Você está na página 1de 16

FACULDADE VALE DO JAGUARIBE - FVJ

CURSO: ADMINISTRAÇÃO

DISCIPLINA: ECONOMIA POLÍTICA

PROF. FABRÍCIO HOLANDA

AULA 04: SISTEMAS ECONÔMICOS

1. OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS

1.1. INTRODUÇÃO

Todas as sociedades, qualquer que seja seu tipo de organização econômica ou


regime político, são obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que
os recursos não são abundantes. Elas são obrigadas a fazer escolhas sobre O QUE? E
QUANTO PRODUZIR?; COMO PRODUZIR? E PARA QUEM PRODUZIR?.

1.1. O QUE E QUANTO PRODUZIR?

Essa é uma questão relacionada diretamente à escassez. Diante das


necessidades e da disponibilidade de recursos, a sociedade precisa escolher quais os
bens e serviços serão produzidos, ou seja, quais as necessidades serão satisfeitas e
em que proporção. Ou ainda, quais bens e serviços serão priorizados, dado que a
escassez de recursos impossibilita produzir tudo o que a sociedade deseja.

Ao escolher produzir determinada quantidade de um bem, significa que outras


necessidades deixaram de ser satisfeitas, pois a utilização dos recursos para produzir
um bem implica na redução da produção de outro.

Portanto, ao escolher o que e quanto produzir, a sociedade enfrenta o custo de


oportunidade. Por exemplo, temos a produção de cana-de-açúcar (para abastecer os
carros a álcool) que gera o custo de oportunidade do feijão que deixa de ser produzido

1
no mesmo solo, as lanchonetes Mac Donald´s que geram o custo de oportunidade dos
postos de saúde e escolas que poderiam ser construídos em seu lugar etc.

Outro exemplo, se a sociedade decide produzir armas para se proteger de


possíveis ataques inimigos, ela está deixando de produzir alimentos, vestuário e até
mesmo bens de capital. Há a satisfação da necessidade de defesa, porém o custo de
oportunidade é não satisfazer de forma adequada as necessidades de alimentos e
vestuário ou de expansão da capacidade de produção da sociedade. Essa é uma
situação enfrentada por países em constantes conflitos como Estados Unidos, Iraque,
Coréia do Norte, Paquistão, entre outros.

1.2. COMO PRODUZIR?

A questão sobre como produzir está relacionada às técnicas de produção, isto é,


quais técnicas serão utilizadas, que proporção de cada fator de produção será adotada
na produção de cada bem e serviço. Tendo em vista a escassez dos recursos, a
sociedade deve buscar a máxima eficiência em sua utilização por meio das técnicas
mais avançadas de produção.

Todos os países procuram estimular o desenvolvimento cientifico e tecnológico,


para alcançar melhores técnicas de produção. Esses esforços permitiram, por exemplo,
a expansão da produção de alimentos com o advento da "Revolução Verde" 1 em
meados do século XX, o aumento da capacidade de processamento dos
microprocessadores dos computadores, a expansão de linhas telefônicas e demais
canais de comunicação.

1
Revolução verde. Processo de aumento da produtividade de cereais básicos como trigo, arroz e milho,
desenvolvido a partir dos anos 50, com financiamento de institutos de pesquisa norte-americanos em áreas
experimentais na América Latina e Ásia. Foi idealizado para permitir que a agricultura dos países em
desenvolvimento aumentasse sua produção sem que fosse necessário mudar a estrutura da propriedade rural por
meio de reforma agrária.

2
1.3. PARA QUEM PRODUZIR?

Essa questão relaciona-se a tarefa de o sistema decidir quais os setores que


serão beneficiados na distribuição do produto: trabalhadores, capitalistas ou
proprietários de terra? Agricultura ou indústria? Mercado interno ou mercado externo?
Região Sul ou Nordeste? Ou seja, trata-se de decidir como será distribuída a renda
gerada pela atividade econômica.

2.OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA

As respostas para cada uma dessas questões dependem da forma como a


sociedade organiza sua produção e consumo, ou seja, de acordo como o sistema de
organização econômica adotado. Os sistemas econômicos são arranjos historicamente
constituídos a partir dos quais os agentes econômicos empregam os fatores de
produção e interagem por meio da produção, distribuição e consumo dos produtos
gerados.

Existem duas formas principais de organização econômica;

 Economia de mercado (ou descentralizada);

 Economia planificada ( ou centralizada).

