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Ciência

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COSMOLOGIA: Grandes Dúvidas sobre o Big Bang


Quando as explicações confiantes dos cosmólogos sobre a origem e estrutura do
universo são examinadas de perto, elas não se sustentam.

Grandes Dúvidas
Grandes Dúvidas sobre o Big Bang
Quando as explicações confiantes dos cosmólogos sobre a origem e estrutura do
universo são examinadas de perto, elas não se sustentam.

Olhe o céu noturno, cheio de estrelas e planetas. De onde vieram? Atualmente a


maioria dos cientistas irá responder a essa pergunta com alguma versão da teoria
do Big Bang. No começo – você vai ouvir – toda a matéria do universo estava
concentrada num único ponto, em uma temperatura extremamente alta, quando
explodiu com tremenda força. Átomos foram gradualmente formados a partir de uma
nuvem expandida e superaquecida de partículas subatômicas. Depois estrelas, galáxias,
planetas e, finalmente, a vida. Esta litania assumiu agora o status de verdade revelada.
Em relatos que deliberadamente evocam a atmosfera do Gênesis, o conto da origem
primordial é elaboradamente apresentado em incontáveis livros, revistas científicas,
publicações para o grande público, e especiais de televisão, sempre cheios de efeitos
especiais gerados em computador.
Isto realmente funciona como uma estória excitante e interessante. E porque esta
estória parece ser baseada em observações factuais e no método científico, parece ser,
para a maioria das pessoas, mais razoável do que os relatos religiosos da criação.
Todavia, a cosmologia da teoria do Big Bang é uma das últimas tentativas, de uma
série, de explicar o universo de um modo mecanicista, de uma forma que vê o mundo –
e o homem - somente como produtos da matéria e de sua ação, a partir de leis
materiais.
Os cientistas tradicionalmente rejeitam explicações sobrenaturais acerca da origem do
universo, especialmente aquelas envolvendo a Pessoa Suprema que o criou, dizendo
que isto contradiz o método científico. Na visão mecanicista de mundo Deus, se Ele
existe, é reduzido a um insignificante servo que apenas dá partida no relógio do
universo. Além disso, Ele não tem escolha, a não ser permitir que tudo aconteça de
acordo com as leis físicas. Isto faz estas leis, de fato, mais poderosas do que o próprio
Deus. Ou então, Deus se torna uma simples energia universal, sem forma.
Definitivamente não há muito espaço para um Deus pessoal, um projetista e
controlador supremo, no universo descrito pela teoria do Big Bang. Erwin
Schorodinger, o prêmio Nobel da física que descobriu a equação básica da mecânica
quântica, afirma in Mind and Matter (Mente e Matéria): “nenhum deus pessoal pode
fazer parte de um modelo de mundo que só se torna acessível ao custo de remover tudo
o que há de pessoal nele”. (1) Então nós não devemos pensar que é por seus achados
empíricos que os cientistas eliminaram Deus do universo ou restringiram Seu papel
nele. Desde o início, escolheram métodos que descartam Deus.
A tentativa dos cientistas de entender a origem do universo puramente através de
termos físicos é baseada em três pressupostos: 1°) que todo fenômeno pode ser
completamente explicado por leis naturais expressas na linguagem matemática; 2°) que
estas leis físicas são aplicadas em todas as ocasiões e lugares e, 3°) que as leis
fundamentais da natureza são simples.
Muitas pessoas dão valor a esses pressupostos, mas eles não são ainda fatos
comprovados e nem é fácil prová-los. Eles são simplesmente parte de uma estratégia
para abordar a realidade. Olhando para os fenômenos complexos que confrontam
qualquer observador do universo, os cientistas decidiram tentar uma abordagem
reducionista. Eles dizem: “Vamos tentar reduzir tudo a medidas e tentar explicá-las por
simples leis físicas universais”. Mas não há razão lógica para excluir antecipadamente
estratégias alternativas para a compreensão do universo, estratégias que podem
envolver leis e princípios de irredutível complexidade. Mas muitos cientistas,
confundindo suas estratégias para tentar entender o universo com a real natureza deste
universo, excluem, a priori, qualquer abordagem alternativa. Eles insistem que o
universo pode ser completamente descrito por simples leis matemáticas. “Nós
esperamos explicar o universo inteiro através de uma única fórmula que você poderá
usar estampada em sua camiseta” (2), disse Leon Lederman, diretor do Fermi National
Accelerator Laboratory, em Batavia, Illinois, USA.
Existem várias razões pelas quais os cientistas sentem-se compelidos a adotar suas
estratégias de simplificação. Se a realidade subjacente do universo pode ser descrita por
simples leis quantitativas, então existe alguma chance de que eles possam entendê-lo (e
manipulá-lo), mesmo considerando as limitações da mente humana. Assumem, então,
que o universo pode ser descrito dessa forma e inventam miríades de teorias para
confirmar isso. Mas se universo é infinitamente complexo, deve ser muito difícil para
nós entendê-lo com os poderes limitados da mente e sentidos humanos. Por exemplo,
suponha que lhe foram dados um conjunto de um milhão de números e pediram-lhe
para descrever seus padrões em uma equação. Se o padrão é simples, você pode ser
capaz de fazê-lo. Mas se o padrão for extremamente complexo, você pode não ser capaz
de descobrir qual seria a equação. E é claro que as estratégias dos cientistas serão
também sem sucesso em modelos de características do universo que não podem ser
descritas em termos matemáticos.
Assim, não é nenhuma surpresa que a grande maioria dos cientistas agarrem-se tão
tenazmente a uma estratégia de exclusão de todas as outras abordagens. Eles poderiam
ser como aquele que perdeu sua chave do carro pelo caminho e a procura perto dos
postes, onde a luz é melhor.
Entretanto é certamente uma questão em aberto a crença dos cientistas de que as leis
físicas descobertas em experimentos laboratoriais na terra aplicam-se em todo tempo e
espaço. Por exemplo, apenas porque os campos elétricos comportam-se de um certo
modo no laboratório não garante que eles também teriam funcionado da mesma forma
em vastas distâncias há bilhões de anos no passado. Mas estes pressupostos são
cruciais às tentativas dos cientistas para explicar coisas como a origem do universo e a
natureza de objetos muito distantes como os quasares. Afinal, nós não podemos
realmente voltar bilhões de anos atrás no momento da origem do universo e não temos
praticamente nenhuma evidência de primeira mão de quaisquer coisas além do nosso
sistema solar.
Mesmo alguns cientistas proeminentes reconhecem os riscos envolvidos em extrapolar
conclusões sobre o universo como um todo, a partir de nosso conhecimento limitado.
Em 1980, Kenneth E. Boulding em sua apresentação presidencial a American
Association for the Advancement of Science (Associação Americana para o Avanço da
Ciência), disse: “Cosmologia... é como se fosse ainda bastante insegura, simplesmente
porque estuda um grande universo com uma amostra muito pequena e sujeita a
distorções. Nós apenas olhamos cuidadosamente para uma pequena fração de todo o
tempo decorrido e conhecemos intimamente apenas uma ínfima porção de seu todo”
(3). Mas as conclusões dos cosmólogos não são apenas inseguras – parece que todas as
tentativas para elaborar um modelo matemático simples e consistente do universo com
suas características observáveis é cheio de dificuldades fundamentais, as quais iremos
descrever.
A Apavorante Singularidade
Um dos grandes problemas que os teóricos do Big Bang enfrentam é que apesar deles
sempre tentarem explicar a “origem do universo”, a origem que eles propõem é
matematicamente indescritível. De acordo com as teorias mais comuns sobre o Big
Bang, a condição inicial do universo era a de um ponto de circunferência infinitesimal e
densidade e temperatura infinitas. Uma condição como essa está além da descrição
matemática. Nada pode ser dito sobre isso. Todos os cálculos levam a lugar algum. É
como tentar dividir um número por zero – qual o resultado? 1?... 5?... 5 trilhões? …???
É impossível dizer. Tecnicamente, um fenômeno como este é chamado “singularidade”.
Sir Bernard Lovell, professor de rádio-astronomia na Universidade de Manchester,
escreveu sobre singularidades: “Ao nos aproximarmos de uma descrição do início dos
tempos, nós atingimos uma barreira neste ponto. O problema é se isto é ou não uma
barreira realmente fundamental para uma descrição científica do estado inicial do
universo, além das dificuldades conceituais associadas na consideração de uma única
entidade no início do tempo, são questões de grande importância no pensamento
moderno”(4).
Mas a barreira ainda não foi desmontada pelos grandes expoentes da teoria do Big
Bang. O ganhador do prêmio Nobel, Steven Weinber lamenta: “Infelizmente não posso
iniciar o filme [sua colorida descrição do Big Bang] em tempo zero e em temperatura
infinita”(5). Dessa forma percebemos que a teoria do Big Bang não descreve, afinal, a
origem do universo porque a singularidade inicial é, por definição, indescritível.
Quase literalmente, contudo, a teoria do Big Bang está em apuros desde seu início.
Enquanto a dificuldade acerca da singularidade inicial é ignorada em relatos populares
do Big Bang, é reconhecida como um grande obstáculo em trabalhos mais técnicos por
cientistas tentando lidar com suas implicações matemáticas. Stephen Hawking, Lucian,
professor de matemática em Cambridge, e G.F.R. Ellis, professor de matemática na
universidade de Cape Town, em seu livro The Large Scale Structure of Space-
Time escrevem: “Parece ser um bom princípio que a predição de uma singularidade por
uma teoria física indique que a teoria apresenta falhas”(6), eles acrescentam “Os
resultados que obtivemos suportam a idéia de que o universo começou em um tempo
finito no passado. Todavia o ponto exato da criação, a singularidade está fora de escopo
das leis físicas conhecidas”(7).
Qualquer explicação sobre a origem do universo que comece com algo fisicamente
indescritível é certamente uma questão em aberto. Alem disso há uma última
dificuldade. De onde veio esta singularidade? Aqui os cientistas encontram a mesma
dificuldade que os religiosos com a questão “de onde veio Deus?” E exatamente como
os religiosos respondem que Deus é a causa de todas as causas, os cientistas estão
envolvidos com a possibilidade de declarar um ponto matematicamente indescritível de
infinita densidade e tamanho infinitesimal, existindo antes de todos os conceitos de
tempo e espaço, como a causa das causas. Neste ponto, o cientista comete o mesmo
crime intelectual imperdoável que ele sempre acusa os santos e místicos de cometer, o
comprometimento – fazendo afirmações supranaturais e fisicamente inverificáveis. Se
ele sabe alguma coisa sobre a origem do universo, ele deveria agora considerar a
possibilidade de aceitar métodos de investigação e experimento transcendentes à física.
Soluções Tentadas
Sem querer enfrentar esta perspectiva desagradável, os teóricos propuseram um grande
número de variações da teoria do Big Bang, numa tentativa de fugir do problema da
singularidade. Uma destas propostas vem postulando que o universo não começou com
uma singularidade perfeita. Sir Bernard Lovell afirma que a singularidade no universo
do Big Bang “vem sempre sendo tratada como uma dificuldade matemática que surge
do pressuposto de que o universo é uniforme”(8). Os modelos usuais para o universo
do Big Bang possuem perfeita simetria matemática e alguns físicos pensam que esta
era a causa para a singularidade quando eles encontraram as respostas matemáticas
para as equações sobre o estado inicial do Big Bang (em tempo zero). Como uma
correção, alguns teóricos introduziram em seus modelos irregularidades similares
àquelas do universo observável. Esperava-se que isto daria suficiente irregularidade ao
estado inicial para evitar que qualquer coisa fosse reduzida a um único ponto. Mas esta
esperança foi frustrada por Hawking e Ellis, que afirmaram que de acordo com seus
cálculos, um modelo do Big Bang com irregularidades na distribuição da matéria, na
escala observada, ainda deveria manter uma singularidade em seu início(9).
A Questão das Origens
O problema da singularidade é simplesmente parte de uma questão maior relativa ao
entendimento da condição inicial do universo. Se um modelo de origem universal
envolve uma singularidade isto certamente cria graves dificuldades teóricas. Mas
mesmo que a singularidade seja evitada de alguma forma, nós ainda nos confrontamos
com a questão sobre de onde veio o universo. Na esperança de evitar a questão da
origem, alguns cientistas propuseram a teoria chamada "universo de recuperação
infinita” (infinitely rebounding universe), a idéia de um universo que se expande,
contrai-se em uma singularidade, depois se expande novamente e depois se contrai,
etc., mantendo-se nesse ciclo indefinidamente. Não há início nem fim, apenas um ciclo
sem fim. Isto resolve o problema da origem do universo, pela proposição de que não há
origem e que o universo material sempre existiu.
Mas existem alguns problemas sérios com este modelo. Primeiramente, ninguém
jamais propôs um mecanismo satisfatório para este processo de “recuperação”. Além
disso, em The First Three Minutes (Os Primeiros Três Minutos), o físico Steven
Weinberg argumenta que com cada recuperação sucessiva, mudanças progressivas
devem ocorrer no universo. Isto indicaria que em algum momento deve ter existido um
começo e não um regresso estendendo-se por um período de tempo indefinido(10). E
nos confrontamos novamente com a questão da origem...
Outra tentativa criativa para escapar da necessidade de se lidar com a questão das
origens é o modelo de recuperação revertida no tempo, proposto pelo astrofísico inglês
Paul Davies. O universo se expandiria com o tempo correndo de forma normal (para
frente), depois se colapsaria em uma singularidade. Durante a recuperação, o tempo
fluiria para trás, conforme o universo se expandiria, colapsaria novamente em uma
singularidade a partir da qual começaria o ciclo com o tempo correndo para frente.
Neste modelo, o passado se torna o futuro e o futuro se torna o passado, transformando
a afirmação “no início...”, sem sentido. Este cenário dá uma idéia dos muitos esquemas
imaginativos que os cosmólogos foram forçados a recorrer na tentativa de explicar a
origem do universo.
O Universo Inflacionário
Além da questão sobre o início do universo, existem outros problemas preocupando os
modernos cosmólogos. Para a teoria tradicional do Big Bang predizer a distribuição da
matéria que observamos no universo, o estado inicial tem que ser ajustado a um grau
extraordinário. Então, como o estado inicial alcançou esta condição? O físico Alan H.
Guth do M. I. T. propôs uma versão do modelo do Big Bang que automaticamente
produz as sintonias necessárias, evitando sua introdução artificial nas equações.
Chamado de modelo inflacionário, isto assume que em uma rápida expansão, em
regiões superaquecidas do universo, uma pequena seção esfria e então começa a se
expandir de forma muito mais violenta, como água super-resfriada que rapidamente se
expande quando congelada. Esta fase de rápida expansão resolve algumas dificuldades
inerentes às teorias do Big Bang.
Mas a versão de Guth tem dificuldades por si. Guth foi forçado a ajustar suas próprias
equações para conseguir seu universo inflacionário. Então ele se deparou com a mesma
dificuldade que seu modelo supostamente teria superado. Ele esperava explicar a
grande sintonia requerida no universo, mas seu modelo requeria ajustes inexplicados.
Guth e seu colaborador Paul J. Steinhardt admitem em seu modelo que “os cálculos
levam a predições razoáveis apenas se os parâmetros são valores em uma variação
estreita. A maior parte dos teóricos (incluindo-se nós) considera esta sintonia fina
como implausível”(11). Eles vão adiante para expressar a esperança que no futuro serão
desenvolvidas teorias matemáticas que serão capazes de fornecer uma expressão
plausível de seu modelo.
Esta dependência em desenvolvimentos futuros demonstra uma outra dificuldade no
modelo de Guth. A grande teoria unificada, na qual o universo inflacionário é baseado,
é totalmente hipotética e possui “pouco apoio de experimentos controlados porque a
maior parte de suas implicações é impossível de se mensurar em um laboratório”(12) (a
grande teoria unificada é uma tentativa bastante especulativa de combinar algumas
forças básicas do universo).
Outro problema com a teoria de Guth é que ela não tenta explicar a origem da condição
de superaquecimento e expansão, necessária para esta inflação ocorrer. Ele considerou
três origens hipotéticas. A primeira é o tradicional Big Bang – de acordo com Guth, o
episódio inflacionário poderia ter ocorrido nos primeiros estágios do Big Bang. Este
modelo, entretanto, nos leva ao complicado problema da singularidade, já discutido. A
segunda opção é assumir uma condição inicial de caos aleatório, no qual regiões
poderiam ser quentes, outras frias, algumas expandindo, algumas se contraindo. A
inflação começaria em uma área superaquecida e em expansão. Mas Guth admite que
não há explicação para a origem do imaginado caos primordial aleatório.
A terceira alternativa, preferida pelo próprio Guth, é que a região superaquecida em
expansão emerge quantum-mecanicamente do nada. Em um artigo publicado em 1984
na Scientific American, Guth e Paul J. Steinhardt, dizem: “o modelo inflacionário de
universo fornece um mecanismo possível pelo qual o universo observado poderia ter
evoluído de uma região infinitesimal. Esta é então, uma tentativa de ir um passo
adiante e especular se o universo inteiro não teria evoluído a partir, literalmente, do
nada”.(13)
Por mais que seja uma idéia atrativa para o cientista que não considera nenhuma
sugestão de um universo planejado por uma inteligência suprema, ela não se mantém
após um exame detalhado. O “nada”, do qual Guth está falando é um estado de vácuo
quântico-mecânico hipotético, que seria demonstrável numa grande teoria unificadora,
ainda a ser formulada, combinando tanto as equações da mecânica quântica quanto as
da relatividade. Em outras palavras, este estado de vácuo ainda não pode ser descrito.
Todavia os físicos já apresentaram uma descrição de um tipo de estado de vácuo
quântico-mecânico mais simples, que pode ser visualizado contendo um mar de
“partículas virtuais”, fragmentos atômicos que não existiriam completamente. De
tempos em tempos estas partículas subatômicas sairiam do vácuo para a realidade
material.
Tais ocorrências são chamadas flutuações do vácuo. As flutuações não podem ser
diretamente observadas, mas teorias baseadas nelas vêm sendo corroboradas por
experimentos laboratoriais. O que teoricamente ocorre é que uma partícula e uma
antipartícula aparecem do vácuo e quase instantaneamente reagem entre si e
desaparecem. Guth e seus colegas postulam que ao invés de uma pequena partícula, o
universo inteiro saiu do vácuo e, ao invés de desaparecer instantaneamente, nosso
universo de alguma forma persiste por bilhões de anos. O problema da singularidade é
evitado pelo surgimento do universo uma fração de tempo além do estágio da
singularidade.
Existem dois defeitos básicos neste cenário. Primeiro, isto envolve um verdadeiro salto
especulativo de nossa limitada experiência com partículas subatômicas em nossos
laboratórios, para o universo como um todo. Stephen Hawking e G.F.R. Ellis,
sabiamente alertam seus colegas que eles não deveriam se lançar de cabeça, sem
hesitação, nesta grande especulação, “existe, é claro, grande extrapolação no
pressuposto que as leis físicas, que se determinam no laboratório podem ser aplicadas a
outros pontos no espaço-tempo onde as condições podem ser diferentes”(14). Segundo,
é verdadeiramente enganoso falar no vácuo quântico-mecânico como “literalmente
nada”. Para descrever um vácuo quântico-mecânico, mesmo a teoria mais simples
requer capítulos e capítulos da mais alta abstração matemática. Esta entidade é
certamente “algo” e isso levanta a interessante questão de onde um vácuo tão
complicado poderia ter vindo.
Neste ponto, vamos retornar ao problema original que Guth tentava resolver com seu
modelo inflacionário: eliminar a necessidade de afinar as condições iniciais para se
obter o universo observado. Como vimos, ele não obteve sucesso. Mas há um outro
problema: realmente alguma teoria do Big Bang, incluindo a de Guth, de fato prediz o
universo observável? Guth diz é que um universo com cerca de 4 polegadas preenchido
por nada mais do que um gás super denso e superaquecido. Isto iria se expandir e
esfriar, mas não há razão para supor que se transformaria em mais do que uma nuvem
de gás uniformemente distribuído. De fato, isto é tudo que qualquer teoria do Big
Bang nos dá. Então se a presente teoria de Guth requer mexer com um universo
constituído por gás, podemos imaginar o que poderia ser necessário para obtermos o
universo como o conhecemos. Em uma boa explicação científica, muitos fenômenos
complexos podem ser deduzidos de um simples esquema teórico, mas no universo
inflacionário de Guth – e na maioria das teorias do Big Bang – temos exatamente o
oposto: de um grande complexo emaranhado de equações, nós temos apenas uma bola
de gás uniforme. Apesar disso, as revistas científicas publicam artigos sobre o modelo
inflacionário, com páginas de informação e ilustrações high-tech que dão a impressão
de que Guth finalmente alcançou o objetivo último: explicar a origem do universo. Ao
que parece, não exatamente. Talvez as revistas científicas devessem dedicar espaços
regulares para as teorias do mês sobre a origem do universo.
Nós apenas podemos imaginar a complexidade das condições necessárias para produzir
o universo como o conhecemos, com toda sua variedade de estruturas e organismos.
Em nosso próprio universo, estas condições parecem ter sido arrumadas muito
precisamente para serem explicadas apenas por leis físicas. Pode-se conceber, então,
uma argumentação em favor de um projetista. Neste ponto alguns teóricos, incapazes
de ao menos considerar esta idéia se abrigam no que eles denominam “o princípio
antrópico”.
Eles propõem que o vácuo quantum-mecânico produz universos aos bilhões. A grande
maioria não é constituída para produzir vida. Estes universos, por tanto, não contêm
observadores que possam estudar suas condições. Entretanto outros universos,
incluindo o nosso próprio, são constituídos de forma a produzir observadores e, não é
surpresa, que esses observadores poderiam descobrir que os seus universos possuem
algumas condições surpreendentemente precisas para permitir a existência de vida. De
acordo com esta linha de raciocínio, os observadores não devem esperar encontrar
nada além dessas condições complexas e improváveis. De fato, aqueles que apóiam o
princípio antrópico usam a existência dos seres humanos como explicação para o
porquê de o universo ser capaz de produzir seres humanos. Mas este tipo de lógica não
explica nada.
Uma outra forma de malabarismo verbal é dizer diretamente, como muitos cientistas
fazem, que o universo surgiu ao acaso. Mas deve ser notado que isso não é uma
explicação. Dizer que uma coisa aconteceu por acaso não é, em essência, diferente de
simplesmente dizer que “isto apenas aconteceu” ou “ei-lo aqui”. E estas afirmativas não
são qualificadas como explicações científicas. No final, fica-se com o mesmo que se
tinha antes. Em outras palavras, seja com o acaso, seja com o princípio antrópico, os
cientistas não conseguiram, de fato, explicar nada sobre a origem do universo.
Neste ponto, os teóricos tenham que talvez nos perdoar por sugerir que seus métodos
de escolha podem não ser exatamente adequados para a tarefa que têm em mãos. De
fato, parece que além dos problemas que já discutimos, as duas ferramentas
intelectuais com as quais os cosmólogos estão tentando definir o desenvolvimento do
universo, a relatividade geral e a mecânica quântica, contêm certas falhas. É verdade
que essas teorias vêm sendo bem sucedidas na descrição de certos fenômenos físicos,
mas isso não prova que são perfeitas em todos os aspectos.
A teoria de relatividade geral descreve um espaço-tempo curvo e é parte integral de
toda teoria corrente das origens universais, incluindo a teoria do Big Bang e o modelo
inflacionário de Guth. Se a relatividade geral necessita de revisão em algum aspecto,
então, qualquer teoria universal baseada nela também necessita ser revista.
Uma dificuldade maior com a teoria geral da relatividade e a teoria anterior de Einstein
da relatividade especial é que elas descartam o tempo como nós comumente o
entendemos. Na física newtoniana o tempo é tratado como uma variável separada do
espaço. Desta forma é possível traçar o caminho de um objeto movendo-se no espaço e
no tempo; em um determinado ponto no tempo, o objeto se localiza em um
determinado ponto no espaço; à medida que o tempo varia, a posição do objeto no
espaço também varia.
Mas na teoria da relatividade de Einstein esta concepção se evapora. Pelo contrário
espaço e tempo são aglutinados num espaço-tempo quadrimensional contínuo. Não é
mais possível descrever um objeto ocupando um ponto particular no espaço em um
ponto particular no tempo. Uma descrição relativista do objeto irá mostrar sua
existência espacial e temporal em sua totalidade, do início ao fim. Por exemplo, um ser
humano poderia ser descrito como a inteira progressão do embrião ao cadáver. Tais
construções são chamadas “vermes espaço-temporais”. E a física não permite ao verme-
espaço temporal dizer “agora eu sou um adulto e já fui uma criança”. Não há passagem
de tempo, toda a seqüência existe como uma unidade. Se nós somos vermes espaço-
temporais somos apenas configurações da matéria, não personalidades com
consciência. Definir seres humanos desta forma invalida nossa percepção individual do
passado, presente e futuro e nos leva a conclusão que estas percepções são irreais.
Numa carta para Michael Besso, Einstein escreveu "você tem que aceitar a idéia de que
o tempo subjetivo com ênfase no agora não possui significado objetivo”.(15) Quando
Besso morreu, Einstein tentou consolar sua viúva escrevendo: "Michael me precedeu
em deixar este mundo estranho. Isto não é importante. Para nós que somos físicos
convictos, a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão, embora
persistente”(16). Este é o efeito da negação da consciência, da realidade da experiência
do momento presente. Nós experimentamos nossa forma presente como real, ainda que
nossa forma infantil exista apenas na memória. Como seres conscientes podemos
experimentar/perceber que ocupamos uma forma de corpo particular em um ponto
particular de tempo. Apesar de a teoria da relatividade converter uma série de eventos
em uma única entidade espaço-temporal, nós de fato experimentamos em seqüência
diferentes pontos no tempo. O que isto significa é que toda teoria de origem do
universo construída ao redor da teoria da relatividade falha em explicar nossa
consciência da percepção do tempo, tornando então, estas teorias incompletas e
inaceitáveis.
Física Quântica e A Realidade
Todas as teorias cosmológicas correntes dependem da mecânica quântica, a qual define
a atividade de partículas atômicas e subatômicas. A física quântica difere
fundamentalmente da física newtoniana clássica. A física clássica preocupa-se com o
comportamento da matéria sólida, mas a física quântica preocupa-se apenas com
expressões matemáticas de observações e mensurações. A solidez da realidade material
evapora-se. O físico Werner Heisemberg, ganhador do prêmio Nobel, declara: “nós não
podemos mais falar do comportamento de uma partícula sem considerar o processo de
observação. Em conseqüência, somos levados a crer que as leis naturais que
formulamos matematicamente na teoria quântica não mais lidam com as próprias
partículas mas com nosso conhecimento de partículas elementares”(17). Em adição ao
aparato experimental, o observador tem que ser considerado na análise, como um
elemento explicitamente distinto do seu aparato.
Mas existem problemas na aplicação de mecânica quântica ao universo. Por definição o
universo inclui todos os observadores. Então, não se pode ter um observador externo
num sistema físico universal. Numa tentativa de formular uma versão da mecânica
quântica que não requeresse um observador externo eminentes físicos como John
Wheeler propuseram que o universo continuamente se divide em inumeráveis cópias.
Cada universo paralelo contém observadores para ver aquele conjunto particular de
alternativas quânticas. De acordo com esta teoria, todos estes universos são reais.
Em reação a isto, Bryce D. Witt, escrevendo em Physics Today, afirma, "Eu ainda me
lembro do choque que experimentei quando conheci o conceito de multi-mundos. A
idéia de 10 a centésima potência de cópias levemente imperfeitas de um universo, todas
constantemente dividindo-se em outras cópias, as quais no final serão irreconhecíveis,
não é fácil de reconciliar com o senso comum”(18). Se os cientistas querem uma teoria
do Big Bang para a origem do universo que seja consistente com a mecânica quântica,
esta é uma das hipóteses bizarras que eles acabaram desenvolvendo.
Mas outros problemas colocam-se no caminho da redução materialista que os cientistas
estão trilhando. É suficientemente ruim que tanto a teoria geral da relatividade e a
mecânica quântica levem a conseqüências bizarras e irrealistas quando aplicadas a
questões cosmológicas. Mas estas dificuldades são exacerbadas pelo fato de que os
cientistas esperam descrever propriamente o universo e seu início dependendo da
combinação dessas duas teorias. O resultado proposto seria uma Grande Teoria
Unificada (GTU), capaz de descrever todas as forças em ação no universo através de
uma simples expressão matemática. A relatividade geral é requerida para explicar a
estrutura básica do espaço-tempo. A mecânica quântica para explicar o comportamento
das partículas subatômicas. Infelizmente estas duas teorias aparentemente se
contradizem.
O primeiro passo em direção a esta integração matemática foi feito no campo da teoria
quântica, o qual tenta descrever o comportamento de elétrons pela combinação da
mecânica quântica e da teoria especial da relatividade de Einstein. Este teoria alcançou
alguns sucessos notáveis. Entretanto P.A.M. Dirac, físico inglês inventor da teoria e
ganhador do prêmio Nobel confessou “Parece impossível colocar esta teoria em bases
matemáticas”(19). O segundo passo, e muito mais difícil, seria combinar a teoria geral
da relatividade com a mecânica quântica. Mas ninguém tem a menor idéia de como
fazer isso. Não menos que uma autoridade, como o físico Steven Weinberg, também
laureado com o Nobel, admite que pode-se levar um século para unir as
matemáticas(20). Os cosmólogos dizem que precisam da GTU para descrever a origem
do universo e eles ainda não têm isto. O que quer dizer que o Big Bang e a teoria de
modelos inflacionários não possuem fundamentação sólida.
Desde os dias de Newton e Galileu, o programa da física tem sido expressar tudo em
termos matemáticos. Mas as descrições matemáticas devem ser confirmadas pela
observação e por experimentos controlados. Nós demonstramos que as teorias do Big
Bang falham em atender a esses requerimentos. Simplicidade tem sido também
destacada como um requerimento das teorias físicas e as teorias do Big Bang também
falham neste item, já que elas se tornam, bizarramente retorcidas a cada nova
formulação. Elas são exatamente o que Galileu e Newton depreciavam – estórias para
preencher os buracos do conhecimento.
As teorias do Big Bang deveriam parecer alguma coisa menos do que explicações
científicas para a origem do universo. Entretanto, em revistas populares e especiais de
televisão, assim como nas salas de aula os cientistas deliberadamente dão ao público a
impressão de que obtiveram sucesso em demonstrar exatamente como o universo
originou-se através de simples leis físicas. Nada pode ser mais distante da verdade.
E as Galáxias?
Nós vimos que os cosmólogos tentam compreender o universo dentro dos estreitos
limites de suas estreitas concepções materialistas, e que tem falhado em explicar suas
origens. Além disso, nós vimos que suas teorias nem sempre dão conta do que eles
dizem que está presente no universo agora.
Por exemplo, a teoria do Big Bang não pode explicar a existência de galáxias. Imagine
um grande cientista que tem conhecimento das teorias cosmológicas correntes, mas
nenhum conhecimento de astronomia observacional. Ele seria capaz de predizer que as
galáxias seriam formadas? A resposta é não. Um universo formado a partir de nuvens
uniformemente distribuídas de gás é o único relutado consistente com as fórmulas
padrão da teoria. Esta nuvem teria a densidade de talvez um átomo por vários pés
cúbicos, fazendo isso um pouco melhor do que um vácuo perfeito. Para existir qualquer
coisa a mais é necessário modificações especiais nas condições iniciais do universo e os
cientistas acham estas modificações difíceis de justificar. Tradicionalmente, uma teoria
científica é considerada aceitável se, partindo da estrutura inicial, rapidamente se pode
fazer predições.
Como Steven Weinberg disse em The First Three Minutes (Nos Primeiros Três
Minutos), "a teoria da formação das galáxias é um dos mais destacados problemas na
astrofísica, um problema que hoje parece longe de uma solução”(21). Então sem mais
delongas ele diz “mas isto é uma outra estória”. Mas não, espere um minuto – esta é
exatamente a estória! Se a teoria do Big Bang não pode explicar a causa inicial do
universo ou seus maiores elementos, como as galáxias, então, o que ela explica? Não
muito, pode-se ver.
Massa Ausente
A teoria do Big Bang deveria explicar o universo, mais seu maior problema é que
muitas características do universo não são claramente entendidas o suficiente para ser
objeto de tal explicação. Um grande mistério é o problema das massas ausentes. O
físico David Scramm da Universidade de Chicago explica “de toda luz que foi emitida
pela Via Láctea, nós podemos estimar que nossa galáxia contém a massa de cerca de
100 bilhões de sóis. Mas uma vez que peguemos o mesmo objeto [a Via Láctea] e
vejamos como ela interage com outra galáxia, como nossa vizinha Andrômeda, nós
percebemos que nossa galáxia está gravitando em direção a Andrômeda, como se esta
possuísse uma massa dez vezes maior”(22). Parece que 90% da massa do universo está
faltando. Fantasmagóricas partículas subatômicas chamadas neutrinos foram descritas
como sem massa pelos físicos, mas agora identificaram que possuem massa suficiente
para dar conta da matéria ausente no universo como um todo. Bem conveniente…
Então mesmo quando deixamos de lado as questões das origens primeiras e vamos para
o quadro do universo como ele é atualmente, ainda permanecem muitas questões não
respondidas. Os cientistas irão dizer ao público com um ar de convicção absoluta que
eles sabem que o universo se estende por X milhões de anos-luz e que tem existido por
um total Y de bilhões de anos. Eles dizem que identificaram todos os principais corpos
no universo, com estrelas galáxias, nebulosas, quasares e etc. Mas ainda assim nem a
local Via Láctea foi claramente compreendida.
Por exemplo, na revista Scientific American, o notável astrônomo Bart J. Bok escreveu:
“Eu me lembro que na metade dos anos 70, quando eu e meus companheiros de
observação éramos notadamente autoconfiantes… nos não suspeitávamos que
brevemente seria necessário revisar o rádio da Via Láctea para além de um fator de três
ou mais e aumentar sua massa para um fator além de 10”(23). Se estas mensurações
básicas recentemente tiveram que ser drasticamente revisadas após tantas décadas de
observação então, o que o futuro pode guardar? Haverá outras revisões drásticas?
Mesmo quando nos restringimos ao nosso sistema solar, vemos que existem problemas
fundamentais. A visão tradicional da origem dos planetas – que eles condensaram a
partir de nuvens de poeira cósmica e gás – não está garantida porque as equações para
as interações de nuvens de gás nunca foram satisfatoriamente solucionadas. William
McRae, professor de astronomia na universidade inglesa de Sussex e ex-presidente da
Real Sociedade de Astronomia daquele país diz: “O problema da origem do sistema
solar é talvez o mais notável de todos os problemas não resolvidos na astronomia”.(24)
Já deve estar claro, a qualquer observador imparcial que a estratégia da redução
materialista empregada pelos cientistas não tem permitido alcançar conclusões firmes
sobre a origem e natureza do universo, apesar de suas posturas públicas. Não há,
certamente nenhuma razão que leve alguém a insistir que as respostas últimas para as
questões cosmológicas devam estar contidas em simples leis físicas expressas
matematicamente. Além disso, o método quantitativo se provou inadequado para
explicar muitos fenômenos próximos, o que dizer da explicação do vasto universo. E
mais, é certamente muito cedo para excluir abordagens alternativas, abordagens essas
que podem envolver explicações não físicas – explicações envolvendo princípios que
vão além das leis físicas conhecidas.
Um Quadro Diferente da Realidade
De fato, podem existir causas não físicas em ação na história do universo, e podem
existir regiões não físicas no cosmos também. O físico David Bohm admite: “É sempre
uma possibilidade a existência de uma variedade ilimitada de propriedades adicionais,
qualidades, entidades, sistemas, níveis, etc., aos quais se aplicariam novos tipos de leis
naturais correspondentes”(25). Então é bem possível que, da mesma forma que nosso
entendimento das leis naturais continua a evoluir, que possa emergir um quadro
diferente do que a maioria das pessoas aceita atualmente.
Como já vimos, com seus infinitos ricochetes e infinitos universos em divisão, alguns
modelos propostos pelos cosmólogos realmente desafiam nosso senso de concepção das
coisas. Não pense que estas idéias estranhas estão fora das idéias dominantes do
pensamento científico. Todas as noções que consideramos são, na verdade, as mais
relatadas e respeitadas especulações.
Vamos agora ver idéias ainda mais esquisitas atualmente em voga no mundo da
cosmologia moderna. O cientista John Gribbin, autor de White Holes (Buracos
Brancos), um livro que sumariza estes tópicos, com admiração os chama de “as últimas
séries de saltos feitos pelos pensadores criativos que hoje chamamos de cientistas –
melhor do que profetas, visionários ou oráculos”(26). Um destes tópicos é o buraco
branco – um quasar que derrama galáxias em um vertedouro cósmico. Gribbin diz:
“Poderiam os buracos brancos realmente se fragmentar de forma que galáxias se
reproduziriam como amebas, por partenogênese? Isto soa tão improvável em termos de
nossa experiência diária relativa ao comportamento da matéria que é viável, olhar as
teorias gerais de formações de galáxias para mostrar apenas como são desesperançosas,
como explicações do universo real. Buracos brancos que se fissionam, parece uma
última tentativa de solução para o problema, mas quando nenhuma outra teoria
apresenta qualquer tipo de solução satisfatória, esta solução é certamente aquela mais
aceita” (27).
Outra idéia seriamente considerada pelos cosmólogos é a dos túneis espaço-tempo ou
“buracos de vermes cósmicos”. Discutidos seriamente pela primeira vez em 1962 pelo
físico John Wheeler em seu livro Geometrodynamics, a idéia entrou na consciência
popular através de filmes de ficção científica como a série de Guerra nas Estrelas, onde
as naves espaciais atravessam o hiper-espaço, fazendo assim viagens intergalácticas que
normalmente levariam milhões de anos na velocidade da luz. Algumas versões desses
buracos de verme os vêem como entradas para o passado ou futuro ou mesmo como
passagens para outros universos.
Na primeira metade do século 20, Einstein propôs uma quarta dimensão; hoje, com as
implicações de suas equações sobre o campo gravitacional mais exploradas, outras
dimensões estão sendo propostas. Paul Davies, um teórico da física escreveu: “Além das
três dimensões no espaço e uma no tempo, nós percebemos na vida diária que existem
sete dimensões espaciais extras que não são notadas”.(28)
A questão dessas descrições é mostrar que mesmo os cientistas materialistas são
compelidos a apresentar explicações do universo que incrivelmente alargam nossas
fronteiras mentais. Mas devemos alargar essas fronteiras apenas na direção da ciência
material? Talvez devêssemos considerar outras direções. Se podemos contemplar
dimensões materiais mais elevadas, então porque não considerar dimensões de um tipo
completamente diferente? Há uma clara necessidade por novas categorias de idéias,
idéias que sem dúvida questionariam a estratégia reducionista corrente de entender o
universo. Esta estratégia inclui a idéia de que o universo é em última análise simples e
pode ser exaustivamente descrito em termos de leis quantitativas.
Mas suponha que não seja tanto assim. Certamente parece que o universo é
ilimitadamente complexo e possui aspectos que podem não ser atingidos por métodos
quantitativos. Então, qual estratégia pode ser utilizada para conseguir conhecimento
sobre isto? As muitas características complexas e ordenadas do universo sugerem uma
elaboração inteligente. Esta idéia traz a mente as seguintes possibilidades: se a causa
última do universo é um ser inteligente, supremo, então há chance de que possamos
entender a natureza última da realidade, obtendo informação acerca deste ser. A
existência de um ser supremo é certamente uma proposição audaciosa, mas não mais
do que propor que tudo pode ser explicado por simples leis matemáticas que expressam
leis físicas. E justo no caso da estratégia quantitativa, o valor desta alternativa só pode
ser julgado pelo sucesso com que pode ser aplicada. Seria rejeitá-la sem verificar se é
possível usá-la para obter conhecimento prático sobre a realidade.
Para muitos, a idéia de uma inteligência suprema trará à mente a visão cristã de
mundo, à qual as pessoas reagem de forma variada. Mas alternativas as teorias
correntes dos cosmólogos não são limitadas às interpretações cristãs do Gênesis. Da
mesma forma que existem muitas explicações materialistas sobre a origem do universo,
existem muitas explicações possíveis envolvendo a figura de um criador.
Para aqueles que buscam ampliar suas opções intelectuais, uma fonte muito rica de
idéias para o entendimento do cosmos, e nosso lugar nele, é o conhecimento Védico da
antiga Índia. Os Vedas incluem uma cosmologia extremamente sofisticada. Alguns dos
conceitos serão radicalmente diferentes daqueles atualmente propagados; outros,
surpreendentemente complementares aos achados científicos atuais. Por exemplo, Carl
Sagan, quando esteve na Índia filmando um segmento de sua série de televisão Cosmos,
disse “As idéias cosmológicas antigas mais sofisticadas vieram da Índia. O Hinduísmo
[baseado nos Vedas] é a única religião no qual a escala temporal corresponde à
cosmologia científica”. Ele percebeu que os sábios da antiga Índia sabiam que o
universo atravessa ciclos progressivos de criação e destruição em escalas de tempo e
bilhões de anos.
Na ciência moderna, a unidade básica da matéria é o átomo, mencionado nos Vedas,
mas os Vedas também incluem partículas de consciência chamadas jivatma, da mesma
forma que um princípio superior integrado chamado paramatma (Superalma).O Ser
Supremo, visto como a fonte de toda a variedade de energias físicas e universais, é
descrito como uma personalidade simultaneamente presente e localizada, dentro da
qual o universo existe e que, ao mesmo tempo, existe dentro de cada átomo do
universo. Como podemos ver, estas idéias podem fornecer um entendimento mais
completo e coerente da origem e natureza do universo. A consciência, em particular, é
um aspecto fundamental da realidade que não pode ser ignorado em teorias que tentam
explicar o cosmos de forma compreensível.
Num tempo em que cientistas estão propondo coisas como universos múltiplos,
“buracos de vermes” cósmicos para viagem de uma região espaço-temporal para outra,
universos em que o tempo é invertido, várias dimensões espaço-temporais, etc., as
antigas concepções transcendentais dos Vedas não podem ser abandonadas sem a
devida consideração. Os modelos do Big Bang e universo inflacionário, os quais
baseiam-se nas fundações matemáticas e teóricas mais trêmulas, falharam em fornecer
respostas adequadas sobre o universo, as galáxias, planetas e formas de vida que
encontramos hoje. Talvez uma superconsciência, um designer supremamente
inteligente – e não um conjunto de equações matemáticas impessoais – seja a
derradeira explicação para um universo que agora parece tão inexplicável.

