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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA


Prof. Tarcisio A. Cordeiro

Disciplina:
ECOLOGIA BÁSICA
Aula 2 - Conceitos e Divisões
da Ecologia.

<ECOLBAS_2>
Etologia é a divisão da ecologia que estuda o comportamento animal.
Imagem: trabalho cooperativo em Oecophylla longinoda ©
Centre de Recherches sur la Cognition Animale, França

2012
ECOLOGIA I 2.2

RECAPITULANDO
Aula ECOLOGIA BÁSICA 1

- Evolução do conhecimento empírico, intuitivo


- Definições de ecologia
- Relacionamento com outras ciências: biológicas, exatas e humanas
- Histórico, pessoas que influenciaram o pensamento e a criação da
ecologia, Linnaeus, Darwin, Haeckel, Vernadsky
- ECOLOGISMO X ECOLOGIA
ECOLOGIA I . Conceitos 2.3
PROPRIEDADES EMERGENTES (ou ONDE 1 + 1 = 3)
Uma propriedade emergente é a conseqüência da sinergia das partes que formam um sistema,
que o faz mais complexo do que a simples soma de suas peças. Nas ciências em geral, mas em
particular na teoria dos sistemas, propriedades emergentes denotam o surgimento de padrões e
propriedades a partir de interações relativamente simples.
Por ex., uma célula é formada de água, proteínas, aminoácidos, lipídeos, enzimas e outras
substâncias, as quais isoladamente não podem se alimentar, crescer e se reproduzir. Por esta
ótica, a vida pode ser vista como uma propriedade emergente da matéria.
Propriedades emergentes podem surgir em sistemas físicos. O sol aquece a superfície terrestre
que por sua vez, aquece o ar. O ar aquecido aumenta de volume e diminui assim, a sua
densidade. O ar menos denso se eleva na atmosfera criando zonas de baixa pressão junto à
superfície, que serão preenchidas por ar menos aquecido e denso vindo de outros locais. Assim
formam-se as células de convecção, uma auto organização do sistema físico, que dão origem às
nuvens, brisas, ventos e em casos extremos, ciclones e furacões.

À esquerda, células são formadas por


substâncias químicas comuns na
natureza, mas a forma como esses
elementos estão organizados dão origem
à propriedade emergente que chamamos
vida. Foto: Dinophysis sp, Microscope.

À direita, ciclones e furacões se auto


organizam e se auto alimentam, o que
resulta num enorme poder de destruição.
Foto: furacão Catarina, NASA/GSFC.
ECOLOGIA I . Conceitos 2.4
PROPRIEDADES EMERGENTES E ECOLOGIA
Um exemplo clássico em biologia é a formação de
grupos, um comportamento muito conhecido de
protozoários a vertebrados. Não raro o resultado supera
a simples somatória de suas partes.
Outra referência comum em biologia é o do formigueiro,
Cada formiga reage a estímulos químicos deixados por
larvas, outras formigas, intrusos e comida, e deixa para
trás uma trilha química que, por sua vez, gera um
estímulo para as outras formigas. Cada formiga é uma
unidade autônoma que reage dependendo apenas de
seus arredores e das regras genéticas codificadas para Acima, formigas formando uma ponte; foto:
Kasi Metcalfe. Abaixo, hienas caçando em
sua espécie. A colônia de formiga como um todo exibe
grupo podem abater presas bem maiores do
um comportamento bem mais complexo e capaz de que poderia um indivíduo isoladamente; foto:
resolver muitos problemas. Kay E. Holekamp Laboratory.
Um ecossistema pode ser entendido como a
organização de diferentes comunidades utilizando
recursos em um espaço finito. Ecossistemas apresentam
propriedades que são a somatória de seus constituintes,
por ex. tamanho, diversidade, fluxos de materiais e
energia. Entretanto também apresentam propriedades
emergentes, como estabilidade, auto-organização, auto-
regulação e possibilidade de migrar.
Vale a pena visitar o site do MIT: Exploring Emergence
ECOLOGIA I . Conceitos 2.5

AS HIERARQUIAS BIOLÓGICA E ECOLÓGICA


HIERARQUIA
BIOLÓGICA Toda a biologia foi construída sobre a idéia de níveis de
organização, esse conceito tem várias dimensões e também
GENES é conhecido na literatura por hierarquia biológica. Uma
dessas dimensões pode ser a classificação ou a hierarquia
CÉLULAS Linneana, onde um nível taxonômico contém outros
COMPLEXIDADE AUMENTA

subjacentes, por ex: Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, etc.


