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Literatura 1

2 Literatura

SUMÁRIO DO VOLUME
LITERATURA
1. Modernismo em Portugal 5
1.1 A geração de Orpheu 5
1.2 Fernando Pessoa e heterônimos 6
1.3 Outros autores representativos 16
1.4 A geração Presença 18
2. Produção literária contemporânea portuguesa 21
Literatura 3
SUMÁRIO GERAL
VOLUME 1

1. Modernismo em Portugal
2. Produção literária contemporânea portuguesa

VOLUME 2

3. Modernismo no Brasil

VOLUME 3

4. Poesia concreta, tropicalismo e poesia marginal


5. O teatro brasileiro no século XX
6. Produção literária contemporânea brasileira
7. A literatura africana de língua portuguesa
4 Literatura
Literatura 5
Modernismo em Portugal

1. MODERNISMO EM PORTUGAL
1.1 A geração de Orpheu

Em 1915, ano da publicação da revista Orpheu, começa o Modernismo em Portugal.


Os primeiros anos do século XX em Portugal foram de muita agitação. A monarquia estava em
crise (iniciada pelo Ultimatum inglês (1890)), pois o rei Carlos I e seu herdeiro, o príncipe Luís Felipe,
foram assassinados em fevereiro de 1908. Em 1910, uma redução pôs fim à monarquia portuguesa. Os
setores burgueses, representados pelos partidos conservadores, fizeram uma dura resistência ao partido
democrático. Era a República em Portugal.
O medo de perder as colônias ultramarinas, no começo da Primeira Guerra Mundial, fez com que Portugal
participasse do conflito em apoio às forças aliadas. Portugal garantiu com isso suas colônias, embora tenha
perdido cinco mil portugueses e enfrentado grandes dificuldades econômicas.
Em 1917, um golpe de estado de Sidônio Pais deu início à ditadura e, em 1918, seu assassinato
marcou os conflitos políticos no País.
Apesar de o cenário político nos primeiros anos republicanos ter sido de intensas e constantes crises,
houve uma ampliação da participação política: os investimentos na educação promoveram o ensino livre
e levaram cultura às massas populares.
O golpe militar de 1926 foi originado pela reação burguesa contra a corrupção política. Os militares
pretendiam restaurar a ordem pública e impor um severo controle à economia portuguesa. Para isso,
Antonio de Oliveira Salazar foi convocado. Salazar foi ganhando poder dentro do governo até que, em
1933, com a aprovação de uma nova Constituição, deu início à ditadura do Estado Novo, que duraria até
1974.
Todos esses conflitos econômicos e políticos fizeram despertar no povo português um sentimento
comum: o saudosismo.
O passado de glória português, representado pelas Grandes Navegações, a grandiosidade do Império,
o Sebastianismo, as glórias de Os lusíadas despertavam esse saudosismo, que foi o berço para o surgimento,
em 1915, da revista que representaria o primeiro momento do Modernismo português: Orpheu.
Reprodução

No segundo e último número de Orpheu, é publicado, pela primeira vez, um poema escrito
por um dos heterônimos de Fernando Pessoa, a Ode marítima, de Álvaro de Campos.
6 Literatura
Modernismo em Portugal

Em 1927, com o surgimento de outra revista, a Presença, ocorreu o segundo momento do Modernismo
português.
Comparando as duas fases, é possível notar que o presencismo foi uma etapa da literatura mais
psicológica e de temas mais subjetivos. Essa postura não destoou do orphismo, apenas acentuou uma
tendência já predominante entre os poetas da geração de Orpheu.

