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FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ – FACAPI

ALUNO: DANIEL PEREIRA DE SOUSA

FILME: ALEXANDRIA

No que diz respeito a história de Hipátia de Alexandria, pode-se


perceber que se trata de uma narrativa brilhante sobre protagonismo feminino.
No entanto, a trajetória de uma mulher extremamente proeminente foi
encerrada de maneira involuntária justamente pelo brilho que carregava.
O filme Alexandria relata as circunstâncias que envolveram o
assassinato cruel não só de uma pessoa, mas de suas idéias. Além disso,
morreram com Hipátia – pelo menos temporariamente – a oportunidade de uma
mulher ser proeminente e ouvida na sociedade.
A nossa narrativa ocorre no século 4 depois de Cristo. Essa localização
na linha do tempo é importante porque nesse período, o Cristianismo ainda
estava conquistando certo prestígio político. No contexto em que Hipátia vivia,
a cidade de Alexandria (localizada no Egito) era parte do território conhecido
como Egito Romano. Assim, quando o Império Romano adotou o Cristianismo
como religião oficial, o Egito também fez isso.
Tendo isso em vista, a história do filme Alexandria retrata um ápice do
conflito entre um bispo cristão e o governador da cidade. O foco central do
problema é o fato de que essas duas entidades discordam sobre a atuação de
uma milícia de monges obstinada a matar e torturar qualquer pessoa que não
adotasse a fé cristã. Nesse contexto, Hipátia foi uma das pessoas “pagãs”
assassinadas por uma suposta acusação de bruxaria.
O Cristianismo, por si só, é uma religião que adota como prática de vida
o amor a Deus e o amor ao próximo. Assim, quando nos deparamos com uma
história assim, não fica muito claro como as pessoas acabaram misturando as
coisas. Na verdade, isso acontece bastante quando trazemos preconceitos e
concepções para a nossa prática religiosa, o que prejudica muita gente (No
caso, falando do contexto histórico do filme apenas).
No que diz respeito à bruxaria fica um pouco mais fácil entender a lógica
por trás dos atos cruéis dos ditos cristãos da época. De acordo com a Bíblia, a
prática é abominável a Deus. Contudo, na Bíblia não há o que fundamente a
escolha da tortura e da morte enquanto castigos impostos por seres
humanos. As pessoas esqueceram que não são juízes, descartando assim a
atuação da justiça divina. 
Tendo isso em vista, foram os seres humanos que julgaram Hipátia de
Alexandria como bruxa. No entanto, um julgamento parcial é um julgamento
desumano. Por essa razão, ela morreu sem ter o direito de ser ouvida e se
defender. Na verdade, o que as pessoas entendiam ser bruxaria, era uma
vertente filosófica praticada pela matemática.
Hipátia era uma das figuras mais poderosas da cidade. Era uma
proeminente matemática, filósofa e até conselheira dos líderes da cidade.
Pouca coisa dos seus escritos sobrou para ser estudada, contudo, as pessoas
que se dedicaram a estudar sua vida e obra conseguiram remontar um cenário
de sua vida em que ela era uma grande influenciadora. Inclusive, era amada
por seus seguidores, quase uma influencer dos dias atuais.
No que tange a vida sentimental de Hipátia, os detalhes da sua vida
íntima ganharam um status mítico ao longo dos séculos. Sabe-se que seu pai,
Teón de Alexandria, era matemático e astrônomo. Contudo, a origem de sua
mãe não é conhecida. Tudo indica que ela tenha sido criada sob forte influência
paterna, sem irmãos também.
Ao crescer, Hipátia superou o pai na matemática e na astronomia, se
tornando a estudiosa mais importante da cidade e ensinando na escola
platônica.
Apesar do paganismo, judeus e cristãos viajavam para ter aulas com ela.
Nestas aulas, todos deveriam e podiam se sentir confortáveis para falar e fazer
perguntas. Várias cenas do filme Alexandria retratam como seria essa
dinâmica. O foco aqui deve ser no fato que o ambiente em que ela lecionava
era apartidário. Assim, apesar de ser uma grande influenciadora, o espaço para
discussões era dinâmico e aberto.
Contudo, o ambiente político da cidade não seguia essa mesma
vertente. Por causa da adoção do Cristianismo como religião oficial, havia uma
fragmentação político-religiosa na cidade. Obviamente, o apartidarismo pelo
qual a professora prezava não passou desapercebido.
Cirilo, assim como Hipátia, estava ganhando muita importância no
cenário político. Contudo, era ele o responsável por comandar uma milícia de
monges que matavam e torturavam judeus e outras pessoas que não seguiam
a nova religião oficial. Orestes, por outro lado, era o governador da época. No
entanto, era um cristão moderado, tolerante com outros grupos religiosos e não
compactuava com a ala mais radical.
Assim, nasce uma disputa entre os dois. Para resolver esse problema,
Orestes buscou o conselho de Hipátia. Como já foi apontado, ambos eram
amigos. Além do laço emocional, a busca por saber o que ela tinha a dizer
evidencia o quanto ela era considerada importante por um dos cargos mais
altos do governo.
No que diz respeito ao conflito, a filósofa orientou que Orestes agisse
com sobriedade e justiça. Porém, eles não imaginavam que o governador
sofreria um ataque ardiloso conduzido por Cirilo e seus monges. Ele foi
capturado e torturado até morrer. Nesse contexto, não abandonando seu
discurso radical, Cirilo culpou Hipátia por afastar Orestes do
Cristianismo. Neste momento, ele alegou que ela era praticante de bruxaria.
Algum tempo depois, enquanto Hipátia passeava pela cidade a caminho
do trabalho, ela foi vítima de um outro ataque chefiado por Cirilo. Ela foi
arrancada de sua carruagem e desmembrada por uma multidão fanática,
morrendo de maneira brusca e desumana.
Após a sua morte, vários outros filósofos que a seguiam fugiram
temendo a morte. Assim, o ambiente inclusivo que a filósofa construiu para si
mesma e para a cidade morreram juntos. Alexandria nunca mais foi o centro de
estudo e apartidarismo de antes.

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