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XX Colóquio de Usinagem

16 a 18 de novembro de 2016, Uberlândia, MG, Brasil


UFU-FEMEC-LEPU

INVESTIGAÇÃO DA USINABILIDADE DOS AÇOS INOXIDÁVEIS ABNT


304, 409, 430 E DUPLEX UNS S32205 NO MICROFRESAMENTO

Letícia Cristina Silva, Universidade Federal de Uberlândia, leticia.cristina@ufu.br


Márcio Bacci da Silva, Universidade Federal de Uberlândia, mbacci@mecanica.ufu.br

Resumo. O aumento crescente da procura por produtos que necessitam de componentes cada vez menores impulsiona
pesquisas direcionadas para o desenvolvimento tecnológico da microusinagem. Neste contexto, o microfresamento é
uma alternativa viável para a fabricação destes microcomponentes, permitindo a usinagem de geometrias complexas
em diversos materiais tais como: metais e ligas, compósitos, polímeros, cerâmicas e alguns aços inoxidáveis, sendo
que estes últimos despertam grande interesse para a indústria devido à sua característica de grande resistência à
corrosão e à oxidação. No entanto, adaptar o conhecimento do fresamento em escala convencional para a
microescala exige o entendimento dos fenômenos específicos que surgem com a redução das operações. Assim, este
trabalho tem como objetivo a análise da usinabilidade de diferentes tipos de Aços Inoxidáveis: ABNT 304, 409, 430 e
DUPLEX UNS S32205, através do processo de microfresamento. Para tanto, o presente estudo sugere a fabricação de
microcanais, utilizando uma microfresadora CNC de 4 eixos, com rotação máxima do eixo árvore de 60000 rpm e
resolução de posicionamento de 0,1 μm, usinados com microfresas de metal duro, revestimento WXL de 200 µm de
diâmetro. Serão variadas as condições de corte: velocidade de corte, profundidade de corte, avanço e a condição de
lubri-refrigeração (seco e MQL para comparação). Serão investigados os efeitos em características como formação
de rebarbas, rugosidade das superfícies usinadas, desgaste da ferramenta, torque e pressão específica de corte.

Palavras chave: microusinagem, microfresamento, aço inoxidável, microcanais.

1. INTRODUÇÃO

Centenas de anos atrás, peças de relógios de pulso eram basicamente os únicos microprodutos industriais fabricados.
No entanto, as recentes mudanças nas demandas da sociedade têm nos forçado a introduzir mais e mais micropeças em
vários tipos de produtos industriais (Masuzawa, 2000), com isso a tendência para a miniaturização tem aumentado
drasticamente na última década (Câmara et al,. 2012).
O método de fabricação para criação de dispositivos e componentes miniaturizados é chamado de microusinagem
mecânica e possui características que variam de dezenas de micrometros a alguns milímetros de tamanho (Chae et al.,
2006).
Microcomponentes requerem tolerâncias muito estreitas, e ambos os requisitos funcionais e estruturais exigem o uso
de vários materiais de engenharia (Liu et al., 2004). De acordo com Cheng e Huo (2013), o processo de microusinagem
é capaz de usinar uma ampla gama de materiais, incluindo metais, polímeros, cerâmicas e compósitos, com precisão e
rugosidade superficial requerida. Assim, a microusinagem tem encontrado aplicações em muitas áreas que necessitam
de micro componentes.
A microusinagem é cinematicamente semelhante ao corte convencional. No entanto, ela não é uma simples escala
do macrocorte. Ao contrário deste, no microcorte uma série de questões críticas, tais como o efeito do raio da aresta de
corte, o ângulo de saída negativo, contato ferramenta-peça na superfície de folga, espessura mínima de corte e o efeito
da microestrutura, tornam-se proeminentes (Cheng e Huo, 2013).
Todos esses comportamentos são classificados como Efeito Escala (Size Effect, da literatura inglesa) e podem
influenciar a mecânica de corte em termos de microforças de corte, energia específica de corte, processo de formação de
cavacos, geração de superfície, formação de rebarbas e mecanismo de desgaste da ferramenta.
De acordo com Cheng e Huo (2013), quando a microestrutura do material da peça, como tamanho de grão é
comparável em tamanho ao raio da aresta da ferramenta e profundidades de corte, o efeito escala da microestrutura
ocorre. O tamanho de grão típico de materiais de engenharia varia entre 100 nm a 100 µm, enquanto que a espessura do
cavaco não deformado pode ser de alguns micrometros, assim, a formação de cavaco pode ocorrer no interior do grão
individual.
Na usinagem convencional, o raio de ponta da ferramenta é desconsiderado e a aresta de corte é considerada
perfeitamente afiada, assim, teoricamente não existe contato entre a ferramenta e o material da peça de trabalho ao
longo da superfície de folga. O material então é removido devido à interação entre a ferramenta afiada e a peça, através
da força mecânica de cisalhamento, formando assim, o cavaco (Aramcharoen e Mantivenga, 2009).
Já na microusinagem, o raio da aresta torna-se um fator importante a ser considerado quando comparado com a
espessura do material a ser removido. Além disso, quando a espessura de corte é comparável ao tamanho do grão, a
Silva, L.C., Da Silva, M.B.
Avaliação da Usinabilidade dos Aços Inoxidáveis ABNT 304, 409, 430 E DUPLEX UNS S32205 no Microfresamento

aresta de corte arredondada tenta fraturar apenas um único grão (Aramcharoen e Mantivenga, 2009). Conceito este,
reforçado também por Cheng e Huo (2013) que afirmam que a formação de cavaco pode ocorrer no interior do grão
individual.
Ikawa et al. (1992) apud Robinson e Jackson (2005) sugerem que há uma profundidade mínima crítica de corte,
abaixo do qual cavacos não vão se formar. Sua análise indica que a formação de cavaco não é possível se a
profundidade de corte é menor do que 20-40% do raio da aresta de corte.
Na microusinagem, cavacos não podem se formar quando a espessura do cavaco não deformado é menor do que
uma espessura mínima de corte. Ao invés do processo de corte, fenômenos de fricção e sulcamento podem acontecer de
forma intermitente até que a espessura do cavaco não deformado exceda a espessura mínima de corte (Cheng e Huo,
2013).
Quando se usa uma espessura de corte com dimensão menor do que o valor mínimo, poderá ocorrer também um
aumento na rugosidade superficial, pois a geometria do processo faz com que uma parcela do material seja empurrada
para debaixo da ferramenta, ocorrendo recuperação elástica, depois do passe da ferramenta, e apenas uma pequena
região sofre deformação plástica (Filiz et al., 2007)
A determinação da relação espessura mínima de corte e o raio da aresta de corte, portanto, é essencial na
microusinagem de modo a evitar ou minimizar o efeito do sulcamento (ploughing) e alcançar a remoção do material
desejado (Aramcharoen e Mativenga, 2009).
Outro fenômeno que ocorre na microusinagem é o aumento significativo da energia específica de corte que pode ser
definida como a energia consumida na remoção de uma unidade de volume de material. Isto se deve ao fato de que um
grande volume de material tem de se tornar totalmente plástico para que uma quantidade relativamente pequena de
material seja removida, levando também a ferramenta à grande deflexão e acelerado desgaste (Chae et al., 2006).
Experiências nesta área relatam que quando as espessuras do cavaco não deformado tendem a zero, a energia
consumida para arrancar uma unidade de volume de material tende a valores máximos. Segundo Ziberov et al., (2016).
Isso pode indicar que parte significativa desta energia foi dissipada devido ao aumento do contato na superfície de folga
da ferramenta, o que proporciona a realização de um trabalho plástico redundante, resultante do sulcamento e do
deslizamento da peça na superfície de folga da ferramenta. Esta deformação exige um gasto suplementar de energia, que
vem a superar aquela produzida na remoção de material.
O material a ser usinado também influencia totalmente o processo. Os aços inoxidáveis tem despertado grande
interesse nas indústrias, devido à sua característica de grande resistência à corrosão e à oxidação. Estes constituem
material à base de ferro com teor de cromo acima de 12%. Tal característica faz com que a resistência à corrosão
aumente, progressivamente, devido à formação de uma fina película protetora de óxido de cromo (Cr2O3), chamada de
camada passiva.
De acordo com Llewellyn e Hudd, (1998) apud Santos, (2016), dentre todos os tipos de aços, os inoxidáveis são os
mais diversos e complexos no que se refere à composição, microestrutura e propriedades mecânicas. Eles apresentam
ampla gama de aplicações que englobam desde a indústria química, farmacêutica e de geração de energia a situações
menos agressivas como na arquitetura, na indústria de eletrodomésticos, mobiliário urbano, entre outros.
Assim, diversos trabalhos recentes têm buscado entender os fatores que afetam os processos de usinagem em
microescala, apresentando propostas e soluções que melhoram o desempenho dos mesmos.

2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL

Neste trabalho, serão propostas metodologias e investigada a usinabilidade de diferentes tipos de Aços Inoxidáveis:
ABNT 304, 409, 430 e DUPLEX UNS S32205, através do processo de microusinagem. Justificado pelo fato de que na
literatura, encontram-se poucos trabalhos que envolvem a microusinagem destes materiais.
O microfresamento foi o processo escolhido para realização dos experimentos, onde serão usinados microcanais
com condições, ainda, a serem definidas. Serão utilizadas microfresas de metal duro, revestimento WXL de 200 µm de
diâmetro, fabricante OSG.
As variáveis de entrada serão a velocidade de corte, a profundidade de corte, o avanço e a condição de lubri-
refrigeração (seco e MQL para comparação).
Durante a execução dos testes será medido o torque e a potência, adquiridos diretamente através da aquisição de
sinais do controlador do motor da fresadora. O desgaste gradativo da ferramenta será obtido através da análise de
imagens no microscópio eletrônico de varredura (MEV).
Após a realização dos testes, será investigado o efeito em características como formação de rebarbas, rugosidade das
superfícies usinadas, desgaste da ferramenta, torque e pressão específica de corte.
Para a realização dos testes com o processo microfresamento, serão utilizados os seguintes equipamentos:
 Máquina CNC Mini-mill/GX do fabricante Minitech Machinery Corporation® com 4 eixos, conforme Fig. (1).
Características: Rotação máxima do eixo árvore de 60000 rpm, resolução de posicionamento de 0,1 μm, mesa
inercial especialmente projetada para diminuição da influência de vibrações de fontes externas.
XX COLÓQUIO DE USINAGEM

Figura 1. Microfresadora a ser utilizada nos experimentos

 Perfilômetro modelo Form Talysurf Intra do fabricante Taylor Hobson®, conforme Fig. (2).
Características: Resolução de 0,016 µm na faixa de medição 1,0 mm. Este equipamento permite a obtenção com
alta precisão de ondulação, formas e contornos.

Figura 2. Perfilômetro a ser utilizado nos experimentos

 Microscópio Eletrônico de Varredura, modelo HITACHI TM3000 do fabricante Hitachi High-Technologies


Corporation®, conforme Fig. (3).
Características: Trabalha em 5 kV, 15 kV e modo EDX. Ampliação 15x até 30000x (zoom digital: 2x e 4x);

Figura 3. Foto ilustrativa do Microscópio eletrônico de varredura


Silva, L.C., Da Silva, M.B.
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3. REFERÊNCIAS

Aramcharoen, A., Mativenga, P. T., 2009, “Size effect and tool geometry in micromilling of tool steel”. Precision
Engineering, Philadelphia, v. 4, p. 402-407.
Câmara, M. A., Rubio, J. C. C., Abrão, A. M., Davim, J.P., 2012, “State of the art on micromilling of materials, a
review”. Journal of Materials Science & Technology, v. 28, n. 8, p. 673 – 685.
Chae, J.; Park, S. S.; Freihet, T., 2006, “Investigation of Micro-Cutting Operations.,” International Journal of Machine
Tools & Manufacture, vol. 46, nº 3-4, pp. 313-332.
Cheng, K., Huo, D., 2013, “Micro-Cutting – Fundamentals and Applications”, Wiley, 2013
Filiz, S, Conley, C. M., Wasserman, M. B., Ozdoganlar, O. B., 2007, “An experimental investigation of micro-
machinability of copper 101 using tungsten carbide micro-endmills”. International Journal of Machine Tools &
Manufacture. v. 47, p. 1088–1100.
Llewellyn, D.T.; Hudd, R.C., “Steels: Metallurgy and Applications”. 3. ed. Butterworth Heinemann, 1998, 400 p.
Liu, X., Devor, R. E., Kapoor, S. G., Ehmann, K. F., 2004. “The Mechanics of Machining at the Microscale:
Assessment of the Current State of the Science”. Journal of Manufacturing Science and Engineering, v.126, p. 666-
678.
Masuzawa, T., 2000, “State of the art of micromachining”. CIRP Annals – Manufacturing Technology, Amsterdam, v.
49, n. 2, p. 473-488.
Robinson, G.M., Jackson, M.J., 2005, “A Review of Micro and Nanomachining from a Materials Perspective”, Journal
of Materials Processing Technology 167, p. 316-337.
Santos, A.G., 2016, “Microfresamento de Aço Inoxidável Duplex UNS S32205 com Ferramentas de Metal Duro
Revestidas com Nitreto de Titânio”, Dissertação de Mestrado, UFU.
Ziberov, M., Cunha, D. F., Silva, M. B., Hung, W. N. P., Jackson, M. J., 2016, “Principais aspectos do processo de
microusinagem”. Revista Máquinas e Metais, p. 28-37.

4. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFU, ao CNPq, CAPES e


FAPEMIG pelo apoio financeiro.

5. RESPONSABILIDADE PELAS INFORMAÇÕES

Os autores são os únicos responsáveis pelas informações incluídas neste trabalho.

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