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Renata de Oliveira Braga dos Santos

UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL


PARA CRIANÇA PEQUENA EM BELO HORIZONTE:
O CASO DA CASA DO BRINCAR

Belo Horizonte
2008
Renata de Oliveira Braga dos Santos

UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL


PARA CRIANÇA PEQUENA EM BELO HORIZONTE:
O CASO DA CASA DO BRINCAR

Monografia de final de curso apresentada ao curso de Graduação em Ciências Sociais


da Universidade Federal de Minas Gerais.

Orientadora: Profª Maria de Lourdes Dolabela Luciano Pereira


Banca examinadora: Profª Helcimara de Souza Telles

Universidade Federal de Minas Gerais


Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Belo Horizonte
Universidade Federal de Minas Gerais / Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Julho de 2008

2
A Dagmar Braga, Erasto Santos e Fernanda de Oliveira, minha família, meu chão.

Ao Lino, pelo companheirismo, dedicação e conselhos, sem os quais

a vida seria menos bela e este trabalho não seria possível.

À Zakia, pelos ouvidos emprestados por horas a fio.

A todos os meus amigos que trazem conforto e alegria ao meu caminho.

Agradeço.

3
SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................................... 9

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11

PARTE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO E DEBATE TEÓRICO-METODOLÓGICO

CAPÍTULO I – POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS

1.1 Definição de políticas públicas e políticas sociais.................................................... 21

1.2 Avaliação de Políticas Públicas – Perspectiva Histórica.......................................... 23

CAPÍTULO II – CONTEXTO INSTITUCIONAL

2.1 Definição de democracias liberais modernas em contextos federalistas.................. 26

2.2 Liberalismo e Democracia........................................................................................ 27

2.3 Federalismo e Descentralização............................................................................... 31

CAPÍTULO III – O CONTEXTO INSTITUCIONAL BRASILEIRO

3.1 Desenvolvimento Político Brasileiro........................................................................ 37

3.2 Estado Brasileiro....................................................................................................... 40

3.3 Federalismo.............................................................................................................. 45

4
3.4 Liberalismo e Democracia........................................................................................ 50

3.5 Modernização Conservadora.................................................................................... 53

3.6 Sistema Partidário..................................................................................................... 59

3.7 Gramáticas Políticas Brasileiras............................................................................... 59

CAPÍTULO IV – O ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL

4.1 A Social Democracia e o Movimento Socialista: o surgimento do Estado do Bem-

Estar Social..................................................................................................................... 64

4.2 Estado do Bem-Estar Social – Formatação e Tipologia........................................... 71

4.3 O Estado de Bem-Estar Social no Brasil.................................................................. 73

CAPÍTULO V – MARCO TEÓRICO

5.1 Perspectivas de análise de Políticas Sociais............................................................. 78

5.2 Conceitos em Política Pública.................................................................................. 86

5.3 Modelos de Administração Pública.......................................................................... 95

5.4 Modelos de Análise de Políticas Públicas................................................................ 98

CAPÍTULO VI – MARCO LEGAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

6.1 Constituição Federal de 1988................................................................................. 106

6.2 Lei Orgânica da Assistência Social - 1993............................................................. 109

6.3 Política Nacional de Assistência Social – 2004...................................................... 115

5
6.4 Norma Operacional Básica do Suas – 2005........................................................... 125

CAPÍTULO VII – POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM BELO

HORIZONTE

7.1 O BH Cidadania...................................................................................................... 131

7.2 Política Pública de Assistência Social para a Criança Pequena............................. 138

PARTE 2 – ESTUDO DE CASO

CAPÍTULO VIII – CARACTERIZAÇÃO DO SERVIÇO

8.1 Casa do Brincar – Caracterização Institucional...................................................... 144

8.2 Características da Casa do Brincar – Atores Relevantes........................................ 146

8.3 Características da Casa do Brincar – Objetivos...................................................... 147

8.4 Características da Casa do Brincar – Regras – Planejamento Inicial..................... 148

8.5 Características da Casa do Brincar – Planejando a Implantação............................ 150

8.6 Características da Casa do Brincar – Metas Planejadas......................................... 151

8.7 Características da Casa do Brincar – Execução...................................................... 152

8.8 Características da Casa do Brincar – Implantação Realizada................................. 154

6
CAPÍTULO IX – CASA DO BRINCAR – AVALIAÇÃO DO SERVIÇO

9.1 Avaliação do Serviço Casa do Brincar. ................................................................. 160

9.2 Avaliação da Casa do Brincar – Ambiente Institucional........................................ 163

9.3 Avaliação da Casa do Brincar – Atores Relevantes............................................... 165

9.4 Formulação do Serviço Casa do Brincar

9.4.1 Avaliação da Casa do Brincar – Formulação: Objetivos do Serviço......... 166

9.4.2 Avaliação da Casa do Brincar – Formulação: Regras do Serviço.............. 169

9.4.3 Avaliação da Casa do Brincar – Formulação: Público-Alvo...................... 170

9.4.4 Avaliação da Casa do Brincar – Formulação: Entorno.............................. 172

9.5 Implantação do Serviço Casa do Brincar

9.5.1 Avaliação da Casa do Brincar – Implantação: Locais de Funcionamento.. 173

9.5.2 Avaliação da Casa do Brincar – Implantação: Prática do Serviço............. 175

9.6 Avaliação da Casa do Brincar – Focalização......................................................... 178

9.7 Avaliação da Casa do Brincar – Avaliação das Metas........................................... 183

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 184

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 186

APÊNDICE.................................................................................................................. 195

ANEXOS...................................................................................................................... 200

7
ÍNDICE REMISSIVO DE QUADROS E TABELAS:

QUADRO 1. Data de abertura das Casas do Brincar por regional............................... 153

QUADRO 2. Horário e endereço das Casas do Brincar............................................... 154

TABELA 1. Estado geral de conservação da entrada do lote...................................... 156

TABELA 2. Estado geral de conservação da entrada da Casa..................................... 157

TABELA 3. Número de salas das Casas do Brincar.................................................... 157

TABELA 4. Capacidade aproximada de atendimento da Casa, de acordo com o seu

tamanho........................................................................................................................ 158

TABELA 5. Tamanho das casas do entorno................................................................ 178

TABELA 6. Estrutura das construções dos domicílios do entorno.............................. 179

TABELA 7. Acabamento das residências do entorno.................................................. 179

TABELA 8. Classe social predominante no entorno.................................................. 180

TABELA 9. Proximidade da Casa em relação à Vila.................................................. 181

TABELA 10. Localização da Casa............................................................................... 181

8
RESUMO

A assistência social como campo de políticas públicas passou em sua história recente

por uma profunda modificação em sua estrutura. O estabelecimento do Sistema Único

de Assistência Social (SUAS) dá novos rumos para a política de assistência social no

Brasil. Em Belo Horizonte, as ações pioneiras do campo de assistência social antecipam

formatações dadas posteriormente pelo SUAS. A presente monografia propõe a

realização de um retrato da situação da Assistência Social no Brasil e em Belo

Horizonte e em seguida, avalia uma política pública de assistência social para a criança

pequena do município: o serviço Casa do Brincar.

Palavras-Chave: Políticas públicas, políticas sociais, assistência social, avaliação.

9
ABSTRACT

The public policy refered to social assistance have been through a great change in its

recent history. The unified system of social assistance – Sistema Único de Assistência

Social (SUAS) changes the directions of public policy in social assistance. In Belo

Horizonte, the pioneer actions in social assistance take up beforehand the instructions

given by the SUAS. This monograph intends to trace the scene of Social Assistance in

Brazil and in Belo Horizonte, and in a second moment, evaluates a social assistance

public policy of the city: the service “Casa do Brincar”.

Key-words: Public policy, social policy, social assistance, evaluation.

10
INTRODUÇÃO

A assistência social caracteriza-se como campo fundamental de políticas públicas em

um país de extrema desigualdade como o Brasil. A análise da maneira como se deu a

formulação e a implementação das políticas deste campo, e o resultado obtido a partir

deste processo são cruciais para o fortalecimento do campo de Assistência Social, uma

vez que trazem informações relevantes para a reestruturação de políticas vigentes e para

a formulação de novas políticas.

A avaliação de políticas públicas é uma ferramenta importante de maturação e

desenvolvimento de novas políticas públicas, ao proporcionar o conhecimento a respeito

dos principais obstáculos encontrados por formuladores e implementadores das

políticas.

As políticas públicas de assistência social no Brasil vêm ganhando destaque, tanto no

plano nacional como nos entes subnacionais. A legislação produzida para este campo de

políticas públicas é recente e inovadora no país, na sua concepção de direitos sociais e

da organização do sistema de assistência social que possibilite a garantia destes direitos.

Este estudo pretende, em primeiro lugar, realizar um mapeamento do marco legal do

campo de políticas públicas de assistência social no Brasil. Em seguida, destina-se à

apresentação de um estudo de caso: uma breve avaliação de política pública de

assistência voltada para a criança pequena do município de Belo Horizonte: a Casa do

Brincar. O intuito deste estudo de caso é o de ressaltar as principais características

11
consideradas como fomentadoras ou dificultadoras da efetivação da formulação e da

implementação desta política no município.

A metodologia utilizada para o mapeamento da assistência social no Brasil e

especificamente em Belo Horizonte foi a pesquisa bibliográfica e a pesquisa da

legislação. Para o estudo de caso recorreu-se a documentos produzidos pela Prefeitura

de Belo Horizonte e a entrevistas com técnicos diretamente ligados ao serviço Casa do

Brincar.

Para as informações referentes ao serviço Casa do Brincar, recorreu-se à realização de

entrevistas semi-estruturadas com técnicos responsáveis pela política. As entrevistas

ocorreram durante o mês de junho de 2008. Foi realizada entrevista face a face com os

responsáveis pelos cargos de gerência do Programa Criança Pequena, assessoria da

Gerência de Proteção Social Básica (GPSOB), e gerência da Gestão da Política de

Assistência Social (GEPAS). Além disto, foi aplicado um questionário semi-estruturado

em responsável pela entidade executora do serviço Casa do Brincar.

O roteiro das entrevistas cobriu questões referentes à formulação e implantação do

serviço e a respeito da forma de execução do mesmo. Nas questões relativas à

formulação da política procurou-se compreender quais foram seus incentivos e

dificuldades. Considerando-se que a formulação de uma política é realizada a partir da

identificação de um problema na realidade, e da possibilidade de intervir no mesmo,

buscou-se compreender a qual problema referia-se a política, e quais as soluções eram

apresentadas para ele.

12
Contemplou-se o planejamento da política em questões referentes às suas características

gerais, como a escolha de focalização ou universalização, localização geográfica,

escolha do local de implantação, escolha e efetividade das parcerias para a execução da

política, etc. A estrutura da organização da Prefeitura de Belo Horizonte também foi

mapeada, com vistas a estabelecer a hierarquia dos cargos ligados à execução da

política.

No que se refere ao momento de implantação procurou-se compreender o processo de

efetivação do planejamento inicial do serviço na prática. Para isto buscou-se estabelecer

principalmente quais foram as condições de implantação do equipamento do serviço em

seus locais de funcionamento, e como se deu a adaptação do planejamento realizado

para a prática.

As informações coletadas pelas entrevistas realizadas foram complementadas também

pela análise de documentos produzidos pela prefeitura de Belo Horizonte. Os

documentos que serviram de referência para o estudo foram o “Programa e Objetivo do

Programa Criança Pequena”, “Programa e Objetivo das Casas do Brincar”, anais do

seminário realizado em 2000 “Política Social do Município para Criança Pequena:

Formulando Novas Ações”, a Publicação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte de

Novembro de 2002 intitulada “Criança Pequena”, e o “Projeto da Avaliação do

Programa Criança Pequena”.

O serviço Casa do Brincar está em processo de avaliação por uma equipe, da qual faço

parte, coordenada pela professora Helcimara de Souza Telles, do Departamento de

13
Ciência Política (DCP) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A avaliação

do serviço teve início em julho de 2007. Dentre as etapas já realizadas constam:

• Visitas Surpresas realizadas às Casas do Brincar. Nas Visitas Surpresa foi utilizado o

método de observação etnográfica para a compreensão do cotidiano das Casas do

Brincar em seu funcionamento rotineiro. Os pesquisadores não eram identificados como

tal e procediam a uma observação, guiada por roteiro específico, seguida de relatório da

visita. As informações dos relatórios de visitas foram posteriormente sistematizadas em

um banco de dados, de modo a facilitar a análise do material coletado.

• Arrolamento dos entornos das Casas do Brincar. Os entornos das Casas do Brincar

foram identificados, nesta etapa, como as áreas de interseção do território NAF/CRAS e

da área de vulnerabilidade social construída pela Secretaria de Saúde. O arrolamento

consistiu na aplicação de um pequeno questionário com o intuito de averiguar a

composição dos domicílios nestes locais, levantar informações a respeito do público

alvo em cada região, assim como do espalhamento do serviço no território.

• Grupos focais realizados com o público alvo do serviço – dividido entre usuários

atuais, usuários egressos e não usuários. Foram realizados onze grupos focais no total,

subdivididos em: quatro grupos para usuários atuais e não usuários e três grupos para

usuários egressos. Os grupos focais foram utilizados para o levantamento de

informações de caráter qualitativo, principalmente no que diz respeito ao conhecimento

dos usuários e não usuários sobre o serviço, às percepções a respeito da realidade na

qual se insere a população alvo e a respeito da política avaliada, ao impacto do serviço

sobre seus usuários e à identificação das motivações para a inscrição e freqüência ao

serviço.

14
• Pesquisa de Clima Organizacional. A pesquisa de clima organizacional foi realizada

através da aplicação de questionário estruturado a técnicos da prefeitura diretamente

vinculados ao serviço, técnicos da entidade executora diretamente vinculados ao serviço

e à sua execução, e coordenadores dos Núcleos de Apoio à Família / Centro de

Referência da Assistência Social.

• Survey nos entornos das Casas do Brincar. Esta etapa encontra-se em andamento.

Prevê a aplicação de 400 questionários por segmento da população alvo (usuários

atuais, usuários egressos, e não usuários), num total de 1200 casos a serem analisados.

As informações referentes às características da área externa e dos entornos das Casas do

Brincar coletadas através dos relatórios de observação durante as visitas surpresa foram

também utilizadas como suporte à presente pesquisa.

O mapeamento do marco legal e teórico pertinente foi realizado a partir de pesquisa

bibliográfica e da legislação que rege o campo de Assistência Social no Brasil, de 1988

até os dias atuais.

As pesquisas bibliográficas privilegiaram o mapeamento dos conceitos de políticas

públicas e políticas sociais, modelos de análise destas políticas, conceituação e tipologia

dos Estados de Bem Estar Social e modelos históricos de administração pública, assim

como a análise institucional das democracias liberais modernas e de seu formato no

Brasil.

As principais referências de legislação produzidas desde 1988 até os dias atuais e que

serviram como base para a criação do marco legal da presente pesquisa foram:

15
• Constituição Federal de 1988

• Lei Orgânica de Assistência Social de 1993

• Política Nacional de Assistência Social de 2004

• Norma Operacional Básica do SUAS de 2005

A Constituição Federal de 1988 é a responsável por definir que a Assistência Social é

um direito de todo cidadão e que cabe ao Estado o dever de ofertá-la. Ela estabelece

também que a assistência social brasileira será regida por um princípio não contributivo

e que a prática de sua implantação será descentralizada

A Constituição de 1988 define também que o sistema de Seguridade Social brasileiro é

composto pelo tripé das áreas de Saúde, Previdência Social e Assistência Social. O

orçamento da Seguridade Social é realizado de forma conjunta com as três áreas, e é

financiado pelas contribuições sociais recolhidas nos três níveis de governo. As

contribuições sociais que financiam o sistema de Seguridade Social provêm da folha de

salários e demais rendimentos, pagos pela empresa ou empregador, dos trabalhadores e

usuários do sistema de previdência social, de contratantes de serviços do exterior ou

compradores de bens importados e da receita de concursos de prognósticos.

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) de 1993 reafirma que a assistência social

é direito de todos e dever do Estado, sendo por isto uma política de cunho não

contributivo. A assistência social deve ser responsável por prover os mínimos sociais e

se materializa através de parcerias entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa

16
privada. A LOAS regulamenta a necessidade de participação popular na formulação da

política de assistência social, criando conselhos referentes aos três níveis de governo.

Finalmente, no que diz respeito ao financiamento da assistência social no Brasil, a

LOAS é responsável por instituir o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS),

substituindo o antigo Fundo Nacional de Ação Comunitária (FNAC).

A Política Nacional de Assistência Social de (PNAS) 2004 tem como principal

contribuição ao debate sobre a assistência social no Brasil a proposição do Sistema

Único de Assistência Social (SUAS), regido pelos princípios de matricialidade sócio-

familiar, descentralização, territorialidade, e participação popular. As ações de

assistência social conforme definição do SUAS são divididas em ações da Proteção

Social Básica e da Proteção Social Especial, esta última subdividida em ações de média

e alta complexidade.

A Proteção Social Básica é composta pelas ações de cunho preventivo, voltadas a

famílias que estejam em situação de vulnerabilidade social, e têm intuito de

fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. As ações da Proteção Social

Básica destinam-se principalmente a indivíduos cujos vínculos familiares não tenham

sido rompidos e cujos direitos não tenham sido violados.

A Proteção Social Especial destina-se a indivíduos que tenham sofrido violação de seus

direitos. Aquelas de média complexidade destinam-se prioritariamente aos indivíduos

que, ainda que tenham sofrido violação de direitos, mantenham vínculos familiares e

17
sociais, mesmo que estremecidos. A alta complexidade destina-se aos indivíduos cujos

vínculos familiares e sociais já tenham sido rompidos.

A matricialidade sócio-familiar proposta pela PNAS/2004 refere-se ao deslocamento do

foco de ação da assistência social do indivíduo para a família. A família torna-se centro

de referência das ações de assistência

A descentralização indica a responsabilidade dos três níveis de governo na implantação

da política de assistência social, respeitado o princípio de subsidiariedade, segundo o

qual uma esfera de governo mais ampla só deve intervir nas ações níveis locais quando

o nível local não for capaz de, sozinho, lidar com os problemas que surgirem.

A territorialização traz à cena a idéia de regionalização da assistência social. Define-se a

necessidade de estabelecimento de áreas homogêneas, divisões territoriais com

características próximas, para o planejamento das ações de assistência social no

território como um todo.

Para o nível municipal, define-se que as ações de Proteção Social Básica devem ser

distribuídas pelo território e ter abrangência local. No caso das ações da Proteção Social

Especial, algumas delas podem ser ofertadas de forma regional, abrangendo mais de um

território local.

18
A participação popular é instituída no SUAS principalmente através dos conselhos de

assistência social e da obrigatoriedade de existência e funcionamento dos conselhos

para o repasse de fundos ao município.

A Norma Operacional Básica de 2005 (NOB/SUAS) regulamenta a implantação do

SUAS, definindo as responsabilidades dos três níveis de governo. Além disto, a

NOB/SUAS define os tipos de gestão do sistema de assistência social nos municípios, e

responsabilidades distintas a cada nível de gestão.

Cabe ressaltar que a restrição da opção metodológica da presente monografia –

entrevistas com técnicos responsáveis pelo serviço, análise documental e legislativa e

observações etnográficas – provém da necessidade de manutenção do sigilo das etapas

da pesquisa de avaliação executada pelo Departamento de Ciência Política, requerida

por parte do contratante da pesquisa, a Prefeitura de Belo Horizonte.

A presente monografia está estruturada em duas partes. A primeira parte tratará da

discussão teórico-metodológica e legal implementada no campo de políticas públicas de

assistência social. A segunda parte realizará um estudo de caso de política pública de

assistência social para criança pequena do município de Belo Horizonte: a Casa do

Brincar. A primeira parte comporta do capítulo um ao capítulo sete. A segunda parte é

formada pelos capítulos oito e nove.

A primeira parte da monografia se refere ao mapeamento teórico-conceitual e de marco

legal do campo de políticas públicas de assistência social no Brasil. O capítulo um trata

19
da definição de políticas públicas e políticas sociais e do histórico de avaliação destas

últimas. O capítulo dois procura traçar o contexto institucional no qual se inserem as

sociedades liberal-democráticas de organização federalista, apontando as características

presentes nos tipos ideais de federalismo e liberal-democracia. O capítulo três retrata o

contexto institucional do país, trazendo o debate sobre a forma como os tipos ideais de

liberal-democracia e federalismo se desenvolveram no Brasil. Além disso, há uma breve

discussão a respeito do desenvolvimento político brasileiro, da formação do Estado no

país, e da característica conservadora da modernização implementada no Brasil. Por

fim, discute-se o sistema partidário em funcionamento e os modos de incorporação das

demandas pelo sistema político instituído. O capítulo quatro discute o Estado de Bem-

Estar Social, destacando seu surgimento histórico, tipologia de acordo com os tipos

históricos surgidos. Ao final do capítulo é discutido o desenvolvimento do EBES no

Brasil. O capítulo cinco traz o marco teórico utilizado. Ele aponta as perspectivas de

análise das políticas sociais trazidas pela literatura, os modelos de administração

pública, e os conceitos e modelos de análise de políticas públicas. O capítulo seis

demarca a referência legal da assistência social no Brasil, explorando as legislações

produzidas a este respeito na esfera da União. O capítulo sete discute a política de

assistência social em Belo Horizonte em sua história e formato de ação.

A segunda parte da monografia é composta pelo estudo de caso a respeito da Casa do

Brincar, realizado nos capítulos oito e nove. O capítulo oito destina-se à caracterização

do serviço. O capítulo nove faz uma breve avaliação dos itens caracterizados no

capítulo anterior.

20
PARTE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO E DEBATE TEÓRICO-METODOLÓGICO

CAPÍTULO I – POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS

1.1 DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS

Para os fins deste trabalho, identifica-se a política pública por uma ação ou intervenção

de governantes, com intenção clara de promover um efeito desejado na esfera das

relações sociais, e com um objetivo geral de assegurar a estabilidade social e a melhoria

na qualidade de vida da coletividade. RUA (1997) define a política pública como um

conjunto das decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores por parte do

governo.

A política pública é formada por ações rotineiras do Estado, e que estão ligadas a uma

estrutura burocrática própria, seja para a prestação direta do serviço público, seja para o

controle das condições desta prestação1. As políticas públicas podem ser divididas em

dois subgrupos: políticas de alcance universal, que abrangem as políticas consideradas

como dever do Estado e ofertadas a toda coletividade, e em políticas de alcance

focalizado, que se constituem em diretivas ou programas de governos eleitos2.

O estabelecimento gradual da noção de direitos sociais relaciona-se ao reconhecimento

de que existe a necessidade da intervenção estatal em favor de setores da sociedade que,

inseridos na própria dinâmica do capitalismo moderno, não seriam capazes de prover

1
SILVA, 2005
2
SIMAN, 2005

21
para si mesmo o mínimo necessário para sua própria sobrevivência3. Em uma sociedade

capitalista e inteiramente monetarizada, cada indivíduo deve ser capaz de gerar para si

uma renda mínima necessária ao consumo de bens básicos para a própria sobrevivência.

As políticas públicas que têm como objetivo a garantia do mínimo social passam a ter

um caráter específico e a ser reconhecidas enquanto políticas sociais. Portanto a política

social será aqui considerada como uma política pública que tenha como objetivo o

resgate de setores da sociedade que estejam excluídos da possibilidade de renda própria

para um consumo mínimo.

3
DUPAS, 1998

22
1.2 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – PERSPECTIVA HISTÓRICA

A avaliação de políticas públicas teve seu boom na década de 1960, com início

principalmente nos Estados Unidos. No Brasil e na América Latina, foi a década de

1990 que vivenciou o fortalecimento deste tipo de pesquisa. O aumento da realização

destas avaliações tem sido justificado pelo processo de reforma do Estado e

modernização da máquina pública4.

Segundo Albaek5, o princípio do processo de massificação das avaliações de políticas

públicas, realizado nos Estados Unidos da década de 1960, teve como desenho

característico o formato top-down de avaliação, em um modelo institucionalizado que

partia do pressuposto que a administração pública é um mecanismo operativo perfeito.

Como o mecanismo operativo da administração era considerado perfeito, não havia a

necessidade de compreensão das formas diferenciadas de absorção das regras e

execução das políticas a partir desta absorção, realizada pelos diferentes atores. A

preocupação da administração recai sobre o planejamento no plano técnico, realizado de

forma descolada da realidade institucional no qual será operacionalizada a pesquisa. A

grande expectativa, neste período, era a de que a produção de conhecimento a respeito

das políticas públicas implementadas pelo governo dos Estados Unidos garantisse a

racionalidade dos processos decisórios e da legitimação de políticas públicas. Não havia

discussões a respeito do caráter propriamente político das avaliações.

4
FARIA, 2005
5
ALBAEK, 1998. In FARIA, 2005

23
Na década de 70 o otimismo inicial da primeira onda de avaliações de políticas públicas

realizadas foi sendo, aos poucos, substituído por uma visão mais realista acerca das

possibilidades de uso das avaliações realizadas. O paradigma top-down, que havia

dominado as avaliações feitas até então, foi aos poucos sendo substituído pelo

paradigma bottom-up. A compreensão de que as políticas públicas eram executadas por

atores, com localização institucional dada e lógica de ação diferenciada a partir desta

localização, os modelos de análise de formulação e implementação de políticas públicas

tiveram que ser forçosamente revistos.

As avaliações de políticas públicas, especialmente no Brasil, têm sido

predominantemente realizadas por profissionais da área de administração pública, e têm

ganhado relevância6. Apesar do grande número de avaliações realizadas e publicadas, o

campo de estudos de políticas públicas permanece bastante fragmentado, tanto em sua

organização quanto em sua temática. No Brasil, a área de ciências sociais – mais

particularmente a sociologia e a ciência política – permanece ainda razoavelmente

distante do estudo avaliativo de políticas públicas. A própria escassez de organização

mais precisa da literatura a este respeito acaba fazendo com que o campo de estudos de

avaliação de políticas públicas se encontre à margem dos campos centrais e tradicionais

de estudo da sociologia e da ciência política, sendo clara a hegemonia dos estudos

advindos da administração pública para este campo do conhecimento.

As políticas públicas e políticas sociais podem ser consideradas respostas do Estado ao

conjunto de interesses e necessidades da sociedade7. A formulação das políticas

6
Idem
7
ROSEMBERG, Fúlvia, 2000

24
públicas e mais especificamente das políticas sociais dependem amplamente do

contexto no qual ocorrem, principalmente do seu contexto político e institucional. As

respostas do Estado ao contexto institucional e político e às necessidades e interesses da

sociedade “emergem (...) de um processo de escolhas sucessivas, que envolve

confrontos, atritos, coalizações, pressões e contrapressões.”8 As forças envolvidas neste

processo de escolhas são muitas e incluem setores da sociedade civil, segmentos sociais,

burocracia especializada do Estado, grupos de interesse, intelectuais, atores políticos do

legislativo e do executivo, entre outros.

A interação entre todos estes segmentos é complexa e o processo de barganha

implantado define pouco a pouco o formato das políticas que serão estabelecidas. O

papel dos intelectuais e da academia neste processo é o de fornecer argumentos e

informações teóricas e práticas que subsidiem parcialmente o debate e a barganha em

torno das políticas públicas.

A avaliação de políticas públicas procura trazer à discussão parte do arcabouço teórico e

dos resultados empíricos das pesquisas, a fim de subsidiar as discussões para

implementação de novas políticas e reformulação das políticas vigentes, nos aspectos

que se fizerem necessários.

8
ABRANCHES, 1987, p.11. Citado em ROSEMBERG, 2000

25
CAPÍTULO II – CONTEXTO INSTITUCIONAL

2.1 DEFINIÇÃO DE DEMOCRACIAS LIBERAIS MODERNAS EM CONTEXTOS

FEDERALISTAS

As sociedades modernas têm como principal característica o fato de serem

constitucionalistas, pluralistas e estruturadas como democracias liberais. Enquanto

democracias liberais, estas sociedades apresentam divisão de poderes, eleições livres,

periódicas e competitivas como regra de ocupação de cargos públicos, quadro legal bem

definido e delimitado através de uma constituição.

26
2.2 LIBERALISMO E DEMOCRACIA

A formatação liberal do Estado possui, entre as peculiaridades mais importantes a serem

destacadas, as eleições livres, periódicas e competitivas para a ocupação de cargos

públicos e a divisão de poderes entre legislativo, executivo e judiciário. O sistema de

ocupação dos cargos públicos influencia diretamente no aspecto político da produção de

políticas públicas. A distribuição, na prática, do poder político, advinda das eleições é

em grande parte responsável pelas negociações de tipos e conteúdos diversos de

políticas públicas a serem colocadas em prática em cada governo.

A divisão de poderes estabelecida em democracias liberais, principalmente entre

Legislativo e Executivo, nos traz à reflexão a forma de distribuição de poder e de

negociação de grupos de interesse, a fim de que determinadas ações e políticas públicas

desejadas sejam alcançadas.

Os grupos de interesse que se mobilizam para provocar deliberadamente alterações ou

formulações de políticas públicas e podem buscar estas alterações de três formas

principais: eleitoralmente – seja a partir da criação de um partido próprio, seja a partir

do apoio financeiro a um ou mais partidos –, a partir da pressão no Legislativo – em

geral proveniente de acordos de financiamento de candidatos ou do partido em geral, no

momento eleitoral – e a partir da pressão, na esfera do Executivo, realizada diretamente

em órgãos da burocracia especializada do Estado, que facilitam a comunicação entre

determinados grupos de interesse e o governo instituído.

27
O Executivo é a instância responsável pela rotina do governo. A ele cabe a tarefa de

organizar rotineiramente suas ações e colocá-las em prática. No entanto sua prática está

pautada em leis, que lhe fornecem o quadro institucional no qual deve inscrever suas

ações. Estas leis são produzidas na esfera do Legislativo. Além da definição do marco

legal e institucional que define os limites da ação do executivo, o Legislativo possui

também o importante poder de veto de propostas orçamentárias feitas pelo Executivo.

Portanto, ainda que caiba ao Executivo a organização rotineira da política, suas ações

são limitadas pelas discussões estabelecidas na esfera legislativa. Desta forma,

Legislativo e Executivo se revezam e se controlam, no exercício rotineiro do poder e na

criação de seu quadro institucional de referência. No entanto, embora haja uma

separação formal entre as esferas do Legislativo e do Executivo, observa-se que, na

prática, o foco do poder político, no que se refere à iniciação de políticas, está na esfera

do Executivo. Ele é o formulador e o iniciador das políticas públicas, embora dependa

diretamente do Legislativo para a votação de leis que determinarão as regras do jogo e a

aprovação orçamentária do governo instituído.

Os atores da esfera do Legislativo e do Executivo são enquadrados por tipologias

diferenciadas. Na âmbito do Legislativo temos apenas um tipo de categoria de

enquadramento dos indivíduos: são todos eles indivíduos eleitos em eleições livres,

periódicas e competitivas. Por isso são considerados atores políticos. Os indivíduos

eleitos neste processo representam grupos de interesse, que, por sua vez, se organizaram

em partidos como forma de buscar a concretização de seus interesses. Os eleitores

distribuem seus votos aos partidos que mais se aproximam de seus próprios interesses.

28
Na esfera do Executivo encontramos atores de três categorias distintas, com papéis

também bastante distintos: os indivíduos eleitos em processo eleitoral livre, periódico e

competitivo (os atores políticos, encontrados também na esfera do Legislativo), os

indivíduos indicados pelos eleitos para os chamados cargos confiança (os atores

técnico-políticos) e os indivíduos que formam a burocracia especializada do Estado (os

atores técnicos), divididos entre concursados e contratados.9

Percebe-se a existência de um quadro complexo de atores, principalmente na esfera do

Executivo. As disputas políticas a respeito de diretivas de governo devem ser entendidas

a partir deste quadro, uma vez que a lógica de ação de cada tipo de ator será diferente,

segundo sua localização tipológica e institucional.

Uma característica importante de sociedades modernas diz respeito ao caráter

constitucionalista de organização da política, típico de uma formatação liberal do

Estado. A Constituição seria "a própria estrutura de uma comunidade política

organizada, a ordem necessária que deriva da designação de um poder soberano e dos

órgãos que o exercem."10 O constitucionalismo se refere à formação jurídica de

organização do Estado.

O constitucionalismo reconhece, como condição efetiva de funcionamento do Estado

liberal-democrático, que as funções do Estado sejam definidas por lei. Os governos não

podem atuar livremente, mas têm suas ações amparadas e limitadas por um quadro

legal, que expressa as regras do jogo e define, por exemplo, o que é considerado

9
SIMAN, 2005
10
BOBBIO, 2007

29
obrigação de Estado e o que pode ser opção de governo. O princípio constitucionalista

prevê que os governos só possam agir e intervir se estiverem devidamente resguardados

por algum princípio jurídico.

Além da característica constitucional de funcionamento do Estado, deve-se ressaltar

também a característica pluralista da composição de democracias liberais modernas. O

pluralismo refere-se à forma de organização da sociedade. A sociedade é extremamente

heterogênea nas posições a partir das quais os indivíduos se associam para interferir

politicamente. O pluralismo parte do princípio de que os indivíduos são autônomos –

podem fazer escolhas e ter motivações para mobilizar-se na esfera pública, em busca de

mudanças – e que eles não atuam sozinhos, mas em grupos. A sociedade é formada por

vários grupos de interesse, organizados de diversas formas e que se confrontam na

esfera pública. Desse confronto são estabelecidas as políticas públicas e diretivas de

governo. A sociedade forma um conjunto muito heterogêneo de indivíduos e de grupos

de indivíduos que se associam de diferentes formas, por diferentes razões, e convivem

articuladamente na democracia liberal. O pluralismo é o reconhecimento da

heterogeneidade da sociedade e da diversidade de atores que ela cria.

30
2.3 FEDERALISMO E DESCENTRALIZAÇÃO

No que diz respeito à lógica federalista e de descentralização da organização estatal,

Fernando Abrúcio, (2006) traz a explicação do significado geral do termo

descentralização, e de como este conceito foi traduzido para a realidade política

brasileira. Segundo o autor, o termo descentralização é encarado de forma

predominantemente positiva no campo das ciências políticas no Brasil. O excesso de

elogios recebidos, segundo Abrúcio, poderia advir da imprecisão de sua conceituação e

utilização.

