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RELAÇÕES COMPLEXAS ENTRE AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS

E A TRANSMISSÃO DE ENERGIA

Luiz Bizerra de Aguiar1

RESUMO

Este artigo mostra e analisa as relações entre as funções hiperbólicas e o fenômeno de transmissão de
energia elétrica. Faz breves considerações sobre as concepções dos números complexos, das funções
trigonométricas, das funções hiperbólicas e, principalmente, da identidade de Euler, estabelecendo as
relações complexas entre esses tipos de funções. Mostra como os estudos físicos da eletricidade e da
energia elétrica apontaram para expressões matemáticas que resultaram em relações complexas. Na
transmissão de energia essas relações envolvem as funções hiperbólicas e trigonométricas, reais e
complexas, que permitem avaliar as tensões e as correntes, assim como a capacidade de transporte de
energia das linhas transmissão. Os resultados encontrados deram contribuições significativas para o
desenvolvimento da engenharia elétrica de potência.

PALAVRAS-CHAVE: Funções Hiperbólicas. Fórmula de Euler. Transmissão de Energia.

ABSTRACT

This article shows and analyzes the relations between hyperbolic functions and the phenomenon of
electric power transmission. He makes brief remarks about the conceptions of complex numbers,
trigonometric functions, hyperbolic functions, and especially Euler's identity, establishing the complex
relationships between these types of functions. Shows how physical studies of electricity and electric
power pointed to mathematical expressions that resulted in complex relationships. In the transmission
of energy these relations involve the hyperbolic and trigonometric functions, real and complex, that
allow to evaluate the tensions and currents, as well as the transmission capacity of transmission lines.
The results found have made significant contributions to the development of electrical power
engineering.

KEYWORDS: Hyperbolic Functions. Euler Formula. Energy Transmission.

1
M.Sc. em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade ÁREA1 Wyden. E-mail: luiz.aguiar@area1.edu.br ou
lbaguiar@outlook.com.br.
Cientefico. V. 18, N. 37, Fortaleza, jan./jun. 2018

INTRODUÇÃO

Os números complexos tiveram origem e desenvolvimentos preliminares no século XVII,


estando, direta ou indiretamente, relacionados aos estudos de Renée Descartes (1596-1650),
Isaac Newton (1643-1727), Roger Cotes (1682-1716) e Moivre (1676-1754), prosseguindo pelo
século XVIII com alguns desses estudiosos e, principalmente, com Leonard Euler (1707-1783)
(BOYER, 1989).

As funções matemáticas passaram a ser representadas, inicialmente, em um plano real


bidimensional, o plano cartesiano, estendendo-se por representações no espaço tridimensional
e definições em hiperespaços. Em seguida, as funções complexas passaram a ser representadas
em um plano bidimensional complexo, o plano de Argand-Gauss (Jean-Robert Argand, 1768-
1794); Carl F. Gauss, 1777-1855) (BOYER, 1989).

Foram estabelecidas as funções circulares, ou trigonométricas, definidas de formas apropriadas


em um triângulo retângulo dentro de um círculo, tendo a hipotenusa como raio e os catetos
como as projeções nos eixos horizontal e vertical.

Também foram estabelecidas as funções hiperbólicas, definidas de formas apropriadas em um


triângulo retângulo associado a uma hipérbole, tendo a hipotenusa como raio vetor variável e
os catetos como as projeções nos eixos horizontal e vertical.

A fórmula de Euler estabelece uma relação complexa entre a função exponencial e as funções
trigonométricas e também, de forma indireta, com as funções hiperbólicas, apresentando como
resultados relações complexas entre as funções hiperbólicas e as funções trigonométricas, com
importantes aplicações na Engenharia Elétrica, particularmente na transmissão de energia.

2 OBJETIVO

Este artigo objetiva apresentar as relações complexas estabelecidas entre as funções


hiperbólicas e as funções trigonométricas, ou circulares, resultantes basicamente da fórmula de
Euler, assim como analisar o fenômeno de transmissão de energia elétrica utilizando-se dessas
relações.
RELAÇÕES COMPLEXAS ENTRE AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS E A TRANSMISSÃO DE ENERGIA

São abordados, também, alguns aspectos físicos sobre a eletricidade e energia elétrica, com
análise de suas variáveis, as tensões e as correntes, assim como os seus parâmetros associados,
dando-se destaque para as equações das linhas de transmissão da energia em estado permanente
e sua capacidade de transporte.

