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Direito Comercial

Marlon Tomazette - Aula 7

Brasília, 14 de março de 2019.

I - S/A

- Debêntures

- Partes Beneficiárias

- Bônus de Subscrição

- Acionistas

* Noções
* Deveres
* Direitos
* Saída

- Assembleia Geral

- Conselho de Administração

- Diretoria

- Conselho Fiscal

- Administradores

II - Comandita Por Ações


III - Cooperativas
IV - Transformação
V - Incorporação
VI - Fusão
VII - Cisão
VIII - Relações Societárias

- Participações

- Grupos

- Consórcios

IX - Dissolução

- Causas

- Liquidação
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- Extinção
[Provas anteriores foram disponibilizadas pelo professor para alunos da turma. Prof. Tomazette diz não poder
repetir questões, mas que por não ser muito criativo, faz questões parecidas. São 3 turmas diferentes com
provas diferentes, mas com a mesma delimitação. Para 2ª chamada, entrar em contato perto da data da
prova, pelo e-mail marlon@direitocomercial.com para nova delimitação].

2 notícias, sem impacto para nossa matéria, diretamente.

Hoje foi publicada a medida provisória nº 878, que alterou a Lei das Juntas Comerciais, que
teoricamente vai agilizar muito o registro empresarial no Brasil, porque vai permitir o registro tácito.
Se a Junta Comercial não decidir nos prazos de 2 dias úteis ou 5 dias úteis, conforme o caso, o ato
já está considerado arquivado, sem prejuízo de posterior análise de legalidade. É uma tentativa de
agilizar o registro empresarial como um todo.

A outra notícia é que nesta semana, a expressão ‘tequila’ foi considerada no Brasil uma
denominação de origem.

Continuação da matéria…

SOCIEDADES ANÔNIMAS

Na aula passada começamos a estudar sociedades anônimas. Vimos o conceito, a divisão


entre abertas e fechadas, as características, a constituição, o capital social e as ações.

Toda SA, seja aberta, seja fechada, tem que ter ações.

Além das ações, qualquer SA, seja aberta ou fechada, pode usar outros tipos. Na lei das
SA’s aparecem outros 3 títulos que podem ser usadas pelas SA’s, que são as debêntures, as
partes beneficiárias e os bônus de subscrição. Esse rol não taxativo, mas esses são os 3 títulos
previstos na própria Lei das SA’s (Lei nº 6.404/76).

Debêntures

Na prática, são os títulos mais importantes, embora não tão frequentes em provas como as
ações. As debêntures, na Lei das SA’s, são tratadas nos arts. 52 a 74. A disciplina é bem
detalhada, mas é uma disciplina mais burocrática do que qualquer outra coisa, sobre o
procedimento de emissão das debêntures. A ideia em si das debêntures é simples.

As debêntures são títulos representativos de um empréstimo público feito pela SA. Palavra
chave para entender debênture é a palavra empréstimo.

As sociedades em geral, inclusive a limitada e outras, precisam de dinheiro para sua


atividade, e podem obter esses recursos dos seus próprios sócios ou buscando empréstimos junto
a bancos. Só que empréstimos junta a bancos têm muitos limites e muitas dificuldades, como taxas
de juros elevadas, garantias e limites de concessão de empréstimos. Em razão disso, essas
limitações dificultam que a sociedades consigam exercer atividades de maior porte.
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Para as SA’s abre-se uma 3ª possibilidade de captar recursos. As sociedades em geral
podem captar recursos dos seus sócios e do mercado financeiro entendido como empréstimo
bancário. Mas, além dessas 2 opções, as SA’s podem pegar dinheiro emprestado com o público
investidor, e é aqui que entram as debêntures. Ex.: A Body Tech Participações SA. Ela precisava
de 190 milhões de reais emprestado. Com o banco talvez ela conseguisse, mas teria os problemas
exigidos pelos bancos.

Então, ela dividiu esse dinheiro em 19 mil debêntures dando para cada debênture o valor de
10 mil reais e ofereceu para o público, falando: ‘público, me empresta 10 mil reais, que vou te
devolver esse empréstimo daqui a 5 anos, com juros equivalentes a 125% da taxa DI (taxa de
disponibilidade interbancária, que é muito próxima a taxa SELIC).

Para a SA, essa figura é muito importante porque ela não teve que oferecer nenhuma
garantia, nem pessoal nem real, e nem ficou limitada ao valor máximo do banco. E além disso, ela
está tendo que pagar juros, hoje, equivalentes a aproximadamente 9% ao ano – menor que
qualquer taxa de empréstimo sem garantia no banco. Então, para a SA é muito bom. E para o
público também é muito interessante, porque ele empresta 10 mil reias e vai receber de volta esses
10 mil reais acrescidos desse juros. E não precisa esperar os 5 anos – como são valores
imobiliários, são debêntures, pode vendê-las antes e realizar seu investimento. A lógica é muito
parecida com a lógica das ações, mas aqui o valor é certo. Tem direito a receber de volta 10 mil
reais + juros. É um investimento para o público e é, para a SA, uma forma de captação de recursos
muito interessante com custo baixo se comparada com outras.

Aluno: (inaudível 10:32)


Professor: Não, ainda não venceu. Vence em 2012. Essa é uma emissão de 2016. A
taxa DI já foi mais alta do que isso, já foi a 13% nesse intervalo. Agora ela está
voltando, está diminuindo, mas é um investimento interessante. É provável que muitos
de vocês tenham debêntures e não saibam. Porque os fundos de renda fixa dos
bancos são compostos por debêntures. Também por títulos da dívida pública, mas
estes nada mais são que debêntures emitidas pelo Estado, e não por uma SA. A ideia
é a mesma, mas o risco do estado é menor do que o risco de uma SA.
Prova de Juiz DF: o que o debenturista (pessoa que compra uma debênture) é em relação a
SA? Qual a relação jurídica? O debenturista é um credor; é uma relação de credor e devedor. Ele
emprestou dinheiro e tem dinheiro para receber de volta. A lógica das debêntures vai ser sempre a
lógica desse empréstimo.

É importante ressaltar que no Brasil existem mais de 850 bilhões de reais de debêntures no
mercado. É uma prática muito frequente e muito eficiente, especialmente nos últimos anos. Existe
um site (debêntures.com.br) que tem todas essas informações, inclusive as escrituras.

A ideia essencial das debêntures é essa – dizer que é um título que representa um
empréstimo público; é a lógica de um empréstimo dividido em parcelas.

(13:11) Algumas observações complementares precisam ser feitas.


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Hoje não existe limite para o uso de debêntures. Já existiu. Mas desde 2011, é a própria SA
que define quanto ela vai buscar emprestado. Às vezes elas conseguem, às vezes não. Mas
existem emissões de debêntures de 3 bilhões de reais. Ambev e Petrobrás fizeram assim. Não há
limite máximo para utilizar as debêntures.

Além de não haver limite máximo, as debêntures podem ser de categorias diferentes. É a
SA que decide qual categoria ela vai utilizar. Existem 4 tipos de debêntures:

- Debêntures com garantia real (muito seguras, mas pouco usadas no Brasil). É a
ideia tradicional de 1 ou mais bens vinculados ao pagamento da dívida. Existem ou de uma
hipoteca, ou de penhor, ou de alienação fiduciária em garantia. Em tese é possível a figura da
anticrese.

- Debêntures com garantia flutuante. Essa expressão não é muito boa, porque ela não
repetida em outras normas (só existe aqui). Mas essa garantia equivale ao que chamamos por
privilégio geral, ou seja, em uma eventual falência essa garantia está acima dos quirografários.
Não é nada, não é vantagem nenhuma, mas é a classificação. Também com pouco uso.

- Debêntures quirografárias. São as mais comuns no Brasil de 2011 para cá. São
aquelas sem nenhuma garantia, sem nenhum privilégio. A ideia dessa garantia é o
enquadramento como qualquer credo comum. Na falta de uma especificação, é quirografária.
Ex.: Body Tech, Ambev…

- Debêntures subordinadas. Nossa legislação ainda prevê esse 4º tipo de debêntures,


que são aquelas que ficam abaixo dos quirografários em uma falência. Existe e é metade do
nosso quadro hoje; 450 bilhões dos créditos de debêntures no Brasil são subordinadas. É uma
questão de confiança, porque se você confia na emitente das debêntures, você não vai pedir
garantia, porque mesmo sendo quirografária, se faliu, já era. Essas debêntures são muito
importantes e costumam aparecer em provas, especialmente nas questões de falência para
colocá-las abaixo dos quirografários para definição de uma ordem de pagamento.

Cada empréstimo por meio de debêntures tem que escolher 1 tipo desses. E, no mercado
em geral, temos uma tendência a não dar muita importância para isso. E de fato, não se tem tanta
importância para esse assunto. O mercado em geral olha muito mais para as vantagens que as
debêntures estão oferecendo. Normalmente as debêntures oferecem o pagamento de juros (95%
das debêntures no Brasil oferece juros como remuneração), mas existem outras possibilidades. O
direito brasileiro permite como vantagens para atração de investidores, os juros, correção (por
qualquer critério, até variação cambial), prêmio (não é sorteio, é um acréscimo fixo ao valor que foi
emprestado – emprestou 10 mil, vai recebe 12 mil de volta), participação nos lucros e conversão
em ações. As debêntures sempre vão oferecer alguma dessas vantagens; podem oferecer mais de
uma, mas tem que ter pelo menos uma dessas vantagens no mercado. E é isso que vai definir uma
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atratividade maior ou menos das debêntures. Padrão é lidar com debêntures que pagam juros – é o
mais usual, mais atrativo, mais comum dentro da lógica de uma renda fixa que se tem.

Qualquer que seja a vantagem oferecida, o debenturista (titular da debênture) pode


vender/negociar a debênture realizando seu investimento ou pode esperar o vencimento para
receber. No Brasil, hoje, o prazo médio de vencimento é de 7 anos. Há várias emissões de 5, mas
há emissões bem mais longas. Nos EUA o prazo médio é de 20 anos.

Na prova de juiz TJDFT perguntaram na prova oral o que são debêntures perpétuas. São
aquelas que têm vencimento futuro e incerto. Pode ser que nunca vençam, mas pode ser que
venham a vencer. Está só no livro do Fábio Ulhoa Coelho, usando a linha do direito americano.

Chegado o vencimento das debêntures, seja o vencimento certo ou indeterminado (caso


das debêntures perpétuas), há o direito de receber. Se não houver o pagamento, as debêntures
são títulos executivos, podem ser executadas. O art. 794, inciso I do CPC coloca as debêntures
como títulos executivos.

E a prescrição para execução das debêntures são de 10 anos, pela falta de prazo
específico. As debêntures não são títulos de crédito. Alguns professores acham que pelo fato de
estarem no inciso I do art. 794 é título de crédito, porque os outros do inciso I são. Mas não são! As
debêntures são valores mobiliários. Não são títulos de crédito, mas são executivos por
representarem um direito de crédito líquido e certo.

As debêntures, então, são o 1º título facultativo mais importante de todos eles. Nas
perguntas em geral, o que se pergunta é a relação de debenturista e a SA, e é a ideia do credor.

Partes Beneficiárias

Além das debêntures, a Lei das SA’s prevê um outro título, que são as partes beneficiárias,
que têm um tratamento menor - arts 46 a 51. As partes beneficiárias são títulos facultativos (só as
ações são obrigatórias) que asseguram o direito ao recebimento de uma parcela dos lucros anuais.
As partes beneficiárias têm como sua essência o direito de receber uma parte dos lucros. O limite
máximo é de 10% que pode ir para as partes beneficiárias.

Além desse direito de receber os lucros, as partes beneficiárias podem assegurar outros
direitos. Vai depender do estatuto da SA – pode assegurar direito a um prêmio, a conversão em
ações. Qualquer outro direito pode ser assegurado livremente. Ex.: partes beneficiárias do Hospital
Santa Lúcia que davam vantagens curiosas: dava 10% dos lucros, mas dava um check up anual e
10% de desconto nas consultas. Isso em 1968.

