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Ciência
Grandes Dúvidas
Grandes Dúvidas sobre o Big Bang
Quando as explicações confiantes dos cosmólogos sobre a origem e estrutura do
universo são examinadas de perto, elas não se sustentam.
O Mistério Da Consciência
O Mistério Da Consciência
"A psicologia científica, tendo perdido primeiro sua alma e depois sua consciência
parece finalmente ter perdido completamente sua mente” (1), escreveu o filósofo
Herbert Feigl, diretor do Centro de Filosofia da Ciência de Minnesota, EUA. Ele resume
assim um das mudanças fundamentais no pensamento moderno: a redução de todos
fenômenos mentais e espirituais exclusivamente a funções bioquímicas cerebrais.
Alguns filósofos auxiliaram entusiasticamente esta tarefa. Gilbet Ryle, renomado
professor de filosofia metafísica na Universidade de Oxford, disse o seguinte sobre a
idéia de que a mente é alguma coisa não-física: “Devo falar disso como um abuso
deliberado, como o dogma do fantasma na máquina. Espero provar que isso é
totalmente falso, não somente em detalhe, mas em seus princípios” (2).
Uma escola filosófica, o materialismo eliminativo, vai tão longe a ponto de apoiar a
exclusão completa de palavras como consciência, sentimentos, visões ou dor do
vocabulário científico. Eles alegam que estas palavras são puramente subjetivas e não
possuem, assim significado real, mesmo sendo isto contrário a toda a experiência
prática. Descrevendo esta perspectiva, o filósofo Richard Rorty de Princeton, afirma
que um representante desta visão diria a alguém: “a vida seria mais simples para nós se
você puder no futuro dizer ‘ minhas fibras estão queimando’ ao invés de dizer ‘está
doendo” (3).
Os filósofos, todavia, estão apenas seguindo o rumo da ciência moderna, que desde seu
início tem sido mecanicista. Em 1750, o medico francês La Mettrie escreveu: “vamos
concluir corajosamente que o homem é uma máquina” (4). E em tempos mais recentes
encontramos o zoólogo de Oxford Richard Dawkins proclamando: “Nós somos
máquinas de sobrevivência – veículos robotizados cegamente programados para
preservar as egoístas moléculas conhecidas como genes” (5).
O cientista Herbert l. Meltzer escreveu em The Chemistry of Human Behavior/A
Química do Comportamento Humano: “Toda a gama das capacidades intelectuais e
emocionais que nós entendemos como unicamente humanas se originaram em um
complexo incrivelmente saturado de organização neuroquímica, em estruturas
morfológicas altamente especializadas. ...Nós não precisamos indicar pelo termo mente
nada mais do que a total organização de funções, memórias e capacidades que
caracterizam qualquer cérebro particular” 6. Muitos cientistas não estão preocupados
com os profundos efeitos sociais e psicológicos desta visão. O professor John Taylor do
King’s College, Londres, afirma: “A mente parece agora ser um ‘epifenômeno’, quase
sem potência, do cérebro”. Ele acrescenta que a percepção desse fato “irá causar uma
destruição completa do entendimento de nosso lugar no mundo, bem como minar as
instituições tradicionais da nossa sociedade”. Que solução ele propõe? Ele
simplesmente pede que nós “comecemos a preparar as pessoas para viver num mundo
determinista” (7).
Os principais movimentos na psicologia moderna também adotaram uma abordagem
estritamente mecanicista do fenômeno mental. John B. Watson, professor de psicologia
na Johns Hopkins University foi o fundador da escola behaviorista. Ele escreveu o
seguinte sobre consciência “nunca foi vista, tocada, cheirada, degustada ou mexida. É
uma clara pressuposição tão improvável como o antigo conceito de alma”(8). Mais
adiante, o famoso psicólogo behaviorista, B. F. Skinner uma vez declarou que ele
poderia abolir o que chamamos de “o homem interior... o homem defendido pelas
literaturas da liberdade e dignidade”. Ele depois afirmou “sua abolição já deveria ter
sido feita há tempo... ele foi construído por nossa ignorância e, na medida que nosso
entendimento aumenta, as coisas que o compõem se desvanecem” (9).
A psicologia de Sigmund Freud também era baseada numa visão essencialmente
materialista da natureza humana. Ainda cedo em sua carreira, Freud, então um neuro-
anatomista embarcou num projeto ambicioso para demonstrar que o fenômeno mental
era diretamente produzido por um mecanismo orgânico. Mesmo que ele eventualmente
tenha desistido da tentativa, permaneceu convicto sobre sua hipótese. “Eu… não
desejo”, escreveu a um colega “deixar a psicologia suspensa no ar sem base orgânica.
Mas além do sentimento de convicção [que pode ser uma certa base], não tenho nada,
teórico ou terapêutico para trabalhar neste sentido, então devo trabalhar como
confrontado por fatores apenas psicológicos. Não tenho idéia do porquê de ainda não
conseguir resolver essa questão”(10).
Recentemente, alguns cientistas decidiram que - se não há mais do que uma máquina
sofisticada de pensar - seria possível a eles construir tais máquinas. Um líder em
pesquisa de computadores, Marvin Minsky do M. I. T. acredita que em breve será
criada uma máquina com “a inteligência média de um ser humano... A máquina será
capaz de se auto-educar. Em poucos meses atingirá o nível de um gênio. Poucos meses
depois seu poder será incalculável”. Então Minsky acrescenta: “Se formos sortudos, elas
podem decidir nos manter como animais de estimação” (11).
Convencidos que a nova tecnologia e inteligência artificial irá permitir ao homem
substituir quase tudo, o professor Arthur Harkins diretor do Programa de Futuros
Graduados da Universidade de Minnesota, mostra que neste novo milênio, as pessoas
estarão casando com robôs e a sociedade começará a ponderar a definição de
“humano”(12). Esta visão futurista adornada com computadores humanóides pode
parecer cintilante para aficionados por ficção científica, mas o quanto isso nos diz do
que realmente significa ser humano? Nossos pensamentos, sentimentos e desejos
jazem no coração do que todos chamamos de experiência humana. Na pressa de
equacionar máquinas sofisticadas com seres humanos, muitos filósofos, psicólogos e
cientistas têm tropeçado em algumas distinções fundamentais entre os dois.
A causa para esta confusão pode ser traçada desde a estratégia básica da ciência
moderna, a qual sustenta que tudo pode ser explicado de acordo com leis físicas
relativamente simples. Armados com este pressuposto mecanicista os cientistas podem
embarcar em um estudo do cérebro com razoável esperança de eventualmente serem
capazes de controlá-lo e duplicar todas as suas funções, incluindo o que chamamos de
consciência.
Mas e se um princípio vital não físico estiver envolvido? Então suas investigações se
tornam desesperançosamente complicadas. Dessa forma, a maioria dos cientistas se
agarra à estratégia de insistir que o cérebro pode ser explicado por leis simples da física
e continuam com suas teorias e experimentos. Como B. F. Skinner disse em Além da
Liberdade e Dignidade, “Apenas então poderemos ir do inferido ao observado, do
miraculoso para o natural, do inacessível para o manipulável”(13).
A mente é mais que um processador de informações. É a própria consciência que é a
fundação de toda a experiência, mas ninguém pode descrever isso por expressões
numéricas da mesma forma que se descrevem as reações químicas, a força da gravidade
e outros fenômenos físicos. Mas porque não pode ser medida por métodos
quantitativos, não quer dizer que se possa negar sua existência – a consciência pode
claramente ser conhecida pela experiência.
Isto sugere uma séria limitação para a abordagem mecanicista, uma vez que se pode
apenas descrever o comportamento conectado à consciência, mas não a consciência em
si. Em face desta dificuldade, muitos cientistas ao invés de admitir que a consciência
extrapola a descrição física, prefere caracterizá-la como nada mais do que um padrão
complexo de comportamento. Esta idéia equivocada permite supor que máquinas e
computadores com suficiente sofisticação poderiam tornar-se conscientes.
