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Segundo o diretor francês Jean-Jacques Beineix, “O cineasta não deve fazer só filme, ele deve

se interrogar sobre a sociedade em que vive.”. De maneira análoga e impressionante, a frase


de Jean Jacques encaixa-se perfeitamente na experiência de assistir ao filme norte americano:
O gênio Indomável. O filme relata a história de um jovem chamado Will, que trabalha como
faxineiro na universidade do MIT, na cidade de Boston. Apesar das circunstâncias ordinárias e
de uma vida indomável, o jovem Will revela-se um gênio da matemática. A trama inicia-se
quando um professor de matemática, Lamber, desafia seus alunos a resolverem um teorema,
sabendo da alta complexidade do teorema e da improbabilidade do mesmo ser resolvido. No
entanto, alguns dias depois, apesar de toda instrução proveniente da experiência dos alunos
em uma das melhores faculdades do mundo, o único jovem capaz de resolver o problema foi
Will, o faxineiro do prédio. No entanto, o drama da vida de Will começa a se desenrolar e o
professor conhece a respeito do histórico do jovem que apresenta alguns pequenos crimes e
algumas passagens pela prisão. Apesar da situação, o professor de matemática não desiste de
Will e assume a responsabilidade do seu bom comportamento com a condição de que ele o
acompanhe nos estudos dos teoremas e também realize um tratamento terapêutico.

As inserções de conceitos psicológicos são evidentes a medida que o filme avança, Will
demonstra um profundo entendimento acerca de diversos assuntos e à medida que a trama se
desenrola mostra aos espectadores a reverência que o círculo de pessoas que convivem com
ele tem diante de sua capacidade de resolver problemas lógicos e matemáticos, conceito que
se encaixa pela teoria das múltiplas inteligências de Gardner e conceitualiza o comportamento
de pessoas com a habilidade de usar e apreciar relações na ausência de ação ou de objetos
concretos, ou seja, de apresentar um pensamento abstrato (Atkinson e Hilgard, 2017). Nesse
contexto, observa-se a obstinação do professor Lamber em aproveitar daquele grande “gênio”
que está diante dele, o qual também apesar de ter uma capacidade lógico-matemática
desenvolvida não tem uma percepção apurada com relação as suas emoções e a dos outros,
prejudicando uma inteligência que tem sido cada vez mais discutida nos últimos tempos: A
inteligência Emocional.

Quem ainda não ouviu falar sobre Inteligência Emocional que atire a primeira pedra. Conceito
popularizado através de livros e conteúdos digitais, a inteligência é um tema complexo e que
por vezes não é tão bem explicado e compreendido. A inteligência Emocional é um conceito
que vem sido aprofundado desde 1990 pelos psicólogos Mayer e Salovey, a qual consiste em
quatros componentes de suma importância:
1.Percepção e expressão precisa das emoções: Capacidade de ler as emoções próprias e de
outras pessoas. Essa habilidade permite que as emoções sejam devidamente nomeadas e
enfrentadas diante da circunstância de cada pessoa. Por exemplo, pessoas que não percebem
que estão nervosas durante o trabalho e geram potenciais de ação negativos para o ambiente
social e sem a percepção apurada do que está sentindo a emoção se revela de maneira mais
intensa e até mesmo a avaliação cognitiva acerca de diversas situações periféricas podem ser
impactadas e prejudicadas.

2. Habilidade de avaliar e gerar as emoções para o propósito de pensar e solucionar


problemas: É a capacidade de direcionar as nossas emoções em prol de chegarmos em
determinada decisão e além disso, prevermos como eventos futuros podem gerar emoções,
fornecendo assim informações valiosas para a atuação do indivíduo na realidade

3.Entender emoções e os significados emocionais: é a habilidade de se aprofundar nas


emoções e encontrar as causas raízes daquela percepção que se aparece. É o que ocorre, por
exemplo, quando um funcionário está muito estressado e as pessoas no seu ao redor não
compreendem o motivo, talvez seja apenas o resultado de uma noite de sono mal dormida, a
ausência de uma alimentação adequada e até mesmo a ausência de Dopamina,
neurotransmissor responsável por gerar emoções como prazer e alegria em nosso corpo.