De toda forma, as partes beneficiárias se tornaram títulos que inicialmente foram pensados
como forma de premiar pessoas que ajudaram a SA – os fundadores, os primeiros prestadores de
serviço. Foi usada em muitas opções quando se tinha títulos ao portador, como forma de premiar
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políticos (pagar propina mesmo). Mas desde 1990 não tem título ao portador. Então, se sabe todo
mundo que tem título ao portador.

Isso fez com que elas caíssem em desuso. Hoje as partes beneficiárias são expressamente
proibidas nas instituições financeiras, na SA’s abertas e nas empresas estatais. Nas provas já
apareceram essas proibições, especialmente a das SA’s abertas.

As partes beneficiárias como não podem ser emitidas pelas SA’s abertas, elas não estão
mais no rol de valores mobiliários. A doutrina que analisa isso diz que é título de crédito (prof.
Tomazette discorda), e aí vai para lei ou regime jurídico dos títulos de crédito.

Bônus de Subscrição

Esses têm bastante uso. Arts. 75 a 79 da Lei das SA’s. Tratamento muito curto, porque a
ideia é simples. Esse bônus são títulos facultativos que dão direito a subscrever ações em
condições pré-definidas. A ideia dos bônus de subscrição é dar esse único direito, e somente esse.
É uma espécie de direito de preferência. A ideia é você querer comprar ações de uma SA, mas não
querer se sujeitar às variações do mercado.

Então, você compra um bônus para ter uma posição pré definida. Esse bônus pode ser
vendido, pode ser negociado no mercado, ou você pode ficar com ele, comprar as ações pelo
preço garantido e ganhar na diferença de preço. O bônus só serve para ganhar dinheiro assim.

[29:56 a 31:04 comentários irrelevantes] O bônus, depois do dia de comprar as ações, não
serve para mais nada. Caso concreto: Banco do Brasil emitiu bônus de subscrição nos anos 90 que
dava ao Tomazatte o direito de comprar 3 ações do BB por R$ 8,50. Foi emitido em 1999, mas só
chegou o dia de comprar as ações em 2011. Tomazette comprou em 2003 o bônus por R$15,00. Aí
pegou R$15,00 + R$8,50 (R$23,50) e comprou 3 ações do BB. As 3 ações valiam R$90,00 na
bolsa. Tinha gente que tinha um número gigantesco desse bônus e conseguiu um enriquecimento
na casa de mais de 1 milhão em uma única operação. Só que teve que esperar muito tempo. E é
isso o que o mercado de capitais faz.

A figura do bônus é muito similar a figura do mercado de opções. Mas no mercado de


opções há uma aposta, e no bônus tem uma garantia, em que se pode exercer ou não a opção,
mas a opção é garantida contra a sociedade. No mercado de opções vai depender das condições
do mercado para exercer ou não.

E ainda, o bônus de subscrição tem uma restrição. Ele só pode ser usado por SA’s de
capital autorizado, o qual é tratado na Lei das SA’s no art. 168, §1º. O capital autorizado é a
previsão no estatuto de que o capital vai aumentar. Ex.: o estatuto é de 200 milhões e vai aumentar
para 260 milhões.
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As SA’s abertas, praticamente todas, tem capital autorizado para poder usar esse
mecanismo do bônus de subscrição. Em provas se cobra em quais SA’s esses bônus podem ser
emitidos.

Acionistas

Dentro da Lei das SA’s são previstos 4 tipos: bônus, partes beneficiárias, debêntures e
ações. Desses 4 tipo previstos na lei, os únicos obrigatórios, que toda SA vai ter são as ações.
logo, o único tipo de pessoa que está prevista em toda SA é o acionista.

Qualquer SA tem ações, e se tem ações, qualquer SA tem acionistas. (35:03)

E aqui estamos usando a expressão da lei, e é preferível usar a expressão ‘acionista’ a


expressão ‘sócio’, porque a lei das SA’s só usa a expressão ‘sócio’ uma vez e para se referir a
sociedades que não são anônimas. Então, quando tratarem com uma SA, tentem preferir a
expressão acionistas.

Para estudar os acionistas, temos que partir daquelas noções básicas: quantos são? E
quem pode e quem não pode ser acionista?

- Noções

Aqui temos um detalhe diferente. Dentro da Lei das SA's existe uma figura chamada de
subsidiária integral - art. 251. Essa subsidiária integral é uma SA que tem como único acionista
uma sociedade brasileira.

O que define a subsidiária integral é a presença de um acionista só, e esse acionista tem
que ser uma sociedade brasileira – não pode ser pessoa física, não pode ser estrangeira. As
subsidiárias integrais funcionam como espécie de departamentos da sociedade brasileira. A
sociedade brasileira quer ter partes da sua atividade em outros CNPJ’s. Então, ela cria subsidiárias
integrais. Ex.: Banco do Brasil SA é uma pessoa jurídica conhecida, mas ele tem várias sociedades
que são subsidiária integrais – BB Cartões, BB Leasing, BB Saúde, são todas SA’s que tem como
único acionista o Banco do Brasil. São simplesmente segregações de atividades. A atividade foi
segregada em CNPJ’s diferentes legítimos.

Há uma grande discussão sobre responsabilidade entre esses CNPJ’s, mas que tem a ver
com a figura da desconsideração da personalidade jurídica, com a existência ou não dos
pressupostos da desconsideração. [37:38 a 38:22 comentários sobre notícia que saiu no STJ que nas
execuções fiscais para grupos societários tem que obedecer o incidente de desconsideração, não sendo
caso de redirecionamento fiscal, e sim de desconsideração de personalidade jurídica. E sendo caso de
desconsideração, tem que respeitar o incidente].

Tirando as subsidiárias integrais, as outras SA’s não têm número máximo de acionistas e
têm no mínimo 2 acionistas. Mas pode ficar com 1 só por 2 assembleias gerais ordinárias
(aproximadamente 2 anos - mas é incorreto falar assim, porque o art. 206 fala em 2 assembleias
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ordinárias). Na quantidade de acionistas não temos maiores problemas, a não ser essa da
subsidiária integral.

Art. 206. Dissolve-se a companhia: […]

d) pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembléia-geral ordinária,


se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte, ressalvado o
disposto no artigo 251;

Mas quem pode e quem não pode? Aqui qualquer um pode ser acionista, tirando a
peculiaridade da subsidiária integral. Ou seja, aquelas regrinhas que vimos falando sobre
incapazes e pessoas casadas não valem para SA - art. 974 e 977 do CC não valem para SA.

- Deveres

Todos os acionistas de uma SA terão deveres, que são os mesmos das outras sociedades.

O dever de lealdade é igual, os acionistas de uma SA também têm o dever de não


prejudicar a SA nem os demais acionistas.

O dever de contribuição é um pouco diferente. Para qualquer sociedade existe dever de


contribuição. Mas nas SA’s esse dever de contribuição deve, obrigatoriamente, ser cumprido em
dinheiro, pelo menos 10%. Os outros 90% da contribuição pode ser em dinheiro ou bens, mas
nunca em serviços. Nas SA’s também não se admite contribuição em serviços.

Esses 10% em dinheiro precisam ser pagos na constituição da SA - art. 80 da Lei das SA’s.

Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos seguintes


requisitos preliminares:

I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que se divide o
capital social fixado no estatuto;

II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão
das ações subscritas em dinheiro;

III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário


autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em
dinheiro.

Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às companhias para as quais a


lei exige realização inicial de parte maior do capital social.

E outros 90% quando têm que ser pagos – em dinheiro ou com outros bens? A lei não
define isso. Cabe a própria SA definir o vencimento do resto. 10% está na lei, tem que ser na
constituição. O resto da contribuição é definido pela SA, e ela pode usar o próprio estatuto para
definir, o boletim de subscrição (documento assinado pelo acionista) ou pode ser definido nos
denominados avisos de chamada, que são notificações para os acionistas pagarem a contribuição.

Importante é saber que essas 3 opções são alternativas. Se uma delas for usada, não
precisa usar a outra. Basta 1 dos 3.
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Qualquer que seja forma de estabelecer o vencimento, chegado o vencimento e o acionista
não pagou, ele já está em mora. Nas SA’s a mora é ex re – a mora não depende de interpelação.
Venceu, não pagou, já está em mora.

E lembrem-se, o acionista em mora recebe o nome de acionista remisso, o qual vai sofrer
as consequências da mora, como pagamento de juros e multa de no máximo 10%. E independente
das consequências tradicionais da mora (juros e multa), a SA de onde o acionista é remisso tem, a
princípio, 2 opções: executar o remisso ou vender as ações dele extrajudicialmente (uma espécie
de leilão das ações para tentar cobrir o prejuízo, com se o leilão da alienação fiduciária de carros).

Se essas 2 tentativas derem errado, aí sim pode excluir o remisso. Nas SA’s a exclusão só
aparece como última alternativa. Tem que tentar primeiramente vender ou executar (entre essas 2
não tem ordem), e aí se não derem certo, pode deliberar a exclusão extrajudicial do acionista.

O acionista excluído não recebe nada - art. 107, §4º. Muita gente discute a legitimidade
dessa pena, uma vez que configuraria eventual enriquecimento sem causa, mas é a previsão da
lei, e nada mais é do que uma penalidade que nunca vai ser maior que o valor da própria
obrigação. O que se discute no final das contas é se ela exagerada ou não, mas ela está na lei.

Acionista Remisso

Art. 107. Verificada a mora do acionista, a companhia pode, à sua escolha:

I - promover contra o acionista, e os que com ele forem solidariamente responsáveis


(artigo 108), processo de execução para cobrar as importâncias devidas, servindo o
boletim de subscrição e o aviso de chamada como título extrajudicial nos termos do
Código de Processo Civil; ou

II - mandar vender as ações em bolsa de valores, por conta e risco do acionista.

§ 1º Será havida como não escrita, relativamente à companhia, qualquer estipulação


do estatuto ou do boletim de subscrição que exclua ou limite o exercício da opção
prevista neste artigo, mas o subscritor de boa-fé terá ação, contra os responsáveis pela
estipulação, para haver perdas e danos sofridos, sem prejuízo da responsabilidade
penal que no caso couber.

§ 2º A venda será feita em leilão especial na bolsa de valores do lugar da sede social,
ou, se não houver, na mais próxima, depois de publicado aviso, por 3 (três) vezes, com
antecedência mínima de 3 (três) dias. Do produto da venda serão deduzidos as
despesas com a operação e, se previstos no estatuto, os juros, correção monetária e
multa, ficando o saldo à disposição do ex-acionista, na sede da sociedade.

§ 3º É facultado à companhia, mesmo após iniciada a cobrança judicial, mandar vender


a ação em bolsa de valores; a companhia poderá também promover a cobrança judicial
se as ações oferecidas em bolsa não encontrarem tomador, ou se o preço apurado não
bastar para pagar os débitos do acionista.

§ 4º Se a companhia não conseguir, por qualquer dos meios previstos neste artigo, a
integralização das ações, poderá declará-las caducas e fazer suas as entradas
realizadas, integralizando-as com lucros ou reservas, exceto a legal; se não tiver lucros
e reservas suficientes, terá o prazo de 1 (um) ano para colocar as ações caídas em
comisso, findo o qual, não tendo sido encontrado comprador, a assembléia-geral
deliberará sobre a redução do capital em importância correspondente.
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Diferentemente do que estudamos, a exclusão do remisso não é uma hipótese de
dissolução parcial. Quando ele é excluído as ações dele passam para a sociedade. A sociedade
passa a ser dona das ações. É uma espécie de desapropriação das ações sem necessidade de
pagar, uma vez que já havia um atraso. E aí, a SA quando fica com as ações do remisso, ela tem 1
ano para arrumar alguém para pagar aquelas ações. Se não arrumar um substituto, tem que
cancelar as ações e reduzir o capital.

O tratamento do remisso aqui é muito mais radical. (49:23) Examinador do juiz do TJDFT
gosta muito desse assunto.

Além desses 2 deveres, os acionistas têm direitos.