Mas existem muitos exemplos claros e diretos demonstrando como a percepção da
consciência é inteiramente diferente dos comportamentos físicos associados a ela. Por
exemplo, o que acontece quando uma pessoa acidentalmente acerta seu dedão com um
martelo? Certos padrões de comportamento característicos ocorrem – a pessoa pode
gritar, sacudir sua mão, fazer caretas, etc.
Um exame da reação corporal irá revelar mudanças químicas no sangue, padrões de
impulsos eletroquímicos no cérebro e daí por diante. Enquanto estes efeitos
mensuráveis são parte do evento, eles são distintos da experiência da dor. Ainda que
todos entendam a sensação de dor, porque é uma experiência consciente comum, esta
não pode ser definida em termos físicos. Embora a ciência prefira se confinar ao que
pode ser fisicamente descrito – como padrões de impulso eletroquímico. Mas se o
cérebro não é mais do que um aparelho processador de informações para estes
impulsos, então o que torna isto diferente das máquinas que os próprios cientistas
usam para registrar os dados experimentais do cérebro.
A resposta é simples – ao descrever o funcionamento de uma máquina nós não
necessitamos de nenhum conceito de dor. Ou seja, não precisamos supor que a
máquina sente dor. O mesmo é verdadeiro para o cérebro. Mas, nós sabemos por
experiência que uma pessoa sente dor. Dessa forma o conceito “experiência da dor” é
algo independente e distinto de todas as idéias sobre o funcionamento de máquinas e
cérebros.
Vamos imaginar agora – uma máquina que quando exposta a uma luz vermelha diga
“eu vejo uma luz vermelha”. Esta máquina pode ser construída conectando-se uma
fotocélula com um filtro vermelho em um amplificador. Quando disparado, o
amplificador pode ligar um gravador que toca a seguinte mensagem “eu vejo uma luz
vermelha”.
Embora a máquina declare que vê uma luz vermelha, ninguém poderia imaginar que
ela está realmente vendo alguma coisa. Similarmente um gravador recebe impulsos de
som, mas não ouve e um automóvel não experimenta o movimento. Enquanto
máquinas realizam certas atividades que poderiam duplicar aquelas feitas por seres
humanos, todas as ações das máquinas podem ser reduzidas a uma explicação
mecanicista. Mas no caso de um ser humano com consciência, a descrição física é
inadequada para descrever sua experiência pessoal. O corpo humano comporta-se de
certa forma como uma máquina complexa e em suas ações pode ser descrito em termos
físicos, mensuráveis em alguns casos. Mas além destas descrições físicas quantificáveis,
que lidam exclusivamente com a mecânica do comportamento e da percepção, há o
terreno não quantificável da consciência. Admitidamente a ciência teve sucesso em
descrever certos fenômenos observáveis em termos fisicamente estritos, mas não
devemos extrapolar e concluir que tudo – incluindo a consciência – pode ser explicado
mecanicistamente. Outras possibilidades não apenas existem, mas são freqüentemente
mais razoáveis e compreensíveis, e nós devemos permanecer abertos a considerá-las.
Mesmo Thomas Huxley assinalou a natureza irredutível da consciência. Ele declarou:
“Eu entendo que o principal pressuposto do materialismo é que não há nada no
universo além de matéria e força e que todos os fenômenos da natureza são explicáveis
por dedução das propriedades relativas a esses dois fatores primitivos...
Parece-me bastante claro que existe uma terceira coisa no universo, para desespero:
consciência, que eu não posso ver como matéria ou força ou qualquer modificação
concebível de ambos” (14).
Não obstante, muitos cientistas rejeitam a idéia de que a consciência possui qualquer
realidade e permanecem determinados a considerá-la em termos mecanicistas.
Uma corrente teoria popular conhecida como funcionalismo, que fornece subsídios
teóricos para a pesquisa em inteligência artificial relega as atividades da mente a
respostas semelhantes aquelas dos computadores a estímulos externos. O conceito de
consciência é descartado e todos os sentimentos humanos e sensações são reduzidas a
construções matemáticas.
Por exemplo, no caso de dor de cabeça, a experiência da dor (o que nós naturalmente
consideramos ser dor de cabeça) não tem referência. O que então é uma dor de cabeça?
Embora difícil de acreditar, o pesquisador de inteligência artificial do MIT, Jerry A.
Fodor, um dos principais proponentes do funcionalismo declara: “Para se ter uma dor
de cabeça temos que estar dispostos a exibir um certo padrão de relações entre os
estímulos que se encontram e as respostas que se seguem”(15). Em outras palavras, o
que chamamos de dor de cabeça é definido por algum software cerebral que nos faz
comportar como se tivéssemos uma dor de cabeça. Mas a dor em si é deixada de fora da
questão porque a dor não pode ser escrita em um programa de computador.
Devido a esta falha óbvia em explicar as experiências pessoais, mesmo Fodor, que é
altamente comprometido com uma explicação física da consciência, admite que as
teorias mecânicas, como o funcionalismo, são incompletas. Ele declara: “muitos
psicólogos que são inclinados a aceitar a perspectiva funcionalista não estão
preocupados com a falha deste em revelar a natureza da consciência. Os funcionalistas
fizeram algumas tentativas ingênuas de conversar sobre esta preocupação, mas na
minha visão, não tiveram muito sucesso. Como uma questão que permanece o
problema do conteúdo qualitativo [consciência] apresenta-se como um sério desafio
para o pressuposto de que o funcionalismo pode fornecer uma teoria geral para a
mente”(16).
Por que o tópico da consciência levantou um impasse fundamental nas tentativas
mecanicistas de explicar o mundo, alguns cientistas rejeitaram enfaticamente o ponto
de vista mecanicista. Entre os dissidentes encontra-se o prêmio Nobel de física Eugene
Wigner. “Existem dois tipos de realidade ou existência, a existência de minha
consciência e a realidade ou existência de qualquer outra coisa”, diz Wigner. “A
segunda realidade não é absoluta, mas apenas relativa”(17). Wigner observou que
fenômenos mesuráveis externos são conhecidos por ele apenas pela sua consciência e
esta consciência é, se é de fato algo, mais real que estes fenômenos. Após extensas
pesquisas nessa área, Alan Gevins de EEG Systems Laboratory em San Francisco
concluiu que a mente pode ter qualidades transcendentais. Gevin disse: ‘Quando se
pensa em criatividade e inspiração, mais etéreos são os aspectos da mente – eles podem
ser misteriosos, em última instância. Não estou tão firme quanto meus colegas que
acreditam que a mente pode ser reduzida a um fluxo de elétrons”(18).
Inspiração e Mozart
O mecanismo que conecta o Ser consciente e a matéria forma uma das maiores pedras
no caminho na teoria dual de Descartes. Esta dificuldade é superada pela idéia
da Superalma, a qual, de acordo com o Bhagavad-gita funciona como interface entre o
Ser consciente e o cérebro. A Superalma é também entendida como a fonte da
memória, do conhecimento e do esquecimento.
Evidências da existência da Superalma podem ser encontradas na experiência da
inspiração, na qual idéias extremamente difíceis de serem concebidas por esforços
mentais normais, emergem na mente de alguém, já completamente prontas, como se
viessem de uma fonte externa.
A inspiração possui um papel central na solução de problemas difíceis e em todos os
esforços criativos. Do campo da música, daremos um forte exemplo no qual idéias de
composições musicais apareceram completamente prontas na mente sem aparente
esforço consciente.