REFERENCES 1. Erwin Schrodinger, What Is Life? and Mind and Matter


(Cambridge: Cambridge University Press, 1967), p. 68.2. Richard Wolkomir, "Quark
City," Omni, (February 198,4), p. 41.3. Kenneth E. Boulding, "Science: Our Common
Heritage, Science, Vol. 207 (February 22, 1980), p. 834.4. Sir Bernard Lovell, "The
Universe," The Random House Encyclopedia (New York: Random House, Inc., 1977),
p.37.5. Steven Weinberg, The First Three Minutes (New York: Bantam, 1977), p. 94.6.
S. W. Hawking and G. F. R. Ellis, The Large Scale Structure of Space-Time (Cambridge:
Cambridge University Press, 1973), pp. 362--63.7. S.W. Hawking and G. F. R. Ellis, The
Large Scale Structure of Space-Time, p. 364.8. Sir Bernard Lovell, "The Universe" The
Random House Encyclopedia, p. 37.9. S. W. Hawking and G. F. R. Ellis, The Large
Scale Structure of Space-Time, p. 360.10. Steven Weinberg, The First Three Minutes, p.
14311. Alan H. Guth and Paul J. Steinhardt, "The Inflationary Universe," Scientific
American, (May 1984), p. 127.12. Mitchell Waldrop, "Before the Beginning," Science 84
(January/February 1984), p. 51.13. Alan H. Guth and Paul J. Steinhardt, "The
Inflationary Universe," Scientific American, p. 128.14. S. W. Hawking and G. F. R. Ellis,
The Large Scale Structure of Space-time, p. 1.15. Ilya Prigogine, From Being to
Becoming (San Francisco: W. H. Freeman and Co., 1980), p. 20.16. Ilya Prigogine,
From Being to Becoming, p. 20.17. Werner Heisenberg, "The Representation of Nature
in Contemporary Physics," Daedalus, Vol. 87, No. 3 (1958), pp. 95--108.18. Bryce D.
Witt, "Quantum Mechanics and Reality," Physics Today (September 1970), p. 33.19. P.
A. M. Dirac, "The Evolution of the Physicist's Picture of Nature," Scientific American
(May 1963), pp. 45--53.20. David Hunter, "The Grand Unification of Physics" Softalk
(March 1984), p. 91.21. Steven Weinberg, The First Three Minutes, p. 68.22. Marcia
Bartusiak, "Missing: 97 % of the Universe," Science Digest (December 1983), p. 53.23.
Bart J. Bok, "The Milky Way Galaxy," Scientific American (March 1981), p. 94.24.
William McRae, "The Origin of Earth, Moon, and Planets," in The Encyclopedia of
Ignorance, ed. Ronald Duncan and Miranda Weston-Smith (New York: Pergamon
Press, Ltd., 1977), p. 48.25. David Bohm, Causality and Chance in Modern Physics
(London: Routledge and Kegan Paul, Ltd., 1957) p. 133.26. John Gribbin, White Holes
(New York: Delacorte Press. 1977), p. 9.27. John Gribbin, White Holes, p. 107.28. Paul
Davies, "The Eleventh Dimension," Science Digest (January 1984), p. 72.
Courtesy Origins Magazine

PSICOLOGIA: O Mistério da Consciência


Consciência é um fato da vida: todos nós a temos. Mas pode a ciência moderna, com
seu atual ponto de vista mecanicista, explicá-la? Parece que não. 

O Mistério Da Consciência
O Mistério Da Consciência

"A psicologia científica, tendo perdido primeiro sua alma e depois sua consciência
parece finalmente ter perdido completamente sua mente” (1), escreveu o filósofo
Herbert Feigl, diretor do Centro de Filosofia da Ciência de Minnesota, EUA. Ele resume
assim um das mudanças fundamentais no pensamento moderno: a redução de todos
fenômenos mentais e espirituais exclusivamente a funções bioquímicas cerebrais.
Alguns filósofos auxiliaram entusiasticamente esta tarefa. Gilbet Ryle, renomado
professor de filosofia metafísica na Universidade de Oxford, disse o seguinte sobre a
idéia de que a mente é alguma coisa não-física: “Devo falar disso como um abuso
deliberado, como o dogma do fantasma na máquina. Espero provar que isso é
totalmente falso, não somente em detalhe, mas em seus princípios” (2).
Uma escola filosófica, o materialismo eliminativo, vai tão longe a ponto de apoiar a
exclusão completa de palavras como consciência, sentimentos, visões ou dor do
vocabulário científico. Eles alegam que estas palavras são puramente subjetivas e não
possuem, assim significado real, mesmo sendo isto contrário a toda a experiência
prática. Descrevendo esta perspectiva, o filósofo Richard Rorty de Princeton, afirma
que um representante desta visão diria a alguém: “a vida seria mais simples para nós se
você puder no futuro dizer ‘ minhas fibras estão queimando’ ao invés de dizer ‘está
doendo” (3).
Os filósofos, todavia, estão apenas seguindo o rumo da ciência moderna, que desde seu
início tem sido mecanicista. Em 1750, o medico francês La Mettrie escreveu: “vamos
concluir corajosamente que o homem é uma máquina” (4). E em tempos mais recentes
encontramos o zoólogo de Oxford Richard Dawkins proclamando: “Nós somos
máquinas de sobrevivência – veículos robotizados cegamente programados para
preservar as egoístas moléculas conhecidas como genes” (5).
O cientista Herbert l. Meltzer escreveu em The Chemistry of Human Behavior/A
Química do Comportamento Humano: “Toda a gama das capacidades intelectuais e
emocionais que nós entendemos como unicamente humanas se originaram em um
complexo incrivelmente saturado de organização neuroquímica, em estruturas
morfológicas altamente especializadas. ...Nós não precisamos indicar pelo termo mente
nada mais do que a total organização de funções, memórias e capacidades que
caracterizam qualquer cérebro particular” 6. Muitos cientistas não estão preocupados
com os profundos efeitos sociais e psicológicos desta visão. O professor John Taylor do
King’s College, Londres, afirma: “A mente parece agora ser um ‘epifenômeno’, quase
sem potência, do cérebro”. Ele acrescenta que a percepção desse fato “irá causar uma
destruição completa do entendimento de nosso lugar no mundo, bem como minar as
instituições tradicionais da nossa sociedade”. Que solução ele propõe? Ele
simplesmente pede que nós “comecemos a preparar as pessoas para viver num mundo
determinista” (7).
Os principais movimentos na psicologia moderna também adotaram uma abordagem
estritamente mecanicista do fenômeno mental. John B. Watson, professor de psicologia
na Johns Hopkins University foi o fundador da escola behaviorista. Ele escreveu o
seguinte sobre consciência “nunca foi vista, tocada, cheirada, degustada ou mexida. É
uma clara pressuposição tão improvável como o antigo conceito de alma”(8). Mais
adiante, o famoso psicólogo behaviorista, B. F. Skinner uma vez declarou que ele
poderia abolir o que chamamos de “o homem interior... o homem defendido pelas
literaturas da liberdade e dignidade”. Ele depois afirmou “sua abolição já deveria ter
sido feita há tempo... ele foi construído por nossa ignorância e, na medida que nosso
entendimento aumenta, as coisas que o compõem se desvanecem” (9).
A psicologia de Sigmund Freud também era baseada numa visão essencialmente
materialista da natureza humana. Ainda cedo em sua carreira, Freud, então um neuro-
anatomista embarcou num projeto ambicioso para demonstrar que o fenômeno mental
era diretamente produzido por um mecanismo orgânico. Mesmo que ele eventualmente
tenha desistido da tentativa, permaneceu convicto sobre sua hipótese. “Eu… não
desejo”, escreveu a um colega “deixar a psicologia suspensa no ar sem base orgânica.
Mas além do sentimento de convicção [que pode ser uma certa base], não tenho nada,
teórico ou terapêutico para trabalhar neste sentido, então devo trabalhar como
confrontado por fatores apenas psicológicos. Não tenho idéia do porquê de ainda não
conseguir resolver essa questão”(10).
Recentemente, alguns cientistas decidiram que - se não há mais do que uma máquina
sofisticada de pensar - seria possível a eles construir tais máquinas. Um líder em
pesquisa de computadores, Marvin Minsky do M. I. T. acredita que em breve será
criada uma máquina com “a inteligência média de um ser humano... A máquina será
capaz de se auto-educar. Em poucos meses atingirá o nível de um gênio. Poucos meses
depois seu poder será incalculável”. Então Minsky acrescenta: “Se formos sortudos, elas
podem decidir nos manter como animais de estimação” (11).
Convencidos que a nova tecnologia e inteligência artificial irá permitir ao homem
substituir quase tudo, o professor Arthur Harkins diretor do Programa de Futuros
Graduados da Universidade de Minnesota, mostra que neste novo milênio, as pessoas
estarão casando com robôs e a sociedade começará a ponderar a definição de
“humano”(12). Esta visão futurista adornada com computadores humanóides pode
parecer cintilante para aficionados por ficção científica, mas o quanto isso nos diz do
que realmente significa ser humano? Nossos pensamentos, sentimentos e desejos
jazem no coração do que todos chamamos de experiência humana. Na pressa de
equacionar máquinas sofisticadas com seres humanos, muitos filósofos, psicólogos e
cientistas têm tropeçado em algumas distinções fundamentais entre os dois.
A causa para esta confusão pode ser traçada desde a estratégia básica da ciência
moderna, a qual sustenta que tudo pode ser explicado de acordo com leis físicas
relativamente simples. Armados com este pressuposto mecanicista os cientistas podem
embarcar em um estudo do cérebro com razoável esperança de eventualmente serem
capazes de controlá-lo e duplicar todas as suas funções, incluindo o que chamamos de
consciência.
Mas e se um princípio vital não físico estiver envolvido? Então suas investigações se
tornam desesperançosamente complicadas. Dessa forma, a maioria dos cientistas se
agarra à estratégia de insistir que o cérebro pode ser explicado por leis simples da física
e continuam com suas teorias e experimentos. Como B. F. Skinner disse em Além da
Liberdade e Dignidade, “Apenas então poderemos ir do inferido ao observado, do
miraculoso para o natural, do inacessível para o manipulável”(13).
A mente é mais que um processador de informações. É a própria consciência que é a
fundação de toda a experiência, mas ninguém pode descrever isso por expressões
numéricas da mesma forma que se descrevem as reações químicas, a força da gravidade
e outros fenômenos físicos. Mas porque não pode ser medida por métodos
quantitativos, não quer dizer que se possa negar sua existência – a consciência pode
claramente ser conhecida pela experiência.
Isto sugere uma séria limitação para a abordagem mecanicista, uma vez que se pode
apenas descrever o comportamento conectado à consciência, mas não a consciência em
si. Em face desta dificuldade, muitos cientistas ao invés de admitir que a consciência
extrapola a descrição física, prefere caracterizá-la como nada mais do que um padrão
complexo de comportamento. Esta idéia equivocada permite supor que máquinas e
computadores com suficiente sofisticação poderiam tornar-se conscientes.
Mas existem muitos exemplos claros e diretos demonstrando como a percepção da
consciência é inteiramente diferente dos comportamentos físicos associados a ela. Por
exemplo, o que acontece quando uma pessoa acidentalmente acerta seu dedão com um
martelo? Certos padrões de comportamento característicos ocorrem – a pessoa pode
gritar, sacudir sua mão, fazer caretas, etc.
Um exame da reação corporal irá revelar mudanças químicas no sangue, padrões de
impulsos eletroquímicos no cérebro e daí por diante. Enquanto estes efeitos
mensuráveis são parte do evento, eles são distintos da experiência da dor. Ainda que
todos entendam a sensação de dor, porque é uma experiência consciente comum, esta
não pode ser definida em termos físicos. Embora a ciência prefira se confinar ao que
pode ser fisicamente descrito – como padrões de impulso eletroquímico. Mas se o
cérebro não é mais do que um aparelho processador de informações para estes
impulsos, então o que torna isto diferente das máquinas que os próprios cientistas
usam para registrar os dados experimentais do cérebro.
A resposta é simples – ao descrever o funcionamento de uma máquina nós não
necessitamos de nenhum conceito de dor. Ou seja, não precisamos supor que a
máquina sente dor. O mesmo é verdadeiro para o cérebro. Mas, nós sabemos por
experiência que uma pessoa sente dor. Dessa forma o conceito “experiência da dor” é
algo independente e distinto de todas as idéias sobre o funcionamento de máquinas e
cérebros.
Vamos imaginar agora – uma máquina que quando exposta a uma luz vermelha diga
“eu vejo uma luz vermelha”. Esta máquina pode ser construída conectando-se uma
fotocélula com um filtro vermelho em um amplificador. Quando disparado, o
amplificador pode ligar um gravador que toca a seguinte mensagem “eu vejo uma luz
vermelha”.
Embora a máquina declare que vê uma luz vermelha, ninguém poderia imaginar que
ela está realmente vendo alguma coisa. Similarmente um gravador recebe impulsos de
som, mas não ouve e um automóvel não experimenta o movimento. Enquanto
máquinas realizam certas atividades que poderiam duplicar aquelas feitas por seres
humanos, todas as ações das máquinas podem ser reduzidas a uma explicação
mecanicista. Mas no caso de um ser humano com consciência, a descrição física é
inadequada para descrever sua experiência pessoal. O corpo humano comporta-se de
certa forma como uma máquina complexa e em suas ações pode ser descrito em termos
físicos, mensuráveis em alguns casos. Mas além destas descrições físicas quantificáveis,
que lidam exclusivamente com a mecânica do comportamento e da percepção, há o
terreno não quantificável da consciência. Admitidamente a ciência teve sucesso em
descrever certos fenômenos observáveis em termos fisicamente estritos, mas não
devemos extrapolar e concluir que tudo – incluindo a consciência – pode ser explicado
mecanicistamente. Outras possibilidades não apenas existem, mas são freqüentemente
mais razoáveis e compreensíveis, e nós devemos permanecer abertos a considerá-las.
Mesmo Thomas Huxley assinalou a natureza irredutível da consciência. Ele declarou:
“Eu entendo que o principal pressuposto do materialismo é que não há nada no
universo além de matéria e força e que todos os fenômenos da natureza são explicáveis
por dedução das propriedades relativas a esses dois fatores primitivos...
Parece-me bastante claro que existe uma terceira coisa no universo, para desespero:
consciência, que eu não posso ver como matéria ou força ou qualquer modificação
concebível de ambos” (14).
Não obstante, muitos cientistas rejeitam a idéia de que a consciência possui qualquer
realidade e permanecem determinados a considerá-la em termos mecanicistas.
Uma corrente teoria popular conhecida como funcionalismo, que fornece subsídios
teóricos para a pesquisa em inteligência artificial relega as atividades da mente a
respostas semelhantes aquelas dos computadores a estímulos externos. O conceito de
consciência é descartado e todos os sentimentos humanos e sensações são reduzidas a
construções matemáticas.
Por exemplo, no caso de dor de cabeça, a experiência da dor (o que nós naturalmente
consideramos ser dor de cabeça) não tem referência. O que então é uma dor de cabeça?
Embora difícil de acreditar, o pesquisador de inteligência artificial do MIT, Jerry A.
Fodor, um dos principais proponentes do funcionalismo declara: “Para se ter uma dor
de cabeça temos que estar dispostos a exibir um certo padrão de relações entre os
estímulos que se encontram e as respostas que se seguem”(15). Em outras palavras, o
que chamamos de dor de cabeça é definido por algum software cerebral que nos faz
comportar como se tivéssemos uma dor de cabeça. Mas a dor em si é deixada de fora da
questão porque a dor não pode ser escrita em um programa de computador.
Devido a esta falha óbvia em explicar as experiências pessoais, mesmo Fodor, que é
altamente comprometido com uma explicação física da consciência, admite que as
teorias mecânicas, como o funcionalismo, são incompletas. Ele declara: “muitos
psicólogos que são inclinados a aceitar a perspectiva funcionalista não estão
preocupados com a falha deste em revelar a natureza da consciência. Os funcionalistas
fizeram algumas tentativas ingênuas de conversar sobre esta preocupação, mas na
minha visão, não tiveram muito sucesso. Como uma questão que permanece o
problema do conteúdo qualitativo [consciência] apresenta-se como um sério desafio
para o pressuposto de que o funcionalismo pode fornecer uma teoria geral para a
mente”(16).
Por que o tópico da consciência levantou um impasse fundamental nas tentativas
mecanicistas de explicar o mundo, alguns cientistas rejeitaram enfaticamente o ponto
de vista mecanicista. Entre os dissidentes encontra-se o prêmio Nobel de física Eugene
Wigner. “Existem dois tipos de realidade ou existência, a existência de minha
consciência e a realidade ou existência de qualquer outra coisa”, diz Wigner. “A
segunda realidade não é absoluta, mas apenas relativa”(17). Wigner observou que
fenômenos mesuráveis externos são conhecidos por ele apenas pela sua consciência e
esta consciência é, se é de fato algo, mais real que estes fenômenos. Após extensas
pesquisas nessa área, Alan Gevins de EEG Systems Laboratory em San Francisco
concluiu que a mente pode ter qualidades transcendentais. Gevin disse: ‘Quando se
pensa em criatividade e inspiração, mais etéreos são os aspectos da mente – eles podem
ser misteriosos, em última instância. Não estou tão firme quanto meus colegas que
acreditam que a mente pode ser reduzida a um fluxo de elétrons”(18).