- Direitos

Na lei das SA’s há uma divisão dos direitos em 2 grupos.

* Direitos essenciais: todos os acionistas têm. O art. 109 diz quais são eles, sem entrar em
detalhes. São 5, quais sejam, participação no acervo, participação nos lucros, fiscalização,
preferência e retirada.

Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembléia-geral poderão privar o acionista dos
direitos de:

I - participar dos lucros sociais; [distribuição do resultado positivo da atividade entre os


acionistas. Dentro dessa ideia de participação do lucros existem 3 expressões:
dividendos, bonificações e juros sobre o capital próprio. Nada mais são do que formas
de participação nos lucros. OBS.: 25% dos lucros deve ser distribuído como dividendo.
Art. 202 da Lei das SA’s estabelece esse dividendo mínimo obrigatório.]

II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; [nada mais é do que a


divisão do patrimônio da sociedade quando ela é extinta; a essência da participação no
acervo é distribuir o que sobrou]

III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;[A fiscalização
não é se intrometer nos negócios, mas ter acesso às informações. Nas SA’s, para
evitar tumultos, esse direito é bem delimitado pela própria lei. Ex.: prestação de contas
só 1x por ano. A fiscalização existe, mas é limitada pela lei].

IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em


ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o
disposto nos artigos 171 e 172; [direito de manter o seu percentual; é a prioridade para
subscrever aumento de capital; sempre que o capital for aumentar, tem que oferecer
primeiro para quem é acionista. Art.171 trata da regulamentação própria do direito de
preferência].

V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei. [direito de sair da sociedade
exigindo o pagamento pela própria SA. É uma espécie de venda compulsória - você sai
e a SA vai comprar/pagar o preço das suas ações. Não é ela que escolhe, você que diz
que a SA tem que comprar. Esse direito de retirada é limitado. Só pode ser exercido
nos casos legalmente previstos - rol taxativo na lei. (56:20 a 58:20 irrelevante).
Arts.136, I a III e XX c/c 137; Art. 136-A; Arts. 223, 236, 252 e 256. Mas a essência do
direito de retirada é a pessoa se voltar contra mudanças essenciais da sociedade. Ex.:
art. 136 fusão, cisão, incorporação; art. 136-A inserção de cláusula de arbitragem. Em
todos esses casos há uma mudança relevante nos direitos do acionista, e aí se dá a
ele o direito de sair não vendendo no mercado, mas exigindo que a própria SA compre
as ações dele. É direito do acionista, a SA não tem opção de escolher].
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Aluno: A SA vai comprar por qual valor?

Professor: A princípio pelo valor patrimonial da ação. Tem que levantar um balanço,
definir patrimônio líquido, dividir pelo número de ações e pagar aquele valor. O estatuto
pode prever um outro valor, desde que seja no mínimo o valor econômico, o qual exige
uma perícia que leva em conta a perspectiva de rentabilidade da sociedade. Eles usam
a expressão fluxo de caixa descontado para definir valor econômico da sociedade.

Esses 5 direitos são essenciais e todo acionista vai ter. Não importa se a ação é ordinária
ou preferencial. Eles sempre vão ter esses 5 direitos.

* Direitos sociais ou não essenciais: valem para alguns, mas não para todos.

Um é muito conhecido; é o direito de voto. Na Lei das SA’s o voto não é um direito
essencial. Toda ação ordinária tem, mas as preferenciais podem ter ou não a depender do
estatuto. Por isso que é considerado um direito social, um direito não essencial. Embora não seja
um direito essencial, o voto é muito importante, porque é ele que acaba definindo os rumos da
sociedade. É tratado bem detalhadamente nos arts. 110 a 115. Mas focando em provas de
concursos, o art. 115 proíbe 2 tipos de votos - não são admitidos no nosso direito o voto abusivo e
o voto conflitante.

Art. 115. O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia;


considerar-se-á abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a
outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de
que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros acionistas.
Literalmente o abusivo é o voto com intenção de prejudicar - art. 115, caput. A prova é muito
difícil, mas eventualmente pode-se demonstrar isso. E aí, caiu recentemente em prova, o voto
abusivo gera responsabilidade com perdas e danos, mesmo que o voto abusivo não seja vendedor.
É difícil configurar, mas a lei prevê expressamente essa possibilidade.

Voto conflitante é aquele com interesse alheio à sociedade, que motiva aquele voto e por
isso o voto é vedado. Então, não se pode votar em uma sociedade, se tem o interesse de defender
outra sociedade que participar da negociação. Ex.: operação realizada com a Tim e outra
companhia de celular menor. Havia acionistas em comum. Se entendeu que esses acionistas
comuns não dia votar na operadora menor, porque eles tinham interesse externo, que era o
interesse da Tim, em uma operação que estava realizada entre as 2 sociedades.

Prova de Juiz do TJDFT - No Brasil vale a teoria do conflito formal ou do conflito


substancial? Na época dessa prova, não achava resposta nem no google. Estava dentro do voto do
examinador. Conflito formal é aquele que é previamente impedido - verificou que é sócio da outra
sociedade, está impedido. Já no conflito substancial deixa votar e deixa apresentar uma
justificativa. À luz dessa justificativa é que se analisa se é conflitante ou não. No Brasil, por conta
desse voto do examinador, prevalece a teoria do conflito formal.

Além do voto, existe um 2º direito não essencial mencionado na lei (e aqui tem uma
maldade). Em muitas provas são formuladas questões sobre essa figura chamada de tag along
(literalmente traduzido significa acompanhar). Em português existe uma expressão, mas os
12
examinadores nunca usaram. O tag along pode ser definido como direito de saída conjunta. É o
direito de vender as ações junto com o controlador. Ex.: DF resolve vender o controle do BRB. O
tag along garantiria que os acionistas pudessem vender junto com o DF. Em 2007, o BB fez uma
proposta em que ele oferecia o pagamento de 50 reais para cada ação do DF no BRB - daria uma
conta de 2,5 bilhões na época. Os acionistas minoritários que tiverem o tag along, tem o direito de
vender junto, não pelo mesmo preço, mas por 80% do preço do controlador. Condições melhores
podem ser estabelecidas no estatuto.

Esse direito é não essencial, porque na lei ele só é assegurado às ações com voto das SA’s
abertas. Para as outras ações depende do estatuto. Art. 254-A da Lei das SA’s.

Art. 254-A. A alienação, direta ou indireta, do controle de companhia aberta somente


poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o adquirente
se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de
propriedade dos demais acionistas da companhia, de modo a lhes assegurar o preço
no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do valor pago por ação com direito a voto,
integrante do bloco de controle.

§ 1o Entende-se como alienação de controle a transferência, de forma direta ou


indireta, de ações integrantes do bloco de controle, de ações vinculadas a acordos de
acionistas e de valores mobiliários conversíveis em ações com direito a voto, cessão
de direitos de subscrição de ações e de outros títulos ou direitos relativos a valores
mobiliários conversíveis em ações que venham a resultar na alienação de controle
acionário da sociedade. 

§ 2o A Comissão de Valores Mobiliários autorizará a alienação de controle de que trata


o caput, desde que verificado que as condições da oferta pública atendem aos
requisitos legais.

§ 3o Compete à Comissão de Valores Mobiliários estabelecer normas a serem


observadas na oferta pública de que trata o caput.

§ 4o O adquirente do controle acionário de companhia aberta poderá oferecer aos


acionistas minoritários a opção de permanecer na companhia, mediante o pagamento
de um prêmio equivalente à diferença entre o valor de mercado das ações e o valor
pago por ação integrante do bloco de controle.

§ 5o (VETADO)

Aqui, na Lei das SA’s tem 3 expressões em inglês que não dá pra fugir delas. Uma é essa
do tag along, a outra é o incide trading que veremos mais a frente e a outra é a golden share.

Aluno: O tag along é um direito de retirada?

Professor: Não. Porque na retirada a sociedade pára. É o direito que o comprador das
ações de controle compre dele também. É um ônus para o adquirente.

Na lei são previstos esses 7 direitos – 5 essenciais e 2 não essenciais, mas nada impede
que o estatuto eventualmente estabeleça outros direitos mais detalhados.

- Saída

Além dos deveres e direitos, os acionistas de uma SA podem sair de uma sociedade. As
SA’s teoricamente são pensada para serem sociedades que sobrevivem por muito tempo. E como
o acionista sai da sociedade? A princípio, o acionista sai de uma sociedade negociando suas
13
ações. Aqui trata tanto de negociações onerosas como de negociações gratuitas como,
eventualmente, de sucessões.

(1:11:46) Na SA, o mecanismo padrão de saída de qualquer acionista é a


cessão/transferência de suas ações. Vimos que é característica da SA a livre transferência das
ações. A princípio, sem maiores preocupações, registra-se que há um limite – as ações realmente
podem ser livremente negociadas, mas com a própria SA isso é limitado. Art. 30, §1º estabelece
limites para a própria SA negociar com as suas próprias ações. Esses limites nunca são cobrados,
mas se cobra a possibilidade da SA negociar com suas próprias ações. Ela pode, nos casos do art.
30, §1º.

Art. 30. A companhia não poderá negociar com as próprias ações.

§ 1º Nessa proibição não se compreendem:

a) as operações de resgate, reembolso ou amortização previstas em lei;

b) a aquisição, para permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que até o


valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social,
ou por doação;

c) a alienação das ações adquiridas nos termos da alínea b e mantidas em tesouraria;

d) a compra quando, resolvida a redução do capital mediante restituição, em dinheiro,


de parte do valor das ações, o preço destas em bolsa for inferior ou igual à importância
que deve ser restituída.

Como é a retirada, como é a situação do remisso excluído. São hipóteses desse tipo que
permitem a negociação da SA com suas próprias ações.

Dentro dessa ideia de que o acionista sai da SA negociando/transferindo suas ações, a


gente a princípio está excluindo a figura da dissolução parcial (dentro da Lei das SA não existe
essa figura).

Cuidado! O STJ, antes do CPC, criou uma interpretação que passou a admitir a dissolução
parcial em certos casos. O STJ diz que existem algumas SA’s que são sociedades de pessoas.
Nessas SA’s que são sociedades de pessoas é admissível a dissolução parcial pelas regras do CC.
Agora, é fundamental nessa interpretação, o julgado de 2007, que a SA seja considerada
sociedade de pessoas. Ex.: Brasal e Jorlan são SA’s que foram consideradas sociedade de
pessoas e admitiram a dissolução parcial. No caso da Brasal foi por morte de acionista e no caso
da Jorlan foi por incapacidade superveniente de um acionista. Em ambos os casos, se admitiu com
base nesse precedente, a dissolução parcial. A Lei das SA’s não prevê a figura da dissolução
parcial, até a exclusão, quando prevista, não configura uma dissolução. Mas se a SA for uma
sociedade de pessoas, haveria essa possibilidade. EResp 111294/2007 - tem muitas restrições.
Prof. Ana Frasão diz que isso não deve ser admitido em nenhuma SA, mas é orientação majoritária
do STJ.

Ocorre que com o CPC passou a ser prevista 1 hipótese de dissolução parcial para SA.
14
Art. 599, § 2o A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter também por objeto a
sociedade anônima de capital fechado quando demonstrado, por acionista ou
acionistas que representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode
preencher o seu fim.
A Lei das SA’s não prevê, o STJ reconheceu uma aplicação do CC para as SA’s de pessoas
e o CPC trouxe uma hipótese. Esse artigo diz que nas sociedades fechadas, é possível a
dissolução parcial a pedido de acionistas que tenham pelo menos 5% do capital social, provando
que a sociedade não pode mais cumprir o seu fim. Essa expressão usada pelo CPC é conhecida
‘não mais cumprir o seu fim’ é não conseguir distribuir lucros por mais de 3 anos seguidos. Houve
uma dúvida inicial, especialmente levantada pelos processualistas, mas hoje está mais tranquilo:
Se essa previsão do CPC superou a interpretação do STJ ou se as 2 hipóteses combinam? Hoje, a
opinião amplamente majoritária, inclusive entre os processualistas, é de que as 2 hipóteses
combinam. Na SA, então há 2 possibilidade de dissolução parcial: essa orientação do STJ –
dissolução parcial pelas regras do CC para sociedades de pessoas e a dissolução parcial do CPC.

