bastimentos e pipas andavam a nado sobre a
agua, dentro da não, e assim andou todo o dia pelejando ; e com uma
hora da noite chegou o viannez e as zabras a elK e todos foram á não
franceza atè ao outro dia, que amanheceu uma /.abra para o sul, outra
pard o norte, sem o capitão de Vianna nem os mais fazerem nada : e
porse a .sua não ir ao fundo atirou um trro de recolher, e se virou na
volta d'estailha de Sam Miguel, por lhe ficar mais perto, e favorável ao
vento, onde botou os rombos das bombardas, c taboas necessarias á sua
não, por estar muito deteriorada.
N'isto, lhe vieram cartas do provedor da ilha íerceira, como era che
gada a náo da índia, derradeira, de que era capitão dom Luiz de Al
meida, que fosse para a acompanhar ato ao 'reyno, como fez : e de ca
minho, por entender ser serviço de cl-Rey, prendeu os capitães das za-
brasl e os entregou presos, aos quaes sua alteza mandou punir, como
já tenho contado, e a elle prometteu de fazer grandes mercês.
No anno de sétenta e sete, o mandou el-Rey a estas ilhas por capi
tão do galeão Sam Lourenço, em companhia de dom Jorge de Menezes,
seu capitão maior, o qual o mandou ao reyno com duas náos da índia,
cm os quaes serviços tem gastado mais de quarenta mil cruzados, com
muitos trabalhos, e riscos de sua pessoa, gastando sua fazenda e moci
dade.
Este grande capitão Francisco do Rego de Sá, havia tomado a voz
de dom Antonio nesta ilha, no anno de oitenta, ema qual ilha teve pro
visões para ser governador d'ella ; e depois de proceder n'isto. lhe es
creveu o dito dom Antonio, que o fosse buscar a Aveiro, onde o espera
va ; O qual fez uma caravella de armada, e n'ella embarcou muitos man.
tkirentos p.ara ir onde lhe mandava ; e levou em sua companhia cento e
m

tinte espingardeiros, iodos homens, e a maior parte .parentes, levarid'*


«ma ordem de deseiubarcaçãq,. a saber — capitão, alferes, sargentos e
t;abos de esquadra, e foramjer sebre a barra de Buarcos, d onde fez seu
signal como lhe eia mandado pelo dito senhor; e por de terra lhe não
sesponderem conforme ao signat que levava* andou um dia e uma uoite
esperando se lhe respondiam de terra com o signal esperado, e por lhe
succeder tempo de travesia, se foi na volta do mar sobre a barra de
Aveiro ; tornou ao outro dia, e por se lhe cerrar a barra, foi ter aos Ca*
vallos do Porto* onde esteve perdido, e o mestre « marinheiros dispidos
sem camiça para se botarem ao mar.

O que vendo elle,. grande capitão, mandou fazer fogão, e que assas
sem e comessem todos, que o tempo.era prospero sendo travessia :man-
dou ao seu piloto, Jorge Gonçalves, que fosse na volta do mar, o que
foram ; e ao outro dia, em amanhecendo se acharam sem vista de terra,
com quinze leguas-: mandou governar na, volta d'ella ao norte, por o pi
loto dizer que estava- apeado, na qual volta vieram tomar o rio deAnco>
ra, que é em Caminha; e já mettidjs tanto a terra, se acharam em um.
rio, que é o de Caminha ; correndo do rio de Ancora para Caminha a-
quella costa, onde tiveram grande tormenta, por que continuamente a ha
nella, maiormente aos que nunca por ali passaram ; por que nem elle,
nem o piloto^ nem os soldados, se acharam por aquellas partes; ende
houveram vista da Ibsua..queè a Galiza, que estava já a este tempo por
sua Magestade : e os soldados castelhanos lhe capeavam com as ctpas
para a banda onde havia lançar o leme; cam os quaes signaes governa
ram ; dando t3o grandes mares.no navio, que lhe levara o pedaço do bor
do fóra ; livrou-os Deos: até que se puzeram entre a Insua e a terra ;
e logo vieram. ao seu.navio muitos barcos carregados de gente/ castelhaua,
que estava ali de presidio, na. dita Insua ; e entraram no navio, que es
tava já despojado de cartas e papeis, que lhe podiam fazer nojo ; e bo
tando ao mar a bandeira, tambor, e tudo o que podia fazer damno de'
obrigação de os prenderem.

Tinha o grande capitão dito a Joam Roiz, que depois foi escrivão dos
«rpliãos em Villa Franca,. que se fizesse mercador do navio, por respeito,
200

efe livrar muito triga que levava, e muitas carnes, assim de porco, como
de vacca , e dissesse que aquella gente toda eram estudantes, que iam
para os estudos ; e outros iam com appellaçõeí para o reyno, e que aga-
zalhasse a dita gente castelhana, e lhe désse de todo o melhor, que ha
via no navio a comer, e chamasse por elle, grande capitão, que andava
em trajos de marinheiro, em diferente nome, como que fosse marinhei
ro ; e o mandasse a terra buscar p3o fresco : o que fez ; e o dito grande
capitão foi no barco com este nome com quatro homens, e chegando a
terra que estava com grande concurso de gente em Caminha, esperando
para saberem novas, tratando de buscar escapula lhe diziam, que era
navio que vinha das ilhas carregado de trigo, e que os levassem a uma
casa de estalagem para remediarem a vida, e comerem ^uns bocados ;
onde foram levados, e á meia noite disse elle, grande capitão, ao esta-
lagadeiro, que lhe buscasse quatro azemolas, que os levasse a Vianua,
tres leguas d'ali ; buscadas partiram para lá ; e foram ter com Alvaro
Roiz de Tavora, capitão que foi da armada vianeza, a tomar lingua, e
conselho, do que haviam fazer.

O qual lhe foi mostrar a casa do marquez de Sarria, conde de Le


mos, que estava presidente por sua Magestade n'aquella parte ; e foi elle
grande capitão, levado ante elle em uma manhã bem fria, e veloza ;
mal vestido, pelo que lhe relevava em tal tempo. E pelo dito conde de
Lemos lhe foi perguntado quem era, com pouca ou nenhuma cortesia,
parecendo-lhe ser marinheiro; ao que cheio de colera, o grande capi
tão, lançou mão d'uma cadeira de espalda, e ohegando-o para junto do
conde, lhe respondeu : a mim me chamam — o grande capitão Fran
cisco do Rego de Sá ; sou fidalgo n'estes reynos de Portuga! ; e as cou
sas do coração de el-Rey dom Sebastião, que Deos tem em gloria, e
de seu gosto, por mim as mandava fazer; servi até agora de governa
dor da ilha de Sam Miguel por el-Rey dom Antonio; e por entender
que não procedia bem, e conhecer a sua Magestade por Rey direito suc-
cessor dos reynos de Portugal, e que não podia escapulir ao dito povo
e ilha, se L,ão em lhes dizer, que queria ir buscar ao dito senhor dom
Antonio, para saber só d'elle a verdade; e sabida tornar à ilha a dar-
201

-lhes a rasãoda certa verdade, que seria por mira sabida : poJindj-Itvís
me fizessem prestes uma cai avalia á custa da minha fazenda, o foram
debaixo d'este juizo: mas o respeito com que o íizura erc este modo,
fora para vir dar menagem a sua Magestade, e pai a salvar-me e reme
diar o não perder a vida e fazenda : e o que mais estimava e tinha em
maior conta, eram os muitos serviços que tinha feito ácorôa d'este r eyno.

Mas foi isto parte para deixar o conde de Lemos de mandar um juiz
commissario á caravelta, ires leguas de distancia, a tomar informação do
conteudo ; mas em fim lhe foi tomado tudo o que acharam na caravella
ser seu ; sem até hoje lhe ser tornado ; e a elle, grande capitão, foi man
dado pelo conde de Lemos, sob pena de forca, qae não sahisse de Vian-
na. Por culpas que sua Magestade teve do conde de Lemos, foi manda
do a dom Diogo Henriques, nobre castelhano, que fosse ás ditas partes
por governador, e que o dito conde de Lemos fosse deposto, e recolhido
ás suas terras da Galiza. O qual dom Diogo Henriques fatiando com el
le, grande capitão, como o ouvio nomear por Sá, lhe perguntou que
parentesco linha com a condessa de Elda. dona Izabel de Sá; e por lhe
dizer o grande capitão que era sua tia, prima co-irmã de sua mãe
dona Margarida de Sá, lhe fez muitas honras, e lhe den ordem para
sahir d'aqueHe trabalho, em que estava : com lhe dar cartas para sua
Magestade, e para os seus secretarios de favor ; peia ordem que lhe deu
o dito governador, comprou nm macho e um asno, com que caminh ou
por arrieiro delles até Coimbra.

Depois de chegado, mandou um homem seu a Thornar, onde esta


va sua Magestade, com as cartas que levava de dom Diogo Henriques,
encemmendando-as ap camareiro mór conde, 2 seu parente ; para que
as désse a sua Magestade, e a ;eus secretarios; aos qiues iam : e log o
lhe foi respondido por dom Christovão de Mouro, Gabriel de Saxãs, e
dom Rodrigo de Cordova, estribeiro maior, por cada um sua carta, que
lhe diziam que fosse seguro, e sem temor nenhum, por que sua Mages
tade o desejava ver, e conhecer ; com o qual recado se foi a Thomar,
já'limpo, e deixado os ti ages vis, com que até ali chegara, de Aveiro '
e dom Diogo de Cordova com o dito conde o levaram a sua Magestade :
202

e elle disse — senhor, a mim me chamam o grande capitão Fràncisçj»


do Rego de Sá ; que ha mais de vinte annos sirvo a corôa d'este reyno ••
de capitão de galeões, e de capitão: maiori trazendo as náos da índia a.
Portugal, debaixo da minha bandeira ; e fui governador da ilha de Sam
Miguel, em nome de dom Antonio, e o levantei por Rey com uma ban
deira na nào ; e por entender que Vossa Magestade era o direito suo
cessor d estes reynos de Portugal, e por eu ter um pedaço de fazenda,
e os meus serviços que tenho feito valerem mais que tudo, disse ao po
vo da dita ilha, que queria vir em busca do senhor dom Antonio, pop
saber d'onde estava com verdade : mas era tudo isto para me poder vir
da mesma ilha de Sam Miguel d'onde era governador eleito ; por que
se com este engano nãa viera, me não deixaram vir.

Eu tambem humanamente tinha feito contra o serviço de Vossa Ma*-


gestade tanto quanto pudera fazer ; mas o coração que tive para servir
aos Reys passados, e ao senhor dom. Antonio, tenho para servir a Vossa.
Magestade no que me mandar. Foi-lhe respondido por Sua Magestade :
dou-vos muchas gracias por elho, dizistelo como muy bueno cavalleiro,
(aliai com dom Christovão, de Moura, que elle vos dirá o que eu quiero: .
beijou-lhe então as roupas. Foi ter com. dom Christovão de Moura, e
contou-lhe o que tinha passado com sua Magestade. Respondeu-lhe —
vèdes que bom rey temos, que merecendo-lhe vossa mercê cem mil for*
cas e cutellos, lhe perdoou suas culpas: sabei conhecer e servir tal Rey;
ide-vos agazalhar. E tiveram-no quatro annos sem o deixarem vir a sua
casa. Depois de chegado sua Magestade a Lisboa lhe mandou fazer mer
cê por dom Christovão de Moura, de duzentos mil reis. para ajuda do
custo, na mão do thesoureiro maior do reyno, que lh'os deu : e pelo
prenderem por respeito de inglezes, por certas náos que lhe tomara no
mar por mandado de el-Rey dom. Sebastião, que está em gloria ; e não
se poder valer, nem ajudar das provisões do dito Rey, por respeito de
sua Magestade as mandar pôr em segredo, na mão do doutor Antonio da
Gama, desembargador; e requererem os inglezes aggravados que o pren
dessem na cadeia ; lhe foi necessario fugir da prisão, e menagem, em
que estava em sua pousada, e se foi a Madrid, setenta e tantas leguas
203

de Lisboa, a sua Magestade ; a fazer-lhe querela de suas culpas : con>


' tando-lhe como quebrara a menagem : que lhe fez mercê de lhe perdoar
o quebramento d'ella, e de cincoenta mil reis de tença, com o habito de
Christo, que elle já tinha recebido de"eJ-Rey dom Sebastião, até o pro
ver d'uma commenda de cento e cincoenta ; e mil cruzados em um al
vitre para a índia, e licença para se vir para esta ilha, onde chegou no
anno de oitenta e quatro.

Estando, aqui lhe chegou, no mez de fèverèiro, de oitenta e sete, um


traslado duma portaria, que sua Magestade mandou passar por Francisco
Surrão. seu secretario de estado, que d/zia assim.— Ét-Rey N. Senhor,
havendo respeito aos serviços de Francisco 'do Rego de Sá, fidalgo de
sua casa, e morador na ilha 'de Sam Miguel, tem feito nas armadas, e
gastos que n'ellas fez, servindo sempre de capitão de náos, e navios seus.
com gente á sua custa, e no anno de setenta e cinco soccorrer com arfl-
Iheria e soldados a náo S. Matheus, que vinha da índia, e peleijar com
uma náo franceza, ha por bem de lhe fazer mercê de cincoenta mil reis
'de tença cada anno, com o habito de Christo, que jà tem : os quaes cin^
coenta mil reis de tença lhe serão pagos no almoxarifado da ilha de Sam
Miguel, e os haverá até ser provido nas ordens d'nma commenda de cen
to e cincoenta mil reis de tença, ,que começará de vencer de 16 de abril
do anno de 1584, em que sua Magestade lhe fez esta mercê, da qual
lhe mandou passar esta portaria: havendo outro sim respeito á informa
ção, que houve de como elle foi á dita ilha, d'onde não tornou por achar
sua fazenda desbaratada ; e estar pagando suas dividas, e estar muito
prestes para o serviço de sua Magestade: em Lisboa, aos dez de dezem
bro, de mil quinhentos e oitenta e seis.

i
CAPITULO VIGÉSIMO QUARTO.

DOS SoUSAS, QUE VIERAM POVOAR ESTA ILHA, NO TEMPO 00 CAPITÃO JOAií
Roiz da Camara. '
*. ' '.*.{• '
Houve em Portugal um fidalgo, cujo nome não soube, que casoa
204

no paço com Ireza de Sousa, dama da raynha dona Leonor, natural


da Irlanda, d'onde veio com outra dama da mesma raynha, de quem pro
cedem os filhos de Christovão Cordeiro, e Êedro Alvos Benavides, que
foi muitos annos alcaide da cid ide de Ponta Delgada; c succedendo a este
fidalgo, marido de Ireza de Sousa, matar um corregedor, estando fazen
do audiencia, se desterrou do reyno, de Souzel, onde morava, para esta
ilha, onde primeiro viveu com sua mulher em Villa Franca, depois no
Thelhal da lomba da Ribeira Grande, muito rico, e abastado ; houveram
dous filhos, Joam de Sousa, e Gaspar Vaz de Sousa, os quaes mandou seu
pay ás partes de alem, sustentando-os lá muito tempo à sua custa em
serviço de el-Rey : e lá foram armados cavalleiros em uma entrada que
fizeram em um logar chamado Benoheme ; onde mataram e captivaram
muitos mouros; reynandoem Portugal el-Rey dom Manoel.

Gaspar Vaz de Sousa, filho de Ireza de Sousa, a raynha dona Leonor


o mandou levar d'esta ilha, sendo ainda menino dè sete ou oito annos ;
creou-se no paço, até á idade de desoito, e d'ahi foi para Italia, onde an
dou quatorze annos no exercito do imperador dom Carlos quinto, por
'seu mestre de campo, ajudando-lhe a alcançar muitas victorias dos ini
migos christ3os e mouros ; de que mandou a esta ilha tres bandeiras por
honra de seus parentes ; as quaes foram entregues a Gaspar de Viveiros,
sogro que foi de Francisco de Arruda da Costa, como sabem muitos an
tigos da cidade de Ponta Delgada ; e depois se veio Gaspar Vaz, e trou
xe ao reyno de Portugal, onde foi criado, a ordem da milícia de guerra,
e d ali por diante se começaram a fazer cousas, que d'antes se não cos
tumavam: e elle foi o primeiro que as fez; pelo que el-R".y o fez coro-
nel-mór, e n'este cargô morreu.

Este Gaspar Vaz de Sousa, e seu irmão Joam de Sousa, dizem que
eram primos filhos de irmãos de Martim Affonso de Sousa, e de Diogo
Lopes de Sousa, abalizados cavalleiros, e fidalgos; e a estes pertencem as
armas dos Sousas. Joam de Sousa, irmão d'este Gaspar de Sousa, e fi
lho de Ireza de Sousa, casou com Izabel Alvares, mulher nobre ; de quem
houve tres filhos, chamados Balthasar de Sousa, Diogo de Sousa, e Pe
dro de Sousa ; deixando á parte o mais velho, Balthasar Vaz de Sousa,
205

de quem logo direi ; seu irmão gemeo, Diogo de Sousa, casou na vj||a
da Ribeira Grande, com uma filha de Pedro Affonso, irmã de Duarte
( Pires, o velho, e de Alvaro Pires, de quem houve alguns filhos. O ter
ceiro filho de Joamde Sousa, chamado Pedro de Sousa, casou na Maia,
com Violanta Lopes, irmã de Simão Lopes, de quem houve alguns fi
lhos. Teve mais Joam de Sousa, de sua mulher Izabel Alves, cinco fi
lhas : a primeira, Izabel de Sousa, casou com Pedro Annes, cavalleiro
antecessor de Joam Roiz, gallego, que morou em Rabo de Peixe, de
quem teve um filho, chamado Balthasar Vaz, que falleceu no deluvio de
Villa Franca. A segunda casou com Simão de Santarem, escrivão em
Villa Franca, em cujo deluvio tambem falleceu com os filhos que linhs.
A terceira, Catharina de Sousa, casou com Pedro Lourenço, o velho,
que viveu na Ribeira Grande, de quem houve alguns filhos. A quarta,
Violanta de Sousa, casou com Gonçallo Annes, que foi alcaide em Villa
Franca, e falleceu no deluvio d'ella. A quinta, Guiomar de Sousa, aca
bou solteira no mesmo deluvio.

Balthasar Vaz de Sousa, filho mais velho de Joam de Sousa, e de


Izabel Alvares, sua mulher, e irmão do dito Diogo de Sousa, e Pedro de
Sousa, foi homem de grandes forças, como direi, quando tratar de al
guns forçosos que houve n'esta ilha, e casou com Leonor Manoel, filha
de Manoel Domingues, irmão de Catharina Manoel, mulher de Joam Af
fonso, do Fayal ; e de Simôa Manoel, mulher de Antonio de Freitas,
que foi escrivão em Villa Franca, da qual houve tres filhos e seis filhas..
O primeiro filho, chamado Joam de Sousa, casou com Ignez Antunes ,
filha de Antonio Gonçalves, e de Guiomar Francisca, de quem houve
alguns filhos. O segundo, Gaspar Vaz de Sousa, homem de grande ani
mo e força, casou com Margarida Pays, de quem não tem filhos. O ter
ceiro filho de Balthasar Vaz de Sousa, chamado Nuno de Sousa, discre
to e esforçado cavalleiro, casou a primeira vez, com Catharina de Mou
ra, irmã do padre Antonio de Moura, de Ponta Delgada; de quem hou
ve duas filhas, uma chamada Jeronyma de Sousa, que casou com Braz
do Rego, filho de Manoel do Rego, de quem tem alguns filhos ; a outra
Beatriz de Sousa, casada com Balthasar do Monte, filho de Joam do
206

Monte. Casou Nutro de Sousa, seguuda vez, com Fraiicisca de Paiva, n\


lha de Pedro de Paiva, e de Francisca Ferreira, de quem tera alguiu
filhos e filhas ; uma das quaes casou com um filho de Joam Alvares Re'
dovalho.
Das filhas de Balthasar Vaz de Sousa, a primeira, lzabel Vaz de
Sousa, casou com Jordem da Ponte, homem fidalgo, da ilha da Madeira,
dos Tavares. A segunda, Beatriz de Sousa, foi casada com Aires Pires
do Rego ; de quem houve um filho, chamado Gaspar do Rego, de quem
disse já ; e outro mais velho, muito esforçado, que morreu na índia,
depois de ter conquistado uns povos de gentios : e outro mais moço,
chamado Ruy deSousaí grande cavalleiro, que falleceu solteiro; e uma
filha, Jeronyma do Rego, casada com Bento Dias, bom soldado, do ha
bito do Santiago. A terceira, dona Simòa, casou com Henrique, de Be-
taocor da Camara, fidalgo, de quem houve os filhos que direi quando
tratar dos capitles d'esta ilha, dos quaes é muito chegado parente. Ou
tras tres filhas de Balthasar Vaz de Sousa, foram freiras professas.
Em setembro de mil quatro centos e noventa e nove, chegou Vasco
da Gama da índia a Portugal : e pelo novo descobrimento d'aquellas
partes, que elle fez, acrescentou el-Rey dom Manoel a seus títulos, ou
tros formozos, como são — senhor da conquista, navegação, e commer-
cio da Ethiopia, Arabia, Persia, e da índia. Vendo este Rey a grande
mercê que Deos lhe fizera em descobrir a índia, para assentar n ella a
pregação da lei evangelica, e reformação dos chrisUos que lã' houves
sem, trazendo ao conhecimento d'ella os gentios ; mandou todo o neces
sario em uma grossa armada de dez nãos, e tres navios redondos, de
que ia por capitão-mór um fidalgo chamado Pedro Alvares Cabral : e
partindo de Belem aos nove dias do mez de março, de mil quinhentos :
aos quatorze de março houve vista das Canarias ; e aos vinte dous pas
sou pela ilha de Santiago ; aos vinte e quatro de abril, que foi a derra
deira oitava, foi vista terra, que era costa oposta á de Africa, demorava
a leste ; e reconhecida pelo mestre da capitania, que lá foi ; mandou Pe
dro Alvares surgir em um porto, que por ser bom lhe poz nome —
Porto Seguro ; e viram os portuguezes que era aquella terra muito vi
207

çosa de arvoredos, fresca, com muitas aguas, abastada de muitos manti-


mimeMos, e de muito algodão. Pedro Alvares metteu ali um padrão *de
pedra <"om uma cruz, e por isso lhe poz nome — Terra de Santa Cruz;
e depois se perdeu este nome e lhe ficou o de Brasil, por rasão do páo
Brasil : d'esta terra mandou Pedro Alvares cartas a el-Rey, por um
tiaspar de Lemos, em uma sua caravella. como se conta no primeiro li
vro da índia, que fez Fernando Lopes de Castanheda, no capítulo trinta
é um.

El-Rey dom Joam, de bo3 memoria, terceiro do nome, depois de


dar na costa do Brasil, a Jorge de Figueiredo, uma capitania de cincoen-
ta leguas de terra ; fez mercê de . juro de outras tantas leguas a Pedro
do Campo Tourinho : e mandando el-Rey a Balthasar V»z de Sousa, d'es-
ta ilha de Sam Miguel, que o fosse servir na terra do Brasil, foi ter á
capitania d'este capitão Pedro de Campo, com outras pessoas d'esta ter
ra ; e um dia estando elle com um Joam Fernandes Lordelo, tambem
d'aqui natural, e outras cinco ou seis pessoas em Porto Seguro, que é
da dita capitania de Pedro do Campo, e vendo o Lordelo estavão ao
longo da praia quinze ou desaseis brasis, quietos, sem fjzerem mal a
ninguem , disse a Balthasar Vaz, estes perros mettem mexiricos com o
capitão, que eu ando dizendo, que lhe hei de por fogo a casa. agora
m o ande pagar : respondeu-lhe Balthasar Vaz, como era valente ho
mem — tendes rasão de o sentir muito ; enxotemol-os d'aqui : e logo o
Lordelo lhe fez um tiro com uma bésta, que passou um brasil de ban
da a banda ; vendo elle? isto, deram um grande grito por sua lingua,
ao que acudiram tresentos brasis, e fizeram tiro ; como eram muitas, e
os portuguezes poucos, sete ou oito, fugiram todos : Balthasar Vaz, com
uma adaga e uma lança na mão, fez o campo a alguns, porem era tudo
nada para com elles, por qae ali foram tantas as frechas sobre elle, pas-
sando-o de parte a parte, que cahio morto encostado a ellas ; um seu
parente, que era muito valente homem, vendo-o morto, lhes resistio tan
to com tiros de bésta e lança, que ferió dous ou tres, e matando um,
morreu tambem, todo frechado : e o Lordelo foi ferido em uma perna ;
como não estava bem quisto ha lèrra, e tinha dito, que havia pôr o foge
208

a casa do capitão, succedeu assim, que se accendeu fogo na casa do ca


pitão, ande se perdeu muita fazenda, sem se saber d 'onde se causara :
entenderam que pelo que tinha dito o Lordelo, que elle puzera o fogo :
o qual sabendo que ponham bocca n elle se recolheu para a Bahia de
Todos os Santos, e lá foi preso, e esquartejado por mandado do capitão,
por se provar mandar pôr o fogo á sua casa ; a d 'esta maneira acaba
ram estes dous naturaes d' esta terra, nas do Brasil, tão longe da sua.
As suas armas são as dos Sousas do reyno.