Mozart uma vez descreveu como criava seus trabalhos: “quando me sinto bem e de bom
humor ou quando estou passeando… multidões de pensamentos vêm à mente tão fácil
como se poderia querer. De onde e como eles vêm? Eu não sei e não tenho nada com
isso. Quando tenho um tema, outra melodia surge, conectando-se à primeira, de acordo
com as necessidades da composição. Isto não acontece sucessivamente, com suas várias
partes trabalhadas em detalhe, como serão posteriormente, mas é em sua integridade
que minha imaginação me permite ouvi-las”(30).
A inspiração possui também um papel central na solução de problemas difíceis na
ciência e na matemática. Geralmente investigadores podem com sucesso abordar
problemas de rotina apenas pelo esforço mental. Avanços significativos na ciência
envolvem geralmente inspirações súbitas, que ocorrem muitas vezes inesperadamente
após uma pausa depois de um longo período de intenso e frustrado esforço mental.
Um exemplo típico é a experiência do matemático Karl Gauss. Após tentar sem sucesso
por anos, provar um certo teorema sobre números inteiros, Gauss subitamente
percebeu a solução. Ele descreveu sua experiência: “Finalmente dois dias atrás tive
sucesso (...) Como um súbito lampejo, o enigma se resolveu. Eu mesmo não posso dizer
qual o fio condutor que uniu o que eu previamente conhecia com o que fez meu sucesso
possível” (31).
Destes incidentes descobrimos que o fenômeno da inspiração tem duas características
importantes. Primeiro, sua origem encontra-se além da percepção consciente do
sujeito; segundo ela provê informações não alcançadas através do esforço consciente. O
famoso matemático francês Henri Poincare após profunda consideração sobre este
fenômeno da inspiração em seu próprio trabalho, acabou contemplando uma idéia
remanescente da noção de Superalma. Poincare chamou isso de Eu subliminal e assim
o descreveu: “[Isto] não é de forma alguma inferior ao ser consciente, não é puramente
automático, é capaz de discernir, tem tato, delicadeza, sabe como escolher, como
prever. O que posso dizer? Este Eu é capaz de ter sucesso onde o Ser consciente falhou.
Em miúdos, o ser subliminal não seria superior ao Ser consciente?” (32).
Após se aproximar dessa idéia, Poincare se afasta dela, dizendo: “eu confesso que de
minha parte, deveria odiar isto” (33). Ele então apresenta uma explicação mecânica de
como o Eu subliminal, visto como uma máquina pode dar conta do fenômeno da
inspiração. Poincare propôs que o “Eu subliminal” deve juntar mecanicamente muitas
combinações de símbolos matemáticos aleatoriamente até encontrar uma combinação
que satisfaça o desejo da mente consciente para um dado tipo de resultado matemático.
Todavia Poincare saiba bem que o número de combinações envolvidas numa tentativa
de solução de problemas pode facilmente exceder o número de operações que se espera
que o cérebro possa executar num curto período de tempo. Além disso, o mecanismo
proposto por ele não contempla elementos qualitativos que surgem, como, por
exemplo, nas composições de Mozart – elementos que aparecem como um presente
inesperado que não são soluções óbvias para nenhum problema.
Já que sabemos tão pouco sobre o cérebro, não é possível, é claro, excluir
completamente a possibilidade de que a inspiração possa ser produzida por algum
mecanismo cerebral – um mecanismo cuja origem ainda deve ser explicada. Entretanto
também não é possível provar que a inspiração de fato se origina de um tal mecanismo
e, por tanto, a possibilidade de que um superconsciência todo-penetrante possa ser
responsável não deve ser rejeitada precipitadamente.
Se prosseguirmos nessa idéia, iremos perceber que isso esclarece até mesmo as
atividades em nossa vida diária. Enquanto a maioria dos casos de inspiração lida com
habilidades mentais fora do comum, a natureza superior do elo que conecta o Ser e a
matéria pode também ser apreciada nestas atividades diárias. Quando desejamos
executar ações físicas, nós geralmente percebemos que o corpo reage
instantaneamente. Não temos um claro entendimento de como nossa vontade faz esses
atos serem executados. Eles simplesmente parecem ocorrer automaticamente, e então
nós os assumimos como algo dado e dizemos “estou fazendo isto”. Mas uma análise
detalhada revela que muitas dessas ações parecem estar acontecendo sob um outro
controle, que não é o nosso.
No dia-a-dia constantemente tomamos decisões baseadas no poder de nossa
inteligência. Mas o que é inteligência? Semelhante à inspiração, a inteligência direciona
o indivíduo como uma autoridade superior; o ser vivo não pode agir sem o uso da
inteligência. Se alguém falha em aproveitar sua inteligência e age sem consultá-la,
torna-se uma pessoa perturbada e fora do mundo. Dessa forma, o ser humano é
dependente da direção superior da inteligência a qual o guia como um pai direciona seu
filho. De acordo com o Bhagavad-gita, esta fonte superior de inspiração e inteligência,
a qual está presente e reside dentro de cada ser individual é conhecida como
a Superalma, a consciência universal. A Superalma é sempre distinta e superior da
alma individual, é o elo entre o ser consciente e o cérebro. Sem contactar diretamente o
ser consciente, a Superalma percebe seus desejos (como detectamos a fragrância de
uma flor sem tocá-la) e os traduz em ações. Essa coordenação entre desejos conscientes
sutis e ações materiais ocorre dentro da estrutura das leis naturais superiores,
conhecidas coletivamente como Lei do Karma. A Superalma agindo livremente de
acordo com essas leis, as quais representam Suas próprias convenções, gera ações no
mundo da matéria. Quando os cientistas observam essas ações eles podem parecer
seguir as conhecidas leis da física. Mas se pudermos analisar estas ações
exaustivamente, veremos que a Superalma está acima das leis físicas as quais controla.
Até aqui seguimos o pensamento ocidental tradicional, considerando o Ser consciente e
a mente como sinônimos e os distinguimos do corpo. Agora, gostaria de brevemente
mencionar que no Bhagavad-gita, uma outra distinção é feita entre o Ser consciente e
a mente. De acordo com o Gita, a mente é composta por elementos materiais sutis que
são capazes de interagir com o cérebro. Nesta concepção, a mente é realmente parte do
corpo material, e pode, ser entendida de foram genérica como o corpo sutil.
O Bhagavad-gita explica que o Ser consciente é superior tanto ao corpo quanto à
mente porque possui uma natureza imperecível e imaterial. Quando dizemos que
a Superalma é o elo entre o Ser consciente e o corpo, o que realmente queremos dizer é
que a Superalma é o elo entre o Ser e seus corpos materiais (sutil e grosseiro). A
interação entre a Superalma e o Ser é, sem dúvida, difícil de avaliar
experimentalmente, mas as duas são tão intimamente ligadas que há pleno potencial
em todas as pessoas para percepção direta da Superalma. Este potencial pode ser
positivamente desenvolvido através do processo de yoga, o qual será apresentado em
maiores detalhes em outro artigo.
BIOLOGIA: A Vida a Partir da Matéria. Fato ou Fantasia?
No época de Darwin, cientistas acreditavam que a célula parecia não mais do que uma
simples bolsa de elementos químicos. Portanto, pareceu razoável a cientistas como
Darwin imaginar que formas de vida elementares poderiam ter surgido a partir da
combinação aleatória de compostos orgânicos em uma sopa primordial. Mas como o
homem passou a investigar os mistérios da célula viva, a idéia de que a vida viria de
elementos químicos começou a aparecer menos razoável como explicação da origem da
vida.
Pouco mais de um século atrás a ciência começou a cogitar noções de que a vida teria
surgido a partir de elementos químicos inertes. Através dos microscópios daquele
tempo, a célula parecia não mais do que uma simples bolsa de elementos químicos.
