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ISBN 978-85-7516-793-9
www.atomoealinea.com.br
SUMÁRIO
Apresentação
Sobre os Autores
APRESENTAÇÃO
Introdução
Os estudos inves ga vos, promovidos pela equipe de pesquisa da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) ligada ao projeto
Observatório da Formação de Professores de Artes Visuais, têm tomado a
formação de professores de Artes Visuais como objeto de análise em suas
várias dimensões, como: a) a da formação crí ca e inclusiva no sen do
emancipatório; b) a do modelo de distribuição de tecnologias para os
diferentes sujeitos que compõem a escola e c) a dos desafios da práxis
docente em Artes Visuais diante de um projeto neoliberal. Essas
problemá cas estão aqui situadas no campo da Arte, de seu papel social, das
relações polí cas, culturais e econômicas que a envolvem com base em uma
visão de mundo e de sujeito ancorada no pensamento marxista e de outros
teóricos que buscaram u lizar o método histórico-dialé co dando seguimento
à análise das problemá cas sociais e seus desdobramentos para encontrar
maneiras contra-hegemônicas de atuar no campo da educação, mais
precisamente no do ensino das Artes Visuais, da perspec va da formação de
professores como intelectuais transformadores (Gramsci, 1989).
Considerando a base epistemológica explicitada, propõe-se a reflexão
acerca das tecnologias na formação de professores de Artes Visuais e suas
relações com a cultura e as artes, considerando-se os conceitos de
globalização (Ianni, 1999), mundialização da cultura (Or z, 1994), trabalho
(Marx, 2011) e polí cas públicas para formação de professores (Barreto, 2009,
2012). Igualmente, o tema das tecnologias está situado levando-se em conta
as reflexões de Barreto (2012) e, no campo da Arte, de Eagleton (1993, 2005)
e Vazquez (1978).
Assim, tendo como ponto de par da esta introdução, apresentam-se, no
primeiro tópico, as relações estabelecidas entre o chamado pós-modernismo,
ou capitalismo tardio para Jameson (1997), que se valeu das contribuições de
Mandel (1985) [1], e a ampliação do uso das tecnologias com a popularização
de artefatos, como computadores domés cos e pessoais, telefones e tablets.
Ressaltam-se como aspectos históricos: 1) o surgimento do conceito de
cultura como categoria em destaque em relação à economia (Or z, 2004) e 2)
as problema zações advindas da transformação desta em mercadoria por
força da indústria cultural.
Ao longo do primeiro tópico, problema zam-se pontos rela vos ao
modelo de acesso às tecnologias de comunicação e informação (TIC) na
escola. Destaca-se que esse acesso não é ob do por todos da mesma forma e
que a qualidade das condições tecnológicas tem influenciado de maneira
decisiva o modo de acesso das classes populares aos equipamentos e às
informações disponíveis na web.
No segundo tópico, apresenta-se o pensamento crí co ante o uso das
tecnologias e da perspec va sócio-histórica de formação. Abordam-se a
seleção de conteúdos e a formação cien fica, ou ampliação de repertório do
professor de Artes Visuais, destacando-se as contribuições para uma melhor
compreensão dos modelos e das polí cas de formação vigentes no país.
O tema da formação esté ca, da u lização das tecnologias como
linguagem para a veiculação de objetos ar s cos e dos novos enfrentamentos
diante dos paradigmas atuais para a formação de professores de Artes Visuais
são abordados no terceiro tópico.
Essa validação das tecnologias mais atuais como redentoras dos problemas
educacionais, de alguma forma, retorna às correntes pedagógicas tecnicistas
com nova roupagem e, além de criar muito rapidamente um arsenal de lixo
tecnológico, igualmente, impossibilita o melhor manuseio das tecnologias, a
análise mais aprofundada das possibilidades de uso didá co reflexivo do
próprio material e de espaço para o processo criador do professor.
Retomando as contribuições de Barreto (2012), existe um segundo
discurso, que se opõe ao primeiro, o qual converge para a centralidade do
trabalho e caracteriza as tecnologias como uma produção humana, carregada
de ideologia, que necessita da mediação também humana para cons tuir-se
numa ferramenta de transformação.
As TIC, segundo a autora, "são vistas como produção que não podem ser
pensadas fora das relações sociais que as engendram" (p. 989). Portanto,
nesse segundo discurso, não é possível perder a totalidade da formação
docente. Essa é a dimensão que se quer abordar e, na condição de
observatório [6], reuniram-se estudos sobre as condições da formação
docente na busca pela compreensão das contradições que impedem o
entendimento da totalidade dos processos educa vos de uma perspec va
emancipatória. Igualmente, a proposta é encontrar, por meio de processos
contra-hegemônicos, formas de desconstruir as concepções de aligeiramento
e simplificação da instrução docente, assim como de combater o
esvaziamento de recursos de formação intelectual e a precarização da
a vidade docente.
Nesse aspecto da essência criadora, que não é uma essência em si, mas é
fruto das relações sociais, o autor remete à necessária ampliação dos
repertórios vivenciados pelos ar stas, pois nada que habite a consciência já
não está enunciado na existência humana.
Um terceiro aspecto evidenciado por Vazquez (1978) remonta à ideia da
aspiração à arte como ciência, não no modo pelo qual se cons tuem as
ciências naturais nem como algo fechado e prescri vo. Muito pelo contrário,
na lógica da dialé ca, compreender a arte como ciência obje va e não
obje vista requer pensá-la como um processo criador humano, real e possível,
assim como cons tuir seu caráter cien fico por meio de seus fundamentos
filosóficos com base no materialismo histórico e dialé co.
Finalizando os pontos elencados, um quarto aspecto diz respeito à crí ca
ao norma vismo na arte. Segundo o autor,
Considerações finais
O obje vo do presente ar go foi problema zar os impactos das
tecnologias digitais na formação de professores de Artes Visuais, tema
amplamente abordado na disciplina “Arte, Tecnologias e Formação de
Professores”. Para tanto, buscaram-se, nos fundamentos sócio-históricos,
elementos para a compreensão do papel atribuído pela sociedade capitalista
para as TIC. Certamente, um ar go não comporta com profundidade o
intrincado e complexo cenário que se vivencia hoje, assim, buscou-se um
recorte para problema zar diferentes aspectos organizando um determinado
caminho, sob uma perspec va crí ca apoiada numa visão de ser humano,
numa visão de mundo e num determinado modelo de escola: uma escola que
tenha como papel a produção e circulação dos conhecimentos historicamente
sistema zados para as camadas populares.
Como apontou Saviani (2007), poder valer-se dos conhecimentos
dominados pela classe dominante é condição de libertação. Não há como
mudar a correlação de forças na sociedade desconsiderando-se a história da
humanidade. É necessário compreender esse complexo cenário da vida
humana e as contradições postas nele.
Os estudos do observatório têm contribuído para a análise das
licenciaturas que formam professores de Artes Visuais buscando sistema zar o
modelo de formação à luz das polí cas obrigatórias que evidenciam o Estado
como o ordenador de mudanças, o que tem sido feito aos poucos – uma
mudança de cada vez para não chamar demasiada atenção ou sofrer
resistência por parte dos movimentos organizados.
As polí cas públicas que têm orientado a ampliação do trabalho do
professor contribuem para o aumento da exploração ao mesmo tempo em
que, por conta delas, constroem-se discursos sobre inovação. Diversos
programas governamentais introduzem, nas escolas, aparatos tecnológicos
com a promessa de revolucionar o ensino sem as condições obje vas para que
as mudanças aconteçam e geram, assim, uma culpabilização do professor e
não do Estado pelo insucesso da sua polí ca.
Concomitantemente, os estudos do referido observatório buscam olhar
para a arte como produto do trabalho humano e, com essa visão, analisar as
suas contradições; valorizar os processos reflexivos e evidenciar a formação
intelectual na área de artes como um valor maior. Dessa perspec va, percebe-
se que as abordagens que dão importância à pesquisa sobre a própria prá ca
em detrimento da formação filosófica dominam as correntes pedagógicas que
formam professores de Artes Visuais. Essas abordagens validam o princípio
liberal de que o professor, sozinho, pode produzir a diferença na escola, o que
cria uma expecta va e uma descrença na atuação cole va.
Embora os processos de encontro entre as artes e tecnologias tenham
conquistado vigor, também os ar stas apontam processos e escritos de
resistência que denunciam a lógica desumana do mercado de arte. As
tecnologias, como produto humano que são, precisam ter seu acesso
qualificado na arte e na escola amalgamadas numa teoria crí co-reflexiva e
cons tuir um lócus de mudança reflexiva e de atuação polí ca.
Outros desafios postos no cenário de formação, vinculados à reconversão
docente e aos usos alienados das tecnologias em sala de aula, colocam em
cena constantes contradições a serem inves gadas. O principal deles, talvez,
seja preparar um educador que, em um desenrolar con nuo de estudos
reflexivos, amplie sua leitura de mundo, pergunte-se constantemente sobre o
papel da arte na sociedade atual e busque novas relações que aumentem a
compreensão de mundo também de seus alunos.
Uma escola emancipatória permi rá ações reflexivas sobre o mundo e
sobre o próprio ato educa vo como processo que abarque a percepção social
e que cons tua espaços de resistência.
Notas
Referências
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialé ca do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1985.