CAPITULO VIGÉSIMO QUINTO.

Dos Rochas, Machados e Paivas, qce vieram a f.sta ilha no tempo do

capitão Joam Rodrigues da Camara.

Pedro Esteves Rocha e Machado, natural de Viauna.. não a de Alvi


to, pay de Affonso Annes Rocha, veio ter á ilha da Madeira, e d'ahi a
esta ilha ; por fazer lá um certo homicídio de morte : fez seu assento na
Praia, junto a Villa Franca, onde tinha duas lombas suas, que houve de
dadas, em que fez muita fazenda, com que viveu rico e abastado, e teve
grande casa, e muita familia. Do dito Pedro Esteves Machado e Rocha,
nasceu Affonso Annes Rocha, e outro que foi para a ilha Terceira ; pay
de Gaspar Gonçalves, chamado o grande Machado, que era avô de Fr.
Manoel Cardozo, guardião que foi muitas vezes n'estas ilhas, e de Gas
par Gonçalves Dutra e Machado ; e outros homens de sorte, e nome, na
Villa da Praia de Sam Sebastião, na ilha Terceira. Do dito Pedro Ester
ves Rocha, descendeu outro filho, que foi para a ilha de Santa Maria,
donde são os Fontes, e a mulher do capitão velho ; e a derradeira ne
209

4a 3o Maia ; por onde dom. Luiz de Figueiredo de Lemos, agora bispo


•do Funchal, tambem tem parentesco, com os Rochas, Machados, na ilha
de Santa Maria. È n'esta ilha, de Pedro Esteves Machado e Rocha, des
cendem — a mulher de'Jorge Furtado ; a mãe de Diogo Vaz Carreiro ;
a mulher de Gaspar Pires, de Agua de Pão, sogro de Miguel Lopes, e
de Amador Coelho ; a mãe de Manoel de Vaz, e Adam Vaz, clerigos ; e
a mãe dos Quentaes, derPoata Delgada. .

Affonso Annes Rocha e Machado, teve muitos netos : Daarte Pires,


Alvaro Pires, Adam Lopes, pay d^Christovão Moniz, a mulher de Ama
dor da Costa, Joam Alvares, sogro de Antonio Lopes de Faria, a mãe
de Manoel Roiz, vigario dos Reys Magos, a mulher de Gaspar do Monte,
a de Manoel da Costa, e de Diogo de Sousa, a de Joam Gonçalves Cal
deira, como logo direi ; Braz AlTonso da Praia, André Affonso, pay que
foi das duas abbadassas que foram no mosteiro da Esperança, da cidade
de Ponta Delgada : e d'esta geração procedeu a da Prata, e outras
' muitas.

Affonso Annes Rocha Machado, filho de Pedro Esteves Machado e


Rocha, teve um filho chamado Pedro Affonso Rocba ; o qual casou com
Margarida Affonso, de quem houve dous filhos e quatro filhas ; o mais
velho dos filhos, chamado Duarte Pires da Rocha, casou com Anna Fer
nandes, filha de Fernando Affonso de Paiva, de quem houve filhos, Fran
cisco Pires da Rocha, homem antigo, curioso, e muito prudente, que
servio de juiz e vereador, muitas veres, na villa da Ribeira Grande, ca
sado com Anna Tavares, filha de Henrique Tavares, de quem tem nobres
filhos e filhas ; vive á lei da nobreza, e tem grande familia : um seu fi
lho, Antonio da Rocha, e outro Manoel da Rocha, estão em casa, ambos
solteiros ; tem duas filhas, Apolonia Tavares, casada com Gabriel Pi
nheiro, nobre e rico mercador; e Anna Fernandes, por casar. O segun
do filho de Duarte Pires Machado, Sebastião Pires de Paiva, é fallecido(
de quem ficaram nobres filhos, de duas outras mulheres, com as quaes
casou : e o mesmo tem Estevão Pires da Rocha, seu irmão, de duas mu
lheres, com as quaes foi casado; teve mais Duarte Pires, a Simão Pires,
' muito valente homem, e bom judicial, que casou com Beatriz Furtado,
210

da Gracioza. Casou Duarte Pires da Rocha, segunda vez, com uma no


bre mulher, de quem houve a Duarte Pires Furtado, bom cavalleiro e
valente homem, casado com Paulina Tavares, filha de Joam Fernandes.
« de Maria fiacradas, a mulher de Manoel Gracia.

O segundo filho de Pedro Affonso, chamou-se Alvaro Pires" ; teve


filhos : Joam Ruiz da Rocha, que vive na lomba da Ribeira Sécca ; e
uma filha que casou com Joam Roiz, do Pico da Pedra, chamada Ignez
Alvares, de quem tem filhos e filhas. Das filhas cie Pedro Affonso, a
mais velha, chamoú-se Maria Affonso ; casou com Diogo de Sousa, irmão
de Balthasar Vaz ; teve filhos, Gaspar de Sousa, bom cavalleiro, musico
e discreto, pay Je Simão de Sousa, e Amador do Monie ; e uma filha,
chamada Guiomar de Sousa, muito discreta, que foi casada com Manoel
Vaz, da Ribeirinha ; outra com Christovão Pires. A segunda filha de
Pedro Affonso, chamada Beatriz Pires, foi casada com Joam Gonçalves Cal
deira, natural da cidade do Porto ; homem honrado, e houveram filhos-
Melchior Gonçalves, que foi casado com Maria Mendes, irmã dos Ama-
raes ; Pedro Affonso Caldeira, casado com uma filha de Vicente Annes
Bicudo ; e filhas : Maria Gonçalves, mulher de Melchior do Amaral. A
terceira filha de Pedro Affonso, chamada Izabel Pires, mulher que foi
*ie Gaspardó Monte, è teve estès filhos — Gaspar do Monte, já fallecido;
Jordana do Monte, que casou com Izabel Tavares ; e filhas, Izabel do
Monte, mulher de Martinho de Alhernaz, de quem teve filhos e filhas,
e Suzanna db Monte, sogra de Adam da Silva, e de Balthasar dô Ama
ral ; o marido se chamou Pedro Annes, rico mercador, foi juiz e verea
dor na villa da Ribeira Grande, muitas vezes ; e teve outros filhos ma
chos, e uma filha que foi casada com Diogo de Morim, <'e quem não
teve filhos ; e outra casada com Francisco Soares, tabelliãô, de quem
tem nobres filhos ; tambem houveram — Balthasar do Monte, vigario
que foi no logar de Santo Antonio ; e agora na Fajã, termo da cidade
de Ponta Delgada : a derradeira filha, se chamou Anna Affonso, mu
lher que foi de Manoel da Costa, já defunto.

Furnando Affonso de Páiva, cujo nome verdadeiro foi Fernando de


Paiva, era natural de Bouzeta, termo de Vizeu ; veio a esta ilha notem
5H

po cio capitão Joam Roiz da Camara, tinha na sua terra um irmão cbar
mado Pedro de Paiva, em cuja casa estava por ser mancebo, e orphlo
de pay e mie, e seu irmão Pedro de Paiva ser rico, e honrado ; um fi
dalgo de nome, seu visinho, ia muitas vezes á casa do campo, e depois
de se desenfadar, ia tomar cabritos ou cordeiros, muitas vezes do gado
de Pedro de Paiva; cojo irmão Fernando. Àffonso de Paiva, tinha já
com elle passado palavra sobre isso: e vendo que o fidalgo não deixava
seu uso de rapina, cavalgando um dia em um cavallo do irmão, foi ter
entre as cabras, e ovelhas, com o fidalgo ; vindo a brigar ambos, lhe
atirou Fernando de Paiva do cavallo com uma zagaia, ferindo-o tio mal,
que d'ahi a tres dias falleceu ; então se passou á ilha da Madeira, bem
provido do necessario, aonde lhe mandou o irmão Pedro de Paiva mais
provimento de dinheiro ; e na ilha da Madeira casou com Beatriz Pires
Delgada, irmã «le Pedro Delgado, parenta dos Delgados da Poota do Sol
e do Caniço : por-1 respeito da morte do fidalgo mudou Fernando de Pai-
va o nome, chaittantio-se Fernanda Affonso somente, sendo dos Pajvas ;
e seu irmão Pedro 'de Paiva, está sepultado na cidade de Viseu,

Estando assim, Fernando Affonso, casado na ilha da Madeira, por


causa d'um criado, que trouxe comsigo, e tornou a mandar á sua terra,
que deu novas onde elle ficava, foi sentido e perseguido pelos parentes
do morto, que de lá mandaram as culpas que tinha ; e então se passou
a esta ilha, e se veio morar no togar da Ribeira Grande, por não vir
ter a elle navegação, e ser aldeia, e sertão, e estar n'elle mais encober
to : onde houve uma dada pegada com o dito logar, cuja largura co
meçava d onde estava • casa do Espirito Santo, indo para cima, até ás
casas de Henrique de Betancor, emdireítando a Ribeira Grande ; e ahi
indo pelos chãos de Lopo Dias Homem, correndo por junto do pè do
monte do Trigo, e chegando ao assento de Ruy Gago da Camara, onde
vivia Manoel Vaz, e d'ahi descia para o mar, e ia ter ao assento de Pe
dro Dias, da Achada; pelo q' eram muitos moios de terra; e no morro alem
donde vive Francisco Tavares.teve nove moios de terra, que mercou com
dinheiro q' trouxe, osquaes vendeu depois, e comprou outra fazenda, alem
tia logar de St.' Antonio, onde agora tem ainda alguns herdeiros sua parte.
Teve este Fernando Affonso quatro filhos e seis filhas. O primeiro
filho, chamado Joam Gonçalves Paiva, morou na villa da Ribeira Gran
de, onde foi escrivão ; casou com Catharina do Monte, de quem houve
uma filha, chamada Beatriz do Monte, e casou com Gaspar de Sousa, fi
lho de Diogo de Sousa, de quem houve tres filhos — Simão de Sousa,
Manoel de Sousa, e Amador do Monte : havia então uma Francisca Pires,
viuva, que fora casada com Gaspar Lopes, de quem houve um filho, por
nome Lopo Dias, homem cavalleiro do habito de Santiago, que casou
com Leonor Carvalha, colassa do conde de Villa Franca : e era esta
Francisca Pires natural de Vizeu, irmã, ou parenta muito chegada, se
gundo alguns dizem, d'aquelle grande e afamado cavalleiro Joam Ho
mem; com ella casou, depois de viuva, Joam Fernandes, de quem hou
ve cinco filhos e Ires filhas. O primeiro, Pedro de Paiva, escrivão na
mesma villa, e muito bom cavalleiro, que casou" duas vezes, e tem no
bres filhos e filhas: da primeira mulher, chamada Francisca Ferreira,
filha de Joam dé Braga, irmã de Pedro de Braga, pay de Gaspar de Bra
ga, houve a Manoel de Paiva, que casou com Suzanna Pacheco, e dons
que andam na índia, em serviço d'el-Rey, Custodio de Paiva, e Ascendo
de Paiva ; e outro filho chamado Fr. Salvador, bom religioso e letrado,
no convento de Thomar ; e tres filhas, a primeira, chamada Francisca de
Paiva, casou com Nuno de Sousa, um dos capitães da ordenança da
villa da Ribeira Grande. A segunda, Maria Ferreira, casou com Cypria.
no da Ponte, alferes que foi da bandeira de seu sogro Pedro de Paiva,
e a outra é ainda de pouca idade.

Casou segunda vez Pedro de Paiva, com Antonia Fernandes, da ci


dade de Ponta Delgada, de quem tem alguns filhos meninos. O segundo
filho de Joam Fernandes, Manoel Fernandes, casou com Izabel Brandoa,
filha de Diogo Nunes Marques. O terceiro, Gaspar Fernandes, casou com
uma filha de Joam Lopes Pássolargo. O quarto, Balthasar de Paiva, de
antes vigario na ilha de Santa Maria, e agora na villa do Nordeste. O
quinto, Melchior Homem, que anda na índia de Castell3, onde está ca
sado e rico. A primeira filha, Maria de Paiva, foi casada com Pedro Ta
vares, filho ie Ruy Tavares, por cujo fallecimento casou com o licenciado
213

Sebastião Velho Cabral. A segunda, Margarida de Paiva, casou com


Duarte Privado, sargento-mór da milicia, e juiz dos orphãos oa ri 11a da
Ribeira Grande, de quem tem cinco filhos nobres e discretos, criados
do conde de Villa Franca, Dom Ruy Gonçalves da Gamara, capitão d'es-
ta ilha : dous casados, e tres solteiros ; e duas filhas, uma chamada
Leonor de Paiva, que casou com Duarte Tavares, e outra, Maria de
Pajva, casada com Antonio Ribeiro, filho de Lourenço Vaz, da cidade,

A terceira filha de Joam Fernandes de Paiva, chamada Ca tharina


de Paiva, falleceu moça, e as mais que disse tem nobres filhos e filhas.
Outro filho de Fernando Affonso de Paiva, chamado Diogo Fernandes,
foi escrivão da egreja,, e casou com Mecia Cansada, de quem houve fi
lhos — Caspar Cansado, sacerdote, beneficiado que foi da egreja de Sam
Pedro, da cidade, e agora cura de Santa Clara ; Antonio Cansado, gen
ro de André Travassos ; Miguel de Paiva, que casou em Agua d' Alto ;
e. outros dous filhos que faUeceram na índia de Portugal ; e filhas -?r
Catharina Cansada, que casou com Antonio da Costa, filho de Sebastião
de Alhernaz, fidalgo, e outra filha chamada Leonor de Paiva, mulher
que foi de Pedro Affonso da Costa, muito nobre e discreto, que foi mo
rador no Nordeste : outros dous filhos de Fernaudo Affonso de Paiva/
não houveram filhos por não casarem.

Das seis filhas, a mais velha se chamou Guiomar Fernandes, e ca


sou duas vezes, a primeira com Vultam Vaj, irmão de Pedro Vaz, leal-
dador-mór primeiro dos pasteis, que foi n'esta ilha, do qual houve Ma-,
noel Vaz, que viveu na Ribeirinha, e uma filha por nome Beatriz Vul-
tòa : e do segundo marido, chamado Joam Alharnaz, fidalgo, natural da
ilha do Fayal, parente de Pedro Roiz da Camara, houve a Martinho de
Alharoaz, que casou com Izabel do Monte ; e outras que falleceram,
uma das quaes chamada Aldonsa de Alharnaz, que foi casada com um
irmão de Joam Ledo, de Santo Autonio. Outra filha se chamou Cathari
na Fernandes, mulher que foi de Joanne Annes Columbretro, primo co
irmão da mulher de Luiz Gago ; houve filhos — Baltfeafar Jaque*, Gas
par Pires, e Fernando Annes : e filhas, uma que casou coa Joam Lou
renço, do Nordeste, e outra ubamada Beatrit Delgada, que foi casada
27
914

com Lopo Dias Homem, e falleceu sem fillios. A terceira se ulumou He


lena Fernandes, foi casada com Pedro Vaz, leaUdador, teve filhos : Mel
chior Vaz, clerigo, Pedro Vaz, sogro d' Antonio .de Aveiro ; e filhas, Ma
ria Vaz, que casou com Gonçallo Velho, c vive cm Almada, c Izabel
Vaz, mulher de Luiz Tavares.

A quarta filha, sc chamou Margarida Fernandes, e casou com Vas


co Afíonso, de quem houve um filho, chamado Joam Gonçalves, pay de
Nicoláo de Paiva, e uma filha, Mocia de Paiva, mulher que foi de Fran
cisco Sodrè. A quinta filha, se chamou' Anna Fernandes, casou com
Duarte Pires da Rocha, de quem houve os filhos que já disse, que todos
tem nobres filhos. A derradeira filha, chamada Francisca Fertiandes;
casou com João Ferreira, do qual houve um filho chamado Sebastião
Ferreira, que agora é benemerito vigario da egreja de Sam Sebastião,
da cidade de Ponta Delgada, cujo pay, ddpofs! que me faHeeeú'&!'mulher,
residio em Arzila, 'em sèrviç#!de ef-R«y ; tem estas progenies as armas
dos Rochas, Machados, e Paivas do re^yno.' ' ,• v

. ., i * . , • ,

CAPITULO VIGÉSIMO. SEXTO.


, . . ', , (,/'i t . ^
. , . i» : .. , ••; ,:,;.t, :
Dos Costas d ksta ilha de Sam Migukl, ,que povoaram na Maia, ri
BANDA DO NORTE. ,, , < . . ....
.. '. : ... . 1• ", . ii i. 1 I .
Houve em Portugal, dizem que em Vizet), om fidalgo chamado
Joam Fernandes da Costa, irmão de dom Joam da Costa, bispr> de La-
tnego, e prior de Coimbra : o qtíal Joam Fernandes da Costa, teve um
315

filho, Diogo Fernandes Homem, que foi casado com Philippa Nunes Ho-
meta', filha de Nuno Gonçalves, que foi senhor de Lagooza, de Passos»
o do Sergueiros; em tempo do quarto capitão Joam Koiz da Camara ,
veio a esta ilha Luiz Fernandes, seu neto, natural do bispado de Vizeu,
e primeiro foi ter á ilha da Madeira, onde casou com Izabel Djas, natu
ral da mesma ilha, mulher honrada e principal da terra : e de lá veio
para a Villa da Praia, da ilha Terceira, onde servio alguns annos de ou
vidor ilo capitão, pelo conhecimento que tinha d'elle, que era tambem
fidalgo, o ali achou tambem parentes fidalgos : como eram Pedro Ho
mem da Costa, e outros, por cujo respeito foi ahi ter ; d'onde se veio
depois, com sua mulher, para, esta ilha de Sam Miguel, e o capitão lhe
deu um» grossa fazenda na Maia, que chamam as Lombas dos Costas,
por elles morarem ivellas, e strem suas.

Houve Luiz Fernandes da Costa, de soa mulher Izabel Dias. os fi-


lhos seguintes : — O primeiro, Diogo Fernandes Homem, que casou com
Ignez de Alharnaz, fidalga, lima de Joam de Alharnaz, da qual houve
um filho chamado Diogo Fernandes Homem, que casou duas vezes, uma
com uma lilKa de Simão Lopes, da Maia, da qual hou'e alguns filhos ; e
oijtra vez com uma filha de Gooçalío Dias, do Porto Formozo, de quem
tambem houve alguns filhos. Tove mais o dito Luiz Fernandes da Costa,
de sua mulher Izabel Dias, o seguudo filho chamado Luiz Fernandes da
Costa, que casou com Izabel Furtado, fidalga, filha de Joam de Alhar
naz, irmão de Ignez de Alharnaz, mulher de Diogo Fernandes, natural
da Graciosa, da qual houve tres filhos: o primeiro, chamado Joam Ho
mem da Costa, que casou na villa do Nordeste, eom uma filha de Pedro
Afonso 3arriga, de quem houve alguns filhos ; e o segundo, Amador
Furtado, que foi primeiro vigaria do Fayal, termo de Villa Franca ; e
depois vigario na Maia, on.te falleceti. O terceiro filho de Luiz Fernan
des da Costa, por nome Clemente Furtado,, casou nos Fenaes da Maiu,
com uma filha de Manoel Vieira ; e depois segunda vez com uma filha de
Melchior Vaz Fagundes, de Agua de Páo ; e depois casou a terceira vez
com Guiomar Alvares, filha de André Martins, e de Anna Pires, da
Ribeirinha.
216

Teve mais Luiz Fernandes da Costa, filho de Luiz Fernandes da


Oosta, duas filhas : uma chamada Maria da Cos'a que casou com Este
vão Pires, filho de Duarte Pires, da Lomba, termo da villa da Ribeira
Grande; de quem houve alguns filhos; e outra chamada Catharina <\s
Costa, que casou com Joam de Medeiros, filho de Joam da Motta, ide
Villa Franca, e de Beatriz de Medeiros, filha de Lope Annes d'Araujo,
de quem houve muitos filhos: teve mais o dito Luiz Fernandes, filho de
Luiz Fernandes, uma filha freira, que falleceu no mosteiro da Esperan
ça, da cidade de Ponta Delgada.' Teve tambem Luiz Fernandes da Cos
ta, o terceiro filho, par nome Manoel da Costa, que fez a ermida da
Madre de Deos. junto de sua casa, morador na Lomba, termo da Ribei
ra Grande ; e casou com Anna Affonso, filha da Pedro Affonso, da Lom
ba, irmão de Duarte Pires, o velho, e de Alvaro Pires, de quem houve
um filho chamado Antonio da Costa, que casou muito rico em Sevilha,
com uma filha do capitão Cardozo, que tinha uma capitania no Peru; e
de sua mulher, da geração dos Covihãos e Almeidas, houve Antonio da
Costa alguns filhos ; um que agora está no Peru, e succedeu na capita
nia de seu avô, e uma filha chamada Anna da Costa, que casou n'esU
ilha com Diogo Lopes de Espinhosa, feitor que foi de el-Rey, fidalgo mui
to discreto e virtuoso, cavalleiro do habito de Christo, com tença de sua
Magestadf, de quem tem alguns filhos.

O quarto filho de Luiz Fernandes da Costa, o velho, se chama Gas


par Homem, o qual casou com Beatriz de Macedo, filha de Fernando de
Macedo, de quem houve estes filhos: O primeiro, Homem da Costa, ca
sou em Villa Franca do Campo, com Marqueza de Magalhães, de quem
houve filhos e filhas. O segundo filho, Antonio de Macedo, casou com
uma moça orphã. O terceiro, Joam Homem da Costa, foi d'esta ilha, e
não se soube mais d'elle. O quarto, Francisco Homem de Macedo, an-
aente. O quinto, Manoel de Macedo, auzente. O sexto, Braz de Macedo
Homem, bom sacerdote e virtuoso. A primeira filha, chamada Izabel de
Macedo, falleceu moça. A segunda, Beatriz de Macedo, casou na villa da
Ribeira Grande com Christovão Martins, homem nobre. A terceira, An
na de Macedo, casou na villa da Lagôa. com Christovão de Faria, ho
217

mem fidalgo, primo co-irmão de Antonio Lopes de Faria, já ,lafunto,


que era n aquella villa como pay de todos .seus raoradares.

O quinto filho de Luiz Fernandes da Costa, o velho, chamado Balta


sar da Costa, foi casado com Catharina da Ponte, filha de Joam Roiz,
dos Fénaes da Maia, e irmã de Manoel Roiz, vigario do mesmo logar,
de quem houve os filhos e filhas seguintes. — Sebastião da Costa, que
falleceu em Sam Lazaro, e foi casado com Maria Pereira, filha de Duar
te Lopes, da Maia, e d uma filha de Diogo Vaz, da Achada ; e depois ca
sou a dita Maria Pereira, segunda vez, com Antonio Furtado, cidadão
de Villa Franca, de quem houve alguns filhos. Teve mais Balthasar da
'Costa duas filhas, freiras professas no mosteiro da Esperança, da cidade
de Ponta Delgada. O sexto filho do dito Luiz Fernandes, o velho, cha
mavam lhe Melchior -da Costa, e casou, a primeira vez, com uma filha
de Ruy Vaz da Mão, de ViWa Franca, de quem nSo teve filhos ; e depois
casou com Maria Yacheca, filha de Matheus Vaz Pacheco, de quem tam
bem não houve filhos; a qual, fallecido e!le, casou com Pedro da Ponte,
o moço, de quem teve alguns filhos, e agora astó viuva.
O setimo filho de Luiz Fernandes, o velho, chamado Francisco da
Costa, nunca casou, falleceu solteiro, e já de dias. TfeVe tambem o dito
'Luiz Fernandes <da Costa, o velho, as filhas seguintes. — A primeira
chamada Philippa da Costa, casou com Francisco de Alharnaz, homem
fidalgo, parente de Sebastião de Alharnaz, e de Joam de Alharnaz, de
quem houve um filho clerigo, beneficiado .em Villa Franca, por nome
Manoel da Costa : e teve Philippa da Costa, outro filho chamado Luiz
• Ha Costa, que casou na ilha' do Fayal, e houve filhos e filhas ; teve mais
Philippa da Costa, duas filhas, uma chamada Beatriz da Costa, que foi
casada com Joam Lopes, filho de Alvaro Lopes, de Santo Antonio, de
quem houve alguns filhos ; e outra que casou com Roque Roiz, escri-
•vão da camará da Ribeira Grande, filho de Ruy Gracia, o velho, chama
da Francisca da Costa, da qual houve um filho que falleceu no Brasil;
e tres filhas, uma chamada Branca da Costa, qoe casou com Jorge Men
des, filho de Affònso Alvares . dn Amaral ; outra casada com Melchior
Manoel, e outra solteira. A segunda filha de Luiz Fernandes, o velho,
218

chámavão-lhe Branca da Costa, casou com Alvaro Lopes, de Santo Antov


nio,' fio qual honve dous filhos, um chamado Antonio da Costa, qoe ca
sou , om Izabel Castanha, filha de Joam Fernandes, o relhado, e de .Iza
bel Castanha, de quem houve filhos e filhas. Outro filho de Alvaro Lo
pes, e de Branca da Costa, chamado Manoel da Costa, que foi casado
"om una filhi de Joam Alvares do Olho, de quem houve alguns filhos.

