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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, pois sem Ele, certamente eu não teria
chegado aqui.
Luiz Paulo: Meu marido, por ser o meu maior incentivador... Obrigada por todo
direcionamento. Por acreditar, por me fazer avançar e ter tanta paciência. Por me inspirar e
me “dar asas” para voar mais alto. A você meu agradecimento e amor!
Célio e Karla: Meus pais queridos. Obrigada pela vida, pelo amor e por terem permitido que
eu “voasse” longe do ninho.
Luiz Paulo e Rita: Meus sogrinhos... Obrigada por acreditarem e pelo incentivo!
Amanda, PH, Juan, Marcela, Miguel, Marco Aurélio, Juliana, Mari, Jônatas e Larissa: Meus
amigos tão presentes, que apesar da distância, fazem parte ativamente de todo o processo de
construção da minha vida e desta dissertação. Minha gratidão! Vocês fazem parte desta
pesquisa.
À Profª Drª Sandra Duarte, minha orientadora: Obrigada por acreditar e compartilhar
conhecimentos. Agradeço pelo privilégio de ser sua orientanda.
À Violeta, Girassol, Jasmim, Orquídea, Flor de Lótus, Margarida, Begônia, Bromélia, S.J,
S.C: Obrigada por compartilharem suas experiências e permitirem que esta pesquisa fosse
enriquecida com a presença de vocês.
(HORTA, 1979, p. 3)
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RESUMO
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the Islamic religious aspects and the implications of gender
relations in Islam to the Muslin women healthcare, and, through it, discuss the importance for
the healthcare providers having the previous knowledge of the cultural influence of Islamic
faith and health related perceptions, so it can be proposed a health assistance congruent with
these women, taking as reference the Brazilian Women’s Integrated Health Attention Policy.
This research has a qualitative approach, with the development of a field research and
applying a semi structured interview guide, with questions about Islam and women’s health.
A total of ten interviews were conducted, those being: four women converted to Islam, three
women from a Muslim family, two sheiks and one social assistant. The interviews were
conducted at the Islam Divulgation Center to Latin America and Caribe (CDIAL) and at
World Assembly of Muslin Youth in Latin America (WAMY)
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
2.3.11- Aborto.................................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 111
INTRODUÇÃO
Uma pesquisa se faz com o “coração”. Acredito que para pesquisar é necessário
paixão, entusiasmo, dedicação do pesquisador para com o seu objeto de estudo. Por toda a
dissertação realizo analogias comparando o corpo humano com o meu objeto, que no caso, é a
“Assistência de saúde às mulheres muçulmanas no Brasil: Uma análise do sistema religioso
islâmico e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher”, mas, em especial,
introduzo este estudo com a analogia do coração. O Sistema cardiovascular é responsável por
“bombear” o sangue, um fluído vital à sobrevivência do corpo, para todas as partes do
organismo. Nenhuma parte do corpo humano pode ficar sem ser irrigada pelos nutrientes
carreados pelo sangue. Todas as reações bioquímicas responsáveis para que a homeostase do
corpo ocorra são levadas pelo sangue, que é impulsionado por um órgão relativamente
pequeno, mas muito potente: o coração.
Assim, ao compartilhar isto, reafirmo, pesquisas são feitas com o coração. Mesmo o
cérebro que comanda todo o organismo, ele próprio não sobreviveria sem o desempenho
correto do coração. É preciso ter sentimento pelo que se estuda. Um envolvimento que
ultrapassa o “conhecimento pelo conhecimento”. Precisa ter intimidade com o que procura
desenvolver com a pesquisa. A paixão pelo objeto estudado faz com que ele ganhe forças, um
corpo de conhecimentos e vida, até o momento em que ele ultrapassa o seu lugar solitário de
construção do mesmo e vai para além, para o público, para o lugar que passa a ter “vida
própria”.
Tenho passado por todo este processo durante esta pesquisa. A cada dia de construção,
é um misto de dor e amor, dedicação e paixão, e não poderia iniciar esta dissertação sem
escrever o que de fato esta pesquisa significa para mim. Gestar os dois campos de
conhecimento que muito me interessam tem sido e continuará sendo muito especial: Religião
e Saúde.
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A escolha pelo islamismo surgiu após perceber através de outra profissional de saúde,
como a questão religiosa do islam influenciava na prática assistencial. O islam, desperta em
mim o sentimento de preocupação e cuidado, pois observo como a maioria dos muçulmanos,
em especial, as mulheres muçulmanas, são muitas vezes hostilizadas apenas por serem
“diferentes”.
Por causa da atual guerra na Síria e no Líbano, muitos muçulmanos tem buscado
refúgio em outros países, principalmente europeus. Na tentativa de fugir do terror da guerra e
da morte iminente que seus países de origem os oferecem, homens e mulheres, crianças e
idosos enfrentam longas peregrinações a pé ou em embarcações com condições sub-humanas,
para chegarem a países onde possam recomeçar suas vidas.
Com isso, esta pesquisa tem por principal objetivo, analisar em perspectiva de gênero
o sistema religioso islâmico sobre a assistência de saúde às mulheres muçulmanas, tendo por
referência a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). Desejo
apresentar como as relações de gênero no islam ocorrem e como estas repercutem sobre a
assistência de saúde a estas mulheres. A inclusão da PNAISM se dá pela necessidade da
aplicabilidade da mesma no cotidiano dos profissionais de saúde, que inevitavelmente, em
algum momento prestarão cuidados a estas mulheres muçulmanas.
1
Questionário de perguntas no Apêndice I.
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Estas comunidades locais são sunitas, tem uma parcela importante de pessoas
revertidas ao islamismo, além de ter uma frequência de visitantes significativa. A mesquita
atrelada ao CDIAL é a Mesquita Abu Bakr.
Ao todo, dez pessoas foram entrevistadas, sendo estas: quatro mulheres revertidas, três
mulheres de família muçulmana, dois sheiks e uma assistente social. O nome dos
participantes da pesquisa foi alterado. Para as mulheres, os nomes foram alterados para nomes
de flores. A cada entrevista, perguntava para as mesmas qual flor elas gostariam de ser. Elas
ficaram entusiasmadas com esta opção e a maioria optou por seus codinomes. Os homens
terão apenas duas letras como identificação.
Ao ter os nomes das flores, busquei o significado de cada uma. Por coincidência, esses
significados refletem de certa forma, a personalidade de cada uma delas. Segue uma tabela
com os codinomes de todos os participantes e o significado de cada nome fictício.
10 S.C -------
Fonte:Autoria própria Fonte: SIGNIFICADO DAS FLORES
Este tema ainda é pouco explorado pela comunidade científica no Brasil, visto que a
maioria dos estudos está atrelado somente ao islamismo ou à saúde, no entanto, a junção dos
temas assistência de saúde e mulheres muçulmanas é novo e sem muitos estudos
desenvolvidos.
No capítulo 2, intitulado “Os olhos que percebem e as mãos que cuidam: As práticas
de saúde no islam” realizo a intersecção entre os autores consultados, principalmente os
autores muçulmanos e os dados coletados no campo. A perspectiva muçulmana de saúde e
doença e os aspectos relacionados à saúde da mulher no islam são temas discutidos, além de
questões específicas como: casamentos, a estrutura social dos casamentos, o sexo no
matrimônio, consanguinidade e adoção. E ainda, menstruação, métodos contraceptivos,
fertilização in-vitro, pré-natal, parto, puerpério, amamentação e aborto.
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MMSS é sigla de membros superiores e MMII é a sigla de membros inferiores, que são respectivamente os
braços e as pernas. Eles são responsáveis por executar comandos tais como: tocar, apalpar, andar. Assim como
para executar os cuidados de saúde é preciso ter a execução dos braços e pernas.
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Este capítulo tem por objetivo apresentar aspectos básicos do islamismo, tal como uma
breve aproximação com sua história social e seus fundamentos. Fundamentos estes que são
considerados um “código de vida” para seus seguidores. A influência do islam sobre as
relações de gênero é outro fator abordado. Sobretudo, tais conhecimentos são fundamentais
para todo o desenvolvimento desta pesquisa, uma vez que tais fundamentos influenciam no
cotidiano de seus adeptos, assim como nas práticas de saúde.
Tal dado confirma a importância deste estudo e a necessidade deste conhecimento para
os profissionais de saúde que atuam nestas localidades. Considerar as peculiaridades e crenças
dos indivíduos assistidos é saúde.
No deserto da Arábia Saudita viviam tribos nômades, e estas começaram a migrar para um
lugar chamado Meca (Makka), para visitar o Ka`abal, que segundo eles era a casa de Deus
construída pelo profeta Abraão, e em 400 D.C, Meca se tornou o epicentro dessa civilização, e
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em 570, nasce o profeta Maomé em Meca, que aos 40 anos, inicia a prática da religião, e ela
pouco tempo depois recebe o nome de Islam (ELLIS, HATLEY,2003).
Islam é uma palavra árabe e implica submissão, entrega e obediência, além de significar
completa submissão a Allah (Alá). Outro significado literal da palavra islam é paz. Para eles,
só se pode encontrar paz física e mental através da obediência e submissão a Alá, e a paz
física e mental estabelecem a paz na sociedade em geral (CEDI).
Os seguidores do islam são chamados muçulmanos, e podem ser de origem árabe. Não
necessariamente todos os árabes são muçulmanos (CEDI). Muitas pessoas confundem árabes
com muçulmanos, pensando que estes dois conceitos são iguais, pelo fato do islam ter se
originado na Arábia Saudita (LUNA, 2002).
O islamismo é uma religião que adora a um único deus, ou seja, é monoteísta. O seu início
está ligado ao profeta e patriarca Abraão. Acredita-se que o anjo Gabriel, sendo enviado por
Alá, se revelou ao profeta Muhammad (Maomé). Estas revelações foram registradas no
Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos (ARANTES, 2003).
No Alcorão, existem práticas religiosas, tais como orações e jejuns, conceitos familiares,
políticos, de trabalho, alimentação, de vestimentas e de gênero, além de orientar costumes, de
forma que o islamismo se torna um estilo de vida. Estes costumes são estruturantes de uma
cultura. Como propusera Geertz (1989), a religião pode ser tomada como um sistema cultural.
No caso do islam, esta afirmação se baseia nos seus princípios norteadores, baseados na Lei
Islâmica, a Sharia, que é um código normativo válido tanto para as questões da fé, quanto para
as organizações sociais (PACE, 2005), logo, a religião e a cultura se fundem uma a outra.
Não há como separar a religião da cultura, pois essa tem influência dialógica sobre
todas as práticas da sociedade islâmica. Em muitos países, o islam se torna um sistema de
política e de governo, em que a toda a sociedade, do alto da pirâmide hierárquica até a base,
estão submetidas aos preceitos de Alá.
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A história social das mulheres no islam é influenciada pela história das sociedades do
Oriente Médio e das relações de gênero daquele contexto social, que variava de acordo com a
região e as condições socioeconômicas, políticas e estruturais da localidade. Alguns pontos
importantes do islam estão concentrados na sociedade Arábica pré- islâmica (KEDDIE,
1993).
As civilizações históricas perto das civilizações orientais, assim como o Egito, tinham
a figura do macho dominante, bem como as sociedades grega e romana. Alguns estudiosos
têm encontrado semelhanças quanto às questões de gênero em todas as culturas do
Mediterrâneo, enquanto outros têm enfatizado questões de gênero e familiares em um bloco
de culturas, que se estendem desde o Mediterrâneo até o leste da Ásia, com o norte da Europa
e África (KEDDIE, 1993).
Ainda outros estudiosos tendem a não colocar a total responsabilidade no islam quanto
às questões inerentes às relações de gênero, uma vez que as leis e crenças islâmicas foram
uma evolução de alguns costumes já existentes naquelas localidades (KEDDIE, 1993). Um
exemplo claro disto é o uso do véu. No império de Bizâncio, as mulheres cristãs daquela
localidade, eram cobertas por véus e segregadas do convívio social. Ato este, que era de certa
forma, considerado misógino. No entanto, este hábito foi incorporado pelo islam
(ARMSTRONG, 2001).
Havia uma intensa preocupação dos homens quanto à pureza e continuidade da sua
prole. A reclusão das mulheres ao espaço doméstico se tornou mais intensa. Com isso,
políticas públicas foram criadas para que as mulheres se mantivessem em casa, enquanto os
homens se tornavam cada vez mais chefes de família, que garantiam o sustento e a reprodução
(KEDDIE, 1993).
