ESTUDOS PRAGMÁTICOS

11/04/2023 2

PRAGMÁTICA
CONVERSACIONAL
Herbert Paul Grice
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Meaning
• Significação natural ocorre quando, por
exemplo, vemos fumaça e concluímos que
há fogo, ou quando vemos nuvens escuras e
dizemos que elas significam chuva.
• Significação não natural é aquela dos
símbolos, da língua e dos códigos, estando,
portanto, diretamente ligada à comunicação.
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Significação Não Natural

• O falante expressou “X” com a intenção
de produzir uma crença mediante o
reconhecimento dessa intenção.
• O significado é uma função da intenção
do falante e do reconhecimento dessa
intenção por parte do ouvinte.
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Interpretação de Strawson
• André A elocução x produzida pelo
Falante F produz uma certa resposta r
num certo Receptor R;
• Bruno A intenção André do Falante F é
reconhecida pelo Receptor R;
• (c) O reconhecimento da intenção
André do Falante F pelo Receptor R
funciona pelo menos como parte da
razão de o Receptor R dar a resposta
r.
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Exemplo Clássico
• André e Bruno estão conversando sobre Carlos.
• André pergunta a Bruno sobre o emprego de Carlos.
• Bruno responde: “Oh! muito bem, eu acho; ele gosta
de seus colegas e ainda não foi preso”.

• A resposta de Bruno diz que Carlos está bem e ainda

não foi preso e implica ou sugere que isso pudesse
ter acontecido, porque Carlos pode ceder às pressões
do seu trabalho e fazer algo que o leve à prisão.
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Logic and Conversation

• Grice introduz três termos técnicos:

• implicitar (implicate)
• implicatura (implicature)
• implicitado (implicatum)

• O objetivo é organizar, ao redor desses três termos técnicos

um sistema explicativo dessa significação que André e Bruno
podem entender, mas que não foi dita efetivamente.
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Princípio de Cooperação
• Faça sua contribuição conversacional tal
como é requerida, no momento em que
ocorre, pelo propósito ou direção aceito da
troca de fala em que você está engajado.
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Máximas Conversacionais
Quantidade
1. Faça sua contribuição tão informativa como requerida
2. Não seja mais informativo do que é requerido.
Qualidade (Tente fazer de sua contribuição uma verdade)
1. Não diga o que você acredita ser falso.
2. Não diga algo que você não tem evidência adequada.
Relação
1. Seja relevante
Modo (Seja evidente)
1. Evite obscuridade de expressão.
2. Evite ambiguidade.
3. Seja breve (evite prolixidade desnecessária)
4. Seja ordenado.
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Exemplo de Implicatura
1. João é um leão. 
O falante abertamente (deliberada e flagrantemente)
viola a máxima de veracidade, acionando a possível
implicatura pretendida (2)

2. João é parecido com um leão.

Segue uma interpretação que satisfaz o PC e as
máximas sem restaurar a suposição de que o falante
obedeceu à máxima de veracidade, porque (1) é
descaradamente falso.
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Tipos de Implicatura
• Convencionais
• Ele é gaúcho, mas não é grosso.
• Gaúchos são grossos
• Conversacionais Generalizadas
• Teresa deu presentes a um bebê ontem.
• O bebê não é filho de Maria
• Conversacionais Particularizadas
• Maria está tão feliz agora
• Maria voltou com o namorado
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Implicaturas Particularizadas: Características

• Calculáveis ou dedutíveis
• Canceláveis
• Não separáveis
• Indetermináveis
• Externas ao sentido do enunciado (não convencionais)
• Não determinadas pelo dito, mas pelo dizer e dito.

• Estou com dor-de-cabeça. 

• Há uma farmácia na esquina.
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Síntese
• Grice argumenta que deve haver uma regra para que o
falante diga mais do que está dito literalmente e para
que o ouvinte capte essa informação adicional.
• Dessa teses derivou-se o princípio da cooperação
• Além disso, Grice postulou quatro categorias, com
máximas e submáximas, que devem ser cumpridas para
que uma interação (conversação) seja bem sucedida
• Quebras voluntárias dessas categorias geram
implicaturas conversacionais.
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VERSÃO 2.0
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Situações
• Há três situações diversas em que as implicaturas podem
ser produzidas, considerando o princípio da cooperação.
• Nenhuma máxima é violada
• Uma máxima é violada para que outra máxima não seja violada
• Uma máxima é violada para obter uma implicatura conversacional
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Nenhuma máxima é violada

André: Estou com dor de cabeça.
Bruno: Há uma farmácia nesta rua.

