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Pesquisa- Mitos e lendas da região amazônica

O imaginário presente em lendas e mitos da região amazônica pode contribuir com a compreensão de
mundo das crianças e de suas realidades locais, e também na valorização da cultura e da ancestralidade
indígenas. Aqui estão alguns mitos e lendas da região amazônica:
• • A lenda do Curupira

Dizem que com seus pés virados para trás, o Curupira engana e confunde as pessoas que danificam seu
habitat, por exemplo, os caçadores, madeireiros, lenhadores, etc.
O Curupira, conhecido como “demônio da floresta”, assobia e utiliza falsos sinais. Ele reúne muitas histórias
que envolvem mistérios inexplicáveis, por exemplo, o desaparecimento de caçadores, bem como o
esquecimento dos caminhos. A lenda afirma que o Curupira vive na mata fazendo travessuras, sendo
considerado o protetor das florestas.
• • A lenda da Iara

A lenda da Iara foi criada pelo povo tupi-guarani. Eles contam a história de uma poderosa índia que, antes
de virar sereia, vivia em uma tribo junto com a sua família, esbanjando beleza por onde passava. Iara era tão
bela que causava inveja em muitas pessoas, inclusive, em seus irmãos que, inconformados com isso,
queriam matar a índia e desaparecer com o corpo.
Em uma noite qualquer, eles chamaram a irmã para executar o plano, mas chegando no local foram
surpreendidos com a força da índia guerreira, que conseguiu escapar da armadilha e reverteu a situação
praticando o crime contra eles.
Com medo de que seu pai, o pajé (chefe religioso da tribo) da tribo, descobrisse e aplicasse um castigo, ela
fugiu, mas foi descoberta. Assim, seu pai a lançou no Rio Negro e Solimões como forma de punição por ter
matado os seus irmãos.
A lenda da Iara diz que índia foi salva pelos peixes e como era noite de lua cheia, ela foi transformada em
sereia. Atualmente, a lenda da Iara é representada por uma bela sereia que atrai homens com o seu
irresistível canto para o fundo dos rios, local de onde eles não voltam nunca mais. Reza a lenda que os
homens que conseguem retornar à superfície ficam em completo estado de loucura, no qual somente um
pajé é capaz de desfazer o feitiço.
Antes de atrair os homens para a “emboscada”, a sereia Iara passa a maior parte do seu tempo sentada
sobre as pedras, admirando a própria beleza refletida nas águas, além de pentear seus cabelos e brincar com
os peixes.
• • Vitória-Régia

Diz a lenda que a Lua era um deus que namorava as mais lindas jovens índias e sempre que se escondia,
escolhia e levava algumas moças consigo. Em uma aldeia indígena, havia uma linda jovem, a guerreira Naiá,
que sonhava com a Lua e mal podia esperar o dia em que o deus iria chamá-la. Os índios mais experientes
alertavam Naiá dizendo que quando a Lua levava uma moça, essa jovem deixava a forma humana e virava
uma estrela no céu. No entanto a jovem não se importava, já que era apaixonada pela Lua. Essa paixão virou
obsessão no momento em que Naiá não queria mais comer nem beber nada, só admirar a Lua. Numa noite
em que o luar estava muito bonito, a moça chegou à beira de um lago, viu a lua refletida no meio das águas e
acreditou que o deus havia descido do céu para se banhar ali. Assim, a moça se atirou no lago em direção à
imagem da Lua. Quando percebeu que aquilo fora uma ilusão, tentou voltar, porém não conseguiu e morreu
afogada. Comovido pela situação, o deus Lua resolveu transformar a jovem em uma estrela diferente de
todas as outras: uma estrela das águas – Vitória-régia. Por esse motivo, as flores perfumadas e brancas
dessa planta só abrem no período da noite.
• • Boitatá

