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A GUERRA ALÉM

DOS
LIMITES

CONJECTURAS SOBRE A GUERRA E A


TÁTICA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO

QIAO LIANG E WANG XIANGSUI

BEIJING: PLA LITERATURE AND ARTS PUBLISHING HOUSE,

FEVEREIRO, 1999
NOTA DO EDITOR
O texto constitui uma seleção do livro “A Guerra Além dos Limites: Conjecturas
sobr
sobree a Gu
Guer
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ra e a Tá
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Era
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Chin
ina,
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Fevereiro de 1999, incluindo o Índice, Prefácio, Palavras Finais, e as Informações
Bibliográficas dos autores do livro.

A obra propõe atitudes


atitudes e procedimentos
procedimentos que transcendem
transcendem as táticas
táticas militares,
militares, a
serem implementadas por países em desenvolvimento, como a China em particular,
visando compensar a sua inferioridade militar em relação aos EUA, em um conflito
envolvendo meios de alta-tecnologia.

O li
livr
vro
o fo
foii es
escr
crit
ito
o po
porr do
dois
is Co
Coro
roné
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nova
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chin
ines
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es,,
integrantes do PLA (People´s Liberation Army), e publicado pela editora oficial “PLA
Literature and Arts Publishing House”, em Pequim, sugerindo, desta forma, que a
sua publicação tenha sido endossada por autoridades no comando do PLA. Esta
sugestão foi reforçada por uma entrevista com Qiao Liang além de uma crítica
louvável ao livro, publicada em 28 de junho de 1999, pelo periódico oficial da Liga
 Jovem do Partido o “Zhongguo Quignian Bao”.

 Tendo sido publicado antes do bombardeio da Embaixada chinesa em Belgrado,


este livro, recentemente, chamou a atenção, tanto da imprensa ocidental, quanto
da chinesa, por advogar o emprego de uma multiplicidade de meios, militares e,
particularmente não-militares, para um ataque aos EUA na eventualidade de um
conflito.
conflito. A violação
violação de sites da Internet,
Internet, a o ataque a instituições
instituições financeiras,
financeiras, o
terrorismo, a exploração da mídia, e a guerrilha urbana, estão entre os métodos
propostos.

Na en
entre
trevi
vist
sta
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Lian
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declarou
declarou que: “a prime
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ira regra na guerr
guerra
a irrestrita
irrestrita é a de que não existem regras,
nada é proibido”. Estendendo-se, ele declarou que países poderosos não adotariam
esta
esta abo
aborda
rdagem
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contra
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países
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fracos
cos por
porque
que “os paí
países
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fazem
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regras
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enquanto que os países emergentes às violam e exploram aspectos não previstos...
os Estados Unidos violam (regras da ONU), e cria
criam
m novas regra
regras,
s, quando aque
aquelas
las
regras não se adaptam (aos seus propósitos), mas eles têm de observar as suas
próprias regras, pois ao contrário, perderão a confiança mundial”.
ÍNDICE
A TECNOLOGIA É O TOTEM DO HOMEM HOMEM MODERNO MODERNO..............................
.................................................
................... 8
 NÃO SERÁ MAIS POSSÍVEL
POSSÍVEL ROTULAR A GUERRA.................................
GUERRA...................................................
.................. 17
DOIS PENSAMENTOS DOUTRINÁRIO
DOUTRINÁRIOS S — “GUERREAR COM AS ARMAS
EXISTENTES OU ARMAS ESPECÍFICAS PARA GUERREAR” GUERREAR”..................................
.................................. . 22
ARMAS DE EMPREGO NEOCONCEPCIONAL E ARMAS NEOCONCEPCIONAIS...... 27
A TENDÊNCIA
TENDÊNCIA PARA AS ARMAS SUAVES SUAVES.............................
..............................................................
.................................... ... 32
POR QUE E POR QUEM LUTAR?...............................................................................38
ONDE LUTAR?....................................................... .................................. ................. 44
QUEM SÃO OS GUERREIROS?
GUERREIROS?............................
..............................................................
.................................. ................... 49
QUAIS MEIOS E MÉTODOS
MÉTODOS SERÃO USADOS NA NA GUERRA?................................
GUERRA?..................................... ..... 56
UMA ALIANÇA REPENTINA
REPENTINA................................
.................................................................
.......................................................
...................... 70
 A OPORTUNA LEI DE REORGANIZA
REORGANIZAÇÃO ÇÃO.............................
..............................................................
.................................... ... 74
INDO ALÉM DO COMBATE
COMBATE INTEGRADOINTEGRADO AR-TERRA AR-TERRA.............................
.................................................
.................... 77
QUEM É O REI NAS AÇÕES AÇÕES DE GUERRA TERRESTRE? TERRESTRE?................................
...........................................
........... 80
UM OUTRO JOGADOR
JOGADOR ESCONDIDO POR TRÁS DA VITÓRIA VITÓRIA..............................
....................................
...... 85
UMA MAÇÃ COM MUITAS FATIAS ................................
.................................................................
...........................................
.......... 89
A MÃO ESTENDIDA ATRAVÉS DA CERCA — CADA FORÇA VÊ A GUERRA DE FORMA
DIFERENTE............................................................. .................................
.................................................
................ 94
O MAL DA EXTRAVAGÂN
EXTRAVAGÂNCIA CIA E O “NÍVEL ZERO DE PERDAS” PERDAS”...............................
............................... 106
GRUPO DE BATALHA    FORÇA   FORÇA EXPEDICIONÁRIA    FORÇA INTEGRADA ......... 112
DAS CAMPANHAS COMBINADAS ATÉ A GUERRA ONIDIMENSIONAL — UM PASSO
PARA O COMPLET
COMPLETO O ENTENDIM
ENTENDIMENTO ENTO ..............................
...............................................................
.................................... ... 119
REMOVENDO
REMOVEN DO A COBERTURA DAS NUVENS NUVENS DA GUERRA GUERRA.............................
......................................
......... 139
A DESTRUIÇÃO DAS REGRAS E A AMBIÊNC AMBIÊNCIA IA DE PERDA DE EFICÁCIA EFICÁCIA...............
............... 146
COQUETEL NA TAÇA DOS GRANDES GRANDES MESTRES MESTRES .............................
...................................................
...................... 156
USANDO A ADIÇÃO
ADIÇÃO PARA VENCER O JOGO JOGO...............................
..........................................................
........................... 162
 TIPOS DE GUERRA ..............................
...............................................................
..................................................................
................................. 168
CONFORMANDO-S
CONFORM ANDO-SE E À REGRA DA PROPORÇÃO ÁUREA..............................
ÁUREA.........................................
........... 173
A GRAMÁTICA DA VITÓRIA — A REGRA COLATERAL-PRINCIPAL COLATERAL-PRINCIPAL...........................
........................... 180
O ELEMENTO DOMINANTE E O CONJUNTO TODO — A ESSÊNCIA DA ESTRUTURA
COLATERAL-PRINCIPAL
COLATERAL- PRINCIPAL.............................
...............................................................
.................................. .......................... 191
UMA REGRA E NÃO UMA FORMULA PREESTABELECIDA PREESTABELECIDA.................................
......................................
..... 196
COMBINAÇÕES SUPRANACIONAIS .......................................................................205
SUPRACOMBINAÇÃ
SUPRACOM BINAÇÃO O DE AMBIÊNC
AMBIÊNCIAS IAS..............................
................................................................
.................................. .. 214
SUPRACOMBINAÇÃ
SUPRACOM BINAÇÃO O DE MEIOS ........................................
...... ...................................................................
................................... 220
SUPRACOMBINAÇÃ
SUPRACOM BINAÇÃO O DE NÍVEIS .................................. .................................
.........................................
........ 227
ONIDIRECIONALIDADE
ONIDIRECIONAL IDADE ..............................
................................................................
.................................. ......................... 234
SINCRONIA
SINCRON IA .............................
..............................................................
...................................................................
.................................. ........... 236
OBJETIVOS LIMITADOS .............................
..............................................................
...........................................................
.......................... 237
MEDIDAS ILIMITADAS ...........................................................................................239
DESEQUILÍBRIO ....................................................................................................241
CONSUMO
CONSU MO MÍNIMO ................................
.................................................................
...............................................................
.............................. 242
COORDENAÇÃO
COORDENA ÇÃO MULTIDIME
MULTIDIMENSIONAL NSIONAL .................................. ................................ 244
 AJUSTE E CONTROLE DE TODO O PROCESSO PROCESSO ..............................
....................................................
...................... 246
APLICAÇÃO
APLICAÇÃ O DOS PRINCÍPIOS NA NA GUERRA ALÉM DOS LIMITES............................
LIMITES............................ 247
INTRODUÇÃO
 Todos que viveram a última década do século XX têm uma grande percepção das
mudanç
mudanças
as oco
ocorri
rridas
das no mun
mundo.
do. Não acr
acredi
editam
tamos
os que exis
exista
ta alg
alguém
uém que pos
possa
sa
alegar a existência de uma outra década na História, em que tenha ocorrido um
maior número de mudanças. É evidente, que as causas por traz dessas enormes
mudanças são inúmeras, para serem citadas, não obstante, existem algumas que
são sistematicamente mencionadas, e uma delas é a 2ª Guerra do Golfo (1990-91).

A 2ª Guerra no Golfo foi a guerra que mudou o mundo. Associar esta conclusão a
uma guerra limitada, tanto no tempo (durou apenas 42 dias), quanto à área de
operações, parece um pouco de exagero. Não obstante, os fatos corroboram essa
asser
assertiva
tiva,, bas
bastan
tando
do cit
citar,
ar, todos os novo
novoss ter
termos
mos e con
conceit
ceitos
os que com
começa
eçaram
ram a
surgir após 17 de janeiro de 1991, tais como: a antiga União Soviética, Bósnia-
Herzegovina,
Herzegovina, Kosovo, clonagem, Micros
Microsoft,
oft, hackers, Internet,
Internet, a crise financeira
financeira do
Sudest
Sudestee Asi
Asiáti
ático,
co, o Eur
Euro,
o, bem como a úni
única
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superp
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otência
ncia rem
remanes
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cente,
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Estados Unidos. Pode-se alegar que estes termos e conceitos seriam suficientes e
constituíram, em grande parte, os principais temas na década de 80. No entanto, o
quee no
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prop
opom
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todo
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esse
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rmos
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conc
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tão
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relacionados àquela guerra, quer direta, quer indiretamente.

Não
Não te
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guer
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ra,, e em pa
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signifi
nifica
cativa
tiva dif
difere
erença
nça no pod
poder
er efe
efetivo
tivo dos
contendores. Muito pelo contrário, em nossa análise
análise desta guerra, que em 15 dias
praticamente mudou o mundo inteiro, notamos um outro fato, qual seja, o de que a
guer
guerra
ra em si ta
tamb
mbém
ém ha
havi
via
a mu
muda
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Perc
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conhec
conhecíam
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termos
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glorios
riosos
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dominan
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conclu
clusão
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recente conflito, marcando um ápice na História Militar, deixou de ser considerada
um do
doss ma
mais
is im
impo
port
rtan
ante
tess ev
even
ento
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cená
nári
rio
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mund
ndia
ial,
l, e pa
pass
ssou
ou a te
ter,
r, a
importância de um ator secundário.

Uma guerra que mudou o mundo, e em última análise, transformou a própria


natureza da guerra. Este fenômeno é realmente fantástico, e ao mesmo tempo,
esti
estimu
mula
la pro
profu
fund
ndas
as pon
onde
dera
raçõ
ções
es.. Não
Não noss
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referi
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mos às mud
udan
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no
instru
instrumen
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guerra
rra,, na tec
tecnolo
nologia
gia dos mei
meios
os emp
empreg
regado
ados,
s, nos mod
modelos
elos de
condução da guerra, ou nos tipos de guerra. Estamos nos referindo, isto sim, à
natureza da guerra. Quem poderia imaginar que um ator intolerável e arrogante,
cuja aparição provocou uma completa mudança de enredo, subitamente dar-se-á
conta de que, é o último capaz de encenar aquele personagem singular. E mais
ainda, que mesmo antes mesmo dele deixar o palco, já lhe foi dito que ele não vai
exercer, novamente, o papel de protagonista, ou pelo menos um papel central, no
qual ocuparia sozinho o centro do palco. Que tipo de sentimento isso despertaria?

Possivelmente, aqueles que sentem tal condição mais profundamente são os norte-
ameri
american
canos
os os qua
quais,
is, pro
provav
vavelme
elmente,
nte, pen
pensam
sam dev
dever
er ser inc
incluíd
luídos
os ent
entre
re aq
aquele
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poucos que querem assumir todos os papéis, compreendendo o de salvadores, o de
bomb
bombei
eiro
ros,
s, o de po
polí
líci
cia
a mu
mund
ndia
ial,
l, o de em
emis
issá
sári
rios
os da pa
paz,
z, et
etc.
c. Ao fi
fina
nall da
“Tempestad
“Tempestadee no Deser
Deserto”
to” o “Tio Sam”, novamente,
novamente, não foi capaz de alcançar
alcançar uma
vitória convincente; e tanto na Somália, quanto na Bósnia-Herzegovina, o desfecho
foi, invariavelmente, o mesmo.

Particularmente, nas ações mais recentes, nas quais os EUA e a Grã-Bretanha


 juntaram-se para realizar ataques aéreos ao Iraque, tratava-se do mesmo palco, do
mesmo método, e dos mesmos atores; não havia, porém, maneira de se reeditar a
bem sucedida atuação que causou, oito anos antes, uma impressão tão marcante.

Diante das atuais questões políticas, econômicas, culturais, diplomáticas, étnicas e


religiosas, e etc., cujas complexidades são bem maiores do que as vislumbradas
pela maioria dos militares no mundo, as limitações quanto aos meios bélicos, que
até agora constituíam um fator de sucesso, subitamente tornaram-se evidentes. No
entanto, numa era em que “o poder é a razão”    e
 e grande parte da história deste
sécu
século
lo es
está
tá co
conti
ntida
da nes
neste
te pe
perío
ríodo
do    estes
estes tem
temas
as não con
consti
stituí
tuíram
ram entraves.
entraves. A
questão é que as forças multinacionais lideradas pelos EUA, operando na região
desértica do Kuwait, marcaram o fim de um período, inaugurando, assim, uma
nova era.

Na at
atua
uali
lida
dade
de,, ai
aind
nda
a é di
difí
fíci
cill vi
visl
slum
umbr
brar
ar se es
esta
ta no
nova
va er
era
a ir
irá
á re
redu
dund
ndar
ar no
desemprego de grandes efetivos militares, ou se irá abolir a guerra da face da Terra.
 Tudo isso ainda é indeterminado. A única conclusão certa é a de que, a partir de
agora, a guerra não será mais como sempre foi. Em outras palavras, se no futuro, a
humanidade não tiver alternativas que não a de engajarem-se em guerras, estas
não serão mais conduzidas dentro dos moldes que nos eram familiares.
É impossível negar o profundo impacto exercido sobre a sociedade pelas novas
motivações representadas pela liberdade econômica, concepção dos direitos
humanos e percepção da importância da proteção ambiental. Mas é certo que a
metamorfose da guerra provocará um cenário ainda mais complexo, caso contrário,
o imortal pássaro da guerra, na eminência de seu declínio, não será capaz de
atingir o seu nirvana.

Quando as pessoas começarem a aceitar e regozijar-se com a redução do uso da


força militar para a resolução de conflitos, a guerra renascerá sob outro formato,
em outro cenário, tornando-se um instrumento de enorme poder nas mãos dos que
nutrem a intenção de controlar outros países e regiões.

O ataque financeiro realizados por George Soros no Sudeste Asiático, os ataques


terroristas conduzidos por Osama Bin Laden às embaixadas norte-americanas, o
ataque com gás sarin no metrô de Tókio, realizado pelos discípulos de Aum Shinri
Kyo, e a devastação causada por Morris Jr. na Internet, são eventos cujos graus de
destruição são comparáveis aos de uma guerra. São eventos que representam uma
forma embrionária de um novo tipo de guerra.

Seja qual for o nome atribuído a estas evoluções na ambiência da guerra, elas não
nos tornam mais otimistas, e isto porque a redução da natureza da guerra, em sua
essência, não significa o seu fim. Mesmo na chamada era pós-moderna, ou pós-
industrial, a guerra não deixará de existir. Ela apenas irá permear a sociedade
humana, de uma forma mais complexa, mais penetrante, encoberta e sutil. É
como Byron citou em seu poema “Mourning Shelley”    “Nada aconteceu, ele
apenas passou para um outro nível de vida”.

A guerra, que se submeteu às mudanças da moderna tecnologia e do sistema de


mercado, será desencadeada de formas ainda mais atípicas. Em outras palavras,
enquanto presenciamos uma relativa redução na violência militar, estamos
evidenciando, definitivamente, um aumento na violência política, econômica e
tecnológica.

No entanto, a despeito das formas que a violência possa assumir, a guerra


continua sendo a guerra, e as mudanças, em sua aparência externa não impedem
que ela continue a ser regida pelos Princípios da Guerra.

Os novos princípios de guerra não prescrevem mais “o emprego da força armada


para compelir um inimigo a submeter-se à nossa vontade”, e sim, “a utilização de
todos os meios, militares e não-militares, letais e não-letais, para compelir um
inimigo a submeter-se aos nossos interesses”. Isto representa uma mudança, tanto
na guerra em si, quanto no modelo de guerra provocado por essa transformação.

Se estas mudanças existem que ou o que as determinou? Que tipos de mudanças


são estas? Que novos rumos estas mudanças estão determinando? E como
encarar estas mudanças? Estes são os tópicos que este livro procura abordar,
constituindo, também, nossa motivação para escrevê-lo.

Qiao Liang e Wang Xiangsui

Em 17 de janeiro de 1999, 8º aniversário do início da Guerra no Golfo.


1ª PARTE – EM UM NOVO TIPO DE GUERRA
“Apesar de Estados antigos terem sido grandes, eles,
inevitavelmente, pereceram quando se tornaram adeptos 
da guerra.” 
Sima Rangju 

A TECNOLOGIA É O TOTEM DO HOMEM MODERNO0

A  TECNOLOGIA — UM PAR DE SAPATILHAS MÁGICAS

Impulsionada pela morna brisa do utilitarismo, não é uma surpresa que a


tecnologia tenha sido mais favorável ao homem do que a ciência. A era das grandes
descobertas científicas já estava ultrapassada, antes mesmo da época de Einstein,
no entanto, ainda hoje, o homem se inclina, cada vez mais, para realização de
todos os seus sonhos, em seu próprio tempo de vida. Esta perspectiva levou o
homem esperar o seu próprio futuro, adotando uma atitude de prostração e de
expectativa quanto às maravilhas que lhe podem ser proporcionadas pela
tecnologia, vislumbradas através de uma lente côncava, com magnitude elevada à
potencia de 1000.

Desta forma, a tecnologia produziu desenvolvimentos surpreendentes e magníficos,


num período de tempo relativamente curto, resultando em inúmeros benefícios
para uma humanidade que estava ávida por um sucesso rápido e a correspondente
recompensa. Não obstante, ao enaltecermos orgulhosamente este progresso, não
nos damos conta de que ao abrigo desta benigna era da tecnologia nos abstraímos
dos nossos melhores sentimentos.

0
 No livro “In Man and Technology”, O. Spengler afirma: “como Deus, nosso Pai, a
tecnologia é eterna e imutável, e como o Filho de Deus, irá salvar a humanidade, e
como o Espírito Santo, brilha sobre nós”. A adoração do filósofo Spengler pela
tecnologia, semelhante à de um teólogo por Deus, não era nada mais do que uma
manifestação de um outro tipo de ignorância, na medida em que o homem entrava
na grande era do industrialismo, que florescia de forma intensa na era pós-
industrial.
Princípios filosóficos dão conta de que, sempre que algo atingir o seu ponto
máximo, voltar-se-á na direção oposta. Nesse sentido, a invenção do armamento
nuclear, esta arma “ultra-letal ”0 que pode aniquilar toda a humanidade, colocou a
própria humanidade numa espécie de armadilha existencial criada por ela mesma.

As armas nucleares tornaram-se a espada de Damócles, pendendo sobre a cabeça


da humanidade, forçando-a a ponderar: Será que nós realmente precisamos de
armas “ultra-letais ” ? Qual é a diferença entre matar um inimigo uma vez, e
continuar matando-o 100 vezes mais? Qual é o propósito em destruir um inimigo,
se isto significar a destruição do mundo? Como podemos evitar uma guerra que
resultará na ruína de todos nós?

O “equilíbrio do terror” introduzido pela “possibilidade assegurada de destruição


mútua” foi a resposta imediata a esses questionamentos, e como uma decorrência,
abriu uma via expressa para uma nova abordagem, privilegiando o crescente
aprimoramento do controle do poder letal das demais armas, associando a sua
eficácia a uma possibilidade aceitável de emprego.

A  TENDÊNCIA DE HUMANIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Atualmente, qualquer invenção tecnológica de porte tem uma profunda ingerência


de aspectos humanísticos. A “Declaração Universal de Direitos do Homem”,
sancionada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1948, e os mais de 50
pactos e acordos relacionados, estabeleceram um conjunto de normas
internacionais relativas aos direitos humanos. Por estas normas é reconhecido que
o uso de armas de destruição em massa, e em particular, armamentos nucleares,
constitui uma séria violação do “direito à vida”, e representa um “crime contra a
humanidade”.

Aspectos como os direitos humanos e outras novas concepções políticas; a


tendência de integração da economia mundial; o entrelaçamento de interesses e

0
A substituição o conceito de “arma ultra-letal” pelo conceito de “arma de
destruição em massa” deve-se à necessidade de realçar o fato de que o poder letal
destas armas excede as necessidades da guerra, sendo o produto do pensamento
posições políticas, envolvendo as diversas forças políticas e sociais; a concepção da
“derradeira preocupação” com a ecologia e meio-ambiente; e em particular a
valorização da vida humana; têm influenciado preocupações relativas à matança e
à destruição, dando berço a uma nova concepção de guerra e a uma nova ética na
condução da guerra.

AS ARMAS SUAVES — DE PRECISÃO — NÃO-LETAIS

A tendência para as “armas suaves ”0 não é nada mais do que um reflexo dessa


grande mudança na base da cultura humana, no desenvolvimento e produção de
armas. Em decorrência desta tendência, tem havido o desenvolvimento de meios
para atacar direta e especificamente um centro nervoso de um inimigo, sem
danificar as áreas circundantes. Desta forma têm-se novas opções para obtenção
da vitória, gerando a crença de que a melhor forma de se obter a vitória é através
de um maior exercício de controle e não através da imposição da morte.

Ocorreram mudanças no conceito de guerra e no conceito dos armamentos, e o


recurso à matança descontrolada, para forçar o inimigo a uma rendição
incondicional, tornou-se uma relíquia de uma era passada. Atualmente, a guerra se
distancia das eras de carnificina caracterizadas por campanhas como a de Verdun.
O aparecimento das armas de precisão e das armas não-letais tornou-se um ponto
de inflexão no desenvolvimento de sistemas de armas, evidenciando, pela primeira
vez, que este desenvolvimento se dá numa direção mais “suave” e não numa
direção de maior “força”.

As armas de precisão podem atingir um alvo específico de forma precisa, reduzindo


os danos e vítimas colaterais, da mesma forma que um bisturi a raios gama, pode
extrair um tumor com praticamente nenhum sangramento, dando origem assim, ao
conceito de “ataques cirúrgicos”0. Desta forma, ações de guerra sem grande
envergadura podem proporcionar resultados estratégicos notáveis. Por exemplo,

0
 O termo “suave” refere-se ao fato de que estas armas reduzem o grau da matança
e o nº de vítimas colaterais.

0
 [N.T.] Neste sentido é interessante o comentário de Bernard Shaw (repórter da
CNN) ao irradia, diretamente de Bagdá, durante o 1º ataque norte-americano no 2º
Conflito do Iraque: “...se isto é um ataque cirúrgico, eu não queria estar nessa
através do emprego de um míssil, rastreando o sinal de um telefone celular, os
russos conseguiram calar o incomodo e ameaçador discurso de Dudayev de forma
permanente, e ao mesmo tempo, eliminar um enorme problema que havia sido
desenvolvido pela minúscula Chechenia.

As armas não-letais podem eficazmente eliminar a capacidade de combate tanto do


pessoal, quanto do armamento, sem a perda de vidas.

A edição de Abril de 1993 do periódico britânico “International Defense Review” revelou que os EUA estavam
empreendendo intensas pesquisas em uma grande variedade de armamentos não-letais, compreendendo: armas
ópticas; armas de microondas de alta energia; armas de raios acústicos; e armas a laser. A edição de 6 de março do
periódico “Jane´s Defense Weekly” relata que um comitê de alto nível relacionado a armas não-letais, no âmbito de
Departamento de Defesa, já formulou uma política regulando a demanda, o desenvolvimento e o emprego de tais
tipos de armas. Além disso, de acordo com as p521-522 da edição de 1997 do “World Military Yearbook” o
departamento de Defesa dos EUA formou um grupo pioneiro para pesquisa de armamentos não-letais, cujo propósito é
o de providenciar para que as armas não-letais sejam incorporadas, o mais breve possível, no inventário de
armamentos.

A tendência incorporada nestas armas demonstra que a humanidade está no


processo de suplantar seu próprio modo extremado de pensar, começando a
aprender a controlar o poder letal de que já dispõe, e cujo excesso cresce
continuamente. No bombardeio maciço que durou mais de um mês na Guerra do
Golfo, a perda de vidas iraquianas permaneceu na casa dos milhares 0, um valor
muito inferior ao verificado em decorrência do bombardeio de Dresden durante a 2ª
Guerra Mundial.

As “armas suaves” representam a mais recente opção consciente da humanidade


entre as várias opções no campo das armas, à qual, após a introdução de uma nova
tecnologia no desenvolvimento da arma, a componente humana é então
incorporada, conferindo, desta forma, à guerra, um inédito matiz de clemência. Não
obstante, “armas suaves” continuam sendo armas, e o requisito de serem “suaves”
não irá reduzir a sua eficácia num campo de batalha.