André deduz que Bruno diz haver uma

farmácia na rua porque quer implicar que
ela deve estar aberta e ter remédios que
possam ser adquiridos por André para
que seu problema seja resolvido.
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Nenhuma máxima é violada

André: Não suporto mais minha mãe.
Bruno: Freud explica isso.

André depreende da resposta de Bruno que ele

quer implicar a natureza psicanalítica da
relação de André com sua mãe.
No caso, a implicatura poderia remeter a um
elemento do contexto cultural comum a André e
Bruno representado pelo “Complexo de Édipo”.
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Nenhuma máxima é violada

André: A crise econômica parece cada vez pior.
Bruno: Parece? Você já leu “O Capital”?

Se André conhece a obra de Marx, ele poderá

deduzir que Bruno deseja implicar que não
apenas parece que a crise aumenta, mas que a
obra de Marx confirma essa impressão.
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Uma máxima é violada para outra não ser

André: Que significa “pressuposição”?
Bruno: Consulte uma obra de semântica.

Bruno não responde à pergunta, oferecendo em

seu lugar uma informação relativamente vaga, mas
que implica uma informação segura e sincera.
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Uma máxima é violada para outra não ser

André: Que horas são?
Bruno: Já é tarde.

A pergunta de André requer a hora certa. Sabe-se,

entretanto, que é muito frequente que Bruno não
tendo condições de dar a informação exigida, ofereça
alguma satisfação à pergunta, embora de forma vaga.
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Uma máxima é violada para outra não ser

Ana: Você me ama?
Bruno: Eu gosto de estar em sua companhia.

A resposta poderia ser sim ou não. Contudo, Bruno prefere

afirmar algo que parece estar quebrando as máximas de
relevância e de quantidade, tentando implicar que não pode
ou não quer dar uma resposta radical à pergunta de Ana.
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Abandono da máxima da quantidade

• Falta de informação

André: O que você pensa dos judeus?

Bruno: Um judeu é um judeu.

A tautologia representa uma violação voluntária da máxima

da quantidade à medida que Bruno resolve responder a
pergunta com uma afirmação redundante para implicar que
judeu não é, apenas, um povo particular, mas um povo
especial por tudo o que se disse dele.
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Abandono da máxima da quantidade

• Excesso de informação

Ana: Qual foi o resultado do jogo de hoje?

Bruno: O Grêmio perdeu de dois a zero e, agora, está com
três pontos atrás do Inter e com saldo negativo de gols.

A resposta de Bruno é mais informativa do que o requerido

para que possa implicar que o Grêmio, além de perder,
está em má situação na tabela de classificação.
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Abandono da 1a máxima da qualidade

André: O que você acha do governo militar?
Bruno: Democrático demais.

André e Bruno sabem que a grande acusação feita aos

governos militares é a de eles não terem sido eleitos
pelo povo na maioria dos casos e obstaculizarem as
eleições diretas. A resposta de Bruno é francamente
irônica, afirmando algo em que ele não acredita, para
implicar queo governo de antidemocrático.
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Abandono da 1a máxima da qualidade

André: Em São Paulo todos trabalham.
Bruno: São Paulo é uma enorme fábrica.

André e Bruno sabem que Bruno sabe que São Paulo

não é uma enorme fábrica, mas entendem que a
resposta metafórica implica a crença de Bruno sobre
a capacidade de trabalho que há nesta cidade.
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Abandono da 1a máxima da qualidade

André: João foi internado numa clínica psiquiátrica.
Bruno: É, ele andava um pouco nervoso.
André: A mãe dele já está bastante velha.
Bruno: Velha? É uma criatura pré-histórica.

Eufemismo e disfemismo. As respostas de Bruno são

intencionalmente falsas. A primeira, no sentido de
suavizar a normalidade psíquica de João, e a segunda,
no sentido de exagerar a velhice de sua mãe.
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Abandono da 1a máxima da qualidade

Ana: Você me acha bonita?
Bruno: Você é a mais linda do mundo.

Bruno está exagerando (hipérbole) para implicar

que ele a considera muito linda, embora,
provavelmente, não acredite no que diz, porque
também não possui evidência do que afirma.
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Abandono da 2a máxima da qualidade

André: Onde está o Delfim Neto?
Bruno: Deve andar pedindo algum dinheiro por aí.

André sabe que Bruno não teria condições de provas do

que disse, mas entende, perfeitamente, que ele Bruno quer
implicar que o Ministro do Planejamento dos governos
militares só pede empréstimos.
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Abandono da máxima da relação

Ana: Me dá uma aliança de brilhante de presente?
Bruno: Puxa! Como está quente, hoje.
Ana: Eu perguntei se você vai me dar a aliança?
Bruno: Em compensação, acho que vai chover.