Em primeiro lugar, o autor define o termo como “um processo nitidamente político,

circunscrito a um Estado nacional, que resulta da transferência (ou conquista) efetiva de

poder decisório a governos subnacionais, que adquirem autonomia para a) escolher seus

governantes e legisladores; b) para comandar diretamente sua administração; c) para

elaborar uma legislação referente às competências que lhe cabem e, por fim, d) para

cuidar de sua estrutura tributária e financeira.”11.

Para o autor, o processo de descentralização do sistema político é um fenômeno

internacional. A nacionalização das democracias, somada aos resultados conflitantes e

paradoxais da expansão do Estado, segundo o modelo de Welfare State, são

características que reforçam o movimento em direção à descentralização. Outras

características relevantes que impulsionaram a descentralização dizem respeito à

aceleração do processo de urbanização e ao conseqüente aumento da dependência da

11
ABRÚCIO, 2006

31
população local em relação ao governo local, o surgimento de conflitos étnicos que

provocaram cisões territoriais, o surgimento de novas democracias, denominadas de

terceira onda, nas quais em geral a democracia se relaciona intimamente com o processo

de descentralização, além da defesa, por parte de organismos multilaterais importantes

como o Banco Mundial, da adoção deste tipo de organização do sistema político.

Uma das concepções que orienta a implantação de um sistema político descentralizado é

a de que a proximidade dos governos com seus cidadãos cria maior possibilidade de

aumento da accountability – controle dos cidadãos sobre as ações do Estado. Há

também a idéia de que a eficiência e efetividade podem ser maiores em uma

organização descentralizada, uma vez que a descentralização possibilita a melhoria do

fluxo de informações, entre população local e formuladores e implementadores. O

modelo descentralizado é considerado por vezes como mais propício à inovação no

campo das políticas públicas, por permitir um maior campo de movimentação dos

gestores.

No entanto, a descentralização em si não pode ser considerada como positiva ou

negativa, dependendo integralmente de sua forma de implantação. Segundo Abrúcio,

são cinco as questões fundamentais a serem equacionadas em um sistema

descentralizado, para a potencialização de suas características positivas: a constituição

de um pacto nacional sólido, o combate às desigualdades regionais, a montagem de boas

estruturas administrativas no plano subnacional, a democratização dos governos locais

e, finalmente, a criação de um ambiente intergovernamental positivo.

32
A primeira dessas questões refere-se à capacidade de sustentação da unidade do Estado

nacional. A fragmentação excessiva pode levar ao colapso do próprio Estado. A

segunda questão refere-se à questão das desigualdades entre as regiões, trazendo à tona

a preocupação com o processo de descentralização, para que não se torne “a mãe da

segregação”, mas que possibilite o desenvolvimento de cada região, segundo suas

características e necessidades próprias. Em terceiro lugar, ressalta-se que as capacidades

administrativas dos governos subnacionais são condições necessárias para a efetivação

da descentralização. É necessário que haja uma estrutura administrativa instalada e

eficaz para lidar com as novas funções repassadas aos entes subnacionais. A criação de

instituições democráticas é também relevante neste processo, sendo fundamental a

criação de mecanismos de accountability nas novas estruturas administrativas criadas.

Por fim, cabe destacar o papel da interação entre os vários níveis de governo e do

estabelecimento de um ambiente intergovernamental positivo. O acirramento dos

conflitos entre os níveis de governo pode se constituir em um grande prejuízo da

efetivação do processo de descentralização. É necessária, portanto, a formação de

instrumentos que proporcionem a cooperação e coordenação entre as esferas de

governo.

A implantação de um sistema federativo em geral baseia-se no entendimento de que

uma federação deriva de uma situação federalista. Uma situação federalista pode ser

descrita como aquela em que uma enorme heterogeneidade divide o território nacional –

sejam quais forem os tipos de diferença que o marquem – e ao mesmo tempo uma

situação na qual haja o discurso e a prática de defesa da unidade na diversidade, numa

33
tentativa de resguardar autonomias locais, sem que para isto a esfera central seja negada

ou prejudicada.

A partir da situação federalista, compõe-se uma federação, o que significa, basicamente,

a composição de um pacto. O pacto é uma divisão negociada de poderes e atribuições

dos vários níveis de governo, a partir do reconhecimento das diferenças, da autonomia

do plano local e, ao mesmo tempo, do reconhecimento da importância da manutenção

da unidade no plano federal. O pacto federativo depende do estabelecimento da

soberania compartilhada dos níveis de governo.

Segundo Abrúcio, o sistema federativo exige uma coordenação intergovernamental que

deve ser gerida pelo nível central de governo. Para este autor, existem alguns tipos de

política pública que são “grandes problemas” que os estados ou municípios não seriam

capazes de resolver sozinhos. São as chamadas “grandes políticas”. Destacam-se como

grandes políticas a política urbana, a de desenvolvimento regional, a de saúde, a de

educação, a de segurança pública e a política de habitação. Para Abrúcio, a grande

política deve ser organizada no nível central e coordenada por este nível de governo,

uma vez que este é o nível de governo responsável por estabelecer a gestão

intergovernamental das políticas. Aos entes subnacionais cabe a formação de estruturas

administrativas adequadas que possibilitem a execução eficaz das políticas públicas,

além do estabelecimento de instrumentos que possibilitem a accountability e tornem o

processo democrático. Ao governo central cabe a responsabilidade, principalmente, de

realizar a coordenação das ações das várias esferas de governo. Segundo o autor, as

políticas públicas que têm maior integração e atividades coordenadoras – que são de

34
responsabilidade do nível central de governo – são aquelas que têm as características

positivas da descentralização acentuadas em seu processo de execução. De forma

contrária, nas políticas em que não houve o estabelecimento de mecanismos de controle

e integração das esferas de governo, há uma propensão considerável à irrupção das

características negativas do processo de descentralização, como a competição

intergovernamental, por exemplo.

O pacto federativo se expressa na esfera tributária. Ele pressupõe que as diferentes

partes que compõem o pacto aceitem que o nível central de governo – governo federal –

seja responsável pela coleta da maior parte dos tributos e por sua devida redistribuição,

através de repasses obrigatórios e opcionais. A distribuição dos recursos entre regiões e

políticas distintas é pauta de discussões e confrontos, em busca da aquisição destes

recursos.

O modelo federativo, como já se disse, pressupõe uma situação federativa do país. Esta

situação federativa é marcada por uma grande heterogeneidade entre as partes

constitutivas do país. A heterogeneidade gera necessidades de políticas e montantes de

recursos diferenciados por região. O modelo federativo de distribuição dos recursos

prevê que o nível central de governo seja responsável pela administração e recolhimento

da maior parte dos tributos cobrados. A distribuição dos recursos não segue a lógica de

seu recolhimento, ou seja, não é feita proporcionalmente ao recolhimento realizado. Há

uma redistribuição de recursos que procura obedecer às necessidades regionais e prevê a

tentativa de minimização das diferenças regionais.

35
As políticas públicas são financiadas, em cada nível de governo, pelos tributos

recolhidos pelos entes federados e pelo governo central. As decisões referentes ao

financiamento de políticas públicas relacionam-se diretamente aos conflitos na esfera da

legislação tributária, de sua distribuição e da autonomia de cada ente federado para a

extração de novos recursos da sociedade através de novas tributações. É importante

ressaltar que toda política pública necessita de financiamento público e que, portanto, a

disputa pelos recursos que permitirão a implantação e execução das políticas torna-se

aspecto crucial do debate a respeito dessas políticas.

36
CAPÍTULO III – O CONTEXTO INSTITUCIONAL BRASILEIRO

3.1 DESENVOLVIMENTO POLÍTICO BRASILEIRO

A noção de desenvolvimento político proposta por REIS (2000) envolve três aspectos

principais: a internalização do capitalismo no país, o ativamento de grupos

politicamente organizados e o modo como os governos incorporam, a cada momento, as

demandas provenientes destes grupos.

Existem três etapas, identificadas pelo autor para a compreensão do processo de

desenvolvimento político de um país, entendendo-se desenvolvimento político como um

processo de ativação da sociedade para que grupos se organizem em defesa de seus

interesses e atuem na esfera política.

A primeira destas etapas é a pré-ideológica. Para Reis, a ideologia é utilizada como um

elemento identificador do tipo de disputa recorrente para o momento. Os governados, a

cada momento, perceberão um determinado problema como o mais importante. A

divisão do processo em etapas ajuda a trazer à tona esta característica de erupção de

temas centrais, que se diferenciam com o passar do tempo. Há sempre um problema

dominante, cuja resolução seja crucial para que a convivência permaneça possível. O

que caracteriza a etapa pré-ideológica é o fato de que o problema dominante é o da

instituição do Estado como governo unificado, central e reconhecido por todos. O

reconhecimento deste governo é uma questão crucial, que requer uma unanimidade e

coloca em segundo plano outros conflitos, principalmente porque estes outros conflitos

37
levam à desagregação – princípio oposto ao desejado no período de afirmação da

existência legítima de um Estado. A luta pela unificação não é e não pode ser uma luta

de classe ou de grupos sociais específicos, mas é uma luta de elites políticas que

chegam a um acordo sobre a necessidade de existir um Estado unificado.

Na segunda etapa, também chamada de etapa ideológica, Fábio Wanderley Reis chama

atenção para o fato de que as demandas dominantes passam a ter um caráter distributivo

e redistributivo. Se na fase pré-ideológica a unanimidade e junção dos grupos sociais

era fundamental para conseguir a legitimidade e estabilidade do Estado que surgia, a

fase ideológica é marcada pela ativação política da sociedade. Grupos diversos se

organizam politicamente, com demandas distributivas e redistributivas (o governo deve

ser mais ou menos intervencionista, por exemplo).

Na etapa pós-ideológica as grandes questões distributivas se encontram resolvidas e os

cidadãos podem se ocupar de questões políticas mais específicas de grupos também

específicos. Não há tanta discussão sobre o papel do Estado e seu grau de

intervencionismo.

As três etapas, embora possam dar a impressão de que fazem parte de um

desenvolvimento inegável, com esta direção e estas características, não são

necessariamente subseqüentes – não nesta ordem – e não há nada de permanentemente

estável no desenvolvimento político em si. A etapa pós ideológica não está

definitivamente posta como finalização de um desenvolvimento da esfera política e as

38
disputas e problemas distributivos podem surgir a qualquer momento, retornando-se

assim à etapa ideológica.

39
3.2 ESTADO BRASILEIRO

O Brasil da década de 1930 até os dias atuais se coloca na etapa ideológica de seu

desenvolvimento político. Neste período os principais debates a respeito do formato que

o Estado e a economia devem ter já estão superados: a fórmula de organização

institucional do Estado será liberal, o território será distribuído através da formatação

federalista e a economia do país será pautada por um processo de internalização do

capitalismo. A etapa ideológica é também a etapa da expansão do mercado político. A

mobilização política aumenta e a própria dinâmica de eleições livres e competitivas –

próprias do modelo liberal-democrático – proporciona um gradual ativamento político

da massa de eleitores.

É no contexto da etapa ideológica portanto que analisamos o Estado brasileiro. O

Estado brasileiro neste período atua como pólo positivo de dois processos fundamentais:

a internalização do capitalismo e a formatação institucional e política deste Estado.

BOSCHI e LIMA (2002) defendem a idéia de que o Estado no Brasil, desde a década de

30, é caracterizado por uma presença forte do poder executivo, principalmente federal.

É este executivo que se torna responsável pela condução da internalização do

capitalismo brasileiro. É ele quem planeja e elabora estratégias para viabilizar tal

internalização, apresentando medidas que incentivam a industrialização. Este

planejamento estatal inclui também uma antecipação de conflitos possíveis entre grupos

e demandas da sociedade. É como se o Estado, prevendo a existência futura dos

conflitos, se adequasse a eles de modo a não permitir que eles eclodam. A principal

40
maneira utilizada pelo Estado para lidar com as demandas que surgiam foi o

corporativismo, que cria uma comunicação direta dos grupos com o poder executivo,

escapando do debate aberto do poder legislativo. Abre-se um novo campo legítimo para

pressão política por demandas de grupos específicos.

A reforma do Estado, realizada na década de 90, traz a possibilidade de mudança do

quadro de corporativismo e da importância fundamental do poder executivo. Esta

reforma do Estado aproxima-o do modelo de organização neoliberal e pode ser vista

enquanto produto da crise de desenvolvimentismo do modelo varguista. As

privatizações, típicas da reforma do Estado brasileiro, são acompanhadas por abertura

ao capital estrangeiro e pela criação das já citadas agências reguladoras.

Embora aparentemente este novo arranjo retire poder regulatório das mãos do

executivo, uma vez que coloca a maior parte das funções anteriormente realizadas por

ele nas mãos de empresas privadas e cria agências reguladoras para acompanhá-las,

Boschi e Lima defendem que o poder executivo permanece com grande capacidade de

influenciar as próprias agências reguladoras. O poder legislativo, que deveria regular as

agências, não cumpre seu papel e deixa aberta a possibilidade de intervenção do

executivo. A nova formatação do Estado, descentralizada, não trouxe consigo uma

delimitação clara de responsabilidades para esferas regulatórias (poder executivo,

legislativo e agências reguladoras), o que acaba por fazer com que as ações destas

esferas sejam desencontradas e haja uma dificuldade ou até mesmo impossibilidade de

definição de responsáveis para efetuar a regulação das empresas privadas contratadas

para a prestação dos serviços antes inteiramente a cargo do Estado.

41
MARTINS (1991) identifica algumas transformações do Estado brasileiro ocorridas

devido ao processo de internalização do capitalismo no país. Segundo este autor, o

Estado brasileiro teve que se expandir e se complexificar para atender as demandas da

condução da internalização do capitalismo. Enquanto em países desenvolvidos o próprio

desenvolvimento do capitalismo gera mudanças sociais que desembocam em um maior

desenvolvimento e ao Estado basta criar condições para a manutenção do capitalismo,

em países periféricos a função do Estado vai além: não só ele deve criar condições de

manutenção desta forma de organização da economia, mas ele deve ser capaz de induzir

constantemente o aprofundamento e avanço do sistema capitalista. Esta necessidade de

ter o papel indutor do sistema econômico vigente fez com que o Estado brasileiro

tivesse que se expandir e aumentar suas estruturas especializadas, complexificando-se.

O Estado acaba por adotar uma lógica de atuação tipicamente empresarial. Aqui fica

evidente que a preocupação central deste Estado não é a sociedade e seu bem-estar, mas

a continuidade do modelo econômico escolhido.

O ensaio de DINIZ e BOSCHI (1978) é bastante eficaz em traçar um mapeamento das

interpretações feitas sobre a relação Estado e Sociedade no Brasil. Segundo os próprios

autores, o problema proposto para a análise constitui-se “em última instância, na

determinação do núcleo dinâmico de determinado sistema, a partir do qual se possa

detectar as injunções de outros componentes a ele vinculados”. Um dos principais

argumentos dos autores é o de que as interpretações realizadas dão pouca importância à

possibilidade de atuação autônoma de grupos sociais. A proposta do ensaio é dar um

panorama amplo sobre as possíveis interpretações do tema feitas até então para, em

42
seguida, propor uma forma de interpretação que procure trazer à cena a importância

desta atuação autônoma.

O primeiro autor abordado no ensaio é SCHWARTZMAN, que em trabalho de 1975

coloca a questão da relação Estado/Sociedade como uma forma de contraposição entre

cooptação e representação. Para o referido autor o Estado é um pólo ativo e não

meramente pólo aglutinador dos interesses sociais de grupos específicos. A política não

é simplesmente, no caso brasileiro, a tradução de demandas de elites dominantes em

ações concretas. Há que se atribuir a devida importância ao Estado patrimonial que é

centralizador e autônomo e com capacidade de antecipar conflitos sociais e absorve-los

em sua estrutura, prevenindo sua efetiva eclosão no cenário político.

Para Schwartzman o que ocorre no Brasil é uma luta pela conquista de posições de

poder dentro da esfera administrativo-burocrática. Esta característica acaba por levar

por uma maior regionalização da política, em contraposição à formatação liberal da

política, que leva a grupos políticos diferenciados com base em uma classe de origem.

O autor denomina este tipo de comportamento político como de cooptação.

MARTINS (1973) percebe a presença de um Estado brasileiro forte e ativo, concebido

como campo privado das elites. Isto quer dizer que a política para o autor tem como

elemento central as alianças de setores da elite, feitas sob os parâmetros estabelecidos

pelo Estado. A modernização conservadora é o conceito introduzido que permite

compreender a lógica das alianças entre elites sob a tutela do Estado e a evolução do

mesmo ao longo do tempo.

43
VELHO (1976) tem como foco de sua análise a relação entre o campesinato e a

internalização do capitalismo brasileiro. O Estado tem importância central no

desenvolvimento e internalização do capitalismo no Brasil, o que faz com que o autor

cunhe a expressão capitalismo autoritário como forma de denotar a importância do

Estado enquanto núcleo deste processo de transformação. Mais uma vez reaparece a

preocupação com a característica do sistema político brasileiro de realizar mudanças

que não impliquem em grandes rupturas com o passado. O Estado atua simultaneamente

enquanto agente promotor de mudanças, mas com várias permanências. Aparentemente

as características conservadoras parecem predominar sobre as características de

promoção de mudança.

Para CAMARGO (1974) a força do Estado brasileiro emerge principalmente devido à

fraqueza da sociedade civil no país. Dado este cenário, o Estado se beneficia através de

seu papel estratégico de mediação entre grupos e entre o país e o cenário internacional, e

através de sua condição de pólo aglutinador de forças e atores heterogêneos no cenário

interno. Mais uma vez ressalta-se a característica antecipatória do Estado brasileiro, que

se antecipa a ações possivelmente conflitivas de grupos e classes, atendendo

parcialmente suas demandas e dando nova formatação à participação de tais grupos e

classes na política.

44
3.3 FEDERALISMO

A compreensão do desenvolvimento político brasileiro passa também pela compreensão

do federalismo no país A fórmula federalista de organização do Estado brasileiro

pressupõe uma divisão, tanto administrativa quanto de poder regulatório, entre unidades

do território. No Brasil a implantação do federalismo foi a solução encontrada para o

problema da centralização política e diversidade de interesses. Ele foi um pacto

consociativo entre elites dirigentes que optaram por um formato de divisão regional do

poder, ao invés da fragmentação do próprio país. O federalismo brasileiro ao longo dos

anos teve um movimento pendular de maior centralização do poder nas mãos da União

e de maior descentralização do poder político, quando se sobressaíam as unidades

federadas.

A opção pelo federalismo no Brasil segue um modelo de descentralização político-

administrativa de unidades territoriais que antes eram submetidas a um governo central.

O federalismo se impõe como opção de organização da política no Brasil no momento

de mudança constitucional que cria uma mudança de regime: a instauração da república

no país. Diante da enorme extensão brasileira e da heterogeneidade econômica e

política, optou-se por um fortalecimento de governos descentralizados.

O federalismo brasileiro, ao contrário do norte-americano que tem origem na

constituição do próprio Estado, nasce como opção em um período pós monárquico

centralizador. Neste sentido o federalismo era visto como uma solução para libertar o

país de uma situação de centralismo exacerbado, que era visto como impeditivo de uma

45
autonomia mais racional para a promoção do crescimento do Estado e para a resolução

de problemas mais específicos da esfera local. O federalismo é uma solução

consociativa de partes muito distintas de um vasto território que decidem permanecer

unidas.

Para LOVE (1993), é necessário entender o federalismo no Brasil analisando a partir do

grau de centralização ou descentralização do Executivo federal ocorrido em cada

momento histórico. Embora o federalismo brasileiro tenha permanecido enquanto

fórmula de organização político-administrativa desde a constituição da república até os

dias de hoje, sua dinâmica real, bastante variada no tempo, esteve diretamente

relacionada aos papéis, administrativos e fiscais, estabelecidos nas Constituições e

divididos entre as esferas de governo. Em geral, quanto mais autônomos os estados, ou

seja, com maior descentralização, maior foi, no Brasil, o domínio oligárquico e a

manipulação de interesses regionais. Ao contrário, as épocas de exacerbação da

centralização foram as que trouxeram a preocupação com uma direção global dos

acontecimentos políticos do país.

A crise política e econômica que marcaram os anos 1980 no Brasil teve grande

relevância na definição do novo pacto federativo do país. Para BOUCHARDET (2006),

a crise econômica, causada pelas duas crises internacionais do petróleo, foi responsável

por uma grande elevação do endividamento do Estado brasileiro. Esta crise econômica,

ao mesmo tempo, impunha dificuldades ao Estado brasileiro de conseguir empréstimos

no intuito de balancear as próprias contas. A crise vivida nos anos 1980 foi definida por

uma situação de desequilíbrio fiscal, alto endividamento externo, desordem das contas

46
públicas, além de altos índices de inflação, recessão e desemprego na conjuntura

econômica interna. CERQUEIRA (1997, p. 20) define que esta era uma crise estrutural

caracterizada pela “[...] corrosão da ordem pregressa, dado o acirramento das tensões

entre seus elementos constitutivos”. Para a autora a crise era devido ao desgaste do

modelo de definição político-institucional brasileiro vigente até então. Esta crise, em

sua última instância, levaria o Estado a perder sua capacidade de atuar como o principal

promotor do desenvolvimento econômico e do bem-estar social, que estiveram

historicamente sob sua responsabilidade.

O crescimento pelas demandas de participação no governo demonstrava também a

incapacidade do modelo de Estado instaurado em responder às demandas de uma

sociedade civil em estado de expansão. A organização federativa do Estado brasileiro

teve também que ser revista. O caráter centralizador, com benefício da esfera da União

em detrimento das esferas estaduais e municipais teve que ser revisto e a organização do

Estado reformada.

As propostas de reforma do Estado surgidas neste período em sua maioria indicavam a

necessidade de redução da máquina estatal, reorganizando a estrutura do Estado sob

moldes mais eficientes e de caráter mais participativo. Pretendia-se a redução da

máquina estatal antes apropriada ao modelo estatizante/centralizador, responsável por

guiar os rumos da economia e política brasileiras.

A descentralização do poder decisório e uma nova forma de redistribuição de recursos

aparecem, neste momento, como uma necessidade para um novo federalismo que se

47
formava no país. A correspondência entre descentralização e democracia feita neste

momento fez com que fosse produzido um novo arranjo federativo de caráter

fortemente descentralizado. A este respeito, ARRETCHE (1996) nos informa que

“Passou-se a supor que, por definição, formas descentralizadas de prestação de serviços

públicos seriam mais democráticas e que, além disso, fortaleceriam e consolidariam a

democracia. Igualmente, tal consenso supunha que formas descentralizadas de prestação

de serviços públicos seriam mais eficientes e que, portanto, elevariam os níveis reais de

bem-estar da população. Portanto, reformas do Estado nessa direção seriam desejáveis,

dado que viabilizariam a concretização de ideais progressistas, tais como equidade,

justiça social, redução do clientelismo e aumento do controle social sobre o Estado.

Simetricamente, passou-se a associar centralização a práticas não democráticas de

decisão, à ausência de transparência das decisões, à impossibilidade de controle sobre as

ações de governo e à ineficácia das políticas públicas.”12

A Constituição Federal de 1988 nasce diante deste contexto de reforma do Estado

brasileiro, sob o princípio da descentralização, e constitui-se como marco de referência

do processo de descentralização política e fiscal ocorrida no país.

O perfil federativo brasileiro foi alterado, a partir da Constituição de 1988, através da

entrada de um novo ente federado: o município. O fato de o município despontar como

lugar preferencial da política naquele momento obedecia à lógica de descentralização, à

época colada à idéia de maior democratização das instituições.

12
ARRETCHE, 1996

48
O novo federalismo brasileiro instaurado em 1988 apresenta o princípio da

subsidiariedade como organizador de seu caráter descentralizado. Segundo CAMARGO

(1999), o princípio da subsidiariedade refere-se ao reconhecimento da eficácia da

descentralização, definindo-se através deste princípio que as políticas públicas devam

ser executadas pela instância de governo mais próxima do cidadão. É definida, assim, a

primazia do município sobre os entes estaduais e destes sobre o governo federal no que

diz respeito à promoção das políticas públicas.

O novo arranjo tributário, correspondente ao novo pacto federativo instaurado,

privilegiou a esfera municipal na partilha de recursos. Houve um crescimento da

participação dos municípios na receita tributária disponível, especialmente através do

Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O processo de valorização do lócus

municipal para a dinâmica da política, além do crescimento conseqüente do orçamento

disponível para este nível de governo permitiu a aceleração de um processo de

municipalização no País, particularmente forte durante os anos 90.

49
3.4 LIBERALISMO E DEMOCRACIA

Para a Teoria da Escolha Racional, todo ator político se guia por objetivos a serem

alcançados. A partir de um objetivo dado e as possibilidades de alcance deste objetivo

de acordo com o aparato técnico e burocrático disponível para utilização, o ator político

traça seus passos para que se chegue à meta definida. Uma das estratégias de atores

políticos racionais é a de tentar controlar os processos políticos e suas conseqüências na

sociedade. Segundo SANTOS (1998) as elites políticas brasileiras foram sempre

racionais e modernizaram o país de uma forma controlada. No entanto, o este processo

de modernização tornou-se cada vez mais complexo em uma sociedade que se

caracterizava cada vez mais pela urbanidade e competitividade.

As elites políticas não foram capazes de controlar indefinidamente os rumos da

sociedade para a qual realizavam escolhas políticas e econômicas. Para Santos, a

democracia no Brasil acabou sendo um quesito indispensável da organização da política

brasileira, ainda que a mesma não fizesse parte das escolhas que as elites políticas

gostariam de ter feito. O “efeito perverso” da modernização conservadora proposta pela

elite política brasileira seria exatamente a inevitabilidade da democracia.

O liberalismo no Brasil, como aponta Santos, não nasceu de uma sociedade que se

mobiliza para operacionalizar uma forma liberal da condução da política e da vida

pública. A opção pelo liberalismo no Brasil tem origem nas elites políticas que usaram a

formatação liberal da política como forma de incorporação controlada dos atores

50
políticos. Para Santos a opção pelo liberalismo é também uma opção pela cidadania

regulada.

Para LAMOUNIER (2005), embora o liberalismo enquanto filosofia, nascido de uma

organização societal forte em um país economicamente desenvolvido, que se torne uma

sociedade composta por indivíduos, possa ser interpretado como uma idéia fora de lugar

no Brasil, a práxis do modelo liberal teve bastante utilidade na organização da política

no país. A organização política do Estado brasileiro pós independência é bastante

complexa. As elites políticas precisavam encontrar uma maneira de viabilizar a

compatibilização de interesses distintos de áreas de colonização distintas, sem retirar a

escravidão, ainda que esta estivesse sendo largamente contestada. Assim, para que todos

pudessem estar na política e ter representação na esfera de disputa de interesses optou-

se pela práxis liberal.

Ainda segundo Bolívar Lamounier, a elite política brasileira se difere da elite política do

restante da América Latina, que normalmente tem um caráter caudilhista de resolução

de conflitos e impasses. Para este autor a elite política do Brasil tem um comportamento

de natureza consociativa. Lamounier ressalta ainda que o consociativismo característico

de nossas elites políticas é o que explica a opção tanto pelo liberalismo como pelo

federalismo, estando longe, em ambos os casos, de ser uma opção fundamentada

ideologicamente.

GUERREIRO RAMOS (1966) percebe a opção pelo liberalismo no Brasil como

relacionada ao tipo de formatação do Estado que seria necessário ter para que se

51
efetuasse uma inserção no mercado internacional de forma civilizada e que garantisse

barganhar a posição do Brasil no exterior. Esta formatação institucional facilitava a

inserção do país em organizações internacionais, auxiliando na busca de

reconhecimento político na esfera internacional.

52
3.5 MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA

De acordo com a idéia de WERNECK VIANNA (1997) de revolução passiva como um

dos modos de desenvolvimento político brasileiro, nosso estado é responsável por uma

modernização que, no entanto, não permite que haja uma revolução burguesa. A

sociedade se mobiliza mas não se autonomiza politicamente. É importante aqui a noção

de uma elite dirigente – distinta da elite econômica – que coordena os rumos de

mudança – estratégica – no país. A elite de pensamento que conduz às mudanças é

passiva.

A incorporação de interesses na esfera política acaba muitas vezes forçando mudanças

no sistema político e econômico dos países. No Brasil, a fórmula utilizada da primeira

república – de não incorporação das demandas da classe média e do movimento

operário – logo teve que ser alterada. Nos anos 30, com o surgimento do Estado Novo,

percebe-se uma ampla incorporação destas demandas. Esse tipo de processo ilustra o

que chamamos de padrão de reorganização do estado e de suas relações, o que sempre

ocorre de acordo com certo modo. Desta forma, podemos dizer que o modo de

desenvolvimento brasileiro se dá principalmente por duas vias: a modernização

conservadora, quando há incorporação das demandas modernas, reconhecendo-se que o

país é capitalista e que existe uma classe – a classe média – responsável pelo setor de

empresariamento e que deve ter seus interesses reconhecidos politicamente, embora sob

a tutela e o patrocínio de um estado regulador. Sob o patrocínio do estado a sociedade é

mobilizada para a política através de discursos, educação moral e cívica, etc. Esse tipo

de processo é responsável por uma modernização que mantém, concomitantemente, o

53
poder tradicional, apenas limitando parcialmente as oligarquias, ou seja, o estado amplia

o mercado político, ainda que mantenha sua forma de organização.

O Brasil não possui uma elite burguesa e portanto não pode ter uma revolução burguesa.

Ele tem, no entanto, elites que são territoriais, ligadas à produção em grandes

propriedades de terra. O princípio agregador de interesses para a formação da elite que

influenciará a política é diferente para o caso de elites burguesas – quando o princípio

organizador provém de uma não vinculação territorial e de um domínio da aplicação de

recurso e da utilização de mão de obra livre e assalariada – e para o caso de elites

territoriais – nas quais inexistem opções de realização econômica do indivíduo, sendo a

mão de obra ligada por laços de lealdade ao empregador. A história do Brasil é a

história de um transformismo que não contém revoluções e não destrói o antigo regime,

mas persiste segundo uma lógica de revolução passiva e conservadora. Werneck Vianna

quer destacar aqui a inexistência da dinâmica da política burguesa e a existência da

Ibéria, ou seja, a existência de uma visão de ordem que corresponde à direção das elites

que incorporam pressões que surgem de forma simbólica ou apenas parcialmente. A

Ibéria é o conservadorismo que se reinterpreta e se reorganiza a cada crise, sem

mudanças radicais.

Pode-se notar que a abordagem centrada na noção de desenvolvimento político dá

ênfase aos processos de mudança dos regimes e dos modos de incorporação dos

diferentes grupos sociais à política. A abordagem centrada no modo de

desenvolvimento, típica, por exemplo, de autores como TOURAINE (1989), explora

outras características importantes da história e desenvolvimento do Brasil e de outros

54
países da América Latina. O conceito de modo de desenvolvimento, tal como este autor

utiliza, diz respeito a padrões de passagem de um tipo de sociedade a outra sociedade

(por exemplo, de sociedade rural ou agrária a sociedade urbana ou industrial). A ênfase

aqui recai sobre os atores sociais que se articulam na esfera política visando à

coordenação desta passagem.

Um regime político pode ser visto como um padrão de distribuição de poder político

com uma estrutura constitucional que serve de base para a criação das instituições

políticas. A noção de desenvolvimento político nos obriga necessariamente a prestar

atenção nas mudanças de regime e nas mudanças no modo de incorporação de atores

relevantes, resultando em uma transformação das instituições políticas. O

desenvolvimento político consiste – para Touraine – num processo contínuo e

irreversível de distribuição de poder político e de aumento do número de atores políticos

relevantes. É importante diferenciar, a este ponto, dois processos específicos:

modernização e desenvolvimento. A modernização, para este autor, é vista como um

processo estrutural irreversível em função de transformações estruturais na esfera

econômica. Ela é sistêmica, já que se impõe como necessidade a todos os países no

mundo. Inicialmente se encontra ligada ao capitalismo, mas passa a se impor para além

deste, inclusive dentro da esfera de organização do socialismo.

O conceito de desenvolvimento político de Touraine pressupõe processos de mudança e

que a gênese desta mudança seja social. Ele parte da premissa de que as pressões

políticas não ocorrem no plano político e sim no plano social, que está sofrendo

mudanças. A política é uma esfera dependente de outras estruturações, principalmente a

55
econômica. O modo de organizar uma sociedade, que se reflete no padrão de

distribuição de bens sociais e do poder político têm sua gênese na estrutura econômica

que dá lógica de organização e relação dos atores sociais. O modo como a base

econômica se articula será definidor dos atores sociais que se tornarão atores políticos

importantes. Para este interprete, existem três modos de desenvolvimento: o modo

nacional civil, que pode ser central (como a Grã Bretanha e o EUA) ou jacobino

(França); o modo estatizante, que pode ser bismarckiano (Alemanha e Japão) e pós

revolucionário (URSS estalinista e leninista) e o modo colonial dependente. Para a

compreensão deste modelo faz-se necessária a distinção entre a classe dominante – que

aqui será entendida como uma categoria social econômica importante – e a elite

dirigente – que aqui será vista como uma categoria política importante. A elite dirigente

não é (necessariamente) coincidente com a classe dominante.

O modo de desenvolvimento nacional civil central traz a implantação da modernização

através da virtude de atores sociais que já estavam, por meio de suas iniciativas

próprias, instituindo novas formas de organização da economia, que legitimam o

capitalismo. O modo nacional civil em geral é caracterizado por uma modernização

promovida por atores sociais e que acabam por se refletir em uma transformação destes

atores, inicialmente sociais, em atores políticos com relevância gradualmente maior. O

modo nacional civil jacobino tem como processo originário de modernização a esfera

econômica, no entanto o alcance desta modernização não é total, tanto em termos de

território quanto em termos de classe. O modo estatizante diz respeito à dominação do

Estado perante a sociedade. No caso bismarckiano há a existência e predominância de

uma elite dirigente, com funções políticas relevantes mas com funções econômicas

56
pouco definidas e sem vinculação de classes. Aqui quem promove a modernização é um

estado, autoritário, que submete o país, promovendo a modernização enquanto política

de estado, com classes dependentes deste. Para o modo estatizante pós revolucionário

percebe-se a formação de uma elite dirigente que alcança poder por via revolucionária e

que traz a modernização através de um processo burocrático e autoritário. Finalmente,

no modo colonial – que pode evoluir, como é o caso do Brasil, para dar lugar a modos

estatizantes bismarckianos – a modernização aparece por via de atores políticos

externos. A indução dominante no caso é externa. No Brasil, o estado aparece como

principal ator, refletido como elites dirigentes e não como classes sociais. As elites

dirigente são predominantemente tecno-burocratas e militares. As classes econômicas

propriamente ditas têm uma autonomização muito tardia.