A EFICÁCIA DAS  ““ARMAS SUAVES”

Para neutralizar a capacidade de combate de um tanque, podemos atingi-lo com


canhões ou mísseis, ou podemos, através de um feixe laser neutralizá-lo,
destruindo os seus equipamentos ópticos ou cegando a sua tripulação. Num

0
 Ver “Military Science Publishing House Foreign Military Data”, 26 de Março de
campo de batalha, alguém que esteja ferido demanda maior cuidado que outro que
esteja morto, e neste sentido, armas não tripuladas, progressivamente, prescindem
de blindagem e estruturas de proteção. Certamente, aqueles que se dedicam ao
desenvolvimento de “armas suaves ” já contabilizaram o custo e benefício relativo a
estes aspectos. A ocorrência de vítimas pode eliminar a capacidade de combate de
um inimigo, levando-o ao pânico e perda da vontade de lutar, e isto pode ser
considerado como um meio extremamente válido de se alcançar a vitória.

Atualmente, já dispomos de tecnologia suficiente, e podemos desenvolver muitos


métodos para causar medo e que são eficazes, tais como o emprego de feixes laser
para projetar no céu a imagem de companheiros feridos, o que seria suficiente para
amedrontar aqueles soldados impressionáveis. Não existem mais obstáculos para o
desenvolvimento destes tipos de armas; só é necessária a adição de alguma
imaginação adicional ao elemento técnico. As “armas suaves ” representam uma
derivação das “armas neoconcepcionais ” , enquanto que e as “ armas
armas cibernéticas ”
constituem um exemplo proeminente de “arma suave ”.

Quer sejam armas de energia eletromagnética, para emprego em “hard-kill”, quer


sejam para “soft-kill”, como as “bombas lógicas”0 e os vírus, ou as armas de mídia,
todas estas “armas suaves ” visam impor a paralisação e a deterioração, e não
vitimar seres humanos.

As “armas suaves ”, que só poderiam nascer numa era de integração tecnológica,


podem constituir a tendência mais promissora no desenvolvimento de armas, e ao
mesmo tempo, desvendar formas de guerra e revoluções em assuntos militares,
inimagináveis ou imprevisíveis nos dias de hoje. Estas armas representam uma
mudança com profundas implicações sobre a história da guerra, constituindo o
divisor de águas entre as antigas e as novas formas de guerra. E isto se deve ao
fato de sua aparição ter sido suficiente para relegar as guerras das armas frias e
quentes à era “antiga”.

De qualquer forma, não podemos nos deixar levar por fantasias românticas a
respeito de tecnologia, acreditando que a partir de agora a guerra tornar-se-á um
confronto semelhante a um jogo eletrônico. Até nas guerras simuladas, realizadas

0
 Uma bomba lógica é um programa que foi deliberadamente escrito ou modificado,
sem autorização para produzir resultados específicos quando determinadas
condições são preenchidas, resultados estes inesperadas ou não autorizados pelo
em complexos informatizados, há que haver como premissa, a capacidade real dos
países envolvidos, pois mesmo que se desenvolvam dez planos para uma guerra
simulada, ainda assim, não será o suficiente para deter um inimigo real, que seja
mais poderoso em termos de força. A guerra ainda é uma arena de vida e morte,
uma área de destruição e sobrevivência, que não comporta uma ação cometida de
forma inocente.

Mesmo que no futuro todas as armas tenham sido completamente humanizadas,


uma guerra por mais suave que seja, na qual se evite o derramamento de sangue,
ainda será uma guerra. Pode ser que o processo cruel da guerra seja alterado, mas
não há como se mudar a sua essência, que por derivar de uma compulsão terá
sempre, como uma fatalidade, um final cruel.
Clara Não Clara
Passível de Deterrência Não Passível de Deterrência
Centrada na Europa De outras regiões
Alto risco de Escalar Baixo risco de escalar
Ostensiva Encoberta
EM RELAÇÃO AO EMPREGO DA FORÇA MILITAR
ANTIGA AMBIÊNCIA DE NOVA AMBIÊNCIA DE
SEGURANÇA SEGURANÇA
Guerra de Atrição Ataques decisivos a alvos capitais
A Guerra realizada por terceiros A participação direta
Baseada principalmente em alta- Uso integrado de alta, média e baixa
tecnologia tecnologia
Posicionamento Avançado Projeção de Poder
Bases Avançadas Bases Domésticas
Apoio do País Hospedeiro Baseada na própria Força

Das tabelas acima, pode-se notar a sensibilidade norte-americana às mudanças em


sua ambiência de segurança, bem como, os diversos tipos de forças e fatores que
estão limitando e influenciando o estabelecimento de um novo arranjo mundial,
desde o término da Guerra Fria.

A PREVALÊNCIA DOS PROPÓSITOS E INTERESSES NACIONAIS

Qualquer jovem que participou da Guerra do Golfo poderá dizer, sem hesitar, que
lutou para restaurar a justiça em proveito do minúsculo e fraco Kuwait. No
entanto, o motivo real da guerra talvez tenha sido outro, bem diferente da razão tão
filantrópica que foi oficialmente divulgada.

Os países formadores da coalizão no 2º Conflito do Golfo, escondidos ao abrigo de


um pretenso propósito altruísta, não temiam o constrangimento de ter que encarar
os seus verdadeiros propósitos naquele conflito de frente. Na realidade, todos os
países que participaram da Guerra do Golfo, assim optaram, após uma cuidadosa
análise relativa às suas intenções e objetivos nacionais.

As potências ocidentais envolvidas lutavam pela preservação de suas linhas de


suprimento de petróleo. A este objetivo básico, os EUA acrescentaram a sua
aspiração de construir uma nova ordem mundial sob a insígnia “USA”,
comprovando a sua origem, e talvez tenha até havido, também, um pouco do zelo
missionário de preservação da justiça.
Os árabe-sauditas se engajaram visando anular uma incomoda ameaça de um
poder hegemônico iraquiano, e neste sentido, dispuseram-se até a superar tabus e
preconceitos muçulmanos, aliando-se aos ocidentais como em “Dança com Lobos”0.

Os ingleses sempre reagiram entusiasticamente a cada movimento feito pelo


Presidente Bush, como uma forma de recompensar o “Tio Sam” pelos problemas
que lhe haviam causado com a Guerra das Malvinas;

E até os franceses, tardiamente, enviaram tropas para o Golfo, visando a preservar


um pouco de sua tradicional influência no Oriente Médio.

Desta forma, com esta diversidade de interesses condicionantes, não há como uma
guerra possa ser conduzida sob um único propósito.

O agregado de interesses dos inúmeros países participando de uma guerra


transformou a guerra moderna, como no caso da “Tempestade no Deserto”, numa
inserção oportuna de interesses nacionais prospectivos, todos sob a chancela de
um interesse comum. O assim chamado “interesse comum” assumiu a condição de
um denominador comum de uma coalizão na equação da guerra — o fator que
tornou aceitável, para cada partido aliado, integrar o esforço de guerra.

Não obstante, ampliando esta perspectiva, se quisermos desenvolver um esforço


combinado, é necessário que se considerem, além de interesses e objetivos
nacionais, as condicionantes internas de cada país aliado, identificando as
intenções e objetivos dos vários grupos de interesses particulares de cada nação,
em relação à guerra.

Desta forma, o complexo inter-relacionamento de interesses nacionais e privados


torna impossível enquadrar a Guerra do Golfo, apenas, como tendo sido travada
por causa do petróleo, ou visando uma nova ordem mundial, ou para expulsar os
invasores.

Somente um número restrito de militares consegue compreender um princípio que


qualquer estadista já conhece: que a maior diferença entre as guerras
contemporâneas e as do passado é de que nas guerras contemporâneas, os
propósitos declarados são, freqüentemente, diferentes dos propósitos ocultos.

0
 [N.T.] Uma alusão ao premiado filme “Dança com Lobos” em que um soldado do
exercito norte-americano se tornou amigo e aliado de uma tribo indígena, na época,
ONDE LUTAR?

“Avante jovens! Aos campos de batalha!”. Sob um fundo musical heróico, um


 jovem com uma mochila nas costas, deixa para traz sua família, filhos e parentes, e
todos o vêem partir com lágrimas nos olhos. Esta é uma cena clássica dos filmes
de guerra. O jovem pode estar partindo montado a cavalo, num trem, num navio ou
num avião; isto não é relevante, o que importa, é que o seu destino é sempre o
mesmo — um campo de batalha envolto pelas chamas da guerra.

CAMPOS DE BATALHA DA ANTIGUIDADE ATÉ A IDADE M


MODERNA

Durante um longo tempo, antes do advento das armas de fogo, os campos de


batalha eram pequenos e compactos. O enfrentamento a curta distância entre dois
Exércitos poderia ser executado em uma pequena área de terreno plano, podendo
desdobrar-se por trilhas entre montanhas ou, para dentro dos limites de uma
cidade. Na perspectiva militar atual, aquele campo de batalha que extasiava nossos
antepassados, representa uma locação pontual no âmbito de um mapa militar, sem
ter muita relevância.

Os campos de batalha da Antigüidade até a idade Moderna não teriam capacidade


de acomodar o espetáculo que a guerra atual apresenta em escala grandiosa. O
advento das armas de fogo determinou o desenvolvimento das formações dispersas,
e o campo de batalha “pontual” foi gradativamente ampliado para uma região onde
ocorriam seqüências de escaramuças.

CAMPOS DE BATALHA NA  IIDADE CONTEMPORÂNEA

Durante a 1ª Guerra Mundial, a guerra de trincheiras, com suas linhas


estendendo-se por centenas de milhas, representaram o apogeu do conceito de
campo de batalha bidimensional, e ao mesmo tempo, ampliou suas dimensões para
uma “área” (teatro de operações 0), com profundidade de dúzias0 de milhas. Para os
participantes daquele conflito, o novo campo de batalha configurado por
trincheiras, obstáculos de concreto, emaranhados de arame farpado,
metralhadoras e crateras, tornou-se um verdadeiro matadouro, gerando um
número incontável de vítimas.

A  TECNOLOGIA REDIMENSIONANDO O CAMPO DE BATALHA

O constante processo de desenvolvimento tecnológico tem criado as condições


para novas e contínuas expansões do conceito de campo de batalha. A transição do
campo de batalha pontual para o linear, bem como, de sua dimensão
bidimensional para a tridimensional não levou tanto tempo para ocorrer, como
pode ser suposto. Pode-se dizer que, em cada caso, um determinado estágio na
evolução já trazia consigo o seu sucessor.

Quando o ronco dos motores inaugurava a era dos tanques passando sobre as
trincheiras, já apareciam nos céus os primeiros aviões equipados com
metralhadoras, e já era possível o lançamento de bombas por dirigíveis.

O desenvolvimento de armas não pode, por si só, e automaticamente, introduzir


mudanças nas características dos campos de batalha. Na história da guerra,
qualquer avanço significativo sempre dependeu, em parte, de uma iniciativa
inovadora por parte dos estrategistas militares. O campo de batalha, que esteve
restrito ao nível terrestre por milhares de anos, foi subitamente erguido à categoria
de tridimensional. Isto se deve, em parte, às obras “Tanks in the Great War, 1914-
1918” do Major-General John Frederick Charles, e “The Command of the Air” de
Giulio Douhet, bem como à profundidade das operações propostas e praticadas sob
o comando do Marechal Mikhail N. Tukhachevsky.

Erich Lunderdoff foi outro estrategista que tentou mudar radicalmente a natureza
do campo de batalha, idealizando o conceito de “guerra total”, que combinava os
elementos do campo de batalha a outros não pertencentes a este cenário,
integrando-os num só conjunto orgânico. Não obstante, ele não conseguiu

0
 [N.T.] A expressão “Teatro de Operações” é o conceito atual, que corresponde ao
que o autor define como sendo Área de Batalha.

0
 [N.T.] Acreditamos que o autor se referiu a “dezenas” de milhas, porém, para
implantar sua concepção ou testemunhar o seu sucesso, pois estava predestinado
a travar as batalhas do seu tempo, em teatros como o de Verdun e dos Lagos
Masurios. Ainda assim, ele foi o precursor de uma doutrina militar que lhe
sucedeu por mais de meio século.

Neste sentido, o destino de um soldado é determinado pela era em que ele vive.
Naquele tempo, a amplitude das asas do Deus da guerra estava limitada ao alcance
de uma peça de artilharia fabricada pela Krupp, o que tornava impossível o disparo
de um projétil, cuja trajetória parabólica atingisse o inimigo, além de suas linhas
de frente e de retaguarda.

Hitler teve mais sorte que Lunderdoff. Passados 20 anos, ele tinha armas de longo
alcance à sua disposição. Empregando bombardeiros propulsados por motores
Mercedes, e os foguetes V1 e V2, ele conseguiu quebrar a tradição das Ilhas
Britânicas, de nunca terem sido constrangidas por qualquer invasor0. Hitler, que
não era um estrategista e tão pouco um tático, confiando apenas em sua intuição,
conseguiu ultrapassar os espaços que demarcavam a linha de frente e a
retaguarda; ele jamais entendeu, realmente, o significado revolucionário do
rompimento da configuração espacial que separava os elementos integrantes e não
integrantes do campo de batalha. Provavelmente, este conceito estava além do
alcance da percepção de um completo maníaco quanto à guerra, além de ser um
estrategista simplório.

 TECNOLÓGICA E A DIMENSÃO ATUAL  DO CAMPO DE BATALHA

Essa revolução, todavia, logo estará entre nós com sua força máxima. No momento,
a tecnologia novamente está avançada em relação ao pensamento militar. Ainda
que nenhum estudioso militar tenha apresentado qualquer conceito novo e
extremamente amplo sobre o campo de batalha, a tecnologia está se esforçando
para expandir o campo de batalha para uma dimensão que é virtualmente
ilimitada; existem satélites no ar, submarinos nas profundezas dos mares, mísseis
balísticos que podem atingir qualquer ponto do globo, e a guerra eletrônica, que
explora o invisível espectro eletromagnético.

Até mesmo o último refúgio da raça humana — o mundo interior do ser humano — 
não está livre dos ataques da guerra psicológica. Existem redes integrando

0
 [N.T.] Não foi considerada a invasão das Ilhas Britânicas em 1066 por Guilherme
sistemas nos cercando por cima e por baixo, de modo que uma pessoa não tem
mais como escapar.

 Toda a conceituação atual relativa à amplitude, profundidade e altitude da


ambiência operacional já aparece como antiquada e obsoleta. Como um resultado
da expansão da capacidade de imaginação da humanidade e do seu domínio da
tecnologia, o campo de batalha está sendo ampliado ao seu limite máximo.

A despeito da situação delineada, o pensamento militar ainda tende a manter-se


estático.

Embora a tecnologia tenha criado maiores perspectivas para o pensamento militar,


certamente isso não foi suficiente para provocar a expansão do campo de batalha
convencional de sua dimensão “mesoscópica” convencional (isto é entre a
microscópica e a macroscópica).

 Já é evidente, que os desenvolvimentos na área da tecnologia mecânica não serão


determinantes em futuras ampliações do campo de batalha. A assertiva de que
“uma futura expansão do campo de batalha refletir-se-á nas ações conduzidas nas
áreas mais profundas dos oceanos, e nas altitudes mais elevadas do espaço
cósmico”, constitui meramente um ponto de vista superficial, e uma conclusão que
se auto-restringe à física geral.

A NOVA DIMENSÃO — O ESPAÇO  TECNOLÓGICO

A verdadeira mudança revolucionária no campo de batalha decorre do que


poderíamos chamar de “espaço não natural”. Por exemplo, não há como se
considerar que o espectro eletromagnético seja um campo de batalha em termos
convencionais. Ele constitui um tipo diferente de campo de batalha, que deriva e
depende da criatividade tecnológica. Neste tipo de “espaço criado pelo homem”, ou
“espaço tecnológico”0, os conceitos de dimensão, peso, terra, mar e ar e espaço
cósmico perderam os seus significados. Isso devido às propriedades específicas das
ondas eletromagnéticas, que permeiam e podem exercer controle no espaço
convencional sem, no entanto, ocupar qualquer parcela desse espaço. Podemos até
antecipar que, qualquer alteração ou expansão significativa em um futuro campo
de batalha estará condicionada à possibilidade de uma determinada inovação

0
“Ambiência tecnológica” é um novo conceito que est ondo, de modo a
A guerra de precisão, chamada pelos norte-americanos de — guerra sem contato,
ou pe
pelo
loss ru
russos0 de — co
ssos comb
mbat
atee re
remo
moto,
to, ca
cara
ract
cter
eriz
iza-
a-se
se pe
pela
la di
diss
ssim
imul
ulaç
ação
ão,,
velocidade,
velocidade, precisão, alto grau de eficácia e poucas perdas colaterais.
colaterais. Nas guerra
guerrass
do futuro, cujos desfechos talvez ocorram pouco tempo depois dos seus inícios,
esta doutrina,
doutrina, que já demo
demonstrou
nstrou alguma eficácia
eficácia na 2ª Guerr
Guerra
a do Golfo, talvez se
torne o procedimento mais aceito e adotado pelos generais norte-americanos.

A CARACTERÍSTICA INOVADORA DAS MOOTW

No entanto, a concepção que realmente incorpora uma característica criativa, não é


a da guerra cibernética ou da guerra de precisão e sim,
sim, a concepção
concepção das MOOTW.

Esta
Esta co
conce
ncepç
pção
ão es
está
tá cl
clar
aram
amen
ente
te vi
vinc
ncula
ulada
da à id
idéia
éia “d
“do
o in
inte
teres
resse
se co
comu
munit
nitár
ário
io
glob
global
al”,
”, qu
quee os nor
norte-
te-am
amer
eric
ican
anos
os co
cons
nsta
tant
ntem
ement
entee in
invo
voca
cam,
m, im
impl
plic
icand
ando
o nu
num
m
temerário excesso de autoridade por parte dos EUA — um caso clássico da atitude
norte-americana que pode ser representada pela frase — “eu sou responsável por
todos os lugares banhados pela luz do sol”.

Apesar deste ideal de prepotência, ainda assim, consideramos que as MOOTW


sejam uma concepção válida, porque afinal de contas, pela primeira vez, dispõe-se
de uma grande diversidade
diversidade de medid
medidas
as para lidar-se, de forma inteligente, com os
problemas dos séculos 200 e 21, e que podem ser, todos, colocadas sob o grande
invólucro de um mesmo tipo de guerra, de modo que os militares não estarão
perdidos e às escuras por estarem atuando em cenários diferentes dos campos de
batalha, e a sua compreensão e percepção encontrará limites mais amplos para o
conceito de guerra.

0
  [N.T.] A sigla C4I corresponde a definição de uma ambiência ou sistema que
inte
integr
gra
a sist
sistem
emas
as ou subs
subsis
iste
tema
mass de Coma
Comand
ndo,
o, Co
Cont
ntro
role
le,, Comu
Comuni
nica
caçõ
ções
es,,
Computadores e Inteligência.

0
 Após realizar pesquisa sobre a Guerra no Golfo, o especialista russo em tática,
I.N. Vorobyev, salientou que o “combate remoto” é um método de combate que tem
um grande potencial. (“Military Thought”, Rússia, 1992, p11).

0
 [N.T.] O livro foi escrito em 1996, por essa razão o autor ainda se referiu ai século
As ações ou medidas que podem ser classificadas como MOOTW compreendem:
manutenção
manutenção da paz; comba
combate
te ao tráfico
tráfico de drogas;
drogas; supr
supressão
essão de levantes,
levantes, ajuda
ajuda
militar; o controle de armas; apoio humanitário; a evacuação de cidadãos residindo
em outros países, e o combate ao terrorismo.

AS OPERAÇÕES DE GUERRA NÃO-MILITARES

O contato dos milit


militares
ares com conce
conceitos
itos mais amplos
amplos de guerra poder
poderá,
á, a princíp
princípio,
io,
reduzir a sua adesão
adesão ao contexto das MOOTW.
MOOTW. Em outras palavras,
palavras, eles não serão
serão
capaz
capazes
es de inco
incorpor
rporar
ar o rec
recém
ém cri
criado
ado con
concei
ceito
to de “Op
“Opera
eraçõe
çõess de Gue
Guerra
rra Não-
Mili
Milita
tare
res”
s” ao co
cont
ntex
exto
to da
dass MO
MOOT
OTW.
W. No en
enta
tant
nto,
o, qu
quan
ando
do is
isto
to oc
ocor
orre
rer,
r, ir
irá
á
representar um entendimento que tem um significado genuinamente revolucionário
em termos da percepção que a humanidade tem quanto à guerra.

A dif
difere
erença
nça ent
entre
re as con
concepç
cepções
ões de “Op
“Opera
eraçõe
çõess de Gue
Guerra
rra Não-Milit
Não-Militare
ares”
s” e as
MOOTW vai muito mais além da diferença semântica, ou da mera inversão de
palavras como
como nas frases de um “quebra cabeça”.
cabeça”. O conceito de MOOTW pode ser
considerado, simplesmente, como uma designação para um conjunto de missões e
operações realizadas por Forças Armadas quando não há um estado de guerra
decl
declar
arad
ado.
o. O co
conc
ncei
eito
to de “O
“Ope
pera
raçõ
ções
es de Gu
Guer
erra
ra Nã
Não-
o-Mi
Mili
lita
tare
res”
s” ex
expa
pand
ndee o
ente
entendi
ndime
mento
nto de gu
guer
erra
ra a to
todo
doss os ca
camp
mpos
os da at
ativ
ivid
idad
adee hu
huma
mana
na,, co
com
m um
uma
a
abrang
abrangênc
ência
ia mui
muito
to ma
maior
ior que o sign
signifi
ificad
cado
o da exp
expres
ressão
são ope
operaç
rações
ões mil
milita
itares
res,,
expansão esta, resultante do fato de que os seres humanos utilizarão quaisquer
meios concebíveis, para alcançar os seus objetivos.

Embora pareça que os norte-americanos estejam na dianteira, em todos os campos


da teoria militar, eles não têm capacidade para assumir a liderança na proposição
desta nova concepção de guerra. Apesar disso, não podemos deixar de reconhecer
que o afluxo do pragmatismo de estilo norte-americano em todo o mundo, bem
como das ilimit
ilimitadas
adas possibilidades
possibilidades ofer
oferecidas
ecidas pela alta-tecnologia,
alta-tecnologia, fora
foram
m forç
forças
as
sustentando o surgimento desta nova concepção de guerra.

Com o aparecimento
aparecimento concepção
concepção de “Opera
“Operações
ções de Guerra Não-Militar
Não-Militares”,
es”, quais
quais
serão
serão os meios que, estando atualmente
atualmente desv
desvinculad
inculados
os da guerra, tornar-se-ão
tornar-se-ão as
novas armas e meios, e que se evidenciam,
eviden ciam, com uma freqüência cada vez maior, em
todo o mundo?
Se a expressão guerra comercial,  a cerca de doze anos atrás era apenas uma
expres
expressão
são des
descrit
critiva
iva,, na atu
atualid
alidade
ade ela se tor
tornou
nou um ins
instru
trumen
mento
to dis
disponí
ponível
vel a
diversas nações, para empreenderem Operações de Guerra Não-Militares.

Este instrumento tem sido usado com habilidade pelos norte-americanos, que o
aperfeiçoaram até o nível de uma arte, compreendendo em seu bojo: a aplicação da
legis
legislaç
lação
ão co
come
merc
rcia
iall in
inte
tern
rna
a no âm
âmbi
bito
to in
inter
terna
naci
cion
onal
al;; o es
esta
tabe
belec
lecime
imento
nto ou
eliminação
eliminação arbi
arbitrár
trária
ia de barre
barreiras
iras tarifárias;
tarifárias; a adoç
adoção
ão intem
intempestiva
pestiva de sançõ
sanções
es
comerc
comerciai
iais;
s; a imp
imposi
osição
ção de emb
embarg
argos
os à exp
export
ortaçã
ação
o de tec
tecnolo
nologia
giass con
consid
sidera
eradas
das
críticas; a adoção do capítulo específico da Lei Especial 301 0  ; e a adoção do
conceito de “país mais favorecido”; e etc.

Qualquer um destes instrumentos tem um efeito destrutivo semelhante ao de uma


operação militar, e neste sentido, o embargo de oito anos imposto pelos EUA contra
o Iraque constitui um exemplo clássico.

A GUERRA  F
FINANCEIRA

A crise financeira ocorrida no Sudeste Asiático evidenciou em relação aos países


asiáticos, os efeitos da guerra financeira. De fato, não se trata, apenas, deles terem
sido simplesmente surpreendidos, e sim, atingidos de uma forma avassaladora e
completa.

Uma guerra financeira deliberadamente planejada pelos proprietários do capital


internacional, e desencadeada por intermédio da transferência rápida de valores,
desman
desmantel
telou,
ou, um apó
apóss outro, países
países que, pouco tempo antes,
antes, eram
eram sau
saudad
dados
os
como “pequenos-tigres” e “pequenos-dragões” da economia internacional.

A prosperidade econômica que tinha despertado a admiração do mundo ocidental


transfor
transformou-se
mou-se em depressão,
depressão, como as árvo
árvores
res que, da noite para o dia, perdem
perdem
suas folhas, devido ao vento do outono.

0
A Le
Leii Es
Espe
pecia
ciall 30
301
1 co
cons
nsti
titu
tuii um me
meca
canis
nismo
mo ad
adot
otad
ado
o pe
pelos
los re
repr
prese
esent
ntan
ante
tess
comerciais
comerciais dos EUA, para identifica
identificarr prát
práticas
icas comerciais
comerciais injustas
injustas em relação aos
ciante norte-americ
norte-americ demandando
demandando imposição
imposição de reformulaç
reformulação
ão
Depois de apenas um assalto na competição, as economias de diversos países
regr
regred
edir
iram
am de
dezz an
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os,, e ma
mais
is do qu
quee is
isso
so,, um
uma
a de
derr
rrot
ota
a co
como
mo es
esta
ta na fr
fren
ente
te
econômica deflagrou um quase colapso da ordem político-social.

As perdas decorrentes deste caos continuado são tão numerosas quanto as que
seri
seriam
am de
deco
corr
rren
ente
tess de um
uma
a gu
guer
erra
ra re
regi
gion
onal
al,, e o pr
prej
ejuí
uízo
zo ca
caus
usad
ado
o pa
para
ra a
organiz
organizaçã
ação
o soc
social
ial exi
existe
stente,
nte, até mes
mesmo
mo exc
excede
ede os pre
prejuíz
juízos
os que pod
poderia
eriam
m ser
provocados por qualquer guerra regional.