Uma Visão Histórica Do Problema Mente-Corpo


Através da história, muitos cientistas e filósofos contemplaram como definir a sutil e
extraordinária mente. A análise das relações entre consciência e o cérebro é conhecida
no pensamento ocidental como o problema “mente-corpo”.
Nós vimos que a consciência não pode ser registrada em termos físicos, mas isto ainda
deixa muitas questões em aberto. O que exatamente é a consciência e como ela se
relaciona com o cérebro? Se for um simples produto dos centros neurais superiores,
poderia ser possível considerar uma descrição não quantitativa do cérebro. Ou poderia
a consciência ser associada a uma entidade separada conectada ao cérebro? No
pensamento ocidental as palavras: mente e EU vêm sendo usadas indiscriminadamente
para definir esta entidade. Por ora, devemos usar as palavras *mente e *Eu neste
sentido específico. Mas podemos apontar uma distinção fundamental entre a mente e o
Eu consciente.
Tradicionalmente os pensadores ocidentais estão considerando a consciência ou mente
como não-física e distinta do cérebro. Uma bem conhecida teoria mente-corpo deste
tipo fora apresentada no século dezessete pelo filósofo e matemático René Descartes.
Sua concepção dualista postulava dois tipos de substâncias – mental e corporal. A
essência da substância mental é que esta possuía pensamentos e consciência deles, a
essência da substância corporal é que possuía posição no espaço. Mente e matéria
podem interagir e se influenciarem mutuamente; a influência da matéria na mente é
chamada sensação e a mente influindo na matéria e chamada de exercício da vontade.
Esta teoria foi conhecida como interacionismo.
Descartes ponderou que a mente, como uma substância não-física, não ocuparia
posição no espaço. Mas seus oponentes insistiram que uma mente sem posição no
espaço seria incapaz de influenciar o corpo material, que possui uma posição no espaço.
Esta foi uma crítica que Descartes nunca efetivamente respondeu.
Uma razão do erro de Descartes era a forma que ele concebia a substância mental. Ele
assumiu que se algo possui certas características fundamentais que não podem ser
descritas em termos físicos, então todas as suas propriedades deveriam estar além da
descrição física. Mas ainda está dentro do terreno das possibilidades esperar que uma
substância não-material possa ter algumas propriedades que podem ser alocadas
dentro das perspectivas da mensuração material.
Por exemplo, não há razão lógica para excluir a possibilidade de uma substância mental
não-material tomar posições e ser capaz de interagir com o cérebro. Mas oponentes da
teoria de Descartes, entre os quais podem ser contados muitos físicos, rejeitam
fortemente este interacionismo uma vez que isto violaria as leis de conservação de
energia e momentum. Se uma entidade não-física, a mente, influencia o cérebro, esta
teria que alterar os estado de energia destes, um fenômeno que os físicos acham
inaceitável porque isto se choca com suas equações que definem as leis da física. Estas
equações especificam que a matéria se move apenas de acordo com causas governadas
pelas leis da física. Estando envolvidas causas e leis não-físicas, as equações da física
não serão mais suficientes para descrever os movimentos da matéria.
Aqui podemos destacar que ninguém ainda provou que toda a matéria obedece apenas
às leis físicas. Em particular, ninguém jamais ofereceu uma descrição matemática
completa do cérebro e suas funções. Dentro do cérebro humano existem centenas de
milhares de células nervosas. Ninguém pode delinear ou monitorar toda a energia
transferida no cérebro. Portanto, as objeções dos físicos aos interacionismo
simplesmente não são válidas e são fomentadas por um desejo de impor uma visão
particular e restritiva da relação entre mente e cérebro.
Antes de Descarte praticamente todos os pensadores aceitavam que a mente ou EU era
diferente do corpo ou do cérebro. Descartes tentou formular este dualismo de forma a
superar objeções daqueles influenciados pelo surgimento da ciência mecânica, a qual
não deixa lugar para substâncias não-físicas. Mas sua explicação deixou tantas
perguntas sem resposta que a maioria dos pensadores devotados à questão mente-
corpo após Descartes, desistiram do interacionismo.
Outros fizeram cautelosos esforços para formular modelos dualísticos que não
interfeririam com as leis físicas conhecidas. Uma dessas idéias é o epifenomenalismo;
entre seus proponentes encontramos o campeão de Darwin, Thomas Huxley. O
epifenomenalismo apresenta o que parece ser o dualismo da mente e do corpo, mas é
realmente uma tentativa de manter a superioridade da visão mecanicista, empregando
um modelo não usual. O epifenomenalismo afirma que a matéria dá início à
consciência não-física, mas estes estados de consciência não têm influência na matéria.
Este modelo possui dois defeitos principais. Primeiro não explica como a consciência
poderia surgir da matéria. Segundo, a idéia de que a consciência não age sobre a
matéria é extremamente incômoda. Na física, todos os aspectos de um sistema físico
exercem algum efeito no comportamento do sistema total. Porque a consciência seria
uma exceção?

Uma Abordagem Não Dual


Outra escola de pensamento, o monismo, propõe que a mente e o cérebro são a mesma
coisa. Existem vários modelos monistas – alguns negam a consciência e outros a
identificam com as estruturas físicas do cérebro.
Uma destas escolas de pensamento monista sugere que a matéria possui inerentemente
o atributo da consciência. Esta visão, que pode ser denominada pan-psiquismo, é
historicamente identificada com o filósofo holandês do século XII Baruch Spinoza, que
afirmou: “Omnia quamvis diversis gradibus, animata sunt” – que tudo na existência é
animado ou consciente, a um certo grau(19). Spinoza acreditava em uma substância
universal; cada parte possuía tanto propriedades físicas como psíquicas. De acordo com
esta visão, mesmo um átomo teria algum tipo de consciência atômica e, à medida que
organizações mais complexas de matéria se desenvolvem, então mais formas
correspondentemente complexas de consciência irão emergir.
Tais idéias são úteis para os biólogos que quase sem exceção acreditam que a vida
evoluiu da matéria através de leis físicas. Dado esse pressuposto mecanicista, surge o
problema de explicar a origem da consciência. O pan-psiquismo, que atribui algum
nível de consciência até mesmo a matéria desorganizada, apresenta uma possível
explicação evolucionista. Um proponente desta abordagem é o zoólogo alemão
Bernhard Rensch. Ele sugere, em adição às propriedades físicas da matéria, o que ele
chamou de “componentes físicos paralelos”, como consciência. “Moléculas e átomos
poderiam ser reconhecidos com componentes paralelos básicos de algum tipo”, ele
afirma “Estes processo paralelos podem ser reconhecidos como tal apenas após as
respectivas moléculas integrarem a substância psicofísica (nervos e células sensoriais)
de um organismo, de forma que os componentes paralelos formam um fenômeno
complexo de consciência que pode ser ‘vivenciado”(20).
Uma dificuldade nesta abordagem envolve a unidade da consciência. Se todo átomo é
separadamente cônscio, então que mecanismo integra esta consciência? Por que um
átomo de carbono em um cérebro se sentiria diferente do que num pedaço de madeira?
E desde que o cérebro é uma mera combinação de vários átomos, porque a consciência
unificada do cérebro não é apenas a soma de todas essas consciências atômicas? Esta
dificuldade vem sendo reconhecida pelo neurobiólogo ganhador do prêmio Nobel John
C. Eccles, que escreveu “Tem sido impossível desenvolver qualquer teoria
neurofisiológica que explique como uma diversidade de eventos do cérebro é
sintetizada para criar uma experiência consciente unificada de caráter global. Os
eventos do cérebro permanecem díspares sendo essencialmente as ações individuais de
incontáveis neurônios que são formados em circuitos complexos”(21).
Cientistas como Rensch, tentando superar este problema, apresentaram a explicação de
que estes padrões de matéria também possuem consciência e que nós somos apenas um
conjunto destes padrões. Mas se isto é correto, então se seguem duas conclusões.
Primeiro: devem existir leis metafísicas complexas governando a produção de
consciência em resposta à presença de certos padrões. Segundo, a consciência do
padrão deve ser – em comparação com a consciência individual de cada elemento do
padrão – uma entidade metafísica inteiramente nova, uma consciência “superior” capaz
de dar conta de nossa experiência humana unificada. Desta forma, deveríamos ter no
corpo humano um complicado aparato metafísico consistindo de várias entidades
conscientes (trilhões de átomos semiconscientes, padrões possuindo consciências
unificantes superiores) e leis governando seus aparecimentos. Seria mais simples,
entretanto, reviver o conceito da alma – uma única e irredutível unidade de consciência
capaz de funcionar como o integrador da experiência com o corpo.
John C. Eccles e o filósofo Karl R. Popper propuseram alguma coisa parecida em seu
livro The Self and Its Brain/O Eu e seu Cérebro. Reconhecendo os atalhos das teorias
monistas, formularam uma versão do interacionismo entre a mente e o cérebro. Eccles
afirma: “a unidade experimentada [da consciência] não vem da síntese
neurofisiológica, mas do proposto caráter integrante da mente autoconsciente”.
Popper apresenta vários argumentos fortes para a natureza não-física da mente,
indicando que a autoconsciência é real e diretamente experimentada pelo Eu
consciente, mas inexplicável para nossos conceitos de matéria. Ele indica a dificuldade
de tentar atribuir comportamentos sofisticados, como ações elaboradamente propostas,
a forças intermoleculares, e explica como este comportamento pode ser facilmente
entendido em relação a uma mente dotada de propósito e desejos.
Embora envolvido com idéias duais relativas ao corpo e à mente, Popper e Eccles ainda
se apegam à noção de que a mente possui uma origem material, sugerindo que esta
emerge, de alguma forma, da matéria e então passa a interagir com ela. Mas como nós
observamos previamente, tal aparecimento, totalmente imprevisto, de uma mente não-
física distinta da matéria, levanta, pelo menos graves dificuldades –especialmente,
relativas à maneira como isto poderia acontecer. Poppe e Eccles não sabem.
O próprio Popper admite: “De um ponto de vista evolucionário eu percebo a mente
autoconsciente como um produto surgido a partir do cérebro. (…) Agora quero
enfatizar o quão é dito afirmando que a mente é um produto emergente do cérebro. Isto
não tem praticamente nenhum valor explicativo e dificilmente significa mais do que
colocar um ponto de interrogação em um certo ponto na evolução humana”(23).
Aqueles que advogam a emergência da consciência encontram-se na mesma posição
dos cosmólogos que propõe que o universo teria surgido do nada. Em cada um desses
casos algo qualitativamente novo e imprevisível simplesmente surgiu.
A grande maioria dos cientistas, entretanto, continuam a insistir que todos os
fenômenos mentais são funções do cérebro e nada mais. Uma das objeções mais
comuns à idéia de que a mente poderia ser fundamentalmente diferente do cérebro é
que se você altera o cérebro, a mente é também alterada. Foi observado que quando o
centro da fala é danificado, uma pessoa pode se tornar incapaz de falar, e que, pela
injeção de drogas no corpo é possível mudar o humor, alucinações podem ocorrer, etc.
A pessoas, entretanto, freqüentemente concluem que a mente deve se manifestar a
partir do cérebro, de outra forma os estados do cérebro não afetariam os estado
mentais.
Esta não é a única interpretação possível. Tal correlação pode decorrer do fato de que a
mente utiliza o cérebro para levar a cabo várias funções, de forma similar a um
operador utilizando um computador. Esta visão foi considerada pelo renomado
neurocirurgião Wilder Penfield, cujas extensivas investigações das funções do cérebro o
levam a concluir que “Em certo sentido, é a mente com seus mecanismos que programa
o cérebro”(24).
A mente pode se tornar aparentemente dependente do cérebro, da mesma forma que
um homem de negócios envolvido com um computador para fazer os cálculos relativos
ao inventário de seus produtos, também pode depender desse equipamento. Caso o
computador sofra algum tipo de dano, o executivo terá problemas em seu desempenho
e se uma seção importante da memória do computador for destruída ele pode se tornar
incapaz de rever seu estoque. Se o cérebro é um instrumento semelhante ao
computador, então, em casos de danos no cérebro ou distúrbios químicos, devemos
esperar danos na capacidade funcional da mente, mesmo pensando nela como
inteiramente separada do corpo.

Evidências Empíricas De Um Ser Consciente


Até agora analisarmos as desvantagens da concepção mecanicista da consciência e
citamos a história da questão corpo-mente. Em nossa discussão introduzimos o
conceito da interação da mente com o cérebro, de forma similar a um programador e
seu computador. Um cético pode perguntar se existe alguma evidência direta empírica
que suporte essa visão. Existe de fato, embora, como toda evidência empírica, seja
sujeita a interpretações variadas. Exemplos mostrando que a mente é independente do
cérebro material e do corpo são oferecidos pela pesquisa em experiências de quase-
morte (EQM) e memórias relacionadas à reencarnação.
EQM incluem experiências fora do corpo – nas quais as pessoas relatam observar seus
corpos físicos e eventos relacionados a eles, de uma perspectiva externa ao corpo
durante doenças severas ou traumas físicos que resultaram em inconsciência. Um caso
típico pode envolver uma pessoa que é ressuscitada após um ataque cardíaco e relata
que observava, de algum lugar fora do corpo, a equipe médica tentando ressuscitá-la.
Nestes casos, de acordo com opiniões médicas, o funcionamento normal do cérebro,
como indicado por certas ondas cerebrais, é dificultado e o paciente deve estar
inconsciente, já que, de fato, consciência é uma manifestação do cérebro.
Embora um percentual das pesquisas com EQM sejam pouco confiáveis, outros
trabalhos vêm sendo apresentados por indivíduos com credenciais científicas
impecáveis. Por exemplo, Dr. Michael B. Sabom, um cardiologista e professor da Emory
University Medical School, que era abertamente cético em relação a este fenômeno,
mas mudou de opinião após investigá-lo.
Ele montou um grupo controle de 25 pacientes cardíacos que haviam sobrevivido a
ataques do coração, mas que nunca tiveram uma experiência fora do corpo. Sabom
pediu que descrevessem suas ressuscitações. Destes, 20 erraram ao descrever uma
ressuscitação cárdio-pulmonar, três deram uma descrição limitada, mas correta e dois
declararam não saberem nada deste tipo de ressuscitação.
Um outro grupo fora formado, de 32 pacientes que relataram experiências fora do
corpo. Destes, 26 deram descrições visuais gerais de suas crises de EQM, seis
descreveram detalhes correspondentes aos registros médicos de suas ressuscitações
particulares e o relato de um homem fora “extremamente preciso em descrever a
aparência da técnica e a seqüência da ressuscitação cárdio-pulmonar”(25).
No grupo de controle, nem uma pessoa forneceu um relato detalhado dos
procedimentos médicos envolvidos nas ressuscitações, ao contrário, no grupo com
experiência fora do corpo, seis puderam fazer isso, mesmo pensando que eles estavam
inconscientes durante estes procedimentos. Esses e outros estudos levaram Sabom a
aceitar as EQM dos pacientes como reais. Alguns médicos que duvidam da realidade
dessas experiências sugerem que talvez os pacientes estivessem semiconscientes e
dessa forma seriam capazes de recuperar suas experiências. Mas Sabom notou que
enquanto pacientes ocasionais poderiam se manter semiconscientes durante a cirurgia,
seus relatos carecem de consciência visual e tendem a serem qualitativamente
pesadelos, em contraste com a alta qualidade em termos visuais e de clareza das EQM.
Outros propõem a possibilidade de que as EQM são produto de um contexto particular
cultural e religioso que de algum forma induz o paciente a imaginar um dessas
experiências. Examinando essa possibilidade, Sabon entrevistou numerosos pacientes e
descobriu que essas experiências ocorriam em 40% dos aleatoriamente entrevistados
que sobreviveram de situações de quase-morte, sem nenhuma correlação com idade,
sexo, raça, área de residência, tamanho da comunidade, anos de educação, ocupação,
criação religiosa, freqüência a igreja ou conhecimento prévio de EQM.
O Dr. Russel Noyes e o Dr. Richard Blacher sugeriram que as EQM são reações
psicológicas do indivíduo à percepção da morte iminente, uma tentativa do ego de se
autopreservar buscando refúgio num vôo da fantasia. Sabom mostra, entretanto, que as
EQM vêm sendo reportadas em casos que não antecipam crises relacionadas à
proximidade da morte. Por exemplo, um homem descreveu: “Estava cruzando o
estacionamento até o meu carro… desmaiei. Não lembro de cair no chão. A próxima
coisa que me lembro é que estava acima dos carros, flutuando. Sentia uma sensação
engraçada de flutuar. Estava realmente olhando para baixo, para meu próprio corpo,
com quarto ou cinco homens correndo em minha direção. Eu podia ouvir e entender o
que estes homens diziam” (26).
Baseado em sua extensa pesquisa e através da análise de várias explicações alternativas,
Sabom chegou as seguintes conclusões sobre a questão corpo-mente: “Se o cérebro
humano é realmente composto de dois elementos fundamentais – a mente e o corpo –
então as crises relacionadas à proximidade da morte poderiam desencadear de alguma
forma uma separação temporária entre mente e corpo em alguns indivíduos?... Minhas
próprias crenças nesta questão inclinam-se nesta direção. A hipótese ‘fora do corpo’
simplesmente parece se adequar melhor aos dados à mão. ....Poderia a mente, que se
separa do cérebro, ser, em essência, a alma, a qual continua a existir após a morte do
corpo de acordo com algumas doutrinas religiosas? Como vejo, esta é a questão
definitiva que surge através das pesquisas em EQM”.(27)
Relatos de memórias de vidas passadas vêm sendo freqüentemente atormentados por
fraudes e versões imprecisas, mas ao mesmo tempo, vêm sendo desenvolvidos estudos
rigorosos e não tendenciosos por pesquisadores sérios. Um desses investigadores é Ian
Stevenson, professor de psiquiatria na University of Virginia. Stevenson investigou
extensivamente as memórias espontâneas de reencarnação, contadas por crianças. Em
alguns casos ele pôde corroborar o que a criança estava alegando ao investigar detalhes
do lugar e das pessoas descritas, incluindo a pessoa morta que alegavam ser. Stevenson
reuniu numerosos relatos e os verificou, sempre tomando grande cuidado em
identificar falsificações.
Um exemplo é o caso de Sukla, a filha de um ferroviário Bengali (Índia). Quando ela era
bem nova teria segurado um travesseiro em seus braços como se segura uma boneca e
chamou-o pelo nome de Minu. Ela se comportava como se Minu fosse sua filha e
também falava do pai de Minu e seus dois irmãos. De acordo com Sukla todos viviam
em Bhatpara e ela insistia seus parentes a levá-la nesta localidade. O pai de Sukla
investigou o assunto e descobriu que em Bhatpara viveu uma mulher chamada Mana
que havia morrido alguns anos atrás deixando um bebê chamado Minu. O pai de Sukla
convenceu-se que sua filha havia vivido antes como Mana. Quando Sukla levou sua
família a Bhatpara, ela os conduziu até a casa onde Mana viveu. Então, de um grupo de
trinta estranhos, ela identificou o marido de Mana, sua sogra, cunhado e a menina
Minu. Estes detalhes e muitos outros foram extensivamente pesquisados e
confirmados.(28)
Stevenson é cético no que diz respeito à técnica de regressão hipnótica, reconhecendo
que o material não pode ser adequadamente confirmado e que a mente tende a fabricar
ilusões, especialmente sob hipnose. Portanto ele geralmente não aceita declarações
feitas sob hipnose como evidência. Em alguns casos, todavia, as declarações podem ser
pesquisadas e verificadas como no caso que ele intitulou: “Um caso de vocabulário
estrangeiro”. Neste caso, uma mulher americana, vivendo na Filadélfia foi regredida
por hipnose e manifestou a personalidade de um camponês sueco. Ela falou
fluentemente apesar de não ter contato prévio com suecos em sua vida. Suecos
confirmaram que sua pronúncia era fluente, mesmo algumas vogais e sons suecos
sendo extremante difíceis para serem pronunciados por americanos. (29)
O estudo de Stevenson fornece evidências convincentes de que a consciência pode
viajar de um corpo físico a outro. Claramente, quando um corpo morre, o conteúdo de
seu cérebro é destruído e não há processo físico pelo qual este possa influenciar o
conteúdo de outro cérebro. A interpretação mais simples é que o ser consciente deve ser
uma entidade distinta do cérebro.

Uma Descrição Da Consciência Não-Mecanicista


Neste ponto nós gostaríamos de introduzir uma solução alternativa para o problema
mente-corpo. Melhor do que se agarrar a modelos inadequados e restritivos, de acordo
com visões mecanicistas, nós propomos uma mudança. Vamos examinar um novo
paradigma baseado na visão não-mecanicista da consciência com apresentado no
*Bhagavad-gita, uma rica fonte de informação sobre a questão mente-corpo a partir da
antiga tradição védica da Índia. É uma visão ao mesmo tempo simples, compreensiva e
logicamente consistente. Em nossa revisão anterior da teoria do pan-psiquismo, foi
apresentado o conceito de átomos individuais possuindo um minúsculo grau de
consciência. Notamos as muitas dificuldades que acompanham esta teoria em
particular. Mas e se existisse um átomo especial que seria cônscio do corpo inteiro? O
*Bhagavad-gita afirma que uma entidade distinta está presente no corpo, o Ser
consciente, e o indica como um átomo irredutível e individual de consciência. O Ser
consciente é superior ao cérebro e suas funções. Não é uma entidade hipotética. A
existência e natureza do Ser consciente podem ser investigadas através de experiências
diretas e reproduzíveis, as quais podem ser alcançadas pelo praticante através de
técnicas de yoga. O Ser consciente pode ser associado com vários corpos materiais,
humanos ou não humanos e pode transmigrar não apenas dentro de uma espécie, mas
entre espécies. É também capaz de funcionar separado de qualquer corpo material.
Suas características primárias são não-físicas, isto é, não podem ser adequadamente
descritas em termos quantitativos, mas este Ser consciente ainda ocupa uma posição
definida no espaço e age integrado a numerosas sensações, pensamentos e emoções em
um estado unificado de consciência. O Ser Consciente não interage com a matéria de
acordo com as leis da física conhecidas como a lei da gravidade ou as leis do
eletromagnetismo. Ao invés disso, obedece a um conjunto diferente de leis as quais
podem ser chamadas de leis psicológicas superiores. Estas incluem a lei do karma. No
capítulo final iremos discutir as características do ser consciente em detalhes.

