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GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO: UM ESTUDO

DE CASO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE DE PASSAGEIRO


URBANO

alecsandra ferreira tomaz


UFPB/CT/PPGEP
Cx. Postal: 5045 – Cidade Universitária – CEP: 58051-970 – João Pessoa – PB

sara cristina freitas de oliveira


UFPB/CT/PPGEP
Cx. Postal: 5045 – Cidade Universitária – CEP: 58051-970 – João Pessoa – PB

ABSTRACT

It will be presented in this work, the work safety's administration and health in a company of
passenger's transport, regular, urban placed in the city of João Pessoa / PB. The study was divided
in parts, so that, in the introduction we presented the bibliographical revision with a general vision
of the the work safety´s administration system in Brazil and the BS 8800. The second part talks
about the methodology in which the work was developed, embracing the bibliographical revision
concerning the theme; the rising of data through interviews and questionnaires, besides the direct
observation, and finally, the analysis of the situation. The third part includes all the characterization
of the company with the form of the work organization. The fourth and last part was dedicated to
the description and analysis of the work safety's administration and health used in the company,
making a parallel with the Rules of the Ministry of the Work and the BS 8800 and, some final
considerations.

Key Words: Safety´s administration; Work; Organization;

1. Introdução

1.1. Sistema de Gestão de Segurança no Trabalho

No Brasil, a Segurança e Medicina do Trabalho é regulada pelas normas


regulamentadoras aprovadas pela portaria No 3.214, de 8 de junho de 1978, do Ministério
do Trabalho. As normas e leis objetivam atender aos requisitos mínimos, algumas vezes
insuficientes, para tratar a questão da segurança e higiene do trabalho. Quando se trata de
gestão dessa área, ainda que sejam previstos alguns programas específicos pelas normas
regulamentadoras, não há nenhuma preocupação em conciliar os interesses das empresas,
trabalhadores e sociedade. Assim, como não há afinidade entre a legislação e as
organizações em seus aspectos gerenciais, existe o conceito difundido entre o meio
empresarial, de que a segurança e medicina do trabalho é apenas um peso legal com que as
empresas e os órgãos governamentais devem arcar. Num mercado cada vez mais
competitivo, outra premissa essencial é que aquilo que não agrega valor à organização,
deve ser descartado. Como o empresariado duvida da capacidade de agregação de valor da
área de segurança do trabalho, geralmente tratam-na como uma exigência legal, sem
fundamento aos processos, e acabam apenas cumprindo os requisitos mínimos para evitar
problemas com a fiscalização e a justiça do trabalho (Pacheco Júnior, 2000).
No entanto, seria imprudente afirmar que os dispositivos legais sejam obstáculos à
valorização da segurança do trabalho dentro das organizações, mesmo porque, seria um
paradoxo, já que estes dispositivos visam proteger o trabalhador, que é o bem mais
precioso da empresa. Na verdade, a própria organização é a culpada por não inserir a
segurança e medicina do trabalho em seu contexto, deixando-a num papel secundário, um
apêndice disposto no organograma da empresa. Dessa forma, a questão da segurança e
medicina do trabalho deve ser pensada como um sistema de gestão integrado ao sistema de
gestão global da organização, e não ser tratada isoladamente, como geralmente ocorre
(id.,2000).
Para Pacheco Júnior (1995), o Sistema de Segurança e Higiene do Trabalho é um
conjunto de subsistemas compostos de recursos e regras mínimas que atuam entre si e com
outros sistemas, visando, através do planejamento e desenvolvimento de ações, prevenir
todos os tipos de acidentes do trabalho em todas as atividades de uma empresa, de forma a
satisfazer as necessidades da própria organização e de seus trabalhadores. Para este autor, a
implantação de um sistema de segurança do trabalho não é uma tarefa das mais simples,
requer uma transformação de mentalidade em todos os níveis de uma organização,
disponibilidade de todos e exige o envolvimento dos níveis gerenciais.
Gerenciar a segurança do trabalho é realizar o planejamento e controle das
condições de trabalho existentes na empresa, através da identificação, avaliação e
eliminação dos riscos existentes no local de trabalho. Esta atividade necessita um
comprometimento de todos os níveis hierárquicos da empresa, desde o mais simples até a
alta administração, a qual será responsável pela definição de sua política e objetivos
(Mesquita, 1999).
A elaboração e a implantação de um sistema de segurança do trabalho consiste
numa forma estratégica de competência organizacional, e o modelo a ser adotado depende
muito do foco estratégico da empresa. Podem ser utilizados modelos já elaborados, tendo-
se, por exemplo, como referencial a BS 8800 ou, ainda, desenvolver modelos próprios
(Pacheco Júnior, 2000).