Portanto, pareceu razoável a cientistas como Darwin imaginar que formas de vida
elementares poderiam ter surgido a partir da combinação aleatória de compostos
orgânicos em uma sopa primordial. Mas como o homem passou a investigar os
mistérios da célula viva, a idéia de que a vida viria de elementos químicos começou a
aparecer menos razoável. Mas muitos cientistas ainda hoje se agarram ao dogma da
evolução a partir de compostos químicos.
À medida que o tempo passava, a exploração microscópica gradualmente revelou
fenômenos cada vez mais complexos dentro das pequenas células, como a precisa
regulação do metabolismo celular pelos ácidos nucléicos (DNA e RNA), a qual envolve a
interação sofisticada de milhares de tipos de moléculas de proteínas elaboradamente
estruturadas. Não é fácil imaginar como isso poderia ter ocorrido pela combinação
aleatória de elementos químicos.
Descrevendo a notadamente intrincada bioquímica da célula, James D. Watson, co-
descobridor da estrutura do DNA, escreveu em seu livro Molecular Biology of The
Gene (Biologia Molecular do Gene): “Nós devemos imediatamente admitir que a
estrutura da célula não será nunca entendida da mesma forma que as moléculas da
água ou da glicose. Não apenas permanecerão sem solução a estrutura exata da maioria
das macromoléculas dentro da célula, mas também suas localizações relativas podem
ser apenas vagamente conhecidas. Não é então surpresa que muitos químicos, após
breves períodos de entusiasmo no estudo da ‘vida’, silenciosamente retornam para o
mundo da química pura”1.
Apesar da sempre crescente consciência da complexidade estrutural e comportamental
dos sistemas vivos, mesmo dos mais simples, muitos cientistas continuam a teorizar
que a vida emergiu de uma sopa química primordial, sem direção de nenhum princípio
organizador. Eles imaginam que no decorrer de junções químicas aleatórias, moléculas
simples se combinaram transformando-se em compostos orgânicos complexos, os
quais eventualmente se integraram e se transformaram em organismos auto-
reprodutivos. Este cenário vem sendo apresentado como a indiscutível verdade sobre a
origem da vida em toda a aula de ciência ao redor do mundo – em escolas primárias,
secundárias, faculdades e universidades. O rádio, televisão e as publicações de
divulgação científica reforçam essas mensagens.
Para alguns, falar sobre como a vida se originou ou não a partir da matéria pode
parecer distante das atribulações cotidianas e irrelevante para nossas próprias vidas.
Independentemente das discussões envolverem idéias altamente prováveis baseadas
em evidências sólidas ou vagas, hipóteses insubstanciadas, baseadas em dados fracos e
criados por preconceitos científicos, são material para doutores em torres de marfim.
Mas porque as respostas a questões fundamentais sobre a origem da vida determinam
como nós vemos a nós mesmos e nosso lugar no universo, elas afetam profundamente
nosso senso de identidade, nossas decisões, nossos sentimentos, relacionamentos,
nosso comportamento – de fato, elas afetam todos os aspectos de nossa vida, incluindo
os objetivos de nossa sociedade secular.
Antes de ver as explicações oferecidas pelas teorias mecanicistas sobre a origem da vida
e da consciência, nós devemos primeiro considerar três exemplos do que acontece
dentro da célula viva, ajudando, desse modo, a apreciar a incrível complexidade que
existe até mesmo nos organismos mais simples.
Ao contemplar estes exemplos é crucial lembrar que de acordo com o entendimento dos
químicos modernos, as moléculas envolvidas são meramente unidades
submicroscópicas da matéria. As várias formas em que elas se combinam pode levar a
suposição de que potências místicas estariam envolvidas na sua auto-organização.
Cientistas, porém, são rápidos para rejeitar essa idéia, insistindo que moléculas não
fazem mais do que agir segundo as leis da física. Mas ainda deve ser explicado
exatamente de que forma, moléculas agindo de acordo com leis mecanicistas
relativamente simples, podem se combinar para produzir células inconcebivelmente
complicadas. Uma questão mais difícil de ser respondida é ainda como estas células
puderam evoluir de acordo com as mesmas leis para produzir organismos altamente
complexos. Então, apesar da rígida aderência da comunidade científica à corrente
explicação mecanicista da evolução química, ainda seria apropriado considerar a
possibilidade de que outros fatores podem estar envolvidos nesta evolução – talvez um
princípio organizador auto-inteligente.
Nosso primeiro exemplo refere-se à parede protetora das células, que é manufaturada a
partir de várias moléculas sintetizadas dentro da célula. Para construir essa parede, a
célula inicialmente forma blocos moleculares de construção a partir de simples
compostos, por processos que envolvem muitas operações sofisticadas. Uma vez que
esses blocos são reunidos a célula os organiza em precisos entrelaçados horizontais e
verticais que formam a parede celular. Este processo lembra um complexo sistema de
produção fabril, onde máquinas especificamente desenhadas, primeiro constroem os
componentes a partir da matéria bruta e depois os organizam num produto pronto e
funcional.
Um segundo exemplo sobre a complexidade interna da célula é a formação de um ácido
graxo, ácido palmítico, a partir de 14 subunidades moleculares. Ácidos graxos são as
moléculas-chefe para estocagem de energia nas células. Para manufaturar o ácido
palmítico, a célula cria uma elaborada máquina molecular a partir de moléculas de
proteína. No centro da “máquina” há um braço, também feito por moléculas, que se
move por seis “locais de trabalho”. Cada vez que o braço gira, duas subunidades
moleculares do ácido graxo são adicionadas pela ação de enzimas (enzimas são
moléculas de proteínas altamente complexas que auxiliam nas reações químicas no
interior da célula). Após sete rotações, as 14 unidades necessárias estarão presentes e o
ácido graxo será liberado.
Para esta máquina giratória funcionar, todas as seis enzimas diferentes devem estar
presentes na ordem certa, e o braço molecular deve estar montado corretamente. Em
geral, uma máquina complexa é operável apenas se todas as partes vitais estão
presentes e funcionando. Por exemplo, seria difícil imaginar um automóvel
funcionando sem uma bomba de combustível. É difícil imaginar, então, como a
máquina molecular descrita acima foi formada através deste tipo de evolução passo a
passo.
Nosso terceiro exemplo, a ação da enzima DNA-Girase na reprodução celular, ilustra,
graficamente os sérios problemas que a teoria mecanicista enfrenta na tentativa de
explicar as origens das ações complexas dentro das células. Em uma bactéria como E.
coli, a molécula de DNA possui a forma de um laço com uma dupla hélice entrelaçada, a
qual se separa em duas hélices durante a reprodução celular. À medida que a porção da
hélice se desenrola, a porção inferior naturalmente se enrola intensamente. Desde que
o DNA é na verdade dobrado centenas de vezes para caber na célula, o enroscamento
acentuado causa, invariavelmente, um emaranhado de fios. Este emaranhado proibiria
a reprodução, todavia a célula ativa uma enzima, DNA-Girase, a qual desembaraça os
nós dos fios. A Girase reorganiza os fios como se segue: primeiro, corta um dos fios
sobrepostos, depois puxa os outros fios pela abertura e finalmente junta as pontas do
fio cortado. Por esta operação altamente sofisticada, esta enzima separa as linhas de
cromossomos.
A questão para os bioquímicos é a seguinte: como esta enzima poderia ter se originado?
Ela é uma estrutura muito complicada para surgir de um só golpe pela combinação
aleatória de moléculas na sopa primordial. Os cientistas devem sugerir que ela sofreu
um processo de evolução gradual, passo a passo. Mas aqui vem a surpresa – sem a DNA
Girase, não haveria reprodução celular e sem reprodução celular, não há processo
evolucionário para produzir a Girase. A origem dessa enzima permanece como um dos
grandes mistérios da evolução celular.