As or
orga
gani
niza
zaçõe
çõess nã
não-
o-es
esta
tata
tais
is,, em su
sua
a pr
prim
imei
eira
ra gu
guer
erra
ra da at
atua
ualid
lidad
ade,
e, se
sem
m o
emprego
emprego de for
forças
ças mil
milita
itares,
res, est
estão
ão usa
usando
ndo mei
meios
os não
não-mi
-milita
litares
res par
para
a enf
enfrent
rentar
ar
paises soberanos. Desta forma, a guerra financeira é uma forma de guerra não-
militar,
militar, tão destrutiva
destrutiva quanto
quanto um combate
combate sangrento,
sangrento, sendo que, na realidade,
realidade,
sem o derramamento de sangue.

A guerra financeira ocupa agora, indiscutivelmente, a função de protagonista no


cenári
cenário
o da gue
guerra
rra,, pos
posiçã
ição
o ess
essa
a que
que,, por milhares
milhares de ano
anos,
s, era pri
priva
vativ
tiva
a dos
militares e dos armamentos, com sangue e morte por todos os lados.

E no futuro, quando as pessoas consultarem as páginas da história do século XX e


início do século XXI, os capítulos referentes
referentes às guerras financeiras serão os tópicos
que despertarão maior atenção dos leitores0. Os protagonistas nestes capítulos da
história não serão estadistas ou estrategistas militares, ao contrário, serão homens
como George Soros.

É evidente que Soros não detêm o monopólio do uso da arma financeira para
apli
aplica
caçã
ção
o na
nass gu
guer
erra
ras.
s. An
Ante
tess de
dele
le,, He
Helmu
lmutt Ko
Kohl
hl us
usou
ou o ma
marc
rco
o al
alem
emão
ão pa
para
ra
derrubar o Muro de Berlim — um muro que, anteriormente, ninguém conseguiu
derrubar empregando projéteis de artilharia 0.

Num outro exe


exemplo
mplo de gue
guerra
rra financeir
financeira
a o Pre
Presid
sidente
ente de Tai
Taiwan
wan,, Li Den
Denghui
ghui,,
aproveitou-se da crise financeira no Sudeste Asiático para desvalorizar a moeda de

0
 Na edição de 23 de agosto de 1998 do jornal Los Angeles Times havia
havia uma artigo
intitu
intitulado
lado “Os Mercado
Mercadoss Fin
Financ
anceiro
eiross são a Maior Ameaça
Ameaça à Paz
Paz”.
”. Estee artigo
Est artigo
menci
menciona
onava
va qu
quee na at
atua
ualid
lidad
adee os me
merc
rcad
ados
os fi
fina
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não
o os ca
camp
mpos
os de
treinamento de terroristas, é que constituem a maior ameaça à paz mundial.

0
 Wang Jiannan; “Who Has Joined the Fray?  Helmut Kohl”; China Broadcasting
 Taiwan, visando atacar a moeda e o mercado de ações de Hong Kong, e em
particular, as ações de empresas controladas por interesses na China Continental.

Esta
Esta cri
crise
se no Sud
Sudeste
este Asiático
Asiático con
configu
figurou-
rou-se
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como
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fami
minto
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porr di
dinhe
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iro,
o, co
como
mo as em
empr
pres
esas
as de
consultoria financeira Morgan Stanley e a Moody, famosas pelos relatórios de taxas
de juros assinalando alvos promissores de ataques para os grandes investidores do
mercado financeiro mundial0. Estas
Estas duas
duas empresas
empresas são entidad
entidades
es típicas
típicas que,
que,
mesmo
mesmo par
partic
ticipa
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indireta
retamen
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te do gra
grande
nde fes
festim
tim,, ar
arrec
recada
adam
m tod
todos
os os seu
seuss
lucros.

No verão de 1998
1998,, após quase um ano de dura
duração,
ção, a guerra financeira
financeira no Sudeste
Asiático entrou no seu segundo assalto, e agora com uma amplitude maior, e as
batalhas decorrentes se prolongam até os dias de hoje, incluindo, além daquela
região, dois titãs mundiais, o Japão e a Rússia.

Disto resultou uma economia global mais austera e difícil de ser controlada, e as
chamas ofuscantes das batalhas financeiras atingiram, também, aqueles que se
aventurar
aventuraram
am a iniciar
iniciar este incêndio.
incêndio. Sabe-se,
Sabe-se, por exemplo, que George
George Soros e o
seu
seu Fu
Fundo
ndo de In
Inve
vesti
stime
mento
nto “Q
“Qua
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m” pe
perd
rder
eram
am al
algun
gunss bi
bilhõ
lhões
es de dó
dóla
lare
ress
somente na Rússia e em Hong Kong0.

 Temos desta forma, pelo


pel o menos, uma indicação da magnitude do poder destrutivo
da guerra financeira. Atualmente, quando as armas nucleares tornam-se elementos
decorativos de alta periculosidade, perdendo diariamente o seu valor operativo real,
a guerra financeir
financeira
a torna-se uma arma
arma “hiperestra
“hiperestratégica
tégica”,
”, captando
captando a atenção
mundial,
mundial, por este novo tipo de guerra ser:
ser: facilmente
facilmente manipulado,
manipulado, deflagrado
deflagrado de
forma sigilosa, e altamente destrutivo.

Analisando
Analisando o caos ocorrido
ocorrido na Albânia há pouco tempo atrás,
atrás, pode-s
pode-see identificar,
identificar,
claramente, o papel desempenhado por diversos tipos de fundações criadas por

0
 O artigo intitulado “A New York Corporation that Affects Economies”, constante
da edição de 29 de julho de 1998 do periódico “The Christian Science Monitor”,
desvendou como os relatórios de taxas de juros de Moody influenciaram e até
manipularam tendências econômicas na Itália, Coréia do Sul, Japão e Malásia.

0
 George Soros expõe toda a sua amargura em seu livro “A Crise do Capitalismo
Global”, onde, com base numa superficial análise de seus investimentos no ano de
grupos transnacionais e por milionários, cujos ativos igualavam-se a riquezas de
diversos Estados-Nação. Estas fundações controlam a mídia, subsidiam
organizações políticas, e limitam a capacidade de atuação de autoridades
nacionais, provocando o colapso na ordem nacional, bem como a queda de
governos legalmente estabelecidos. Talvez nós pudéssemos intitular este tipo de
guerra como de guerra financeira baseada em fundações.

Deste modo, a crescente freqüência e intensidade de opção pela guerra financeira,


e a constatação de que um número cada vez maior de paises e organizações não-
estatais estarem deliberadamente utilizando-a como linha de ação, são fatos
preocupantes e que devem ser encarados de forma direta.

O NOVO  TERRORISMO COMPARADO AO  TRADICIONAL 

Devido à limitada amplitude do terrorismo tradicional, as vítimas decorrentes de


suas ações são em número bem menor do que aquele resultante das guerras
convencionais, mesmo assim o terrorismo tradicional incorpora um conteúdo mais
intenso de violência.

Além disso, em termos operacionais, as organizações terroristas tradicionais


nunca estiveram cerceadas pelas regras convencionais da sociedade em geral, e
assim, do ponto de vista militar, o terrorismo tradicional tem se caracterizado pelo
uso de recursos limitados 0 em ações de guerra ilimitada 0.

Esta característica sempre colocou as Forças Armadas numa posição


extremamente desfavorável, mesmo antes do início da guerra, visto que estas
forças devem conduzir-se, sempre, de acordo com determinadas regras, só podendo
usar seus recursos ilimitados para a execução de uma guerra limitada.

Esta contradição explica o motivo das organizações terroristas, mesmo sendo


compostas por jovens relativamente inexperientes, tenham o poder de provocar

0
 [N.T.] O uso dos qualificativos “limitado” e “ilimitado” pelo autor, no contexto do
livro, não corresponde às conceituações doutrinárias adotadas pelos norte-
americanos de acordo com o Dicionário de Termos Militares do departamento de
Defesa. Neste caso o qualificativo “limitado” refere-se aos meios empregados.

0
 [N.T.] Neste caso o qualificativo “ilimitado” refere-se à ambiência em que os meios
dores de cabeça em nações poderosas como os EUA, como que justificando a
ineficácia do emprego de uma marreta para matar uma formiga. As comprovações
mais recentes0 desta assertiva foram as duas explosões ocorridas,
simultaneamente, nas embaixadas americanas em Nairobi e Dar es Salaam.

O advento do terrorismo estilo “bin-Laden” consubstanciou a impressão de que


uma força armada, a despeito do seu poderio, encontrará muita dificuldade para
estabelecer uma superioridade, num jogo em que não existem regras. Mesmo que
um país se transforme em uma força terrorista, linha de ação que está sendo agora
adotada pelos norte-americanos, isso não assegurará, necessariamente, a
capacitação para obter sucesso.

Seja como for, se todos os terroristas restringissem suas ações aos padrões
tradicionais, como o emprego de bombas, os raptos, os assassinatos e o seqüestro
de aeronaves, isso representaria, apenas, um nível um pouco abaixo do máximo
que o terror pode atingir. O que realmente infunde terror no coração das pessoas é
o casamento do terrorismo com os diversos tipos de alta-tecnologia 0, que propiciará
o desenvolvimento de novas “super-armas”.

Neste sentido, nós já temos uma pista do que nos espera no futuro     um indício
que pode causar preocupação. Quando os asseclas da Aum Shinriko lançaram gás
tóxico Sarin no metrô de Tókio, o número de vitimas representou, apenas, uma
pequena parcela da dimensão do novo terrorismo. Este acontecimento alertou as
pessoas para o fato de que a moderna tecnologia bioquímica já conseguiu forjar
uma arma mortal para emprego pelos terroristas que venham a tentar promover a
destruição em massa da humanidade0.

Contrariamente aos assassinos mascarados, que baseiam suas ações no massacre


indiscriminado de pessoas inocentes, visando produzir terror, o grupo italiano
“Falanges Armadas” constitui uma classe completamente diferente de organização

0
 [N.T.] Deve-se considerar o ano em que a obra foi escrita, 1999.

0
  [N.T.] neste sentido as palavras do autor foram proféticas, a se constatar pela
constatação idêntica que foi feita pelo governo norte-americano através da sua
edição de 2002 da Estratégia de Segurança Nacional.

0
  Alguns especialistas em segurança nos EUA sugeririam que o governo deveria
manter em estoque grandes quantidades de antídotos, de modo a prevenir contra a
terrorista de alta-tecnologia. Seus propósitos são específicos, e os meios que
empregam são extraordinários. Sua especialização é a violação de redes de
computadores de bancos e organizações de mídia, visando roubar informações
armazenadas, deletar programas e disseminar desinformação, constituindo, assim,
ações terroristas clássicas, executadas contra redes interativas e a mídia,
empregando a tecnologia mais atual, visando a atingir a humanidade como um
todo. Podemos denominar este tipo de ação como sendo o “novo terrorismo”.

GUERRA  E
ECOLÓGICA

A guerra ecológica constitui um novo tipo de Operação de Guerra Não-Militar onde


a moderna tecnologia é empregada para influenciar o estado natural dos rios, dos
oceanos, da crosta terrestre, das coberturas de gelo glaciais, da circulação do ar
atmosférico, e da camada de ozônio.

O emprego de métodos para provocar terremotos, mudanças nos níveis de


precipitação, na temperatura e composição da atmosfera, nos níveis dos mares, ou
nos padrões de irradiação solar, irá acarretar prejuízos para a ambiência física ou
criar uma ambiência ecológica local adulterada.

 Talvez, em muito pouco tempo, um fenômeno do tipo “El Nino”, produzido pelo
homem, venha a representar um novo tipo de super-arma nas mãos de
determinadas nações ou organizações terroristas. É mais provável que uma
organização terrorista seja o primeiro agente a iniciar uma guerra ecológica devido
à própria natureza de sua forma de atuação, ou pelo fato de não se sentir
responsável pelas pessoas ou pela sociedade como um todo; como também, porque
estas organizações têm demonstrado, de forma consistente, a sua não disposição
em obedecer as regras do jogo.

Além disso, visto que o equilíbrio ecológico já está no limiar de uma catástrofe, pela
ação dos países na busca do desenvolvimento pela via mais rápida possível, existe
o perigo de que, uma pequena variação em qualquer das variáveis da equação
ambiental, seja o suficiente para deflagrar um holocausto ecológico.

OUTRAS FORMAS DE OPERAÇÕES DE GUERRA NÃO-MILITARES


Além do que já foi citado, podemos apontar um grande número de outros meios e
métodos que podem ser utilizados para a execução de “Operações de Guerra Não-
Militares”, alguns dos quais já existem, e outros podem vir a existir no futuro.

 Tais meios e métodos incluem: a guerra psicológica, (divulgação de rumores


visando a intimidar um inimigo e neutralizar sua vontade), a guerra de
contrabando (gerando confusão em mercados de consumo e atacando o
ordenamento econômico), a guerra de mídia (manipulando o que as pessoas vêm e
ouvem visando a influenciar a opinião pública), a guerra de drogas (obtendo
elevados lucros ilegais de forma rápida, difundindo o desastre em outros países), a
guerra em redes interativas (comprometendo o segredo e a identidade de pessoas,
num tipo de guerra em relação à qual que é virtualmente impossível a proteção), a
guerra tecnológica (criando monopólios através do estabelecimento de padrões
independentes), a guerra de maquinação (criando uma falsa aparência de poder
real aos olhos de um inimigo), a guerra de recursos (apoderando-se de riquezas
através da pilhagem de estoques de recursos), a guerra de ajuda econômica
(concedendo favores de forma ostensiva, encobrindo condicionantes secretas de
controle), a guerra cultural (liderando e difundindo tendências culturais, de modo a
cooptar aqueles que têm pontos de vista divergentes), a guerra de legislação
internacional (aproveitando as ocasiões mais oportunas para interpor novas regras
e normas de interesse particular), além de diversos outros tipos de guerra não-
militar, num número muito grande para serem citados.

Numa era em que a abundância de novas tecnologias permite a geração de novos


meios e métodos de execução de uma guerra, (para não mencionar a possibilidade
de utilização combinada destes meios e métodos), não faz sentido, e seria um
desperdício de energia, listar todos os meios e métodos possíveis. O que é
significativo é que todos estes meios de guerra, assim como os processos para a
sua aplicação já foram, estão sendo, ou, serão incluídos no inventário de meios de
guerra. Tal fato está modificando, de forma sub-reptícia, o entendimento da
humanidade quanto ao significado da guerra.

 Tendo diante de si uma diversidade infinita de opções para escolher, por que as
pessoas procuram embrenhar-se numa rede, por elas mesmas criada, para
selecionar e usar meios de guerra que estão limitados ao universo da força das
armas e do poder militar?

Os métodos que não se caracterizam pelo uso da força das armas ou do poder
E é neste ponto que as ações de guerra modernas diferem de quaisquer ações de
guerras no passado, porque os eventos, ao serem informados em tempo real ou
quase real pela mídia, transformam-se num programa de televisão, que todas as
pessoas comuns podem assistir. Desta forma, a mídia de forma imediata, passou a
ser parte integrante da guerra, não sendo mais um mero veículo que
proporcionava apenas informações oriundas de um distante campo de batalha.

Diferente da transmissão de um jogo de futebol numa Copa do Mundo, tudo o que


as pessoas viram, não considerando o que foi filtrado pela subjetividade dos
repórteres0, também tinha que passar por uma revisão de segurança nos
escritórios conjuntos de imprensa estabelecidos em Dhahran e Rhiyadh.

Possivelmente, tanto os militares norte-americanos, quanto os representantes da


mídia aprenderam as lições da Guerra do Vietnam, onde a discórdia entre eles foi
muito grande. Desta feita, o relacionamento entre as agências de notícias e os
militares transcorreu de uma forma muito boa. Há um fato que ilustra
perfeitamente este tema. De um total superior a 1300 notícias, que foram liberadas
durante o período da guerra, somente 5 foram previamente remetidas a
Washington para revisão, e destas, 4 foram aprovadas numa questão de horas,
enquanto que a única remanescente foi cancelada pela própria imprensa.

Contando com o apoio previamente acertado com os novos repórteres, os


Comandantes no campo de batalha puderam influenciar, com sucesso, o mundo
inteiro, fazendo com que as pessoas vissem aquilo que os militares desejavam que
fosse visto, ao mesmo tempo em que, ninguém conseguiu ver aquilo que eles não
queriam que fosse visto.

A imprensa norte-americana, de maneira geral, abandonou a sua ostensiva


neutralidade, integrando-se entusiasticamente à causa anti-Iraque, atuando de
forma coordenada com os militares norte-americanos, como se num perfeito ato de
comédia entre dois atores, adotando de forma tácita e decidida um mesmo enredo
para a guerra. Desta forma, a força da mídia e a do Exército aliado atuaram como
uma força combinada em relação ao ataque ao Iraque0.

0
Os 1300 repórteres enviados à frente de combate estavam todos a par das
“Revised Regulations Regarding Gulf War News Reports”, emanadas pelo
Pentágono, de modo que cada repórter exerceu uma autocensura com relação ao
Imediatamente após a invasão do Kuwait pelo Iraque, rapidamente surgiram
notícias, nos diversos canais de mídia, dando conta de que uma imponente força
norte-americana estava sendo enviada para a Arábia Saudita. Estas notícias
criaram hesitação entre as forças iraquianas que estavam posicionadas na fronteira
entre o Kuwait e a Arábia Saudita, provocando o seu recuo.

Um dia antes do início da operação “Tempestade no Deserto”, a mídia ocidental,


novamente, divulgou amplamente a notícia de que uma Força Naval norte-
americana, nucleada em porta-aviões, estava cruzando o canal de Suez. Esta
informação confundiu Saddam Hussein, levando-o a acreditar que as forças norte-
americanas ainda não haviam completado o seu traslado.

Do mesmo modo, sem o realce proporcionado pela mídia, nenhuma das chamadas
armas de alta-tecnologia, enviadas para a 2ª Guerra do Golfo, seriam tão
maravilhosas como as pessoas foram levadas a crer. Ao longo das 98 conferências
com a imprensa, realizadas durante todo o curso da guerra, as pessoas viam
imagens de mísseis de precisão penetrando em edifícios através de aberturas de
ventilação para explodir em seu interior; mísseis “Patriot” interceptando mísseis
“Scud”; além de inúmeras outras imagens que causaram uma profunda impressão
favorável.

 Tudo isso representou um imenso choque visual para o mundo inteiro, incluindo
para os iraquianos. Esta ação da mídia gerou um mito no tocante aos poderes
inigualáveis das armas norte-americanas, gerando, desta forma, a crença de que o
“Iraque iria inevitavelmente perder a guerra, e que os Estados Unidos estava
destinados a serem os vencedores”.

É óbvio, que a mídia ajudou os norte-americanos de forma significativa. Poderia até


ser dito que, intencionalmente ou não, os militares norte-americanos e a mídia
ocidental associaram-se para criar o laço que iria ser usado para enforcar no
cadafalso o Iraque de Saddam.

No “Resumo Operacional” revisto após a guerra, os norte-americanos tiveram que


se esforçar para sugerir que “o impacto das notícias da mídia foi capaz de exercer
um efeito dramático no direcionamento estratégico e nos propósitos das operações
militares”. No recém editado manual operativo FM100-6 (“Information Operations”)

0
  Ver Apêndice ao “Relatório Final do Departamento de Defesa ao Congresso”;
o tema ainda é mais explicitado ao citar o exemplo da “guerra da mídia” durante a
Guerra do Golfo.

Parece que nos conflitos do futuro, além das ações militares básicas, a mídia tende
a representar um ator a mais na guerra, e irá desempenhar um papel comparável
ao das operações militares, na determinação do curso das guerras.

Ao contrário da propaganda de guerra, que é dotada de uma característica


excessivamente subjetiva, sendo facilmente rejeitada pelos oponentes ou neutros, a
mídia por ser habilmente camuflada como uma informação objetiva tem um
impacto silencioso e que é difícil de ser avaliado.

No Golfo, da mesma forma que as forças aliadas lideradas pelos EUA privaram o
Iraque de seu direito de falar em termos militares, a poderosa mídia ocidental
privou-o, também, politicamente, do direito de falar, de se defender, e, até mesmo,
do seu direito de merecer manifestações de simpatia e apoio. Se comparada à fraca
voz da propaganda iraquiana, que retratava Bush como o “grande Satan”, dotado
de uma maldade além da possibilidade de perdão, a imagem de Saddam, como um
agressor ensandecido pela guerra, foi difundida de uma forma mais convincente.
Foi precisamente a assimetria de força da mídia adicionada à assimetria de força
militar que, como numa seqüência rápida de golpes de boxe, atingiu o Iraque, tanto
no campo de batalha, quanto moralmente, com isso determinando a derrota de
Saddam.

No entanto, os efeitos da ação da mídia têm sempre representado uma faca de dois
gumes. Isso significa que, na medida em que ela é direcionada contra um inimigo,
simultaneamente, em outra frente, ela pode se tornar uma espada afiada
apontando para você mesmo. Com base nas informações obtidas após a guerra, a
razão pela qual a ação terrestre foi abruptamente interrompida depois de 100
horas, decorreu do fato de Bush ter sido influenciado por análises precipitadas,
divulgadas na televisão por um oficial de assessoria do controle de imprensa no
campo de batalha. Com base naquelas informações, Bush foi levado a tomar uma
decisão, também precipitada, “encurtando dramaticamente o processo de tomada
da decisão estratégica com vistas à conclusão da guerra” 0.
0
 O manual operativo do Exército Americano FM100-6, “Information Operations”,
revela os detalhes deste evento dramático (Ver p 68-69). As notícias da televisão
sobre a “via expressa da morte” também exerceu um efeito na excessiva
antecipação na conclusão da guerra. (“Joint Force Quaterly”; edição de Outono-
Em decorrência desta decisão, Saddam, que estava com os seus dias contados,
escapou da morte certa, e também ficou um rastilho de operações inacabadas
vieram a constituir bombas de efeito retardado para Clinton, que posteriormente
assumiu o governo.

O impacto da mídia na guerra é cada vez mais amplo e direto, a ponto de até as
decisões de alto nível, tomadas pelo Presidente de uma superpotência, tal como os
EUA, e que determinou a cessação de hostilidades, serem, em grande parte,
originadas da reação a um simples programa de televisão. A partir deste fato, pode-
se perceber o quanto de significado que a mídia tem na vida social de hoje.

A partir desta constatação, pode-se dizer, sem qualquer exagero, que um rei sem
coroa tornou-se, agora, a principal força para se vencer qualquer batalha. Depois
que a “Tempestade no Deserto” varreu o Golfo, não será mais possível confiar
apenas na força militar, sem que ocorra o envolvimento da mídia, para se obter a
vitória em uma guerra.

UMA MAÇÃ COM MUITAS FATIAS

Na qualidade de conflito, que se caracterizou pela integração tecnológica,


encerrando uma era e inaugurando uma nova era, a “Tempestade no Deserto”
representou uma guerra clássica que pode proporcionar uma inspiração
abrangente aos militares em todas as nações.

Qualquer estudioso de temas militares poderá, indubitavelmente, extrair


esclarecimentos ou lições desta guerra, independentemente do enfoque adotado.
Com base nesta premissa, identificamos guerra, com seus múltiplos significados,
em função da multiplicidade de experiências e lições que ela oferece, como sendo
“uma maçã com muitas fatias”. Além disso, o número de perspectivas sob a forma
de fatias, possíveis de serem identificadas nesta maçã, é muito superior aos
aspectos já abordados, e basta a qualquer pessoa, dotada de uma inteligência
acurada, examinar essa maçã, para e perceberá, a qualquer momento, novas e
inusitadas fatias, como por exemplo:

L UTANDO
UTANDO  JUNTOS E DIVIDINDO A CONTA

Quando o Presidente Bush falou com justificada indignação sobre a


economista sério poderia imaginar que para arcar com os custos necessários às
despesas militares da guerra, os Estados Unidos proporiam um programa de
“responsabilidade compartilhada”. Criava-se, assim, uma nova forma de repartição
dos custos de uma guerra internacional      lutando juntos e dividindo a conta.
Mesmo que não sejamos homens de negócio, temos que admirar este espírito de
“Wall Street”.

A Seção 16 do “Apêndice ao Relatório Final do Departamento de Defesa ao Congresso”, contem uma análise relativa
ao tema “responsabilidade compartilhada”. Ao contrário da crença geral, a principal razão que levou os EUA repartir 
com seus aliados, os custos da guerra, não foi um fator econômico, e sim, considerações de ordem política. No livro
“21st Century Rivalries” Lester Thurow observa que, em relação aos 61 bilhões de dólares correspondentes ao custo
da guerra, “se comparados com o seu PIB anual de 6 trilhões de dólares, esta despesa nem vale ser mencionada. O
motivo para eles quererem que aqueles países que não enviaram forças de combate para a guerra provessem
assistência financeira era exclusivamente o de convencer o público Americano de que a guerra não era apenas
americana, e sim uma operação combinada”.

O IMPACTO DA GUERRA  PSICOLÓGICA


PSICOLÓGICA

As ações de guerra psicológica não constituem, na realidade, uma nova tática, mas
o que impressionou na “Tempestade no Deserto” foi a sua criatividade.

Após o lançamento de uma bomba extremamente devastadora, os norte-


americanos utilizavam aeronaves para lançar panfletos de propaganda sobre
tropas iraquianas, localizadas a quilômetros de distância da área bombardeada, e
que ainda estavam sob o impacto do medo daquele bombardeio, informando que
eles seriam o alvo da próxima bomba!

Essa ação, isoladamente, foi suficiente para provocar o colapso de Divisões


iraquianas. Já na condição de prisioneiro de guerra, um Comandante de Divisão
iraquiano admitiu que o impacto da guerra psicológica no moral do Iraque só foi
superado pelo efeito resultante do bombardeio executado pelas forças aliadas0.

0
 Na revista “Special Operations” o Major Jake Sam (como foi publicado) revê as
circunstancias que determinaram a condução das ações de guerra psicológica pelo
“4th Psyops Group” durante a Guerra do Golfo (Ver “Special Operations”. Outubro
1992). Na edição de Dezembro de 1991 do periódico Americano “Journal of Eastern
Europe and Middle Eastern Military Affairs” há, também, um artigo dirigido às
Este novo documento acrescentava conceitos com forte apelo motivacional — como
por exemplo “a existência do Posicionamento Avançado ”; “o desdobramento para o 
Posicionamento Avançado ”; e “o combate a partir do Posicionamento Avançado ” — ao
conceito estratégico da Marinha.