1.2 Fernando Pessoa e heterônimos

O s principais nomes da Geração Orpheu são Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Luís de Montalvor,
o pintor e escritor José de Almada Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho.
A revista teve apenas dois números. Os textos, nela publicados, revelam os primeiros passos de uma
estética da diversidade, do questionamento dos valores estabelecidos ética e literariamente, da euforia face
às invenções da técnica, da libertação da escrita literária de todas as convenções e de todas as regras.
A poesia mais revolucionária de Orpheu é sensacionista — uma forma especificamente portuguesa de
vanguarda.
No texto a seguir, Fernando Pessoa define a nova corrente estética:

“(...)
O Sensacionismo difere de todas as atitudes literárias em ser aberto, e não restrito. Ao
passo que todas as escolas literárias partem de um certo número de princípios, assentam sobre
determinadas bases, o Sensacionismo não assenta sobre base nenhuma. Qualquer escola literária ou artística
acha que a arte deve ser determinada coisa; o sensacionismo acha que a arte não deve ser determinada
coisa.
(...)
O Sensacionismo é assim porque, para o Sensacionista, cada ideia, cada sensação a exprimir tem de ser
expressa de uma maneira diferente daquela que exprime outra.
(...)
Dissemos que um dos princípios sobre que assentava o Sensacionismo — mau grado, é claro, ele não
assentar em princípio nenhum — é o da expressão ser condicionada pela emoção a exprimir. Dissemos que
cada ideia, pela sua virtualidade íntima, pela sua simplicidade ou índole complexa, impõe que se exprima
de modo simples ou complexo. Esta tese — que é a verdadeira tese artística — abrange e admite todas as
espécies de expressões, desde a mais simples quadra popular, que só podia ser expressa nessa linguagem e
seria mal expressa se fosse expressa em linguagem mais complexa, até ao mais avançado desarticulamento
de linguagem lógica que se encontra nas páginas de Orpheu. Acontece que a geração a que pertencemos —
mercê de razões civilizacionais que seria tão ocioso, como prolixo, estar a expor — traz consigo uma riqueza
de sensação, uma complexidade de emoção, uma tenuidade e intercruzamento de vibração intelectual,
que nenhuma outra geração nasceu possuindo. Veja-se. Sobre uma vida social agitada, diretamente como
intelectualmente, pelas complexas consequências da irrupção para a prática das ideias da Revolução
Francesa, veio cair todo o complexo e confuso estado social resultante da proliferação sempre crescente
das indústrias, do enxamear cada vez mais intenso das atividades comerciais modernas. O aumento das
facilidades de transporte, o exagero das possibilidades do conforto e da vantagem, o acréscimo vertiginoso
dos meios de diversão e de passatempo — todas essas circunstâncias, combinadas, entrepenetradas,
agindo quotidianamente, criaram, definiram um tipo de civilização em que a emoção, a inteligência, a vontade
participam da rapidez, da instabilidade e da violência das manifestações propriamente, diariamente típicas
do estádio civilizacional. Em cada homem moderno há um neurastênico que tem que trabalhar. A tensão
nervosa tornou-se um estado normal na maioria dos incluídos na marcha das coisas públicas e sociais. A
hiperexcitação passou a ser regra.
O aumento das comunicações internacionalizou facilmente isto tudo, com o auxílio que trouxe o aumento
da cultura e da capacidade de cultura, que é outra coisa, e mais importante para o caso. De modo que esse
estado de espírito, que, de per si, parece que devia caracterizar apenas os países no auge da vida industrial e
comercial, foi parar a outros, mais apagados e quietos, e de um lado da Europa ao outro uma rede de nervos
define o estado das almas nesta Hora de fogo e de treva.
(...)
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Modernismo em Portugal

Assim, cada um de nós nasceu doente de toda esta complexidade. Em cada alma giram os volantes de
todas as fábricas do mundo, em cada alma passam todos os comboios do globo, todas as grandes avenidas
de todas as grandes cidades acabam em cada uma das nossas almas. Todas as questões sociais, todas as
perturbações políticas, por pouco que com elas nos preocupemos, entram no nosso organismo psíquico,
no ar que respiramos psiquicamente, passam para o nosso sangue espiritual, passam a ser, inquietamente,
nossas como qualquer coisa que seja nossa.”
PESSOA, Fernando. Obras em prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985

Retrato de Fernando Pessoa (1964), óleo de Almada Negreiros.

Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, viveu parte de sua vida na África do Sul, tendo feito seus estudos
em inglês, língua na qual publicou vários de seus poemas. Retornou a Portugal em 1905.
Pessoa nunca teve, em vida, o reconhecimento que merecia. Viveu modestamente, em relativa
obscuridade; teve apenas dois livros publicados: Alguns Poemas e Mensagem.
Autodefinindo-se como histeroneurastênico, apaixonado por ocultismo, filosofia, por estudos de
psiquiatria e psicanálise, autodidata de grande erudição, Pessoa é um caso único de desdobramento de si
mesmo em outras pessoas poéticas.
Complexo, introspectivo, tímido, a face mais original desse poeta são os heterônimos. Criados como
personagens autônomos, com vida própria, resultam da fragmentação, como já dito, da personalidade
do poeta em várias outras. Cada um dos heterônimos é uma personalidade definida, com retrato físico,
biografia e estilo próprios.

“Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é
imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não.
Para criar, destruí-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão
exteriormente. Sou a cena viva onde passam atores representando várias peças.”
Livro do desassossego
8 Literatura
Modernismo em Portugal

Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Campos são considerados heterônimos perfeitos. Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
É necessário e imprescindível a distinção E uma sequestração na liberdade daquele convento
entre pseudônimo e heterônimo: o pseudônimo De que os poetas dizem que as estrelas são as
é um nome falso, sob o qual alguém se oculta por [freiras eternas
uma circunstância qualquer; o heterônimo é o
nome imaginário que um criador identifica como A produção poética de Caeiro foi escrita em
linguagem simples e é formada por três conjuntos
o autor de obras suas e que designa alguém com
de poemas: Guardador de rebanhos, O pastor
qualidade e tendências marcadamente diferentes
amoroso e Poemas inconjuntos. Suas poesias são
das desse criador.
desprovidas de métrica e de rima.
Alberto Caeiro XIV
Alberto Caeiro em desenho de Almada Negreiros.

Fernando Pessoa explicou em Não me importo com as rimas. Raras vezes


detalhes a vida de cada um de seus Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
heterônimos. Assim apresenta a Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
vida do mestre de todos, Alberto Porque me falta a simplicidade divina
Caeiro: De ser todo só o meu exterior

Nasceu em Lisboa, mas viveu Olho e comovo-me,


quase toda a sua vida no campo. Comovo-me como a água corre quando o chão é
Não teve profissão, nem educação [inclinado,
quase alguma, só instrução E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...
primária; morreram-lhe cedo o
pai e a mãe, e deixou-se ficar em Nesse poema, Caeiro mostra que seus textos
casa, vivendo de uns pequenos
têm o fluir espontâneo e natural do vento. Essa
rendimentos. Vivia com uma tia
velha, tia avó. Morreu tuberculoso.
simplicidade é aparente porque, na verdade,
os poemas são resultado de árduo trabalho de
depuração expressiva.
Alberto Caeiro considerava-se o “homem do
Leia agora este outro poema:
campo”, o “guardador de rebanhos”.
A percepção do mundo e a tendência do ser O MEU OLHAR
Alberto Caeiro
humano em interpretar o que vê como símbolos
de outras coisas são as constantes essenciais em O meu olhar é nítido como um girassol.
seus textos. Para Caeiro, isso é o que faz o homem Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
não conseguir compreender que as coisas são o
E de vez em quando olhando para trás...
que são e que este é o seu verdadeiro significado. E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
XXIV E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
O que nós vemos das cousas são as cousas. Que tem uma criança se, ao nascer,
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra? Reparasse que nascera deveras...
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos Sinto-me nascido a cada momento
Se ver e ouvir são ver e ouvir? Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
O essencial é saber ver, Porque pensar é não compreender...
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê, O Mundo não se fez para pensarmos nele
E nem pensar quando se vê (Pensar é estar doente dos olhos)
Nem ver quando se pensa. Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
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Modernismo em Portugal