A maioria das religiões pré islâmicas daquela localidade, tanto politeístas, quanto
monoteístas, como judaísmo, cristianismo, zoroastrismo, apoiavam as práticas masculinas
dominantes. O Judaísmo e o Cristianismo viam na figura de Eva, a mulher que introduziu o
mal na terra. No judaísmo, os homens tinham forte privilégio masculino e direito ao divórcio
(KEDDIE, 1993).
incluía qualidades como força e hospitalidade, domínio sobre as mulheres e controle sobre sua
sexualidade. Muitos destes princípios permanecem ao longo dos tempos, tendo como
exemplo, o “crime de honra”, em que mulheres que são suspeitas de transgredir regras sexuais
podem ser repudiadas ou apedrejadas (KEDDIE, 1993).
O homens poderiam ter relações sexuais com as escravas e tê-las como concubinas.
Algumas mulheres escravas eram concubinas de governates e ter formação em artes. Os
homens possuiam o direito de vende-las ou transferí-las. No entanto, após a morte de seu
senhor, a escrava tornaria-se livre. Os filhos das concubinas tinham o mesmo status dos filhos
das mulheres livres (KEDDIE, 1993).
Girassol em suas primeiras palavras, já demonstrou o valor da religião para seus adeptos
e os preceitos norteadores para todas as pessoas que desejam seguir ao islam.
Para os muçulmanos, tudo é feito em “Bismillah”, ou seja, “Se Alá quiser”. Esse é o
código que norteia todas as condutas que estes indivíduos terão. O ser, não existe além do seu
pertencimento religioso. Todo o seu ser é conduzido pelo seu sistema de crenças.
fatores da cultura. Este código de vida e conduta se expressa diretamente nas relações de
gênero.
Existem aspectos que são norteadores aos seguidores do islam, e estes aspectos, por
analogia, são o “sistema nervoso central e periférico” da religião. No corpo humano, o sistema
nervoso central compreende o cérebro, que é o órgão responsável por todo o funcionamento
do organismo; assim como, o sistema nervoso periférico compreende todas as inervações que
saem do cérebro e distribuem os comandos para todas as outras regiões do corpo. Estes nervos
asseguram o bom funcionamento e a execução dos comandos do cérebro.
Nesta mesma perspectiva, a Sharia (Alcorão, Sunna) poderia ser comparada ao cérebro;
assim como as crenças e os cinco pilares, poderiam ser comparados ao sistema nervoso
periférico. Juntos, proporcionam o bom funcionamento e a execução dos princípios norteados
pelos fundamentos da fé islâmica.
A Sharia compreende as palavras de Alá, bem como os atos do profeta. Unidos, formam
os princípios dados aos muçulmanos como norteadores para toda a vida. Segundo Hathout
(1997), a Sharia é compreendida de três formas: a primeira é de culto, a segunda como código
moral e a terceira como um sistema legal. Estes princípios formam um cidadão muçulmano
moralmente aceito, seja no âmbito individual (sua própria consciência), seja no âmbito
coletivo (ter uma conduta aceitável perante os outros). A Sharia é baseada no Alcorão e na
Sunna.
A prática dos cinco pilares da fé constitui a condição mínima para ser uma pessoa
muçulmana. Quando uma pessoa realiza a shahada, ela declara que há somente um deus e que
Maomé é seu mensageiro. Após esta declaração a pessoa se torna muçulmana, e isto na
presença de duas testemunhas. Segundo Hathout (1997), a pessoa que faz essa profissão de fé,
declara que Alá (...) modela os desejos (p.82). E ao confessar Maomé como o profeta e
mensageiro de Alá (...) se compromete a cumprir as instruções e ensinamentos de Maomé e
reconhece a origem divina das mesmas (p.83).
Esse é Allah, vosso senhor. Não existe deus senão ele, criador de todas as coisas: então,
adorai-o. E ele, sobre todas as coisas, é patrono (ALCORÃO 6:102, sem data).
Outro pilar fundamental do islam são as orações (salat). Podem ser realizadas
individualmente ou em grupo. Envolve concentração e disposição mental, física e espiritual
do seu praticante. É realizada cinco vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio dia, à meia tarde, ao
anoitecer e à noite.O momento da oração é para eles muito importante e requer a intenção de
estar plenamente entregue.
E não lhes fora ordenado senão adorar a Allah, sendo sinceros com ele na
devoção, sendo monoteístas, e cumprir a oração e conceder az-zakah (ajuda
caridosa). Essa é a religião reta. (ALCORÃO 98:5, sem data).
Nós não seguimos apenas o que o Alcorão manda, a gente segue também o
que o profeta Maomé (...) direcionou a gente do que fazer entendeu? E é
basicamente isso... Cinco vezes ao dia? Sim, cinco vezes ao dia...
(ORQUÍDEA).
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A intenção é algo importante no islam, algo valorizado por Alá. Se uma pessoa tem a
intenção de fazer algo bom, mas não faz por não ter condições, Alá olha o coração e a
recompensa por sua intenção (GIRASSOL). As abluções (lavagem), realizadas antes das
orações também expressam a intenção. O fato da pessoa se lavar para realizar as orações
representa que, ela tem a intenção de se purificar das suas más ações e está disposta a realizar
as orações com entrega. Essas orações podem ser realizadas em qualquer lugar limpo e
direcionado à Meca.
Então, usei o banheiro, tenho que me lavar com água. Lavei com água e não
me ablui, chegou o horário da oração, não estou com vontade de fazer xixi,
não estou com vontade de evacuar, o que eu vou fazer? Vou começar a
ablução a partir das minhas mãos. A ablução começa das mãos, porque
você entende que a parte genital tem que ficar limpa. Todas as vezes que
você usar o banheiro, você vai higienizar.Pelo menos com água. O mínimo!
Mas, com água e sabão também! (GIRASSOL).
Mas esta higiene não se restringe ao momento das orações. Todas as vezes que homens e
mulheres vão ao banheiro, seja para urinar, evacuar ou soltar flatos, a higiene íntima deve
acontecer. O mesmo acontece quando se dorme e após relações sexuais. Caso o homem tenha
uma polução noturna (ejaculação espontânea durante a noite) também precisa tomar o banho
completo.
Após a relação sexual, tem que ser feito sim o banho completo, dos pés a
cabeça... Isso é uma preparação para a reza. E quando que quebra as
abluções? Você ir ao banheiro, fazer suas necessidades fisiológicos, você
soltar um pum, e você de repente dormir profundamente, e ou ter uma
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O fato de parar todas as outras atividades do dia e se dedicar às orações significa que a
pessoa não deve estar com nenhuma necessidade corporal pendente. Antes das orações e das
abluções, é necessário realizar todas as necessidades fisiológicas. Para os muçulmanos, as
abluções significam uma purificação, o momento em que o ser humano é afastado do mau. O
lavar-se tem um significado além do próprio corpo.
Com efeito, vemos o revirar de tua face para o céu. Então, nós voltar-te-
emos, em verdade para uma posição que te agrade. Volta, pois, a face rumo
à Mesquita Sagrada. E onde quer que estejais, voltai as faces para o seu
rumo. E, por certo, aqueles aos quais fora concedido o livro sabem que isso
é a verdade do seu senhor. E Allah não está desatento ao que fazem
(ALCORÃO 2:144, sem data).
fato, observando através da saúde, ela tem razão. A glande quando mal higienizada pode
acumular sujidades e bactérias.
Para cada situação diária, existem súplicas e recordações que se encaixam com aquele
determinado acontecimento, por exemplo, antes das necessidades fisiológicas e abluções:
Não tem como ter problema de pele... A gente tem que lavar o rosto, pelo
menos, cinco vezes ao dia. A religião ainda me ajuda a ficar com a pele
bonita... (risos) (JASMIM).
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A zakat é a esmola ritual que todo muçulmano realiza. Não é algo voluntário. É
obrigatório. Consta 2,5% ao ano das economias líquidas anuais à caridade (WAMY, sem
data). Segundo Hathout (1997), a zakat é o direito que o pobre ostenta sobre a riqueza do
rico.
Toma de suas riquezas uma Sadaqah, com que os purifiques e os dignifiques (ALCORÃO
9:103, sem data)
O jejum do Ramadã é no nono mês do calendário lunar, e se adianta onze dias a cada ano.
Desde o amanhecer até o pôr do Sol, os muçulmanos não se alimentam nem ingerem bebida
alguma. Não podem ter relações sexuais e exercem o auto controle durante o dia. Mulheres
lactentes, crianças, pessoas enfermas e idosos estão isentos do jejum.
Ó vós que credes! É vos prescrito o jejum, como foi prescrito aos que foram antes de vós,
para serdes piedosos (ALCORÃO 2: 183, sem data).
Além dos cinco pilares, a Sunna (Conjunto de normas baseadas nos atos do profeta
Maomé), são as normas, regras absolutas e tradições (HATHOUT, 1997). A Sunna é tudo que
o profeta Maomé fez, ordenou, proibiu, explicou do Alcorão e abordou em várias ocasiões. Os
atos e ditos do profeta em acordo com o Alcorão são norteadores aos muçulmanos. As crenças
nos anjos, nos profetas e mensageiros, também constituem parte significativa do sistema de
sentido do islam.
Dentro das discussões acerca das relações de gênero no islam, o patriarcado imprime a
construção do homem dominante e da mulher subordinada. Geralmente as religiões
monoteístas seguem este padrão de construção social. Essa discussão acerca das relações de
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Uma revertida, com uma linguagem “abrasileirada” relatou bem o sentido disto. Com suas
palavras, demonstrou o sentido de uma das esferas das relações de gênero expressa através da
vestimenta. Explicitou o conhecimento de que o uso do véu pode ser algo construído por
homens, mas que ela usa não por eles, mas por Alá.
Uma freira, por exemplo, eu tenho o maior respeito quando vejo uma freira
trajada, com o lenço. Então, você fala: “Ela está fazendo isso por deus, não
é por ela!”. E a muçulmana não é diferente. É lógico, a gente é mais
piriguete, a gente adora uma maquiagem, a gente é ser humano. Mas isso
dentro de um limite também... Porque a gente também não pode chamar a
atenção. Como uma freira mesmo... Usar roupas apertadas, até porque
incomoda... Mas a gente procura seguir o que deus determina, enfim, não é
um homem que impôs, é Alá... (ORQUÍDEA).
As relações de gênero no islam são afirmadas na prerrogativa de que não existe igualdade
de gênero entre homens e mulheres exatamente devido à questão biológica. Mulheres são as
únicas a gestar e ter filhos. Homens tem maior força física devido à musculatura ser mais
forte. Os papéis sociais entre homens e mulheres são bem demarcados e definidos. Mas, estas
relações foram construídas ao longo da formação do islam. A história social do islamismo
demonstra isso. A influência desta história ultrapassou o tempo e permanece até os dias
atuais.
específico, os homens são os responsáveis pela continuidade dos valores da religião. Os filhos
são instruídos a seguirem os valores e religião do pai, e os filhos pertencem à família do pai.
Ao abordar este assunto com a Girassol, ela relata: O islam é perfeito, as pessoas não!
Como em todas as religiões, existem aqueles que levam a religião mais a sério, outros nem
tanto. A Flor de Lótus relatou: Segundo o profeta, não buscar conhecimento é errado.
Existem aqueles que proíbem as mulheres de estudar, mas eles estão indo contra a religião.
O próprio profeta incentivou os crentes a adquirirem conhecimento. No entanto, o
conhecimento que ele mais incentivou foi o conhecimento da religião.
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As mulheres revertidas que entrevistei, todas tinham acesso ao público e não mudaram sua
rotina de trabalho após a reversão. A necessidade em contribuir com o financeiro no lar
favorece este dado. Contudo, mulheres de família muçulmana, tem o direito de trabalhar.
Algumas trabalham, outras não. As mulheres nascidas muçulmanas primam pela família.
Muitas optam por não trabalharem fora de casa.
Depois que eu vim para o islam, eu demorei três anos para colocar o lenço.
A roupa querendo ou não te dá uma restrição. A questão de referenciar
quem você segue (VIOLETA).
Uma coisa que você consegue perceber é que, a sua roupa está no seu
contexto, no seu ser, e isso faz você se sentir melhor. Eu já nem percebo,
porque no meu coração eu já tenho certeza que é isso. Então é isso, a
vestimenta só complica se você não está preparado para ela... A mesma
coisa quando você vê uma garotinha andando na rua de mini saia, ela fica o
tempo todo ajeitando a mini saia dela... Por quê? Porque não está
confortável. E porque não está confortável? Porque dentro dela não é
aquilo. Por causa do modismo ela faz aquilo. Já uma mulher muçulmana
não. Quando ela se decide, ela anda por aí e não tem problema. Não tem
drama... (VIOLETA).
