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LITERATURA INFORMATIVA:
CARTA DE MESTRE JOÃO FARAS (1500)
1 LEVANTAMENTO BIOGRÁFICO SOBRE O AUTOR E SUA COLABORAÇÃO PARA
A HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO NO BRASIL
O narrador/emissor da Carta de Mestre João pode ser classificado como pessoal, pelo
uso da primeira pessoa do singular, conforme pode ser visto nos seguintes trechos: “(...)
escreverei sobre dois pontos.”; “(...) eu e o piloto do capitão-mor (...)”; “(...) eu tenho
trabalhado o que tenho podido (...)”. O narrador participa das ações narradas, podendo por
isso ser considerado um narrador personagem e o foco narrativo ser considerado de primeira
pessoa.
O emissor da carta apresenta uma importante posição sócio-político-econômico-
cultural, já que se dirige ao rei e informa ser bacharel, físico e cirurgião do monarca. Pelo
conteúdo da carta, depreende-se que possui avançados conhecimentos astronômicos e sobre o
uso de diversos instrumentos náuticos, como o astrolábio, o quadrante e as tábuas da Índia.
Assim, apresenta-se na posição de um informante do rei, a respeito de detalhes
técnicos da viagem, como a definição da localização (latitude) da nova terra: “(...) segundo as
regras do astrolábio, julgamos estar afastados da equinocial por 17° (...)”, a descrição das
estrelas do hemisfério sul: “Somente mando a Vossa Alteza como estão situadas as estrelas do
(sul) (...) e estas estrelas, principalmente as da Cruz, são grandes quase como as do Carro; e a
estrela do pólo antártico, ou Sul, é pequena como a da Norte e muito clara, e a estrela que está
em cima de toda a Cruz é muito pequena” e também sua avaliação de qual o melhor
instrumento náutico a ser utilizado: “Para o mar, melhor é (...) com astrolábio, que não com
quadrante nem com outro nenhum instrumento”.
A carta foi produzida no litoral brasileiro “Feita em Vera Cruz (...)”, em 01 de maio de
1500, na ocasião da chegada da frota de Cabral, em 22 de abril de 1500.
A carta de Mestre João Faras (1500) se situa no contexto das Grandes Navegações, ou
seja, no período de Expansão Europeia dos séculos XV e XVI, com a busca de novos
mercados, procura de produtos orientais e estabelecimento de colônias, obedecendo à política
mercantilista, cabendo a Portugal a vanguarda desse processo (MONTEIRO, 2001, p. 194 e
195).
Esta carta faz parte da chamada literatura de informação, que buscava realizar a
descrição das terras encontradas além-mar com a intenção de informar os europeus a respeito
das características dessas terras, das ações realizadas nelas e, assim, orientar o processo de
exploração/colonização.
Sendo o autor da carta estudada, carta de Mestre João Faras, versado em Ciências, o
assunto que domina a missiva é o resultado das análises científicas realizadas por ele: em
primeiro lugar, a localização da nova terra; em segundo lugar, as observações astronômicas
feitas; e em terceiro lugar, a apreciação dos instrumentos náuticos utilizados.
4 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO/ESTRUTURAÇÃO/FORMATAÇÃO DO
TEXTO E DO SEU TIPO DE DISCURSO/GÊNERO
A carta de Mestre João Faras (1500) apresenta enorme importância, por descrever
como os portugueses detinham o que de mais avançado se sabia no tempo a respeito da
ciência náutica, bem como retratar o uso que faziam dos diversos instrumentos astronômicos
da arte de navegar (PEREIRA, 1999).
CAMPOS, Maria Carolina Stelzer. A carta do astrônomo espanhol, Mestre João, ao rei de
Portugal oficializando a Constelação do Cruz como marco do céu no Hemisfério Sul.
Diálogos sobre a Modernidade, Vitória, n. 3, p. 74-82, 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/modernidade/article/view/29042. Acesso em: 20/08/2021, às 07:00
h.
CARVALHO, Joaquim Barradas de. O descobrimento do Brasil através dos textos: edições
críticas e comentadas. Revista de História, São Paulo, v. 38, n. 78, p. 179-186, 1969.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/128488/125333. Acesso
em: 19/08/2021, às 21:00 h.
VALENTIM, Carlos Manuel. Mestre João de Paz e Maestre Juan Faraz: um reflexo de dois
espelhos com a mesma face. Cadernos de Estudos Sefarditas, Lisboa, n. 9, p. 181-222,
2009. Disponível em: http://www.catedra-alberto-
benveniste.org/_fich/15/Carlos_Manuel_Valentim.pdf. Acesso em: 19/08/2021, às 23:00 h.