1.2. BS 8800

A BS 8800, segundo De Cicco (1996) é uma guia de diretrizes bastante genérica


que se aplica tanto a indústrias complexas, de grande porte e altos riscos, como a
organizações de pequeno porte e baixos riscos. Os pontos principais que atendem as
necessidades de todas as partes interessadas são que a BS 8800 auxilia a:
• Minimizar os riscos para os trabalhadores e outros;
• Melhorar o desempenho dos negócios;
• Estabelecer uma imagem responsável das organizações perante o mercado.
Seus objetivos são: dar orientações sobre o desenvolvimento de Sistemas de Gestão
de SST e sobre a ligação com outras normas sobre Sistemas de Gestão.
De acordo com o autor acima, a importância de gerenciar a Saúde e Segurança do
Trabalho (SST) tem sido enfatizada em relatórios oficiais recentes sobre grandes acidentes,
e tem recebido ênfase crescente na legislação de SST. As organizações devem dar a mesma
importância à obtenção de altos padrões de gestão da SST que dão a outros aspectos-chave
de suas atividades de negócio. Isso requer a adoção de uma abordagem estruturada para a
identificação de perigos, e para a avaliação e o controle do trabalho relacionado a riscos.
Para as organizações sem nenhum sistema implantado, recomenda-se a realização
de uma análise crítica inicial da situação. De posse disso, pretende-se que elas saibam o
que deveriam estar fazendo, onde se encontram atualmente, e o que precisam fazer
imediatamente para identificar perigos e para avaliar, priorizar e controlar riscos (id.,
1996).
2. Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido em três etapas:
1) Revisão bibliográfica acerca do tema, incluindo as normas regulamentadoras do
Ministério do Trabalho e o guia de diretrizes, BS 8800;
2) Levantamento de dados: foi realizada na empresa em questão, através de entrevistas e
questionários aplicados ao técnico em segurança do trabalho da empresa, ao diretor
administrativo e a um cipeiro, além da observação direta;
3) Análise da situação: de posse dos dados, os mesmos foram analisados e comparados
com as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e a BS 8800.
3. Caracterização da Empresa
3.1. Dados Preliminares
A Empresa de Transportes Urbano “X”., está localizada na cidade de João Pessoa /
Paraíba, em um bairro popular. A mesma foi fundada no ano de 1972 e tem como forma
jurídica responsabilidade limitada, composta por três sócios: o presidente, um diretor
administrativo e um financeiro. Atua na capital oferecendo aos usuários a prestação de
serviço de transporte urbano em sete linhas de também sete bairros da capital.
Possui 195 funcionários, sendo distribuídos da seguinte forma: 73 motoristas, 73
cobradores, 08 agentes administrativos, 01 psicóloga, 01 técnico em segurança do
trabalho,14 despachantes, 02 borracheiros, 01 eletricista, 01 pintor, 01 auxiliar de pintor,
01 lanterneiro, 01 auxiliar de lanternagem, 02 mecânicos, 08 auxiliares de mecânico, 01
abastecedor, 04 lavadores, 01 varredor e 02 porteiros.