A do CPC é muito nova, mas não representa grande novidade histórica, já que já se usava
essa figura com resultados muito parecidos. Tirando essas hipóteses, não temos dissolução parcial
na SA, temos saída de sócio por meio de transferência das ações.

Esses acionistas são a base/o substrato da sociedade. Mas a sociedade tem uma
existência autônoma, é um centro autônomo de direitos e obrigações. E a sociedade opera no
mundo concreto por meio de seus órgãos sociais.

Apresentamos aqui os 4 Órgãos Sociais que existem na lei das SA’s. Não são os únicos
órgãos possíveis, mas são os 4 órgãos que existem na Lei das SA’s: Assembleia Geral, Conselho
de Administração, Diretoria e Conselho Fiscal.

Esses 4 são formas de atuação da SA, enquanto centro autônomo de direitos e obrigações.

Assembleia Geral

É um órgão de deliberação na SA, não de tudo, mas das questões mais importantes para a
vida da SA - art. 122 diz quais são as matérias que se submetem a Assembleia.

Art. 122.  Compete privativamente à assembleia geral:

I - reformar o estatuto social;

II - eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia,


ressalvado o disposto no inciso II do art. 142;

III - tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as


demonstrações financeiras por eles apresentadas;

IV - autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto nos §§ 1 o, 2o e 4o do art.


59;

V - suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120);

VI - deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação
do capital social;
15
VII - autorizar a emissão de partes beneficiárias;

VIII - deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua


dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e

IX - autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata.

Parágrafo único. Em caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido de


concordata poderá ser formulado pelos administradores, com a concordância do
acionista controlador, se houver, convocando-se imediatamente a assembléia-geral,
para manifestar-se sobre a matéria.

A ideia é simples, você reune para deliberar sobre essas matérias mais importantes. Mas a
lei diz que existe 2 tipos de assembleia geral.

- Assembleia Geral Ordinária (AGO): é aquela que tem que a acontecer todo ano
até o dia 30 de abril. E por ter que acontecer todo ano, ela tem como competência as matérias
que todo ano precisam ser decididas - art.132. Ex.: prestação de contas, demonstrações
financeiras, etc. A competência da AGO é específica – matérias ordinárias.

SEÇÃO II

Assembléia-Geral Ordinária

Objeto

Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do


exercício social, deverá haver 1 (uma) assembléia-geral para:

I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações


financeiras;

II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de


dividendos;

III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso;

IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital social (artigo 167)

- Assembleia Geral Extraordinária (AGE): pode acontecer ou não; não tem data
nem previsão de necessidade de acontecer, é uma medida extraordinária como o próprio nome
diz. E essa AGE tem competência residual, ou seja, qualquer matéria que não seja da AGO tem
que ser da AGE. (1:21:50)

A ideia é mais ou menos a seguinte: se tiver matérias das 2, pode convocar as 2 juntas.
Pode ter no mesmo dia AGE e AGO. Isso é o padrão, porque normalmente, todo ano,
principalmente quem lida com empresas estatais tem que fixar a remuneração dos
administradores, tem que aumentar o capital social da SA, e essas matérias são de competência
da AGE.

Seja AGO ou seja AGE, existe um procedimento para realização da Assembleia, que tem 3
passos, quais sejam, convocação, instalação e deliberação.

A convocação é a chamada para Assembleia – art. 123 diz quem convoca e o art. 124 diz
como convoca. E realizada a convocação, ela tem que ser instalada, se exige uma presença
16
mínima de acionistas para ela funcionar, que na Lei das SA’s é 25% do capital votante em 1ª
convocação; em 2ª convocação qualquer um. Só que não vale aquele esquema de condomínio de
1ª convocação às 08h e 2ª convocação às 08h30. Se não der na 1ª convocação, tem que fazer
todo o procedimento de novo.

Competência para Convocação

Art. 123. Compete ao conselho de administração, se houver, ou aos diretores,


observado o disposto no estatuto, convocar a assembléia-geral.

Parágrafo único. A assembléia-geral pode também ser convocada:

a) pelo conselho fiscal, nos casos previstos no número V, do artigo 163;

b) por qualquer acionista, quando os administradores retardarem, por mais de 60


(sessenta) dias, a convocação nos casos previstos em lei ou no estatuto;

c) por acionistas que representem cinco por cento, no mínimo, do capital social,
quando os administradores não atenderem, no prazo de oito dias, a pedido de
convocação que apresentarem, devidamente fundamentado, com indicação das
matérias a serem tratadas; (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997)

d) por acionistas que representem cinco por cento, no mínimo, do capital votante, ou
cinco por cento, no mínimo, dos acionistas sem direito a voto, quando os
administradores não atenderem, no prazo de oito dias, a pedido de convocação de
assembléia para instalação do conselho fiscal. (Incluída pela Lei nº 9.457, de 1997)

Modo de Convocação e Local

Art. 124. A convocação far-se-á mediante anúncio publicado por 3 (três) vezes, no
mínimo, contendo, além do local, data e hora da assembléia, a ordem do dia, e, no
caso de reforma do estatuto, a indicação da matéria.

§ 1o A primeira convocação da assembléia-geral deverá ser feita: (Redação da pela


Lei nº10.303, de 2001)

I - na companhia fechada, com 8 (oito) dias de antecedência, no mínimo, contado o


prazo da publicação do primeiro anúncio; não se realizando a assembléia, será
publicado novo anúncio, de segunda convocação, com antecedência mínima de 5
(cinco) dias; (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)

II - na companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação será de 15


(quinze) dias e o da segunda convocação de 8 (oito) dias. (Incluído pela Lei nº 10.303,
de 2001)

§ 2° Salvo motivo de força maior, a assembléia-geral realizar-se-á no edifício onde a


companhia tiver a sede; quando houver de efetuar-se em outro, os anúncios indicarão,
com clareza, o lugar da reunião, que em nenhum caso poderá realizar-se fora da
localidade da sede.

§ 3º Nas companhias fechadas, o acionista que representar 5% (cinco por cento), ou


mais, do capital social, será convocado por telegrama ou carta registrada, expedidos
com a antecedência prevista no § 1º, desde que o tenha solicitado, por escrito, à
companhia, com a indicação do endereço completo e do prazo de vigência do pedido,
não superior a 2 (dois) exercícios sociais, e renovável; essa convocação não dispensa
a publicação do aviso previsto no § 1º, e sua inobservância dará ao acionista direito de
haver, dos administradores da companhia, indenização pelos prejuízos sofridos.

§ 4º Independentemente das formalidades previstas neste artigo, será considerada


regular a assembléia-geral a que comparecerem todos os acionistas.
17
§ 5o A Comissão de Valores Mobiliários poderá, a seu exclusivo critério, mediante
decisão fundamentada de seu Colegiado, a pedido de qualquer acionista, e ouvida a
companhia: (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)

I - aumentar, para até 30 (trinta) dias, a contar da data em que os documentos relativos
às matérias a serem deliberadas forem colocados à disposição dos acionistas, o prazo
de antecedência de publicação do primeiro anúncio de convocação da assembléia-
geral de companhia aberta, quando esta tiver por objeto operações que, por sua
complexidade, exijam maior prazo para que possam ser conhecidas e analisadas pelos
acionistas; (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)

II - interromper, por até 15 (quinze) dias, o curso do prazo de antecedência da


convocação de assembléia-geral extraordinária de companhia aberta, a fim de
conhecer e analisar as propostas a serem submetidas à assembléia e, se for o caso,
informar à companhia, até o término da interrupção, as razões pelas quais entende que
a deliberação proposta à assembléia viola dispositivos legais ou regulamentares.
(Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)

§ 6o As companhias abertas com ações admitidas à negociação em bolsa de valores


deverão remeter, na data da publicação do anúncio de convocação da assembléia, à
bolsa de valores em que suas ações forem mais negociadas, os documentos postos à
disposição dos acionistas para deliberação na assembléia-geral. (Incluído pela Lei nº
10.303, de 2001)

"Quorum" de Instalação

Art. 125. Ressalvadas as exceções previstas em lei, a assembléia-geral instalar-se-á,


em primeira convocação, com a presença de acionistas que representem, no mínimo,
1/4 (um quarto) do capital social com direito de voto; em segunda convocação instalar-
se-á com qualquer número.

Parágrafo único. Os acionistas sem direito de voto podem comparecer à assembléia-


geral e discutir a matéria submetida à deliberação.

E, uma vez instalada, ela vai deliberar. Nas SA’s o quórum geral é de maioria simples, mais
da metade dos votos presentes. Para quase tudo vai se ficar na maioria simples. Mas, as matérias
do art. 136 (alterações estruturais da sociedade) exigem maioria absoluta.

Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo,


das ações com direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo estatuto da
companhia cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado
de balcão, para deliberação sobre:                      

I - criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais


existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações preferenciais,
salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto;

II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de


uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais
favorecida;

III - redução do dividendo obrigatório;

IV - fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;

V - participação em grupo de sociedades (art. 265);

VI - mudança do objeto da companhia;

VII - cessação do estado de liquidação da companhia;

VIII - criação de partes beneficiárias; 


18
IX - cisão da companhia;

X - dissolução da companhia.

Nessas matérias do art. 136, o estatuto das SA’s fechadas pode subir esse quórum e a
CVM pode dispensar esse quórum nas SA’s abertas. Isso acontece com alguma frequência nas
Lojas Renner. É um exemplo de sociedade que não tem maioria organizada. O maior acionista da
Renner tem 13% do capital. Então, para maioria absoluta, eles não conseguem em nenhuma
Assembleia.

Fora esses detalhes, não há maiores problemas nas Assembleias Gerais, que são órgãos
obrigatórios, ou seja, não podem ser substituídos por nenhuma outra figura.

Conselho de Administração

Além das Assembleias Gerais, existe um 2º órgão chamado de Conselho de Administração,


que é um órgão de deliberação de questões um pouco mais concretas. A competência do
Conselho de Administração está no art 142 – delibera, mas delibera matérias mais concretas.

Art. 142. Compete ao conselho de administração:

I - fixar a orientação geral dos negócios da companhia;

II - eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observado o


que a respeito dispuser o estatuto;

III - fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da
companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração,
e quaisquer outros atos;

IV - convocar a assembléia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do artigo 132;

V - manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;

VI - manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o


exigir;

VII - deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus
de subscrição; (Vide Lei nº 12.838, de 2013)

VIII – autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo


não circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de
terceiros; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)

IX - escolher e destituir os auditores independentes, se houver.

§ 1o Serão arquivadas no registro do comércio e publicadas as atas das reuniões do


conselho de administração que contiverem deliberação destinada a produzir efeitos
perante terceiros. (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)

§ 2o A escolha e a destituição do auditor independente ficará sujeita a veto,


devidamente fundamentado, dos conselheiros eleitos na forma do art. 141, § 4 o, se
houver. (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)

A ideia essencial dessa competência do Conselho de Administração é fixação de diretrizes,


eleição e supervisão da diretoria. É basicamente isso que esse Conselho faz.
19
O grande detalhe: na lei das SA’s é um órgão facultativo. Como regra geral da lei, a SA
pode ter ou não Conselho de Administração.

Art. 138. A administração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao


conselho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria.

§ 1º O conselho de administração é órgão de deliberação colegiada, sendo a


representação da companhia privativa dos diretores.

§ 2º As companhias abertas e as de capital autorizado terão, obrigatoriamente,


conselho de administração.

Mas há exceções. Em 3 casos tem que ter Conselho de Administração: SA’s abertas, SA’s
de capital autorizado e empresas estatais. Nessas 3 o Conselho é obrigatório.

Quando existir Conselho de Administração, seja nessas exceções, seja nos casos em que
os acionistas querem ter, o Conselho de Administração será composto por no mínimo 3 membros
eleitos pela Assembleia Geral ou pelos minoritários em votação separada (art. 141, §§ 4º e 5º).

