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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Faculdade de Engenharia Mecânica


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica

TURBULÊNCIA DOS FLUIDOS

Capítulo 7:
Leis de Parede

Renan Francisco Soares

Prof. Dr. Aristeu da Silveira Neto

Uberlândia/MG
2014
Turbulência dos Fluidos
Prof. Dr. Aristeu da Silveira Neto

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
2. PRINCÍPIOS DE APLICAÇÃO ................................................................................. 6
3. FORMULAÇÃO DAS LEIS DE PAREDE PADRÕES ........................................... 9
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 12

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Escoamento com potencial uso de leis de parede:ausência de descolamento /


recirculação. ................................................................................................................................ 6
Figura 2 – Escoamento inviável para uso de leis de parede:presença de descolamento /
recirculação. ................................................................................................................................ 6
Figura 3 – Exemplo de malha numérica grosseira para solução das regiões de escoamentos
turbulentos através das leis de parede. ....................................................................................... 7
Figura 4 – Exemplo de malha numérica refinada para solução das regiões de escoamentos
turbulentos parietais sem uso das leis de parede. ....................................................................... 8
Figura 5 – Gráfico logaritmico de u+ e y+, demostrando o comportamento das curvas nas regiões
de subcamada viscosa, região tampão, núcleo turbulento e camada externa. .......................... 11

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1. INTRODUÇÃO

A condição física de não deslizamento sobre paredes afeta diretamente escoamentos


turbulentos. Os efeitos viscosos amortecem as componentes tangenciais de velocidade,
enquanto os efeitos cinéticos do escoamento nas vizinhanças amortecem as flutuações normais
à parede.
Deste modo, para a dinâmica dos fluidos, as leis da parede são uma ferramenta para
eficiência de soluções quanto se depara com problemas que envolvam escoamentos parietais.
As leis de parede afirmam que a velocidade média de fluxo turbulento em um determinado
ponto é proporcional ao logaritmo da distância a partir desse ponto para a "parede", ou a
fronteira da região de fluido.
Esta lei da parede foi publicada pela primeira vez por Theodore von Karman, em
1930, tecnicamente aplicável apenas a partes do fluxo que estão perto da parede, embora seja
uma boa aproximação para a totalidade do perfil de velocidades de fluxos naturais.
Quanto analisado na espessura do fluido logo em sequência da parede, tal camada
possui fluido em condição estacionaria em relação à parede e, logo, não conter energia cinética
turbulenta. Contudo, distanciando em direção ao núcleo turbulento da camada limite, os altos
gradientes de velocidade geram energia cinética turbulenta.
Assim, conclui-se que a natureza das instabilidades parietais é muito refinada
(instabilidades de altas frequências ou altos números de onda) o que torna a integração das
equações muito cara na região parietal. Um exemplo são as ondas de Tollmien-Schlichting
(ondas TS – estruturas vorticais presentes no início da transição de um escoamento laminar para
turbulento), onde elas estão dentro da camada limite do escoamento, que geralmente possui
escala de comprimento muito menor do que o corpo que porta tal camada limite.
Em consequência, modelos acurados para esta região de escoamentos é de extrema
importância para a precisão do resto dos resultados.
Uma vez que a maioria dos modelos de turbulência são deduzidos para escoamentos
afastados das paredes, conhecidos como núcleos turbulentos, considerações são necessárias
afim de tornar estes modelos utilizáveis para escoamentos limitados por paredes.

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Experimentos têm permitido evidenciar que a região parietal de um escoamento


turbulento pode ser subdividida em três regiões, segundo a direção normal do mesmo:

1. Subcamada viscosa: onde os efeitos da viscosidade e a difusão molecular


são predominantes e o escoamento é praticamente laminar, sendo também
conhecida como região linear.

2. Região tampão: também conhecida como região logarítmica, localiza-se


entre a subcamada viscosa e o núcleo turbulento, onde nesta região os efeitos
moleculares e turbulentos são similares.

3. Núcleo turbulento: nesta região o escoamento é plenamente turbulento.

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2. PRINCÍPIOS DE APLICAÇÃO

Quanto a aplicação das leis de parede, o uso é indicado para escoamento cujo
comportamento não apresenta descolamento (ou recirculação do escoamento sobre a parede);
pois escoamentos de alto y+, permitindo o uso de leis de parede, requerem menor número de
volumes em sua malha numérica, que resulta em menor custo computacional de solução do
problema.

Figura 1 – Escoamento com potencial uso de leis de parede:ausência de descolamento / recirculação.

Caso o escoamento apresente escoamento adverso, infelizmente a economia de


volumes na malha numérica não é possível devido à necessidade de resolver o escoamento
desde a subcamada viscosa.

Figura 2 – Escoamento inviável para uso de leis de parede:presença de descolamento / recirculação.

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Assim, as “leis de parede” são ferramentas muito populares para escoamentos a


altos números de Reynolds por permitir economizar tempo computacional. Estas têm sido
ferramentas robustas e relativamente precisas, sendo muito aplicadas no setor de
desenvolvimento industrial.
No entanto, as leis de parede não são recomendadas para escoamentos a baixos
números de Reynolds, escoamentos com presença de regiões de recirculação e com
descolamento/recolamento de camada limite. Nestes casos, recomenda-se modelos adaptados a
escoamentos para baixos Reynolds, integráveis até a parede.
As leis de parede são relações empíricas que servem para ligar as grandezas
calculadas nas células vizinhas a parede e as correspondentes grandezas na parede. Estas leis
compreendem “leis de parede” para velocidade, temperatura e concentração, assim como
fórmulas para as grandezas turbulentas junto às paredes.

