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SEMÂNTICA

Fábio José Rauen


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SEMÂNTICA ARGUMENTATIVA
Oswald Ducrot
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Enunciação e Argumentação
• A referência é uma ilusão criada pela linguagem, como
um jogo de argumentação enredado em si mesmo.
• Não falamos sobre um mundo, falamos para constituir um
mundo e, a partir dele, tentar convencer nosso interlocutor
da nossa verdade, uma verdade criada pelas nossas
interlocuções (discurso).
• Por exemplo, a pressuposição é criada pelo próprio jogo
de encenação polifônica (no sentido que comporta vários
enunciadores) que a linguagem constrói.
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Frase e Enunciado
• Frase: estrutura gramatical (é uma invenção da gramática).
• Enunciado: ocorrência particular de uma frase.

• A cada vez que uma frase é dita, há um novo enunciado.


• O linguista não observa frases, mas ocorrências de frases (enunciados).

• Fazer a gramática de uma língua é especificar e caracterizar as frases


subjacentes aos enunciados realizados através dessa língua.
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Três acepções de Enunciação


• Atividade psicofisiológica implicada pela produção do enunciado.
• Produto da atividade do sujeito falante.
• Acontecimento constituído pelo aparecimento de um enunciado.

• A realização de um enunciado é de fato um acontecimento histórico: é dada


existência a alguma coisa que não existia antes de falar e que não existirá mais
depois. É esta aparição momentânea que Ducrot chama de enunciação.
• Enunciação não é o ato de alguém que produz um enunciado; mas
simplesmente o fato de que um enunciado aparece.
• Em função disso, Ducrot não tem de decidir se há um autor e qual é ele.
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Significação e Sentido
• Significação = caracterização semântica de uma frase.
• Sentido = caracterização semântica de um enunciado.

• Entre outras coisas, interpretar uma produção linguística consiste em


reconhecer nelas atos, e esse reconhecimento se faz atribuindo a um
enunciado um sentido, que é um conjunto de indicações sobre a enunciação.
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TEORIA POLIFÔNICA DA ENUNCIAÇÃO


Locutores e Enunciadores
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Crítica à Unicidade do Sujeito da Enunciação


• A ideia de que para cada enunciado há um sujeito permite empregar a
expressão “o sujeito”, pressupondo-o como uma evidência que há um ser único
autor do enunciado e responsável pelo que é dito no enunciado.

• Quais são as propriedades desse sujeito?


1. Ele é dotado de toda atividade psicofisiológica para produzir o enunciado.
2. Ele é o autor/origem dos atos ilocutórios da produção do enunciado.
3. Ele é designado pelas marcas de primeira pessoa.
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Tese
• A descrição da enunciação pode conter vários
sujeitos como origem, de tal forma que entre esses
sujeitos podemos distinguir pelo menos dois tipos de
personagens: os locutores e os enunciadores.
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Locutor
• Ser que é apresentado, pelo próprio sentido do enunciado, como responsável,
ou seja, alguém a quem se deve imputar a responsabilidade deste enunciado.
• É a ele que se referem pronome pessoais e marcas de primeira pessoa.
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Locutor
• O locutor, designado por eu, pode ser distinto do autor empírico do enunciado,
de seu produtor – mesmo que as duas personagens coincidam habitualmente
no discurso oral. Locutor não se confunde com autor.
• Locutor é uma ficção discursiva e sujeito falante é um elemento da experiência.
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Locutor
• Já que o locutor (ser do discurso) foi distinguido do sujeito falante (ser
empírico), Ducrot propõe distinguir, no próprio interior da noção de locutor, o
“locutor enquanto tal” (L) e o locutor enquanto ser no mundo ().
• L é o responsável pela enunciação, considerado unicamente enquanto tendo
essa propriedade.
•  é uma pessoa “completa”, que possui, entre outras propriedades, a de ser a
origem do enunciado.
• Ambos se distinguem do sujeito falante (que deve ser uma representação
externa e estranha àquela que é veiculada pelo enunciado.
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Enunciador
• “Eu não estou bem”: não creia que você vai me comover com isso.
• Um enunciado pode fazer surgir vozes que não são as de um locutor.
• Ducrot chama de “enunciadores” estes seres que são considerados como se
expressando através da enunciação, sem que para tanto se lhes atribuam
palavras precisas; se eles “falam” é somente no sentido em que a enunciação
é vista como expressando seu ponto de vista, sua posição, sua atitude, mas
não, no sentido material do termo, suas palavras.

• Enunciador está para o locutor assim como a personagem está para o autor.
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Polifonia
• Eu me sinto cansado.
• O locutor se apresenta como origem do ponto de vista.
• Segundo meu médico, estou cansado.
• O locutor não se apresenta como origem do ponto de vista.

• L = Locutor
•  = Pessoa no mundo
• E = enunciador: o ponto de vista assimilado por L
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Negação
• Pedro não é gentil.

• E1 – Pedro é gentil
• E2 – Negação do que é dito por E1

• L assimila E1 e E2
• L se opõe a E1 e assume E2.
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Ironia
• Pedro é gentil.

• E1 – Pedro é gentil
• E2 – Negação do que é dito por E1

• L assimila E1 e E2.
• L se opõe a E1 e assume E2.

• Falar de modo irônico é, para L, apresentar a enunciação


como expressando a posição de um enunciador E que L
considera absurda e não assume a responsabilidade.
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Auto-Ironia
• O tempo vai ser ótimo!

• E1 – O tempo será ótimo


• E2 – Negação do que é dito por E1

• L assimila E1 e E2.
• L se opõe a E1 e assume E2.

• O ser a quem L assimila, é o ponto de vista de , o meteorologista ignorante


que se meteu a prever o tempo sem ser capaz. L tira proveito das besteiras
de  e, depois, se beneficia, já que L é uma de suas múltiplas figuras
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Pressuposição
• Maria parou de fumar
• E1: Maria fumava antes
• E2: Maria não fuma mais

• L assume E1-2
TOPOI ARGUMENTATIVOS
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Argumentação e Topoi
• Pedro é rico, portanto é feliz.
• Pedro é rico, portanto não é feliz.
• Pedro não é rico, portanto não é feliz.
• Pedro é rico, no entanto não é feliz.

• + Riqueza + Felicidade
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Argumentação
Normativa Transgressiva

• Pedro é gentil, por isso eu gosto • Pedro é gentil, mas eu não gosto
tanto dele. dele.
• Se chover, vou sair. • Vou sair, mesmo que chova.
• João foi prudente, portanto não • João foi pudente, mesmo assim
sofreu um acidente sofreu um acidente

• Mesma orientação argumentativa • Orientação Argumentativa Contrária


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Argumentação Interna
• Pedro é uma pessoa prudente.

• Se perigo, então precaução.

• + Perigo + Precaução
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Argumentação Interna
• Pedro é uma pessoa prudente.

• Se perigo, então precaução.

• +Perigo  + Precaução (Normativo)


• +Perigo  - Precaução (Transgressivo)
• -Perigo  + Precaução (Transgressivo)
• -Perigo  - Precaução (Normativo)
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