3 FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS E HIPERBÓLICAS

Este item trata das funções trigonométricas e das funções hiperbólicas, suas definições e
representações, especialmente suas relações complexas, com indicações de possíveis
aplicações.

3.1 FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS OU CIRCULARES

As funções trigonométricas ou circulares são definidas no triângulo retângulo em que a


hipotenusa, descrevendo um círculo, os catetos variáveis são representados pelas suas projeções
nos eixos horizontal e vertical. São expressas pelas funções básicas, o cosseno e o seno, relativas
ao arco que subtende o ângulo φ correspondente entre o cateto horizontal e a hipotenusa,
conforme indicado na Figura 1.

Figura 1 – Círculo com indicação das funções circulares básicas

Fonte: Elaboração do autor (2016).

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Nessas condições, com o centro do círculo na origem dos eixos coordenados, a equação da
circunferência é dada pela seguinte expressão:

𝑥2 + 𝑦2 = 𝑟2

As funções trigonométricas básicas, o cosseno e o seno, são definidas como as relações entre
os respectivos catetos e a hipotenusa, da seguinte forma:

𝑥 𝑦
cos 𝜑 = 𝑟 sen 𝜑 = 𝑟

Considerando o círculo de raio unitário, isto é, para o caso de ser o raio r = 1, tem-se apenas
que cos φ = x e sen φ = y. Daí resulta a seguinte identidade básica relacionando essas funções:

𝑐𝑜𝑠 2 𝜑 + 𝑠𝑒𝑛2 𝜑 = 1

Outras funções trigonométricas, definidas como tangente, cotangente, secante e cossecante não
são aqui abordadas.

No plano complexo, as funções circulares podem ser representadas, de forma semelhante,


conforme mostra a Figura 2.

Figura 2 – Plano complexo com indicação das funções circulares básicas

Fonte: Elaboração do autor (2016).


RELAÇÕES COMPLEXAS ENTRE AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS E A TRANSMISSÃO DE ENERGIA

Um ponto da circunferência ou o vetor afim associado, pode ser expresso pelas seguintes
formas:

a) Na forma cartesiana: (x, y)


b) Na forma exponencial: 𝑟𝑒 𝑗𝜃
c) Na forma polar: 𝑟/θ
d) Na forma paramétrica: 𝑥 = 𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑦 = 𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃

Pode-se, portanto, indicar os números complexos ou pontos na circunferência, nas diversas


formas, como:
(𝑥, 𝑦) = (𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃, 𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃) = 𝑟(𝑐𝑜𝑠𝜃 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝜃) = 𝑟𝑒 𝑗𝜃 = 𝑟/θ

Dependendo da situação, pode-se utilizar qualquer uma dessas formas.

3.2 FUNÇÕES HIPERBÓLICAS

As funções hiperbólicas são definidas em um triângulo retângulo devidamente associado a uma


hipérbole. A hipotenusa é um raio vetor variável, descrevendo a hipérbole, sendo os catetos as
projeções nos eixos horizontal e vertical. As funções básicas são expressas através do cosseno
hiperbólico e do seno hiperbólico, relativas ao ângulo θ compreendido entre o cateto horizontal
e a hipotenusa (LEHMANN, 1942; DALLA VERDE, 1953).

A Figura 3 mostra um gráfico relativo a uma hipérbole, representada num plano (x, y), com
indicação dos seus principais elementos (assíntotas, semieixo etc.), assim como as funções
hiperbólicas básicas definidas.