O modo de desenvolvimento latino americano, de acordo com categorização proposta

por Touraine, e na qual se insere o Brasil, é caracterizado por um capitalismo

incompleto e dependente, uma grande heterogeneidade estrutural de diferentes regiões

de um mesmo país, um elevado grau de mobilização político-cultural em zonas urbanas,

uma fragilidade das classes sociais, associada com uma situação de exclusão não

conectada de modo coerente com a atuação política e um predomínio das categorias

sociais sobre as políticas. As sociedades latino-americanas não se formam como

sociedades integradas, mas se baseiam em processos de inclusão/exclusão, de forma

dual, onde a região capitalista se torna, ao longo do tempo, dominante. A identidade

coletiva nesses casos que é complicada por causa dos constantes processos migratórios

de regiões não capitalistas para regiões onde domina o capitalismo moderno –

heterogeneidade estrutural – não se dá através de processos políticos, mas através do

57
plano cultural, a partir da origem territorial. A mobilização cultural de origem religiosa

ganha um novo espaço e sentido, tornando-se um importante ponto de convergência.

Para Touraine, os indivíduos na América Latina têm uma lógica dos interesses que é

particularista para a política, já que há uma ausência de condições psico-sociais para

que os indivíduos se comportem de forma moderna.

A modernização brasileira, para Touraine, foi resultado da ação de atores políticos e não

sociais. SANTOS (1985) também ressalta que as grandes mudanças da economia do

país decorreram de políticas governamentais e não de um desenvolvimento social e

econômico. Assim como Touraine e Santos vários outros estudiosos da política

brasileira concordam em dizer que a modernização econômica do Brasil esteve

diretamente vinculada às escolhas de elites políticas.

58
3.6 SISTEMA PARTIDÁRIO

O sistema partidário mostra-se um tema relevante para o entendimento do

desenvolvimento político, uma vez que a dinâmica partidária e eleitoral é parte

fundamental da formatação liberal democrática da política.

É importante esclarecer a noção de partido político. A literatura a respeito concorda que

os partidos são instituições que cumprem primordialmente duas funções: representação

de interesses sociais e recrutamento de elites políticas. Os partidos surgiram com a

ampliação do eleitorado. Tal ampliação fez com que fosse necessário uma

“especialização” da função de captar votos e a instituição especializada nisto foi criada:

o partido político. Os políticos passaram a se colocar como representantes de parcelas

da população e o voto ganha novo significado de identificação entre eleitor e instituição.

Vale ressaltar também que vários tipos de sistemas partidários são possíveis e se

diferenciam em várias características, tais como: distância ideológica de partidos e seu

grau de coesão, fragmentação partidária, proporcionalidade entre votos e cadeiras, etc.

O sistema partidário brasileiro é estudado por MAINWARING (2001), compreendendo

o período de 1979 a 1996. A tese deste autor é a de que o sistema partidário brasileiro é

na verdade pouco institucionalizado. Ele pode ser caracterizado como volátil, pouco

legítimo, com tendências à fragmentação e polarização ideológica e com uma falta de

identificação entre eleitor e partido.

O sistema é volátil uma vez que não consegue fidelizar um eleitorado, que se torna

então estável. A falta de identificação entre eleitores e partidos apresenta relação com a

59
volatilidade do sistema: a falta de identificação é tida como um dos incentivos à

volatilidade dos votos. Além disso, no Brasil é comum a associação do voto ao

candidato e às suas características pessoais, o chamado voto personalista. Este tipo de

voto faz com que a instituição partidária perca força enquanto referência para a

concorrência eleitoral. A falta de legitimidade dos partidos se relaciona não apenas com

à falta de identificação entre partido e eleitor, mas traz à tona também o problema da

imagem de partidos e políticos que foi construída no Brasil. Esta imagem permanece

negativa e aponta-se que tanto partidos quanto políticos estão entre as categorias menos

confiáveis da sociedade brasileira.

60
3.7 GRAMÁTICAS POLÍTICAS BRASILEIRAS

A incorporação de demandas da sociedade por parte do Estado pode se dar de diversas

formas. NUNES (2003) propõe que existem diversas gramáticas da política brasileira,

que os atores identificam, lêem e utilizam, de acordo com seus objetivos e

possibilidades, para alcançar os fins planejados. Para este autor o Estado brasileiro não é

uma estrutura homogênea e não está dominado por algum grupo exclusivo. O Estado no

Brasil tem um desenho liberal e suas instituições formatam a maneira de os atores

políticos de interagirem. A partir desta estrutura institucional dada, de formatação

liberal, Nunes procura compreender a interação dos atores políticos e sua apropriação

do Estado em sua forma executiva, legislativa e burocrática. A gramática da política

brasileira é a leitura que os diversos atores têm da política, das instituições e das formas

de apropriação do espaço estatal para defesa dos próprios interesses. São quatro os tipos

básicos de gramática política brasileira: o clientelismo, o corporativismo, o insulamento

burocrático e o universalismo de procedimentos.

O clientelismo é uma troca que envolve partes que têm uma relação assimétrica – uma

parte tem algo para oferecer. O clientelismo, segundo Nunes, aparece no Brasil seja em

sua forma mais tradicional, de oferta de pequenas benesses para o eleitorado, em troca

de votos, seja em sua forma política dentro do liberalismo. Em um sistema político que

conta com multipartidarismo, presença do legislativo e presidencialismo além, é claro,

de eleições competitivas, o executivo, uma vez eleito, se vê na necessidade de negociar,

junto ao legislativo, sua governabilidade. O executivo opera de forma clientelista para

obter apoio. Em troca de votação favorável de pautas importantes do executivo, um ator

61
político inserido no legislativo pode receber em troca concessões orçamentárias que

agradem seu reduto eleitoral.

O corporativismo se relaciona à divisão da sociedade de acordo com a estrutura de

classes e com a representação dos interesses econômicos de determinados grupos

sociais junto ao Estado. No corporativismo a identificação primária dos grupos é

econômica. Ele se constitui em uma forma de incorporação política de grupos

economicamente relevantes. Esta incorporação não se dá através de debates públicos na

esfera legislativa, mas através de órgãos especializados da burocracia estatal que se

vinculam a grupos de interesse em uma negociação bipartite, excluída a esfera pública.

O corporativismo pode ter também uma origem social. Um grupo social pode decidir se

organizar independentemente do coletivo e se articular para chegar ao Estado de forma

diferenciada, sem criar debates públicos.

O insulamento burocrático está diretamente ligado a um projeto de racionalidade do

planejador público. Ele assegura uma proteção contra as influências partidárias,

clientelistas e corporativistas para setores do planejamento estatal. É uma maneira de

manutenção de uma determinada política, de forma independente dos resultados

eleitorais. Funcionários de carreira ou designados, altamente especializados, são

responsáveis pelo planejamento de áreas estratégicas do governo. Este é o método mais

utilizado quando a elite dirigente tem por objetivo a promoção de mudanças do Estado e

de políticas básicas do desenvolvimento, por isso se liga mais às questões e cunho

econômico de desenvolvimento nacional. A lógica do insulamento burocrático no Brasil

62
é a de proporcionar o insulamento em relação à diversidade de interesses locais na

esfera partidária e político-eleitoral. Insula-se, portanto, protegendo-se de tudo aquilo

que é próprio do liberalismo.

O universalismo de procedimentos, por sua vez, contrapõe-se às duas primeiras

gramáticas quando preconiza um tratamento geral e igualitário segundo procedimentos

racionais legais sem protecionismo. O universalismo de procedimento é um discurso

forte que serve para justificar a aplicação da lei no país, que, segundo esta lógica, não

poderia ser interpretada de acordo com os interesses que estão em jogo, mas deveria ser

única para qualquer grupo que estivesse em jogo.

A partir do conjunto de considerações acima, percebe-se o quadro complexo no qual se

situa o processo de produção e implantação de políticas públicas no Brasil. A

formatação do Estado brasileiro como democracia liberal, que obedece aos princípios

pluralistas e constitucionalistas, e se organiza como federação, servirá como pano de

fundo e referencial institucional do processo de disputas que caracteriza a formação e

implantação de políticas públicas no país.

63
CAPÍTULO IV – O ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL

4.1 A SOCIAL DEMOCRACIA E O MOVIMENTO SOCIALISTA: O

SURGIMENTO DO ESTADO DO BEM ESTAR SOCIAL

A social-democracia é responsável pela proposta e estruturação dos Estados de Bem-

Estar social historicamente conhecidos como beveridgeanos. Os partidos social-

democratas têm suas origens no movimento socialista. PZERWORSKI (1989) ao

analisar a trajetória do movimento socialista, procura compreender seu processo de

transformação ao longo do tempo. Em suas origens, o movimento socialista se organiza

como partidos socialistas e sua evolução histórica leva a uma organização de partidos

social-democratas, defensores do estabelecimento e manutenção de um Estado do Bem-

Estar social.

O movimento socialista, para Przeworski é marcado, em sua origem, por um paradoxo a

ser enfrentado. Uma decisão importante deve ser tomada por este movimento:

organizar-se dentro ou fora do sistema político e econômico instituído nas sociedades

onde o movimento se situa. É importante ressaltar que as sociedades estudadas pelo

autor eram organizadas segundo princípios da liberal-democracia e do capitalismo

moderno, sendo a maioria delas da Europa ocidental. As sociedades com sistemas

capitalistas modernos tratadas por Przeworski, portanto, são pautadas, no plano

econômico, pelo capitalismo em sua forma moderna de organização, e, no plano

político, pela liberal-democracia.

64
Podemos perceber que a primeira dificuldade encontrada pelo movimento socialista foi,

portanto, estabelecer-se dentro de um sistema capitalista moderno, uma vez que este

sistema era exatamente o alvo que se pretendia atacar e possibilitar sua suplantação

através do movimento pró-socialismo.

O movimento socialista percebeu, no entanto, que organizar-se dentro do sistema

capitalista e de acordo com as regras da liberal-democracia das sociedades nas quais

viviam seria a estratégia de ação que permitiria a sobrevivência do próprio movimento.

Os Estados Nacionais constituídos nas sociedades capitalistas e liberal-democráticas

modernas possuíam um aparelho repressor constituído e que tinha a função de

manutenção deste Estado. Por isto, os movimentos revolucionários eram devidamente

tratados através da estrutura repressiva do Estado.

Considerando-se a estrutura já organizada de repressão nos Estados Nacionais e o

caráter incipiente dos movimentos socialistas, era necessário pensar em formas

alternativas de organização, que não se colocassem diretamente em confronto com o

aparelho repressor do Estado. Este confronto, quando existente, significava,

invariavelmente, uma derrota, por vezes sangrenta, do movimento socialista.

Uma estratégia de sobrevivência pensada, portanto, foi a de organizar-se a partir das

regras do jogo do capitalismo e da liberal-democracia. Neste momento há a decisão de

criação dos partidos socialistas. Por mais paradoxal que possa ser a criação de um

“partido” socialista, que obedeça às regras do capitalismo e da democracia que o

65
sustenta em sociedades modernas, esta escolha se tornou, segundo Przeworski, um

imperativo de ação e sobrevivência do próprio movimento.

A partir do surgimento dos partidos socialistas, outra polêmica decisão se coloca. O

partido socialista poderia se constituir como um partido com fins de divulgação da

própria ideologia, mas que não utilizasse da máquina eleitoral como forma de alcance

de seus objetivos, ou como um partido que tivesse pretensões de alcance de cargos

eletivos e a partir destes cargos realizasse alterações na realidade social.

Os fins puramente propagandísticos, contudo, não pareciam suficientes. Uma vez

admitido que a forma de organização do movimento seria de acordo com as regras do

sistema político e econômico instituído, pelas razões já contempladas nos parágrafos

anteriores, ficaria difícil utilizar a máquina eleitoral para fins apenas de divulgação da

ideologia, uma vez que não havia outros espaços políticos instituídos que

possibilitassem lutar pelo socialismo. A segunda grande decisão, realizada por parte dos

agora partidos socialistas, foi a de participar da corrida eleitoral com vistas à

consecução real de cargos eletivos.

Os partidos socialistas originalmente conduziam seu discurso e pronunciamento de

acordo com a ideologia de implantação do socialismo. Desta maneira, dirigiam-se para

um público de operários. Os partidos socialistas eram partidos de e para operários, pois

seria a classe operária a responsável por implantar a revolução socialista.

66
A concepção inicial dos integrantes do movimento socialista previa que a revolução

socialista era inevitável. O tempo era a única coisa necessária para fazê-la surgir no seio

das sociedades capitalistas modernas. O tempo também faria com que a massa de

operários fosse maioria da sociedade, beneficiando diretamente o partido socialista, que

se dirigia para tal público. A experiência histórica, contudo, mostrou que, embora tenha

havido um crescimento expressivo da massa eleitoral operária, este crescimento não foi

suficiente para se traduzir em maiorias de voto aos partidos socialistas.

Ainda assim, o partido socialista experimentava a possibilidade de exercer alguns

cargos eletivos, principalmente da esfera do legislativo, conseguidos a partir da votação

do eleitorado de operários. Baseados na concepção de que a revolução socialista seria

inevitável e que o tempo e o funcionamento do sistema capitalista faria seu papel de

trazer esta revolução à tona, os partidos socialistas propuseram a implantação de

reformas que visassem à melhoria da qualidade de vida dos operários, enquanto ainda

estivessem vivendo sob o sistema capitalista. Assim, a partir da atuação dos membros

do partido que conseguiam eleger, os socialistas passam a implantar pequenas reformas

que beneficiam a classe trabalhadora e posteriormente são estendidas a outros setores da

sociedade.

O exercício do poder sob um sistema político organizado segundo a lógica democrática

logo fez com que membros do partido socialista passassem a considerar o exercício da

democracia como a forma, por excelência, de alcance da revolução socialista. A

democracia surge como valor entre membros dos partidos socialistas e passa a ser

defendida enquanto formato de ação.

67
As reformas implantadas pelos partidos socialistas tiveram um efeito real na melhoria

da qualidade de vida dos trabalhadores. Concomitantemente, surge um fortalecimento

dos valores da democracia dentro do movimento socialista. A certeza de que o sistema

capitalista será suplantado e substituído por um sistema socialista passa a ser, aos

poucos, questionada. A falta de certezas a este respeito, unida à melhoria da qualidade

de vida proporcionada pelas reformas implantadas, faz com que haja uma busca pela

ampliação das reformas, através dos procedimentos políticos democráticos.

Para que seja possível colocar em prática o novo plano político – ampliação das

reformas direcionadas à classe trabalhadora – faz-se necessária uma ampliação do

eleitorado de partidos socialistas.

O discurso dos partidos socialistas esteve, até então, voltado para a classe dos operários,

considerada a responsável por trazer a revolução socialista. Uma expansão do eleitorado

passava necessariamente por uma expansão do público para o qual se fala. Portanto, se a

princípio havia um discurso direcionado aos operários, passa-se à necessidade de um

discurso ampliado, que possa se direcionar aos trabalhadores em geral.

A mobilização dos operários para o voto nos partidos socialistas, no entanto, provinha,

em grande parte, de sua identificação como um partido operário ou um partido da causa

operária. A ampliação do discurso para além da classe operária implica necessariamente

em uma perda de identificação exclusiva da classe. Portanto, ao mesmo tempo em que a

ampliação do público para o qual se fala pudesse trazer novos eleitores aos partidos

68
socialistas, esta ampliação era também responsável por um processo de perda de

identidade direta com operários. Os partidos socialistas passam a se denominar, nesta

etapa do processo, partidos social-democratas, referido, em seu nome e projeto político,

a toda a sociedade e não apenas ao grupo operário.

Para que fosse possível a mobilização dos operários pelos partidos social-democratas a

partir de então, dever-se-ia partir de outras características, uma vez que ser operário não

se constituía mais como aspecto identificador do grupo. Por outro lado, uma vez perdida

esta identidade, os próprios operários podem ser mobilizados por outras características

que lhe sejam relevantes, defendidas por outros partidos, como a etnia ou a religião.

A ampliação do público para o qual se fala nos partidos social-democratas é

acompanhada também de uma alteração nas características do discurso preconizado. O

discurso predominante nestes partidos passa a ser aquele referido às reformas,

realizadas de forma ampliada, a toda a sociedade. O discurso reformista toma o lugar do

antigo discurso revolucionário.

Cabe ressaltar, a este ponto da explanação, que um discurso reformista não traz em si o

germe da mudança de paradigma ou do sistema político, econômico e/ou social. A

opção pelo reformismo, segundo Przeworski, significava uma aceitação, por parte dos

partidos social-democratas, das condições do sistema vigente, assim como a aceitação

da manutenção e legitimidade deste sistema.

69
O processo político democrático, unido às reformas implantadas pelos partidos social-

democratas e à mudança de um programa revolucionário rumo a um ideal reformista,

para Przeworski, fazem com que os partidos social democratas aceitem, ao longo do

tempo, a inevitabilidade do próprio sistema capitalista. As reformas implantadas deixam

de ser vistas como realizadas com o objetivo de alteração da lógica do sistema

capitalista implantado. As reformas passam a ser políticas do Estado. Ao mesmo tempo,

são concebidas como uma forma de lidar com as mazelas trazidas pelo funcionamento

rotineiro do capitalismo. No entanto, não há mais, a essa altura, o ideal de rompimento

deste ciclo. Considera-se que as ações da social-democracia implantadas através do

Estado ampliado ou do Estado de Bem-Estar Social tenham a função de minimizar as

ações perversas – e inevitáveis – do sistema capitalista implantado – o qual já não se

deseja suplantar. Esta função de minimizar as mazelas do sistema são consideradas

funções compensatórias do Estado.

A trajetória de expansão da capacidade eleitoral dos partidos socialistas levou a que

estes partidos tivessem uma alteração no foco de seus objetivos políticos que de

revolucionários passam a ser reformistas e de reformistas a compensatórios. O ideal

revolucionário socialista é substituído por um ideal compensatório das mazelas do

capitalismo. O tipo de formatação do Estado característico do ideal reformista e

posteriormente compensatório é o Estado de Bem-Estar Social.

70
4.2 ESTADO DO BEM ESTAR SOCIAL – FORMATAÇÃO E TIPOLOGIA

Em economias modernas e capitalistas e em contextos institucionais da liberal-

democracia, segundo JESSOP (1990b), cabe afirmar que a função primordial do Estado

capitalista moderno é a proteção do capitalismo instalado no país. A função básica do

Estado é assegurar a ordem capitalista. Para isto torna-se necessária a proteção da

propriedade, do contrato, dos direitos de herança, do emprego e da boa inserção do país

na economia mundial, entre outros. Todas as demais funções atribuídas ao Estado

provêm dessa característica básica de proteção da economia e da ordem capitalista: são

maneiras de oferecer condições de funcionamento estável, rotineiramente, de uma

economia estável.

A divisão social do trabalho no mundo moderno, urbano, industrializado e capitalista

torna-se cada vez mais complexa. Principalmente a acelerada e elevada urbanização dos

Estados leva o indivíduo à necessidade também crescente da especialização do seu

trabalho13. Cada indivíduo não pode mais ser responsável por prover para si e para sua

família tudo quanto seja necessário para a própria sobrevivência. Neste sentido, cabe ao

Estado o provimento de bens e serviços básicos que permitam ao indivíduo destinar seu

tempo a atividades altamente especializadas, dentro de uma divisão social do trabalho

também altamente especializada.

O Estado é a estrutura organizada responsável, entre outras coisas, por prover serviços e

bens necessários para que os indivíduos estejam livres para destinar seu tempo a

13
WILENSKY, 1975; WILENSKY e LEBEAUX, 1965. Citado em ARRETCHE, 1995.

71
atividades produtivas altamente especializadas. O Estado de Bem-Estar Social (EBES) é

a estrutura de atendimento da seguridade social criada pelos sistemas políticos a partir

do século XIX. Segundo MEDEIROS (2001), o Estado de Bem-Estar Social “é

entendido como a mobilização em larga escala do aparelho de Estado em uma sociedade

capitalista a fim de executar medidas orientadas diretamente ao bem-estar de sua

população.”14

O Estado ampliado ou o Estado de Bem-Estar Social tem como componentes essenciais

os serviços sociais e a estrutura da seguridade social. Historicamente os modelos de

Estado de Bem-Estar Social que surgiram foram os modelos bismarckiano e o

beveridgeano.

No modelo bismarckiano, também chamado de modelo corporativo, a oferta de

garantias de previdência se destinava apenas à classe trabalhadora, vinculada

diretamente a partir da carteira de trabalho. Este modelo teve início na Alemanha do

século XIX, sob o governo de Bismarck, e previa seguros diversos, referidos aos

trabalhadores. O modelo beveridgeano ocorreu na Grã-Bretanha do pós 2ª Guerra

Mundial. Neste modelo a assistência social foi estendida a todos os setores da

população. O modelo beveridgeano é também conhecido como modelo da social

democracia. Seu princípio geral é de que o Estado tem que ter burocracias

especializadas para oferecer serviços básicos e para atender a todos os serviços

especializados. Este modelo prevê que exista um mínimo social, universalmente

garantido.

14
MEDEIROS, 2001. p. 6.

72
4.3 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL

O Estado ampliado ou o Estado de Bem-Estar Social é o lugar por excelência das

políticas sociais e tem como componentes essenciais os serviços sociais e a estrutura da

seguridade social. No Brasil a história do Estado de Bem-Estar Social nos mostra uma

evolução de um tipo de estado tipicamente bismarckiano para um Estado de Bem-Estar

Social formatado segundo o modelo beveridgeano.

MEDEIROS (2001) traz a discussão sobre a formação histórica do Estado de Bem-Estar

Social no Brasil, apontando as diversas fases pelas quais ele passa – início da década de

1930, 1937 a 1945, 1945 a 1964, 1964 a 1985, 1985 a 1993 e 1993 até os dias atuais.

O autor defende, em primeiro lugar, que o surgimento do Estado de Bem-Estar Social

no Brasil se deu a partir de decisões de caráter predominantemente político, com vistas

à regulação dos aspectos relativos à organização dos trabalhadores assalariados dos

setores modernos da burocracia e da economia.

BARCELLOS (1983)15 percebe o início da formação do Estado de Bem-Estar Social no

Brasil relacionar-se à passagem de uma economia agro-exportadora para uma de tipo

urbano-industrial, ocorrida na década de 1930. Neste período, são criadas

regulamentações a respeito das condições de trabalho e de venda da força de trabalho no

país. Os primeiros movimentos em direção à constituição de um Estado de Bem-Estar

Social no Brasil foram impulsionados pela alteração da constituição econômica do país.

15
Citado em MEDEIROS, 2001

73
O aumento da relevância da indústria na economia brasileira e o processo de migração

das zonas rurais para as zonas urbanas acabavam por pressionar a formulação e adoção

de políticas sociais. Cabe ressaltar que as políticas implementadas neste período tinham

uma característica forte de tentativa de manutenção da ordem social existente. As

políticas sociais do período tinham caráter predominantemente conservador e eram

formuladas e implantadas de forma autoritária. Além disto, eram marcadas pelo traço

do modelo bismarckiano de Estado de Bem-Estar Social, segundo o qual os benefícios

do sistema de seguridade e assistência social eram oferecidos para os contribuintes do

sistema, na pessoa de trabalhadores assalariados e com carteira assinada.

As relações entre Estado e sindicatos no Brasil durante o período varguista tiveram um

traço predominantemente autoritário. As organizações trabalhistas possuíam pouca

força de negociação com o governo. Por outro lado, o Estado de Bem Estar Social teve

o processo de montagem de sua estrutura iniciado, o que beneficiou a classe

trabalhadora e facilitou a manutenção das relações autoritárias estabelecidas entre

governo e entidades trabalhistas. As políticas implantadas eram voltadas

preferencialmente para trabalhadores urbanos.

Para Medeiros, as políticas sociais instauradas na década de 1930 tinham um caráter

profundamente conservador. Segundo o autor, predominava entre os grupos no poder

um ideal harmônico de sociedade, e os antagonismos de classe eram encarados como

nocivos ao bem comum, representado pelo Estado em si. É marcante a característica

autoritária do EBES brasileiro deste período.

74
O desenvolvimento do capitalismo brasileiro segundo o autor era o objetivo principal do

Estado brasileiro e as decisões tomadas sob o governo Vargas pretendiam aumentar o

papel do Estado no que se referia à regulação da economia e da política, a fim de

proporcionar este desenvolvimento. Para que fosse possível este aumento do papel do

Estado, era necessária a despolitização das relações de trabalho – com a manutenção das

relações autoritárias entre governo e sindicato –, o que impediria também que os grupos

de oposição fizessem uso das forças sindicais. Além disto, pretendia-se que os

trabalhadores se tornassem um ponto de apoio – e não de conflito – para o governo e

para suas decisões. Estas foram as linhas marcantes do início da década de 30 sob o

governo Getúlio Vargas.

O período posterior, de 1937 a 1945, ainda sob o governo Getúlio Vargas, é marcado

por um aumento do autoritarismo. O caráter participativo da política foi reduzido a

praticamente zero e as políticas sociais passaram a ser definidas quase exclusivamente

por um corpo de burocratas especializados.

O período que vai de 1945 a 1964 é, por sua vez, marcado ainda por um modelo de

Estado de Bem-Estar Social baseado no trabalho e no princípio contributivo. Este

período, contudo, assiste a uma alteração da forma de participação na estruturação das

políticas sociais do governo, através da criação de mais possibilidades de participação

popular, rompendo com o caráter autoritário que marcou o período getulista.

O desenvolvimento do capitalismo brasileiro associado ao processo de urbanização,

fizeram com que o Estado nacional tivesse que alterar a forma de lidar com os

75
trabalhadores e com suas instâncias de representação. Foi permitida uma organização e

mobilização políticas, com estabelecimento, entre outros, do direito de greve e tutela do

trabalho. Neste período permaneceu, contudo, a característica contributiva do sistema

de seguridade social do EBES brasileiro, não se alterando, portanto, sua característica

bismarckiana.

A alteração do princípio contributivo de participação no sistema de seguridade social

ocorreu a partir de 1964 e da implantação dos governos militares. Os militares

instituíram o princípio não contributivo do sistema de seguridade social, trazendo para o

EBES brasileiro a formatação do modelo beveridgeano.

Os avanços no que diz respeito ao acesso do sistema de seguridade social no Brasil,

trazidos pelos militares, foram seguidos, contudo, por um retrocesso da característica de

participação societal na organização e formatação de políticas sociais. As conquistas de

espaços de participação dentro do governo militar são negadas e a forma de condução e

formulação das políticas passa a seguir um lógica autoritária.

Apesar de instituir um princípio não contributivo do sistema de seguridade social, vale

ressaltar que o regime militar pressupunha que a divisão de riquezas na sociedade seria

realizada apenas em um momento posterior àquele de acumulação de riquezas. Desta

forma, há uma política de extrema concentração de recursos. A tentativa de

compensação deste processo, a fim de manter uma relação estável entre governo e

sociedade, provinha de políticas sociais de caráter assistencialista.

76
O período de 1985, fim do regime militar, até os dias de hoje – a chamada Nova

República – traz para a cena novamente a participação popular para a constituição dos

governos e das políticas públicas e sociais. Ocorre um aumento da atividade partidária e

sindical, como conseqüência desta nova concepção participativa do governo instituído.

Contudo, durante os anos de 1985 até 1993 as políticas sociais brasileiras foram

marcadas por uma retração. As burocracias especializadas do Estado destinadas ao

cuidado das políticas sociais sofreram diminuição importante. A partir de 1993, com o

estabelecimento da Lei Orgânica de Assistência Social, este campo de políticas públicas

ganha novo fôlego. Os conceitos que baseiam as políticas implantadas a partir deste

período são os de descentralização e articulação entre os diversos programas, além da

manutenção da continuidade das políticas de forma independente dos governos

instituídos. A assistência social passa então a ser uma política de Estado e não de

governo, marcando uma nova formatação do Estado de Bem-Estar Social brasileiro.

77
CAPÍTULO V – MARCO TEÓRICO

5.1 PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DE POLÍTICAS SOCIAIS

O Estado do Bem-Estar Social é um fenômeno do século XX, que possibilitou que a

provisão de serviços sociais fosse assegurada como direito pelos Estados Nacionais16.

Ao processo de expansão do EBES correspondeu uma expansão gradual das funções do

Estado e da esfera de jurisdição e regulamentação de sua política. A função social do

Estado dilata-se, e, conseqüentemente, dilata-se também sua atuação, através das

políticas sociais.

A forma de absorção, por parte do Estado, da necessidade de se contemplar os novos

direitos sociais, conquistados ao longo do processo de implantação política da

concepção moderna de cidadania,17 pode ser compreendida a partir das políticas

públicas e mais especialmente das políticas sociais que o mesmo produz. Neste sentido,

o estudo das políticas sociais traz à discussão a efetivação da cidadania nos contextos de

estados liberal-democráticos modernos.

COIMBRA (1987) aponta para a dificuldade de absorção da literatura que trata da

análise de políticas sociais. Segundo o autor, há uma literatura internacional sobre o

tema que se encontra em estado desorganizado. As tentativas de criação de tipologias

das abordagens utilizadas para o estudo das políticas sociais, para o autor, não tiveram

muito sucesso. Na tentativa de organizar a literatura sobre políticas sociais, em suas

16
ARRETCHE, 1995
17
Para a discussão do conceito moderno de cidadania, vide MARSHALL, 1967

78
várias vertentes e perspectivas de análise, sem, no entanto, propor uma tipologia ou

unificação de abordagens, Coimbra identifica na literatura internacional sete abordagens

principais, utilizadas para o estudo das políticas sociais.

A primeira abordagem apontada pelo autor é a perspectiva do serviço social. Ela se

caracteriza por uma forte orientação para a prática e por uma fraca teorização. Segundo

Coimbra, a característica de fraca teorização relaciona-se ao seu processo de formação

histórica. O serviço social, surgido nos EUA e na Inglaterra, no século XIX, firmou-se

como reação contra a teoria liberal ortodoxa e extremada que reinava à época. O

liberalismo do século XIX propunha a não intervenção do Estado e admitia que fossem

deixados à própria sorte aqueles que não conseguissem, por si só, realizar-se no

mercado de trabalho competitivo. A perspectiva do serviço social surgiu, neste

contexto, menos como uma teorização sobre o liberalismo e mais como uma tentativa

de explicitar o acúmulo de evidências dos males causados por esta orientação

econômica e política.

Um exemplo do caráter prático e de intervenção direta na realidade desta perspectiva é

visto no surgimento, nos EUA, do próprio serviço social. O serviço social surgiu na

sociedade americana dentro de empresas e fábricas, através de ações com intuito de

provocar a melhoria de vida dos trabalhadores. Verificava-se certa aversão à teorização

e uma preferência assumida pelos “fatos” e pela ação sobre eles.

A principal idéia da perspectiva do serviço social diz respeito à melhoria social e da

vida da população. Para efetivação do seu objetivo, a perspectiva do serviço social tende

79
a concentrar seus esforços no estudo de programas de governo e de empresas

particulares. A definição de política social proveniente da perspectiva do serviço social

confunde-se com a ação concreta de governos, em determinado lugar e tempo. O que

define a política social nestes casos é a prática governamental. Não há um conceito

único e próprio do que seja a política social. Embora seja uma perspectiva que possa ser

considerada de um empirismo ingênuo, com enfoque teoricamente fraco e confuso, ela

traz para o debate a preocupação com problemas socialmente relevantes e uma adesão a

valores humanitários. Vem daí sua maior contribuição para a teorização sobre políticas

sociais.

A teoria da cidadania tem como maior expoente T. H. Marshall (1967) e sua definição

da idéia de cidadania. Para este autor a cidadania é um conjunto de direitos, que podem

ser subdivididos em direitos civis – referentes às liberdades individuais, como o direito

de ir e vir –, direitos políticos – direito de participar do exercício do poder, seja

candidatando-se aos cargos políticos, seja votando para escolher os eleitos aos cargos –

e direitos sociais – que dizem respeito à garantia de um mínimo de bem-estar e

segurança, garantindo uma qualidade de vida minimamente digna. Para este autor

haveria uma “ordem natural dos fatos” segundo a qual as sociedades progrediriam e

assegurariam aos seus cidadãos os direitos civis, os direitos políticos e os direitos

sociais, nesta ordem de aparecimento. A cidadania integral seria dada apenas a partir da

existência desses três tipos de direitos.

A principal contribuição de Marshall para o estudo de políticas sociais não está em uma

definição clara do que seriam as políticas sociais, mas na colocação em evidência de sua

80
importância como forma de garantia dos direitos sociais e, consequentemente, da

cidadania integral. Este autor pode ser considerado responsável, como aponta Coimbra,

por “trazer a discussão das políticas sociais para a “sala de visitas” da sociedade

contemporânea, tirando-a da “cozinha” a que estava relegada”18. A política social passa,

a partir daí, a ser pensada e respeitada para além dos círculos de profissionais

diretamente a ela conectados.

Se para Marshall é clara a conexão entre a garantia dos direitos sociais e a formulação

de políticas sociais, não é tão clara assim a definição do que seriam exatamente esses

direitos sociais. Marshall refere-se aos direitos sociais como a necessidade de se

assegurar um mínimo de bem-estar e segurança aos cidadãos. No entanto, ao ser

questionado sobre o que significa este mínimo a ser assegurado, Marshall responde de

maneira bastante ampla, deixando aberta a possibilidade de que, em cada sociedade,

este mínimo tivesse conteúdo diferenciado. Desta forma permanece indefinida não

apenas a noção de direitos sociais, mas também a definição de políticas sociais

utilizadas pela corrente da teoria da cidadania.

Coimbra divide a abordagem marxista ao estudo de políticas sociais em três segmentos:

a obra de Marx, os marxistas até a década de 1970, e os marxistas com produção nos

últimos 15 a 20 anos. Em Marx percebemos uma falta de dedicação mais intensa ao

problema do estado do bem-estar social e das políticas sociais. Esta pouca dedicação ao

tema deve-se ao fato de que o autor considerava que o capitalismo seria o responsável

pelo acirramento da má qualidade de vida dos indivíduos e pela exploração de uns pelos

18
COIMBRA, 1987

81
outros, sendo o bem-estar e a verdadeira qualidade de vida alcançados apenas através de

uma revolução no sistema que desse origem à ordem socialista. Fazia pouco sentido,

portanto, procurar no capitalismo as formas de melhoria da qualidade de vida da

população, e especialmente dos operários. A possibilidade do bem-estar, para Marx,

relaciona-se a uma norma baseada em valores de cooperação e solidariedade, onde

seriam reconhecidas as necessidades básicas do ser humano e haveria, por este motivo,

uma repartição da produção social, de acordo com critérios de necessidade. No

capitalismo, a coerção e a competição fazem parte de sua constituição primária. Não há

repartição a partir do reconhecimento de necessidades, mas um processo de exploração

de muitos por poucos. Neste contexto é impossível a criação de um “bem-estar social”

que pudesse ser, efetivamente, generalizado a toda a população.