A ifrceira filha de Luiz Fernandes da Costa, o velho, chamada Iza-


bel Dias. casou com Sebastião de Alharnaz, fidalgo, que morftu na Lom
ba da Maia, de quem houve um filho chamado Antonio da Costa, que
casou na villa da Ribeira Grande, com Catharina Cansada, filha de Dio
go Fernandes, n de Maria Cansada, de quem houve um filho chamado
Manoel da Costa, que foi pagem do conde dom Ruy Gonçalves da Ca
mara, e outros : o qual Antonio da Costa, falleceu Da índia. Teve mais
Izabel Dias da C«»U, de seu marido Sebastião de Alharnaz. cinco hMhas:
Beatriz Nunes, quo casoucom Rodrigo Alvares, filho de Rodrigo Alva
res, e neto de A^aro Lopes de Bulcam, do qual houve uma filha, que
casou com Joam Casella, homem fidalgo, e criado de el-Rey, natural da
cidade de Elvas: e outra com André Dias, filho de Marcos Dias, de Vil
la Franc? do Campe: e outra que casou com Antonio da Ponte, da mes
ma Villa Franca : e depois de viuva esta Beatriz Nunes, casou segunda
vez na cidade de Ponta Delgada, com Autonio Pires, irmão de Ruy Pi
res, da ilha da Madeira, de quem houve alguns filhos.

A segunda filha de Izabel Dias da Costa, e de Sebastião de Alhar


naz, chama-se Genebra da Costa, que casou com Joam Vaz, da Achada,
de quem tem alguns filhos. A terceira, chamada Izabel de Alharnaz, fal
leceu sem casai.: e outras doas chamadas Maria da Costa, e Anna da
Costa, estão ainda solteiras. A quarta filha de Luiz Fernandes da Costa,
o velho, chamava-se Beatriz da Costa, e casou com Joam Alvares, .los
Fenaes da Maia, filho de Alvaro Lopes de Vulcam, de quem houve um
filho, que falleceu solteiro ; e uma filha chamada Maria da Cosia, de
grande virtude, que casou na villa da Lagoa, rica, com Antonio Lopes
de Faria, fidalgo, e cavalleiro do habito de Santiago, e momposteiro
mor. dos captivos, onde agora mora viuva.de quem não teve filhos. A•
m

armas (fos Costas são um escudo quarteado de vermelho e azul ; eíffl


cada quarto dos vermelhos, tem seis costas brancas, e em cada um dos
afzues seis loas de ouro, com seu elmo cerrado ; paquife de prata e ver
melho : e por timbre um leão azul, com uma parrazana na *i3o direita.

.... ,

CAPITULO VÍ6RSIM0 SÉTIMO.

Dos Benevides leados com os Cordeiros.


. T. s . Teves com os Vf.lhjs, , • "e 1 ítr
" .
reiras, s com outros appellidos; <,e :dos Rezknbes
• •t • , y Almeidas.
i . ir .«

Veio a esta ilha no tempo do capitão Joam Roiz da Camara, um


Alvaro Roiz, a quem outros chamam Afftmso Alvares de Benevides, Ca
balleira da Africa, qo.e procedia dos Benevides, fidalgos de Castella, des
cendentes da casa e progénie dos marquezes de Tromista em Castelli,
do que elle tinha seus brazões : é de Castella vieram ter ao Algarve seu
"pay e avô; e de Aliasur do Algarve se veio este morar a esta ilha de
Sam Miguel, jâ casado, com sua mulher Beatriz Amada : dos quaes des
cenderam estes .filhos e filhas. — O primeiro, Pedro Alvares, o velho,
*cavalleiro d' Africa, chamado o Velho, a respeito de seu irmSo, qne tam
bem se chamava Pedro Alvares, o moço : por que sendo o velho auzen-
te desta ilha, e tido por morto, puzeram o mesmo nome a outro seu ir
mão que entlo nasceu. O qual Pedro Alvares, o velho, foi casado com
Izabel Nunes, do Algarve, filha d um homem natural de Lagos, chama
do Foam do Rego ; de quem houve uma filha chamada Antonia de Be
nevides, das mais formozas e discretas mulheres desta ilha, que foi ca
sada com o licenciado Manoel MagalhJo, filho do mestre Luiz, de quem
não houve filhos. ;
O segundo filho foi tambem chamado Pedro Alvares de Benevides,
29Q

cwaHeiro da Africa, onde servio a el-Hoy com dous cavallos, sendo Uo-
mem de muitas forças e bondade, que foi por rogo» do capitão, alcaide
trinta e tres aanos, na cidade de Ponta Delgada, em toda a ilha, e da
governança d'ella; casou tom Izabel Castanha, filha de Joam ttoiz Ba-
dilha, cavalleiro da Africa, e de sua mulher Catharina Pires, filha de
Pedro Vaz, por alcunha o Marinheiro, da qual houve um filho, Gaspar
Roiz de Benevides, que falleceu solteiro, e uma filha chamada Beatriz
Roiz Benevides, que casou com Amador de Teve ; de quem houve filhos,
Gaspar de Teve, que é capitão d'uma bandeira da cidade de Ponta Del
gada, e casou com uma filha de Manoel Machado, e de Leonor Ferreira,
chamada Francisca Ferreira : houve Pedro Alvares, de sua mulher Iza-
bel Castanha, outra filha, por nome Solanda Roiz de Benevides, que foi
casada com Christovão Cordeiro, escrivão da alfandega, filho de Sebas
tião Roiz Panchina ; e de Violanta Roiz. Era Christovão Cordeiro, ho
mem muito grave, e de grandes espiritos; do qual, e de sua mulher
Solanda Roiz, nasceram os filhos e filhas já ditos na geração dos Cor
deiros.

Teve tambem o dito Alvaro Roiz deaBenevides, as filhas seguintes .


A primeira, chamada Catharina Alvares de Benevides, que casou com
Gonçallo Velho Cabral, filho de Pedro Velho, irmão de Nuno Velho, já
ditos, e os filhos que houveram, um dos quaes foi Lopo Cabral de Mel
lo. Outra filha de Alvaro Roiz, e de sua mulher Beatriz Amada, se cha
mou Ignez Alvares de Benevides, mulher que fòi de Affonso Annes Pe
reira, que diziam ser filho natural do conde da Feira, que foi pay de
dom Diogo, que suceedeu no mesmo condado, o qual dom Diogo era ir mão
de dom Jorge Pereira, que nesta ilha casou : do qual Affonso Annes, e
Ignez Alvares, nasceu Fr. Manoel Pereira, capellão de el-Rèy, vigario
que foi na villa da Ribeira Grande, e ouvidor e visitador, muitas vezes -
nesta ilha de Sam Miguel, e ilha Terceira. Teve mais uma filha chama
da Izabel Pereira, que casou com Sebastião Teixeira, de quem não hou
ve filhos : e do primeiro marido, Gonçallo Annes, que veio de Portugal ,
houve uma filha, chamada Ignez Pereira, e agora Ignez do Espirito San
to, freira no mosteiro de Jesus, na villa da Ribeira Grande.
221

Teve Alvaro Roiz, de sua mulher Beatriz Atoada, outra filha, por
'nome Margarita Alves de Benevides, que foi casada com Joam Dias'
morador junto de Nossa Senhora da Piedade, cuja ermida elle fez, que
era homem rico, dos principaes, e da governança da cidade ; de quem
houve Pedro Dias Carvalho, que casou com Anna Roiz, de quem houve
filhos, Roque Dias Carvalho, Joam Roiz Carvalho, e Braz Dias Carvalho:
e filhas, Margarida Alves Carvalho, que oSo casou, e outra que casou
com Salvador Daniel, filho de Daniel Fernandes, de Agua de Páo, que
foi escrivão na cidade de Ponta Delgada. Teve Alvaro Roiz de Benevi
des de sua mulher Beatriz Amada, outra filha chamada Guiomar Alva
res de Benevides, que foi casada com Bartholomeu Roiz, pay de Baltha-
sar Roiz, de Santa Clara : houve a dita Guiomar Alvares, sua segunda
mulher, um filho chamado 'Duarte Roiz que casou com Margarida de
Alpoim, filha de Estevão' Roiz de Alpoim, de quem houve um filho cha
mado Gaspar Roiz, que casou segurida vez com uma" filha oVíicenciadò
'Francisco Guariam.

Teve mais Guiomar Alvares, de seu segundo marido, outro filho eha
inado Heitor Roiz, qu9 não foi casado, e outro chamado Estevão .Roiz,
que se foi d'esta terra ; e uma filha por nume Estacia Roiz, que falla-
ceu solteira. Teve mais Alvaro Roiz, de sua mulher, uma filha chama
da Izabel Alvares, que foi casaca çqm Estevão Fernandes Salgueiro,
cavalieiro da Africa, de quem teve filhos — Diogo Salgueiro, Manoel
Salgueiro, Pedro Salgueiro, Izabel Salgueira, e outras que falleceram.
Diogo Salgueiro, casou com uma filha de Joanne Annes Panchina, irmão
de Sebastião Roiz Panchina, de quem houve uma filha chamada Izabel
dos Santos, freira no mosteiro de Jesus da villa da Ribeira Grande,; e
os mais filhos de Estevão Fernandes falleçeram sem filhos. Teve mais
Alvaro Roiz, de sua mulher, outra filha chamada Violanta de Benevides,
que foi casada com Roiz de Sousa, irmão inteiro de Baíthasar Roiz, de
Santa Clara, e de Izabsl Castanha, mulher de Gaspar de Viveiros, o ve
lho, sogro de Francisco d'Arruda, de quem houve o dito Pedro Roiz,
da Relva, um filho por nome Manoel Roiz de Sousa, clerigo que foi para
o Brasil ; e uma filha chamada Guiomar Roiz de Sousa, qae casou com
88
m

Soam Gonçalves, de alcunha o Cerne, de quem liouve dous filho s, -G as-


ipar ftoiz de Sousa, e Antonio de Benevides, homens de grandes espiri,
tos e honra, e uma filha que casou com Gaspar Alvares ; c outros filhos
o filhas.
Teve mais Alvaro Rui?., de sua mulher Beatriz Amada, outra filha
por nome Catharina Alvares de Benevides, que foi casada com Gonçallo -
Velho Cabral, pay de Lopo Cabral de Mello, e dos mais irmãos já ditos
atraz na progenie dos Velhos. T&ve mais ANro Roiz, outra filha, cha-,
mada Beatriz Alvares, que não casou, Teve tambem Alvaro Roiz, on
comi» outros dizem, Affonso Alvares de Benevides, outra filha chamada
Leonor Alvares de Benevides, que casou com Pedro Alvares das Cortes,
do habito de Santiago, morador na Fajã, junto a Nossa Senhora dos An
jos, onde tinha sua fazenda, e tambem ua cidade, onde tinha suas casas;
a qual .Leonor Alvares de Benevides, sua mulher, era irmã de Cathari-
aa Alvares de Benavides, mulher que foi de Gonçallo Velho, pay de Lo-
,po Cabral de Mello, e dos mais irmãos já ditos : d'esta Leonor Alvares,
houve o dito Pedro Alvares das Cortes os filhos seguintes :

O primeiro firho, Rodrigo Alvares de Rezendes, que por morte de


um homem se. foi d'esta ilha, e casou em Alvor do Algarve, com Ignez
Dias, de quem não houve filhos ; o qual não vinha a esta ilha se não
cóm, licença de el-Rey. O segundo filho de Pedro Alvares das Cortes, e
•de Leonor Alvares, foi Estevão Alves de Rwendes, que rasou com
Maria Pacheca, filha.de Fernando Vaz ^Pacheco, morador «o Porto For
moso, e de Izabel Nunes Cabral, filha de Nuno Velho, irmão de Pedro
Velho, morador que foi na \illa da Lagôa, pay de Gonçallo Velho Ca
bral, e avô de Lopo Cabral de MoHo, e dos mais irmãos sobreditos ; cu
jo filho è Pedro Alvares Cabral, morador na villa da Ribeira Grande :
e outros que tenho dito na geração dos Velhos ; e pay de Fernando Al
vares Cabral, tambem cavalleiro, que indo em Roma por uma rua a Ca
pallo, vendo estar um cardeal a uma janHIa, folgou ocavallo diante d el
ia, e tão bem lhe pareceu, que d'ali por diante lhe fez muitas honras.
Teve tambem Pedro Alvares d*s Cortes, uma filha por nome Anna
•de Rezende, que casou com. Pedro Viz Pacheco, que se foi para o Al
223'

jarve.e fáHeceu do mar, irmão de Fernando Vaz, acima dito,' de .juei»


houve filhos — Diogo Pacheco, Simão Pacheco, Fernando Vai Pacheco,,
sacerdote, vigario que foi em um logar do Algarve, e Pedro Pacheco,
que foi à índia, e vindo, o fez- el-Rey capitão d' uma armada da costa.
Teve' Pedro Alvares das Cortes> outra filha chamada Lucrecia de Rezen
de, que casou com Jacome das Povas* de quem houve um filho chamado
Antonio' das Povas, escrivão na cidade de Ponta Delgada:- e outro filho
ehamado Jacome das Povas, que casou com' Maria da Ponte, irmã de
Cypriano da Ponte; e uma filha' chamada AMonsa de Rezende, que casou
com Poulo Pacheco, filho de Matheus Vaz Pacheco, do Porto Formozo.
Teve Pedro Alvares das Coi tes outra filha, chamada Maria de Rezende,
que foi. casad3 com Henrique do Quental, filho de Fernando do Quental,
de quem teve dous filhos que foram para o Brasil, por que mataram nau
mulato, que matou seu pay. Têve mais Pedro Alvares das Cortes outra
filha, chamada Guiomar de. Rezende, que casou com Simão de Viveiros,
filho de Simão de Viveiros, irmão de Gaspar de Viveiros, sogro de
Francisco d'Arruda,. que vieram da ilha da Madeira, d'onde eram natu-
raes ; e dizem alguns, que eram da casa do capitão da dita ilha. Este'
Pedro Alvares das Cortes, era irmão de Lopo das Cortes, pay de Simão'
Lopes dAlraeida, morador que foi na villa da Ribeira Grande, e falleceu
na ilha do Fogo, sendo capitão d'ella: homem de grandes espiritos, mui
to parente do conde de Penela, e tem seu brazão e armas, que nãô pude
saber.

Havia em Óbidos de Portugal', dous irmãos, fiidalgos, dos Almeidas


•i Mascarenhas,, chamados Pedro Alvares das Cortes, de que já disse ;
e Lopo das Cortes, o qual foi casado com ízabel Mascarenhas, filha de
Alvaro Carvalho, e de Genebra de Almeida, moradores que fopm na
Villa de Linhares: a qual Genebra de Almeida, era filha de Fernando
Vaz d'Almeida, cavalleiro fidalgo,, moradbr que foi no logar da Càrapa-
chena, que é junto de Linhares : o qual Fernando Vaz era irmão de Pe
dro Vaz d'Almeida, véidor q' foi dó infante dom Fernando, pay de el-Rey
dom Manoel. Este Pedro Vaz teve um filho chamado Pedro Vaz d'Almei-
da.como seu pay, e uma filha chamada Martha de Christo, abbadessa rio
22*

convento de Thomar ; e outro flljho por nome Mozem Vasco, alcaidè-móff


de Linhares ; e outra filha, Maria de Almeida, criada da infanta ; e do.
dito Fernando Vaz de Almeida procederam a dita Genebra de Almeida,
sua filha, Diogo de Alrnejda, Tristão.de Almeida, e Fernando Vaz de
Almeida, todos fidalgos da casa de el-Rey, e dos infantes ; primos se
gundos de Isabel , Mascarenhas, e primos coirmãos de Joam de Almeida,
conde que foi de Abrantes, pay de dom Jorge de Almeida , bispo de
Coimbra, e do prior do Crato dom Diogo de Almeida, e de Francisco
de Almeida, que foi por vice-rey da índia, que é o verdadeiro tronco,
e casas dos Almeidas. •• "

Este Lopo das Cortes, d'e«ta progénie dos Almeidas, rasado com.
Izahel Mascarenhas, houve da dita sua mulher díuis filhos, Bartholomen
Lopes áv, Almeida, e Sim5o Lopes de Atmeida. que vieram a esta ilha,
e moraram. na villa da Ribeira Grande. Bartholometi Lopes de Almeida
da governança da dita villa, casou com uma nobre mulher, a quem nio
soube o nome, de quem houve estes filhos : O primeiro, Adam Lopes, «
que casou com Maria Ferreira, de quem nio teve filhos. O segundo Gas
par Lopes, casou com Hilaria Calva, de quem n5o houve filhos. O ter
ceiro, Balthasar Lopes, falleeeu solteiro. Simão Lopes de Almeida, ca
valheiro do habito de Christo. casou com Margarida Luiz, filha de Ama
dor da Gama, do Porto Formozo, da qual teve dous filhos — Pedro de
Almeida, e Salvador de Almeida; os quaes tomou el-Rey dom Joam,
segundo do nome, por seus criados, e a ambos deu cargos honrosos.
Lopo das Cortes, pay d'estes dous irmãos, Bartholomeu Lopes de Al
meida, e Simão Lopes de Almeida, era irmão do avô de Simão de Al
meida, filho de Joam Gonçalves de Lessa, e de Beatriz Jorge, que ago
ra mora na villa da Ribeira Grande, casado com Beatriz Jorge, filha de
Custodio Affonso, e de HeIenadeViveiros.de quem tem uma filha cha
mada Beatriz de Almeida, e vive á lei da nobreza: tem estes fidalgos
as armas dos Almeidas do reyno.
Os Benevides são naturaes de Baltar, onde tem bando com outra
geração dos Carvajalles, e dora boje em dia a competencia d'elles.
Houve um Benavides que fez uma grande cavalgada, quando os reypos
225

de Castella eram de muitos reys: indo a raynba d um d'estes reyòoa


com certas damas folgar, as captivou um rey mouro; eum d'estes Be
nevides a ganhou á força de armas, e a trouxe a el-Rey ; o qual que-
rendo-lhe dar satisfação, perguntou com que se haveria por pago ; elle
respondeu que com um quartel das suas armas ; arrancou então el-Rey
d'um troçado, e cortou do pendão, e acrescentou-o nas suas : e por
timbre uma touca do rey mouro afogueada : por que as armas que
oYahtes tinham, eram umas caldeiras com umas barras atmessadas ; e
agora tem um leão rompente em campo vermelho, só n'este quartel.
Reprovou a el-Rey um conde dar-lhe das suas armas ; sobre o qual ca
so o desafiou o Benevides, e matou em campo ; d'onde dizem procede
ram os bandos das duas gerações. Não sei se foi este o rey de Navarra,
se o de Leão, ou que rey fosse ; ainda que parece ser o de Leão ; pois
lhe deu das suas armas o leão rompente n'aquelle tempo ; o de que sua
Magestade agora se intitula, e possue, era depois de vinte reys.

Antonio de Benevides de Sousa, filho de Joam Gonçalves, Cerne, e


de Guiomar Roiz de Sousa, morador no logar da Relva, termo da cida
de de Ponta Delgada, desta ilha de Sam Miguel, tirou em Castella o
seu brazão de linhagem, e cota das armas dos Benevides e Rochas, quo
lhe pertenciam : onde diz que os da geração dos Rochas são dos no
bres que ganharam Acarceres ; que tem por armas um escudo aquarte
lado, no primeiro e dèrradeiro *m prata, em cada um um leão mora
do J aos outros dous quarteis em ouro, em cada um quatro barras, ou
bandas vermelhas atravessadas : e que vem os d'esta linhagem d'um ca-
vatleiro de Arrochella de França. O fundamento da geração dos Sousas,
é em Portugal onde se chama Sousa ; que são grandes homens no rey-
no ; e ha d'e!les tambem na cidade e reyno de Toledo ; trazem por ar
mas um e«cudo d'ouro, feito de barras vermelhas. Diz mais que os Be-
nevidfeVsíío muito antigos fliialgos em Andaluzia, e linhagem muito hon
rada ; os quaes trazem por armas um escudo de ouro, e n'elle um leão
vermelho, com barras Inqueladas de azul e branco. Uns põem a si o
leão só, e outros da mesma geração, põem o leão, e mais em campo de
ouro cinca flores de liz, escasadas de branco e vermelho. Tem tambem
f

m,

no mesmo escuda, em um quarto d'elle de campo verde, dons titos dè


campo, encavalgados ; tem o elmo de prata, guarnecido de ouro ; pa.1
quite de ouro, prata, azul é vermelho ; e por timbra tres penachos, um
azul, outro verde, e outro vermelho.
Antonio de Benevides de Sousa, primo de Manoel Cordeiro de Sam
paio Benevides, juiz do mar n'esta ilha de Sam Miguel, foi á ilha de
Sánu Maria em soccorro, quando estava tomada dos francezes, de que
dizem ser capitão um francez chamado Sansam, pelo que sua Magestade
lhe fez mercê de o filhar em cavalleiro fidalgo, com quinze mil reis de
tença cada anno, pagos na alfandega. de Ponta Delgada, e a seus irmãos
Manoel de Sonsa Benevides, e Joam de Sousa Benevides, todos filhos
ligitimos de Joam Gonçalves d3 Rocha, chamado o Cerne, ede Guiomar
Boiz de Sousa, por moços da camara. Ao dito Antonio de Benevides de
Souza, mataram' d'uma bombarda na defeza do galeão Ascenç.ao, de que
era capitão Jorge Aires de Alherto, defendendo-se de duas náos
inglezas, defronte da cidade do Ponta Delgada, a que elle soccorreu com
outra geDte de terra, como em. seu logar contarei. Fallecendo elle, seu
irmão Manoel de Sousa Benevides, solteiro, que com elle se achou na
dita batalha naval, muito cruel e temerosa, por ser de noite> foi ao rey-
no requerer satisfação de seus serviços; e fez-lhesua Magestade a mer
cê, de o acrescentar a cavalleiro fidalgo, com quinze mil reis de tença,
pagos na alfandega da cidade de Ponta Delgada, como tinha seu irmão
Antonio de Benevides, defunto : ao qual despacho não houve por satis-
fação de seu serviço a mercê que lhe foi feita ; mas antes replicou para
a todo o tempo requerer justiça.

Pr" : B—11 uni H kl ' "


CAPITULO VIGÉSIMO OITAVO.

Da geração dos Arautos, que. povoaram primeiro em Villa Franca do


Campo, e depois em oitras partes : e vieram a esta ilha no tempo
de Ruy Gonçalves da Camara, quinto capitão d'ella, e segundo
DO NOME.

No' tempo do capitão Ruy Gonçalves da Camara, segundo do nonw


227

*»feio a esta ilha de Sam Miguel Lope Annes de Araujo, de^Vianna, ns


eFa de mil quinhentos e seis, pouco mais oh menos, rico e abastado.,
dos principaes de Vianna, d:onde era natural ; e o mesmo foi n.'esta
ilha ; casou com Guiomar Roiz, filha de Ruy Vaz de Medeiros, e de sua
mulher Mecia Gonçalves: teve filhas — Maria d'Araujo, Ignez Gonçal
ves, Leonor d'Araujo,* Anna da Madre de Deos, Guiomar de Santiago,
freiras no mosteiro de Santo André, de Villa Franca ; e Beatriz de Me
deiros : filhos — Mathias Lopes, Miguel Lopes, e Jeronymo de Araujo.
, Maria d'Arauja Pereira, 'filha de -Lope Annes, o velho, casou com Anto
nio Furtado, cidadão de Villa Franca, filho de Ruy Martins, e de Maria
Roiz ; teve filhos — Ruy Martins, clerigo, já defunto, Lope Annes Fur
tado, tambem cidadão de Villa Franca, Manoel Furtado, que falleceu
solteiro ; filhas— Leonor de' Medeiros, Jordôá Botelho/Maria d' Araujo,
e duas fallecidasno mosteiro dá dita Vilfa.