VAZQUEZ, A. S. As ideias esté cas de Marx. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
CAPÍTULO 2
ARQUEOLOGIA DO FUTURO:
A TRÍADE EDUCAÇÃO, ARTE E TECNOLOGIA POR
FREDRIC JAMESON
Giovana Bianca Darolt Hillesheim
Introdução
Percorrer a caminhada do crí co literário e teórico marxista Fredric
Jameson pode se revelar um percurso que, embora se caracterize pela
firmeza de posicionamentos, nos permite perceber revisões, retomadas e
refinamentos conceituais. Nascido em 1934 em Cleveland, EUA e professor
de literatura da Duke University (Carolina do Norte), dedica-se ao estudo
do moderno, do pós-moderno, do cinema e da literatura, sempre
refle ndo sobre o lugar da cultura na crí ca ao capitalismo. Jameson é
enfá co ao defender que o marxismo não deve ser encarado somente
como um método dentre outros para se chegar ao conhecimento, mas
como crí ca global ao capitalismo. Em passagem pelo Brasil para um
debate promovido pelo jornal Folha de São Paulo e pela editora Á ca em
1996, declarou:
"Assim, se não existe mais uma alta cultura para se opor, acho que
alguém poderia dizer que não existe mais, portanto, uma 'cultura
de massa'. De qualquer maneira, penso que o velho dever da
cultura de massa – transformar os cidadãos em consumidores – é
ainda predominante; ainda que haja itens culturais de massa
diferenciados, o mesmo processo está presente, o despertar do
desejo de consumir e produzir vidas dedicadas ao consumo, o
quanto isso for possível" (Rezende, 1996).
Para Jameson, a cultura de massa atual envolve uma produção
sofis cada em uma atmosfera saturada de ideias, mensagens e lembranças
de an gos trabalhos e textos. Mas, ele alerta, a padronização con nua
presente, embora, às vezes, de forma subliminar. Pensar as implicações da
cultura de massa no século XXI requer admi r uma nova cultura, pica
dessa fase do capitalismo.
Considerações finais
A produção bibliográfica de Fredric Jameson é vasta em explicar o lugar
da cultura na crí ca ao capitalismo por meio de análises de obras literárias
e cinematográficas. A cultura transformada num lucra vo negócio tem
desempenhado papel importante na naturalização do que é histórico, de
tal forma que é possível nomear como ‘desconcertante’ o papel da cultura
atualmente: um grande trunfo do capital. Porém, tal prerroga va não se
configura como uma sentença irrevogável. Jameson incita estratégias
contra-hegemônicas de resistência que possibilitem ‘quebrar’ o sistema
capitalista há muito vigente, sistema este pautado no lucro, na mercadoria
e no trabalho assalariado.
Embora focado na literatura e, mais enfa camente no cinema, o
caminho teórico de Jameson mostra-se bastante conciso e coerente,
permi ndo ampliar o mapa das estratégias do capital no embotamento da
capacidade crí ca do ser humano. O embricamento cada vez mais intenso
entre arte e mercado dá provas do acelerado processo de industrialização
cultural, onde os produtos são adaptados ao consumo massivo pelo
enlaçamento entre alta cultura e cultura de massa.
As contradições produzidas pelo capitalismo, o elevado processo de
marke ng, a tecnologia a serviço do mercado, o esvaziamento das
ins tuições educa vas e a cultura midiá ca muitas vezes embotam o
raciocínio e mascaram a realidade. Em tal panorama, a estratégia
emancipatória defendida por Jameson imprescinde de uma arqueologia do
futuro: inves gar os ves gios do que podemos estar prestes a nos tornar.
Só uma constante e vigilante análise histórica poderá subsidiar uma futura
organização racional e emancipatória da sociedade.
Notas
[1] A Escola de Frankfurt nasce em 1924 ligada ao Ins tuto de Pesquisa
Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha. A Escola fez uma
reavaliação radical do Iluminismo e par u do pressuposto de que a
consciência não é livre na sociedade industrial, uma vez que a realidade
tecnológica envolveu a todos.
Referências
ANDERSON, P. As origens da pós-modernidade. São Paulo: Edições 70,
2005.
Nas reflexões desse autor, "A maior ameaça à beleza vem da repe ção
ritual [...]; como nas cerimônias litúrgicas das religiões; como nas
propostas poé cas e literárias que dizem sempre as mesmas coisas do
mesmo modo; como nos tuts tuts das músicas pop contemporâneas" (p.
84). Assim, há uma perda de tensão em muitas obras de arte
contemporâneas, como se estas es vessem entrado em crise. Não há
tensão entre as partes e o todo, pois essas partes não conseguem alcançar
a unidade, tornaram-se indiferentes entre si. De tal modo, a obra deixa de
ser bela. Diante desse contexto, é significa vo perguntar se a arte
contemporânea está caminhando para o feio e se o belo deixou de exis r.
Para Adorno, o belo e a arte deixam de exis r se subordinados ao sistema
capitalista e, nesse caso, a "humanidade teria que se contentar com os
produtos da indústria cultural [...]." (Schaefer, 2012, p. 185).
Do ponto de vista de Adorno (1999), a indústria cultural [8] ra do
indivíduo a sua autonomia e independência, deixando-o incapaz de fazer
julgamentos de maneira consciente e de tomar decisões, já que, nesse po
de indústria, são criadas diariamente inúteis necessidades de consumo, a
fim de que o ciclo produ vo não pare. Os produtos oferecidos por esse
sistema mercan lista de cultura não têm uma preocupação com o seu
conteúdo, mas, sim, com o quanto tal produto é consumido.
Em Teoria Esté ca, Adorno discute o progresso, o novo, o perfeito, o
‘limpo’, aquilo que está na mídia, como ideias vendidas pelo produtor da
cultura para a sociedade de consumo. Essa proposta do filosofo é
apresentada por Nolasco (2010), que examina o conceito de feio dessa
perspec va. Para a autora, "aquilo que é considerado feio é,
potencialmente, um perigo para a sociedade, pois torna visíveis as relações
de dominação e as desigualdades que estas instauram" (p. 59). Ao
contrário do feio, para a autora,
Dessa mesma perspec va, Eco (2007) sustenta que os conceitos de belo
e de feio são rela vos aos vários períodos históricos ou às várias culturas"
(p. 10). O mesmo autor, no capítulo A vanguarda e o triunfo do feio, indica
as primeiras décadas do século XX, em que se observa o conceito de feio
fortemente voltado para uma denúncia social.
Do mesmo modo, Schaefer (2012), baseado em Adorno, dá um
exemplo de um comportamento an capitalista, an monárquico,
an nobreza com uma frase de um poema de Arthur Rimbaud, no qual o
ferreiro grita ao rei: “Le peuple n’est pas une putain” (“O povo não é mais
uma puta”). Observa-se que a arte tomará o feio para si, para usá-lo como
uma denúncia daquilo que o produz e o reproduz. Há um grande potencial
esté co no feio proveniente do socialmente dominado, reprimido e
negado e a esse respeito Schaefer aponta para questões sociais bem
demarcadas:
"A arte crí ca se radicaliza na forma. A forma feia anda de mãos
dadas com o sofrimento, seja este proveniente da tortura (como no
caso brasileiro de 1964 em diante), seja proveniente da morte
(como no caso da Alemanha nazista eliminando doentes mentais ou
judeus, ou minorias étnicas), seja este sofrimento proveniente do
excesso de trabalho nas jornadas capitalistas da exploração da
força de trabalho, sejam causadas pela fome, pela pobreza, pelo
analfabe smo, pela marginalização polí ca. A arte rejeita a ideia
de que o mundo tem uma essência transcendente, excluída das
con ngências. A arte recusa as naturezas eternas e necessárias"
(Schaefer, 2012, p. 78).
Notas
Referências
______. Teoria esté ca. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1970.
______. Textos escolhidos – Adorno Vida e Obra. São Paulo: Editora Nova
Cultural, 1999. (Coleção Os Pensadores)
______.; HORKHEIMER, M. Dialé ca do esclarecimento. Fragmentos
filosóficos, 1947; Disponível em:
<h p://www.pet.eco.ufrj.br/images/PDF/ic.pdf>. Acesso em: 4 jun.
2017.
______. Teoria crí ca. In: GIDDENS, A.; TURNER, J. Teoria social hoje. Trad.
de Gilson Cesar Cardoso de Sousa. Editora UNESP: São Paulo, 1999.
Introdução
Inicio esta análise propondo a indagação: quais aspectos indicam que a
formação de professores de Arte se configura como um problema? A tal
respeito retomo a pergunta feita por Saviani (1975) em seu ar go A
filosofia na formação do educador: "[...] mas que é que se entende por
problema?". O autor enumera os equívocos filosóficos relacionados aos
usos habituais da palavra ‘problema’. Muitos a consideram como sinônimo
de questão, pergunta ou indagação. Saviani esclarece que uma questão
frequentemente comporta uma resposta já conhecida e não é, portanto,
um problema. Outro uso corriqueiro desse vocábulo está atrelado à ideia
de não saber; não saber algo é desconhecer a resposta ou estar diante de
uma situação inexplicável, um mistério ou enigma. Porém, para Saviani,
mistério não é sinônimo de problema; é, ao contrário, a solução deste.
Exemplo disso pode ser percebido na experiência religiosa em que a
a tude de fé implica a aceitação do mistério. O filósofo defende, assim,
que é preciso recuperar a essência do problema, sua verdadeira
concre cidade, a qual seria a necessidade, pois "algo que eu não sei não é
um problema; mas quando eu ignoro alguma coisa que eu preciso saber,
eis-me então, diante de um problema" (Saviani, 1975, p. 5).
Da perspec va da necessidade, a formação de professores de arte já
havia sido tomada por mim como problema, ao perceber que as
licenciaturas ofertadas no Brasil não cons tuem um corpo unívoco e coeso
e que o cole vo de proposições e análises provenientes das pesquisas
acadêmicas desenvolvidas nos cursos de pós-graduação sobre a formação
docente em Arte perambulam por bibliotecas e repositórios dispersos
(Hillesheim, 2013). Por isso, este texto busca alterna vas na Pedagogia
histórico-crí ca. De acordo com Mazzeu (2011), uma formação docente
pautada pela Pedagogia histórico-crí ca deve ter por base a radicalidade, o
rigor e a globalidade, ou seja, deve ser permeada pela reflexão filosófica e
dar importância plena ao conhecimento cien fico. O afastamento e tais
prerroga vas resultaria num esvaziamento da formação docente e
induziria a um modelo de licenciatura que, além de limitado à con ngência
prá ca, dissemina a ideia de um divórcio entre teoria e prá ca.