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos... mostram uma sintaxe com grandes inversões,
Se falo de natureza não é porque saiba o que ela é, usando regências desusadas e vocabulário raro.
Mas porque amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama Veja:
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... As rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Amar é a eterna inocência, Que em o dia em que nascem,
E a única inocência não pensar... Em esse dia morrem.
Fernando Pessoa. O guardador de rebanhos e outros poemas
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Pasmo: espanto, surpresa.
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Esse poema expressa a intenção de ser e estar no Assim façamos nossa vida um dia,
mundo, uma filosofia de vida. No primeiro verso o Inscientes, Lídia, voluntariamente
olhar é comparado a um girassol. O olhar é nítido. Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
Esse adjetivo indica aquilo em que há clareza, PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. In: Obra poética.
transparência, que é inteligível, compreensível; Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 193

portanto o olhar nítido que vê as coisas com clareza


Volucres (vólucres): que têm vida curta, efêmeras.
e, principalmente, as compreende. Assim como o Inscientes: ignorantes, que desconhecem.
girassol se volta para o sol, o olhar do eu lírico
se volta para todos os lados. O eu lírico pretende Neste outro poema, há a expressão do
olhar para as coisas sem nelas pensar, como se isso paganismo de Reis:
fizesse parte de sua natureza mais primitiva.
No décimo terceiro verso, a comparação O deus Pã não morreu,
Cada campo que mostra
é feita com a flor malmequer; isso significa que Aos sorrisos de Apolo
o eu lírico crê no que é concreto e palpável; o Os peitos nus de Ceres —
mundo para ele corresponde àquilo que pode Cedo ou tarde vereis
ser observado, experimentado pelos sentidos. O Por lá aparecer
décimo nono verso comprova isso. Em “pensar é O deus Pã, o imortal.
não compreender” e “(Pensar é estar doente dos
Não matou outros deuses
olhos)”, o eu lírico tenta nos mostrar que o olhar O triste deus cristão.
ligado ao pensar nas coisas nos afasta delas por Cristo é um deus a mais.
ser ele uma visão parcial, com pré-conceitos. Esse Talvez um que faltava.
olhar não pode captar a essência das coisas, pois é Pã continua a dar
viciado e incompleto. Dessa forma, é negada uma Os sons da sua flauta
Aos ouvidos de Ceres
interpretação racional do mundo.
Recumbente nos campos.

Ricardo Reis Os deuses são os mesmos,


Sempre claros e calmos,
Segundo Fernando Pessoa:
Ricardo Reis em desenho de Almada Negreiros.

Cheios de eternidade
E desprezo por nós,
“Ricardo Reis nasceu no Trazendo o dia e a noite
Porto. Educado em colégio
E as colheitas douradas
de jesuítas, é médico e vive
Sem ser para nos dar
no Brasil desde 1919, pois
O dia e a noite e o trigo
expatriou-se espontaneamente
Mas por outro e divino
por ser monárquico. É latinista
Propósito casual.
por educação alheia, e um semi-
Helenista por educação própria.”
A Natureza se manifesta por meio dos deuses
Os poemas de Ricardo Reis clássicos: Pã (divindade protetora dos pastores e
possuem influência de poetas rebanhos que personifica também a fecundidade
clássicos gregos e latinos. Seus da terra) mostra os campos germinados (“Os peitos
textos apresentam uma visão nus de Ceres” — deusa da colheita) “aos sorrisos
pagã inspirada por Alberto de Apolo” (deus da luz, condutor do carro celeste
Caeiro, mas sem a simplicidade que transporta o Sol para o alto, guardando-o à
deste, pois normalmente noite).
10 Literatura
Modernismo em Portugal

Por meio dessa interpretação pagã da realidade, Reis faz sua crítica à doutrina cristã, que concebe
apenas um deus. Na última estrofe, os dois últimos versos mostram que os elementos mencionados não
são oferecidos ao ser humano.
Veja, agora, estes versos.
Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero. Deus triste, preciso talvez porque nenhum havia
Em ti como nos outros creio deuses mais velhos. Como tu, um a mais no Panteão e no culto,
Só te tenho por não mais nem menos Nada mais, nem mais alto nem mais puro
Do que eles, mas mais novo apenas. Porque para tudo havia deuses, menos tu.

Odeio-os sim, e a esses com calma aborreço, Cura tu, idólatra exclusivo de Cristo, que a vida
Que te querem acima dos outros teus iguais deuses. É múltipla e todos os dias são diferentes dos outros,
Quero-te onde tu ‘stás, nem mais alto E só sendo múltiplos como eles
Nem mais baixo que eles, tu apenas. ‘Staremos com a verdade e sós.

