Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Forças de Atrito
Forças de Atrito
O material a seguir apresentado deve ser complementado com a leitura do BEER &
JOHNSTON (capítulo 8).
Todos os temas desta aula tratam de atrito seco. Para que os resultados obtidos
aproximem melhor a realidade, todas as superfícies com atrito são consideradas não
lubrificadas.
F
c)
a) P b) P Equilíbrio
Fm
Q Fc
N N Fa Q
A Fig. (10.1a) ilustra um bloco apoiado num plano horizontal. Nesta situação, as forças
atuantes no bloco são o seu peso e a reação normal do plano horizontal. Já na Fig. (10.1b)
aplica-se também uma força horizontal Q. Quando Q é de pequeno valor o bloco não se move
porque ele é equilibrado pela força de atrito Fa. Aumentando-se Q a força Fa também
aumenta, até que se atinja um valor máximo Fm. Caso a força Q continue a aumentar, a força
de atrito não consegue mais equilibrá-la e o bloco inicia o movimento. A partir deste instante
o módulo da força de atrito assume um valor mais baixo Fc, que permanece constante
enquanto o bloco estiver se deslocando. A força de atrito Fm recebe o nome de força de atrito
estático e a força Fc recebe o nome de força de atrito cinético. A Fig. (10.1c) resume o
funcionamento de uma força de atrito seco.
Prova-se experimentalmente que
Fm = µ e ⋅ N (10.1)
Fc = µ c ⋅ N (10.2)
Q P
R
φe N
Fa
N N 1
tan φe = = = (10.3)
Fm µ e ⋅ N µ e
O ângulo φe é denominado ângulo de atrito estático. Raciocínio análogo pode ser feito para o
caso da força de atrito cinético resultando na equação (10.4), em que φc é o ângulo de atrito
cinético.
N N 1
tan φe = = = (10.4)
Fc µ c ⋅ N µ c
Para se resolver problemas com forças de atrito deve-se tomar alguns cuidados.
Quando as únicas informações transmitidas pelo texto do problema são os coeficientes de
atrito, então as forças de atrito devem ser obtidas através das equações de equilíbrio e as
forças de atrito resultantes devem satisfazer a condição F ≤ µe⋅ N . Quando o texto indica para
considerar a força de atrito máxima ou considerar que o objeto está na iminência de entrar em
movimento aplica-se diretamente a (10.1). Quando o objeto está em movimento aplica-se
diretamente a (10.2).
Exemplo 1. Uma força de 500N age num bloco de 1500 N colocado sobre um plano
inclinado. Verificar se o bloco está em equilíbrio e determinar o valor da força de atrito
sabendo que µe = 0,25 e µc = 0,2.
Solução: Escrever as equações de equilíbrio em relação ao
1500 N sistema de eixos inclinados.
x
y 53° ∑ FX = 0 → 500 − 1500 cos 53° − Fa = 0
∑ FY = 0
N
→ N − 1500 sen 53° = 0
37°
N = 1198 N
Caso o bloco estivesse na iminência de entrar em movimento a força de atrito seria dada por (10.1) ou seja
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 86
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
Como a força de 402,7 N, obtida pelas equações de equilíbrio, é superior a força de atrito estático (299,5 N)
conclui-se que o bloco está em movimento. Neste caso, a força de atrito é dada pela (10.2) ou seja
Fc = 0,2 ⋅ 1198 = 239,6 N
∑ FX → 500 − 1500 cos 53° + 239,6 = −163,1 N que é uma força não equilibrada que indica que o bloco vai
descer a rampa com velocidade crescente. Aplicando-se a Segunda Lei de Newton pode-se calcular qual é a
aceleração do bloco.
x x - 37,5
75 mm
FA
P P
A NA
A
150 mm
150 mm
FB
NB
B
B
75 mm
Solução: Para encontrar-se a mínima distância x deve-se considerar o valor máximo da força de atrito ou seja
FA = µ e ⋅ N A = 0,25 ⋅ N A e FB = µ e ⋅ N B = 0,25 ⋅ N B
Escrevendo-se as equações de equilíbrio para o diagrama de corpo livre acima ilustrado tem-se
∑ Fx = 0 → N A = NB
∑ Fy = 0 → F A + FB = P → 0,25 ⋅ (N A + N B ) = P → 0,25 ⋅ 2 N A = P → N A = 2 P
NB = 2P e FA = FB = 0,5 P
∑M B = 0 → 150 ⋅ N A − 75 ⋅ FA − P (x − 37,5) = 0
Pelos dois exemplos anteriores pode-se notar que a consideração das forças de atrito
não modifica o procedimento utilizado para as soluções dos problemas até aqui.
