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CONTABILIDADE EMPRESARIAL

Unidade II
5 OPERAÇÕES FINANCEIRAS

Durante sua existência, as empresas fazem operações que envolvem a aplicação de seus recursos
financeiros. Caso esses recursos sejam excedentes e a entidade não tenha interesse em investir
em sua atividade principal para protegê-los, ela pode investi-los no mercado financeiro (bancos,
financeiras etc.). Essas operações são conhecidas como aplicações financeiras, que podem ser feitas
na rede bancária em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), fundos de renda fixa, fundos de
renda variável etc.

O inverso também nos remete ao mercado financeiro. Caso os negócios estejam ruins e a empresa
necessite recorrer a empréstimos para a manutenção de sua atividade, tenha de financiar algum projeto
de longo prazo ou ainda aumentar seus bens de capital, ela obterá o que precisa mediante a captação
de recursos no mercado financeiro (bancos, financeiras, capitalistas particulares etc.). Essas operações
são conhecidas como captação de recursos ou empréstimos.

Vejamos como se deu o surgimento dessas operações.

Compra
Venda

Figura 1 – Atividade comercial

A atividade comercial liga a produção ao consumo. Ela é o meio pelo qual se viabiliza todo o
fluxo de mercadorias entre produtores e consumidores. Entre as atividades comerciais, podemos citar:
supermercados, farmácias, revendedoras de veículos, lojas de materiais de construção, de equipamentos
de informática etc.

5.1 Duplicatas

A duplicata é um título de crédito formal nominativo, emitido pela empresa com a mesma data,
valor global e vencimento da fatura. É representativo e comprobatório de crédito preexistente (venda de
mercadoria a prazo) e destinado a aceite e pagamento por parte do comprador.

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Observação

Aceite: ato de aceitar uma duplicata, declarando-se o devedor


responsável pelo pagamento do débito na data marcada.

Segundo Ribeiro (1999), as empresas industriais, comerciais e prestadoras de serviços frequentemente


vendem a prazo, respectivamente, produtos, mercadorias, serviços. Quando as vendas são efetuadas
mediante a emissão e o aceite de duplicatas, estas poderão ser negociadas pelas empresas. Com esses
títulos, as organizações efetuam transações nos bancos. As mais comuns são a cobrança simples de
duplicatas e os descontos de duplicatas.

5.1.1 Cobrança simples

As empresas, ao venderem seus produtos a prazo, assumem o direito de receber os valores referentes
à compra no vencimento previamente estipulado pelas partes – vendedor/comprador –, fixando também
a decisão sobre como receberão esses valores, se diretamente na entidade ou se por meio de terceiros.

Quando a decisão da empresa recai na primeira opção, ou seja, receber os valores das vendas a
prazo diretamente na organização, essa operação é chamada de cobrança em carteira. Se escolher
a segunda opção, aquela que utiliza terceiros (instituições financeiras, entidades de cobrança ou até
mesmo cobradores particulares), a operação é denominada cobrança simples.

Para a cobrança em carteira, basta a empresa vendedora manter em seu departamento financeiro as
duplicatas a serem recebidas com a data do vencimento estipulado. Recebendo os valores, a entidade
tanto poderá mantê-los em seu caixa quanto depositá-los em sua conta-corrente bancária.

Vale ressaltar que numerários em caixa podem contribuir em situações de fraudes e, ao mesmo
tempo, com pagamentos de gastos efetuados pela empresa. Trata-se de uma decisão que deve ser
analisada sob diversos aspectos, levando-se sempre em consideração a segurança de todos que, direta
ou indiretamente, fazem parte do dia a dia da instituição.

Para Ribeiro (1999, p. 197-199), a cobrança simples consiste na remessa de títulos aos cobradores
que prestam serviços à empresa, incluídas aí as instituições financeiras, que, por sua vez, cobrarão os
respectivos devedores. Para efetuar as cobranças de suas duplicatas, as empresas poderão utilizar os
serviços de organizações especializadas ou até mesmo de cobradores particulares. Nesse tipo de operação,
ela transfere a posse dos títulos ao banco, mas a propriedade continua sendo sua. Para remeter os títulos
ao banco, a empresa os relaciona, de forma minuciosa, em um borderô, anexando os respectivos títulos.

Vejamos a definição de alguns termos:

• Posse: situação em que temos um bem ou usufruímos dele, porém não temos o domínio, ou seja,
não podemos vendê-lo.

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• Propriedade: situação em que temos o domínio, ou seja, o direito pleno de usufruir e de dispor
do bem.

• Borderô: relação das duplicatas que o cliente leva ao banco para realizar operações de desconto,
cobrança etc.

A operação de cobrança se resume a duas fases:

• Pela remessa dos títulos ao banco:

— registro da operação, por meio das contas de compensação;

— registro das despesas cobradas pelo banco com a cobrança dos títulos.

Observação

Compensação: grupo de contas nas quais são registradas operações que,


no momento em que é feito esse procedimento, não alteram o patrimônio
da empresa, mas que indicam riscos ou responsabilidades futuras.

• Pelo recebimento das importâncias referentes aos títulos:

— o banco comunica que os títulos foram quitados;

— baixa da responsabilidade por meio do lançamento de compensação;

— baixa dos direitos por meio do débito da conta bancos conta movimento, pelo recebimento das
importâncias referentes aos títulos e créditos da conta de duplicatas a receber para baixa dos
respectivos direitos sobre o cliente.

5.1.2 Exemplo de cálculo

Remessa de duplicatas ao Banco Maracatu S/A, para cobrança simples, conforme borderô no valor
de R$ 5.000,00. O banco cobrou R$ 80,00 de comissões e taxas.

Contabilização

Pela remessa dos títulos ao banco, têm-se dois lançamentos contábeis, um para registrar a remessa
e outro para as despesas cobradas pelo banco.

1) Lançamento de compensação

D – títulos em cobrança = 5.000


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C – endossos para cobrança = 5.000

1a) Registro da despesa

D – despesas de cobrança = 80

C – bancos conta movimento = 80

Após os vencimentos dos títulos, quando o banco comunicar que eles foram quitados:

2) Baixa das contas de compensação

D – endossos para cobrança = 5.000

C – títulos em cobrança = 5.000

2a) Pelo recebimento das duplicatas

D – bancos conta movimento = 5.000

C – duplicatas a receber = 5.000

Os razonetes a seguir ilustram o que destacamos.