Todavia, hoje em dia praticamente todos os países possuem algum tipo de


economia de mercado. Assim, poderíamos dizer que a organização econômica é
realizada a partir de algum sistema intermediário entre essas duas formas, combinando
a atuação do mercado com a intervenção do governo (economia mista).

3
2.1. ECONOMIA DE MERCADO

As economias de mercado podem ser analisadas por dois sistemas: a) Sistema


de concorrência pura (sem interferência do governo) e b) Sistema de economia mista
(com interferência governamental).

.1.1 SISTEMA DE CONCORRÊNCIA PURA

O sistema de concorrência pura é típico das economias capitalistas, as quais têm,


como característica básica, a propriedade privada dos meios de produção, tais como
fábricas e terras, e sua operação, tendo por objetivo a obtenção de lucro, sob
condições em que predomine a concorrência.2.

Num sistema de concorrência pura ou perfeitamente competitivo, predomina o


laissez-faire: milhares de produtores e milhões de consumidores têm condições de
resolver os problemas econômicos fundamentais ( o que e quanto, como e para quem
produzir), como guiados por uma “mão-invisível”.3. Isso sem a necessidade de
intervenção do Estado na atividade econômica.

2
O capitalismo é descrito como um sistema de mercados livres, operando sob condições de concorrência:
concorrência entre vendedores e bens similares, para atrair clientes; concorrência entre compradores, para
garantir os bens que desejam; concorrência entre trabalhadores, para obter empregos; concorrência entre
empregadores, para garantir trabalhadores.
3
Esse é o conceito de "Mão Invisível" desenvolvido por Adam Smith em seu livro Riqueza das Nações. Significa que
existe uma coordenação invisível que assegura a consistência dos planos individuais em uma sociedade em que
4
Nesse tipo de sistema econômico, os consumidores e empresas, agindo
individualmente, interagem através dos mercados acabando por determinar o que e
quanto produzir, como produzir e para quem produzir.

 O que e quanto produzir: os produtores decidirão o que e quanto produzir


de acordo com o preço dos bens e serviços. Assim, aquele bem ou serviço
cujo preço (rentabilidade) for maior será aquele cuja produção aumentará;

 Como produzir: é resolvido no âmbito das empresas (trata-se de uma


questão de eficiência produtiva); envolve a escolha da tecnologia e
recursos adequados, que também é realizada a partir da comparação com
os preços de tecnologia e recursos alternativos;

 Para quem produzir: é decidido no mercado de fatores de produção (pelo


encontro da demanda e oferta dos serviços dos fatores de produção. Para
quem produzir é uma questão distributiva, ou seja, quem ou quais setores
serão beneficiados pelos resultados da atividade produtiva. Essa pergunta
também pode ser resolvida pelo sistema de preços. Assim, quem tiver
renda suficiente para pagar os preços dos bens e serviços produzidos
participará da distribuição.

Em uma economia de mercado a ação conjunta de indivíduos e empresas permite


que milhares de mercadorias sejam produzidas de maneira espontânea, sem que haja
uma coordenação central das atividades. Na verdade, existe um mecanismo de preços
automático e inconsciente que trabalha, garantindo o funcionamento do sistema
econômico, dando a ele certa ordenação de maneira tal que tudo é realizado sem
coação ou direção central de qualquer organismo consciente. Esse jogo econômico é

predomina um sistema de mercado. Assim, em uma economia de mercado, nenhum agente econômico (individuo
ou empresa) se preocupa em gerenciar o funcionamento do sistema de preços. Preocupam-se, sim, em resolver
isoladamente seus próprios negócios. Agindo dessa forma egoísta, no conjunto, a sociedade resolve
inconscientemente os problemas de que o que e quanto, como e para quem produzir.

5
todinho baseado nos sinais dados pelos preços formados nos diversos mercados,
como um sistema de semáforos para controlar o trânsito.
A esse mecanismo de preços automático e inconsciente é que dá o nome de
"Sistema de Preços".

E como funciona o sistema de preços?

Vimos anteriormente que todos os bens econômicos têm seu preço. Em um


mercado livre, caracterizado pela presença de um grande número de compradores e
vendedores, os preços refletem as quantidades que os vendedores desejam oferecer e
as quantidades que os compradores desejam comprar de cada bem.