A teoria tocquevilliana
O francês Alexis de Tocqueville (1805-1859) tentou entender como a
democracia funcionava por meio da análise do sistema carcerário norte-
americano, tão logo os Estados Unidos passaram a exis r como república.
Sendo um cidadão europeu membro da aristocracia francesa, a principal
dúvida de Tocqueville era saber se a democracia e a excelência podiam
coexis r (Zolberg, 2008, p. 68). Para ele, a democracia nada mais era que
uma liberdade polí ca na sociedade igualitária de massas que, para
sobreviver, dependia do individualismo exacerbado inerente ao estado
social democrá co. Esse individualismo foi entendido pelo autor como
fruto da indiferença cívica que compõe um novo po de despo smo: "uma
forma de dominação polí ca inédita ao mundo ocidental, que aparece
como branda e tutelar, e que degrada os homens sem atormentá-los,
mantendo os seus súditos, à maneira de um pátrio poder sem fim, na
eterna menoridade polí ca" (Jasmin, 2013, s/p.).
A linha de raciocínio usada por Toqueville na conexão entre democracia
e individualismo defendia que as preocupações do homem democrá co
dificilmente ultrapassavam sua experiência mais imediata; esse
comportamento individualista causaria uma fragmentação social e uma
progressiva indiferença cívica, a qual, portanto, era o cerne de um cenário
maléfico que precisava ser apaziguado.
"Tocqueville defende que para reverter o quadro inerente à
democracia é necessário revitalizar as instâncias de par cipação
que fortalecem o espírito de cidadania frente à tutela
administra va do Estado centralizado moderno. Em outras
palavras, só haverá liberdade democrá ca onde houver ação
permanente do corpo de cidadãos na esfera pública" (Jasmin, 2013,
s/p.).
A perspec va marxista
Karl Marx (1818-1883) nasceu na Renânia, uma das províncias da
Alemanha ocupada pelos franceses até 1815. Marx também via a busca
incessante pelo capital como o grande problema da sociedade moderna,
mas, ao contrário de Tocqueville, acreditava na possibilidade de uma
prá ca transformadora que pudesse modificar as relações sociais vigentes,
a qual resultaria num mundo mais justo e igualitário, bem como só seria
possível com a superação do sistema capitalista.
Marx reconhecia o progresso ver ginoso provocado pelo capitalismo,
mas alertava que tal desenvolvimento só ocorreu porque a riqueza estava
acumulada na mão de poucos. Ele enxergava o mundo dividido em duas
classes: capitalistas e proletários: os primeiros de nham os meios de
produção e compravam força de trabalho alheio, os segundos, despojados
dos meios de produção, vendiam sua força de trabalho para sobreviver. Na
acepção de Marx, o processo de formação dessas duas classes originou-se
do emprego dessa fortuna amealhada por uma minoria na compra de
equipamentos e máquinas recém-inventadas (revolução industrial); e que
foi se convertendo em capital e formando a sociedade capitalista. Sem suas
terras e equipamentos modernos, sobrou ao campesino a alterna va de
tornar-se sua mão de obra remunerada.
O autor foi claro em localizar o problema da sociedade moderna na
disparidade da distribuição do capital. O capitalismo aumenta as
desigualdades, mas propala a ideia de que todos têm oportunidades iguais
de superá-las, promete a liberdade e a igualdade, mas não as realiza, ou
melhor, realiza-as para um pequeno grupo. A fim de decidir e controlar
quem terá acesso a quê, ou seja, as pseudo-oportunidades, o capitalismo
necessita de que as pessoas se submetam a um processo de seleção
considerado justo e natural chamado pelo autor de “democracia liberal-
representa va”, a qual, para ele não era a verdadeira democracia, que
deveria ser direta e colocar as en dades polí cas e as ins tuições sociais
em poder do povo.
A escola tem um papel central na perspec va marxista, pois é encarada
como espaço de luta e resistência em prol da democracia genuína; deve
ser uma ins tuição que amplia o rol de necessidades do ser humano,
impulsionando-o ao desenvolvimento pessoal e social. Para dar conta
dessa missão, a escola vale-se do conhecimento cien fico historicamente
sistema zado e referendado pela prá ca social humana. Tais
conhecimentos são importantes não somente por serem resultado
histórico do trabalho humano, mas por contribuir com o desenvolvimento
das funções psíquicas superiores, conforme apregoou o psicólogo russo
Vygotsky.
Estar familiarizado com a maneira pela qual ocorre o desenvolvimento
psíquico humano é fundamental para o sucesso de qualquer teoria
educacional, afinal só um indivíduo com tais funções bem desenvolvidas
dará conta dos conhecimentos mais elaborados produzidos pelo homem
no decorrer da história. Vygotsky, na esteira do pensamento de Marx,
explicitou a diferença entre os comportamentos complexos superiores,
legado cultural fruto do trabalho que representa tudo aquilo que o ser
humano já alcançou em seu desenvolvimento histórico, e os
comportamentos elementares, primi vos, herança deixada pela natureza.
Segundo o autor, é preciso que o homem supere o legado da natureza por
meio do legado da cultura. Firmemente calcado em Marx, Vygotsky
explicitou que tal superação só é possível por intermédio das contradições.
O princípio da contradição é um elemento importante da teoria marxista.
Para que se estabeleça a contradição entre natureza e cultura, necessita-se
de uma mediação intencional nessa direção.
Vygotsky usou o conceito de mediação de Marx: um universo simbólico
que produz significações. Para dar conta de transmi -las planejadamente
existe a escola. São os conteúdos formados pelo universo simbólico que
fazem a mediação entre o legado natural e o legado cultural,
desenvolvendo no ser humano suas funções psíquicas superiores.
"Quando nos damos conta de que a formação do homem se faz,
necessariamente, através do processo de mediação e automediação
entre o homem e a natureza, e que essa práxis social nos permite
atribuir significados humanos aos elementos transformados da
natureza, percebemos melhor a necessidade de cuidarmos das
mediações ar s cas e culturais que, invariavelmente, formatam
nossa consciência" (Cabral, 2012, p. 383).
A educação esté ca acontece por meio das operações mentais que vão
do nível mais simples ao mais complexo. Quando o aluno procura na obra
de arte um enredo ou a tradução de eventuais emoções, está em busca de
um bene cio psicológico recrea vo que, segundo Leon ev, é o nível mais
básico de competência esté ca. No segundo nível – socialização –
consegue captar na obra de arte informações sobre o mundo, valores,
normas e padrões de comportamento. A meta da disciplina de arte deve
ser trabalhar para que o aluno a nja o terceiro nível de competência
esté ca, canalizado para o desenvolvimento pessoal, em que o contato
com a obra de arte permite quebrar normas e clichês e conferir à realidade
novas significações.
É primando pelo desenvolvimento dessas operações mentais por
intermédio de a vidades teórico/prá cas que a disciplina de arte colabora
com uma educação para além do capital, que se oponha à cultura de
massas em prol de uma sociedade construída em torno de uma verdadeira
democracia, como a defendida pelo filósofo e polí co italiano Antonio
Gramsci: democracia com socialização efe va do poder. Segundo Semeraro
(2012, p. 152), quando Gramsci fala em democracia, não se expressa de
forma neutra e genérica, mas coloca-se do ponto de vista dos subalternos,
leva em consideração a realidade concreta dos que são alijados do seu
meio. Portanto, lecionar arte na escola não é uma a tude inocente,
despretensiosa ou inconsequente poli camente. Conscientemente ou não,
o professor faz as suas escolhas. Uma formação filosófica consistente pode
não resultar num cole vo de professores com obje vos transformadores,
mas com certeza formará professores mais cientes das repercussões de
seus atos.
Considerações finais
A imersão numa jornada polí co-filosófica sobre a formação docente
em arte permite ver quão ingênua é a pretensão de visualizar essa
licenciatura como um todo coeso. A formação de professores pulsa e reage
ao momento histórico que protagoniza, sofre influências de caráter
econômico, social, polí co e filosófico. Tal qual o ser humano conceituado
por Marx, ela é síntese de múl plas determinações. É exatamente esse
caráter vivo, mutável, que a transmuda num problema a ser estudado e
sobre o qual se deve refle r de maneira crí ca, tarefa que exige, apesar da
mutabilidade do tema, um mapeamento obje vo dessa seara de
formatações que configuram a formação docente em arte no Brasil.
O ensino que será realizado na escola depende diretamente do rastreio
de realidades que compõem a formação inicial do futuro professor de arte.
Conhecer para intervir é condição indispensável no projeto de
transformação e superação da sociedade que aí está. Sim, é possível
eximir-se e calar; é possível não tomar para si a responsabilidade da
mudança; é possível, inclusive, duvidar da real necessidade desta, tal qual
acreditava Tocqueville. Mas, o que não é aceitável, nem sensato, é abrir
mão de conhecer a realidade dispensando a possibilidade de escolhas
pautadas nesse conhecimento. A consciência sobre o que se faz e para que
se faz é o mínimo necessário que se espera de um professor e é nesse
aspecto que Saviani é certeiro ao chamar a atenção para os prejuízos
causados à educação pela falta de discussões filosóficas na formação dos
educadores.
A compreensão da função da arte no desenvolvimento humano é
historicamente construída. Da mesma forma, a função da escola na
sociedade e do ensino da arte na escola são processos históricos. É
importante entender que o termo ‘historicamente’ não significa que haja
um progresso natural e con nuo oriundo da passagem dos anos. Pode-se
estar temporalmente à frente sem, necessariamente, estar
conceitualmente à frente. As considerações feitas por Saviani há trinta
anos con nuam atuais ao defender a presença da Filosofia nos cursos de
licenciatura. Só assim a formação pedagógica resultará mais coerente, mais
lúcida, mais justa, mais humana. Na mesma perspec va, é possível dizer
que a presença da Filosofia na formação do professor de arte amplia as
chances de que essa disciplina coopere efe vamente no amplo processo
de transformação da realidade atual.