(...) Não usava o véu ainda, mas já era muçulmana. Na verdade eu fiz a
minha Shahada quando estava grávida. Eu já vinha aprendendo muitas
coisas sobre o islam há três anos, mas no momento que eu fiquei grávida foi
quando me decidi (JASMIM).
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O uso do véu é algo muito discutido entre estudiosos do islam, tanto por seu significado
para as fiéis, quanto por seu impacto em uma sociedade judaico cristã como a brasileira.
Causa desconforto aos olhos de quem vê uma mulher muçulmana usar seu véu em um local
público, no entanto, uma freira não causa tanto estranhamento assim. As mulheres
muçulmanas, em alguns casos, sofrem discriminação pela adesão ao véu. Algumas mulheres,
no entanto, não se importam com esta discriminação, pelo contrário, se sentem empoderadas e
respeitadas por sua vestimenta. Orquídea, por exemplo, é revertida há quatro anos, e segundo
ela, se sente mais respeitada atualmente do que quando não era muçulmana. Já foi espírita,
umbandista, testemunha de Jeová e católica antes de se tornar muçulmana, e relata que
conquistou respeito através da vestimenta islâmica.
A questão do hidjab não foi difícil, graças a deus não foi difícil... Para falar
a verdade, eu me senti mais feliz... Eu me sinto mais feliz assim, o véu me
segura em algumas coisas, por exemplo, por que a gente tem que passar um
exemplo para as outras pessoas, então se torna um cuidado a mais. Eu antes
de fazer alguma coisa... Opa! Um muçulmano não faria isso! E eu falava
bastante palavrão né, então você tem que começar a... É lógico, não é do dia
para a noite, é uma coisa gradativa, de pouquinho em pouquinho... Porque é
muita informação no início, e se você pensar em todas as coisas, você
enlouquece, então assim, se você demorou nove meses para nascer, e este é
o tempo correto, então eu não posso adiantar as coisas.... Cada coisa no seu
tempo.... (ORQUÍDEA ).
Eu não sofro discriminação, graças a deus... Mas eu tenho uma amiga que
já ouviu na rua: ‘Aí vem a mulher boom!’ (BEGÔNIA).
Eu me sinto muito bem com o meu véu... Apesar de que eu já ouvi algumas
coisas das pessoas que me conheciam antes de eu me reverter. Falaram
assim: “Ah, porque você está usando esse véu? Está parecendo uma velha!”
(...) Isso causava um pouco de incômodo nas pessoas que já estavam
habituadas a me ver com as roupas daqui... No meu trabalho, eu fico no
meio de muitos homens... Então eles se incomodavam... “Por que você está
vestida desta maneira?” Então... Não conseguiam compreender
(MARGARIDA).
vestimenta, é uma barreira física que confere proteção à mulher. É uma barreira simbólica,
que exprime a segregação entre o público e privado. O Profeta Maomé no Alcorão já dizia
isto e orientava suas esposas a se cobrirem ao sair de casa, como forma de proteção e para que
estas não fossem molestadas.
Dize às fies que recatem os seus olhares, conservem os seus pudores e não
mostrem os seus atrativos, além dos que (normalmente) aparecem; que
cubram o colo com seus véus e não mostrem seus atrativos, a não ser aos
seus esposos, seus pais, seus sogros, seus filhos, seus enteados, seus irmãos,
seus sobrinhos, às mulheres suas servas, seus criados isentos das
necessidades sexuais, ou às crianças que não discernem a nudez das
mulheres; que não agitem seus pés, para que não chamem à atenção sobre
seus atrativos ocultos. Ó fiéis, voltai-vos todos, arrependidos a Alá, a fim de
que vos salvais (ALCORÃO 24:31, sem data).
Ó Profeta, dize a tuas esposas, tuas filhas e às mulheres dos fiéis que
(quando saírem) se cubram com as suas mantas; isso é mais conveniente,
para que se distingam das demais e não sejam molestadas; sabei que Alá é
indulgente, Misericordiosíssimo” (ALCORÃO 33:59, sem data).
O hidjab veio não apenas para quebrar um pouco isso de você ser julgada,
desrespeitada... Mas, veio para dizer: ‘Oh, aqui tem um limite!’ Você não
vai olhar para todo mundo assim... É uma questão de preservar e guardar...
Que te poupa no geral... É isso... Eu escolho o que os outros veem, não são
eles que olham tudo o que eu mostro (FLOR DE LÓTUS).
O conceito aqui do Brasil é que, uma mulher para estar bem vestida, para
estar bonita, interessante, ela tem que estar no conceito do que está na
moda... Do que é provocativo principalmente para o sexo oposto. E o hidjab,
o objetivo é se preservar, e não se mostrar. Isso causava um pouco de
incomodo nas outras pessoas (MARGARIDA).
(...) O hidjab é uma proteção da mulher! Proteção do que? Dos olhares, dos
assédios. Sabe, querendo ou não, uma mulher de lenço, ela se resguarda
mais, ela toma mais cuidado. Na realidade, o Alcorão menciona isso porque
Alá cuida da criatura dele, entendeu? (ORQUÍDEA).
Ele (Alá) quer o melhor. E a mulher é como uma pérola.... Eu sempre uso
um exemplo talvez até grosseiro, mas que tem uma grande verdade. Quando
você vai comprar uma bala, você vai sempre pegar a bala que está no
pacotinho fechado, você nunca vai pegar aquela bala que está
desembalada... Por quê? Porque aquela bala que está desembalada todo
mundo já viu... Todo mundo já sabe como ela é, enquanto a mulher
muçulmana é mais protegida para ela mesma... Não é o homem que impõe, é
por Alá! (ORQUÍDEA).
35
O véu tem sido um dos símbolos mais utilizados para caracterizar as mulheres
muçulmanas e o islam em geral. A imagem das mulheres muçulmanas que utilizam seus véus
tem se propagado de maneira global, e sido observado pelo Ocidente como símbolo máximo
de opressão, que carrega toda a dominação masculina sobre as mulheres. A partir deste ponto
de vista, as mulheres islâmicas são percebidas como necessitadas de serem descobertas. A
declaração universal dos direitos humanos tem sido usada para legitimar estes atos de
salvação, no entanto, o uso do véu pode ser demonstrado por significados que revelam e
contradizem a visão ocidental (ESPINOLA, 2005).
Eu uso o véu porque não existe muçulmana completa sem véu. Eu me sinto
mais confortável com o véu... Eu uso o véu e ninguém me obrigou. A minha
mãe, por exemplo, não usa... Vou dar um exemplo: ‘Eu, onze horas da noite,
vou colocar o lixo para fora. Não preciso colocar o véu!’ (...) A minha mãe
não usa porque ela não quer. É uma obrigação o uso do véu. Não é
opcional. Mas ela não usa porque não quer. (...) O meu pai não fala nada.
Na família da minha mãe, tem muita gente que não usa. Na família do meu
pai tem... A maioria usa. É que não adianta nada usar forçada... Isso não
vai fazer dela uma pessoa melhor. Isso é ela com ela. Não ia fazer bem para
mim, mas faz para ela. (...) Tem a questão também de palestra... Às vezes a
menina vai de palestra em palestra e de tanto ouvir que tem que usar, usa.
Mas, usa por medo... Isso tem que vir de você (BEGÔNIA).
3
Dado este, encontrado no meu campo de pesquisa. Não posso afirmar que este seja um dado encontrado em
toda a comunidade muçulmana.
36
Entrar no debate acerca das mulheres muçulmanas quanto ao uso das suas vestimentas, é
ficar a beira de um abismo inultrapassável das culturas essencializadas e do choque das
civilizações. No entanto, é impossível negar que a vestimenta vem sendo transformada em um
fato político (SILVA, 2008).
O véu, ao mesmo tempo em que separa, delimita fronteiras, também protege, e pelo
fato de seguirem o cânone religioso do qual acreditam, faz com que a auto estima das
mulheres que a utilizam seja preservada e valorizada. Esta delimitação colocada pelo uso do
véu é bastante complexa, pois se dá por meio de um processo reflexivo acerca das atitudes
intrínsecas da religião, da própria religiosidade e do entorno social (ZAIA, 2010) e é visto
como uma demarcação simbólica, temporal, espacial, sexual e ética (FERREIRA, 2013).
Relatou Mu’auiah Ibn Haida (ra) que foi perguntou ao mensageiro de Allah
(saws): ‘ Perante quem é permitido desnudar-nos? ‘ O Profeta (saws)
respondeu: ‘ Somente pode se desvestir perante tua esposa. ‘ E perguntou:
‘Oh Mensageiro de Allah! Que acontece se outros parentes vivem conosco?
O Profeta (saws) respondeu: ‘ Deve se assegurar que ninguém te veja nu. ‘
Disse: Oh Mensageiro de Allah! E quando me encontro só? Respondeu
(saws): ‘ Allah é mais digno de teu pudor que as pessoas’ (SEXUALIDADE
NO ISLAM).
38
No vídeo Vozes do islam, uma das entrevistadas diz: Eu não me sinto oprimida por
causa do uso do véu (apud FERREIRA, 2013). Ao se discutir este tema, é necessário observar
qual é a aceitação por parte das mulheres que acreditam que a utilização da vestimenta e do
véu seja a forma correta de se apresentarem publicamente, visto que o próprio Alcorão diz
isso (FERREIRA, 2013).
Mernissi (1996), diz não ser contrária ao uso do véu, desde que este não seja
obrigatório, e que o islam do início da sua história social não é o mesmo dos dias atuais, por
isso, o conceito que determina o uso do mesmo deveria ser reavaliado. Neste mesmo livro
(Sonhos de transgressão), ela mesma conta que aos nove anos, quando seu primo precisou
parar de frequentar o rito de beleza das mulheres e ir para a ala dos homens, a questão da
segregação dos gêneros se tornou bem forte e marcante.
O véu está para a feminilidade, assim como a barba está para a masculinidade. Esta é uma
construção social do islam que é fortemente assimilada por seus adeptos. Para ilustrar,
apresento alguns tipos de véus nos apêndices.
A Margarida revelou que precisou realizar adaptações quanto ao seu novo estilo de
vestimenta e expôs a repercussão direta desta sobre a sua saúde.
O contato físico entre homens e mulheres é outro aspecto evidenciado nas relações de
gênero. Geralmente é evitado. Pude observar isso claramente a cada nova ida à mesquita.
Observei que mulheres se cumprimentam com abraços e beijos no rosto. Os homens apertam
as mãos dos outros homens, até se abraçam. Quase nunca um homem toca em uma mulher,
mesmo que seja para um breve aperto de mãos. Os homens que observei tocar em mulheres,
ou eram suas esposas, mães e filhas. Esse limite é bem respeitado por todos e acontece
naturalmente.
Eu como uma pesquisadora outsider, a princípio fiquei um pouco sem reação quando
era necessário falar com alguns homens, mas, as próprias muçulmanas me apresentavam a
“conduta correta” perante os homens. Isto normalmente é conversado entre elas. As “mais
experientes” no islam ensinam as novas muçulmanas a se portar. Os modos de
comportamento para homens e mulheres são repassados de forma efetiva entre eles.
Em um dos dias que estava com as mulheres, em uma conversa muito informal, elas
relataram a maneira como eu estava sentada, de pernas cruzadas. No momento pensei o que
haveria de tão estranho naquilo, mas, logo uma delas explicou: Nunca uma mulher senta de
pernas cruzadas na presença de um homem. Enquanto estamos apenas nós, tudo bem! Mas,
se um homem chegar aqui, é preciso sentar com as pernas descruzadas e fechadas!
(ORQUÍDEA).
As relações no islam são homo sociais, ocorrem entre pessoas do mesmo sexo. A exceção
para o toque entre homens e mulheres que não são do convívio íntimo aconteça, está quando a
pessoa não é considerada permitida para o casamento. Por exemplo, a Violeta, uma senhora
que tem sua rotina diária no CDIAL. Ela é cumprimentada pelos homens dali, mantém
conversas com eles e nenhum deles demonstra algum tipo de distanciamento. Isso pelo fato
dela não ser uma potencial esposa. Por eles, ela é considerada uma mulher mais velha da
família.
40
1.4. AS REVERTIDAS...
O novo revertido recebe um novo nome, que tem como função despertar uma nova
qualidade específica e oferecer bênçãos que o islam pode trazer. Muitos revertidos
muçulmanos assumem novos nomes como Mohamed, Aisha, Khadija. No entanto, há aqueles
que preferem preservar seus nomes originais (RIBEIRO, 2012).