Lope Annes Furtado, filho de Antonio Furtado, casou a primeira


vez com Maria Jacome, filha de Manoel Vaz,, falleceu ella sem ter filhos;
casou segunda vez com Ignez Corrêa, filha de Gaspar Corrêa, juiz dos
orphãos, que foi na cidade de Ponta Delgada ; tem dous filhos e uma
filha. Leonor de Medeiros casou com Fernando Vaz Pacheco, filho de
Melchior Dias, do Porto Formozo, de quem tem filhos e filhas. Jordôa
Botelho casou com Custodio Pacheco, de quem tem filhos e filhas. Maria
d' Araujo, filha de Antonio Furtado, casou com Pedro de Freitas, filho
de Pedro de Freitas, e de Briolauji Manoel: tem filhos e filhas. Ignez
Gonçalves, filha segunda de Lope Annes de Araujo, o velho, casou com
Gaspar Pires, o Preto, nào teve filhos. Beatriz de Medeiros, terceira
filha de Lope Annes, o velho, casou com Joam da Mo tta, cidadam àe
Villa Franca, filho de Jorge da Motta, e de Beatriz de Medeiros ; teve
filhos — Joam da Medeiros, Miguel Botelho, Antonio da Costa, Jorge
da Motta, Jeronymo de Araujo, clerigo, Mathias da Motta ; fallecidos
. tres.
Joam de Medeiros, primeiro filho de Joam da Motta, e de Beatriz
ode Medeiros, casou com Catharina da Costa, filha de Luiz Fernandes da
Costa. Teve duas filhas. Miguel Botelho, segundo filho de Joam da Mot
226

ta. casou com Solanda Cordeiro, filha de Joam Roiz Cordeiro. Mathiís
Lopes d' Araujo, primeiro filho macho de Lope Annes d' Araujo, o ve
lho, casou.com Eva Francisca, filha de Francisco Fernandes, de quem
bio houve filhos ; foi homem magnifico de condição, muito abastado; e
de grande casa de muitos hospedes, e grande cavalleiro. Miguel Lopes
dAraujo casou com Citharina Luir, filha de Gaspar Pires, o velho, teve
filhos — Antonio d'Araújo, discreto e bom sacerdote, vigario na villa de
Agua de Páo, Manoel de Madeiro, solteiro, e Francisco d'Araujo, casado
em Lisboa ; e filhas — Anua de Medeiros, e Maria de Medeiros. Anna
de Medeiros, casou com Gaspar Dias, nobre e rico cidadão, filho 'de Ma
noel Dias: tem filhos e filhas; Gaspar Dias servio os nobres cargos da ilha.

Jeronymo de Araujo, homem de grandes espiritos, casou com Anna


Pacheca, filha de Manoel Vaz Pacheco ; teve filhas — Izabel de Medei
ros, casada com Paulo Gago da Camara, filho de Ruy Gago da Camara ;
e filhos — Francisco d'Araujo, Antonio d'Arapjo, e Gaspar d 'Araujo,
ainda solteiros todos estes filhos, e descendentes de Lope Annes, slo
valentes de suas pessoas, e homens de grandes espiritos, e as filhas são
de muita prudencia e virtude. Teve Lope Annes, o velho, outra filha
chamada Francisca de Medeiros, que casou com Joam Gonçalves, o ba
charel, homem de muitas lettras e conselho, de quem teve um filho
chamado Jeoonymo Gonçalves d' Araujo, que casou com uma filha de
Francisco Ramalho, sobrinho do dito bacharel, que vieram a esta ilha
da Seri a de Amaram, onde está o mosteiro e casa de Sam Gonçallo de
Amarante, de grande romagem.

Foi este Lope Annes d'Araujo, de grandiosa condição, teve grande


casa, muito abastada, e de muita lavrança, discreto, prudente, convor-
savel, amigo dos nobres; entre os quaes tinha tanta authoridade que o
capitão Ruy Gonçalves da Camara, terceiro do nome, o mandou a Por
tugal a fazer conta do que devia ao mosteiro, donde seu irm io fora fra
de' professo: e Barão Jacome Corrêa, por elle ser tanto seu amigo, a
homem tão grave, Jhe rogou que fosse á ilha Terceira a receber a mu
lher em seu nono, o que elle fez como d' elle se esperava ; por que com
sua pessoa authorisava as «ousas, e acudia a 'fazer amisades econc*rd»s
m

erp quaesquer discórdias que entre partes havia na terra ; e tudo aro-
bava,'e"punha em paz, oom muita descrição que tinha, e com a gravi
dade b authoridade da soa pessoa ; por ser homem de quem se tinha
grande confiança, e fazer tudo bem feita, como foram as cousas do ca
pitão,. ém Portugal : e quando tornou recebeu d'eUe muitas honras e
boas obras : sempre o teve o capitão em muita estimação, por que era.
eHe paia isso, como foran* depois e são seus filhos, e netos : e o mesmo
Lope Aones so diz que foi casar, e Pedro Soares, capitão da ilha de
Santa kMaria, á dha da Madeira. Tem estes fidalgos, d'esta progenie dos
Lopos.ou Lobos, as armas dos \raujos e Lobos,

CAPITULO VIGÉSIMO NONO.

Dos Pavões povoadores Sa viu.* d' Agita de Páo.

Manoel Pavão veio casado de Portugal a esta ilha, no tempo .de Hu?
Gonçalves da Camara, quinto capitão d'ella, e segundo do nome ; habi
tou primeiramente na villa d'Âgua de Páo, e houve de stía mulher tres
filhos : — Primeiro, Manoel Pavão, que foi casado com Guiomar Viairina,
e houvé d'ella tres filhos — Gaspar Manoel, André Manoel, e Manoef
Affonso Pavão. Gaspar Manoel' casou com Vmtanta de Vasconcellos, R>
iha de Diogo de Orireira, e íiouve d eíla tres filhos =±= Manoel de Oli
veira Pavão, Pedro Manoel, e Pedro, que falleceu moço. Manoel d'Oli-
Teira casou com uma filha de Manoel de Castro, de quem não tevê fi
lhos ; Pedro Manoel casou em Lisboa, e não teve filhos. Teve mais Cas
par. Manoel uma filha chamada Marquez a Manoel, que casou a primeira

39 .
230

vez com Sebastião Vicente, de qaeru teve um filho. Agora está casado
na villa d'Agua de Páo. André Manoel, segundo filho de .Pedro Manoel
Pavão, e de sua mulher Guiomar Vianna, casou com uma filha de Joam
Gonçalves, da ilha da Madeira.de quem houve dous filhos: um charaa-
do Gaspar Manoel, que casou nas Sete Cidades, e outro Manoel A Afonso,
que falleceu solteiro. Manoel A Afonso Pavão, ÍHho de Pedro Manoel e
de Guiomar Vianna, sua mulher, casou com Leonor Soeira, filha de
Garcia Roiz Camello, da cidade de Ponta Delgada, de quem tem estes
filhos — Pedro Manoel Pavão, que casou duas vezes ; outro chamado
Joam Roiz Pavão, que casou primeira vez com Maria Pimentel, filha de
Joam Lourenço Tisão, e de Maria Roiz Martins, de quem tem uma filha
por nome Maria de Sam Joam, freira professa no mosteiro de Santo An
dré, da cidade ; e segunda vez nas Sete Cidades : e outro por nome Si
mão Roiz Pavão, sacerdote, que foi vigario da freguesia de Sam Roque,
no logar de Rasto de Cão. Houve mais Manoel Affonso Pavão, filho de
Pedro Manoel, duas filhas, uma chamada Beatriz Roiz, que casou com
o licenciado Antonio de Frias, cavalleiro do habito de Christo, padroeiro
do mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta 'Delgada ; e outra Guio
mar Soeira, que casou com Pedro de Teves, filho de Antonio da Motta,
morador em Rasto de Cão, de quem tem filhos e filhas.

O segundo filho de Manoel Affonso Pavão, o velho, chamava -se Joam


Manoel Pavão, que casou com Ignez de Oliveira, filha de Diogo de Oli
veira, e de sua mulher : hoHve d elia dous filhos — Diogo Manoel, que
casou com uma filha de Daniel Fernandes, de quem houve dous filhos
e duas filhas. O segundo filho chamado Manoel Affonso Pavão, casou
com Margarida Annes, filha de Joam Gonçalves, da ilha da Madeira, e
de Branca Alvares sua mulher, de quem houve filhos e filhas. Houve
mais Joam Manoel, de sua mulher Ignez d'Oliveira, quatro filhas. A pri
meira casou com Sebastião Gonçalves dos Passos, de quem houve mui
tos filhos e filhas. A segunda filha, Izabcl Manoel, casou tambem, e não
sei se teve filhos. A terceira filha, Maria Manoel, casou com Braz Dias
Caridade, de quem tem algumas filhas. A quarta filha de Joam Manoel,
e de Ignez d'Oliveira, chamada Guiomar .f Oliveira, casou com Sebastião
231

Affonso de Sousa, dos nobres Sousas, capitão na Bretanha, dc quem hoq-


ve muitos filhos e filhas, um dos quaes ò bom letrado, todos homens para
muito. O terceiro filho de Manoel Affonso Pavão, chamado Pedro Manoel,
foi casado comlgnez Pinhaira, filha de Pedro Luiz, o velho, e de Violanta
de Sousa, sua mulher, de quem houve algumas filhas, que casaram hon
radamente, uma das quaes chamada Maria Manoel, casou com Fernan
do Roiz de Medeiros, da villa da Lagôa, filho de Vasco de Medeiros, e
de Luzia da Ponte,- sua mulher.

Houve mais Manoel Affonso Pavão, de sua mulher, quatro filhas —


Ignez Manoel, que casou com Estevão d'Oliveira, e de quem houve qua
tro filhos. O primeiro, Diogo d'Oliveira,. casou com Leonor Affonso. fi
lha de Gonçallo Affonso Guiraldo, morador em Agua de Páo, de quem
houve um filho chamado Estevão d'Oliveira, que casou com uma filha de
Gonçallo Pires Leão, de quem tem filhos e filhas, e um filho clerigo. O
segundo filho de Estevão d'Oliveira e de sua mulher Ignez Manoel, cha
mado Sebastião d'Oliveira, casou com Joanna Fernandes, filha de Ma
theus Dias, e de Francisca Jorge, sua mulher, de quem houve muitos
filhos e filhas. O terceiro filho de Estevão. ,de Oliveira e de Ignez Manoel,
chamado Manoel d'Oliveira, licenciado em leis, bom^etrado, e de muita
experiencia, que casou com Izabel Nogueira, filha de Estevão Nogueira,
de quem tem um filho chamado Manoel d'Oliveira, muito esforçado e
grande cavalleiro ; e duas filhas, dona Izabel, casada com Francisco de
Arruda da Cunha, bisneto de Joam Soares de Sousa, capitão da ilha de
Santa Maria ; que foi casado com uma neta do primeiro capitão, que foi
d'esta ilha de Sam Miguel ; e outra (ilha chamada Francisca dOliveira,
casada com Miguel Lopes d'Araujo, filha de Gaspar Dias. O quarto filho
de Estevão d'01iveira, chamado Ruv d'Oliveirai casou com uma fittia do
mestre Gaspar, da cidade de Ponta Delgada.

Das quatro filhas de Estevão d Oliveira, e de sua mulher Ignez Ma


noel, a primeira chamada Catharina d'Oliveira, casou com Sebastião Lo
pes, filho de Goterres Lopes, de quem houve muitos filhos e,, filhas. A
segunda filha, Izabel d'Qllveira, falleceu solteira.. A terceira, Maria de
Oliveira, casou com Gaspar Fernandes, do Cavouco, de quem houve mui
los filhos e filhas. A quarta, Jerouyma de Oliveira, casou com Lucas <te
Rezende, filho da Domingos Áffonso, do logar de Rasto de Cão, e de
sira mulher, de"quem tem muitos filhos e filhas.
A segunda filha de Manoel Afionso, o velho, chama-se Guiomar Ma
noel, casou com^ (soterres Lopes, cavalleiro, e homem muito honrado e
valente, de quem houve quatro filhos: Joam Lopes. Diogo Lopes, Pe
dro Goterres. e Domingos Goterres; que todos se foram para fóra.d'es-
ta ilha : para as índia* de Castella, para o Brasil, e Canarias : e uma fi
lha que casou com Salvador Daniel, de quem tem nm filho chamado
Salvador Praneisco, casado com uma fitha de Sebastião Pires ftíiVa, na
Ribeira Grande. A* terceira filha de Manoel Afionso, o velho, chamada
Anna Manoel, foi casada, a primeira vez com Rodrigo Alvares, dtí'quem
hou\'e trés' filhos — Pedro Roiz, Lourenço Roiz, e Roque Rbiz, todos
' homens liohrados. Pedro Roiz casou com Francisca de Friollas, filha
de Fernando Lopes de Friellas, de quem houve lmVfilho chamado Ma
noel Roiz, que foi para as índias de Castella, e IS^falleceu : e outro cha
mado P«dro Roiz, que casou' com uma. filha que teve Salvador Daniel
da primeira mulher, neta de Balthasar Roiz, de Santa Clara.
Lourenço Roiz casou primeira vez com uma filha de Pedro Esteves,
chamada Calharina Vaz, de quem houve um filho chamado Miguel Roiz,
e duas filhas que casaram na villa dAgua de Páo. Casou Lourenr.n Rriis
a segunda . vez, com uma filha de Braz d'Almeida, e de lzabel de Se
queira, de quem tem filhos e filhas. Roque Roiz, terceiro filho de Ro
drigo Alvares, e do Anna Manoel sua mulher, foi casado com Izabel
d'01iveira, a primeira vez, de quem houve um filho que falleceu. A se
gunda vez casou com Magdalena Delgada, filha de Gonçallo Vaz Delga
do, de quem não houve filhos, e falleceu em Cabo Verde. A quarta fi
lha de Manoel Afionso, o velho, foi casada com Ruy d'Oliveira, de
quem houve um filho.
Teve mais Luiz d' Oliveira duas filhas, uma chamada Maria d' Oli
veira, que foi casada com Vicente Pires, e outra com Joam Dias, Gino
de Joam Sebastião. Outros afirmam por mais certo que veio a esta ilha,
logo no principio do seu descobrimento, um Affonso Roiz Pavio, alie
233

' mio', tom sua' mulher,' natural de Aragão, a quem não soube o nJme :
teve quatro filhos e tres filhas: uma chamada Mecia Affonso, visavó dos
filhos ài Amador da Cosia. Outra, dizem que Africa Annes, a qual ca
sou na ilha de Santa Maw.a. : outra, ée quem nasceram Alvaro Pires,
•da Lomba, Duarte -Pireá, e outros. O primeiro filho de Agostinho Roiz
Paião, chamado Manoel Affonso' Pavão, teve estes filhos : O primeiro,
-Pedro Manoel Velho. O segundo, Joam Manoel. O terceiro, Pedro Ma
noel, o moça, e seis -fimas ; uma delias casou com Goterres Lopes;
, outra, Anna Manoel, mãe de Lourènço/Roiz, de Agua de Páo; outra,
mulher de Estevão d'Oliveira, ^pay do licenciado . Manoel d'01i<véfra,
.grande jurisconsulto.

Teve Pedro Manoel, o velho, filho de Manoel Affonso Pavão, estes


filhos : André Manoel, Gaspar Manoel, e' Manoel Affonso Pavão, o qual
teve doze filhos. O primeiro, Joam Lopes ; o segundo, Pedro Manoel;
o terceiro, Gracia Roiz; o quarto, Diogo Var, que falleceu de vinte
cinco annos ; o quinto, Guiomar Soeira, mulher de Pedro de Teve ; o
sexto, Antonio Affonso ; o setimo, Simão -fiorz Camello, bom sacerdote,
vigario de Sam Roque; o oitavo, Manoel Pavão; o nono, Beatriz, que
falleceu moça ; o decimo, Ruy Vaz ; o undecimo Mathias Camello ; o
•duodecimo, "Beatriz 'Roiz, mulher flo licenciado Antonio de frias.

Um Ruy Vaz Camello, do Castello da Terra, teve neve filhos, bo-


«mens no tempo de el-Rey dom Joam, de boa memoria, que com todos
se sérvio na guerra. 'Dizem que tendo uma duvida com um bispo, indo
visitar sobre è assento de sua mulher, lhe deu com uma canna na ça-
'fteçà ;.pelo que Ine mandou el-Rey samear a casa de sal. N'esta disper-
. são. 'se veio a esta ilha um seu filho, chamado Garcia Roiz Camello, com
Fernando Camello, seu primo co-irmão, e casou n'esta terra com Guio
mar Soeira ; teve d'ella quatro filhos : Joam Roiz Camello, pay do li
cenciado Antonio Camello, grande cavalleiro e letrado. Beatriz Roiz,
mulher de Diogo Vaz Carreiro, que fez e dotou o mosteiro de Santo An
dré, da cidade de Ponta Delgada ; outro filho chamado Henrique, falle
ceu moço: e outra filha, Leonor Soeira, casou como tenho dito com
Manoel Affonso Pavão, filho de Manoel Affonso Pavão, o velho, de quem
234

bouve os doze filhos que disse : um dos quaes foi Simão Rôiz Cameilo,
vigario de Sam Roque, n'esta ilha de Sam Miguei.

Fallecida Guiomar Sooira, casou Garcia Roiz Camello, segunda vez,


com Maria Travassos, filha do contador Marttm Vaz Bulham, de quem
teve sete filhos : Joam Botelho ; Izabel Botelha, mulher de ftuy Gago
da Samara; Jeronyma de Mello, mulher de Roque Gonçalves Caiado;
Francisco de Mello, que se foi d' esta terra ; Antonio Botelho, já defun
to; Francisca' d» Trindade, tambem defunta ; Maria da Trindade, freira
e boa religiosa no mosteito da Ribeira Grande ; a qual foi alguns annos
abbadeasa no mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta Delgada

v
CAPITULO TRIGÉSIMO»

Dos nobres Oliveiras: de Pedro Annes Preto e Joam Alvares Caval-


LKIRO, QUE FIZERAM SEI' ASSENTO NA VILLA D'AGUA DE PAO.

A geração dos Vasconcellos dizem proceder de Gasconha, que al


guns chamam Vasconha, grande senhor em França, d'onde procede Ruy
Mendes de Vasconcellos, que teve um filho chamado Martim d'01iveira
de Vasconcellos, casado com Tèreja Velha, irmã de Gonçallo Velho, com-
mendador de Almourol e Cardiga, senhor de Bezalga, capitão d'estas
ilhas de Sam Miguel e Santa Maria ; o qual Martim de Oliveira, sendo
da casa dos infantes dom Henrique e dom Fernando, de quem estas ilhas
eram, veio a esta ilha com sua mulher e filhos ; e não querendo viver
n'ella, se tornou para o reyno, e deixou aqui um filho, Diogo d'Ofiveira
de Vasconcellos, homem nobre, que veio com sua mãe de Portugal, di
zem que de Beja do Alemtcjo, casado com Maria Esteves., fiíba de Af-
fonso Velho, homem poderoso, tia geração dos Velhos, de quem 'houve
seis filhos — Diogo de Vasconcellos ; Estevão d'ÔIlveira ; Ruy dOlivei
ra; Martim d'Oliveira ; Joam dOliveira, e Affonso d'01iveira : e duas
filhas,1 feabet de Vasconceltos, e Violanta de Vasconcellos.
O primeiro filho de Diogo d'Oliveira, chamado Diogo de Vasconcel
los, foi licenciado em leis, e ouvidor do capitão , Ruy Gonçalves da Ga
mara, pay de Manoel da Camara, nesta ilha muitos annos escrivão dos
reziduos ; foi casado com Genebra Annes, filha de Diogo Vai, que foi
morador na villa da Lagôa, irmão de Pedro Vai Marinheiro, de quem
houve muitos filhos e filhas, e um se chamava Manoel Vaz, que foi ca
sado com uma filha de Domingos Affonso, do logar de Rasto de Cão, da
quem houve um filho chamado Jordam de Vasconcellos, homem de gran
des espiritos, e grandiosa condição, que está ainda solteiro. Houve mais
entre outros filhos e filhas, o licenciado Diogo de Vasconcellos, Outro
filho chamado como seu pay Diogo de Vasconcellos, que foi o melhor
contra-baixo que houve n'estas ilhas dos Açores. O segundo filho de
Diogo d'Oliveira, chamado Estevão d' Oliveira, foi casado com Ignfez Má-
noel, filha de Manoel Affonso Pavão, o velho, de quem houve filhos e
filhas, como disse na geração dos Pavões. O terceiro filho de Diogb de
Oliveira, chamado Ruy d'Oliveira, casou com a quarta filha de Manoel
Affonso Pavão, o velho, de quem houve Os filhos que disse na geração
dos PavSes.

O qoarto filho de Diogo dOliveira, chamado Martim dOliveira. ca


sou com uma filha de Joam Gonçalves, da ilha da Madeira, a ' primeira
vez, de quem houve filhos e filhas : e casou segunda vez, com uma filha
de Domingos Affonso, do logar de Rasto de Cão, de quem houve filhos
e filhas. O quito filho de Diogo d'Oliveira. por nome Joam dOliveira,
casou com uma filha de Gonçallo Vaz, e Guiomar Fernandes, paturaes
de Agua de Páo, de quem houve muitos filhos e filhas, que estão casa
dos. O sexto filho de Diogo dOliveirà, chamado Affonso dOliveira, foi
casado com Solanda Lopes, filha de Affonso Annes, de alcunha — Mouro
Velho Columbreiro, de quem houve alguns filhos. Teve mais Diogo de
Oliveira duas filhas, a primeira, Izabel de Vasconcellos, casou com Joam
236-

Pires; filho, de Pedro Anões Preto, natural de Agua de Páo, que foi es-:, .
crivãoda cidade de Ponta Delgada, de quem houve tres filhos e uma. fi
lha. O primeiro filho chamado Amador de Vasconcellos, foi estribeiro
do infante dom Affonso, que foi arcebispo de Évora, e cardeal,; lá ca
sou, efalleeeu. O segundo filho, chamado Pedro d'Ohveira, aprendia
para clerigo, musico, tangedòr, de boas paptes, e gentil 'homem; falle-
eeu moço. O terceiro filho, chamado Diogo,d'Ollveirái casou ; na cidade
de Ponta Delgada, com uma parenta de Aires d'Oliveira, e é fallecido..
T£ve mais Joam Pires uma filha de Izabel dtí VSsconcellos, sua mulher,
chamada Catharina d'OKveira, que foi casada com Gonçallo Mòuratõ, es
crivão que foi dós reziduos. de quem teve filtms e filhas,^ nm filho sa
cerdote, já defunto. • ." • '
, . • , •, ;• v "* • .» • ri rnt,í. i
A segunda filha de Diogo d'ORveira, chamada Violante .d^; Vascon
cellos, casou com Gaspar Manoel PavSoN. de quem houve filhos ^e, filhas,
como disse na geração dos Pavões. Pedro Annes Preto, homem princi
pal, vmo de fóra, e aposentou -se na villa d' Agua de Páo, já casado com
Catharina Alves, de quem houve tres filhos e uma filha. O primeiro fk
lho, Joam Pires, casou com Izabe! de Vasconcellos, filha de Diogo d'OIi-
veira, e de Maria Esteves,, sua mulher, da qual houve os filhos que dis
se na geração, de Diogo d'01iveira. O sjegundo, Gaspar- Pires, cavalleiro
da. 'Africa, casou com Maria Jorge, de quem j£ disse na geração das
Jorges, edos filhos que teve. O terceiro filho, Sebastião Pires Carva
lho, foi casado a primeira vez, com uma filha de Joam Alvares, o moço,
e de Margarida Affónso, sua mulher , de quem houve filhos e filhas, dos
quaes estão alguns casados na villa d' Agua de Páõ: e casou segunda vez"
com Tereja Lopes, filha de Lopo Esteves Laio, de quem houve muitos
filhos e filhas. ,-•* , rm^

Teve mais Pedro Annes Preto, de sua mulher Catharina Luiz, duas
filhas, uma chamada Agueda Pires, que foi casada com Sebastião Bar
boza, o moço, que foi á Africa, filho de Ray Lopes Barboza, de quem
houve dous filhos. O segundo, Ruy Barboza da Silva, que foi escrivão
na cidade de Ponta Delgada, e casou com uma filha de Diogo de Paiva,
da Lagoa, do quem houve alguns filhos, e uma filha chamada Lucrecia
237

Barboza. Joam Ai vares, cavalleiro d'Africa, homem muito honrado, veio


de Portugal e casou em Agua de'Páocam Leonor Aflfonso, filha de Lou
renço Aftbnso, homem dos,prinfipaes, de quem houve quatro- filhos —
Vicente do Almeida, Simão fvoiz, Braz de Almeida, Francisco de Almei
da, e uma filha. O primeiro filho, Vicente de Almeida, casou com Anna
Manoel, viim, mãe deíRídroiRote, de.Lourenço Roiz, e de Roque Roiz,
de quem jà dissa na geração 'dos Manoes . delia não hoave filhos ; foi
homem honrado, de boas partes, e.da governança.
.0 segundo filho, Joam ,Roiz, foi casado na ilha da Madeira, a pri
meira voz, e não i houve (Rhos : caseu segunda vez, no Topo, da ilha de
Sam Jorge, com utna mulher' hoorada, ,e fidalga, de quem tambem não
hoave filhos. O terceiro filho «te .Braz de .Almeida, casou com Izabel de
Sequeira, filha de Auonsoie' Sequeira, pay de Lucas de Sequeira, 'so
gro de Francisco Lobo, de qaepn houve um filho, e duas filhas. O filho
faUeceu em Lisboa, criado do capitão hfenoel da Gamara, e as filhas
catunam na villa diAguaue Páo, umacdm ámador Coelho, deiqoemriBo
houve filhos. O quarto .filho, chamado iFrancisco de 'Almeida, homem
hpnradoe.de boas partes, aprendia para clerigo, e veio a oasar-secom
Marja Camélia, filha de Franeisco Camacho, e de Maria da. Silva sua
mulher ; da qual houve tres filhas que casaram, uma com Manoel Lo
pes, filho de Sebastião Lopes, a de Guiomar d.'01iveira sua mulher ; da
qual ,lem um filho clerigo, chamado Francisco Lopes, e outros filhos ;
as -outras filhas tambem estão casadas com homens honrados.
A filha de Joam Alves, o cavalleiro, por nome Cypriana de Almeida ,
fpi casada com^Feçnando Cardozo, homem fidalgo, do Topo de Sam Jor
ge, de quem não teve filhos; e casou ella, segunda vez, com Lourenço
Aires, juiz dos orphãos, na cidade de Ponta Delgada, de quem houve
alguns filhos,

CAPITULO TRIGÉSIMO PRIMEIRO.