“O documento ‘... From The Sea ’, divulgado em 1992, pela Marinha e Corpo de Fuzileiros Navais, determinava
mudanças marcantes no corpo e ênfase da estratégia destas forças...; ...a ênfase na implementação do
‘posicionamento avançado’ é a principal diferença observada entre a doutrinas ‘Forward... From The 
Sea ’ e a doutrina ‘… From The Sea ’”. (Almirante J.M. Boorda, “Marine Corps Magazine”, Março 1995).

Dois anos mais tarde, o Comandante de Operações Navais, o Almirante Jeremy


Michael Boorda, divulgou uma nova concepção estratégica titulada “Naval 
Concepts for the Year 2020 ”.

Depois que o Almirante Boorda cometeu suicídio [em maio de 1996], para redimir a
honra dos militares que ele havia prejudicado, o seu sucessor, o Almirante Jay L.
 Johnson, regulamentou e promoveu as reformas idealizadas e iniciadas por ele
iniciadas. Ele prescrevia a “deterrência, a prevenção de conflitos em tempo de paz,
e a obtenção de vitórias na guerra”, como as três maiores responsabilidades da
Marinha norte-americana no século XXI.

O que não mudava era que, da mesma forma como os seus predecessores, todos os
planos que o Almirante Johnson propôs consideravam a Marinha como o ator
principal, não admitindo exceções. Sua argumentação era a de que, para atender
às diversas tarefas de combate no exterior, e cujas responsabilidades cabiam às
forças armadas norte-americanas, o Exército precisava obter o apoio de diversas
origens para poder executar um desdobramento, e a Força Aérea era extremamente
dependente de bases aéreas em outras nações. Somente a Marinha dispunha da
liberdade para transitar em qualquer espaço marítimo, empregando múltiplos
meios de inserção num teatro de operações, e a conclusão natural era de que a
Marinha deveria ser o coração de uma força de combate conjunta.

O raciocínio deste almirante é extremamente claro. Pressupondo existir um


consenso de todos os comandantes de forças singulares, como também, do
Departamento de Defesa, no tocante a essa posição teórica, o resultado lógico e
provável deste consenso seria a priorização de sua força, quanto à alocação de
recursos orçamentários.
De acordo com os orçamentos de defesa norte-americanos, até o ano de 1998,
verifica-se que durante os últimos dez anos, mesmo prevalecendo uma tendência
constante de redução de despesas militares, a Marinha e o Corpo de Fuzileiros
Navais foram as duas forças que tiveram os menores cortes em despesas. Os
Comandantes da Marinha sempre receberam o que eles queriam 0.

-
APESAR DAS PERCEPÇÕES DE CADA FORÇA  - AS CERCAS PERMANECEM

Vimos, portanto, de forma genérica, a trajetória assumida pelas forças armadas


norte-americanas, desde o fim da Guerra no Golfo, e a influência do sectarismo
existente entre estas forças, praticamente bloqueando qualquer iniciativa comum.

 Talvez, até fiquemos impressionados com todo o esforço desenvolvido pelos


militares norte-americanos para sintetizar a 2ª Guerra do Golfo, e talvez possamos
até ser influenciados pelos diferentes métodos por eles adotados, na defesa dos
interesses de suas respectivas forças singulares. Ao mesmo tempo, no entanto,
poderemos sentir uma profunda consternação, ao verificar que excelentes oficiais e
estudiosos em diversas áreas, indivíduos possuindo um raciocínio excepcional, só
conseguiram chegar à condição de manterem as forças isoladas entre si, no interior
de suas próprias esferas de ação, cada uma tentando sobrepujar a outra, reagindo
obstinadamente aos pontos de vista das demais, e com percepções extremamente
introvertidas. E no final, eles ainda constituem o poder militar norte-americano,
que desta forma teve o seu desenvolvimento prejudicado pelo soar de clarins
ambíguos.

O MAL DA EXTRAVAGÂNCIA E O “NÍVEL ZERO DE PERDAS”

O emprego indiscriminado de armas visando à consecução de propósitos,


concomitantemente com a redução de vítimas, sem levar em conta os custos
envolvidos    representa um modelo de guerra que só pode ser executada por
quem dispõe de fartos recursos financeiros. Este é um tipo de jogo para o qual os
militares norte-americanos têm demonstrado capacitação e uma convincente
atuação. A operação “Tempestade no Deserto” evidenciou, mais uma vez, a

0
  Ver o “National Defense Report” para o ano fiscal de 1998, promulgado pelo
ilimitada extravagância na guerra por parte dos norte-americanos, e que já se
transformou em um vício.

Aviões que custam, em média, 25 milhões de dólares cada, realizaram 11.000


ataques indiscriminados, num período de 42 dias. Nesta campanha, destruíram a
sede do renovado Partido Socialista, empregando mísseis Tomahawk que custam,
individualmente, US$ 1,3 milhões, e atingiram posições entrincheiradas com
bombas de precisão que custam dezenas de milhares de dólares a unidade.

Mesmo que os generais norte-americanos soubessem, ao início do conflito, que não


precisariam gastar tanto, neste que foi um irrestrito banquete bélico de conquista,
orçado em 61 bilhões de dólares, comparável a se matar pássaros com projeteis de
ouro, ainda assim a extravagância não seria evitada.

Um avião de bombardeio norte-americano assemelha-se a uma montanha de ouro


voadora, mais cara do que muitos de seus alvos. Será que atingir alvos
possivelmente insignificantes, com toneladas de dólares norte-americanos, não
causa nenhuma perplexidade nas pessoas?

Em paralelo, durante o longo período de 161 dias, um efetivo superior a 500.000


homens e mais de 8 milhões de toneladas de suprimentos e materiais foi trazido
diuturnamente dos EUA para a linha de frente, cruzando toda Europa, incluindo
milhares de bonés de praia, há tempo largados em algum depósito, assim como
caixotes de frutas norte-americanas, que iriam apodrecer em Riyadh.

O General de Divisão William G. Pagonis, Comandante do Apoio Logístico, rotulou


estas atividades de apoio, executadas numa escala caótica e extravagante e,
“possivelmente, sem comparação na história”, sob o título de “operações navais”.
No entanto, segundo declarações claras do Departamento de Defesa, essas
operações correspondiam ao transporte de todas as comodidades proporcionadas
por uma metrópole como Jackson, a capital do Estado de Mississipi, para a Arábia
Saudita.

Dentre todos os militares do mundo, provavelmente, somente os norte-americanos


poderiam considerar esse procedimento como uma extravagância necessária para
vencer uma guerra0.

0
 Ver o Apêndice F do Relatório Final do Departamento de Defesa sobre a Guerra
[N.T.] Trecho do Apêndice F do Relatório Final sobre a Guerra no Golfo: Ainda que tenha havido alguns problemas, o
esforço logístico dos EUA e de seus aliados situa-se entre os mais bem sucedidos da história. Deslocar uma força de
combate por metade do globo, interligar linhas de suprimento que se estendiam por todo o globo, e manter níveis de
prontidão sem precedentes, constituem um tributo aquelas pessoas que fizeram o sistema logístico funcionar. O
pessoal de logística de todas as forças apoiou mais de meio milhão de militares norte-americanos com suprimentos,
serviços, facilidades, equipamentos manutenção e transporte.
Um levantamento das marcas alcançadas pelo pessoal de logística mostra que, entre outras coisas, eles:
- Mantiveram muitos dos principais sistemas de armas nos mesmos padrões ou até acima do que é previsto em tempo
de paz;
- Movimentaram mais de 1,3 bilhões de tonelada/milha de carga entre os portos e as unidades de combate;
-Embarcaram e receberam mais de 112.500 veículos com rodas e lagartas;
- Municiaram sistemas de armas com mais de US$ 2.5 bilhões em munição;
- Construíram instalações de apoio totalizando um US$ 615 milhões; e
- No pique da fase operacional, distribuíram mais de 19 milhões de galões de querosene de aviação por dia.

McNamara que foi de presidente da Ford Motor Company para a chefia do Departamento de Defesa, introduziu o
sistema de contabilidade gerencial das empresas privadas e o conceito de custo comparativo no âmbito militar dos
Estados Unidos. Ele fez com que as forças aprendessem a gastar menos dinheiro na aquisição de armas, e em
contrapartida incorporando outros padrões na forma de conduzir a guerra. “O Departamento de Defesa deve alcançar o
seguinte objetivo: alcançar a segurança da nossa nação com a menor taxa de risco, ao menor custo possível e, na
eventualidade de entrar em guerra, com o menor número de vítimas”. (McNamara, “Looking Back on the Tragedy and
the Lessons of the Vietnam War, pp 27-29).

Até mesmo o Comitê para as Forças Armadas na Câmara dos Deputados, onde
freqüentemente estabeleciam-se acalorados debates com o alto comando das
forças armadas em temas relacionados a custos, sequer expressou uma opinião em
relação às extraordinárias despesas desta guerra.

Nos relatórios relativos à Guerra no Golfo, os resultados substantivos obtidos


pelos armamentos de alta-tecnologia receberam uma apreciação bastante elogiosa.
O Secretário de Defesa Cheney declarou: “nós lideramos, de forma completa, uma
nova geração na área da tecnologia de armamentos”, ao que o Congressista Aspen
respondeu: “os benefícios demonstrados pelo armamento de alta-tecnologia
excederam às nossas previsões mais otimistas”.

Sem considerar um possível exagero nos elogios assinalados, pode-se concluir que
são manifestações de orgulho em relação aos militares norte-americanos que, ao
derrotarem o Iraque, atingiram de forma completa, e com a ajuda das armas de
alta-tecnologia, os seus objetivos. Ou então, são baboseiras típicas, ditas por dois
indivíduos que têm opiniões categóricas relativas à capacidade da tecnologia em
produzir um sucesso. Em todo caso, essas referências não nos dão qualquer
Mesmo que estas concepções de “ operações militares não-combate ” e de “guerra 
onidimensional ” possuam inúmeras idéias originais e estejam bem próximas de
uma
um a re
revo
volu
luçã
ção
o na idideo
eolo
logi
gia
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mili
lita
tar,
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volu
luçã
ção
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tecn
tecnol
ológ
ógic
ica
a mi
mili
lita
tar,
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pode
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e, ao lo
long
ngo
o da ár
árdu
dua
a tr
tril
ilha
ha em qu
quee se
encontram, os norte-americanos chegaram à beira de um precipício, e o pico da
montanha, que significa a grande revelação, ainda está muito longe. Neste ponto os
norte-americanos pararam, e as “lebres” norte-americanas que sempre estiveram
na dia
diantei
nteira
ra em rel
relaçã
ação
o a qua
qualqu
lquer
er out
outra
ra naç
nação,
ão, nos cam
campos
pos da tec
tecnolog
nologia
ia e
ideologia militares, começaram a perder o fôlego.

De nada adiante que Sullivan ou Franks tenham proporcionado algum fôlego para
as “lebres da competição”, por meio das muitas proposições que apresentaram após
a Gu
Guer
erra
ra do Go
Golf
lfo,
o, po
pois
is a re
real
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adee é que el
eles
es nã
não
o po
pode
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m pe
perm
rmit
itir
ir qu
quee as
tartarugas, que integram o mesmo time, sejam deixadas para trás.

 Talvez esta seja a hora apropriada para que o Tenente-Coronel Lonnie Henley0 e
aquel
aqueles
es nor
norte-a
te-amer
merican
icanos
os que que
questio
stionar
naram
am a cap
capac
acida
idade
de de imp
implan
lantaç
tação
ão de
revoluções militares em outras nações, façam um exame de consciência.

Por que é que não ocorreu uma revolução?

0
 Na Conferência sobre Estratégia, realizada pela Escola de Guerra do Exército dos
estados Unidos em Abril de 1996, o Tenente-Coronel do Exército Lonnie Henley
escr
escreve
eveu
u um tr
trab
abal
alho
ho ti
titu
tula
lado
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“21s
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China
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Stra
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Part
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.. or
Opponent”, no qual concluía que: “Pelo menos, nos primeiros 25 anos do próximo
sécu
século
lo,, a Ch
China
ina nã
não
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pazz de de
dese
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“Foreig
“Foreig Milita
Military
ry Data” do De tamento
tamento de Pes
Pesqui
quisa
sa Milita Es
Estra
trangei
ngei da
PARTE 2 — UMA DISCUSSÃO SOBRE NOVOS
MÉTODOS DE OPERAÇÃO
Um exército não tem um dispositivo rígido, tanto quanto a 
água não tem uma forma fixa. Aquele que obtém a vitória,
sabendo
sabendo apro
aproveit
veitar
ar as man
manobra
obrass do adv
adversár
ersário
io possu
possui 

uma arte realmente divina.
Sun Zi 

A condução da guerra é uma arte, semelhante a de um 


médico examinando um paciente
paciente,,
Fu Li

O PENSAMENTO NORTE-AMERICANO ENFOCA A ALTA- TECNOLOGIA E RELEGA A  TÁTICA

A expressã
expressão
o “re
“revol
volução
ução milita
militar”
r” é um modismo
modismo assim
assim como a NBA (Nation
(National
al
Basketball
Basketball Association)
Association) e Michae
Michaell Jorda
Jordan.
n. O fato de que, ao aparecimento
aparecimento de cada
coisa nova correspondem necessidades específicas, no caso dos norte-americanos,
isto é significativo pelo fato deles serem adeptos da criação de modismos. Os norte-
americanos, que sempre apreciaram ostentar uma posição de liderança no mundo
no que concerne a diversas questões, são reconhecidamente eficientes quanto à
apresentação de um excelente pacote, tratando de qualquer tema novo de acordo
com o seu pensamento, disseminando-o, em seguida, para todo o mundo.

Ainda que diversas nações tenham demonstrado ansiedade e resistência à invasão


da cul
cultur
tura
a nor
norte-a
te-amer
merica
icana,
na, ain
ainda
da ass
assim,
im, ada
adapta
ptaram
ram-se
-se,, e imi
imitar
taram
am de fo
forma
rma
completa os pontos de vista norte-americanos no que tange aos temas relacionados
com a revolução militar. Os resultados não são difíceis de serem previstos, e desta
forma, quando os norte-americanos ficam resfriados o mundo inteiro começa a
espirrar.

Pelo fato de William J. Perry, o ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos, ter
priorizado a tecnologia “stealth”, tendo sido denominado o “pai do stealth”, ao ser
perg
pergun
unta
tado
do po
porr um pr
prof
ofes
esso
sorr ch
chin
inês
ês so
sobr
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“quais
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teóric
ricos
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revolu
olução
ção mil
milita
itarr dos Es
Estad
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Unidos
dos”,
”, ele
respondeu sem hesitar: “logicamente que foram a tecnologia ‘stealth’ e a tecnologia
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Perr
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ponto
nto de vi
vist
sta
a pr
pred
edom
omina
inante
nte nos
círculos militares norte-americanos — a revolução militar era uma revolução da
tecnologia militar.

 De acordo com ponto de vista daqueles que pensavam como Perry, seria apenas
necessária a resolução do problema do ponto de vista tecnológico, possibilitando
que os soldados, diante de uma montanha, possam saber “o que existe do outro
lado daquela montanha” e isto seria o equivalente a realizar esta revolução militar.

Quando o Coronel Chen Bojiang, um colega de pesquisas do Instituto de Ciência Militar visitava estudiosos nos
Estados Unidos, ele conhece
conheceuu um grupo de pessoas muito importantes
importantes no âmbito militar Americano.
Americano. Chen Bojiang,
então, perguntou a Perry: “Quais foram as realizações e desenvolvimentos mais importantes que foram produzidos
pela Revolução Militar Norte-americana?” A resposta de Perry foi: “O desenvolvimento mais importante foi, é claro, a
tecnol
tecnologia
ogia “st
“steal
ealth
th”,”, cons
constit
tituind
uindoo um ava
avanço
nço ext
extrao
raordi
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io. No ent
entant
anto,
o, eu gos
gostar
taria
ia de dize
dizerr que num
numaa áre
áreaa
completamente diferente, algo de igual importância foi a invenção da “information technology”, que resolveu o
problema que tinha que ser resolvido pelo soldados por vários séculos, qual seja: o que é que existe além da próxima
montanha? O progresso para solucionar este problema tem sido muito vagaroso por diversos séculos. O progresso da
tecnologia tem sido extremamente rápido nos últimos dez anos, nos quais apareceram métodos revolucionários para
resolver este problema. (National Defense University Journal, 1998, Nº 11, p.44). Na qualidade de professor na
Faculdade de Engenharia da Universidade de Stanford, é natural que Perry tenha maior tendência para observar e
entender a revolução militar do ponto de vista técnico. Ele é, sem dúvida, um dos proponentes de tecnologia na
revolução militar.

A observação, análise e resolução de problemas sob o ponto de vista tecnológico é


um aspecto típico do pensamento norte-americano, e as vantagens e desvantagens
deste processo, são ambas bem evidentes, assim como o é o caráter dos norte-
americanos.

Este tipo de racio


raciocínio,
cínio, que iguala a revolução tecnológica
tecnológica com a revolu
revolução
ção militar
foii ap
fo apre
rese
sent
ntad
ado
o pe
pelo
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mode
delo
lo ad
adot
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ado
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para
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Guerr
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Golf
lfo
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exerc
rceu
eu um
poderoso impacto com o conseqüente efeito sobre os militares em todo o mundo.

Pouc
Poucas
as pe
pess
ssoa
oass pu
pude
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m ma
mant
nter
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sufic
ficien
iente
te ca
calm
lma
a e di
disc
scer
ernim
nimen
ento
to co
com
m es
esta
ta
situação, e naturalmente não poderiam perceber o equívoco provocado pelos norte-
americanos e que provoca, agora, um desentendimento global em relação ao que se
tornou uma ampla revolução global.

O slogan “estruturar a expressão militar com alta-tecnologia” assemelha-se a um


tufão no Oceano Pacífico, atingindo um número cada vez maior de países, e até
mesmo a China, situada no litoral ocidental do Pacífico, parece ter sido atingida,
durante algum tempo, por esse equívoco.
Foi assinalado no “Sumário da Situação Militar” no “1997 World Military Yearbook” que: um avanço especial na
situação militar, no período de 1995-1996, foi que algumas das nações mais poderosas começaram a priorizar “o uso
de alta-tecnologia para a construção do Poder Militar” tendo como arcabouço a qualidade da formação do militar. Os
Estados Unidos implementaram o campo de batalha digital como um objetivo da política de emprego da alta-tecnologia
para a formação do militar. O Japão formulou uma reorganização de suas tropas de autodefesa, redimensionando
programas e requisitos para o estabelecimento de uma “tropa de choque de altamente tecnológica”. A Alemanha
apresentou o Relatório Deerpei propondo avanços significativos em oito tecnologias sofisticadas. A França propôs um
novo plano de reforma,
reforma, visando elevar a “qualidade
“qualidade técnica”
técnica” de suas tropas.
tropas. A Inglaterra
Inglaterra e a Rússia também
também
empreendera
empree nderamm ações neste sentido; algumas nações de médio e pequen pequenoo port
portes,
es, também adquiriram sistemas
sistemas de
armas avançados, numa tentativa de reposicionar, de uma só vez, o nível técnico de seu pessoal, num nível mais
elevado. (1997 “World Military Affairs Yearbook”; “People's Liberation Army Press”, 1997, p. 2).

O si
signi
gnific
ficad
ado
o ma
mais
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impo
port
rtan
ante
te,, e o fo
form
rmat
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revo
volu
luçã
ção
o mi
mili
lita
tarr
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concretiza
tizam-s
m-see com a rev
revoluç
olução
ão do pen
pensam
samento
ento mil
milita
itar,
r, vis
visto
to que a rev
revolu
olução
ção
militar não pode permanecer no nível mundano das transformações de tecnologia
militar e da formulação de sistemas. A revolução no pensamento militar é, em
última análise, uma revolução nos modelos e métodos de combate.

A revolução da tecnologia militar é tão importante quanto a reforma na formulação


de sistemas, mas os seus resultados finais baseiam-se nas mudanças dos modelos
e mét
método
odoss de com
combat
bate.
e. Som
Somente
ente a conc
conclus
lusão
ão des
dessas
sas mudanças
mudanças será cap
capaz
az de
refletir a maturação da revolução militar.

Parte da perspectiva que equipara a revolução da tecnologia militar com a revolução militar, muitas pessoas estão
ainda mais desejosas de ver a revolução militar como o produto da combinação de uma nova tecnologia, com uma
nova estruturação da expressão militar, e com um novo pensamento militar. A título de exemplo, Steven Maizi e
Thomas Kaiweit declararam em ser relatório intitulado “Strategy and the Military Revolution: From Theory to Policy”: a
chamada revolução militar é composta por mudanças simultâneas e mutuamente promotoras de mudanças nas áreas
de tecnologia militar, sistemas de armas, métodos de combate, sistemas de organização de tropa, resultando na
ocorrência
ocorrê ncia de um salto (ou mudança repentina)
repentina) na eficiência de combate dos militares. (Relatório
(Relatório de pesquisa do
Instituto de Estratégia da Escola Militar do Exercito Norte-americano intitulado: “Strategy and the Military Revolution:
From Theory to Policy”). Em outro relatório de pesquisa relacionado ao tema revolução militar, produzido pelo do
Centro Norte-americano de Pesquisa em Estratégia e Assuntos Internacionais, é citado que a revolução militar é o
resultado da combinação de uma série de fatores. Toffler iguala a revolução militar a uma substituição de civilização,
algo bastante amplo e inexeqüível.

Caso
Caso a rev
revolu
olução
ção da tec
tecnolo
nologia
gia mil
milita
itarr sej
seja
a con
conside
siderad
rada
a com
como
o rep
repres
resenta
entando
ndo a
prim
primei
eira
ra et
etap
apa
a na re
revo
volu
luçã
ção
o mi
mili
lita
tar,
r, es
esta
tamo
moss en
entã
tão,
o, ag
agor
ora,
a, no iní
iníci
cio
o de um
uma
a
segunda etapa, essencialmente importante dessa revolução.

A ap
apro
roxi
xima
maçã
ção
o da co
concl
nclus
usão
ão da rev
revol
oluç
ução
ão da te
tecn
cnolo
ologia
gia mi
milit
litar
ar si
signi
gnific
fica
a um
pressagio do início de uma nova etapa, que apresenta também, em grande parte, os
revoluç
revolução
ão da tec
tecnolo
nologia
gia mil
milita
itarr ten
tenha
ha pos
possib
sibilit
ilitado
ado que se sele
selecione
cionem
m mai
maiore
oress
possibilidades, dentro de uma faixa mais ampla, essas possibilidades transformam-
se tam
também
bém,, ame
ameaça
açass para os seu
seuss autores.
autores. E nas mesmas
mesmas proporções0  (e isto
proporções
ocorre porque, a monopolização de um tipo de tecnologia é muito mais difícil que a
de inventar um novo tipo de tecnologia).

 Tais ameaças nunca se manifestaram como nos dias atuais, porque hoje as
possibilidades são distintas e estão num processo permanente de mudanças, e isto,
na realidade, cria a impressão de estarmos vendo um inimigo escondido por trás de
cada
cada ár
árvo
vore
re.. Qual
Qualqu
quer
er orie
orient
ntaç
ação
ão,, poss
possib
ibil
ilid
idad
ade,
e, ou pess
pessoa
oa,, torn
tornar
ar-s
-se-
e-á,
á,
possivelmente, uma ameaça em potencial para a segurança de um país e, ainda
quee po
qu poss
ssa
a se
serr po
poss
ssíve
ívell pe
perc
rceb
eber
er a ex
exis
istên
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cia
a da am
amea
eaça
ça,, se
será
rá mu
muit
ito
o di
difí
fícil
cil
sabermos, claramente, de onde está vindo essa ameaça.

FORÇAS ARMADAS DE OUTROS PAÍSES NÃO SÃO MAIS A PRINCIPAL  AMEAÇA À


SEGURANÇA

 Tanto os militares quanto os políticos acostumaram-se raciocinar que o principal


fator de ameaça à Segurança Nacional é representado pela
p ela Expressão Militar de um
Estado
Estado inimigo, ou, por um Estado inimigo
inimigo em potencial.
potencial. No entanto
entanto,, as guerra
guerrass e
os principais incidentes que ocorreram no século XX nos proporcionaram, de forma
clara e coerente, a idéia de que o oposto é que é o verdadeiro; freqüentemente, as
ameaças militares já não são mais os principais fatores que afetam a Segurança
Nacional.

Ainda que continuem existindo as mesmas disputas territoriais da Antiguidade, os


conflitos de nacionalidade, os entrechoques religiosos a delineação das esferas de
Poder, e dirigentes deflagrando guerras. Estes fatores tradicionais estão ficando
cada vez mais interligados com a apropriação indébita de recursos, a disputa por
merc
mercad
ados
os,, o co
cont
ntro
role
le de ca
capi
pita
tais
is,, as sa
sanç
nçõe
õess co
come
merc
rcia
iais
is e ou
outr
tros
os fa
fato
tore
ress
econôm
econômicos
icos,, a pon
ponto
to de os fat
fatore
oress tra
tradic
diciona
ionais
is est
estare
arem
m as
assum
sumindo
indo um pap
papel
el
secundário.

Esse
Essess nov
novos
os fa
fato
tores
res pa
pass
ssar
aram
am a re
repr
pres
esent
entar
ar um no
novo
vo mo
mode
delo
lo de am
amea
eaça
ça às
seguranças políticas, econômicas, e militares de um, ou, vários países. Este modelo
de ameaça, possivelmente, não tem qualquer nuance militar, quando observado à
distancia e, assim sendo, ele tem sido denominado por alguns analistas como
“guerras secundárias ” ou “guerras análogas ”0. No entanto, a destruição que estes
novos modelos provocam nas áreas em que atacam, absolutamente não são
secundários em relação às guerras exclusivamente militares. Quanto a isto, basta a
menção dos nomes de lunáticos como George Soros, bin Laden, Escobar,
Matsumoto e Kevin Mitnick.0

É possível que já não possamos mais determinar, com precisão, o momento em que
os principais atores, responsáveis pela deflagração de guerras, deixaram de ser os
Estados soberanos e passaram a ser as organizações criminosas, as organizações
terroristas, os indivíduos do submundo com intenções malévolas, os financistas
que controlam enormes quantidades de recursos, ou indivíduos psicologicamente
desequilibrados que têm fixação por determinados alvos, personalidades
obstinadas, e de caráter resoluto, e todos dotados das possibilidades de iniciar uma
guerra militar, ou, não-militar. As armas que eles empregam podem ser
representadas por aeronaves, canhões, gazes venenosos, bombas, agentes
bioquímicos, assim como vírus de computador, navegadores de redes, e
ferramentas de ordem financeira.