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Figura 3 – Hipérbole com indicação das funções hiperbólicas básicas

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Nessas condições, com o centro na origem dos eixos coordenados, a equação da hipérbole é
dada pela seguinte expressão:
𝑥2 − 𝑦2 = 𝑟2

Considerando o semieixo unitário, isto é, r = 1, tem-se cosh θ = x e senh θ = y, o que resulta a


identidade básica relacionando essas funções:

𝑐𝑜𝑠ℎ2 𝜃 − 𝑠𝑒𝑛ℎ2 𝜃 = 1

Outras funções hiperbólicas, também como tangente, cotangente, secante e cossecante, assim
como algumas de suas propriedades, não são aqui abordadas.
Um ponto da hipérbole pode ser expresso, portanto:
a) Na forma cartesiana: (x, y)
b) Na forma exponencial: 𝑧𝑒 𝑗𝜃
c) Na forma polar: 𝑧/θ
d) Na forma paramétrica: 𝑥 = 𝑟𝑐𝑜𝑠ℎ𝜃 𝑦 = 𝑟𝑠𝑒𝑛ℎ𝜃

Tem-se, portanto que: (x, y) = r (cosh x + j senh x).


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3.3 FÓRMULA DE EULER

A fórmula de Euler estabelece uma relação entre a função exponencial complexa e as funções
trigonométricas básicas, conforme a expressão:

𝑒 𝑗𝑥 = 𝑐𝑜𝑠𝑥 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥

Sendo e a base dos logaritmos neperianos e j a raiz da equação x2+1 = 0, dados por:

1 𝑛
𝑒 = lim (1 + 𝑛) 𝑗 = √−1
𝑛→∞

Observa-se que a fórmula de Euler pode ser determinada partindo-se de certas operações
envolvendo a função exponencial e as funções trigonométricas. De fato, considerando uma
função f (x) definida pela seguinte expressão e determinando-se a sua derivada f” (x), tem-se:

𝑓(𝑥) = 𝑒 𝑗𝑥 (𝑐𝑜𝑥 − 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥)


𝑓 ′(𝑥) = 𝑒 𝑗𝑥 (−𝑠𝑒𝑛𝑥 − 𝑗𝑐𝑜𝑠𝑥) + 𝑗𝑒 𝑗𝑥 (𝑐𝑜𝑥 − 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥) = 0

Portanto, a derivada f’ (x) é nula, resultando que f (x) é constante, ou seja:

𝑓(𝑥) = 𝑒 𝑗𝑥 (𝑐𝑜𝑥 − 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥) = 𝑘

Fazendo x = 0, resulta que k = 1. Tem-se, então:

1
𝑒 𝑗𝑥 = = 𝑐𝑜𝑥 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥
(𝑐𝑜𝑥 − 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥)

Que é o resultado esperado.

De outra forma, a fórmula de Euler pode ser derivada a partir dos desenvolvimentos das funções
ejx, cosx e senx, conforme segue:

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(𝑗𝑥)2 (𝑗𝑥)3 (𝑗𝑥)2 𝑥3


𝑒 𝑗𝑥 = 1 + (𝑗𝑥) + + + ⋯ = (1 + + ⋯ ) + 𝑗(𝑥 + + ⋯ )
2! 3! 2! 3!
(𝑗𝑥)2 (𝑗𝑥)4
𝑐𝑜𝑠𝑥 = 1 + + +⋯
2! 4!
(𝑗𝑥)3 (𝑗𝑥)5 𝑥3
𝑠𝑒𝑛𝑥 = (𝑗𝑥) + + + ⋯ = 𝑗(𝑥 + + ⋯ )
3! 5! 3!

Resulta, então, a referida fórmula:

𝑒 𝑗𝑥 = 𝑐𝑜𝑠𝑥 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥

Igualmente, tem-se:

𝑒 −𝑗𝑥 = 𝑐𝑜𝑠𝑥 − 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑥

Somando e subtraindo, sucessivamente, essas duas expressões, obtêm-se as expressões para


cosx e senx em função das exponenciais complexas:
𝑒 𝑗𝑥 +𝑒 −𝑗𝑥 𝑒 𝑗𝑥 −𝑒 −𝑗𝑥
𝑐𝑜𝑠𝑥 = 𝑠𝑒𝑛𝑥 =
2 2𝑗

3.4 RELAÇÕES COMPLEXAS

As funções hiperbólicas reais podem ser definidas pelas expressões:

