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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Reitor Marcos Flávio de Olivera Schiefler Filho


Vice-Reitor Heron Oliveira dos Santos Lima

EDITORA DA UTFPR

Coordenadora-Geral Eunice Liu


Coordenador-Adjunto Edson Domingos Fagundes

CONSELHO EDITORIAL

Títulares Anaís Andrea Neis de Oliveira


Antonio Gonçalves de Oliveira
Edival Sebastião Teixeira
Marcelo Gonçalves Trentin
Maria Helene Canteri
Roberto Cesar Betini
Sara Tatiana Moreira
Wellington Ricardo Fioruci

Suplentes Anna Luiza Metidieri Cruz Malthez


Carina Merkle Lingnau
Ivo de Lourenço Junior
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Lia Maris Orth Ritter Antiqueira
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Mariane Kempka
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Q1 Qualidade de vida em foco [recurso eletrônico] / organizadores


Luiz Alberto Pilatti, Camila Lopes Ferreira. – Dados eletrônicos
(1 arquivo : 113 páginas). – Curitiba : EDUTFPR, 2021.

Modo de acesso: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/


ISBN 978-65-88596-27-2

1. Qualidade de vida. 2. Saúde. I. Pilatti, Luiz Alberto, org. II. Ferreira,


Camila Lopes, org.

CDD (22. ed.) 613

Bibliotecária: Tatiana Campos da Hora CRB-9/1854

Design Eunice Liu


Guilherme Patury
Lucas Yukinori Saito

Revisão Adão de Araújo

Normalização Camila Lopes Ferreira

As opiniões e os conteúdos expressos neste material são de


responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente,
a opinião do corpo editorial.

EDUTFPR
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80230-901 Curitiba PR
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Instagram @edutfpr
Sumário

7 9
Apresentação Corporeidade e esporte:
atitudes/conceitos
indispensáveis para a
qualidade de vida

28 46
Uma revisão sobre instru- Distúrbio de voz e
mentos de avaliação da vida qualificada
qualidade de vida direcio-
nados às pessoas com
doenças reumáticas
68 87
Qualidade de vida de pes- Alimentação e nutrição
soas com deficiência: na promoção da saúde:
conceitos contemporâneos guia alimentar para a
e instrumentos de avaliação população brasileira

108
Sobre os organizadores /
autores
Apresentação
O Admirável mundo novo (brave new world, 1932), de Aldous Huxley,
talvez, hoje, não seja tão distópico quanto já foi. Pouco mais de um século
depois de Ford, vivemos num mundo redesenhado por uma modernidade
líquida. Nas metanarrativas, a crença irrestrita no progresso e nos ideais
iluministas se diluiu. Neste cenário, marcado por impressionantes avanços
e recuos, nem tudo que reluz é ouro, e efeitos colaterais estão presentes.
Nem mesmo os grandes saltos para a frente em relação a épocas
passadas têm produzido condições para a humanidade enfrentar suas
catástrofes e desigualdades. Os avanços em biotecnologia, nanotecno-
logia e infotecnologia não foram capazes de impedir, por exemplo, a maior
catástrofe humanitária desde a gripe espanhola, a Coronavírus Disease
– 2019 (COVID-19). O liberalismo econômico não está melhorando a vida
dos mais pobres. No Brasil, mais de 20% da população está abaixo da
linha da pobreza.
Falar da (ideia transversal de) qualidade de vida e da qualidade
de vida no trabalho é quase uma distopia no cálculo utilitário do Homo
Economicus. Mesmo sendo desejável, mercados abertos e desregulados,
dissociados do poder do Estado, são incongruentes, na realidade con-
creta, com a efetivação de índices elevados de desenvolvimento humano.
Nada tem sentido se as condições de vida dos indivíduos não melhoram,
e falar em melhoras supõe, também, falar do trabalho (locus de parcela
significativa da vida dos indivíduos) e de felicidade. Na lógica liberal, antes
de se reivindicar melhores condições, é necessário ter emprego.
O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. De acordo com
o Relatório de Desenvolvimento Humano (2019) do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil ocupa a vergonhosa
segunda colocação de má distribuição de renda entre sua população. As
principais causas da desigualdade social são conhecidas, além da má
distribuição de renda, baixos investimentos governamentais, dificuldades
no acesso à educação e corrupção. As consequências também são con-
hecidas: fome, crescimento da violência, aumento dos índices de pobreza,
dificuldade de acesso ao ensino e baixa qualidade das escolas públicas,
evasão escolar, aumento do desemprego, pouco acesso a opções culturais
e de lazer, desigualdade de gênero, entre outras.

7
A propagada ideia liberal de diminuição do Estado, no Brasil, apre-
senta, por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS), as universidades
públicas, patrimônios da sociedade brasileira, e os servidores públicos
como uma espécie de mazela. O Bolsa Família é visto apenas como um
programa assistencialista. Trata-se de equívocos. Se pensarmos por
exemplo na COVID-19, a tragédia só não alcançou proporções ainda
maiores em função destes entes públicos. Paradoxalmente, para termos
mais qualidade de vida, convivemos com uma (equivocada) demanda pela
diminuição do Estado e com uma (necessária) ampliação dos serviços
públicos (de qualidade).
Pensar em qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho (vida
com qualidade) não é apenas desejável, é imprescindível. Agora, a tarefa
está muito longe de ser trivial e, com os parâmetros econômicos estabe-
lecidos, a conta não fecha, e nunca fechará. O Brasil, em primeiro lugar,
ainda é um rascunho mal tracejado inspirado em Thomas More.
Mesmo sem negar os avanços substanciais registrados em di-
mensões como educação, saúde, padrões de vida e a transformação
das tecnologias para qualidade de vida em área prioritária de pesquisa
pelo governo brasileiro, as necessidades básicas da população brasileira
continuam sem respostas.
Pior: com os acontecimentos registrados na Amazônia e os recuos
no enfrentamento de problemas ambientais, o Brasil está globalmente
em suspeição. Com efeito, as desigualdades nas dimensões centrais do
desenvolvimento humano estão sendo ampliadas.
O papel da academia no enfrentamento deste cenário deveras com-
plexo é a produção de conhecimento e de soluções socialmente relevantes.
Nesta direção, colocamos em foco, com acesso aberto e o necessário
olhar local, reflexões de importantes pesquisadores brasileiros versando
sobre a qualidade de vida e a qualidade de vida no trabalho.

Organizadores
Luiz Alberto Pilatti
Camila Lopes Ferreira

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Corporeidade e esporte:
atitudes/conceitos indispensáveis
para a qualidade de vida

Wagner Wey Moreira


Introdução

“O que mais me surpreende na humanidade são os homens.


Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem
dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosa-
mente no futuro, esquecem do presente de tal forma que
acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem
como se nunca fossem morrer. E morrem como se nunca
tivessem vivido” (dalai lama apud ligabue, 2015, p. 13).

“O verdadeiro cadáver não é o corpo, mas aquilo que deixou


de viver” (pessoa apud modesto, 2014, p. 9).

“O esporte é importante para modernizar nossa visão de


mundo porque socializa a gente, na derrota e na vitória”
(matta apud vitória soccer club, 2012).

Q
ualidade de vida, quando analisada de forma superficial e
beirando o senso comum, pode nos levar a equívocos pre-
ocupantes. Por exemplo, tem-se que a vida com qualidade
deve ser estruturada em possuir um belo apartamento ou
uma bela casa com grande metragem, incluindo no prédio ou no condomínio
piscinas, pistas de corrida, jardins faraônicos, academia de ginástica e tantos
outros elementos que possam ocupar nosso tempo com conforto e auxiliar
na busca de uma vida saudável. Também, às vezes, significa ter carro com
equipamentos de última geração, sempre do ano, além de viagens periódicas
ao exterior a passeio. Não há dúvida de que isso estabelece um padrão de
qualidade, mas perguntamos: qual a abrangência dessa possibilidade para
o total de seres humanos? Quais sacrifícios são necessários no dia a dia das
pessoas para alcançar tais metas?
Por essa razão, falar em qualidade de vida, de uns tempos para cá,
parece até ter virado moda, mas, normalmente, este tema vem atrelado aos
valores de consumo e idealizado como de fácil alcance.
Grande engano, mesmo porque viver é existir em um mundo de con-
tradições, de complexidade, de ambiguidades, de afirmações e negações e,

10
qualidade de vida em foco

em especial no Brasil, do sentido muito latente de sempre levar vantagem.


Aqui já existe a primeira constatação da antítese de uma vida qualitativa: levar
vantagem significa deixar outros em desvantagem, implodindo logo de início
a possibilidade de uma vida de qualidade.
Outra consideração inicial é o termo qualidade de vida, já muito des-
gastado pelo que foi apresentado na argumentação anterior. Muitos preferem
falar em estilo de vida ativo, o que em nenhum momento resolve o problema
se não alterarmos valores e não buscarmos princípios éticos.
Qualidade de vida compreendida numa perspectiva de novos valores,
provavelmente, exige nossa atenção para o pensar expresso na epígrafe
inicial do Dalai Lama (apud ligabue, 2015).
Neste texto, nossa preocupação é argumentar em favor da busca e da
vivência da vida de qualidade, esta pautada pelos sentidos de corporeidade
e de conhecimento e pela prática de esportes. Entendemos que corporei-
dade é muito mais que um conceito, é a existencialidade de nossa condição
encarnada, razão da epígrafe de Fernando Pessoa (apud modesto, 2014).
Da mesma forma, defendemos que o esporte é algo incorporado pelo
humano e, se abandonarmos seu conhecimento e sua prática, deixaremos
de ser plenamente seres humanos que se relacionam com seus semelhantes,
por isso o escrito de Roberto da Matta (apud vitória soccer club, 2012).

Qualidade de vida: como


alcançar este objetivo?

Na introdução colocamos alguns pressupostos do entendimento de


qualidade de vida. No entanto, gostaríamos de exercitar aqui o pensamento
centrado em argumentos de Morin (2013), quando este estabelece algumas
condições para se chegar a este propósito, sem as quais não é possível
pensar numa vida com qualidade.
Diz o autor que estamos em um momento na história da humanidade
que necessita de reformas da sociedade, listando alguns pontos relevantes
para os quais devemos dedicar esforços em reformar:

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corporeidade e esporte

A a medicina e a saúde;

B a cidade e o habitat;

C a agricultura e as zonas rurais;

D a alimentação;

E o consumo;

F o trabalho.

Desses itens, associamos com destaque a qualidade de vida a quatro


deles. O primeiro é a reforma do sentido de medicina e saúde, pois estamos
obrigados a reconhecer que este tem limites quando a natureza humana é
analisada. A medicina ocidental subestimou as causas psíquicas, em es-
pecial o estresse e a depressão, que agem na corporeidade humana. Isso
não significa negar avanços conseguidos por essa área de conhecimento,
mas parece claro que a todo progresso conquistado pelos conhecimentos
científicos, estes mesmos conhecimentos produzem novas ignorâncias. E o
problema aqui está, principalmente, na especialização dos conhecimentos,
o que impede a visão dos problemas vitais para a saúde.
Em outras palavras, parece que a medicina atual conhece profunda-
mente a especialidade da patologia que analisa, mas desconhece muito o
ser/paciente que necessita de respostas para seus problemas. Diz Morin (2013,
p. 218): “A medicina trata de um órgão, cuida de um organismo, raramente da
pessoa que, em tese, está inserida em um contexto familiar”.
Nos cursos de medicina, em sua maioria, não há espaço para o ensino
e a análise da intuição, cuja importância pode ser demonstrada nas fases de
diagnóstico, de prognóstico e de prescrição. O ser humano é dotado não
apenas de um corpo máquina que deve ser reparado, mas sim de poten-
cialidades do inesperado, da demonstração e da necessidade de simpatia,
dentre outras capacidades.
Para se alcançar qualidade de vida, neste quesito, Morin (2013) propõe
reformar:

A as políticas de saúde;

B a relação médico/paciente;

12
qualidade de vida em foco

C a formação especialista/generalista;

D o sentido desumanizante dos hospitais;

E a forma de controle sobre a indústria farmacêutica.

No que diz respeito à cidade e ao habitat, segundo ponto por nós


destacado, Morin (2013) sugere pensar a cidade com novas dimensões, em
que haja preocupação com espaço inclusivo diferentemente das políticas
assistencialistas para classes menos favorecidas, que fracassaram ao longo do
tempo, indo além da periferia empobrecida, chegando ao estabelecimento
de uma política de reumanização das cidades, a qual incluiria, dentre outras:

A circulação exclusiva de pedestres nos centros das cidades e nos locais


históricos;

B bairros com infraestrutura própria e transformados em ecobairros;

C qualidade de transportes públicos com ênfase ao ditame da não poluição.

Se queremos qualidade de vida, necessitamos de cidades estruturadas


para a consecução desse objetivo.
Como terceira preocupação levantada, adentramos na crise alimentar
de nosso tempo. Há, de um lado, superalimentação de gorduras e de açúcares
das classes abastadas, o que produz, entre outras consequências, a obesi-
dade. Por outro lado, há desnutrição de bilhões de desfavorecidos. Também
temos os problemas da produção e da industrialização alimentar, bem como
do enorme desperdício das colheitas que, segundo Morin (2013), chegam até
60% das safras, ocasionado por diversos motivos.
Para vivenciarmos qualidade de vida, devemos reequilibrar o consumo,
implementar o sistema de mercearia social e reduzir a rede de intermediários
que encarece o preço dos produtos (morin, 2013).
Já o quarto item que nos chama atenção, está relacionado ao consu-
mo. Temos uma cultura do complexo técnico econômico estruturado pelos
valores capitalistas, o que gera necessidades e desejos ininterruptos. Há
que se quebrar essa lógica de criar não só o produto, mas também criar o
consumidor para esse produto. Missão difícil, mas necessária se queremos
pensar em qualidade de vida de forma mais abrangente. Para isso temos de
eliminar as intoxicações do sistema capitalista.

13
corporeidade e esporte

Reformar o consumo, para Morin (2013, p. 310), passa, dentre outros


fatores, por:

A “[...] reduzir compras de objetos dotados de qualidades ilusórias”;

B destacar que a busca incessante de consumo pode ser decorrente de


“[...] insatisfações psíquicas e morais”;

C educar para o consumo consciente desde as crianças na escola;

D “[...] substituir a produção de objetos descartáveis por objetos reparáveis”;

E alertar para a compra de “[...] produtos livres de qualquer exploração de


trabalhadores ao longo da cadeia produtiva”.

Como se pode observar, a qualidade de vida em grau mais abrangente,


para não se tornar apenas um conceito abstrato, exige mudanças enormes
em razão da sua complexidade.
É neste contexto de mudanças, de desafios, de alteração paradigmática
que também alojamos os temas corporeidade e esporte. O primeiro, passando
do sentido de corpo máquina, objeto a ser melhorado em seu rendimento
ou consertado em sua deficiência, para corporeidade do ser sujeito em sua
existência humana. O segundo, do sentido de esporte apenas de alto rendi-
mento, possível a poucos praticantes e conhecedores, para um fenômeno
esportivo que seja direito de grande parte da população.
Batalhar para o alcance da qualidade de vida, individual e coletiva,
é estar engajado em mudanças, em recuperar o humano no homem, em
colocar a existência do ser debaixo de princípios éticos e de valores morais
condizentes.

14
qualidade de vida em foco

Corporeidade e qualidade de vida

O ponto de partida para se buscar qualidade de vida a partir do trato


com a corporeidade é afirmar que a existência humana não pode ser atrelada
apenas à perspectiva química, considerando que a vida é muito mais que
características genéticas do ser.
Esta forma de pensar e agir sobre o corpo inclusive propiciou o apare-
cimento da racionalidade moderna, a qual “[...] produziu um saber fragmentado
sobre o corpo, muitas camadas superpostas em forma de discursos variados
que tentaram silenciar a sabedoria do corpo e sua linguagem sensível” (nóbrega,
2010, p. 31). Qualidade de vida é estar sensivelmente no mundo.
Alguns anos atrás coordenamos a produção de um livro que associava
as preocupações relacionas à qualidade de vida com os temas complexidade
e educação. Nessa publicação, em um dos nosso capítulo, alertávamos para
a necessidade de mudança de paradigmas e de valores se estivéssemos
realmente preocupados com o tema qualidade de vida (moreira, 2007).
Pautados em Morin (1986), advertíamos que mudar paradigmas exigia
olhar para a crise presente, a ser superada, associando às noções de crise
termos como evolução, revolução e regressão, todos necessários ao entendi-
mento para solução de problemas. Não era possível caminhar nas tradicionais
dicotomias de certezas versus incertezas, avanços versus retrocessos, como
se a vida se estabelecesse apenas nesses polos opostos. Ainda pautados no
mesmo autor, mostramos a necessidade de saber ver, saber perceber, saber
conceber e saber pensar.
Quanto à mudança de valores, recorremos na ocasião a Capra (1999) e a
sua recomendação de alterarmos nossa maneira de pensar e nossos valores,
abrindo espaço para propostas integrativas que valorizassem: no pensar, a
intuição, a síntese, a não linearidade, deixando em segundo plano apenas o
racional, a análise, o linear; nos valores, buscar viver mais em cooperação,
em parceria, em qualidade, diminuindo a ênfase da competição e da domi-
nação da quantidade. Salvo melhor juízo, hoje também essas preocupações
permanecem e ,por isso ,merecem nossa atenção.
Uma das possibilidades de operacionalizar a alteração de valores
nos parece ser a partir da atitude/conceito de corporeidade. Impõe-se-nos
a necessidade de deixarmos de tratar o corpo humano como uma máquina
imperfeita, como um problema a ser carregado pela primazia do ato de pensar,
ou pela alma sublime, e adentrarmos na existencialidade do corpo sujeito,
explicitando a facticidade da corporeidade.

15
corporeidade e esporte

Num primeiro momento isto parece ser um tratado teórico, mas, desde
Merleau-Ponty (2011), fica patente que somos corpos encarnados, corporei-
dade relacional, por isso mesmo vivendo em sociedade, produzindo história
e cultura, somos ao mesmo tempo modificados por essa história e cultura. Se
nossa preocupação é com estilo de vida coletivo, que explicite a importância
de buscarmos qualidade de vida, devemos cultuar e cultivar a corporeidade.
Se somos um corpo e não temos um corpo, passamos do sentido de quan-
tidade do ser para a qualidade de ser.
Vivermos a corporeidade modifica nossas sensações em relação ao
mundo e às coisas, afinal que maior qualidade de vida pode ser desfrutada
do que:

A ver cores e sentir sabores;

B caminhar em paz, apesar de todas as dificuldades cotidianas, reconstruin-


do passo a passo nosso ser, deixando de exercitar corridas tresloucadas
em função de necessidades consumistas;

C viajar sempre mais leve, com preocupações menores e deixando de


levar na bagagem medos desnecessários;

D curtir amanheceres e entardeceres, noites enluaradas, conversas ami-


gáveis com amigos e familiares, deixando de lado a dependência de
meios de comunicação em massa, os quais muitas vezes nos impelem
a exacerbações na busca de razões estéreis.