Notas
Referências
CABRAL, F. Arte para pensar a vida e educar os sen dos. In: MENDONÇA, S.
G. de L.; SILVA, V. P.; MULLER, S. Marx, Gramsci e Vygotsky:
aproximações. 2. ed. Araraquara, SP: 2012.
ZOLBERG, V. L. Para uma sociologia das artes. São Paulo: Editora SENAC,
2008.
CAPÍTULO 5
EDUCAÇÃO ESTÉTICA:
A VISÃO DE KARL MARX E REFLEXÕES PARA A
FORMAÇÃO DOCENTE EM ARTES VISUAIS
Angela Maria de Andrade Palhano
Introdução
As discussões deste ar go fundamentam-se nos estudos realizados na
disciplina Arte, tecnologias e formação docente do PPGAV
Mestrado/Doutorado, na Linha de Pesquisa: Ensino das Artes Visuais da
UDESC em Florianópolis/SC. Tendo por base a perspec va materialista-
histórica, apresentam, em linhas gerais, conceitos esté cos na visão de Karl
Marx, bem como uma discussão com outros autores sobre a educação
esté ca e reflexões em torno da formação de professores em Artes Visuais.
À margem das complexas estruturas engendradas na sociedade
contemporânea, a discussão sobre a educação, confundida com uma
atribuição da escola, ultrapassa os muros de contenção e dissemina-se nas
relações sociais. As postulações de Marx, recorrentes das problemá cas
sociais da era industrial, atualizam-se para pensar a educação, a esté ca, a
formação de professores e os comportamentos da sociedade
contemporânea.
Do mesmo modo pelo qual gera um produto, a indústria cultural
promove o nosso jeito de sen r e viver. Dessa perspec va, a elucidação
deve enfa zar a fragmentação do conhecimento, a fragilidade do sen r
esté co e a servidão às condições da vida como se está nos dias atuais.
Conforme Marx, temos a projeção da pobreza ou perspec vas para a
riqueza humana. Nisso reside a necessidade de discu rmos a educação
esté ca, sobretudo na formação dos professores de artes visuais, pois a
riqueza humana a que se refere Marx é a riqueza de sen dos e
significados.
Leon ev considera as produções da cultura de massa – a quase-arte –,
como promotoras de resistências, de pouco esforço e de emoções
passageiras, referindo-se a quase-percepção, que se ocupa, entre outras
coisas, de preencher espaços da vida humana com diversões, estreitando
nesse movimento os caminhos que nos conduzem para a reflexão e para a
aventura da transformação.
Nesse contexto cabe, portanto, colocar em debate a formação de
professores em artes visuais, repensando nossa própria experiência no que
tange à educação esté ca.
A educação esté ca
Embora a esté ca tenha mo vado várias discussões filosóficas há
tempos, atualmente tal debate passa despercebido, sobretudo no âmbito
educacional. Para Leon ev (2000), a educação "é uma pra ca social que
prossegue o obje vo de proporcionar às pessoas determinados aspectos da
experiência social acumulada, par lhada dentro de determinada
sociedade" (p. 127). Segundo o autor, as experiências são referentes ao
conhecimento e concepção de mundo, normas sociais, crenças e
ideologias, e prá cas do co diano. As apropriações e socializações dessas
vivências implicam o desenvolvimento "da competência prá ca e social
para a interação efe va com o sistema social, para adaptação sa sfatória
e efe va das regras sociais" (p. 127). Outros aspectos do desenvolvimento
social são as iden dades sociais, microssociais e transociais, as quais já
foram mencionadas. O conhecimento, a assimilação e as relações desses
níveis de iden dades são transmi dos pelo sistema de ensino.
A educação esté ca não se enquadra nessas iden dades, pois, em
razão do seu caráter teórico e intui vo, "tem algo a ver com o processo
mais ín mo do desenvolvimento pessoal e da personalidade do que
simplesmente com a adaptação social" (Leon ev, 2000, p. 128). Na teoria
de Maslow, citado por Leon ev, a educação esté ca pela via da arte se
aproxima da Psicoterapia e da Formação Psicológica porque “se ocupa da
transformação da personalidade no seu conjunto”. O autor destaca:
Considerações finais
Discu r a esté ca é um desafio. À luz das bibliografias citadas e
fazendo um recorte para as questões do pensamento de inspiração
marxista e educação esté ca. Tentamos focalizá-la na formação de
professores de Artes Visuais. Compreendemos que a ausência ou, como
diria Leon ev, a quase-aula da discussão esté ca na formação do
professor, sobretudo em artes visuais, compromete o entendimento dos
sen dos e significados que a arte pode possibilitar na formação humana.
Na teoria esté ca marxista, a restauração dos sen dos dos corpos e a
superação das condições materiais impostas pelo capitalismo tonifica a
liberdade dos sen dos. A primazia da formação esté ca promulgada por
Marx busca a emancipação humana em detrimento do roubo dos sen dos
do trabalhador e de si próprio, caracterís cos do desvairado e desenfreado
processo de industrialização passados no século XIX, o qual é extensivo ao
nosso tempo, porém com outras nuances.
A necessidade de repensar a educação e a formação de professores de
vários aspectos ganha espaço tanto em Leon ev, quanto em Feldmann,
que compar lham, em seus textos, toda a complexidade que envolve esse
nível de formação, sobretudo quando percebemos o quão amarrados
estamos numa visão globalizada e capitalista.
A ênfase na formação esté ca dos professores de artes visuais
apresenta-se como um espaço aberto à discussão. Notoriamente, percebe-
se uma confusão entre o termo esté ca usado no senso comum e a
esté ca que referenciamos neste ar go. Por vezes, a esté ca, também
pode passar despercebida nos discursos de formação docente, esvaziando
a arte de algo que lhe parece inerente, os múl plos olhares, interpretações
e significações. Por ora, cumpre-nos salientar que a educação esté ca tem
ganhado espaço para discussão, prova disso foram as leituras e debates
realizados na disciplina em questão e que mo varam a redação deste
ar go.
A educação esté ca oportuniza um salutar estranhamento, um
deslocamento das emoções, uma ousadia no pensar e momentos propícios
para se conhecer e reconhecer o outro em ato. Ousamos dizer ainda e
acreditamos que a educação esté ca voltada à formação de professores
em outras áreas contribuiria, de certo modo, para dar sen do ao que
compreendemos ser o essencial da educação, seja interagindo ou
transformando as estruturas de pensamentos, seja nos tornando mais
sensíveis e próximos da alteridade. A densidade desses dizeres soa como
um devaneio, mas, diante do mundo em que vivemos, vale a pena tentar.
Referências
CARCHIA, G. et al. Dicionário de esté ca. Lisboa, PO: Edições 70, LDA, 2009.
______.; ENGELS, F. Obras escolhidas. Vol. 1. São Paulo: Alfa Omega, s/d.
MEIRA, M. Filosofia da criação: reflexões sobre o sen do do sensível. Porto
Alegre: Mediação, 2003.
Introdução
A formação de professores tem sido alvo de discussões por alguns
pesquisadores, Barreto (2009), Garcia (2009), Ga (2011), Giroux (1997),
Mazzeu (2011) e Pereira (2011), em decorrência das mudanças no contexto
escolar que implicam repensar sobre a formação inicial do educador. Esse
processo de rever a prá ca docente pode ser melhor compreendido por
meio de uma contextualização histórica sobre a práxis e a experiência
disseminadas por uma visão sociopolí ca. No que concerne ao conceito de
práxis, este perpassa os estudos de Dewey e Gramsci, embora apresente
uma divergência conceitual entre os autores, conforme Semeraro (2012). O
primeiro a percebe pela via da experiência do sujeito como solução dos
problemas e como construção do aprendizado com a prá ca, ao passo que
o segundo defende a ideia de que os indivíduos subalternos sejam
conscientes de sua condição social e capazes de enfrentar as contradições
advindas de sua época, com o propósito de edificarem uma nova
sociedade.
Escola pública 18
Escola par cular 2
Graduação em Artes Visuais 16
Graduação em outra área 2
Graduação em andamento 2
Especialização/mestrado/doutorado 13
Especialização em andamento 1
Sem pós-graduação 6
De acordo com alguns pontos de vista dos educadores em relação aos
cursos na modalidade a distância, há mais posicionamentos posi vos que
nega vos, como, por exemplo, quando se referem à o mização do tempo,
escolha de horário de estudo e maior acesso de pessoas ao ensino
superior. Para tanto, como argumentou a professora Paula Antunes [4]
“[...] acredito que o ensino na modalidade a distância é uma tendência que
deve ser considerada e ampliada, visto que é uma maneira de o mizar o
tempo, sendo que, para mim, só funciona quando o aluno sente um real
envolvimento, se desenvolve e tem prazer naquilo que está fazendo”
(Entrevista 2, Florianópolis, 2013).
Há um dualismo em relação à implementação das TIC nas escolas, pois,
ao mesmo tempo em que servem como ampliação do acesso a
ferramentas virtuais de aprendizagem na sala de aula, também
possibilitam uma ‘comodificação’, segundo Barreto (2009, p. 108), na qual
a educação se desloca para um setor mercadológico. Em virtude disso, as
tecnologias configuram-se como ferramentas ambíguas que podem dirigir-
se a outras finalidades e contextos como o das relações sociais e não mais
a uma situação de ensino-aprendizagem para a qual inicialmente foram
pensadas.
A modalidade de ensino a distância, por sua natureza flexível, aparenta
uma menor preocupação com o ensino pela possibilidade de propagação e
atribui maior importância ao acesso à informação. Em decorrência disso,
Barreto (2009) menciona que as TIC são importantes para os processos
pedagógicos, mas deve-se considerar que:
O acesso aos cursos de graduação por meio da EaD são vistos como
oportunidades para aqueles que estão em locais de di cil acesso. Mas para
que ocorra a formação em nível superior, há necessidade de uma
infraestrutura adequada, com materiais e profissionais habilitados para
uma educação sa sfatória e não para distribuir cer ficados e formar
sujeitos sem as devidas competências.