Ricardo Reis mostra que seu ódio não é voltado a Cristo, mas sim aos cristãos que julgam ser superior
a divindade cristã. Para Reis, também, os cristãos não percebem que a vida é múltipla.
O carpe diem clássico é expresso pela necessidade de aproveitar o momento presente pela incerteza do
futuro. Isso, associado à postura estoica que defende o comedimento na busca dos prazeres, é característica
do poema de Reis. Veja.

Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio.


Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas,
(Enlacemos as mãos)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida


Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.


Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,


Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar. Óbolo: moeda grega de pouco
valor. A referência, no verso,
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, diz respeito ao pagamento que
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, deveria ser feito ao barqueiro
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Caronte, personagem da
Ouvindo correr o rio e vendo-o. mitologia grega. De acordo com
a lenda, Caronte transportava
Colhamos flores, pega tu nela e deixa-as os recém-mortos através do rio
No colo, e que o seu perfume suavize o momento — Aqueronte até o local que lhes
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, seria destinado no Hades (reino
Pagãos inocentes da decadência. dos mortos). Por esse motivo,
era costume, no sepultamento,
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois colocar uma moeda chamada
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, óbolo sob a língua do cadáver,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos para que pudesse pagar a
Nem fomos mais do que crianças. Caronte pela travessia do rio.
Quem não pagasse o óbolo ao
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, barqueiro, passaria a eternidade
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. na margem do Aqueronte.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 190-191
Literatura 11
Modernismo em Portugal

O estoicismo surgiu na Grécia. Segundo essa decadentista, na qual se mostra cansado da


corrente filosófica, a Natureza é justa e divina, e a civilização e da vida moderna.
sabedoria consiste em aceitar o destino e conservar Os poemas dessa fase apresentam versos
sempre a serenidade — mesmo diante da dor e das rimados e metrificados. Numa segunda fase,
adversidades da vida. entusiasmado pelo futurismo de Marinetti,
O filósofo grego Epicuro (341 a.C. – 270 a.C.) canta, em versos livres, a cidade, a tecnologia e
criou o epicurismo. Segundo esse filósofo, o a civilização moderna. Na última fase, a niilista,
homem deveria fazer da própria vida uma busca o poeta entrega-se ao tédio, à angústia, sente-se
constante de prazer. A sabedoria seria compreender vazio e não vê sentido na vida. Os poemas dessa
que o prazer provém da satisfação dos desejos fase são compostos em versos livres e utilizam a
naturais e básicos e não do desregramento e linguagem do cotidiano.
do exagero. Com equilíbrio e tranquilidade, Álvaro de Campos apresenta em alguns de
usando os sentidos para conhecer o mundo e a seus poemas o sensacionismo:
realidade e aprendendo a cultivar uma existência
saudavelmente desprovida de grandes paixões, o “Sentir tudo de todas as maneiras,
ser humano atingiria a felicidade, traduzida num Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao
espírito sereno. [mesmo tempo,
Veja a expressão do epicurismo neste trecho Realizar em si toda a humanidade de todos os
de Reis. [momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e
“Aos deuses peço só que me concedam [longínquo.”
O nada lhes pedir. A dita é um jugo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado. Um dos mais conhecidos poemas desse
Não quieto nem inquieto meu ser calmo heterônimo é Tabacaria. Nele, Reis expressa o grande
Quero erguer alto acima de onde os homens desencanto existencial, um descontentamento
Têm prazer ou dores.” consigo mesmo, ligado a uma visão bem crítica da
realidade circundante. Veja:
Nesse trecho, o eu lírico se dirige às
divindades do paganismo greco-romano. Ricardo TABACARIA
Reis acredita nos deuses antigos e adota pontos
de vista e formas de comportamento baseados na Não sou nada.
mundividência dos antigos gregos e romanos. Ao Nunca serei nada.
afirmar “A dita é um jugo”, ou seja, a fortuna é Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
algo que oprime, o eu lírico renuncia à fortuna,
tendo como desejo maior poder não pedir nada [...]
aos deuses, construindo um “ser calmo” que não Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
se quieta nem inquieta, e que por isso é capaz de se Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
“erguer alto acima de onde os homens têm prazer E não tivesse mais irmandade com as coisas
ou dores”. Senão uma despedida, tornando-se esta casa e
[este lado da rua
Álvaro de Campos em desenho de Almada Negreiros.