Em resumo, todos os métodos da nova modalidade de guerra, bem como as


medidas estratégicas que podem ser proporcionadas pela nova tecnologia, poderão
ser utilizados por esses fanáticos, para desencadear todas as formas de ataques
financeiros, ataques em redes interativas de dados, ataques de mídia ou ataques
terroristas.

A maioria desses ataques não são ações militares, mesmo assim, podem ser
encaradas como ações de guerra, que obrigam países a satisfazerem seus próprios
interesses ou exigências. Esses ataques têm uma força destrutiva idêntica, e até
mesmo superior à das guerras militares, e já criaram sérias ameaças a nossa
Segurança Nacional, diferentes daquelas do passado.

 Tendo em vista este cenário, basta ampliarmos, ligeiramente, nosso campo de


visão, e entenderemos que o conceito de Segurança Nacional baseada no
regionalismo já está obsoleto. A principal ameaça à Segurança Nacional está muito
0
 Ver a obra de Zhao Ying “The New View of National Security”
0
 George Soros é um especulador financeiro; bin Laden é um terrorista islâmico;
Escobar é um famoso e longínquo traficante de drogas; Matsumoto é o fundador da
longe de se limitar, apenas, à agressão militar por forças hostis contra o território
de um país.

Em termos de valor da redução no índice de Segurança Nacional, se compararmos


 Tailândia e Indonésia, (que por diversos meses sofreram a desvalorização de suas
moedas em várias dezenas de pontos percentuais, alem de terem suas economias
próximas á falência) com o Iraque, (que sofreu duplo contingenciamento de
ataques militares e boicote econômico), parece-nos não ter havido muita diferença.

Até mesmo os Estados Unidos, que é a única superpotência que sobreviveu à


Guerra Fria, já constatou a realidade de que a nação mais poderosa do planeta é
freqüentemente aquela que se defronta com o maior número de inimigos e a que
sofre o maior número de ameaças.

Nos “Relatórios de Defesa Nacional” dos Estados Unidos, relativos a vários


exercícios fiscais consecutivos, alem de serem relacionados, em ordem decrescente
de magnitude, as dez nações “consideradas potências regionais, e que são hostis
aos interesses norte-americanos”, são incluídas, também, “o terrorismo; as
atividades subversivas e as condições anarquistas que ameaçam a estabilidade do
governo federal, a prosperidade e o crescimento econômico norte-americanos; o
tráfico ilegal de drogas; e a criminalidade internacional”, como ameaças aos
Estados Unidos. Como conseqüência, eles têm ampliado a faixa de busca
multiespacial para possíveis ameaças à sua segurança.

O Secretário de Defesa dos Estados Unidos mencionou as diversas ameaças com as quais defronta-se os Estados
Unidos, em cada um dos Relatórios de Defesa Nacional relativos aos anos fiscais de 1996, 1997 e 1998. No entanto,
este tipo de visão ampla não se constitui, de fato, num padrão de observação que os norte-americanos podem manter 
em termos de consciência própria. Em Maio de 1997, foi frisado no “The Global Security Environment”, —  a primeira
parte do Relatório de Investigação Quadrienal da Defesa, publicado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos
 —  que a segurança dos Estados Unidos iria defrontar-se com uma série de desafios.
Primeiro seria as ameaças vindas do Iraque, Iran, Oriente Médio e da Península Coreana; em segundo lugar seria a
difusão da tecnologia de sensores, como o radar; armamentos biológicos e químicos; assim como a tecnologia de
projeção, a tecnologia cibernética a tecnologia “stealth”, e etc; em terceiro lugar seria a atividade terrorista, comércio
ilegal de drogas, organizações criminosas internacionais, e falta de controle de imigração; em quarto lugar seria a
ameaça de armamentos antipessoal de grande poder.

“Nações que estejam capacitadas a rivalizar com os Estados Unidos não têm possibilidade de aparecer antes do ano
de 2015, e após 2015, possivelmente aparecerá uma potencia regional ou um inimigo a nível global bem dotado em
termos de poder. Alguns consideram que mesmo não se conhecendo os prognósticos relativos à Rússia e à China,
mesmo assim, é possível que eles se tornem esse tipo de inimigo”.
Este Relatório que corresponde a um esforço conjunto, desenvolvido entre o Gabinete do Secretário do Departamento
de Defesa e a Junta de Chefes de Estado-Maior, evidentemente ainda está transitando no âmbito do conceito de
ameaça militar, sendo considerado em parte real, em parte imaginário. Ao analisar as ameaças especificadas na
edição de 1997 do relatório “United States National Military Strategy” , observa-se que existe uma seção especial que
se refere a “fatores desconhecidos” e evidencia que os norte-americanos estão ansiosos e receosos com relação a
A GLOBALIZAÇÃO GERA UM CONCEITO DE SEGURANÇA NACIONAL  AMPLIADO

Na realidade, não apenas os Estados Unidos, mas todas as nações que veneram o
conceito moderno de soberania, inconscientemente já deram início à ampliação das
fronteiras da segurança, estendendo-as a múltiplas ambiências, compreendendo a
política, a economia, os recursos materiais, a nacionalidade, a religião, a cultura,
as redes interativas, a geografia, o meio ambiente, o espaço sideral e etc.

O australiano Xiaomohan Malikev assinalou que as sete tendências que irão influenciar a segurança nacional durante
o século XXI são: globalização da economia; globalização de difusão tecnológica; a maré globalizadora da
democracia; a polarização da política internacional; mudanças na configuração dos sistemas internacionais; mudanças
nas concepções de segurança; e mudanças nos pontos focais de conflitos. Os efeitos combinados dessas tendências
constituem as origens das duas categorias de conflitos que ameaçam a segurança na região pacífico-asiática. A
primeira categoria é a fonte de conflitos tradicionais: a disputa pela hegemonia pelas grandes nações; a expansão do
nacionalismo por nações bem sucedidas; disputas em relação a interesses e direitos territoriais e marítimos;
competição econômica; e proliferação de armas com alto poder de destruição. A segunda categoria é constituída pelas
novas fontes de futuros conflitos: nacionalismo (racismo) nas nações em declínio; conflitos culturais entre crenças
religiosas; a difusão de armas leves letais; disputas em torno da explotação de petróleo, da pesca e de recursos
marítimos; as ondas de deslocamento de populações e refugiados; desastres ecológicos e o terrorismo. Todas essas
situações interpõem ameaças múltiplas às nações no decorrer do século 21. A visão deste australiano, com relação à
segurança nacional é um pouco mais ampla que a das autoridades norte-americanas. (Ver a publicação “United
States' Comparative Strategies”, 1997, No. 16, para maiores detalhes).

Este tipo de “visão ampliada de soberania” constitui uma premissa para a


sobrevivência e desenvolvimento dos paises modernos, assim como, para os seus
esforços visando alcançar uma posição de influência no cenário mundial. E desta
forma, em contraste, a idéia de que a defesa nacional representa o principal
objetivo da segurança de um país, parece estar, no momento, um pouco
desatualizada, ou, pelo menos, um tanto o quanto insuficiente.

Em correspondência à nova “visão ampliada de soberania”, deveria haver uma


nova concepção de segurança, que incluísse a totalidade generalizada dos
interesses nacionais. O que este conceito deveria realmente significar, certamente,
não está limitado ao tema da Segurança Nacional, mas, ao invés, deve reunir as
exigências de segurança do país em diversas áreas, compreendendo a segurança
política, a segurança econômica, a segurança cultural e a segurança das
informações, em um único conjunto de objetivos nacionais. Isto define uma “visão
ampliada de segurança”, ampliando o tradicional conceito de domínio territorial
para incorporar, também, os interesses nacionais.

O acréscimo de responsabilidades inerente a essa “visão ampla de segurança”


acarreta dificuldades em relação ao seu objetivo, bem como, quanto aos métodos e
o suficiente. Uma única viga de madeira não é suficiente para sustentar um prédio
que está ameaçando desmoronar.

O grande átrio da segurança de um moderno edifício nacional está muito além de


poder ser sustentado pela resistência isolada de um único pilar. A solução para
que ele se mantenha íntegro, e não colapse, reside em sua sustentação ser
composta por uma resultante da composição de forças inerentes a todos os
aspectos do interesse nacional. Alem disso, identificado este tipo de força
resultante, também é necessário materializar essa força em termos de meios que
possam ser utilizados operacionalmente.

Isto deveria ser um “grande método de guerra” que combinasse todas as dimensões
e métodos constantes das duas grandes ambiências, a militar e a não militar, e
assim conduzir a guerra. Isto representa o oposto da formulação de métodos de
guerra que foram utilizados em guerras do passado. Tão logo surgiu este “grande
método de guerra”, foi vislumbrado a necessidade de criação de um modelo de
guerra totalmente novo, que simultaneamente englobasse e se superpusesse a
todas as dimensões que influenciam a Segurança Nacional.

No entanto, quando analisamos os princípios deste “grande método de guerra”


constatamos que, ao contrário de ser complexo, é uma simples questão de
combinação. “O Caminho criou o uno, o uno criou o dois, o dois criou o três, e o
três criou dez mil coisas” 0.

Não importa que sejam dois ou três ou dez mil coisas, tudo resulta da combinação.
Com a combinação existirá abundância e com a combinação haverá uma miríade
de mudanças, e com combinação haverá diversidade. A combinação praticamente
ampliou, a um valor infinito, os meios da guerra moderna, e praticamente mudou a
conceituação de guerra moderna elaborada no passado: a guerra executada com
armas e métodos de operações modernos. Isto significa que embora a ampliação
das medidas reduza o efeito das armas, o conceito da guerra moderna também é
ampliado.

Receamos que a maioria das antigas aspirações de alcançar a vitória numa guerra,
exclusivamente através de meios militares, numa situação em que a seleção de
meios necessária para cobrir toda a extensão do campo de batalha sofreu uma

0
 [N.T.] Ainda que o autor não faça qualquer menção, esta citação corresponde a
grande expansão, tornou aquelas aspirações inócuas, como que “nadar e morrer
na praia”0.

O que deve ser feito por todos aqueles militares e políticos, imbuídos da ambição
pela vitória, é ampliar o seu campo visual, escolher o momento oportuno, avaliar a
situação, confiar na adoção de um método de guerra significativo, e livrarem-se do
miasma que representa a visão tradicional da guerra.

Escalar a montanha e apreciar o nascer do sol.

0
 [N.T.] Utilizamos esta adaptação, por entendermos quer a versão em português do
adágio chinês utilizado pelo autor — “and be marginally within the mountain " — 
CAP 5 - NOVA METODOLOGIA DOS JOGOS DE
GUERRA

“Os grandes mestres da arte da guerra do século 21 serão 


aqueles que empregarem métodos inovadores para 
 possibilitar o reagrupamento de diversas capacidades de 
modo a permitir a consecução dos objetivos táticos,
operacionais e estratégicos”.
Yier Tierfude

 Tudo está em transformação. Considerando as mudanças decorrentes da explosão


da tecnologia; da substituição dos armamentos; do desenvolvimento de novos
conceitos de segurança; da redefinição quanto a alvos estratégicos; da falta de
clareza no tocante aos limites do campo de batalha; da expansão da esfera de
atuação e da dimensão dos meios não-militares, como, também, do pessoal civil
envolvido na guerra; vemos que tudo está enfocando um único objetivo, o início de
uma nova era de revolução dos métodos operativos.

Esta revolução não está em busca de métodos operativos que se coadunem com
cada tipo de mudança, mas em vez disso, está procurando um método operativo
comum que leve em conta todas essas mudanças. Em outras palavras, está
procurando uma nova metodologia que utilize um método para o trato das
inúmeras alterações das guerras futuras.

A Guerra é o jogo mais típico, e ainda assim, freqüentemente não é suscetível às teorias clássicas dos jogos. A
guerra é, intrinsecamente, o comportamento irritado do homem, e baseando-se em diversas conjecturas do “homem
racional” irá naturalmente e facilmente falhar. Os temidos efeitos decorrentes do uso de armas nucleares têm levado a
humanidade a gradualmente encontrar o seu caminho de volta, do comportamento mais irracional à racionalidade há
muito tempo perdida. Além disso, a direção da globalização tem levado a humanidade a concordar com o pensamento
do “homem racional” no processo de busca da segurança nacional, aprendendo a libertar-se da “condição de vítima”, e
não mais participar de jogos hegemônicos de “briga de galo” como entre os Estados Unidos e a União Soviética. O
 jogo econômico compreendendo tanto a cooperação quanto a competição, já começou a infiltra-se na esfera militar e a
influenciar a guerra nesta nova era. (Referências podem ser encontradas na abordagem feita na obra de Zhang
Weiying — “Game Theory and Information Economics”; Livraria Sanlian de Shanghai; Shanghai People’s Press; 1996).

REMOVENDO A COBERTURA DAS NUVENS DA GUERRA


Nestes exercícios, conduzidos no deserto de Mojave, as unidades digitalizadas,
conhecidas como o “Exército do Século XXI” integravam as “tropas azuis”,
equipadas com uma completa gama de equipamentos digitais. No entanto, os
resultados finais apresentaram uma vitória, um empate e seis derrotas. Na
realidade, o “Exército do Século XXI”, ou as “tropas azuis” perderam para as
“tropas vermelhas” que dispunham de equipamentos tradicionais. Isto, todavia,
não impediu o Secretário de Defesa William Cohen de afirmar, numa reunião com a
imprensa após a conclusão do exercício que: “Eu considero que todos nós estamos
presenciando, aqui, uma revolução militar...”

A partir de 15 de março de 1997, o Exército dos Estados Unidos conduziu, durante 14 dias, exercícios operacionais de
alto nível com Brigadas digitalizadas na área do Centro Nacional de Treinamento do Forte Irwin, na Califórnia. De
acordo com as observações feitas pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, o General Rymer, o propósito deste teste
era o de determinar ou não se o soldado tecnológico do século XXI estaria capacitado a responder, instantaneamente,
a três questões cruciais da guerra atual: Onde estou? Onde estão os meus companheiros? Onde está o inimigo? Em
face das condições em que os testes foram conduzidos, as tropas que foram reestruturadas e empregaram novos
armamentos com tecnologia digital tiveram uma velocidade operativa muito maior, um maior poder de destruição, e
maior capacidade de sobrevivência que o exército atual. Ver os relatórios no periódico norte-americano “Defense
News”, edição de 17-23 de Março de 1997, para os detalhes relativos a este exercício.

É obvio que a revolução militar mencionada por Cohen é idêntica àquelas visões
proféticas a que nos referimos na abertura desta seção.

O ERRO DE USAR O PODER COMO ELEMENTO BALIZADOR — UM VÍCIO DA GUERRA


FRIA

O vencedor sempre deseja persistir num caminho de vitória. Da mesma forma como
as forças terrestres francesas que dependeram das trincheiras em Verdun para
vencer a Primeira Guerra Mundial, e que esperavam vencer a próxima guerra da
mesma forma, através da Linha Maginot, os militares norte-americanos que
obtiveram uma vitória na Guerra do Golfo, mantêm a esperança de continuar
praticando os tipos de ações empreendidas na Tempestade do Deserto no decorrer
do século XXI.

Ainda que todos os generais norte-americanos desejem se cobrir de glórias, como


ocorreu com o general Schwartzkopf, todos sabem, perfeitamente, que as guerras
do século XXI não terão possibilidade de ser uma simples réplica da Guerra do
Golfo. Foi por este motivo, que eles começaram a substituir os armamentos das
forças armadas norte-americanas, antes mesmo que a fumaça da guerra se
dissipasse, assim como, fizeram ajustes nas teorias originais de combate e na
As forças armadas, em todo o mundo, tomaram conhecimento da futura estrutura
do poder militar norte-americano, e da sua concepção de um estilo próprio de
guerrear, através dos documentos “The Concept of Joint Forces in the Year 2010 ” e
“The Army of the Future ”. Levando em consideração a imponência do poder militar
norte-americano, suas proposições não têm nada tem de extraordinário. Ninguém
poderia imaginar, no entanto, que um ponto cego no campo de visão dos norte-
americanos estava localizado exatamente no âmbito nestas proposições.

Até o momento, as tendências quanto ao desenvolvimento de armamentos nas


forças armadas norte-americanas, as mudanças nas diretrizes da defesa, a
evolução das teorias de combate, a renovação das práticas e de regulamentos,
assim como, o pensamento das autoridades militares de maior patente, todos esses
fatores estão evoluindo rapidamente e segundo uma única trajetória. Eles
sustentam a idéia de que os meios militares são os meios definitivos para a
resolução dos conflitos futuros, e que as disputas entre países irão resumir-se, ao
final, no confronto entre dois grandes exércitos num campo de batalha. Dada essa
premissa, as forças armadas norte-americanas se propõe a estar preparadas, para
vencer guerras em dois teatros diferentes, e neste sentido, eles têm empreendido
um grande esforço de preparação.

Foi novamente enfatizado no documento norte-americano “1997 National Army Strategy” que a missão e capacitação
do Exército dos Estados Unidos visava a, simultaneamente, vencer dois conflitos regionais de larga escala. Esta
diretiva, de fato, deu prosseguimento à política estratégica de crescimento do Exército predominante na era da Guerra
Fria. James R. Blaker frisa em seu artigo titulado “Building a Military Revolution –Type United States Army – A Troop
Reform Plan Different From the ‘Four Year Military Examination Report’ ”, que esta política — “foi um plano militar 
projetado há 20 anos atrás e implementado durante um período que terminou há 10 anos atrás. (“Strategy Review”, Ed
Summer 1997).

No entanto, dentro do próprio Pentágono existem correntes contrárias a esta


concepção de dois teatros, como no caso do General Powell, alegando que os
Estados Unidos estavam, novamente, orientando a maior parcela de suas energias
para engajar-se “num tipo de Guerra Fria que nunca mais irá ocorrer ”, e
possivelmente estava utilizando suas próprias capacidades numa direção errada0.
Esta contradição é conseqüência do fato de que a tendência internacional, no final
do século XX, é claramente perceptível. Em termos práticos, a era das guerras
consistindo num processo de movimentação de armas e soldados ainda não foi

0
Ver relatório de pesquisa do Instituto de Pesquisa Estratégica da Escola de
Guerra do Exército dos Estados Unidos — “ Strategy and Military Revolution: From 
transposta para as páginas da História, mas em termos conceituais é notório que já
começou a ficar para trás.

GLOBALIZAÇÃO E ALTA- TECNOLOGIA SUBSTITUEM AS AMEAÇAS MILITARES POR NOVAS


AMEAÇAS

Como conseqüência do aumento do número de tratados internacionais, limitando a


corrida armamentista e a proliferação dos armamentos, as Nações Unidas e as
organizações regionais internacionais ampliaram os seus poderes de intervenção
nas guerras localizadas e nos conflitos regionais e, em termos relativos, reduziram
a ameaça militar à segurança nacional. E por outro lado, o surgimento em larga
escala de uma nova e sofisticada tecnologia provocou a ampliação da possibilidade
de que ações não-militares ameacem a segurança nacional; e a comunidade
internacional que não sabe o que fazer, quando confrontada com ameaças não-
militares dotadas de uma capacidade de destruição igual à de uma guerra, também
não dispõe de uma capacidade para impor restrições adequadas que seriam
necessárias e eficazes. Objetivamente, isto tem acelerado a ocorrência de guerras
não-militares, e ao mesmo tempo, faz com que os antigos conceitos e sistemas de
segurança nacional estejam a ponto de um colapso.

AS FORÇAS ARMADAS NORTE-AMERICANAS SE AFASTAM DAS CONCEPÇÕES


MULTIFACETADAS DE GUERRA

Em paralelo aos ataques terroristas, cada vez mais intensos; as guerras dos
hackers; as guerras financeiras; e as guerras de vírus nos computadores; que irão
dominar o futuro, existem atualmente, as novas concepções de guerra, para as
quais é difícil estabelecer uma designação, e que já são suficientes para que a
percepção de segurança, de que — “resistir ao ataque de um inimigo além das
fronteiras nacionais” — passe a ser, da noite para o dia, algo do passado.

Não é o caso que os círculos militares norte-americanos não tenham percebido o


que significa eliminar as ameaças inimigas militares e não-militares, (já nos
referimos, anteriormente, a uma série de relatórios publicados durante vários anos
pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos); na realidade, eles têm
Estado-Maior, táticas de “Matilha de Lobos”0, campanhas militares de alta
intensidade, bombardeio de saturação, contramedidas eletrônicas e as batalhas Ar-
 Terra, o surgimento de cada um desses elementos sempre esteve associado a
elementos chaves anteriores, de modo a produzir vantagens híbridas e, ao mesmo
tempo, enriquecer a ambiência da guerra em diferentes aspectos.

Ocorre que nos últimos 20 anos, a tecnologia cibernética, os vírus de computador,


a internet, os instrumentos de atuação no mercado financeiro, e outras fontes,
assim como as tecnologias associadas aos meios não-militares, demonstram, ainda
mais, as dificuldades no tocante à previsão de perspectivas quanto ao resultado
das guerras do futuro.

Contudo, para a grande maioria dos militares de alta patente da atualidade, o


emprego do método de combinação dos elementos para a condução da guerra,
freqüentemente, tem sido um processo inconsciente, ou seja, suas combinações,
na maioria dos casos, resumem-se ao nível dos armamentos, dos métodos de
posicionamento de forças e em relação ao campo de batalha. As perspectivas
quanto às conseqüências da guerra são também, em sua maioria, limitadas ao
campo militar, e isto parece ser considerado o suficiente 0.

Somente os gênios militares pioneiros têm a capacidade de tornarem-se uma


exceção desfazendo-se de hábitos costumeiros, rompendo com as limitações e
conscientemente combinando todos os meios disponíveis, num determinado
momento, para criar uma obra prima eterna, através da modificação das
tonalidades da guerra.

0
 Consistia numa técnica utilizada por submarinos, para atacar navios mercantes,
durante a Primeira Guerra Mundial, inventada por Dönitz, Comandante da Força
de Submarinos da Marinha Alemã. O método consistia em que após a descoberta
de um navio mercante por um submarino, este, imediatamente, notificava outros
submarinos, e após aguardar a reunião de vários submarinos, estes
desencadeavam um ataque em conjunto, da mesma forma que uma matilha de
lobos age contra a sua presa.

0
 [N.T.] Em recente curso feito no Naval War College (2001-2002), pode-se constatar
a propriedade da opinião do autor, visto que uma das grandes preocupações que os
estudiosos e catedráticos daquela instituição manifestavam era a busca da
resposta á pergunta: “Por que é que nós (norte-americanos) continuamos a ganhar
Se for considerado que o método de combinação representou, apenas, uma fórmula
secreta vitoriosa de uns poucos gênios, sua utilização como uma orientação para
um método de operações está se tornando cada vez mais evidente nos dias atuais,
e a prática da guerra está ocorrendo em uma ambiência cada vez mais ampla e com
maior alcance.

No entanto, tudo aquilo gerado pela era da integração tecnológica proporciona para
a combinação um campo de possibilidades aparentemente ilimitado. Pode-se
afirmar, que quem quer que seja, que for capaz de preparar um coquetel saboroso e
excepcional para o futuro banquete da guerra, estará predestinado, em última
análise, a coroar-se com os lauréis do sucesso.

USANDO A ADIÇÃO PARA VENCER O JOGO

O  TODO É MAIOR QUE A SOMA DAS PARTES — ESCOLHENDO OS ELEMENTOS PARA


COMBINAR

 Todas as cartas já foram mostradas. Sabemos que a guerra não será mais
caracterizada pelo seu modelo original. Em grande parte, a guerra nem mesmo é
mais a guerra, mas ao invés, passa a ser um enfrentamento na Internet, uma
competição na mídia das grandes massas, a interferência e defesa nas transações
financeiras futuras, juntamente com outros ingredientes que nunca tínhamos
entendido como partícipes da guerra, o que nos obriga, agora, a parar e raciocinar.

É como dizer que o inimigo não será mais o inimigo original significativo; os
armamentos, possivelmente, não serão aqueles originais, e o campo de batalha,
possivelmente, não será o campo de batalha original. Nada é definitivo. Aquilo que
pode ser avaliado, também não é definitivo. Na realidade, mudaram as regras do
 jogo, e o que precisamos continuar a fazer é investigar um novo método de luta, em
uma ambiência plena de incertezas. Não é o caso de uma simples prescrição para o
tratamento dos sintomas de uma doença, e sim, um processo híbrido de
aprendizagem dos pontos fortes de outros processos, concentrando todos aspectos
vantajosos, permitindo, assim, que uma mesma árvore produza, ao mesmo tempo,
frutas diferentes. Isto, então, seria combinação, e este processo, em particular, já
apresentamos anteriormente.

Aquilo que nós ainda não falamos é de um outro termo: adição, um método de
combinação.

Em um ringue de luta de boxe, aquele que, desde o início e até o fim do embate usa
apenas um método de luta para enfrentar o seu oponente, logicamente, não é
aquele lutador combina socos diretos, “jabs”, jogo de corpo, e ganchos para atacar
o seu oponente como uma tempestade. O ensinamento daí decorrente pode ser
considerado como extremamente simples: um mais um representa um valor maior 
do que um.

O problema é que este preceito, tão simples que até um principiante pode
compreender, surpreendentemente, não tem sido entendido por muitas pessoas
responsáveis pelo sucesso ou fracasso da segurança e da guerra em âmbito
nacional.

Essas pessoas apresentam desculpas, alegam que estão aplicando a combinação de


golpes para atacar os seus oponentes, que nunca se esqueceram da adição de
tecnologia com tecnologia, de táticas com táticas, de armas com armas, de
processos com processos; e podem até, com uma atitude insolente, considerar que
as combinações por eles idealizadas podem ser consideradas como algo de novo.
Isto tem ocorrido desde Alexandre, passando por Napoleão, e chegando a
Shwartzkopf. Eles não perceberam que sua capacidade de compreender, ou não, as
combinações, não representa a solução para o problema. O que realmente importa
é o entendimento de quais são os elementos a combinar e como combiná-los.