Há que se considerar também que muitos professores que atuam na
EaD se dedicam a essa a vidade à carga horária presencial obrigatória sem
receber o salário de acordo com as horas extras trabalhadas via plataforma
virtual. Garcia (2009) confirma essa situação desfavorecedora:
"Ao tratar do que está sendo entendido aqui por 'sen do esté co',
pressuponho que se trata de um 'sen do' que tem que ser
cons tuído no indivíduo humano porque, embora esteja
prenunciado na biogené ca humana, ele não acontece nem pela
ação de qualquer mecanismo inato, nem por obra da
hereditariedade. Ele, como tudo que é especificamente humano,
tem que ser objeto de formação, daí a sua relação com a educação"
(Pino, 2006, p. 60).
Considerações finais
Ao se percorrerem as vertentes teóricas sobre a formação de
professores, tecnologias e construção do sen do esté co, observou-se que
um dos problemas na educação é a falta de inves mentos em recursos de
qualidade, o que compromete, em muitos casos, o trabalho do professor.
Sobretudo de acordo com as polí cas públicas, ele deve desenvolver
habilidades e competências para ensinar e adquirir o conhecimento
necessário durante sua formação inicial. No entanto, conforme Mazzeu
(2011) e a fala de alguns professores entrevistados, a formação inicial em
curso de licenciatura não tem preparado adequadamente esses
educadores para atuarem de maneira crí ca em suas prá cas pedagógicas,
com a finalidade de subverter o modelo capitalista. Do mesmo modo,
muitos cursos de nível superior são realizados de modo fragmentado,
distanciando-se da formação para ‘aprender a aprender’, que deve ser uma
caracterís ca fundamental de um educador que reflete sobre sua prá ca a
fim de aprimorá-la.
Observa-se que a realidade da educação – ou seja, a expansão do
ensino superior a distância – atende ao sistema capitalista, como se pode
notar na situação de muitos professores que assumem jornadas duplas, ou
às vezes triplas, de trabalho em decorrência dos péssimos salários, o que
resulta na impossibilidade de par cipação em eventos ou pesquisas de seu
interesse.
No que se refere aos cursos na modalidade à distância, do ponto de
vista dos educadores entrevistados, a maioria apresenta posicionamento
favorável no que diz respeito à o mização do tempo, escolha de horário de
estudo e maior acesso de pessoas ao ensino superior nessa modalidade.
Quando indagados a respeito das TIC e sua implementação na escola,
ocorre um dualismo, visto que, ao passo que estas permitem uma maior
ampliação do acesso a ferramentas virtuais de aprendizagem em sala de
aula, por outro lado, permitem uma ‘acomodação’ do professor que não
consegue u lizar essas ferramentas para driblar essa defasagem em sua
formação. Demonstraram preocupação em relação ao momento adequado
para u lizá-las em sala de aula, afirmando a necessidade de cursos de
capacitação para se obter um melhor aproveitamento desses recursos na
escola. Também as tecnologias se mostram como ferramentas ambíguas,
ora por apresentarem uma finalidade para seu uso nas relações sociais, ora
por não contemplarem mais uma situação de ensino-aprendizagem como
foram pensadas inicialmente.
O uso das tecnologias em sala de aula, conforme os professores
entrevistados, amplia o acesso às informações, bem como possibilita uma
maior aproximação com a realidade promovendo um envolvimento melhor
dos alunos com a a vidade proposta, em virtude da diversidade de
ferramentas e aplica vos presentes nesses recursos. Por outro lado, esse
acesso às TIC ainda é restrito a poucas pessoas, assim como não são
fornecidas orientações adequadas para os professores e alunos que delas
usufruem.
A maioria das escolas dos professores entrevistados apresenta
equipamentos tecnológicos e os mais usados por eles são os
computadores na sala de informá ca e os tablets. Em muitos casos,
relataram que u lizam seus laptops para dar con nuidade à veiculação de
imagens em sala de aula, devido à péssima qualidade dos equipamentos,
que não funcionam adequadamente na escola, como também pontuaram
problemas de acesso à internet. Com relação à disciplina de Artes, a
inserção das tecnologias melhorou o acesso à informação, às imagens das
obras em maior dimensão e quan dade, à visualização de museus virtuais,
filmes, músicas, fotografias e conteúdos.
Quanto aos estudantes com deficiência, alguns educadores
comentaram que não há recursos específicos para esses casos. Outros
afirmaram que empregam ferramentas e aplica vos e percebem que essas
ferramentas possibilitam uma maior manipulação e autonomia desses
alunos em relação às a vidades propostas.
As tecnologias em sala de aula ampliam o acesso à informação e
tornam as aulas mais atra vas conforme o posicionamento dos professores
entrevistados. Mesmo com problemas referentes à qualidade desses
equipamentos, bem como à ausência de manutenção apontada por alguns,
os professores de Artes Visuais confirmaram que não conseguem
desvincular-se desses recursos, em vista da facilidade com que podem
elaborar uma aula e explorar outros meios de criação.
Por fim, a construção do sen ndo esté co é importante, pois obje va
preparar o sujeito para pensar de forma crí ca sobre o contexto no qual
está inserido. A ramificação dessa educação esté ca está diretamente
vinculada à formação dos professores, já que estes assumem a
responsabilidade de promover, por meio da Arte, a formação de seres
pensantes e capazes de transformar a sociedade em que vivem. A escola,
no entanto, é o espaço adequado para fornecer o acesso das camadas
populares à arte, assim como para discu r e refle r sobre a indústria
cultural imposta em nossa sociedade, a fim de preparar sujeitos crí cos
diante dessa conjuntura mercan lista, que visa formar os indivíduos para
atuar no mercado de trabalho. De acordo com os professores de Artes
Visuais entrevistados, é na escola que se consolida a ‘alfabe zação
esté ca’ e esta pode ser alcançada por meio do uso das tecnologias que
oferecem ferramentas e aplica vos adequados para permi r a
manipulação e criação de imagens pelos alunos. Tais instrumentos, por sua
vez, dispõem de um caráter dinâmico e atra vo, e também permitem uma
aproximação da Arte com a teoria e a prá ca cria va.
Notas
[1] Pedagogia, Língua Portuguesa, Matemá ca e Ciências Biológicas.
[2] Foram realizadas discussões de textos referentes à temá ca da
disciplina, bem como a apresentação de seminários sobre autores que
inves gam a formação docente. A avaliação consis a na construção de um
ar go sobre os textos estudados e também sobre as entrevistas realizadas
com professores da rede pública e privada de Florianópolis e de cidades
próximas, discu das no úl mo dia de a vidade.
[3] Nome fic cio.
Referências
A ideia desse ato de criação precisa ser permanente durante as aulas, não
se pode perder de vista que não é importante pensar na criação somente na
esfera das Artes, mas durante toda a nossa vida. Ao trazer uma possibilidade
de fazer ar s co para os meios digitais,
As ideias excessivamente claras não nos deixam outra coisa que não
seja uma acumulação de presentes bem-cons tuídos, mas sem
porvir algum (Carlos Skliar).
Referências
Introdução
Trata-se de uma questão que vem sendo estudada sob olhares
preocupados com a qualidade da educação não só no Brasil, mas em países
da América La na, como o Chile, e a Argen na, entre outros. O surgimento
de novas tecnologias, novos conhecimentos, princípios cien ficos, os quais
se tenta adequar ao ensino das artes e à formação de professores, conduz
a análises rela vas à construção de saberes e às diferentes áreas de
atuação dos profissionais e alunos em formação no campo da educação.
Este trabalho é um estudo bibliográfico baseado em estudos de Ana Mae
Barbosa (2011), Angel Pino (2006), Fá ma Cabral (2012), que trazem à tona
assuntos atuais que permitem nossa reflexão a respeito da área do ensino
das artes visuais.
O texto está dividido em cinco partes: em um primeiro momento, o
assunto relaciona-se ao ensino de arte nas escolas; a segunda parte refere-
se ao modo de ver as artes, ao processo de construção do leitor crí co e às
caracterís cas desse leitor; a terceira parte concerne à eli zação das artes
da perspec va das artes populares e as belas artes; a quarta parte diz
respeito à formação de professores, o que leva às caraterís cas próprias do
processo de formação, polí cas públicas e educação con nuada e a quinta
parte aborda o uso das tecnologias em sala de aula, como tablets,
smartphones, internet, questão complexa que apresenta aspectos para
reflexão que compõem processo de formação que no que tange aos
processos educa vos de alunos e mestres.
O acesso à informação por meio das TIC não pode ser confundido com
aprendizagem. As TIC são ferramentas complementares. A internet
democra zou, de alguma forma, o acesso e a autoria, professores
ministram aulas e postam na internet conteúdos. No entanto, é necessário
um cuidado e um filtro bastante crí co com todo esse mar de informações.
Em locais de di cil acesso à internet e onde não se u liza o computador,
tomando como exemplo regiões de extrema pobreza no interior do Brasil,
ainda a procura de informação é feita nos livros, quando existe uma
biblioteca. Entretanto, existe uma mudança no processo de ensino-
aprendizagem no ambiente de estudo mais informal, em ONGs, centros
comunitários, nas escolas que aderem ao trabalho de oficinas de reforço
para os alunos, no contraturno, no contato aluno-professor e as
transformações espelham-se nos resultados ob dos perante a sociedade.