Os três exemplos mencionados acima indicam as intrincadas estruturas e operações da
célula. Ninguém possui qualquer experiência de uma máquina que se desenvolveu sem
um projeto e especificações, portanto é razoável considerar a possibilidade de que estes
arranjos complexos decorram de um projeto pré-concebido. Infelizmente, as
conclusões do senso comum não possuem um lugar nas teorias dominantes sobre a
evolução da vida. Os proponentes da evolução química se esforçam para criar
explicações alternativas que dizem respeito apenas ao acaso e a leis impessoais da
física.
O cenário mais comum apresentado pelas teorias da evolução química começam 4
bilhões de anos atrás, quando acredita-se que nuvens de gases e poeira foram
condensadas na antiga superfície da Terra e gradualmente formaram a atmosfera
inicial. Ativada pela luz ultravioleta e descargas elétricas, este atmosfera primitiva teria
supostamente sido o berço para os compostos químicos orgânicos, os quais, por cerca
de 1,5 bilhões de anos se acumularam em antigos mares. Estes compostos orgânicos
interagiram quimicamente e eventualmente formaram polipeptídios primitivos
(proteínas), polinucleotídeos (DNA e RNA), polissacarídeos (células de açúcar) e
lipídios (ácidos graxos). Um texto acadêmico padrão fornece o passo final: “deste rico
caldo de moléculas orgânicas e polímeros, a sopa primordial orgânica, acredita-se que
os primeiros organismos vivos teriam se formado”2.
Inquestionavelmente, uma descrição provocativa e de certa forma poética – mas o
quanto esta grande especulação exemplifica, mesmo o escrutínio moderado? Nós já
discutimos a formidável complexidade mesmo dos sistemas vivos mais simples, então,
qualquer argumento de que forças naturais cegas originalmente organizaram moléculas
e as transformaram em sistemas de funcionamento elaborado, deve explicar os
princípios exatos, passo a passo. Isto não foi feito.
Bioquímicos podem citar a seleção natural – o processo pelo qual as variações de um
organismo, mais aptas a um ambiente particular, tendem a se reproduzir e sobreviver –
como explicação. Mas a seleção natural não pode ser proposta como um mecanismo
adequado para a origem do primeiro organismo vivo. A seleção não pode atuar até que
um sistema auto-replicante realmente exista, porque sem reprodução não existem
novas formas para a natureza selecionar. E a partir de um sistema auto-replicante
simples qualquer, não é suficiente que os cientistas balancem suas mãos e digam as
palavras mágicas “seleção natural”, com a intenção de explicar o aparecimento de
sistemas mais complexos. Eles devem ser capazes de especificar o que seria exatamente
selecionado e porquê. Sem ser capaz de fazê-lo, não possuem uma teoria para ser
testada e investigada, o que falar de uma demonstração final de veracidade da mesma?
Infelizmente, as teorias atuais não se aproximam disto. Começando com o trabalho de
Oparin em 1930, muitos cientistas fizeram sérias tentativas para explicar a origem da
vida a partir da sopa química primordial, mas nenhum foi bem sucedido. Sem exceção,
os modelos propostos são vagos, tentativos, incompletos e os resultados apenas
esboços. Vamos discutir algumas dessas tentativas. A questão central não resolvida é a
seguinte: como pode a matéria inerte, agindo de acordo com as simples leis da física,
criar a notável maquinaria molecular encontrada mesmo na célula mais simples? Como
Albert L. Lehninger afirma em seu livro, amplamente utilizado em faculdades, “no
centro do problema está o processo de auto-organização da matéria”. Até hoje,
cientistas têm falhado em demonstrar como isso poderia ter ocorrido sem a intervenção
de alguma força direcional maior ou inteligência.
Em especial, dois experimentos publicados foram recentemente desconstruídos como
parcialmente bem sucedidos na produção de vida, a partir de compostos químicos. Um
é o trabalho feito com aminoácidos por Stanley Miller, um professor de química na
Iniversidade da Califórnia, em San Diego, EUA. O outro é a experiência da
“protocélula”, de Sydney Fox, diretor do Institute for Molecular and Cellular Evolution
at the University of Miami, em Coral Gables, EUA.
Miller tentou reconstruir as condições que ela achava que existiram na “aurora da vida”
e que geraram as formas orgânicas primitivas a partir de elementos físicos. Em um
frasco ele colocou gases para formar a atmosfera antiga e passando uma faísca por esta
mistura, ele produziu uma substância marrom nas paredes do frasco. Esta substância
incluía aminoácidos, os constituintes das moléculas de proteína.
Ele anunciou isto como um avanço significante e impressionou muitas pessoas, dentro
e fora da comunidade acadêmica. Todavia seu experimento é realmente de pouca
significância, se é que possui alguma. Nós podemos esperar a formação de aminoácidos
no experimento de Miller porque esta técnica automaticamente produz praticamente
qualquer molécula orgânica simples que existe na natureza (a grande maioria é
venenosa para as formas de vida atuais). Solicitado a apresentar um prognóstico sobre
o resultado do experimento de Miller, Harold Urey, um químico da University of
California pôs todo o assunto em perspectiva quando respondeu: “Bielstein” (Bielstein é
o catálogo alemão para todos os compostos químicos orgânicos conhecidos). Além
disso, aminoácidos são moléculas relativamente simples, servindo apenas como blocos
de construção das moléculas muito mais complexas de proteína encontradas nas
células. Não é surpresa que uma técnica simples como a de Miller produziu resultados
químicos simples, mas ainda deve ser demonstrado que um processo simples como esse
produz componentes e mecanismos celulares complexos. É um passo em tanto ir de
tijolos desorganizados para uma casa.
O químico Sydney Fox, também tentou demonstrar como os compostos químicos
poderiam se transformar progressivamente em uma célula viva. Pelo aquecimento de
aminoácidos a 280 graus Fahrenheit e jogando-os na água, ele produziu pequenas
porções de proteína as quais ele com otimismo denominou “protocélulas”. As
protocélulas de Fox, entretanto, não eram tão impressionantes. Estruturalmente não
eram mais do que pequenos globos de geléia vazios e eram incapazes de metabolizar
moléculas do ambiente. Não apresentaram nenhum sinal de evolução mesmo em
formas um pouco mais complexas, para não falar em células. Acima de tudo isto, Fox
não tinha nenhuma sugestão razoável de como elas poderiam ter emergido de uma
sopa química pré-biótica (secar aminoácidos aquecidos a 280 graus na natureza requer
uma grande imaginação). Há muitos outros experimentos como este que produziram
resultados similares e deixaram as mesmas questões não respondidas.
O cientista alemão Manfred Eigen propôs uma explicação de como a matéria inerte
poderia ter feito a transição para células auto-reprodutivas. De acordo com Eigen,
vários tipos de moléculas de RNA poderiam ter se replicado individualmente na sopa
primordial. Dessa forma, o tipo A replicaria RNA de tipo A, e o tipo B replicaria mais
RNA de tipo B. Estes ciclos poderiam ter continuado independentemente. Mas, de
alguma forma, de acordo com Eigen, o RNA tipo A teria começado a produzir uma
enzima E-B que poderia catalisar a replicação do Rna tipo B. E também o RNA tipo B
poderia ter começado a produzir uma enzima E-A que poderia catalisar a replicação do
RNA tipo A. Com a produção dessas enzimas, o ciclo A-B-A-B-A-B poderia continuar.
Isto é chamado um hiperciclo e Eigen propôs que os hiperciclos poderiam se tornar
mais e mais complexos até alcançarem o nível de células vivas.
Existem, entretanto, alguns problemas com os hiperciclos. Primeiro, o modelo requer
um mecanismo para produzir proteínas complicadas (na forma de enzimas) a partir de
informação contida no RNA. Eigen não conseguiu sugerir um mecanismo deste tipo.