Para exemplificar, suponhamos que por um motivo qualquer as pessoas passem


a desejar uma quantidade maior de calçados. Se a quantidade disponível de calçados
for menor que a quantidade procurada, então haverá uma disputa entre os
compradores para garantir a aquisição desse bem. Isso fará que o preço do calçado
acabe se elevando, em parte porque as pessoas se dispõem a pagar mais pelo
produto, em parte porque os produtores, percebendo o grande interesse pela sua
mercadoria, acabam por elevar-lhe o preço. Essa elevação acabará por excluir os que
não dispõem de recursos para pagar preços mais altos. Com a alta do preço, os
produtores de calçados serão estimulados a aumentar a produção. Se esse aumento
na produção for muito grande, poderá haver excesso de calcados no mercado, além da
quantidade procurada. Como conseqüência haverá concorrência entre os produtores, a
fim de desovar o excesso de mercadoria. Essa concorrência provocará diminuição no
preço, o que estimulará o consumo de calçados, fazendo que os produtores ajustem a
produção à quantidade adequada.

Outro exemplo: Suponha-se agora que por uma razão qualquer todos os homens
desejem uma maior quantidade de camisas. Se a quantidade disponível for limitada e
inferior à procurada, então a disputa entre os indivíduos para a aquisição de camisas
acabará por elevar o seu preço, eliminando os que não tiverem meios de comprar.

6
Corri a alta do preço, mais camisas serão produzidas, podendo posteriormente baixar o
preço. Da mesma forma, imagine-se que há um excesso de sapatos no mercado, além
da quantidade procurada. Como resultado da concorrência entre os vendedores o seu
preço baixará. Um preço mais baixo estimulará o consumo de sapato e os produtores
procurarão ajustar-se à quantidade adequada.
Sintetizando:

 Se houver excesso de oferta (ou escassez de demanda), formar-se-ão


estoques nas empresas, que serão obrigadas a diminuir seus preços para
escoar a produção, até que se atinja um preço no qual os estoques estejam
satisfatórios. Existirá concorrência entre empresas para vender os bens
aos escassos consumidores;

 Se houver excesso de demanda (ou escassez de oferta), formar-se-ão


filas, com concorrência entre consumidores pelos escassos bens
disponíveis. O preço tende a aumentar, até que se atinja um nível de
equilíbrio em que as filas não mais existirão.

Em uma economia de mercado, tanto os bens e serviços quanto os recursos


produtivos têm seus preços e quantidades determinados pelo livre jogo da oferta e da
procura, ou seja, pela livre competição. Do confronto entre a oferta e a procura resulta
um preço, e é esse preço que exerce uma função econômica básica. É ele, que por
suas variações, orienta a produção e o consumo.

O mecanismo de preços é, portanto, um vasto sistema de tentativas e erros, de


aproximações sucessivas, para alcançar o equilíbrio entre oferta e procura. O desejo
das pessoas determinará a dimensão da procura, enquanto que a produção das
empresas determinará a dimensão da oferta. O equilíbrio entre a oferta e a procura
será atingido pela flutuação do preço.

O que é verdade para mercados de bens e serviços, também o é para mercados


de recursos produtivos (Terra, Trabalho, Capital e Capacidade Empresarial). Assim se
7
houver maior necessidade de advogados do que de engenheiros, as oportunidades de
emprego serão mais favoráveis aos primeiros. O salário dos advogados tenderá a
aumentar e o dos engenheiros, a diminuir.

Em uma economia complexa e interdependente, as pessoas não conseguem


dizer diretamente aos produtores o que desejam consumir. O mecanismo do mercado
fornece, através dos preços, uma forma de comunicação indireta entre consumidores e
produtores, possibilitando uma adaptação da produção às necessidades de consumo;
possibilita, ao mesmo tempo, uma adaptação do consumo à escassez relativa dos
diferentes tipos de bens e serviços.

2.1.2. FALHAS DO SISTEMA DE CONCORRÊNCIA PURA

As críticas mais frequentes a esse tipo de sistema econômico são as seguintes;

a) trata-se de uma grande simplificação da realidade;

b) os preços nem sempre flutuam livremente, ao sabor do mercado, virtude de fatores


como:

 Força dos sindicatos sobre a formação de salários (os salários também são
preços, que remuneram os serviços da mão-de-obra);

 Poder dos monopólios e oligopólios sobre a formação de preços no mercado,


não permitindo que a sociedade consumisse a quantidade de bens e serviços
que deseja;

 Intervenções do governo, via:

o Impostos, subsídios4, tarifas e preços públicos (água, energia, etc);

4
Subsídio: Tecnicamente, pode ser definido de várias formas: 1) benefícios a pessoas ou a empresas, pagos pelo
governo, sem contrapartida em produtos ou serviços; 2) despesas correspondentes à transferência de recursos de
8
o Política salarial (fixação de salário-mínimo, reajustes, prazos de dissídios
etc);

o Fixação de preços mínimos5;

o Congelamento e tabelamento de preços;

o Impostos e subsídios;

o Política cambial.