No entanto, contrariando textos nos quais apresentava visão mais militante, Marx não

negava a possibilidade de certas melhorias na qualidade de vida dos trabalhadores. Estas

melhorias, porém, não viriam gratuitamente, se o capitalismo fosse deixado em seu

próprio curso. Elas deveriam ser conquistadas pelos trabalhadores. A política social

tinha por característica ser “problemática”, no sentido de que só se tornaria realidade a

partir de uma busca de conquista deliberada por parte dos trabalhadores, em um

enfrentamento contra o Estado burguês. Era necessário o enfrentamento combativo,

para que se chegasse a resultados favoráveis à classe operária. Além disto, para Marx as

políticas sociais eram forçosamente limitadas, uma vez que, por um lado, eram

incapazes de oferecer o bem-estar global dos trabalhadores – que somente seria possível

na ordem socialista – e, por outro lado, raramente conseguiam ser efetivas.

82
Os autores marxistas, que vão até meados dos anos 1970, procuraram demonstrar,

negando esta última característica da obra de Marx, que a política social estaria

submetida, na sociedade capitalista, aos interesses da classe dominante. Elas seriam

pura e simplesmente um reflexo desses interesses, utilizadas como forma de manter a

docilidade da classe trabalhadora. As políticas sociais passavam a ser vistas como

funcionais ao sistema, úteis para o Estado e para a manutenção da ordem estabelecida.

Para esses autores, portanto, o estudo aprofundado de políticas sociais tinha pouca

importância, uma vez que estas eram apenas atributos de manutenção de um sistema,

que logo seria descartado pela revolução socialista.

Quando os marxistas do pós anos 70 se encontraram frente à situação de intensa

campanha e denúncia contra a instituição de políticas sociais, feitas por partidos e

integrantes da direita, foi necessária uma reformulação de sua interpretação sobre estas

políticas. Se à direita não interessava a manutenção das políticas sociais, como forma de

manter a estabilidade do sistema, surgiu, no campo da esquerda, a necessidade de

proteger as políticas sociais contra as investidas ferozes de proeminentes líderes da

direita. Uma nova preocupação com o estudo de políticas sociais surgiu, ainda que tenha

surgido no momento em que estas iniciavam seu período de decadência. Essa nova

corrente propôs a revisão da corrente marxista pré anos 70, assim como da conceituação

simplista, proposta por Marx, que explicava as políticas sociais exclusivamente

enquanto conquistas combativas da classe operária.

A teoria da convergência considera que as mudanças estruturais na organização social

são resultantes da industrialização e da urbanização. Essa teoria propõe que o processo

83
de industrialização levaria a que todas as sociedades industrializadas tivessem situações

parecidas a serem resolvidas. Das situações parecidas, seus autores passaram a

considerar que as sociedades também chegariam a problemáticas parecidas, com formas

de resolução dos problemas igualmente parecidas. Essa corrente privilegia a dimensão

tecnológica das situações dos países, ignorando a dimensão cultural e política, que são

importantes para a passagem de uma situação para uma problemática e, enfim, para uma

solução.

A teoria do pluralismo traz à tona a importância da disputa política. A política é

considerada como uma arena, onde uma pluralidade de atores e grupos de atores, a

partir de diferentes motivações, se encontra para transacionar e negociar. A política aqui

é vista como esfera autônoma. O Estado é um conjunto não articulado de focos de poder

e os grupos de interesse e pressão são constituídos de maneiras bastante distintas e

múltiplas. Essa perspectiva é útil para compreender as políticas públicas, no que se

refere às suas singularidades. No entanto, no esforço comparativo ou generalizante

torna-se bem pouco eficaz.

As teorias econômicas da política social são subdivididas em três principais grupos: as

aplicações da teoria econômica do bem-estar, os escritos liberais e os estudos

macroeconômicos dos gastos públicos. A teoria econômica do bem-estar preocupa-se

em compreender a forma pela qual os agentes públicos tomam suas decisões e não

costuma tratar a política social como objeto de estudo particularmente relevante. As

teorias liberais, de autores como Friedman, não procuram compreender a política social

em si, mas defendem sua drástica diminuição. Segundo este autor a política social pode

84
ser no máximo inócua e muitas vezes prejudicial, por conduzir a uma perda de

dinamismo econômico, próprio do funcionamento regular do mercado. Por fim, as

teorias macroeconômicas não se preocupam em traçar perfis de políticas sociais. Sua

preocupação centra-se no entendimento de como se comportam grandes agregados de

gasto público, comparando os resultados de países diversos. Ainda assim, a indefinição

do conceito de políticas sociais dificulta a comparação dos gastos públicos de diferentes

governos no que concerne a este aspecto específico.

Ressalta-se através da explanação de Coimbra a dificuldade de estabelecimento de um

modelo de estudo de políticas sociais. A interpretação sobre a relevância e a forma de

execução das políticas sociais é conflitante nas várias vertentes, apontando para o

caráter político e conflituoso do estabelecimento das políticas sociais.

Para a presente análise nos apoiaremos especialmente nas discussões apontadas pela

teoria da cidadania, de MARSHALL (1967). Interessa, principalmente, nesse sentido, a

discussão a respeito dos direitos sociais do indivíduo. Os direitos sociais são definidos

pelo autor como a garantia de um mínimo de bem-estar e segurança para o cidadão. Este

mínimo varia de acordo com a sociedade à qual se refira. As políticas sociais são

construídas de forma prover este mínimo social e por isso também têm conteúdo

variado de acordo com a sociedade na qual se insere, dificultando esforços

comparativos e de definições claras sobre políticas sociais.

85
5.2 CONCEITOS EM POLÍTICA PÚBLICA

O estudo das políticas públicas tem relação direta com as concepções de política que lhe

servem de guia. Segundo LEAL (1997)19, o questionamento clássico da política se

refere ao sistema político em si, buscando compreender qual a melhor forma de governo

e de Estado para garantir a felicidade dos cidadãos e da sociedade. Estas foram, por

exemplo, as preocupações primordiais de clássicos da política, como Aristóteles e

Platão. O questionamento propriamente político da tentativa de compreensão da política

refere-se à análise das forças presentes no processo, evidenciando o caráter conflituoso

do mesmo. Por fim, uma terceira abordagem sobre o estudo da política foca a análise

sobre os resultados produzidos pelo sistema político, procurando compreender como as

estratégias implantadas foram capazes de propor soluções para os problemas que

surgiram.

No campo de análise de políticas públicas é recorrente a divisão da política em três

esferas e conceitos denominados de forma distinta. Diferenciam-se três aspectos da

análise de políticas públicas: polity, politics, policy. A cada um destes conceitos

correspondem as já mencionadas tentativas diferentes de compreensão da própria

política.

Segundo FREY (2000) o conceito de polity diz respeito à dimensão institucional da

política, referida ao sistema jurídico implantado e à estrutura do sistema político

administrativo. Politics diz respeito ao caráter conflituoso do processo político, com

19
Citado em FREY, 2000

86
foco sobre os atores e o processo de barganha, que dá origem às decisões políticas. Por

fim, o conceito de policy é utilizado para compreender o conteúdo concreto da política,

ressaltando a configuração de programas políticos, seus problemas técnicos e o

conteúdo das decisões políticas.

A diferenciação destes aspectos da política pode ser bastante proveitosa analiticamente

para o estudo de políticas públicas. No entanto, cabe a ressalva de que as três esferas

tratadas pelos conceitos são interdependentes e se influenciam mutuamente. A política

ocorre dentro de um ambiente institucional dado, através dos atores e de um processo

conflituoso e produz decisões de conteúdo concreto que podem ser avaliadas. Parece,

portanto, inviável a utilização exclusiva de um dos conceitos ou a precedência de um

sobre outro.

Um conceito relevante no que diz respeito à compreensão da formulação da política

pública é o de policy networks. Para HECLO (1978)20 entende-se por policy network “as

interações das diferentes instituições e grupos tanto do executivo, do legislativo, como

da sociedade na gênese e na implementação de uma determinada policy.” MILLER

(1994)21 aponta que as policy networks são redes de relações sociais que se repetem de

forma periódica, embora menos formais que as relações sociais institucionalizadas. A

regularidade destas redes de relações possibilita, no entanto, a criação de confiança

entre seus integrantes, e o estabelecimento de valores e opiniões comuns.

20
Citado em FREY, 2000.
21
Citado em FREY, 2000.

87
SCHUBERT (1991)22 aponta para o fato de que, em democracias modernas, é crescente

a importância, nos processos decisórios do sistema político administrativo, das policy

networks, e decresce, ao mesmo tempo, a importância relativa dos processos e

procedimentos formais, definidos constitucionalmente. PRITTWITZ (1994)23 chama a

atenção para o fato de que as redes de relações entre os atores das policy networks tem

estrutura horizontal de competências e grande fluxo informacional. O grande fluxo

comunicacional proporciona a possibilidade de um controle mútuo também intenso.

Vale ressaltar, que embora as policy networks sejam de fácil acesso para grande parte

das políticas públicas, alguns setores destas políticas possuem uma rede de atores

fechada e delimitada, através de um insulamento burocrático. Os setores referidos, por

exemplo, à política monetária, têm normalmente uma estrutura pouco acessível, com

atores bem delimitados e relações de tipo institucionalizado operam em sua policy

network.

As redes de atores que se constituem em torno de questões de foco mais delimitado, ao

invés de abarcarem um setor de política pública como um todo, são denominadas issue

networks24. Tanto as policy networks quanto as issue networks são relevantes na

compreensão de uma política pública. FREYRE (2000) releva o fato de que os membros

destas redes de atores, mesmo rivalizando-se internamente, costumam criar laços

internos de solidariedade, principalmente no que se refere à busca de recursos para a

“sua política”. Desta forma, as redes de atores agem de forma conjunta e solidária para

entrar na disputa pela implantação de sua própria política.


22
Citado em FREY, 2000.
23
Citado em FREY, 2000.
24
MILLER, 1994. citado em FREY, 2000.

88
A policy arena foi um conceito introduzido no debate a respeito de políticas públicas

por LOWI (1972). Ela diz respeito às antecipações, realizadas pelos atores do processo

decisório, a respeito das decisões políticas a serem implementadas. Parte-se do

pressuposto, neste sentido, de que as reações e as expectativas dos indivíduos afetados

pelas políticas a serem implantadas têm efeito direto sobre o processo decisório destas

políticas. Os processos de consensos e conflitos são normalmente distintos para cada

área de política a que se refere. As políticas públicas podem ser distinguidas, nesse

sentido, em políticas distributivas, redistributivas, regulatórias e constitutivas25.

As políticas distributivas são aquelas direcionadas à população como um todo e

possuem baixo grau de conflito.

As políticas redistributivas são aquelas em que se direciona de forma consciente uma

parcela de recursos especificamente para um setor da sociedade. Estas se caracterizam

por serem as mais conflituosas, uma vez que envolvem a inclusão de alguns setores e a

exclusão de outros na distribuição dos recursos.

As políticas regulatórias são as que trabalham com a regulamentação, proibições e

ordens, decretos e portarias. Neste tipo de política é difícil prever os efeitos de custos e

benefícios trazidos pela regulamentação. Estes dependerão da configuração que será

dada à política regulamentada, em um momento posterior, uma vez que a dinâmica do

25
LOWI, 1972, Citado em FREY, 2000.

89
processo decisório, seus consensos e conflitos, podem mudar a configuração da política

analisada.

Por fim, as políticas constitutivas ou estruturadoras são as que se referem ao

estabelecimento das regras do jogo, do ambiente institucional no qual a política será

constituída. As políticas estruturadoras são referidas à polity, à criação e modelagem de

novas instituições, às definições das regras do sistema eleitoral e de governo.

É importante notar que os aspectos da polity, mesmo tendo um grande impacto efetivo

nas políticas públicas produzidas, não são normalmente alvos de debate público. Em

geral a definição e debate sobre as instituições e regras do jogo ocorrem dentro do

próprio sistema político-administrativo, enquanto a atenção de setores mais amplos da

sociedade fica referida ao debate a respeito das policys, ou seja, do conteúdo específico

das políticas públicas produzidas.

Outro conceito relevante na análise de políticas públicas é o conceito de policy cycle.

Uma vez que os processos de elaboração e implementação de políticas públicas podem

ter alterações em suas redes de atores, ao longo do tempo, torna-se relevante a discussão

da complexidade temporal das políticas públicas. A divisão por ciclos pode ser uma

ferramenta bastante útil para a investigação completa da vida de uma política pública,

apontando, a cada ciclo, as redes de atores relevantes, os conflitos instaurados, as

práticas político-administrativas típicas de cada fase e as decisões implementadas.

90
FREYRE (2000) propõe a seguinte divisão dos ciclos de política pública: percepção e

definição de problemas, agenda setting, elaboração de programas e decisão,

implementação de políticas e, por fim, avaliação dos resultados da política e possível

correção de aspectos da mesma.

A fase de percepção e definição de um problema é aquela que revela como um entre os

inúmeros aspectos da realidade se transformou em um problema a ser considerado

política e administrativamente. Nesta fase de análise da política pública, importa saber

como um problema dado se tornou um problema a ser tratado politicamente. A maneira

como os problemas são definidos é também relevante nesta fase da pesquisa.

A fase de agenda setting é aquela que define se os problemas levantados na fase

anterior serão tratados politicamente de forma imediata ou se serão postergados e por

quanto tempo o serão. A decisão de agenda política se conecta às expectativas de custos

e benefícios das linhas de ação possíveis, assim como a capacidade dos atores

envolvidos em forçar ou adiar o debate referido à política que se deseja implantar.

A fase de elaboração de programas e decisão corresponde à fase de escolha das vias

possíveis de ação. Em geral estas escolhas estão pautadas no processo de barganha entre

atores relevantes. As decisões são normalmente tomadas através deste processo de

barganha e tem seu formato razoavelmente delimitado quando chegam aos órgãos

decisórios.

91
A implementação de políticas refere-se à fase em que se colocam em prática as decisões

tomadas na fase de elaboração dos programas. Um aspecto relevante desta fase refere-se

à falta de identificação entre o formato da política definido na fase de elaboração e o

formato que se instaura na prática.

A avaliação das políticas é o último policy cycle proposto por Freyre e se refere aos

impactos dos programas já estabelecidos. A avaliação destes impactos pode ter como

resultado a suspensão ou fim do ciclo político, ou a re-elaboração dos programas

definidos anteriormente. Esta fase torna-se relevante para a adaptação das políticas às

mudanças da sociedade.

As políticas públicas devem ser rotineiramente executadas, utilizando-se da estrutura

burocrática institucional do Estado, por atores nela situados. SIMAN (2005) destaca três

tipos de atores fundamentais para a compreensão da dinâmica das políticas públicas.

Os atores políticos são aqueles que ocupam cargos eletivos, que foram escolhidos

através de processo eleitoral e têm mandato de duração determinada. Os atores técnico-

políticos são os que ocupam os chamados cargos de confiança do governo. São

indicados pelos atores políticos para a ocupação de tais cargos e seu período no cargo

não pode ser determinado a priori; os atores técnicos são aqueles que fazem parte do

corpo da burocracia especializada do Estado. Eles se dividem em funcionários

concursados – funcionários de carreira, com estabilidade no cargo e longa permanência

no mesmo – e funcionários contratados.

92
A lógica de ação de cada tipo de ator identificado pela autora é diferenciada e os

estímulos para estas ações também são diferentes. Os atores políticos obedecem à lógica

da política e do estabelecimento de pactos e negociações políticas, durante o processo

eleitoral ou após seu término. Seus compromissos são delimitados a partir dos pactos

realizados, com vistas ao alcance de vantagens na competição política.

Os atores técnico-políticos, por terem seu cargo vinculado a uma indicação de um ator

político, vinculam-se aos interesses deste último. Pode ocorrer, muitas vezes, que o

indivíduo que ocupe o cargo técnico-político não possua interesse nem formação

suficiente para o exercício eficaz de sua função, uma vez que o critério para sua escolha

é político e não meritocrático.

A lógica de ação dos atores técnicos diferencia-se, ao serem divididos por técnicos

concursados ou contratados. Em geral os funcionários públicos de carreira, concursados,

têm uma característica conservadora de suas ações, além de pouco estímulo à execução

rotineira de suas tarefas. A rotatividade de atores políticos ou de indicação política

coloca os funcionários de carreira em uma situação delicada. Estes funcionários devem

realizar rotineiramente suas funções. No entanto, o comprometimento excessivo com

uma linha de ação proposta por um ator político ou técnico político não se torna viável,

como proposta de ação de longo prazo, para o funcionário de carreira. A rotatividade

dos atores políticos faz com que haja também uma rotatividade das concepções que

servem como pano de fundo para a execução das políticas. O caso de uma identificação

de um funcionário público com um determinado tipo de concepção de execução de

93
políticas públicas pode definir uma situação política complexa, quando esta concepção

– e os atores políticos correspondentes – é alterada.

Os atores técnicos contratados têm ainda uma outra lógica de ação. A sua permanência

no trabalho depende dos resultados apresentados e, normalmente, os funcionários

contratados não têm estadias de longa permanência em cada instituição. Eles aderem

mais facilmente às concepções políticas vigentes, uma vez que são contratados pelos

próprios atores políticos vigente.

94
5.3 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Para o estudo de políticas públicas, é relevante que se considerem as distinções

referentes ao modelo de organização da administração pública, no que diz respeito à

identificação da administração como burocrática ou gerencial.

Segundo PEREIRA (1998), o modelo de administração pública burocrática caracteriza-

se por ser auto-referente. Ele enfatiza o componente regulatório das políticas públicas,

ficando os componentes participativos e de accountabilty da democracia, na melhor das

hipóteses, escassos. A preocupação central da administração burocrática está em definir

e cumprir os procedimentos formais de realização das políticas. Esse tipo de

administração procura se ater às regras burocráticas estabelecidas, mesmo que isto

possa significar a ineficiência da política. A falta de outros objetivos claros, para além

do controle dos procedimentos a serem utilizados, faz com que a administração pública

burocrática seja direcionada para a prevenção e para o controle preventivo de ações. A

punição de ações executadas de forma errônea é quase sempre bastante difícil.

A administração pública gerencial caracteriza-se por uma orientação para o cidadão e

para a obtenção de resultados. A idéia de que as políticas públicas são desenvolvidas

para o cidadão e de que os políticos, por si só, não são merecedores de um grande grau

de confiabilidade são justificativas para a implantação de um modelo de administração

gerencial, pautado na descentralização, na inovação institucional trazida pelos processos

95
de descentralização e de participação popular e na criação de instrumentos de

accountability26.

A administração pública gerencial caracteriza-se pela descentralização, municipalização

e desestatização. A noção desse tipo de administração corresponde à idéia de que os

cidadãos são mais ativos e atentos na cobrança de resultados dos serviços públicos

oferecidos do que os próprios políticos. O nível local é a instância privilegiada para que

haja a possibilidade de um efetivo controle social sobre as políticas do Estado.

O modelo de administração gerencial evidencia a preocupação com a efetividade da

política pública. A política, em sociedades modernas, vincula os “principals” e os

“agents”. Os principals são aqueles atores com poder de impor regras e controlar como

o poder público irá guiar suas ações. Os agents são os atores que executam as ordens

dos principals e cuidam da rotina da política pública. A definição do papel de cada ator

enquanto principal ou agent pode variar de situação para situação. Assim, por exemplo,

na situação de realização de eleições para cargos do executivo, o eleitorado ocupará o

lugar dos agents – uma vez que terá a prerrogativa da ação – enquanto os candidatos

terão o papel de principals. Na situação de execução de políticas públicas, os papéis se

invertem e os agents passam a ser os políticos que ocupam os cargos eletivos, enquanto

o eleitorado pode se transformar em principals27.

O modelo de administração pública implantado trará informações sobre o foco

pretendido quando da implantação da política, e sobre as possibilidades abertas a partir


26
PEREIRA, 1998
27
Para a discussão sobre agents e principals na administração pública, vide PRZEWORSKI, In
PEREIRA, e SPINK, 1998

96
desta implementação. Além disto, a identificação dos atores que têm o papel de agents

ou principals a cada momento pode ser relevante para indicar a forma adequada de

compreensão da dinâmica da política pública que se queira analisar.

97
5.4 MODELOS DE ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS

As políticas públicas podem ser estudadas e avaliadas sob diversas perspectivas.

SIMAN (2005) apresenta alguns modelos analíticos úteis para a análise e o estudo de

políticas públicas, inspirados na obra de Thomas Dye – Understanding Public Policy.

Estes modelos auxiliam na identificação e interpretação de características da realidade

da política específica e na organização da interpretação dos resultados. São oito os

modelos interpretativos que serão apresentados a seguir.

O primeiro modelo apresentado por Siman é o modelo institucional de análise e estudo

de políticas públicas. Ele tem como referência a estrutura do sistema político e os

modos de produção de decisões de política pública, sendo estas vistas como um output

do sistema político. A compreensão do formato institucional no qual se inserem as

políticas públicas é considerada condição básica para a compreensão da dinâmica de

produção e execução das mesmas.

Em estados liberal-democráticos, o modelo institucional tem formato constitucional,

que define a forma como os ocupantes dos cargos públicos são escolhidos e a forma

como são criadas e executadas as políticas públicas. Conhecer o modo como está

organizado o Estado e os órgãos que sediam a política é fundamental para compreender

o processo de elaboração e implementação das políticas em geral.

O segundo modelo, de análise do processo decisório, identifica as etapas e as

características da formulação da agenda política. Este modelo possui dois aspectos

98
importantes. Em primeiro lugar, reconhece-se que as políticas públicas são entendidas

como uma ação contínua do Estado em algum setor, sendo elas produto de decisões

políticas, que podem ser estudadas, na perspectiva do processo político do qual

resultam. Qualquer política pública resulta de um processo decisório político que lhe dá

origem. Este modelo analítico propõe o estudo de como a política pública em questão,

da maneira como está posta em prática, veio a se transformar em um output político ou

em uma linha de ação que um governante fica obrigado a colocar em prática.

O modelo de teoria de grupos é o terceiro abordado pela autora. Este modelo entende a

política como um processo de obtenção de equilíbrio entre grupos de interesse distintos.

A interação destes grupos é ponto central para a compreensão dos aspectos de

formulação e implantação da política pública. Indivíduos com interesses comuns se

associam e se fazem reconhecer, politicamente, através desta associação. A política,

neste sentido, é percebida como uma luta entre grupos, mediada por um arcabouço

institucional. Este modelo enfoca a característica da pluralidade de sociedades

modernas, ressaltando as formas através das quais esta pluralidade é absorvida pelo

sistema político.

O quarto modelo é o elitista, que considera que a política é apenas o resultado de

preferências e valores de uma elite constituída. Para os estudiosos que utilizam este tipo

de abordagem, a sociedade, como um todo, é formada de pessoas com pouca

informação a respeito de política pública. Por outro lado, existe uma elite constituída,

com fortes interesses, que é capaz de moldar a opinião pública e forçar a tomada de

decisão favorável a seus interesses. Este modelo pressupõe um caráter extremamente

99
conservador das políticas públicas. Se as demandas não surgem das massas para o

governo, mas tem um movimento de cima para baixo – down-ward –, elas serão

modificadas apenas por decisões da própria elite política. Além disto, parte-se do

princípio de que as elites têm caráter predominantemente conservador, o que faria com

que as mudanças realizadas nas políticas públicas seguissem um caráter mais reformista

e menos “revolucionário”, modificando as políticas vigentes, embora raramente

executando substituições das mesmas.

Vale a pena ressaltar que o modelo elitista não apenas deixa de lado a participação da

sociedade, organizada sob a forma de grupos de interesses, no âmbito da política, mas

também considera homogêneos os interesses da elite, abrindo pouco ou nenhum espaço

para o estudo dos conflitos dentro deste grupo. Nesta abordagem, a elite é tratada como

um grupo com interesses semelhantes e com propostas de ação também semelhantes. As

instituições democráticas têm aqui pouco valor e o processo de escolha dos governantes

é aparentemente simbólico, tendo pouco ou nenhum valor para a alteração efetiva das

escolhas governamentais a respeito de políticas públicas.

O modelo de política racional é o quinto modelo apresentado e foca-se na idéia de que a

política deve ser vista enquanto cumprimento de metas estabelecidas pelos governos. A

política é racional quando atende estas metas. A referência à eficiência da política é

dada pelo atendimento às metas estabelecidas no momento do planejamento. O

planejamento da política entende que a razão entre valores alcançados e recursos gastos

na operacionalização das políticas deve ser maior do que qualquer alternativa

visualizada como possibilidade.

100
Esta abordagem segue a lógica do pensamento da Teoria da Escolha Racional, e por isso

parte do pressuposto de que os atores envolvidos conhecem as preferências e valores da

sociedade, sua importância relativa, e que isto se dá de forma homogênea o suficiente

para que seja possível falar em valores e importância destes valores para a “sociedade” e

não para cada grupo dentro dela. Além de bem informados, os atores são vistos como

indivíduos capazes de realizar cálculos que lhes dêem substância teórica para

compreender a alternativa política mais eficiente a cada momento. A política racional

requer uma enorme quantidade de informações sobre políticas alternativas,

conseqüências das aplicações de cada política possível, além de se configurar como um

modelo altamente prescritivo, que considera que os resultados serão ótimos, uma vez

seguidas as recomendações racionalmente idealizadas.

O sexto modelo é o incrementalista. Ele entende que a política tem um caráter mais

fortemente conservador do que de grandes alterações. Neste sentido, esta abordagem vê

a política pública como forma de continuação de atividades de governos passados. Estas

atividades são “incrementadas” com pequenas modificações, deixando, no entanto, uma

base sólida, que é estável e se mantém durante o tempo e em diferentes governos. A

explicação para a continuidade de políticas desenvolvidas por outros governos está no

fato de que, para o desenvolvimento de novas políticas, é necessário tempo, recurso,

competência, além de desgaste político com as conseqüências imprevisíveis. Estas

condições nem sempre estão à disposição dos governantes, que, tendo que tomar

decisões e governar, evitam situações de incerteza. Em uma sociedade pluralista, onde

há uma grande dificuldade na construção de acordos e consensos, é mais fácil a

101
manutenção das políticas anteriores do que a proposição de novas políticas, que

necessitarão de apoio de grupos heterogêneos, difícil de se constituir na prática.

O sétimo modelo de análise explicitado por Siman é o da teoria dos jogos. Este modelo

enxerga a política como uma escolha racional, situada em um ambiente competitivo.

Similarmente à abordagem da política racional, esta abordagem considerará que os

atores estão suficientemente informados a respeito das condições da tomada de decisão.

No entanto, este modelo considera que o processo de decisão é realizado em situações

nas quais dois ou mais participantes têm que escolher entre as opções dadas. As

conseqüências das escolhas efetuadas dependem da escolha de cada um, feita

isoladamente. Há uma preocupação em compreender a forma de posicionamento dos

atores, quando inseridos em uma situação de competição.

O oitavo e último modelo é o da teoria de sistemas, que define a política enquanto

resposta de um sistema político a forças geradas no ambiente. Este ambiente é visto

como qualquer condição externa ao sistema político. O sistema é dado pelo conjunto de

estruturas, instituições e processos que são utilizados na produção das políticas públicas.

As forças que afetam este sistema são consideradas inputs. Os outputs do sistema

político são justamente as políticas públicas. Embora esta seja uma abordagem eficiente

em compreender como as alterações ou dimensões significativas do ambiente externo

podem se expressar na produção e manutenção das políticas públicas, ela deixa de fora

o caráter competitivo da política e a importância da interação dos atores na sua

composição.

102
Como é possível perceber, cada modelo explicitado valoriza certos aspectos na

produção e implementação de políticas públicas e deixa outros de fora. A divisão

principal é entre a abordagem focada no sistema / nas instituições e a abordagem focada

nos atores dos processos decisórios.

Para fins deste estudo, procurou-se considerar ambas as formas de abordagem dos

aspectos tradicionais da avaliação: o aspecto institucional / de cenário regulatório e

institucional e o aspecto da interação entre os atores principais do processo. Os modelos

que serviram de orientação da análise foram o modelo institucional e o de análise do

processo decisório. Desta forma procurou-se avaliar, concomitantemente, o ambiente no

qual se inserem os atores da política – através do modelo institucional – e a ação dos

atores, especialmente no que diz respeito à formulação da política e às suas formas de

implantação – através do modelo de processo decisório.

No entanto, cabe ressaltar que no que se refere à ação dos atores, a presente análise

extrapola a referência apenas ao momento decisório – modelo do processo decisório – e

procura compreender esta ação também no momento de implantação da política.

103
CAPÍTULO VI – MARCO LEGAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Após a definição geral do comportamento das instituições brasileiras referentes ao seu

sistema liberal-democrático de formatação federalista, realizada no capítulo três, cabe

explicitar a formatação específica do campo de assistência social no Brasil. Para isto,

recorrer-se-á à análise das legislações sobre o campo de assistência social produzidas no

país, desde a instauração do modelo beveridgeano de Estado do Bem-Estar Social, na

Constituição Federal de 1988.

As leis que regulamentam a seguridade social e conseqüentemente o campo de

Assistência Social no Brasil, provêm da esfera federal, segundo determinação da

Constituição de 1988. Serão abordadas no presente trabalho, portanto, as seguintes leis

federais:

• A Constituição Federal de 1988, que proporciona um breve panorama geral a respeito

dos rumos a serem implementados para a política de assistência social a partir de então;

• A Lei Orgânica de Assistência Social, de 1993, que regulamenta as diretrizes

estabelecidas pela Constituição de 1988, instituindo instâncias de participação popular e

um Fundo Nacional específico para este campo de políticas públicas;

• A Política Nacional de Assistência Social, de 2004, que propõe a formação de um

Sistema Único de Assistência Social (SUAS), de formato descentralizado, participativo,

baseado no princípio de territorialização e matricialidade sócio-familiar;

104
• A Norma Operacional Básica do SUAS, de 2005, que regulamenta o funcionamento

do SUAS e sua operacionalização.

105
6.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A legislação recente que regula o campo de assistência social no Brasil inicia-se pela

Constituição Federal de 1988, que, em seu artigo 203, assim assegura: “A assistência

social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à

seguridade social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de

sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de

deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.”

Este artigo da constituição revela-nos algumas características importantes do sistema de

assistência social no Brasil. A primeira delas é o fato do sistema ser beveridgeano, no

que se refere à definição do público alvo da política de assistência social. O público,

neste caso, é definido pela necessidade à assistência, e não por algum critério

contributivo ou de vinculação empregatícia – típico do modelo bismarckiano de Estado

de Bem-Estar Social. Além disto, reforça-se o caráter não contributivo da assistência

106
social no Brasil, um aspecto também típico do modelo beveridgeano de Estado de Bem-

Estar Social.

O artigo 204 da Constituição Federal define o formato de realização das políticas de

assistência social, prevendo ações descentralizadas e financiadas com recursos da

seguridade social.

O sistema de seguridade social do Brasil é montado sobre o tripé: saúde, previdência

social e assistência social. O financiamento do sistema de seguridade social no Brasil é

realizado de forma direta e indireta por toda a sociedade, mediante recursos

provenientes dos três níveis de governo – União, Estados e Municípios – e de

contribuições sociais. As contribuições sociais são realizadas:

• Por parte do empregador / da empresa / da entidade: através da folha de salários e de

demais rendimentos pagos a pessoas físicas ou jurídicas, por serviços prestados; através

de um percentual da receita ou faturamento; através de uma alíquota sobre o lucro.

• Por parte do trabalhador e demais segurados da previdência social.

• Por parte de contratantes de serviços do exterior ou compradores de bens importados.

• Por parte da receita de concursos de prognósticos.

A proposta de orçamento para a seguridade social é realizada em conjunto pelas três

áreas que lhe formam o tripé: saúde, previdência social e assistência social. No caso da

saúde, a seção II da Constituição Federal de 1988 prevê que as ações de saúde são de

relevância pública e dever do Estado, devendo ser dispensado um percentual mínimo de

107
cada nível de governo, da arrecadação de determinadas taxas e impostos, com vistas a

financiar o sistema público de saúde. A previdência social, por sua vez, está

regulamentada na seção III de nossa constituição. Seu caráter é definido, nesta seção,

como contributivo e obrigatório, ficando suas ações, em grande medida, financiadas

pelas contribuições realizadas ao sistema previdenciário.

O financiamento da assistência social é levantado apenas de forma vaga, no artigo 204

da Constituição, que prevê que: “As ações governamentais na área da assistência social

serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195,

além de outras fontes (...)”. O orçamento da seguridade social, citado no artigo 195, não

define percentuais ou mínimos a cada uma das áreas que compõem seu tripé. Tampouco

define a forma de repartição dos recursos entre estas áreas.

A assistência social permaneceu, no Brasil, sem uma legislação apropriada que

indicasse suas fontes de recurso e arrecadação em cada um dos níveis de governo,

mesmo depois de sua definição enquanto dever do Estado e direito de todo cidadão. No

entanto, é importante destacar que a definição, prevista na Constituição de 1988, da

assistência social como dever do Estado e direito de todo cidadão, altera a concepção a

respeito da execução da assistência social no país, colocando-a como direito a ser

assegurado obrigatoriamente pelo Estado. Esta concepção ultrapassa a visão puramente

caritativa, marcante até então. A inclusão da Assistência Social no âmbito da seguridade

social – juntamente com as áreas de saúde e previdência social – traz à tona sua

relevância como novo campo de políticas públicas.

108
6.2 LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL - 1993

A Lei Orgânica de Assistência Social de 1993 é responsável por definir que a

assistência social:

• É dever do Estado e direito de todo cidadão;

• É uma política de seguridade social não contributiva;

• É responsável pelo provimento dos mínimos sociais;

• É realizada através de ações integradas no poder público e da iniciativa privada;

• Tem por objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à

velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao

mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência; a garantia

de um salário mínimo aos idosos e pessoas com deficiência que comprovem

impossibilidade de auto sustento ou de sustento pela família;

• Visa enfrentar o problema da pobreza, da garantia dos mínimos sociais e do

provimento de condições para atender as contingências sociais e a universalização dos

direitos sociais.

