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Volume I
Simone Medeiros
Maria Cecília Luiz
(organizadoras)
Supervisão
Clarissa Bengtson
Douglas Henrique Perez Pino
Revisão Linguística
Letícia Moreira Clares
Paula Sayuri Yanagiwara
Editoração Eletrônica
Bruno Prado Santos
Capa
Jéssica Veloso Morito
Colaboradores
Clarissa Galvão Bengtson
Joana Darc de Castro Ribeiro
Roseli Zen Cerny
Apoio Técnico
Eliciano Pinheiro da Silva
Comissão Científica
Karine Nunes de Moraes – Universidade Federal de Goiás
Marcos Macedo Fernandes Caron – Universidade Federal de Mato Grosso
Odorico Ferreira – Universidade Federal de Mato Grosso
Célia Regina Teixeira – Universidade Federal da Paraíba
Joelina Souza Menezes – Universidade Federal de Sergipe
Maria Cecília Luiz – Universidade Federal de São Carlos
Priscila Tavares dos Santos – Universidade Federal Fluminense
Rolf Ribeiro de Souza – Universidade Federal Fluminense
PREFÁCIO
1 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-11/extrema-pobreza-e-desigualdade-crescem-
-ha-4-anos-revela-pesquisa
pobreza monetária, a de renda, o Brasil teve o pior quadro dos últimos qua-
tro anos. Foram contabilizadas 13,5 milhões de pessoas, em 2018, vivendo
com até 145 reais, representando 6,5% do total da população brasileira, com
o indicativo de 72% serem pessoas pretas ou pardas.
Fica evidente que qualquer recuperação econômica não é igualitária
para os diversos segmentos sociais e isso nos leva a pensar: como a educa-
ção tem refletido sobre esta situação? Ou, como ela pode fazê-lo? Por isso,
no decorrer da leitura, perguntamos mais do que damos respostas, o que
nos faz pensar na urgência de mais estudos e pesquisas na área.
Esta coletânea, também, tem a finalidade de documentar o que foi a Ini-
ciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social (EPDS) em suas dimensões
estruturais, pois, teve um diferencial, além de oferecer formação continuada
em cursos de especialização e aperfeiçoamento, possibilitou o desenvol-
vimento de pesquisas acadêmicas. Neste contexto, esta mobilização, que
começa com a extinta Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (SECADI), hoje denominada Secretaria de Modalida-
des Especializadas de Educação do Ministério da Educação (MEC), orga-
nizou várias ações em parceria com as Instituições Federais de Educação
Superior (IFES) e obteve mais de 26 pesquisas acadêmicas, com presença e
articulação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), a partir de 4.000, e
de Trabalhos Finais de Curso (TFC), a partir de 6.000.
Os três volumes da coletânea são divididos em: Volume 1, que tem o
foco maior em sintetizar a implantação do Iniciativa Educação, Pobreza e
Desigualdade Social (EPDS), com parceria de quinze Universidades Federais
que iniciaram o projeto, além de reflexões sobre o processo de formação
continuada (Curso de Especialização EPDS). O Volume 2 enfatiza os resulta-
dos das pesquisas elaboradas no âmbito da Iniciativa Educação, Pobreza e
Desigualdade Social; e, o Volume 3 aborda as produções elaboradas no âm-
bito dos Cursos de especialização do EPDS, especificamente dos Trabalhos
de Conclusão de Curso (TCC), considerando as relações estabelecidas com
o Programa Bolsa Família (PBF) e com as temáticas indígena, quilombola,
educação para as relações etnicorraciais, campo, educação especial, juven-
tude, EJA, alfabetização e educação em direitos humanos.
Ao refletirmos sobre essas temáticas tão desafiadoras, evidentemente
nos preocupamos muito mais com a questão da fome e do abandono, do
que com notas escolares de estudantes pobres. No entanto, a ausência de
qualidade no ensino e na aprendizagem se tornou um dos principais efeitos
da pobreza no Brasil, pois não tem como evitarmos esta ligação direta entre
a educação e a situação socioeconômica. Um dilema que nos faz buscar
soluções que não podem ser negligenciadas.
As crianças e jovens brasileiros ficam dentro da escola entorno de quatro
a cinco horas diárias, sendo que 70% deles frequentam escolas públicas, e
estas são regidas por políticas públicas diferentes que resultaram em dis-
crepâncias entre os currículos de várias instituições. Por isso, levando em
conta que a palavra "prefácio" em latim, significa "dito (fatio) antes (prae)",
finalizamos este prefácio com uma frase do Herbert de Souza, o sociólogo
Betinho, que tanto se empenhou para erradicar a fome no Brasil:
Essas crianças estão nas ruas porque, no Brasil, ser pobre é estar con-
denado à marginalidade. Estão nas ruas porque suas famílias foram
destruídas. Estão nas ruas porque nos omitimos. Estão nas ruas, e estão
sendo assassinadas.
Simone Medeiros
Maria Cecília Luiz
SUMÁRIO
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Apresentação
Simone Medeiros
Maria Cecília Luiz
1
O início da jornada
Em dezembro de 2013, a Universidade Federal do Maranhão recebeu
o convite para participar do processo de formação dos profissionais da
Educação Básica que atuavam com o Programa Bolsa Família na Educação.
Inicialmente, o convite foi para o Departamento de Educação da UFMA, que,
por motivos de excesso de demandas de trabalhos, não aceitou assumir a
coordenação e sugeriu à reitoria que buscasse o Serviço Social em razão da
16 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
A maioria dos homens e mulheres dessas famílias, que chegam a ter até
15 filhos, apesar de demonstrar maior preocupação com a frequência es-
colar dos filhos do que com o aprendizado, deseja que seus descendentes
tenham um futuro diferente, principalmente quanto às condições de traba-
lho. Eles sentem dificuldades em manter a disciplina sobre os adolescentes,
que faltam ou largam a escola por motivos diversos (por acompanhar os pais
no trabalho, por não realização das tarefas escolares, por gravidez, envolvi-
mento com drogas ou por necessidade de trabalhar, dentre outros motivos).
Quanto aos adolescentes que estavam frequentando a escola, estes afirma-
ram que se sentiam inseguros quanto ao futuro.
Ao socializarmos os resultados das entrevistas nos 16 polos/municípios,
durante atividade presencial do Módulo I, identificamos que, apesar das
particularidades de cada família nos diferentes municípios, a maioria dos
entrevistados trabalhava em atividades informais para garantir o sustento da
família, ressaltando-se a importância do Benefício do Bolsa Família, como
renda "certa" que possibilita a ida e permanência dos filhos na escola.
Outro aspecto constatado se referiu a atual geração com a de seus pais/
responsáveis: se estes, em sua maioria, são analfabetos, as crianças e jovens
já não o são e, apesar da insegurança (pessoal e intelectual), sonham com
um futuro diferente (montar um negócio, emprego formal, fazer faculdade).
De extrema relevância, surgiu a questão da afetividade nas famílias e no
ambiente escolar, ambos marcados por situações de violência. De acordo
com o psicólogo Jadir Lessa, que ministrou a aula inaugural do curso, tra-
balhar essa afetividade na escola é fundamental na perspectiva de enfren-
tarmos as diversas formas de violência que crescem assustadoramente em
todos os municípios. Nessa perspectiva, os resultados das pesquisas apon-
taram para a necessidade de se investir no fortalecimento da afetividade e
no empoderamento das crianças e jovens em relação à construção do seu
futuro pessoal/profissional, uma vez que estes serão os futuros responsáveis
pelas novas famílias que irão surgir.
Considerando o início do curso e as possibilidades de ação postas pelo
município de Santo Amaro (município com baixo IDHM, cujo acesso viário
ainda era feito por trilhas), articulamos a realização imediata de uma expe-
riência como projeto-piloto a ser ampliada para os demais municípios onde
nossos cursistas estavam localizados.
A pesquisa apontou-nos que, neste município, cujo IDHM é 0,518, o
grande contraste entre a riqueza natural e a pobreza da maioria de seus
20 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Santo Amaro não é apenas um lugar para visitar, mas uma nova oportuni-
dade de ver o mundo, como uma cidade acolhedora e cheia de pessoas
extrovertidas e com muita força de vontade, principalmente os jovens,
que têm o sonho de crescer e proporcionar uma vida melhor para eles e
sua família, cuidando da cidade que tanto amam. Mostraram-nos, tam-
bém, como futuros profissionais, o que realmente precisa para crescer,
com humildade e simpatia; a cidade é rica em oportunidades e belezas
naturais, onde, além de trabalhar, você aprende e se diverte. Um lugar
inexplorado, mas com um grande potencial que eles próprios podem
aproveitar para investir, sem ter que abandonar a cidade em busca de
oportunidades, pois o que eles precisam encontram lá, e, com a palestra
ministrada, eles aprenderam como começar uma empresa e levar adiante.
em teorias e nas experiências dos jovens, que eram de três áreas de conhe-
cimento (Saúde, Sociais e Exatas).
A pesquisa foi inerente a todas as atividades do CEEPDS. A participação
da equipe de coordenação e de um cursista, assim como dos alunos de
graduação e do Ensino Médio, consubstanciou a indissociabilidade ensino-
-pesquisa-extensão; os estudantes de graduação reconheceram seu papel
para a garantia de direitos e deveres e para a transformação social. Além
das metodologias participativas, a participação do cursista CEEPDS-UFMA
qualificou ainda mais a proposta do curso. A coordenação CEEPDS cumpriu
o papel de professor orientador das ações, definindo, junto aos graduandos,
pós-graduando e alunos do Ensino Médio, os objetivos da ação, as compe-
tências de cada participante, assim como a metodologia de avaliação. Todos
os envolvidos tiveram que conhecer o território de Santo Amaro, visitando,
além dos povoados e lagoas, a zona primitiva do parque, um lugar quase
intocado pelo ser humano. Dessa forma, puderam compreender o encanta-
mento dos jovens nativos por esse território e a importância de se discutir
a questão da sustentabilidade, considerando que a rodovia de acesso à ci-
dade estava em construção e que esta poderia trazer graves impactos para
todos.