De Pedro Vaz Marinheiro, e dos filhos que teVe.

Pedro 'Vaz Marioheiro, homem Jiôbre e poderoso, chamado assinfc


por que mandou tazer náos e navios n'esta ilha ; qua morava jiiiiUi tia
jiraça, da cidade de Ponta Delgada, defronte da cadeia : teve estes fi
lhos — Diogo Vaz, Duarte Vaz, Joam Vaz, e VultãoVaz ; e filhas : Vio-
Janta Pires, Catharina Pires, e Grimaneza Pires. Diogo Vaz, casou com
Constancia Affonso, irmã de Domingos Affonso, cavalleiro da ordem- de
Santiago, de quem te, e estes filhos : Beatriz Calva, Sebastião Vaz, Eva
Vaz, Izabel Dias, mulher que foi de Lopo Cabral de Mello, e Izabel Vaz.
Beatriz Calva casou com Gonçallo Castanho, homem nobre, natural de
Vizeu, escrivão na cidade de Ponta Delgada, sendo ainda villa ; de quem
houve um filho chamado Pedro Castanho, homem valente, dw grandes
espiritos, que casou com Briolanja Cabral, filha de Amador Travassos;
da qual, (ora os defuntos, houve estes filhos. — Uma filha chamada
Francisca Cabral, que casou com o doutor Christovão de Mary, que foi
provedor do? resíduos n'esta dha, e depois corregedor em Ponte de
Lima, e um filho chamado Amador Travassos, estudante legista em Co
imbra, e uma filha chamada Beatriz Castanha, que casou com Antonio
Borgtw, filho de Balthasar Rebello, e de Guiomar Borges.
Vultão Vaz, houve filhos e filhas, que se chamaram as Vultôas. Ou
tro filho de Pedro Vaz Marinheiro, chamado Pedro Vaz, como seu pay,
foi leal-dador-mór dos pasteis, muito tempo, n esta ilha ; casou com
uma irmã de João Fernandes Paiva, de quem houve os filhos já ditos na
geração dos Paivas : outro filho, João Vaz, casou com Margarida Pires,
do Algarve, de quem houve filhos e filhas. De Duarte Vaz direi adiante,
e de Izabel Vaz, filha de Diogo Vaz.
Joam Alvares do Olho, homem nobre, que veio de Portugal, e de
sua primeira mulher Violante Velha, filha de Pedro Velho, teve os fi
lhos que disse na geração dos Velhos; a saber : — Alvaro 'Velho, R«y
Velho, André Travassos, e Pedro Velho ; e uma filha, que casou com
Pedro da Costa : casou e^te Joam Alvares do Olho, segunda vez, com
Beatriz Alvares, filha de Pedro Vaz Marinheiro, de quem houve estes
filhos : — o primeiro, Manoel Alvares, a segunda, Beatriz Alvares, a
terceira, Izabel Alvares, que casou com Melchior Baldaia, a quarta, Ca
ba nna Alvares, a quinta, Bartoleza Fernandes, e o sexto, Duarte ;Vaz.
239

G primeiro filho, chamado Manoel Alvares, casou coro Constancia


Gonçalves, de quem houve JoamAlvarcí, bom sacerdote, que primeiro
foi beneficiado na egreja de Sam Sebastião, da cidade de Ponta Delgada,
e agora é cura no logar dos Fenaes: houve mais Manoel Alvares, a Ma
ria Alvares, que cason com Ruy Vai de Medeiros ; e Rny Gonçalves,
casado com Julianna Rocha, filha do mestre Pedro. Beatriz Alvares, fi-.
lha de Joam Alvares do Olho, fnlleceu solteira. Catharina Alvares, cason
com um Fuam Ferreira. Bartoleza Fernandes, casou com um filho de
Lourenço Aires. Duarte Vaz, é ainda solteiro ; dos quaes logo tornarei
a dizer outras particularidades, que dizem.
Estevão Travassos, filho dc Pedro Velho, que fez a ermida dos Re
medios, é irmão de Gonçallo Velho, sogro de Jorge Nunes Botelho ;
casou com Catharina Gonçalves, filha de Gonçallo Annes, e de Cathari
na Afionso, naturaes da cidade do Porto ; o qual Gonçallo Annes, e Ca
tharina Affonso tivpram fitbo6 — a Escrivòa. Velha, mulher de Joam
Roiz, que foi escrivão da camara, da cidade de Ponta Delgada, pay de
Melchior Roiz, tambem escrivão da camara n'ella, e a mulher que
foi de Pedro Jorge, pay de Jeronymo Jorge, chamada Catharina Jorge ;
e outra filha que foi casada com Fernando da Cosia. Teve mais o dito
Gonçallo Annes, e Catharina Afionso, um filho chamado Pedro da Pon
te, pay de Cypriano da Ponte, que casou na Ribeira Grande, a primoira
vez com Maria Tavares, filha de Joam Tavares, de quem houve uma fi.
lha, freira no mosteiro da dita villa ; e casou segunda vez, com Maria
Ferreira, filha de Pedro de Paiva, e de Francisca Ferreira, de quem
tem filhos.
Duarte Vaz, de quem itraz disse, que dim, filho de Pedro Vaz
Marinheiro, casou com Maria Fernandes Flamenga, de quem houve tre3
filhas: Beatriz Alvares, Margarida Alvares, e Izabel Vaz ; — Beatriz Al
vares, casou com Joam Alvares, viuvo, chamado do Olho, por ter um
olho com um geito. ou velida ; de qoem hoove filhos — Manoel Alva
res, pay de Joam Alvares, cura nos Fenae.«, Joam Alvare*, que falleceu
solteiro, Duarte Vaz ; e filhas — Margarida Alvares, que casou com
Joam Cobrai, agora alcaide na villa da Ribeira Grande ; e casou seguo
24»

da vez com Bento Mendes, de quem houve uma filha, ainda solteira. A
segunda filha de Joam Alvares do Olho, e de Beatriz Alvares, sua" mu.
lher, se1 chamou Maria Alvares; e foi casada com' Pedro da Costa, de
quem houve uma filha, que é freira no mosteiro <\e Villa' Franca. A
terceira filha de Joam Alvares do- QWiO, se chamava Izabel' Alvares1, qae1
casou com Melchior Baldaia, de quem houve um filho chamado Joam
Baldaia, e duas filhas, Izabel Baldaia, que casou com Balthasar Rapozo,
fiího de Joam Fernandes, alcaide ; e outra chamada Maria Baldai», que
casou com Gaspar de Viveiros, morgado, filho de Jerooymo Jorge; de1
quem teve filhas.
A quarta filha de Joam Alvares do Olho.chamada Catharina Alvares,
casou com Manoel da Costa, de Santo Antonio, de quem houve filhos; e
depois -casou segunda vez, com uma filha de Diogo AfTònso, coma já
contei na geração dos Velhos, dos quaes houve alguns filhos e filhas.
A segunda filha de Joam Alvares do Olho, chamada Bartoleza Fernandes,
casou com Gaspar Corrêa, filho de Lourenço Aires Rodovalho, jniz dos
orphãos na cidade de Ponta Delgada, de quem não houve filhos.
A segunda filha de Pedro Vaz Marinheiro, chamada Margarida Al
vares, casou com Álvaro Velho, de quem houve filhos — Gaspor Velho,
Balthasar Velho, Sebastião Velho, e Joam Cabral; e filhas = Violanta
Velha, e Maria Fernandes.
Gaspar Velho, casou com Maria Paes, filha de Joam Paes, almoxa
rife n'esta ilha ; de quem houve filhos e filhas. Baltasar Velho, e Se
bastião Velho, não casaram. Joam Gabral, casou com uma filha de Joam
Roiz, dos Mosteiros. Violanta Velha, filha de Alvaro Velho, casou com
Joam Fernandes, filho de Duarte Fernandes, do logar de R ibo ,le Pei
xe, de quèm houve um filho e duas filhas. Maria Fernandes, filha de
Alvaro Vèlho, casou com Sebastião Gonçalves,, feitor, morador na Rel
va, de quem não lem fildòs. IzaM Vaz, terceira filha de Duarte Vaz,
filho de Pedro Vaz Marinheiro, casou com Lopo Dias, filho de Lopo Dias
de Paiva, e de Maria Dias, de quem houve filhos —Melchior Dias, e
Izabel Dias, solteiros ; e outros que falleceram : e filhas — Beatriz Lo
pes, Maria Dias, Leonor Dias, e outra que falleceu. A primeira filha de
''",m

topo Dias, e de Izabel Vaz, sua mulher, chamada Beatriz Lopes, casou
com Joam Serrão, de quem houve filhos — Miguel Serrão, Márioel Ser
rão : e filhas : Catharina de Novaes, Izabel Serrão, e outras que falle
ceram ; os quaes foram casados, e tiveram filhos c filhai coo» já tenho
contado na geraçiò dos Novaes, e Quihtae». •

Maria Dias, filha de Lopo Dias,. e de Izabel Vaz, casou com Fru
ctuoso Días, viuvo, de quem houve filnós — Jo'ámT)ias, eManoel Dias,
solteiros; e uma filha chamada Maria Dias, qtfe casou còm1 Gaspar Fer
nandes, filho de Antonio Fernandes, da Relva, e dè Anna Esteves, de
quem tem filhos e filhas. Leonor Dias, terceira filha de Lopo Dias, e de
sua mulher Izabel Vaz, casou com António Jorge, escrivãft dtts rezidoos,
filhodum Adail, que foi em Africa, e de Beatriz Gonçalves, de quem
houve filhos e filhas. Violanta Pires, primeira fflba de Pedro Vaz Mari
nheiro, casou com Bartholomeu Afibnso Perèira ; pof alcuriha o aRatò•,
de quem teve fiíhos — Duarte Affonso, Melchior' Affonso, alem" d'outros
quatorze, todos machos, que falleceram. Duarte' Afitinsb/ casou com
Maria Roiz, cujos filhos fallfeèeram".
Pedro Affonso Pereira, filho de Bartholomeu Aftonsb, íòi casado
com Guiomar Fernandes, de quem houve um filho macho — Bartholo
meu Affonzo, casado com Anna Velha, filha de Diogo Velho ; e um fi
lho, que está na índia ; outros que falleceram, e uma filha chamacia
Izabel Pires, que casou com Amador da Costa, filho de Francisco dAr-
ruda da Costa, e de Francisca de Viveiros, dè quem tem filhos e filhas;
duas velhas freiras no convento de Santo André, de Villa Franca ; e ou
tra filha de Pedro Adorno, chamada Briolanja Affonzo, casou com Sebas
tião Velho, filha de Ruy Velho, e de Guiomar de Teves, de: quem tem
filhos.
Catharina Pires, filha de Pedro Vaz Marinheiro, foi casada com Joam
RoizBadilha, de quem teve lilhos— Ambrosio Castanho, Francisco Ròiz.
e Joam Boiz; e filhas-— Izabel Castanha, Maria Boiz; Leonor Dias, c
Beatriz Castanha . que 'fallPcou solteira. Casou Ambrosio Castanho com
Beatriz Ferreira, filh.i de Alvaro Pires, e de Leonor Dias, de quemlriu.
ve filho,: o filhai. Pedro R^z, casou com uma Fuam d'Ornpllas. Joam
245

Fernandes casou com uma sobrinha do mestre Gaspar, chamada Gene


bra da Costa.
Izabei Castanha, casou com Pedro Alvares de Benevides, alcaide, de-
quem boove um filho que fallecen solteiro, chamado Gaspar Roiz ; e
duas filhas — Beatriz Roiz, e Solanda Roiz; Beatriz Roiz, casou com
Amador de Teves, filho de Pedro de Teves, e de Joanna de Mezas, de
quem houve filhos — Gaspar de Teves, que casou com uma lilha de
Manoel Machado, e de Leonor Ferreira, de quem tem filhos e filhas.
A segunda filha de Pedro Alvares de Benevides, alcaide, chama-se
Solanda Roiz ; casou com Christovão Cordeiro, filho de Sabastião Roiz
Panchina, e de sua mulher, da qual houve filhos e filhas, que já disse
na geração dos Cordeiros. Mana Roiz, segunda filha de Joam Roiz Ba-
dilha, casou com Joam Fernandes, o Reinado, de Santa Clara, de quem
houve filhos e filhas. O primeiro, Manoel Fernandes, casou com uma
Travassos, de quem tem um filho. O segundo filho de Joam Fernandes,
chamado Joam Roiz, casou com uma filha de Joam Soares, o Velho, do&
Mosteiros; de quem tem filhos e filhas, e um filho sacerdote, que falle-
ceu. A primeira filha de Joam Fernandes, e de Maria Castanha, chama
da Maria Castanha, casou com Antonio da Costa, de Santo Antonio, de
quem tem filhos e filhas; uma das quaes foi casada com Domingos Fer-
oandes Cafatem.
A segunda filha de Joam Fernandes, e de Maria Roiz, chamada Iza-
bel Castanha, casou com Luiz Rebello, filho de Simão Roiz Rebello, e
de Joanna Botelho, de quem tem filhos e fillus. Tem mais Joam Fer
nandes outra filha solteira, chamada Leonor Fernandes.
Leonor Dias, terceira filha de Joam Roiz Badilha, casou com Fran
cisco Preto, de quem houve dois filhos, que falleceram.
Grinaaneza Pires, terceira filha de Pedro Vaz Marinheiro, casou com
Estevão Roiz Alpoim, escrivão dos orphãos. na cidade de Ponta Delga
da, de quem houve filhos — Ruy d j Alpoim, e Margarida de Alpoim,
fóra outros que falleceram. Ruy de Alpoim, casou com Izabel Lopes, de
quem tem filhos e filhas.'Margarida de Alpoim, casou com Heitor Roiz;
filho de Guiomar Alvares, irmão de Pedro Alvares, 3lcaide : e nãop"'^
&3

saber o nome de seu marido, de quem teve um filho, chamado Gaspar


de Alpoim, que casou com uma filha do licenciado Francisco Ga\t5o.
Outra filha teve Diogo Vai, filho de Pedra Vaz Marinheiro, chamada
fzabel Vaz, atraz nomeada, que casou com Miguel Martins, muito va
lente homem, natural da ilha da Madeira, de quem houve estes ffltw&r-
Joam Martins, Miguel Martins, Francisco Martins, Joanna Martins, èC»-
tharina Martins, mulher que foi de Joam Alvares, examinado, morador
que foi na villa da La^a ; e Maria Martins, mulher que foi d* Joam
Lourenço, chamado Tição, escrivão do reziduo, n'esta ilha ; e todos ti,
veram filhos e filhas, e descendentes muito honrados. - •,

". CAPITULO TRIGÉSIMO SEGUNDO.

Dos Frias, fidalgos, naturaes de Castella ; oos Feios, que vieraAI á


ESTA ILHA DE,SAM MiGUEL, NO TEMPO DE KtJY GONÇALVES SA CAMA RA,
QUINTO CAMTÂO D' ELLA, £ SEGUNDO DO NOME.

Veio, solteiro, a esta ilha de Sam Miguel, no tempo Je Ray Gon


çalves da Camara, quinto capitão .íella, e segundo do nome, um Ruy
de Frias, da geração dos Frias de Castella, castelhano ; homem fi Jalgo,
de muita qualidade, muito honrado, e assim o parecia em sua pessoa :
casou aqui com Leonor Pires, filha de Genebra Annes, e de.6eu seguo-
do marido Joam Vaz Feio das Virtudes; da qual teve o dito Ruy de
Frias, os filhos seguintes : o primeiro, Gregorio de Frias, que casou na
vilia da Lagoa, com Catharina Correa, mãe de Simão Corrêa, da qual
houve uma filha, por nome Anna de Frias, que íalleceu solteira ; o se
gundo filho, chamado Bartholomeu de Frias, sendo pagem do capitão
244

Ruy Gonçalves da Caçoara, sçguodo do, nome, faleceu em casa, solteiro,


no tem#o do tlQluyio em Villa Franca. Tçve mais Ruy de Frias, tras íi-.
lha» : a primeira^ Anua de Frias, falleceu fambem no mesmo terramoto,
eia casa do dito capitão ; a segunda filha, chamada Genebra de Fri^s,
foi casada com um filho de Joarn Gonçalves Botelho, e neto de Gonçalb
Vai Botelho, o Grande, do qi^aj ficaram duas filhas, que falleceram sol
teiras, no dito deluvio de Vilja Franca : o qual primeiro marido da dita
Genebra de Frias, mamaram em Rabo de Peixe,' uns irmãos da mulher
de Diogo Annes, o> Ribeira Grande, sobre umas extremas de terras,
que elle tinha no mesmo logar ; e depois casou Genebra de Fjfias, se
gunda vez, com Fernando Annes de Puga, irmão de Vasco Annes, aba
de de Moreira, ouvidor que foi do ecclesiastico n'esta terra ; o qual Fer
nando Annes veio a esta ilha, muito rico, com grande casa, como homem
muito nobre, que era ; do qual houve estes filhos :

O primeiro, Antonio de Frias, que falleceu moço ; o segundo, o li


cenciado Bartholomeu de Frias, grande jurisconsulto, homem muito gra
ve, discreto, letraclo de grandes e certos conselhos, e pay da patria ; o
qual casou com Jordòa do Rezende, segunda filha de Domingos Affonso,
do logar de Sam Roque, homem nobre, rico e poderoso, almoxarife,
que foi «'esta ilha,; da qual houve estes filhos: — Antonio de Frias, li
cenciado em leis, bom letrado, e cavalleiro do habito de Chri?to, com
boa tença; o qual casou com Beatriz Boiz. e ó agora padroeiro do in
signe mosteiro de Santo André, da cidade de Ponta Delgada, de religio
sas de Santa Clara, da obediencia do bispo d'estas ilhas dos Açores. O
segundo, Joam de Frias, que casou com dona Beatriz, filha de dom
Joam Pereira, bisneta, ou sobrinha do conde da Feira, e de sua mulher
dana Simôa, filha de Gaspar Pardomo, e neta de Gaspar Betencort, so
brinho da capitòa dona Maria de Betencort, mulher de Ruy Gonçalves
da Camara, terceiro capitão d'esta ilha de Sam Miguel.

O terceiro, Manoel de Frias, licenciado em theologia, que falleceu


estudante em Coimbra. O quarto, Domingos de Frias, morreu nas ín
dias de Castella. O quinto, André de Frias, letrado em lei$. O ssjtto, Se
bastião do Frias, falleceu em Coimbra, estudante, quasi no cabo ds seus
?45

estados de cannones, sendo; um dos mais raros engenhos, e habilidades,


do seu tempo. Teve mais o licenciado Bartholomes de Frias, duas filhas.
uma chamada Maria de Frias, casada com Antonio de Brum da Silveira,
e outra Izabel de Frias, ainda solteira. Os montanbezes em Casteila s5o
todos fidalgos, e tem suas executorias, que é a mais afinada fidalgoia. e
quando lá querem encarecer um de muito fidalgo, dizem que é monta*
nhez, e muito montanhez ; e assim n3o pagam alcavala, nem moitas ou
tras cousas, que paga a outra gente, a que chamam Ficho, Os visiohos
da cidade de Frias, são d'estes fidalgos montanbezes, da qual è duque
o condestavel de Casteila, e d'estos montanheses vieram alguns a Vian-
na, e de lá veio a esta ilha1 Ruy de Frias, que se aposentou na villa da
Lagoa ; com cuja filha casou Fernando Annes, pay do lirenciado Bar
tholomeu de Frias ; e já agora seus filhos, e descendentes pela sua par
te, são fidalgos dos montanbezes ; e por parte de sua mulher são fidal
gos dos Carreiros ; e assim tem ambos os brazões, que pertencem a es
tas duas progenies.