Inspiração e Mozart
O mecanismo que conecta o Ser consciente e a matéria forma uma das maiores pedras
no caminho na teoria dual de Descartes. Esta dificuldade é superada pela idéia
da Superalma, a qual, de acordo com o Bhagavad-gita funciona como interface entre o
Ser consciente e o cérebro. A Superalma é também entendida como a fonte da
memória, do conhecimento e do esquecimento.
Evidências da existência da Superalma podem ser encontradas na experiência da
inspiração, na qual idéias extremamente difíceis de serem concebidas por esforços
mentais normais, emergem na mente de alguém, já completamente prontas, como se
viessem de uma fonte externa.
A inspiração possui um papel central na solução de problemas difíceis e em todos os
esforços criativos. Do campo da música, daremos um forte exemplo no qual idéias de
composições musicais apareceram completamente prontas na mente sem aparente
esforço consciente.
Mozart uma vez descreveu como criava seus trabalhos: “quando me sinto bem e de bom
humor ou quando estou passeando… multidões de pensamentos vêm à mente tão fácil
como se poderia querer. De onde e como eles vêm? Eu não sei e não tenho nada com
isso. Quando tenho um tema, outra melodia surge, conectando-se à primeira, de acordo
com as necessidades da composição. Isto não acontece sucessivamente, com suas várias
partes trabalhadas em detalhe, como serão posteriormente, mas é em sua integridade
que minha imaginação me permite ouvi-las”(30).
A inspiração possui também um papel central na solução de problemas difíceis na
ciência e na matemática. Geralmente investigadores podem com sucesso abordar
problemas de rotina apenas pelo esforço mental. Avanços significativos na ciência
envolvem geralmente inspirações súbitas, que ocorrem muitas vezes inesperadamente
após uma pausa depois de um longo período de intenso e frustrado esforço mental.
Um exemplo típico é a experiência do matemático Karl Gauss. Após tentar sem sucesso
por anos, provar um certo teorema sobre números inteiros, Gauss subitamente
percebeu a solução. Ele descreveu sua experiência: “Finalmente dois dias atrás tive
sucesso (...) Como um súbito lampejo, o enigma se resolveu. Eu mesmo não posso dizer
qual o fio condutor que uniu o que eu previamente conhecia com o que fez meu sucesso
possível” (31).
Destes incidentes descobrimos que o fenômeno da inspiração tem duas características
importantes. Primeiro, sua origem encontra-se além da percepção consciente do
sujeito; segundo ela provê informações não alcançadas através do esforço consciente. O
famoso matemático francês Henri Poincare após profunda consideração sobre este
fenômeno da inspiração em seu próprio trabalho, acabou contemplando uma idéia
remanescente da noção de Superalma. Poincare chamou isso de Eu subliminal e assim
o descreveu: “[Isto] não é de forma alguma inferior ao ser consciente, não é puramente
automático, é capaz de discernir, tem tato, delicadeza, sabe como escolher, como
prever. O que posso dizer? Este Eu é capaz de ter sucesso onde o Ser consciente falhou.
Em miúdos, o ser subliminal não seria superior ao Ser consciente?” (32).
Após se aproximar dessa idéia, Poincare se afasta dela, dizendo: “eu confesso que de
minha parte, deveria odiar isto” (33). Ele então apresenta uma explicação mecânica de
como o Eu subliminal, visto como uma máquina pode dar conta do fenômeno da
inspiração. Poincare propôs que o “Eu subliminal” deve juntar mecanicamente muitas
combinações de símbolos matemáticos aleatoriamente até encontrar uma combinação
que satisfaça o desejo da mente consciente para um dado tipo de resultado matemático.
Todavia Poincare saiba bem que o número de combinações envolvidas numa tentativa
de solução de problemas pode facilmente exceder o número de operações que se espera
que o cérebro possa executar num curto período de tempo. Além disso, o mecanismo
proposto por ele não contempla elementos qualitativos que surgem, como, por
exemplo, nas composições de Mozart – elementos que aparecem como um presente
inesperado que não são soluções óbvias para nenhum problema.
Já que sabemos tão pouco sobre o cérebro, não é possível, é claro, excluir
completamente a possibilidade de que a inspiração possa ser produzida por algum
mecanismo cerebral – um mecanismo cuja origem ainda deve ser explicada. Entretanto
também não é possível provar que a inspiração de fato se origina de um tal mecanismo
e, por tanto, a possibilidade de que um superconsciência todo-penetrante possa ser
responsável não deve ser rejeitada precipitadamente.
Se prosseguirmos nessa idéia, iremos perceber que isso esclarece até mesmo as
atividades em nossa vida diária. Enquanto a maioria dos casos de inspiração lida com
habilidades mentais fora do comum, a natureza superior do elo que conecta o Ser e a
matéria pode também ser apreciada nestas atividades diárias. Quando desejamos
executar ações físicas, nós geralmente percebemos que o corpo reage
instantaneamente. Não temos um claro entendimento de como nossa vontade faz esses
atos serem executados. Eles simplesmente parecem ocorrer automaticamente, e então
nós os assumimos como algo dado e dizemos “estou fazendo isto”. Mas uma análise
detalhada revela que muitas dessas ações parecem estar acontecendo sob um outro
controle, que não é o nosso.
No dia-a-dia constantemente tomamos decisões baseadas no poder de nossa
inteligência. Mas o que é inteligência? Semelhante à inspiração, a inteligência direciona
o indivíduo como uma autoridade superior; o ser vivo não pode agir sem o uso da
inteligência. Se alguém falha em aproveitar sua inteligência e age sem consultá-la,
torna-se uma pessoa perturbada e fora do mundo. Dessa forma, o ser humano é
dependente da direção superior da inteligência a qual o guia como um pai direciona seu
filho. De acordo com o Bhagavad-gita, esta fonte superior de inspiração e inteligência,
a qual está presente e reside dentro de cada ser individual é conhecida como
a Superalma, a consciência universal. A Superalma é sempre distinta e superior da
alma individual, é o elo entre o ser consciente e o cérebro. Sem contactar diretamente o
ser consciente, a Superalma percebe seus desejos (como detectamos a fragrância de
uma flor sem tocá-la) e os traduz em ações. Essa coordenação entre desejos conscientes
sutis e ações materiais ocorre dentro da estrutura das leis naturais superiores,
conhecidas coletivamente como Lei do Karma. A Superalma agindo livremente de
acordo com essas leis, as quais representam Suas próprias convenções, gera ações no
mundo da matéria. Quando os cientistas observam essas ações eles podem parecer
seguir as conhecidas leis da física. Mas se pudermos analisar estas ações
exaustivamente, veremos que a Superalma está acima das leis físicas as quais controla.
Até aqui seguimos o pensamento ocidental tradicional, considerando o Ser consciente e
a mente como sinônimos e os distinguimos do corpo. Agora, gostaria de brevemente
mencionar que no Bhagavad-gita, uma outra distinção é feita entre o Ser consciente e
a mente. De acordo com o Gita, a mente é composta por elementos materiais sutis que
são capazes de interagir com o cérebro. Nesta concepção, a mente é realmente parte do
corpo material, e pode, ser entendida de foram genérica como o corpo sutil.
O Bhagavad-gita explica que o Ser consciente é superior tanto ao corpo quanto à
mente porque possui uma natureza imperecível e imaterial. Quando dizemos que
a Superalma é o elo entre o Ser consciente e o corpo, o que realmente queremos dizer é
que a Superalma é o elo entre o Ser e seus corpos materiais (sutil e grosseiro). A
interação entre a Superalma e o Ser é, sem dúvida, difícil de avaliar
experimentalmente, mas as duas são tão intimamente ligadas que há pleno potencial
em todas as pessoas para percepção direta da Superalma. Este potencial pode ser
positivamente desenvolvido através do processo de yoga, o qual será apresentado em
maiores detalhes em outro artigo.
BIOLOGIA: A Vida a Partir da Matéria. Fato ou Fantasia?
No época de Darwin, cientistas acreditavam que a célula parecia não mais do que uma
simples bolsa de elementos químicos. Portanto, pareceu razoável a cientistas como
Darwin imaginar que formas de vida elementares poderiam ter surgido a partir da
combinação aleatória de compostos orgânicos em uma sopa primordial. Mas como o
homem passou a investigar os mistérios da célula viva, a idéia de que a vida viria de
elementos químicos começou a aparecer menos razoável como explicação da origem da
vida.

A Vida a Partir Da Matéria


A Vida a Partir Da Matéria
Fato ou Fantasia?

Pouco mais de um século atrás a ciência começou a cogitar noções de que a vida teria
surgido a partir de elementos químicos inertes. Através dos microscópios daquele
tempo, a célula parecia não mais do que uma simples bolsa de elementos químicos.
Portanto, pareceu razoável a cientistas como Darwin imaginar que formas de vida
elementares poderiam ter surgido a partir da combinação aleatória de compostos
orgânicos em uma sopa primordial. Mas como o homem passou a investigar os
mistérios da célula viva, a idéia de que a vida viria de elementos químicos começou a
aparecer menos razoável. Mas muitos cientistas ainda hoje se agarram ao dogma da
evolução a partir de compostos químicos.
À medida que o tempo passava, a exploração microscópica gradualmente revelou
fenômenos cada vez mais complexos dentro das pequenas células, como a precisa
regulação do metabolismo celular pelos ácidos nucléicos (DNA e RNA), a qual envolve a
interação sofisticada de milhares de tipos de moléculas de proteínas elaboradamente
estruturadas. Não é fácil imaginar como isso poderia ter ocorrido pela combinação
aleatória de elementos químicos.
Descrevendo a notadamente intrincada bioquímica da célula, James D. Watson, co-
descobridor da estrutura do DNA, escreveu em seu livro Molecular Biology of The
Gene (Biologia Molecular do Gene): “Nós devemos imediatamente admitir que a
estrutura da célula não será nunca entendida da mesma forma que as moléculas da
água ou da glicose. Não apenas permanecerão sem solução a estrutura exata da maioria
das macromoléculas dentro da célula, mas também suas localizações relativas podem
ser apenas vagamente conhecidas. Não é então surpresa que muitos químicos, após
breves períodos de entusiasmo no estudo da ‘vida’, silenciosamente retornam para o
mundo da química pura”1.
Apesar da sempre crescente consciência da complexidade estrutural e comportamental
dos sistemas vivos, mesmo dos mais simples, muitos cientistas continuam a teorizar
que a vida emergiu de uma sopa química primordial, sem direção de nenhum princípio
organizador. Eles imaginam que no decorrer de junções químicas aleatórias, moléculas
simples se combinaram transformando-se em compostos orgânicos complexos, os
quais eventualmente se integraram e se transformaram em organismos auto-
reprodutivos. Este cenário vem sendo apresentado como a indiscutível verdade sobre a
origem da vida em toda a aula de ciência ao redor do mundo – em escolas primárias,
secundárias, faculdades e universidades. O rádio, televisão e as publicações de
divulgação científica reforçam essas mensagens.
Para alguns, falar sobre como a vida se originou ou não a partir da matéria pode
parecer distante das atribulações cotidianas e irrelevante para nossas próprias vidas.
Independentemente das discussões envolverem idéias altamente prováveis baseadas
em evidências sólidas ou vagas, hipóteses insubstanciadas, baseadas em dados fracos e
criados por preconceitos científicos, são material para doutores em torres de marfim.
Mas porque as respostas a questões fundamentais sobre a origem da vida determinam
como nós vemos a nós mesmos e nosso lugar no universo, elas afetam profundamente
nosso senso de identidade, nossas decisões, nossos sentimentos, relacionamentos,
nosso comportamento – de fato, elas afetam todos os aspectos de nossa vida, incluindo
os objetivos de nossa sociedade secular.
Antes de ver as explicações oferecidas pelas teorias mecanicistas sobre a origem da vida
e da consciência, nós devemos primeiro considerar três exemplos do que acontece
dentro da célula viva, ajudando, desse modo, a apreciar a incrível complexidade que
existe até mesmo nos organismos mais simples.
Ao contemplar estes exemplos é crucial lembrar que de acordo com o entendimento dos
químicos modernos, as moléculas envolvidas são meramente unidades
submicroscópicas da matéria. As várias formas em que elas se combinam pode levar a
suposição de que potências místicas estariam envolvidas na sua auto-organização.
Cientistas, porém, são rápidos para rejeitar essa idéia, insistindo que moléculas não
fazem mais do que agir segundo as leis da física. Mas ainda deve ser explicado
exatamente de que forma, moléculas agindo de acordo com leis mecanicistas
relativamente simples, podem se combinar para produzir células inconcebivelmente
complicadas. Uma questão mais difícil de ser respondida é ainda como estas células
puderam evoluir de acordo com as mesmas leis para produzir organismos altamente
complexos. Então, apesar da rígida aderência da comunidade científica à corrente
explicação mecanicista da evolução química, ainda seria apropriado considerar a
possibilidade de que outros fatores podem estar envolvidos nesta evolução – talvez um
princípio organizador auto-inteligente.
Nosso primeiro exemplo refere-se à parede protetora das células, que é manufaturada a
partir de várias moléculas sintetizadas dentro da célula. Para construir essa parede, a
célula inicialmente forma blocos moleculares de construção a partir de simples
compostos, por processos que envolvem muitas operações sofisticadas. Uma vez que
esses blocos são reunidos a célula os organiza em precisos entrelaçados horizontais e
verticais que formam a parede celular. Este processo lembra um complexo sistema de
produção fabril, onde máquinas especificamente desenhadas, primeiro constroem os
componentes a partir da matéria bruta e depois os organizam num produto pronto e
funcional.
Um segundo exemplo sobre a complexidade interna da célula é a formação de um ácido
graxo, ácido palmítico, a partir de 14 subunidades moleculares. Ácidos graxos são as
moléculas-chefe para estocagem de energia nas células. Para manufaturar o ácido
palmítico, a célula cria uma elaborada máquina molecular a partir de moléculas de
proteína. No centro da “máquina” há um braço, também feito por moléculas, que se
move por seis “locais de trabalho”. Cada vez que o braço gira, duas subunidades
moleculares do ácido graxo são adicionadas pela ação de enzimas (enzimas são
moléculas de proteínas altamente complexas que auxiliam nas reações químicas no
interior da célula). Após sete rotações, as 14 unidades necessárias estarão presentes e o
ácido graxo será liberado.
Para esta máquina giratória funcionar, todas as seis enzimas diferentes devem estar
presentes na ordem certa, e o braço molecular deve estar montado corretamente. Em
geral, uma máquina complexa é operável apenas se todas as partes vitais estão
presentes e funcionando. Por exemplo, seria difícil imaginar um automóvel
funcionando sem uma bomba de combustível. É difícil imaginar, então, como a
máquina molecular descrita acima foi formada através deste tipo de evolução passo a
passo.
Nosso terceiro exemplo, a ação da enzima DNA-Girase na reprodução celular, ilustra,
graficamente os sérios problemas que a teoria mecanicista enfrenta na tentativa de
explicar as origens das ações complexas dentro das células. Em uma bactéria como E.
coli, a molécula de DNA possui a forma de um laço com uma dupla hélice entrelaçada, a
qual se separa em duas hélices durante a reprodução celular. À medida que a porção da
hélice se desenrola, a porção inferior naturalmente se enrola intensamente. Desde que
o DNA é na verdade dobrado centenas de vezes para caber na célula, o enroscamento
acentuado causa, invariavelmente, um emaranhado de fios. Este emaranhado proibiria
a reprodução, todavia a célula ativa uma enzima, DNA-Girase, a qual desembaraça os
nós dos fios. A Girase reorganiza os fios como se segue: primeiro, corta um dos fios
sobrepostos, depois puxa os outros fios pela abertura e finalmente junta as pontas do
fio cortado. Por esta operação altamente sofisticada, esta enzima separa as linhas de
cromossomos.
A questão para os bioquímicos é a seguinte: como esta enzima poderia ter se originado?
Ela é uma estrutura muito complicada para surgir de um só golpe pela combinação
aleatória de moléculas na sopa primordial. Os cientistas devem sugerir que ela sofreu
um processo de evolução gradual, passo a passo. Mas aqui vem a surpresa – sem a DNA
Girase, não haveria reprodução celular e sem reprodução celular, não há processo
evolucionário para produzir a Girase. A origem dessa enzima permanece como um dos
grandes mistérios da evolução celular.
Os três exemplos mencionados acima indicam as intrincadas estruturas e operações da
célula. Ninguém possui qualquer experiência de uma máquina que se desenvolveu sem
um projeto e especificações, portanto é razoável considerar a possibilidade de que estes
arranjos complexos decorram de um projeto pré-concebido. Infelizmente, as
conclusões do senso comum não possuem um lugar nas teorias dominantes sobre a
evolução da vida. Os proponentes da evolução química se esforçam para criar
explicações alternativas que dizem respeito apenas ao acaso e a leis impessoais da
física.
O cenário mais comum apresentado pelas teorias da evolução química começam 4
bilhões de anos atrás, quando acredita-se que nuvens de gases e poeira foram
condensadas na antiga superfície da Terra e gradualmente formaram a atmosfera
inicial. Ativada pela luz ultravioleta e descargas elétricas, este atmosfera primitiva teria
supostamente sido o berço para os compostos químicos orgânicos, os quais, por cerca
de 1,5 bilhões de anos se acumularam em antigos mares. Estes compostos orgânicos
interagiram quimicamente e eventualmente formaram polipeptídios primitivos
(proteínas), polinucleotídeos (DNA e RNA), polissacarídeos (células de açúcar) e
lipídios (ácidos graxos). Um texto acadêmico padrão fornece o passo final: “deste rico
caldo de moléculas orgânicas e polímeros, a sopa primordial orgânica, acredita-se que
os primeiros organismos vivos teriam se formado”2.
Inquestionavelmente, uma descrição provocativa e de certa forma poética – mas o
quanto esta grande especulação exemplifica, mesmo o escrutínio moderado? Nós já
discutimos a formidável complexidade mesmo dos sistemas vivos mais simples, então,
qualquer argumento de que forças naturais cegas originalmente organizaram moléculas
e as transformaram em sistemas de funcionamento elaborado, deve explicar os
princípios exatos, passo a passo. Isto não foi feito.
Bioquímicos podem citar a seleção natural – o processo pelo qual as variações de um
organismo, mais aptas a um ambiente particular, tendem a se reproduzir e sobreviver –
como explicação. Mas a seleção natural não pode ser proposta como um mecanismo
adequado para a origem do primeiro organismo vivo. A seleção não pode atuar até que
um sistema auto-replicante realmente exista, porque sem reprodução não existem
novas formas para a natureza selecionar. E a partir de um sistema auto-replicante
simples qualquer, não é suficiente que os cientistas balancem suas mãos e digam as
palavras mágicas “seleção natural”, com a intenção de explicar o aparecimento de
sistemas mais complexos. Eles devem ser capazes de especificar o que seria exatamente
selecionado e porquê. Sem ser capaz de fazê-lo, não possuem uma teoria para ser
testada e investigada, o que falar de uma demonstração final de veracidade da mesma?
Infelizmente, as teorias atuais não se aproximam disto. Começando com o trabalho de
Oparin em 1930, muitos cientistas fizeram sérias tentativas para explicar a origem da
vida a partir da sopa química primordial, mas nenhum foi bem sucedido. Sem exceção,
os modelos propostos são vagos, tentativos, incompletos e os resultados apenas
esboços. Vamos discutir algumas dessas tentativas. A questão central não resolvida é a
seguinte: como pode a matéria inerte, agindo de acordo com as simples leis da física,
criar a notável maquinaria molecular encontrada mesmo na célula mais simples? Como
Albert L. Lehninger afirma em seu livro, amplamente utilizado em faculdades, “no
centro do problema está o processo de auto-organização da matéria”. Até hoje,
cientistas têm falhado em demonstrar como isso poderia ter ocorrido sem a intervenção
de alguma força direcional maior ou inteligência.
Em especial, dois experimentos publicados foram recentemente desconstruídos como
parcialmente bem sucedidos na produção de vida, a partir de compostos químicos. Um
é o trabalho feito com aminoácidos por Stanley Miller, um professor de química na
Iniversidade da Califórnia, em San Diego, EUA. O outro é a experiência da
“protocélula”, de Sydney Fox, diretor do Institute for Molecular and Cellular Evolution
at the University of Miami, em Coral Gables, EUA.
Miller tentou reconstruir as condições que ela achava que existiram na “aurora da vida”
e que geraram as formas orgânicas primitivas a partir de elementos físicos. Em um
frasco ele colocou gases para formar a atmosfera antiga e passando uma faísca por esta
mistura, ele produziu uma substância marrom nas paredes do frasco. Esta substância
incluía aminoácidos, os constituintes das moléculas de proteína.
Ele anunciou isto como um avanço significante e impressionou muitas pessoas, dentro
e fora da comunidade acadêmica. Todavia seu experimento é realmente de pouca
significância, se é que possui alguma. Nós podemos esperar a formação de aminoácidos
no experimento de Miller porque esta técnica automaticamente produz praticamente
qualquer molécula orgânica simples que existe na natureza (a grande maioria é
venenosa para as formas de vida atuais). Solicitado a apresentar um prognóstico sobre
o resultado do experimento de Miller, Harold Urey, um químico da University of
California pôs todo o assunto em perspectiva quando respondeu: “Bielstein” (Bielstein é
o catálogo alemão para todos os compostos químicos orgânicos conhecidos). Além
disso, aminoácidos são moléculas relativamente simples, servindo apenas como blocos
de construção das moléculas muito mais complexas de proteína encontradas nas
células. Não é surpresa que uma técnica simples como a de Miller produziu resultados
químicos simples, mas ainda deve ser demonstrado que um processo simples como esse
produz componentes e mecanismos celulares complexos. É um passo em tanto ir de
tijolos desorganizados para uma casa.
O químico Sydney Fox, também tentou demonstrar como os compostos químicos
poderiam se transformar progressivamente em uma célula viva. Pelo aquecimento de
aminoácidos a 280 graus Fahrenheit e jogando-os na água, ele produziu pequenas
porções de proteína as quais ele com otimismo denominou “protocélulas”. As
protocélulas de Fox, entretanto, não eram tão impressionantes. Estruturalmente não
eram mais do que pequenos globos de geléia vazios e eram incapazes de metabolizar
moléculas do ambiente. Não apresentaram nenhum sinal de evolução mesmo em
formas um pouco mais complexas, para não falar em células. Acima de tudo isto, Fox
não tinha nenhuma sugestão razoável de como elas poderiam ter emergido de uma
sopa química pré-biótica (secar aminoácidos aquecidos a 280 graus na natureza requer
uma grande imaginação). Há muitos outros experimentos como este que produziram
resultados similares e deixaram as mesmas questões não respondidas.
O cientista alemão Manfred Eigen propôs uma explicação de como a matéria inerte
poderia ter feito a transição para células auto-reprodutivas. De acordo com Eigen,
vários tipos de moléculas de RNA poderiam ter se replicado individualmente na sopa
primordial. Dessa forma, o tipo A replicaria RNA de tipo A, e o tipo B replicaria mais
RNA de tipo B. Estes ciclos poderiam ter continuado independentemente. Mas, de
alguma forma, de acordo com Eigen, o RNA tipo A teria começado a produzir uma
enzima E-B que poderia catalisar a replicação do Rna tipo B. E também o RNA tipo B
poderia ter começado a produzir uma enzima E-A que poderia catalisar a replicação do
RNA tipo A. Com a produção dessas enzimas, o ciclo A-B-A-B-A-B poderia continuar.
Isto é chamado um hiperciclo e Eigen propôs que os hiperciclos poderiam se tornar
mais e mais complexos até alcançarem o nível de células vivas.
Existem, entretanto, alguns problemas com os hiperciclos. Primeiro, o modelo requer
um mecanismo para produzir proteínas complicadas (na forma de enzimas) a partir de
informação contida no RNA. Eigen não conseguiu sugerir um mecanismo deste tipo.
Além disso, não há certeza de que um hiperciclo iria evoluir. O proeminente biólogo
evolucionista John Maynard Smith criticou o modelo de Eigen, indicando que, a não
ser que o hiperciclo estivesse confinado a um compartimento como o de uma parede
celular, suas diferentes partes poderiam competir entre si. Isto tornaria impossível para
o hiperciclo como um todo evoluir por mutação e seleção natural. E, se a necessidade
por um compartimento é admitida, permanece o difícil problema de considerar o
aparato pelo qual poder-se-ia replicar durante a reprodução. Smith disse “claramente,
estes trabalhos [de Eigen e co-autores], levantam mais problemas que soluções”4.
Finalmente, hiperciclos são muito diferentes de células, as quais possuem um sistema
genético unificado e complicados mecanismos moleculares. Ir de um hiperciclo a uma
célula teria levado milhares de passos intermediários. Seria como ir de um relógio de
corda a uma máquina de combustão interna em pequenas mudanças. Cada mudança
deveria resultar num mecanismo superior e funcional – uma possibilidade que
atualmente desafia a imaginação. Neste apelo a seleção natural, Eigen não define
exatamente os passos que levariam destes hiperciclos às células vivas e, além disso, sua
explicação não acrescenta mais do que uma visão não-científica de “passe de mágica”.
Até aqui temos visto como as células funcionam de uma forma notadamente organizada
e como as teorias correntes que tentam descrever o desenvolvimento das células vivas a
partir de elementos químicos inertes carecem de valor explanatório. Neste ponto
podemos perguntar por que os cientistas persistem em suas tentativas de encontrar
explicações estritamente mecanicistas. Uma resposta é que eles se sentem
comprometidos com suas estratégias reducionistas atuais, que procuram explicar tudo
– de galáxias à bactérias – em termos da ação da matéria de acordo com leis as simples
e básicas da física. Rejeitando a possibilidade de qualquer outra abordagem para a
ciência, eles temem que ao se desviar, mesmo levemente de suas estratégias, poderia
levar ao fim da ciência como a conhecemos.
Sendo incapazes de apresentar mecanismos adequados para a formação da célula pelas
simples leis da física, muitos cientistas optaram pelo acaso como o fator causal último.
Existe, é claro, um problema fundamental com essa abordagem. Estritamente falando,
o termo acaso (chance no original inglês) refere-se apenas a presença de certos padrões
nas estatísticas, descrevendo as repetições de um evento. Isto não pode ser a “causa” de
nada (veja “O acaso e a Origem do Universo”). Dessa forma, para a probabilidade
matemática da vida surgir da matéria, existem algumas estimativas, facilmente
calculadas, da chance de um evento como este ocorrer durante o curso de 4,5 bilhões de
anos, a idade do planeta Terra apresentada pelos cientistas modernos.
Vamos começar olhando para o ingrediente básico de todos os organismos vivos – as
proteínas, as quais realizam muitas das funções vitais da célula. Proteínas são formadas
por um processo altamente complexo que pode ser comparado a uma linha de
produção fabril, onde matérias brutas são organizadas com ajuda de máquinas
especializadas. As elaboradas macromoléculas de proteína contém uma média de 300
moléculas de aminoácidos em cadeia e mesmo dentro da simples bactéria E.
coli existem aproximadamente 2.000 tipos diferentes de proteínas (em mamíferos este
número é pelo menos 800 vezes maior). A formação destas diferentes moléculas de
proteínas é controlada pelo material genético da célula. De acordo com o modelo
mecanicista, anterior ao desenvolvimento de um sistema auto-reprodutivo capaz de
efetuar as funções básicas da célula e de seu código genético, qualquer combinação de
aminoácidos transformando-se em proteínas seria necessariamente devido ao acaso.
Para determinar a probabilidade da interação aleatória que resultaria nas proteínas
necessária até mesmo para as células mais simples, o famoso astrônomo britânico Sir
Fred Hoyle e o matemático Chandra Wickramasinghe, da University College, em
Cardiff, País de Gales, calcularam da seguinte maneira5: como já mencionado, existem
2.000 proteínas diferentes necessárias para a bactéria unicelular E. coli e essas
proteínas possuem uma média de 300 unidades de aminoácidos em comprimento. A
função de uma proteína particular depende da seqüência destas 300 unidades de
aminoácidos, exatamente como o sentido de uma frase depende da ordem de suas
palavras. Já que existem 20 tipos de aminoácidos para serem escolhidos, a
probabilidade de se formar uma seqüência de proteína em particular é de 1 em 20
elevado a 300ª potência.
Cientistas têm argumentado que há alguma possibilidade para variação na seqüência
exata das 300 unidades de aminoácidos, sem prejudicar o correto funcionamento da
proteína. Todavia, Hoyle e Wickramasinghe generosamente ajustaram a probabilidade
1 em 20 elevado a 300ª potência, para 1 em 10 elevado a 20ª potência – uma tremenda
redução nas probabilidades. Então, já que uma simples célula requer 2.000 proteínas
diferentes para funcionar, eles combinaram estas duas situações (10 elevado a 20ª
potencia de 20 e 2.000) e chegaram a probabilidade matemática de 1 em 10 elevado a
40.000ª potência, de que esta interação aleatória poderia fornecer as moléculas
necessárias para construir mesmo o mais simples sistema auto-reprodutivo. Estas
probabilidades são tão inacreditavelmente grandes que ninguém pode esperar
razoavelmente que tal evento ocorra nos relativamente breves poucos milhões de anos
que os cientistas supõem para o fenômeno. É muito para o puro acaso.
Muitos cientistas não gostam do conceito de acaso, mas concluem, na medida que lhes
permite seu presente entendimento mecanicista, que a vida deve ter se originado por
um “evento ao acaso”, de probabilidade extremamente pequena. Um destes é o
ganhador do Nobel, Francis Crick, co-descobridor da estrutura do DNA, que afirmou:
“Um homem honesto, armado com todo o conhecimento disponível atualmente pode
apenas afirmar que, em certo sentido, a origem da vida parece no momento ser quase
um milagre, tantas são as condições que deveriam ser satisfeitas para isto ocorrer”6.
Estes cientistas esperavam, é claro, explicar a origem da vida com base em leis da
natureza mas como nós vimos, eles têm sido incapazes de fazer isso. Alguns destes
cientistas mudaram para hipóteses extremamente radicais (mas, é claro, não tão radical
como o conceito de um designer).
Por exemplo, o próprio Crick propôs que o código genético pôde ter sido trazido a Terra
por formas de vida inteligente de outro sistema planetário. Este conceito poderia
explicar a vida na Terra, mas ainda teríamos que explicar como a vida se desenvolveu
em todo lugar.
Então, apesar de um grande número de pessoas acreditar que a ciência possui
evidências substanciais para provar a idéia de que as primeiras entidades vivas foram
produzidas a partir da interação aleatória de compostos químicos num passado
distante da Terra, é claro que não existe teoria viável da origem química da vida. Além
disso, a teoria matemática das probabilidades não nos permite usar a explicação
conveniente, “isto aconteceu ao acaso”.
Portanto, porque não há nada sequer próximo a uma explicação mecanicista para o alto
conteúdo de informação dos sistemas vivos, nós propomos que organismos viventes
não podem ser explicados em termos mecanicistas. Em “O Mistério da Consciência”,
discutimos um aspecto da realidade irredutível e não-mecanicista, chamado
consciência. Agora nós temos outro aspecto irredutível da realidade que não pode ser
considerado pela ciência mecanicista – as formas complexas dos organismos vivos. Nós
propomos que uma inteligência superconsciente é responsável por ambos os
fenômenos. É a fonte original das entidades conscientes dentro dos organismos físicos e
que fornece a informação para o arranjo material nas estruturas biológicas que servem
como veículos para essas entidades conscientes. A natureza desta inteligência superior
será mais elaboradamente discutida no artigo “Ciência De Dimensão Superior”.