Alguns podem tachar os argumentos levantados até aqui como idea-


listas, no sentido pejorativo do termo. Para recuperar o significado de ideal
que advogamos, apropriamo-nos de Ingenieros (2003, p. 17):

Os espíritos febris por algum ideal são adversários da me-


diocridade: sonhadores contra utilitários, entusiastas versus
apáticos, generosos combatem os calculistas, indisciplina-
dos enfrentam os dogmáticos. São alguém ou algo contra os
que não são ninguém nem nada. Todo idealista é um homem
qualitativo: possui um sentido das diferenças que lhe permite
distinguir entre o mal que observa, e o melhor que imagina.
Os homens sem ideais são quantitativos; podem apreciar
o mais e o menos, mas nunca distinguem o melhor do pior.

16
qualidade de vida em foco

Advogar a corporeidade como estilo de vida para existência de qua-


lidade requer lutarmos para não deixarmos espaço para as preocupações
de Le Breton (2003), quando este anuncia um adeus ao corpo, adeus este
possível quando começarmos a achar que o corpo é um estorvo em nossa
vida, ou quando nossa comunicação corporal na presença é substituída pela
virtualidade, e nestas redes aparecem relacionamentos mais íntimos que os
da família, por exemplo. Os ciberamigos são muitas vezes mais próximos que
os seres que estão ao nosso lado cotidianamente, transformando dessa forma
o toque da pele em dedilhar nos teclados dos aparelhos computadorizados,
os olhos nos olhos em nossas telas luminosas, minimizando a importância
das conversas tete a tete realizadas em caminhadas e valorizando o diálogo
apaixonado dos interlocutores invisíveis e falantes.
A atitude/conceito de corporeidade impede a possibilidade de o corpo
imperfeito ser escondido nos sites de relacionamento, revelando o sujeito
como ele é, com suas virtudes e seus defeitos, ou seja, manifestando a vida
como ela é, propiciando ao homem ser corpo verdadeiramente humano,
aquele que busca superações, as quais são possíveis somente na presença
do outro. Aqui o que importa não é um determinado padrão estético, mas
sim, um comportamento ético.
Apenas no sentido de deixar clara nossa trilha de pensamento, não
estamos aqui abrindo mão ou mesmo rejeitando a tecnologia. Por sinal, gra-
ças a ela que hoje temos, dentre outras benesses, conforto, acessibilidade
instantânea a informações, controle de doenças, comunicação farta e rápida
para solução de problemas, velocidade na produção e na disseminação
de conhecimento. Todo este universo é importante, claro, desde que seja
socializado e que esteja alicerçado em princípios éticos e morais.
É provável que, ao assumirmos a corporeidade, também estejamos
aptos a superar a atual crise de conhecimento representada pelo acúmulo
de conhecimentos sem, no entanto, sabermos contextualizá-los. Pensar de
forma mutilada produz ações mutilantes. Temos que superar elementos ainda
presentes na educação, como o reducionismo, o binarismo, a causalidade
linear e o maniqueísmo (morin, 2013).
Por sinal, incorporar o sentido/atitude da corporeidade é vivenciar
nossa dimensão corporal no sentido pleno, possibilitando qualidade de vida.
Corporeidade é uma unidade complexa e multidimensional, assim como a
sociedade, razão de buscarmos uma educação que enfatize o sentido da
complexidade, daquilo que é tecido junto.

17
corporeidade e esporte

Advogar corporeidade, agora no sentido educacional, é


lutar pelo princípio de uma aprendizagem humana e hu-
manizante, em que, em sua complexidade estrutural, o ser
humano passa a ser considerado, a um só tempo, totalmente
antropológico, psicológico e biológico. O corpo do homem
não é um simples corpo, mas corporeidade humana, só
compreensível através de sua interação na estrutura social.
(bento; moreira, 2012, p. 135).

Vivenciar qualidade de vida demanda educação na qual a corporeidade


aprendente possa “[...] ser entendida em sua significação humana, em sua
totalidade existencial” (moreira et al., 2006, p. 141). Demanda, da mesma forma,
considerar a educação como experiência humana, exigindo aprendizagem
da cultura.
Ao nos apropriarmos da atitude e do conceito de corporeidade, es-
tamos aptos a viabilizar o que Morin (2013, p. 354) chama de reforma moral,
alterando nossos valores.

O ser humano é caracterizado por esse duplo software: um


induz ao egocentrismo, a sacrificar os outros por si; o outro
induz ao sacrifício de si pelos outros, ao altruísmo, à amizade
e ao amor. Nossa civilização tende a favorecer o software
egocêntrico. Sem dúvida, o software altruísta e solidário
encontra-se presente por toda parte, mas quase sempre
inibido e adormecido. Ele pode despertar. É esse software
que deve ser estimulado pela reforma ética.

O mesmo autor indica a necessidade da reforma do nosso estilo de vida


marcado pelo excesso de tarefas diárias obrigatórias, que não nos causam
nenhuma satisfação, e, para procurarmos investir no descortinar da poesia
da vida, dedicando mais tempo à amizade, à comunhão, ao amor e ao jogo.
Isto não seria buscar qualidade de vida?
Advogar uma corporeidade aprendente não significa eliminar problemas
educacionais em nome de uma fruição constante de alegria e de beleza. Afinal,
a vida não é assim. Isso nos faz lembrar Alves (2008, p. 12), quando afirmava
que ostra feliz não produz pérola: “A beleza não elimina a tragédia, a torna
suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela
se basta. Mas ela não cria”.

18
qualidade de vida em foco

Vivenciar a corporeidade pode propiciar o retorno de nosso contato


com o planeta terra de forma adequada. Guimarães (2006, p. 231) enfatiza suas
preocupações relacionadas ao sistema ambiental sendo categórica ao afirmar:
“[...] o desprezo pelo meio ambiente é o desprezo pelo próprio corpo, pois, [...]
o que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra”.
Toda a argumentação anterior deixa patente a relação inequívoca:
preocupar-se com qualidade de vida exige apropriação do conceito e da
atitude da corporeidade.
Um último argumento da importância de nos apropriarmos da cor-
poreidade viva em sua totalidade e em seu sentido contextualizado, pode
ser encontrado em Merleau-Ponty (2011, p. 17, grifo do autor), quando este se
refere a como devemos compreender a vida:

Deve-se compreender de todas as maneiras ao mesmo


tempo, tudo tem um sentido, nós reencontramos sob todos
aspectos a mesma estrutura de ser. Todas essas visões são
verdadeiras, sob a condição de que não as isolemos, de que
caminhemos até o fundo da história e encontremos o núcleo
único de significação existencial que se explicita em cada
perspectiva. É verdade, como diz Marx, que a história não
anda com a cabeça, mas também é verdade que ela não
pensa com os pés. Ou, antes, nós não devemos ocupar-nos
nem de sua cabeça, nem de seus pés, mas de seu corpo.

Estamos preocupados com qualidade de vida? Se a resposta for posi-


tiva, então devemos atentar e assumir o conceito e a atitude da corporeidade.
No primeiro parágrafo desta seção, aludimos à sensibilidade. Da mesma
forma, neste final, voltamos à importância do ser sensível para o entendimen-
to do sentido de corporeidade, apropriando-nos mais uma vez de Nóbrega
(2010, p. 54):

Merleau-Ponty apresenta uma visão de corpo diferente do


modelo matemático: nem coisa, nem ideia, o corpo está
associado à motricidade, à percepção, à sexualidade, à
linguagem, ao mito, à experiência vivida, à subjetividade, às
relações com o outro, à poesia, ao sensível apresentando-se
como um fenômeno enigmático e paradoxal, não se redu-
zindo à perspectiva de objeto, fragmento do mundo regido
pelas leis de movimento da mecânica clássica, submetido
a leis e estruturas matemáticas exatas e invariáveis.

19
corporeidade e esporte

Acrescentando que: “O corpo assim compreendido revelará o sujeito


que percebe, assim como o mundo percebido” (merleau-ponty, 2011, p. 110).
Só como importante esclarecimento, deixamos claro que corporeidade
não é um conceito, mesmo porque até aqui não definimos o que é corpo-
reidade. Perceber nossa realidade corpórea na história e na cultura significa
mais que definir um determinado conceito de corpo humano. Da mesma
forma imaginamos que vivenciar uma vida com qualidade é muito mais que
definir qualidade de vida.

Esporte e qualidade de vida

Tal qual corpo, o termo esporte tem historicamente um conceito pa-


dronizado, geralmente associado a uma prática de atletas de alto rendimento,
ou ainda, de atividade estipulada por regras rígidas a serem seguidas sem
possibilidade de alterações.
Aqui neste texto, o esporte, enquanto possibilidade de favorecer a
qualidade de vida, é tratado como um tema de significado mais abrangente,
algumas vezes até se aproximando do termo jogo, pois é esta a essência
que nos interessa.
Jogar e praticar esporte é viver a vida com mais qualidade. No jogo
e no esporte as pessoas se entregam com afinco, explicitam suas paixões,
deixam-se levar pela presença significativa da vida. Desde criança o ser
humano reluta em deixar o jogo, pois este lhe faz bem, é agradável, produz
sensação de quero mais, de alongar o tempo de permanência no seu interior.
O esporte, por sua vez, traz em sua constituição vários dos princípios
existentes no jogo e pode permitir a incorporação de valores que estão em
falta nas relações humanas nos dias de hoje. Conhecer e praticar esportes
enriquece o sentido da vida.

20
qualidade de vida em foco

Bento (2013) levanta uma dúvida interessante: por que será que um
número significativo de pessoas se dirigem diariamente para a prática de
esportes, tanto em situações formais quanto nas informais? Diz mais: por
que será que locais como piscinas, ginásios, parques, academias são cada
vez mais frequentados? Quais seriam os sentidos do esporte para os seres
humanos?
Este autor já colabora com uma possível resposta às perguntas an-
teriores:

[...] eu imagino que o desporto possa participar no projeto


de criação de novos paladinos da esperança. Por ser um
dos poucos recantos onde ainda mora o sonho e floresce
a imaginação. Onde todos – crianças, adultos e idosos –
podem sonhar com o encanto, com o mistério e o milagre
da vida. Pelo menos podem dialogar com eles, colocar-lhes
perguntas e obter algumas respostas (bento, 2013, p. 77).

Em um mundo marcado pela racionalidade, pela pressa, pela prepa-


ração para o futuro, o presente muitas vezes não é vivido, tornando áridas
as relações humanas. Ainda, em nossa formação escolar não há espaço
para desenvolvermos nossa capacidade de imaginar, de sonhar, pois, em
nenhuma das disciplinas constantes dos currículos das escolas, qualquer
que seja a etapa de escolarização, encontramos espaço para exercitar estas
necessidades, quanto mais os desejos.
No ato de jogar e de praticar esportes, imaginar e sonhar fazem parte
de sua estrutura. Quantas cestas de três pontos já imaginamos acertar no
final de um grande jogo? Que gol fantástico sonhamos realizar no final de
um campeonato?
Ousamos afirmar que, sem sonhos e sem imaginação, dificilmente
poderemos ter qualidade de vida, considerando que falta a esta o sentido de
cores, de emoções, de alegrias alcançáveis, tudo isso possível na presença
do jogo e do esporte na vida das pessoas.
De outra forma, temos hoje preocupações relacionadas à saúde, con-
siderando que nosso desenvolvimento tecnológico provoca alto grau de
afisicidade, propiciando inúmeros problemas ao corpo humano, como exemplo,
a obesidade, a hipertensão e o estresse. Incorporar o gosto e o hábito da
prática esportiva pode minimizar ou mesmo evitar os problemas aludidos, se
considerarmos que inúmeras pesquisas e relatos de pessoas assim indicam.
Por que não retomarmos princípios existentes no interior do esporte,
como vontade, determinação, superação, dentre outros, para auxiliar as pes-

21
corporeidade e esporte

soas a manter o corpo mais saudável? Isso não é demonstrar preocupação


com qualidade de vida?
Enfatizamos os argumentos anteriores, pois conhecer e praticar es-
portes nos leva ao hábito de estar sempre tentando alcançar superações,
buscando ser mais, e o esforço gerado nessa prática pode nos mostrar
como vencer obstáculos, superar problemas e, com entusiasmo, ter fé na
vida e vontade de viver. Mais uma vez imaginamos que todos esses motivos/
princípios perfazem um rol necessário para se viver com qualidade.
Todos nós, seres humanos, nascemos inacabados, destinados a pro-
curar sempre nosso aprimoramento. O conhecimento e a prática do esporte
podem colaborar nessa missão, pois o esporte “[...] torna evidentes as nossas
fraquezas, insuficiências, mazelas e contradições. Mas, por isso mesmo, é
educativo e pedagógico por excelência” (bento, 2013, p. 85).
O esporte pode contribuir para recuperarmos o sentido do humano
no homem, elemento muito em falta nos dias atuais. Vivemos num momento
de individualizações, de exacerbação da competitividade, de um sentimento
indolor quanto ao sofrimento do próximo, tudo isso resultante de um modelo
social calcado no racionalismo.
Se buscarmos adequadamente o fenômeno esportivo, este pode nos
auxiliar, primeiro, a denunciar a situação e, depois, a optar em utilizar nossa
vivência esportiva para reverter essa situação. Diz Bento (2013, p. 87-88):

O desporto tem certamente um papel cimeiro neste em-


preendimento. No palco desportivo abre-se ao homem a
vivência do jogo, da competição, do rendimento, do risco,
da configuração, da comunicação e da cooperação, da con-
vivialidade, intimidade e sociabilidade. Mais, ele emerge
e configura-se como um campo correspondente a uma
dimensão absolutamente constitutiva da essência humana:
a necessidade fundamental de estar vivo, de agir e de se
movimentar livre de exigências e prescrições, implicando
a totalidade do homem (intelecto, emoções, sensações
e motricidade) de um modo único e insubstituível. Isto é,
o domínio cultural desporto é um correlato objetivo para
aquela categoria constitutiva da essência humana: a do
homem ativo e atuante.

Alicerçados no que já foi mencionado, quando buscamos qualidade de


vida, vêm à nossa mente alguns direitos inalienáveis do ser humano: moradia,
trabalho, saúde, lazer, educação, dentre outros. Estruturados na argumentação

22
qualidade de vida em foco

até aqui desenvolvida, ousamos incluir nesses direitos o do conhecimento e


da prática esportiva, elementos esses que permitem o cuidado com o corpo
possível e não com o corpo perfeito, segundo padrão estabelecido pela mídia.
Corpo possível, que busca autossuperação, transcendência, aprimo-
ramento técnico e tático, ações corporais providas de prazer, de realização
e de comunhão com outros corpos.
O fenômeno esportivo hoje tem tal abrangência, que chegou ao ponto
de influenciar a vida dos seres humanos, a sociedade e a cultura. Bento (2013,
p. 124) assevera que ele é “[...] um fenômeno sócio-cultural de pleno direito”.
Essa magnitude do esporte levou vários pensadores modernos a afirmar que
o século XX pode ser considerado como a era do esporte. Por essa razão, o
esporte, no sentido educacional e na vivência do lazer, deve ser um direito
de todos.
Respeitar regras, criar dependência, estabelecer responsabilidades,
incentivar lideranças e criações, todos esses fatores, que estão presentes
no esporte, podem nos levar a estabelecer compromisso com a ética das
relações humanas. No mundo esportivo, todos têm lugar, e nele podemos
identificar o respeito pelas diferenças.
O esporte, enquanto possibilidade educativa, nos revela claramente
princípios éticos e morais, pois nele aprendemos a aceitar vitórias e derrotas,
a obter sucesso e insucesso, a reconhecermos mérito e demérito, enfim,
na sua vivência podemos cultivar mais deveres e obrigações que direitos e
permissões (bento, 2013).
Lutar para a divulgação do sentido abrangente do esporte não é tarefa
do presente. Tubino (1992) já enfocava três dimensões sociais do esporte que,
somadas (educação, participação e performance ou alto rendimento), podem
nos dar a dimensão da cidadania.
No esporte educação, a ênfase deve continuar debaixo dos princípios
pedagógicos, buscando dentre outros: a integração social, o desenvolvimento
da motricidade, a aprendizagem dos princípios éticos e morais e a conscien-
tização da importância do valor do exercício físico sistematizado. Aqui está
explícito o objetivo do exercício da cidadania.
No esporte participação, busca-se efetivar o direito à prática esportiva,
equilibrando o desigual quadro de oportunidades da prática esportiva, muitas
vezes entendida apenas como destinada aos atletas e aos que têm todos os
pressupostos para jogar. Nesta dimensão há a busca do prazer, da vivência
lúdica e de elementos de convivência afetiva.
Tubino (1992) ainda indica a importância do esporte performance. Do
destaque enfatizamos:

23
corporeidade e esporte

A como atividade cultural, é meio de progresso e de orgulho nacional e


de relações internacionais;

B desde que seja legítima, a organização esportiva pode fortalecer outros


níveis de organizações sociais;

C permite o aparecimento e a existência de várias profissões ligadas ao


mercado de trabalho esportivo e influencia na maneira como pode ser
incentivado esporte educação e popular.

Daí a razão do investimento acadêmico e científico para estudo e


pesquisa junto ao universo esportivo. Como fenômeno complexo, propicia
o entrelaçamento de várias áreas de conhecimento, destinadas a dar con-
sistência a este objeto de estudo através de cursos de graduação, mestrado
e doutorado em: educação física, ciências do esporte, motricidade humana,
fisioterapia, psicologia, dentre outros.
O cenário aqui posto exige considerar o escrito de Moreira, Carbinatto
e Simões (2014, p. 128):

Estudar e investigar o esporte é comprometer-se a buscar


as razões históricas que fizeram o esporte ser o que é hoje
com suas virtudes e suas mazelas. É trazer o fenômeno
esportivo e a vida para o comprometimento ético e cultural.
É superar impasses, é quebrar dogmas, é dialogar com
pensamentos divergentes, é respeitar a pluralidade filosófica
sem ser eclético.

Esporte no seu sentido mais amplo, maximizando a importância das


dimensões educacional e participativa, e minimizando, sem negá-la ou menos-
prezá-la, a dimensão do alto rendimento. É o universo complexo, polissêmico
e polimórfico de que nós, profissionais da área, devemos nos apoderar para
oferecê-lo como importante ferramenta para mudança de valores em direção
a uma vivência social mais ética.
Mais uma vez recorremos a Bento (2013, p. 263-264), por comungarmos
com o autor sua filosofia sobre o esporte:

Por ser um espaço normativo balizado por regras e exigên-


cias éticas e morais na procura do sucesso, o desporto
pode dar uma resposta positiva ao repto que lhe é lançado.
[...] Que ele é uma instituição humana. Que no bom e no

24
qualidade de vida em foco

mau é obra humana, é um produto de nossa liberdade para


inventar e escolher e da capacidade de ação que a anima
e concretiza. E que por isso pode ser melhorado, se todos
os que nele laboram se virem como uma instituição com
responsabilidades e imperativos sociais e morais. Se se
comprometerem a fazer do desporto um projeto ético para
a sociedade.

Considerações finais
Na busca do sentido compromissado, de relevância social e de qua-
lidade de vida, há problemas que devem ser resolvidos e que demandam
disposição de luta. Por essa razão nos lembramos de uma frase conhecida de
Luther King (apud ferreira, 2011, p. 1): “A verdadeira medida de um homem não
se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência,
mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio”.
Implementar o sentido e a atitude de corporeidade e de esporte, neste
texto colocado para contribuir com a busca e a manutenção da qualidade de
vida, nos impõe desafios, questionamentos, movimentos necessários para
sair da situação de conforto, ações essas não muito habituais e, por essa
razão, que demandam esforço, ousadia e determinação.
Provavelmente o que faz adentrarmos nestes desafios é a certeza da
importância da corporeidade e do esporte enquanto elemento transformador
do status quo. Qualidade de vida não deve ser um conceito teórico ou um
modismo a serviço apenas do consumo, destinada a uma determinada classe
social. Qualidade de vida é direito do ser humano enquanto existencializa sua
facticidade no mundo e, de nossa parte, temos a certeza de que o sentido/
atitude de corporeidade e o fenômeno esportivo podem contribuir para o
atingimento desta meta.