Além disso, não há certeza de que um hiperciclo iria evoluir. O proeminente biólogo
evolucionista John Maynard Smith criticou o modelo de Eigen, indicando que, a não
ser que o hiperciclo estivesse confinado a um compartimento como o de uma parede
celular, suas diferentes partes poderiam competir entre si. Isto tornaria impossível para
o hiperciclo como um todo evoluir por mutação e seleção natural. E, se a necessidade
por um compartimento é admitida, permanece o difícil problema de considerar o
aparato pelo qual poder-se-ia replicar durante a reprodução. Smith disse “claramente,
estes trabalhos [de Eigen e co-autores], levantam mais problemas que soluções”4.
Finalmente, hiperciclos são muito diferentes de células, as quais possuem um sistema
genético unificado e complicados mecanismos moleculares. Ir de um hiperciclo a uma
célula teria levado milhares de passos intermediários. Seria como ir de um relógio de
corda a uma máquina de combustão interna em pequenas mudanças. Cada mudança
deveria resultar num mecanismo superior e funcional – uma possibilidade que
atualmente desafia a imaginação. Neste apelo a seleção natural, Eigen não define
exatamente os passos que levariam destes hiperciclos às células vivas e, além disso, sua
explicação não acrescenta mais do que uma visão não-científica de “passe de mágica”.
Até aqui temos visto como as células funcionam de uma forma notadamente organizada
e como as teorias correntes que tentam descrever o desenvolvimento das células vivas a
partir de elementos químicos inertes carecem de valor explanatório. Neste ponto
podemos perguntar por que os cientistas persistem em suas tentativas de encontrar
explicações estritamente mecanicistas. Uma resposta é que eles se sentem
comprometidos com suas estratégias reducionistas atuais, que procuram explicar tudo
– de galáxias à bactérias – em termos da ação da matéria de acordo com leis as simples
e básicas da física. Rejeitando a possibilidade de qualquer outra abordagem para a
ciência, eles temem que ao se desviar, mesmo levemente de suas estratégias, poderia
levar ao fim da ciência como a conhecemos.
Sendo incapazes de apresentar mecanismos adequados para a formação da célula pelas
simples leis da física, muitos cientistas optaram pelo acaso como o fator causal último.
Existe, é claro, um problema fundamental com essa abordagem. Estritamente falando,
o termo acaso (chance no original inglês) refere-se apenas a presença de certos padrões
nas estatísticas, descrevendo as repetições de um evento. Isto não pode ser a “causa” de
nada (veja “O acaso e a Origem do Universo”). Dessa forma, para a probabilidade
matemática da vida surgir da matéria, existem algumas estimativas, facilmente
calculadas, da chance de um evento como este ocorrer durante o curso de 4,5 bilhões de
anos, a idade do planeta Terra apresentada pelos cientistas modernos.
Vamos começar olhando para o ingrediente básico de todos os organismos vivos – as
proteínas, as quais realizam muitas das funções vitais da célula. Proteínas são formadas
por um processo altamente complexo que pode ser comparado a uma linha de
produção fabril, onde matérias brutas são organizadas com ajuda de máquinas
especializadas. As elaboradas macromoléculas de proteína contém uma média de 300
moléculas de aminoácidos em cadeia e mesmo dentro da simples bactéria E.
coli existem aproximadamente 2.000 tipos diferentes de proteínas (em mamíferos este
número é pelo menos 800 vezes maior). A formação destas diferentes moléculas de
proteínas é controlada pelo material genético da célula. De acordo com o modelo
mecanicista, anterior ao desenvolvimento de um sistema auto-reprodutivo capaz de
efetuar as funções básicas da célula e de seu código genético, qualquer combinação de
aminoácidos transformando-se em proteínas seria necessariamente devido ao acaso.
Para determinar a probabilidade da interação aleatória que resultaria nas proteínas
necessária até mesmo para as células mais simples, o famoso astrônomo britânico Sir
Fred Hoyle e o matemático Chandra Wickramasinghe, da University College, em
Cardiff, País de Gales, calcularam da seguinte maneira5: como já mencionado, existem
2.000 proteínas diferentes necessárias para a bactéria unicelular E. coli e essas
proteínas possuem uma média de 300 unidades de aminoácidos em comprimento. A
função de uma proteína particular depende da seqüência destas 300 unidades de
aminoácidos, exatamente como o sentido de uma frase depende da ordem de suas
palavras. Já que existem 20 tipos de aminoácidos para serem escolhidos, a
probabilidade de se formar uma seqüência de proteína em particular é de 1 em 20
elevado a 300ª potência.
Cientistas têm argumentado que há alguma possibilidade para variação na seqüência
exata das 300 unidades de aminoácidos, sem prejudicar o correto funcionamento da
proteína. Todavia, Hoyle e Wickramasinghe generosamente ajustaram a probabilidade
1 em 20 elevado a 300ª potência, para 1 em 10 elevado a 20ª potência – uma tremenda
redução nas probabilidades. Então, já que uma simples célula requer 2.000 proteínas
diferentes para funcionar, eles combinaram estas duas situações (10 elevado a 20ª
potencia de 20 e 2.000) e chegaram a probabilidade matemática de 1 em 10 elevado a
40.000ª potência, de que esta interação aleatória poderia fornecer as moléculas
necessárias para construir mesmo o mais simples sistema auto-reprodutivo. Estas
probabilidades são tão inacreditavelmente grandes que ninguém pode esperar
razoavelmente que tal evento ocorra nos relativamente breves poucos milhões de anos
que os cientistas supõem para o fenômeno. É muito para o puro acaso.
Muitos cientistas não gostam do conceito de acaso, mas concluem, na medida que lhes
permite seu presente entendimento mecanicista, que a vida deve ter se originado por
um “evento ao acaso”, de probabilidade extremamente pequena. Um destes é o
ganhador do Nobel, Francis Crick, co-descobridor da estrutura do DNA, que afirmou:
“Um homem honesto, armado com todo o conhecimento disponível atualmente pode
apenas afirmar que, em certo sentido, a origem da vida parece no momento ser quase
um milagre, tantas são as condições que deveriam ser satisfeitas para isto ocorrer”6.
Estes cientistas esperavam, é claro, explicar a origem da vida com base em leis da
natureza mas como nós vimos, eles têm sido incapazes de fazer isso. Alguns destes
cientistas mudaram para hipóteses extremamente radicais (mas, é claro, não tão radical
como o conceito de um designer).
Por exemplo, o próprio Crick propôs que o código genético pôde ter sido trazido a Terra
por formas de vida inteligente de outro sistema planetário. Este conceito poderia
explicar a vida na Terra, mas ainda teríamos que explicar como a vida se desenvolveu
em todo lugar.
Então, apesar de um grande número de pessoas acreditar que a ciência possui
evidências substanciais para provar a idéia de que as primeiras entidades vivas foram
produzidas a partir da interação aleatória de compostos químicos num passado
distante da Terra, é claro que não existe teoria viável da origem química da vida. Além
disso, a teoria matemática das probabilidades não nos permite usar a explicação
conveniente, “isto aconteceu ao acaso”.
Portanto, porque não há nada sequer próximo a uma explicação mecanicista para o alto
conteúdo de informação dos sistemas vivos, nós propomos que organismos viventes
não podem ser explicados em termos mecanicistas. Em “O Mistério da Consciência”,
discutimos um aspecto da realidade irredutível e não-mecanicista, chamado
consciência. Agora nós temos outro aspecto irredutível da realidade que não pode ser
considerado pela ciência mecanicista – as formas complexas dos organismos vivos. Nós
propomos que uma inteligência superconsciente é responsável por ambos os
fenômenos. É a fonte original das entidades conscientes dentro dos organismos físicos e
que fornece a informação para o arranjo material nas estruturas biológicas que servem
como veículos para essas entidades conscientes. A natureza desta inteligência superior
será mais elaboradamente discutida no artigo “Ciência De Dimensão Superior”.
