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Disciplina: Estrutura e Funcionamento da Língua Estrangeira II

Discente: José Jackson da Silva Freire

Docente: João Luiz Teixeira de Brito

IMPLICATURA

No nosso dia-a-dia, estabelecemos contatos mútuos com pessoas através da linguagem.


Essa interação acontece uma vez que, o que o outro diz, eu entendo e o respondo, e vice-versa.
A comunicação que é estabelecida na comunicação entre dois ou mais indivíduos é extratextual.
Desta forma, ao construímos um diálogo, a comunicação se dá pelo sucesso da interação entre
os indivíduos não somente pelos enunciados com o uso da ferramenta da linguagem, mas
também devido a elementos extralinguísticos, como a entonação da voz, a linguagem corporal,
o contexto sociocultural, o lugar e o momento onde está acontecendo a comunicação, dentre
outros fatores. A área da linguística que se dedica a estudos sobre o funcionamento da língua
nessa perspectiva sociointeracionista e funcional é chamado de linguística funcionalista, que
nela aborda-se vários campos de estudo, sendo um deles a pragmática.

Herbert Paul Grice, um filósofo da linguagem, foi autor de um estudo muito importante
na área da pragmática, trazendo a noção de implicatura. Mas afinal, o que é implicatura? Este
termo, cunhado por H. P. Grice em 1975, refere-se a algo que o falante sugere, ou dá a entender,
com um enunciado, mesmo que não seja literalmente expresso. Grice distinguiu as implicaturas
convencionais das conversacionais, onde primeira está ligada ao campo da linguagem, por
palavras como “mas”, “apesar de”, “portanto”, etc., enquanto a segunda tem estão mais ligadas
ao extralinguístico. Vejamos alguns exemplos:

(1) Carlos is short, but he is strong.


(2) Driver: I’m out of gas.
Passerby: There is a gas station around the corner.

Em (1), temos um exemplo de implicatura convencional, onde o “mas” estabelece uma


relação de sentido entre as duas orações da sentença, onde o fato de o Carlos ser baixo é posto
em oposição ao fato de ele ser forte. Já em (2), temos uma situação onde o motorista, que diz
estar sem gasolina, infere, ao falar que está sem gasolina a um transeunte, que ele precisa de
ajuda para se informar sobre onde ele pode conseguir abastecer o seu veículo movido à
gasolina. E, mais além, seu veículo pode não estar literalmente sem gasolina – o mesmo pode
estar na reserva.

Segundo Grice, devido ao fato de que nem sempre aquilo que se diz corresponde à
realidade ou realmente é aquilo que se quer dizer, cria-se, portanto, a importância de se
considerar o contexto comunicativo nestes casos, onde chegamos ao significado por meio de
uma implicatura. Refletindo sobre a implicatura conversacional, Grice criou os princípios de
cooperação e as máximas conversacionais. O princípio de cooperação consiste considerar que os
indivíduos em uma conversação estão cooperando para a comunicação ser mais efetiva e feliz.
Desse princípio geral, resultam as máximas:

1. Máxima da quantidade (seja informativo o suficiente)


2. Máxima da qualidade (seja verdadeiro)
3. Máxima da relação (seja relevante)
4. Máxima do modo (seja claro)

Violar essas máximas conversacionais podem, de acordo com Grice, gerar um efeito de
sentido para o significado do enunciado, como no caso da ironia ou sarcasmo, onde o emprego
de uma implicatura conversacional se faz necessário para garantir o efeito esperado. Para
exemplificar essa tese, utilizarei do segundo episódio da 1ª temporada da série televisiva The
Big Bang Theory, onde retiro alguns trechos da fala dos personagens Leonard e Penny, que se
utilizam de sarcasmo ao falar com Sheldon. Segue:

(3) well-known folk cure for insomnia is to break into your neighbor's apartment and
clean.
(4) And what kind of doctor removes shoes from asses?

O exemplo (1) é de uma sentença proferida por Leonard. De antemão, ao lermos essa
sentença sem ter conhecimento do contexto onde ela foi proferida, podemos ter a impressão de
que Leonard resolve seu problema de insônia invadindo apartamento das pessoas e arrumando-
o. Entretanto, para entender o tom sarcástico da sentença, preciso deixá-los informados sobre o
contexto onde a fala em aconteceu: é manhã, e Sheldon acorda de bom humor, falando para
Leonard que dormiu “esplendidamente bem esta noite”. Leonard, que aparece de mal humor,
retruca falando a sentença utilizada no exemplo. Acontece que Sheldon passou a noite anterior
arrumado o apartamento de Penny sem a autorização da mesma, fato este que deixou Sheldon
aliviado o suficiente para ter uma boa noite de sono, uma vez que o mesmo é portador de uma
neuroatipicidade que o impede de não se incomodar com o estado organizacional do
apartamento de Penny, sua vizinha. Entretanto, devido Sheldon ter invadido as dependências de
Penny para realizar tal ato no meio da noite, Leonard, que divide residência com Sheldon e é
apaixonado por Penny, sofre o efeito contrário ao de seu colega de quarto, e se sente
desconfortável pela situação. Desta forma, entendemos que Leonard infere, na sentença em
questão, que o que Sheldon fez na noite passada não é algo eticamente válido, e que, portanto,
não deveria ser um ato que lhe gerasse a reação de alívio que Sheldon teve. Entretanto, devido o
Sheldon não ter capacidade de reconhecer um sarcasmo, ele acaba por não entender o real
significado do enunciado, e presume que Leonard está de acordo com a ideia de que invadir o
apartamento alheio para organizá-lo é uma conhecida cura para insônia.

No exemplo (2), temos uma pergunta de Penny feita para o Sheldon. É um tipo de
pergunta bem inusitada se não considerarmos o contexto, como todo enunciado que carrega uma
implicatura. Portanto, sigo com a explicação: Penny falar para Leonard e Sheldon que está
brava com eles por presumirem que eles invadiram a sua casa para arrumá-la enquanto ela
dormia. Sheldon retruca dizendo que ela não somente dormia, como também roncava, e que ela
deveria consultar um “médico de garganta”, como o mesmo diz, deduzindo que Penny não havia
entendido o porquê de ele ter indicado para ela um otorrinolaringologista. Irritada com Sheldon,
Penny segue o fazendo pergunta do exemplo (2). Tendo em consideração o contexto aqui
descrito, chegamos à conclusão de que a pergunta feita por Penny infere que ela está tão irritada
com Sheldon que poderia agredi-lo fisicamente. Temos, então, uma implicatura, onde o
significado do que foi dito linguisticamente não foi literal, porém, tendo em vista o contexto, o
enunciado sugeriu, ou deu a entender, o seu real significado. Obviamente, o cientista que não
entende de sarcasmo mais uma vez acabou entendendo a pergunta como literal, dando o tom
humorístico da cena.

REFERÊNCIAS:

MARTELOTTA, Mario Eduardo. Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011.

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