Segundo a lenda, o boitatá é um monstro que cintila as noites em que aparece deslizando nas campinas e na
beira dos rios, podendo se transformar em uma tora em brasa com o fim de queimar aqueles que pretendem
colocar fogo nas matas. As pessoas que encontram com o boitatá ficam cegas, morrem ou ficam loucas. Por
isso, segundo a lenda, toda pessoa que encontrar o monstro deve ficar parada, sem respirar e de olhos bem
fechados. Uma das explicações para o surgimento da lenda é o fogo-fátuo, que provoca a incidência de
fenômenos luminosos resultantes da decomposição de matéria orgânica.
• • Lenda do Boto cor-de-rosa

A Lenda do Boto cor-de-rosa, ou simplesmente a Lenda do Boto, é uma lenda de origem indígena que faz
parte do folclore brasileiro. Ela surge na região amazônica, no Norte do País.
Reza a lenda que o boto cor-de-rosa, animal inteligente e semelhante ao golfinho que vive nas águas
amazônicas, se transforma num jovem belo e elegante nas noites de lua cheia.
Normalmente ele aparece nas festividades de junho, nas comemorações dos Santos Populares (Santo
Antônio, São João e São Pedro), as chamadas Festas Juninas.
Vem vestido de branco e com um grande chapéu a fim de esconder suas narinas, pois sua transformação
não ocorre totalmente.
Dono de um estilo comunicativo, galã e conquistador, o boto escolhe a moça solteira mais bonita da festa e a
leva para o fundo do rio. Lá a engravida e depois a abandona.
Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente. Por esse motivo, a Lenda do Boto é utilizada
muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento.
Ademais, costuma-se dizer que “a criança é filho do boto” quando é filho de pai desconhecido.
• • Lenda do Manpinguari

Os caboclos contam que dentro da floresta vive o Mapinguari, um gigante peludo com um olho na testa e a
boca no umbigo. Para uns, ele é realmente coberto de pelos, porém usa uma armadura feita do casco da
tartaruga. Para outros, a sua pele é igual ao couro de jacaré. Há quem diga que seus pés têm o formato de
uma mão de pilão.
O Mapinguari emite um grito semelhante ao grito dado pelos caçadores. Se alguém responder, ele logo vai
ao encontro do desavisado, que acaba perdendo a vida. A criatura é feroz e não teme nem caçador, porque é
capaz de dilatar o aço quando sopra no cano da espingarda. Os ribeirinhos amazônicos contam muitas
histórias de grandes combates entre o Mapinguari e valentes caçadores. O Mapinguari sempre leva
vantagem e os caçadores que conseguem sobreviver, muitas vezes ficam aleijados ou com terríveis marcas
no corpo para o resto da vida.
Há quem diga que o Mapinguari só anda pelas florestas de dia, guardando a noite para dormir. Quando
anda pela mata, vai gritando, quebrando galhos e derrubando árvores, deixando um rastro de destruição.
Outros contam que ele só aparece nos dias santos ou feriados. Dizem que ele só foge quando vê um bicho-
preguiça. O que ninguém explica é porque ele tem medo justamente do seu parente, já que é considerado
um bicho-preguiça pré-histórico.
• • Lenda do Pirarucu

Pirarucu era um índio que pertencia à tribo dos Uaiás. Era um bravo guerreiro, mas tinha um coração
perverso, mesmo sendo filho de Pindarô, um homem de bom coração, chefe da tribo. Egoísta e cheio de
vaidades, Pirarucu adorava criticar os deuses. Um dia ele aproveitou a ausência do pai para tomar índios da
sua tribo como reféns e executá-los sem nenhum motivo. Tupã, o deus dos deuses, decidiu puni-lo
chamando Pólo para que espalhasse o seu mais poderoso relâmpago. Também convocou Iururaruaçu, a
deusa das torrentes, e ordenou que provocasse a mais forte tempestade sobre Pirarucu quando estava
pescando com outros índios às margens do Rio Tocantins. O fogo de Tupã foi visto por toda floresta.
Pirarucu tentou escapar, mas foi atingido no coração por um relâmpago fulminante. Todos que estavam
com ele correram para a selva assustados. O corpo de Pirarucu, ainda vivo, foi levado para as profundezas
do Rio Tocantins e transformado em um gigante e escuro peixe. Acabou desaparecendo nas águas e nunca
mais retornou, mas por um longo tempo aterrorizou toda a região.
• • Lenda da Matinta Perera