𝑒 𝑥 +𝑒 −𝑥 𝑒 𝑥 −𝑒 −𝑥
𝑐𝑜𝑠ℎ𝑥 = 𝑠𝑒𝑛ℎ𝑥 =
2 2

Usando os resultados obtidos a partir da fórmula de Euler, as funções hiperbólicas podem ser
expressas relacionadas com as funções trigonométricas, da seguinte forma:

𝑒 𝑗𝑥 +𝑒 −𝑗𝑥 𝑒 𝑗𝑥 −𝑒 −𝑗𝑥 𝑠𝑒𝑛ℎ𝑗𝑥


𝑐𝑜𝑠𝑥 = = 𝑐𝑜𝑠ℎ𝑗𝑥 𝑠𝑒𝑛𝑥 = =
2 2𝑗 𝑗

𝑒 𝑥 +𝑒 −𝑥 𝑒 𝑥 −𝑒 −𝑥
𝑐𝑜𝑠ℎ𝑥 = = 𝑐𝑜𝑠𝑗𝑥 𝑠𝑒𝑛ℎ𝑥 = = −𝑗𝑠𝑒𝑛𝑗𝑥
2 2
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São importantes nas aplicações as expressões das funções de somas, tanto para as funções
trigonométricas como para as funções hiperbólicas, sejam reais ou complexas. Têm-se os
seguintes resultados (DALLA VERDE, 1953):

𝑐𝑜𝑠(𝑥 + 𝑦) = 𝑐𝑜𝑠 𝑥 𝑐𝑜𝑠 𝑦 − 𝑠𝑒𝑛𝑥𝑠𝑒𝑛𝑦


𝑠𝑒𝑛(𝑥 + 𝑦) = 𝑠𝑒𝑛𝑥𝑐𝑜𝑠𝑦 + 𝑠𝑒𝑛𝑦𝑐𝑜𝑠𝑥
𝑐𝑜𝑠ℎ(𝑥 + 𝑦) = 𝑐𝑜𝑠ℎ 𝑥 𝑐𝑜𝑠ℎ 𝑦 + 𝑠𝑒𝑛ℎ𝑥𝑠𝑒𝑛ℎ𝑦
𝑠𝑒𝑛ℎ(𝑥 + 𝑦) = 𝑠𝑒𝑛ℎ 𝑥 𝑐𝑜𝑠ℎ𝑦 +𝑠𝑒𝑛ℎ𝑦𝑐𝑜𝑠ℎ𝑥

Com a utilização dos números complexos sob a forma x + jy, têm-se para as funções
hiperbólicas:

cosh⁡(𝑥 + 𝑗𝑦) = 𝑐𝑜𝑠ℎ 𝑥 𝑐𝑜𝑠 𝑦 + 𝑗𝑠𝑒𝑛ℎ𝑥𝑠𝑒𝑛𝑦


𝑠𝑒𝑛ℎ(𝑥 + 𝑗𝑦) = 𝑠𝑒𝑛ℎ 𝑥 𝑐𝑜𝑠 𝑦 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝑦𝑐𝑜𝑠ℎ𝑥

Portanto, as funções hiperbólicas de números complexos são funções complexas que envolvem
funções trigonométricas e funções hiperbólicas de número reais.

4 ELETRICIDADE E ENERGIA ELÉTRICA

A eletricidade é entendida como o movimento dos elétrons nos elementos condutores, mas,
efetivamente, representa o movimento da onda dos campos elétricos e magnéticos resultantes
das cargas e correntes elétricas correspondentes; às cargas estão associadas as tensões elétricas.
O produto da tensão pela corrente resulta na potência elétrica que, no tempo, determina a
energia elétrica, utilizável nas diversas aplicações.

Os estudos preliminares e mais básicos sobre a eletricidade desenvolveram-se no final do século


XVIII, principalmente com Charles A. Coulomb (1736-1806), e na primeira metade do século
XIX, destacando-se entre os estudiosos do assunto George S. Ohm (1789-1854), André-Marie
Ampére (1775-1836) e Michael Faraday (1791-1867). Na segunda metade, destaca-se os
desenvolvimentos de James C. Maxwell (1831-1879), em que com suas equações reúne e
consolida os conhecimentos, até então, sobre a eletricidade e o magnetismo (HALLIDAY;
RESNICK, 1966).
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A utilização prática da eletricidade só foi concretizada por volta do ano 1880, particularmente
devido a Thomas Edison (1847-1931) e Nicolas Tesla (1856-1943). Atualmente, pouco mais
de 135 anos, a eletricidade está presente, praticamente, em todas as atividades humanas
(HALLIDAY; RESNICK, 1966).