Títulos em cobrança Endossos para cobrança


1 5.000,00 5.000,00 1
5.000,00 2 2 5.000,00

Despesas de cobrança Bancos conta movimento


1a 80, 00 80,00 1a
3 5.000,00

Duplicatas a receber
Saldo XXXX
5.000,00 3

Figura 2

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No caso de o pagamento não ser efetuado pelo cliente, o banco procederá normalmente a baixa
da compensação, mas comunicará a empresa detentora das duplicatas (ou seja, a empresa que tem o
direito a receber) a fim de retirar a duplicata vencida para as devidas providências de cobrança, inclusive
o protesto delas. Vale lembrar que o banco poderá executar o protesto de uma duplicata vencida, desde
que receba essa ordem do detentor dela, cobrando uma taxa por esse serviço.

Supondo que o cliente não tenha quitado a duplicata no vencimento e que a empresa vendedora
informe ao banco que a duplicata deverá ser protestada, sabendo-se que o banco cobrará R$ 45,00 pela
operação, teríamos os seguintes lançamentos contábeis:

3) Baixa das contas de compensação

D – endossos para cobrança = 5.000

C – títulos em cobrança = 5.000

3a) Registro da despesa

D – despesas de protestos = 45

C – bancos conta movimento = 45

Observação

Mesmo que o cliente não quite a duplicata, o lançamento contábil


sobre a baixa da compensação ocorrerá, uma vez que a duplicata, por estar
vencida, deixa de pertencer a esse tipo de cobrança.

Títulos em cobrança Endossos para cobrança


Saldo 5.000,00 5.000,00 Saldo
5.000,00 3 3 5.000,00

Despesas de protestos Bancos conta movimento


3a 45, 00 45,00 3a

Figura 3

A seguir, vamos acentuar dois exercícios com sua respectivas resoluções.

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5.1.3 Exercício nº 1

Para melhor entendimento, abordaremos no primeiro exercício as seguintes situações:

• vendas de mercadorias a prazo somente para um cliente;

• operação de cobrança simples;

• quitação pelo cliente na data do vencimento da duplicata;

• baixa da operação de cobrança simples.

A Cia. Vera Cruz, fabricante de tecidos para cortinas, durante o mês de abril de 20X7, efetuou as
seguintes transações:

1) Vendeu mercadorias a Cia. Santista por R$ 20.000,00 no prazo de 90 dias, apurando o custo de
mercadorias vendidas no valor de R$ 9.600,00.

D – duplicatas a receber = 20.000

C – vendas de mercadorias = 20.000

1a) D – custo das mercadorias vendidas = 9.600

C – estoque de mercadorias = 9.600

2) Enviou, para cobrança simples junto ao Banco Forte S/A, o valor de R$ 20.000.

D – títulos em cobrança = 20.000

C – endossos para cobrança = 20.000

3) O Banco Forte cobrou R$ 1.200,00 a título de taxa de cobrança.

D – despesas de cobrança = 1.200

C – bancos conta movimento = 1.200

4) A Cia. Santista S/A efetuou o pagamento na data do vencimento.

D – bancos conta movimento = 20.000

C – duplicatas a receber = 20.000

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5) O banco efetuou a baixa da duplicata e enviou o aviso para a Cia. Vera Cruz.

D – endossos para cobrança = 20.000

C – títulos em cobrança = 20.000

Duplicatas a receber Vendas de mercadorias


1 20.000,00 20.000,00 1
20.000,00 4

Custos das mercadorias Estoques


vendidas
Saldo XXXX
1 9.600,00 9.600,00 1

Títulos em cobrança Endossos para cobrança


2 20.000,00 20.000,00 2
20.000,00 5 5 20.000,00

Despesas de protestos Bancos conta movimento


3 Saldo XXXX
1.200, 00 1.200,00 3
4 20.000,00

Figura 4

5.1.4 Exercício nº 2

Agora vamos destacar as seguintes situações:

• vendas de mercadorias a prazo para dois clientes;

• operação de cobrança simples para ambos os clientes;

• quitação somente por um cliente na data do vencimento da duplicata (o outro cliente ficou devendo);

• baixa da operação de cobrança simples para ambos os clientes;

• solicitação ao banco para enviar a duplicata vencida para protesto.

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A Cia. Vera Cruz, fabricante de tecidos para cortinas, durante o mês de maio de 20X7, efetuou as
seguintes transações:

1) Vendeu mercadorias a Cia. Joel por R$ 18.000,00 no prazo de 90 dias, apurando o custo de
mercadorias vendidas no valor de R$ 8.400,00. Vendeu também mercadorias a prazo (90 dias)
para a Cia. Kelps, no valor de R$ 16.500,00, apurando um custo para operação de R$ 6.350,00.

D – duplicatas a receber = 34.500

C – vendas de mercadorias = 34.500

D – custo das mercadorias vendidas = 14.750

C – estoque de mercadorias = 14.750

2) Enviou, para cobrança simples junto ao Banco Forte S/A, o valor de R$ 34.500,00.

D – títulos em cobrança = 34.500

C – endossos para cobrança = 34.500

3) O Banco Forte cobrou R$ 2.000,00 a título de taxa de cobrança.

D – despesas de cobrança = 2.000

C – bancos conta movimento = 2.000

4) Somente a Cia. Joel efetuou o pagamento na data do vencimento, portanto, a Cia. Kelps não
quitou sua dívida.

D – bancos conta movimento = 18.000

C – duplicatas a receber = 18.000

5) O banco efetuou a baixa de ambas as duplicatas, Cia. Joel e Cia. Kelps, e depois comunicou a Cia.
Vera Cruz.

D – endossos para cobrança = 34.500

C – títulos em cobrança = 34.500

6) A Cia. Vera Cruz solicitou ao banco que enviasse para protesto a duplicata referente à Cia. Kelps.
O banco cobrou por esse serviço uma taxa de R$ 110,00.

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D – despesas de protestos = 110

C – bancos conta movimento = 110

Observação

O razonete da conta duplicatas a receber ficará com o saldo de


R$ 16.500,00. Trata-se da duplicata não recebida pela Cia. Kelps. A
vendedora, Cia. Vera Cruz, fará de tudo para receber tal valor. Sua primeira
medida, conforme indica o item 6 desse exercício, foi solicitar ao banco o
protesto da duplicata vencida.

Exemplo de aplicação

Desenvolva os razonetes e confirme sua resposta consultando o Apêndice do livro-texto.