Para Barreto (2010):
A palavra professor vem sendo subs tuída por tutor, facilitador, o que
não significa que o profissional esteja mudando de perfil. O professor
estabelece métodos e estratégias para orientar e ensinar seus alunos. O
tutor mostra os passos de u lização do so ware em que o aluno irá
trabalhar com a unidade de ensino. Não é sempre que a presença das TIC
simplifica o processo de formação humana, já que ainda existe resistência
às novas tecnologias. Segundo Barreto (2010):
Considerações
As discussões levantadas neste texto sobre os temas abordados
permitem perceber que a formação de professores ainda está dependendo
de leis que se comprometam a melhorar e fortalecer o uso das tecnologias
nos cursos das licenciaturas. A percepção do sensível é necessária para
analisar uma obra de arte quando se trata de ensino de artes nas escolas e
nos ambientes de educação não formal. Discu r sobre o tema das artes e a
elite trouxe à tona a questão de levar as artes para as escolas ou a escola
para dentro dos museus e galerias por meio das ações educa vas,
desmis ficando a ideia de que a arte somente pode ser apreciada por
pessoas de classes privilegiadas. A discussão de como ensinar arte nas
escolas é um assunto que está se renovando porque surgem novas
tecnologias a cada momento. Na formação de professores de artes, é
fornecido material de ensino-aprendizagem nas áreas de esté ca e história
da arte, arte-educação, processos ar s cos contemporâneos, que
introduzem a internet e uso de aparelhos móveis nas pesquisas e
transmissão de dados entre aluno e professor. Cabe aos órgãos municipais
e federais ministrar as verbas para distribuição de equipamentos como
notebooks e tablets em sala de aula e equipar os laboratórios de
informá ca tanto em escolas como em universidades para que os
encontros se tornem produ vos, dinâmicos e favoreçam as pesquisas e
consultas no que se refere ao ensino das artes. Ao trazer autores que
discutem o uso das tecnologias em sala de aula e no processo de formação
de professores, é animador perceber que elas estão se incorporando no
co diano da educação e as aversões de alguns usuários avessos ao novo,
aos poucos, vai diminuindo.
Notas
1. Disponível em: <h ps://www.youtube.com/results?
search_query=artes+visuais>. Acesso em: 20 out. 2015.
2. Disponível em: <h p://www.seabd.bco.ufscar.br/bases-dados/portal-de-
periodicos-da-capes-alerta-sobre-excesso-de-downloads-nas-bases-de-
dados>. Acesso em: 20 out. 2015.
3. Disponível em: <h p://canaldoensino.com.br/blog/50-museus-virtuais-
para-voce-visitar>. Acesso em: 20 out. 2015.
4. Disponível em: <h p://www.ead.com.br/carreiras/curso-de-artes-
visuais-a-distancia.html>. Acesso em: 20 out. 2015.
Referências
ALCAIDE, D. D.; SILVA, M. C. R. F. Formação de professores de arte: um
recorte Brasil-Espanha. In: OLIVEIRA, S. R.; FREITAS, N. F. Proposições
intera vas: arte, pesquisa e ensino. Florianópolis: UDESC, 2010.
BARBOSA, A. M. Ensino da arte, memória e história. São Paulo: Perspec va,
2011.
BRANCO, L. C. (Org.). Para uma sociologia das artes. São Paulo: SENAC,
1990.
CABRAL, F. Arte para pensar a vida e educar os sen dos. In: MENDONÇA, S.
G. de L.; SILVA, V. P.; MILLER, S. Marx, Gramsci e Vigotski:
aproximações. São Paulo: Junqueira & Marin, 2012, p. 377-396.
Introdução
A formação e atuação de professores, diante das tecnologias
contemporâneas [1], tem sido tema frequente de muitas discussões na
atualidade. Neste ar go, abordam-se pontos relacionados à expansão dos
cursos de licenciatura na modalidade EAD atrelados às polí cas públicas e
verifica-se como os professores de arte pensam e trabalham com essas
tecnologias contemporâneas em sala de aula. A abordagem metodológica
escolhida é mista, com base em Creswell (2010). Esse po de metodologia
abarca tanto o aspecto quan ta vo, quanto o qualita vo da pesquisa. O
primeiro está mais relacionado aos dados esta s cos e números, ao passo
que o segundo está mais associado à análise de entrevistas, documentos,
revisão bibliográfica etc. Segundo Creswell (2010), a mistura das
metodologias favorece a pesquisa em educação, pois permite uma
ampliação de possibilidades de análise e de comparação entre global/local;
geral/específico.
Inicialmente, discute-se a formação de professores relacionada às
polí cas públicas e à arte. Posteriormente, trata-se sobre o aumento da
presença das tecnologias contemporâneas nos cursos de licenciaturas, por
meio da EAD. Apresentam-se, ainda, as orientações sobre as tecnologias
contemporâneas em documentos norteadores e, por fim, situa-se a
condição do professor de arte ante as novas tecnologias com base em uma
entrevista com vinte arte-educadores atuantes na educação básica,
realizada pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da
Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGAV/UDESC), referente ao
ano de 2013.
“Hoje em dia, não tem como você trabalhar sem usar este po de
tecnologia, pois é da geração deles. Nós, professores, temos que
nos adequar às novas tecnologias que chegam... Mudaram as
aulas de forma posi va, pois, como estamos falando e agindo com
o que os alunos entendem, eles, os alunos, sentem-se mais
mo vados para a realização dos trabalhos propostos,
consequentemente, aprendem mais”.
Notas
[5] CLARETIANO; FGF; UCS; UECE; UFAM; UFES; UFG; UFMA; UFRGS;
UFRPE; UNAR; UNB; UNIASSELVI; UNICENTRO; UNIMES; UNIMONTES;
UNITAU e UNIVASF. Sampaio (2013) acrescenta em seu ar go a UNOPAR, a
qual abriu credenciamento em um momento posterior à pesquisa realizada
por ela.
[6] “É forçoso reconhecer que não é possível compreender as questões
educacionais de nosso tempo sem nos referirmos à própria dinâmica do
mundo [...] um tempo de mudança acelerada, do uso das tecnologias
informacionais, da reestruturação do sistema produ vo [...] onde se
acirram as polarizações contraditórias [...]. É o mundo da extrema
desigualdade, quando a pobreza da maior parte da população coexiste
com a maior riqueza já produzida pela humanidade e acessível a poucos”
(Garcia, 2009, p. 135-136).
[7] Pesquisa realizada no segundo semestre de 2013 pelos discentes do
mestrado do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UDESC, na
disciplina de Arte, Tecnologia e Formação de professores, ministrada pela
professora Maria Cris na da Rosa Fonseca da Silva.
[8] Detalhou-se um pouco mais essa questão por tratar-se especificamente
do que os professores pensam sobre a formação docente na modalidade
EAD.
[9] Sampaio (2014) afirma que “a principal e mais significa va diferença
entre autodida smo e EaD é que, no primeiro caso, são os próprios alunos
os selecionadores dos materiais e caminhos de sua aprendizagem,
enquanto, na EaD, o professor é o mediador dessas escolhas, orientando o
percurso” (p. 20).
Referências
BARRETO, R. G. Formação de professores: entre o discurso da falta e as
propostas de subs tuição tecnológica. In: BARRETO, R. G. Discursos,
tecnologias e educação. Rio de Janeiro: EdUERG, 2009.
Introdução
A formação de professores é tema atual no que tange à educação no
Brasil, não por ser um tema novo, mas, sim, por ser prioritário, pois
envolve a qualidade da educação no país.
Neste capítulo, serão abordados dez textos que compuseram o
repertório bibliográfico da disciplina Arte, Tecnologias e Formação de
Professores, que integra o quadro de disciplinas do Programa de Pós-
graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGAV/UDESC).
Apesar de a questão da arte e da tecnologia também ser discu da na
referida disciplina, o foco maior deste texto recai sobre as polí cas
educacionais e a formação de professores, uma vez que cons tuem um
tema que faz parte de um grande conjunto que engloba, entre outras
questões, a arte e a tecnologia.
A educação no Brasil passa por uma crise em âmbito geral, seja no
ensino dos anos iniciais, seja nos anos finais do ensino fundamental, no
ensino médio ou na graduação. Essa crise envolve desde questões
relacionadas a salários irrisórios para os professores e sua má formação
profissional até a condição social do país, que, muitas vezes, impede o
acesso das crianças à escola. Apesar disso, o número de matrículas tem
crescido, como indica o “Todos Pela Educação”, movimento da sociedade
brasileira fundado em 2006 que "tem como missão contribuir para que até
2022 [...] o País assegure a todas as crianças e jovens o direito a [sic]
Educação Básica de qualidade" (Todos Pela Educação, 2016). De acordo
com pesquisas realizadas por esse movimento e divulgadas em janeiro de
2016, houve significa vo crescimento do número de crianças matriculadas
na pré-escola: "Subiu de 72,5% do total de crianças com idades entre 4 e 5
anos em 2005, para 89,1% em 2014" (Todos Pela Educação, 2016). Mas,
ainda é de 2,8 milhões o número de crianças entre 4 e 17 anos fora da
escola e, no ensino médio, houve queda nos números de matrículas. Em
2013, o índice havia subido para 83,3% e em 2014, caiu para 82,6% (Todos
Pela Educação, 2016). Além disso, a educação básica de qualidade ainda é
muito ques onável e, enquanto não exis rem a valorização do trabalho do
professor e as condições para que esse profissional tenha uma melhor
qualificação, essa situação não melhorará.
Para um aluno que pretenda cursar a graduação, a educação a distância
(EaD) é uma possibilidade, principalmente para o público que trabalha e
não tem tempo para os estudos. Contudo, essa modalidade de ensino
também necessita de muitas melhorias. Além do mais, muitas vezes o
aluno acaba desis ndo do curso porque, cansado do trabalho, não tem
es mulo para estudar sozinho em sua casa, sem falar que, para que isso
aconteça, esse aluno dependerá ainda de um computador e de internet.
Este ar go apresenta aspectos para que se tenha uma melhor
compreensão dos fatos apontados e uma visualização das muitas
possibilidades de uma educação justa para a população.