A descentralização político-administrativa do sistema de assistência social já aparece na

LOAS, que define também a necessidade de participação popular para a formulação e

controle das ações e políticas de assistência social. São criados Conselhos Municipais

de Assistência Social, que, em um primeiro momento, se vinculam ao Conselho

Nacional de Assistência Social – CNAS. O órgão responsável por coordenar toda a

109
Política Nacional de Assistência Social é o Ministério do Bem-Estar Social, atualmente

transformado em Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS.

A regulamentação das ações de assistência social obedece aos critérios de

descentralização – cada nível de governo é responsável pela criação de sua

regulamentação específica, desde que respeitadas as condições gerais estabelecidas pelo

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) – e de participação popular – através

da implantação de Conselhos referentes aos vários níveis de governo e que têm poder

deliberativo.

A definição de competências e responsabilidades, no que se refere ao cumprimento das

ações de assistência social obedece à seguinte divisão:

“Art. 12. Compete à União:

I - responder pela concessão e manutenção dos benefícios de prestação continuada

definidos no art. 203 da Constituição Federal;

II - apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de

enfrentamento da pobreza em âmbito nacional;

III - atender, em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, às ações

assistenciais de caráter de emergência.

Art. 13. Compete aos Estados:

110
I - destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de participação no custeio do

pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos

Conselhos Estaduais de Assistência Social;

II - apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de

enfrentamento da pobreza em âmbito regional ou local;

III - atender, em conjunto com os Municípios, às ações assistenciais de caráter de

emergência;

IV - estimular e apoiar técnica e financeiramente as associações e consórcios municipais

na prestação de serviços de assistência social;

V - prestar os serviços assistenciais cujos custos ou ausência de demanda municipal

justifiquem uma regional de serviços, desconcentrada, no âmbito do respectivo Estado.

Art. 15. Compete aos Municípios:

I - destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos auxílios natalidade e

funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Municipais de Assistência

Social;

II - efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral;

III - executar os projetos de enfrentamento da pobreza incluindo a parceria com

organizações da sociedade civil;

IV - atender às ações assistenciais de caráter de emergência;

V - prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23 desta Lei.” 28

28
BRASIL, Lei Orgânica da Assistência Social, 1993

111
A lógica de divisão de responsabilidades entre os níveis de governo mantém-se também

na instituição dos órgãos deliberativos do sistema de assistência social. As instâncias

deliberativas têm caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade

civil. São eles: o Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, referente ao nível

federal –, o Conselho Estadual de Assistência Social – o CEAS, responsável pelo

âmbito dos estados –, o Conselho de Assistência Social do Distrito Federal – que, no

sistema descentralizado de organização da assistência social no Brasil, possui caráter de

estado e responsabilidades deste nível de governo – e o Conselho Municipal de

Assistência Social – o CMAS, referente ao nível municipal.

É interessante notar que a LOAS define uma série de atribuições e responsabilidades ao

CNAS e ao órgão responsável por coordenar a PNAS – o ex Ministério do Bem-Estar

Social e atual MDS, mas não elenca responsabilidades e atribuições dos Conselhos

Estaduais e Municipais. Além disto, as responsabilidades atribuídas ao nível federal

incluem a formulação das ações de assistência social a serem implantadas, em nível

nacional, assim como a promoção de conhecimento sobre a área, com vistas à

formulação de novos projetos.

A Lei Orgânica da Assistência Social apresenta perfil de centralização de planejamento

e descentralização da execução, na definição de responsabilidades dos conselhos de

assistência social, separados por níveis de governo. Ao Conselho Nacional de

Assistência Social cabe a normatização e regulação das ações de assistência no país, o

acompanhamento e avaliação da gestão dos recursos, o estabelecimento de diretrizes e a

apreciação dos programas anuais e plurianuais do Fundo Nacional da Assistência Social

112
– FNAS, entre outros. No que se refere à definição de diretrizes e ações por nível de

governo, a LOAS aponta o nível central como responsável pelo apoio técnico e

financeiro dos serviços e ações de assistência social, o que na prática se traduz na

responsabilidade pela formulação e normatização destes serviços. Ao nível local –

município e Distrito Federal – está prioritariamente destinada a função de execução das

diretrizes elaboradas.

A concessão de recursos financeiros aos municípios está vinculada à criação e

efetivação dos conselhos de assistência social – o que ressalta o caráter participativo que

se deseja implantar –, do Fundo Nacional da Assistência Social – FNAS – e do Plano de

Assistência Social. O FNAS é dirigido pelo órgão responsável pela direção da Política

Nacional de Assistência Social – o ex Ministério do Bem Estar-Social e atual Ministério

do Desenvolvimento Social. O plano de assistência social é definido com base nas

diretrizes nacionais para o planejamento de políticas públicas de assistência social.

No que se refere ao financiamento, a LOAS representa um avanço em relação à

Constituição de 1988, uma vez que define a existência e utilização do Fundo Nacional

de Assistência Social – FNAS –, como forma auxiliar de financiamento deste tipo de

política pública. O FNAS é a nova denominação, dada pela LOAS, para o Fundo

Nacional de Ação Comunitária – FNAC – instituído pelo Decreto nº. 91.970, de 22 de

novembro de 1985 e ratificado pelo Decreto Legislativo nº. 66, de 18 de dezembro de

1990.

113
O FNAS é criado pela LOAS, como substituição ao antigo FNAC, em 1993. O Decreto-

lei nº. 1605-95 regulamenta seu funcionamento e define que:

• O FNAS “tem por objetivo proporcionar recursos e meios para financiar o benefício

de prestação continuada e apoiar serviços, programas e projetos de assistência social.”29

• O FNAS é gerido pelo Ministério responsável pela PNAS

• A proposta orçamentária do FNAS é submetida a apreciação e aprovação por parte do

CNAS.

A regulamentação do FNAS constitui um passo importante em relação ao financiamento

do sistema de seguridade social no Brasil, uma vez que define novas fontes de

arrecadação de recursos, além das definidas na Constituição de 1988 e na LOAS de

1993. Por outro lado, não há na legislação pertinente sobre o financiamento da

Assistência Social no país a regulamentação de percentuais fixos de utilização dos

recursos para a área.

É importante notar que a partir da LOAS, passa a ser condição de repasse de recursos do

FNAS para os estados e municípios a existência e funcionamento efetivo dos conselhos

de assistência social, dos fundos de assistência social, sob orientação e controle dos

conselhos, e do plano de assistência social. O estabelecimento destas estruturas como

condição para repasse de recursos constitui-se como passo relevante para a criação da

participação da sociedade no controle e elaboração das políticas de assistência social.

29
Decreto-lei nº. 1605-95

114
6.3 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – 2004

A Política Nacional de Assistência Social de 2004 – PNAS/2004 – traz grandes

inovações para o campo teórico da assistência social como política pública no Brasil. Os

conceitos-chave que orientam este plano de ação, desenvolvido a partir de reuniões nas

Comissões Intergestores Bipartite (CIB) e Comissões Intergestores Tripartite (CIT) –

comissões deliberativas entre os governos municipal e estadual e entre os governos

municipal, estadual e federal, respectivamente – são o de matricialidade sócio-familiar e

de territorialidade.

No que se refere ao conceito de matricialidade sócio-familiar, pode-se dizer que o foco

da assistência social passa do indivíduo isolado para o grupo familiar no qual este

indivíduo se insere. A PNAS/2004 entende que as formas modernas de trabalho e

organização da sociedade foram responsáveis por uma resignificação do papel e das

formas encontradas de famílias. A família é definida no documento como um conjunto

de indivíduos que estão unidos por laços consangüíneos, afetivos e/ou de solidariedade.

A justificativa para a centralidade da família no planejamento e execução de políticas

públicas de assistência social diz respeito à idéia de que a família é o núcleo primordial,

que constitui a base da sociedade e do aprendizado dos indivíduos. Para a PNAS/2004,

para que a família possa ser protegida e para que possa promover a inclusão efetiva de

seus membros na sociedade, é necessário que esta família seja capaz de ter, em primeiro

lugar, condições de auto-sustentabilidade. São estas as condições a serem buscadas

pelas novas formas de intervenção do campo de assistência social no país.

115
No que se refere ao conceito de territorialidade, a PNAS/2004 defende a idéia de que a

assistência social é uma política pública cujas intervenções devem se dar na

capilaridade dos territórios. O território é definido por referência aos níveis de governo.

Desta forma, para o governo federal, a menor unidade territorial administrativa,

reconhecida constitucionalmente, e que deve servir de referência para a organização da

política, são os municípios. Estes, por sua vez, podem se organizar internamente em

regiões administrativas e estabelecer territórios menores de atendimento aos cidadãos.

Seguindo o conceito de territorialidade, os municípios brasileiros foram divididos de

acordo com sua população residente, na seguinte escala:

• Municípios pequenos 1: até 20 mil habitantes, aproximadamente 5 mil famílias. Em

geral estes municípios têm forte presença de população rural, com cerca de 45 % da

população total do município concentrado nestas áreas. O equipamento de proteção

social necessário a municípios com este porte, dadas suas características gerais de

coesão social e demandas potenciais, é aquele relacionado à proteção social básica,

sendo raramente necessários os serviços de proteção social especial. Para serviços

públicos de maior nível de complexidade, estes municípios geralmente utilizam

municípios de médio porte da região como referência.

• Municípios pequenos 2: entre 20.001 até 50 mil habitantes, aproximadamente 5 a 10

mil famílias. Têm características de necessidades de proteção social parecidas com as

116
dos municípios de porte pequeno 1. A concentração de população rural é de

aproximadamente 30%.

• Municípios médios: entre 50.001 até 100 mil habitantes, aproximadamente 10 a 25

mil famílias. Os municípios médios diferenciam-se dos de pequeno porte no que se

refere, principalmente, às suas condições econômicas. Neles, o emprego formal no setor

secundário e de serviços se amplia, e apesar de permanecerem dependentes,

relativamente, aos municípios de grande porte, já possuem certa autonomia econômica.

A rede de proteção social básica deste tipo de município necessita ser maior, em relação

aos de pequeno porte. A necessidade de estrutura de proteção social especial, no

entanto, assemelha-se à necessidade dos municípios de pequeno porte, sendo possível

uma estrutura regionalizada que referencie simultaneamente vários municípios de

pequeno e médio portes.

• Municípios grandes: entre 100.001 até 900 mil habitantes, aproximadamente 25 a 250

mil famílias. Estes municípios possuem alto grau de complexificação da própria

economia e de oferta de empregos e serviços públicos. Sua dinâmica mais complexa

exige uma ampla rede de oferta de políticas públicas em geral, e de assistência social

em particular. É necessário o estabelecimento de uma rede de proteção social básica e

de proteção social especial, para ambos os níveis de complexidade – média e alta

complexidade.

• Metrópoles: mais de 900 mil habitantes, média de famílias superior a 250 mil. A

configuração das metrópoles assemelha-se à configuração dos municípios de porte

117
grande. No entanto, as metrópoles possuem um forte agravante de suas condições

sociais, que são as regiões de fronteiras. A área que limita a região metropolitana é

normalmente caracterizada por uma forte ausência do Estado, agravando a situação dos

seus cidadãos residentes.

O conceito de territorialidade se relaciona à idéia de ações em rede. A PNAS destaca em

seu documento que a implantação da territorialidade deverá ser realizada em conjunto

com a implantação da intersetorialidade. As necessidades de cada território, dividido de

forma aproximadamente homogênea, deverão ser identificadas. A solução para os

problemas identificados perpassa políticas de vários campos diferenciados – assistência

social, educação, saúde, emprego, etc. – assim como perpassa diferentes setores da

sociedade.

As diretrizes estabelecidas na PNAS/2004 dizem respeito à descentralização político-

administrativa para estados e municípios; participação da comunidade local, através do

estabelecimento e manutenção em funcionamento de instâncias de negociação com

representantes da sociedade civil organizada e do governo; primazia da

responsabilidade do Estado na implantação e manutenção das políticas e matricialidade

sócio-familiar, propondo centralidade na família para a organização da concepção e

implementação dos benefícios e serviços prestados. Seus objetivos incluem o

provimento de serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social às famílias

que necessitarem; a promoção da inclusão e contribuição para a eqüidade de grupos e

usuários individuais específicos e assegurando o foco na família para o planejamento e

execução das ações.

118
Ainda que a Constituição Federal de 1988 estabeleça que a assistência social seja direito

de todo cidadão, sendo dever do Estado provê-la, a PNAS/2004 introduz uma maior

especificação no público alvo/público usuário da assistência social. A assistência social

é prevista para todos os cidadãos que dela necessitarem. Segundo a PNAS/2004

“Constitui o público usuário da política de Assistência Social, cidadãos e grupos que se

encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos

com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade;

ciclos de vida identificados como mais vulneráveis; identidades estigmatizadas em

termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências;

exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias

psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e

indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal;

estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco

pessoal e social.”30 Desta maneira há uma primeira especificação do público alvo para o

qual será dirigido o campo de políticas públicas da assistência social.

Internamente a este campo de políticas públicas, a PNAS/2004 estabelece a divisão da

proteção social em dois tipos: proteção social básica e proteção social especial. Os

serviços de proteção social básica são aqueles responsáveis por garantir a prevenção às

famílias e indivíduos em condições de vulnerabilidade. O objetivo é a prevenção de

situações de risco, através do fortalecimento de vínculos, familiares e comunitários, e

através do desenvolvimento das potencialidades do público alvo. Estes são destinados

30
BRASIL, Política Nacional de Assistência Social, 2004. p. 18

119
às famílias cujos direitos não foram violados e os vínculos familiares e sociais não

foram rompidos.

Os serviços que compõem a proteção social básica devem agir de forma integrada, tanto

entre si quanto em relação aos serviços da proteção social especial e outras políticas

públicas implantadas no nível local. A proteção social básica deve ter capilaridade nos

municípios e portanto são executados diretamente nos Centros de Referência da

Assistência Social (CRAS) e outras unidades públicas de assistência social. Os

programas e serviços referentes à proteção social básica devem constar do equipamento

dos CRAS, que têm distribuição no território, por grau de vulnerabilidade da população

e número de famílias atendidas. Os CRAS têm a meta de atendimento a mil famílias por

ano.

Os CRAS atuam diretamente sobre as famílias que compõem determinada população

vulnerável, em seu território de referência. Principalmente no que diz respeito à

proteção social básica, há a necessidade de compreender a família para além do

tradicional conceito de núcleo familiar. Há um reconhecimento da diversidade da

composição das famílias na PNAS/2004. São reconhecidas, também, as funções básicas

da família: prover proteção e socialização dos indivíduos, servir de referência moral,

identitária e de vínculos para seus integrantes e ser mediadora das relações com

instituições e com o Estado.

Os CRAS são responsáveis pelos encaminhamentos e referenciamentos da população

atendida aos outros serviços que compõem a rede de assistência social. Eles devem

120
disponibilizar, em sua estrutura, os serviços de proteção social básica. Estes serviços são

destinados aos ciclos de vida nos quais há aumento da vulnerabilidade do indivíduo –

infância (0 a 6 anos), infanto-juvenil (6 a 14), jovens (até 18 anos) e idosos (acima de 65

anos) – às pessoas com deficiência e às situações conjunturais – aos programas de

geração de trabalho e renda e capacitação em centros de informação.

A proteção social especial destina-se aos indivíduos que se encontrem em situações de

violação de direitos. Ela requer maior estruturação técnico-operacional, assim como um

atendimento individualizado nos serviços. É dividida em média e de alta complexidade.

A proteção social especial de média complexidade é responsável por ofertar serviços e

amparar indivíduos cujos direitos tenham sido violados, mas que não tenham sido

submetidos a um rompimento dos vínculos familiares e sociais. Fazem parte da proteção

social especial de média complexidade o serviço de orientação sócio-familiar – SOSF –,

o plantão social, a abordagem de rua, o cuidado no domicílio, os serviços de habilitação

e reabilitação de pessoas com deficiência e as medidas sócio-educativas aplicadas aos

jovens em regime semi-aberto – Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), Liberdade

Assistida (LA).

A proteção social especial de alta complexidade é responsável por garantir a proteção

integral da família ou do cidadão que se encontre sem referência ou em situação de

ameaça, quando o afastamento do núcleo familiar ou comunitário são necessários,

ocorrendo uma situação de rompimento destes vínculos. Fazem parte deste nível de

proteção social o Atendimento Integral Institucional, as Casas Lar, as Repúblicas, as

Casas de Passagem, os Albergues, as Famílias Substitutas e as Famílias Acolhedoras, o

121
trabalho protegido e as medidas sócio-educativas restritivas e privativas de liberdade –

regimes de semi-liberdade, internação provisória e sentenciada.

A PNAS/2004 propõe a organização de um Sistema Único de Assistência Social. Este

sistema é um modelo de regulação e organização das ações de assistência social em

âmbito nacional. Os serviços que o integram têm foco prioritário nas famílias e se

organizam seguindo a lógica de capilaridade no território. Estes territórios são definidos

a partir das funções que executam, do número de pessoas que referenciam e do grau de

complexidade das ações disponíveis. O SUAS pressupõe uma gestão e um

financiamento executados de forma compartilhada pelos três níveis de governo.

Os elementos principais para a execução das políticas sociais, de acordo com a

organização do Sistema Único de Assistência Social dizem respeito:

• À matricialidade sócio familiar;

• À descentralização político administrativa e conseqüente territorialização;

• Às novas formas de financiamento e relação intergovernamental

• Às novas formas de relação da Sociedade e do Estado e da participação e controle

social sobre ações do Estado;

• À política de recursos humanos para a implementação efetiva da rede de assistência

social;

• À informação, monitoramento e avaliação dos processos e resultados.

122
Os serviços sócio-assistenciais do SUAS se organizam como vigilância social, proteção

social e defesa social. A vigilância social diz respeito à produção e sistematização de

informação. A proteção social é subdividida em segurança de sobrevivência –

benefícios continuados ou eventuais, direcionados aos indivíduos com reduzida

capacidade de auto-provimento, seja essa redução conjuntural ou permanente –,

segurança de convívio – com vistas ao fortalecimento e restabelecimento de vínculos

familiares e comunitários, através de experiências lúdicas, sócio-educativas e culturais –

e a segurança de acolhida – direcionada a recuperar situações de abandono e isolamento,

através do acolhimento e oferta de condições de abrigo, repouso, alimentação, vestuário

e higiene. Por fim, os serviços de defesa social e institucional do SUAS prevêem o

estabelecimento e divulgação, aos usuários do sistema, dos direitos que lhe são

assegurados, tais como o direito de atendimento digno, espera reduzida, informação

sobre o funcionamento dos serviços, oferta qualificada dos mesmos, direito de

convivência familiar e comunitária, e de protagonismo / manifestação dos próprios

interesses.

O financiamento do Sistema Único de Assistência Social é definido, na PNAS/2004,

como de responsabilidade dos três níveis de governo, através dos fundos de assistência

social. No âmbito do governo federal, a referência é o Fundo Nacional de Assistência

Social – FNAS – criado pela LOAS e regulamentado pelo decreto-lei 1605/95. O FNAS

tem como objetivo o financiamento do benefício de prestação continuada e de outros

serviços e programas de assistência social, sendo o repasse de recursos realizado fundo

a fundo, para os outros níveis de governo. Os programas e ações a serem financiados em

cada esfera são determinados pelos conselhos locais, garantindo a participação da

123
sociedade na definição da alocação dos recursos. Os municípios ficam responsáveis pela

elaboração do Plano de Assistência Social, para organizar a execução da PNAS/2004

em seu território.

A nova política da assistência social chama atenção para a necessidade de se repensar o

atual modelo de atuação da rede sócio-assistencial, realizado de forma fragmentada e

setorializada, e para a necessidade da implantação de ações em rede, que sejam capazes

de lidar de forma eficiente com os novos desafios colocados para a área de assistência e

desenvolvimento social. Segundo as orientações da PNAS/2004, a ação em rede torna-

se imperativa, principalmente ao considerar-se a história das políticas sociais e de

assistência social no Brasil, que se caracteriza por uma superposição de políticas e uma

lógica de fragmentação extremamente ineficaz.

124
6.4 NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SUAS – 2005

A Norma Operacional Básica de 2005 – NOB/SUAS – é responsável por definir regras

de implantação do Sistema Único de Assistência Social no território brasileiro. Ela foi

instituída com o objetivo de disciplinar a operacionalização da gestão da Política de

Assistência Social, definida pela Constituição Federal de 1988, pela Lei Orgânica de

Assistência Social de 1993 e pela Política Nacional de Assistência Social de 2004, com

vistas ao estabelecimento do Sistema Único de Assistência Social. O SUAS é

caracterizado por ser um sistema não-contributivo, descentralizado e participativo.

O SUAS se organiza basicamente segundo os seguintes princípios:

• Universalidade do sistema, através da articulação dos níveis de governo e dos atores

participantes, para que o acesso aos direitos de assistência seja garantido a todos os que

deles necessitarem;

• Descentralização político-administrativa e comando único em cada esfera de governo,

com sistema ascendente de planejamento, partindo dos Conselhos Municipais de

Assistência Social, seguindo para os Conselhos Estaduais e o Conselho Nacional;

• Ação em rede;

• Fiscalização e controle das ações, através de medidas de participação e instituição de

sistemas de regulação e arenas de debate, além de sistemas de relações

interinstitucionais que facilitem a ação em rede;

• Publicização dos dados para a efetiva participação e controle social;

125
• A assistência social é parte do tripé da seguridade social, que inclui também a

previdência social e a saúde e cujas partes devem manter diálogo entre si para a

efetivação da seguridade do cidadão.

A NOB/SUAS define a rede sócio-assistencial como “um conjunto integrado de ações

de iniciativa pública e da sociedade, que ofertam e operam benefícios, serviços,

programas e projetos, o que supõe a articulação entre todas estas unidades de provisão

de proteção social, sob a hierarquia de básica e especial e ainda por níveis de

complexidade.”31 A PNAS/2004 e a LOAS definem como serviços “Atividades

continuadas, definidas no art. 23 da LOAS, que visam a melhoria da vida da população

e cujas ações estejam voltadas para as necessidades básicas da população, observando

os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidas nessa lei. A Política Nacional de

Assistência Social prevê seu ordenamento em rede, de acordo com os níveis de proteção

social: básica e especial, de média e alta complexidade.”32 Os programas

“Compreendem ações integradas e complementares, tratadas no art. 24 da LOAS, com

objetivos, tempo e área de abrangência, definidos para qualificar, incentivar,

potencializar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais, não se caracterizando

como ações continuadas.”33 Por fim, os projetos “Definidos nos arts. 25 e 26 da LOAS,

caracterizam-se como investimentos econômico-sociais nos grupos populacionais em

situação de pobreza, buscando subsidiar técnica e financeiramente iniciativas que lhes

garantam meios e capacidade produtiva e de gestão para a melhoria das condições

gerais de subsistência, elevação do padrão de qualidade de vida, preservação do meio

ambiente e organização social, articuladamente com as demais políticas públicas. De


31
BRASIL, Norma Operacional Básica / SUAS – p. 22
32
Idem
33
Idem

126
acordo com a PNAS/2004, esses projetos integram o nível de proteção social básica,

podendo, contudo, voltar-se ainda às famílias e pessoas em situação de risco, público-

alvo da proteção social especial.”34

A NOB/SUAS reforça a importância da cooperação entre os entes federativos. Deve-se

respeitar o princípio de subsidiariedade, segundo o qual as instâncias federativas mais

amplas não devem realizar as ações que as esferas menores estiverem aptas a realizar. A

intervenção das esferas federativas mais amplas deve respeitar a autonomia das esferas

locais, devendo ocorrer intervenção somente no caso de as esferas locais não serem

capazes – por questões financeiras, de estrutura, ou conjunturais – de prover os serviços,

programas e projetos por conta própria. Além disto, os consórcios públicos possibilitam

que os serviços de maior complexidade sejam oferecidos regionalmente, seja porque

não há necessidade de oferecê-los de forma contínua aos outros municípios, ou porque

estes municípios não têm estrutura suficiente para a manutenção dos serviços. A oferta

regional de serviços traz a necessidade de uma cooperação intermunicipal que permita o

funcionamento adequado dos sistemas de referência e contra-referência necessários.

Os municípios são divididos, no SUAS, de acordo com o tipo de gestão, podendo

caracterizar-se como de gestão inicial, básica ou plena. Os municípios que não se

encontrem habilitados em nenhum tipo de gestão têm seus recursos geridos diretamente

pela esfera Estadual.

34
BRASIL, Norma Operacional Básica / SUAS – página 22

127
Os municípios que não se habilitem para a gestão básica ou plena serão considerados

municípios de gestão inicial e receberão recursos do governo obedecendo a série

histórica, desde que atendam os requisitos previstos na LOAS e contribuam também

com recursos próprios para as ações de proteção social básica. Na gestão inicial as

responsabilidades do município são, basicamente, as de gestão da informação a respeito

dos usuários do sistema de assistência social.

Na gestão básica os municípios assumem para si a responsabilidade sobre a gestão da

proteção social básica, o que inclui trabalhos de prevenção através do desenvolvimento

de potencialidades e aquisições. Além dos requisitos exigidos dos municípios de gestão

inicial, a gestão básica requer também a estruturação dos Centros de Referência da

Assistência Social – CRAS – de acordo com o porte do município e nas áreas de maior

vulnerabilidade, na seguinte escala:

• “Pequeno Porte I – mínimo de 1 CRAS para até 2.500 famílias referenciadas;

• Pequeno Porte II – mínimo de 1 CRAS para até 3.500 famílias referenciadas;

• Médio Porte – mínimo de 2 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas;

• Grande Porte – mínimo de 4 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas;”

• Metrópoles – mínimo de 8 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas; 35

Além do estabelecimento dos CRAS, os municípios devem estruturar a recepção,

orientação, identificação e encaminhamento dos beneficiários do Benefício de Prestação

Continuada, apresentar Plano de Inserção e Acompanhamento dos beneficiários,

35
BRASIL, Norma Operacional Básica / SUAS – página 27

128
garantir a prioridade de acesso, de acordo com as necessidades das famílias, realizar um

diagnóstico das áreas de vulnerabilidade social, ter os seus conselhos em pleno

funcionamento e ter um profissional de nível superior na secretaria executiva do

Conselho Municipal. Vale a pena ressaltar também o sistema de gestão de informação,

que devem ter todos os municípios, com atenção à alimentação dos bancos de dados da

REDE SUAS – conjunto de bancos de dados do Sistema Único de Assistência Social.

A gestão plena é aquela na qual o município tem gestão total das ações de Assistência

Social que ocorrem no seu território. Além de todas as responsabilidades dos

municípios de gestão básica, aqueles de gestão plena devem também instalar e

coordenar o sistema municipal de monitoramento e avaliação das ações da Assistência

Social, em articulação com as outras esferas de governo, declarar sua capacidade

instalada, elaborar e executar a política de recursos humanos, nomear e lotar o gestor do

fundo de assistência social na Secretaria Municipal de Assistência Social ou congênere,

prestar serviços de proteção especial, estabelecer pactos de resultados com a rede

prestadora de serviços.

Os Estados assumem a gestão da assistência em seu âmbito de competência tendo,

basicamente, as responsabilidades de apoio técnico e financeiro aos municípios, de

organização e gestão da informação, de gestão dos recursos de municípios não

habilitados, de estruturação da secretaria da Comissão Intergestores Bipartite – CIB –

com profissional de nível superior, estruturar a Secretaria Executiva do CEAS, de co-

financiamento da proteção social básica, de gestão de recursos de co-financiamento das

esferas estadual e federal, de definição e implantação da política de acompanhamento da

129
rede prestadora de serviços e de consórcios públicos, de realização da alimentação de

bases de dados, e elaboração e inserção gradual da política de recursos humanos para o

campo de assistência social, entre outras.

À União, por fim, cabe coordenar e implantar as regulamentações do campo de

Assistência Social, obedecidas as regras de formulação e aprovação através da

deliberação em Conselhos, em especial o CNAS, coordenar, regular e co-financiar

serviços e ações diversas, coordenar a gestão do Benefício de Prestação Continuada,

articular as políticas sociais dos diversos setores, propor, pactuar e coordenar o sistema

de informação da Assistência Social, dar apoio técnico e financeiro a Estados e

municípios, quando este for necessário, incentivar a criação e manutenção de esferas

públicas de participação, entre outras.

130
CAPÍTULO VII – POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

EM BELO HORIZONTE

7.1 O BH CIDADANIA

A Proposta de Avaliação do Programa Criança Pequena, apresentada para a Prefeitura

de Belo Horizonte para estabelecer os eixos de análise da avaliação implementada pelo

Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, traz

conceitos relevantes a respeito do campo de assistência social em Belo Horizonte.

A primeira definição relevante a ser considerada é a do programa BH Cidadania.

Segundo o documento, “O principal objetivo do programa é a inclusão social, a partir de

estratégias que promovam a integração das diversas áreas temáticas, de forma

intersetorial e descentralizada. Deve operar a partir da identificação das demandas

específicas dos usuários e não mais unicamente por modelos e pela capacidade de

resposta dos programas e dos serviços públicos”36.

A segunda definição diz respeito aos NAFs – Núcleo de Apoio às Famílias. Neste

documento, o NAF é assim definido: “integrante do Programa BH Cidadania, é o

espaço da orientação sócio-familiar. Sua implantação em etapas que correspondem à

investigação diagnóstica, planejamento, implementação e avaliação têm como

condicionantes: conhecimento do contexto social, econômico, cultural e ambiental;

articulação e integração das políticas públicas; mobilização e valorização dos recursos

36
Proposta de Avaliação do Programa Criança Pequena, p. 1

131
existentes na comunidade; planejamento participativo fundamentado nas prioridades

identificadas no diagnóstico, protagonizado pela comunidade; orientação sócio-familiar

e comunitária, priorizando as ações de mobilização na perspectiva de prevenção,

promoção, proteção e inserção.”

O programa BH Cidadania foi criado em 2002, com o intuito de modificar as relações

intersetoriais das políticas sociais do município de Belo Horizonte. O programa baseia-

se, já em 2002, em princípios de descentralização territorialidade, participação cidadã e

intersetorialidade (ROCHA, 2005).

A criação do território de atuação do BH Cidadania se deu através da referência ao

Mapa da Exclusão Social de Belo Horizonte. Este mapa foi construído a partir dos

cruzamentos de três índices georreferenciados produzidos pelo município: Índice de

Qualidade de Vida Urbana (IQVU-BH), Índice de Vulnerabilidade Social e Índice de

Vulnerabilidade à Saúde.

O mapa da Exclusão Social de Belo Horizonte possibilitou que se realizasse uma

divisão do território do município, indicando diferentes graus de vulnerabilidade da

população ali situada. A referência à população alvo do serviço é dada pelo recorte

geográfico e de vulnerabilidade, referenciada geograficamente.

O BH Cidadania é constituído primordialmente pelas áreas de assistência social, saúde,

educação. Outras áreas como cultura, esportes e abastecimento podem integrar sua

estrutura. As atividades que integrarão o BH Cidadania são definidas de acordo com as

132
Comissões Locais (esferas de intermediação entre governo e comunidade local) e

através do Plano de Ação Local (ROCHA, 2005).

O Programa BH Cidadania teve sua implantação iniciada no segundo semestre de 2002,

em nove áreas piloto, definidas como de maior vulnerabilidade no território do

município. Os Núcleos de Apoio à Família – NAF – eram os responsáveis pelo início do

processo de cadastramento das famílias do território, funcionando como a porta de

entrada das famílias beneficiárias dos programas ali instalados.

Os NAF são, portanto, o equipamento de referência da Assistência Social no território

do BH Cidadania. A partir da implantação do Sistema Único de Assistência Social no

Brasil, os NAFs passam a integrar o equipamento de Proteção Social Básica dos

Centros de Referência da Assistência Social e a serem denominados NAF/CRAS.

De acordo com o Territorialização da Proteção Social Básica do Sistema Único da

Assistência Social (2008), documento produzido pela Prefeitura de Belo Horizonte “A

SMAAS implantou em Belo Horizonte em 2002, 09 (nove) Núcleos de Apoio à Família

– NAF’s, como serviço da política municipal de assistência social, de base local, nas

áreas de vulnerabilidades demarcadas pelo Programa BH Cidadania.”

Os primeiros BH Cidadania e Núcleos de Apoio à Família foram implantados nos

seguintes locais:

• Regional Venda Nova: Vila Apolônia

• Regional Norte: Conjunto Jardim Felicidade

133
• Regional Leste: Alto Vera Cruz / Vila Cruzeirinho

• Regional Noroeste: Vila Senhor dos Passos / Pedreira Prado Lopes

• Regional Nordeste: Vila Arthur de Sá

• Regional Pampulha: Vila Santa Rosa

• Regional Centro Sul: Vila Santa Rita de Cássia

• Regional Oeste: Morro das Pedras

• Regional Barreiro: Bairro Independência

A expansão do programa BH Cidadania ocorreu tanto expandindo os territórios já

ocupados pelo piloto do programa como para novos territórios e obedeceu a seguinte

configuração territorial:

Expansão do território coberto pelos BH Cidadania já implantados:

• Regional Venda Nova: Vila Apolônia

• Regional Norte: Conjunto Jardim Felicidade

• Regional Leste: Alto Vera Cruz

• Regional Noroeste: Vila Senhor dos Passos / Pedreira Prado Lopes

• Regional Oeste: Morro das Pedras

• Regional Barreiro: Bairro Independência

Expansão para novos territórios:

• Regional Nordeste - Conjunto Paulo VI

• Regional Pampulha - Bairro Novo Ouro Preto

• Regional Oeste - São José

134
• Regional Noroeste - Conjunto Califórnia

• Regional Centro Sul - Aglomerado da Serra

O mapa a seguir revela o processo de implantação do projeto piloto do BH Cidadania e

de sua expansão.

Fonte: Apresentação NAF/CRAS, PBH, 2007

135
A organização da Assistência Social sob os moldes de um Sistema Único de Assistência

Social – SUAS – é bastante recente, tendo início a partir da Política Nacional de

Assistência Social de 2004. A própria assistência social, como campo de política

pública no Brasil, efetivada a partir da noção de que é direito do cidadão o acesso a um

mínimo que lhe garanta qualidade de vida, e da noção de que cabe ao Estado a garantia

deste mínimo, é também recente e encontra-se em fase de estruturação.

