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Semântica e Pragmática
Um semanticista formal quer compreender a capacidade que todos nós temos desde
bebezinhos de compreender o que as pessoas falam com a gente e o que falamos com elas
(e o que falamos com nós mesmos). É algo bem trivial, mas fascinante e complexo. Por
exemplo, se você fala português você entende o que a sentença abaixo diz:
As línguas naturais são essencialmente ancoradas no contexto. Os dêiticos, como eu, uma
palavrinha tão boba, mas que revela uma característica fundamental dos seres humanos e
que transparece nas línguas naturais, o conhecimento de se, sobre si mesmo.
Reflita sobre a sentença em (2). Ela é verdadeira ou falsa?
e (6) expressam esses mesmos pensamentos. (3) e (5) veiculam a mesma proposição. Veja
o capítulo 2 Ferreira sobre Kaplan e a semântica em dois tempos: primeiro atribuímos um
valor para os dêiticos e em seguida avaliamos se é verdadeiro ou falso.
Mas pensa bem o que ela significa. Quem é esse brasileiro? Quem irá votar? A semântica
estuda essa capacidade de compreender as sentenças de uma língua.
Nesta disciplina vamos entender como funciona essa capacidade de compreender
sentenças. Sentenças ocorrem em contextos que elas tanto modelam quanto atualizam. Um
contexto é um fundo compartilhado de informações. O ‘eu’ é uma instrução que indica quem
está com a palavra. No Português, o ‘eu’ não tem gênero (só em ‘euzinha/o’). Em Rikbaktsa
(Macro-Jê) tem um eu para mulheres e outro para homens. Em Mandarin, há um eu que só
o imperador usa. Essas manifestações morfológicas realizam a mesma tarefa: ser o falante.
A Maria compreendeu o que a sentença expressa e entendeu que aquele proferimento era
um convite para jantar. Veja que eu estou com fome não significa um convite para jantar,
mas pode ser usada para isso.
A pragmática estuda o que o falante quis dizer com o que ele disse. A semântica estuda o
que o falante disse.
Guia para se tornar um semanticista formal 3
A sentença diz que no momento em que o falante profere, no momento de fala, está em
curso, se desenrolando, um evento de chuva na situação em que o falante está.
Na situação da casa, é uma informação pouco relevante porque todos estão na casa, logo
todos sabem que está chovendo. Ou seja, essa informação já está no contexto. Por que o
falante disse algo que é óbvio? Porque ele está querendo dizer outra coisa. Ele fez um
pedido para que fossem tomadas providências tendo em vista a chuva. Essa é uma
implicatura.
A estrutura lógico matemática está por todo lugar nas línguas. Na operação mais
básica que sabemos que sua mente/cérebro, seu “computadorzinho”, opera porque ela é
absolutamente necessária para explicar o fato de que sabemos que há uma diferença entre
o que podemos chamar de predicado verbal, ama, e os nomes próprios como João e Maria.