Referências:

1. James D. Watson, The Molecular Biology of the Gene. Menlo Park: W, A. Benjamin,


1977, p. 69.
2. Albert L. Lehninger, Biochemistry. New York: Worth Publishers, 1975, p. 1033.
3. Albert L. Lehninger, Biochemistry, p. 1055.
4. John Maynard Smith, "Hypercycles and the Origin of Life," Nature, vol. 280 (1979),
pp. 445-446.
5. Sir Fred Hoyle and Chandra Wickramasinghe, Evolution from Space. New York:
Simon and Schuster, 1981, pp. 23-27.
6. Francis Crick, Life Itself. New York: Simon and Schuster, 1981, p. 88.

TEORIA DA EVOLUÇÃO: Uma Nova Visão da Evolução


. Os evolucionistas não têm mostrado conclusivamente que um processo evolutivo,
guiado unicamente pelas leis físicas, acontece na verdade. Eles não têm nenhuma teoria
real, apenas especulações vagas apoiadas por argumentos imperfeitos.
Por outro lado, há evidência suficiente para sugerir que a idéia de um projetista
inteligente de organismos complexos não deveria ser rejeitada.

Uma Nova Visão da Evolução


Uma Nova Visão da Evolução
Será necessário algo mais que princípios físicos para justificar a origem das espécies
Hoje muitas pessoas aceitam a idéia indubitável de que o homem surgiu de espécies
inferiores pelo processo da evolução. Se a pessoa sugerir algo contrário, corre o risco de
ser rotulado de completamente ignorante acerca das verdades da vida na terra.

Darwin tem o crédito de ter sido o primeiro proponente de um mecanismo físico


plausível que explicaria a variedade das formas da vida que observamos no mundo em
nosso redor. Evolução, como ele a explicou, está baseada nos princípios binários de
variação e seleção natural. Quando os membros de uma espécie se reproduzem, ele
argumentou, há variação entre os representantes individuais das espécies. Alguns
destes são melhor equipados para sobreviver no seu ambiente particular, e portanto
suas qualidades são selecionadas e transmitidas para os seus descendentes. Com o
passar do tempo, estas alterações nos organismos são suficientes, de acordo com a
teoria da evolução, para resultar em alterações das espécies.
Desde a época de Darwin, o conceito de variação tem sofrido algumas alterações. Os
evolucionistas modernos acreditam que as mutações nos genes produzem as variações,
as quais as forças naturais selecionam para a sobrevivência. (Darwin não conhecia a
genética.) Os evolucionistas têm considerado vários tipos de variações genéticas —
mutação de ponto, recombinação genética, e desvio genético aleatório, por exemplo —
mas todas estas se encaixam na ampla classificação de variação aleatória. E, até hoje, o
único princípio aceito como dando direção ao processo evolutivo é a seleção natural.
Assim, os princípios básicos de Darwin de variação aleatória e seleção natural ainda são
os fundamentos do pensamento evolucionista.
Os evolucionistas de hoje ainda concordariam com as seguintes declarações de Darwin:
“Não vejo qualquer dificuldade em uma raça de ursos sendo transformada, através da
seleção natural, em cada vez mais aquática em seus hábitos, com bocas cada vez
maiores, até que uma criatura se torne tão monstruosa quanto uma baleia.” E, ”qual é a
dificuldade especial para se acreditar nos descendentes modificados do pingüim, os
primeiros a serem capazes de se agitar ao longo da superfície do mar como o pato
madeireiro-encabeçado, e no final subir até à sua superfície e planar no ar?”
Pode parecer razoável a alguns — que ao longo de milhões de anos, ursos se
transformem em baleias. Mas foi isto o que de fato aconteceu? E até mesmo mais
importante, há qualquer real razão científica para supor que pudesse acontecer deste
modo, mesmo teoricamente? Uma revisão objetiva dos fatos sugere a alguns
observadores que a resposta a ambas as perguntas definitivamente é não. Neste
momento, como mostraremos, não há nenhuma fundamentação válida para se insistir
que a evolução é a única possível explicação para a variedade de formas vivas que
vemos hoje.
Muitas pessoas pensam que a única alternativa para a evolução darwiniana seria
alguma forma de criação bíblica. Entretanto, há muitas alternativas, inclusive conceitos
de uma engenhosa inteligência universal diferente daquela apresentada pelos cristãos
fundamentalistas e conceitos de evolução diferentes daqueles propostos por Darwin.
Não obstante, a grande maioria dos cientistas põe-se a postos para defender a evolução
contra qualquer conceito alternativo. Eles propagam amplamente o slogan “a evolução
não é uma teoria, mas um fato”. Esta declaração insinua que eles ultrapassaram o nível
de teoria, quando na realidade eles não alcançaram sequer o nível de teoria genuína em
sua discussão sobre a evolução. Realmente, a teoria da evolução, como até o momento
se coloca, não explica de fato — no rigoroso sentido científico da palavra explicação —
como uma espécie se transforma em outra.
Quando os cientistas falam de evolução, eles querem dizer que todas as espécies que
vemos ao nosso redor hoje em dia vieram geração após geração a partir de um
organismo unicelular primordial. Todas as variações nas diferentes formas de vida
ocorreram supostamente através de processos evolutivos governados pelas leis físicas,
tais como elas se aplicam na biologia e na química. Portanto, a evolução darwiniana se
baseia na todo-abrangente estratégia básica da ciência moderna: reducionismo
material. Neste caso, a vida é reduzida à química, e a química, por sua vez, é reduzida à
física. Estas leis naturais são julgadas suficientes para explicar a evolução, e se diz que
toda evidência disponível confirma que a evolução acontece na realidade como descrito
acima. Isto exclui um plano inteligente de qualquer tipo.
Nas suas apresentações para o público, os evolucionistas são rápidos em se protegerem
com o manto da razão e objetividade científicas. Eles reivindicam estar apenas
examinando os fatos como eles se apresentam, e se os fatos indicarem conclusões
diferentes daquelas que eles atualmente defendem, eles afirmam estar bastante
preparados para alterar suas teorias. Entretanto, eles se recusam a assim proceder
porque eles vêem evidência “esmagadora” ao seu favor. Como o paleontólogo Niles
Eldredge, um principal porta-voz do pensamento evolutivo diz, a “evolução é um fato
tanto quanto a idéia de que a terra tem a forma de uma bola”. Contudo, vejamos se a
evidência é realmente tão “esmagadora” assim de que a evolução é um fato da mesma
forma que a terra é redonda é um fato.
Nestes nossos dias é razoável se dizer que muitas pessoas que são financeiramente
abastadas estão em uma posição capaz de obter evidência direta do fato de que a terra é
redonda. Você pode ir até seu agente de viagens local, comprar uma passagem aérea em
volta do mundo, e ver o que acontece. Digamos que você comece em Los Angeles e voe
para o oeste pelo Pacífico, continuando pela Ásia e Europa. Eventualmente, você
chegará à costa oriental da América do Norte, e em cinco ou seis horas você chega de
volta a Los Angeles. Com esta experiência, não é desarrazoado para você concluir que a
terra é um globo. Similarmente, munido com a idéia de que a terra é um globo, você
pode explicar totalmente várias coisas — porque o sol nasce em tempos diferentes a
longitudes diferentes, a progressão das estações, e assim sucessivamente. Estas
predições não são vagas. Você pode calcular o momento exato do amanhecer e do pôr-
do-sol em pontos distintos do globo com meses e anos de antecedência.
Tal verificação direta não existe no caso da evolução. Claro que, se você tivesse algum
tipo de máquina do tempo pela qual pudesse voltar centenas de milhões de anos e
então fosse capaz de fotografar um certo tipo de réptil chamado therapsids, e assim
com as fotografias dos intervalos de tempo, acompanhasse como eles se transformaram
gradualmente em mamíferos, primatas, e finalmente em homem, então isso seria uma
sólida evidência da evolução. Ou então se você pudesse olhar para um animal hoje e
fosse capaz de predizer como ele provavelmente iria evoluir daqui a um milhão de anos,
e assim o acompanhasse no futuro em sua máquina do tempo e localizasse o
desenvolvimento das espécies para ver se corresponderia às predições evolutivas seria
alguma evidência significativa.
Claro que, depois de ver tantas figuras coloridas acerca da evolução em livros didáticos,
muitas pessoas podem pensar que os cientistas disponham de tais máquinas do tempo.
Na verdade, a evidência física do passado é bastante fragmentária, e, portanto, os
cientistas confiam principalmente em especulação teórica. Assim, na ausência de
confirmação sólida, deveríamos permanecer abertos para examinar várias teorias
diferentes. Neste momento, a evolução não tem uma reivindicação exclusiva de ser a
única explicação da variedade das espécies.
Não só há uma falta surpreendente de evidências derivadas da observação que
confirmem a teoria da evolução, mas a própria teoria não está solidamente formulada o
suficiente para garantir qualquer tentativa de confirmação. Uma característica
principal de uma teoria científica válida é que ela oferece predições precisas; assim, da
base teórica da evolução, a pessoa deveria poder deduzir certas coisas sobre o mundo
observável. O que predizem os evolucionistas? O proeminente evolucionista Niles
Eldredge, tentando responder este desafio, propôs duas previsões: deve haver uma
hierarquia de formas biológicas e uma seqüência de fósseis organizada em uma ordem
ascendente de desenvolvimento nos estratos da terra.
É compreensível que os evolucionistas gostariam que sua teoria fosse capaz de prever
hierarquias de formas, porque todos nós sabemos que elas existem. No entanto, uma
hipótese que envolve planejamento prediria a mesma coisa. Por exemplo, quando se
cria uma composição, o autor começa freqüentemente escrevendo um esboço das idéias
organizadas em ordem hierárquica. Hierarquias são um produto natural da mente. Nos
veículos projetados por engenheiros, podemos ver também uma hierarquia de formas
mecânicas: automóveis de vários tipos, caminhões, tanques, barcos, submarinos,
aviões, etc. Todavia estaríamos incorrendo em erro supor que elas evoluíram uma da
outra. Embora as máquinas possam ser organizadas em hierarquias, elas são todas
separadamente projetadas e fabricadas. Portanto, hierarquias de forma não são uma
prova de que a forma evoluiu de outra através de processos físicos de reprodução. Elas
bem poderiam da mesma maneira ser aceitas como prova de uma inteligência criadora.
Os evolucionistas também predizem uma seqüência de fósseis. Entretanto, a teoria
deles realmente prediz (com antecedência) a sucessão real, ou somente vem depois do
fato? Imagine um evolucionista hipotético de outro planeta que chegasse à terra
durante o período pré-cambriano, um tempo, se supõe, quando só algumas algas e
bactérias primordiais existiam. Ele poderia ter predito com antecedência que a variação
e a seleção natural iriam produzir aranhas e ostras? Por que não só mais e melhores
algas e bactérias? A teoria da evolução não pode oferecer nenhuma razão para o fato de
que, se a vida começou com uma única célula, agora temos elefantes e mosquitos. Os
cientistas só podem apontar as espécies que existem agora e reivindicar que elas
evoluíram. Eles não podem predizer qualquer organismo específico ou classe de
organismos. Eles poderiam dizer que sua teoria apóia uma larga tendência dos
organismos simples evoluírem para os mais complexos, mas esta reivindicação é
excessivamente vaga e não exclui outras possíveis explicações.
Não obstante, em todas suas obras escritas e discursos, os evolucionistas insistem que a
evolução aconteceu e que o fez tão-somente através de leis físicas naturais. Eles pensam
que admitir outras causas — como uma inteligência criadora — é anticientífico. Mas as
explicações que eles propõem em termos das leis naturais são anticientíficas porque
ninguém ainda construiu modelos que mostrem até mesmo aproximadamente as fases
da evolução progressiva dos organismos. Eles descobriram que os corpos físicos são
máquinas moleculares complexas e dizem que estas máquinas moleculares complexas
se desenvolvem através da modificação progressiva de outras máquinas moleculares
complexas. Então, eles deveriam poder fornecer a exibição de modelos de como as
transformações acontecem, em detalhes.
De que modo, por exemplo, certas enguias desenvolveram a capacidade de liberar
poderosos choques elétricos? Uma mera onda da mão não bastará — modelos
detalhados das alterações passo-a-passo deveriam ser fornecidos. Sem tais modelos, a
teoria da evolução permanece uma idéia vaga fora do reino da verdadeira ciência. Se os
evolucionistas dizem que esta é uma tarefa muito grande, então eles deveriam
abandonar sua reivindicação de que sabem e provarem que os organismos procedem de
outros organismos através de modificação. Eles simplesmente deveriam dizer que
ainda não sabem ou entendem por que nós temos os tipos de seres vivos que existem
hoje em dia.
Um modelo científico da evolução deveria levar em conta a genética, mostrando de uma
maneira sistemática passo-a-passo como os genes determinam as formas físicas dos
organismos. Por exemplo, um corpo humano que contém centenas de bilhões de células
organizadas em estruturas complexas como o cérebro tem início a partir de uma única
célula no útero. Portanto, como a informação genética contida no interior de um ovo
humano fertilizado guia este complexo desenvolvimento? No momento, há contínuas,
mas malsucedidas tentativas para propor modelos matemáticos que expliquem o
processo que permanece um dos problemas não solucionados mais significativos da
ciência moderna.
Se um modelo satisfatório for alguma vez desenvolvido, poder-se-ia então desenvolver
explicações científicas rigorosas para a transformação de uma espécie em outra. Por
exemplo, os cientistas dizem que por meio de mutações genéticas, os peixes pré-
históricos se transformaram em anfíbios. Entretanto, se eles nem mesmo sabem como
a forma do peixe foi obtida de seu próprio material genético, qualquer coisa que eles
afirmem sobre o peixe ter se transformado em uma forma de anfíbio é tido como
altamente especulativo — falando de uma maneira prática, uma imaginação.
Para se pôr a teoria da evolução em chão firme, modelos matemáticos de como os genes
se transformam em forma física é absolutamente essencial. Sem tal modelo, há apenas
histórias vagas sobre a evolução. Estas histórias não podem fornecer quaisquer
previsões consistentes e prováveis, e quando elas tentam aplicar o fato às observações,
são tão flexíveis que podem ser adaptadas a qualquer jogo imaginável de dados. Em
contraste, um modelo matemático dá predições definidas que podem ser comparadas
com evidência e assim podem ser provadas ou contestadas.
Se tais modelos existissem, poderia ser possível usar computadores suficientemente
poderosos para determinar o que poderia acontecer quando um conjunto específico de
informação genética é modificado aleatoriamente em concerto com certas regras
seletivas. Se estas modificações preditas no modelo, na realidade, resultassem em
alterações físicas que correspondessem às relações observadas entre as espécies, então
poderíamos dizer que a evolução tinha sido elevada de fato ao nível de uma ciência.
Mas este não é o caso. Até o presente, não existem quaisquer modelos que façam
predições definidas sobre a evolução. Na realidade, os evolucionistas não têm certeza
sobre o que eles gostariam de prever. Contradições abundam. Por um lado, o estudante
da evolução pode encontrar declarações de que o resultado do processo da evolução é
completamente uma questão do acaso. E por outro lado, há declarações de que o
resultado é bastante determinado por processos físicos que envolvem a seleção natural.
Na evolução humana, afirmam algumas autoridades que a evolução dos seres humanos
é altamente provável e teria ocorrência provável em qualquer planeta adequado do
universo. Por exemplo, Dale Russell e Ron Sequin do Museu Nacional de Ciência
Natural do Canadá propuseram que, se os dinossauros não tivessem sido extintos, há
uma boa chance de que eles tivessem evoluído para formas humanóides répteis no
presente.
Ademais, há aqueles que afirmam que o aparecimento dos seres humanos na terra é
uma ocorrência do acaso. De acordo com esta visão, no começo do processo evolutivo
não haveria nenhuma certeza de que criaturas humanas se desenvolveriam. Theodosius
Dobzhansky, um teorista evolutivo líder, levanta esta questão: imagine um biólogo
altamente competente que tenha vivido 50-60 milhões de anos atrás na época geológica
chamada de Eoceno. Ele poderia ter predito que o homem evoluiria dos primatas
primitivos em existência? Não muito provavelmente, de acordo com Dobzhansky que
diz: “O homem tem 100.000 genes pelo menos, e talvez a metade deles (ou mais)
mudou pelo menos uma vez desde o Eoceno. A probabilidade é, para todas as intenções
e objetivos, zero que os mesmos 50.000 genes mudarão do mesmo modo e serão
selecionados novamente na mesma seqüência como eles foram na história evolutiva de
homem".
Por conseguinte, aqui temos dois pontos de vista completamente contraditórios sobre a
evolução. Ambos não podem estar certos. Um afirma que a evolução é determinada; o
outro diz que ela procede de uma maneira que jamais pode ser duplicada. Portanto,
parece que a teoria evolutiva não fornece uma estrutura muito consistente para se
decidir até mesmo as perguntas mais básicas.
Um outro exemplo de como a teoria da evolução falha para predizer resultados
específicos é encontrado nos trabalhos do proeminente teorista evolucionista neo-
darwiniano John Maynard Smith. “Suponha”, ele escreve, “que num determinado
momento 200 milhões de anos atrás, durante a idade dos répteis, tenha acontecido
algum evento que dobrou a taxa de mutação dos genes em todos os organismos
existentes; temos que supor que, por alguma razão, as taxas não retornaram aos seus
níveis originais. Quais teriam sido as conseqüências? Teria a extinção dos dinossauros,
a origem dos mamíferos, dos macacos, e do homem acontecido mais cedo, de forma que
o estado presente tenha sido alcançado em apenas 100 milhões de anos? Ou a taxa de
evolução teria permanecido a mesma? Poderia ser mais lento? A resposta é que nós não
sabemos”.
Para apreciar a importância da declaração anterior, consideremos a ciência da balística.
Se com base na balística, um oficial de artilharia não pudesse dizer aos seus
comandantes o que aconteceria se ele dobrasse a quantidade de explosivo utilizado
para explodir as ogivas, então teríamos que concluir que aquele tipo de balística não
merece ser chamada de uma ciência. Pela mesma lógica, as teorias atuais da evolução
têm definitivamente suas falhas, como teorias.
Na realidade, teríamos que afirmar que não é tanto uma questão de se ou não uma
teoria particular da evolução está correta, mas se existe uma teoria de fato.

Um motor celular

As dificuldades que se apresentam diante de uma teoria da evolução podem ser vistas
mais claramente quando consideramos um exemplo concreto como os motores
celulares na bactéria E. coli. Esta criatura unicelular possui flagelos (fibras em forma de
saca-rolhas) movida por motores rotativos construídos em sua parede celular. A
rotação dos flagelos impele a E. coli pela água, igual à hélice de um navio, e através da
operação destes motores para frente ou para trás, a bactéria pode se guiar para seu
destino desejado.
Agora, suponhamos que possamos imaginar uma bactéria sem este aparato. A pergunta
é esta: por quais etapas evolutivas poderíamos chegar até uma bactéria com os motores
celulares? Qual é a seqüência das fases intermediárias? A exigência é que cada etapa
teria que conferir um pouco de vantagem definida à bactéria em relação à etapa
anterior. Caso contrário, as alterações não podem ser atribuídas à seleção natural, a
qual, se enuncia, governa o processo da evolução.
Foi determinado que 20 genes governam a estrutura dos motores. Isso significa que o
desenvolvimento não pôde ter ocorrido todo de uma vez por causa de uma única
mutação. Uma alternativa é que as alterações sucessivas tenham ocorrido
gradualmente por mutações genéticas aleatórias que afetam um pequeno número de
genes. Mas se você adquire apenas parte de um motor, como esta poderia
possivelmente beneficiar o organismo? Provavelmente, o tornaria menos apto para
sobreviver porque estaria desperdiçando sua energia para produzir uma estrutura
inútil. Assim, a seleção natural tenderia a evitar tal alteração.
Então, suponha que uma célula finalmente, de alguma maneira, tenha adquirido uma
estrutura de motor executável, mas não tenha obtido o sistema sensorial necessário
para controlar o motor. Logo, ela não poderia usar o motor corretamente, e assim o
motor seria de nenhum valor. Por outro lado, o aparelho sensorial seria inútil sem o
motor. O que isto significa é que o aparelho sensorial e os motores deveriam se
desenvolver simultaneamente, o que complica enormemente o assunto inteiro.
Em essência, o problema é este: o motor envolve claramente um grande número de
componentes que interagem, e para todo o motor funcionar, todos os componentes têm
que estar presentes juntos arranjados do jeito certo. É muito difícil se imaginar como
você poderia produzir tal mecanismo complexo, a menos que você pudesse
repentinamente reunir todos os componentes. Os teoristas evolucionistas modernos
não têm nenhuma explicação adequada. Mas um planejador inteligente poderia fazer
isto, porque a mente pode ir de uma idéia para com um projeto de funcionamento,
através de um processo de raciocínio, no qual as fases intermediárias não têm que
sobreviver em algum ambiente natural. Se um projetista quisesse construir um motor
molecular, ele poderia pensar nisto e poderia propor um plano, lentamente ou
depressa. É possível se conjeturar esta possibilidade, mas é difícil se imaginar que ele
poderia acontecer por um processo natural cego.
O exemplo do motor da E. coli não é de forma alguma único. Há inumeráveis outros
exemplos de forma complexa que varia desde maquinaria molecular sofisticada em
células até sistemas de órgão notavelmente desenvolvidos em espécies superiores de
vida. O problema da origem de tais estruturas é universal e permanece não solucionado
por teoristas da evolução. Na realidade, como a maioria das estruturas nos organismos
superiores é mais complexa que o simples exemplo da E. coli que acabamos de
considerar, antecipamos que uma tentativa honesta para explicar sua origem envolverá
correspondentemente maiores dificuldades.
A recém-desenvolvida ciência da biologia molecular fez a tarefa do teorista da evolução
muito mais difícil. Os seguidores da teoria darwinian clássica pensam na evolução em
termos do que nós poderíamos chamar de deformação plástica. Eles tendem a imaginar
um organismo como um modelo plástico e, por exemplo, suponha que se pudesse
alterar gradualmente a forma plástica de um macaco até que ele, através de etapas,
chegasse a assumir a aparência de um homem. A maioria das pessoas ainda vê a
evolução deste modo simplista.
Mas os organismos não são modelos plásticos. Os corpos físicos são máquinas
moleculares extremamente complexas, cujo funcionamento é mais complicado que
qualquer máquina de fabricação humana. Assim, é praticamente impossível ver como
você pode transformar uma máquina em outro tipo de máquina por um processo de
deformação plástica. Você pode fazer uso de uma ação mecânica em um carro e mudar
um pouco sua forma, mas se você quer rearranjar os componentes interiores, isto é
uma história completamente diferente. Por exemplo, é provável que um tipo novo de
máquina requeira um conjunto novo completo de partes com um conjunto novo
completo de inter-relações, e estas não podem ser produzidas por deformação contínua
gradual das partes do motor original. Se você começar a puxar arames e estirar metal
no motor e eixo do motor, é provável que a máquina se desmantele completamente.
Alguns evolucionistas sugeriram que as características que distinguem os seres
humanos dos macacos podem ser simplesmente consideradas por um aumento no
tamanho do cérebro. Este é outro caso de deformação plástica em operação — parece
tão simples, exatamente como soprar num balão. Entretanto, estudos neurológicos do
cérebro mostraram que ele não é só um caroço de massa cinzenta flexível – ele é
composto de bilhões de neurônios interligados em circuitos complexos.
Assim passar de um cérebro de macaco para um cérebro humano não é tão fácil quanto
explodir um balão. Significaria aumentar o número de neurônios e reestruturá-los para
permitir o cérebro gerar tais funções humanas complexas como a fala. Uma criança
humana, numa idade muito precoce, pode assimilar espontaneamente as estruturas
simbólicas de comunicação processando um idioma falado. Macacos não podem fazê-
lo. Isto levou os peritos em lingüística, como Naom Chomsky, a concluir que o cérebro
tem um tipo de software gramatical programado no seu interior.
Levando-se a analogia do computador um pouco mais adiante, podemos entender que
dobrar o tamanho de uma memória de computador e equipá-lo com um processador de
16 bits em vez de um processador de 8 bits não é suficiente para aumentar sua utilidade
ao usuário. O que é realmente requerido é um novo software mais avançado, programas
que permitirão o usuário tirar proveito da capacidade extra. O mesmo é verdade do
cérebro humano — pode ser maior que aquele do macaco, mas a real diferença é a
programação mais complicada que ele é capaz de rodar. A grande pergunta é como os
programas novos são desenvolvidos. Uma coisa é certa: é difícil acrescentar
capacidades radicalmente novas a um programa, modificando-o aleatoriamente, na
esperança de que através de pequenas alterações graduais ele melhorará. É mais
razoável e lógico supor que um processo de projetar e criar um sistema completamente
novo de software é o que está realmente por trás da questão.
Um outro exemplo das dificuldades que se apresentam à teoria evolucionista pode ser
encontrado no estatocisto de certas espécies de camarão. O estatocisto é um órgão
pequeno, oco, cheio de fluido que ajuda o camarão a manter seu equilíbrio.
Incrivelmente, sua função depende do camarão introduzir um grão de areia em seu
interior por uma minúscula abertura. Por meio da pressão que o grão exerce nos
sensíveis pêlos que revestem as paredes internas do estatocisto, o camarão pode
distinguir entre subir e descer. É extremamente difícil se imaginar qualquer série de
passos intermediários graduais que possam ter levado ao estatocisto e ao
comportamento associado a ele.
A esta altura, quando ficou claro que uma explicação física da origem de estruturas
complexas está fora de alcance, alguns cientistas tentam poupar a teoria da evolução
apelando para a aleatoriedade. Embora tenhamos discutimos este tópico antes neste
artigo, a apelação para o acaso é tão comum na ciência que sentimos importante
dispersar novamente algumas das errôneas concepções associadas a ela. Os cientistas
que fazem esta apelação propõem que, de alguma maneira ou de outra, tudo se junta da
maneira certa por casualidade. Mas isto envolve uma séria má concepção. O acaso só é
significante quando você puder repetir um evento e observar padrões estatísticos nos
resultados.
Por exemplo, imagine que você foi a primeira pessoa a jogar uma moeda. Se você só
pôde jogá-la apenas uma vez, você realmente não pôde tirar nenhuma conclusão sobre
as chances de caras aparecerem em lugar de coroas. Até mesmo se você a jogasse cinco
vezes, um padrão poderia não emergir — poderia aparecer caras todas as cinco vezes.
Todavia se você a jogar diversas centenas de vezes, você está justificado em fazer
declarações de probabilidade sobre o evento.
Agora como tudo isso se relaciona com a evolução? Está claro que a origem de uma
espécie não é algo que possa ser observada repetidamente. Contudo, como notamos
anteriormente, o teorista da evolução Theodosius Dobzhansky declarou que há quase
possibilidade zero da evolução humana ser repetida. Em geral, quando os teóricos
evolutivos evocam a aleatoriedade eles estão falando sobre probabilidades tão pequenas
que você não esperaria que eventos com tais probabilidades acontecessem, até mesmo
uma vez no curso de um período de tempo bilhões de vezes mais longo que a idade
aceita do universo. (Veja A vida poderia surgir da causalidade? )
Assim, considerando eventos evolutivos que são propensos a acontecer apenas uma vez
em centenas de bilhões (ou mesmo trilhões) de tentativas, se torna inútil falar deles em
termos de acaso. Seria significativo se você pudesse repetir os eventos muitas centenas
de bilhões de vezes, mas nós estamos lidando com eventos que historicamente é
suposto ter acontecido apenas uma vez. Então, se os cientistas não puderem oferecer
nenhuma explicação física aceitável da origem das estruturas físicas complexas de um
organismo, pode-se concluir que estas estruturas se tornam simplesmente eventos
únicos. Nós não podemos dizer nada preciso sobre a origem deles. Tudo que podemos
dizer é que eles existem.
Alguns evolucionistas já foram forçados a tirar conclusões similares. George Gaylord
Simpson, um dos decanos da moderna teoria da evolução, diz no seu livro Esta visão
da vida: “Os fatores que determinaram o aparecimento do homem foram tão
extremamente especiais, tão contínuo ao longo do tempo, tão inacreditavelmente
complicado que eu quase não pude indicá-los aqui. Realmente, eles estão longe serem
conhecidos, e tudo o que nós aprendemos parece torná-los até mesmo mais
incrivelmente sem igual".