4.1 TENSÃO, CORRENTE E POTÊNCIA

A lei de Coulomb estabelece uma relação entre as cargas elétricas e as forças resultantes dessas
cargas e, como consequências, relações entre campos elétricos e potenciais ou tensões elétricas.

A lei de Ohm estabelece uma relação entre a tensão e a corrente elétrica, sendo a tensão
diretamente proporcional à corrente, para os componentes resistivos; para os componentes
indutivos e capacitivos, vale também essa lei, considerando os valores eficazes das tensões e
correntes e as correspondentes reatâncias indutivas e capacitivas.

A lei de Ampère estabelece relações entre a corrente elétrica e o campo magnético, ou seja, a
corrente determina um campo magnético e a variação do campo magnético determina uma
corrente elétrica.

A lei de Faraday estabelece que a tensão induzida em um componente, devido à corrente


elétrica, é diretamente proporcional à variação dessa corrente; de outra forma, a tensão induzida
resulta da variação do fluxo magnético.

Têm-se, então, os componentes resistivos, indutivos e capacitivos, com os parâmetros


associados resistência R, indutância L e capacitância C. Em função da frequência ω das
variações das tensões e correntes, têm-se as reatâncias indutivas XL = wL e capacitivas
XC=1/wC. Essas reatâncias são defasadas das resistências, sendo a indutiva em 900 e a
capacitiva em -900.

Como resultado, portanto, tem-se uma impedância, composição básica de um complexo


formado pela resistência no eixo real e uma reatância no eixo imaginário, da forma:

𝑍 = 𝑅 + 𝑗(𝑋𝐿 − 𝑋𝐶 )
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Graficamente, essa impedância pode ser representada conforme a Figura 7.

Figura 7- Representação de uma impedância

Fonte: Elaboração do autor (2016).

As tensões e correntes nas linhas de transmissão de energia podem ser expressas como funções
do tempo e como fasores, conforme as seguintes correspondências:

𝑣(𝑡) = 𝑉𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡

𝑖(𝑡) = 𝐼𝑀 cos⁡(𝜔𝑡 − 𝛼)

Nessas expressões, têm-se os valores máximos VM e IM, os valores eficazes Vef e Ief e as fases
00 e α0, correspondentes às tensões e correntes, respectivamente. Os valores podem ser para
circuitos monofásicos e circuitos equivalentes monofásicos de um circuito trifásicos, com
grandezas de linha ou de fase.

As expressões das potências instantâneas p (t) e aparentes S são as seguintes:

𝑝(𝑡) = 𝑣(𝑡). 𝑖(𝑡) 𝑆 = 𝑉. 𝐼 ∗

A expressão da potência, fica, então:

𝑝 = 𝑣𝑖 = 𝑉𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡𝐼𝑀 cos(𝜔𝑡 − 𝜃)

Desenvolvendo, resulta:

𝑉𝑀 𝐼𝑀 𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝= 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 + cos 2𝜔𝑡) + 𝑠𝑒𝑛𝜃sen2𝜔𝑡
2 2

Assim, a potência é constituída de duas parcelas ou componentes, que correspondem à potência


na parte resistiva, a potência real ou ativa, e potência na parte reativa, chamada de potência
reativa tendo-se, então:
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𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝𝑅 = 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 + cos 2𝜔𝑡)
2
𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝𝑋 = 𝑠𝑒𝑛𝜃sen2𝜔𝑡
2

A potência média, da segunda parcela, é nula e a potência média total resulta na potência média
da primeira parcela, isto é:

𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝𝑚 = 𝑐𝑜𝑠𝜃
2

Em correspondência aos valores funções do tempo, para as tensões e correntes, estão associados
os valores fasoriais:
𝑉𝑀 𝑉𝑀
𝑽= ∠00 𝑉𝑒𝑓 =
√2 √2