Saiba mais

No artigo Fidelidade da Informação Contábil e as Provisões, o eminente


contador Antônio Lopes de Sá tece alguns comentários muito interessantes
sobre a necessidade de preparar a empresa ao risco da inadimplência:

SÁ, A. L. de. Fidelidade da informação contábil e as provisões. Portal da Classe


Contábil, 2006. Disponível em: <http://www.classecontabil.com.br/fidelidade-
da-informacao-contabil-e-as-provisoes>. Acesso em: 22 mar. 2018.

5.2 Desconto de duplicatas

Segundo Ribeiro (1999, p. 200-204),

O desconto de duplicatas consiste na transferência dos títulos ao banco,


mediante endosso ao portador, que é uma declaração escrita ou assinatura
no verso de um título de crédito com a qual se transfere o crédito a outra
pessoa. De posse das duplicatas com vencimentos futuros, a empresa poderá
descontá-las em um banco. No desconto, a empresa transfere ao banco o
direito de recebimento dos títulos. O valor do desconto é determinado em
função do número de dias que faltam para o vencimento dos títulos. Nesse
tipo de transação, a empresa endossante é responsável, coobrigada pela
liquidação de tais títulos descontados. A responsabilidade só desaparece
após o pagamento ser efetuado pelo devedor.

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Unidade II

A operação é “semelhante à cobrança simples, no que diz respeito à remessa dos títulos ao banco”.
A empresa endossante desconta os títulos e recebe do banco o valor nominal (constante dos títulos),
“suportando os juros correspondentes ao prazo que falta decorrer para o vencimento dos títulos
negociados”. Então, a empresa transfere a posse e a propriedade dos títulos ao banco. Portanto, deve-se
entender que o desconto de duplicatas é uma operação financeira na qual as empresas podem recorrer
sempre que precisarem de dinheiro, desde que tenham duplicatas de sua emissão a receber (RIBEIRO,
2003, p. 342-344).

Assim, na operação de desconto de duplicata (conforme estudamos), a empresa elabora um borderô,


com duplicatas de sua emissão, e o encaminha ao banco, que, por sua vez, “compra” essas duplicatas,
pagando por elas um valor menor do que o constante em cada título. Em troca, o banco libera, mediante
crédito na conta-corrente da empresa vendedora dos títulos, o valor líquido da operação, ou seja, o valor
pago pelas duplicatas.

A taxa cobrada pela operação de desconto corresponde à diferença entre o valor dos títulos (valor
nominal) e o valor que o banco libera para a empresa (valor atual). Todavia, o valor da taxa que será
cobrada na operação é determinada pelo estabelecimento bancário, variando conforme o montante,
a quantidade e a data de vencimento de cada título, como defende Ribeiro (2003, p. 344). Vale
reiterar que a empresa que está negociando com o banco a antecipação dos valores das vendas de
mercadorias, produtos ou serviços realizados, com esse ato, está transferindo tanto a posse quanto a
propriedade das duplicatas.

A operação de descontos de duplicatas assemelha-se à operação de desconto simples em relação


à remessa das duplicatas aos bancos. Contudo, a quitação efetuada pelo comprador das mercadorias,
produtos ou serviços é totalmente diferente de uma operação simples. Vamos explicar melhor adiante.

5.3 Tratamento contábil

Os valores de face das duplicatas descontadas são registrados numa conta de passivo pelo fato de a
essência da transação de desconto ser uma forma de obter financiamento com a duplicata dada como
garantia. Essa conta recebe o nome de duplicatas descontadas, tendo saldo credor.

A conta duplicatas descontadas apresenta a seguinte função na operação de desconto:

É creditada, pelo valor de face dos títulos, no momento em que é efetuada


a operação de desconto e a instituição financeira faz o crédito na
conta‑corrente da empresa.

É debitada no momento da liquidação do título pelo devedor ou quando a


instituição financeira leva a débito em conta-corrente da empresa por falta
de pagamento por parte do devedor.

Os encargos financeiros debitados pela instituição financeira devem ser


contabilizados como encargos financeiros a transcorrer, já que se tratam de
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despesas antecipadas, sendo debitadas por ocasião do desconto e creditadas


no momento em que a despesa é incorrida, observando-se o regime de
competência (DESCONTO... [s.d.]).

Observação

Regime de competência: princípio contábil que exige que os fatos


contábeis sejam registrados no momento de sua ocorrência.

5.3.1 Exemplo de cálculo

Uma empresa desconta, no Banco Maracatu S/A, 15 duplicatas de sua emissão, conforme relação
(borderô), no valor de R$ 15.000,00. O banco cobra juros no valor de R$ 1.500,00, comissões e taxas no
valor de R$ 90,00.

• Outras informações:

— data da venda: 10/3/20X4;

— valor total das vendas a prazo = R$ 28.700,00;

— custos das mercadorias vendidas = R$ 10.320,00;

— estoque inicial de mercadorias = R$ 45.890,00;

— data do vencimento da operação: 30/60 dias, ou seja, 10/4/20X4 e 10/5/20X5;

— data do desconto = 10/3/20X4;

— valor da operação de desconto = R$ 15.000,00.

Nesse caso, temos:

Tabela 15

Valor nominal dos títulos (duplicatas que serão descontadas) 15.000


(-) Valor suportado pela empresa para descontos (juros, taxas, comissões) 1.590
(=) Líquido a receber 13.410
Valor total das vendas 28.700
(-) Duplicatas que serão descontadas 15.000
(=) Duplicatas que ficarão em “carteira” para recebimento ou serão colocadas em 13.700
cobrança simples

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Unidade II

Acentuamos a seguir a contabilização das operações.

1) Vendas de mercadorias a prazo:

D – duplicatas a receber = 28.700

C – vendas a prazo = 28.700

D – custo das mercadorias vendidas = 10.320

C – estoque de mercadorias = 10.320

2) Pela remessa dos títulos e respectiva operação de desconto de duplicatas:

D – bancos conta movimento (AC) = 13.410

D – despesas de juros a vencer (redutora do PC) = 1.500

D – despesas bancárias (DRE) = 90

C – duplicatas descontadas (PC) = 15.000

Duplicatas a receber Vendas a prazo


1 28.700,00 28.700,00 1

Custos das mercadorias Estoques


vendidas
1a 10.320,00 10.320,00 1a

Despesas de juros a vencer Bancos conta movimento


2 1.500,00 2 13.410,00

Despesas bancárias Duplicatas descontadas


2 90, 00 15.000,00 2

Figura 5

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CONTABILIDADE EMPRESARIAL

Vejamos a explicação sobre a contabilização da operação de desconto de duplicatas.