3.2. Organização do Trabalho

Apesar de um número expressivo de funcionários e diversidade de funções, a


empresa não possui um organograma estruturado. Quanto a gestão da mão-de-obra, a
mesma possui uma jornada de dois turnos, assim distribuídos:
Diurno: 08:00 – 12:00h
14:00 – 18:00h
Noturno: 18:00 – 24:00h
Essa jornada é dirigida aos funcionários em geral, de forma que há aqueles que
trabalham apenas no turno diurno, e outros, como o pessoal da manutenção, que trabalham
apenas no turno noturno. Com relação a função de motoristas, cobradores e despachantes, a
jornada segue uma rotina de serviço de sete horas e vinte minutos trabalhados, com uma
hora de descanso e uma folga semanal, regulamentada pela Superintendência de Transporte
e Trânsito (STTrans). Cada percurso de linha deve ter uma duração média de 40 a 45
minutos, com uma margem de 5 minutos para mais ou menos.
Os funcionários obedecem a um regime de trabalho fixo, com carteira assinada,
sem hora-extra estabelecida. A remuneração de pessoal é quinzenal, apresentando níveis
salariais de 1 a 5 salários mínimos, não havendo adicional de produtividade. O índice de
rotatividade é baixo e a média de idade entre os funcionários gira em torno de 30 anos e o
nível de escolaridade, de maneira geral, é o primeiro grau completo.
Para a seleção de pessoas, a empresa adota o seguinte procedimento: entrevista
inicial, aplicação de testes práticos específicos da função e entrevista final, donde as
entrevistas são realizadas pela psicóloga enquanto que os testes práticos são realizados
junto a pessoas especializadas na função. De maneira geral os funcionários são
disciplinados, comparecendo ao trabalho com regularidade, apresentando baixo índice de
absenteísmo, onde a supervisão é realizada pela própria diretoria.
4. Análise da Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho na Empresa
4.1. De acordo com as NR’s
Foram selecionadas as NR’s as quais acreditou-se serem de importante relevância
na empresa em questão, dentro da perspectiva de SST.
4.1.1. NR – 4:
A NR – 4 versa sobre os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho, cuja finalidade é de promover a saúde e proteger a integridade
do trabalhador no local de trabalho.
Esta empresa está classificada, segundo a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas como de transporte rodoviário de passageiros, regular, urbano, e possui um
grau de risco 3. Devido a isso e ao número de funcionários, a empresa conta com um
técnico de segurança do trabalho. O SEESMT da mesma está diretamente subordinado à
diretoria administrativa, sendo formado por uma equipe multiprofissional composta por
uma enfermeira, uma psicóloga, um médico do trabalho e um técnico de segurança. Os
serviços realizados neste setor funcionam em horário comercial, sendo que o técnico em
tempo integral, o médico uma vez por semana e os demais em meio período. A sala
utilizada tem 25m2, é climatizada e funciona próximo ao setor de manutenção, no térreo.
Existem problemas com relação a este espaço pois quando é necessário a psicóloga fazer
atendimento individual, precisa se deslocar a outro ambiente pela falta de privacidade, e
também quando da visita semanal do médico, a mesma precisa sair de seu local de trabalho
devido a ausência de uma sala para atendimento médico. Quando da realização anual da
SIPAT, todos os funcionários trabalham os dois períodos.
Com relação a palestras sobre doenças sexualmente transmissíveis e AIDS, as
mesmas são realizadas pelo menos duas vezes ao ano. Noções de primeiros socorros
também são dadas pelo técnico de segurança aos trabalhadores, embora tenha-se verificado
que são bastante precárias e insuficientes.
Os acidentes de trabalho são tratados de maneira inadequada: apenas os acidentes
considerados por eles de grande relevância são notificados e é emitida a CAT e feito o
registro no livro de ata da CIPA. Os acidentes considerados “leves, sem grande
importância”, são notificados apenas no livro de ata da CIPA. O último acidente no qual
foi emitida a CAT ocorreu em 1998, sendo classificado como acidente de trajeto. Este setor
não colabora nos projetos de instalações físicas e tecnológicas da empresa.
4.1.2. NR – 5:
A NR – 5 estabelece a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA- e tem
como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a
tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da
saúde do trabalhador.
A comissão da CIPA nesta empresa é formada de 16 cipeiros, sendo o presidente
um despachante; o vice-presidente, cobrador; e a secretária é a psicóloga da empresa.
Destes, 8 são representantes do empregado e 8 do empregador, seguindo os critérios de
representatividade dos setores de maior risco. Na visão do técnico de segurança, a função
dos cipeiros é “justamente prevenir acidentes, (...) observar algum fio descapado, aí ele
comunica ao presidente da CIPA, entendeu ? (...)”, o que pode ser taxada de no mínimo
limitada.
A CIPA possui um calendário anual de reuniões mensais, geralmente no último dia
útil de cada mês, sendo realizada no auditório da empresa. O SEESMT se relaciona com a
CIPA como intermediador com a direção; também se reúne para a realização de palestras,
do curso para os cipeiros e elaboração do mapa de risco. Este existe, mas apenas no
projeto, não sendo colocado nas áreas de risco para visualização e conseqüente
conscientização do risco. A mesma não possui a estatística dos acidentes de trabalho, nem
das doenças do trabalho.