25
corporeidade e esporte

Referências

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qualidade de vida em foco

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27
Uma revisão sobre instrumentos de
avaliação da qualidade de vida
direcionados às pessoas com
doenças reumáticas

Thaís Carolina Klepa


Bruno Pedroso
Introdução

D
iante do aumento da expectativa de vida e da redução na
mortalidade das doenças, a qualidade de vida começou a
ser valorizada como indicador de saúde. Qualidade de vida
é definida, pela Organização Mundial da Saúde, como a “[...]
percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sis-
tema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas,
padrões e preocupações” (the whoqol group, 1994, p. 41, tradução nossa).
Por essa razão, envolve muito além do conceito ampliado de saú-
de, abrangendo também aspectos ambientais, financeiros, de segurança
pública, moradia e liberdade. A avaliação da qualidade de vida relacionada
à saúde surgiu com a busca de um indicador de saúde que fosse além das
características clínicas, sendo utilizado para a verificação da efetividade dos
tratamentos desenvolvidos.
Para tanto, diversos instrumentos de avaliação da qualidade de vida
foram desenvolvidos, tanto gerais, quanto específicos (pedroso; pilatti, 2010).
Entre os instrumentos específicos para avaliação da qualidade de vida, estão
aqueles dedicados às doenças reumáticas, que constituem o foco desta
pesquisa.
As afecções reumatológicas, em sua maioria, constituem doenças
crônicas, cujo tratamento visa a qualidade de vida ao invés da cura. Tendo
em vista essa característica, o conhecimento acerca dos instrumentos de
avaliação da qualidade de vida tem relevância não somente no âmbito da
pesquisa, mas também na prática clínica. Dentro desse contexto, o objetivo
do presente trabalho é identificar e analisar os instrumentos de avaliação
da qualidade de vida desenvolvidos e/ou validados no período entre 2012 e
2015 com foco nas doenças reumatológicas.
Para a realização da revisão sobre os instrumentos de avaliação da
qualidade de vida direcionados às doenças reumáticas, foi utilizada a base
de dados PubMed e os seguintes descritores: “rheumatic diseases” OR
rheumatology OR rheumatism AND “quality of life” AND “instrument” OR
“measurement” OR “evaluation”. A busca foi restrita ao período de janeiro de

29
qualidade de vida em foco

2012 a dezembro de 2015, tendo em vista a existência de elevado número


de artigos que compreendem a temática estudada.
A busca inicial resultou em 994 artigos. Os títulos e os resumos foram
avaliados e, em alguns casos, também o texto completo, tendo sido descar-
tados aqueles artigos que não apresentavam relação com o tema ou aqueles
que tinham como base instrumentos gerais de avaliação da qualidade de
vida. Ao final da seleção, foram obtidos 379 artigos, dos quais sete foram
escritos em idiomas diferentes do português, inglês ou espanhol, o que
impossibilitou sua leitura e requereu o seu descarte. Adicionalmente, não foi
possível a obtenção de 16 artigos por meio do motor de busca da Google,
do site do próprio periódico, do Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Programa de
Comutação Bibliográfica (COMUT).
Os 356 artigos remanescentes foram classificados em relação à doença
reumática à qual fazem referência, perfazendo os seguintes grupos:

A artrite reumatoide: 17 artigos;

B artrite juvenil: 9 artigos;

C osteoartrite: 185 artigos;

D fibromialgia: 78 artigos;

E artrite psoriática: 10 artigos;

F espondilite anquilosante: 20 artigos;

G doença de Behçet: 2 artigos;

H lúpus eritematoso sistêmico: 20 artigos;

I síndrome de Sjögren: 3 artigos;

J artrite gotosa: 3 artigos;

K esclerodermia: 3 artigos;

L geral (revisões sobre patient-reported outcomes de diferentes doenças


reumáticas): 6 artigos.

30
uma revisão sobre instrumentos de avaliacão da qv

Entre os instrumentos pesquisados, estão os instrumentos especí-


ficos que avaliam somente a qualidade de vida relacionada a determinada
doença reumática.
Há, ainda, instrumentos que avaliam, além da qualidade de vida, outros
fatores, como o grau de atividade da doença e a capacidade funcional do
indivíduo. Alguns desses instrumentos são mais comumente utilizados em
pesquisas, estando estes presentes em 287 artigos dos 356 obtidos.
Subsequentemente à obtenção dos artigos, o próximo passo foi a
escolha das variáveis e dos meios de tabulação dos dados referentes aos
instrumentos encontrados.
Para tanto, pautou-se na estrutura proposta por Heinl et al. (2016), em
seu estudo de revisão sistemática dos instrumentos de avaliação da qualidade
de vida aplicados a crianças e adolescentes com eczema. Entre as possíveis
variáveis utilizadas por Heinl et al. (2016), foram selecionadas as nove que mais
se adequaram ao tema e à proposta da pesquisa (Quadro 1).

Variáveis de análise
Nome do instrumento de avaliação
Localização geográfica
Idioma
Domínios avaliados
Número de itens e subescalas
Número e tipos das categorias de resposta
População alvo a quem o instrumento foi originalmente desenvolvido
Resultados das propriedades de mensuração (consistência interna, confiabilidade,
erro de mensuração, validade do conteúdo, validade do construto e responsividade)

quadro.1 variáveis escolhidas dentre as abordadas por heinl et al. (2016)


Fonte: Heinl et al. (2016).

Baseando-se nas variáveis mencionadas, os artigos e os instrumentos


neles citados foram divididos conforme a doença à qual faziam referência e,
posteriormente, tabulados e analisados.

31
qualidade de vida em foco

Resultados e discussão
Dos artigos obtidos, foram tabulados os dados referentes aos ins-
trumentos específicos de avaliação da qualidade de vida referentes a cada
patologia. Ainda, foram listados outros instrumentos que avaliam outros
aspectos da doença além da qualidade de vida, como atividade da doença
e sintomatologia.
Entre os instrumentos referentes à artrite reumatoide, listam-se os
mais frequentes:

A Rheumatoid arthritis quality of life questionnaire (RAQoL): único instru-


mento específico para avaliação da qualidade de vida na artrite reu-
matoide, foi citado em sete dos 17 artigos. Apresenta-se como um
questionário autoaplicável composto por 30 itens, com duas respostas
possíveis (sim ou não) (baykara et al., 2013; dogu et al., 2013; eser; garip; bodur,
2012; inotai et al., 2012; lee et al., 2014; waimann et al., 2012; wilburn et al., 2015);

B Arthritis impact measurement scale (AIMS) e Arthritis impact measure‑


ment scale 2 (AIMS-2): avaliam cinco domínios (físico, sintomatológico,
profissional, social e afetivo) em 57 itens (conigliaro et al., 2014; fusama et
al., 2013; lee et al., 2012; lee et al., 2014; negahban et al., 2015; soosova; macejova,
2013). Foram citados em seis dos 17 artigos.

Em relação à análise dos instrumentos de avaliação de qualidade de


vida para o lúpus eritematoso sistêmico, foi constatado um maior número de
instrumentos específicos de avaliação da qualidade de vida.

A Lupus quality of life (LupusQoL): citado em sete dos 20 artigos, o Lu-


pusQoL é um instrumento de oito domínios e 34 itens (castelino et al.,
2013; devilliers et al., 2012; devilliers et al., 2015; pamuk et al., 2015; wang et al.,
2013; wang et al., 2015);

B Systemic lupus erythematosus quality of life (SLEQOL): apresenta 40


itens com respostas graduadas em sete níveis de intensidade, disponível
em inglês e tailandês (castelino et al., 2013; kasitanon et al., 2013), sendo
citado em dois dos 20 artigos;

32
uma revisão sobre instrumentos de avaliacão da qv

C Lupus patient reported outcome (LupusPRO): é um questionário compos-


to por duas subescalas, sendo uma delas referentes à qualidade de vida,
com 30 itens, apresentando, no total, 43 itens divididos em 12 domínios,
com respostas relativas à frequência em cinco graus (bourré-tessier et al.,
2013; bourré-tessier et al., 2014; kaya et al., 2014; mok et al., 2015). Foi citado
em 5 dos 20 artigos referentes ao lúpus eritematoso sistêmico.

D Simple measure of impact of lupus erythematosus in youngsters (SMI-


LEY): citada em dois dos 20 artigos avaliados, essa escala é destinada
aos pacientes portadores de lúpus eritematoso sistêmico entre os 5
e 18 anos de idade, sendo composta de 24 itens divididos em quatro
domínios e apresenta 29 versões, inclusive em português brasileiro
(moorthy et al., 2012; moorthy et al., 2013; moorthy et al., 2014).

Outra patologia reumática que afeta a qualidade de vida do paciente


em longo prazo é a espondilite anquilosante, com os seguintes instrumentos
de avaliação:

A Ankylosing spondylitis quality of life (ASQoL): sendo citado por oito


dos 20 artigos referentes a espondilite anquilosante, o questionário é
composto por 18 itens com respostas sim/não (altan et al., 2012; carneiro
et al., 2013; chang et al., 2013; cunha‑miranda et al., 2015; duruöz et al., 2013;
rezvani et al., 2014; wu; inman; davis, 2015);

B Evaluation of AS quality of life (EASi-QoL): é composto por quatro domí-


nios em 20 itens, com respostas relacionadas a frequência em 5 graus
(haywood; packham; jordan, 2014; packham et al., 2012). Essa escala foi citada
por dois dos 20 artigos referentes à doença.

Os instrumentos supracitados, que são específicos para avaliação


da qualidade de vida, são associados a outros instrumentos na avaliação da
efetividade dos tratamentos utilizados, como Bath ankylosing spondylitis
functional index (BASFI), Bath ankylosing spondylitis disease activity index
(BASDAI) e Ankylosing spondylitis disease activity score (ASDAS) (akad et al.,
2013; dhakad et al., 2015; kilic et al., 2015; laatiris et al., 2012; lian et al., 2012; liang
et al., 2015).
A artrite juvenil é uma patologia reumatológica que acomete crian-
ças e adolescentes, necessitando, portanto, de instrumentos de avaliação
diferenciados.

33
qualidade de vida em foco

A Juvenile arthritis quality of life questionnaire (JAQQ): citado por April,


Cavallo e Feldman (2013), apresenta quatro domínios referentes à quali-
dade de vida, sendo o único instrumento específico para a artrite juvenil;

B Pediatric rheumatology quality of life scale (PRQL): com dez itens, divi-
didos em duas subescalas (saúde física e psicossocial), é destinado a
crianças de 8 a 18 anos portadoras de doenças reumáticas e seus pais
(weiss et al., 2013);

C Pediatric quality of life inventory (PedsQL) generic and rheumatology


module: o módulo dedicado a reumatologia do PedsQL, associado ao
questionário genérico, é um dos instrumentos mais utilizados para a
avaliação da artrite juvenil (hilderson et al., 2013; tarakci et al., 2013).

A artrite psoriática é uma artrite soronegativa (com fator reumatoide


negativo) que se desenvolve em pacientes portadores de psoríase, apresen-
tando os seguintes instrumentos de avaliação:

A Psoriatic arthritis quality of life questionnaire (PsAQoL): citado em três


dos dez artigos sobre artrite psoriática, contém 20 itens com respostas
binárias (sim ou não). O PsAQoL é o único instrumento específico para
avaliação de qualidade de vida da artrite psoriática (osterhaus; purcaru,
2014; walsh et al., 2014; wink et al., 2013).

Outros instrumentos destinados à artrite psoriática foram citados, ape-


sar de avaliarem outros aspectos além da qualidade de vida, como Psoriatic
arthritis disease activity score (PASDAS), citado em dois artigos, e Psoriatic
arthritis impact of disease (PsAID) questionnaire, citado em um artigo (coates et
al., 2014; gossec et al., 2014). A esclerodermia é uma patologia reumatológica que
pode afetar somente a pele ou apresentar extensão sistêmica, acometendo
órgãos como coração e trato gastrointestinal, com impacto na mortalidade,
apresentando o seguinte instrumento de avaliação:

A Systemic sclerosis quality of life scale (SSc-QoL): citado em um artigo,


apresenta 29 itens respondidos com sim/não (ng; thumboo; low, 2012).

A síndrome de Sjögren é caracterizada por xerostomia e xeroftalmia


e não possui instrumentos específicos de avaliação de qualidade de vida,
sendo utilizados instrumentos gerais, como o EQ-5D e o SF-36, para este
fim. Entretanto, escalas de avaliação que levam em conta a qualidade de

34
uma revisão sobre instrumentos de avaliacão da qv

vida são utilizadas, como EULAR sjogren syndrome patient reported index
(ESSPRI), EULAR Sjögren syndrome disease activity index (ESSDAI) e Ocular
surface disease index (OSDI) questionnaire (denoyer; rabut; baudouin, 2012;
hackett et al., 2012).
Assim como a síndrome de Sjögren, a artrite gotosa não apresenta
instrumentos específicos de avaliação da qualidade de vida.
Diferentemente da maioria das doenças reumáticas, a gota apresenta
características mais agudas, sendo seu impacto na qualidade de vida devi-
do à intensidade da dor provocada pelos tofos gotosos. Dessa forma, são
utilizados instrumentos que aferem a atividade da doença: Tophus impact
questionnaire, Gout assessment questionnaire 2.0 e Gout impact scale (GIS),
cada um citado em um artigo (aati et al., 2014; chandratre et al., 2013; spaetgens;
van der linden; boonen, 2014).
A doença de Behçet acomete mucosas, pele, vasos sanguíneos, olhos,
entre outros órgãos, apresentando variada sintomatologia. Essa característica
torna necessária a utilização de instrumentos específicos de avaliação:

A Behçet’s disease quality‑of‑life (BD‑QoL) questionnaire: formado por 30


itens com respostas sim/não, citado por Vojdanian et al. (2015);

B Behcet’s disease current activity form: não é específico para avaliação


da qualidade de vida, mas apresenta correlação positiva com o BD-QoL,
citado por Choi et al. (2015).

A fibromialgia é caracterizada por dores difusas, distúrbios de humor


e de sono, apresentando grande impacto na qualidade de vida dos pacien-
tes. Entretanto, a avaliação da qualidade de vida nesses pacientes tem sido
efetiva com a utilização de instrumentos gerais de avaliação associados a
um instrumento específico à fibromialgia, mas não a qualidade de vida:

A Fibromyalgia impact questionnaire (FIQ): presente na totalidade dos arti-


gos pesquisados, esse instrumento foi recentemente revisado, passando
a apresentar 21 itens em três domínios, com respostas baseadas em
escala visual analógica com valores de 0-10 (alves et al., 2012; castel et
al., 2015; desmeules et al., 2014; jiao et al., 2016; plazier et al., 2015; waehrens
et al., 2015; wicksel et al., 2013).

Por fim, para a patologia osteoartrite, muito comum em idosos, há um


instrumento específico de avaliação da qualidade de vida, presente em três
estudos, o Knee and hip osteoarthritis quality of life questionnaire (OAKHQoL),

35
qualidade de vida em foco

composto de 43 itens, divididos em cinco domínios, com respostas em uma


escala de 1-10. Além disso, há escalas funcionais que também são utilizadas
para avaliação da osteoartrite, como a Western ontario and mcmaster (WO-
MAC) Osteoarthritis index, presente em 138 dos 185 artigos, que avalia o
paciente de acordo com a dor, a rigidez e a inabilidade física (serhier et al., 2012).

Considerações finais

Tendo em vista as características crônicas e, muitas vezes, incuráveis,


das doenças reumáticas, é possível perceber a importância da utilização
de instrumentos específicos de avaliação da qualidade de vida no intuito
de auxiliar no tratamento, que frequentemente resulta em inúmeros efeitos
colaterais.
Com base nessa revisão de literatura, foram elencados 29 instrumentos
principais de avaliação em doenças reumáticas, sendo 14 específicos para
a avaliação da qualidade de vida e 15 que avaliaram outros parâmetros além
da qualidade de vida, como atividade da doença.
Entre as 11 patologias abordadas, nove apresentaram tanto instrumen-
tos de avaliação específica de qualidade de vida quanto escalas que incluíam
domínios para verificar a atividade da doença. A importância dessa avaliação
dupla situa-se no fato de que a gravidade clínica da doença frequentemente
não se correlaciona com a qualidade de vida do paciente, já que esse indicador
depende da percepção subjetiva do indivíduo. As exceções para esse padrão
foram a síndrome de Sjögren e a fibromialgia. A associação entre qualidade
de vida e atividade da doença nessas patologias resulta em questionários
que avaliam o impacto da doença no indivíduo.
O não desenvolvimento de questionários específicos para a síndrome
de Sjögren possivelmente se deve ao fato de que essa se apresenta por
sintomas menos incapacitantes (xerostomia e xeroftalmia), além de que, fre-
quentemente, encontra-se associada a outras patologias com maior impacto,
como lúpus e artrite reumatoide. Já no caso da fibromialgia, a importância
do componente psicológico na atividade da doença acaba por dificultar a
dissociação entre esse indicador e qualidade de vida.
Assim, através da identificação e compilação dos instrumentos de
avaliação de qualidade de vida destinados às doenças reumáticas realizados

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uma revisão sobre instrumentos de avaliacão da qv

por essa revisão de literatura, é possível obter um panorama da utilização


desse indicador de saúde na área da reumatologia.

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45
Distúrbio de voz e vida qualificada

Ana Paula Dassie Leite


Vanessa Veis Ribeiro
Introdução

D
urante muitos anos, compreendeu-se como distúrbio vocal
e (ou) disfonia, qualquer alteração que impedisse a produção
natural da voz (behlau, 2001). Nos dias atuais, tal definição foi
aprimorada no sentido de considerar uma alteração vocal
como distúrbio somente diante de uma repercussão negativa na qualidade
de vida do falante (schwartz et al., 2009). Isso porque já se sabe que não há uma
relação direta entre alterações perceptivo-auditivas, acústicas e laringológi-
cas e a autoavaliação do indivíduo em relação à voz (behrman; sulica; he, 2004;
felippe; grillo; grechi, 2006; grillo; penteado, 2005; penteado; pereira, 2007; servilha;
roccon, 2009; ugulino; oliveira; behlau, 2012).
O conceito de qualidade de vida é subjetivo e foi se modificando com
o decorrer dos anos. Inicialmente visto como ausência de doença, em 1995
ele foi conceituado pela Organização Mundial da Saúde de forma mais ampla,
sendo definido como a “[...] percepção do indivíduo de sua inserção na vida,
no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais se vive e em relação
aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (whoqol group,
1995, tradução nossa).
Dessa forma, a qualidade de vida não pode ser julgada como um con-
ceito estático, que segue as mesmas direções para todos os indivíduos, mas
sim como um conceito subjetivo e complexo, cuja relação com outros fatores
não é direta. Por outro lado, alguns parâmetros objetivos como condições
de saúde, saneamento básico, alimentação, moradia, transporte e educação,
podem direcionar o estudo sobre qualidade de vida (vilarta; gonçalves, 2004).
Assim, a análise de qualidade de vida é considerada multidimensional
e envolve duas esferas — os aspectos subjetivos e os objetivos — ainda que
a inter-relação entre eles ocorra de forma complexa e dependa do poder de
influência individual de cada fator, pois ocorrem em função da interpretação,
percepção e expectativa perante a vida, que são individuais (vilarta; gonçalves,
2004). A partir dessas informações, pode-se inferir que o conceito de qualidade
de vida é formado a partir da relação subjetiva entre fatores objetivos.
A qualidade de vida ligada à saúde pode ser compreendida a partir de
um híbrido biológico-social. A partir desse conceito, pode-se compreender
que a qualidade de vida em saúde não é puramente biológica e nem há um

47
qualidade de vida em foco

fator integralmente responsável pela sua percepção. Trata-se da percepção


subjetiva da influência de um fator biológico mediada pelas esferas mental,
ambiental e cultural (almeida; gutierrez; marques, 2012).