Dentre muitas justificativas para a reversão ao islam, está à busca por valores morais e
regras, ou a resposta para questionamentos pessoais. (RIBEIRO, 2012). No CDIAL e na
WAMY, comunidade muçulmana sunita de São Bernardo do Campo, São Paulo, onde a
pesquisa de campo da presente dissertação foi desenvolvida, tive contato com mulheres
revertidas ao islam. A Violeta, Jasmim, Orquídea e Margarida são oriundas de outras
religiões.
Eu procurava uma escola para os meus filhos, para que eles pudessem
permanecer juntos. Um passou para a 5ª série e ou menor passou para a 4ª
série. E, conhecendo aqui o Centro Islâmico, eu tive contato com o sheik que
tinha um projeto sobre escola de memorização do Alcorão em sistema de
internato, ou seja, as crianças ficavam de segunda a sexta na escola, onde
tinham o apoio escolar e aulas de religião, e aos finais de semana
retornavam para casa. Por ser uma escola com ensinamento islâmico e de
memorização do Alcorão, eu comecei a pesquisar muito sobre esta questão,
porque eu queria saber o que os meus filhos aprenderiam e onde eu estava
colocando os meus filhos. Em virtude disto, eu comecei a ter contato com
palestras que aconteciam aqui mesmo na mesquita e alguns encontros de
irmãs muçulmanas. E, quanto mais eu me aprofundava na pesquisa sobre a
religião, mais eu me identificava com os preceitos e a maioria deles eu já
praticava, mesmo sem a consciência de que era uma regra do islam.
Anteriormente, eu era católica, e nós temos regras também, mas são muito
frouxas hoje em dia. Então, o catolicismo não é praticado como reza a
41
Ribeiro (2012) em seu artigo expõe o depoimento de uma revertida que declarou não ter
mudado a sua fé, apenas a crença. Ocorreu a troca de deus por Alá, de Maria pelo Alcorão.
Outro dado interessante apresentado pela autora foi o fator decepção. A mesma, afirma que a
decepção em algum nível com as religiões pregressas desencadeia as reversões. A busca por
respostas ou relacionamento com deus também são outros fatores.
atuais não fala diretamente aos seres humanos. Este dado subentende a carga religiosa
pregressa sendo impressa na experiência de reversão e na vivência diária das mulheres
revertidas.
As reversões podem ser de três tipos: Primeiro, os indivíduos que mudaram de religião,
devido a uma crítica na experiência anterior que não ofereceu a intensidade espiritual
almejada. A segunda, diz respeito a quem nunca pertenceu a religião alguma. E a terceira, são
as pessoas que já pertenciam a uma família muçulmana, mas, decidem por engajar-se
efetivamente na comunidade (RIBEIRO, 2012).
Sendo assim, após a compreensão prévia do islam e suas implicações na vida cotidiana,
prossigo por apresentar estas mesmas implicações sobre as práticas de saúde, principalmente,
sobre as mulheres muçulmanas.
44
Neste capítulo será abordada a perspectiva muçulmana de saúde, com especial enfoque
na perspectiva da saúde das mulheres segundo o islam. Os dados coletados no campo de
pesquisa através das entrevistas com as mulheres muçulmanas e os sheiks no Centro de
Divulgação do Islam para a América Latina e o Caribe e Assembléia Mundial da Juventude
Islâmica, serão realizados por blocos temáticos referentes aos temas inerentes às questões da
saúde das mulheres, tais como: casamentos, menstruação, métodos contraceptivos, fertilização
in-vitro, pré-natal, parto e puerpério, amamentação e aborto.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como ausência de doença,
mas, como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. (SEGRE, FERRAZ, 1997,
p.539).
Com estes dois pressupostos, conclui-se que saúde não é apenas a ausência de um
estado patológico, mas a capacidade do ser humano de estar inserido físico, mental e
socialmente na comunidade que habita. O estar inserido vai além da saúde física. O bem estar
psicológico, social e de afeição necessitam ser inclusos na visão de saúde.
discutir que o conceito de saúde preestabelecido pela OMS pode ser agregado a outros
conceitos, por exemplo, o de Leininger e de Maslow, para que a visão acerca do ser humano
em suas necessidades seja ampliada e melhor assimilada para a compreensão do ser holístico.
4
Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAe4egAE/faculdade-sao-luis-franca-17-0utubro-2011?part=2.
46
A perspectiva de saúde para alguns estudiosos islâmicos define saúde como um estado
de completo bem-estar, espiritual, físico, psicológico e social (AL-KAHYAT, 1997, apud,
LOVERING, 2008). Acredita-se que a saúde é a segunda maior benção de Alá, colocando a fé
em primeiro lugar. Esta perspectiva vem dos hadis: O profeta disse: ‘Existem duas bênçãos
que muitas pessoas não apreciam: saúde e bem estar” e disse também: “ Não há outra
benção maior que a fé, que é melhor que o bem estar” (AL-KAHYAT,1997 apud
LOVERING, 2008).
fica muito evidenciada. A Violeta, Orquídea e Jasmim relataram que o fato de se tornarem
muçulmanas às conduziu à saúde, pois a prática das rezas diárias e ligação com Alá às
permitem vivenciar um bem-estar espiritual que se reflete no físico.
As recomendações dadas pelo Profeta Maomé quanto á higiene pessoal 5 é algo muito
forte dentro do islam. O islamismo vivencia de maneira muito intensa o corpo, seja no
controle, seja na consciência corporal (em manifestações fisiológicas, tais como se alimentar,
urinar, menstruar, evacuar), e cada uma destas atitudes demanda regras. No contato com as
mulheres muçulmanas, todas que tive a oportunidade de conversar, seja em momentos
informais, seja nas entrevistas, todas elas vivenciam a experiência do corpo de forma muito
peculiar. A religiosidade se expressa no corpo de forma muito específica. O espiritual é
manifesto através do físico, como já foi explicitado no capítulo anterior.
As doenças podem ser a vontade de Alá para que a pessoa descanse ou cuide melhor
do seu corpo, ou para que volte ao equilíbrio. A dor física tem a função de lembrar o ser
humano que existe punição para as más ações e que o caminho para estas más ações é o
inferno (LOVERING, 2008).
Muitos muçulmanos percebem a doença como uma parte da vida ou um teste de Alá
(OUBEIDAT et al, 2008). Outra crença é que as doenças estão relacionadas aos “olhos do
mal”, às trevas e aos “jins”, que são seres espirituais do mal. Esta crença é comum
principalmente entre muçulmanos de algumas partes da Europa, Oriente Médio e norte da
África (LOVERING, 2008).
Existe uma súplica realizada pelos muçulmanos quando estão em momento de dor ou
doenças:
5
Manter a higiene corporal através das abluções.
48
Os cuidados com os enfermos são percebidos como uma obrigação religiosa, ordenada
por Alá. O Alcorão incentiva o cuidado com os enfermos e idosos. Quando um pai estiver
idoso e doente, é obrigação da família cuidar, principalmente as mulheres.
Quando uma família muçulmana tem algum filho ou parente com deficiências física
ou mental, percebe-se este fato como uma punição de Alá pelos pecados da família ou
individual, associa-se à hereditariedade. Isto traz um nível de vergonha à família, que fica em
um nível de honra inferior na sociedade, ou seja, afeta a posição social da família. Muitos
membros solteiros podem passar a ter dificuldade em conseguir bons casamentos.
Algumas famílias que possuem crianças e membros da família com algum nível de
deficiência, os escondem e isolam da sociedade. Evitam receber visitas em casa, quando
saem, os deixam em casa. Muitas vezes, existe resistência em levar estes familiares para um
tratamento especializado e a própria família presta os cuidados necessários àquela pessoa
(HASNAIM; SHAIKH; SHANAWANI, 2008).
A saúde da mulher pode ser definida como as doenças ou condições que são
exclusivas às mulheres ou envolvem diferenças sexuais particularmente
importantes para as mulheres. Essa definição reconhece as crescentes
evidências científicas que sustentam um enfoque direcionado para sexo e
gênero, e expande o conceito de saúde da mulher para além da ênfase
tradicional nos órgãos reprodutivos e suas funções. Com o tempo, a
definição passou a incluir uma apreciação acerca do bem-estar e da
prevenção, da interdisciplinaridade e da natureza holística da saúde da
mulher, da diversidade das mulheres e suas necessidades de saúde ao longo
da vida e do papel central das mulheres como pacientes e participantes
ativas da própria assistência à saúde que recebem. (HENRICH, 2009)
A Saúde Integral da Mulher foi um conceito criado nos anos 80 a partir do movimento
de mulheres brasileiro, para introduzir o debate público sobre questões relativas à reprodução
e sexualidade. A sociedade brasileira passava pelos últimos momentos do regime militar e
mudanças políticas no âmbito federal indicavam iniciativas nas políticas públicas de saúde.
50
Uma destas mudanças foi à criação em 1983 do PAISM, Plano de Assistência Integral a
Saúde da Mulher, cujas diretrizes norteiam uma assistência congruente às necessidades
específicas da biologia feminina (BVM, 2015).
No Brasil dos anos 80, a proposta da Saúde Integral da mulher engloba vários
aspectos, tais como direitos reprodutivos e sexualidade e a produção de saberes sobre o corpo
feminino teve avanços significativos. A instalação de serviços de assistência à saúde das
mulheres foi redefinida a partir das próprias mulheres, como novos parâmetros criados por
mulheres. A existência corporal (biológica), social e política foram aspectos inerentes a essa
redefinição dos serviços de saúde (BVM, 2015).
Percebeu-se que gênero não aparece como texto no PAISM, mas, como ação, através
do conceito de sujeito – mulher – cidadã da saúde. Tendo por referência a diferenciação do
corpo, com cuidados específicos, com promoção de direitos e visibilidade social, política e de
saúde (MEDEIROS, GUARESCHI, 2009). A criação da terminologia Saúde Integral à
Mulher possibilitou avanços nas questões relativas à saúde feminina e no âmbito social e
político.
51
2.3.1. CASAMENTOS
Casa-se com uma mulher por quarto motives: Riqueza, Religião, beleza ou
família. Escolha sempre a religião. (Mizan al-Hikmah v.6 – p.277, apud,
AYYATULLAH, 2008).
De acordo com a sharia, a maneira correta de estabelecer uma relação entre homem e
mulher é através do casamento. O lar muçulmano é baseado na autoridade, controle e
disciplina. A disciplina só pode ser mantida através de uma autoridade central, que segundo o
52
islam, vem pela figura do pai. Cada cônjuge é designado para uma função específica de
acordo com a sua natureza e com a justiça (El HANINI, 2007).
No entanto, apesar do grande número de pessoas revertidas, grande parte dos fiéis são
oriundos de outros países, predominantemente muçulmanos e que tem o costume dos
casamentos arranjados. Begônia relatou : Não gostaria de me casar com meu primo, apesar
do meu pai dizer que seria o melhor a se fazer. Eu acho ele sem graça e não o vejo como meu
marido. A sua fala exprime o que ocorre em famílias muçulmanas oriundas de países
muçulmanos, que seus casamentos, muitas vezes são arranjados.
6
Consanguinidade em genética significa problemas genéticos decorrentes de indivíduos com grau de parentesco
muito próximo, primeiro e segundo graus.
7
É uma condição genética, que gera um conjunto de alterações na estrutura ou na síntese da molécula de
hemoglobina, que pode ser resultado de alterações genéticas. De forma geral, as alterações são de duas
53
naturezas: a primeira que altera a estrutura das moléculas, e a segunda, que altera a velocidade de produção das
moléculas de hemoglobina ou as impossibilita de serem produzidas.
8
É uma doenças genética que se manifesta principalmente em negros, mas pode se manifestar em brancos
também. Consiste na deformação da molécula de hemoglobina, que assume a forma de foice, com isso, não tem
a capacidade de carrear as moléculas de oxigênio par ao organismo. Esta conformação estrutural ocasiona o
acúmulo de hemoglobinas que não circulam corretamente pelo organismo, fato este que também impede a
chegada de oxigênio para determinados locais do organismo (AAFESP).
9
Consiste em uma desordem hereditária que causa anemia. É comum em pessoas da Grécia, Itália, Turquia e
Líbano (ABRASTA).
10
É uma síndrome autossômica recessiva exclusivamente detectada em pessoas de origem árabe. A síndrome
consiste em um hipoparatireoidismo com severo retardamento mental e características faciais típicas (OMAN
MEDICAL JOURNAL).