4.1.3. NR –6:
Esta norma aplica-se aos Equipamento de Proteção Individual – EPI, que é definido
como todo dispositivo de uso individual, de fabricação nacional ou estrangeira, destinado a
proteger a saúde e a integridade física do trabalhador. Fica a empresa obrigada a fornecer
aos empregados, sem custo adicional, EPI adequado ao risco e em perfeito estado de
conservação e funcionamento.
Os EPI´s utilizados na empresa são: protetor auricular, protetor ocular, máscaras,
macacão de brim, avental, luva de couro, botas. O local onde o uso é exigido é na
manutenção, nas atividades da mecânica, lanternagem, pintura, eletricista e abastecimento.
Existe uma divergência considerável entre o discurso do técnico de segurança e do cipeiro
entrevistado quando perguntados sobre a forma de aquisição, distribuição e controle dos
EPI´s. O primeiro relatou que quando percebe a necessidade de EPI´s os solicita, a
diretoria de imediato emite a ordem de compra e assim que são adquiridos, são distribuídos
em número suficiente para todos; o segundo, pelo que pôde ser constatado mais verdadeiro
através da própria observação efetuada falou que a maioria dos EPI´s não são individuais,
as quantidades são insuficientes e não há manutenção e higienização periódica, o que leva
muitos a não usá-los com receio até de contrair alguma doença. O cipeiro no seu discurso
também revelou a ineficácia das palestras educativas para o uso dos EPI´s; além da demora
em adquirir os equipamentos. Estes não são fiscalizados com relação a qualidade e
manutenção.

4.1.4. NR – 7:
A NR – 7 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, com a finalidade de
promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores.
O PCMSO existente foi coordenado pelo médico contratado, e o responsável pela
sua execução é o técnico de segurança supervisionado pelo médico. Segundo o técnico,
eles realizam todos os exames requeridos no PCMSO.

4.1.5. NR – 9:
Esta norma diz respeito a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte
de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores do Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, objetivando a preservação da saúde e da
integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a
existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais.
O PPRA desta empresa foi elaborado em 1996 por um engenheiro de segurança do
trabalho e vem sendo reformulado anualmente pelo técnico, porém foi observado que essa
reformulação não é tão atual quanto o relatado. Verificou-se que o PPRA 2000 ainda não
havia sido reformulado e de 2001 estava fora de cogitação, o que revela o descaso
existente. O que pôde ser constatado é que a empresa faz do PPRA o seu sistema de gestão
de segurança.
4.1.6. NR – 12:

Nesta norma estão estabelecidos os principais requisitos que dizem respeito às


máquinas e equipamentos, principalmente com relação a instalações, área de trabalho, piso,
distâncias recomendáveis entre outros.
As máquinas e equipamentos encontrados na empresa dividem-se em um pequeno
número com estado de conservação bom e sua maioria com estado de conservação de
regular a precário. As instalações não estão corretas com a existência de muitas
“gambiarras”, a área de trabalho não é bem higienizada e a distribuição dos equipamentos
e máquinas é aleatória, com a existência de entulho em diversos locais.