Art. 141. Na eleição dos conselheiros, é facultado aos acionistas que representem, no
mínimo, 0,1 (um décimo) do capital social com direito a voto, esteja ou não previsto no
estatuto, requerer a adoção do processo de voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação
tantos votos quantos sejam os membros do conselho, e reconhecido ao acionista o
direito de cumular os votos num só candidato ou distribuí-los entre vários. […]

§ 4o Terão direito de eleger e destituir um membro e seu suplente do conselho de


administração, em votação em separado na assembléia-geral, excluído o acionista
controlador, a maioria dos titulares, respectivamente:

I - de ações de emissão de companhia aberta com direito a voto, que representem,


pelo menos, 15% (quinze por cento) do total das ações com direito a voto; e

II - de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito de emissão de


companhia aberta, que representem, no mínimo, 10% (dez por cento) do capital social,
que não houverem exercido o direito previsto no estatuto, em conformidade com o art.
18.

§ 5o Verificando-se que nem os titulares de ações com direito a voto e nem os titulares
de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito perfizeram,
respectivamente, o quorum exigido nos incisos I e II do § 4 o, ser-lhes-á facultado
agregar suas ações para elegerem em conjunto um membro e seu suplente para o
conselho de administração, observando-se, nessa hipótese, o quorum exigido pelo
inciso II do § 4o.

Só podem ser eleitos as pessoas que preencham os requisitos dos arts. 146 e 147. Mas vão
desde aqueles artigos mais gerais – tem que ter reputação ilibada, até impedimentos mais
específicos – não pode ocupar cargo em concorrente, não pode ter conflito de interesse.

Art. 146. Poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração pessoas
naturais, devendo os diretores ser residentes no País.

§ 1o A ata da assembléia-geral ou da reunião do conselho de administração que eleger


administradores deverá conter a qualificação e o prazo de gestão de cada um dos
eleitos, devendo ser arquivada no registro do comércio e publicada.

§ 2o A posse do conselheiro residente ou domiciliado no exterior fica condicionada à


constituição de representante residente no País, com poderes para receber citação em
ações contra ele propostas com base na legislação societária, mediante procuração
com prazo de validade que deverá estender-se por, no mínimo, 3 (três) anos após o
término do prazo de gestão do conselheiro.
20
Art. 147. Quando a lei exigir certos requisitos para a investidura em cargo de
administração da companhia, a assembléia-geral somente poderá eleger quem tenha
exibido os necessários comprovantes, dos quais se arquivará cópia autêntica na sede
social.

§ 1º São inelegíveis para os cargos de administração da companhia as pessoas


impedidas por lei especial, ou condenadas por crime falimentar, de prevaricação, peita
ou suborno, concussão, peculato, contra a economia popular, a fé pública ou a
propriedade, ou a pena criminal que vede, ainda que temporariamente, o acesso a
cargos públicos.

§ 2º São ainda inelegíveis para os cargos de administração de companhia aberta as


pessoas declaradas inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários.

§ 3o O conselheiro deve ter reputação ilibada, não podendo ser eleito, salvo dispensa
da assembléia-geral, aquele que: 

I - ocupar cargos em sociedades que possam ser consideradas concorrentes no


mercado, em especial, em conselhos consultivos, de administração ou fiscal; e

II - tiver interesse conflitante com a sociedade.

§ 4o A comprovação do cumprimento das condições previstas no § 3 o será efetuada por


meio de declaração firmada pelo conselheiro eleito nos termos definidos pela
Comissão de Valores Mobiliários, com vistas ao disposto nos arts. 145 e 159, sob as
penas da lei.

Os eleitos na Lei das SA’s terão mandato de até 3 anos, podendo ser destituídos a qualquer
tempo, mas também podendo ser reeleitos indefinidamente. É um mandato meio diferente, porque
pode ser destituído a qualquer tempo, é demissível pela vontade do acionista.

Um parêntese: as empresas estatais hoje em sua grande maioria são SA's (sociedade de
economia mista é obrigatoriamente). E para as empresas estatais de maior porte (aquelas com
receita bruta anual superior a 90 milhões de reais) surgiram regras novas sobre Conselho de
Administração na Lei nº 13.303/16. Esse assunto tem caído como direito administrativo nas provas,
e não com direito comercial. Nas empresas estatais de maior porte, os membros de Conselho de
Administração são no mínimo 7 e no máximo 11, que têm mandato fixo de 2 anos, permitidas no
máximo 3 reeleições. E que tem cumprir, além dos requisitos das SA’s, os requisitos do art. 17 da
Lei nº 13.303.

Art. 17.  Os membros do Conselho de Administração e os indicados para os cargos de


diretor, inclusive presidente, diretor-geral e diretor-presidente, serão escolhidos entre
cidadãos de reputação ilibada e de notório conhecimento, devendo ser atendidos,
alternativamente, um dos requisitos das alíneas “a”, “b” e “c” do inciso I e,
cumulativamente, os requisitos dos incisos II e III: 

I - ter experiência profissional de, no mínimo: 

a) 10 (dez) anos, no setor público ou privado, na área de atuação da empresa pública


ou da sociedade de economia mista ou em área conexa àquela para a qual forem
indicados em função de direção superior; ou 

b) 4 (quatro) anos ocupando pelo menos um dos seguintes cargos: 

1. cargo de direção ou de chefia superior em empresa de porte ou objeto social


semelhante ao da empresa pública ou da sociedade de economia mista, entendendo-
se como cargo de chefia superior aquele situado nos 2 (dois) níveis hierárquicos não
estatutários mais altos da empresa; 
21
2. cargo em comissão ou função de confiança equivalente a DAS-4 ou superior, no
setor público; 

3. cargo de docente ou de pesquisador em áreas de atuação da empresa pública ou da


sociedade de economia mista; 

c) 4 (quatro) anos de experiência como profissional liberal em atividade direta ou


indiretamente vinculada à área de atuação da empresa pública ou sociedade de
economia mista; 

II - ter formação acadêmica compatível com o cargo para o qual foi indicado; e 

III - não se enquadrar nas hipóteses de inelegibilidade previstas nas alíneas do inciso I
do caput do art. 1o da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990 , com as
alterações introduzidas pela Lei Complementar no 135, de 4 de junho de 2010. 

§ 1o  O estatuto da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas


subsidiárias poderá dispor sobre a contratação de seguro de responsabilidade civil
pelos administradores. 

§ 2o  É vedada a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria: 

I - de representante do órgão regulador ao qual a empresa pública ou a sociedade de


economia mista está sujeita, de Ministro de Estado, de Secretário de Estado, de
Secretário Municipal, de titular de cargo, sem vínculo permanente com o serviço
público, de natureza especial ou de direção e assessoramento superior na
administração pública, de dirigente estatutário de partido político e de titular de
mandato no Poder Legislativo de qualquer ente da federação, ainda que licenciados do
cargo; 

II - de pessoa que atuou, nos últimos 36 (trinta e seis) meses, como participante de
estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização,
estruturação e realização de campanha eleitoral; 

III - de pessoa que exerça cargo em organização sindical; 

IV - de pessoa que tenha firmado contrato ou parceria, como fornecedor ou comprador,


demandante ou ofertante, de bens ou serviços de qualquer natureza, com a pessoa
político-administrativa controladora da empresa pública ou da sociedade de economia
mista ou com a própria empresa ou sociedade em período inferior a 3 (três) anos antes
da data de nomeação; 

V - de pessoa que tenha ou possa ter qualquer forma de conflito de interesse com a
pessoa político-administrativa controladora da empresa pública ou da sociedade de
economia mista ou com a própria empresa ou sociedade. 

§ 3o  A vedação prevista no inciso I do § 2o estende-se também aos parentes


consanguíneos ou afins até o terceiro grau das pessoas nele mencionadas. 

§ 4o  Os administradores eleitos devem participar, na posse e anualmente, de


treinamentos específicos sobre legislação societária e de mercado de capitais,
divulgação de informações, controle interno, código de conduta, a Lei n o 12.846, de
1o de agosto de 2013 (Lei Anticorrupção), e demais temas relacionados às atividades
da empresa pública ou da sociedade de economia mista. 

§ 5o  Os requisitos previstos no inciso I do caput poderão ser dispensados no caso de


indicação de empregado da empresa pública ou da sociedade de economia mista para
cargo de administrador ou como membro de comitê, desde que atendidos os seguintes
quesitos mínimos: 

I - o empregado tenha ingressado na empresa pública ou na sociedade de economia


mista por meio de concurso público de provas ou de provas e títulos; 

II - o empregado tenha mais de 10 (dez) anos de trabalho efetivo na empresa pública


ou na sociedade de economia mista; 
22
III - o empregado tenha ocupado cargo na gestão superior da empresa pública ou da
sociedade de economia mista, comprovando sua capacidade para assumir as
responsabilidades dos cargos de que trata o caput. 

Sintetizando, se exige a mais para os conselheiros das estatais: formação acadêmica


compatível, experiência profissional, neutralidade política, regulatória, sindical e comercial e ficha
limpa.

Essa neutralidade é que tem o maior detalhamento. Exemplificando, não podem ser eleitos
para o Conselho de Administração de uma estatal de maior porte ministros, secretários de estado,
dirigentes de partido político, ocupantes de mandato eletivo, dirigente de sindicato, quem presta
serviços para a própria SA. Há uma tentativa de limitar isso que é problemático hoje em dia.

(1:33:45 a 1:37:18) PROVA: Questões subjetivas mais diretas.

Em 2 delas prof. Tomazette diz que conseguiu especificar os pontos que ele quer que os alunos
respondam. “Dizendo olha eu quero que vocês falem, não é caso, mas conceito, a natureza, requisitos”
(parece só dar um exemplo de questão). Nas outras não conseguiu, mas as questões são mais diretas.

* Teremos 1 questão sobre uma parte das 3 primeiras aulas, que é uma questão sobre a figura das
marcas. Mais especificamente sobre os princípios de proteção das marcas (está nos slides - 2 princípios).
Estudar os princípios e as exceções.

* Depois de marcas, teremos 1 questão de parte geral de sociedades. Será sobre desconsideração
da personalidade jurídica. E aqui vai ser uma questão sobre aspectos processuais. Tópico específico
colocado em sala: aplicação processual.

* Teremos 1 questão sobre saída dos sócios das sociedades civis. Envolve hipóteses de cessão e
dissolução parcial.

* Na limitada teremos 1 questão que envolve 2 tópicos: vontade social e administração da limitada (é
uma bobagenzinha, mas tem que estudar porque senão a resposta fica incompleta).

* Sobre SA é esse último assunto aqui – administradores.

Diretoria

Além da Assembleia Geral e do Conselho de Administração, existe um 3º órgão na lei.

A diretoria é um órgão de execução. Não serve para deliberar, serve para executar, para
praticar os atos pela sociedade. É a diretoria que assina, que recebe citações, que toma as
decisões no dia-a-dia. A diretoria trabalha com atos concretos. Eventualmente, tem que submeter à
supervisão do Conselho, mas a competência para a prática dos atos é da Diretoria. É uma ideia
muito simples, é a ideia do administrador no sentido tradicional, que vamos ver que na Lei das SA’s
a ideia é um pouquinho mais do que isso.

Nas SA’s em geral a diretoria é composta por pelo menos 2 pessoas eleitas pelo Conselho
de Administração ou, se não houver Conselho, pela Assembleia. Mandato de até 3 anos,
23
permitidas reeleições e destituições a qualquer tempo. E só podem ser eleitos aqueles que
cumpram os mesmo requisitos do Conselho de Administração (arts. 146 e 147) + residência no
país (os membros do Conselho de Administração não precisam ser residentes no país, mas os da
Diretoria precisam, por conta da própria competência que eles têm para receber citações em geral).

Registra-se que para as estatais valem as mesmas regras do Conselho de Administração.