Apesar das especificidades da realidade dos jovens de Santo Amaro,
as pesquisas realizadas pelos bolsistas Pibic e as entrevistas dos cursistas
indicaram que, embora existam diversas infâncias e adolescências (SOUSA,
2015), há um modelo de educação padronizado nas escolas públicas, para
além das dificuldades enfrentadas no cotidiano das famílias pobres. Essas
crianças e adolescentes, em sua maioria, são filhos de famílias pobres, sob
a condicionalidade da educação, cujas dificuldades de aprendizagem po-
dem estar diretamente relacionadas às suas condições de vida (famílias com
pais analfabetos que não conseguem ajudar os filhos nas tarefas escolares,
necessidade de ajudar nas tarefas domésticas ou em outras formas de tra-
balho, dificuldade de acesso à escola, dentre outras situações apontadas
pelas famílias).
Em sua maioria, os jovens e suas famílias demonstraram preocupação
com o futuro pessoal e profissional de crianças e demais jovens dos municí-
pios, principalmente para aqueles que não têm opção de sair para estudar
em outras sedes.
A ação em Santo Amaro teve como propósito servir de referência para
o curso. Todo o percurso formativo pautou-se na proposta metodológica,
24 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Ementa/CH/Atividade de reflexão-ação
Módulo Introdutório: Pobreza, desigualdades e educação
Carga horária: 60 h
ATIVIDADES
- Revisão de literatura e registro do seu entendimento acerca de cada categoria,
assim como das relações e vínculos que percebe entre pobreza /desigualdade/
educação.
- Destacar os tipos e graus de interferência da pobreza e da desigualdade social,
étnica, racial, de gênero e espacial na dinâmica da escola pública (em que o cursis-
ta atua ou em escolas que conhece).
- Destacar os desafios que essas relações colocam para o exercício do trabalho
com as crianças e adolescentes nas escolas (principalmente, aqueles na faixa etária
de 06 a 17 anos) e com as suas famílias.
- Leitura, participação no fórum; criação do Diário de Saberes e Dizeres (conforme
Projeto Político-Pedagógico).
REFLEXÃO-AÇÃO – Construção do Mapa da Pobreza do seu município – essa
atividade teve resultados surpreendentes para os próprios cursistas.
Ementa/CH/Atividade de reflexão-ação
Módulo II: Pobreza, Direitos Humanos, Justiça e Educação
ATIVIDADES
Fundamentando-se no conteúdo estudado, na entrevista que você realizou com
as famílias e no conhecimento da realidade da educação nos municípios do Ma-
ranhão, defina qual deve ser o papel dos(as) profissionais que atuam nas escolas
públicas e de gestores(as) de políticas sociais com vistas à transformação da
realidade da pobreza e da desigualdade social.
- Escolha duas respostas de colegas e dialogue com eles, concordando, discordan-
do ou complementando o que foi postado por cada um (fundamente sua posição).
Elaboração de memorial – elabore um texto com até 02 laudas, a partir das
reflexões estabelecidas e das atividades realizadas até aqui, com suas impressões
sobre a experiência vivenciada no processo formativo, destacando os desafios, as
dificuldades, os avanços, momentos difíceis, dúvidas etc., podendo registrar seus
sentimentos, reflexões estabelecidas, histórias vividas, descobertas, avanços e
inquietações ao longo do caminho.
- Elaborar o esboço do projeto de pesquisa, com elaboração do tema.
que se refere a garantir uma maior aproximação com as realidades das es-
colas públicas que crianças e adolescentes do Programa Bolsa Família na
Educação frequentavam. Os 270 cursistas que concluíram a especialização
são de cerca de 100 municípios do estado do Maranhão (de um total de
217 municípios) e realizaram estudos sobre a realidade social e o contexto
escolar de escolas públicas, com o desafio de compreender melhor essa
realidade a partir da visão das crianças e adolescentes. Esse percurso meto-
dológico despertou em nossos cursistas a necessidade de se envolver com
iniciativas voltadas para o combate à pobreza e à desigualdade social. Além
do material dos módulos do curso, os alunos, que em sua maioria são pro-
fessores de escolas públicas, participaram das atividades de reflexão-ação,
com a realização de visitas às famílias das crianças e adolescentes (de 6 a 17
anos de idade) que recebem o benefício do Bolsa Família para manter os
filhos na escola. Nessas famílias, muitos pais são analfabetos, desejam uma
vida diferente para seus filhos, embora outros não valorizem a educação e
queiram que os filhos os acompanhem na pesca ou na roça. Nas escolas, os
professores reclamam que as famílias não assumem sua parte e querem que
a escola dê conta da educação dos filhos deles. Uma das atividades que teve
maior impacto sobre os cursistas foi a realização de oficinas sobre sonhos
e educação financeira, com o propósito de se aproximar da realidade das
crianças e adolescentes pobres nas escolas públicas do Maranhão, desper-
tando os sonhos de cada criança e adolescente para acreditar no seu poten-
cial e, por meio da educação, definir objetivos e metas que lhes permitam
obter sucesso ao longo da vida estudantil e profissional. Os resultados foram
surpreendentes e mostraram que, ao instigar essas crianças e adolescentes,
eles têm um grande poder de ação. O alcance das oficinas foi além do espa-
ço da sala de aula onde cerca de 2 mil crianças e adolescentes interagiram
com nossos cursistas e contribuíram efetivamente para o êxito da pesquisa
para a realização dos TCC.
Cabe ressaltar o papel dos órgãos gestores e parceiros. O Comfor teve
um papel essencial para o êxito do CEEPDS-UFMA. Desde a fase de elabo-
ração e tramitação do Projeto Político-Pedagógico, articulou reuniões com
a reitoria, secretarias estadual e municipais de educação, participando das
reuniões com a Seduc e Undime. Em termos estruturais, foi responsável di-
retamente pela estruturação de uma sala exclusiva para a especialização.
Participou ativamente da realização do curso, com apoio logístico para as
A experiência do curso de especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social na... | 37
viagens aos municípios e realização dos encontros presenciais nos oito cam-
pi da UFMA.
A competência do MEC na condução deste projeto, desde a sua ela-
boração, foi exemplar. A Coordenação da Iniciativa Nacional acompanhou
com responsabilidade cada etapa do planejamento e execução, agilizando
as respostas às nossas demandas, dando suporte tecnológico e garantindo
a liberação total dos recursos planejados.
Além de acompanhar intensivamente a realização do curso, via sistema
e reuniões presenciais, a coordenação viabilizou a nossa participação em
reunião com os coordenadores estaduais do Programa Bolsa Família na
Educação e sempre nos sensibilizou para conhecer o acompanhamento
e o significado do Sistema Presença. Além disso, foi incisiva na criação e
manutenção do Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTIL), garantindo que
UFMA, Comfor, Seduc e Undime se articulassem para o desenvolvimento e
êxito do CEEPDS. A realização desta especialização foi de grande relevância
para o estado do Maranhão. Os 258 cursistas que finalizaram e defenderam
seus TCCs têm uma grande oportunidade de propor ações que contribuam
para alterar a realidade das crianças e adolescentes em situação de pobreza
e extrema pobreza, nas escolas públicas. Com este curso, alcançamos cerca
de 5 mil pessoas, entre coordenação, docente, cursistas, gestores, crianças,
adolescentes e familiares.
Participar desse projeto foi, em primeiro lugar, uma lição de vida adquiri-
da a cada dia desses três anos, entre a elaboração da proposta e execução do
curso; aprendemos que as políticas públicas podem ser totalmente eficazes
quando se tem um acompanhamento intensivo e próximo. A CGAIE, com sua
competente equipe, por meio da Coordenação da Iniciativa Nacional EPDS,
preza pela seriedade das ações e busca pela transformação da realidade.
Dessa forma, seguindo o exemplo da coordenação nacional, aprendemos a
caminhar com segurança, ousando nas ações de enfrentamento à pobreza
no estado do Maranhão, idealizando e realizando oficinas de sonhos e edu-
cação financeira com cerca de 2 mil crianças e adolescentes nas escolas pú-
blicas de 70 municípios do estado. Aprendemos que cada um é responsável
pela mudança dessa realidade de pobreza no estado do Maranhão, o qual
dispõe de grandes riquezas (econômica, cultural e social) as quais não justifi-
cam a situação que encontramos nas escolas públicas. Muitas vezes é apenas
um problema de gestão local e de ausência de acompanhamento das secre-
tarias de educação. Tanto os cursistas quanto a equipe gestora encontraram
38 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Referências
ARAÚJO, M. S. S. As formas de pensar, sentir e agir de crianças e adolescentes de escolas públicas
do Maranhão, sob a condicionalidade da educação: ponderações a partir das ferramentas ana-
líticas de Pierre Bourdieu. Texto orientador disponibilizado para os Cursistas para finalização do
projeto de pesquisa. São Luis, 2016.
BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo: Prentice
Hall, 2007.
BRASIL. Curso de Especialização Educação, pobreza e desigualdade social. Projeto Político Peda-
gógico. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão/Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania/Coordenação Geral
de Acompanhamento da Inclusão Escolar. Brasília, 2014.
2
Introdução
de 2009, realizada por Silva (2014), em que se observa que a região Norte
apresentava maior desvantagem em relação às demais regiões, pois apenas
66,8% das casas tinham acesso à iluminação com relógio próprio, e esse
índice cai ainda mais em 2013, para 63,1%.
Embora pareça que o acesso foi ampliado, muitas famílias que participa-
ram da pesquisa não possuem relógio próprio e declararam que se utilizam
de ligações clandestinas. Essa questão traz à tona a situação de pobreza em
que essas famílias vivem. Dificilmente, se pudessem escolher, optariam por
utilizar ligações clandestinas. Entretanto, devido às condições em que vivem,
não têm a possibilidade de fazer escolhas mínimas, como pagar a luz para
não ter que se submeter a ações consideradas impróprias ou indevidas.
Neste sentido, Pinzani e Rego (2015, p. 36), ao discutirem a renda mone-
tária e a autonomia individual das pessoas, destacam:
Tem luz elétrica, com dois bicos de luz. Não tenho água tratada, tenho do
cano da rua. E de vez em quando coloco uma "quiboa" na água que o
pessoal da saúde me dá. O carro do lixeiro é difícil passar por aqui, passa
mais na outra rua. Já falamos pro pessoal vir buscar o lixo aqui, porque
tem cachorro e eles espalham todo o lixo pelo chão e só dá nós pra
limpar (entrevistada B, sexo feminino, moradora do município de Belém).
Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: o Programa Bolsa Família no... | 45
Figura 1 Fossa negra usada para despejo de rejeitos humanos por uma família bene-
ficiária do PBF residente no município de Abaetetuba, Pará.
Categoria Doenças
Doenças de transmissão feco-oral Diarreias; febres entéricas; hepatite A.
Doenças transmitidas pelo contato Esquistossomose; leptospirose.
com a água
Doenças relacionadas com a higiene Doença dos olhos; tracoma; conjuntivites;
doenças de pele; micoses superficiais.
Geohelmintos e teníases Helmintíases; teníases.
Posto de saúde não tem, quando a gente adoece temos que vir para a
cidade, porque não tem posto de saúde lá, e pra gente vir na cidade não
é muito fácil, não. Usamos o transporte escolar, temos que andar uns 15
minutos até a boca do ramal, e lá na beira da estrada passa o transporte
(entrevistada C, sexo feminino, moradora da zona rural do município de
Abaetetuba).
O meu pai é viajante e não para em casa, o dinheiro é muito difícil ele
mandar para ajudar nos gastos mensais. Além de tudo isso, continuo
desempregada. Trabalhei em loja, mas era muita exploração. Então eu
decidi sair. Agora eu com 28 anos tenho mais uma filha que está com 3
aninhos, agora com um pai presente, e graças a Deus consegui o Progra-
ma Bolsa Família que me ajudou muito pra comprar o que a gente precisa
(entrevistada E, sexo feminino, moradora do município de Melgaço).
Eu gosto, sim, de estudar, sabe, minha filha... Mas às vezes é difícil sair à
noite, porque eu fico muito cansada do trabalho no lixão, e nem sempre
a minha irmã pode ficar com meu bebê. Ele é muito agarrado comigo,
sabe. Às vezes, quando eu tô lá na escola, eu fico pensando se ele não
tá chorando com ela, ai me dá logo vontade de voltar pra casa [...]. Eu
Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: o Programa Bolsa Família no... | 49
sempre tento fazer os dever que a professora manda, mas nem tudo eu
consigo, não. Mas eu quero aprender a ler e escrever que nem a minha
professora, porque eu acho muito bonito (entrevistada E, sexo feminino,
moradora do município de Melgaço).
Por outro lado, muitas mulheres relatam estarem vencendo estas bar-
reiras, tendo a oportunidade de prosseguirem seus estudos, como é o caso
da beneficiária do PBF que retornou à sala de aula a partir do programa Pro-
jovem Urbano. Ela, mulher de 30 anos de idade, moradora da zona urbana
de Ananindeua, filha de pais separados e analfabetos, mãe de cinco filhos,
teve que abandonar os estudos aos 14 anos de idade, após ficar grávida do
primeiro filho, e agora está tendo retornar à escola e concluir seu Ensino
Fundamental.
Outro problema indicado pelos resultados da pesquisa refere-se à ca-
rência de escolas próximas às casas dos estudantes, que ofertem todas as
etapas da Educação Básica, fato que obriga os alunos a se deslocarem por
grandes distâncias para terem acesso às escolas. Tal fato é muito comum nas
zonas rurais da maioria dos municípios estudados, mas também ocorre nas
áreas urbanas, gerando aumento de gasto com deslocamento (pagamento
de ônibus ou mototáxi) e uma maior exposição à violência:
Além disso, o benefício do PBF serve para custear várias outras despesas
das famílias, tanto domésticas como escolares, a exemplo do pagamento de
aluguel, da conta de energia elétrica, compra de gás de cozinha, vestimenta,
calçados, material escolar e remédios.
O Bolsa Família na minha vida foi tudo, né... quando meu marido tava
desempregado, e eu só fazia bico, esse dinheirinho quebrou muito o
Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: o Programa Bolsa Família no... | 51
nosso galho. O Bolsa Família ajuda com tudo dos meus filho. O material
da escola, o uniforme, as coisa deles, tudo eu compro desse dinheiro...
teve até um tempo que meu filho tava com suspeita de "tifo", dengue
hemorrágica e doença de chagas... nem fale até... esse dinheirinho aju-
dou a comprar os remédios e no tratamento dele (entrevistado G, sexo
masculino, morador do município de Abaetetuba).
Depois do Bolsa Família eu tive uma certeza: meus filhos nunca mais
saem da escola e nem passam fome. Pode ser até só uma conserva
pros cinco, mas vai ter. Fora que eu também me senti mais livre, mais
independente, porque agora eu posso chegar no mercado, no fim do
mês, e comprar o que eu quiser pras crianças que eu não tô dependendo
de ninguém. Depois do Bolsa meus filhos podem até tomar o café da
manhã por minha conta, porque, mesmo que num seja todo dia, mas
hoje eu consigo comprar um pão de vez em quando, e quando tem pão
na nossa casa é uma alegria só (entrevistada H, sexo feminino, moradora
do município de Castanhal).
A gente tira o da energia, que dá uns R$ 50,00 por mês, e o restante é pra
comprar uma roupinha pra gente, quando precisa e quando dá, e o que
sobra é só pro nosso comer. Sem o Bolsa Família a gente não tinha como
comer. Quando aperta a gente mata uma galinha pra comer, apanha o
açaí pra tomar, e a farinha nós mesmo faz, os meus filhos não iam mais es-
tudar pra ajudar a gente aqui na roça, porque meu marido não dá conta
de fazer muita coisa, por causa das pernas (entrevistada I, sexo feminino,
moradora da zona rural do município de Abaetetuba).
2 Apenas 50% das famílias informaram suas rendas. A omissão desta informação ocorreu
principalmente por receio de interferir no recebimento do benefício do PBF.
54 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
meio escasso, então o que a gente colhe é mais para nossa alimentação.
O Bolsa Família nos ajuda, apesar de ser pouco o valor a gente consegue
se manter melhor, junta com a venda do matapi e se sustenta (entrevis-
tada K, sexo feminino, moradora da comunidade Sirituba, município de
Abaetetuba).
Você vê muito pescador no rio, os jovens de hoje, eles não têm uma
formação familiar boa, estão arrumando família cedo, aí, o que acontece?
Eles vão para a natureza, eles vão pescar o camarão e pescar peixe para
sustentar essa nova família. Então, eles vão sugando a natureza, o tempo
que a natureza tem para se desenvolver por ela mesma, para o peixe
crescer, o camarão crescer, não tem mais espaço, porque todo tempo
eles estão colocando aquela rede, aquele matapi, como tá esse proble-
ma agora que você tá vendo, o ambiente muito poluído, quer dizer que o
peixe e o camarão, a tendência dele é desaparecer, vai aumentando o nú-
mero de gente, e tudo isso tá fazendo desaparecer (entrevistada L, sexo
feminino, moradora da comunidade Sirituba, município de Abaetetuba).
Nós trabalhamos com a produção do matapi que nós tira da mata pra
preparar, mas a gente percebe que com os anos vêm diminuindo as coisas
da natureza, e quanto mais tempo passar vai acabando, porque a maioria
de nós só faz usar, o próprio camarão que a gente pesca com o matapi
tá ficando escasso, tudo tá diminuindo parece (entrevistado M, sexo
masculino, morador da comunidade Sirituba, município de Abaetetuba).
Figura 7 Armazenamento do lixo que será levado pelos moradores para as lixeiras da
cidade.
Eu acho que receber o Bolsa Família ajuda, sim, a cuidar melhor do meio
ambiente, a gente se preocupa com o lixo, leva para a cidade o que
pode, o que não pode a gente queima pra não juntar lixo e nem jogar no
rio, a gente também se preocupa em limpar o terreno, deixar sempre o
terreno limpo. Porque com o dinheiro a gente compra alimentação que
vem na caixa, na sacola, então a gente não pode jogar no rio, temos a
Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: o Programa Bolsa Família no... | 63
Algumas conclusões
As principais conclusões alcançadas por este processo de formação em
ensino e pesquisa desenvolvido no âmbito da Iniciativa Educação, Pobreza e
Desigualdade Social podem se resumir à necessidade de ampliação dessas
discussões e debates acerca da compreensão das vivências de pobreza e de
como estas devem ser tratadas pela ação escolar, de modo a não somente
circunscrevê-las a uma questão de renda, mas também inseri-las no con-
junto de ações programáticas a serem tratadas pela escola, como unidade
específica da ação educativa, bem como pelo sistema educacional a partir
da revisão de suas políticas de planejamento e organização das prioridades
educacionais à luz das demandas específicas das populações locais e de
seus contextos de vivências.
O PBF apresenta-se como uma alternativa importante de suplementação
de renda e de criação de expectativas de futuro para essas populações que
64 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Referências
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Impactos na saúde e no sistema único de saúde decorrentes
de agravos relacionados a um saneamento ambienal inadequado. Brasília: Fundação Nacional de
Saúde, 2010. 246 p.
CUNHA, A. L. Educação e Desenvolvimento Social no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1980.
FINCO, M. V. A.; WAQUIL, P. D.; MATTOS, E. J. Evidências da relação entre pobreza e Degradação
Ambiental no Espaço Rural do Rio Grande do Sul. Revista Ensaios FEE, v. 25, n. 1, p. 249-276, 2004.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
______. Educação e mudança. 34. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
KLEIN, C. IBGE/PNAD: Educação evolui, mas 13 milhões ainda não sabem ler. Va-
lor, 13 nov. 2015. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4314954/
Ensino e pesquisa em Educação, Pobreza e Desigualdade Social: o Programa Bolsa Família no... | 65
Introdução
O PNEPDS na UFSC
As tratativas para a formalização do PNEPDS na UFSC iniciaram-se em
maio de 2014. O Programa previa um prazo de 24 meses para o seu desen-
volvimento, sendo pactuado o período de agosto de 2014 a julho de 2016.
O PNEPDS foi assumido pelo Departamento de Estudos Especializados
em Educação (EED), do Centro de Ciências da Educação (CED). Inicialmente,
a coordenação indicada para gerir o Programa2 registrou-o como projeto de
extensão. A partir desse ato, foi emitido o Termo de Execução Descentrali-
zada no 1949 e efetivada a descentralização do recurso, previsto no valor de
R$ 856.400,00, dos quais R$ 806.400,00 deveriam ser destinados à execução
do curso de especialização e R$ 50.000,00 para a execução da pesquisa.