Álvaro de Campos A fileira de carruagens de um comboio, e uma


[partida apitada
De dentro da minha cabeça,
Segundo Fernando E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de
Pessoa, Campos nasceu [ossos na ida.
em Tavira, teve educação
vulgar de Liceu, depois Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e
foi para a Escócia estudar [esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
engenharia. Retomou
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real
mais tarde a Lisboa. [por fora,
Sensível ao impacto E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real
do mundo moderno, [por dentro.
tem uma fase inicial
12 Literatura
Modernismo em Portugal

[...]
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Mansarda: sótão, último andar
Ainda que não more nela;
de uma casa, cujas janelas dão
Serei sempre o que não nasceu para isso;
acesso ao telhado, água-furtada.
Serei sempre só o que tinha qualidades;
[...]
PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 296-297. (Fragmento)

Poesia ortônima: Fernando Pessoa — ele mesmo


Poeta-filósofo, sutil, complexo, Fernando Pessoa escreve em redondilhas rimadas, fundamentalmente
procurando reunir o sentir e o pensar (O que em mim sente está pensando).
Lírico e nacionalista, Fernando Pessoa, ele mesmo, criou uma poesia voltada aos temas tradicionais
de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre seu eu profundo, suas inquietações, sua
solidão, seu tédio.
Em Cancioneiro, os poemas fixam o lirismo tradicional português, repleto de saudades, de mágoas,
de piedade. Também nessa obra, Pessoa reflete sobre o ato de escrever, com grande espírito crítico e uma
organização intelectual incomum.

Acesso em 03 fev. 2010.


Disponível em: <www.presidenciarepublica.pt>.
A obra Mensagem foi idealizada por Fernando Pessoa como
uma versão moderna da epopeia, com o nome de Portugal, e
acabou resultando numa mistura entre o épico e o lírico. Épico
porque canta os mitos e os heróis coletivos de Portugal, lembrando
Os Lusíadas de Camões; lírico porque expõe os sentimentos de
melancolia, saudosismo e euforia de um eu lírico que ora é
personagem histórica, ora pode ser o próprio poeta.
O livro Mensagem está dividido em três partes: Brasão, Mar
portuguez e O Encoberto.
Na primeira, conta-se a história das glórias portuguesas. Na
segunda, são apresentadas as navegações e as conquistas marítimas de
Portugal. Na terceira, é apresentado o mito sebastianista de retorno de
Portugal às épocas de glória. Brasão português.

Exercícios de sala

Texto para as questões 1, 2 e 3.


MAR PORTUGUEZ
“Ó mar salgado, quanto do teu sal Valeu a pena? Tudo vale a pena
São lagrimas de Portugal! Se a alma não é pequena.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quem quere passar além do Bojador
Quantos filhos em vão resaram! Tem que passar além da dor.
Quantas noivas ficaram por casar Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Para que fosses nosso, ó mar! Mas nelle é que espelhou o céu.“
Fernando Pessoa

1 (UNICAMP-SP) Em relação ao poema Mar portuguez:


a) Qual o período da história de Portugal que está sendo recuperado pelo poeta Fernando Pessoa?
___________________________________________________________________________________

b) Por que as aventuras marítimas, nesse período, eram empreendimentos tão arriscados?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
Literatura 13
Modernismo em Portugal

2 (VUNESP-SP) A vocação náutica dos portugueses e os grandes descobrimentos do passado tornaram


o tema do mar bastante frequente na literatura portuguesa de todos os tempos. Fernando Pessoa, em
Mar portuguez, focaliza o custo que a aventura marítima representou em termos de vidas humanas e
sofrimentos ao povo de seu país. Releia com atenção o poema pautado e responda às questões:
a) Identifique o recurso estilístico por meio do qual, ao operar escolhas nos planos gráfico e morfológico
do discurso, o escritor sugere que a aventura náutica portuguesa refere-se ao passado longínquo.
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
b) Justifique sua resposta, apresentando dois exemplos dessa mudança empreendida na forma escrita.
___________________________________________________________________________________