• Debitamos a conta bancos conta movimento (ativo) por R$ 13.410,00 para registrar o valor líquido
da operação.

• Debitamos a conta despesa de juros a vencer ou juros passivos a vencer (ambas redutoras do
passivo) por R$ 1.500,00 referentes aos juros cobrados antecipadamente.

• Debitamos a conta despesas bancárias (despesas) por R$ 90,00 referentes ao valor das comissões
e taxas cobradas sobre as duplicatas descontadas.

• Creditamos a conta duplicatas descontadas (conta de obrigação que figurará no balanço


patrimonial no passivo) pelo valor da obrigação que a empresa terá para com o banco, caso os
devedores das duplicatas não as quitem junto ao banco (R$ 15.000,00).

Tabela 16 – Representação no balanço patrimonial em 31/3/20X4

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... Duplicatas descontadas 15.000,00
... Despesas de juros a vencer (1.500,00)
Duplicatas a receber 28.700,00
...
Não circulante Não circulante
Total Total

Para atender ao regime de competência, tomam-se como base as informações sobre a operação
de desconto, especificamente a conta juros passivos a vencer, resultante do desconto de duplicatas
ocorrido em 10/3/20X4, composto de duplicatas a vencer em 30/60 dias, ou seja, 10/4/20X4 e 10/5/20X4.

O total dos juros passivos a vencer cobrado pelo banco foi de R$ 1.500,00. De uma forma
simplista, pode-se atribuir R$ 750,00 para cada mês de vencimento: 10/4/20X4 e 10/5/20X4 e,
assim, atenderemos ao regime de competência sobre a realização das despesas de juros, conforme
lançamento contábil a seguir.

1) Reconhecimento das despesas de juros referentes ao mês de abril de 20X4.

D – despesas de juros (DRE) = 750

C – despesas de juros a vencer (PC) = 750

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Despesas de juros Despesas de juros a vencer


1 750, 00 750,00 1

Figura 6

Tabela 17 – Representação no balanço patrimonial em 30/4/20X4

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... Duplicatas descontadas 15.000,00
... Despesas de juros a vencer (750,00)
Duplicatas a receber 28.700,00
...
Não circulante Não circulante
Total Total

Vejamos o caso da quitação das duplicatas.

Suponha-se que, na data do vencimento, o banco receba as importâncias correspondentes a todas


as duplicatas e comunique o fato à empresa por meio de aviso bancário.

Nesse caso, faremos os seguintes registros contábeis:

1) D – duplicatas descontadas = 15.000

C – duplicatas a receber = 15.000

2) D – despesas de juros = 750

C – despesas de juros a vencer = 750

Duplicatas descontadas Duplicatas a receber


1 15.000,00 15.000,00 1

Despesas de juros Despesas de juros a vencer


2 750, 00 750,00 2

Figura 7

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CONTABILIDADE EMPRESARIAL

No lançamento 1, baixamos a obrigação que estava registrada na conta duplicatas descontadas,


contra a baixa dos direitos que estavam registrados na conta duplicatas a receber. No lançamento 2,
apropriamos a despesa com os juros cobrados antecipadamente, referente ao mês de maio de 20X4.

Tabela 18 – Representação no balanço patrimonial em 31/5/20X4

Ativo Passivo
Circulante Circulante
...
...
Duplicatas a receber 13.700,00 Não circulante

Não circulante Patrimônio líquido


Total Total

Lembrete

“O desconto de duplicatas consiste na transferência dos títulos ao banco,


mediante endosso ao portador, que é uma declaração escrita ou assinatura
no verso de um título de crédito com a qual se transfere o crédito a outra
pessoa” (RIBEIRO, 1999, p. 200-204).

Agora destacamos a não quitação dos títulos pelo devedor.

Na hipótese de o cliente não ter liquidado a duplicata e o banco debitar o respectivo valor na conta
da empresa, o lançamento será:

1) D – duplicatas descontadas = 15.000

C – bancos conta movimento = 15.000

2) D – despesas de juros = 750

C – despesas de juros a vencer = 750

Duplicatas descontadas Bancos conta movimento


1 15.000,00 15.000,00 1

Despesas de juros Despesas de juros a vencer


2 750, 00 750,00 2

Figura 8

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Unidade II

No lançamento 1, mesmo o cliente não quitando a duplicata, temos que baixar a obrigação
que estava registrada na conta duplicatas descontadas, porém agora contra a conta bancos conta
movimento. Na operação de desconto, o banco adiantou o valor da duplicata e, como o cliente não
pagou a duplicata, o banco retirou o valor da conta-corrente, deixando para a empresa vendedora a
responsabilidade de cobrar tal cliente. No lançamento 2, apropriamos a despesa com os juros cobrados
antecipadamente, referente ao mês de maio de 20X4, independentemente do pagamento do cliente.
O que deve prevalecer em termos de apropriação da despesa com juros é o regime de competência,
ou seja, o mês de ocorrência do fato.

Por determinação da empresa vendedora, o banco poderá efetuar o serviço de protesto, cobrando
uma taxa sobre a operação.

Tabela 19 – Representação no balanço patrimonial em 31/5/20X4

Ativo Passivo
Circulante Circulante
...
...
Duplicatas a receber 28.700,00 Não circulante

Não circulante Patrimônio líquido


Total Total

5.3.2 Exercício resolvido

A Cia. Caravelas efetuou as seguintes transações em 15/6/20X7:

1) Vendeu mercadorias para diversas companhias por R$ 6.000,00, no prazo de 30 dias, apurando o
custo das mercadorias vendidas em R$ 2.945,00.

D – duplicatas a receber = 6.000

C – venda de mercadorias = 6.000

D – custo de mercadorias vendidas = 2.945

C – estoque de mercadorias = 2.945

2) Descontou R$ 6.000,00 das duplicatas relativas às vendas anteriores no Banco Intercontinental, à


taxa de juros simples de 4% ao mês e comissão de R$ 200,00.