11
É uma doença genética causadora da deficiência produção da enzima fenilalanina hidroxilase, que gera um
acumula de fenilalanina no organismo. Pessoas com esta síndrome devem realizar dieta restritiva quanto à
fenilalanina.
12
É uma doença relacionada ao erro do acúmulo de glicogênio no organismo, que resulta em alterações no
acúmulo da molécula de glicogênio.
13
É uma desordem genética de caráter autossômico recessivo, caracterizado pela deficiência do metabolismo da
frutose de ser transformado em glicose. Frutose é um açúcar monossacarídeo encontrado nas frutas.
14
Consiste em uma incapacidade genética em metabolizar a galactose corretamente e transformá-la em glicose.
Galactose é um açúcar monossacarídeo encontrado no leite.
15
Doenças hereditárias autossômicas recessivas causadas pela deficiência de uma determinada enzima do
metabolismo dos aminoácidos, resultando no acúmulo tecidual de um ou mais ácidos carboxílicos (VARGAS,
WAJNER, 2001).
16
Presença excessiva de determinados aminoácidos na corrente sanguínea.
54
Na realidade, muitos muçulmanos não vivem neste modelo de família estendida por
conta das imigrações, assumindo a estrutura da família nuclear. Mas em todos os modelos de
família, os homens sempre são os chefes da família, por conta da liderança e
responsabilidades, e ainda, responsáveis por prover toda a economia da casa (DHAMI,
SHEIK, 2000).
A Sharia proíbe a adoção legal. Não é permitida a concessão do nome dos pais
adotivos tornando a criança uma herdeira legítima. A guarda legal é permitida, receber parte
da herança, porém, legalmente não é permitido. Este fato não impede que os guardiões desta
criança a amem e cuidem, no entanto, a criança precisa saber a que família pertence
biologicamente para que suas raízes familiares sejam mantidas (EL HANINI, 2007).
(...) E não fez de vossos filhos adotivos vossos filhos verdadeiros. Isto é o
dito de vossas bocas. E Allah diz a verdade, e ele guia ao caminho reto.
Chamai-os pelos nomes de seus pais: isso é mais equitativo perante Allah. E
se não conheceis seus pais, eles serão vossos irmãos, na religião, e vossos
aliados. E não há culpa, sobre vós, em errardes, nisso, mas no que vossos
17
No islam existem dois tipos de núcleo familiar: o nuclear e o estendido. A família nuclear é aquela composta
por pai, mãe e filhos. A estendida geralmente é formada no núcleo familiar dos pais do marido, ou seja, o casal
ao contrair o matrimônio, passam a morar junto à família do marido.
55
Crianças adotivas não têm direito à herança, a não ser que em vida, seja feito um
testamento incluindo estas crianças, mas a quantia não pode ultrapassar 1/3 do total. Crianças
adotivas não são herdeiras. Esse princípio é aplicado por conta da justiça com os filhos
biológicos. Existe outro tipo de adoção que é através da amamentação, mas, este explicarei do
item amamentação.
O islam não diz que o desejo sexual é maligno ou que necessariamente está carregado
de más consequências. Existe um esforço islâmico no sentido de regular a sexualidade
humana de maneira benigna. De acordo com o ponto de vista islâmico, o desejo sexual não só
é compatível com a intelectualidade e espiritualidade humana, mas também é compatível com
a natureza e o temperamento dos profetas. De acordo com a tradição (hadith), o carinho e o
afeto para com as mulheres eram características da conduta moral dos profetas
(AYYATULLAH, 2008).
As tradições mostram que os profetas tinham consideração por suas mulheres e pelas
mulheres do povo, ao mesmo tempo que desaprovavam qualquer inclinação para o celibato e
estado monástico. Em um dos hadiths, um dos companheiros do profeta, Uzman ibn Mad’um,
se consagrava à adoração de Deus de tal maneira que praticamente jejuava todos os dias e
passava as noites em vigília. A sua mulher levou esta questão para o profeta Maomé. Quando
este soube, reagiu com visível aborrecimento e se dirigiu onde estava o seu companheiro. Ao
chegar lhe disse:
56
Uzman! Saiba que deus não me enviou para que promova a vida monástica.
Minhas leis(Shariah) são meios para intensificar a facilitar aos humanos a
realização de suas vidas. Pessoalmente, eu ofereço minhas orações, jejum e
mantenho minhas relações conjugais. Consequentemente, seguir-me no
islam significa cumprir os costumes estabelecidos por mim, os quais incluem
o fato de que os homens e mulheres devem casar-se e viver juntos em
harmonia (AYYATULLAH, 2008).
Existe uma ética sexual no islam que incluem normas sociais, hábitos pessoais e
modelos de comportamento que estão diretamente ligados aos instintos sexuais. Alguns destes
aspectos e práticas sexuais são:
O sexo é sagrado, por isso é necessário realizar as abluções antes e depois das relações
sexuais. O estar limpo permite o sagrado. Limpo no corpo e um para o outro. O Sexo é em
nome de Alá.
Relatou Ammar Ibn Iasir (ra) que o Profeta (saws) disse: ‘Ha três pessoas a
quem os anjos jamais se aproximam: o cadáver de um incrédulo, o homem
que usa perfume de mulher e quem houver mantido relações sexuais até que
tenha realizado o udu.(Abu Daud 4174) (SEXUALIDADE NO ISLAM).
Também é recomendável que quem tiver mantido relações e quiser ter uma
continuação, realize o udu’. O Profeta (saws) disse: ‘ Quando um de vós
mantiverdes uma relação com sua esposa e deseja ter outra seguidamente,
que realize o udu entre ambas.(Muslim 308) (SEXUALIDADE NO ISLAM).
Antes de ter relação com seu cônjuge, deve-se mencionar o nome de Allah
na maneira que o profeta s.a.w. descreveu. Ele disse: ‘Se alguém disser
(antes da relação sexual) quando se aproximar de sua esposa, Em nome de
Allah; o Allah, afaste Shaytan de nós, e afaste Shaytan daquilo que o senhor
nos conceder [de descendência]’ então, se Allah conceder a eles um filho,
ele (Shaytan) não o prejudicará.[al-bukhari] (AL-SHEHA, A.A. sem data).
Outras orientações quanto a acariciar a esposa, como o casal deve se agradar de forma
mútua também são oferecidas, desde que não infrinjam o que o profeta disse:
“Óh mensageiro de Allah s.a.w. eu estou destruído!” Ele disse: ‘E o que foi
que lhe destruiu?’ Ele respondeu: ‘Eu mudei a posição da minha esposa à
noite!’ O mensageiro de Allah s.a.w. não respondeu nada. Ele (Umar) disse:
‘Então este versículo foi revelado ao mensageiro de Allah s.a.w.: ‘Vossas
mulheres são como campo lavrado. Então, achegai-vos a vosso campo
lavrado, como e quando quiserdes. (ALCORÃO 2:223, sem data)
Vão pela frente delas ou por trás delas, mas evitem o ânus e a
menstruação’[at-Tirmihi & ibn Maajah] (AL-SHEHA, A.A. sem data).
Essas instruções repercutem diretamente nos aspectos de saúde, uma vez que
recomenda-se não ter relações sexuais no período menstrual, além da relação sexual anal. O
sangue, tanto no islamismo quanto no judaísmo, é considerado impuro. As mulheres não
devem ter relações sexuais com seus maridos neste período. Quando as mulheres estão em seu
período menstrual não podem ser tocadas desde o umbigo até os joelhos, efetuar suas rezas,
nem tocar no Alcorão. No entanto, outros tipos de carícias podem ser realizadas, mas a
penetração não.
Sendo assim, a relação sexual anal não é permitida, pois se ocorresse, o contato com as fezes
da outra pessoa os tornaria impuros.
Casamentos
Consanguinidade Sexo Adoção
Preservação da Não é apenas para É permitida.
hereditariedade. a procriação, e sim A criança não é
Causadora de para o prazer de considerada filha.
desordens genéticas e ambas as partes. Não pode colocar o
distúrbios metabólicos Não é permitida a nome da família.
Hemoglobinopatias penetração quando Ao alcançar a
Anemia falciforme a mulher está puberdade, caso seja
Talassemia menstruada. menino, não pode
Síndrome de Sanjad Não é permitido o mais ver a mãe de
Sakati sexo anal. criação e irmãs de
Fenilcetonúria Após a relação, criação sem o véu.
Glicogenose ambos precisam Caso seja menina,
Frutossemia tomar banho não pode mais ficar
Galactossemia completo. sem o véu em casa.
Acidúrias orgânicas
Aminoacidemias
Fonte: Tabela construída pela autora.
2.3.4. MENSTRUAÇÃO:
No entanto, por tempos, a menstruação foi associada à magia, com a crença que uma
mulher menstruada não poderia fazer pães ou massas, pelo fato da menstruação fazer com que
a mulher não conseguisse deixar as massas no ponto (COMFORT, COMFORT, 1980). No
Antigo testamento da Bíblia e na Torá, as mulheres eram segregadas durante o período
menstrual e quem as tocasse seria segregado. No islamismo a visão é basicamente a mesma da
Bíblia na AT e da Torá. O sangue é considerado impuro.
Também ocorrem implicações no cuidado clinico, já que estas mulheres podem ficar
relutantes em relação à visita a ginecologistas nesse período realizar exames de rotina, realizar
esfregaços cervicais ou checar dispositivos intra uterinos (DIU), com medo de sangramento
após o exame ginecológico (DHAMI, SHEIK, 2000).
Então, no período menstrual a mulher não pode... Não pode manter relações sexuais
(GIRASSOL).
Além de ficarem impedidas de realizar suas orações, as mulheres também não podem
ter relações sexuais com seus maridos, desde que não ocorra a penetração. No entanto,
carícias são permitidas.
Um casal não pode ter contato físico durante o período menstrual. Qualquer
outro contato físico entre eles é permitido. As mulheres ficam isentas dos
rituais neste período, tais como preces diárias e o jejum (AZIM, sem data).
Ainda alguns hadiths falam sobre o ato de manter relações sexuais durante o período
menstrual:
Narrou Annas Ibn Malik (ra) : ‘ Entre os judeus, quando suas mulheres
estão em período menstrual, as expulsam de casa, não comiam nem
dormiam com elas. Ao perguntar ao Profeta (saws) sobre este costume, disse
: ‘ Convive normalmente com elas, e desfrute de tudo (referindo-se ao
comportamento sexual), exceto a penetração’. (Abu Daud 255)
(SEXUALIDADE NO ISLAM).
Narrou Abdullah Ibn Abbas (ra) que o Profeta (saws) disse a uma pessoa
que havia mantido relações sexuais com sua esposa durante o período
menstrual : ‘ Oferece a alguém um médio dinar em caridade.’ (Tiróide 135)
(SEXUALIDADE NO ISLAM).
É proibido, seja aos homens ou às mulheres contar algo da intimidade sexual a qualquer
pessoa:
Os sábios do islam dizem que os métodos contraceptivos podem ser utilizados quando
em determinadas situações, tais como: a gravidez ou o parto colocam em risco a vida da mãe;
ou quando a nova gestação prejudicará o filho que ainda está sendo amamentado. A gravidez
de uma mãe que ainda amamenta, segundo o profeta Maomé, é uma traição, visto que
interromperia a amamentação do bebê que ainda necessita da defesa que o leite materno
proporciona (SEXUALIDADE NO ISLAM).
Casais que não conseguem engravidar em muitos países muçulmanos optam por
clínicas de fertilização in vitro. A técnica de fertilização in vitro é aceitável, assim como a
adoção, para casais que não conseguem engravidar. Nas culturas muçulmanas, a infertilidade
é vista como algo produtor de distúrbios emocionais e de difícil aceitação por meio da
sociedade, pois os filhos representam a benção de Alá, segurança, status social e perpetuação
da família, e tem um peso representativo muito forte especialmente sobre as mulheres, que
ficam estigmatizadas pela sociedade, e ao homem é atribuída à imagem de incapaz, impotente
(INHORN, GURTIM, 2012).
A gente entende que tudo vem de deus. Ter filhos, não ter filhos, é a
condição de cada ser humano. Mas a pessoa, se ela tiver recursos para
buscar, e poder ter um filho de maneira artificial com as células do próprio
corpo, não há problemas. Se ela pode usar recursos tecnológicos, os
avanços da medicina para isso, porém, se for usar células de outras pessoas,
tanto o gameta quanto barriga de aluguel, aí isso já é proibido dentro da
religião. Usar inseminação artificial com seus próprios gametas pode, mas
daí barriga de aluguel não pode... Ou o meu marido não produz
espermatozoide e eu pego de outro homem, aí isso não é permitido, porém
dentro dos outros recursos é permitido (GIRASSOL).