Conta a lenda, que à noite, um assobio agudo perturba o sono das pessoas e assusta as crianças, ocasião em
que o dono da casa deve prometer tabaco ou fumo. Ao ouvi-lo, o morador diz: - Matinta, pode passar
amanhã aqui para pegar seu tabaco. No dia seguinte uma velha aparece na residência onde a promessa foi
feita, a fim de apanhar o fumo. A velha é uma pessoa do lugar que carregaria a maldição de 'virar' Matinta
Perera, ou seja, à noite transformar-se neste ser indescritível que assombra as pessoas. A Matinta Perera
pode ser de dois tipos: com asa e sem asa. A que tem asa pode transformar-se em pássaro e voar nas
cercanias do lugar onde mora. A que não tem, anda sempre com um pássaro, considerado agourento, e
identificado como sendo 'rasga-mortalha'.
Dizem que a Matinta, quando está para morrer, pergunta: "Quem quer? Quem quer?". Se alguém responder
"eu quero", pensando em se tratar de alguma herança de dinheiro ou joias, recebe na verdade a sina de
'virar' Matinta Perera.
• • Monte Roraima

Os índios Macuxi contam que antigamente, no local onde hoje existe o Monte Roraima, existiam apenas
terras baixas e alagadiças, cheias de igapó. As tribos que viviam naquela área não precisavam disputar
comida, pois a caça e a pesca eram fartas. Uma vez, nasceu um belo pé de bananeira. A estranha planta
cresceu muito rápido e deu belíssimos e apetitosos frutos. Os pajés avisaram a todos que aquele vegetal era
um ser sagrado e que como tal seus frutos eram proibidos para qualquer pessoa da tribo. Eles disseram
ainda que caso alguém desobedecesse a regra e tentasse comer uma fruta daquelas, desgraças terríveis
aconteceriam: a caça se tornaria rara, as frutas secariam e até a terra iria tomar um formato diferente. Era
permitido comer de tudo, menos os frutos da bananeira sagrada. Todos passaram a temer e a respeitar as
ordens dos pajés. Mas houve um dia em que, ao amanhecer, todos correram para ver com espanto a
primeira desgraça de muitas que ainda estavam por vir: um cacho da bananeira havia sido decepado. Todos
se perguntavam, mas ninguém sabia dizer quem poderia ter feito aquilo. Antes que tivessem tempo para
descobrir o culpado, a previsão dos mais velhos começou a acontecer. A terra começou a se mover e os céus
tremiam em trovões. Todos os animais, da terra ou do céu, bateram em retirada. Um dilúvio começou a
despencar e um enorme monte começou a brotar rasgando aquelas alagadas terras. E foi assim que nasceu o
Monte Roraima.
É por tudo isso que, até os dias de hoje, acredita-se que o monte Roraima chora quando de suas pedras
caem pequenas gotas de água cristalina.
• • Lenda dos rios Xingu e Amazonas

A origem dos rios Xingu e Amazonas também faz parte do imaginário indígena. Dizem que antigamente era
tudo seco. Na Floresta Amazônica não tinha água nem rio. A ave Juriti era a dona da água e a guardava em
três tambores. Certo dia, os três filhos de Cinaã estavam com sede e foram pedir água para o passarinho. Ele
não deu e disse: - Seu pai é Pajé muito grande, por que não dá água para vocês? Eles voltaram para casa
chorando muito. Cinaã perguntou porque estavam chorando e eles contaram. Cinaã disse para eles não irem
mais lá que era perigoso, tinha peixe grande dentro dos tambores. Mas eles foram assim mesmo e
quebraram os tambores. Quando a água saiu, Juriti virou bicho. Os irmãos pularam longe, mas o peixe
grande que estava lá dentro engoliu Rubiatá (um dos irmãos), que ficou com as pernas para fora da boca do
peixe. Os outros dois irmãos começaram a correr e foram fazendo rios e cachoeiras com a corrida. O peixe
grande foi atrás levando água e fazendo o rio Xingu. Continuaram a correr até chegar no Amazonas. Lá os
irmãos pegaram Rubiatá, que estava morto. Cortaram suas pernas, pegaram o sangue e sopraram. Rubiatá
virou gente novamente. Depois eles sopraram a água no Amazonas e o rio ficou muito largo. Voltaram para
casa e disseram que haviam quebrado os tambores e que teriam água por toda a vida para beber.
• • Lenda do Guaraná