Para além desse recurso, também foram destinadas bolsas do Fundo Na-
cional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para coordenadores/as,
professores/as formadores/as, professores/as pesquisadores/as, tutores/as
e professores/as orientadores/as.
No processo de construção do Plano de Trabalho (PTA), a equipe gesto-
ra buscou o envolvimento da Secretaria de Estado da Educação (SED) e da
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime/SC), prin-
cipalmente para o planejamento do curso de especialização. Nesse sentido,
foram feitas algumas reuniões para a definição dos critérios de seleção dos/
as cursistas, bem como para a definição dos polos onde o curso iria ocorrer.
Após essas definições, houve um afastamento do processo, tanto da SED
quanto da Undime. Não sabemos os motivos, mas algumas reuniões foram
propostas e não ocorreram. De qualquer modo, a participação possível foi
2 O PNEPS foi coordenado pelo Prof. Dr. Adir Valdemar Garcia e teve como Coordenado-
ra Adjunta a Profa. Dra. Lúcia Helena Correa Lenzi.
Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade... | 69
O início do curso
A atividade que demarcou o início do curso foi sua aula inaugural. A
primeira data marcada foi 21 de novembro de 2014, porém, em decorrência
da baixa inscrição para o curso naquele momento, a data foi transferida para
20 de fevereiro de 2015. Como posto anteriormente, as prorrogações dos
prazos ocorridas posteriormente implicaram a alteração da data novamente.
Dada a primeira prorrogação, a aula inaugural foi remarcada para 06 de abril
de 2015. Com a segunda prorrogação, passou para 06 de julho de 2015, data
em que, efetivamente, ocorreu.
A aula inaugural iniciou no período da manhã com a conferência de aber-
tura proferida pela Professora Dra. Silvia Cristina Yannoulas, da Universidade
de Brasília (UnB). No período da tarde, ocorreram reuniões entre cursistas e
tutores/as por polo para que se conhecessem. Essa reunião também serviu
para que os/as cursistas tivessem o primeiro contato com o ambiente virtual
de aprendizagem (Avea). Essa atividade foi considerada de presença obri-
gatória. Para além desta, também foi obrigatória a presença nas avaliações
presenciais nos polos, bem como na defesa do TCC, que ocorreria na Sede
da UFSC.
5 O Módulo Introdutório foi ministrado pelo Prof. Dr. Adir Valdemar Garcia e pela Profa,
Dra. Roseli Zen Cerny; O Módulo I pelo Prof. Dr. Lauro Francisco Mattei; O Módulo II
pela Profa. Dra. Astrid Backer Ávila; O Módulo III pela Profa. Dra. Adriana D’Agostini; e
o Módulo IV pelo Prof. Dr. Juares da Silva Thiesen. A Profa. Dra. Rita de Cássia Pacheco
Gonçalves, à época vinculada à Universidade para o Desenvolvimento de Santa Cata-
rina (Udesc), foi responsável pela "atividade reflexão-ação", que perpassava todos os
módulos.
Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade... | 75
Questões Referências em %
CT* C* CP* D* DT*
O curso atendeu às minhas necessidades de 54 42 3 1 0
aprendizagem sobre o tema?
Meu interesse pelo assunto ficou maior a partir 85 15 0 0 0
deste curso?
O tutor esclareceu suas dúvidas no momento 62 30 6 2 0
oportuno?
O atendimento da tutoria foi adequado? 62 29 8 1 0
A linguagem empregada no curso foi 76 24 0 0 0
acessível?
O formato dos módulos facilitou o entendi- 76 23 1 0 0
mento do conteúdo do curso?
Os mecanismos de interação do ambiente 62 32 6 0 0
favoreceram a aprendizagem?
O espaço físico dos polos presenciais onde 54 32 8 3 3
ocorreram as avaliações era adequado?
O atendimento do/a orientador/a foi 73 17 7 3 0
adequado?
O modelo proposto de TCC foi adequado às 62 35 3 0 0
suas exigências e habilidades?
O atendimento administrativo esclareceu suas 74 24 2 0 0
dúvidas satisfatoriamente quando solicitado?
Sim, com certeza. Passei a ter outro olhar e a reconhecer com ainda mais
afinco que a pobreza existe e está presente, em especial, no cotidiano
Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade... | 85
escolar, e que para tal é preciso criar maneiras de resistir a essa (diretora
de escola).
Sim. Reconheci que nunca havia percebido os alunos pobres, como vi-
vem e o que pensam. Apenas o tema pobreza não era abordado como se
os pobres nunca tivessem frequentado a escola (professora).
Sim, tinha uma visão arraigada pelo senso comum de pobreza, hoje, te-
nho uma compreensão mais elaborada desse fenômeno. Cito o conceito
de pobreza multifacetada (professor).
A segunda pergunta foi: Antes do curso, qual era a sua percepção sobre
o Programa Bolsa Família? Ela se alterou após o curso? Explique. Dos/as 86
respondentes, 33 afirmaram que sim, 25 disseram que já conheciam o Pro-
grama e eram favoráveis a ele, e, nesse caso, continuaram tendo a mesma
percepção, e 28 não responderam. As falas a seguir são representativas.
A minha percepção era de que esse programa servia para que essas
pessoas não se preocupassem em mudar a sua condição social. Bom, ela
alterou e muito, pois agora entendo o quanto esses programas são im-
portantes para que essas pessoas se sintam mais humanas (professora).
Sim. Não basta apenas tratar do tema, é preciso injetar o tema nos conte-
údos, nas práticas pedagógicas, entender o(a) aluno(a) em sua condição
de pobreza e focar um conteúdo que mostre suas condições e como ele
ou ela pode mudar essas condições (professor).
Acredito que sim, tratei mais no campo dos direitos humanos, mas per-
cebi um cuidado maior por parte da direção em trabalhar segundo esses
preceitos (professora).
Não tanto. Pelo fato que este deveria ser um curso realizado por todos os
professores, que assim o interesse nas discussões aconteceria de forma
coletiva (professora).
Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade... | 87
A pesquisa
Neste item, apresentamos alguns comentários a respeito da pesquisa
desenvolvida no âmbito do PNEPDS/UFSC. De início, cabe salientar que a
equipe de pesquisa, principalmente na figura do coordenador, participou da
ampla maioria das atividades do curso. Afinal, o coordenador era o mesmo
para as duas ações (formação e pesquisa). Nesse sentido, à medida que a
pesquisa ia sendo realizada, seus achados eram apresentados, principal-
mente nos momentos de formação dos/as tutores/as. Os outros/as professo-
res/as pesquisadores/as participaram de algumas das atividades. Da mesma
forma, as discussões ocorridas no âmbito do curso eram, também, levadas
para as reuniões da pesquisa.
Como já posto anteriormente, o PNEPDS derivou da IEPDS, cujo obje-
tivo é promover reflexões e discussões sobre as vivências dos sujeitos em
circunstâncias de pobreza e de extrema pobreza, em relações sociais e polí-
ticas injustas, tendo a educação como foco.
Tendo em vista o objetivo da IEPDS, a equipe de pesquisadores/as da
UFSC10 entendeu ser necessário, diante de um objetivo de tão largo espec-
tro, iniciar a investigação pela análise de documentos de planejamento e
10 A equipe de pesquisa foi formada pelos professores Dr. Adir Valdemar Garcia (Departa-
mento de Estudos Especializados em Educação), Dr. Jaime Hillesheim e pela Professora
Dra. Tânia Regina Krüger (ambos do Departamento de Serviço Social).
88 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
13 No caso desses dois capítulos, ainda não temos como referenciá-los, visto que os livros
estavam sendo organizados quando da escrita deste texto.
Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade... | 91
17 Essa edição do PNEPDS está sob a coordenação da Professora Dra. Soraya Franzoni
Conde.
Programa Nacional Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a experiência da Universidade... | 93
Considerações finais
Procuramos, a partir do relato apresentado, demonstrar o quanto a
IEPDS frutificou. Os trabalhos desenvolvidos no âmbito do PNEPDS/UFSC
demonstram isso.
Causa-nos satisfação afirmar que todos/as os/as cursistas que concluí-
ram o curso o fizeram com qualidade e demonstraram que, efetivamente,
modificaram sua visão sobre a pobreza e a desigualdade social, bem como
indicam uma perspectiva de mudança de suas práticas e o compromisso de
continuarem lutando para que a pobreza deixe de ser invisibilizada, princi-
palmente no interior das escolas. Esperamos que tenham força e coragem
para enfrentar todos os percalços colocados àqueles/as que se comprome-
tem com a construção de uma sociedade menos desigual. Dizemos dessa
forma por entendermos que a tão sonhada sociedade, livre da pobreza e
que se paute na perspectiva de que cada um ofereça a ela aquilo que é a sua
possibilidade e que receba dela aquilo que é a sua necessidade, não pode
se realizar enquanto perdure a lógica implacável do capital. Nesse sentido,
lutar por uma sociedade menos injusta, considerando a manutenção dessa
ordem social, é o que se coloca no horizonte até que a humanidade se enca-
minhe no sentido de construir a sua verdadeira emancipação.
A semente foi lançada, germinou, e seus frutos estão sendo colhidos.
Para além das mudanças declaradas pelos/as cursistas, temos certeza de
que todos os/as envolvidos/as no processo também sofreram mudanças. As
publicações e ações resultantes do PNEPDS servirão de base para novos
projetos voltados a continuar o que começou a ser feito. Esperamos que
as mudanças sejam mais significativas nas vidas daqueles/as que vivenciam
a condição de pobreza. A conjuntura atual, tanto em termos globais como
local, exigirá lutas mais intensas para que não continuemos a perder o pou-
co que foi construído quanto a direitos sociais. Quiçá essas lutas possam
18 O projeto está sob a coordenação do Professor Dr. Adir Valdemar Garcia e da Professo-
ra Dra. Apoliana Regina Groff, que foi tutora e orientadora no curso e, em 2018, assumiu
como professora efetiva do Departamento de Psicologia da UFSC.