A busca pela relação entre o distúrbio


vocal e o impacto na qualidade de vida

As pesquisas que se propõem a relacionar a saúde vocal à qualidade


de vida, ajudam a compreender os sujeitos a partir das suas experiências
subjetivas e da sua percepção em relação à própria saúde. Nesse contexto,
consideram-se os aspectos culturais, sociais, demográficos, ocupacionais
e de saúde que interferem na produção vocal nos diversos âmbitos da vida
cotidiana (cielo et al., 2015; grillo; penteado, 2005; ribeiro et al. 2013).
Como a percepção de qualidade de vida é subjetiva no âmbito vocal,
ela não está relacionada apenas à ausência de um distúrbio vocal, mas tam-
bém ao estado de completo bem-estar biopsicossocial, que pode se alterar
de acordo com as perspectivas de vida de cada indivíduo (musial et al., 2011).
Dessa forma, é consenso na literatura que a relação entre o grau de
alteração vocal e seu impacto na qualidade de vida é complexa e não é direta
(behlau et al., 2017; park; behlau, 2011).
Para compreender melhor essa relação, torna-se necessário investigar,
a partir do ponto de vista do sujeito envolvido, o que ele pensa, sabe, conhece
e como percebe sua voz (penteado; pereira, 2007). Além disso, é preciso analisar
o espaço que a voz assume na vida do indivíduo e sua percepção referente à
utilização vocal na comunicação social (behlau, 2001; morais; azevedo; chiari, 2012).
Dessa forma, principalmente na classe de profissionais da voz, que
utiliza a voz como instrumento de trabalho e depende dela, com ou sem
qualidade vocal específica para desempenhar sua função ocupacional, as
condições vocais desfavoráveis podem influenciar negativamente na qua-
lidade de vida, mesmo antes de um quadro clínico de distúrbio vocal estar
instalado (musial et al., 2011).
Apesar disso, é essencial que a análise da qualidade de vida de indi-
víduos que buscam atendimento na clínica vocal seja realizada em conjunto
com os demais procedimentos avaliativos clínicos (behlau, 2001; lopes et al.,
2017; ugulino; oliveira; behlau, 2012).

48
disturbio de voz e qualidade de vida

Movimento de validação de
instrumentos de autoavaliação vocal e
mensuração da qualidade de vida em voz

A fim de mensurar a forma como o sujeito autoavalia a própria voz e,


mais do que isso, como seria sua qualidade de vida diante de um quadro de
alteração vocal, um movimento que iniciou há cerca de 30 anos vem propondo
a elaboração de uma série de instrumentos para este fim (behlau et al., 2016).
Dos instrumentos brasileiros, todos são validados por meio da Teoria Clás-
sica dos Testes (TCT). A maioria dos instrumentos é de múltipla escolha e as
respostas são ordinais em escala Likert, que permitem transformar respostas
qualitativas, e, assim, analisar suas respostas de forma quantitativa (behlau;
santos; oliveira, 2011; costa; oliveira; behlau, 2013; gasparini; behlau, 2009; moreti et
al., 2014).
Há também instrumentos com mensuração por escala visual-analógica
(ricarte; oliveira; behlau, 2013). As formas de análise são diversas, havendo pro-
tocolos que permitem apenas uma análise geral e outros que têm domínios
que permitem analisar a influência específica da voz nos âmbitos emocional,
físico, social, entre outros. Os fatores ou domínios podem ser pré-determi-
nados com base na proposta de um construto em comum, ou, analisados
por meio de análises fatoriais estatísticas. Além disso, alguns protocolos
recomendam apenas a somatória simples (behlau; santos; oliveira, 2011; behlau
et al., 2009; costa; oliveira; behlau, 2013; moreti et al., 2014; ricarte; oliveira; behlau,
2013), e outros têm um cálculo específico (gasparini; behlau, 2009).
Todos esses instrumentos foram desenvolvidos visando não somente a
uma simples quantificação do impacto de um problema de voz na qualidade de
vida, mas, principalmente, contribuir para o raciocínio e o manejo terapêutico
na clínica vocal (behlau et al., 2016).
Com o crescente número de elaboração de instrumentos, os pes-
quisadores começaram a detectar heterogeneidades na metodologia de
desenvolvimento e validação desses protocolos, o que poderia comprometer
a fidedignidade dos dados por eles fornecidos. Por isso, observou-se que
havia necessidade de estabelecer diretrizes para validar esses instrumentos
no campo da Fonoaudiologia, a fim de fornecer instrumentos confiáveis para
serem utilizados na prática clínica (aaronson et al., 2002).
As diretrizes e recomendações mais reconhecidas são do Scientific
Advisory Committee (SAC) do Medical Outcomes Trust (aaronson et al., 2002).

49
qualidade de vida em foco

O SAC teve início em 1992, com a finalidade de recomendar uma série de


etapas e procedimentos e serem realizados para elaborar e validar os instru-
mentos novos, bem como para realizar a adaptação transcultural e validação
de instrumentos elaborados em outros idiomas. As diretrizes do SAC foram
revisadas e atualizadas no decorrer dos anos e sua última versão, utilizada
atualmente, foi publicada em 2002.
São oito atributos principais que o SAC realiza recomendações
(aaronson et al., 2002):

A modelo conceitual e de mensuração: a lógica e a descrição do conceito


e das populações que uma medida pretende avaliar e a relação entre
esses conceitos;

B confiabilidade: capacidade de reproduzir resultados iguais independen-


temente das condições de aplicação;

C validade: capacidade de o instrumento mensurar o que se pretende;

D responsividade: capacidade do instrumento para detectar mudanças


ao longo do tempo;

E interpretabilidade: grau em que se pode atribuir um significado facilmente


compreendido às pontuações quantitativas de um instrumento;

F administração e instruções aos respondentes: tempo, esforço e outras


exigências necessárias àqueles a quem o instrumento é administrado
ou àqueles que administram o instrumento;

G formas alternativas: incluem autorrelato, administração por entrevistador,


administração por computador, entre outros;

H adaptações culturais e linguísticas: envolve dois passos principais:


avaliação da equivalência conceitual e linguística, e avaliação das pro-
priedade psicométricas.

A maioria dos instrumentos utilizados no Brasil atualmente para ana-


lisar a autoavaliação vocal e a qualidade de vida em voz foram elaborados e
validados, originalmente, em outras línguas, e posteriormente adaptados e
validados em português brasileiro (behlau et al., 2009).

50
disturbio de voz e qualidade de vida

A partir do momento em que as principais propriedades psicométricas


são calculadas e demonstradas nesses instrumentos é possível realizar o
cálculo da curva receiver operating characteristic (ROC), que representa a
relação entre a sensibilidade e a especificidade. Ela é utilizada para determinar
o valor real a partir do qual duas categorias são discriminadas, conhecido
como ponto de corte. A partir do referido cálculo, é estabelecido um valor
que permite fazer uma classificação binária a partir dos resultados dos ins-
trumentos, diferenciando indivíduos com e sem risco para desenvolver um
distúrbio vocal (behlau et al., 2016).

Principais protocolos de autoavaliação vo-


cal validados para o português brasileiro

No Brasil, os protocolos de autoavaliação começaram a ser divulgados


na década de 2000. O primeiro deles foi validado em 2009 (gasparini; behlau,
2009). No português brasileiro são encontrados diversos protocolos de auto-
avaliação vocal, sendo a maioria deles utilizada para aplicação na população
geral (behlau; santos; oliveira, 2011; costa; oliveira; behlau, 2013; gasparini; behlau,
2009; moreti et al., 2014; ricarte; oliveira; behlau, 2013).
O protocolo Voice-related quality of life (VRQOL) foi elaborado a fim
de avaliar a qualidade de vida em voz (hogikyan; sethuraman, 1999). No Brasil,
ele foi traduzido e validado como Qualidade de vida em voz (QVV) (gasparini;
behlau, 2009). Trata-se do primeiro protocolo validado no português brasileiro.
O QVV é composto por dez itens que abrangem dois domínios, seis são do
domínio físico e quatro de domínio socioemocional. O indivíduo é orientado a
responder, em uma escala de cinco graus, a frequência em que determinado
evento ocorre. Cada afirmativa tem como possível resposta e pontuação:

A 1: nunca acontece e não é um problema;

B 2: acontece pouco e raramente é um problema;

C 3: acontece às vezes e é um problema moderado;

51
qualidade de vida em foco

D 4: acontece muito e quase sempre é um problema;

E 5: acontece sempre e realmente é um problema grave.

O cálculo do QVV é feito por um logaritmo específico, que oferece um


escore total (variando de 0 a 100, em que 0 indica pior qualidade de vida e 100
melhor qualidade de vida) e um escore para cada domínio (gasparini; behlau, 2009;
hogikyan; sethuraman, 1999). Os valores estabelecidos para diferenciar indivíduos
com e sem risco para desenvolver um distúrbio vocal são de 91,25 pontos no
escore total, 90,65 pontos no escore socioemocional e 89,60 pontos para o
escore físico (behlau et al., 2016). Quanto maior o escore, maior a qualidade de
vida em voz (gasparini; behlau, 2009). O ponto de corte do protocolo não produziu
um valor de corte com especificidade máxima, dessa forma, o instrumento é
melhor para identificar indivíduos com problemas de voz do que para excluir
os sem risco para desenvolver um problema de voz (behlau et al., 2016). Na
prática, trata-se de um protocolo rápido e de fácil compreensão, o que o torna
um dos instrumentos mais utilizados para mensuração da qualidade de vida
em voz, tanto na clínica, quanto em pesquisas científicas.
O Voice handicap index (VHI) foi elaborado a fim de avaliar a desvanta-
gem vocal (jacobson et al., 1997). No Brasil, o VHI foi adaptado culturalmente e
validado como Índice de desvantagem vocal (IDV) (behlau; santos; oliveira, 2011).
O IDV é um questionário composto por 30 questões que são subdivididas
em três domínios, cada um composto por dez questões: orgânico, funcional
e emocional. Cada afirmativa possui cinco opções de resposta, na qual o
indivíduo deve selecionar a que melhor responde à afirmativa em questão.
As opções são:

A 0: nunca;

B 1: quase nunca;

C 2: algumas vezes;

D 3: quase sempre;

E 4: sempre.

O cálculo do IDV é feito por meio de somatória simples e, quanto


maior o valor, maior a desvantagem vocal, podendo chegar a 120 pontos,
que indica o grau máximo de desvantagem vocal (behlau et al., 2009; jacobson

52
disturbio de voz e qualidade de vida

et al., 1997).Os valores estabelecidos para diferenciar indivíduos com e sem


risco para desenvolver um distúrbio vocal são de 19,0 pontos no escore
total, 3,0 pontos no escore emocional, 7,7 pontos no escore funcional e 10,5
pontos no escore orgânico (behlau et al., 2016). Quanto maior o escore, pior a
desvantagem vocal (behlau et al., 2009). O IDV é considerado um classificador
perfeito, o que mostra grande eficiência tanto para identificar indivíduos com
risco para desenvolver um distúrbio vocal, quanto sem risco (behlau et al., 2016).
Um nova subescala do IDV foi traduzida e adaptada para o português
brasileiro, trata-se do IDV-Garganta (IDV-G). São dez questões, com a mesma
escala de análise do IDV geral, que devem ser aplicadas em conjunto com
o instrumento, e que buscam mensurar a autopercepção dos sintomas de
garganta (ribeiro et al., 2020).
Há também uma versão reduzida do VHI, denominada VHI-10, que foi
elaborada em inglês (rosen et al., 2004), e validada em português brasileiro (costa;
oliveira; behlau, 2013). Esse protocolo possui um escore único, denominado
total, composto por dez questões da versão original. A forma de pontuação
é equivalente à do IDV, e o escore total pode ser de até 40 pontos. Quanto
maior a pontuação, pior a desvantagem vocal (costa; oliveira; behlau, 2013).
O valor de corte estabelecido no IDV-10 é de 7,5 pontos no escore
total (behlau et al., 2016). Porém, trata-se de um protocolo que possui apenas
especificidade máxima em 7,5 pontos, ou seja, poder de discriminar os indi-
víduos sem risco para desenvolver um distúrbio vocal.
Já a especificidade máxima, ou seja, melhor poder para diferenciar
indivíduos com risco para desenvolver um distúrbio vocal, foi estabelecida
com cinco pontos, que é uma classificação mais rigorosa (behlau et al., 2016).
Na prática clínica, o IDV-10 tem substituído o IDV, uma vez que é de
mais fácil e rápida aplicação, visto que o IDV é considerado longo para uso
clínico, com algumas afirmações que parecem redundantes aos pacientes.
O Voice activity and participation profile (VAPP) foi elaborado para
avaliação da diferença entre a limitação do problema vocal e a disposição
do indivíduo em participar de atividades diárias, a fim de melhor conduzir
o processo de tratamento (ma; yiu, 2001). O VAPP foi validado no português
brasileiro como Perfil de participação e atividades vocais (PPAV) (ricarte;
oliveira; behlau, 2013).
Trata-se de um protocolo composto por 28 itens, pontuados indivi-
dualmente em uma escala visual-analógica de 100 mm. Os indivíduos são
orientados a marcarem um traço vertical, cortando a linha, sendo que a extrema
esquerda equivale a ausência de limitação nas atividades, e a extrema direita
a maior limitação possível nas atividades.

53
qualidade de vida em foco

Os itens são distribuídos em cinco aspectos: uma questão sobre


autopercepção da intensidade do problema vocal; quatro questões sobre
efeitos no trabalho; doze questões sobre efeitos na comunicação diária;
quatro questões sobre efeitos na comunicação social; e, sete questões sobre
efeitos na emoção.
O protocolo ainda apresenta dois escores adicionais, Pontuação de
limitação das atividades (PLA) e a Pontuação de restrição de participação
(PRP), com dez questões cada. O escore máximo deste protocolo, somando-se
os escores de todas as questões, é de 280 pontos.
Quanto maior a pontuação, maior é a limitação nas atividades vocais
(dificuldades impostas nas atividades) e maior é a restrição na participação
(indivíduo diminui ou evita participar de atividades que envolvam o uso da
voz). O protocolo, apesar de validado, não possui ponto de corte binário para
diferenciar indivíduos com e sem risco para desenvolver um distúrbio vocal.
No processo de validação foram estabelecidos valores de validade,
confiabilidade e sensibilidade. Os valores médios encontrados na validação
(ricarte; oliveira; behlau, 2013) para indivíduos com voz normal e com voz disfônica,
foram: 1,8 pontos em normais e 98,8 pontos em disfônicos na autopercepção
da voz; 0,2 pontos em normais e 13,3 pontos em disfônicos nos efeitos no
trabalho; 0,9 pontos em normais e 43,1 pontos em disfônicos nos efeitos
na comunicação diária; 0,2 pontos em normais e 12,7 pontos em disfônicos
nos efeitos na comunicação social; 0,4 pontos em normais e 24,2 pontos em
disfônicos nos efeitos na sua emoção; 0,6 pontos em normais e 37,9 pontos
em disfônicos na PRP; e, 0,6 pontos em normais e 31,1 pontos em disfônicos
na PLA. Vale ressaltar que, embora de grande valia para analisar as restrições
em participações vocais, principalmente junto a indivíduos que utilizam a
voz profissionalmente, na prática clínica observa-se certa dificuldade dos
pacientes em se autoavaliar em escala analógico-visual, referindo que ela é
muito subjetiva para fins de mensuração.
A Voice symptom scale (VoiSS) foi elaborada após uma série de estudos,
a fim de avaliar os sintomas vocais (scott et al., 1997). A partir da VoiSS, foi
realizado um processo de tradução e adaptação transcultural para o português
brasileiro, cuja versão foi denominada de Escala de Sintomas Vocais (ESV).
A ESV é composta por trinta questões (moreti et al., 2014), sendo: quinze
a respeito do domínio limitação (funcionalidade); oito do domínio emocional
(efeito psicológico); e sete do domínio físico (sintomas orgânicos).
Cada questão é pontuada de acordo com a frequência de ocorrência em:

A 0: nunca;

54
disturbio de voz e qualidade de vida

B 1: raramente;

C 2: às vezes;

D 3: quase sempre;

E 4: sempre.

O total da ESV indica o nível geral da alteração de voz e pode ter no


máximo 120 pontos, sendo 60 pontos atribuídos à subescala limitação, 32 ao
emocional e 28 ao físico, calculados por meio de somatório simples (moreti et
al., 2014). O protocolo é considerado um classificador perfeito, com máxima
sensibilidade e especificidade para diferenciar indivíduos com e sem risco
para desenvolver distúrbios vocais (behlau et al., 2016). Os valores de corte
do instrumento são: 16 pontos no domínio total; 11,5 no domínio limitação;
1,5 no emocional; e 6,5 no físico, sendo que valores acima do ponto de corte
indicam risco.
Na prática clínica atual, a ESV tem ganhado grande espaço porque é o
primeiro instrumento validado no português que avalia, além do impacto da
disfonia na vida diária do indivíduo, a sintomatologia vocal apresentada por
ele. Assim, permite que se faça um paralelo entre o que é sintoma e repercute
nas atividades de vida diária, e o que é sintoma mas que pode não trazer
nenhum prejuízo do ponto de vista da percepção do sujeito.
Há protocolos de mensuração da qualidade de vida, como o Índice
de desvantagem para o canto moderno (moreti et al., 2011) e o Índice de des-
vantagem para o canto clássico (ávila; oliveira; behlau, 2010), que são apenas
traduzidos para o português brasileiro, mas não validados.
Outros protocolos de autoavaliação também foram validados no portu-
guês brasileiro, mas sem foco específico na qualidade de vida em voz. São eles:

A Índice de fadiga vocal (zambon et al., 2020);

B Protocolo de estratégias de enfrentamento em disfonia (oliveira


et al., 2016);

C Condição de produção vocal – professor (CPV-P): (giannini; latorre;


ferreira, 2016);

55
qualidade de vida em foco

D Rastreamento de alterações vocais em idosos (RAVI)


(pernambuco et al., 2016);

E Índice de triagem de distúrbios de voz (ITDV) (ghirardi et al., 2013);

F Questionário de performance vocal (QPV) (paulinelli; gama; behlau, 2012).