D – bancos conta movimento = 5.560

D – despesas de juros a vencer = 240


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CONTABILIDADE EMPRESARIAL

D – despesas bancárias = 200

C – duplicatas descontadas = 6.000

Duplicatas a receber Vendas de mercadorias


1 6.000,00 6.000,00 1

Custo das mercadorias Estoques


vendidas
1a 2.945, 00 2.945,00 1a

Despesas de juros a vencer Bancos conta movimento


2 240,00 2 5.560,00

Despesas bancárias Duplicatas descontadas


2 200, 00 6.000,00 2

Figura 9

Tabela 20 – Representação no balanço patrimonial em 30/6/20X7

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... Duplicatas descontadas 6.000,00
... Despesas de juros a vencer (240,00)
Duplicatas a receber 6.000,00
...
Não circulante Não circulante
Total Total

Agora vejamos as operações em 15/7/20X7.

1) O Banco Intercontinental debitou na conta da Cia. Caravelas os R$ 2.000,00 porque uma das
empresas não efetuou o pagamento na data do vencimento.

D – duplicatas descontadas = 2.000

C – bancos conta movimento = 2.000

49
Unidade II

2) O Banco Intercontinental comunicou que o restante das duplicatas foram recebidas na data
do vencimento.

D – duplicatas descontadas = 4.000

C – duplicatas a receber = 4.000

3) Na Cia. Caravelas, foi efetuada a apropriação dos juros em virtude do regime de competência.

D – despesas de juros = 240

C – despesas de juros a vencer = 240

Duplicatas descontadas Bancos conta movimento


1 2.000,00 2.000,00 1
2 4.000,00

Duplicatas a receber
4.000,00 2

Despesas de juros Despesas de juros a vencer


3 240,00 240,00 3

Figura 10

Tabela 21 – Representação no balanço patrimonial em 31/7/20X7

Ativo Passivo
Circulante Circulante
...
...
Duplicatas a receber 2.000,00 Não circulante
...
Não circulante Patrimônio líquido
Total Total

50
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

5.4 CPC 12 – Ajuste a Valor Presente

Segundo o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que faz correlação às Normas Internacionais


de Contabilidade – The Conceptual Framework for Financial Reporting (Iasb – BV 2011 Blue Book),
além da atenção com a qualidade quantitativa da contabilidade, espera-se que o contador tenha uma
preocupação qualitativa. Isso significa que os cálculos e procedimentos adotados podem ser analisados
e entendidos por outros contadores e profissionais. Não basta o contador realizar estimativas e cálculos
corretos, é necessário fazer com que as informações sejam compreensíveis em qualquer situação e a
qualquer momento (CPC, 2013).

Nesse sentido, o Comitê publicou o CPC 12 – Ajuste a Valor Presente, que foi regulamentado pelo
Conselho Federal de Contabilidade como Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 12 – Ajuste a Valor
Presente, trazendo orientações específicas para ativos.

A seguir, destacamos na íntegra dois parágrafos da referida norma, com explicações a respeito do
Ajuste a Valor Presente:

5. Nesse sentido, na presente Norma determina-se que a mensuração


contábil a valor presente seja aplicada no reconhecimento inicial de ativos
e passivos. Apenas em certas situações excepcionais, como a que é adotada
numa renegociação de dívida em que novos termos são estabelecidos, o
ajuste a valor presente deve ser aplicado como se fosse nova medição de
ativos e passivos. É de se ressaltar que essas situações de nova medição
de ativos e passivos são raras e são matéria para julgamento daqueles que
preparam e auditam demonstrações contábeis, vis-à-vis normas específicas.

6. É necessário observar que a aplicação do conceito de ajuste a valor


presente nem sempre equipara o ativo ou o passivo a seu valor justo.
Por isso, valor presente e valor justo não são sinônimos. Por exemplo, a
compra financiada de um veículo por um cliente especial que, por causa
dessa situação, obtenha taxa não de mercado para esse financiamento,
faz com que a aplicação do conceito de valor presente com a taxa
característica da transação e do risco desse cliente leve o ativo, no
comprador, a um valor inferior ao seu valor justo; nesse caso prevalece
contabilmente o valor calculado a valor presente, inferior ao valor justo,
por representar melhor o efetivo custo de aquisição para o comprador.
Em contrapartida, o vendedor reconhece a contrapartida do ajuste a
valor presente do seu recebível como redução da receita, evidenciando
que, nesse caso, terá obtido um valor de venda inferior ao praticado no
mercado (BRASIL, 2009).

Assim, os efeitos da mensuração contábil a valor presente e pela filosofia do valor justo (fair value)
devem ser observados caso a caso.

51
Unidade II

Saiba mais

Leia na íntegra os pronunciamentos contábeis:

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Pronunciamentos


Técnicos Contábeis 2012. Brasília: CFC, 2013. Disponível em: <http://portalcfc.
org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/06/cpcpronunciamentos
_2012_web.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2018.

Exemplo de aplicação

1) Ao longo desta unidade, estudamos termos que representam conceitos utilizados no jargão da área
contábil. Tente explicar com suas próprias palavras o que significa cobrança em carteira.

2) Vá ao site da Bolsa de Valores e procure as demonstrações contábeis de algumas sociedades


anônimas. Observe, nas notas explicativas, como profissionais da área contábil expõem os riscos
de inadimplência. Compare, na medida do possível, como contadores de um mesmo ramo de
negócios comentam o mesmo assunto. Caso você conheça outras línguas, tente também fazer
essa mesma tarefa em balanços publicados em outros países.

Saiba mais

Para examinar os pormenores da contabilidade, é vital ler teses e


dissertações que analisem as consequências da adoção das normas
internacionais de contabilidade.

Nesse sentido, uma ótima sugestão para aprofundamento é a


dissertação do prof. Eric Barreto de Oliveira (2009). Em seu trabalho,
ele concluiu que a adoção do valor justo teve pouco impacto na crise
financeira mundial. Na verdade, ao contrário, observou-se que foi um
fator positivo. Leia:

OLIVEIRA, E. B. de. A contabilidade a valor justo e a crise financeira


mundial. 2009. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade).
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (USP), São Paulo,
2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/
tde-07102009-143816/pt-br.php>. Acesso em: 29 mar. 2018.

52
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

6 EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS

Agora estudaremos as consequências dos empréstimos e aplicações financeiras na contabilidade,


operações amplamente utilizadas na maioria das organizações. O assunto não destoa do que destacamos
na unidade anterior, ao contrário, acompanha o mesmo tipo de apuração (pré e pós-fixados) e os efeitos
dos juros pré e pós-fixados sobre tais atividades. Esses processos exigem muita atenção dos contadores.