TECIDOS A hierarquia filogenética, por sua vez, procurar refletir os
passos da evolução, onde uma espécie se insere em um
ÓRGÃOS clado e esse em outro maior, respeitando-se a
ancestralidade.
SISTEMAS Apesar dessas dimensões, a hierarquia básica da biologia é
a estrutural, de entidades organizadas em ordem crescente
ORGANISMOS
de complexidade, tal como apresentado na tabela ao lado.
POPULAÇÕES A Ecologia não se aplica em toda
HIERARQUIA hierarquia biológica, ao contrário,
COMUNIDADES ela só faz sentido a partir do nível de
ECOLÓGICA
organismo (ou de espécie).
ECOSSISTEMAS
Um ecólogo pode ter sua pesquisa focada no estudo de: i)
BIOSFERA indivíduos de uma espécie, ii) de populações de uma ou
mais espécies, iii) de comunidades, iv) de ecossistemas e
v) da biosfera como um todo.
ECOLOGIA I . Conceitos 2.6
HIERARQUIA ECOLÓGICA
Espécie - dois ou mais organismos são considerados da mesma
espécie quando podem se reproduzir originando descendentes
férteis. A menos que haja a intervenção humana, criando seres
híbridos, naturalmente não ocorre reprodução entre indivíduos de
espécies diferentes (veja mais em: definitions of species).
Populações - são formadas por organismos da mesma espécie, ou
seja, um conjunto de indivíduos que podem se reproduzir e que
habitam uma determinada região durante um determinado tempo.
Comunidades - o conjunto de todas as populações, sejam elas de
microorganismos, animais e vegetais presentes em uma área num
dado tempo. Por ex. comunidade do manguezal ou do semi-árido;
também se pode utilizar o conceito de comunidade para designar
grupos afins, ex. comunidade vegetal, animal, microbiana, etc.
Ecossistemas – em um determinado local, seja uma área de
cerrado, mata ciliar, ou de floresta amazônica, todas as populações
e suas relações entre si e com o meio físico e químico formam o
ecossistema. Ou de outra forma, podemos definir ecossistema
como sendo um conjunto de comunidades interagindo entre si e
agindo sobre e/ou sofrendo a ação dos fatores ambientais.
Biosfera - a parte na qual ocorre vida no planeta e na qual a vida
tem o poder de ação sobre o mesmo.
ECOLOGIA I . Conceitos 2.7
ABORDAGEM DE...
ORGANISMO, é focada nas adaptações de uma dada espécie (morfologia, fisiologia,
comportamento) que permitem a ela ocupar um território, procurando também explicar a sua
distribuição.
POPULAÇÃO se preocupa com o número de indivíduos e suas variações através do tempo, taxas
de nascimento, morte, emigração, imigração e fluxos gênicos são as variáveis mais observadas.
COMUNIDADE visa a compreensão da
diversidade e abundância de diferentes ABORDAGEM DE BIOSFERA
espécies que compartilham um território
num dado período de tempo – interações
entre as populações.
ABORDAGEM ABORDAGEM
ECOSSISTEMA, como o nome sugere, DE ECOSSISTEMA DE ORGANISMO
vê um bioma como um sistema por onde
flui matéria e energia, com entradas e
saídas balanceadas e onde os
organismos são como moedas.
BIOSFERA estuda os ciclos de energia e ABORDAGEM ABORDAGEM
materiais entre ecossistemas e entre DE COMUNIDADE DE POPULAÇÃO
atmosfera, oceanos e continentes. Como
são transportados elementos químicos e
energia entre os meio físico e o biológico.
Modificado de Ricklefs, R.E., Economia da Natureza.
ECOLOGIA I . Conceitos 2.8
ENFOQUES ATUAIS (seg. Pinto-Coelho1)
“DESCRITIVO. Também pode se chamado de história natural, consiste de levantamentos de fauna e flora
(biodiversidade). Dado o seu caráter essencialmente descritivo, há riscos de que a pesquisa se feche em si
mesma, tornando-se redundante, sem atingir resultados objetivos.