Só o número mínimo que é de 3. Considerando as estatais, aplica-se também, os arts. 13 e 17 da
Lei nº 13.303, quanto ao prazo de mandato, limite de reeleições e requisitos. Mas o número mínimo
de membros será de 3 para as empresas estatais.

Art. 13.  A lei que autorizar a criação da empresa pública e da sociedade de economia
mista deverá dispor sobre as diretrizes e restrições a serem consideradas na
elaboração do estatuto da companhia, em especial sobre: 

I - constituição e funcionamento do Conselho de Administração, observados o número


mínimo de 7 (sete) e o número máximo de 11 (onze) membros; 

II - requisitos específicos para o exercício do cargo de diretor, observado o número


mínimo de 3 (três) diretores; 

III - avaliação de desempenho, individual e coletiva, de periodicidade anual, dos


administradores e dos membros de comitês, observados os seguintes quesitos
mínimos: 

a) exposição dos atos de gestão praticados, quanto à licitude e à eficácia da ação


administrativa; 

b) contribuição para o resultado do exercício; 

c) consecução dos objetivos estabelecidos no plano de negócios e atendimento à


estratégia de longo prazo; 

IV - constituição e funcionamento do Conselho Fiscal, que exercerá suas atribuições de


modo permanente; 

V - constituição e funcionamento do Comitê de Auditoria Estatutário; 

VI - prazo de gestão dos membros do Conselho de Administração e dos indicados para


o cargo de diretor, que será unificado e não superior a 2 (dois) anos, sendo permitidas,
no máximo, 3 (três) reconduções consecutivas; 

VII – (VETADO); 

VIII - prazo de gestão dos membros do Conselho Fiscal não superior a 2 (dois) anos,
permitidas 2 (duas) reconduções consecutivas. 

No direito administrativo essa Lei nº 13.303 tem 2 partes, que é a parte societária e a parte
de licitações.

A diretoria é obrigatória, ao contrário do Conselho que, como regra, é facultativo.

Conselho Fiscal

Por fim, a Lei das SA’s prevê um órgão chamado de Conselho Fiscal. E nada mais é do que
um órgão de controle, um órgão de fiscalização.
24
Há uma frase que é muito importante sobre o Conselho Fiscal - ele é um órgão obrigatório
de funcionamento facultativo (questão recorrente em provas do TJDFT). Parece algo muito maluco,
mas está correto.

O Conselho Fiscal é obrigatório no sentido de estar previsto no estatuto, pelo menos o


número de membros tem que estar previsto – no mínimo 3, no máximo 5. Agora, o funcionamento
do Conselho Fiscal depende de decisão da Assembleia Geral ou do pedido dos acionistas
minoritários (art. 161 - diz quando os minoritários podem pedir o funcionamento desse conselho).

Art. 161. A companhia terá um conselho fiscal e o estatuto disporá sobre seu
funcionamento, de modo permanente ou nos exercícios sociais em que for instalado a
pedido de acionistas.

§ 1º O conselho fiscal será composto de, no mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5 (cinco)


membros, e suplentes em igual número, acionistas ou não, eleitos pela assembléia-
geral.

§ 2º O conselho fiscal, quando o funcionamento não for permanente, será instalado


pela assembléia-geral a pedido de acionistas que representem, no mínimo, 0,1 (um
décimo) das ações com direito a voto, ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito a
voto, e cada período de seu funcionamento terminará na primeira assembléia-geral
ordinária após a sua instalação.

§ 3º O pedido de funcionamento do conselho fiscal, ainda que a matéria não conste do


anúncio de convocação, poderá ser formulado em qualquer assembléia-geral, que
elegerá os seus membros.

§ 4º Na constituição do conselho fiscal serão observadas as seguintes normas:

a) os titulares de ações preferenciais sem direito a voto, ou com voto restrito, terão
direito de eleger, em votação em separado, 1 (um) membro e respectivo suplente; igual
direito terão os acionistas minoritários, desde que representem, em conjunto, 10% (dez
por cento) ou mais das ações com direito a voto;

b) ressalvado o disposto na alínea anterior, os demais acionistas com direito a voto


poderão eleger os membros efetivos e suplentes que, em qualquer caso, serão em
número igual ao dos eleitos nos termos da alínea a, mais um.

§ 5º Os membros do conselho fiscal e seus suplentes exercerão seus cargos até a


primeira assembléia-geral ordinária que se realizar após a sua eleição, e poderão ser
reeleitos.

§ 6o Os membros do conselho fiscal e seus suplentes exercerão seus cargos até a
primeira assembléia-geral ordinária que se realizar após a sua eleição, e poderão ser
reeleitos.

§ 7o A função de membro do conselho fiscal é indelegável.

A única exceção são as empresas estatais em que o funcionamento é permanente. Mas em


qualquer outra SA o funcionamento é facultativo, só ocorrerá nessas 2 hipóteses.

Esse Conselho é composto por no mínimo 3 e no máximo 5 membros eleitos pela


assembleia geral ou pelos minoritários em votação separada – aqui também vale regra similar ao
conselho de administração (art. 161, §4º).

E o mandato do Conselho Fiscal se estende até a próxima AGO. Ele não é fixado em
período. Ou seja, em toda AGO tem que eleger o Conselho Fiscal porque o mandato acabou.
25
E para o membros do Conselho Fiscal os conselhos são diferenciados. Valem os mesmo
requisitos do Conselho de Administração + a imparcialidade em relação aos administradores e a
existência de curso superior ou experiência de 3 anos como membro de Conselho Fiscal ou
administrador de sociedade. [1:45:15 Esse requisito do curso superior é estranho, porque vale qualquer
curso superior. Prof. já se deparou com sociedade de transporte que tinha membros do Conselho Fiscal os
bacharéis em música. Mas pode se substituído por uma experiência de 3 anos como membro de Conselho
Fiscal ou administrador de sociedade].

Nas empresas estatais de maior porte também têm requisitos próprios, mas aqui estamos
mais especificamente no art. 13 e no art. 25. O art. 17 não vale para o Conselho Fiscal.

Art. 25.  O Comitê de Auditoria Estatutário será integrado por, no mínimo, 3 (três) e, no
máximo, 5 (cinco) membros, em sua maioria independentes. 

§ 1o  São condições mínimas para integrar o Comitê de Auditoria Estatutário: 

I - não ser ou ter sido, nos 12 (doze) meses anteriores à nomeação para o Comitê: 

a) diretor, empregado ou membro do conselho fiscal da empresa pública ou sociedade


de economia mista ou de sua controladora, controlada, coligada ou sociedade em
controle comum, direta ou indireta; 

b) responsável técnico, diretor, gerente, supervisor ou qualquer outro integrante com


função de gerência de equipe envolvida nos trabalhos de auditoria na empresa pública
ou sociedade de economia mista; 

II - não ser cônjuge ou parente consanguíneo ou afim, até o segundo grau ou por
adoção, das pessoas referidas no inciso I; 

III - não receber qualquer outro tipo de remuneração da empresa pública ou sociedade
de economia mista ou de sua controladora, controlada, coligada ou sociedade em
controle comum, direta ou indireta, que não seja aquela relativa à função de integrante
do Comitê de Auditoria Estatutário; 

IV - não ser ou ter sido ocupante de cargo público efetivo, ainda que licenciado, ou de
cargo em comissão da pessoa jurídica de direito público que exerça o controle
acionário da empresa pública ou sociedade de economia mista, nos 12 (doze) meses
anteriores à nomeação para o Comitê de Auditoria Estatutário. 

§ 2o  Ao menos 1 (um) dos membros do Comitê de Auditoria Estatutário deve ter
reconhecida experiência em assuntos de contabilidade societária. 

§ 3o  O atendimento às previsões deste artigo deve ser comprovado por meio de
documentação mantida na sede da empresa pública ou sociedade de economia mista
pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos, contado a partir do último dia de mandato do
membro do Comitê de Auditoria Estatutário. 

Nas estatais o mandato é de 2 anos, permitidas 2 reeleições.

E não há requisitos novos. Os requisitos são os da Lei das SA’s, mas se exige que 1 dos
membros do Conselho Fiscal seja servidor com vínculo efetivo – servidor vinculado a
Administração Direta.

Dentro da Lei das SA’s são esses os 4 órgãos previstos. Mas por opções ou até por outras
normas, outros órgãos surgem. Na lei das estatais, por exemplo, são obrigatórios nas estatais de
maior porte o Comitê de Auditoria e o Comitê de Elegibilidade. Nas instituições financeiras precisa-
26
se de um Comitê de Remuneração, por norma do Banco Central. Então, existem outros órgãos
possíveis, desses outros órgãos possíveis, o mais comum é esse Comitê de Auditoria, é um órgão
que tem uma função muito eficiente, ele é essencial para o compliance.

Administradores

Independentemente disso, dos órgão que mencionamos, 2 deles acabam sendo os mais
presentes no dia-a-dia, que são Conselho de Administração e Diretoria. Os membros desses 2
órgãos merecem uma atenção especial porque são eles que fazem a sociedade funcionar. E na Lei
das SA’s esses membros são chamados de administradores. (1:40:02 última questão da nossa prova
vai estar aqui).

Esses administradores não são empregados, eles são presentantes da sociedade. Se


algum empregador for eleito, o contrato de trabalho dele é suspenso. Pelo exercício de suas
funções, embora não sejam empregados, eles fazem jus a uma remuneração fixada pela
Assembleia Geral. A competência para fixar remuneração é da AGE.

Normalmente, a remuneração do Conselho é chamada de JETON, porque é fixada por


reunião e a remuneração da Diretoria é chamada de pró-labore, porque ela é fixada por período. O
JETON e o pró-labore são partes fixas da remuneração.

Além dessas partes fixadas, é possível (não é obrigatório) que os administradores tenham
direito a receber uma parte dos lucros da sociedade. Nas grandes SA’s esse valor é muito alto. Ex.:
no Banco Itaú a menor remuneração, hoje, é de 4,2 milhões no ano. Mais participação nos lucros.

E até aos empresas estatais, especialmente nas grandes, essa remuneração é muito boa.
Ex.: o JETON do Conselho da Petrobrás chega na casa dos 50 mil reais por mês para participar de
2 reuniões mensais.

A grande questão é se essa remuneração está sujeita ou não a teto. E aí, há uma regra
sobre isso na CF. O art. 37, §9º da CF diz que a remuneração das empresas estatais só está
sujeita a teto, se for uma empresa estatal dependente.

Art. 37, § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às sociedades de


economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de
custeio em geral.   (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Essa definição da empresa estatal como dependente ou não dependente é o art. 3º da LRF
e é basicamente a necessidade ou não dos recursos do tesouro para pagamento de despesas de
custeio. Se a empresa consegue se sustentar com seu custeio, com suas próprias receitas, ela é
não dependente. Se ela precisa de recursos do Tesouro, ela é uma empresa dependente. Ex.: no
DF são não dependentes CEB, BRB, CAESB, TERRACAP e SEASA. Todas as outras são
dependentes. Mas, aqui no DF há uma determinação para que se obedeça o teto. Foi feita uma
emenda à Lei Orgânica no ano passado e essa emenda determinou que o teto fosse obedecido em
todas as empresas estatais.
27
Em contrapartida à essa remuneração, os Administradores terão deveres. Os deveres dos
administradores de uma SA estão dispostos na própria lei. São 5 deveres, sendo que 3 valem para
todas as SA’s e 2 valem apenas para as SA’s abertas.

1º dever que vale para todos os administradores é o chamado dever de diligência - art. 153
da Lei das SA’s. Esse dever de diligência é um dever geral de cuidado.

Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções,


o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na
administração dos seus próprios negócios.

2º dever: dever ético social. Embora não tenha o nome expresso, ele está no art. 154. Os
administradores de uma SA (não tem natureza contratual), têm o dever de agir de forma ética,
buscando a realização do fim social. Os administradores não podem agir para beneficiar certos
acionistas, nem podem agir para ter benefício próprio. Eles têm o dever de agir de forma ética e em
busca do fim social. Em razão desse dever, são vedados atos de liberalidade, não pode utilizar em
proveito próprio os bens da SA e não podem receber presentes em virtude do cargo. É um dever
muito abstrato, mas muito importante em termos concretos.

Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe
conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do
bem público e da função social da empresa.

§ 1º O administrador eleito por grupo ou classe de acionistas tem, para com a


companhia, os mesmos deveres que os demais, não podendo, ainda que para defesa
do interesse dos que o elegeram, faltar a esses deveres.

§ 2° É vedado ao administrador:

a) praticar ato de liberalidade à custa da companhia;

b) sem prévia autorização da assembléia-geral ou do conselho de administração, tomar


por empréstimo recursos ou bens da companhia, ou usar, em proveito próprio, de
sociedade em que tenha interesse, ou de terceiros, os seus bens, serviços ou crédito;

c) receber de terceiros, sem autorização estatutária ou da assembléia-geral, qualquer


modalidade de vantagem pessoal, direta ou indireta, em razão do exercício de seu
cargo.

§ 3º As importâncias recebidas com infração ao disposto na alínea c do § 2º


pertencerão à companhia.

§ 4º O conselho de administração ou a diretoria podem autorizar a prática de atos


gratuitos razoáveis em benefício dos empregados ou da comunidade de que participe a
empresa, tendo em vista suas responsabilidades sociais.

3º dever: dever de lealdade - art. 155, caput. Esse dever de lealdade é o dever de não
prejudicar a sociedade, como os acionistas. Mas tem mais que isso: para os administradores, o
dever de lealdade também é o dever de não se omitir na defesa da sociedade. Existe, em outras
palavras, um dever de agir, não é simplesmente um dever de não prejudicar e não agir. É um dever
de agir, de tomar as medidas necessárias para defesa da sociedade. Esse dever é invocado na
discussão na ação que se ajuiza para responsabilizar membros de Conselho de Administração da
Petrobrás por conta da compra da refinaria de Pasadena.
28
Art. 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter reserva
sobre os seus negócios, sendo-lhe vedado:

I - usar, em benefício próprio ou de outrem, com ou sem prejuízo para a companhia, as


oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do exercício de seu
cargo;

II - omitir-se no exercício ou proteção de direitos da companhia ou, visando à obtenção


de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitar oportunidades de negócio
de interesse da companhia;

III - adquirir, para revender com lucro, bem ou direito que sabe necessário à
companhia, ou que esta tencione adquirir.

Além desses 3 deveres, existem mais 2 que são específicos para as SA’s abertas.

4º dever/1º dever específico para SA’s abertas: dever de sigilo - art. 155, §§ 1º a 4º.

Art. 155, § 1º Cumpre, ademais, ao administrador de companhia aberta, guardar sigilo


sobre qualquer informação que ainda não tenha sido divulgada para conhecimento do
mercado, obtida em razão do cargo e capaz de influir de modo ponderável na cotação
de valores mobiliários, sendo-lhe vedado valer-se da informação para obter, para si ou
para outrem, vantagem mediante compra ou venda de valores mobiliários.

§ 2º O administrador deve zelar para que a violação do disposto no § 1º não possa


ocorrer através de subordinados ou terceiros de sua confiança.

§ 3º A pessoa prejudicada em compra e venda de valores mobiliários, contratada com


infração do disposto nos §§ 1° e 2°, tem direito de haver do infrator indenização por
perdas e danos, a menos que ao contratar já conhecesse a informação.

§ 4o É vedada a utilização de informação relevante ainda não divulgada, por qualquer
pessoa que a ela tenha tido acesso, com a finalidade de auferir vantagem, para si ou
para outrem, no mercado de valores mobiliários.

É o dever de não divulgar, não usar nem permitir que terceiros usem informações
privilegiadas que são informações que podem influenciar a cotação dos valores mobiliários no
mercado. A ideia é que os administradores, por serem pessoas de dentro da sociedade, devem
evitar que a informação seja utilizada parcialmente. A ideia é que, no 1º momento, a informação
privilegiada deve ser sigilosa. Isso é necessário para assegurar a lisura do mercado. Ninguém vai
confiar em um mercado que esse dever não exista. Ninguém compra ações se pessoas que estão
dentro da SA podem usar essas informações privilegiadas. O grande problema da queda da bolsa
de valores de NY no início do séc. XX tem a ver com esse dever. Esse dever é considerado tão
importante, que hoje ele se estende não só para os administradores, mas para qualquer pessoa
que tenha acesso a informações privilegiados. Ex.: advogados, conselheiros fiscais, empregados.

(2:02:19 a 2:04:02 comentários irrelevantes e pergunta repetitiva)

A punição se estende também para quem usa a informação privilegiada transmitida por
alguém. E a punição da CVM é pesada.

E, para completar, desde 2001 essa figura foi elevada a condição de crime no Brasil. Se
você negocia ou usa essas informações privilegiadas, você comete o crime de Insider Trading - art.
27-D da Lei nº 6.385/76. O crime existe desde 2001 e temos apenas 1 condenação no Brasil. É o
dever mais cobrado em provas.
29
Uso Indevido de Informação Privilegiada(Incluído pela Lei nº 10.303, de 31.10.2001)

Art. 27-D. Utilizar informação relevante de que tenha conhecimento, ainda não
divulgada ao mercado, que seja capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem
indevida, mediante negociação, em nome próprio ou de terceiros, de valores
mobiliários: (Redação dada pela Lei nº 13.506, de 2017)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante
da vantagem ilícita obtida em decorrência do crime. (Incluído pela Lei nº 10.303, de
31.10.2001)

§ 1o  Incorre na mesma pena quem repassa informação sigilosa relativa a fato


relevante a que tenha tido acesso em razão de cargo ou posição que ocupe em
emissor de valores mobiliários ou em razão de relação comercial, profissional ou de
confiança com o emissor. (Incluído pela Lei nº 13.506, de 2017)

§ 2o  A pena é aumentada em 1/3 (um terço) se o agente comete o crime previsto
no caput deste artigo valendo-se de informação relevante de que tenha conhecimento
e da qual deva manter sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.506, de 2017)

5º dever/2º dever específico para SA’s abertas: dever de informar - art. 157 (pulamos o art.
156 porque trata de conflito de interesses). É o dever de divulgar fatos relevantes para o mercado.
A ideia é que em um primeiro momento para ninguém usar, e em um 2º momento você divulga
para todo mundo poder usar. O importante é manter uma simetria de informações. Se tiver mais
possibilidade de informações do que outros, o mercado não funciona. É importante assegurar a
todos uma igualdade de informações. Essa publicação de fatos importantes acontece
especialmente em jornais. Nome em inglês é disclosure, mas não tem grande importância.

Art. 157. O administrador de companhia aberta deve declarar, ao firmar o termo de


posse, o número de ações, bônus de subscrição, opções de compra de ações e
debêntures conversíveis em ações, de emissão da companhia e de sociedades
controladas ou do mesmo grupo, de que seja titular. (Vide Lei nº 12.838, de 2013)

§ 1º O administrador de companhia aberta é obrigado a revelar à assembléia-geral


ordinária, a pedido de acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do
capital social:

a) o número dos valores mobiliários de emissão da companhia ou de sociedades


controladas, ou do mesmo grupo, que tiver adquirido ou alienado, diretamente ou
através de outras pessoas, no exercício anterior;

b) as opções de compra de ações que tiver contratado ou exercido no exercício


anterior;

c) os benefícios ou vantagens, indiretas ou complementares, que tenha recebido ou


esteja recebendo da companhia e de sociedades coligadas, controladas ou do mesmo
grupo;

d) as condições dos contratos de trabalho que tenham sido firmados pela companhia
com os diretores e empregados de alto nível;

e) quaisquer atos ou fatos relevantes nas atividades da companhia.

§ 2º Os esclarecimentos prestados pelo administrador poderão, a pedido de qualquer


acionista, ser reduzidos a escrito, autenticados pela mesa da assembléia, e fornecidos
por cópia aos solicitantes.

§ 3º A revelação dos atos ou fatos de que trata este artigo só poderá ser utilizada no
legítimo interesse da companhia ou do acionista, respondendo os solicitantes pelos
abusos que praticarem.
30
§ 4º Os administradores da companhia aberta são obrigados a comunicar
imediatamente à bolsa de valores e a divulgar pela imprensa qualquer deliberação da
assembléia-geral ou dos órgãos de administração da companhia, ou fato relevante
ocorrido nos seus negócios, que possa influir, de modo ponderável, na decisão dos
investidores do mercado de vender ou comprar valores mobiliários emitidos pela
companhia.

§ 5º Os administradores poderão recusar-se a prestar a informação (§ 1º, alínea e), ou


deixar de divulgá-la (§ 4º), se entenderem que sua revelação porá em risco interesse
legítimo da companhia, cabendo à Comissão de Valores Mobiliários, a pedido dos
administradores, de qualquer acionista, ou por iniciativa própria, decidir sobre a
prestação de informação e responsabilizar os administradores, se for o caso.

§ 6o Os administradores da companhia aberta deverão informar imediatamente, nos


termos e na forma determinados pela Comissão de Valores Mobiliários, a esta e às
bolsas de valores ou entidades do mercado de balcão organizado nas quais os valores
mobiliários de emissão da companhia estejam admitidos à negociação, as
modificações em suas posições acionárias na companhia.

Além da remuneração e dos deveres, os administradores em regra não respondem


civilmente pelos atos praticados nessa função. Como eles são presentantes, a regra geral é que os
administradores não respondem. Porém, o art. 158 da Lei das SA’s abre exceções, e diz que os
administradores responderão em casos de dolo ou culpa, violação da lei ou do estatuto.

Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que


contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde,
porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:

I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;

II - com violação da lei ou do estatuto.

§ 1º O administrador não é responsável por atos ilícitos de outros administradores,


salvo se com eles for conivente, se negligenciar em descobri-los ou se, deles tendo
conhecimento, deixar de agir para impedir a sua prática. Exime-se de responsabilidade
o administrador dissidente que faça consignar sua divergência em ata de reunião do
órgão de administração ou, não sendo possível, dela dê ciência imediata e por escrito
ao órgão da administração, no conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia-
geral.

§ 2º Os administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados em


virtude do não cumprimento dos deveres impostos por lei para assegurar o
funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres não
caibam a todos eles.

§ 3º Nas companhias abertas, a responsabilidade de que trata o § 2º ficará restrita,


ressalvado o disposto no § 4º, aos administradores que, por disposição do estatuto,
tenham atribuição específica de dar cumprimento àqueles deveres.

§ 4º O administrador que, tendo conhecimento do não cumprimento desses deveres


por seu predecessor, ou pelo administrador competente nos termos do § 3º, deixar de
comunicar o fato a assembléia-geral, tornar-se-á por ele solidariamente responsável.

§ 5º Responderá solidariamente com o administrador quem, com o fim de obter


vantagem para si ou para outrem, concorrer para a prática de ato com violação da lei
ou do estatuto.

No concurso de advogado do BNDES perguntaram qual a natureza dessa responsabilidade


civil? No 1º caso (dolo ou culpa) não há nenhuma controvérsia, é uma responsabilidade subjetiva
clássica
31
No 2º caso (violação da lei ou do estatuto) há uma controvérsia, mas há uma opinião
majoritária que foi seguida nesse concurso. Na opinião majoritária, nesse 2º caso temos culpa
presumida. É responsabilidade subjetiva, mas com inversão do ônus da prova (há quem entenda
que se trata de subjetiva clássica e quem entenda que é responsabilidade objetiva).

Em qualquer um desses casos, seja por dolo ou culpa, violação da lei ou do estatuto, os
administradores respondem pelos prejuízos causados a terceiros e à própria sociedade.

Nos prejuízos causados a terceiro vale aqui nas SA’s, sem controvérsia, a teoria da
aparência. Ou seja, perante terceiros, a SA responde se o terceiro estiver de boa fé. Se estiver de
má fé, responde só o administrador. O RESP 887277 fala sobre a teoria da aparência nessa
relação de terceiros.