Finalmente, mas certamente não o ponto mais importante, é se houve ou não a


idéia de se a combinar as ambiências do campo de batalho com outras que não
sejam campos de batalha, a situação de guerra com uma situação de não-guerra,
elementos militares com elementos não-militares, o que em termos mais específicos
significaria combinar aeronaves “stealth” e mísseis de cruzeiro com destruidores de
redes interativas, combinar deterrência nuclear, guerras financeiras e ataques
terroristas ou, simplesmente, combinar Schwartzkopf + Soros + Xiaomolisi + bin
Laden. Estas são, na realidade, as cartas que temos na mão.
Na batalha de Yanling (575 AC) entre os estados de Jin e Chu, durante o Período
da Primavera e Outono, o Duque Li de Jin comandou uma força terrestre no ataque
a Zheng0. As forças de Jin travaram uma batalha decisiva contra a força Chu em
Yanli
Yanling
ng.. Ac
Acei
eitan
tando
do as re
reco
come
mend
ndaç
ações
ões de um des
deser
ertor
tor de Ch
Chu
u cha
chama
mado
do Mi
Miro
ro
Penghuam, o Duque Li, como sua ação principal, utilizou a maior parte de sua
força principal para investir sobre um determinado ponto da ala esquerda das
forças de Chu, e o restante de sua força principal para atacar,
atacar, o centro das forças
Chu; Como ação secundária, usou suas demais forças para atacar
atacar o flanco direito
do inimigo. O ponto de ataque selecionado (na ala esquerda das forças de Chu)
correspondia, exatamente, à posição que dividia a linha inimiga segundo a PROPORÇÃO 
ÁUREA .

 Já na Batalha de Arbela0 entre Alexandre e Dario0, os mace


macedônios
dônios escolheram um
ponto do flanco esquerdo com o corpo central do exército persa como o seu ponto
de ataque. Surpreendentemente este ponto correspondia, exatamente, à posição
que dividia a frente persa segundo a PROPORÇÃO  ÁUREA .

Durante centenas de anos, achou-se difícil entender porque a cavalaria mongol de


Gengis Khan assemelhava-se a um furacão, capaz de deslocar-se através de todo o
continente
continente euras
eurasiano.
iano. Fatores como a trucu
truculência
lência dos bárbaros,
bárbaros, a sua cruel
crueldade
dade e
a sua sagacidade ou a mobilidade da cavalaria, não proporcionavam argumentos
convincentes. Será que existiram outras explicações mais lógicas?

Dentro das expectativas, a regra áurea demonstrou, novamente, todo o seu poder
milagroso. É possível verificar-se que a formação de batalha da cavalaria mongol
era diferente daquela da falange tradicional ocidental. Na sua disposição, em cinco
colunas, a proporção entre a cavalaria pesada e a cavalaria ligeira era de 2 para 3;
cabendo
cabendo o valor 2 à cava
cavalaria
laria pesada
pesada com armadura,
armadura, e o valor 3 à cav
cavalaria
alaria leve,
leve,

0
 Ver “The History or War of China”, Military Translation Press, Vol. 1, pp. 253-273
e as ilustrações 1-26 do anexo.

0
[N.T
[N.T.]
.] Pa
Para
ra um me
melho
lhorr en
enten
tendi
dimen
mento
to de
dest
sta
a ba
bata
talh
lha,
a, co
cons
nsult
ultar
ar a ob
obra
ra “T
“The
he
Enciclopédia of Military History” de Dupuy and Dupuy; p.49-50; Ed 1970.

0
 Ver Fuller, “Uma história militar do mundo Ocidental”, vol. 1, p. 117. Este livro
contém uma ótima análise da Batalha de Arbela como também ilustrações que
veloz e com mobilidade. Esta divisão representa um outro exemplo da aplicação da
proporção áurea! Nós temos que reverenciar o entendimento, ao nível de gênio,
daquele pensador montado! Seria lógico, que a força, dispondo de um líder como
ele, teria um poder mais contundente do que as forças européias que a ele se
opunham. Parece que, embora altamente talentosos quanto à aplicação da regra
áurea às artes, os cristãos europeus tardaram a reconhecer a aplicação dessa regra
em outras ambiências.

Maurício, general holandês0, que foi o primeiro


primeiro a alterar
alterar a constituição
constituição da falange
falange
original, misturando um número semelhante de soldados armados com mosquetes
e de soldados armados com lanças, não chegou a visualizar a importância da
PROPORÇÃO  ÁUREA , até mesmo no per
períod
íodo
o da pól
pólvor
vora
a neg
negra,
ra, quando
quando os mos
mosque
quetes
tes
estavam gradualmente substituindo as lanças.

Foi o Rei Gustavo Adolfo 0, da Suécia, redimensionou a estrutura desta formação,


refo
reforç
rçan
ando
do o po
pode
derr de fo
fogo
go e fl
flex
exib
ibil
ilid
idad
adee da pa
part
rtee ce
cent
ntra
rall de su
suas
as fo
forç
rças
as,,
transfor
transformando
mando,, desse modo, o exército sueco no exército
exército que dispunha do maior
poder de combate daquela época na Europa.

[N.T.] Na realidade o que Gustavo II Adolfo fez foi alterar a disposição do dispositivo chamado “tertius” que era uma
evolução da falange macedônica, aumentando a sua linha de frente e reduzindo a sua profundidade, alterando,
também, a forma de abertura de fogo, que era originalmente seqüencial, uma fileira de cada vez, para uma salva única
com todas as armas disponíveis. Outro empreendimento seu foi criar unidades menores com maior flexibilidade,
intercalando infantaria, artilharia e cavalaria.

0
 [N.T.] O autor refere-se
refere-se a Mauri
Maurice,
ce, o Conde de Nass
Nasssau,
sau, Príncipe de Orange, que
em 10 de julho de 1584, então com 17 anos de idade, assumiu o Principado devido
ao assassinato de seu pai, tendo uma atuação destacada nas guerras em que
procurou preservar a independência da Holanda.

0
 [N.T.] Gustavo Adolfo da Suécia foi o responsável por diversas das transformações
ocorridas no início do século XVII, na área militar. Dentre os seus feitos, além do
mencio
mencionado
nado no tex
texto,
to, ser
seria
ia pos
possív
sível
el cit
citar:
ar: a tra
transf
nsform
ormaçã
ação
o dos mos
mosque
quetes
tes dos
modelos de 15 a 20 lbs, e que eram disparados com o apoio de uma forquilha, em
uma arma mais leve, pesando apenas 11 lbs; adotou o emprego de cartuchos nos
tes; criou mod artilh
artilh ia de nha moderno
moderno conceito
conceito de
A alteração feita por Gustavo Adolfo consistiu em acrescentar mais 96 soldados
armad
armados
os com mos
mosque
quetes
tes ao efe
efetivo
tivo do esq
esquad
uadrão
rão com
compos
posto
to por 216 sol
soldad
dados
os
lanças e 198 soldados dispondo de mosquetes.0 Esta transformação
armados com lanças
proporcionou uma superioridade instantânea para as armas de fogo, passando a
representar o divisor de águas entre os períodos das armas brancas e das armas de
fogo
fogo.. É de
desn
snec
eces
essá
sári
rio
o ch
cham
amar
ar a at
aten
ençã
ção
o pa
para
ra o fa
fato
to de qu
que,
e, no
nova
vame
ment
nte,
e,
respland
ndeeceu o brilho da PROPORÇÃO  ÁUREA , iden
identi
tifi
ficá
cáve
vell ao co
cons
nsid
ider
erar
armo
moss a
proporcionalidade de 198 + 96 soldados armados com mosquetes em relação a 216
soldados armados com lanças.

Exis
isttem ainda outros exempl
plo
os. Vejamos como regra da PROPORÇÃO  ÁUREA ,

teimosament
teimosamente,
e, tem procurado
procurado se “manifest
“manifestar”
ar” de modo a nos proporcionar
proporcionar um
emba
embasa
same
mento
nto,, an
ante
tess qu
quee a re
reco
conhe
nheça
çamo
moss co
como
mo al
algo
go ma
mais
is do qu
quee um
uma
a re
regr
gra
a
aplicável às artes.

Napoleão invadiu a Rússia em junho de 1812. Em setembro, após ter fracassado na


elimi
elimina
naçã
ção
o da
dass pr
prin
inci
cipa
pais
is fo
forç
rças
as ru
russ
ssas
as na Ba
Bata
talh
lha
a de Bo
Boro
rodin
dino,
o, ele oc
ocup
upou
ou
Moscou. Naquele momento
momento ele não percebeu do fato de que o seu gênio e sua
sua sorte
estavam
estavam progressiva
progressivamente
mente abandonando-o
abandonando-o,, e que tanto o cume, como o ponto de
declínio de sua prolongada carreira estavam simultaneamente sendo atingidos. Um
mês mais tarde, as forças francesas abandonavam Moscou sob uma forte nevasca.
Fora
Foram
m tr
três
ês me
mese
sess de um
uma
a of
ofens
ensiva
iva vi
vito
torio
riosa
sa,, se
segu
guida
ida po
porr do
dois
is me
mese
sess de um
continuado declínio. Parece até que o Imperador francês estava posicionado, ao
longo da linha do tempo, no ponto fixado pela PROPORÇÃO  ÁUREA , que marcava o limite
entre dois segmentos distintos, enquanto contemplava a cidade de Moscou sendo
destruída pelo incêndio.

Em um outro mês de junho, 130 anos depois, a Alemanha Nazista deu início ao
Plano Barbarosa contra a União Soviética. Durante dois anos as forças alemãs
mant
mantiv
iver
eram
am o se
seu
u ím
ímpe
peto
to ofensi
ofensivo
vo.. E foi em ag
agos
osto
to de 19
1943
43 quee as força
qu forçass
germânicas passaram a adotar uma postura defensiva após o evento de “Kursk” e
nunca mais foram capazes de lançar uma ofensiva contra as forças soviéticas.

0
 [N.T.] Efetuando-se as contas com os valores informados pelo autor obtém-se um
valo
valorr qu
quee nã
não
o co
corr
rres
espo
ponde
nde ao nú
núme
mero
ro áu
áure
reo.
o. Em Du
Dupu
puyy an
and
d Du
Dupuy
puy,, ci
cita
tado
do
nt io te lo de feti
feti div d it do lo to
 Talvez tenhamos também que considerar o exemplo seguinte como uma
coincidência0.

[N.T.] Na versão inglesa da obra foi adotada a palavra “Castle”, porque provavelmente a palavra “Kursk” foi literalmente
traduzida para o inglês. Por tratar-se de uma referência histórica, optamos por utilizar sua forma original. Durante a 2ª
Guerraa Mundial, a batalha de Kursk (julho de 1943) trava
Guerr travada
da entre alemães e russos foi uma das batalhas
batalhas mais
importantes na frente oriental, mantendo-se, até hoje, como um dos maiores conflitos envolvendo blindados de toda a
história da guerra. Nesta os alemães planejaram uma ação ofensiva que foi contida pelas forças soviéticas, que
lançara, em resposta, uma contra-ofensiva que se estendeu até às portas de Berlim.

A Batalha de Stalingrado, que foi considerada por todos os analistas militares como
o ponto de inflexão da Guerra Patriótica dos Soviéticos, ocorreu exatamente no
décimo sétimo mês da guerra, isto é, novembro de 1942. Este é o ponto fixado pela
PROPORÇÃO  ÁUREA , no eixo da linha de tempo
tempo,, que demarca o início do período de vinte
e seis meses, no decorrer dos quais as forças alemãs passaram do sucesso ao
declínio.

Exam
Examine
inemo
mos,
s, ta
tamb
mbém
ém,, a Gu
Guer
erra
ra do Go
Golfo
lfo.. An
Antes
tes da gue
guerr
rra,
a, os es
espe
pecia
cialis
listas
tas
mili
milita
tare
ress es
esti
tima
mava
vam
m qu
quee os eq
equi
uipa
pame
ment
ntos
os e os co
comp
mpon
onen
ente
tess da
dass Gu
Guar
arda
dass
Republicanas perderiam, em termos práticos, a sua eficácia em combate, quando
as sua
suass per
perdas
das,, res
result
ultante
antess dos ata
ataque
quess aér
aéreos
eos,, exc
excedes
edessem
sem o va
valor
lor de 30%
30%..
Visando impor perdas às forças iraquianas até que esse nível crítico fosse atingido,
as forças norte-americanas, estenderam, repetidamente, o tempo de bombardeio.
Quando terminou a operação “Espada do Deserto” as forças iraquianas tinham
perd
perdid
ido
o 38
38%
% de se
seu
u ef
efet
etiv
ivo
o de 4.
4.28
280
0 ta
tanq
nque
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s, 32
32%
% de se
seus
us 2.
2.28
280
0 ve
veíc
ícul
ulos
os
blindados, e 47% de suas 3.100 peças de artilharia. Sobrou apenas, em média,
60% de seu poderio militar. A despeito de dados tão impiedosos, o fulgor misterioso
do número 0,618 aparecia novamente na manhã de 24 de janeiro de 1991. A
guerra terrestre da “Tempestade no Deserto” terminou 100 horas mais tarde.

 Tais episódios, espalhados ao longo


lo ngo da História, representam algo verdadeiramente
surp
surpre
reend
enden
ente.
te. Qu
Quand
ando
o an
anal
alis
isad
ados
os is
isola
olada
dame
mente
nte,, po
pode
dem
m at
atéé pa
pare
rece
cerr um
uma
a
seqüência de ocorrências acidentais, mas para o Criador não existe
existe o acaso. Se um
demasiado número de ocorrências vem a comprovar um mesmo fenômeno poderia
ainda um leitor, tranqüilamente,
tranqüilamente, considerá-los como obra do acaso? A nosso ver a
resposta é não. Temos que admitir a existência de uma regra.

0
 Masaier Bodug (França) autor de “A Enciclopédia da Segunda Guerra Mundial”,
A GRAMÁTICA DA VITÓRIA — A REGRA COLATERAL-PRINCIPAL 

Na gramática chinesa, a sentença possui uma estrutura básica. Esta estrutura


divide a sentença, ou a frase, em duas partes: o termo central e o modificador. O
relacionamento entre eles é aquele de ser alterado e de alterar, isto é, o modificador
altera
altera o signific
significado
ado do termo central,
central, deter
determinando
minando a tendênc
tendência
ia e cara
caracterís
cterística
tica
desse
desse ter
termo.
mo. De ma
maneir
neira
a mai
maiss cla
clara
ra,, o mod
modific
ificado
adorr rep
repres
resenta
enta a ap
aparên
arência
cia e o
termo central representa o ser.

Normalmente, nós não definimos a diferença entre pessoas ou entre objetos em


funç
função
ão de su
sua
a co
cons
nsti
titu
tuiç
ição
ão (o
(org
rgân
ânic
ica
a ou fí
físi
sica
ca)) e, si
sim,
m, em fu
funç
nção
ão de su
suas
as
aparências ou formas. Sob esta perspectiva, o modificador deveria ser considerado,
praticamente, como o núcleo de uma sentença ou frase. Por exemplo, tomemos a
expressão: “pano de linho”. Antes de ser modificado pelo qualificativo (adjetivo)
“linho” o vocábulo “pano” refere-se, genericamente, a um tipo de tecido ou fazenda.
O qualitativo “linho”, todavia, atribui ao pano uma especificidade que o classifica.
Obvi
Obviam
amen
ente
te o qu
qual
alit
itat
ativ
ivo
o “l
“linh
inho”
o” de
dese
sempe
mpenha
nha um
uma
a fu
funç
nção
ão im
impo
port
rtan
ante
te ne
ness
ssa
a
expressão.

Consideremos, também, a expressão “zona econômica especial”. Sem a qualificação


“eco
“econô
nômi
mica
ca”,
”, um
uma
a “z
“zon
ona
a es
espe
pecia
cial”
l” re
repr
pres
esent
enta
a ap
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enas
as um co
conc
nceit
eito
o de di
divi
visã
são
o
geográfica
geográfica.. Quando modificada
modificada pelo termo “econômica”
“econômica”,, a “zona especial” adquire
nova característica e significado, tornando-se, por exemplo, o componente básico
de suporte para a reforma da China efetuada por Deng Xiaoping.

Esta
Esta est
estrut
rutura
ura representa
representa um mod
modelo
elo bás
básico
ico na gra
gramát
mática
ica chinesa:
chinesa: a ESTRUTURA 

COLATERAL - 
-PRINCIPAL 
  RINCIPAL 
P

A estrutura de uma frase ou expressão na qual o elemento principal é modificado


pelo elemento colateral é amplamente disseminada na língua chinesa até o ponto
em que, sem o seu uso, não é possível a um chinês expressar-se adequadamente.

Na lí
língu
ngua
a ch
chine
inesa,
sa, se nu
numa
ma fr
fras
asee hou
houve
verr so
some
mente
nte su
sujei
jeito
tos,
s, se
sem
m qu
quais
aisqu
quer
er
modificadores, a sentença carecerá de clareza, devido à ausência de tais elementos
indicadores de gradação, localização e modo, e que permitem a compreensão de
forma concreta. Por exemplo, se os modificadores em frases tais como: “pessoa
boa”, “coisa boa”, “edifício alto”, e “bandeira vermelha”, forem removidos, os termos
centrais passarão a ser palavras neutras, sem qualquer significado ou referência
Assim, na ESTRUTURA  COLATERAL - 
-PRINCIPAL 
  RINCIPAL 
P o elemento “colateral”, tem a função de
determinar, qualitativamente, a sentença ou expressão. Em outras palavras
podemos perceber a palavra central (elemento principal ou o sujeito) representa a
entidade principal e o modificador (colateral ou qualitativo) serve como elemento
orientador.

Isto é, o elemento principal é o corpo do elemento colateral, enquanto que o


elemento colateral é a alma do elemento principal. Aceitando-se esta premissa
quanto à existência de um corpo, parece ser óbvio que a função da alma é de
importância decisiva.

O relacionamento da entidade principal implicando em uma subordinação ao


elemento orientador constitui o fundamento básico para a existência da ESTRUTURA 

  RINCIPAL .
COLATERAL - 
-PRINCIPAL 
P

Ao mesmo tempo, sendo um dos modelos de estrutura do sistema de símbolos que


corresponde ao mundo objetivo, parece nos sugerir algo normativo que vai além da
abrangência do idioma.

Seguindo-se o curso desse raciocínio, iremos observar que o relacionamento na


ESTRUTURA  COLATERAL - 
  RINCIPAL   tem
-PRINCIPAL 
P uma aplicação bastante ampla, não se limitando a
expressões do tipo “boa pessoa”, “coisa ruim”, “edifício alto” e “bandeira vermelha”,
ou, ainda, termos militares como navio-aeródromo, míssil de cruzeiro, aeronave
invisível, veículo blindado de transporte de pessoal, artilharia autopropulsada,
bombas de precisão, força de resposta rápida, guerra terra-ar e operações
conjuntas.

Este relacionamento existe, também, de inúmeras formas, fora da ambiência da


linguagem, numa miríade de maneiras. É por esta característica genérica que
podemos utilizar por empréstimo — e apenas como empréstimo e não como cópia
 — esta relação da retórica, e que de acordo com a nossa teoria, é encontrado,
somente, nos sistemas de linguagem dos seres humanos.

Não pretendemos justapor, arbitrariamente, a guerra às normas da retórica, mas


apenas tomar emprestado a expressão “colateral-principal” para enunciar o
colateral-principal existe de maneira amplamente significativa, tanto no movimento
quanto no desenvolvimento de muitas coisas e que, em tal relacionamento, o
elemento colateral, em vez do elemento principal, freqüentemente desempenha as
funções de elemento orientador.

Por hora, vamos descrever este relacionamento como sendo “a modificação do


elemento principal pelo elemento colateral”. (Obs: este não é o significado original
da ESTRUTURA  COLATERAL - 
  RINCIPAL ,
-PRINCIPAL 
P no contexto de sua utilização como um expediente de
retórica, mas sim, um significado ampliado que adotaremos).

Por exemplo, em um país, o povo representa a entidade principal, enquanto que o


governo representa o elemento orientador; numa força armada, os soldados e os
oficiais de nível subalterno e intermediário constituem a entidade principal e os
Quartéis-Generais de Comando representam o elemento orientador dessa força
armada; em uma explosão nuclear, o urânio, ou, o plutônio constitui a entidade
principal, ao passo que os meios diretamente relacionados com seu lançamento
representam o elemento orientador, para dar início ao ciclo de reações em cadeia;
numa crise financeira do tipo ocorrido no Sudeste Asiático, os países vitimados são
as entidades principais, enquanto que os especuladores financeiros representam o
elemento orientador, para o desencadeamento da crise.

Sem uma orientação proporcionada pelo governo, o povo passa a representar um


monte aleatório de areia; sem a orientação proporcionada pelo Comando, os
soldados passarão a constituir uma turba; sem os meios para bombardear o urânio
e o plutônio, estes se tornam, apenas, um monte de minérios; sem as ações dos
especuladores financeiros, criando distúrbios, os mecanismos reguladores das
nações vítimas deveriam capacitá-las a evitar a ocorrência de catástrofes
financeiras. Em tal tipo de relacionamento, se deixarmos de lado as interações
bidirecionais, torna-se evidente qual é o elemento colateral, qual é o elemento
principal, e quem modifica quem.

Queremos crer que ficou demonstrado, no decorrer desta apresentação, que a


ESTRUTURA  COLATERAL - 
-PRINCIPAL 
  RINCIPAL 
P é assimétrica. Assim sendo, o relacionamento entre o
componente colateral e o componente principal é um relacionamento
desequilibrado. Neste ponto, a situação assemelha-se àquela relativa a regra da
PROPORÇÃO  ÁUREA  onde 0,618 e 1 também formam uma estrutura assimétrica e um
relacionamento desequilibrado.
Nós estamos plenamente justificados em considerar esta relação como uma nova
maneira de propor a relação colateral-principal, visto que, na ESTRUTURA  COLATERAL - 

PRINCIPAL , aquilo que é importante é o elemento colateral e não o elemento principal.
E da mesma forma, isto também é verdadeiro na regra da PROPORÇÃO  ÁUREA , onde o
que é importante é o 0,618 e não o 1. Isto representa a característica comum às
duas relações.

Leis naturais comprovam que duas coisas com características semelhantes devem
obedecer a regras semelhantes. Portanto, se existir alguma regra comum,
governando a regra da PROPORÇÃO  ÁUREA  e a regra da ESTRUTURA  COLATERAL - 
  RINCIPAL ,
-PRINCIPAL 
P ela
poderia ser enunciada como:

0,618 = PREDOMINÂNCIA PROGRESSIVA DO ELEMENTO COLATERAL .

O melhor exemplo para ilustrar esta proposição está, talvez, na história da corrida
de cavalos conforme descrita por Tien Chi0. Em uma situação de inferioridade
quanto a um poderio global, o grande estrategista militar Sun Pin realizou a sua
 jogada clássica, que representou um exemplo adequado da sabedoria chinesa no
tocante a jogos.

Numa competição de corrida de cavalos, Sun Pin escalou para o 1º páreo pior
cavalo de Tien Chi contra o melhor cavalo do Rei de Qi. Depois de inevitavelmente
ter perdido esse páreo, ele colocou, nos dois páreos seguintes, os seus melhores e
médios cavalos para vencer os médios e piores cavalos de seu adversário obtendo
dessa maneira uma dupla vitória, obtendo, assim, a vantagem necessária para a
vitória geral.

Este método em que é aplicada a estratégia de perder uma disputa e, em seguida,


vencer duas disputas (o elemento orientador) para vencer a disputa de forma geral
(o elemento principal), pode ser visualizada como uma representação típica da
ESTRUTURA  COLATERAL - 
  RINCIPAL .
-PRINCIPAL 
P

O resultado de vencer dois dos três páreos, também está totalmente de acordo com
a PROPORÇÃO  ÁUREA , isto é, 2:3. Aqui podemos constatar a convergência perfeita e a
unicidade das duas regras: a regra da PROPORÇÃO  ÁUREA   = a regra da ESTRUTURA  COLATERAL - 

PRINCIPAL .
Podemos ter certeza de que, naquela época, Kao Ying não poderia ter conhecido
Pitágoras e a sua teoria da PROPORÇÃO  ÁUREA , um fato que só viria a ocorrer 200 anos
mais tarde. Além disso, mesmo que Kao Ying tivesse conhecimento dessa teoria,
não teria sido possível determinar com precisão, no decorrer de uma batalha, onde
se situava o ponto, que corresponderia á proporção de 0,618 em relação à extensão
total da batalha, cuja duração não seria possível prever. Por instinto, acreditamos
que ele tenha conseguido visualizar o momento do contra-ataque, através de um
lampejo de sua inteligência. Esta é uma dádiva comum de todos os militares
talentosos.

Aníbal, na batalha de Cannae, raciocinou da mesma maneira que Kao Ying.

[N.T.] A Batalha de Cannae, travada em agosto de 216 AC foi uma batalha decisiva da Segunda Guerra Púnica, e que
se tornou um clássico pela tática empregada por Aníbal, paras derrotar um exército romano amplamente superior em
termos numéricos.

Da mesma forma que Kao Ying, ele entendeu o segredo da seqüência de declínio
do poder de ataque das forças inimigas. Assim sendo, de maneira inusitada, ele
posicionou seu componente mais fraco, composto pelas infantarias espanhola e
gaulesa, no centro de sua vanguarda, onde, normalmente, deveriam estar seus
elementos mais poderosos. Com isso, suas forças mais fracas deveriam enfrentar
as fortes forças romanas. Na medida em que tal enfrentamento proporcionou uma
superioridade romana, ocorreu um recuo do centro da frente de Aníbal,
estabelecendo-se uma nova frente de combate com um formato convexo.