Referências:
Um motor celular
As dificuldades que se apresentam diante de uma teoria da evolução podem ser vistas
mais claramente quando consideramos um exemplo concreto como os motores
celulares na bactéria E. coli. Esta criatura unicelular possui flagelos (fibras em forma de
saca-rolhas) movida por motores rotativos construídos em sua parede celular. A
rotação dos flagelos impele a E. coli pela água, igual à hélice de um navio, e através da
operação destes motores para frente ou para trás, a bactéria pode se guiar para seu
destino desejado.
Agora, suponhamos que possamos imaginar uma bactéria sem este aparato. A pergunta
é esta: por quais etapas evolutivas poderíamos chegar até uma bactéria com os motores
celulares? Qual é a seqüência das fases intermediárias? A exigência é que cada etapa
teria que conferir um pouco de vantagem definida à bactéria em relação à etapa
anterior. Caso contrário, as alterações não podem ser atribuídas à seleção natural, a
qual, se enuncia, governa o processo da evolução.
Foi determinado que 20 genes governam a estrutura dos motores. Isso significa que o
desenvolvimento não pôde ter ocorrido todo de uma vez por causa de uma única
mutação. Uma alternativa é que as alterações sucessivas tenham ocorrido
gradualmente por mutações genéticas aleatórias que afetam um pequeno número de
genes. Mas se você adquire apenas parte de um motor, como esta poderia
possivelmente beneficiar o organismo? Provavelmente, o tornaria menos apto para
sobreviver porque estaria desperdiçando sua energia para produzir uma estrutura
inútil. Assim, a seleção natural tenderia a evitar tal alteração.
Então, suponha que uma célula finalmente, de alguma maneira, tenha adquirido uma
estrutura de motor executável, mas não tenha obtido o sistema sensorial necessário
para controlar o motor. Logo, ela não poderia usar o motor corretamente, e assim o
motor seria de nenhum valor. Por outro lado, o aparelho sensorial seria inútil sem o
motor. O que isto significa é que o aparelho sensorial e os motores deveriam se
desenvolver simultaneamente, o que complica enormemente o assunto inteiro.
Em essência, o problema é este: o motor envolve claramente um grande número de
componentes que interagem, e para todo o motor funcionar, todos os componentes têm
que estar presentes juntos arranjados do jeito certo. É muito difícil se imaginar como
você poderia produzir tal mecanismo complexo, a menos que você pudesse
repentinamente reunir todos os componentes. Os teoristas evolucionistas modernos
não têm nenhuma explicação adequada. Mas um planejador inteligente poderia fazer
isto, porque a mente pode ir de uma idéia para com um projeto de funcionamento,
através de um processo de raciocínio, no qual as fases intermediárias não têm que
sobreviver em algum ambiente natural. Se um projetista quisesse construir um motor
molecular, ele poderia pensar nisto e poderia propor um plano, lentamente ou
depressa. É possível se conjeturar esta possibilidade, mas é difícil se imaginar que ele
poderia acontecer por um processo natural cego.
O exemplo do motor da E. coli não é de forma alguma único. Há inumeráveis outros
exemplos de forma complexa que varia desde maquinaria molecular sofisticada em
células até sistemas de órgão notavelmente desenvolvidos em espécies superiores de
vida. O problema da origem de tais estruturas é universal e permanece não solucionado
por teoristas da evolução. Na realidade, como a maioria das estruturas nos organismos
superiores é mais complexa que o simples exemplo da E. coli que acabamos de
considerar, antecipamos que uma tentativa honesta para explicar sua origem envolverá
correspondentemente maiores dificuldades.
A recém-desenvolvida ciência da biologia molecular fez a tarefa do teorista da evolução
muito mais difícil. Os seguidores da teoria darwinian clássica pensam na evolução em
termos do que nós poderíamos chamar de deformação plástica. Eles tendem a imaginar
um organismo como um modelo plástico e, por exemplo, suponha que se pudesse
alterar gradualmente a forma plástica de um macaco até que ele, através de etapas,
chegasse a assumir a aparência de um homem. A maioria das pessoas ainda vê a
evolução deste modo simplista.
Mas os organismos não são modelos plásticos. Os corpos físicos são máquinas
moleculares extremamente complexas, cujo funcionamento é mais complicado que
qualquer máquina de fabricação humana. Assim, é praticamente impossível ver como
você pode transformar uma máquina em outro tipo de máquina por um processo de
deformação plástica. Você pode fazer uso de uma ação mecânica em um carro e mudar
um pouco sua forma, mas se você quer rearranjar os componentes interiores, isto é
uma história completamente diferente. Por exemplo, é provável que um tipo novo de
máquina requeira um conjunto novo completo de partes com um conjunto novo
completo de inter-relações, e estas não podem ser produzidas por deformação contínua
gradual das partes do motor original. Se você começar a puxar arames e estirar metal
no motor e eixo do motor, é provável que a máquina se desmantele completamente.
Alguns evolucionistas sugeriram que as características que distinguem os seres
humanos dos macacos podem ser simplesmente consideradas por um aumento no
tamanho do cérebro. Este é outro caso de deformação plástica em operação — parece
tão simples, exatamente como soprar num balão. Entretanto, estudos neurológicos do
cérebro mostraram que ele não é só um caroço de massa cinzenta flexível – ele é
composto de bilhões de neurônios interligados em circuitos complexos.
Assim passar de um cérebro de macaco para um cérebro humano não é tão fácil quanto
explodir um balão. Significaria aumentar o número de neurônios e reestruturá-los para
permitir o cérebro gerar tais funções humanas complexas como a fala. Uma criança
humana, numa idade muito precoce, pode assimilar espontaneamente as estruturas
simbólicas de comunicação processando um idioma falado. Macacos não podem fazê-
lo. Isto levou os peritos em lingüística, como Naom Chomsky, a concluir que o cérebro
tem um tipo de software gramatical programado no seu interior.
Levando-se a analogia do computador um pouco mais adiante, podemos entender que
dobrar o tamanho de uma memória de computador e equipá-lo com um processador de
16 bits em vez de um processador de 8 bits não é suficiente para aumentar sua utilidade
ao usuário. O que é realmente requerido é um novo software mais avançado, programas
que permitirão o usuário tirar proveito da capacidade extra. O mesmo é verdade do
cérebro humano — pode ser maior que aquele do macaco, mas a real diferença é a
programação mais complicada que ele é capaz de rodar. A grande pergunta é como os
programas novos são desenvolvidos. Uma coisa é certa: é difícil acrescentar
capacidades radicalmente novas a um programa, modificando-o aleatoriamente, na
esperança de que através de pequenas alterações graduais ele melhorará. É mais
razoável e lógico supor que um processo de projetar e criar um sistema completamente
novo de software é o que está realmente por trás da questão.
Um outro exemplo das dificuldades que se apresentam à teoria evolucionista pode ser
encontrado no estatocisto de certas espécies de camarão. O estatocisto é um órgão
pequeno, oco, cheio de fluido que ajuda o camarão a manter seu equilíbrio.
Incrivelmente, sua função depende do camarão introduzir um grão de areia em seu
interior por uma minúscula abertura. Por meio da pressão que o grão exerce nos
sensíveis pêlos que revestem as paredes internas do estatocisto, o camarão pode
distinguir entre subir e descer. É extremamente difícil se imaginar qualquer série de
passos intermediários graduais que possam ter levado ao estatocisto e ao
comportamento associado a ele.