94 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Referências
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-&catid=212>. Acesso em: 20 dez. 2016.
GARCIA, A. V.; CERNY, R. Z.; MEDEIROS, S.; MINELLA, J. Projeto Político-Pedagógico do Curso
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GARCIA, A. V.; HILLESHEIM, J. Pobreza e desigualdades educacionais: uma análise com base nos
Planos Nacionais de Educação e nos Planos Plurianuais Federais. Educar em Revista, Curitiba, v.
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GARCIA, A. V.; HILLESHEIM, J.; KRÜGER, T. R. Pobreza e Direitos Humanos: as concepções pre-
sentes nos Planos Plurianuais do governo brasileiro no período de 2003 a 2015. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL DIREITOS HUMANOS, VIOLÊNCIA E POBREZA: A SITUAÇÃO DE CRIANÇAS
E ADOLESCENTES NA AMÉRICA LATINA HOJE, 6., 2016, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
Editora Rede Sírius/UERJ, 2016. v. 1, p. 01-11. Disponível em: <http://www.proealc.etc.br/VI_SEMI-
NARIO/assets/pdfs/gtiv/Adir%20Valdemar%20Garcia%20%20et%20al%20Gt04.pdf>. Acesso em:
20 set. 2018.
______. Concepções e proposições de enfrentamento à pobreza: o que dizem os PPA do estado
de Santa Catarina. In: GARCIA, A. V.; TORRI, D.; CERNY, R. Z.; OLIVEIRA, S. M. de (Org.). Reflexões
sobre a pobreza: concepções, enfrentamentos e contradições. Florianópolis: NUP/CED/UFSC,
2017a. p. 157-222. Disponível em: <http://fliphtml5.com/wskm/whai/>. Acesso em: 20 set. 2018.
______. A pobreza e a desigualdade social nas propostas curriculares e nos planos municipais de
educação. In: GARCIA, A. V.; TORRI, D.; CERNY, R. Z.; OLIVEIRA, S. M. de (Org.). Formação e pes-
quisa no âmbito da Iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social. Florianópolis: NUP/CED/
UFSC, 2017b. p. 295-363. Disponível em: <http://fliphtml5.com/wskm/fvcb/>. Acesso em: 20 set.
2018.
______. Pobreza, direitos humanos e educação: diretrizes constantes nos planos plurianuais
federais dos governos petistas. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO
E POLÍTICA SOCIAL, 2., 2017, Florianópolis. Anais... Florianópolis: Repositório Institucional
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Brasília, n. 43, 2018 (No prelo).
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
INEP. Sinopse estatísticas da Educação Básica. 2015. Disponível em: <http://inep.gov.br/web/
guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-basica>. Acesso em: 11 jul. 2018.
MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo:
Hucitec, 2014.
4
Introdução
1 Atividade de cunho investigativo, dos módulos I ao IV, que visa uma inserção crítica na
realidade de uma escola pública e desenvolvida numa sequência reflexiva para que,
ao final, o material produzido pela reflexão-ação proposta possa subsidiar a escrita do
Trabalho de Conclusão de Curso TCC – (BRASIL, 2014).
2 Texto elaborado pelo cursista que registra, ao final de cada módulo, as reflexões, as
impressões sobre as atividades e experiência vivenciada no processo formativo, desta-
cando os desafios, as dificuldades, os avanços, momentos difíceis, dúvidas. Trata-se de
um "diário" no qual o(a) cursista poderá registrar seus sentimentos, reflexões estabe-
lecidas, histórias vividas, descobertas, avanços e inquietações ao longo das atividades
realizadas (BRASIL, 2014).
Formação Continuada de gestores do Programa Bolsa Família do Tocantins: intenção e... | 99
Considerações finais
A questão da pobreza e da desigualdade social e sua relação com a edu-
cação constituem uma temática complexa e que envolve diferentes inter-
pretações sobre sua relação e causalidade. Sob a ótica da educação como
prática social, tratada no projeto da Iniciativa EPDS, vimos que as atividades
de formação, pesquisa e difusão do conhecimento foram condições para a
efetividade do projeto EPDS. O desvelamento das concepções moralizantes
de pobreza, evidenciadas pelos sujeitos em formação do curso EPDS, bem
como a produção de conhecimento científico dos pesquisadores e cursistas
indicam a potencialidade do programa para a formação sociocrítica e de
qualidade.
Associando a experiência de formação e pesquisa, vivenciada pelos
autores desse trabalho, houve rico aprendizado dos processos de gestão
104 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade
e Inclusão. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Especialização em Educação, Pobreza e De-
sigualdade Social. 2014.
FREIRE, J. S. E.; SANTOS, J. B.; REIS, C. P. Políticas Educacionais no contexto da situação de po-
breza e extrema pobreza no Estado do Tocantins: quem são os alunos pobres no planejamento da
educação? Relatório de pesquisa, EPDS, Neped, Universidade Federal de Tocantins, Palmas, 2017.
5
Introdução
projeto tinha um recurso, que seria enviado à universidade por meio de uma
Nota de Crédito.
Os nossos esforços voltaram-se à elaboração e junção dos documentos
que comporiam o TED, para que o recurso fosse descentralizado no ano de
2014. Enviamos o PTA do TED em 21 de maio de 2014, via Simec no módulo
SPO-TED, e em 27 de junho ele foi aprovado para execução.
Com a Nota de Crédito ainda era preciso empenhar os recursos para
execução, mas, como o curso teria início somente no ano de 2015 e não ha-
via certeza de que os recursos ficassem disponíveis após o fim do exercício
financeiro de 2014, nossa alternativa foi buscar a parceria da Fundação de
Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec). Iniciou-se então uma discus-
são interna sobre a viabilidade dessa parceria, e, após um longo processo de
tratativas administrativas, financeiras e jurídicas, foi firmado em dezembro de
2014 um instrumento jurídico na forma de contrato com a Fapec, para prestar
apoio administrativo e financeiro à gestão da Iniciativa EPDS na UFMS.
Em paralelo, tínhamos outro desafio muito importante: construir um pro-
jeto de curso de especialização. Da primeira reunião técnica, nós tínhamos
a versão do projeto básico do curso produzido pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Procuramos as normativas internas e consegui-
mos um modelo de projeto de curso de especialização lato sensu da UFMS.
A partir desse modelo e com o projeto básico da UFSC construímos uma
proposta, quase "no escuro", pois tínhamos muitas dúvidas sobre possíveis
mudanças de nomenclatura, de carga horária dos módulos ou de inclusão
de um módulo de metodologia científica, por exemplo.
Na dúvida, resolvemos manter a proposta original, seguindo ao pé da
letra a proposta da UFSC, que posteriormente até apresentou uma mudança
no nome dos módulos, mas nosso projeto já tinha sido aprovado, fato que
gerou um retrabalho de alteração das resoluções de aprovação da estrutura
curricular do curso.
As tratativas para oferta do curso iniciaram em maio, e a aprovação do
curso se deu pela Resolução do Conselho Universitário no 61, de 4 de agosto
de 2014. E logo em seguida começamos a trabalhar no edital de seleção dos
cursistas, trabalho este que foi feito antes da composição da equipe e foi
um processo muito difícil, principalmente pelo despreparo técnico da UFMS
para esse tipo de seleção.
No mês de setembro de 2014 foi feita a composição mínima da equipe,
com o supervisor e os dois pesquisadores. Criamos um grupo de trabalho na
A iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social na UFMS: implementação e trajetória de... | 109
meta de ampliar cada vez mais as discussões teóricas sobre a relação entre
educação, pobreza e desigualdade social a partir das experiências locais e
específicas do estado do Mato Grosso do Sul.
Olhando para nossa trajetória nesse projeto, podemos afirmar com mui-
ta propriedade que a Iniciativa EPDS modificou as nossas vidas (no âmbito
pessoal e profissional) e transformou a nossa forma de perceber, de ser, de
realizar, de pesquisar, de lecionar, de compreender. Temos a sensação de
termos vivido trinta anos de experiência em três anos de atuação, pela enor-
midade de experiências, conhecimentos, contatos, aproximações e distan-
ciamentos que tivemos a oportunidade de vivenciar nesse período.
Referências
ARROYO, M. G. Pobrezas e infâncias no Brasil. Palestra proferida na conferência de abertura do I
Encontro Estadual da Iniciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social da UFMS. 28 de julho de
2017. Disponível em: <https://youtu.be/Rig-9B4HAcw>. Acesso em: 09 out. 2018.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
COSTA, A. C. P.; RIEDNER, D. D. T. Educação, pobreza e desigualdade social: alguns indicadores
do contexto sul-mato-grossense. Relatório de pesquisa. Campo Grande: UFMS, 2018.
6
2 A estrutura organizacional do MEC passou por reorganização (BRASIL, 2007), que rede-
finiu o escopo de algumas das competências da Secad e revogava o decreto anterior de
criação. Em 2011, nova norma administrativa atribuiu ao Ministro da Educação a elabora-
ção de regimento interno para explicitar as competências das unidades administrativas
do ministério (BRASIL, 2011); detalhou a função política de inclusão, que modificou o
nome da Secretaria e a reorganizou por área de atuação no sistema educacional bra-
sileiro. No ano seguinte, duas novas normas administrativas alteraram competências
das unidades da Secretaria. As modificações efetuadas em 2011 foram revogadas em
2012, quando as diretorias administradas pela Secadi foram reorganizadas por novas
subáreas de atuação (BRASIL, 2012a, 2012b).
126 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Quadro 1 Regulação das políticas públicas de reconhecimento na área da educação.
Políticas de Educação do Campo Primeiro Encontro Nacional de Diretrizes Operacionais para a Educação
Trabalhadores Sem Terra (jan. 1984); Básica nas Escolas do Campo (CNE-
Campo, Indígena e para as
Relações Étnico-Raciais
Educação de Jovens e Adultos Jovens e Adultos (Eneja), realizado no Nacionais para a Educação de Jovens
estado do Rio de Janeiro em 1999; e Adultos.
V Conferência Internacional sobre Educação
Adultos
Acompanhamento da Inclusão Escolar Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria Programa Fome Zero (2003); Lei Federal no
Direitos Humanos e
Cidadania
Nutricional (1994).