c) o mercado sozinho não promove perfeita alocação de recursos. A produção e/ou


consumo de determinado bem ou serviço pode produzir efeitos colaterais
(externalidades) positivas ou negativas que não são internalizados nos preços de
mercado. Além disso, existem bens públicos, pelos quais os consumidores não estão
dispostos a revelar sua disposição a pagar. São fatores que distorcem a alocação de
recursos a partir do sistema de preços.

d) o mercado sozinho não promove perfeita distribuição de renda, pois, como vimos, só
participa da distribuição do que é produzido aquele indivíduo que possui renda
suficiente para pagar o preço de mercado.

uma esfera do governo em favor de outra; 3) despesas do governo visando à cobertura de prejuízos das empresas
(públicas ou privadas) ou ainda para financiamento de investimentos; 4) benefícios a consumidores na forma de
preços inferiores que, na ausência de tal mecanismo, seriam fixados pelo mercado; 5) benefícios a produtores e
vendedores mediante preços mais elevados, como acontece com a tarifa aduaneira protecionista; e 6) concessão de
benefícios pela via do orçamento público ou outros canais. De maneira geral, os subsídios se dividem em diretos e
indiretos
5
Preço Mmínimo: Também conhecido por preço de garantia, fixado pelo governo para os diversos produtos
agrícolas. Essa política tem diversos objetivos: 1) dinamizar a agricultura e garantir a normalidade do
abastecimento; 2) aperfeiçoar a comercialização; 3) atenuar a oscilação dos preços de mercado, manipulando os
estoques já formados; 4) orientar a atividade do agricultor a partir de dados sobre o mercado nacional e
internacional; 5) garantir o agricultor contra pressões baixistas; 6) fornecer ao agricultor, por meio de operações de
financiamento com prazo de seis a dez meses, condições de esperar melhores preços; 7) neutralizar uma excessiva
transferência de renda da agricultura para outros setores devido a uma eventual queda de preços agrícolas,
contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento da economia global.

9
São todas críticas pertinentes, que justificam inclusive a atuação do governo para
complementar a iniciativa privada e regular alguns mercados, fixar salário-mínimo,
preços mínimos na agricultura etc. Entretanto, muitos mercados comportam-se mais ou
menos num sistema de concorrência quase pura. Afinal, centenas de milhares de
mercadorias são produzidas e consumidas por milhões de pessoas, mais ou menos por
sua livre iniciativa e sem uma direção central. O mercado hortifrutigranjeiro, por
exemplo, aproximasse bastante desse modelo.

2.2. ECONOMIAS CENTRALIZADAS OU PLANIFICADAS

Esse tipo de organização econômica é típica dos países socialistas, em que


prevalece a propriedade estatal dos meios de produção. Nesse tipo de sistema as
questões do: o que, como e para quem produzir não são resolvidas de maneira
descentralizada, via mercados e preços, mas pelo planejamento central, em que a
maior parte das decisões de natureza econômica são tomadas pelo estado.

A origem teórica dessa forma de organização econômica é o pensamento


marxista6, que construiu a crítica ao funcionamento do capitalismo e embasou a
construção de modelos econômicos alternativos.

A ação governamental se faz presente através de um órgão central de


planejamento, a quem cabe elaborar os planos de produção de todos os setores
econômicos. Tais planos são elaborados a partir de um levantamento não só das
necessidades a serem atendidas como também dos recursos e técnicas disponíveis
para a produção, a fim de dimensionar o que cada empresa, seja ela agrícola,
comercial ou industrial, pode realmente produzir.

6
Escola Marxista: Escola de pensamento econômico fundada por Karl Marx e Friedrich Engels.

10
Identificadas às disponibilidades existentes, fixam-se as metas de produção, ou
seja, as quantidades a serem produzidas de cada bem procurando, na medida do
possível, atender as necessidades de consumo da sociedade. Equaciona-se, desta
forma, a questão "o que e quanto produzir".

Cabe, da mesma forma, ao órgão de planejamento determinar os processos de


produção a serem utilizados, ou seja, Faz-se um "inventário" dos recursos e das
técnicas disponíveis para a produção. Fica então resolvida a questão do "como
produzir."
A questão “para quem produzir", que trata da maneira pela qual a produção total
de bens e serviços será distribuída entre os indivíduos é também resolvida pelo órgão
de planejamento, a quem sabe determinar os salários dos diferentes tipos de profissão.

O orgão planejador fixa as metas a serem cumpridas, transmite-as aos órgãos


setoriais e regionais, e estes diretamente às unidades produtoras da atividade
econômica.

Devemos observar que, se numa economia de mercado o "Sistema de Preços"


serve como elemento sinalizador do comportamento tanto de consumidores quanto de
empresários, em uma economia centralizada a expansão e a contração industrial é
determinada pelo Estado, e não pelo mecanismo de preços. Assim sendo, se o
governo deseja estimular determinada indústria, ela pode fazê-lo, mesmo que essa
indústria seja ineficiente e apresente prejuízos. Alternativamente, pode o governo
decretar o fechamento de uma indústria eficiente, mesmo que ela venha obtendo
lucros.

Em uma economia centralizada, os preços são utilizados para auxiliar a


distribuição de diversos produtos. Nesse tipo de sistema é o próprio governo que
determina os diversos preços dos bens de consumo evitando, assim, que ele seja
obrigado a lançar mão de mecanismos de racionamento. Pode, então, haver diferença
entre o custo de produção de um produto e seu preço de venda. Exemplificando,

11
suponhamos que o custo de um aparelho de televisão seja de R$ 500,00. Se houver
uma procura muito grande por esse tipo de bem o governo pode estabelecer seu preço
em R$ 800,00. Desta forma o equilíbrio entre a oferta e demanda poderia ser
restabelecido, evitando-se, então, o mecanismo de racionamento.

2.3. ECONOMIA MISTA

Por pelo menos 100 anos, do final do século XVIII, com a revolução Industrial, ao
final do século passado, predominava um sistema de mercado muito próximo da
concorrência pura. No século XX, quando se tornou mais presente à força dos
sindicatos e dos monopólios e oligopólios, associada a outros fatores, como ao
desenvolvimento do mercado de capitais e do comércio internacional, a economia
tornou-se mais complexa.

A ocorrência de uma grande crise econômica, qual seja, a depressão nos anos
1930, mostrou que o mercado, sozinho, não garante que a economia opere sempre
com pleno emprego de seus recursos, evidenciando a necessidade de uma atuação
mais ativa do setor público nos rumos da atividade econômica.

Nos sistemas de economia mista, uma parte dos meios de produção pertence ao
estado (firmas públicas) e a outra parte pertence ao setor privado (firmas privadas).

a) O Que e Quanto Produzir?

Em um sistema de economia mista, em que existe propriedade privada dos meios


de produção o Estado não pode determinar ao empresário o que produzir. O Estado
não pode, por exemplo, determinar a um agricultor que plante arroz em vez de milho,
ou a um industrial que produza tecidos em vez de calçados. Pode, entretanto, influir
indiretamente para resolver a questão "o que produzir".

12
O estado, por exemplo, através das leis, pode proibir a produção de drogas; ao
fazê-lo, estará diretamente dizendo o que não deve ser produzido e, indiretamente,
aquilo que se pode produzir. A tributação também pode ser utilizada para sinalizar aos
produtores aquilo que deve ser produzido. É o caso da redução (e algumas vezes,
isenção) de impostos em alguns setores (indústria automobilística, por exemplo) e a
concessão de incentivos fiscais em outros. Outro instrumento de que dispõe o Estado
para operar com a mesma finalidade é o controle de créditos. Nesse caso, a concessão
de crédito subsidiado a determinadas atividades é um indicador de que o estado deseja
estimulá-las. Outra maneira de do estado intervir na questão "o que produzir" é através
de suas empresas públicas, que se destinam a garantir a produção de bens e serviços
necessários ao bem-estar coletivo (saneamento básico, transporte, combustível,
energia elétrica etc.) e que o setor privado não se interessa ou não tem condições de
explorar uma vez que exigem elevados e apresenta retorno lento. Não se pode
desconsiderar, também, o papel do estado no tocante às suas despesas, uma vez que
ele é o maior comprador de bens e serviços do sistema econômico. Desta forma,
quanto o estado executa obras tais como a construção de estradas e pontes ele está
automaticamente dizendo ao setor privado que deseja que sejam produzidos os
materiais necessários à execução de tais obras (cimento, aço etc.).

Não obstante a intervenção do estado no sistema, os produtores numa economia


mista, ao decidirem o que produzir seguem, geralmente, as indicações fornecidas pelo
sistema de preços (ou, o que é a mesma coisa, pelos mercados).

b) Como Produzir?