EXPERIMENTAL. Baseia-se em testes de hipóteses por meio da experimentação, tanto em laboratório como em
campo. Embora rígido sob o ponto de vista científico, tal enfoque pode, muitas vezes, levar a um excessivo
distanciamento da realidade.”

Os dois enfoques são necessários e ao mesmo tempo apresentam dificuldades. Quando se estuda um
ecossistema é importante saber sua biodiversidade, entretanto, dificilmente se chega a conhecê-la
completamente e dificilmente isso irá mudar algum paradigma.

Já a ecologia experimental tem várias limitações. Em Instalação de substratos artificiais para estudar a sucessão
de espécies colonizadoras. Racerocks.com
laboratório não se pode reproduzir a totalidade de
variáveis encontradas na natureza. Logo, os resultados
tendem a ser igualmente limitados.

Muitos dos experimentos realizados em campo têm a


limitação de não poderem ser reproduzidos. É o caso do
experimentos de enclausuramento, quando uma porção
de água do mar ou de um lago é parcialmente isolada da
água circundante. Os eventos ali observados, tal como
sucessão de espécies, não se deixam repetir em outro
momento. Em terra firme, por outro lado, a sucessão
vegetal é bastante recorrente e previsível.

1
Pinto-Coelho, R. M. 2007. Fundamentos em Ecologia. Artmed.
ECOLOGIA I . Divisões 2.9
DIVISÕES DA ECOLOGIA

ECOFISIOLOGIA
Estuda a resposta dos organismos a fatores tais como
temperatura, luz, pH, etc. Por exemplo, Justus Liebig estudou
o papel dos sais nutrientes no crescimento das plantas.
Quando presentes em proporções adequadas, o crescimento
da planta é otimizado.

ECOLOGIA QUÍMICA
Estuda processos tais como comunicação, mecanismos de
defesa, e várias outras estratégias químicas. Odores e
sabores agradáveis ou repulsivos fazem parte de mecanismos
de defesa ou atração.
O “ice-fish”,
da família
Channichthyidae,
está adaptado para
viver em águas
abaixo de 0ºC.
Ocorre na Antártida Physalia physalis (caravela)
e em águas frias da possui um poderoso armamento
América do Sul. químico, utilizado na
Foto: J. Gutt, Alfred alimentação e na defesa.
Wegener Institut Foto: Casey Dunn
ECOLOGIA I . Divisões 2.10
DIVISÕES DA ECOLOGIA
ECOLOGIA MATEMÁTICA
Se ocupa da análise estatística de dados de campo, ASSOCIAÇÃO
DA CALHA DA

bem como do desenvolvimento de modelos NORUEGA

computacionais. Tais modelos, na melhor das


hipóteses, são meras aproximações da realidade e,
na pior da hipóteses, não tem qualquer significado,
uma vez que é impossível mensurar e incluir todos os
fatores bióticos e abióticos de determinam o tamanho ASSOCIAÇÃO

de uma população. DA COSTA DA


DINAMARCA

AUTOECOLOGIA ASSOCIAÇÃO
CENTRAL DO
MAR DO NORTE
Por autoecologia entende-se hoje a ecologia de
espécies. Estudava uma única espécie, seus limites
de tolerância e suas preferências ambientais, a
ação do meio sobre a morfologia, a fisiologia e o
comportamento, desprezando-se as interações com
outras espécies.
ASSOCIAÇÃO
SINECOLOGIA DO CANAL
DA MANCHA