Um casal de índios pertencente a tribo Maués vivia junto por muitos anos sem ter filhos. Um dia eles
pediram a Tupã para dar a eles uma criança para completar suas vidas. Tupã, sabendo que o casal era
bondoso, lhes atendeu o desejo dando a eles um lindo menino. O tempo passou e o menino cresceu bonito,
generoso e querido por todos na aldeia. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão e do mal, sentia muita
inveja do menino e decidiu matá-lo. Certo dia, o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari aproveitou
a ocasião para lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa que atacou e matou o
menino. A triste notícia se espalhou rapidamente. Neste momento, trovões ecoaram e fortes relâmpagos
caíram pela aldeia. A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de
Tupã, dizendo que deveriam plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando
saborosos frutos. Assim foi feito e os índios plantaram os olhos da criança. No lugar cresceu o guaraná,
cujas sementes são negras rodeadas por uma película branca, muito semelhante ao olho humano.
• • Lenda da Cobra Grande

A Cobra Grande, ou Boiúna, é uma lenda amazônica que fala de uma imensa cobra que cresce de forma
desmensurada e ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios. Ao
rastejar pela terra firme, os sulcos que deixa se transformam nos igarapés.Conta a lenda que a Cobra
Grande pode se transformar em embarcações ou outros seres. Ela está presente em diversos contos
indígenas, um deles conta que em uma certa tribo, uma índia, grávida da Boiúna, deu à luz a duas crianças
gêmeas. Uma delas, má, atacava os barcos, naufragando-os.
Mitologia
Principais deuses da mitologia indígena
• • Tupã: Chamado de “O Espírito do Trovão”, Tupã é o grande criador dos céus, da terra e dos mares,
assim como do mundo animal e vegetal. Além de ensinar aos homens a agricultura, o artesanato e a caça,
concedeu aos pajés o conhecimento das plantas medicinais e dos rituais mágicos de cura.

• • Jaci: É a deusa Lua e guardiã da noite. Protetora dos amantes e da reprodução, um de seus papéis
é despertar a saudade no coração dos guerreiros e caçadores, apressando a volta para suas esposas. Filha de
Tupã, Jaci é irmã-esposa de Guaraci, o deus Sol.

• • Guaraci: Filho de Tupã, o deus Sol auxiliou o pai na criação de todos os seres vivos. Irmão-marido
de Jaci, a deusa Lua, Guaraci é o guardião das criaturas durante o dia. Na passagem da noite para o dia – o
encontro entre Jaci e Guaraci –, as esposas pedem proteção para os maridos que vão caçar.

• • Anhangá: Inimigo de Tupã, Anhangá é o deus das regiões infernais, um espírito andarilho que
pode tomar a forma de vários animais da selva. Apesar de ser considerado protetor dos animais e dos
caçadores, é associado ao mal. Se aparece para alguém, é sinal de desgraça e mau agouro.

• • Yabá Bëló: A “mulher que apareceu do nada” é a figura principal no mito de criação dos índios
dessanas, do alto do rio Negro (fronteira Brasil-Colômbia). De sua iluminada morada de quartzo, Yebá Bëló
criou todo o Universo – os seres humanos surgem a partir do ipadu (folha de coca) que ela mascava.

• • Wanadi: Deus dos iecuanas, povo da divisa Brasil-Venezuela, Wanadi criou três seres para gerar o
mundo. Porém, os dois primeiros fizeram um erro e acabaram criando uma criatura deformada, que
representa o lado ruim da vida (fome, doenças, morte). Coube ao terceiro ser, então, concluir com sucesso o
ato da criação.

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