66
2.3.7. PRÉ-NATAL:
No islam: Frente a esta breve aproximação com a assistência pré-natal e por dados
coletados no campo, para o acompanhamento pré-natal, recomenda-se que todo ele seja
acompanhado por profissionais do sexo feminino, ou seja, toda a equipe de saúde. As
participantes da pesquisa relataram que a assistência do pré-natal foi realizada por
profissionais mulheres.
Quando a assistência de saúde diz respeito à questões eletivas, ou seja, que a mulher
assistida tem o direito de escolher o profissional de saúde que irá assisti-la, sempre a escolha
será por profissionais do mesmo sexo. Mulheres assistidas por mulheres e homens por
homens, principalmente no que tange à região pubiana. Nas minhas entrevistas, as mulheres
18
Anamnese é uma entrevista realizada pelo profissional de saúde a fim de realizar um levantamento de dados
acerca do sujeito assistido e da possível enfermidade que o acomete.
67
não relataram nenhum fato importante a respeito disto, a não ser esta questão do atendimento
por outras mulheres.
Esta questão é tão importante para as mulheres muçulmanas, pois coloca em pauta o
princípio da honra e da modéstia. O fato de uma mulher muçulmana, seja ela solteira ou
casada, ser assistida por um profissional (homem) pode repercutir diretamente na sua vida
social. No islam, a mulher tem a papel de manter a honra da sua família, do seu marido
através do seu comportamento. A honra não está relacionada apenas a ela mesma, mas à sua
família e marido. Quando uma mulher é tocada por um homem que não seja seu marido, pais,
tios ou filhos, a sua honra e da sua família esta em questão. No islam isto é comum, pois
homens e mulheres não se tocam, a não ser que sejam familiares próximos.
Com isto pretendo relatar que, diferente de uma mulher ocidental que pode ser
atendida por profissionais de saúde do sexo masculino e absolutamente nada da sua vida
cotidiana será afetada, com mulheres muçulmanas não é assim. Durante a pesquisa, tive a
oportunidade de conversar com uma assistente social que assistiu a uma mulher muçulmana.
O motivo para que a mulher muçulmana procurasse o local que a assistente social trabalhava
foi exatamente o fato de este princípio ter sido infringido.
Ela já tinha sido abrigada uma vez e havia ido para a casa de uma amiga,
quando cheguei na casa abrigo, ela estava pedindo abrigo outra vez. Na
casa abrigo não podemos aceitar a mesma pessoa lá por duas vezes por
conta do risco com as outras mulheres que estão acolhidas. Eles insistiram
muito por que ela não tinha para onde ir e estava grávida, não tinha família
no Brasil, a única família era o agressor e a família do agressor. Então a
gente atendeu ela de volta. Na primeira entrevista que foi eu que fiz, eu
perguntei o que tinha acontecido e ela falou que ela tinha sido repudiada
pelo marido.... e que ela sofria violência desde que eles casaram. Eles já
tinham problemas no casamento por ele ser muito violento, mas, um dos
agravantes para ela ter sido repudiada foi que, ela estava grávida, e foi à
médica, só que foi atendida primeiramente (...) por um enfermeiro que
mediu a pressão e o companheiro viu. Ela ia ser atendida por uma médica, a
ginecologista... Mas isso foi a gota d’água (BROMÉLIA).
Este é o exemplo vivo das implicações de uma mulher muçulmana ser assistida por
profissionais do sexo oposto. Esta mulher teve o direito de educar seus filhos retirado. Sua
família de origem não a aceitou de volta por ela ter sido repudiada, e ela está aqui no Brasil,
sem família, sem poder retornar ao seu país de origem, sem os filhos, enfim, sozinha.
Uma mulher repudiada pode se casar outra vez, mas precisa esperar um
período mínimo de três meses, para que fique confirmado que ela não está
grávida do casamento anterior. (S.J)
68
O marido desta mulher retornou para o país de origem deles e levou os seus filhos com
ele. No islam, os filhos pertencem à família do pai, pois o islam é de sucessão patrilinear. Essa
mulher que estava grávida convivia com o medo de ter seu filho retirado dela ao nascer, por
um irmão do marido que ainda estava aqui no Brasil. Neste caso específico, o casamento dela
não estava bem por conta da relação violenta que vivia, mas o que projetou o repúdio foi o
fato dela ter sido tocada por outro homem, no caso o enfermeiro.
A separação poderia ter ocorrido, mas o repúdio foi o ato estremado em relação a esta
mulher. Para o marido dela, a sua própria honra foi violada quando sua mulher foi tocada por
outro homem. Muitas pessoas podem pensar que esse foi o melhor que este marido fez para
ela, mas o repúdio para esta mulher não significa uma simples separação como pensado aqui
no ocidente. O repúdio significa solidão. Sem filhos, sem a família de origem, sem retorno ao
seu país. A vida solitária em um país estranho. Sem casa, sem dinheiro.
Caso este profissional de saúde soubesse das implicações na vida desta mulher através
da sua simples aferição da pressão arterial, certamente não a teria realizado. Poderia ter
pedido para que uma enfermeira realizasse o procedimento. Este caso exprime claramente a
relevância do conhecimento prévio dos profissionais de saúde quanto ao islam e a sua
repercussão nas práticas de saúde. Não se trata apenas de “adaptar” os cuidados de saúde, se
trata de considerar as implicações dos cuidados na vida destas mulheres muçulmanas. Uma
simples consulta de pré-natal desencadeou um repúdio, e consequentemente a desestruturação
brusca da sua vida social.
2.3.8. PARTO:
mundo exterior através da via vaginal ou por via abdominal, com a operação de cesárea, ou
por laparotomia para extração de um feto oriundo de uma gestação ectópica.19
(OBSTETRICIA, 2003).
Os cuidados com o cordão umbilical após o nascimento são diferentes em cada país do
Oriente Médio. Na Arábia, utilizam uma cinta em torno da cintura do bebê, para evitar o
surgimento de hérnias, não utilizam álcool ou óleo na higienização do coto umbilical. No
Oriente Médio, também tem o costume de realizar a circuncisão masculina alguns dias após o
nascimento (SIDUMO, 2007).
19
Gravidez ectópica é aquela que o feto se desenvolve fora da cavidade uterina, e geralmente nas tubas uterinas.
70
é, acredita-se que as gotas de urina retidas no prepúcio e nas roupas íntimas, não permitem
que as orações sejam recebidas por Alá (GATRAD, 1994).
Este é um relato de caso, contudo, através das falas das participantes, essa realidade no
momento do parto pode ser diferente. A Girassol relatou que no nascimento dos seus três
filhos sempre foi o seu marido que esteve com ela na sala de parto. Ela julga ser importante
ter o marido ao lado, devido o ritual realizado após o nascimento do bebê. Já a Jasmim relatou
que quem a acompanhou no momento do parto foi sua sogra. Ela foi a responsável por
realizar o ritual após o nascimento do seu filho.
Por isso que é até aconselhável que o marido esteja do lado da esposa neste
momento, por que é assim, quando o bebê nasce, a primeira coisa que tem
que fazer é o chamamento da oração do lado direito né?!
O costume de amarrar uma fita preta no pulso ou pescoço do neonato, com orações e a
esta fita se dá o nome de “Ta-Weez”, é um hábito cultural, não um preceito religioso. Os
profissionais de saúde de países com esta prática precisam manusear com respeito a fita e
somente em situação de emergência cortá- la. A função desta fita é proteger o bebe e evitar o
mau olhado (GATRAD, 1994).
72
Não, isso não é religião. Isso deve fazer parte da cultura de algum país
específico. Muitos países que seguem o islam, seja em sua maioria ou não.
Muitos, seja africano, orientais, tem costumes locais. Se esse costume local
não vai de encontro com a religião e sim ao encontro com a religião, tudo
bem você fazer, mas ele não é da religião. Se é alguma coisa que vai contra
a religião, alguma coisa que deus não mandou, não tem haver com a
religião, é costume local (GIRASSOL).
Algumas famílias dão mel ao recém nascido para ele lamber, e geralmente este ato é
realizado por uma pessoa muito respeitada pela família, pois se acredita que as virtudes
daquela pessoa passam para o bebê.
A placenta após o parto deve proceder ao enterro. É parte constituinte da mulher, por
isso precisa ser entregue aos familiares para ser enterrada.
É parte do ser humano. Essa parte que é morta agora, ela por uma questão
de dignidade é sepultada. Isto está nos hadiths. Se entendemos que a
placenta é uma parte da mulher... Ou até um aborto natural, até os 120 dias,
que acreditamos que ainda é uma parte da mulher, não tem vida
independente, então precisa ser enterrado. Geralmente aqui no Brasil isso
não acontece... Em países islâmicos sim, mas aqui não.... As pessoas não
tem esse entendimento, não tem esse conhecimento. (S.J)
2.3.9. PUERPÉRIO:
20
Amenorréia é a ausência de menstruação.
73
É costume a mulher no resguardo ficar seis semanas dentro de casa, sem sair para ir a
1ª consulta de puerpério e do bebê, isso principalmente em países da Índia, por conta da
crença de que a mulher neste período esta mais suscetível a infecções (GATRAD, 1994). O
período do puerpério está diretamente ligado ao período da amamentação.
2.3.10. AMAMENTAÇÃO:
tâmaras tem o aporte nutricional necessário para o reestabelecimento do corpo da mulher após
o parto e durante a amamentação. Esta crença esta baseada em um relato do Alcorão acerca de
Maria:
Sabe por quê? No Alcorão tem um capítulo que fala sobre Maria, a mãe de
Jesus. E é relatado o período do parto dela, quando ela vai ter o bebê. Ela
começa a sentir as dores e ele(Alá) diz para ela descansar em baixo de uma
tamareira e balançar a tamareira. A tamareira é uma árvore muito rígida,
ela não balança. Porém ela faz aquilo que Alá manda e então cai em cima
dela tâmaras. E Alá ordena que ela coma as tâmaras. Então, se é uma coisa
que Alá ordenou neste momento é porque algum benefício tem né?! Se a
gente procurar e buscar vai encontrar, talvez em algum país árabe já tenha
estudos sobre isso. Eu não sei dizer ao certo os benefícios, mas a gente faz
porque está no Alcorão e Alá recomendou para a virgem Maria e tal...
(GIRASSOL).
A Lei islâmica aceita a amamentação até os dois anos de idade, esta é fortemente
encorajada por ensinamentos religiosos. Mulheres muçulmanas podem querer amamentar e
não ter a privacidade suficiente no ambiente hospitalar, principalmente quando na presença de
profissionais do sexo masculino (GATRAD, 1994).
No islam, uma mulher que amamenta o filho de outra mulher (desde que este tenha até
dois anos de idade), passa a ser considerada mãe de leite desta criança. Acredita-se que no
leite, elementos essenciais para a constituição do corpo da criança são passados através do
75
leite para o bebê. Esses elementos são oriundos do corpo daquela determinada mulher, sendo
assim, eles creem que fatores genéticos da mãe de leite passam para a criança.
Esta criança passa a ser considerada filha, mas não biológica. Quando crescer, não
poderá se casar nem com sua mãe ou pai de leite, nem com suas irmãs e irmãos. Diferente de
um filho adotivo, que ao se tornar adulto, poderia se casar com um de seus irmãos ou irmãs.
Sendo assim, o uso de leite oriundo de bancos de leite na maternidade é estritamente
proibido. Uma criança muçulmana ao nascer não pode ser amamentada pelo leite de outra
mulher que não seja sua própria mãe.
Uma mulher que amamenta uma criança de outra mulher, abaixo dos dois
anos, que seja uma ou duas amamentações satisfatórias, essa mulher passa
a ser a mãe de leite... Ele passa a ser filho dela de leite, não podendo casar
com as filhas dela, porque passam a ser irmãs dele. Por quê isso? Porque
esse leite antes dos dois anos faz parte da constituição física desta pessoa...
da estrutura física... então ele passa a ter características físicas da mãe de
leite e das filhas dela. Outra questão que ele não participa é da herança e
do nome (S.J).
2.3.11. ABORTO:
O abortamento pode ter várias etiologias, mas, em aspectos gerais, podem ser
intencionais ou espontâneos. Os intencionais são quando a mulher intenta contra a gestação
efetuando o abortamento e consequentemente e expulsão do feto. Os espontâneos são quando
por alguma intercorrência, o próprio organismo não consegue sustentar a gestação a termo
(OBSTETRÍCIA, 2003).