Em resumo, pode-se classificar duas formas para se resolver a região viscosa,


composta pela subcamada viscosa e região tampão:

 A primeira forma de solução não é resolver diretament, mas sim modelar tal
região através de fórmulas empíricas chamadas de “leis de parede” utilizadas para ligar a região
viscosa com o núcleo turbulento.

Figura 3 – Exemplo de malha numérica grosseira para solução das regiões de escoamentos turbulentos
através das leis de parede.

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 A segunda forma de solução da região viscosa é modelar com modificações nos


modelos de fechamento da turbulência, com refinamento adicional adequado da malha junto à
parede; ou seja, resolver o escoamento desde a subcamada viscosa.

Figura 4 – Exemplo de malha numérica refinada para solução das regiões de escoamentos turbulentos
parietais sem uso das leis de parede.

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3. FORMULAÇÃO DAS LEIS DE PAREDE PADRÕES

Utilizando-se da barra para denotar variáveis dimensionais, tem-se a coordenada


adimensional perpendicular à parede como:

𝜌̅ 𝑦̅𝑢
̅̅̅𝜏
𝑦+ = (1)
𝜇̅

A velocidade cisalhante pode ser encontrada em função da tensão cisalhante e da


densidade do fluido, através da Eq. (2):

̅𝜏̅̅𝑤̅
𝑢𝜏 = √
̅̅̅ (2)
𝜌̅

Ainda, a velocidade cisalhante também é encontrada quanto a taxa de produção de


energia cinética turbulenta é igual a taxa de dissipação. Logo, para cμ como coeficiente de
fricção, tem-se:

𝑢𝜏 = 𝑐𝜇 1/4 √𝑘̅
̅̅̅ (3)

Sendo up a velocidade paralela à parede, no primeiro ponto afastado da parede na


normal, e 𝜗 a constante de Von Karman, a Eq. (4).

̅̅̅𝑝 1
𝑢
𝑢+ = = ln(𝑦 + ) + 5 (4)
𝑢𝜏 𝜗
̅̅̅

Unindo-se as Eqs. (3) e (4), deduz-se que a tensão cisalhante na parede é dada por:

̅̅̅
𝑢 𝑝
̅𝜏̅̅𝑤̅ = 𝜌̅ 𝑐𝜇 1/4 𝜗√𝑘̅ (5)
̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
ln(9.8𝑦 + )

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O mérito da Eq. (5) está em relacionar a velocidade horizontal na primeira malha e


a tensão cisalhante na parede.
Do ponto de vista da solução numérica, os volumes de controle adjacentes a parede
compartilham uma de suas faces com a mesma. Logo, a tensão cisalhante deve ser conhecida
para a equação da quantidade de momento tangente à parede. Esta avaliação é feita com a
equação Eq. (5).
Somente para quanto o primeiro ponto adjacente à parede estiver dentro da região
logarítmica (y+ > 30), são aplicáveis as seguintes condições do contorno:

𝜕𝑢
̅̅̅
𝑝
̅̅̅
𝑃𝑘 ≅ ̅𝜏̅̅𝑤̅ (6)
𝜕𝑦̅

𝜕𝑢
̅̅̅𝑝 𝑢𝑝 𝑐𝜇 1/4 √𝑘̅
̅̅̅
( ) = = (7)
𝜕𝑦̅ 𝑃 𝑦̅ 𝑦̅

𝑐𝜇 3/4 𝑘̅ 3/2
𝜀̅ = (8)
𝜗𝑦̅

Tais condições de contorno não são aplicáveis para regiões de descolamento e de


recolamento. No entanto, na prática este fato é ignorado e se aplica mesmo na ocorrência destes
fenômenos, devido à ausência de melhores modelos. No entanto se estas zonas forem muito
extensas, os erros podem ser relevantes.
Outro problema ocorre quando se utiliza malhas muito finas. Neste caso o primeiro
ponto fica aquém desta cota e os resultados certamente se deterioram.

Logo, no que se diz respeito ao número de Reynolds:

 Para escoamentos a altos Reynolds, a zona logarítmica é larga e fica mais fácil
de se localizar o primeiro nó dentro dela.

 Para escoamentos a baixos Reynolds, a zona logarítmica é mais esbelta e se torna


uma tarefa delicada garantir esta condição. Nestes casos, utiliza-se a relação dada pela Eq. (9):

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𝑦̃ + = max⁡(𝑦 + , 11.067) (9)

onde o valor 11,067 corresponde à interseção da zona logarítmica com a zona linear do perfil
de velocidade tangencial, vista na Figura 5.

Figura 5 – Gráfico logaritmico de u+ e y+, demostrando o comportamento das curvas nas regiões de
subcamada viscosa, região tampão, núcleo turbulento e camada externa.

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REFERÊNCIAS

SILVEIRA NETO, A. Apostila: Turbulência nos Fluidos Aplicada. MFlab,


UFU.
SILVEIRA NETO, A. Notas de aula. MFlab, UFU.
ALBETS-CHICO, X. et al. Analysis of Wall-function Approaches Using the-
Equation Turbulence Models. International Journal of Heat and Mass Transfer, 2008.
CRAFT, T. J et al. Progress in the Generalization of Wall-function Treatments.
International Journal of Heat and Mass Transfer, 2002.
KUMAR, V. Formulation of a Simple Law of Wall, 1980.
MORRISON, J. F. The Interaction Between Inner and Outer Regions of
Turbulent Wall-bounded Flow. The Royal Society, 2007.
SHILICHTING. H. Boundary-Layer Theory, McGraw-Hill, 2000.

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