Educação e polí ca
Vive-se no Brasil em uma democracia, certo? Quantas são as pessoas
que pensam diariamente nessa questão? Vive-se em uma democracia
porque se tem direito de ir e vir como cidadão livre, dono, cada um, de sua
própria vida. Será?
De acordo com o presidente da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas Schleicher, o Brasil investe
por aluno na faixa etária compreendida entre os 06 e 15 anos, em média,
US$ 26.765 (Todos pela Educação, 2013). Esses dados coletados em 2012
pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostram que o
inves mento é de um terço da média dos países da OCDE, que fica em
torno de US$ 83.382. Isso quer dizer que o inves mento no Brasil por
aluno é de um pouco mais da metade do que a OCDE considera como valor
mínimo por aluno, qual seja, US$ 50 mil.
"‘Quando se investe US$ 50 mil por aluno, o dinheiro não importa
mais, deixa de ser uma questão limitante para o desempenho do
estudante’, diz o diretor da OCDE. Segundo o relatório do Pisa
divulgado na úl ma semana, o Brasil ocupa o 58º lugar em
matemá ca, o 55º lugar em leitura e o 59º em ciências em um
ranking de 65 países. A prova é aplicada a cada três anos pela
organização e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos. A
cada ano, o relatório tem uma área como foco. Em 2012, o
destaque foi para matemá ca" (Todos Pela Educação, 2013).
Educação e tecnologia
Há várias maneiras de abordar a tecnologia dentro da educação formal
e da educação a distância. Sobre isso, Barreto (2009) afirma que,
A autora ainda considera que as TIC são uma importante adição aos
processos pedagógicos. No entanto, ressalta que essas tecnologias não
podem servir apenas para simplificar ou subs tuir as prá cas sociais, mas
devem ser u lizadas como aliadas da educação formal e da educação a
distância.
Garcia (2009) chama a atenção para a
Considerações finais
Os autores discu dos neste ar go foram aqueles abordados na
disciplina de Arte, Tecnologias e Formação Docente (UDESC/PPGAV), que
tratou, sobretudo, da formação docente de pontos de vista polí cos e
sociais e trazendo à tona questões rela vas à arte e às tecnologias. A
disciplina buscou autores que trabalhassem com o discurso de uma
pedagogia histórico-crí ca.
No decorrer desses estudos, foi possível verificar as enormes falhas que
assombram ainda a educação no país. Conquistas foram alcançadas, mas
muito ainda deve ser feito.
O Brasil ainda trata a educação como um instrumento de controle da
população, pois não há interesse em ter um povo crí co e poli zado. O
povo é e con nua sendo educado para um trabalho técnico e funcional.
Em virtude disso, a formação de professores, cujas lacunas se fazem
perceber desde a educação básica, deixa muito a desejar. A arte, apesar de
todas as conquistas, não aparece nem mesmo nas pesquisas que envolvem
currículo e dados educacionais. Portanto, muitos ainda são os caminhos a
desbravar. Infelizmente, permanece evidente o descaso com a disciplina
em comparação a outras tão tradicionais, como a Matemá ca e a Língua
Portuguesa.
Quanto às tecnologias, inúmeras são as possibilidades de serem
aproveitadas para a educação, mas ainda não se está inves ndo, por
exemplo, na educação a distância como ela merece. O que, mais uma vez,
se observa é que a educação como um todo ainda é sucateada e tratada
com desrespeito.
Existem excelentes programas, pesquisadores e ins tuições que
pensam a favor de uma educação mais igualitária e mais democrá ca, mas,
é necessário voltar-se a uma questão inicial: o que é mesmo democracia? É
possível afirmar que se vive no Brasil como um país democrá co, sabendo-
se que, sem educação, não há democracia?
Referências
BARRETO. R. G. Formação de professores: entre o discurso da falta e
propostas de subs tuição tecnológica. In: BARRETO. R. G. (Org.).
Discursos, tecnologias, educação. Rio de Janeiro: UERJ, 2009.
Introdução
De uma perspec va histórico-crí ca, de análise, arrisco-me a afirmar
que ‘contradição’ seja a palavra que mais represente as condições de vida e
as relações a que estamos subme dos no co diano de nossa existência e
seu rastro histórico. Contradições como desigualdade e desenvolvimento
sociais parecem querer atropelar o humano, ques onando-nos sobre qual
o sen do desse monstro-máquina que construímos e estamos a construir e
da nossa própria vida. Pensamos imediatamente no que dispendemos
nossa energia vital e a que dedicamos nosso pensar.
Marx, sábia e incansavelmente dedicou seu trabalho a desvelar com
clareza de detalhes as relações de domínio e poder travadas pelo sistema
capitalista, e como as contradições são impostas compulsoriamente para
que se perpetue a engrenagem que se desenrola ad infinitum nessa
dinâmica de mercado, que coloca o trabalhador em situação de alienação
perante a produção de seu próprio trabalho.
Quem somos nós, professores, nesse meio? Nessa lógica, se não somos
proprietários dos meios de produção, somos trabalhadores. Vendemos
nossa força de trabalho diariamente aos donos das propriedades e dos
meios de produção. Pelo olhar de trabalhadores, encaramos diariamente a
luta pela sobrevivência, subme dos às regras cruéis de ‘liberdade’ e
propriedade que o sistema econômico do capitalismo nos impõe.
Essa dinâmica que percorre a história da humanidade há séculos, da
divisão de classes na sociedade, coloca, de um lado, os proprietários dos
meios de produção e, de outro, os trabalhadores, operando numa lógica de
exploração do trabalhador que alimenta o sistema. Mesmo vivendo um
regime dito democrá co, para os marxistas, a contradição está também no
Estado, pois este serve a classe dominante, não apenas como um simples
mediador, mas como quem interfere nas lutas de classes a favor dela.
"Para Marx e Engels (1998), o Estado é o comitê execu vo da classe
dominante, dessa forma é, portanto, um Estado de Classe" (Lima, 2008, p.
139-140).
O que pensar sobre o sen do da democracia perante um
funcionamento de mercado em que o capital, o econômico, é o
protagonista de todos os interesses de desenvolvimento social? Esse
capital contraditório, que nada tem de democrá co, não opera em
bene cio de todos, mas às custas de muitos. A classe dominante, para se
manter no poder, "até aceita um modelo democrá co, desde que consiga,
por determinado tempo, conter as massas, a mul dão disforme,
atribuindo-lhe migalhas, como programas aligeirados, emergenciais"
(Lima, 2008, p. 135).
Embora se trate de uma problemá ca que a nge toda a humanidade,
ela será abordada no contexto do Brasil, visto que, desde sua cons tuição
enquanto nação, vive as diferenças de classes e consequentemente altos
níveis de desigualdade social, econômica e cultural. O cerceamento ao
acesso à educação historicamente enraizado na sociedade brasileira criou
no discurso de sociedade democrá ca a contradição escancarada dos
interesses do sistema econômico. As relações de poder exercidas pela
exploração da força de trabalho são históricas mundialmente e, em nosso
país, ainda mais evidentes em razão da maneira pela qual fomos
ideologicamente colonizados e tratados. Passamos, ao longo dos séculos,
da condição de exploração extrema com a escravidão do trabalhador a um
disfarce grotesco do preço, apresentado em forma de salário.
Diante dessa realidade social cuja máscara de liberdade acaba
justamente por nos privar desse direito o que pensar sobre a educação e a
escola pública? Convém pensar nesse assunto pelo aspecto da educação
básica pública no Brasil, principalmente no que concerne à condição e vida
dos trabalhadores. Se historicamente eles foram excluídos do âmbito
escolar, já que a escola des nava-se aos filhos da classe dominante, hoje a
escola pública des na-se aos filhos da classe trabalhadora e muitos desses
pais ainda são analfabetos. A escola dos tempos atuais tem como função
social, nesse sistema, portanto, formar os futuros trabalhadores para o
mercado.
Seguindo pelo viés do trabalho enquanto condição inerente à ação
humana, propomos destacar e problema zar três questões que se
mostram profundamente contraditórias e promover um diálogo entre elas:
a primeira diz respeito ao sen do do trabalho e à produção de tecnologias;
a segunda é sobre o papel da educação na sociedade capitalista e a
condição de professor como trabalhador e, em terceiro, propõe-se um
contraponto pelo olhar da cultura, da educação e da esté ca, da
perspec va da arte e de seu diálogo com a realidade social.
A contradição do trabalho
Para iniciar, para Marx (1988), o trabalho assume socialmente dois
sen dos. Primeiramente, o ontológico, que se configura na ação humana
de interação com a realidade para a sa sfação de necessidades e produção
de liberdade. Nesse sen do, trabalho é produção, criação, realização
humana. Mas o trabalho também adquire significado histórico, que
acontece também pela prá ca econômica e cultural. Talvez seja em razão
do fator econômico, engendrado nessa dinâmica histórica, que as relações
sociais tenham se estabelecido sobre os modos de produção.
Considerar que sem trabalho, enquanto a vidade produ va, não existe
vida humana – uma vez que a dialé ca da condição humana abrange a
intervenção na natureza e na vida – é essencial para entender que, com a
intervenção da produção do trabalho humano, seu desenvolvimento e
interação ao longo da história, a humanidade produziu conhecimento para
prover seus meios de subsistência. Todavia, com o surgimento da
propriedade privada, os donos das terras, os ‘poucos com muito’,
prevaleceram sustentados pela riqueza maior: a exploração da força de
trabalho dos ‘muitos com pouco’.
Mas, retornando ao sen do primeiro do trabalho como práxis humana
na vida, indagamos: que caminho se está percorrendo nessa roda-viva de
privação e cerceamento da liberdade cria va e produ va da nossa vida?
Em que lugar, historicamente, a classe trabalhadora teve acesso ao
trabalho no sen do pleno em suas vidas, às dimensões deste como
realização humana, que envolve integradamente a ciência e a cultura?