Neste contexto, Bruno quebra a máxima de relevância

para implicar que não quer enfrentar a pergunta de
Ana, sua mulher.
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Abandono da máxima de modo

Ambiguidade
André: Sua secretária parece ser eficiente.
Bruno: Sem dúvida, é uma mulher muito boa.

A resposta de Bruno explora a ambiguidade da

expressão “boa” em português quando aplicada a
uma mulher. Bruno diz que ela é boa, mas implica a
possibilidade de ela ser muito sensual.
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Abandono da máxima de modo

Obscuridade
Ana: Por que me pediu para esperá-lo no quarto?
Bruno (Na frente da mulher e do filho pequeno): Bem, eu
tinha um assunto muito importante para tratar com
você, um assunto particular, você me entende, não?

Bruno está sendo obscuro para não falar de algo que não
quer que o filho saiba. Explora a vagueza da resposta
para implicar que quer algo com sua mulher (sexo, por
exemplo) de que o filho não deve tomar conhecimento.
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Abandono da máxima de modo

Falta de concisão
André: Qual obra de Gazdar define pragmática?
Bruno: Na obra Pragmatics, Implicature, Presupposition and
Logical Form, de 1979, editada pela Academic Press, na
página 2, terceiro parágrafo da introdução, na oitava linha.

André entende que a resposta de Bruno quer implicar o seu

nível de especialização e conhecimento bibliográfico.
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Abandono da máxima de modo

Falta de ordem
Ana: Você sabe brincar de índio?
Bruna: Brincadeira de índio mim gostar.

A resposta de Bruna quebra, intencionalmente,

a ordem para implicar que ela aceitou o convite.
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CARACTERÍSTICAS
Calculáveis ou dedutíveis
Canceláveis
Não separáveis
Indetermináveis
Externas ao sentido do enunciado (não convencionais)
Não determinadas pelo dito, mas pelo dizer e dito.
 11/04/2023 35

Cálculáveis
• F disse que p.
• Não há razão para pensar que F não está observando
as máximas ou, pelo menos, o princípio cooperativo.
• Para que F diga que p esteja realmente observando as
máximas do princípio cooperativo, F deve pensar que q.
• F deve saber que é conhecimento mútuo que q deve ser
suposto para que se considere que F está cooperando.
• F não fez nada para impedir que eu, o destinatário,
pensasse que q.
• F pretende que eu pense que q e, ao dizer que p
comunicou a implicatura q.
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Calculáveis
André: Estou com dor-de-cabeça.
Bruno: Há uma farmácia nesta rua.

A acredita que B está respeitando o princípio da cooperação e calcula: se B

disse que há uma farmácia nesta rua, B quer implicar que:
• Devo ir à farmácia;
• Ela deve estar aberta;
• Ela deve ter remédio para dor-de-cabeça;
• Eu devo comprá-lo;
• Isso irá resolver meu problema.
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Canceláveis
André: Preciso de dinheiro.
Bruno: Não me irrite.

André pode entender que Bruno está implicando que

André não deve pedir-lhe dinheiro. Bruno, porém,
pode não estar obedecendo ao princípio da
cooperação e, simplesmente, estar protestando
contra o gesto de André ou, até referindo-se a outra
atitude de André que bate a porta, por exemplo.
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Não separáveis
As implicaturas conversacionais exigem conhecimento
contextual, além de conteúdo semântico da expressão,
não dependendo do modo da expressão. A implicatura
permanecerá desde que se diga a mesma coisa ainda
que de outra maneira, com sinônimos, por exemplo.

André’: A minha cabeça está doendo.

André”: Estou com dor-de-cabeça. 
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Indetermináveis
André: O que você acha do Cristiano Ronaldo?
Bruna: Cristiano Ronaldo é um gato.

Bruna viola a máxima da qualidade. Ela sabe

que Cristiano Ronaldo não é um gato, mas quer
implicar que ele é, por exemplo, um homem
sensual. O cálculo da implicatura pode gerar
uma lista aberta de implícitos indeterminados
como é o caso dos subentendidos.
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Não convencionais
Uma implicatura conversacional pode ser convencional,
mas, em princípio, não deve fazer parte da força
convencional das palavras do enunciado.

André: Você acha que política é uma coisa simples?

Bruno: Tanto quanto a teoria da relatividade.

Bruno produz uma implicatura conversacional pois

André deduz que, com a aparente irrelevância na
resposta de Bruno, Bruno implica que política é muito
difícil e complexa.
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Não veiculada pelo dito

André: Será que João fez a bobagem de viajar?
Bruno: Se ele fez, está feito.

O enunciado de Bruno é verdadeiro, pois é tautológico.

Com essa tautologia, Bruno quer que André perceba
que sua preocupação não resolve nada.
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PRAGMÁTICA CONVERSACIONAL
Herbert Paul Grice