𝐼𝑀 𝐼𝑀
𝑰= ∠(−𝛼 0 ) 𝐼𝑒𝑓 =
√2 √2

Pode-se indicar, simplesmente, Vef = V e Ief = I

Em termos de fasores, a composição das potências ativa e reativa forma uma potência aparente.
Dessa forma, sendo P a potência a ativa e Q a potência reativa, fica definida uma potência
aparente S, complexa, da seguinte forma:

𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑃= 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 𝑉𝐼𝑐𝑜𝑠𝜃
2
𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑄= 𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑉𝐼𝑠𝑒𝑛𝜃
2

𝑺 = 𝑃 + 𝑗𝑄 = 𝑆∠𝜃

A grandeza S apresenta, portanto, um módulo S dado pelo produto dos módulos da tensão e da
corrente, isto é, S = VI.

Essas grandezas podem ser representadas através dos fasores das tensões e correntes e do
triângulo de potências ativa, reativa e aparente, conforme mostra a Figura 8. O ângulo θ é o
mesmo entre a tensão e a corrente, em atraso, e entre a potência ativa e a aparente, em avanço.
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Figura 8 - Representação dos fasores e triângulo de potências

Fonte: Elaboração do autor (2016).

4.2 TRANSMISSÃO DE ENERGIA

A energia elétrica é transportada das fontes de geração até os pontos de utilização através das
linhas de transmissão.

Esquematicamente um sistema de energia, compreendendo a geração, a transmissão, a


distribuição e utilização da energia, incluindo as subestações elevadora e abaixadora, pode ser
representado conforme mostra a Figura 9.
Figura 9 - Diagrama básico simplificado de um sistema de energia

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Simbolicamente, a linha de transmissão pode ser representada conforme a Figura 10.

Figura 10 – Representação de uma linha de transmissão

Fonte: Elaboração do autor (2016).

As equações gerais das linhas de transmissão, em estado permanente, com os valores das
tensões e correntes no terminal emissor VS e IS, como funções dos valores no terminal receptor
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VR e IR e considerando as constantes A, B, C e D (AGUIAR, 2011; AGUIAR, 2015), são


expressas por:

𝑽𝒔 = 𝑨𝑽𝑹 + 𝑩𝑰𝑹
𝑰𝒔 = 𝑪𝑽𝑹 + 𝑫𝑰𝑹

As relações para um elemento diferencial da linha, envolvendo a tensão V, a corrente I, a


impedância série e admitância derivação, por unidade de comprimento, são dadas por:

𝑑𝑉 𝑑𝐼
= 𝐼𝑧 = 𝑉𝑦
𝑑𝑥 𝑑𝑥

Essas equações diferenciais representam um sistema de equações lineares de primeira ordem,


que podem ser resolvidas como tais, utilizando-se das soluções das equações diferenciais
diretamente, como também através da transformada de Laplace ou pela equação de estado
(STEVENSON,1986; ELGERD, 1971):
𝑑2 𝑉 𝑑𝐼 𝑑2 𝐼 𝑑𝑉
= 𝑧 𝑑𝑥 = 𝑦 𝑑𝑥
𝑑𝑥 2 𝑑𝑥 2

Ou ainda, através da passagem para equações lineares de segunda ordem, em que resultam
equações com as tensões e com as correntes independentes, conforme segue:

𝑑2 𝑉 𝑑2 𝐼
= 𝑧𝑦𝑉 = 𝑧𝑦𝐼
𝑑𝑥 2 𝑑𝑥 2

Pode-se observar que a expressão zy corresponde ao quadrado do valor característico da


equação diferencial.