Direitos Humanos Movimento dos Trabalhadores sem Teto União Civil entre pessoas do mesmo sexo
(MTST, 1997); Somos (1978); Encontro (2011).
Brasileiro de Homossexuais e Lésbicas
(1997).
Política Pedagógica da Educação Especial Conferência Mundial de Necessidades Diretrizes Nacionais para a Educação
Políticas de
Educação
Política de Acessibilidade na Escola Qualidade (Unesco, 1994); Convenção Decreto no 3.298 que regulamenta a Lei
da Guatemala (1999). no 7.853/89.
Articulação da Política de Inclusão nos
Sistemas de Ensino
Elaboração: autores.
128 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Fonte:
3 A opção inicial era de inscrever os cursistas selecionados em cidades polo mais pró-
ximas do município de residência. No entanto, o deslocamento para essas cidades
apresentava dificuldades maiores que para Belo Horizonte.
A implementação de políticas públicas: lógicas de ação das burocracias de rua | 135
respeito dos limites das atividades realizadas sem uma reflexão crítica os
limites das ações por eles(as) desenvolvidas.
Um terceiro conjunto de TCCs (24%) abordou o Programa Bolsa Famí-
lia nas cidades onde atuavam ou residiam os cursistas e seus efeitos sobre
as trajetórias escolares. Os conteúdos trabalhados envolviam as condicio-
nalidades do programa e sua potencialidade de superação da situação de
pobreza. A reflexão contida nesses estudos expõe a apreensão simultânea
da importância do programa e de seus limites. Um quarto agrupamento
temático abordou o atendimento à pessoa deficiente pobre (11%). Nesses
estudos a escola é posta em questão pela falta de condições (materiais e
de profissionais) para este atendimento. Em linhas gerais os estudos abor-
dam a pobreza das escolas para o atendimento a pessoas deficientes. Em
sequência encontram os estudos sobre o trabalho infantil, seja em empresas
privadas ou nos espaços domésticos, como causador do abandono ou do
menor aprendizado nas escolas. Nestes estudos, a crítica às desigualdades
de condições sociais como obstáculo ao direito é mais evidente. O grupo
final, com temas diversos (8%), abrangeu a educação escolar no sistema
prisional, os possíveis efeitos de outros programas governamentais sobre a
pobreza e a formação em direitos humanos. Estes estudos requerem mais
investigações para sintetizar o tratamento analítico e as reflexões efetuadas
face o menor número de TCCs amostrados.
REFERÊNCIAS
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M. C. R. N.; CARVALHO, M. C. B. (Org.). Tendências e perspectivas na avaliação de políticas e
programas sociais. São Paulo: IEE/PUC-SP, 2001. p. 44-55.
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cias Sociais, Rio de Janeiro, v. 53, n. 3, p. 587-620, 2010.
______. Quando instituições federativas fortalecem o governo central? Novos Estudos, São Paulo,
n. 95, p. 38-57, mar. 2013.
BRASIL. Decreto no 5.159 de 28 de julho de 2004. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro
Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Educação, e
dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 7-16, 29 jul. 2004.
______. Decreto no 6.320, de 20 de dezembro de 2007. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro
Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Educação, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 dez. 2007.
______Decreto nº 7.688, de 2 de março de 2012. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro De-
monstrativo dos Cargos em Comissão da Secretaria Geral da Presidência da República, dispõe
sobre o remanejamento de cargos em comissão, altera o Anexo II do Decreto no 5.135, de 7 de
julho de 2004, os Anexos I e II do Decreto no 6.188, de 17 de agosto de 2007, e os Anexos I e II do
Decreto nº 7.480, de 16 de maio de 2011. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 05
mar. 2012a.
______. Decreto no 7.690, de 2 de março de 2012. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro
Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Educação.
Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 06 mar. 2012b.
FREITAS, H. C. L. Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de forma-
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abordagens para uma relação multideterminada. 1. ed. Brasília: Liber Livro, 2013. v. 1. p. 235-254.
7
Introdução
O início do curso foi marcado pela aula inaugural, que ocorreu na tarde
do dia 22 de junho de 2015, no auditório do Colégio Técnico de Teresina
(CTT) com a apresentação da palestra "Educação e Pobreza: Reflexões a
partir do Programa Bolsa Família", ministrada pela Profa. Dra. Natália Duarte,
da Universidade de Brasília-DF.
O curso foi distribuído em cinco módulos, com duração de quatro me-
ses cada. Ao final de cada módulo, os cursistas reuniam-se na UFPI para
apresentação dos resultados das atividades de reflexão-ação proposta para
cada módulo. A equipe que compunha todo o curso foi constituída de duas
coordenadoras, uma equipe de pesquisa, 13 tutores e professores orienta-
dores de TCC.
Ao final do curso foram produzidos três livros contendo relatos de pes-
quisas, oriundos dos trabalhos finais de conclusão de curso, e um livro resul-
tado das duas pesquisas de campo.
140 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
A principal crítica que ouvia dos cursistas era com relação aos progra-
mas de transferência de renda do governo federal, sobretudo o Bolsa
Família, alguns inclusive o denominavam de "Bolsa Preguiça". Após a
atividade-reflexão do Módulo I, percebi certas mudanças no pensamento
dos cursistas quanto a esse tipo de programa. Essa turma é composta
basicamente de professores da rede pública de ensino e de assistentes
sociais. Foi interessante ver que os professores da rede pública de ensino
é quem detinham esse típico pensamento e que com o decorrer das
leituras e discussões estão mudando suas opiniões, tanto em relação à
pobreza, aos programas, ao papel da educação etc. (Tutora Tarianna).
É incrível como esse curso mudou minha visão. Eu sabia... Já tinha visto
alguma coisa na universidade sobre isso... de que a pobreza interfere
na aprendizagem... Mas, pra mim, tudo isso era "balela"... Pra mim, o
menino não tinha interesse, e a culpa era da família. Quando eu comecei
a estudar os módulos, comecei a ver as coisas de forma diferente e daí
fui fazer a pesquisa da atividade de reflexão-ação... Escolhi um desses
meninos que a gente considera que são os piores... Foi aquele choque!
Eu vi que estava errada. Meu Deus, eu fiquei com tanta vergonha! (Relato
de uma cursista no encontro presencial em fevereiro de 2016, Módulo II).
1 Conforme pode ser observado, há uma diferença elevada entre o número de respon-
dentes da primeira aplicação em relação à segunda. Isso se deve, em grande parte, ao
número de evasão do curso. Ainda assim, a aplicação é válida, por ter um número de
participantes suficiente para a realização do Talp.
148 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
2 Mantemos aqui a mesma sigla (OME) utilizada por Vergès, entretanto, chamamos a
atenção para as explicitações realizadas anteriormente. A ordem que consideramos em
nosso estudo é a de importância, e não a de aparecimento das evocações.
Educação, Pobreza e Desigualdade Social no Piauí: diálogos a partir de experiências formativas... | 149
Quadro 1 Critérios de distribuição dos atributos nos quadrantes dos sistemas (central
e periférico) de uma representação social.
Resultados e discussões
3 Este é o número máximo de palavras recomendado, pois "a prática tem mostrado que a
partir de sete palavras evocadas há um declínio na rapidez das respostas, evidenciando
um trabalho mental lógico para as produções subsequentes, descaracterizando o cará-
ter natural e espontâneo das evocações livres" (OLIVEIRA et al., 2005, p. 578).
150 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Quadrante 1 Quadrante 2
F ≥ 23 e OME < 2,8 F OME F ≥ 23 e OME ≥ 2,8 F OME
Educação 38 2,263 Carência 28 2.821
Desigualdade 34 2,647
Fome 31 2,677
Quadrante 3 Quadrante 4
F < 23 e OME < 2,8 F OME F < 23 e OME ≥ 2,8 F OME
Trabalho-infantil 05 2,400 Abandono 09 3,556
Direitos 09 2,444 Atenção 06 3,556
Esperança 12 2,500 Discriminação 06 3,500
Igualdade 08 2,500 Miséria 06 3,500
Escola 06 2,500 Preconceito 10 3,400
Oportunidade 20 2,550 Triste 11 3,273
Sob estes aspectos podemos inferir que por meio dessa cognição os
participantes expressam a função de orientação presente na representação
social em questão. Com essa função as representações guiam os comporta-
mentos e as práticas.
A evocação desigualdade, presente no núcleo central, afere um sen-
tido de apartamento social em que vivem os pobres. Vejamos algumas
justificativas.
Muitas crianças pobres vão a escola não com intuito de adquirir conhe-
cimento, mas com o objetivo de "merendar" e vencer a fome, assim a
Quadrante 1 Quadrante 2
F ≥ 31 e OME < 2,9 F OME F ≥ 31 e OME ≥ 2,9 F OME
Quadrante 3 Quadrante 4
F < 31 e OME < 2,9 F OME F < 31 e OME ≥ 2,9 F OME
Carente 12 2,500 Discriminada 6 3,500
Desigualdade 14 2,571 Educação 24 3,083
Exclusão 12 2,333 Frágil 6 3,000
Fome 13 2,385 Oportunidade 8 3,000
Preconceito 10 2,200 Respeito 8 3,500
Sofrimento 09 2,778
Considerações finais
Considerando os objetivos traçados para esta pesquisa, quais sejam,
identificar, analisar e comparar a representação social de criança pobre ar-
ticulada pelos professores e professoras da Educação Básica no estado do
Piauí, podemos, depois de feitos todos os procedimentos, concluir que a
presença de elementos como educação, desigualdade e fome como centrais
na primeira estrutura representacional indica um significado de ausência de
pré-requisitos nessas crianças que possam viabilizar a sua aprendizagem.
Há um diagnóstico, produzido pelos sentidos atribuídos à fome e à desi-
gualdade, e um prognóstico que se expressa no significado dado ao termo
educação.
Como constatamos, esse significado sofreu algum processo de questio-
namento, que acreditamos ter sido desencadeado pelo curso de formação
ao qual se submeteram tais professores e professoras. Esse processo, em-
bora não tenha gerado uma nova representação social, pode ter provocado
uma reflexão que provavelmente alterou algumas práticas sociais e possivel-
mente educativas.