A questão “como produzir” em um sistema misto é solucionada distintamente,


conforme se enfoque o setor público ou o setor privado da economia. No nível do setor
público, essa questão é resolvida de acordo com o planejamento governamental em
que o fundamental não é a obtenção de lucros, mas o atendimento adequado das
necessidades da coletividade. No âmbito do setor privado, a questão é solucionada de
acordo com concorrência (por meio dos mercados e preços).
13
c) Para Quem Produzir?

Nos sistemas de economia mista a questão distributiva é resolvida, em geral, pelo


sistema de preços.

Entretanto, aos detentores de renda mais baixa o estado oferece ensino gratuito,
assistência médica, assistência jurídica, além de outros serviços a que essa camada da
população, em função do seu baixo poder aquisitivo, não tem acesso.

Além disso, o estado procura criar mecanismos que garantam às pessoas o


recebimento de uma renda que lhes permita satisfazer suas necessidades básicas. A
criação do seguro desemprego e o estabelecimento de níveis salariais mínimos são
exemplos da ação do estado nesse sentido.

Na realidade, as organizações econômicas descritas anteriormente (Economia de


Mercado e o Sistema de Planejamento Central) nunca existiram em sua forma mais
pura. O que se observa nos diversos países é uma mescla desses dois sistemas que
ora se aproxima de um tipo de organização, ora de outro, conforme o grau da
participação do estado na economia.

Nesse tipo de sistema cabem ao estado a orientação e o controle de muitos


aspectos da economia. Para tanto, ele se utiliza das empresas públicas e de outros
instrumentos a sua disposição, tais como a legislação etc.

Exemplos:

i) Quando o estado executa obras, tais como a construção de estradas e pontes, ele
está automaticamente dizendo ao setor privado que deseja que sejam produzidos os
materiais necessários à execução de tais obras (cimento, aço etc);

ii) O estado, por exemplo, através do código penal proibir a produção de drogas; ao
fazê-lo, está diretamente dizendo o que não deve ser produzido e, indiretamente, aquilo
que se pode produzir;

14
iii) Complemento da iniciativa privada: são investimentos em infraestrutura básica
(energia, estradas, etc.), o qual, eventualmente, o setor privado não tem condições
financeiras de assumir, seja pelo elevado montante de recursos necessários, seja em
virtude do longo tempo de manutenção do investimento, até que venha a propiciar
retorno sobre o capital investido.

iv) Fornecimento de bens públicos: são bens gerais, fornecidos pelo Estado que não
são vendidos no mercado: Ex: justiça, segurança nacional, etc.

v) Atuação sobre a formação de preços: impostos, subsídios, tabelamentos, fixação de


salário-mínimo, preços mínimos, taxa de câmbio, taxa de juros, etc.

2.5. SISTEMAS ECONÔMICOS: UM RESUMO

As diferenças entre os sistemas de economia de mercado e economia centralizada


podem ser resumidas em dois aspectos:

 Propriedade pública x propriedade privada dos meios de produção;

 Os problemas econômicos fundamentais (o que e quanto, como e para quem


produzir) são resolvidos ou por um órgão central de planejamentos, ou pelo
mercado.

As economias de mercado tendem a apresentar maior eficiência alocativa, em


virtude da menor interferência do governo nas decisões de produção e, portanto, na
alocação de recursos, permitindo que as forças de mercado estabeleçam as
prioridades da sociedade, com grande ênfase na produção de bens de consumo.

Já o sistema de planejamento central fracassou em grande parte dos países,


tanto em melhorar a distribuição da renda como em realizar um atendimento básico da
população. Por esse motivo, as economias atuais, mesmo as guiadas por governos

15
comunistas, como china e Rússia, têm aberto cada vez mais espaço para a atuação da
iniciativa privada.

Fontes:

PASSOS, Carlos Roberto Martins & NOGAMI, Otto. Princípios de Economia. 5 ed.
São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

PINHO, Diva Benevides e VASCONCELOS, M.A.S. Manual de Economia; Equipe dos


professores da USP. 2 ed., São Paulo: Saraiva, 1997.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Ed. Best Seller,
1999.

VASCONCELOS, Marco Antônio de. Economia: Micro e Macro. 5 ed. São Paulo:
Atlas, 2001.

Disponível em: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/01/exclusivo-do-bom-


dia-brasil-conheca-primeira-penitenciaria-publico-privada-do-pais.html Acesso em: 27
ago. 2017, 16:00.

16

Você também pode gostar