Define-se, então, a constante de propagação γ, como:

𝛾 = √𝑧𝑦

Pode-se verificar que as soluções dessas equações são as seguintes, na forma exponencial:

𝑉𝑅 + 𝑍𝑐 𝐼𝑅 𝛾𝑥 𝑉𝑅 − 𝑍𝑐 𝐼𝑅 −𝛾𝑥
𝑉𝑥 = 𝑒 + 𝑒
2 2
RELAÇÕES COMPLEXAS ENTRE AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS E A TRANSMISSÃO DE ENERGIA

𝑉𝑅 /𝑍𝑐 + 𝐼𝑅 𝛾𝑥 𝑉𝑅 /𝑍𝑐 − 𝐼𝑅 −𝛾𝑥


𝐼𝑥 = 𝑒 − 𝑒
2 2

Resulta em:

𝑒 𝛾𝑥 + 𝑒 −𝛾𝑥 𝑒 𝛾𝑥 − 𝑒 −𝛾𝑥
𝑉𝑥 = 𝑉𝑅 + 𝑍𝑐 𝐼𝑅
2 2
𝑒 𝛾𝑥 − 𝑒 −𝛾𝑥 𝑒 𝛾𝑥 + 𝑒 −𝛾𝑥
𝐼𝑥 = 𝑉𝑅 + 𝐼𝑅
2𝑍𝑐 2

Sabendo-se que:

𝑒 𝛾𝑥 +𝑒 −𝛾𝑥 𝑒 𝛾𝑥 −𝑒 −𝛾𝑥
𝑐𝑜𝑠ℎ𝛾𝑥 = 𝑠𝑒𝑛ℎ𝛾𝑥 =
2 2

Têm-se, então, as seguintes equações na forma hiperbólica:

𝑉𝑥 = 𝑐𝑜𝑠ℎ𝛾𝑥𝑉𝑅 + 𝑍𝑐 𝑠𝑒𝑛ℎ𝛾𝑥𝐼𝑅
𝑠𝑒𝑛ℎ𝛾𝑥
𝐼𝑥 = 𝑉𝑅 + 𝑐𝑜𝑠ℎ𝛾𝑥𝐼𝑅
𝑍𝑐

As constantes generalizadas são, portanto:

𝐴 = 𝑐𝑜𝑠ℎ𝛾𝑥 𝐵 = 𝑍𝑐 𝑠𝑒𝑛ℎ𝛾𝑥
𝑠𝑒𝑛ℎ𝛾𝑥
𝐶= 𝐷 = 𝑐𝑜𝑠ℎ𝛾𝑥
𝑍𝑐

O valor Zc é definido como a impedância característica da linha de transmissão, dado pela


expressão:

𝑧
𝑍𝑐 = √
𝑦

Por outro lado, expressando a constante de propagação γ em termos de suas componentes


complexas, definidas pela constante de atenuação α e constante de fase β, tem-se:

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𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽

Os fatores exponenciais tomam as seguintes formas:

𝑒 𝛾𝑥 = 𝑒 (𝛼+𝛽)𝑥 = 𝑒 𝛼𝑥 𝑒 𝛽𝑥 = 𝑒 𝛼𝑥 (𝑐𝑜𝑠𝛽𝑥 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝛽𝑥)


𝑒 −𝛾𝑥 = 𝑒 −(𝛼+𝛽)𝑥 = 𝑒 −𝛼𝑥 𝑒 −𝛽𝑥 = 𝑒 −𝛼𝑥 (𝑐𝑜𝑠𝛽𝑥 − 𝑗𝑠𝑒𝑛𝛽𝑥)

Os primeiros fatores, portanto, estão relacionados com a atenuação (ou ampliação) e os


segundos com a fase (ou oscilação). Pode-se, então, determinar o comprimento da onda
correspondente à fase, seu período e frequência f e, consequentemente, a velocidade de
propagação u, que corresponde ao processo de energização da linha.

O comprimento de onda λ corresponde à fase completa 2π. Como o valor β corresponde à


unidade de comprimento, tem-se:
2𝜋
𝜆=
𝛽

Como β está expresso em por unidade de km, utilizando-se de valores específicos dados,
encontra-se que o comprimento de onda calculado é próximo de 5000 km.

A velocidade de propagação da onda é dada pelo produto do comprimento de onda pela


frequência, isto é:

𝑢 = 𝜆𝑓

Na frequência usual dos sistemas de energia, 60 Hz, tem-se que a velocidade de propagação da
energia nas linhas de transmissão é próxima de 300000 km/s, velocidade da luz.