O islam ordena que ao conceber uma criança, esta seja sustentada por toda a gestação.
Cada concepção é legítima e, portanto desejada. Cada filho é considerado um presente de Alá.
No islam todo embrião tem os seguintes direitos:
É permitido, porém, com algumas restrições... Porque isso, antes dos 120
dias, ainda alguns sábios alegam que não é um ser humano, não tem alma,
entendeu?! Essa é uma questão de discussão entre os sábios, porém, há um
consenso depois dos 120 dias, que não é permitido... A não ser que coloque
em risco a vida da mãe. (S.J)
78
Com base em todos estes dados acerca da saúde da mulher no islam, é possível traçar
as diretrizes para que a assistência de saúde seja eficaz e congruente. O próximo capítulo
aborda as diretrizes gerais para a assistência, tendo por referência a Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde da Mulher e os dados coletados.
79
21
MMSS é a sigla para membros superiores (braços) e MMII é a sigla para membros inferiores (pernas). A
analogia do título do capítulo, em relação aos membros superiores e inferiores ocorreu devido a toda execução
dos cuidados de saúde acontecerem por meio dos braços que cuidam e das pernas dos profissionais de saúde que
os conduzem até aqueles que inspiram cuidados
80
O momento em que o PAISM foi lançado era de efervescência no Brasil, visto que
havia uma intensa atuação de movimentos sociais e da sociedade civil, a favor do
restabelecimento da democracia. Naquele contexto, enfatizavam-se aspectos políticos que
viabilizavam a implantação efetiva do Programa. Havia um consenso de que o Programa era
uma proposta inovadora, abrangente e voltada para assistir às precárias condições de saúde
das mulheres no Brasil, independente de estarem ou não no ciclo gravídico ou reprodutivo
(OSIS, 1994).
Esta nova Política consolida avanços no campo dos direitos sexuais e reprodutivos,
com ênfase na melhoria obstétrica, no planejamento familiar e no combate à violência
doméstica e sexual. Ela ainda tem por base a avaliação das políticas anteriores. Busca
preencher as lacunas anteriormente deixadas, tais como: Climatério/ menopausa, queixas
ginecológicas, infertilidade e reprodução assistida, saúde da mulher na adolescência, doenças
crônico-degenerativas, saúde mental e ocupacional, doenças infecto-contagiosas, assim como
a atenção às mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias e lésbicas
(FREITAS, et al, 2009).
Desta forma, a PNAISM se fundamenta nos princípios doutrinários do SUS que são:
Universalidade22, integralidade23 e igualdade24, além da discussão de gênero. De certa forma,
22
De acordo com a Lei Federal nº.8080/90, entende-se por universalidade, acesso aos serviços de saúde nos
diversos níveis de assistência (BRASIL, 1990).
83
o fato dos princípios da universalidade e igualdade terem sido produzidos, revelam o não
acesso ou acesso restrito de alguns sujeitos a todos os níveis de assistência, por conta de
alguns marcadores como raça/etnia, sexo/gênero, classe social, religião, entre outras (PAZ,
SALVARO, 2011).
Sendo assim, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher foi criada
com o intuito de suscitar questões relativas á educação com a promoção e prevenção em saúde
para que os profissionais da área possam aplicar estes valores em sua assistência. O processo
educativo neste caso está atrelado à formação e prática dos profissionais de saúde que devem
ser norteados pelo princípio da humanização25(PAZ, SALVARO, 2011).
A Política realiza uma apresentação da situação das mulheres no Brasil, no que diz
respeito aos aspectos de saúde e através deste diagnóstico, busca traçar princípios e diretrizes
para que a assistência em todos os níveis seja adequada às necessidades tanto fisiológicas,
emocionais e sociais das mulheres.
Estes dados são os obtidos na Política, porém já sofreram mudanças, pois novas
estatísticas foram realizadas, visto que estamos a 12 anos da formação da PNAISM.
Atualmente a taxa de fecundidade já repercute os resultados da implementação da Política. No
ano de 2015 a taxa de fecundidade foi de 1,72. Em 15 anos (2000- 2015), ocorreu um
decréscimo de 0,68 (IBGE, 2015).
As mulheres em idade reprodutiva assistidas pela Política que estão na faixa etária dos
10 aos 49 anos representam 58.404.409 da população brasileira. Sendo que estas representam
aproximadamente 65% da população feminina. Assim, o segmento feminino é um segmento
significativo que demanda a elaboração de políticas públicas de saúde. (BRASIL, 2004).
Como visto no capítulo 1, o islamismo vai para além da religião, é um código de vida
com princípios que norteiam todos os aspectos da vida cotidiana de seus adeptos. Com isto,
expressões religiosas influenciam nos aspectos de saúde, além das questões de gênero, que
são tão evidenciadas no islam. Todos estes aspectos são relevantes para a assistência integral
às mulheres muçulmanas.
Tendo por base um dos capítulos da PNAISM que tem por título “Humanização e
qualidade: Princípios para uma Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher”, me utilizo
dos princípios da humanização e qualidade, contudo, reformulo o conteúdo do mesmo para
adaptar às necessidades das mulheres muçulmanas.
No campo da atenção em saúde, o termo humanizar tem sido utilizado com diferentes
entendimentos, relacionando-os com os direitos dos sujeitos assistidos e da ética voltada ao
respeito ao outro. No entanto, a partir dos anos 90, a humanização tem ido para, além disto,
tem sido tratada como política pública, sendo dirigida para todos os níveis de atenção
(FORTES, 2004).
Figura 5- Tabela 4: Tempo de reversão, Estado Civil, Grau de Escolaridade, Cor, Idade.
Nomes Flor
Violeta Girassol Jasmim Orquídea de Margarida Begônia
Perguntas Lótus
Utiliza serviço
público (SUS)
ou privado PRIV. PRIV. SUS SUS SUS PRIV. PRIV.
(PRIV.) de
saúde?
Gestações/ 1 3 1 1 X 3 X
Quantas?
Parto: C C
Cesário (C) C C NT C X C X
Normal(N)
C C
Natural (NT)
Ginecologista:
Homem (H) M M M M M M H
Mulher (M)
No parto:
Sofreu
constrangimento NÃO SIM NÃO NÃO X NÃO X
contra os
princípios
religiosos?
Apenas uma mulher de família muçulmana disse não achar ruim ser assistida por
profissionais do sexo masculino, e ainda relatou que a sua mãe também não acha ruim.
De todas as entrevistadas, esta foi a única que teve a voz mais dissonante, todas as
outras, tanto de família muçulmana quanto revertidas relataram ser importante que os
profissionais de saúde sejam de sexo feminino, principalmente quando a assistência for na
região ginecológica.
Observei ainda, que essas mulheres de família muçulmana, todas tinham acesso à
educação, sendo uma pós graduada, uma universitária e uma no ensino médio com pretensões
acadêmicas. Todas eram muito bem articuladas. Porém, nos arredores das minhas conversas
com as participantes da pesquisa, pude observar que as mulheres refugiadas que haviam
acabado de chegar ao Brasil, pareciam ficar intimidadas com a minha presença. Muitas
andavam acompanhadas por seus maridos e pareciam não poder ou querer conversar comigo.
Talvez pelo fato de eu não ser uma “nativa”, ou por saberem que se tratava de uma
pesquisadora.
Talvez isto ocorresse também por causa dos homens. A grande maioria deles ficava
vigiando a minha estada ali. Ocorreu um dia, enquanto conversa com algumas mulheres,
observei um homem me observando, querendo entender o porquê das mulheres estarem
conversando empolgadas comigo e eu anotando o que elas falavam. Percebi que ele
perguntava para outra mulher quem eu era. Ela com a voz bem alta respondeu que eu era uma
pesquisadora. Ele imediatamente retirou-se do local que estávamos.
Com relação ao tipo de parto, algumas mulheres já haviam tido seus filhos antes da
reversão, a exemplo a Violeta, a Orquídea e a Margarida. Por isto, ao serem interrogadas se
sentiram algum tipo de agressão aos preceitos religiosos no momento do pré-natal, parto e
puerpério, relataram que não. Já a Girassol (de família muçulmana) e a Jasmim (revertida),
relataram que sentiram certo nível de transgressão quanto aos seus preceitos religiosos.
médico. Eu não deixei claro! Mas, vamos supor, poderia partir dela.
Ela me ver de véu assim, ela sabia que no momento da cirurgia eu ia
ter que tirar o véu. Ela poderia ter me perguntado: “Girassol, tem
algum problema você tirar o véu?”. Então, normalmente, até hoje, eu
nunca fui abordada neste sentido. Se teria problema....e por exemplo:
em um hospital, eles tem mais auxiliares e ela poderia me oferecer: “-
Olha, eu sou assistida por um médico. Tem algum problema para você
ou a gente tem que ver uma médica?”. Geralmente no hospital tem
vários médicos atuando. E assim, não foi uma preocupação que ela
teve. Foi engraçado! A gente se preocupa tanto em passar com
médica mulher, e a gente esquece que a gente vai chegar no centro
cirúrgico e vai ter o pediatra, vai ter auxiliares, vai ter
anestesistas...um trilhão de outros profissionais. Daí, eu falei com o
meu marido: “-Que engraçado né?! A gente fica procurando uma
médica, e chegou lá, quando eu estava lá já, sem roupa, sem o véu,
sem nada... ai era anestesista homem, o auxiliar era homem, o
pediatra era homem.....todo o resto era homem....daí é uma coisa que
não está nas suas mãos. Não há problema nenhum, mas vamos supor,
isso poderia ser o cuidado da sua médica de perguntar: “-Você
quer?” Porque para ela tem como ou não sei....talvez não tenha como
mudar a equipe...(GIRASSOL).
Quem me deu alta foi um médico. Ah, eu não lembrava desta parte.
Ele constatou que foi um parto natural e me deu alta tão rápido. Eu
não tinha dor, não tinha corte, não tinha ponto, ele falou que não
tinha necessidade nenhuma de ficar ali. Ele fez os exames necessários
no bebe, viu que ele estava em perfeitas condições e me deu alta.
Primeiro eu quero contar para ele o que está acontecendo para ele
não ter que olhar, mas ele é o médico, então, ele quis visualizar.... Eu
tentei dizer para ele que não teve corte... Daí ele quis olhar e
perguntou: “Não teve corte?”... Daí quis olhar...(risos)(JASMIM).
analisadas, as mulheres buscam viver de acordo com este padrão de comportamento. Tive
contato com uma mulher que era solteira e tinha filhos, mas esta era recém-revertida, ou seja,
os valores islâmicos ainda estavam sendo assimilados por ela que foi criada dentro de outro
contexto, que não o muçulmano.
A Girassol relatou que tinha preferência pelo parto do tipo normal, contudo, por
indicação médica realizou todos os partos do tipo cesárea. Ela ficou muito triste, pois após a
primeira indicação do primeiro parto, ela estudando, percebeu que poderia ter realizado o
parto normal, que para ela e para a maioria das mulheres de família muçulmana é tão
valorizado, mas, pela inexperiência e falta de conhecimento realizou o parto cesária. Todas as
outras mulheres, com exceção da Jasmim que teve o parto natural, também realizaram o parto
do tipo cesárea.
Nenhuma das participantes relatou ter sofrido aborto, quer espontâneo ou induzido.
Dado este que pode corroborar com a contraposição do islam em relação ao aborto. Todas as
mulheres quando interrogadas acerca do aborto, desconversavam. A única pessoa que
discorreu acerca do tema aborto foi o S.J.
Todas as participantes com exceção da Begônia julgaram importante ser assistidas por
profissionais de saúde do sexo feminino, principalmente se for ginecologista. Tanto as
mulheres de família muçulmana quanto as revertidas disseram que por causa do islamismo
preferem que sejam assistidas por mulheres.
Prefiro mulher né! O islam diz assim. Acabei de passar por uma
histerectomia total. Graças a deus toda a equipe era de mulheres.
Parece que Alá preparou tudo (risos) (MARGARIDA).
Eu já fui quando era bem pequena, tinha uns dez anos. Eu fui na
Síria. Lá quando você entra na clínica são só mulheres mesmo. Tem
aquela coisa assim, do tipo separada. A partir dos doze anos, a
menina já vai para médica mulher. Se acontecer igual a mim, que
precisei ir com dez anos, você vai com médica mulher mesmo (FLOR
DE LÓTUS).
Uma mulher vai se abrir mais com uma mulher... Um homem vai se
abrir mais com homem... O seu corpo diz respeito a quem é de direito,
no caso o seu marido. Daí é muito constrangedor você ter que
mostrar o seu corpo para outro homem... (VIOLETA).