3 (VUNESP-SP) Examinando cuidadosamente o poema, verifica-se que, em tom épico, grandiloquente e


afetivo, a voz enunciadora inclui o próprio povo português em sua fala. Tendo em vista essa observação:
a) Aponte o verso em que, claramente, o eu poemático se manifesta como coletivo e indique a forma
pronominal que identifica o destinatário dessa voz coletiva;
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
b) A quem especificamente se dirige essa voz coletiva, e por meio de que recurso sintático o faz?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________

4 (ENEM)
Hagar Dik Browne

2005 King Features/Intercontinental Press


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Alberto Caeiro

A tira Hagar e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com
linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada,
essencialmente,
a) pelo alcance de cada cultura. d) pela idade do observador.
b) pela capacidade visual do observador. e) pela altura do ponto de observação.
c) pelo senso de humor de cada um.

5 (FUVEST-SP) Leia o seguinte poema de Alberto Caeiro:


“Ponham na minha sepultura
Aqui jaz, sem cruz,
Alberto Caeiro
Que foi buscar os deuses...
Se os deuses vivem ou não isso é convosco.
A mim deixei que me recebessem.”

a) Identifique, no poema, a modalidade religiosa que o poeta rejeita e aquela com que tem maior
afinidade. Explique sucintamente.
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
14 Literatura
Modernismo em Portugal

b) Relacione a referência a “deuses” (plural), braços e carícias, / Mas que mais vale estarmos
no poema, com o seguinte verso, extraído de sentados ao pé um do outro / Ouvindo correr o
outro poema de Alberto Caeiro: “A natureza é rio e vendo-o.
partes sem um todo”. c) Não matou outros deuses / O triste deus
_____________________________________ cristão. / Cristo é um deus a mais, / Talvez um
que faltava.
_____________________________________ d) Dizem que finjo ou minto. / Tudo que
_____________________________________ escrevo. Não. / Eu simplesmente sinto / Com a
imaginação. / Não uso o coração.
_____________________________________ e) Já disse: sou lúcido. / Nada de estética com
coração: sou lúcido. / Merda! Sou lúcido...
6 (PUC-SP)
“O que nós vemos das coisas são as coisas. 8 (UNICAMP-SP)
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse “Cruz na porta da tabacaria!
[outra? Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos Ao diabo o bem-‘star que trazia.
Se ver e ouvir são ver e ouvir? Desde ontem a cidade mudou.
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar, Quem era? Ora, era quem eu via.
Saber ver quando se vê Todos os dias o via. Estou
E nem pensar quando se vê, Agora sem essa monotonia.
Nem ver quando se pensa. Desde ontem a cidade mudou.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma
[vestida!), Ele era o dono da tabacaria.
Isso exige um estudo profundo, Um ponto de referência de quem sou.
Uma aprendizagem de desaprender Eu passava ali de noite e de dia.
E uma sequestração na liberdade daquele Desde ontem a cidade mudou.
[convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as Meu coração tem pouca alegria,
[freiras eternas E isto diz que é morte aquilo onde estou.
E as flores as penitentes convictas de um só dia, Horror fechado da tabacaria!
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas Desde ontem a cidade mudou.
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e Mas ao menos a ele alguém o via,
[flores.” Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
O poema anterior, de Alberto Caeiro, propõe: Desde ontem a cidade mudou.”
a) desvalorizar o ver e o ouvir. CAMPOS, Álvaro de. Poesias
b) minimizar o valor do ver e do ouvir.
c) conciliar o pensar e o ver. a) Identifique duas marcas formais que, no poema
d) abolir o pensar para apenas ver e ouvir. anterior, contribuem para criar ideia de monotonia.
e) fugir da linguagem real/denotativa dos poetas.
_____________________________________
7 (UNIFESP-SP) Considere as seguintes _____________________________________
informações sobre o heterônimo Alberto
_____________________________________
Caeiro, do poeta Fernando Pessoa, extraídas
de Literatura Portuguesa — da Idade Média a
b) Do ponto de vista do “eu lírico”, que fato
Fernando Pessoa, de José De Nicola.
quebra essa monotonia?
“Para [ele], as coisas são como são. (...) _____________________________________
Por isso mesmo, seu mundo é o mundo do real-
sensível (ou real-objetivo), é tudo aquilo que _____________________________________
existe e que percebemos através dos sentidos.
(...) ele ‘pensa’ com os sentidos.” c) Qual a consequência, para o “eu lírico”, da
quebra dessa monotonia? Justifique sua resposta.
Os versos que ilustram o heterônimo _____________________________________
apresentado são:
a) Sou um guardador de rebanhos. / O _____________________________________
rebanho é os meus pensamentos / E os meus _____________________________________
pensamentos são todos sensações. / Penso
com os olhos e com os ouvidos / E com as ____________________________________
mãos e os pés / E com o nariz e a boca. _____________________________________
b) Amemo-nos tranquilamente, pensando que _____________________________________
podíamos, / Se quiséssemos, trocar beijos e
Literatura 15
Modernismo em Portugal