Se a relação indissociável entre trabalho, ciência e cultura, e estas são
dimensões fundamentais da vida que estruturam a prá ca social, convém
constatar que todos os indivíduos deveriam ter direito ao pleno
desenvolvimento nesses âmbitos ao longo de sua vida. Uma formação
omnilateral, proposta por Marx, implica a integração dessas dimensões
inerentes a todo cidadão.
Entretanto, contraditoriamente, os trabalhadores estão fadados à
divisão de classes e consequentemente a con nuar a viver o trabalho
quase que apenas pela lógica econômica, exploratória da energia e força
de trabalho. Então, pergunta-se: como é possível uma sociedade que
produz tanta riqueza, produzir também a miséria humana?
Apesar de, junto com a expansão do sistema capitalista, estarem os
grandes avanços cien ficos e tecnológicos, privilegiados pelo inves mento
econômico, de interesses de mercado no desenvolvimento con nuo de
novos artefatos tecnológicos, estes se apresentam como parte das ações e
interações humanas, que ocorrem numa transformação acelerada das
relações de linguagens espaciais e temporais entre os sujeitos e o mundo
ao seu redor. Paradoxalmente a isso, em contradição com essa realidade,
cada vez mais "vivemos em nosso país, uma discrepância de realidade: um
'genocídio intelectual' de crianças e jovens das classes populares" (Leher,
2009, p. 95).
Para além das funções biológicas, o contato humano com o mundo por
intermédio do corpo capta muito além do que é sico, pois só pode
atribuir significação ao que é percebido pelos órgãos sensoriais. São
significados que as coisas, em si, não têm, é o homem que lhes atribui,
podendo fazê-los emergir na representação que faz delas. Segundo
Vigotski (1994 apud Pino, 2006), a produção imaginária da a vidade
criadora existe de duas formas: a reprodutora e a combinatória isto é, o
cérebro não só conserva e reproduz nossas experiências anteriores, mas
também combina, transforma e cria com base nos elementos da
experiência anterior, novas ideias.
Apoiada nessa compreensão, Vigotski (1994 apud Pino, 2006), em sua
tese sobre ‘desenvolvimento cultural’, que trata sobre a cons tuição
cultural do ser humano, traz elementos básicos sobre a importância do
sen do esté co, afirmando a necessidade de uma educação sensorial
percep va das coisas e, de um trabalho de sensibilização dos sen dos para
que possa captar as sinuosidades das imagens que se formam na
percepção sensorial. Esse refinamento da sensibilidade perante os agentes
culturais que envolvem qualquer indivíduo na vida co diana são
fundamentais para uma progressiva educação sensorial.
Retomando as discussões anteriores sobre as questões que envolvem a
educação, especialmente a situação da educação pública básica no Brasil,
que perspec va de emancipação pessoal e social se poderá ter diante das
diretrizes des nadas ao processo educa vo das crianças, jovens e adultos
que têm como pano de fundo os interesses quan ta vos das esta s cas
para que estas revertam em índices posi vos? Que sa sfação uma
formação escolar que apenas capacite os estudantes para o trabalho na
perspec va dos interesses de mercado poderá proporcionar? E o pior é
que essa formação, certamente alienante, também forma os futuros
trabalhadores da educação – os professores. Giroux (1997), ao tratar do
contexto americano, muito nos diz sobre o nosso contexto:
Considerações finais
A concepção histórico-crí ca do materialismo dialé co proposto por
Marx, sob o olhar da sociedade capitalista e a condição de ser do homem,
que toma como seu eixo fundante a relação do homem com seu mundo
por meio do trabalho, revela, no sen do histórico, as contradições que
vivemos co dianamente na sociedade atual diante dos interesses
econômicos de desenvolvimento social aos quais estamos sujeitos.
Podemos compreender que mo vos estão por trás de muitos
encaminhamentos pragmá cos que o governo tem dado à educação como
um todo, no mundo capitalista e globalizado. Enfrentamos, a cada dia, a
inserção dos novos artefatos tecnológicos que modificam nossas relações
pessoais, sociais e, principalmente, nossa relação com o trabalho e nossa
condição de trabalhadores.
As contradições que se fazem presentes vem se configurando como
grandes entraves di ceis de desfazerem, pois não vemos como resolver a
equação trabalho, produção de tecnologias, educação e cultura, num
mundo em que vivemos ainda o abismo das diferenças de classe e de
acesso de todos os trabalhadores às riquezas das produções de seu
trabalho e das produções da humanidade.
Essas riquezas das quais já falamos não são apenas as econômicas,
mas, sim, aquelas dimensões que cons tuem a condição de ser do homem,
que envolvem sua relação com a vida e sua sa sfação de necessidades,
que vão para além das biológicas e abarcam as condições de ser cria vo e
simbólico, bem como o direito de conhecer sua história e ter autonomia
perante suas ações, responsabilidades e desejos.
Com tudo isso, voltemos àquela pergunta inicial, porque é nela que
devemos direcionar nossa luta: a serviço de quem está a educação
pública? É com tal ques onamento que gostaria de finalizar este percurso
reflexivo, pois pensar na escola hoje, requer considerar que ela incorpora e
reflete os antagonismos da sociedade por meio das relações sociais que
nela se estabelecem e com base nisso discu r, a formação de professores.
É essencial, portanto, conhecer como se desdobram em construções de
visões pedagógicas essas conjunturas.
Cultura, conhecimento e experiência, da perspec va de formação
omnilateral defendida por Marx (Ramos, 2008), ao invés de se separarem
em segmentos contraditórios, apresentam-se como elementos
interdependentes e complementares. Por isso, acredita-se que se
desenvolvermos condições para que a educação aconteça em seu sen do
esté co, da ó ca marxista, e mais ainda da arte, poderíamos desafiar
nossas consciências a um pensar pedagógico que pudesse de fato ar cular
processos de recons tuição das dimensões humanas e,
consequentemente, da sociedade. Ainda que isso pareça utópico, talvez
seja, quem sabe, pela crise provocada pela própria evolução do sistema
econômico e desenvolvimento tecnológico que vem alterando
dras camente nossas relações com as coisas, com os outros e o mundo,
haja espaço para pensar numa revolução das linguagens que surja da
emergência de se restabelecerem os sen dos e os rumos da humanidade.
Muitos ar stas e professores, ao longo da história da humanidade, se
atreveram a viver, a desvelar as contradições do poder e despertar muitos
sen dos adormecidos e alienados.
Referências
CABRAL, F. Arte para pensar a vida e educar os sen dos. In: MENDONÇA, S.
G. L. et al. (Orgs.). Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações. São Paulo:
Junqueira & Marin, 2012.
Considerações finais
O presente texto buscou salientar alguns aspectos da formação
docente, da arte e da tecnologia, enfocando esses temas no contexto da
educação inclusiva.
Quanto à formação de professores, foi possível ressaltar as inúmeras
dificuldades nessa área, tanto por parte das polí cas públicas quanto por
parte dos inves mentos e melhores condições de ensino e trabalho na
educação superior e na educação básica. Percebeu-se que o governo visa
modificar esta s cas inves ndo em tecnologias que deveriam auxiliar em
novas prá cas e metodologias de ensino, porém negligencia a assistência
básica para esses inves mentos, o que os torna obsoletos.
Essas reflexões levam-nos a pensar que a situação dos professores, no
que concerne às suas formações e seus trabalhos, se encaixa nas
concepções de trabalho do marxismo abordadas por Angel Pino (2006). O
autor esclarece, baseado nos estudos de Marx, que o trabalho envolve três
elementos simples: "a vidade pessoal do homem, o objeto sobre o qual ele
age e o instrumento pelo qual ele age" (p. 53). A a vidade pessoal diz
respeito ao que o trabalhador quer fazer e ao como fazer, assim tais ações
são resultados de um projeto do seu autor. O objeto, dessa perspec va, é
transformado segundo os obje vos daquele que o cria ou u liza, exigindo
meios, instrumentos ou técnicas para isso.
Portanto, o trabalho, que está no centro da teoria marxista, caracteriza-
se como um impulso para criar, desligando-se do modo de produção
capitalista ou do que Marx dis ngue como trabalho alienado. No entanto,
a a vidade docente vem se desgastando em jornadas duplas ou triplas, em
razão dos baixos salários. A própria experiência tem sido a referência dos
professores, que se limitam a cumprir e saber aquilo que lhes compete
ensinar. Esse pensamento vem ao encontro da situação da educação
inclusiva, visto que os professores possuem pouco ou nenhuma
experiência nessa área em sua formação, chegando às escolas
despreparados e contando com pouco conhecimento. Assim, estar bem
preparado para pensar e repensar sua condição e prá cas docentes é
fundamental para a construção de uma educação de qualidade.
Quanto à arte, pontuou-se que esta, de uma perspec va educacional,
seja vista como mediadora entre sujeito e realidade circundante,
impulsionando valores morais e é cos, cogni vos e emocionais,
permi ndo, principalmente, que os menos favorecidos socialmente – e isso
inclui as pessoas com deficiência – sejam capazes de atuar sobre suas
realidades a fim de transformá-la, contribuindo para uma efe va inclusão
social.
Referências
CABRAL, F. A arte para pensar a vida e educar os sen dos. In: MENDONÇA,
S. G. de L.; SILVA, V. P.; MILLER, S. Marx, Gramsci e Vigotski:
aproximações. 2. ed. Araraquara: Junqueira Marrin, 2012.
ORGANIZADORA
COLABORADORES
Fábio Wosniak
É doutorando em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa
Catarina, mestre em Artes Visuais na linha de pesquisa e ensino das Artes
Visuais e graduado em Pedagogia com habilitação em Supervisão Escolar
pela mesma universidade. Tendo trabalhado com formação de professores
em Artes Visuais na Secretária Municipal de Educação de São Paulo, atua
principalmente nos seguintes temas: arte-educação, arte e pedagogia e
formação docente em Artes Visuais.
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