O modelo do SUAS baseia-se, em primeiro lugar, nas ações de proteção básica, de

caráter preventivo, com intuito de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários,

seguindo-se as ações de proteção social especial, de média e alta complexidade. As

ações de média complexidade são aquelas voltadas para um público que sofreu alguma

violação de direitos, mas que mantém, ainda que fragilizados, os vínculos familiares e

comunitários. As ações de alta complexidade têm como objetivo lidar com o público

que sofreu violações de direitos e teve um rompimento dos vínculos familiares e

comunitários.

A política de assistência social em Belo Horizonte é marcada por inovações. Muitas das

inovações estabelecidas por este campo foram mais tarde implantadas nacionalmente,

através de legislações federais que incluem a PNAS/2004 e o estabelecimento do

próprio SUAS. Vale a pena ressaltar, principalmente, as características inovadoras de

concepção da família como núcleo estruturador da política pública de assistência social

(matricialidade sócio-familiar), da introdução do lúdico e da criança em seu espaço de

definição e defesa de seus direitos, da implementação do BH Cidadania e seus Núcleos

de Apoio às Famílias, concentrando um equipamento básico da assistência social – que

136
mais tarde será transformado nos CRAS de Belo Horizonte, denominados NAF/CRAS –

e da proposta de descentralização das políticas para as regionais.

137
7.2 POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PARA A CRIANÇA

PEQUENA

A implantação da Secretaria Municipal de Assistência Social é um passo importante, no

município de Belo Horizonte, para a concretização da assistência social enquanto

campo de políticas públicas, fundada em direitos do cidadão. Segue-se em direção à

suplantação da idéia, predominante anteriormente, de uma assistência social realizada

de forma caritativa e através de instituições filantrópicas, com a isenção da

responsabilidade do Estado na manutenção dos direitos de um mínimo social aos

cidadãos. A assistência social ganha status de campo de políticas públicas, o que

significa dizer também que é criada a responsabilidade estatal sobre sua oferta.

A prefeitura de Belo Horizonte passou, em sua histórica recente, por uma série de

reformas em sua estrutura. A penúltima grande reforma administrativa, ocorrida em

2001, altera a lógica de divisão das secretarias de políticas públicas. Até então, a gestão

da política de Assistência Social no município era realizada pela Secretaria Municipal

de Desenvolvimento Social – SMDS. A SMDS passa a ser chamada, a partir da

reforma, Secretaria Municipal de Assistência Social. Nesta reforma administrativa, cria-

se também a Secretaria de Coordenação Municipal das Políticas Sociais – SCOMPS –

responsável por articular as secretarias e ações de educação, saúde e assistência social.

A intersetorialidade pretendida para a SCOMPS, no entanto, era de difícil efetivação

prática, uma vez que “Trata-se de uma grande responsabilidade, mas sem contar com a

legitimidade e os meios para efetivar a tarefa árdua de colocar para operar juntos setores

138
consolidados (educação e saúde) com outros menos consolidados (assistência),

pressupondo uma alteração nas rotinas, prioridades e formas de organizações

tradicionais, anteriores à reforma e que insistem em permanecer.”37 Em 2004, a

SCOMPS é alterada e passa a se chamar Secretaria Municipal de Políticas Sociais –

SMPS – e a coordenar as áreas de assistência social, cultura, lazer, esporte e

abastecimento. Este novo desenho traz a assistência social para o lugar de secretaria

adjunta – Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS) – e a SMPS

para o mesmo nível hierárquico das secretarias de Educação e Saúde, o que não ocorria

anteriormente.

Em relação à estrutura institucional da assistência social em Belo Horizonte, cabe

destacar a alteração da lógica de divisão de departamentos das secretarias responsáveis

por este campo de políticas públicas, de 2000 até os dias atuais. Além das várias

reformas administrativas citadas anteriormente, com alteração de nomes e lugares

institucionais das secretarias responsáveis pela assistência social, percebe-se que a

divisão de departamentos e gerências internas às secretarias também se altera.

Obedecendo às novas lógicas de abordagem das políticas públicas de assistência social,

a constituição das secretarias, pouco a pouco, passa de uma divisão por ciclo de vida e

situações definidoras da necessidade da assistência e começa a se organizar a partir do

tipo de ação de assistência social a ser implantado, segundo níveis de complexidade da

política. Desta forma, as gerências da criança e adolescente, idosos, pessoas com

deficiência, etc., são substituídas pelas gerências de proteção social básica, proteção

social de média e alta complexidade, etc. Ainda que a abordagem prática mantenha

37
VEIGA e CARNEIRO, 2005

139
referências às características de ciclo de vida e conjunturais e/ou estruturais, os

departamentos passam a se estruturar de acordo com o tipo de proteção social e de sua

complexidade, traduzindo uma nova concepção de assistência social realizada de forma

integrada.

As secretarias de Assistência Social em Belo Horizonte estiveram historicamente

responsáveis pelo estabelecimento e manutenção de convênios com a rede de creches

que tinham financiamento público parcial. As ações para a criança pequena – zero a seis

anos –, no âmbito da assistência social, limitavam-se, até o ano 2000, à manutenção

desta rede.

Em 2000 inicia-se o planejamento do processo de migração – que tem início efetivo em

2002 – da responsabilidade sobre o convênio de creches da Secretaria de Assistência

Social em direção à Secretaria de Educação38. Uma vez que a criança pequena era

contemplada, em políticas de assistência social, apenas através da oferta de creches às

suas famílias, e que a responsabilidade sobre as creches fora repassada à Secretaria de

Educação, houve um vazio de políticas voltadas para esta faixa etária na secretaria de

assistência social.

O público preferencial da Assistência Social, conforme definição da legislação

pertinente, é definido pelo ciclo de vida – crianças, jovens e idosos – e de acordo com

situações conjunturais e estruturais – pessoas com deficiência, desempregados, etc.

38
Projeto e Objetivo do Programa Criança Pequena

140
Neste sentido a criança pequena é parte da definição de público alvo da Assistência

Social, por enquadrar-se na definição de ciclos de vida mais vulneráveis. Além disto, o

estabelecimento da criança enquanto sujeito de direitos39 coloca-a no centro da

discussão sobre políticas públicas de assistência social.

Uma vez estabelecido que a criança pequena é parte obrigatória do público alvo da

Assistência Social, fez-se necessário que pensar uma maneira diferenciada de inserir os

indivíduos desta faixa etária nas políticas públicas de Assistência Social. Até então as

ações destinadas a esta faixa etária resumiam-se à oferta de creches. Com o início do

processo de negociação da migração das creches para a Educação, tratou-se de pensar

uma forma alternativa de abordagem a este público, que suprisse espaço aberto por esta

migração.

Com o intuito de elaborar e organizar as ações direcionadas a este público, assim como

pensar o formato da intervenção, realizou-se, em 2000, um seminário denominado

“Política Social do Município para Criança Pequena: Formulando Novas Ações”, de

responsabilidade da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, e que tinha como

objetivo principal a discussão das novas frentes de ação para o público de zero a seis

anos de idade. Este seminário surgiu como uma recomendação da III Conferência

Municipal de Assistência Social, realizada em 1999, que ressaltava a importância do

desenvolvimento de ações direcionadas às crianças pequenas do município. De acordo

com o Estatuto da Criança e do Adolescente, faz parte dos direitos desta faixa etária:

39
Este estabelecimento foi dado pela Constituição Federal de 1988 e mais especificamente através do
Estatuto da Criança e do Adolescente, datado de 1990.

141
• A proteção à vida e à saúde;

• O direito à liberdade, ao respeito e à dignidade;

• O direito à convivência familiar e comunitária;

• O direito à educação, à cultura ao esporte e ao lazer.

Faz parte do conjunto de direitos especificamente da criança pequena ainda o direito ao

seu cuidado – o que inclui alimentação, higiene, proteção, sono –, a estimulação de seu

desenvolvimento através de sua capacidade de construção de conhecimento, o espaço

para a vivência própria da infância e a necessidade do acesso aos bens culturais.

A política social no município de Belo Horizonte, quando da implantação da Casa do

Brincar, incorpora alguns princípios e diretrizes, que consideram, principalmente, a

necessidade de ação intersetorial para a efetivação da política, o reconhecimento da

criança como sujeito de direitos, o desenvolvimento de ações preventivas e a promoção

das relações intrafamiliares e comunitárias.

Como resultado do seminário, foi criado o Programa Criança Pequena, com três

serviços e frentes de ação distintas: Orientação às Famílias de crianças de zero a seis

anos, Se essa praça fosse minha e a Casa do Brincar. O programa trazia concepções

inovadoras, principalmente no que diz respeito ao foco na família como unidade de

referência para a política pública e à utilização do lúdico como forma de fortalecimento

e estabelecimento de vínculos familiares e comunitários.

142
Na formulação do Programa Criança Pequena, é possível notar um fortalecimento da

família como unidade de referência para as políticas públicas de assistência social. A

matricialidade sócio-familiar, que será posteriormente postulada na PNAS/2004, como

referência às atividades de assistência, já tem aqui caráter de destaque e a formulação do

serviço Casa do Brincar obedece à lógica de fortalecimento do grupo familiar. Neste

sentido defendia-se, já em 2002, que ”Em Belo Horizonte, a política municipal para a

criança pequena está baseada nesta perspectiva. A família deve contar com o apoio e a

proteção de uma rede de serviços sociais.”40 A diretriz fundamental da criação do

Programa Criança Pequena era, no momento de sua implantação, a inserção da criança e

de sua família na sociedade. A Casa do Brincar, obedecendo esta diretriz, surge como

uma tentativa de promoção da qualidade das relações entre as crianças e entre estas e

suas famílias. Sendo assim, a SMDS, a Pastoral de Negros e a Pastoral da Criança

definem a implantação dessas Casas, que “são um equipamento da assistência social, de

nível local, para o atendimento às crianças pequenas e suas famílias, com o objetivo de

contribuir para o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, através do

resgate do brincar, da cultura local, da convivência e das relações intrafamiliares.”41

40
Projeto e Objetivo das Casas do Brincar
41
Idem

143
PARTE 2 – ESTUDO DE CASO

CAPÍTULO VIII – CARACTERIZAÇÃO DO SERVIÇO

8.1 CASA DO BRINCAR – CARACTERIZAÇÃO INSTITUCIONAL

A Casa do Brincar é considerada um serviço conforme a definição dada pela

PNAS/2004 E LOAS, segundo a qual os serviços são atividades que têm por objetivo a

melhoria da qualidade de vida da população e cujas ações estejam voltadas para suas

necessidades básicas. Ela é uma política pública integrante do Programa Criança

Pequena, criado pela Prefeitura de Belo Horizonte no ano de 2000. O Programa Criança

Pequena é composto por mais dois serviços, além do serviço Casa do Brincar: a

“Orientação Familiar”, voltada às famílias de crianças de zero a seis anos, e o “Se essa

praça fosse minha”, que possui o objetivo de preparar espaços ao ar livre, em local

aberto permanentemente à comunidade, com brinquedos para a utilização, por parte da

criança pequena – zero a seis anos de idade42.

A estrutura institucional atual, na qual se localiza a Casa do Brincar, se organiza da

seguinte forma: as Casas do Brincar são integrantes do Programa Criança Pequena,

coordenado pela Gerência de Proteção Social Básica, montada sob os novos moldes do

SUAS e que tem por objetivo desenvolver ações preventivas e de fortalecimento de

vínculos familiares e sociais. A Gerência de Proteção Social Básica vincula-se à

42
Criança Pequena – Publicação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – Novembro de 2002.

144
Gerência de Proteção Social, que está subordinada à atual Secretaria Municipal Adjunta

de Assistência Social – SMAAS. A SMAAS é uma secretaria adjunta da Secretaria

Municipal de Políticas Sociais, que abarca também as áreas de cultura, esporte, lazer e

abastecimento, e tem a função de promoção da intersetorialidade de todas estas áreas.

A definição do formato das políticas para criança pequena que seriam realizadas no

município se deu a partir das discussões implantadas durante o seminário “Política

Social do Município para Criança Pequena: Formulando Novas Ações”, que ocorreu em

2000, quando tinha início também o processo de discussão da migração das creches

para a Secretaria de Educação. O debate a respeito das concepções que serviram de base

à construção da política para a criança pequena foi feito de forma participativa, através

da realização de seminário, com a participação da sociedade civil e dos conselhos

ligados à área de assistência social – educação, saúde, pessoas com deficiência,

assistência social propriamente dita, etc.

A implantação do projeto piloto das Casas do Brincar é anterior ao surgimento do BH

Cidadania e dos NAFs e ocorre no ano de 2001. Com a implantação do BH Cidadania e

NAFs em 2002, as Casas do Brincar que se encontravam em seus territórios foram

absorvidas como serviço de retaguarda dos Núcleos de Apoio à Família. A partir da

nova definição da PNAS/2004 e NOB/SUAS de 2005, os Núcleos de Apoio à Família

tornam-se Núcleos de Apoio à Família / Centro de Referência da Assistência Social

(NAF/CRAS), e a Casa do Brincar se torna um serviço da Proteção Social Básica

ofertada pelos NAF/CRAS.

145
8.2 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – ATORES RELEVANTES

De acordo com o quadro institucional estabelecido, podemos perceber que os atores da

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte com maior relevância para a compreensão da

dinâmica de implantação e execução do Serviço Casa do Brincar, são:

• Gerente da Proteção Social Básica

• Gerente da Proteção Social

• Secretária Municipal Adjunta de Assistência Social

Além dos cargos previstos acima cabe ressaltar também os cargos de supervisores,

dentro da estrutura institucional da Prefeitura de Belo Horizonte. As supervisoras do

serviço são responsáveis pela intermediação entre a Prefeitura e a entidade executora.

Sua supervisão é realizada através de um acompanhamento do plano de trabalho

estabelecido entre as partes. Além disto, as supervisoras acumulam também a tarefa de

supervisão in loco da execução da política pública.

A estrutura de atores da entidade executora pode ser assim definida:

• Um responsável pela coordenação geral do serviço.

• Um responsável pelas funções administrativas

• Dois responsáveis por auxiliar a supervisão in loco da Casa do Brincar

• Um conjunto de vinte e um brincantes, responsáveis pela execução rotineira do

serviço.

146
8.3 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – OBJETIVOS

O Serviço Casa do Brincar atua na esfera preventiva, da atual Proteção Social Básica,

segundo o modelo do Sistema Único de Assistência Social, e é responsável pelo resgate

e ampliação das dimensões lúdicas, sociais e culturais do brincar.

Segundo o documento de Proposta e Objetivo das Casas do Brincar, o objetivo geral

desta política pública é o de “Oferecer às crianças, na faixa etária de 0 a 6 anos,

oportunidades variadas de brincar, e ao mesmo tempo trabalhar com as suas famílias a

importância desse brincar para o seu desenvolvimento, além de pontuar, a necessidade

do “estar junto”, construindo laços e fortalecendo os vínculos familiares e

comunitário.”43

A idéia que rege o serviço é a do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

Há a presença de um membro da família da criança usuária do serviço – obrigatória para

crianças de 0 a 3 anos e preferencial para as de 4 a 6 anos44 –, que a acompanha durante

seu tempo de permanência na Casa. Este acompanhamento serve, ao mesmo tempo,

como resgate do espaço do lúdico e da interação entre crianças e adultos no cotidiano

das famílias, pretendendo agir também como um fortalecimento dos vínculos de seus

membros.

43
Proposta e Objetivo das Casas do Brincar
44
Idem

147
8.4 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – REGRAS –

PLANEJAMENTO INICIAL

O desenho inicial da Casa do Brincar contemplava as seguintes características para a

política45:

• Público alvo de crianças de zero a seis anos;

• Crianças até três anos de idade obrigatoriamente acompanhadas no serviço, e de três a

seis anos preferencialmente acompanhadas;

• Definição de um espaço físico que seja: a) suficientemente amplo para abrigar o

acervo e as brincadeiras realizadas; b) suficientemente próximo à população de alta

vulnerabilidade, para que seja respeitada a definição de entorno como distância que se

pode percorrer a pé para chegar ao serviço; c) com instalações de banheiro e bebedouro

para as crianças; d) suficientemente seguro para a permanência dos usuários do serviço.;

• Permanência dos usuários do serviço por uma hora por dia, de duas a três vezes na

semana;

• Um monitor/brincante por Casa do Brincar, responsável pela manutenção da Casa e

do acervo, pela proposição de atividades para as crianças, monitoramento de suas

brincadeiras e pelo cadastramento dos novos usuários.

45
Projeto e Objetivo das Casas do Brincar

148
• Entorno previsto é definido como a distância que a família / o usuário do serviço

poderia realizar a pé.46

Segundo o entendimento da formulação do serviço, definiu-se que “Nas Casas do

Brincar, as crianças e seus familiares brincam, duas a três vezes por semana,

acompanhados por um brincante.”47 Cada criança poderia permanecer por uma hora, a

cada dia, na Casa do Brincar. A delimitação de uma hora por dia obedecia ao

entendimento de que este tempo é “suficiente e resguarda um brincar saudável. Além de

ser o período apontado como possível, para que os acompanhantes permaneçam no

espaço.”48

46
Projeto e Objetivo das Casas do Brincar
47
Criança Pequena – Publicação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – Novembro de 2002.
48
Projeto e Objetivo das Casas do Brincar

149
8.5 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – PLANEJANDO A

IMPLANTAÇÃO

O planejamento inicial de implantação das Casas do Brincar previa que esta fosse

realizada em espaços comunitários ou equipamentos, próprios ou alugados, da

Prefeitura de Belo Horizonte.

Os requisitos planejados para a escolha do local foram os seguintes:

• Ser de fácil acesso e localização

• Ser suficientemente seguro

• Ser iluminado e arejado

• Ter banheiro conjugado e ligação hidráulica para instalação de bebedouros.

• Ter dimensões do espaço amplas o suficiente para suportar guardar o acervo das

Casas do Brincar e possibilitar, ao mesmo tempo, a ocorrência das brincadeiras,

definido. O tamanho mínimo definido para o espaço foi de 45m²49.

49
Projeto e Objetivo das Casas do Brincar

150
8.6 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – METAS PLANEJADAS

As metas iniciais do serviço incluíam o atendimento a doze crianças por hora, em

média, em espaço mínimo de 45 metros quadrados para o local de implantação. Havia

uma previsão de atendimento de aproximadamente 240 crianças por mês.

151
8.7 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – EXECUÇÃO

A Casa do Brincar é uma política de execução indireta, o que significa que existe uma

entidade responsável pela execução rotineira do serviço. Esta entidade permaneceu a

mesma, desde a implantação do serviço. A Providência Nossa Senhora da Conceição é

uma Organização Não Governamental, com titulação de Entidade Filantrópica. Sua

relação com a Prefeitura de Belo Horizonte é regida pela Lei Municipal de Parcerias, de

1997, e por um convênio, firmado entre as partes, válido por dois anos, e que pode ser

reconduzido por quantidade indeterminada de vezes.

A entidade executora do serviço, para candidatar-se ao convênio, deve estar habilitada

juridicamente, o que inclui estar em dia com todos os impostos e com certidão negativa

de débito junto ao INSS. A perda de habilitação conduz à cessação imediata de repasse

de recursos. Há uma prestação de contas mensal e problemas verificados nesta prestação

podem levar ao não repasse dos recursos previstos. De acordo com o entendimento da

lei de parcerias estabelecida no município em 1997, governo e sociedade civil se

comprometem como partes responsáveis na execução de políticas públicas de

assistência social. Desta maneira, a entidade executora é responsável pelo

financiamento parcial da política.

A entidade executora é responsável pela contratação dos recursos humanos necessários

à execução rotineira da política, sejam eles administrativos ou monitores das Casas do

Brincar. Ela é responsável por produzir relatórios de monitoramento do serviço, para o

acompanhamento por parte da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social.

152
Além disto, é responsabilidade da entidade executora o monitoramento do pessoal

contratado para a execução do serviço. Os problemas encontrados rotineiramente pelos

monitores/brincantes – responsáveis diretos pela Casa do Brincar na localidade – são

relatados às auxiliares de coordenação que fazem parte do corpo técnico da ONG

responsável. A rotina da política, os obstáculos encontrados nesta rotina assim como as

soluções imediatas a estes obstáculos são coordenados pela entidade executora.

A participação da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social na rotina da

política se dá principalmente através do papel das supervisoras do serviço. Atualmente

existem duas supervisoras, responsáveis por acompanhar as dezesseis Casas do Brincar

existentes.

153
8.8 CARACTERÍSTICAS DA CASA DO BRINCAR – IMPLANTAÇÃO

REALIZADA

As primeiras Casas do Brincar implementadas foram as Casas do Brincar do Abrigo

Granja de Freitas e do Abrigo Pompéia, a Casa do Brincar do Bairro Mantiqueira, do

Castanheiras e da Vila Fazendinha. Das cinco primeiras Casas, apenas a Casa do

Brincar do Castanheiras foi fechada. Além das quatro Casas que permaneceram, outras

doze foram implantadas, e têm atualmente a seguinte distribuição por regional

administrativa de Belo Horizonte:

QUADRO 1. Data de abertura das Casas do Brincar por regional

Regional Casa do Brincar Data


Casa de Brincar do Bairro Setembro/2003
Barreiro Independência
Casa de Brincar do Petrópolis Maio/2007

Centro Sul Casa do Brincar Vila Santa Rita de Agosto/2003


Cássia
Casa de Brincar do Cruzeirinho Março/2003
Casa de Brincar do Abrigo Pompéia e Março/2001
Vila São Rafael
Leste Casa de Brincar do Abrigo Granja de Janeiro/2001
Freitas
Casa de Brincar da Vila Fazendinha Julho/2001
Nordeste Casa de Brincar da Vila Arthur de Sá Maio/2003

Casa do Brincar Paulo VI Maio/2006


Casa De Brincar da Vila Senhor dos Agosto/2002
Passos
Noroeste
Casa do Brincar Pedreira Prado Lopes Junho/2006

Norte Casa de Brincar do Conjunto Felicidade Junho/2002

Oeste Casa de Brincar da Vila São José II- Setembro/2002


Cascalho
Pampulha Casa de Brincar da Vila Santa Rosa e Outubro/2002
Vila Real II

Casa de Brincar da Vila Apolônia Julho/2003


Venda Nova
Casa de Brincar do Mantiqueira Dezembro/2001
Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

154
O horário de funcionamento das Casas do Brincar é extremamente variável. Segue

abaixo a tabela de horário das Casas do Brincar:

QUADRO 2. Horário e endereço das Casas do Brincar

Casa de Brincar do Rua 281, Nº. 310 4ªs, 5ªs e 6ªs de 13h às 17h
Bairro Independência Bairro Independência
Barreiro

Casa de Brincar do Rua 281, Nº. 491– Bairro 2ªs, 3ªs e 5ªs de 8h às 12h e
Petrópolis Petrópolis de 2ª a 6ª de 13 às 17h

Casa do Brincar Vila Rua São Tomáz de 2ª, 3 ª e 5ª de 13h às 17h


Centro

Santa Rita de Cássia Aquino, 486 -– Vila Santa 4ª e 6ª de 9h às 13h


Sul

Rita de Cássia sábados de 9h às 13h

Casa de Brincar do Rua Fernão Dias, 1131 – 2ªs a 6ªs de 8h às 12 e


Cruzeirinho Alto Vera Cruz sábados de 9h às 13h
Casa de Brincar do Rua Coronel Otávio Diniz, 2ª a 6ª de 9h às 13h
Abrigo Pompéia e 29 Pompéia
Vila São Rafael
Leste

Casa de Brincar do Rua Diniz Dias, 145 2ªs a 6ªs de 13h às 17h
Abrigo Granja de Alto Vera Cruz
Freitas
Casa de Brincar da Rua Americano, 07 - Vila 2ª a 6ª de 13h às 17h e
Vila Fazendinha Fazendinha - Santa sábados de 9h às 13h
Efigênia
Casa de Brincar da Rua Melo Franco, 189 - 2ªs, 4ªs, 5ªs e sábados de 8h às
Vila Arthur de Sá Bairro União 12h e
Nordeste

3ªs e 6ªs de 13 às 17h

Casa do Brincar Rua Dois, Nº. 2 2ª à sábado de 8h às 12h


Paulo VI Conjunto Paulo VI 2ª à sábado de 13h às 17h
Casa De Brincar da Rua Sargento João 2ªs a 6ªs de 8h às 12h e
Vila Senhor dos Bernardo, 25 – Vila Senhor sábado de 9h às 13h
Noroeste

Passos dos Passos

Casa do Brincar Av. José Bonifácio, Nº. 2ªs, 4ªs e 6ªs de 13h às 17h e
Pedreira Prado Lopes 189 3ªs, 5ªs e sábados de 9h às 13h
São Cristóvão
Casa de Brincar do Rua Sessenta, 27 - 2ª à sábado de 8h às 12h e
Norte

Conjunto Felicidade Conjunto Felicidade 2ªs à 6ªs de 13h às 17h

Casa de Brincar da Av. Silva Lobo, 2379 2ªs, 4ªs e 6ªs de 13h às 17h e
Vila São José II- 3ªs, 5ªs e sábados de 8h às 12h
Oeste

Cascalho

Casa de Brincar da Rua Viana do Castelo, S/N 2ªs, 3ªs, 4ªs, 6ªs e sábados de 8h
Pampulha

Vila Santa Rosa e Vila Santa Rosa às 12h


Vila Real II 5ªs de 13h às 17h

Casa de Brincar da Rua Humberto de Campos, 2ªs, 4ªs e 6ªs de 13h às 17h
Vila Apolônia 60 Jardim Leblon 3ªs, 5ªs e sábados de 8h às 12h
Venda Nova

Casa de Brincar do Rua José Felix Martins, 2ª a 6ª de 14h às 18h


Mantiqueira 1055 sábados de13h às 17h
Mantiqueira
Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

155
Ao todo doze Casas do Brincar têm funcionamento aos sábados e quatro funcionam

apenas de segunda a sexta feira. Nenhuma delas tem funcionamento no domingo.

O funcionamento nos dias de sábado é predominantemente no período matutino, com

dez das doze Casas com funcionamento no sábado tendo horário matutino. Uma das

Casas do Brincar permanece aberta aos sábados durante a manhã e a tarde e uma delas

tem funcionamento apenas à tarde.

No que se refere ao funcionamento durante os dias da semana, as Casas do Brincar se

distribuem da seguinte forma:

• Quatro Casas funcionam exclusivamente no turno da tarde

• Três Casas funcionam exclusivamente no turno da manhã

• Nove Casas funcionam nos turnos da manhã e da tarde. Dentre estas apenas duas

funcionam em todos os dias da semana nos dois turnos. As outras sete variam o horário

de funcionamento do serviço de acordo com o dia da semana.

As Casas do Brincar foram implantadas em locais bastante variados, com estrutura

também variada, de acordo com a disponibilidade de cada entorno. As visitas surpresa

realizadas pela equipe de Avaliação do Serviço Casa do Brincar, coordenada pelo

Departamento de Ciência Política (DCP) da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG), na pessoa da professora Helcimara de Souza Telles, fizeram um levantamento

156
das condições de conservação das Casas do Brincar a partir das observações

etnográficas produzidas nesta etapa da pesquisa.

A avaliação dos locais de implantação das Casas do Brincar foi parcialmente realizada

através da atribuição de uma nota para o estado de conservação da entrada do lote e da

Casa do Brincar. A nota atribuída obedeceu a seguinte escala: ótimo, bom, regular,

ruim, péssimo.

O estado geral de conservação da entrada do lote foi considerado ótimo ou bom em sete

das dezesseis Casas do Brincar visitadas. Outras sete Casas tiveram o estado de

conservação da entrada de seu lote considerado como regular ou ruim. Duas Casas do

Brincar não possuíam diferenciação entre a entrada da Casa e a entrada do lote e

portanto não poderiam ser avaliadas em relação a este quesito. Estas Casas do Brincar

estão contempladas na categoria “Não se aplica” da tabela abaixo.

TABELA 1. Estado geral de conservação da entrada do lote

Estado de conservação Freqüência % % Válido % Acumulado


Ótimo 5 31,25 40,0 40,0
Bom 2 12,5 13,3 53,3
Regular 4 25,0 26,7 80,0
Ruim 3 18,8 20,0 100,0
Total 14 87,5 100,0
Não se aplica 2 12,5
Total 16 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

O estado geral de conservação da entrada da Casa do Brincar foi melhor avaliado, em

relação à avaliação do estado de conservação da entrada do lote onde as mesmas estão

situadas. Em nove das dezesseis Casas do Brincar o estado de conservação da entrada

157
da Casa foi considerado ótimo ou bom. Em sete casos este estado foi considerado

regular ou ruim, com a ressalva de que apenas uma Casa do Brincar teve o estado de

conservação de sua entrada considerado ruim.

TABELA 2. Estado geral de conservação da entrada da Casa

Estado de conservação Freqüência % % Válido % Acumulado


Ótimo 4 25,0 25,0 25,0
Bom 5 31,3 31,3 56,3
Regular 6 37,5 37,5 93,8
Ruim 1 6,3 6,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

No que se refere à estrutura interna das Casas do Brincar, destaca-se também seu caráter

variável. As Casas do Brincar foram identificadas no que concerne ao seu tamanho –

medido em número de crianças e acompanhantes que a Casa comporta receber

concomitantemente – e ao número de salas que compõem o imóvel que a sedia.

Em relação ao número de salas do imóvel da Casa do Brincar, nota-se que a grande

maioria dos imóveis é composto por apenas uma sala – onze dos dezesseis casos. Em

cinco Casas do Brincar temos um imóvel composto por duas salas.

TABELA 3. Número de salas das Casas do Brincar

Número de salas Freqüência % % Válido % Acumulado


1 11 68,8 68,8 68,8
2 5 31,3 31,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

158
O tamanho das Casas do Brincar foi definido de acordo com a capacidade de

atendimento simultâneo de crianças e seus acompanhantes no espaço físico do serviço

em cada localidade. Optou-se por esta forma de mensuração uma vez que era

impossível, na condição de observador, não identificado como pesquisador, realizar a

mensuração métrica do espaço.

Foram criadas categorias para agrupar os tamanhos encontrados: até quatro crianças, de

cinco a oito crianças, de nove a doze crianças e mais que doze crianças. Vale ressaltar

que a definição do tamanho das Casas através do número de atendimentos simultâneos

realizados pressupõe a existência da figura do acompanhante. Portanto as Casas

definidas, por exemplo, na categoria até quatro crianças são capazes de suportar,

confortavelmente, até oitos indivíduos, acompanhados do monitor/brincante.

Em relação ao tamanho as Casas do Brincar, nota-se que boa parte das Casa do Brincar

têm capacidade de atendimento para até oito crianças, somando sete dos dezesseis

casos. As Casas do Brincar com atendimento máximo de doze crianças

simultaneamente somam dez dos dezesseis casos. Em seis Casas do Brincar percebeu-se

a possibilidade de atendimento de mais que doze crianças ao mesmo tempo.

TABELA 4. Capacidade aproximada de atendimento da Casa, de acordo com o seu tamanho

Capacidade Freqüência % % Válido % Acumulado


Até 4 crianças 2 12,5 12,5 12,5
De 5 a 8 crianças 5 31,3 31,3 43,8
De 9 a 12 crianças 3 18,8 18,8 62,5
Mais de 12 crianças 6 37,5 37,5 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

159
CAPÍTULO IX – CASA DO BRINCAR – AVALIAÇÃO DO SERVIÇO

9.1 AVALIAÇÃO DO SERVIÇO CASA DO BRINCAR

A avaliação que se propõe realizar no presente estudo é de caráter predominantemente

institucional. Pretende-se compreender a maneira como, dentro da estrutura do Estado,

foi pensada e está atualmente organizada a política pública em questão. Interessa saber,

também, a forma de sua execução a partir desta organização.

Os aspectos da avaliação do serviço Casa do Brincar que será empreendida foram

divididos segundo a seguinte lógica:

• Ambiente institucional no qual se insere a política

• Atores envolvidos em sua formulação e execução

• Processo de formulação e implantação

No que se refere ao processo de formulação, serão destacados os aspectos de definição

das seguintes características do serviço:

• Objetivos do serviço

160
• Regras do serviço

• Público alvo

• Entorno

A implantação será discutida principalmente no que se refere aos locais de

funcionamento das Casas do Brincar. Em um segundo momento, será avaliado o

funcionamento rotineiro da política. Este funcionamento será avaliado na seção “Prática

do Serviço”. Será dada atenção às características de faixa etária dos usuários do serviço,

dos acompanhantes dos usuários e das condições de trabalho dos brincantes.

A focalização do serviço será tratada em um tópico específico. Por fim, será

contemplada uma pequena análise a respeito das metas propostas pelo planejamento

inicial do serviço.

Vale a pena ressaltar que o caráter participativo da política não será analisado na

presente pesquisa. A formulação de grande parte das políticas públicas atualmente se dá

através de instâncias de participação da sociedade, como os Conselhos e Conferências,

que marcam a história da Assistência Social em Belo Horizonte. Fica evidente a

importância da análise do efeito da participação nos rumos das políticas públicas, e os

formatos que estas recebem a partir da interação entre governo e sociedade. No entanto,

a falta de tempo e de instrumentos adequados fez com que não fosse possível realizar

161
esta avaliação. Fica, portanto, a ressalva de que um aspecto relevante da formulação e

implementação de políticas públicas não será contemplado no presente estudo.

162
9.2 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – AMBIENTE INSTITUCIONAL

Como primeira característica do ambiente institucional no qual se localiza a Casa do

Brincar, ressalta-se que a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte é ocupada, desde o

ano de 1992, por prefeitos do Partidos dos Trabalhadores (PT). Esta continuidade

petista na prefeitura possibilitou também a continuidade de algumas linhas de trabalho

implementadas em uma cronologia que abarca mais de um mandato político da

prefeitura. Esta é uma característica relevante que atua no sentido de permitir a

continuidade dos serviços propostos pela prefeitura, assim como seu aperfeiçoamento

no tempo.

Ao contrário da característica de permanência – partidária – verificada no cargo de

prefeito do município de Belo Horizonte, a história do órgão especificamente

responsável pela assistência social no município se define por profundas e constantes

mudanças em sua organização e localização institucional. Estas mudanças constantes

dificultam o estabelecimento de referências claras para a localização do campo de

assistência social dentro da estrutura política da prefeitura.