Por fim, queremos destacar que este estudo indica a necessidade de
pensar a formação continuada de professores como uma política educacio-
nal que favoreça a transformação de práticas docentes. Sob este aspecto,
acreditamos que uma continuidade de reflexão e acompanhamento das
ações dos professores e professoras, no que diz respeito ao ensino ofertado
nas escolas públicas, pode contribuir para uma educação mais equânime a
favor das crianças pobres.
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8
acordo com a equipe da Secadi, foi prorrogado o início do curso para maio
de 2016 e o pagamento das bolsas até outubro de 2017, quando se daria o
fim da vigência.
Todavia, fomos orientados pela equipe da Secadi e acatamos a reco-
mendação de estender a vigência, passando então para 3 de novembro de
2017. Posteriormente, percebeu-se que tal data também não seria suficiente,
pois fomos informados de que a vigência do projeto precisava contemplar o
tempo dedicado à preparação da prestação de contas, então, foi promovida
outra alteração, agora para 30 de dezembro de 2017.
Neste ínterim, o professor Irapuan Peixoto Lima Filho assumiu a coor-
denação do curso. Houve uma reorganização operacional da equipe do
EPDS-UFC, com aquele na coordenação, o prof. Valmir Lopes continuando
na vice-coordenação e o prof. Domingos Abreu assumindo a coordenação
da pesquisa dentro do projeto, ao lado do prof. Jakson Aquino (todos do
Departamento de Ciências Sociais). A coordenação convidou egressos do
curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia
para compor as funções de supervisão, com Kelma Cardoso Leite, e de se-
cretaria do curso, com Genilria Rios.
Quanto aos formadores, a coordenação optou por uma mescla dos pro-
fessores das Ciências Sociais/Sociologia com alguns convidados que tinham
experiência tanto com o Programa Bolsa Família (PBF) quanto com a Edu-
cação a Distância, de modo que o cargo de formador de formadores ficou
com Rafaela Silveira de Aguiar, assistente social formada pela Universidade
Estadual do Ceará (UECE). Mais tarde, houve alguns ajustes, com a professo-
ra Alda Alves assumindo a supervisão em julho de 2017, depois substituída
pela ex-tutora Lourdes dos Santos a partir de outubro.
Essa equipe, que chamaremos de coordenação, elaborou em conjunto
as bases fundamentais do EPDS-UFC, tomando a proposta já consolidada
do MEC/Secadi como ponto de partida e adaptando às perspectivas locais.
Para compor a equipe foram convidados professores formadores, to-
dos profissionais do campo das Ciências Sociais. Os tutores foram selecio-
nados por meio de um edital divulgado amplamente, tendo tido uma boa
concorrência.
O EPDS tinha como objetivo atuar em três linhas fundamentais: forma-
ção continuada, pesquisa acadêmica e difusão do conhecimento. Por isso,
nossas ações foram direcionadas no cumprimento desses objetivos. Além
do EaD, organizamos o curso momentos presenciais e o detalhamento dos
160 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
A pesquisa do EPDS-UFC
Um dos diferenciais do EPDS foi permitir aos docentes desenvolverem
uma pesquisa em consonância com o conteúdo do curso. A equipe de pes-
quisa foi liderada pelo professor Domingos Sávio Abreu e contava com o
professor Jakson Alves de Aquino, a professora Rafaela Silveira (responsável
pela reflexão-ação do curso) e um corpo de quatro bolsistas de iniciação
científica, estudantes de graduação em Ciências Sociais.
Com isso, produziu-se um grande levantamento de dados relacionando
as famílias que cumprem as condicionalidades do Programa Bolsa Família
(PBF) e a temática da pobreza, da desigualdade social e da eficácia das polí-
ticas públicas. O objetivo da pesquisa foi identificar e mensurar os obstácu-
los que as crianças e adolescentes cearenses beneficiárias do PBF enfrentam
para alcançar o sucesso escolar.
A pesquisa começou a ser elaborada em março de 2015, em decorrência
da assinatura do termo do EPDS-UFC, e começou as atividades um ano de-
pois, em março de 2016, prosseguindo até outubro de 2017. O trabalho de
campo ocorreu em duas etapas: a primeira em junho de 2016, com entrevis-
tas de famílias que atendiam ou não a condicionalidade do PBF em mais de
90 municípios do Ceará, e a segunda em agosto e setembro de 2017, com a
aplicação dos questionários em 5 municípios, finalizando com um Seminário
de Pesquisa que contou com a apresentação dos dados parciais e discussão
sobre as temáticas propostas, inclusive com pesquisadores de outras inicia-
tivas do EPDS (no caso, da UFPR e UFMG), que ocorreu em 27 de setembro
de 2017. Em seguida, os dados foram consolidados e continuam sendo ava-
liados até a presente data, para compor publicações futuras.
Em termos metodológicos, para alcançar o objetivo proposto, a pes-
quisa foi dividida em duas etapas: uma qualitativa e outra quantitativa. A
coleta de dados qualitativos foi realizada em parceria com os cursistas du-
rante a atividade de reflexão-ação. Melhor explicando: durante o curso de
especialização houve uma disciplina voltada para a compreensão da relação
da família e o universo escolar (BRASIL, 2014). Como já dito, foi solicitado
que cada cursista fosse às casas de duas famílias beneficiárias do PBF com
Desafios Institucionais na promoção dos estudos sobre pobreza e educação: a execução da... | 177
Referências
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V.; TORRI, D.; CERNY, R. Z.; OLIVEIRA, S. M. (Org.). Formação e pesquisa no âmbito da Iniciativa
Educação, Pobreza e Desigualdade Social. Brasília: MEC, 2017. Coleção Educação, Pobrza e Desi-
gualdade Social, v. 3. p. 73-126.
9
O cenário
Polícia Federal. A acusação para ser preso dessa forma? Obstruir a investi-
gação (TORRES, 2017). O tratamento dado a ele grita que a universidade
pública está sob ataque. Em sua memória, e em memória da maltratada uni-
versidade pública, fizemos um minuto de silêncio.
Apesar das inúmeras denúncias do abuso que foi a condenação precoce
de Olivo, a mesma Polícia Federal, poucos meses depois, conduziu coerci-
tivamente o Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, junto a outros
tantos professores da mesma universidade. A imagem da ação é grotesca:
professores universitários levados por policiais militares armados e trajados
para guerra. E isso, novamente, sem que os professores tivessem sido con-
vocados anteriormente a dar depoimento. Essa operação da Polícia Federal
violenta também nossa memória, já que, de forma sórdida, o nome dado a
ela, Esperança Equilibrista, faz alusão a um hino libertário de João Bosco
e Aldir Branc, compositores mineiros que, indignados, publicaram nota de
desagravo ao desrespeito vivido (JORNAL DO BRASIL, 2017).
Professores universitários sendo conduzidos por policiais vestidos e ar-
mados para guerra. A imagem choca. Em meio ao assombro, por vezes nos
esquecemos de que essa cena é cotidianamente vivida pelas classes pobres
brasileiras, para quem a ditadura militar nunca acabou. Como consequência
de nossa convivência ao longo do Curso, sabemos que todas as cursistas
viram ou viveram situações nas quais a polícia agiu de maneira abusiva com
nosso povo, tendo o racismo institucional como critério para abordar de
forma truculenta a população pobre, composta, não coincidentemente, em
sua maioria de negros. É simbólica a recente confirmação da condenação de
Rafael Braga, sem nenhuma prova contra ele.
No Brasil, de maneira dominante, os pobres são olhados, no mínimo,
como suspeitos. Historicamente, suspeita-se da capacidade cognitiva e da
conduta moral de pobres e negros (PATTO, 1990). Basta lembrar como a
grande mídia, mas também muitos de nós, de maneira geral, tratamos os
adolescentes negros e pobres moradores das periferias, dos rolezinhos aos
black blocs. E a suspeita vira prática, já que são eles que engrossam nossas
mais tristes estatísticas: do sistema carcerário, de desemprego ou subem-
prego, do fracasso escolar. O mapa da violência nos mostra que as vítimas
têm classe, raça e gênero (CERQUEIRA et al., 2018). Não há dúvida de que
impera uma verdadeira política de extermínio no Brasil.
A esse extermínio bem concreto, soma-se o extermínio simbólico, que,
embora mais sutil, é extremamente violento com quem o vive na própria
Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a construção de um curso na contramão da... | 183
O começo
Mas se a ciência, de maneira dominante, tem produzido versos que silen-
ciam, enquadram, violentam, o EPDS foi uma aposta no reverso. Buscamos
construir e fortalecer tensão, sem a qual não conseguiremos olhar o mundo
que nos constrói, ver suas nuances e reparar seus descaminhos. Sabemos
que a mudança radical que almejamos é processo longo e tortuoso. São
muitos os obstáculos objetivos e subjetivos a serem enfrentados. Mas,
"Maria, Maria" que somos, misturamos alegria à dor e, com estranha mania,
encontramos força, raça, manha, graça, gana e sonhos sempre. Criamos es-
tratégias de resistência e enfrentamento. Com o EPDS, buscamos ser uma
forma de resistência a tantas violações.
Daí que perguntamos: em que nossa prática contribui para as violações
ou para a consolidação dos direitos humanos? Reconhecendo o caráter po-
lítico do curso, que visa a pensar a escolarização de alunos em condição de
pobreza, tivemos como mantra que deveríamos enfrentar, de forma densa
e profunda, todas as formas de preconceito e intolerância. E isso sem per-
der de vista que não poderíamos incorrer na culpabilização das cursistas
pelo fracasso escolar, pautada no mito da incompetência docente (SOUZA,
2006). Esse grande equívoco maltrata os professores, que não à toa estão
adoecendo no exercício da função. Trata-se de uma ideia, portanto, que re-
presenta um desserviço à luta pela educação pública, gratuita, laica, de qua-
lidade e socialmente referenciada para todas e todos. Repetimos de novo o
que dissemos na aula inaugural: se, por um lado, somos todos malformados,
186 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
por outro lado, o fracasso escolar é fenômeno complexo e não pode ser
reduzido a um aspecto isolado. Defender a valorização do professor envolve
aumento salarial, garantia de condições de trabalho, de espaços de escuta
e respiro.