O segundo filho de Fernando Annes, e de sai mulher Genebra de


Frias, chamado Pedro de Frias, letrado em teis, casou em Lisboa, com
uma mulher muito honrada, que trouxe a esta ilha, e morreu em Villa
Franca, servindo muito tempo de juiz dos orphãos, e na governança da
dita villa, d'oode se tornou a Lisboa, onde foi tambem juiz dos orpbaos,
e lá fallecen.
O terceiro filho, chamado Braz d> Frias, falleceu solteiro. Teve mais
Fernando Annes, de soa mulher Genebra de Frias, tres filhas ; ama
íalleceu solteira ; outra casou com Buy Pires, rico mercador, da ilha da
Madeira ; a terceira, chamada Catharioa de Frias, casou com Braz Ra-
pozo, na cidade, capitão d'uma companhia, filho de Manoel Vaz Pache
co, de quem tem filhos, e uma filha chamada Maria Jacome, que casou
com Manoel Martins, rice e grosso mercador, e homem de delicado en
tendimento : teve mais outra filha, chamada Clara de Frias, e depois
Clara de Jesus, por ser freira em Sam Joam. A terceira- filha de Bnyde
Frias, e de Leonor Pires, cbamadi Izabel de Frias, foi casada com Joam
Vaz de Medeiros, filho de Ruy Vaz de Medeiros, da Atalhada ; de qusa*

31
teve alguns Mm, que íaUeeeram ; e um chamado Huy Vaz de Medei
ros, capitão dos Aventureiros, na cidade de Ponta Delgada, cavatleire
do habito de Christo, com quinze mil rets de tença ; que casou doas
vezos, como fica dito na geração dos Medeiros : teve tambem rtna filha
chamada Anna de Frias, que casou com GonçaHo Vaz, filho de Domin
gos AfJonso, do Jogar de Rasto de Cão, que falleceu oom seus irmãos.
Para maior declaração do sobredito, digo- que Ruy de frias, avô do
licenciado Barthólomeu de Frias, e Ròmlo de Frias, sen irmão, eràm
naturaes das montanhas dè Castella ; e sendo Hespanha dos .mouros , dons
irmãos da soa geração, capitães <T um exercito, conquistaram a cidade
de Frias, que é uma das principaes cidades das montanhas ; tendo ga
nhado a ponte e um castello, que n'eflá" estava, muito forte, acommet-
teram a cidade, e a tomaratai

El-Rey lhes fez mercê, pela victoria, de lhes dar o castello, com ti
tulo de alcaide -mor, d'onde tomaram o appellido de « Frias •, com as
armas, de que El-Rey lhes fez mercê, que são uma ponte com um cas-
" tello ; sobre a ponte e rio em campo vermelho, 6 da outra parte uma
insigna com um lobo, atado a ella em campo amarello.
Correndo o tempo, honve o condestavel de Castella, du El-Rey, ser
duque da dita. cidade de Frias, e cottmetteu ao possuidor da akaidaria,
que lh'a largasse, e lhe satisfaria com outra cousa egual ; o que não
quiz acceitar, sobre o que houve grandes bandos, onde se matou uma
pessoa ppinópal da Gasa do condestavel, que foi causa dós ditos Ruy
de Frias, avô do licenciado Bartholomeu de Frias, e seu irmão RomUo
de Frias, se .ausentarem tia sua pateta, e vieram a esta ilha ; oudè Huy
de Frias vwu muitos, anuos, na villa da Lsgoa, e sempre foi conhecido
por homem fidalgo, e como tal a governou, sendo juiz o vareadòr, qTVe
são os officios principaes e honrados ; casou suas filhas com os mais
honrados da terra, e aqui falleceu ; seu irmão Romão de Frias, c*sóe
na 'ilha da Madeira, na cidade do Funchal, com uma mulher das princi
paes, e viveu muitos aanos ; ficaram-lhe filhos e filhas, que casarei com
os prjpcipaos da terra ; e elle foi tido sempre por fidalgo, e «'essa^ «JU-
ta estão agora os que d'elle procedem.
Fernand©' Annes de Puga, era natural de Ponte de Lima, e proce
dia da geração do» Pugas, da cidade « Dorens • de Galliza, os quaes
á'esta geração são dos principaes fidalgos de Galiza, e entre Douro e
Minhj : a casa d'esta progenie dos Pugas, tem soga e cochilo, e por ser
tal, indo Ruy Vaz de Medeiros (que foi um dos principaes homens d'es-
ta ilha, é tinha casado um seu filho com um» filha de Ruy de Ffias ) a.
Portugal, foi ter a Ponte de Lima, e estando ali algurts diasrlève amiza
de com Fernando Annes de Puga ; por estar informado de quem era,
o commetteu com o casamento de Genebra de Frias, filha de Ruy de
Frjas, que foi primeiro casada com o irmão de Joam d'Arruda, e esta
va viuva ; por ter muita fazenda, e Ruy Vaz certificar a Fernando An
nes de Puga, da honra de Ruy de Frias, avô do licenciado Rartholomeu
de Frias, e de sua filha Genebra de Frias, eda muita fazenda que tinha,
acecitou o casamento; e por esta causa veio a esta terra, e aqui viveu
muitos annos, e sustentou sua casa com muitos criados e escravos, como-
quem era ; como tal sè tratava, e era conhecido, e andou sempre no re
gimento da villa da Ribeira Grande ; em cujo termo era morador, e pox
seus filhos no estado em que esta notorio, e no mais que tenho dito.

Aqui 0,ve4e ver seu irmão, a.ubado de Moreira,. qflft foi tup dos
principaes homens de entre Douro e Minho, em honra e renda, e como
tal se tratou n'esta ilha. com dois e tres cavallos na. estrevaria, os me
lhores que n'3lla havia, acompanhado de muitos criados : e todos os
principaes d'esta terra lhe tinham muito acatamento, e o acompanha
vam ; foi ouvidor do ecclesiastico alguns annos, e deixou nesta ilha um
seu neto, por noníe Manoel de Puga, homem de grandes espiritos, mui
ta prudencia e virtude, em casa dò licenciado Rartholomeu de Frias, seu
sobrinho, e tio do dito Manoel de Puga ; o quaf seu tfò o casou com
Luzia Cabral, filha de Melchior Tavares, e de Simôa Cabral, sria' mulher,
e neta de Joam Tavares, filho dè Ruy1 Tavares, é neta de^Joam Cabral,
da villa da Lagóa,t da geração dos Velhos, e Cabraes, fidalgos, e muito
parentes de Gonçallo Velho, commendador de Almourol, e senhor de-
Rezalga e das Pias, que foi o primeiro, qne por mandado do infante dom
Henrique, desrobrio estas ilhas, de Santa Maria, e de Sam Miguel, efoi
2tS

feito pelo diio infante, capitío delias ambas.

Veio de Covilhã de Portugal a esta ilha, um homem muito honra,


do, que se chamava Joam Vaz Feio, das Virtudes, por que corava por
virtude, o qual, seado menino muito pequeno, passando pelo caminho
um iidalgo de Lisboa, que vinha d'uma sua quinta, e não tinha filho
nenhum ; como vio o menino tio bonito, pergontando-lhe se queria ir
com elle, i espondeu-lhe que"sim ; levou-o nas ancas do cavailo, e creou-o
como tilho ; com o qual a mulher do fidalgo muito folgou. Era dotado
de muitas virtudes, muito devoto, e bem inclinado ; sendo ji mancebo
teve uma duvida com um homem ; e por se temer o fidalgo, que falle-
cesse o ferido, o mandou muito recommendado ao capitão da ilha da
Madeira, que era parente do mesmo fidalgo, encommendando-fhe tivesse
em seu poder aquelle mancebo, que elle tinba como filho : o capitio o
estimava muito, e estando em sua casa, se casou à sua vontade com
uma visinha, chamada Eslevasinba Vicente, da geração dos Cogumbrei-
ros, mulher muito honrada : e por o fidalgo o desfavorecer, depois que
soube era casado, por que o mandava ir para Lisboa, para lhe fazer
muito bem, e perfilhat-o ; se veio descontente para a ilha de Santa Ma
ria, e trouxe comsigo sua malher ; sem embargo do desgosto que teve
o fidalgo, por se casar, lhe houve dadas de terra, na ilha de Santa Ma
ria, que havia pouco se achara; e eram cinco moios de terra, que al
guns disseram lhe deu El-Rey pelo curar ; ali se aposentou com sua
mulher, nao tendo ainda filhos d'ella, e fazia muitas curas.

Da qual Estevasinha Vicente, houve os filhos seguintes: Joam Vaz


Feio, que casou na ilha, com uma filha d'um rico mercador. O segundo,
Vicente Vaz, que casou com uma filha dum homem principal. O ter
ceiro, a quem nlo soube o nome, casou com a filha doutro mercador .
O quarto, Fernando Vaz, foi casado com uma Rezende, parenta de Do
mingos Affonso, sogro do licenciado Bartholomcu de Frias. Este Fer
nando Vaz teve uma filha, que casou com o capitio Joam Soares, cha
mada dona Jordôa.de quem teve os filhos ditos na geração dos capitães
da ilha de Santa Maria ; e outra filha de Fernando Vaz, chamada Phi-
lippa Faleira, casou com Francisco Corvello, homem dos principaes da
249

ilha, que casou ama filha, por nome Caminha de Rezende, com um fi
lho do almoxarife velho, que chamavam Joam Thoiuè Velho ; outra fi
lha de Fernando Vir, Anna de Rezende, casou tambem com outro filho
do almoxarife velho.

Teve mais Joam Vaz das Virtudes, um filho que chamavam Pedro
Vaz, mestre, que também curava por virtude, e estancava por devotas
palavras o sangue das feridas, ( não se pode usar de semilhanles •pala
vras) o qual veio a esta ilha, e casou na Villa com Guiomar Alvares,
filha de Pedro Alvares, e de Jgnez Moura, colassa de dona Ignez, mu
lher que foi de Joam Roiz, que casou com a dita Guiomar Alvares, e
lhe deu quatro moios de terra, no Morro, da villada Ribeira Grande,
para ajuda do seu casamento. Teve mais Joam das Virtudes, tres filhas—
•Barbara Vaz, que casou na ilha de Santa Maria, com Alvaro Pires de
Arvéllos, que veio de Portugal, homem fidalgo, de quem teve alguns
fhhos. A terceira filha de Joam Vaz, chamada Marqueza Vaz, casou com
Joam da Ponte, homem muito honrado, que viveu rico, e gastou sua fa
zenda em buscar uma ilha nova, que nunca se pode achar.

CAPITULO TRIGÉSIMO TERCEIRO.

Dos Ghcgorios, e dos Teixkiras da Ribeiiu Grande.

Antes do diluvio de Villa Franca, poucos annos, em tempo do ca


pitão Ruy Gonçalves da Camara, pay de Manoel da Camara, veio a esta
ilha de Sam Miguel, um Gregorio Roiz Teixeira, com sua mulher ba
bel Alfonso ; homem honrado dos Teixeiras, da ilha da Madeira, paren
te dos capitães de Machico ; e aposentou-se na villa da Ribeira Grande,
dai parte do norte : o qual houve de sua mulher os filhos seguintes
O primeiro, chamado Gregorio, fallecen solteiro ; o segundo, Duarte-
Gregorio, casou com Catharina Moniz, e foi muilo tempo escii\ão da
lita Vilta. Teve filhos — Gregorio Roiz Teixeira, hr mem honrado, da
governança, e virtuoso ; que casou com Simôa de Moraes, filha de Gon-
çallo Affonso, morador que foi na Ribeira Secca, honrado e abastado,
e nõo teve filhos. O segundo filho de Duarte Gregorio, por nome Mei-
cbtòr Roiz Teixeira, discreto, aprazível, e de grandiosa condição, dos
prir*;ipae8'dd' governança, casou com Maria Gonçalves, filha do mestre
Joam, dá qual nan teve filhos, e fallecen em Lisboa.

O terceiro filho de Duarte Gregorio, chamado Bartholomeu Roiz


Teixeira, dos principaes, e da gavernança, virtuoso como seus irmãos,
casou com Guiomar Alvares, filha de Lopo Dias Homem, e de Guiomar
Alvares, sua mulhèt, dá qual não tem alguns filhos.
Teve mais o dito Duarte Gregorio, uma filha chamada Catharina'
Gregoria, que foi casada^com Joam Gonçalves, filho de Vasco Affonso,
da qual houve alguns filhos — Nicoláo de Paiva, e outros. A segunda
filha de Òuartè Gregorio, chamada Brazia Gregoria, foi casada com Ama
dor de Sousa, què faltècéu em Rabo de Peixe, aonde morava ; filho de
Diogo de Sousa, homem honrado, da governança, da qual teve alguns
filhos. A terceira filha de Duarte Gregorio, chamada Genebra Grego
ria, foi casada com Gabriel Coelho,, filha de André Affonso de Paiva,,
de quem não te,e filhos.
O terceiro filho de Gregorio Roiz Teixeira, chamado Joam Grego
rio, foi da governança da villa da Ribeira Grande, casado com Maria
Pires, da ilha de Sam Jorge, de quem houve alguns filhos, e um por
nome Manoel Roiz, mora na villa do Nordeste, onde casou honradamen
te, e é lá dos prineipaes da terra, e da governança d'ella. Teve mais o
dito Gregorio Roiz uma filha, que trouxe comsigo da ilha da Madeira,
casada com Joam Fernandes Lordello, valente homem, que falleceu no
Brasil, com Balthasar Vaz, sendo capitão Pedro do Campo, e teve alguns
filhos. A segunda filha de Gregorio Roiz Teixeira, chamavam-lhe Ctara
Gregoria, tambem veio casada da ilha da Madeira, quando veio seu pay,
com Luiz Mendes Potas, qne era homem fidalgo, e foi da governança
251 .
, i , • _m• i • ...IV
da villa da Ribeira Grande, de quem teve alguns filhos : oin das. qdaes
por nome Balthasar Mendes, foi beneficiado em Villa Franca do Cam[}o7v
e bom Clerigo; e outro, Gaspar lfoeridèV'éàSado"ctío5 'Madalena 'ft^fga-
da, filha fleGohçalfo Vaz Deígado, morador na IVibéira' Grande, irmão
de Pedro Gonçalves Delgado, morador em 'Ponta Delgada, e dè "Cíffia-
rina dWlmeida, filha de Pedro Teixeira.
Teve mais Luiz Mendes Potas, outra filha, que casou com Pedro
Lourenço dé Sousa, morador na Ribeira Secca, termo da Ribeira Gran
de, cavalleiro da Africa, e da governança da mesma Villa ; de quem
não tem filhos. Outra filha foi casada com Gaspar Dias, da "Ribeira Cbã,
termo de Villa Franca, de quem teve alguns filhos : dous dos qúaes fo
ram para as índias de Castella, e uma filha, chamada Chrisostima de
Lordella, que casou com Gonçallo Coelho, filho de Gabriel Coelho. X
terceira filha de Gregorio Roiz Teixeira, chamavà-se Brazía Gregoria, e
casou no Nordeste com Christovão Fernandes, homem honradq. da go
vernança, da qual houve alguns filhos : um dos quaes chamado Diogo
Fernandes, é sacerdote, beneficiado na mesma villa do Nordeste.

A quarta filha de Gregorio Roiz Teixeira, por nome Catharina Gre


goria, casou com Pedro Vaz, o Mestre, que curava por virtude; e veio
a esta ilha, de Santa Maria, e lá teve irmãs e parentes, gente bonrada ;
o qual Pedro Vai foi primeiro casado com Guiomar Alvares, irmã cje
Catharina Corrêa, da Lagôa, mãe de Simão Corrêa, da qual primeira
mulher não houve filhos machos. .. .
Teve Pedro Vaz, Mestre, da. dHa Guiomar Alvares, primeira mdhor,
uma filha, chamada Guiomar Alvares, que casou com Lopo Dias Homem,
do habito de Santiago, de quem houve um filho, que falleceu mancebo ;
e tres filhas, uma chamada Francisca de Figueiredo, casaéa com Bal-
tbasar Tavares, filho de Joam Tavares, morgado de sen ayô Ruy Tava
res ; de quem tem filhos — Leonel Tavares, e Balthasar Tavares ; a Ou
tra chamada Maria de Figueiredo, é casada com Jorge Roiz, de quem
tem filhos : a oútra, chamada Guiomar Alvares, casou com Balthasar
Roiz Teixeira, como atraz fica dito. Houve também b dito Pedro Vaz,
da primeira mulher, uma filha, chamada Anna * Pires, que casou com
Audré Martia?, homem honrado, da casta dos Martins; morador ootèr-
ião da FUbeira Grande: a qual, fallecido elle, esteve depois muitos an
ãos entrevada : de quem teve oito Slhos, muito virtuosos, e duas filhas
que casaram, uma com Clemente Furtado, e outra com Antonio da
Costa, filho de Joam Lopes, uma que falleceu, e duas ainda solteiras- ;
e tree honrados filhos — Manoel Vaz, que casou na ilha de Santa Ma
ria, Joam Feio, e Antonio Martins, solteiros.
Depois de viuvo Pedro Vaz, o Mestre, casou segunda vez com Ca
lharina Gregoria, de quem houve um filho, chamado Joam Roiz Panei-
las de Polvora, muito valente homem, que na índia, em serviço d'El-
Rey, ganhou este apellido, como adiante direi ; houve mais Pedro Vaz,
da segunda mulher, uma filha, chamada Francisca Feio, que casou com
Antonio de Braga, irmão do Pedro de Braga, cidadão do Porto, pay de
Gaspar de Braga, da Ribeira Grande; da qual houve doas filhos : Joam
Ferreira de Braga, que casou na índia, muito rico *. homem de quem os
governadores faziam muita conta ; e vae agora por capitfo de tres na
vios do trato, para Sofala ; outro chamado Pedro de Braga, que tambem
casou na índia, onde andam no serviço d'El-Rey, homens do muito pre
ço, que imitavam bem seu" tio; Joam Roiz Panellas de Polvora.

Houve mais Francisca Feio, de seu marido Antonio de Braga, duas


filhas, uma chamada Joanna Ferreira, que casou com Joam Ron C&rrei-
ro, muito nobre, filho de Bartholomeo Roiz da Serra, de quem houve
muitos filhos : um dos quaes chamado Antonio de Braga, é frade capu
cho na índia, onde faz santa vida : outra filha de Francisca Feio, chama
da Petronilha de Braga,, mufher de muita virtude, casou com Manoel
Vieira, dos Fenaes da Mãia, nobre, rico e abastado. Outra filha teve
Pedro Vaz, da segunda mulher, casada com Gaspar Pires, dá Achada,
de quem teve alguns filho9.
A quinta filha de Gregorio Roiz Teixeira, chamada Branca Affonso,
foi casada com Gaspar Martins, homem da governança, da qual houve
uma filha, que casou com Joam Roiz Cernando ; de quem teve filhos :
um, Gaspar Roiz, casou na cidade com uma filha de Francisco Barboza ;
outra, casou na ilha da Madeira, na Calheta. Outro, solteiro, e tres filhas,
253

uma casadi com Loarenço Aires, filho de Ruy da Costa, morador na


cidade de Ponta Delgada, de quem houve filhos ; e outra casada com
:Francisco Pires Paiva, "filho de Sebastião Pires, da Ribeira Grande, de
qnem teve filhos; e eutra casou com um filho de Francisco Lobo, da
cidade.
Teve mais Gaspar Martins, outra filha de Branca Affonso, sua mu
lher, chamada Simôa Martins, que foi casada com Antonio Alvares, es
crivão na Ribeira Grande, de quem houve muitos filhos, e um d"elles
por home Amador Alvares, serve o officio |lo pay, pa mesma villa.

Teve mais Gaspar Martins, de sua mulher Branca Affonso, um filho,


chamado Simão Roiz, que casou com Concordia Affonso, entiada de
Pedro Teixeira, filha de Joam Affonso, que foi escrivão na villa da
Lagoa.
Teve Gaspar Martins outro filho, clerigo, que está na ilha da Ma-
«deira, o outro chamado Joam Roiz, que casou na villa de Agua de Páo.

CAPITULO TRIGÉSIMO QUARTO.

Dijs Ferreiras, nobres fidalgos, que vieram ba ilha dà Mabeira, a


bsta ilha de sam miguel, em tempo do capitão ruy gonçalves da
Camara, segCndo do nome.
i. " • • t
Branca Affonso de Drumonde, filha de dom Joam de Drnmonde,
senhor do Escobal, em Escocia, era mãe de Gonçallo Aires Ferreira, o
Velho, da Casta Grande, da ilha da Madeira, e irmão de Gonçallo Aires
•Ferreira, que foi companheiro de Joam Gonçalves Zargo, seu parente,

32
254

primeiro capitão da ilha da Madeira, no descobrimento d'ella ! este


Gonçallo Aires Ferreira, era tio de Gonçallo Aires Ferreira, da Casta
Grande, da ilha da Madeira ; o qual Gonçallo Aires Ferreira, filho de
Branca Affonso, • sobrinho de Gonçallo Aires Ferreira de Drumonde,
que descobrio com o primeiro capitão a ilha da Madeira ; foi o que em
nome da dita iljia, foi acceitar o partido dos, quinjos da mesjna ilha, com
El-Rey dom Manoel, que está em glqrja,. Este inesmp, Gonçalo ^ Aires,
filho de Branca Affonso de Drijmonde, foj pay de D.ipgp Kqjx, o caval
eiro, tambem morador na ilha da Madeira, eteve mais três filhas, duas
ligitimas, e uma bastarda ; das ligitimas, uma delias se chamava Joanna
de Frias Escocia, a outra Helena Ferreira, e a bastarda Anna Ferreira.

A qua| filha bastarda, foi casaria com o licenciado Lopo Dias, na


ilha da Madeira.
Do dito Diogo Roiz, cavalieiro, filho de Gonçallo Aires, nasceu d'en-
tre elle, e Catharina Alvares, sua mulher, o bacharel Gonçallo Aires,
que ora reside na villa da Ribeira Grande, d esta ilha de Sam Miguel,
por mestre de grammatica, com provisão d'EI-Rey. O qual Gonçallo
Aires Ferreira, filho da dita Branca Affonso, sendo possuidor de muita
fazenda, rico e abastado na ilha da Madeira, aonde se chama a Ribeira
de Gonçallo Aires, entre Sam Thiago e Nossa Senhora das Neves, da
banda do levante, indo pela comieira da serra, até Nossa Senhora do
Monte, aonde se chama Corugeira, para o norte, parece que por se crea-
rem ali muitas corujas, correndo para onde se chama a ponte do Pargo;
nesta fama e estado falleceu, de idade de cincoenta annos, pouco mais
ou menos; e antes do seu fallecimento ( se verdade é o que se diz) es,
tando o dito Gonçallo Aires na Corugeira, detraz de Nossa Senhora do
Monte, no verão, dormindo á sombra d'unw arvore, que se chama cor-
nojaleiro, que dá tructa á maneira de ferrobo, que é arvore semilhante
á ameixieira; dizem que ouvio uma voz, sem ver pessoa alguma, que
lhe dissera : — Gonçallo Aires, levanta-te, vae para casa, e faz testa
mento ; o que elle fez : e d'ali a trinta dias, ( segundo dizem que elle
disse ) fallecéra ; e estando doente, por o povo da ilha da Madeira, co
nhecer d elle ser tal: tão nobre e virtuoso, como elle era, determinara
255

pedir a Deos com procissões, sendo seu serviço, lhe désse vida, para
remedio e sustentação da dita ilha, como elle até ali linha feito ; mas
Deos como sabedor de. todas as cousas, o levou para si, para lhe dar
mais prestes os premios dos seus merecimentos.
Este Gonçallo Aires teve três irmãos, que na dita ilha habitaram
com elle, todos homens de muito nom°, e estimados na conta de suas
pessoas ; um d'elles chamava-se Manoel Affonso Ferreira de Drumonde,
outro Melchior Gonçalves Escocia, e ootro Balthasar Gonçalves Escocia
Ferreira, dos quaes foi povoada a ilha da Madeira, e se intitulavam em
nome de casa, ou Casta Grande, por descenderem de tão nobre casta,
e alta progenie, como foi de Anna Bella, raynha de Escocia ( como vi
por brazão passado pelos reys de Portugal ) e approvado descenderem
da dita casa de Drumonde, em Escocia : estes ditos quatro irmãos eram
sobrinhos do primeiro Gonçallo Aires, companheiro de Joam Gonçalves
Zargo, primeiro capitão que foi na ilha da Madeira, e todos eram pa
rentes.
De Melchior Gonçalves Escocia, um d'estes quatro irmãos que vie
ram de Escocia á ilha da Madeira ; descendeu Joam Gonçalves Ferreira,
que n'esta ilha de Sam Miguel, se chamou da « Serra d' Agua •; oqual
veio da ilha da Madeira a esta de Sam Miguel, no tempo d'uma grande
peste, que deu na dita ilha da Madeira, em uma casa d'esta Casta Gran
de dos Ferreiras, onde uma irmã de Joam Gonçalves Ferreira, que de
pois se chamou da Serra d'Agua ( como adiante direi ) vivendo na ilha
da Madeira, em sua quinta, muito rica, com grande casa, onde tinha
muitos escravos, que lhes não sabia o nome, mandando-lhe uma pedra
de linho fino, a mandou guardar com outro ; e d'ahi a algum tempo fa-
zendo-a tirar por uma escrava, d'entre outro, em o tirando e descobrin
do, deu o mal da pesU na escrava, que o tirava, d'ahi em os mais da
casa ; e d'ahi se atirou no porto da cidade do Funchal, e por toda a ilha
da Madeira, que foi causa de se despovoar quaâi toda a terra: esta foi
a rasão por que os mais dos graodes, e principaes homens, se desterra-,
ram da ilha da Madeira, e se foram, uns para as Canarias, e outros para
outras par'cs. Entre os quaes o dito Joam Gonçalves Ferreira, da Cas
256

fa Grande, se veio a esta ilhe de iam Miguel, com sua mulher Cathari-
ua Affonso, com toda a sua familia, muitos escravos e escravas, vaccas,
e muita fazenda de dinheiro, baixella de prata, e muita patacaria : e se
aposentou ua villa da Ribeira Grande, perto íéf a da wlla ; comprou ter
ras, onde mandava fazer sua lavoura ; acconteceu um domingo irá egre-
ja com sua mulher, filhos e escravos, dos quaes andava bem acompa
nhado, e estando ouvindo missa, se levantou .o fogo em sua casa e lhe
queimou toda a sua fazenda, de tal sorte, que quando acudio estava.tu-
do ardido, e acharam depois do logo apagado, as pranchas de prata da
baixella. e outras peça» que se fundiram, pelo que se veio. morar
abaixo á villa, em umas boas casas que comprou, sobre a ribeira, junto
da ponte, onde mandou fazer um engenho de serra d'agua, como os da
ilha da Madeira, com seus escravos, e um Joam Lourenço, seu criado,
que era mestre do dito engenho, e endereçava os escravos.
Este Joam Gonçalves Ferreira, d» Casta Grande, da casa de Dru-
monde, • da progenie dos reys de Escocia, teve de sua mulher Catba-
rina Affonso, tres filhos ligitimos, e tres filhas ligitimas : o primeiro cha-
mava-se Affonso GoBçalves Ferreira ; viveu na cidade de Ponta Delga
da, sempre rico, com escravos e escravas, senhor da bons ginetes, que
levava alguns á dextra quando sahia em jogos de canoas, com seus mo-
xibs de vellodo, e ricos arreios ; casou eutn Grimaneza Luiz, filha de
Joam Roiz, escrivão, homem muito principal e de nobre progenie, da^
qual houve tres filhos, e tres filhas. O primeiro filho, Manoet Ferreira,
fallèceu solteiro. O segundo, Joam Roiz Ferreira, que agora é capitão
d'uma bandeira ; casou com Maria Lopes, filha de Joam Lopes, de quem'
tem filhos e filhas. O terceiro falleceo moço.
A primeira filha, chamada Izabel Ferreira, casou com Diogo Gon
çalves Corrêa, fidalgo, sobrinho do visconde de Ponte de Lima, e do
bacharel Diogo Pereira, fidalgo, que foi nesta ilha de Sam Miguel, ou"
vidor do capitão, muitos annos, dos Correas do reyno, que tem este
appcllido pelas rasôes ditas, quando tratei de Jacome Roiz Dias, na,
progenie dos Gagos ; da qual Fzabel Ferreira, e Diogo Gonçalves Cor
rêa, nasceram dez filhos ; falleceram seis, e os vivos são os seguintes :
\ , 257 , ,
\ i
' , A primeira chamada Grimaneza Ferreira de Escocia, que casou
tom Affonso de Goes, mestre da capella da cidade de Ponta Delgada,
estremado não só no canto, voz e engenho, mas em todas as suas cou
sas, natural de Campo Maior, do Alemtejo, filho de Gil Fernandes Caio*
ia, e de Joanna Dias Mexia, dos de Castella, prima de Affonso Mexia^
vedor que foi na índia, da fazenda, escrivão d'ella em Portugal, que
está sepultado em Sam Domingos, em Lisboa, em uma capella, à qual
vmcniou um morgado de mais de duzentos moios de renda ; e o dito
seu pay, natural da cidade dElvas, foi casado Ires vezes, a primeira
com uma irmã de Pedro Lopes da Silva, feitor que foi de Flandres.e em-
baixadi r de Castella ; a segunda, com outra nobre mulher; e a terceira
com a dita Joanna Dias Mexia, das quaes todas houve vinte e tantos filhos
e filhas ; por cuja causa se veio o dito Affonso d» 1 Góes, para esta
ilha com Francisco de Mesquítá, casado com dona Francisca, filha de
Joam Sotil, prima do mesmo Affonso Goes, que tem seus brazões de
muita nobreza, assim d'uma como de outra parte, o qoàl tem cinco fi
lhos e uma filha, fóra tres filhas e dois filhos, que lhe falleceram da
dita Grimaneza Ferreira, e o dito Gonçallo Fernandes Caiola, seu pay,
que foi muitas vezes juiz, e vareador da dita cidade d' Elvas, que tem
quatro mil visinhos, e em Campo Maior que tem md e quatrocentos.
•A* segunda filha de Diogo Gonçalves Corrêa, e de Izabel Ferreira,
chamada Maria Corrêa Durrnonde, casou com o doutor Gaspar Gonçal
ves, de tanto nome e fama na medicina, alem de moitas outras
graças e perfeições de que o Senhor o dotou ; que quando o chamam
para curar algum enfermo, se diz commumente, que chamam a saude ;
de quem não tem filhos. •.. ..•,.

Outro filho de Diogo Gonçalves Corrêa, e de Izabel Ferreira, cha-


ma-se Miguel Corrêa de Drumonde, o qual logo em moço, mostrou,
n'esta ilha o que havia de ser em homem, por que commétteu cousas
grandes, que os mais valentes de madura idade não ousam commetter,
e sendo de quinze annos, se foi para a índia de Portugal, com dom
Henriques Gonçalves de Miranda, sobrinho do cardeal, filho de dona
Viohnta, que ia por capitão do Malabar, quando foi para lá por vice-réy
258

dom Luiz dAthayde, da primeira vez, do qual vice-rey foi desejado e


pedido ao dito capitão do Malabar, que lhe respondeu, que não levava
por pagem, senão por filho, presando-se muito d elle, o tanto, quando os
seus lhe queriam pedir alguma mercê por sua intersseção a alcançavam.
Chegando o dito Miguel Corrêa de Drumonde á índia, 3 primeira cousa
em q' se achou foi na guerra e cerco, q' o ldalcão poz a Goa, onde se deu
um combate, que durou dois dias e duas noites : e não se via no cam
po senão sangue e fogo ; ali fez o dito Miguel Corrêa muitas vantagens,
indo adiante do vice-rey, que tomou por sua guarda a elle e a outro do
seu seio. Ia Miguel Corrêa com uma rodella d'aço em um braço e a es
pada na mão, acommettendo os inimigos ; e por o verem os mouros,
bom soldado, se inclinavam muito a elle, acommettendo-o com maior fu
ria : entre os quaes veio um alto do corpo, e lhe atirou com uma escu-
peta, cujo pelouro lhe deu na rodella, e lhe cahio nos pés sem lhe fazer
nojo, elle com muito animo e ligeireza, arremetteu ao mouro e lhe tirou
a vida : por ser mouro grande, o levou pelas cochas, e revirando-o o
acabou : no qual sufragaste, soltaram os mouros um touro, afim de ma
tarem o vice-rey ; e Miguel Corrêa, dando um salto d'entre os outros,
fez, tal sorte, que matou o touro : o que vendo o vice-rey, o levou nos
braços, dizendo : hei por bem de vos levantar por cavalleiro, com toda
a solemnidade que se devem a taes cavalleiros: por que nos maiores
encontros sèmpre fiz«ste sortes de cavalleiro estremado : e el-Rey vos
' está devendo mercês. ]
A segunda cousa notavel, entre outras muitas, que não conto, em
que se achou Miguel Corrêa de Drumonde, foi d'esta maneira :
Mandando o vice-rey dom Luiz d'Athayde, uma galé tomar outra de
mouros, em a qual o capitão portuguez poz outros capitães em suas es
tancias ; e por que o capitão d'uma estancia da dita galé tardou ao em
barcar : o capitão da galé vendo que não vinha, perguntou se estava
dentro Miguel Corrêa; e dizendo-lhe que sim, o fez capitão da estancia,
que o não tinha: não tardando muito espaço de vir o capitão d'aquelle
logar, e vendo que o tinha substituído o dito Miguel Corrêa, lhe disse :
senhor, sois muito moço para esse logar ; ao que lhe respondeu Miguel
'

â59

Corrêa i se quereis saber se sou moço chegai para cá, e sabel-o heis ;
por que sou tambem fidalgo como \ós ; ao que accudio o capitão da
galé, e os poz em paz ; ficando Miguel Corrêa no logar de capitão d'a-
quelia estancia : chegando a galé dos mouros, peleijou varonilmente, e
da sua estancia, com um montante nas mãos, saltou na galé dos contra
rios, e fez n'elles grandes estragos, até acabar de os vencer ; mas oVali
o. trouxeram quasi todo ataçalhado de Geridas, cora as armas mettidas
pelo corpo, de tal maneira, que na primeira cura, que lhe fizeram, se
gastou grande parte d'um toucinho, em, mechas; alem d outras cousas
notaveis, que fez na índia, como foi um desafio com um valente solda
do, e o venceu n'elle e rendeu : e outra vez em um caminho, a dous
renegados, e os levou presos a uma fortaleza : agora dizem alguns, que,
está casado, muito rico, na China, outros, que em outra parte da índia.
O segundo filho de Gabriel Ferreira, de tanto animo, que.se acer
tava de ser sam, fora dos melhores soldados de muitas partes.

A segunda filha de Gonçallo Ferreira, chamada Catharina Roiz Fer


reira, casou a primeira .vez com Sebastião Fernandes, neto de Affonso
Annes, dos Mosteiros, que tinha seu morgado. A segunda vez casou
com Francisco Corrêa, e de nenhuma houve filhos.
A terceira filha falleceu solteira. O secundo filho de Joam Gonçal
ves Ferreira, da Serra d'Agua, chamado Pedro Gonçalves Ferreira, o
qual casoD com Francisca Velha Falcôa, de quem teve uma fil^a e dous^
filhos. O terceiro filho, chamado Balthasar Ferreira Gonçalves, foi sa
cerdote de missa, e falleceu na ilha da Madeira. A segunda filha de Joana
Conçalves Ferreira, da Serra d'Agua, chama-3e Catharina Escocia, a
qual casou na Ribeira Grande, com Francisco Affonso das Cortes, de
quem houve dous filhos e duas filhas : Manoel Ferreira, e o licenciado
Simão de Pimentel, pregador, que teve o pulpito da cidade, e depois
de Villa Franca, por provisão de El-Rey, muitos annos.
A primeira filha chama-se Izabel Ferreira, que falleceu- solteira, e
a outra Anna Escocia, que foi casada com Diogo Dias Brandão, que
morou na Ponta Garça.
A segunda filha de Joam Gonçalves Ferreira, que casou com André
26a

Martins, do rmrro da Ribeira Grande, de quem houve um filho, cha


mado Domingos Ferreira, que na índia de. Portugal é capitão do mar,
e outros filhos.
A terceira filha de Joam Gonçalves Ferreira, da Serra d'Agua, cha-
mava-sc Leonor Escocia, a qual alo foi casada.
O avô de Iz.ibral Ferreira, pay de Grimineza Luiz, mie de Izabel
Ferreira, sogra do dr. Gispar Ginçitlves, chamwa-se J>aro Roiz Civío,
escrivão da camara, o qual era parente dos filhos de Joam Fernandes
Rapozo. que morou acinn do mosteiro de Santo André.
' Tjv.í Joam Roiz Civão, de sui milhar Izabal Gonçalves, moitos fi
lhos e filliH. O primViro foi Melchior Roiz. escrivío da camira, que foi
maitos annos na cidade de Ponta Delgada, pay do doutor Joam Roiz,
pregidor do cardeal, e seu visitador, e depois visitador do arcebispo de
Lisboa. O segundo filho, chamado Bartholomeu Roiz, falleceu solteiro.
A primeira filha, Margarida Roiz, casou com Diogo Vaz Carreiro, irmão
de Pedro Gonçalves Delgado, de quem houve filhos e filhas. A segunda
filha de Joam Roiz Civão, chamada Guiomar Roiz, casou com um ho
mem nobre, de quem houve filhos e filhas. A terceira, chamada Grima-
neza Luiz, casou com Affonso Gonçalves Ferreira, como já tenho dito.
A quarta, Agueda Roiz, casou com Ruy Vaz Badilha, de quem teve um
filho, que falleceu menino. A quinta, Constancia Roiz, casou com um
homem, q' a levou para Portugal, de quem tem um filho, bom pregador.
A sexta, Maria R>iz, casou com Aotonio Gmçalves, dos Poços, de quem
houve um filho, e umi filhi. qua estio casados, e moram nos mesmos
Poços.
A setima, dona Izabel. casou com Diogo Fernandes, e a segunda
vez com Ibonel de Bettencort, filho de Gaspar Pordomo, e de nenhum
dos maridos teve filhos.
Teve este Joam Ferreira um filho natural, que trouxe da ilha da
Madeira, chamado Gaspar Gonçalves, que falleceu no mandado ^e Deos,
sendo casado com uma irmã de Francisco Affonso das Cortes, e de quem
houve dois filhos. Teve mais Joam Gonçalves Ferreira, uma filha natu
ral, que trouxe da ilha da Madeira, chamada Branca Gonçalves, que foi
m

casada com Affonso Delgado, e fallecea na villa da Ribeira Grande, sem


ter d elia filhos ; antes foi casada com Bartholomeu Fernandes, filho da
Fernando Alfonso de Paiva, irmão de Joam Fernandes, escrivão do ee-
clesiastico, de quem houve uma filha, que casou com Batthasar. Dias
Mendonça, natural do logar de Santo Antonio.
Tem os Ferreiras no escudo de suas armas, o campo de ouro, «
tres fachas ondeadas de vermelho; por differença uma brica azul, 6
n'ella um — M— de prata; elmo de prata, aberto e guarnecido de
ouro ; paquife de ouro e de vermelho ; e por timbre, meio libré às
vermelho, com sua coleira de ouro.
Veio tambem a esta ilha, de Portugal, um Gaspar Ferreira, homem
nobre e discreto, que teve aqui as rendas de El-Rey, e fez as nobres ca
sas, que possue a geração do grlo capitão Francisco do Rego de Sá, o
de sua mãe dona Margarida de Bettencort.
O qual Gaspar Ferreira, não sei se era parente dos Ferreiras aci
ma ditos, por quanto tem differença nas armas dos seus brazôes.

Teve este Gaspar Ferreira, de sua mulher Izabel de Braga, uma fi


lha que trouxe de Portugal, e um filho natural, chamado Balthasar Fer
reira, muito valente homem, e o mais forte cavalleiro sobre um cavallo,
que quantos houve n'esta ilha ; o qual casou com Izabel Furtado, filha
de Joam Luiz, e de Francisca Furtado, de quem houve os filhos se
guintes :
O primeiro, Gaspar Ferreira, que casou com uma filha de Manoel
Martins, escrivão dos captivos. O segundo, Balthasar Ferreira, valente:
homem, ainda solteiro. O terceiro, Melchior Furtado, bom .«acerdote e
grande cantor, musico e discreto, capellão da raynha dona Catharina.
Teve tambem Balthasar Ferreira, de sua mulher, duas filhas. A primei
ra, Francisca Furtado, casou com um irmão de Hercules Barboza. Ase* ,
gunda, Ignez Ferreira, casou com Manoel Cabral, filho de Nuno G on-
çalves Botelho, e neto de Jorge Nunes Botelho, de quem tem filhos.
Teve Gaspar Ferreira, uma filha natural, chamada Leonor Ferreira,
que casou, a primeira vez, com Fernando Lourenço, de quem houve fi-
lhos: — Ghritovão Ferreira, beneficiado, que foi na Ribeira Grande, e

to
Fernando Lourenço, que casou com Leonor da Fonseca, e um» lillia cha
mada Beatriz Ferreira, (|ue casou com Manoel Pires, de quem tem filhos.
E outra, por nome Izabel Ferreira, que casou com Hercules Barbo
za, leal-dador dos pasteis, de quem tem muitos filhos, e casou segunda .
vez com Maiioel Machado, mestre das obras de Fl-Rey ; de quem teve
uma filha chamada Margarida Machado, que casou com Gaspar de Vi"
veiros Morgado.
Outra, por nome Francisca Ferreira, que casou com Gaspar de Teve,
homem de Grandes espiritos, capitão d uma companhia, da cidade de
Ponta Delgada. Teve mais Gaspar Ferreirai de sua mulher Izabel dt)
Braga, uma filha, que disse atraz vir de Portugal e chamada C.itli3rina
Ferreira, que casou primeiramente com Antonio Furtado, de quem não
teve filhos ; a segunda vez com Gaspar do Rêgo, filho de Aires Pires do
Bego, de quem houve uma filha chamada Beatriz de Santiago, freira pro
fessa no mosteiro de Jesus, da villa da Ribeira Grande. Casou Gaspar
Ferreira, segunda vez, com Francisca Furtado, de quem não houve filhos.
Tinham em seu brazão um escudo com o campo de vermelho, qua
tro fachas de ouro por differença, uma brica azul, e n'ella um annel de
pruta, elmo de prata, aberto, guarnecido do ouro, paquife de ouro e da
vermelho, e por timbre uma ema, com uma ferradura de ouro no bico.

CAPITULO TRIGÉSIMO QUINTO.

Dos Amabaes, que tambem são dos Mendes e Vasi;unc':ixos, que vie
ram Á ilha de Sam Miguel, mo iuipo do capitão Buy Gonçalves
da Camara, secundo do nome.

Veio a esta ilha, de Portugal, da cidade de Vizeu, Afíonso Alvares


do Amaral, e casou na villa da Ribeira Grande, com Izaòel Fernandes
263

Corrêa, filha de Vasco Fernandes, e Catnarina Corrêa, homem honrada,


que servio aqui de meirinho do ecclesiastico, muilos annos : — era ho
mem grande de corpo, grave, discreto, muito gracioso e apodador, que
viveu sempre rico ; e teve grande curral de gado vaccum, com seu
pastor, que o pastorava, na villa da Ribeira Grande : segundo se mostra
por um instrumento authentico, era fidalgo da geração dos Mendes, A-
maraes e Vasconcellos; por que era filho ligitimo de Jorge Mendes de
Yasconcellos, morador que foi no couto de baixo; o qual era filho de
Lopo Paes Cardozo, que foi homem fidalgo da casa de El Rey, muito ri
co, que sempre viveu á lei de fidalgo ; trazendo comsigo continuamente
tres e quatro homens a ^avalio : por ser da dita qualidade, foi casado
com Genebra Mendes de Vasconcellos, filha ligitima de Joam Mendes d,e
Yasconcellos, commendador de Alengoiva, e neta de dom Mem Roiz de
Vasconcellos, mestre que foi de Santiago, e trisneta de Gonçallo Mendes
de Vasconcellos, alcaide-mór em Coimbra, senhor de muitas terras.
*i
O qual Gonçallo Mendes foi casado com.dona Tereja, neta de El-Rey
dom Jayme, de Aragão; e de ambos nasceram tres filhos: Ruy
Mendes de Vasconcellos, morgado de Figueiró dos Vinhos c Pediogam.
O dito dom Mem Roiz de Vasconcellos, mestre de Santiago.e o dito
Joam Mendes de Vasconcellos, commendador de Alengoiva, pay da dita
Genebra Mendes, d'onde descendeu o conde de Penella, e dom Diogo de
Sousa, arcebispo, que foi de Braga, e dona Guiomar Coutinho, condessa
de Cantanhede ; e por linha direita, o dito Jorge Mendes de Vasconcellos
de Couto, que de sua mulher Branca Soares da Andrade, houve doos
filíi s. .:
O primeiro, Affonso Alvares do Amaral ; o seguudo, Manoel de Vas
concellos ; o qual ficou em Portugal, onde vive á lei de fidalgo, (e como
disse), sen irmã) Affonso Alvares do Amaral, se veio da cidade de
Vizeu a esta ilha. em tempo do capitão Ruy Gonçalves di Camara, se
gundo do nome.

Tove Affonso Alvares do Amaral, de sua mulher Izabel Fernand ;s


Corrêa, quatro filhos e uma filha. O primeiro, Balthasar do Amaral,
servio tambem de meirinho do ecclesiastico ifesta ilha, e de almoxarife:
264

casou duas vezes, a primeira com Izabel Nunes, Viuva, e não teve filhos?
segunda vez casou com Beatriz do Monte, filha de 'Pedro Annes, merca
dor, e de Suzanna do Monte, moradores na Ribeira Grande, de quem
nSo tem filhos. O segundo filho de Affonso Alvares do Amaral, chama
do Melchior do Amaral, casou com Maria Goncalves, filha de Joam Gon
çalves Caldeira, e de Beatriz Pires, moradores na Lomba da dita villa ;
não tem filhos : Vive honradamente, é homem discreto, e bom cavalleiro.

O terceiro filho de Affonso Alvares, chamado Christovão de Vas


concello», bom cavalleiro, e de grandes espiritos, casou com Beatriz Cor
rêa, filha de Miguel Vaz, e de Izabel de Sousa, de quem não houve fi
lhos : casou segunda vez com Suzanna Affonso, filha de Jorge Affonso,
c de Ignez Roiz, de Ponta Garça, de quem não teve filhos, nem ainda os
tem da terceira mulher, com quem casou, chamada Maria Vieira, filha
de Manoel Vieira, morador no logar dos Fenaes da Maia.

O quarto filho de Affonso Alvares, chamado Jorge Mendes, casou


com Branca da Costa, filha de Roque Roiz dá Costa, escrivão que foi
da camara da villa da Ribeira Grande, e de Francisca da Costa ; tem
três filhas, duas solteiras, e a mais velha, chamada Anna da Cosia, ca
sou com Ruy Privado, filho de Duarte Privado, juiz que foi dos orphãos
tia dita villa, e de Margarida de Paiva, de quem tem. filhos de pouca
idade. A filha de Affonso Alvares do Amaral, por nome Maria Mendes,
casou duas vezes : a primeira com Podro Vaz. mercador, que falleceu
em Italia sem ter filhos ; a segunda com Melchior Gonçalves Caldeira,
filho de Joam Gonçalves Caldeira, e de Beatriz Pires, de quem houve
muitos filhos e filhas: dos quaes são vivos, dois filhos e uma filha; dos
filhos, o primeiro, B'irtholomeu do Amaral, casou com Francisca Car
neiro, filha de Joam Lopes, e de Simíu Tavares, da qual tem um filho
e uma filha. O segundo filho de Maria Mendes, foi para as índias de
Cas tella. solteiro.
Uma filha que falleceu, chamada Izabel Corrêa, casou com Francis
co. F auste, castelhano, que veio á villada Ribeira Grande.no tempo
que se fazia a pedra-ume, por mandado d'EI-Rey, mestre d'ella ; e indo
com; provedor Francisco dj Mares, para Lisboa, o mataram os france
265

«es, em um navio com o dito Francisco de Mares, e com outros ; ficou-


Ihe um filho pequeno.

Outra filha de Maria Mendes, chamada Beatriz de Vasconcellos, ca


sou com Fernando Affonso, morador ns Achada Pequena, de quem hou
ve alguns filhos ; todos vivem ricos e abastados, com cavallos na estre
baria, escravos, á lei da nobreza, são bons cavalleiros, dos da gover
nança da terra; e por parte dos Mendes de Vasconcellos, tem tambem
as suas armas, que são um escudo preto com tres fachas barradas de
preto e de vermelho, com sua differença.

Houve n'esta ilha um afamado pregador, e grande letrado, da or


dem de Sam Jeronymo, parente dos Amaraes, chamado Frei Antonio
do Amaral, que com provisão de El-Rey, e bom ordenado pregou mui
tos annos n'esta terra; e principalmente na cidade de Ponta Delgida,
onde residia o mais do tempo ; e era homem de muitas lettras e virtu
des, de grande gravidade, com que, como pay da patria, curou muitas
almas, e fez muitas pazes, e amisades entre amigos imdifferentes, e edi
ficou a muitos, com sua doutrina e bom exemplo : homem que todos
temiam n'esta terra, por que não era acceitador de pessoas. Todos tem
as armas dos Amaraes do reyno, íóra as dos Mendes e Vasconcellos, que
tenho já ditas.

CAPITULO TRIGÉSIMO SEXTO.

Dos Albarnazes, Mont.es, Pereiras. Mendes, e outros appei.mdos de


GENTE NOBRE, QUE VEIO A ESTA ILHA, NO TEMPO ANTIGO, E DE SEUS
SUCCESSORES QUE AGORA MORAM N'ELLA.

íoam de Alharnaz, fidalgo, veio da ilha do Fayal; viveu com dous


filhos, e duas filhas. O primeiro filho chamado como seu pay, Joum de
266

Alharnaz, lalleceu cm Cabo Verde, solteiro. O segundo, Sebastião ti,:


Alharnaz, casou n'esta ilha com uma filha de Rodrigo Annes, o Bag.o,.
de Santo Antonio, de quem não teve ííMios. A primeira filha de Joam
de Alharnaz, casou primeiro com Diogo Fernandes da Costa, de quem
houve um filho, chamado como seu pay, Diogo Fernandes da Costa ; o
qual tem doze filhos, ámo machos, e sete femeas. O primei' o. Antonio
•ta Costa, casou nos Fenaes, com uma filha de Diogo Affonso Serpa ; os
outros ainda são solteiros: uma das femeas chamada Ignez da Costa, é
'•asada com Manoel Vaz, filho de Domingos Vaz, da Maia ; outra, He
lena Pereira, casou com Sebastião da Costa, filho de Pedro Barriga, da
villa dAgua de Páo : as outras são ainda solteiras. Ignez de Alharnaz,
que viuvou de Domingos Fernandes da Costa, tornou a easar com Duar
te Pires, da lomba da Ribeira Grande, de quem houve um filho chama
do Duarte Pires Furtado, bom cavalleiro, que casou com Paulina Tava
res, filha de Joam Fernandes, e de Maria Barradas, e uma filha que
«asou com Manoel Garcia; chamada Izabel Furtado, de quem tem- sete
filhos.
Outra filha de Joam de Alharnaz, chamada Izabel Furtado, casou
com Luiz Ferreira da Costa, de quem houve os filhos, fôra os fallecidos..
Um chamado Joam Homem da Costa, que casou no Nordeste, com uma
fil! , de Pedro Manoel, e tem ires filhos de pouca idade, e quatro fi
lhas. Outro filho de Izabel Furtado, chamado Clemente Furtado, casou
tres vezes ; a primeira, com uma filha de Manoel Vieira, dos Fenaes da
Maia, de quem tem um filho, chamado Manoel Furtado.