Ao analisarmos a história e o processo de alteração das políticas públicas voltadas

especificamente para a criança pequena – de zero a seis anos – percebemos a existência

de aspectos conjunturais e políticos em sua formulação. A formulação do Programa

Criança Pequena foi estimulada a partir do processo político que ocorria na época –

migração das creches para a Secretaria de Educação. Ao mesmo tempo, havia uma

situação institucional e conjuntural favorável à organização de uma nova frente de

163
trabalho para a assistência social, em relação à criança pequena, com a mobilização dos

conselhos de assistência social e de setores da sociedade civil. A III Conferência

Municipal de Assistência Social, de 1999, já apontava, em suas conclusões, para a

necessidade da criação de novas frentes de ação que contemplassem a faixa etária da

criança pequena. A junção dos estímulos conjunturais e políticos tornou possível a

efetivação da elaboração de uma nova política para a criança pequena no município de

Belo Horizonte.

164
9.3 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – ATORES RELEVANTES

No que se refere aos atores diretamente ligados à execução do serviço Casa do Brincar e

que estão localizados na estrutura da Prefeitura de Belo Horizonte, percebe-se que todos

eles têm como característica serem funcionários públicos concursados. São eles os

gerentes de proteção social, proteção social básica e a supervisão do serviço.

Há uma grande complexidade no que se refere à articulação entre os diversos tipos de

atores em uma instituição pública. O fato de que os atores responsáveis pela Casa do

Brincar na estrutura da Prefeitura de Belo Horizonte sejam apenas de um tipo – atores

técnicos concursados – e da coordenação do serviço ter sido sempre realizada por este

tipo de ator possibilita que haja maior continuidade no formato da implementação da

política. Esta é uma característica extremamente positiva do Programa Criança Pequena.

As informações a respeito dos atores da entidade executora do serviço foram

escassamente coletadas. Por este motivo não será empreendida uma análise de suas

características, sob o risco de cometer impropriedade em relação às informações

necessárias.

165
9.4 FORMULAÇÃO DO SERVIÇO CASA DO BRINCAR

9.4.1 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – FORMULAÇÃO: OBJETIVOS DO

SERVIÇO

A política pública municipal Casa do Brincar utiliza o lúdico como veículo para o

estabelecimento e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. No entanto, o

papel da brincadeira e do lúdico é visto de maneira diferenciada pelos técnicos

responsáveis pela execução da política.

Há a ênfase em duas concepções distintas de objetivos principais da política e da forma

de alcançá-los. Em um dos casos, há a ênfase no papel central da criança para a política.

A concepção é de que um dos objetivos principais da política Casa do Brincar é o

estabelecimento e fortalecimento da noção da centralidade do papel da criança dentro da

família. A intenção é de uma reestrutura da concepção do papel da criança, realizada por

parte dos integrantes das famílias.

“A partir dessa experiência, das discussões que foram feitas no

município veio a idéia de você fazer uma intervenção, de que o

papel da assistência seria continuar fazendo uma intervenção com

as crianças, mas com um foco voltado no lúdico, trazer a criança

para a cena do debate, através do lúdico e do brincar, pra que você

pudesse estar fazendo essa intervenção com as crianças. (...) Ah, só

pra acrescentar, também na época foi feito um diagnóstico e

166
identificado casos de violação de direitos em relação a essas

crianças, então muito da idéia de trabalhar através do lúdico era um

pouco também pra tentar fortalecer o papel da criança dentro dessa

família, da importância da família no cuidado dessa criança, então

foi um pouco em cima disso que o brincar surgiu no âmbito da

política.”50

Em outra entrevista, percebe-se que o papel da Casa do Brincar está mais fortemente

ligado ao fortalecimento dos vínculos familiares, através do estabelecimento de um

período para o contato e a brincadeira entre pais e filhos. Enfatiza-se a necessidade de

que a política vá para além do espaço para a brincadeira, e atue na criação e

fortalecimento dos vínculos, principalmente familiares, sem, no entanto estabelecer uma

discussão da alteração do papel da criança dentro da família.

“E aí você falar do brincar na assistência social era algo de muito

novo. Então assim, o que que, qual que é a lógica, vamos dizer

assim, conceitualmente a Casa do Brincar ela diz, no resgate da

cultura brincante, entre essa população, e o trabalho... O brincar,

ele não poder, porque não é esse o objetivo do serviço, ele não

pode finalizar no brincar. Ele precisa de algo mais. A Casa do

Brincar ela tenta, pelo menos ela tenta garantir isso. Trabalhar o

brincar, mas na perspectiva da família. Daquela família e não só o

50
Entrevista realizada em 19.06.2008

167
brincar pelo brincar. Porque se você entra, se a criança entra na

Casa do Brincar e tem uma oficina de construção de brinquedos, e

construiu o brinquedo e pronto e acabou, tá ela teve o momento já

importante, é muito importante. Porém o objetivo hoje nosso ele

vai pra além. Ele vai pra onde? Porque quando eu falo de vínculo

né, não é algo abstrato, mas assim, é trabalhar com a família da

criança pequena possibilidades pra essa criança ser mais feliz na

adolescência (...)”51

A nebulosidade na definição de resultados pretendidos a partir da política podem se

constituir como dificultadores para a implementação e eficácia da mesma. A clareza em

relação às características fundamentais da política – objetivo, público alvo, focalização,

regras básicas de utilização, para o caso de serviços – é necessária para fazer com que

os esforços dos técnicos da prefeitura tenham o mesmo direcionamento.

51
Entrevista realizada em 17.06.2008

168
9.4.2 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – FORMULAÇÃO: REGRAS DO

SERVIÇO

As regras básicas de utilização do serviço Casa do Brincar dizem respeito à freqüência

ao serviço por uma hora por dia, de duas a três vezes por semana e ao acompanhamento

do usuário – obrigatório para crianças de zero a três anos e preferencial para as de

quatro a seis anos.

A permanência dos usuários por apenas uma hora, durante três vezes por semana,

durante dias de trabalho, se mostrou um ponto polêmico da implantação do serviço.

Considerando as condições de vulnerabilidade das famílias dos usuários, pode ocorrer

uma dificuldade na disponibilidade de tempo do acompanhante para efetivamente

acompanhar o usuário do serviço. Os horários de funcionamento das Casas do Brincar

concentram-se em dias de semana, durante o horário comercial, dificultando o

acompanhamento por parte de responsáveis que trabalhem fora. O funcionamento

exclusivo em apenas um dos turnos – que ocorre em sete das dezesseis Casas – pode

também ser um dificultador para a organização de horários do acompanhante da criança.

Por outro lado, o usuário desacompanhado, embora possa usufruir dos benefícios que a

brincadeira traz para o seu desenvolvimento psíquico e social, terá o objetivo de criação

de vínculos familiares prejudicados. Os vínculos familiares seriam em tese reforçados a

partir da criação de um espaço e do tempo destinados à brincadeira entre indivíduos da

família. O não comparecimento do acompanhante impede a dinâmica de criação destes

momentos de convivência intra-familiar.

169
9.4.3 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – FORMULAÇÃO: PÚBLICO-ALVO

O público alvo do serviço Casa do Brincar é definido de várias formas, em documentos

e entrevistas diferentes. A característica básica do público, presente em todos os

documentos e entrevistas é aquela que define a faixa etária de referência dos usuários –

crianças de zero a seis anos. No entanto, a definição de quais crianças, nesta faixa etária,

serão contempladas no município é alvo de debate.

Segundo o Projeto e Objetivo das Casas do Brincar, o serviço atenderia a uma demanda

espontânea da comunidade e à demanda referenciada pelos Núcleos de Apoio às

Famílias, pela rede de serviços de saúde, educação, e por pastorais da igreja católica.

Haveria uma preferência por:

• Crianças que não têm em casa brinquedos, espaço ou companhia para brincar;

• Crianças em situação de risco iminente, seja convivendo com drogaditos, inclusive

alcoólatras, ou que apresentem desnutrição ou problemas no seu desenvolvimento

global, bem como depressão, ou hiperatividade;

• Crianças com deficiência;

• Crianças com medida de proteção aplicada ( encaminhadas pelo SOSF – Serviço de

Orientação Sócio Familiar)

A definição da demanda como espontânea aponta para a dificuldade de uma definição

mais apurada da população alvo. Uma das entrevistas realizadas ilustra o debate de

170
focalização empreendido no campo da assistência social e traz à tona a dificuldade para

o planejamento da implementação das ações deste campo de políticas públicas.

“(...) eu acho que a Casa do Brincar, na minha concepção eu acho que

deveria ser universal de fato, porque traz a criança pra cena da política

pública, é uma proposta de intervenção através da linguagem da

criança de fato, então eu acho que ela proporciona que o adulto comece

a refletir um pouco da criança enquanto sujeito mesmo, que ela fala, se

expressa. Mas ela não é. Não é até porque o recurso que vem, que

vinha até então, porque esse ano mudou, vinha carimbado pelo

ministério, atende x crianças, então você tem que atender, e aí tem uma

diretriz de governo que você tem que atender só em áreas vulneráveis

(...) e é a incoerência que a gente vive hoje, você tem uma proteção

social básica que é preventiva e que deveria ser então daquele que

precisar mesmo, é pra qualquer um que chegar, e aí nesse caso da

criança eu acho que independe de recorte de renda, mas você na prática

não tem isso. O tempo inteiro você fica focalizando o público.”52

O fato de que o debate a respeito da focalização das políticas públicas de assistência

social esteja em aberto é extremamente relevante para as tentativas de definição mais

precisas do público alvo destas políticas. Os esforços empreendidos neste campo de

políticas públicas aparecem, por vezes, dissipados, diante de uma dificuldade de

definição de um direcionamento preciso da política.

52
Entrevista realizada em 19.06.2008

171
9.4.4 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – FORMULAÇÃO: ENTORNO

Assim como ocorre com a definição da população alvo, a definição do entorno das

Casas do Brincar é também nebulosa.

O projeto inicial das Casas do Brincar definia como território de atendimento a distância

que se poderia percorrer a pé para ir até o serviço e utilizá-lo. Este entorno se modifica

com a inauguração do BH Cidadania – passando a ser definido pelo território de

abrangência do NAF – e posteriormente passa por uma nova mudança, com a inserção

do SUAS e dos NAF/CRAS – quando passa a se definir pelo território dos NAF/CRAS

e da Proteção Social Básica.

Os NAF/CRAS, quando da sua implantação, trazem consigo um equipamento básico de

proteção social. Dentro dos serviços oferecidos para a Proteção Social Básica, inclui-se

o serviço Casa do Brincar. Portanto, as Casas do Brincar que estão situadas dentro ou

nas proximidades dos territórios dos NAF/CRAS foram aderidas ao seu equipamento.

No entanto, nem todas as Casas do Brincar estão situadas nestes territórios. As Casas do

Brincar do Bairro Mantiqueira – Regional Venda Nova – e da Vila Fazendinha –

Regional Leste – não estão situadas em territórios NAF/CRAS. Por outro lado, não

houve uma redefinição da noção de território para estes casos, para que a delimitação da

área a ser abrangida pela execução do serviço em locais não referenciados pelos

NAF/CRAS se tornasse mais clara.

172
9.5 IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO CASA DO BRINCAR

9.5.1 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – IMPLANTAÇÃO: LOCAIS DE

FUNCIONAMENTO

As condições de implantação da Casa do Brincar trouxeram algumas restrições à

manutenção do planejamento inicial. Em relação ao espaço físico de funcionamento do

serviço, se a princípio, se pensava na obrigatoriedade de um tamanho mínimo de 45

metros quadrados para o local de instalação, a realidade dos contextos e entornos onde

Casas foram instaladas fez com que esta regra tivesse que ser flexibilizada, uma vez que

havia escassez de imóveis com as características pretendidas.

Além do tamanho do local, era importante considerar também a facilidade de acesso da

população ao imóvel, para possibilitar a efetiva participação da população no serviço. A

disponibilidade reduzida ou inexistente de imóveis com as características previstas pela

proposta da política fez com que algumas Casas do Brincar terminassem por ser

instaladas em locais de tamanho menor do que o mínimo previsto em seu projeto inicial.

As Casas do Brincar tinham sua implantação prevista em locais amplos, arejados, com

banheiros, instalação para bebedouros, de fácil acesso e que fossem seguros. As Casas

poderiam ser implantadas em ambientes comunitários ou espaços da prefeitura –

cedidos ou alugados. Os locais disponíveis, no entanto, raramente condiziam com as

expectativas, quando da formulação do projeto. As Casas do Brincar foram por isso

implantadas em locais de características bastante variadas, no que se refere ao seu

173
tamanho, à proximidade da população de alta vulnerabilidade social e às instalações de

banheiro e hidráulica.

No que se refere às características de conservação dos locais de implantação das Casas

do Brincar, foi possível notar uma grande variabilidade de suas condições53. A

conservação da entrada do lote das Casas do Brincar traz uma concentração relevante –

sete em dezesseis Casas – avaliadas como regulares ou ruins. O mesmo número de

Casas do Brincar tem a conservação da entrada do seu imóvel avaliada como regular ou

ruim. Estes dados apontam para a dificuldade na oferta de locais apropriados para o

serviço, dentro de territórios de alta vulnerabilidade.

A utilização dos dados referentes à estrutura interna das Casas do Brincar, coletados

através das Visitas Surpresa da Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar,

implementada pelo Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas

Gerais não puderam ser disponibilizados e, portanto, não será possível realizar a

comparação da estrutura de banheiros e disponível para instalação hidráulica em cada

Casa do Brincar.

53
A este respeito, ver capítulo 8, subitem 8.8.

174
9.5.2 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – IMPLANTAÇÃO: PRÁTICA DO

SERVIÇO

A prática do serviço trouxe para o debate algumas dificuldades referentes ao

planejamento inicial da política. Em primeiro lugar é interessante destacar a dificuldade

do estabelecimento da faixa etária de zero a seis anos, ao mesmo tempo em que se

estabelece a presença de apenas um brincante por Casa do Brincar durante seu turno de

funcionamento.

O brincante é responsável pela proposição das diversas atividades a serem

desenvolvidas pelas crianças. As crianças que freqüentam o serviço podem fazê-lo

acompanhadas por um membro da família, e neste caso o brincante deverá atentar à

proposição de atividades conjuntas para a família, ou sozinhas, o que fará com que o

brincante procure desenvolver atividades que envolvam as outras crianças que também

freqüentam sozinhas o serviço.

A execução do projeto das Casas do Brincar prevê a existência de um monitor/brincante

por Casa, durante seu funcionamento. As principais atividades deste brincante seriam:

a) supervisão das atividades das crianças; b) proposição de brincadeiras e atividades; c)

manutenção do acervo local; d) supervisão e apoio às brincadeiras realizadas entre

acompanhantes e usuários; e) cadastramento de novos usuários; f) manutenção do

cadastro já existente de usuários.

175
A delimitação de apenas um monitor/brincante por Casa do Brincar e o acúmulo de

tarefas sobre este ator é problemática para a execução eficaz da política. As principais

dificuldades apontadas para a realização do papel de brincantes são a heterogeneidade

do público do serviço, no que diz respeito à idade, exigindo do brincante a proposição

de atividades concomitantes e diferenciadas para cada faixa etária, e o excesso de

tarefas simultâneas – proposição e supervisão de atividades, manutenção de acervo,

cadastramento de usuários.

A faixa etária da população alvo do serviço – zero a seis anos – pode ser considerada

bastante heterogênea, no que diz respeito às suas necessidades de atenção por parte do

monitor/brincante e às proposições de brincadeiras possíveis. Além da diferença de

atividades propostas para as crianças acompanhadas e desacompanhadas, o brincante

necessariamente deve propor atividades que se diferenciam substancialmente conforme

são direcionadas aos bebês – zero a três anos – e às crianças pequenas – quatro a seis

anos. A heterogeneidade de idade se reflete também em uma heterogeneidade de

atividades a serem propostas.

Há de se considerar, também, que a política de assistência social foi formulada a partir

idéia de que a família constitui o foco de planejamento da política. Neste sentido, a Casa

do Brincar é uma política pública que, através das crianças de zero a seis anos de idade,

busca alcançar o núcleo familiar e atuar sobre seus vínculos afetivos. Um aspecto

relevante a ser ressaltado é o fato de que as famílias de crianças na faixa etária do

serviço Casa do Brincar freqüentemente são compostas também por crianças de outras

faixas etárias. A recomendação de que o usuário do serviço seja acompanhado de um

176
familiar, e que seja apenas um acompanhante por usuário, dificulta a dinâmica de

cuidado com as próprias crianças dentro de famílias onde a faixa etária das crianças é

mais ampla. De fato, pode ocorrer que famílias com crianças com mais de seis anos

tenham que destinar um familiar, que seria acompanhante do usuário do serviço, para o

cuidado da criança maior de seis anos que não pode freqüentar o serviço. Neste sentido,

a limitação de um acompanhante por usuário se constitui como um impulsionador ainda

maior deste tipo de situação de impedimento do acompanhamento das crianças à Casa

do Brincar.

177
9.6 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – FOCALIZAÇÃO

O debate referido à focalização das políticas de assistência social é relevante para o caso

das políticas na Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social em Belo Horizonte.

Embora haja concordância de que o ideal seria o provimento dos serviços de assistência

social a todos os cidadãos, a focalização é vista, por alguns técnicos da PBH, como a

forma prática de lidar com a insuficiência de recursos para a universalização e o

tamanho da população a ser abarcada. Por outro lado, a idéia de que a assistência social

deva ser garantida para quem dela necessite, traz divergências quanto à interpretação da

implantação da política de forma focalizada ou universalizada. O estabelecimento do

direito à assistência para quem dela necessitar foi interpretado tanto como uma

justificativa de focalização nos indivíduos em situação de vulnerabilidade como

enquanto justificativa para a universalização da política. É interessante notar que a idéia

de focalização aparece mais fortemente nos atores que estão diretamente ligados à

execução da política atualmente. Por outro lado, a idéia de universalização é mais

presente nos atores que participaram do processo inicial de formulação e implementação

da política.

Devido à falta de características determinadas para a focalização do serviço, as Casas do

Brincar foram avaliadas neste quesito através de sua localização em seu território de

implantação. Os dados utilizados foram coletados através das visitas surpresa, da

Pesquisa de Avaliação da Casa do Brincar realizada pelo DCP/UFMG.

178
Os aspectos avaliados para a focalização do serviço foram os referentes ao padrão do

entorno e à localização propriamente dita da Casa – próximo à vila de referência, dentro

da vila de referência.

Nesta pesquisa, definiu-se o padrão do entorno das Casas do Brincar a partir das

características físicas das residências deste entorno, assim como de suas condições de

preservação. Para isto, classificou-se as construções de acordo com seu tamanho,

condições de estrutura e acabamento externo.

No que se refere ao padrão de moradias encontrado percebe-se a importância das

moradias de tamanho pequeno, presentes em doze dos dezesseis entornos.

TABELA 5. Tamanho das casas do entorno

Tamanho aproximado Freqüência % % Válido % Acumulado


Médio 4 25,0 25,0 25,0
Pequeno 6 37,5 37,5 62,5
Médio e pequeno
6 37,5 37,5 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

Por outro lado, avaliou-se também a estrutura das construções do entornos das Casas do

Brincar. Estas foram classificadas em boas ou precárias. A predominância do tipo de

estrutura era avaliada em cada entorno, para que este fosse classificado em uma das

categorias. Em quatorze dos dezesseis entornos nota-se uma forte presença de

construções de estrutura precária, indicando também a existência de uma população

com condições sócio-econômicas precárias.

179
TABELA 6. Estrutura das construções dos domicílios do entorno

Estrutura predominante Freqüência % % Válido % Acumulado


Precária 6 37,5 37,5 37,5
Boa 2 12,5 12,5 50,0
Boas e precárias
8 50,0 50,0 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

Dos quatorze entornos onde houve a classificação das estruturas como precárias, oito

deles conviviam com casas de boa estrutura. Este dado

O acabamento das casas do entorno foi igualmente classificado pela pesquisa. A

ausência de acabamento das casas é outro indicador de baixa condição sócio-econômica

dos moradores, e pode ser utilizado como indicador de focalização do serviço. Em

geral, apenas em regiões de classes sociais mais baixas há o predomínio de residências

que não utilizam nenhum tipo de acabamento externo.

Os entornos das Casas do Brincar são marcados pela predominância da presença de

casas sem acabamento, convivendo lado a lado com outras com acabamento ou não.

Novamente em quatorze dos dezesseis entornos avaliados há presença importante de

casas sem acabamento externo.

TABELA 7. Acabamento das residências do entorno

Padrão predominante Freqüência % % Válido % Acumulado


Sem acabamento 6 37,5 37,5 37,5
Com acabamento 2 12,5 12,5 50,0
Com e sem acabamento 8 50,0 50,0 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

180
Os pesquisadores, em seus relatórios das visitas surpresa, procuravam também

estabelecer, a partir da observação empreendida, a classe social predominante no

entorno. Percebe-se, neste sentido, que apenas duas Casas do Brincar não apresentam

predominância da classe baixa em seu entorno – o que pode indicar um problema de sua

localização, sob a ótica da focalização.

TABELA 8. Classe social predominante no entorno

Classe social Freqüência % % Válido % Acumulado


Baixa 8 50,0 50,0 50,0
Média baixa e baixa
1 6,3 6,3 56,3
Média e baixa 5 31,3 31,3 87,5
Média e média baixa
2 12,5 12,5 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

A localização da Casa do Brincar foi avaliada, no intuito de trazer informações a

respeito do grau de focalização do serviço oferecido por esta localização. Os dados

disponibilizados através do banco de dados das visitas surpresa dizem respeito à

proximidade das Casas do Brincar em relação à vila de referência e à sua localização

dentro ou fora desta vila.

Nota-se, em primeiro lugar, que três das dezesseis Casas do Brincar não ficam próximas

à sua vila de referência. Este é claramente um problema para sua localização, uma vez

que dificulta o acesso dos moradores da vila ao serviço.

Encontram-se nesta situação ambas as Casas do Brincar da regional Barreiro – Bairro

Independência e Bairro Petrópolis – e uma Casa da regional Venda Nova – Mantiqueira.

181
TABELA 9. Proximidade da Casa em relação à Vila

Próximo à Vila Freqüência % % Válido % Acumulado


Não 3 18,8 18,8 18,8
Sim 13 81,3 81,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

Além de estarem próximas às vilas seria desejável que as Casas do Brincar se

localizassem dentro das vilas de referência. Pode-se notar que isto ocorreu em nove dos

treze casos nos quais a Casa do Brincar se situa pelo menos próximo de sua vila de

referência.

TABELA 10. Localização da Casa

Dentro da Vila Freqüência % % Válido % Acumulado


Fora da Vila 7 43,8 43,8 43,8
Dentro da Vila 9 56,3 56,3 100,0
Total 16 100,0 100,0
Fonte: Banco de dados das Visitas Surpresa – Pesquisa de Avaliação do Serviço Casa do Brincar. DCP/UFMG

As informações referentes ao padrão do entorno apontam para um grau de focalização

eficiente. No entanto, cabe ressaltar que dois entornos foram caracterizados como de

classe média e classe média baixa, e o mesmo número de entornos teve a estrutura das

construções das casas caracterizada como boa, com a presença de casas com

acabamento, indicando a possibilidade de uma deficiência no que diz respeito à

focalização do serviço. Em relação à localização das Casas do Brincar nota-se também

uma deficiência no que diz respeito à focalização do serviço para três das dezesseis

Casas.

182
9.7 AVALIAÇÃO DA CASA DO BRINCAR – AVALIAÇÃO DAS METAS

A meta inicial existente no Projeto e Objetivo das Casas do Brincar delimitava o

alcance do serviço a um atendimento de 240 crianças por mês, em cada Casa do Brincar

existente. Pensou-se, inicialmente, no atendimento concomitante de 12 crianças por

hora. Como foi possível perceber através da caracterização das Casas do Brincar, apenas

nove das dezesseis Casas do Brincar teriam um suporte físico apropriado para o alcance

destas metas. Há que se notar também, que em três dos nove casos que suportariam as

doze crianças por hora, este seria o limite máximo de sua capacidade.

As metas de atendimento das Casas do Brincar – doze crianças por hora – levaram em

consideração as condições ideais de implantação do equipamento do serviço. No

entanto, a prática de implantação da política revelou que os espaços disponíveis para as

Casas do Brincar eram, no mais das vezes, insuficientes para o atendimento à meta.

Para além das dificuldades já levantadas, ressalta-se que a heterogeneidade etária das

crianças atendidas, somada à obrigação de execução de todas as outras tarefas que

cabem ao monitor/brincante é, no mínimo, de difícil consecução.

183
CONSIDERAÇÕES FINAIS

É perceptível a dificuldade de concepção e implantação de políticas públicas de

assistência social, principalmente referidas às crianças pequenas. A formatação legal

recente do campo da assistência, seu estabelecimento ainda incipiente como campo de

políticas públicas, amparado pela noção de direitos sociais que devem ser assegurados

pelo Estado, fazem com que as experiências de formulação destas políticas seja árdua e

conflituosa.

Foram feitos avanços relevantes no Brasil, principalmente no que diz respeito à

implantação, na prática, da concepção da Assistência Social como dever do Estado,

definida desde a Constituição de 1988. Em um país de extrema desigualdade como o

Brasil, é de fundamental importância que o debate sobre os direitos sociais seja

ampliado e o campo de assistência social ganhe cada vez mais legitimidade, perante os

atores políticos, as instituições públicas e a sociedade.

Em Belo Horizonte a história da constituição das várias secretarias responsáveis pela

assistência social, mostra o caráter conflituoso e status ainda indefinido deste campo. O

estabelecimento de ações, intersetoriais ou não, abrangendo a área de assistência social

esbarra, muitas vezes, na legitimação precária que ela ainda detém. A precariedade de

legitimação refere-se em grande parte à dificuldade de estabelecimento da concepção

dos direitos sociais enquanto direitos do cidadão e do Estado como provedor obrigatório

destes direitos. Ainda assim, é inegável o processo de fortalecimento desta concepção,

assim como do campo de assistência social e de sua legitimação perante a sociedade.

184
A Casa do Brincar espelha uma política pública municipal que está imersa neste

contexto nebuloso no qual se situa a assistência social. Além dos problemas

enfrentados, na tentativa de fortalecimento da concepção dos direitos dos usuários do

sistema de assistência social, e na formulação do serviço – feita aparentemente de forma

descolada da percepção da realidade de implantação deste serviço –, a Casa do Brincar

conta ainda com a difícil tarefa de lidar com um Estado enxuto, que privilegiou a

execução indireta de suas políticas sociais.

Por fim, cabe ressaltar que as pesquisas de avaliação das políticas públicas e das

políticas sociais em especial devem servir como estímulo ao processo de fortalecimento

de suas formulações e reformulações. A intenção deste tipo de pesquisa é o

mapeamento de argumentos relevantes que possam iluminar o debate que se coloca,

preparando o terreno para as novas discussões que se farão necessárias, no

estabelecimento do estado de direitos para o cidadão brasileiro.

185
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Bibliográfico – BIB, nº 39

194
APÊNDICE

ROTEIRO DE ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS

1- INSTITUCIONAL: Descrição, organização, hierarquia

2- ATORES: Tipologia, localização, interação.

• Onde está sediada a política?

• Quem é responsável por ela?

→ Cargos e responsabilidades

→ Estrutura hierárquica e decisória

→ História das instituições responsáveis

• Qual(is) o(s) conceito(s) chave que orienta(m) a política?

• A política pública foi demandada:

ð Pela sociedade (ênfase na participação)

ð Pelo governo (ênfase nas prioridades e diretivas de governo)

• A política pública é:

ð Universal

ð Focalizada – qual o grupo alvo?

195
• A política pública tem caráter:

ð Redistributivo

ð Distributivo

• Quais são os marcos:

ð Institucional

ð Gerencial – Administração burocrática ou gerencial

SOBRE A ENTIDADE EXECUTORA:

• Como foi feita a escolha da forma de execução da política?

• Como foi o processo de escolha da entidade executora?

• Quais são os métodos de avaliação disponíveis, da qualidade do serviço prestado?

• Quais são as formas de alteração da entidade executora?

• Como é realizado o controle de qualidade?

196
FORMULAÇÃO / IMPLANTAÇÃO

PARA CADA UMA DAS ETAPAS, RESPONDER:

• Quem foi responsável pela formulação?

o Destacar atores

o Destacar localização institucional dos atores

o Destacar hierarquia organizacional e decisória

• A política foi formulada para resolver qual problema? (TEORIA SOBRE O MUNDO)

• Qual a solução apresentada para o problema verificado?

• Como foi idealizada a política?

• A quem se dirige a política? (FOCALIZAÇÃO / UNIVERSALIZAÇÃO)

• A direção é preferencial ou exclusiva?

• Como está organizada a solução apresentada?

→ Centralização / descentralização

→ Órgãos

→ Atores

→ Cargos relevantes

→ Conceitos relevantes

• Impacto da alternância de poder – Há alteração nas prioridades da política, devido à

alternância de poder?

• Como esta alteração de prioridades influencia nos rumos da política?

197
• E no estímulo para o trabalho?

• Como é a relação entre departamentos da secretaria e entre secretarias / setores do

governo?

→ Como é feita a coordenação entre os segmentos?

→ Há integração?

• Impacto da experiência prévia dos atores, tanto formuladores como implementadores.

Há impacto? Como são vistos? Têm experiência?

• Há uma agência formuladora?

→ Setores / história dos setores

→ Atores / Cargos

→ Organização interna / estrutura hierárquica

• Quais foram os principais obstáculos para a implementação da política?

• Quais são os principais obstáculos hoje?

198
CONCEITOS POSSIVELMENTE RELEVANTES:

• Anéis burocráticos

• Feudalização e privatização do estado

• Insulamento burocrático

• Redes sociais

• Atores:

→ Políticos

→ Técnico-políticos

→ Técnicos

• Atores:

→ Formuladores

→ Implementadores

→ Executores

→ Público-alvo da política

• Modelo de administração pública:

→ Burocrático

→ Gerencial

199
ANEXO 1

PROJETO E OBJETIVO DAS CASAS DO BRINCAR

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

Gerência de Proteção Social Básica

A brincadeira é um espaço de interação e de confronto. É através dela que a criança e

o grupo constroem a sua compreensão sobre o mundo e as ações humanas. Não é

atividade espontânea, antes se constrói através das experiências de contato social,

primeiro na família, depois nos grupos informais e depois na escola, ou

simultaneamente. Representa o elo de ligação entre a criança e a cultura na qual está

imersa. Produz e responde indagações e abre espaço para experiências impossíveis em

outros contextos da vida, o que promove comportamentos que vão além das

possibilidades atuais da criança, apontando para sua área potencial de

desenvolvimento.

Fátima Camargo

200
O SERVIÇO “CASA DO BRINCAR”

1 - INTRODUÇÃO

Quando em 2000 a então Secretaria Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte

é desafiada54 a pensar Novas Ações para crianças de 0 a 6 anos, realiza o seminário

“Política Social no Município para Criança Pequena” onde tem a oportunidade de

discutir e conhecer algumas propostas que a Assistência Social em nosso país, já vinha

propondo e implementado a nível governamental, no que diz respeito a responsabilidade

na área dos problemas da criança. Estas buscavam:

§ Assegurar que o brincar fosse aceito como parte integrante da seguridade social.

§ Tomar medidas com o objetivo de estreitar as relações entre pais e filhos.

§ Fomentar a criação de serviços comunitários em que a atividade lúdica permitisse a

integração das crianças com deficiências físicas, mentais ou emocionais na comunidade.

§ Proporcionar ambientes seguros onde a criança brincasse protegida de seqüestros,

abusos sexuais e violência física.

O Seminário nos apontou como diretriz fundamental do trabalho, a conjunta inserção

social da criança e sua família. É neste contexto, que o brincar, por sua importância

como mediador nesta relação se destaca.

54
Nesse período, em cumprimento à diretrizes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, as creches antes
conveniadas e supervisionadas pela Assistência social, são integradas ao Sistema Municipal de
Educação.e a gerencia de convênios transferida, em 2001, para a Secretaria Municipal de Educação.

201
A implantação da Casa do Brincar ganha corpo a partir de então, como um Serviço da

Política de Assistência Social, para o atendimento de crianças de 0 à 6 anos de idade e

suas famílias - em situação de vulnerabilidade social e pessoal - na perspectiva da busca

da promoção da qualidade das relações entre as crianças e entre estas e seus familiares,

bem com a comunidade.

Naquele momento acreditávamos ainda, que era importante trazer a criança pequena

para o olhar social, de forma que esse olhar, não ficasse restrito apenas, ao posto de

saúde e, em alguns casos, à creche. Trazer a criança para o olhar social é uma forma de

integrá-la a uma rede de proteção55.

É importante destacar, que a Casa do Brincar é um serviço e que a partir do modelo de

gestão administrativa dos serviços, ele é definido como de base local, ou seja, atendem

em áreas próximas às residências dos usuários. Por essa razão, integram o BH Ci-

dadania, que é o programa intersetorial da Prefeitura de Belo Horizonte implantado em

áreas socialmente críticas, expandindo, na área da Assistência Social, serviços de

prevenção e promoção.

55
A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina−se à população que
vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos − relacionais e de pertencimento
social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras).

202
2 - AS CONCEPÇÕES

Entender a criança como um sujeito de direitos, é resultado de uma evolução no

processo de construção de sua cidadania, que ainda precisa ser plenamente realizada na

prática. Muito se avançou desde que o desenvolvimento infantil era considerado natural

ou resultado de uma modelagem, conforme a vontade paterna e as regras de uma

sociedade autoritária.

No Brasil a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente são

um marco nessa evolução, reconhecendo a criança-cidadã, que deve ter assegurado com

absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência

familiar e comunitária.

Se considerarmos, de maneira mais específica a criança pequena, deve-se ressaltar o seu

direito ao cuidado, que abrange:

§ O atendimento das necessidades básicas de saúde, como a alimentação, o sono, a

higiene e a proteção;

§ Ao espaço para as vivências próprias da infância, como o brincar, a relação afetiva;

§ A estimulação do seu desenvolvimento, levando em conta sua capacidade de construir

o conhecimento;

§ Necessidade do acesso aos bens culturais.

203
Assegurar esse direito não é função atribuída apenas à família, mas também ao Estado,

que tem responsabilidade de proporcionar condições às famílias para a garantia desses

direitos, que muitas vezes seja efetiva, através da criação de uma rede serviços sociais.