Há ainda protocolos adaptados, mas ainda não validados, como:

A Escala Borg CR10-BR adaptada para esforço vocal (camargo et al., 2019);

B The levels of speech usage LSU-Br (yotoko et al., 2019);

C Questionário de autoavaliação vocal para transexuais de homem


para mulher (santos et al., 2015);

D Evaluation of the ability to sing easily para o Brasil (rocha et al.,2014);

E Questionário de investigação da dor musculoesquelética


(silverio et al., 2014);

F Escala de desconforto do trato vocal (rodrigues et al., 2013);

G Escala URICA-VOZ (teixeira et al., 2013);

H Protocolo de disfunção autônoma (park; behlau, 2011).

Qualidade de vida em voz e sua relação


com dados sociodemográficos,
ocupacionais e clínicos

Por se tratar de uma análise multidimensional, a percepção da qualidade


de vida sofre influência de diversos outros fatores. Dentre eles, os principais
são os aspectos demográficos, ocupacionais, de saúde geral e vocal.

56
disturbio de voz e qualidade de vida

Quanto aos fatores sociodemográficos, há evidências científicas de


que a idade (putnoki et al., 2010; ugulino; oliveira; behlau, 2012) e o sexo (behlau et
al., 2017; dassie-leite et al., 2014; putnoki et al., 2010) podem influenciar na autoava-
liação da qualidade de vida. Mulheres (behlau et al., 2017; dassie-leite et al., 2014)
e indivíduos de faixas etárias superiores (putnoki et al., 2010) podem apresentar
escores mais baixos de qualidade de vida diante de um distúrbio vocal.
Já em relação aos dados ocupacionais, o principal fator que influen-
cia nos resultados dos instrumentos parece ser o uso profissional da voz
(dassie-leite et al., 2014; leite et al., 2015; putnoki et al., 2010). Indivíduos que fazem
uso da voz profissionalmente comumente apresentam escores piores de
qualidade de vida em voz quando comparados aos que não fazem tal uso
(dassie-leite et al., 2014; leite et al., 2015).
Assim, um mesmo tipo de alteração laríngea e (ou) perceptivo-auditiva
pode causar um pequeno impacto na vida diária, caso o indivíduo tenha um
uso profissional de voz restrito, e um grande impacto na vida diária, caso ele
utilize a voz profissionalmente.
O tipo de uso profissional da voz também deve ser levado em con-
sideração, visto que há profissionais com grande demanda, mas que não
necessitam de uma boa qualidade vocal, enquanto outros podem não ter
demanda intensa, porém, podem necessitar de qualidade vocal específica
para o desempenho de sua função, como é o caso dos cantores líricos/
eruditos, por exemplo.
Por outro lado, a literatura também discute a possibilidade de indi-
víduos que façam uso da voz profissional buscarem mais por estratégias
para compensar possíveis alterações vocais e conviver com elas, para que,
assim, não haja influências negativas significativas no seu dia a dia ( musial et
al., 2011; vitor et al., 2017). Isso faz com que muitas vezes a qualidade de vida
não seja tão impactada, mesmo diante de um grau de desvio da qualidade
vocal importante.
Devido à falta de uma percepção mais acurada sobre a própria voz
em indivíduos com distúrbios vocais, a relação entre a autopercepção da
qualidade de vida e os achados das demais avaliações clínicas é fraca e
complexa (behlau et al., 2016; behrman; sulica; he, 2004; ugulino; oliveira; behlau, 2012).
Dessa forma, sintoma (sujeito, percepção do paciente) e sinal (objetivo,
mensurado por avaliações clínicas) nem sempre apontam as mesmas coisas,
porém, são complementares e essenciais, principalmente para o manejo
clínico na área de voz.
Com relação ao tipo de disfonia, já se buscou pensar nos resultados
dos protocolos de qualidade de vida considerando a classificação de dis-
fonias: orgânicas – distúrbio vocal cuja etiologia independe do uso vocal, e

57
qualidade de vida em foco

comportamentais – distúrbio vocal cuja etiologia está diretamente relacionada


ao uso vocal (behlau et al., 2017).
Não há consenso no que se refere à comparação entre os tipos de
disfonia. No QVV indivíduos com disfonias orgânicas podem apresentar piores
escores que os indivíduos com disfonia comportamental (gasparini; behlau, 2009).
Porém, na ESV, foram encontrados resultados mais altos em indivíduos
com disfonia comportamental (behlau et al., 2017). Esse mesmo estudo também
comparou o QVV e o IDV e não encontrou diferença em função do tipo de
disfonia (behlau et al., 2017).
Nesse sentido, parece que alguns fatores, como por exemplo o tipo
de alteração e (ou) patologia laríngea, podem ser importantes quando se fala
em qualidade de vida em voz. Isso porque, na prática clínica, vemos que em
alguns casos, mesmo considerados como disfonias comportamentais, como
nas mudas vocais incompletas ou nas disfonia por tensão musculoesquelética,
há um grande impacto na qualidade de vida do indivíduo.
Por outro lado, alguns problemas de voz de origem orgânica como as
disfonias por refluxo gastresofágico e as presbifonias, podem ocasionar um
impacto na qualidade de vida muito pequeno devido à baixa sintomatologia
vocal. Esta hipótese merece ser melhor elucidada em estudos futuros, uma
vez que está pautada muito mais na nossa experiência na clínica vocal.
A literatura aponta também que indivíduos que apresentam incoorde-
nação pneumofonoarticulatória e que já fizeram tratamentos vocais anteriores
para o problema vocal possuem pior autoavaliação na qualidade de vida em
voz (leite et al., 2015).
Há evidências também de relação entre autopercepção vocal (voz
excelente, boa, razoável, ruim) e autopercepção da qualidade de vida em voz
expressa nos resultados do protocolo QVV (kasama; brasolotto, 2007).
No entanto, neste mesmo estudo, não se observou correlação entre
os escores de autoavaliação vocal e os resultados da avaliação perceptivo-
-auditiva realizada por juízes fonoaudiólogos (kasama; brasolotto, 2007).
Alguns dados de saúde geral também podem influenciar no impacto
da qualidade de vida em voz, porém, a literatura ainda é escassa quanto a
esses fatores. Há evidências de que a presença de dores corporais (ramos et
al., 2018) também pode influenciar na qualidade de vida em voz.

58
disturbio de voz e qualidade de vida

Contribuição dos instrumentos de


autoavaliação nos contextos
clínico e científico

Com a validação dos instrumentos de mensuração da qualidade de


vida, além de um importante instrumento a ser utilizado pelo meio científico,
passou-se a reconhecer cada vez mais a importância da análise da qualidade
de vida na prática clínica. A autoavaliação traz informações que não podem
ser compreendidas por meio de outros procedimentos clínicos.
Os instrumentos possibilitam compreender a importância da voz e o
espaço que ela ocupa na vida do indivíduo, além de possibilitar uma classifi-
cação binária com base no risco para desenvolver um distúrbio vocal. Dessa
forma, os instrumentos vem sendo utilizados em pesquisas científicas, em
triagens vocais e no manejo terapêutico, para avaliação inicial, controle e
avaliação da evolução terapêutica.
O uso clínico instigou a revisão do conceito de distúrbio vocal e a
inclusão da percepção de qualidade de vida. Distúrbio vocal passou a ser
definido como uma alteração na qualidade vocal, frequência ou intensidade,
ou esforço vocal que limita a comunicação ou causa impacto negativo na
qualidade de vida relacionada à voz (schwartz et al., 2009).
Dentre os protocolos validados no português brasileiro com essa
finalidade, apenas dois são considerados classificadores perfeitos, o IDV e
o ESV (behlau et al., 2016).
Esse fato torna os dois instrumentos muito úteis para a prática de
triagem vocal. No meio científico, eles também são bons instrumentos para
classificação dos indivíduos, podendo ser utilizados tanto como desfechos,
como nos processos de seleção amostral, principalmente para pesquisas
via survey monkey em que a gravação vocal (padrão-ouro para avaliação da
qualidade vocal) não é possível.
Em uma análise da relação entre o número de itens dos instrumen-
tos e o tempo de administração, o IDV-10 foi considerado o mais eficiente
(behlau et al., 2016). Dessa forma, mostra-se como um instrumento útil para a
prática clínica, e principalmente para pesquisas científicas, em que o tempo
é importante fator a ser considerado.
Porém, esse protocolo possui questões que não diferenciam indiví-
duos com e sem risco para desenvolver um distúrbio vocal, o que fez com
que ele não tivesse um ponto de corte com boa relação entre sensibilidade

59
qualidade de vida em foco

e especificidade (behlau et al., 2016). Por não ser um classificador perfeito, sua
utilização não é recomendada para triagem.
Quanto ao uso na prática clínica, o instrumento permite obter informa-
ções importantes que não podem ser mensurados por outros procedimentos
clínicos, o que os torna essenciais para a caracterização do quadro clínico
na avaliação vocal, visto que a voz é um parâmetro multidimensional (behlau
et al., 2016).
Os resultados da autoavaliação vocal e de qualidade de vida em voz
também podem influenciar na adesão do paciente à terapia. Indivíduos que têm
um impacto maior da alteração vocal na qualidade de vida em voz costumam
aderir melhor a terapia. Tais dados são comprovados tanto pela literatura
(almeida et al., 2013; cielo; ribeiro, 2015), quanto pela experiência clínica.
Finalizamos este capítulo reforçando que não é mais possível, no
contexto da clínica vocal, reabilitar um paciente sem considerar o impacto
da disfonia na sua qualidade de vida.
Todas as variáveis e as reflexões apresentadas neste texto reforçam
que um clínico perspicaz é aquele que valoriza e considera o distúrbio vocal
como multidimensional e com consequências que dependem de inúmeros
fatores, sejam eles pessoais ou profissionais. Hoje, a valorização do que o
sujeito percebe da própria voz e, mais do que isso, o que o problema vocal
interfere nas suas relações, pode ser uma peça chave para uma adequada
conduta terapêutica diante do caso.

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67
Qualidade de vida de pessoas com
deficiência: conceitos contemporâneos
e instrumentos de avaliação

Thaiane Moleta Vargas


Leandro Martinez Vargas
Bruno Pedroso
Introdução

O
termo qualidade de vida (QV) foi, supostamente, mencionado
pela primeira vez em 1964 em um discurso presidencial nos
Estados Unidos da América, por Lyndon Johnson, referin-
do-se ao sentido de valorizar parâmetros além do controle
de sintomas, da diminuição da mortalidade ou aumento da expectativa de
vida da população (fleck et al., 1999).
A partir dessa década, a QV passou a ser vista como um espaço de
investigação científica. Os trabalhos, nesse período, eram realizados com
indicadores objetivos, considerando apenas os recursos relacionados à
condição e ao objetivo de vida e estruturados a partir de estatísticas. Ape-
nas em 1976, indicadores de bem-estar subjetivos ou psicológicos foram
incorporados à temática. Esses indicadores eram baseados na percepção
e avaliação individual das condições sociais e apresentavam a satisfação
como foco (cantorani, 2013).
Desde a primeira vez que o termo QV foi utilizado, várias definições
foram publicadas. Landeiro et al. (2011, p. 4258) publicaram uma revisão sis-
temática sobre o tema e concluíram que não existe um consenso sobre a
definição de QV, mas concordam que a mesma é um “[...] conceito dinâmico,
amplo, subjetivo e polissêmico”.
Apesar de o termo condição de saúde ter sido muito utilizado como
sinônimo de QV, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde, em
sua Constituição de 1947, como “[...] um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade”
(apud fleck et al., 2008, p. 25). Ao estabelecer uma definição do constructo QV
como “[...] a percepção do indivíduo de sua condição na vida, no contexto
de sua cultura e dos sistemas de valores em que vive e em relação às suas
expectativas, seus padrões e suas preocupações” (fleck et al., 2008, p. 25), a
OMS apresentou a condição de saúde como um de seus domínios e não
como sinônimo.
Na tentativa de ilustrar a relação entre os conceitos de saúde e a
influência dos fatores intrínsecos e extrínsecos para a QV geral, Fleck et al.
(2008) apresentam o esquema conforme mostra a Figura 1.

69
QUALIDADE DE VIDA EM FOCO

figura.1 relaÇÃo entre a qv e os conceitos de saúde


Fonte: Fleck et al. (2008)

Segundo o próprio autor, a Figura 1 apresenta as variáveis em uma


progressão linear, o que na verdade não existe, pois os sintomas podem ser
traduzidos diretamente nas percepções ou na oportunidade, sem afetar o
funcionamento.
Contudo, o objetivo da figura é ilustrar que os fatores intrínsecos não
podem ser separados dos extrínsecos, ou seja, o contexto pessoal não pode
ser separado do contexto sociocultural.
Devido ao interesse pelo constructo, nas últimas décadas observou-se
um crescente número de instrumentos de avaliação de QV e afins (fleck et
al., 1999). Esses instrumentos compreendem basicamente dois grupos: ques-
tionários genéricos (aplicáveis para qualquer população por avaliar de forma
geral e global os aspectos relacionados com a QV) e questionários específicos
(aplicáveis a populações específicas por avaliar aspectos particulares da QV
de determinada população) (landeiro et al., 2011).
Face ao exposto, o presente capítulo tem como objetivo abordar con-
ceitos contemporâneos relacionados à QV e às pessoas com deficiência (PCD).
Também serão abordados os instrumentos de avaliação da QV, com ênfase
nos instrumentos da OMS, sobretudo os utilizados para avaliar a QV das PCD.

70
qualidade de vida de pessoas com deficiência

Avaliação da qualidade de vida

As concepções e práticas referentes ao constructo QV evoluíram en-


voltos por complexidade, principalmente diante da falta de consenso para a
mensuração da QV, no que se refere a seus indicadores (gonçalves; vilarta, 2004).
Inicialmente, a OMS baseou-se nas taxas de mortalidade e natalidade
para a mensuração de saúde da população, adotando uma definição de saúde
apenas como a ausência de doenças ou enfermidades. Mas, há algum tempo,
ficou claro que essas taxas, mesmo sendo essenciais, não são suficientes,
indicando a necessidade de agregar informações como anos vividos e níveis
de incapacidade da população.
A partir da década de 1940, a OMS passou a definir saúde de forma
mais ampla, considerando, além da ausência de doenças ou enfermidades,
o bem-estar físico, mental e social. Com a nova definição, o status de saúde
passa a ter muitos pontos de ligação com a QV.
O Quadro 1 apresenta alguns indicadores utilizados na tentativa de
mensurar a QV segundo Gonçalves e Vilarta (2004).

1 Saúde como componente da QV


Índice de Desenvolvimento Humano
Índice de Desenvolvimento Tecnológico
Índice Paulista de Responsabilidade Social
Índice de Deteriorização da Vida
Índice de Sustentabilidade Ambiental
Índices Genebrinos
2 Variáveis de análise
2.1 Ênfase biológica
2.1.1 Indicadores Específicos
Sistema de Vigilância de Fatores de Risco
Inquérito Nacional de Saúde por Entrevistas
Perfil de Impacto de Doenças
WHOQOL-100

71
qualidade de vida em foco

SF-36
2.1.2 Indicadores Genéricos
QALYs
DALYs
HeaLYs
Carga Global de Doença
2.2 Uso geral: Coeficiente de Gini

quadro.1 indicadores de qv e saúde


Fonte: Gonçalves e Vilarta (2004)

Conforme apresentado no Quadro 1, observa-se a variedade de índices


no campo 1 (saúde como componente da QV) que apresentaram como carac-
terística principal a facilidade na obtenção dos dados na maioria dos países,
preocupando-se mais em obter dados sobre as condições socioeconômicas
da população. Em contrapartida, os índices pouco discriminam países de
condições semelhantes, pois se baseiam no crescimento econômico do país,
ignorando outros valores e práticas importantes para a mensuração da QV.
A partir da necessidade de avaliar outros componentes que comple-
mentassem a mensuração da saúde, ainda no Quadro 1 (no campo 2 – Saúde
como interesse na QV), observa-se o desenvolvimento de vários indicadores.
Dentre os indicadores específicos, os instrumentos avaliavam componentes
considerados subjetivos de cada constructo. Já os indicadores genéricos
avaliavam o impacto de determinada doença para a tomada de decisões no
planejamento da assistência.
A maioria dos instrumentos existentes foram desenvolvidos nos Es-
tados Unidos. Porém, diante da necessidade de um instrumento capaz de
avaliar o constructo QV de uma perspectiva internacional e geral, a OMS
elaborou o Grupo World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) no
ano de 1993 (fleck et al., 1999).
Segundo Fleck et al. (1999), o primeiro passo para a elaboração do
instrumento WHOQOL-100 foi a formulação dos aspectos fundamentais
referentes ao constructo QV: subjetividade, multidimensionalidade e presença
de dimensões positivas e negativas. Ao desenvolver esses elementos foi
possível formular a definição de QV.
O segundo passo foi desenvolver a estrutura do instrumento, que,
reconhecendo a multidimensionalidade, foi estruturado em seis domínios:
físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente

72
qualidade de vida de pessoas com deficiência

e espiritualidade (religião e crenças pessoais). Sobre isso, Pedroso et al. (2013,


p. 23) inferem que:

O rigor metodológico utilizado no processo de constru-


ção e validação dos instrumentos WHOQOL possibilita a
obtenção de características psicométricas satisfatórias,
perfazendo com que os resultados das aplicações de tais
instrumentos sejam válidos, consistentes e fidedignos à
população estudada.

Frente ao exposto, os instrumentos desenvolvidos pelo Grupo WHOQOL


são os mais utilizados pelos países nos quais houve a tradução e validação
dos questionários. A Quadro 2 apresenta os estágios no desenvolvimento
do primeiro questionário do Grupo WHOQOL, em 1995.

Estágio Método Produto Objetivos


Definição de Estabelecimento de um
qualidade de vida consenso para uma de-
finição de qualidade de
Clarificação do Revisão por experts
1 vida e para uma abor-
conceito internacionais Definição de um
dagem internacional da
protocolo para o
avaliação de qualidade
estudo
de vida
Revisão por
experts Exploração do concei-
Elaboração de to de qualidade de vida
Estudo piloto
2 Grupos focais um conjunto de por meio das culturas
qualitativo
questões e da geração de ques-
Painel escrito por tões
experts e leigos
Administração do Refinamento da estru-
WHOQOL piloto em Padronização de tura do WHOQOL
Desenvolvimento
3 15 centros para 250 um questionário
de um piloto
pacientes e 50 de 300 questões Redução do conjunto
normais de questões

73
qualidade de vida em foco

Estrutura comum
de domínios
Conjunto de 100
Aplicação em gru- Estabelecimento de
questões
4 Teste de campo pos homogêneos propriedades psico-
de participantes Escala de respos- métricas do WHOQOL
tas equivalentes
em diferentes
idiomas

quadro.2 desenvolvimento do whoqol-100


Fonte: Fleck et al. (1999)

Um total de 15 centros foram sediados em 14 países para o desen-


volvimento do WHOQOL. Posteriormente aos estágios apresentados acima,
o questionário denominado WHOQOL-100 apresentou-se seccionado em 6
domínios divididos em 24 facetas, conforme apresentado no Quadro 3.