A esta altura, quando ficou claro que uma explicação física da origem de estruturas
complexas está fora de alcance, alguns cientistas tentam poupar a teoria da evolução
apelando para a aleatoriedade. Embora tenhamos discutimos este tópico antes neste
artigo, a apelação para o acaso é tão comum na ciência que sentimos importante
dispersar novamente algumas das errôneas concepções associadas a ela. Os cientistas
que fazem esta apelação propõem que, de alguma maneira ou de outra, tudo se junta da
maneira certa por casualidade. Mas isto envolve uma séria má concepção. O acaso só é
significante quando você puder repetir um evento e observar padrões estatísticos nos
resultados.
Por exemplo, imagine que você foi a primeira pessoa a jogar uma moeda. Se você só
pôde jogá-la apenas uma vez, você realmente não pôde tirar nenhuma conclusão sobre
as chances de caras aparecerem em lugar de coroas. Até mesmo se você a jogasse cinco
vezes, um padrão poderia não emergir — poderia aparecer caras todas as cinco vezes.
Todavia se você a jogar diversas centenas de vezes, você está justificado em fazer
declarações de probabilidade sobre o evento.
Agora como tudo isso se relaciona com a evolução? Está claro que a origem de uma
espécie não é algo que possa ser observada repetidamente. Contudo, como notamos
anteriormente, o teorista da evolução Theodosius Dobzhansky declarou que há quase
possibilidade zero da evolução humana ser repetida. Em geral, quando os teóricos
evolutivos evocam a aleatoriedade eles estão falando sobre probabilidades tão pequenas
que você não esperaria que eventos com tais probabilidades acontecessem, até mesmo
uma vez no curso de um período de tempo bilhões de vezes mais longo que a idade
aceita do universo. (Veja A vida poderia surgir da causalidade? )
Assim, considerando eventos evolutivos que são propensos a acontecer apenas uma vez
em centenas de bilhões (ou mesmo trilhões) de tentativas, se torna inútil falar deles em
termos de acaso. Seria significativo se você pudesse repetir os eventos muitas centenas
de bilhões de vezes, mas nós estamos lidando com eventos que historicamente é
suposto ter acontecido apenas uma vez. Então, se os cientistas não puderem oferecer
nenhuma explicação física aceitável da origem das estruturas físicas complexas de um
organismo, pode-se concluir que estas estruturas se tornam simplesmente eventos
únicos. Nós não podemos dizer nada preciso sobre a origem deles. Tudo que podemos
dizer é que eles existem.
Alguns evolucionistas já foram forçados a tirar conclusões similares. George Gaylord
Simpson, um dos decanos da moderna teoria da evolução, diz no seu livro Esta visão
da vida: “Os fatores que determinaram o aparecimento do homem foram tão
extremamente especiais, tão contínuo ao longo do tempo, tão inacreditavelmente
complicado que eu quase não pude indicá-los aqui. Realmente, eles estão longe serem
conhecidos, e tudo o que nós aprendemos parece torná-los até mesmo mais
incrivelmente sem igual".
Evolução inversa
Transmigração e karma
Evolução inversa
Os Vedas descrevem, de forma elaborada, um processo complexo de evolução que
progride de planos sutis para a manifestação física na matéria. De acordo com esse
relato, o controlador universal gera diretamente um controlador subordinado primário
que gera controladores secundários, tudo por processo não-sexual. Esses controladores
secundários têm a capacidade para a reprodução sexual, não apenas para gerar a sua
própria espécie, mas também para gerar outras espécies. Eles possuem em seus corpos
a informação do esboço para a diversidade de organismos. Essa informação, que existe
em semelhantes formas sutis, se origina na inteligência do controlador universal, que a
transmite para os controladores subordinados (semideuses). Finalmente, os
controladores secundários manifestam essa informação do esboço nas formas das
variadas espécies, que continuam se reproduzindo. Deste modo, os Vedas, escrito
milhares de anos antes da época de Darwin, contém o mais antigo relato da evolução.
Entretanto, esse processo védico reflete o significado original da palavra evolução, que
se refere mais exatamente ao desvelar de algo existente em uma forma rudimentar, do
que a produção aleatória por processos físicos de algo inteiramente novo.
O relato sobre a origem das espécies contido nos Vedasé parecido com a evolução
darwiniana, na qual envolve a descida física de um ancestral comum e o surgimento de
novas espécies pela reprodução sexual. O conceito evolucionário védico difere da
darwiniana no que tange ao ancestral comum ser um ser super inteligente, e não uma
criatura unicelular. Além disso, a progressão de descida é das formas mais complexas
àquelas mais simples. Pode-se, então, ser denominada “evolução inversa”, com alguns
dos primeiros passos ocorrendo além do planeta.
Mesmo alguns cientistas modernos têm considerado a idéia da informação do esboço
sendo transmitida de uma fonte superior. Robert Broom, que descobriu alguns dos
primeiros resquícios do australopithecus na África, escreveu: “A origem das espécies e
da evolução parece estar atribuída à uma agência espiritual, parcialmente inteligente e
ordenada, em associação com o animal ou a planta, que controla os processos vitais e
tende a manter a entidade viva mais ou menos adaptada ao seu meio ambiente. Mas,
em acréscimo a isto, parece haver outras agências espirituais de um tipo muito mais
elevado que têm sido responsáveis pelo que podemos chamar de evolução maior (...).
Essas agências espirituais parecem ter trabalhado, de tempos em tempos, no controle
das agências inferiores que estão associadas aos animais e plantas”7. A idéia de Broom,
embora não exatamente paralela ao conceito védico, compartilha com a noção das
inteligências superiores controlando.
Pensamentos semelhantes têm sido expressados por Alfred Russell Wallace, que,
juntamente com Darwin, acreditavam na explicação da teoria da evolução pela seleção
natural. Ele escreveu no livro Mundo da vida: “Se existe tal Ser Infinito e se o seu
desejo e propósito é multiplicar os seres conscientes, então, dificilmente nós somos o
primeiro resultado desse propósito. Concluímos, portanto, que existe agora no universo
infinitas classes de poder, infinitas classes de conhecimento e sabedoria, infinitas
classes de influência dos seres superiores sobre os seres inferiores. De posse dessa
opinião, eu sugeri que esse vasto e maravilhoso universo, com sua quase infinita
variedade de formas, movimentos, e reações de parte sob parte, de sóis e sistemas até a
vida vegetal, a vida animal, e a alma humana viva, sempre exigiu e ainda exige a
contínua e coordenada interferência de muitas dessas inteligências”8.
Diferente da maioria dos cientistas, Wallace está preparado para aceitar que existe essa
coisa de intenção no universo. Mas sua declaração sobre “a alma humana viva”
demonstra que ele está aderindo ao conceito comum Ocidental que apenas os seres
humanos têm almas. Os Vedas, entretanto, ensinam que todos os organismos vivos têm
almas e que além da evolução das formas físicas, existe um segundo processo
evolucionário envolvendo a transmigração de almas.
A alma é compreendida como uma unidade única e indestrutível de consciência
proveniente da entidade universal consciente. Essas unidades individuais de
consciência podem ser vistas como idênticas em substância com a consciência
universal, mas muito menor em tamanho e poder.
As unidades de consciência dentro dos corpos de todas as espécies são, portanto,
qualitativamente idênticas em cada uma, embora revelem uma certa escala de poderes
e habilidades baseados nas características particulares das formas físicas que elas
habitam. Para compreender esse princípio, podemos considerar como um motorista
humano pode manifestar diferentes habilidades de acordo com o tipo de veículo que
estiver dirigindo. Em uma bicicleta, um ser humano pode alcançar uma certa
velocidade, mas em um potente carro esporte, a velocidade e a força aumentam. Em um
avião o ser humano pode voar e em um barco ele pode navegar. Da mesma forma, os
egos conscientes habitando diferentes corpos manifestam diferentes poderes e
habilidades, embora eles sejam todos essencialmente idênticos.
Transmigração e karma