Tendo em vista que γl = αl + jβl, observa-se que:

𝑐𝑜𝑠ℎ𝜸𝑙 = 𝑐𝑜𝑠ℎ(𝛼𝑙 + 𝑗𝛽𝑙) = 𝑐𝑜𝑠ℎ𝛼𝑙𝑐𝑜𝑠𝛽𝑙 + 𝑗𝑠𝑒𝑛ℎ𝛼𝑙𝑠𝑒𝑛𝛽𝑙


𝑠𝑒𝑛ℎ𝜸𝑙 = 𝑠𝑒𝑛ℎ(𝛼𝑙 + 𝑗𝛽𝑙) = 𝑠𝑒𝑛ℎ𝛼𝑙𝑐𝑜𝑠𝛽𝑙 + 𝑗𝑐𝑜𝑠ℎ𝛼𝑙𝑠𝑒𝑛𝛽𝑙
RELAÇÕES COMPLEXAS ENTRE AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS E A TRANSMISSÃO DE ENERGIA

No caso simplificado em que αl ≈ 0 e γl ≈ jβl, tem-se:

𝑐𝑜𝑠ℎ𝜸𝑙 ≈ 𝑐𝑜𝑠ℎ𝑗𝛽𝑙 = 𝑐𝑜𝑠𝛽𝑙


𝑠𝑒𝑛ℎ𝜸𝑙 ≈ 𝑠𝑒𝑛ℎ𝑗𝛽𝑙 = 𝑗𝑠𝑒𝑛𝛽𝑙

Resulta:

𝑉𝑆 = 𝑐𝑜𝑠𝛽𝑙𝑉𝑅 + 𝑍𝑐 𝑗𝑠𝑒𝑛𝛽𝑙𝐼𝑅

Para linhas de meia onda, em que l = 2500 km tem-se que cos βl = 1 e sen αl = 0. Admitindo
-se VR = 1 pu, tem-se que VS = 1 pu, isto é, as tensões no início e no final são iguais,
independentemente do valor da carga.

Considerando cargas na linha de meia onda, expressando-as através da sua potência natural Pn,
tendo-se na carga a corrente IR e a tensão VR, a potência da carga é SR = k Pn, isto é, k vezes a
potência natural. Com VR = 1 pu tem-se em cada ponto da linha, distante x km da carga, o
seguinte:

𝑉𝑥 = 𝑐𝑜𝑠𝛽𝑥𝑉𝑅 + 𝑍𝑐 𝑗𝑠𝑒𝑛𝛽𝑥𝐼𝑅
𝑉𝑥 = 𝑐𝑜𝑠𝛽𝑥 + 𝑗𝑘𝑠𝑒𝑛𝛽𝑥

Como resultado interessante, pode-se observar que para k = 1, ou seja, com a potência natural,
o módulo da tensão ao longo da linha é constante.

CONCLUSÃO

Este artigo mostrou como as funções hiperbólicas e as funções trigonométricas estão


relacionadas através de expressões complexas, historicamente estabelecidas há mais de
duzentos anos.

Analisou como a eletricidade e a energia elétrica, com seus primórdios há menos de duzentos
anos, puderam utilizar-se dessas ferramentas matemáticas, mostrando que os números
concebidos como imaginários e complexos, apresentam-se efetivamente com aplicações
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bastante reais, cujos aspectos fundamentais contribuíram de forma significativa para o


desenvolvimento e uso da energia elétrica.

Também foram mostradas aplicações básicas relacionadas ao transporte de energia elétrica,


através das linhas de transmissão, onde suas equações podem utilizar-se com muita propriedade
das referidas relações com as funções hiperbólicas, contribuindo para o desenvolvimento da
engenharia elétrica de potência.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, L. B. Um Estudo de Colapso de Tensão em Linhas de Transmissão de Energia


Utilizando as Constantes Generalizadas e Gráficos Tensão x Potência e Diagramas
Hiperbólicos. 57 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.

AGUIAR, L. B. Colapso e Instabilidade de Tensão em Transmissão de Energia Elétrica.


Revista Cientefico, v. 15, n. 31, Jul./Dez. 2015. Disponível em:
<https://revistacientefico.devrybrasil.edu.br/cientefico/article/view/121>. Acesso em
01/04/2017.

BOYER, Carl B. História da Matemática. Editora Edgard Blucher, São Paulo,1989.

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