A partir desse horizonte ético, demos início à construção desse curso
cheio de subversões. Inicialmente, tensionamos os papéis institucionais na
construção do trabalho. Na gestão, o que era para ser uma coordenado-
ra principal e uma adjunta, além de um supervisor, virou um trio igualitário
que durante dois anos se reuniu semanalmente. Entre músicas, risos, iras e
burocracias, tomamos cafés e decisões, sempre pautadas no caráter ético-
-político do nosso fazer. Amizade cresceu.
Para dar materialidade ao curso, o trio fez muitas escolhas. A primeira
envolveu a seleção de cursistas: considerando que a valorização do serviço
público passa também por priorizá-lo em formações gratuitas, ofertadas em
universidades públicas, priorizamos professores da rede (350 do total de 400
cursistas), a quem se somaram profissionais que atuam em serviços públicos
que atendem crianças e adolescentes em situação de pobreza. Além disso,
optamos por focar em Salvador e região metropolitana (367 cursistas), pois
sabemos que é onde se concentra a maior dificuldade em atender às condi-
cionalidades do Bolsa Família. E, estando mais perto da UFBA, poderíamos
estimular encontros presenciais. Ainda com relação ao perfil das cursistas,
cumpre destacar: são prioritariamente mulheres (347), negras (199) e pardas
(115), entre 31 e 50 anos de idade (293 cursistas).
A partir da autonomia universitária, compusemos uma equipe de for-
madores de módulo baseada na relevância de sua produção acadêmica e
científica, em uma perspectiva crítica. Os professores, então, dialogaram cri-
ticamente com o material recebido, trazendo outras referências, trabalhando
a nossa realidade específica.
O material didático-pedagógico
A discussão sobre a construção de um material didático para um curso
EaD é extensa na literatura (ROSALIN; CRUZ; MATTOS, 2017). No campo da
forma, espera-se que esse material dialogue com as diversas possibilidades
do campo digital, trabalhando com vídeos, mídias, hiperlinks e elementos
interativos, não se constituindo apenas de livros que foram escaneados ou
textos disponibilizados em plataformas digitais. Segundo alguns autores do
Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a construção de um curso na contramão da... | 187
em um ambiente mais moderno, do século XXI) que esse espaço poderia ser
enriquecedor e formador de uma suposta cidadania que torna o aluno apto
ao seu contexto social.
Não se trata de ser contra novas formas de ensinar ou mesmo o uso de
tecnologias mais modernas nos espaços educacionais. O que temos defen-
dido é que a mudança da forma não poderá sozinha resolver os problemas
educacionais. Para fazer uma prática significativa é preciso a construção de
novas formas/conteúdos que questionem a lógica do capital, e isso passa
por oferecer ao estudante um conhecimento que o ajude a tensionar o seu
cotidiano alienado e permita que ele domine aquilo que os dominantes do-
minam (SAVIANI, 2008), assim, tendo mais instrumentos culturais para fazer
valer seus direitos e caminhar em direção à sociedade emancipada.
A síntese do módulo aponta para uma pergunta: do que a escola pre-
cisa? A resposta, da autora, embora traga elementos interessantes para o
debate (território, democracia, movimento social, experiência social), furta-
-se a dizer que a escola e quaisquer outros segmentos precisam mesmo é
de uma revolução social. Sem mexermos no modo que reproduzimos nossa
existência, sem movermos a base capitalista, a educação estará impossibi-
litada de atuar no limite da sua função. Até lá, o que defendemos é que a
escola precisa ajudar na construção de uma consciência de classe do sujeito
que não se dá de modo espontâneo.
Na contramão do ideário trazido pelo módulo, trabalhamos aspectos
críticos relacionados ao cenário neoliberal e sua influência na educação, dis-
cutindo e tensionando as perspectivas que trabalham o desenvolvimento de
competências e habilidades, oferecendo para os estudantes textos críticos
de Dermeval Saviani (2008), Newton Duarte (2007, 2016), Maria Helena Souza
Patto (1990, 2005). Passamos para uma discussão sobre medicalização dos
processos escolares, defendendo que os problemas de alta complexidade
não podem ser reduzidos a questões individuais ou a grupos específicos
(família, comunidade, professores, alunos), tentando mostrar que as marcas
da pobreza escolar não se resolverão na escola (SOUZA, 2006; OLIVEIRA;
HARAYAMA; VIEGAS, 2016). No terceiro momento, foram discutidas as al-
ternativas para um trabalho escolar que não duvide da capacidade cogni-
tiva do pobre nem proponha um ensino aligeirado, mas que possa ofere-
cer ferramentas para que o sujeito possa pensar a realidade de modo não
naturalizado (DUARTE, 2016; ROSSLER, 2004; SANTOS; GOBBI; MARSIGLIA,
2015). A reforma do Ensino Médio e o projeto "Escola sem Partido" foram
Educação, Pobreza e Desigualdade Social: a construção de um curso na contramão da... | 193
O encerramento
Na aula de encerramento, voltamo-nos diretamente às cursistas: sabe-
mos que não é fácil fazer uma especialização em tempos de sobrecarga de
trabalho. Por vezes, as demandas de um mundo brutal nos fazem titubear
nesta caminhada. Assim foi com parte das cursistas, algo que, como disse-
mos antes, caracteriza as formações a distância. No caso do nosso curso,
podemos ser considerados fora da curva, já que conseguimos chegar à reta
final com 257 apresentações de TCC, o que representa 64,25% do total de
cursistas matriculadas. Por isso, enfatizamos que as cursistas que consegui-
ram chegar ao final não são vencedoras, superiores, melhores. Num país tão
desigual, racista, classista, machista e LGBTfóbico, a defesa da meritocracia
é, também, violência que sobrecarrega ainda mais as que já são historica-
mente maltratadas. Torcemos para que essa formação tenha servido de ali-
mento para o nosso faminto desejo de mudança, para que possamos nutrir
outras frentes de luta, até que todas tenham condições de ir até o fim.
Ou é pra todo mundo
Ou não deve nos servir!
Referências
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10
Introdução
1 Partes das reflexões deste artigo foram publicadas nos capítulos "Perfil dos alunos e
os fatores de sucesso do curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigual-
dade social", de autoria de Andrea Polena e Simony Rafaeli Quirino, e "Percepções
de estudantes, professores tutores e orientadores sobre o curso de especialização em
Educação, Pobreza e Desigualdade social", de autoria de Ana Lorena Bruel e Cristina
Cardoso, publicados na obra de Silveira, Schneider e Gonçalves (2017).
202 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
4 Segundo Testa (2002 apud SILVA; MELO; MUYLDER, 2015), consistem em fatores essen-
ciais fundamentais para alcançar objetivos executivos, estratégicos ou táticos de uma
organização.
206 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Curso Frequência %
Problemas de saúde
Problemas familiares
Falta de apoio no trabalho
Fatores situacionais 19 26,03
Greve dos professores
(reposição)
Dificuldade no acesso ao polo
Não iniciaram o
Sem contato com o curso 16 21,92
curso
Fonte: elaborada pelas autoras, com base nos registros administrativos do curso.
214 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
% em
% em relação
Função Cursistas Evadidos relação ao
à função
total
Coordenadores
estaduais, municipais e 62 10 16,1% 13,7%
operadores
Participantes de redes
59 11 18,6% 15,1%
de proteção
Fonte: elaborada pelas autoras, com base nos registros administrativos do curso.
Professores-orientadores 51 34 66,7
Fonte: elaborado pelas autoras com base nos registros administrativos, 2017.
Notas: * Foram considerados apenas os cursistas que não desistiram do curso.
** Ao todo, 14 profissionais atuaram como professores-tutores e cinco destes
também atuaram como professores-orientadores. Optamos por contabilizá-los
apenas uma vez.
Professores- Professores-
Cursistas
-orientadores -tutores
n % n % n %
Dificuldades de acesso
e utilização dos recursos
4 3,2 4 11,8 1 11,1
permaneceram ao longo do
curso
Fonte: elaborada pelas autoras com base nos questionários on-line respondidos pelos cursis-
tas, professores-orientadores e professores-tutores, 2016.
Fonte: elaborada pelas autoras com base nos questionários on-line respondidos pelos cursis-
tas, 2016.
Qualidade e quantidade
Processo de orientação
de encontros
n % n %
Indiferente 5 4
Fonte: elaborada pelas autoras com base nos questionários on-line respondidos pelos cursis-
tas, 2016.
7 Impossível explicitar o conceito a contento. Mas aqui se refere ao habitus como cate-
goria do pensamento de Bourdieu. Para o autor, pode ser entendido como a mediação
entre os condicionamentos sociais exteriores e as subjetividades dos sujeitos. Habitus
não é destino. "Habitus como uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a faze-
rem suas escolhas" (SETTON, 2002, p. 60).
226 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
Eu não sei sobre a continuidade ou não desse curso, porém, quero re-
gistrar o quanto ele foi importante para minha vida, tanto social quanto
profissional. Penso que seja extremamente importante para a sociedade
que muitas outras pessoas tenham a oportunidade de estudar a pobre-
za. Espero, profundamente, que haja continuidade. Espero que outros,
muitos outros, passem pela mesma experiência que passei. Conhecia a
pobreza de perto, pois pertenci a esse grupo durante muito tempo, só
não a percebia com a clareza que tenho agora, o que faz muita diferença
(Cursista, 2016).
Eu tenho hoje um outro olhar para a evasão daqueles cursistas por con-
ta dos estudos realizados no decorrer desse fantástico curso (Cursista,
2016).
Considerações finais
As análises permitem-nos verificar que as ações das equipes pedagógi-
ca, administrativa e de apoio/suporte foram fundamentais para o bom índice
de conclusão do curso de especialização em Educação, Pobreza e Desigual-
dade Social oferecido pela UFPR.
No entanto, para uma nova edição do curso, sugerimos algumas ações
a serem realizadas que podem melhorar ainda mais o desempenho dos cur-
sistas e das equipes. Uma delas seria que o Módulo V – "Metodologia de
Pesquisa" seja realizado em concomitância com o Módulo VI – "Orientação
de Pesquisa – TCC". Assim, não gerará acúmulo de atividades de módulos
diferentes, como ocorreu nessa versão. Além disso, contribuirá com a forma-
ção dos orientadores no que se refere ao desenvolvimento de uma pesquisa
228 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I
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230 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume I