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Olavo de Carvalho
Estes princípios não são regras a ser seguidas na política prática. São um conjunto de
critérios de reconhecimento para você distinguir, quando ouve um político, se está
diante de um conservador, de um revolucionário ou de um “liberal”, no sentido
brasileiro do termo hoje em dia (que é uma indecisa mistura dos dois anteriores).
2. Cada geração tem o direito de escolher o que lhe convém. Isto implica que nenhuma
geração tem o direito de comprometer as subseqüentes em escolhas drásticas cujos
efeitos quase certamente maléficos não poderão ser revertidos jamais ou só poderão sê-
lo mediante o sacrifício de muitas gerações. O povo tem, por definição, o direito de
experimentar e de aprender com a experiência, mas, por isso mesmo, não tem o direito
de usar seus filhos e netos como cobaias de experiências temerárias.
3. Nenhum governo tem o direito de fazer algo que o governo seguinte não possa
desfazer. É um corolário incontornável do princípio anterior. As eleições periódicas não
fariam o menor sentido se cada governo eleito não tivesse o direito e a possibilidade de
corrigir os erros dos governos anteriores. A democracia é, portanto, essencialmente
hostil a qualquer projeto de mudança profunda e irreversível da ordem social, por pior
que esta seja em determinado momento. Nenhuma ordem social gerada pelo decurso
dos séculos é tão ruim quanto uma nova ordem imposta por uma elite iluminada que se
crê, sem razão, detentora do único futuro desejável. No curso dos três últimos séculos
não houve um só experimento revolucionário que não resultasse em destruição,
morticínio, guerras e miséria generalizada. Não se vê como os experimentos futuros
possam ser diferentes.