Para além do entendimento e da necessidade de se garantir o direito que é previsto em

lei, estudos vêm nos mostrando que a linguagem do brincar é universal e tão antiga

quanto a existência do ser humano, atravessando o tempo, fronteiras e, muitas vezes,

perpetuando a sua forma, apesar de seus conteúdos se transformarem. As crianças

sempre brincaram ao longo da história e em todas as culturas.

A brincadeira é um fator importante para traçar-se o retrato cultural de um país, indica

muito de uma época e de seus costumes. Mudanças no perfil da sociedade refletem-se

nas brincadeiras das crianças fazem. As brincadeiras são uma forma das crianças

penetrarem no mundo adulto. Então, se esse mundo muda, isso interfere nas

brincadeiras.

A brincadeira supõe contexto social e cultural e é um mito entendê-la como algo

natural. A criança, desde o seu nascimento está inserida num quadro social e seus

comportamentos refletem essa imersão inevitável. A brincadeira é um processo de

relações interindividuais, portanto de cultura. A brincadeira segundo Gilles Brougère,

“pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar.” (2001, p. 98).

Ainda segundo Fririrdmann “A brincadeira constitui-se, basicamente, em um sistema

que integra a vida social das crianças. Caracteriza-se por ser transmitida de forma

204
expressiva de uma geração a outra ou aprendida nos grupos infantis, na rua, nos

parques, escolas, festas etc., e incorporada pelas crianças de forma espontânea, variando

as regras de uma cultura a outra (ou de um grupo a outro) ; muda a forma mas não o

conteúdo da brincadeira; o conteúdo refere-se aos objetivos básicos da brincadeira; a

forma é a organização da brincadeira no que diz respeito aos objetos ou brinquedos,

espaço, temática, número de jogadores etc.(1998. p.30)

Num contexto histórico, Aristóteles, quando classificou os vários aspectos do homem,

dividiu-os em homo sapiens (o que conhece e aprende), homo faber (o que faz, produz)

e homo ludens (o que brinca, o que cria) e isso nos mostra que os antigos já sabiam da

importância do brincar no desenvolvimento integral do ser humano.

Entendemos que brincar possibilita desenvolvimento físico, metal, cognitivo, além de

favorecer o desenvolvimento dos vínculos afetivos e sociais, condição básica para que

possamos viver em grupo.

Pelo brincar, simbolicamente a criança pode entender o mundo ao seu redor, testar

habilidades físicas como correr, saltar; sociais como ser arquiteta, engenheiro,

enfermeiro, professora; aprender as regras e limites e com isso favorecer o

entendimento do lado positivo e negativo de suas ações, como ganhar, perder, cair.

Brincar é criar, partir para a ação, é descobrir valores, aprender a conviver, trabalhar a

auto-estima, a autonomia e a participação – um exercício de cidadania..

205
Sabe-se ainda que é na família que a criança tem o seu primeiro referencial de brincar. É

no corpo, nos gestos e nas atitudes de quem cuida que ela vai descobrindo seu próprio

corpo e o mundo que a cerca.

"o espaço potencial entre o bebê e a mãe, entre a criança e a família, entre o indivíduo

e a sociedade ou mundo, depende da experiência que conduz à confiança. Pode ser

visto como sagrado para o indivíduo porque é aí que experimenta o viver criativo".

(Winnicott,1975 p.142)

Brincar é uma das primeiras formas de comunicação e de expressão associando

pensamento e ação. Podemos considerá-lo com uma linguagem através da qual as

crianças se comunicam, entre si e com os adultos.

A afirmação a importância do brincar enquanto direito e ao mesmo tempo como

elemento da cultura, que favorece o desenvolvimento global da criança, bem como a sua

interação social, é que faz com que ele se destaque na Assistência Social, como

estratégia dentro do nosso serviço - especialmente no que diz respeito a ser facilitador

dos vínculos familiares e comunitários.

206
2 - AS CASAS DO BRINCAR E SUA METODOLOGIA

2.1 - OBJETIVO GERAL:

Oferecer as crianças, na faixa etária de 0 a 6 anos, oportunidades variadas de brincar, e

ao mesmo tempo trabalhar com as suas famílias a importância desse brincar para o seu

desenvolvimento, além de pontuar, a necessidade do “estar junto”, construindo laços e

fortalecendo os vínculos familiares e comunitário.

2.3 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS

§ Facilitar às crianças o acesso a brinquedos e livros;

§ Criar um espaço para expressão e transmissão da cultura infantil

§ Promover a interação das crianças com outras crianças;

§ Facilitar a brincadeira espontânea das crianças;

§ Resgatar o espaço lúdico na vida das comunidades;

§ Oferecer oportunidades de desenvolvimento, através de jogos, brinquedos e

brincadeiras, de tal forma que as crianças possam desenvolver sua capacidade de

autonomia, do ponto de vista cognitivo, afetivo e social;

§ Valorizar a cultura das famílias e das comunidades, pelo resgate de seus brinquedos e

brincadeiras;

§ Oferecer às famílias a oportunidade de partilhar com suas crianças experiências

lúdicas significativas.

207
2.3 - IMPLANTAÇÃO E FUNCIONAMENTO

As Casas do Brincar são implantadas em espaços comunitários ou em equipamentos

próprios ou alugados pela Prefeitura. Busca-se um local de acesso fácil e seguro para as

crianças pequenas e suas famílias. Que seja bem amplo56 - com dimensões que

comportem todo o acervo e ainda com espaço suficiente para que as brincadeiras

aconteçam ali mesmo. Além disso, o espaço deve ser iluminado, arejado, com banheiro

conjugado, e que possua ligação hidráulica para tanque e bebedouro, garantindo

acessibilidade às pessoas com deficiência físicas, como os cadeirantes.

Seu acervo possui brinquedos, livros, cd’s e outros objetos que incentivem a brincadeira

do “faz de conta”, a dramatização, a construção, a solução de problemas, a socialização,

a vontade de inventar e a leitura. A escolha dos brinquedos leva em consideração a

diversidade e a possibilidade do brincar pelo puro prazer de brincar, além de ter como

objetivo enriquecer e preencher muitas das necessidades próprias de cada fase do

desenvolvimento infantil, tanto do ponto de vista físico, como cognitivo e sócio-afetivo.

O acervo é organizado em estantes ao alcance das crianças pequenas e/ou de seu

acompanhante, dispostos de acordo com classificação que permita sua reorganização

pelos próprios freqüentadores. (lista de acervo em anexo).

56
Recomenda-se cerca de 45 m2

208
As Casas do Brincar funcionam de segunda à sábado, atendendo a uma demanda

espontânea e de encaminhamentos da rede de serviços (NAF/CRAS, Centros de Saúde,

Pastoral da Criança, Instituições de Educação Infantil etc) que priorizam:

§ Crianças que não têm em casa brinquedos, espaço ou companhia para brincar;

§ Crianças em situação de risco eminente, seja convivendo com drogaditos, inclusive

alcoólatras ou que apresentem desnutrição ou problemas no seu desenvolvimento

global, bem como depressão, ou hiperatividade;

§ Crianças com deficiência;

§ Crianças com medida de proteção aplicada ( encaminhadas pelo SOSF – Serviço de

Orientação Sócio Familiar).

A permanência na Casa é em média de uma hora57, duas a três vezes na semana, em

horário previamente agendado – é importante salientar que existe a possibilidade da

flexibilização e/ou remanejamento deste agendamento ao longo do tempo, de forma a

readequar a uma possível mudança na rotina da família.

Temos, porém como regra que um familiar, preferencialmente um dos pais, acompanhe

as crianças menores de 3 anos durante o tempo em que permanecem na Casa. Neste

período, o familiar é incentivado a brincar com a criança e estimulá-la, recebendo

quando necessário orientação do brincante. As crianças de 4 a 6 anos, dependendo do

contexto onde se localize a Casa são acolhidos, mesmo sem um acompanhante.

Concomitantemente é feito um trabalho de mobilização que busca incentivar a presença

de um familiar ou responsável no espaço.

57
A experiência vem nos mostrando, que esse tempo é suficiente e resguarda um brincar saudável. Além
de ser o período apontado como possível, para que os acompanhante, permaneçam no espaço.

209
O serviço oferece ainda às crianças e suas famílias, duas vezes por semestre uma

atividade que denominamos oficinas temáticas. As oficinas temáticas acontecem aos

sábados e trabalham com temas diversos pertinentes a cultura do brincar, a formação

étnica racial, familiar e social, oferecendo ainda a possibilidade de vivenciar

experiências com as múltiplas linguagens.

2.4 - OS PROFISSIONAIS E O COTIDIANO DO TRABALHO

Chamamos de brincante o profissional58, que atua nas Casas do Brincar e que é

responsável por:

§ Fazer o acolhimento das crianças e seus responsáveis;

§ Apresentar o serviço e o acervo disponível;

§ Inscrever e fazer os agendamentos, levando em consideração as possibilidades do

serviço e a disponibilidade das famílias.

Além disso, cotidianamente ele tem como funções:

§ Estimular a descoberta e a experimentação de brinquedos, jogos, CDs e livros;

§ Saber o momento de observar e o de intervir nas relações;

§ Respeitar o brincar livre;

§ Propor e promover a brincadeira coletiva;

§ Apresentar as diversas possibilidades de brincar com o mesmo objeto;

§ Disponibilizar materiais como tinta, giz de cera, fantoches, instrumentos musicais, que
58
Para ser selecionado e ingressar no serviço é exigido, o mínimo nível médio de formação, além de
alguma experiência anterior com trabalho social e com criança, além de um repertório mínimo de
brincadeiras.

210
contribuam para a experimentação de linguagens diversas;

§ Incentivar a construção de brinquedos;

§ Resgatar e registrar os brinquedos, brincadeiras, cantigas e histórias da comunidade;

§ Procurar envolver a família da criança nos trabalhos desenvolvidos;

§ Convidar pessoas da comunidade para realizar atividades com as crianças;

§ Incentivara a preservação do espaço e do acervo;

§ Manter atualizados os dados cadastrais, as listas de freqüência e demais instrumentais

utilizados pelo serviço;

§ Relatar minimamente os acontecimentos significativos do cotidiano em um diário de

bordo, para que sejam posteriormente trabalhados junto com a coordenação;

§ Buscar o respaldo da coordenação em situações que fujam à sua responsabilidade

imediata;

§ Participar das reuniões administrativas e de capacitação;

Além disso, é importante que esses profissionais tenham clareza de que se tornam

modelo, tanto para as crianças como para os acompanhantes e que na sua prática

cotidiana devem ser dinâmicos, criativos, pacientes, afetuosos, respeitosos e conscientes

do papel que exercem como agente mediadores das relações estabelecidas no espaço

Casa do Brincar.

Para assegurar a efetivação dessas funções e capacidades, o serviço conta com uma

coordenação geral e dois auxiliares de coordenação, que visitam as Casas acompanhado

o trabalho dos brincastes, trocando informações, discutindo possíveis soluções para

questões que dizem respeito ao cotidiano do atendimento.

211
Esta coordenação é responsável ainda por criar outros espaços de escuta e orientação

aos brincantes, bem como criar estratégias para troca e socialização das experiências

significativas do cotidiano do trabalho e, junto com a Supervisão da Secretaria Adjunta

de Assistência Social, pensar a capacitação de seus profissionais e articula os demais

serviçosda rede local.

3 - METAS E RESULTADOS DESEJADOS

3.1 - QUALITATIVOS

§ Melhoria da qualidade de vida e inserção da criança na própria família através do

distensionamento das relações intrafamiliares e maior contato intergeracional em torno

de atividades lúdicas;

§ Acesso a brinquedos e brincadeiras bem como a interação com outras crianças e entre

estas e seus familiares;

§ Contribuir para a inclusão das crianças com deficiência;

§ Fortalecimento dos vínculos comunitários.

3.2 - QUANTITATIVOS

• Ter inscritas nas Casas do Brincar 240 crianças/mês;

• Manter um percentual de freqüência de pelo menos 70% das crianças inscritas;

212
4 - ESTRATÉGIAS DE MOBILIZAÇÃO:

Mobilizar o público alvo da Assistência Social, com necessidades tão imediatas, e

provocar nele um movimento que o possibilite sair de um lugar para outro, onde possa

apropriar-se de espaços e de informações, de forma a utilizá-los para a melhoria de sua

qualidade de vida é um grande desafio. Quando esse movimentar-se diz respeito à

garantia de direitos de um terceiro, por quem se é responsável, no caso a crianças de O a

6 anos, o desafio torna-se ainda maior.

A Casa do Brincar ainda é um serviço novo - que se diferencia do que tradicionalmente

se entende por atendimento para criança pequena. Se ainda levarmos em conta que ele

privilegia o brincar como estratégia de trabalho e que o brincar na nossa cultura ainda

está muito ligado a “um ato fútil, inútil, coisa de quem não tem responsabilidade” –

como fazer com que um familiar se disponha a estar junto com a criança, acreditando

que esses momentos de convivência podem ser significativos e importantes para o

futuro delas?

Tudo isso nos faz constatar a necessidade de um mobilizar constante, que inclui além

das famílias, a comunidade.

Mobilizamos para:

§ Divulgar o Serviço;

§ Para que a família entenda a importância do brincar e do brincar junto para a

construção de vínculos e busque conhecer o serviço;

213
§ Resgatar e manter a freqüência no Serviço.

Nesse sentido algumas ações de mobilização já vem sendo desenvolvidas:

§ O Dia do Brincar na Comunidade

Atividade lúdica previamente agendada, onde toda a comunidade é convidada a

participar. Esse momento acontece em espaços, próximos à Casa do Brincar, e que em

algumas comunidades conta com a parceria de outros serviços. Ali, durante 3 horas, são

realizadas brincadeiras coletivas e de roda, ao som de tambores, construção de

brinquedos, contação de histórias, pintura e desenho. Esta atividade, é comandada por

grupos de brincantes, que também distribuem panfletos, que apresentam o serviço e

convidam a comunidade a conhecer a Casa do Brincar - Acontece duas vezes por ano

em cada Casa do Brincar.

§ O Cortejo para Brincar

Atividade planejada junto com os NAF/CRAS, a partir da listagem de famílias e

crianças infreqüêntes. Após um mapeamento das mesmas, elas são visitadas por uma

equipe composta por um brincante, um auxiliar de coordenação um técnico NAF/CRAS

e dois músicos (Mensageiros do Brincar). Durante essas visitas, chamadas de “porta a

porta”, as famílias são abordadas inicialmente com uma serenata, que é feita em frente

de suas casas.

A partir daí acontece um diálogo com aquela família, no sentido de obter informações

do porque da infreqüência, além do esclarecimento de quaisquer dúvidas que ainda

214
possam existir com relação a Casa do Brincar. Posteriormente, é feito um convite para

que retornem ao serviço e que participem de um cortejo, que acontece em um segundo

momento e que se inicia a parti de um ponto de encontro combinado com essas famílias

neste mesmo dia.

No dia e local combinados para a concentração do cortejo, (geralmente em frente à Casa

do Brincar ou bem próximo dela), as famílias são convidadas para, junto com a equipe

da Casa do Brincar59, percorrerem, ruas, becos e vilas, cantando, brincando, tocando

instrumento, manipulado adereços (borboletas de tamanhos variados e uma grande

lagarta). Durante o trajeto, a população é convidada a aderir à atividade e a conhecer o

Serviço (usamos para isso panfletos da Casa do Brincar).

O cortejo segue até um ponto pré-estabelecido onde as pessoas podem se sentar, beber

água e descansar e após alguns minutos tem início às brincadeiras de roda, a construção

de brinquedos e a seguir a finalização da atividade, quando é reforçado o convite para o

retorno e/ou para conhecer o Serviço.

§ Mobilização de parceiros

Instituições de Educação Infantil

Nas creches e demais instituições de Educação Infantil, que se localizam no entorno60

das Casas do Brincar, a mobilização é feita seguindo o seguinte roteiro:

59
composta pelos músicos anteriormente citados, pelo auxiliar de coordenação e por um grupo de até quatro
brincantes.
60
Consideramos entorno da Casa, uma área que circunda o serviço e que pode ser percorrida a pé pelas crianças
pequenas e seus familiares.

215
Após um primeiro contato, feito através dos NAF/CRAS, são agendados as seguintes

atividades: apresentação do serviço ao corpo docente das instituições, propondo uma

discussão sobre a importância do brincar e conviver com a família e a comunidade na

primeira infância. São realizadas atividades lúdicas com esse grupo e agendadas a

participação dos profissionais da Casa do Brincar nas reuniões de pais, onde é feita a

mesma discussão e atividades descrita anteriormente.

Para finalizar o processo de mobilização, as crianças de 0 a 6 anos divididas em grupos

e acompanhadas por seus professores visitam a Casa do Brincar e lá permanecem por

uma hora brincando e construindo um brinquedo que levam para casa junto como um

convite para que as famílias as inscrevam, para juntas participarem das atividades da

Casa do Brincar.

Essa mobilização é feita de forma a apresentar o serviço, como mais uma possibilidade

de espaço lúdico cultural e social a ser freqüentado pelas crianças além da escola.

Lembrando que o sábado é a alternativa para os alunos de horário integral.

Centos de Saúde

O Serviço é apresentado aos Gerentes dos Postos e às Equipes de PSF da área de

abrangência, propondo uma discussão sobre a importância do brincar para a saúde das

crianças pequenas, além de salientar a importância da convivência saudável com a

família e a comunidade. Assim é feito um acordo com as Agentes Comunitários de

Saúde no sentido de que divulguem a Casa do Brincar em suas visitas domiciliares;

216
O serviço é apresentado ainda nos grupos já constituídos da Saúde (nutrição, gestante,

idosos...) onde também debatemos a importância do brincar e da convivência.

Grupo de Convivência de Idosos

A equipe da Casa do Brincar participa de um momento dos encontros dos Grupos de

convivência e realiza uma atividade lúdica com uma “Roda de Versos”, depois é feita a

apresentação do serviço e o convite para conhecê-lo. A intencionalidade dessa

mobilização está centrada em duas possibilidades, a de que os avós levem seus netos

para freqüentar os serviços e que eles também possam contribuir com o serviço

desenvolvendo atividades lúdicas com as crianças que remontam a sua memória, tais

como cirandas e contação de histórias.

É importante salientar que todas essas atividades de mobilização são acertadas e em

alguns casos mediadas junto com a coordenação e/ou técnicos de referência do Serviço

dos NAF/CRAS.

A equipe de coordenação da Casa do Brincar participa também de oficinas, reuniões e

eventos organizados pelos NAF/CRAS para apresentação do serviço, palestra sobre a

importância do brincar e/ou desenvolver atividades como construção de brinquedos,

ciranda, pintura de rosto entre outras.

217
A Casa do Brincar dá também apoio às Oficinas com Famílias61, quando um brincante é

designado para brincar com as crianças que acompanham as mães aos encontros.

Durante os encontros, as mães têm a possibilidade de conhecer de perto o nosso serviço

e são incentivadas a se inscreverem.

9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BROUGÈRE, Gilles, Brinquedo e Cultura/Gilles Brougère; revisão técnica e versão

brasileira adaptada por Gisela Wajskop.São Paulo, Cortez, 2001. (Coleção Questões da

Nossa Época).

FRIEDMANN, Adriana [et al], O Direito de Brincar: A brinquedoteca. São Paulo:

Edições Sociais Abrinq, 1998.

WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA,

1975.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Livraria Martins Fontes

Editora Ltda.,!984

Revista Criança Pequena – Publicação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

Novembro de 2002

http://pt.wikipedia.org/

61
Espaço de discussão, onde as famílias refletem juntas, sobre a criação dos filhos pequenos.

218
ANEXO 2

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO UTILIZADO NAS VISITAS SURPRESA

Visitas Surpresas – Casa do Brincar

Objetivo: Obter uma descrição densa, a mais completa possível, sobre o que um grupo

particular de pessoas faz e o significado das perspectivas imediatas que eles têm do que

eles fazem.

Observação: A observação será sistemática e controlada, embora existam diferenças no

olhar dos pesquisadores. Será realizada nas 16 Casas do Brincar e no entorno das

respectivas casas.

Conteúdo das observações: descritivo (sujeitos, diálogos, locais, episódios,

atividades, comportamentos, etc.).

Não serão seguidas hipóteses rígidas, o pesquisador ficará atento ao surgimento de

pistas que o conduzam a novas formulações, novas perspectivas de análise.

Roteiro para observação

1. Aspectos envolvidos na observação: Percepção, Memorização e Notação - podem

por isso tentar dar conta de aspectos perceptivos sensoriais (odores, sonoridades, etc.) e

também cognitivos (as informações pertinentes que são muitas vezes transpostas sob a

forma de linguagem); a componente de memorização é implícita no exercício uma vez

219
que há sempre coisas que são apenas fixadas e não registradas na altura; e os registros

de notação podem ser múltiplos (gráficos, desenhos, esboços, notas, fotos, filmes, etc.).

2. Escolha do local, condições e duração: Horário de maior fluxo ou o mais próximo

possível do maior fluxo. A duração da observação no interior da Casa do Brincar será

de no máximo 1 hora; o meio técnico escolhido foi o bloco de notas.

3. Depois de realizada a observação, ela será reconstituída o quanto antes usando

gráficos e esquemas, imagens e descrições para explicitar o local, os movimentos dos

presentes, as trocas comunicacionais/interativas.

4. Relatório: Ensaio relatando obstáculos, limites, vantagens do processo de recolha de

dados e reflexão sobre o mesmo – negociação ou não do lugar de observação, questões

de escala, lugar do observador, tipo de registros, familiaridade ou distanciamento,

interação presencial ou não, entre outras.

Registro escrito:

1) quanto mais próximo do momento de observação maior a acuidade;

2) indicar nome da casa, dia, hora, local, duração, se foi horário de maior fluxo ou

outro, etc.;

3) deixar margens para codificação do material;

4) distinguir descrições, falas, citações, etc.

220
5) Ao escrever a narrativa, colocar os atores como eles se apresentam sob a

perspectiva deles. Para isso é importante se conhecer o significado local da ação

Roteiro para as Visitas

Entorno:

A observação será realizada a partir do seguinte foco: O entorno da Casa do Brincar e a

Criança neste Entorno. Deve-se tentar responder às seguintes questões:

a) Como é o entorno da Casa do Brincar (aspectos físicos e culturais)?

b) Há crianças nas ruas do entorno (meninos - meninas, qual a idade e freqüência

presumida)?

c) O que fazem essas crianças no entorno? (Brincam? Trabalham? Transitam?).

d) Onde fazem as atividades? (Em comércio/em bares /nas ruas/nas igrejas) e com quem

fazem estas atividades?

Serão percorridos dois raios de 500 metros cada um, tendo como ponto de referência a

Casa do Brincar (norte/sul/leste ou oeste). Será anotado o percurso percorrido rua a rua,

a até que sejam alcançados os 500 metros de cada raio.

221
Observar o entorno considerando aspectos físicos – obstáculos para chegar à casa,

composição dos domicílios, freqüência dos domicílios (esparsos, aglomerados);

presença/ausência de crianças na região; presença/ausência de atividades de lazer e de

crianças nestas atividades (Campos de Futebol (quantos?), Lan-House (quantas?); Casas

de Jogos Eletrônicos (quantos?); Praças (Quantas) etc.); presença ou ausência de bares

(quantos) e respectivas freqüências de moradores e/ou crianças neste espaço; outras

atividades comerciais desenvolvidas (supermercados, tipos de comércio – quantos?);

presença ou ausência de atividades religiosas (igrejas, templos – quantos?) e de crianças

nestas atividades; presença e/ou ausência de crianças em trabalhos infantis (vendas,

etc.).

Chegar à casa antes do horário de maior fluxo

A Casa: Observar a estrutura física da Casa do Brincar, recursos, obstáculos, condições

de segurança. Se possível, dar uma volta completa na Casa. Observar as

crianças/acompanhantes sem abordá-los: Chegam acompanhadas? Natureza do

acompanhante: homem/mulher/menor de idade/outras crianças/sozinho

Entrada na Casa: descrever. Foi abordado por alguém, quem/como? Se não abordado,

continuar a observação, registrando mentalmente. Caso seja abordado pelo brincante,

apresentar-se como estudante.

Dentro da Casa: (Não anotar, apenas registrar mentalmente). Descrever o processo de

interação brincante/crianças, descrever o público presente (crianças, número, faixa

222
etária, sexo, acompanhantes); atividades desenvolvidas; comportamento das crianças e

dos acompanhantes. Se possível, visitar a casa, descrevendo: janelas, portas, cômodos,

utensílios, condições, etc. Observar o estado geral dos brinquedos utilizados (avaliar

estado de conservação) se foram utilizados instrumentos (bola, bonecas, livros etc.)

durante as atividades.

Crianças: como chegam, com quem, onde ficam e como ficam?

Brincante com crianças: como se dá a relação e como se aplica a metodologia. Onde

ficam as mãe/acompanhantes? O que fazem?

Saída da Casa: Como ocorre, crianças saem como e com quem? Saem antes da

atividade terminar?

223
ANEXO 3

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO UTILIZADO NAS VISITAS SURPRESA

CASA DO BRINCAR

RELATÓRIO DAS VISITAS SURPRESAS

Casa:

Endereço:

Regional:

Brincante:

Dias e Horário de Funcionamento:

Horário e dia da semana de maior fluxo:

Pesquisador:

Data da Visita:

Dia da Semana:

Horário da Visita (início e fim):

224
ENTORNO:

(O Relato deve ser feito a partir das questões contidas no roteiro de observação,

somando-se a outras questões pertinentes e descobertas encontradas)

Raio 1: 500 m

a) Trajeto e direção percorridos:

b) O entorno da Casa do Brincar: (Descrever e analisar os aspectos físicos e as

atividades que existem no entorno)

c) As crianças no entorno (caracterizar as crianças – meninos/meninas, a idade e

freqüência presumida, se acompanhadas ou solitárias etc).

d) As atividades das crianças no entorno: (caracterizar as atividades em que há

envolvimento das crianças e como é este envolvimento – trabalho infantil, lúdicas etc)

Raio 2: 500 m

a) Trajeto e direção percorridos:

b) O entorno da Casa do Brincar: (Descrever e analisar os aspectos físicos e as

atividades que existem no entorno)

c) As crianças no entorno (caracterizar as crianças – meninos/meninas, a idade e

freqüência presumida, se acompanhadas ou solitárias etc).

225
d) As atividades das crianças no entorno: (caracterizar as atividades em que há

envolvimento das crianças e como é este envolvimento – trabalho infantil, lúdicas etc)

A CASA DO BRINCAR

(O Relato deve ser feito a partir das questões contidas no roteiro de observação,

somando-se a outras questões pertinentes e descobertas encontradas)

A CASA:

A ENTRADA NA CASA:

DENTRO DA CASA

A SAÍDA DA CASA

Anotar outras observações pertinentes/fatos inusitados/principais percepções sobre

o Programa:

226
ANEXO 4 – MAPAS DAS CASAS DO BRINCAR

4.1 CASA DO BRINCAR DO BAIRRO INDEPENDÊNCIA

FONTE: Google Earth. Bairro Independência62

Endereço: Rua 281, nº. 310 Bairro Independência


Regional: Barreiro
Dias e Horário de Funcionamento: 4ª, 5ª e 6ª de 13h às 17h
Capacidade aproximada de atendimento63: 5 a 8 crianças acompanhadas

62
1- Casa do Brincar Petrópolis / Sede do NAF Petrópolis
2- Escola Municipal – ensino fundamental
3- Campo de futebol
4- CESCAM
5- Casa do Brincar Independência
6- NAF Independência

63
A Capacidade aproximada de atendimento das Casas considera o número máximo de
crianças acompanhadas que seria possível manter simultaneamente em seu espaço

227
4.2 CASA DO BRINCAR DO BAIRRO PETRÓPOLIS

FONTE: Google Earth – Bairro Petrópolis64

Endereço: Rua Duzentos e Oitenta e Um, nº. 491 – Bairro Petrópolis


Regional: Barreiro
Dias e Horário de Funcionamento: 2ª, 3ª, 5ª de 8h ao 12h, de 2ª à 6ª de 13h
Capacidade aproximada de atendimento: Até 4 crianças acompanhadas

64
7- Casa do Brincar Petrópolis / Sede do NAF Petrópolis
8- Escola Municipal – ensino fundamental
9- Campo de futebol
10- CESCAM
11- Casa do Brincar Independência
12- NAF Independência

228
4.3 CASA DO BRINCAR VILA SANTA RITA DE CÁSSIA

FONTE: Google Earth – Vila Santa Rita (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua São Tomaz de Aquino, nº. 486 – Vila Santa Rita.
Regional: Centro Sul
Dias e Horário de Funcionamento: 2ª, 3 ª e 5ª de 13h às 17h; 4ª e 6ª de 9h às 13h;
sábados de 9h às 13h.
Capacidade aproximada de atendimento: 9 a 12 crianças acompanhadas

229
4.4 CASA DO BRINCAR ABRIGO GRANJA DE FREITAS

FONTE: Google Earth – Alto Vera Cruz

Endereço: Rua Diniz dias, 145 – Alto Vera Cruz.


Regional: Leste
Dias e Horário de Funcionamento: Segunda a sexta-feira de 13 às 17 horas.
Capacidade aproximada de atendimento: Mais de 12 crianças acompanhadas

230
4.5 CASA DE BRINCAR DO ABRIGO POMPÉIA

FONTE: Google Earth – Abrigo Pompéia (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Coronel Otávio Diniz, nº. 29. Pompéia


Regional: Leste
Dias e Horário de Funcionamento: 2ª à 6ª feira de 9h às 13h
Capacidade aproximada de atendimento: 9 a 12 crianças acompanhadas

231
4.6 CASA DE BRINCAR DO CRUZEIRINHO

FONTE: Google Earth – Alto Vera Cruz (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Fernão Dias, 1131 – Alto Vera Cruz.


Regional: Leste
Dias e Horário de Funcionamento: Segunda a sexta-feira de 8 às 12 horas e sábado de
9 às 12 horas. Segundo o brincante, alguns sábados abrem às 8 horas.
Capacidade aproximada de atendimento: Mais de 12 crianças acompanhadas

232
4.7 CASA DE BRINCAR FAZENDINHA

FONTE: Google Earth – Fazendinha (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Americano, nº. 07 – Santa Efigênia. Vila Fazendinha


Regional: Leste
Dias e Horário de Funcionamento: Pode ser alterado.
Capacidade aproximada de atendimento: 9 a 12 crianças acompanhadas

233
4.8 CASA DO BRINCAR PAULO VI

FONTE: Google Earth – Bairro Paulo VI

Endereço: Rua Itumirim, nº. 2. Bairro Paulo VI


Regional: Nordeste
Dias e Horário de Funcionamento: de segunda-feira à sábado de 8h às 12h e de 13h às
17.
Capacidade aproximada de atendimento: 5 a 8 crianças acompanhadas

234
4.9 CASA DO BRINCAR DA VILA ARTHUR DE SÁ

Fonte: Google Maps - Melo Franco, 189 – União. (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Melo Franco, 189 - Bairro União.


Regional: Nordeste
Dias e Horário de Funcionamento: 2ªs, 4ªs, 5ªs e sábados de 8h às 12h e 3ªs e 6ªs de
13 às 17h
Capacidade aproximada de atendimento: 5 a 8 crianças acompanhadas

235
4.10 CASA DO BRINCAR PEDREIRA PRADO LOPES

FONTE: Google Earth – Pedreira Prado Lopes (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Av. José Bonifácio, nº. 189 - São Cristóvão


Regional: Noroeste
Dias e Horário de Funcionamento: 2ª, 4ª e 6ª de 13h às 17h e 3ª, 5ª e sábado65 de 9h às 13h
Capacidade aproximada de atendimento: 5 a 8 crianças acompanhadas

65
Na lista oficial de endereços e horários de funcionamento das Casas do Brincar consta essa informação de
funcionamento aos sábados, mas o brincante informou que as Casas não abrem mais aos sábados.

236
4.11 CASA DE BRINCAR DA VILA SENHOR DOS PASSOS

FONTE: Google Earth – Vila Senhor dos Passos

Endereço: Beco Sargento João Beraldo, 25 – Vila Senhor dos Passos


Regional: Noroeste
Dias e Horário de Funcionamento: 2ªs a 6ªs de 8h às 12h e sábado de 9h as 13h
Capacidade aproximada de atendimento: Até 4 crianças acompanhadas

237
4.12 CASA DE BRINCAR DO CONJUNTO FELICIDADE

FONTE: Google Earth – Conjunto Felicidade (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Sessenta, 27 – Conjunto Felicidade


Regional: Norte
Dias e Horário de Funcionamento: 2ª a sábado de 08 às 12; 2ª a sexta de 13 às 17
Capacidade aproximada de atendimento: Mais de 12 crianças acompanhadas

238
4.13 CASA DO BRINCAR DA VILA SÃO JOSÉ II – CASCALHO

FONTE: Google Earth – Vila São José (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Silva Lobo, 2379.


Regional: Oeste
Dias e Horário de Funcionamento: Segunda, quartas e sexta-feira de 13 às 15 horas,
terça e quinta-feira de 8 às 12 horas.
Capacidade aproximada de atendimento: 5 a 8 crianças acompanhadas

239
4.14 CASA DE BRINCAR DA VILA SANTA ROSA E VILA REAL II

FONTE: Google Earth – Vila Santa Rosa (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua Viana do Castelo, S/N - Vila Santa Rosa.


Regional: Pampulha
Dias e Horário de Funcionamento: 2ªs, 3ªs, 4ªs, 6ªs e sáb. De 8h às 12h, 5ªs de 13h às 17h
Capacidade aproximada de atendimento: Mais de 12 crianças acompanhadas

240
4.15 CASA DO BRINCAR DO BAIRRO MANTIQUEIRA

FONTE: Google Earth – Bairro Mantiqueira (Em destaque o local aproximado da Casa do Brincar)

Endereço: Rua José Felix Martins, nº. 1055 – Bairro Mantiqueira


Regional: Venda Nova
Dias e Horário de Funcionamento: 2ª à 6ª feira de 14h as 18h, sábados de 13h as 17h.
Capacidade aproximada de atendimento: Mais de 12 crianças acompanhadas

241
4.16 CASA DO BRINCAR DA VILA APOLÔNIA

FONTE: Google Earth – Vila Apolônia (Em destaque a Casa de Brincar)

Endereço: Rua Humberto Campos, nº. 60 – Leblon


Regional: Venda Nova
Dias e Horário de Funcionamento: Segundas, quartas e sextas-feiras de 13 às 15 horas
e terça, quinta e sábado de 08 às 12 horas .
Capacidade aproximada de atendimento: Mais de 12 crianças acompanhadas

242

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