Domínio I – Domínio físico


Dor e desconforto
Energia e fadiga
Sono e repouso
Domínio II – Domínio psicológico
Sentimentos positivos
Pensar, aprender, memória e concentração
Autoestima
Imagem corporal e aparência
Sentimentos negativos
Domínio III – Nível de Independência
Mobilidade
Atividades de vida cotidiana
Dependência de medicação ou de tratamentos
Capacidade de trabalho

74
qualidade de vida de pessoas com deficiência

Domínio IV – Relações sociais


Relações pessoais
Apoio social
Atividade sexual
Domínio V – Ambiente
Segurança física e proteção
Ambiente no lar
Recursos financeiros
Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
Participação em, e oportunidades de recreação/ lazer
Ambiente físico: (poluição/ ruído/ trânsito/ clima)
Transporte
Domínio VI – Aspectos espirituais/ Religião/ Crenças pessoais
Aspectos espirituais/ Religião/ Crenças pessoais

quadro.3 domínios e facetas do whoqol-100


Fonte: Fleck et al. (2008)

Cada faceta é formada por 4 questões. As questões seguem uma


sequência lógica por escala de respostas (intensidade, avaliação, capacidade
e frequência), as quais estão dispostas em escala do tipo Likert de cinco
pontos, em que os extremos representam 0% e 100% (pedroso et al., 2013).
A escala de Likert foi criada por Rensis Likert em 1932 para mensurar
atitudes no contexto das ciências comportamentais, desenvolvendo um
conjunto de afirmações relacionadas à definição de um construto, para as
quais os respondentes emitem seu grau de concordância.
Originalmente, a escala propunha uma aplicação de cinco pontos,
variando da discordância total até a concordância total. Atualmente existem
variações na sua pontuação, atendendo ao critério do pesquisador ( silva
júnior; costa, 2014).
Para complementar o questionário, há a 25ª faceta, denominada Qua-
lidade de vida global e percepção geral da saúde, que não está incluída em
nenhum dos domínios, mas é tão importante quanto, porque “[...] aborda uma

75
qualidade de vida em foco

autoavaliação da QV, em que o indivíduo expressa o seu ponto de vista de


satisfação com a vida, saúde e QV” (pedroso et al., 2013, p. 21).
Mesmo apontando propriedades psicométricas consistentes, o WHO-
QOL-100 apresenta a sua extensão como principal fator limitante de aplicação.
Isso se deve ao número de itens que constituem o questionário, exigindo
maior tempo do respondente, mostrando-se inviável para alguns usos.
Segundo Pedroso et al. (2013), diante da necessidade de disponibilizar
um instrumento que exigisse menor tempo para preenchimento, mas que
mantivesse as características psicométricas satisfatórias, o Grupo WHOQOL
desenvolveu o WHOQOL-Bref (versão abreviada do WHOQOL-100).
O WOQOL-Bref é composto por 26 questões, mantendo as 24 face-
tas do instrumento anterior, porém resumidas em uma questão para cada
faceta, estando estas divididas em 4 domínios. Ainda foram incluídos dois
itens para a qualidade de vida global e percepção geral da saúde, conforme
apresentação do Quadro 4.

Domínio I – Domínio físico


Dor e desconforto
Energia e fadiga
Sono e repouso
Mobilidade
Atividades da vida cotidiana
Dependência de medicação ou de tratamentos
Capacidade de trabalho
Domínio II – Domínio psicológico
Sentimentos positivos
Pensar, aprender, memória e concentração
Autoestima
Imagem corporal e aparência
Sentimentos negativos
Espiritualidade/ Religião/ Crenças pessoais

76
qualidade de vida de pessoas com deficiência

Domínio III – Relações sociais


Relações pessoais
Suporte (apoio) social
Atividade sexual
Domínio IV – Ambiente
Segurança física e proteção
Ambiente no lar
Recursos financeiros
Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
Participação em, e oportunidades de recreação/ lazer
Ambiente físico: (poluição/ ruído/ trânsito/ clima)
Transporte
Aspectos espirituais/ Religião/ Crenças pessoais

quadro.4 domínios e facetas do whoqol-bref


Fonte: Fleck et al. (2000)

É importante destacar que as escalas de respostas do WHOQOL-Bref


estão dispostas de modo crescente, conferindo a maior numeração à melhor
percepção da QV, exceto as questões referentes à dor e ao desconforto,
dependência de medicação ou de tratamentos e sentimentos negativos, que
estão dispostas de modo decrescente, conferindo a maior numeração à pior
percepção da QV. Dessa forma, para gerar o escore final, torna-se necessário
inverter as respostas que estão no modo decrescente (fleck et al., 2008).
Segundo Pedroso et al. (2015), a partir dos instrumentos genéricos, a
OMS empenhou-se na elaboração de instrumentos de avaliação da QV dire-
cionados a populações específicas utilizando módulos complementares ou
suplementares aos instrumentos WHOQOL-100 ou WHOQOL-Bref, citados
na Figura 2.

77
qualidade de vida em foco

figura.2 instrumentos específicos desenvolvidos pelo grupo whoqol


Fonte: Autoria própria.

É possível perceber na Figura 2 a existência de três instrumentos


específicos destinados às PCD: WHOQOL-DIS-PD, WHOQOL-DIS-ID e WHO-
QOL-DIS-ID-PROXY. Todos são módulos adicionais específicos de acordo com
a deficiência do público alvo e devem ser aplicados junto ao WHOQOL-Bref,
o qual também recebe adaptações específicas.

78
qualidade de vida de pessoas com deficiência

Avaliação da qualidade de vida de


pesssoas com deficiência

Muitas terminologias foram utilizadas ao longo da história para se


referir às pessoas que apresentavam algum tipo de deficiência. Segundo
Cantorani (2013), o debate acerca do tema tem ocupado espaços cada vez
mais concretos e representativos. O primeiro movimento importante a partir
do qual resultou a terminologia utilizada atualmente – PCD – foi o colocado
em curso pela fundação da The Union of the Physically Impaired Against
Segregation (UPIAS), em 1972, no Reino Unido.
A UPIAS foi uma das primeiras organizações formadas por PCD. Seus
objetivos eram distintamente políticos, acima do assistencialismo visto em
instituições anteriores. Sua principal contribuição foi a fundamentação teórica
do modelo social da deficiência, contribuindo com a distinção de importantes
conceitos presentes no cotidiano das PCD.
Até a década de 70 o termo deficiente sofreu diversas alterações,
passando de substantivo para adjetivo, a destacar: pessoa portadora de
necessidades especiais, pessoa portadora de deficiência, pessoas com
necessidades especiais, portadores de necessidades especiais e pessoas
especiais. Diante dos movimentos acerca do tema, o ano de 1981 foi procla-
mado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional
das Pessoas Deficientes.
A partir dessa década começaram a se estruturar bases mais signifi-
cativas para uma mudança em direção ao reconhecimento dos direitos das
PCD, elucidando o significado da pessoa como substantivo e deficiente
como adjetivo (cantorani, 2013). Cantorani ainda infere que os movimentos
mundiais debateram não apenas sobre uma terminologia, mas sobre o ter-
mo mais adequado à condição da PCD, referindo-se a esta população com
igualdade e dignidade.
O termo pessoas com deficiência pode ser encontrado no texto da
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o
qual foi aprovado e transformado em documento pela ONU em 25 de agosto
de 2006 (cantorani, 2013). A consolidação desse termo baseou-se no modelo
social da deficiência discutido pela UPIAS, em 1975.
No modelo social da deficiência, o termo imparidade apresenta-se
como “[...] ausência parcial ou total de um membro, órgão ou existência de
um mecanismo corporal defeituoso” (the union of the physically impaired against

79
qualidade de vida em foco

segregation; the disability alliance, 1997, p. 14, tradução nossa), enquanto o termo
deficiência apresenta-se como uma:

[...] desvantagem ou restrição de atividade provocada pela


organização social contemporânea que pouco ou nada con-
sidera aqueles que possuem limitações físicas e, portanto,
os exclui da participação das principais atividades da vida
social (the disability alliance, 1997, p. 14, tradução nossa).

A partir de tais movimentos, a OMS percebeu a necessidade de rees-


truturar sua classificação internacional para a descrição da saúde e de esta-
dos relacionados a ela. A mais recente está disponibilizada na Classificação
Internacional de Doenças (CID), décima revisão (CID-10), que apresenta uma
estrutura de base etiológica, e na Classificação Internacional de Funciona-
lidade, Incapacidade e Saúde (CIF) que é baseada na funcionalidade e na
incapacidade associadas ao estado de saúde.
A CIF é complementar à CID, de modo a ampliar e dar mais significado
ao estado de saúde das pessoas ou da população, oferecendo uma visão
coerente das diferentes perspectivas de saúde: biológica, individual e social
(organização mundial da saúde, 2004).
A CIF apresenta-se dividida em dois componentes: o componente
da Funcionalidade e da Incapacidade, que abrange as funções e estruturas
corporais e as atividades e participação, e o componente dos Fatores Con-
textuais, que abrange os fatores ambientais e pessoais (organização mundial
da saúde, 2004).
Com a CIF surgem três dimensões: imparidade, limitações para as
atividades e restrições para participação. A partir dessa nova classificação,
toda dificuldade ou limitação corporal, permanente ou temporária, pode ser
classificada como deficiência (cantorani, 2013). Neste contexto, a OMS adota
o modelo biopsicossocial da deficiência, defendendo que deficiência é o
oposto da funcionalidade (bredemeier et al., 2014).
A partir desse momento, a OMS se deparou com a necessidade de
adequar os instrumentos de avaliação da QV, visto que os instrumentos
genéricos utilizados, até então, para avaliar a QV das PCD, incluindo os ins-
trumentos desenvolvidos pela própria OMS, não eram capazes de abranger
todos os componentes defendidos pelo modelo biopsicossocial da deficiência,
como especificações relacionadas à participação e à autonomia (cantorani;
pilatti; gutierrez, 2015).Diante do desafio, a OMS reuniu especialistas para o
desenvolvimento de um questionário específico para avaliar a QV das PCD.
Este grupo constituiu o projeto DIS-QOL, liderado pela Universidade de

80
qualidade de vida de pessoas com deficiência

Edimburgo. O grupo seguiu a metodologia utilizada para o desenvolvimento


dos instrumentos genéricos WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref, que consistiu
em: trabalho de grupo focal em centros colaboradores, geração de itens,
testes-piloto, refinamento e redução de itens, seguido pelo teste de campo
do instrumento (power; green; whoqol-dis group, 2010).
O projeto DIS-QOL, posteriormente chamado de WHOQOL-DIS, resul-
tou em um módulo adicional ao WHOQOL-Bref, composto por 13 questões
conforme o Quadro 5.

Domínio I – Apoio social


Discriminação
Proteção
Perspectivas futuras
Domínio II – Decisão pessoal
Controle de vida
Tomada de decisão
Autonomia
Domínio III – Comunicação
Comunicação
Aceitação social
Respeito
Domínio IV – Inclusão social
Interação na sociedade
Inclusão social
Capacidade pessoal

quadro.5 domínios e facetas do whoqol-dis


Fonte: Chaveiro (2011).

A OMS ainda elaborou três versões do WHOQOL-DIS, conforme apre-


sentado na Figura 2, o WHOQOL-DIS-PD (para PCD física), o WHOQOL-DIS-ID
(para PCD intelectual) e o WHOQOL-DIS-ID-PROXY (para os responsáveis pelos
cuidados da pessoa com deficiência intelectual, caso a PCD não apresente
condições de responder) (cantorani; pilatti; gutierrez, 2015).

81
qualidade de vida em foco

Segundo Cantorani, Pilatti e Gutierrez (2015), algumas adequações


mostraram-se necessárias para o desenvolvimento das três versões:

A para o WHOQOL-DIS-PD, tanto no módulo adicional quanto no WHO-


QOL-Bref, foi mantida a escala de Likert de 5 pontos para as respostas
de todas as questões. O módulo adicional ainda recebeu ilustrações
com faces que representam expressões de satisfação para as respostas
1, 3 e 5;

B para o WHOQOL-DIS-ID, a escala de Likert de 5 pontos não se mostrou


indicada para o público-alvo do questionário e foi alterada para uma
escala de 3 pontos, tanto no módulo adicional quanto no WHOQOL-Bref,
porém as facetas dos domínios gerais permaneceram com a escala
original. Nessa versão todas as respostas receberam ilustrações com
faces que representam expressões de satisfação;

C o WHOQOL-DIS-ID-PROXY não sofreu qualquer alteração nas escalas


de respostas, mas as questões do WHOQOL-Bref e do módulo adicional
foram reformuladas para se referir à PCD, pois será um responsável
apontando as melhores opções que correspondem ao estado da PCD.
Também nessa versão todas as respostas receberam ilustrações com
faces que representam expressões de satisfação.

Outra importante informação sobre o WHOQOL-DIS é que, assim como


o WHOQOL-Bref, suas escalas de respostas também estão dispostas de
modo crescente, mas as questões referentes à discriminação, à proteção e
às perspectivas futuras estão dispostas de modo decrescente. Dessa forma,
para gerar o escore final, torna-se necessário inverter as respostas que estão
no modo decrescente (fleck et al., 2008).
Ao comparar a versão internacional com a versão brasileira do WHO-
QOL-DIS, Cantorani, Pilatti e Gutierrez (2015) inferem que a primeira deixa a
desejar com relação à segunda, por não contemplar o módulo local, cons-
tituído por quatro itens no artigo de validação e por cinco itens no seu teste
de campo.
As questões adicionais se referem à autonomia e à acessibilidade,
apresentados como muito significativos nos documentos da UPIAS e da CIF.
Os autores concluem que, ainda que a acessibilidade não seja um problema
nos demais países, a inclusão do módulo local poderia demonstrar o quanto
a condição de acessibilidade é significativa para a QV da população com
deficiência.

82
qualidade de vida de pessoas com deficiência

Além disso, Cantorani (2013) afirma que a QV das PCD está relacionada
à capacidade ou condição de executar tarefas de forma independente, de
acessibilidade e de autonomia.
Frente ao contexto apresentado, pesquisas foram desenvolvidas com
o objetivo de avaliar a QV das PCD. Destaca-se a pesquisa de Yazicioglu et al.
(2012), na qual os autores avaliaram a influência dos esportes adaptados na
QV e na satisfação com a vida em participantes esportivos e não esportivos
com deficiência física.
Os autores observaram escores de QV significativamente maiores no
grupo de PCD físicas que participaram de esportes adaptados em comparação
com PCD física que não estavam envolvidas em nenhum esporte adaptado.
Outra pesquisa relevante foi publicada por Côté-Leclerc et al. (2017),
com a aplicação de um método misto quanti-qualitativo. Na análise dos dados
quantitativos, os autores observaram escores similares de QV entre os grupos
pesquisados, que envolviam pessoas com e sem deficiência.
Torna-se interessante destacar a análise qualitativa da pesquisa de
Côté-Leclerc et al. (2017), na qual as PCD puderam relatar sobre o impacto do
esporte adaptado na QV. A conclusão sobre esse impacto foi positiva, princi-
palmente no que diz respeito ao bem-estar físico e à saúde. Os entrevistados
também relataram o impacto positivo na participação social, na autoestima,
na sensação de pertencer a um grupo e nas relações interpessoais.

Considerações finais

Os instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref desenvolvidos pela


OMS atingiram o objetivo de avaliar a QV dos indivíduos, mas de forma ge-
nérica. Ao serem aplicados em populações específicas, ambas as versões
apresentavam lacunas que precisavam ser preenchidas por questões que
não estavam presentes em suas facetas e/ou domínios.
A demanda por instrumentos voltados a populações específicas,
como as PCD, fez com que a OMS criasse um projeto capaz de desenvolver
instrumentos capazes de abranger todos os componentes defendidos pelo
modelo biopsicossocial da deficiência, como especificações relacionadas
à participação e à autonomia.

83
qualidade de vida em foco

Surge, então, o projeto WHOQOL-DIS, que criou um módulo composto


por questões específicas que deveriam ser aplicadas adicionalmente ao
WHOQOL-Bref. Dentro do processo mundial de tradução e validação dos
instrumentos para a língua e realidade de cada país, a versão brasileira se
destaca da versão internacional por contemplar no módulo local questões
adicionais que se referem à autonomia e à acessibilidade, temas importantes
segundo os documentos da UPIAS e da CIF.

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86
Alimentação e nutrição na promoção
da saúde: guia alimentar para a
população brasileira

Eliana Aparecida Fagundes Queiroz Bortolozo


Luiz Alberto Pilatti
Introdução

A
alimentação e a nutrição constituem importantes atividades
humanas e causam impacto direto sobre a evolução da socie-
dade. Não se limitam aos aspectos biológicos, abrangendo
também fatores culturais, econômicos, sociais e políticos.
A busca pelo alimento, enquanto meio de sobrevivência, confunde-se com
o próprio desenvolvimento da humanidade. A necessidade de garantir o
sustento, do ponto de vista da aquisição, da produção e da conservação,
impulsionou o homem rumo à busca de técnicas de plantio, de transporte e
de conservação dos alimentos.
A alimentação é primeiramente uma prática biológica ligada à vitalidade
do indivíduo. Em quantidades e proporções adequadas, supre o organismo
dos componentes nutricionais e energéticos, necessários à formação e à
manutenção da vida. Diferentemente dos outros animais, o homem produz
os alimentos, transforma-os, utilizando diferentes técnicas culinárias e tec-
nológicas, e interage o ato de comer com suas relações sociais, envolvidas
por aspectos culturais, religiosos e econômicos (montanari, 2008).
Em praticamente todas as culturas, os alimentos sempre foram rela-
cionados com a saúde. Sua escassez, em diversas fases da sociedade, teve
influência direta sobre o estado nutricional e a saúde, do indivíduo e/ou do
grupo social.
Entretanto, somente nas primeiras décadas do século XX, surge a
ciência da nutrição, com ênfase sobre o papel dos nutrientes, suas funções
fisiológicas e a investigação dos efeitos de sua carência na alimentação. A
ciência da nutrição refere-se ao estudo do padrão alimentar, a partir do con-
sumo dos nutrientes, das funções destes componentes nutricionais para o
indivíduo sadio ou enfermo. Abrange as necessidades e as recomendações
nutricionais e a avaliação do estado nutricional (antropometria, composição
corporal e alterações bioquímicas). Uma dieta adequada é aquela que dis-
ponibiliza alimentos que atendam à necessidade da ingestão de nutrientes,
levando-se em conta as variações individuais, as preferências de paladar e os
hábitos alimentares. A nutrição enfatiza a importância da dieta na formação
e na manutenção do bem-estar humano e na promoção da saúde (mahan;
escott-stump; favano, 2005).