4. Regulação emocional: Esse componente é mal interpretado por diversas pessoas que já
tiveram algum contato com o conceito de Inteligência emocional pois a emoção não pode ser
controlada. A emoção é constituída de cinco componentes: A avaliação cognitiva, a experiência
subjetiva, as tendências de pensamento e ação, as mudanças corporais internas, a expressão
facial e as respostas às emoções. Dentre esses componentes apenas alguns conseguem ser
parcialmente alterados a partir da Vontade do indivíduo. Desse modo, a avaliação cognitiva é
fundamental para alterar o modo como uma emoção será sintetizada, experenciada e o
impacto da mesma após o episódio gerador da emoção. No filme, o terapeuta SHAUN conta a
Will o dia que ganhou ingressos para o jogo de baseball mais aguardado e inesquecível do seu
tempo e dispensou-os pois encontrou o amor de sua vida. Will, o protagonista do filme, se
mostra inconformado com a atitude do terapeuta. Porém Shaun sorri e diz que teria feito
novamente, demonstrando uma mudança significativa a respeito da avaliação que ambos os
personagens tiveram da circunstância apresentada por Shaun.

Sendo assim, a inteligência emocional é como uma estrada de terra pela qual o
indivíduo irá caminhar, abarcando todas as outras inteligências apresentadas por ele. No
entanto, Will não apresentava essa inteligência desenvolvida por diversos motivos,
como quando: ele se envolve em uma briga e agride o rapaz revelando um descontrole
de sua raiva e a incapacidade de ver a situação do outro, insulta a falecida esposas do
terapeuta sem se preocupar com a emoção que poderá ser gerada no mesmo, quando o
professor vai na sala do professor Lamber explicar sobre sua solução para o teorema e
Will utiliza de sua inteligência sem se preocupar com o outro indíviduo, entre outros.
Sendo assim, apesar de Will apresentar uma facilidade com relação aos problemas
matemáticos, sua inteligência emocional é muito atrofiada devido a problemas pessoais
que teve na infância e de modo a resolver essa situação Will inicia o seu tratamento
terapêutico. No entanto, ao encontrar com SHAM e iniciar o seu processo terapêutico o
o protagonista começa a desenvolver sua inteligência emocional através da identificação
de suas emoções, facilitando desse modo o controle de sua avaliação cognitiva perante
aos estímulos externos que são apreendidos pela sua percepção. Essa tarefa é trabalhada
em diversos momentos do filme porém existem alguns momentos em que os seus
comportamentos são alterados através dos componentes emocionais. Como quando Will
chega relata ao professor que se apaixonou porém não iria se envolver para não acabar
com o que estava perfeito e o professor explica a ele que as pessoas não são perfeitas e
que apesar de mal vistas as brigas, discussões e os momentos difíceis são justamente os
momentos em que constrói-se a intimidade, que é a relação mais próxima que podemos
ter com um indivíduo. Após esse momento Will começa a perceber a emoção do seu
terapeuta com maior precisão e passa a ser mais empático quando o mesmo fala sobre
sua falecida esposa.

Além dos fatores de inteligência emocional, o personagem Will tem apenas um


conhecimento proveniente de livros mas não propriamente de uma experiência.

Segundo Wechsler, “A inteligência, seja qual for a sua definição, não é equivalente a
uma qualquer aptidão, seja qual for a forma de a estimar, designadamente não é
aprendizagem, nem sequer capacidade de raciocínio abstracto. Tem de envolver algo
para além do desempenho. Esse algo é a consciência do significado e do propósito desse
desempenho por parte do operante. Chamei a este aspecto da inteligência compreensão.
O comportamento que não envolva compreensão não é, na minha opinião, inteligente.
As máquinas não têm compreensão; como tal, de acordo com a minha definição, elas
são essencialmente estúpidas ou, quando muito, idiots-savants.” (Wechsler, 1974d,
p.173). Desse modo, o personagem Will o qual era muito admirado por sua inteligência
apresentava diversas falhas em seu processo de intelecção e não tinha necessariamente
maior que a dos outros alunos.

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