Muitos autores costumam separar o sucesso (ou insucesso) das empresas em aspectos operacionais
e financeiros. Não raramente, na ânsia de trazer bons resultados para suas organizações, os executivos
abusam de facilidades oferecidas pelos agentes financeiros mesmo sem ter essa intenção. Empresas
com uma operação competente podem vir a enfrentar problemas com sua administração financeira,
e o contrário também é possível. O contador, nesse ambiente, tem uma função vital: deve orientar os
executivos a tomarem boas decisões, mostrando os resultados delas.

Como fazer isso? Convidamos você a estudar com muita atenção as páginas a seguir!

Empréstimos e financiamentos são dívidas contraídas por pessoa física ou jurídica geralmente junto
às instituições financeiras, mediante contrato entre as partes. No contrato, precisa estar demonstrado
o valor do empréstimo, a forma e a data de pagamento, os juros envolvidos na operação e as garantias
enfim, todas as informações necessárias que possam evidenciar esse tipo de dívida. Nesse tipo de negócio,
o credor fornece uma quantia em dinheiro ao devedor, que, conforme o contrato firmado, pode ser
devolvido em parcelas, ou não. Normalmente, a quantia é pega em prestações regulares, considerando
o valor principal mais os juros.

Quando uma empresa precisa de recursos para sanar problemas emergenciais ou expandir seus
negócios, pode recorrer aos bancos e obter os valores necessários para suprir suas deficiências. Essas
operações, sempre formalizadas por meio de um contrato, poderão ser feitas em moeda nacional ou
estrangeira, tanto em curto como em longo prazo. Até 360 dias, temos o curto prazo, depois, caracteriza-
se longo prazo.

Observação

Os empréstimos de curto prazo devem ser efetuados, exclusivamente,


para atender às necessidades sazonais dentro de cada ciclo operacional,
isto é, para pagamento de gastos que, normalmente, são recuperados
com a venda dos produtos ou serviços. Quando, porém, a empresa planeja
aumentar seus negócios, o empréstimo deverá ser o de longo prazo e,
assim, passa a ser denominado financiamento.

Para os empréstimos e financiamentos recebidos, a empresa ou a pessoa física tem de fornecer certa
garantia aos bancos. Essa garantia pode ser feita com bens, emissão de nota promissória ou duplicatas
a receber de seus clientes. Somente assim as instituições financeiras podem gerar esse tipo de operação.
Contudo, a pela forma qual será efetuada dependerá do acordo entre as partes – devedor e credor.
53
Unidade II

Essencialmente, temos dois tipos de empréstimos, os prefixados e pós-fixados. Nos primeiros, os


juros são conhecidos no ato da operação; nos outros, os juros são apurados tomando-se como base a
variação de um indexador escolhido para a operação. Quando feitos em moeda nacional, têm encargos
financeiros prefixados e/ou pós-fixados. Em moeda estrangeira, são efetuados somente na modalidade
pós-fixada, pois é impossível prever a variação da moeda.

6.1 Operação prefixada

Independentemente da moeda, todo empréstimo deve ser convertido para o real. A operação
financeira pode ter os encargos financeiros (juros, taxas etc.) conhecidos no momento da contratação.
Nesse caso, temos uma operação prefixada.

6.1.1 Exemplo de cálculo

Vamos supor que a empresa Ambiciosa S/A efetue um empréstimo junto ao Banco Norte S/A nas
seguintes condições:

• Empréstimo no Banco Norte S/A, em 31/10/20X8, no valor de R$ 2.000.000,00 com vencimento


para 29/1/20X9. Como garantia, foi assinada uma nota promissória.

• Juros simples cobrados pelo Banco Norte, antecipadamente, de 6% ao mês.

• Despesas cobradas pelo banco: comissões de 1% sobre o valor da nota promissória, e como
despesas de cobrança de R$ 1.400,00.

Lembrete

Essa operação é conhecida como prefixada, já que estão, desde o início,


definidos os valores dos encargos financeiros e do montante total a pagar.
A operação pós-fixada estudaremos na próxima unidade.

A efetivação do empréstimo implicará os seguintes lançamentos feitos pelo banco na conta-corrente


da empresa, mediante a emissão de um aviso de lançamento com os dados demonstrados a seguir.

A crédito, temos:

R$ 2.000.000,00 – valor nominal da nota promissória

A débito:

• 360.000,00 – valor do juro cobrado antecipadamente, a 6% ao mês, ou seja, R$ 2.000.000,00  x  0,06


= R$ 120.000 x 3 meses (31/10/20X8 a 29/1/20X9).

54
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

• R$ 20.000,00 – valor da comissão de 1% sobre R$ 2.000.000,00.

• R$ 1.400,00 – valor das despesas de cobrança.

De posse do aviso, a empresa procederá em sua contabilidade os seguintes lançamentos, em


31/10/20X8:

Tabela 22

D – Bancos conta movimento 2.000.000,00


C – Promissórias a pagar 2.000.000,00
D – Despesas bancárias –
Despesa de comissão 1% 20.000,00
Despesa de cobrança 1.400,00
C – Bancos conta movimento 21.400,00
D – Juros a vencer (redutora do passivo) 360.000,00
C – Bancos conta movimento 360.000,00

Os valores de despesa de comissão e de cobrança irão diretamente para a conta de resultado,


pois eles são irrecuperáveis e não serão reduzidos se houver, por exemplo, quitação antecipada do
empréstimo. O valor dos juros não pode ser lançado como despesa imediatamente, já que se refere
ao tempo a decorrer da data do empréstimo até a data do vencimento. Deve-se sempre respeitar o
regime de competência. Essa conta de juros a vencer fica como redutora de passivo para fazer com
que esse passivo fique a valor presente (BERBEL, 2000).

Tabela 23 – Representação no balanço patrimonial em 31/10/20X8

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... ...
... ...
... ...
Notas promissórias a pagar 2.000.000,00
Não circulante (-) Juros a vencer (360.000,00)

Não circulante

Patrimônio líquido
Total Total

Façamos a análise tomando como base o regime de competência.