88
qualidade de vida em foco

Apesar de terem sido descritos no século XVIII estudos investigativos


sobre doenças carenciais, tais como escorbuto (carência de vitamina C),
beribéri (carência de vitamina B1) e pelagra (carência da niacina), somente
com o desenvolvimento da ciência da nutrição tornou-se possível descrever,
estudar e controlar muitas doenças nutricionais que acometem a humanidade
desde o princípio do seu desenvolvimento. Um dos marcos no progresso
da nutrição situa-se na Primeira Guerra Mundial, quando a necessidade de
garantir a provisão de alimentos intensificou a investigação sobre o valor
nutritivo, as técnicas de produção e a armazenagem dos mesmos.
Na década de 1930, praticamente todos os nutrientes que compõem
o corpo humano já haviam sido estudados, assim como métodos de síntese
e de produção terapêutica (acuña; cruz, 2003; carneiro, 2005). Com a eclosão da
Segunda Guerra Mundial, novos estudos relacionados com a nutrição e com
a tecnologia influenciaram o conhecimento técnico-científico dos alimentos
e seus efeitos sobre o homem.
A partir deste período, e mais recentemente nos anos 90 do século
XX, a alimentação passou a incluir um caráter não apenas quantitativo, mas
também qualitativo, do ponto de vista nutricional e sanitário. Programas para
promoção da saúde da população, em especial para garantir uma alimentação
equilibrada, passam por questões econômicas, como distribuição de renda e
garantia de emprego, além de questões sociais e econômicas, como educação
e disponibilidade de alimentos mais saudáveis ao alcance de toda a população.
Vários países têm adotado iniciativas para promover uma alimenta-
ção saudável destinada a todas as faixas etárias. O conceito de segurança
alimentar e nutricional inclui-se no princípio básico do direito humano à ali-
mentação e nutrição adequadas. Este direito, segundo o Conselho Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) (2004), compreende o acesso
regular e perdurável a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o ingresso em outras necessidades básicas.
Tem como premissa práticas alimentares promotoras da saúde, que
obedeçam à diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambiental-
mente sustentáveis. Por seu lado, a insegurança alimentar não se refere apenas
a doenças carenciais, mas está estreitamente ligada a hábitos inadequados
que resultam em obesidade e outras doenças metabólicas (costa; bógus, 2012).
Questões relacionadas com o papel da nutrição e da alimentação na
garantia da saúde do indivíduo e da sociedade são discutidas neste capítulo,
levando-se em conta a transição nutricional da população brasileira e mundial,
diretrizes relacionadas à prática alimentar adequada, em especial aquelas
apresentadas no Guia alimentar para a população brasileira (brasil, 2014).

89
alimentação e nutrição na promoção da saúde

Transição nutricional e novos caminhos


na busca da saúde

Inicialmente, a ciência da nutrição concentrava-se nas doenças nu-


tricionais, relacionadas principalmente com a fome e suas consequências
para o desenvolvimento do indivíduo, seja do ponto de vista físico, como
também do social.
Nas últimas décadas do século XX, observou-se, entretanto, uma
transição nutricional caracterizada pela redução de doenças carenciais, como
a desnutrição, a par do aumento de doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), tais como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e diversos
tipos de câncer (byers; sedjo, 2011).
A industrialização, a urbanização e a globalização geraram mudanças
no padrão alimentar do ocidente, caracterizado pelo desmame precoce, au-
mento da ingestão de calorias, de gorduras saturadas, de gordura trans, de
açúcares e de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, salgadinhos
e biscoitos.
As DCNTs podem resultar em incapacidade, em sofrimento e em di-
minuição da qualidade de vida, assim como em despesas, para os pacientes
e outros indivíduos envolvidos. Essas patologias refletem-se, ainda, sobre
custos para a sociedade e para o governo, implicando gastos no sistema de
saúde, redução da produtividade no trabalho e diminuição da renda familiar.
Ressalte-se que o padrão alimentar exerce influência no estado nu-
tricional e, concomitantemente, no crescimento e no desenvolvimento das
crianças, assim como no risco de morbidade da população em geral (malta
et al., 2017).
A relação direta entre nutrição e saúde motivou a criação de agências
especializadas neste tema, no âmbito da Organização das Nações Unidas
(ONU), especificamente a United Nations Children’s Fund (UNICEF), a Food
and Agriculture Organization (FAO), a World Health Organization (WHO) e a Pan
American Health Organization (PAHO), em decorrência das alterações políticas
e econômicas ocorridas após a Segunda Guerra Mundial (vasconcelos, 2001).
O art. 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DHAA) prevê
o direito à alimentação adequada, que garanta a toda pessoa os requisitos
essenciais que assegurem sua saúde e bem-estar, estando neles implícito
o direito à nutrição, e não apenas à disponibilidade do alimento, para que o
indivíduo viva bem nutrido e saudável (valente, 2002).

90
qualidade de vida em foco

Organizações governamentais e não governamentais têm pesquisado


e traçado estratégias voltadas para a questão de uma alimentação saudável
e de uma vida menos sedentária. O Plano de Ação, aprovado na Assembleia
Mundial de Saúde, em maio de 2008, intitulado Action Plan for the Global Stra‑
tegy for the Prevention and Control of Noncommunicable Diseases, tomou por
base a importância do controle da dieta e da prática de atividade física (AF), a
favor da promoção da saúde (world health organization, 2008). Uma das metas
do referido programa inclui reduzir a exposição dos indivíduos ao tabaco e
ao uso nocivo do álcool, estimular as populações a escolhas dietéticas mais
saudáveis e incentivar a prática regular de AF.
Para o período de 2006-2015, a PAHO manteve um programa intitulado
Estratégia regional e plano de ação para um enfoque integrado na prevenção
e controle de doenças crônicas. Sua finalidade foi assegurar e promover o
desenvolvimento e a implantação de políticas públicas eficazes, inclusive
quanto à alimentação saudável e à prática de AF, políticas estas destinadas ao
controle dos fatores de risco para o desenvolvimento de DCNTs (pan american
health organization, 2007).
Uma discussão internacional foi apresentada na Declaração de Adelaide
sobre a saúde em todas as políticas (austrália-2010), a fim de engajar líderes
e formadores de política, de todos os âmbitos (local, regional, nacional e
internacional), no sentido de incorporarem ao desenvolvimento de políticas
sociais a promoção da saúde e do bem-estar. Segundo o documento, boas
condições de saúde – como a disponibilidade de alimentos saudáveis – são
facilitadores, enquanto más condições de saúde são obstáculos a qualquer
política de governo (graça; gregório, 2012).
Algumas das diretrizes da American Cancer Society (ACS) (2012) sobre
nutrição e a AF estão voltadas para a importância de certos hábitos, como:

A manter o peso;

B evitar o consumo de alimentos altamente calóricos e o consumo de


carnes processadas e vermelhas;

C consumir pelo menos 2,5 xícaras de hortaliças e frutas diariamente;

D substituir cereais refinados por integrais;

E limitar o consumo de bebida alcoólica;

91
alimentação e nutrição na promoção da saúde

F evitar o sedentarismo e praticar pelo menos 150 minutos de atividade


moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa, por semana.

O relatório do United States Department of Health & Human Services


(2000) reconhece a importância da nutrição e de outros fatores ambientais,
no sentido de assegurar a saúde e aumentar o tempo de qualidade de vida
dos americanos. O documento demonstra a relação entre a alimentação e a
incidência de várias doenças metabólicas, como, por exemplo: câncer, doença
cardiovascular, acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva e
diabetes.
O documento Health 2020, elaborado pela WHO-Europa, aponta as
DCNTs como um dos principais desafios das políticas de saúde no continente
europeu. Tem como alvo melhorar significativamente o estado de saúde e bem-
-estar das populações dos 56 países signatários, por meio do fortalecimento
da saúde pública para todos e com elevado nível de qualidade (jakab, 2011).
No Brasil, o plano de ações estratégicas para o enfrentamento das
DCNTs, vigente para o período 2011-2022, tem por meta a promoção da AF,
visando à diminuição do sedentarismo, à redução do tabagismo e do consumo
nocivo do álcool, somados à adoção de uma dieta mais saudável (brasil, 2011).
Pesquisas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde têm demonstrado,
em meio à população brasileira, alta incidência de obesidade e outras DCNTs,
em decorrência de mudanças de hábitos alimentares e de estilo de vida.
Entre estas pesquisas, destacam-se o Sistema de Vigilância de Fatores de
Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),
realizado anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no
Distrito Federal, e a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) (2010). Os dois estudos demonstram elevada
prevalência de indivíduos com excesso de peso e revelam outros fatores de
risco relacionados com o estilo de vida. As mudanças nos hábitos alimentares,
o baixo consumo de frutas e hortaliças e a ingestão frequente de alimentos
gordurosos e açucarados representam fatores que têm sido associados com
a adoção de vida menos ativa (brasil, 2017, 2019; malta et al., 2015).
Levando-se em conta este panorama, faz-se pertinente considerar
a importância de políticas públicas que propiciem a adoção, por parte da
população, de uma alimentação mais saudável.
No contexto brasileiro, sob a dimensão do direito de estar livre da fome,
e enquanto garantia da alimentação adequada, a DHAA está prevista em ins-
trumentos legais do Estado brasileiro e assegurada pela Constituição Federal
de 1998, como princípio de proteção social (burity et al., 2010; burlandy, 2009).
As primeiras Políticas de Alimentação e Nutrição (PANs) no Brasil tinham por

92
qualidade de vida em foco

objetivo enfrentar as doenças carenciais. Foram importantes, na década de


1970, quando se criou o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN),
e com ele o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN), tendo
como finalidade amenizar os problemas nutricionais da população, por meio
de suplementação alimentar para grupos vulneráveis (lactantes, crianças e
gestantes), bem como aumentar a produção e a comercialização de alimentos
básicos (arruda; arruda, 2007).
No final dos anos 90, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional
de Alimentação e Nutrição (PNAN), “Considerando a necessidade do setor
Saúde dispor de uma política decisiva quanto à alimentação e nutrição” (brasil,
1999b, p. 1).
No ano de 2003, o Brasil estabeleceu priorização quanto ao combate
à fome, com o lançamento do Programa Fome Zero. Foi criado o Ministério
Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e restabe-
lecido o CONSEA. Vários programas de enfrentamento da fome e da pobreza
foram unificados no Programa Bolsa Família (PBF), sob responsabilidade do
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criado em 2004
(santos; pasquim; santos, 2011).
A partir de 2010, a alimentação no Brasil passou à condição de direito
social básico, com dever irretorquível, quanto à responsabilidade do Estado,
de assegurar que todo cidadão brasileiro tenha acesso regular e permanente
ao alimento, para atender às suas necessidades nutricionais, dentro de seu
contexto histórico, social e cultural (burlandy, 2009; savio et al., 2005).
Na esfera do Serviço Único de Saúde (SUS), a PNAN baseia-se na
oferta de atenção nutricional, com vistas à melhoria das condições da ali-
mentação e da nutrição para a população brasileira, a partir da promoção de
práticas alimentares saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção
e cuidado com desequilíbrios nutricionais, contribuindo assim para a saúde
da população brasileira (jaime; santos, 2014).
De acordo com Jaime et al. (2011), são exemplos de ações efetivadas
no Brasil, relacionadas com a alimentação e a nutrição da população brasileira,
desenvolvidas pela Vigilância Alimentar e Nutricional:

A implementação do Guia alimentar para a população brasileira;

B estratégia nacional para a alimentação complementar saudável;

C Programa Saúde na Escola e ações de controle e prevenção da obe-


sidade;

93
alimentação e nutrição na promoção da saúde

D enfrentamento de doenças crônicas e deficiências de micronutrientes,


com foco na anemia ferropriva e hipovitaminose A.

Guia alimentar para a população brasileira

O Guia alimentar para a população brasileira, publicado pela primeira vez


em 2005 pelo Ministério da Saúde (MS), caracterizado como um instrumento
de educação nutricional, segue as diretrizes internacionais de promoção de
uma alimentação saudável (brasil, 2005).
Trata-se de um documento oficial que leva em consideração os as-
pectos regionais e culturais da população brasileira. Configura-se como
instrumento de apoio às ações de educação alimentar e nutricional no SUS
e também em outros setores (brasil, 2014). Foi desenvolvido em parceria com
a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Organização Mundial da
Saúde (OMS) e a Universidade de São Paulo (USP).
Representa um instrumento destinado à população em geral, apresen-
ta combinações saudáveis para o café da manhã, almoço, jantar e lanches,
respeitando as diferenças regionais e sugerindo alimentos e bebidas de fácil
acesso para os brasileiros. Aborda aspectos nutricionais dos alimentos, não
somente em relação à composição dos nutrientes, mas também à presença
de nutrientes funcionais, reconhecidamente benéficos ao bom funcionamento
do organismo e à redução de riscos do desenvolvimento da obesidade e de
DCNTs.
Muitos compostos bioativos presentes nos alimentos, nutrientes e não
nutrientes, são responsáveis por efeitos sobre o metabolismo e a fisiologia
dos indivíduos, nas diversas fases da vida, e são conceituados como ingre-
dientes funcionais. Alimento funcional é definido pela legislação brasileira
como todo alimento ou ingrediente que, “[...] além de funções nutricionais
básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos metabólicos e/ou
fisiológicos e benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo, sem
supervisão médica” (brasil, 1999a).
Os alimentos funcionais constituem parte importante da dieta, uma
vez que promoverem saúde e aumento da expectativa de vida (stringheta et
al., 2007). Podem ser ofertados por meio de uma dieta variada, proposta pelo

94
qualidade de vida em foco

guia alimentar, caracterizada pelo aumento da ingestão de frutas, hortaliças


e alimentos integrais.
A primeira edição do referido guia foi publicada em face das mudanças
de estilo de vida da população brasileira, que modificou seu perfil nutricional
(brasil, 2005). Nele constam recomendações para a população leiga, profissio-
nais da saúde e indústrias de alimentos. Já a segunda edição, publicada em
2014, apresenta recomendações gerais sobre alimentação, no sentido de
promover a saúde de pessoas, famílias, comunidades e da sociedade brasileira,
valorizando os alimentos regionais – naturais ou minimamente processados.
Um dos compromissos apresentados no documento é o de assegurar
a autonomia das pessoas quanto às escolhas alimentares, defendendo o
direito humano à alimentação adequada e sustentável, a partir de ações de
educação alimentar e nutricional.
A elaboração deste guia norteia várias dimensões ou diferentes co-
nhecimentos que incluem práticas alimentares, a saber: transição nutricio-
nal, resgate do consumo de alimentos nutritivos e regionais e produção de
alimentos de forma sustentável. A primeira questão é sustentada pela alta
incidência na população brasileira de obesidade, diabetes, enfermidades
do coração e outras doenças nutricionais, conforme visto anteriormente.
Inicialmente eram doenças comuns em pessoas com idade mais avançada,
mas nos últimos anos vêm atingindo adultos jovens e mesmo adolescentes
e crianças (brasil, 2014).
A segunda vertente admite que não basta olhar o alimento do ponto
de vista químico, mas a forma de se alimentar, de preparar o alimento, res-
peitando-se as diversidades regionais e culturais. O hábito de se alimentar
reporta-se a comer sozinho ou em família ou com amigos; em casa; na rua;
sentado no sofá e/ou diante da televisão, etc. Neste caso, estimula-se um
resgate à alimentação compartilhada, feita em casa, valorizando estudos
que têm identificado que a refeição em família contribui para a melhora do
estado nutricional e da qualidade de vida (moreira, 2010).
Por último, o guia baseia-se na afirmativa de que as “Recomendações
sobre alimentação devem levar em conta o impacto das formas de produção
e distribuição dos alimentos sobre a justiça social e a integridade do ambiente”
(brasil, 2014).

95
alimentação e nutrição na promoção da saúde

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, COM RESGATE CULTURAL DA


PRODUÇÃO FAMILIAR E SUSTENTÁVEL

O guia alimentar propõe alimentação variada, numa combinação de


alimentos de origem vegetal e menor consumo de alimentos de origem animal,
preferencialmente pouco processados. O aumento da oferta de alimentos
de origem vegetal e a diminuição de alimentos de origem animal resultam em
um sistema alimentar socialmente mais justo e com menor impacto sobre o
ambiente físico (brasil, 2014).
Definida como regra de ouro, a dieta proposta pelo guia é rica em ali-
mentos in natura e minimamente processados, enquanto é pobre em alimentos
ultraprocessados. Admite-se que alimentos processados poderiam, desde
que em pequenas quantidades, integrar a alimentação, no acompanhamento
de preparações culinárias. Segundo o guia, pequenas mudanças no perfil da
alimentação, como valorização dos alimentos in natura, redução do consumo
de carnes vermelhas e de alimentos ultraprocessados, poderiam efetivamente
melhorar o padrão alimentar e o perfil nutricional dos brasileiros (brasil, 2014).
A recomendação para consumo de alimentos in natura (frutas, horta-
liças ou produtos de origem animal que não sofreram qualquer alteração) ou
minimamente processados (frutas, hortaliças ou produtos de origem animal
que sofreram processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis
ou indesejáveis, fracionamento ou processo térmico de redução da carga
microbiana) baseia-se na importância de se estimular a redução do consumo
de alimentos processados e principalmente ultraprocessados.
Entende-se por processados aqueles fabricados pela indústria de
alimentos, com adição, aos alimentos in natura, de sal, de açúcar ou de outra
substância de uso culinário, que viria a intensificar o paladar e aumentar o
tempo de conservação.
Ultraprocessados são aqueles fabricados pela indústria de alimen-
tos, envolvendo diversas etapas e técnicas de processamento e muitos
ingredientes, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias de uso
exclusivamente industrial. Nesse sentido, tem-se, portanto, a valorização da
agricultura familiar, reduzindo o impacto ambiental da produção e da distri-
buição de alimentos (brasil, 2014).
Há evidências de que o consumo de alimentos ultraprocessados, em
virtude da sua alta concentração de açúcar, de sal, de gorduras e de aditivos
químicos, está diretamente relacionado ao aumento da incidência das DCNTs
(moodie et al., 2013). Na sua maioria, são nutricionalmente pobres, com grande
apelo de paladar, interferindo inclusive na redução do consumo de alimentos
mais saudáveis, como frutas e hortaliças. Não se pode negar a importância da

96
qualidade de vida em foco

indústria de alimentos no mundo contemporâneo. Faz-se necessário, porém,


que se aplique conduta adequada na produção, na venda e nas informações
disponíveis sobre os alimentos industrializados.
Políticas fiscais e incentivos à produção de alimentos saudáveis, assim
como regulamentação da propaganda e da rotulagem nutricional, são medidas
importantes para exposição segura de alimentos industrializados.
Em 2017, foi iniciado no Brasil o Acordo de Cooperação entre o Mi-
nistério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação
(ABIA), a fim de se reduzir progressivamente o teor de vários nutrientes
dos alimentos industrializados, como açúcar livre, gorduras trans, gorduras
saturadas e sódio.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (2017),
já há resultados, observados entre 2008 e 2016, demonstrando a redução
de 310 mil toneladas de gorduras trans e 17.254 toneladas de sódio, nos
alimentos vendidos nos supermercados brasileiros.
Além da questão do consumo de ultraprocessados, nota-se tendência
da população de consumir alimentos modificados, seja os de menor teor
calórico (alimentos light), seja aqueles enriquecidos com fibras ou nutrientes,
como alternativa para uma alimentação mais saudável. Entretanto, a proposta
do guia alimentar é o resgate de uma dieta mais natural e que se enquadre nos
padrões culturais do brasileiro. É também expressa a importância de se enten-
der a composição dos alimentos processados, utilizando-se a análise crítica
da rotulagem dos alimentos, sobretudo a rotulagem nutricional (brasil, 2003).