A evidência apóia o modelo do design?


Nesta altura, é seguro afirmar que as leis da física não respondem completamente pela
evolução como está sendo atualmente proposto. Entretanto, a idéia da evolução está tão
completamente embutida nas mentes das pessoas que é difícil elas considerarem
explicações alternativas de forma objetiva. Na maioria das vezes, é o caso da teoria
determinar como a evidência é vista em lugar de vice-versa.
Aqui estão alguns exemplos comuns de evidência que as pessoas, sem uma análise
crítica, supõem que dão suporte à idéia da evolução: o fato de que criaturas de espécies
diferentes ter partes físicas similares; o fato de que criaturas de estrutura similar ter
conteúdo genético similar; o fato de que algumas criaturas ter o que parece ser vestígios
de órgãos ou estruturas que foram mais completamente desenvolvidos ou úteis nos
seus presumidos antepassados; o fato de que criadores de plantas e animais terem
conseguido modificar espécies até certo ponto; e o fato de que as características
observadas dos organismos às vezes parecem contradizer o que seria esperado de um
criador inteligente. No entanto, as linhas de argumentação que derivam destas
evidências até uma conclusão exclusiva da evolução são fracas, e é bastante possível que
outras explicações possam se ajustar melhor aos fatos.
Partes físicas similares em espécies diferentes poderiam sugerir alguma ascendência
comum, mas um criador inteligente também poderia usar partes similares na
construção de formas físicas únicas. Na realidade, isso seria mais eficiente que projetar
partes completamente novas para cada espécie. Quando os engenheiros humanos
desenvolvem um modelo novo de aeronave a jato, eles fazem uso de estruturas já
projetadas e testadas em aeronaves anteriores. Assim, por que deveria um
superinteligente projetista de organismos agir de um modo menos eficiente?
Em anos recentes, os geneticistas descobriram que em espécies de forma similar, o
DNA e outras proteínas têm estruturas moleculares similares. Por conseguinte, da
mesma maneira que os evolucionistas deduziram relações ancestrais entre as espécies a
partir das semelhanças nas formas físicas, agora alguns deles deduzem tais relações a
partir das semelhanças genéticas. Entretanto, não é muito surpreendente que espécies
similares tenham materiais genéticos similares. Contudo, o ponto principal é que tais
semelhanças não mostram nada definido como os organismos se originaram e não
podem ser usadas como prova da evolução darwiniana. Se um projetista inteligente
tivesse produzido variedades de organismos com certas semelhanças estruturais,
também esperaríamos ver relações moleculares paralelas. Em um dos seus recentes
livros, o proeminente astrofísico Sir Fred Hoyle reproduziu um quadro que pretende
mostrar as relações evolutivas entre as espécies com base em estudos moleculares. Ele
observou: “Entretanto, não se deve ser enganado pela elegância deste resultado em
pensar que [o quadro] prova a existência de uma árvore evolucionária. O que ele
mostra é que, caso existisse uma árvore, então esta seria sua forma.”
Pode ser razoavelmente discutido que órgãos vestigiais podem ser o resultado de
projeto em lugar de evolução. É dito que o embrião da baleia baleen, por exemplo,
possui o que parece ser dentes vestigiais. No processo de desenvolvimento embrionário,
estes são reabsorvidos e substituídos na forma adulta por baleen (longas estruturas
com franjas na boca da baleia usadas para puxar minúsculos organismos da água do
mar para alimento). Os evolucionistas entendem que os dentes vestigiais são evidência
de que a baleia baleen evoluiu de uma espécie de baleia que tinha dentes.
Mas há uma outra possível explicação. Vamos supor que um criador inteligente tivesse
desejado projetar um grande número de formas similares à baleia do modo mais
eficiente. Ele poderia começar com a codificação genética para um plano físico básico
que incluísse os dentes. Quando ele chegasse ao plano para o corpo da baleia baleen, ele
poderia alterar os genes para suprimir o crescimento de dentes e adicionar informação
genética para causar o crescimento dos puxadores da baleen. Nesta versão, você
esperaria também ver dentes embrionários. Em última análise, a hipótese de desígnio é
tão razoável quanto a hipótese evolutiva, e talvez até mais, porque os evolucionistas não
dispõem de uma explicação passo-a-passo para a origem da baleen. Eles só podem
afirmar que aconteceu por um tipo de mágica evolutiva. Apesar de tudo isso, eles
rejeitam completamente qualquer argumento a favor do desígnio, uma possibilidade
que eles recusam considerar porque viola sua convicção não comprovada de que tudo
no universo pode ser explicado por leis físicas e processos sem ajuda.
Desde a época de Darwin, as alterações resultantes do cruzamento têm sido propostas
como evidência para a evolução. Se o homem pode produzir alterações limitadas em
plantas e animais em algumas poucas gerações, então apenas imagine as possibilidades
de alteração ao longo do curso de milhões de anos. Assim segue o raciocínio.
Não obstante, a evolução por seleção natural e as alterações induzidas em plantas e
animais por meio de cruzamento não são de forma alguma comparáveis. No
cruzamento, há uma deliberada intenção de obter resultados específicos — uma maçã
maior, uma vaca que produza mais leite — mas no processo da seleção natural não há
nenhum plano diretor inteligente. E na ausência de tal plano, como você alcança os
resultados? Como sabemos sem dúvida que a seleção natural na verdade canalizará um
processo evolutivo numa direção de alteração progressiva para espécies altamente
desenvolvidas?
Ela bem poderia da mesma maneira tender a simplificar o plano físico tanto quanto
possível, porque isso seria mais econômico e assim de maior benefício para o
organismo. Entretanto, no momento, não temos nenhum meio de saber qual direção a
seleção natural favorecerá – exceto as afirmações dos evolucionistas. Tudo o que eles
dizem sobre a seleção natural vem depois do fato. Por que elefantes têm tais orelhas
grandes? Porque elas lhes deram uma vantagem seletiva, eles dizem. Qual é o próximo
passo para os elefantes? Eles não podem nem mesmo fornecer uma sugestão.
Pode ser admitido que a seleção natural eliminará os indivíduos de uma espécie que são
incapazes de sobreviver, mas não há nenhuma prova de que a morte do incapaz
resultará na espécie inteira se transformando gradualmente em uma outra. E mesmo se
as espécies se transformassem, como sabemos que a seleção natural não levaria
inevitavelmente a espécies com eficiência energética — lentas e rasteiras com conchas
grandes e grossas, como as tartarugas? É suposto que a seleção natural selecione as
características que são o melhor para a sobrevivência, mas qualquer evolucionista pode
especificar o que é vantajoso para a sobrevivência? Por que o rádio não evoluiu em
descendentes anfíbios de enguias elétricas? Eles certamente teriam o equipamento
básico para isto, e parece que aquele conferiria muitas vantagens.
Similarmente, toda evidência disponível mostra que há limites para as alterações que
podem ser provocadas através do cruzamento. O notável botânico americano Luther
Burbank declarou: “Sei de experiência que eu posso desenvolver uma ameixa de meia
polegada de comprimento ou de duas e meia polegadas, com todos os possíveis
comprimentos intermediários, mas estou disposto a admitir que é loucura tentar obter
uma ameixa do tamanho de uma ervilha pequena, ou uma tão grande quanto uma
toronja. Eu tenho rosas que florescem muito bem continuamente durante seis meses do
ano, mas não tenho nenhuma que florescerá doze, e eu não a terei. Em resumo, há
limites para o desenvolvimento possível.” Este duro fato acerca do cruzamento não foi
alvissareiro para a evolução, porque se há limites até onde você pode mudar uma
espécie, não há nenhuma possibilidade de que você possa adquirir a evolução de
espécies novas.
O processo do cruzamento é algo como esticar uma faixa de borracha. Ela só estica até
certo ponto — e então ou quebra ou volta para trás. Por exemplo, durante o século
dezenove, coelhos domesticados foram trazidos para a Austrália, onde não havia
nenhum coelho nativo. Quando alguns destes coelhos domesticados escaparam, eles
cruzaram livremente entre si, e muito depressa seus descendentes reverteram ao tipo
selvagem original.
Ernst Mayr de Harvard, um dos mais proeminentes defensores da evolução, se deparou
com o mesmo problema nas suas próprias experiências com moscas-das-frutas. Ele
tentou diminuir e aumentar as cerdas nos corpos das moscas. A média é de 36, e ele as
adquiriu até 56, mas àquele ponto as moscas começaram a desaparecer. Ele também
criou até 25 cerdas, mas depois que lhes permitiu voltar ao cruzamento não seletivo,
elas retornaram à média dentro de cinco anos. Estes resultados revelam uma
característica anti-evolutiva principal das espécies: quando as alterações são forçadas
além de certo limite, os membros de uma espécie ficarão estéreis e desaparecerão ou
então reverterão à sua forma padrão.
O zoologista francês Pierre-P. Grassi mostra em seu livro Evolução dos organismos
vivos: “As alterações provocadas na ação genética [cruzamento] afetam as aparências
muito mais que as estruturas e funções fundamentais. Apesar da intensa pressão
aplicada pela seleção artificial (eliminando qualquer ascendente que não responda ao
critério de escolha) em milênios inteiros, nenhuma nova espécie é criada (...) Dez mil
anos de mutações, mestiçagem, e seleção misturaram a herança das espécies caninas de
inumeráveis modos sem fazê-las perder sua unidade química e citológica [celular]. O
mesmo é observado em todos os animais domésticos: o boi (pelo menos 4.000 de
idade), o falcão (4.000), a ovelha (6.000), etc.”
Em resumo, pode ser possível induzir alterações na forma existente por meio do
cruzamento (fazendo a criatura menor ou maior, por exemplo), mas não parece
possível gerar estruturas complexas completamente novas no organismo deste modo.
Se isto não pode acontecer pelos esforços conscientes do homem, por que deveríamos
presumir que poderia acontecer através de processos naturais cegos?
O próprio Darwin admitiu a dificuldade de justificar a forma complexa em Origem das
espécies: “Supor que o olho com todas suas engenhosidades inimitáveis para ajustar o
foco a diferentes distâncias, para admitir diferentes quantidades de luz, e para a
correção de aberração esférica e cromática, pudesse ter sido formado através da seleção
natural, parece, eu confesso livremente, absurdo no grau mais elevado”.
Darwin então continua a sugerir de um modo extremamente delineado que você pode
ter uma seqüência de alterações graduais lhe levando de um ponto sensível à luz, em
alguma criatura primitiva, ao olho de um mamífero. No entanto, este tipo de toque da
varinha mágica não será satisfatório. A verdadeira ciência exigiria descrições
detalhadas de como exatamente cada fase de transição seria formada. Para pôr o
assunto na perspectiva apropriada, seria como ir de um projetor de slides até uma
televisão colorida meramente por modificações sucessivas de projeto. Se alguém fosse
reivindicar que isto era possível, ele deveria poder nos fornecer desenhos esquemáticos
e modelos de trabalho. Porém, nada que se aproxime disto foi ainda oferecido em
defesa das reivindicações da evolução de formas complexas nos organismos vivos.
Como temos muitas vezes sugerido, isto deixa aberta o possibilidade de um projetista
inteligente. Entretanto, muitos evolucionistas sentem que o modo particular em que os
organismos estão estruturados excluem um tal um projetista inteligente. O
paleontólogo de Harvard Stephen J. Gould escreve: “Arranjos insólitos e soluções
engraçadas são a prova da evolução — caminhos que um Deus sensato nunca trilharia".
Como um exemplo, ele cita o dedo polegar do Panda. "O urso Panda tem um polegar
que pode ser usado para agarrar os brotos de bambu que formam o esteio de sua dieta.
Entretanto, este dedo polegar não é nenhum dos cinco dedos da pata do mamífero
normal. Ao contrário, este dígito extra é construído a partir de um osso modificado do
pulso, com rearranjo apropriado da musculatura".
Em essência, reivindica Gould: “Deus não teria feito daquela forma. Então, deve ter
acontecido através da evolução.” Mas este raciocínio teológico negativo é inválido por
muitas razões. O primeiro ponto é que é impróprio para os evolucionistas introduzirem
em seu favor um conceito que eles excluíram completamente da sua realidade — isto é,
Deus. Em segundo lugar, poderíamos perguntar de onde eles obtiveram tal informação
explícita de como Deus iria ou não criar as coisas se Ele existisse? Como eles sabem que
Ele não poderia produzir características novas em organismos modificando as
existentes?
No caso do dedo polegar do Panda, notamos que embora Gould rejeite o desígnio de
Deus como uma explicação, ele não fornece uma explicação adequada através de
processos evolutivos. Ele simplesmente declara que uma única alteração em um gene
regulador que controla a ação de muitos genes estruturais foi responsável pelo
desenvolvimento complexo inteiro de osso e músculo. Mas ele não especifica qual gene
regulador mudou, nem ele explica como uma alteração no gene regulador orquestraria
esta transformação notável. Ele oferece nada além de uma explicação da varinha
mágica.
Os evolucionistas não têm mostrado conclusivamente que um processo evolutivo,
guiado unicamente pelas leis físicas, acontece na verdade. Eles não têm nenhuma teoria
real, apenas especulações vagas apoiadas por argumentos imperfeitos. Quando se
deparam com desígnio como um fator responsável pela origem dos organismos
complexos, eles freqüentemente apresentam conceitos simplistas estereotípicos de
Deus como um homem de palha a ser derrubado. Admitir qualquer causa diferente das
causas físicas seria admitir o fracasso da estratégia básica da ciência moderna para
compreender a realidade, uma estratégia que resultou em um radical estreitamento de
opções intelectuais. Não obstante, há evidência suficiente para sugerir que a idéia de
um projetista inteligente de organismos complexos não deveria ser rejeitada. Isto
sugere uma estratégia inteiramente nova de abordar as questões científicas. Se um
projetista inteligente existir, então poderia ser possível se obter desta fonte informação
precisa sobre a origem real das espécies.

REFERÊNCIAS 1. Charles Darwin, Sobre A Origem Das Espécies (Nova Iorque:


Atheneum, 1972), pág. 184. 2. Charles Darwin, A Origem Das Espécies (Nova Iorque:
Nova Biblioteca Americana, 1964), pág. 306. 3. Niles Eldredge, O Negócio Do
Macaco (Nova Iorque: Washington Quadrado Imprensa, 1982), pp. 31--32. 4. Niles
Eldredge, O Negócio Do Macaco, pp. 36, 41. 5. Niles Eldredge e Ian Tattersall, “Pessoas
do futuro”, Ciência 83 (1983 de março), pág. 74. 6. Theodosius Dobzhansky,  Evolução
Darwiniana E O Problema Da Vida Extraterrestre, Perspectivas em Biologia e
Medicina, Vol. 15, não. 2 (inverno 1972), pág. 173. 7. John Maynard Smith, As
Limitações Da Teoria Evolucionária, A Enciclopédia de Ignorância, ed. Ronald
Duncan e Miranda Weston-Smith (Nova Iorque: Livros de bolso, 1977), pág. 237. 8.
Howard C. Berg, Como As Bactérias Nadam, o americano Científico, (1975 de agosto),
pp. 36--44. 9. Wolfgang von Buddenbrock, Os Sentidos (Ann Arbor: Universidade de
Imprensa de Michigan, 1958J pp. 138--141. 10. George Gaylord Simpson, Esta Vista De
Vida (Nova Iorque: Harcourt, Suporte, Mundo, Inc., 1964), pág. 268. 11. Senhor Fred
Hoyle e Chandra Wickramasinghe, Evolução De Espaço (N.Y: o Simon e Schuster,
1981), pág. 84. 12. Macbeth Normando, Darwin Retried (Boston: Gambito, 197 1), pág.
36. 13. Pierre-P. Grasse, Evolução De Organismos Vivos (Nova Iorque: Imprensa
acadêmica, 1977), pág. 124. 14. Francis Hitching, O Pescoço Da Girafa (Nova Iorque:
Biblioteca americana nova, 1982), pág. 41. 15. Pierre-P. Grasse, Evolução De
Organismos Vivos, pág. 125. 16. Charles Darwin, A Origem Das Espécies, (Nova
Iorque: Biblioteca americana nova, 1964), pág. 168. 17. Stephen Jay Gould, O Polegar
Do Panda (Nova Iorque: W, W. Norton Cia., 1980), pp. 20--21.

PALEONTOLOGIA: Gravado nas Rochas


A realidade da evolução é supostamente inscrita, para todos verem, nas páginas dos
registros “gravados nas rochas”, camadas que contém fósseis depositados através das
eras. Mas um exame minucioso desta história geológica revela um número equivalente
de páginas perdidas, transcrições confusas e passagens transpostas. No final, não é tão
claro que este registro suporte totalmente a teoria evolucionista. 

Ciência De Dimensão Superior


Ciência De Dimensão Superior
Uma discussão dos universos da experiência e estratégias de investigação
transcendendo os limites da ciência mecanicista
James D. Watson, co-descobridor de DNA, recentemente falou sobre o mistério da
vida: “Isto é muito complexo, mas pode ser explicado pelas leis da química, pelo
impulso termal aleatório. É complicado; existem muitas variáveis, mas não existe
dúvida que é isto”1.
Ele lembrou que esta convicção motivou fortemente tanto ele quanto Francis Crick
durante sua pioneira investigação dentro do DNA. “Nós não teríamos conseguido se
não acreditássemos que a química poderia explicar isto. Até então as pessoas achavam
que a química não seria suficiente, que era necessário que a religião explicasse a vida.
Mas mesmo quando eu estava na faculdade eu fui influenciado pela insistência de Linus
Pauling de que você pode explicar a vida com base na química”2.
Sua atitude para com a religião é mais adiante esclarecida na seguinte declaração:
“Quando eu escrevi a primeira edição de meu texto (A biologia molecular da gene), eu
pensei, Eu estou re-escrevendo a Bíblia – na verdade retornando e descobrindo o que
se passa" (grifos nossos)3.
De modo geral, as declarações de Watson representam a direção geral do pensamento
científico nos últimos séculos – a fé na explicação de fenômenos complexos (como a
vida, a origem das espécies, a origem e a estrutura do universo, etc.) pelas simples,
matematicamente expressas leis naturais. Alguns cientistas e fiéis tentaram preservar
um papel final para Deus como o responsável pelas leis da física, mas isto concede às
leis da física um status maior do que Deus no universo. Com este acordo, a essência do
conceito original do Deus onipotente é completamente eliminada, e a pessoa é deixada
com uma concha vazia e sem sentido. As religiões que aceitaram este acordo deveriam
reavaliar os seus posicionamentos.
De sua parte, Watson mantém uma inabalável fé de que a explicação física é sempre
possível: “A nível de DNA isto [a explicação física da vida] funciona muito bem. Em um
nível mais complicado, nós ainda estamos tentando compreender. A embriologia é
muito mais difícil. E na neurobiologia existem poucos vislumbres. Mas alguns
[cientistas] terão um momento em que a luz surgirá (...) O problema de explicar a
consciência em termos biológicos é difícil, mas estou certo que se esclarecerá”4.
Aqui, a principal desvantagem da ciência moderna é focalizada com clareza. Watson
admite que os aspectos fundamentais dos organismos vivos não têm sido totalmente
explicados pelas leis da física; mesmo assim ele insiste que eles podem ser e serão
explicados, rejeitando antecipadamente qualquer explicação não-material e não-
mecanicista.
Mas isto é mesmo verdade? Seria possível que a fé de Watson seja sem fundamento?
Todas as possíveis evidências apontam claramente para a possibilidade de que as
formas complexas dos organismos vivos jamais possam ser explicadas pelas simples
leis da física. Alguém poderia talvez dizer que as peças de Shakespeare podem ser
explicadas pelas 26 letras do alfabeto, mas obviamente tem muito mais coisa envolvida
nisto. Da mesma forma, os cientistas podem afirmar que a vida pode ser explicada pelo
código genético incrustado em certas moléculas, mas por enquanto essa abordagem
tem falhado ao explicar a complexidade mesmo das simples formas de vida. Assim
como ninguém descobriu qualquer simples conjunto de leis que pudessem permitir um
computador transformar as 26 letras do alfabeto em um Hamlet ou Macbeth, também
nenhum cientista provou qualquer conjunto de simples leis naturais que pudessem
transformar alguns elementos moleculares básicos e fundamentais da vida em uma
única célula auto-reprodutora.
Assim, quem sabe da mesma forma que as fundamentais leis da física não podem ser
reduzidas, a complexidade material que observamos nos organismos vivos também não
pode ser reduzida. Alguns cientistas com liberdade de pensamento e com coragem para
desafiar os preconceitos tomaram este destemido passo. Revendo as conclusões de suas
próprias investigações, o proeminente biologista Walter M. Elsasser declara que o
complexo bioquímico das formas dos organismos vivos é “de um tipo primário e de
ordem natural irreduzível, no mesmo nível das mais convencionais leis da natureza”5.
Forma complexa absoluta

Tendo fracassado para reduzir coisas complexas em princípios simples, o cientista


agora tem duas escolhas. Primeiro, ele pode simplesmente parar, afirmando que essas
coisas existem, mas que não podemos dizer nada mais sobre elas. Segundo, ele pode
seguir em frente investigando princípios convenientemente complexos que tenham
gerado a complexidade irreduzível que ele observa. Em outras palavras, ele deve
considerar a existência de uma forma complexa absoluta. Ele poderia então questionar
sobre a natureza dessa forma e por que caminho a informação é transmitida a partir
dessa origem para produzir as formas e as estruturas que vemos no universo, tais como
os organismos vivos. Nós não precisamos ter quaisquer preconceitos sobre a natureza
dessa absoluta forma complexa. Do ponto de vista da lógica, existem muitas
possibilidades que podem ser consideradas.
Por exemplo, vamos considerar algumas possibilidades alternativas para uma absoluta
e irreduzível forma complexa contendo informação capaz de gerar seqüências de
complexos organismos vivos. Imagine que no oceano da Terra primitiva uma ameba
estivesse situada numa certa posição e direção fixa. Imagine também que no espaço
distante, um determinado padrão de raios cósmicos precisamente definidos fosse
empurrado em direção a Terra. Pelo curso natural dos eventos nossos raios cósmicos
hipotéticos atravessariam a atmosfera terrestre e destruiriam os genes da ameba de
forma especial, dando assim início a um novo e superior tipo de organismo (como um
trilobita, um tipo de escorpião).
Nesse cenário, o padrão especial de raios cósmicos e a situação da ameba em particular,
representam um tipo de forma complexa absoluta que contém informação para a
eventual produção de um organismo superior. Aqui nós propositalmente escolhemos
um exemplo insatisfatório de como poderia ser uma absoluta forma complexa. Ao
investigarmos a origem da forma do organismo superior em contraposição à
configuração inicial particular dos raios cósmicos, não podemos seguir adiante. Nós
simplesmente encontramos um intelectual e frustrante beco sem saída. Então, deixe-
nos considerar outra possibilidade.
Imagine uma fonte de informação mais completa que se origina simultaneamente com
o universo – um “computador cósmico” com uma memória somente para leitura
(memória ROM) contendo dados para todas as formas complexas destinadas a se
manifestarem. Essa proposta pode parecer estranha, mas se os físicos podem nos
convidar a aceitar a hipótese de que todo o universo é detonado a partir do vácuo
quântico, por que não pode um computador universal detonar tudo isto? Os
astrônomos Sir Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe propuseram algo deste tipo no
livro intitulado A evolução partindo do espaço: “Então, o que aconteceria se nosso
progenitor fosse um fragmento de silicone extremamente complexo? Uma coisa parece
correta nessa idéia. Não seria possível uma inteligência, mesmo grande, gerar vida
carbônica [vida baseada em compostos carbônicos] sem executar uma quantidade
enorme de cálculo”6.
Na verdade, a idéia de um computador cósmico é simplesmente uma maneira gráfica
de quebrar o conceito muito arraigado que os princípios fundamentais devem ser
reduzidos a simples leis naturais. A maior parte dos cientistas estão obcecados com a
idéia de ver o fenômeno natural como uma progressão do simples ao complexo,
enquanto que na realidade parece que o oposto é verdadeiro – qualquer coisa complexa
deriva de algo igualmente ou mais complexo. Então, poderíamos imaginar que o
computador cósmico utilizando a informação contida em sua memória pudesse
construir espaçonaves que viajassem para diferentes planetas, implantassem formas de
vida em ambientes adequados, então voltassem periodicamente para alterá-las
geneticamente. Dessa forma, as variedades de organismos poderiam ser
seqüencialmente produzidas.
Nós propomos que mesmo a estrutura de uma simples célula é de complexidade
irreduzível. Então, poderíamos nos responsabilizar por essa complexidade ao obtermos
programas adequados em nosso hipotético computador cósmico. Mas, em contraste ao
nosso exemplo de raios cósmicos, esses programas poderiam ser mais do que meros
repositórios arbitrários de informação. Se encarássemos os organismos como máquinas
computadorizadas, alguns deles, tais quais os humanos, revelando um comportamento
de ordem elevada que chamamos de inteligente, não seria possível que o computador
cósmico original também possuísse a função de comportamento inteligente e de
tomada de decisões? Aqui, começamos a ver como uma fonte original e absoluta de
informação teria interessantes características, o que poderia nos levar a querer estudá-
la diretamente.