4.1.7. NR – 17:

A NR – 17 visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de


trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
A empresa não possui nenhum tipo de planejamento para prevenção de riscos
ergonômicos, embora esteja consciente da presença dos mesmos.

4.1.8. NR – 23:

Esta norma estabelece que todas as empresas deverão possuir proteção contra
incêndio; saídas suficientes para a rápida retirada do pessoal em serviço, em caso de
incêndio; equipamento suficiente para combater o fogo em seu início e pessoas adestradas
no uso correto desses equipamentos.
Segundo o técnico, o treinamento contra incêndio é realizado a cada 6 meses
especialmente para equipe de manutenção; mas foi verificado que esse treinamento na
realidade não é extensivo aos motoristas, cobradores e demais membros da empresa, com
pouquíssimos deles sabendo usar um extintor. Dois dias antes da visita aconteceu um
incêndio em um ônibus que o destruiu por completo na própria garagem da empresa e
nenhuma atitude foi tomada de imediato para cessar o fogo. Outras características
importantes para serem mencionadas são: inexistência de sinalização para indicar as saídas
e de sistemas de alarme, detecção e combate automático; os dois reservatórios c/
capacidade de 2.000 litros, localizados junto a bomba abastecedora e borracharia são
utilizados para lavagem dos ônibus e as mangueiras são do tipo comum.

4.1.9. NR – 24:

A NR 24 versa sobre as condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho.


Com relação a esta norma, observou-se que as áreas destinada ao vestuário e aos
banheiros são desorganizadas, sujas, com pouca iluminação; o número de armários é
insuficiente; os bebedouros não estão alocados nas áreas de maior concentração de
funcionários; o refeitório não dispõe de mesas e cadeiras em número suficiente e as
condições de higiene são precárias.

4.2. De acordo com a BS 8800 (De Cicco, 1996):


4.2.1. Organização:

As atividades prescritas com relação a organização dizem respeito a: ter acesso ou


ter competência o suficiente em relação à SST; definir a alocação de responsabilidades,
inclusive financeira; assegurar que as pessoas tenham a autoridade necessária para cumprir
suas responsabilidades; alocar recursos adequados; identificar as competências necessárias
e organizar os treinamentos pertinentes; tomar providências para uma comunicação eficaz;
adotar medidas para obter o aconselhamento de especialistas em SST e tomar providências
eficazes para o envolvimento dos funcionários.
Segundo o diretor administrativo da empresa, o responsável pela SST é o técnico de
segurança e o departamento específico para a SST é o SEESMT. O controle financeiro é
feito apenas pelo diretor financeiro que não possui nenhuma ligação com a SST.
O envolvimento e apoio dos funcionários está esquematizado da seguinte forma, de
acordo com o depoimento: “as informações passam pelo técnico de segurança, ele escuta
o pessoal e passa para diretoria e a gente faz o que achar conveniente, o que achar
viável.”
O treinamento dos funcionários sobre SST é precário, reduzido a um número
mínimo e os dirigentes raramente participam. Existe um questionário que é aplicado no
final do ano para avaliação da eficácia do treinamento, mas não são realizadas ações em
cima do que foi obtido no mesmo.
A empresa toma conhecimento de novas legislações e publicações relacionadas à
SST através da revista da CIPA e repassam as informações aos funcionários através do
técnico de segurança nas reuniões da CIPA.

4.2.2. Planejamento e Implementação:

A BS 8800 indica a necessidade de planejar e mensurar os elementos para uma


gestão bem-sucedida da SST. Dentre as suas atividades, incluem-se: plano global e
objetivos que atendam a política de SST; identificação de perigos e avaliação de riscos;
plano operacional; plano de contingência; planejamento das atividades organizacionais;
planejamento da mensuração do desempenho, auditorias etc. e implementação de ações
corretivas.
A empresa não tem estabelecido nenhum objetivo abrangendo a SST nem
planejamento algum, procurando apenas cumprir o PCMSO e o PPRA no que é possível.

