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sexo não!
Não que eu ache desnecessário ou menos importante tal ato legislativo. Muito
pelo contrário! Nada mais justo regular tão nobre e imprescindível ofício. Mas, neste
caso, é a ignorância e pequenez moral de certos coletivos que me impressionam e
justificam o eriçamento capilar!
Desde que tomou vulto a proposição que visa regulamentar a profissão médica,
uma grande parcela de brasileiros se investiu da condição de rábula militante,
perturbando a todos com impropérios e achismos jurídicos que “embasam” suas teorias
estapafúrdias de que a Acupuntura ficaria impedida de ser exercida por profissionais
não médicos, quando da promulgação de tal lei. Dizem que o ato médico é uma ameaça
aos praticantes da arte milenar chinesa, principalmente por dois pontos específicos
(além de outros menos relevantes).
É realmente muito triste ver que o simples desconhecimento de palavras, não tão
esdrúxulas, pode levar ao desespero! O substitutivo aprovado recentemente no plenário
da Câmara diz, in verbis:
...
...
§ 4º Procedimentos invasivos, para os efeitos desta Lei, são os caracterizados por quaisquer
das seguintes situações:
Mais uma vez fico muito feliz que a atividade médica esteja finalmente sendo
normatizada, mas, PELAMORDEDEUS (!!!), punção não tem nada a ver com
Acupuntura. Nem nunca terá! A não ser que manobrem o vernáculo técnico em
benefício (ou malefício) de alguns!
Punção é sim um ato médico específico e bem definido. Basta uma rápida
consulta a um dicionário médico qualquer; mas tem que ser necessariamente um
dicionário médico, pois os coloquialismos, regionalismos, neologismos e as aplicações
literárias hoje já pacificadas em quase todos os dicionários genéricos podem atrapalhar
o entendimento de uma atividade técnica específica. Isto posto, segue verbete:
Punção
Acho que fica, então, bem claro o fato de que Acupuntura não tem nada a ver
com punção, uma vez que esta última tem por finalidade a transfixação da pele por
agulha própria de punção, oca (com orifício interno), tipo cânula, com o objetivo de
inserir alguma substância química (medicamentos, contraste, etc.) ou retirar alguma
substância biologia (sangue, pus, etc.). A agulha de Acupuntura, por sua vez, é também
bem específica, não tendo nenhuma semelhança com a de punção, e tem por finalidade
“entrar seca e sair seca”, sem inserir ou retirar nada do corpo humano. Portanto, mais
uma vez afirmo: punção e Acupuntura são atos distintos, bem definidos e sem nada em
comum.
Isso quer dizer, por exemplo, que informar para um paciente que ele está
gripado, ou mesmo resfriado, é incorrer em exercício ilegal da medicina (Art. 282 – CP)
e atentar contra o ainda não instaurado “Ato Médico”. Pois, apesar de pouco
específicos, os termos gripe e resfriado fazem parte do vernáculo médico convencional
e têm entidades patológicas específicas que o definem no CID. Mas um Acupunturista
nunca se permitiria fazer tal diagnóstico por demais reducionais. Para a Medicina
Tradicional Chinesa poderia ser uma invasão de vento frio, uma invasão de vento calor
ou uma invasão de vento secura. Tudo pautado em métodos de diagnóstico
completamente diferentes da Medicina Ocidental Contemporânea e sem a mínima
alusão ao CID.
E é preciso frisar que nada foi aprovado, em definitivo, ainda. O “Ato Médico”
ainda não é uma lei! O que aconteceu foi que apenas o texto do substitutivo desse
projeto de lei, que teve origem no Senado Federal, foi aprovado pelo plenário da
Câmara dos Deputados. Agora todo o projeto de lei deve retornar para a Casa de origem
(Senado) para que seja novamente apreciado em plenário. E só depois de aprovado
nessa próxima instância e após promulgação pelo Presidente da República é que o “Ato
Médico” passa realmente a vigorar.
Ricardo Antunes
Diretor da Escola Nacional de Acupuntura – ENAc
i
1 - LUZ, Madel Therezinha (2000). Medicina e Racionalidades Médicas: Estudo comparativo
da Medicina Ocidental Contemporânea, Homeopática, Tradicional Chinesa e Ayurvédica. in
Ciências sociais e saúde para o ensino médico. A. M. CANESQUI: São Paulo,
HUCITEC/FAPESP.