55
Unidade II

Como os juros se referem a um período de três meses, da data da operação ao seu vencimento,
ou seja, de 31/10/20X8 a 29/1/20X9, mês a mês serão acrescidas as despesas de juros: de novembro e
dezembro de 20X8 e janeiro de 20X9, conforme cálculos:

R$ 360.000 / 3 meses = R$ 120.000 ao mês

Lançamento contábil da apropriação dos juros em 30/11/20X8:

1) D – despesas de juros = 120.000,00

C – juros a vencer = 120.000,00

Notas promis. a pagar Juros a vencer


2.000.000,00 120.000,00 1)
360.000,00
240.000,00

Despesas de juros

1) 120.000,00

Figura 11

Tabela 24 – Representação no balanço patrimonial em 30/11/20X8

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... ...
... ...
... ...
Notas promissórias a pagar 2.000.000,00
Não circulante (-) Juros a vencer (240.000,00)

Não circulante

Patrimônio líquido
Total Total

Vamos considerar as despesas de juros referentes ao mês de dezembro/20X8:

Lançamento contábil da apropriação dos juros em 30/12/20X8:

1) D – despesas de juros = 120.000,00

56
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

C – juros a vencer = 120.000,00

Notas promis. a pagar Juros a vencer


2.000.000,00 120.000,00 1)
240.000,00
120.000,00
Despesas de juros
1) 120.000,00

Figura 12

Tabela 25 – Representação no balanço patrimonial em 31/12/20X8

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... ...
... ...
... ...
Notas promissórias a pagar 2.000.000,00
Não circulante (-) Juros a vencer (120.000,00)

Não circulante

Patrimônio líquido
Total Total

Resta, no balanço patrimonial de 31/12/20X8, apenas uma parcela dos juros a vencer, devendo ser
apropriado somente em 29/1/20X9, independentemente do pagamento, uma vez que, para apropriação
das despesas, o que prevalece é o regime de competência.

Agora citamos o pagamento do empréstimo na data do vencimento – 29/1/20X9.

A empresa Ambiciosa S/A quitou seu empréstimo junto ao Banco Norte S/A na data do respectivo
vencimento, ou seja, 29/1/20X9.

Lançamento contábil da apropriação dos juros em 29/1/20X9:

1) D – despesas de juros = 120.000,00

C – juros a vencer = 120.000,00

Lançamento contábil referente ao pagamento do empréstimo em 29/1/20X9:

57
Unidade II

2) D – notas promissórias a pagar = 2.000.000,00

C – bancos conta movimento = 2.000.000,00

Despesas de juros Juros a vencer


1) 120.000,00 120.000,00 1)
120.000,00

Notas promis. a pagar Bancos conta movimento


2.000.000,00 SL 2.018.440,00 2.000.000,00 2)
2) 2.000.000,00
18.440,00

Figura 13

6.1.2 Exercício resolvido

Em 1º de setembro de 20X7, a Cia. Delta S/A tomou emprestado R$ 50.000,00 do Banco Creditício
S/A, pelo desconto de uma nota promissória para 90 dias, a taxa de 2% ao mês. As despesas cobradas
pelo banco foram, além dos juros, R$ 500,00 a título de Taxa de Abertura de Crédito (TAC). A nota
promissória foi paga em 1º de dezembro de 20X7.

Em 1º de setembro, o Banco Creditício S/A enviou o aviso com as seguintes informações:

• crédito na conta-corrente da Cia. Delta S/A no valor de R$ 50.000,00;

• débito referente aos juros de R$ 3.000,00;

• débito da despesa com a TAC igual a R$ 500,00.

Lançamentos contábeis em 1º/9/20X7:

1) D – bancos conta movimento = 50.000,00

C – notas promissórias a pagar = 50.000,00

2) D – juros a vencer = 3.000,00

C – bancos conta movimento = 3.000,00

3) D – despesas bancárias = 500,00

C – bancos conta movimento = 500,00

58
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

Tomemos como base o regime de competência.

Os juros referem-se a um período de três meses, da data da operação ao seu vencimento, ou seja,
de 1º/9/20X7 a 1º/12/20X7. Haverá a apropriação das despesas de juros, mês a mês: setembro, outubro
e novembro, sendo R$ 1.000,00 por mês, totalizando os juros de R$ 3.000,00.

Para a apropriação dos juros no mês de setembro, consideram-se somente 29 dias, e o valor dos
juros será de: R$ 1.000 / 30 = R$ 33,33 x 29 dias = R$ 966. Vale ressaltar que, na opção de apropriar
os juros proporcionais ao número de dias do mês de setembro, deve-se avaliar a relevância do valor
em questão.

1) D – despesas de juros = 966,00

C – juros a vencer = 966,00

Notas promis. a pagar Juros a vencer


50.000,00 966,00 1)
3.000,00
2.034,00

Despesas de juros
2) 966,00

Figura 14

Tabela 26 – Representação no balanço patrimonial em 30/9/20X7

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... ...
... ...
... ...
Notas promissórias a pagar 50.000,00
Não circulante (-) Juros a vencer (2.034,00)

Não circulante

Patrimônio líquido
Total Total

59
Unidade II

Tomemos como base o regime de competência.

A apropriação de juros referente ao mês de outubro/20X7 é de R$ 1.000,00.

Lançamento contábil da apropriação dos juros em 31/10/20X7:

1) D – despesas de juros = 1.000,00

C – juros a vencer = 1.000,00

Notas promis. a pagar Juros a vencer


50.000,00 1.000,00 1)
2.034,00
1.034,00
Despesas de juros
1) 1.000,00

Figura 15

Tabela 27 – Representação no balanço patrimonial em 31/10/20X7

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... ...
... ...
... ...
Notas promissórias a pagar 50.000,00
Não circulante (-) Juros a vencer (1.034,00)

Não circulante

Patrimônio líquido
Total Total

Tomando-se como base o regime de competência, a apropriação de juros referente ao mês de


novembro/20X7 é de R$ 1.000,00.

Lançamento contábil da apropriação dos juros em 30/11/20X7:

1) D – despesas de juros = 1.000,00

C – juros a vencer = 1.000,00

60
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

Notas promis. a pagar Juros a vencer


50.000,00 1.000,00 1)
1.034,00
34,00

Despesas de juros
1) 1.000,00

Figura 16

Tabela 28 – Representação no balanço patrimonial em 30/11/20X7

Ativo Passivo
Circulante Circulante
... ...
... ...
... ...
Notas promissórias a pagar 50.000,00
Não circulante (-) Juros a vencer (34,00)

Não circulante

Patrimônio líquido
Total Total

Vejamos o pagamento do empréstimo em 1º/12/20X7.