Pela importância da força de atrito em diversos equipamentos analisa-se a seguir
alguns problemas particulares.
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 87
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
10.2 CUNHAS
Cunhas são ferramentas simples utilizadas para erguer grandes blocos e para fazer
pequenos ajustes na posição de peças pesadas de maquinaria. As cunhas são bastante usadas
em processos de montagem e manutenção de equipamentos.
Elevação de Blocos. A Fig. (10.3) ilustra o uso de duas cunhas para a elevação de
grandes blocos. Nesta análise o peso das duas cunhas é desprezado em comparação com o
peso do bloco. O uso das cunhas deve permitir que o bloco seja erguido aplicando-se uma
força Q de valor inferior a P. A Fig. (10.3) ilustra também os diagramas de corpo livre do
bloco e de uma das cunhas. As forças FBA, FCA, FAC e FDC são forças de atrito que no caso
extremo são obtidas aplicando-se a equação (10.1). Pela Terceira Lei de Newton tem-se que
FAC = FCA e NCA = NAC.
A
FBA
P B P
NBA
Q
C FCA NCA
D
FAC NAC
Q α
NDC FDC
∑ Fx = 0 → N BA = µ eAC ⋅ N CA (1)
∑ Fy = 0
N CA
→ − N CA + N DC ⋅ cos α − µ eDC ⋅ N DC ⋅ sen α = 0 → N DC = (4)
cos α − µ eDC ⋅ sen α
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 88
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
Nas equações acima µeAB é o coeficiente de atrito estático entre o bloco A e a parede B; µeAC é
o coeficiente de atrito estático entre o bloco A e a cunha C; µeDC é o coeficiente de atrito
estático entre as cunhas C e D.
Para exemplificar o uso das equações anteriores considera-se que P = 5 kN, µeAB =
0,15, µeAC = µeDC = 0,25 e α = 5°. Substituindo-se (1) em (2) tem-se
P 5
N CA = = = 5,19 kN N BA = 0,25 ⋅ 5,19 = 1,3 kN
1 − µ eAB ⋅ µ eAC 1 − 0,15 ⋅ 0,25
5,19
N DC = = 5,33 kN
cos 5° − 0,25 sen 5°
Q 3
Q = 0,25 ⋅ 5,19 + 0,25 ⋅ 5,33 ⋅ cos 5° + 5,33 ⋅ sen 5° = 3 kN = = 0,6
P 5
A expressão (5), que é obtida operando-se sobre as equações anteriores, relaciona
diretamente as forças Q e P.
Uso de cunhas em ajustes. A Fig. (10.4) ilustra o uso de uma cunha para nivelar a
posição de uma viga com a horizontal. Neste tipo de aplicação podem surgir basicamente duas
perguntas. A primeira: “Qual é a força P necessária para mover a cunha a frente?”, e a
segunda: “A cunha é autobloqueante?”.
3 2 3 3 2 3
2 kN 4 kN 4 kN 2 kN 2 kN 4 kN 4 kN 2 kN
HA
15 o P A B HB VA A
B (m) VB (m)
a)
b)
-VB
-HB
P
FB
NB
c)
Na solução a seguir considera-se que o coeficiente de atrito estático entre a cunha e as duas
superfícies de contato é de 0,25. Deve ser desprezado o tamanho e o peso da cunha, bem
como a espessura da viga.
Solução: Escrevendo-se as equações de equilíbrio correspondentes à Fig. (10.4b) tem-se
∑ Fx = 0 → H A = H B (1)
∑ Fy = 0 → V A + V B = 12 (2)
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 89
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
Escrevendo-se as equações de equilíbrio para o diagrama de corpo livre da cunha, Fig. (10.4c), e considerando-
se os resultados anteriores pode-se escrever
Nas equações acima FB é a força de atrito entre a cunha e o perfil I e NB é a reação do perfil I, normal ao plano
inclinado da cunha. No caso limite sabe-se que FB = 0,25 ⋅ N B . Substituindo-se este resultado nas equações (4)
e (5) obtém-se NB = 6,66 kN, FB = 1,66 kN e P = 4,83 kN.