Não importa se essa curvatura tenha sido criada intencionalmente por Aníbal ou
que tenha surgido como conseqüência do engajamento. Na realidade, ela se
transformou em um gigantesco amortecedor que absorveu o poder de ataque das
legiões romanas. Na medida em que esse poder foi sendo gradualmente
enfraquecido, devido à profundidade do corpo central, o ímpeto do ataque chegou
ao seu ponto mais baixo, quando a retaguarda dos romanos estavam se
aproximando das extremidades da frente cartaginesa na forma convexa. Deste
ponto em diante, as forças cartaginesas eram inferiores em termos globais, mas

0
 Ver “Kao Ying Analysys of War” . Mais tarde, quando participando da reunião de
Chi e Chu na localidade de Ke, Kao Ying capturou o Duque Heng de Chi usando
uma faca e deste modo obrigou que Chi devolvesse as terras de Chu que haviam
sido ocupadas. Ele foi um bom general demonstrando ao mesmo tempo cora
superiores em termos de cavalaria, que posicionadas nos flancos, rapidamente
lançaram seus ataques envolvendo completamente as forças romanas, e desta
forma, transformando Cannae em um campo de extermínio para 70.000 homens.

As duas batalhas (Ch´ang-Sha e Cannae) foram diferentes, mas o seu


desenvolvimento foi idêntico. Em ambas, a estratégia dominante foi de minimizar
os efeitos dos ataques frontais do inimigo e enfraquecer a impetuosidade
adversária. Foi adotado um enfoque operacional compreendendo o óbvio desvio de
um engajamento frontal com o inimigo, e a seleção apropriada do ponto de declínio
do poder ofensivo inimigo, como sendo o momento ideal para o início do contra-
ataque pelas forças principais, até então resguardadas. O método operacional
utilizado, obviamente, obedeceu aos mandamentos da REGRA  DA  PROPORÇÃO  ÁUREA  e da
REGRA  COLATERAL - 
  RINCIPAL .
-PRINCIPAL 
P Caso os dois exemplos apresentados não sejam entendidos
como uma mera coincidência ou um fenômeno isolado, estaremos, então,
percebendo o brilho da luz que representa a regra da PROPORÇÃO  ÁUREA , iluminando
uma grande parte da História da Guerra. E esta condição tornou-se, talvez, mais
evidente no período da guerra moderna.

Durante a Segunda Guerra Mundial toda a operação alemã de ataque à França foi
baseada na essência das duas regras que discutimos.

Em 1937-1938 Manstein era o primeiro Subchefe do Estado-Maior do Exército Alemão. Em decorrência de conflitos
internos do Alto Comando e assumiu o comando da 18ª Divisão. Em 1939, o Alto Comando Alemão publicou um plano
operacional no tocante à frente ocidental denominado Plano de Operações “Amarelo”. Tal plano indicava a intenção de
realizar ataques frontais a serem executados por forças poderosas no flanco direito de modo a derrotar as forças
franco-britânicas que se supunha estarem concentradas na Bélgica, enquanto que usando forças de menor poder para
cobrir as demais frentes. Obviamente este plano era uma versão modificada do plano Schliffen de 1914. Manstein,
então Chefe do Estado-Maior do Grupo de Exército “A” formulou o seu próprio plano de operações para aquele Grupo
de Exército. Submeteu, repetidamente, tal plano ao Alto Comando quer sob a forma de um memorando, ou, como a
minuta de um Plano de Operações. Sua proposição, todavia, foi rejeitada seguidamente pelo Alto Comando.
Desgostoso do proceder de Manstein o Alto Comando o transferiu para as funções de Comandante do 38º Exército.
Manstein conseguiu transmitir a Hitler suas idéias usando da oportunidade que teve em um encontro pessoal com o
líder nazista. Hitler, que era um leigo no tocante a assuntos militares possuía, todavia, uma elevada capacidade de
percepção. O ponto mais importante daquele plano pessoal, chamado Plano Manstein por Liddell Hart, depois da
guerra, era o de desencadear um ataque de surpresa através das florestas das Ardenas, executando ataques
concentrados no flanco esquerdo e utilizando as forças blindadas também concentradas. Ver Manstein “Lost Victory”,
The Academy of Military Science of the Chinese People’s Liberation Army, 1980. Guderian era o Comandante do 19º
Exército Blindado e o melhor agente implementador do Plano Manstein; “Guderian-Blitzkrieg Heroes”, Zhanshi Press,
1981.

Decisões que foram tomadas, como por exemplo: a não subordinação dos tanques à
infantaria, transformando-os na força principal de ataque; a utilização da
“blitzkrieg” com principal doutrina operacional, descartando as práticas da
Primeira Guerra Mundial; e a escolha das florestas das Ardenas como o eixo
também aos velhos generais do alto comando alemão, e poderiam ser consideradas
não-ortodoxas, dotadas de uma nítida característica de desvio para o elemento
colateral.

Foi esse desvio que deu origem a uma transformação radical de pensamento de
todos os militares alemães, e fez também, com que o sonho de Schlieffen de
“lançar-se sobre Canal da Mancha” se transformasse em um pesadelo para os
ingleses em Dunquerque. Antes daquele tempo, quem poderia ter imaginado que a
documentação deste planejamento milagroso seria produzida por dois oficiais
relativamente modernos0 na hierarquia militar alemã, Manstein e Guderian?

Durante a mesma Guerra Mundial ocorreu também o ataque japonês a Pearl


Harbor, o qual se assemelha à operação de ataque à França. Uma operação que
demonstra uma tendência colateral-principal muito significativa.

Depois que assumiu o Comando da Esquadra Conjunta, Yamamoto rejeitou a idéia do Estado-Maior da Marinha
Japonesa quanto a, inicialmente, atacar as Filipinas. Segundo ele seria necessário realizar inicialmente um ataque de
surpresa à Esquadra norte-americana no Pacífico de modo a imobilizá-la. No dia 7 de Dezembro de 1941, sob o
comando do Almirante Nagumo, seis navios-aeródromos com 423 aviões embarcados atacaram Pearl Harbor de
acordo com o plano de Yamamoto, afundando o encouraçado “Arizona” e três outros encouraçados, e destruindo 188
aviões causando assim grandes perdas para a Marinha norte-americana. Ver Liddell Hart, “História da Segunda Guerra
Mundial”, pp 276-335.

Isoroko Yamamoto utilizou navios-aeródromos da mesma maneira que Guderian


utilizou seus tanques. Conceitualmente, Yamamoto ainda considerava os
encouraçados como o elemento principal para as batalhas navais decisivas do
futuro, mas, prudentemente e de maneira correta escolheu os navios-aeródromos,
com os seus aviões embarcados, como as armas principais para as operações
contra a Marinha norte-americana. O mais interessante é que, para atacar os
Estados Unidos, ele não idealizou ataques frontais ao longo do litoral norte-
americano no Pacífico, considerando, de forma prioritária, o raio de ação de sua
força combinada para o ataque, isto é, o ponto ideal para que pudesse aplicar o seu
golpe. Deste modo ele selecionou como o alvo para o ataque as ilhas havaianas,
que além de terem importância crítica para o controle de todo o Oceano Pacífico,
não eram consideradas, pelos norte-americanos, como o alvo inicial japonês 0. Os

0
 [N.T.] Conotação usada no âmbito militar brasileiro para designar oficiais com
pouca antiguidade, quer na sua patente (no caso de recém promovido), quer dentro
do quadro de Oficiais a que pertencem, em função de sua patente ser relativamente
ou outras áreas da ciência e da tecnologia. Assim, acreditamos uma revolução na
tecnológica militar não pode substituir a revolução na arte dos assuntos militares.

Não rejeitamos e nem omitimos o significado da análise matemática, especialmente numa época do emprego amplo
dos computadores, inclusive em nossa nação onde existe uma tradição no sentido de propor a incerteza e uma
aversão quanto a precisão. Em seu livro “Several Methods of Quantitative Analysis of International Politics and
Military Issues”, Li Hongzhi menciona o emprego do “Método Beiyete” por Nigula Shiweite, para analisar a Guerra do
Vietnã, o conflito sino-soviético e as guerras Árabe-Israelenses. Em 1993, Li Hongzhi e outros analistas apresentaram
previsões acuradas quanto à guerra Bósnia – Herzegovina, usando esse método. Ver Guoji Zhengzhi e outros na
publicação da Military Science Press.

Deve-se observasr, também, que a TEORIA  C OLATERAL 


OLATERAL - 
  RINCIPAL   é
-PRINCIPAL 
P semelhante à teoria das
ações “ortodoxas-heterodoxas” proposta pelos antigos estrategistas chineses, mas
ainda assim elas não são inteiramente idênticas. Os antigos estrategistas
propunham o emprego das ações ortodoxas e das ações heterodoxas em momentos
diferentes.

De acordo com Sun Zi: “no combate é necessário utilizar ações ortodoxas para
adquirir força e utilizar ações heterodoxas para alcançar a vitória. O combate
implica em apenas ações ortodoxas e heterodoxas. Existe uma troca interminável
no emprego das ações ortodoxas e heterodoxas”.

A citação de Sun Zi é do tema “Momentum” no livro de Sun Tzu “Art of War”. O princípio do “heterodoxo” representa
um conceito importante utilizado pelos antigos estrategistas militares no tocante aos métodos da guerra. A execução
imprevista de manobras que não são esperadas pelo inimigo representa o método heterodoxo. Enfrentar o inimigo no
campo de batalha de maneira clara representa o método ortodoxo. O Imperador T’ai Tsung de Tang estava
perfeitamente familiarizado com o “princípio ortodoxo-heterodoxo”. O engajamento de Weiqing é um bom exemplo
quanto a esse ponto. A publicação “A dialogue between Emperor T’ai Tsung of Tang and Li Weigong” registrou as
opiniões de Li Shimin e Li Jong quanto ao “princípio ortodoxo-heterodoxo”.

Diferentemente do princípio ortodoxo-heterodoxo, na C OLATERAL 


OLATERAL - 
  RINCIPAL  o
-PRINCIPAL 
P TEORIA 

elemento colateral e o elemento principal não representam dois métodos que


possam ser aplicados isoladamente, mas ambos representam uma expressão de
uma lei objetiva.

A principal distinção que poderia apresentar quanto ao ortodoxo-heterodoxo e o


principal colateral é a seguinte: é certo que na História da Guerra os exemplos das
vitórias com o emprego de ações heterodoxas foram excepcionais, devido a sua
excelente execução, mas nem todas as vitórias foram conseguidas através a
aplicação de ações heterodoxas. Existem também muitos exemplos de vitórias que

humano para impor morte e destruição.


foram conseguidas por ações ortodoxas. No caso da C OLATERAL 
OLATERAL - 
REGRA    RINCIPAL  a
-PRINCIPAL 
P

consideração é diferente. Através uma analise correta, é possível perceber os


vestígios das regras da vitória em cada exemplo de vitória tenha ela sido obtida
quer através ações ortodoxas, ou, quer ações heterodoxas; isto significa que a
vitória foi obtida como uma conseqüência da aplicação DA  REGRA  C OLATERAL 
OLATERAL - 
-PRINCIPAL 
  RINCIPAL 
P

usando o modelo ortodoxo, ou, heterodoxo.

A despeito de nossos melhores esforços para formular a REGRA  C OLATERAL 


OLATERAL - 
  RINCIPAL  ou
-PRINCIPAL 
P

as regras de da vitória, só nos é possível prosseguir em termos da aplicação da


regra de uma maneira imprecisa. Ser impreciso, algumas vezes, representa o
melhor processo para que se obtenha clareza. Julgamos, de uma maneira geral,
que a imprecisão tem a possibilidade de ser entendida. Este é o procedimento
oriental de raciocínio; mas, de uma maneira inusitada, ele defrontou-se com a
sabedoria ocidental da PROPORÇÃO  ÁUREA  do número 0,618.

Como resultado, a lógica, o raciocínio e a precisão dos Ocidentais e o instinto, o


entendimento e a obscuridade Oriental criaram uma base de raciocínio gerando
então as regras da vitória que discutimos neste Capitulo. Elas refulgem com brilho,
possuem quer o mistério do Oriente como a inflexibilidade do Ocidente, como se as
cimalhas do Palácio de Taihe fossem instaladas em uma coluna do Templo de
Paternon, de forma majestosa e vibrante.
CAP. 7 - DEZ MIL MÉTODOS COMBINADOS EM
UM ÚNICO
COMBINAÇÕES QUE TRANSCENDEM LIMITES

“As guerras atuais irão afetar o preço da gasolina nos 


 postos de abastecimento, o preço dos alimentos nos 
supermercados e o valor das ações nas bolsas de valores.
Elas também irão afetar o equilíbrio ecológico e irão 
intrometer-se em todas as nossas residências por 
intermédio da tela da televisão”.
Alvin Toffler 

O entendimento das regras para a conquista da vitória (o tema do capítulo anterior)


certamente não significa que já equacionamos a sua obtenção, do mesmo modo que
o conhecimento das técnicas da corrida de longas distâncias não significa que
seremos os vencedores de uma maratona.

O entendimento das regras através das quais a vitória é alcançada pode


aprofundar o conhecimento humano quanto às leis da guerra, e aperfeiçoar os
níveis de aplicação das artes militares. No campo de batalha, no entanto, a vitória
não será daquele que tiver um melhor conhecimento das regras da vitória e, sim,
daquele que realmente entender a essência das regras da vitória.

Em uma possível guerra do futuro, as regras da vitória irão estabelecer


severas exigências para o vencedor. Elas não irão somente, como no passado, exigir
que sejam perfeitamente bem conhecidas as engenhosas maneiras para disputar-se
a vitória no campo de batalha; elas irão, também, impor exigências, em relação às
quais a maioria dos combatentes estará inadequadamente preparada para atender
ou, então, terá a impressão de estar envolta na escuridão.

A guerra será travada e vencida em uma outra guerra, além do campo de batalha; a
luta pela vitória irá ocorrer em um campo de batalha além do campo de batalha.

No contexto deste conceito especifico os militares atuais como Powell,


Schwartzkopf e até mesmo ou, Schalikashvili, não podem ser considerados como
“modernos”. Ao contrário, eles parecem mais um grupo de militares tradicionais.
A existência de contornos é um pré-requisito para estabelecer a diferença entre
dois objetos, e num mundo em que tudo é interdependente o significado do
contorno é meramente relativo. A expressão “exceder os limites ” significa ir além do
que é denominado ou entendido por — contorno.

Não importa se estamos tratando de contornos físicos, espirituais ou técnicos, ou


se eles recebem a denominação de “limites”, “limites definidos”, “restrições”,
“fronteiras”, “regras”, “leis”, “limites máximos” ou, até mesmo “tabus”.

Em termos da guerra estamos nos referindo ao que constitui a fronteira entre o


campo de batalha e o que não é o campo de batalha; entre o que é uma arma e o
que não é uma arma; entre um militar e o não-militar; entre o Estado e o não-
estatal, ou, supra-estatal. Possivelmente, incluirá, também, outros tipos de
fronteiras tais como as tecnológicas, teóricas, psicológicas, éticas, tradicionais,
costumeiras, e assim por diante. Em resumo, estamos nos referindo a todos os
contornos que podem restringir a guerra a determinados limites.

O verdadeiro significado do conceito de exceder limites que estamos propondo é,


em primeiro lugar, transcender a ideologia. Apenas, secundariamente, esse
conceito significa que ao praticar ações, devamos ultrapassar limites e fronteiras,
quando necessário e possível, ou, selecionar os meios mais adequados, mesmo que
incluam aqueles considerados radicais, o que não significa que devamos selecionar
os meios radicais a qualquer hora ou em qualquer situação.

Quando falamos de militares, nesta era tecnologicamente integrada, passam a


surgir muitos aspectos que devem ser considerados, e uma abundância de
recursos utilizáveis (materiais e não-materiais), de modo que não importa com
quais limites ou fronteiras os militares defrontar-se-ão; sempre irão existir meios
de romper essas fronteiras, e em maior número do que na ambiência que deu
origem a Machiavel. Assim, entre as exigências para os militares modernos, no que
se refere a transcender o seu modo de pensar, inclui-se, também, uma maior
consistência de raciocínio.

Mencionamos em páginas anteriores que as combinações eram coquetéis nas taças


dos grandes mestres da guerra (Alexandre o Grande e os reis militares da dinastia
Chu nunca ouviram falar de coquetéis, mas eles reconheciam o valor do emprego
combinado de meios).

Nas guerras da Antigüidade, todavia, a combinação de armas, meios, formações


ambiência militar. Este entendimento limitado do conceito das combinações,
logicamente, é inadequado nos dias atuais.

Aquele que pretende vencer as guerras atuais ou aquelas do futuro, quer dizer, ter
a vitória firmemente segura em suas mãos, deverá “combinar” todos os recursos de
guerra à sua disposição e utilizá-los como meios para a condução da guerra. E até
mesmo isso não será suficiente. Ele terá de combinar aqueles recursos de acordo
com as exigências das regras da vitória. E ainda assim, tal condição não será
suficiente, porquanto as regras da vitória não podem garantir que a vitória irá “cair 
como uma fruta madura na cesta de colheita 
colheita ”. Ainda será necessária uma mão hábil 
para colhê-la da árvore.

Esta mão hábil representa o conceito de “ ir além dos limites ”, ultrapassando todos
os contornos e fronteiras, em consonância com as regras da vitória quando
travando uma guerra com o auxílio das combinações. Assim, obtivemos um
conceito completo, um método de guerra totalmente novo e que se intitula “guerra 
0
de combinação modificada para exceder os limites ” ou “G UERRA EM 
UERRA EM  S UPRACOMBINAÇÃO 
UPRACOMBINAÇÃO ” .

COMBINAÇÕES SUPRANACIONAIS

COMBINAÇÕES DE ORGANIZAÇÕES NACIONAIS, INTERNACIONAIS E NÃO-


ESTATAIS.

Parece que nos defrontamos com um outro paradoxo: em termos teóricos, “ ir 
além dos li mites ” deveria significar a inexistência de restrições de qualquer tipo, ou
seja, ultrapassar tudo. Mas na verdade, a ultrapassagem ilimitada de limites é
impossível de ser conseguida. Qualquer ultrapassagem de limites, somente poderá
ser efetivada atendendo a determinadas restrições, ou seja, “ir além dos limites ”
não significa “nenhum limite” e sim a ampliação daquilo que era “limitado”.

Em outras palavras, isto significa ir além das fronteiras intrínsecas de uma


determinada ambiência ou, orientação, e assim combinar oportunidades e meios
criando um maior número de ambiências e orientações, visando alcançar o objetivo
pretendido, e esta é a nossa definição de “ GUERRA  DE  COMBINAÇÃO  MODIFICADA  PARA  EXCEDER  OS 
LIMITES ” ou “G UERRA 
UERRA EM  S UPRACOMBINAÇÃO 
UPRACOMBINAÇÃO ”.

0
[N.T.] O termo “supracombinação”, inexistente no vernáculo, foi introduzido pelo
tradut de do rd taçã dada lo to iti
Constituindo-se num método de guerra em que “ir além dos limites ” representa sua
característica principal, o seu princípio básico consiste na reunião e combinação do
maior número de meios para solucionar um problema, constituindo uma ambiência
mais ampla que a do problema em si. Por exemplo, quando a segurança nacional é
ameaçada, a resposta não consiste em, simplesmente, selecionar meios para
enfrentar militarmente a outra nação, mas em vez disso, trata-se de dissipar a crise
através o emprego de “ C OMBINAÇÕES 
OMBINAÇÕES  S UPRANACIONAIS 
UPRANACIONAIS ”. 

Constatamos através da história que o Estado-nação é o mais alto patamar da idéia


de segurança. Para o povo chinês, o Estado-nação até mesmo se iguala ao conceito
magno de “tudo o que existe sob o firmamento”. Atualmente, o significado da
palavra “país” em termos de nacionalidade ou de território, nada mais é do que um
grande ou pequeno elo na sociedade humana da “aldeia global”.

Os países modernos são cada vez mais afetados pelas organizações regionais ou
globais tais como a Comunidade Européia ([sic] agora União Européia), a ASEAN,
OPEP, APEC, o FMI, o Banco Mundial, a OMC e a maior de todas elas, as Nações
Unidas.

Além dessas, existe um grande número de organizações multinacionais e não-


estatais de todos os modelos e tamanhos, tais como as corporações multinacionais,
as associações de comércio, as organizações para a paz e preservação do meio
ambiente, o Comitê Olímpico Internacional, as organizações religiosas, as
organizações terroristas, pequenos grupos de hackers, e assim por diante,
projetando-se da direita e da esquerda, sobre a singradura seguida por um país.
Estas organizações multinacionais, não-estatais e supranacionais representam um
ativo e emergente sistema de poder global.

Em seu livro “Powershift: Knowledge, Wealth, and Violence at the at the Edge of the
21st Century” Alvin Toffler dedica uma pequena seção à discussão dos “novos tipos
de organizações de âmbito mundial:”, citando: “Nós estamos vendo agora uma
mudança de poder extremamente significativa, especificamente, de países isolados
ou blocos de países, para lutadores de nível ‘mundial’”. Ao referir-se a lutadores de
nível mundial ele quer dizer corporações não-estatais, grandes ou pequenas, desde
o âmbito da Comunidade Européia até às corporações multinacionais. De acordo
com estatísticas constantes do Relatório de Investimentos das Nações Unidas de
1997, o mundo, então, tinha 44.000 corporações filiadas a multinacionais, e
280.000 companhias subsidiárias ou subordinadas a grandes empresas. Estas
de suas vidas, as lições que lhes foram ensinadas visavam capacitá-los a empregar
esses métodos e a lutar bem, qualquer que fosse o nível em que estivessem.

Mas, para os militares do século 21, não será suficiente a mera colocação em
prátic
prática
a dos mét
método
odoss pre
previs
vistos
tos nos qua
quatro
tro nív
níveis
eis.. Ele
Eless dev
deverão
erão des
descobr
cobrir
ir com
como
o
romper esses níveis de modo a vencer as guerras pela combinação de todos os
métodos, desde as ações supranacionais até o combate nas batalhas específicas.
Esta é, certamente, uma missão que poderá ser cumprida.

Colocando de maneira simples, no processo de ajuste da diretriz de guerra, da


estratégia, da arte operacional, e das táticas, com os correspondentes níveis, o
princ
princípio da “S UPRACOMBINAÇÃO 
ípio UPRACOMBINAÇÃO  N ÍVEIS 
DE ÍVEIS ” nad
nada mais
mais é do que
que uma que
quest
stão
ão de
atribuições intercambiáveis e facilmente transponíveis.

Como exemplo, poderíamos


poderíamos citar o uso de um método estratégico,
estratégico, que se constitui
num tipo de ação não-militar, integrado ao cumprimento de uma ação tática ou,
usar uma ação tática para a consecução de um objetivo ao nível de uma diretriz da
guerra.

Isto decorre do fato de que a tendência na evolução da prática da guerra evidencia,


de forma cada vez mais clara, a indicação de que: definitivamente não é mais
possível que os problemas de um determinado nível só possam ser solucionados
pelos meios disponíveis naquele nível.

Não importa
importa se iremos utilizar
utilizar apenas
apenas uma fração
fração dos recursos
recursos disponíveis ou
usar um machado para matar uma galinha; o método empregado será adequado,
desde que funcione corretamente.

Bin Laden usou um método tático quando utilizou apenas dois veículos com cargas
explosivas e, com isso, estabeleceu uma ameaça para os interesses nacionais dos
Esta
Estado
doss Un
Unid
idos
os a nív
nível
el es
estr
trat
atég
égic
ico;
o; ao pa
pass
sso
o qu
que,
e, pa
para
ra os no
nort
rte-a
e-ame
meri
rica
cano
noss
poderem obter a consecução do seu objetivo estratégico, qual seja a proteção da
sua própria segurança, teriam de executar uma retaliação a nível tático contra bin
Laden.

Um outro exemplo é de que nas guerras do passado


passado o menor elemento de combate
representava a combinação de um homem com uma máquina e a sua utilidade,
normalmen
norm te, não iria além do nível de uma batalha. Na guerra “além dos limites ”,
almente, ”,
ao contrário,
contrário, a combinação
combinação homem-máqu
homem-máquina
ina realiza funções
funções ofensivas múltiplas
múltiplas
equipado com um modem pode causar danos e perdas a um inimigo quase iguais
àquelas que seriam provocadas pela guerra. Por dispor do ímpeto e a discrição do
combate
combate “tran
“transnível”
snível” este métod
método
o de comba
combate
te individ
individual,
ual, muito faci
facilmente,
lmente, produz
resultados positivos nos níveis estratégicos e até mesmo no nível da diretriz de
guerra. Esta é a substância e o significado da “ S UPRACOMBINAÇÃO   N ÍVEIS 
UPRACOMBINAÇÃO  DE  N ÍVEIS ”.
”.

Na gu
guer
erra
ra mi
mili
lita
tarr e na gue
guerr
rra
a nã
não-m
o-mil
ilit
itar
ar qu
quee sã
são
o bá
bási
sica
ca e re
resp
spec
ectiv
tivam
amen
ente
te
naci
nacion
onai
aiss e su
supr
pran
anac
acio
iona
nais
is,, nã
não
o ex
exis
iste
tem
m am
ambi
biên
ênci
cias
as qu
quee nã
não
o po
poss
ssam
am se
serr
ultrapassadas, não existem meios que não possam ser usados na guerra; como
também não existem campos de ação e métodos que não possam ser combinados.

A aplicabilidade das ações de guerra em relação à tendência da globalização é


demonstrada pelo qualificativo “além ”,
”, e esta palavra é suficiente para identificar o
emprego de um método que se aplique a dez mil métodos, assim como, dez mil
métodos combinados em um único.

Deve ser ressaltado, novamente, que a “Guerra em Supracombinação 


Supracombinação ”, ”, que vai além
dos limites, nada mais é do que uma maneira de pensar, e a partir desta condição é
que ela pode se transformar em um método.
CAP. 8 - PRINCÍPIOS ESSENCIAIS

“Os princípios
princípios representam
representam um códig
códigoo de condut
conduta,
a, mas 
não têm um valor absoluto”.
George Kennan 

Sun Tzu é o personagem na história da guerra a quem é atribuído o uso, pela


primeira vez, de princípios para regulamentar os métodos de combate. Alguns de
seus princípios como, por exemplo, “conheça o inimigo melhor do que a si mesmo e
em cem batalhas você nunca será derrotado”; “ataque onde o inimigo não está
preparado, tome-o de surpresa”; e “evite o forte e ataque o fraco” constituem, ainda,
uma profissão de fé para os modernos estrategistas. Porém, no Ocidente, 2400
anoss ma
ano mais
is tar
tarde,
de, Napoleão
Napoleão iri
iria
a rev
revelar
elar o seu verdadei
verdadeiro
ro des
desejo
ejo aos alunos
alunos da
Academia Militar de Saint-Cyr, desejo este que, um dia, passou a ornar, o portal
princ
ncip
ipa
al daqu
queela Academia, qual seja
ja:: “ Escr
Es
E screv
ever
er um livr
livro,
o, de
desc
scre
reve
vend
ndo 

detallhada
deta hadame
ment
nte
damente os Prin
Princí
cípi
pios
os da Guer
Guerra
ra,, e torn
torná-
á-lo
lo disp
dispon
onív
sponíível
el para
onível
vel para todo
todoss os 
militares ”.
”.