Texto para as questões 9 e 10. Fragmento 2


“Aquela senhora tem um piano DISPERSÃO
Que é agradável mas não é o correr dos rios
“Perdi-me dentro de mim
Nem o murmúrio que as árvores fazem...
Porque eu era labirinto
Por que é preciso ter um piano? E hoje, quando me sinto,
O melhor é ter ouvidos É com saudades de mim.
E amar a Natureza.” [...].
E sinto que a minha morte —
9 (FUVEST-SP) Qual a opinião do poeta em Minha dispersão total —
relação ao piano? Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.”
_____________________________________ Mário de Sá-Carneiro, 1913

_____________________________________ Ambos poemas tratam do tema das relações


_____________________________________ do eu consigo mesmo, mas desenvolvem-se de
maneira diferente. Exponha em que consiste
esse desenvolvimento diferenciado do tema,
10 (FUVEST-SP) Que simboliza o piano no poema? em cada poema.
_____________________________________ _____________________________________
_____________________________________ _____________________________________
_____________________________________ _____________________________________
_____________________________________ _____________________________________

11 (UNICAMP-SP) 13 (FUVEST-SP) Do programa estético da


Geração de Orpheu constava a:
“Quando, Lídia, vier o nosso outono
a) restauração dos temas clássicos.
Com o inverno que há nele, reservemos
b) vinculação da obra de arte ao quadro social.
Um pensamento, não para a futura
c) instalação das vanguardas futuristas.
Primavera, que é de outrem,
d) originalidade em Arte.
Nem para o estio, de quem somos mortos
e) implantação do movimento surrealista.
Senão para o que fica do que passa —
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.” 14 (VUNESP-SP) O texto a seguir pode ser tomado
REIS, Ricardo. Odes como exemplo ilustrativo do estilo de um dos
heterônimos de Fernando Pessoa.
Ricardo Reis associa a passagem do tempo
“Negue-me tudo a sorte, menos vê-la,
às estações do ano. Que sentido é dado, em
Que eu, ‘stóico sem dureza,
seu poema, ao outono?
Na sentença gravada do Destino
_____________________________________ Quero gozar as letras.”

O heterônimo em questão é:
12 (UNICAMP-SP) Leia com atenção os a) Alberto Caeiro. d) Álvares de Campos.
fragmentos de poemas transcritos a seguir. b) Ricardo Reis. e) Antônio Mora.
c) Bernardo Soares.
Fragmento 1

TROVA À MANEIRA ANTIGA As questões de 15 a 17 referem-se ao


texto seguinte. Para responder, baseie-se
“Comigo me desavim, exclusivamente nele.
sou posto em todo perigo;
AH, UM SONETO...
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim. “Meu coração é um almirante louco
[...] que abandonou a profissão do mar
Que meio espero ou que fim e que a vai relembrando pouco a pouco
do vão trabalho que sigo, em casa a passear, a passear...
pois que trago a mim comigo,
tamanho imigo de mim?” No movimento (eu mesmo me desloco
Francisco Sá de Miranda, 1595 nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
(imigo = inimigo) nos músculos cansados de parar.
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