Consciência e inteligência superior

Agora, chegamos a outra característica da realidade. Observamos em nós mesmos uma


variedade de pensamentos, emoções e percepções que vão além da simples capacidade
de uma máquina em responder aos estímulos externos através de algum tipo de
processamento de dados. Em outras palavras, nossa capacidade para funcionar de
forma inteligente é também acompanhada pelo fenômeno da consciência. A consciência
é real – todos nós temos experiência disto. Mesmo assim, embora o comportamento
associado com a consciência seja medido, a consciência mesmo permanece inexplicável
pelos métodos quantitativos. Ela não pode ser responsabilizada pelas leis da física.
Então, o que é isto e de onde vem?
Consideramos um computador cósmico exibindo uma ordem superior de inteligência
como a fonte original de certas características complexas do universo perceptível. Isto
sugere uma idéia ilusória – que essa inteligência cósmica poderia ser algo mais do que
uma máquina morta. Possivelmente seria um ser consciente e super inteligente que
originasse, não apenas a informação que determina as formas dos organismos, mas
também a consciência que as despertam.
Esse conceito abre algumas possibilidades interessantes. Se existisse tal ser inteligente,
ele seria capaz de comunicar a informação exata através dos meios de sua própria
escolha para aqueles curiosos sobre as questões fundamentais tais como a origem dos
seres vivos. E, se ele fosse bondoso, ele faria isto de bom grado.
Isso nos fornece outra possível estratégia para conseguir respostas quanto às questões
fundamentais. A estratégia científica normal de supor que as origens fundamentais são
simples e, então, procurar tais origens simples, certamente falhará se a origem
fundamental é irredutivelmente complexa. Mas se a origem fundamental é um
benevolente ser superconsciente, então, a estratégia de suposição que isto é assim, e de
procurar um processo de entrar em contato com tal ser, pode ser bem sucedida.
A questão óbvia e prática é essa: será que podemos encontrar claros da informação que
foi passada de uma fonte absoluta e inteligente aos seres humanos, com essa
informação contendo meios e modos de demonstrar que ela é autêntica? Nós propomos
que as literaturas védicas da antiga Índia dão um impressionante exemplo de um corpo
de conhecimento interno comprovadamente sábio. As literaturas védicas têm uma
descrição geral de epistemologia, a análise sistemática dos procedimentos para
aquisição de conhecimento, e fornecem também uma discussão completa da natureza e
origem do universo e dos organismos vivos que nele habitam. Neste ponto, iremos
discutir resumidamente algumas características importantes da perspectiva do mundo
védico.

Evolução inversa

Os Vedas descrevem, de forma elaborada, um processo complexo de evolução que


progride de planos sutis para a manifestação física na matéria. De acordo com esse
relato, o controlador universal gera diretamente um controlador subordinado primário
que gera controladores secundários, tudo por processo não-sexual. Esses controladores
secundários têm a capacidade para a reprodução sexual, não apenas para gerar a sua
própria espécie, mas também para gerar outras espécies. Eles possuem em seus corpos
a informação do esboço para a diversidade de organismos. Essa informação, que existe
em semelhantes formas sutis, se origina na inteligência do controlador universal, que a
transmite para os controladores subordinados (semideuses). Finalmente, os
controladores secundários manifestam essa informação do esboço nas formas das
variadas espécies, que continuam se reproduzindo. Deste modo, os Vedas, escrito
milhares de anos antes da época de Darwin, contém o mais antigo relato da evolução.
Entretanto, esse processo védico reflete o significado original da palavra evolução, que
se refere mais exatamente ao desvelar de algo existente em uma forma rudimentar, do
que a produção aleatória por processos físicos de algo inteiramente novo.
O relato sobre a origem das espécies contido nos Vedasé parecido com a evolução
darwiniana, na qual envolve a descida física de um ancestral comum e o surgimento de
novas espécies pela reprodução sexual. O conceito evolucionário védico difere da
darwiniana no que tange ao ancestral comum ser um ser super inteligente, e não uma
criatura unicelular. Além disso, a progressão de descida é das formas mais complexas
àquelas mais simples. Pode-se, então, ser denominada “evolução inversa”, com alguns
dos primeiros passos ocorrendo além do planeta.
Mesmo alguns cientistas modernos têm considerado a idéia da informação do esboço
sendo transmitida de uma fonte superior. Robert Broom, que descobriu alguns dos
primeiros resquícios do australopithecus na África, escreveu: “A origem das espécies e
da evolução parece estar atribuída à uma agência espiritual, parcialmente inteligente e
ordenada, em associação com o animal ou a planta, que controla os processos vitais e
tende a manter a entidade viva mais ou menos adaptada ao seu meio ambiente. Mas,
em acréscimo a isto, parece haver outras agências espirituais de um tipo muito mais
elevado que têm sido responsáveis pelo que podemos chamar de evolução maior (...).
Essas agências espirituais parecem ter trabalhado, de tempos em tempos, no controle
das agências inferiores que estão associadas aos animais e plantas”7. A idéia de Broom,
embora não exatamente paralela ao conceito védico, compartilha com a noção das
inteligências superiores controlando.
Pensamentos semelhantes têm sido expressados por Alfred Russell Wallace, que,
juntamente com Darwin, acreditavam na explicação da teoria da evolução pela seleção
natural. Ele escreveu no livro Mundo da vida: “Se existe tal Ser Infinito e se o seu
desejo e propósito é multiplicar os seres conscientes, então, dificilmente nós somos o
primeiro resultado desse propósito. Concluímos, portanto, que existe agora no universo
infinitas classes de poder, infinitas classes de conhecimento e sabedoria, infinitas
classes de influência dos seres superiores sobre os seres inferiores. De posse dessa
opinião, eu sugeri que esse vasto e maravilhoso universo, com sua quase infinita
variedade de formas, movimentos, e reações de parte sob parte, de sóis e sistemas até a
vida vegetal, a vida animal, e a alma humana viva, sempre exigiu e ainda exige a
contínua e coordenada interferência de muitas dessas inteligências”8.
Diferente da maioria dos cientistas, Wallace está preparado para aceitar que existe essa
coisa de intenção no universo. Mas sua declaração sobre “a alma humana viva”
demonstra que ele está aderindo ao conceito comum Ocidental que apenas os seres
humanos têm almas. Os Vedas, entretanto, ensinam que todos os organismos vivos têm
almas e que além da evolução das formas físicas, existe um segundo processo
evolucionário envolvendo a transmigração de almas.
A alma é compreendida como uma unidade única e indestrutível de consciência
proveniente da entidade universal consciente. Essas unidades individuais de
consciência podem ser vistas como idênticas em substância com a consciência
universal, mas muito menor em tamanho e poder.
As unidades de consciência dentro dos corpos de todas as espécies são, portanto,
qualitativamente idênticas em cada uma, embora revelem uma certa escala de poderes
e habilidades baseados nas características particulares das formas físicas que elas
habitam. Para compreender esse princípio, podemos considerar como um motorista
humano pode manifestar diferentes habilidades de acordo com o tipo de veículo que
estiver dirigindo. Em uma bicicleta, um ser humano pode alcançar uma certa
velocidade, mas em um potente carro esporte, a velocidade e a força aumentam. Em um
avião o ser humano pode voar e em um barco ele pode navegar. Da mesma forma, os
egos conscientes habitando diferentes corpos manifestam diferentes poderes e
habilidades, embora eles sejam todos essencialmente idênticos.

Transmigração e karma

A transmigração requer procedimentos para regular a passagem do ego consciente de


um corpo para outro. De acordo com os Vedas, esse processo é subordinado às mais
elevadas leis da natureza conhecidas coletivamente como a lei do karma. Os egos
conscientes dentro das formas inferiores, tais como plantas e animais,
automaticamente progridem até alcançarem a forma humana. A progressão das formas
inferiores para as formas superiores corresponde ao desenvolvimento do estado de
consciência inferior para o superior.
Nesse ponto, a pessoa provavelmente pergunta por que um inteligente ser superior
colocaria uma entidade consciente, ou alma, através da experiência de permanente
nascimento e morte, em diferentes tipos de corpos. A resposta depende da avaliação de
um aspecto fundamental do ego consciente – sua liberdade para desejar conforme lhe
satisfizer. A posição constitucional de cada ego é agir livre e conscientemente em
harmonia com os desejos do Supremo. Se a entidade consciente usar incorretamente
seu livre arbítrio para agir independentemente do Supremo, então Ele favorece esse
desejo ao dar a entidade um campo de ação no universo material.
Ali, a entidade deve se esforçar pela sobrevivência em um ambiente de competição e
conflito entre milhões de outros seres motivados pelos mesmos desejos materiais. Essas
interações entre seres conscientes são governadas por um princípio de justiça universal
chamada karma, sob a qual os seus sucessos e fracassos, felicidade e sofrimento, são
premiados de acordo com os seus atos nas vidas passadas. Cada ser consciente é,
portanto, pessoalmente responsável pelo seu destino.
Os vários corpos que os seres conscientes podem entrar existem para um duplo objetivo
– a satisfação de desejos particulares de experimentar a sensação material, e a gradual
transformação do desejo material para o espiritual. Na medida em que um ser fizer
mau uso de sua liberdade e agir de tal forma a prejudicar a si próprio ou aos outros, ele
deve sofrer, de modo correspondente, maiores limitações na sua habilidade de agir.
O desejo de Deus é que a alma volte ao nível de existência espiritual. Mas, por sua
própria escolha, a alma pode permanecer no mundo material. Nas formas de vida onde
a consciência é menor que a consciência humana, a entidade viva é totalmente
controlada pelas leis materiais. Na forma humana, a consciência é desenvolvida ao
ponto em que a pessoa pode ver como a energia material está sendo direcionada pelo
controlador universal.
Essa é a chave para a liberdade, por que nesse nível, a pessoa é capaz de fazer escolhas
conscientes que afetam a sua posição. A lei do karma influencia fortemente a situação
onde a pessoa se encontra, porém não determina de maneira inflexível o seu futuro –
existe espaço para a livre escolha. O ser consciente pode escolher ficar indiferente ao
desejo e propósito do controlador universal e continuar aceitando repetidamente o
nascimento. Ou ele pode desejar agir em harmonia com esse desejo e propósito e,
então, se libertar do ciclo de nascimento e morte e se engajar nas atividades espirituais
conscientes.
As atividades espirituais conscientes são possíveis por que a percepção sensorial é uma
função natural do eu consciente. Uma estrutura de sentido físico como olhos ou
ouvidos é meramente um mecanismo para canalizar determinados tipos de dados
sensoriais ao seu receptor, conhecido nos escritos védicos como jivatma. O cérebro é
um mecanismo processador de informação que faz parte desse aparelho sensitivo.
Assim, os sentidos e o cérebro podem ser considerados uma interface entre o mundo
exterior e o eu consciente (jivatma). Mas essa interface é na verdade uma limitação
para a habilidade sensitiva original do jivatma, por que as estruturas dos sentidos
materiais são designadas para registrar apenas certos fenômenos materiais. Essa
limitação é necessária se a alma agir esquecendo-se de sua natureza espiritual e
independentemente de sua ligação com Deus. É sempre possível, entretanto, para a
alma acordar suas habilidades sensórias e sentir Deus diretamente. As literaturas
védicas descrevem as histórias de grandes devotos e sábios que alcançaram esse estado
de superconsciência.
Existem vários níveis de consciência e atividade possíveis dentro dos limites dos
sentidos materiais. Uma pessoa no nível de consciência humano comum ficará ciente
apenas do fenômeno material rotineiro conhecido por todos nós. Mas os seres com
níveis mais altos de consciência, incluindo aqueles como os devas, ou semideuses
controladores, têm acesso a mais profundos e mais abrangentes aspectos da realidade
material. Por exemplo, uma pessoa comum assistindo um programa de televisão vê
apenas as formas das pessoas na tela. Mas um engenheiro elétrico pode compreender
exatamente como as imagens são produzidas e ter acesso direto ao equipamento
eletrônico que gera essas imagens. Assim como o engenheiro que trabalha numa
estação de televisão opera em um ambiente mais sofisticado do que a pessoa que assiste
à televisão em casa, certamente existem dimensões mais altas e mais baixas no
universo de realidade material correspondente a diferentes níveis de percepção
material.
Se existe um supremo e inteligente criador do universo, Ele deve existir numa
dimensão acima do tempo e espaço material que Ele gera e controla. A alma individual
sendo totalmente espiritual pode também entrar nessa dimensão. Neste nível mais alto
de consciência os sentidos do jivatma se tornam desimpedidos em sua atividade, e a
pessoa pode sentir diretamente a causa de todas as causas.
Os cientistas têm se engajados por séculos na investigação filosófica de uma unidade
elementar que fundamente o diversificado universo. Atualmente, isto toma a forma de
investigação científica para a grande e especial teoria do campo para explicar tudo a
partir das partículas subatômicas até os grupos galácticos. Tais esforços para descobrir
um princípio unificador material, entretanto, não têm sido bem sucedidos.
Então, seria proveitoso considerar o aspecto unificador de uma entidade suprema
consciente. Para compreender esse aspecto unificador podemos fazer uma comparação
entre a entidade consciente suprema e os qualitativamente semelhantes seres
individuais conscientes, assim como, por exemplo, nós mesmos. Mesmo quando você
está lendo isto, sua consciência está unindo diferentes aspectos da realidade – este
artigo, sua personalidade, o meio ambiente, seus pensamentos – numa só impressão
integrada. De modo similar, a única entidade universal consciente, às vezes conhecida
como a Superalma, é o princípio integrante que une o universo em um todo completo.
A consciência toda penetrante é a característica distinta da Superalma, em contraste
com os seres vivos infinitesimais, cuja consciência é extremamente limitada no espaço.
No Brahma-samhita, uma coleção de hinos das literaturas védicas da antiga Índia, o
autor descreve como a entidade universal consciente une todos os aspectos da
realidade: “Ele é uma entidade indiferenciada. (...) Todos os universos existem dentro
Dele e Ele está presente em Sua totalidade em cada um dos átomos que estão
espalhados pelo universo, ao mesmo tempo. Tal é o primordial Senhor a quem eu
adoro.” Tudo, até o átomo, é a energia da inteligência controladora universal, e é, desse
modo, unificada. A maioria dos conceitos de unidade propõe a idéia de uma unidade
que sustenta todo o fenômeno e é destituída de qualidades, personalidade e variedade
de formas.
Embora nossa própria inteligência possa ser aplicada às formas e a padrões da matéria
e, portanto, nos levar a certas conclusões sobre a existência do controlador universal, o
conhecimento detalhado sobre este supremo ser e Suas ações transcendentais devem
ser obtidas através de outro processo. De acordo com o relato védico, o princípio
fundamental da informação absoluta é fornecer informação para o projeto dos
organismos. Ele é também o fornecimento de informação para a inteligência funcional
dos seres vivos, capacitando-os na execução de atividades complexas. Além disso, esse
ser original pode fornecer informação sobre Ele mesmo.
Os Vedas dão uma descrição elaborada de como essa informação absoluta é
disseminada. Essencialmente, esse conhecimento é transmitido por vibração sonora. A
informação é transmitida ao primeiro ser vivo no universo, Brahma. E, então, é passada
de um professor espiritual (guru) a outro numa cadeia de sucessão discipular. Os sons
védicos são qualitativamente diferentes dos sons materiais visto que eles incorporam
muito mais do que simplesmente simbolizar conhecimento.
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o mais renomado estudioso
védico e ele mesmo um dos mais notáveis mestres espirituais na cadeia discipular
descendente de Brahma, declara: “Antes da criação o Senhor existia e, portanto, as
palavras pronunciadas pelo Senhor são vibrações de som transcendental. Existe um
abismo de diferença entre as duas qualidades de som, ou seja, prakrita e aprakrita. O
cientista pode lidar apenas com o som prakrita, ou som vibrado no céu material, e
portanto, nós devemos saber que os sons védicos gravados em expressões simbólicas
não podem ser compreendidos por qualquer um dentro do universo, a menos e até que
a pessoa seja inspirada pela vibração do som sobrenatural (aprakrita), que descende na
cadeia de sucessão disciplinar.” O som material é diferente do objeto que ele
representa. Por exemplo, a palavra água é diferente da substância água, mas os sons
védicos não são distintos das realidades espirituais que eles representam. Ao receber os
sons védicos do canal apropriado, as realidades espirituais incorporadas neles são
diretamente comunicadas ao ouvinte receptivo. A exigência é que a pessoa receba o
conhecimento conforme escutado e passe adiante sem alteração. Dessa forma, a
informação permanece perfeita. Em determinado ponto na história do som védico as
vibrações foram escritas pelo grande sábio Vyasadeva. Esses escritos formam um corpo
de conhecimento padrão, e os ensinamentos dos mestres espirituais podem ser, assim,
examinados para verificar se eles obedecem aos textos védicos tal como o Bhagavad-
gita.
O objetivo final do conhecimento é recolocar a consciência do eu em sua posição
original, livre da matéria. No estado condicionado, a consciência do eu tenta exercer
suas aptidões separada do Supremo, mas no estado liberado o eu é capaz de se
relacionar a nível pessoal direto com a suprema pessoa. Bhakti, ou a ciência do serviço
religioso, é o meio para cultivar esse relacionamento transcendental.
Os meios para despertar esse relacionamento variam durante a história. Na presente
época os Vedas recomendam o cantar dos mantras compostos dos nomes de Deus,
particularmente o mantra Hare Krishna. O princípio básico é que Deus está presente no
som do Seu nome. Quando a consciência está coberta pelos conceitos materiais, ela não
consegue perceber corretamente o eu ou o Supremo. Mas as energias espirituais
contidas nas vibrações do som transcendental do mantra Hare Krishna têm o poder de
remover as coberturas materiais do eu, e, assim, acordar sua consciência espiritual
original e libertá-la das reações karmicas que a confundem no ciclo da reencarnação.
Os cientistas têm criticado por muito tempo a religião por apresentar explicações que a
pessoa pode ou não acreditar, mas às quais não podem ser testadas de forma confiável.
Mas a ciência do bhakti-yoga tem métodos práticos para elevar a percepção sensorial a
fim de que a pessoa possa realmente perceber tudo que nós estamos agora discutindo –
a alma, o Ser Supremo, e a dimensão espiritual superior.
Neste ponto alguns podem afirmar que tais experiências estão disponíveis apenas aos
indivíduos especiais e são, portanto, não realmente aceitáveis como científicas. Essa
acusação pode ser mais exatamente nivelada na ciência material. Físicos atômicos com
acesso ao acelerador de partículas de alta energia podem estar aptos a confirmar a
existência de certas partículas subatômicas, mas a pessoa comum não está equipada
para isto. Por outro lado, qualquer pessoa tem o potencial para experimentar o
conhecimento espiritual que pode ser adquirido através da ciência do bhakti-yoga.
Nenhum equipamento especial é necessário.
A razão pela qual nem todos são capazes de imediatamente obter a percepção direta do
fenômeno não-material é que existem condições necessárias para que a elevação da
consciência ocorra. Isto também é verdade na ciência. Por exemplo, houve um
experimento dirigido pelo renomado físico inglês Henry Cavendish (1731-1810), para
determinar a constante gravitacional. Nesse experimento, um haltere é suspenso por
um fino cabo. Bolas de ferro de volume definido são colocadas em lados opostos nas
extremidades do haltere, e, por sua influência, o haltere se move levemente. Quando as
bolas de ferro vão para trás, o haltere se move na direção oposta. Pelo cálculo, a pessoa
pode determinar a constante gravitacional.
Mas se existir interferência externa, por exemplo, não existe possibilidade alguma de se
conseguir uma leitura precisa. As influências externas devem ser, portanto,
cuidadosamente excluídas do sistema. Também na ciência espiritual, certos fatores
devem ser excluídos a fim de ser obter os resultados desejados. Existem certas
atividades prejudiciais para a consciência superior. Essas influências perturbadoras
que, de acordo com os Vedas, mantém a consciência na plataforma material, são as
apostas em jogos de sorte, o comer carne, o sexo ilícito, e a intoxicação. Então, um
praticante do bhakti-yoga evita-os cuidadosamente. As sociedades também conhecidas
como yoga que permitem que os seus membros continuem os hábitos acima
mencionados não podem expressar a realização espiritual.
O estágio final do bhakti-yoga é compreender as atividades da suprema entidade
consciente na dimensão espiritual. As partes mais confidenciais das literaturas védicas
descrevem algumas dessas atividades. Nós já falamos da idéia de dimensões superiores
de existência, e demonstramos que elas se tornam acessíveis pela aquisição de níveis
superiores de consciência. As literaturas védicas revelam a existência de um mundo
espiritual que é completamente distinto desse universo material e que, na verdade,
forma a porção maior da realidade total. O Bhagavad-gita declara: “Ainda assim, existe
outra natureza não manifesta, que é eterna e é transcendental a esta matéria
manifestada e não manifestada. Ela é suprema e nunca é destruída. Quando todo esse
mundo for aniquilado, aquela parte permanece como ela é. Aquilo que os Vedantas
descrevem como não manifesto e infalível, aquilo que é conhecido como o destino
supremo, aquele lugar do qual, tendo alcançado-o, a pessoa nunca volta atrás – que é a
Minha suprema morada.”
Deus não cria apenas o universo material. Ele tem Seu próprio mundo transcendental
diversificado no qual Ele se ocupa em passatempos para a Sua própria satisfação. Deus
é o supremo desfrutador, e inumeráveis almas espirituais moram com Ele na mais
elevada plataforma de consciência e a Ele se associam. Elas servem ao Senhor
constantemente e sem interesses egoístas. O Senhor retribui a eles, por sua vez,
servindo-os, e, então, ambos o Senhor e Seus devotos experimentam vários prazeres
espirituais que em muito ultrapassa qualquer prazer material. A natureza dessas trocas
constitui uma ciência em si mesma.
Este texto apresenta brevemente uma alternativa para o conceito mecanicista do
universo, uma ciência baseada na consciência e na personalidade mais do que nos
átomos e no vácuo. W. Heitler, um físico teórico da Universidade de Zurich, afirma em
seu livro Man and science: “A crença em um universo mecanicista é uma superstição
moderna. Como provavelmente acontece em muitos casos de superstição, a crença é
baseada em uma mais ou menos extensiva série de fatos exatos, fatos que são
subseqüentemente generalizados sem permissão, e finalmente tão distorcidos que eles
se tornam grotescos. (...) A ‘superstição de feitiçaria’ custou a vida de inúmeras
mulheres inocentes do jeito mais cruel. A superstição mecanicista é mais perigosa. Ela
leva ao geral esgotamento espiritual e moral, o que pode facilmente levar a destruição
física. Quando chegarmos ao estágio de enxergar no homem somente uma máquina
complexa, que importância tem se o destruímos?”10.

Filosofia da Ciência: Ciência De Dimensão Superior


Num momento onde as tentativas de explicar a realidade do ponto de vista mecanicista
estão se mostrando inadequadas, fica cada vez mais evidente a necessidade de uma
nova estratégia de investigação científica. 
Ciência De Dimensão Superior
Ciência De Dimensão Superior
Uma discussão dos universos da experiência e estratégias de investigação
transcendendo os limites da ciência mecanicista

James D. Watson, co-descobridor de DNA, recentemente falou sobre o mistério da


vida: “Isto é muito complexo, mas pode ser explicado pelas leis da química, pelo
impulso termal aleatório. É complicado; existem muitas variáveis, mas não existe
dúvida que é isto”1.
Ele lembrou que esta convicção motivou fortemente tanto ele quanto Francis Crick
durante sua pioneira investigação dentro do DNA. “Nós não teríamos conseguido se
não acreditássemos que a química poderia explicar isto. Até então as pessoas achavam
que a química não seria suficiente, que era necessário que a religião explicasse a vida.
Mas mesmo quando eu estava na faculdade eu fui influenciado pela insistência de Linus
Pauling de que você pode explicar a vida com base na química”2.
Sua atitude para com a religião é mais adiante esclarecida na seguinte declaração:
“Quando eu escrevi a primeira edição de meu texto (A biologia molecular da gene), eu
pensei, Eu estou re-escrevendo a Bíblia – na verdade retornando e descobrindo o que
se passa" (grifos nossos)3.
De modo geral, as declarações de Watson representam a direção geral do pensamento
científico nos últimos séculos – a fé na explicação de fenômenos complexos (como a
vida, a origem das espécies, a origem e a estrutura do universo, etc.) pelas simples,
matematicamente expressas leis naturais. Alguns cientistas e fiéis tentaram preservar
um papel final para Deus como o responsável pelas leis da física, mas isto concede às
leis da física um status maior do que Deus no universo. Com este acordo, a essência do
conceito original do Deus onipotente é completamente eliminada, e a pessoa é deixada
com uma concha vazia e sem sentido. As religiões que aceitaram este acordo deveriam
reavaliar os seus posicionamentos.
De sua parte, Watson mantém uma inabalável fé de que a explicação física é sempre
possível: “A nível de DNA isto [a explicação física da vida] funciona muito bem. Em um
nível mais complicado, nós ainda estamos tentando compreender. A embriologia é
muito mais difícil. E na neurobiologia existem poucos vislumbres. Mas alguns
[cientistas] terão um momento em que a luz surgirá (...) O problema de explicar a
consciência em termos biológicos é difícil, mas estou certo que se esclarecerá”4.
Aqui, a principal desvantagem da ciência moderna é focalizada com clareza. Watson
admite que os aspectos fundamentais dos organismos vivos não têm sido totalmente
explicados pelas leis da física; mesmo assim ele insiste que eles podem ser e serão
explicados, rejeitando antecipadamente qualquer explicação não-material e não-
mecanicista.
Mas isto é mesmo verdade? Seria possível que a fé de Watson seja sem fundamento?
Todas as possíveis evidências apontam claramente para a possibilidade de que as
formas complexas dos organismos vivos jamais possam ser explicadas pelas simples
leis da física. Alguém poderia talvez dizer que as peças de Shakespeare podem ser
explicadas pelas 26 letras do alfabeto, mas obviamente tem muito mais coisa envolvida
nisto. Da mesma forma, os cientistas podem afirmar que a vida pode ser explicada pelo
código genético incrustado em certas moléculas, mas por enquanto essa abordagem
tem falhado ao explicar a complexidade mesmo das simples formas de vida. Assim
como ninguém descobriu qualquer simples conjunto de leis que pudessem permitir um
computador transformar as 26 letras do alfabeto em um Hamlet ou Macbeth, também
nenhum cientista provou qualquer conjunto de simples leis naturais que pudessem
transformar alguns elementos moleculares básicos e fundamentais da vida em uma
única célula auto-reprodutora.
Assim, quem sabe da mesma forma que as fundamentais leis da física não podem ser
reduzidas, a complexidade material que observamos nos organismos vivos também não
pode ser reduzida. Alguns cientistas com liberdade de pensamento e com coragem para
desafiar os preconceitos tomaram este destemido passo. Revendo as conclusões de suas
próprias investigações, o proeminente biologista Walter M. Elsasser declara que o
complexo bioquímico das formas dos organismos vivos é “de um tipo primário e de
ordem natural irreduzível, no mesmo nível das mais convencionais leis da natureza”5.