Infelizmente, enquanto ele combatia e vencia guerras não teve tempo disponível
para escrever; e depois que foi derrotado, não teve mais disposição para a tarefa.
Não obstante,
obstante, para um general que obteve cerca de 100 vitór
vitórias
ias durante sua vida,
isto não deveria representar
representar um fato a se lamentar.
lamentar. Porém, tendo sido um homem
notá
notáve
vel,
l, fo
foii su
sufi
fici
cien
ente
te que el
elee de
deix
ixa
ass
ssee um br
bril
ilha
hant
ntee le
lega
gado
do de vit
itó
óri
rias
as,,
possibilitando que a posteridade examinasse, detalhadamente, seu caminho para a
vitória.

E as
assi
sim
m fo
foii qu
quee 10
100
0 an
anos
os ma
mais
is ta
tard
rde,
e, te
tend
ndo
o co
como
mo fu
fund
ndam
amen
ento
to as gu
guer
erra
rass
coma
comand
ndad
adas
as po
porr es
este
te an
anti
tigo
go in
inim
imigo
igo,, qu
quee ge
gera
rava
va te
temo
morr no po
povo
vo ing
inglê
lês,
s, qu
quer
er
dura
durant
ntee su
sua
a vi
vida
da,, co
como
mo ta
tamb
mbém
ém ap
após
ós o se
seu
u fa
falec
lecim
iment
ento,
o, um gen
gener
eral
al ing
inglês
lês
chamado J. F. C. Fuller criou cinco princípios para a condução da guerra 0. Todos

0
 Os cinco princípios que Fuller deduziu a partir das Guerras Napoleônicas são: ataque,
manobra, surpresa, concentração e apoio. Em paralelo a isso, Fuller, adotando os pontos
de vista de Clausewitz, também deduziu sete princípios, semelhantes aos referentes às
Guerr
Gue rra
a Nap
Napole
oleôni
ônicas
cas,, qua
quais
is sej
sejam:
am: man
manute
utenç
nção
ão do obj
objeti
etivo;
vo; se
segur
guranç
ança
a da açã
ação;
o;
mobilidade da ação; exaurir a capacidade ofensiva do inimigo; concentrar forças; e a
surpresa. Estes princípios tornaram-se o fundamento dos modernos princípios militares.
os princípios de guerra moderna, adotados no Ocidente, são descendentes desta
proposição de Fuller. Ainda que, mais tarde, os regulamentos militares de algumas
nações
nações,, bem com
como
o div
divers
ersos
os ana
analis
listas
tas mil
milita
itares
res tenh
tenham
am pro
propos
posto
to ist
isto
o ou aqu
aquilo
ilo
como princípios de guerra, tais propostas diferem muito pouco daqueles princípios
que foram enunciados por Fuller0. Esta
Esta perenida
perenidade
de conceitua
conceituall ocorre,
ocorre, porque
porque
desde o início das Guerras Napoleônicas, até o período imediatamente anterior à
Guerra do Golfo, salvo o contínuo aumento na letalidade e poder de destruição dos
armamentos, não existiram motivos para uma alteração significativa na natureza
da guerra em si.

Atualmente, devido ao que ocorreu durante e depois da Guerra do Golfo, a situação


mudou. O advento das armas orientadas por sistemas de precisão, das armas não-
letais e das armas não-militares, afastou a guerra de sua trajetória enlouquecida
no sentido de uma maior letalidade
letalidade e capa
capacidade
cidade destrutiva,
destrutiva, e provo
provocara
caram
m o início
da primeira mudança de rumo desde os primórdios da história, estabelecendo uma
nova trajetória para a guerra no século XXI, gerando princípios, em relação aos
quais os militares profissionais não estão familiarizados.

Nenh
Nenhum
um pr
prin
incí
cípi
pio
o po
pode
de apo
poia
iar-
r-se
se em um
uma
a pl
plat
ataf
afor
orma
ma fr
frá
ági
gil,
l, pa
pass
ssív
ível
el de
desmor
desmorona
onar,
r, e est
estee pre
pressu
ssupost
posto
o é ain
ainda
da mai
maiss ver
verdad
dadeiro
eiro,, qua
quando
ndo se tra
trata
ta de
princípios de guerra. Os princípios de guerra, independentemente de qual pensador
milita
militarr os elab
elabora
oraram
ram,, ou de que reg
regulam
ulament
entos
os mil
milita
itares
res eles for
foram
am ext
extraí
raídos
dos,,
representam, sem dúvida, o produto de repetidas têmperas realizadas na fornalha e
na bigorna da guerra.

Se nã
não
o ti
tives
vesse
sem
m oc
ocor
orri
rido
do as gu
guer
erra
rass no Pe
Perí
ríodo
odo da Pr
Prim
imav
aver
era
a – Ou
Outo
tono,
no, nã
não
o
existiriam os princípios de Sun Tzu. Se as Guerras Napoleônicas não tivessem
ocorrido, não existiriam os princípios de Fuller. Da mesma forma,
forma, se não tivessem
ocorrido grandes e pequenas guerras militares, quase-militares e até mesmo não-
militares em todas as regiões do mundo, antes e depois da Guerra do Golfo, não
exis
existi
tiri
riam
am pr
prop
opos
osta
tass de no
novo
voss co
conc
ncei
eito
toss co
como
mo,, po
porr ex
exem
emplo, as “operações 
plo,
onidimensionais ” do
doss no
nort
rte-
e-am
amer
eric
ican
anos
os e a no
noss
ssa
a pr
prop
opos
osição de “Guerra
ição Guerra
Guerr
Gu a em 
erra
Combinação Além dos Limites ”.
”. Logicamente,
Logicamente, os princí
princípios
pios de guerr
guerra
a que decorrem
desses conceitos também estariam fora de questão.

0
Um exem
exemplo
plo são os nove princípios
princípios militares
militares básic
básicos
os do Exér
Exército
cito norte-americ
norte-americano:
ano:
objetivo; ofensiva; concentração; economia de forças; mobilidade; segurança; surpresa;
Ainda
Ainda que
que lament
lamentem
emos
os o fato
fato de que a te
teoria das “operações onidimensionais ”
oria
tenha
tenha mo
morr
rrid
ido
o no se
seu
u na
nasc
sced
edour
ouro,
o, es
esta
tamo
moss de
decid
cidid
idos
os no pr
prop
opós
ósito
ito de qu
quee a
“Guerra em Combinação Além dos Limites ” não irá permanecer restrita, ao nível de
uma especulação teórica. Ao contrário, desejamos que ela seja incorporada aos
métodos de combate e possua uma aplicação prática.

Ainda que o objetivo da ideologia “além dos limites ” que propomos, seja o de romper
com
com to
toda
dass as re
rest
stri
riçõ
ções
es,, ai
aind
nda
a as
assi
sim,
m, ex
exis
iste
te um
uma
a li
limi
mita
taçã
ção
o qu
quee de
deve
ve se
serr
rigorosame
rigorosamente
nte obse
observada,
rvada, qual seja, a obediência de princí
princípios
pios essenciais, quando
da execução das ações de combate.
combate. Apenas em situações excepcionais será válido
desobedecer a um princípio.

Quando
Quando um rac
racioc
iocínio
ínio pro
profund
fundo
o em rel
relaçã
ação
o às reg
regras
ras da gue
guerra
rra sol
solidif
idifica
ica-se
-se,,
transformando-se em algum tipo de método de combate, nasce, ao mesmo tempo,
um princípio.
princípio. É muito
muito difíc
difícil
il dizer se esses princípios
princípios e métodos,
métodos, que ainda não
foram experimentados em novas guerras, podem ou não sinalizar o caminho para a
próxima vitória. No entanto, a proposição de princípios essenciais é, sem dúvida,
um processo teórico indispensável para o aperfeiçoamento do método de combate.

Aqui
Aqui temos
temos um giros
giroscó
cópio
pio,, de
deixe
ixemo
moss qu
quee el
elee no
noss or
orie
iente
nte!! Exam
Examine
inemo
moss os
princípios relacionados a seguir, e vejamos o que eles podem acrescentar à “ Guerra 
de Comb
Combinina
ação
ção Além
Al
Aléém
m do
lém doss Limi
Limite
tes 
s ”: Onid
Onidire
irecio
cional
nalidad
idade;
e; Sinc
Sincron
ronia;
ia; Obj
Objetiv
etivos
os
limi
limita
tado
dos;
s; MeMedi
dida
dass il
ilimi
imita
tada
das;
s; As
Assi
sime
metr
tria
ia;; Co
Consnsum
umoo mímíni
nimo
mo;; Co
Coor
orde
denaç
naçãoão
onidimensional; e Ajuste e controle de todo o processo;

ONIDIRECIONALIDADE

PLANEJAMENTO E OBSERVAÇÃO EM 360 GRAUS.

EMPREGO COMBINADO DE TODOS OS FATORES RELACIONADOS

A “ONIDIRECIONALIDADE ” rep
repre
rese
senta
nta o po
ponto
nto de pa
part
rtid
ida
a da id
ideo
eolog
logia
ia da gue
guerr
rra
a se
sem
m
limites0 , proporcionando um invólucro para essa ideologia.

Em se tratando de um princípio geral de guerra, as exigências básicas que a


ONIDIRECIONALIDADE  impõe ao executor da guerra compreendem: considerar todos os
fatores existentes e relacionados à guerra específica; e quando observando o campo
de batalha, ou um provável campo de batalha, na elaboração de planos, na adoção
de medidas, ou na combinação de todos os recursos que possam ser mobilizados
para a guerra, esse executor tenha um campo de visão desimpedido, uma
concepção sem obstáculos e uma orientação nítida.

No tocante à “guerra além dos limites ” não existe mais qualquer distinção entre o
que é, e o que não é, o campo de batalha. Os espaços naturais, compreendendo a
superfície terrestre, os oceanos, a atmosfera e o espaço exterior, constituem
campos de batalha, e os espaços sociais, tais como os militares, políticos,
econômicos, culturais e psíquicos, também são campos de batalha. O espaço
tecnológico, unindo esses dois grandes espaços, representa um campo de batalha
ainda mais importante, dentro do qual os antagonistas não medem esforços em sua
contendas.

O campo de batalha da “guerra além dos limites” difere dos campos de batalha do passado, pelo fato de que ele
incorpora todos os espaços naturais, tais como a ambiência social, e a esfera de desenvolvimento contínuo da
tecnologia, onde o espaço, agora, já é medido em nanômetros. Atualmente, estes espaços estão interligados uns aos
outros. Por exemplo, o espaço cósmico pode ser encarado como um espaço natural, e também como um espaço
tecnológico, uma vez que, cada passo no sentido da militarização do espaço exterior requer um avanço tecnológico.
Da mesma forma, a interdinâmica entre a sociedade e a tecnologia deve ser vista como uma constante.Não existe um
exemplo mais típico deste fenômeno que o efeito da tecnologia cibernética sobre a sociedade. Em decorrência desses
aspectos, podemos ver que o campo de batalha é onipresente e desta forma só podemos vê-lo de forma onidirecional.

A guerra pode ser militar, quase-militar ou não-militar. Pode usar a violência ou


pode ser não-violenta. Poderá ser um confronto com profissionais militares ou com
novas forças emergentes compostas basicamente de pessoas comuns ou de peritos.
Essas características da “ guerra além dos limites ” representam a linha divisória que
a separa da guerra tradicional, assim como a linha de partida para novos tipos de
guerra.

Sendo um princípio bastante significativo, aplicável à guerra atual, a


ONIDIRECIONALIDADE  também se aplica em cada um dos níveis da “ guerra de combinação 
além dos limites ”, descrita no Capítulo 7.

No nível da diretriz de guerra, ela se aplica ao emprego combinado de todo o poder


de combate de uma nação, incluindo o poder de combate supranacional, no caso
de um confronto intercontinental ou mundial.

No nível estratégico da guerra, ela se aplica no uso combinado dos recursos


nacionais que estão relacionados aos objetivos militares.
No nível operacional aplica-se ao uso combinado de diversos tipos de medidas e,
basicamente, de um exército ou força equivalente para a consecução dos objetivos
da campanha no âmbito de um determinado campo de batalha.

E no nível tático, aplica-se ao emprego combinado dos vários tipos de armas,


equipamentos e métodos de combate e, principalmente, de uma unidade militar,
ou força equivalente, para a execução de uma determinada missão em uma
batalha. Devemos ter sempre em mente, que todas essas combinações devem
incluir, também, combinações interativas entre os respectivos níveis.

Finalmente, deve ser esclarecido que o âmbito das operações de combate, em cada
guerra específica, nem sempre irá se expandir para todos os espaços e ambiências,
mas o primeiro princípio da “guerra em combinação além dos limites” é o de pensar
onidirecionalmente e entender as condições do combate.

SINCRONIA

A CONDUÇÃO DAS AÇÕES EM ESPAÇOS DISTINTOS DENTRO DO MESMO


PERÍODO DE TEMPO

Os processos técnicos utilizados na guerra moderna, particularmente, a expansão


da tecnologia cibernética; a emergência da tecnologia da guerra a longa distância; a
crescente capacidade de transformar o campo de batalha; o entrelaçamento dos
campos de batalha que se ampliam continuamente e que estão dispersos, ou são
diferentes quanto à sua natureza; e a introdução de diversas forças militares e não-
militares em iguais proporções na guerra — todos esses fatores reduzem a
dimensão do processo da guerra.

Inúmeros objetivos, que no passado eram conquistados em etapas mediante um


acúmulo de batalhas e campanhas, podem agora ser rapidamente conquistados,
sob as condições de ocorrências simultâneas, ações simultâneas, e conclusões
simultâneas. Em decorrência, a importância da “SINCRONIA ” nas operações de
combate sobrepõe-se, atualmente, à importância do aspecto seqüencial 0.

Considerando-se que a exigência de um planejamento detalhado já é um fato


consagrado, a “guerra além dos limites ” introduz fatores fundamentais quanto à

0
 As guerras do passado envolviam, em termos de espaço, o ataque de forças a partir de
guerra, que estavam dispersos em ambiências distintas, para que coincidam no
mesmo espaço de tempo. Estes fatores relacionam-se intimamente aos objetivos da
guerra, e tratados no âmbito de um trabalho de equipe bem organizado, visando
um ataque combinado, permitem que sejam alcançadas: a surpresa, o sigilo e a
eficácia.

Uma única ação de grande profundidade, mas que seja sincronizada, poderá
representar apenas uma pequena operação de “combate além dos limites”, mas
poderá ser suficiente para representar o desfecho de toda uma guerra. O que
queremos caracterizar como “ SINCRONIA ” não significa “simultaneidade”, sem que
haja até mesmo a diferença de um segundo; ao contrário, deve ser entendida como
“dentro de um mesmo período de tempo”. Neste sentido a “guerra além dos limites ”
merece ser chamada de “guerra no momento determinado”. Usando esta definição
como um padrão, a força armada cujas capacidades militares estão bastante
próximas desse nível é a dos norte-americanos.

Considerando-se seus atuais equipamentos e tecnologia, um dos sistemas de


informação de campanha empregado pelos militares norte-americanos pode, no
espaço de um minuto, prover informações de 4.000 alvos a 1.200 aeronaves. Além
disso, existe também o amplo emprego de sistemas de armas de ataque de longo
alcance. Esta capacitação deu origem a uma proposta de ideologia operacional
compreendendo o “ataque simultâneo de máxima profundidade ”. Em termos de
espaço, os militares norte-americanos começaram a abandonar o modelo de ações
em profundidade a partir da periferia, e no tocante ao tempo das operações, eles
estão abandonando o já obsoleto modelo de combate por ações seqüenciais.

No entanto, considerando-se alguns documentos de livre circulação publicados


pelos órgãos militares, o pensamento norte-americano quanto ao assunto ainda
está restrito ao campo de ação militar e eles foram incapazes de expandi-lo para os
campos de batalha além da ambiência militar0.

OBJETIVOS LIMITADOS

UTILIZAR UMA BÚSSOLA PARA ORIENTAR A AÇÃO — DENTRE UMA SÉRIE


ACEITÁVEL DE MEIOS DISPONÍVEIS

0
 Não há um exemplo mais típico disto que os quatro princípios, definidos na publicação
militar norte-americana “Joint Vision 2010” quais sejam: “manobra dominante,
principalmente a guerrilha urbana, a guerra terrorista, a guerra santa, a guerra de
desgaste0, a guerra em redes interativas e outras formas de combate.

No que concerne a guerrilha urbana, o famoso pesquisador do desenvolvimento da sociedade capitalista, Fernand
Braudel enfatizou, em particular, a “grande importância da função organizacional” das grandes cidades no mundo
capitalista. A despeito de seu grande tamanho, este mundo, ainda assim, possui um grande número de pontos de
aglomeração compreendendo cidades tais como: Nova Yorque, Londres, Tókio, Bruxelas e talvez Hong Kong. Se
estas cidades fossem atacadas simultaneamente, ou se uma guerras de guerrilha eclodisse simultaneamente nestas
cidades, isso levaria o mundo a um caos. (“The Motive Force of Capitalism”; Fernand Buluodaier; Ed. Oxford Press).

Na maioria das vezes o lado mais fraco seleciona como seu principal eixo de
batalha aquelas áreas ou linhas de batalha onde o adversário não espera ser
atacado. O centro de gravidade do ataque é sempre um local que irá provocar um
enorme impacto psicológico no adversário.

Este emprego de medidas assimétricas, criando poder para um determinado


indivíduo ou grupo, possibilitando que a situação evolua como desejado, é muitas
vezes extraordinariamente eficaz. Muitas vezes, faz com que um adversário que
emprega forças convencionais e medidas convencionais como o seu principal
poderio de combate assemelhe-se a um enorme elefante investindo contra uma loja
de louças. Ele estará sem saber o que fazer e incapaz de utilizar o poder de que
dispõe.

Além da eficácia que a assimetria demonstra, quando utilizada, que ela se constitui
numa aplicação prática da regra da proporção áurea. Dentre todas as regras ela é a
única que estimula a ruptura das regras assim como a utilização das regras. É,
também, uma prescrição eficaz para um tratamento metódico e bem equilibrado
para a enfermidade crônica do raciocínio.

CONSUMO MÍNIMO

UTILIZAR O MÍNIMO DE RECURSOS DE COMBATE [QUE SEJAM] SUFICIENTE


PARA A CONSECUÇÃO DO OBJETIVO

O princípio do CONSUMO MÍNIMO   significa, em primeiro lugar, que a racionalidade


é mais importante que a fragilidade0; em segundo, que a dimensão do consumo no

0
 [N.T.] Tradução adotada para o conceito “protracted war”.
0
Os princípios militares sempre incluíram a concepção de “economia”, referindo-se,
combate é decidida pela configuração do combate0; e em terceiro lugar, dever-se-á
usar “mais” (mais medidas) para obter (“menos”) um menor consumo. A
racionalidade pode ser considerada sob dois aspectos: a designação racional dos
objetivos e o emprego racional dos recursos.

A designação racional de objetivos, além de especificar os objetivos que se


enquadram no conjunto de medidas a serem empregadas, refere-se, também, à
necessidade de reduzir a quantidade de objetivos e, tanto quanto possível, torná-
los simples e concisos. O emprego racional dos recursos, obviamente, significa a
utilização do método mais adequado para a consecução de um objetivo e não a
mera imposição de uma exigência unilateral quanto a economizar. Economizar, isto
é, o emprego da quantidade mínima de recursos, somente faz sentido se forem
atendidos os pré-requisitos para a consecução de um objetivo.

Mais importante do que uma familiaridade cabal com os princípios será saber como
os princípios são aplicados. A consideração quanto a usar, ou não, a quantidade
mínima de recursos para a consecução de um objetivo irá depender do tipo de
combate que for selecionado. Por exemplo, a campanha de Verdun é considerada
pelos historiadores da guerra como um “moedor de carne”, porque ambos os lados
travaram uma insensata guerra de atrição. Em contraste com esse exemplo, a
razão pela qual a Alemanha foi capaz de eliminar a força conjunta franco-britânica,
após o cruzamento da Linha Maginot, foi por ter combinado o menor intervalo
temporal com uma ótima rota,e com as armas mais poderosas, formando uma
“blitzkrieg”. Assim sendo, pode-se constatar que a solução para realmente obter um
“consumo mínimo” é descobrir um método de combate que utilize racionalmente os
recursos para o combate.

Nos dias atuais, em que os objetivos e as medidas necessárias a sua consecução


vem assumindo muitas formas complexas, como nunca ocorreu anteriormente, o
processo para a consecução de um objetivo complexo em apenas uma ambiência,
empregando apenas um método, definitivamente, não irá produzir o resultado
desejado. A conseqüência de uma combinação inadequada entre medidas e
objetivos resulta, inevitavelmente, um alto consumo e uma reduzida eficácia.

a única forma correta de economizar.


0
 A “guerra alem dos limites” permite uma considerável margem na seleção das formas de
combate. Naturalmente, existe uma grande diferença entre o custo entre uma guerra
militar convencional e outra em que o aspecto financeiro exerça um papel capital.
O raciocínio que nos leva a ultrapassar essas dificuldades é de que devemos usar 
“mais” para obter “menos” . Isto é, combinar as vantagens de vários tipos de
recursos para o combate em vários tipos de ambiência de modo a estruturar um
modelo de combate totalmente novo, conquistando o objetivo e, ao mesmo tempo,
minimizando o consumo.

COORDENAÇÃO MULTIDIMENSIONAL

A COORDENAÇÃO E A ALOCAÇÃO DE TODAS AS FORÇAS QUE PODEM SER


MOBILIZADAS NAS AMBIÊNCIAS MILITAR E NÃO-MILITAR EM RELAÇÃO A UM
OBJETIVO.

O termo “MULTIDIMENSIONAL ” aqui citado representa uma outra maneira de


referirmo-nos a ambiências múltiplas e forças múltiplas. Ele nada tem a ver com a
definição de “dimensionalidade” no sentido da Matemática ou da Física.

“COORDENAÇÃO
COORDENAÇÃO MULTIDIMENSIONAL 
MULTIDIMENSIONAL ” refere-se à coordenação e cooperação entre
forças distintas, em diferentes ambiências, visando à consecução de um objetivo.
Portanto, esta definição nada tem de original. Explicações semelhantes podem ser
encontradas em muitos regulamentos de combate, tanto antigos, quanto
recentemente publicados.

A única diferença que existe entre nossa definição e definições semelhantes é, e


isto representa a grande diferença, a introdução direta, em vez de indiretamente, de 
 fatores não-militares e não-bélicos .

Em outras palavras, uma vez que qualquer ambiência pode transformar-se em um


campo de batalha, e que qualquer força pode ser usada em condição de combate,
deveríamos estar mais inclinados a entender a coordenação multidimensional como
sendo a coordenação da dimensão militar com várias outras dimensões para a
conquista de um objetivo específico. Isto não significa que, em todas as guerras, a
ação militar deva ser considerada com o principal modelo de ação.
Não iremos usar aquelas palavras de desculpas “pedimos sua generosa boa
vontade” visando obter perdão. Tão somente iremos introduzir as correções
necessárias na segunda edição deste livro (se houver uma).

Por ocasião da publicação deste livro desejamos sinceramente agradecer ao Chefe


do Estado-Maior Cheng Butao e ao Vice-Chefe do Estado-Maior Huang Guorong da
“PLA Literature and Arts Publishing House” por seus constantes apoios, que
possibilitaram que este livro fosse publicado em um curto período de tempo.

Gostaríamos também de agradecer a Xiang Xiaomi, Diretora do “First Book Editing


Department”. Ela reviu cuidadosa e rigorosamente todo o livro, de modo
semelhante ao que fez com os outros quatros livros que editamos, e nos
proporcionou recomendações muito valiosas. Nós não conhecemos outra maneira
mais adequada para expressar nossos agradecimentos além da profunda gratidão
que sentimos.

Por último, também gostaríamos de agradecer a nossa família pelos sacrifícios que
enfrentaram, como conseqüência da elaboração deste livro e, novamente, isto não
pode ser expresso por palavras.

O livro, em sua versão manuscrita, foi elaborado entre 2 de março e 8 de dezembro


de 1998 em Beijing. Estas palavras finais foram escritas em 1 de fevereiro de 1999.
CURRÍCULO DOS AUTORES

Qiao Liang, cujos antepassados vieram da Província de Huan, nasceu no condado


de Xin, na Província de Shanxi, de uma família de militares, no ano de 1956.

Ele é um membro Da União Chinesa de Escritores, e atualmente serve como


Diretor-assistente do Escritório de Produção do Departamento de Política da Força
Aérea e tem o posto de Coronel na Força Aérea além de ser um escritor de nível
um.

Suas obras mais importantes incluem “Gate to the Final Epoch”, “Spiritual
Banner”, e “Great Glacial River”.

Ele tem recebido diversos prêmios nacionais e militares.

Além de suas criações literárias ele tem se dedicado, durante muito tempo, à
pesquisa da teoria militar e juntamente com outros escritores produziu as
seguintes obras: “A Discussion of Military Office Quality”; “Viewing the Global
Military Big Powers”; “A Listing of the Rankings of Global Military Powers”.

Wang Xiangsui nasceu em Guangzhou em 1954 e sua família é de origem militar.


Ele foi sucessivamente instrutor político, comissário político de grupo, comissário
político regimentar e sub-comissário político divisional. Atualmente ele serve na
unidade política da região militar da Força Aérea em Guangzhou e tem o posto de
Coronel.

Ele colaborou com outros autores na elaboração dos livros “A discussion of Military
Officer Quality”, Viewing the Global Military Powers”; e “A Record of Previous Major
Global Wars”.

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