Mas além de responder perante terceiros, que é uma responsabilidade simples, apenas cm
a aplicação da teoria da aparência, os administradores nessas hipóteses do art. 158 respondem
perante a própria sociedade. A própria sociedade pode processar os administradores que agiram
com dolo ou culpa, violação da lei ou violação do estatuto.

E para essa finalidade existe uma ação própria chamada de ação de responsabilidade (art.
159). A ação em si é uma ação de procedimento comum, mas ela tem algumas peculiaridade para
seu ajuizamento. A jurisprudência entende que para ação de responsabilidade existem 2 requisitos
para serem ajuizadas.

1º Requisito/Pressuposto de ajuizamento: matéria deve ser submetida a Assembleia Geral.

Aluno: Extraordinária?
Professor: Sim. Pode ser Ordinária se a violação decorre da matéria da AGO, como
é o caso da prestação de contas.Mas, a princípio, extraordinária.
Essa matéria não precisa constar na pauta. Ela pode ser deliberada em qualquer
assembleia geral, pode ser suscitada a qualquer momento. Nesse 1º pressuposto, temos um
detalhe: numa Assembleia Geral vai ter votação por uma maioria simples. Pode ser sim ou não.
Mas nos 2 casos pode ajuizar. O pressuposto não é a deliberação pelo ajuizamento, o pressuposto
é que a matéria seja submetida! Se deliberou ‘sim’, a ação pode ser ajuizada pela própria SA ou
qualquer acionista em substituição processual se a SA demorar. Se a deliberação for ‘não’, os
acionistas que tenham 5% do capital podem ajuizar essa ação. É possível que esses 5% seja
formado por litisconsórcio.

Aluno: No caso de qualquer acionista, é qualquer acionista mesmo?


Professor: Qualquer acionista mesmo, literalmente. 1 ação é suficiente.
2º Requisito/Pressuposto de ajuizamento: contas do administrador não estejam aprovadas.
Para o professor, esse 2º pressuposto seria excludente de responsabilidade, logo, seria mérito.
Mas a jurisprudência que é hipótese de não prosseguimento da ação por falta de condição de
procedibilidade. O jogado que trata isso com mais detalhes é o RESP 257573. E aqui, não
aprovação das contas pode significar que elas não foram julgadas ainda, pode ser porque as
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contas foram rejeitas pela Assembleia e pode ser porque aprovação das contas foi anulada (ação
de anulação da aprovação de contas tem prazo decadencial de 2 anos). As 3 hipótese atendem o
2º requisito.

Preenchidos os requisitos, a ação pode ser ajuizada seja pela SA seja pelos acionistas em
substituição processual. Ela vai tramitar pelo procedimento comum, no foro da sede da sociedade,
e essa ação de responsabilidade prescreve em 3 anos. (2:19:32)

Cuidado! Literalmente no texto da Lei das SA’s (art. 287) são 3 anos contados da
publicação das demonstrações financeiras do ano em que ocorreu o prejuízo. Não são 3 anos do
ato. Isso é o que está escrito na lei. Numa interpretação do CC, a jurisprudência entende que se for
caso de anulação da aprovação das contas, esses 3 anos serão contados do trânsito em julgado
da anulação.

Art. 287. Prescreve:

I - em, 1 (um) ano:

a) a ação contra peritos e subscritores do capital, para deles haver reparação civil pela
avaliação de bens, contado o prazo da publicação da ata da assembléia-geral que
aprovar o laudo;

b) a ação dos credores não pagos contra os acionistas e os liquidantes, contado o


prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da companhia.

II - em 3 (três) anos:

a) a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos
à disposição do acionista;

b) a ação contra os fundadores, acionistas, administradores, liquidantes, fiscais ou


sociedade de comando, para deles haver reparação civil por atos culposos ou dolosos,
no caso de violação da lei, do estatuto ou da convenção de grupo, contado o prazo:

1 - para os fundadores, da data da publicação dos atos constitutivos da companhia;

2 - para os acionistas, administradores, fiscais e sociedades de comando, da data da


publicação da ata que aprovar o balanço referente ao exercício em que a violação
tenha ocorrido;

3 - para os liquidantes, da data da publicação da ata da primeira assembléia-geral


posterior à violação.

c) a ação contra acionistas para restituição de dividendos recebidos de má-fé, contado


o prazo da data da publicação da ata da assembléia-geral ordinária do exercício em
que os dividendos tenham sido declarados;

d) a ação contra os administradores ou titulares de partes beneficiárias para restituição


das participações no lucro recebidas de má-fé, contado o prazo da data da publicação
da ata da assembléia-geral ordinária do exercício em que as participações tenham sido
pagas;

e) a ação contra o agente fiduciário de debenturistas ou titulares de partes beneficiárias


para dele haver reparação civil por atos culposos ou dolosos, no caso de violação da
lei ou da escritura de emissão, a contar da publicação da ata da assembléia-geral que
tiver tomado conhecimento da violação;

f) a ação contra o violador do dever de sigilo de que trata o artigo 260 para dele haver
reparação civil, a contar da data da publicação da oferta.
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g) a ação movida pelo acionista contra a companhia, qualquer que seja o seu
fundamento.

Se essa ação envolve uma sociedade aberta, a CVM deve intervir no feito como amicus
curiae, o que não leva a competência para a justiça federal.

Aluno: Essa anulação tem que ser necessariamente pelo judiciário?

Professor: Sim.

Com isso, encerramos o estudo das SA’s. Prof. Tomazatte recomenda não estudar o texto
da lei! É melhor ler doutrina. As doutrinas resumidas de um volume só funcionam muito bem.

SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES

Está prevista na Lei das SA’s nos art. 280 a 284. E também está prevista nos arts. 1090 a
1092 do CC. São poucos artigos, porque a comandita por ações segue as regras das SA’s com
pequenas peculiaridades. (última prova do TJ caiu esse assunto).

A comandita por ações não pode ter nem Conselho de Administração, nem bônus de
subscrição nem capital autorizado. Ela sempre vai ter uma Diretoria, que é onde estão as principais
diferenças.

Na comandita por ações o diretor tem que ser acionista; o mandato dele é por prazo
indeterminado; ele só pode ser destituído por 2/3; ele tem poder de veto sobre certas decisões da
Assembleia (art. 1092, CC diz quais são as decisões nas quais ele tem competência).

E o mais importante, em razão dessas peculiaridades, os diretores da comandita por ações


terão responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações da sociedade, ou seja, assumirão o
risco do negócio. São acionistas e têm responsabilidade agravadas. (questão Promotor Goiás).

A comandita por ações pode usar tanto denominação como razão social. (questão Juiz DF).
Mas, para a razão social só pode ser usado o nome dos diretores.

Fora isso, não tem nenhuma peculiaridade. Ela tem ações, pode ter debêntures, pode ser
partes beneficiárias, tem os outros órgãos - Assembleia Geral, Conselho Fiscal.

SOCIEDADE EM COOPERATIVA

Acaba sendo uma figura bem diferente. Ela é tratada nos arts. 1093 a 1096 do CC. Mas
esses artigos mantiveram em vigor a antiga lei das cooperativas - Lei nº 5764/71 (foi alterada
recentemente e tem a ver com questões processuais. Deu à cooperativa a capacidade também de
ser substituta processual e seus cooperados). (2:29:10)

O que define a cooperativa por excelência é o fato dela ser uma sociedade que exerce uma
atividade econômica de proveito comum, sem intuito de lucro. Ou seja, a cooperativa exerce uma
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atividade para beneficiar seus cooperados. A finalidade da cooperativa não é beneficiar a própria
cooperativa. É uma lógica diferente. Apesar de ser uma pessoa jurídica, a ideia dela é melhorar a
situação dos seus cooperados. Ex.: cooperativa habitacional serve para permitir que os cooperados
adquiram um imóvel próprio em melhores condições do que fora da cooperativa; uma cooperativa
de trabalho como a UNIMED que é uma cooperativa médica, tem por objetivo dar melhores
condições de trabalho pros cooperados; uma cooperativa de crédito tem por objetivo permitir
melhores condições para obtenção de crédito para os seus cooperadores e para aplicação de
recursos pelos seus cooperados. A lógica das cooperativas é sempre melhorar a vida dos
cooperados. As cooperativas rurais são normalmente para melhorar as condições de escoamento
da produção.

Dentro dessa lógica, as cooperativas não têm uma finalidade de lucro. A finalidade delas
não é produzir lucro para dividir. Ou seja, se a cooperativa funcionasse perfeitamente, ela ia zerar.
O objetivo dela é que os cooperados tenham lucro e não ela. Óbvio que isso é impossível
matematicamente. Só que aí, o que ela tiver de resultados acima, não é chamado de lucro e sim de
sobra. Mas a lógica é de finalidade de atuação da pessoa jurídica cooperativa.

Na constituição da cooperativa temos que observar 2 coisas:

- A cooperativa não precisa de capital social. De acordo com o art. 1.094 do CC o


capital social é facultativo para as cooperativas.

- A cooperativa, por lei, é uma sociedade simples (art. 982), mas ela é registrada na
Junta Comercial. Isso é meio confuso, mas é o art. 18 da Lei nº 5764. É a única hipótese de
sociedade simples registrada em Junta Comercial.

Regularmente constituída, a cooperativa vai funcionar e terá obrigatoriamente Assembleia e


pelo menos 1 órgão de administração (não se dá nome para ele) e Conselho Fiscal. Na cooperativa
esses 3 órgãos são obrigatórios.

Nas cooperativas singulares que são as mais tradicionais, o número mínimo de cooperados
é de 20 (questão procurador DF). Está no art. 6º da Lei nº 5764. Mas nesse ponto existe
controvérsia - tem autores que colocam 4, outros que colocam 9, mas prevalece 20. É possível ter
cooperativas de 2º grau como Confederações e Federações, e aí não tem número mínimo.

Esses sócios das cooperativas terão os deveres comuns a todos os sócios de qualquer
sociedade. Os deveres são os mesmo de todas as sociedades, mas nos direitos tem 3 diferenças :

- não existe direito a divisão de lucros; existe direito a divisão de sobras (diferença
tributária - se é lucro paga imposto de renda, paga CSLL (contribuição social sobre o lucro
líquido), se é sobra não paga.

Aluno: A contribuição pode ser em serviço?


Professor: Pode. Sem restrição.
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Aluno: E o membro da Assembleia e do órgão da administração podem ser
cooperados também?
Professor: Devem ser, obrigatoriamente cooperados. Nesse órgão e no conselho
fiscal. Os 2 órgãos são obrigatoriamente composto por cooperados. O que se costuma
fazer é ter os cooperados no conselho de administração e ter profissionais numa
diretoria.
E as sobras serão divididas de forma proporcional à participação do cooperado nas
atividades da cooperativa. Não se considera aqui percentual de capital, nem se dá margem de
liberdade para o estatuto da cooperativa. Ex.: na Unimed Brasília, o critério para divisão de sobras
era o número de horas trabalhadas por cada cooperado, um vez que é uma cooperativa de
trabalho.

Além da mudança de não ter divisão nos lucros, existe outra mudança no voto. Nas
cooperativas o voto é 1 para cada cooperado. O voto é por cabeça, não importa o tamanho do
capital ou o tamanho da participação. Os livros chamam isso nas cooperativas de princípio
democrático. Todos os cooperados têm o mesmo peso na decisão da cooperativa.

Além dessa questão dos direitos mudarem um pouquinho nesses 2 pontos, a saída dos
cooperados também muda um pouco.

Os cooperados só podem ceder suas quotas para outro cooperado. Não se admite a
transferência das quotas da cooperativa para terceiros (art. 1094,CC). Isso faz com que se
reconheça na cooperativa uma característica de uma sociedade de pessoas.

E, ainda, os cooperados podem sair por 3 meios:

* demissão (pedido do próprio cooperado para sair) - é como se fosse o recesso, mas
aqui não tem regra de apuração de haveres, é o estatuto que define;

* exclusão (não é penalidade aqui - ocorre por morte, incapacidade ou impedimento


para ser cooperado);

* eliminação (penalidade para o cooperado que descumpre seus deveres).

FIM DA AULA.

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