4.2.3. Avaliação de Riscos:

O processo de avaliação de riscos abrange todos os perigos de SST. É melhor


integrar avaliações para todos os perigos do que realizar avaliações separadas para perigos
à saúde, manuseio de materiais, perigos com máquinas etc. Se as avaliações são realizadas
separadamente, usando métodos diferentes, a ordenação das prioridades para o controle de
riscos é mais difícil. Avaliações separadas podem também conduzir a uma duplicação
desnecessária.
A avaliação dos riscos é feita quando da reformulação do PPRA e do questionário
realizado no final do ano. O plano de ação utilizado para controle dos riscos é através de
palestras e não há uma análise crítica para adequação deste plano.

4.2.4. Mensuração de Desempenho:

Os principais itens a serem verificados são: estabelecer meios para a medição


quantitativa e qualitativa do desempenho da SST; implementar medidas pró-ativas e
implementar medidas reativas.
A avaliação para verificar se os planos de SST são implementados é feita no
questionário anual citado anteriormente. Os dados sobre acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais são tratados como foi citado no tópico da NR – 4.
A inspeção nos locais de trabalho é eventual, realizada pela diretoria. A inspeção de
máquinas e equipamentos é precária. Foi mencionado apenas a inspeção “anual dos
compressores, que não há nem necessidade de fazer, só de cinco em cinco anos (...)”

4.2.5. Auditoria:

Esta é um exame sistemático para determinar se o sistema existente está em


conformidade com padrões e normas definidos.
Não são realizadas auditorias na empresa em questão. O que existe é a fiscalização
do Ministério do Trabalho, que acontece cerca de três vezes ao ano.

5. Conclusão:

De acordo com o que foi observado e relatado nas entrevistas e questionários pode-
se verificar o desconhecimento sobre o quê é, como funciona e quem participa de um
sistema de gestão de segurança nesta empresa. O que se procura realizar é o mero
cumprimento da legislação, e ainda assim, inadequadamente. A falta de envolvimento,
compromisso e interesse da alta gerência com a política de segurança e higiene do trabalho
ficou evidenciada nos discursos, além do despreparo daquele que estava a frente do
SEESMT, confirmando a teoria de que o empresariado está sempre pouco preocupado com
as ações desenvolvidas neste departamento, relegando a este um papel secundário na
organização.
A estrutura altamente verticalizada e burocrática favorece a permanência desse
modelo de organização, onde se procura beneficiar a empresa e os trabalhadores ficam à
margem desse processo.
Para a elaboração de um sistema de segurança e higiene do trabalho nesta empresa,
sugere-se que primeiramente a mesma tente cumprir pelo menos a legislação vigente, para
a partir de então realizar uma avaliação ambiental interna da organização, buscando
conhecer os pontos fortes e fracos em relação à segurança e saúde do trabalho e, baseado
nisto, efetuar o planejamento estratégico, considerando também os fatores ambientais
externos, para que as ações sejam planificadas de forma integrada e coerente.

6. Referências Bibliográficas:

DE CICCO, Francesco. Manual sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no


Trabalho vol.II
MESQUITA, Luciana Sobreira de. Gestão da segurança e saúde no trabalho: um estudo de
caso em uma empresa construtora. João Pessoa, 1999. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) – Universidade Federal da Paraíba
MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS Segurança e Medicina do Trabalho.46o ed., 2000.
PACHECO JÚNIOR, Waldemar. Qualidade na segurança e higiene do trabalho: série SHT
9000, normas para a gestão e garantia da segurança e higiene do trabalho. São Paulo: Atlas,
1995.
PACHECO JÚNIOR, Waldemar et al. Gestão da segurança e higiene do trabalho: contexto
estratégico, análise ambiental, controle e avaliação das estratégias. São Paulo: Atlas, 2000.

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