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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA VIDA


CURSO DE PSICOLOGIA
MATÉRIA: PSICOLOGIA JURÍDICA
PROFESSORA: MARIA CRISTINA
AGOSTO DE 2021.

ALUNOS: Anna Kalluf Piola, Emanuelly Bevilaqua, Luigi Araujo e Rafael S.


Pereira.

Judicialização e Pós-modernidade

O relacionamento social na pós-modernidade é responsável pela queda


de verdades absolutas, pela desvalorização de paradigmas morais e pelo
nascimento de tsunamis de possibilidades sociais. No entanto, sua natureza
líquida e dinâmica valoriza, curiosamente, a individualidade acima da
coletividade, de maneira a conflitar com valores e atitudes humanitárias.
Sendo assim, indivíduo na pós-modernidade tem como foco ele mesmo
e busca a todo custo seu próprio bem-estar, tendo a ilusão de que a tecnologia
presente tem o poder de resolver todas as adversidades (Dufour, 2008). Com o
objetivo de resolver conflitos, a lei busca viabilizar a convivência entre esses
indivíduos narcísicos.
Judicialização, no entanto, refere-se à regulação legal de ações
humanas, com base em normas de conduta, em prol de “resolver” atitudes
cotidianas. Juntamente ao Poder Judiciário, a judicialização é um fenômeno
com capacidades de controle de informações, julgamentos e punição de
condutas (RIFIOTIS, 2013).
Evidencia-se então um cenário marcado pela punição e coerção, em que
ocorre uma supervalorização de objetivos pessoais, descartando a
universalidade ou coletividade das leis e propondo aquelas que forem
convenientes aos desejos individuais. Além disso, essa lógica punitiva,
patológica e segregadora se estabelece no ideal de que punição é a essência
do convívio em sociedade.
Esse modelo de judicialização é fruto da fragmentação de um sujeito
que é permeado por uma conduta extremamente racionalizada e
desumanizada proveniente de uma sociedade (pós-moderna) que se esforça
para distanciar-se de uma essência, baseada no místico, no cultural, no
religioso, no espiritual, no moral, no ancestral, na natureza e no respeito, que
nos torna humanos (JUNG, 2008). Com isso, cada vez mais os Direitos
Humanos se distanciam do lado “humano” e focam somente na questão dos
direitos, que, consequentemente, acabam também se distanciando de práticas
sociais e se fixam somente em práticas normativas.
Limitar a solução de desentendimentos cotidianos ao tribunal de justiça,
é enquadrar um indivíduo a uma determinada lei e o julgar, o punindo ou o
recompensando. Ao fazer isso, ocorre uma vitimização do sujeito, tirando dele
sua responsabilidade por suas próprias condutas. Ignora-se o entendimento do
sujeito como ser social, político, cultural e passível de mudanças e o torna
vítima das circunstâncias em que se encontra.
Com o aumento significativo de casos no âmbito judiciário, fica notório a
necessidade da multidisciplinaridade nos tribunais. Essa prática tornou-se
pauta obrigatória em vários lugares, por entenderem que outras áreas do
conhecimento, não só a do direito, tem sim lugar e importância para a
resolução de casos nos tribunais de maneira mais leal e assertiva. Pois trazem
consigo visões, informações, dados, estatísticas etc. No nosso caso, dos
psicólogos, temos a função importante de identificar/avaliar as vítimas e
culpados, além de fornecer um laudo psicológico deles.
Nesse sentido, um ponto importante abordado no ensaio “Judicialização
dos direitos humanos, lutas por reconhecimento e políticas públicas no Brasil:
configurações de sujeito”, de Theophilos Rifiotis (2013), é pensarmos quem é
esse sujeito dos direitos humanos, qual é a origem de sua construção social e
histórica, e pensarmos, principalmente, os direitos humanos como constituídos
por e constituintes de uma cultura que encerra em si um arcabouço simbólico
por meio do qual os indivíduos organizam suas experiências e pautam sua
ação.
Tomemos como exemplo o caso da “cultura de paz” citado por Rifiotis
(2013). É imprescindível questionarmos até que ponto os Direitos Humanos
consideram a complexidade dos organismos sociais, as contradições presentes
nos ambientes em relação aos quais pretende intervir e as divergentes leituras
dos sujeitos sociais. Pois se os considera elementos externos a sua
constituição, pautando-se em concepções universalizantes que legislam sobre
contextos particulares, a tal “cultura de paz” pretendida não necessariamente
será percebida como tal pelos sujeitos a quem ela se refere.
Essa dimensão impessoal dos Direitos Humanos, como comentamos
anteriormente, falha em trazer concretude para seus preceitos ao limitar os
sujeitos a meros interlocutores de seus dizeres. Uma reforma nesta concepção
se faz necessária para que se possa acolher adequadamente as demandas
sociais e criar novos horizontes políticos-ideológicos (RIFIOTIS, 2013),
percebendo os Direitos Humanos como um campo em constante movimento de
articulação, mudança e adaptação às realidades sociais diversas, e não como
um certo tipo de solução totalizante, que acaba por ser violenta na sua tentativa
de universalização.

REFERÊNCIAS

DE CARVALHO, Maria Cristina; BARBOSA, Claudia Maria. Subjetividade pós moderna e


relações sociais: implicações para a efetividade do sistema de justiça. Psicologia Argumento,
v. 33, n. 82, 2017.

OLIVEIRA, Camilla Felix Barbosa de; BRITO, Leila Maria Torraca de. Judicialização da vida na
contemporaneidade. Psicologia: Ciência e profissão, v. 33, p. 78-89, 2013.

RIFIOTIS, Theophilos. Judicialização dos direitos humanos, lutas por reconhecimento e


políticas públicas no Brasil. Revista de Antropologia, v. 57, n. 1, p. 119-144, 2014.

JUNG, Carl Gustav... [et al.]; O homem e seus símbolos; [concepção e organização Carl G.
Jung]; Tradução de Maria Lúcia Pinho. - 2.ed. especial - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

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