Para responder à segunda pergunta deste exemplo vai-se inverter o sentido da força P,
de modo que esta represente uma força que tem a função de remover a cunha. A Fig. (10.5)
apresenta o diagrama de corpo livre para este caso.
1,5 kN 6 kN
FB
NB
Considerando-se que FB = 0,25 ⋅ N B obtém-se da equação (2) que NB = 5,82 kN e FB = 1,45 kN. Substituindo-se
estes resultados em (1) obtém-se P = 1,39 kN. Concluí-se que para remover a cunha da sua posição é necessária
uma força externa de 1,39 kN. Considerando-se que esta força não seja aplicada tem-se uma cunha
autobloqueante ou seja uma vez posta na sua posição de trabalho ela não sai mais desta.
Pk - Pk
M
y
h
r
2πr
p
θ = arctan (10.5)
2πr
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 91
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
Para analisarmos o equilíbrio das forças que atuam na rosca vai se representar a rosca
por um pequeno bloco apoiado sobre um plano inclinado com um ângulo igual ao ângulo de
avanço θ. Este plano inclinado representa o lado interno da rosca de apoio da base do macaco
mecânico.
Para que o macaco mecânico sustente a carga W é necessário a aplicação de um par,
formado pelas forças –Pk e Pk, o qual gera o momento M. Estudando-se apenas o bloco
ilustrado na Fig. (10.8) nota-se que três forças atuam sobre o bloco ou parafuso. A força W é
o carregamento axial total aplicado ao parafuso. A força S é gerada pelo momento aplicado
M, de modo que M = S r, em que r é o raio médio do parafuso. Para equilibrar estas forças o
plano inclinado exerce uma força R sobre o bloco, tendo como componentes N, na direção
normal, e F na direção tangencial às superfícies de contato. A seguir são analisadas as várias
situações possíveis para este diagrama de corpo livre.
S
F
R
θ φ
N
θ n
∑ Fx = 0 → S − R sen (θ + φ ) = 0
∑ Fy = 0 → R cos(θ + φ ) − W = 0
M = W ⋅ r ⋅ tan (θ + φ ) (10.6)
S'
θ φ
R
n
θ
M = W ⋅ r ⋅ tan (θ − φ ) (10.7)
n
θ=φ
W S''
θ
R
φ
n
θ
Figura 10.10 – Diagrama de corpo livre para o caso do movimento descendente (θ < φ).
200 mm 200 mm
Pk
- Pk
Solução: Calcula-se inicialmente o ângulo de avanço conforme (10.5) e o ângulo de atrito estático conforme
(10.3).
2
θ = arctan = 2,43 φ e = arctan 0,3 = 16,7
2 ⋅π ⋅ 5
O momento em relação ao eixo central do parafuso vale M = 2 ⋅ 0,2 ⋅ 100 = 40 Nm
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 94
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
A força necessária para afrouxar o parafuso é obtida aplicando-se diretamente a equação (10.8).
25 kN
190
B
250
A D
Solução: O primeiro passo é fazer o diagrama de corpo livre da barra ABC. Para tal deve-se considerar que a
força exercida pelo parafuso nesta barra tem a direção da barra. Escrevendo-se as equações de equilíbrio para
esta barra obtém-se
25 kN
C
190
B
FB
α
250
HA A
VA
508 mm 381 mm
250
tan α = → α = 21,61
631
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 95
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
FB = 52,98 kN
10.4 CORREIAS
P1 P2
β
O
T1 T2
A análise de equilíbrio é feita sobre um pequeno elemento que está ilustrado na Fig. (10.13).
Numa das faces deste elemento atua uma força T e na outra face, distante ∆θ da primeira, atua
uma força T+∆T. Além disso, atuam uma componente normal ∆N da reação do tambor e a
força de atrito ∆F. Como se considera que o movimento é iminente sabe-se que ∆F = µ e ∆N .