Forma complexa absoluta

Tendo fracassado para reduzir coisas complexas em princípios simples, o cientista


agora tem duas escolhas. Primeiro, ele pode simplesmente parar, afirmando que essas
coisas existem, mas que não podemos dizer nada mais sobre elas. Segundo, ele pode
seguir em frente investigando princípios convenientemente complexos que tenham
gerado a complexidade irreduzível que ele observa. Em outras palavras, ele deve
considerar a existência de uma forma complexa absoluta. Ele poderia então questionar
sobre a natureza dessa forma e por que caminho a informação é transmitida a partir
dessa origem para produzir as formas e as estruturas que vemos no universo, tais como
os organismos vivos. Nós não precisamos ter quaisquer preconceitos sobre a natureza
dessa absoluta forma complexa. Do ponto de vista da lógica, existem muitas
possibilidades que podem ser consideradas.
Por exemplo, vamos considerar algumas possibilidades alternativas para uma absoluta
e irreduzível forma complexa contendo informação capaz de gerar seqüências de
complexos organismos vivos. Imagine que no oceano da Terra primitiva uma ameba
estivesse situada numa certa posição e direção fixa. Imagine também que no espaço
distante, um determinado padrão de raios cósmicos precisamente definidos fosse
empurrado em direção a Terra. Pelo curso natural dos eventos nossos raios cósmicos
hipotéticos atravessariam a atmosfera terrestre e destruiriam os genes da ameba de
forma especial, dando assim início a um novo e superior tipo de organismo (como um
trilobita, um tipo de escorpião).
Nesse cenário, o padrão especial de raios cósmicos e a situação da ameba em particular,
representam um tipo de forma complexa absoluta que contém informação para a
eventual produção de um organismo superior. Aqui nós propositalmente escolhemos
um exemplo insatisfatório de como poderia ser uma absoluta forma complexa. Ao
investigarmos a origem da forma do organismo superior em contraposição à
configuração inicial particular dos raios cósmicos, não podemos seguir adiante. Nós
simplesmente encontramos um intelectual e frustrante beco sem saída. Então, deixe-
nos considerar outra possibilidade.
Imagine uma fonte de informação mais completa que se origina simultaneamente com
o universo – um “computador cósmico” com uma memória somente para leitura
(memória ROM) contendo dados para todas as formas complexas destinadas a se
manifestarem. Essa proposta pode parecer estranha, mas se os físicos podem nos
convidar a aceitar a hipótese de que todo o universo é detonado a partir do vácuo
quântico, por que não pode um computador universal detonar tudo isto? Os
astrônomos Sir Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe propuseram algo deste tipo no
livro intitulado A evolução partindo do espaço: “Então, o que aconteceria se nosso
progenitor fosse um fragmento de silicone extremamente complexo? Uma coisa parece
correta nessa idéia. Não seria possível uma inteligência, mesmo grande, gerar vida
carbônica [vida baseada em compostos carbônicos] sem executar uma quantidade
enorme de cálculo”6.
Na verdade, a idéia de um computador cósmico é simplesmente uma maneira gráfica
de quebrar o conceito muito arraigado que os princípios fundamentais devem ser
reduzidos a simples leis naturais. A maior parte dos cientistas estão obcecados com a
idéia de ver o fenômeno natural como uma progressão do simples ao complexo,
enquanto que na realidade parece que o oposto é verdadeiro – qualquer coisa complexa
deriva de algo igualmente ou mais complexo. Então, poderíamos imaginar que o
computador cósmico utilizando a informação contida em sua memória pudesse
construir espaçonaves que viajassem para diferentes planetas, implantassem formas de
vida em ambientes adequados, então voltassem periodicamente para alterá-las
geneticamente. Dessa forma, as variedades de organismos poderiam ser
seqüencialmente produzidas.
Nós propomos que mesmo a estrutura de uma simples célula é de complexidade
irreduzível. Então, poderíamos nos responsabilizar por essa complexidade ao obtermos
programas adequados em nosso hipotético computador cósmico. Mas, em contraste ao
nosso exemplo de raios cósmicos, esses programas poderiam ser mais do que meros
repositórios arbitrários de informação. Se encarássemos os organismos como máquinas
computadorizadas, alguns deles, tais quais os humanos, revelando um comportamento
de ordem elevada que chamamos de inteligente, não seria possível que o computador
cósmico original também possuísse a função de comportamento inteligente e de
tomada de decisões? Aqui, começamos a ver como uma fonte original e absoluta de
informação teria interessantes características, o que poderia nos levar a querer estudá-
la diretamente.

Consciência e inteligência superior

Agora, chegamos a outra característica da realidade. Observamos em nós mesmos uma


variedade de pensamentos, emoções e percepções que vão além da simples capacidade
de uma máquina em responder aos estímulos externos através de algum tipo de
processamento de dados. Em outras palavras, nossa capacidade para funcionar de
forma inteligente é também acompanhada pelo fenômeno da consciência. A consciência
é real – todos nós temos experiência disto. Mesmo assim, embora o comportamento
associado com a consciência seja medido, a consciência mesmo permanece inexplicável
pelos métodos quantitativos. Ela não pode ser responsabilizada pelas leis da física.
Então, o que é isto e de onde vem?
Consideramos um computador cósmico exibindo uma ordem superior de inteligência
como a fonte original de certas características complexas do universo perceptível. Isto
sugere uma idéia ilusória – que essa inteligência cósmica poderia ser algo mais do que
uma máquina morta. Possivelmente seria um ser consciente e super inteligente que
originasse, não apenas a informação que determina as formas dos organismos, mas
também a consciência que as despertam.
Esse conceito abre algumas possibilidades interessantes. Se existisse tal ser inteligente,
ele seria capaz de comunicar a informação exata através dos meios de sua própria
escolha para aqueles curiosos sobre as questões fundamentais tais como a origem dos
seres vivos. E, se ele fosse bondoso, ele faria isto de bom grado.
Isso nos fornece outra possível estratégia para conseguir respostas quanto às questões
fundamentais. A estratégia científica normal de supor que as origens fundamentais são
simples e, então, procurar tais origens simples, certamente falhará se a origem
fundamental é irredutivelmente complexa. Mas se a origem fundamental é um
benevolente ser superconsciente, então, a estratégia de suposição que isto é assim, e de
procurar um processo de entrar em contato com tal ser, pode ser bem sucedida.
A questão óbvia e prática é essa: será que podemos encontrar claros da informação que
foi passada de uma fonte absoluta e inteligente aos seres humanos, com essa
informação contendo meios e modos de demonstrar que ela é autêntica? Nós propomos
que as literaturas védicas da antiga Índia dão um impressionante exemplo de um corpo
de conhecimento interno comprovadamente sábio. As literaturas védicas têm uma
descrição geral de epistemologia, a análise sistemática dos procedimentos para
aquisição de conhecimento, e fornecem também uma discussão completa da natureza e
origem do universo e dos organismos vivos que nele habitam. Neste ponto, iremos
discutir resumidamente algumas características importantes da perspectiva do mundo
védico.

Evolução inversa
Os Vedas descrevem, de forma elaborada, um processo complexo de evolução que
progride de planos sutis para a manifestação física na matéria. De acordo com esse
relato, o controlador universal gera diretamente um controlador subordinado primário
que gera controladores secundários, tudo por processo não-sexual. Esses controladores
secundários têm a capacidade para a reprodução sexual, não apenas para gerar a sua
própria espécie, mas também para gerar outras espécies. Eles possuem em seus corpos
a informação do esboço para a diversidade de organismos. Essa informação, que existe
em semelhantes formas sutis, se origina na inteligência do controlador universal, que a
transmite para os controladores subordinados (semideuses). Finalmente, os
controladores secundários manifestam essa informação do esboço nas formas das
variadas espécies, que continuam se reproduzindo. Deste modo, os Vedas, escrito
milhares de anos antes da época de Darwin, contém o mais antigo relato da evolução.
Entretanto, esse processo védico reflete o significado original da palavra evolução, que
se refere mais exatamente ao desvelar de algo existente em uma forma rudimentar, do
que a produção aleatória por processos físicos de algo inteiramente novo.
O relato sobre a origem das espécies contido nos Vedasé parecido com a evolução
darwiniana, na qual envolve a descida física de um ancestral comum e o surgimento de
novas espécies pela reprodução sexual. O conceito evolucionário védico difere da
darwiniana no que tange ao ancestral comum ser um ser super inteligente, e não uma
criatura unicelular. Além disso, a progressão de descida é das formas mais complexas
àquelas mais simples. Pode-se, então, ser denominada “evolução inversa”, com alguns
dos primeiros passos ocorrendo além do planeta.
Mesmo alguns cientistas modernos têm considerado a idéia da informação do esboço
sendo transmitida de uma fonte superior. Robert Broom, que descobriu alguns dos
primeiros resquícios do australopithecus na África, escreveu: “A origem das espécies e
da evolução parece estar atribuída à uma agência espiritual, parcialmente inteligente e
ordenada, em associação com o animal ou a planta, que controla os processos vitais e
tende a manter a entidade viva mais ou menos adaptada ao seu meio ambiente. Mas,
em acréscimo a isto, parece haver outras agências espirituais de um tipo muito mais
elevado que têm sido responsáveis pelo que podemos chamar de evolução maior (...).
Essas agências espirituais parecem ter trabalhado, de tempos em tempos, no controle
das agências inferiores que estão associadas aos animais e plantas”7. A idéia de Broom,
embora não exatamente paralela ao conceito védico, compartilha com a noção das
inteligências superiores controlando.
Pensamentos semelhantes têm sido expressados por Alfred Russell Wallace, que,
juntamente com Darwin, acreditavam na explicação da teoria da evolução pela seleção
natural. Ele escreveu no livro Mundo da vida: “Se existe tal Ser Infinito e se o seu
desejo e propósito é multiplicar os seres conscientes, então, dificilmente nós somos o
primeiro resultado desse propósito. Concluímos, portanto, que existe agora no universo
infinitas classes de poder, infinitas classes de conhecimento e sabedoria, infinitas
classes de influência dos seres superiores sobre os seres inferiores. De posse dessa
opinião, eu sugeri que esse vasto e maravilhoso universo, com sua quase infinita
variedade de formas, movimentos, e reações de parte sob parte, de sóis e sistemas até a
vida vegetal, a vida animal, e a alma humana viva, sempre exigiu e ainda exige a
contínua e coordenada interferência de muitas dessas inteligências”8.
Diferente da maioria dos cientistas, Wallace está preparado para aceitar que existe essa
coisa de intenção no universo. Mas sua declaração sobre “a alma humana viva”
demonstra que ele está aderindo ao conceito comum Ocidental que apenas os seres
humanos têm almas. Os Vedas, entretanto, ensinam que todos os organismos vivos têm
almas e que além da evolução das formas físicas, existe um segundo processo
evolucionário envolvendo a transmigração de almas.
A alma é compreendida como uma unidade única e indestrutível de consciência
proveniente da entidade universal consciente. Essas unidades individuais de
consciência podem ser vistas como idênticas em substância com a consciência
universal, mas muito menor em tamanho e poder.
As unidades de consciência dentro dos corpos de todas as espécies são, portanto,
qualitativamente idênticas em cada uma, embora revelem uma certa escala de poderes
e habilidades baseados nas características particulares das formas físicas que elas
habitam. Para compreender esse princípio, podemos considerar como um motorista
humano pode manifestar diferentes habilidades de acordo com o tipo de veículo que
estiver dirigindo. Em uma bicicleta, um ser humano pode alcançar uma certa
velocidade, mas em um potente carro esporte, a velocidade e a força aumentam. Em um
avião o ser humano pode voar e em um barco ele pode navegar. Da mesma forma, os
egos conscientes habitando diferentes corpos manifestam diferentes poderes e
habilidades, embora eles sejam todos essencialmente idênticos.

Transmigração e karma

A transmigração requer procedimentos para regular a passagem do ego consciente de


um corpo para outro. De acordo com os Vedas, esse processo é subordinado às mais
elevadas leis da natureza conhecidas coletivamente como a lei do karma. Os egos
conscientes dentro das formas inferiores, tais como plantas e animais,
automaticamente progridem até alcançarem a forma humana. A progressão das formas
inferiores para as formas superiores corresponde ao desenvolvimento do estado de
consciência inferior para o superior.
Nesse ponto, a pessoa provavelmente pergunta por que um inteligente ser superior
colocaria uma entidade consciente, ou alma, através da experiência de permanente
nascimento e morte, em diferentes tipos de corpos. A resposta depende da avaliação de
um aspecto fundamental do ego consciente – sua liberdade para desejar conforme lhe
satisfizer. A posição constitucional de cada ego é agir livre e conscientemente em
harmonia com os desejos do Supremo. Se a entidade consciente usar incorretamente
seu livre arbítrio para agir independentemente do Supremo, então Ele favorece esse
desejo ao dar a entidade um campo de ação no universo material.
Ali, a entidade deve se esforçar pela sobrevivência em um ambiente de competição e
conflito entre milhões de outros seres motivados pelos mesmos desejos materiais. Essas
interações entre seres conscientes são governadas por um princípio de justiça universal
chamada karma, sob a qual os seus sucessos e fracassos, felicidade e sofrimento, são
premiados de acordo com os seus atos nas vidas passadas. Cada ser consciente é,
portanto, pessoalmente responsável pelo seu destino.
Os vários corpos que os seres conscientes podem entrar existem para um duplo objetivo
– a satisfação de desejos particulares de experimentar a sensação material, e a gradual
transformação do desejo material para o espiritual. Na medida em que um ser fizer
mau uso de sua liberdade e agir de tal forma a prejudicar a si próprio ou aos outros, ele
deve sofrer, de modo correspondente, maiores limitações na sua habilidade de agir.
O desejo de Deus é que a alma volte ao nível de existência espiritual. Mas, por sua
própria escolha, a alma pode permanecer no mundo material. Nas formas de vida onde
a consciência é menor que a consciência humana, a entidade viva é totalmente
controlada pelas leis materiais. Na forma humana, a consciência é desenvolvida ao
ponto em que a pessoa pode ver como a energia material está sendo direcionada pelo
controlador universal.
Essa é a chave para a liberdade, por que nesse nível, a pessoa é capaz de fazer escolhas
conscientes que afetam a sua posição. A lei do karma influencia fortemente a situação
onde a pessoa se encontra, porém não determina de maneira inflexível o seu futuro –
existe espaço para a livre escolha. O ser consciente pode escolher ficar indiferente ao
desejo e propósito do controlador universal e continuar aceitando repetidamente o
nascimento. Ou ele pode desejar agir em harmonia com esse desejo e propósito e,
então, se libertar do ciclo de nascimento e morte e se engajar nas atividades espirituais
conscientes.
As atividades espirituais conscientes são possíveis por que a percepção sensorial é uma
função natural do eu consciente. Uma estrutura de sentido físico como olhos ou
ouvidos é meramente um mecanismo para canalizar determinados tipos de dados
sensoriais ao seu receptor, conhecido nos escritos védicos como jivatma. O cérebro é
um mecanismo processador de informação que faz parte desse aparelho sensitivo.
Assim, os sentidos e o cérebro podem ser considerados uma interface entre o mundo
exterior e o eu consciente (jivatma). Mas essa interface é na verdade uma limitação
para a habilidade sensitiva original do jivatma, por que as estruturas dos sentidos
materiais são designadas para registrar apenas certos fenômenos materiais. Essa
limitação é necessária se a alma agir esquecendo-se de sua natureza espiritual e
independentemente de sua ligação com Deus. É sempre possível, entretanto, para a
alma acordar suas habilidades sensórias e sentir Deus diretamente. As literaturas
védicas descrevem as histórias de grandes devotos e sábios que alcançaram esse estado
de superconsciência.
Existem vários níveis de consciência e atividade possíveis dentro dos limites dos
sentidos materiais. Uma pessoa no nível de consciência humano comum ficará ciente
apenas do fenômeno material rotineiro conhecido por todos nós. Mas os seres com
níveis mais altos de consciência, incluindo aqueles como os devas, ou semideuses
controladores, têm acesso a mais profundos e mais abrangentes aspectos da realidade
material. Por exemplo, uma pessoa comum assistindo um programa de televisão vê
apenas as formas das pessoas na tela. Mas um engenheiro elétrico pode compreender
exatamente como as imagens são produzidas e ter acesso direto ao equipamento
eletrônico que gera essas imagens. Assim como o engenheiro que trabalha numa
estação de televisão opera em um ambiente mais sofisticado do que a pessoa que assiste
à televisão em casa, certamente existem dimensões mais altas e mais baixas no
universo de realidade material correspondente a diferentes níveis de percepção
material.
Se existe um supremo e inteligente criador do universo, Ele deve existir numa
dimensão acima do tempo e espaço material que Ele gera e controla. A alma individual
sendo totalmente espiritual pode também entrar nessa dimensão. Neste nível mais alto
de consciência os sentidos do jivatma se tornam desimpedidos em sua atividade, e a
pessoa pode sentir diretamente a causa de todas as causas.
Os cientistas têm se engajados por séculos na investigação filosófica de uma unidade
elementar que fundamente o diversificado universo. Atualmente, isto toma a forma de
investigação científica para a grande e especial teoria do campo para explicar tudo a
partir das partículas subatômicas até os grupos galácticos. Tais esforços para descobrir
um princípio unificador material, entretanto, não têm sido bem sucedidos.
Então, seria proveitoso considerar o aspecto unificador de uma entidade suprema
consciente. Para compreender esse aspecto unificador podemos fazer uma comparação
entre a entidade consciente suprema e os qualitativamente semelhantes seres
individuais conscientes, assim como, por exemplo, nós mesmos. Mesmo quando você
está lendo isto, sua consciência está unindo diferentes aspectos da realidade – este
artigo, sua personalidade, o meio ambiente, seus pensamentos – numa só impressão
integrada. De modo similar, a única entidade universal consciente, às vezes conhecida
como a Superalma, é o princípio integrante que une o universo em um todo completo.
A consciência toda penetrante é a característica distinta da Superalma, em contraste
com os seres vivos infinitesimais, cuja consciência é extremamente limitada no espaço.
No Brahma-samhita, uma coleção de hinos das literaturas védicas da antiga Índia, o
autor descreve como a entidade universal consciente une todos os aspectos da
realidade: “Ele é uma entidade indiferenciada. (...) Todos os universos existem dentro
Dele e Ele está presente em Sua totalidade em cada um dos átomos que estão
espalhados pelo universo, ao mesmo tempo. Tal é o primordial Senhor a quem eu
adoro.” Tudo, até o átomo, é a energia da inteligência controladora universal, e é, desse
modo, unificada. A maioria dos conceitos de unidade propõe a idéia de uma unidade
que sustenta todo o fenômeno e é destituída de qualidades, personalidade e variedade
de formas.
Embora nossa própria inteligência possa ser aplicada às formas e a padrões da matéria
e, portanto, nos levar a certas conclusões sobre a existência do controlador universal, o
conhecimento detalhado sobre este supremo ser e Suas ações transcendentais devem
ser obtidas através de outro processo. De acordo com o relato védico, o princípio
fundamental da informação absoluta é fornecer informação para o projeto dos
organismos. Ele é também o fornecimento de informação para a inteligência funcional
dos seres vivos, capacitando-os na execução de atividades complexas. Além disso, esse
ser original pode fornecer informação sobre Ele mesmo.
Os Vedas dão uma descrição elaborada de como essa informação absoluta é
disseminada. Essencialmente, esse conhecimento é transmitido por vibração sonora. A
informação é transmitida ao primeiro ser vivo no universo, Brahma. E, então, é passada
de um professor espiritual (guru) a outro numa cadeia de sucessão discipular. Os sons
védicos são qualitativamente diferentes dos sons materiais visto que eles incorporam
muito mais do que simplesmente simbolizar conhecimento.
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o mais renomado estudioso
védico e ele mesmo um dos mais notáveis mestres espirituais na cadeia discipular
descendente de Brahma, declara: “Antes da criação o Senhor existia e, portanto, as
palavras pronunciadas pelo Senhor são vibrações de som transcendental. Existe um
abismo de diferença entre as duas qualidades de som, ou seja, prakrita e aprakrita. O
cientista pode lidar apenas com o som prakrita, ou som vibrado no céu material, e
portanto, nós devemos saber que os sons védicos gravados em expressões simbólicas
não podem ser compreendidos por qualquer um dentro do universo, a menos e até que
a pessoa seja inspirada pela vibração do som sobrenatural (aprakrita), que descende na
cadeia de sucessão disciplinar.” O som material é diferente do objeto que ele
representa. Por exemplo, a palavra água é diferente da substância água, mas os sons
védicos não são distintos das realidades espirituais que eles representam. Ao receber os
sons védicos do canal apropriado, as realidades espirituais incorporadas neles são
diretamente comunicadas ao ouvinte receptivo. A exigência é que a pessoa receba o
conhecimento conforme escutado e passe adiante sem alteração. Dessa forma, a
informação permanece perfeita. Em determinado ponto na história do som védico as
vibrações foram escritas pelo grande sábio Vyasadeva. Esses escritos formam um corpo
de conhecimento padrão, e os ensinamentos dos mestres espirituais podem ser, assim,
examinados para verificar se eles obedecem aos textos védicos tal como o Bhagavad-
gita.
O objetivo final do conhecimento é recolocar a consciência do eu em sua posição
original, livre da matéria. No estado condicionado, a consciência do eu tenta exercer
suas aptidões separada do Supremo, mas no estado liberado o eu é capaz de se
relacionar a nível pessoal direto com a suprema pessoa. Bhakti, ou a ciência do serviço
religioso, é o meio para cultivar esse relacionamento transcendental.
Os meios para despertar esse relacionamento variam durante a história. Na presente
época os Vedas recomendam o cantar dos mantras compostos dos nomes de Deus,
particularmente o mantra Hare Krishna. O princípio básico é que Deus está presente no
som do Seu nome. Quando a consciência está coberta pelos conceitos materiais, ela não
consegue perceber corretamente o eu ou o Supremo. Mas as energias espirituais
contidas nas vibrações do som transcendental do mantra Hare Krishna têm o poder de
remover as coberturas materiais do eu, e, assim, acordar sua consciência espiritual
original e libertá-la das reações karmicas que a confundem no ciclo da reencarnação.
Os cientistas têm criticado por muito tempo a religião por apresentar explicações que a
pessoa pode ou não acreditar, mas às quais não podem ser testadas de forma confiável.
Mas a ciência do bhakti-yoga tem métodos práticos para elevar a percepção sensorial a
fim de que a pessoa possa realmente perceber tudo que nós estamos agora discutindo –
a alma, o Ser Supremo, e a dimensão espiritual superior.
Neste ponto alguns podem afirmar que tais experiências estão disponíveis apenas aos
indivíduos especiais e são, portanto, não realmente aceitáveis como científicas. Essa
acusação pode ser mais exatamente nivelada na ciência material. Físicos atômicos com
acesso ao acelerador de partículas de alta energia podem estar aptos a confirmar a
existência de certas partículas subatômicas, mas a pessoa comum não está equipada
para isto. Por outro lado, qualquer pessoa tem o potencial para experimentar o
conhecimento espiritual que pode ser adquirido através da ciência do bhakti-yoga.
Nenhum equipamento especial é necessário.
A razão pela qual nem todos são capazes de imediatamente obter a percepção direta do
fenômeno não-material é que existem condições necessárias para que a elevação da
consciência ocorra. Isto também é verdade na ciência. Por exemplo, houve um
experimento dirigido pelo renomado físico inglês Henry Cavendish (1731-1810), para
determinar a constante gravitacional. Nesse experimento, um haltere é suspenso por
um fino cabo. Bolas de ferro de volume definido são colocadas em lados opostos nas
extremidades do haltere, e, por sua influência, o haltere se move levemente. Quando as
bolas de ferro vão para trás, o haltere se move na direção oposta. Pelo cálculo, a pessoa
pode determinar a constante gravitacional.
Mas se existir interferência externa, por exemplo, não existe possibilidade alguma de se
conseguir uma leitura precisa. As influências externas devem ser, portanto,
cuidadosamente excluídas do sistema. Também na ciência espiritual, certos fatores
devem ser excluídos a fim de ser obter os resultados desejados. Existem certas
atividades prejudiciais para a consciência superior. Essas influências perturbadoras
que, de acordo com os Vedas, mantém a consciência na plataforma material, são as
apostas em jogos de sorte, o comer carne, o sexo ilícito, e a intoxicação. Então, um
praticante do bhakti-yoga evita-os cuidadosamente. As sociedades também conhecidas
como yoga que permitem que os seus membros continuem os hábitos acima
mencionados não podem expressar a realização espiritual.
O estágio final do bhakti-yoga é compreender as atividades da suprema entidade
consciente na dimensão espiritual. As partes mais confidenciais das literaturas védicas
descrevem algumas dessas atividades. Nós já falamos da idéia de dimensões superiores
de existência, e demonstramos que elas se tornam acessíveis pela aquisição de níveis
superiores de consciência. As literaturas védicas revelam a existência de um mundo
espiritual que é completamente distinto desse universo material e que, na verdade,
forma a porção maior da realidade total. O Bhagavad-gita declara: “Ainda assim, existe
outra natureza não manifesta, que é eterna e é transcendental a esta matéria
manifestada e não manifestada. Ela é suprema e nunca é destruída. Quando todo esse
mundo for aniquilado, aquela parte permanece como ela é. Aquilo que os Vedantas
descrevem como não manifesto e infalível, aquilo que é conhecido como o destino
supremo, aquele lugar do qual, tendo alcançado-o, a pessoa nunca volta atrás – que é a
Minha suprema morada.”
Deus não cria apenas o universo material. Ele tem Seu próprio mundo transcendental
diversificado no qual Ele se ocupa em passatempos para a Sua própria satisfação. Deus
é o supremo desfrutador, e inumeráveis almas espirituais moram com Ele na mais
elevada plataforma de consciência e a Ele se associam. Elas servem ao Senhor
constantemente e sem interesses egoístas. O Senhor retribui a eles, por sua vez,
servindo-os, e, então, ambos o Senhor e Seus devotos experimentam vários prazeres
espirituais que em muito ultrapassa qualquer prazer material. A natureza dessas trocas
constitui uma ciência em si mesma.
Este texto apresenta brevemente uma alternativa para o conceito mecanicista do
universo, uma ciência baseada na consciência e na personalidade mais do que nos
átomos e no vácuo. W. Heitler, um físico teórico da Universidade de Zurich, afirma em
seu livro Man and science: “A crença em um universo mecanicista é uma superstição
moderna. Como provavelmente acontece em muitos casos de superstição, a crença é
baseada em uma mais ou menos extensiva série de fatos exatos, fatos que são
subseqüentemente generalizados sem permissão, e finalmente tão distorcidos que eles
se tornam grotescos. (...) A ‘superstição de feitiçaria’ custou a vida de inúmeras
mulheres inocentes do jeito mais cruel. A superstição mecanicista é mais perigosa. Ela
leva ao geral esgotamento espiritual e moral, o que pode facilmente levar a destruição
física. Quando chegarmos ao estágio de enxergar no homem somente uma máquina
complexa, que importância tem se o destruímos?”10

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