A segunda, com uma filha de Sebastião Barriga, de Agua de Páo.


Terceira vez, com uma Olha de André Martins, da Ribeira Grande, sem
haver filhos d . tas duas, camo já disse na geração dos Costas. Outro
filho de Izabel Furtado, chamado Sebastião da Costa, é casado com uma
filha de Joam Luiz, da Maia, de quem tem tres filhos, e duas filhas.
T°m mais esta Izabel Furtado, filha de Joam de Atbarnaz, e mulher de
Luiz Fernandes da Costa, duas filhas ; Maria da Costa, casada com Es
tevão Pires, filho de Duarte Pires, da L^mlia, th quem tem dous filhos:
Antonio da Cosia r. Ignez Fernandes da C í A outra filha de Izabel
burtado ch amada Calharina da Cost.\ cssou C( m Jtím de Medeit&,
em Villa' Franca, de quem tem uma filha, chamada Maria da Gosta. &
Joam de Alharnaz, depois que veio viuvo do Fayal, casou na vflra
da Ribeira Grande, com Guiomar Fernandes, miimer que fôra de Vat-
t3o Vaz, e d'ella honve a Martinho de Alharnaz, que casou com f?.tóef
do Monte, de quem tove sete filhos ; alguns tatleceram; <'os vivo?, um
chamado Francisco de Alharnaz, casou com uma filha de Fernando Car
reiro, e ,le Anna Fernandes, moradores nos Mosteiros. Outro, Antonio
de Alharnaz, casou com Maria Gonçalves, filha tte Pedro Affonso: d
duas filhas, uma falleceu solteira, chamada Jeronyma de Alharnaz ; ou
tra Ignez de Alharnaz, que casou com o mestre Antonio, de quem tem
um filho. Houve mais Guiomar Fernandes, de Joase de Alharnaz, qua
tro filhas, tres que fdlleceram solteiras, e outra chamada Aldonsa de
Alharnaz, que casou com Amador <ie Sousa, de quem houve uma filha
$or nome Aldonza de Alharnaz.

Tem os Alharnazes em seu brasão um escudo partido em quatro


partes. A primeira azul, e uma arvora de sete pontas de prata; a óiitn
parte de prata, e arvore azul, assim de sete pontas, e isso mesmo tem
os outros cambados com sua differénça, com um quadrangulo preto na
ponta de cima do escudo, da banda esquerda, a quem o vê,

Joam de Piamonte veio a esta ilha mercador, com mercadoria, com


sua mulher Leonor Díjs, natural do Algarve, de gente honrada, do
quem houve filhos, Joam do Monte, Gaspar do Monte, Amador •lo
Monte, Ambrozio do Monte, e Bonifacio do Munie, todos homons esfor
çados, muito grandes cavalleiros, e foram à Africa ; e Amador do Mon
te, mais que todos, por que fez lá muitas sortes, e na índia ; falleceu
íolteiro. Joam do Monte casou na Lagôa, com uma mulher nobre, do
quem houve Siinào do Monte, e Sebastião de Oliveira, e filhas que fal-
leceram. Gaspar do Monte casou com uma irmã de Duarte Pires, da
Lomba, de quem houve filhos — Gaspar do Monte. Balthasar do Monte,
vigario que foi de Santo Antonio, e depois da Fajã, termo da cidade ; e
Joam do Monte ; e quatro filhas — Izabel do Monte, mulher de Marti
nho de Alharnaz ; Suaanna do Monie, que foi casada com Pedro Annes;
268

le*lriz,do Monte, casada com Diogo de Morim ; e Guiomar do Monte,


casada com Francisco Soares, de quem tem alguns filhos : Melchior Soa
res, que casou com Guiomar Corrêa, filha de Sebastião Alvares, e da .
sua mulher Joanna Martins,. filha de Joam de Aveiro, escrivão dos or-
phãos Da villa da Ribeira Grande, e outros filhos e filhas, solteiros. Joam
do Monte. casou com babel Tavares, de quem tem muitos filhos, o mais
velho, .Gaspar do Monte, casou com Ignez Fogaça, e uma filha chamada
Francisca Tavares, casou com Gaspar Leão, Qlho de Manoel Gonçalves
Leão, da villa de Agua de Pão, como disse ua progenie dos Rochas, e
Machados.

Vieram a esta ilha dous irmãos, de Guimarães, Antonio Mendes Pe


reira, e Joam Mendes Pereira, filhos de Fernando Mendes, netos de
Alfonso Mendes, da casado infante arcebispo de Braga, irmão de El-Rey;
o qual Monso Mendes, servio a El-Rey nas guerras de Castella, muito
bem, pelo que lhe fez mercê de juiz dos orphãos de Unhão de Guima
rães.: seu neto Antonio Mendes, veio a esta ilha no anno de mil qui
nhentos e desoito, onde casou com Izaber Fernandes, filha de Francis
co Fernandes, castelhano, de quem houve dez filhos. O primeiro, Joana
Mendes, letrado, e graduado em Salamnnca, homem de grande virtude,
o qual sendo antes muito lustroso no mundo, deu tal volta, engeitando
tudo, que foi depois mais humilde que quantos eu tenho visto, e exem
plo de todas as virtudes ; sendo sacerdote de missa, fallecea dia de Na
tal, antes de a dizer, o mesmo dia que tinha determinado de a cantar.
O segundo, Pedro Mendes, bom sacerdote, cantor, o mais velho benefi*
ciado na egreja de Sam Sebastião, da cidade de Ponta Delgada. O ter
ceiro, Francisco Meudes Pereira, criado de El-Rey ; cavalleiro, fidalgo,
nos seus livros, e cantor que foi de Sua Magestade n'esta ilha de Sam
Miguel, e Santa Maria; homem discreto, e prudente, de magnifica con
dição : o qual casou com Izabel da Gama, moça da camara da raynha
dona Catharina ; da geração dos Gamas, e dos Velhos do Portugal. Os
Gamas são naturaes de Olivença, e procedem da geração do conde da
Feira.
O primeiro d'elles, era um homem principal de Olivença, o qual
.sonhando uma noite que achava um thesouro em Castel la, na ponte de
Badajoz, e um castelhano de Castella, sonhava, que achava uma gama
cheia de thesouro, que é uma pedra de mó, de,moer azeitona : indo o
portuguez buscar o seu a Castella, se encontrou na ponte da Badajoz,
com o castelhano ; e praticando ambos descobrio cada um seu sonho,
dizendo o castelhano, que sonhara que em Olivença achava uma gama
cheia de thesouro ; — respondeu-lhe o portuguez: não creias em sonhos
que é superstição ; tambem eu sonhei que achava outro thçspuro na
vossa terra : e tornando-se cada um para onde morava. O portuguez
buscou a gama na sua terra e trouxe-a pouco a pouco aos tombos, de
noite, com um mouro seu escravos sua casa; abrindo-a achou tão gran
de Jhesouro de oiro, prata e pedras preciosas, que ficando-lhe a maior
parte, e fazendo serviço da menor a El-Rey, o fez fidalgo da sua casa,
e foi principio dos Gamas, que no reyno tem grande nome, e grandes
cargos. D'esta progenie é o primo de Izabel da Gama, Antonio
da Gama, grande jurisconsulto, afamado por suas obras e escriptos,
que agora é desembargador do paço, e não tem filhos.
O quarto filho de Antonio Mendes Pereira, casou com Beatriz Ca
baceiras, neta de Joam Affonso, do Fayal, e de Domingos Affonso. O
quinto, Fernando Mendes Pereira, que casou com Jeronyma Fernandes,
filha de Pedro Annes Freire, de quem tem alguns filhos. O sexto, Je-
ronymo M-.ndes Pereira, ainda solteiro. Teve mais Antonio Mendes Pe
reira, tres filhas. A primeira, Maria Mendes, casou com Joam d'Arruda
da Costa, de quem tem filhos e filhas. A segunda, Violanta Mendes, ca
sou com Manoel Favella da Costa, de quem tem filhjs e filhas. A ter
ceira, Catharina Mandas, casada com o capitão Alexandre, de quem não
tem filhos. Joam Mendes Pereira, irmão de Antonio Mendes Pereira, ca
sou com Guiomar Botelho de Macêdo, bisneta do. capitão do Fayal, de
quem houve os filhos já ditos, n3 geração de Gonçallo Vaz, o Grande.
Tem os Mendes Pereiras por armas em seu brazão, um escudo com
campo vermelho, e uma cruz de prata florida, vazia, o elmo de prata
guarnecido de ouro, paquife de prata e vermelho ; por timbre duas
azas d'anjo, de ouro e entre ellas uma cruz vermelha, por differença um
cardo de ouro florido de azul.

31
270

Houve na villa do Nordeste um Joam Soares, nobre, rico, e de gran


de casa ; foi casado com dona Philippa, natural do reyno, primeira vez,
e segunda vez casou com dona Joanna Gal\ôa, tambem do reyno, do
qual nãe ficaram filhos ; ficou sua. fazenda e morgado, que agora tem
Francisco da Costa Homem. Estevão Cainho, nobre, e rico, foi dos pri
meiros que regeram a villa do Nordeste, de quem ficou Gaspar Cainho,
e agora Antonio Cainho, e Estevão Cainho, seus netos, e outros d'este
appellido.
Joam Gonçalves da Ponta, chamado assim por ter sua morada junto
d' uma ponta, que está sobre o porto da villa do Nordeste,. veio do reyno,
e foi dos nobres regedores da diia villa; de quem ficou Francisco Gon
çalves, seu filho; Braz Gonçalves, seu neto, e Joam Gonçalves, seu bis-
nesto. Joam Affonso, antigo e rico, foi dos primeiro• que povoaram e
regeram a villa do Nordesje, de quem ficaram filhos — Pedro Affonso
Gordo, Jorge Affonso, Antonio Affonso, ca valleiro do habito de Santiago,
cidadãos de Villa Franca : e d'este ficaram filhos, que agora regem e
governam, onde quer que vivem ; como Joam da Costa, Pedro da Costa
e Melchior Manoel, filho de Pedro Affonso Gordo. De Antonio Affonso
ficaram — Joam Affonso Corrêa, Manoel Dias Brandão, Antonio Affonso
Corrêa, que tem este appellido da mãe, filha de Diogo Dias Brandão,
cavalleiro do habito de Christo, e outros netos.
Diogo Fernandes Salgueiro, foi rico e nobre, de quem ficaram fi
lhos na mesma villa do Nordeste : Tristão Fernandes, Pedro Homem,
Joam d' Arruda, e alguns mais. Joam Lourenço, o Velho, foi nobre e
rico, na mesma villa, de quem ficaram filhos e netos — Joam Louren
ço, Domingos Lourenço, Jorge Lourenço, e Pedro Carvalho. Houve na
mesma villa, Bernardino Calvo, homem nobre e rico, de que ficou Pe
dro Calvo, o que ora è cidadão em Villa Franca, Salvador Affonso, que
é cavalleiro de Santiago, viveu na mesma villa, foi juiz dos orphãos, de
metade d'esta ilha ; ficaram seus filhos — Manoel Affonso, Roque Af
fonso, e alguns netos, cidadãos de Villa Franca. Na mesma villa do Nor
deste houve um Joam Pires, muito nobre e rico; teve filhos — Roque
Pires, e Gaspar Pires ; e netos, Amador do Monte, e Manoel do Monte.
271

Houve em Villa Franca, Affonso Annes do Penedo, pay de Joam


do Penedo, qne depois viveu e morreu na villa da Ribeira Grande, que
eram fidalgos. Este Joam do Penedo, foi tio de Ant5o Pacheco, por que
era irmão de sua mãe, o qual Antão Pacheco, foi ouvidor do capitão
n'esta ilha. e no tempo do diluvio de Villa Franca, tendo o dito cargo,
falleceu. Diogo Preto, homem nobre, morou em Villa Franca, e era es
crivão de toda esta ilha ; foi casado com Catharina de Olivença, fidalga,
irmã de dona Philippa, mulher de Joam Soares, fidalgo, atraz dito. Es
te Joam Soares tinha uma irmã fidalga, chamada Maria da Costa, que foi
mulher de Jorge Fernandes, e teve grande casa no Nordeste, onde pou
sou o bispo dom Agostinho, e pousava toda a gente honrada ; uma filha
de Diogo Preto, chamada Maria Falcôa, foi casada com Diogo Velho,
como se vê no cap. 3, § 22. irmão de Antonio Pacheco, e de
pois de viuva, casou com Antonio Lopes, da Relva, d'onde procede Ma
noel Botelho, genro de Joanna Tavares, da Ribeira Grande.

Viveu em Villa Franca, Antonio de Freitas, escrivão de toda esta


ilha, casado com uma filha de Manoel Domingues, de quem teve um fi
lho, chamado Gaspar de Freitas, que foi escrivão de Ponta Delgada;
morava tambem em Villa Franca Affonso Rodrigues Cabêa, casado com
Catharina Fernandes, irmã de Antonio Pacheco, trouxe grande casa de
Portugal, e assim a teve n'esta ilha, seu irmão Luiz Pires Cabêa, que
casou na Ribeira Grande, com Philippa Tavares, filha de Fernando An
nes Tavares. Este Affonso Rodrigues Cabêa, casou uma filha com Pedro
Rodrigues Rapozo, irmão de Jicome Dias Corrêa.

No tempo dó capitão Joam Roiz, veio ter e morar na villa da Lagôa,


um homem nobre, castelhano, com sua mulher, a quem não soube o
nome, de quem teve estes filhos — Antão Roiz, Bartholomeu Roiz, do
Pico da Pedra, cavalleiro da ordem de Santiago, e Francisco Roiz Paiou-
las; e filhas, a mulher que foi de Gil Affonso Fanéca, morador na La
goa, que foi o que, pelo rosto, buscou um hcmiciado, que se lhe escon
deu, vindo do Nordeste, e mettea a nado em um ilheo, que estA entre a
Ribeira Grande e o Porto Formozo. Philippa Roiz, mãe de Joam Alva
res, examinado, homem principal, discreto, e rico, morador na villa Ha
272-

Lagôa, de quem procedem os Examinados; e Catharina Roiz, quô não


casou.
Martinho Gomes, morador na Lagoa, homem principal e rico, veio
no mesmo tempo do capitão Joam Rodriguez, e dona Ignez ; teve de
sua mulher estes filhos — Alvaro Martins, que foi amo do capitão Ruy
Gonçalves, filho cte Joam Roit da Camara ; e uma filha chamada Ignez
Martins, que casou com Fernando Rodriguez, homem prii.cipal, e rico,
morador na villada Lagôa, de quem houve estes filhos— Balthasar Ro
drigues. Gaspar Rodrigues, Joam Rodrigues, Pedro Rodrigues, Sebas
tião Rodrigues ; e uma filha casada com Vasco de Medeiros, filho de Ruy
Vaz de Medeiros, que fez uma capelta na Ponta da Garça ; e outra na
villa da Lagôa. Viveu na Ribeira Grande Ruy Garcia, homem honrado
e rico, que veio do- Landroal, junto de Villa Viçosa, foi a Africa, e lá :se
fez cavaileiro, quando foram os Tavares ; teve maitos filhos e filhas,
muito honrados; sua mulher, Catharina Dias, que veio de Portugal, e
deixou perto d'um moio de terra no Morro ao hospital da dita ViTh, que
lhe rende, cada anno, cinco moios de trigo.
Viveu n'esta mesma villa da Ribeira Grande. Pedro Teixeira, muito
oobre e rico, casado com Izabel de Mascarenhas, fidalga, e Antonio Tei
xeira, seu irmão, casado com uma mulher da casta dos Fanecas : morta
ella, casou com Branca AlTonso, irmã de Braz Affonso da Praia; mora
va tambem na villa da Ribeira Grande, Luiz Mendes Potas, homem prin
cipal, casado com uma filha de Gregorio Rodrigues, chamada Clara
Gregoria, que veio da ilha da Madeira, gente honrada, que tem brazão.
Morou tambem na Ribeira Grande, Joam da Hor ta, que veio de Bestei
ros de Tondella, e teve um filho que chamavam Alvaro da Hor ta, de
que se chama a rua de Alvaro da Horta, por elle ser pessoa principal
que morava n'ella ; foi casado com Leonor de Paiva, que veio do Por
to com elle casada, de quem tem um filho macho, Antonio de Paiva, be
neficiado na villa do Nordeste, e outro chamado Simão de Paiva, casa
do com Leonor Cabral, filha de Balthasar Tavares, hcmem fidalgo.
O pay de Domingos AlTonso, do logar de Rasto de Cão, chamado
Joam Lourenco, ou Pedro Lourenço, veio de Portugal a esta ilha, tevê
273

qoatro filhos. O primeiro, Salvador Affonso, morador no Nordeste, ó


segundo, Domingos Alfonso, morador no logar de Sam Roque, e na
cidade de Ponta Delgada, que foi almoxarife. O terceiro, Joam Louren
ço, morador na cidade de Ponta Delgada. G quarto, Francisco Alfonso,
morador em Villa Franca, todos homens honrados, ricos e bem entendi
dos. Affonso Ledo veio de Algezcr do Algarve, que é acima de Lagos,
e d'elle procederam os Ledos ; tim que morreu por cahtr d' um cavallo,
chamado Affonso Ledo, qce foi pay de Sebastião Affonso Ledo, morador
na Bretanha ; o segundo filho de Affonso Ledo, o Velho, chamava-se
Joam Ledo, morador em Santo Antonio, onde morou seu pay.
Teve mais Affonso Leda, o Velho, algumas filhas, uma d'ellas cha
mada Jeronyma Leda, que casou com Martinho Alvares ; outra que ca
sou com Joanne Annes Pancbina.
Estevão Nogueira foi natural da ilha da Madeira, o qual era filho
de Joam Senogeira Valeziann^, natural da cidade de Sagovia, no reyno
de Aragão, aonde estão hoje env dia casados Senogeiras, por ser casa
de morgado ; e por um homicídio, que houve, por ajudar a matar ao
secretario de El-Rey dom Pedro, veio ter á ilha da Madeira, e ahi se
casou.
Estevão Nogueir?, seu filho, casou em Lisboa com Guiomar Rodri-
gues de Montarrojo, filha de Vasco Rodrigues de Montarrojo, criado da
raynha dona Leonor, e muito seu privado ; de quem houve um filho de
grandes espiritos, chamado Bartholomeu Nogueira, que nasceu em Lis-1
boa, com outro que nasceu primeiro, na era de mil quinhentos e vinte;
foi baptisado na sé ; seu pay era cavalleiro da casa de dom Joam, ter->
ceiro, eelle é cavalleiro fidalgo da casa de El-Rey dom Henrique, e foi
capitão d uma bandeira de infanteria, na cidade de Ponta Delgada, de
sanca annos, e andou por capitão d'uma náo de El-Rey dom Sebas
tião, no anno de setenta e seis ( passa de sessenta annos ) e não tem
filho nem filha ; tem os dentes todos sãos, e tão bons, que corta um aU
linete com elles, cada vez que quer, sem nenhum trabalho.
Veio Estevão Nogueira a esta ilha depois de viuvo, onde morou pri
meiro em Viíla Franca, e depois sè passou a Ponta Delg?da, trazendo
574

eomsigo um Glho seu, Bartholomeu Nogueira, homcrr. grave, discrefô,.


prudente, e como tal foi eleito por procurador dos povos d'esta terra;
partio d'esta ilha aos negocios d'e!la, aos vinte de março, do anno de
mil quinhentos e setenta e nove; e aos vinte oito do dito mez, ás oito
horas da manhã, estavão ancorados em Belem, no domingo, trinta do
dito mez, ás quatro horas, acabando El-Rey dom Henrique de ceiar,
nas casas de Manoel Soares, que estão acima dos moinhos de vento, em
Lisboa, em alevantando a mesa, se assentou em joelhos, e beijando-lhe
a mão, lhe disse: Senhor, a mim me chamam Bartholomeu Nogueira, e
venho a vossa alteza enviado pelas camaras e povos da ilha de Sam Mi
guel, a cousas do serviço de Deos, de vossa alteza, e bem dos povos da
ilha; ao q' elle logo respondeu : mas antes estou informado q' não 'iodes
senão muito contra o meu serviço, ide-vos ; vendo elle que não que-
rw El-Rey ouvil-o, com muito silencio tirou uma carta do peito, onde a
levava, ebeijando-à, *8S%: Senhor, esta carta me deu o corregedor da
comarca, que a desse Wa mão de vossa alteza, por ser de cousas, que
são do serviço de Deos, e de vossa alteza. Respondeu-lhe — dai-a ao
escrivão da còmàrca ; tornou a beijar a carta, e metendo-a no peito, se
levantou, fazendo duas mezuras devagar com o joelho no chão, e di
zendo: Senhor, o tempo descobrirá se venho em serviço de vossa alte
za, on não ; e sabèr-se-ha a verdade da falsa informação, que a vossa
alteza, foi dada; esahio-se fóra para a sala, onde lhe disse o meirinho
do paço : ora vieste cá em forte hora ; ao que elle respondeu : foi ella
forte pelas informações falsas, cie que sua alteza está cheio, mas o tem
po descobrirá a verdade ; e como elle disesse isto algum tanto agastado,
lhe tornou o meirinho em resposta — que elle lhe não dissera o tal se
não, por estar d'isso muito pesaroso ; e que assim eram todos os que
estavam presentes ; e com i=so se poz a cavallo e foi para casa ; ficando
todos louvando seu generoso animo.

Ao primeiro dia de abril, logo foi faltar com dom Leão, padre da
companhia de Jesus, confessor d'EI-Rey, e com Jorge Serrão, tambem
padre da companhia, doutor na sagrada theologia, aos quaes ambos deu
conta do que passara com sua alteza, e mostrou-Ihe- os apontamentos.
275
que levava das camaras, para requerer, e outras cousas particulares
relevantes e necessarias ao bem commum d 'esto ilha, que elles ouviram
muito bem, e louvaram todos : e o consolaram, promettendo-lhé. que
Ek,Rey o ouviria, e lhe faria justiça ; depois o ouvio El-Rey, e maudou
ter muito couta com elle, de maneira que alcançou justiça nos mais dos
negocios, que pode tratar e requerer, no tempo que n'isso gastou em
Lisboa ; desde treze de março, até vinte e quatro de outubro, que se
foram as casas, e El-Rey para Almeirim, aonde tambem andou nos re
querimentos desde vinte e seis de outubro de mil e quinhentos setenta
e nove, até ao derradeiro de maio de mil quinhentos e outenta.

Foi casado primeiro com Maria Manoel, filha de Pedro Affonso Bar
riga, da villa do Nordeste, e de izabel do Quental, filha de Fernando do
Quental, e de nenhuma tem filhos. Casou Estevão Nogueira, segunda
vez, com uma mulher da geração ,dos Barradas, de quem houve filhos,
como já tenho dito.

Veio a esta ilha Jacome das Povoas Privado, de nobre geração, pay
de Antonio das Povoas Privado, moradores na cidade de Ponta Delgada.
De Joam Privado, nasceu Aldonsa Rodrigues Privada, e Fernando An
nes das Povôas, moradores que foram na sua quinta do Real termo de
Barcellos. Nasceu Ruy das Povôas, morador que foi na cidade do Porto,
e d'elle nasceu Jacome das Povoas Privado, pay de Antonio das Povôas
Privado, e casado na cidade de Ponta Delgada, que vive á lei da nobre
za, e tem as armas dos Privados, que são as seguintes, das quaes tem o
seu brazúo : — O escudo de ouro, com quatro barras vermelhas, lan-
çantes, e uma flor de liz em cima, entre as pontas das duas barras ver
melhas, que de cima começa ; elmo de prata, guarnecido d omo, com
paquife de ouro e vermelho ; por timbre um grifo de ouro e vermelho,
com o bico, azas e unhas de ouro. Tambem veio a esta terra, e viveu
na villa da Ribeira Grande, Diogo Privado, filho de Violante Brandôa,
filha de Joam Brandão, e de Anna de Armi, da geração dos Privados,
Brandões, o Coutinhos ; por vir de Villa Real, d onde era da casa do
marquez da dita Villa Real, por um homicídio mudou aqui o sobrenome,'
chamando-se Diogo Martins : teve muitos filhos, nobres, moradores to--
276

dos na villa da .Ribeira Grande — como Duarte Privado, agora juiz dos
orpbãos na dita Villa; e outros que sempre se trataram á lei da no
breza, e tem as mesmas armas dos Privados.

FiM DAS GERAÇÕES DF. SAM MiGHEL.

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3 0000 050 359 714

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