Nota-se que quando ∆θ tende a zero os módulos de ∆N, ∆F e ∆T também tendem a zero.
Escrevendo-se as equações de equilíbrio para os eixos ilustrados na figura tem-se
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 96
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
∆ θ/2 ∆ θ/2 x
T T+∆ T
∆F
∆N
∆θ
∑ Fx = 0 → (T + ∆T ) cos ∆θ − T cos
∆θ
− µ e ∆N = 0 (10.9)
2 2
∆θ ∆θ
∑ Fy = 0 → ∆N − (T + ∆T ) sen − T sen =0 (10.10)
2 2
∆θ
∆N = (2T + ∆T ) sen (10.11)
2
∆θ ∆θ
∆T cos − µ e (2T + ∆T ) sen =0 (10.12)
2 2
dividindo-se ambos os membros da (10.12) por ∆θ e operando-se sobre esta obtém-se (10.13).
∆T ∆θ ∆T ∆θ
cos − µe T + sen =0 (10.13)
∆θ 2 2 ∆θ 2
dT dT
− µ eT = 0 → = µ e dθ (10.14)
dθ T
T2 dT β
∫T1 T
= ∫ µ e dθ
0
(10.14)
que resulta em
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 97
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
T2 T2 µ β
ln T2 − ln T1 = µ e β → ln = µe β → =e e (10.15)
T1 T1
A equação (10.15) pode ser empregada em problemas que envolvam correias passando em
tambores fixos, cordas enroladas em cabrestantes e freios de cinta. Neste tipo de problema, é
o tambor que está a ponto de girar, enquanto a cinta permanece fixa. Esta fórmula também
pode ser aplicada em correias de transmissão de potência. Neste caso, tanto a polia como a
correia giram, e o objetivo é verificar se a correia deslizará em relação à polia. Quando há um
deslizamento efetivo da correia ou corda deve-se aplicar o coeficiente de atrito cinético µc no
lugar de µe na expressão (10.16).
Exemplo 3. Determinar a força na amarra que poderia ser suportada por uma força de
200 N, quando a amarra estivesse enrolada 2 voltas completas em torno de um poste.
Considere que o coeficiente de atrito estático entre a corda e o poste é de 0,3.
Solução: Aplica-se diretamente a equação
(10.15).
β = 2 ⋅ 2π = 12,6 rad
T1 = 200 N e T2 = F
0,3⋅12,6
T2 = 200 ⋅ e = 8763 N
200 N
F
Exemplo 4. Uma correia plana liga a polia A, que aciona um equipamento, à polia B,
que é acionada por um motor elétrico. Os coeficientes de atrito entre ambas as polias e a
correia são µe = 0,25 e µc = 0,2. Sabendo que a maior força de tração na correia é de 3000 N,
determine o maior torque que pode ser exercido pela correia na polia A.
60o Solução: Considerando que a força de resistência ao
escorregamento entre a correia e a polia depende do
coeficiente de atrito estático e do ângulo β, nota-se que o
escorregamento ocorrerá antes na polia com menor β ou
200 mm seja a polia B. A figura na próxima página ilustra como
obter o ângulo de abraçamento para cada uma das polias.
0,25⋅2,094
3000 = T1 ⋅ e → T1 = 1777 N
60o
M A = 244,6 Nm
Exemplo 5. Determine a maior massa que pode ser suportada pelo tambor se uma
força de P de 20 N é aplicada ao punho da alavanca conforme ilustrado na Fig. (10.12). O
coeficiente de atrito estático entre a cinta e a roda é de 0,3. O tambor é fixado em seu centro B
através de um pino.
Solução: O freio de cinta utilizado neste exemplo é do tipo diferencial. Os dois extremos da cinta são ligados na
própria alavanca, com esta configuração a força T1 auxilia a aplicação do freio.
O primeiro passo para solução do problema é fazer o diagrama de corpo livre da alavanca.
25
P
T2
VC
C HC
T1
60
700
ENG 01156 – Mecânica - Aula 10 99
Prof Inácio Benvegnu Morsch - CEMACOM
200 300
B
25
(mm) P
C
60
A 700
200 300
B
HB T2
VB
mg
T1