PLANEJAMENTO DAS REFEIÇÕES PRIORIZANDO


ALIMENTOS SAUDÁVEIS, IN NATURA OU
MINIMAMENTE PROCESSADOS

O guia em pauta fornece modelos, a título de exemplos, de refeições


saudáveis, incluindo diversas ilustrações, segundo as características regionais
do Brasil, direcionadas para crianças a partir de dez anos e adultos, peculiares
para o meio urbano e o rural e para as diversas classes de renda.
As refeições sugeridas subdividem-se conforme se destinem a café da
manhã, almoço, jantar e pequenos lanches, levando-se em conta a diversidade
de frutas, hortaliças e grãos cultivados no Brasil. A variação das preparações
permite diversificar sabores, aromas, cores e texturas (brasil, 2014).
Outra questão apresentada no guia refere-se à moderação no uso de
óleo e de sal de cozinha, dando-se preferência aos óleos vegetais, como soja,

97
alimentação e nutrição na promoção da saúde

milho, girassol e canola. É proposto, ainda, o uso de quantidades generosas


de cebola, alho e ervas aromáticas, com vistas à redução da adição de sal.
O planejamento das refeições toma por base a presença de alimentos
de diferentes fontes de nutrientes, tendo como referência o trabalho de Philip
et al. (1999), que adaptaram para a população brasileira a pirâmide alimentar,
inicialmente proposta para a população americana (united states department
of agriculture, 1992). A pirâmide adaptada foi dividida em oito grupos: cereais,
frutas, vegetais, leguminosas e castanhas, leite, carnes, gorduras e açúcares.
A alternância entre alimentos do mesmo grupo garante o aporte de nutrientes,
acrescenta novos sabores e maior diversidade à alimentação (brasil, 2014).
O grupo de cereais, ricos em carboidratos, proteínas, minerais e vita-
minas, abrange arroz, milho e derivados, trigo e derivados, aveia e centeio.
Assim como o feijão, o arroz é de consumo usual no Brasil. Sendo um alimento
versátil, pode ser combinado com feijão, hortaliças, ovos e carnes, integrando
alimentos típicos da culinária brasileira, como arroz carreteiro e galinhada.
O milho, comumente presente no prato dos brasileiros, é consumido sob a
forma de espiga cozida, grãos refogados ou em preparações culinárias, como
cuscuz, pamonha e curau.
Os tubérculos, como mandioca, batata inglesa, batata doce, batata
baroa, cará e inhame, integram os cardápios, como fontes de carboidratos
complexos, ou em substituição aos cereais. São alimentos utilizados em
refeições salgadas (almoço e jantar), mas também no preparo de doces e
de bolos caseiros.
O Brasil dispõe de grande diversidade de hortaliças (legumes e verdu-
ras) e de frutas, que representam fontes de diversos nutrientes e de fitonutrien-
tes. São produtos de uso variado: crus ou cozidos, em saladas, preparações
quentes, assados, gratinados, ensopados e empanados. O guia recomenda
a compra e o consumo de hortaliças e frutas da safra, preferencialmente
orgânicas e higienizadas corretamente, a fim de evitar sua contaminação
com micro-organismos.
No caso das frutas, ricas em fibras, vitaminas, minerais e nutrientes
funcionais, valem as mesmas recomendações feitas para as hortaliças. Podem
ser consumidas in natura, polpas, desidratadas e concentradas. Podem fazer
parte das refeições principais, acompanhando pratos quentes ou saladas.
Já os sucos industrializados são menos recomendados, visto apresentarem
menor teor de fibras, além de que podem estar adicionados de açúcares.
No grupo das leguminosas, que são fontes de minerais, vitaminas,
carboidratos, fibras e proteínas, são incluídos vários tipos de feijões e alguns
similares, como ervilhas, lentilhas e grão-de-bico. Muitas preparações com

98
qualidade de vida em foco

feijão são apreciadas no Brasil, como arroz com feijão, feijoada, tutu à mineira,
feijão tropeiro, virado de feijão paulista, sopa de feijão, acarajé, entre outras.
Para o grupo do leite e derivados, ricos em proteínas, minerais e vitami-
nas, sugere-se o consumo de fontes com menor teor de gordura, para o caso
dos adultos. Deve-se moderar o consumo de queijos gordurosos e devem ser
evitadas bebidas lácteas e iogurtes adoçados e processados com aditivos.
Alimentos que compõem o grupo da carne (bovina, suína, ovina, de
aves, entre outras) são frequentemente consumidos no Brasil. São ricos em
proteínas, vitaminas, minerais e gorduras. Apesar de serem muito apreciadas
pelos brasileiros, recomenda-se um consumo reduzido das carnes vermelhas
(bovina e suína), por serem ricas em gorduras saturadas e aumentarem o risco
de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas.
Existem, inclusive, evidências de que o consumo excessivo de carne
vermelha implica risco do desenvolvimento de câncer do intestino (zandonai;
sonobe; sawada, 2012).
A presença de carne de frango é frequente na mesa do brasileiro. O
guia recomenda o consumo de partes magras, sem pele e preparadas com
pouca gordura e pouco sal de cozinha.
Os pescados, fontes de proteínas, minerais e vitaminas, como as ou-
tras fontes de origem animal, representam opção de alimento saudável. Pelo
menor teor de gordura saturada, os peixes, ao lado de preparações vegetais,
são recomendados como componentes das refeições principais (almoço e
jantar). Os ovos, que são incluídos no grupo das carnes, representam opção
barata e versátil. Podem ser consumidos fritos, cozidos, mexidos e como
ingredientes de grande variedade de preparações.
As recomendações relativas à adoção de uma dieta saudável, apre-
sentadas no guia, destacam a ingestão adequada de água, pura e contida
nos alimentos e preparações culinárias. Consta que a água deve ser potável,
isenta de micro-organismos e substâncias químicas impróprias para o con-
sumo humano.
No guia está incluído o grupo das castanhas, sobretudo de caju, baru,
do-Brasil e amendoim. São alimentos ricos em minerais, fibras e gorduras
insaturadas e podem ser usados num lanche rápido ou como ingredientes
em diversas preparações.
No caso do café da manhã, os oito exemplos apresentados no guia
incluem leite ou derivados, cereais ou tubérculos e uma fruta. Há sugestões
mais tradicionais no Sudeste e no Sul do Brasil, como café com leite, bolo de
milho e uma fruta; no Norte e no Nordeste, café com leite, tapioca e banana.
São também apresentados oito exemplos de refeições para o almoço.
Quase todos incluem a mistura arroz e feijão, prato básico da alimentação

99
alimentação e nutrição na promoção da saúde

brasileira. A lentilha aparece em um dos exemplos, como substituta do feijão.


Os cardápios apresentados compreendem alimentos fonte de cereais, so-
bretudo o arroz; leguminosas (feijão ou lentilha); carne ou ovo; hortaliça crua
ou cozida, e fruta como sobremesa. Em alguns casos, a fruta é substituída
por suco de fruta regional.
Nota-se que as carnes brancas e ovos são privilegiados, em detrimento
da carne vermelha. Em todos os exemplos foram incluídos apenas alimentos
in natura ou minimamente processados.
Os exemplos de cardápio para o jantar são semelhantes aos do almoço,
com a mistura arroz e feijão para a maioria das combinações. Em um dos
exemplos, a farinha de mandioca e o macarrão aparecem em substituição
ao arroz. Há também refeição baseada em sopa de legumes com farinha de
mandioca. Hortaliças são apresentadas em todos os cardápios, em diferentes
formas de preparação. Carnes suínas e bovinas novamente estão restritas a
um terço das propostas de cardápios.
Além das refeições principais, que representam 90% do consumo
calórico, são sugeridos cardápios de refeições rápidas, para o caso daquelas
pessoas ou famílias que possuem o hábito de realizar mais de três refeições
ao dia. Prevalecem os alimentos in natura ou minimamente processados,
como frutas, castanhas, leite ou iogurte com frutas.

COMENSALIDADE: COMO, ONDE E O QUE SE COME

Além da qualidade nutricional, da variedade e da sustentabilidade


do padrão alimentar, o guia apresenta orientações relacionadas à forma de
se alimentar, enquanto mecanismo para se alcançar um padrão alimentar
adequado.
Primeiramente, são destacadas as condições higiênico-sanitárias
no preparo de alimentos, visto serem fundamentais para se evitar doença
veiculada pelos mesmos (oliveira et al., 2010). O guia recomenda cuidados
na escolha, conservação e manipulação dos produtos, com a finalidade de
assegurar uma alimentação livre de contaminantes.
Do ponto de vista da comensalidade, como organização social à mesa,
três abordagens são apresentadas no guia, a fim de se valorizarem as refei-
ções dos brasileiros:

A comer com regularidade e atenção, observando a composição dos


alimentos e evitando beliscar nos intervalos entre as refeições;

100
qualidade de vida em foco

B comer em ambientes adequados, confortáveis e tranquilos;

C comer em companhia de outrem ou de outros.


Outra abordagem é o estímulo ao desenvolvimento de habilidades
culinárias, com o fito de proteger o patrimônio cultural, promovendo o resgate
de alimentos tradicionais, reunião em família ou com amigos, redução no
consumo de alimentos ultraprocessados e de comida de rua.
O crescimento urbano, o desenvolvimento industrial, a globalização
e a inserção da mulher no mercado de trabalho modificaram os hábitos ali-
mentares das pessoas e das famílias, tornando-se comuns, a partir do final
do século XX, mudanças significativas na comensalidade, com o aumento do
consumo de fast food, de alimentos prontos para o consumo/congelados, e
ainda o hábito de alimentar-se sozinho, ou em frente da televisão e de outros
aparelhos eletroeletrônicos.
Na contramão desta tendência, o guia alimentar propõe o resgate
da alimentação mais artesanal, feita em companhia de familiares, amigos,
colegas de trabalho ou companheiros de escola.
O planejamento, a preparação e a ingestão do alimento podem ser
compartilhados, como mecanismo social, agregando as pessoas, levando-se
em conta que a sociabilidade se evidencia sempre na qualidade da comida
(brasil, 2014; carneiro, 2005).
O guia orienta, também, sobre as escolhas de alimentação fora de
casa, desde a priorização de locais, limpos, tranquilos e confortáveis, até o
tipo de cardápio ofertado.
No Brasil, difundiram-se nos últimos anos os chamados restaurantes
por quilo, os quais ofertam variedade de preparações de origem vegetal e
animal e possibilitam combinações diferenciadas e consumo de quantidades
concernentes às características individuais do comensal. O guia apresenta
material para subsidiar a adoção de uma dieta mais saudável para a família
e a comunidade, contrapondo o alto investimento da indústria de alimentos
em propaganda, em especial dos ultraprocessados. Haja vista que “[...] a
publicidade de alimentos ultraprocessados domina os anúncios comerciais,
sendo que frequentemente veicula informações incorretas ou incompletas
sobre alimentação e atinge, sobretudo, crianças e jovens” (brasil, 2014).
Frequentemente, confunde-se alimentação saudável com dietas para
emagrecer, ou as chamadas dietas da moda, que prometem resultados
rápidos e até milagrosos.
A mídia digital e impressa vêm contribuindo para divulgação de con-
ceitos equivocados, resultantes de estudos sem consenso científico e que
acabam sendo adotados por muitos indivíduos, sem acompanhamento de

101
alimentação e nutrição na promoção da saúde

profissional nutricionista ou médico. Muitas destas dietas prometem redução


rápida de peso, melhora dos níveis sanguíneos de glicose e de componentes
gordurosos, vitalidade e saúde em geral.
Entretanto, a recomendação mais fundamentada em prol da manu-
tenção do peso e da garantia de saúde física e mental reside na alimentação
equilibrada e na adoção de um estilo de vida saudável, conforme orientação
do guia (world health organization, 2008).
Embora hortaliças e frutas possam eventualmente ser mais caras que
alguns ultraprocessados, o Brasil proporciona variedade de alimentos in natura,
com preços acessíveis. Sua predominância nos cardápios é um caminho
natural para melhoria do padrão alimentar (louzada et al., 2015). O resgate dos
hábitos alimentares saudáveis característicos da comida brasileira é bastante
valorizado nesta proposta do Ministério da Saúde.
Juntamente com outras estratégias, pode efetivamente ocorrer uma
mudança positiva na rotina alimentar. Vale ressaltar que a educação alimentar
pode servir de subsídio na tomada de decisão por parte dos indivíduos e
de suas famílias, o que representa seguramente um aspecto essencial na
promoção da saúde.

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apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44009/9789241597418_eng.pdf;jsessionid=1E-
5F3E2BE1E7B62A015AFD4B26ED1AE7?sequence=1. Acesso em: 12 jul. 2018.

ZANDONAI, A. P.; SONOBE, H. M.; SAWADA, N. O. Os fatores de riscos alimentares para câncer
colorretal relacionado ao consumo de carnes. Revista da Escola de Enfermagem da USP,
São Paulo, v. 46, n. 1, p. 234-239, fev. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?s-
cript=sci_arttext&pid=S0080-62342012000100031#:~:text=As%20evid%C3%AAncias%20
apontam%20a%20carne,peixe%20como%20fatores%20de%20risco. Acesso em: 12 jul. 2018.

107
Sobre os organizadores

Luiz Alberto Pilatti


Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR). Membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção (PPGEP) e do Programa de Pós-Gradua-
ção em Ensino de Ciência e Tecnologia (PPGECT), ambos da UTFPR.
Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG). Mestre em Educação pela Universidade Metodista de
Piracicaba (UNIMEP). Doutor em Educação Física pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Editor da Revista Brasileira de
Qualidade de Vida (RBQV). Bolsista de Produtividade em Pesquisa
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) – Nível 2.

Camila Lopes Ferreira


Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR). Graduada em Administração com ênfase em Análise de
Sistemas pela Faculdade Cristo Rei. Mestre em Engenharia de Pro-
dução pela UTFPR. Editora da Revista Brasileira de Qualidade de Vida
(RBQV). Coordenadora da Editora da UTFPR (EDUTFPR).

108
Sobre os autores

Ana Paula Dassie Leite


Professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNI-
CENTRO). Membro do corpo docente do Programa de Pós-Gradu-
ação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário (PPGDC)
da UNICENTRO. Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade
Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Mestre em Saúde da Criança e
do Adolescente pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Atua na linha de pesquisa: Clínica vocal:
avaliação e reabilitação. Coordenadora do Grupo de Pesquisa: GEVOZ:
atenção à saúde vocal: investigações em voz clínica, profissional e
fononcologia.

Bruno Pedroso
Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais Aplicadas e do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde, ambos da UEPG. Graduado em Educação Física
pela UEPG. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Doutor em Educação Física
pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pós-Doutor em

109
Engenharia de Produção pela UTFPR. Atua nas linhas de pesquisa:
Esporte, lazer e sociedade; Estudos bibliométricos e cientométricos
na produção do conhecimento; Avaliação da qualidade de vida; Ava-
liação da qualidade de vida no trabalho; Construção e validação de
instrumentos de avaliação da qualidade de vida e qualidade de vida
no trabalho; Desafios e tendências de recursos humanos; Qualidade
de vida e qualidade de vida no trabalho; Trabalho e lazer; Gestão
de pessoas e qualidade de vida no ambiente produtivo; Gestão
de recursos humanos para o ambiente produtivo; e Qualidade de
vida, saúde coletiva e atividade física. Coordenador dos Grupos de
Pesquisa: Estudos bibliométricos e cientométricos na produção do
conhecimento e Avaliação da qualidade de vida e qualidade de vida
no trabalho na sociedade hodierna. Membro do Grupo de Pesquisa
Esporte, lazer e sociedade.

Eliana Aparecida Fagundes


Queiroz Bortolozo
Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR). Graduada em Nutrição e Mestre em Ciências Farmacêuti-
cas, ambos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutora
em Engenharia de Produção pela UTFPR. Coordenadora do Grupo
de Pesquisa Qualidade das refeições de empresas cadastradas
no Programa de Alimentação do Trabalhador do Estado do Paraná.
Atua nas linhas de pesquisa: Ciência e tecnologia de alimentos, com
ênfase em alimentos funcionais e para fins especiais; Higiene e
segurança dos alimentos, Leite humano; Banco de leite humano e
Nutrição e saúde.

110
Leandro Martinez Vargas
Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Graduado em Educação Física pela UEPG. Mestre em Engenharia de
Produção pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Pós-Doutor em Engenharia de Produção pela UTFPR.
Atua nas linhas de pesquisa: Respostas e adaptações fisiológicas
ao exercício (GERAFISIO) e Gestão de pessoas e qualidade de vida
no ambiente produtivo. Coordenador dos Grupos de Pesquisa: Ava-
liação do perfil antropométrico de ciclistas de alto nível do sexo
feminino e Estudos sobre o nível de desempenho motor, atividade
física, aptidão física e qualidade de vida de praticantes de exercícios
físicos e esportes. Membro do Grupo de Pesquisa Qualidade de vida,
atividade física e saúde.

Thaiane Moleta Vargas


Graduada em Educação Física, Mestre em Ciências da Saúde e
Doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas, todos pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Coordenadora do Grupo de Pesqui-
sa Política pública voltada para a recuperação do assoalho pélvico de
mulheres em período pós-parto: uma questão de qualidade de vida.

Thaís Carolina Klepa


Médica da Estratégia de Saúde da Família pela Prefeitura
Municipal de Ponta Grossa (PMPG). Graduada em Medicina pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

111
Vanessa Veis Ribeiro
Professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Membro
do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia
da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade
Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Mestre em Distúrbios da
Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Doutora em Fonoaudiologia pela Universidade de São Paulo
(USP). Pós-Doutoranda em Distúrbios da Comunicação Humana
pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atua nas linhas
de pesquisa: Fonoaudiologia e saúde coletiva; Aspectos clínicos
e funcionais em voz, motricidade orofacial e disfagia; Processos e
distúrbios da voz, fala e das funções orofaciais; Diagnóstico, pre-
venção e intervenção nos distúrbios da voz; e Núcleo de Estudos
em fonoaudiologia e neurociências. Membro do Grupo de Pesquisa
Distúrbios sensoriais da laringe: diagnóstico e reabilitação.

Wagner Wey Moreira


Professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFTM. Graduado em Educação Física pela Universidade
Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e em Pedagogia com Habilitação
em Administração e Orientação pela Faculdade de Educação Osório
Campos (FEOC). Mestre em Educação pela UNIMEP. Doutor em
Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atua
nas linhas de pesquisa: Corporeidade e pedagogia do movimento
na cultura; Corporeidade e pedagogia do movimento na educação;
Estudo do fenômeno corporeidade; Fundamentos e práticas educa-
cionais; e, Formação e atuação profissional. Coordenador do Grupo
de Pesquisa A educação e o corpo criança na fase inicial do ensino
fundamental no Brasil e ensino básico em Moçambique. Membro do
Grupo de Pesquisa Ações e reações no processo educativo: análise

112
em espaços curriculares e extracurriculares. Bolsista de Produtividade
em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) – Nível 2.

113
Título Qualidade de Vida em Foco

Formato 18 x 24 cm
Tipografia Aktiv Grotesk | Dalton Maag
Licença CC BY-NC-ND

Este livro, produzido pela EDUTPFR, é financiado com recurso


público visando à ampla e democrática disseminação do
conhecimento de forma aberta e para todos.

Esta edição promove o ODS 4 Educação de qualidade, de


assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida
para todos. Além disso, é favorável à preservação de árvores e
diminuição da pegada de carbono global.

Curitiba
2021
Feito no Brasil
Made in Brazil
Qualidade de vida é um movimento ainda recente no meio
acadêmico que busca valorizar parâmetros mais amplos
que apenas saúde. Em razão de sua complexidade e utili-
zação por diversas áreas de estudo, a falta de consenso
conceitual dificulta a compreensão da temática e impõe
diferentes desenhos na operacionalização de análises
científicas, normalmente perspectivando a qualidade de
vida como algo bom, necessário e desejável. Neste livro,
composto de cinco capítulos, são discutidos os seguintes
temas: corporeidade e esporte; avaliação da qualidade
de vida de pessoas com doenças reumáticas; distúrbio
de voz; qualidade de vida de pessoas com deficiência;
alimentação e nutrição. As abordagens, divididas em
componentes, em conjunto, colocadas em foco, permitem
a aproximação de um possível conceito geral.

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