A sinecologia analisava as relações entre os


A matemática e a estatística são extremamente úteis
indivíduos pertencentes às diversas espécies e seu
em estudos ecológicos. A imagem acima ilustra
meio. Atualmente prefere-se usar os termos associações de espécies de ciliados determinadas
ecologia de populações e de comunidades. com o auxílio da análise de agrupamentos (Cordeiro,
1997).
ECOLOGIA I . Divisões 2.11
OUTRAS DIVISÕES DA ECOLOGIA
ECOLOGIA DE POPULAÇÕES. Estuda ECOLOGIA EVOLUTIVA. Considera
processos e dinâmica da população de explicitamente as histórias evolucionárias
uma única espécie. das espécies e de suas interações.
ECOLOGIA DE COMUNIDADES. (ou
sinecologia) estuda as interações entre ECOLOGIA HUMANA. Estuda a forma como
espécies dentro de uma comunidade. as populações tradicionais exploram o
ambiente.
ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS. Estuda os
fluxos da energia e de matéria através dos A Ecologia pode também ser subdividida de
componentes bióticos e abióticos dos acordo com o objeto da pesquisa, por ex.
ecossistemas. ecologia animal, vegetal, de insetos, marinha,
ECOLOGIA DE SISTEMAS. É uma de água doce, e assim por diante. Outro
abordagem interdisciplinar que estuda o maneira freqüente de subdividir a ecologia é
desenvolvimento e a organização de pela indicação do bioma a ser estudado, por
sistemas ecológicos em uma perspectiva ex. ecologia polar, tropical, do semi-árido, etc.
holística.
A metodologia primariamente utilizada para a
ECOLOGIA DE PAISAGENS. Examina investigação também pode ser empregada,
processos e interações através de vários por ex. ecologia de campo, teórica,
ecossistemas ou de áreas geográficas paleoecologia, e assim por diante.
muito grandes.
ECOLOGIA I . Divisões 2.12
ECOLOGIA DO COMPORTAMENTO

Esta ciência também é reclamada pela zoologia, que a


chama de etologia. Em humanos, fala-se de
psicologia social. No caso dos ecólogos, se estuda
o papel do comportamento na adaptação de um
animal ao seu ambiente, de que forma um
indivíduo se relaciona com outros indivíduos e com
outras espécies. A etologia foi criada pelo
austríaco Konrad Lorenz, que recebeu um Premio
Nobel em 1973.
Após observar uma ninhada saindo dos ovos, Lorenz
se deparou com o problema de ter um bando de
pequenos gansos a persegui-lo Konrad Lorenz 1903 - 1989
desesperadamente, daí para desenvolver a idéia
do “imprint” não demorou muito. A sua busca foi
entender o que é inato e o que é aprendizado no
comportamento animal e humano.
BIBILIOGRAFIA
- King Solomon's Ring (1949)
- Man Meets Dog (1950)
- On Aggression (1963)
- Behind the Mirror : A Search for a
Natural History of Human
Knowledge (1973)
- The Foundations of Ethology
(1981)
ECOLOGIA I . Aplicações 2.13

William (Bill) Lishman, artista


plástico, no outono de 1989,
conduziu uma ninhada de gansos
numa rota migratória de Ontário,
no Canadá, até o estado da
Virgínia, nos EUA, voando em um
trike. No verão seguinte, os gansos
voltaram ao seu sítio.

Fly Away Home – Columbia Pictures

O retorno dos gansos chamou a atenção


de biólogos e organizações
conservacionistas. A história virou filme
e atualmente, Bill lidera uma ONG que
assiste a migração de algumas espécies
ameaçadas, com várias aeronaves e
colaboradores nos dois países.

http://www.operationmigration.org
ECOLOGIA I . Aplicações 2.14
Imprint mais a física da migração de aves.
Por vezes podemos observar bandos de aves voando em uma formação em “V”. Esta formação
ocorre em muitas espécies, mesmo entre espécies filogeneticamente distantes. A explicação
mais aceita é de que as aves utilizam os vórtices criados na ponta da asa da ave que a antecede
para economizar energia. A ave que encabeça a formação trabalha mais e, para descansar, vai
ceder a vez à ave imediatamente ao lado. Assim, num esquema de revezamento dos líderes, o
bando voa mais longe.
Usando imprint para ter a confiança dos ninhegos e um trike para liderar e facilitar o vôo dos
bandos, Bill Lishman iniciou um movimento para recuperação de espécies migratórias em
declínio na América do Norte. Apesar de brilhante e inovador, é difícil saber se vai mesmo
adiantar, uma vez que a diminuição de habitats continua a ocorrer.

Uma ala da formação em “V” durante a migração do ganso Vórtices na ponta da asa de um avião agrícola.
canadense. Polar Foundation.org NASA - External flash
ECOLOGIA I . Aplicação 2.15
MIGRAÇÃO DE AVES E A GRIPE AVIÁRIA

Graças a décadas de observações, hoje conhecemos


praticamente todas as rotas migratórias de aves ao redor do
mundo. Porque existem rotas intercontinentais, podemos
imaginar a entrada do vírus H5N1 até a América do Sul.

i çã o do
dis tribu gle
a oo
Veja N1 no G
H5 Earth.
FIM

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