Em 1º de dezembro de 20X7, o Banco Creditício S/A avisou que havia debitado na conta-corrente da
Cia. Delta S/A R$ 50.000,00 (referentes à liquidação do empréstimo).

1) D – notas promissórias a pagar = 50.000,00

C – bancos conta movimento = 50.000,00

A Cia. Delta S/A faz a apropriação dos juros somente de um dia do mês de dezembro/20X7.

2) D – despesas de juros = 34,00

C – juros a vencer = 34,00

61
Unidade II

Notas promis. a pagar Juros a vencer


1) 50.000,00 50.000,00 34,00 34,00 2)

Bancos conta movimento Despesas de juros


Sl 62.300,00 50.000,00 1) 2) 34,00
12.300,00

Figura 17

Resumo

Inicialmente, ilustramos a duplicata, um título de crédito formal


nominativo que é emitido pela empresa com a mesma data, valor global e
vencimento da fatura.

Na sequência, vimos o desconto de duplicatas. Segundo Ribeiro (1999,


p. 200-204), o desconto de duplicatas “consiste na transferência dos títulos
ao banco, mediante endosso ao portador, que é uma declaração escrita
ou assinatura no verso de um título de crédito com a qual se transfere o
crédito a outra pessoa”. Na operação de desconto de duplicata, a empresa
elabora um borderô, com duplicatas de sua emissão, e o encaminha ao
banco, que, por sua vez, “compra” essas duplicatas, pagando por elas um
valor menor do que o constante em cada título.

Depois, relatamos como debitar e descontar as duplicatas, com diversas


tabelas com a representação de balanços patrimoniais. Sem dúvida, os
razonetes que acentuamos nesta unidade foram vitais para reforçar o
conteúdo em questão.

Ao abordar o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, examinamos o


CPC  12 – Ajuste a Valor Presente, que traz orientações específicas para ativos.

Finalmente, analisamos financiamentos, que são dívidas contraídas


por pessoa física ou jurídica geralmente junto às instituições financeiras,
mediante contrato entre as partes. No contrato, vimos que é preciso estar
demonstrado o valor do empréstimo, a forma e a data de pagamento, os
juros envolvidos na operação e as garantias.

62
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

Exercícios

Questão 1. (Enade 2009, adaptada) Nos trabalhos realizados por um auditor independente,
identificaram-se vários procedimentos adotados pela Cia. Calada. No decorrer dos trabalhos, os seguintes
fatos foram encontrados:

I – A provisão para crédito de liquidação duvidosa foi constituída tendo como base o índice de
inadimplência apresentado nos últimos cinco anos.

II – A empresa fez uma aplicação em Certificado de Depósito Bancário (CDB) no Banco Intercontinental
S/A com um prazo de 90 dias e juros pré-fixados. Utilizando o regime de competência, creditou a ativo
circulante e rendimentos a apropriar o valor correspondente aos juros da operação.

III – As despesas pagas antecipadamente foram registradas como passivo circulante.

IV – O Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) incidente sobre aplicações financeiras foram
deduzidos do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ).

Diante dos fatos encontrados na Cia. Calada, sob o ponto de vista da condução do trabalho de
auditoria, a conduta correta do auditor independente responsável será:

A) Oferecer serviço de consultoria para corrigir os fatos encontrados.

B) Solicitar da empresa correções para os fatos I e III.

C) Solicitar da empresa correções para os fatos II e IV.

D) Solicitar da empresa correções para o fato III.

E) Finalizar os trabalhos e indicar em seu relatório que todos os fatos contábeis foram corretamente
considerados.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das afirmativas

I) Afirmativa correta.

Justificativa: conforme apresentado no livro-texto, o montante de provisão de uma empresa é fixado


pela experiência acumulada, ou seja, pela estimativa de não recebimento de suas vendas a prazo. Tal
sistemática procura estabelecer uma média estatística da inadimplência dos últimos três ou cinco anos.

63
Unidade II

II) Afirmativa correta.

Justificativa: a conta de rendimentos a apropriar mostra o quanto a empresa ganhará com a operação
efetuada. Trata-se de uma conta redutora do ativo circulante, em que será demonstrado o quanto a
empresa terá de rendimento até o fim da aplicação.

III) Afirmativa incorreta.

Justificativa: as despesas pagas antecipadamente devem ser registradas como ativo circulante, em
que são apresentadas as disponibilidades ou de caixa ou de bancos conta movimento.

IV) Afirmativa correta.

Justificativa: o imposto de renda incidente sobre as aplicações financeiras é considerado como um


imposto pago e, dessa forma, pode ser recuperado quando do levantamento do balanço patrimonial e
compensado no IRPJ a pagar, se for o caso.

A seguir destacam-se considerações adicionais acerca das alternativas.

Após a análise das afirmativas, o único fato com tratamento incorreto foi o descrito em III, portanto,
a alternativa D está correta.

As alternativas B e C não são verdadeiras por considerarem os fatos I, II e IV como incorretos, sendo
que estão corretos e justificados.

A alternativa A está incorreta. Não é papel da auditoria independente oferecer serviço de consultoria para
corrigir os fatos encontrados, mas somente o de apurar fatos. Caberá à empresa decidir posteriormente.

A alternativa E está incorreta, pois foram encontrados fatos com contabilização incorreta.

Questão 2. Em 16-12-20X5, a Cia. Jacó solicitou ao banco Xandra um empréstimo no valor de R$


40.000, o qual foi liberado da seguinte forma:

Valor bruto do empréstimo: R$ 40.000.

Juros: R$ 5.000.

Despesas bancárias fixas: R$ 200.

O empréstimo, a juros pré-fixados, venceu em 04-02-20X6, quando foi totalmente liquidado


pela companhia.

Considerando as contabilizações geradas a partir das operações, assinale a alternativa incorreta.

64
CONTABILIDADE EMPRESARIAL

A) Os empréstimos bancários no valor de R$ 40.000 foram lançados no passivo circulante.

B) Despesas financeiras no valor de R$ 1.500, mais as despesas bancárias no ano 20X5, foram
transferidas diretamente para o resultado do exercício do mesmo período.

C) No razonete banco conta movimento, a débito foram lançados R$ 34.800 e a crédito R$ 40.000.

D) O razonete da conta empréstimos bancários recebeu, tanto a débito quanto a crédito, lançamento
de mesmo valor.

E) Os encargos financeiros decorrentes de tais operações foram contabilizados pelo regime de caixa.

Resolução desta questão na plataforma.

65

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