Todas as mulheres, com exceção da Flor de Lótus e da Begônia, relataram que vão
frequentemente á ginecologista e realizam exames de Papanicolaou. Este dado é importante
pois contrapõe o dado do Dhami e Sheik (2000), que relataram que mulheres muçulmanas tem
a tendência a não frequentar a ginecologista e realizar exames preventivos por temor dos
sangramentos traumáticos. Dentre as participantes da pesquisa, este dado não foi confirmado.
Talvez o fato de uma parcela destas mulheres serem revertidas e a outra parte ser de
muçulmanas nascidas no Brasil, pode ter afetado este dado. Dentre as entrevistadas, não tive
acesso a mulheres refugiadas recém chegadas ao Brasil. Pode ser que os dados com estas
mulheres sejam diferentes, mas isto ainda é especulação.
no momento do parto, mas após no trato do médico e nas questões da internação sentiu que a
equipe de saúde poderia ter considerado seus preceitos religiosos. Em outro momento em uma
internação por conta de uma trombose, a Jasmim relatou que os profissionais de saúde não
consideraram a sua fé.
Para iniciar as Diretrizes para o planejamento das ações de saúde a estas mulheres, é
necessário ter conhecimento de alguns aspectos facilitadores aos profissionais de saúde para
esta prestação de cuidados. São estes: a preservação /manutenção do cuidado, a
acomodação/negociação do cuidado e a repadronização/reestruturação do cuidado. Utilizarei
estas ferramentas para traçar as diretrizes para a assistência.
Com isto, as diretrizes para uma assistência de saúde eficaz a estas mulheres muçulmanas
são propostas na tabela a seguir através das próprias diretrizes da PNAISM e também a partir
dos dados expostos no capítulo II. Atrelado a estas, apresento as justificativas para tais
diretrizes:
Justificativa:
Justificativa:
Justificativa:
Justificativa:
6) O Planejamento familiar não deve ser imposto, uma vez que o islamismo não
permite todos os métodos contraceptivos.
Justificativa:
restrição quanto ao planejamento familiar, ou a tratar de assuntos da vida sexual. Cabe aos
profissionais de saúde ter o discernimento e a sensibilidade para abordarem estes assuntos da
melhor maneira possível, na tentativa de causar o mínimo de constrangimento possível.
Justificativa:
Não são todas as pílulas anticoncepcionais que são indicadas para uso contínuo, sendo assim,
é necessário o aconselhamento quanto à melhor indicação de pílula para cada caso
específico. Não é indicado que se inicie o uso de anticoncepcionais orais sem a
recomendação médica, pois são hormônios e oferecem riscos à saúde se administrados de
maneira equivocada.
Justificativa:
A humanização não diz respeito ao incentivo apenas do parto natural e normal. Humanização
diz respeito ao que é mais apropriado para cada uma. Na maioria das vezes, as mulheres
muçulmanas, principalmente oriundas de países islâmicos preferirão ter o parto natural ou
normal, no entanto, pode haver mulheres com a preferência pelo parto tipo cesária. Cabe às
profissionais de saúde avaliar junto às mulheres o que melhor satisfaz a cada uma.
10) Negociar a realização do ritual logo após o nascimento. Este será realizado pelo
acompanhante na sala de parto.
Justificativa:
Caso não ofereça malefícios à rotina do centro cirúrgico, negociar o ritual após o momento
do parto.
11) Na unidade hospitalar, não ofertar o leite dos bancos de leite para os neonatos.
Justificativa:
No islamismo não é permitido que o bebê seja amamentado pelo leite de outras mulheres.
Existe a crença de que a criança se tornaria filha de leite da mulher que a amamentou, e que
os genes daquela mulher passariam para a criança. Por isso é proibida a amamentação por
101
12) Quanto à equipe da atenção básica, (caso esta mulher seja assistida pelo SUS),
atentar para a primeira consulta pós parto, pois pode ocorrer a falta à esta primeira
consulta, devido a crença de que neste período a mulher fica mais suscetível a
infecções, por isso, ela poderá se recusar a sair de casa.
Justificativa:
As equipes das unidades básicas de saúde devem atentar para as visitas domiciliares. Caso
seja detectada a resistência por meio das puérperas em sair de casa para a 1ª consulta de
puerpério, os agentes comunitários de saúde podem agendar esta visita domiciliar médica.
Justificativa:
Justificativa:
Devido o uso da vestimenta islâmica, em que apenas o rosto, as mãos e os pés ficam a
descoberto, é importante periodicamente realizar a solicitação de exames de sangue para a
verificação dos níveis de vitamina D.
Justificativa:
Espera-se que o véu seja respeitado. Se não for realizado algum procedimento que seja
necessário que o pescoço e cabeça destas mulheres estejam expostos, permitir (caso seja o
desejo das mesmas), que as mesmas utilizem os seus véus, principalmente na presença de
homens.
16) Necessidade do conhecimento prévio (por meio dos profissionais da saúde) dos
aspectos inerentes ao Islam e de como estes influenciam nas práticas de saúde.
Justificativa:
17) Ter conhecimento das relações de gênero entre homens e mulheres no islam.
Justificativa:
O conhecimento prévio destas relações evita desconforto às mulheres e a seus maridos, além
de evitar consequências para a vida social das mesmas.
Justificativa:
Justificativa:
Além dos procedimentos técnicos, buscar compreender qual a visão destas mulheres e
familiares acerca do momento vivido por elas. Caso o Islam ofereça algum elemento
104
Justificativa:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações de gênero entre homens e mulheres no islamismo, vão para além das
regras de comportamento no lar. Estas relações ultrapassam o privado e ganham notoriedade
no público, como por exemplo, o uso da vestimenta islâmica feminina e as restrições quanto
ao toque entre pessoas de sexos diferentes. Como analisado no Capítulo 2, estas relações
influenciam diretamente nas práticas de saúde. Com base nesta premissa, pude na prática do
campo de pesquisa, constatar que de fato a vivência dos muçulmanos, e especificamente, das
mulheres muçulmanas é muito intensa no que diz respeito a aplicar o islamismo em todas as
áreas da vida cotidiana.
genéticos em decorrência dos casamentos entre indivíduos com um grau de parentesco muito
próximo, o que no islamismo pode ocorrer, devido a valorização da herança. Em geral,
principalmente em famílias muçulmanas oriundas de outros países, os casamentos são
arranjados entre os próprios familiares, fato este, para preservar os clãs e manter a herança
financeira.
Outro aspecto analisado no segundo capítulo relacionado aos casamentos foi o das
relações sexuais. No islam, a conduta sexual é a de maior importância entre todas as éticas
(AYYATULLAH, 2008), sendo normatizada nos hábitos sociais, pessoais e das relações
sexuais. Os hadiths demonstram vários ditos do Profeta quanto aos hábitos necessários para o
momento sexual. As abluções são um exemplo específico de higiene, não apenas para o
momento das orações, mas também, para as relações sexuais. O sexo no islam é sagrado, em
nome de Alá. O estar limpo através das abluções permite o sagrado, e simboliza o estar limpo
no corpo e um para o outro. Através da análise da saúde, as abluções realizadas anteriormente
e posteriormente às relações sexuais, auxiliam na prevenção de infecções ginecológicas, uma
vez que a região genital, tanto masculina, quanto feminina, se mantém higienizadas, com
menores chances de proliferação de microorganismos patogênicos.
Os métodos contraceptivos em geral, são bem aceitos, desde que sejam reversíveis. O
uso da camisinha, principalmente a masculina é recomendada. S.J disse que os companheiros
do Profeta utilizavam códons semelhantes à camisinha masculina. Outro método
recomendado é o coito interrompido com base na observação do período fértil. O uso dos
métodos hormonais são permitidos. A única restrição está quanto aos métodos irreversíveis,
tais como a laqueadura e a vasectomia. Tais métodos são permitidos apenas quando são por
recomendação médica devido a problemas de saúde.
108
A fertilização in-vitro é permitida, desde que seja realizada com os próprios gametas
do casal. Óvulos e espermatozóides de terceiros não são permitidos, uma vez que a
hereditariedade não será preservada. A utilização de “barriga de aluguel” também não é
permitida. Acredita-se que, mesmo que os gametas sejam dos pais, o fato da gestação ocorrer
em outra mulher, isto influencia na genética do bebê, que terá traços genéticos da “mãe de
aluguel”.
O momento do parto para as mulheres muçulmanas é envolto por crenças. A dor está
relacionada à crença na predestinação da dor (SIDUMO, 2007). Necessariamente, espera-se
que a prestação de cuidados seja efetuada por uma equipe de saúde feminina. Após os
primeiros cuidados com o neonato, o pai ou a pessoa que for acompanhar a mulher durante o
parto, realizará o chamamento da oração no ouvido direito do bebê, além de esfregar tâmara
amassada na gengiva do recém-nascido. Acredita-e que isso auxilia na regulação da glicose
do bebê.
no islam, creem que componentes genéticos da criança serão alterados devido a esta ingestão
deste leite.
A temática do aborto foi pouco discutida entre as participantes da pesquisa. Este dado
pode sugerir o desconforto quanto ao tema. S.J foi o único a discutir o tema, e evidencia que o
aborto é permitido, mas, não recomendado. Este tema é motivo de discussões entre os sábios
da religião, no entanto, o que há de consenso é que a partir dos 120 dias não é permitido o
aborto. Anterior a este tempo, alguns dizem que é permitido, outros não.
Cabe realçar que as diretrizes são baseadas no levantamento dos preceitos religiosos.
O intuito é através destes preceitos, identificar como estes influenciam na saúde dessas
110
mulheres muçulmanas e direcionar a assistência para que esta seja efetiva. Todas as diretrizes
criadas conduzem a esta prestação de cuidados congruente de acordo com as demandas das
mulheres quando na assistência.
Sendo assim, este é o caminho para afirmar que esta é uma pseudo-conclusão. Digo
isto, pois ainda há um caminho a ser trilhado até o que considero ser a conclusão da pesquisa.
A partir desta, as possibilidades para a continuidade da mesma são inúmeras. O anseio por sua
aplicabilidade nos vários níveis de atenção à saúde ainda é algo que palpita em meu coração.
Como dito na introdução, pesquisas se fazem com o “coração”. Pois bem, ainda sinto o pulsar
por este tema, por isso, ainda há muito a ser explorado.
111
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118
APÊNDICE I
QUESTIONÁRIO
Nome:_________________________________________________________________________
E-mail:________________________________________________________________________
Telefone:_______________________________________________________Idade:___________
Cor:______________________Grau de escolaridade:____________________________________
Estado civil:__________________________Profissão:___________________________________
SAÚDE DA MULHER
3. Quantas gestações?
11. Caso seja imigrante, realizou pré- natal /parto /pós-parto em seu país de origem?
14. Em algum momento no período do pré-natal /parto /pós-parto, ocorreu algum fato que constrangeu
seus princípios religiosos? Quais? Relate.
15. Em algum momento, foi assistida por profissional do sexo oposto? Gerou algum constrangimento?
16. Caso seja solteira, quando nos procedimentos ginecológicos, o fato de ser assistida por profissional
do sexo oposto, causou algum tipo de constrangimento? Relate.
18. Durante este processo, algum procedimento feriu o princípio da modéstia ao expor excessivamente
seu corpo?
19. Como gostaria que a assistência levasse em consideração seus aspectos religiosos?
20. Caso não tenha filhos, como gostaria que a assistência no período de pré- parto, parto e pós-parto
levasse em consideração seus princípios religiosos?
120
APÊNDICE II
A burca foi uma das formas de cobertura que as mulheres pashtun usavam quando saíam. Os pashtun
são um dos vários grupos étnicos do Afeganistão. Foi desenvolvida como uma convenção para
simbolizar a modéstia ou respeitabilidade da mulher (ABU-LUGHOD, 2012, p.456).
121
APÊNDICE III
APÊNDICE IV
Hidjab: Significa “esconder”. Cobre cabelo e colo, mas não o rosto. Geralmente é o mais utilizado por
muçulmanas de todos os locais. (AS MULHERES E O ISLAM). Figura: (Autoria própria).
123
APÊNDICE V
Xador: Tradicionalmente utilizado no Irã. Cobre a cabeça e o corpo,mas não o rosto. (AS
MULHERES E O ISLAM). Figura: (Autoria própria).
124
APÊNDICE VI
Niqab: Utilizada na Arábia Saudita e França. (AS MULHERES E O ISLAM). Cobre a cabeça e o
corpo, deixa a descoberto apenas os olhos. Figura: (Autoria própria).